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TEMA

Análise da Cobertura Jornalística sobre violação sexual contra a criança: caso Televisão de
Moçambique e Soico Televisão 2021

PROBLEMÁTICA

A violência sexual, principalmente contra a criança, é um crime bastante recorrente em


Moçambique. Abuso sexual, de acordo com a ANDI (Agência de Notícias dos Direitos da Infância -
2013), consiste na situação na qual o corpo de uma criança ou adolescente é utilizado para a prática
de actos de natureza sexual.

“Muitos dos casos de violência sexual acontecem dentro das casas das vítimas,
normalmente causado pela figura do pai ou do padrasto. Como consequência desses
actos de violência sexual, Silveira, afirma que são divididas em físicas, emocionais,
sexuais e sociais, podendo durar para o resto da vida das vítimas” (Silveira, 2007).

E nesse contexto, que visando contribuir para educação das pessoas e mudança de comportamento, o
jornalismo é visto como aliado no combate à todo tipo de violência, em particular, a sexual.
Portanto, quando a imprensa notícia casos de abuso e exploração sexual o público tende a debater o
assunto.

Os meios de comunicação ao fornecer informações uteis a população, estes promovem


comportamentos visando uma mudança de mentalidades e, por conseguinte, de atitudes dos visados
sobre o assunto em causa. Portanto, para o efeito, os media devem melhor informar, para convencer
a sua audiência, e torná-los objectivos de uma acção pedagógica (Joule e Bernard, 2005).

Para estes autores, a media ao fazer a cobertura jornalística deve ter em consideração a utilidade da
temática veiculada para a melhorar/desenvolvimento da sociedade. Não pode reportar o assunto só
porque pretende ter mais uma matéria, quer fechar o espaço no seu meio ou simplesmente para
cumprir a agenda do dia.

Neste aspecto, a obrigação dos meios de comunicação social consiste, acima de tudo, em servir as
audiências, apresentando conteúdos de qualidade e procurando equilíbrio entre rentabilização do
negócio e a satisfação do interesse público. Daí as empresas jornalísticas e os próprios jornalistas
devem procurar realizar actividades que sejam socialmente responsáveis e contribuam, directa ou
indirectamente, para uma sociedade cada vez mais humana, procurando levar assuntos que sejam
relevantes e que apoquentam as pessoas para o debate público, com o intuito de denunciar, corrigir e
educar a sociedade.

Uma demonstração clara da exposição da criança por parte da imprensa em assuntos ligados a
violação sexual, trazemos aqui um episódio referente a edição do dia 21 de Maio de 2021, onde a
Televisão de Moçambique (TVM) ao reportou um caso, mostrou a cara dos pais e encarregados de
educação e ainda identificou o bairro deu-se a ocorrência. Portanto, apesar deles terem coberto a
cara da menor, através dos nomes dos pais e identificação do bairro é possível saber de que criança
de se trata.

Nesse processo de cobertura de fenómenos, OSINSKI e NUNES (2016) defendem que quando se
tratar de assuntos ligados a criança, a média deve prezar pela privacidade das destas e protecção das
identidades possibilitando que expressem suas opiniões nos veículos de comunicação, e também
averiguar as consequências da publicação para evitar prejuízos à integridade das vítimas.

Por sua vez, a Soico Televisão (STV) no dia 10 de Março de 2021 realizaram uma reportagem na
cidade de Nampula que falava sobre a violação duma menor. Neste caso, a STV mostrou a criança
de costas, todo corpo, e identificou o violador, que por sinal é tio da criança situações que
concorrem para uma exposição da criança porque mostrar alguém de costas pode ser suficiente para
identificar assim como falar do nome do tio (violador) pode ajudar a perceber quem foi a vítima.
Nessa reportagem, o jornalista limitou-se a narrar o problema e não trouxe uma reflexão ou
apresentou possíveis soluções.

Uma das abordagens que tem causado muita polémica entre a mídia e audiência está relacionada
com a violação dos direitos da criança, isto é, muitas vezes quando os órgãos de comunicação social
tratam e divulgam assuntos sobre a criança, muito em particular, aqueles considerados
problemáticos, ela não se preocupa em defender, omitir ou proteger a identidade dos menores.

