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O SIGNIFICADO RELIGIOSO DOS SALMOS

O Livro de Salmos cumpre um papel único na Bíblia. Da mesma


maneira que o coração tem uma função especial no corpo humano, assim
os salmos funcionam nas Escrituras como a batida do coração da religião
de Israel. Neste livro de orações o povo da aliança encontrou sua escada
para o Céu. Ela alcança das mais baixas profundezas da agonia e
sofrimento humano às alegrias mais elevadas da comunhão com Deus.
Lamentos e gritos de desespero intercambiam com hinos de ação de
graças e louvor devido a respostas dramáticas às súplicas intensas. Este
intercâmbio vivo entre homem e Deus é talvez a razão mais profunda por
que o Livro de Salmos tem sido apreciado como a jóia inestimável na
Bíblia Hebraica por investigadores diante de Deus em todas as idades.
Provou ser uma fonte incessante de conforto espiritual e reavivamento.
Lutero e Calvino avaliaram o Saltério sobre os outros livros da
Santa Escritura. Lutero chamou o Livro de Salmos carinhosamente,
"uma pequena Bíblia", porque ele viu a Bíblia inteira resumida nele de
um modo bonito. Os salmos revelaram a Lutero não só as palavras e
ações dos crentes hebreus, mas suas mais cordiais e profundas
motivações.
Onde a pessoa encontra melhores palavras de alegria que nos Salmos
de louvor e ação de graças? Lá você olha dentro do coração de todos os
santos, como dentro de suaves e agradáveis jardins, sim, como dentro do
próprio céu. ... Por outro lado, onde você acha mais profundamente,
palavras mais dolorosas, mais lamentáveis de tristeza que nos Salmos de
lamentação? Lá novamente você olha dentro dos corações de todos os
santos, como dentro da morte, sim, como no próprio inferno. ... Isto lhe
ensina em alegria, temor, esperança, e tristeza a pensar e falar como todos
os santos pensaram e falaram. 1

Foi dito que nos salmos pode-se olhar dentro dos corações dos
santos hebreus, contudo até mesmo isso é só parte da verdade. Nos
salmos de Israel a pessoa pode olhar também dentro do coração de Deus.
O Significado Religioso dos Salmos 2
A Bíblia, inclusive os salmos, simplesmente não é um livro sobre
sentimentos piedosos de crentes. Mais que isso, também é uma revelação
do próprio coração de Deus.
Não só vemos o homem lutando com Deus, mas também Deus
lutando com a alma humana, comunicando ao homem Sua misericórdia e
poder, revelando a ele uma nova compreensão de Sua vontade e
propósitos. Os salmos não são meramente louvores subjetivos e gritos
por auxílio; eles são orações inspiradas que nos ensinam como alcançar
nosso Pai no Céu e como cultivar uma viva comunhão com Ele.
Nos salmos de outras nações antigas descobertos nos tempos
modernos – da Suméria, de Canaã, e do Egito 2 – pode-se observar
algumas diferenças básicas dos salmos de Israel. Aqueles contêm um
politeísmo pronunciado e lhes falta uma consciência clara de pecado e
culpa. A razão para isto é clara. Nos salmos piedosos de outras nações o
homem falava livremente do próprio coração, religioso realmente mas
sem as revelações de luz e amor do próprio coração de Deus. Os cânticos
hebraicos inspirados deste modo estão como uma classe sozinha.

Os Salmos: Uma Expressão Única de Revelação Divina

Qual é, então, o significado religioso e moral dos salmos de Israel?


