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Observação de Contra Capa:

A Teoria dos 4 Discursos!

4º Nível Lógico----> ‘’A Sabedoria das Leis Eternas’’, Introdução, edição


e notas por Olavo de Carvalho.

3º Nível Dialético----> Revista ‘’Filosofia Concreta’’.

2º Nível Retórico----> Revista do ‘’Instituto Cultural Logos’’ 2022.

2º Nível Retórico----> Revista do ‘’Instituto Cultural Logos’’ 2021.

2º Nível Retórico ----> Revista do ‘’Instituto Cultural Logos’’ 2020.

1º Nível Poético ----> História – ‘’Mário Ferreira dos Santos: O Centurião de Legiões.’’

(Pintura da Capa:
Ely Cathedral, South Transept, por Joseph Mallord William Turner, 1775-1851)
Revista

Instituto Cultural
‘’Logos’’

2022
1ª EDição

‘’A nossa Revista é uma Unidade. O todo dá luz às partes e às partes ao todo.
Tudo faz parte de um conjunto ordenado e organizado, com o fim de tornar claro
a imensidão da obra e da admirável pessoa do nosso Professor e extraordinário
Filósofo Mário Ferreira dos Santos’’
(Editor)
Organizador:
Arthur Chagas Viana

Colaboradores:
Elvis Amsterdã Do Nascimento Pachêco; Gabriel Coelho Teixeira; Rodrigo Ulguim;
Rodrigo Gonçalves; Aldo dos Santos; Diego Ossami; Diego Araújo; Danilo Felix.

Observação:
Essa Revista é TOTALMENTE GRATUITA!

Já dissemos isso, mas é preciso repetir novamente um fato:

Continuamos sem dinheiro! Não temos nenhum para pagar o ISBN, para
custear a impressão, para contratar algum editor, investir no marketing ou para a
distribuição nas ‘’Livrarias Importantes’’, e achamos melhor assim mesmo, porque
se tivessemos algum dinheiro, talvez correriamos o risco de sermos tentados em
desejar lucrar acima do que é justo, dessa maneira, correndo o risco de acontecer o
que está havendo no tempo presente, isto é, o Mário ser tratado com descaso,
ninguém ter acesso aos seus Áudios ou à uma digna e honrosa edição de sua
Enciclopédia das Ciências Filosóficas e Sociais, obra de importância mundial!
Faça o que você quiser com essa Revista, só não a mostre para um Professor
Universitário. Ele vai correr e se esconder debaixo da caminha da mamãe, como já
vem treinando a muito tempo com a primeira e segunda edições dessa Revista!
Mostre para quem ame a Verdade! As Criancinhas, os velhinhos que conversam
nos bancos das praças jogando sinuca ou para as donas de casas que vivem
plantando uma florzinha.
Se você for rápido(a), entregue logo depressa essa revista para um recém
universitário(a), porque depois nós não podemos garantir que ele ou ela vá gostar
muito dessa nossa Revista!
A Universidade muda a alma das pessoas, e pelo que temos visto, não é para o
melhor!
No mais, todos nós do Instituto Cultural ’’Logos’’ esperamos que você leitor ou
leitora faça uma excelente leitura, que aprenda bastante, em um único material,
muitas coisas e também que guarde essa Revista para a Eternidade, porque tudo aqui
é muito importante e fundamental para futuros estudos!
Esperamos que essa 3ª Revista do ‘’Instituto Cultural Logos’’ seja um material
de referência para outros trabalhos sobre o Mário Ferreira dos Santos. Se surgir mais
conteúdo faremos a 4ª Revista, mas não prometemos nada, porque esse mundo
continua tão aleatório que é melhor tomar cuidado.

(BOA LEITURA!!!)
Dedicamos esta Revista à memória e legado do Prof. Olavo de Carvalho.
O maior filósofo e educador do Século XXI !

Se não fosse por ele nunca teríamos conhecido e nem compreendido o Prof. Mário!

R.I.P

29/04/1947 - 24/01/2022
8ª Lei

8ª [Lei de Superação, ou Lei do Octonário]

‘’Mas esta evolução, também ela, se dá através de graus, através de


mutações, contidas dentro das possibilidades da natureza das coisas. Quer
dizer: nas suas relações, na sua interatuação com outras, a coisa vai sofrer
mutações, que são correspondentes, contudo, à sua forma. Este
desenvolvimento que se contém ainda dentro da sua forma é a sua evolução
normal, porque se trata de modificações comproporcionadas ainda à sua
forma. Mas, quando se dá o rompimento da sua harmonia e ela passa a
possuir outra forma, isto é, quando se dá a sua corrupção e ela passa a
constituir o elemento de uma nova estrutura, de uma nova harmonia e com
outra forma, então [se dá] o fenômeno da assunção, da superação, ou da lei
da evolução superior, que é simbolizada pelo número 8, a lei do octonário.’’

(‘’A Sabedoria das Leis Eternas’’, pág. 71, Mário Ferreira dos Santos)
O que é o Instituto Cultural Logos?
Esse versículo de Filipenses 4:8 resume o que pensamos:
"Além disso, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre,
tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é
de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável, eis o que deve ocupar vossos
pensamentos."
O ‘’Instituto Cultural Logos’’ foi criado pelo Mário Ferreira dos Santos
em 1947 e mantinha cursos orais e por correspondência, estes, englobados
sob o título de Cultura e Filosofia Geral.

A nossa busca é a "Mathesis Megiste" (Ensinamento Supremo), cuja


fonte infinita é o mistério divino, se expressa na criação de tudo o que há,
tem o seu momento mais Alto na Paixão Dolorosa de Cristo na Cruz, para
nos perdoar dos nossos pecados, e vai até o fim do Mundo e para a
Eternidade!

O nosso estudo e material estão desde as civilizações pré-diluvianas


até a culminação da História do Planeta, o Apocalipse e para a realidade
celeste.

Seguindo a Filosofia Positiva e Concreta do nosso fundador, Mário


Ferreira dos Santos, fundamentamos o nosso coração e pensamento em
tudo aquilo que parte e permanece na afirmação, no que constrói, que eleva,
e não naquilo que nega, destrói e abaixa, mas naquilo que pertence a todos
os grandes ciclos culturais da humanidade, que encontrou o seu
desenvolvimento máximo no pensamento grego e a sua coroação no
pensamento ocidental, sob as linhas sem dúvida criadoras e analíticas da
Escolástica!

Não somos escolásticos nem neoescolásticos, porque seguimos,


também outras idéias, aparentemente afastadas, mas que conciliam, numa
síntese, aquele pensamento com o que provém do pitagórico-platônico.

O Mário criou o Instituto Cultural "Logos" em 1947.


Há 73 anos!
OS 12 TRABALHOS DE
HÉRCULES
I- O PRIMEIRO trabalho é colocar todos os Áudios online, para quem quiser
baixar e também fazer um box bem profissional e organizado, com 3 DVDs por
R$30 ou R$ 40 reais com os mais de 200 Áudios que existem!

II– O SEGUNDO trabalho é reunir todas as fotos do Mário e colocar num Site para
todo mundo ver raridades e a vida do Mário.

III– O TERCEIRO trabalho é mostrar os livros do Mário, um por um, os avulsose a


''Enciclopédia das Ciências Filosóficas'', além de raridades guardadas, coisas que o
Mário escreveu e que não estão publicadas.

IV- O QUARTO trabalho é mostrar aonde o Mário viveu, trabalhava, morava,


escritório e etc. Os lugares por onde passou.

V- O QUINTO trabalho é montar um fórum nacional de discussão da obra do


Mário. Contratar o Olavo e os alunos dele para editar as obras e outros literatos,
como o Rodrigo Gurgel para colocar notas e reeditar os livros de literatura do
Mário.

VI- O SEXTO trabalho é criar histórias em quadrinhos geniais e bem literárias


para as crianças, com a influência virtuosa da personalidade do Mário Ferreira: O
herói, o genial, o filósofo sábio, o excelente, o grandioso, o humilde e etc.

VII - O SÉTIMO trabalho é montar um congresso ''Mário Ferreira dos Santos'', com
palestras de vários estudiosos sobre os temas que o Mário desenvolveu, para darem
novos ares e irem mais longe daquilo que o Mário apenas mencionou.

VIII- O OITAVO trabalho é reunir todos os trabalhos ou citações feitas sobre o


Mário Ferreira, para que as pessoas percebam o sentido e unidade do que os
estudiosos estão conversando sobre o Mário.

IX- O NONO trabalho é lançar a Enciclopédia das Ciências Filosóficas completa e


em capa dura, igual o Mário fez, para as pessoas terem toda ela em casa, e não
partes dela, que perderia todo o sentido de unidade.

X- O DÉCIMO trabalho é fazer um documentário sobre a vida e a obra do Mário


Ferreirados Santos.

XI- O DÉCIMO PRIMEIRO trabalho é construir o Instituto (espaço físico) ‘’Mário


Ferreira dos Santos’’, que fosse um museu, tivesse uma Áudio-Teca, todos os
Livros do Mário e fotos impressas em tamanho de quadro.

XII - O DÉCIMO SEGUNDO trabalho é fazer um filme sobre o Mário Ferreira dos
Santos. Genial, espirituoso, extraordinário. Tentando mostrar como o Mário
passou a ser quem se tornou, a luta e tremendo esforço para publicar seus livros
e as maravilhas que aconteciam em sua imaginação, inteligência e pensamento.
O Que é preciso é de dezenas de pessoas
debruçadas sobre a obra do Mário.

Existem 5 tipos de frentes nessa empreitada:

1. Editores da Obra do Mário, que precisam ser geniais!

2. Comentadores, que possuem alguma formação

intelectual e são bons em falar sobre a Obra do Mário.

3. Instituto ''Logos'', a ponte, entre as pessoas e o Mário.

4. Leitores, que compram os livros e aprendem muita coisa.

5. Admiradores, que gostam do Mário, porém, que não o

conhecem profundamente e nem o leram!


Árvore Genealógica do
Mário Ferreira dos Santos

‘’Como é fato, a família do Mário desde o seu avô é de ilustres


advogados e intelectuais. Uma curiosidade é que a sua AVÓ foi a
primeira Advogada em Portugal! Algumas dessas informações estão no
livro ''Francisco Santos - Pioneiro no Cinema do Brasil. Yolanda Lhullier
dos Santos e Pedro Henrique Calda. Ano: 1995 Editora: Semeador''
‘’Precisamos criar elites de espírito brasileiro, preocupadas
com problemas brasileiros, porque as elites no Brasil é que sempre
dirigiram a nossa história. Se não formarmos novas elites, não
criaremos uma outra mentalidade, não criaremos a confiança em
nós mesmos, não seremos capazes de elevar este país para o
destino que merece, porque o Brasil tem tudo para ser grande, nós
temos todas as possibilidades para isso! Há muita gente capaz
neste país, mas muitas vezes não podem fazer nada, porque estão
coartadas pela ação de grupos e de outros elementos que ocupam,
às vezes, cargos de mando. Vamos fazer uma nova elite no Brasil,
vamos obrigar aos nossos homens que estudem as nossas coisas e
deem valor ao que é nosso."

(Mário Ferreira dos Santos)


‘’Horizonte Possível e Cenário Atual’’
‘’Já imaginaram um movimento em torno do Mário Ferreira dos Santos?
Seria algo inimaginável! Físicos discutindo o livro ‘’A Sabedoria Geral das
Tensões’’. Matemáticos discutindo a metafísica do livro ‘’A Sabedoria das Leis Eternas’’.
Filósofos políticos discutindo cada ponto do livro ''Invasão Vertical dos Bárbaros'' e
aplicando os aspectos do livro na nossa realidade, que ganham forma na ação dos ‘’black
blocs’’; que utilizam-se de táticas de guerra para a efetivação de qualquer objetivo
previamente organizado de modo altamente profissional e eficaz.
Todo um movimento agitado e grandioso! Palestras, encontros, debates, sínteses!
Escolásticos compreendendo a realidade na particularidade de cada estrutura da
sociedade, desde as zonas rurais, pequenas e médias cidades, as favelas até os
movimentos mais complexos que ganham forma na conjuntura China-Rússia-Islam-
Globalistas, aplicando a metafísica, partindo das realidades sensíveis para assim
alcançar as realidades não sensíveis, como diria São Tomás de Aquino!
Um movimento profundo e de especialistas que constantemente façam memória
do legado da grandeza do Mário Ferreira dos Santos! Um site no ar com todas as
palestras do Mário, para quem quiser baixar! Os livros do Mário sendo reeditados. O
Instituto Eric Voegelin, em parceria com os estudiosos do Mário Ferreira.
Literatura poética sendo escrita sobre a Enciclopédia das Ciências Filosóficas, de
modo que até uma dona de casa, uma criança, o tião da mecânica, um simples professor
de escola pública, o funcionário de uma empresa privada, freiras em claustro nos
monastérios, idosos nos bancos das praças ou aquela vizinha que planta uma orquídea
na varanda do seu apartamento, possam todos, gostar da presença e filosofia do Mário
de forma lúdica, intuitiva e inteligente.
Um corpo de sábios compreendendo a realidade à LUZ DA UNIDADE da
Enciclopédia das Ciências Filosóficas e Sociais. Uma compressão em movimento, igual
a um corpo dinâmico que percorre uma paisagem e consegue ler ela perfeitamente, em
seus vários níveis: Da Biologia até a Metafísica; da Economia até a Psicologia das massas;
da Física até a Arquitetura dos movimentos sociais, da Matemática até as possibilidades
de análises de previsões do cenário cultural, que seria os sistemas dinâmicos; da Química
até a compreensão de como um movimento coletivo se comporta no ambiente, etc.
Nós reunimos mais de 200 trabalhos que falam sobre a filosofia do Mário ou que
citam algum de seus livros, porém, nenhum chegou ao nível de compreensão daquilo
que o Olavo descobriu e desenvolveu: A Unidade da Enciclopédia das Ciências
Filosóficas e Sociais.
O que precisamos agora é de trabalhos que aprimorem, aprofundem e apliquem
essa unidade nos vários níveis de compreensão da realidade! Esta missão é obra de
gênios! Dedicados, silenciosos e discretos, estudam com sinceridade e profundidade nas
várias matérias que as questões exigem, e em algum momento esses trabalhos todos
virão à luz do dia! São os Gênios da 1ª Frente da nossa missão! Quando os esforços do
estudo paciente e profundo vierem ao nosso conhecimento, o legado do Mário Ferreira
dos Santos será ainda mais grandioso!’’
Este é o nosso futuro, acreditamos nisso, ou melhor, como diria o Mário:

‘’Como poderemos acreditar na esperança, se não lutarmos no Campo de Batalha?’’


Dado esse Horizonte Possível, é preciso sintetizar o cenário atual que está bem
diante dos nossos olhos, em três aspectos:

(1) Enquanto o ocidente critica quem desperdiça água, os filósofos e educadores


iranianos, berço do terrorismo, discutem um modelo crítico entre o racionalismo
econômico e a espiritualidade islâmica. (Conf.; *Islamic Philosophy and Occidental
Phenomenology on the Perennial Issue of Microcosm and Macrocosm, Springer, 2006)
Quando esta nova unidade filosófica surgir, terão o pleno domínio das idéias
industriais e econômicas a partir de uma nova religião ambivalente capaz de concretizar
o princípio das idéias religiosas e a economia, tão complexa quanto o cristianismo, sem
as limitações internas que o islamismo contém. Isso será o fim do cristianismo no
ocidente.
Se apenas dois agentes, o primeiro com o discurso do declínio do ocidente e
perenialismo; e o segundo com a teoria da psicanálise, respectivamente Guenón e
Freud, já causaram o desastre e preparação para o Islam, tal qual presenciamos,
imaginem um exército de fenomenologistas capazes de ditar como percebemos a
realidade e como opera a psicologia humana? Pois as escolas filosóficas mais fluentes
entre os iranianos são justamente estas: a fenomenologia e o perenialismo.
Já não se trata da visão sincera, profunda e abrangente que o Mário Ferreira dos
Santos tentou alcançar e buscou por toda a sua vida, que em suas palavras demonstra
a sua intenção do verdadeiro espírito do conhecimento e o justo convívio, troca de
idéias e crescimento mútuo entre os estudiosos, que ainda se estabelece em escolas
filosóficas islâmicas, mas que, também, no Ocidente, se encontra em pequenos grupos,
genuínos e sérios:
‘’Filosofia que vem vindo através dos gregos, através dos pitagóricos, socráticos,
platônicos, aristotélicos, através da escolástica, através dos grandes árabes, como por
exemplo: Avicena (980-1037), polímata persa que escreveu tratados sobre variado
conjunto de assuntos; Averróis (1126-1198), polímata, cuja obra abrange uma gama
diversificada de assuntos, incluindo filosofia, teologia, medicina, astronomia, física,
jurisprudência, direito islâmico e linguística; Algazali (1058-1111), teólogo islâmico,
jurista, filósofo, cosmólogo, psicólogo e místico de origem persa, um dos estudiosos
mais célebres da história do pensamento islâmico sunita, só para citar três grandes do
Oriente, porque neles se encontra um pensamento firme, seguro, demonstrado e
apodítico, até nós. Agora que se está entrando numa fase de dissolução, de confusão,
porque a filosofia está sendo invadida por estetas e o espírito do esteta, o espírito
romântico é destrutivo, pois ele acha que a filosofia é subjetiva, pessoal.’’
(Sobre a Existência de apenas uma Filosofia, 1967)

Desconhecendo que os Aiatolás, Sheiks, Imãs, mega-milionários muçulmanos e


outros da estrutura central do terrorismo, todos, sem exceção, estudaram no ocidente,
a imprensa, cultura, acadêmicos e demais, insistem num diálogo entre culturas, como
se tal já não ocorresse, desde sempre.
Também desconhecendo que apenas por uma conveniência da necessidade do
jogo político, tais agentes pregam o Corão, ainda há "especialistas" que embarcam
nesse engodo motivacional religioso para o terrorismo internacional.
Se há mais e melhores filósofos ocidentais só no Irã do que em toda a Europa
junta, o que isso significa? Domínio da opinião pública, manipulação psicológica dos
formadores de opinião.
A arma mais letal em uma guerra sempre foi a manipulação da psicologia humana
e do diálogo internacional. É onde se estabelece, através da manipulação cultural
permanente, que vai se espalhando através dos agentes formadores, até chegar nos
lares, aí permanecendo como discurso perene, através das gerações posteriores.
Enquanto Platão, Aristóteles, escolásticos, existencialistas, fenomenologistas e
filósofos políticos são estudados desde cedo pelos muçulmanos, russos e chineses, a
pedagogia ocidental discute: maconha, gênero, fofura masculina, pedofilia, ecologia,
desarmamento, multiculturalismo e a busca pela felicidade.
O terrorismo não é um fenômeno religioso, mas político-econômico. A religião
atende apenas como o agente neurolinguístico para o engajamento dos suicidas e
fanáticos. Os soldadinhos, como os são, também os universitários.

(2) A feminização dos homens que começou muitas décadas atrás, a partir de
1924, quando Moscou recrutou todos os maiores neurocientistas da época para um
projeto apresentado aos ingênuos que não participassem do movimento comunista
internacional como um programa de PACIFICAÇÃO OCIDENTAL.
O propósito, disfarçado de "desenvolvimento infantil", foi implementado pela KGB,
a partir de 1934, inicialmente promovendo por várias conferências ao longo de toda a
costa leste americana, mas que teve a sua origem filosófica na Sociedade Fabiana, em
1884, e depois na Escola de Frankfurt, capitando todos os grandes Psicólogos,
Psicanalistas, Neurocientistas e Filósofos da Europa e Estados Unidos!
O elemento matricial no discurso simbólico inseminado nas massas é: SOLDADOS
(Forças militares e polícias) SÃO BURROS E MAUS, portanto, a sociedade deve
controlá-los, de modo que a execração pública, pela mídia, do maior herói americano
da segunda guerra, o General Patton, foi apenas o início.
No seu primeiro teste, a estratégia foi retirar gradualmente dos meninos as
brincadeiras de soldados, bem como também o uso de armas de brinquedo. Começando
na Alemanha e na França, e de forma acentuada, no período pós- Segunda Guerra.
Através das creches, a feminização dos meninos e a masculinização das meninas
tornou-se a norma ocidental e a forma de modelagem cognitiva-comportamental.
Retirando do convívio e cultura familiar, a filogenia das crianças ajusta-se para
serem cidadãos do futuro, e toda a efetividade do seu sistema cognitivo está
condicionada para as respostas correspondentes à assimilação do aprendizado de
pertencimento ao grupo. Isso trata-se simplesmente do maior e mais macabro projeto
de modelagem, domínio e controle psicológico jamais visto na história humana, cujas
figuras famosas, B.F Skinner e Kurt Lewin, atuaram na engenharia comportamental, e
Whilliam Reich, discípulo de Freud, no campo da revolução sexual; sendo estes os
responsáveis pelo sexo libertador, a recompensa pelo princípio do prazer; a
compensação que a cultura socialista Fabiana deu à virilidade masculina e à própria
constituição intrínseca da mulher, quer dizer, a ‘’modeladora’’, a ‘’matriz vetorial’’ de
que os grandes generais, heróis, arquitetos, matemáticos e engenheiros, desde o útero
até o primeiro leite materno, as primeiras brincadeiras até o início da vida social, se
formaram. Destrua a figura da mulher e terão homens fracos. Esse é o jogo!
Tudo isso para a destruição da humanidade. De modo que o que era um tema
revolucionário para os adolescentes, agora foi transferido para as crianças. Nunca foi
esclarecer o tema sexual, como anunciaram, sempre foi estimular. Freud, com a sua
‘’Teoria Sexual’’, e depois Reich, com a sua ‘’Revolução Sexual’’, estimularam no
Ocidente a mais grotesca degradação do ser humano, destruíram completamente a
imagem da ‘’sexualidade’’, que em todos os séculos sempre foi a união oculta dos
apaixonados, o ‘’mistério’’ que as ordens de todas as religiões chamam de o ‘’amor
escondido’’, a ‘’imagem do amado em segredo no coração’’, isto é, guardado no ‘’íntimo
da alma’’, que aponta para algo maior, transcendente: a união do ser com O Eterno!
Freud e Reich eram apenas o resultado da própria deformação circunstancial de
suas vidas, basta-se, para isso, ler a biografia de cada um para averiguar a destruição
familiar, resultando na deformidade psicológica que foram moldando-se!

(3) A simbiose entre controle por meio da técnica, transhumanismo e


reengenharia genética, fomentado pelo Partido Comunista Chinês e Globalistas, os
‘’metacapitalistas’’, que fazem de tudo por um mundo mais interativo, através,
sobretudo, do encarceramento em um mundo de fantasias, como, por exemplo, o
lançamento recente do ‘’Metaverso’’. Afagando os ânimos das massas e tornando-as
anestesiadas, dependentes do Estado e, por fim, do controle mundial.
A destruição psíquica das crianças e a estimulação do silêncio, por meio da
impotência, através do uso contínuo de máscaras, álcool, controle do espaço, por meio
do distanciamento social. A vacina, que está tirando a vida de milhares de pessoas, cujo
crime é tão abominável quanto os piores terrores noturnos, mas que ainda é uma
adaptação, o condicionamento para ‘’um passe’’, ‘’uma permissão’’, que no futuro,
conseguir ‘’um passe’’ para comprar e vender, andar livre pelos lugares, não terá, como
consequência, somente a suspensão da nossa razão, mas a aceitação de um sistema
muito mais perverso do que este, um sistema que irá exigir que prenda-se, que exclua-
se, literalmente, quem não for a favor dos valores que ainda estão em germe, esperando
o momento oportuno de aparecer, de modo que a vigilância constante para não ser pego
por um vírus, estimulada por todos os meios de comunicação possível, é o medo
constante de não deixar que um ‘’algo superior’’ nos faça mal, e guardem bem isso!
A vigilância assídua daqueles que fogem ao controle, a denúncia perseguidora, e
etc, tudo isso é por causa do temor de não contrariar este ‘’algo superior’’, o ‘’ser
invisível’’, ‘’transcendente’’, e este mesmo ‘’ser invisível’’, que agora está causando
depressão, angustia, tristeza e suicídios, amanhã causará a morte de milhares de
Cristãos! Esse ‘’ser invisível’’ utiliza-se apenas de um prenúncio psíquico para o que
virá depois, porque sempre na história foi preciso desse condicionamento, desse
reforço da maldade, a primeira tentação!
Malachi Martin, no livro “Windswept House”, tinha toda a razão, conseguiram
amoldar a Igreja aos “valores da nova civilização”. A Encíclica ‘’Fratelli Tutti’’, do Papa
Francisco, acompanhada da assinatura do ‘’Documento de Abu Dhabi’’, a inauguração
da ‘’Abrahamic Family House’’ em 2022, é o estopim para uma operação muito maior.
Por enquanto, esse movimento apena une politicamente as religiões sob o cume de um
mesmo prisma de valores, ressonantes do Governo Mundial, amanhã, o espírito desse
movimento chamará os Cristãos, Judeus e Muçulmanos de ‘’infiéis’’, de
‘’excomungados’’, de ‘’pecadores’’, de ‘’contrários ao espírito de Cristo’’ por não
aceitarem os valores sutilmente inseridos na fé de cada religião. Esta é a mais
sofisticada inversão espiritual diabólica de todos os tempos!
A feminização dos homens - que é o medo da brutalidade, a força transformadora
do mundo em civilização – bem como a sexualização, que o torna cativo de seus vícios
e do Estado, além do que estamos presenciando atualmente em todos os cantos do
mundo, com a passividade diante de milhares de pessoas tendo ataques cardíacos em
plena luz do dia, por causa do suborno e pressão das autoridades para validar e aprovar
uma substância mortal preparada num prazo nunca visto antes na história da medicina,
burlando os testes clínicos, a comprovação da eficácia, a experimentação em cobaias, a
legalização internacional e etc, tudo isso vemos a olhos estarrecidos, sob a alegria e
risos infernais de farmacêuticos bilionários; uma sociedade de controle absoluto cresce
em uma velocidade assustadora. O projeto mais ambicioso, jamais visto na história,
apenas esperando o momento para apresentar a sua forma final que desenha-se ante
os nossos olhos, o próximo cenário:

A Nova Ordem Mundial! De modo que quem não for apoiador, partidário,
simpatizante ou adepto da loucura reinante, do espírito desse ‘’ser invisível’’, sob o
nome de ‘’BEM MAIOR’’, criminalizando a verdade, isto é, os Cristãos de todo o planeta
e aqueles que compartilham da mesma visão de mundo, quer sejam muçulmanos,
ateus, budistas, hindus, judeus, não importa, todos serão tratados como os Judeus, em
Auschwitz, Russos, nos Gulags ou os Chineses, em Xinjiang, mandados pelas figuras
macabras de Hitler, Stalin e Mao, mas que no momento presente ainda conservam
sucessores dignos de sua monstruosa ação!

É tempo de estar em alerta! ‘’Orai e Vigiai’’. (Mateus 26:41)


Sumário

Prefácio .................................................................. 22

1- Jornais e Relatos ..................................................... 25


1.Jornais de vários Estados Brasileiros que contêm algum texto que
o Mário Ferreira dos Santos escreveu ou algum comentário sobre
o seu trabalho..............................................................................25
I. Conto – ‘’Um bluff’’, publicado no Jornal Opinião Pública em
11 de maio 1929.............................................................25
II. Conto – “Diálogo de você”, publicado no Jornal Opinião
Pública, em 14 de maio de 1929.................................................31
III. ‘’Jury’’, estréia do Mário Ferreira dos Santos como advogado,
publicado no Jornal ‘’Diário Popular’’ de 14 de novembro de
1928.............................................................................................33
IV. ‘’Porque fui detido?’’ publicado no jornal ‘’A Opinião Pública’’,
de 19 de dezembro de 1930...........................................34
V. ‘’A história que ainda não foi contada’’, publicado no jornal
‘’Diário Popular’’, de 16 de abril de 1942....................................36
VI. ‘’Uma nova idade média’’, publicado no jornal ‘’Diário
Popular’’ de 13 de maio de 1942..........................................38
VII. ‘’Edições Sagitário’’, publicado no jornal ‘’Ação Direta’’, 1947,
Fevereiro. Ano I, nº 31, Página 4...............................................41
VIII. ‘’Nossos Livros’’, publicado no jornal ‘’Ação Direta, 1954’’,
Novembro e Dezembro. Ano VI, nº 096, Página 3....................42
IX. ‘’Política e ação Direta’’, publicado no jornal ‘’Ação Direta’’,
Agosto e setembro de 1957, Ano 11, Nº 120, Página 4...............43
X. ‘’Estante Libertária’’, publicado no jornal ‘’Ação Direta’’, 1958,
Março. Ano 12, nº 125, Página 2.................................................45
XI. ‘’Anúncio’’, publicado no jornal ‘’Delbar’’, 1965, Setembro, Ano
1, Nº 1..........................................................................................47
XII. ‘’Anúncio’’, publicado no jornal ‘’Delbar’’, 1965, Outubro a
Novembro, Ano 1, Nº 2..............................................................47
XIII. ‘’Triste Notícia’’, publicado no jornal ‘’Delbar’’, 1968 , Abril e
Maio, Ano 2, Nºrs 14 e 15. Página 3...........................................48
XIV. ‘’Importante’’, publicado no jornal ‘’Centro de Cultura
Social’’, 1991, n 21.......................................................................49
XV. ‘’NOTAS’’, por Pe. Stanilavs Ladusãns, publicado na Revista
Portuguesa de Filosofia – 1969 - Janeiro/Março......................50
XVI. ‘’DIÁRIO ÍNTIMO’’ — Henri-Frédéric Amiel’’, publicado no
jornal ‘’CASA RJ’’ – Edição de 1947 – Jornal publicado entre 1923
até 1952.......................................................................................53
XVII. ‘’Valorizar e Valor’’, (Por Walter Silveira da Mota), publicado
no jornal ‘’Letras da Província’’: Publicação Mensal das Casas de
Cultura de Limeira e Jaú, oficializadas pela Associação Brasileira
de Escritores de São Paulo (SP) Edição de 1982. Jornal publicado
entre 1952 até 1985.....................................................................53
XVIII. ‘’A Crise e o esquema do governador de Minas’’, publicado
no jornal ‘’A Cruz’’ - Órgão da Paroquia de S. João Baptista (RJ)
Edição de 1954. - Jornal publicado entre 1919 até
1923.............................................................................................54
XIX. ''Arma-se a Solução do Problema Alimentar'', publicado
no jornal ‘’A Cruz’’ - Órgão da Paróquia de S. João Baptista (RJ)
– Edição de 1954 - Jornal publicado entre 1919 até 1923.........55
XX. ‘’Informações Úteis’’, publicado no jornal ‘’BRASIL
REVISTA’’ (RJ) – Edição de 1947 - Jornal publicado entre 1933
até 1960.......................................................................................57
XXI. ‘’A Religião’’, (por: Dilmar Reis de Caireyt Souza), publicado
no jornal ‘’A TARDE’’ (PR) – Edição de 1956 - Jornal publicado
entre 1930 até 1960.....................................................................58
XXII. ‘‘Conferência Sobre Filosofia - Instituto Santista de
Filosofia’’, publicado no jornal ‘’A TRIBUNA’’ (SP) – Edição de
1963 - Jornal publicado entre 1960 até 1969.............................59
XXIII. ‘’Filosofia e Cosmovisão’’ (Por Luiz Washington), publicado
no jornal ‘’Diário de Nata’’l (RN)– Edição de 1953 - Jornal
publicado entre 1948 até 1969...................................................60
*(‘’Filosofia e Crítica’’), Resposta que o Mário Ferreira
escreveu no prefácio do seu livro ‘’Teoria do Conhecimento’’, em
1954. (‘’Filosofia e Crítica’’)........................................................64
XXIV. ''A Filosofia Oriental e o nosso país'', (Por Jorge Jaime),
publicado no jornal ‘’Tribuna da Imprensa’’ (RJ) – Edição de 1991
- Jornal publicado entre 1990 até 2000....................................66
XXV. ‘’Exemplo de Valoração Sintética da Filosofia em Geral’’,
(Por João Luiz Ney), publicado no jornal ‘’Diário de Notícias’’
(RJ) Edição de 1953 - Jornal publicado entre 1950 até
1959............................................................................................69
XXVI. ‘’Pensamento dos Outros’’, publicado no jornal ‘’DIÁRIO DE
PERNAMBUCO’’ – Edição de 1972 - Jornal publicado entre 1970
até 1979.......................................................................................72
XXVII. ‘’Livros da Semana’’ – ‘’Filosofia Concreta’’, publicado no
jornal Diário do Paraná - Órgão dos Diários Associados (PR) Ano
de 1957 – Edição 628 - Jornal publicado entre 1955 até
1983.............................................................................................73
XXVIII. ‘’Panorâma Educacional – Educação e Ensino – Vida
Universitária’’, publciado no jornal ‘’Diário do Paraná’’ - Órgão
dos Diários Associados (PR) Ano de 1957 – Edição 978 - Jornal
publicado entre 1955 até 1983....................................................74
XXIX. ‘’O dia de ontem nos Campos Eliseos’’, publicado no jornal
‘’Jornal de Notícias’’ (SP) – Artigo de 1951 - Jornal publicado
entre 1946 até 1951. ...................................................................75
XXX. ‘’OBRAS DE MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS’’, publicado
no jornal ‘’Leitura’’ (RJ) – Artigo de 1958 - Jornal publicado entre
1923 até 1973. .............................................................................75
XXXI. ‘’CURSO DE ORATÓRIA DO CAHS‘’, publicado no jornal ‘’O
DIA’’ (PR) – Edição de 1954 - Jornal publicado entre 1923 até
1961. ............................................................................................76
XXXII. ‘’Assembléia-geral no Centro Acadêmico Hugo Simas’’,
publicado no jornal ‘’O Dia’’ (PR) – 1954 - Edição de 1954 - Jornal
publicado entre 1923 até 1961. ...................................................76
XXXIII. ‘’II CURSO DE ORATÓRIA NA FACULDADE DE
DIREITO DE CURITIBA’’, publicado no jornal ‘’O DIA’’ (PR)
– Edição de 1958 - Jornal publicado entre 1923 até 1961..........77
XXXIV. Mário Ferreira dos Santos - ''O Um e o múltiplo em
Platão'', publicado no jornal ‘’O Estado de Florianópolis’’ (SC) -
Edição de 1958. - Jornal publicado entre 1915 até 1965............77
XXXV. ''Famosos Discuros Brasileiros'', publicado no jornal ‘’Voz
Diocesana’’ (MG) – Edição de 1968 - Jornal publicado entre 1965
até 1978. ......................................................................................78
XXXVI. ‘’Dois bêbados’’, publicado no jornal ‘’Tribuna da Imprensa’’
(RJ) –Edição de 1963 - Jornal publicado entre 1960 até 1969..78
XXXVII. ‘’Resenha bibliográfica’’ (por C. Beraldo), publicado no jornal
‘’Suplemento Literário’’ (SP) – Edição de 1970 - Jornal publicado
entre 1956 até 1985. ...................................................................79
XXXVIII. ‘’Suplemento Cultural’’ - ‘’A filosofia no Brasil’’ (por
Leonidas Hegenberg), publicado no jornal ‘’Suplemento
Literário’’ (SP) – Edição de 1976 - Jornal publicado entre 1956 até
1985. ...........................................................................................82
XXXIX. ‘’Cartas’’, publicado no jornal ‘’Suplemento Literário’’ (SP) –
Edição de 1979 - Jornal publicado entre 1956 até 1985............83
XL. ''Sobre Livros e Autores'' - ''NOTAS LITERÁRIAS'' (Por
Sebastião Almeida Oliveira), publicado no jornal ‘’Letras da
Província’’ - Publicação Mensal das Casas de Cultura de Limeira
e Jaú, oficializadas pela Associação Brasileira de Escritores de
São Paulo (SP) – Edição de 1969...............................................84
XLI. MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS ‘’Uma Esfinge no
Labirinto’', artigo publicado na revista "Livro Aberto", de
autoria de Yolanda Lhullier e Miguel Jorge Machado, em agosto-
setembro de 1996. ......................................................................87
XLII. ''Farpas'', (por Olavo de Carvalho), publicado no jornal
‘’Tribuna da Imprensa’’ (RJ) Edição de 2003 - Jornal publicado
entre 2000 até 2008. .................................................................97
XLIII. ‘’Festival retrô’’, (por Olavo de Carvalho), artigo no jornal
‘’Folha de São Paulo’’ ‘’Opinião’’, quarta-feira, 06 de outubro de
2004. ..........................................................................................98
XLIV. ‘’A fonte da criação’’, (por Olavo de Carvalho), artigo
publicado no jornal ‘’Diário do Comércio’’, 24 de Fevereiro de
2015. .........................................................................................101
XLV. ‘’Gerhard Bund’’ - (texto Igor Zolnerkevic), artigo publicado na
Revista Unesp-Ciência, Agosto de 2014...................................104
XLVI. Mário Ferreira dos Santos, um filósofo pelotense? , (por
Luís Rubira), artigo publicado no Jornal - ''Diário Popular''- de
24 de Julho de 2020. ...............................................................109
XLVII. Mário Ferreira dos Santos, o Ilustre Desconhecido, (por
Rodrigo Ulguim), 02 de fevereiro de 2022................................111

2.Relatos do Professor e filósofo Olavo de Carvalho sobre o


Mário Ferreira dos Santos no True Outspeak, Curso Online de
Filosofia (COF), no Facebook e no Curso - Mário Ferreira dos
Santos- Guia para o estudo da sua obra............................113

2- Textos.....................................................................................................133
1. Transcrição de 14 Áudios preciosos, informativos e de muita
necessidade mostra-los na presente edição dessa Revista................135

I. Integração e Desintegração da História .................................137


II. Exemplos de Filosofias nos Diversos Períodos da História ... 143
III. A Luta pelo Poder ................................................................... 147
IV. A Crise no Mundo Moderno .................................................. 150
V. Conferência na ABI ................................................................188
VI. Cristianismo e Economia Política ..........................................195
VII. Economia Política e Pecado Original.......................................204
VIII. Sociologia e Metodologia Científica ....................................... 215
IX. Sobre a Existência de Apenas uma Filosofia............................221
X. Da Abstração e da Metafísica ................................................. 225
XI. O Fundamento do Ser e a Causa Final.....................................228
XII. Sobre a Axiologia das Ciências.................................................232
XIII. Sobre o Verdadeiro Cristianismo.............................................236
XIV. Sobre o Ceticismo.....................................................................238
2. Texto Inédito do Mário Ferreira dos Santos, presente no
Livro ‘’Humanismo Pluridimensional. ...................... 239

I. Brasil, um País sem Esperânça?, por Mário Ferreira


dos Santos..................................................................................239

3- Os 5 Pontos para o Estudo da Obra do Mário


Ferreira dos Santos............................................................268
1. Lista dos Livros ............................................................................. 268
2. Lista dos Áudios ........................................................................... 276
3. Lista dos Jornais ........................................................................... 282
4. Lista dos Trabalhos ou Citações .................................................... 289
5. Lista das Fotos ............................................................................... 312

4- Futuro ................................................................................................................ 353


1. O Sonho de uma nova edição completa e em capa dura da
‘’Enciclopédia das Ciências Filosóficas e Sociais’’.............................353

2. Enciclopédias................................................................................357
Feliz Aniversário Mário!

Quando a obra de uma ÚNICA pessoa é maior do que absolutamente


toda a cultura de um País, temos então duas consequências: a
incompreensão e o esquecimento! A humildade em perceber e reconhecer
uma inteligência maior requer a grandeza de espírito diante de um fenômeno
de dimensão civilizacional. Como formar inteligências capazes de amar
aquilo que é grande? A sinceridade de coração é a resposta! Quando
percebemos a nossa pequenez com tantas limitações, quer seja o estudo
insuficiente e superficial ou a incapacidade de acertar a virtude justa das
ações ou pensamentos, as portas do espírito abrem-se a nós com toda a sua
excelência e riquezas. Ela deixa passar sobre o seu umbral dourado somente
os humildes e pequenos de alma, porque é apenas através desse tipo de
postura que é possível tornar todas as pessoas, sedentas pela verdade,
verdadeiramente grandes.
O Mário Ferreira dos Santos é esse palácio grandioso. Hoje ele
completaria 115 anos de vida!
Um homem que é maior do que toda a história da cultura de um País,
desde o seu descobrimento, em 1500, até o momento de sua partida, em
1968, 468 anos, não é de modo algum forçoso admitir que aqueles poucos
valentes e destemidos, aquelas pessoas heroicas e sinceras, quando
reconhecem o Mário Ferreira dos Santos como o maior Filósofo do Brasil e
um dos maiores Filósofos de todos os tempos da história mundial, são
justamente os pequenos e humildes que atravessam o umbral dourado e
ascendem em valor para os salões da inteligência preciosa e de valor
inesgotável!
Em vida, o Mário foi um dos grandes e excelentes figuras que agitava o
Brasil. A sua oratória e inteligência fulgurante emocionava a todos e
iluminava a razão de todos aqueles que o buscavam, para ouvir o grande
conferencista. Nas páginas de jornais, dos estados de São Paulo, Rio de
Janeiro e Rio Grande do Sul, entre 1950 e 1964, o nome Mário Ferreira dos
Santos era aclamado. O Instituto Santista de Filosofia o reconheceu como
um dos maiores conferencistas brasileiros, detentor de uma cultura
vastíssima assombrosa. O Centro Anarquista de São Paulo possuía um
verdadeiro amor e estima por aquele que demonstrava uma modéstia sem
igual, que não deixava transparecer a inteligência que podia conversar com
qualquer figura da história humana. A Associação Brasileira de Imprensa o
recebeu calorosamente. O Centro de Conferência Cultural Convivium,
chamava-o frequentemente. Milhares de alunos procuravam-no em sua casa
para receber ensino e conselhos. Dezenas de milhares de livros de edições
inumeráveis eram vendidos!
Toda essa fama e prestígio foi somente por causa da grandeza de uma
personalidade, de uma pessoa, o Professor Mário Ferreira dos Santos.
Quando ele faleceu, houve algumas considerações públicas de seu
legado, mas e quanto aos seus seguidores, quem ele formou, para ser o seu
fiel seguidor? As suas filhas esperavam que a Faculdade Jesuíta, onde
também o Mário foi convidado para ministrar aulas, desse prosseguimento
a sua filosofia e edição de sua Enciclopédia, mas essa intenção não foi
adiante. A resposta para a falta de seguidores se deve paralelamente à
grandeza daquele que pretendia edições futuras em suas obras.
Quando uma montanha é tão alta que se perde de vista a sua magnitude,
como esperar que surja alguma outra grandeza igual, para entender e legar
às gerações futuras as suas descobertas?
Num tempo sem Internet e a possibilidade material - livros de autores
de várias partes do mundo, uma formação jesuíta elementar e a possibilidade
de viajar o mundo, aprender com a cultura que estava sendo desenvolvida e
além disso ter tempo para transcrever textos raros - como poderia ser
possível acompanhar uma inteligência de nível internacional? A resposta
veio em 1983, quando o Olavo de Carvalho teve acesso à filosofia daquele que
havia partido 15 anos atrás!
Em 1990, 7 anos depois, oferece ao Pe. Stanislavs Ladusans, amigo
pessoal do Mário, o sentido e a Estrutura da Enciclopédia das Ciências
Filosóficas, no curso de Filosofia que o Padre estava lecionando na Puc do
Rio. Nos dias 25 e 26 de Julho, em 1997 ministra duas aulas no Rio de Janeiro
sobre a Filosofia do Mário. Em 2001 lança o livro inédito do Mário "A
Sabedoria das Leis Eternas", editado e comentado, a partir do True
Outspeak, e depois o COF, o nome Mário Ferreira dos Santos é novamente
lembrado como o maior filósofo do Brasil, e um dos maiores do mundo, que
podia conversar como um igual, com Platão e Aristóteles.
Multidões de pessoas recorrem aos sebos para comprar os seus livros
esquecidos às traças. De modo que no momento presente, as edições antigas
de seus livros são tão preciosas que é possível compara-las à cotação atual do
ouro puro!
Atualmente, o Mário Ferreira dos Santos possui milhares de
verdadeiros alunos e seguidores espalhados pelo o Brasil e pelo mundo. O
seu legado permanecerá para todo o sempre e a sua Filosofia ainda renderá
muitos frutos.
O seu nome será lembrado por todos aqueles pequenos e humildes que
passam pela as portas do verdadeiro espírito e inteligência gloriosa!
Tudo o que ele fez em vida e todo o seu tremendo esforço em levantar a
cultura desértica de um País obteve o sucesso merecido.

Feliz Aniversário, Mário!

(03 de Janeiro de 2022)


Prefácio

O Espírito desta Revista é a Esperança, sem sombra de dúvida!


Buscamos, nesta 3ª Edição, organizar um documento precioso e,
principalmente, de denúncia, contra tudo aquilo que tenta destruir a edificação da
civilização humana. O que nos motiva a prosseguir sempre em frente nesse
trabalho é a seguinte missão do Mário:

"Eu viajei por toda a Europa e pude ver os desenvolvimentos mais


impressionantes e significativos da cultura daqueles povos. Quando voltei para o
Brasil, passados 5 dias, fui acometido por uma profunda desesperança em ver a
situação cultural que encontrávamos. Foi a partir daí que tomei a decisão de
levantar a cultura desse País, custasse qualquer coisa, fazer o que fosse preciso,
porque o Brasil tem tudo para ser grande. Nós podemos ter uma visão ecumênica
da História. Os outros povos não possuem essa capacidade. Apenas nós, porque
somos um povo grandioso e temos a condição necessária para isso."

