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(Pintura da Capa:
Vista del interior de una catedral, de Genaro Pérez Villaamil, 1807-1854)
Revista
Instituto Cultural
‘’Logos’’
2021
1ª EDição
‘’A nossa Revista é uma Unidade. O todo dá luz às partes e às partes ao todo.
Tudo faz parte de um conjunto ordenado e organizado, com o fim de tornar
claro a imensidão da obra e da admirável pessoa do nosso Professor e
extraordinário Filósofo Mário Ferreira dos Santos’’
(Editor)
Organizador:
Arthur Chagas Viana
Colaboradores:
Elvis Amsterdã Do Nascimento Pachêco
Gabriel Coelho Teixeira
Everton José Santos
Rodrigo Gonçalves
Aldo dos Santos
Diego Ossami
Diego Araújo
Danilo Felix
Observação:
Essa Revista é TOTALMENTE GRATUITA, nós continuamos sem dinheiro
para ISBN, para impressão, para editor, marketing ou para a distribuição nas
‘’Livrarias Importantes’’, essas coisinhas da turminha chique dos ‘’Direitos
Autorais’’!
Faça o que você quiser com essa Revista, só não a mostre para um Professor
Universitário. Ele vai correr e se esconder debaixo da caminha da mamãe.
Mostre para quem ame a Verdade! As Criancinhas, os velhinhos que
conversam nos bancos das praças jogando sinuca ou para as donas de casas que
vivem plantando uma florzinha.
Se você for rápido(a), entregue logo depressa essa revista para um recém
universitário(a), porque depois nós não podemos garantir que ele ou ela vá gostar
muito dessa nossa Revista!
A Universidade muda a alma das pessoas, e pelo que temos visto, não é para
o melhor!
No mais, todos nós do Instituto Cultural ’’Logos’’ esperamos que você leitor
ou leitora faça uma excelente leitura, que aprenda bastante, em um único material,
muitas coisas e também que guarde essa Revista para a Eternidade, porque tudo
aqui é muito importante e fundamental para futuros estudos!
Esperamos que essa Segunda Revista do Insituto Cultural Logos seja um
material de referência para outros trabalhos sobre o Mário Ferreira dos Santos. Se
surgir mais conteúdo faremos a Terceira Revista, mas não prometemos nada,
porque esse mundo continua tão aleatório que é melhor tomar cuidado.
BOA LEITURA!!!
O que é o Instituto Cultural Logos?
Esse versículo de Filipenses 4:8 resume o que pensamos:
II– O SEGUNDO trabalho é reunir todas as fotos do Mário e colocar num Site
para todo mundo ver raridades e a vida do Mário.
VII - O SÉTIMO trabalho é montar um congresso ''Mário Ferreira dos Santos'', com
palestras de vários estudiosos sobre os temas que o Mário desenvolveu, para
darem novos ares e irem mais longe daquilo que o Mário apenas mencionou.
Quando temos o pedido de Dai-nos, se estabelece uma Crise entre a vontade de Deus e a nossa condição
terrestre de pedir perdão a Deus naquilo que erramos, pois é próprio Dele a retidão dos corações. Se
estabelece, assim uma Crise Ontológica do Ser. Não é que Deus nos deve algo, mas quando não nos
remedamos, quando não buscamos ser perfeitos, quando não buscamos a fonte da vida, que é a vida pura,
em santidade, na preciosidade simples de um coração contrito ante as faltas e as ofensas cometida, fica
impossível Deus nos dar o alimento de que precisamos, e isso é em qualquer Religião do Planeta ou uma
sociedade mais simples, que não estabelece uma voto de sinceridade ou humildade perante ao seus
semelhantes. Dessa maneira, é impossível Deus conceder a inteligência, o espírito de uma ação justa, ou
bondosa, porque Ele é a fonte de tudo!
Prefácio ......................................................................... 22
1- Relatos .........................................................................23
1. Relatos de vários admiradores do Professor e incomparável
filósofo Mário Ferreira dos Santos. ..........................................23
2. Publicações do Professor e filósofo Olavo de Carvalho no
facebook, de 2012 até 2020 sobre o Mário Ferreira dos Santos.32
2- Textos ......................................................................... 50
1. Transcrição de 10 Áudios preciosos, informativos e de muita
necessidade mostra-los na presente edição dessa Revista..........50
I. Biografia de Mário Ferreira dos Santos ..................................50
II. Entrevista ao Pe. Stanislavs Ladusãns ....................................55
III. Soneto de S. Francisco Xavier ................................................65
IV. Sobre o Comunismo ...............................................................68
V. A Incredulidade do Homem Moderno ..................................69
VI. O Campo Cultural Moderno .................................................71
VII. O Pitagorismo e a Época em que Vivemos .............................73
VIII. Sobre a Verdade ....................................................................77
IX. Sobre a Eternidade .................................................................81
X. Sobre a Felicidade e a Vida Interior.........................................84
É com muita alegria que nós entregamos em suas mãos leitor(a), a Revista
do ICL- Instituto Cultural ‘’Logos’’ 2021!
Nós esperamos que você aprenda muito com os textos que organizamos
aqui e descubra ainda mais quem foi o Filósofo Mário Ferreira dos Santos. Que ao
saber quem ele foi, também saiba a dimensão inabarcável da sua Obra e Filosofia.
Organizamos aqui vários Relatos de admiradores e leitores do Mário, que
escreveram sobre a sua extraordinária e admirável inteligência, personalidade
magnânima e altíssima.
Também organizamos textos publicados pelo Filósofo Olavo de Carvalho
em seu Facebook, dos anos de 2012 até 2020
Logo em seguida organizamos a Lista dos Livros publicados pelo Mário
Ferreira dos Santos, a Lista dos Áudios, que somam mais de 100 Áudios, a Lista
dos Jornais, Lista de Trabalhos ou Citações sobre as obras do Mário e, por fim, a
Lista de Todas as fotos que conseguimos encontrar até agora do nosso querido e
admirável Professor e Filósofo de Importância Mundial.
A alma do Mário é tão organizada e abrangente, unificada e profunda, alta e
luminosa que quando ele fala parece que está lendo um Livro! Isso é o efeito da
educação dos Jesuítas e do crescimento em uma sociedade estruturada, como era
em 1920/30, no Brasil!
Decorar centenas de poemas e histórias da literatura universal, ler em 8
idiomas, transcrever a mão páginas inteiras de textos de filosofia da escolástica,
ler centenas de livros seguindo uma estrutura, um sentido, um método é algo que
já não existe mais na educação atual.
Essa paisagem grandiosa da educação de uma alma é um vislumbre tão
distante dos nossos tempos que toda a educação que recebemos nas escolas e
universidades não passa de agitação do próprio ego, servindo apenas para a
revolução do lumpenproletariado!
A influência da vida, da obra e dos Áudios do Mário correrão os séculos e
triunfarão em glória, sob a coroa laureada de ouro, nos trilhos dos corações de
todos aqueles que são sincero de propósitos e verdadeiros de espírito.
Agora, em suas mãos, está mais uma pequena iniciativa, que tem o objetivo
de tornar mais veloz a corrida gloriosa do legado do pacífico, combativo, caridoso,
indestrutível, Filósofo Excelente, que eleva a todos para os valores mais altos da
humanidade e para a realidade concreta, que paira sobre as nuvens mais altas dos
horizontes celestes das Soberanas Leis Eternas, o Mestre:
Mário Ferreira dos Santos!
Aproveite, aprenda muito e faça correr também mais rápido essa chama
gloriosa, que ilumina todos os cantos do mundo pela Verdade!
[22]
1 - Relatos
1-Relatos de vários admiradores do Professor e incomparável
filósofo Mário Ferreira dos Santos.
‘’Quando eu pensei que tudo estava perdido, veio o Olavo de Carvalho com a
mensagem de Mário Ferreira dos Santos. Ele foi o Sócrates da minha vida. E com
os ensinamentos que adquiri, espero poder um dia ser o Sócrates da vida de
alguém. Entendo que só assim poderemos formar aquela juventude que, como
exclamou Mário Ferreira dos Santos, apoiou Aristóteles.’’ (Petri Marinho)
***
‘’O Mário Ferreira dos Santos me apresentou a teoria dos três graus de abstração
e a partir dela me ajudou a compreender que a metafisica aristotélica não é urna
falsa filosofia construída sobre entes ficcionaís, mas urna ciência fundamentada
em entes reais intuídos pela experiência humana., e, portanto, a metafisica
aristotélica teria a mesma validade objetiva quanto as outras ciências como a
física e a matemática, por exemplo. ‘’ (Lucas Gabriel Alves)
***
‘’Uma ocasião que mostra como ele tinha um grande apreço pelo conhecimento:
Ele abandonou uma das palestras que estava dando, porque havia acabado de
formular, enquanto palestrava, aquilo que viria a ser conhecido como ‘’Filosofia
Concreta’’, a sua grande obra. Isso é fantástico! ‘’ (Fabiano Villas Boas)
***
‘’A Filosofia da Crise trás paz no momento de tristeza e prudência nos momentos
felizes.’’ (Heitor Siva)
***
***
[23]
***
'’Cansei de dizer que o Barão de Mauá foi, é, e será um dos maiores exemplos do
nosso pais. Eis que nesse instante, deparo-me com o seguinte relato do Mário
Ferreira dos Santos: "Mauá foi o divisor de águas em nossa história, foi o instante
em que se abriram as portas do nosso destino. Se seguíssemos a linha
recomendada por ele, se o tivéssemos compreendido, se tivéssemos seguido as
suas lições, hoje seriamos a maior nação do mundo.’’ (Londerson Araújo)
***
‘’Eu tenho 15 anos, dois meses antes de fazer 15 anos, eu conheci um grande
filósofo chamado Mário Ferreira dos Santos, eu não lí muito sobre o Mário, mas
ele vem mudando muito a minha forma de entender o mundo. Eu gosto muito de
uma frase dele: ‘’A grandeza do homem está em superar as condições que lhe são
adversas. Quando, pela sua mente, munido apenas do pensamento, penetra no
que há de mais profundo, invade o que se lhe oculta aos olhos, e consegue
descobrir os nexos das causas remotas e da causa primeira de todas as coisas,
descobre ele que há uma fonte de todas as coisas que, pela sua eminência e pelo
seu imenso valor, ele respeita e ama. Só quando o homem consegue elevar-se
acima da sua contingência e alcançar esse ser supremo, e humildemente lhe
presta a homenagem que ele merece, então o homem consegue ultrapassar os
seus próprios limites, porque no mesmo instante em que os vence, ele supera a si
mesmo.’’ – Filosofias da Afirmação e da Negação. (Alan Otero)
***
‘’Mário Ferreira dos Santos para mim é o diamante bruto que precisa ser lapidado
pelos melhores artesões da genialidade da inteligência. É o ouro fino, escondido
entre as profundezas da alma e do solo. É o suspiro do desesperado pelo ar do
Céu. É a água, refrigério dos peregrinos do deserto. O Mário é a Esperança do
Brasil e das Nações. Absolutamente toda a sua Filosofia Prova que ele é um
Presente dos Céus, um milagre que Nosso Senhor nos deu em tempos obscuros.’’
(Arthur Chagas)
***
‘’Mário Ferreira dos Santos é um gigante. Ouvi um Áudio sobre Eras culturais.
Desta aula conseguimos visualizar de forma mais ampla os acontecimentos
revolucionarias que pipocam e se unificam pela história. Interessante que muitas
vezes nos Áudios, aparentemente seus alunos parecem displicentes quanto ao
conhecimento do professor Mário, este fato é um sinal que só um grande gênio
reconhece outro!’’ (Petter Roberto)
***
‘’O nome dele foi citado pelo o Olavo de Carvalho, assim tomei conhecimento da
sua obra’’ (Remo Ferrari)
***
[24]
***
‘’Mário Ferreira dos Santos, podemos passar décadas aqui falando sobre ele! O
que ele fez em mim em relação a vida não tem preço: Aproximou-me do que
realmente é necessário. Hoje eu tenho muito claro em minha mente o que devo
fazer em minha vida e onde eu devo direcionar a minha existência terrena!
Obrigado Mario Ferreira dos Santos!’’ (Maurício de Carvalho)
***
‘’Ser génio é raridade, em nosso país muito mais que no restante do mundo. Mário
é um tesouro brasileiro que engrandece e existe dentro de cada um que se instruiu
em seus dizeres.‘’ (Heleno Carvalho)
***
‘’O Mário nos faz lembrar que existe uma coisa chamada Realidade Concreta.
E isso nos faz perceber que não há nada mais importante do que O Próprio Deus.’’
(Jessé Silva)
***
‘’Um dos maiores ensinamentos do Mário Ferreira, que me atentaram para a vida
espiritual, que é a única a qual se é possível realmente viver, foi sobre as reflexões
em torno da eternidade, uma grandeza tamanha’’
(Albert Pinheiro Barboza)
***
‘’Aprendi com ele que a lei dos ciclos é verdadeira, portanto, ele me deu uma chave
de interpretação histórica MUITO útil. Devo ao Mário também o que ele
ensinou ao professor Olavo, isso e muitas outras coisas, fora a figura dele que é
para mim um ideal intelectual e, portanto, um dever a ser alcançado!’’
(Tiago Nóbrega de Salles)
[25]
***
***
[26]
***
***
[27]
***
‘’Quanto mais leio da filosofia espanhola, estabelecida por nomes como Xavier
Zubiri, Pedro Laín-Entralgo, José Ortega y Gasset, Julián Marías, Alfonso López-
Quintás, Miguel de Unamuno e Diego Gracia, mais percebo o quanto estamos no
fundo do poço em termos filosóficos. São gigantes que escalaram sobre o ombro
de outros gigantes!
Precisamos de muitos outros como Olavo de Carvalho e Mário Ferreira dos
Santos.’’ (Hélio Angotti Neto) (21 de Julho de 2017)
***
‘’Eu conheci o Mário Ferreira dos Santos antes de conhecer o Olavo de Carvalho,
mas o meu único motivo de me vangloriar é que eu pressenti que o Mário era
muito bom, porque eu lia seus livros e aquilo me despertava grande interesse e
certo receio, já que ele falava de técnicas budistas de respiração, psicologia
profunda, símbolos e religiões e na minha cabeça de adolescente evangélico isso
me despertava temor. Não cheguei nem perto de dimensionar o Mário
devidamente, como o professor Olavo fez, ensinando-nos que ele é um dos
maiores filósofos do mundo do século XX e podia conversar de igual para igual
com Platão. Foi o Olavo quem me mostrou que o Mário é um gênio fantástico e
incompreensível no que diz respeito às mutações drásticas de qualidade que
sofreu na vida, saltos qualitativos impressionantes. Eu achei, certa vez, o "Curso
de Oratória e Retórica" num sebo, pois me interessava muito pela arte de falar; li,
vi que era muito bom e, depois, vieram outros tantos, como "Práticas de Oratória"
e "Técnicas do Discurso Modernos". Comprei vários livros dele, vários num sebo
em Vitória-ES, outros de um amigo e um ou outro eu xeroquei de uma biblioteca.
Particularmente, gosto muito do estilo do Mário.’’ (Jelcimar Rouver Júnior) (25 de
agosto de 2019)
***
‘’O Mário Ferreira dos Santos escreveu que o Ocidente perdeu o sentido
transcendente (katholicon dos pitagóricos) que englobava e harmonizava todas
as oposições da sociedade, conferindo a ela sua unidade. Com a Modernidade, tal
sentido transcendente foi esquecido e sobraram apenas o que o próprio Mário
chama de diácrise e síncrise. A diácrise é um movimento de afastamento, de
agravo da crise, em que as partes em oposição se radizalizam. Já a síncrise é o
movimento contrário; é uma aproximação, em que os opostos aceitam conviver
juntos numa certa proximidade. A síncrise, porém, é forçada, mecãnica, não
orgãnica, justamente porque falta o sentido transcendente da sociedade. Assim,
mais cedo ou mais tarde a pseudounidade se desfaz. Somente a religião, para o
Mário, pode dar essa transcendência e harmonizar os opostos.’’ (Jelcimar Rouver
Júnior) (18 de Janeiro de 2021)
***
[28]
***
‘’O Mário é o maior no sentido de que revelou as leis mais altas dos mais altos
princípios, e tudo de forma englobante, além de ele resolver aporias e contradições. Ou
seja, ele limpou o mato da situação atual da filosofia e revelou o ‘’axis mundi’’ de forma
cristalina, revelando toda a cosmologia natural (Aritmologia) de origem pitagórica que
culmina num saber ontológico riquíssimo e eterno, e o fez de forma original
concretista. Ou seja, o Mário trouxe a Filosofia de volta aos seus criadores e guardiões
pitagóricos-platônicos!
O que é o ‘’Axis Mundi’’?
É a ponte que liga o mundano com o eterno, ao que ele o faz no sentido sapiencial
obviamente. O ‘’Axis Mundi’’ é o Eixo Axiológico, composto por princípios, e que Mário
define muito bem, principalmente no seus tratados de sabedoria dele.
Quando o professor Olavo diz que o Mário é o único que consegue dialogar de Igual
para igual com Platão e Aristóteles, só isto já significa que ele é o maior dos nossos
tempos. Só precisa ser descoberto, tal como um Aristóteles que demorou para ser
devidamente reconhecido.’’ (Caio Mattos)
***
‘’Da escola à universidade, só encontrei escritores de gênio (ensaístas, ficcionistas,
poetas) entre almas muito remotas no tempo e há muito, portanto, ausente no espaço,
tudo levando a crer que solo nacional se havia tornado infertil aos grandes artistas, aos
grandes Filósofos, aos grandes ciêntistas. Um cenário assim parece sobrepairado por
uma mediocridade cósmica, matando no nascedouro, pelo desanimo e pela depressão
qualque aspiração à exceltude espiritual.
Para mim foi alentador descobrir a existência do Filósofo Mário Ferreira dos Santos.
Tudo na sua obra, dos escritos às palestras, parece a extensão literária do homem
empírico, a clareza do estilo, a amplidão e a profundidade do conhecimento, a pureza
das emoções... Não tenho a capacidade para lhe fazer uma homenagem justa, pois ainda
sou amador no estado de sua obra, dentro da qual ainda entendo pouca coisa, tudo
nela, porém, faz transparecer a genialidade, dotação que a gente percebe
instintinvamente, antes de qualquer sondagem racionalista, que só faz conformar
depois os dados da intuição.
O Olavo fez um trabalho inestimável ao disseminar autores que aqui não eram lidos, e
fez, acima de tudo, um trabalho redentor quando desenterrou Mário Ferreira do
anonimato, onde jazia durante anos. Isso prova, talvez, que nosso povo não é obtuso
por natureza, mas que pode, pela recuperação da obra dos nossos gênios, sacudir da
alma o torpor da burrice e desespero que o tem turbado e rebaixado medonhamente.
Talvez a nossa angústia tenha cura, embora esse processo seja muito lento.’’
(Pablo Ferreira)
***
[29]
***
***
[30]
***
"Meu avô era um ser iluminado, um pensador, um sonhador e as suas Obras são
para a Humanidade.
Hoje moro em Serra Negra - SP, na casa que meu avô mandou construir em 1954
e sonhava um dia vir morar entre as montanhas.
Tenho vagas lembranças do Professor, mas me lembro dele na varanda sentado
a frente de uma pequena mesinha onde ficava sua inseparável máquina de
escrever, ele ficava horas escrevendo, admirando a paisagem e tomando seu
chimarão. Lembro-me dele falando e gesticulando sentado no banco da frente
do Ford Aero Willis à caminho de Serra-Negra. Lembro do seu cheiro e do cheiro
da fumaça dos cachimbos.
Recordo-me dele sentado em sua poltrona em frente à uma mesa enorme e ao
lado o balão de oxigênio, na sala do apartamento 45 na Rua: São Carlos do Pinhal
485, os vários alunos chegando e ele dando aulas, e uma ocasião me chamou a
atenção: Ele adentrar a sala em meio a uma aula, correndo e brincando.
Bons tempos, uma pena ser tão novo e não perceber a grandiosidade desses
momentos.
Me lembro de um dos alunos de meu avô que vocês podem ter conhecido.
Seu nome era Tomas de Aquino.
Me lembro, porque ele acabou por fazer amizade com meu pai e por anos depois
da passagem do Professor ele frequentou nossa casa.
O Tomas era um cara mais jovem. Um dos únicos que lembro de frequentar as
aulas do Professor.
Meu pai, Fernando Santos, conviveu muito com meu avô. Tem várias passagens
na lembrança, pois sempre acompanhava o Professor nas sua palestras.
Meu pai me contou que várias vezes ele perguntava: "Professor, qual vai ser o
tema da palestra de hoje? E meu avô respondia que não fazia a mínima idéia.
Muitas vezes foi de improviso.
Fernando, meu pai, sempre acompanhava meu avô nas idas às palestras e
aulas. Sempre ia dirigindo e conversando, ouvindo o Professor."
(Alberto Lhullier Burguete Santos, neto do Mário Ferreira dos Santos – 2017
Depoimento no Grupo Filosofia e Obra de Mário Ferreira dos Santos)
[31]
2- Publicações do Professor e Filósofo Olavo de Carvalho no
facebook, de 2012 até 2020, sobre o Mário Ferreira dos Santos.
"A compreensão intuitiva dos números 1 a 12 mil como formas lógicas da possibilidade
universal, realização filosófica do nosso Mário Ferreira dos Santos, é UM BILHÃO de
vezes mais importante e mais valiosa do que todos os fenômenos sinestéticos do
mundo. Um calculador prodígio pode ser um idiota completo. O gênio verdadeiro
implica uma compreensão abrangente, uma sabedoria -- noção que parece cada vez
mais inapreensível ao establishment acadêmico deslumbrado ante "fenômenos" e
incapaz de distinguir entre a inteligência e os mecanismos cerebrais de que ela se
serve. A perda da noção da inteligência, substituída por seus símbolos materiais, é
talvez o elemento mais macabro da civilização moderna."
(Olavo de Carvalho) (1 De dezembro de 2013)
***
Eduardo Gabriel -> Olavo de Carvalho
(2 de maio de 2013)
Olavo de Carvalho
Eu perguntaria como ele desejaria que seus textos fossem editados. A melhor coisa do
mundo, para um editor de textos, é ter um autor vivo para dirigir pessoalmente o
trabalho de edição. E, para um autor falecido, é ter um editor póstumo que compreenda
isso.
Eduardo Gabriel
Imaginei mesmo uma resposta nesse sentido. Porque entre o editor e o autor falecido
deve haver um obstáculo de compreensão.
E alguma pergunta estritamente filósofica, professor, você teria?
Olavo de Carvalho
Eu pediria que ele me esclarecesse tim-tim por tim-tim as relações entre a Mathesis
considerada como pura combinatória formal e como ontologia substantiva.
***
[32]
Notas para um artigo:
***
[33]
***
***
‘’O grande erro dos sucessivos ensaios de renovação cultural do Brasil foi modelar-se
pela cultura contemporânea de algum país mais avançado. Isso não é renovação, é
macaqueação, é adoção de modas e estereótipos, como o modernismo de 22, a reforma
educacional de Anísio Teixeira ou o gramcismo-frankfurtianismo dos anos 60. A única
renovação autêntica tem de inspirar-se no patrimônio atemporal da cultura universal.
Mas como é que vou fazer os entojadinhos de todos os naipes entenderem que é mais
importante estudar Aristóteles ou Lao-Tsé do que estar atualizado com a última
opinião do dr. Hawking ou de quem quer que seja? É claro, devemos acompanhar os
debates internacionais, mas não modelar-nos por eles, porque eles passarão e, se os
copiarmos, passaremos com eles.’’ (Olavo de Carvalho) (1 de fevereiro de 2014)
Comentários:
Olavo de Carvalho
O mais irônico de tudo é que temos aqui mesmo pelo menos três modelos excelentes
de como inspirar-nos no patrimônio universal: Mário Ferreira dos Santos, Gilberto
Freyre e Otto Maria Carpeaux ensinaram a fazer isso.
Em resumo : não se faz uma renovação cultural imitando produtos acabados, mas indo
à fonte mais remota. Os modelos do pensamento conservador, por exemplo, não são
Thomas Sowell nem Peter Kreeft. Não é nem mesmo Edmund Burke. São a Bíblia,
Aristóteles e Confúcio.
***
‘’Prestem atenção: O Mário Ferreira dos Santos foi e será PARA SEMPRE mais
inteligente do que eu. Ele é a medida máxima da inteligência no Brasil.
O que o Mário Ferreira deu a este país ultrapassa o total das necessidades nacionais.
Quem precisa dele, por enquanto, são europeus e americanos.’’ (Olavo de Carvalho)
(2 de dezembro de 2014)
***
[34]
***
“Prezo todos os homens inteligentes, mas prezo muito mais aqueles que, além de ser
inteligentes, têm a coragem de prescindir do apoio de grupos e capelas, como fizeram
o Mário Ferreira dos Santos e o Vilém Flusser, ainda que pagando por isso o preço do
ostracismo”. (Olavo de Carvalho)
***
‘’Há muitos filósofos de enorme talento hoje em dia, mas nenhum que eu desejaria
imitar. Talvez Harry Redner, em parte. Mas meus modelos mais recentes ainda são Eric
Voegelin, Louis Lavelle, Bernard Lonergan, Mário Ferreira dos Santos e Rosenstock-
Huessy. Depois não veio mais ninguém que eu desejasse imitar. O próprio Xavier Zubiri
é alguém que admiro mas não tomo como modelo. Lonergan ficou famoso por suas
descobertas no campo da epistemologia e da teologia. Mas leiam os livros de economia
que ele escreveu, e caiam de costas.’’ (Olavo de Carvalho) (19 de dezembro de 2014)
***
‘’Se nem o Olavo de Carvalho eles agüentam, como poderiam tolerar um Mário Ferreira
dos Santos? E nem gritam "Abajo la inteligencia, viva la muerte", porque têm medo de
morrer. Em vez disso, é "Abaixo a inteligência, viva a maconha."
(Olavo de Carvalho) (17 de outubro de 2014)
***
‘’Wellington Ricardo: Sobre a filosofia no Brasil o Julio Lemos escreveu: "Nós temos
Newton da Costa, Oswaldo Chateaubriand, Walter Carnielli, Carolina Dutilh Novaes... E
grandes autoridades em filosofia antiga, como Marco Zingano e Angioni; uma
autoridade em C. S. Peirce (Ivo Assad Ibri). E muitos lógicos de ponta que publicam às
vezes em filosofia."
OBS - O bom trabalhador acadêmico tem seus méritos incontestáveis, mas sobrepô-los
à genialidade pura de um Mário Ferreira dos Santos, como faz o Julio Lesma, indica
uma pequenez de alma quase abjeta. Antes de mim, outros observadores do Brasil já
notaram a propensão nacional de depreciar os méritos maiores e exagerar os menores
-- hábito que é uma defesa instintiva do medíocre contra uma grandeza que o humilha.
By the way, meu próximo artigo do DC, "Da mediocridade obrigatória", é exatamente
sobre esse fenômeno.’’ (Olavo de Carvalho) (22 de agosto de 2014)
Olavo de Carvalho
P. S. Às vezes nem é preciso ser muito medíocre para incorrer nesse vício desprezível.
O José Guilherme Merquior empinava o narizinho para falar de Platão com total
desrespeito, mas enaltecia até o céu as virtudes do seu chefe no Itamaraty, Afonso
Arinos de Melo Franco.
P. S. 2 - Quase sempre essa inversão é determinada pelo interesse de cortejar um grupo
profissional. A hierarquia funcional sobrepõe-se assim ao senso dos valores universais.
O Julio Lesma não é exceção. Seu futuro no mundo acadêmico depende inteiramente
do círculo de profissionais que ele louva e paparica. É uma ética de suínos.
Em outras épocas, esse vicio medonho se expressava no respeito maior que se tinha
[35]
aos gramáticos do que aos artistas criadores da literatura. Hoje, parece ser mais valioso
um trabalhinho técnico de lógica do que as mais altas e arriscadas especulações
filosóficas. O Brasil é assim. "As moscas mudam, mas a merda é a mesma."
[36]
o sucesso alheio que permeia todas as relações. E não é um recalque popular, é um
recalque de sujeitos que, apesar de todo estudo que dizem ter, são hoje vazios, almas
que não dizem nada além de ódio e rancor. Quase que personagens duma novelinha
redigida por um rapsodo bêbado.
Aliás, o Caio Rossi é paulistano e vive por aqui. "Convivendo" pelo Orkut achava que
era um sujeito de uns 17 anos. O jeitinho histérico e burro de se expressar: a forma
leviana de tratar todas as coisas; a idéia delirante de que ele mesmo é um herói
muçulmano configuram esse cara com um caso de patologia pra se estudar e um
grande anti-exemplo. Toda vez que tentei conversar com ele, colocá-lo dentro dos
limites da realidade, ele levanta uma espada guerreira feita de textos.
Fico imaginando sujeitos como Dídimo e Caio Rossi num conflito de bar e já os imagino
cagados e chorando. Imaginar esses caras num conflito de guerra (imaginação de
punheteiro, pensar em guerra e "império yankee vs mama rússia" quando mal sabem
falar) é impossível para mim.
O irrealismo mental de perenialistas brasileiros e um ódio vago ao "ocidente" comeu o
cérebro deles. Logo vai ter Julio Lemos escrevendo junto de Dugin e falando que é russo
desde neném. Porque uma hora esses caras que nunca tem púbico precisam se reunir
pra cuspir megalomanias e ódios que herdaram do próprio fracasso.
A fraqueza e submissão mental desses caras vejo como um câncer, como um doença
mental grave: é uma psicoerotização de si mesmos. "Psicoerotização" seria algo
próprio da psicanálise. Deveriam procurar analistas psicanalíticos porque só um
psicanalista pra tratar ego deformado. Nos termos da religião não dá. Na religião não
pode mentir. Tem que ser honesto. Por isso tanta gente adere a religiões orientais
porque não fazem sentido em suas vidas quotidianas. São religiões usadas como
supositório mental.
Entrei aqui porque é uma briga minha também, ainda que não seja um autor publicado
ou filósofo. É uma briga minha porque cansei de ver gente abandonar a própria
inteligência pra viver em função de seus fracassos, traumas, recalques e rancores.
Julio Lemos, Dídimo, Caio Rossi (entre outros) parecem sereias que ficam tentando
chupar nosso cérebro pelas narinas, e nos deixarem vazios e ressentidos iguais a eles.
Disse tudo. Não há lugar para esses picaretinhas numa vida intelectual decente.
***
‘’Agradeço de coração o depoimento do prof Ricardo da Costa, e acrescento uns fatos
que me aconteceram anos atrás. Eu estava procurando ajuda dos ex-alunos do prof.
Mário Ferreira dos Santos, com a idéia de promover uma edição decente dos escritos
dele e também a redação de um livro com testemunhos dos que o conheceram.
Procurei pessoas importantes que tinham recebido dele não só ensinamentos
essenciais mas o estímulo pessoal sem o qual jamais teriam subido na vda.
Não vou citar nomes.
O primeiro com quem falei já fez cara de nojinho:
-- Ah, mas isso é comprometedor, porque o Mário tinha aquelas coisas meio
esotéricas...
Para cúmulo, o sujeito era maçom, esotérico portanto ele também até à medula. Se
fosse hoje eu teria respondido:
[37]
-- Isutérc ukralh!
Mas na época eu não sabia falar português.
O segundo foi um padre, que, do alto da sua sapiência, reduziu o Mário a "um bom
estudioso de Nietzsche.
-- Nítch ukralh!
O terceiro até que falou bem do Mário, mas interpretando-o à luz de... Wilhelm Reich.
-- Reich ukralh!
E assim por diante.
No Brasil todo mundo quer subir na vida não erguendo-se sobre os ombros dos seus
antecessores, mas pisando nos seus cadáveres.’’ (Olavo de Carvalho) (22 de agosto de
2014)
***
‘’Gilberto Amado dizia que o Brasil produz "inúmeros pedaços de grandes homens."