Eles se erguem como exemplos inspirados de como Deus deseja que
respondamos com fé às Suas revelações autênticas e de Seus feitos nos
livros de Moisés. Os judeus criam que as cinco subdivisões dentro do
Livro de Salmos pretendia-se que fossem o eco da fé de Israel nos cinco
livros de Moisés. Embora este acordo formal não seja mais que uma
coincidência de semelhança externa, é verdade que os grandes fatos
históricos registrados na Torah – a criação e a queda, o dilúvio, a aliança
de Deus com Abram, Isaque, e Jacó, a redenção de Israel do Egito, a
entrega da lei e teofania no Sinai, e a jornada significativa pelo deserto –
tudo recebem uma resposta leal nos cânticos do santuário de Israel, como
pode ser visto em Salmos 8; 19; 78; 95; 104-106; 148. Deste modo a
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revelação de Deus por meio de Moisés foi gravada na memória de Israel
por via de sua repetição em cântico, um dos meios mais efetivos para
impressionar o coração com a verdade espiritual. A salmódia de Israel
mostra que a religião hebraica está baseado nos cinco livros de Moisés, o
Pentateuco. Porém, os salmos não só comemoram os atos redentivos de
Deus do passado, mas também explicam o significado da contínua
direção de Deus de Seu povo.
O significado mais vital da aliança de Deus com Israel se
concentrou nas promessas messiânicas feitas originalmente aos
patriarcas (Gên. 12:3; 49:10-12) para a salvação do mundo. O salmistas
estavam glorificando não a Israel ou Sião ou Davi mas o Deus de Israel,
porque Ele tinha escolhido Sião como o centro terrestre para o Seu reino
universal ao qual todos o povos estariam sujeitos. Todos são chamados
para O servir, como é notavelmente expresso nos Salmos 2 e 87. A
esperança messiânica não é restringida à salvação de Israel. O Dr. A.
Cohen, o comentarista judeu no Livro de Salmos, escreve:
A vindicação da nação não é senão um prelúdio para um desígnio mais
amplo. Toda uma série de salmos anuncia o advento de Deus como o Juiz
do mundo, cuja ordem de justiça virá a ser a causa de alegria. A aspiração
final é que toda a humanidade reconhecerá o Reinado Divino; e o supremo,
como também a chamada final é, Todo o ser que respira louve o Senhor. 3

O propósito dos salmos pode ser considerado como ensinar a todos


os homens como adorar Deus em Espírito e verdade, como fazer orações
eficazes, em que espírito trazer sacrifícios ao Templo, como interpretar o
mundo natural ao nosso redor, e o significado das leis de Israel e história
ativa. Tudo isso não é evidente por si mesmo; requer uma interpretação
inspirada.
Pius Drijvers diz:
Toda a vida de Israel, o desenvolvimento gradual da revelação, a
delícia de saber-se como a nação escolhida de Deus, as aflições da
perseguição, o desespero que é o resultado do pecado e ingratidão do
homem – tudo isso é francamente experimentado e francamente expresso
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em cântico nos salmos. Em resumo, o todo do AT é refletido nos salmos.
Não há nenhuma única experiência da alma de Israel que não seja expressa
lá. Os salmos são a expressão mais plena da revelação de Deus no AT. 4

Muitos salmos são compostos por Davi, o "doce salmista de Israel"


(2 Sam. 23:1), que não só teve um coração poético e o dom de tocar lira
(1 Sam. 16:18), mas também o espírito de profecia (2 Sam. 23:2-3; cf.
Atos 2:30, "sendo um profeta", em relação ao Sal. 16). Provavelmente
ele compôs vários salmos quando jovem enquanto ainda era pastor nas
colinas solitárias da Judéia. Acompanhado de sua lira, Davi deve ter
derramado sua alma sensível nas letras de adoração e louvor enquanto
contemplava as obras de Deus na natureza e na história de Israel. Mais
tarde, quando ele foi acusado falsamente e perseguido, seu coração
solitário clamou ao seu Pastor divino por ajuda, garantia de vindicação
divina, e reavivamento de alma. O propósito universal dos salmos de
Davi nas orações de todos os santos futuros é bem expresso por E. G.
White:
A comunhão com a natureza e com Deus, o cuidado de seus rebanhos,
os perigos e os livramentos, os pesares e as alegrias, coisas que eram
próprias à sua humilde condição, não somente deviam modelar o caráter de
Davi, e influenciar na sua vida futura, mas também deveriam, mediante os
salmos do suave cantor de Israel, e em todas as eras vindouras, acender o
amor e a fé nos corações do povo de Deus, levando-os mais perto do
coração sempre amante dAquele em quem vivem todas as Suas criaturas. 5

