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Artigo

Estratégias de Ensino/Aprendizagem em Ambientes


Virtuais: Estudo Comparativo do Ensino de Língua
Estrangeira no Sistema EaD e Presencial
Priscilla Chantal Duarte Silva 1
Ricardo Shitsuka 2
Gustavo Rodrigues de Morais 3

RESUMO Palavras-chave: ensino-aprendizagem;


educação a distância; ensino de línguas;
O ensino de línguas vem se modificando
estratégias de ensino.
com a evolução dos recursos tecnológicos. A
educação a distância surgiu como solução para
ABSTRACT
superar barreiras físicas e temporais. Investiga-
se a recepção das estratégias de ensino/aprendi- Language teaching has been changing
zagem utilizada sob o ponto de vista do aluno, with the evolution in technological resources.
levantam-se parâmetros comparativos de análi- Distance learning (DL) has emerged as a
se da qualidade, ensino e principais diferenças solution to overcome physical and time
que cerceiam as tipicidades didáticas. O traba- barriers. This study investigates the receptivity
lho apresenta análise dos critérios de avaliação of applied teaching and learning strategies
do aprendizado com base nos princípios de from the student’s point of view, establishes
aproveitamento de estudos, didática, interação, comparative parameters for quality analysis,
sistema de avaliação e modelos interacionais teaching, and main differences that interfere
na época da cibercultura. Para direcionamen- on the varied Educational models. It presents
to metodológico conta-se com viés explorató- an analysis of the learning progression
rio com uso de questionário, seguindo escala evaluation criteria, based on principles
Likert para pesquisa qualitativa. O indicativo such as performance, didactics, interaction,
de análise demonstrou que o aluno de EaD re- evaluation system and interactional models
conhece, de forma positiva, os recursos de at a time of cyber culture. For methodological
ensino/aprendizagem nesta modalidade, em guidance with an exploratory approach, Likert
contraposição ao tradicional. A carência por scale questionnaire was used for qualitative
uma relação mais humana subjaz a outra maior: results. The indicative analysis has shown that
a mudança da visão política sobre o ensino/ the DL student acknowledges the teaching-
aprendizagem EaD. learning resources in a positive manner, in

1
Universidade Federal de Itajubá; priscillachantal@unifei.edu.br
2
Universidade Federal de Itajubá; ricardoshitsuka@unifei.edu.br
3
Universidade Federal de Itajubá; gustavmorais@unifei.edu.br
Volume 12 − 2013
contrast to the traditional model. The need for 1. INTRODUÇÃO
a more human approach lies behind an even
greater necessity: shifting the political view on Com o advento da internet, as pesso-
teaching/learning under DL. as estão passando mais tempo diante da tela
12 do computador, realizando as mais variadas
Keywords: teaching and learning; distance atividades. Além disso, a vida agitada tem
education; language teaching; teaching strategies
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proporcionado, cada vez mais, a busca por


atividades a distância, seja para a realização
RESUMEN de pagamentos, inscrições e os mais diver-
sos contextos, até cursos virtuais. Todavia, a
La enseñanza de idiomas viene modi-
autonomia da modalidade a distância trouxe
ficándose con la evolución de los recursos
consigo também uma série de discussões refe-
tecnológicos. La educación a distancia surgió
rentes à eficácia e à seriedade da EaD, também
como solución para superar barreras físicas y
conhecida como e-learning.
temporales. Se investiga la recepción de las es-
trategias de enseñanza/aprendizaje utilizada Conhecido como um curso voltado
bajo el punto de vista del alumno, se resaltan para as pessoas com falta de tempo, o curso
parámetros comparativos de análisis de cali- na modalidade virtual sempre teve um caráter
dad, enseñanza y principales diferencias que dinâmico e objetivo. Numa versão moderna,
limitan las tipicidades didácticas. El trabajo os moldes virtuais vieram substituir as anti-
presenta análisis de los criterios de evaluación gas modalidades impressas dos cursos por
del aprendizaje con base en los principios de correspondência e suprir uma carência de
aprovechamiento de estudios, didáctica, inte- tempo. Contudo, ganhar o respaldo da edu-
racción, sistema de evaluación y modelos de cação brasileira, sobretudo no que concer-
interacción en la época de la cultura cyber. ne aos padrões dos cursos autorizados pelo
Para direccionar la metodología se cuenta Ministério da Educação, nos casos dos cursos
con sesgo exploratorio usando cuestionario y de graduação, sempre foi um desafio. Afinal,
siguiendo la escala Likert para investigación foram muitos anos de ensino presencial para
cualitativa. El indicativo de análisis demos- a adoção de um novo padrão de ensino-
tró que el alumno de EaD reconoce, de forma aprendizagem. Nesse sentido, modificar a
positiva, los recursos de enseñanza/aprendi- forma de valorizar o ensino a distância ainda
zaje en esta modalidad, en contraposición é algo que se encontra em processo.
al tradicional. La carencia por una relación Porém, em decorrência de uma série de
más humana subyace a otra mayor: el cam- metodologias e problemas pedagógicos, no
bio de la visión política sobre la enseñanza/ ensino superior no Brasil, muitas instituições
aprendizaje EaD. têm adotado essa forma de ensino-aprendi-
Palabras-clave: enseñanza-aprendizaje; zagem, muitas vezes para a complementação
educación a distancia; enseñanza de idiomas; e oferta de disciplinas. Com isso, alguns es-
estrategias de enseñanza. tereótipos surgiram, como a de que a nova
modalidade veio banalizar a forma de ensino