Essa postura de exposição feita na criança pode comprometer a identidade futura da mesma na
medida em que ela pode correr o risco de sofrer bulling na sociedade, ser excluída e marginalizada
devido a sua posição. Muitas vezes, quando se trata, por exemplo, de violação contra a criança, a
imprensa expõe perigosamente a imagem desses menores identificando-a de forma directa
(indicando nome, mostrando a cara ou mesmo dizendo onde ela mora) e de forma indirecta (dizendo
quem são os seus pais, tios, onde estuda, etc.)

Visando proteger a identidade da criança na cobertura jornalística de assuntos polémicos que


envolvam menores, como o caso da violação sexual, OSINSKI e NUNES defendem:
“É fundamental também que jornalistas estejam cientes do Estatuto da Criança e do
Adolescente, que permite que crianças e adolescentes sejam protegidas
integralmente, evitando que criança ou adolescente será objecto de qualquer forma de
negligência discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na
forma da lei qualquer atentado, por acaso ou omissão, aos seus direitos
fundamentais” (OSINSKI e NUNES, 2016).

Portanto, a mídia também tem o dever de zelar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os
a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Ao
trabalhar com uma matéria sobre violência sexual infanto-juvenil, os jornalistas devem evitar
descrições detalhadas do crime. Devem focar em reportagens investigativas, que podem combater o
abuso sexual e a exploração sexual.

Infelizmente a imprensa televisiva ou mesmo escrita muitas vezes usa matérias desta natureza (sobre
violação sexual) como propaganda para vender os seus produtos jornalísticos e aumentar a sua
audiência, ignorando toda e qualquer regra de proteção da identidade da criança. A atenção da
imprensa não tem sido apenas desencorajar esta prática, mas sim publicita-la e tornar numa
publicidade.

De acordo com a ANDI (2013) é importante prestar atenção com o uso das palavras, porque
expressões inadequadas podem ocasionar o reforço de preconceitos, estereótipos e tabus que
escondem a violência sexual contra crianças e adolescentes. Por exemplo, o termo “menor” deve ser
evitado e substituído por “crianças e adolescentes”, “meninos e meninas”, porque a palavra menor
tem sentido pejorativo.

Tendo em conta os aspectos acima referenciados, dai surgiu a pergunta de partida: em que medida a
Televisão de Moçambique e Soico Televisão contribuem para a prevenção da violação sexual
com base nas suas abordagens.

Hipóteses
 H1. A Televisão de Moçambique e Soico Televisão nas suas abordagens sobre violação
sexual contra a criança se eximem de fazer análises profundas dos contextos, causas e
consequências visando a proteção da menor;
 H2. A Televisão de Moçambique e Soico Televisão não suas abordagens sobre violação
sexual contra a criança fazem análises profundas dos contextos, causas e consequências
visando a protecção da menor.

Objectivos
Geral

 Compreender a Cobertura Jornalística sobre violação sexual contra a criança feita pela
Televisão de Moçambique e Soico Televisão 2021

Específicos

 Analisar em que medida a TVM e STV privilegiam a problemática da violação sexual de


menores nas suas coberturas;
 Examinar o conteúdo das reportagens das duas Televisões (TVM e STV) para perceber como
relatam a questão da violação sexual contra a criança;
 Aferir o nível de cobertura jornalística sobre a violação sexual contra a criança na Televisão
de Moçambique e Soico Televisão.

Revisão da Literatura e Conceptual

Nesta etapa do trabalho, são analisadas as obras científicas disponíveis que tratam do assunto, que
possam contribuir para o desenvolvimento da pesquisa. “É aqui também que são explicitados os
principais conceitos e termos técnicos a serem utilizados na pesquisa” (PRODANOV e FREITAS,
2013).

Segundo Gil (2002, p. 162), é na revisão da literatura que se deve esclarecer os pressupostos teóricos
que dão fundamentação à pesquisa e as contribuições proporcionadas por investigações anteriores,
levantando uma discussão crítica do estado actual do problema. Sendo assim, são apresentados, nas
próximas linhas, os principais conceitos usados neste trabalho.