(A Crise no Mundo Moderno – 1965)

Transcrevemos todos os textos dos jornais que tivemos acesso que falam sobre
o Mário ou que existe algum artigo que o próprio Mário escreveu. Preservamos a
ortografia dos textos. Assim vocês poderão ler palavras como ‘’mez’’, ‘’exhibir-lhe’’,
‘’commerciar’’, ‘’promptas’’, ‘’elle’’, ‘’commigo’’, ‘’bella’’, ‘’ahi’’, e etc. A visibilidade
de algumas palavras nos jornais, que datam de 1929/70, estava de tal forma difícil
de conseguir distinguir, que tivemos a paciência de descobrir qual era a palavra,
isso nos custou a alegria de resolver mistérios! Tentamos, o quanto possível,
manter uma unidade de linha de tempo na organização dos jornais, por isso, os
artigos começam quando o Mário tinha apenas 22 anos, em 1929, até em 2022,
com um artigo revelador do nosso amigo Rodrigo Ulguim, em 2022!
Organizamos textos do Professor e Filósofo Olavo de Carvalho, do True
Outspeak, Curso Online de Filosofia (COF), mais alguns posts que achamos no
Facebook e uma pequena transcrição de um trecho do seu Curso - Mário Ferreira
dos Santos- Guia para o estudo da sua obra!
Nesta 3ª Edição da Revista do Instituto Cultural Logos, também,
transcrevemos 14 Áudios do Mário Ferreira dos Santos, porque eles estão
interligados com assuntos comuns que são fundamentos e bases para a Unidade
dessa Revista. Tentamos organizar os Áudios em linha de tempo! A monografia
que as filhas do Mário escreveram nos ajudou em muito. Alguns Áudios estavam
de tal maneira inaudíveis, por causa da gravação antiga daqueles gravadores
imensos de rolos de filmes, que muitas vezes precisamos ir ao ‘’além’’, para
perguntar ao Mário em pessoa o que ele queria dizer em determinado trecho.
Ficamos horas conversando com ele. Foi uma maravilha! Voltamos felizes com as
respostas que conseguimos, e foi só assim que podemos transcrever muitos trechos
que simplesmente o entendimento não é perceptível.
[22]
Ainda há o texto Inédito do Mário de nome ‘’Brasil - Um País sem Esperança?”’,
que é a coroa dessa Revista, porque toda a nossa missão tem como objetivo fazer
com que a esperança seja possível, e isto requer ação!
Mantemos a Lista Organizada dos Livros do Mário, a Lista de seus Áudios,
atualizamos a Lista das Citaçães e trabalhos, pois em dezembro de 2021 e janeiro
de 2022 surgiram artigos que falaram do Mário, ainda com uma surpresa
maravilhosa, o Jornal Cidadania Popular, o primeiro Jornal com atividade
totalmente voltada a cultura. A Lista das Fotos permanece com a mesma
organização.
Na parte final, está o nosso sonho! Há uma compilação de muitas
Enciclopédias. Fizemos uma pesquisa de edições de nível internacional para que a
imaginação dos estudantes possa ter um horizonte amplo de possibilidades.
Infelizmente, as editoras no Brasil ainda são poucas e o custo de imprimir obras
de tamanho enciclopédico é inviável. O Mário, em 1967, mandou buscar uma
Enciclopédia Católica, do século moderno, em 157 volumes, da França. Ele
comprou livros de Física Moderna de autores contemporâneos a ele, na Alemanha
e Estados Unidos. Xerocou textos que apenas existiam em Portugal, de filósofos
escolásticos antigos. Essa situação editorial ainda permanece no Brasil, porque a
alta cultura ainda é sinônimo de futilidade e de pessoas de caráter esnobe, ‘’que
não estão na realidade’’, assim como diziam para o Policarpo Quaresma: ‘’ele não
é Doutor, para que vai estudar, e para que esses livros?’’
Podemos mudar a cultura desse povo! A resposta, o animo, o incentivo, a
coragem, foi-nos dado em 1965, numa palestra de nome ‘’A Crise no Mundo
Moderno’’, em que o Mário proclamou:

‘’Mas, pergunta: será possível, será suficiente que a nossa coragem possa
enfrentar essa auto destruição?
Eu posso responder apenas com respostas contingentes, porque se eu fizesse
uma resposta necessária eu cairia apenas numa fé, e não estaria me colocando
numa posição filosófica. É possível que sim, e é possível que não! Mas entre essas
duas possibilidades, nós podemos escolher a daqueles que creem que é possível
que sim! Então nós podemos, também, nos comprometer em atuar dentro dessa
possibilidade. Se malograrmos, ficará, pelo menos, dentro de nós, a satisfação de
havermos cumprido o nosso dever e de termos realizado uma possibilidade nossa.
E se amanhã houver um outro ser inteligente que possa saber da nossa história,
poderá olhar para aqueles que amaram a coragem e que tiveram um gesto heroico
de lutar contra a própria autodestruição, com respeito por estes homens.
Nós podemos nos engajar deste lado, já que estamos numa época em que
todos querem se engajar. Então, vamos nos engajar, mas para o lado construtivo,
para o lado do bem, para o lado que lance uma nova esperança, que creia em
valores superiores e que não proclame, de antemão, a sua derrota, porque, então,
ela é uma dupla derrota. É a derrota daqueles que nem sequer combateram,
daqueles que nem foram para o campo de batalha enfrentar o seu inimigo!’’
[23]
3 de Janeiro de 1907 – 11 de Abril de 1968

[24]
1 -Jornais e Relatos
1- Jornais de vários Estados Brasileiros que contêm algum texto que
o Mário Ferreira dos Santos escreveu ou algum comentário sobre
o seu trabalho.

*Primeiro Período da Vida do Mário - Em Pelotas – RS

1. Conto do Mário Ferreira dos Santos publicado em 11 de


maio 1929, aos 22 anos, ainda na cidade de Pelotas, no Rio
Grande do Sul, no jornal “Opinião Pública”

‘’Um Conto para todos lerem’’

‘’O DESEJO MÁXIMO DO AUTOR É QUE DELLE POSSA ADVIR ALGUM


PROVEITO AO POVO, POR ISSO PEDE A TODOS QUE O LEIAM’’

O seu título é:

‘’Um bluff’’

—Amalia?! A-ma-li-a?!

Não ouves? Estão batendo à porta.

—Já vou lá, sim senhora.

—Quem é?

—É um moço que quer falar com a senhora.

— O que é que elle quer?

—Elle me disse que quer falar é com a senhora.

—Pois então avisa ao Juca que vá lá.

-—-Mas elle me disse que quer é falar com a senhora


e não com o patrão.

—Comigo? Mas o que quererá? Tem graça!

[25]
***

—Trata-se, minha senhora, do seguinte:


Sou representante-propagandista duma grande companhia carioca.
Seu nome é: Empresa Nacional de Photographias.
É simples: V. Exa. naturalmente...

—Isso deve ser com meu marido. Espere aqui que eu vou chama-lo.

—Não, minha senhora, absolutamente. Deixe-me explicar do que se


trata e verá como é simples. Como ia dizendo, V. Exa. naturalmente
teria o máximo prazer de possuir um retrato a óleo vosso e do marido
de V. Exa. não é verdade?

—Sim e porque?

— Eu lhe explico, espere.


Sentir-se-hia ainda, a senhora, mais satisfeita se esse retrato possuísse
certas particularidades excepcionais, tais como este que aqui lhe
mostro. Um momento. É só desembrulhar.
Agora veja, o que diz?

— É lindo, que bella moldura, parece que o busto está em relevo, é


muito bonito mesmo, que chic... Mas certamente o senhor quererá
muito dinheiro por um retrato assim?

—Pois se engana, minha senhora. Ahi é que está o que de


extraordinário existe em tudo isto. Imagine a senhora que um retrato
destes à óleo custa a ninharia de 200$. Basta que V. Exa. Me dê duas
photographias, a de vosso marido e a vossa, que no prazo máximo de
um mez eu lhas remeterei do Rio, promptas, ao vosso inteiro gosto.

—Mas 200$? Cada uma?

—200$. Mas para que veja como somos, e a título de propaganda, lhe
farei os dois retratos por esse preço. Veja que é baratíssimo.

—Não há dúvida, vou consultar meu marido.

—Para que? Não faça isso. Não vê a senhora que poderá fazer uma
surpresa ao vosso marido, quando ele menos esperar, vendo a senhora
exhibir-lhe o seu retrato e o vosso?

—Sim, isso é, mas succede que não tenho dinheiro.

[26]
—Não faz mal, ahí está mais um ponto que demonstra a superioridade
do nosso trabalho e do nosso meio de commerciar.

Basta que a senhora assine aqui este pedido e só pagará no ato da


entrega. Comprehende?

—Está muito bem. Então eu quero.

—Tem ai as photographias?

—Tenho. Vou busca-las. Um momento.

***

-—Prompto aqui estão.

Agora assigne isto, minha senhora,

—Onde? Aqui?

--Ahi mesmo, neste lado e neste canto. O primeiro fica com a senhora
e o segundo fica em meu poder.

***

Com licença, leitor. Agora vaes permitir para esclarecer o conto-


diálogo que metamos a nossa colher.

Neste momento o propagandista-representante exhibiu um bloco de


uma centena de papeluchos, com canhotos.

Se me não falha a memória eram esses os dizeres principaes:

Ao lado: «De maneira alguma poderá ser anullado este contrato.»

«Os preços descriptos não incluem moldura e vidro.» E mais uma


clausula de que no caso do freguês não concordar com as molduras que
vierem, poderá então modifica-las por outras, pagando-as.

Pois caro leitor, o contracto fez-se, a senhora assignou e o


propagandista foi embora.

[27]
Epilogo
PASSA-SE UM MEZ

— Amalia? A-ma-lia?
Não ouves? Não vês que estão batendo da porta.

Já vou lá, minha senhora.

***

— É um moço com dois retratos a óleo.

— Ah! é aquelle moço, daquella vez.

— Não, é outro.

— Qutro?

***

— Boa tarde.

— Boa tarde. Vim aqui para entregar os retratos que encommendou à


Empresa Nacional de Photographias.

— Ah! sim! Eu vou buscar o dinheiro.

***

— Prompto. Ahi tem o dinheiro.

— Um momento, minha senhora. Primeiramente quero mostrar os


retratos. Aqui os tem.

— Mas que lindos! Ahi tem o dinheiro,

— Pois não, minha senhora, mas comprehenda que tem que pagar o
vidro e amoldura.

— A moldura? Mas...

— Foi o que ficou combinado. Veja o papel que ficou com a senhora.

— Sim, é verdade.

[28]
— Então, quanto custa a moldura?

— A moldura e o vidro custam, cada uma, em cada quadro, 350$.

— 350$000???

-— Mas veja que sem moldura e sem esse vidro, como fica o quadro.

* **

(TIROU O VIDRO)

— Ah! mas assim fica feio.

— Por isso é-lhe conveniente que compre o vidro e a moldura.

— Mas isso é uma barbaridade.

— Si quer!

— Que remédio tenho eu. Espere mais um pouco.

(FOI E VOLTOU)

— Tome mais 700$000. Si meu marido souber?


— Bem, até logo.

***

— Mas bem se vê que és mulher. Sempre bôba. Deixaste então que te


enganassem assim, estupidamente. 900$000!!! Por dois quadros
destes. Pensas que ganho dinheiro a rôdo, Rosa? Sim senhora? Nunca
vi cousa igual. Bôba! Nunca vi creatura tão bôba como tu, nunca vi?
Bôba!!! Nunca vi!!!

(BRIGARAM)

Brigaram, mas ficaram bem, depois.

Ella chorou; elle, durante duas horas, mediu o quarto, de cá para lá,
Cansou. Ella tambem.

(PONTO FINAL)

[29]
Moral: — Quem é bôbo, peça a ........................

Ultima nota:

Leitor ou leitora! Leste?


Pois pensa bem sobre isso e que não caias no mesmo «bluff» em que
cahiu a Rosa.

NOLDA

[30]
2. Conto “Diálogo de você”, escrito pelo Mário Ferreira
dos Santos e publicada no Jornal Opinião Pública, em 14
de maio de 1929, aos 22 anos!

‘’Diálogo de você’’

— Olá!...
— Oh!...
— Você por aqui?
— Como sempre.
— É a primeira vez que nos encontramos neste logar.
— Pois passo sempre por aqui...
— Pois eu também agora passarei sempre.
— A que horas?
— A estas mesmas.
— É? Então vamos ter boas ocasiões de conversar.
— Da minha parte será com o maior prazer. Bem sabes que tua
palestra me é inteiramente agradável.
— Deixa de cretinice.
— É verdade. Estou falando sério.
— Sério?
— Sim, eu fallo sério. Não acreditas.
—?... Pode ser!
— Fallo sério e verdadeiro. És muito pessimista e eu também o sou.
Somos quasi eguais. Mas só quasi vê lá?! Bem sabes que admiro
muito a Pascal como um dos maiores pensadores e talvez o maior que
o Ocidente possuiu. Pois bem, lendo Pascal hoje, pensei,
— Pensastes?
— Pensei. Pensei quanto Pascal é verdadeiro. Ninguém como elle
estudou tão bem a vaidade, ninguém como elle observou quanto de
mesquinho e de ephemero possue o coração humano, ninguém como
elle dissecou admiravelmente a inveja humana.
— Mas a que vem isso?
— Por muitas razões. Quanto mais olho a humanidade e meus pares,
mais penso sobre a vaidade dos homens e em sua illimitada inveja.
[31]
— Verdades!...
— A verdade, dizia Pascal, não me admira: dize-la é útil a quem a
ouve, mas desvantajosa a quem a diz, porque faz que sejamos odiado.
‘’O homem não é senão má fé, mentira e hypocrisia em si mesmo
e em relação aos outros.
O homem não quer que se lhe diga as verdades e evita de às dizer
aos outros; e todas estas disposições, tão longínquas da justiça e da
razão, tem uma raiz natural no seu coração.
O homem inveja o homem, basta que alguém sobresahia um pouco
dos seus pares para que seja invejado. É triste, mas é humano’’...
- exageradamente humano.
- E quando vejo as invejas, na penumbra de sua mesquinhez e
incapacidade, como cães damnados a espatifar a consideração, o
elevamento dum seu semelhante, parece-me ver através do quadro
tristíssimo, uma multidão de anãozinhos, presos à terra, que
elevando nervosos seus braços, exclamam: Pára! Pára! Não vás além
de nós! Pára, que ficamos cada vez menores, pequeninos!
E eu fecho meus olhos a este quadro subjectivo e me entristeço.
- É que ainda há alguma coisa de bom no coração da gente.

M.

[32]
Arquivos de jornais obtidos na Biblioteca Pública Pelotense
(Fonte: Elvis Amsterdã - A DIALÉCTICA-ONTOLÓGICA DE MÁRIO
FERREIRA DOS SANTOS)

3. Jury.
Diário Popular de 14 de novembro de 1928, em que está registrada a
estreia de Mário Ferreira dos Santos como advogado.

‘’Ante ontem sob a presidencia do integro magistrado, nosso amigo,


sr. dr. Samuel Figueiredo da Silva, proseguiram os trabalhos do jury.
O conselho de sentença ficou constituido dos srs. dr. Ildefonso
Carvalho, Victor Paradeda, Gabriel Fagundes, dr. Alvim Lopes Prietto e
Ildefonso Badia.
Entrou em julgamento Gentil Marques Ferreira accusado de crime de
morte.
Produziu a accusação de forma altamente brilhante, como soe
acontecer, o talentoso promotor publico, nosso amigo, sr. dr. Poty de
Medeiros.
A defeza esteve a cargo dos talentosos academicos de direito sr. João
de Barros Cassal e Mario Santos.
Houve replica e treplica.
Os trabalhos do julgamento prolongaram-se até a 1 hora da
madrugada de ontem. O accusado foi absolvido por 4 votos contra 1.
O integro promotor publico, sr. dr. Poty de Medeiros appelou para o
Superior Tribunal do Estado.
O talentoso acadêmico sr. Mario Santos, que fez brilhantissima estréa
na tribuna judiciaria, mostrou reaes dotes de tribuno, além de predicados
de estudiosos, demonstrando assim, que um futuro promissor lhe aguarda
na vida pratica.
O distincto acadêmico recebeu muitas felicitações de seus amigos e
admiradores.
— Ontem entrou em julgamento Vidal Penalvo da Silva, praça do 4º.
B. I. M., accusado de ter assassinado sua esposa, em desaggravo da honra.
O Conselho de Sentença ficou constituido dos srs. Antonio André
Sobrinho, Victor Paradeda, capitão Bernardino Nunes de Azeredo, dr.
Alvim Lopes Prietto e dr. Ildefonso Carvalho.
Desenvolveu a accusação o talentoso promotor publico nosso amigo
dr. Poty Medeiros. A defeza esteve a cargo do nosso amigo sr. Aristides
Bittencourt, conceituado advogado e do talentoso academico de direito sr.
José Pio de Lima Antunes, que se extreou na tribuna judiciaria, revelando
excellentes dotes de orador bem como cultura apreciavel.
O joven academico recebeu muitas felicitações.
Os debates estiveram animados.
Vidal Penalvo da Silva, foi, por unanimidade, absolvido.
Presidiu o acto o integro magistrado nosso amigo, sr. dr. Samuel
[33]
Figueiredo da Silva.
Hoje, será julgado Francisco Vidal Otero, accusado do crime de
morte.’’

***

4. PORQUE FUI DETIDO?


A Opinião Pública de 19 de dezembro de 1930, por (MÁRIO SANTOS)

‘’O facto succedido commigo em Porto Alegre, que, creio,


deve estar no conhecimento de todos, se foi recebido por muitos com
surpreza, para mim assumiu as proporções do inaudito.
Não o esperava como nada, até então, me poderia
determinar tal espectativa.
Já não quero falar de coisas secundarias, como principios
liberaes ou outros principios, porque não vem ao caso nem nada
collaboram para a explicação publica que quero dar. Como todos sabem
fui á Porto Alegre prestar meus ultimos exames na Faculdade de Direito,
em vista de ter renunciado os favores immoraes de um decreto que me
concedia o diploma, sem que necessario fosse, ante conspicua banca de
egregios lentes, mostrar os conhecimentos que adquirira para a
conquista de um título illustre.
Sahi de Pelotas ao segundo dia da declaração da greve dos
trabalhadores da Light and Power.
Quando lá me achava, no mesmo dia em que iniciava os
meus exames, fui detido, sob a grave accusação de ser um dos
promotores dum movimento justo, em que alguns homens, levados pela
luta pela vida, após todos os pedidos amistosos, pugnavam em
conquistar alguns mil reis a seus parcos ordenados, abandonando o
trabalho.
Não cabe aqui justificar essa greve. Pelotas a assistiu
melhor que eu, estremeceu por ella e lutou por ella. Serviram como
provas contra mim o facto de ter enviado ao jornal que dirijo um
telegramma, no qual dava a linha de conducta a portar, não ante o
movimento que havia, porque a este, consentaneo com o nosso
programma, já tinhamos dado a nossa solidariedade, mas a nossa
attitude ante os novos acontecimentos que me chegavam confusos.
Alem deste telegramma, serviu uma carta que estava
abandonada em minha mesa de estudo, na qual aconselhava a “A
Opinião” a lançar um vehemente protesto contra os factos succedidos,
pedindo todo o apoio do povo, inclusive do commercio e da industria.
Não quero accusar ninguem. Guardo a superioridade que
sempre me assistiu em todos os actos da minha vida.
Entretanto cumpre-me declarar, e o faço em alto e bom
som, que absolutamente não tive a honra de dirigir a greve dos
[34]
empregados da Light, nem fui seu fomentador.
Disso poderia dar o testemunho insuspeito dos proprios
grevistas, como, tambem, o do illustre dr. João Py Crespo que está
sciente do quanto fiz para solucionar o caso sem mais delongas,
pedindo, até, á s. excia que me permittisse dirigir aos grevistas,
propondo a estes o dr. prefeito como arbitro da questão.
Desnecessario, creio, seriam esses depoimentos, porque
Pelotas inteira sabe que o movimento paredista foi expontaneo, tendo os
grevistas se portado sempre dentro do maior respeito ás leis (se é que
existem com a dictadura), á ordem publica e ás autoridades.
Scientificado o dr. Flores da Cunha da realidade dos factos
fui chamado depois á sua presença, tendo s. exa. me declarado nada
existir contra mím, podendo dirigir-me livre para a mínha terra, quando
bem me conviesse. Posteriormente, tendo outro encontro com o dr.
Flores da Cunha soube, tambem, da intervenção do dr. Py Crespo em
meu favor, dando sciencia sobre o que se passára, declarando o que
sabia a meu respeito.
Resta aqui agradecer a todos os meus collegas de
advocacia, tanto daqui como de Porto Alegre, aos meus collegas de
bancos academicos e aos meus amigos da metropole e de Pelotas, que
tanto interesse mostraram em meu favor, estendendo esse
agradecimento a todos os companheiros de trabalho da “A Opinião” que
cumpriram fielmente os seus deveres em todos os momentos.
Em particular quero agradecer ao bonissimo varão e
homem de largo descortino liberal que é o dr. Py Crespo, que tanto
empenho mostrou, esforçando-se com carinho sobre o meu caso.
Agradeço-os a todos com effusão de alma.
Este momento da minha vida mostrou-me claro, aquelles
que são meus amigos sinceros. Guardo no amago do meu ser os seus
nomes, as suas individualidades.
Ainda estou vivo e salvo. Isso desgostará os meus
adversários. Que fazer? Nem tudo pode correr como elles queiram.
Por outro lado estou supinamente orgulhoso. O “crime” de
que fui accusado só me ennobrece, porque corporifica-se no facto de ter
defendido alguns humildes operarios brasileiros contra a exploração
infame de “goriots” yankees.
Já expliquei como foi e o limite da minha participação.
Estou duplamente diplomado Por um lado, bacharel em
direito, por outro em jornalismo, a despeito dos meus pobres adversários
que absolutamente não os desejo mal algum, embora não possa deixar de
deplora-los.
Diplomado em jornalismo, sim, porque a minha prisão de
poucas horas embora, foi o effeito de meu sacrifício, de minha
abnegação, em lutar contra todos os exploradores do povo pelotense,
sem nunca me ter dobrado ás tentativas “doiradas”.

[35]
5. A HISTÓRIA QUE AINDA NÃO FOI CONTADA
Diário Popular de 16 de abril de 1942.

Mário D. Ferreira SANTOS

“Esp. para o Diário Popular”

‘’As notícias de guerra geravam-me horas de severas


preocupações. Não podia, por mim mesmo, satisfazer minhas perguntas
nem permanecer na anestesia nirvanica daqueles que ocasionalmente se
lembram que existe uma guerra. Talvez isso lhes conceda um certo bem
estar e lhes ofereça a agradabilidade de umas horas afastadas das
realidades da hora presente, o que, para muitos, pode ser uma inefável
libertação.
No entanto sou daqueles que fitam os acontecimentos e
tenho a desagradavel mania de querer interpretá-los lobrigando nos
longes dos fatos humanos tran cendentais explicações,
condicionalidades misteriosas, obscuras, escondidas em desvãos de
bastidores políticos, motivos telúrico que partem da morna umidade da
terra, cósmicos e enigmáticos, razões raciais, fôrças econômicas,
determinismos psicológicos, num acomodamento interior do
desiquilíbrio desconcertante que me provocam os fatos inesperados.
A chegada da primavera, na Europa, é sempre uma
interrogativa apremiante. A luta já nos interessa demais para que não
nos preocupemos com a marcha do termômetro. Nós, agora,
começamos, cada dia, a ter mais conciência de que existe uma guerra na
Europa. Até aqui havia um certo diletantismo de turistas sôbre os
acontecimentos do mundo.
Comentavamos como se fossem fatos de quem eramos
simples espectadores. Julgavamos as cenas bem ou mal jogadas.
Admiravamos, comentavamos, combatiamos, negavamos, em suma,
contradiziamos em cada uma de nossas atitudes, as atitudes anteriores,
quando observávamos os acontecimentos. Eramos assim. Hoje, não !
Hoje compreendemos que não somos mais os simples espectadores
dêsse grande melodrama, somos, agóra, os intérpretes que entraram
depois do espetáculo começado.
Retardatários, mas nem por isso menos importantes, e
como personagens desse drama, subimos á ribalta com a convicção da
inelutabilidade do destino. Procuramos, é certo, abstrairmo-nos do
conflito europeu, quando êle era simplesmente europeu. Éramos o que
sempre haviamos sido: americanos. Não tínhamos o direito de intervir
alí, se alí não houvéramos sido chamados. Mas os fatos seguiram um
caminho diferente.
Os imperialistas ressentidos da Europa desejavam e desejam o
domínio do mundo, porque já disse “...quem dominar a
Europa quer dominar o mundo!“
[36]
Êsses imperialistas insatisfeitos e ressentidos – Alemanha
nazista e a Itália fascista – não trepidaram em procurar a adesão
duvidosa do Japão. Buscaram um inimigo – esses são os bárbaros do
século vinte – para a cumplicidade de um assalto ao mundo, á mão
armada. Não havia mais lugar para neutralidade, porque não há mais
neutros no mundo. É que se não joga, agora, o destino de um povo, nem
de uma cultura, nem de uma civilização, nem de uma idéia : joga-se o
destino da raça humana !
Pitágoras falava assim e eu assentia com êle. Dizia-me
entre outras coisas : - Enganam-se os homens se, neste momento
humano, o mais trágico de todos, porque, tu o reconheces, estamos
vivendo uma idade trágica, estejamos resolvendo os destinos de um
povo, de uma nação, de um continente, de uma idéia, de um partido, de
uma raça, de uma ideologia.
Estamos, neste momento, assistindo a gestação do maior
conflito de consciências que o mundo já assistiu. Estamos, agora,
jogando o destino da raça humana. É demasiadamente importante o que
nos pode reservar o futuro. O problema é mais grave e mais preocupante
do que se julga. Muitos, ainda, estão na superficialidade da luta de ordem
política, outros prescrutam razões econômicas, outros lobrigam
problemas raciais, mas vejo um problema cósmico, que transcende até a
própria biologia. Estamos na encruzilhada do destino humano. Estamos
ás portas de algo de definitivo para os homens, e isso, há mais de
cinquenta anos, foi previsto, foi proclamado, foi anunciado. E, no
entanto, muitos vivem adormecidos ao embalo do progresso,
acreditando que os magnos problemas teriam soluções práticas.
Enganam-se ao julgar que os instintos humanos já haviam adormecido e
que o esquema ótico do homem já se acomodara ao interêsse coletivo da
humanidade. E agora, aí temos a colisão suprema: a maior de todas as
guerras e que apenas inicia. Ela irá revolver tudo, arrastar na sua fúria
problemas transcendentais, só porque um grupo de ressentidos, não
convencidos de sua derrota, enquanto o mundo esquecia a outra guerra e
lhes atirava um olhar de simpatia, preparavam-se para a vingança. Falo
na Alemanha. E tenho razão. Ela jamais se se convenceu de sua derrota.
Desejou, acalentou, animou essa vingança. Alimentou-a com
esperanças
e angústias. Tudo quanto disse, tudo quanto fez, escondia sua ansia de
retôrno ao poderio. Quando o mundo esquecia as feridas que ela havia
feito na carne dos outros povos, ela lembrava. Ameaçava e os outros
calavam. Poderiam tê-la destruído de uma vez, mas perdoavam. Ela não.
Açulou sua juventude, embriagou-a de marchas selvagens, combateu
todo o sentimentalismo, encheu de cerveja, empanturrando êsses
terríveis intestinos alemães donde nascem sempre suas obscuras
filosofias e suas vinganças místicas, intoxicou o povo de reivindicações
sangrentas, chegou-lhe ás narinas o sangue fresco dos que caíam mortos
dos crimes não praticados. Imputou culpados para a satisfação da
[37]
cainçalha das ruas. E em nome da Alemanha, da vingança de uma
Alemanha derrotada, lançou o rastilho da guerra. Desceu, assim, o plano
inclinado do grande conflito que o mundo lutou para impedir. E não
parará, agora. Não, porque essa mesma Alemanha foi despertar para a
luta um povo místico e feroz, sangrento e insatisfeito, o maior inimigo da
Alemanha : o Japão !
Parece um paradoxo! Pois acredita : o Japão é o inimigo da
Alemanha e a derrota de Hitler será somente um capítulo dessa história.
Há outro que os povos da América, da Ásia e da África
vão contar.’’

***

6. UMA NOVA IDADE MÉDIA


Diário Popular de 13 de maio de 1942.

Mário D. Ferreira SANTOS

Esp. para o “Diário Popular”

‘’Não podemos fugir ao fascínio avassalador dos acontecimentos


asiáticos que se processam magnéticos, exigindo o melhor de nossa
atenção.
Não estamos ainda esquecidos do testemunho de tantos
escritores, de tantos jornalistas, de tantos políticos, viajantes e
sacerdotes, que viveram seus dias nas terras mágicas do Oriente e que de
lá trouxeram para para as repousadas regiões do Ocidente, uma
mensagem. O berço do mundo civilizado foi ali. Os orientais não
esquecem essa particularidade histórica.

As raças brancas avassalando a Europa, conquistaram, pelo


prodígio material, o contrôle dessa ”península asiática, e, daí, o mundo
que ainda hoje dominam. E isso permite que se alcem anseios orientais
com novas premissas, com o postulado fatalista de um destino
impostergável.
As potências democráticas não podem abandonar a luta da
China contra o Japão. É preciso que, mais uma vez, se aproveite essa
contradição dos amarelos para benefício de toda Humanidade. Os países
democráticos compreendem isso. Não se pode admitir que o domínio do
mundo seja obra de um povo, de uma raça ou de um continente.
Desde a libertação da América, após batalhas sangrentas, a
Europa compreendeu o término de sua hegemonía. E êsse canto de cisne
da hegemonia européia está nessa sinfonia trágica de canhonaços. Isso,
porém, não implica que a América não traga ao mundo seu quinhão de
[38]
compreensão e de solidariedade. Não há, aqui, anseios de dominação
nem imperialismos avassalantes. E isso nos distingue dos últimos
conquistadores.
Somos um povo, em toda a América, que se irmaniza.
Nossos braços estão abertos para o mundo. E, pela voz dos nossos
homens mais proeminentes, pregamos sempre a aproximação humana.
Se falharam muitas dessas tentativas, á América não cabe a culpa. Os
eternos insatisfeitos da Europa balcanizada quizeram perpetuar a
balcanização. Se, alí, havia uma maior penetração de idéias, se se falava
e se aceitava uma mentalidade EUROPÉIA, uma cultura EUROPÉIA,
uma moral EUROPÉIA, que fizeram os europeus que não souberam
fixar êsses alicerces subjetivos ?
Estamos entre os fatos, á beira dos fatos, em face dos fatos.
A América foi arrastada á guerra porque seu destino estava
ligado ao da Europa. Os conquistadores, saídos das massas ululantes dos
ressentidos, ameaçavam outra vez o mundo. A Alemanha sem colônias,
quer o mundo, agora. Aliás essa ambição ecumênica sempre formou o
lastro do seu complexo de superioridade. Ouçam, agora, a voz do Japão
que quer “japonizar” o mundo. Os mesmos erros do passado, geram
erros do presente. Mas há tempo, agora, de abrir os olhos e revisar
orientações.
O mundo está á beira de uma nova idade média. Os
barbaros ameaçam-na...Os bárbaros do século XX são os totalizadores
que impõem uma só ideologia, uma só vontade, um só chefe, uma só
roca de senhores. E grande, agora, é o papel que cabe áqueles que
desejam uma aproximação humana, onde não hajam dominadores nem
dominados.
Era com Pitágoras que expunha êsses pontos de vista. Ele
me ouvia, mas me interrompeu para dizer mansamente:
— Há fatos no passado da história humana que não devem
ser esquecidos. E êste instante nos impõe recordações. Num dos seus
ensáios filosóficos, Renan, com aquela sua profundidade que lhe
emprestava olímpicas manifestações geniais dizia que os serviços
prestados aos homens, por algumas nações, terminavam por esgotá-las.
Êsse fenômeno é tão repetido que é quasi uma lei histórica. Há o
exemplo de Portugal e Espanha que se esgotaram pelo progresso do
resto do mundo. Na antiguidade a Judéia, a Grécia, Roma, são outros
exemplos. A Fenícia, também posso acrescentar... E mais ainda: hoje a
França é outro exemplo. O mundo sempre gozou do progresso á custa
do sacrifício de um grupo de povos predestinados. O esfôrço do
Ocidente na civilização do Oriente gastou em parte a sua vitalidade.
Houve, muitas vezes, uma tentativa de aproximação humana. Os
obstinados de todas as horas não quizeram ouvir êsses apêlos. Mas ainda
não soou a última hora para que não reste mais uma esperança. O Japão,
agora, na Ásia, tenta alçar um movimento anti-europeu. Procura, por
todos os meios erguer a hostilidade dos povos, por uma propaganda
[39]
hábil, penetrante, insistente. A resistência indú tem fundamentos mais
profundos. A China é socavada. O heroísmo das hostes de Chang-KaiShek
encontra, é certo, grandes obstáculos para transpor. O perigo
amarelo, pode-se dizer, não existe ainda no universal que se proclamou.
Existe, sim, um perigo nipônico. Japão, insulado, tornou-se imperialista
por determinismo geográfico. O mesmo se deu com a Inglaterra, antes.
A guerra de 14 foi uma guerra de imperialistas. Mas esta é uma guerra
que se tornará a liquidadora dos imperialistas. América, por exemplo,
empresta êsse sentido continental que é um exemplo edificante.
Ela sempre admitiu a Ásia para os asiáticos, a África para
os africanos, como a América para os americanos. Não há lugar para os
imperialismos, porque eles são a guerra. E as guerras não formam mais
uma necessidade econômica da vida humana. Elas, hoje, teem um
sentido mais psicológico, porque mesmo a de 14 provou que os
vencedores acabam vencidos.
O Japão, porém, desperta tarde. Quer empregar uma
filosofia tardia aos acontecimentos da hora que passa. Êsse é um grande
perigo.
Mas, estou certo, a barbárie japonesa da China foi tão
terrível que está imunizando a Ásia de sua influência. Resta-nos, ao
menos, essa esperança. E isso, nesta hora das agitadas inquietações, tem
o efeito de um refrigério.’’

***

[40]
*Segundo Período da Vida do Mário - Em São Paulo
(Fontes: Biblioteca Nacional e Biblioteca da Unesp)

7. Ação Direta, 1947, Fevereiro. Ano I, nº 31.. (Biblioteca


Digital Unesp). Página 4.

‘’Edições Sagitário’’
‘’Sob a direção do nosso camarada Mário Ferreira Santos, iniciou as suas
atividades em São Paulo a Editora e Distribuidora Sagitário Ltda., com a
publicação portuguesa de ‘’As idéias absolutistas no Socialismo’’. Já aqui
tivemos ocasião de referir-nos desenvolvidamente a esta obra quando ela
nos apareceu, pela primeira vez, em castelhano, editada pelo grupo ‘’Tierra
y Libertad, do México’’. Não podemos, porém, dada a grande importância
que para o renascimento do pensamento anarquista no Brasil representa o
aparecimento desta obra em língua portuguesa, deixar de dedicar-lhe
algumas linhas.
Importa principalmente recordar que se trata de um livro de polêmica,
escrito num estilo brilhante e claro e no qual se tratam os problemas
fundamentais do socialismo e se estudam, com grande alteza de miras e
clara visão do futuro, o lamentável desvio e as tremendas conseqüências
que as idéias absolutistas, das quais a mais importante é, sem dúvida, o
chamado marxismo, enquistando-se no corpo do socialismo, ocasionou e
ocasionará ainda certamente por não sabemos quanto tempo ao movimento
emancipador da humanidade tão promissoramente prenunciado nos fins
do século 18.
O autor, uma das mais privilegiadas cerebrações do nosso tempo, cuja
obra mereceu os mais rasgados encômios, entre outros pensadores
eminentes, a Bertrand Rússell, a Lewis Mumford, Louis Adamic, T h o m as
Mann, Charles A. Beard, Rupert Read, é hoje um dos mais representativos
batalhadores do anarco-sindicalismo. Foi membro do conselho federal da
União Geral dos Trabalhadores Alemães, diretor do importante órgão
proletário Der Syndicalist e colaborou também no Der Freie Arbeiter.
Atualmente, desde a sua ocidentada fuga da bastilha hitlerista, que
constituiu uma verdadeira odisséia, vive, com setenta anos, nos Estados
Unidos, onde, apesar da sua avançada idade, continua lutando pelo
socialismo libertário, ou seja pela emancipação humana.
A edição em idioma português, ora aparecida, enriquece-se com novos
capítulos, um dos quais, O homem sem cabeça, publicamos neste número.
O leitor encontrará por isso nesta edição o dobro da matéria contida na
edição original, ou seja, na edição castelhana.
Quanto à editora Sagitário, não podemos deixar de felicitar-nos e felicitar
o camarada Mário Santos pelo papel que ela está destinada a representar
no renascimento das idéias anarquistas nos países de língua portuguesa,
[41]
após a fragorosa derrota do fascismo e o descrédito da social-democracia e
do seu gêmeo, o chamado comunismo stalinista. Exortamos os camaradas
a contribuírem por todos os meios para que a nova editorial possa levar a
cabo a sua generosa missão: a de iluminar a consciência das massas,
libertando-a das trevas em que a mergulhou o fascismo negro e o vermelho.

O endereço da Editora e Distribuidora Sagitário Ltda. é: Avenida São


João, 487 — Caixa Postal 500 — São Paulo.

O preço do livro é 15 cruzeiros.’’

***

8. Ação Direta, 1954, Novembro e Dezembro. Ano VI, nº 096


– Há um texto sobre a obra análise dialética do Marxismo do
Mário Ferreira dos Santos.(Biblioteca Digital Unesp).
Página 3.

‘’Nossos Livros’’

"ANÁLISE DIALÉTICA DO MARXISMO", por Mário Ferreira dos Santos.


Editora LOGOS, S. Paulo, 1953. 223 páginas, grande formato.

‘’Aos sintomas alviçareiros de ressurreição do movimento anarquista no


Brasil, representados pelo aparecimento das obras originais atrás citadas
e de outras, reedições e traduções, como as da "Conquistas do Pão" de
Kropótkin, "Amor Livre" de Charles Albert, "As Mentiras Convencionais
da Nossa Civilização" de Max Nordau, "O Anticristo" de F. Nietzsche e
outros livros clássicos da propaganda libertária, estes últimos devidos ao
esforço editorial da "Organização Simões", junta-se agora a publicação da
"Análise Dialética do Marxismo". É seu autor o nosso companheiro Prof.
Mário Ferreira dos Santos, uma das mais vastas, sólidas e brilhantes
culturas do Brasil. O autor, que conta no seu ativo nada menos de catorze
obras, em sua quase totalidade da maior erudição, tais como "Filosofia, e
Cosmovisão", "Lógica e Dialética", "Psicologia", "Técnica do Discurso
Moderno", "Curso de Integração Pessoal", etc., dá-nos agora, na sua
"Análise Dialética do Marxismo", uma brilhante, serena, profunda e
imparcial exposição da técnica, da estrutura e da cosmovisão de Marx, da
polêmica entre ele e Proudhon e Bacúnin, em que se configuram as duas
concepções revolucionárias do socialismo, a autoritária e a libertária.
Grande conhecedor dos métodos marxistas, pois foi um dos mais cultos e
ativos militantes das fileiras comunistas entre nós, Mário Ferreira dos
Santos, apesar de ter abraçado as concepções e os métodos anarquistas,
[42]
mantém, ao longo da sua Obra, notável serenidade crítica na análise
percuciente que faz das doutrinas marxistas, baseando-se nas próprias
obras de Marx e dos seguidores deste, frisando as divergências profundas
que separam estes daqueles em pontos fundamentais . É esta uma obra
honesta, do mais profundo e impessoal que conhecemos, e que, por tudo
isto, nenhum anarquista, nenhum militante operário, nenhum estudioso
de sociologia deve deixar de ler.’’

***

9. Ação Direta, Agosto e setembro de 1957, Ano 11, Nº 120. Há


um texto do Mário chamado Política e Ação Direta. (Biblioteca
Digital Unesp) Página 1, continuação na Página 4.

‘’Política e ação Direta’’

Por Mário Ferreira dos Santos

‘’A ação direta deixa que o impulso ativo do homem se manifeste com
toda a sua pureza, sem os desvios que o viciam, e levá-o à ação
verdadeiramente socialista, ao desejo ãe erguer os irmãos da passividade
para a ação, da inércia para a rebeldia. Ela é criadora, porque transforma
cada um num ser responsável de ação socialista.
Por isso a política é arma mais amada pela burguesia. A burguesia
inteligente do mundo inteiro não combate os partidos políticos operários
senão aparentemente. Ataca-os, acusando-os de revolucionários e
exigentes, para iludirem as massas, para fazê-las acreditarem que
realmente eles são revolucionários. Mas a burguesia inteligente sabe
perfeitamente que esses partidos são os melhores guardiães de seus
tesouros, porque, ao darem às massas uma ilusão de conquistas, ajudam,
também, a desmoralizar o socialismo e a apresentar aos olhos do povo o
regime capitalista como algo de imprescriptível e sólido, como algo de
eterno.
E que melhor para tal que os "parlamentos", onde se debatem todas as
idéias e se aumenta a confusão do povo? Que melhor que as campanhas
políticas, essas "adorá- veis dormideiras", esse ópio das multidões, que
lhes dão a suave e doce ilusão de que estão realizando socialismo e
construindo o seu amanhã, através de pedacinhos de papéis, postos
religiosamente nas urnas silenciosas?
A burguesia sabe que os partidos operários são o seu melhor aliado, o
aliado silencioso, o aliado indireto. Com suas agitações eleitorais, eles dão
vasão às forças do proletariado, aos desejos de rebeldia do proletariado. E'
xima forma de desviar esses impulsos, tão perigosos, para fins muito mais
[43]
interessantes aos senhores do mundo. Uma campanha política custa muito
dinheiro e muito trabalho.
Toda a carga ativa das massas, prestes a explodir, é canalizada
habilmente para a campanha eleitoral. Distribuição de manifestos,
pregação de cartazes, aliciamento de eleitores, comícios eleitorais,
trabalho, trabalho, trabalho que se gasta, esforços inauditos perdidos. Mas
se esse esforço fosse empregado para uma ação direta das massas, para a
educação socialista dos oprimidos, para ensinar-lhes os meios práticos de
luta, de organização econômica e para uma vida socialista, seriam mais
úteis. É preciso mostrar, exclamam os libertários, que o caminho do
socialismo não é um caminho de rosas, mas um caminho de lutas, de
grandes sacrifícios, de lágrimas, de dores, de ingentes esforços. Toda essa
carga ativa que se concentra nas multidões exploradas, não deve ser
aproveitada, mas desviada. Não deve ter o seu curso natural, direto, mas
indireto, desviado pelos políticos, pela luta política.
Depois, o caminho das urnas é mais fácil, menos trabalhoso. Toda a
inércia, todos os impulsos de passividade que estão dentro do homem,
predispõem a receber de boa vontade turo quanto signifique o menor
esforço. A campanha política tem essa miraculosa eficácia. Desperta a
passividade ao desviar os impulsos de ação para os meios, em vez dos fins.
O homem prefere acreditar que a luta eleitoral é mais eficiente, porque
o dispensa de uma ação mais trabalhosa.
A crítica libertária vai ainda mais longe e os argumentos poderiam
encher volumes e volumes Mas, em, síntese, os libertários
chamam a atenção para os socialistas que ainda se iludem com as luta
políticas, que se dispam de suMS couraças ideológicas e da ganga bruta de
suas mistificações doutrinárias, que esqueçam um pouco a teoria e olhem
os fatos que se desenrolam; verão sempre, em toda parte, a política servir
de arma para os dominadores, os poderosos, e que, como arma, provou
um,a eficiência muito superior das religiões. Hoje o clero é posto um pouco
de lado, porque a sua eficiência na conservação da ordem existente é
secundária, e a política é melhor usada, porque é uma arma mais segura.
E o clerotanto compreendeu isso, dizem os libertários, que, para não
desaparecer, fez-se também político, e até socialista.
Assim sintetizando:

A luta pelos meios é a ação indireta.

A luta pelos fins é a ação direta.

Os socialistas libertários pregam esta última, e a justificam. A primeira


é um desvio do verdadeiro impulso hum.ano de ação que, no oprimido,
m.anifesta-se num impulso de rebeldia.
A segunda são os impulsos realizando-se plenamente, plenamente
conscientes e criadores, com todo o seu, caráter de iniciativa. A primeira
cria massas e conserva-as como tal, isto é, como massas de
[44]
manobras, como multidões obedientes aos gestos e às palavras de ordem
dos líderes, chefes, etc. A segunda desenvolve no homem a capacidade
criadora, porque não tira das massas o espírito de iniciativa e modela
indivíduos, homens.