Grandes homens INTEIROS, este país só produziu dois: José Bonifácio de Andrada e
Silva e Mário Ferreira dos Santos, cada um perfeito e insuperável na sua área de
atividade. Destruiu o primeiro e jogou fora o segundo.’’ (Olavo de Carvalho) (17 de
outubro de 2014)
Comentários:
Paulo Ramiro Madeira
E Carlos Lacerda?
Olavo de Carvalho: Lacerda nunca chegou à perfeição. Ainda tinha muitas idéias que o
boicotavam desde dentro.
Gabriel Marini
Professor, não dá para dar um 3o lugar o Joaquim Nabuco, não?
Olavo de Carvalho: Não. Ele foi uma promessa que não se realizou.
Filipe G. Martins
O que o senhor acha do Barão do Rio Branco, Professor? Na área em que ele atuou ele
também atingiu o ápice, não?
Olavo de Carvalho: Sim, ele foi um gênio, mas numa área pequena e limitada.
***
‘’Ser filósofo, no Brasil -- ou melhor, ser como tal reconhecido oficialmente --, é
sobretudo uma questão de impostação vocal. Se, falando ou escrevendo, você não
acerta o tom, afrescalhado na medida certa, está fora.
Foi nesse ponto que o Vilém Flusser e o Mário Ferreira dos Santos falharam
irremediavelmente.
Infelizmente, algumas das vozes mais promissoras da nova geração já estão
aprendendo. É irresistível.’’ (Olavo de Carvalho) (9 de dezembro de 2014)
***
[38]
Robert Haeberlin ( 14 de janeiro de 2015)
‘’Professor,
Duas perguntas:
Primeiro, eu noto que no Brasil quando aparece alguém excelente ou até mesmo
genial na área intelectual as outras pessoas se voltam contra esse alguém, seja
desprezando-a, seja hostilizando, e fazem isso por vingança, porque vêem na
excelência ou na genialidade dessa pessoa uma ofensa. Mas acontece que se essas
pessoas aceitassem aprender com um Mário Ferreira dos Santos, com um Carpeaux ou
com um Olavo de Carvalho, etc iriam obter o conhecimento de todo uma experiência
humana, a experiência humana conhecida pelo Mário, pelo Carpeax, pelo senhor, etc, e
ficariam menos idiotas, menos fechados em si mesmos. Consequentemente, com mais
capacidade de amar. Assim, eu estou muito enganado ou essa inveja espiritual e
intelectual tem como uma causa possível o desprezo pela capacidade de amar? O
brasileiro, desprezando a capacidade de amar, não vê necessidade de sair do seu
“mundinho”? E, se for isso mesmo, quais as causas desse desprezo? Seria, na realidade,
um mal entendimento do que é o amor?
Segundo, também em relação a inveja, só que em sentido geral, eu percebo que
quanto mais confiança a pessoas tem em Deus menos vulnerável ao pecado da inveja
ela é, porque ela sabe que é Deus que sabe o que é melhor para ela. Aí eu pensei no caso
dos ateus e cheguei a conclusão que muitos ateus confiam em Deus mas não sabem. Se
não estou muito enganado isso fecha com algo que o senhor escreveu num texto
chamado “ Jesus e a pomba de Stalin”, eu acho. Assim, eu gostaria que o senhor falasse
sobre essa diferença que existe entre o comportamento religioso nominal da pessoa, a
pessoa se dizer católica, ou luterana, ou ateia, etc, e a relação concreta que a pessoa
tem com Deus
Enfim, desculpe encher o saco do senhor e desculpe também pelos possíveis erros
de português. Se não for possível responder aqui , se só for possível responder pelo
COF, não tem problema. Deus abençoe.’’
Robert Haeberlin
Obrigado pela resposta, vou meditar a respeito!
***
‘’Tenho mil objeções ao que li no Miguel Reale, no Merquior, no Mário Ferreira dos
Santos, mas ficar dizendo “não concordo” só para ostentar independência é veadagem,
além de tremenda falta de educação. Curiosamente, os que agem assim sãos os
primeiros a reclamar dos meus palavrões.’’ (Olavo de Carvalho) (6 de setembro de
2015)
[39]
***
“É preciso despertar da ‘longa noite’ em que a cultura brasileira mergulhou nas últimas
décadas. Temos de voltar a ser os contemporâneos de Manuel Bandeira, de Gilberto
Freyre, de Otto Maria Carpeaux, de Mário Ferreira dos Santos, de Álvaro Lins e de
tantos outros. Temos de fazer a ponte entre as gerações e produzir obras que não
desmereçam o legado desses nossos ancestrais.” (Olavo de Carvalho)
***
‘’O último superior que tive no Brasil foi o Mário Ferreira dos Santos. Depois, só iguais
e inferiores. Recebo a todos com hospitalidade, mas rapapé e beija-mão não é comigo.’’
(Olavo de Carvalho) (14 de outubro de 2015)
***
‘’Tranquem o Leandro Espiritual e o Ovni de Barros num quarto com uma pilha de
livros do Mário Ferreira dos Santos. Abram depois de uma década e verão que os dois
já estão quase uns homenzinhos.’’ (Olavo de Carvalho) (12 de julho de 2016)
***
‘’Cada geração, na história deste país, teve uma ou mais nulidades que brilharam como
estrelas maiores do seu tempo, e depois foram justamente esquecidas para sempre.
Nada mais urgente, na área dos estudos brasileiros, do que uma história das inépcias
fulgurantes. Seria a obra mais reveladora do espírito da nacionalidade.
A revista IstoÉ qualifica o Leandro Espiritual, o Clóvis de Burros e o Mário Sérgio
Costeleta de "os maiores pensadores do Brasil". Nunca ouvi um jornalista dizer isso do
Mário Ferreira dos Santos, nem ouvirei. A mediocridade, no Brasil, é mais que objeto
de culto; é objeto de ADORAÇÃO.’’ (Olavo de Carvalho) (1 de outubro de 2016)
***
‘’Vamos falar o português claro: o nosso Mário Ferreira dos Santos é INFINITAMENTE
superior a Heidegger. Mas quem sabe disso?’’ (Olavo de Carvalho) (29 de dezembro
de 2016)
Artur Silva: "Lendo "The Theology of Arithmetic", de Robin Waterfield, o novo estrelo dos
estudos tradicionais nos EUA. Nos anos 50 do século passado o Mário Ferreira já tinha ido
muito além dele."
***
‘’Se o sucesso é critério de mérito, o Mário Ferreira dos Santos foi o pior dos nossos
filósofos, e o Clóvis de Burros, o melhor.’’ (Olavo de Carvalho) (2 de setembro de 2016)
***
[40]
‘’Um documento precioso que tenho nos meus arquivos (agora guardado no storage) é
o horóscopo do Mário Ferreira dos Santos lido pela D. Emma de Mascheville anos antes
de que ele escrevesse seus livros principais. Um dia mostro para vocês.’’
(Olavo de Carvalho) (16 de novembro de 2016)
***
‘’Momentos inesquecíveis:
‘’Um dos documentos mais interessantes que já vi sobre a astrologia -- está em algum
lugar do meu arquivo morto -- foi o horóscopo do Mário Ferreira dos Santos lido pela
D. Emma de Mascheville quando ele ainda era muito jovem.’’ (Olavo de Carvalho) (05
de dezembro de 2018)
***
‘’Sempre reconheci, e proclamei mil vezes, que a obra do Mário Ferreira dos Santos
tinha uma amplitude incomparavelmente maior que a minha. Nunca pensei que para
me valorizar fosse preciso achincalhar alguém maior que eu. Mas fazer isso, no Brasil,
parece ser um imperativo categórico. Ninguém quer ser uma parte do grande esforço
que atravessa as gerações. Cada um quer ser o único, o pica das galáxias, ou então se
sente um zero e estoura os miolos.’’ (Olavo de Carvalho) (17 de julho de 2016)
***
‘’Por que, com tanto investimento em estudos sobre fisiologia cerebral, QI,
aprendizado, etc., a sociedade americana não produziu nenhum Aristóteles, nenhum
Tomás de Aquino, nenhum Leibniz, nenhum Schelling, nenhum Bach, nenhum Mário
Ferreira dos Santos?’’ (Olavo de Carvalho) (17 de outubro de 2016)
***
[41]
***
‘’O valor de um filósofo mede-se, EM PRIMEIRÍSSIMO LUGAR, pela quantidade de
trabalho que ele dedica à compreensão e explicação da obra de seus antecessores. É
Platão explicando Sócrates, Aristóteles explicando Platão, Tomás de Aquino explicando
Aristóteles, e assim por diante.
Cumpri minha parte, devotando-me à obra de Mário Ferreira dos Santos, Otto Maria
Carpeaux, Gilberto Freyre, Eric Voegelin, Louis Lavelle e outros.
Mas, como se sabe, no Brasil ninguém tem antecessores. Cada um é um novo Adão no
Paraíso, pronto para brilhar com luz própria.
Só eu tive ancestrais humanos. O resto veio pronto do cu do nada.’’
(Olavo de Carvalho) (18 de julho de 2016)
***
‘’Nos anos 50, todo mundo dizia que Octavio de Faria, grande romancista, era mau
escritor, desleixado com a língua portuguesa. Já houve quem dissesse coisa similar do
próprio Balzac. Mário Ferreira dos Santos, sem dúvida o maior filósofo brasileiro de
todos os tempos, e a meu ver um dos maiores do mundo, reconhecia que seus livros
estavam horrivelmente escritos, e, prevendo que iria morrer logo, esperava que
alguém os consertasse um dia. Mas no Brasil de hoje não se pode dizer que um ensaísta
principiante, a despeito de todo o seu talento de estudioso, escreve mal, que a coisa soa
como ofensa intolerável.’’ (Olavo de Carvalho) (05 de junho de 2016)
***
***
‘’O Mário Ferreira dos Santos morreu em 1968 e até hoje sua obra transcende
infinitamente a compreensão das nossas classes falantes e arrotantes. Eu, salvo
engano, ainda nem morri.’’ (Olavo de Carvalho) (12 de julho de 2016)
***
‘’Mais uma prova do que acabo de dizer. Mensagem do Sidney Silveira a um nosso
amigo comum. O artigo a que ele se refere é aquele que reproduzi aqui, sobre o Mário
Ferreira dos Santos:
Se não me falha a memória, este artigo foi publicado em julho de 2001 (lá se vão 19
anos!).
Na ocasião, tive praticamente que brigar com a editora do caderno Prosa & Verso, d'O
Globo, Cecília Costa, mulher do falecido presidente da ABL Ivan Junqueira, por haver
sugerido fazer a resenha de um livro apresentado pelo Olavo, já então odiado pelos
[42]
jornalistas.
Ela chegou a exigir que eu retirasse a menção ao Olavo, mas bati o pé e disse que aquilo
era absurdo.
Eu comprara, anos antes, acho que em 1995, grande parte da obra do Mário Ferreira
dos Santos publicada pela Logos, no sebo de um amigo que havia adquirido a biblioteca
do falecido Padre Góes, aqui da paróquia do Cosme Velho (desde meados da década de
50, ele rezava a Missa Tridentina com a camisa do Flamengo por baixo dos
paramentos) , a qual estava há anos com os sobrinhos...
Dessa biblioteca comprei também a "Suma Teológica" da BAC, a "Suma Contra os
Gentios", boa parte da obra de Agostinho, em vários volumes, etc.
Eu só me converti formalmente em 2004 (três anos depois desta resenha), quando fiz
a minha primeira comunhão, aos 39 anos de idade.
Estou ficando velho...hehehe’’ (Olavo de Carvalho) (04 de setembro de 2020)
***
‘’Por que, sempre que revelo a existência de alguma coisa importante, ou retiro do
subsolo algum tesouro esquecido, os que teriam a obrigação de haver feito isso antes
de mim se emputecem e ficam fazendo fusquinha como crianças ranhetas, em vez de
dizer "obrigado" e prosseguir honestamente o trabalho que comecei? Foi assim com o
Foro de São Paulo, foi assim com os ensaios do Otto Maria Carpeaux, foi assim com a
filosofia do Mário Ferreira dos Santos. Que país de gente mais complexada, caraio!
Da minha parte, sou tão grato aos que me antecederam em qualquer campo das minhas
investigações, como por exemplo o Nelson Lehmann da Silva ou o José Carlos Graça
Wagner, que não só proclamo repetidamente os seus méritos como não ouso criticá-
los nem mesmo em detalhes irrisórios. Mas não é essa, por acaso, a atitude normal de
pessoas adultas?’’ (Olavo de Carvalho) (27 de novembro de 2017)
***
‘’O Mário Ferreira dos Santos foi o Incrível Hulk da filosofia.’’ (Olavo de Carvalho)
(04 de agosto de 2017)
***
‘’Também não era possível obter efeitos pela via do Mário Ferreira dos Santos,
divulgando um sistema filosófico pronto. Era preciso espalhar as sementes sem
nenhuma tentativa de premoldar o formato doutrinal da colheita resultante. Era
preciso INSPIRAR sem controlar.’’ (Olavo de Carvalho) (09 de dezembro de 2017)
[43]
***
***
‘’Está muito bem que as pessoas se interessem pelos escritos da chamada "escola
tradicionalista", mas tudo o que René Guénon, Titus Burckhardt e "tutti quanti"
escreveram sobre o simbolismo dos números -- a linguagem essencial de todo
esoterismo -- é apenas um joguinho de jardim-da-infância quando comparado ao que
o Mário Ferreira dos Santos fez em "Pitágoras e o Tema do Número" e sobretudo em
"A Sabedoria das Leis Eternas" e demais volumes da série "Mathesis". Com a vantagem
adicional de que o Mário não tinha nenhuma agenda secreta, não estava recrutando
ninguém para alguma sociedade esotérica nem muito menos alimentava planos de
islamizar o Ocidente. Não tinha nada a esconder. Explicarei isso melhor nas aulas
vindouras e no meu próximo livro.‘’ (Olavo de Carvalho) (09 de janeiro de 2017)
***
‘’É mais que evidente que, sem o salto para uma visão cultural mais universalista e
abrangente, o Brasil continuará a ser feito de cabra-cega num jogo cuja complexidade
ultrapassa infinitamente o horizonte de consciência do “debate nacional”.
No último meio século, duas tentativas foram feitas para dar à cultura nacional o
“upgrade” sem o qual o país não poderá jamais, não digo escapar da trama globalista,
o que me parece impossível, mas ao menos deslizar vantajosamente entre as suas
malhas conservando um mínimo indispensável de autonomia.
A primeira dessas tentativas foi a obra do Mário Ferreira dos Santos. A segunda, o meu
próprio trabalho que se tornou público desde o início da década de 90.
[44]
A primeira foi recebida com o silêncio e a presunçosa indiferença nascidos da total
incompreensão. A segunda, com a mais virulenta e abjeta campanha de difamação que
já se viu ao longo de toda a história nacional.
Só quem tem a perder com isso é... o país inteiro.’’ (Olavo de Carvalho) (26 de setembro
de 2017)
***
‘’Se esse pessoal da USP gosta tanto de "explication de texte", por que não faz uma de
algum texto do Mário Ferreira dos Santos em vez de tocar punheta literária mediante
comparações descabidas, beletristas em último grau?’’ (Olavo de Carvalho) (23 de
fevereiro de 2017)
***
‘’A aula de ontem, na qual expliquei a pentadialética do Mário Ferreira dos Santos
mediante um exemplo histórico que nunca ocorreu ao seu próprio criador, foi
parcialmente inspirada na idéia dos filósofos pragmatistas -- Charles S. Peirce, William
James e Josiah Royce -- de que o sentido de um conceito é o uso que fazemos dele. Idéia
que não subscrevo como regra geral, mas que pode ser útil em determinadas
circunstâncias.’’ (Olavo de Carvalho) (30 de novembro de 2017)
***
‘’Tudo o que escrevi sobre a técnica filosófica em "A Filosofia e Seu Inverso" foi baseado no
exame de quatro filósofos: Aristóteles, Schelling, Lavelle e Mário Ferreira dos Santos.’’ (Olavo
de Carvalho) (12 de maio de 2017)
***
‘’Não tenho a menor dúvida de que o Mário Ferreira dos Santos foi um MONSTRO, como Balzac
ou Victor Hugo: descomunal, oceânico, informe, mal acabado, indigerível, indefecável. (Olavo
de Carvalho) (04 de agosto de 2017)
***
‘’Os livros mais importantes já escritos no Brasil -- os do Mário Ferreira dos Santos --
circulam até hoje em edições de merda. Até o momento, a única exceção que conheço,
embora parcial e ainda insatisfatória, é a minha própria edição das "Leis Eternas".
(Olavo de Carvalho) (31 de julho de 2017)
***
‘’Augusto Nunes: Poucas pessoas foram tão patrulhadas como você. Eu testemunhei
isso na época [em que trabalhou junto a Olavo na revista Época]. E você nunca deu
muita bola para isso. Por que? Nunca te incomodou?
[45]
Olavo de Carvalho: Por que esse pessoal tudo é muito burro! Mais muito burro! Esse
é que é o problema: muito burro, muito ignorantes, muito xucro, muito atrasados...
Você, olha, o maior filósofo brasileiro chamou-se Mário Ferreira dos Santos. Ele morreu
em 1968. Até hoje a Universidade e a mídia não conseguiram absorver a presença dele.
Como é que vai absorver a minha, então, que vim depois? Eles tão sempre... eles
pararam nos anos 60. Quando neguinho escreveu aquele negócio de "O ano que nunca
acabou, 1968", é verdade! Eles tão lá na bolha temporal. O que eles leem? Michel
Foucault, Derrida, Pierre Bordieu, as mesmas coisas que eu lia naquela época, meu
Deus do céu! Até hoje eles estão lá, e não perceberam nada do que se passou no
pensamento mundial nos últimos 60 anos! É uma coisa impressionante! Então, você
veja, eu mesmo tive que colocar em circulação temas, problemas e autores totalmente
desconhecidos pela Universidade brasileira e pela grande mídia! Porque, senão, você
não tem nem material sobre o qual conversar. Eu tive que atualizar... então os meus
alunos sempre tiveram uma versão muito mais atualizada do que você pode observar,
obter na grande mídia ou nas Universidades brasileiras. Quer dizer, é uma ignorância,
assim, imensurável. Eu já cheguei a conclusão de que a ignorância é uma força física.’’
***
‘’2018 foi o cinquentenário da morte do Mário Ferreira dos Santos. Se nem a obra dele
a porra da universidade brasileira foi capaz de absorver até agora, por que há de
conseguir absorver a minha? É mais fácil espalhar intrigas. Num país onde o Ruy Fausto
é filósofo, o Mário, com certeza, não o é.’’ (Olavo de Carvalho) (17 de dezembro de
2018)
***
‘’O ano do cinquentenário da morte de Mário Ferreira dos Santos acaba de terminar, a
até hoje o establishment cultural brasileiro, estufado de presunção e verbas, não foi
capaz de assimilar a obra do filósofo. Por que deveria, então, assimilar a minha? Mais
fácil é inventar por trás de mim um bicho-papão e convocar até a ajuda da mídia
estrangeira para dar cabo de mim (mas parece que nem isso funciona).’’ (Olavo de
Carvalho) (31 de janeiro de 2019)
***
[46]
pouco, nos babacas universitários, a ânsia de me rebaixar.’’ (Olavo de Carvalho) (28 de
novembro de 2018)
***
‘’A usurpação de toda atividade intelectual pela burocracia universitária inventou essa
coisa estúpida que é o "diploma de filósofo" -- devidamente ridicularizada, na época,
por filósofos ilustres -- com o propósito de dar o monopólio da filosofia a meros
"aparatchniks" como Ruy Fausto e a nulidades como Luiz Felipe Miguel, expelindo
filósofos de verdade como Mário Ferreira dos Santos, Vicente Ferreira da Silva e -- sem
modéstia -- eu.
As novas gerações desconhecem a origem da trapaça e imaginam que as coisas sempre
foram assim.’’ (Olavo de Carvalho) (2 de dezembro de 2018)
***
Leda Nagle entrevista Olavo de Carvalho (27 de dezembro de 2018)
‘’A USP quer a burocracia da filosofia. Filosofia não existe nela. Leia o livro de Paulo
Arantes, chamado Um Departamento Francês em Ultramar. Paulo Arantes confessa que
em 70 anos de atividade, a USP não formou um único filósofo! Então, pra que existe
essa instituição? Essa entidade é evidentemente um estelionato! Uma faculdade de
filosofia que não forma filósofo está consumindo dinheiro público apenas para o seu
próprio deleite ou para propaganda política! Evidentemente que a USP é uma entidade
estelionatária, fraudulenta. Já devia ter sido fechada há muito tempo. O maior filósofo
brasileiro, Mario Ferreira dos Santos, a USP nunca tomou conhecimento que esse
homem existia. Esse é um dos grandes filósofos da humanidade. Talvez o maior filósofo
do século XX. A USP não descobriu até hoje! É um negócio incrível. Eles não se
interessam pela filosofia brasileira. ‘’
=============
‘’O filósofo Mario Ferreira dos Santos, em vida, também vendia muito livro, como eu
vendo, Leda Nagle. Os livros dele eram um sucesso. Quando ele morreu, parou de
vender seus livros. Os sucessores decidiram enterrá-lo, e nunca mais se ouviu falar
desse grande filósofo. Ele é um grande gênio da filosofia brasileira. A orientação
filosófica dele é totalmente diferente da minha, mas eu vejo a grandeza do que ele fez.
A USP até hoje não descobriu que existiu o filósofo Mario Ferreira dos Santos. É um
negócio incrível! Já o padre e filósofo Stanislavs Ladusãns da PUC do Rio de Janeiro,
quando ele chegou no Brasil, a primeira coisa que ele fez foi averiguar tudo que havia
de filosofia no Brasil. Ele juntou todas as obras de todos os filósofos brasileiros,
publicou uma antologia apresentando um por um, ou seja, ele tinha interesse pelo
pensamento brasileiro. Quem também tem é o atual ministro da educação indicado
pelo Bolsonaro, Ricardo Velez Rodriguez, que é colombiano. Então, estou citando aqui
os caras que mais se interessaram pelo pensamento brasileiro: um estoniano, o padre
Stanislavs Ladusãns, e um colombiano, Ricardo Velez Rodriguez. Brasileiro, mesmo,
nenhum! Esse pessoal da USP só quer fazer um puxar o saco do outro. É uma auto-
adoração uspiana altamente nojenta! É só oba-oba, não tem substância nenhuma! José
Arthur Giannotti, filósofo, disse que "a filosofia é uma atividade que lida
eminentemente com textos". Eu digo que o sujeito que fala uma coisa dessas tinha que
ser retirado dali e jogado na privada! Porque se é só textos, então Sócrates está fora da
filosofia! ‘’
[47]
***
‘’Já me ocorreram mil objeções às idéias do Mário Ferreira dos Santos, mas isso só
reforça a minha impressão de que ele é muito mais inteligente do que eu.’’ (Olavo de
Carvalho) (14 de novembro de 2019)
***
‘’Elvis é meu amigo pessoal. Assisti a apresentação de defesa da dissertação junto com
o David Amato e com o Cristian Derosa ontem à tarde. Eles são testemunhas de que o
trabalho estava excelente. O seu nome foi citado e defendido efusivamente. Já estamos
preparando um vídeo para o Elvis tornar público o conteúdo do trabalho.’’
***
‘’A cultura universitária e midiática do Brasil ainda não conseguiu absorver nem o
Mário Ferreira dos Santos, que morreu em 1968. Daqui a meio século talvez apareça
nesse meio alguém capacitado e lidar com a minha obra.’’ (Olavo de Carvalho) (16 de
julho de 2019)
***
‘’Quando conheci o Pe. Ladusans eu já dava cursos de filosofia desde mais de dez anos
antes, e o conheci quando fui levar a ele a minha análise estrutural da "Enciclopédia"
do Mário Ferreira dos Santos (mais tarde publicada em versão resumida como
introdução à "Sabedoria das Leis Eternas"). Resposta do Padre:
-- Isto está tão bom que posso aceitá-lo desde já como trabalho de conclusão de curso.
Você apenas precisa assistir às aulas como formalidade burocrática.
P. S. - Tenho testemunhas.’’ (Olavo de Carvalho) (12 de abril de 2019)
***
"O nosso Mário Ferreira dos Santos era entusiástico apreciador de futebol; terminada
a partida, que parecera absorvê-lo hipnoticamente, ele girava o botão da TV e
derramava sobre a mulher e os filhos as lições de História, de psicologia, de sociologia
e de ética que o jogo lhe havia ensinado." (Olavo de Carvalho) (Instituto Cultural Brasil-
Alemanha, Salvador BA, 9-11 de novembro de 1995)
[48]
[49]
2- Textos
1- Transcrição de 10 Áudios preciosos, informativos e de muita necessidade
mostra-los na presente edição dessa Revista.
I- Biografia de Mário Ferreira dos Santos, por suas filhas
Nadiejda e Yolanda.
Escrever uma biografia, expor em poucas páginas toda a vida de um homem não é
uma tarefa fácil; é difícil, tremendamente difícil e comprometedora.
Narrar fatos cronologicamente é fácil, porém, estes fatos pouco dizem da pessoa que
os viveu.
Ver com o sentimento, com amor, com paixão a pessoa que a nós está tão intimamente
ligada é humano, mas é necessário colocarmo-nos como espectadores e analisar a vida e a
obra.
Elogios são banais, são usados e abusados. São matéria de fácil utilização, para
qualquer um.
As palavras quando não se baseiam em obras são efêmeras, permanecem no tempo,
no passageiro, são frutos da vaidade humana. O que fica de alguém, o que interessa de uma
pessoa que viveu e amou, como todo ser humano, que sofreu todos os problemas, todo o
drama de outro homem igual, que foi em suma um homem é o pensamento, são as idéias.
Sua contribuição para a humanidade foi o pensamento que projetou.
Seguindo esta norma, que para nós é primordial, apresentamos esta breve nota
biográfica de Mário Ferreira dos Santos.
‘’Todo homem deve viver e morrer como um guerreiro’’
Palavras suas, que traduzem toda uma vida. O homem deve lutar por suas idéias,
porém, como é difícil. Os compromissos, os favores unem os homens, mas também os
[50]
perdem. O apoio tão esperado, tão desejado quantas vezes não é o caminho da perdição.
Como é fácil o caminho onde não há obstáculos. Expor suas próprias idéias sem
compromissos alheios, sem favores a pagar. Expô-las, defenda-las e prova-las, exige um
espírito extraordinário.
“Nunca ocupei nenhum cargo em nenhuma escola, por princípio. Deliberei desde os
primeiros anos tomar uma atitude que consiste em nunca disputar cargos que possam ser
ocupados por outros. É uma questão de princípios! Sempre decidi, para mim, criar o meu
cargo, a minha própria posição, construir para mim a própria situação, e não ter de ocupar
o lugar que possa caber a outro. O meu lugar seria o meu lugar, criado por mim, para mim
mesmo; por isso não disputo, nem nunca disputei, nem nunca disputarei qualquer posição,
que possa ser ocupada, por quem quer que seja. Em suma, a minha vida, em síntese, é
simplesmente esta” (Rumos da Filosofia Atual no Brasil, p.410)
Estas palavras de Mário Ferreira dos Santos dizem tudo! Determinam um princípio
de conduta, sintetizam uma norma de vida.
Nasceu em 3 de janeiro de 1907, em Tietê, estado de São Paulo. Filho de Francisco
Dias Ferreira dos Santos e de Maria do Carmo Santos. Tinha 04 anos de idade quando os pais
fixaram residência na cidade de Pelotas, estado do Rio Grande do Sul. Foi nessa cidade que
fez os seus primeiros estudos no ginásio Gonzaga, que então era dirigido pelos padres
Jesuítas.
Desde jovem revelou aquela insaciável sede de conhecimento que o acompanharia
por toda a vida. O eterno viandante pelos caminhos do mundo em busca de respostas que
satisfizessem a sua grande ânsia de alcançar a sabedoria.
Deve ressaltar-se nessa época a figura simpática do Padre Bücher, seu professor de
filosofia, que lhe chamou a atenção para a necessidade de um método seguro, que mais tarde
culminou com a criação de uma metodologia própria: A Dialética Concreta.
Foi com os Jesuítas que recebeu a orientação filosófica que norteou o seu pensamento.
São dele estas palavras:
‘’Com os jesuítas, desde o início, recebi a orientação que me aproximou da filosofia
positiva, e dela fiz a espinha dorsal da estrutura filosófica que hoje tenho: a filosofia positiva
e concreta; positiva no sentido de filosofia que parte e permanece na afirmação, ao que
constrói, que pertence a todos os grandes ciclos culturais da humanidade, mas que
encontrou o seu desenvolvimento máximo no pensamento grego, e a sua coroação no
pensamento ocidental, sob as linhas, sem dúvida, criadoras e analíticas da Escolástica.‘’
(Rumos da Filosofia Atual no Brasil)
Dedicava-se desde então, com grande intensidade, a todas as atividades culturais.
Colaborava assiduamente no jornal do colégio. Escrevia e ensinava peças teatrais,
salientando-se já pelo espírito combativo e inovador.
Ingressou na faculdade de direito de Porto Alegre, obedecendo ao desejo do pai e a
tradição da família. Sentia forte inclinação para a Medicina, tendo o mesmo cursado o
primeiro ano dessa faculdade. Obrigado, porém, a optar, decidiu-se pelo o direito.
Suas primeiras atividades jurídicas revelaram-no como um grande tribuno, orador
brilhante, dotado de excepcional capacidade de argumentação.
Casou-se em 1929 com Dona Yolanda Lhullier de cujo o casamento nasceram duas
filhas: Yolanda e Nadiejda.
Formou-se em 1930, em Direito e Ciências Sociais, pela Faculdade de Direito de Porto
Alegre.
Nesta época colaborava intensamente em jornais locais, com artigos, trabalhos
literários, reportagens e etc...
[51]
Fazia sentir então já o grande interesse pelos problemas sociais, desejava um mundo
melhor para todos e lutava para isso com as armas que possuía.
A leitura da obra de Nietzsche, o grande pensador alemão tão mal compreendido,
levou-o a escrever ‘’O Homem que nasceu Póstumo’’, além da tradução de ‘’Vontade de
Potência’’, acompanhada por um ensaio, O Homem que foi um campo de Batalha’’. Traduziu
e editou: ‘’Assim falava Zaratustra’’, com uma análise simbólica; Além do Bem e do Mal’’, e
‘’Aurora’’.
Em 1944 estabeleceu-se em São Paulo. Espírito independente que fugia de toda
participação nas rodas literárias, passou muitos anos dedicando-se ao magistério particular.
O grande número de alunos que o procuravam deu-lhe a idéia de introduzir em nosso país
nova modalidade de ensino: O curso por correspondência. Foi quando fundou o Instituto
Cultural Logos, que mantinha os seguintes cursos: Filosofia Geral; Economia; Oratória,
Psicologia e etc...
Via em nosso país o povo inculto, necessitando de saber, ávido de conhecimento.
Queria difundir a cultura para todos. Com este objetivo escreveu várias obras de divulgação
popular, livros de bolso vendidos em bancas de livrarias.
Grande orador, tribuno convincente, realizou inúmeras palestras, conferências e
discursos que a todos empolgava. Causava espanto a sua facilidade em discorrer sobre
temas propostos pelo o auditório na hora.
Solicitado por aqueles que desejavam aprender estar nobre arte, publicou os livros:
Curso de Oratória e Retórica; Técnica do Discurso Moderno e Práticas de Oratória.
O grande êxito dos cursos por correspondência levou-o a transforma-los em livros.
Encontrou a nítida má vontade de nossos editores, que a achavam, então, que o brasileiro
não lê filosofia e ainda mais achavam que um brasileiro não pode escrever obras de filosofia.