Violação Sexual
Segundo Vicente (2014) em Moçambique, historicamente, o abuso sexual de crianças tem sido um
fenómeno “silencioso” e um “tabú”, um dos problemas sociais mais difíceis de resolver e com as
maiores consequências para as suas vítimas6. Diariamente são reportados vários casos de violência,
abuso sexual e maltrato de menores que chegam nas barras dos tribunais. Porém, por mais
insatisfatório que seja em termos do resultado final, é um precedente na actuação da justiça, tanto
quanto é do nosso conhecimento.

A violência sexual, principalmente contra a criança, é um crime bastante recorrente em


Moçambique. Abuso sexual, de acordo com a ANDI (Agência de Notícias dos Direitos da Infância),
consiste na situação na qual o corpo de uma criança ou adolescente é utilizado para a prática de
actos de natureza sexual.

“Violência sexual é submissão da criança ou do adolescente, com ou sem


consentimento, a atos ou jogos sexuais com a finalidade de estimular-se ou
satisfazer-se, impondo-se pela força, pela ameaça ou pela sedução, com palavras ou
com a oferta financeira, favores ou presentes, independente do valor e natureza,
podendo até ser um prato de comida” (Ministério da Justiça, 2016).

De acordo com a Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério da Justiça (2016), existem
seis tipos de violações classificadas como categorias de violência sexual:
a) Abuso sexual é qualquer ato de natureza sexual cometido contra crianças e adolescentes que
utilize de coerção, como força física ou ameaça. O abuso pode acontecer, também, entre
adolescentes ou entre um adolescente e uma criança. Nessa categoria são associados,
geralmente, os crimes de estupro e assédio sexual;

b) Exploração sexual é um tipo de violência que presume uma relação de mercantilização. A


utilização sexual da criança resulta em uma troca, seja ela financeira, de favores, ou
presentes;

Entre as causas da violência sexual infanto-juvenil, a ANDI (2013) dá destaque para a pobreza e
desigualdade, uma vez que normas, ideias e códigos sociais valem menos para os que são excluídos
da sociedade e desfavorecidos economicamente; à perda da proteção social, pois crianças e
adolescentes que não tem a proteção da família e dos pais ficam mais vulneráveis aos crimes
sexuais; à cultura machista presente na sociedade brasileira e também à impunidade da justiça do
país.

“Muitos dos casos de violência sexual acontecem dentro das casas das vítimas,
normalmente causado pela figura do pai ou do padrasto. Como consequência desses
atos de violência sexual, Silveira, afirma que são divididas em físicas, emocionais,
sexuais e sociais, podendo durar para o resto da vida das vítimas” (Silveira, 2007).

O autor sustenta que as consequências podem ser em curto prazo, com sintomas como mal-estar no
corpo, distúrbios alimentares, distúrbios de sono, depressão e baixo auto-estima, ou podem ser
também em longo prazo, como tentativas de suicídio, uso de drogas e álcool e comportamento
agressivo e antissocial.

E nesse contexto, que visando contribuir para educação das pessoas e mudança de comportamento, o
jornalismo é visto como aliado no combate à todo tipo de violência, em particular, a sexual.
Portanto, quando a imprensa noticia casos de abuso e exploração sexual o público tende a debater o
assunto.

Segundo OSINSKI e NUNES (2016) existem duas correntes do jornalismo que estão ligadas à
temáticas sociais: o jornalismo de resistência e o jornalismo cívico. Estas duas correntes, contribuem
para a educação cívica e moral para a mudança de comportamento. O primeiro tem a função de
resistir à concepção mercadológica do jornalismo e está ligado ao papel social da profissão.

“O jornalista de resistência consegue dar um enfoque comunitário e mais


democrático à reportagem sem abandonar a objetividade e outros valores de uma
grande redação. Por outro lado, o jornalismo cívico tem foco na lealdade com o
cidadão e atua como reforçador da cidadania, melhorando o debate público e revendo
a vida pública” (PENA, 2007).

O jornalismo cívico tem como ideais combater a objetividade, deixar de ser apenas um observador e
ser um participante justo e não tratar o público como consumidor, mas sim como cidadão (PENA,
2007). Ou seja, são duas práticas jornalistas que podem ser importantes de serem compreendidas
para combater a violência sexual contra crianças e adolescentes.