"Análise Dialética do Marxismo" — Editora Logos, São Paulo, 1953’’

***

10. Ação Direta, 1958, Março. Ano 12, nº 125. (Biblioteca


Digital Unesp) Página 2.
‘’ESTANTE LIBERTÁRIA’’

‘’Analise Dialética do Marxismo’’

(Por ESTHER REDES)

‘’Mário Ferreira dos Santos, autor de Filosofia e Cosmovisão, era a


pessoa indicada para fazer uma análise dialética do marxismo. Profundo
conhecedor de filosofia e dono de uma extensa cultura, ele nos dá. nesse
livro, lições de economia e de lógica.
Podemos dividir o trabalho em três partes. Na primeira, apresenta-
nos um estudo completo da História, da Técnica e da Economia de modo
a permitir uma compreensão do clima histórico em que surgiu o
marxismo. De modo brilhante, mostra, nessa análise, como se foi dando a
mecanização do homem no mosteiro, no exército e depois na fábrica, até
atingir a situação angustiosa do século XIX, no qual o quantitativo
prevaleceu sobre o qualitativo, o predomínio do espírito do lucro imediato
e desenfreado e a degeneração progressiva do trabalhador o encaminhou
para uma automatização cada vez maior. Época em que o respeito pela
dignidade humana atingiu limites extremos e a exploração era justificada
pelo postulado da sobrevivência do mais apto, do mais forte. Justamente
porque o econômico tornou-se tão importante nesta fase, Marx estruturou
sua teoria em torno deste fator.
Depois de analisado o desenvolvimento técnico e econômico, Mário
Ferreira apresenta os aspectos mais importantes da doutrina marxista,
analisando as influências que sofreu Marx de filosofias anteriores
(inclusive Proudhon) e até mesmo o cairáter de Marx é dissecado por ele
no afã de compreender como surgiu o marxismo.
Faz também uma análise demorada de todas as constradições da
teoria marxista e salienta o que nela existe de valor e a contribuição
inegável que deu Marx aos estudos sociais. Reconheçe nele, apesar de suas
falhas de caráter, uma intenção honesta, filosófica, científica e acentua que
[45]
Marx acreditava também no poder da vontade humana para forçar o ritmo
da manutenção social.
Critica o trabalho esterilizante de seus discípulos que
desumanizaram o marxismo, levando Marx ao desespero quando afirmou:
‘’Semeei dragões e colhi pulgas’’.
A segunda parte da Análise Dialética do marxismo intitula-se:
‘’Polêmica sobre o Estado entre marxistas e anarquistas’’. É um trabalho
de comparação entre a teoria marxista do Estado e o conceito para os
socialistas libertários, na qual fica relatada toda a polêmica travada entre
eles. Mário Ferreira faz questão de realçar bem o engano dos marxistas
que acreditavam no definhamento do Estado após a ditadura do
proletariado.
Num capítulo intitulado: ‘’Pode a ditadura ser uma escola da
liberdade?’’, mostra como os anarquistas previram tudo o que ia acontecer
na Rússia, desde a tomada do poder pelos bolchevistas e a centralização
crescente, até o aparecimento da ditadura. Chega depois as contradições
entre a teoria marxista e o que existe na prática e analisa as causas do erro
em que cairam os partidários da ditadura do proletariado que agora
repudiam este mesmo proletariado e não acreditam na sua capacidade de
auto-governo.
Em seguida, apresenta critica detalhada dos socialistas libertários em
13 postulados aos marxistas, acompanhados de longos comentários. Aí,
então aproveita para fazer um esboço dos princípios anárquicos e deixar
bem patentes as imensas diferenças entre anarquistas e bolchevistas,
acentuando que o socialismo implica liberdade e esta só se torna real na
prática. Faz, porém, crítica interessante aos anarquistas que estão ainda
presos ao século passado, quando o século presente oferece campo a novas
conclusões.
Finalmente, termina Mário Ferreira seu livro com uma análise da
dialética do marxismo no campo do sujeito e do objeto, como doutrina e
como prática, para concluir que o marxista, não admitindo sua superação,
nega sua própria dialética.
Como o próprio autor assinala, o livro tem como objetivo estabelecer
confronto entre a teoria marxista e os princípios anárquicos e esclarecer
que, no momento atual, diante da falência da teoria marxista, muitos
socialistas sentem a necessidade de voltar às posições do socialismo
libertário. O livro alcança sua finalidade. Contudo poderia ser melhor
apresentado. Estranhamos a falta de bibliografia que acompanha qualquer
livro de estudos e os descuidos em erros de impressão, ortografia e
concordãncia que são encontrados a cada passo. Seria necessária melhor
revisão em próxima e indispensável edição.’’

***

[46]
11. Delbar, 1965, Setembro, Ano 1, Nº 1. (Biblioteca Digital
Unesp)
(Anúncio)
"Origem dos grandes erros filosóficos"

de

Mário Ferreira dos Santos


PREÇO: CR$ 3.500
Pedidos para Livraria e Editora
LOGOS Ltda., Rua 15 de Novembro, 137 — 8.° andar —
Tel. 35-6080 — S. Paulo.

***

12. Delbar, 1965, Outubro a Novembro, Ano 1, Nº 2. (Biblioteca


Digital Unesp)

(Anúncio)
"Origem dos grandes erros filosóficos"

de

Mário Ferreira dos Santos


PREÇO: CR$ 3.500
Pedidos para Livraria e Editora
LOGOS Ltda., Rua 15 de Novembro, 137 — 8.° andar —
Tel. 35-6080 — S. Paulo.

***

[47]
13. Delbar, 1968 , Abril e Maio, Ano 2, Nºrs 14 e 15. (Biblioteca
Digital Unesp) Página 3.
‘’Triste Notícia’’

‘’Nota De Tristeza’’

(Por P. Catallo)

‘’Fomos surpreendidos com a dolorosa notícia do sepultamento na


sexta-feira dia 12 de abril, do nosso grande amigo e colega de ideais Prof.
Dr. Mário Ferreira dos Santos. A notícia deixou-nos aparvalhados, pois
custavanos aceitar que aquele homem relativamente ainda jovem e cheio
de atividades literárias, tivesse deixado de existir. Mas a dura realidade é
essa, o nosso grande professor Mário Santos, deixou um vazio muito
grande na esfera do saber.
Dominado por uma imensa modéstia que o colocava acima de
qualquer espírito de exibicionismo, Mário Santos passava quase
despercebido pela crônica literária. O seu grande número de obras de toda
espécie e de todos os setores do pensamento humano, ocupa lugar de
destaque em todas as livrarias do Brasil. O Dr. Mário Ferreira dos Santos,
que tivemos a ventura de conhecer como dono de uma livraria (que era o
elemento por ele sempre preferido) em 1946, foi, sem dú-vida nenhuma, o
homem mais culto que conhecemos em n/ que conhecemos em nossa
longa vida de militante libertário. A sua erudição não tinha limites, artes,
ciências, filosofias, sociologia, línguas e História, não tinham segredos
para aquele cérebro singularmente privilegiado. Conferencista exímio,
expositor de recursos incomensuráveis, e polemista tranquilo, seguro e
inperturbável, prendia qualquer assistência por mais culta e exigente que
fosse.
Nós que tivemos o ensejo de privar com êle por quase trinta anos e de
conhecer-lhe o manancial de sabedoria que possuía debaixo daquela
sublime modéstia que o caracterizava, podemos avaliar a grande perda que
o mundo teve com o falecimento do nosso inesquecível amigo Prof. Dr.
Mário Ferreira dos Santos.
Os libertários e o Centro de Cultura Social, associam-se à dor e o luto
de sua esposa, filhas e genros.’’

***

[48]
14. Centro de Cultura Social, 1991, n 21. (Biblioteca Digital
Unesp)
‘’Importante’’

BIBLIOTECA CIRCULANTE - Face a não devolução de livros retirados da


Biblioteca, a Comissão de Gestão decidiu, até decisão final da Assembléia
Geral, facultar a retirada de livros apenas a sócios do C.C.S., sustando esse
serviço ao público em geral. Decidiu também dar publicidade aos nomes
das pessoas que retiraram livros e não os devolveram apesar das
solicitações feitas por escrito. Por falta de espaço iniciaremos pela seguinte
lista parcial :

CONVITE A FILOSOFIA - Mário Ferreira dos Santos - 8/34. Retirado


por Eduardo C. Berger em 22/11/89.

ANARQUISMO, ROTEIRO DA LIBERTAÇÃO SOCIAL - Edgard


Leuenroth. A CONSTRUÇÃO DO PERSONAGEM - Renata Pallotini. O
NOVO ISRAEL Agustin Souchy. Retirados por Marcelo Mendes em
07/01/90.

FILOSOFIA E HISTORIA DA CULTURA - Vol I, II, III - Mário Ferreira


dos Santos. Retirados por Mara Bhen em 21/04/90.

A PEDAGOGIA DO OPRIMIDO - Paulo Freire. Retirado por Ivan


Ribeiro.

CONVITE A FILOSOFIA - Mário Ferreira dos Santos - 10/44. Retirado


por Sônia M. Magalhães em novembro de 89.

***

[49]
15. Revista Portuguesa de Filosofia – 1969
- Janeiro/Março - Há um texto do Pe. Stanilavs Ladusãns
sobre o Mário Ferreira dos Santos, muito bom mesmo.
‘’NOTAS’’

‘’MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS’’

‘’É um filósofo brasileiro, de intensa atividade de pensamentoe de


uma extraordinaria produção literaria. Nasceu no dia 3 de Janeirode 1907
na cidade de Tiete, Estado de Sao Paulo, Brasil. Faleceu no dia 11 de Abril
de 1968,em Sao Paulo.
Não é um filósofo negativista. Rejeita as atitudes pessimistas da
Filosofia Moderna e Contemporanea, como o cepticismo, niilismo, bem
como o abstracionismo vazio e, outras modalidades do subjectivismo
afastado da realidade.
É um filósofo concreto, positivo, apoditico, cristão. Concreto, porque parte
da realidade concreta, eleva-se aos principios filosóficos reais e desce
depois sobre esta mesma realidade, para fazer entende-la melhor nas suas
raizes profundas. E positivo, porque é construtivo e nao puramente critico-
polemico. Conhece muito bem os filósofos antigos, medievais, modernos e
contemporâneos. Reune os elementos de valor, com o racional critério
objectivo, que encontra nas obras de filósofos, quaisquer que eles sejam. É
um filósofo apoditico, pois considerando a Filosofia como uma ciência
rigorosa, racional, aceita só o que é demonstrado e não o possível e
problematico. Utiliza as mais recentes descobertas em relação à Pitagoras,
feitas principalmente pela «Associação Internacional de Pitagóricos», sob
a direção do Dr. Sakellariou, da Universidade de Atenas. Harmoniza o seu
pensamento filosófico com a Revelação Cristã, querendo construir uma
ponte entre a Metafisica e a Religiao revelada, para dar um novo método
apto para instruir e formar as mentes de hoje. Oferece um sistema
sapiencial. Embora manifeste alguns defeitos de autodidatismo no campo
filosófico (é só doutor em Direito), é um filósofo cristão de valor. Durante
toda a sua vida dedicouse a Filosofia e deu algumas contribuições válidas
para o progresso da Filosofia.
Fundou duas editoras filosóficas: ‘’Matese’’ e ‘’Logos’’. Escreveu muito
no campo filosófico e no campo de questões conexas com a Filosofia.

Obras Publicadas:

1) Filosofia e Cosmovisao (6 edições);


2) Lógica e Dialética (5 ed.);
3) Psicologia (5 ed.);
4) Teoria do Conhecimento(5 ed.);
5) Ontologia e Cosmologia (5 ed.);
[50]
6) Tratado de Simbólica (5 ed.);
7) Filosofia da Crise, (5 ed.);
8) O Homem perante o Infinito, (5 ed.);
9) Noologia Geral (4 ed.);
10) Filosofia Concreta (em 3 vol.,obra principal,3 ed.);
11) Filosofia Concreta dos Valores (3 ed.);
12) Sociologia Fundamental e Ética Fundamental (3 ed.);
13) PitÁgoras e o Tema do Numero (2 ed.);
14) Aristóteles e as Mutações( 3 ed.);
15) O Um e o Multiplo em Platão (3 ed.);
16) Métodos Lógicos e Dialéticos (5 ed.);
17) Filosofias da Afirmação e da Negação;
18) Tratado de Economia (2 ed.);
19) Filosofia e História da Cultura (2 ed.);
20) Analise de Temas Sociais (2 ed.);
21) O Problema Social (2 ed.);
22) Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais, em 4 vols. (4 ed.);
23) Dicionário de Pedagogia e Puericultura;
24) Origem dos Grandes Erros Filosóficos;
25) «Protagoras»,de Platao, com notas e comentarios;
26) «Isagoge», de Porfirio,com notas e comentarios,
27) «Das Categorias»,de Aristóteles, com notas e comentarios;
28) Grandezas e Misérias da Linguistica;
29) Invasão Vertical dos Bárbaros;
30) Erros na Filosofia da Natureza;
31) Brasil, pais sem esperança;
32) Brasil, pais de exceção;
33) A Sabedoria dos Principios;
34) A Sabedoria da Unidade;
35) A Sabedoria do Ser e do Nada, em 2 vols.;
36) «O Homem que foi um Campo de Batalha» - Prólogo de «Vontade de
Potência», de Nietzsche (2 ed., esgotado);
37) Curso de Oratória e Retórica (12 ed.);
38) «O Homem que Nasceu Póstumo- Temas Nietzscheanos» (3 ed.);
39) «Assim Falava Zaratustra»- Texto de Nietzsche, com análise (3 ed.,
esgotado);
40) Técnica do Discurso Moderno (5 ed.);
41) Se a esfinge falasse... com o pseudônimo de Dan Andersen (esg.);
42) Realidade do Homem- com o mesmo pseudônimo (esg.);
43) Analise Dialética do Marxismo (esg.);
44) Curso de Integração Pessoal (6 ed.);
45) Práticas de Oratória (5 ed#);
46) Assim Deus falou aos Homens (2 ed., esg.);
47) Vida nao é Argumento(2 ed., esg.);
48) A Casa das Paredes Geladas (2 ed.,esg.);
49) Escutai em Silêncio (2 ed.,esg.);
[51]
50) A verdade e o Símbolo (2 ed., esg.);
51) A Arte e a Vida (2 ed., esg.),
52) A Luta dos Contrários (2 ed.,esg.);
53) Certas Subtilezas Humanas (2 ed.,esg.);
54) Convite a Estetica (5 ed.);
55) Convite a Psicologia Prática (5 ed.);
56) Convite a Filosofia (5 ed.);
57) Páginas Várias (12 ed#);
58) «Além do Bem e do Mal», de Nietzsche, trad, (esg.);
59) «Aurora», de Nietzsche, trad, (esg.);
60) «Diário Intimo», de Amiel, trad, (esg.);
61) «Saudação ao Mundo», de Walt Whitman (esg.)

Obras póstumas, em publicação:

62) Deus;
63) Os atributos de Deus;
64) As Três Criticas de Kant;
65) Tratado de Esquematologia, 2 vols.;
66) Problemática da Filosofia Concreta;
67) Teoria Geral das Tensões;
68) Filosofia e Romantismo;
69) Dialética Concreta;
70) Interpretação do Apocalipse de São João;
71) Tao-Tsé-King, de Lao-Tsé (comentado);
72) Versos Áureos de PitÁgoras (comentados), em 2 vols.;
73) PÁginas Sublimes de São Boaventura (comentadas);
74) O «De Primo Principio»,de Escoto (comentado);
75) «Da Interpretação»,de Aristóteles (comentado);
76) As «Enêadas», de Plotino (comentadas) em 6 vols.;
77) Opúsculos Famosos de Tomás de Aquino (comentados) e ainda
outras obras.

Lisboa, 8 de Janeirode 1969.


(P. Stanislavs Ladusans, S. J.)

***

[52]
16. A CASA RJ – Edição de 1947 – Jornal publicado entre
1923 até 1952. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

‘’DIÁRIO ÍNTIMO — Henri-Frédéric Amiel — tradução de Mário D.


Ferreira dos Santos — “Biblioteca dos Séculos” — Livraria do Globo, Pórto
Alegre, conduz-nos numa viagem maravilhosa, ao país de uma alma, à
região misteriosa de uma personalidade das maiores do seu tempo —
Amiel, Um tímido, um inibido. Incapaz de criticar qualquer obra alheia.
Poeta que não sabia encontrar sua forma de expressão quando se servia
dos meios comuns aos que fazem versos. Homem incompleto, que até os
vinte e oito anos, como ele próprio afirma, “não entregara sua força a
mulher alguma”. No seu diário, longe das inibições costumeiras, a sós
consigo, no segredo de seu quarto, ele se desnudava diante de si mesmo.
E se interrogava desesperadamente. Suas dúvidas, suas agonias, seus
descaminhos, suas procuras desencontradas, e sobretudo seu doloroso
orgulho de solitário, tudo nos é desvendado nas páginas, tantas vêzes
pungentes de seu DIÁRIO. Longa e minuciosa introdução de Bernard
Bouvier nos auxiliará a penetrar nos meandros desta alma, tão complexa
e tão sensível. Bela apresentação da Globo, na sua já famosa “Biblioteca
dos Séculos”.

***

17. Letras da Província: Publicação Mensal das Casas de


Cultura de Limeira e Jaú, oficializadas pela Associação
Brasileira de Escritores de São Paulo (SP) Edição de 1982.
Jornal publicado entre 1952 até 1985. (Biblioteca Digital
da Biblioteca Nacional)

‘’Valorizar e Valor’’

(Por Walter Silveira da Mota)

‘’O verbo valorar, neologismo já integrado na terminologia filosófica,


ainda não é, em geral, registrado pelos dicionários comuns. Quando
registram como no caso do «Grande Dicionário Etimológico-Prosódico da
Língua Portuguesa », de Silveira Bueno, dão como sinônimo de valorizar,
o que é errado. Nem sempre o dicionarista linguístico tem formação
filosófica, razão porque, muitas vezes, maltrata termos específicos de
Filosofia. É o que aconteceu com o verbo valorar, que tem sentido
ditorente de valorizar.
Enquanto valorizar significa ato de dar valor a alguma coisa, aumentar
[53]
o valor de alguma coisa, valorar significa ato de captar um valor, de emitir
juízos de valor. A diferença é muito grande.
Pelo fato de existir o verbo valorar, com seu sentido filosófico próprio,
é que, antes da última reforma ortográfica, era preciso grafar valor, no
plural, com o acento circunfiexo (valôres), para distinguir da forma verbal
valores, segunda pessoa singular do subjuntivo presente.
Como se vê pelo caso acima tratado, constitui uma necessidade cultural
imprescindível o constante manuseio de dicionários e vocabulários
especializados. Os dicionários comuns não resolvem essas dificuldades.
Quem por exemplo, estuda Filosofia não pode prescindir do Lalande (1),
Ferrater Mora (2), ou o nacional Ferreira dos Santos (3). Com referência
às ciências sociais se dá a mesma coisa. Sem um bom dicionário de
Sociologia e Etnologia não é possível estudo eficiente. Para o professor, um
vocabulário de termos psicopedagógicos é indispensável. O estudo da
nossa língua não poderia fugir a esta regra, motivo pelo qual dispomos
hoje de apreciável número de dicionários especializados, além da
«Nomenclatura Brasileira», imprescindível instrumento de trabalho
escolar para o estudante brasileiro.
(1) André Lolande, «Vocabulsiro Technique et Critique de la Philo-
sophie», 2 volumes ;
(2) José Ferrater Mora, «Dicionario de Filosotia» (em espanhol), 5.a
edição, Editorial Atlante S. A., 2 grandes volumes ;
(3) Mário Ferreira dos Santos, «Dicionário de Filosofia e Ciências
Culturais», 4 volumes.’’

***

18. A Cruz - Órgão da Paroquia de S. João Baptista (RJ)


Edição de 1954. - Jornal publicado entre 1919 até 1923.
(Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

‘’A Crise e o Esquema do Governador de Minas’’


‘’Em seu famoso livro ‘’O Apogeu do Capitalismo’’, Sombart transcreve
e endossa esta passagem de H. Lugardelle:
‘’O socialismo e o sindicalismo são, neste momento em que falo, os
agentes essênciais da civilização no mundo. Impelem o capitalismo aos
caminhos do mais alto aperfeiçoamento possível. Quanto mais
pressionantes são as exigencias da classe obreira, mais audaciosas devem
ser as injustiças, e mais se acelera e intensifica o desenvolvimento técnico.
As conquistas do proletariado não permitem uma industria rotineira,
enraizada por velhos métodos, sem iniciativa nem audácia.
Feliz do capitalismo que encontra ante si um proletariado combativo e
exigente”.
[54]
Tal conceito é verdadeiro quando se refere às grandes potências. Na
Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, comenta a propósito Mário
Ferreira dos Santos, as ameaças de greve com finalidade de aumento de
salário, levaram os capitalistas a melhorar a técnica da produção, afim de
poder colocar no mercado mais produtos sem aumento de preço. Em
outros países, porém, como o nosso, os capitalistas para fazer face aos
aumentos de salários, recorrem ao aumento de preço da produção.
Em consequência, estamos desde 1945 num circulo vicioso —
majoram- se os solários porque cresce o custo da vida; aumenta-se o preço
das utilidades, porque subiram os salários mínimos.
Está visto que a politica dos aumentos é inútil, dela não advem solução
alguma, para os problemas que afligem o povo.
Verificando esta realidade é que começam, inquietos, a se agitar os
responsáveis pela tranquilidade pública o Chefe do Governo e todos os
governadores estaduais. Não há negar grande tarefa se reserva, neste pais
essencialmente agricola, ao titular da agricultura. Mas que adianta
agricultura sem boas estradas - ninguém transporta generos em avião à
jato.Está certo pois, o governador Juscelino Kubitschek, cortando de boas
estradas de norte a sul o grande estado da Minas, onde milhares de
operários trabalham dia e noite, sob à direção de engenheiros capazes.
Todas as nossos dificuldades, todos os nossos problemas só poderão
ser resolvidos com mais estradas e energia elétrica. E é por esta razão que
todos os brasileiros, que amam a sua pátria acima de tudo devem apoiar o
jovem governador de Minas. O programa dele está certo, e certo estaremos
nós em apoia-lo.’’

***

19. A Cruz - Órgão da Paróquia de S. João Baptista (RJ) –


Edição de 1954 - Jornal publicado entre 1919 até 1923
(Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

''Arma-se a Solução do Problema Alimentar''

‘’Em seu famoso livro ‘’O Apogeu do Capitalismo’’, Sombart transcreve


e endossa esta passagem de H. Lugardelle:
‘’O socialismo e o sindicalismo são, neste momento em que falo, os
agentes essênciais da civilização no mundo. Impelem o capitalismo aos
caminhos do mais alto aperfeiçoamento possível. Quanto mais
pressionantes são as exigencias da classe obreira, mais audaciosas devem
ser as injustiças, e mais se acelera e intensifica o desenvolvimento técnico.
As conquistas do proletariado não permitem uma industria rotineira,
enraizada por velhos métodos, sem iniciativa nem audácia. Feliz do
capitalismo que encontra ante si um proletariado combativo e exigente”.
[55]
Tal conceito é verdadeiro quando se refere às grandes potências. Na
Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, comenta a propósito Mário
Ferreira dos Santos - as ameaças de greve com finalidade de aumento de
salário, levaram os capitalistas a melhorar a técnica da produção, afim de
poder colocar no mercado mais produtos sem aumento de preço. Em
outros países, porém, como o nosso, os capitalistas para fazer face aos
aumentos de salários, recorrem ao aumento de preço da produção.
Em consequência, estamos desde 1945 num circulo vicioso —
majoram-se os solários porque cresce o custo da vida; aumenta-se o preço
das utilidades, porque subiram os salários mínimos.
Está visto que a politica dos aumentos é inútil, dela não advem solução
alguma, para os problemas que afligem o povo.
Verificando esta realidade é que começam, inquietos, a se agitar os
responsáveis pela tranquilidade pública o Chefe do Governo com os srs.
secretários de Estado.
Não há negar grande tarefa se reserva, neste pais essencialmente
agricola, ao titular da agricultura. O Sr. João Cleofas tem revelado
qualidades excepcionais. Dinâmico, corajoso, tem empreendido e levado a
efeito grande realizações. Agora traz ao Brasil, os membros da O Sr. João
Cleofas tem revelado qualidades excepcionais. Dinâmico, corajoso, tem
empreendido e levado a efeito grande realizações. Agora traz ao Brasil, os
membros da Missão Klein & Saks, especialistas em indústria de
alimentação a fim de procederem aqui a uma série de estudos para solução
do nosso problema alimentar.
Esses técnicos americanos, em companhia dos srs. Augusto Frederico
Schmidt, Valentim Bouças e da Sub-Comissão de Planejamento da
Indústria de Alimentação foram recebidos quarta-feira, pelo Senhor João
Cleófas.
Falando na ocasião o títular da pasta da Agricultur, reportou-se as
imensas difuculdades da agricultura brasileira, que entrou em fase
recuperativa. Abordou o cultivo dos principais produtos alimentícios da
população brasileira, como o milho, feijão, arroz, mandioca, cana de
açucar, bem como os destinados à exportação. Referiu-se, a seguir, ao
lento desenvolvimento agricola em relação do industrial, não obstante o
valor da produção rural ser de 80% do total da riqueza do país. Também a
mecanização agricola, que encontrou agora sua verdadeira importância
em nosso país, foi objeto de apreciação do sr. João Cleofas, bem como os
fertilizantes. Disse ainda que o Ministério da Agricultura já dispunha de
estudos para a industrialização dos produtos da pecuária nacional, os
quais estavam à disposição da Missão.
Finalmente, o ministro João Cleofas salientou a importância da
industrialização dos produtos básicos da alimentação e que a Missão Klein
& Saks teria todo o apoio do Ministério da Agricultura, tendo designado o
sr. Newton Beleza, assistente-técnico, para servir como elemento de
ligação entre a Missão e o Ministério.
Além dos srs. Augusto Frederico Schmidt e Valentim Bouças,
[56]
estiveram no gabinete do ministro da Agricultura os srs. Julien M. Saks,
George Howard, John Guernsey, Juliem S. Ducam, Gustav W. Klump e
Robert S. Schull.''

***

20. BRASIL REVISTA (RJ) – Edição de 1947 - Jornal


publicado entre 1933 até 1960. (Biblioteca Digital da
Biblioteca Nacional)

‘’Informações Úteis’’

‘’Nietzsche — Prefaciando o livro “Vontade de Potência”, de Friedrich


Nietzsche, Ferreira dos Santos apresenta-nos um retrato espiritual do
filósofo germânico, bem da infância e da adolescência que haviam de
exercer influência preponderante no caráter de Nietzsche. Perdendo o pai,
pastor luterano, aos poucos meses de idade, o pequeno Frederico-
Guilherme cresce num ambiente que favorece o seu temperamento
retraido, místico. “Durante a juventude — diz Mário F. Santos — deseja
seguir a carreira de seus avós. É um menino piedoso, inclinado à
meditação e uma falta qualquer lhe é suficiente para longas penitências e
para entregar-se ao insulamento. Lê a Biblia aos companheiros de colégio
e longos são os sermões que lhes faz, alguns tão impressionantes, que lhe
valem à alcunha de “o pequeno pastor”. Toda a sua juventude está cheia
de atos de disciplina moral que permitem compreender, depois, o
ascetismo da maturidade, repleto de um misticismo quase pascaliano”. E
adiante, observa: ‘’A obra de Nietzsche é tumultuaria e multiforme. Deve
ser lida como ele aconselhava: lenta e ruminadamente. Os sistemáticos
acusam-na de contradições... O que se nota em Nietzsche são graus mais
elevados ou mais baixos das afirmações. Tem momentos de afirmativas
pletóricas. Noutros, é sereno como um lago. No impeto de suas
exclamações mais suaves, mais enérgicas ou mais brandas, nesse jogo de
tons musicais, de tonalidades que sobem ou descem, é que pairam em
grande parte as chamadas contradições... Repetiremos muitas vezes que
para se entender Nietzsche, forçoso é, primeiramente, “sentir-se”
Nietzsche. Devemos analisar sua obra, não no formalismo de uma lógica
que ele combateu, mas no impreciso, no tenue da lógica que ele desvenda,
varia, matizada como a vida”.

***

[57]
21. A TARDE (PR) – Edição de 1956 - Jornal publicado
entre 1930 até 1960. (Biblioteca Digital da Biblioteca
Nacional)

‘’O Mundo (também) é Curioso’’

‘’A Religião’’, por Dilmar Reis de Caireyt Souza!

“Templos ou igrejas, pagodes ou mesquitas, em todos os tempos e em


todos os paises, testemunharam em seu esplendor e grandeza a
necessidade metafísica que mui de perto acopanha o homem na sua vida
material”... palavras de Mário Ferreira dos Santos, que em seu pequeno
conteúdo universaliza a religião distendendo-a à pereferia da humana
natureza demonstrando a importância da filosofia teológica na própria
evolução dos povos.
Desde os pródromos civilizadores de mundo, o homem deu vazão a
reserva de misticismo espiritual que se encontra no seu amago psicológico
e exteriorizou esta tendência no culto e adoração de tudo que lhe pareceu
poderoso ou sobrenatural; o interessante de notar, é que, a teologia, sendo
a dissedência mais pueril e inalicerciada da filosofia, é a que encontra
maiores facilidades de disseminação: serianos desastroso tentar
convencer 0 “sioux” ou o “dokota” que os seus “totens” não passam de
pedaços de madeira esculpida, como também o seria negar a existência ou
divindade de “tupam” para o aborigene brasileiro, de Cristo, Allah e
Bramma, para, respectivamente o cristão, o maometano e 0 budista.
A diversidade nacionalista com que a religião se nos apresenta é a mais
distinta, oferecendo enormes paradoxos e contrastes; comparemo-las
todavia... o esotérico culto tibetano e o sacremental religionismo católico,
os alegres e policrômicos ritos das ilhas do Pacífico Sul e as crenças
lúgrubres e bárbaras das tribus africanas... etc. que apesar dos
desencontros nas formalidades de execução, visam, todas elas o mesmo
ponto, pois tratam, na cosmopolitade teológica e ideológica do mundo da
existência de um ser supremo, da necessidade espiritual e da origem e
objetivo do homem na face da terra; “origem” não com sentido de
transformação espermática em ser vivente, mas própriamente dita
metafísica; “objetivo” não o de aniquilamento da matéria pela morte, mas
o que sobrevem à este fato.
O atestado eloquente que a cronologia histórica nos apresenta é
inconfundivel; nunca um povo desafiou a religião relegando-a ao
abandono, sem que viesse sofrer terríveis consequências. Os exemplos dos
ditadores, que ruiram fragorosamente nos períodos bélicos e inter-bélicos
das décadas passadas frisou mais uma vez quão necessária se faz a
religião.’’
[58]
22. A TRIBUNA (SP) – Edição de 1963 - Jornal publicado
entre 1960 até 1969.(Biblioteca Digital da Biblioteca
Nacional)
‘‘Conferência Sobre Filosofia’’

(Imagem presente no Jornal)

‘’A convite do Instituto Santista de Filosofia anexo à Faculdade de


Filosofia, esteve terça feira, em Santos, onde veio realizar uma conferência,
o Prof. Mario Ferreira dos Santos, uma das mais notáveis expressões da
Filosofia no Brasil e autor de mais de quarenta obras sobre essa disciplina.
Profundo conhecedor da Filosofia (antiga e moderna), dedicando especial
atenção nos autores dos textos fundamentais da Filosofia Escolástica, o
Prof. Mario F. dos Santos discorreu sobre o assunto de seu próximo livro
a ser lançado em breve: Integração e desintegração da Filosofia.
Estudou o nascimento, o apogeu, a decadência dos grandes ciclos
culturais, apontando, no próprio seio desses movimentos, os elementos
desintegradores e negativos. Em sua opinião encontramo-nos numa fase
de decadência filosófica, onde, a par dos grandes progressos técnicos e
cientifico-experimentais, observa-se o desaparecimento das grandes
mentes especulativas que marcaram as diversas fases da História. O ciclo
atual, a que se poderia chamar ocidental-cristão, tende a ser superado pelo
próprio cristianismo, como fator integrador, à luz de seu aspecto
ecumênico que transcende às diversas culturas e as supera, oferecendo,
sempre, elementos eternos de uma nova síntese superior. No final de sua
palestra foram abertos os debates, deles participando vários professores
de Filosofia, entre os presentes encontravam-se D. Idílio José Soares,
bispo diocesano e presidente da Sociedade Mantenedora “Visconde de São
[59]
Leopoldo ”, e afeiçoados da Filosofia. A seguir, o conferencista visitou o
Instituto Santista de Filosofia, ocasião em que autografou livros de sua
autoria. —
--Um aspecto da assistência, o Prof. Mário Ferreira dos Santos quando
pronunciava sua conferência.’’

***

23. Diário de Natal RN – Edição de 1953 - Jornal publicado


entre 1948 até 1969 (Biblioteca Digital da Biblioteca
Nacional)

‘’Filosofia e Cosmovisão’’

(Por Luiz Washington)

‘’O Sr. Múrio Ferreira dos Santos é um conhecido publicista


especializado em assuntos de filosofia, em geral, e de filosofia politica em
particular, articulando o legado de Nietzsche com o utopismo anárquico.
Quando ainda se assinava Mário D. Ferreira Santos, traduziu à Vontade de
potência, precedendo-a de uma longa introdução. O homem que foi um
campo de batalha. E agora nos promete outros temas nietzscheanos
encimados pelo titulo. O homem que nasceu póstumo. Com o pseudonimo
de Dan Anderson publicou duas “mensagens” de indole anarquista... ‘’Se a
esfinge falasse’’... e ‘’A realidade do homem’’. Presentemente está
trabalhando e publicando um amplo panorama filosófico, iniciado por
‘’Filosofia e Comovição’’ que será complementado por ‘’Lógica e Dialéctica
Geral’’, ‘’Psicologia Geral’’, ‘’Psicogênese e Noogênese’’, ‘’Metafisica Geral’’,
‘’Tratado de Simbólica’’, ‘’Tratado de Estética’’ e ‘’Teoria Geral das
Tensões’’. Se o volume introdutório pode ser tido como uma “constante”
de todo curso, então estaremos diante de uma série de manuais
elementares onde avulta elemento ‘’compilação’’. Nem por isso, contudo,
deixa de ter sua significação, pois a filosofia no Brasil deve começar mesmo
pelo começo e quando o compêndio se revestir de qualidades excelentes —
como é o caso de ‘’Filosofia e Cosmovisão’’, autentico manual elementar
tão obstante a retórica enfática de seu título — estamos no bom caminho.
O primeiro volume do curso que está publicando o sr. Mário Ferreira
dos Santos está dividido em duas partes: uma “introdução à filosofia
geral”, em que trata, especialmente, de questões gnoseológicas, e uma
‘’cosmovisão’’, onde volta à tratar de problemas do conhecimento. Seu
método é fenomenologico e por isso se utiliza da bibliografia, dos
divulgadores que seguem Husserl, de maneira especial Bessen ,e menos
acentuadamente, Pfaender. Abarcando amplos setores dos saberes
filosóficos, uma recensão minudente nos obrigaria a rever toda a
[60]
gnoseologia, se não a partir de Kant, pelo menos desde os neo-kantianos e
Husserl e sua escola. Desta forma, iremos nos demorar apenas num
problema que o sr. Mário Ferreira dos Santos discute à maneira de
“aperçus”, isto é o que poderiamos chamar o “caráter” da filosofia oriental.
De acordo com o autor de Filosofia e Cosmovisão, a filosofia ocidental
é especificamente especulativa, marcadamente autotélica, desinteressada,
sem um fim fora de si mesma. É isto graças a condições socio-históricas e
ecológicas peculiares à Grécia. Já o Oriente é místico: “o misticismo que
nos mostra toda a cultura egípcia, como as culturas orientais é mais
intenso e penetra até na filosofia”. “Mas, se a filosofia ocidental nos mostra
tanta objetividade, tende tanto para o objeto, também vemos filósofos
objetivos entre os orientais, — Permanece, assim, apenas uma distinção:
entre a filosofia oriental e a ocidental há apenas graus de intensidade
diferentes, embora ambos sejam, enquanto filosófos, Iguais”. O sr. Mário
Ferrciia dos Santos conclui sua discussão afirmando “que é muito mais
ampla do que se pensa a contribuicão oriental ao pensamento grego” (pp.
21/24).
Evidentemente, pelo próprio sentido “compendioso” de seu trabalho,
o sr. Mário Ferreira dos Santos não poderia aprofundar a discussão. E
talvez por isso peca por extrema parcimônia, deixando de sustentar a tese
da influência do pensamento oriental no ocidental como exigia a questão,
que é controvertida e vem sendo agitada desde o aparecimento da primeira
edição da monumental História de Zeller. Tambem é sumária e pouco
convincente a equiparação do pensamento oriental e ocidental, que se
distinguem, a seu ver, apenas no grau e não na essência. Segundo o nosso
ponto de vista, que não é peregrino, pois nos baseamos em ampla
bibliografia, não só é discutivel a possível influência do pensamento
oriental na filosofia grega, como – e principalmente – teria sido impossível
essa influência pelo fato de jamais ter havido filosofia, na acepção
ocidental, no oriente, próximo ou remoto. Quem sabe tivesse havido
alguma influência religiosa, mas tudo não passa de conjecturas. A própria
figura de Pitágoras, que teria ido haurir sua concepção de transmigração
das almas no delta egípcio não passa de uma figura lendária. Portanto, se
a filosofia nasceu na Grécia – e só na Grécia, ou mais precisamente no
mundo helênico – qual seria a explicação para esse estranho privilégio?
Esta pergunta se reveste de especial significação especulativa, pois deve
haver alguma razão a ensejar o pleno pensamento filosófico na Hélade e
não noutra parte qualquer do mundo antigo. Com efeito, por que não
nasceu a filosofia no Egito, região em que apareceu a trigonometria? Por
que não nasceu no seio do povo israelita, tão bem tratado para as coisas de
religião e berço do cristianismo? Por que os persas, astronomos notáveis
não foram também notáveis filósofos? Por que os os hindús, criadores da
aritmética, não criaram também a filosofia? Finalmente, porque coube aos
gregos iniciar, no mundo, a filosofia, como até hoje é ela entendida?
A explicação do porque nasceu a filosofia na Hélade parece ter uma
só explicação: porque o povo helenico foi o único, na Antiguidade, que
[61]
distinguiu, no plano do pensamento, filosofia e religião e que a ciência
devia ser tarefa de pensadores e não de sacerdotes. Por exemplo, enquanto
a visão do mundo dos judeus do Velho Testamento estava voltada para os
problemas religiosos, os gregos preferiam as disciplinas intelectuais. Por
isso todo o pensamento orientaL é Teosófico antes que filósofico, dirigido
para a pesquisa do Sumo Bem mais que para a indagação de uma Causa
racional. Isto porque os problemas que mais interessavam aos povos
orientais não pertenciam ao mundo dos conceitos intelectuais, mas ao
mundo da vontade; não olhavam os objetos que estavam pela frente, mais
o Sujeito da nossa inferioridade, espiritual. Precisamente o contrário
fizeram os gregos. Partindo do mundo objetivo, acabaram por concluir
numa concepção naturalistica, pois o mundo dos objetos aparecia como
existente em si, enquanto que, partindo do Sujeito, o pensador seria
envolvido imediatamente por uma concepção espiritual, já que não se
pode admitir que os nossos fins existam em si, fora de nós. Daí ser o Deus
da Biblia essencialmente criador, e a idéia da criação ser uma das notas
que mais distinguem o espiritualismo do naturalismo. Isto é: uma criação
que não se utilizasse de materia já existente e que não tivesse um modelo
por copiar, aos gregos pareceria um conceito absurdo. Isto explica por que
o cristianismo — religião oriental “adaptada” ao Ocidente — constitui uma
filosofia que parte do nada, diferentemente do filosofar que parte do ser,
caracteristica do pensamento grego, como assinalou Xavier Zubiri. E por
isso o próprio Platão considerava não só a materia, mas tambem as idéias,
como coeternas a Deus. E o seu demiurgo, o deus plasmador, limitava-se
imprimir na matéria as formas representadas pelos modelos ideais. Ou
seja: a formação ou plasmação do mundo pelo demiurgo era apenas uma
ordenação das existencias, de acordo com as combinações das idéias pré-
existentes desde sempre.
Portanto, não há a menor duvida de que o pensamento helênico está
em oposição completamente antagonica ao dos orientais, de modo especial
quando confrontamos as sentenças dos primeiros pré-socráticos com os
redatores biblicos. Para os gregos o “principio” e a razão de ser de todas as
coisas ou é a água, ou é o ar ou coisa parecida; para os hebreus o Principio
pode ser a Vontade Divina. A explicação deste antagonismo entre o
pensamento grego e o pensamento oriental está no fato de a religião grega
pertencer, por seus caracteres gerais, à classe das chamadas religiões
naturalisticas, na qual não havia nenhuma hierarquia ou dogmática
inviolável. Realmente, as funções do culto não eram encaradas como
propriedade exclusiva de uma casta: os sacerdotes não eram os únicos
mediadores entre os homens e a divindade, pois cada indivíduo e cada
comunidade tinha o direito de oferecer sacrificios e preces, como se pode
ver em Homero, onde reis e comandante de exercito, rezam por seus
subordinados, sem intervencão de sacerdotes. Não obstante a importância
dos oráculos, no conjunto o sacerdote conferia incomparavelmente mais
honraria que podera uma dignidade politica, na qual se tinha em contas
mais a consideração e as prerrogativas exteriores do que as particulares
[62]
atitudes espirituais. Ora, onde não há hierarquia de casta,
antecipadamente se torna impossível uma dogmática como regra geral da
fé, inexistindo, assim, qualquer órgão para a formação e para a tutela dessa
dogmática. De resto, essa dogmática teria sido por si mesma uma
contradição com a essência da religião grega que, como se sabe, não
apareceu e proliferou de um único centro fechado, mas promanou de
diversas populações, comunidades e estirpes, em diversos ambientes e sob
influências exteriores das mais variadas. Disto resultou ser a religião grega
a síntese de uma desordenada variedade de mitos e de usos locais. E desta
síntese partiu a fé comum dos gregos gradualmente, não por intermédio
de uma sistemática teológica, mas por meio de um livre consenso, do qual
foi principal mediador (ao lado das relações pessoais e das cerimonias
religiosas das festas nacionais) a arte e, sobretudo, a poesia.
Isto explica também porque na Grécia não teve ambiente para surgir uma
doutrina universalmente reconhecida, mas tão apenas uma mitologia,
inexistindo por outro lado o conceito de ortodoxia. Na Hélade de ninguém
se exigia a veneração dos deuses da Polis. É verdade que alguns foram
acusados de refutar a religião ou de conspirar para a ruína dos deuses
tradicionais, tendo sido a filosofia, nesse sentido, a mais duramente
golpeada. No conjunto, porém, a relação do indivíduo com a fé da
comunidade foi incomparavelmente mais livre do que em outros povos,
possuidores de doutrinas religiosas, representadas e emuladas por um
poderoso sacerdote. Aliás, o rigor contra as novidades religiosas entre os
gregos se referia não diretamente as doutrinas, mas o culto. É só quando
uma doutrina parecia catocar em risco o culto religioso público e que era
atingido por este rigor. Portanto, a lei contra os delitos religiosos referia
essencialmente ao culto objetivo expresso de defende-lo de profanações,
de perturbações das funções sacras, da violação do segredo dos mistérios,
da omissão de culto religioso necessário no bem do Estado. Em geral, o
rigor era dirigido contra determinadas ações e omissões. Longe porém dos
gregos a idéia de excomunhão, terrível ameação que pairou sobre o
pensamento dos filósofos medievais. Quanto às perseguições religiosas do
século V, elas se explicavam pelo fato de o Estado ter absorvido o espírito
dogmático dos mistérios, introduzido, na religião profana. Fato
caracteristico é que a perseguição vinha da autoridade civil, não do
sacerdote, daí o anátema de ''impiedade'' Individual em Anaxágoras,
Protágoras, Pródico, Diagora, Alcebiades, Sócrates, enquanto que, diante
de correntes coletivas aberrantes, notava-se um esforço de asssimilação,
como nos casos dos mistérios, supertições mágicas, fato que justifica por
que jamais expressem um ''cima'' coletivo.
Enfim, a diferença dos pensamentos orientais e ocidentais não é apenas
de grau como quer o sr. Mário Ferreira dos Santos, mas de essência. Todo
o esforço de pensamento grego foi no sentido de se libertar da obsessão
mágica, próprio dos povos orientais. Porque o ideal da mentalidade
mágica, que considera o conhecer como prova de evidência ou como
revelação é um Texto Sagrado, no qual está depositado, uma vez para
[63]
sempre, a verdade toda, garantida pela própria autoridade divina. O
inverso ocorria com os gregos, que são o único povo da Antiguidade sem
um Texto Sagrado comparavel ao dos povos orientais, do Upanisehads,
dos Indús, o Livro dos Mortos dos egípcios, o ghata zoroastriano dos
persas, a bíblia dos judeus; os gregos, ao contrário, possuiam diálogos
filosóficos ou versos homéricos... E por isso tudo não podemos concordar
com o sr. Mário Ferreira dos Santos ao afirmar a ''ampla'' contribuição
oriental no pensamento grego.’’

