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1º Nível Poético ----> História – ‘’Mário Ferreira dos Santos: O Centurião de Legiões.’’
(Pintura da Capa:
Ely Cathedral, South Transept, por Joseph Mallord William Turner, 1775-1851)
Revista
Instituto Cultural
‘’Logos’’
2022
1ª EDição
‘’A nossa Revista é uma Unidade. O todo dá luz às partes e às partes ao todo.
Tudo faz parte de um conjunto ordenado e organizado, com o fim de tornar claro
a imensidão da obra e da admirável pessoa do nosso Professor e extraordinário
Filósofo Mário Ferreira dos Santos’’
(Editor)
Organizador:
Arthur Chagas Viana
Colaboradores:
Elvis Amsterdã Do Nascimento Pachêco; Gabriel Coelho Teixeira; Rodrigo Ulguim;
Rodrigo Gonçalves; Aldo dos Santos; Diego Ossami; Diego Araújo; Danilo Felix.
Observação:
Essa Revista é TOTALMENTE GRATUITA!
Continuamos sem dinheiro! Não temos nenhum para pagar o ISBN, para
custear a impressão, para contratar algum editor, investir no marketing ou para a
distribuição nas ‘’Livrarias Importantes’’, e achamos melhor assim mesmo, porque
se tivessemos algum dinheiro, talvez correriamos o risco de sermos tentados em
desejar lucrar acima do que é justo, dessa maneira, correndo o risco de acontecer o
que está havendo no tempo presente, isto é, o Mário ser tratado com descaso,
ninguém ter acesso aos seus Áudios ou à uma digna e honrosa edição de sua
Enciclopédia das Ciências Filosóficas e Sociais, obra de importância mundial!
Faça o que você quiser com essa Revista, só não a mostre para um Professor
Universitário. Ele vai correr e se esconder debaixo da caminha da mamãe, como já
vem treinando a muito tempo com a primeira e segunda edições dessa Revista!
Mostre para quem ame a Verdade! As Criancinhas, os velhinhos que conversam
nos bancos das praças jogando sinuca ou para as donas de casas que vivem
plantando uma florzinha.
Se você for rápido(a), entregue logo depressa essa revista para um recém
universitário(a), porque depois nós não podemos garantir que ele ou ela vá gostar
muito dessa nossa Revista!
A Universidade muda a alma das pessoas, e pelo que temos visto, não é para o
melhor!
No mais, todos nós do Instituto Cultural ’’Logos’’ esperamos que você leitor ou
leitora faça uma excelente leitura, que aprenda bastante, em um único material,
muitas coisas e também que guarde essa Revista para a Eternidade, porque tudo aqui
é muito importante e fundamental para futuros estudos!
Esperamos que essa 3ª Revista do ‘’Instituto Cultural Logos’’ seja um material
de referência para outros trabalhos sobre o Mário Ferreira dos Santos. Se surgir mais
conteúdo faremos a 4ª Revista, mas não prometemos nada, porque esse mundo
continua tão aleatório que é melhor tomar cuidado.
(BOA LEITURA!!!)
Dedicamos esta Revista à memória e legado do Prof. Olavo de Carvalho.
O maior filósofo e educador do Século XXI !
Se não fosse por ele nunca teríamos conhecido e nem compreendido o Prof. Mário!
R.I.P
29/04/1947 - 24/01/2022
8ª Lei
(‘’A Sabedoria das Leis Eternas’’, pág. 71, Mário Ferreira dos Santos)
O que é o Instituto Cultural Logos?
Esse versículo de Filipenses 4:8 resume o que pensamos:
"Além disso, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre,
tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é
de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável, eis o que deve ocupar vossos
pensamentos."
O ‘’Instituto Cultural Logos’’ foi criado pelo Mário Ferreira dos Santos
em 1947 e mantinha cursos orais e por correspondência, estes, englobados
sob o título de Cultura e Filosofia Geral.
II– O SEGUNDO trabalho é reunir todas as fotos do Mário e colocar num Site para
todo mundo ver raridades e a vida do Mário.
VII - O SÉTIMO trabalho é montar um congresso ''Mário Ferreira dos Santos'', com
palestras de vários estudiosos sobre os temas que o Mário desenvolveu, para darem
novos ares e irem mais longe daquilo que o Mário apenas mencionou.
XII - O DÉCIMO SEGUNDO trabalho é fazer um filme sobre o Mário Ferreira dos
Santos. Genial, espirituoso, extraordinário. Tentando mostrar como o Mário
passou a ser quem se tornou, a luta e tremendo esforço para publicar seus livros
e as maravilhas que aconteciam em sua imaginação, inteligência e pensamento.
O Que é preciso é de dezenas de pessoas
debruçadas sobre a obra do Mário.
(2) A feminização dos homens que começou muitas décadas atrás, a partir de
1924, quando Moscou recrutou todos os maiores neurocientistas da época para um
projeto apresentado aos ingênuos que não participassem do movimento comunista
internacional como um programa de PACIFICAÇÃO OCIDENTAL.
O propósito, disfarçado de "desenvolvimento infantil", foi implementado pela KGB,
a partir de 1934, inicialmente promovendo por várias conferências ao longo de toda a
costa leste americana, mas que teve a sua origem filosófica na Sociedade Fabiana, em
1884, e depois na Escola de Frankfurt, capitando todos os grandes Psicólogos,
Psicanalistas, Neurocientistas e Filósofos da Europa e Estados Unidos!
O elemento matricial no discurso simbólico inseminado nas massas é: SOLDADOS
(Forças militares e polícias) SÃO BURROS E MAUS, portanto, a sociedade deve
controlá-los, de modo que a execração pública, pela mídia, do maior herói americano
da segunda guerra, o General Patton, foi apenas o início.
No seu primeiro teste, a estratégia foi retirar gradualmente dos meninos as
brincadeiras de soldados, bem como também o uso de armas de brinquedo. Começando
na Alemanha e na França, e de forma acentuada, no período pós- Segunda Guerra.
Através das creches, a feminização dos meninos e a masculinização das meninas
tornou-se a norma ocidental e a forma de modelagem cognitiva-comportamental.
Retirando do convívio e cultura familiar, a filogenia das crianças ajusta-se para
serem cidadãos do futuro, e toda a efetividade do seu sistema cognitivo está
condicionada para as respostas correspondentes à assimilação do aprendizado de
pertencimento ao grupo. Isso trata-se simplesmente do maior e mais macabro projeto
de modelagem, domínio e controle psicológico jamais visto na história humana, cujas
figuras famosas, B.F Skinner e Kurt Lewin, atuaram na engenharia comportamental, e
Whilliam Reich, discípulo de Freud, no campo da revolução sexual; sendo estes os
responsáveis pelo sexo libertador, a recompensa pelo princípio do prazer; a
compensação que a cultura socialista Fabiana deu à virilidade masculina e à própria
constituição intrínseca da mulher, quer dizer, a ‘’modeladora’’, a ‘’matriz vetorial’’ de
que os grandes generais, heróis, arquitetos, matemáticos e engenheiros, desde o útero
até o primeiro leite materno, as primeiras brincadeiras até o início da vida social, se
formaram. Destrua a figura da mulher e terão homens fracos. Esse é o jogo!
Tudo isso para a destruição da humanidade. De modo que o que era um tema
revolucionário para os adolescentes, agora foi transferido para as crianças. Nunca foi
esclarecer o tema sexual, como anunciaram, sempre foi estimular. Freud, com a sua
‘’Teoria Sexual’’, e depois Reich, com a sua ‘’Revolução Sexual’’, estimularam no
Ocidente a mais grotesca degradação do ser humano, destruíram completamente a
imagem da ‘’sexualidade’’, que em todos os séculos sempre foi a união oculta dos
apaixonados, o ‘’mistério’’ que as ordens de todas as religiões chamam de o ‘’amor
escondido’’, a ‘’imagem do amado em segredo no coração’’, isto é, guardado no ‘’íntimo
da alma’’, que aponta para algo maior, transcendente: a união do ser com O Eterno!
Freud e Reich eram apenas o resultado da própria deformação circunstancial de
suas vidas, basta-se, para isso, ler a biografia de cada um para averiguar a destruição
familiar, resultando na deformidade psicológica que foram moldando-se!
A Nova Ordem Mundial! De modo que quem não for apoiador, partidário,
simpatizante ou adepto da loucura reinante, do espírito desse ‘’ser invisível’’, sob o
nome de ‘’BEM MAIOR’’, criminalizando a verdade, isto é, os Cristãos de todo o planeta
e aqueles que compartilham da mesma visão de mundo, quer sejam muçulmanos,
ateus, budistas, hindus, judeus, não importa, todos serão tratados como os Judeus, em
Auschwitz, Russos, nos Gulags ou os Chineses, em Xinjiang, mandados pelas figuras
macabras de Hitler, Stalin e Mao, mas que no momento presente ainda conservam
sucessores dignos de sua monstruosa ação!
Prefácio .................................................................. 22
2- Textos.....................................................................................................133
1. Transcrição de 14 Áudios preciosos, informativos e de muita
necessidade mostra-los na presente edição dessa Revista................135
2. Enciclopédias................................................................................357
Feliz Aniversário Mário!
Transcrevemos todos os textos dos jornais que tivemos acesso que falam sobre
o Mário ou que existe algum artigo que o próprio Mário escreveu. Preservamos a
ortografia dos textos. Assim vocês poderão ler palavras como ‘’mez’’, ‘’exhibir-lhe’’,
‘’commerciar’’, ‘’promptas’’, ‘’elle’’, ‘’commigo’’, ‘’bella’’, ‘’ahi’’, e etc. A visibilidade
de algumas palavras nos jornais, que datam de 1929/70, estava de tal forma difícil
de conseguir distinguir, que tivemos a paciência de descobrir qual era a palavra,
isso nos custou a alegria de resolver mistérios! Tentamos, o quanto possível,
manter uma unidade de linha de tempo na organização dos jornais, por isso, os
artigos começam quando o Mário tinha apenas 22 anos, em 1929, até em 2022,
com um artigo revelador do nosso amigo Rodrigo Ulguim, em 2022!
Organizamos textos do Professor e Filósofo Olavo de Carvalho, do True
Outspeak, Curso Online de Filosofia (COF), mais alguns posts que achamos no
Facebook e uma pequena transcrição de um trecho do seu Curso - Mário Ferreira
dos Santos- Guia para o estudo da sua obra!
Nesta 3ª Edição da Revista do Instituto Cultural Logos, também,
transcrevemos 14 Áudios do Mário Ferreira dos Santos, porque eles estão
interligados com assuntos comuns que são fundamentos e bases para a Unidade
dessa Revista. Tentamos organizar os Áudios em linha de tempo! A monografia
que as filhas do Mário escreveram nos ajudou em muito. Alguns Áudios estavam
de tal maneira inaudíveis, por causa da gravação antiga daqueles gravadores
imensos de rolos de filmes, que muitas vezes precisamos ir ao ‘’além’’, para
perguntar ao Mário em pessoa o que ele queria dizer em determinado trecho.
Ficamos horas conversando com ele. Foi uma maravilha! Voltamos felizes com as
respostas que conseguimos, e foi só assim que podemos transcrever muitos trechos
que simplesmente o entendimento não é perceptível.
[22]
Ainda há o texto Inédito do Mário de nome ‘’Brasil - Um País sem Esperança?”’,
que é a coroa dessa Revista, porque toda a nossa missão tem como objetivo fazer
com que a esperança seja possível, e isto requer ação!
Mantemos a Lista Organizada dos Livros do Mário, a Lista de seus Áudios,
atualizamos a Lista das Citaçães e trabalhos, pois em dezembro de 2021 e janeiro
de 2022 surgiram artigos que falaram do Mário, ainda com uma surpresa
maravilhosa, o Jornal Cidadania Popular, o primeiro Jornal com atividade
totalmente voltada a cultura. A Lista das Fotos permanece com a mesma
organização.
Na parte final, está o nosso sonho! Há uma compilação de muitas
Enciclopédias. Fizemos uma pesquisa de edições de nível internacional para que a
imaginação dos estudantes possa ter um horizonte amplo de possibilidades.
Infelizmente, as editoras no Brasil ainda são poucas e o custo de imprimir obras
de tamanho enciclopédico é inviável. O Mário, em 1967, mandou buscar uma
Enciclopédia Católica, do século moderno, em 157 volumes, da França. Ele
comprou livros de Física Moderna de autores contemporâneos a ele, na Alemanha
e Estados Unidos. Xerocou textos que apenas existiam em Portugal, de filósofos
escolásticos antigos. Essa situação editorial ainda permanece no Brasil, porque a
alta cultura ainda é sinônimo de futilidade e de pessoas de caráter esnobe, ‘’que
não estão na realidade’’, assim como diziam para o Policarpo Quaresma: ‘’ele não
é Doutor, para que vai estudar, e para que esses livros?’’
Podemos mudar a cultura desse povo! A resposta, o animo, o incentivo, a
coragem, foi-nos dado em 1965, numa palestra de nome ‘’A Crise no Mundo
Moderno’’, em que o Mário proclamou:
‘’Mas, pergunta: será possível, será suficiente que a nossa coragem possa
enfrentar essa auto destruição?
Eu posso responder apenas com respostas contingentes, porque se eu fizesse
uma resposta necessária eu cairia apenas numa fé, e não estaria me colocando
numa posição filosófica. É possível que sim, e é possível que não! Mas entre essas
duas possibilidades, nós podemos escolher a daqueles que creem que é possível
que sim! Então nós podemos, também, nos comprometer em atuar dentro dessa
possibilidade. Se malograrmos, ficará, pelo menos, dentro de nós, a satisfação de
havermos cumprido o nosso dever e de termos realizado uma possibilidade nossa.
E se amanhã houver um outro ser inteligente que possa saber da nossa história,
poderá olhar para aqueles que amaram a coragem e que tiveram um gesto heroico
de lutar contra a própria autodestruição, com respeito por estes homens.
Nós podemos nos engajar deste lado, já que estamos numa época em que
todos querem se engajar. Então, vamos nos engajar, mas para o lado construtivo,
para o lado do bem, para o lado que lance uma nova esperança, que creia em
valores superiores e que não proclame, de antemão, a sua derrota, porque, então,
ela é uma dupla derrota. É a derrota daqueles que nem sequer combateram,
daqueles que nem foram para o campo de batalha enfrentar o seu inimigo!’’
[23]
3 de Janeiro de 1907 – 11 de Abril de 1968
[24]
1 -Jornais e Relatos
1- Jornais de vários Estados Brasileiros que contêm algum texto que
o Mário Ferreira dos Santos escreveu ou algum comentário sobre
o seu trabalho.
O seu título é:
‘’Um bluff’’
—Amalia?! A-ma-li-a?!
—Quem é?
[25]
***
—Isso deve ser com meu marido. Espere aqui que eu vou chama-lo.
—Sim e porque?
—200$. Mas para que veja como somos, e a título de propaganda, lhe
farei os dois retratos por esse preço. Veja que é baratíssimo.
—Para que? Não faça isso. Não vê a senhora que poderá fazer uma
surpresa ao vosso marido, quando ele menos esperar, vendo a senhora
exhibir-lhe o seu retrato e o vosso?
[26]
—Não faz mal, ahí está mais um ponto que demonstra a superioridade
do nosso trabalho e do nosso meio de commerciar.
—Tem ai as photographias?
***
—Onde? Aqui?
--Ahi mesmo, neste lado e neste canto. O primeiro fica com a senhora
e o segundo fica em meu poder.
***
[27]
Epilogo
PASSA-SE UM MEZ
— Amalia? A-ma-lia?
Não ouves? Não vês que estão batendo da porta.
***
— Não, é outro.
— Qutro?
***
— Boa tarde.
***
— Pois não, minha senhora, mas comprehenda que tem que pagar o
vidro e amoldura.
— A moldura? Mas...
— Foi o que ficou combinado. Veja o papel que ficou com a senhora.
— Sim, é verdade.
[28]
— Então, quanto custa a moldura?
— 350$000???
-— Mas veja que sem moldura e sem esse vidro, como fica o quadro.
* **
(TIROU O VIDRO)
— Si quer!
(FOI E VOLTOU)
***
(BRIGARAM)
Ella chorou; elle, durante duas horas, mediu o quarto, de cá para lá,
Cansou. Ella tambem.
(PONTO FINAL)
[29]
Moral: — Quem é bôbo, peça a ........................
Ultima nota:
NOLDA
[30]
2. Conto “Diálogo de você”, escrito pelo Mário Ferreira
dos Santos e publicada no Jornal Opinião Pública, em 14
de maio de 1929, aos 22 anos!
‘’Diálogo de você’’
— Olá!...
— Oh!...
— Você por aqui?
— Como sempre.
— É a primeira vez que nos encontramos neste logar.
— Pois passo sempre por aqui...
— Pois eu também agora passarei sempre.
— A que horas?
— A estas mesmas.
— É? Então vamos ter boas ocasiões de conversar.
— Da minha parte será com o maior prazer. Bem sabes que tua
palestra me é inteiramente agradável.
— Deixa de cretinice.
— É verdade. Estou falando sério.
— Sério?
— Sim, eu fallo sério. Não acreditas.
—?... Pode ser!
— Fallo sério e verdadeiro. És muito pessimista e eu também o sou.
Somos quasi eguais. Mas só quasi vê lá?! Bem sabes que admiro
muito a Pascal como um dos maiores pensadores e talvez o maior que
o Ocidente possuiu. Pois bem, lendo Pascal hoje, pensei,
— Pensastes?
— Pensei. Pensei quanto Pascal é verdadeiro. Ninguém como elle
estudou tão bem a vaidade, ninguém como elle observou quanto de
mesquinho e de ephemero possue o coração humano, ninguém como
elle dissecou admiravelmente a inveja humana.
— Mas a que vem isso?
— Por muitas razões. Quanto mais olho a humanidade e meus pares,
mais penso sobre a vaidade dos homens e em sua illimitada inveja.
[31]
— Verdades!...
— A verdade, dizia Pascal, não me admira: dize-la é útil a quem a
ouve, mas desvantajosa a quem a diz, porque faz que sejamos odiado.
‘’O homem não é senão má fé, mentira e hypocrisia em si mesmo
e em relação aos outros.
O homem não quer que se lhe diga as verdades e evita de às dizer
aos outros; e todas estas disposições, tão longínquas da justiça e da
razão, tem uma raiz natural no seu coração.
O homem inveja o homem, basta que alguém sobresahia um pouco
dos seus pares para que seja invejado. É triste, mas é humano’’...
- exageradamente humano.
- E quando vejo as invejas, na penumbra de sua mesquinhez e
incapacidade, como cães damnados a espatifar a consideração, o
elevamento dum seu semelhante, parece-me ver através do quadro
tristíssimo, uma multidão de anãozinhos, presos à terra, que
elevando nervosos seus braços, exclamam: Pára! Pára! Não vás além
de nós! Pára, que ficamos cada vez menores, pequeninos!
E eu fecho meus olhos a este quadro subjectivo e me entristeço.
- É que ainda há alguma coisa de bom no coração da gente.
M.
[32]
Arquivos de jornais obtidos na Biblioteca Pública Pelotense
(Fonte: Elvis Amsterdã - A DIALÉCTICA-ONTOLÓGICA DE MÁRIO
FERREIRA DOS SANTOS)
3. Jury.
Diário Popular de 14 de novembro de 1928, em que está registrada a
estreia de Mário Ferreira dos Santos como advogado.
***
[35]
5. A HISTÓRIA QUE AINDA NÃO FOI CONTADA
Diário Popular de 16 de abril de 1942.
***
***
[40]
*Segundo Período da Vida do Mário - Em São Paulo
(Fontes: Biblioteca Nacional e Biblioteca da Unesp)
‘’Edições Sagitário’’
‘’Sob a direção do nosso camarada Mário Ferreira Santos, iniciou as suas
atividades em São Paulo a Editora e Distribuidora Sagitário Ltda., com a
publicação portuguesa de ‘’As idéias absolutistas no Socialismo’’. Já aqui
tivemos ocasião de referir-nos desenvolvidamente a esta obra quando ela
nos apareceu, pela primeira vez, em castelhano, editada pelo grupo ‘’Tierra
y Libertad, do México’’. Não podemos, porém, dada a grande importância
que para o renascimento do pensamento anarquista no Brasil representa o
aparecimento desta obra em língua portuguesa, deixar de dedicar-lhe
algumas linhas.
Importa principalmente recordar que se trata de um livro de polêmica,
escrito num estilo brilhante e claro e no qual se tratam os problemas
fundamentais do socialismo e se estudam, com grande alteza de miras e
clara visão do futuro, o lamentável desvio e as tremendas conseqüências
que as idéias absolutistas, das quais a mais importante é, sem dúvida, o
chamado marxismo, enquistando-se no corpo do socialismo, ocasionou e
ocasionará ainda certamente por não sabemos quanto tempo ao movimento
emancipador da humanidade tão promissoramente prenunciado nos fins
do século 18.
O autor, uma das mais privilegiadas cerebrações do nosso tempo, cuja
obra mereceu os mais rasgados encômios, entre outros pensadores
eminentes, a Bertrand Rússell, a Lewis Mumford, Louis Adamic, T h o m as
Mann, Charles A. Beard, Rupert Read, é hoje um dos mais representativos
batalhadores do anarco-sindicalismo. Foi membro do conselho federal da
União Geral dos Trabalhadores Alemães, diretor do importante órgão
proletário Der Syndicalist e colaborou também no Der Freie Arbeiter.
Atualmente, desde a sua ocidentada fuga da bastilha hitlerista, que
constituiu uma verdadeira odisséia, vive, com setenta anos, nos Estados
Unidos, onde, apesar da sua avançada idade, continua lutando pelo
socialismo libertário, ou seja pela emancipação humana.
A edição em idioma português, ora aparecida, enriquece-se com novos
capítulos, um dos quais, O homem sem cabeça, publicamos neste número.
O leitor encontrará por isso nesta edição o dobro da matéria contida na
edição original, ou seja, na edição castelhana.
Quanto à editora Sagitário, não podemos deixar de felicitar-nos e felicitar
o camarada Mário Santos pelo papel que ela está destinada a representar
no renascimento das idéias anarquistas nos países de língua portuguesa,
[41]
após a fragorosa derrota do fascismo e o descrédito da social-democracia e
do seu gêmeo, o chamado comunismo stalinista. Exortamos os camaradas
a contribuírem por todos os meios para que a nova editorial possa levar a
cabo a sua generosa missão: a de iluminar a consciência das massas,
libertando-a das trevas em que a mergulhou o fascismo negro e o vermelho.
***
‘’Nossos Livros’’
***
‘’A ação direta deixa que o impulso ativo do homem se manifeste com
toda a sua pureza, sem os desvios que o viciam, e levá-o à ação
verdadeiramente socialista, ao desejo ãe erguer os irmãos da passividade
para a ação, da inércia para a rebeldia. Ela é criadora, porque transforma
cada um num ser responsável de ação socialista.
Por isso a política é arma mais amada pela burguesia. A burguesia
inteligente do mundo inteiro não combate os partidos políticos operários
senão aparentemente. Ataca-os, acusando-os de revolucionários e
exigentes, para iludirem as massas, para fazê-las acreditarem que
realmente eles são revolucionários. Mas a burguesia inteligente sabe
perfeitamente que esses partidos são os melhores guardiães de seus
tesouros, porque, ao darem às massas uma ilusão de conquistas, ajudam,
também, a desmoralizar o socialismo e a apresentar aos olhos do povo o
regime capitalista como algo de imprescriptível e sólido, como algo de
eterno.
E que melhor para tal que os "parlamentos", onde se debatem todas as
idéias e se aumenta a confusão do povo? Que melhor que as campanhas
políticas, essas "adorá- veis dormideiras", esse ópio das multidões, que
lhes dão a suave e doce ilusão de que estão realizando socialismo e
construindo o seu amanhã, através de pedacinhos de papéis, postos
religiosamente nas urnas silenciosas?
A burguesia sabe que os partidos operários são o seu melhor aliado, o
aliado silencioso, o aliado indireto. Com suas agitações eleitorais, eles dão
vasão às forças do proletariado, aos desejos de rebeldia do proletariado. E'
xima forma de desviar esses impulsos, tão perigosos, para fins muito mais
[43]
interessantes aos senhores do mundo. Uma campanha política custa muito
dinheiro e muito trabalho.
Toda a carga ativa das massas, prestes a explodir, é canalizada
habilmente para a campanha eleitoral. Distribuição de manifestos,
pregação de cartazes, aliciamento de eleitores, comícios eleitorais,
trabalho, trabalho, trabalho que se gasta, esforços inauditos perdidos. Mas
se esse esforço fosse empregado para uma ação direta das massas, para a
educação socialista dos oprimidos, para ensinar-lhes os meios práticos de
luta, de organização econômica e para uma vida socialista, seriam mais
úteis. É preciso mostrar, exclamam os libertários, que o caminho do
socialismo não é um caminho de rosas, mas um caminho de lutas, de
grandes sacrifícios, de lágrimas, de dores, de ingentes esforços. Toda essa
carga ativa que se concentra nas multidões exploradas, não deve ser
aproveitada, mas desviada. Não deve ter o seu curso natural, direto, mas
indireto, desviado pelos políticos, pela luta política.
Depois, o caminho das urnas é mais fácil, menos trabalhoso. Toda a
inércia, todos os impulsos de passividade que estão dentro do homem,
predispõem a receber de boa vontade turo quanto signifique o menor
esforço. A campanha política tem essa miraculosa eficácia. Desperta a
passividade ao desviar os impulsos de ação para os meios, em vez dos fins.
O homem prefere acreditar que a luta eleitoral é mais eficiente, porque
o dispensa de uma ação mais trabalhosa.
A crítica libertária vai ainda mais longe e os argumentos poderiam
encher volumes e volumes Mas, em, síntese, os libertários
chamam a atenção para os socialistas que ainda se iludem com as luta
políticas, que se dispam de suMS couraças ideológicas e da ganga bruta de
suas mistificações doutrinárias, que esqueçam um pouco a teoria e olhem
os fatos que se desenrolam; verão sempre, em toda parte, a política servir
de arma para os dominadores, os poderosos, e que, como arma, provou
um,a eficiência muito superior das religiões. Hoje o clero é posto um pouco
de lado, porque a sua eficiência na conservação da ordem existente é
secundária, e a política é melhor usada, porque é uma arma mais segura.
E o clerotanto compreendeu isso, dizem os libertários, que, para não
desaparecer, fez-se também político, e até socialista.
Assim sintetizando:
***
***
[46]
11. Delbar, 1965, Setembro, Ano 1, Nº 1. (Biblioteca Digital
Unesp)
(Anúncio)
"Origem dos grandes erros filosóficos"
de
***
(Anúncio)
"Origem dos grandes erros filosóficos"
de
***
[47]
13. Delbar, 1968 , Abril e Maio, Ano 2, Nºrs 14 e 15. (Biblioteca
Digital Unesp) Página 3.
‘’Triste Notícia’’
‘’Nota De Tristeza’’
(Por P. Catallo)
***
[48]
14. Centro de Cultura Social, 1991, n 21. (Biblioteca Digital
Unesp)
‘’Importante’’
***
[49]
15. Revista Portuguesa de Filosofia – 1969
- Janeiro/Março - Há um texto do Pe. Stanilavs Ladusãns
sobre o Mário Ferreira dos Santos, muito bom mesmo.
‘’NOTAS’’
Obras Publicadas:
62) Deus;
63) Os atributos de Deus;
64) As Três Criticas de Kant;
65) Tratado de Esquematologia, 2 vols.;
66) Problemática da Filosofia Concreta;
67) Teoria Geral das Tensões;
68) Filosofia e Romantismo;
69) Dialética Concreta;
70) Interpretação do Apocalipse de São João;
71) Tao-Tsé-King, de Lao-Tsé (comentado);
72) Versos Áureos de PitÁgoras (comentados), em 2 vols.;
73) PÁginas Sublimes de São Boaventura (comentadas);
74) O «De Primo Principio»,de Escoto (comentado);
75) «Da Interpretação»,de Aristóteles (comentado);
76) As «Enêadas», de Plotino (comentadas) em 6 vols.;
77) Opúsculos Famosos de Tomás de Aquino (comentados) e ainda
outras obras.
***
[52]
16. A CASA RJ – Edição de 1947 – Jornal publicado entre
1923 até 1952. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)
***
‘’Valorizar e Valor’’
***
***
***
‘’Informações Úteis’’
***
[57]
21. A TARDE (PR) – Edição de 1956 - Jornal publicado
entre 1930 até 1960. (Biblioteca Digital da Biblioteca
Nacional)
***
‘’Filosofia e Cosmovisão’’
***
Resposta:
‘’[...] Estas palavras vem à baila em face de certas criticas que os meus
livros receberam. Entre as muitas (elogiosas todas), algumas, um tanto
apressadas, afirmaram aspectos que merecem certos reparos.
Costuma-se dizer que a filosofia "nasceu na Grécia"; e como nós,
ocidentais, julgamo-nos não só herdeiros, mas descendentes dos gregos,
orgulhamo-nos dessa origem. (Spengler muito bem causticou esse orgulho
fáustico).
Egípcios, hindus, mesopotâmios, etc., não têm pensamento filosófico
e sim, e apenas, religioso.
Admitia-se essa afirmativa quando era quase total o desconhecimento
do pensamento filosófico dos outros povos.
A filosofia não "nasce" aqui nem ali, com exclusividade, mas onde o
homem pensa sobre os grandes porquês, as primeiras e últimas causas,
invade com o pensamento, e apenas com ele, através das configurações do
imanente (que é o campo exclusivo da ciência), o transcendente, para
afirmá-lo ou negá-lo, não importa, construindo juízos de valor ao captar
as significações mais profundas das coisas, buscando a "collatio" que as
conexiona, etc.
E se tal se der em outro planeta, por outro ser inteligente, lá também
há filosofia, como haverá matemática, onde qualquer ser Inteligente
especular sobre números, etc.
Essencialmente a filosofia é sempre a mesma, e a dos gregos, como a
de outros povos, enquanto filosofia, dissemos, são iguais.
Negar-se que filosofaram e filosofam os outros povos é apenas
evidenciar ignorância, que ainda poderia ficar bem no século passado, não,
[64]
porém, neste, depois dos conhecimentos obtidos no setor da história e da
arqueologia e no conhecimento das obras filosóficas.
Houve quem se opusesse tenazmente à nossa afirmação de que é
"muito mais ampla do que se pensa" a contribuição do pensamento dos
outros povos ao pensamento grego. Admitamos que a tese por nós exposta
não tivesse a aboná-la nenhuma contribuição de autores e estudiosos, cuja
lista, se aqui fôssemos fazer, tomaria colunas. Bastaria a própria afirmação
dos gregos, a influência de figuras como as de Orfeu, Hermes Trismegistos,
o "Thot" dos egípcios, Pitágoras, etc. Pode-se duvidar da existência
histórica de tais figuras, e muitas, na história, também sofreram essa
dúvida. Mas o orfismo é uma realidade, o hermetismo é uma realidade, o
pitagorismo é uma realidade, que não podem ser reduzidas às caricaturas
costumeiras.
Os gregos mantinham contato com as culturas de Kleti (Creta), a síria,
a egípcia (recordem-se as viagens de Thales, do Platão, de Péricles, de
Demócrito, etc.). A semelhança entre os "Versos áureos" pitagóricos e as
especulações anteriores do budismo, os cínicos, os estóicos e os epícureos
e as seitas de outros povos, (que permitem admitir não apenas uma mera
correspondência), os mitos gregos primitivos, os documentos encontrados
ultimamente em Ras-Shamra, e nas escavações de Biblos, o papel da
atomística do sidônio Moscas no pensamento de Demócrito, a influência
sofrida por Euxódio de Cnido, quando de sua estadia em Heliópolls, o
papel da revolução almarmiana de Amenófis IV, etc., são factos
importantes que exigem meditação e pesquisas.
As culturas não são e não foram tão estanques para não haver
penetrações e influências entre elas, e se mantinham, naqueles tempos,
turismo e bolsas de estudos, e intercâmbio cultural (o que não é exclusivo
de nossa época). Se tudo isso for considerado, entre a categórica afirmativa
de que não há nenhuma influência de outro pensamento, no grego, e a
nossa que "é muito mais ampla do que se pensa" (isto é, do que pensam os
que o negam),ver-se-ia que sobejam razões a nosso favor, como ainda o
mostraremos em nossa obra "Filosofia Oriental", que em breve
editaremos.
Os gregos eram de grande plasticidade (e os egípcios os acusavam
disso, e até os próprios gregos). Sofreram influências comprovadas na
matemática, na ciência, na técnica, na música, na arte, na religião, no
ritual, no direito, em tudo. Menos na filosofia. Aqui não! Aqui os gregos,
deliberada e decididamente, renunciando à sua natural plasticidade,
tornaram a decisão irrevogável e inabalável de não se deixarem influir!
Que tenha a sua peculiaridade o pensamento filosófico grego ninguém o
nega, mas como essência, a filosofia é uma só.
No seu "compositum", a filosofia grega se diferencia das outras.’’
***
[65]
24. Tribuna da Imprensa (RJ) – Edição de 1991 - Jornal
publicado entre 1990 até 2000 (Biblioteca Digital da
Biblioteca Nacional)
***
[68]
25. Diário de Notícias (RJ) Edição de 1953 - Jornal publicado
entre 1950 até 1959 (Biblioteca Digital da Biblioteca
Nacional)
[71]
26. DIÁRIO DE PERNAMBUCO – Edição de 1972 - Jornal
publicado entre 1970 até 1979. (Biblioteca Digital da
Biblioteca Nacional)
***
[72]
27. Diário do Paraná - Órgão dos Diários Associados (PR)
Ano de 1957 – Edição 628 - Jornal publicado entre 1955 até
1983. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)
‘’Livros da Semana’’
‘’Filosofia Concreta’’
***
[73]
28. Diário do Paraná - Órgão dos Diários Associados (PR)
Ano de 1957 – Edição 978 - Jornal publicado entre 1955 até
1983. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)
[74]
29. Jornal de Notícias (SP) – Artigo de 1951 - Jornal
publicado entre 1946 até 1951. (Biblioteca Digital da
Biblioteca Nacional)
***
‘’A Editora Logos lançou este ano as obras completas de Mário Ferreira
dos Santos - Filosofia e Cosmovisão, Psicologia, Teoria do Conhecimento,
Ontologia e Cosmologia, Aristóteles e as Mutações, Neologia Geral,
Filosofia da Crise, O homem que nasceu póstumo, Curso de Oratória e
Retórica, Técnica do Discurso Moderno, Lógica e Dialética e ainda vai
lançar as obras inéditas: Assim Deus falou aos homens, Certas subtilezas
humans, Vida não é argumento, Casa das Paredes Geladas e Luta dos
Contrários.
Total dessas edições: 300.000 exemplares.’’
***
[75]
31. O DIA (PR) – Edição de 1954 - Jornal publicado entre
1923 até 1961. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)
***
***
***
[77]
35. Voz Diocesana (MG) – Edição de 1968 - Jornal publicado
entre 1965 até 1978. (Biblioteca Digital da Biblioteca
Nacional)
***
‘’Dois bêbados’’
Candidatura
***
‘’Filosofia’’
‘’Suplemento Cultural’’
***
39. Suplemento Literário (SP) – Edição de 1979 - Jornal
publicado entre 1956 até 1985. (Biblioteca Digital da
Biblioteca Nacional)
‘’Cartas’’
Senhor Editor:
[83]
40. Letras da Província - Publicação Mensal das Casas de
Cultura de Limeira e Jaú, oficializadas pela Associação
Brasileira de Escritores de São Paulo (SP) – Edição de
1969. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)
‘’Na cerimônia que lhe conferiu com muita justiça o título gratulatório
de ''Príncipe dos Poetas Brasileiros'', com a ênfase que lhe é peculiar
recitou Guilherme de Almeida alguns versos que, embora belíssimos,
assim isolados poderiam causar espécie. E foi o que conosco aconteceu ao
depararmos, em meio do seu discurso, estas magníficas estrofes:
‘’Ora, por mais tratos que dessemos a bola, atinar não logramos com
o sentido desses versos, assim enigmáticos. Além disso, onde e quando
foram escritos? A que poeta célebre ou anódino atribui-lo?
Que significado emprestar-lhes? Mas, na ausência de uma explicação,
ficaram eles bailando e rodopiando em nossa mente numa indagação
perene e constante.
Decorrido algum tempo, após refletir o assunto, eis que, de inopido,
se nos depara solução para o problema em tela. Encontro-lo num
compÊndio de Mário Ferreira dos Santos, que trata de oratória, ou mais
propriamente numa citação de Alcântara Machado, onde nos foi dado
verificar que esses versos são de autoria de Tobias Barreto e compôem
poema de maior tomo, cujo contexto está assim redigido:
[84]
Eufóricos e contentes ficamos com a descoberta que explica e dá
sentido cabal aos versos isoladamente citados pelo festejado autor de
''Nós'', merecidamente guindado ao principado das letras, versos que ele
incrustou na magnífica oração proferida ema gradecimento às
homenagens que lhe tributou a fina flor da inteligência e da cultura
bandeirante, homenagens a que gostosamente daqui nos associamos.
Guilherme de Almeida é um privilegiado, que realizou em vida o que
refere Horácio, em sua ''Ars Poetica'' –‘’omne tulit punctum, qui
miscuit utile dulci’’, isto é, aquele que, misturando o útil ao agradável,
realiza uma obra que vida afora, como poeta, realizou.
E já que estamos com a mão na massa, para usarmos expressão
corriqueira, as voltas com o latinório mencionemos o dístico de Aldo
Mauncio, patrício romano, ctado por Manuel Bernardes, dístico esse que
bem poderia ser usado à porta dos escritórios e das repartições públicas de
nossa época, como sinal de advertência aos maçantes: ''Quilquis es, rogat
te Aldus atiam atque etiam ut quidquid es quod a fe velis, perpancis agas,
deinde actutum abeas’’, ou seja: ‘’quem quer que és, Aldo te roga mui
rogado, que se dele queres alguma coisa, sejas breve e te vás depressa’’.
Volvamos, porém, ao nosso tema poético e ao uso do vernáculo. Num
artigo sobre Livros e Bibliotecas, Humberto de Campos, saudoso estilista
que tanto apreciamos, traz à baila composição inspirada dum parnasisno,
sem mencionar o autor, consubstanciado neste expressivo trecho:
...que, como todos sabem, faz parte integrante das famosas apóstrofes
de Castro Alves através de ''O Livro e a América''. Onde quer que alguém
[85]
escreva duas palavas sobre o livro lá vem a citação infatível e salvadora.
Questões de ‘’lana-caprima’’ - dirá alguém menos prevenido, ou não
interessado em assuntos assim despidos de valor monetário, mas que
certamente encerram proveito espiritual a quem deles se ocupa''.
***
[86]
41. MARIO FERREIRA DOS SANTOS - Esboço biográfico, por
suas filhas - Artigo publicado na revista "Livro Aberto", de autoria
de Yolanda Lhullier e Miguel Jorge Machado, em agosto-setembro de
1996.
Uma pessoa que age sob o signo desta máxima nos aproxima da idéia
de quem era Mário Ferreira do Santos, de sua intensa produção intelectual
e filosófica e de sua interferência positiva na cultura e, particularmente, no
mercado editorial brasileiro. Jamais seus valores se fecharam diante de um
país que permanece ainda preconceituoso frente à audácia dos seus
próprios pensadores maiores. Era para ele uma questão de princípio
romper com essas amarras dogmáticas. Tipo "enciclopedista", era um raro
viajante esclarecido e, como tal, causava assombro, estranheza e mal-estar.