Fundou a Livraria e Editora Logos, com a finalidade de difundir a cultura e editar as
suas próprias obras. De início, ele sozinho realizava todas as funções necessárias: Comercial;
Administrativa; Industrial e Editorial. Em todas elas eximia-se de suas obrigações com o
senso rigoroso do dever. Auxiliado por seus familiares, ampliou as atividades.
Editou: Filosofia e Cosmovisão; Lógica e Dialética; Psicologia; Teoria do
Conhecimento; Ontologia e Cosmologia; Tratado de Simbólica; O Homem perante o Infinito;
Noologia Geral e Filosofia da Crise.
Obras que reunidas formam a coleção Cultura Moderna.
As nossas editoras até então continuavam praticamente no mesmo sistema
tradicional de vendas, bitoladas nos padrões usuais. Não se interessavam pela a venda de
obras filosóficas em livrarias. Não aceitavam a distribuição. Alegavam desinteresse e falta
de receptividade do público. Lutando contra todos esses obstáculos, o próprio autor, forçado
pelas circunstancias, lançou-se a luta comercial. E também aí a sua atuação foi marcante.
Estabeleceu um sistema inédito no comércio do livro: A venda no crediário. Contra a opinião
geral de todos, que prenunciavam o completo malogre da nova iniciativa, obteve um êxito
extraordinário. A venda de livros atingiu a números que jamais se poderia calcular. Várias
edições foram publicadas em poucos anos. Fato inédito e que provou que o brasileiro
também quer saber, que o brasileiro também pensa, que o brasileiro também lê filosofia.
Fato mais importante ainda: Nunca o Mário Ferreira dos Santos lançou mão de
qualquer publicidade demagógica. Jamais solicitou a quem quer que fosse a escrever sobre
os seus livros. Jamais apoiou-se em autoridade fosse qual fosse. Lutou sempre sozinho.
Apesar da difusão em todo o Brasil de suas obras, a maioria dos professores
universitários silenciaram. E ainda silenciam. E alguns chegam até a desfigurar, deturpar o
seu pensamento para combate-lo, tal fato só é digno de lastima.
[52]
Ele sempre dizia: Há um silêncio em minha volta, mas não me importo com isso. Quero
que o leitor me julgue e só dele quero receber a crítica boa ou má.
Há dois métodos de combater um grande homem: Um deles é pelo o silêncio, pelo o
profundo silêncio e o outro é pela a deturpação do pensamento. São duas armas perigosas,
quando a primeira não consegue matar, a segunda vem em sua ajuda para aniquilar.
Será contra as regras da natureza um brasileiro fazer filosofia? Será contra a ordem
divina um brasileiro conseguir atingir um pensamento mais alto, igualar-se aos grandes
cérebros da humanidade, colocar-se ao lado dos maiores filósofos? Porque não darmos o
merecido valor àqueles que entre nós realmente o têm?
O homem vale por suas obras. O que vale é o que foi feito, a realização, e a obra de
Mário Ferreira dos Santos aí está.
Esplendidamente revelada em 70 volumes à disposição de todos para ser lida,
analisada e discutida. Ela fala pelo o homem que a fez.
Ele não mais está aqui para apresenta-la, para explica-la e para defende-la, mas o seu
espírito aqui está vivo, eternamente vivo. Vivo nestes milhares de páginas que o revelam a
todos. Nestes milhares de páginas que constituem a sua contribuição para o bem da
humanidade.
Destruir é fácil, destruir qualquer um pode, porém, construir poucos o querem e
poucos o podem. Ele sentiu o grande drama do homem. Ele sofria em suas carnes a tremenda
tragédia humana. E a caridade, a sincera caridade norteou sempre a sua vida, a sua obra.
Ensinar, divulgar o saber, elevar o homem foi a sua meta.
Foi esta profunda caridade que o levou a dar apoio a todos aqueles que dele se
aproximavam necessitados. Se houve grandes ingratidões, estas foram compensadas pelo o
dever bem cumprido.
Foi frequentemente procurado no decorrer de sua vida por pessoas aflitas e
angustiadas que apresentavam problemas psicológicos. A sua palavra otimista e amiga,
penetrava até ao fundo da alma, e não foram poucos àqueles que a ele devem a sua
integração, a sua recuperação. Era constantemente solicitado, através de cartas, a dar
conselhos, a resolver problemas. Ensinando as pessoas a compreenderem a si próprios,
segundo o método que criara e que já dera resultado em vários casos particulares, o de
reintegração pessoal, escreveu: ‘’Curso de Integração Pessoal’’ e ‘’Convite a Psicologia
Prática’’.
Em 1957 publicou ‘’Filosofia Concreta’’, novo marco no pensamento filosófico.
Esta obra que deveria ser estudada e criticada pelos nossos intelectuais não teve
nenhum comentário. Fez-se o completo silêncio em sua volta. Se chamamos a atenção para
este fato é por que o lastimamos profundamente, ele apenas revela a incapacidade de nossas
chamadas elites intelectuais.
A ‘’Filosofia Concreta’’ não é um acumulado de aspectos julgados mais seguros e
sistematizados numa totalidade. Ela tem a sua existência autônoma, pois os seus postulados
são congruentes e rigorosamente conexionados uns aos outros. O valor do pensamento
exposto nesse livro não se funda no de autoridades várias da filosofia. Autoridade, e a única
que é a aceita, é a dada pelo próprio pensamento. Quando, se em si mesmo, encontra a sua
validez, a sua justificação, pois cada uma das teses expostas e apresentadas nesse livro é
demonstrada pelas diversas vias pensamentais que são propostas.
O interesse pelas ideias sociais já manifestado na juventude foi uma constante com
altos e baixos durante toda a vida. Este interesse foi altamente benéfico, pois foi um móvel
que o levou a dedicar-se e aprofundar-se intensamente nas mais variadas correntes
ideológicas, conseguindo uma ampla visão que se concretizou numa colocação das questões
[53]
sociais em base fortemente filosóficas, fugindo das meras opiniões que trazem como
decorrência natural a confusão de ideias.
Escreveu e publicou a coleção ‘’Problema Social’’. A importância desta obra está na
nova colocação e na nova visualização dos problemas históricos-sociais.
O novo marco do pensamento filosófico foi estabelecido em 1967 com a Mathese da
Filosofia Concreta, que completava o trabalho iniciado em ‘’Filosofia Concreta’’. Publicou
‘’Sabedoria dos Princípios’’ e ‘’Sabedoria da Unidade’’, seguido pela publicação póstuma de
‘’Sabedoria do Ser e do Nada’’
Há a necessidade de ressaltar aqui uma das críticas constantemente feitas a Mário
Ferreira dos Santos: A sua extrema fertilidade e produtividade, que causam estranheza a
muitos. Realmente, os tipos enciclopédicos são raros na história, mas acontecem. É inerente
ao filósofo a capacidade a capacidade de abranger pela universalidade, a particularidade.
Ele mesmo disse: ‘’Quê filósofo seria eu se não pudesse tratar filosoficamente de cada
ciência?’’
Acreditava nas grandes possibilidades do pensamento brasileiro, são suas estas palavras:
“todos aqueles que no Brasil revelaram possuir mente filosófica, e não foram muito
numerosos, mas, contudo, foram brilhantes, tenderam sempre para um pensamento de
caráter sintético; isto, é, não ficaram totalmente dependentes às correntes filosóficas
europeias.
Sempre houve, entre nós, o desejo de abarcar o universal, esta característica é
naturalmente justa e própria de um povo que vive em si mesmo o universal; por isso o Brasil
é atualmente um dos países existentes, aquele que está melhor capacitado para uma filosofia
universalizante, ou pelo menos, para uma nova linguagem filosófica, capaz de unir o
pensamento que divergiu tão profundamente no campo já esgotado do pensamento
europeu.
Aqueles que não pensam assim, que não admitem essa possibilidade para nós, que
continuem vivendo o seu modo de pensar. Nós preferimos, porém, divergir”.
Foi por amar tão profundamente à pátria, e por amar acima de tudo a sabedoria que a sua
vida foi marcada pela luta constante; contra todas as idéias negativas; contra todos que
destroem em vez de construir; contra tudo que diminui o homem em vez de eleva-lo.
O homem é um fim e não um meio. Utiliza-lo, transforma-lo em peça de um mecanismo é
ofender a sua dignidade.
Finalizando, o nosso maior desejo é que daqui desta faculdade, a única na qual ele
realmente desejou lecionar, o seu pensamento possa ser projetado para o mundo.
Os seus primeiros passos na vida foram guiados pelos Jesuítas.
Esperemos que após a sua morte, sejam deles e de seus discípulos que parta a
consagração do pensamento deste filósofo brasileiro, deste filósofo genuinamente cristão.
[Fim do Áudio]
[54]
II - Entrevista ao Pe. Stanislavs Ladusãns
Passo agora a responder ao inquérito do Pe. Stanislavs. Vou responder aos itens.
Peço à senhorita que abra para cada capítulo uma forma-número de cada item.
Primeiro vamos responder ao segundo item.
[55]
sua coroação no pensamento ocidental sob as linhas, sem dúvida, da escolástica. Não me
considero um escolástico – não sou. Porque tenho idéias próprias. O que só poderei explicar
nas respostas aos outros itens.
Publiquei muitas obras com pseudônimos das quais a maior parte hoje é merda.
Mas há vinte anos para cá o que tenho escrito em filosofia tem sido o pensamento
coerente que não tem sofrido nenhuma modificação. Creio, portanto, que a minha atual
estrutura é definitiva.
A.
– Qual é a missão da filosofia em relação à vida cultura brasileira odierna ou quais são
os problemas vitais brasileiros de atualidade que aguardam a contribuição da parte
da reflexão filosófica?
Essa pergunta, para mim, para a minha posição, está colocada antes de outras sem as
quais não poderia dar uma resposta cabal. Entretanto, coloco-me na seguinte posição: nós,
brasileiros, por vivermos o universal, por não termos compromissos históricos que pesem
demasiadamente sobre nossos rumos, nem também compromissos filosóficos, somos um
povo apto a apresentar uma filosofia de caráter ecumênico, ou seja, uma filosofia que
corresponda ao verdadeiro sentido com que ela foi criada desde o início.
Parto da posição pitagórica.
Pitágoras dizia que era um amante da sabedoria, da suprema sabedoria, desta
sabedoria que nós co-intuímos com a própria divindade. E este afã de alcançá-la, tudo
quanto nós realizamos para chegar lá, os caminhos que percorremos para alcançar essa
sabedoria suprema, que era a suprema instrução – daí chamar ele “Mathesis Megiste”: a
Suprema Instrução –, todos esses caminhos e todo esse afaná era propriamente a filosofia.
Assim, colocando-nos nesta posição, posso admitir que há vários caminhos, mas só
há um caminho certo. E como fundamentava Pitágoras repetido depois por Aristóteles que
a única autoridade na filosofia é a demonstração e esta deve ser apodítica e se possível com
juízos necessários e até exclusivos, a filosofia construída deste modo só pode ser uma,
positiva e necessariamente completa, que é a posição que tomamos.
Nós podemos viver o universal no sentido puramente quantitativo – os modos de ver
e de sentir dos diversos povos – mas não podemos permanecer na situação de ser um povo
que recebe todas as idéias vindas de todas partes e não possa encontrar um caminho para
si mesmo. Nós temos que encontrar esse caminho. A minha luta é essa.
E sem essa visão positiva e concreta da filosofia não será possível dar uma solução
aos inúmeros problemas vitais brasileiros da atualidade, porque a heterogeneidade de
idéias e de posições facilita a heterogeneidade de soluções das quais muitas não são
adequadas às necessidades do Brasil. O tema é vasto e exigiria um trabalho todo especial.
Item B.
Abrir espaço.
B.
[56]
– Que fazer para que a filosofia atinja as grandes massas populares e a juventude
brasileira em grande escala?
Abre linha.
Querer fazer a filosofia atingir as grandes massas populares em primeiro lugar será
obra que se exigirá a descer a filosofia ao baixo grau de cultura das nossas massas populares.
Precisamos é estudar o que devemos fazer para erguer as grandes massas populares à
filosofia e isto só poderá ser feito através de um desenvolvimento da cultura nacional, mas
em linhas distintas das atuais, que tendam à filosofia positiva e não à filosofia negativista e
niilista que penetra em nossas escolas.
Quanto à juventude brasileira, este é o mais grave dos nossos problemas. Somos um
país eminentemente constituído de jovens, que formam a sua quase totalidade.
Dado o grau baixo de cultura que temos, os nossos estudantes passam a formar uma
elite intelectual. Isto demonstra o grau de inferioridade que nos encontramos. A juventude
sempre na história – e é o que decorre da sua própria natureza – apresenta aspectos
positivos e negativos. Positivos pela sua capacidade de ação e de idealismo, mas negativos
pela sua irreflexão, pelo seu despreparo, pelo seu apressamento que a leva a cair facilmente
nas malhas dos grandes agitadores e servir aos interesses dos demagogos e políticos. Em
todas as épocas da humanidade a maior parte da juventude tendeu ou facilitou – ou pelos
menos aquela mais ativa – facilitou a luta a favor das más causas. Foram os jovens que
condenaram Sócrates, foram os jovens que perseguiram Aristóteles, foram os jovens que
antes destruíram o Instituto Pitagórico, foram os jovens que perseguiram Anaximandro,
foram os jovens que perseguiram durante os tempos todos os grandes homens como Tomás
de Aquino, São Boaventura quando eram mestres na Universidade de Paris. Esses jovens
que são ativos, eficientes na sua parte destrutiva, são uma verdadeiro perigo para a
humanidade. À juventude construtiva, então, o que nos cabe fazer é isto: construir
novamente a juventude brasileira, dar uma cultura suficiente a ela, mais clara, positiva e
concreta de modo que ela possa afastar-se completamente das tendências niilistas e possa
pôr o seu desejo de ação, de realização e seu idealismo em alguma coisa concreta e que possa
trazer benefício ao país. Fora disso nada dará resultado.
Abre espaço.
C.
– Quais são as correntes filosóficas que a reflexão filosófica deve ter em conta hoje?
Abrir linha.
[57]
E.
– Como deve colaborar a filosofia para humanizar a civilização de hoje evidenciando
o valor da pessoa humana e contribuindo para a paz interior e felicidade do homem?
Essa pergunta pode se dividir em três e, portanto, exige três respostas diferentes:
primeira, a humanização da civilização atual; segundo, a evidenciação do valor da pessoa
humana; e terceiro, a contribuição para a paz interior e felicidade do homem.
Respondendo a primeira, vemos o seguinte. Hoje, graças, sobretudo no mundo livre,
ao surgimento de um desejo ecumênico de aproximação dos homens, a humanização da
civilização pode ser obtida em parte, naturalmente, pela colaboração da filosofia, pela
revisão honesta de todos os grandes autores do passado que foram caricaturizados,
falsificados e apresentados num sentido que não é realmente o da sua filosofia. Poderíamos
fazer aqui a citação desde os pitagóricos até o século passado de autores que precisam ser
revisados e reestudados para evitar-se aquelas “fabre convenue”, aquelas mentiras
históricas, os mitos e as interpretações falsas que se fazem da sua obra com o intuito apenas
de denegri-los ou de favorecer a sua posição. Devemos tomar a seguinte posição: primeiro,
procurar muito o que nos une, depois pensemos em estudar o que nos separa para ver que
o que nos separa possa sofrer modificações ou acomodações que permitam que o que nos
una dê força à humanização da própria civilização.
Daí decorreria então, inevitavelmente, uma resposta justa à segunda parte, sobre o
valor da pessoa humana, que inegavelmente sofreu nesse século, graças ao desenvolvimento
dos totalitarismos, uma afronta à sua dignidade. E, de todos os lados, em todos os setores,
evidencia-se que há uma preocupação em reestudar esse tema, e ele pode e deve ser
reestudado em termos positivos e concretos.
E finalmente decorreria então a resposta à terceira parte, porque a paz interior, a
tranquilidade interior, a serenidade do espírito só podem dar-se quando uma mente assenta
plenamente na sabedoria e alcança a tanger aquelas verdades que nós somos aptos a
alcançar e que são o fundamento da nossa verdadeira felicidade. Em suma, seguimos o
preceito de Pitágoras: ama a verdade até o martírio, não ames, porém, a verdade até a
intolerância.
Procurando o que nos une na verdade com todas as outras correntes e posições
filosóficas, nós podemos abrir o caminho para uma compreensão nos aspectos em que
encontramos diferenças que muitas vezes são meramente acidentais, e não aptas a justificar
uma separação profunda. Esse já seria um caminho de maior aproximação entre os homens
porque à proporção que nós nos dedicamos à leitura dos textos é que vamos
compreendendo a ação nefasta dos intermediários, e sabemos que na filosofia – e temos
inúmeros, milhares de exemplos para citar – os intermediários, os discípulos, em regra geral
falsificam as obras de seus mestres segundo determinados interesses, os adversários
caricaturizam segundo outros interesses e o resultado é a deformação total do verdadeiro
pensamento do autor. A obra apresentada de segunda, terceira, quarta e quinta mão está
completamente desfigurada e então permite o fácil ataque ao autor porque é fácil destruir
as caricaturas. Há casos na filosofia até de autores terem recebido refutações de obras ainda
nem sequer publicadas e nem sequer conhecidas a não ser pelo autor. Há exemplos na
história da filosofia. O autor – e isso não é novidade que ainda hoje se faça – muitos livros
meus têm sido refutados antes de serem publicados só pelo simples fato de que eu pretendia
escrever sobre tal ou qual matéria. E nem sabendo qual a minha verdadeira posição no
[58]
assunto, já havia adversários suficientes para tentar refutá-los. Não em público, porque isso
ninguém teve coragem de fazer, mas nos corredores.
Abre espaço.
Letra F.
– Pode existir, e em que sentido, a filosofia nacional? Em que sentido ela pode
beneficiar o pensamento filosófico estrangeiro e beneficiar-se dele?
Quando hoje se visita Portugal e vê-se qual a atitude predominante nesse país em
relação ao patrimônio cultural daquela nação, espanta-nos verificar a completa e absoluta
ignorância sobre o que de grande já se realizou na filosofia portuguesa.
Atualmente, dentro das escolas leigas, nada se estuda da filosofia portuguesa dos
séculos XV, XVI e XVII. Parece que Portugal nada revisou, desconhece-se que por cerca de
quase dois séculos a filosofia portuguesa imperou no mundo. Desconhece-se autores como
estes: Petrus Hispano; Antonio a Santo Domínico, O.P.; Francisco Suárez, S. J., que embora
sendo espanhol viveu grande parte da sua vida intelectual em Portugal, onde ele ergueu-se
incessantemente; além dos outros dois Francisco Soares, lusitanos; Martim de Ledesma,
espanhol de origem, cuja formação intelectual realizou-se igualmente em Portugal;
Francisco a Cristo, O.S.A., e Egídio da Apresentação, .O.S.A, Andréias de Almada, S.J. ;
Ludovico de Sotto Mairo, O.P.; Gabriel da Costa; Hector Pinto, O S.; Hieron; Francisco da
Fonseca, O.E.S.A; Manoel Tavares, da Ordem carmelitana e Francisco Carreiro, da Ordem
cisterciense; Jorge O Serrão, S.J.; Ferdnando Peres, embora nascido em Córdova, foi outro
que adquiriu a sua cultura em Portugal; Ludovico de Molina, S.J., nascido na Espanha, viveu,
contudo, a maior parte do seu tempo em Portugal, onde estudou e foi discípulo de Pedro da
Fonseca, S.J., o Aristóteles português; Petrus Luís, S.J.; Antônio Carvalho, S.J.; Baltazar
Álvares, S.J.; Hieronimus Fernandes, S.J.; Gaspar Gonçalves, S.J.; Ludovicus de Cerqueira, S.J.;
Gaspar Vaz, S.J.; Diogo Alves, S.J.; Francisco de Gouvêa, S.J.; Ferdinando Rebelo, S.J.; Gaspar
Gomes, S.J.; Benedictus Pereira, S.J.; Sebastião de Couto, S.J.; Blásio Viegas, S.J.; Emanuel de
Góis, S.J.; Cosmas de Magalhães, S.J.; Pedro da Orta, S.J.; João de São Tomás, O.P., para citar
apenas alguns, Portugal nos deu esta floração de filósofos, afora os mais conhecidos, como
Sanches e outros, porque correspondem à atual maneira de filosofar no mundo moderno.
Perfeito.
Então, pergunta-se se pode falar de uma filosofia DE Portugal ou apenas de uma
filosofia EM Portugal. Pode-se falar, sim, de uma filosofia DE Portugal e também de uma
filosofia EM Portugal.
Nós, brasileiros, contudo, por um espírito de colonialismo passivo que nos domina
até hoje, não cremos em nós mesmos, só damos valor àquilo que tem origem estrangeira –
que não seja de Portugal! Porque também Portugal está fora da nossa admiração. Então é
natural que eu falasse numa filosofia nacional tem causado no Brasil uma manifestação de
completa descrença. Não se acredita primeiro que haja nem tampouco que possa surgir. Nós
podemos dizer que existe uma filosofia NO Brasil, mas realmente falarmos ainda numa
filosofia DO Brasil, não podemos fazer tal afirmação pelo seguinte.
Em primeiro lugar, não temos obra de criação propriamente peculiar ao nosso modo.
Não podemos apresentar a nossa obra como sendo a primeira a ser feita nesse sentido
porque elogio em boca própria é vitupério.
Agora, o que podemos dizer é que nós, pelas nossas condições de completa libertação
de um passado metafísico ou filosófico e histórico que pese sobre nós, que prenda as nossas
[59]
possibilidades de ação, estamos em condições de criar uma filosofia ecumênica, uma
filosofia que seja realmente A filosofia, porque a verdadeira filosofia ecumênica será A
filosofia, e não modos, modalidades de filosofar.
As características que se apresentam nas modalidades de filosofar é uma decorrência
da predominância do homem, do empresário utilitário no mundo, no contexto de uma
cultura. Quando ele predomina, predomina a moda e a moda penetra em todos os setores.
Penetra na filosofia como penetra na arte, como penetra em qualquer outro setor. E o que
acontece no mundo moderno, essa variância tremenda de idéias que surge de todos os
recantos, não revelam nenhuma pujança. Ao contrário, é uma revelação de fraqueza, como
foi a do período final da cultura grega.
A filosofia positiva, fundada na positividade do ser, que alcança a perenidade porque
alcança as leis eternas – concreta precisamente porque captando essas leis ela conexiona
todos os quartos de todos os matizes e de todos os aspectos formais para dar-lhes uma
unidade superior – ela é naturalmente concreta, terá que ser necessariamente concreta não
no sentido vulgar do termo, mas nesse sentido que acabamos de expor. Só uma filosofia DE
sentido é realmente A filosofia. A ciência felizmente conseguiu libertar-se da moda como se
libertou a matemática. E por isso como se construiu uma matemática, uma física, também
se pode construir uma filosofia. E o que o pensamento brasileiro pode beneficiar-se no
pensamento filosófico estrangeiro é reunir o que há de positivo em todas as grandes
realizações no mundo inteiro, sejam de onde forem, provenham de onde provierem. E
depois dar uma grande síntese, uma nova síntese, uma nova compreensão e oferecê-la ao
mundo. Esta é a única possibilidade que cabe a nós e que estamos em condições de fazê-la,
muito embora a maioria da nossa intelectualidade não creia nessas possibilidades, neguem
terminantemente que tal seja alcançável por nós e se atirará com sanha contra quem tentar
fazer isso.
Abre linha.
Espaço. G.
Sem uma visão transcendental da realidade não pode haver filosofia. Porque, se a
filosofia distingue-se da ciência – como é fácil estabelecer nas suas delimitações –, se a
ciência dedica-se ao estudo das causas próximas, a filosofia, das causas primeiras e últimas,
fatalmente a filosofia terá que ter uma visão transcendental da realidade. Pelo menos, terá
que tangê-la, terá que abordá-la.
Ora, além das causas primeiras e últimas, temos de estudar os princípios, que é
matéria fundamental [???], que é objeto fundamental da ‘’Mathesis Megiste’’ dos pitagóricos
e do que nós chamamos matéria em português, cuja obra estamos realizando para
fundamentar esta ciência. Esses princípios são matéria do que constitui propriamente o que
em todos os ciclos culturais de todas as altas religiões chama-se A Sabedoria: a sabedoria
infusa ou a sabedoria de que o homem participa da divindade ou a própria sabedoria divina
que o homem pode abordar, tanger e penetrar. Tema que naturalmente exige discussões
sobre os seus principais aspectos. Mas o que é inegável, e o que não poderá deixar de
alcançar nenhuma visão filosófica em profundidade, é que há princípios eternos, há leis
[60]
eternas que regem e governam todas as coisas, as quais não devem ser confundidas com as
leis naturais nem com as leis da ciência.
Esse estudo inevitavelmente levará para uma visão transcendental da realidade, e
sem esse estudo não se faz filosofia em profundidade, só se fará filosofia na superfície, que
aliás é a tendência predominante no mundo moderno, isto é, de uma filosofia que não
ultrapasse a imanência da esquemática que o homem pode construir dentro apenas da sua
experiência mais vulgar.
Abre espaço.
Letra H.
Parece-nos que aqui há duas perguntas. A primeira que pergunta pela íntima conexão
entre a posição gnoseológica, metafísica e ética, e a segunda, a íntima conexão entre a teoria
e a prática. Desdobra-se assim a pergunta em duas partes. Vamos responder a primeira,
depois a outra.
As dificuldades no campo da gnoseologia, no campo da metafísica, inclusive no campo
da ética, surgem naquele filosofar que coloca o homem quase como um ser estranho ante o
seu universo o qual é impermeável para ele, isto é, coloca o homem numa situação de estar
completamente ilhado, completamente bloqueado, sem ter a menor possibilidade de
penetração no mais profundo. E então as consequências desse pensamento pessimista,
negativista, são as seguintes: que não é possível dentro dos nossos meios cognoscitivos
alcançar o que nos transcenda e dar também à nossa própria ética uma visão também
transcendental. Desta forma, há uma tendência a ver- se todo filosofar do homem como
apenas uma obra humana, mas restringida aos limites da nossa experiência fundada nos
dados dos nossos sentidos e dos nossos meios limitados de conhecimento. E ademais, chega-
se ainda à conclusão que todo e qualquer esquema que construamos jamais tenha uma
correspondência com a realidade que nos ultrapassa.
Estamos em pleno gnosticismo, ceticismo, pessimismo, ficcionalismo, pragmatismo,
materialismo, niilismo, desesperismo. São as consequências que surgiram no filosofar
moderno. Portanto, inegavelmente deve-se abrir a reflexão filosófica para uma visão
transcendental da realidade sob pena de nos perdermos dentro de armadilhas que nós
mesmos criamos afirmando uma deficiência que na verdade não temos.
A segunda parte da pergunta é importante. Desde os gregos as discussões em torno
da teoria e da prática, isto é, da filosofia e da ciência especulativa, da filosofia e da ciência
prática, avassalaram a atenção dos filósofos de maior responsabilidade intelectual e, temos
a dizer, que apesar dos grandes trabalhos realizados que fazem a nítida distinção entre a
teoria e a prática, trabalhos realizados através de milênios chegados até nós, estão hoje na
sua melhor parte completamente desconhecidos por aqueles que não têm nenhuma ligação
com a filosofia positiva e concreta que pertence aos grandes círculos culturais da
humanidade. Resultado, estamos hoje vivendo uma completa confusão entre teoria e
prática, estabelecem-se determinadas proposições teóricas e julgam-se que elas são
perfeitamente práticas e vice-versa. Algumas proposições extraídas exclusivamente da
prática passam a constituir então como se fossem verdadeiros axiomas teóricos. O resultado
[61]
é que nós vivemos hoje num mundo de utopia e quimeras. E como consequência: desilusões;
e, resultado final: desespero.
Abre espaço.
Letra I.
Essa pergunta a nosso ver devia ser a primeira a ser feita nesse inquérito, porque aqui
está o ponto de partida. Porque desde o momento que nos coloquemos numa posição de que
a filosofia é uma mera produção pessoal puramente subjetiva de pensador, colocamos a
filosofia no campo da estética, mas se nós nos colocamos que a filosofia é uma ciência
objetiva, isto é, ela é uma busca humana para a Sofia suprema, para o saber que nos
ultrapassa, que nos transcende, ela toma um vulto completamente distinto. Em todos os
ciclos culturais, a filosofia positiva e concreta é uma ciência objetiva e em todos os períodos
de decadência, ou em todos os momentos de decadência que são vários que surgem, a
filosofia torna-se puramente subjetiva. A filosofia moderna está caindo no subjetivismo. Nós
vimos até a tendência de um Heisenberg querer colocar a própria ciência no subjetivismo
pela sua teoria da indeterminação. Há necessidade de esclarecer-se isso, sobretudo para
aqueles que querem fazer filosofia. Aqueles filósofos que queiram fazer obra puramente
subjetiva, dediquem-se à estética, mas deixem em paz a filosofia; assim como nós pedimos
muitas vezes aos senhores positivistas que façam ciência, mas não façam filosofia, porque
são coisas que eles devem distinguir, separar e que não podem coadunar-se com a posição
que eles tomam.
Espaço.
Letra J.
Esse tema é de uma vastidão tremenda, já que o ateísmo contemporâneo provém não
propriamente de uma especulação filosófica, mas sim de certas decepções de caráter mais
moral e propriamente ético do que propriamente filosófico. Para nós, o ateísmo em torno,
por exemplo, do Deus-um, em torno dos atributos do Deus-um, não há, só há ateísmo em
torno dos atributos do Deus-trino, do deus pessoal ou os atributos morais de Deus. Não
conhecemos nenhum trabalho de nenhum ateísta que se cinja a atacar propriamente o Deus-
um. Conhecemos sim agnósticos e céticos, mas não ateístas que tomem uma posição
definitiva negadora da possibilidade de um ser supremo. O ateísmo para nós é sempre
produto de uma má colocação do problema de Deus. Aliás, dizemos sempre: na filosofia não
há questões insolúveis, há questões más colocadas. O ateísmo moderno parece uma questão
insolúvel porque é uma questão mal colocada. Em todas as ocasiões que tivemos
oportunidade de nos encontrar com ateístas, bastou-nos pedir-lhes que fizessem descrever
o que entendiam por Deus e nessa descrição verificamos quais as razões do seu ateísmo, e
[62]
foi-nos fácil afastá-los do mesmo, pelo menos colocá-los dentro da aceitação do Deus-um –
para nós, o ponto de partida de ecumênico que se impõe na atualidade.
Abra espaço.
Letra K.
Eis também outra questão que sendo bem colocada tem a sua solução firme.
Todo o ponto de partida está em saber o que se entende por tonalidade cristã. Se nós
considerarmos Cristo por um aspecto no qual podemos nos encontrar quase todos, isto é,
que ele representa o que o homem tem de mais alto na sua forma perfectiva marchando para
a divindade, o mesmo nesse sentido de reaproximação para o ser supremo e um, nós temos
que dizer que a reflexão filosófica NÃO PODE deixar de ter uma tonalidade cristã. Não pode
haver uma reflexão verdadeiramente filosófica que não ascenda o homem do menos para o
mais. Portanto, o Cristianismo não só presta benefícios, como ao filósofo que sempre o
prestou – e por isso que a filosofia teve seu maior desenvolvimento sob a égide do
Cristianismo –, como será apenas através da concepção cristã que se poderá realizar uma
filosofia superior capaz de unir e fazer os homens compreenderem. Porque Cristo,
representando em nós, no homem, tudo quanto ele tem de mais elevado e de mais alto,
sendo a sua marcha para Deus, Ele representará a elevação do homem.