***
Resposta:

O Mário Ferreira dos Santos respondeu e refutou esse


texto do Luiz Whashington no prefácio do seu livro
‘’Teoria do Conhecimento’’, em 1954.

Prefácio - ‘’Filosofia e Crítica’’

‘’[...] Estas palavras vem à baila em face de certas criticas que os meus
livros receberam. Entre as muitas (elogiosas todas), algumas, um tanto
apressadas, afirmaram aspectos que merecem certos reparos.
Costuma-se dizer que a filosofia "nasceu na Grécia"; e como nós,
ocidentais, julgamo-nos não só herdeiros, mas descendentes dos gregos,
orgulhamo-nos dessa origem. (Spengler muito bem causticou esse orgulho
fáustico).
Egípcios, hindus, mesopotâmios, etc., não têm pensamento filosófico
e sim, e apenas, religioso.
Admitia-se essa afirmativa quando era quase total o desconhecimento
do pensamento filosófico dos outros povos.
A filosofia não "nasce" aqui nem ali, com exclusividade, mas onde o
homem pensa sobre os grandes porquês, as primeiras e últimas causas,
invade com o pensamento, e apenas com ele, através das configurações do
imanente (que é o campo exclusivo da ciência), o transcendente, para
afirmá-lo ou negá-lo, não importa, construindo juízos de valor ao captar
as significações mais profundas das coisas, buscando a "collatio" que as
conexiona, etc.
E se tal se der em outro planeta, por outro ser inteligente, lá também
há filosofia, como haverá matemática, onde qualquer ser Inteligente
especular sobre números, etc.
Essencialmente a filosofia é sempre a mesma, e a dos gregos, como a
de outros povos, enquanto filosofia, dissemos, são iguais.
Negar-se que filosofaram e filosofam os outros povos é apenas
evidenciar ignorância, que ainda poderia ficar bem no século passado, não,
[64]
porém, neste, depois dos conhecimentos obtidos no setor da história e da
arqueologia e no conhecimento das obras filosóficas.
Houve quem se opusesse tenazmente à nossa afirmação de que é
"muito mais ampla do que se pensa" a contribuição do pensamento dos
outros povos ao pensamento grego. Admitamos que a tese por nós exposta
não tivesse a aboná-la nenhuma contribuição de autores e estudiosos, cuja
lista, se aqui fôssemos fazer, tomaria colunas. Bastaria a própria afirmação
dos gregos, a influência de figuras como as de Orfeu, Hermes Trismegistos,
o "Thot" dos egípcios, Pitágoras, etc. Pode-se duvidar da existência
histórica de tais figuras, e muitas, na história, também sofreram essa
dúvida. Mas o orfismo é uma realidade, o hermetismo é uma realidade, o
pitagorismo é uma realidade, que não podem ser reduzidas às caricaturas
costumeiras.
Os gregos mantinham contato com as culturas de Kleti (Creta), a síria,
a egípcia (recordem-se as viagens de Thales, do Platão, de Péricles, de
Demócrito, etc.). A semelhança entre os "Versos áureos" pitagóricos e as
especulações anteriores do budismo, os cínicos, os estóicos e os epícureos
e as seitas de outros povos, (que permitem admitir não apenas uma mera
correspondência), os mitos gregos primitivos, os documentos encontrados
ultimamente em Ras-Shamra, e nas escavações de Biblos, o papel da
atomística do sidônio Moscas no pensamento de Demócrito, a influência
sofrida por Euxódio de Cnido, quando de sua estadia em Heliópolls, o
papel da revolução almarmiana de Amenófis IV, etc., são factos
importantes que exigem meditação e pesquisas.
As culturas não são e não foram tão estanques para não haver
penetrações e influências entre elas, e se mantinham, naqueles tempos,
turismo e bolsas de estudos, e intercâmbio cultural (o que não é exclusivo
de nossa época). Se tudo isso for considerado, entre a categórica afirmativa
de que não há nenhuma influência de outro pensamento, no grego, e a
nossa que "é muito mais ampla do que se pensa" (isto é, do que pensam os
que o negam),ver-se-ia que sobejam razões a nosso favor, como ainda o
mostraremos em nossa obra "Filosofia Oriental", que em breve
editaremos.
Os gregos eram de grande plasticidade (e os egípcios os acusavam
disso, e até os próprios gregos). Sofreram influências comprovadas na
matemática, na ciência, na técnica, na música, na arte, na religião, no
ritual, no direito, em tudo. Menos na filosofia. Aqui não! Aqui os gregos,
deliberada e decididamente, renunciando à sua natural plasticidade,
tornaram a decisão irrevogável e inabalável de não se deixarem influir!
Que tenha a sua peculiaridade o pensamento filosófico grego ninguém o
nega, mas como essência, a filosofia é uma só.
No seu "compositum", a filosofia grega se diferencia das outras.’’

***

[65]
24. Tribuna da Imprensa (RJ) – Edição de 1991 - Jornal
publicado entre 1990 até 2000 (Biblioteca Digital da
Biblioteca Nacional)

''A Filosofia Oriental e o nosso país''


(Por Jorge Jaime)

‘’Hegel, textualmete, defendeu a tese de que ''o pensamento oriental


tem de ser excluído da história da filosofia.'' A sua Introdução à História
da Filosofia, que apareceu na coleção Os Pensadores, procura explicar o
porquê desta exclusão que, absolutamente, não me convenceu. Acredito
que, por influência hegeliana, muitos professores da matéria omitem-se
no ensino daquilo que se pensava índia, na China, na Pérsia dos séculos
que antecederam a Cristo. Alguns livros a nível de segundo grau não
assinalam referências aos Vedas, ao brahmanismo, à teorias do período do
sânscrito, ao budismo, ao confucionismo, ao taoismo, à filosofias hindus,
já tão populares no Brasil, como a ioga e tantas outras. Gilberto Cotrim,
com ''Fundamentos da Filosofia'' (Editora Saraiva), Henrique Nielsen
Neto, com Filosofia Básica (Atual Editora), autores de livros didáticos a
iniciantes de estudos filosóficos, nem de leve falam sobre o saber milenar
das culturas que surgiram do outro lado do mundo. Por sua vez,
contrariando esta posição contra os conhecimentos orientais, Antônio
Xavier Teles, do Colégio Pedro II, apresentou a sua Introdução ao Estudo
da Filosofia, que já passou da vigésima edição, com capítulos onde enfoca
atitude hindu, a chinesa, detendo-se mesmo, no pensamento da China
atual com a revolução de Mao Tsé-tung. O mesmo Gilberto Cotrim, em
parceria com Mário Parisi, tratam de escrever o Trabalho Dirigido de
Filosofia (Editora Sraiva), agora, incluindo a Filosofia no oriente como
currículo, desenvolvendo em muito os ensinamentos da Ioga.
Uma ligeira polêmica surgiu entre Luiz Washington Vita e Mário
Ferreira dos Santos, quando este publicou o Filosofia e Cosmovisão que
inaugurava a série da Enciclopédia de Ciências Filosóficas e Sociais. Vita
não admitia o pensamento oriental como fazendo parte do filosófico,
enquanto Mário Ferreira defendia tese contrária. ''De acordo com o autor
de Filosofia e Cosmovisão, a filosofia ocidental é especificamente
especulativa, marcadamente autotélica, desinteressada, sem um fim fora
de si mesma. É isto graças a condições socio-históricas e ecológicas
peculiares à Grécia. Já o Oriente é místico: “o misticismo que nos mostra
toda a cultura egípcia, como as culturas orientais é mais intenso e penetra
até na filosofia''. ''“Mas, se a filosofia ocidental nos mostra tanta
objetividade, tende tanto para o objeto, também vemos filósofos objetivos
entre os orientais, — Permanece, assim, apenas uma distinção: entre a
filosofia oriental e a ocidental há apenas graus de intensidade diferentes,
[66]
embora ambos sejam, enquanto filosófos, Iguais”. O sr. Mário Ferrciia dos
Santos conclui sua discussão afirmando “que é muito mais ampla do que
se pensa a contribuicão oriental ao pensamento grego” (pp. 21/2444).
Evidentemente, pelo próprio sentido “compendioso” de seu trabalho, o
sr. Mário Ferreira dos Santos não poderia aprofundar a discussão. E talvez
por isso peca por extrema parcimônia, deixando de sustentar a tese da
influência do pensamento oriental no ocidental como exigia a questão, que
é controvertida e vem sendo agitada desde o aparecimento da primeira
edição da monumental História de Zeller. Tambem é sumária e pouco
convincente a equiparação do pensamento oriental e ocidental, que se
distinguem, a seu ver, apenas no grau e não na essência. Segundo o nosso
ponto de vista, que não é peregrino, pois nos baseamos em ampla
bibliografia, não só é discutivel a possível influência do pensamento
oriental na filosofia grega, como – e principalmente – teria sido impossível
essa influência pelo fato de jamais ter havido filosofia, na acepção
ocidental, no oriente, próximo ou remoto. Quem sabe tivesse havido
alguma influência religiosa, mas tudo não passa de conjecturas.'' (pgs.
724/725 da Revista Brasileira de Filosofia. Vol. III. fase. 4. out/dez. de
1953). Em seguida Luis Whashington Vita continua a sua resenha, por
umas três páginas, defendendo que nunca houve tal influência. Mário
Ferreira dos Santos respondeu a crítica de Vita no Prefácio do seu Teoria
do Conhecimento (SP. 1954) com um Filosofia e Crítica (pgs.11 a 16).
Dizer-se que egípcios, hindus, mesopotâmicos, etc... não tiveram
pensamento filosófico é apenas evidenciar ignorância, que ainda poderia
ficar bem no século passado, não, porém, neste, depois dos conhecimentos
obtidos no setor da história e da arqueologia e no conhecimento das obras
filosóficas.'' pg. 15). Mário Ferreira acrescenta que o orfismo, o
hermetismo, o pitagorismo '' são realidades e que os gregos mantinham
contato com as culturas de Kleti (Creta), a síria, a egípcia (recordem-se as
viagens de Thales, de Platão, de Péricles, de Demócrito, etc...''
Quando se lê os orientais quase que se chega à conclusão de que Jesus
por lá andou estudando, naquele período em que ausenta de sua terra
como nos narram os Evangelhos. O ''amai-vos uns aos outros'' encontra-
se muito séculos antes, em Confúcio. Mêncio, seu discípulo, resumiu as
doutrinas morais de seu mestre: - ''A doutrina de Confúcio consiste,
unicamente, em se possuir a retidão de caráter e amar o nosso próximo
como a nós mesmos.''
Não se pode dizer que em Lao-tse, que nasceu seiscentos anos antes de
Cristo (604-551 a.C) esteja longe de ser considerado um verdadeiro
filósofo. O ''velho Sábio'' parece ter sido contemporâneo de Confúcio.
Pretendendo viajar - conta a lenda -, o funcionário da Alfândega impôs-lhe
que só lhe daria autorização se deixasse escritos os seus ensinamentos.
Deu-lhes a mesa para escrever e, assim, surgiu o Tao-Te-King, ou
Daodejing, (Cânone do Caminho e de sua Eficácia), constando de 87
capítulos resumidíssimos que requerem uma análise. Os primeiros tratam
da razão última de todas as coisas, e os últimos da moral. Têm muitos
[67]
pontos de contato com a filosofia grega e com a religião judaica, segundo
informações que teve delas em sua viajem que dizem ter feito ao Ocidente,
onde conheceu alguns filósofos gregos e os filhos de Jeová. Também possui
reminiscências do Nirvana. Sustentava que devemos perdoar os nossos
inimigos.''

(Jorge Jaime é membro da Academia Brasileira de Filosofia)

***

[68]
25. Diário de Notícias (RJ) Edição de 1953 - Jornal publicado
entre 1950 até 1959 (Biblioteca Digital da Biblioteca
Nacional)

‘’Exemplo de Valoração Sintética da Filosofia em Geral’’

(Por João Luiz Ney)

(Especial para o Diário de Notíciais)

1— O BRASILEIRO tem-se revelado sempre, para mim, um povo de


rara e exuberante inteligência. E não vai nisso nenhuma carga de
sentimento patriótico, nenhum egocentrismo ou deslumbramento de
vaidade. É produto de habitual e sistemática observação e experiência no
exercicio de minha atividade funcional dentro do magistério. Há anos que
minha atenção se tem dirigido para o estudo das reações inteligentes e
inéditas do brasileiro em geral. E, apesar de não ter tido ainda
oportunidade de analisar a reação média de uma classe escolar constituída
exclusivamonte de estrangeiros, a mediania das reações individuais e o
exame axiológico das diferentes culturas e agrupações humanas têm-me
fornecido valores positivos e conflrmadores desta hipótese inicialmente
temerária.
É, pois, com manifesta simpatia e satisfação que leio as primeiras
linhas com que Mário Ferreira dos Santos vem de apresentar o bem
estruturado trabalho de sintese de sua vivência filosófica Vivência esta
quase que essencialmente irredutível.
2— EXPRESSA-SE assim o vigoroso mestre em ‘’Filosofia e
Cosmovisão’:’ “Um professor de alemão, o primeiro a iniciar-me nos
estudos de Filosofia, conhecedor do nosso povo, costumava manifestar me
sua admiração pela inteligência de nossa gente. Para ele, que percorrera
tantos países, que ministrara lições em tantas universidades e escolas do
Ocidente e do Oriente, era o brasileiro 0 aluno mais vivo, mais inteligente,
mais sagaz no raciocinio, e de mais profundas intuições que conhecera... –
e acrescenta o filósoto brasileiro — nessa época, considerava eu suas
palavras um tanto exageradas. Mas, com o decorrer do tempo, e através de
aulas e inúmeras conferências, palestras e debates que empreendi,
verifiquei assistir ao meu velho e venerando mestre uma grande soma de
verdado”. Esta conclusão foi que provávelmente veio presidir à elaboração
deste curso originalíssimo, cuja primeira parte — Filosofia e Cosmovisão
— é bem um exemplo de clareza, de exposição metódica e sintética. Seu
autor, um autêntico filósofo brasileiro, sabe discorrer sobre os temas
[69]
filosóficos mais palpitantes sem perder a naturalidade da expressão, sem
o rigido artificialismo das escolas, sem transcendência de linguagem ou
inanidade nas palavras, sem geometrização das coisas; mas, com vida,
elegância e movimento, em continua libertação do pensamento e
acendrado esforco retrospectivo e unitário das concepções filosóficas de
ontem e de hoje.
3— REALIZA Mário Ferreira dos Santos, neste primeiro volume de
um curso por ele mesmo planejado, a mais humanamente
substancializada valoração sintética da Filosofia Geral que já entre nós se
fez. Seu trabalho não obedece à esquemática de nenhum dos compêndios
nacionais ou estrangeiros; mas, quando não venha a dispensá-los, poderá,
em substância, supri-os com inteligência e vantagem. Não se trata de uma
história da filosofia, mas de um processo filosófico... de um ‘’modus
philosophandi’’ cuja extensão tem seu limite no ilimitado reflexo de uma
“metodologia de vida”. É o de senvolvimento de uma concepção dinâmica
da filosofia.
Dai, ter seu plano atingido inclusive o exame das difrações do
conceito de filosofia no decorrer da história. E apresentar-lhes como causa
suficiente a “reprodução pelos fllósofos de suas vivências da filosofia”. De
onde advém, como consequência, a grande variedade de acepções dos
têrmos ou sua falta de univocidade. Exigindo, assim, que nos ocupemos
primeiro em defini-los se quisermos evitar as repetidas incompreensões.
O excesso, porém, de tal preocupação com os têrmos tem levado muItos a
confundir o “conceito” com a palavra que o expressa e a cair no chamado
verbalismo ou exagerado emprego das palavras sem nenhuma operação
mental. Ginástica que muito têm praticado os arautos das concepções
estáticas. —

4— A INICIAL situação do problema gnoseológico ou teórico-


cognoscitivo, que Mário Ferreira dos Santos nos dá com irrefragável
processo discursivo, livrou-o totalmente dos abismos das concepções
metafisico-dogmáticas. Concepções estas já fundamente golpeadas pelo
criticismo de Kant, após o sentenciar negativo do ceticismo de Hume.
Sua construção introdutória, expondo e especulando os dificultosos
temas do saber humano, será bem um fanal dos professores facultativos
do Brasil, pela sua harmonia, solidez e moderação, que são rarissimas em
toda parte graças ao artificialismo generalizado nas atividades sociais do
homem.
5— A POSIÇÃO de Mário Ferreira dos Santos poder-se-ia definir
por sua vivência filosófica, não fora o que explicitamente nos oferece a
página 42, quando nos permite predizer-lhe a posição tomada ao debater
os temas que objetiva. Eis o que tomamos do seu considerado ponto de
partida: “No século passado, viveu na frança um grande cérebro que as
contendas políticas e a mentira tornaram em grande parte desconhecido
[70]
das gerações atuais. No entanto, sua obra, que estava por quase todos
esquecida, ressurge agora, aos poucos, para nos dar uma nova luz aos
problemas do século XX. As previsões desse homem se confirmaram neste
século e sua critica e as grandes perspectivas que lançou iniciam agora a
dar seus frutos prodigiosos. Esse homem chmava-se Pierre Joseph
Proudhon (1809-1864).'' E dele extrai a seguinte definição:
A verdadeira filosofia é saber como e por que nós filosofamos, de
quantas maneiras e sobre quais matérias podemos filosofar, a que tende
toda especulação filosófica. Quanto a sistemas, não há mais lugar para
eles, e é uma prova de mediocridade filosófica procurar hoje uma
filosofia''.
Para Proudhon - como afirma Mário Ferreira dos Santos - as
antinomias estavam no espírito, porqe estavam no ser na natureza, no
mundo físico, e no mundo social. Para Proudhon, ''o mundo moraral como
o mundo físico, repousa sobre uma pluralidade de elementos irredutíveis
e antagonistas, e é da contradição desses elementos que resulta a vida e o
movimeno do universo''.

6— NÃO resta a menor dúvida que nosso propósito deve ser


naturalmente tentar construir uma nova concepção do unicerso sempre
mais exata e acima de tudo mais viva do que geometria. Sabe-se hoje que
o mundo é uma sequência continua de fatos, e os nossos juízos acerca
desses fatos orientam-se pela experiência que deles conseguimos e não
pelo valor simbólico que neles possa existir para nós.
Friedrich von Freiherr Weizsäcker, em sua teoria para uma
‘’Concepção Física do Universo’’, conclui: '' A realidade que se oferece à
Física moderna já não é uma realidade de coisas em si, isoladamente, mas
a do todo deste cenário incindível: homem-coisas. Processo esse que nos
ensina a ver o que até aqui não tinhamos visto, por não termos querido
ver''. (pág 233-edição portuguesa de 1945)
Homem e coisas, como já dissera Proudhon, assentam-se sobre
elementos irredutíveis.
Eis uma concepção binária de cuja contradição resulta o progresso,
o movimento e a vida.
Nossa mais forte realidade é esse caráter irredutível e antagônico
dos elementos físicos e morais de que nos fala Proudhon. E como a nossa
época só deve crer em realidades - no entender de Edmund Husserl - deve
ela atingir e desenvolver esta vivência que há cem anos alcançou o
pensamento de Proudhon.
Dá-nos, pois, Mário Ferreira dos Santos, desde o seu ''ponto de
partida'' um grande incentivo para as investigações à margem dos
esquemas abstratos, mas com profunda vivência dos problemas do
homem e das coisa.’’
***

[71]
26. DIÁRIO DE PERNAMBUCO – Edição de 1972 - Jornal
publicado entre 1970 até 1979. (Biblioteca Digital da
Biblioteca Nacional)

‘’Pensamento dos Outros’’

‘’O homem civilizado dignifica a sua companheira, submete-se


voluntariamente à graça, à doçura, à fraqueza, cria-lhe um direito protetor,
dá-lhe um lugar privilegiado. Mas se obrigado, negando o benefício,
pretende ter ganho o que lhe foi dado e não dever nada a ninguém, o
benfeitor poderá deter-se de uma ver nesse caminho.
A ilusão é esta: a superioridade constitui um dever moral do superior
com o inferior; mas a inferioridade não constitui nenhum direito legal do
inferior sobre o superior. A generosidade é bela e nobre, mas facultativa;
o coxo, exigindo que o ampare, faz desaparecer o desejo de ajudá-lo. O
homem tem satisfação em proteger a mulher, mas que a mulher o intime
imperativamente a serví-la e protegê-la, em seguida o gosto nisso
desaparece naquele a quem uma súplica teria enternecido.’’ (Amiel, Diário
íntimo, tradução de Mário Ferreira dos Santos, Edição da Livraria Globo).

***

[72]
27. Diário do Paraná - Órgão dos Diários Associados (PR)
Ano de 1957 – Edição 628 - Jornal publicado entre 1955 até
1983. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

‘’Livros da Semana’’

‘’Filosofia Concreta’’

‘’Mário Ferreira dos Santos acaba de lançar o último livro da primeira


série de obras que compóe a sua Enciclopédia de Ciências Filosóficas e
Sociais; trata-se de FILOSOFIA CONCRETA. O autor não se filia a
nenhum ramo de qualquer espécie. Expõe de maneira tão clara quanto é
possível em filosofia, e seu pensamento, que é a Filosofia Concreta.
Esta é uma matematização da filosofia (no sentido mais elevado da
matematização, que não se cinge apenas ao campo quantitativo),
fundamentada em juízos necessários, universalmente válidos que se
provam uns aos outros.
Mário Ferreira dos Santos não segue nenhuma corrente por inteiro.
Se, muitas vezes suas idéias são as da escolástica, é que a escolástica tem
positividades que são do patrimônio cultural da humanidade.
Essas positividades se identificam com a Filosofia Concreta, assim como
se identificam com ela as do pensamento genuinamente pitagórico, do
socrático-platônico, do aristotélico, do plotinismo, do de Tomás de
Aquino, do de Duns Scot, do de Hegel, do de Kant, etc.
A Filosofia Concreta é, no entender do autor, uma construção
filosófica que não se funda em autoridade alguma, senão a do próprio
pensamento quando em si encontra a sua validez, e sua justificação. Cada
uma das teses apresentadas nesse livro é comprovada, não apenas por
uma, porém, por várias vias do pensamento humano.
Inegavelmente o Livro de Mário Ferreira tem profundidade, tem
idéias, e merece ser lido. Aliás, a acolhida dos livros desse autor,
considerando-se o fato de ser filósofo brasileiro, tem sido das melhores;
nada menos de cem mil exemplares tirados em trê anos, de suas obras.’’

***

[73]
28. Diário do Paraná - Órgão dos Diários Associados (PR)
Ano de 1957 – Edição 978 - Jornal publicado entre 1955 até
1983. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

‘’Panorâma Educacional – Educação e Ensino – Vida


Universitária’’

‘’Universidade do Paraná’’ - ‘’FACULDADE FILOSOFIA’’

''Irradiação de cultura de tecidos humanos'' será o tema a ser


apresentado e discutido na sessão de hoje dos Seminários de Genética,
que, sob o patrocínio do Laboratório de Genética da Faculdade de
Filosofia, da Universidade, são regularmente realizados todas as quintas-
feiras. O tema de hoje será apresentado pelo Prof. Newton Freire-Maia.
O Prof. Azor O. Cruz, da Faculdade de Medicina, concluirá, ainda na sessão
de hoje, a interessante palestra sobre ''Aspectos fisiológicos do ôsso,
apresentando diversos ''slides''
A sessão tem seu início prevista para as 14:30 horas, no atual endereço do
Laboratório de Genética (Rua Coronel Dulcídio, 638 - onde funciona a
Escola de Farmacia). Convidam-se todas as pessoas interessadas. Após a
palestra, serão abertos os debates.

‘’Entidades Acadêmicas (Hugo Simas)’’

‘’Está circulando o n. o 7 da revista -Themis-, órgão do Centro Acadêmico


Hugo Simas, contendo interessantes artios de professores e alunos da
Faculdade de Direito da Universidade do Paraná. O sumário do presente
número é o seguinte: Crítica das Correntes Axiológicas (Mário Ferreira dos
Santos); Presidencialismo e Parlamentarismo (Raul Pilla); Eu Queria Um
Alguém (poesia de Vânia Miriam Avelleda); Experiências Médicas
Criminosas na Criatura Humana (Napoleão Lyrio Teixeira); Coação e
Seguranças Jurídicas (Emmanuel Augusto Perillo); Elementos de
Cinestética (Francisco Bettega Netto); A Inútil Busca (poesia de Freitas
Puglieli); O Marxismo (José Rodrigues Vieira Netto); O Direito Natural na
Antiguidade Grega (Ubitaran de Macedo); História Curta (poesma de
David José Passerino); Imprevisto (conto de Assad Amadeu); O Tribunal
do Júri no Direito Brasileiro (Rene Dotti); A Paz Mundial e seus
Obstáculos (Luiz Nicolau Mader Sunyé); Democracia e Política (Jacinto
Torres). O expediênte de -Themis- está assim constituído: Diretor - David
José Passerino; Vice-diretor - Edésio Franco Passos; Secretário - Luís
Nicolau Mader Sunyé; Redator Chefe - Darei Penteade.

[74]
29. Jornal de Notícias (SP) – Artigo de 1951 - Jornal
publicado entre 1946 até 1951. (Biblioteca Digital da
Biblioteca Nacional)

‘’O dia de ontem nos Campos Eliseos’’

‘’Em visita de cortesia e de cumprimentos ao governador Lucas Garcez,


estiveram ontem nos Campos Eliseos os srs. Rubens Ferreira Martins,
prof. Zeferino Vaz, Henrique Bastos Filho e Fabio Prado. Com identica
finalidade, estiveram presentes no palácio do governador os participantes
da Primeira Convenção Cooperativista do Estado, instalada na Sociedade
Rural Brasileira. Em nome dos convencionais, foi o sr. Lucas Carcez
saudado pelo sr. Mário Ferreira dos Santos, que, além de expor em rápida
síntese os problemas com que se debatem as entidades por ele
representadas referiu-se ao memorial que brevemente será entregue ao
chefe do Executivo e no qual pleiteiam a redução das taxas que pesam
sobre as cooperativas. O governador do Estado agradeceu, em seguida, a
visita que lhe foi feita, prometendo tomar as providências que o caso
requeria.’’

***

30. Leitura (RJ) – Artigo de 1958 - Jornal publicado entre


1923 até 1973. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

‘’OBRAS DE MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS’’

‘’A Editora Logos lançou este ano as obras completas de Mário Ferreira
dos Santos - Filosofia e Cosmovisão, Psicologia, Teoria do Conhecimento,
Ontologia e Cosmologia, Aristóteles e as Mutações, Neologia Geral,
Filosofia da Crise, O homem que nasceu póstumo, Curso de Oratória e
Retórica, Técnica do Discurso Moderno, Lógica e Dialética e ainda vai
lançar as obras inéditas: Assim Deus falou aos homens, Certas subtilezas
humans, Vida não é argumento, Casa das Paredes Geladas e Luta dos
Contrários.
Total dessas edições: 300.000 exemplares.’’

***

[75]
31. O DIA (PR) – Edição de 1954 - Jornal publicado entre
1923 até 1961. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

‘’CURSO DE ORATÓRIA DO CAHS. ‘’

As aulas serão ministradas pelo prof. Mário Ferreira dos Santos


- Tarde dansante de Direito no Mariluz Hotel

‘’ Amanhã, dia 25, será iniciado o curso de oratória no Centro Acadêmico


Hugo Simas.
Ministrado pelo prof. Mário Ferreira dos Santos, esse curso é
eminentemente prático e de grande utilidade para todos aqueles que
quizerem apefeiçoar-se na arte de Demostenes. A matricula encontra-se
aberta no sagão da Faculdade de Direito, no período da manhã.
Encerrando suas atividades, o Departamento Social do CAHS, fará
realizar, hoje, a sua derradeira tarde dansante de Direito, tendo por local
o Mariluz Hotel. Espera-se que a reunião alcançara o mais amplo sucesso,
pois este foi o marco caracterizador de todas as atividades do
Departamento durante a gestão de seu diretor Nelson Mauad.’’

***

32. O Dia (PR) – 1954 - Edição de 1954 - Jornal publicado


entre 1923 até 1961. (Biblioteca Digital da Biblioteca
Nacional)

‘’Assembléia-geral no Centro Acadêmico Hugo Simas’’

Vários assuntos tratados na reunião. - Bem recebida no CAHS a


nomeação do prof. Joaquim Penido Monteiro para o cargo de
desembargador.’’

‘’Realizou-se, no dia 25 do corrente mês, no Centro Acadêmico Hugo


Simas, movimentada assembléia geral, ocasião em que foram abordados
importantes problemas referentes à vida da entidade.
Dentre os assuntos discutidos, destaca-se o relacionado com o
pronunciamento da classe, contra o ato do magnífico reitor, que negou
reconhecimento ao curso de oratória ministrado pelo prof. Mário Ferreira
dos Santos, sob o patrocínio do CAHS. Diante do fato, a assembléia
deliberou encaminhar um pedido de informação à Reitoria e, no caso desta
não ser prestada, a diretoria tomará outras providências já aprovadas pela
exaltada assembléia!’’
[76]
33. O DIA (PR) – Edição de 1958 - Jornal publicado entre
1923 até 1961. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

‘’II CURSO DE ORATÓRIA NA FACULDADE DE DIREITO DE


CURITIBA’’

‘’A Faculdade de Direito de Curitiba patrocinará, ainda este mês, o


Segundo Curso de Oratória a ser ministrado em Curitiba, pelo prof. Mário
Ferreira dos Santos, autor de inumeras obras de valor referentes ao estudo
da Lógica e da Dialética, professor de Oratória e Retórica de renome
nacional, que virá até nossa Capital provavelmente entre 22 e 26 do mês
corrente.
O II Curso de Oratória, que contará com a colaboração dos Centros
Acadêmicos Clotário Portugal e Hugo Simas, terá suas aulas à noite, às
20:30 horas, no salão nobre da Faculdade de Direito de Curitiba, estando
as inscrições abertas desde já na Secretaria da Faculdade, bem como nas
sedes dos Centros Academicos Clotário Portugal e Hugo Simas.’’

***

34. O Estado de Florianópolis (SC) - Edição de 1958. - Jornal


publicado entre 1915 até 1965. (Biblioteca Digital da
Biblioteca Nacional)

Mário Ferreira dos Santos


''O Um e o múltiplo em Platão''
''Logos''
São Paulo.

‘’Mário Ferreira dos Santos há muito deixou o Rio Grande do Sul,


localizando-se em São Paulo. Dedicando à Filosofia, foi dos primeiros
gaúchos que publicou estudos sobre Nietzsche, Aristóteles e Platão. Seu
último livro - que se infileira a uma vasta biblioteca divulgada em São
Paulo - versa sobre o ''Um e o multiplo em Platão'' onde Mário Ferreira dos
Santos tem oportunidade de demonstrar sua solida cultura filosófica.
O autor tem ainda para publicar diversos volumes sobre Pitágoras, um
''Tratado de Estética'' e um ''Dicionário de Filosofia''.

***

[77]
35. Voz Diocesana (MG) – Edição de 1968 - Jornal publicado
entre 1965 até 1978. (Biblioteca Digital da Biblioteca
Nacional)

''Famosos Discuros Brasileiros''

'' Um discurso não é um amontoado de frases, mais ou menos analogadas


umas às outras, pois deve ter ele uma forma que lhe dê uma unidade
específica'' - escreve Mário Ferreira dos Santos, em introdução a Famosos
Discursos Brasileiros, antologia organizada pelo professor Carlos Aurélio
Mota de Souza. Políticos e intelectuais como Rui Barbosa, Tobias Barreto,
Nilo Peçanha, Epitácio Pessoa, Otávio Mangabeira, Frei Francisco de
Monte Alverne e João Neves da Fontoura são aí apresentados, através de
suas peças oratórias mais representativas. Edições de Ouro.''

***

36. Tribuna da Imprensa (RJ) – Edição de 1963 - Jornal


publicado entre 1960 até 1969. (Biblioteca Digital da
Biblioteca Nacional)

‘’Dois bêbados’’

''Ao inaugurar, ontem à tarde, novas obras de sua administração no


bairro do Maracanâ, o governador Carlos Lacerda disse que os
responsáveis pelo atentado contra a sua vida, no último dia 4, foram dois
oficiais que, embriagados, fizeram sair de seus quarteis tropas armadas
com metralhadoras e granadas em direção ao Hospital Miguel Couto, onde
desfechariam um ataque contra o governador e seus auxiliares.
-Conheço os fatos- afirmou - e convido o ministro da Guerra a revelá-los à
Câmara Federal e à Justiça, se necessário, para que a Nação saiba que o
Exército reage contra os que quiseram maculá-lo e desonrá-lo.

Candidatura

Na solenidade de lançamento da terceira edição de seu livro '' O Poder


das Idéias'', realizada ontem à noite no Méir, na rua Silva Rabelo, 10, o
governador da Guanabara declarou ter aceito o lançamento de sua
candidatura à sucessão presisencial em 1965. Disse que não se aproveitará
da situação de candidato a Presidenteda República para desviar para fins
eleitorais o dinheiro do povo da Guanabara, empregado exclusivamente
[78]
nas obras do Estado.
Mais de mil pessoas receberam o sr. Carlos Lacerda, que deu o
primeiro autógrafo para a sra. Luisa Peixoto e ganhou, do sr. Júlio
Minham, uma coleção, em nove volumes da obra ''O Problema Social'',
autografadas pelo autor, sr. Mário Ferreira dos Santos.
Voltando a falar sobre os acontecimentos do dia 4, conclamou o ministro
da Guerra a denunciar os autores do atentado contra sua pessoa. ''O povo
não pode ficar tranquilo quanto à inculpabilidade das Forças Armadas, e
principalmente do Exército, cabendo ao ministro da Guerra a
responsabilidade pela denúncia de todos os implicados'', disse.
Concluindo, afirmou que, se a sua condição de candidato à
Presidência da República implicava em torná-lo vítima de atentados, que
então os seus inimigos ficassem certos de que, ''quanto mais tentarem
persegui-lo, mais o estarão engrandecendo''.

***

37. Suplemento Literário (SP) – Edição de 1970 - Jornal


publicado entre 1956 até 1985. (Biblioteca Digital da
Biblioteca Nacional)

‘’Resenha bibliográfica’’ (por C. Beraldo)

‘’Filosofia’’

TÍTULO - Enciclopédia Filosófica, G. C. Sansoni Editore, 6 vols, 2. ed.,


1968-1969

AUTOR - Centro di Studi Filosofici di Gallarate (Itália)

APRECIAÇÃO - Dizer que ''a humanidade está em crise'' já se tornou uma


expressão corriqueira que não impressiona mais ninguém. Entretanto,
esta palavra ''crise'' inclui uma indefinida constelação de desequilíbrios
(economicos, sociais, políticos, morais, religiosos etc.) que dão mal-estar
no presente e causam preocupação para o futuro.

Cada um aprecia a situação a seu modo. Há os otimistas e os


pessimistas de todos os matizes. Cada um, por seu lado, com exceção dos
desesperados, que consideram tudo irreparavelmente perdido, sonha o
''seu'' remédio, ou os seus remédios, desde os simples e caseiros do homem
da rua, até os mais sofisticados dos especialistas. Este bazar de opiniões e
de sugestões nos lembra uma arguta lição de Sto. Tomás de Aquino, que
parece quase anedota, mas não deixa de ser sutil e significativa. Numa das
[79]
suas mesas-redondas (Quodlibetum 12; 14, 1) Sto. Tomás propõe o
seguinte problema; o que é mais poderoso? O vinho, a mulher, o rei ou a
verdade?
Na discussão, o primeiro interlocutor se pronuncia em favor do rei.
De fato, o rei absoluto, como era naquela época, tinha nas mãos todo o
poder, de vida, de morte e da propriedade dos súditos.
O segundo acha que mais forte é a mulher; com a sua sedução ela
vence reis e suditos, pobres e ricos, doutos e ignorantes.
O terceiro dá a primazia ao vinho; tomado em abundância, arrasa
todos, homens e mulheres, nobres e plebeus, sábios e analfabetos.
Afinal, o mestre apresenta a solução. Quando se pergunta, explica ele,
qual é mais poderoso dos elementos citados, isto deve ser entendido com
respeito ao homem. Ora, o ''homem, enquanto tal, é um ser complexo; há
nele vários graus de vida e de operações; vegetativo, sensitivo, racional
prático e racional especulativo. Na sua parte vegetativa é atacado e
derrotado pelo vinho. Ao nível da sensibilidade, é escravizado pelo prazer
sexual (mulher). Na ordem das atividades práticas (ratio practica), está
sujeito aos mandamentos do rei. Mas o que há de especificamente
soberano na natureza humana é a razão especulativa que mostra os rumos
certos da atividade prática (quer aos reis no seu governo, quer a qualquer
homem nos seus trabalhos e comportamentos). É ainda a razão
especulativa que fornece motivos e força para frear e regular os prazeres
do sensualismo e da gula. Por conseguinte, de modo absoluto e sob todos
os aspectos, o que há de mais poderoso na competição proporta, é a
verdade.
Esta lição administrada com finura e quase com humor, vale para
todos os tempos. Infelizmente em todos os tempos há seres racionais que
não a querem ouvir.
Fala-se muito, hoje, de desenvolvimento (economico-social) e da
liberdade (em politica). Está muito bem, mas não se deve esquecer que
todo desenvolvimento material e toda liberdade podem constituir um
progresso traiçoeiro, falso e desumano, se não forem fruto da verdade. É a
verdade que nos há de libertar (João, 8, 32).

Mas, que é a verdade?

A primeira resposta, dialogando entre cristãos, deve ser: A Verdade é


o próprio Cristo, seus ensinamentos, seus exemplos: ''Eu sou o caminho, a
verdade e a vida'' (João, 14, 6). Mas nem todos obedecem ao Evangelho
(Romanos, 10 , 16). Será então que entre cristãos e não cristãos não haverá
um terreno de possível encontro, uma linguagem comum, que permita um
diálogo construtivo sobre os problemas básico do homem, da vida, do
mundo. Este terreno existe. A linguagem que nos introduz nele é a
filosofia.
Um dos maiores crimes perpetrados, talvez inconscientemente por
genios, contra a humanidade, é o de ter introduzido a confusão, o
[80]
desentendimento completo, até a contradição neste terreno de ‘’escol’’, que
deveria ser como que o jardim de toda a humanidade, de todas as
civilizações. É este um castigo, com terríveis consequências históricas, que
o homem se infligiu a si mesmo, enquanto vai erguendo suas torres de
progresso, a falsos ídolos, esquecendo ou pretendendo desafiar o próprio
Deus verdadeiro.
A filosofia sincera e honesta, que não é demagogia ideológica, busca
a verdade racional e universal sobre os máximos problemas. Só na base
firme desta verdade os demais problemas, do indivíduo, da família, da
classe, da nação e do mundo, encontrarão soluções certas benéficas e
aceitáveis por todos. No mesmo tempo a verdade filosófica poderá
constituir o vestíbulo, digno e nobre, para o homem, filho de Deus, entrar
nos átrios superiores da fé revelada.
Foi este o ideal que inspirou a um grupo de filósofos cristãos uma
''Enciclopédia Filosófica'' de vastas proporções e de nível ciêntifico. Faz
dez anos que saiu em primeira edição. Agora acaba de ser lançada a
segunda inteiramente reelaborada, com substanciais acréscimos e
atualizações. Os 6 grandes volumes (em 27x19), perfazem um total de
10.000 colunas, nítidas e elegantemente impressas. Os verbetes de caráter
teorico-conceptual são mais de 5.000; os de caráter histórico são 7.000.
Os que tratam assuntos ou autores mais importantes constituem
verdadeiras monografias. Nesta segunda edição foram acrescentados mais
de 200 verbetes novos.
Os três indices, do 6º volume, representam tudo o que há de mais
prático para a pesquisa, no corpo da Enciclopédia, de um determinado
asssunto. O primeiro é sistemático e reproduz o título dos verbetes , na
ordem, das diversa partes e problemas teóricos da filosofia tradicional,
quer da filosofia pura, quer da filosofia aplicada as diversas ciências que
com ela têm relação: sociologia, política, direito, pedagogia, psicolgia
empírica, estética, literatura etc. O segundo é histórico e apresenta os
autores na ordem histórico-geográfica. Especialmente os pensadores do
século XX são agrupados por nacionalidades. O terceiro é ''analítico''. Nele
encontram-se, em ordem alfabética, duas espécies de termos: a) aqueles
de que não há um verbete próprio, mas que aparecem em outro verbete,
Por ex.: Bevilaqua Clóvis, o índice analítico assinala que dele se trata no
verbete Recife (Escola do...) b) Termos que têm verbete próprio, mas dos
quais se trata também em outros verbetes aqui cuidadosamente indicados.
O pensamento brasileiro é representado por uns 20 verbetes: desde
Tobias Barreto, Farias Brito, até os contemporâneos pe. Leonel Franca,
Vicente Ferreira da Silva, Mário Ferreira dos Santos (só citamos alguns
dos falecidos). A lista teria podido ser maior e mais completa, numa
coleção deste tamanho. Mas é preciso reconhecer também que o deserto
criado pelo marquês de Pombal custou bastante para reflorescer e só
nestes últimos decenios se foi criando entre nós um clima de maior
interesse para a filosofia e um ambiente mais favorável à eclosão de obras
de alguma importância.''
[81]
38. Suplemento Literário (SP) – Edição de 1976 - Jornal
publicado entre 1956 até 1985 (Biblioteca Digital da
Biblioteca Nacional)

‘’Suplemento Cultural’’

‘’A filosofia no Brasil’’ (por Leonidas Hegenberg)

Rumos da filosofia atual no Brasil, em auto-retratos, organizado por


Stanislavs Ladusans, São Paulo, Edições Loyolo, 1976, vol.1, 533p.

‘’O prof. Ladusâns, natural de Rudzeisi, na Letônia, radicou-se no


Brasil em 1947. Depois de estudos feitos em sua terra natal, acompanhou
novos cursos na Polônia e na Itália, onde se doutorou um ano antes da
vinda para o Brasil. Fixou-se na Faculdade de Filosofia Nossa Senhora
Medianeira (nas vizinhanças da cidade paulistana de Jundiaí), lecionando,
organizando simpósios, escrevendo e criando, desde 1968, a Sociedade
Brasileira de Filósofos Católicos - definitivamente estabelecida em 1947 e
que vem presidindo desde então.
O prof. Ladusâns procurou, desde 1967, traçar os ''rumos da Filosofia
no Brasil'', tentando junto a diversas personalidades eminentes, de maior
ou menor expressão no mundo filosófico (mas conhecidas por força de
atividades culturais em áreas paralelas) , obter depoimentos que lhe
assegurassem a possibilidade de retratar a filosofia praticada em nosso
pais. Distribuiu questionários a inúmeras figuras de renome, que tê
trabalhado, direta e indiretamente, em campos filosóficos, procurando
informes relativos à vida dessas pessoas e dados acerca do que essas
pessoas pensavam a respeito de múltiplos aspectos do pensamento
contemporâneo. As perguntas do questionário do prof. Ladusâns
abrangiam temas de várias ordens, notando-se uma nítida preocupação
com problemas de ordem social e religiosa. (Assim, por exemplo, entre as
questões acham-se estas: '' Que fazer para que a Filosofia atinja grandes
massas populares e a juventude em grande escala?'' ou ''Que pensar do
ateísmo contemporâneo?'')
Reunindo algumas das respostas objetidas, o prof. Ladusâns
preparou este ''primeiro volume'' de ''auto-retratos'', em que se
manifestam 27 personalidade, cada qual delas escrevendo 10 a 30 páginas,
relatando aspectos de suas atividades e emitindo suas opiniões quanto a
alguns dos pontos do questionário preparado pelo editor. Entre outros, aí
estão os depoimento de Miguel Reale, Leonardo Van Acker, João Cruz
Costa, Ivan Lins, Luiz W. Vita e Vilém Flusser, que se tê destacado no
cenário filosófico, e os depoimentos de personalidades como Gilberto de
Mello Kujawski, Leôncio Basbaum, Mário Ferreira dos Santos, Alcântara
[82]
Nogueira, João Camillo de Oliveira Torres, Pedro Dalle Nogare e muitos
outros que se destacaram pela discussão de temas culturais, didáticos ou
históricos. Aí estão, enfim, alguns ''novos'', como Antonio Severino e
Ubiratan Macedo, que começam a produzir, agora, seus trabalhos de
filosofia ou de áreas afins.
Pelos informes que contém, o livro organizado por Ladusâns há de
agradar aos leitores interessados em informações de ''primeira mão'',
preparados pelos próprios escritores, sem as comuns distorções que
críticos e comentaristas podem inserir, por tendenciosidade ou descuido
nos seus relatos acerca da vida filosófica do Brasil. Esperemos que os
próximos volumes da série completem o quadro, apresentando indicações
de personalidade como Newton Costa, Oswaldo Porchat, o grupo de
filósofos da linguagem (reunidos ou em torno da revista Vozes, ou em
Campinas ou na Puc, de São Paulo) que têm trabalhado nesses últimos
cinco ou seis anos com grande empenho, Arthur Gianotti, Artur Versiani
Veloso e seu grupo da revista Kriterion, e tantos outros pensadores
ilustres, inclusive os que, ao redor de Miguel Reale, na Revista Brasileira
de Filosofia, tanto têm feito para a discussão de temas filosóficos em nosso
País.''

