Você está na página 1de 7

CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS – UNIGRAN

FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE DIREITO
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
PROF. FERNANDO MACHADO

AULA 05 – PLANO DE BENEFÍCIOS: QUALIDADE DE


SEGURADO, SALÁRIO-DE-BENEFÍCIO, PERÍODO DE CARÊNCIA E
RENDA MENSAL

1. Introdução

Nossa quinta aula é de suma importância para o estudo do Direito


Previdenciário, pois aqui estão presentes institutos que são específicos da disciplina:
qualidade de segurado, salário-de-benefício, período de carência e renda mensal.
Trata-se de institutos específicos, pois não possuem relação com nenhuma
outra disciplina jurídica. Não obstante a especificidade deste conteúdo, é justamente
aqui que residem as maiores dificuldades na compreensão da disciplina, motivo pelo
qual nosso estudo deve ser bastante atento.
Além do mais, faremos uma breve retomada do instituto de salário-de-
contribuição, tratado na aula anterior, para facilitar a diferenciação dentre eles.

1. Salário-de-contribuição

Como foi dito na aula 03, o salário-de-contribuição é a base de cálculo sobre


a qual incide a contribuição do segurado, que engloba toda remuneração que o segurado
obrigatório obteve até o limite máximo estabelecido para a Previdência Social.
Ressalta-se que o segurado especial é o único que não possui salário-de-
contribuição, devido ao tratamento diferenciado que ele possui na hora de contribuir.
Cada tipo de segurado terá um conceito diferenciado de salário-de-contribuição.
Como já estudamos, para os segurados empregados e trabalhadores avulsos,
o salário-de-contribuição consistirá na remuneração auferida em uma ou mais empresas,
assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer
título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma,
inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos
decorrentes de reajuste salarial. Portanto, não se prenda apenas ao salário, já que o
salário-de-contribuição será a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a
qualquer título. Assim, mesmo que o empregador não pague o segurado, as verbas
devidas ou creditadas também integrarão o salário-de-contribuição.
Já no caso do segurado empregado doméstico, o salário de contribuição
consistirá na remuneração registrada na Carteira de Trabalho e Previdência Social. No
caso do doméstico, portanto, é um valor fixo até o limite máximo do salário-de-
contribuição.
Para o contribuinte individual o salário-de-contribuição será a remuneração
auferida em uma ou mais empresas e/ou pelo exercício de sua atividade por conta
própria, durante o mês, observados os limites máximo e mínimo como já vimos. Por
último, temos o segurado facultativo o salário-de-contribuição consistirá não na
remuneração, já que ele não exerce atividade remunerada, mas no valor por ele
declarado, observados os limites máximo e mínimo. (MENDONÇA, 2017, p. 117-118)

2. Manutenção e Perda da Qualidade de Segurado

Como regra geral podemos afirmar que a qualidade de segurado se mantém


enquanto forem pagas as contribuições previdenciárias para o custeio do RGPS, como
por exemplo, no caso do empregado enquanto durar o vínculo empregatício ou do
segurado especial, durante a continuidade do exercício de atividade rural.
Assim, podemos conceituar qualidade de segurado como a condição
necessária para obtenção de benefícios previdenciários.
Para explicar melhor a aplicabilidade da qualidade de segurado podemos
fazer uma analogia com um plano de saúde ou com um seguro privado: para que o
beneficiário possa usufruir dos serviços prestados pelo plano de saúde ele deverá estar
vinculado regularmente ao plano, ou seja, estar em situação regular com o pagamento
das mensalidades. Da mesma forma acontece com o seguro de um veículo, pois para
que o segurado possa obter o prêmio do seguro em caso de algum infortúnio, ele deverá
estar em situação regular com a seguradora.
Essa mesma regra aplica-se ao segurado da Previdência Social: para que
possa receber algum benefício da Previdência é necessário que o segurado esteja
vinculado à Previdência Social por meio das contribuições previdenciárias, em outras
palavras, só poderá ter acesso aos benefícios previdenciários aquele que tiver qualidade
de segurado.
Podemos afirmar então, que mantém qualidade de segurado aquele que
contribui para a Previdência Social (no caso do empregado, empregado doméstico,
trabalhador avulso, contribuinte individual e facultativo) ou que exerce atividade rural
em regime de economia familiar (no caso do segurado especial).
Contudo, para proteger o segurado, o art. 13 do Decreto 3.048/99,
estabelece algumas situações em que a pessoa poderá manter a condição de segurado da
Previdência Social, mesmo sem estar contribuindo. Esse período em que a pessoa
mantém a qualidade de segurado mesmo sem contribuir é chamado de período de
graça.
Veremos detalhadamente cada uma das hipóteses em que o segurando
mantém sua qualidade mesmo sem contribuir:

a) sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício, exceto


do auxílio-acidente: esta regra mantém a qualidade de segurado de quem está em gozo
de benefício, por exemplo em auxílio-doença ou aposentadoria por idade. Assim,
mesmo que não haja contribuição do segurado aposentado, caso ele venha a óbito, seus
dependentes terão direito à pensão por morte.

b) Até doze meses após a cessação de benefício por incapacidade ou


após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer atividade
remunerada abrangida pela previdência social ou estiver suspenso ou licenciado
sem remuneração1: caso o segurado deixe de contribuir para a Previdência Social, ele
não perde a proteção automaticamente, pois terá um período em que ele continuará
protegido, que equivale ao período de 12 meses contados a partir da última contribuição
ou da cessação do benefício por incapacidade.
Este prazo será prorrogado por mais doze meses, se o segurado já tiver pago
mais de cento e vinte contribuições mensais sem interrupção que acarrete a perda da
qualidade de segurado, chegando a 24 meses.
No caso do segurado que trabalhava com carteira assinada, esse prazo do 1º
será acrescido de doze meses para o segurado desempregado, desde que comprovada

1
Redação sob efeito da MEDIDA PROVISÓRIA Nº 905, DE 11 DE NOVEMBRO DE 2019, que institui
o Contrato de Trabalho Verde a Amarelo.
essa situação por registro no órgão próprio do Ministério do Trabalho e Emprego,
conforme definem os parágrafos 1º e 2º do art. 13 do decreto 3.048/99.

Exemplo: João trabalhava com carteira assina (segurado empregado) em uma empresa e
foi demitido em 12 de abril de 2017. Em dezembro de 2017, João sofreu um acidente,
ficando incapacitado de trabalhar. João terá direito a benefício previdenciário? A
resposta é sim, pois João estava no chamado período de graça, e mantém a qualidade de
segurado por 12 meses após a última contribuição, ou seja, até abril de 2018.

c) Até doze meses após cessar a segregação, o segurado acometido de


doença de segregação compulsória: se refere às doenças que exigem isolamento do
convívio social em virtude da gravidade ou risco de contágio, como a tuberculose, que
assegura o período de graça de 12 meses ao segurado após o fim da segregação.

d) Até doze meses após o livramento, o segurado detido ou recluso:


aquele que era segurado no momento de sua reclusão mantém a qualidade de segurado
por mais doze meses após o livramento.

e) Até três meses após o licenciamento, o segurado incorporado às


Forças Armadas para prestar serviço militar: quando o segurado é convocado para
prestar serviço militar, contará com período de graça de três meses após o
licenciamento.

f) Até seis meses após a cessação das contribuições, o segurado


facultativo: o segurado facultativo (aquele que não possui renda mas opta por
contribuir), manterá a qualidade de segurado por seis meses após a última contribuição.

3. Período de Carência

A carência representa uma regra para a preservação do equilíbrio do sistema


previdenciário. Conforme define o art. 26 do Decreto 3.048/99, período de carência é o
tempo correspondente ao número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para
que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do
primeiro dia dos meses de suas competências.
Em outras palavras, é o tempo mínimo de contribuição para obtenção de
determinados benefícios.
Lembrando que para o segurado especial, não se exige contribuição
propriamente dita, pois considera-se período de carência o tempo mínimo de efetivo
exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, igual ao número de meses
necessário à concessão do benefício requerido.
Nesse sentido, estabelece o art. 25 do da lei 8.213/91:

Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de


Previdência Social depende dos seguintes períodos de carência,
ressalvado o disposto no art. 26:
I - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez: 12 (doze)
contribuições mensais;
II - aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de serviço e
aposentadoria especial: 180 contribuições mensais.
III - salário-maternidade para as seguradas de que tratam os incisos V
e VII do caput do art. 11 e o art. 13 desta Lei: 10 (dez) contribuições
mensais, respeitado o disposto no parágrafo único do art. 39 desta Lei;
IV - auxílio-reclusão: 24 (vinte e quatro) contribuições mensais.