Os salmos de Davi não só representaram sua pessoal projeção para


com Deus. Despertando emoções semelhantes nos corações de todo o
Israel, os cânticos sagrados de Davi estavam na providência de Deus
aceita na liturgia oficial da adoração de Israel no Templo de Jerusalém.
Então todo o Israel começou a cantar os cânticos e pedir as orações
compostos por Davi. Quem pode contar a influência de longo alcance
dessas inspiradas liturgias de cânticos sagrados que louvaram o amor fiel
e a misericórdia do Deus de Israel? Eles despertaram nova coragem e
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lealdade para com o SENHOR (Yahweh) no coração do povo de Deus,
livrando-os da idolatria e superstição. Os que ouviram e cantaram os
salmos de Israel beberam de uma fonte de águas vivas brotando da
presença de Deus, reavivando a alma.
O valor religioso incalculável do Saltério é basicamente de uma
dupla natureza: os salmos fornecem tanto um registro autêntico dos
sentimentos religiosos e insights dos santos de Israel quanto um
verdadeiro padrão ou norma das emoções e pensamentos sobre Deus e o
homem para a adoração de Deus por todos os homens.

O Chamado de Israel: Louvar o Senhor

Os salmos refletem a compreensão de Israel da obra de Deus na


criação e redenção, de Sua providência e propósito para com o mundo e
sua história. Através do livro de salmos Deus despertou Israel a buscar
um conhecimento mais profundo dEle e deste modo também de si
mesmos.
Os salmos de Davi passam por uma série completa de experiências,
desde as profundezas da culpabilidade consciente e condenação própria,
até a fé mais sublime e mais exaltada comunhão com Deus. O registro de
sua vida declara que o pecado apenas pode trazer ignomínia e desgraças,
mas que o amor e a misericórdia de Deus podem alcançar as maiores
profundidades, que a fé erguerá a alma arrependida para que participe da
adoção de filhos de Deus. De todas as declarações que se contêm em Sua
Palavra, é isto um dos mais fortes testemunhos da fidelidade, da justiça e da
misericórdia de Deus em Seu concerto. 6

Os salmos refletem a sensação de Israel, não só da santidade de


Deus, mas também – por meio de contraste – do egocentrismo inato ou
pecaminosidade, que não têm igual na literatura de outras nações. Acima
de tudo, eles testemunham do caráter surpreendente de Yahweh como o
Criador e Sustentador do mundo, o Redentor de Israel, e o Juiz de todas
as nações. Os salmos de Israel inflamaram fé, esperança, e amor no
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coração do povo de Deus em todos os tempos e os pôs em liberdade da
escravidão dos deuses das idades, de materialismo e espiritualismo
igualmente. Há uma experiência religiosa mais satisfatória, uma
realização mais profunda da expansão da alma por Deus, que a que
Asafe teve?
A quem tenho nos céus senão a ti?
E na terra, nada mais desejo além de estar junto a ti.
O meu corpo e o meu coração poderão fraquejar,
mas Deus é a força do meu coração
e a minha herança para sempre.
(Sal. 73:25-26, NVI)

Tais testemunhos de louvor exaltam o santo Deus de Israel. Davi


diz poeticamente que Deus é “entronizado nos louvores de Israel" (Sal.
22:3, RSV). Os crentes hebreus consideraram a exaltação do seu Deus da
aliança a própria essência de vida, até uma questão de vida ou de morte.
Os mortos não louvam o Senhor,
tampouco nenhum dos que descem ao silêncio.
Mas nós bendiremos o Senhor,
desde agora e para sempre! Aleluia!
(Sal. 115:17, 18, NVI)

Se eu morrer, se eu descer à cova,


que vantagem haverá?
Acaso o pó te louvará?
Proclamará a tua fidelidade?
Que lucro está lá em minha destruição,
(Sal. 30:9, NVI)

Quem morreu não se lembra de ti.