***
39. Suplemento Literário (SP) – Edição de 1979 - Jornal
publicado entre 1956 até 1985. (Biblioteca Digital da
Biblioteca Nacional)

‘’Cartas’’

Senhor Editor:

‘’Esta pergunta é dirigida aos colaboradores deste suplemento, da área


de filosofia: - Qual o motivo pelo qual nenhum pesquisador da história do
pensamento filosófico, no Brasil, cita o nome e a obra do filósofo brasileiro,
Mário Ferreira dos Santos, autor, entre outras obras, do ''Dicionário de
Filosofia e Ciências Culturais, ''Métodos Lógicos e Dialéticos'' (3 vols) e
''Filosofia Concreta'' (3 vols), parte de uma extensa obra que atinge mais
de cento e cinquenta volumes e que, embora fundamentada na obra dos
escolásticos, é obra original e de grande maturidade filosófica?
Este Suplemento poderia abordar o assunto em artigo, quando não
seja, ao menos, para revelar-se a existência de um autor imerecidamente
relegado ao limbo do esquecimento, e fazer justiça ao que é,
provavelmente, um dos maiores representantes da filosofia, em terras
brasileiras.’’
(Luiz Gonzaga de Alvarenga - Goiânia, GO)

[83]
40. Letras da Província - Publicação Mensal das Casas de
Cultura de Limeira e Jaú, oficializadas pela Associação
Brasileira de Escritores de São Paulo (SP) – Edição de
1969. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

''Sobre Livros e Autores''

''NOTAS LITERÁRIAS'' (Por Sebastião Almeida Oliveira)

‘’Na cerimônia que lhe conferiu com muita justiça o título gratulatório
de ''Príncipe dos Poetas Brasileiros'', com a ênfase que lhe é peculiar
recitou Guilherme de Almeida alguns versos que, embora belíssimos,
assim isolados poderiam causar espécie. E foi o que conosco aconteceu ao
depararmos, em meio do seu discurso, estas magníficas estrofes:

''Quando se sente bater


No peito heróico pancada,
Deixa-se a folha dobrada,
Enquando se vai morrer...’’

‘’Ora, por mais tratos que dessemos a bola, atinar não logramos com
o sentido desses versos, assim enigmáticos. Além disso, onde e quando
foram escritos? A que poeta célebre ou anódino atribui-lo?
Que significado emprestar-lhes? Mas, na ausência de uma explicação,
ficaram eles bailando e rodopiando em nossa mente numa indagação
perene e constante.
Decorrido algum tempo, após refletir o assunto, eis que, de inopido,
se nos depara solução para o problema em tela. Encontro-lo num
compÊndio de Mário Ferreira dos Santos, que trata de oratória, ou mais
propriamente numa citação de Alcântara Machado, onde nos foi dado
verificar que esses versos são de autoria de Tobias Barreto e compôem
poema de maior tomo, cujo contexto está assim redigido:

‘’Juntem as almas gratas


De colegas e de irmãos;
Que o vento que acorda as matas
Nos toma os livros das mãos:
A vida é uma leitura,
E quando a espada fulgura,
Quando se sente bater
No peito heróica pancada
Deixa-se a página dobrada
Enquanto se vai morrer....’’

[84]
Eufóricos e contentes ficamos com a descoberta que explica e dá
sentido cabal aos versos isoladamente citados pelo festejado autor de
''Nós'', merecidamente guindado ao principado das letras, versos que ele
incrustou na magnífica oração proferida ema gradecimento às
homenagens que lhe tributou a fina flor da inteligência e da cultura
bandeirante, homenagens a que gostosamente daqui nos associamos.
Guilherme de Almeida é um privilegiado, que realizou em vida o que
refere Horácio, em sua ''Ars Poetica'' –‘’omne tulit punctum, qui
miscuit utile dulci’’, isto é, aquele que, misturando o útil ao agradável,
realiza uma obra que vida afora, como poeta, realizou.
E já que estamos com a mão na massa, para usarmos expressão
corriqueira, as voltas com o latinório mencionemos o dístico de Aldo
Mauncio, patrício romano, ctado por Manuel Bernardes, dístico esse que
bem poderia ser usado à porta dos escritórios e das repartições públicas de
nossa época, como sinal de advertência aos maçantes: ''Quilquis es, rogat
te Aldus atiam atque etiam ut quidquid es quod a fe velis, perpancis agas,
deinde actutum abeas’’, ou seja: ‘’quem quer que és, Aldo te roga mui
rogado, que se dele queres alguma coisa, sejas breve e te vás depressa’’.
Volvamos, porém, ao nosso tema poético e ao uso do vernáculo. Num
artigo sobre Livros e Bibliotecas, Humberto de Campos, saudoso estilista
que tanto apreciamos, traz à baila composição inspirada dum parnasisno,
sem mencionar o autor, consubstanciado neste expressivo trecho:

‘’Vós que buscais a senda da esperança,


Entrai: aqui há mundos luminosos
Num céu, que a mão, por mais pequena, alcança!’’

Na realidade belíssimos são os conceitos que traduzem. Mereciam


gravados, em letras de ouro, na portada de livrarias e bibliotecas, porque
exprimem, em linguagem elevada, tudo aquilo que uma casa de livros
encerra: esses mundo luminosos de que fala o poeta.
Releva, porém, descobrir a autoria de tão lindos versos, inquirição e
pesquisa sobremodo grata aos aficionados da Literatura, Bilac, Raimundo
Correia, Alberto de Oliveira, parnasianos que se esmeravam em busca da
forma perfeita, qualque deles poderia ter burilado essa joia literária de
poema de maior tomo e intensidade de tal qual o surradissmo:

‘’Oh! Bendito o que semeia


Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n'alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar!’’

...que, como todos sabem, faz parte integrante das famosas apóstrofes
de Castro Alves através de ''O Livro e a América''. Onde quer que alguém
[85]
escreva duas palavas sobre o livro lá vem a citação infatível e salvadora.
Questões de ‘’lana-caprima’’ - dirá alguém menos prevenido, ou não
interessado em assuntos assim despidos de valor monetário, mas que
certamente encerram proveito espiritual a quem deles se ocupa''.

***

[86]
41. MARIO FERREIRA DOS SANTOS - Esboço biográfico, por
suas filhas - Artigo publicado na revista "Livro Aberto", de autoria
de Yolanda Lhullier e Miguel Jorge Machado, em agosto-setembro de
1996.

"Todo homem deve viver e morrer como um guerreiro"

Uma pessoa que age sob o signo desta máxima nos aproxima da idéia
de quem era Mário Ferreira do Santos, de sua intensa produção intelectual
e filosófica e de sua interferência positiva na cultura e, particularmente, no
mercado editorial brasileiro. Jamais seus valores se fecharam diante de um
país que permanece ainda preconceituoso frente à audácia dos seus
próprios pensadores maiores. Era para ele uma questão de princípio
romper com essas amarras dogmáticas. Tipo "enciclopedista", era um raro
viajante esclarecido e, como tal, causava assombro, estranheza e mal-estar.
Lutador incansável na afirmação do pensamento brasileiro no grande
caleidoscópio universal, expressava-se pela caracterização de uma busca
incessante de uma nova linguagem filosófica diante de um pensamento
europeu consolidado no seu esgotamento. Ousou pensar os antagonismos
do seu tempo com uma dignidade divergente e típica daqueles que não
escamoteiam seus próprios problemas contraditórios e oponentes,
exemplarmente munido de uma coragem espiritual de quem não teme os
absurdos. Prolífero, profundo, marcante, heterogêneo e polêmico são
adjetivos inscritos no interior da produção de sua extensa obra.
Dono de uma intensidade ímpar, jamais procurou ficar imune diante
do que se apresentava. Herdeiro de uma formação escolástica sólida,
procurou construir seu método na afirmação do ciclo concreto "que
pertence a todos os grandes ciclos naturais da humanidade", desde os
gregos até os nossos dias. Formou-se em Direito e Ciências Sociais pela
Faculdade de Direito de Porto Alegre. Como livre-pensador foi preso em
1930, aos 23 anos, em defesa de suas atitudes conscientes e de seus ideais
libertários, aos quais se manteve fiel até o fim da vida. Foi advogado, diretor
de jornal, tradutor, professor, escritor multiprismático.
Dentre as várias traduções feitas para a Livraria do Globo, Porto Alegre,
destaca-se a obra de Friedrich Nietzsche, Vontade de Potência com o
ensaio O homem que foi um campo de batalha. Posteriormente em São
Paulo traduziu Assim Falava Zaratustra com análise simbólica. Tradutor
criterioso, procurava manter-se fiel ao ritmo, ao estilo e às modalidades da
expressão nietzscheana, tendo a subtileza da intuição genial de ter-se
"colocado sempre na posição de sentir como Nietzsche escreveria se fizesse
"Zaratustra" em português". Cria, com isso, uma original interpretação
simbólica do pensamento do filósofo de Sils-Maria.
Compulsivo na criação de suas obras, Mário escreveu artigos políticos
e de cultura para os jornais Opinião Pública, de Pelotas, e Diário de
Notícias e Correio do Povo, de Porto Alegre. Foram quase duas centenas de
[87]
artigos versando, principalmente, sobre aspectos da II Guerra Mundial. Por
essa época, colabora com as revistas Climax e Movimento, escrevendo
ensaios, discussões sobre arte, estética e poesias. Mas é ainda pouco para o
seu espírito irrequieto, que não para de buscar um conhecimento mais
consistente. Talvez por isso, necessitando de um espaço onde houvesse a
condição de uma troca mais radical, mudou-se para São Paulo, na
esperança de encontrar ecos mais significativos às inquietações do seu
trabalho filosófico. Em São Paulo trabalhou em várias editoras: Flama,
Sagitário, Livraria Ritz e outras. Fundou a Livraria e Editora Logos e a
Editora Matese. Como empresário foi pioneiro na implantação de venda no
crediário no sistema porta a porta.
Intelectual por demais contemporâneo, em 1949, dedicou-se a ministrar
aulas. Redigia de forma cuidadosa, acessível e sem rebaixar o conteúdo dos
cursos por correspondência (novidade no Brasil, pois os únicos que
existiam vinham importados dos Estados Unidos ou da Europa). Dizia que
os cursos de Cultura e Filosofia Geral importados "não iam evidentemente,
de encontro às necessidades do povo brasileiro". Iniciou os cursos com
Oratória, seguindo-se Filosofia, Estética, História da Cultura e História da
Arte. A sua residência, à noite, após as aulas, era inundada por grupos de
estudantes em fervilhante atividade, na busca de discussões livres e
penetrantes, em torno de temas políticos, econômicos e sociais da
atualidade.
Homem de filosofia, não poderia deixar de interrogar-se constantemente.
No livro "Se a esfinge falasse", afirma: "É do destino do homem formular
perguntas, e de sua necessidade respondê-las. Mas cada resposta é a gênese
de uma nova interrogação. Enquanto o homem for homem, perguntará...
Perguntar é bem uma dimensão humana". Recuperando, então, essa
dimensão humana através da escrita, por sua aparição mais indicada, que é
o livro, ousamos perguntar: por que não reeditar Mário Ferreira dos
Santos?

Quem foi este filósofo?

"Que filósofo seria eu se não pudesse tratar filosoficamente de cada


ciência?"

"Estou realizando uma pesquisa científica sobre a situação atual do


pensamento filosófico brasileiro, a fim de constatar, com objetividade, em
que ponto se encontra a Filosofia hoje no Brasil, como ela se desenvolve,
que metas está visando e que objetivos deve atingir. Durante esta pesquisa
científica, ainda em curso, descobri um pensador de extraordinário valor
- Dr. Mário Ferreira dos Santos, nascido no dia 3 de janeiro de 1907 e
falecido no dia 11 de abril de 1968. A descoberta deste filósofo solitário,
dedicado a uma intensa atividade de pensamento e produção literária,
surpreendeu-me não pouco e proporcionou-me a grata oportunidade de

[88]
entrar em freqüentes contatos pessoais com ele, homem que ainda não foi
descoberto no Brasil".
(Declaração Prof.Dr.Pe.Stanislavs Ladusãns S.I. (18-12-1968)

A ele se referiu o Dr. Carlos Aurélio Motta de Souza, seu ex-aluno:

"Fue un pensador completo, que há buscado sin rechazar nadie en sus


estudios y pesquisas, pero tan sólo ha refutado lo que no fuera positivo, y
no llevara al hombre a conocerse en su totalidad.
Por eso, y en esse sentido, fue un gnoseólogo humanizante, de
pensamiento total, que nada excluye del hombre ni de este desvalorice.
La extrema fecundidad del trabajo de Mário Ferreira dos Santos nos ha
legado una obra filosófica grandiosa que, como tal, permanece a la
disposición de los estudiosos.
Restan, todavía, decenas de trabajos inéditos, que merecen ser conocidos,
no sólo para memoria del extraordinario pensador, sino para coronamiento
de una obra producida en los momentos de su mayor intuición filosófica.
Relegada progresivamente a planos inferiores de la cultura, urge
rescatar la filosofía humanizante, centrada en la realidad del ser supremo,
esta filósofo há buscado incesantemente la integración humanística,
abordando el ecumenismo, buscando la unidad, procurando "un método
capaz de reunir los aspectos positivos de diversas posiciones filosóficas",
"método includente y no excludente, que concilia positividades",
combatiendo al mismo tiempo las filosofias nihilistas, negativistas y
pesimistas, que alienan, desesperan y dividen el hombre y el mundo, sin
darles la debida concreción, y la certeza del bien supremo.
Bien por eso ha concluido su auto-biografía apuntando hacia la
reconciliación de la filosofía com la religión cristiana, como filosofía
superior capaz de unir los hombes y hacer que se compreendan, pues para
él, Cristo representa todo cuanto hay de más elevado, es el hombre en
cuanto voluntad, entendimiento y amor, correspondiente a la concepción
de las tres personas de la Santísima Trinidad".

(Mário Ferreira dos Santos y su filosofia concreta". Madrid, Revista Verbo,


série XXX. Núm. 29-296, mayo-junio-julio 1991.)

O filósofo Olavo de Carvalho, apesar de não tê-lo conhecido pessoalmente,


dedica-se ao estudo de sua obra, trabalhando na organização dos escritos
inéditos:

"Cultuado e respeitado, temido e odiado em vida, Mário tornou-se, uma


vez morto, objeto de uma conspiração de silêncios destinada a abafar o
mais paradoxal dos escândalos: este país sem cultura filosófica deu ao
mundo um dos maiores filósofos do século, talvez de muitos séculos.
A obra de Mário não tem similar, nem por sua extensão oceânica, mais
de cem volumes publicados e trinta inéditos, nem pela orientação muito
[89]
peculiar de seu pensamento, onde as influências mais díspares, de Sto.
Tomás a Nietzsche, de Pitágoras a Leibniz, de Platão a Proudhon, se
harmonizam numa síntese radicalmente original.
Um dos segredos dessa originalidade é justamente a absorção e
superação de um imenso legado filosófico. Dono de uma cultura
prodigiosamente vasta, Mário se ocupou de buscar, na filosofia universal,
as constantes ocultas, os pressupostos latentes que, por trás da variedade
e dos antagonismos aparentes entre os sistemas, configurassem o ‘’quod
semper, quod ubique, quod ab omnia credita est’’ (aquilo que todos, em
toda parte, sempre acreditaram). E não somente encontrou um núcleo de
princípios que estruturam algo como uma unidade transcendente das
filosofias, mas ainda o formulou em expressão sistemática e lhe deu
variadas aplicações na solução de alguns dos mais difíceis problemas da
metafísica, da teoria do conhecimento, da ética e da filosofia da história.
Para sondar esse sistema de princípios, que ele denominava, usando
uma expressão pitagórica, ‘’mathesis megiste’’ (ensinamento supremo),
Mário criou um método próprio, a dialética concreta, que sintetiza a lógica
analítica tradicional com a lógica matemática e com as dialéticas de
Aristóteles, Hegel e Nietzsche (um método de espantosa flexibilidade) que
lhe permite levar suas demonstrações até requintes de evidência que
superam tudo o que a mente mais rigorosa poderia exigir".
("Futuro do Pensamento Brasileiro". Rio de Janeiro, Faculdade da Cidade
Editora, 1997)

Mário Ferreira dos Santos costumava dizer: "Não sou um professor de


Filosofia, sou um filósofo. Há um silêncio a minha volta, mas não me
importo. Quero que o leitor me julgue e só dele quero receber a crítica boa
ou má. Meus livros, 'observou', foram entregues ao seu próprio destino,
sendo os leitores os únicos propagandistas; já que eram eles que os
aconselhavam à outros e, desta forma, foram tornando-se conhecidos e
procurados". Sua meta: tornar a filosofia compreensível para todos,
propiciando o conhecimento sempre no sentido mais elevado. Acreditava
na possibilidade do nosso povo, pois comentava que todos aqueles que no
Brasil revelaram possuir mente filosófica, tenderam para um pensamento
de caráter sintético, de característica universalizante, por isso "...o Brasil é
atualmente um dos países que está melhor capacitado para uma nova
linguagem filosófica, capaz de unir o pensamento..."

No prefácio de Filosofia e Cosmovisão (1953), temos uma explicação clara


de seus objetivos. Como ensinar filosofia a leitores que não tem os
conhecimentos básicos? Havia necessidade de preencher estas lacunas, por
este motivo usou uma linguagem de rigor filosófico, mas pressupondo a
falta de escolaridade destes leitores, pois dizia "há em nosso país
autodidatas de grande valor e de muita criatividade".

[90]
Paulatinamente foi publicando as obras que aprofundavam o
conhecimento, constituindo um verdadeiro curso: Psicologia, Lógica e
Dialética, Teoria do Conhecimento, Ontologia e Cosmologia, Tratado de
Simbólica, Filosofia da Crise, O Homem perante o Infinito, Noologia
Geral, Sociologia Fundamental e Ética Fundamental, Filosofia Concreta
dos Valores, obras que constituem a Enciclopédia de Ciências Filosóficas e
Sociais.
Em Filosofia Concreta estabelece seu modo de filosofar: “Há duas
maneiras de fazê-lo: a) deixar o pensamento divagar através de meras
opiniões; b) ou fundá-lo em juízos demonstrados a semelhança da
matemática. Esta segunda maneira é usada nesta obra, pois nela a filosofia
não é abstrata, mas concreta, fundada em demonstrações rigorosas. A
Filosofia Concreta não é uma “síncrese” nem uma “síncrise” do pensamento
humano, não é um acumulado de aspectos julgados mais seguros e
sistematizados numa totalidade; ela tem sua existência autônoma, pois seus
postulados são congruentes e rigorosamente conexionados uns aos outros".
Partindo da proposição "alguma coisa há" constrói 327 teses,
apoditicamente demonstradas, pois "o valor de nossa filosofia é
proporcionado às demonstrações que ela usa e emprega; como construção
filosófica, ela valerá na medida que valerem as suas demonstrações".
Como construir um método capaz de reunir as positividades das diversas
posições filosóficas?

“O método dialético é inegavelmente o mais completo, é o melhor para


estudar, sobretudo na ciência, quando nos dedicamos ao mundo da ação do
homem, ao mundo do pragma, porque trabalhamos aí com entidades que
excluem e, portanto, não podem ter aquele rigor da lógica clássica. Temos
também o que chamo de decadialética, que é uma espécie de esquema em
dez providências de tudo aquilo que é conveniente fazer quando se quer
estudar um fato que corresponda à filosofia prática. Esta metodologia
permite, partindo de uma pequena idéia, construir uma série de idéias;
trata-se de uma questão de procurar subordinantes, subordinados e
colaterais".

Analisou este método em A Sabedoria da Dialética Concreta (manuscrito


inédito). E aplicou-o em Pitágoras e o Tema do Número, onde elucida o
pensamento do filósofo grego, visto o pitagorismo ter sido o movimento
fecundador de todo conhecimento humano. Inspirado nele criou, quando
jovem, um personagem literário, Pitágoras de Melo, protagonista de vários
artigos e que retorna duas décadas depois, nos diálogos de Filosofias da
Afirmação e da Negação.
Queria reivindicar Pitágoras para o cristianismo, pois considerava
os Versos Áureos um livro sagrado, que no futuro deveria ser incorporado,"
porque não há ali um pensamento que não seja cristão". Por este motivo
decidiu fazer uma edição com a tradução integral dos comentários de

[91]
Hiérocles, aproveitando a contribuição de outros estudiosos e fazendo uma
espécie de síntese, acrescentando as suas contribuições (obra inédita).

O Tratado de Simbólica justifica a simbólica como disciplina filosófica,


pois pode-se considerar todas as coisas no seu aparecer, na forma como se
apresentam, como um apontar para algo ao qual elas se referem. Examina
as principais teorias e propõe uma técnica de interpretação baseada na
dialética simbólica, a qual utilizou para o estudo da hermenêutica de O
Apocalipse de São João.

Em 1967 iniciou a publicação das obras da Matese da Filosofia Concreta e


assim se expressou:

"Atualmente estou terminando o trabalho maior da minha vida, que é a


obra de ‘’Matese Megiste’’, que é a tentativa de reconstruir a suprema
instrução dos pitagóricos. A Sabedoria dos Princípios é o título do primeiro
volume, seguindo-se A Sabedoria da Unidade, A Sabedoria do Ser e do
Nada, A Sabedoria das Leis, A Sabedoria dos Esquemas, A Sabedoria das
Tensões(estes três últimos não publicados), e assim sucessivamente, nos
quais exponho o pensamento que julgo ser genuinamente pitagórico que
antecede a tudo quanto se fez, e dá o fundamento mais profundo do saber,
porque se desenvolve através de demonstrações rigorosas e apodíticas,
suficientes para permitir a formação de uma nova linguagem, que possa
unir os homens dos diversos setores do conhecimento, evitando os estragos
que os especialismos estão fazendo atualmente. Desta maneira, homens
provindos de todos os setores do conhecimento humano, podem reunir-se
num pensamento capaz de ligar, ‘’polimateicamente’’, tudo quanto o
homem realizou, e oferecendo os fundamentos que Pitágoras desejou
expressar, cujos trabalhos não chegaram até nós senão através de
fragmentos e de obras esparsas e incompletas, que estamos lutando para
reunir, graças à dialética matética, como chamamos, que é uma dialética
concreta, que permite ao partir de um postulado válido de per se, ascender,
pela subordinação, e descer também, pelo mesmo caminho, e buscar os
colaterais, e, deste modo reunir concretamente um conjunto de idéias e de
verdades, que estavam dispersas nos diversos setores”.

Questionado de como atingir esta sabedoria, respondeu:

“Estou trabalhando e tenho a convicção de que consegui, consegui alcançar


a esta Matese que vai servir então de ciência arquitetônica, que poderá
facilitar a compreensão de todos os setores terem uma linguagem comum,
uma meta linguagem, uma sintaxe universal que pode dar a ligação de todas
as ciências". Mas é possível o homem atingi-la? "...que é possível, não há
dúvida, e é prometido na Bíblia, foi prometido por todas as grandes
religiões. Na Bíblia há centenas de passagens que São Boaventura
colecionou, onde há essa promessa, que é o que ele chama de “Ciência
[92]
Christi”, a própria ciência de Cristo que é dada, prometida ao homem, com
a qual o homem poderá alcançar o entendimento. E São Boaventura chega
a dizer mais, que essa procura é piedosa e é anticristão não crer nessa
possibilidade porque então é como que marcar para todo o sempre a
impossibilidade dos homens se entenderem”. E concluiu: "este estudo
levará, inevitavelmente a uma visão transcendental da realidade e sem ele
não se faz filosofia em profundidade, mas apenas de superfície".

Um idealista libertário e um professor incansável

O homem é um fim e não um meio. Utilizá-lo, transformá-lo em peça de


um mecanismo, é ofender a sua dignidade.

Livre pensador, apaixonado pelos ideais libertários, foi um lutador, um


quixote esgrimindo para todos os lados, sempre procurando a elevação
espiritual pelo saber. "O homem é um viandante (homo viator) que deve
buscar a sabedoria, até quando lhe paire a dúvida, de certo modo bem
fundada, de que ela não lhe está totalmente ao alcance".
"Meu ideal?... sei que não o verei vitorioso em minha vida. Nem meus
filhos o verão. Talvez nem meus netos. Talvez mesmo nunca chegue a
vencer. Que importa! Continuarei lutando pelo meu ideal embora saiba que
ele jamais será vitorioso. Ele é minha única razão de ser, porque na luta,
para torná-lo vitorioso, está toda a minha felicidade!..."
Na defesa de idéias não se furtava ao debate. Apaixonado quando
discursava e bastante polêmico na controvérsia, principalmente nos
debates sobre questões sociais, não foram pouco os adversários adquiridos.
Conhecedor das várias correntes ideológicas, principalmente do
marxismo, assim se referiu a um contestador: “...mesmo sendo marxista,
dificilmente ele conhecerá marxismo melhor do que eu...” Dentre os
inúmeros fatos pitorescos desta época, um deles ocorreu durante uma
palestra, quando o conferencista defendia o marxismo, mas de maneira
elementar, Mário levantou-se, pediu um aparte, e começou a expo-lo com
argumentos sólidos. O auditório admirou-se, pois era conhecido como
defensor das idéias libertárias. Seus amigos chegaram a pensar que tivesse
mudado de opinião, mas logo em seguida rebateu, ponto por ponto, todos
os itens antes defendidos.
Uma das suas preocupações eram os problemas sociais: "... Senhores,
como o Brasil sairá da miséria? Apenas aplicando um sistema de
organização social? Se não houver uma modificação psicológica neste povo?
Se não despertarmos neste povo um outro sentimento de si mesmo, uma
outra maneira de ver a vida, e isto se fabrica da noite para o dia? Isto não
está exigindo lutadores?

[93]
"Para conseguir esta mudança que se deve fazer no Brasil?” perguntaram-
lhe.

“Bem a mudança que se deve fazer no Brasil é em nós, primeiro nós


brasileiros temos que mudar radicalmente se quisermos fazer alguma coisa,
porque o que temos lá em cima é um reflexo de nossa situação. Se lá em
cima vão esses homens, é porque não fomos capazes de evitar que lá
chegassem. Precisamos criar elites de espírito brasileiro, preocupadas com
problemas brasileiros. Se assim não o fizermos, não criaremos uma outra
mentalidade, não criaremos a confiança em nós mesmos, não seremos
capazes de elevar este país para o destino que merece. Há muita gente
capaz, mas muitas vezes não podem fazer nada porque estão coarctadas
pela ação de grupos e de outros elementos que ocupam, às vezes, cargos de
mando. Vamos fazer uma nova elite no Brasil, vamos obrigar aos nossos
homens que estudem as nossas coisas e dêem valor ao que é nosso”.
Para ele, "Os homens revelam-se pelos atos e não pelas palavras. Prefiro
mil vezes o meu idealismo consciente e de perspectiva de pássaro do que o
ignorante praticismo caolho de perspectiva de rã!"...

Em Invasão Vertical dos Bárbaros denuncia a falsa cultura que avassala


o mundo, propondo: "O que temos de fazer hoje é construir. Na realidade,
o espírito destrutivo, o demoníaco, vence em quase todos os setores deste
período histórico que vivemos e, sobretudo, neste século, que talvez seja
cognominado pelos vindouros 'século da técnica e da ignorância'; porque se
há nele um aspecto positivo, que é o progresso da técnica, que chega até as
raias da destruição, a ignorância aumenta desesperadamente, alcançando
limites que a imaginação humana nem de leve poderia prever. Mas o que é
mais assombroso é a auto-suficiência do ignorante, o pedantismo da falsa
cultura, a erudição sem profundidade, a valorização da memória mecânica,
do saber de requintes superficiais, a improvisação das soluções já refutadas,
a revivescência de velhos erros rebatidos e apresentados com novas
roupagens. Tudo isso é de espantar".
"Estamos em pleno agnosticismo, ceticismo, pessimismo, ficcionismo,
pragmatismo, materialismo, niilismo, "desesperismo"; são conseqüências
que surgiram do filosofar moderno".

Costumava nas aulas conclamar os alunos para lutarem contra as más


idéias que invadiram o campo cultural moderno, contra a filosofia de
opiniões que tantos males causaram, contra os "ismos", contra o espírito da
"novidade" e tudo que leva ao negativismo e a confusão. "O resultado é que
vivemos num mundo de utopias e quimera; como conseqüência, há
desilusões, cujo resultado final é desespero". "Portanto, inegavelmente, a
reflexão filosófica deve abrir-se para uma visão transcendental da
realidade, sob pena de nos perdermos em armadilhas feitas por nós
mesmos, afirmando uma deficiência que, na verdade, não temos".

[94]
Advertia que "devemos erguer as massas populares até a filosofia, através
de um desenvolvimento da cultura nacional, que tenda à filosofia positiva e
não à filosofia negativista e niilista que penetra em nossas escolas".
Como mestre e educador revelou uma preocupação especial em relação
aos jovens, e foi em tom apologético que encerrou uma de suas aulas: "Eu
conclamo a juventude de hoje que não se torne aquela juventude que
perseguiu sempre os grandes homens, aquela juventude que perseguiu
Sócrates, aquela juventude que perseguiu os pitagóricos, aquela juventude
que levou à condenação, à morte a Anaxágoras, mas sim aquela juventude
que apoiou Platão, que apoiou Aristóteles no Liceu, que apoiou Pitágoras
no seu Instituto, aquela juventude estudiosa, aquela juventude que dedica
o melhor de sua vida para formar o seu conhecimento, aquela juventude
que quer ser capaz de assumir as rédeas do amanhã, e não a juventude que
quer apenas ser uma massa de manobras de políticos demägógicos e mal-
intencionados, uma juventude de agitação, mas sim uma juventude
construtora, uma juventude realizadora, uma juventude que lance para a
história da humanidade os maiores nomes e os maiores vultos..."

Cristianismo, a religião do homem

O caminho que leva à Sabedoria é um caminho de humildade e


simplicidade. A conversão nos exige que nos apresentemos ante os outros
com o pouco que temos e colocá-la à disposição de todos. Não ensinamos,
não damos, oferecemos e compartilhamos o que temos, aprendemos e
agradecemos o que nos ensinam todos os outros.

Seu pai, apesar de anticlerical, vendo a inclinação do filho para temas


filosóficos, decidiu matriculá-lo no Ginásio Gonzaga, pois considerava os
jesuítas grandes educadores.
Aos 14 anos sentiu despontar grande ardor religioso, desejando entrar
para a Ordem, porém o padre confessor advertiu-o: "Mário, deves ir para o
mundo, teus caminhos serão outros, porém mais tarde sei que voltarás a
nós". "Que mal padre eu seria!", comentou anos mais tarde.
Teve momentos de dúvidas e descrença " ...passei por uma longa noite
obscura de trevas, em que me abismei no ateísmo. Só depois, graças a ter
guardado um pouco de amor, que me havia ensinado um de meus mestres,
que era uma devoção que sempre tive por Virgem Maria, foi por ali que se
abriram novamente os meus olhos." Costumava dizer: "o meu cristianismo
é o cristianismo do amor, tão bem sintetizado no poema de São Francisco
Xavier: "Deus, eu te amo".
O ateísmo foi tema de estudos, abordado primeiramente em Teses da
existência e inexistência de Deus e depois em O Homem perante o Infinito.
Em resposta a pergunta: "Que pensar sobre o problema do ateísmo
contemporâneo?" disse:

[95]
"Este tema é de uma vastidão tremenda, já que o ateísmo contemporâneo
não surge a rigor de uma especulação filosófica, mas sim, de certas
decepções de caráter mais ético do que filosófico. A meu ver, o ateísmo não
surge, propriamente, em torno do Deus Uno e de seus atributos, mas, em
torno dos atributos do Deus Trino, ou Deus pessoal ou dos atributos morais
de Deus. Não conheço nenhum trabalho, de nenhum ateísta, que se limite
a atacar, especificamente, o Deus Uno. Conheço agnósticos e cépticos, mas
não ateístas que tomem uma posição definitiva, negadora da possibilidade
de um Ser Supremo. O ateísmo é sempre o produto de uma má colocação
do problema de Deus. Como “na Filosofia não há questões insolúveis, mas
apenas mal colocadas”, o ateísmo moderno parece uma questão insolúvel,
porque é mal colocada. Todas as ocasiões em que tive a oportunidade de me
encontrar com ateístas, bastou-me pedir-lhes que descrevessem o que
entendiam por Deus, para, nessa descrição, verificar quais as razões de seu
ateísmo. Foi-me fácil afastá-los de sua posição e colocá-los na aceitação de
um Ser Supremo, o que é, para nós cristãos, o ponto de partida para uma
total recuperação".

Em Cristianismo, a religião do homem (manuscrito inédito), demonstra


que esta é a única religião que não depende de raça nem de ciclo cultural,
pois surge de uma revelação através do próprio homem, pedindo a ele que
seja perfeito naquilo que lhe é próprio, quer dizer, na superação humana,
que se realiza pela purificação da vontade, pela clareza e pela acuidade do
pensamento, e pelo acrisolamento do seu amor.
Nos últimos anos dedicava-se, sobretudo, ao estudo da religião, com a
intenção de publicar Deus (manuscrito inacabado), que culminaria todo
seu pensamento numa síntese global, pois “...consideraria tudo que estou
fazendo na minha vida sem valor se não chegasse a uma possibilidade de
divulgar a idéia religiosa de uma maneira mais sã e mais completa”. E
adiante confessa: “O meu desejo foi sempre ter a minha volta pessoas
capazes de um dia ajudar num trabalho de pregação religiosa, mas de
pregação séria, independente das seitas, independente das diversas igrejas,
nesse verdadeiro sentido do cristianismo. a religião do homem, abrindo as
portas, porque nós estamos hoje vivendo uma época de desenvolvimento
técnico e de desenvolvimento científico, de desenvolvimento cultural em
muitos aspectos, mas completamente esvaziada de espiritualidade e sem
esta espiritualidade tudo isso é falho, tudo isso é fraco. Só o cristianismo
nos poderá dar uma base que está nos faltando, pois o homem não pode
viver sem religião”.

***

[96]
42. Tribuna da Imprensa (RJ) Edição de 2003 - Jornal
publicado entre 2000 até 2008. (Biblioteca Digital da
Biblioteca Nacional)

''Farpas'' (por Olavo de Carvalho)


‘’Sebastião Nery’’

‘’Semanas atrás comparei em ''O Globo'' a ascensão social de dois


pobretões - o filósofo Eric Voegelin e o presidente Luís Inácio da Silva -.
chamando a atenção para o detalhe de que, dos bens a quue tiveram acesso
no caminho, um escolheu os espirituais e essenciais, o outro só os adornos
e futilidades que o primeiro desprezava. Furioso ante a impossibilidade de
contestar coisa tão evidente, o articulista da TRIBUNA DA IMPRENSA,
Sebastião Nery, revirou nervosamente a coleção de injúrias que compoêm
todo o seu acervo cultural e, emburrecido pelo ódio, escolheu a mais
despropositada: chamou a comparação de ''racista'', embora ambos os
personagens mencionados fosse de raça branca e o parágrafo em questão
não tivesse absolutamente nada a ver com assuntos raciais. É muita
vontade de xingar, não é mesmo? Para piorar as coisas, o sujeito ainda
escreve que o meu alegado racismo é ''congênito'', manifestando, portanto,
sua adesão à doutrina nazista de que as idéias vê no sangue. Não contente
de atestar assim sua incapacidade de apreender o sentido dos insultos que
profere, Nery ainda acrescenta que o fato de eu ensinar filosofia sem ter
''diploma de filósofo'' (coisa que aliás nem existe) configura o crime de
falsidade ideológica (art. 299 do Código Penal). É a interpretação mais
postiça, mais maliciosa e mais torpe que essa lei já recebeu. A quem ele
pretende enganar? Só mesmo para um aspirante a chimpanzé pode ser
difícil captar a diferênça entre não ter um documento e ter um preenchido
com informações falsas. Adotada pelos tribunais, a exegese sebastiânica
resultaria em colocar atrás das grades todos os nossos filósofos maiores,
desde Tobias Barreto até Miguel Reale, Vicente Ferreira da Silva e Mário
Ferreira dos Santos. Em todo caso, fica aí a sugestão para os policiais do
pensamento: já que sempre se saíram tão mal nas discurssões comigo, por
que não se livrar logo de mim, pondo-me na cadeia por crimes que não
cometi e oagando ao Sebastião Nery a remineração devida que os
caluniadores de jornalistas incômodos recebem nos regimes de força?
Como não tenho diploma, não precisam nem me dar prisão especial. Vou
para a carceragem comum, entre ladrões e prostitutas, o que, comparado
à vergonha de ser colega de ofício de um Sebastião Ney, será para mim
uma honra e um alívio.’’

(Olavo de Carvalho - Rio de Janeiro (RJ)

[97]
43. Artigo no jornal Folha de São Paulo Opinião, quarta-feira,
06 de outubro de 2004.

Festival retrô
(Por OLAVO DE CARVALHO)

"Quanto à influência da filosofia universitária francesa no Brasil, pouparemos o


leitor da descrição dos efeitos da macaqueação de um modelo degenerado."
(Jean-Yves Béziau)

A Anpof, Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia, vai


realizar de 12 a 22 de outubro, em Salvador, o seu 11º Encontro Nacional de
Filosofia. Se eu fosse um saudosista doente, iria correndo me inscrever, para
ter acesso às últimas descobertas do pensamento brasileiro... da década de
60.
Lendo o programa, tenho a nítida sensação de estar de volta aos tempos
da rua Maria Antônia, quando a estrela de Sartre ainda brilhava, Deleuze e
Foucault surgiam como esquisitices sedutoras e o pessimismo corrosivo da
Escola de Frankfurt parecia o último recurso para salvar "in extremis" a
reputação declinante do marxismo europeu. A releitura de Platão e dos pré-
socráticos com os olhos de Nietzsche e Heidegger enobrecia com um verniz
de erudição clássica a esperança de harmonizar o legado grego com um
niilismo que, apolítico ou mesmo um tanto reacionário em si, era útil de
algum modo ao propósito frankfurteano de demolir a civilização do
Ocidente. Alguma atenção periférica sobrava para os últimos rebentos da
Escola Analítica, incumbidos de corroer as resistências espirituais do
inimigo desde dentro do seu próprio campo.
E não faltavam as homenagens de praxe a Descartes e a Kant, por terem
criado, ainda que involuntariamente, as condições culturais para o restante
da brincadeira. No conjunto, o Partido Comunista orquestrava tudo, hábil na
arte gramsciana de aproveitar para fins hegemônicos a variedade de
correntes de ação e pensamento mesmo apenas vagamente compatíveis com
esse fim.
À margem do processo, os católicos ainda não conquistados para o
teilhardismo ou para o culto dominicano de Che Guevara entoavam suas
litanias habituais ao tomismo "diet" de Maritain, só interrompidos pelo
retorno de Tarcísio Padilha, que trazia da França sua tese sobre a ontologia
de Louis Lavelle, uma lufada de ar logo dispersa na mesmice geral. Os
esquisitões e incatalogáveis -Vilém Flusser, Renato Cirell Czerna, Romano
Galeffi- prosseguiam sua batalha inglória, amontoados na trincheira do
Instituto Brasileiro de Filosofia, aberta por Miguel Reale para dar espaço a
estilos de filosofia rejeitados numa universidade que marginalizava seu
[98]
próprio reitor. O grosso da corrente seguia o molde uspiano. Em 1968,
morria, ignorado pela totalidade dos pigmeus, o único autêntico gigante da
filosofia brasileira, Mário Ferreira dos Santos.
Desde então nada mudou. O partido -ou pelo menos seu nome-
desapareceu, mas a orientação que imprimiu aos estudos filosóficos neste
país continua firme e inabalável, graças à obediência passiva das gerações
subseqüentes, que nem sabem quem compôs a música que tocam.
Dentre os trabalhos inscritos para o evento baiano, o marxismo domina
amplamente o leque de temas, com 73 apresentações. Kant e Nietzsche vêm
em seguida, com 56 e 53, respectivamente, logo acompanhados pelos
desconstrucionistas, com 52. No quinto lugar, Heidegger (35) empata com
Platão, ou melhor, com Platão lido por Heidegger. O restante distribui-se
entre Freud, os clássicos, os analíticos e outros temas usuais. Aristóteles, que
amargou 30 anos de exílio e voltou após o meu "Aristóteles em Nova
Perspectiva" (publicado em 1996 e jamais citado nesses ambientes castos), é
objeto de 26 comunicações. Hegel merece 20 e Merleau-Ponty, o apologista
de Stálin, dez.
De tudo o que aconteceu na filosofia mundial no último meio século,
minutos preciosos são esfarelados com pensadores de importância
episódica, como John Rawls, Robert Brandom ou Gianni Vattimo. Os
filósofos criadores mais poderosos das últimas seis décadas, Bernard
Lonergan, Xavier Zubiri, Leo Strauss, Frithjof Schuon, Seyyed Hossein Nasr,
Eric Voegelin, Ken Wilber e Wolfgang Smith, continuam perfeitamente
ignorados, com as possíveis e meritórias exceções de uma comunicação sobre
o pensamento iraniano, em que Nasr deve aparecer ao menos como
referência, de outra sobre integração da consciência, que talvez mencione
Wilber, e de uma terceira com um título altamente significativo: "A novidade
da filosofia de Xavier Zubiri". Novidade que nos anos 50 já era objeto de
longos estudos de Julián Marías.
É um festival retrô em toda a linha. Mas, ali dentro, ninguém sabe disso.
Garantidos pela autoridade de dona Marilena Chaui, mentora do evento, os
participantes acreditam estar na vanguarda dos tempos. As rodas da história
mental, no Brasil, continuam girando com uma defasagem regulamentar de
50 anos em relação ao mundo civilizado; mas quem vai se dar conta disso, se
a percepção média acompanha o passo da elite acadêmica?
O positivismo chegou aqui quando os ossos de Augusto Comte se
esfarelavam. O marxismo, quando sua credibilidade sofria violentos abalos
com a revelação do genocídio soviético. O estruturalismo-
desconstrucionismo continua em voga, dez anos depois de o episódio Sokal
ter evidenciado a charlatanice de seus próceres e 20 depois de Malcolm
Bradbury os ter exposto ao ridículo na sátira "My Quest for Mensonge",
biografia do filósofo inexistente Henri Mensonge, que, fidelíssimo ao espírito
da coisa, desconstruíra-se a si mesmo, desaparecendo por completo desde
antes do nascimento.
Mas o apego dos brasileiros às suas antigas afeições é tanto que chega a
inverter a ordem dos tempos, como nos amores espíritas de além-túmulo. De
[99]
quando em quando ainda aparece algum jovem universitário, de dedo em
riste, dizendo que sou um monstro antediluviano, que só chegarei à
atualidade da evolução animal quando ler "Les Mots et les Choses" (1966).
Assim caminha a brasilidade.
Mas isso não abala a consciência de ninguém. De Cruz Costa a Paulo
Arantes, a ortodoxia uspiana sempre trouxe consigo a autovacina contra
constatações deprimentes, explicando a própria inépcia pelo
subdesenvolvimento econômico (afinal, quem filosofa sem uma boa conta
bancária?) e este último, é claro, pela "Teoria da Dependência". Logo,
ninguém precisa se acusar de nada. É tudo culpa do George W. Bush.

Olavo de Carvalho, 57, jornalista e ensaísta, é autor de, entre outros


livros, "O Jardim das Aflições" (É Realizações, 2001).

***

[100]
44. Artigo publicado no jornal Diário do Comércio, 24 de
Fevereiro de 2015.
‘’A fonte da criação’’
O pensamento e a literatura não se constroem na universidade, que se tornou,
ao contrário, a institucionalização do mediano

(Por Olavo de Carvalho)

| Jornalista, ensaísta e professor de Filosofia

Toda verdade que se espalha por muitos ouvidos logo se torna um lugar-
comum, uma fórmula repetida mecanicamente, esvaziada da sua substância
intuitiva originária. É ainda uma verdade “material”, mas não “formal”, diriam
os escolásticos -- isto é, um conteúdo verdadeiro apreendido de maneira falsa.
O conhecimento da verdade, no seu sentido pleno, material e formal ao
mesmo tempo, é um privilégio da consciência individual humana. Pode ser
repassada de um indivíduo a outros, mas cada um tem de fazer por si mesmo
o esforço de apreendê-la. Não existe verdade comunitária.
Todo professor confirma isso diariamente. Um aluno isolado pode
compreender a explicação que escapa totalmente ao resto da classe, mas é
impossível que a classe como um todo apreenda algo que nenhum dos seus
membros entendeu individualmente.
A civilização inteira do Ocidente nasce com a proclamação dessa ideia:
Abraão guarda no segredo da sua alma a instrução que recebeu de Deus.
Moisés sobe sozinho ao Monte Sinai. Cristo no alto da cruz encarna a Verdade
solitária, incompreensível aos que O rodeavam – até mesmo, em determinada
medida, aos Seus discípulos mais próximos.
Em ciência, a colaboração entre vários pesquisadores prossegue no escuro
até que um deles enxergue o que os outros não enxergaram.
Ninguém em volta compreende o que se passa na alma do artista quando
ele transfigura a pedra informe na Pietà ou as palavras do dicionário na Divina
Comédia.
No entanto, é certo que a consciência individual, para chegar a essas
alturas, precisa da ajuda da comunidade, que a protege, a estimula e a nutre de
conhecimentos até que ela possa alçar seu voo solitário. E mesmo então ela
continua precisando do diálogo com outras consciências, nas quais se
reconhece e das quais se distingue pouco a pouco na individualidade
irredutível da sua solidão criadora.