“Jornalistas trabalham sempre com valores-notícia de seleção, ou seja, critérios


utilizados ao selecionar os acontecimentos que mais tarde se tornarão notícia. Os
valores-notícia funcionam como linhas-guia para a apresentação do material,
sugerindo assim o que realçar, o que omitir e o que priorizar na construção da
notícia. Portanto, devem também ser levados em conta pelos jornalistas ao redigir
uma matéria sobre violência sexual infantojuvenil” (TRAQUINA, 2005).

Os meios de comunicação ao fornecer informações uteis a população, estes promovem


comportamentos visando uma mudança de mentalidades e, por conseguinte, de atitudes dos visados
sobre o assunto em causa. Portanto, para o efeito, os média devem melhor informar, para convencer
a sua audiência, e torná-los objectivos de uma acção pedagógica (Joule e Bernard, 2005).

Para estes autores, a media ao fazer a cobertura jornalística deve ter em consideração a utilidade da
temática veiculada para a melhorar/desenvolvimento da sociedade. Não pode reportar o assunto só
porque pretende ter mais uma matéria, quer fechar o espaço no seu meio ou simplesmente para
cumprir a agenda do dia.

Olhando nessa perspectiva de Joule e Bernard (2005) os meios de comunicação social têm a função
de disponibilizar a sociedade informação sobre direitos da criança, através da cobertura e de uma
grande abordagem sobre esse assunto.

Na mesma linha, Silva e Maia (2011) na sua teoria sobre marcas de análise de Cobertura Jornalística
destacam a necessidade dos mídia publicarem artigos que trazem e aprofundam a temática
veiculada, visto que na óptica destas autoras peças aprofundadas promovem, fazem análises dos
contextos, causas e consequências do assunto em referência.

Neste aspecto, a obrigação dos meios de comunicação social consiste, acima de tudo, em servir as
audiências, apresentando conteúdos de qualidade e procurando equilíbrio entre rentabilização do
negócio e a satisfação do interesse público. Daí as empresas jornalísticas e os próprios jornalistas
devem procurar realizar actividades que sejam socialmente responsáveis e contribuam, directa ou
indirectamente, para uma sociedade cada vez mais humana, procurando levar assuntos que sejam
relevantes e que apoquentam as pessoas para o debate público, com o intuito de denunciar, corrigir e
educar a sociedade.

Nesse processo de cobertura de fenómenos, OSINSKI e NUNES (2016) defendem que a a mídia
deve prezar pela privacidade das crianças e protecção das identidades possibilitando que expressem
suas opiniões nos veículos de comunicação, e também averiguar as consequências da publicação
para evitar prejuízos à integridade das vítimas.

“É fundamental também que jornalistas estejam cientes do Estatuto da Criança e do


Adolescente (ECA), que permite que crianças e adolescentes sejam protegidas
integralmente, evitando que criança ou adolescente será objecto de qualquer forma de
negligência discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na
forma da lei qualquer atentado, por acaso ou omissão, aos seus direitos
fundamentais” (OSINSKI e NUNES, 2016).

Portanto, a mídia também tem o dever de zelar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os
a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Segundo OSINSKI e NUNES (2016) ao trabalhar com uma matéria sobre violência sexual infanto-
juvenil, os jornalistas devem evitar descrições detalhadas do crime. Devem focar em reportagens
investigativas, que podem combater o abuso sexual e a exploração sexual.

“Reportagens investigativas que denunciam os aliciadores, apontam redes de


exploração, revelam as formas de aliciamento de crianças e adolescentes e indicam
as condições a que estão submetidos são as que mais geram resultados. Além de
informar a audiência sobre o problema, ajudam a detectar sinais de aliciamento e
servem de evidências para a abertura de inquéritos, a investigação de crime e a
consequente responsabilização dos autores” (ANDI, 2013).

Ainda de acordo com a ANDI (2013) é importante prestar atenção com o uso das palavras. Palavras
inadequadas podem ocasionar o reforço de preconceitos, estereótipos e tabus que escondem a
violência sexual contra crianças e adolescentes. Por exemplo, o termo “menor” deve ser evitado e
substituído por “crianças e adolescentes”, “meninos e meninas”, porque a palavra menor tem sentido
pejorativo.

Responsabilidade Social da Mídia

A mídia é definida como o conjunto de diversos meios de comunicação social que tem como
finalidade transmitir informações e conteúdos variados. Esses meios podem ser jornais, revistas,
televisão, rádio e internet.