Já dizia Pitágoras que a verdadeira piedade, aliás a Eusébia, era a justa e nobre
veneração à divindade e essa consistia na prática dos nossos atos perspectivos superiores,
porque nós nos aproximávamos de Deus à proporção que nós praticávamos, de modo mais
perspectivo, os nossos atos. Em suma, a Eusébia, a verdadeira piedade para os pitagóricos
era a assemelhação a Deus. Esse conceito não é exclusivo dos pitagóricos, é universal. É da
revelação universal. É de todos os ciclos culturais. A verdadeira filosofia segue paralela à
religião, porque a religião é esse caminho de levar o homem pelas ações a Deus, e a filosofia
é o caminho de levar o homem pela meditação, pelo pensamento, pela pesquisa, pela
especulação, também a Deus. Por isso, a religião pertence à vida prática e à filosofia,
sobretudo à vida especulativa, o que não impede que a filosofia especule também sobre a
vida prática e nela atue dentro das normas da vida prática que corresponde à vontade, ao
entendimento humano na sua ação em busca do bem. Mas a filosofia é a vontade e a
especulação também em busca da verdade.
Consequentemente o, o homem, à proporção que especula pela verdade, aproxima-se
do ser supremo; o homem, à proporção que busca o seu bem justo, ele aproxima-se de Deus.
Esta é a razão por que o divórcio entre filosofia e religião que se procurou fazer neste
momento em que vivemos no mundo ocidental é o mesmo que já se fez em outros ciclos
culturais em situações que são correspondentes e semelhantes a estas, também de certo
aspecto decadentista. Mas, o que é preciso fazer é fugir desse estado de decadência, não
apenas numa atitude covarde, mas sim numa atitude heroica enfrentando, mostrando os
defeitos dessa posição e propondo os verdadeiros caminhos de ascensão.
O cristianismo é universal olhado sob esse aspeto, porque ele pertence a todos os
ciclos culturais. Ele foi o pensamento mais profundo, o verdadeiramente mais profundo de
todos os ciclos culturais. Por isso ele é inseparável da religião, porque o Cristianismo é uma
religião do homem nos seus aspectos perspectivos, isto é, enquanto vontade, enquanto
entendimento e enquanto amor que corresponde a concepção católica às três pessoas da
[63]
trindade. Caminhando nesse sentido, seguindo esse sentido, nós retiraremos o homem do
pântano em que ele está, do estado de desespero no qual ele emergiu e podemos então
lançar outra vez um novo horizonte para ele, uma nova perspectiva, uma nova esperança
que ele poderá solidificar, uma verdadeira e robusta fé.
Terminamos assim as nossas respostas ao inquérito que nos foi feito pelo Pe.
Stanislavs.
[Fim do Áudio]
[64]
III - Soneto de S. Francisco Xavier
Oh Deus, yo te amo!
''No me mueve, Senõr, para quererte
el cielo que me tienes prometido,
ni me mueve el infierno tan temido
para dejar por eso de ofenderte.
[65]
Vamos agora fazer uma tradução literal desse soneto, buscando conservar,
tanto quanto possível, as rimas de Francisco Xavier:
Esse soneto, que merece a nossa mais profunda meditação nos mostra que é
o Cristianismo, no entanto, a verdadeira Religião do Amor.
[66]
vida tão nobre e tão grandiosa é exemplo eterno para todos aqueles que desejarem
guiar os seus passos no caminho do dever, eu compreendi, mais uma vez, que eu
seguia o verdadeiro caminho, e hoje eu estou contente de ter como o meu guia a São
Francisco Xavier!
Este Cristianismo não espera paga, não cumpre o seu dever para que amanhã
receba os presentes dos seus atos dignos, mas cumpre o seu dever por amor aquele
que não temeu também cumprir. Cumpre o seu dever por um amor humano a nossa
própria grandeza, dentro da nossa imensa pequenez.
Mesmo que não houvesse o Céu deveríamos ama-lo, mesmo que não
houvesse o Inferno nós temeríamos a grandeza daquele homem simples que andou
pelos caminhos da Galileia.
Ele é insurrecto, não nos tem nada de dar, porque nós o amemos. Mesmo que
não esperássemos o que esperamos Ele nada teria que nos dar, porque do mesmo
modo que Ele não nos desse, nós deveríamos quere-lo. Quere-lo profundamente.
Não negamos o valor dos outros Cristianismo, não são esses os nossos!
Não negamos que eles sejam forças capazes de mover aos outros, não, porém
a nós!
A nós o que nos move é um outro sentimento, é um sentimento misto de amor
e de dever, de que Cristo, como homem, foi um grande exemplo, o Grande Executor!
Era o que desejávamos dizer.
[Fim do Áudio]
[67]
IV - Sobre o Comunismo, debate com Caio Prado Junior!
E dou muita chance, sempre muita chance para o adversário! Sempre dou
armas para ele e as vezes até ajudo!
Uma vez eu fui fazer um debate contra um comunista. O comunista foi
mandado pelo partido comunista. Começou a fazer a exposição do comunismo, para
depois eu fazer a minha crítica, mas eu virei-me para o auditório e disse:
‘’Francamente, a exposição que esse moço fez do comunismo está frágil. O
comunismo tem mais elementos, mais fortes e mais poderosos. Vai me perdoar o
meu antagonista que ele exponha alguma coisa em favor do comunismo; teses do
comunismo, pontes do comunismo.’’
Tinha nesta ocasião um cidadão que era o Secretário Geral do Partido
Comunista, na época, que era o Luis Carlos Prestes. O Prestes veio ocupar de posse.
Ele estava presente, eu sabia. E eu disse:
‘’Aqui está presente o Secretário Geral do Partido Comunista. Ele vai então
verificar se eu estou apresentando alguma tese falsa, se alguma coisa for falsa, ele
que mecorrija.’’
Então expus, de tal forma, que os meus amigos estavam apavorados, de tal
maneira que Adene disse: O Senhor virou Comunista? Não é possível”
A exposição estava muito favorável ao Comunismo.
Depois que eu expus tudo aquilo, eu disse:
‘’Bom, isto não é o Comunismo, sob todas estas teses, todas estas condições,
agora eu vou rebater, vou rebater ponto por ponto”
Esta é a minha técnica, para a pessoa que debate comigo, mesmo que ela
venha mal intensionada, ela acabe seguindo o rumo que eu quero, porque eu tenho
uma maneira de discutir que não a ofende, que não a torna em, não a convoco nunca
em estado de obstinação, por princípio, porque depois que se obstina, aí a razão dele
não funciona mais, não adianta nada.
Aora, futuramente, nós podemos conversar melhor sobre isso, é que eu
gostaria mesmo, também, de conhecer os métodos dos senhores. Que eu também
tenho as minhas dificuldades né... tem as vezes que eu fracasso né.. [risos do Mário
e da platéia]... eu não consigo né... eu gostaria de somar vitórias né... [risos], e não
derrotas né... muito bem.
[Fim do Áudio]
[68]
V – A Incredulidade do Homem Moderno
[69]
-Não será a incredulidade – aliás-, não será a credulidade próprio das crianças,
e não dos adultos?
A pergunta merece uma resposta toda especial!
Sem dúvida que não se deve confundir credulidade com capacidade de crer.
Credulidade, pelo o seu diminutivo, na sua formação etimológica, indica que se
trata daquelas crenças menores, das crenças sobre a veracidade de um determinado
acontecimento ou a facilidade com que alguém acredita ser verdadeiro tudo quanto
se lhe diz ou uma certa aptidão a facilmente deixar-se imbuir de que é real qualquer
coisa que lhe contam.
Nesse sentido, a credulidade, ela é um tanto infantil, sobretudo, quando ela
não se estriba em bases mais reais.
Mas eu não quis falar propriamente dessa credulidade, eu quis falar naquela
capacidade comum de aceitar, de aceitar os possíveis com uma certa dose de
otimismo e de fé de que eles possam realizar-se. Quando esses possíveis apresentem
valores superiores ao que comumento se vê, ao que comumente nós assistimos.
Se não houver essa credulidade, esta segunda credulidade, não é possível
nascermos feitos humanos, no ideal, porque todos nós sabemos que os ideais são
praticamente inatingíveis, e o seu valor está precisamente nessa inatingibilidade.
Por que os ideais são como fanais, iluminando o caminho humano. São como
chamas que atraem o seu humano constantemente.
Os ideais, pela a sua característica de perfeição, colocam-se no amanhã, que
tudo nos indica ser-nos impossível, mas de cujo amanhã nós podemos cada vez mais
nos aproximar.
Só desejando o máximo para nós mesmos e lutando por esse máximo, somos
capazes de conseguir alguma coisa, mas aquele que desde início, desde o primeiro
momento não acredita na própria superação. Não acredita na possibilidade de uma
superação humana. Não acredita que seja possível ao homem vencer as suas
deficiências e alcançar a pontos mais altos, este condena a si mesmo à esterilidade
de todo ideal.
Não é possível que alguém que não seja capaz de crer em valores superiores,
que não possa crer que não se instaure amanhã tudo quanto o homem desejou e
todos os valores superiores ou grande parte pelo deles, que foram os seus sonhos,
que foram os seus mais acalentados desejos, que esse homem possa estabelecer
dentro de si um ideal.
Que pode ele esperar, se não a repetição constante, contínua, das coisas?
Se esta chama, que é um tanto infantil, mas que é tão profundamente
humana, não nos alimentar mais, não brilhar dentro de nós e não nos estimular mais,
o homem morrerá a mingua de ideais e apenas será uma coisa entre coisas, e nada
mais!
[Fim do Áudio]
[70]
VI - O Campo Cultural Moderno
“[...] e, mais do que nunca, nos faltam Sócrates. Precisamos não de um, mas de
milhares, centenas de milhares de Sócrates, que vão às praças públicas denunciar
os falsos sábios; homens que venham mostrar que há essa invasão de falsas ideias,
esta invasão de teorias mal fundadas, de velhos erros do passado que são
ressuscitados, retirados dos montes de lixo, de tudo quanto a humanidade produziu
de inferior, e que volta tudo isso agora como se fosse a última palavra do saber; nós
precisamos de centenas de milhares de Sócrates, para denunciar tudo isso, e
mostrar ponto por ponto, onde estão os erros! Onde outra vez o cepticismo e as más
ervas, que são as más ideias, estão invadindo o campo cultural moderno e
ameaçando não corromper apenas uma cidade ou um povo, mas corromper toda a
humanidade.
À essa luta, à essa ação é que eu apelo àqueles que tenham o verdadeiro amor
pelo conhecimento, àqueles que queiram dedicar-se ao genuíno saber, àqueles que
queiram examinar não só a origem dessas ideias, mas também a falsidade dos seus
fundamentos, para poder denunciá-las; são velhos erros refutados com a
antecedência até de milênios, são erros milenares, erros que talvez tenham origem
muito mais antiga, e que já tenham sido refutados por círculos culturais que nós hoje
desconhecemos; pois esses erros retornam com novas embalagens, apresentando-
se como fossem, como se fossem a última novidade, a última criação, o último fruto
da árvore da Ciência, quando na verdade é a má erva, que subiu pelos galhos, e
apresenta os seus frutos ácidos, como se fossem os frutos da verdadeira árvore...
Eu conclamo a juventude de hoje, que não se torne aquela juventude que
perseguiu sempre os grandes homens; aquela juventude que perseguiu Sócrates,
aquela juventude que perseguiu os pitagóricos, aquela juventude que levou à
condenação à morte Anaxágoras; mas sim aquela juventude que apoiou Platão, que
apoiou Aristóteles no Liceu, que apoiou Pitágoras no seu Instituto [Escola
Pitagórica]; aquela juventude estudiosa, aquela juventude que dedica o melhor da
[71]
sua vida para formar o seu conhecimento, aquela juventude que quer ser capaz de
assumir as rédeas do amanhã; e não uma juventude que quer apenas ser uma massa
de manobra de políticos demagógicos e mal intencionados; uma juventude que
apenas quer ser uma juventude de agitação; mas sim uma juventude construtora,
uma juventude realizadora, uma juventude que lança para a História da
humanidade os maiores nomes e os maiores vultos, aqueles que vão servir amanhã
de exemplo, e vão pontilhar a História com chamas gloriosas, que serão para sempre
vivas, iluminando todas as épocas futuras.”
[Aplausos dos presentes.]
Quero agradecer a presença de todos, a boa vontade com que me ouviram e
desejar-lhes uma boa noite!
[Fim do Áudio]
[72]
VII - O Pitagorismo e a Época em que Vivemos
[74]
E assim procurou Pitágoras imbuir nos seus discípulos que esse espírito não
deveria permanecer apenas na geometria, nem apenas na matemática, mas que
também penetrasse em todos os setores do conhecimento especulativo e, se
possível, e tanto quanto possível, no conhecimento prático. Que sempre em todas
as nossas investigações houvesse a nos animar esse desejo de alcançar o juízo
necessário. Só assim a mente humana poderia erguer-se cada vez mais e atualizar
cada vez mais as suas imensas e ilimitadas possibilidades.
E deste modo fecundou Pitágoras para sempre todas as grandes realizações
do pensamento humano no ocidente. E não era de admirar que daquela ordem
tivessem provindo todos os grandes filósofos posteriores, todos os grandes
matemáticos, todos os grandes músicos, todos os grandes terapeutas, todos os
grandes arquitetos, todos os grandes escultores, todos os grandes em todas as
grandezas humanas. E esta ordem fecundou através de vinte e cinco séculos direta
ou indiretamente todas as grandes realizações do homem, porque todas elas têm
uma raiz no pitagorismo.
Nós, pitagóricos, nós perseguimos a orientação de Pitágoras, e que também
buscamos na filosofia realizar aquilo que ele nos aconselhou, e o nosso
pensamento será tanto ou mais pitagórico à proporção que ele se aproxime dos
juízos necessários e exclusivos. Não temos feito outra coisa na filosofia do que
seguir este caminho e também não temos feito outra coisa do que aconselhar aos
nossos discípulos e aos que nos leem que também o façam, que também o sigam.
Pertencemos a uma ordem que antecede a todas as outras. Sabemos que
dela surgiu o Cristianismo, quer queiram, quer não os Cristãos, como surgiu tudo
de grande que até hoje houve no mundo.
Nós representamos todo o grande patrimônio cultural do ocidente e
também representamos o patrimônio cultural de outros povos: Do Egito antigo; da
antiga Mesopotâmia; da índia; do Tibete; da China. Porque foi através do
pitagorismo que se fez a ligação entre todos os quadrantes do conhecimento
humano.
O nosso patrimônio é, portanto, Universal.
Nós pertencemos à antiguidade dos tempos e temos as nossas raízes em
todos os caminhos perdidos do conhecimento que nós buscamos reencontrar e que
nós buscamos reerguer e reconstruir.
Podemos falar com aquela dignidade e aquele valor que dá ancianidade do
nosso conhecimento, que nos dá a qualidade de origem de muitas das grandes
construções de todos os tempos.
Temos o direito de repelir toda a afronta a esse patrimônio. Temos o direito
de vituperar contra todos aqueles que querem renuncia-lo ou destruí-lo. Temos o
direito de denunciar todos aqueles que falseiem o verdadeiro ideal.
Nós não somos donos da verdade, mas a amamos, a anelamos, a buscamos
pelo o único caminho que a ela nos poderá levar.
Compreendam isso todos aqueles que em todos os tempos nos caluniaram.
Todos aqueles que em todos os tempos levantaram contra estar ordem as mais
tremendas infâmias, querendo encobrir a grandeza das nossas realizações, para
exaltarem-se assim a custa da nossa depressão e, no entanto, eles nada mais
fizeram do que herdade, bem ou mal, aquilo que por nós foi construído. Mas passai
os olhos pelas páginas da história, procurai nela as grandes figuras do pitagorismo.
Buscai entre ele traidores, e não os encontrareis. Buscai entre ele corruptos, e não
os vereis. Buscai entre eles homens que nunca respeitaram os princípios éticos.
Homens que apenas desejaram o poder. Homens que apenas desejaram
despoticamente exercer a sua vontade sobre a vontade alheia, e vós de modo
[75]
algum conseguireis vislumbrar um sequer nas dobras do caminho da história. Vós
encontrareis sempre homens devotados aos seus mistérios, cumpridores dos seus
deveres e honestos. Não vereis neles orgulhosos e nem soberbos. Humildes que
sabem dar o valor que eles mesmo têm, e que têm os outros, e que buscaram
sempre marcar a sua vida por uma conduta que pudesse servir de exemplo.
Parece incrível que quando passamos os olhos sobre Filolau, e o vemos ser
expulso da ordem dos pitagóricos, porque aceitou dinheiro para dar aulas a outros
ansiosos de saber, e isto dentro de uma concepção da sociedade de então que era
escravagista surgia aos olhos dos pitagóricos como uma verdadeira traição à
ordem, não era, porém.
Filolau encontrava-se em uma situação econômica difícil, e ele teve que
transforma a sua inteligência em um bem econômico como um instrumento pelo o
qual ele poderia adquirir o necessário para atender a sua vida. É um ato que
precisamos compreender e precisamos desculpar, porque aquele que dá o melhor
do seu tempo ao trabalho merece a sua paga.
Cristo depois dirá que é digno do seu salário o obreiro.
Filolau foi um obreiro e também foi digno do seu salário. Na concepção
escravagista de então poderia parecer terrível o seu ato, não para nós hoje, que
bem compreendemos isso graças a lição...
[FIM DO ÁUDIO]
[76]
VIII - Sobre a Verdade
Aluna: Professor, eu tenho aqui uma pergunta do ouvinte que eu vou ler, acho
melhor ler para o senhor.
Mário: Bem, realmente esta pergunta ‘’O que é a Verdade?’’, que Pilatos dirigiu a
Cristo, e que está no Novo Testamento, foi o motivo de muitos estudos e debates
entorno dela. Spengler, no livro que o interrogânte cida, ele disse realmente que essa
era uma pergunta de raça, a qual revelava a superioridade da cultura romana sobre
a cultura hebráica na época, e a um mero crente, como Cristo, a pergunta de um
cético, como Pilatos, representava um passo a frente, representava um escalão mais
alto.
Bom, isso é um ponto de vista do senhor Spengler, porque jamais se poderá
conceber e nem se justificar suficientemente que o cepticismo ou o agnosticismo -
que são posições da filosofia passageira transeuntes, e que surgem nos seus
momentos crepusculares, e que afloram nas mentes quando subtamente sofrem
uma perturbação, um momento de deficiência, de desfalecimento - que essas
representem um ponto alto do pensamento humano, ao contrário, elas revelam,
como dissemos, momentos de fraqueza. São aqueles instantes em que o homem,
ante uma grande problemática, sente-se incapaz de dar soluções, de resolver os seus
problemas, de buscar saída para os estados aporéticos em que ele se encontra.
[77]
Mas essa situação agnóstica ou essa situação céptica não é de todos os filósofos
em nenhum momento da história, apenas de alguns, daqueles que nem sempre
foram os maiores, porque realmente entre os grandes criadores do pensamento
humano não há esse cepticismo, não há agnosticismo.
Que Roma estivesse num grau de cultura superior ao grau de cultura Hebreu de
então, graças naturalmente à influência da Grécia, é, de certo modo, indiscutível.
A Judéia era uma das províncias mais atrasadas do Império Romano, mas que a
pergunta de Pilatos representasse um momento alto em relação ao pensamento de
Cristo, não. E a resposta de Cristo, que foi o Silêncio, foi uma grande resposta, era a
única resposta que um homem realmente de raça e de inteligência poderia dar à um
patrício romano petulante ao fazer uma pergunta daquela espécie.
Por que quem pergunta ‘’O que é a Verdade?’’, revela que nada sabe sobre ela, e
se nada sabe sobre ela, é porque não estudou, é porque não meditou, é porque não
procurou informar-se devidamente sobre essa matéria. Essa pergunta revela apenas
uma incompreensão ou um desconhecimento do assunto de que trata.
Antes de examinar a verdade, já que nós examinamos a incredulidade à pouco,
devemos agora examinar, por alto que seja, embora matéria de uma complexidade
muito grande na filosofia, a evidência.
A evidência é quando a mente de quem conhece adere plenamente ao objeto do
seu conhecimento, sem padecer de dúvida quanto à realidade do que ele capta.
Essa evidência manifesta-se de dois modos:
Uma evidência interior e uma evidência exterior.
A interior é aquela que ‘’mana’’ na interioridade do homem, é aquela que temos
da nossa existÊncia pela afirmação da nossa própria consciência.
E uma evidência exterior é aquela que dirige-se ao mundo objetivo. É aquela que
se realiza no mundo objetivo, assim, por exemplo: A evidência intuitiva, captada
pelos sentidos da existência de alguma coisa que tocamos, que apalpamos, que
vemos e etc...
Mas esses dois tipos de evidências ainda por sua vez permite uma outra
classificação:
A evidência interior pode ser imediada, isto é, sem meios, como o exemplo dado
da consciência; da consciência de nós mesmos, cuja existência é uma evidência
interior imediata para nós.
E uma evidência interior mediata seria aquela que realizariamos por qualquer
meio, como, por exemplo: Alcançarmos a conclusão num silogismo, pois dadas duas
premissas, numa das quais há um termo médio, graças à esse termo médio nós
chegamos à uma conclusão, quer dizer, a evidência interior mediata é aquela que se
faz ‘’por meio de’’ um termo médio.
Quanto à evidência exterior, também ela pode ser mediata ou imediata:
A imediata é a que exemplificamos através de um conhecimento puramente
sensível.
A mediata, que se processa através de meio, seria a evidência que nos dá a
experiência ciêntifica, para exemplificar.
De maneira que assim fica para nós claro o que é a evidência.
A evidência é também um dos fundamentos da verdade.
[78]
Mas o conceito de verdade implica - em quando tomado na sua generalidade - em
sentido lato, alguma conformidade entre dois extremos. Quando nenhum desses
dois termos extremos é o intelecto nós temos então a verdade como ela é tomada
comumente no sentido mais lato possível.
Quando se diz, por exemplo: Ouro verdadeiro; a pedra verdadeira. Mas quando
um desses dois termos é o intelecto, então nós já temos a verdade tomada num
sentido mais restrito.
Quando dizemos, por exemplo: Este objeto é uma mesa.
É neste último sentido que os antigos filósofos definiam a verdade.
Assim, por exemplo, na verdade lógica há uma adequação, uma conformidade
entre a coisa e a formalidade correspondênte.
A verdade metafísica já seria a adequação entre a forma e a coisa.
A verdade, por exemplo, material, é a da coisa considerada segundo todas as suas
notas e propriedades; segundo também toda a sua compreensão, e também,
segundo a sua realidade fora de nós.
O conjunto de todas essas verdades, dando-nos uma evidência plena, seria a
verdade concreta.
Ora, de que verdade quereria falar Pilatos? A verdade de que quereria falar Pilatos
é a verdade que procuram em geral os agnósticos e os cépticos. Não é a adequação
entre dois termos. Seria a fusão de ambos num termo só. Seria aquela verdade que
fosse total e exaustivamente a expressão da própria coisa.
Ora, esta verdade não é de modo algum captável e nem possível a um ser limitado
e deficiênte, como o ser humano. Este não pode ter, em sua plenitude, uma verdade
de fusão, mas apenas uma adequação intensional entre o seu intelecto e a coisa,
nunca de uma fusão absoluta com a própria coisa, porque ele é um ser que tem
limites marcados pela a sua finitude.
Creio ter dado uma idéia geral que responde à pergunta que me foi feita. Creio
que a pessoa deve estar satisfeita.
Aluna: Não professor, parece que ele não está satisfeito, eu creio que ainda há
uma outra pergunta a se fazer.
Aluna: Um momento. Ele está dizendo o seguinte: Por que então que as religiões
prometem esta fusão?
[Fim do Áudio]
‘’...de que não seja possível alcançarmos a essa verdade, essa é a posição dos
agnósticos e cépticos, não, porém, a nossa posição.’’
[80]
IX - Sobre a Eternidade
Aluna: Professor, eu pediria agora que o senhor falasse sobre a eternidade, esses
momentos que nós desejamos que se tornem eternos.
Aluna: Mas para se entender o desejo de tornar os momentos eternos acho que
se precisa compreender ou se entender bem o que seja a Eternidade, não é?
[81]
A tristeza nos abate e perdura, enquanto que um instante de felicidade escoa-se
com a rapidez de quase um relâmpago. Mas é da condição humana. E é precisamente
meditando sobre essa condição humana que o homem vislumbrou que havia alguma
coisa mais, porque essa imperfeição, esse vácuo, esse vazio, essa falta, essa carência
indicava a necessidade de alguma coisa para preenche-la, alguma coisa que lhe desse
aquilo que lhe faltava.
Por quê? Seria tão inútil esse nosso desejo de felicidade? Seira tão vazio o
querermos permanecer num estado de agradabilidade constante, que perdurasse
para sempre?
Por que esse desejo humano, vazio e sem fim?
Mas na natureza nada se realiza sem um ‘’veemente’’, nada se realiza sem tender
para alguma coisa. E nós tenderiamos para nada. Todo esse nosso desejo tenderia
para o vazio. Seria apenas um desejo de nada. Mas há uma realidade nesse desejo: A
realidade da nossa própria experiÊncia, porque nós encontramos momentos mais
agradáveis do que outros, em que perdura; essa alegria perdura mais do que em
outras ocasiões. Portanto, nós podemos conceber uma alegria que perdurasse
constantemente, uma felicidade que fosse perene.
Essa felicidade não é uma contradição ontológica. Ela não traz nenhuma
dificuldade em ser admitida. Se nós não a temos, e nós a desejamos, ela contudo, tem
um fundamento real, portanto, ela aponta para alguma coisa mais profunda que nos
escapa, e é precisamente esta coisa mais profunda que nos escapa que constituem
um dos temas fundamentais das religiões.
As religiões buscam responder a esse problema, que a filosofia humana
possivelmente jamais possa dar-lhe uma solução que satisfaça.
Aluna: Professor, professor, pode continuar falando sobre esse tema? Pode
continuar?
Mário: Bom, a eternidade foi um tema de estudo dos grandes teólogos de todos
os tempos, sobretudo, os teólogos cristãos, porque ele implica uma série de
problemas que se ligam às idéias religiosas, que exigem soluções que satisfaçam.
De qualquer forma, o conceito de eternidade implica o conceito de duração. A
duração é a perduração do ser em si mesmo, mas a eternidade é uma perduração
diferente de qualquer outra, porque é uma perduração do ser em si mesmo ‘’tota
simul’’, totalmente simultânea.
Não é um presente perene como muitos julgam, é alguma coisa que não é nem
presente, nem passsado e nem futuro, é a simultaneidade do próprio ser,
perdurando em toda a sua intensidade perfectiva.
Nós conhecemos uma duração das coisas físicas, das coisa cósmicas, que é a
duração das coisas que sucedem, das coisas que acontecem. E nós medimos essa
duração através de comparações com o próprio movimento cósmico, que vai
constituir a medida do nosso tempo.
A duração das coisas cósmicas sucessivas é propriamente o tempo.
Ora, o tempo é assim um aspecto já inferiorizado da duração do ser. Não tem
aquela forma perfectiva da eternidade.
Concebeu, entretanto, os antigos – isso já vem do pensamento gnóstico – de que
existe uma perduração intermédia entre a eternidade e o tempo, que é a
eviternidade, que é a duração das coisas, embora tenha um princípio, jamais terão
[82]
um fim. É aquela eternidade que nos prometem as religiões, é esta eviternidade.
Prometem para o homem uma vida que não tenha fim, embora pereça a vida de
seu corpo, não, porém, a vida de seu espírito, da sua alma.
Ora, estes conceitos todos têm bases ontológicas, são perfeitamente adequados
ontologicamente. Não são eivados de contradição intrínseca. Não têm contradições
formais de qualquer espécie. São, portanto, possíveis, que cabe ao homem estudar a
sua realidade, independentemente da nossa especulação.
Quanto à duração das coisa sucessivas, ela é da nossa experiência, temos dela
uma evidência intrínseca e extrínseca, interna e externa, mediata e imediata.
Quanto às coisas que possam perdurar para sempre sem fim, a nossa
especulação às alcança facilmente. Até o materialista terá que admitir que a matéria
seja indestrutível, que a matéria perdurará para sempre, sendo matéria.
E quem defender outra idéia, aceitar o princípio de todas as coisas uma energia,
também aceitará que ela perdure para sempre.
Podem as coisas sofrerem transformações. Podem elas apresentarem variâncias
acidentais e substânciais, contudo, atrás delas há algo que perdura sempre sendo o
que é. E que é, por sua vez, o sustentáculo de tudo quanto se dá.
A esse sustentáculo supremo os homens deram vários nomes e construíram
diversos conceitos.
As religiões conceberam-no como um Deus, como um ser de máxima e absoluta
perfeição, que é o fundamento último de todas as coisas, fonte/origem de tudo
quanto há, houve ou haverá.
Em meio disso tudo o ser humano, com uma consciência despertada que volve
sobre si mesmo e sobre as suas possibilidades, especula sobre elas, julga do seu
valor, tende a perscrutar o seu fututo e a querer estabelecer as normas do seu
amanhã. Este ser pergunta a si mesmo: Serei eu apenas uma coisas que acontece
entre coisas, dessas que são apenas transformações substânciais e acidentais, que
passam pela existÊncia e nada deixam de sim ou haverá em mim algo que está ligado
mais profundo, algo que dura sempre, algo que atravessa todos os tempos? Será que
não há em mim alguma coisa em comum, alguma coisa a qual seja uma participação
daquela perfeição suprema? Se eu sou capaz de alcança-lo, se eu sou capaz de
especular a tudo isso – pergunta o homem para si – será que entre mim e esse ser
supremo há um vazio imenso, em que o qual jamais poderá ser ultrapassado? Que
sejamos para sempre impermeáveis, ELE, pelo menos, para mim? Sem poder
penetrar, sem poder alcança-lo?
Naturalmente o homem reagiu a uma idéia negativa neste sentido, afirmando o
que constituem as suas religiões, isto é, este desejo de religar-se com este princípio,
com esta fonte/origem de todas as coisas, cujo desejo estrutura-se em: Ritos, em
normas de conduta, em modos de proceder, em práticas, em homenagens, em
reverências a este princípio supremo, que ele precisa penetrar, que ele precisa
descobrir e que, no entanto, ele só poderá alcançar se ele O amar profundamente,
porque só o amor vence todas as barreiras, só o amor aproxima, só o amor é capaz
de ultrapassar todos os vazios.
[Fim do Áudio]
[83]
X - Sobre a Felicidade e a Vida Interior
[Fim do Áudio]
[85]
2- Artigos de diversos autores, de conteúdo muito valioso
para o estudo da obra do Mário Ferreira dos Santos
[86]
Certo temor inibe o sacrilégio. Certo outro nível de temor, induz ao sacrilégio.
No primeiro, amamos e nos desviamos de macular a coisa amada. No segundo, quer-
se destruir o quanto antes o objeto do ódio, para evitar que a coisa odiada cresça em
força e notoriedade. Atualmente, encontramos muita gente que ama Mário Ferreira
dos Santos, mas ainda sem a devida coragem de enfrentar mais audaciosamente
seus livros, com aquele impulso de quem aceita estudá-lo por 20 anos; porém, há
sim aqueles que temem o Mário, temem que o maior brasileiro de sempre seja
esquecido que nem a sua lápide cheia de mato no cemitério do Araçá.
Infelizmente, não há mais quem tema e odeie Mário Ferreira dos Santos.
Odiaram o Mário quando vivo. Odeiam agora só o Olavo, que sintetiza a contento a
independência filosófica não-universitária brasileira. Mário Ferreira, acredito, bem
como o Padre Maurílio Penido, Miguel Reale e alguns outros podem dividir os ódios
e aliviar o alvo supremo da ira, espero.
Porém, agora que tenho um filhinho pequeno, um brasileirinho de dois mês
de idade, preocupo-me com nova afectividade com os destinos de nossa Língua e do
pensamento nacional. Espero que ele saiba amar e odiar (com ódio sagrado) o que
deve ser amado e o que deve ser odiado, o que deve ser temido e o que deve ser
desprezado, em sua insignificância e banalidade.