Lutador incansável na afirmação do pensamento brasileiro no grande
caleidoscópio universal, expressava-se pela caracterização de uma busca
incessante de uma nova linguagem filosófica diante de um pensamento
europeu consolidado no seu esgotamento. Ousou pensar os antagonismos
do seu tempo com uma dignidade divergente e típica daqueles que não
escamoteiam seus próprios problemas contraditórios e oponentes,
exemplarmente munido de uma coragem espiritual de quem não teme os
absurdos. Prolífero, profundo, marcante, heterogêneo e polêmico são
adjetivos inscritos no interior da produção de sua extensa obra.
Dono de uma intensidade ímpar, jamais procurou ficar imune diante
do que se apresentava. Herdeiro de uma formação escolástica sólida,
procurou construir seu método na afirmação do ciclo concreto "que
pertence a todos os grandes ciclos naturais da humanidade", desde os
gregos até os nossos dias. Formou-se em Direito e Ciências Sociais pela
Faculdade de Direito de Porto Alegre. Como livre-pensador foi preso em
1930, aos 23 anos, em defesa de suas atitudes conscientes e de seus ideais
libertários, aos quais se manteve fiel até o fim da vida. Foi advogado, diretor
de jornal, tradutor, professor, escritor multiprismático.
Dentre as várias traduções feitas para a Livraria do Globo, Porto Alegre,
destaca-se a obra de Friedrich Nietzsche, Vontade de Potência com o
ensaio O homem que foi um campo de batalha. Posteriormente em São
Paulo traduziu Assim Falava Zaratustra com análise simbólica. Tradutor
criterioso, procurava manter-se fiel ao ritmo, ao estilo e às modalidades da
expressão nietzscheana, tendo a subtileza da intuição genial de ter-se
"colocado sempre na posição de sentir como Nietzsche escreveria se fizesse
"Zaratustra" em português". Cria, com isso, uma original interpretação
simbólica do pensamento do filósofo de Sils-Maria.
Compulsivo na criação de suas obras, Mário escreveu artigos políticos
e de cultura para os jornais Opinião Pública, de Pelotas, e Diário de
Notícias e Correio do Povo, de Porto Alegre. Foram quase duas centenas de
[87]
artigos versando, principalmente, sobre aspectos da II Guerra Mundial. Por
essa época, colabora com as revistas Climax e Movimento, escrevendo
ensaios, discussões sobre arte, estética e poesias. Mas é ainda pouco para o
seu espírito irrequieto, que não para de buscar um conhecimento mais
consistente. Talvez por isso, necessitando de um espaço onde houvesse a
condição de uma troca mais radical, mudou-se para São Paulo, na
esperança de encontrar ecos mais significativos às inquietações do seu
trabalho filosófico. Em São Paulo trabalhou em várias editoras: Flama,
Sagitário, Livraria Ritz e outras. Fundou a Livraria e Editora Logos e a
Editora Matese. Como empresário foi pioneiro na implantação de venda no
crediário no sistema porta a porta.
Intelectual por demais contemporâneo, em 1949, dedicou-se a ministrar
aulas. Redigia de forma cuidadosa, acessível e sem rebaixar o conteúdo dos
cursos por correspondência (novidade no Brasil, pois os únicos que
existiam vinham importados dos Estados Unidos ou da Europa). Dizia que
os cursos de Cultura e Filosofia Geral importados "não iam evidentemente,
de encontro às necessidades do povo brasileiro". Iniciou os cursos com
Oratória, seguindo-se Filosofia, Estética, História da Cultura e História da
Arte. A sua residência, à noite, após as aulas, era inundada por grupos de
estudantes em fervilhante atividade, na busca de discussões livres e
penetrantes, em torno de temas políticos, econômicos e sociais da
atualidade.
Homem de filosofia, não poderia deixar de interrogar-se constantemente.
No livro "Se a esfinge falasse", afirma: "É do destino do homem formular
perguntas, e de sua necessidade respondê-las. Mas cada resposta é a gênese
de uma nova interrogação. Enquanto o homem for homem, perguntará...
Perguntar é bem uma dimensão humana". Recuperando, então, essa
dimensão humana através da escrita, por sua aparição mais indicada, que é
o livro, ousamos perguntar: por que não reeditar Mário Ferreira dos
Santos?
[88]
entrar em freqüentes contatos pessoais com ele, homem que ainda não foi
descoberto no Brasil".
(Declaração Prof.Dr.Pe.Stanislavs Ladusãns S.I. (18-12-1968)
[90]
Paulatinamente foi publicando as obras que aprofundavam o
conhecimento, constituindo um verdadeiro curso: Psicologia, Lógica e
Dialética, Teoria do Conhecimento, Ontologia e Cosmologia, Tratado de
Simbólica, Filosofia da Crise, O Homem perante o Infinito, Noologia
Geral, Sociologia Fundamental e Ética Fundamental, Filosofia Concreta
dos Valores, obras que constituem a Enciclopédia de Ciências Filosóficas e
Sociais.
Em Filosofia Concreta estabelece seu modo de filosofar: “Há duas
maneiras de fazê-lo: a) deixar o pensamento divagar através de meras
opiniões; b) ou fundá-lo em juízos demonstrados a semelhança da
matemática. Esta segunda maneira é usada nesta obra, pois nela a filosofia
não é abstrata, mas concreta, fundada em demonstrações rigorosas. A
Filosofia Concreta não é uma “síncrese” nem uma “síncrise” do pensamento
humano, não é um acumulado de aspectos julgados mais seguros e
sistematizados numa totalidade; ela tem sua existência autônoma, pois seus
postulados são congruentes e rigorosamente conexionados uns aos outros".
Partindo da proposição "alguma coisa há" constrói 327 teses,
apoditicamente demonstradas, pois "o valor de nossa filosofia é
proporcionado às demonstrações que ela usa e emprega; como construção
filosófica, ela valerá na medida que valerem as suas demonstrações".
Como construir um método capaz de reunir as positividades das diversas
posições filosóficas?
[91]
Hiérocles, aproveitando a contribuição de outros estudiosos e fazendo uma
espécie de síntese, acrescentando as suas contribuições (obra inédita).
[93]
"Para conseguir esta mudança que se deve fazer no Brasil?” perguntaram-
lhe.
[94]
Advertia que "devemos erguer as massas populares até a filosofia, através
de um desenvolvimento da cultura nacional, que tenda à filosofia positiva e
não à filosofia negativista e niilista que penetra em nossas escolas".
Como mestre e educador revelou uma preocupação especial em relação
aos jovens, e foi em tom apologético que encerrou uma de suas aulas: "Eu
conclamo a juventude de hoje que não se torne aquela juventude que
perseguiu sempre os grandes homens, aquela juventude que perseguiu
Sócrates, aquela juventude que perseguiu os pitagóricos, aquela juventude
que levou à condenação, à morte a Anaxágoras, mas sim aquela juventude
que apoiou Platão, que apoiou Aristóteles no Liceu, que apoiou Pitágoras
no seu Instituto, aquela juventude estudiosa, aquela juventude que dedica
o melhor de sua vida para formar o seu conhecimento, aquela juventude
que quer ser capaz de assumir as rédeas do amanhã, e não a juventude que
quer apenas ser uma massa de manobras de políticos demägógicos e mal-
intencionados, uma juventude de agitação, mas sim uma juventude
construtora, uma juventude realizadora, uma juventude que lance para a
história da humanidade os maiores nomes e os maiores vultos..."
[95]
"Este tema é de uma vastidão tremenda, já que o ateísmo contemporâneo
não surge a rigor de uma especulação filosófica, mas sim, de certas
decepções de caráter mais ético do que filosófico. A meu ver, o ateísmo não
surge, propriamente, em torno do Deus Uno e de seus atributos, mas, em
torno dos atributos do Deus Trino, ou Deus pessoal ou dos atributos morais
de Deus. Não conheço nenhum trabalho, de nenhum ateísta, que se limite
a atacar, especificamente, o Deus Uno. Conheço agnósticos e cépticos, mas
não ateístas que tomem uma posição definitiva, negadora da possibilidade
de um Ser Supremo. O ateísmo é sempre o produto de uma má colocação
do problema de Deus. Como “na Filosofia não há questões insolúveis, mas
apenas mal colocadas”, o ateísmo moderno parece uma questão insolúvel,
porque é mal colocada. Todas as ocasiões em que tive a oportunidade de me
encontrar com ateístas, bastou-me pedir-lhes que descrevessem o que
entendiam por Deus, para, nessa descrição, verificar quais as razões de seu
ateísmo. Foi-me fácil afastá-los de sua posição e colocá-los na aceitação de
um Ser Supremo, o que é, para nós cristãos, o ponto de partida para uma
total recuperação".
***
[96]
42. Tribuna da Imprensa (RJ) Edição de 2003 - Jornal
publicado entre 2000 até 2008. (Biblioteca Digital da
Biblioteca Nacional)
[97]
43. Artigo no jornal Folha de São Paulo Opinião, quarta-feira,
06 de outubro de 2004.
Festival retrô
(Por OLAVO DE CARVALHO)
***
[100]
44. Artigo publicado no jornal Diário do Comércio, 24 de
Fevereiro de 2015.
‘’A fonte da criação’’
O pensamento e a literatura não se constroem na universidade, que se tornou,
ao contrário, a institucionalização do mediano
Toda verdade que se espalha por muitos ouvidos logo se torna um lugar-
comum, uma fórmula repetida mecanicamente, esvaziada da sua substância
intuitiva originária. É ainda uma verdade “material”, mas não “formal”, diriam
os escolásticos -- isto é, um conteúdo verdadeiro apreendido de maneira falsa.
O conhecimento da verdade, no seu sentido pleno, material e formal ao
mesmo tempo, é um privilégio da consciência individual humana. Pode ser
repassada de um indivíduo a outros, mas cada um tem de fazer por si mesmo
o esforço de apreendê-la. Não existe verdade comunitária.
Todo professor confirma isso diariamente. Um aluno isolado pode
compreender a explicação que escapa totalmente ao resto da classe, mas é
impossível que a classe como um todo apreenda algo que nenhum dos seus
membros entendeu individualmente.
A civilização inteira do Ocidente nasce com a proclamação dessa ideia:
Abraão guarda no segredo da sua alma a instrução que recebeu de Deus.
Moisés sobe sozinho ao Monte Sinai. Cristo no alto da cruz encarna a Verdade
solitária, incompreensível aos que O rodeavam – até mesmo, em determinada
medida, aos Seus discípulos mais próximos.
Em ciência, a colaboração entre vários pesquisadores prossegue no escuro
até que um deles enxergue o que os outros não enxergaram.
Ninguém em volta compreende o que se passa na alma do artista quando
ele transfigura a pedra informe na Pietà ou as palavras do dicionário na Divina
Comédia.
No entanto, é certo que a consciência individual, para chegar a essas
alturas, precisa da ajuda da comunidade, que a protege, a estimula e a nutre de
conhecimentos até que ela possa alçar seu voo solitário. E mesmo então ela
continua precisando do diálogo com outras consciências, nas quais se
reconhece e das quais se distingue pouco a pouco na individualidade
irredutível da sua solidão criadora.
[101]
A tensão entre a independência individual e a participação numa
comunidade de inteligências afins é um dos traços mais constantes da História
ocidental. Sócrates busca sua audiência entre os jovens da aristocracia
ateniense, mas foge dela quando eles, na sua fragilidade de moços, repousam
da filosofia, entregando-se a jogos e prazeres indignos de um filósofo.
Sto. Tomás adestra sua inteligência nas disputas universitárias, mas,
quando obtém por fim as respostas mais altas que desejava, sabe que vai levá-
las sozinho para a vida eterna, sem poder dizer mais uma palavra sequer.
Goethe busca a perfeição do caráter na agitação do mundo, mas a do talento
na solidão.
O equilíbrio dinâmico esboroa-se, porém, quando a atividade intelectual
e criativa se padroniza ao ponto de identificar-se com a participação numa
determinada categoria profissional.
William Faulkner ou Henry Miller ririam se alguém lhes pedisse um
currículo universitário ou uma carteira sindical de escritor. Hoje, nos EUA, a
literatura, para não falar da filosofia, foi quase que integralmente absorvida
pelas profissões universitárias correspondentes.
Por isso não há mais nenhum Henry Miller ou William Faulkner, apenas
uma profusão de talentos médios ou sofríveis. Nenhum aprendizado
universitário substituirá jamais a densa experiência da vida, as “impressões
autênticas” de que falava Saul Bellow.
Por isso mesmo, o que há de mais vigoroso na literatura americana das
últimas décadas vem de tipos marginais e extravagantes, como John Kennedy
Toole ou Hubert Selby Junior. E Thomas Pynchon salvou seu talento ao
escapar da carreira acadêmica a que tudo parecia destiná-lo.
Na França, o caso de Emil Cioran é exemplar. Talvez o mais poderoso
artista da língua francesa na segunda metade do século XX, nasceu na
Romênia e, ao fugir para Paris, evitou cuidadosamente não só meter-se ali em
instituições acadêmicas, mas exorcizou toda identidade profissional
concebível: durante décadas viveu espremido num sótão, comendo
diariamente no restaurante da Aliança Francesa e renovando ilegalmente, até
à velhice, uma bolsa de jovem estudante.
Justamente na época em que o governo Pompidou seduzia a
intelectualidade inteira com cargos universitários, enquadrando até os
rebeldes de 68 e estrangulando com um cordão de ouro o mais animado
ambiente de debates que já existiu, ele se manteve ferozmente à margem de
toda vida oficial, recusando até mesmo prêmios literários.
No Brasil, é notório que a crítica literária morreu ao ser absorvida pela
universidade. Com ela, foi para o túmulo também a literatura de ficção. E
décadas de empombadíssima filosofia universitária não nos deram um Mário
Ferreira dos Santos, um Vilém Flusser, um Vicente Ferreira da Silva, um
[102]
Miguel Reale, que nada deveram à universidade. O exemplo brasileiro ilustra
com perfeição o aforisma de Nicolás Gomez Dávila: “Un diploma de dentista
es respetable, pero uno de filósofo es grotesco.”
Sim, um escritor, um pensador, um artista precisa de companheiros, de
diálogo. Mas nada substitui os encontros espontâneos, os círculos de
convivência informal, a amizade fundada na comunidade de sonhos e valores,
longe de todo enquadramento burocrático, de toda organização profissional. O
tipo de convívio que não estrangula a individualidade no garrote vil dos
regulamentos e dos planos de carreira, mas a preza e estimula.
Foi justamente nesses círculos que se formou a mais talentosa geração de
escritores que o nosso país já produziu, aquela que ingressou na vida literária
na década de 30 e dominou o panorama até os anos 70 do século XX. Tudo o
que veio depois, trazido nos braços da universidade, é lixo em comparação.
Quando Bellow definiu a missão do escritor como o registro das
“impressões autênticas”, e Martin Amis como “a luta contra o clichê”,
disseram ambos a mesma coisa: só o apego irredutível à liberdade da
consciência individual, contra todo compromisso deformante, liga um ser
humano à fonte da experiência viva de onde nasce toda grande literatura,
toda grande arte, todo grande pensamento.
***
[103]
45. Revista Unesp-Ciência, Agosto de 2014 – Há uma citação
sobre o Mário Ferreira dos Santos.
‘’Gerhard Bund’’
‘’O Homem que Calculava Núcleos’’
Infância Difícil
***
[108]
46. Artigo no Jornal - ''Diário Popular''- de 24 de Julho de
2020 - Mário Ferreira dos Santos, um filósofo Pelotense?
– escrito por Luís Rubira, professor do Departamento de
Filosofia da UFPel. – Artigo extraordinário de tão bom!
[110]
47. Mário Ferreira dos Santos, o Ilustre desconhecido (por
Rodrigo Ulguim) 02 de fevereiro de 2022.
Por estes dias, não sei bem a data, reli em algum site o seguinte conselho
do Mário Ferreira: “Exercitai a vossa memória”. O que poderia parecer
apenas uma pequena amostra colhida entre muitos dos seus tesouros de
sabedoria soou, aos meus ouvidos pelo menos, como uma ordem a ser
cumprida com urgência. Afinal, nenhuma obra sofreu tanto as
consequências da falta desse exercício como a obra do próprio Mário Ferreira
dos Santos. E eu precisava escrever este artigo. E como precisava, aproveitei
a visita à minha cidade de origem — onde o sábio também residiu por muitos
anos —, para praticá-lo.
Tomei conhecimento da obra Ferreiriana em 2014 lendo um artigo do
professor Olavo de Carvalho intitulado “Mário Ferreira dos Santos e o nosso
futuro”. Nele, um gênio expunha com clareza e objetividade a obra de outro
gênio. Foi o bastante. Depois do baque inicial que a leitura causou, decidi
correr atrás dos registros da vida do Mário aqui na cidade (na época eu ainda
residia em Pelotas), e assim o fiz. Vasculhei o acervo da Biblioteca Pública
Municipal e encontrei cinco registros com seu nome: eram cinco volumes da
Enciclopédia das Ciências Filosóficas e Sociais (Filosofia e Cosmovisão;
Lógica e Dialética; Curso de Oratória e Retórica; Curso de Integração
Pessoal e O Homem perante o Infinito). Os livros estavam esquecidos na
última estante do largo salão, todos desgastados e mofados por causa da
umidade, empilhados na prateleira mais próxima ao chão. Lembro como se
fosse ontem: o volume de “Lógica e Dialética” todo roído pelas traças, com
algumas páginas soltas do miolo. Aqueles livros, aquela estante, certamente
estavam abandonados há muito tempo. E não culpo ninguém. Os gentis
funcionários da biblioteca não sabiam, como eu não sabia até o dia anterior,
que aqueles livrinhos feinhos e mal editados valiam, sozinhos, mais que o
restante do acervo. Tomei os cinco emprestado e passei o restante dos meses
estudando.
A leitura de qualquer um dos volumes da Enciclopédia é sempre um
desafio: há ali um tipo de estranhamento inerente, uma sensação de meio-
discurso, de fala interrompida. Finda as leituras, contatei professores
conceituados do departamento de História da UFPel, com a esperança —
meio capenga, é verdade — de obter mais alguma informação sobre a
passagem dele na cidade. Esforço em vão. De todos os senhores doutores
iluminados pela sapiência universal contatados, apenas um sabia da
existência do filósofo; e o que sabia, dava de ombros a quem chamava de “um
mero tradutor e comentador da filosofia de Nietzsche, e nada mais”.
[111]
O homem que possivelmente fora o Platão dos nossos tempos, revisor
da escolástica portuguesa dos séculos XV e XVI e herdeiro direto de dois mil
anos de tradição metafísica havia se tornado, naquelas porcas palavras, “um
mero tradutor e comentador” da filosofia alheia. Paciência. Informação se
busca com quem sabe.
Assistindo aos “Óculos do vovô” e vendo-o pintando as lentes num ato
de inocente traquinagem, imaginei como teria sido sua infância. Procurei os
locais das filmagens, o antigo Parque Souza Soares, no bairro Fragata (por
coincidência, o bairro onde eu residia), e não o encontrei mais. As antigas
linhas de bonde deram lugar às avenidas com o asfalto rachado, os belos
bosques cederam seu espaço às escolas públicas, prédios residenciais e uma
pizzaria. Aquele parque do filme e das fotos antigas não existe mais, há muito
tempo. Não tinha como eu saber do passado, precisava buscar quem sabia.
Na introdução d’A Sabedoria das Leis Eternas, enfim, encontrei um
dado importantíssimo: Mário estudou no Colégio Gonzaga, o mais
tradicional colégio da cidade e administrado por jesuítas até meados do
século passado. Nos registros da instituição, o que se vê é um aluno notável
e excepcional, com aprovação em todas as disciplinas, elogiado pelo esmero
da sua educação. O mais estranho é que na escola não há sequer uma menção
do seu nome. Nada, absolutamente nada.
Nos corredores, na biblioteca, nas salas de aula, no jardim de recreação,
nada, nem ao menos uma placa em reconhecimento aos seus méritos,
nenhuma menção ao ilustre desconhecido. Logo em frente ao Colégio fica a
Catedral São Francisco de Paula, cartão-postal da cidade. Ali naqueles
bancos, diante daquele altar de mármore e abaixo dos afrescos de Aldo
Locatelli, ajoelhado diante do “Charitas” inscrito acima da imagem do santo
padroeiro, o pequeno filho do senhor Francisco Santos recebeu seus
primeiros sacramentos. Aquelas colunas espessas, perfeitamente
distribuídas pela nave central, arquitetadas em direção à grande cúpula,
parecia uma imagem da catedral intelectual que ele erigiu em vida.
Mário Ferreira morreu de pé, recitando, com muita dificuldade, as
palavras do Pai Nosso. “Perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós
perdoamos aos nossos devedores”. Como homem de fé e de altíssima
nobreza, deixou este mundo suplicando o perdão divino aos seus devedores,
àqueles que em vida tanto o desprezaram e lutaram para que sua memória
fosse apagada da história. Infelizmente eles conseguiram, por décadas. Mas
se há uma coisa que a vida e a obra desse homem demonstraram é
justamente a vitória redentora do espírito sobre a mesquinhez reinante. Se
por muito tempo suas façanhas foram esquecidas como os livros na estante
daquela biblioteca, hoje temos a possibilidade de reconstruir nosso mundo
interior com os alicerces da mathesis megiste. A prece de Mário foi atendida,
e com o perdão recebido, cumprem-se as palavras do salmista: “A pedra que
os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular.”
Pelotas, 02 de Fevereiro de 2022.
[112]
2- Relatos do Professor e filósofo Olavo de Carvalho sobre o
Mário Ferreira dos Santos no True Outspeak, Curso Online
de Filosofia (COF), no Facebook e no Curso - Mário Ferreira
dos Santos- Guia para o estudo da sua obra
[115]
O Mário foi o único filósofo moderno que podia conversar de igual para igual
com Platão e Aristóteles. E nós em vez de nos orgulharmos disso, e de colocarmos
uma estátua desse homem em cada esquina, nós simplesmente o ignoramos. Mas
o Brasil ignora até o seu fundador: José Bonifácio de Andrade e Silva, para mim
foram os dois maiores brasileiros! José Bonifácio de Andrade e Silva, que criou o
país, e o Mário Ferreira, que elevou o pensamento brasileiro acima de toda a
filosofia universal da sua época! São os dois maiores brasileiros! O quê que nós
fazemos com eles? As obras de José Bonifácio de Andrade e Silva não são
encontráveis em lugar algum, nunca são lidas, nenhum brasileiro leu isto, sumiu!
Aqui nos Estados Unidos todo mundo lê: Thomas Jefferson, lê os escritos de Jorge
Washington, de John Adams, tudo quanto é escola lê! O Brasil ignora o seu
fundador e despreza o seu fundador, e despreza o maior dos seus pensadores! O
que você quer que aconteça? Só pode dar merda, porra! Aí é que tá! Então é por
isso que tem que começar, o brasileiro tem que começar a restaurar o senso das
proporções, o senso da ordem, o senso do que é grande e do que é mesquinho,
Enquanto não pegar isto, nada se fará! Não adianta reclamar do Lula. O Lula é um
sintoma! Tá certo? O Lula é apenas uma espinha que estourou num corpo que está
podre! Então nós temos que consertar a alma brasileira, a inteligência brasileira,
primeiro! Tá certo? E, com base nisso, criar uma intelectualidade séria, e dessa
intelectualidade séria, sairá, mais tarde, a liderança política séria! Daí haver uma
esperança para o brasil, se é que ainda haverá tempo.’’
(Olavo de Carvalho - TRUE OUTSPEAK, 2007)
***
‘’Por que não há mais como tratar estas pessoas, está entendendo? Têm gente
aqui que fica chocado por que eu xingo esses caras! Olha, têm certas pessoas,
vamos dizer, onde xinga-las é até uma coisa de caridade, porque as vezes um nego
vem com uma idéia... até apareceu um camarada dizendo aí , dizendo assim: O
Mário Ferreira dos Santos não era filósofo, era apenas um estudioso da filosofia
alheia. O sujeito diz isso e quer uma resposta. A resposta é essa: VAI TOMAR NO
CÚ! Você está entendendo? Que outra resposta eu posso dar? Quer dizer, eu estou
falando com uma pessoa que, não é que ele não seja capaz de entender a filosofia
do Mário, ele não é capaz de ler um livro do Mário! E dá um palpite desse. Daí
aparece outro, mais idiota ainda, lembrando uma declaração do professor Miguel
Reale, mais ou menos no mesmo sentido: O Mário era um estudioso da filosofia,
mas sem uma obra original. Bom, acontece o seguinte. Esta opinião do Dr. Miguel,
que eu conheço bem - eu era amigo doutor Miguel, porra-. Essa opinião remonta
ao começo da década de 50, quando o Mário havia publicado o livro dele que ficou
mais famoso na época, que era ‘’O Homem que Nasceu Póstumo’’, que era um livro
sobre Nietzsche. Então ele fez uma certa fama de estudioso de Nietzsche, e
publicou mais dois ou três livros de polêmica filosófica, mais literário do que
filosóficos, na verdade, e pronto, acabou! Bom, acontece que, depois, o Mário, um
dia, estava dando uma conferência, e de repente, ele parou a conferência e disse:
‘’Turma, acabou a aula, vocês me desculpem, eu tive uma ideia, tenho que ir para
casa escrever.’’ E ele foi, e escreveu, ficou 16 anos escrevendo! Escreveu os 56
[116]
volumes do que ele chamou ‘’Enciclopédia das Ciências Filosóficas.’’ O Dr. Miguel
Reale não leu uma linha dessa ‘’Enciclopédia das Ciências Filosóficas’’, ele conhece
o Mário da fase anterior. Pouquíssima gente leu a ‘’Enciclopédia das Ciências
Filosóficas’’, e mais ainda, quando leu, não chegou a ler as obras que era o
coroamento, que era a série final de dez volumes, que começa, quer dizer, com ‘’A
Sabedoria dos Princípios’’, depois ‘’A Sabedoria da Unidade’’, a Sabedoria do Ser e
do Nada, ‘’A Sabedoria das Leis Eternas’’, que é a obra magna do homem, e um dos
cumes do pensamento universal. Ninguém leu isso, quer dizer, o Dr. Miguel Reale
tinha o direito de estar enganado a respeito do cara, porque ele o conheceu numa
fase anterior, mas hoje em dia, depois de tudo o que eu informei, sobre a
‘’Enciclopédia das Ciências Filosóficas’’, sobretudo, a parte inédita, depois de tudo
que eu contei, ainda aparecer um nego dizendo uma coisa dessa, só pode ser
mesmo um total incapaz. Um sujeito desse, eu não vou discutir, porque se eu for
discutir, eu vou ter que humilhar o nego demais, você está entendendo, eu vou ter
que pisar no cara, transformar em bosta. Então, para não fazer isto com o cara, eu
já mando a MERDA logo. Eu digo: Vai pra casa moleque, vai chupar prego, não me
enche o saco etc. Quer dizer, eu posso discutir com gente grande, com gente que
tenha alguma retaguarda para discutir ou pelo menos se não tem capacidade
intelectual, que tem uma posição pública, que pelo menos seja rico e famoso,
poderoso. Agora um merda, fracassado, coitado, sub-nitrato do pó de bosta vem
abrir a boca. Eu não sei nem como consegue falar uma coisa dessa, porra! E não
posso responder, porque seria humilhante demais pro cara. Então, olha, eu vou te
dar um conselho. Conselho de pai, vai à merda.’’
***
[118]
‘’Se falar no Miguel Reale, o sujeito já torce o nariz, e o Mário Ferreira, então,
ninguém nem torce o nariz, porque nunca ouviu falar. E tem mais, eu não conheço,
em toda universidade brasileira, entre os professores da universidade brasileira,
entre os professores de filosofia no Brasil, um único que tinha sequer a capacidade
de ler o quê o Mário falou, e de saber do que ele estava falando, porque a referência
do Mário é toda a filosofia da Antiguidade até hoje, sobretudo, passando pela
escolástica e pelos autores mais raros da escolástica, que são os escolásticos
portugueses e espanhóis. Ele leu tudo isto, tudo! Como é que eu sei que ele leu?
Por que ele tinha edições xerocadas disso aí - que não havia nem como ter acesso,
porque não havia nem edição -, então, o que é que ele fez? Ele foi em arquivos
portugueses e xerocou, copiou, fotocopiou os textos. E está tudo lá, anotado na
casa dele. E você, sem uma referência sólida de filosofia escolástica, você não
entende o Mário. O Mário não é uma coisa para você começar seus estudos por ele,
é para você terminar. Cada vez mais, quer dizer, o meu contato com o Mário data
de 1984, por aí. Eu me lembro até de quando uma aluna minha - que jamais leu o
Mário -, apareceu lá com um monte de livros e disse: ‘’A filha desse senhor aqui me
deu os livros dele’’. Eram umas edições horrorosas, eu peguei aquilo na mão, no
começo eu não acreditei que livros bons pudessem ser tão mal editados, mas
depois, quando eu comecei a ler, eu falei: Ou esse camarada é completamente louco
ou ele é o maior filósofo do Universo, e era mesmo! E era mesmo! Cada vez eu me
convenço mais que o louco era eu! Esse é um grande filosofo. Agora, as pessoas
não sabem o que é um grande filósofo, porque elas não sabem o que é um filósofo.
Uma longa convivência com o Mário me convence, cada vez mais, do seguinte: Não
houve, ao longo de toda a história humana, um único filósofo que pudesse
conversar de igual para igual com Platão e Aristóteles, nenhum! Mas o Mário pode!
Isto aconteceu no nosso país! Não é inacreditável? Agora, enquanto nós temos um
homem da grandeza, do porte, da luminosidade do Mário Ferreira, nós achamos
que cultura brasileira é o Gilberto Gil, é o carnaval, com aquele governador Jaques
Wagner, fazendo aquela surubinha em público lá, com a mulher do ministro, com
a mulher do outro. É o Gilberto Gil, é o carnaval. E é o doutor Emir Sader e é o Frei
Betto e Leonardo Boff. Ora, este país merece ir pro brejo mesmo, porque quem não
sabe distinguir o grande do pequeno, o verdadeiro do falso, o certo do errado, não
tem sequer o senso das proporções.
Para saber que perante um homem como o Mário Ferreira a gente tira o
chapéu e só fala dele com muito respeito. Tá certo? As pessoas que não sabem
disso, elas ficam respeitando exatamente o que não merece respeito. Por que você
acha que acontece esse negócio dessa dona Cida Diogo? Porque as pessoas não têm
a medida do que é respeitável e do que é desprezível. Eles trocam, eles pegam a
coisa mais desprezível, que é a frescura de uma mulher, se fazendo ofendida,
porque foi chamada de feia, e eles respeitam isso profundamente, e diz: Eu respeito
profundamente o sentimento da deputada Cida Diogo. Eles não sabem o que
respeitar! São pessoas pervertidas, mentalmente pervertida, mesmo. Veem tudo
ao contrário. Então é claro que não pode haver lugar na cultura brasileira para um
homem como Mário. O Mário é maior do que o Brasil. É a mesma coisa, quer dizer,
ora, Sócrates não era maior do que a cidade de Atenas, que o condenou? Então, o
Mário Ferreira é maior do que o país que o ignorou.’’
(Olavo de Carvalho - TRUE OUTSPEAK - 2007)
[119]
‘’Agora temos aqui uma mensagem do Luís César Andrade, uma mensagem
muito interessante, não sei se estarei em condições de responde-la como ela
mereceria, mas está aqui:
‘’O senhor menciona muito o Mário Ferreira dos Santos, já ouvi o senhor
falar um pouco sobre a ‘’Teoria das Tensões’’. Bem, dessa teoria, nada para nós é
tão explícito ao que parece ser para o senhor. No mais, para o pouco que eu li do
saudoso Mário, principalmente de sua ‘’Filosofia e História da Cultura’’, as
tensões são mencionadas em diversas nuncias sociais, morais e axiológicas nos
tomos 1 e 2, principalmente. O senhor poderia ilustrar melhor para nós o que
realmente consiste a ‘’Teoria das Tensões’’, no seu programa de segunda-feira?
Olavo: Bom, falar cinco minutos sobre isso é a mesma coisa de não falar
nada, mas o projeto filosófico do Mário, ele tem duas etapas, quer dizer, o
primeiro é a criação do que ele chama a ‘’matheses’’ ou a ‘’metalinguagem de todas
as ciências’’, quer dizer, você equacionar, vamos dizer, o conjunto do
conhecimento, numa linguagem inspirada nas leis da aritmética elementar, no
simbolismo dos números, das categorias pitagóricas. Apreendendo, por trás de
todos os seres, o que ele chama a sua ‘’lei de proporcionalidade intrínseca’’, quer
dizer, a equação matemática que expressa a forma integral de cada ser, porém,
feito isso, a visão que você obtém fica reduzida, vamos dizer, a um esquema
matemático, em seguida você tem que entrar, você tem que colocar o dinamismo
e o funcionamento de volta no esquema, e esse é justamente as tensões, quer
dizer, a ‘’lei de proporcionalidade intrínseca’’ que compõe o ser, não é um
esquema, vamos dizer, estático, ele é como se fosse um algoritmo, é um módulo
de transformações, e estas transformações se dão através do que o Mário chama:
‘’as tensões’’, está certo? Então, cada ‘’ente’’ tem a sua ‘’forma’’, essa ‘’forma’’ é
idealmente, pode ser expressada em termos matemáticos, mas essa forma não é
uma forma, vamos dizer, estática, a forma é permanente, mas ela se realiza
através de uma sequência de mutações, ou seja, a forma não é a forma de uma
repetição, é a forma de uma sequência de mutações possíveis, está certo? E essas
mutações se operam exatamente por causa dos elementos de contradição interna
e de tensão, portanto, que existe dentro de cada ‘’ente’’. O Mário Ferreira dos
Santos que me perdoe por ter resumido o negócio tão brutalmente.’’
***
[120]
‘’Olavo: Espera aí, tem alguém na linha! Alô?
Ouvinte: Aqui é o Hélio, tudo bem?
Olavo: Quem é?
Ouvinte: Aqui é o Hélio, tudo bem? Está me ouvindo? É o seguinte, eu
queria que o senhor dissesse alguma coisa sobre o que você achou de mais
interessante, o que você descobriu ou percebeu sobre Bernard Lonergan, Louis
Lavelle, e Xavier Zubiri?
Olavo: Uai, isso aí dá pra dar um curso inteiro. Mas vamos lá, vamos lá! O
O Bernard Lonergan foi o primeiro sujeito que entendeu como é que
funciona a inteligência humana. Ele escreveu um livro de mil páginas chamado
‘’Ensaio’’, que todo mundo tem que ler! Olha, é um livro que mostra para você, na
medida que você entende a inteligência, você se torna mais inteligente. Ninguém
lê esse livro impunemente. É um livro bastante trabalhoso, tem várias páginas alí
que são verdadeiros exercícios que você tem que fazer para entender como é que
funciona, mas faz um bem danado! O Xavier Zubiri, esse é o mais difícil de explicar.
O Xavier Zubiri é um filósofo espanhol que como ele, durante a Revolução
Espanhola, ele ficou do lado republicano - o que cá entre nós foi uma cagada,
porque os republicanos já eram uma ditadura - depois ficou numa situação difícil
com o governo franquista e teve que sair da universidade e ficou dando aula em
casa, e toda a obra do Xavier Zubiri é de publicação póstuma, com exceção do
primeiro livro que se chama ‘’Naturaleza, Historia, Dios’’, no qual ele ainda não
mostra a que veio. Quando o homem morreu e começou a sair esses livros - isso já
na democracia espanhola -, foi um susto, porque o sujeito era quase um novo Santo
Tomás de Aquino, está entendendo? O ponto central da filosofia do Zubiri é a
ligação entre inteligência e realidade. Ele mostra alí, entre outras coisas, vamos
dizer, que essa dimensão que nós chamamos de ‘’realidade’’, é uma coisa que só
existe para o ser humano, quer dizer, os animais não vivem propriamente na
realidade, eles vivem numa espécie de névoa subjetiva. Está certo? E como se
constitui, então, essa dimensão de realidade para o ser humano, este é um dos
assuntos para o Zubiri. O Mário Ferreira, então, é o sujeito que se dedicou a
reconstruir o que teria sido a filosofia pitagórica, mas a filosofia pitagórica que ele
constrói não é a do Pitágoras historicamente considerado, é a dele. Eu acho o
Mário, na verdade, um gênio muito maior do que Pitágoras, mas muito maior. Está
Certo? Pitágoras deu lá duas ou três dicas, e com base nessas duas ou três dicas, o
Mário construiu o que ele chamou de uma ‘’metalinguagem das ciências’’, uma
metalinguagem inteira. Então, entre outras coisas interessantes que o Mário fez,
está a descoberta de que os números, os números que nós utilizamos na contagem,
1, 2, 3, 4, são categorias do conhecimento humano e categorias do ser, são
estruturas do próprio ser humano, de maneira que você, no mero ato da contagem,
você está percorrendo todas as dimensões possíveis que cada ser tem. Por exemplo,
para um ser ‘’ser’’ alguma coisa, tem que ter uma ‘’unidade’’, ‘’ser’’ e a ‘’unidade’’
são a mesma coisa dizia Duns Scot. Mas essa unidade sempre se compõe de alguma
contradição interna, existe alguma contradição interna, então é a ‘’dualidade’’.
Essa ‘’dualidade’’, por sua vez, implica uma ‘’relação’’, tem um terceiro elemento,
e assim por diante. Quer dizer, o simples fato de conta-los você está passando as
várias categorias do ser e do conhecimento. Mas isso aí não é assunto para aqui
nesse programa, isso aqui precisa de muitas e muitas aulas pra explicar esse
[121]
negócio. E Louis Lavelle, ele é o único filósofo do século XX que levou a sério a
idéia de que a realidade existe, está certo? Então é o homem que passou a vida
tentando restaurar no ser humano o senso da presença da realidade e da sua
presença na realidade. Você lê o Louis Lavelle é você acordar de um pesadelo
filosófico de quatro séculos. Para mim, para o meu gosto pessoal, o Lavelle foi o
maior de todos. Eu nunca li uma linha do Louis Lavelle que eu não concordasse, o
que eu não posso dizer de nenhum dos outros. Bom, vamos lá.’’
‘’Há certas coisas que se transmitem no ensino da Filosofia que são até
indizíveis: são matérias de estilo, de experiência pessoal, que só a convivência é
capaz de passar, não há outra maneira. Se você é capaz de pegar isso por leitura,
então é porque além da capacidade ou do talento propriamente filosófico, você tem
este outro talento que não é filosófico, é um talento de aprendizado, que até tem a
ver com a filosofia, é claro, mas que não é a filosofia em si mesma. São talentos
distintos.
Grandes gênios da filosofia não tinham este talento. Por exemplo, S. Tomás
de Aquino estudou durante anos com Sto. Alberto Magno. Sto. Alberto já entregou
bastante coisa mastigada para ele e ele prosseguiu da onde o outro tinha parado,
ele não fez sozinho.