Segundo Lopes (2005, p. 8-9), a mídia ocupa um papel principal na formação da sociedade,
atingindo um vasto público. Para esta autora, a mídia não reproduz uma realidade pré-existente na
sociedade; a mídia e a sociedade determinam-se reciprocamente.

Nessa reciprocidade, é reconhecido que a mídia constitui, indubitavelmente, um dos agentes mais
influentes nos processos de transformação das estruturas do espaço público. Sendo assim, a
importância da mídia para a sociedade assenta na enorme capacidade de representação das pessoas,
da sociedade e cultura, de produção e reprodução, de construção e reconstrução dos processos
sociais e culturais.

De acordo com Silva e Schommer (2008), os jornais e os jornalistas, enquanto agentes


intermediários e activos dos debates de interesse público, têm um papel social na defesa dos
interesses colectivos e no fortalecimento da democracia, influenciando e determinando a pauta da
agenda pública de debates. A actuação da mídia na sociedade tem o potencial de estimular o
envolvimento de grande número de actores sociais em temas de relevância pública para que exerçam
o controlo social.

Sobre esta matéria, Santos (2005) afirma que a mídia deve representar todos os interesses sociais e
desempenhar uma função activa, no sentido de se constituir como uma plataforma ao serviço de
todos os grupos públicos, contribuindo desta maneira para a tomada de decisão na política pública.
A mesma autora ressalta que “a mídia tem o poder de influenciar a opinião pública e, dessa forma,
intervir na sociedade e ‘formar’ informando”.

Entretanto, a mídia não informa e forma apenas, mas também propõe visões do Homem,
do mundo e de um modo de relacionamento entre as pessoas, dentro da sua responsabilidade social.
Do ponto de vista da sua postura natural, a responsabilidade social é uma questão que incorpora a
ética. Com isso, de acordo com Faustino (2006), o comportamento ético da mídia reside no facto de
se dar primazia à produção e difusão de conteúdos que respeitem a realidade das coisas e que não
desprezem aspectos fundamentais da natureza humana.

Neste aspecto, a obrigação dos meios de comunicação social consiste, acima de tudo, em servir as
audiências, apresentando conteúdos de qualidade e procurando equilíbrio entre rentabilização do
negócio e a satisfação do interesse público. Daí que as empresas jornalísticas e os próprios
jornalistas devem procurar realizar actividades que sejam socialmente responsáveis e contribuam,
directa ou indirectamente, para uma sociedade cada vezmais humana, procurando levar assuntos que
sejam relevantes e que apoquentam as pessoas para o debate público, com o intuito de denunciar,
corrigir e educar a sociedade.

É neste contexto que a mídia, de acordo com Ellen Da Silva (2009), é chamada e considerada o
“Quarto Poder”, ou seja, o quarto maior segmento socioeconómico do mundo, sendo a maior fonte
de informação e entretenimento que a população possui.

Nesta onda do poder da mídia, Christofoletti (2010) propôs a teoria de valor notícia e valor serviço.
“O valor-notícia gera a selecção e hierarquização do facto noticiado, preocupando-se com os
principais critérios de noticiabilidade; e denomina-se valor serviço a produção de informações
adicionais ao facto noticiado, de modo a facilitar a sua contextualização e de modo que o
destinatário possa dispor de elementos para exercer melhor a sua cidadania a partir do facto
noticiado”.

Esta teoria demostra que a informação por si só não é suficiente; é necessário que essa
informação seja completa e acompanhada de elementos que permitam o leitor usa-la de forma
adequada. Ou seja, o valor notícia deve incorporar serviço na matéria jornalística em que a notícia,
para além de notificar o ocorrido, fornece informações, dados, utilidade pública e o contexto
(cultural, social, estatístico e histórico) para que a sociedade possa se situar e melhor se esclarecer.

Cobertura Jornalística

Compreende-se como cobertura jornalística o “trabalho de apuração de um facto no local de sua


ocorrência, para transformá-lo em notícia”; sendo assim, a cobertura jornalística é o acto de cobrir
uma série de factos ou eventos, que pode ser feita de forma planeada ou inesperada (RABAÇA e
BARBOSA, 2002).