E quem é Mário Ferreira dos Santos? O brasileiro Mário Ferreira dos Santos
(1907-1968), nascido em Tietê-SP e educado por padres jesuítas em Pelotas-RS, é
autor de um conjunto de obras organizadas sob o título de Enciclopédia de Ciências
Filosóficas e Sociais, das quais publicou pelo menos três dezenas nos últimos
dezesseis anos de sua vida e cujos volumes são dispostos em três séries − síntese,
análise e concreção – em que as fases inicial e última respeitam a uma seqüência
matemática correspondente às dez leis pitagóricas, por ele desenvolvidas em livros
como Pitágoras e o Tema do Número e A Sabedoria das Leis Eternas. A série
sintética, iniciada por Filosofia e Cosmovisão, é encimada por Filosofia Concreta, em
três volumes, obra fundamental, coroa da exposição daquilo que designa como
filosofia positiva e concreta. Filosofia Concreta consiste num tratado de axiomática
que, ao partir de uma intuição iluminadora inicial e através das operações lógicas
mais variadas e complexas, extrai juízos virtuais contidos nos juízos anteriores,
interligados por um “nexo de necessidade”.
De um ponto arquimédico, uma verdade evidente por si mesma, imediata e
indemonstrável, mas mostrável, desenvolve-se esse tratado de matemática
ontológica, de metamatemática, que não se estriba nos recursos da matemática de
cálculo, Logistikê para os pitagóricos, mas numa de grau superior e propriamente
metafísica. Parte do axioma alguma coisa há e o nada absoluto não há e deriva 327
teses, acompanhadas das devidas confrontações dialécticas e demonstrações
lógicas. Mário propõe uma metodologia de “raciocinar tríplice”: um ascendente, um
estabilizador e um descendente; e a dialéctica-ontológica é justamente o método
ascendente, que sobe à cata de verdades que valham para todo o sempre. Ela busca
juízos de necessidade e até de exclusividade, aqueles que nos dão certeza do
conhecimento de algo, universalmente válidos e apodíticos. Incontornavelmente,
essa metodologia impõe-se uma nova fundamentação da Metafísica, provando que
esta não é uma disciplina vã e nem tampouco vagabundeio de idéias. Mário Ferreira
não adere a nenhum ismo, mas se sente perfeitamente confortável como
continuador das linhas sólidas da filosofia clássica grega, e também daquilo que
considera o cume do pensamento ocidental: os séculos XIII e XIV e a filosofia ibérica
dos séculos XVI e XVII.
[87]
Quem não o teme é louco de pedra, não tem noção da força filosófica que nele
há e que pode transformar culturalmente nosso país. Um dia, quem sabe, teremos
em altos postos indivíduos que leram A Sabedoria dos Princípios e professores
universitários que conheçam o Filosofia Concreta. Quando fiz graduação na
Universidade Federal do Maranhão, conheci um único professor que tinha lido o
Mário: Professor Raimundo Portela. Na Federal de Santa Catarina, meu orientador
português João Lupi. Agora, já se ouve falar de Mário Ferreira dos Santos na internet,
mas ainda não com o correspondente e urgente apreço intelectual convertido em
livros e teses acadêmicas.
Mário Ferreira dos Santos é o maior filósofo do Brasil, o maior dos brasileiros
de sempre, a maior inteligência nacional; quem não o teme com amor, ignora o
fundamental deste país. Quem o teme com ódio, odeia o Brasil.
[88]
II- Mário Ferreira dos Santos sou eu e sei do que escrevo
1, abril, 2021
Tomei café com um dos maiores lógicos do mundo – figura notável, não
apenas pela sua relevância em campo tão disputado, mas também por sua
proficiência lingüística: é um professor de Lógica que sabe falar, consegue terminar
uma frase com sujeito-verbo-complemento, certamente um sobrevivente dos
tempos antigos e ante-diluvianos.
O Professor K sentou-se com um grupo de alunos, saídos havia pouco de sua
aula na universidade, e começou a trocar amenidades com todos. Perguntou-me: “o
que você estuda?” – Faço mestrado sobre a dialéctica-ontológica de Mário Ferreira
dos Santos. Esse professor anteriormente já me tinha indagado a mesma coisa, ao
que àquela altura ele concluiu de minha resposta: “O pessoal do PT deve te achar
um otário.” Dessa vez ele mudou o repertório e devolveu à minha resposta uma
segunda pergunta: “E tem conteúdo para um mestrado?” – Com certeza tem
conteúdo para um doutorado e muito mais, eu lhe disse.
K, então, nos confessou: conheci Mário Ferreira dos Santos na frente de sua
livraria em São Paulo. Eu estava com minha noiva e vi no mostruário aquela penca
de livros de todos os assuntos e disse para ela: “esse cara escreve sobre tudo, não
deve saber nada do que escreve”. Porém, Mário Ferreira dos Santos estava por trás
de mim e me disse: “Mário Ferreira dos Santos sou eu e sei do que escrevo”.
Passaram-se pelo menos 50 anos do encontro de NK com MFS e agora ele me
pergunta “tem conteúdo para um mestrado?” Ele não mudou em nada sua
concepção de diante da vitrine, porque não leu nada dos livros de Lógica do Mário,
a quem ele julgou sem conhecer. Não leu Lógica e Dialéctica nem os 3 volumes
de Métodos Lógicos e Dialécticos nem Grandezas e Misérias da Logística, nem sabe
da axiomática por trás do Filosofia Concreta, para ficarmos no campo de interesses
de K. Não sabe nem vai saber, porque brasileiro não acredita em outro brasileiro.
Vício semelhante se vê em Miguel Reale, que não conseguiu perceber no Mário mais
do que um comentador de Nietzsche.
[89]
Sua Enciclopédia de Ciências Filosóficas e Sociais, que abrange todas as
disciplinas filosóficas conhecidas e mais algumas por ele desenvolvidas, é a
coletânea filosófica mais lógica e mais dialéctica que se poderia esperar do filho de
um povo que vive a dialéctica nos nervos e na mistura das raças. Mário consegue
abarcar horizontes que outrora e ainda agora não foram abarcados por nenhum
outro pensador nacional. Porém, mesmo que muitos (mas não todos) tenham
desacreditado de suas capacidades e das capacidades dos brasileiros em geral, é
digno de observação que o filósofo e Padre letoniano Stanislavs Ladusãns, S.I.,
dedicou-lhe uma nota publicada na Revista Portuguesa de Filosofia (Braga, Janeiro-
Março, 1969, Tomo XXV, Fasc. 1) em que afirma:
‘’Harmoniza o seu pensamento filosófico com a Revelação Cristã, querendo
construir uma ponte entre Metafísica e a Religião revelada, para dar um novo
método apto para instruir e formar as mentes de hoje. Oferece um sistema
sapiencial. Embora manifeste alguns defeitos de autodidatismo no campo filosófico
(é só doutor em Direito), é um filósofo cristão de valor. Durante toda a sua vida
dedicou-se à Filosofia e deu algumas contribuições válidas para o progresso da
Filosofia. (Grifos meus)’’
Igualmente o Padre italiano Carlos Beraldo, S.I., em verbete dedicado ao
Mário na Enciclopedia Filosofica do Centro di Studi Filosofici di Gallarate, depois de
afirmar que a “síntese filosófica” do Mário “é, ao mesmo tempo, tradicional e
pessoal”, conclui:
‘’Apóstolo incansável e solitário da sabedoria, no sentido tradicional e antigo,
M.F. dos S. se esforçou por formular uma filosofia que, embora ficando sempre
aberta a novos problemas, fosse ao mesmo tempo, de nome e de fato, “perene” e
“ecumênica”.
Aqui certamente temos matéria para mestrados, doutorados, livros, enfim,
até mesmo porque, se o Padre Ladusãns está certo, ele “deu contribuições válidas
para o progresso da Filosofia” e, se o Padre Beraldo também acerta, uma filosofia
aberta a novos problemas pode remediar as novas enfermidades filosóficas que nos
atacam. Acredito até que, se a filosofia do Mário é positiva e concreta, ela pode e
deve ser continuada, porque aqui não falamos de fim da Filosofia, nem fim da
sabedoria, exceto fim como destino em Deus.
Por onde, então, começar? Quais os problemas que devemos desenvolver?
Sugiro que se leia as páginas iniciais do Filosofia Concreta, aquelas que dizem
respeito às 10 primeiras teses, o que corresponde a umas 45 páginas. O estudo disso
tudo é matéria para muitas vidas e certamente fortalece nossa confiança psicológica
na busca da verdade e nos dá o fundamento ontológico dessa confiança,
porque alguma coisa há e o nada absoluto não há. Depois, com a leitura de outros
livros da Enciclopédia, cada um pode encontrar um caminho próprio e lutar por
resolver seus próprios problemas. Em Filosofia e Cosmovisão, o Mário afirma que
se deve desenvolver uma Metafísica da Afectividade; em Filosofia Concreta,
podemos encontrar o caminho para uma Metafísica segura; em A Sabedoria dos
Princípios, podemos nos dar conta da insuficiência da abstração para atingir a
verdade apodítica, enfim. Certamente, muitas são as questões que podem responder
à pergunta “e tem conteúdo para um mestrado?”. Porém, hoje precisamos
urgentemente dizer: Mário Ferreira dos Santos eu li e sei do que ele escreve.
[90]
III - A Metafísica de Mário Ferreira dos Santos, um
Autodidata Brasileiro.
Por Sidney Silveira
[92]
IV - Mário Ferreira dos Santos e o nosso futuro
Olavo de Carvalho
Quando a obra de um único autor é mais rica e poderosa que a cultura inteira
do seu país, das duas uma: ou o país consente em aprender com ele ou recusa o
presente dos céus e inflige a si próprio o merecido castigo pelo pecado da soberba,
condenando-se ao definhamento intelectual e a todo o cortejo de misérias morais
que necessariamente o acompanham.
Mário Ferreira ocupa no Brasil uma posição similar à de Giambattista Vico na
cultura napolitana do século XVIII ou de Gottfried von Leibniz na Alemanha da
mesma época: um gênio universal perdido num ambiente provinciano incapaz não
só de compreendê-lo, mas de enxergá-lo. Leibniz ainda teve o recurso de escrever
em francês e latim, abrindo assim algum diálogo com interlocutores estrangeiros.
Mário está mais próximo de Vico no seu isolamento absoluto, que faz dele uma
espécie de monstro. Quem, num ambiente intelectual prisioneiro do imediatismo
mais mesquinho e do materialismo mais deprimente – materialismo compreendido
nem mesmo como postura filosófica, mas como vício de só crer no que tem impacto
corporal –, poderia suspeitar que, num escritório modesto da Vila Olimpia, na
verdade uma passagem repleta de livros entre a cozinha e a sala de visitas, um
desconhecido discutia em pé de igualdade com os grandes filósofos de todas as
épocas, demolia com meticulosidade cruel as escolas de pensamento mais em moda
e sobre seus escombros erigia um novo padrão de inteligibilidade universal?
Os problemas que Mário enfrentou foram os mais altos e complexos da
filosofia, mas, por isso mesmo, estão tão acima das cogitações banais da nossa
intelectualidade, que esta não poderia defrontar-se com ele sem passar por uma
metanóia, uma conversão do espírito, a descoberta de uma dimensão ignorada e
infinita. Foi talvez a premonição inconsciente do terror e do espanto –
do thambos aristotélico – que a impeliu a fugir dessa experiência, buscando abrigo
nas suas miudezas usuais e definhando pouco a pouco, até chegar à nulidade
completa; decerto o maior fenômeno de auto-aniquilação intelectual já transcorrido
em tempo tão breve em qualquer época ou país. A desproporção entre o nosso
filósofo e os seus contemporâneos – muito superiores, no entanto, à atual geração –
mede-se por um episódio transcorrido num centro anarquista, em data que agora
me escapa, quando se defrontaram, num debate, Mário e o então mais eminente
intelectual oficial do Partido Comunista Brasileiro, Caio Prado Júnior. Caio falou
primeiro, respondendo desde o ponto de vista marxista à questão proposta
como Leitmotiv do debate. Quando ele terminou, Mário se ergueu e disse mais ou
menos o seguinte:
– Lamento informar, mas o ponto de vista marxista sobre os tópicos
escolhidos não é o que você expôs. Vou portanto refazer a sua conferência antes de
fazer a minha.
E assim fez. Muito apreciado no grupo anarquista, não por ser integralmente
um anarquista ele próprio, mas por defender as idéias econômicas de Pierre-Joseph
Proudhon, Mário jamais foi perdoado pelos comunistas por esse vexame imposto a
uma vaca sagrada do Partidão. O fato pode ter contribuído em algo para o muro de
silêncio que cercou a obra do filósofo desde a sua morte. O Partido Comunista
sempre se arrogou a autoridade de tirar de circulação os autores que o
[93]
incomodavam, usando para isso a rede de seus agentes colocados em altos postos
na mídia, no mundo editorial e no sistema de ensino. A lista dos condenados ao
ostracismo é grande e notável. Mas, no caso de Mário, não creio que tenha sido esse
o fator decisivo. O Brasil preferiu ignorar o filósofo simplesmente porque não sabia
do que ele estava falando. Essa confissão coletiva de inépcia tem, decerto, o
atenuante de que as obras do filósofo, publicadas por ele mesmo e vendidas de porta
em porta com um sucesso que contrastava pateticamente com a ausência completa
de menções a respeito na mídia cultural, vinham impressas com tantas omissões,
frases truncadas e erros gerais de revisão, que sua leitura se tornava um verdadeiro
suplício até para os estudiosos mais interessados – o que, decerto, explica mas não
justifica. A desproporção evidenciada naquele episódio torna-se ainda mais
eloqüente porque o marxismo era o centro dominante ou único dos interesses
intelectuais de Caio Prado Júnior, ao passo que, no horizonte infinitamente mais
vasto dos campos de estudo de Mário Ferreira, era apenas um detalhe ao qual ele
não poderia ter dedicado senão alguns meses de atenção: nesses meses, aprendera
mais do que o especialista que dedicara ao assunto uma vida inteira.
A mente de Mário Ferreira era tão formidavelmente organizada que para ele
era a coisa mais fácil localizar imediatamente no conjunto da ordem intelectual
qualquer conhecimento novo que lhe chegasse desde área estranha e desconhecida.
Numa outra conferência, interrogado por um mineralogista de profissão que
desejava saber como aplicar ao seu campo especializado as técnicas lógicas que
Mário desenvolvera, o filósofo respondeu que nada sabia de mineralogia mas que,
por dedução desde os fundamentos gerais da ciência, os princípios da mineralogia
só poderiam ser tais e quais – e enunciou quatorze. O profissional reconheceu que,
desses, só conhecia oito.
A biografia do filósofo é repleta dessas demonstrações de força, que
assustavam a platéia, mas que para ele não significavam nada. Quem ouve as
gravações das suas aulas, registradas já na voz cambaleante do homem afetado pela
grave doença cardíaca que haveria de matá-lo aos 65 anos, não pode deixar de
reparar na modéstia tocante com que o maior sábio já havido em terras lusófonas
se dirigia, com educação e paciência mais que paternais, mesmo às platéias mais
despreparadas e toscas. Nessas gravações, pouco se nota dos hiatos e
incongruências gramaticais próprios da expressão oral, quase inevitáveis num país
onde a distância entre a fala e a escrita se amplia dia após dia. As frases vêm
completas, acabadas, numa seqüência hierárquica admirável, pronunciadas
em recto tono, como num ditado.
Quando me refiro à organização mental, não estou falando só de uma
habilidade pessoal do filósofo, mas da marca mais característica de sua obra escrita.
Se, num primeiro momento, essa obra dá a impressão de um caos inabarcável, de
um desastre editorial completo, o exame mais demorado acaba revelando nela,
como demonstrei na introdução àSabedoria das Leis Eternas[1], um plano de
excepcional clareza e integridade, realizado quase sem falhas ao longo dos 52
volumes da sua construção monumental, a Enciclopédia das Ciências Filosóficas.
Além dos maus cuidados editoriais – um pecado que o próprio autor
reconhecia e que explicava, com justeza, pela falta de tempo –, outro fator que torna
difícil ao leitor perceber a ordem por trás do caos aparente provém de uma causa
biográfica. A obra escrita de Mário reflete três etapas distintas no seu
desenvolvimento intelectual, das quais a primeira não deixa prever em nada as duas
subseqüentes, e a terceira, comparada à segunda, é um salto tão formidável na
escala dos graus de abstração que aí parecemos nos defrontar já não com um
filósofo em luta com suas incertezas e sim com um profeta-legislador a enunciar leis
[94]
reveladas ante as quais a capacidade humana de discutir tem de ceder à autoridade
da evidência universal.
A biografia interior de Mário Ferreira é realmente um mistério, tão grandes
foram os dois milagres intelectuais que a moldaram. O primeiro transformou um
mero ensaísta e divulgador cultural em filósofo na acepção mais técnica e rigorosa
do termo, um dominador completo das questões debatidas ao longo de dois
milênios, especialmente nos campos da lógica e da dialética. O segundo fez dele o
único – repito, o único – filósofo moderno que suporta uma comparação direta com
Platão e Aristóteles. Este segundo milagre anuncia-se ao longo de toda a segunda
fase da obra, numa seqüência de enigmas e tensões que exigiam, de certo modo,
explodir numa tempestade de evidências e, escapando ao jogo dialético, convidar a
inteligência a uma atitude de êxtase contemplativo. Mas o primeiro milagre,
sobrevindo ao filósofo no seu quadragésimo-terceiro ano de idade, não tem nada,
absolutamente nada, que o deixe prever na obra publicada até então. A família do
filósofo foi testemunha do inesperado. Mário fazia uma conferência, no tom meio
literário, meio filosófico dos seus escritos usuais, quando de repente pediu
desculpas ao auditório e se retirou, alegando que “tivera uma idéia” e precisava
anotá-la urgentemente. A idéia era nada mais, nada menos que as teses numeradas
destinadas a constituir o núcleo da Filosofia Concreta, por sua vez coroamento dos
dez volumes iniciais da Enciclopédia, que viriam a ser escritos uns ao mesmo tempo,
outros em seguida, mas que ali já estavam embutidos de algum modo. A Filosofia
Concreta é construída geometricamente como uma seqüência de afirmações auto-
evidentes e de conclusões exaustivamente fundadas nelas – uma ambiciosa e bem
sucedida tentativa de descrever a estrutura geral da realidade tal como tem de ser
concebida necessariamente para que as afirmações da ciência façam sentido.
Mário denomina a sua filosofia “positiva”, mas não no sentido comteano.
Positividade (do verbo “pôr”) significa aí apenas “afirmação”. O objetivo da filosofia
positiva de Mário Ferreira é buscar aquilo que legitimamente se pode afirmar sobre
o conjunto da realidade à luz do que foi investigado pelos filósofos ao longo de vinte
e quatro séculos. Por baixo das diferenças entre escolas e correntes de pensamento,
Mário discerne uma infinidade de pontos de convergência onde todos estiveram de
acordo, mesmo sem declará-lo, e ao mesmo tempo vai construindo e sintetizando os
métodos de demonstração necessários a fundamentá-los sob todos os ângulos
concebíveis.
Daí que a filosofia positiva seja também “concreta”. Um conhecimento
concreto, enfatiza ele, é um conhecimento circular, que conexiona tudo quanto
pertence ao objeto estudado, desde a sua definição geral até os fatores que
determinam a sua entrada e saída da existência, a sua inserção em totalidades
maiores, o seu posto na ordem dos conhecimentos, etc. Por isso é que à seqüência
de demonstrações geométricas se articula um conjunto de investigações dialéticas,
de modo que aquilo que foi obtido na esfera da alta abstração seja reencontrado no
âmbito da experiência mais singular e imediata. A subida e descida entre os dois
planos opera-se por meio da decadialética, que enfoca o seu objeto sob dez aspectos:
1. Campo sujeito-objeto. Todo e qualquer ser, seja físico, espiritual, existente,
inexistente, hipotético, individual, universal, etc. é simultaneamente objeto e
sujeito, o que é o mesmo que dizer – em termos que não são os usados pelo autor –
receptor e emissor de informações. Se tomarmos o objeto mais alto e universal –
Deus –, Ele é evidentemente sujeito, e só sujeito, ontologicamente: gerando todos os
processos, não é objeto de nenhum. No entanto, para nós, é objeto dos nossos
pensamentos. Deus, que ontologicamente é puro sujeito, pode ser objeto do ponto
de vista cognitivo. No outro extremo, um objeto inerte, como uma pedra, parece ser
[95]
puro objeto, sem nada de sujeito. No entanto, é óbvio que ela está em algum lugar e
emite aos objetos circundantes alguma informação sobre a sua presença, por
exemplo, o peso com que ela repousa sobre outra pedra. Com uma imensa gradação
de diferenciações, cada ente pode ser precisamente descrito nas suas respectivas
funções de sujeito e objeto. Conhecer um ente é, em primeiro lugar, saber a
diferenciação e a articulação dessas funções. Alguns exercícios para o leitor se
aquecer antes de entrar no estudo da obra de Mário Ferreira: (1) Diferencie os
aspectos e ocasiões em que um fantasma é sujeito e objeto. (2) E uma idéia abstrata,
quando é sujeito, quando é objeto? (3) E um personagem de ficção, como Dom
Quixote?
6. Campo das oposições no sujeito: razão e intuição. O estudo de qualquer ente sob
os cinco primeiros aspectos não pode ser feito só com base no que se sabe deles,
mas tem de levar em conta a modalidade do seu conhecimento, especialmente a
distinção entre os elementos racionais e intuitivos que entram em jogo.
[98]
V- A tragédia do estudante sério no Brasil
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 12 de fevereiro de 2006
[102]
VI - (O Futuro do Pensamento Brasileiro, pág. 61-63,
Olavo de Carvalho)
[104]
VII - O plano e o fato
Olavo de Carvalho
[106]
VIII - Mário Ferreira dos Santos | Homens que você
deveria conhecer
Filósofo e empreendedor
Mário era filho de um cineasta, sua juventude e infância decorreram no Rio Grande
do Sul, onde se formou em Direito e Ciências Sociais. Depois, com cerca de 30 anos,
retornou a São Paulo para ajudar o pai nas suas indústrias de filmagens. Antes, em
Porto Alegre, ainda fez vários trabalhos como comentarista político e escrevendo
artigos para jornais e revistas.
Era um tipo empreendedor, contrariando a imagem clichê que os brasileiros atuais
têm de que filósofos são monges intelectualizados longe da vida prática. Com
dificuldades em publicar seus livros, fundou suas próprias editoras, a Logos S.A. e
a Matese S.A. Como todo bom brasileiro, não perdia uma partida de futebol. E às
vezes colocava suas filhas para ajudá-lo nas suas traduções.
Foi pioneiro no sistema de venda de livro a crédito, vendidos de porta em porta.
Ainda arranjava tempo para responder cartas de pessoas com problemas que
procuravam sua sabedoria. Aliás, foi com o intuito de ajudar as pessoas que ele
escreveu os ensaios de auto-ajuda Curso de Oratória e Retórica, Curso de
Integração Pessoal e Convite a Psicologia Prática, todos tiveram sucesso entre
empresários e outras pessoas notáveis da época.
Segundo suas diversas biografias, ele nunca foi à universidade para ensinar, exceto
no seu último ano de vida, convidado por um amigo e admirador, justo na época
em que seu problema cardíaco avançava – daí a curta duração das aulas.
Ele faleceu em casa, com os familiares presentes, seus únicos e verdadeiros aliados.
Ao sentir que o suspiro final estava próximo, pediu para que fosse colocado de pé,
pois considerava indigno que um homem morresse deitado. Sua luz se encerrou
com ele pé rezando o "Pai Nosso".
A Filosofia Concreta não deixou escolas ou discípulos. Não sei os motivos certos,
mas é fato que a maioria dos brasileiros desconhece Mário Ferreira dos
Santos (pois é, os leitores PapodeHomem são privilegiados). Seus livros ainda
[108]
estão entregues as traças em sebos, apesar de serem de fácil leitura devido à
didática de Mário e estarem sendo relançados por iniciativa dos familiares.
A tragédia cultural brasileira só não é pior graças à Internet. Atualmente leitores
de Mário Ferreira se reúnem numa simplória comunidade do Orkut, onde trocam
ideias a respeito de suas obras.
Mário Ferreira deixa aos brasileiros uma grande lição de vida. Em seu
livro Filosofia Concreta, exorta os brasileiros a terem coragem de ousar.
Poderíamos começar, no mínimo, ousando ler um de seus escritos, não?
[109]
IX – A Profecia de Mário Ferreira dos Santos, por
Marcos Boldrine
quarta-feira, 6 de janeiro de 2021
"...embora muitos não creiam nisso, o sábio formará, com o tempo, uma casta,
incluindo nela, também, os técnicos, e formarão uma espécie de aristocracia do
amanhã, que não demorará muito para tomar o poder econômico, depois aspirará o
poder político, e terminará por obtê-lo" (p. 96)
[110]
Primeiro, começa apontando a estreiteza e a relativista visão de mundo dos
especialistas.
"Consequências que podem surgir do que acima dissemos, ao se desligar, como se fez,
o cientista da filosofia perene [válida para todas as épocas], o sábio, graças a esse
desvinculamento, pensando que filosofia é essa mixórdia que se apresenta por aí,
despreza-a totalmente e, entregue apenas à aridez da sua especialidade, desligado
da universalidade, poderá tornar-se um monstro que vê tudo segundo a cor de sua
proveta, e dentro do campo estreito que lhe permite ver a sua viseira. E então será
ele um candidato nato ao barbarismo. Imaginai todo o poder da ciência e da técnica
atual em mãos de bárbaros. Não é preciso muito esforço para conceber o que de
terrível se passaria sobre o mundo. Não é exigível uma imaginação fértil demais para
conceber o que seria de nós se dependêssemos de meros especialistas, que nada
entendem do que estiver fora de sua especialidade, pois só a filosofia pode tratar
desses princípios e, por isso mesmo, nem a sua especialidade conhecem bem. (grifo
do autor)
[111]
X - Entrevista Bruno Tolentino
O poeta que passou trinta anos na Europa se diz horrorizado com o baixo nível,
acha que o país regrediu e parte para a briga.
Geraldo Mayrink
[112]
VEJA - Por que não?
TOLENTINO - Foi minha mulher quem disse não. Educar um filho ao lado de Olavo
Bilac, última flor do Lácio inculta e bela, que aconteceu e sobreviveu, ao lado de
um violeiro qualquer que ela nem sabe quem é, este Velosô, causou-lhe espanto.
A escola que ela procurou para fazer a matrícula tem uma Cartilha Comentada
com nomes como Camões, Fernando Pessoa, Drummond, Manuel Bandeira e
Caetano. O menino seria levado a acreditar que é tudo a mesma coisa. Ele nasceu
em Oxford, viveu na França e poderá morar no Rio de Janeiro. Ele diz que seu
cérebro tem três partes. Mas não aceitamos que uma dessas partes seja ocupada
pelo show business.
VEJA - Não é levar Caetano Veloso a sério demais? Ele não é só um tema de
currículo, entre tantos outros?
TOLENTINO - Se fizerem um show com todas as músicas de Noel Rosa, Tom Jobim
ou Ary Barroso, eu vou e assisto dez vezes. Mas saio de lá sem achar que passei a
tarde numa biblioteca. Não se trata de cultura e muito menos de alta cultura.
Gosto da música popular brasileira e também da de outros países, mas a música
popular não se confunde com a erudita. Então, como é que letra de música vai se
confundir com poesia?
VEJA - O senhor não está ressentido por ele ter assinado um manifesto
contra um artigo seu sobre uma tradução do poeta Augusto de Campos? No
fundo, parece que o senhor está querendo aparecer à custa deles.
TOLENTINO - Não tenho ressentimento nem ciúme. Nem tenho nada contra quem
assina manifesto. Se você vê um amigo seu brigando na rua, o mínimo que pode
fazer é ir lá apartar. Foi o que ele fez no caso do Augusto de Campos. Só que
assinou um cheque em branco. A princípio achei que ele tinha entrado de gaiato,
e lhe dei o benefício da dúvida, sobre uma questão muito delicada de tradução e
de cultura que ele não está capacitado para julgar. Nem ele nem Gal Costa. Que
intelectuais são esses? Se os irmãos Campos não sabem inglês, imagine eles.
[113]
VEJA - Os poetas e tradutores Augusto e Haroldo de Campos não sabem
inglês?
TOLENTINO - Não sabem inglês, nem alemão, nem grego. Por exemplo,
traduziram Rainer Maria Rilke e criaram a frase "ele tem um pássaro", que é
literal, mas que em alemão quer dizer que alguém tem uma telha a menos, é meio
doido. São péssimos poetas e péssimos escritores. Não sabem absolutamente
nada do que alardeiam saber.
VEJA - Por que só o senhor, e não outros críticos, diz essas coisas?
TOLENTINO - Na República das Letras ainda estamos à espera das diretas já. A
usurpação do poder legal por vinte anos deixou-nos seus legados nas patotas
literárias que desde então controlam a entrada em circulação, ou a exclusão pelo
silêncio, de livros, autores, obras inteiras. Nas redações dos jornais como nas
universidades prevalece a censura, e o único critério para sancionar uma obra
parece ser o bom comportamento do neófito, sua genuflexão aos ícones da hora.
Nossa crítica suicidou-se matando o diálogo, o debate e a polêmica. Mascarados
de universitários, esses anõezinhos conseguem dar a impressão de que a
inteligência nacional encolheu, que em Lilliput só se sabe da cintura para baixo.
Quem já ouviu falar de Alberto Cunha Melo, que vive escondido no Recife, e é
nosso maior poeta desde João Cabral? São dele estas palavras: "Viver,
simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem". Mas José Miguel Wisnik ora é
crítico, ora é letrista e compositor, portanto é catedrático. Os violeiros
empoleiraram-se nas cátedras e Fernando Pessoa virou afluente da MPB. Não é à
toa que até em Portugal os brasileiros viraram piada. Ouvi uma que provocava
gargalhada logo à primeira frase: "Um intelectual brasileiro ia começar a ler
Camões quando a banda passou e..." É preciso perguntar dia e noite: por que
Chico, Caetano e Benjor no lugar de Bandeira, Adélia Prado e Ferreira Gullar?
TOLENTINO - O que os críticos disseram sobre meus trinta anos de poesia? Só,
desonestamente, que minha poesia é arcaizante e não suficientemente
progressista. Que eu, o escritor Diogo Mainardi e - como é mesmo o nome do
marido da Fernandinha Torres? - o diretor Gerald Thomas somos figurinhas
carimbadas porque somos amigos de gente famosa. Quer dizer, chamam a
atenção para a pessoa e não para a obra. E toda pessoa é discutível. Eu sou meio
apalhaçado mesmo. A minha biografia é interessante, meio cinematográfica, e
assim é como se eu não tivesse escrito nada. Uma espécie de Ibrahim Sued das
letras.
VEJA - Mas o que aconteceu com os críticos para que se tornassem tão
incapazes, na sua opinião?
TOLENTINO - Sobra, evidentemente, Wilson Martins, que não tem lá muito gosto
poético, mas enfim...
TOLENTINO - Minha obra poética está basicamente terminada. Escrevi poesia por
mais de trinta anos e não conheço nenhum outro poeta, além de Manuel Bandeira,
que tenha conseguido escrever bem além dessa média. A partir daí, decai. Estou
transferindo o meu esforço para o ensaio. Falar, por exemplo, dos males que a
ditadura causou ao país me parece cada vez mais um sintoma do que uma causa.
É um sintoma do Febeapá, vem no bojo dele. A imbecilidade já crescia. A ditadura
simplesmente institucionalizou a falta de respeito pela realidade, pelo próximo,
pela legalidade. A verdade foi substituída pela verossimilhança, a literatura, pela
imitação da literatura.
TOLENTINO - Foi Wilson Martins quem levantou essa idéia, ao dizer que as obras
de Chico Buarque e Jô Soares eram imitações da literatura. Auden, o Drummond
lá dos ingleses, também dizia algo parecido. A gente lia um cara e concluía que ele
era muito ruim. Auden discordava, dizendo que ele era muito bom. "Faz a melhor
imitação de poesia que já li", dizia. Parecia piada mas não era.