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Estrangeira no Sistema EaD e Presencial
ou a de que os alunos, liberados da presença mesmo abre novas possibilidades, como reali-
física nas universidades, acabam não tendo zar turismo e lazer, pois, além da língua, o es-
o mesmo aproveitamento que a modalidade tudante aprende, também, um pouco da cul-
presencial. tura do outro país. Vale lembrar que o ensino
de línguas vai além da decodificação do idio- 13
Com o ensino de línguas, não foi dife-
ma, pois é preciso que o aluno compreenda
rente, somado a todas as dificuldades naturais

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não só o conceito, mas também a cultura da
da educação de línguas, como a de fazer o alu-
língua estudada. Para isso, é preciso ensinar
no realmente aprender uma língua estrangei-
a pensar na nova língua, isto é, comunicar-
ra (LE) sem sair do país de origem. Na moda-
se e interagir. No caso do ensino de línguas,
lidade a distância, esse desafio agrava-se, no
o aprendizado de línguas pauta-se nas habi-
sentido de faltar, normalmente, a interação
lidades: leitura (reading), escrita (writing),
face a face. É bastante comum ouvir de pes-
fala (speaking) e compreensão auditiva (lis-
soas que nunca tiveram uma experiência de
tening). Nesse contexto, o ensino de idiomas
aulas em EaD certo receio de que a qualidade
na modalidade virtual deve verificar formas
seja inferior ao sistema convencional. Porém,
eficientes para que todas as habilidades sejam
deve-se levar em conta, nesse caso, que mui-
contempladas com o mesmo nível de quali-
tos dos sistemas convencionais também pos-
dade. Sendo assim, realizou-se uma pesquisa
suem, em grande parte, problemas dos mais
exploratória, de cunho qualitativo, na qual se
diversos, sendo necessário, portanto, avaliar
procurou verificar as principais contraposi-
na verdade, não a modalidade, mas as estra-
ções da modalidade presencial e a virtual para
tégias de ensino/aprendizagem de qualquer
se levantar paradigmas que norteiam a rela-
curso, independente da modalidade.
ção de recursos e estratégias para o ensino da
Em decorrência de tal realidade, faz-se língua estrangeira em ambas as modalidades,
necessário avaliar como o processo de ensi- sob a orientação de que se verifique meios de
no/aprendizagem de língua estrangeira (LE) otimização da EaD, no que concerne ao ensi-
tem sido trabalhado nos ambientes virtuais. no/aprendizagem de LE.
Em outros termos, averiguar como o dis-
cente constrói o conhecimento de uma LE,
2. A EVOLUÇÃO E A DINÂMICA DO
com todas as limitações do distanciamento ENSINO DE EaD NO BRASIL
físico professor/aluno. Para isso, fazemo-nos
valer de uma análise qualitativa, a fim de de- A educação a distancia não é nova no
preender quais as principais limitações dos Brasil. Consta que a primeira escola nacional
métodos de avaliação mais empregados no a oferecer cursos a distância foi o Instituto
sistema de ensino/aprendizagem. Monitor, na década de 30 do século ante-
rior (Costa; Faria, 2008, Alves; Zambalde;
Aprender um segundo idioma ajuda a
Figueiredo, 2004).
desenvolver no estudante as possibilidades de
alcançar novas amizades, aumenta a empre- Na época do início da EaD no Brasil,
gabilidadee, em casos mais avançados, per- utilizava-se a correspondência. Os estudan-
mite que se descubram novos negócios e até tes liam o material didático e realizavam os

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exercícios que vinham no final de cada módu- de várias ferramentas de interação, tais como:
lo e enviavam as folhas de resposta preenchidas comunicação oral por meio do Skype, por
para a escola. Esta recebia os exercícios envia- meio de celular, participação em fóruns, salas
dos pelos alunos e passava para um instrutor de bate-papo com ou sem visualização para
14 corrigir, atribuir a nota e enviar os resultados tira-dúvidas e interação, grupos de discussão
para o aluno verificar o que acertou ou errou para interação entre alunos e tutores, além de
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e o motivo do acerto ou erro. O processo era permitir envio de arquivos, murais de traba-
lento, mas ajudou a formar muitas gerações. lhos, entre outros.
Esse processo contava com algumas limitações
A educação a distância, antes considera-
como é o caso da falta de diálogo, principal-
da impossível, tem, hoje, uma abertura de es-
mente no caso dos cursos de línguas, em que a
tratégias eficientes para a viabilidade de ensi-
interação é fundamental para se dominar todas
no na modalidade virtual. Destarte, a EaD teve
as habilidades de leitura, fala, escrita e compre-
um salto nas formas de ensino/aprendizagem,
ensão auditiva. A parte oral podia ser fornecida
pois foi preciso se adaptar às necessidades das
por meio de discos ou fitas cassetes de grava-
limitações que cerceiam a modalidade virtual.
dores, as quais continham as falas e pronúncias
Grosso modo, a materialização de ambientes
existentes nos textos. Esse método mais anti-
e as metodologias educacionais inovadoras,
go não permitia a interação entre o aluno e o
sobretudo com o auxílio das tecnologias di-
professor de modo que o aluno pudesse apren-
gitais, potencializaram a EaD, de modo que
der o conceito das palavras em outro idioma,
o ensino/aprendizagem fosse contemplado
portanto, apenas uma técnica de repetição ou
com uma nova política de educação.
behaviorismo4. No ensino da língua inglesa,
como também em outras línguas estrangeiras, A educação processa-se por meio de
o aluno não podia exercitar a pronúncia das comunicação, seja escrita, oral, por meio de
palavras e confirmar a evolução do domínio gestos, símbolos ou interação humana. Com
da língua diretamente com o professor, de uma a evolução dos meios de comunicação, tam-
forma imediata. bém ocorreu a evolução da EaD no Brasil e
no Mundo. Em 2010, já havia cerca de um
Com a evolução dos meios de comuni-
milhão de estudantes matriculados em cursos
cação, a EaD passou a ser realizada por meio
a distância em nível superior, conforme
de rádio, posteriormente por meio de televi-
destaca Pereira (2010), uma realidade em nú-
são e filmes e mais recentemente, por meio
meros que tende a aumentar tanto na educa-
do computador conectado à Internet, na for-
ção superior, como também em outros níveis
ma online 5. Com a evolução na produção de
educacionais e cursos livres.
softwares e sistemas educativos de educação a
distância, a EaD, de um modo geral, teve um Contudo, para Teperino (2006), a edu-
grande avanço, pois foi possível a elaboração cação a distância no país, apesar de todos os