Agora, quem ensinou o Mário Ferreira dos Santos? Ninguém. Então isso
querdizer que ele não tinha apenas o gênio filosófico, ele tinha outro talento
específico que é o de aprender sozinho. Isso pode acontecer. Quando aparece um
sujeito do nada, sem uma tradição que o anteceda, sem grandes professores que o
coloquem no caminho, isso acontece. Mas isso não vai fazer de você um filósofo
maior ou menor.
Um filósofo que tinha isso é Leibniz. Os professores com os quais Leibniz
aprendeu estavam tão abaixo dele, que ele praticamente não aprendeu nada com
eles, ele aprendeu sozinho. Você não pode dizer o mesmo de Platão e Aristóteles,
que são os dois maiores filósofos da humanidade. Eles não tinham este talento.
Platão aprendeu com Sócrates e Aristóteles aprendeu com Sócrates e Platão.’’
‘’Um monstro como Mário Ferreira dos Santos, ou como Leibiniz, que
praticamente deu contribuição em todos os ramos do conhecimento possíveis e
imagináveis. Leibiniz às vezes escreve muito claro; às vezes muito obscuro. O nosso
Mário Ferreira é sempre obscuro – não porque não soubesse escrever, mas por
pressa. Acho que ele sabia que ia morrer, tinha doença cardíaca muito séria.
Ouvindo as gravações das aulas que ele dava, você percebe que, com a minha idade,
ele só balbuciava. Ele sabia que ia morrer logo e tinha de escrever aquilo do jeito
que fosse. No entanto, a riqueza do que tem no fundo daquilo não dá nem para
comparar – precisa de duzentos Henri Bergson para se comparar com ele.’’
(Olavo de Carvalho, COF - Aula 03 - 04 de abril de 2009)
[122]
‘’Muitas operações estratégicas no mundo são feitas baseadas no
esquecimento público. Quando a pessoa observa a sua própria ignorância em ação,
geralmente pensa que aquilo é uma deficiência dela, e pensa que aquilo pode ser
vencido quando, na realidade, não pode. Isso faz parte da estrutura humana e tem
de ser levado em conta sempre — não só nos estudos, em que o sujeito vai ter de
permanentemente reconquistar o que já conquistou, mas historicamente ele tem de
ver que as coisas se perdem de uma geração para a outra de uma maneira
acachapante. É muito fácil perder.
Para você acabar com o ensino da filosofia num país, bastam poucos anos.
Basta você apagar, às vezes, um detalhezinho, que você apaga um monte junto com
ele. Quando, na história da nossa autoconsciência nacional, o pessoal apagou, por
exemplo, o Mário Ferreira dos Santos, eles apagaram tudo junto, porque é
necessário que a sua consciência histórica do que está se passando acompanhe o
que está efetivamente se passando, e não um modelito inventado, que você já
fechou, e daí você acredita que as coisas são assim-e-assado. Quando você observa
as considerações sobre história da filosofia no Brasil, que se trocavam como
figurinhas ali na USP, no tempo do João Cruz Costa, ou do Paulo Eduardo
Arantes (que escreveu Um Departamento Francês de Ultramar, sobre o
departamento de filosofia da USP), ou as discussões do próprio Instituto Brasileiro
de Filosofia, você vê que todos estavam ignorando o maior filósofo presente. O
negócio chegou a um nível de alienação total — eles estão falando de um país que
não existe, porque no Brasil de verdade havia o Mário Ferreira dos Santos. Ele era
a única coisa que estava acontecendo, mas o que se discutia era o que não estava
acontecendo. Essa ignorância é a história do pensamento brasileiro: há a história
do que estava efetivamente acontecendo e a história do que as pessoas imaginavam
que estava acontecendo. Agora, isso que elas imaginavam era um acontecimento em
si mesmo: a ignorância era uma realidade. Então, você tem ali um contraste: você
tem um tremendo filósofo, um filósofo de alcance universal, criando ali uma obra,
ao mesmo tempo em que um bando de ignorantes discutia outra coisa, falando de
um país que na verdade só existia na mente deles. A história não é nem só a história
do Mário Ferreira, nem só a história dos outros ignorantes, mas desse contraste,
desse drama inconsciente.
Então, a unidade do conhecimento na unidade da autoconsciência só existe
em Deus, evidentemente. Deus sabe tudo a respeito Dele mesmo e o que Ele sabe a
respeito Dele mesmo é o conjunto do conhecimento existente. A filosofia é apenas
o esforço de conquistar um pedacinho desse conhecimento e não perdê-lo.’’
***
[123]
***
[124]
***
‘’Aluno: No seu texto “Consciência e Estranhamento”, sobre Descartes e a
psicologia da dúvida, o senhor afirma que não apenas sabemos que sabemos, mas
sabemos que sabemos que sabemos, caso contrário não poderíamos afirmar que
sabemos que sabemos. Pode-se representar isso por uma relação trina. Esta forma
uma quarternidade, na expressão do Mário Ferreira dos Santos, como comentado
pelo senhor no artigo “Mário Ferreira dos Santos e o Nosso Futuro”. Qual seria o
nome apropriado desta quarternidade?
‘’O único lugar do mundo onde aconteceu um fenômeno como Mário Ferreira
dos Santos foi o Brasil, porque o Mário estudava o negócio pitagórico, escolástico,
moderno, leibnitziano, tudo no mesmo plano. Para ele, tudo tinha mais ou menos
o mesmo valor, ele estava livre. Se ele fosse fazer isto num ambiente universitário
brasileiro, as inibições em torno seriam tantas que o matariam, não o deixariam
fazer uma coisa dessas. Eles nem poderiam compreender do que o Mário estava
falando. Ele transitava com a maior liberdade entre a filosofia grega e toda a
escolástica. Ele tinha lido tudo, os escolásticos mais obscuros, coisa que ninguém
[126]
leu, somente especialistas haviam lido aquilo (e também só aquilo). O Mário
transitava naturalmente entre todas essas coisas. Tudo isso aí é possível por quê?
É como naquela poesia do Murilo Mendes: nós estamos deitados em uma rede que
todos os países estão balançando. Não pertencemos a tradição nenhuma. Ótimo!
Nós podemos pegar de todas as tradições o que quisermos, o que for bom para nós.
No Brasil podem acontecer fenômenos como Mário Ferreira dos Santos, por causa
dessa flexibilidade mental que o brasileiro tem. Quando aconteceu o Gilberto
Freyre, qual foi a novidade dele? Ele começou a pegar informações de fontes que
todo mundo desprezava: “Ah! Não se faz isso numa universidade!” Ele disse: “Por
que eu não vou fazer? Eu sou apenas um rapaz latino-americano, eu posso fazer.
Vocês não podem, porque são pessoas 'importantes'. Mas eu posso”. Resultado: foi
o maior sociólogo do século XX.’’
‘’Toda a obra conhecida do próprio Aristóteles começa aos 40 anos, não antes
disso (Aristóteles viveu sessenta e poucos anos [ 384 a.C.-322 a.C. ]). O nosso
Mário Ferreira dos Santos1 escreveu um monte de coisas de pouco valor em um
primeiro momento, antes de ter aquela intuição do que ele chamou de Filosofia
Concreta, e daí passou os últimos dezesseis anos da vida escrevendo ou ditando
um livro atrás do outro, até morrer. Se você comparar o que o Mário fez nesses
últimos dezesseis anos com o que ele escrevia antes, dá a impressão de que é uma
outra pessoa; foi uma verdadeira mutação. Similar ao que aconteceu em literatura
com o nosso Machado de Assis. Se você ler aqueles primeiros romances românticos
dele – A Mão e a Luva, Ressurreição, etc. –, e depois ler Memórias Póstumas de
Brás Cubas, você dirá “Êpa, baixou o espírito, é um outro cara”.
Em literatura isto é raro, mas em filosofia é o comum. Ou seja, você vai
acumulando, vai pensando, você vive naquele mar de dúvidas durante 20 ou 30
anos, daí, de repente, as soluções começam a pingar, uma atrás da outra. Tudo
material acumulado que foi se condensando como se fosse um forno alquímico em
que as idéias e os conhecimentos ficam se mesclando uns com os outros, até que
saia alguma coisa. É isso que eu quero que vocês façam, por isso eu pedi esse voto
de abstinência em matéria de opiniões, inclusive em matérias que dizem respeito
à sua conduta pessoal.’’
***
[127]
‘’Acontece que a inteligência autônoma é uma coisa que no Brasil sempre foi
hostilizada, e hoje em dia realmente não tem mais lugar para ela. Se você observar
direito, verá que todos aqueles que realizaram grandes obras no Brasil, por força
da sua inteligência criadora autônoma, foram sempre muito hostilizados. O
problema não é ser hostilizado, não é a perseguição pessoal, porque muitas vezes
é claro que o indivíduo que está empenhado em um trabalho dessa altura está
pouco se lixando se as pessoas gostam dele ou não, o problema não é este. O
problema é que o círculo de rejeição que se forma em torno deles impede que as
suas obras, suas descobertas, suas idéias, exerçam sobre a sociedade o papel
vitamínico e fecundante ou hormonal que poderiam desempenhar, espalhando
como em círculos concêntricos possibilidades intelectuais mais altas por
virtualmente toda a população. Isto quer dizer que mesmo que você tenha obras
absolutamente geniais – e eu estou persuadido de que no Brasil há obras mais altas
do que você encontra aqui nos EUA, onde não há nenhum Mário Ferreira dos
Santos, nenhum Gilberto Freyre, nada desta altura. Apesar disso, a cultura
superior aqui é infinitamente superior à do Brasil, porque as grandes obras
exercem uma irradiação em torno, elas têm um papel na educação e são aceitas e
prezadas como um patrimônio nacional, ao passo que no Brasil, quando não são
consideradas verdadeiros crimes de lesa-pátria – como aconteceu no caso do
Gilberto Freyre – são simplesmente soterradas sob camadas e camadas de silêncio,
desdenho ou de hostilidade invejosa. É uma coisa absolutamente doente, que não
há similar. ‘’
[128]
imensurável! Eu considero a mesquinharia brasileira uma das sete maravilhas do
mundo, porque não há paralelo existente! ‘’
(Olavo de Carvalho, COF, Aula 32
14 de novembro de 2009)
***
‘’Se vocês estudarem a obra do Mário Ferreira dos Santos, por exemplo, verão
que todas as possibilidades mais altas e mais baixas da civilização no Brasil já estão
demarcadas ali. Ninguém conhece o Mário Ferreira, ninguém sequer o entende,
mas à medida que você o entende, também entende o seguinte: aquele sujeito era
a única chance que havia para surgir uma civilização decente no Brasil. Na medida
em que se afastam dele, ou em que o ignoram, vão para baixo, necessariamente.
Ao ponto de que, passados apenas 30 anos de sua morte (o Mário morreu em 68,
e nessa época o Brasil ainda tinha alta cultura), virando as costas ao Mário, em três
gerações a alta cultura acabou. O que é isto? É a autoridade do Pólo. Ou você segue
aquele sujeito, ou você vai para o buraco. Não tem outra.’’
(Olavo de Carvalho, COF, Aula 37
19 de dezembro de 2009)
***
‘’Se virmos o que aconteceu com a obra do Mário Ferreira, é a maior obra
filosófica das três Américas (se pegar todos os filósofos americanos, somados, não
dá dez por cento do Mário), até uma das maiores obras do mundo, se não a maior.
Quando eu comparo o Mário com o Edmund Husserl, por exemplo, digo que ele é
muito mais inteligente que Husserl. Ele percebia coisas que Husserl precisaria de
quinze vidas pra perceber e, no entanto, foi de uma esterilidade total
pedagogicamente falando. Por quê? A absorção da filosofia do Mário é uma coisa
para muitas décadas, eu ainda estou neste processo. E os alunos dele, o que
faziam? Estudavam um tempinho com ele, e depois falavam: agora vou tomar o
meu próprio rumo. Graças a isso, tudo o que fizeram foi pro lixo. Você conhece
algum filósofo brasileiro discípulo do Mário que tenha feito alguma obra original?
Não. Primeiro, não entenderam o tamanho deste filósofo. O Mário é o novo Platão:
tem que ficar vinte, trinta anos em cima deste negócio e assima, talvez, possa-se
até corrigir certas partes... E, talvez até acrescentar um novo campo de
investigação que ele não abrangeu – embora no caso do Mário seja muito difícil,
porque ele mexeu com tudo. O estudante brasileiro não tem muita idéia dessas
coisas.’’
(Olavo de Carvalho, COF, Aula 38
26 de dezembro de 2009)
***
[129]
***
***
"O Mário Ferreira dos Santos foi, de longe, o maior dos nossos filósofos, e
um autor e conferencista de enorme sucesso no seu tempo. Por que o seu trabalho
não rendeu frutos, além daqueles que germinaram na mente de um sujeito que
nem o conheceu pessoalmente, isto é, eu mesmo?
Para mim, a solução do enigma é a seguinte:
Ele fez tudo em prazo brevíssimo — dezesseis anos, escrevendo um livro a
cada três meses. Mal conseguiu registrar no papel as idéias filosóficas que lhe
ocorriam umas atrás das outras, sem parar, numa tempestade de intuições
fulgurantes. Nunca teve tempo de meditar sobre COMO fazia isso, sobre o trabalho
interior do filósofo, a psicologia da investigação filosófica. Sem isso, mesmo o mais
genial dos filósofos fica pairando acima das cabeças da platéia, sem exercer sobre
elas uma ação fecundante.
[131]
Estou felicíssimo de ter despertado o interesse de tantos estudantes por esse
gigante do pensamento — não só o maior dos nossos filósofos, mas o maior dos
brasileiros."
(12 de Maio 2017, no Facebook)
***
‘’Quem lê o Mário Ferreira com atenção nota que o gênero literário dele é a
EXPOSIÇÃO DOUTRINAL, o registro logicamente hierarquizado das
CONCLUSÕES filosóficas a que chegou e, de vez em quando, o confronto delas
com outras conclusões. Não é nunca a NARRATIVA de uma investigação, o passo-
a-passo de uma descoberta, Simplesmente não deu tempo de fazer isso."
***
"O filósofo, se é também um bom professor, deve ensinar não somente a sua
própria filosofia ou a dos filósofos do passado, mas o “how to do it yourself”.
***
"Prometo: assim que o meu escritório ficar pronto e eu tiver de volta a minha
biblioteca, começarei a planejar um curso sobre o Mário Ferreira dos Santos."
(12 de Maio 2017, no Facebook)
***
‘’O Mário Ferreira, como muitos outros gênios vulcânicos que trabalham em
velocidade alucinante, não era muito bom em matéria de consciência
autobiográfica. Ao elaborar o último livro da série "Matese", sob o título "Deus",
culminação de todo o seu esforço cognitivo, enxertou nele o texto inteiro de
"Provas da Existência e Inexistência de Deus", publicado décadas antes sob o
pseudônimo Charles Duclos, numa época em que obviamente ele não havia
alcançado ainda as grandes intuições estruturais que viriam a constituir a
"Matese". Quando ele diz que trabalhava na "Enciclopédia" desde trinta anos
antes, isso só é verdade no que diz respeito à matéria, aos temas, mas não à forma
intelectual, à estrutura total da sua filosofia, que obviamente só lhe ocorreu na
penúltima e na última fases da sua vida pensante. Vida que se divide nitidamente
em três fases: a do beletrista e publicista, filósofo informal e comentarista de
Nietszche; a da "Filosofia Concreta", que abrange a maior parte dos volumes da
[132]
"Enciclopédia"; e a dos dez volumes finais (seis deles deixados inéditos, um dos
quais eu mesmo vim a publicar), onde a denominação geral da doutrina muda da
"Filosofia Concreta" para "Mathesis Megiste" (Ensinamento Supremo),
correspondendo a essa mudança um salto formidável para um nível mais alto de
abstração.’’
(07 de Setembro de 2017, no Facebook)
***
***
‘’Em primeiro lugar, ler o Mário sem você ter alguma prática da leitura de textos
escolásticos vai ser um desastre, você vai se dar muito mal. Em segundo lugar, a
obra do Mário, pelo próprio estado em que estão os seus textos, não é uma obra de
leitura prioritária para o estudante, é uma das últimas coisas que você deve
estudar, porque a obra do Mário ela não tem essa força didática que o Mário
pretendia ter, ela é um sistema filosófico pronto, acabado, catedralesco, etc, muito
complexo, e ela é, sobretudo, um problema: Em primeiro lugar um problema
editorial, um problema textual, ou seja, você não vai começar a sua vida de estudos
tentando resolver os problemas mais recentes e mais difícil, é bobagem! É a mesma
coisa de um sujeito tentar começar a treinar boxe lutando com o Mike Tyson. É
loucura! Então o Mário Ferreira, de fato, não é leitura para qualquer um. Você veja,
a própria burrice que a É Realizações está fazendo mostra isto, quer dizer, são
pessoas que mal saíram da USP ou nem saíram ainda, estão lá e dizem, vou me
envolver com o Mário Ferreira, vou refazer aqui a investigação textual! Vai fazer
nada, você vai fazer é um monte de besteira. Ademais, tem o segundo problema, o
Filósofo colombiano Nicolás Gómez Dávila, disse com muita razão: ''A formação
do filósofo não é somente a formação da sua inteligência, mas a formação da sua
alma''. Isso é a coisa básica. Ontem mesmo eu estava vendo um vídeo do Jordan
Peterson, que é sempre brilhante, e ele diz que em geral, este tipo de expositor, que
transmite a filosofia como se fosse uma coisa pronta, ele não incorporou as idéias
à sua pessoa, ELE NÃO POSSUI ESSAS IDÉIAS, AO CONTRÁRIO, elas o possuem,
e ele é a apenas o alto-falante que as repassa, e com isso vai criar um vício. Eu acho
que toda a USP é assim, eles passam uma filosofia pronta. Quando as ideias são
incorporadas à sua alma, significa que você começa a perceber as coisas assim,
[133]
mesmo quando você esqueceu do que você leu, por exemplo, estudei Nietzsche,
esqueci tudo, mas de repente eu começo a ver as coisas como Nietzsche veria se ele
estivesse aqui, ISTO É VOCÊ CONHECER FILOSOFIA, por isso mesmo que eu
faço questão sempre de expor as filosofias mediante exemplos que não estão
presentes nas obras dos filósofos originários. Eu vou ensinar aqui Aristóteles,
então eu vou aristotelizar em sua frente, mostrar como é que Aristóteles faria se
estivesse aqui. Aí sim você assimilou, não só cognitivamente, mas em termos de
valores humanos, quer dizer, o que eu estou fazendo não só na minha vida
intelectual, mas na minha vida em geral, envergonharia Aristóteles? Tem que
pensar nisto.
Esta formação da alma, eu sugeri que o primeiro passo dela fosse o exercício
do necrológico, ou seja, você vê quem você quer ser quando crescer, e ao longo da
vida você refaz essa imagem - tem aquela imagem ideal que você compõe de você
- e você vai se julgar a luz dela. Por isso que eu digo, o exercício do necrológico não
é para ser mandado para mim, é para ser mandado para você mesmo, ou seja,
daqui 1 ano, daqui 2 anos, você lê aquilo de novo e vê: Eu estou me transformando
naquilo que eu quero ser, portanto, naquilo que eu sou profundamente ou eu estou
me dispersando, estou virando uma criatura periférica, superficial, leviana, mais
interessada em objetivos sociais e econômicos ou eróticos e lúdicos, ou eu estou na
filosofia para valer? Esta formação, para um confronto com o Mário é
absolutamente indispensável, e isto é justamente o que falta para essa gente aí que
está dando palpite sobre o Mário!
Tem até um sujeito aí que disse que o Mário se inspirou nos Enciclopedistas
do Século XVIII. Pelo amor de Deus, o quê que é isto? Esta irresponsabilidade,
esta leviandade, no Brasil, é quase obrigatória. No Brasil, qualquer conversa séria
é considerada uma chatice ou falta de educação, se não sinal de doença mental. As
pessoas se reúnem e podem falar de futebol, de mulher e do custo de vida - falar
mal dos políticos admitisse um pouco, não muito -. Então, eu não sei de onde vem
isto, seria o caso de estudar a origem disso. Precisamos nos livrar disso para poder
entrar num confronto com um homem mortalmente sério, que era o Mário
Ferreira dos Santos. O Mário Ferreira dos Santos era o sujeito que filosofava 24
horas por dia, até quando estava dormindo. Ele não estava fazendo filosofia de vez
em quando, ele não estava fazendo nem profissionalmente.’’
(Olavo de Carvalho, no curso - Mário Ferreira dos Santos- Guia para o estudo
da sua obra, em 5 aulas, 8 de novembro a 02 de dezembro 2017)
***
[134]
2- Textos
1-Transcrição de 14 Áudios preciosos, informativos e de muita
necessidade mostra-los na presente edição dessa Revista.
(Mário Ferreira dos Santos, sua esposa Yolanda Duro Lhullier e as filhas
Yolanda e Nadiejda, na Avenida São João - SP)
[136]
I- “Integração e Desintegração da História”, na Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Santos, 1963.
[Fim do Áudio]
[142]
II- Exemplos de Filosofias nos Diversos Períodos da História
[143]
Agora, a terceira fase, que é a fase da eleitocracia, é uma fase de
evangelização, é a fase que nós conhecemos no período Alexandrino, onde
depois vai-nos surgir a figura máxima desta fase, sem dúvida alguma, que é
Santo Agostinho, que propriamente já inaugura a filosofia teológica ou religiosa,
que vai constituir a primeira fase do segundo período:
O período Aristocrático, cujas figuras principais nós temos nesse período,
que é São Bernardo, temos Alexandre de Hales, temos os grandes filósofos que
vão constituir a escolástica até chegarmos então à segunda fase, que é a filosofia
teológica natural, já de Tomás de Aquino, já fundado no aristotelismo, em que
surge a figura de Scot, precedida naturalmente pela grande figura de Santo
Anselmo, que é considerado o fundador da escolástica.
No Terceiro período da aristocracia, já o período que vai se transformar a
aristocracia para a monocracia, a filosofia não religiosa cresce, desenvolve-se
muito, então, há uma luta tremenda contra esta intervenção do lado antitético.
É quando surgem os grandes filósofos no ocidente, os grandes filósofos jesuítas,
a escola de Coimbra, a escola de Salamanca, que nos dão aquela série de vultos
imensos como Pedro da Fonseca, S.J., Baltazar Teles S.J., Francisco Suárez, S.J.,
Valência S.J, Solto S.J., Benedito Pereira S.J., e etc, em que há uma luta em
defesa das ideias religiosa em contraposição ao excesso do racionalismo, que
estava se formando.
Agora, na fase democrática, que vai predominar o racionalismo filosófico,
o experimentalismo científico, então nós encontramos no lado tético, a
modificação da escolástica, que segue a linha dada pelos jesuítas e que também
se torna científica, a cosmologia se fortalece, a escolástica não receia em
enfrentar as descobertas cientificas e pode-se dizer mesmo que a ciência
moderna vai encontrar neste grupo escolástico as suas principais bases, os seus
principais discípulos.
Já na democracia na segunda fase, a fase da protocracia, a filosofia
ideológica já começa a desenvolver-se, então nós estamos em pleno relativismo,
em pleno cetipcismo, há uma certa depressão, como aconteceu no ocidente, na
escolástica, e até que a democracia chega a este estado do cesarismo, que o
cientismo é vacilante no início, a incredulidade é uma tanto crescente, até que
em pleno período cesário-crata, nós temos então uma ciência protocolaria como
nós estamos vendo, os conflitos ideológicos crescem de uma maneira
extraordinária e também nos encontramos em face do fim das possibilidades do
ciclo e o surgimento então de uma nova fé, de uma nova possibilidade, de uma
nova certeza que possa inaugurar um novo ciclo para o mundo.
Eu dei assim rápidos exemplos no nosso ciclo cultural.
[144]
A outra pergunta que eu tenho aqui é a seguinte:
A terceira pergunta que eu tenho aqui as mãos, ela pergunta qual seria a
nova cosmovisão?
Bem, nós não pretendemos ser profetas, em todo caso, todo homem que
estuda, que examina a história sempre alcança um certo profetismo, porque
funda-se em certas realidades que permitem estabelecer as possibilidades
futuras, mas essas possibilidades futuras são contingentes e consequentemente
podem não se realizar.
O nosso ciclo cultural encontra-se num momento gravíssimo, num
momento de choque, num momento em que a diversidade se polarizou entre
dois campos que praticamente dividem o mundo e que ameaçam-se
mutuamente à uma destruição, e uma destruição que poderá ser total. Talvez
nós encontremos o fim da humanidade se surgir a guerra com as possibilidades
que ela apresenta, mas a verdade é o seguinte: Nós vamos encontrando hoje nos
trabalhos modernos, nos trabalhos da filosofia positiva, da filosofia concreta,
uma reunião constante de postulados que são perfeitamente demonstrados, de
modo apodítico, e que vão permitir junto com o aspecto realmente positivo da
ciência, não da ciência protocolaria, mas da ciência melhor orientada, para a
conjunção num futuro próximo de uma nova revelação dada ao homem – não
propriamente dada pela divindade no sentido que miticamente se faziam nos
outros ciclos - mas como uma revelação de a verdade se revelar ao homem à
proporção que ele a vai buscando, então ele encontrará os elementos para a
construção de um novo ciclo cultural e de uma nova cosmovisão que será
positiva, porque todos os ciclos culturais, os grandes ciclos culturais, eles se
fundam em concepções filosóficas positivas e concretas e não em posições
filosóficas negativas. De maneira que nós podemos confiar no papel da ciência,
[145]
como podemos confiar no papel da filosofia positiva moderna, não dessa
filosofia de negação, dessa filosofia que só ponha dúvidas, dessa filosofia
agnóstica, céptica, niilista, desesperada, que busca destruir os aspectos
positivos, mas a outra parte, a parte tética, nós podemos confiar e com as
grandes contribuições da ciência podemos esperar a formação de uma nova
concepção do mundo que será ainda uma concepção cristã, porque o
cristianismo ainda não esgotou as suas possibilidades, e mesmo dentro da
concepção cristã, que é uma concepção sincrética e que reúne os pontos altos de
todas as religiões de todos os ciclos culturais, nós encontramos bastante
positividades para ajudar na formação de uma nova visão do mundo, uma visão
ecumênica. De qualquer forma, o novo ciclo cultural humano deverá – se não
houver uma guerra destrutiva que vá outra vez separar os povos -, ter um aspecto
completamente distinto dos outros ciclos culturais anteriores, porque os outros
ciclos culturais anteriores, eles cingiam-se a determinadas regiões do nosso
globo, mas o novo ciclo cultural de qualquer maneira ele será universalista, ele
será ecumênico, ele terá uma tendência a abranger todos os homens – salvo,
como dissemos, se houver uma guerra terrível que destrua e outra vez separe os
povos de maneira que se criem novas cultural completamente distantes uma das
outras, mas nesse caso o homem recairá na barbárie -.
E de certo modo esta possibilidade favorável é também um estímulo para
que nós lutemos por esta concepção ecumênica e seria um ideal, seria um desejo
justo que fosse possível que nós a realizássemos antes da deflagração do conflito
universal, porque se fosse possível vencermos as fronteiras e dar uma visão geral
do mundo nova, que desse uma unidade, uma nova tensão a humanidade, nós
poderíamos evitar que neste choque de interesses políticos, - porque este choque
é genuinamente político, é uma Luta pelo Poder - possa lançar à humanidade
num caos de uma guerra tremendamente destrutiva. De maneira que à
juventude moderna há um grande papel a cumprir, e em vez de ela estar servindo
a um lado ou outro que divide o mundo, ela devia unir-se para uma nova
concepção do mundo que pudesse outra vez estabelecer o homem em bases
positivas, permitindo que ele possa ter uma nova esperança, um novo querer,
possa unir-se, mas libertando-se acima de tudo, este é um ponto principal, sobre
o qual eu vou falar daqui a pouco. Um ponto importantíssimo, a luta contra estes
ambicionadores de poder, esses homens que só desejam o Kratos, esses grupos
que querem apossar-se do poder político para exercer o domínio sobre os outros
e impedir o desenvolvimento normal e harmônico da sociedade.
[Fim do Áudio]
[146]
III - A luta Pelo Poder.
Tem mais alguma pergunta? Não tem? Ninguém quer mais fazer
perguntas sobre os temas tratados, alguma análise sobre algum ponto para que
eu possa ainda aproveitar o pouco de tempo que resta?
[147]
Tem aqui uma pergunta. Pergunta-se o seguinte:
[Fim do Áudio]
[149]
IV – A Crise no Mundo Moderno, Associação Brasileira de Imprensa, 1965.
[150]
Toynbee. Não propriamente queira dizer que sejam as principais, mas são das
principais concepções formuladas.
Aquela visão, digamos, contínua da história, foi posta em xeque.
Passou-se a compreender que o ser humano conhece através das suas grandes
civilizações verdadeiros ciclos culturais, ciclos que têm um nascimento, um
desenvolvimento, entram num estágio, num patamar mais ou menos
equilibrado, para imediatamente precipitar-se numa decadência que os leva a
um longo final até que sejam substituídos ou se criem novos ciclos que vão
outras vezes viver a mesma vida.
Pode-se discutir esta matéria, e ela realmente tem sido tema de grandes
discussões. Mas o que é inegável é que se nós passamos os olhos para os
grandes ciclos culturais conhecidos há seis mil anos para cá notamos que
realmente assim se deu. Assim se deu com o mundo egípcio, assim se deu com
o mundo hindu, assim se deu com o mundo chinês, com o mundo árabe, com
o mundo grego romano e parece que está se dando com o mundo que nós
vivemos, o mundo que vamos chamar cristão.
Seja como for, nós notamos que nesses ciclos culturais existe uma
cosmovisão que estrutura o próprio ciclo, e essa cosmovisão está sempre
fundamentada numa ideia religiosa. Nós vemos a formação do mundo egípcio
estruturar-se, na sua cosmovisão, na sua visão geral do mundo, em torno da
ideia religiosa dos sacerdotes egípcios. Assim, nos brâmanes, nós notamos a
formação do mundo hindu. Também notamos a formação do mesmo mundo
nos gregos e no Cristianismo, na concepção cristã. Estas concepções do
mundo, elas têm um aspecto genérico e elas não impedem certos aspectos
específicos que são de certo modo divergentes.
Em torno das ideias fundamentais dessa cosmovisão, estabelece-se esse
ciclo, esse ciclo cultural, muito embora outros elementos também entrem na
formação do ciclo que nós vamos, por hoje, despreza-los, para apenas
considerar este aspecto fundamental que é o aspecto da ideia religiosa.
Ora, se nós olhamos no nosso ciclo cultural, nós notamos que ele se
forma em torno da concepção cristã. A cosmovisão cristã opunha-se quase que
frontalmente, quase que contrariamente à concepção greco-romana. Para os
gregos romanos, à um homem, não era considerado naquela plenitude que o
cristianismo considerou. Admitia-se que alguns nascessem para senhores, e
alguns nascessem para escravos. E deste modo a escravidão era estabelecida
como um princípio natural, como alguma coisa do direito natural. O que é
frontalmente oposto à concepção cristã. Ademais, a pessoa humana tem um
valor no cristianismo que nós não encontramos nos outros ciclos culturais. A
concepção do mundo levava, também, o veículo romano a considerar que nós
[151]
somos como que, na nossa dramaticidade, no desenvolvimento da nossa vida,
como determinados pela vontade dos deuses. O homem tem um fado, tem um
destino, pode-lhe acontecer o bem ou o mal segundo a vontade e o capricho
dos deuses. Concepção completamente oposta à cristã que concebe o homem
como um ser livre, que é senhor, também, do seu destino, pelo menos
parcialmente, senhor do seu destino.
Para a concepção grega esse determinismo não era um determinismo
fatal ou um determinismo em sentido absoluto, porque eles admitiam que a
conjunção de causas pudessem produzir efeitos ‘’per accidens’’, distinto dos
efeitos ‘’per se’’. Eu vou exemplificar, apenas para clarear esta expressão,
dizendo que uma macieira dando maças é um efeito ‘’per se’’ da macieira,
porque decorre naturalmente da natureza da macieira, mas um
acontecimento fortuito, um alto que ao correr pela rua, choca-se com o outro,
e daí sobrevém a morte de algumas das pessoas que nesses altos estavam, é
um acidente, porque não é um efeito que decorra ‘’per se’’ nem do alto que
anda, mas sim de uma conjunção meramente acidental.
Para o grego, então, essas conjunções acidentais sobrevêm na vida
humana dispostas pelo capricho dos deuses. E este era o caráter trágico que
assumia a vida grega, porque o drama para o grego é apenas a continuidade,
a decorrência, a sucessão de uma sequência ‘’per se’’. Aquele homem que
constantemente se embriagar e é finalmente tomado pelo vício, decai e chega
aos mais baixos graus que um ser humano pode atingir é dramático, mas
aquele que na flor da idade morre num desastre imprevisto é trágico, trágico,
porque foi uma conjunção acidental de fatores que geraram aquele efeito,
enquanto que o outro era uma decorrência natural de um hábito mau que uma
pessoa seguia.
Consequentemente, eles distinguiam bem claramente o conceito do
dramático e do conceito do trágico, e tinham uma concepção
consequentemente trágica da vida, porque todo o destino humano estava
dependendo do capricho dos deuses. O que é completamente contrário à
concepção cristã, porque no cristianismo a vida humana não depende do
capricho dos deuses. Mesmo na concepção da graça, de uma graça
santificante, e dos diversos tipos de graça, que é um dos temas mais debatidos
dentro da teologia cristã, estas graças podem ser concedidas como favores ao
homem, mas muitas delas são adquiridas pelo mérito, pelo esforço do ser
humano no desenvolvimento da sua vida.
Ora, nós todos sabemos que o nosso ciclo cultural formou-se na
decadência grega e seguiu paralelamente o cristianismo ao grego romano em
decadência, consequentemente, penetrou dentro da parte material, da cultura
[152]
ocidental, os remanescentes gregos, inclusive os remanescentes da sua
filosofia, porque a filosofia ocidental seguiu os passos da filosofia grega.
Ora, em torno da concepção cristã, formava-se, ademais, elementos
contrários à essa concepção. Nenhum ciclo cultural consegue formar-se
homogeneamente de modo que ele totalize plenamente a parte material
constituinte do ciclo. Há sempre remanescentes de outros ciclos culturais que
passam, dentro desse ciclo, a serem disposições prévias corruptivas do mesmo
ciclo. As ideias gregas que foram corruptivas nos gregos continuaram atuando
dentro da estrutura cristã como disposições prévias corruptivas desta mesma
estrutura, e elas vêm vindo através dos séculos até os nossos dias.
Hoje, nós encontramos no nosso ciclo cultural o mesmo debate em
torno das mesmas ideias que animaram os sofistas gregos no primeiro período
da sua decadência e que animaram os estoicos, os hedonistas e os epicureus
gregos, já no final ou na plenitude da decadência greco-romana.
Os mesmos temas e as mesmas razões, e os mesmos argumentos, estão
sendo hoje manejados por autores modernos, embora, estes argumentos,
estas ideias, estes pontos de vistas, já tenham sido refutados com antecedência
de séculos.
Ora, sem dúvida alguma, e eu defendi esta tese em minha obra ‘’O
Problema Social’’, em nove volumes, nos quais eu estudo a filosofia e a história
da cultura, e analiso os temas históricos, sociais, políticos, econômicos, etc,
para finalmente, no último volume, apresentar um projeto, uma fórmula, uma
nova reformulação que nos possa salvar do estado em que vivemos. Nesta obra
tive a oportunidade de defender uma tese que não é minha, é uma tese que
tem 6 mil anos de existência, mas que é supinamente verdadeira, e a mais
verdadeira das concepções da história. Foi assim aceita pelos egípcios, foi
assim aceita pelos hindus, foi aceita, também, entre os judeus, porque no
Livro de Daniel está exposta a mesma concepção, foi realizada e completada
também no Ocidente e não conhecemos nenhum ciclo cultural em que não
vejamos sempre uma divisão da sociedade em quatro estratos sociais que se
digladiam entre si, que é: o sacerdócio; a nobreza; o empresário utilitário -
que no nosso mundo tomou o nome um tanto despectivo de burguês; e
finalmente, o servidor, o prestador de serviços.
Em todos os ciclos nós encontramos esses quatro estratos formados
numa heterogeneidade muito grande, mas nos aspectos genéricos, bem
delineados. Nós vemos que na formação do ciclo cultural, o primeiro período
é o período de domínio dos sacerdotes, participando, contudo, desse poder,
também a nobreza. O sacerdócio se apoia na massa de servidores, enquanto
que o empresário utilitário é o ‘’períepo’’, é algo que está em torno da cultura,
[153]
que nela não penetra, é um estranho, é um ‘’ádvena’’, que é admitido e aceito,
mas que não se inclui dentro do ciclo cultural.
Passasse o tempo, sobrevém a primeira grande revolução social que é
sempre a revolução da nobreza, que já tendo o poder econômico nas mãos,
aspira ao poder político, e vai a pouco e pouco tentando subordinar o
sacerdócio para que sirva aos seus interesses, o que termina por conseguir. No
início há um equilíbrio de participação no kratos social, mas finalmente a
nobreza consegue ter o domínio completo, a hegemonia, e então o clero passa
a servir a esses interesses, e mais, a nobreza penetra nesse clero, a nobreza
torna-se também esse clero, usa do clero, devido ao prestígio que ele tem, ante
os servidores e à massa popular para assim fortalecer os seus poderes.
Nós vimos no cristianismo, em certo período, sobretudo durante a
Idade Média, no fim da Idade Média e no Renascimento, que os altos postos
da igreja só podiam ser ocupados por nobres, de bispo para a cima só a
nobreza ocupava. O que levou a um movimento de rebeldia feito pelos jesuítas
que chamou-se o ‘’episcopalismo’’, no qual os jesuítas reivindicavam o direito
de qualquer homem, viesse de que classe fosse, pudesse ascender até ao
Papado. O que a nobreza não concordava, não permitia, porque desse modo a
nobreza dominava completamente a Igreja. E o que aconteceu? Aconteceu que
provocou o movimento da reforma, provocou uma desassociação dentro da
Igreja Católica, de modo que a Igreja frangiu-se em inúmeras igrejas, e a Igreja
Católica, perdendo o seu poder, não só o poder temporal que em certo
momento ela possuiu, foi perdendo também, em grande parte, o poder
espiritual, porque já não exercia sobre as massas àquela mesma influência que
nos primórdios da formação do cristianismo ela conseguia ter.
Então, nós vemos já se dar a incorporação do empresário utilitário, e
por quê? Por que, com o domínio da nobreza, vem a formação dos grandes
estados, surge essa pseudo-ideia, e esta grande mentira do nacionalismo, que
vai surgir precisamente neste momento, quando príncipes desejosos de poder
inventam uma concepção nacional para forçar as minorias insatisfeitas de
outros povos a aderir ao seu movimento sob a alegação de uma
homogeneidade ou étnica, ou linguística, ou de religião, ou de direito, ou de
ética, mas que realmente constitui apenas um subterfúgio político para
justificar a formação dos grandes estados.
Com a formação dos grandes estados, então, surge a produção em série.