[116]
VEJA - Tem a ver com o quê?
TOLENTINO - Não. Não passei nenhum dia aborrecido aqui. Sempre encontro
gente inteligente. Quando cheguei à Europa, não tive nenhum complexo de
inferioridade. É verdade que eu conheci em casa o que o Brasil tinha de melhor.
Faço parte do patriciado brasileiro. E não via diferença entre Ungaretti e Manuel
Bandeira, só de língua. Era a mesma coisa. Não havia um Terceiro Mundo na
minha cabeça. Eu, quando pequeno, conheci Graciliano Ramos e Elisabeth Bishop.
Só havia gente dessa categoria.
TOLENTINO - O besteirol, se havia, estava lá longe, nos cantos. Hoje ele está no
centro. Tem razões mercadológicas, de dinheiro. Os artistas devem ganhar muito,
muito dinheiro, para ir gastar em Miami. Só não é possível que esses senhores
usurpem a posição do intelectual. Eles são um formigueiro com pretensão a
Everest.
[117]
XI - Mario Ferreira dos Santos – Entrevista ao
Padre Stanislavs Ladusãns
Esta entrevista foi publicada no ano de 1976, em “Rumos da Filosofia no Brasil” —
coletânea organizada pelo Padre e Professor Stanislavs Ladusãns S. J., Edições
Loyola —, onde foram registrados os depoimentos de 27 autores e pensadores que
traçam um panorama geral dos caminhos da Filosofia no Brasil da época. O autor,
Pe. Stanislavs Ladusãns (1912-1993), nasceu na Lituânia, doutorou-se em Filosofia
em Roma. Veio ao Brasil pela Ordem dos Jesuítas; aqui fundou a Sociedade Brasileira
de Filósofos Católicos, em 1970, e o Centro de Pesquisas Filosóficas em São Paulo.
Ladusãns, ao recomendar a obra do filósofo Mário Ferreira dos Santos às Academias
e Sociedades de Filosofia da Europa fez a seguinte declaração: “Estou realizando
uma pesquisa científica sobre a situação atual do pensamento filosófico brasileiro,
a fim de constatar, com objetividade, em que ponto se encontra a Filosofia hoje no
Brasil, como ela se desenvolve, que metas está visando e que objetivos deve atingir.
Durante esta pesquisa científica, ainda em curso, descobri um Pensador de
extraordinário valor – Dr. Mário Ferreira dos Santos, nascido no dia 3 de janeiro de
1907 e falecido no dia 11 de abril de 1968. A descoberta deste filósofo solitário,
dedicado a uma intensa atividade de pensamento e produção literária,
surpreendeu-me não pouco e proporcionou-me a grata oportunidade de entrar em
frequentes contatos pessoais com ele, homem que ainda não foi descoberto no
Brasil”…” Autorretrato Mário Sou natural do Estado de São Paulo, filho de pai
português, de família de intelectuais e de mãe amazonense, de ilustre família
cearense. Iniciei meus estudos num ginásio de jesuítas, onde cursei até os dezoito
anos de idade, ingressando, depois, no curso superior, onde me formei em Direito e
Ciências Sociais. Casei-me aos 23 anos, com D. Yolanda Lhullier dos Santos, então
com 19 anos, companheira fiel e sempre a estimuladora e inspiradora de meu
trabalho. Tenho duas filhas, Iolanda e Nadiejda, ambas hoje casadas, dedicadas ao
estudo, autoras de inúmeras obras que, com grande êxito, se expandem pelo país,
algumas com mais de dez edições. Mantive sempre uma atitude de independência e
de liberdade, fugindo de toda participação, tanto quanto possível, da vida política e
das rodas literárias, por considerar dissolvente o primeiro ambiente e deletério o
segundo. Em silêncio, passei os anos estudando, dedicando aos trabalhos de
advocacia e ao magistério particular, bem como ao ramo editorial, até que tivesse
meios de poder editar minhas obras, que iniciei, primeiramente, lançandoas sob
pseudônimos, dos quais possuo um número de mais ou menos quinze. Só por volta
de 1945 comecei a editar alguns livros com o meu próprio nome. Procedia assim por
saber que havia nascido num pa se ís onde domina o preconceito de que obras de
Filosofia não podem surgir e ainda provocam a desaprovação de muitos, que não
toleram a audácia de um brasileiro tentar fazer o que julga Na verdade, registrouse
que apenas possível a intelectuais europeus . os meus livros editados com
pseudônimos estrangeiros tiveram realmente grande venda, sendo que alguns
atingiram até dezenas de milhares de exemplares. Mas quando em 1952 resolvi,
definitivamente, enfrentar a realidade e editar os livros com meu próprio nom e,
contra a opinião geral de todos, que prenunciavam o completo malogro dessa
iniciativa, fiz uma experiência impressionante. Não só obtive um êxito que foi muito
além de minha expectativa — porque a venda atingiu a números que eu jamais
poderia calcular — como muitas de minhas obras chegaram a ter, no decorrer dos
anos, cinco, seis, nove, dez e até doze edições, alcançando a milhões de exemplares
[118]
vendidos, o que, à primeira vista, pareceria impossível. Este fato impressionou-- me
vivamente, porque, durante todo esse período, não lancei mão de nenhuma
demagogia publicitária, não solicitei a quem quer que fosse neste país a escrever
sobre os meus livros, pois não enviei exemplares a ninguém, de modo a não
constrangê-lo a escrever alguma coisa a respeito de minh a obra . Meus livros foram,
pois, entregues ao seu próprio destino, sendo que os leitores foram os únicos
propagandistas que eles tiveram. Foram aqueles que os aconselharam a outros
leitores e assim as obras foram tornandose conhecidas e procuradas. Nunca foram
vendidas, mas compradas; nunca obtive a menor boa vontade de quem quer que
fosse e poucos livreiros se interessaram pela colocação de meus livros, pois a quase
totalidade afirmava que não havia a menor procura de obras de Filosofia . Eram os
leitores que as procuravam, eram eles que vinham à minha residência buscar os
livros e que me escreviam cartas solicitando as obras. Foi assim que as vendi, sendo
que a Livraria e Editora Logos Ltda. e a Editora Matese, as editoras de minhas obras,
estão hoje organ izadas e são, praticamente, as únicas que as vendem, pois poucas
editoras ou livrarias no Brasil trabalham com meus livros, mesmo porque não me
interessa a distribuição dos mesmos, dadas as dificuldades de reedição, que são
muito grandes . Dediqueime, no d ecorrer de minha vida, ao estudo e durante grande
parte dela, ao magistério particular. Nunca ocupei nenhum cargo em nenhuma
escola, por princípio. Deliberei, desde os primeiros anos, tomar uma atitude que
consiste em nunca disputar cargos que podem ser oc upados por outros. É uma
questão de princípio. Sempre decidi, criar o meu próprio cargo, a minha própria
posição e situação, sem ter de ocupar o lugar que possa caber a outro. O meu lugar
seria exclusivamente meu, criado por mim para mim mesmo. Eis por que não
disputo, nunca disputei, nem disputarei qualquer posição que possa ser ocupada
por quem quer que seja . A minha vida, em síntese, é simplesmente esta.
“Sempre decidi, criar o meu próprio cargo, a minha própria posição e situação, sem
ter de ocupar o lugar que possa caber a outro. O meu lugar seria exclusivamente
meu, criado por mim para mim mesmo. Eis por que não disputo, nunca disputei, nem
disputarei qualquer posição que possa ser ocupada por quem quer que seja.”
Assim, posso admitir que há vários caminhos, embora só haja um caminho real.
Como fundamentava Pitágoras, repetido depois por Aristóteles, que a única
autoridade na Filosofia é a demonstração, sendo que esta deve ser apodítica, e, se
possível, com juízos necessários e até exclusivos, a Filosofia construída deste modo
só pode ser uma: positiva e necessariamente concreta, que é a posição que tomo
aqui.
A minha luta é esta, dar solução aos inúmeros problemas vitais brasileiros da
atualidade, porque a heterogeneidade de idéias e posições facilita a de soluções, das
quais muitas não são adequadas às necessidades do Brasil. O tema é vasto e exigiria
um trabalho especial.
Fazer a Filosofia atingir as grandes massas populares será em primeiro lugar, obra
que se cingirá a descê-la ao baixo grau de cultura de nossas massas populares.
Precisamos estudar o que devemos fazer para erguê-las até à Filosofia, o que só
poderá ser feito através de um desenvolvimento da cultura nacional – em linhas
distintas das atuais, que tendam à Filosofia Positiva e não à Filosofia negativista e
niilista que penetra em nossas escolas.
[120]
Quanto à juventude brasileira, este é o mais grave de nossos problemas: somos um
país constituído de jovens, que formam a sua quase totalidade. Dado o baixo grau de
cultura que temos, nossos estudantes passam a formar uma elite intelectual, o que
demonstra a inferioridade em que nos encontramos.
Então, o que nos cabe fazer é orientar a juventude brasileira, dar-lhe suficiente
sabedoria: clara, positiva, concreta, de modo a imunizá-la contra as tendências
niilistas, para que possa pôr a sua capacidade de ação e de idealismo em algo
concreto que beneficie o país. Fora disso, nada dará resultado.
Como a pergunta exigiria uma análise longa, sintetizar aqui o que penso, torna-se,
para mim, um trabalho mais difícil do que expor as grandes contribuições que a
ciência traz para as novas especulações filosóficas.
Não que esta venha modificar as linhas mestras da Filosofia Positiva e Concreta;
veio, ao contrário, robustecê-las, mas trouxe contribuições que permitiram abrir
campo não só para novas análises, como também para melhor colocação de outros
problemas, além de uma revisão da Metodologia, sobretudo na parte da Dialética
Concreta.
Temos, assim, uma visão muito mais profunda e ampla do que aquela que os
filósofos anteriores possuíam, também a Filosofia Positiva de séculos anteriores,
aproximando-se a passos gigantescos da concepção que os pitagóricos haviam
apresentado, e que fora considerada por muitos como extravagante, tornou-se
muito mais compreensível.
Mas no momento que se compreender que número não é apenas isso, mas todo o
esquema de participação de qualquer espécie de unidade, porque é a manifestação
da unidade sob todos os seus aspectos e, portanto, sob todas as formas
manifestativas em que se exija o numeroso e, portanto, participado, participante e
logos da participação e que, segundo o logos, existem tantos números quantos logoi
de participação, já muda completamente o sentido e então poder-se-á compreender
que, segundo todos os possíveis aspectos em que se possa tomar a unidade,
podemos construir matemáticas.
Por isso, o aparente abismo hodierno entre Filosofia e ciência pode perfeitamente
ser ultrapassado, flanqueado pela Filosofia Concreta; é o que estamos fazendo com
as nossas obras, apesar de muitos julgarem ser impossível a um brasileiro tentar
fazê-lo.
[122]
Poderíamos citar inúmeros outros aspectos, que também são imprescindíveis para
a reflexão filosófica. Aliás, são tantos, que não caberiam, naturalmente, no espaço
que temos para responder.
O que queremos apenas salientar é que devemos compreender que, das causas às
leis e aos princípios de cada ciência, podemos alcançar uma sabedoria que está
acima de toda ciência, uma sabedoria como a estudaram os grandes pensadores de
todos os tempos, que é a “Décima Ciência” dos antigos, de que nos falava São
Boaventura.
Assim abriremos campo para novas análises, não mais as que colocavam mal as
questões, de modo a torná-las, por isso mesmo, insolúveis e estéreis suas disputas,
mas lançando novas disputas num campo mais fértil, mais criador, sob aspectos
mais seguros, que poderão abrir ao homem novas perspectivas, com dados
extraordinários, em benefício da cultura do homem de amanhã.
É diante deste horizonte, ante esta aurora que se anuncia, que me anima o que tenho
realizado, muito embora eu não seja compreendido por muitos daqueles que se
dizem amantes dessa sofia, a Matese, a sabedoria, a intuição sapiencial.
Posso, agora, completar a minha resposta ao item IV, dando, assim, o sentido da
reflexão filosófica que se pode atribuir ao pensamento brasileiro, se ele quiser ser
genuinamente filosófico.
Todos aqueles que, no Brasil, revelaram que possuíam mente filosófica – e não
foram muito numerosos, porém brilhantes – tenderam sempre para um
pensamento de caráter sintético, isto é, não ficaram totalmente presos às correntes
filosóficas européias e dependentes delas. Sempre houve, entre nós, o desejo de
abarcar o universal e esta característica é naturalmente justa e própria de um povo
que vive em si mesmo este universal.
Por isso, o Brasil é, dos países atualmente existentes, mais capacitado para uma
Filosofia universalizante ou, pelo menos, para uma nova linguagem filosófica, capaz
de unir o pensamento que divergiu tão profundamente no campo já esgotado do
pensamento europeu. Aqueles que não pensam assim, que não admitem essa
possibilidade para nós, que continuem vivendo o seu modo de pensar. Nós
preferimos, porém, divergir.
[123]
Primeiro: hoje, sobretudo no mundo livre, graças ao surgimento de um desejo
ecumênico de aproximação dos homens, a humanização da civilização pode ser
obtida – em parte, naturalmente – pela colaboração da Filosofia, pela revisão
honesta de todos os grandes autores do passado, que foram caricaturizados,
falsificados e apresentados num sentido que não é realmente o da sua Filosofia.
Poderíamos citar aqui, desde os pitagóricos até o século passado, autores que
precisam ser revisados e reestruturados, para evitar-se aquelas “fables convenues”,
aquelas mentiras históricas, os mitos e as interpretações falsas que se fazem da sua
obra, com o simples intuito de denegri-los ou de favorecer outras posições.
Devemos tomar a seguinte posição: procurando primeiro tudo o que nos une, depois
pensemos em estudar o que nos separa, para ver se, o que nos separa, pode sofrer
modificações ou acomodações, que permitam que aquilo que nos une, fomente a
humanização da própria civilização. Daí decorreria, pois, inevitavelmente, a
segunda parte, sobre o valor da pessoa humana que, sem dúvida, sofreu, neste
século, devido ao desenvolvimento dos totalitarismos, uma afronta à sua dignidade.
De todos os lados surge este tema, que pode e deve ser reestruturado em termos
positivos e concretos. Finalmente, resultaria, então, a terceira parte, porque a paz, a
tranqüilidade interior, a serenidade do espírito só podem ser alcançadas quando a
mente assenta plenamente na Sabedoria, alcançando aquelas verdades, que estão
ao nosso alcance e que são o fundamento de nossa verdadeira felicidade.
Muitos livros meus foram “refutados” antes de serem publicado, pelo simples fato
de eu pretender tratar de tal ou qual matéria. Sem nem ao menos saberem qual a
minha verdadeira posição num assunto, já haviam adversários para refutá-los. Não
em público, porque isso eles não têm coragem de fazer, mas nos “corredores”.
[124]
7- Filosofia nacional e o pensamento filosófico estrangeiro
Atualmente, nada se estuda, nas escolas, da Filosofia Portuguesa dos séculos XV, XVI
e XVII. Parece que Portugal nada realizou; desconhece-se que, por quase dois
séculos, a Filosofia Portuguesa imperou no mundo.
Respondo: Pode-se falar, sim, numa Filosofia de Portugal e também numa Filosofia
em Portugal.
Nós, brasileiros, contudo, por um espírito de colonialismo passivo, que nos domina
até hoje, não cremos em nós mesmos. Só damos valor àquilo que tem origem
estrangeira, e não seja de Portugal, porque também esta procedência não goza de
nossa admiração. É natural, pois, que falar numa Filosofia Nacional cause
manifestações de completa descrença.
Não acreditar que ela existe, nem tampouco que possa surgir, é atitude geral. Ainda
hoje, “famosos professores de Filosofia” em Portugal dizem que é impossível criar-
se uma Filosofia autóctone naquele país.
Para o português, o que vale é: “Penso, logo não existo” ou “Existo, logo não penso”.
Podemos dizer que existe uma Filosofia no Brasil, mas se quiséssemos realmente
falar numa Filosofia do Brasil, tal afirmação exigiria exame. Não conhecemos obra
de criação propriamente peculiar. Se estamos tentando realizar algo nesse sentido,
[125]
não podemos afirmar, por motivos óbvios, que o seja.
Esta variação tremenda de idéias, as quais surgem de todos os lados, não revela
nenhuma pujança; é ao contrário, um índice de fraqueza, como a do período final da
cultura grega e alexandrina. A Filosofia Positiva (fundada na positividade do ser, que
alcança a perenidade, porque atinge as leis eternas) e Concreta, precisamente,
porque, captando estas leis, relaciona todos os matizes de todos os aspectos formais
– para dar-lhes uma unidade superior- é necessariamente Concreta, embora não no
sentido vulgar do termo.
Esta é a única possibilidade que nos cabe e que estamos em condições de realizar,
muito embora a maioria de nossos intelectuais não creia nisto e negue,
terminantemente, que tal seja alcançável por nós, açulando-se com sanha contra
quem tentar fazê-lo.
Sem uma visão transcendental da realidade não pode haver Filosofia, porque se esta
se distingue da Ciência por dedicar-se esta ao estudo das causas próximas e a
Filosofia às causas primeiras e últimas, fatalmente esta deverá ter uma visão
transcendental da realidade ou, pelo menos, tocá-la, abordá-la.
Ora, além das causas primeiras e últimas, temos de estudar os princípios, objeto
fundamental da Mathesis Megiste – dos pitagóricos que chamamos Matese em
português – cuja elaboração estou realizando em obra especial, que é a Axiomática
baseada em Boécio. É a Décima ciência dos pitagóricos, a Contemplação sapiencial
de São Boaventura, a Sapiência de Santo Tomás etc.
Esses princípios são matéria que constitui, propriamente, o que em todos os ciclos
culturais, em todas as altas religiões se chama de Sabedoria: Sabedoria infusa ou
[126]
Sabedoria em que o homem participa da Divindade, ou ainda a própria Sabedoria
divina que o homem pode abordar, tocar e na qual consegue penetrar. São temas
que, naturalmente, exigem discussões sobre os seus principais aspectos.
Mas o que é inegável, e não poderá deixar de abranger nenhuma visão filosófica em
profundidade, é que há princípios eternos, leis eternas, que dominam todas as
coisas, as quais não devem ser confundidas com as leis naturais nem com as da
ciência. Este estudo levará, inevitavelmente, a uma visão transcendental da
realidade, e sem ele não se faz Filosofia em profundidade, mas apenas de superfície.
Parece-nos que aqui há duas perguntas: lª) a que interroga sobre íntima conexão
entre a posição gnosiológica, metafísica e ética e 2ª) a íntima conexão entre a teoria
e a prática.
Resultado: estamos hoje vivendo uma completa confusão entre teoria e prática.
Estabelece-se determinadas proposições teóricas, julgando-se que elas são
perfeitamente práticas e vice-versa. Algumas proposições, extraídas
exclusivamente da prática, passam a constituir verdadeiros axiomas teóricos. O
resultado é que vivemos hoje num mundo de utopias e quimeras; como
conseqüência, há desilusões, cujo resultado final é desespero.
Mas se admitimos que a Filosofia é uma ciência objetiva, isto é, uma busca humana
da sophia suprema, que nos ultrapassa e transcende, ela adquire uma feição
completamente distinta. Em todos os ciclos culturais, a Filosofia Positiva e Concreta
é uma ciência objetiva. Em todos os momentos de decadência ou refluxo, que são
vários, ela se torna puramente subjetiva.
Este tema é de uma vastidão tremenda, já que o ateísmo contemporâneo não surge
a rigor de uma especulação filosófica, mas sim, de certas decepções de caráter mais
ético do que filosófico. A meu ver, o ateísmo não surge, propriamente, em torno do
Deus Uno e de seus atributos, mas, em torno dos atributos do Deus Treino, ou Deus
pessoal ou dos atributos morais de Deus.
Como “na Filosofia não há questões insolúveis, mas apenas mal colocadas”, o
ateísmo moderno parece uma questão insolúvel, porque é mal colocada. Todas as
[128]
ocasiões em que tive a oportunidade de me encontrar com ateístas, bastou-me
pedir-lhes que descrevessem o que entendiam por Deus, para, nessa descrição,
verificar quais as razões de seu ateísmo.
Eis também outra questão que, bem colocada, é de solução fácil. O ponto de partida
está em saber o que se entende por tonalidade cristã. Se considerarmos Cristo sob
um aspecto, no qual podemos encontrar-nos quase todos, isto é, representando Ele
o que o homem tem de mais alto na sua forma perfectiva, caminhando para a
Divindade – ou mesmo, neste sentido, reaproximando-se do Ser Supremo –
podemos afirmar que a reflexão filosófica não pode deixar de ter uma tonalidade
cristã.
Não pode haver uma reflexão verdadeiramente filosófica que não erga o homem do
menos para o mais. Portanto, o Cristianismo presta e sempre prestou benefícios ao
filósofo, razão pela qual a Filosofia teve o seu maior desenvolvimento sob a égide do
Cristianismo. Será também apenas através da concepção cristã, que se poderá
realizar uma Filosofia superior capaz de unir os homens e fazê-los se
compreenderem, pois Cristo representa, no homem, tudo quanto ele tem de mais
elevado.
Já dizia Pitágoras que a verdadeira piedade – aliás, a eusébeia – era a justa e nobre
veneração da Divindade, consistindo aquela na prática de nossos atos perfectivos
superiores. Aproximando-nos, pois, de Deus na medida em que praticamos, de modo
mais perfeito, os nossos atos. Em suma: a eusébeia (a verdadeira piedade), para os
pitagóricos, é a assemelhação a Deus.
Este conceito não é exclusivo dos pitagóricos, mas de revelação universal, de todos
os ciclos culturais. A verdadeira Filosofia caminha paralela à Religião, porque, se
esta é o caminho para elevar o homem a Deus pelas ações, aquela é o caminho para
elevar o homem – pela meditação, pelo pensamento, pela pesquisa, pela especulação
– também, a Deus. Por isso, a Religião pertence à vida prática e a Filosofia sobretudo
à vida especulativa – o que não impede que a Filosofia especule também sobre a vida
prática e nela atue dentro das normas desta.
Esta é a razão por que o divórcio entre Filosofia e Religião – que se procurou fazer
no mundo ocidental como também já se fez em outros ciclos culturais, em situações
correspondentes a esta – é apenas uma covardia, a ser substituída por uma atitude
heróica, enfrentando, mostrando os defeitos dessa posição e propondo os
verdadeiros caminhos de ascensão.
[129]
Visto sob este aspecto, o Cristianismo é universal, porque pertence a todos os ciclos
culturais. Ele foi o pensamento verdadeiro mais profundo de todos os ciclos
culturais, sendo, por isso, inseparável da religião do homem nos seus aspectos
perfectivos. É o homem enquanto Vontade, Entendimento e Amor, correspondendo,
na concepção católica, às Três Pessoas da Trindade.
LADUSÃNS, S. Rumos da filosofia atual no Brasil, São Paulo, Loyola, 1976, pp.
407-428.
[130]
XII - A redescoberta da filosofia no Brasil I –
Panorama Geral
dicta / 31 de agosto de 2010
A reedição das obras dos filósofos Mário Ferreira dos Santos e Vicente
Ferreira da Silva dão novos ares ao estudo da filosofia no país e demonstram que é
possível um pensamento original e de alcance universal em terras brasileiras.
Mário Ferreira dos Santos (1907-1968) e Vicente Ferreira da Silva (1916-
1963) estão entre os filósofos brasileiros mais importantes do século 20. Foram
pensadores independentes que trataram dos mais importantes temas da filosofia
com impressionante interdisciplinaridade, dialogando tanto com a tradição quanto
com o que havia de mais importante e atual no debate intelectual de seu tempo. A
redescoberta de suas obras lança novas bases para a construção de uma cultura
mais refinada e autoconsciente, recolocando o Brasil, definitivamente, no cenário
global da história da filosofia.
***
Em 1986, o Embaixador Mário Vieira de Mello publicava O Conceito de uma
Educação da Cultura, retomando a reflexão de seu livro anterior sobre o tema do
esteticismo na formação da cultura brasileira e como a partir daí lançar bases para
a criação de um espírito ético no Brasil.
Seguindo o espírito da letra de Vieira de Mello, podemos compreender de que
a proposta de transformar a consciência que temos da realidade brasileira, de uma
percepção estética para uma percepção ética, nada tem de um empreendimento
moralista e tampouco se trata de menosprezar as realizações e experiências
brasileiras no campo das artes e do sentimento nacional.
O problema que se coloca é se devemos manter nossa auto complacência ao
repetir erros que nos saltam aos olhos ou se não seria a hora de tentarmos uma
arrancada, elevando o nível de nossas realizações e da nossa inteligência
combinando assim fatores culturais mais sólidos e abrangentes.
A educação é um processo limitado que se encerra onde começa a cultura que
nada mais é que o reflexo social do esforço intelectual de cada ser humano de educar
os outros e a si mesmo. Educação e cultura são as duas faces de uma mesma moeda
chamada pedagogia e não se deve confundida com o que hoje entendemos por
ensino, esse rito social intimamente ligado com o mercado de trabalho e com as
pressões da empregabilidade e nos discursos recheados por palavras de ordem
como “educação para a democracia”.
[131]
A questão não é polarizar a discussão entre democracia versus aristocracia
ou em educação de elite e educação para as massas, mas sim entre poder versus
cultura e reconhecer que a pedagogia deve ter independência em relação a
democracia, assim como de qualquer regime político, como bem perceberam
Sócrates e Platão quando criticaram os sofistas por exercerem um magistério à
revelia da sociedade, abrindo um perigoso espaço para corrompê-lo por distorções
da vida democrática e as exigências do poder, na perda a longo prazo da noção exata
do que realmente é a educação.
No século 21, países colonizados como o Brasil vêem-se diante do dilema em
optar entre o artificialismo de uma cultura cerrada no passado e o funcionalismo de
uma cultura desvinculada da tradição. Como equacionar esse desafio? Para um país
da dimensão do Brasil recorrer ao mito da brasilidade e das formas mais esdrúxulas
de provincianismos apenas produz documentos para etnólogos do futuro e nunca
expressões de alta cultura e patrimônios para a humanidade.
Esse comportamento, muitas vezes travestido de falsa inovação e rebeldia
resultam, segundo Vieira de Mello, numa emulação que produziu apenas uma
caricatura pueril daquilo que de pior herdamos de nossos pais portugueses, o
medievalismo mais retrógrado e residual daquela Portugal dos séculos 16 até
Pombal, que havia assimilado o lado mais reacionário da Contra Reforma e
decretava sua incapacidade em absorver o que de melhor o Renascimento oferecia.
Diferentemente, os espanhóis e depois os países hispano americanos,
desenvolviam-se culturalmente de forma mais harmoniosa e integrada ao ponto de
surgirem escritores de importância universal como Gárcia Marquez , Borges ,
Cortázar, Neruda e Vargas Llosa. A cultura espanhola ainda foi capaz de abrigar uma
série de filósofos de grande envergadura como Unamuno, Ortega Y Gasset, Julian
Marias e Xavier Zubiri.
Dessa forma, não sem razão, com a emancipação política do Brasil, fomos
bombardeados pela cultura francesa sem a menor condição de assimilá-la, uma
cultura mais modernizada que em terras brasileiras teve efeitos traumáticos e
pouco benéficos como mostra Paulo Arantes em seu livro Um Departamento
Francês de Ultramar.
Expressões de alta cultura no Brasil, como a filosofia, tornaram-se ao longo
de nossa história um enredo mal digerido de tomismo, comtismo, marxismo e
desenvolvimentismo. A história da filosofia no Brasil ainda é uma das histórias mais
obscuras e a espera de uma sistematização, não obstante os esforços heróicos de
contribuições histográficas de Sílvio Romero, dos Padres Leonel Franca e Stanislavs
Ladusãns e mais recentemente por Antônio Paim e Jorge Jaime, para citar as
principais.
Tratar sobre o tema da Filosofia no Brasil é sempre algo problemático. O
primeiro problema que enfrentamos diz respeito ao critério do que é e do que não
é filosofia. Como separar o joio do trigo?
Depois, nos perguntamos se a originalidade é o único critério válido ou exige-
se também uma profundidade de temas e enorme erudição, ou mesmo, se a chave
da questão não estaria na enunciação de um novo problema ou a solução definitiva
e racional de problemas clássicos.
Até que ponto a simples exposição de uma filosofia alheia transcende a uma
verdadeira criatividade? Como se reconhece um filósofo e como se determina se ele
é digno ou não de figurar no rol da história da Filosofia?
Essas são perguntas que precisam ser feitas. A filosofia precisa dialogar com a
tradição, ocupar-se dos problemas atuais e lançar bases para um futuro mais
consciente. No Brasil, muitos se lançaram a essa tarefa e corroboraram com
[132]
respostas a velha questão “Quem somos nós?”, fazendo da cultura brasileira mais
consciente e preparada para a Grande Conversação, nos termos de Mortimer Adler.
A rigor, a filosofia no Brasil, segundo Jorge Jaime no seu volumoso História da
Filosofia no Brasil, começa já na fase colonial com a instituição do governo-geral em
1549 e o desembarque do padre Manuel da Nóbrega com a armada de Tomé de
Sousa, dando inicio à missão jesuítica no país e à construção dos alicerces
fundamentais que moldariam a sociedade brasileira.
Neste inicio, a contribuição da Companhia de Jesus foi enorme. Os primeiros
mestres gramáticos no Brasil foram os padres Blázquez e Anchieta sendo que o
Padre Anchieta escreveu o primeiro tratado filosófico no Brasil expondo seu
pensamento, hoje infelizmente perdido.
Assim, a fase colonial é marcada pelas influências da tradição filosófica e
cultural portuguesa e os esforços no sentido de civilizar uma terra virgem e
antropofágica. Na fase imperial, a grande influência será o positivismo de Comte,
inspirador da nossa Republica com o lema “Ordem e Progresso”, o surgimento da
escola de Recife e a presença de homens do quilate de Rui Barbosa, Joaquim Nabuco
e José Bonifácio. Daí em diante, o Brasil entrou na onda do desenvolvimentismo,
tendência ambígua que foi capaz de absorver linhas tão distintas que vão do
marxismo ao neoliberalismo.
Portanto, a reedição das obras de dois filósofos brasileiros do século 20,
Mario Ferreira dos Santos e Vicente Ferreira da Silva acendem velas nessa
penumbra e jogam um material ainda incompreendido daquilo que de melhor
realizamos em termos de alta cultura ao longo do século 20.
[133]
XIII - A redescoberta da filosofia no Brasil II –
Mário Ferreira dos Santos
dicta / 31 de agosto de 2010
Mário Ferreira dos Santos nasceu em Tietê, São Paulo. Formado em Direito e
Ciências Sociais pela Universidade de Porto Alegre, muda-se para São Paulo e funda
as Editoras Logos e a Matese com o objetivo de publicar e divulgar sua obra. Foi um
pensador incrivelmente fecundo que legou uma obra monumental com mais de 90
títulos publicados, alguns inéditos e outros inacabados.
Em menos de 15 anos publica a “Enciclopédia de Ciências Filosóficas e Sociais”, que
abrange cerca de 50 volumes, parte de caráter teorético e parte histórico-crítico.
Sua obra vai além das exposições de temas filosóficos e se encontram romances,
dicionários, cursos de oratória e traduções comentadas. Seguindo tradição
pitagórico-platônica, a obra de Mário explora com originalidade os caminhos da
Metafísica.
Em 1957, publicou “Filosofia Concreta”, que estabelece o seu modo de filosofar.
Mário Ferreira dos Santos considera a Filosofia como ciência rigorosa, aceitando o
que é demonstrado e não o problemático e provável. Para ele, a Filosofia possui o
genuíno valor de ciência, seja na investigação e na sistematização, seja na análise e
na síntese de temas expositivos e polêmicos. Em 1959, a edição de “Métodos Lógicos
e Dialéticos” expõe uma nova metodologia para guiar com segurança o estudioso no
campo do saber.