Entre os mortos, quem te louvará?
(Sal. 6:5, NVI)
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Louvando o Senhor por Sua misericórdia e bondade era a própria
essência de vida para Israel. Quando o Rei Ezequias caiu seriamente
doente – "a ponto de morte" – ele suplicou a Deus por restauração de
vida:
Pois a sepultura não pode louvar-te,
a morte não pode cantar o teu louvor.
Aqueles que descem à cova
não podem esperar pela tua fidelidade.
Os vivos, somente os vivos, te louvam.
(Isa 38:18, 19, NVI)

Isto expressa a profunda convicção da fé de Israel de que onde há


vida real, há louvor de Yahweh. Onde há morte, não há nenhum louvor!
A possibilidade de uma vida que não louva Deus não está sendo
considerada. Deus criou Israel para o único propósito "que eles
proclamem meu louvor" (Isa 43:21). Não pode haver tal coisa como
verdadeira vida sem o louvar o Criador. Sem o exaltar a Deus, o homem
fica desorientado e é privado da alegria no Senhor:
Por que você está assim tão triste, ó minha alma?
Por que está assim tão perturbada dentro de mim?
Ponha a sua esperança em Deus!
Pois ainda o louvarei;
ele é o meu Salvador e o meu Deus.
(Sal. 42:11, NVI)

A versão hebraica do axioma de Shakespeare, “Ser ou não ser, eis a


questão!" é, “Louvá-Lo ou não louvá-Lo, a questão!" A Bíblia Hebraica
chama o Livro de Salmos "Louvores” (Tehillim), sugerindo a principal
crença da religião hebréia. O salmistas consideraram os seus salmos
abertos para todos os gentios para uni-los em sua adoração de Deus.
Com meus lábios louvarei o Senhor.
Que todo ser vivo bendiga o seu santo nome para todo o sempre!
(Sal. 145:21, NVI)
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Há sabedoria na deliberação:
Em vez de lamentar, chorar, e desesperar, quando dificuldades nos
sobrevêm como uma inundação e ameaçam nos subjugar, se nós não
apenas orássemos por ajuda de Deus, mas O louvássemos por tantas
bênçãos dadas, louvá-Lo que Ele pode nos ajudar, nosso curso estaria
agradando mais a Ele, e nós veríamos mais de Sua salvação. 7

Os Salmos e Cristo

Cristo reconheceu que Sua missão, tanto em Seus sofrimentos e


triunfos vindouros, foi prefigurada nas experiências do salmistas. Claro,
Cristo sofreu uma realidade mais profunda de angústia de alma que Davi
jamais passou. Davi, como o rei de Sião, serviu como um tipo do
Messias, o seu Senhor. Parece portanto inadequado só falar de alguns
salmos selecionados como salmos messiânicos. Todos os salmos
possuem um valor de excessivo misterioso que pode ser discernido à luz
da vida de Cristo e do Novo Testamento.
Os salmos reais não só têm em vista as virtudes do rei de Israel em
Jerusalém, mas também vêem as glórias do Rei divino de Israel na
perspectiva deles. O rei terrestre desaparece, então, atrás do maior Rei
vindouro, o Messias de Israel. Os salmos reais exaltam o Cristo e se
tornam profecias veladas do grande Filho de Deus e do Seu reino
vindouro. À luz do Novo Testamento torna-se gradualmente mais claro
que Jesus Cristo não é meramente Aquele sobre quem os salmos falam,
mas também Aquele que inspirou os salmos.
Cristo explicou aos judeus que todas as Escrituras testemunharam
dEle (João 5:39). Depois de Sua ressurreição dos mortos, Cristo
apareceu aos Seus discípulos e os ajudou a entender is filamentos
messiânicas na Bíblia Hebraica. Ele os reprovou até mesmo por serem
demasiado lentos para discernir a ordem messiânica de dois
aparecimentos de acordo com as suas Santas Escrituras.
Ele lhes disse: “Como vocês custam a entender e como demoram a
crer em tudo o que os profetas falaram! Não devia o Cristo sofrer estas
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coisas, para entrar na sua glória?” E começando por Moisés e todos os
profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as
Escrituras. (Lucas 24:25-27, NVI).
E disse-lhes: “Foi isso que eu lhes falei enquanto ainda estava com
vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito está
escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. Então lhes abriu o
entendimento, para que pudessem compreender as Escrituras. (Lucas
24:44-45, NVI).