4
Do termo inglês behaviour ou do americano behavior, significa conduta, comportamento – é um conceito
generalizado que engloba a teoria da repetição, do aprendizado mecanizado, proposto por Skinner.
5
Ibidem.
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avanços na área, encontra-se ainda em estágio Além disso, a utilização de cenas de fil-
incipiente, sofrendo preconceitos acadêmi- mes e trechos de música são complementados
cos, inclusive, que a relegaram à categoria de com a intermediação do professor para a re-
um tipo de educação massificante e de segun- petição e compreensão auditiva da LE, como
da categoria. Nesse prisma, vale investigar os também a criação de cenários reais de contex- 15
modelos e práticas educacionais, a fim de que to para simulação de situações cotidianas de

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se possa repensar a eficácia das modalidades emprego da língua em estudo. Nesse contexto,
de ensino/aprendizagem para adoção de no- o simulacro funciona como estratégia de con-
vas medidas educacionais mais adequadas a vencimento e aproximação da LE à realidade
cada modalidade. de uso de comunicação nas mais variadas si-
tuações cotidianas, em que o aluno depara-se
3. ESTRATÉGIAS DE ENSINO/APRENDIZA- com a necessidade de se expressar na LE den-
GEM EM AMBIENTES PRESENCIAIS tro de situações “reais”, de forma que o conta-
to e a interação estejam em foco.
O ensino de línguas tradicional é conhe-
cido pela didática de se preservar a aprendi- Outras estratégias ainda são bastante
zagem das quatro habilidades: leitura, escrita, vigentes, como a redação sobre um tema es-
compreensão auditiva e fala. Sendo assim, a colhido, leitura em voz alta e o próprio relato
utilização da gramática consiste numa fer- pessoal, como gênero da oralidade, a fim de
ramenta de trabalho indispensável, uma vez que o aluno obtenha a capacidade de redigir,
que a estrutura da língua pode ser encontrada ler e expressar-se sobre temas familiares. Em
nesse tipo de obra. Entretanto, outras ferra- todos os níveis de domínio da LE, seja no
mentas foram sendo pensadas para ampliação Inglês ou em outra língua, essas estratégias
do vocabulário, de modo que o aluno e o pro- têm desafiado a modalidade de ensino virtual.
fessor não ficassem presos à gramática, como Em geral, a modalidade presencial de
mera reprodução dos conteúdos seguidos de ensino/aprendizagem de línguas também
regras estanques. possui suas limitações, sobretudo no que
Como apontam Richards e Rodgers concerne à efetiva aprendizagem de uma se-
(2001), muitos professores têm utilizado livros gunda língua sem ter qualquer experiência
contendo leituras curtas com passagens em de convívio com a língua estudada o tempo
língua estrangeira, contendo listas de vocabu- todo. Muitas vezes, o aluno estuda a LE pou-
lários para leitura silenciosa e oral para discus- cas vezes por semana, restringindo, dessa for-
são do conteúdo na outra língua. Vale destacar ma, o contato com a língua em grande parte
que a contextualização da cultura na LE é tam- do tempo. Nesses moldes, a contraposição do
bém relevante para que, além do vocabulário, o ensino/aprendizagem de uma língua, seja no
aluno possa compreender o emprego da língua modelo presencial ou a distância, esbarra nas
à determinada situação de comunicação. Para mesmas condições, não havendo, portanto,
isso, o ensino presencial tem adotado estraté- tantas distinções, senão o suporte empregado.
gias de diálogos e discussões em sala de aula,
a fim de que o aluno possa interagir.