A cobertura jornalística pode ser individual, feita por um só repórter, ou em equipa, vários
repórteres, encarregando-se, cada um, de um aspecto ou de um local envolvido no acontecimento.

Uma cobertura jornalística é o acto de um repórter ou uma equipa de reportagem, que pode ser
composta por câmeras, assistentes, fotógrafos, motoristas, ou seja, todos aqueles que trabalham num
veículo de comunicação social que vão até ao local de um facto ocorrido ou até mesmo a um evento
para apurar informações com o objectivo de produzir uma matéria noticiosa. É daí que o leitor,
ouvinte ou telespectador passa a ter acesso a informações do que aconteceu sobre um determinado
assunto.

Enquadramento Teórico

Neste capítulo, é feita a indicação da teoria ou teorias que serviram de base para a realização
desta investigação, sendo a fonte para a definição do quadro de categorias para a colecta,
tratamento, análise e interpretação de dados.

De acordo com Lakatos e Marconi (2003, p. 224),

A finalidade da pesquisa científica não é somente uma descrição de factos


levantados empiricamente, mas o desenvolvimento de um carácter interpretativo,
no que se refere aos dados obtidos. Opta-se por um modelo teórico que serve de
embasamento à interpretação do significado dos dados colhidos. Todo projecto
de pesquisa deve conter os pressupostos teóricos sobre os quais o pesquisador
fundamentará sua interpretação.
A presente pesquisa está assente na teoria sobre Análise de Cobertura Jornalística, sugerida por
Silva e Maia (2011).

Para Silva e Maia, a prática jornalística alicerça-se sobre a disciplina da verificação, isto é,
“sobre um método singular para abordar os acontecimentos, cessar fontes, analisar informações e
desenvolver relatos claros, que pode e deve vir à tona nos produtos”, revelando ao público o
máximo possível sobre os procedimentos de trabalho adoptados na cobertura (SILVA e MAIA,
2011).

De acordo com a teoria sobre Análise de Cobertura Jornalística, para se examinar como um
determinado veículo estrutura a cobertura de assuntos em geral ou de acontecimentos factuais
específicos, explorando as marcas das técnicas e estratégias de apuração, composição, disposição
e, consequentemente, angulação da notícia nas páginas do veículo, usa-se o método de análise de
cobertura jornalística.

Para as autoras,

“Este método pode ser empregue em matérias jornalísticas sobre qualquer tema,
assunto ou acontecimento. Isto porque, salienta-se que é preciso melhorar o
jornalismo em termos de seu reconhecimento como técnica alternativa, de
conseguir que os jornalistas possam assumir responsabilidades transformativas.
Daí que “a aplicação do método de análise de cobertura jornalística é para
investigar a confirmação do acontecimento jornalístico que se
dá nas estratégias e técnicas de apuração, composição e disposição visíveis no
texto, no caso, o impresso” (SILVA e MAIA, 2011).

Ainda de acordo com as autoras, o método de análise de cobertura jornalística, voltado para
analisar textos jornalísticos impressos e informativos, organiza-se em três níveis analíticos: (1º)
marcas da apuração, (2º) marcas da composição do produto e (3º) aspectos da
caracterização contextual. Sendo assim, importa ressaltar que as autoras defendem que cada
método olha para o objecto de estudo a partir de uma lente diferente.

 O primeiro, marcas da apuração, funciona como uma teleobjectiva: recai


exclusivamente sobre a matéria jornalística tomada de forma isolada, explorando
indícios do método de apuração e da estratégia de cobertura em close-up.
 O segundo, marcas da composição do produto, corresponde a uma lente normal, de
alcance médio, pois que oferece uma visão um pouco mais aberta do objecto,
enfocando deste modo não só o texto, mas o conjunto amplo do produto, como
localização no ordenamento, enquadramento, vídeo e outros aspectos.
 E o terceiro, aspectos da caracterização contextual, actua como uma grande angular
e não capta detalhes, mas oferece um plano geral do objecto, captando aspectos da
dimensão organizacional e do contexto sócio-histórico-cultural em que se insere a
produção jornalística.