A década de 1960 foi o período em que suas obras tiveram maior difusão em todo o
território nacional.
***
Luís Mauro Sá Martino, professor da Fundação Cásper Líbero e estudioso da
obra de Mário Ferreira dos Santos, fala a seguir em entrevista exclusiva
concedida à Dicta.com, sobre o filósofo.
[134]
Como foi seu primeiro contato com a obra do Mário Ferreira dos Santos e a
partir de que ponto você começou a se dedicar a um estudo sistemático de sua
obra?
Meu contato foi acidental, por meio dos sebos. De tanto ver os livros dele um dia
acabei me interessando e à medida que eu ia lendo percebi que tinha alguma coisa
muito boa embora na época eu não soubesse exatamente o que; me faltava ainda
como sempre vai faltar, mas faltava mais ainda naquela época bagagem para
entender o que ele estava querendo dizer, com quem estava dialogando e a partir
daí que eu comecei a estudar sistematicamente a obra dele, fora do circuito
acadêmico – como um desafio pessoal.
Sim, mas essa afirmação tem que ser levada com todo cuidado.
Toda divisão da obra do Mário vai esbarrar com problemas e ela só funciona vista
no plano geral. Então, essa divisão além de arbitrária é também bastante fluida e eu
preciso deixar claro que isso não é uma classificação fechada, mas apenas para efeito
didático: Em termos de gênero, Mário cultivou alguns gêneros dentro de sua obra.
O primeiro desses gêneros foi a literatura: escreveu contos , livros e prosa
filosófica.Há um livro dele, por exemplo, que reúne alguns desses contos e crônicas
chamado Páginas Várias – um livro literário com teor filosófico que bem que poderia
ser incluído na área da literatura. Outro gênero que desenvolvidofoi o livro filosófico
no sentido mais estrito: exposição de um problema, argumentos, contra-
argumentos, conclusão e síntese. Um terceiro gênero foi o ensaio: alguns livros deles
são claramente ensaísticos, lidando até mesmo com problemas cotidianos. Fora isso,
os inéditos e dispersos :são artigos, palestras, exposições, aulas (ele também era
professor em boa parte do dia), cursos livres, o curso de oratória e retórica e
apostilas de aula. Em termos de fases é mais complicado porque ao longo de sua
obra Mário reelabora o que havia escrito anteriormente. Daria para separar da
seguinte forma: as primeiras obras que ele escreve ainda sem saber que estava
escrevendo a enciclopédia( só depois da Filosofia Concreta ele irá perceber a
extensão de sua obra, embora há indícios, por exemplo, uma carta onde ele propõe
uma coleção de filosofia para o povo; nela, ele propõe ao Ministro da Cultura, pede
um subsidio que lhe é negado mas ali já expõe o projeto de uma obra ampla, mas
ainda não caracterizada como a enciclopédia). Dentro dessa produção
aparentemente desorganizada há um senso de unidade do próprio Mário que eu
poderia dizer que é a Lógica Dialética – num primeiro momento. Essa lógica dialética
desemboca no ápice da filosofia dele que é a filosofia concreta e em seguida para
outra fase que é a aplicação da lógica dialética e da filosofia concreta a vários
problemas: metafísicos, históricos, sociais. Finalmente, numa última fase : começa a
tratar diretamente de Metafísica, ele vai para os campos da metafísica pura que é
fase da “Sabedoria das leis Eternas”, “Esquematologia”, “Tratado Geral das Tensões”
aonde ele se volta para a mente humana em relação com o objeto, reestruturando a
relação sujeito/objeto com base numa tensão de consciência intersubjetiva.
[135]
O Mário muitas vezes é considerado um dos maiores filósofos do século 20 ao
mesmo tempo em que foi a figura mais solitária da história intelectual
brasileira. Não obstante foi muito lido e muito ativo em seus cursos
particulares e palestras (alguns de seus livros foram o que hoje chamaríamos
de um best-seller). Qual a razão desse isolamento e por que seus escritos
caíram em esquecimento logo após sua morte?
Além de tudo, Mario tinha um grande tino comercial, tendo sido proprietário
das editoras que publicaram suas obras, como era esse outro lado do filósofo?
É.
Mário era cristão, mas se dizia avesso a qualquer denominação religiosa, em uma de
suasele fala com todas as letras “Não professo nenhuma religião”. Ou seja, ele não
era católico, não era protestante, mas era cristão e a abordagem dele do cristianismo
era uma abordagem em primeiro lugar filosófica, ele entendia que o cristianismo
era a melhor doutrina ética que alguém poderia ter e chegou a essa conclusão, por
ironia, lendo Nietzsche.
Para fazer uma lista minúscula: Pitágoras, Santo Tómas de Aquino e Nietzsche.
Curiosamente, um pagão, um cristão e um anticristão. Ele tem também algumas
ressonâncias kantianas – e alguma coisa de Hegel, mas bem residual. Em relação à
filosofia portuguesa ele irá trabalhar um pouco com a escolástica, sobretudo com
Suarez. Não vai desenvolver um trabalho sistemático com a filosofia portuguesa,
mas irá resgatar a filosofia de Suarez.
[137]
O Mário apresenta a decadialética e a filosofia concreta como suas
contribuições pessoais á Filosofia, ele está sempre buscado o ideal pitagórico
da Mathesis Magiste , que marcará a tônica dos seus últimos escritos. Qual o
significado de tudo isso?
Mário falava várias línguas – inglês, francês, espanhol, latim, rudimentos de grego e
alemão. Começou sua carreira como tradutor ainda em Porto Alegre; nasceu em São
Paulo e foi pequeno para Porto Alegre retornando para São Paulo depois de adulto
já casado começando então a traduzir Nietzsche e outras tantas obras. O Mário
tradutor respeita muito o estilo do autor e vai decifrando comentários. Vai lendo o
livro que ele está traduzindo e os resultados dessa leitura são anexados,
publicadoscom os livros. Ele faz isso no “Vontade de Potência” – aliás por qual ele
escreve um prefácio imenso e muito bom “O Homem que foi um Campo de Batalha”,
analisando Nietzsche já sob essa perspectiva da modernidade; no caso do
Zarathustra ele faz uma análise simbólica da simbologia de Nietzsche e do uso que
[138]
Nietzsche faz de várias simbologia dentro do Zarathustra . Com Pitágoras, traduz os
“Versos Áureos” e um comentário aos Versos Áureos e faz um comentário aos
comentários. Traduziu também o Isagoge de Porfírio comentando sentença por
sentença do primeiro livro, não tendo conseguido terminar todos. Traduziu e
comentou o “Parmênides” de Platão e “Da Geração e Corrupção das Coisas Visíveis
de Aristóteles”. Qual é o método de leitura dele? É um método de explicação
escolástico, a leitura e a explicação do texto; não faz analise estrutural, não vai
procurar outras referências na filosofia, diz o que o texto quer dizer a partir de
outros referenciais da própria filosofia do autor – neste ponto, Mário é um
comentarista como Averroes, Santo Tomás e São Alberto Magno foram.
Por que ler Mário Ferreira dos Santos hoje? Qual a originalidade e a
contribuição deste filósofo para a história da filosofia?
Porque Mário tem um pensamento que permite a você abstrair de outros sistemas
de pensamento e de outras filosofias e outras ideias aquilo que há de melhor numa
síntese original e que não é caótica, então, por que ler Mário hoje? Porque ensina
você a pensar.
Olha, arriscando uma imagem: um dia normal do Mário começaria muito cedo, ele
acordava muito cedo, coisa de 6:30, 6:00 horas da manhã em seguida tomava café
com a família, sempre com a família – a mulher Yolanda e as duas filhas Nadiejda e
Yolanda e em seguida ia trabalhar na editora Logos aonde cuidava das edições de
suas obras , cuidava das traduções, cuidava de tudo e se vinha alguma boa ideia
escrevia. O filósofo conseguia transitar muito rapidamente do mundo intelectual
para o mundo cotidiano. Dava aulas, algumas tardes ou noites os alunos iam àsua
casa e tinham aulas de temas filosóficos variados. Várias dessas aulas foram
gravadas e hoje nós temos um acervo enorme. Almoçava com a família sempre que
possível, às vezes não dava, porque trabalhava com a editora, mas jantava com a
família e às vezes durante o jantar ou durante o almoço, pedia pra que alguma das
filhas lesse algum trecho de filosofia, às vezes em latim e pedia para filha traduzir
logo em seguida. Suas filhas achavam isso muito divertido, ao contrário do que a
gente pode imaginar. Mário não era aquele filósofo sério, compenetrado 24hrs por
dia. Não: ele gostava de carnaval, tinha um bloco que se chama “fica aí pra ir
dizendo”, torcia pro São Paulo, assistia jogos de futebol e torcia mesmo, não era
assim, só nominal, gostava de assistir televisão em especial programas de pergunta
e resposta. Ele tinha uma vida que, exceto pelo fato de ele ter escrito mais ou menos
10.000 páginas no total, seria uma vida normal.
[139]
Outro filósofo contemporâneo de grande força e originalidade foi Vicente
Ferreira da Silva, contemporâneo de Mário, que chegou a visitá-lo e nutria
forte admiração por seu trabalho; no entanto, os dois não chegaram a
estabelecer um vinculo de amizade e esse diálogo acabou ficando para a
imaginação da posterioridade. O pensamento dos dois, em geral, é muito
diferente, contudo há também semelhanças. Como você entende a
comparação entre os pensamentos de Mário e Vicente?
Para mais informações sobre Mario Ferreira dos Santos, leia o ensaio de Olavo de
Carvalho publicado na Dicta&Contradicta 3.
[140]
XIV - A redescoberta da filosofia no Brasil
III – Vicente Ferreira da Silva
dicta / 1 de setembro de 2010
***
[141]
Rodrigo Petronio, é escritor, editor e professor e organizador das obras
completas do filósofo Vicente Ferreira da Silva, fala a seguir em entrevista
exclusiva concedida à Dicta.com, sobre o homem e a obra.
Vicente foi muitas pessoas. Ele foi um pensador brasileiro marcado por uma atitude
filosófica original. Não estava só preocupado em submeter o texto filosófico a um
trabalho técnico ou a uma exegese filosófica, mas também incorporar os conceitos
e as obras da filosofia a isso que eu chamo de uma atitude filosófica e a obra dele é
um testemunho desta atitude, seja do ponto de vista da lógica matemática, em que
ele está mais preocupado com o instrumental do pensamento, seja no período
posterior, nos seus estudos ligados a fenomenologia e ao mito.
[142]
Vicente foi assistente do filósofo Willard Van Orman Quine, professor de
Harvard, que foi aluno de Rudolph Carnap e A.N Whitehead, enquanto passava
uma temporada no Brasil. Além disso, seu livro sobre lógica foi uma espécie
de marco.
Sim. O livro Elementos de Lógica Matemática foi o primeiro livro no Brasil que trata
de lógica matemática, ou seja, que trata da lógica desde esse ponto de vista novo,
que tenta reformular – eu não diria romper – mas operar uma reformulação bem
drástica com a lógica clássica. Há ensaios de estudos lógicos do Padre Feijó,
Amoroso Costa tem estudos sobre lógica, mas o pioneiro – o primeiro livro de lógica
matemática no Brasil – foi do Vicente e é de 1940.
Bom, tem um episódio que vale a pena comentar. Por exemplo, o professor Cruz
Costa, que assumiu a cátedra de Filosofia da USP no lugar de Vicente e que foi o
responsável pela formação de várias gerações, proibia seus alunos de citar
Heidegger em qualquer circunstância em trabalhos acadêmicos. O limite da
polarização ideológica chegava nesses termos. O Vicente como um heideggeriano
era um pressuposto que já o isolava de alguns círculos, instituições e etc.
Esta fase, que é porosa comparada à anterior, é a que mais me toca pela ousadia. É
uma fase mais inacabada, em que os ensaios não são tão bem estruturados como
o Dialética das Consciências. Todavia, a quantidade de lampejos e de aberturas ali
[143]
presentes para a questão do pensamento são muitas. Vicente irá trabalhar muito na
chave de Heidegger, Max Scheler, Schelling e do poeta Hölderlin: entre as noções do
ser e do sagrado, da finitude e da dimensão transcendente. Nesta fase, irá enfatizar
cada vez mais o mito, a arte e a poesia. Para ele, o mito não é um ornamento, não é
a mitologia dos povos arcaicos propriamente ditos, não é um epos literário, não é
um princípio ornamental e nem estético – o mito é um principio de inteligibilidade
do mundo, ou seja, uma espécie de raiz de onde brotam todas as representações, é
o fundamento ontológico do real de onde brotam todas as configurações. Para
Vicente, o mito é o radical, a raiz que uniria todas as perspectivas e cosmovisões, e
mesmo a ciência dependeria da Mitologia, pelo menos como o Vicente a
compreende.
Por que a preferência de Vicente pelo ensaio como estilo literário para
exprimir sua filosofia?
Uma das virtudes do Vicente é que ele é um pensador muito sugestivo, e ele é breve.
Nós percebemos uma quantidade muito grande de leituras, mas as conexões que ele
estabelece com as leituras não fica evidente em todo encadeamento lógico que
haveria para se chegar de A até Z. Há uma tendência para condensar. O próprio
gênero do ensaio é um gênero em aberto, um gênero inacabado. Essa é a grande
virtude do ensaio – não é exaustivo e também não é um tratado, ou seja, você não
vai documentar tudo de existente, não vai expor passo a passo, não é demonstrativo.
Acredito que foi essa a razão de sua escolha.
[145]
XV - Biografia da “Enciclopedia Filosofica”- Centro di Studi
Filosofici di Gallarate. Firenze, G.C. Sansoni Editore, 1969.
SANTOS, Mário Ferreira dos – Filosofo brasiliano, n.a Tietê (San Paulo) da
famiglia portoghese il 3 genn.1907, m. ivi l'11 apr. 1968.
Fece gli studi secondari nel collegio Gonzaga di Pelotas (Rio Grande do Sul) e si lecenziò indiritto
e scienze sociali nell'Università di Porto Alegre. Dopo breve periodo di avvocatura e
insegnamento, si ritirò a vida privata, dedicandosi esclusivamente allo studio della filosofia e
scienze connesse. Fondò a San Paolo due case editrici per la divulgzione delle proprie opere (Ed.
Logos ed Ed. Matese).
La sintesi filosofica del F. dos S. è ad un tempo tradizionale e personale. Utilizzando le più recenti
scoperte intorno a Pitagora, fatte specialmente dall'Associazione internazionale dei Pitagorici
sotto la direzione del dott. Sakellariou, dell'Università di Atene, tenta una conciliazione fra la
pitagorica Mathesis Megiste e la sapienza infusa di s. Tommaso, como èpresentata specialmente nel
commentario del De hebdomadibus di Boezio. Essa si otterrebbe, secondo lo stesso Aquinate, per
mezzo di una “cointuizione sapienziale” e di un certo “istinto divino”. In questo M. F. dos S. fa
consistere la filosofia come scienza, o meglio super-scienzae sapienza dei principi in quanto principi.
Essa è concreta, cioè ci fa conoscere la realtà stessa dellecose nelle loro intime radici e non solo
problematica e probabile. Essa potrà gettare un pontetra la metafisica e la religione cristiana
rivelata, e potrebbe costituire un nuovo metodo di apologetica e catechesi specialmente adatto
algi ambienti colti di oggi. Raccogliendo in un sintesi più profonda gli elementi di convergenza
dei maggiori filosofi, da Plitagora, Platone, Aristotele e s. Tommaso, Scoto e Suárez, e
interpretando com maggior oggettività, alla luce delle contingenze storiche del pensiero, i punti
di divergenza, F. dos S. elabora un sistema alquale, in omaggio a Pitagora e per il metodo dialettico
adottato, há dato il nome di Matese .Adesso há dedicato una serie di opere, già pronte e in corso di
pubblicazione. Comprenderà 15 voll., fra i quali: Sabedoria dos Princípios, Sabedoria da Unidade, Sabedoria
do Ser e do Nada, Sabedoria das Tensões, Sabedoria das Leis Eternas, ecc.
[146]
Apostolo indefeso e solitario della “sapienza” nel senso tradizionale antico, M. F. dos S. si è
sforzato di formulare una filosofia che, rimanendo sempre aperta a nuovi problemi, fosse alto
stesso tempo, di nome e di fatto, “perenne “ ed “ecumenica”.
C.Beraldo
Tradução
SANTOS, Mário Ferreira dos – Filósofo brasileiro, n. em Tietê (São Paulo), de família
portuguesa, aos 3 de janeiro de 1907, fal. Aos 11 de abril de 1968. Fez seus estudos
secundários no colégio Gonzaga de Pelotas (Rio Grande do Sul) e licenciou-se em
direito e ciências sociaisna Universidade de Porto Alegre. Após ter exercido, por breve
período advocacia e o ensino, retirou-se a vida privada, dedicando-se exclusivamente
ao estudo da filosofia e das ciências conexas com a mesma. Fundou em São Paulo duas
casas editoras, para a divulgação das suasobras (Ed. Logos e Ed. Matese). Escritor e
pensador extraordinariamente fecundo publicou em menos de quinze anos, uma
coleção com o título de “Enciclopédia de Ciências Filosóficas e Sociais” que abrange
45 volumes, em parte com caráter teorético, em parte histórico-críticos. Os mais
importantes são: Tratado de Simbólica (5 ed.),Filosofia da Crise (4 ed.), Filosofia Concreta, 3 vols.
(5 ed.), Filosofia Concreta dos Valores (3 ed.). Sociologia Fundamental e Ética Fundamental (3
ed.), Pitágoras e o Tema do Número (3 d.), Aristóteles e as Mutações (3 ed.),O Um e o Múltiplo
emPlatão (3 ed.). Métodos Lógicos e Dialéticos, 3 vols. (5 ed.), Dicionário de Filosofia e Ciências
Culturais,4 vols. (5 ed.) etc.
[147]
XVI -
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XVII - POR QUE RELER MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS
HOJE?
1. INTRODUÇÃO
Sentindo restrito aquele círculo cultural, transferiu-se para São Paulo, em 1944, a fim
de publicar seus estudos.
[168]
3. O QUE ELE DISSE DE SI MESMO
Que filósofo “sui generis” foi este que tinha uma vida intelectual livre e independente,
que fugia da vida política e das rodas literárias, e viveu exclusivamente de sua
advocacia, do magistério particular e como empresário editorial?
“Nunca ocupei, escreveu ele, nenhum cargo em nenhuma escola, por princípio.
Deliberei, desde os primeiros anos, tomar uma atitude que consiste em nunca
disputar cargos que podem ser ocupados por outros. Sempre decidi criar o meu
próprio cargo, a minha própria posição e situação, sem ter de ocupar o lugar que
possa caber a outro... Eis porque não disputo, nunca disputei nem disputarei qualquer
posição possa que ser ocupada por quem quer que seja.” (8)
Com seu trabalho demonstrou ser possível escrever filosofia para o grande público,
principalmente o brasileiro, enfrentando o preconceito sobre obras que não fossem
estrangeiras, contra o que sempre se bateu, procurando afirmar nossa independência
e capacidade para desenvolvimento de uma inteligência filosófica nacional. (9)
Entendeu que “somos um povo apto para uma Filosofia de caráter ecumênico, uma
Filosofia que corresponda ao verdadeiro sentido com que foi criada desde o início”, a
posição pitagórica, de ser “amante da sabedoria (sophia), da suprema Sabedoria, que
cointuimos com a própria Divindade. Este afã de alcançá-la, os esforços para atingi-
la, os caminhos que percorremos para obter essa suprema instrução (daí chamá-la de
‘Mathesis Megiste’ , que é a suprema instrução), todo esse afanar é propriamente a
Filosofia”. (10)
Essa foi sua grande luta, como disse: “não podemos permanecer na situação de ser
um povo que recebe todas as idéias vindas de todas as partes, que não possa
encontrar um caminho para si mesmo; temos de criar este caminho... Sem esta visão
positiva e concreta da Filosofia não será possível dar solução aos inúmeros problemas
vitais brasileiros da atualidade, porque a heterogeneidade de idéias e posições facilita
a de soluções, das quais muitas não são adequadas às necessidades do Brasil.” (11)
Concebia o mundo segundo uma filosofia que pretende não separar o homem das
realidades que ele abstrai (pela “via abstractiva” do filosofar) , mas devolvê-lo à
realidade que o cerca e à qual se integra (pela “via concretiva”).
[169]
a. “Alguma coisa há”
Respondendo, por exemplo, a pergunta heideggeriana: “Por que antes o ser do que o
nada?”, ensina: O porque não procede pois se em vez do ser fosse o nada, não haveria
por que, pois o nada não teria uma razão de ser em si mesmo. Há o ser e este não tem
porque. Caberia a colocação de um por que, de um para que, de um qual a razão, de
qual o motivo, se houvesse um antes do ser que pudesse ser interrogado. Mas o ser
infinito é eterno, e não cabe perguntar por um antes, porque não há um antes. A
pergunta é descabida de positividade; é uma pseudo-pergunta.”
Em outra tese o mestre filósofo demonstra que “... como a verdadeira e absoluta
ciência de todo o ser já está contido no próprio ser, há de haver, indubitavelmente,
um caminho mais hábil para ser alcançado pelo homem que outros. Se uns são mais
hábeis que outros, há de haver um que será o mais hábil.”
Revela que “em todos os tempos se considerou que o ponto de partida deve ser um
ponto arquimédico, apodítico, de validez universal. Propusemos um que é de validez
universal (“alguma coisa há”), sobre o qual não pode pairar nenhuma dúvida séria,
pois ultrapassa até a esquemática humana. Conseqüentemente, a análise dessa
[170]
proposição apodítica revela-se como um caminho hábil. E como não conhecemos
outro melhor, propomo-lo como o mais hábil até prova em contrário”.
d. Filosofar é ação
Nessa original obra, que é uma síntese do seu pensamento, Mário Ferreira dos Santos
em sua última tese encerra toda a grandiosidade de seu pensar, e revela os mais altos
anseios espirituais do filósofo: “A Filosofia é ação; é o afanar-se para alcançar a
‘Mathesis suprema’. Se essa é ou não alcançável pelo homem, este, como um
viandante (homo viator), deve buscá-la sempre, até quando lhe paire a dúvida, de
certo modo bem fundada, de que ela não lhe está totalmente ao alcance. Esse afanar-
se acompanhará sempre o homem, e estabelecido um ponto sólido de esteio, devemos
esperar por melhores frutos”. (15)
Para o filósofo patrício, a sociologia e uma ciência ética, pois não apenas descreve as
relações humanas mas também o dever-ser dessas relações, e, por isso, a questão
social é tratada eticamente em sua obra Sociologia Fundamental e Ética Fundamental.
Distinguindo a Moral como o estudo dos costumes, do variante e das relações
humanas, e a Ética como revelação filosófica das normas invariantes, eternas, que
informam o dever-ser do homem, aponta a confusão provocada por “todo
abstractismo moderno, que visualiza o mundo ou do ângulo físico-químico ou do
biológico, como procedem materialistas mecaniscistas e os biologistas, ou então do
ângulo psicológico como psicologistas, ou do ângulo ecológico como ecologistas, ou
do ângulo historico-social como historicistas, ou do ângulo econômico como
materialistas históricos, etc., todos eles descuraram do seu verdadeiro sentido, pois
confundiram a Ética com a Moral, emprestando àquela as características variantes
que esta última apresenta”. (16)
6. MÁRIO E O ATEÍSMO
Verdadeiro mestre, sempre revelou uma preocupação especial em relação aos jovens,
ora advertindo-os, ora exortando-os , ora os conclamando para tomadas de posições
enérgicas sobretudo contra os negativismo oferecidos por filosofias hodiernas.
Via a juventude brasileira como o mais grave de nossos problemas, por formarem os
jovens a quase totalidade do país; e lançando verdadeiro programa educacional, dizia:
“devemos erguer as massas populares até a Filosofia, através de um desenvolvimento
da cultura nacional, que tenda à Filosofia Positiva e não a Filosofia negativista e
niilista que penetra em nossas escolas. (17)
Por isso, enfatizou, “devemos orientar a juventude para ser construtiva. que receba
uma sabedoria clara. positiva, concreta, de modo a imunizá-la contra as tendências
[171]
niilistas”. (18)
Em suas aulas, sobretudo, podia se sentir toda a grandeza espiritual do educador que
era; em uma delas, dissertando sobre este tema, concluiu, apolíneo: “Eu conclamo a
juventude de hoje que não se torne aquela juventude que perseguiu sempre os
grandes homens, aquela juventude que perseguiu Sócrates, aquela juventude que
perseguiu os pitagóricos, aquela juventude que levou à condenação, à morte a
Anaxágoras, mas sim aquela juventude que apoiou Platão, que apoiou Aristóteles no
Liceu, que apoiou Pitágoras no seu Instituto, aquela juventude estudiosa, aquela
juventude que dedica o melhor de sua vida para formar o seu conhecimento, aquela
juventude que quer ser capaz de assumir as rédeas do amanhã, e não a juventude que
quer apenas ser uma massa de manobras de políticos demagógicos e mal-
intencionados, uma juventude de agitação, mas sim uma juventude construtora, uma
juventude realizadora, uma juventude que lance para a história da humanidade os
maiores nomes e os maiores vultos...” (19)
c. A crise moderna
Aprofundando esse assunto, Mário Ferreira dos Santos apontou para a perplexidade
do homem moderno em todos os campos da existência, na história, na economia, na
religião, na estética, na filosofia, e sobretudo a do especialista, que denomina “crise
analítica”, indicando a necessidade da concreção, superando velhas ideologias, que
geraram as violências que hoje assistimos.
Falando em tom apostolar, candente e convocativo, exclama: “Como não haver ‘crisis’
se cada vez nos separamos mais?”, “não separamos em vez de unir?”, “que fazem
nossos ‘especialistas’, senão separarem-se, abstrairem-se na ‘espécie’ no que
aprofunda a ‘crisis’?”
E adverte: “nossa inteligência, em vez de unir, incluir, ela separa, desune, exclui.
Seccionamos, sectarizamos, e queremos totalizar o todo, homogeneizando-o ao
heterogêneo que separamos. Eis aí a ‘crisis’ agravada por nós.(20).
Por tais intuições, denunciou também em seus livros Origem dos Grandes Erros
Filosóficos e Erros na Filosofia da Natureza, as velhas teorias sempre refutadas e que
ressurgem como novidades, multiplicando-se, gerando atitudes e firmando posições
que levaram o homem a profundos conflitos.
Ali admoesta “os bem intencionados para que não sejam vitimas de tais erros, para
que possam compreender porque a perplexidade avassala o homem moderno,
[172]
entendendo, então, por que tais erros se repetem e conquistam adeptos. É mister
fazer essa obra de denúncia, porque não é mais possível deixar que tantos males se
repitam e se multipliquem”. (21)
<
Aí ele afirma: “O mal só pode ter uma causa: o bem. Uma causa por necessidade, tem
que ser e ter o ser; e ter o ser é bem; conseqüentemente, é o bem, mas um bem
distintivo do bem do sujeito, no qual imediatamente se encontra tal privação. Mas a
causa do mal não pode ser ‘eficiente’ e sim ‘deficiente’, pois o mal, em si, não é ser,
nem efeito, mas defeito, falta de ser. Logo, Deus, que é indefectível, não é diretamente
causa do mal, nem eficiente, nem deficiente.”(22)
Continua analisando que “também não é causa do mal moral e de nenhum modo, nem
direta nem indiretamente, porque a liberdade dada ao homem permite-lhe não pecar
e, se peca, o faz por sua vontade. O mal físico pode ordenar-se e querer-se por um bem
maior, e assim o quer e o permite Deus. Mas um mal moral não admite nenhuma
compensação que o justifique; por isso, conclui Tomás de Aquino que Deus não pode
querê-lo de modo algum. Deus tira maiores bens dos males; por isso, os tolera. O
defeituoso provém do defectível; ora, Deus não é defeituoso; logo, a causa do mal vem
das causas deficientes, que são as causas segundas de onde procede o mal”. (25)
[173]
7. O QUE DIZER DESTE PENSADOR, HOJE
Mário Ferreira dos Santos faleceu a 11 de Outubro de 1968, após longa enfermidade
cardíaca. Quase uma década e meia se passaram; e as centenas de obras que publicou,
em milhões de exemplares, certamente não se perderam.
Há de estar latente, a todos que com ele privaram, como nós em seus círculos
particulares de estudo, ou nas concorridas sessões culturaIs do Centro de Oratória
“Rui Barbosa” (CORB), de São Paulo, ou mesmo em trabalhos para a Editora Logos
(26), a vivacidade, a lhaneza no trato, a atenção pessoal que dedicava aos problemas
que lhe eram lançados.
Foi um pensador completo, que procurou nada rejeitar em seus estudos e pesquisas,
mas apenas refutar o que não fosse positivo, e não levasse o Homem a conhecer-se
em totalidade.
Por isso, e nesse sentido, foi um gnoseólogo humanizante, de pensamento total, que
nada exclui do homem ou em desvalorização deste.
A extrema fecundidade de trabalho de Mário Ferreira dos Santos legou-nos uma obra
filosófica, e como tal não desapareceu dentre os estudiosos.
8. CONCLUSÕES
[174]
Restam, ainda, dezenas de obras inéditas (29), que o público atual mereceria
conhecer, não só para memória desse extraordinário pensador brasileiro, mas
também para o coroamento de sua extensa obra, produzida em momentos de sua
maior e melhor intuição filosófica.
Relegada progressivamente a planos inferiores na cultura nacional, urge resgatar a
Filosofia Humanizante, centrada na realidade do Ser Supremo.
Bem por isso concluiu sua autobiografia apontando para a reconciliação da Filosofia
com a religião cristã, como Filosofia Superior capaz de unir os homens e faze-los se
compreenderem, pois para ele Cristo representa tudo quanto há de mais elevado, é o
homem enquanto Vontade, Entendimento e Amor, correspondente à concepção
católica das Três Pessoas da Trindade (31).
9. BIBLIOGRAFIA CITADA
1. SANTOS, Mário Ferreira dos. Meu Filosofar Positivo e Concreto. In. Rumos da
Filosofia Atual no Brasil. Organizado por LADUSANS, Pe Stanislaus, S.J., São Paulo,
Loyola, 1976, lº Vol., pp.407-427.
2. Vontade de Potência, Ed. Globo, 1945; Além do Bem e do Mal, Ed. Sagitário, 1946;
Aurora, Edit. Sagitário, 1947; Assim Falava Zaratrustra, Edit. Logos, 1954.
3. Edit. Flama, 1945.
4. Edit. Globo.
5. “A Fisiologia do Casamento”.
6. Edit. Sagitário, 1946.
7. Edit. Flama, 1945.
8. Rumos, p.410.
9. Idem, p.409; Filosofia Concreta, S.P, Logos, 1957, pp.11-12.
10. Idem, p.415.
11. Idem, p.416.
12. Filosofia Concreta, Tese 251, p.277.
13. Idem, Tese 253, p.281.
14. Idem, Tese 257, p.283.
15. Idem, Tese 258, p.284.
16. São Paulo, Edir. Logos, 1957, 1ª ed., p.12.
17. Rumos, p.416.
18. Idem, p.417.
19. Aula gravada em Agosto de 1965, inédita; dos arquivos do Conpefil
20. Filosofia da Crise. São Paulo, Logos, 1956, p.14.
21. Edit. Matese, 1965, p.16.
[175]
22. Edit. Logos, 1963, 5ª ed., p. 245.
23. Idem, p.246.
24. Idem, p.249.
25. Idem, p.250.
26. SOUZA, Carlos Aurélio Mota de. Antologia de Famosos Discursos Brasileiros., 1ª
serie, 1ª ed, 1957.
27. Filosofia e Cosmovisão; Convite à Filosofia; Convite à Psicologia Prática; Convite
à Arte, etc.