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Além disso, os diferentes métodos de se 4. ESTRATÉGIAS DE ENSINO-
ensinar a língua inglesa, por exemplo, ultra- APRENDIZAGEM EM AMBIENTES
passam os problemas enfrentados pelo padrão VIRTUAIS E RECURSOS TECNOLÓGICOS
virtual. Dessa forma, obter a expertise na língua
16
No suporte virtual, o ensino-aprendi-
estrangeira estudada requer, antes de mais, de
zagem de língua estrangeira, assim como ou-
interatividade. Richards e Rodgers (2001) ain-
tros conteúdos de ensino, teve de se adaptar
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da lembram que, a princípio, os mesmos pro-


aos moldes cibernéticos na medida em que
cedimentos usados para se ensinar o Latim são
se fazia necessário. Nesse sentido, tal como
ainda previstos nos livros-textos, tais como:
aponta Lévy (2001; 2004), a Internet abriu
regras gramaticais, lista de vocabulário e sen-
novas possibilidades de comunicação com di-
tenças para tradução. Nessa metodologia, a fala
ferentes ferramentas, em que o conhecimen-
restringe-se à leitura oral, não se construindo,
to é construído por trocas de experiências e
nesse sentido, um sistema ativo de linguagem,
compartilhamento de uma nova cultura – a
o que, consequentemente, não retrata a relação
cibercultura. Nessa dimensão, a construção
para uma comunicação real.
da aprendizagem é ilimitada, de modo que
Para os autores, o objetivo de se estudar os conteúdos, antes fechados e determinados,
uma LE é aprender para ser capaz de ler sua ultrapassam as delimitações, buscando novos
literatura e dedesenvolver a mente. Eles de- horizontes.
fendem que a tradução gramatical é uma for-
Sob esse aspecto, o aluno na EaD deve
ma de se observar detalhes das regras grama-
adotar esse perfil da cultura virtual para que
ticais e seguir aplicações desse conhecimento.
se enquadre à modalidade de forma ativa e
Contudo, aprender uma língua consiste em
participativa. Da mesma forma, o papel do
algo mais que simplesmente memorizar re-
docente nas mídias digitais está direcionado à
gras e fatos, de modo que o sujeito entenda e
organização, controle e coordenação das prá-
manipule a morfologia e a sintaxe da LE.
ticas educacionais, adotando metodologias de
Stern (1983:455) aponta que, em geral, ensino/aprendizagem sob os moldes das múl-
“a primeira língua é mantida como um sis- tiplas tecnologias. Deve-se ter em mente, nes-
tema de referência na aquisição da segunda”. se caso, que essas consistem em fortes aliadas
Sob esse aspecto, vale lembrar que as estraté- para motivar, ilustrar, apresentar e compor
gias utilizadas na modalidade presencial têm conteúdos das aulas, a fim de torná-las atra-
sido transferidas, de alguma forma, para o tivas e interativas, conforme destacam Hack
plano virtual, seguindo certa adaptação do su- e Negri (2010).
porte da internet. Nesse sentido, as estratégias
O uso das Tecnologias da Informação
têm contribuído para que e-learning alcanças-
e Comunicação – TIC, no EaD, revelam por
se também a eficácia no conceito de ensino/
si só uma nova roupagem ao ensino-apren-
aprendizagem da língua inglesa no Brasil.
dizagem, de forma que o professor passa a
ser o mediador e o aluno tem a possibilida-
de de explorar várias mídias no momento
da aprendizagem. Nesse caso, as múltiplas
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habilidades do docente são requisitadas, haja leitura e a escrita podem ser aprimoradas com
vista a necessidade de reinventar estratégias a utilização da linguagem em blogs, fóruns e,
de ensino/aprendizagem, utilizando-se ferra- de certo modo, de todas as redes sociais, de
mentas digitais. A princípio, tem-se observa- modo que o aluno interaja. Sendo assim, a
do uma tentativa de transposição das estra- utilização das TIC oferece infinitas oportuni- 17
tégias empregadas na modalidade presencial dades de interação.

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com adaptação do suporte virtual. Contudo,
O impacto trazido pelas transforma-
a interação passa a predominar e, consequen-
ções causadas pelas TIC (Tecnologia de
temente, orientar a prática docente, num
Informação e Comunicação) faz emergir um
princípio de construção conjunta do conheci-
novo conceito cultural – a cibercultura, um
mento. Assim, é preciso que o docente elabo-
novo mercado de informações. A presen-
re sua didática considerando as múltiplas mí-
ça dos elementos tecnológicos na sociedade
dias. Nesse contexto, pode-se dizer que essas
vem transformando o modo dos indivíduos
ferramentas buscam “compensar” a carência
se comunicarem, se relacionarem e cons-
da presença física em prol da aprendizagem
truírem conhecimentos. “Somos hoje pra-
no mundo virtual.
ticamente vividos pelas novas tecnologias”
Com a EaD, o professor adaptou sua (NOVA e ALVES, 2002, p.1). Logo, as TIC
metodologia de ensino, antes, exclusivamen- compreendem, hoje, ferramentas para uma
te voltada para o contato pessoal e coletivo nova geração e construção do conhecimento.
em sala de aula para outras formas de ativi-
A diferença do ensino de LE conven-
dades dos conteúdos da LE no meio digital e,
cional para a modalidade a distância, nesse
para isso, foi preciso investir nas ferramentas
contexto, centra-se somente na diferença do
digitais como novas estratégias, como o uso
suporte. A Internet, na EaD é o único conta-
do correio eletrônico, fóruns, redes sociais,
to, sendo, portanto, fundamental que a orien-
aplicativos, além do trabalho no Ambiente
tação didático-pedagógica organize-se em
Virtual de Ensino e Aprendizagem (AVEA)6.
torno dos recursos tecnológicos. Destarte,
Richards e Renandya (2010) lembram a EaD para ensino de LE pode ter a mesma
que uma forma eficaz de desenvolver-se a qualidade que o sistema convencional desde
habilidade de produção oral, no caso de uma que as TIC estejam com as ferramentas ade-
LE, é a exposição de um estímulo visual para quadas para um ensino voltado para a inte-
comentário. Por exemplo, é possível se traba- ração e práticas linguageiras. Sendo assim, é
lhar com: cenas ou trailers de filmes; partes necessária a capacitação didático-pedagógica
de documentários ou desenhos animados; do docente para que este esteja atualizado
vídeos no Youtube, dicionários e jogos vir- quanto à utilização das TIC e quanto à trans-
tuais; reportagem ou telejornais em LE para posição didática adequada para a modalidade
reflexão em atividade de comunicação oral. A a distância. Mesmo porque, muitas pesquisas