[101]
A tensão entre a independência individual e a participação numa
comunidade de inteligências afins é um dos traços mais constantes da História
ocidental. Sócrates busca sua audiência entre os jovens da aristocracia
ateniense, mas foge dela quando eles, na sua fragilidade de moços, repousam
da filosofia, entregando-se a jogos e prazeres indignos de um filósofo.
Sto. Tomás adestra sua inteligência nas disputas universitárias, mas,
quando obtém por fim as respostas mais altas que desejava, sabe que vai levá-
las sozinho para a vida eterna, sem poder dizer mais uma palavra sequer.
Goethe busca a perfeição do caráter na agitação do mundo, mas a do talento
na solidão.
O equilíbrio dinâmico esboroa-se, porém, quando a atividade intelectual
e criativa se padroniza ao ponto de identificar-se com a participação numa
determinada categoria profissional.
William Faulkner ou Henry Miller ririam se alguém lhes pedisse um
currículo universitário ou uma carteira sindical de escritor. Hoje, nos EUA, a
literatura, para não falar da filosofia, foi quase que integralmente absorvida
pelas profissões universitárias correspondentes.
Por isso não há mais nenhum Henry Miller ou William Faulkner, apenas
uma profusão de talentos médios ou sofríveis. Nenhum aprendizado
universitário substituirá jamais a densa experiência da vida, as “impressões
autênticas” de que falava Saul Bellow.
Por isso mesmo, o que há de mais vigoroso na literatura americana das
últimas décadas vem de tipos marginais e extravagantes, como John Kennedy
Toole ou Hubert Selby Junior. E Thomas Pynchon salvou seu talento ao
escapar da carreira acadêmica a que tudo parecia destiná-lo.
Na França, o caso de Emil Cioran é exemplar. Talvez o mais poderoso
artista da língua francesa na segunda metade do século XX, nasceu na
Romênia e, ao fugir para Paris, evitou cuidadosamente não só meter-se ali em
instituições acadêmicas, mas exorcizou toda identidade profissional
concebível: durante décadas viveu espremido num sótão, comendo
diariamente no restaurante da Aliança Francesa e renovando ilegalmente, até
à velhice, uma bolsa de jovem estudante.
Justamente na época em que o governo Pompidou seduzia a
intelectualidade inteira com cargos universitários, enquadrando até os
rebeldes de 68 e estrangulando com um cordão de ouro o mais animado
ambiente de debates que já existiu, ele se manteve ferozmente à margem de
toda vida oficial, recusando até mesmo prêmios literários.
No Brasil, é notório que a crítica literária morreu ao ser absorvida pela
universidade. Com ela, foi para o túmulo também a literatura de ficção. E
décadas de empombadíssima filosofia universitária não nos deram um Mário
Ferreira dos Santos, um Vilém Flusser, um Vicente Ferreira da Silva, um
[102]
Miguel Reale, que nada deveram à universidade. O exemplo brasileiro ilustra
com perfeição o aforisma de Nicolás Gomez Dávila: “Un diploma de dentista
es respetable, pero uno de filósofo es grotesco.”
Sim, um escritor, um pensador, um artista precisa de companheiros, de
diálogo. Mas nada substitui os encontros espontâneos, os círculos de
convivência informal, a amizade fundada na comunidade de sonhos e valores,
longe de todo enquadramento burocrático, de toda organização profissional. O
tipo de convívio que não estrangula a individualidade no garrote vil dos
regulamentos e dos planos de carreira, mas a preza e estimula.
Foi justamente nesses círculos que se formou a mais talentosa geração de
escritores que o nosso país já produziu, aquela que ingressou na vida literária
na década de 30 e dominou o panorama até os anos 70 do século XX. Tudo o
que veio depois, trazido nos braços da universidade, é lixo em comparação.
Quando Bellow definiu a missão do escritor como o registro das
“impressões autênticas”, e Martin Amis como “a luta contra o clichê”,
disseram ambos a mesma coisa: só o apego irredutível à liberdade da
consciência individual, contra todo compromisso deformante, liga um ser
humano à fonte da experiência viva de onde nasce toda grande literatura,
toda grande arte, todo grande pensamento.

***

[103]
45. Revista Unesp-Ciência, Agosto de 2014 – Há uma citação
sobre o Mário Ferreira dos Santos.

‘’Gerhard Bund’’
‘’O Homem que Calculava Núcleos’’

‘’Teórico da física nuclear pesquisou intensamente nos anos


dourados de sua disciplina, e ajudou a estabelecer a pós-
graduação do Instituto de Física Teórica.’’

(texto Igor Zolnerkevic)

‘’Numa tarde de férias de julho, no auditório vazio do Instituto de Física


Teórica da Unesp, a fotó- grafa pede a Gerhard Bund, 82 anos, que pose junto
ao quadro negro, simulando uma aula. Um pouco tímido, o professor
aposentado, que ministrou seu último curso 13 anos atrás no IFT, leva o
pedido a sério. Entusiasmado, começa a proferir, para uma plateia
imaginária de alunos de pós-graduação, uma aula introdutória de mecânica
quântica.
A imaginação disciplinada, aliás, sempre foi a sua principal ferramenta
de trabalho. Do final dos anos 1950 ao início dos anos 2000, a cabeça de
Bund se ocupou com alguns dos problemas mais complicados da mecânica
quântica e da física nuclear. Ele e seus colaboradores participaram do esforço
de entender o que as experiências da época revelavam sobre o que acontece
dentro do coração dos átomos, o interior dos núcleos atômicos. Bund iniciou
sua carreira em uma época em que os físicos ainda tinham uma ideia
relativamente vaga das forças fundamentais que operam na escala
subatômica, da ordem de trilionésimos de milímetro. Mesmo atualmente,
com as teorias básicas das forças nucleares bem estabelecidas, a
complexidade do comportamento das partículas que compõem os núcleos
desafia os limites das experiências e dos cálculos matemáticos — alguns dos
quais o pró- prio Bund ajudou a avançar.
Além da pesquisa científica, Bund teve papel fundamental na criação e
consolida- ção dos cursos de mestrado e doutorado do IFT, planejando e
ministrando disciplinas, além de participar de dezenas de bancas
examinadoras Infância difícil.

Infância Difícil

Bund nasceu em 1932, em Bobingen, uma pequena cidade no sul da


Alemanha, próxima a Munique. Os pais alemães o trouxeram com cinco anos
de idade à cidade de São Paulo, em busca do direito de sua mãe a parte da
herança deixada por um tio sem filhos que acabara de falecer. “Logo que
[104]
chegamos fomos morar na Rua Augusta”, conta. “Lembro de brincar de
balanço no Parque Trianon nessa época.”
Foi uma infância difícil. A mãe acabou não recebendo nada da herança.
Em seguida os dois se separaram, seu pai voltou à Alemanha e sua mãe foi
internada em um sanatório. Bund foi criado por uma família de conhecidos,
no bairro de Alto de Santana.
O interesse pelas ciências surgiu no curso secundário, que fez no Colégio
Mackenzie. Do outro lado da Rua Maria Antônia, onde o colégio e as
faculdades Mackenzie estão até hoje, ficava a antiga Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras, da Universidade de São Paulo (USP). Ainda no colégio,
Bund atravessava a rua com colegas para assistir como ouvinte às aulas das
matérias que lhe interessavam: física e filosofia. Chegou também a participar
de reuniões organizadas por uma escola particular dirigida pelo filósofo
Mário Ferreira dos Santos, mas acabou optando, no vestibular, pela física.
Durante a graduação na USP, iniciada em 1951, assistiu a cursos de
cientistas renomados, como o astrofísico teórico Mário Schenberg e um dos
principais teóricos da mecânica quântica, o físico norte-americano David
Bohm. “Meus colegas de turma mais brilhantes eram o Ernst Hamburger e o
Moysés Nussenzveig”, conta. “Eles me convenceram a trabalhar como
voluntário na construção do Van Der Graff.”
O Van Der Graff a que ele se refere foi um dos primeiros aceleradores de
partí- culas de grande porte a serem construídos no Brasil. A máquina
projetada por Oscar Sala, pioneiro da física nuclear experimental no país,
acelerava núcleos atômicos leves — isto é, feitos de poucos prótons e
nêutrons, como o núcleo de hidrogênio (um próton apenas) e o de deutério
(um próton e um nêutron). O objetivo era fazer com que esse feixe de núcleos
leves colidisse com os núcleos atômicos mais pesados de um alvo sólido. Ao
analisarem os prótons e nêutrons que resultavam da colisão, os
pesquisadores podiam deduzir algo sobre como essas partículas se ligam
dentro dos núcleos.
Uma das peças do maquinário do acelerador em construção era um
imenso tanque de armazenamento de gás. “Era do tamanho de uma sala e
tínhamos de entrar nele com uma lanterna, no escuro, para limpá-lo da
ferrugem”, Bund lembra:
“Cheguei a repetir o curso de mecânica racional porque não tinha tempo
de acompanhar as aulas.”
Em 1954, ainda na graduação, Bund arranjou emprego como auxiliar de
ensino no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), que havia sido
inaugurado quatro anos antes. Deu aulas de exercícios e de laboratório
dentro do curso de física básica para os alunos de engenharia, coordenado
pelo físico Paulus Aulus Pompeia. Lá teve a oportunidade de assistir a um
curso de eletrônica e realizar pesquisa com o suíço Walter Baltensperger, na
época professor visitante do ITA e autor de trabalhos importantes na física
do estado sólido.
Um ano após concluir a graduação, em 1957, Bund saiu do ITA, aceitando
um convite dos físicos irmãos Jorge e Paulo Leal Ferreira para se juntar ao
[105]
corpo docente de uma nova instituição privada: o Instituto de Física Teórica.
Inaugurado em 1952, o IFT nasceu por iniciativa do pai dos irmãos Leal
Ferreira, o engenheiro José Hugo Leal Ferreira, que conseguiu convencer
membros da sociedade civil, governo e militares a patrocinarem a criação de
um instituto dedicado exclusivamente à ciência básica, nos moldes dos
Institutos Max Planck, na Alemanha. Logo de início dirigido por renomados
físicos alemães, o instituto independente se tornou ao longo das décadas um
centro de excelência internacional em pesquisa. Frequentes crises
financeiras, porém, levaram o IFT a negociar sua incorporação à Unesp, em
1987. Desde sua inaugura- ção, o instituto funcionou em São Paulo, em um
casarão na Rua Pamplona, a duas quadras da Avenida Paulista, até que em
2009 se mudou para o recém-inaugurado novo câmpus da Unesp em São
Paulo, no bairro da Barra Funda.
No primeiro semestre de 1957, o IFT estava praticamente vazio. Com a
saída do físico alemão Gert Molière, o instituto ficou sem diretor. Os irmãos
Leal Ferreira viajaram à Europa, em busca de outro físico conceituado para
dirigi-lo. Além de Bund, o único pesquisador trabalhando no casarão era o
físico Abraham Zimerman (leia o perfil de Zimerman na Unesp Ciência,
novembro de 2009), cinco anos mais velho, que começou a treinar o colega
mais moço nas teorias mais recentes da física de partículas elementares. Os
irmãos Leal Ferreira retornaram no segundo semestre de 1957 sem um novo
diretor. Naquele ano, Paulo Leal Ferreira colaborou com Bund em seu
primeiro trabalho científico publicado.
Um novo diretor finalmente assumiu no ano seguinte: o físico japonês
Mituo Taketani e seu assistente, Yasuhisa Katayama. Taketani era um dos
grandes nomes da física do momento, tendo colaborado no desenvolvimento
da principal teoria das forças nucleares na época, e na consolidação da
pesquisa em física no Japão do pós-guerra.
“Eles foram muito bons para o instituto”, diz Bund. “Era um sistema
autocrático: o Taketani mandava e o Katayama transformava as ideias dele
em serviço para a gente fazer, o que era natural, porque tínhamos pouca
experiência”, ele lembra. Assim, Bund e seus colegas do IFT colaboraram em
cálculos a partir de ideias de Taketani, que estava interessado em explicar a
diferença de massa entre partículas elementares semelhantes. Por exemplo,
Taketani achava que o motivo da diferença de massa entre o leve elétron e o
pesado múon era o fato de o múon, diferentemente do elétron, ser feito de
partículas ainda menores, ligadas por forças eletromagnéticas (hoje em dia,
tudo indica que esta ideia é errada: o múon parece ser realmente uma
partícula tão elementar, ou indivisível, quanto o elétron).
Em 1960, outro japonês assumiu a direção do IFT. Segundo Bund, o
físico Tatuoki Myazima se interessava mais pela física dos núcleos atômicos
do que pela física das partículas elementares. “O nosso problema era esse:
toda vez que aparecia um novo diretor, tínhamos de mudar de área de
pesquisa, esquecer o que havíamos feito e aprendido e começar tudo de
novo”, lembra. “Assim, não conseguimos fazer muitos trabalhos naquele
período, ficamos estudando e realizando seminários.”
[106]
Apesar da mudança forçada, Bund acabou gostando de trabalhar em
física nuclear, e mesmo depois da saída de Myazima, no ano seguinte,
continuou na área. Ainda em 1960, aprendeu com o colega Luís Carlos
Gomes, recém-chegado de um doutoramento no Instituto de Tecnologia de
Massachusetts, nos Estados Unidos, o chamado modelo de Brueckner, usado
até hoje no cálculo do comportamento de um conjunto de muitos prótons e
nêutrons aglomerados dentro de um núcleo atômico ou em uma estrela de
nêutrons.
“Estávamos aprendendo tudo na prática”, lembra Bund. “Mas ficávamos
com um conhecimento especializado demais, muito fragmentado, diferente
da forma- ção que se obtém em um curso de pós-graduação bem
estruturado.”
Em 1963, Bund pediu licença de seu cargo no IFT para ingressar no curso
de pós-graduação em física nuclear da Universidade de Washington, em
Seatle, Estados Unidos, onde defendeu sua tese de doutorado, em 1968. Já
no segundo ano da pós, começou a trabalhar com o físico teórico John
Sanborn Blair, que já havia orientado Shigeo Watanabe, outro brasileiro, que
depois fez carreira na USP.
Blair e Bund criaram um modelo para estudar um fenômeno que ajudou
a compreender melhor as forças nucleares. Quando os físicos experimentais
colidiam um próton com um núcleo atômico — um dos tipos de núcleo mais
usados nesses experimentos era o Chumbo-207, feito de 82 prótons e 125
nêutrons — acontecia de vez em quando de o próton se ligar
momentaneamente ao núcleo atingido, formando o que os físicos chamam
de estado excitado ou “ressonância”.
A teoria das forças nucleares dizia, por exemplo, que essa união
transitória do Chumbo-207 com um próton se assemelharia ao que acontece
dentro de um outro tipo de núcleo atômico, o Chumbo-208, feito de 82
prótons e 126 nêutrons. Assim, criar ressonâncias em colisões entre prótons
e certos núcleos atômicos permitia ter acesso e entender a estrutura interna
de outros núcleos. O modelo de Blair e Bund foi um dos que permitiram
calcular, de maneira mais simplificada, as propriedades desse tipo de
ressonância, chamada de ressonância isobárica análoga.
As ressonâncias isobáricas análogas são estudadas até hoje. Entre outras
coisas, elas nos ajudam a entender como os vários tipos de núcleos atômicos
que constituem a matéria se formaram dentro de estrelas gigantes, e durante
suas explosões. Mas no início dos anos 1960, a física nuclear tinha um sabor
a mais. Bund ressalta que, atualmente, os físicos sabem que prótons e
nêutrons são feitos de partículas menores, os quarks e glúons, cujas forças
de interação são bem conhecidas e comprovadas por experimentos, tais
como os realizados no maior acelerador de partículas em atividade, o LHC.
Mas naquele tempo, além de prótons e nêutrons serem considerados
indivisíveis, a natureza das forças entre eles ainda era pouco conhecida. As
experiências nessa área, que hoje se convencionou chamar de “física nuclear
de baixas energias”, era a última fronteira do conhecimento.
Alguns anos depois de voltar ao Brasil, em 1971, o IFT iniciou
[107]
formalmente a sua pós-graduação, com um programa de cursos obrigatórios
para mestrado e doutorado, criado a partir das experiências de Bund em
Washington e de Silvestre Ragusa, outro pesquisador do IFT, recém-
doutorado na Universidade de Chicago, nos EUA.
“Nosso sistema antigo, baseado no modelo europeu de entrar no
instituto e já começar a trabalhar na tese de doutorado, assistindo apenas
aos cursos que interessavam para a tese, se mostrou precário”, Bund diz.
“Quando voltamos dos EUA, trouxemos os programas de pós-graduação das
universidades norte-americanas na cabeça, essa ideia de uma sequência
programada de cursos, como uma extensão mesmo dos estudos da
graduação.”
Logo após a criação da pós-graduação do IFT, Bund retornou à
Universidade de Washington para continuar seus trabalhos com Blair. Desta
vez estudou as ressonâncias formadas pela colisão entre núcleos e
“deuterons” (um núcleo de deutério, ou hidrogênio pesado, feito de um
próton e um nêutron). Havia também outro motivo para retornar aos EUA:
acompanhar sua esposa, Iracema Bund, professora de matemática na USP,
que precisava concluir os estudos de doutorado que havia iniciado ali,
quando viajara com Bund pela primeira vez. Os dois se conheceram ainda
durante a graduação na USP e permaneceram casados até a morte dela, no
ano passado.
Bund retornou ao Brasil em 1973 e permaneceu no IFT desde então.
Depois das ressonâncias, trabalhou com outros problemas ainda mais
complicados física e matematicamente: formulações da mecânica quântica
que se aproximam da mecânica clássica e a dinâmica de três corpos aplicada
à física nuclear.
Com o físico Kazuo Ueta, da USP, dedicou-se a estudar o curioso núcleo
de Lítio–11, formado por um halo de dois nêutrons em volta de um caroço de
três prótons e cinco nêutrons. “Embora os nêutrons do halo e o caroço não
estejam ligados entre si, o trio como um todo está”, explica.
O físico diz ter tido poucos alunos e colaboradores, mas compensou seu
isolamento na pesquisa com sua participação na vida do IFT. Além de
lecionar todos os anos disciplinas básicas da pós, como Eletromagnetismo e
Física Nuclear, e participar de dezenas de bancas examinadoras, Bund foi
coordenador dos cursos de pós-graduação de 1984 a 1990. “Peguei bem a
fase de transição, quando tivemos de adaptar a organização e o regulamento
do instituto às normas da Unesp”, lembra.
Ainda no casarão da Pamplona, Bund tinha como vizinho de sala o físico
George Matsas, especialista em buracos negros. Matsas guarda boas
lembranças da convivência no período. “Sempre que tinha problemas com
algum cálculo, ia me consultar e nunca saí da sala do Bund sem uma resposta
inteligente”, lembra Matsas. “Se tem alguém que merece ir para o céu, é ele.”

***

[108]
46. Artigo no Jornal - ''Diário Popular''- de 24 de Julho de
2020 - Mário Ferreira dos Santos, um filósofo Pelotense?
– escrito por Luís Rubira, professor do Departamento de
Filosofia da UFPel. – Artigo extraordinário de tão bom!

Mário Ferreira dos Santos, um filósofo pelotense?

Artigo escrito por Luís Rubira, professor do Departamento de


Filosofia da UFPel - 24 de Julho de 2020

‘’De toda a vasta e precursora produção cinematográfica que seu pai


realizou pela Guarany Films em Pelotas, Mário Ferreira dos Santos
guardou consigo apenas os trechos do curta-metragem "Os óculos do
vovô" (filmado em 1913). Conhecemos bem a história: cinco anos após o
falecimento do filósofo (ocorrido em 1968), o pesquisador gaúcho Antônio
Jesus Pfeil visitou uma de suas filhas em São Paulo e com ela encontrou,
no interior de uma "pequena caixinha de papelão", "o fragmento de ficção
mais antigo do cinema brasileiro" (Caldas & Lhullier, "Francisco Santos:
pioneiro do cinema no Brasil", 1995, p. 9). Tendo se mudado para São
Paulo aos trinta e sete anos de idade, lugar onde viveria os últimos vinte e
quatro anos de sua vida, por que razão ele teria preservado justamente este
filme?
Embora o registro de nascimento de Mário Ferreira dos Santos seja
ligado à cidade paulista de Tietê, lugar onde a companhia dramática de seu
pai se apresentava em janeiro de 1907, seus anos de formação intelectual
estão indissoluvelmente vinculados a Pelotas. Família que tinha uma vida
itinerante entre cidades do Brasil e do estuário do Prata, é Mário mesmo
quem revela que a decisão de seu pai de morar na cidade localizada no
extremo sul do Brasil (a partir de 1913) foi para que "os filhos crescerem
tendo um lar" (Caldas & Lhullier, nota 33, p. 34). Neste sentido, buscando
fornecer "alguns detalhes biográficos" sobre o filósofo, Luís Mauro de Sá
Martino informou que, em 1914, "seu pai o matriculou em um colégio
jesuíta na mesma cidade" e "há indícios de que Mário participava da vida
estudantil não apenas como representante do grêmio dos alunos, mas
também colaborando em publicações e escrevendo, sempre. Uma de suas
peças de teatro foi montada no ano de sua formatura, em 1925. O texto
dessa peça se perdeu" (Cf. "Filosofia Concreta", É Realizações, 2016).
Diante desta informação, que não indicava as fontes, o pesquisador
Guilherme Pinto de Almeida descobriu, em 2018, o exemplar da revista
"Lembrança do Gymnasio Gonzaga", editada em Pelotas no ano de 1924.
Nela, de fato, surgem informações sobre a vida escolar do jovem Mário,
além de uma foto sua (que publicamos agora em primeira mão no Diário
Popular). Revista impressa nas "Officinas d'A Guarany" (de propriedade
[109]
de Francisco Santos), nela podemos ver que Mário, então no quinto ano
do "ensino secundário ou ginasial", recebe menção honrosa pelo "conjunto
das matérias" de Religião, Latim, Geometria, Historia Natural, Física e
Química. Trata-se de apenas um exemplo, sendo que podemos conhecer
bem mais detalhes acerca da vida escolar de Mário ao consultarmos os
exemplares da mesma revista, publicados entre os anos de 1914 e 1925. De
outra parte, mais recentemente nas notas de rodapé da edição de um
"romance filosófico" póstumo de Mário Ferreira dos Santos, intitulado
"Homens da tarde" (É Realizações, 2019), os organizadores observam que
ele teria assinado diversos artigos no jornal a Opinião Pública, em Pelotas,
dentre eles: "De longe terras...: a pena de morte" (8/5/1929), sendo que as
filhas de Mário teriam escrito uma biografia "que permanece inédita", na
qual relatam que "Em 1929 ele tornou-se diretor do jornal A Opinião
Pública, cargo que permaneceu até o final do ano de 1930". Os
organizadores informam ainda que Mário também publicava artigos com
pseudônimos, entre os quais "Mahdi Fezzan", com o qual assinou os
artigos "O bem que vem do mal", "O homem é como a árvore", "Assim
pregam os que recebem", "A Canção do peregrino..." e "O poeta que fundou
uma escola...", todos publicados "em junho de 1942 no jornal Diário
Popular".
Por meio de sua vida escolar e de tais artigos é bem possível ver o
quanto sua atividade intelectual estava ligada a cidade de Pelotas
(lembremos que seu pai editou pela Tipografia Guarany o livro "Lágrimas
e Sorrisos", de Kalil Gibran). Mário, ademais, fez formação em Direito em
Porto Alegre, trabalhando como repórter do Diário de Notícias. De minha
parte, encontrei artigos dele publicados neste jornal, entre os quais "Walt
Disney, o descortinador de um novo mundo" (25/12/1940), artigo que,
aliás, é um bom exemplo do quanto Mário Ferreira ainda estava envolvido,
em 1940, com as tentativas de administrar a empresa cinematográfica XIS
(Xavier e Santos), espólio que herdara do pai, falecido em 1937. Mário
Ferreira dos Santos partiu para São Paulo somente por volta de 1944.
Trabalhando já há alguns anos para a Livraria do Globo, ele levou consigo
sua tradução de "A vontade de potência", de Nietzsche. No prefácio que já
escrevera para o livro em 1943, ele libertara Nietzsche das apropriações
nazistas que, na época, se fazia de seu pensamento.
Todo o estudo sobre o longo período vivido por Mário Ferreira dos
Santos em Pelotas ainda está por ser realizado. Mas tenho a impressão de
que o fato dele ter levado consigo para São Paulo o filme "Óculos do vovô"
seja uma pista para entendermos seu vínculo com a cidade. Afinal, não
seria somente por ele ali aparecer como um menino travesso, mas talvez
pelo fato de que, naquelas imagens havia o registro da residência onde ele
cresceu em meio à Fábrica de Fitas Guarany e a Tipografia Guarany,
pertencentes aos seus pais. Memórias de um tempo que certamente
permaneceram sempre vinculadas aos seus anos de formação e aos seus
afetos.’’

[110]
47. Mário Ferreira dos Santos, o Ilustre desconhecido (por
Rodrigo Ulguim) 02 de fevereiro de 2022.

Mário Ferreira dos Santos, o ilustre desconhecido.

Por estes dias, não sei bem a data, reli em algum site o seguinte conselho
do Mário Ferreira: “Exercitai a vossa memória”. O que poderia parecer
apenas uma pequena amostra colhida entre muitos dos seus tesouros de
sabedoria soou, aos meus ouvidos pelo menos, como uma ordem a ser
cumprida com urgência. Afinal, nenhuma obra sofreu tanto as
consequências da falta desse exercício como a obra do próprio Mário Ferreira
dos Santos. E eu precisava escrever este artigo. E como precisava, aproveitei
a visita à minha cidade de origem — onde o sábio também residiu por muitos
anos —, para praticá-lo.
Tomei conhecimento da obra Ferreiriana em 2014 lendo um artigo do
professor Olavo de Carvalho intitulado “Mário Ferreira dos Santos e o nosso
futuro”. Nele, um gênio expunha com clareza e objetividade a obra de outro
gênio. Foi o bastante. Depois do baque inicial que a leitura causou, decidi
correr atrás dos registros da vida do Mário aqui na cidade (na época eu ainda
residia em Pelotas), e assim o fiz. Vasculhei o acervo da Biblioteca Pública
Municipal e encontrei cinco registros com seu nome: eram cinco volumes da
Enciclopédia das Ciências Filosóficas e Sociais (Filosofia e Cosmovisão;
Lógica e Dialética; Curso de Oratória e Retórica; Curso de Integração
Pessoal e O Homem perante o Infinito). Os livros estavam esquecidos na
última estante do largo salão, todos desgastados e mofados por causa da
umidade, empilhados na prateleira mais próxima ao chão. Lembro como se
fosse ontem: o volume de “Lógica e Dialética” todo roído pelas traças, com
algumas páginas soltas do miolo. Aqueles livros, aquela estante, certamente
estavam abandonados há muito tempo. E não culpo ninguém. Os gentis
funcionários da biblioteca não sabiam, como eu não sabia até o dia anterior,
que aqueles livrinhos feinhos e mal editados valiam, sozinhos, mais que o
restante do acervo. Tomei os cinco emprestado e passei o restante dos meses
estudando.
A leitura de qualquer um dos volumes da Enciclopédia é sempre um
desafio: há ali um tipo de estranhamento inerente, uma sensação de meio-
discurso, de fala interrompida. Finda as leituras, contatei professores
conceituados do departamento de História da UFPel, com a esperança —
meio capenga, é verdade — de obter mais alguma informação sobre a
passagem dele na cidade. Esforço em vão. De todos os senhores doutores
iluminados pela sapiência universal contatados, apenas um sabia da
existência do filósofo; e o que sabia, dava de ombros a quem chamava de “um
mero tradutor e comentador da filosofia de Nietzsche, e nada mais”.

[111]
O homem que possivelmente fora o Platão dos nossos tempos, revisor
da escolástica portuguesa dos séculos XV e XVI e herdeiro direto de dois mil
anos de tradição metafísica havia se tornado, naquelas porcas palavras, “um
mero tradutor e comentador” da filosofia alheia. Paciência. Informação se
busca com quem sabe.
Assistindo aos “Óculos do vovô” e vendo-o pintando as lentes num ato
de inocente traquinagem, imaginei como teria sido sua infância. Procurei os
locais das filmagens, o antigo Parque Souza Soares, no bairro Fragata (por
coincidência, o bairro onde eu residia), e não o encontrei mais. As antigas
linhas de bonde deram lugar às avenidas com o asfalto rachado, os belos
bosques cederam seu espaço às escolas públicas, prédios residenciais e uma
pizzaria. Aquele parque do filme e das fotos antigas não existe mais, há muito
tempo. Não tinha como eu saber do passado, precisava buscar quem sabia.
Na introdução d’A Sabedoria das Leis Eternas, enfim, encontrei um
dado importantíssimo: Mário estudou no Colégio Gonzaga, o mais
tradicional colégio da cidade e administrado por jesuítas até meados do
século passado. Nos registros da instituição, o que se vê é um aluno notável
e excepcional, com aprovação em todas as disciplinas, elogiado pelo esmero
da sua educação. O mais estranho é que na escola não há sequer uma menção
do seu nome. Nada, absolutamente nada.
Nos corredores, na biblioteca, nas salas de aula, no jardim de recreação,
nada, nem ao menos uma placa em reconhecimento aos seus méritos,
nenhuma menção ao ilustre desconhecido. Logo em frente ao Colégio fica a
Catedral São Francisco de Paula, cartão-postal da cidade. Ali naqueles
bancos, diante daquele altar de mármore e abaixo dos afrescos de Aldo
Locatelli, ajoelhado diante do “Charitas” inscrito acima da imagem do santo
padroeiro, o pequeno filho do senhor Francisco Santos recebeu seus
primeiros sacramentos. Aquelas colunas espessas, perfeitamente
distribuídas pela nave central, arquitetadas em direção à grande cúpula,
parecia uma imagem da catedral intelectual que ele erigiu em vida.
Mário Ferreira morreu de pé, recitando, com muita dificuldade, as
palavras do Pai Nosso. “Perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós
perdoamos aos nossos devedores”. Como homem de fé e de altíssima
nobreza, deixou este mundo suplicando o perdão divino aos seus devedores,
àqueles que em vida tanto o desprezaram e lutaram para que sua memória
fosse apagada da história. Infelizmente eles conseguiram, por décadas. Mas
se há uma coisa que a vida e a obra desse homem demonstraram é
justamente a vitória redentora do espírito sobre a mesquinhez reinante. Se
por muito tempo suas façanhas foram esquecidas como os livros na estante
daquela biblioteca, hoje temos a possibilidade de reconstruir nosso mundo
interior com os alicerces da mathesis megiste. A prece de Mário foi atendida,
e com o perdão recebido, cumprem-se as palavras do salmista: “A pedra que
os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular.”
Pelotas, 02 de Fevereiro de 2022.

[112]
2- Relatos do Professor e filósofo Olavo de Carvalho sobre o
Mário Ferreira dos Santos no True Outspeak, Curso Online
de Filosofia (COF), no Facebook e no Curso - Mário Ferreira
dos Santos- Guia para o estudo da sua obra

Olavo: Vamos ver se tem alguém na linha aí esperando. Tem!


Ouvinte: Oi, Fábio!
Olavo: Alô, é o Fábio, tudo bem aí, está me ouvindo aí? Alguma pergunta?
Ouvinte: Sim! Tudo bom? Então Olavo, você escreveu um artigo que você
falava sobre o Meira Pena e também sobre o Mário Ferreira dos Santos, não é?
Olavo: Isto mesmo, grandes brasileiros!
Ouvinte: Eu estava buscando a biografia dele, e no Wikipédia, não sei se isso
confere, você conheçe mais a biografia dele, ele era tido como um anarquista, o que
seria exatamente isto?
Olavo: Ele nunca foi um militante anarquista, mas ele era um simpatizante
anarquista, mas por amizade. Inclusive eu estive no Centro Anarquista em São
Paulo, e todos aqueles velhinhos anarquistas, quando falavam do Mário, eles
choravam, tinham muita saudade dele, porque ele defendeu muito as teorias do
Proudhon, as teorias econêmicas do Proudhon, contra os marxistas. Houve o
famoso debate entre ele e o Caio Prado Jr., que o Caio Prado Jr ia apresentar a
concepção de Marx, e ele as do Proudhon. O Caio Prado falou primeiro, quando
terminou a confêrencia do Caio Prado, o Mário levanta e diz: Olha, a concepção de
Marx não é essa não, não é como você explicou! Então eu vou fazer a sua
conferência de novo e depois eu faço a minha! O pessoal comunista jamais
perdoou, queriam jogar bomba na gráfica anarquista. Os velhinhos contavam esses
episódios com lágrimas nos olhos de saudades do Mário. O Mário nunca foi um
militante deles, mas foi muito leal à eles. O Mário não podia ser um anarquista
total pelo o fato de que ele era católico, ele era um discípulo de São Tomás de
Aquino, e também, não era um tomista no sentido escolar da coisa, um tomista de
estrita observância, mas absorveu muitas obras de São Tomás de Aquino, e no
fundo das contas ele era um escolástico, não um tomista no sentido moderno. Eu
acho o Mário um dos grandes escolásticos da História. Então ele foi e não foi um
anarquista, foi um simpatizante, foi um amigo do movimento anarquista. Isso
responde a sua pergunta?
Ouvinte: É por que ele disse que no final da vida ele conseguiu inventar, não
sei se foi, um tal de anarquismo cristão, e ele teve uma interpretação muito própria
da obra de Nietzsche, é isso?
Olavo: Não, não, espera aí, isso já é confusão. No início da vida o Mário
foi um grande estudioso e comentarista de Nietzsche, escreveu um livro muito
sujestivo chamado ‘’O Homem que nasceu Póstumo’’, porém, esta fase
nietzscheana, ele conserva tudo aquilo - a interpretação que ele fez numa edição
do Zaratustra, com comentário simbólico, é uma verdadeira maravilha – tudo isto
se conserva dentro do pensamento do Mário, mas o que ele fez depois é um edifício
tão gigantesco, que o próprio Nietzsche se perde alí no meio, você está
[113]
entendendo? Quer dizer, o Mário como comentárista de Niezsche é uma coisa, e o
Mário como filósofo plenamente realizado é outra coisa completamente diferente,
transcendeu aquilo infinitamente. O pensamento do Nietzsche, no fim da vida, não
tem mais importância nenhuma para ele, não que ele o renegasse, não precisa
renegar, o Mário era o homem da dialética, dialética que, portanto, joga com os
contrários e tenta absorve-los numa construção, numa visão superior. Como o
conhecimento da obra do Mário é muito deficiênte, as pessoas às vezes, é que nem
aquele negócio do elefante: um pega a perna e diz que é um poste, outro pega a
tromba e diz que é uma cobra, está entendendo? O Mário é grande de mais, é maior
do que muitos elefantes, então o pessoal se confunde às vezes, por isso mesmo que
quando eu fiz essa edição anotada da ‘’Sabedoria das Leis Eternas’’, eu fiz questão
de colocar na introdução a estrutura geral que o Mário havia planejado para a sua
própria obra, ele não expôe essa estrutura em parte alguma, mas agente percebe
pelas dicas que ele enuncia, aqui e ali, do plano que ele está seguindo, eu consegui
montar a estrutura inteira, do que ele chamava de ‘’Enciclopédia das Ciências
Filosóficas’’, é só tendo essa estrutura total em vista que você entende o
pensamento do Mário, fora disso não, o pessoal vai ficar reparando num detalhe
ou no outro, sobretudo, vai querer defini-lo por categorias que não são as dele.
Quer dizer, não tem o menor sentido você tentar definir o conjunto da filosofia do
Mário a partir do viés político, isso é impossível, mas no Brasil, como ninguém..
brasileiro não tem capacidade para esse negócio metafísica, de epistemologia,
então ele quer reduzir tudo a uma questão política, está entendendo, então olha
por esse prisma e quer explica tudo por isso aí, assim não dá para fazer. O Mário é
um filósofo original, e um filósofo original só pode ser entendido dentro dos seus
próprios termos, com a hierarquia temática que ele propõe. Agora, querer
catalogar politicamente de maneira prévia, isso aí é coisa de gente QI 12. Não sei
se isso te explica.
Ouvinte: Explica, porque tem muita coisa interessante dele.
Olavo: O fato de existirem elementos anarquistas, coexistindo com elementos
cristãos não quer dizer que ele fez um anarquismo-cristão, você está entendendo?
Quer dizer, a filosofia do Mário é uma coisa gigantesca como a obra de Aristóteles.
Você tem todas as dimensões alí, alí dentro cabe tudo. Está certo? Mesmo por que
a pretensão do Mário era fazer o que ele chamava de Mathesis. Mathesis é o
conjunto das teses, afirmada pela totalidade da filosofia, ao longo de todo o seu
desenvolvimento. Ele achava que era possível expressar isso num discurso
unificado. De maneira que a filosofia do Mário Ferreira não fosse propriamente a
filosofia do Mário Ferreira, mas uma espécie de unidade transcêndente das
filosofias. Num projeto desta abrangência, você querer classificar como
anarquismo-cristão, é besteira. Não se define a filosofia de um grande filósofo, pela
a filosofia de um outro, e muito menos pela a filosofia de alguém pequinininho,
está entendendo, isso não se faz, é um erro de interpretação, por preguiça de
apreender o conjunto.

(Olavo de Carvalho - TRUE OUTSPEAK,


18 DE DEZEMBRO DE 2006)
***
[114]
***

Olavo: A ‘’Teoria Geral das Tensões’’ é um livro maravilhoso, maravilhoso!


Ouvinte: Eu procurei e não achei.
Olavo: Ele ainda não foi publicado. O livro é o seguinte, ele deixou em
fragmentos. Têm uns alunos meus que estão fazendo uma... trabalhando o texto
para fazer uma edição! Eles fizeram muitas correções no texto, compararam vários
manuscritos, que haviam, e passaram aqui para mim, para eu fazer a correção
final, e eu não tive tempo de termina-la. Espero terminar o mais breve possível! É
um dos grandes livros de filosofia do século XX. O Mário, quanto mais eu estudo o
Mário, mais eu vejo que ele era muito grande, muito grande! Olha, isto aí é um
sintoma de doença do Brasil, quer dizer, enquanto o Brasil não abaixar a cabeça
perante um homem verdadeiramente grande, que nasceu no meio dos seus filhos,
enquanto não souber respeitar isso, o Brasil nunca será nada! Enquanto o Brasil
despreza o Mário Ferreira dos Santos e fica puxando o saco de um Gilberto Gil, de
nulidades como esta, o país está doente! Agora, como é que você pode... veja, se
você tem um amigo que está... ele está primeiro louco, segundo está sem emprego,
e terceiro está pobre, o que você acha que tem que consertar primeiro? O bolso
dele? Arrumar um emprego para ele? Não adianta! Ele está louco! Então conserta
primeiro a cabeça! O que tem que consertar no Brasil é a cabeça, pois enquanto
estiver pensando com a cabeça do Lula ou com a cabeça desses caras, esse pessoal
da escola superior de guerra ou com a cabeça do Merquior, nós estamos ferrados,
quer dizer, eu estou falando assim, porque eu não só tenho uma hora por semana
para fazer esse programa, e a gente fica até nervoso, porque têm tanta coisa para
falar, e têm tanta coisa errada nesse país, e eu vejo que a perspectiva de conserta-
las é tão longínqua, e vai ficando cada vez mais longínqua, e vejo que, olha, o
pessoal não fez nem isto ainda: Corrigir a posição histórica do Mário Ferreira!
Toda a cultura brasileira, toda ela, comparada com o Mário Ferreira, é nada, é
nada! Por que isto é a mesma coisa que você comparar a cultura municipal de
Atenas, com Platão! Com Sócrates e Platão! Tudo aquilo, comparado com Sócrates
e Platão, é nada! Está certo? Ou então sempre comparar a cultura alemã do século
XVIII, comparar com Leibniz, só tem Leibniz! Ele é maior do que o conjunto! O
Mário é maior do que o conjunto da cultura brasileira! Enquanto não entenderem
isso vão estar com a cabeça fora do lugar, vão estar fora do senso das proporções,
vão estar fora da realidade, e quando está fora da realidade, é aquele ditado:
‘’Quando os deuses querem destruir o sujeito, primeiro eles o enlouquecem’’. O
Brasil está sendo destruído, porque primeiro foi enlouquecido, e foi enlouquecido
por pseudointelectuais. O Mário Ferreira, o essencial da filosofia do Mário
Ferreira, é uma síntese de pitagorismo e filosofia escolástica. Ele pegou todo o
aparato lógico da filosofia escolástica e reexpôs a filosofia pitagórica dos números,
entendendo os números como categorias e como leis antológicas. Uma vez que ele
fez esta armadura, que para ele seria, então, o que ele diz ‘’a metalinguagem de
todas as ciências’’, ele tentou criar uma cosmologia com base nisso, quer dizer, você
tem a armadura lógica, em seguida, você tenta colocar a armadura em movimento,
em termos de realidade, e isso é já a Teoria Geral das Tensões, que ficou inédita. É
uma concepção de uma grandiosidade maravilhosa!

[115]
O Mário foi o único filósofo moderno que podia conversar de igual para igual
com Platão e Aristóteles. E nós em vez de nos orgulharmos disso, e de colocarmos
uma estátua desse homem em cada esquina, nós simplesmente o ignoramos. Mas
o Brasil ignora até o seu fundador: José Bonifácio de Andrade e Silva, para mim
foram os dois maiores brasileiros! José Bonifácio de Andrade e Silva, que criou o
país, e o Mário Ferreira, que elevou o pensamento brasileiro acima de toda a
filosofia universal da sua época! São os dois maiores brasileiros! O quê que nós
fazemos com eles? As obras de José Bonifácio de Andrade e Silva não são
encontráveis em lugar algum, nunca são lidas, nenhum brasileiro leu isto, sumiu!
Aqui nos Estados Unidos todo mundo lê: Thomas Jefferson, lê os escritos de Jorge
Washington, de John Adams, tudo quanto é escola lê! O Brasil ignora o seu
fundador e despreza o seu fundador, e despreza o maior dos seus pensadores! O
que você quer que aconteça? Só pode dar merda, porra! Aí é que tá! Então é por
isso que tem que começar, o brasileiro tem que começar a restaurar o senso das
proporções, o senso da ordem, o senso do que é grande e do que é mesquinho,
Enquanto não pegar isto, nada se fará! Não adianta reclamar do Lula. O Lula é um
sintoma! Tá certo? O Lula é apenas uma espinha que estourou num corpo que está
podre! Então nós temos que consertar a alma brasileira, a inteligência brasileira,
primeiro! Tá certo? E, com base nisso, criar uma intelectualidade séria, e dessa
intelectualidade séria, sairá, mais tarde, a liderança política séria! Daí haver uma
esperança para o brasil, se é que ainda haverá tempo.’’
(Olavo de Carvalho - TRUE OUTSPEAK, 2007)

***

‘’Por que não há mais como tratar estas pessoas, está entendendo? Têm gente
aqui que fica chocado por que eu xingo esses caras! Olha, têm certas pessoas,
vamos dizer, onde xinga-las é até uma coisa de caridade, porque as vezes um nego
vem com uma idéia... até apareceu um camarada dizendo aí , dizendo assim: O
Mário Ferreira dos Santos não era filósofo, era apenas um estudioso da filosofia
alheia. O sujeito diz isso e quer uma resposta. A resposta é essa: VAI TOMAR NO
CÚ! Você está entendendo? Que outra resposta eu posso dar? Quer dizer, eu estou
falando com uma pessoa que, não é que ele não seja capaz de entender a filosofia
do Mário, ele não é capaz de ler um livro do Mário! E dá um palpite desse. Daí
aparece outro, mais idiota ainda, lembrando uma declaração do professor Miguel
Reale, mais ou menos no mesmo sentido: O Mário era um estudioso da filosofia,
mas sem uma obra original. Bom, acontece o seguinte. Esta opinião do Dr. Miguel,
que eu conheço bem - eu era amigo doutor Miguel, porra-. Essa opinião remonta
ao começo da década de 50, quando o Mário havia publicado o livro dele que ficou
mais famoso na época, que era ‘’O Homem que Nasceu Póstumo’’, que era um livro
sobre Nietzsche. Então ele fez uma certa fama de estudioso de Nietzsche, e
publicou mais dois ou três livros de polêmica filosófica, mais literário do que
filosóficos, na verdade, e pronto, acabou! Bom, acontece que, depois, o Mário, um
dia, estava dando uma conferência, e de repente, ele parou a conferência e disse:
‘’Turma, acabou a aula, vocês me desculpem, eu tive uma ideia, tenho que ir para
casa escrever.’’ E ele foi, e escreveu, ficou 16 anos escrevendo! Escreveu os 56
[116]
volumes do que ele chamou ‘’Enciclopédia das Ciências Filosóficas.’’ O Dr. Miguel
Reale não leu uma linha dessa ‘’Enciclopédia das Ciências Filosóficas’’, ele conhece
o Mário da fase anterior. Pouquíssima gente leu a ‘’Enciclopédia das Ciências
Filosóficas’’, e mais ainda, quando leu, não chegou a ler as obras que era o
coroamento, que era a série final de dez volumes, que começa, quer dizer, com ‘’A
Sabedoria dos Princípios’’, depois ‘’A Sabedoria da Unidade’’, a Sabedoria do Ser e
do Nada, ‘’A Sabedoria das Leis Eternas’’, que é a obra magna do homem, e um dos
cumes do pensamento universal. Ninguém leu isso, quer dizer, o Dr. Miguel Reale
tinha o direito de estar enganado a respeito do cara, porque ele o conheceu numa
fase anterior, mas hoje em dia, depois de tudo o que eu informei, sobre a
‘’Enciclopédia das Ciências Filosóficas’’, sobretudo, a parte inédita, depois de tudo
que eu contei, ainda aparecer um nego dizendo uma coisa dessa, só pode ser
mesmo um total incapaz. Um sujeito desse, eu não vou discutir, porque se eu for
discutir, eu vou ter que humilhar o nego demais, você está entendendo, eu vou ter
que pisar no cara, transformar em bosta. Então, para não fazer isto com o cara, eu
já mando a MERDA logo. Eu digo: Vai pra casa moleque, vai chupar prego, não me
enche o saco etc. Quer dizer, eu posso discutir com gente grande, com gente que
tenha alguma retaguarda para discutir ou pelo menos se não tem capacidade
intelectual, que tem uma posição pública, que pelo menos seja rico e famoso,
poderoso. Agora um merda, fracassado, coitado, sub-nitrato do pó de bosta vem
abrir a boca. Eu não sei nem como consegue falar uma coisa dessa, porra! E não
posso responder, porque seria humilhante demais pro cara. Então, olha, eu vou te
dar um conselho. Conselho de pai, vai à merda.’’