Por que a produção em série? Porque formam-se os seus grandes exércitos, e
os grandes exércitos têm que ser uniformizados, e a uniformidade para a
manutenção do exército obriga a produção em série. Então, o ‘’períepo’’,
aquele que estava à parte da cultura, passa a incorporar-se na cultura, passa a
[154]
viver aquele ciclo, passa também a fundir-se com ele. E como se desenvolve o
seu poder econômico, ele passa a exigir, consequentemente, a participação no
poder. E essa participação se dá, de início, aproveitando-se dos nobres
arruinados, forçando-os a que casem com as filhas dos burgueses, e depois,
pelo abuso do luxo, que faz com que a nobreza se endivide e vá a pouco e pouco
sendo dominada por essa burguesia. Então, instaura-se definitivamente a
segunda grande revolução que há sempre em todos os ciclos culturais, que é a
chamada revolução burguesa, que no nosso ciclo tomou o título de revolução
democrática. Por que sempre essas revoluções se apresentam como aquelas
que irão fazer a felicidade dos povos, a felicidade dos servidores.
Então, vão ascendendo ao poder os burgueses, e eles acabam por
subordinar a nobreza, e subordinar o próprio clero, quando não os aniquilam,
mas nem sempre os aniquilam. Os estamentos continuam, como na Inglaterra
de hoje, nós encontramos os quatro estamentos, os quatro estados
perfeitamente – perfeitamente não - de certo modo equilibrados na mais
inteligente, no mais hábil equilíbrio que o Ocidente conheceu. Vemos a
presença da nobreza, a presença do clero, a presença do empresário utilitário
e também do servidor na vida política da nação, quase que em igualdade de
condições, e é um superando ao outro segundo os azares da política, típica da
Inglaterra.
Mas, a esta segunda grande revolução, sobrevém, finalmente, as
grandes agitações, provocadas pelos trânsfugas dos diversos estratos sociais.
Aqueles que estão descontentes do clero, descontentes da nobreza e
descontentes, inclusive, da própria vida burguesa, passam novamente a agitar
as massas para uma nova revolução, para uma nova transformação da
sociedade. Como o poder já não pode mais ser dado, porque o único estrato
que ainda se oferece é o servidor, surgem aqueles que prometem o poder aos
servidores como aconteceu com Marx no século passado que propôs, então,
ao quarto estado, a assunção ao Kratos político, através da ditadura do
proletariado. Era, então, a promessa que se fazia no século passado, promessa
que embalcou alguns elementos do nosso século.
Mas na história não acontece jamais, não aconteceu jamais. Não é uma
impossibilidade histórica, porque ante os fatos contingentes, ante os futuros
contingentes, não podemos estabelecer um determinismo rígido, mas não se
conhece, nesses 6 mil anos de história, nenhum momento, senão em pequenos
agrupamentos sociais, que as massas assumissem o poder político. Por quê?
Devido à sua despreparação, devido à sua heterogeneidade, devido, também,
às suas condições psicológicas, sociológicas e históricas, ela nunca está em
condições de assumir o poder.
[155]
Então, quando os bolchevistas compreenderam isso, substituíram, ou
deram à ditadura do proletariado a uma solução! Ela seria representada por
uma elite dos trabalhadores, cuja elite seria o partido. Este partido, então,
assumiria o poder, seria uma vanguarda desse proletariado, para que a pouco
e pouco devolvesse o poder ao proletariado, através da abolição do estado, que
se processaria lentamente de acordo com as possibilidades sociais,
prometendo, finalmente, um estado anárquico ou uma situação anárquica na
qual o poder não mais pertencesse a grupos separados, mas que fosse a
própria sociedade, politicamente organizada, senhora de si mesma e do seu
destino.
Mas, o que nos interessa hoje tratar para, então, imediatamente
abrirmos os debates, porque o tema é sem dúvida alguma apaixonante, e é um
tema que nós vivemos não só como espectadores, mas também como
intérpretes, e consequentemente que nos atinge, que nos interessa a todos, é
natural que o debate surja, que muitas ideias sobrevenham e eu deveria
atender aos senhores dentro dos limites das minhas possibilidades.
Mas, como eu dizia, o que eu preciso agora chamar a atenção, são os
fatores corruptivos, aqueles fatores que atuam corrompendo o ciclo cultural e
que vão gestar o estado de desordem, como o que nós hoje vivemos, um estado
de confusão no mundo das ideias.
Se nós observarmos, desde o início do cristianismo, os fatores
corruptivos atuam. Basta que prestássemos atenção a todas as heresias que se
formaram. Se elas se apresentavam com um espírito religioso, elas, no
entanto, traziam no seu bojo, as ideias contrárias à concepção cristã.
Ora, a concepção cristã é uma concepção positiva. O cristianismo é uma
religião, sem dúvida, uma religião sincrética. É uma religião que reuniu os
pontos altos de todas as religiões do mundo. É uma religião que copiou, em
certos aspectos, o que os outros fizeram de mais alto, e os cristãos sabem disso.
E os cristãos não negam isso, sabem perfeitamente que a missão cristã não é
de criar uma coisa nova, totalmente nova. A boa nova não era uma
substituição total, era a reafirmação do que havia de positivo no pensamento
de todos os povos nas suas ligações à um princípio superior fonte/origem de
todas as coisas que o homem deve reverenciar.
Então, encontramos sempre em oposição aos princípios positivos do
cristianismo, os princípios opositivos, sobretudo, negativos, que tem uma
função corruptora. Entre esses nós podemos notar que há o dogmatismo - e o
dogmatismo aqui estamos empregando em sentido religioso e não no sentido
ético comum que é empregado -, quer dizer, aquela concepção que aceita
princípios e afirma sem trepidação do ânimo, com plena convicção da sua
[156]
verdade. A esse dogmatismo, que é próprio da concepção cristã, que afirma
sem dúvida, sem temor de erro, apresenta-se em contraposição o cepticismo,
o agnosticismo, a dúvida. Uma religião, por exemplo, como a budista, que não
é positiva, que não é afirmativa, não foi capaz de construir um ciclo cultural,
porque se nós observamos as religiões dos diversos ciclos culturais, nós
veremos que todas elas foram positivas, aquelas que realizaram, que
construíram uma cosmovisão, que foram a base da formação de um ciclo
cultural eram profundamente positivas.
O cepticismo e a dúvida vai gerando aquelas constantes ideias que nós
já conhecemos no mundo greco-romano, que vão pondo a dúvida sobre tudo
quanto o cristianismo afirmava como verdadeiro. E foram servindo assim a
toda ação corruptiva, porque perdendo-se os princípios, facilmente perdiam-
se os meios, porque a concepção ética, as concepções sobre a vida social e
sociológicas que o cristianismo podia propor, se os seus princípios fossem
deficientes e falsos, consequentemente, também, deficientes e falsas seriam
as suas conclusões. De maneira que toda esta ação para destruir a positividade
da concepção cristã gerou os frutos da época moderna.
Nós vemos hoje o renascimento, não dos períodos áureos dos ciclos
culturais como o grego, mas precisamente o renascimento da sua decadência.
Quando, depois da vitória da democracia em Atenas, depois daquela
desastrosa Guerra do Peloponeso, quando Atenas decaia e olhava a grandeza
do seu passado no período de Péricles, os gregos de Atenas resolveram fazer
um processo para saber quais as causas que tinham levado aquele povo àquele
estágio. Então, chegaram à conclusão que a sua desgraça havia sido a presença
dos sofistas, que os sofistas haviam deixado os germes da dissolução e Atenas
estava colhendo apenas os frutos daquela sementeira indigna que os sofistas
haviam feito na sua juventude. Por que quando a nobreza de Atenas perdeu o
poder e ascendeu a democracia, a luta pelo poder foi imensa. A juventude
aspirava o poder, e ela tinha que preparar-se, e os meios para conquistar o
poder era a oratória, era a eloquência, era dispor de uma argumentação, a
mais poderosa, para os grandes debates públicos que Atenas conheceu neste
período. Então, sábios de toda a parte da Grécia encontraram em Atenas uma
fonte extraordinária de renda, porque eles iam levar os seus conhecimentos e
a sua técnica para aquele povo, e a juventude rica, aspirando ao poder, pagava
a peso de ouro àquelas aulas dadas por aqueles sofistas, com o intuito apenas
de poder dispor de uma argumentação poderosa que pudesse fazer face aos
seus adversários, e assim abrir as portas ao Kratos político. E a consequência
disso foi que aquela juventude decaiu - como decai em todos os momentos de
grande agitação política - decaiu, esqueceu os estudos, perdeu as suas ligações
[157]
com a cultura superior. Ficou uma juventude apenas agitada, uma juventude
que vivia de ‘’slogans’’, uma juventude que vivia de palavras de ordem, uma
juventude que apenas sabia debater as ideias políticas, mas que não tinha
mais fundamento em relação à grandeza do passado, então, Atenas decaiu.
Nesse processo, chegando-se à conclusão que os sofistas haviam sido a
causa de tudo aquilo, eles olharam para alguém que eles pudessem punir, para
que caísse sobre ele a culpa de toda aquela desgraça. E então cometeu-se um
dos maiores equívocos da história. A culpa caiu sobre Sócrates. Sócrates, que
havia sido, em seus primórdios, um sofista, não há dúvida, mas que se
libertara da sofistica, que lutará contra os sofistas, que os denunciara, que
provava que aqueles pseudo-sábios não tinham o valor que a juventude
acreditava. Sócrates foi condenado pela a mesma juventude, porque são
sempre os mesmos, os mesmos agitados, e aquela juventude ululante pediu a
morte de Sócrates, e Sócrates morreu bebendo a cicuta, e perpetuou-se o
grande crime contra a filosofia, o segundo grande crime de Atenas. O primeiro
foi contra Anaxágoras, acusado de impiedade, e exigiram também a sua
morte.
Pois bem, posteriormente nós encontramos na decadência grega a
presença de duas concepções que vão se debater e que também vão acelerar
essa decadência, que é o estoicismo e o epicurismo.
O estoicismo tem muitos aspectos positivos e grandiosos, sobretudo, na
parte ética, como também na parte filosófica, mas como uma doutrina atéia,
como uma doutrina agnóstica, ela fomentava, consequentemente, a dúvida, a
descrença, a falta de fé em algum princípio, em alguma coisa que pudesse
servir de esteio para a juventude. E o epicurismo, que também era agnóstico,
que também era uma quase totalidade dos epicuristas ateus. Eles também
defendiam as mesmas ideias, só que propunham quase um hedonismo, isto é,
uma busca à satisfação das paixões. O que nós encontramos a presença das
mesmas ideias, do estoicismo e do epicurismo, no existencialismo moderno,
quando estudado especificamente, não nos seus aspectos gerais.
Nós encontramos no decorrer de todo o processo histórico do Ocidente
a luta constante contra os princípios fundamentais da filosofia cristã. E esta
luta se faz usando dos mais indignos processos. Ao lado, também, e sobretudo,
das infâmias históricas, mas sobretudo, pelos processos indignos da filosofia.
Por que aqueles que ontem defendiam a tese, proclamavam uma tese, quando
esta tese depois passa a ser incorporada à concepção cristã e os autores
cristãos mostram que aquela tese é fundamentalmente cristã, passam-se para
o outro lado e passam a combater a mesma concepção. Nós vemos assim,
fundando-se no princípio de causa e efeito, quererem combater a filosofia
[158]
cristã. Depois, como o princípio de causa e efeito é esteio dessa filosofia,
passam a combate-la. Nós vemos defender a razão e exalta-la, como aconteceu
na Revolução Francesa, quando se prova que a razão é um dos esteios da
concepção cristã, então, surge o irracionalismo, surge a defesa de toda
concepção contrária. Nós encontramos sempre, em todos os ciclos, e no nosso,
sobretudo, esta presença adversativa de dois termos em oposição que vão se
acomodando às condições adversas de um lado e outro, sempre propondo o
contrário daquilo que o outro lado defende.
Mas, poderiam me perguntar: Mas como conseguem, se eles estão
errados, como conseguem deteriorar o que está certo?
Esta é a grande desgraça da humanidade. O erro tem mais facilidade de
propagar-se do que a verdade. É mais fácil propagar-se uma infâmia do que
uma boa conceituação. É mais fácil propagar-se um boato falso do que uma
realidade. É mais fácil destruir do que construir. Esta é uma das nossas
condições, algo que nos entristece e que é também uma das nossas grandes
impossibilidades.
Mas, perguntaria os senhores: Mas não havia nenhuma razão do outro
lado em combater a concepção cristã?
No nosso ciclo, eu vos diria que não. Havia sim uma luta contra aqueles
que representavam o cristianismo, aí sim! Que a Igreja errou durante o seu
desenvolvimento histórico, não há a menor dúvida! Que a Igreja teve
momentos indignos, também não tenho a menor dúvida! Que essa Igreja foi
pecadora, é sem dúvida! A Igreja Triunfante é a Igreja dos Bem-Aventurados,
e esta não existe neste mundo. O que existe é a Igreja sofredora, é a Igreja
pecadora, é a Igreja que tem tido os seus momentos altos e os seus momentos
de depressão. E dentro desta igreja surgiram homens de um valor
extraordinário, mas também surgiram pigmeus. Dentro desta Igreja surgiram
gigantes e surgiram anões. Surgiram homens que construíram obras
extraordinárias, mas também muitos que destruíram. E dentro desta igreja,
ao lado de obras grandiosas que foram realizadas, os maiores monumentos do
pensamento humano, nós encontramos também uma série de obras que têm
uma função destrutiva e que foram também a razão para destruir a própria
concepção que a Igreja defendia. Se hoje a Igreja está colhendo os frutos desse
estado, porque a cisão interna dentro da Igreja é já definitivamente evidente,
por mais que a Igreja busque, através neste concílio à um ecumenismo, à uma
unificação, a cisão dentro da igreja é inevitável, porque ela não consegue
vencer os males que foram semeados por homens que não mereciam chamar-
se cristãos.
[159]
Assim, nós nos encontramos hoje nesta situação. Seremos nós os
espectadores e intérpretes de um grande final ou seremos nós a possibilidade
de transformarmo-nos numa causa material, de uma nova concepção do
mundo, e que ainda continue cristã, dentro dos princípios fundamentais do
cristianismo, que são universais e representam o que de mais alto o homem
alcançou? Esta pergunta, naturalmente, deve pairar em todos os presentes, e
esta pergunta exige respostas, e estas respostas são difíceis. São difíceis,
porque os nossos estudos históricos ainda não são suficientes para que nós
possamos admitir que o nosso final esteja próximo. Sem dúvida que a guerra,
nas condições que se apresenta, poderá traçar definitivamente esse final, e os
sobreviventes, voltem à barbárie.
[Fim do Áudio]
[Continuação da Parte 1]
Dizíamos, então, que esta guerra poderá nos traçar o fecho do nosso ciclo
cultural e os sobreviventes caírem novamente na barbárie.
Mas, perguntamos, é possível vencermos esta guerra e evita-la? Por quê
meios? Será que o medo à própria destruição não será capaz de evitar o
conflito que nos ameaça? Nós não cremos. O medo não é positivo. O medo é
uma trepidação do ânimo ante um perigo iminente. E não é suficientemente
forte para impedir as guerras, porque nunca na história o medo a impediu.
Nós precisamos é coragem, de muita coragem. Será só a coragem que será
capaz de enfrentar a situação que nos encontramos.
Mas, se perguntarem: não há possibilidade de um ciclo cultural ser
eternamente jovem? Não nos mostra a história essa possibilidade. E nós não
acreditamos, em certo sentido, por uma razão muito simples, porque no
decorrer da luta entre os estratos sociais que se formam e no desgaste das
próprias ideias, neste entre choque das acomodações adversas, chega-se à um
final em que não há mais capacidade de criar. Como nós nos encontramos hoje
num mundo estancado de criação, um mundo que apenas pode se dedicar a
examinar aquilo que Spengler chamava o ‘’produzido’’, o ‘’produto’’, mas que
não tem mais capacidade de produzir, a não ser no setor da técnica e no setor
da ciência - mesmo esta, apenas, numa parte de classificação, numa parte de
análise, de exame, e não propriamente numa parte criadora -. Se nós
olharmos, por exemplo, a escolástica, que foi uma digna sucessora do
pensamento positivo grego e que chegou a apresentar esses vultos eminentes
que nós conhecemos, que representa a primeira plana do pensamento
[160]
mundial de todos os tempos, nós vemos que depois do surgimento de Santo
Anselmo, de um Alexandre de Hales, de um São Boaventura, de um São
Tomás, de um Duns Scot, e finalmente da escola de Coimbra, com os seus
grandes filósofos de Salamanca, representados por essas duas figuras
máximas do pensamento dessa época, como foi Pedro da Fonseca e Francisco
Soares, a escolástica entrou, sem dúvida alguma, num certo recesso, ficou
numa luta um tanto estéril de escolas, e as tentativas criadoras foram tão
parcas de modo a não ter surgido mais nenhuma figura daquele vulto. Então,
parece que tudo estancou-se, que tudo perdeu-se.
Mas, como disse ontem numa palestra que fiz no ‘’Centro José Oiticica’’,
nós podemos considerar o cristianismo sob dois ângulos: o cristianismo que
estamos vivendo, que é o cristianismo de ‘’piscis’’, e o cristianismo que
podemos viver, é o cristianismo de ‘’aquário’’.
Nós sabemos bem que ‘’piscis’’ foi o símbolo dos cristãos. E por que
‘’piscis’’ foi o símbolo dos cristãos? Porque os peixes são aqueles que se
procriam sem conjunção carnal. A fêmea põe os seus ovos e o macho depois
os fecunda. E Cristo foi, deste modo, tomado como o simbolizado deste
símbolo.
Aquário, na concepção dos antigos, têm um sentido mais social, e se nós
observarmos o cristianismo de ‘’piscis’’, é um cristianismo individualista, um
cristianismo que busca a salvação pessoal, não se propõe naquele cristianismo
a salvação das coletividades, propõe-se a salvação dos indivíduos. E o
cristianismo de aquário seria o cristianismo que podia nos propor a salvação
das coletividades dentro de uma concepção cristã, que é uma concepção
fundamentalmente de amor ao homem como o seu semelhante, como o nosso
próximo. De amor ao bem do homem, que é o fundamento da caridade.
Esse cristianismo de aquário é possível dentro das condições em que nós
estamos, que são condições, temos a causa material, no sentido aristotélico.
Teríamos a causa formal, que seria cristã. Teríamos a causa final, que seria o
bem coletivo, além da salvação individual, para os que tiverem crenças
religiosas. E encontraríamos a causa eficiente, que dependeria apenas da
nossa vontade, que como seres livres nós somos capazes de realizar este ideal.
Portanto, esse cristianismo seria uma possibilidade para nós. E uma
possibilidade que poderia estancar a nossa decadência, que poderia abrir as
portas para uma outra visão do mundo, para uma visão em que o homem
compreendesse que o seu dever é realizar o máximo de bem aqui para que ele
mereça amanhã, fora deste mundo, alguma coisa. Para os que não creem, para
aqueles que não têm a crença - e a fé não é algo que se fabrique, não é algo que
se imponha, é algo que nasce espontaneamente no coração humano -, para
[161]
aqueles que não têm a fé, restaria, no entanto, ainda dentro deste
cristianismo, lutarem pelo bem coletivo, lutarem pelo bem de todos, lutarem
com as dificuldades tremendas que terão que encontrar, porque a
deterioração do servidor, do homem simples, do trabalhador da nossa época
é imensa.
Em nenhuma época o servidor está tão desmoralizado, está tão
moralmente pervertido como na nossa época. Eu não incenso as massas,
nunca as incensei. Não sou político, não aspiro a cargos públicos de nenhuma
espécie, nunca os aceitei. Reconheço os defeitos tremendos que possuem os
trabalhadores, que nunca foram, nunca constituíram uma classe
revolucionária, ao contrário, foram sempre os que mais auxiliaram as maiores
reações da história.
Mas, sei também, que quando chega a esta degenerescência, pouco
adianta auxilia-los se nós esperarmos um gesto de gratidão, porque aqueles
que maior benefício fizerem a esta massa, serão os mais combatidos, serão os
mais perseguidos. E, no entanto, os demagogos, aqueles que melhor a
explorarem, que nada lhe derem se não migalhas, estes terão, então, a
aprovação das multidões. Assim foram as multidões de Roma, assim foram as
multidões gregas do período da decadência, e também do período da
decadência egípcia. Sempre apoiaram aqueles que não lhes davam nada, mas
que tinham a habilidade de dar-lhes migalhas.
E a habilidade é muito simples, eu vou ensinar aos senhores, para os que
não sabem, talvez muito sabem, da habilidade desta gente, é simples:
Se os senhores derem 500 cruzeiros para uma pessoa de gratificação e
dizerem, ‘’olhe, isto é para você comprar leite para o seu filho’’, ele desprezara
os quinhentos cruzeiros, ele, então, dirá ‘’olha, para que 500 cruzeiros? não
dá nem para comprar uma lata de leite’’, mas se disser, ‘’olha, 500 cruzeiros
para o seu cafezinho’’, ele então dá um valor tremendo aos 500 cruzeiros,
porque um cafezinho custa 20 ou 30 cruzeiros.
Então, aqueles que dão migalhas aos povos, eles costumam dizer que
aquilo que dão é para o mínimo, não para o máximo, porque se disserem que
é para o máximo, desvalorizam a sua dádiva, mas dizendo que é para o
mínimo, a sua dádiva é valorizada.
Eu conheço uma moça que é partidária de um político, e porque em certa
ocasião ele lhe deu 500 cruzeiros, para que ela comprasse alguns doces, e
desde então ela ficou totalmente dominada por esse homem, e não admite
nenhuma crítica, nenhuma análise sobre o mesmo. Ela é uma partidária
intransigente desse político que ela considera o mais perfeito.
[162]
Esta é a habilidade que sempre tiveram na história os dominadores, que
quiseram aproveitar-se da deterioração das massas, dar-lhes migalhas sobre
um título mínimo, e esses é o que conseguem. Enquanto que aqueles que dão
realmente o bem às massas, estes não receberão o gesto de gratidão que eles
merecem.
Bem, senhores, eu falei sobre os aspectos gerais da decadência. Coloquei
uma possibilidade, também, para que nós evitemos que o nosso ciclo cultural
entre em completa dissolução. Abri as possibilidades de uma nova esperança,
já que eu sei que muitos estão desesperados ante a iminência da guerra, não
tanto aqui no Brasil, porque nós não temos noção de guerra, se não uma noção
um tanto cinematográfica do que é guerra. Mas aqueles povos europeus que a
viveram nas suas carnes, que têm mortos a chorar, estes estão desesperados,
esses sentem-se num estado de angústia terrível, e angústia que não é a nossa,
mas que nós estamos importando através da literatura, e vamos acabar
criando, também, em nós, porque como imitadores nós somos
extraordinários.
Nós precisamos é ter uma consciência desse estado e compreendermos
que nós brasileiros, pelas nossas condições históricas, somos capazes de dar
uma possibilidade nova ao mundo. Nós não devemos nos desmerecer tanto
como nos temos desmerecido. Nós sofremos de um colonialismo passivo neste
país, que é o mais triste dos colonialismos, que consiste em não dar valor às
nossas próprias possibilidades e admitir que é grande tudo aquilo que vem do
estrangeiro europeu, e europeu, porque se vier da Argentina ou do Uruguai aí
já não têm valor, europeu. Então, consequentemente, nós nos desmerecemos.
Mas, se nós observarmos o que os brasileiros já fizeram em vários setores, nós
vemos que nós nos nivelamos já em muitas situações ao nível dos povos que
atingiram o mais alto. E que nós somos seres humanos, também, iguais a eles.
Dispomos da mesma fisiologia, dispomos do mesmo psiquismo, talvez não
disponhamos da mesma disciplina, mas a disciplina é um hábito que pode-se
adquirir, e nós temos uma disposição, consequentemente, igual à deles,
embora não tenhamos os mesmos hábitos, mas os hábitos como são
adquiridos, e adquiríveis, nós os podemos adquirir, e podemos alcançar o que
eles alcançaram.
Quando eu viajei pela Europa, e vendo a grandeza daqueles povos, e
lembrando-me das coisas do meu país, eu tinha pena de nós, como nós éramos
tão atrasados, e eu só pensava em voltar para o Brasil, e lutar nesta terra, para
que nós também fizéssemos o que eles faziam, porque eu dizia: nós podemos
também fazer o que estes povos fazem, nós podemos, também, realizar isso.
Por que não? É só que nós nos desponhamos, é só que nós nos preparamos
[163]
para isso. Eu vou para a minha pátria, ver se eu levanto este povo, ver se dou
a esse povo entusiasmo, confiança em si mesmo. E vim com esse entusiasmo.
E aqui cheguei, no fim de quatro ou cinco dias o desânimo ia apossando-se de
mim, porque eu não encontrava nenhuma ressonância favorável. Ninguém
acreditava nas nossas possibilidades. Havíamos ganho o Campeonato
Mundial de futebol e eu dizia: mas se somos capazes de ganhar chutando bola,
porque não vamos ganhar de outro modo! Não é possível que nós não
tenhamos confiança nas nossas possibilidades. Mas não encontrei ambiente.
Infelizmente, os nossos intelectuais nos traem, porque eles vivem
envolvidos para as culturas estranhas e somente admiram aquilo que os povos
de outras bandas realizaram, e descreem das nossas possibilidades, e não
animam, nem a si próprios, para que também possam vencer as suas
deficiências e alcançar aqueles níveis.
Nós precisamos também estimular o nosso povo a ter fé em si mesmo e
confiança de poder fazer alguma coisa de grande. E o Brasil, pelas suas
condições históricas, porque é um país que recebeu os povos de todos os
quadrantes do mundo e conseguiu dar uma convivência entre esses povos a
mais harmônica que se conhece na história, em que não há entre nós nenhum
conflito de caráter racial ou de qualquer caráter étnico. Um país que consegue
isso, esta convivência extraordinária, que não se conhece em nenhuma outra
parte do mundo, é um povo que está predestinado a alguma coisa de grande.
Só este povo poderá lançar uma visão ecumênica, uma concepção universal,
porque qualquer ciclo cultural que se forme hoje no mundo, ele tem que ser
ecumênico, ele tem que ser universal, porque a ciência está abrindo as
fronteiras, o conhecimento está abrindo as fronteiras. Por mais que os
políticos as ferrem, por mais que os políticos façam os muros da vergonha, as
cortinas de aço, o que quiserem, a ciência, o conhecimento está penetrando,
está atravessando. Ele vai além, ele vence todas essas resistências. O mundo
está se tornando um mundo só. Este mundo marcha para este caminho,
marcha para uma só concepção, para uma visão geral e ecumênica, uma só,
que vai compreender e conter dentro de si as heterogeneidades. Nós somos
capazes de viver um equilíbrio dentro do heterogêneo. Seremos capazes de
unir os opostos, que se analogarão numa concepção universal. E esta
realidade só pode surgir de um povo que já deu o exemplo histórico da
compreensão universal, e esse povo é o povo brasileiro, senhores!
[164]
Abro, agora, o debate para os senhores que desejarem fazer perguntas e
interrogarem:
Mário: A pergunta foi muito interessante, porque ela focaliza uma série
de temas importantes que não podiam ser tratados no decorrer da palestra
que fiz anteriormente, e que passarei a responder tão logo mude o filme.
[Fim do Áudio]
[Parte 2]
[167]
Mas nós vemos, sobretudo, uma tendência bem desenvolvida, dessa
parte, no movimento dos jesuítas, porque os jesuítas foram acusados pelas
escolas cristãs, que mais defendiam a sacralidade, de serem demasiadamente
condescendentes para com o ser humano, de terem-se deixado empolgar pela
filantropia e de serem condescendentes para com as fraquezas do ser humano.
Porque os jesuítas, por exemplo, as penitências que os jesuítas dão são sempre
penitências suportáveis, pequenas, não atinge aqueles graus exagerados de
outras ordens religiosas. De maneira que, então, os elementos que pertenciam
mais à sacralidade cristã, como foi, por exemplo, Pascal representando o
grupo de Port Royal, eles combateram tremendamente os jesuítas e usaram
de todas as infâmias possíveis, e foi uma ordem que foi infamada desde então
até aos nossos dias, só agora que está se fazendo novos exames históricos,
então, se pode compreender melhor o que houve e o porquê também de terem
sido os jesuítas tão combatidos. Combatidos, porque eles se opunham aos
interesses de todos os setores: Primeiro, da sacralidade; segundo, da nobreza,
porque a nobreza perdera, graças à ação dos jesuítas, aquela possibilidade de
nomear pelas investiduras que havia sido pelo princípio das investiduras, de
nomear bispos, cardeais, etc; Terceiro, eram combatidos pela burguesia,
porque eles combatiam a escravidão. Eles não aceitavam a escravização do
homem, sobretudo, não admitiam a escravização do índio americano, que eles
consideravam ser racional, que merecia a compreensão dos cristãos. Depois,
na obra evangélica dos jesuítas, como eles percorreram o mundo inteiro, e eles
foram visitar os povos das diversas culturas, eles chegaram à compreensão
que esses povos tinham níveis de vida muito superiores, sobre aspectos
morais, muito superiores aos próprios cristãos, como eles descrevem nas suas
obras. Então, isto fazia com que eles fossem uma ordem que representava,
dentro do cristianismo de então, uma verdadeira ordem revolucionária,
porque eles defendiam o respeito à esses povos, e que o cristianismo tinha
muito que aprender com povos de outras regiões.
Como a Sociedade de Jesus foi neste período o ponto alto da Igreja,
porque representava as maiores cabeças que a Igreja possuía, e eles
desenvolveram, não só a filosofia, como a própria ciência moderna, que note-
se, que todos os grandes cientistas criadores da ciência moderna são ex-alunos
de jesuítas ou foram, pelos jesuítas, educados e preparados. Então, nós
notamos que esta ordem passou a ser tremendamente combatida e a ela foi
dada até uma intenção política, de que ela pretendesse dominar o mundo e
estabelecer um grande império jesuítico, que era uma das maneiras de
politicamente assolarem os diversos partidos e as diversas organizações
políticas a combater a Ordem dos Jesuítas.
[168]
Mas na história nada disso se vê, porque o que eles fizeram não tinham
essa intenção e hoje os estudos que honestamente se façam na história
verifica-se que não tem fundamento. De maneira que os jesuítas defenderam,
para o cristianismo, esta secularização, esta valorização da vida. A ‘’mens sana
in corpore sano’’, a ginástica, o abandono ao misticismo, porque os jesuítas
não são místicos, não há jesuítas místicos, a não ser um Teilhard de Chardin
que tem um certo misticismo, mas a quase totalidade dos jesuítas não tem
nenhuma tendência, nenhuma simpatia pelo misticismo. Combateram todas
as práticas, vamos dizer, de ascetismo exagerado, porque o ascetismo de
Loyola é um ascetismo intelectual, não é um ascetismo físico. Combateram
todas as torturas sobre o corpo. Enfim, eles defenderam uma série de ideias
de valorizar a vida humana, de melhorar a vida do homem, de o homem poder,
também, participar do banquete da vida, que esses pecados não eram mortais
– do que eles foram tremendamente acusados, de modo a serem classificados
como propugnadores de uma vida imoral e anti-cristã -, tudo isto aconteceu.
E a Ordem dos Jesuítas, embora tenha sido dissolvida pela Igreja,
devido à campanha e ação tenaz que se fez contra ela, ela hoje se reorganizou,
hoje, outra vez, retornou à Igreja. E eles que são, sem dúvida alguma, os
pitagóricos do mundo cristão, eles têm dado um outro sentido ao cristianismo.
Veja o que eles têm feito, por exemplo, nos Estados Unidos, que é uma obra
predominantemente jesuítica, onde a ordem dos jesuítas tem a quase,
digamos, dois terços dos seus membros acham-se nos Estados Unidos, onde
eles dominam a grande parte das universidades americanas e, hoje, nas
melhores universidades, e eles têm dado um sentido ao cristianismo, um
sentido de valorização desta vida e que o homem pode, nesta vida, adquirir, e
deve vive-la do melhor modo possível.
Agora, eu sei que muitos poderão não gostar da minha maneira de tratar
dos jesuítas. Eu também fiz injustiça a eles, mas eu estudei, e o que eu digo é
fundado nos meus estudos.
Agora, quanto ao problema Graça, a questão das boas obras, da
caridade, é preciso clarear bem. A caridade não é propriamente dar, não é
apenas dar, esta virtude não significa apenas dar algo que precisa. Este é o
sentido da filantropia, e um sentido vicioso que se deu à caridade. A caridade,
propriamente, é o amor ao bem do próximo. E este amor ao bem do próximo,
amar o próximo, o bem do próximo, é alguma coisa que nós não podemos
adquirir por hábito, é alguma coisa que nós temos por simpatia, que nós
sentimos, que nós vivemos ou não vivemos. Por isso, a caridade está colocada
entre as virtudes teologais. As virtudes dadas por Deus, e não entre as virtudes
cardeais, que são as virtudes habituais e adquiríveis pelo homem.
[169]
De maneira que o que nós chamamos de cristianismo aquariano, ou de
aquário, usando esta expressão da mitologia, e expressão, também, usada
pelos astrólogos, que não tem propriamente o sentido da astrologia, mas tem
na sua simbólica, significa um cristianismo do homem coletivo, porque o
cristianismo é realmente uma religião do homem, mas do homem no sentido
racional, porque o principal caráter do cristianismo é a vigilância racional.
Não é a religião dos sentidos, não é a religião da afetividade. É a religião da
intelectualidade, é a religião do homem inteligente, do homem que ‘’reflex’’,
do homem criador. O cristianismo é a religião do homem que não pode mais
voltar para a animalidade, do homem que tem que seguir o seu caminho
humano. Este é o sentido verdadeiro do cristianismo. Agora, que haja cristãos
que deturpem ou que desviem o cristianismo do seu sentido, isso é outra coisa,
mas o sentido do cristianismo de aquário tomará este rumo. Será um
cristianismo para o homem coletivo, para que o homem realize nesta terra
uma maior soma de bem estar possível, mas sem ociosidade, sem que a
ociosidade possa ser a fonte de novos vícios, sem que a ociosidade possa levar
o homem às práticas que o degenerarão. Porque este é o perigo que se
apresenta. Apresenta, sobretudo, a mente dos grandes homens nos Estados
Unidos, porque hoje os Estados Unidos podem diminuir as horas de trabalho
no máximo para quatro, mas não o fazem, porque não sabe o que vai acontecer
com uma população ociosa que não sabe aplicar o seu tempo, que pensa que
aplicar o seu tempo é ouvir rádio, ver televisão, ver cinema e ir a teatros, e não
tem uma vida interior, não desenvolveu a sua capacidade de meditação, não
desenvolveu a sua intelectualidade, e consequentemente, irá para bares, irá
para o vício, irá para as práticas que irão degenerar o homem, porque o ócio
em todas as épocas humanas foi o início da deturpação dos povos.
Então, é preciso pensar que este cristianismo é um cristianismo que
exige do homem trabalho. Este cristianismo de aquário é um cristianismo que
exige do homem a sua aplicação intelectual. Este homem tem que
desenvolver, dentro do caminho do saber, a sua mente, para que ele não seja
presa fácil dos vícios. Esse é o cristianismo que eu defendo. Esse é o
cristianismo que eu acho possível, e é um cristianismo que tem suficiente base
mística para poder entusiasmar, também, a muitos que estão hoje indiferentes
ante a realidade. Por quê? É uma constante histórica que nós não podemos
deixar de respeitar: sem alguma coisa que ligue o homem a algo
transcendental, embora haja psicólogos que digam o contrário, mas sem
fundamento, porque um caso ou outro excepcional, não serve de base! Sem
isso o homem não se sente tranquilo. O homem não se sente seguro. O homem
não se liberta da sua angústia. O homem não é capaz de projetar-se para um
[170]
futuro melhor. Se há exceções, se nós encontramos ateus que foram exemplos
de dignidade, esses são exceções, mas nós não podemos criar uma
humanidade sobre exceções. Nós temos que criar uma nova humanidade sob
a regra geral, e a regra geral é esta: o homem só encontra o equilíbrio dentro
de si e a segurança quando crê em algum princípio superior, quando se sente,
de certo modo, assegurado por um poder que o sustente, que possa servi-lo,
que ele saiba que amanhã, no cumprimento do seu dever, não está se abrindo
as portas para o seu próprio mal. Ele possa, então, confiar como os
pitagóricos, como Pitágoras aconselhavam aos seus discípulos: ‘’lembrai-vos
que os deuses sempre pouparam os sábios dos grandes males. Acreditai na
sabedoria, acreditai no conhecimento, acreditai nessa luta pela elevação do
homem, que irei-vos afastar cada vez mais dos males que afetam aqueles que
não têm essa preparação.’’
Este é o problema: O desenvolvimento do bem estar humano, o
desenvolvimento que a técnica e a ciência moderna podem nos dar, o
progresso que ela pode nos oferecer, pode também ser o grande perigo para o
homem, pode ser a grande destruição do homem, porque o homem, no luxo,
na ociosidade, poderá decair e chegar, então, à graus de inferioridade que ele
jamais atingiu em todo o decorrer da sua existência.
[172]
Ora, as coisas que principiam têm consequentemente, iniciam, que
nascem, que são, portanto, ‘’naturas’’, que são, portanto, ‘’naturais’’, que são,
portanto, ‘’físicas’’, que têm, portanto, uma ‘’phýsis’’, um nascimento, estas
coisas todas, elas têm que ter naturalmente um princípio da onde elas
obtiveram o próprio ‘’ser’’ ou então elas têm de si mesmo. Neste caso
existiriam antes de existir ou receberam do nada - e neste caso nós cairíamos
no absurdo - ou tem que receber de um outro ser antecedente do qual
dependa, de onde pende este ser que elas têm. Na admissão disto, nós
poderíamos chegar, então, a uma série, e esta série não pode ser infinita
devido aos absurdos todos que ela contém. Temos que aceitar um princípio
que seja a fonte/origem de todos os entes. Este princípio, que é fonte/origem
de todos os entes, deve conter, com antecedência, toda a perfeição possível de
atualizar-se. Porque do contrário as perfeições posteriores teriam sobrevindo
do nada, o que é absurdo! Então, este ‘’ser’’ tem que ser, de certo modo,
omniperfeito. Ele tem que ter uma omniperfeição. Esse ser que é a origem de
todas as coisas, que é omniperfeito, é também, ominipotente, porque tudo
quanto pode ser deve estar contido nele. Então, nós chegamos ao que se
chama o ‘’Deus dos Filósofos’’, esse Deus dos filósofos não é o Deus das
religiões, porque as religiões vão emprestar a esse Deus um caráter pessoal.
Vão emprestar a este Deus, talvez, e muitas emprestam, um certo
antropomorfismo. Nós não discutimos o Deus das religiões. O que nós
discutimos é o Deus da filosofia, e o Deus do filósofo pode ser e é bastante
suficiente para fundamentar um cristianismo, em sentido aquariano.
A aceitação desse Deus, chamem matéria, chamem energia, chamem do
que quiserem a esse Deus, mas esse Deus tem que ser um ser ‘’a se’’, não é um
ser que recebeu o ser de outro, um ser ‘’abiário’’, é um ser que tem em si o seu
próprio princípio, um ser que é inprincipiado, um ser que não começou a ser,
um ser que sempre foi, aquilo que na concepção mosaica Moisés chamou de
‘’Jehovah’’, cuja a palavra é formada de três ‘’étimos’’ do verbo ser, que quer
dizer ‘’o ser que é, foi e será’’. Quer dizer, esta era a concepção de Deus.