6
O AVEA é uma plataforma que contém as disciplinas e seus conteúdos assim como todas as ferramentas que
objetivam estabelecer comunicação e interação entre os envolvidos no processo de construção do conhecimento
a distância.

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antes realizadas de forma off-line, hoje, são didáticas em sua prática de ensino. No caso
realizadas no âmbito da Internet. Com isso, das línguas, o savoir à enseigner deve com-
não é nenhuma novidade que estudantes co- preender uma transposição de forma a ser
mecem a ver a EaD como um sistema natural orientada sobre as práticas de conversação e
18 e não necessariamente inferior ou de baixa conhecimentos culturais da língua estrangei-
qualidade pelo suporte. ra (LE), de modo que leve ao aluno, práticas
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sociais. A didatização, portanto, conforme


Em variados ambientes virtuais, todo o
aponta Chevallard (1985) organiza as situa-
trabalho de design é voltado para a atração do
ções de aprendizagem, adaptando os conte-
aluno à aprendizagem. Nesse caso, não basta
údos ao nível dos estudantes e aos objetivos
apenas elaborar o conteúdo em um modelo
pedagógicos.
de apresentação, mas a utilização de exemplos
reais e de cunho imagético, como imagens,
curtas, documentários entre outros. auxiliam 5. METODOLOGIA
na interatividade. Nesse aspecto, deve-se lem-
A pesquisa exploratória caracteriza-se
brar que as tecnologias são utilizadas como
por ser uma pesquisa inicial sobre um deter-
fontes para se criar condições de aprendiza-
minado assunto. Em pesquisas exploratórias
gem, tendo em vista os conteúdos, isto é, pen-
de cunho qualitativo, realizam-se entrevistas
sar em formas criativas de se trabalhar com a
com as pessoas objeto de estudo (Severino,
informação.
2007, Ludke; André, 1986). Sendo assim, no
De certo modo, a EaD é um desafio para presente estudo, procurou-se levantar, de
o docente renovar sua forma de trabalho para modo inicial, os dados, utilizando-se a técnica
criar meios de inovar sua transposição didática de questionário, em uma escola de educação
(TD). Esse conceito (TD) teve origem na didá- a distância, em que os alunos têm um encon-
tica de ensino de Matemática com Chevallard tro presencial semanal. Com efeito, o questio-
(1985) e trouxe às demais ciências o mesmo nário foi elaborado sob a ótica da escala Likert
princípio: o de transformar o saber científico para que se pudesse analisar as impressões
ou objeto de saber a um objeto de ensino, isto quanto à eficácia do ensino/aprendizagem
é, construído numa linguagem mais didática, na modalidade virtual, em contraposição à
conforme destaca o autor. Nesse contexto, o modalidade presencial. O caráter qualitativo,
autor aponta três tipos de saber: conhecimen- muitas vezes, faz uso de um viés quantitati-
to acadêmico (savoir savants); conhecimento vo que complementa a pesquisa, permitin-
a ser ensinado (savoir à enseigner) e conheci- do que se realize uma análise mais completa
mento a conhecer (savoir appris). (Yin, 2010). A possibilidade de realizar uma
pesquisa qualitativa com vertente quantitati-
No que tange ao ensino de línguas,
va foi realizada no presente estudo, visando a
muitas vezes os conteúdos são ensinados por
um melhor aproveitamento dos dados, mui-
um profissional com conhecimentos cientí-
tos dos quais foram tabulados e quantificados.
ficos das letras. Contudo, deve atender tam-
bém às necessidades pedagógicas do sistema Realizou-se um estudo de campo com
onde está inserido, adotando metodologias alunos de uma escola de idiomas presencial e
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Estrangeira no Sistema EaD e Presencial
com alunos de um curso de aprendizado de Grande Belo Horizonte, região da capital mi-
idiomas a distância, além de uma investiga- neira. O questionário utilizado envolveu ques-
ção exploratória em curso de graduação em tões iniciais básicas, como é o caso da primei-
Letras –Licenciatura em Língua Inglesa a dis- ra questão, na qual se pergunta se o estudante
tância e presencial, além de curso de Inglês é de curso presencial ou curso a distância, 19
na modalidade virtual e presencial. Os dados importante para se diferenciar a modalidade