28. Rumos, p.410.
29. A Sabedoria das Leis; A Sabedoria da Dialética Concreta; A Sabedoria dos
Esquemas (Tratado de Esquematologia); A Sabedoria das Tensões (Teoria Geral das
Tensões); Cristianismo, religião do Homem, Psicologia; Brasil: um país sem
esperança? Brasil: um país de exceção. Além das traduções de As Enêadas de Plotino,
Páginas Sublimes de São Boaventura; De Primo Princípio de Duns Scott; As Três
Críticas de Kant; Interpretação do Apocalipse de São João; Poemas de Lao-Tsé do Tau
Te King; Versos Áureos de Pitágoras, e Opúsculos Famosos de São Tomás de Aquino;
algumas destas obras restaram inacabadas.
30. Teoria do Conhecimento. São Paulo, Logos, p.11.
31. Rumos, p. 427.
Autor(es)
Carlos Aurélio Mota de Souza
[176]
[177]
2- Os 5 Pontos para o Estudo da Obra do
Mário Ferreira dos Santos
1. Lista dos Livros:
[178]
Lista Organizada e Atualizada das Obras do Mário Ferreira
dos Santos, por suas filhas Nadiejda Santos Nunes Galvão e
Yolanda Lhullier dos Santos! Série Completa!
(Primeira Série)
III Psicologia. São Paulo: Logos, 1953 (5.ec., São Paulo: Logos, 1963).
VII Filosofia da Crise. São Paulo: Logos, 1956 (5.ed., São Paulo:
Logos, 1964).
(Segunda Série)
(A) Publicados
XI Filosofia Concreta dos Valores. São Paulo: Logos, 1960 (3.ed., São
Paulo: Logos, 1964).
[179]
XII Sociologia Fundamental e Ética Fundamental São Paulo: Logos,
1957 (3.ed., São Paulo: Logos, 1957 (3.e., São Paulo: Logos, 1964).
XX Análise de Temas Sociais. São Paulo: Logos, 1962, 3v. (2.ed., São
Paulo: Logos, 1964).
XXI O Problema Social. São Paulo: Logos, 1964 (2.ed., São Paulo:
Logos, 1064).
[180]
Matese, 1965.
(B) Inéditos
[181]
(Terceira Série)
(A) Publicados
B) Inéditos
II. Curso de Oratória e Retórica. São Paulo: Logos, 1953 (12.ed., São
Paulo: Logos)
IV. Assim Falava Zaratustra. São Paulo: Logos, 1954 (3.ed., São Paulo:
Logos).
VI. Práticas de Oratória. São Paulo: Logos, 1957 (5.ed., São Paulo:
Logos).
[182]
VII. Curso de Integração Pessoal. São Paulo: Logos, 1954 (6.ed., São
Paulo: Logos).
IX. Páginas Várias. São Paulo: Logos, 1960 (10.ed., São Paulo: Logos).
X. Assim Deus Falou aos Homens. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São
Paulo: Logos). (coleção minimax)
XI. Vida não é Argumento. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São Paulo:
Logos). (minimax)
XII. A Casa das Paredes Geladas. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São
Paulo: Logos). (minimax)
XIII. Escutai em Silêncio. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São Paulo:
Logos). (minimax)
XV. A Arte e a Vida. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São Paulo:
Logos). (minimax)
XVI. A luta dos Contrários. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São Paulo:
Logos). (minimax)
XVII. Certas Sutilezas Humanas. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São
Paulo: Logos). (minimax)
XVIII. Convite à Estética. São Paulo: Logos, 1961 (6.ed.., São Paulo:
Logos).
XX. Convite à Filosofia. São Paulo: Logos, 1961 (6.ed., São Paulo:
Logos).
[183]
XXII. Invasão Vertical dos Bárbaros. São Paulo: Matese, 1967
Traduções:
[184]
X. Saudação ao mundo - Walt Whitman (tradução)
[185]
2. LISTA DOS ÁUDIOS
[186]
14. Da Abstração e Metafísica
15. Exemplos de Filosofias nos Diversos Períodos da História
16. A Construção e Destruição dos Ciclos Culturais
17. O Fundamento do Ser e a Causa Final
18. Palestra no Centro de Conferência Cultural (Completa)
19. Líder -Hitler
20. Sobre o Infinito
21. Estudos sobre os Pensamentos
22. Sobre a Literatura Hindu (Aula Completa)
Aula 1
Aula 2
Aula 3
23. Filósofos Portugueses
24. Filosofia Especulativa e Filosofia Prática
25. Respostas sobre a Filosofia Especulativa e a Filosofia Prática
26. O Pitagorismo e a Época em que Vivemos
27. Tema Teológico Cristão em face do Pitagorismo
28. Sobre a Psicologia
Parte 1
Parte 3 (Palestra sobre Unidade do Saber)
Parte 4 (Psicologia e Cristianismo)
Palestra sobre Psicologia (Parte 3)
Palestra sobre Psicologia (Parte 3 - Continuação)
Palestra sobre Psicologia (Parte 4)
Palestra sobre Psicologia (Parte 4 - Continuação)
Palestra Sobre Psicologia (Parte 10)
Palestra Sobre Psicologia (Parte 11)
Palestra Sobre Psicologia (Parte 12)
Psicologia - A Vontade Humana (Parte 1)
Psicologia - A Vontade Humana (Parte 2)
29. Sobre a Eternidade
30. Economia - (Aula Completa)
Aula 1
Aula 2
Aula 3
Aula 4
Aula 5
Aula 6
Aula 7
Aula 8
[187]
Aula 9
Aula 10
Aula 11
Aula 12
31. Filosofia Concreta (Aula Completa)
1. Filosofia Concreta.
2. Mitos fundamentais do pensamento grego.
3. Anarquismo e filosofia concreta.
4. Neopositivismo e filosofia concreta.
5. Infinito.
6. Sobre o ser o nada.
32. Lógica Simbólica (Aula Completa)
1. Filosofia Antiga e Simbólica
2. Simbólica e Antropologia
3. Simbólica e Religião
4. Simbólica e Ordem Religiosa
5. Interpretação Simbólica
6. Natureza dos Símbolos
7. Signos e Símbolos
8. Simbólica e Interpretação 1
9. Simbólica e Interpretação 2
33. Sobre o Verdadeiro Cristianismo
34. Respostas aos Alunos
1. O Eterno Retorno
2. A Eucaristia
3. A Teosofia
4. O Problema da Magia e o Problema de Certas Práticas
35. Sobre São Boaventura
36. Sobre a Verdade
37. Sobre o Ceticismo
38. Juventude, Justiça, Humildade e Cristianismo
39. O Significado da Lógica
40. Sobre a Axiologia das Ciências
41. Palestra Sobre a Analogia do Ser
42. Temas Vários
Parte 1
Parte 2
[188]
43. Temas Brasileiros e Filosofia
Parte 1
Parte 2
44. Sobre o Anarquismo
1. Anarquismo e a sua Atualidade
2. Perguntas sobre o Anarquismo
45. Sobre as Ideias Eternas
46. Os Números e as Leis Eternas
47. Sobre a Cibernetica!
48. O Papel da Filosofia e da Ciência
49. Seminário Medianeira
Aula 1
Aula 2
Aula 3
Aula 4
50. O Pecado Original
51. O Mito de Caim
52. Livros Sagrados
53. Interpretação do Apocalipse de São João
54. Conferência - Teilhard de Chardin e a Filosofia Atual
55. Encontros Filosóficos
Encontro 1
Encontro 2
Encontro 3
Encontro 4 (Respostas sobre a Filosofia Especulativa e a Filosofia
Prática)
56. Aulas sobre a Dialética
Aula de Dialética ( Aula 1ª)
Aula de Dialética Concreta (Aula 4ª)
Aula de Dialética Concreta (Aula 6ª)
Aula de Dialética Concreta (Aula 7ª)
Aula de Dialética Concreta (Aula 8ª)
Aula de Dialética Concreta da Sociologia (Aula 1ª)
Aula de Dialética Concreta da Sociologia (Aula 2ª)
Aula de Dialética Concreta da Sociologia (Regravações da Aula
1ª)
Aula de Dialética Concreta da Sociologia (Regravações da Aula
2ª)
Aula de Dialética Concreta na Faculdade São Bento
Aula de Dialética na Faculdade N. S. Medianeira (Parte 1)
[189]
Aula de Dialética na Faculdade N. S. Medianeira (Parte 2)
57. São Boa-Ventura e a Mathesis
58. Sobre São Tomás de Aquino
São Tomas de Aquino - Concepção de Liberdade
São Tomás de Aquino e a Eternidade
São Tomás de Aquino e a Sabedoria - Conferência
São Tomás de Aquino e As Operações
59. Scot e Aristóteles em face da Mathese
Aula 1
Aula 2
60. A Mathese em Uráburu e Suarez
61. Matheses
Aula 72
Aula 73
Aula 74
Aula 75
Aula 76
Aula 77
Aula 78
Aula 79
Aula 80
Aula 81
Aula 82
Aula 83
Aula 84
Aula 85
Aula 86
Aula 87
Aula 88
Aula 89
Aula 90
Aula 91
Aula 93
Aula 94
Aula 95
Aula 96
Aula 97
Aula 98
Aula 99
Aula 100
Aula 101
[190]
Aula 102
Aula 103
Aula 104
Aula 107
Aula 108
Aula 109
Aula 110
Aula 110 (Continuação)
Aula 111
Aula 112
[191]
3. JORNAIS E REVISTAS COM TEXTOS
SOBRE O MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS
1. Jury.
Diário Popular de 14 de novembro de 1928, em que está registrada a estréia de
Mário Ferreira dos Santos como advogado.
[192]
*Segundo Período da Vida do Mário
Em São Paulo
(Fontes: Biblioteca Nacional e Biblioteca da Unesp)
[193]
9. Delbar, 1968 , Abril e Maio, Ano 2, Nºrs 14 e 15. (Biblioteca
Digital Unesp)
[194]
17. A Cruz - Órgão da Paroquia de S. João Baptista (RJ) Edição
de 1954. - Jornal publicado entre 1919 até 1923. (Parte
2). (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)
[195]
22. Diário de Notícias (RJ) Edição de 1953 - Jornal publicado
entre 1950 até 1959 (Parte 3) (Biblioteca Digital da Biblioteca
Nacional)
[196]
30. O DIA (PR) – Edição de 1958 - Jornal publicado entre 1923
até 1961. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)
[197]
37. Tribuna da Imprensa (RJ) Edição de 2003 - Jornal publicado
entre 2000 até 2008. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)
[198]
4. Trabalhos sobre Mário Ferreira dos Santos
Primeiro da Lista: Mário Ferreira dos Santos: Guia para o
estudo de sua Obra – Olavo de Carvalho, Vide Editorial (2020)
3. Carlos Aurélio Mota de Souza - Por que reler Mário Ferreira dos Santos hoje?
[199]
onde foram registrados os depoimentos de 27 autores e pensadores que traçam um
panorama geral dos caminhos da Filosofia no Brasil da época.
17. Introdução ao Livro A Sabedoria das Leis Eternas - Olavo de Carvalho. (20
Páginas Frente e Verso a Introdução)
[200]
28. Ramus, Gustavo - «Anarquismo cristão e sua influência no Brasil» - Há
citações sobre o Mário Ferreira dos Santos
29. Monografia de Licenciatura em Filosofia - Orlando Joaquim Inácio - A
Objetividade Da Verdade Em Santo Tomás De Aquino (2015) Várias Citações
Sobre Mário Ferreira dos Santos.
35. Artigo - Mário Ferreira dos Santos leitor de Nietzsche, Roger Moura dos
Santos e Edmilson Alves de Azevêdo.
36. Prefácio (20 Páginas, frente e Verso) de Ricardo Rizek da Obra ‘’Pitágoras e
o Tema dos Números’’ (Edição de 2000)
37. A Educação Segundo Paulo Freire: Uma Primeira Análise Filosófica José
Junio Souza da Costa – Cita o Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais do
Mário Ferreira dos Santos.
[201]
Silva Lima (2015)
[202]
“Tratado de Simbólica” de Mário Ferreira dos Santos, subsidiada por textos
diversos, desde o conceito de participação em Platão até as abordagens de Jean
Borella e de Carl G. Jung. (Emenda de Disciplina)
59. Mário Ferreira dos Santos: a obra do maior filósofo brasileiro de todos os
tempos - Por Dante Henrique Mantovani (Doutor em Estudos da Linguagem pela
Universidade Estadual de Londrina)
[203]
61. Curso De Formação De Diplomatas 2019 – Bibliografias. Inclui O Mário
Ferreira Como Um Autor Brasileiro Importantíssimo - Controladoria-Geral Da
União
62. A Formação Sensível Dos Docentes Por Meio Da Formação Estética Dos
Coordenadores Pedagógicos - Andrey Felipe Cé Soares (Artigo De 2013). Há
Citações Sobre O Mário Ferreira Dos Santos.
[204]
71. Conceito de Inconstitucionalidade Fundamento de uma teoria concreta do
controle de constitucionalidade - Paulo Serejo (Procurador do Distrito Federal e
Advogado) (Artigo de 2000). Há Citações sobre o Mário Ferreira dos Santos.
73. Parmênides: O Não Ser Como Contradição - Nicola Stefano Galgano. (2019)
Livro Com Citações Do Mário Ferreira Dos Santos.
74. A Gênese Niilista De João Gilberto Noll - Diego Gomes Do Valle – (Artigo
De 2019) Há Citação Sobre O Mário Ferreira Dos Santos.
79. A Fantasia Está Sendo Criada Nas Mídias - Pesquisa Apresentada No XVII
Congresso De Ciências Da Comunicação Na Região Sul – Curitiba - PR - 26 A
28 De Maio De 2016 - Adriano Luís FONSACA E Paula Ávila NUNES
82. Uma Teoria do Discurso Constitucional - Luiz Vergilio Dalla Rosa (2002)
[205]
83. Pizzo - História e Administração da Máfia - Fabiano Barraca . Há citação
Sobre o Mário Ferreira Dos Santos.
[206]
94. Dissertação de Mestrado - O Formalismo No Direito e a Ética Dos Valores:
Teoria Dos Valores Em Hans Kelsen E Max Scheler - Yuri Ikeda Fonseca (2018)
- Há várias citações sobre o Mário Ferreira Dos Santos
97. Redescobrindo O Filósofo Brasileiro Mário Ferreira Dos Santos: Uma Pontual
Abordagem Criminológico – Cultural - Eduardo Luiz Santos Cabette, Delegado
de Polícia (2014)
99. Artigo - Meditações acerca da canção Sobre Todas as Coisas de Edu Lobo &
Chico Buarque - Paulo José de Siqueira Tiné – (2017) - Há Citação Sobre o
Mário Ferreira Dos Santos
[207]
104. Artigo - As Sombras Do Inconcebível: Reflexões Sobre os Mundos
Possíveis Impossíveis Em Eco - Elisa Hoerlle – (2015) Há Citação Sobre o Mário
Ferreira Dos Santos
[208]
115. Mestrado Em História - Mais Fúria E Mais Titãs: Observações Sobre O Uso
Da Narrativa Mítica E Do Mito Do Herói A Partir Dos Filmes Fúria De Titãs
(1981-2010) - Tobias Dias Goulão – (2015) - Há Várias Citações Muito Boas
Sobre O Mário Ferreira Dos Santos
[209]
125. Artigo - A filosofia contemporânea da mente em perspectiva tomista -
Alberto Leopoldo Batista Neto (2017) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos
Santos *NA NOTA 80.
132. Artigo – Notas Sobre o Governo do Direito, Ética das Virtudes e Direitos
Humanos – Carlos Ignacio Massini Correas; Frederico Bonaldo. – (2016) - Há
Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos
[210]
135. Artigo - A Voz Do Povo É A Voz De Deus? O Mito Do Valor Axiológico
Da Democracia - Guilherme Dourado Aragão Sá Araujo – (2018) - Há Citação
Sobre o Mário Ferreira Dos Santos
138. Artigo - Série online como sala de aula no limiar do sensível - Alessandro
Flaviano de Souza; Andrea Ferraz Fernandez; Naiara Cristina Gonçalves Rocha
Passos. – (2020) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos
[211]
146. Doutorado em Comunicação e Semiótica – A comunicação como Jogo:
Sobre a dimensão lúdica como política da diversão programada em Vilém
Flusser. – Raphael Dall’ Anese Durante – (2013) - Há Citação Sobre o Mário
Ferreira Dos Santos
154. Artigo - Para uma filosofia da cultura: sobre as relações entre Cultura e
Éthōs (e/)qoj; h)/qoj), por intermédio da Bildung alemã e da Paidéia (paide/ia)
grega. - Emmanuel Victor Hugo Moraes – (2012) - Há Citação Sobre o Mário
Ferreira Dos Santos
[212]
156. Doutorado em Letras – Ficção de Formação na Era Audiovisual: Salinger e
Anderson & Wilson – André Corrêa Rollo – (2013) – Há uma citação muito boa
sobre o Mário Ferreira dos Santos
157. (Livro) Política Prática – Everton Maciel; Sergio Corrêa; Tiaraju Andreazza.
(Organizadores) - (2020) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos
[213]
166. Mestrado em Ensino de Física – O Conceito De Generalização a Partir de
um Olhar Dialético-Complexo sobre o Modelo de Perfil Conceitual – Felipe
Prado Pazello dos Santos – (2011) – Há uma citação muito boa sobre o Mário
Ferreira dos Santos.
[214]
Santos Silva – (2009) - Há várias Citações muito boas sobre o Mário Ferreira Dos
Santos
[215]
186. Artigo - João Cabral de Melo Neto: O lirismo de um “Poeta sem Alma -
Robson Deon; Marcos Hidemi de Lima. - Há várias citações sobre o Mário
Ferreira dos Santos.
[216]
197. Mestrado em Letras - “Lugar De Ser Feliz Não É Supermercado”: A
Modernidade Tardia Em Canções De Zeca Baleiro - Ricardo Costa Salvalaio –
(2018) - Há citações sobre o Mário Ferreira dos Santos
[217]
206. Artigo - Algumas considerações sobre o estudo da simbologia religiosa. -
Marcel Henrique Rodrigues – (2012) - Há várias citações muito boas sobre o
Mário Ferreira dos Santos
[218]
216. Artigo - Oikós: Topofilia, ancestralidade e ecossistema arquetípico - Prof.
Dr. Marcos Ferreira Santos – (2006) - Há Citação sobre o Mário Ferreira dos
Santos
218. (Livro) - A Crise Dogmática do Processo Penal - Prof. Dr. Dário José
Soares – (2016) – Livro baseado na tese de Doutorado do Autor - Há
inumeráveis citações sobre o Mário Ferreira e o autor dedica o seu doutorado
ao Mário e a vários outros brilhantes e excepcionais filósofos.
224. (Livro) Bioética - Hélio Angoti Neto - (2018) - Há citações sobre o Mário
Ferreira dos Santos.
225. (Livro) A Soberania do Destino: Uma Busca Pelo Sentido da Vida (2020)
Diogo Mateus Garmatz - Há inúmeras citações sobre o Mário Ferreira dos
Santos. O filósofo é citado quando o livro trata do cientificismo moderno, da
falsidade do evolucionismo, da existência da verdade absoluta, da estrutura da
realidade e também quando trata da existência de Deus.
[219]
226. (Tese de Doutorado em Letras) A RISADA É UM TRIUNFO DO
CÉREBRO
Aspectos cômicos, filosóficos e literários de El Chavo e El Chapulín - 2020 -
Wilson Filho Ribeiro de Almeida - Há citações sobre o Mário Ferreira dos
Santos
[220]
5- Lista das Fotos
[221]
2. Aqui ele está com uns 7 anos, talvez no Colégio Ginásio
Gonzaga, de Pelotas - RS.
O Aldo conseguiu aumentar essa foto do Mário em 8x, agora ela tem
968x1332. O Mário aqui está com uns 7 anos, talvez no Colégio Ginásio
Gonzaga, de Pelotas - RS. Agora dá para ver melhor o semblante dele. Só
pelo olhar dá para ver uma firmeza e tenacidade incomum, o que acabaria
sendo transformado em uma tempestade de livros, conferências e a
história de um guerreiro num campo de batalha!
[222]
3. O jovem Mário, primeiro de baixo para cima, em 1924, no
Colégio Ginásio Gonzaga. Ele está entre seus colegas: da Esquerda
para a Direita - Mário Ferreira dos Santos, João Alfredo Pitrez,
Procopio G. de Freitas e Pedro D. Carduz. Fotografia contida no
livro de Lembranças do Gymnasio Gonzaga - Pelotas, ano escolar
de 1924, turma do V ano. (Fonte: Elvis Amsterdã - A DIALÉCTICA-
ONTOLÓGICA DE MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS)
[223]
4. Legenda: Ao bom amigo Joaquim/ Com um abraço do
Mário'' (Dedicatória de Mário Ferreira dos Santos a seu
amigo Joaquim Monteiro da Cunha, escrita no verso da
foto de 29/01/1926)
Arquivo Pessoal de Joaquim Alfredo Lhullier da Cunha
(Fonte: Elvis Amsterdã - A DIALÉCTICA-ONTOLÓGICA
DE MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS)
[224]
5. Foto do Mário, essa é de 1928/29, aqui ele está na
chácara em Pelotas- RS, ao lado dele está Yolanda, sua
amada Mulher, e o menino é o irmão caçula dela. Eles se
casaram em 1929. O Mário nessa foto tem 22 anos!
(Fonte: Desconhecida)
[225]
6. Mário Ferreira e a sua Esposa Yolanda, na França. Foto
de 1954!! (Fonte: Facebook)
[226]
6.Nós Colorimos e melhoramos essa Foto com todo o
Carinho usando o Photoshop e Remini.
[227]
7. Uma foto na Carteira de Jornalista no Diário de
Notícias de Porto Alegre. (Fonte: Facebook)
[228]
9. Mário à esquerda, na década de 1930, fazendo
propaganda de sua empresa cinematográfica. (Fonte:
Diário Popular, por Luís Rubira. 24/07/2020)
[229]
11. Mário Ferreira dos Santos, sua esposa Yolanda Duro
Lhullier e as filhas Yolanda e Nadiejda na Avenida São
João - SP. Que linda foto, com mais de 50 anos!
(Fonte: Facebook)
[230]
Nós Colorimos e melhoramos essa Foto usando os
Programas: Photoshop; Remini; Recolourise;
[231]
12. Mário Ferreira no casamento de sua Filha em 1958!!
Quê linda Foto! (Fonte: Facebook)
[232]
Nós Colorimos e melhoramos essa Foto usando os
Programas: Photoshop; Remini; Colourise.
[233]
13. Mário Ferreira dos Santos, sua esposa Yolanda Duro
Lhullier e a sua netinha Cláudia! (Fonte: Facebook)
[234]
Nós Colorimos e melhoramos essa Foto usando os
Programas: Photoshop; Remini.
[235]
14. Mário, sua filha Yolanda e o seu netinho
Alberto na Chácara da Casa na Serra Negra – SP
[236]
Nós Colorimos e melhoramos essa Foto usando os
Programas: Photoshop; Remini.
[237]
15. Mário, sua filha Yolanda e o seu netinho Alberto na
Chácara da Casa na Serra Negra – SP (Fonte: Facebook)
[238]
16. Mário, sua filha Yolanda e o seu netinho Alberto na
Chácara da Casa na Serra Negra – SP (Fonte: Facebook)
[239]
17. Mário, sua filha Yolanda e o seu netinho Alberto
na Chácara da Casa na Serra Negra – SP (Fonte:
Facebook)
[240]
Nós Colorimos essa foto usando os programas:
Photoshop; Remini.
[241]
18. O Mário nessa Foto está na Chácara da Casa na Serra
Negra - SP, onde passava as Férias, descansando na
cadeira, mas sempre lendo e anotando algo!
O Mário era incansável! (Fonte: Facebook)
[242]
20. O Mário nessa foto está num encontro em
Família! (Fonte: Facebook)
[243]
22. Mário Ferreira dos Santos, sua esposa Yolanda
Duro Lhullier e a filha Yolanda, Não sabemos qual
o lugar dessa linda foto! (Fonte: Facebook)
[244]
23. Mário Ferreira e o seu netinho Alberto. Ele está
segurando um Cachimbo! (Fonte: Facebook)
[245]
24. Mário Ferreira no Batizado! Não Sabemos qual é o
nome do Bebezinho, parece que ele é o Padrinho! (Fonte:
Facebook)
[246]
25. Mário Ferreira dos Santos, sua esposa Yolanda
Duro Lhullier e sua filha Yolanda, na Esquerda.
Não sabemos os nomes das criancinhas!
[247]
26. Aqui o Mário está em seu escritório na Editora Logos,
não sabemos qual o nome do homem que aparece nessa
foto, se alguém souber, nos avise! (Fonte: Facebook)
[248]
27. Quem coloriu essa foto foi o Danilo Felix, é a melhor foto
colorida que eu já vi do Mário, o trabalho ficou fantástico,
Parabéns! Agora dá para ver a feição do Mário perfeito, e eu
vou te falar, o Mário tem um rosto de pessoa destemida, muito
valente e com uma profundidade no olhar inigualável!
[249]
28. Mais uma foto do Mário Ferreira!
(Fonte: Facebook)
[250]
29. Aqui o Mário está em seu escritório na Editora Logos
(Fonte: Humanismo pluridimensional, Loyola, 1974, v. 2, 1037 p.)
(Foto concedida por Gabriel Coelho Teixeira)
[251]
30. Mário Ferreira ao fundo na Editora Logos.
(Fonte Facebook)
[252]
31. Mário Ferreira na Editora Logos (Fonte: Contra Capa do
Livro ‘’Filosofias da Afirmação e da Negação’’, É Realizações)
[253]
32. Aqui o Mário está junto de amigos na Editora
Logos
[254]
34. Editora Logos
[255]
36. Editora Logos - Vários Funcionários
[256]
37. Editora Logos. Portifólio da Empresa do Mário!
[257]
38. Onde o Mário Ferreira dos Santos descansa?
(Foto de 2015)
[258]
Relíquia que achamos no Instagram:
Programa do Curso de Filosofia Geral do Prof. Mário Ferreira Dos Santos.
[259]
[260]
Dona Yolanda Lhullier dos Santos, uma das filhas do Mário Ferreira dos
Santos. Ela faleceu em 2013. Se não fosse por ela, por sua mãe e por sua irmã,
juntamente com toda a família Santos, e também com a ajuda preciosa e
incomparável do Olavo, hoje nós não teríamos nada do Mário Ferreira dos
Santos. Entre 1968 e 1983, ano em que o Olavo tomou conhecimento do
Mário, a Família do Mário antes e depois lutou muito para que a sua obra de
algum modo fosse cuidada, mesmo com muitas despesas com fechamento
de empresas, despensa de funcionários, transformar aqueles rolos enormes
de fitas em CDs e muito mais!
[261]
4- Futuro
O Sonho de uma nova Edição da Enciclopédia das Ciências
Filosóficas
A Enciclopédia das Ciências Filosóficas é uma unidade. Ela possui
uma lógica interna e não pode ser publicada separadamente.
De acordo com o estudo do Olavo de Carvalho sobre essa
monumental obra do Mário Ferreira dos Santos, podemos conhecer
como o Mário organizou e estruturou a sua obra Máxima, vejamos
no quadro abaixo:
[262]
O Quadro acima é explicado nessa exata relação dos títulos
dos Livros, logo abaixo:
1- Primeira Série
2- Segunda Série
Série Intermediária de estudos práticos dos conceitos estudados na
Primeira Série
(Numeração Livre)
(A) Publicados
[263]
Corrupção das Coisas Físicas, de Aristóteles).
XI O Problema Social.
[264]
XXIV Tao-Te-Ching,de Lao-Tsê (tradução e comentários). Original datilografado,
85p.
3 - Terceira Série
[265]
O nosso sonho um dia vai se tornar real: A Enciclopédia das Ciências
Filosóficas Completa, Editada e em Capa Dura. Assim é o sonho de todo mundo.
Temos vários exemplos de Enciclopédias e Coleções de Livros publicados
pelo mundo que são um verdadeiro ponto de inspiração e de partida para que a
obra do Mário seja publicada da maneira que se deve.
1 - 22 - Enciclopedia
23 - 26 - Dizionario della lingua
italiana
27 - 28 - Dizionario Inglese /
Italiana e Italiano / Inglese
29 - Atlante geografico
30 - Atlante storico
31 - 32 - Dizionario medico
33 - 35 - Storia dell'arte italiana
[266]
II - Storia Universale
Começando do Antigo Egito (vol.I) até a Segunda Guerra Mundial (vol. XXIV) e com a
adição de mais 5 vols. dedicado à história do mundo islâmico, China, Rússia, Estados
Unidos e Índia, reúne o que de melhor se produziu nos últimos anos pelas editoras
italianas e europeias.
O colar é indivisível.
Plano da obra:
[268]
4-ENCYCLOPEDIA SUMMA ARTIS
História Geral da Arte. Editado por Espasa Calpe. Perfeitamente conhecido em todo o
mundo. É composto por 47 volumes. Encadernado em capa dura e todos os volumes
com capa da mesma editora.
[269]
VI - The Encyclopedia of Religion
É uma enciclopédia internacional, em inglês, que apresenta as principais ideias,
práticas e personalidades da história das religiões humana desde o Paleolítico até o
período contemporâneo. A obra foi publicada pela editora americana Macmillan
Reference USA, que pertence ao grupo editorial Thomson-Gale, que por sua vez é
propriedade da Thomson Corporation. A primeira edição da Encyclopedia of Religion,
contendo 16 volumes, foi publicada em 1987 sob a coordenação de Mircea Eliade, um
cientista e escritor romeno, que organizou e liderou o programa de História das
Religiões na Universidade de Chicago.
[270]
VII -Quando é que teremos algo assim com as Obras do Mário Ferreira
dos Santos? Olha que Beleza de Edição!! Que Linda!! Que
profissionalismo! Saiu agora! Lançamento das Obras Completas do Pe.
Leonel Franca. S.J
[271]
VIII - Obra do Mário Ferreira dos Santos que está sendo editada
pela É-Realizações, comparativo entre a Enciclopédia Britânica e as
edições esculhambadas e sem unidade nenhum com o conteúdo
organizado nos 48 Volumes que o Mário publicou!
[272]
Não permitem o compartilhamento de um simples Áudio,
basta ver os inúmeros que foram removidos do Youtube e
dos arquivos em PDF que são difíceis de se encontrar na
Internet!
A História:
Prezado Laudelino,
Bom dia.
Confirmamos o recebimento de seu e-mail.
Informamos que a Editora É Realizações adquiriu os direitos autorais
patrimoniais da obra completa do autor MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS,
englobando todas as suas aulas.
Nossa editora, através do departamento jurídico, realiza o trabalho de buscar
eventuais disponibilizações das obras sem autorização e solicita sua imediata
retirada do ar quando as identifica.
Desta forma, informamos que não temos interesse na sua proposta de criação
do site e utilização de nosso domínio, pois temos projeto já elaborado para
criação do referido site e comercialização da obra.
Solicitamos, ainda, que não disponibilize as referidas aulas sob pena de
termos que notificá-lo para a imediata retirada por violação aos direitos
autorais.
Qualquer dúvida estamos à disposição.
O problema começou antes disso. Conforme uma anotação que fiz lá no grupo
do Mário, foi no dia 16 de junho de 2015 que o Facebook apagou a maioria
dos arquivos que a gente tinha lá no arquivo do grupo.
Acho que ela já tinha comprado bem antes disso (ali por volta de 2010). Mas
foi em 2015 que ela entrou em contato com o Facebook, fazendo a denúncia
por direitos autorais. Daí eu lembro que quem tinha colocado alguma obra do
Mário no grupo recebeu um e-mail do Facebook, pedindo pra tirar os
arquivos (sob ameaça de ser bloqueado, se não me engano). E acho que
também teve alguns arquivos que já foram apagados automaticamente, mas
não tenho certeza. ‘’
[273]
[274]