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TALVEZ SIM...TALVEZ NÃO!

Por Sílvia Serpa, psicoterapeuta

Conta a História que em uma aldeia havia um homem muito sábio e os aldeões
contavam com sua sabedoria para orientá-los. Certo dia, um fazendeiro da aldeia foi até o
homem e disse:
- Sábio, algo terrível aconteceu! Meu boi morreu e não tenho outro animal para me
ajudar no campo. Essa não é a pior coisa que poderia me acontecer?
- Talvez sim, talvez não, respondeu o sábio.
O homem não compreendeu as palavras e correu para a aldeia. Contou aos vizinhos
que o sábio estava maluco, pois “claro que essa era a pior coisa que poderia ter lhe sucedido”!
No dia seguinte, entretanto, um cavalo jovem e forte entrou na fazenda do homem.
Sem boi para ajudá-lo, o cavalo foi logo aproveitado. Que felicidade! Arar o campo nunca
tinha sido tão fácil .
Decidiu, no dia seguinte, desculpar-se:
- Você estava certo. Perder meu boi não foi a pior coisa que poderia me acontecer.
Vejo o cavalo como uma benção. Agora você há de concordar comigo… essa foi a melhor
coisa que poderia ter me acontecido.
- Talvez sim, talvez não, respondeu o sábio.
- De novo isso? Comentou o fazendeiro
Saiu dali certo de que o homem sábio havia realmente enlouquecido.
Passados alguns dias, o filho do fazendeiro saiu andando a cavalo e caiu, quebrou a
perna e não pôde ajudar o pai na lavoura.
Novamente, o homem procurou o sábio:
- Como você sabia que ficar com o cavalo não era uma coisa boa? Você estava
novamente certo!
Meu filho se machucou e agora não pode ajudar na colheita. Estou certo agora: essa
foi a pior coisa que poderia ter me acontecido. O que acha?
- Talvez sim, talvez não, comentou o sábio.
Enraivecido com o sábio, que demonstrou tanta ignorância e incompreensão, o
fazendeiro voltou aos gritos para a aldeia. Alardeava que ninguém deveria confiar no sábio,
visto que estava insano.
No dia seguinte, tropas de guerra chegaram ao vilarejo. Recrutavam todos os jovens
saudáveis. O filho do fazendeiro, por ter quebrado a perna, foi o único a não ser escolhido.
Ele viveria enquanto os outros, certamente, estavam fadados a morrer. Ao pensar nos fatos
passados, o homem conseguiu, finalmente, entender as palavras do sábio: “talvez sim, talvez
não”.

Li esta história há muitos anos. Não sei quem é seu autor, mas como tantas outras
histórias, nos faz refletir sobre nossos padrões e crenças adquiridas. E está nos fala de um
homem que, com sua simplicidade e visão abrangente contempla, não a parte, mas o todo .
Quando interagimos com um fato vemos que o olhar é que cria a realidade pessoal deste fato.
Este é o padrão da espécie humana. Fomos programados para perceber o mundo e os
fatos pelos nossos conteúdos internos. Nossa visão de mundo então é limitada aos nossos
conteúdos, ou seja, nossas crenças do que é ou deveria ser isso ou aquilo. O mundo então
nada mais é do que a maneira como o vemos através destas lentes pessoais. Ele pode ser
pleno e lindo ou pesado e angustiante. Não deveríamos focar somente na aparência
imediatista do fato, onde sempre há o desdobramento ou o outro lado.

Adaptado por Fábio S. Santos. @filosofia_de_vidaoficial

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