Quando Moisés perguntou: quem és tú? Deus disse: Eu sou quem sou. Eu sou
aquele ser que sempre é, aquele ser que não tem princípio, aquele ser que não
provém de outro, aquele ser que é o princípio de todos os outros. Esta
concepção pode perfeitamente adequar-se com uma série de concepções e
permitir até a um ecumenismo, porque o bastante para nós, ao aproximarmos
as diversas crenças religiosas numa fusão universal, não é subordinando-as à
uma crença de um Deus personalista, mas de um Deus nesse aspecto genérico,
porque, então, as diversas maneiras de conceber Deus personalisticamente
podem pertencer a essas religiões, que dentro do aspecto genérico podem
[173]
coincidir com este cristianismo em sentido aquariano e coletivo, e podem,
especificamente, ter as suas concepções que não divergem no aspecto
genérico, apenas divergem no aspecto específico, porque o Deus da filosofia
não está especificamente determinado, porque a filosofia não dispõe de meios
suficientes para estabelecer o que as religiões estabelecem. Porque se a
filosofia fosse capaz de estabelecer o que as religiões estabelecem, então, as
religiões seriam desnecessárias. A filosofia as substituiria. E as religiões
fundam-se na fé, e a fé, a única coisa que a filosofia pode fazer é mostrar que
aqueles princípios de fé não são absurdos, mas não poderá demonstrar que
eles são verdadeiros. Porque se a filosofia fosse capaz de demonstrar que os
princípios de fé são verdadeiros, as religiões deixariam de ter razão, a filosofia
substituiria. Então, não haveria mais motivo para se construir religiões. De
forma que o que nós pregamos não ofende as ideias religiosas de quem quer
que seja, e pode aceitar dentro do seu ângulo aqueles que aceitem apenas um
princípio que seja a fonte/ origem de todas as coisas, e mesmo que não aceite
a concepção de um Deus pessoal, mas podem encontrar-se aqui e podem atuar
como Cristãos naquele sentido do mandamento de Cristo, que é o seu
principal mandamento ‘’amai-vos uns aos outros, ajudar-vos uns aos outros’’.
Isto é possível sem perigo e sem que ninguém violente as suas próprias
convicções.
[Risos da Plateia]
Dr. Nilton José: As palavras que eu vou dizer não tem um caráter...
Eu aguardo um esclarecimento aqui do professor Mário Ferreira dos Santos
sobre o seguinte:
[175]
Na evolução da humanidade, nós nunca encontramos as forças
destrutivas num grau tão alto como encontramos atualmente. De maneira que
a impressão que se tem, quando se medida nisto, é que não há possibilidade
de superar estas forças destrutivas. Chegamos a um ponto, como Ayn Rand
assinalou, que a humanidade tem possibilidades de se autodestruir. O senhor
acenou aqui com a coragem daqueles que querem o bem da humanidade. Essa
coragem, por maior que seja, por mais extraordinária, por mais heroica que
seja, todos nós tememos que não seja suficiente para superar as forças do mal.
Numa reunião de generais da Alemanha hitlerista, numa mesa
redonda, um deles levantou a ideia da existência de Deus, então, um deles
respondeu: Deus não existe, se ele existisse nós não existiríamos. Agora, eu
perguntaria se no seu estudo sistemático da evolução do homem, se o senhor
encontra alguma esperança na superação dessa fase de angústia, se nós temos
elementos para conseguir vencer esta fase verdadeiramente de intenso
sofrimento, porque todos nós tememos, no caso completo da humanidade,
que ela possa... Eu vejo que esta tendência de auto-sofrer, esta tendência
masoquista, parece ter chegado a uma força tal que pode inclusive liquidar a
própria humanidade. Eu pergunto se o senhor reconhece nessa humanidade,
como ela está hoje, forças para conseguir superar esse estado de crise.
[180]
Professor José: Eu me junto ao senhor, como Diógenes.
Simplesmente servindo de função, de carregador do ólho para a lanterna que
o senhor leva. E quero, antes de mais nada, agradecer a gentileza desse muito
que o senhor nos deu, e nos sentimos, também, dentro de uma mesma
obrigação, pelo menos da minha parte, de dar ao senhor - que vem
pesquisando tão profundamente - algo que também é a nossa dúvida, que é a
nossa preocupação.
Efetivamente, o senhor ao tratar do problema da religação do ser
humano, o senhor abordou fundamentalmente o problema da angústia
humana, e ao traçar a linha evolutiva da civilização, desde as mais antigas
formas até chegar a este baluarte que vem a ser o cristianismo, eu, ateu, graças
a Deus – [risos da plateia] – sem nenhuma antinomia, porque o senhor
explicou suficientemente como é que um indivíduo pode ser ateu, e eu sou
ateu de religiões, mas não posso sê-lo filosoficamente - que seria negar-me a
mim mesmo, absurdo que eu não posso perpetrar -, efetivamente nos temos
preocupado em verificar um problema muito grande que está levando a uma
degeneração, cujos males, cujos pontos o senhor apontou. Nós chamamos ‘’o
problema da evolução humana’’, essencialmente, como um problema de
racionalização da autoridade. O cristianismo não é senão, substancialmente,
sobre um dos seus múltiplos aspectos, o problema da racionalização da
autoridade, ou seja, livrar o ser humano do medo da própria divindade e
tentar dar a ele um sucedâneo, o amor.
A contradição que o senhor apontou na natureza humana, é a mesma
contradição que nós vemos entre o Antigo e o Novo Testamento. O
cristianismo veio pretender dar termos objetivos a esta antinomia que, se nós
afundarmos um pouco mais, ela não é de um fator exterior, não é daquilo que
está fora de nós, é a mesma antinomia que já existe dentro de nós. Nós, que
temos este mal vezo de procurar na natureza humana, em suas diferentes
estratos, onde está o bem e onde está o mal, ficamos muitas vezes preocupados
em verificar que ainda temos muito de Satanás e pouco de Deus. E é
justamente esta antinomia aquela mesma que, por um mecanismo psicológico
bastante conhecido de projeção no social, que transpõe a vida dos seres
humanos em comunidade ou em coletividade, ler essa antinomia tão clara,
estabelecendo dois modos antagônicos em quaisquer condições, como
retratar essencialmente esta bipolaridade básica que se encerra dentro da
natureza humana. Este é o primeiro aspecto da racionalização da autoridade.
O outro aspecto importante da questão consiste precisamente nisso: Os
povos, desde que se viram obrigados, por sua própria natureza à uma
comunidade, e o ser humano é um animal comunitário, não digo gregário que
[181]
seria estúpido, seria botarmos o ser humano de quatro ou de outra qualquer
forma, ele pode ser burro, mas por vontade própria, não como uma
contingência biológica. Então, sendo este animal comunitário, efetivamente
ele vem se preocupando intensamente em se ligar, não mais religar, mas em
ligar a esse outro fora dele.
Justamente a civilização grega foi o ponto alto de uma civilização,
porque ela resolveu olhar para o homem dentro de si mesmo, não só
pesquisou as interdependências humanas, as interrelações humanas, isto que
hoje está sob o nome pomposo de ‘’relações humanas’’. Mas, também, se
preocupou, profundamente, e nisso ninguém foi mais profundo, inicialmente,
do que Sócrates, com a sua ‘’maiêutica’’, em fazer este parto psíquico em cada
um de nós, e que nos deu, essencialmente, a compreensão de que somente
teríamos explicações para os fatos das interdependências, e exteriores, se nós
olhássemos profundamente para dentro de nós.
Portanto, o outro problema substancial é justamente a mudança que
nos vemos obrigados a fazer, de antes de pretendermos uma explicação da
comunidade humana, tentarmos explicar a si mesmo, o próprio homem. É o
segundo ponto em que nós nos detemos.
Um terceiro ponto diz respeito, essencialmente, a condição do
conhecimento, ou seja, daquilo que são as faculdades chamadas superiores,
se nós usarmos o termo arcaico ou se nós voltarmos a um processo mais
moderno, aquilo que se chama a ‘’razão’’, a ‘’racionalidade’’ do ser humano, e
essa mesma irracionalidade em que existe dentro do ser humano, ninguém
melhor do que Jung, embora não tenha sido original, investigou
profundamente a natureza humana, afundando nos seus arcanos, e lá foi
encontrando algo que hoje podemos dizer, tende a construir uma
antropologia, e ainda mais, uma arqueologia do próprio ser humano.
Estamos verificando hoje, professor, uma coisa curiosa! Que cada vez
descemos mais em profundidade dos seres humanos, e cada vez nos
encontramos mais com os símbolos, símbolos esses que aqui o senhor fez tão
bela referência já em dois artigos, e ainda a pouco se referia a isto. Símbolos
onde o racional e o irracional se intermisturam de uma forma indissolúvel. O
que se pretende, através da consciência, é uma pretensa separação entre a
racionalidade e a irracionalidade, ou seja, o primado da consciência. Mas, a
proto-história, já não digo a pré-história, mas a proto-história da evolução
humana, continua ainda profundamente arraigada nesta base imensa que o
senhor, com bastante propriedade e sensibilidade, definiu como um
cristianismo de aquário, ela, ainda, continua sendo a massa substancial que
ameaça, a cada momento, este pequenino leme que se instalou em camadas
[182]
superiores, e se diferenciou, e que se chama consciência. Então, o ser humano
não precisa olhar para fora de si mesmo para encontrar a angústia, ele já a traz
dentro de si. O ser humano não precisa ficar preso a entidades de natureza
transcendental fora dele, porque essa mesma transcendentalidade é possível
ser encontrada dentro dele.
O que, efetivamente, nós lhe trazemos, como uma contribuição, é o
conjunto das nossas observações em que, uns de um lado e outros de outro,
sem falsos pundonores ou sem bizantinismos inúteis, nos congreguemos,
essencialmente, nessa cruzada, de saber quem é o homem, como foi
formulado corretamente pelos existencialistas, e tão mal desenvolvido no seu
segmento anterior.
Então, o que nós buscamos, essencialmente, é dar a esse ser humano a
sua condição de sujeito, e não esta condição predicativa em que ele vem se
situando até agora.
Essas eram as pequenas contribuições que eu poderia dar ao professor
dos trabalhos que nós realizamos. Eu agradeço penhoradamente da minha
parte a oportunidade de ouvi-lo, porque conhece-lo eu já o conhecia por suas
obras, mas pessoalmente não tinha tido esta oportunidade. Agradeço ao
senhor!
[183]
Esse termo comum, essa autoridade, não pode ter o sentido comum da
autoridade apenas política, deve ser a autoridade no sentido do que é o autor,
do que analoga os opostos que mais ou menos se harmonizam. Dando esse
sentido, o conceito de autoridade não é contrário à concepção cristã e não vai
servir às concepções de caráter político que os escolásticos, de certo modo, por
insuficiência nesta análise, cometeram estes erros, que eu considero erros.
Quanto à relação Deus e Satã, é uma relação importante, porque um dos
temas mais misteriosos da concepção religiosa é a famosa Revolta dos Anjos,
aquela revolta comandada por Satã, que opôs-se ao Criador. Naturalmente
que se nós analisarmos os livros sagrados, querendo transformá-los em obras
históricas, nós nos encontramos em face de mitos, mas graças aos estudos da
simbólica, sobretudo, dos estudos modernos da simbólico, cuja contribuição
de Jung é imensa, nós podemos interpretar estes símbolos de outra maneira,
e sem ofensa, também, à concepção cristã. Por que a revolta de Satã é a revolta
da primeira criatura, da criatura mais poderosa que ele havia realizado, aquela
que tinha a maior soma de perfecção. Em que consiste, então, este pecado,
chamado pecado de orgulho? Consiste este..
[Risos da Plateia]
[Risos da Plateia]
Mário: Não, um momentinho, não, não, nós não podemos levar por
esse terreno um assunto tão sério. Nós temos que estudar dentro de normas
filosóficas. A criatura, por natureza, ela é dependente, ela é finita, ela é
limitada, ela é perfectivamente incompleta, é, portanto, deficiente. Satã era,
de certo modo, um ser deficiente.
Vamos parar um pouco.
[Fim do Áudio]
[187]
V- Conferência na ABI (Associação Brasileira de Imprensa), 1965.
Mário: A primeira pergunta, que hoje seria tema para que nós
conversássemos, refere-se a saber a quem devemos modificar: O homem ou a
sociedade?
Essa pergunta é uma pergunta fundamental na nossa época, porque nós
sabemos que há a necessidade de uma modificação. Tendo em vista uma série
de erros, que têm sido cometidos em prejuízo de grupos humanos imensos. E
todos aqueles que desejam a sociedade humana, e que as relações sociais sejam
as mais positivas possíveis, e que nós evitemos, tanto quanto possível, as
relações sociais negativas, a procura é saber o que devemos fazer para evitar que
essas relações sociais se perpetuem ou continuem.
Realmente nós não podemos conceber a sociedade como um ser em ‘’per
se’’ subsistente. Nós temos que compreender a sociedade como algo que é
constituído por indivíduos, os seres humanos. Também, não se poderá dizer que
a sociedade é uma mera abstração. Quer dizer, quando o marxismo, por
exemplo, coloca a sociedade como a única realidade e o indivíduo como algo
abstrato, nós também não podemos fazer a inversão, isto é, considerar que o
indivíduo é apenas a parte concreta e a sociedade é a parte abstrata. A sociedade,
[188]
também, tem uma compreensão, sobretudo, hoje, quando nós entramos numa
concepção mais do que egoísta, um pensamento, que eu expus isso numa obra
ainda não publicada, e que se chama ‘’Teoria Geral das Tensões’’, obra volumosa,
que por motivos financeiros não foi possível edita-la. Nesta obra, eu estudo a
constituição das tensões, que são aquelas totalidades, que têm uma coerência
intrínseca, e que tem uma força de coesão, e que elas, ao constituírem-se,
tornam-se, de certo modo, distintas dos elementos que materialmente à
constituem. Quer dizer, elas têm uma forma que é outra, que é a forma dos
indivíduos ou dos elementos constituintes. Assim nós vemos, por exemplo,
vamos dar um exemplo simples: A gota d'água. Uma molécula de água, por
exemplo, ela é composta de hidrogênio e oxigênio. Ora, em determinadas
proporções, nós sabemos, de dois para um! Nós sabemos que o hidrogênio e o
oxigênio são especificamente distintos. A gota d'água não é apenas uma
numeração, não é apenas uma conjunção de hidrogênio e oxigênio. Na gota
d'água, o hidrogênio e o oxigênio, de certo modo, sempre polarizam, e a
molécula de água constitui uma tensão própria, uma substância própria, com as
suas propriedades. Consequentemente, ela forma uma tensão em que ela
subordina os elementos componentes numa nova analogação, em que eles se
harmonizam, mas que o interesse do funcionamento do todo domina sobre o
interesse da parte. Assim, por exemplo, um homem, um ser humano,
constituinte de uma família, ele, de certo modo, virtualiza-se, a família forma
uma totalidade coerente, que tem o seu interesse próprio, e que de certo modo
subordina o interesse do indivíduo. Embora haja um conflito entre os interesses
individuais e o interesse da totalidade, mas quase sempre há uma subordinação
do indivíduo à coletividade ou para poder dar àquela harmonia necessária.
De maneira que nós sabemos perfeitamente, que não podemos ficar em
nenhuma daquelas duas posições abstratas, que a concreção fosse o homem e a
sociedade abstrata ou que a concreção fosse a sociedade, e o homem, abstrato,
não. Nós temos que olhar o homem concretamente e a sociedade, também,
concretamente, porque tanto um como o outro são duas realidades que
compõem uma nova realidade. A sociedade é uma nova realidade composta da
realidade dos indivíduos. E os indivíduos, de certo modo, terão que virtualizar
muito dos seus interesses, que colidem com os interesses coletivos, para
poderem permanecer dentro dessa nova unidade.
Ora, isso não vem em defesa das concepções totalitárias, como muitos
julgaram, porque muitos disseram, então - isto foi muito bem provado - que o
indivíduo não tem mais a sua plenitude, porque ele, de certo modo, tem que se
submeter ao interesse coletivo. Mas note-se o seguinte: O que o indivíduo
virtualiza é precisamente aquilo que colide com o interesse de outros indivíduos.
[189]
E na formação da sociedade, o que ele atualiza é o que é conveniente ao grupo
social do qual ele faz parte. Portanto, o que ele virtualiza é a parte negativa, e o
positivo. E o que ele atualiza é a sua parte positiva, a parte construtiva. Nesse
caso, não há nenhuma deficiência para o homem, ao contrário, há uma elevação
perspectiva do homem. O homem que melhor é capaz de conviver com a
sociedade será um homem perfectivamente superior que aquele que não pode
viver dentro do seu grupo social.
De maneira que então nós temos que compreender que a modificação,
consequentemente da sociedade, exige primariamente a modificação do
homem. Isso eu não tenho a menor dúvida, porque ele é um elemento
fundamental, ele é o que constitui a matéria desta sociedade. E a modificação da
sociedade só poderá se processar dentro dessa realidade.
Isto é um problema humano! Passa a ser o problema do ‘’conhece-te a ti
mesmo’’, porque o ‘’conhece-te a ti mesmo’’ não é apenas uma indicação de uma
necessidade de uma introspecção humana, mas o conhecimento do homem em
todas as suas tendências, em todas as suas inclinações, em todas as suas
propensões, ou seja, numa linguagem filosófica, o homem, olhado pela as suas
disposições, pela a parte dispositiva que ele possui. Por que é fundado nessa
disposição que este homem vem a adquirir os hábitos proporcionados a ela.
Quer dizer, o homem não pode adquirir hábitos que não estejam proporcionados
às disposições que ele tenha. Então aqui surge um tema importante - que ontem
foi tocado, mas que não foi devidamente examinado, porque foi levado para o
caminho da chalaça, quando nós devíamos tratar dele num caminho sério, num
caminho científico - que é o problema do orgulho e o problema da humildade.
Este é um tema extraordinário dentro das concepções religiosas, e que é
um tema de psicologia, também, de um caráter importante. Por que, o que
consiste propriamente o orgulho? O orgulho consiste propriamente na criatura
sentir-se ou hiper valorizar-se, além das suas realidades. Quer dizer, a criatura
julgar-se como possuidora de um valor superior ao valor real que ela tem! Este
é o pecado de orgulho. Pecado, naturalmente, que todo ser, considerado na sua
individualidade, na sua singularidade e na sua unidade, ele tem, porque todo ser
procura impor-se. Isto é uma Lei cósmica, que é revelada na própria unidade. A
unidade procura impor-se, ela quer pendurar, ela quer continuar, ela quer
expandir-se, ela quer dominar! Daí o sentido de ela querer mais, então foi dado
com o pecado de orgulho, o primeiro pecado, que é caracterizado pela figura de
Satã, que é o pecado satânico. Satã é um símbolo! Se nas religiões, no sentido
popular, Satã passa a ter um sentido pessoal, como um ser pessoal, e se alguns
cristãos assim pensam, nós não temos culpa disso, mas aqueles que estudam
filosoficamente sabem perfeitamente que Satã é apenas um símbolo, é apenas
[190]
um sentido do orgulho, isto é, o ímpeto, que toda a unidade que existe, tem para
se afirmar de modo a impor-se ante os outros, a ponto até de subordinar e
dominar aqueles que seriam depois. Então, nós encontramos o orgulho
manifestado-se nas suas origens fundamentais no homem, no ‘’ser’’ que tem
‘’prestígem’’, que tem todo o ser vivo, e que se revela de maneira característica
nos seres superiores, como no homem! Todo o homem é anelante de prestígio,
todo ser humano quer prestigiar-se socialmente sobre os seus semelhantes. Ele
quer ser mais, ele quer impor-se. Às vezes, quando ele não pode impor-se pelo o
seu saber ou pela a sua ciência, ele quer impor-se pela a força - porque é
impondo-se pela a sua habilidade - ou quer impor-se pela a sua astúcia, ou quer
impor-se até pela a sua própria malícia, até considerando-se superior por ser
ruim, o ser mais ruim do que os outros, por ser o criminoso mais completo do
que os outros. Mas sempre, no fundo, é uma ânsia de prestígio. É ainda uma
manifestação desse orgulho primeiro, que é próprio de todo ser finito, que não
se contém dentro dos seus limites, e que desejam ampliar-se. Aquilo que
Nietzsche chamava o ‘’mehr wollen’’, aquele ‘’querer mais’’, que depois ele
chamou de ‘’Vontade de Potência’’. Esta vontade de potência, este ímpeto para a
potência, este tender para mais, que é próprio de todo o ser vivo, de toda a
unidade.
Ora, então no que consistiria a humildade? A humildade consistiria no
conhecimento das suas próprias possibilidades, no seu real valor. O humilde é
aquele que não se apresenta como mais do que ele realmente é, é aquele que
reconhece o valor alheio, não procura desmerece-lo. É aquele que procura
realizar o que está dentro das suas reais possibilidades. Ele pode ser tendencioso
na humildade, a ponto de desmerecer-se, de julgar-se aquém do que realmente
é, mas então já será um erro que ele comete, já será uma forma viciosa da
humildade. Mas a humildade justa, é uma humildade equilibrada. É o
conhecimento das suas próprias possibilidades. É o desejo de afirmar-se, sem
que essa afirmação se faça à custa da realidade alheia, como nós encontramos
pessoas que procuram deprimir todo o ambiente à vontade, para se exaltar.
Pessoas que não são, consequentemente, humildes! Então, ante o orgulho, que
é espontâneo e natural, e que surge da vida, a humildade é um trabalho
intelectual, já é uma habitualidade, já é alguma coisa que o homem adquiri, já é
alguma coisa que o homem tem que conquistar, é consequentemente uma
virtude, já subordinada às virtudes cardeais, porque o orgulho não, o orgulho é
um defeito que já nasce naturalmente com o homem. Uns terão mais, outros
terão menos.
De forma que o homem, conhecendo a si mesmo, ele conhecerá as suas
possibilidades. Ele conhecerá a sua real capacidade. Então ele deve atingir a
[191]
humildade. Precisamente por falta desta humildade é que a humanidade só...
por que justamente o orgulho é esse desejo de prestígio constante dos homens,
que buscam cada vez mais poder, que querem impor-se aos seus semelhantes,
que não são humildes, é que criaram um problema social, em todos os tempos
na humanidade.
Eu pararia aqui, porque como é um tema rico, eu deixaria que falassem
um pouco sobre ele, se alguém quiser...
[192]
Mário: Sim, é concomitantemente! É necessário de haver alguma coisa
socialmente dentro do ambiente circunstancial e simultaneamente ao trabalho
psicológico, porque há atualmente a psicologia, chamada psicologia em
profundidade, como todos sabem, ela está desenvolvendo análises
extraordinárias! Pode haver muito erro. Pode haver muito defeito nisso, mas
dessas contribuições vão sobrar coisas muito valiosíssimas. Já há contribuições
definitivas, quer dizer, já há muita coisa que virá em benefício da humanidade.
E é necessário, eu sempre digo, que essas adversidades, que às vezes surgem no
pensamento humano, elas têm um aspecto negativo, mas também elas
provocam uma reação positiva. Assim o cepticismo foi uma necessidade, porque
se não houvesse cépticos, não se teria desenvolvido o relógio, não se teria
desenvolvido a ontologia. Aristóteles jamais teria realizado a sua obra se não
tivesse que justificar as suas posições em face do trabalho destrutivo que na
filosofia grega se havia feito. Se não houvesse, por exemplo, a luta entre os
protestantes e os católicos no renascimento, não teria se desenvolvido a
dialética, como se desenvolveu, porque a necessidade de enfrentar àquela luta
levou aqueles homens a se dedicarem melhor ao estudo da lógica, o que é uma
contribuição para a humanidade. De forma que aquelas idéias - que são fruto do
marxismo - ela trouxe benefício, porque veio dar ao homem uma maior
preocupação aos problemas econômicos, que eram desprezados. Quer dizer, nós
temos que considerar tudo isso, como sempre no seu aspecto, também, positivo.
Agora, quanto a alguns, por exemplo, cristãos e católicos, se opõem à
psicologia em profundidade, erroneamente, por não compreender - porque
muitos entre eles, que compreendem, estão ao lado, trabalham, como esse grupo
de carmelitas, que atualmente na França está se dedicando aos estudos
psicológicos e tem publicado obras extraordinárias. Eles estão publicando hoje
uma Enciclopédia, que é muito volumosa, mas não é uma obra de primeira
plana, que eu julguei que era. Uma Enciclopédia Católica do século moderno,
que já está em 157 volumes -. Esta Enciclopédia, ela tem ali inúmeras obras de
psicologia, com muitos autores modernos que estão contribuindo, que eu, agora,
mandei busca-las para lê-las, porque eles se dedicam a estudar, por exemplo, a
psicanálise, especialmente o que o grupo entende sobre a análise feita sobre a
própria psicanálise, realizadas por psiquiatras, cristãos, e etc, e sobretudo, de
perceber - o que é muito interessante, muito importante - porque isso está
provocando dentro deste elemento, também, estudos que vão também,
contribuir, quer dizer, de tudo isso vai sobrar muito de valioso para a
humanidade, o que vai enriquecer a pedagogia futura, porque a pedagogia
depois é que vai recorrer às regras fundamentais, para transmitir aos pais seus
métodos, para que eles possam orientar os jovens na sua formação.
[193]
De maneira que, inegavelmente, o trabalho psicológico, que os senhores,
por exemplo, estão fazendo aqui, no Rio de Janeiro, é uma coisa extraordinária,
eu acho que é uma orientação muito boa, porque ela precisamente vem coincidir
com o que é necessário fazer, porque nós temos que dar ao homem um maior
conhecimento de si mesmo. Mas como vamos dar ao homem o conhecimento de
si mesmo dizendo apenas a cada um ‘’conhece-te a ti mesmo’’? Se ele não sabe
como conhecer-se primeiro?
É necessário que haja aqueles que orientem, aqueles que deem à esse
homem os caminhos, ensinem os métodos, quer dizer, método em grego quer
dizer ‘’o caminho que se dirige para alguma coisa’’, quer dizer, os métodos para
que ele possa seguir, possa dirigir-se ao conhecimento de si mesmo, e então
abafar um pouco o seu orgulho, deixar aquele orgulho natural, aquele orgulho
que não é vituperado, e adquirir uma certa humildade, que seria o pleno
conhecimento das suas possibilidades, para que muitos não empreendam aquilo
que está além das suas forças, mas que também não deixe de empreender com
medo de fracassar, que então seria o excesso de humildade.
Podem perguntar mais, para aproveitar a gravação.
[Fim do Áudio]
[194]
VI - Cristianismo e Economia Política
Bem, nós vamos fazer o seguinte, esta parte econômica vamos deixar
para o fim, vocês podem me lembrar no fim, para que eu possa continuar,
porque a maneira que o senhor colocou está dentro dessa esquemática. Os dois
esquemas: da amorosidade que se dá, receber o correspondente; da lesão que se
faz, o dano que se realiza, receber a lesão, porque na própria experiência humana
as lesões que nós realizamos trazem como consequências, revertem, também,
castigos para nós. Os erros que nós cometemos revertem sobre nós etc.
Bom, então a religião, em sentido meramente popular, ela está fundada
quase que praticamente nesses dois esquemas, porque o ser humano espera da
divindade que ela lhe dê em exuberância muito mais do que aquilo que ela
oferece. O seu ofertório o caracteriza por estar em todas as liturgias de todas as
religiões. E o castigo correspondente ao dano que ele pratica, sobretudo, se esse
dano é feito à pessoa da Divindade, que naturalmente o dano é maior, então o
castigo será maior, que seria a pena no qual ele procura ressarcir ou demitir-se
desta pena através dos processos que são ainda naturais do homem, como seja
o arrependimento ou o pedido de perdão e outros processos que o filho faz em
relação ao pai, o vencido faz em relação ao vencedor, que fica na religião. Então
nós temos esta religião que se forma deste modo.
Agora, temos uma outra religião que se forma de outro modo, é a religião
superior. Esta religião superior consiste no seguinte:
O ser humano vai observando que há uma hierarquia de valores, e que as
coisas têm, o que são, elas poderiam, por exemplo, ser melhores. Ele verifica que
esta árvore dá estes frutos e não se podia dar frutos melhores. Ele verifica que
há uma hierarquia de valores, e ele passa, então, a desejar, a amar estes valores,
mas ele sabe que para alcançar os altos valores, ele tem que agir na realização
[195]
dos altos valores. Como, naturalmente, o mais, tem que preceder,
ontologicamente, ao menos, porque uma sucessão no tempo, o menos pode
preceder a mais, porque podemos ir juntando coisa até alcançar uma soma, mas
ontologicamente, o princípio o mais tem que anterceder, porque do contrário, o
que vê, essa superação teria que vir do nada, o que seria absurdo. Então, como
ontologicamente, o mais tem que anteceder ao menos, e ser primeiro
fonte/origem de todas as coisas, chamem de matéria, energia ou natureza, o
nome que quiserem, não importa, tem que possuir perfectivamente todos os
mais altos valores. Então, o ser humano, que busca realizar, que ele vê que o
homem pode realizar, que o homem pode evoluir, que o homem pode alcançar
cada vez valores mais altos, e poem-se em ação na busca desses valores mais
altos, ele, então, realiza dois caminhos, ele realiza, vamos dizer, duas marchas,
ele realiza duas grandes direções: uma, em que ele vai por buscando cada vez
mais que os seus atos sejam mais perfectivos. E a outra, em que ele busca o
conhecimento dos valores cada vez mais perfectivos.
O primeiro caminho é a religião. O segundo caminho é a sabedoria.
Então, Pitágoras, que pensava assim, que via a religião deste sentido, e
portanto, a religião nada mais seria do que, em grego, se chama ‘’eusébia’’, do
verbo ‘’sebes’’, que significa louvar, prestar louvores - os sebeutes prestam
louvores - e ‘’eukia’’, é um prefixo que tem o sentido do melhor, do superior que
surgem em todas as línguas, no árabe, no hebraico, no egípcio, no aramaico, no
espanhol. Este eu, que sempre é um coisa que se eleva, nós usamos ainda El-rei
na nossa linguagem. Nós temos, também, na nossa linguagem popular a
presença desse ‘’eu’’, e que no grego é ‘’eu’’, o ‘eu’’, que está na palavra ‘’homilia’’,
por exemplo. ‘’Homilia’’ quer dizer vontade boa, vontade bem orientada. Temos
‘’eugenia’’, gênese, bem orientada. Temos outras palavras, ‘’euritmia’’, que é o
ritmo mais conveniente, mais ajustado.
Então temos também uma devoção para esses valores superiores e esta
devoção consistirá em duas atitudes: uma de prestar reverência, devoção, e
buscar que os atos sejam cada vez perfectivamente superiores. Isso seria, então,
a religião. Do ponto de vista quando medita sobre isso é a religião no sentido
especulativo, e quando prática, a religião em sentido pratico, no sentido
pitagorico.
E depois buscar esses altos valores no conhecimento, que então será
alcançar a sabedoria. De forma que, então, o estudo, a ciência, a pesquisa, a
busca é um caminho, também, religioso, também, prático-religioso, que também
tem a sua parte especulativa e tem a sua parte prática.
Ora, desde este momento, que nós não vamos mais cair nestes esquemas
primários, então, o problema do mal, o problema da não correspondência, por
exemplo, de que eu dou, mas faço o bem não para que o meu bem vai produzir
mais frutos, lá atrás, porque eles não tem uma relação de causa e efeito, porque
nós sabemos imitar esse conhecimento, mas faço o bem ao outro, porque a
minha caridade, o meu benefício que eu possa fazer dando ao outro bens
materiais ou bens espirituais, e sobretudo, espirituais, que seriam o mais
elevado à caridade, como o saber, o conhecimento, o bom conselho. Eu estou me
realizando cada vez, além do normal, eu estou me ultrapassando, eu estou me
dignificando. Então, esta religião, é uma religião no sentido de pitagórico.
A outra religião é uma religião mais popular. Como os pitagóricos ficaram
[196]
naquela indecisão, se aceitava ou não o cristianismo, a luta era esta, Então, o
cristianismo era uma religião do povo, da massa, uma religião para o homem,
tipo judeu, tipo que queria levar uma vantagem, que só prática o bem com
segundas intenções. Mas nós temos uma religião, nós somos uma religião em
que o homem pratica até por amor a si mesmo, por dignidade ante si mesmo. É
um princípio anárquico. Se eu posso fazer o melhor, eu devo fazê-lo, que é a tese
anarquista, que depois Kant, também, usou essa mesma tese, que ‘’Jean-Marie
Guyau’’, que era um anarquista, escreveu até um livro extraordinário que deve
ser lido, ‘’Esquisse d'une morale sans obligation ni sanction’’, 1886. Um jovem
anarquista que foi um grande poeta, um grande escritor francês e que escreveu
um livro extraordinário sobre a moral libertária, neste sentido!
Agora, este sentido, dentro da Igreja, infelizmente se combate, porque a
Igreja diz que não, ela quer defender a tese da molevolência humana, que o
homem não é capaz de realizar estudo mais alto, que o homem é um ser
destrutivo, que o ser humano por si não chega até esta grandeza, ele é um ser
que tem que receber estas vantagens.
Ora, se nós olharmos, sobretudo, no Evangelho de São João, nós
observamos nos Evangelhos que Cristo tinha verdadeiro pavor desse tipo dessa
religião. Mas ele sabia que o povo judaico era um povo interesseiro e que havia
necessidade de falar nisso, mas ele elencou aos discípulos, de onde ele fala, ele
pega a outra religião, porque a outra religião é a do amor. A outra é realmente a
religião! Porquê? Por que nós vamos amar o mais alto, nós vamos amar o
superior, que era a religião que Cristo pregava, porque esta religião aqui já é uma
região de temor! Se eu não faço o bem eu não levo vantagem. É uma religião
primária, é uma religião irracional, do homem primitivo.
Ora, os pitagóricos depois chegaram à conclusão de que o cristianismo,
apesar de apresentar-se com esses aspectos, podia juntar-se com o sentido
religioso, com a ‘’eusébia’’ pitagórica, e dar-se ao cristianismo um sentido
superior. Como? Transformando o cristianismo numa religião do amor. Então
amar Cristo pela a sua grandeza, por ser o exemplo do homem superior, superior
em tudo, porque foi o homem que a apresentou em toda a sua vida um exemplar
mais perfeito do ser humano, que não foi ambicioso, não foi mentiroso, não foi
falso, não foi explorador, foi um homem justo. Então, pôr tudo isso como um
ideal, porque nós podemos alcançar e nós devemos lutar pela perfectibilização
humana. Esta seria então o sentido da religião pitagórica.
Que há no cristianismo, uma grande parte do cristianismo, na parte
superior, por exemplo, os seus grandes autores! Não no clero. No clero que faz
esta ação pastoral, este clero fala para este povo, e este povo não compreende
isso. Como convencer, por exemplo, uma pessoa que está trabalhando, que ele
está se dignificando, se o seu trabalho for cada vez perfectivo, superior, cada vez
mais! Mas ele diz: ‘’para que isso, se eu vou favorecer o capitalismo, vou
favorecer o meu empregador?’’ Ele olha por outros aspectos, ele não olha a sua
realização, a sua superioridade, porque depois ele pode exigir, porque ele vai se
tornando um profissional cada vez superior na sua função. Ele vai se impondo
também, ele terá também a sua paga. Então pode-se juntar a paga, que é muito
desta outra religião, a compensação, e a outra que é um amor a dignidade
humana, pelo próprio amor a dignidade humana, e o amor aos valores
superiores que nos faz, então, sermos amigos de Deus. Esta religião é Deus.
[197]
Cristo é meu amigo. Cristo é o meu grande amigo, porque Cristo me ensina é a
que eu devo procurar ser o mais perfeito em tudo quanto eu faço, que eu cada
vez me supere a mim mesmo. O homem deve ser um ser em constante
superação. Esse seria àquele cristianismo, e não de uma submissão ou de se
colocar ante a divindade como um ser que aguarda as migalhas que a magnitude
ou a magnanimidade divina lhe possa dar. Compreende?
Então, nós vamos ver que toda a problemática que surge no cristianismo,
essa problemática sobre o bem, sobre o mal, que perturba os cristãos, portanto,
ela é coloca dentro do âmbito desta religião, mas já não existe esta problemática
quando colocada do outro âmbito. Compreende? Então não existe mais!
Aluno: Perfeito!
Mário: Então ele vai ver que é muito mais fácil ser um mal estudante do
que ser um bom estudante. É muito mais fácil deixar de estudar do que estudar.
É muito mais fácil vagabundear do que trabalhar. Então, ele por amor à sua
própria dignidade, pelo o seu próprio valor, ele assim poderá, logicamente,
vencer essas deficiências, porque aí ele se afirma como ser humano, porque se o
ser humano é capaz de avaliar valores, de perceber o que pode ser
perfectivamente superior, ele pode procurar alcançá-lo, porque é a sua plena
realização. Então é o cristianismo num outro sentido. Como o cristianismo não
tomou este sentido, então era fácil os elementos dominantes da sociedade, que
exerciam exploração sobre o ser humano, fazer o seguinte: ‘’Mas a paga de vocês
não é neste mundo, a paga de vocês é no outro mundo, que vocês vão receber’’.
‘’O céu vai ser difícil, vocês não vão entrar facilmente, mas as portas estão
escancaradas para vocês’’, ‘’nós aqui na terra estamos fazendo um sacrifício de
viver melhor do que vocês, porque nós estamos vivendo logo um período muito
curto, mas que também queremos lhes dar’’ E logo respondem: ‘’Nós também,
queremos entrar, é muito difícil, tem que tomar muito cuidado para entrar no
céu’’. Então, vão se aproveitar deste tipo de religião, quer dizer, os poderosos,
dominadores, para explorar os dominados.
Mário: Bom, mas aí vai... eu gostaria de... vamos primeiro tratar deste
assunto, depois, nós vamos por esse aí.
Há o seguinte: O ponto importante foi esse que ele colocou, da afirmação
destes dois hemisférios que se formam, e nós, por exemplo, como um país
produtor, e o mundo exterior capitalista desenvolvido que nos absorve, cada vez
nos compram o que nós produzimos por um preço mais baixo, e nós temos que
cada vez pagar pelo que eles produzem um preço mais alto, consequentemente.
Bom, então esse desequilíbrio se formou na nossa economia, e esse
desequilíbrio é terrível, quer dizer, se nós vamos calculando a taxa que veio
nesses últimos 20 anos, já deve estar na quinta ou sexta parte dos valores que
eram. Quer dizer, nós vendíamos ainda há 20 anos atrás, o que nós vendíamos
dava cinco ou seis vezes mais do que o que dá hoje. Portamos cada vez mais em
tonelagem, mas nós recebemos cada vez menos. Embora o governo nos engane,
dizendo que nós estamos vendendo mais tonelagem, mas não dizem que
estamos vendendo menos, que estamos recebendo menos, os preços cada vez
são mais baixos. Esse tipo de governo cansou de cantar o aumento da tonelagem
de exportação, mas não falou do preço, que caiu, que então nós estamos
recebendo menos.
[Fim do Áudio]
[203]
VII - Economia Política e Pecado Original
[204]
custar 6, vai custar 8. Nós vamos, então, elevar o custo do aluno, no Brasil, para
8 mil dólares, num país que produz de 210 à 240, no máximo, per capita, um
aluno de curso superior custa 6 mil dólares, mais de 6 mil dólares.