Jesus Cristo não foi tomado de surpresa quando um dos apóstolos


de sua confiança decidiu traí-Lo com um beijo para as autoridades
sanguinárias. Quando Judas levantou-se da última ceia para cumprir sua
conspiração secreta, Jesus viu Judas cumprir um papel que fora predito
na traição de Davi por seu conselheiro de maior confiança:
“Não estou me referindo a todos vocês; conheço os que escolhi. Mas
isto acontece para que se cumpra a Escritura: ‘Aquele que partilhava do meu
pão voltou-se contra mim’.
Depois de dizer isso, Jesus perturbou-se em espírito e declarou: “Digo-
lhes que certamente um de vocês me trairá”. (João 13:18, 21, NVI).

Jesus citou Salmo 41 no qual Davi se queixou ao Senhor:


Até o meu melhor amigo, em quem eu confiava
e que partilhava do meu pão,
voltou-se contra mim.
(Sal. 41:9, NVI)

Foi a visão notável de Cristo ver na experiência histórica da traição


de Davi (veja 2 Sam 15:12, 31) um tipo da experiência do Messias. Jesus
entendeu Sua missão, então, ser um sofrimento mais profundo e traição
pior do que a que o Rei Davi tinha passado. Cristo reconheceu Sua
missão ser também rejeitada com ódio infundado no Salmo 69. Aqui
Davi se queixou a Deus, "Os que sem razão me odeiam são mais do que
os fios de cabelo da minha cabeça; muitos são os que me prejudicam sem
motivo, muitos, os que procuram destruir-me." (Sal. 69:4, NVI). A
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experiência de Jesus de ser odiado e perseguido pelos líderes judeus é
interpretado por Ele como uma extensão do ódio anterior contra Davi.
Depois que os Seus milagres messiânicos fossem rejeitados, Jesus apelou
para o Salmo 69:4:
“Mas agora eles as viram [as obras de Jesus] e odiaram a mim e a meu
Pai. Mas isto aconteceu para se cumprir o que está escrito na Lei deles:
‘Odiaram-me sem razão’.” (João 15:24, 25, NVI).

Estes salmos do sofrimento de Davi não pareciam ter qualquer


significado messiânico, mas Jesus discerniu neles um significado
tipológico, levantando a necessidade de uma “cumprimento" mais
profundo. Cristo também olhou além de Sua missão humilde,
reivindicando a exaltação subseqüente da adoração universal que os
salmos oferecem ao sofredor e perseguido Rei (veja Sal. 2:2, 7-9, 12;
22:1, 2, 22-28; 89:38-51, 26-29). Os salmos retratam o padrão do Rei de
ir através do sofrimento à gloria. Cristo foi o primeiro que compreendeu
os salmos reais de Israel em sua aplicação messiânica para Ele.

Os Salmos e o Cristão

Um estudioso declara com referência ao Livro de Salmos:


O livro possivelmente é mais grandemente estimado entre os cristãos
do que pelos judeus. Se aos cristãos fosse permitido reter apenas um livro
no Antigo Testamento, eles quase certamente escolheriam os Salmos. 8