De acordo com Silva e Maia (2011), os dois primeiros níveis constituem a espinha dorsal, uma
vez que são fundamentais para a análise do processo produtivo a partir do produto e que podem
ser suficientemente contemplados por meio da definição de categorias. Já o último nível é
complementar, visto que tem por objectivo contextualizar os dados obtidos nos níveis 1 e 2, além
de requerer a combinação com outros métodos.

Por essa razão, no caso específico da cobertura jornalística aqui investigada, sobre os casamentos
prematuros em Moçambique, serão aplicados os três níveis analíticos, uma vez que, para além de
questões de identificação e de composição dos artigos, far-se-á também a caracterização
contextual dos mesmos.

Para Silva e Maia (2011), o primeiro, o segundo e o terceiro níveis contêm os seguintes
elementos:

No (1º nível) Marcas da apuração observa-se:

1) Assinatura do artigo: repórter da matriz da redacção, que pode ser do sexo feminino e
masculino); correspondente; colaborador.
2) Acesso do jornalista ao local do acontecimento: se apuração in loco ou não (quando há ou
não, no texto, indícios de que o jornalista tenha se deslocado para o local do acontecimento).
3) Fontes de informação: trata-se das fontes consultadas, sejam ela, fontes governamentais (toda
aquela fonte que faz parte do governo, ou em representação do governo); particulares (que
podem ser da sociedade civil, empresas privadas, ONGs, partidos políticos… entre outras) e
informais (que podem ser as testemunhas, lesados na matéria, ou qualquer fonte que não fala
em representação de um organismo).

No (2º nível) Marcas da composição do produto são observados:

4) Géneros jornalísticos/Natureza do texto informativo: breve (peça de dimensão reduzida,


apenas condensa os aspectos essenciais do facto relatado); notícia (peça de estilo factual,
simples, concisa e directa, hierarquizando a informação por ordem de técnica da “pirâmide
invertida”); reportagem (a presença do jornalista no local do acontecimento e o contacto com
os protagonistas constituem procedimentos fundamentais na construção da reportagem); e
entrevista (situação comunicacional específica, caracterizada pela interacção dialógica entre
dois protagonistas identificados: o entrevistador e entrevistado).
5) Localização do artigo no veículo (TV): destaque; posição da matéria; bloco noticioso; seção
onde se inserem as matérias;
6) Recursos gráficos-visuais: vídeo; fotografia; gráfico ou tabela; boxe; infográfico; imagem
não- fotográfica (como ilustrações e montagens)

E, por último, no (3º nível) Aspectos da caracterização contextual observa-se:

7) Profundidade do artigo quanto às questões sobre violação sexual contra menores: Examinar
a relevância da informação se visa promover os direitos da mulher e rapariga; condenar a
prática de casamentos prematuros; e acima de tudo se os textos fazem análises dos contextos,
causas e consequências da vil lacão sexual contra a criança.

Quadro de Categorias para a colecta, análise e interpretação de dados

Categorias de Análise de Características

Conteúdo
Permite-nos observar se o artigo foi
assinado ou não. Caso esteja assinado,
Assinatura do artigo
Saberemos se o repórter foi do sexo
feminino ou masculino.
Observar se a apuração do acontecimento
Acesso do jornalista ao foi in loco ou não; isto é, quando há ou
local do acontecimento não, no texto, indícios de que o jornalista
esteve no local do acontecimento.
Observar no texto as fontes consultadas
Fontes de informação (governamentais, particulares e informais).

Marcas de Análise de Verificar se género jornalístico

Cobertura Informativo utilizado foi notícia;

Jornalística, Segundo Géneros jornalísticos Reportagem, entrevista ou breve, de modo

SILVA e MAIA a se constatar o mais utilizado.

(2011) Localização do artigo na Televisão,


Par ou ímpar, quadrante superior ou
Localização do artigo no
jornal Inferior; ou na manchete (se o assunto foi
Capa ou não); e a secção a que pertence.
Permite-nos verificar a existência ou não
Recursos gráfico-visuais
Vídeo; fotografia; gráfico ou tabela; boxe;
infográfico; imagem não- fotográfica.
Examinar se o artigo visa promover os
direitos da criança e rapariga; condenar a
Profundidade do artigo
prática de violação sexual contra a criança; e
quanto às questões sobre
perceber se os textos fazem análises dos
Violação sexual contra as
contextos, causas e consequências de
crianças.
Violação sexual.

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