Agora, se nós dizemos que nós temos que desenvolver a nossa cultura,
temos, mas temos que procurar as soluções dentro das nossas possibilidades
econômicas. Temos que procurar soluções, e não estas, porque estas que nós
estamos fazendo é para um país super rico, porque a universidade mais cara do
mundo, que mais gasta no mundo é a de Colômbia, nos Estados Unidos, e ela
gasta menos da metade, por aluno, que gasta a USP de São Paulo, que é a
universidade que mais gasta no mundo, e que dá as percentagens mais baixas
do mundo. Basta-se dizer que só no setor de filosofia apenas 4% se formam, que
é a percentagem que nem existe em parte nenhuma do mundo. No total das
nossas escolas apenas 18% se formam, 82% abandona o curso no meio do
caminho. Isto prova o quê? O mal funcionamento nas nossas escolas superiores.
Então a juventude está lutando, precisamente, para aumentar este mal
funcionamento, porque a intervenção do Estado, no ensino, quanto maior for, o
ensino só tende a decair, porque antigamente quando havia concorrência no
ensino, cada colégio procurava superar os outros, possuir a melhor equipe de
professores, então a cultura era superior. Mas dirão: Como é que o filho do pobre
pode estudar? Mas nisso há outras soluções! As soluções das bolsas! As bolsas
podem partir da criação dos próprios estudantes que podem pagar mais! O
Centro Acadêmico podia dar 2, 3, 4, 5 bolsas, para os estudantes! Os Centros
Acadêmicos podiam movimentar a arrecadação para dar bolsa para os
estudantes pobres. Então os que podem pagar que paguem, e os que não podem
pagar que sejam auxiliados através de bolsas.
Esta é a solução para um país pobre, porque se o Estado vai intervir, nós
vamos criar um desequilíbrio. Então cada vez mais o Estado vai poder dar menos
escolas. Do mesmo modo que quando o Estado assumiu o papel, quer dizer, o
Estado brasileiro tomou conta do serviço de assistência social, a assistência
social caiu nos seus níveis, porque há 30, 40 anos atrás, existia mais leitos em
hospitais proporcionadamente à população do que existe hoje. Havia melhor
assistência médica nessa época do que hoje. Por quê? Porque o Estado foi
assumindo cada vez mais a assistência médica.
O Estado é um órgão absolutamente inepto. É a maior desgraça que
surgiu para a humanidade. A prova de que o homem é um estúpido, é que ainda
tem o Estado. Não foi capaz de liquidar isso. Não foi capaz de organizar a
sociedade sem a necessidade do Estado. É a maior prova da sua inépcia, da sua
incompetência, da sua incapacidade! E este Estado é um ser inatacável, e é a
[205]
coisa mais engraçada do mundo. Ninguém ataca, ninguém quer acusa-lo.
Ninguém percebe o seu malefício. Todos acham que ele é um ser absolutamente
necessário, quando se sabe que sociologicamente, ele é um acidente, é algo que
acontece, não é algo que faça parte da natureza humana, que seja da essência do
homem, não é. E se ele é, portanto, um acidente, ele pode ser dispensável, e pode
ser substituído por fórmulas melhores e mais aptas de funcionar.
Aqui eu termino, então, esta parte que eu tinha feito. Agora vamos então
ao que o Thomas queria. Thomas, faz a pergunta!
Mário: Bom, Thomas, você tocou numa matéria das mais complexas e
das mais difíceis, porque é uma matéria de caráter propriamente religioso e que
pertence propriamente ao cristianismo, ao pensamento cristão, sobretudo,
católico também, e que nós não poderíamos tratar dele, porque isso é matéria
longa, demorada, nós vamos apenas situar como se encontra a questão.
Em primeiro lugar há uma disputa muito grande travada dentro da Igreja
Católica, dentre os seus filósofos, se a vinda de Cristo era necessária ou não. Para
que a vinda de Cristo fosse necessária, se nós necessitamos desse mediador,
como foi Cristo, isto é, pela união hipostática do Filho no Homem,
transformando o homem em Deus, e este homem, então, ser o nosso caminho
de salvação, nós teríamos que discutir se não haveria outros caminhos.
É verdade que a religião não parte da possibilidade de haver outros
caminhos. A religião parte da sua fé e da sua afirmativa. Dentro da teologia
religiosa não se vai discutir essa possibilidade, se há ou não outros caminhos.
Ou se há até a possibilidade da encarnação de Cristo, né, isso é a doutrina da
‘’incarnacio’’ (*Encarnação, em Latim). Não se discute, porque dentro da
teologia religiosa se parte que isto é uma verdade. Mas dentro da filosofia se
parte do estudo desta possibilidade e da discussão em torno disso.
Ora, se nós estudarmos quais são os meios que a divindade pode atuar em
favor do homem, nós verificamos que a união mística - que é essa hipostática,
de Cristo -, admite ainda outras duas: pela graça e por meios naturais, quer dizer,
Deus poderia intervir, se quisesse auxiliar o homem a sair do seu estado e eleva-
lo, ele tinha meios pela graça, pelo o próprio homem, desenvolvendo no homem
a sua sabedoria, para que ele achasse a solução. Esse é o pensamento, por
exemplo, pitagórico. Que Deus, mediador, Cristo, está em nós! Cristo está em
[206]
nós. Cristo é precisamente a sabedoria. É a encarnação da sabedoria, esquecido
dentro de nós. O mediador é precisamente a nossa sabedoria que vai nos
erguendo na busca dos valores superiores e nos tira da nossa miséria, e nos
eleva. Esse é o sentido do Cristo para os pitagóricos.
Note-se que São Tomás, por exemplo, num livro dele, pouco conhecido,
que não é comentado, aliás, um trabalho que ele fez, um comentário que ele fez
à Ave-Maria, ele tem uma frase, um período muito importante que ninguém fala.
Ele diz que nós poderíamos ser salvos só por Maria Santíssima, sem a vinda de
Cristo. Isto causa um certo escândalo. Os Tomistas, em regra geral, temem o
pensamento de São Tomás, porque São Tomás diz, primeiro:
Não há necessidade nenhuma da ‘’incarnacio’’. Apenas se admite a
encarnação ou a união hipostática, porque é a mais alta participação de Deus
com o homem, quer dizer, a nossa mais alta participação seria a presença de
Deus dentro de nós, atuando dentro de nós. Então se um homem pudesse chegar
a este ponto de receber o entendimento divino, dentro dele atuar e ser a sua
forma, seria a mais alta realização em relação a nós, quer dizer, isso não é
impossível, porque quem pode o mais, pode o menos. O Ser Supremo poderia
atuar deste modo.
Portanto, a ‘’incarnacio’’ de Cristo não é uma impossibilidade filosófica,
mas não é, também, uma certeza filosófica de São Tomás, é apenas matéria de
fé, pertence apenas ao campo da religião, porque dentro do campo da filosofia
não se poderá provar, diz ele, apoditicamente que esta seria a única forma do
homem erguer-se e aproximar-se de Deus. Porque a sabedoria, como chamada,
revelação universal, daria ao homem suficiente caminho para chegar a Deus,
porque não se pode negar que outros que não foram cristãos, foram homens de
vida ilibada, exemplos de virtude, de elevação em todos os polos. E foram
homens que realizaram a mais sã vida que se conhece, certo? Temos que
respeitar! Então, isto não é necessário!
Mas por que então se deu? Mistério! A única razão que ele encontrou foi
uma razão dada por Santo Agostinho, que é esta: De que as formas naturais, a
saber, a forma por meio da graça, por meio de uma graça santificante, etc, e a
união hipostática, a mais elevada seria a união hipostática. Então, sendo Deus
um ser infinitamente poderoso e grandioso, ele procurou a fórmula mais
adequada à sua infinitude, à sua grandeza, que é a união hipostática. Mas esse
argumento padece de apoditicidade. É um argumento mais literário, ele não é
suficiente, compreende?
E, dentro da Igreja, as divergências se dão, por exemplo, aqueles que
julgam que a encarnação era necessária, eles têm que partir do princípio de que
[207]
o pecado original do homem seria um pecado infinito, porque, então, sendo um
pecado infinito não poderia o homem, por seus próprios meios, redimir-se deste
pecado, necessitaria de um auxílio para essa redenção. Então, só pela a união
hipostática da divindade com o homem.
Agora, as provas de que esse pecado é infinito, elas se cingem ao seguinte:
o pecado deve ser considerado em relação a quem peca, e a quem é danado pelo
pecado, é perturbado, lesado ou ofendido. Ora, sendo Deus um ser infinito, a
lesão seria infinita, então o pecado seria infinito. Neste caso, seriam pecados
infinitos todos os pecados que nós fizéssemos contra Deus, não é verdade?
Certo?
Mas outros raciocinam que não, a infinitude do pecado não pode existir,
porque o pecado é uma deficiência, é uma falta, é uma queda, e a deficiência
nunca pode ser infinita, porque a deficiência infinita é um nada absoluto. O
deficiente só pode ser relativo, portanto, o pecado só pode ser relativo. Sendo,
portanto, o pecado relativo, limitado, o ser humano, como ser limitado, poderia
por si redimir-se desse pecado.
Agora, o que faltou foi a consciência de onde nascia este pecado, o pecado
original. A Igreja também não sabe explicar bem, só naturalmente na filosofia
que se estuda melhor. E esse pecado original poderia ser explicado de outro
modo, e a redenção do homem não exigiria a presença de Deus, de Cristo. Então,
daí é que surge o seguinte:
Bem, a presença real de Cristo, como divindade, etc, - que o cristianismo
prega - muitos dizem: pode-se ser cristão sem admitir a divindade, quer dizer,
não é da essência do cristianismo a aceitação da divindade de Cristo. O que é da
essência do cristianismo é aceitar a palavra de Cristo. Compreende? É lógico que
a Igreja Católica, que tomou esta posição, não aceita esta outra. Então travam-
se tremendas polêmicas.
[208]
as profissões, que já domina as profissões, e etc - é o companheiro, que é o que
já esteja no período de ‘’cathartisis’’, que é o chamado companheiro na
maçonaria; E o mestre dos mestres, é o filho de Deus, quer dizer, aquele que já
tem, já alcançou a divindade. De maneira que o fato de Cristo chamar-se o ‘’filho
de Deus’’, poderia, também, ele querer dizer nesse sentido, eu sou mestre dos
mestres. Ele era de classificação M∴ M∴. Ele era iniciado nessa classificação.
Naturalmente que é lógico, vocês diriam: ‘’Mário, isso daí é um salto’’. Mas nós
não damos salto, isso apenas pode ser discutido assim.
Agora dirão: Mas Cristo disse o seguinte: ‘’Antes de Abraão ser, eu já era’’.
O que prova que ele era co-eterno com o Pai. Mas em que sentido Cristo era co-
eterno com o Pai? Se Cristo representa a sabedoria, ele não é co-eterno com o
Pai. Antes de Abraão, ele era um homem. Cristo, então, quis dizer: Eu sou a
sabedoria, eu represento a Sabedoria.
Agora, as palavras de Cristo, nós temos que reconhecer que elas são muito
semelhantes às palavras que estão nos livros bíblicos, nos livros da Bíblia
anterior. De maneira que não há, por exemplo, para mim, eu não discuto isso,
eu considero que esta matéria, de se Cristo é Deus, se Cristo a ‘’incarnacio’’,
pertence à religião, especificamente.
Agora, do ponto de vista ecumênico, do ponto de vista universalizante, eu
quero a palavra de Cristo pura e simples, e acho que em torno dela os homens
podem se unir, porque então Cristo representa uma religião da humanidade,
mas há essa outra parte, dos que querem crer, que creiam! Compreende? Por
que é uma possibilidade. Mas eles não vão me provar, não há meios filosóficos
de provar a necessidade disso, porque mesmo se provassem a necessidade disso,
teriam que provar que Deus foi determinado a fazer esse ato, que também seria
ofender a liberdade divina. De maneira que a matéria só pode permanecer no
campo da aceitação meramente de fé. Quem tem fé, que creia, que aceite, o que
não está errado, não está aceitando um absurdo, filosoficamente não é um
absurdo, mas também filosoficamente não é uma verdade, é uma mera verdade
religiosa, compreende?
Então, pode-se aceitar Cristo como a encarnação, como São João expõe,
porque São João expõe Cristo a encarnação de quê? Da sabedoria. Num homem
encarnou-se a sabedoria divina, alcançou àqueles pontos altos, capazes de
indicar o homem. Não que Cristo tivesse a ciência, podia ser que Cristo não
tivesse a ciência, mas continha nele a sabedoria.
Então o que foi? Um homem que recebeu uma graça, pode-se interpretar,
com um homem que recebeu a graça de nele tornar-se, também, nele, carne, mas
isso é simbólico, se tornar carne, essa minha concepção comigo se torna carne,
[209]
osso dos meus ossos, nós nos fundimos tanto numa idéia que ela se torna como
se fosse nós mesmos, então podia-se interpretar deste modo. Isto é uma questão
a ser discutida, isso é uma matéria de teologia religiosa. Agora, dentro da
filosofia, o máximo que se pode chegar é isto: não há impossibilidade da
encarnação de Cristo.
Contudo, o tema da Encarnação, é um tema para mim de máxima
importância, porque há neste tema, ele provoca a abordagem de uma matéria
filosófica importantíssima, que é o problema da assunção. Da assuncepção e da
assunção. Então, consequentemente, o estudo tem que se desenvolver no campo
da assunção e da assuncepção, quer dizer, dos seres susceptíveis de serem
assumidos por um princípio ativo, por um poder ativo que lhes é, de certo modo,
extrínseco e passa a ser a sua forma.
Então, isto é um tema importante, porque hoje é um tema que se
apresenta ante a física, ante a ciência, que não pode resolver o problema das
tensões. E como no meu livro das Tensões, onde eu trato desses temas, dentro
de um terreno puramente filosófico, as tensões, certas tensões, não podem ser
compreendidas sem haver uma assunção, porque, por exemplo, digamos que eu
preparo aqui um esquema elétrico qualquer, como é que se chama um esquema
elétrico? Eu não me lembro.
Aluno: Diagrama?
[210]
origem intrínseca ou se há formas extrínsecas que estão como que à espera de
encontrar o susceptível de recebe-las, e quando o encontram, assumem.
Na física, esse problema se apresentou, sobretudo, do rádio, da televisão,
se apresentou. Eu vi verificando que havia, por exemplo, certas ordens, certas
vibrações que não se materializam propriamente, quer dizer, não realizam
efeitos materiais, por exemplo, ao nosso alcance, porque não encontram a
matéria preparada para ela. Talvez amanhã façamos aparelhos que poderão
pegar as irradiações de 10 anos atrás, de 20 anos atrás, e até de reverter a
História. Quer dizer, tudo isto está esperando o susceptível para que aquilo
assuma.
Então, alguns físicos, realmente entram no terreno da imaginação.
Imaginam uma espécie assim de gênios que estão soltos pela natureza,
aguardando que se prepare a matéria para se tornar susceptível de ser assumida
por ele. Daí, esse problema da assunção passou a ser um problema sério.
Eu não publiquei até hoje a ‘’Teoria Geral das Tensões’’, porque eu ainda
não pude resolver plenamente esse problema, como a meu gosto. Eu resolvi
todos os outros problemas da tensão, mas não pude resolver este. Enquanto eu
não resolver este, que eu estou quase achando a solução - eu tenho a impressão
que se eu começar a escrever, ele sai espontaneamente -, só num dia que eu
pegar o livro e começar a corrigir, para publica-lo definitivamente, vai vir a
solução deste tema final, porque as soluções dos problemas me surgem, muitas
vezes, na hora que eu estou as fazendo.
Mário: É como explicar estes poderes que estão soltos, três materiais, ou
imateriais, que vão receber a matéria, porque se sabe que a matéria tem que se
dispor de maneira a recebe-los. Então, como se dá isso? Como se processa isso?
Porque até onde se sabe? A visão moderna, até mesmo na psicologia, onde
se falou nas concepções modernas da física, os físicos já ultrapassaram a
concepção da matéria, da imateria, agora estão na transmateria – o que
ultrapassa a matéria -, quer dizer, já estamos em outros campos. Hoje, a teoria,
por exemplo, da matéria, é a teoria ‘’campica’’, a matéria é compreendida apenas
dentro de um campo, de um determinado campo de vibrações se apresenta para
[211]
nós extensa ou intensa etc. Quer dizer, a matéria vai desaparecer, como uma
espécie, porque ela é uma substância incompleta. Como ela era para Aristóteles,
ela vai sendo para a física cada vez mais uma substância incompleta, e que ela
apenas nada mais é do que a potência, é o ato enquanto apto a receber novas
formas. Então a matéria vai ser isto. Vamos cair num atualismo, no futuro, mais
amplo.
Mas o ato, enquanto apto a receber determinações formais, ele passa a ser
matéria daquela determinação formal. Então a idéia de matéria vai se
desaparecer, já está praticamente fora da física. A matéria sensível, a matéria
dos materialistas do século XIX, já não tem mais nada que ver com a física. A
física moderna não estuda mais a matéria
Agora, as últimas descobertas, desses últimos anos, há uma publicação de
uma obra agora feita na Alemanha sobre este assunto, muito interessante, eu
estou lendo, e fala sobre isso, e fala sobre as pesquisas em torno da transmatéria
e o que eles chegaram foi a descobertas extraordinárias, sobretudo, no campo,
também, no campo da biologia, na biologia tem coisas fabulosas.
[212]
explicação pode caber à psicologia. Quer dizer, aí a assunção, dentro do campo
da psicologia é mais fácil de explicar. Mas no caso da física é difícil, porque nós
temos que admitir que é um poder ativo, uma espécie de alma perdida, que
encontra aquele corpo, então aí o corpo começa a ter uma ação, uma atividade
que não lhe era própria, como se fosse um poder que se lhe juntasse. Por que nos
exames físicos, feito pelo o Einstein no fim da vida, Einstein chegou a isso. Ele,
junto com aqueles pesquisadores lá nos Estados Unidos, ele chegou a esta
conclusão. Eu tenho uns trabalhos dele que até não foram divulgados,
popularizados, porque ele chegou a esta conclusão, temos que resolver este
problema, que era o problema da tensão.
Tomás: E a Alquimia?
[213]
queria dizer, as duas leis supremas que regem o nosso universo eram o amor e o
ódio, que não se pode compreender como o amor em sentido psicológico, e nem
o ódio como no sentido psicológico, mas quer dizer, uma lei de atração, de
conjunção, de coordenação, de unificação, e uma lei de oposição.
Agora, ainda há mais, desta tendência a conservar-se, o ser tende a ser
agressivo para com o meio ambiente, sempre em determinadas circunstâncias
que ponham em risco a sua própria defesa. Essa agressividade vai crescer
naturalmente no ser à proporção que ele cresce na sua heterogeneidade de
função. Então, no ser vivo, é muito maior, e quando chega no animal, então, é
completa, porque é a maior agressividade que nós conhecemos.
Agora, isso é que se colocou o problema da paz e da guerra, que eu já citei
aqui, um autor, que em certa ocasião escreveu um livro em defesa da paz, ele
chamava: ‘’A Paz’’. Ele procurou todas as razões para pôr ao lado da paz, mas
dialético, ele era, porque já se torna dialético o problema [...]
[Fim do Áudio]
[214]
VIII - Sociologia e Metodologia Científica
[216]
conclusão que não pode haver um cientista também especialista. Ele não pode
ser um cientista no verdadeiro sentido da palavra. Ele pode ser um auxiliar de
cientista. É um elemento que traz dados para o cientista. Um médico, por
exemplo, como é que um médico pode se especializar - ele pode se especializar,
eu admito que ele se especialize - mas como é que ele pode perder o contato com
o restante da medicina? Não pode, ele tem que conhecer todo o funcionamento,
de tudo quanto no homem influi, porque, por exemplo, nós vemos, por exemplo,
um caso muito simples. Nós temos um exemplo que eu vou dizer: hoje foi
publicado uma nota oficial por um Instituto de Pesquisas de São Paulo no qual
diz que feita a observação do ipê roxo em 20 cobaias portadoras de câncer, elas
não se curaram, portanto, o ipê roxo não tem capacidade para curar o câncer.
Bom, ora, esta simples afirmação é lógica e dialeticamente falsa, já começa por
aí. Agora, eu pergunto o seguinte: Há pessoas que tomando o ipê roxo sentiram
melhoras e o seu câncer desapareceu. Não desapareceram naquelas 20 cobaias,
mas desapareceram em muitas pessoas, são fatos evidenciados. Agora, como é
que eu posso tirar a conclusão baseado no exame de 20 cobaias, pelo o fato de
não terem sido estas 20 cobaias curadas de câncer, que o ipê roxo não possa
curar o câncer? Qual é a razão? Onde está o nexo de necessidade aqui? Pode ser
um acidente, talvez fizesse mais 40 cobaias, as outras 20 ou as outras 10 se
curassem. Há o caso, por exemplo, excepcional, da experiência de Pasteur,
aquela famosa experiência da vacina de Pasteur, quando ele fez com as ovelhas.
Aquela experiência, quando o Pasteur fez, deu resultado, as suas ovelhas não
morreram, mas nunca mais se repetiu. Nunca mais se conseguiu fazer a mesma
experiência dando certo, dando o mesmo tipo de vacina - hoje tem outras
vacinas -, mas o tipo de vacina que deu Pasteur, depois feita a experiência, as
ovelhas, junto com ovelhas sofrendo de carbúnculo, não se repetiu. Mas aquele
fato insólito firmou a posição de Pasteur, e Pasteur pôde levar avante as suas
investigações e fez com que a classe médica recuasse e ele chegou a descumprir.
Não se sabe explicar, não se sabe explicar! Pode haver até uma explicação
religiosa, pode até querer se dar uma explicação religiosa. Pasteur teve qualquer
assistência, qualquer auxílio naquele instante, porque era fundamental para o
desenvolvimento da medicina aquela experiência. Mas ela, cientificamente, não
se repetiu.
Agora, não se pode, por exemplo, estabelecer que eu tenha uma cobaia
portadora de câncer, não sei de que grau está este câncer. E dou-lhe o ipê roxo,
não sei que dose também lhe dou. Não sei qual foi o critério na dose, e essas 20
cobaias não curaram do câncer, como eu posso concluir já de antemão que o ipê
roxo não tenha papel nenhum curativo no câncer para os seres humanos? E
[217]
depois não sabemos as doses, como vamos saber? E mesmo que tivesse dado a
dose A, B ou C, ou D, não será na dose E que vai curar? Não sabemos, quer dizer,
estas conclusões precipitadas são terríveis, mas fazem bastante estrago. Nisto eu
vejo que há outras intenções, eu sei que há outras intenções, é lógico. Que o
negócio do câncer é um grande negócio, não interessa ipê roxo curar câncer,
porque prejudica muitos interesses sagrados. Mas as conclusões são tiradas
precipitadas, a teorização feita precipitada é que dá esse resultado. Como se fez
numa teorização referente à poliomielite. O caminho é este: É pelo sangue. A
infecção se dá no sangue, pronto. Toda a pesquisa tinha que ser feita no sangue.
Veio o Salk (*Jonas Edward Salk), primeiro, que fez a pesquisa. Ele foi lá para
trabalhar na pesquisa da poliomielite. A senhora que dirigia o Laboratório,
disse:
Senhora: O senhor Salk, o senhor pode pesquisar. O que é que o senhor
pretende fazer?
Salk: Bom, eu vou pesquisar por contágio pela pele, no intestino, ou pela
alimentação.
Senhora: Não, não adianta o senhor fazer essas pesquisas, porque tudo
isso já está superado. E é só deste campo que o senhor tem que fazer.
Salk: Bem, mas quando eu fui contratado, eu fui contratado por um
critério de ter liberdade de pesquisar. A senhora vai me dar licença de eu
pesquisa ao meu modo.
Senhora: Mas o senhor vai perder o seu tempo!
Salk: Mas eu quero pesquisar por esse outro caminho, esse caminho
abandonado.
Então, porque ela era mais num aspecto de burocracia, disse: bom, então
o senhor faz o quiser, para não se incomodar, para não se aborrecer. Então ele
foi por um caminho considerado indevido, e achou a solução! O que prova então
que a teorização sobre a poliomielite tinha sido precipitada. Nós não estamos
ainda estudando a função da dialética nas teorias cientifica, nós vamos estudar
mais adiante. Então vamos ver como se deve teorizar, como é que se vai teorizar,
como é que se vão colocar os fatos, e até onde nos cabe a teorização, e onde não
nos cabe, onde nós apenas podemos estabelecer leis estatísticas - note-se bem -
porque onde houver a teorização perfeita não há leis estatísticas, há leis
incomutáveis, mas leis estatísticas que podem, portanto, sofrer modificações,
podem sofrer percentagens, de aumento ou diminuição. Mas nós vamos verificar
sempre que se trata de quando se observa sobre os aspectos acidentais que
podem modificar-se.
[218]
Ora, se nós chegássemos a partir do ponto de vista com a colocação do povo
brasileiro, para provar a sua inaptidão, por exemplo, à sociedade moderna, que
é uma sociedade industrializada, que este povo não tem possibilidade de passar
do estágio em que ele está, primitivo, de um agrarismo ainda bem recuado, para
uma sociedade industrializada. Nós não podemos nos basear nos aspectos
acidentais dessa dificuldade. Teríamos que nos basear em impossibilidades com
fundamento ‘’per se’, e não ‘’per accidens’’. Então teríamos que encontrar no ser
brasileiro, no constituinte do brasileiro, na essência do brasileiro, algo
incompatível com a sociedade industrial, e isto não há. Então não podemos
teorizar que o brasileiro não possa alcançar uma sociedade industrializada
moderna. Ele pode, e mais rápido do que outros povos. Aliás, nós estávamos
tratando disso antes dos alunos chegar. Nós estávamos tratando deste ponto.
Por que o brasileiro oferece uma série de possibilidades, que postas em ação, o
facilitarão a dar saltos que outros povos não darão senão através de longas e
longas séries de gerações. E como o progresso que está se dando no mundo
chamado super desenvolvido. Que está fundado na esquemática dos homens
destes países, segue agora uma progressão geométrica, então a diferenciação
dele para os povos subdesenvolvidos aumenta constantemente, mas aumenta
não por uma questão de ordem política, aumenta por uma questão de ordem
sociológico psicossocial, e etc. Se nós não fizermos uma revolução neste aspecto
nestes povos eles não poderão sair dos seus estágios, eles não poderão alcançar.
Por isso que eu digo, no Brasil atualmente, o nosso problema é um
problema de elite, e as elites que nós temos e as elites que estão nos guiando, são
elites que seguem uma visão completamente falsa da nossa verdadeira realidade,
e elas não estão nos auxiliando, eis porque eu tenho que me pôr em oposição a
eles. Porque eu percebo os aspectos positivos do povo brasileiro e a face de
atualização, não digo em todo o povo, mas pelo menos através de uma, duas
gerações, nós podemos perfeitamente adaptar o nosso povo para uma sociedade
super industrializada, porque nós notamos, por exemplo, o Nordeste oferece
uma grande dificuldade para a industrialização, em relação, por exemplo, ao sul,
onde tem a presença mais do europeu, mais de uma cultura europeia, de homens
que já vêm de uma sociedade industrializada. Não tenho dúvida. Não há dúvida.
Tanto que toda essa experiência que está se fazendo no Nordeste pode redundar
numa catástrofe terrível. Eu tenho pavor de pensar no que pode acontecer.
Porquê? Porque não se transforma onde há a presença de raças que não tenham
uma tradição industrial, para adaptar-se a uma sociedade complexa e industrial,
de uma economia tão complexa como a nossa, que nós já podemos viver aqui.
Então o Nordeste necessitaria de uma preparação, o trabalho da Sudene (*
[219]
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), no início, teria que ser
preparatório, onde eu me opus desde o início ao plano do sr. Celso Furtado. O
Celso Furtado não considerou o aspecto étnico e histórico.
Aluno: É uma mudança de atitude, né?
Mário: Agora eu considero, no caso do brasileiro, que nós temos que
trabalhar pela formação de uma elite. Uma nova elite, com uma outra
mentalidade, e não esta que está aí. Essa tem que combater.
Por hoje, então, terminamos.
[Fim do Áudio]
[220]
IX - Sobre a Existência de Apenas uma Filosofia
Mário: Em primeiro lugar eu vou dizer a senhora uma coisa que a gente
concorde. Na verdade, não há uma filosofia, só há a filosofia. As divergências
humanas que surgem, surgem, porque não se estuda devidamente a filosofia,
porque se nós partirmos de um princípio fundamental da filosofia que é este: ‘’A
verdadeira autoridade na filosofia é a demonstração’’. Não há um erro que seja.
E a demonstração deve ser a mais rigorosa possível, consequentemente, a
demonstração apodítica, isto é, um juízo necessário, um juízo ‘’per se’’, um juízo
válido em si mesmo, um juízo que expande a sua verdade por si mesmo. Se nós
estabelecermos este juízo, e nós os procurarmos...
Sob duas racionalidades, sob esses dois aspectos que possuem o homem
e que não possuem os outros animais que nós conhecemos, são estas: É que o
homem dispõe de uma vontade e de um controle. Uma vontade que lhe permite
deliberar e escolher sob futuras contingências, ele pode acertar ou errar, ou se
indispor, porque ele sempre busca aquilo que é o seu bem, isto é, aquilo que é o
conveniente à sua natureza. A natureza do homem considerada na sua
estaticidade, na sua dinamicidade, isto é, no desenvolvimento das suas
possibilidades que vão se atualizando e também na sua singulaticidade, isto é,
nas suas correlações e inter-atuações com os seus semelhantes dentro da vida
social.
E ‘’bem’’ é, portanto, tudo aquilo que é conveniente a essa natureza. A
vontade tende para o bem, mas nós, atendendo para o bem, podemos errar,
podemos escolher mal o bem, não sabemos escolher entre o bem e o mal,
escolhendo muitas vezes um bem menor, por um bem maior ou escolhendo um
[223]
mal por um bem legítimo para nós. Este é o nosso pecado original, o pecado da
espécie humana, o pecado no qual todos nós nascemos, pecado que na alegoria
da Gênese é apresentado pela desobediência, do ato de Adão e Eva, por referir-
se a uma desobediência, porque o ser humano é o único ser que pode dizer
‘’Não’’, porque os animais não dizem ‘’Não’’, os animais apenas seguem os seus
instintos, ocupam-se daquilo que é necessário para a sua existência. Os seus
instintos são suficientes para lhes indicar o que é conveniente para a sua
natureza. Para o ser humano não, o ser humano é um ser desprovido de
instintos, é um ser humano que precisa analisar, cogitar, escolher, verificar e
consequentemente ele pode errar, por isso, ele vai comer do fruto da árvore da
ciência, que é um árvore do saber, que ele dispõe, que ele está sujeito à
alucinações, a possível desobedecer, porque ele desobedece à própria natureza,
porque nós mesmos perdemos os nossos instintos, logo que nascemos, os nossos
instintos perfeitos, mesmo porque nós não temos uma pedagogia que saiba
aproveitar a nossa instintividade.
[Fim do Áudio]
[224]
X- Da Abstração e Metafísica
Bem, eu creio que satisfiz àquela pergunta, vamos agora ver outras.
[Fim do Áudio]
[227]
XI. O Fundamento do Ser e a Causa Final
Bem, nos casos de causa final extrínseca nós temos que ver o seguinte:
Há uma causa final extrínseca, que é aquela que é dada por outro à
alguma coisa como, por exemplo, ao trigo se tornar-se ‘’bom’’, que não é uma
[229]
causa final intrínseca do trigo. Esta causa final extrínseca dada por outro é
fácil de explicar-se, e esta não teria nenhuma dificuldade.
Mas, poderia alguém dizer: ‘’bem, mas e uma causa final que não é
propriamente intrínseca de alguma coisa, que parte até para o sacrifício
individual em benefício, por exemplo, da espécie? Essa seria extrínseca. Bem,
ela seria parcialmente, aparentemente extrínseca, porque o caso, por
exemplo, de um indivíduo que se sacrificasse, que tende-se ao sacrifício
individual em benefício da espécie, ele tenderia para perdurar, não enquanto
indivíduo, mas para perdurar enquanto espécie. Mas a parte específica
também há nele, ele também é, de certo modo, essa parte específica. De forma
que aqui se é muito fácil de se compreender e esta é uma das razões que
justificam de maneira flagrante e decisiva a nossa concepção de tomar-se a
unidade estática, dinâmica e cinematicamente, porque estaticamente a
unidade, ela está olhada apenas ante si mesma, ante si mesma na sua
constituição, na sua ‘’tectônica’’, mas a unidade olhada, por exemplo, na sua
dinamicidade, ela já está olhada dentro das possibilidades que ela pode
atualizar, as quais irão provocar modificações nos seus próprios interesses.
Mas esta mesma unidade, por sua vez, nas correlações, e nas interatuações
que ela mantém com outras unidades, ela vai sofrer outros interesses, ela vai
ter outros interesses.
Ora, isto vem provar que nós nunca podemos tomar o indivíduo, com a
singularidade, como uma coisa total e absolutamente isolada, não se pode
tomar um indivíduo vivo como alguma coisa completamente isolada da sua
espécie. Ele tem dentro de si algo que não pertence - quer dizer, embora
pertença à sua individualidade, é algo que ultrapassa a sua individualidade,
porque é participada por outros também-. Por que o que é incomunicável dele
seria a sua individualidade, a sua singularidade. Mas o que é comunicavel dele
é o repetir-lhe específico que ele tem com o outro, e cujo repetir-lhe específico
constitui, também, a sua intrincicidade, a sua tectônica, e para a sua
perduração, ele poderia também tender. Mas ele poderia dispensar o
atendimento à sua singularidade em benefício do outro, mas não se estaria
nem por isso se negando, estaria se negando apenas como indivíduo, mas não
se negando como espécie. O que vem provar que o aspecto específico tem um
fundamento real e não é apenas um mero ‘’flatus voces’’ como querem os
nominalistas no filosofar. De forma que o fato de um ente que tem uma
finalidade intrínseca, e essa finalidade intrínseca pode ser apenas tendente
para o benefício exclusivo da sua unidade e uma parte pode tender para algo
que ultrapassa, para a totalidade da qual faz parte, como uma mãe que pode
sacrificar-se em benefício do filho, portanto, que praticará seus atos até
inconscientes, em benefício do próprio filho e às vezes até em oposição aos
interesses individuais, é porque ela não é apenas um indivíduo, ela é também
‘’a mãe’’, quer dizer, e como mãe ela é também a protetora, a genitora de um
outro ser que é outra individualidade, de cuja perduração, também, constitui
um interesse da sua parte ‘’mãe’’, da sua parte como genitora. De forma que
esses atos indicam ainda um fim intrínseco, que não se pode explicar do
ambito meramente individualista, mas se pode explicar por esta outra parte.
Nos casos excepcionais que hoje se observam de certas mães, que
debaixo de certos tratamentos perdem seus instintos maternos. Perde o amor
[230]
pela sua prole e que pode atingir até graus de verdadeira loucura, em que trata
os filhos como coisas sem a menor importância, é porque elas destroem
dentro de si alguma coisa da sua constituição psíquica que faz parte dessa
outra tectônica, que constitui a sua parte como progenitora e como mãe.
Nada disso é um mistério para a filosofia. Nada disso se apresenta como
algo, pelo menos para o nosso modo filosofar, como algo que não tenha uma
solução ou não possa ser compreendido. Absolutamente, tudo isso pode
perfeitamente ser compreendido, pode ser entendido dentro da nossa
concepção. Porque essas deficiências são deficiências da tectônica, da parte
da tectônica psíquica, da parte que constitui a parte anímica, a parte psíquica,
a parte espiritual, e etc.. de um ser, que podem sofrer dessas modificações,
sem que isto significasse profundas anulações, porque o ‘’ser mãe’’ ou o ‘’ser o
pai’’, a ‘’maternidade’’ como a ‘’paternidade’’, são relativas, são possibilidades
relativas de um ser que naturalmente decorrem da sua essência, da essência
de um ser, como possibilidades desse ser, mas não é necessariamente todo o
ser tenha que ser pai ou tenha que ser mãe. Isso não constitui propriamente a
essência do ser humano, de nenhum ser, não constitui. Aliás, isso aqui é
facilmente estudável nas categorias, e estudavel, também, nos predicabilias.
Não é problema para os senhores, depois dos estudos que já foram feitos
Não vemos assim nada de extraordinário que possa... não sei se temos
mais fita para gravar, chegamos ao fim. Estamos chegando ao fim e também
o fim do nosso tempo. Agora, na próxima vez, então, vamos... os senhores que
quiserem fazer perguntas podem anotar, as perguntas que desejarem, na
próxima vez as respoderemos.
[Fim do Áudio]
[231]
XII. Sobre a Axiologia das Ciências
Mário: Bem, um momento - essa aqui não – aqui pergunta, ‘’Se não
há lugar para outras classificações, outras divisões da ciência?’’
Bem, agora temos aqui uma pergunta sobre qual seria o núcleo
axiológico da filosofia da história?
Agora, outra pergunta, que é a última que eu tenho aqui as mãos, ela
refere-se ao seguinte: ela quer saber como nós estudaríamos o campo da
mística - porque nós havíamos colocado a mística, quando estudamos, na
filosofia prática, e estudamo-la como na parte da axiologia especial-.
Não, a mística não pode ser estudada no entes de razão, nos entes
ficcionais, porque ela se refere a uma prática do homem, quer dizer, refere-
se à atividade do próprio homem, então, consequentemente, ela deve ser
estudada na filosofia prática. Agora, ela tem, também, uma semelhança
muito grande da mística com a religião, porque o valor fundamental da
mística também é o mesmo valor fundamental da religião É a santidade.
Mas só com uma diferença: que na religião a santidade é pessoal, enquanto
que na mística a santidade buscada é a santidade impessoal. E ela também
tem valores derivados muito semelhantes aos valores da religião como, por
exemplo: a graça e a beatitude. Mas sempre note-se, impessoais. Enquanto
que na religião são mais pessoais. Assim o bem supremo, por exemplo, da
mística, é a união mística, é a fusão com o Ser Supremo, a Yoga, por
exemplo. A atividade que o homem realiza subjetivamente na mística é a
sua deificação, é a sua ascensão cada vez mais para a divindade.
[Fim do Áudio]
[235]
XIII. Sobre o Verdadeiro Cristianismo
[236]
O Cristianismo não está exigindo de nós que nós violentemos os nossos
sentimentos, compreende? Está numa colocação intelectual do nosso amor.
É o ‘’amor intellectualis’’, é o ‘’Ágape’’ dos Pitagóricos. Não é o ‘’eros’’. O
‘’eros’’ não, o ‘’eros’’ é outra coisa.
Se entre dois seres houver só o ‘’eros’’, se entre marido e mulher houver
só o ‘’eros’’, se entre pai e filho houver só o ‘’eros’’, estamos numa imperfeição
completa.
O que há necessidade é deste amor, deste ‘’Ágape’’, deste amor que tem
um cume da montanha para o qual ele se dirige e converge, não é uma
convergência que vai diretamente, vai indiretamente. Nós temos que nos
amar uns aos outros em Cristo. É isso que significa. Esse é o verdadeiro
cristianismo.
Agora, o querer... Por que? Qual era a reação que fazíam os anticristãos:
Mas, como, dizia o Árabe, que eu posso amar o judeu? Ou dirá o Judeu, como
que o cristianismo quer que eu ame o árabe? Mas como eles pensam o amor?
O amor deles é o Eros. Esse amor não pode existir. Mas os Árabes não podiam
ser, por exemplo, noites, que podiam conviver bem com Judeus e os Judeus
estes que podiam conviver irmamente com os cristãos?