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foram coletados em questionário individual educacional. Na questão seguinte, perguntou-
aplicado aos alunos desses cursos. Para tanto, -se a idade do aluno. Nessa variável, o fator foi
utilizaram as respostas obtidas no questioná- a relação com o tipo de aprendizado ou pela
rio para comparação entre as modalidades de opção do aluno por uma ou outra modalida-
ensino. Por questões éticas, não se colocou, de. Nesse aspecto, verificou-se que os alunos
na pesquisa, o nome dos respondentes nem de EaD, em geral, enquadram-se na faixa etá-
das escolas nas quais foram realizados os le- ria de 30 a 40 anos, ou mais, enquanto a mo-
vantamentos. Para isso, utilizou-se um ques- dalidade presencial ainda é uma opção prefe-
tionário no qual, para cada afirmação, havia rida pelos jovens de 13 a 29 anos. Contudo, a
a possibilidade de se atribuir as notas entre 1 preocupação maior era com o fato de saber se
e 5. Trabalhou-se a escala likert por se tratar os alunos, na modalidade EaD, tinham uma
de uma escala padronizada e mundialmente percepção positiva quanto às estratégias de
conhecida, cujo critério de análise é de ordem ensino/aprendizagem utilizadas na modalida-
qualitativa e quantitativa. de virtual. Comparativamente, traçou-se um
O levantamento campal foi realizado parâmetro de estratégias entre a EaD e o pre-
entre os meses de maio a agosto de 2012, na sencial no ensino de LE.

PESQUISA ANÔNIMA _ ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA

Obrigado pela participação!

1. Seu curso é presencial ( ) ou é a distância ( ) Nome do curso:__________________

2. Qual a sua idade: ______ e sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

3. Há quanto tempo você estuda no curso? ____________ Está satisfeito com o curso:
( ) sim ( ) não ( ) indiferente.

4. Já estudou alguma língua estrangeira a distância? ( ) sim ( ) não

5. Já fez algum outro curso a distância? ( ) sim ( ) não

6. Por que optou pela modalidade a distância?

7. Por que optou pela modalidade presencial?

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8. Para as questões seguintes, dê uma nota de 1 a 5, onde:

1 = Não concordo totalmente.

2 = Não concordo parcialmente.


20
3 = Indiferente.
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4 = Concordo parcialmente.

5 = Concordo totalmente.

Questionário:

8.1. “Gosto de aprender inglês”. ( )

8.2. “Eu acho que quem estuda em cursos a distância aprende mais que no ensino
presencial”. ( )

8.3. “Não gosto de estudar em cursos a distância”. ( )

8.4. “Nos cursos a distância, a gente sente solidão, pois está todo mundo longe. ( )

8.5. “Com os recursos atuais de internet e comunicação, aprende-se com facilidade


mesmo a distancia”. ( )

8.6. “Tanto faz o ensino presencial ou a distncia, o importante é estudar. ( )

8.7. “Prefiro curso de inglês, há muita interação face a face e conversação”. ( )

8.8. “Eu aprendo muito com o professor ou tutor”. ( )

8.9. “Eu aprendo muitocom os colegas do curso”. ( )

8.10. “Eu aprendo muito com o material didático do curso. ( )

8.11. “Meu curso conta com recursos de tecnologia”. ( )

8.12. “Sou atendido rapidamente pelo professor ou tutor”. ( )

8.13. “Meu curso usa Internet como apoio para eu aprender”, nota. ( )

8.14. “No meu curso, aprendi lendo, mas a conversação é fraca”. ( )

8.15. “As avaliações no meu curso são muito boas”. ( )

8.16. “Aprendo vendo figuras e filmes”. ( )

8.17. “Aprendo mais lendo”. ( )

8.18. “Aprendo mais interagindo com colegas e professores”. ( )

8.19. “Após concluir este curso, pretendo continuar estudando e vou fazer cursos
a distância”. ( )

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Estrangeira no Sistema EaD e Presencial
8.20. “Consigo organizar meu tempo para estudar as matérias do meu curso”. ( )

8.21. “Prefiro cursos de línguas com estratégias dinâmicas de ensino/aprendizagem,


com recursos tecnológicos”. ( )
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8.22. “O material didático utilizado é adequado à modalidade de ensino/aprendizagem”. ( )

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9. Tenho algumas sugestões para quem quer estudar línguas a distância e vou escrever no
verso.

Em análise, observou-se que 77% dos As questões seguintes referem-se à for-


entrevistados que já tinham estudado inglês ma como o aluno aprende, tanto no ensino
dentro e fora do suporte virtual, escolhe, hoje, presencial, como na educação a distância, isto
a modalidade virtual, em função da praticidade, é, se são aprendizes visuais, leitores ou preci-
comodidade e dos recursos audiovisuais empre- sam de interação com tutores, professores ou
gados na modalidade a distância, como também colegas e se a interação, na sua modalidade,
do material didático dinâmico e, algumas vezes, é considerada suficiente. Nesse parâmetro,
com recursos de computação gráfica. verificou-se que 99% dos entrevistados, con-
siderando tanto os de curso de licenciatura,
Comparando-se o ensino de formação
quanto os de curso de idiomas, acham que
docente com o ensino regular de inglês em
a interação é fundamental nos cursos a dis-
escolas de idiomas, verificou-se que os alunos
tância e que esses devem buscar aprimorar os
do primeiro tipo de curso observam também
recursos disponíveis para melhorar a aprendi-
os recursos didáticos-pedagógicos utilizados
zagem nessa modalidade.
em ambas as modalidades (presencial e vir-
tual) e buscam nos cursos, além da formação Afinal, a ausência de contato físico pode
teórica, o desenvolvimento didático. Nesse ser, segundo informações dos entrevistados,
aspecto, observou-se que os alunos de EaD superado pelo contato em áudio e vídeo.
reconhecem e elogiam o trabalho desenvolvi- Nesse caso, a videoconferência é uma opção
do pelos professores e tutores desses cursos, bastante eficaz que pode ser utilizada, ainda
recomendando o avanço da modalidade. que esporadicamente, na modalidade virtual,
a fim de sanar possível carência do contato
Quando questionado se o aluno gosta
face a face. Nas respostas abertas, verificou-
de aprender o idioma inglês, procurou-se ve-
-se que a maior preocupação dos estudantes
rificar que, segundo a teoria da aprendizagem
de EaD diz respeito ao retorno do docente
significativa, para que um estudante aprenda
ao aluno. Muitos informaram que é preciso
alguma coisa com mais facilidade, é preciso
administrar uma sintonia entre aluno e pro-
que conte com uma “predisposição”, ou seja,
fessor/tutor, pois, muitas vezes, o retorno não
que esteja motivado para que o aprendizado
corresponde ao ritmo de trabalho do aluno.
ocorra (Ausubel, 1980).