(Olavo de Carvalho - TRUE OUTSPEAK, 2007)

***

‘’Pergunta de um Ouvinte: ‘’Ao iniciar a leitura da ‘’Sabedoria das Leis


Eternas’’ topei com a nota do texto que afirma que René Guénon designava por
metafísica algo diverso da metafísica de Aristóteles. Esta seria, no entender de
Guénon, uma ontologia geral, quer dizer, um estudo do ser, e pelo o que eu
entendi, o Mário Ferreira dos Santos vai pelo mesmo caminho.
Olavo: Muito bem. O problema é o seguinte: se você pegar o livro de
Aristóteles que é chamado com o nome de ‘’ Metafísica’’, mas que ele chamava
apenas de ‘’Filosofia Primeira’’, e que mais tarde recebeu o nome de Metafísica,
ele não é de fato uma metafísica, ele é apenas um estudo da estrutura do ser, ao
passo que a metafísica é mais definida, mais propriamente, como o estudo da
possibilidade universal. Isso não quer dizer que não haja uma metafísica de
Aristóteles, porque Aristóteles tem observações maravilhosas sobre a questão da
possibilidade universal, mas estão espalhadas, até na poética tem observações
muito interessantes, e para algumas delas eu chamei a atenção numa nota do meu
livro ‘’Aristóteles em Nova Perspectiva’’, mas que curiosamente, embora
Aristóteles seja conhecido como autor de um livro chamada ‘’A Metafísica’’, a
metafísica dele não está lá. Está Certo? Agora, no Mário Ferreira dos Santos, o
Mário Ferreira dos Santos tem obras e mais obras do que seria ‘’Metafísica’’ no
[117]
sentido estrito, tal como definido aí pelo Guénon, o estudo da possibilidade
universal. A isto ele dedicou a melhor parte das energias dele, nessa série final de
dez livros, que começa com a ‘’Sabedoria dos Princípios’’, a Sabedoria do Ser e do
Nada, a Sabedoria da Unidade. São dez livros finais do Mário, que onde ele chega
ao suprassumo da genialidade filosófica. Eu quanto mais leio isso, eu vejo que o
Mário foi um dos maiores filósofos do século XX, senão o maior. Justamente por
isso é desprezado no Brasil, porque o Brasil é como aquela Espanha miserable, de
que falava o poema de Antônio Machado, que: ‘’envuelta en sus andrajos
desprecia cuanto ignora’’. Quer dizer, ‘’vestida de farrapos, ela despreza tudo o
que ela ignora. O Mário Ferreira dos Santos é grande demais para o Brasil, ele é
maior do que o Brasil. Ele não é apenas o maior dos Brasileiros, é maior do que o
próprio país. O país não o comporta! O país não tem envergadura para a grandeza,
para comportar a grandeza deste grande pensador que foi o Mário Ferreira.
Agora, circulou por aí uma opinião do Miguel Reale dizendo que o Mário Ferreira
era um divulgador filosófico etc. Bom, acontece seguinte, eu conheço o Miguel
Reale, foi um grande amigo meu, adorava o Miguel Reale. Ele conheceu o Mário
na juventude, e leu os livros que o Mário escreveu sobre Nietzsche e algumas
polêmicas que ele fez sobre Proudhon, etc. Até ao ponto em que ele conheceu a
obra do Mário, o Mário é isso mesmo, um escritor filosófico de divulgação,
divulgação de altíssimo nível, é claro, mas era de divulgação. Acontece que o
Mário, aos quarenta e poucos anos, aos 43 anos, ele estava dando uma
conferência e de repente ele parou a conferência e falou: ‘’Desculpe minha gente,
eu tenho que ir pra casa, que eu tive uma ideia’’. E daí ele se trancou e escreveu
mais de 40 livros no prazo de 16 anos. Isso é o suprassumo da genialidade
filosófica. Esta parte o professor Reale não conheceu nada, ele não leu uma linha,
ele nem sabe que isso existe, mesmo porque a maior parte desses ficou inédito.
Da série final saíram só os três primeiros, e não chegaram a ser vendidos, porque
imprimiu e o homem morreu no dia seguinte. Então o Mário é o grande
desconhecido do Brasil. Agora, que o professor Reale não o conhecesse naquela
época, eu ia desculpa, mas tem gente que até hoje fica falando aquilo, lê os livros
do homem sobre Nietzsche e diz: ‘’Ah, é um divulgador filosófico!’’. Divulgador
filosófico é a mãe! O Mário é o grande filósofo do Brasil, o grande filósofo da
América Latina. É uma glória intelectual da qual nós devíamos nos orgulhar,
devia ter estátua para esse homem, deveria ter Institutos subsidiados pelo
governo, para editar as obras dele. E, no entanto, nós estamos aí lutando o tempo
todo, sem dinheiro, sem recursos, sem auxiliares, sem coisa nenhuma, para poder
fazer edições decentes, como eu fiz da ‘’Sabedoria da Leis Eternas’’, porque com
a obra do Mário não é questão de você pegar os textos e publicar, não! Os textos
são rascunhos, você tem que fazer a edição, quase a edição crítica dos textos, você
tem que restaurar os textos um por um, coloca-los na condição. A restauração
crítica, quer dizer, você tem que conferir o texto, todos os originais que existem.
Você tem que conferir o vocabulário dele de cada texto com o de outras obras e
fazer uma coisa decente.’’
(Olavo de Carvalho - TRUE OUTSPEAK; de 08 de Janeiro de 2007)
***

[118]
‘’Se falar no Miguel Reale, o sujeito já torce o nariz, e o Mário Ferreira, então,
ninguém nem torce o nariz, porque nunca ouviu falar. E tem mais, eu não conheço,
em toda universidade brasileira, entre os professores da universidade brasileira,
entre os professores de filosofia no Brasil, um único que tinha sequer a capacidade
de ler o quê o Mário falou, e de saber do que ele estava falando, porque a referência
do Mário é toda a filosofia da Antiguidade até hoje, sobretudo, passando pela
escolástica e pelos autores mais raros da escolástica, que são os escolásticos
portugueses e espanhóis. Ele leu tudo isto, tudo! Como é que eu sei que ele leu?
Por que ele tinha edições xerocadas disso aí - que não havia nem como ter acesso,
porque não havia nem edição -, então, o que é que ele fez? Ele foi em arquivos
portugueses e xerocou, copiou, fotocopiou os textos. E está tudo lá, anotado na
casa dele. E você, sem uma referência sólida de filosofia escolástica, você não
entende o Mário. O Mário não é uma coisa para você começar seus estudos por ele,
é para você terminar. Cada vez mais, quer dizer, o meu contato com o Mário data
de 1984, por aí. Eu me lembro até de quando uma aluna minha - que jamais leu o
Mário -, apareceu lá com um monte de livros e disse: ‘’A filha desse senhor aqui me
deu os livros dele’’. Eram umas edições horrorosas, eu peguei aquilo na mão, no
começo eu não acreditei que livros bons pudessem ser tão mal editados, mas
depois, quando eu comecei a ler, eu falei: Ou esse camarada é completamente louco
ou ele é o maior filósofo do Universo, e era mesmo! E era mesmo! Cada vez eu me
convenço mais que o louco era eu! Esse é um grande filosofo. Agora, as pessoas
não sabem o que é um grande filósofo, porque elas não sabem o que é um filósofo.
Uma longa convivência com o Mário me convence, cada vez mais, do seguinte: Não
houve, ao longo de toda a história humana, um único filósofo que pudesse
conversar de igual para igual com Platão e Aristóteles, nenhum! Mas o Mário pode!
Isto aconteceu no nosso país! Não é inacreditável? Agora, enquanto nós temos um
homem da grandeza, do porte, da luminosidade do Mário Ferreira, nós achamos
que cultura brasileira é o Gilberto Gil, é o carnaval, com aquele governador Jaques
Wagner, fazendo aquela surubinha em público lá, com a mulher do ministro, com
a mulher do outro. É o Gilberto Gil, é o carnaval. E é o doutor Emir Sader e é o Frei
Betto e Leonardo Boff. Ora, este país merece ir pro brejo mesmo, porque quem não
sabe distinguir o grande do pequeno, o verdadeiro do falso, o certo do errado, não
tem sequer o senso das proporções.
Para saber que perante um homem como o Mário Ferreira a gente tira o
chapéu e só fala dele com muito respeito. Tá certo? As pessoas que não sabem
disso, elas ficam respeitando exatamente o que não merece respeito. Por que você
acha que acontece esse negócio dessa dona Cida Diogo? Porque as pessoas não têm
a medida do que é respeitável e do que é desprezível. Eles trocam, eles pegam a
coisa mais desprezível, que é a frescura de uma mulher, se fazendo ofendida,
porque foi chamada de feia, e eles respeitam isso profundamente, e diz: Eu respeito
profundamente o sentimento da deputada Cida Diogo. Eles não sabem o que
respeitar! São pessoas pervertidas, mentalmente pervertida, mesmo. Veem tudo
ao contrário. Então é claro que não pode haver lugar na cultura brasileira para um
homem como Mário. O Mário é maior do que o Brasil. É a mesma coisa, quer dizer,
ora, Sócrates não era maior do que a cidade de Atenas, que o condenou? Então, o
Mário Ferreira é maior do que o país que o ignorou.’’
(Olavo de Carvalho - TRUE OUTSPEAK - 2007)
[119]
‘’Agora temos aqui uma mensagem do Luís César Andrade, uma mensagem
muito interessante, não sei se estarei em condições de responde-la como ela
mereceria, mas está aqui:
‘’O senhor menciona muito o Mário Ferreira dos Santos, já ouvi o senhor
falar um pouco sobre a ‘’Teoria das Tensões’’. Bem, dessa teoria, nada para nós é
tão explícito ao que parece ser para o senhor. No mais, para o pouco que eu li do
saudoso Mário, principalmente de sua ‘’Filosofia e História da Cultura’’, as
tensões são mencionadas em diversas nuncias sociais, morais e axiológicas nos
tomos 1 e 2, principalmente. O senhor poderia ilustrar melhor para nós o que
realmente consiste a ‘’Teoria das Tensões’’, no seu programa de segunda-feira?
Olavo: Bom, falar cinco minutos sobre isso é a mesma coisa de não falar
nada, mas o projeto filosófico do Mário, ele tem duas etapas, quer dizer, o
primeiro é a criação do que ele chama a ‘’matheses’’ ou a ‘’metalinguagem de todas
as ciências’’, quer dizer, você equacionar, vamos dizer, o conjunto do
conhecimento, numa linguagem inspirada nas leis da aritmética elementar, no
simbolismo dos números, das categorias pitagóricas. Apreendendo, por trás de
todos os seres, o que ele chama a sua ‘’lei de proporcionalidade intrínseca’’, quer
dizer, a equação matemática que expressa a forma integral de cada ser, porém,
feito isso, a visão que você obtém fica reduzida, vamos dizer, a um esquema
matemático, em seguida você tem que entrar, você tem que colocar o dinamismo
e o funcionamento de volta no esquema, e esse é justamente as tensões, quer
dizer, a ‘’lei de proporcionalidade intrínseca’’ que compõe o ser, não é um
esquema, vamos dizer, estático, ele é como se fosse um algoritmo, é um módulo
de transformações, e estas transformações se dão através do que o Mário chama:
‘’as tensões’’, está certo? Então, cada ‘’ente’’ tem a sua ‘’forma’’, essa ‘’forma’’ é
idealmente, pode ser expressada em termos matemáticos, mas essa forma não é
uma forma, vamos dizer, estática, a forma é permanente, mas ela se realiza
através de uma sequência de mutações, ou seja, a forma não é a forma de uma
repetição, é a forma de uma sequência de mutações possíveis, está certo? E essas
mutações se operam exatamente por causa dos elementos de contradição interna
e de tensão, portanto, que existe dentro de cada ‘’ente’’. O Mário Ferreira dos
Santos que me perdoe por ter resumido o negócio tão brutalmente.’’

(Olavo de Carvalho - TRUE OUTSPEAK, 2007)

***

[120]
‘’Olavo: Espera aí, tem alguém na linha! Alô?
Ouvinte: Aqui é o Hélio, tudo bem?
Olavo: Quem é?
Ouvinte: Aqui é o Hélio, tudo bem? Está me ouvindo? É o seguinte, eu
queria que o senhor dissesse alguma coisa sobre o que você achou de mais
interessante, o que você descobriu ou percebeu sobre Bernard Lonergan, Louis
Lavelle, e Xavier Zubiri?
Olavo: Uai, isso aí dá pra dar um curso inteiro. Mas vamos lá, vamos lá! O
O Bernard Lonergan foi o primeiro sujeito que entendeu como é que
funciona a inteligência humana. Ele escreveu um livro de mil páginas chamado
‘’Ensaio’’, que todo mundo tem que ler! Olha, é um livro que mostra para você, na
medida que você entende a inteligência, você se torna mais inteligente. Ninguém
lê esse livro impunemente. É um livro bastante trabalhoso, tem várias páginas alí
que são verdadeiros exercícios que você tem que fazer para entender como é que
funciona, mas faz um bem danado! O Xavier Zubiri, esse é o mais difícil de explicar.
O Xavier Zubiri é um filósofo espanhol que como ele, durante a Revolução
Espanhola, ele ficou do lado republicano - o que cá entre nós foi uma cagada,
porque os republicanos já eram uma ditadura - depois ficou numa situação difícil
com o governo franquista e teve que sair da universidade e ficou dando aula em
casa, e toda a obra do Xavier Zubiri é de publicação póstuma, com exceção do
primeiro livro que se chama ‘’Naturaleza, Historia, Dios’’, no qual ele ainda não
mostra a que veio. Quando o homem morreu e começou a sair esses livros - isso já
na democracia espanhola -, foi um susto, porque o sujeito era quase um novo Santo
Tomás de Aquino, está entendendo? O ponto central da filosofia do Zubiri é a
ligação entre inteligência e realidade. Ele mostra alí, entre outras coisas, vamos
dizer, que essa dimensão que nós chamamos de ‘’realidade’’, é uma coisa que só
existe para o ser humano, quer dizer, os animais não vivem propriamente na
realidade, eles vivem numa espécie de névoa subjetiva. Está certo? E como se
constitui, então, essa dimensão de realidade para o ser humano, este é um dos
assuntos para o Zubiri. O Mário Ferreira, então, é o sujeito que se dedicou a
reconstruir o que teria sido a filosofia pitagórica, mas a filosofia pitagórica que ele
constrói não é a do Pitágoras historicamente considerado, é a dele. Eu acho o
Mário, na verdade, um gênio muito maior do que Pitágoras, mas muito maior. Está
Certo? Pitágoras deu lá duas ou três dicas, e com base nessas duas ou três dicas, o
Mário construiu o que ele chamou de uma ‘’metalinguagem das ciências’’, uma
metalinguagem inteira. Então, entre outras coisas interessantes que o Mário fez,
está a descoberta de que os números, os números que nós utilizamos na contagem,
1, 2, 3, 4, são categorias do conhecimento humano e categorias do ser, são
estruturas do próprio ser humano, de maneira que você, no mero ato da contagem,
você está percorrendo todas as dimensões possíveis que cada ser tem. Por exemplo,
para um ser ‘’ser’’ alguma coisa, tem que ter uma ‘’unidade’’, ‘’ser’’ e a ‘’unidade’’
são a mesma coisa dizia Duns Scot. Mas essa unidade sempre se compõe de alguma
contradição interna, existe alguma contradição interna, então é a ‘’dualidade’’.
Essa ‘’dualidade’’, por sua vez, implica uma ‘’relação’’, tem um terceiro elemento,
e assim por diante. Quer dizer, o simples fato de conta-los você está passando as
várias categorias do ser e do conhecimento. Mas isso aí não é assunto para aqui
nesse programa, isso aqui precisa de muitas e muitas aulas pra explicar esse
[121]
negócio. E Louis Lavelle, ele é o único filósofo do século XX que levou a sério a
idéia de que a realidade existe, está certo? Então é o homem que passou a vida
tentando restaurar no ser humano o senso da presença da realidade e da sua
presença na realidade. Você lê o Louis Lavelle é você acordar de um pesadelo
filosófico de quatro séculos. Para mim, para o meu gosto pessoal, o Lavelle foi o
maior de todos. Eu nunca li uma linha do Louis Lavelle que eu não concordasse, o
que eu não posso dizer de nenhum dos outros. Bom, vamos lá.’’

(Olavo de Carvalho - TRUE OUTSPEAK, 2007)


***

‘’Há certas coisas que se transmitem no ensino da Filosofia que são até
indizíveis: são matérias de estilo, de experiência pessoal, que só a convivência é
capaz de passar, não há outra maneira. Se você é capaz de pegar isso por leitura,
então é porque além da capacidade ou do talento propriamente filosófico, você tem
este outro talento que não é filosófico, é um talento de aprendizado, que até tem a
ver com a filosofia, é claro, mas que não é a filosofia em si mesma. São talentos
distintos.
Grandes gênios da filosofia não tinham este talento. Por exemplo, S. Tomás
de Aquino estudou durante anos com Sto. Alberto Magno. Sto. Alberto já entregou
bastante coisa mastigada para ele e ele prosseguiu da onde o outro tinha parado,
ele não fez sozinho.
Agora, quem ensinou o Mário Ferreira dos Santos? Ninguém. Então isso
querdizer que ele não tinha apenas o gênio filosófico, ele tinha outro talento
específico que é o de aprender sozinho. Isso pode acontecer. Quando aparece um
sujeito do nada, sem uma tradição que o anteceda, sem grandes professores que o
coloquem no caminho, isso acontece. Mas isso não vai fazer de você um filósofo
maior ou menor.
Um filósofo que tinha isso é Leibniz. Os professores com os quais Leibniz
aprendeu estavam tão abaixo dele, que ele praticamente não aprendeu nada com
eles, ele aprendeu sozinho. Você não pode dizer o mesmo de Platão e Aristóteles,
que são os dois maiores filósofos da humanidade. Eles não tinham este talento.
Platão aprendeu com Sócrates e Aristóteles aprendeu com Sócrates e Platão.’’

(Olavo de Carvalho - COF, Aula 02, 21 de março de 2009)


***

‘’Um monstro como Mário Ferreira dos Santos, ou como Leibiniz, que
praticamente deu contribuição em todos os ramos do conhecimento possíveis e
imagináveis. Leibiniz às vezes escreve muito claro; às vezes muito obscuro. O nosso
Mário Ferreira é sempre obscuro – não porque não soubesse escrever, mas por
pressa. Acho que ele sabia que ia morrer, tinha doença cardíaca muito séria.
Ouvindo as gravações das aulas que ele dava, você percebe que, com a minha idade,
ele só balbuciava. Ele sabia que ia morrer logo e tinha de escrever aquilo do jeito
que fosse. No entanto, a riqueza do que tem no fundo daquilo não dá nem para
comparar – precisa de duzentos Henri Bergson para se comparar com ele.’’
(Olavo de Carvalho, COF - Aula 03 - 04 de abril de 2009)
[122]
‘’Muitas operações estratégicas no mundo são feitas baseadas no
esquecimento público. Quando a pessoa observa a sua própria ignorância em ação,
geralmente pensa que aquilo é uma deficiência dela, e pensa que aquilo pode ser
vencido quando, na realidade, não pode. Isso faz parte da estrutura humana e tem
de ser levado em conta sempre — não só nos estudos, em que o sujeito vai ter de
permanentemente reconquistar o que já conquistou, mas historicamente ele tem de
ver que as coisas se perdem de uma geração para a outra de uma maneira
acachapante. É muito fácil perder.
Para você acabar com o ensino da filosofia num país, bastam poucos anos.
Basta você apagar, às vezes, um detalhezinho, que você apaga um monte junto com
ele. Quando, na história da nossa autoconsciência nacional, o pessoal apagou, por
exemplo, o Mário Ferreira dos Santos, eles apagaram tudo junto, porque é
necessário que a sua consciência histórica do que está se passando acompanhe o
que está efetivamente se passando, e não um modelito inventado, que você já
fechou, e daí você acredita que as coisas são assim-e-assado. Quando você observa
as considerações sobre história da filosofia no Brasil, que se trocavam como
figurinhas ali na USP, no tempo do João Cruz Costa, ou do Paulo Eduardo
Arantes (que escreveu Um Departamento Francês de Ultramar, sobre o
departamento de filosofia da USP), ou as discussões do próprio Instituto Brasileiro
de Filosofia, você vê que todos estavam ignorando o maior filósofo presente. O
negócio chegou a um nível de alienação total — eles estão falando de um país que
não existe, porque no Brasil de verdade havia o Mário Ferreira dos Santos. Ele era
a única coisa que estava acontecendo, mas o que se discutia era o que não estava
acontecendo. Essa ignorância é a história do pensamento brasileiro: há a história
do que estava efetivamente acontecendo e a história do que as pessoas imaginavam
que estava acontecendo. Agora, isso que elas imaginavam era um acontecimento em
si mesmo: a ignorância era uma realidade. Então, você tem ali um contraste: você
tem um tremendo filósofo, um filósofo de alcance universal, criando ali uma obra,
ao mesmo tempo em que um bando de ignorantes discutia outra coisa, falando de
um país que na verdade só existia na mente deles. A história não é nem só a história
do Mário Ferreira, nem só a história dos outros ignorantes, mas desse contraste,
desse drama inconsciente.
Então, a unidade do conhecimento na unidade da autoconsciência só existe
em Deus, evidentemente. Deus sabe tudo a respeito Dele mesmo e o que Ele sabe a
respeito Dele mesmo é o conjunto do conhecimento existente. A filosofia é apenas
o esforço de conquistar um pedacinho desse conhecimento e não perdê-lo.’’

(Olavo de Carvalho, COF - Aula 05 - 25 de abril de 2009)

***

[123]
***

"A dimensão da miséria cultural no Brasil é desgraçadamente aumentada


quando não reconhece o maior filósofo da língua portuguesa, Mário Ferreira dos
Santos, em sua própria terra! Veja, isso é incrível. Quer dizer, um país que têm um
tesouro do tamanho do Mário Ferreira dos Santos, e fica perdendo tempo lendo
Marilena Chauí, Emir Sader, bom, isso é o suprassumo da loucura, e uma das causas
disso é a ruptura com Portugal, porque você perde a medida do histórico, assim você
fica perdido no espaço!
Enquanto Zubiri é estudado, interpretado, traduzido e preservado, o Mário é
ignorado, esquecido e desprezado, será que é somente a questão de diferença
ideológica ou pseudo-ideológica, que explicaria esse comportamento? Visto que na
prática a esquerda está aboletada não só no Brasil, mas em todo o continente?
Não, eu acho que isso não é um problema ideológico, porque o Mário é muito
difícil de você definir se ele é de direita ou de esquerda. Em um aspecto ele era
antimarxista, por outro lado ele era simpatizante dos anarquistas. A forma
ideológica do Mário é complexíssima! Não dá para você botar ele numa forma! Ele
está mais ou menos como o Rosenstock. Ele dizia: Olha, eu não sou nem
progressista e nem conservador, porque toda pessoa normal é ao mesmo tempo
progressista e conservadora!
Então eu não acho que seja um problema ideológico, eu acho que seja um
problema de "incapacidade cultivada".
O Mário é um dos grandes herdeiros da cultura portuguesa. O Mário é o sujeito
que no mundo mais conhecia a filosofia portuguesa, conhecia mais do que todos em
Portugal mesmo! Ele leu todos os filósofos portugueses da renascença, todos os
escolásticos portugueses. Ele conhecia aquilo tudo de trás pra diante!
Aquilo teve uma influência tremenda para ele! Por que ele ouviu aquele
negócio do Leibniz, que dizia: "A filosofia portuguesa recompensará
abundantemente aquele que se dedique a ela." O Mário ouviu isso e disse: "Ah é,
então eu vou lá." Muitos textos que não tinham edição, ele foi nas bibliotecas de
Portugal tirar xerox para estudar em casa.
Ele estava tentando reatar uma corrente de influência benéfica que tinha sido
totalmente tampada, e nós temos que continuar a fazer a mesma coisa.
A cultura portuguesa é uma coisa maravilhosa! O sujeito não imagina! Portugal tem
escritores mil vezes melhores do que os do Brasil! Vocês já leram Aquilino Ribeiro?
Olha, eu estou lendo todos os romances dele agora! É uma riqueza de linguagem
que o Brasileiro lê três páginas daquilo, fica bêbado e cai, ele não aguenta! Não é
que nem o Guimarães Rosa, que inventa um monte de palavras. O Aquilino Ribeiro
não, ele pega todas as palavras que existe na língua portuguesa e usa todas, e usa de
uma maneira tão genial, tão fantástica! Eu duvido que haja no Brasil, hoje, quem
seja capaz de ler o Aquilino Ribeiro, não dá!"

(Olavo de Carvalho, Aula 09


06 de junho de 2009)
***

[124]
***
‘’Aluno: No seu texto “Consciência e Estranhamento”, sobre Descartes e a
psicologia da dúvida, o senhor afirma que não apenas sabemos que sabemos, mas
sabemos que sabemos que sabemos, caso contrário não poderíamos afirmar que
sabemos que sabemos. Pode-se representar isso por uma relação trina. Esta forma
uma quarternidade, na expressão do Mário Ferreira dos Santos, como comentado
pelo senhor no artigo “Mário Ferreira dos Santos e o Nosso Futuro”. Qual seria o
nome apropriado desta quarternidade?

Olavo: Note bem, não é somente quarternidade. Em qualquer ato de


apreensão você tem a estrutura da série dos números inteira. O Mário Ferreira
demonstra que esses números não são somente números no sentido quantitativo,
são formas — ou esquemas —, são categorias. E é impossível você pegar uma sem
puxar as seguintes, até que você entra em um ponto em que não é mais necessário,
porque entrou na repetição. Se você sabe, você sabe que sabe, senão você não
poderia refletir sobre isso, mas ao mesmo tempo você sabe que sabe que sabe, e
assim por diante. Não é só quarternidade. Você examinando isso aí você vai puxar
o sistema inteiro das categorias, e você vai ver que no primeiro ato, que é o saber
simples, aquilo tudo já está embutido.
Só que eu digo o seguinte: como nós vamos chegar a entender esta coisa
inteira? Se você pegar A Sabedoria das Leis Eternas, em que o Mário dá o conjunto
dessas formas lógicas e intuitivas que se expressam simbolicamente nos números,
primeiro você vai ter de preencher o seu imaginário para você saber o que fazer
com isso, porque o Mário está dando a esquematização de todo o trabalho do
conhecimento, mas aquilo é só o esquema. Por isso eu não recomendo muito que
leiam o Mário Ferreira dos Santos. Isso é o que você vai fazer depois de ler muito
Aristóteles, muito Platão, muito São Tomás de Aquino. Aí você lê o Mário.
A obra do Mário é uma seqüência formidável de intuições que esse sujeito
teve, sobretudo isso! Eu asseguro para vocês: ele leu toda a filosofia escolástica
existente. Tudo! Até os autores escolásticos mínimos, ele sabia tudo isso de trás
para adiante. Para ele, São Tomás de Aquino era um negócio transparente. Ele é
um filósofo que está sempre raciocinando desde a herança cultural inteira, a
herança da história da filosofia inteira, ele nunca raciocina desde a simples
experiência direta. É por isso que eu recomendo que o Mário não seja um dos
primeiros autores que você vai estudar. Primeiro, pelo fato dos textos dele estarem
nessa mixórdia; segundo, por ser um escritor eminentemente metalingüístico, que
está sempre raciocinando sobre o legado inteiro da história da filosofia. A
quantidade de referências intelectuais do Mário é um negócio de você cair de
costas. Por exemplo, quando ele está escrevendo sobre lógica, ele está levando em
conta a lógica de Aristóteles, o desenvolvimento todo que houve na Idade Média,
as contribuições da modernidade — o cálculo infinitesimal, Leibniz etc —, e o que
veio depois com a lógica matemática. E isso tudo está em uma só frase. Ele é um
filósofo para gente que tem muita cultura filosófica, então adquira essa cultura.
Não é porque eu acho um cara espetacular que é pra você sair lendo.
O que periga de acontecer é o seguinte: quando ele dá esses resumos
esquemáticos de tudo, ele está dando uma fórmula. Na alquimia você tem três
elementos: mercúrio, enxofre e sal. O mercúrio é o mundo da mutação,
mobilidade, é a confusão e o caos. O enxofre é o elemento fixante que vai dar àquilo
[125]
uma forma. E o sal é o cristal, a forma final. Se antes de você ter mercúrio suficiente
você mete lá o enxofre, você fez fracassar a operação alquímica, o negócio
cristalizou cedo demais e imperfeito. O Mário é um elemento organizador, ele é um
enxofre, e ele pega o caos inteiro de vinte séculos da filosofia e dá uma forma. Se
você começa a ler o Mário Ferreira antes de ter uma quantidade suficiente de
mercúrio acumulada, você cristaliza imperfeitamente; se você cristaliza, você
começa a ter idéias erradas. Eu não estou proibindo você de ler o Mário Ferreira,
apenas não estou recomendando que seja uma leitura inicial. Ele mesmo diz da sua
própria filosofia: o que ele chama a mathesis megiste é o conjunto crítico e
articulado de todas as grandes importantes teses descobertas pela filosofia ao
longo de dois mil e quatrocentos anos. É uma metalinguagem da filosofia
universal. Se você não tem nenhuma filosofia universal na cabeça, o que é que você
vai fazer com a metalinguagem dela?
Eu mesmo, a primeira vez que li o Mário Ferreira, vi que não estava habilitado
para ler aquilo. Eu falei: “ele está se referindo a isto, e mais àquilo, mas eu não li
isso, então vou lá atrás e vou ver do que ele está falando.” Só fazendo isso eu percebi
a grandeza imensa daquele homem. Ele é um príncipe entre os filósofos! É um
homem que senta sobre a montanha inteira da filosofia e vê aquilo como um
conjunto! Ele é maior que o Brasil! Quando não existir mais Brasil e ninguém mais
se lembrar desta palavra, a obra do Mário Ferreira será lembrada e lida com
reverência. Ele é um novo Platão! É um homem da estatura do Platão! Eu não estou
brincando, não estou exagerando. Só que para entender isso você precisa conhecer
a história da filosofia inteira, e assimvocê entende como aquilo que ele está vendo
é real.
Agora, sair dando palpite sobre o Mário Ferreira... Teve um sujeito que fez
uma introdução ao Pitágoras e o Tema do Númer”; você não entende uma palavra
do que ele está dizendo. Ele fez uma mixórdia infernal ali. Se você entendeu me
explica, não complica! Porque o livro é complicado o suficiente, mas você fez uma
introdução que é mais difícil de ler do que o livro. É como a tradução que o ministro
Viegas fez da Nova Ciência da Política do Voegelin, que para entender você precisa
retraduzir mentalmente para o inglês, então você lê em inglês direto. Se não pode
judar, não atrapalhe.
Deixe o Mário Ferreira para mais adiante. Nós vamos tratar disso. Vamos ter
muito dele no fim do nosso curso. Não faça ejaculação precoce. A formação da
inteligência é uma operação alquímica.‘’

(Olavo de Carvalho, COF, Aula 11


20 de junho de 2009)
***

‘’O único lugar do mundo onde aconteceu um fenômeno como Mário Ferreira
dos Santos foi o Brasil, porque o Mário estudava o negócio pitagórico, escolástico,
moderno, leibnitziano, tudo no mesmo plano. Para ele, tudo tinha mais ou menos
o mesmo valor, ele estava livre. Se ele fosse fazer isto num ambiente universitário
brasileiro, as inibições em torno seriam tantas que o matariam, não o deixariam
fazer uma coisa dessas. Eles nem poderiam compreender do que o Mário estava
falando. Ele transitava com a maior liberdade entre a filosofia grega e toda a
escolástica. Ele tinha lido tudo, os escolásticos mais obscuros, coisa que ninguém
[126]
leu, somente especialistas haviam lido aquilo (e também só aquilo). O Mário
transitava naturalmente entre todas essas coisas. Tudo isso aí é possível por quê?
É como naquela poesia do Murilo Mendes: nós estamos deitados em uma rede que
todos os países estão balançando. Não pertencemos a tradição nenhuma. Ótimo!
Nós podemos pegar de todas as tradições o que quisermos, o que for bom para nós.
No Brasil podem acontecer fenômenos como Mário Ferreira dos Santos, por causa
dessa flexibilidade mental que o brasileiro tem. Quando aconteceu o Gilberto
Freyre, qual foi a novidade dele? Ele começou a pegar informações de fontes que
todo mundo desprezava: “Ah! Não se faz isso numa universidade!” Ele disse: “Por
que eu não vou fazer? Eu sou apenas um rapaz latino-americano, eu posso fazer.
Vocês não podem, porque são pessoas 'importantes'. Mas eu posso”. Resultado: foi
o maior sociólogo do século XX.’’

(Olavo de Carvalho, COF, Aula 14


11 de julho de 2009)
***

‘’Toda a obra conhecida do próprio Aristóteles começa aos 40 anos, não antes
disso (Aristóteles viveu sessenta e poucos anos [ 384 a.C.-322 a.C. ]). O nosso
Mário Ferreira dos Santos1 escreveu um monte de coisas de pouco valor em um
primeiro momento, antes de ter aquela intuição do que ele chamou de Filosofia
Concreta, e daí passou os últimos dezesseis anos da vida escrevendo ou ditando
um livro atrás do outro, até morrer. Se você comparar o que o Mário fez nesses
últimos dezesseis anos com o que ele escrevia antes, dá a impressão de que é uma
outra pessoa; foi uma verdadeira mutação. Similar ao que aconteceu em literatura
com o nosso Machado de Assis. Se você ler aqueles primeiros romances românticos
dele – A Mão e a Luva, Ressurreição, etc. –, e depois ler Memórias Póstumas de
Brás Cubas, você dirá “Êpa, baixou o espírito, é um outro cara”.
Em literatura isto é raro, mas em filosofia é o comum. Ou seja, você vai
acumulando, vai pensando, você vive naquele mar de dúvidas durante 20 ou 30
anos, daí, de repente, as soluções começam a pingar, uma atrás da outra. Tudo
material acumulado que foi se condensando como se fosse um forno alquímico em
que as idéias e os conhecimentos ficam se mesclando uns com os outros, até que
saia alguma coisa. É isso que eu quero que vocês façam, por isso eu pedi esse voto
de abstinência em matéria de opiniões, inclusive em matérias que dizem respeito
à sua conduta pessoal.’’

(Olavo de Carvalho, COF, Aula 25, 26 de setembro de 2009)

***

[127]
‘’Acontece que a inteligência autônoma é uma coisa que no Brasil sempre foi
hostilizada, e hoje em dia realmente não tem mais lugar para ela. Se você observar
direito, verá que todos aqueles que realizaram grandes obras no Brasil, por força
da sua inteligência criadora autônoma, foram sempre muito hostilizados. O
problema não é ser hostilizado, não é a perseguição pessoal, porque muitas vezes
é claro que o indivíduo que está empenhado em um trabalho dessa altura está
pouco se lixando se as pessoas gostam dele ou não, o problema não é este. O
problema é que o círculo de rejeição que se forma em torno deles impede que as
suas obras, suas descobertas, suas idéias, exerçam sobre a sociedade o papel
vitamínico e fecundante ou hormonal que poderiam desempenhar, espalhando
como em círculos concêntricos possibilidades intelectuais mais altas por
virtualmente toda a população. Isto quer dizer que mesmo que você tenha obras
absolutamente geniais – e eu estou persuadido de que no Brasil há obras mais altas
do que você encontra aqui nos EUA, onde não há nenhum Mário Ferreira dos
Santos, nenhum Gilberto Freyre, nada desta altura. Apesar disso, a cultura
superior aqui é infinitamente superior à do Brasil, porque as grandes obras
exercem uma irradiação em torno, elas têm um papel na educação e são aceitas e
prezadas como um patrimônio nacional, ao passo que no Brasil, quando não são
consideradas verdadeiros crimes de lesa-pátria – como aconteceu no caso do
Gilberto Freyre – são simplesmente soterradas sob camadas e camadas de silêncio,
desdenho ou de hostilidade invejosa. É uma coisa absolutamente doente, que não
há similar. ‘’

(Olavo de Carvalho, COF, Aula 29,


24 de outubro de 2009)
***
‘’Eu vejo, por exemplo, que o Mário Ferreira tem uma amplitude de temáticas
filosóficas que eu não alcanço! Ele abordou muito mais coisas do que eu, e coisa
que ainda vou estudar nos próximos anos. Não há aí desonra nenhuma. Ao
contrário: um filósofo de verdade, quando encontra um grande filósofo, tem um
orgasmo! Agora, o intelectual brasileiro tem um acesso de inveja e quer destruir
aquilo de qualquer maneira, não se conforma que aquilo exista. Eu não consigo me
imaginar tendo inveja do Mário Ferreira, pelo contrário! Eu tenho uma gratidão
imensa por sua existência, ainda bem que ele existiu, porque resolveu um montão
de problemas que, se ele não resolvesse, eu mesmo teria que resolver, e aquilo iria
tomar a minha vida inteira e talvez eu não conseguisse! A filosofia se constrói por
patamares, não é? Você não tem que superar todos os problemas desde o início, há
um monte deles que já foram resolvidos. E a gente vive precisamente disso!
Mas no Brasil não, no Brasil isso tudo é assim: é uma competição pra ver
quem é mais bonito. Porque cada um tem que ser o mais bonito da paróquia, então
se alguém vê outro que é melhorzinho, fica louco da vida, não agüenta aquilo!
Essas pessoas não podem ter um dos grandes prazeres da vida que é descobrir que
há uma grande inteligência que o ilumina! Porque quanto mais a receberem da sua
inteligência, mais elas vão ficar com raiva de você! Por isso vão ficar loucos de dizer
que foi você que descobriu aquilo, e não elas! É uma coisa de uma mesquinharia

[128]
imensurável! Eu considero a mesquinharia brasileira uma das sete maravilhas do
mundo, porque não há paralelo existente! ‘’
(Olavo de Carvalho, COF, Aula 32
14 de novembro de 2009)
***

‘’Se vocês estudarem a obra do Mário Ferreira dos Santos, por exemplo, verão
que todas as possibilidades mais altas e mais baixas da civilização no Brasil já estão
demarcadas ali. Ninguém conhece o Mário Ferreira, ninguém sequer o entende,
mas à medida que você o entende, também entende o seguinte: aquele sujeito era
a única chance que havia para surgir uma civilização decente no Brasil. Na medida
em que se afastam dele, ou em que o ignoram, vão para baixo, necessariamente.
Ao ponto de que, passados apenas 30 anos de sua morte (o Mário morreu em 68,
e nessa época o Brasil ainda tinha alta cultura), virando as costas ao Mário, em três
gerações a alta cultura acabou. O que é isto? É a autoridade do Pólo. Ou você segue
aquele sujeito, ou você vai para o buraco. Não tem outra.’’
(Olavo de Carvalho, COF, Aula 37
19 de dezembro de 2009)
***

‘’Se virmos o que aconteceu com a obra do Mário Ferreira, é a maior obra
filosófica das três Américas (se pegar todos os filósofos americanos, somados, não
dá dez por cento do Mário), até uma das maiores obras do mundo, se não a maior.
Quando eu comparo o Mário com o Edmund Husserl, por exemplo, digo que ele é
muito mais inteligente que Husserl. Ele percebia coisas que Husserl precisaria de
quinze vidas pra perceber e, no entanto, foi de uma esterilidade total
pedagogicamente falando. Por quê? A absorção da filosofia do Mário é uma coisa
para muitas décadas, eu ainda estou neste processo. E os alunos dele, o que
faziam? Estudavam um tempinho com ele, e depois falavam: agora vou tomar o
meu próprio rumo. Graças a isso, tudo o que fizeram foi pro lixo. Você conhece
algum filósofo brasileiro discípulo do Mário que tenha feito alguma obra original?
Não. Primeiro, não entenderam o tamanho deste filósofo. O Mário é o novo Platão:
tem que ficar vinte, trinta anos em cima deste negócio e assima, talvez, possa-se
até corrigir certas partes... E, talvez até acrescentar um novo campo de
investigação que ele não abrangeu – embora no caso do Mário seja muito difícil,
porque ele mexeu com tudo. O estudante brasileiro não tem muita idéia dessas
coisas.’’
(Olavo de Carvalho, COF, Aula 38
26 de dezembro de 2009)

***

[129]
***

‘’A todos os representantes da modernidade, sem exceção, faltava completamente


aquele mínimo de técnica filosófica que a própria escolástica tinha desenvolvido a
um ponto que as pessoas nem hoje conseguem imaginar. Se você ler dois dos livros
do Mário Ferreira dos Santos, chamados A Origem dos Grandes Erros Filosóficos
e Grandezas e Misérias da Logística, verá que muita coisa que se celebra como
avanço da técnica lógica conquistada a partir do advento da chamada Lógica
Simbólica, no fim do século XIX — tudo isso já estava dado nos Escolásticos, eles
já haviam feito tudo isso, com muita antecedência. Ressaltar a modernidade da
coisa só pode ser, evidentemente, fruto da ignorância completa — e a ignorância
jamais é um argumento legítimo. ‘’

(Olavo de Carvalho, COF, Aula 41-- 16 de janeiro de 2010)

***

‘’Ora, acontece que, no entendimento antigo, todo número, além de


representar uma quantidade, representava uma forma lógica. Portanto, se você
falava de “um”, não estava falando só do “um” quantitativo, mas da ideia mesma
de unidade. Se você falava do “dois”, não estava falando só de “1+1”; estava falando
da forma da dualidade: uma estrutura que pode ser descrita logicamente e
reconhecida onde quer que haja um conflito. Por exemplo, quando você tem dois
aspectos aparentemente incompatíveis de uma mesma coisa, e você sabe que ela
se compõe de uma dualidade. Do mesmo modo, o número “3” não simbolizava só
“1+1+1”, mas a forma do ternário, e assim por diante, ternário, quaternário etc, etc,
etc. A exposição extensiva dos números entendidos como formas lógicas e,
portanto, como indicadores ontológicos — está dada, por exemplo, no livro do
Mário Ferreira, A Sabedoria das Leis Eternas, onde ele não só expõe o sentido
originário dos números de um a dez, mas prossegue contando — 11, 12, 13, até mil
e não sei quanto. Ele diz que esses números são não apenas formas lógicas, mas
leis estruturantes da própria realidade. Ora, quando o sentido simbólico dos
números se perdeu, sobra somente o número quantitativo e a ciência moderna só
admite lidar com o número quantitativo, ela não tem como ir além disso.
Isso quer dizer que os entes já não podem ser considerados como formas
lógicas significativas, mas apenas como dados quantitativos. É claro que isso é um
empobrecimento intelectual monstruoso. Schelling foi até bondoso quando disse
que houve uma descida a um nível pueril. Isso não é descer a um nível pueril, é
descer ao nível do mentecapto. O sujeito que sabe contar até dois, mas não sabe
distinguir unidade de dualidade; não sabe, por exemplo, que todo problema tem a
forma de uma dualidade e que, se ele contou até dois, não está falando só do
elemento materialmente matemático, mas de uma fórmula lógico-matemática que
se expressa onde quer que apareça uma dualidade. Hoje em dia, para as pessoas
compreenderem uma dualidade já é um problema. Quando elas chegam a
raciocinar como Hegel, que chega até o ternário — tese, antítese, síntese — são
consideradas gênios. Quando você vê que, numa fase anterior, todo esse universo
dos números era transparente: para um Sto. Tomás de Aquino, para um Sto.
Isidoro de Sevilha, para Sto. Alberto Magno. Quer dizer que, se o sujeito estava
[130]
lidando com um problema, ele conseguia lidar com aquilo como unidade,
dualidade, ternário, quaternário, milhares de formas diferentes. No século XX, o
nosso Mário Ferreira dos Santos vai restaurar, com base nisso, o que ele chama
“decadialética”: enfocar um tema, um ente, um problema, sob dez formas lógicas
sucessivas. Encará-lo como unidade; como dualidade ou oposição; como ternário
ou estrutura silogístico-dialética; como quaternário, isto é, como proporção; e
assim por diante. Quando você vê tudo isso recuperado pelas mãos do Mário
Ferreira e você vê que isso já estava nos escolásticos, você entende que a redução
das matemáticas a um instrumento de medição foi um crime monstruoso contra a
inteligência humana.
E, junto com esse crime, vem o da perda do sentido simbólico da realidade
exterior, do cosmos onde você está. Isso quer dizer que para a mentalidade
medieval escolástica, o versículo bíblico “os céus e a terra cantam a glória de Deus”
não era só poesia. Era uma técnica de decifração das formas, de apreensão do
sentido simbólico da natureza. Quando se perde essa linguagem, o sentido
simbólico continua existindo, porém só como figura de linguagem, como criação
poética, cultural. E, naturalmente, esses símbolos percebidos já não podem
expressar a estrutura da realidade — e muito menos o mundo divino por trás dela
— mas expressa apenas os sentimentos na alminha do poeta. Por exemplo, que a
namorada o largou e está chovendo, então, ele diz que a natureza está chorando
por causa do seu draminha. Esse rebaixamento da linguagem poética, quando você
compara os poetas românticos, por exemplo, com Dante, você vê que alguma coisa
se perdeu. Porque, em Dante, cada coisa que ele coloca lá − quando ele fala de
“selva”, se você vai rastrear o que quer dizer a “selva”, tem dez camadas de
significado. Quando aparecem o leão, a loba, o cachorro etc., está tudo montado
num sistema simbólico perfeitamente coerente e unitário que é o mesmo que
aparece na estrutura das catedrais e na arte sacra, nos vitrais etc. De repente, o
sujeito rebaixa tudo isso a usar os entes da natureza para exprimir os seus
“sentimentozinhos”.