Nós vamos amar essas possibilidades. O homem dentro das suas
possibilidades, inclusive as não realizadas. Realizáveis ou talvez não
realizáveis, compadecermo-nos, porque não pode mais realizar aquelas
possibilidades superiores.
Não podemos violentar os sentimentos, o sentimento não pertence à
nossa vontade, o sentimento pertence a parte da nossa sensibilidade, na nossa
afetividade. Aqui não domina a vontade, ninguém cria um amor, ninguém
inventa uma simpatia, ninguém pode chegar de pra si e dizer:
‘’Bom, eu vou de hoje em diante simpatizar com este homem.’’ Ele pra
simpatizar, pra começar a pouco e pouco simpatizar com uma pessoa para a
qual ele não tem uma simpatia natural, ele tem que intelectualizar a pessoa.
Ele vai intelectualizando... ‘’É um bom individuo, um sujeito cumpridor de
seus deveres, é um homem amigo.’’ Nesta intelectualização, ele vai então
realizando o Ágape que é o chamado ‘’amor platônico’’. Não é está
interpretação besta ‘’que o amor platônico é amar e não se aproximar do
objeto amado’’, não é nada disso. Amor platônico é isto! Isto é o que significa
realmente o amor de que Platão falava. É o amor supremo!
[Fim do Áudio]
[237]
XIV. Sobre o Ceticismo
[Fim do Áudio]
[238]
2 - Texto Inédito do Mário Ferreira dos Santos, presente no
Livro ‘’Humanismo Pluridimensional.
Homenagem Póstuma
[Redação]
[240]
Ora, se se estudar devidamente este conceito, como muitos o fizeram, e o
fizeram em profundidade, verifica-se que ele realmente se funda na vontade e implica
uma tranqüilidade na ordem, não, porém, necessariamente na aniquilação dos
opostos, nem do choque das antinomias, nem do ‘’pólemos’’ das oposições.
A paz implica, necessariamente, a concórdia; implica a união, ou, pelo menos, a
cooperação dos opostos, para alguma realização, para a consecução de algo que não
venha em prejuízo da natureza dos opostos; ou em suma, para atingir resultados que
sejam convenientes à natureza dos oponentes.
Se a paz entre os homens não pode evitar a nítida compreensão da justiça,
também a paz dentro do homem não pode evitar a mesma compreensão. Não nos
adianta permanecer dentro de uma paz mera-mente aparente, uma paz dos túmulos.
O que nós desejamos, e realmente o desejamos, e é o que realmente devemos desejar,
é a paz que se estabelece na feliz cooperação dos opostos, de modo a que
os resultados obtidos sejam convenientes, benéficos aos termos que entram nessa
oposição, e que possam, deste modo, não só ampliar os benefícios próprios, como
estabelecer, também, bases mais seguras para a sucessão dos acontecimentos; não só
dos oponentes, como do que venha a decorrer no desenvolvimento do tempo. Mas
uma paz mais verdadeira e mais desejada que aquela que apenas nos tranqüiliza
dentro do campo das coisas de que necessitamos, que cria uma tranqüilidade na
ordem de consecução desses mesmos bens, mas, sobretudo, aquela paz que
tranqüiliza a nossa mente, que dá serenidade ao homem, interiormente, aquela paz
que sobrevêm quando o ser humano consegue compreender a si mesmo, saber qual
o seu papel, ter uma noção clara do seu destino e ter confiança de que o que realiza,
o que propõe, o que empreende não venham trazei amanhã, resultados adversos,
perniciosos. A verdadeira paz é aquela que se funda, não só nos corações, não só na
afetividade humana mas, sobretudo, na mente superior do homem, nas suas idéias,
nas suas concepções, na sua maneira de interpretar as coisas.
Realmente esta foi sempre a aspiração do homem; ele aspirou à paz em toda a
gama de suas possibilidades, e alcançar um desfecho que fosse a plenitude da
tranqüilidade de sua alma, de seu espírito, de sua mente; aquela paz prometida na
bem-aventurança de todas as grandes religiões dos ciclos culturais superiores,
aquela paz que consiste, propriamente, no termo final anelado por todos os
homens que se dedicaram ao estudo das nossas visões transcendentais.
O que é fundamental no ser humano é, sem dúvida, o sentir-se um ser inseguro
e também o que é mais fundamental do seu anelo é a segurança. A insecuritas, tema
tão profundamente analisado pelos místicos da Idade Média, é o ‘’index’’ mais
perfeito do que somos em nossa última realidade. Porque somos deficientes,
contingentes, sujeitos aos azares dos acontecimentos, dispondo de meios defensivos
mínimos, e ainda agravados pela nossa ignorância que faz com que nos sintamos
inseguros, não só quanto ao nosso presente, mas, sobretudo, quanto ao futuro; este
estado de insegurança nos acompanha desde que nascemos e certamente desde que
fomos gestados. Mas depois que passamos por aquele estágio de certo amparo e de
certa segurança de nossa vida intra-uterina, o próprio trauma do nosso nascimento a
nossa súbita penetração no mundo que nos parece hostil, inóspito, contrário, deve-
nos marcar profundamente este sentir da nossa insegurança e, desde então, não mais
nos abandona, está presente em todas as nossas aspirações, está presente em todas
as nossas realizações, porque tudo o que o homem fez, tudo quanto o homem
[241]
construiu, tudo quanto imaginou tem sempre o estigma, da sua insegurança, a exigir-
lhe soluções que possam diminuir e até terminar esse estado em que ele se encontra
de verdadeira trepidação, de verdadeiro medo ante o seu estado atual e sobretudo
ante o seu futuro. O homem é, assim, também filho da insegurança. Não pode nem
deve desprezá-la, porque não só é uma exigência invariante da sua natureza,
como também ela constantemente o interroga e o açula para que encontre a solução
de um instante que perdure, que ultrapasse o presente, que invada o futuro, e que lhe
assegure aquele estado de equilíbrio, de concórdia, e de reconciliação que o homem
deseja.
Não se poderia compreender essa ansiedade pela paz que anima todos, em
todos os tempos, se nós não fôssemos, por natureza, seres inseguros, seres
dominados pela insegurança, e também seres que, ao perscrutar o futuro, nem
sempre dispõem de meios suficientes para poder saber o que devemos fazer para
evitar os perigos que nos ameaçam, tanto os reais como, sobretudo, os imaginários.
A psicologia de profundidade deve, mais do que nunca, preocupar–se com esse
tema, porque se, ao mesmo tempo, o ser humano se apresenta para nós como uma
entidade contraditória, já que é sem dúvida anelante de paz e tranqüilidade, ao
mesmo tempo é agressivo e contendor, ao mesmo tempo é contricante, parece-nos
que ele se balança entre duas tendências primordiais, fundamentais, originárias: uma
que aspira à paz, à tranqüilidade, à concórdia, e, ao mesmo tempo, a que aspira à luta,
à discórdia, ao ódio, ao pólemos. Não foram poucos os filósofos que, ao se dedicarem
a esse estudo, estarreceram-se ante a grande messe de razões favoráveis à paz, mas
também a grande messe de razões favoráveis à guerra. Viram que o homem era um
ser que se balançava entre motivações opostas, umas que buscavam a concórdia,
outras que aspiravam pela discórdia. Então não souberam resolver esse problema
ante essa oposição, concluindo uns que o homem é por natureza um ser pacífico e
outros que o homem é por natureza um ser guerreiro. A verdade, porém, a mais
profunda verdade psicológica, é aquela que sintetiza os opos-tos, que participa dos
opostos, que é ‘’partirm partim’’. É o homem, simultaneamente, um ser aspirante de
paz, e um ser aspirante de guerra, um ser que aspira à concórdia e também à
discórdia, um ser que ama e um ser que odeia. E essas oposições não podem
ser liquidadas; todas as tentativas de destruir uma em benefício da
outra malograram, porque quiseram violentar o que era da condição do próprio
homem.
Em face dessa realidade, só nos cabe procurar a solução cooperadora entre os
opostos, aquela que possa encaminhar-nos de modo que eles sejam convenientes à
própria natureza do homem, não só considerado na sua estaticidade, mas também na
sua dinamicidade, na sua cinematicidade; não só como indivíduo, mas também
como componente de uma totalidade, de um grupo, de uma série, de um sistema e do
universo cultural. Essas oposições colocam o homem aparentemente numa situação
insolúvel e parecem indicar que jamais encontrará uma forma de fazer coincidir os
opostos numa realização cooperacional. Ê um postulado que exige uma
demonstração apodítica, uma demonstração fundada em princípios sobre os quais
não possa pairar a menor dúvida. E isto, esta demonstração, nenhum dos partidários
dessa posição até hoje conseguiu fazer dentro das exigências rígidas; de uma
demonstração profundamente lógica e dialética.
[242]
Muitos poderão dizer, contudo, que também a prova dessa cooperação entre os
opostos não foi feita. Mas essa cooperação entre os opostos não exige tal prova,
porque tem se evidenciado pela própria experiência humana. Temos encontrado na
vida social humana a oposição entre os contricantes, o pólemos, contribuindo para
realizar obras proveitosas. Contudo, nós não podemos deixar de reconhecer que a
época em que nos encontramos se caracteriza por esse aspecto; o homem de hoje,
como o homem de sempre, de todas as eras, aspira pela paz e, no entanto, também
tudo faz para fomentar a guerra, a luta, a discórdia.
E ao verificar esse estado de coisas, e não sabendo como dar uma solução às
suas condições, a essa inevitabilidade dos opostos ele entra em estado de
desesperança, ou seja, não espera, não aguarda, não se detém antes de tudo com a
certeza de que lhe dará de modo seguro aquele estado de paz por ele desejado. Esse
é o verdadeiro panorama que encontramos no mundo atual; e a heterogeneidade,
que ele revela, é apenas de caráter inconsciente. Em alguns povos notamos que o
ímpeto guerreiro ou pacífico é mais acentuado que em outros mas, extensivamente,
se há um impulso de discórdia, de ódio, de guerra, há uma profunda aspiração da paz,
que vem relatado, testemunhado, desde que temos consciência de nós mesmos
dentro da história, por todos os movimentos de aspiração por um mundo melhor, em
que os homens possam olhar face a face, olhos sobre os olhos, os braços estendidos
de uns para os outros num amplexo fraternal, e que possam dizer com o coração e
com as palavras: irmãos, somos amigos, trabalhemos juntos, construamos juntos
um mundo melhor para todos nós.
Essas palavras incluem dentro delas uma longa problemática, que vamos
começar agora a analisar nos próximos capítulos, para depois, de posse desses
elementos tomados analiticamente, aproveitá-los para fazer um estudo concreto da
nossa realidade, da realidade brasileira, e podermos dar uma resposta a essa
pergunta: Brasil, um país sem esperança?
II — A INSEGURANÇA
Tema realmente sugestivo e impressionante é sem dúvida este da
insegurança humana. Fazendo parte de toda a nossa vida, é como uma dimensão
de nós mesmos; somos inseguros por natureza, pelo trauma de nosso nascimento
e pela nossa situação ante o mundo, para o qual não é o ser humano provido
de suficientes instintos que o possam auxiliar com a garantia de que atinja os fins,
não só os colimados pela espécie, mas também aqueles que são benéficos ao
indivíduo.
A perplexidade é um sinal do próprio espanto que a vida nos provoca.
Desde os nossos primeiros sinais, os primeiros vestígios de nossa consciência,
nós nos sentimos inseguros ante o mundo, que provoca em nós as mais tremendas
interrogações, sem que saibamos dar as respostas devidas de que precisamos.
Nenhum ser exige tanto e tão prolongado amparo como nós. Levar uma vida
humana avante exige cuidados, exige cura, porque a nossa vida é insegura; a
insecuri- tas, que nos envolve, está sempre a exigir o máximo de securitás
para que possamos sobreviver e preparar-nos para uma adaptação ao mundo
[243]
e aprender a adaptá-lo aos nossos interesses; por isso o homem precisa receber
uma educação, é educado, conduzido para a frente, para diante. Ele tem de receber
ensinamentos dos mais experientes e daqueles que o amparem, que normalmente
são seus pais; tem de ser amparado em todos os seus movimentos e também
para atender às suas mais mínimas necessidades. Entregue a si mesiílo e à
natureza, ele não resistiria; e não resistiria, não somente no momento em que
nasce, como ainda por um prolongado tempo, até que adquira a técnica e os meios
sistemáticos e com eles possa conseguir os bens de que necessita e anseia possuir.
Não há necesidade de procurarmos na história humana os Vestígios
dessa insegurança porque ela é tão patente que se revela a cada passo e em
cada uma de nossas obras; nada há que traga a marca do homem, que é
precisamente a presença da sua vontade e do seu entendimento, que não esteja
contaminado, também, pela presença da insegurança. O próprio desenvolvimento
humano, a sua capacidade de modificações técnicas, as suas conquistas, o domínio
que ele termina por exercer sobre as coisas, tudo isso seria impossível se não
fosse um ser inseguro, anelante de segurança. Se quisesse assistir à fidelidade dos
instintos: e à disponibilidade de forças suficientes para enfrentar o meio ambiente,
o homem estacionaria como estacionam os animais. A sua insegurança, por sua vez,
obriga-o a desenvolver a sua inteligência, a saber aplicá-la cada vez mais para
conquistar o domínio das coisas, a construir instrumentos por meio dos quais ele
exercerá a sua força como causa eficiente, a fim de produzir, de conduzir para a
frente, tudo quanto ele necessita para o seu bem.
Más longe de nós querermos afirmar que a nossa inteligência é mero
efeito da nossa insegurança. Esta, por si só, não poderia ser a causa da nossa
inteligência, mas sim uma motivadora das nossas ações, uma estimuladora do
nosso proceder, um aguilhão que cons- tantemente nos aguça para que cuidemos
de nós mesmos, para que a cura se processe, pára que fujamos da insecuritas e
para que alcan- cemos o máximo grau de segurança possível.
Sem esta segurança, sem este anseio de segurança, que é uma conseqüência
também das nossas deficiências — porque não poderia algum ser inteligente
almejar alguma coisa que já possuísse — esta insegurança é a motivadora das nossas
grandes aspirações. Não desejaríamos nunca aumentar nosso poder, aumentar a
soma de meios técnicos de domínio do mundo se não nos aguçasse
constantemente esse estado de insegurança que constitui também parte da sua
própria condição humana. O ser humano toma consciência de uma insegurança
biológica, fisiológica; preocupa-lhe a saúde do corpo, a presença das forças, o
anseio de aumentá-las, para com elas poder realizar tudo quanto é exigente
para a sua manutenção e seu bem-estar. É ele preocupado com sua insegurança
psicológica, com os estados emocionais heterogêneos que o colocam,
constantemente, em estados de oposição interna, de angústias, de contradições,
que parecem vencê-lo, projetando-se ainda na vida social, na vida familiar, na vida
coletiva, na vida econômica, na vida do direito, na vida ética, e até na vida religiosa,
onde esta insegurança está sempre presente.
Não quer ele apenas sentir-se amparado nesta existência, porque, sendo
inteligente, perscruta além dos limites da vida meramente material e penetra
por terrenos desconhecidos; tendo ele consciência do seu desejo de mais e,
[244]
conseqüentemente, do seu desejo de perfeição, aspira finalmente a alcançar os
estágios mais altos. E o homem, precisamente por isso, porque é um ser capaz de
colocar idealmente os termos finais da perfeição absoluta, pode transformar essa
perfeição absoluta na medida qualitativa de tudo quanto faz e de todas as
coisas que o cercam.
Por ele poder avaliar, apreciar valores, pode julgar da maior ou menor
conveniência de alguma coisa, não só por uma estimativa simples, que também
o animal possui, mas por uma estimativa intelectual, por uma comparação
daquilo que ele constrói através dos seus conceitos e das suas abstrações,
com os graus máximos perfectivos que correspondem à infinitude da própria
perfeição.
Assim o homem pode sentir se há mais justiça ou menos justiça, se há
mais sabedoria ou menos sabedoria, se há mais dignidade ou menos dignidade,
porque ele está apto a meditar, a pensar e a construir o conceito de uma justiça
absoluta e perfeita, o conceito de uma sabedoria que abranja todas as
possibilidades cognoscitivas; e como ele é capaz de construir perfeições
supremas, pelo menos na sua mente, sem que discutamos se há uma validez fora
da mente humana, que na verdade há, ele pode então comparar os atos justos
da sua vida, as manifestações da sua sabedoria, os testemunhos do seu poder;
e então pode estabelecer uma gradatividade, porque em tudo quanto alcança, em
tudo quanto realiza, sente e sabe que pode e poderia ser melhor, ser maior, ser
mais completo.
É essa capacidade de comparar tudo quanto constitui a sua experiência com
as perfeições absolutas das quais ele não tem a posse atual, das quais ele apenas
vislumbra a sua grandeza e a sua glória, das quais ele tem apenas uma posse
virtual, o que chamamos de tímese parabólica (do grego timos, valor de apreciação, e
parábola, comparação), esta comparação de valores, esta capacidade de comparar
o que ele tem da sua experiência com a perfeição máxima, que ele não possui
atualmente, mas que vislumbra virtualmente, permite ao homem poder realizar
um julgamento de si mesmo, daquilo que faz, daquilo que empreende, e também
de poder projetar uma promessa para si mesmo, um compromisso para si
mesmo, de elevar-se cada vez mais.
Se não fosse assim, não seria o homem um ser apto a realizar uma
progressão; isto é, avançar os graus (pro) para a frente (progredir, de progresso
— do verbo latino gredior), de subir os degraus, porque, então, se satisfaria com
o que é, sem mais aspirações, sem mais desejos, senão aqueles ímpetos
naturais da sua animalidade. E é aí, precisamente, que o homem se distingue
dos animais, porque estes apenas são animais, realizam apenas o que lhes
impelem os impulsos naturais da sua constituição biológica, fisiológica e psíquica.
Mas o homem também é impelido por uma oréxis, por um apetite, por um
apetecer para alguma coisa que está além da sua própria experiência, de alguma
coisa que se coloca acima da sua atualidade, de alguma coisa que espera
poder construir, que aguarda poder obter. É esta a razão, a profunda razão
porque a esperança está sempre com o homem, sua eterna companheira, sua
eterna estimuladora.
E eis também por que o tema da insegurança exige que se estude o
da esperança. Porque o homem, dada a sua insegurança, e dada a sua
[245]
tímese parabólica, dada a sua capacidade de apreciar o que tem, com as
perfeições que ainda não possui atualmente, senão virtualmente, pode esperar pelo
ainda mão, pelo que ainda não é, mas pelo que pode vir a ser. Ele pode
aguardar pelo devir daquilo que não tem, mas que, se tivesse, melhoraria,
exaltaria a sua própria vida. Ele pode, assim, volver os olhos para o amanhã,
para o possível do amanhã, para um futuro realizável, no qual possa vencer a inse-
gurança, para atingir um estado de segurança plena, de plena consciência, de
certeza até, em que sua mente não mais trepide ante a possibilidade de crer, em que
ela se manifestasse num assentimento firme e seguro de que está certa,
absolutamente certa, sem possibilidade de errar.
Eis por que onde há esperança há sempre uma fé, porque a fé é este
assentimento firme em o que ainda não se vê, ainda não se toca, ainda não é
objeto dos nossos sentidos, mas cuja presença, cuja realidade aceitamos como
verdadeira, sem que o nosso espírito trepide na dúvida de ser falsa a nossa
adesão. Assim, para compreender-se a esperança, tem que se compreender a
insegurança humana, pois o ser que atingisse a plenitude da segurança, a que não
abalasse mais nenhum estado de insegurança, este nada mais poderia esperar,
não seria animado pela esperança, nem tampouco pela fé, porque já teria a posse
atual da verdade, estaria plenamente satisfeito em si mesmo. A esperança,
portanto, só pode caber àquele que ainda não tem; a esperança é o ainda não,
é de certo modo o ainda não.
Tema fabuloso que foi examinado por grandes filósofos de todos os
tempos; se desejássemos fazer uma síntese, por pequena que fosse, das longas
especulações em torno dessa matéria, teríamos de nos derramar por páginas e
páginas, o que não julgamos necessário ante a finalidade dessa obra. E
explicamos porque: o que nos interessa é compreender bem a esperança
humana ante a insegurança humana e a fé humana; o que nos interessa é dispor
dos elementos suficientes para procedermos à análise de uma época como a
nossa em que vemos aumentar a insegurança, a desesperança e a ausência
de fé. E como se o homem de hoje fugisse cada vez mais de si mesmo, se demitisse
como homem, e muitos se demitem, buscando aproximar-se e a proceder como
animais, a reagir como animais, a fazer renascer dentro de si instintos que já
estão mortos, a deixarem-se arrastar pelos impulsos mais primitivos, que ainda
exercem sobre nós um poder imenso, e nos transformam em verdadeiras
coisas, ao sabor dos acontecimentos. Nesses momentos procuram afastar o
olhar de si mesmos, da própria personalidade humana, fugir do homem, enganar-
se de um modo impossível, daí o tremendo ridículo que apresenta a desesperança
moderna, que não consegue atingir o trágico, não sai do campo da farsa nem do
grotesco, não consegue tanger a grandeza dos altos momentos estéticos que o
homem é capaz de criar.
Mas essa desesperança, esse estado de descrença, essa total falta de
segurança não é alguma coisa que acontece sem uma razão de ser, porque nada
acontece sem uma razão de ser; há um princípio de onde tudo isso se origina, e
há causas de onde tudo isso sobrevém.
Não nos basta que apenas registremos esses fatos, nem que os deploremos,
nem tampouco que acusemos aqueles que foram avassalados por essa queda. O
que se impõe para nós é investigar também tudo quanto motivou o que
[246]
acontece, e, quando essa análise for feita com o necessário critério, verificaremos,
então, que o ser humano violentou uma série de pontos importantes, uma série
de valores sagrados, que deveria respeitar sempre, e que não se poder violentar
impunemente, porque, inevitavelmente, os prejuízos que decorrem são os mais
maléficos e também os mais terríveis. Colheremos o que plantarmos e se
plantamos o mal há de se colher o mal. O bem só poderia surgir do mal por
acidente, nunca per se, como também o mal não pode surgir do bem se não por
acidente, e nunca per se. Se a nossa sementeira tivesse sido boa, se as nossas
sementes tivessem sido bem escolhidas, não poderíamos hoje estar deplorando
a colheita de frutos ácidos que estamos fazendo. Mas, se erramos, devemos
compreender que isso decorre das próprias condições do homem, da sua própria
natureza, que é apta a escolher entre futuros contingentes, em fazer e poder deixar
de fazer, em preferir o melhor e afastar-se do pior. Se o homem tem essa
capacidade, o que é comprovado pela experiência e pela sua própria condição
humana, e é da raiz da sua natureza, o homem pode saber e deve saber que
possui dentro de si todos os meios possíveis para escolher o melhor e para
realizar o melhor. Portanto, somos responsáveis pelo presente, que é o resultado
do que escolhemos no passado; somos muito mais responsáveis do que julgamos e
é uma covardia nossa querermos atirar essa responsabilidade ao Ser Supremo,
fonte e origem de todas as coisas, como se Ele, maliciosamente, tivesse
preparado para nós o estado de coisas vigente.
Se uma grande voz perguntasse no Cosmos: Quem responde por tudo o
que acontece e o que nos venha a acontecer de grave, de ruim e de pior? Se
houvesse sinceridade, honestidade no ser humano, ele teria de responder: eu,
apenas eu.
III — A ESPERANÇA
***
[249]
Nós recebemos este termo esperança do latim ‘’spes’’, donde vem também o
nosso esperar. Os gregos chamavam-na de ‘’elpis’’, desejar ou querer alguma
coisa ardentemente, que do ‘’velle’’ latino, querer, vem ‘’voluptas’’, ‘’voluntas’’, de
onde volupttiosidade, volição, etc.
Quem espera alguma coisa espera o ainda não, o que pode acontecer. Mas
quem espera ardentemente por alguma coisa e a deseja, porque espera o que lhe
será um bem.
Não vamos nos interessar pelas discussões filosóficas em torno desse tema,
se não na medida e no alcance em que nos possa auxiliar para a finalidade desta
obra. Todos os que a estudaram com proficiência encontraram nela o desejo
ardente de algum bem para o qual a nossa atenção expectante se dirija,
aguardando o seu suceder. Desse modo, encontra-se uma raiz da esperança nos
movimentos afetivos. Ela pertence em grande parte à afetividade; e dizemos em
grande parte, porque também pode ser delineada pelo entendimento, clareada em
seus termos, de forma que pode ser também um produto da cooperação entre a
vontade e o entendimento.
Mas outra característica se notou: é que aquilo que se aguarda, aquilo pelo
qual se espera, é algum bem que não é fácil de obter, é um bem difícil, é um
bem árduo, e é precisamente por essa característica de ser árduo, que ele move
com intensidade as nossas paixões. Há na esperança, um apetite, uma oréxis,
um desejo para algo que é um bem possível, mas difícil de se alcançar, um
bem que está no futuro, mas que se distingue de qualquer desejo comum por um
aspecto específico: é que essa tensão expectante é para algo determinado, e para algo
que se tenha confiança de se conseguir, embora reconheçamos que há maior
dificuldade em obtê-lo. Por isso os antigos psicólogos diziam que a esperança
é uma afecção, é uma paixão original própria do apetite irascível; não é uma simples
concupiscência, porque acrescenta a confiança de que é possível vencer as
dificuldades que possam ocorrer para a consecução do objeto, e é por
isso que esse bem é um bem árduo, árduo porque é difícil de ser obtido.
A esperança humana tem essas características; ela é, sem dúvida, um
movimento da vontade, que tende para esse bem árduo, difícil de ser obtido,
mas possível, do qual ela tem a expectativa e a confiança de obtê-lo. E esta
direção, esta oréxis, dirige-se para as empresas humanas, para aquilo que podemos
obter aqui na nossa vida, no decurso da nossa existência, não só individual como
das gerações; e também para algo que ultrapassa esta própria vida, para
algo que se coloca além da nossa existência. Deste modo, poderíamos distin-
guir dois tipos de esperança; uma esperança terrena, uma esperança para as
nossas próprias realizações, e uma esperança que ultrapassa a nossa vida, que
é aquela que surge na religião com o nome de esperança teologial.
Porque, apesar dessa firmeza indefectível que tem o ser humano quando
espera com esperança que irá obter o bem árduo, o bem difícil, ele, contudo,
sabe que nem tudo que ele deseja, que nem tudo a que ele aspira lhe será dado
aqui, devido aos limites da sua existências, às deficiências do seu próprio ser.
E então, como ele tem um aspirar mais amplo, um aspirar que ultrapassa esses
limites, e não pode admitir que este aspirar seja ruim e que é ao mesmo
tempo para ele a certeza de uma afirmação rigorosa e justa, aguarda que alcance
depois aquela plenitude que não se pode conciliar com a sua limitação, que as suas
[250]
deficiências não podem adequar-se mas que todo o seu ser afirma não ser
uma impossível, todo seu ser afirma que lhe foi prometido, pois há vozes
interiores que lhe dizem que é uma herança que lhe cabe. Por isso ele crê, ele
confia, ele sabe que a sua esperança não será defraudada, e que o bem anelado
um dia lhe caberá.
Daí dizer São Paulo, na sua Epístola aos Romanos, porque “com esperança
estamos salvos; que a esperança que se vê já não é esperança, porque alguém
vê o que esperava, mais, se esperamos o que não vemos, com impaciência
esperamos.” Nos Salmos encontramos: “Porque Tu, ó Senhor, és a minha
esperança, minha confiança desde a minha juventude.” E mais adiante diz ainda
São Paulo: “...Sabedores de que a atribulação produz a paciência, a paciência
produz a virtude provada, a virtude provada a esperança e a esperança não
ficará confundida.”
É a esperança uma virtude teologial do cristianismo, mas também não
podemos negar que nós a encontramos em todas as grandes religiões dos grandes
ciclos culturais, porque o homem não se com pletaria a não ser por ela. Assim
poderíamos dizer, para dar uma definição a gosto nosso, de linha matética, que
“a esperança é a oréxis de um ente racional, apta a promover uma tendência
extensiva, espectativa, consciente ou não, para um bem árduo, possível, cuja
posse ainda não é atual, mas que julgamos atualizável.”
Deste modo encontramos, da maneira como expomos, a esperança,
primeiro como própria de um ente racional, própria de um ser inteligente, quando
ela tem essas características, muito embora possamos falar, como mais adiante
veremos, de uma esperança animal, da qual também tratou Tomás de Aquino.
Ela é uma oréxis, é um apetite, é um anelo desse ente racional, mas um
anelo capaz de promover uma tendência, promover uma série de processos
que se estendem não só numa atitude de espectativa mas também de promover
ações dirigidas, as ações para um bem, para algo conveniente à nossa natureza,
mas um bem árduo, um bem de difícil consecução, mas possível; um bem que
não esteja longe da nossa natureza; um bem que não esteja em contradição
conosco, cuja posse, consciente ou não, não a temos, mas que julgamos que se
pode tornar atual. E dizemos consciente ou não, porque algumas vezes já temos
e não sabemos que já possuímos o bem anelado, que está virtualmente a nosso
dispor, mas que não soubemos atualmente aproveitar todas as possibilidade que
ele oferece. Por isso a posse não é atual, não está realizada, e o bem se coloca
para o futuro, mas para o nosso futuro.
E a esperança, e é importante considerar este aspecto da nossa definição, é
apta a promover uma tendência, uma ação para este bem, porque uma
esperança que fosse apenas passiva poderia muitas vezes defraudar-nos,
enquanto que, tendo, porém, a confiança na obtenção do bem, leva-nos a
promover algo para consegui-lo, nós dele nos aproximamos com muito maior
segurança.
Assim esses impulsos que nos levam a realizar o desejado implicam a
consciência da indigência por nossa parte de alguma coisa, e só estamos
realmente amadurecidos para a esperança quando temos consciência da nossa
pobreza, do que nos falta; e só aí que poderemos dirigir a nossa espera para o
porvir, para a posse daquele bem desejado, a qual nos dará a satisfação do
[251]
nosso desejo e o gozo que daí decorre, que já é uma paga ao anelo que nos animou.
Mas um dos pontos importantes da esperança está em considerar que este
bem anelado, além de árduo, é possível, porque o que vai distinguir a esperança
da desesperança é precisamente saber-se que o bem desejado é impossível
de ser obtido. Quando surge em nós a essência dessa impossibilidade, toda a
nossa espera perde a sua razão, deixa de ser segura, e então parece inútil e
infundada. É mister, para que ela se forme, que tenhamos confiança em obter
esse bem árduo.
Mas cuidado, para que essa nossa confiança não se transforme numa audácia,
não se transforme também num otimismo vão, não se transforme num excesso
que seria a presunção.
A deficiência da esperança é a desesperança, mas o seu excesso é a
presunção. E se desesperamos daquilo que nos é possível conseguir, erramos,
como também erramos quando presunçosamente julgamos fácil a aquisição do
bem que nos é árduo.
Estamos assim ameaçados de dois extremos perigosos e que têm sido a
causa de muitos de nossos males: desesperar ou presumir que é fácil alcançar-
se o que na verdade é difícil. É compreensível, pois, que a esperança também
possa ser alimentada; e ela tem muitos alimentos: um destes é o saber, a prudência,
o conhecimento; porque, graças ao conhecimento, graças ao saber, graças à
técnica, graças, em suma, a todas essas conquistas fundamentais do homem,
podemos ampliar as possibilidades da nossa própria esperança, porque podemos
tomar mais possível e conseqüentemente menos árduo o bem desejado. Eis por
que a esperança não se pode desligar de tudo quanto mais constitui a concreção
do homem e está exigindo não só o amor, não só o afeto, não só a oréxis,
mas uma maior afetividade, um maior conhecimento, uma incitação da nossa
tensão, um esforço, uma diligência, um emprego de meios sistematizados para
que tor- nemos possível, e mais rápida, a consecução do bem desejado.
Temos de prosseguir a estudar estes pontos e, sobretudo, saber se
dispomos desses meios, se com eles podemos contar, se podemos mobilizá-los para
o nosso bem, e assim tornar fácil ampliar cada vez mais a resposta mais segura,
mais certa, à pergunta que fizemos: Brasil, um país sem esperança?
IV — A ESPERANÇA HUMANA
V - DO DESESPERO E DA PRESUNÇÃO
[258]
VI — O POSITIVO E O NEGATIVO EM NÓS
***
[267]
2- Os 5 Pontos para o Estudo da Obra do
Mário Ferreira dos Santos
1. Lista dos Livros:
[268]
Lista Organizada e Atualizada das Obras do Mário Ferreira
dos Santos, por suas filhas Nadiejda Santos Nunes Galvão e
Yolanda Lhullier dos Santos! Série Completa!
(Primeira Série)
III Psicologia. São Paulo: Logos, 1953 (5.ec., São Paulo: Logos, 1963).
VII Filosofia da Crise. São Paulo: Logos, 1956 (5.ed., São Paulo:
Logos, 1964).
(Segunda Série)
(A) Publicados
XI Filosofia Concreta dos Valores. São Paulo: Logos, 1960 (3.ed., São
Paulo: Logos, 1964).
[269]
XII Sociologia Fundamental e Ética Fundamental São Paulo: Logos,
1957 (3.ed., São Paulo: Logos, 1957 (3.e., São Paulo: Logos, 1964).
XX Análise de Temas Sociais. São Paulo: Logos, 1962, 3v. (2.ed., São
Paulo: Logos, 1964).
XXI O Problema Social. São Paulo: Logos, 1964 (2.ed., São Paulo:
Logos, 1064).
[270]
Matese, 1965.
(B) Inéditos
[271]
(Terceira Série)
(A) Publicados
B) Inéditos
II. Curso de Oratória e Retórica. São Paulo: Logos, 1953 (12.ed., São
Paulo: Logos)
IV. Assim Falava Zaratustra. São Paulo: Logos, 1954 (3.ed., São Paulo:
Logos).
VI. Práticas de Oratória. São Paulo: Logos, 1957 (5.ed., São Paulo:
Logos).
[272]
VII. Curso de Integração Pessoal. São Paulo: Logos, 1954 (6.ed., São
Paulo: Logos).
IX. Páginas Várias. São Paulo: Logos, 1960 (10.ed., São Paulo: Logos).
X. Assim Deus Falou aos Homens. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São
Paulo: Logos). (coleção minimax)
XI. Vida não é Argumento. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São Paulo:
Logos). (minimax)
XII. A Casa das Paredes Geladas. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São
Paulo: Logos). (minimax)
XIII. Escutai em Silêncio. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São Paulo:
Logos). (minimax)
XV. A Arte e a Vida. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São Paulo:
Logos). (minimax)
XVI. A luta dos Contrários. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São Paulo:
Logos). (minimax)
XVII. Certas Sutilezas Humanas. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São
Paulo: Logos). (minimax)
XVIII. Convite à Estética. São Paulo: Logos, 1961 (6.ed.., São Paulo:
Logos).
XX. Convite à Filosofia. São Paulo: Logos, 1961 (6.ed., São Paulo:
Logos).
[273]
XXII. Invasão Vertical dos Bárbaros. São Paulo: Matese, 1967
Traduções:
[274]
X. Saudação ao mundo - Walt Whitman (tradução)
***
[275]
2. LISTA DOS ÁUDIOS
[276]
14. Da Abstração e Metafísica
15. Exemplos de Filosofias nos Diversos Períodos da História
16. Integração e Desintegração da História
17. O Fundamento do Ser e a Causa Final
18. Palestra no Centro de Conferência Cultural (Completa)
19. Líder -Hitler
20. Sobre o Infinito
21. Estudos sobre os Pensamentos
22. Sobre a Literatura Hindu (Aula Completa)
Aula 1
Aula 2
Aula 3
23. Filósofos Portugueses
24. Filosofia Especulativa e Filosofia Prática
25. Respostas sobre a Filosofia Especulativa e a Filosofia Prática
26. O Pitagorismo e a Época em que Vivemos
27. Tema Teológico Cristão em face do Pitagorismo
28. Sobre a Psicologia
Parte 1
Parte 3 (Palestra sobre Unidade do Saber)
Parte 4 (Psicologia e Cristianismo)
Palestra sobre Psicologia (Parte 3)
Palestra sobre Psicologia (Parte 3 - Continuação)
Palestra sobre Psicologia (Parte 4)
Palestra sobre Psicologia (Parte 4 - Continuação)
Palestra Sobre Psicologia (Parte 10)
Palestra Sobre Psicologia (Parte 11)
Palestra Sobre Psicologia (Parte 12)
Psicologia - A Vontade Humana (Parte 1)
Psicologia - A Vontade Humana (Parte 2)
29. Sobre a Eternidade
30. Sobre a Felicidade e a Vida Interior
31. Economia - (Aula Completa)
Aula 1
Aula 2
Aula 3
Aula 4
Aula 5
Aula 6
Aula 7
Aula 8
[277]
Aula 9
Aula 10
Aula 11
Aula 12
32. Filosofia Concreta (Aula Completa)
1. Filosofia Concreta.
2. Mitos fundamentais do pensamento grego.
3. Anarquismo e filosofia concreta.
4. Neopositivismo e filosofia concreta.
5. Infinito.
6. Sobre o ser o nada.
33. Lógica Simbólica (Aula Completa)
1. Filosofia Antiga e Simbólica
2. Simbólica e Antropologia
3. Simbólica e Religião
4. Simbólica e Ordem Religiosa
5. Interpretação Simbólica
6. Natureza dos Símbolos
7. Signos e Símbolos
8. Simbólica e Interpretação 1
9. Simbólica e Interpretação 2
34. Sobre o Verdadeiro Cristianismo
35. Respostas aos Alunos
1. O Eterno Retorno
2. A Eucaristia
3. A Teosofia
4. O Problema da Magia e o Problema de Certas Práticas
36. Sobre São Boaventura
37. Sobre a Verdade
38. Sobre o Ceticismo
39. Juventude, Justiça, Humildade e Cristianismo
40. O Significado da Lógica
41. Sobre a Axiologia das Ciências
42. Palestra Sobre a Analogia do Ser
43. Temas Vários
Parte 1
Parte 2
[278]
44. Temas Brasileiros e Filosofia
Parte 1
Parte 2
45. Sobre o Anarquismo
1. Anarquismo e a sua Atualidade
2. Perguntas sobre o Anarquismo
46. Sobre as Ideias Eternas
47. Os Números e as Leis Eternas
48. Sobre a Cibernetica!
49. O Papel da Filosofia e da Ciência
50. Seminário Medianeira
Aula 1
Aula 2
Aula 3
Aula 4
51. O Pecado Original
52. O Mito de Caim
53. Livros Sagrados
54. Interpretação do Apocalipse de São João
55. Conferência - Teilhard de Chardin e a Filosofia Atual
56. Encontros Filosóficos
Encontro 1
Encontro 2
Encontro 3
Encontro 4 (Respostas sobre a Filosofia Especulativa e a FilosofiaPrática)
57. Aulas sobre a Dialética
Aula de Dialética ( Aula 1ª)
Aula de Dialética Concreta (Aula 4ª)
Aula de Dialética Concreta (Aula 6ª)
Aula de Dialética Concreta (Aula 7ª)
Aula de Dialética Concreta (Aula 8ª)
Aula de Dialética Concreta da Sociologia (Aula 1ª)
Aula de Dialética Concreta da Sociologia (Aula 2ª)
Aula de Dialética Concreta da Sociologia (Regravações da Aula 1ª)
Aula de Dialética Concreta da Sociologia (Regravações da Aula 2ª)
Aula de Dialética Concreta na Faculdade São Bento
Aula de Dialética na Faculdade N. S. Medianeira (Parte 1)
Aula de Dialética na Faculdade N. S. Medianeira (Parte 2)
[279]
58. São Boa-Ventura e a Mathesis
[280]
Aula 102
Aula 103
Aula 104
Aula 107
Aula 108
Aula 109
Aula 110
Aula 110 (Continuação)
Aula 111
Aula 112
[281]
3. JORNAIS E REVISTAS COM TEXTOS
SOBRE O MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS
1. Jury.
Diário Popular de 14 de novembro de 1928, em que está
registrada a estréia de Mário Ferreira dos Santos como
advogado.