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Sendo assim, é preciso que a modalidade a vezes, nos dizem muito mais do que os autores
distância estude meios eficazes de ensino/ imaginam” (BAUER; GASKELL, 2008:189).
aprendizagem, voltados para as necessidades
Por meio das respostas apresentadas no
de cada curso.
questionário, constatou-se as impressões do
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corpo discente quanto à eficácia das estraté-
6. ESTUDO COMPARATIVO E RESULTADOS gias de ensino/aprendizagem empregadas na
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Constatou-se que os alunos da modali- EaD para o ensino de língua Inglesa, de modo
dade a distância contam com mais idade que a verificar as reais necessidades da modali-
os da presencial, tanto para o curso de idiomas, dade virtual. Utilizando-se a escala Likert,
quanto para a Licenciatura em Letras com ha- verificou-se que as estratégias interativas são
bilitação em Inglês. A diferença entre as mé- as mais bem reconhecidas pelo aluno da mo-
dias de idade das duas modalidades (presencial dalidade a distância, haja vista os inúmeros
e virtual) ficou em torno de 7 anos e seis meses. recursos utilizados pelos docentes para atrair
Esse fato indica que os alunos de cursos a dis- e evitar a evasão do aluno do EaD. Com per-
tância, em geral, são mais experientes que os da guntas objetivas, constatou-se que, do ponto
educação presencial para os dois tipos de cur- de vista discente, os recursos de som e ima-
sos, envolvendo o ensino de idiomas. gem como ferramentas de trabalho são atra-
tivos que facilitam a aprendizagem, principal-
Os alunos do ensino presencial não mente na modalidade a distância.
conhecem os cursos a distância e em geral
ainda moram com os pais e muitos ainda não A grande maioria dos estudantes, 93%
estão no mercado de trabalho, ao passo que a tanto do ensino presencial como de EaD são
EaD conta com mais alunos que trabalham e, aprendizes visuais e os modelos mais antigos
muitas vezes, são chefes de suas famílias con- de plataformas educacionais consideravam
tendo com menos tempo para o estudo. o ensino com uso de textos. Com a evolu-
ção, houve a inserção de sons, vídeos e, mais
No que concerne aos meios didáticos de recentemente, o uso de recursos de Skype que
ensino, tanto os cursos presenciais como tam- permitem a conversação ao vivo entre o pro-
bém aqueles a distância fazem uso de textos fessor e seu aluno, ou entre os alunos, como
para leitura e arquivos em áudio e vídeo para é o caso do curso a distância considerado.
treinamento da pronúncia e compreensão au- Com o uso dos novos recursos, o aprendi-
ditiva. No caso do curso a distância, o aluno zado tem sido facilitado e houve a tendência
pode ver vídeos na tela do computador, ao dos estudantes a distância considerarem bem
passo que no presencial se trabalha, normal- as avaliações em questões que envolvem in-
mente, com CD e DVD. teração entre alunos e professor. A interação,
A parte escrita ainda é muito importan- nesta comunidade, faz com que se melhore o
te nas modalidades. De um modo geral, “os aprendizado. Afinal, como afirma Vygotsky
textos, do mesmo modo que as falas, referem- (2011), a interação social faz com que ocorra
-se aos pensamentos, sentimentos, memórias, o aprendizado.
planos e discussões das pessoas, e algumas

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A EaD é uma modalidade educacional Este tipo de trabalho contribui com estraté-
que tem se beneficiado pela evolução da Internet gias para que os cursos considerem as teorias
a qual tem possibilitado a melhoria na interação, educacionais, utilizem ferramentas do tipo
seja por meio de fóruns, chats, Skype, videocasts, Storyboards, que apresentam, de modo visual
podcasts e, mais recentemente, por ambientes de e rápido, a organização e sequência de traba- 23
realidade virtual como é o caso do Second Life. lhos nos cursos. Pelo trabalho dos designers, é

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possível desenvolver atividades que envolvam
A evolução da web consiste na interface
os alunos e os façam participar do contexto,
gráfica da Internet ou as páginas de Internet.
de modo a diminuir a evasão escolar e au-
A Web 2.0 trabalha com ferramentas interati-
mentar a satisfação explicitada pelos mesmos
vas como é o caso do Facebook, Skype, MSN,
em relação aos cursos.
Fóruns e chats. O curso de EaD considerado
faz uso de Skype que é uma tecnologia que Para que ocorra a interação, é muito
permite que os alunos interajam por telefo- importante a atuação do agente como núcleo
ne com baixo custo. O fato é coerente com ou indutor desse processo que pode ser o
as respostas de 100% dos alunos da modali- professor na educação presencial ou o tu-
dade que afirmaram que seu curso funciona tor na EaD. Tanto numa como em outra, as
na Internet, diferente dos alunos do ensino respostas dos alunos apontaram para a im-
presencial, cujas respostas indicaram que seu portância dessa interação com cerca de 87%
curso, normalmente, não faz uso da Internet. considerando a nota 5 para a mesma.