Desse modo, são exigidos para a concessão dos benefícios dos benefícios
de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, o mínimo de 12 contribuições. Isso
evita que a pessoa se filie ao INSS somente depois de descobrir doença.
Contudo existem algumas exceções, pois não se exige carência nos casos de
concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez nos casos de acidente de
qualquer natureza ou causa, bem como nos casos de segurado que, após filiar-se ao
Regime Geral de Previdência Social, for acometido de algumas doenças mais graves,
como as doenças ou afecções especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da
Saúde e da Previdência e Assistência Social a cada três anos, de acordo com os critérios
de estigma, deformação, mutilação, deficiência ou outro fator que lhe confira
especificidade e gravidade que mereçam tratamento particularizado (art. 30, III, Decreto
3.048/99).
A aposentadoria exige no mínimo 180 contribuições (15 anos), podendo
variar o tempo de acordo com a modalidade da aposentadoria, para os segurados que
ingressaram no mercado de trabalho antes da Emenda Constitucional nº 103, de 12 de
novembro de 2019. A partir desta data, os homens deverão contribuir com no mínimo
20 anos de contribuição para aposentadoria (para as mulheres permanecem os 15 anos).
E por fim, o salário-maternidade para as seguradas contribuinte individual,
especial e facultativa, será exigido 10 meses de carência, podendo ser antecipado esse
prazo em caso de parto antecipado. Essa regra impede que a segurada se filie à
Previdência Social somente após descobrir a gestação.
Cabe ressaltar que alguns benefícios independem de carência, que são os
seguintes:

Art. 26. Independe de carência a concessão das seguintes prestações:


I - pensão por morte, salário-família e auxílio-acidente;
II - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez nos casos de acidente
de qualquer natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho,
bem como nos casos de segurado que, após filiar-se ao RGPS, for
acometido de alguma das doenças e afecções especificadas em lista
elaborada pelos Ministérios da Saúde e da Previdência Social,
atualizada a cada 3 (três) anos, de acordo com os critérios de estigma,
deformação, mutilação, deficiência ou outro fator que lhe confira
especificidade e gravidade que mereçam tratamento particularizado;
III - os benefícios concedidos na forma do inciso I do art. 39, aos
segurados especiais referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei;
IV - serviço social;
V - reabilitação profissional.
VI – salário-maternidade para as seguradas empregada, trabalhadora
avulsa e empregada doméstica.

Nas hipóteses do art. 26, não será necessária a verificação de um número de


meses para efeito de carência. Por exemplo, caso um trabalhador com carteira assinada,
após trabalhar um único dia em uma empresa, sofre um acidente e vem a óbito, seus
dependentes terão direito à pensão por morte, mesmo ele tendo trabalhado apenas um
dia.
4. Salário-de-Benefício e renda mensal

As regras para cálculo do valor dos benefícios atualmente são reguladas


pelo art. 26 da Emenda Constitucional nº 103, de 12 de novembro de 2019, que até que
lei discipline o cálculo dos benefícios do regime próprio de previdência social da União
e do Regime Geral de Previdência Social, será utilizada a média aritmética simples
dos salários de contribuição e das remunerações adotados como base para
contribuições a regime próprio de previdência social e ao Regime Geral de
Previdência Social, atualizados monetariamente, correspondentes a 100% (cem
por cento) do período contributivo desde a competência julho de 1994 ou desde o
início da contribuição, se posterior àquela competência.
Uma vez calculada a média aritmética dos salários-de-contribuição, o valor
do benefício de aposentadoria corresponderá a 60% (sessenta por cento) da média
aritmética definida, com acréscimo de 2 (dois) pontos percentuais para cada ano de
contribuição que exceder o tempo de 20 (vinte) anos de contribuição nos casos de
homem e 15 anos no caso das mulheres.

Referências

CASTRO, Carlos Alberto Pereira de Manual de. Direito previdenciário / Carlos


Alberto Pereira de Castro, João Batista Lazzari. – 20. ed. rev., atual. e ampl.– Rio de
Janeiro: Forense, 2017.

MENDONÇA, Vinicius Barbosa. Direito Previdenciário para Concursos Públicos. 7ª


Edição – Revista e Atualizada. Janeiro/2017.

SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito previdenciário esquematizado / Marisa


Ferreira dos Santos; coord. Pedro Lenza. 3. ed. de acordo com a Lei n. 12.618/2012 –
São Paulo: Saraiva, 2013.

Você também pode gostar