[282]
*Segundo Período da Vida do Mário Em
São Paulo
(Fontes: Biblioteca Nacional e Biblioteca da Unesp)
[283]
9. Delbar, 1968 , Abril e Maio, Ano 2, Nºrs 14 e 15. (BibliotecaDigital Unesp)
[284]
17. A Cruz - Órgão da Paroquia de S. João Baptista (RJ) Ediçãode 1954. -
Jornal publicado entre 1919 até 1923. (Parte 2)
(Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)
[285]
22. Diário de Notícias (RJ) Edição de 1953 - Jornal publicadoentre 1950
até 1959 (Parte 3) (Biblioteca Digital da BibliotecaNacional)
24. Diário do Paraná - Órgão dos Diários Associados (PR) Ano de1957 –
Edição 628 - Jornal publicado entre 1955 até
1983. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)
25. Diário do Paraná - Órgão dos Diários Associados (PR) Ano de1957 –
Edição 978 - Jornal publicado entre 1955 até
1983. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)
27. Leitura (RJ) – Artigo de 1958 - Jornal publicado entre 1923até 1973.
(Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)
29. O DIA (PR) – Edição de 1954 - Jornal publicado entre 1923até 1961.
(Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)
[286]
30. O DIA (PR) – Edição de 1958 - Jornal publicado entre 1923até 1961.
(Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)
33. O Dia (PR) – 1954 - Edição de 1954 - Jornal publicado entre1923 até
1961. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)
34. Voz Diocesana (MG) – Edição de 1968 - Jornal publicado entre 1965
até 1978. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)
[287]
37. Tribuna da Imprensa (RJ) Edição de 2003 - Jornal publicado
entre 2000 até 2008. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)
[288]
5. Trabalhos sobre Mário Ferreira dos Santos
O Quinto Ponto de Estudo da nossa Revista destina-se a reunir
absolutamente todo trabalho sobre a Filosofia do Mário Ferreira dos
Santos. Esse objetivo é muito importante para que possamos perceber a
atualidade do Mário Ferreira, a terna atenção e apreço que as pessoas
possuem pelo Mário, isso nos faz perceber a unidade das Preocupações
Filosóficas do Brasil e o nível de Cultura que as pessoas estudiosas
possuem. Nós esperamos que essa unidade de Trabalhos inspirem as
pessoas para que estudem a Filosofia do Mário Ferreira e passem a ter
um sentido Nacional - até Internacional – do seu Legado!
[289]
Primeiro da Lista: Mário Ferreira dos Santos: Guia para o estudo de
sua Obra – Olavo de Carvalho, Vide Editorial (2020)
3. Carlos Aurélio Mota de Souza - Por que reler Mário Ferreira dos Santos hoje?
5. Mário Ferreira dos Santos - Uma Esfinge no Labirinto - por suas filhas Nadiejda
Santos Nunes Galvão e Yolanda Lhullier dos Santos
[290]
onde foram registrados os depoimentos de 27 autores e pensadores que traçam um
panorama geral dos caminhos da Filosofia no Brasil da época.
17. Introdução ao Livro A Sabedoria das Leis Eternas - Olavo de Carvalho. (20Páginas
Frente e Verso a Introdução)
[291]
28. Ramus, Gustavo - «Anarquismo cristão e sua influência no Brasil» - Hácitações sobre
o Mário Ferreira dos Santos
29. Monografia de Licenciatura em Filosofia - Orlando Joaquim Inácio - A
Objetividade Da Verdade Em Santo Tomás De Aquino (2015) Várias Citações Sobre
Mário Ferreira dos Santos.
32. (Curso) Arte, Ordem e Símbolo – Prof. Diogo Cruxen – (2020) – Hácitação sobre
o Mário Ferreira dos Santos. Plataforma – (Brasil Paralelo)
35. Artigo - Mário Ferreira dos Santos leitor de Nietzsche, Roger Moura dosSantos e
Edmilson Alves de Azevêdo.
36. Prefácio (20 Páginas, frente e Verso) de Ricardo Rizek da Obra ‘’Pitágoras e o
Tema dos Números’’ (Edição de 2000)
37. A Educação Segundo Paulo Freire: Uma Primeira Análise Filosófica José Junio
Souza da Costa – Cita o Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais do Mário Ferreira
dos Santos.
[292]
40. A dialética de valor de uso e de troca e direcionamentos da ação humana
percipiente e propositiva em Mário Ferreira dos Santos – Murilo Carlos MunizVeras.
Artigo de 2017
45. Capim Limão: Ensaios sobre produção do conhecimento, material didático e outros
textos - Organização: Maurício Castanheira. 2015. Há várias citações sobre o Mário
Ferreira dos Santos
[293]
“Tratado de Simbólica” de Mário Ferreira dos Santos, subsidiada por textos diversos,
desde o conceito de participação em Platão até as abordagens de JeanBorella e de Carl G.
Jung. (Emenda de Disciplina)
59. Mário Ferreira dos Santos: a obra do maior filósofo brasileiro de todos os tempos
- Por Dante Henrique Mantovani (Doutor em Estudos da Linguagem pela Universidade
Estadual de Londrina)
[294]
61. Curso De Formação De Diplomatas 2019 – Bibliografias. Inclui O Mário Ferreira
Como Um Autor Brasileiro Importantíssimo - Controladoria-Geral DaUnião
62. A Formação Sensível Dos Docentes Por Meio Da Formação Estética Dos
Coordenadores Pedagógicos - Andrey Felipe Cé Soares (Artigo De 2013). Há Citações
Sobre O Mário Ferreira Dos Santos.
64. A ciência da guerra num mundo em movimento: aulas, obras e academias militares
na cidade do Rio de Janeiro (1763-1810) - Carlos Eduardo de Medeiros Gama (18
Páginas) - 35º Encontro Anual da Anpocs; GT 14 – Forças Armadas, Estado e sociedade;
66. Trabalho De Conclusão De Curso ‘’João Cabral: O Humano Nas Coisas’’ - Robson
Deon - Licenciatura Em Letras Português-Inglês (2017). Há IncontáveisCitações Sobre
O Mário Ferreira Dos Santos.
68. Sentidos Da Voz: Uma Análise Das Unidades De Discurso Presentes No Campo
Da Oratória - Thiago Barbosa Soares (Artigo De 2019) Há Citação SobreO Mário Ferreira
Dos Santos.
[295]
71. Conceito de Inconstitucionalidade Fundamento de uma teoria concreta do controle
de constitucionalidade - Paulo Serejo (Procurador do Distrito Federal e Advogado)
(Artigo de 2000). Há Citações sobre o Mário Ferreira dos Santos.
73. Parmênides: O Não Ser Como Contradição - Nicola Stefano Galgano. (2019)Livro
Com Citações Do Mário Ferreira Dos Santos.
74. A Gênese Niilista De João Gilberto Noll - Diego Gomes Do Valle – (ArtigoDe
2019) Há Citação Sobre O Mário Ferreira Dos Santos.
79. A Fantasia Está Sendo Criada Nas Mídias - Pesquisa Apresentada No XVII
Congresso De Ciências Da Comunicação Na Região Sul – Curitiba - PR - 26 A28 De
Maio De 2016 - Adriano Luís FONSACA E Paula Ávila NUNES
82. Uma Teoria do Discurso Constitucional - Luiz Vergilio Dalla Rosa (2002)
[296]
83. Pizzo - História e Administração da Máfia - Fabiano Barraca . Há citaçãoSobre o
Mário Ferreira Dos Santos.
84. Estrutura e Sentido da Enciclopédia das Ciências Filosóficas de Mário Ferreira dos
Santos. (Trabalho de Conclusão de Curso) - Olavo de Carvalho
87. A anedota de abstração na obra de Roberto Gómez Bolaños Wilson Filho Ribeiro
de Almeida Universidade Federal de Uberlândia – Artigo de 2013, publicado em 2014,
numa Revista do México chamada ‘’Toda gente’’
91. Dissertação Mestrado - A Relação Entre Direito E Poder: Uma Reflexão A Partir
Da Filosofia De Miguel Reale – Luiz Gustavo De Castro Oliveira (2013) -Há Várias
Citações Sobre o Mário Ferreira dos Santos
[297]
94. Dissertação de Mestrado - O Formalismo No Direito e a Ética Dos Valores: Teoria
Dos Valores Em Hans Kelsen E Max Scheler - Yuri Ikeda Fonseca (2018)
- Há várias citações sobre o Mário Ferreira Dos Santos
97. Redescobrindo O Filósofo Brasileiro Mário Ferreira Dos Santos: Uma Pontual
Abordagem Criminológico – Cultural - Eduardo Luiz Santos Cabette, Delegado de
Polícia (2014)
99. Artigo - Meditações acerca da canção Sobre Todas as Coisas de Edu Lobo & Chico
Buarque - Paulo José de Siqueira Tiné – (2017) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos
Santos
[298]
104. Artigo - As Sombras Do Inconcebível: Reflexões Sobre os Mundos Possíveis
Impossíveis Em Eco - Elisa Hoerlle – (2015) Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos
Santos
107. Livro – Numerologia: A Chave do ser – Luiz Alexandre Junior (2002) - HáCitação
Sobre o Mário Ferreira Dos Santos
114. Licenciatura em Matemática – Uma Introdução ao Estudo dos Anéis e dos Corpos
– Cássio Volpato Selbach (2015) - Há Várias Citações muito boas sobre oMário Ferreira
Dos Santos
[299]
115. Mestrado Em História - Mais Fúria E Mais Titãs: Observações Sobre O Uso Da
Narrativa Mítica E Do Mito Do Herói A Partir Dos Filmes Fúria De Titãs (1981-2010) -
Tobias Dias Goulão – (2015) - Há Várias Citações Muito Boas Sobre O Mário Ferreira
Dos Santos
[300]
125. Artigo - A filosofia contemporânea da mente em perspectiva tomista - Alberto
Leopoldo Batista Neto (2017) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos *NA
NOTA 80.
132. Artigo – Notas Sobre o Governo do Direito, Ética das Virtudes e DireitosHumanos
– Carlos Ignacio Massini Correas; Frederico Bonaldo. – (2016) - Há Citação Sobre o
Mário Ferreira Dos Santos
[301]
135. Artigo - A Voz Do Povo É A Voz De Deus? O Mito Do Valor Axiológico Da
Democracia - Guilherme Dourado Aragão Sá Araujo – (2018) - Há CitaçãoSobre o Mário
Ferreira Dos Santos
138. Artigo - Série online como sala de aula no limiar do sensível - Alessandro Flaviano
de Souza; Andrea Ferraz Fernandez; Naiara Cristina Gonçalves RochaPassos. – (2020) -
Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos
[302]
146. Doutorado em Comunicação e Semiótica – A comunicação como Jogo: Sobre a
dimensão lúdica como política da diversão programada em Vilém Flusser. – Raphael
Dall’ Anese Durante – (2013) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos.
150. Artigo - Doping e teomania: breves considerações éticas para as aulas de Educação
Física - Marcos Paulo do Nascimento Silva; Bruno Rodrigo da SilvaLippo. – (2018) - Há
Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos.
154. Artigo - Para uma filosofia da cultura: sobre as relações entre Cultura e Éthōs
(e/)qoj; h)/qoj), por intermédio da Bildung alemã e da Paidéia (paide/ia) grega. -
Emmanuel Victor Hugo Moraes – (2012) - Há Citação Sobre o MárioFerreira Dos Santos.
[303]
156. Doutorado em Letras – Ficção de Formação na Era Audiovisual: Salinger e
Anderson & Wilson – André Corrêa Rollo – (2013) – Há uma citação muito boasobre o
Mário Ferreira dos Santos.
157. (Livro) Política Prática – Everton Maciel; Sergio Corrêa; Tiaraju Andreazza.
(Organizadores) - (2020) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos.
[304]
166. Mestrado em Ensino de Física – O Conceito De Generalização a Partir deum Olhar
Dialético-Complexo sobre o Modelo de Perfil Conceitual – Felipe Prado Pazello dos
Santos – (2011) – Há uma citação muito boa sobre o Mário Ferreira dos Santos.
[305]
176. Doutorado em Artes – O Crítico e o Trágico: A Morte da Arte Moderna emSergio
Milliet – Naum Simão de Santana – (2009) - Há várias Citações muito boas sobre o Mário
Ferreira Dos Santos
[306]
186. Artigo - João Cabral de Melo Neto: O lirismo de um “Poeta sem Alma -Robson
Deon; Marcos Hidemi de Lima. - Há várias citações sobre o Mário Ferreira dos Santos.
193. Artigo - O Aspecto Felino do bVI7 do Blues Menor em Tigresa de Caetano Veloso:
uma proposta hermenêutica - Paulo José de Siqueira Tiné - Há citação sobre o Mário
Ferreira dos Santos
194. Artigo - Nas Profundezas do Physei Dikaion: O Direito Natural À Luz DoSímbolo
Em Eric Voegelin - Horácio Lopes Mousinho Neiva - (2010) - Há citação sobre o Mário
Ferreira dos Santos
[307]
197. Mestrado em Letras - “Lugar De Ser Feliz Não É Supermercado”: A Modernidade
Tardia Em Canções De Zeca Baleiro - Ricardo Costa Salvalaio –(2018) - Há citações
sobre o Mário Ferreira dos Santos
203. Doutorado em História - “Por uma religião nacional”: a separação entre Igreja e
Estado e a disputa religiosa entre católicos e protestantes em Belém do Pará (1889-1931)
- Rafael da Gama – (2019) - Há citação sobre o Mário Ferreirados Santos
[308]
206. Artigo - Algumas considerações sobre o estudo da simbologia religiosa. -Marcel
Henrique Rodrigues – (2012) - Há várias citações muito boas sobre o Mário Ferreira dos
Santos
209. Sacred Music in Goiás (1737-1936) and Balthasar de Freitas's Collection -Marshal
Gaioso Pinto – (2010) – Há Citação sobre o Mário Ferreira dos Santos
211. Artigo - Reflexões sobre unidade em música - Lucas de Paula Barbosa –(2008) -
Há Citação sobre o Mário Ferreira dos Santos
212. (Livro) Urvater, O Senhor Do Tempo - Gustavo Torres Rebello Horta –(2013) -
Há uma citação muito boa sobre o Mário Ferreira dos Santos
[309]
216. Artigo - Oikós: Topofilia, ancestralidade e ecossistema arquetípico - Prof. Dr.
Marcos Ferreira Santos – (2006) - Há Citação sobre o Mário Ferreira dos Santos
218. (Livro) - A Crise Dogmática do Processo Penal - Prof. Dr. Dário José Soares –
(2016) – Livro baseado na tese de Doutorado do Autor - Há inumeráveis citações sobre o
Mário Ferreira e o autor dedica o seu doutoradoao Mário e a vários outros brilhantes e
excepcionais filósofos.
223. (Rascunho de Palestra) Notas para um Estudo da Obra de Mário Ferreira dos Santos
- (2015) Rascunho das palestras proferidas sobre a vida e obra de Mário Ferreira dos
Santos na Faculdade Católica de Anápolis, em ocasião da reunião do grupo de pesquisas
em filosofia do direito e história da filosofia, nosdias 21/11/2015 e 05/12/2015
225. (Livro) A Soberania do Destino: Uma Busca Pelo Sentido da Vida (2020) Diogo
Mateus Garmatz - Há inúmeras citações sobre o Mário Ferreira dos Santos. O filósofo é
citado quando o livro trata do cientificismo moderno, da falsidade do evolucionismo, da
existência da verdade absoluta, da estrutura da realidade e também quando trata da
existência de Deus.
[310]
226. (Tese de Doutorado em Letras) A Risada é Um Triunfo do Cérebro
Aspectos cômicos, filosóficos e literários de El Chavo e El Chapulín - 2020 -Wilson Filho
Ribeiro de Almeida - Há citações sobre o Mário Ferreira dos Santos
236. Mário Ferreira dos Santos, o Ilustre desconhecido – Artigo por Rodrigo Ulguim,
02 de fevereiro de 2022.
[311]
5- Lista das Fotos
[312]
2. Aqui ele está com uns 7 anos, talvez no Colégio Ginásio
Gonzaga, de Pelotas - RS.
O Aldo conseguiu aumentar essa foto do Mário em 8x, agora ela tem
968x1332. O Mário aqui está com uns 7 anos, talvez no Colégio Ginásio
Gonzaga, de Pelotas - RS. Agora dá para ver melhor o semblante dele. Só
pelo olhar dá para ver uma firmeza e tenacidade incomum, o que
acabaria sendo transformado em uma tempestade de livros,
conferências e a história de um guerreiro num campo de batalha!
[313]
3. O jovem Mário, primeiro de baixo para cima, em 1924, no
Colégio Ginásio Gonzaga. Ele está entre seus colegas: da Esquerda
para a Direita - Mário Ferreira dos Santos, João Alfredo Pitrez,
Procopio G. de Freitas e Pedro D. Carduz. Fotografia contida no
livro de Lembranças do Gymnasio Gonzaga - Pelotas, ano escolar
de 1924, turma do V ano. (Fonte: Elvis Amsterdã - A DIALÉCTICA-
ONTOLÓGICA DE MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS)
[314]
4. Legenda: Ao bom amigo Joaquim/ Com um abraço do
Mário'' (Dedicatória de Mário Ferreira dos Santos a seu
amigo Joaquim Monteiro da Cunha, escrita no verso da
foto de 29/01/1926)
Arquivo Pessoal de Joaquim Alfredo Lhullier da Cunha
(Fonte: Elvis Amsterdã - A DIALÉCTICA-ONTOLÓGICA
DE MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS)
[315]
5. Foto do Mário, essa é de 1928/29, aqui ele está na
chácara em Pelotas- RS, ao lado dele está Yolanda, sua
amada Mulher, e o menino é o irmão caçula dela. Eles se
casaram em 1929. O Mário nessa foto tem 22 anos!
(Fonte: Desconhecida)
[316]
6. Mário Ferreira e a sua Esposa Yolanda, na França. Foto
de 1954!! (Fonte: Facebook)
[317]
6. Nós Colorimos e melhoramos essa Foto com todo o
Carinho usando o Photoshop e Remini.
[318]
7. Uma foto na Carteira de Jornalista no Diário de
Notícias de Porto Alegre. (Fonte: Facebook)
[319]
9. Mário à esquerda, na década de 1930, fazendo
propaganda de sua empresa cinematográfica. (Fonte:
Diário Popular, por Luís Rubira. 24/07/2020)
[320]
11. Mário Ferreira dos Santos, sua esposa Yolanda Duro
Lhullier e as filhas Yolanda e Nadiejda na Avenida São
João - SP. Que linda foto, com mais de 50 anos!
(Fonte: Facebook)
[321]
Nós Colorimos e melhoramos essa Foto usando os
Programas: Photoshop; Remini; Recolourise;
[322]
12. Mário Ferreira no casamento de sua Filha em 1958!!
Quê linda Foto! (Fonte: Facebook)
[323]
Nós Colorimos e melhoramos essa Foto usando os
Programas: Photoshop; Remini; Colourise.
[324]
13. Mário Ferreira dos Santos, sua esposa Yolanda Duro
Lhullier e a sua netinha Cláudia! (Fonte: Facebook)
[325]
Nós Colorimos e melhoramos essa Foto usando os
Programas: Photoshop; Remini.
[326]
14. Mário, sua filha Yolanda e o seu netinho
Alberto na Chácara da Casa na Serra Negra – SP
[327]
Nós Colorimos e melhoramos essa Foto usando os
Programas: Photoshop; Remini.
[328]
15. Mário, sua filha Yolanda e o seu netinho Alberto na
Chácara da Casa na Serra Negra – SP (Fonte: Facebook)
[329]
16. Mário, sua filha Yolanda e o seu netinho Alberto na
Chácara da Casa na Serra Negra – SP (Fonte: Facebook)
[330]
17. Mário, sua filha Yolanda e o seu netinho Alberto
na Chácara da Casa na Serra Negra – SP (Fonte:
Facebook)
[331]
Nós Colorimos essa foto usando os programas:
Photoshop; Remini.
[332]
18. O Mário nessa Foto está na Chácara da Casa na Serra
Negra - SP, onde passava as Férias, descansando na
cadeira, mas sempre lendo e anotando algo!
O Mário era incansável! (Fonte: Facebook)
[333]
20. O Mário nessa foto está num encontro em
Família! (Fonte: Facebook)
[334]
22. Mário Ferreira dos Santos, sua esposa Yolanda
Duro Lhullier e a filha Yolanda, Não sabemos qual
o lugar dessa linda foto! (Fonte: Facebook)
[335]
23. Mário Ferreira e o seu netinho Alberto. Ele está
segurando um Cachimbo! (Fonte: Facebook)
[336]
24. Mário Ferreira no Batizado! Não Sabemos qual é o
nome do Bebezinho, parece que ele é o Padrinho! (Fonte:
Facebook)
[337]
25. Mário Ferreira dos Santos, sua esposa Yolanda
Duro Lhullier e sua filha Yolanda, na Esquerda.
Não sabemos os nomes das criancinhas!
[338]
26. Aqui o Mário está em seu escritório na Editora Logos,
não sabemos qual o nome do homem que aparece nessa
foto, se alguém souber, nos avise! (Fonte: Facebook)
[339]
27. Quem coloriu essa foto foi o Danilo Felix, é a melhor foto
colorida que eu já vi do Mário, o trabalho ficou fantástico,
Parabéns! Agora dá para ver a feição do Mário perfeito, e eu
vou te falar, o Mário tem um rosto de pessoa destemida, muito
valente e com uma profundidade no olhar inigualável!
[340]
28. Mais uma foto do Mário Ferreira!
(Fonte: Facebook)
[341]
29. Aqui o Mário está em seu escritório na Editora Logos
(Fonte: Humanismo pluridimensional, Loyola, 1974, v. 2, 1037 p.)
(Foto concedida por Gabriel Coelho Teixeira)
[342]
30. Mário Ferreira ao fundo na Editora Logos.
(Fonte Facebook)
[343]
31. Mário Ferreira na Editora Logos (Fonte: Contra Capa do
Livro ‘’Filosofias da Afirmação e da Negação’’, É Realizações)
[344]
32. Aqui o Mário está junto de amigos na Editora
Logos
[345]
34. Editora Logos
[346]
36. Editora Logos - Vários Funcionários
[347]
37. Editora Logos. Portifólio da Empresa do Mário!
[348]
38. Onde o Mário Ferreira dos Santos descansa?
(Foto de 2015)
[349]
Relíquia que achamos no Instagram:
Programa do Curso de Filosofia Geral do Prof. Mário Ferreira Dos Santos.
[350]
[351]
Dona Yolanda Lhullier dos Santos, uma das filhas do Mário Ferreira dos
Santos. Ela faleceu em 2013. Se não fosse por ela, por sua mãe e por sua irmã,
juntamente com toda a família Santos, e também com a ajuda preciosa e
incomparável do Olavo, hoje nós não teríamos nada do Mário Ferreira dos
Santos. Entre 1968 e 1983, ano em que o Olavo tomou conhecimento do
Mário, a Família do Mário antes e depois lutou muito para que a sua obra de
algum modo fosse cuidada, mesmo com muitas despesas com fechamento
de empresas, despensa de funcionários, transformar aqueles rolos enormes
de fitas em CDs e muito mais!
[352]
4- Futuro
O Sonho de uma nova Edição da Enciclopédia das Ciências
Filosóficas
A Enciclopédia das Ciências Filosóficas é uma unidade. Ela possui
uma lógica interna e não pode ser publicada separadamente.
De acordo com o estudo do Olavo de Carvalho sobre essa
monumental obra do Mário Ferreira dos Santos, podemos conhecer
como o Mário organizou e estruturou a sua obra Máxima, vejamos
no quadro abaixo:
[353]
O Quadro acima é explicado nessa exata relação dos títulos
dos Livros, logo abaixo:
1- Primeira Série
2- Segunda Série
Série Intermediária de estudos práticos dos conceitos estudados na
Primeira Série
(Numeração Livre)
(A) Publicados
[354]
Corrupção das Coisas Físicas, de Aristóteles).
XI O Problema Social.
[355]
XXIV Tao-Te-Ching,de Lao-Tsê (tradução e comentários). Original datilografado,
85p.
3 - Terceira Série
[356]
O Nosso Sonho um dia vai se tornar real!
A Enciclopédia das Ciências Filosóficas Completa, Editada e em
Capa Dura. Assim é o sonho de todo mundo!
Temos vários exemplos de Enciclopédias e Coleções de Livros
publicados pelo mundo que são um verdadeiro ponto de inspiração e
de partida para que a obra do Mário seja publicada da maneira que se
deve.
Com certeza o Mário tinha essa Enciclopédia em sua Biblioteca, muito boa! É
exatamente o que o olavo diz sobre o Senso Prático e o Luiz Gonzaga fala sobre
desenvolver habilidades práticas, no ICLS!
***
II - A Enciclopédia Treccani.
O livro Encyclopaedias: Their History Throughout The Ages situava-a no pódio das
enciclopédias mais importantes do século XX, junto à XI edição da Encyclopædia
Britannica e a Enciclopedia universal ilustrada europeo-americana.
História:
A primeira edição foi publicada entre 1929 e 1936. Ao todo, 35 volumes foram
publicados, mais um volume de índice. O conjunto conteve 60.000 artigos e 50
milhões de palavras. Cada volume tem arredor de 1.015 páginas, e 37 volumes
suplementares foram publicados entre 1938 e 2015. O diretor foi Giovanni Gentile
e o redator em chefe Antonino Pagliaro.
***
[359]
III - Enciclopédia Universal das Fábulas, em 32 Volumes!
2 – FÁBULAS DE LA FONTAINE
3 – FÁBULAS DE LA FONTAINE/
GRÉCIA – FÁBULAS DE ESOPO – TOMO 1
4 – GRÉCIA
FÁBULAS DE ESOPO – MITOLOGIA GREGA
5 – MITOLOGIA GREGA
6 – MITOLOGIA GREGA
[360]
8 – LENDAS GREGAS – TOMO 2
10 – ROMA
Mitologia Romana/ Lendas de Roma A Eneida
RUSSIA
Fábulas Russas/ Fábulas de Krilov
11 – RÚSSIA
Fábulas Russas/ Mitologia eslava/ Lendas Russas
12 – RÚSSIA
Lendas Russas
13 – RÚSSIA
Lendas Russas/ Contos populares russos
14 – RÚSSIA
Contos populares russos
15 – RÚSSIA
Contos populares Russos
SUÉCIA
Fábulas da Suécia/ Lendas da Suécia/ Contos da Suécia
16 – SUÉCIA
Contos da Suécia
NORUEGA
Fábulas da Noruega/ Lendas da Noruega/ Contos da Noruega
17 – NORUEGA
Contos da Noruega
DINAMARCA
Fábulas da Dinamarca
Lendas da Dinamarca
18 – DINAMARCA
Lendas da Dinamarca
Contos da Dinamarca
Contos de Andersen
19 – DINAMARCA
Contos de Andersen – II
20 – DINAMARCA
Contos de Andersen – III
[361]
21 – DINAMARCA
Contos de Andersen – IV
FINLÂNDIA
Fábulas da Finlândia
Mitologia Finlandesa
22 – FINLÂNDIA
Lendas da Finlândia
Contos da Finlândia
ESTÔNIA
Fábulas da Estônia/ Lendas da Estônia
23 – ESTÔNIA
Contos da ESTÔNIA
LETÔNIA
Fábulas da Letônia/ Lendas da Letônia/ Contos da Letônia
LITUÂNIA
Fábulas da Lituânia/ Mitologia lituana/ Lendas da Lituânia/ Contos da Lituânia
POLÔNIA
Fábulas da Polônia/ Lendas da Polônia/ Contos da Polônia
24 – ALEMANHA
Mitologia Germânica/ Lendas da Alemanha
HOLANDA
Lendas da Holanda
SUIÇA
Lendas da Suíça
26 – FRANÇA
Lendas da França
ITÁLIA
Fábulas da Itália/ Lendas da Itália
ESPANHA
Fábulas da Espnha
GRÃ-BRETANHA
Lendas da Inglaterra
27 – GRÃ-BRETANHA
Lendas da Inglaterra
ESCÓCIA – Lendas da Escócia
IRLANDA – Lendas da Irlanda
ÁFRICA – Fábulas da África/ Mitologia da África/ Mitologia do Egito/ Contos
da África
ÁSIA – CONTOS DA ÁRABIA – MIL E UMA NOITES
[362]
28 – ARÁBIA – Contos da Árabia
ÍNDIA – Fábulas da Índia/ Mitologia da Índia/ Lendas da Índia
CHINA – Fábulas da China/ Mitologia da China/ Lendas da China
31 – BRASIL
Segunda Parte: Lendas e mitos do Brasil
Terceira Parte: contos do Brasil.
***
[363]
IV - Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Estrutura da obra.
Características da obra!
Teve como colaboradores alguns dos maiores nomes da cultura portuguesa dos
meados do século XX, adiante referidos.
Editoras!
A sua primeira editora foi a Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa - Rio de Janeiro,
sediada na Rua do Alecrim, 38 e depois na Rua António Maria Cardoso 33, em
Lisboa.
***
[365]
V - Meyers Konversations-Lexikon
**
[366]
VI - The Annual Review of Astronomy and Astrophysics
***
[367]
VII - Obras Completas de Platão, edicão de 1802!
***
[368]
VIII - Prática do Século XX: uma Enciclopédia Internacional da
Ciência Médica Moderna, impressa entre 1895 e 1903, por Stedman
e Thomas Lathrop, em 21 Volumes!
Publicada pela primeira vez em 1994 (editada por Ronald E. Asher), com uma
2ª edição em 2006 (editada por Keith Brown ), é uma enciclopédia de todos
os assuntos relacionados à linguagem e linguística .
Recepção
***
[370]
X - ENCICLOPÉDIA DE MÚSICA - 5 Volumes em 6 Tomos,
Editora: Globo.
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[372]
XII - Dizionario Enciclopedico Universale della Musica e
dei Musicisti.
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[373]
XIII - STORIA DELLA MUSICA
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[374]
XIV – The Corsini Encyclopedia of Psychology.
§ Processos de desenvolvimento
[375]
Por mais de 25 anos, The Corsini Encyclopedia of Psychology tem sido a
ferramenta de referência que psicólogos, pesquisadores, acadêmicos e
estudantes recorreram para obter a cobertura mais atualizada e extensa do
campo da psicologia. A quarta edição deste amado trabalho de referência foi
atualizada e expandida para refletir novas pesquisas em muitas áreas
interessantes, incluindo descobertas biológicas e neurológicas.
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As imagens são de alta qualidade e muitas são muito bonitas, é um verdadeiro prazer
contemplá-las durante a leitura.
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[377]
XVII - História da Literatura Ocidental!
[378]
XVIII - Enciclopédia "CIÊNCIA ILUSTRADA"
Em agosto de 1969 a ‘’ABRIL CULTURAL’’, então uma divisão da
EDITORA ABRIL, lançou mais uma enciclopédia composta por fascículos
semanais vendidos em bancas de jornal.
Eles eram colecionados e encadernados à medida que se completasse cada
um dos 13 volumes (11 de tamanho grande, com as folhas, e 2 de tamanho
médio, com as capas). Era a coleção "CIÊNCIA ILUSTRADA" (com mais de
5.000 páginas).
De leitura fácil e apresentação esmerada (recheada de fotos e desenhos
coloridos), abrangia assuntos de Astronomia, Biologia, Física, Química e
muitos outros.
Certamente foi um dos trabalhos que contribuíram para
a popularização da Ciência entre os jovens (e a criançada).
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[379]
XIX - Enciclopédia "CONHECER"
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XX - Enciclopédia Cultural, Editora Matese -São Paulo – 1966.
[382]
As novas subséries atuais são:
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[383]
XXII – Alí atrás do Prof. Olavo estão as obras de dois Grandes
Intelectuais: Eric Voegelin (A coleção de Azul, em 34 volumes, da
University of Missouri Press) e José Ortega y Gasset (A coleção
preto e branco, da Editora Taurus, e a de Vermelho, da Alianza).
[384]
XXII - The Collected Works of Eric Voegelin.
(University of Missouri Press).
Volume 14: Order and History (Volume I): Israel and Revelation
Volume 15: Order and History (Volume II): The World of the Polis
Volume 16: Order and History (Volume III): Plato and Aristotle
[385]
Volume 17: Order and History (Volume IV): The Ecumenic Age
Volume 18: Order and History (Volume V): In Search of Order
Volume 27: The Nature of the Law and Related Legal Writings
Volume 28: What is History? and Other Late Unpublished Writings
Volume 29: Selected Correspondence: 1924-49
Volume 30: Selected Correspondence: 1950-1984
Volume 31: Hitler and the Germans
Volume 32: The Theory of Governance and other Miscellaneous Papers: 1921-1938
Volume 33: The Drama of Humanity and other Miscellaneous Papers: 1939-1985
Volume 34: Autobiographical Reflections, with glossary and cumulative index.
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[386]
XXIII – Obras Completas de José Ortega Y Gasset, em 10 Volumes.
• Editora: Taurus
• Idioma: espanhol, castelhano.
• Data de publicação: 2017
• Encadernação: Capa dura com sobrecapa.
• Observações:
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[388]
XXVI – Obras Completas de Edmund Husserl, em 18 volumes.
Editora: Martinus Nijhoff Publishers (Kluwer) Ano: (1950-1974).
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[389]
XXVII – Obras Completas de Bernard Lonergan, em 25 Volumes.
[390]
• Volume 8: A palavra encarnada / traduzida por Charles C. Hefling Jr.; editado
por Robert M. Doran e Jeremy D. Wilkins
• Volume 9: A redenção / traduzido por Michael G. Shields; editado por Robert
M. Doran, H. Daniel Monsour e Jeremy D. Wilkins
• Volume 10: Tópicos em educação / editado por Robert M. Doran e Frederick
E. Crowe
• Volume 11: O deus trino: doutrinas / traduzido de De deo trino: pars dogmatica
(1964); editado por Robert M. Doran e H. Daniel Monsour
• Volume 12: O deus trino: sistemática / traduzido de De deo trino: pars
sistemático (1964); editado por Robert M. Doran e H. Daniel Monsour
• Volume 13: Uma segunda coleção / editada por Robert M. Doran e John D.
Dadosky
• Volume 14: Método em teologia / editado por Robert M. Doran e John D.
Dadosky
• Volume 15: Dinâmica macroeconômica: um ensaio em análise de circulação /
editado por Frederk G. Lawrence, Patric H. Byrne e Charles C. Hefling, Jr.
• Volume 16: Uma terceira coleção / editada por Robert M. Doran e John D.
Dadosky
• Volume 17: Artigos filosóficos e teológicos, 1965-1980 / editado por Robert C.
Croken e Robert M. Doran
• Volume 18: Fenomenologia e lógica / editado por Philip J. McShane
• Volume 19: Teologia latina primitiva / traduzida por Michael G.
Shields; editado por Robert M. Doran e H. Daniel Monsour
• Volume 20: Artigos mais curtos / editados por Robert C. Cohen, Robert M.
Doran e H. Daniel Monsour
• Volume 21: Por uma nova economia política / editado por Philip J. McShane
• Volume 22+24 Primeiros trabalhos sobre método teológico 1-3 / editado por
Robert M. Doran e Robert C. Croken; H. Daniel Monsour
• Volume 25: Material de arquivo: primeiros artigos sobre história / editado por
Robert M. Doran e John D. Dadosky.
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[391]
XXV – Biblioteca Nacional recebe enciclopédia iconográfica
chinesa em 20 volumes, inédita na América Latina.
[392]
Ao final do encontro, a equipe da Biblioteca Nacional apresentou uma série
de belas gravuras chinesas do século XIX pertencentes ao acervo da instituição,
com ilustrações de modelos arquitetônicos e artísticos para templos budistas.
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[393]
XVIII – Canon of Medicine – Avicena (973-1037), em 5 Volumes.
Primeira vez em 1000 Anos Disponível Em Tradução Para O Inglês.
Abu Ali al-Husayn ibn Sina é mais conhecido na Europa pelo nome
latinizado Avicenna. Ele nasceu em Afshana, perto de Bukhara, na Ásia Central,
por volta de 973 EC. Esta parte da Ásia Central naquela época fazia parte do
Império Persa. Avicena é mais conhecido como um médico cuja obra principal,
o Cânone (al-Qanun fi'l-Tibb), continuou a ser ensinada como livro de medicina
na Europa e no mundo islâmico até o início do período moderno.
“Podemos tirar três conclusões principais de uma breve visão geral dos
escritos médicos de Avicena. Em primeiro lugar, essas obras, e especialmente
a Canon, oferecem ricas colheitas. . . O papel da experiência na obtenção de
conhecimento médico é uma dessas questões; outra é a função da alma e como
ela interage com o cérebro. Em segundo lugar, é claramente errado caracterizar
o Cânone de Avicena meramente como uma coleção bem organizada de
conhecimento médico prévio com alguma filosofia aristotélica acrescentada em
boa medida. No Cânone, a contribuição da Avicena não se limita à organização
da informação. Vimos que ele é inovador de três maneiras: ele desenvolveu
ainda mais o conceito de experiência qualificada de Galeno; ele se baseia, pelo
menos ocasionalmente, em sua própria experiência como clínico; e ele incorpora
suas próprias idéias filosóficas inovadoras sobre o sentido interior em seu
discurso médico. Terceiro, só podemos nos maravilhar com a relativa
negligência com que historiadores médicos e filósofos trataram os escritos
médicos de Avicena. Temos agora uma edição árabe um tanto crítica e uma
tradução inglesa do Cânon, embora seja pouco conhecida no Ocidente.
[394]
Só podemos esperar que futuros historiadores da medicina fechem essa
lacuna notável e investiguem a obra médica de Avicena de maneira muito mais
completa”.
Comentários do Volume 1:
Comentários do Volume 3:
Revisão do Volume 4:
Na verdade, todos deveriam ler este livro pela saúde e bem-estar. Esta
série - incluindo o Volume 4 é uma obra-prima monumental de grande valor
científico e filosófico. Você será despertado do sonho da ineficiência da medicina
convencional com maior compreensão de outros métodos de cura. É incrível
perceber que tanto conhecimento estava disponível há mil anos e, no entanto,
dificilmente estamos fazendo muito melhor hoje. Leia esta série e seja saudável,
e mantenha-se saudável.
Este volume não contém apenas um índice do conteúdo com base nas
propriedades curativas dos 800 produtos farmacêuticos naturais, mas também
um índice abrangente de 400 páginas de todos os cinco volumes com base nos
nomes dos curandeiros naturais e no que eles curam.
[398]
Laleh Bakhtiar, PhD, Compiladora, Adaptadora e Editora.
[399]
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