Nos salmos Deus ensina que Seus filhos alcançarão sua última meta
de entrar no Reino de Deus só por via de humilhação e miséria. Contudo,
exatamente nos vales da sombra de morte, nas profundezas de angústia e
desamparo, eles experimentam a misericórdia pessoal de Deus mais
plenamente. Sofrer se torna para eles algo mais que ira divina; torna-se
uma oportunidade de conhecer o milagre de companheirismo íntimo com
Deus (veja Sal. 23). Esta comunhão da alma com o Senhor era tão real a
Davi que ele escreveu: "Porque teu amor é melhor do que a vida, meus
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lábios te glorificarão” (Sal. 63:3). Quase todo salmo assegura ao
adorador que Deus se lembra dos oprimidos, que Ele ouve os seus gritos
por ajuda, que Ele responde as orações, que Ele libertará o suplicante,
que Ele vindicará o crente contra falsos acusadores e será um refúgio a
todos os nEle confiam. Além disso, além de libertação do sofrimento
vem a chamada a exaltar as obras do divino Libertador e glorificar o Seu
nome, testemunhando de Sua graça indizível. Isto é visto como o
significado mais profundo de sofrimento pela a causa de Deus (Sal. 22;
118). O Deus de Israel é o Deus da salvação presente e futura.
A maioria dos salmos foi composta para a adoração comunal de
Israel de Yahweh ou adaptado para a liturgia dos festivais anuais para
celebrar os atos de salvação de Yahweh na história do Seu povo da
aliança.
Quando certa vez os discípulos ouviram por acaso Jesus orando
intimamente ao Pai, eles ficaram tão profundamente impressionados que
eles Lhe pediram: "Senhor, ensina-nos a orar!" (Lucas 11:1). Embora a
oração seja uma função natural de nossa alma, não sabemos por natureza
como devemos orar. Os desejos e as esperanças de nosso coração não
são orações eficazes! Não sabemos como alcançar o coração de Deus, ter
certeza de que Deus nos ouve. Nós temos que aprender a orar. Uma
criança aprende a falar porque seu pai e sua mãe falam com ele. Ele
aprende a fala dos seus pais. Assim nós aprendemos a falar com Deus
porque Deus falou-nos em Sua Palavra. Por meio das orações que Deus
inspirou nos corações de Davi, Asafe, Moisés, e de Cristo na Bíblia, nós
podemos ter acesso a Deus. Como Bonhoeffer diz:
Nós devemos falar a Deus e ele quer nos ouvir, não na falsa e confusa
fala de nosso coração, mas na fala clara e pura que Deus falou a nós em
Jesus Cristo. 9

O livro de Salmos é o livro de orações da Bíblia. Aqui nós somos


ensinados, não o que nós queremos orar, mas o que Deus quer que nós
oremos em nome de Jesus Cristo, Seu Filho amado.
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No Novo Testamento as doxologias de Maria – o " Magnificat" – e
de Zacarias –o "Benedictus" – em Lucas 1:46-55, 67-69 mostram que os
hinos de Israel foram aplicados para agradecer a Deus por Seu presente
cumprimento das promessas messiânicas. Os salmos também formavam
uma parte essencial de adoração na igreja apostólica:
Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e
aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos,
hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração.
(Colossenses 3:16, NVI).

O entoar cânticos sagrados é "um dos meios mais eficazes para


impressionar o coração com as verdades espirituais. Quantas vezes, ao
coração oprimido duramente e pronto a desesperar, vêm à memória
algumas das palavras de Deus – as de um estribilho, há muito esquecido,
de um hino da infância – e as tentações perdem o seu poder, a vida
assume nova significação e novo propósito, e o ânimo e a alegria se
comunicam a outras pessoas! ... Como parte do culto, o canto é um ato
de adoração tanto como a oração.” 10
No último livro da Bíblia é dado um vislumbre da glória celestial ao
redor do trono de Deus. Anjos divinos estão cantando cânticos de
adoração e ação de graças (Apoc. 4-5). A nota tônica do céu é o louvor a
Deus pelo que Ele é e fez por toda a Sua criação.

Referências

1 Luther's Works (St. Louis: Concordia Publishing House), vol. 35, pp. 255,
256.
2 See J. H. Patton, Canaanite Parallels in the Book of Psalms (Baltimore: J.
Hopkins Press, 1944); J. B. Pritchard, ed., Ancient Near Eastern Texts,
3d ed., pp. 573-591.
3 The Psalms, 11th ed. (London: Soncino Press, 1974), p. xiii.
4 The Psalms: Their Structure and Meaning (London: Herder, 1965), pp. 4,
5 (italics supplied).
O Significado Religioso dos Salmos 13
5 Patriarcas e Profetas (Tatuí, S. P.: Casa Publicadora Brasileira), p. 642.
6 Ibid., pág. 754.
7 Life Sketches of Ellen G. White (Mountain View, Calif.: Pacific Press,
1915), p. 258.
8 John R. Sampey, in The International Standard Bible Encyclopedia
(Grand Rapids, Mich.: Eerdmans), vol. 4 (1915), p. 2487.
9 Psalms: The Prayerbook of the Bible (Minneapolis: Augsburg Publishing
House, 1970), p. 11 .
10 Ellen G. White, Educação (Tatuí, S. P.: Casa Publicadora Brasileira),
pág. 168.

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