Adeptos da EaD têm repensado formas


6.1. Categorização por tipo de aprendizes
de explorar os mesmos princípios do ensino visuais, auditivos e/ou textuais
presencial, com as ferramentas que o meio
virtual oferece ou mesmo buscando novas Não foram observadas diferenças sig-
estratégias, voltadas para a nova modalida- nificativas quando comparados os aprendi-
de. Assim, o processo de ensino/aprendiza- zes visuais, auditivos ou textuais, nos grupos
gem não ficou limitado apenas à sala de aula, considerados e em relação às associações com
mas ultrapassou limites físicos, oferecendo a preferência por uma ou outra modalidade
ao discente a própria construção do conheci- educacional. Também não foram observadas
mento no seu ambiente particular. As ferra- diferenças dessas categorias em relação à ida-
mentas virtuais, embora sejam essenciais em de ou que pudessem sugerir alguma estratégia
EaD, não são somente utilizadas nesse meio. particular para algum dos grupos.
Muitas vezes, essas ferramentas são utilizadas
no sistema convencional para atrair alunos e 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
estimular o emprego da LE em diversos con-
As redes sociais e as salas de bate-papo
textos de interação.
têm sugerido uma interação dialógica inte-
Um dos trabalhos mais importantes ressante, visto que o aluno pratica a LE em
para que os cursos a distância fiquem mais conversações rápidas. A rigor, trata-se de uma
aderentes às realidades de seus alunos é o estratégia de mostrar ao aluno maneiras de vi-
emprego de bons Designers Instrucionais. venciar a língua dentro do seu próprio país e

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realidade, mostrando-lhe formas de interação O ensino de língua estrangeira é bene-
funcionais para a aprendizagem. Algumas es- ficiado pela existência das duas modalidades,
colas têm buscado até mesmo esses recursos, pois há pessoas que se adaptam mais a al-
utilizando a conversação com o nativo, no in- gumas delas, portanto, há espaço para con-
24 tuito de aprimorar a mesma nos níveis mais vivência de ambas e o beneficiário maior é
avançados. Há instituições de ensino que ain- o estudante que conta com opções para que
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da estão presas ao sistema convencional, seja aprenda melhor. De qualquer modo e, em


por falta de recursos ou mesmo por não acre- qualquer modalidade, é mister que o aluno
ditarem na modalidade a distância. queira aprender e se responsabilize também
pela aprendizagem, no sentido de buscar
Nesse sentido, os recursos tecnológicos
informação.
auxiliam para a quebra de barreiras físicas,
antes inevitáveis. A utilização de jogos na es-
fera virtual também tem levado à tona formas REFERÊNCIAS
de aprendizado dentro e fora da sala de aula,
ALVES, Rêmulo Maia; ZAMBALDE, André
de modo que o aluno busque ampliar seus co-
Luiz; & FIGUEIREDO, Cristhiane Xavier.
nhecimentos de LE em diversos contextos.
Ensino a Distancia. UFLA/FAEPE, 2004.
Tudo indica que, nas escolas verificadas,
AUSUBEL, David P. et al. Psicologia educacio-
o emprego da Web 2.0 e suas ferramentas está
nal. São Paulo: Interamericana, 1980.
fazendo com que a modalidade EaD ganhe
espaço no ensino de idiomas. Nesse caso, o BROWN, H. D. Principles of Language
uso de novas ferramentas também deve ser Learning and Teaching. Englewood Cliffs,
associado a estratégias de Design Instrucional N.J.: Prentice Hall, 1980.
para que se obtenham cursos mais aderentes CHEVALLARD, Yves. La transposition didac-
às necessidades dos alunos. tique: Du savoir savant au savoir enseigné.
Com toda essa tecnologia e mudança Grenoble, La penséesauvagem 1985.
de utilização de ferramentas de ensino/apren-
COSTA, Karla da S.; FARIA, Geniana G. EAD
dizagem, a EaD tem ganhado cada vez mais
– sua origem histórica, evolução e atualida-
espaço no mercado, permitindo uma flexibili-
de brasileira face ao paradigma da educação
dade no ensino, considerando-se, todavia, to-
presencial. Publicado em maio 2008 no
das as vantagens e os empecilhos dessa nova
Congresso da ABED. Disponível em:
modalidade. Os autores Richards e Rodgers
<http://www.abed.org.br/congresso2008/
(2001) afirmam que não existe qualquer pa-
tc/552008104927AM.pdf> Acesso em:
dronização que indique o uso da gramática,
25 set. 2012.
sentenças e vocabulário em livros-texto que
fosse mais importante para iniciantes que HACK, J. R.; NEGRI, F. Escola e tecnolo-
para estudantes avançados. Com efeito, trata- gia: a capacitação docente como referencial
-se de um processo comum de ensino/apren- para a mudança. Revista ciências & cognição.
dizagem no âmbito da modalidade presencial. Rio de Janeiro: UFRJ. Vol. 15(1), mar. 2010,

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