(Olavo de Carvalho, COF, Aula 41


16 de janeiro de 2010)
***

"O Mário Ferreira dos Santos foi, de longe, o maior dos nossos filósofos, e
um autor e conferencista de enorme sucesso no seu tempo. Por que o seu trabalho
não rendeu frutos, além daqueles que germinaram na mente de um sujeito que
nem o conheceu pessoalmente, isto é, eu mesmo?
Para mim, a solução do enigma é a seguinte:
Ele fez tudo em prazo brevíssimo — dezesseis anos, escrevendo um livro a
cada três meses. Mal conseguiu registrar no papel as idéias filosóficas que lhe
ocorriam umas atrás das outras, sem parar, numa tempestade de intuições
fulgurantes. Nunca teve tempo de meditar sobre COMO fazia isso, sobre o trabalho
interior do filósofo, a psicologia da investigação filosófica. Sem isso, mesmo o mais
genial dos filósofos fica pairando acima das cabeças da platéia, sem exercer sobre
elas uma ação fecundante.

[131]
Estou felicíssimo de ter despertado o interesse de tantos estudantes por esse
gigante do pensamento — não só o maior dos nossos filósofos, mas o maior dos
brasileiros."
(12 de Maio 2017, no Facebook)

***

‘’Quem lê o Mário Ferreira com atenção nota que o gênero literário dele é a
EXPOSIÇÃO DOUTRINAL, o registro logicamente hierarquizado das
CONCLUSÕES filosóficas a que chegou e, de vez em quando, o confronto delas
com outras conclusões. Não é nunca a NARRATIVA de uma investigação, o passo-
a-passo de uma descoberta, Simplesmente não deu tempo de fazer isso."

(12 de Maio 2017, no Facebook)


***

"A biografia intelectual do Mário Ferreira permanecerá para sempre um


enigma insolúvel."
(12 de Maio 2017, no Facebook)

***

"O filósofo, se é também um bom professor, deve ensinar não somente a sua
própria filosofia ou a dos filósofos do passado, mas o “how to do it yourself”.

(12 de Maio 2017, no Facebook)

***

"Prometo: assim que o meu escritório ficar pronto e eu tiver de volta a minha
biblioteca, começarei a planejar um curso sobre o Mário Ferreira dos Santos."
(12 de Maio 2017, no Facebook)

***

‘’O Mário Ferreira, como muitos outros gênios vulcânicos que trabalham em
velocidade alucinante, não era muito bom em matéria de consciência
autobiográfica. Ao elaborar o último livro da série "Matese", sob o título "Deus",
culminação de todo o seu esforço cognitivo, enxertou nele o texto inteiro de
"Provas da Existência e Inexistência de Deus", publicado décadas antes sob o
pseudônimo Charles Duclos, numa época em que obviamente ele não havia
alcançado ainda as grandes intuições estruturais que viriam a constituir a
"Matese". Quando ele diz que trabalhava na "Enciclopédia" desde trinta anos
antes, isso só é verdade no que diz respeito à matéria, aos temas, mas não à forma
intelectual, à estrutura total da sua filosofia, que obviamente só lhe ocorreu na
penúltima e na última fases da sua vida pensante. Vida que se divide nitidamente
em três fases: a do beletrista e publicista, filósofo informal e comentarista de
Nietszche; a da "Filosofia Concreta", que abrange a maior parte dos volumes da
[132]
"Enciclopédia"; e a dos dez volumes finais (seis deles deixados inéditos, um dos
quais eu mesmo vim a publicar), onde a denominação geral da doutrina muda da
"Filosofia Concreta" para "Mathesis Megiste" (Ensinamento Supremo),
correspondendo a essa mudança um salto formidável para um nível mais alto de
abstração.’’
(07 de Setembro de 2017, no Facebook)

***

"Confundir a cultura filosófica com o exercício da filosofia é como confundir a


cultura musical com a música. É uma atitude tão idiota que basta, por si, para
excluir o sujeito tanto da música quanto da cultura musical.
TODO o ensino de filosofia no Brasil é baseado nessa confusão digna de um
orangotango.
Entendem por que os verdadeiros filósofos — Mário Ferreira dos Santos,
Vilém Flusser, Vicente Ferreira da Silva, eu — fomos sempre rejeitados no
ambiente universitário brasileiro, enquanto nulidades como José Arthur Gianotti,
Marilena Chauí e Renato Janine Ribeiro eram ali celebradas como grandes
filósofos?"
(12 de abril 2019, no Facebook)

***

‘’Em primeiro lugar, ler o Mário sem você ter alguma prática da leitura de textos
escolásticos vai ser um desastre, você vai se dar muito mal. Em segundo lugar, a
obra do Mário, pelo próprio estado em que estão os seus textos, não é uma obra de
leitura prioritária para o estudante, é uma das últimas coisas que você deve
estudar, porque a obra do Mário ela não tem essa força didática que o Mário
pretendia ter, ela é um sistema filosófico pronto, acabado, catedralesco, etc, muito
complexo, e ela é, sobretudo, um problema: Em primeiro lugar um problema
editorial, um problema textual, ou seja, você não vai começar a sua vida de estudos
tentando resolver os problemas mais recentes e mais difícil, é bobagem! É a mesma
coisa de um sujeito tentar começar a treinar boxe lutando com o Mike Tyson. É
loucura! Então o Mário Ferreira, de fato, não é leitura para qualquer um. Você veja,
a própria burrice que a É Realizações está fazendo mostra isto, quer dizer, são
pessoas que mal saíram da USP ou nem saíram ainda, estão lá e dizem, vou me
envolver com o Mário Ferreira, vou refazer aqui a investigação textual! Vai fazer
nada, você vai fazer é um monte de besteira. Ademais, tem o segundo problema, o
Filósofo colombiano Nicolás Gómez Dávila, disse com muita razão: ''A formação
do filósofo não é somente a formação da sua inteligência, mas a formação da sua
alma''. Isso é a coisa básica. Ontem mesmo eu estava vendo um vídeo do Jordan
Peterson, que é sempre brilhante, e ele diz que em geral, este tipo de expositor, que
transmite a filosofia como se fosse uma coisa pronta, ele não incorporou as idéias
à sua pessoa, ELE NÃO POSSUI ESSAS IDÉIAS, AO CONTRÁRIO, elas o possuem,
e ele é a apenas o alto-falante que as repassa, e com isso vai criar um vício. Eu acho
que toda a USP é assim, eles passam uma filosofia pronta. Quando as ideias são
incorporadas à sua alma, significa que você começa a perceber as coisas assim,
[133]
mesmo quando você esqueceu do que você leu, por exemplo, estudei Nietzsche,
esqueci tudo, mas de repente eu começo a ver as coisas como Nietzsche veria se ele
estivesse aqui, ISTO É VOCÊ CONHECER FILOSOFIA, por isso mesmo que eu
faço questão sempre de expor as filosofias mediante exemplos que não estão
presentes nas obras dos filósofos originários. Eu vou ensinar aqui Aristóteles,
então eu vou aristotelizar em sua frente, mostrar como é que Aristóteles faria se
estivesse aqui. Aí sim você assimilou, não só cognitivamente, mas em termos de
valores humanos, quer dizer, o que eu estou fazendo não só na minha vida
intelectual, mas na minha vida em geral, envergonharia Aristóteles? Tem que
pensar nisto.
Esta formação da alma, eu sugeri que o primeiro passo dela fosse o exercício
do necrológico, ou seja, você vê quem você quer ser quando crescer, e ao longo da
vida você refaz essa imagem - tem aquela imagem ideal que você compõe de você
- e você vai se julgar a luz dela. Por isso que eu digo, o exercício do necrológico não
é para ser mandado para mim, é para ser mandado para você mesmo, ou seja,
daqui 1 ano, daqui 2 anos, você lê aquilo de novo e vê: Eu estou me transformando
naquilo que eu quero ser, portanto, naquilo que eu sou profundamente ou eu estou
me dispersando, estou virando uma criatura periférica, superficial, leviana, mais
interessada em objetivos sociais e econômicos ou eróticos e lúdicos, ou eu estou na
filosofia para valer? Esta formação, para um confronto com o Mário é
absolutamente indispensável, e isto é justamente o que falta para essa gente aí que
está dando palpite sobre o Mário!
Tem até um sujeito aí que disse que o Mário se inspirou nos Enciclopedistas
do Século XVIII. Pelo amor de Deus, o quê que é isto? Esta irresponsabilidade,
esta leviandade, no Brasil, é quase obrigatória. No Brasil, qualquer conversa séria
é considerada uma chatice ou falta de educação, se não sinal de doença mental. As
pessoas se reúnem e podem falar de futebol, de mulher e do custo de vida - falar
mal dos políticos admitisse um pouco, não muito -. Então, eu não sei de onde vem
isto, seria o caso de estudar a origem disso. Precisamos nos livrar disso para poder
entrar num confronto com um homem mortalmente sério, que era o Mário
Ferreira dos Santos. O Mário Ferreira dos Santos era o sujeito que filosofava 24
horas por dia, até quando estava dormindo. Ele não estava fazendo filosofia de vez
em quando, ele não estava fazendo nem profissionalmente.’’

(Olavo de Carvalho, no curso - Mário Ferreira dos Santos- Guia para o estudo
da sua obra, em 5 aulas, 8 de novembro a 02 de dezembro 2017)

***

[134]
2- Textos
1-Transcrição de 14 Áudios preciosos, informativos e de muita
necessidade mostra-los na presente edição dessa Revista.

(Mário Ferreira dos Santos, sua esposa Yolanda Duro Lhullier e as filhas
Yolanda e Nadiejda, na Avenida São João - SP)

‘’Ministrou vários cursos de Oratória, principalmente para alunos da


Faculdade de Direito. Deixou gravado, um Curso de Oratória em 20 aulas,
seguindo um método próprio. Freqüentemente era procurado por pessoas
angustiadas, aflitas, desesperançadas, que nele encontravam auxílio e amparo.
Ouvia-os com paciência procurando ajudá-las a se recuperarem utilizando um
método que criara e que dera resultados bastante positivos em vários casos
particulares. Com a finalidade de torná-lo conhecido escreveu “Curso de
Integração Pessoal” e “Convite à Psicologia Prática”. Nestas obras ensina como
conhecer o caráter e o temperamento próprios e como estimular nossas
possibilidades, aproveitando os ensinamentos da Caracterologia. “Um dos estudos
que aconselho os senhores a fazerem para o próprio bem pessoal é o estudo da
própria caracterologia, porque ela nos ajuda a vencer os nossos defeitos. Eu nasci
com todos os defeitos possíveis, mas venci-os através do conhecimento das minhas
deficiências e das minhas tendências viciosas, para corrigi-los através da minha
vontade.’’
Foi um grande sacrifício, mas grande parte auxiliado pelo próprio esforço.
Foram inúmeras as palestras e discursos proferidos. Grande orador, empolgava o
auditório com a palavra fluente. Quando jovem, na primeira aparição em público
como advogado de defesa, a sua habilidade oratória foi fator preponderante na
absolvição de seu constituinte. Por possuir dotes oratórios foi várias vezes
convidado a candidatar-se a cargos políticos, porém sempre rejeitou. Interessava-
se por política e procurava a solução dos problemas sociais, mas não almejava
cargos públicos. Na maioria das vezes as palestras eram improvisadas e
[135]
frequentemente o tema era proposto pelos ouvintes. Deixava para o final as
respostas às perguntas formuladas pelo auditório.
Muitos o criticavam-no pelo fato de tratar de vários assuntos. Em palestra
para jovens, respondeu: “Há muitas pessoas que admiram que sendo eu um
filósofo, que trate de matérias que pertencem a tantas e diversas disciplinas, mas
todas estas disciplinas pertencem a Filosofia. O que deveria preocupar,
impressionar, era que precisamente eu como filósofo não fosse capaz de tratar
dessas matérias, porque na filosofia não há especialização. O filósofo especialista
é uma “contradictio in adjectis”, porque a filosofia é universalista, generalista por
natureza, e uma especialidade na filosofia pode haver de professores de filosofia,
mas não de filósofos. Nenhum grande filósofo foi especialista, nenhum, todos
foram universalistas, todos trataram de tudo quanto cabe ao campo da filosofia.”
Na ocasião explicou, também, porque não era apenas um professor de filosofia,
mas um filósofo! “Ser um mero professor de filosofia eu não sou, eu posso dar aulas
especializadas, mas não sou propriamente um professor de filosofia, eu sou um
filósofo, tenho uma obra realizada, esta obra existe, está aí publicada, quer
queiram quer não, não são folhetins, são livros volumosos e tenho mais a publicar.
Queria estabelecer este ponto porque sei que como predomina nas escolas e nas
universidades, infelizmente, o espírito do especialismo, que desde que entrou só
serviu para perturbar o desenvolvimento da cultura humana e fazer com que estes
três séculos sejam os três séculos mais estéreis do pensamento humano, eu sei que
este espírito influi na juventude que não está devidamente preparada e não sabe
como reagir a esta maneira de ver. Podem verificar na história da filosofia que os
grandes filósofos, não dos pseudamente grandes filósofos, não daqueles que são
incensados por uma publicidade mal intencionada, mas dos grandes filósofos na
história da humanidade, todos eles foram universalistas e trataram
mateticamente, digamos assim, de todas as matérias.”
Dentre as inúmeras palestras proferidas conseguimos fazer um levantamento
inicial: “A filosofia de Max Scheller” no Colégio Livre de Estudos Superiores, 1946;
“Proudhon e o socialismo no século XX” no Centro de Cultura social, 1947, São
Paulo; “Que es el existencialismo” no Centro Gallegó, 1950, São Paulo; “São Lucas
e sua significação” na Sociedade Médica São Lucas, 18/10/1952, São Paulo; “O
Método Dialético e sua aplicação” no Instituto Sampaio Fonseca, 29/04/1954, São
Paulo; “Mauá, o Grande Homem de Empresa” no Instituto Sampaio Fonseca,
28/12/1954, São Paulo; “O pensamento Pitagórico e sua atualidade” no Centro de
Debates e Estudos Culturais CEDEC, 16/10/1955, São Paulo; “Realidade
Brasileira” no Centro Acadêmico 3 de março, 02/10/1962, São Paulo; “Os ciclos
culturais” no Centro de Cultura, 14/11/1965, São Paulo; “Conceito Ontológico da
História” no Centro de Cultura e Livraria e Editora Logos, 16/01/1962, São Paulo;
“Integração e Desintegração da História” na Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras de Santos, 1963; “A Crise no Mundo Moderno” na Associação Brasileira de
Imprensa, 1965, Rio de Janeiro; “Dialética Concreta” na Faculdade de Filosofia
São Bento, 14/10/1966, São Paulo; “Palestras sobre temas propostos” no Colégio
São Luís, 26/10/1966, São Paulo; “S. Tomás e a Sabedoria” no Instituto Teológico
Pio XI 03/1967, São Paulo; “Palestras sobre temas brasileiros” no Convivium
02/05/1967, São Paulo; “Palestras sobre temas propostos na hora” no Convivium,
24/04/1967, São Paulo; “A importância da Oratória na vida de um líder” na
Câmara Júnior de São Paulo, 16/08/1967.’’

(Monografia sobre Mário Ferreira dos Santos, por suas filhas:


Nadiejda Santos Galvão e Yolanda Lhullier dos Santos, 2001)

[136]
I- “Integração e Desintegração da História”, na Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Santos, 1963.

O tema de nossa palestra de hoje é dos mais importantes que existem,


sobretudo, para o homem moderno, porque gira em torno de uma matéria de
gravidade incontrastável, é o problema da construção e da destruição dos ciclos
culturais na história.
Depois que nós examinamos as chamadas fases kráticas na história é que
verificamos que o kratos político, como força de coesão social e como força super
individual que paira acima dos próprios grupos, é sempre ambicionada não só
pelos indivíduos humanos, como pelos próprios grupos sociais.
O kratos social é propriamente o poder político que se estrutura - já nos
ciclos culturais superiores como o nosso - naquilo que constitui propriamente
“Estado”, e dá uma certa coerência à sociedade, mas uma coerência fundada na
lei positiva e fundada, sobretudo, na violência organizada.
Nós vimos que na formação dos ciclos culturais, eles passam por diversos
períodos, com as suas fases, desde a sua formação, que se dá através de um
período juvenil, que é o período de formação da cultura do ciclo cultural, e se
caracteriza, sobretudo, pela formação de uma nova concepção do mundo, que é a
que dá o verdadeiro ‘’consensus’’ ao ciclo.
Nesse primeiro período temos três fases que nitidamente se pode observar
na história:

A fase teocrática, na qual a cultura se estrutura tensionalmente sobre uma


forma teocrática, propriamente as leis que organizam, que regulam a ordem
social tem a sua origem na Divindade, sendo transmitida aos homens pela figura
mística de um iluminado, cuja personalidade se esfuma entre o histórico e o
lendário, cuja personalidade é muitas vezes divinizada, mas esta divindade
propriamente não pertence a fase teocrática, ela pertence a uma fase anterior,
mas vai presidir, vai ser a figura central de todas as afirmações da teocracia
dominante. Nós vimos assim as figuras de um Rama entre os Árias, de Maomé
entre os Árabes, de Moisés entre os Judeus, de São Paulo entre os Cristãos, de
Thot, (Hermes Trismegistos), entre os Egípcios, etc.
Em torno dessa personagem divina ou em torno da sua significação – por
que ela pode não estar mais presente - reunem-se então um corpo estruturado
[137]
por homens hieráticos, homens santificados que promulgam, cumprem e fazem
cumprir a lei. A pouco e pouco então vai se estruturando a segunda fase crática,
que é a fase da hierocracia (do gr. ‘’hieros’’, santo) dos homens santificados:

Daqueles que vão dominar o kratos social, são os representantes e


cumpridores da lei, não quer dizer que estes homens sejam propriamente os
dominantes do poder estatal, eles são os dominantes do poder em geral da
sociedade, porque o próprio poder estatal depende destes homens superiores que
representam a última palavra dentro da nova ordem cíclica que se forma.
Nós os encontramos em todos os grandes ciclos sociais, como tivemos a
oportunidade de mostrar, como foram, por exemplo: Os Rixes, na Índia, como
foram os sacerdotes do cristianismo.
Finalmente, à volta destes homens sagrados vai constituindo um grupo
maior que é formado de homens virtuosos, homens que tem a virtude (do gr.
‘’aretê’’) e que, a pouco e pouco, pela sua coragem, pela sua impetuosidade na fé,
eles formam uma força material que dá cada vez um impulso a fé, não são apenas
sacerdotes, são também homens provindos de todos os setores, os quais
terminam por apossarem-se do kratos político e estabelecer a terceira fase do
primeiro período que é a fase da “aretocracia” ( do gr. aretê, virtude).
Como vem se formando, paralelamente a esta, os outros estamentos que
tivemos a oportunidade de estudar, a aristocracia, já neste instante de posse do
poder econômico, aspira também o kratos político, e participa já do kratos
político, e é neste instante então que ela aspirando a mais poder, realiza a
primeira grande revolução que se dá em todos os ciclos culturais, a revolução
aristocrática, a qual faz ascender ao kratos em sua primeira fase à aristocracia,
que passa a ter o poder a pouco e pouco, supremo, participando dele, também, os
sacerdotes, mas cada vez mais numa posição secundária, é quando surgem os
príncipes, os vajas e etc.
Mas, os que constituem esta aristocracia (do gr. ‘’aristos’’, os melhores) vão a
pouco e pouco estruturando-se num grupo de escolhidos, que em torno dos
príncipes vão constituir o poder e a segunda fase deste segundo período sobrevêm
logo, que é a “oligocracia” (do gr. ‘’oligós’’, escolhido). É o kratos em poder de um
grupo escolhido pequeno de senhores que domina totalmente toda a sociedade.
Nesta fase também os sacerdotes participam do poder, também os sacerdotes
tem um grande papel, mas cada vez mais subordinados, até que finalmente surge
o período de absolutismo da aristocracia, que é a terceira fase do segundo
período, a “monocracia”, quando o poder finalmente vai emanar totalmente de
um rei todo poderoso que passa a ser a encarnação do próprio estado.
E então, o estamento seguinte, que é uma classe social, que já tinham vindo a
pouco e pouco conquistando o poder econômico, e que agora aspira ao poder
político, que no caso, por exemplo, do nosso ciclo cultural: É a chamada
burguesia. Ela realiza e provoca a segunda grande revolução do ciclo cultural, que
vai inaugurar o terceiro período, e a sua primeira fase: a democracia.
A democracia pode dar-se ainda com a presença da própria aristocracia. É a
aristocracia cedendo aos impulsos liberais, é a aristocracia concedendo direitos
ao terceiro estado, mas à proporção que a burguesia, ou o homem utilitário, o
mercador, como em todos os ciclos culturais vai impondo-se no poder, ele, por
sua vez vai sendo dominado por um grupo mais poderoso, o grupo dos ricos, a
[138]
plutocracia (do gr. ‘’plutos’’, rico), que vai constituir a segunda fase do terceiro
período, isto é, quando os homens de negócios passam, também, a ser dirigidos
por um grupo mais poderoso, dos mais ricos. Estes, por sua vez, tendem a ceder
o poder a um terceiro grupo que vai se formando, que é o grupo dos dominadores
do dinheiro, porque o dinheiro é o denominador de todas as coisas, então, os
homens de negócio, os homens de empresa passam a pouco e pouco a serem
dominados por um grupo financeiro, que dominando o dinheiro, domina toda a
ordem social e inaugura a terceira fase do terceiro ciclo, a “argirocracia” (do gr.
‘’argiros’’, prata).
É então que começam a surgir as grandes revoltas populares, é quando
elementos que saídos dos estamentos do clero, da aristocracia, e até dos próprios
homens de negócio, passam a agitar as massas populares preparando-as para o
advento da terceira grande revolução, que é aquela em que as vontades populares,
que na verdade são apenas agitadas pela demagogia, a avassar um tudo em sua
voragem levam de roldão a ordem social e inauguram, então, o quarto período, e
o fim do terceiro período, que é o período da canalha das ruas, a “oclocracia”(do
gr. oclos, massa das ruas).
Mas a oclocracia não se mantém, porque nunca as massas mantêm-se no
poder, logo começam a surgir homens poderosos, forças militarizadas da
sociedade que vão se impondo e que procuram salvar da catástrofe inevitável, da
desordem social, então ascendem ao poder estes homens que constituem então a
primeira fase do quarto período, os césares, os césares da decadência, a
cesariocracia.
Esta cesariocracia, que é a segunda fase do último período, prepara
inevitavelmente à desordem final do ciclo cultural e, ao mesmo tempo, prepara o
advento de novas idéias, de uma nova fé, de um novo querer, de um novo
“consensus”, que irá inevitavelmente constituir-se na sociedade e junto com
povos sobrevindos de outras regiões, realizar um novo ciclo, uma nova esperança
para a humanidade.
Desde a sua formação, todo o ciclo cultural encontra-se entre o choque de dois
núcleos de forças antagônicas adversas: uma que tem os seus ímpetos
construtivos e dá a solidez ao ciclo e a outra que tem os seus ímpetos destrutivos,
e que prepara as formas corruptivas do mesmo ciclo social.
Por que a corrupção de um ciclo social não sobrevém apenas em consequência
das lutas políticas, nem dos problemas que surgem das diversas experiências
econômicas, ela vem, e sobretudo, da desintegração, que se procura estabelecer
dentro da cosmovisão, que é a que dá a forma ao ciclo cultural.
Se nós, por exemplo, quiséssemos estabelecer, dentro da concepção
aristotélica, o que constituem as causas de um ciclo cultural, nós encontraríamos,
por exemplo: ‘’a matéria’’ seria constituída de todo um conjunto, não só ecológico,
como também dos indivíduos que constituem as diversas gerações, que se
formam num ciclo cultural, como sendo a sua ‘’causa material’’ e a sua ‘’causa
formal’’, pelo menos, superior, ‘’a cosmovisão’’, a visão geral do mundo que
estrutura esse ciclo, e ‘’formas particulares’’ que são as constitutivas das diversas
fases, estamentos, grupos e também modos de ser dos ciclos culturais, cujo o
estudo teremos que fazer mais adiante.
O que nos interessa agora é examinar este aspecto importante: Esta luta, esta
adversidade que perdura dentro do ciclo cultura, que contêm sempre
[139]
intrinsicamente um conjunto de disposições prévias corruptivas, que vão
constituir os poderes que buscarão romper a coesão do ciclo e que podem muitas
vezes, e até cedo demais, destruir um ciclo em formação, como já aconteceu na
história.
De maneira que nós podemos encontrar, como partes integrantes essenciais
de um ciclo cultural, inúmeros elementos, mas entre eles nós podemos classificar:
‘’elementos universais’’, que são elementos genéricos e ‘’elementos particulares’’,
que são elementos específicos.
Entre os universais nós temos o ‘’termo-médio’’. O termo-médio, como se
examina na Sociologia, é aquele que vai dar a coesão de uma relação social. O
termo-médio, por exemplo, na família, é formado pela a mãe. O termo médio, no
caso das partes integrantes, essenciais, universais da sociedade, é esse
“consensus” constituído pela cosmovisão, pela teovisão, pela fé religiosa
fundamental do ciclo cultural.
Outras partes integrantes, essenciais da sociedade, genéricas, as universais,
temos a autoridade deste termo-médio que coacta as partes. É a forma que dá o
atualizar-se tensional ao ciclo cultural. E também, outro elemento, é constituído
da comunidade de interesses éticos, como os interesses religiosos, sociológicos,
econômicos, históricos, políticos, jurídicos, etc, todos esses vão constituir as
partes integrantes, essenciais, universais de um ciclo cultural.
Entre as partes que são particulares, mais específica, nós temos então a
diferença específica dos elementos universais determinados especificamente, que
esses elementos examinados, cada um em particular.
Agora, além destas partes integrantes, essenciais, a sociedade também tem
partes integrantes acidentais, àquelas que não são estritamente necessárias e não
constituem a essência do próprio ciclo. Entre estes nós temos a componência
étnico-social, que pode variar na história, o contorno ecológico, que pode,
também, variar no ciclo cultural e os interesses dinamicamente considerados que
variam segundo os grupos, segundo as diversas fases e os diversos períodos da
sociedade.
De maneira que o desenvolvimento histórico de um ciclo social é sempre
proporcionado à forma e à matéria que constituem o ciclo, e também as
possibilidades desse ciclo são, consequentemente, proporcionadas aos estágios
de atualização que o ciclo possa ter.
Há uma série de possibilidades que pertencem ao futuro: as chamadas
possibilidades ‘’prometeícas’’, que podem atualizar-se e aquelas possibilidades
não atualizadas, que vão constituir o ‘’epimeteico’’ de um ciclo cultural. Algumas
dessas possibilidades poderão atualizar-se, enquanto outras não terão mais a
oportunidade de uma atualização.
Estudada assim, imposto assim, o ciclo cultural nas suas partes integrantes,
quer essenciais, quer acidentais, forma-se então uma polaridade adversativa: de
um lado aquela que consiste na conservação e no desenvolvimento normal, do
que integra a sociedade, e do outro lado, as disposições prévias corruptivas,
atuantes dinamicamente para corromper a integridade do ciclo.
Então vamos analisar os elementos integrantes, os elementos que vamos
chamar ‘’téticos’’, que são aqueles que apoiam a integração da sociedade e os
‘’antitéticos’’, que são aqueles que constituem as disposições prévias corruptivas
do ciclo cultural.
[140]
Na análise do elemento dos integrantes nós podemos ver uma série de
aspectos que nós vamos salientar agora, analiticamente, separadamente,
abstraídos do conjunto da realidade para uma mais nítida visão do ciclo cultural.
Por exemplo, a valorização do superior teológico, que é típica do primeiro
período, a valorização do homem nesse período como um inferior, como um
termo médio, para ligar, para partir para à divindade. Uma valorização muito
relativa do inferior cósmico à disposição do homem. Estes aspectos são téticos,
são positivos, porque eles estruturam e dão força ao ciclo cultural.
Segunda parte, podemos verificar a justificação da cosmovisão, e da teovisão
e da antropovisão - da visão do homem -, da visão macrocósmica, da visão
teocósmica e a microcósmica dentro do ciclo social que propriamente é mais forte
no primeiro período e, sobretudo, na segunda fase e na terceira, porque nestas
fases, que é a época mais apologética, ela luta para fortalecer, cada vez mais, esta
cosmovisão. Então o fundamental nesta fase é a salvação, a salvação do homem
dentro das idéias religiosas que constitue o ciclo.
Consequentemente a esta visão do mundo, a esta teovisão, subordina-se todo
o conhecimento. É a época, que normalmente, a Filosofia tem que estar
subordinada à Teologia.
Justifica-se a teovisão, mas esta justificação, no primeiro período, é uma
justificação meramente religiosa. Mas já no fim do primeiro período, na formação
do segundo período, a justificação da teovisão já vai exigir o auxílio da Filosofia,
então, a Filosofia já vai trazer os elementos a favor da cosmovisão religiosa. É o
período de escolasticidade, que nós vamos encontrar em todos os ciclos culturais,
que passa do primeiro para o segundo período.
Não quer dizer que nesse período as forças antitéticas estejam paradas,
amortecidas; ao contrário, elas estão tremendamente ativas. Nós encontramos
uma luta dos elementos remanescentes de outros ciclos culturais ou elementos
incorporados ao novo ciclo em luta constante contra a concepção religiosa. E
essas investidas antitéticas são muito fortes neste período, inclusive dentro
daqueles que constituem os defensores da própria cosmovisão. É o período das
heresias, é o período de idéias dispares, provindas de outros setores, que negam
validez aos princípios fundamentais da nova cosmovisão. Então podemos agora
analisar esses aspectos antitéticos.
Entre eles nós vemos, por exemplo, uma valorização excessiva do cosmológico
em oposição à valorização da cosmovisão teológica. Vemos, por exemplo, uma
luta para valorizar antropologicamente, quer dizer, os valores antropológicos.
Vemos também, por outro lado, uma tendência a negar as possibilidades
cognoscitivas do homem. Vemos surgir o cepticismo, o agnosticismo, o nihilismo.
Vemos, por exemplo, uma tendência a valorizar extremadamente a Filosofia
contra a Teologia. E há, também, e sobretudo, a Filosofia Prática, e sobretudo, a
Ciência Prática, tomada apenas no seu aspecto empirista. É quando se valoriza a
razão humana, mas não para justificar propriamente as teses que constituem o
fundamento da cosmovisão religiosa, mas precisamente as teses que se opõem
àquela, as antíteses. Então, a valorização do empírico, a valorização do racional,
a negação constante das possibilidades do homem penetrar no Absoluto, a busca
para separar a Filosofia cada vez mais da Teologia e da Religião, e por sua vez,
também, a busca de separar-se cada vez mais a Ciência da Filosofia, o
desenvolvimento da técnica e, finalmente, se consegue a separação da Ciência,
[141]
que até então estava subordinada à Filosofia; o que já é próprio do fim do segundo
período e o início do terceiro período.
Então, neste desenvolvimento, antes de chegar-se ao período democrático há
uma tendência predominantemente panteísta. Aos axiomas, aos princípios e
postulados aceitos, apresenta-se a negação constante da validez dos mesmos.
Desenvolve-se o cepticismo, o agnosticismo, o criticismo, o pragmatismo, o
positivismo, o materialismo, o ficcionalismo, o nihilismo, o idealismo até que, já
no terceiro período, vai surgir uma reação romântica, mas desordenada, uma
reação que não poderá por si só salvar o que havia de positivo no ciclo social, o
que vai exigir outras providências que nós passaremos em breve a examinar.
E, finalmente, no terceiro período, é o período em que as doutrinas filosóficas
são, a pouco e pouco, substituídas pelos postulados ideológicos. É quando surgem
então as tendências ideológicas que dividem a sociedade, não mais no
pensamento filosófico, mas em ideologias que vão interessar mais aos grupos do
que propriamente à sociedade humana.

[Fim do Áudio]

[142]
II- Exemplos de Filosofias nos Diversos Períodos da História

Mário: A senhora poderia fazer o favor de me dar as perguntas? Tem


muitas?
Senhora: Tem várias perguntas!
Mário: Eu vou começar então a responde-las na ordem que eu estou as
recebendo. A primeira que eu tenho aqui as mãos é a seguinte:

‘’Pedem-me para apresentar alguns exemplos de filosofias correspondentes


aos diversos períodos e fases.’’

Bem, pode-se dar aqui alguns exemplos assim. Por exemplo:


No primeiro período, que é o período teocrático, a revelação, isso no ciclo
cultural nosso, que nós estamos vivendo – que é o que pede aqui na pergunta -,
nós temos a revelação feita através de Cristo e do Cristianismo, que corresponde
à primeira fase, do primeiro período.
A segunda fase do primeiro período, que é a fase hierocrática, nós temos o
desenvolvimento da patrística, no sentido mais apologético, quando os autores
cristãos buscavam justificar ante o mundo greco-romano, o cristianismo.
Mostrando que o cristianismo nada mais é do que uma continuação da própria
concepção greco-romana. Forçavam, deste modo, uma defesa do Cristianismo
em bases de certo modo filosóficas.

[143]
Agora, a terceira fase, que é a fase da eleitocracia, é uma fase de
evangelização, é a fase que nós conhecemos no período Alexandrino, onde
depois vai-nos surgir a figura máxima desta fase, sem dúvida alguma, que é
Santo Agostinho, que propriamente já inaugura a filosofia teológica ou religiosa,
que vai constituir a primeira fase do segundo período:
O período Aristocrático, cujas figuras principais nós temos nesse período,
que é São Bernardo, temos Alexandre de Hales, temos os grandes filósofos que
vão constituir a escolástica até chegarmos então à segunda fase, que é a filosofia
teológica natural, já de Tomás de Aquino, já fundado no aristotelismo, em que
surge a figura de Scot, precedida naturalmente pela grande figura de Santo
Anselmo, que é considerado o fundador da escolástica.
No Terceiro período da aristocracia, já o período que vai se transformar a
aristocracia para a monocracia, a filosofia não religiosa cresce, desenvolve-se
muito, então, há uma luta tremenda contra esta intervenção do lado antitético.
É quando surgem os grandes filósofos no ocidente, os grandes filósofos jesuítas,
a escola de Coimbra, a escola de Salamanca, que nos dão aquela série de vultos
imensos como Pedro da Fonseca, S.J., Baltazar Teles S.J., Francisco Suárez, S.J.,
Valência S.J, Solto S.J., Benedito Pereira S.J., e etc, em que há uma luta em
defesa das ideias religiosa em contraposição ao excesso do racionalismo, que
estava se formando.
Agora, na fase democrática, que vai predominar o racionalismo filosófico,
o experimentalismo científico, então nós encontramos no lado tético, a
modificação da escolástica, que segue a linha dada pelos jesuítas e que também
se torna científica, a cosmologia se fortalece, a escolástica não receia em
enfrentar as descobertas cientificas e pode-se dizer mesmo que a ciência
moderna vai encontrar neste grupo escolástico as suas principais bases, os seus
principais discípulos.
Já na democracia na segunda fase, a fase da protocracia, a filosofia
ideológica já começa a desenvolver-se, então nós estamos em pleno relativismo,
em pleno cetipcismo, há uma certa depressão, como aconteceu no ocidente, na
escolástica, e até que a democracia chega a este estado do cesarismo, que o
cientismo é vacilante no início, a incredulidade é uma tanto crescente, até que
em pleno período cesário-crata, nós temos então uma ciência protocolaria como
nós estamos vendo, os conflitos ideológicos crescem de uma maneira
extraordinária e também nos encontramos em face do fim das possibilidades do
ciclo e o surgimento então de uma nova fé, de uma nova possibilidade, de uma
nova certeza que possa inaugurar um novo ciclo para o mundo.
Eu dei assim rápidos exemplos no nosso ciclo cultural.

[144]
A outra pergunta que eu tenho aqui é a seguinte:

‘’Que eu disse que a valorização da filosofia é um modo corruptivo!’’

Não, não. Eu não disse que a valorização da filosofia é um modo corruptivo,


propriamente. É o seguinte:
Na luta antitética contra a posição tética, que é a posição do ciclo cultural,
muitos manejam a filosofia e valorizam a filosofia em contra posição à teologia,
mas os descendentes desta mesma posição vão depois combater a filosofia. A
filosofia não é um modo corruptivo, a valorização da filosofia não é um modo
corruptivo, é apenas aproveitado, é apenas manejado por aqueles que
pretendem corromper a sociedade.

A terceira pergunta que eu tenho aqui as mãos, ela pergunta qual seria a
nova cosmovisão?

Bem, nós não pretendemos ser profetas, em todo caso, todo homem que
estuda, que examina a história sempre alcança um certo profetismo, porque
funda-se em certas realidades que permitem estabelecer as possibilidades
futuras, mas essas possibilidades futuras são contingentes e consequentemente
podem não se realizar.
O nosso ciclo cultural encontra-se num momento gravíssimo, num
momento de choque, num momento em que a diversidade se polarizou entre
dois campos que praticamente dividem o mundo e que ameaçam-se
mutuamente à uma destruição, e uma destruição que poderá ser total. Talvez
nós encontremos o fim da humanidade se surgir a guerra com as possibilidades
que ela apresenta, mas a verdade é o seguinte: Nós vamos encontrando hoje nos
trabalhos modernos, nos trabalhos da filosofia positiva, da filosofia concreta,
uma reunião constante de postulados que são perfeitamente demonstrados, de
modo apodítico, e que vão permitir junto com o aspecto realmente positivo da
ciência, não da ciência protocolaria, mas da ciência melhor orientada, para a
conjunção num futuro próximo de uma nova revelação dada ao homem – não
propriamente dada pela divindade no sentido que miticamente se faziam nos
outros ciclos - mas como uma revelação de a verdade se revelar ao homem à
proporção que ele a vai buscando, então ele encontrará os elementos para a
construção de um novo ciclo cultural e de uma nova cosmovisão que será
positiva, porque todos os ciclos culturais, os grandes ciclos culturais, eles se
fundam em concepções filosóficas positivas e concretas e não em posições
filosóficas negativas. De maneira que nós podemos confiar no papel da ciência,
[145]
como podemos confiar no papel da filosofia positiva moderna, não dessa
filosofia de negação, dessa filosofia que só ponha dúvidas, dessa filosofia
agnóstica, céptica, niilista, desesperada, que busca destruir os aspectos
positivos, mas a outra parte, a parte tética, nós podemos confiar e com as
grandes contribuições da ciência podemos esperar a formação de uma nova
concepção do mundo que será ainda uma concepção cristã, porque o
cristianismo ainda não esgotou as suas possibilidades, e mesmo dentro da
concepção cristã, que é uma concepção sincrética e que reúne os pontos altos de
todas as religiões de todos os ciclos culturais, nós encontramos bastante
positividades para ajudar na formação de uma nova visão do mundo, uma visão
ecumênica. De qualquer forma, o novo ciclo cultural humano deverá – se não
houver uma guerra destrutiva que vá outra vez separar os povos -, ter um aspecto
completamente distinto dos outros ciclos culturais anteriores, porque os outros
ciclos culturais anteriores, eles cingiam-se a determinadas regiões do nosso
globo, mas o novo ciclo cultural de qualquer maneira ele será universalista, ele
será ecumênico, ele terá uma tendência a abranger todos os homens – salvo,
como dissemos, se houver uma guerra terrível que destrua e outra vez separe os
povos de maneira que se criem novas cultural completamente distantes uma das
outras, mas nesse caso o homem recairá na barbárie -.
E de certo modo esta possibilidade favorável é também um estímulo para
que nós lutemos por esta concepção ecumênica e seria um ideal, seria um desejo
justo que fosse possível que nós a realizássemos antes da deflagração do conflito
universal, porque se fosse possível vencermos as fronteiras e dar uma visão geral
do mundo nova, que desse uma unidade, uma nova tensão a humanidade, nós
poderíamos evitar que neste choque de interesses políticos, - porque este choque
é genuinamente político, é uma Luta pelo Poder - possa lançar à humanidade
num caos de uma guerra tremendamente destrutiva. De maneira que à
juventude moderna há um grande papel a cumprir, e em vez de ela estar servindo
a um lado ou outro que divide o mundo, ela devia unir-se para uma nova
concepção do mundo que pudesse outra vez estabelecer o homem em bases
positivas, permitindo que ele possa ter uma nova esperança, um novo querer,
possa unir-se, mas libertando-se acima de tudo, este é um ponto principal, sobre
o qual eu vou falar daqui a pouco. Um ponto importantíssimo, a luta contra estes
ambicionadores de poder, esses homens que só desejam o Kratos, esses grupos
que querem apossar-se do poder político para exercer o domínio sobre os outros
e impedir o desenvolvimento normal e harmônico da sociedade.

[Fim do Áudio]

[146]
III - A luta Pelo Poder.

A luta pelo poder é a grande realidade da história, sobretudo dos ciclos


superiores da humanidade. O ser humano é um ser que carece, sente-se carente
sempre de prestígio, ele ambiciona impor-se ao seu semelhante, e o prestígio
social por ele anelado, ele o deseja em todos os setores.
Mas nenhum setor lhe dá maior soma de poder do que o setor político.
Precisamente, porque é aquele que abre o caminho para alcançar o domínio do
estado, o domínio da administração, das coisas e dos homens. E por essa razão,
todos os grupos sociais, quando tem os seus interesses econômicos já
estabelecidos, eles desejam fortalecê-los através do domínio do kratos político,
para poder, então, deste modo, robustecer ainda mais a sua posição.
A luta no mundo tem sido sempre esta, pelo poder. No fundo, olhando
bem, é uma luta genuinamente psicológica, porque as suas raízes estão na
própria psicologia do homem, no temperamento e etc.
Quando nós encontramos tipos mais jupiterianos, como se diz numa
classificação um tanto astrológica, esses tipos que são mais dados, mais
condencendentes, esses homens nunca exercerão o poder com violência, mas
num tipo saturniano, um tipo introvertido, um tipo sombrio, um homem de
rosto bossuado, de expressão cruel, ele sempre exerce o poder com crueldade.
Ele não sabe respeitar os direitos alheios, e esta é a razão por que a história está
sempre ameaçada de ser assaltada por esses indivíduos que de posse do poder e
dos grupos que os apoiam estabelecem regimes de brutalidade que só tem
servido para tornar a vida humana insurportável e criar as revoltas sociais que
são profundamente injustificáveis.

Tem mais alguma pergunta? Não tem? Ninguém quer mais fazer
perguntas sobre os temas tratados, alguma análise sobre algum ponto para que
eu possa ainda aproveitar o pouco de tempo que resta?
[147]
Tem aqui uma pergunta. Pergunta-se o seguinte:

‘’Se para tomar uma posição positiva e concreta é necessário também


tomar uma posição religiosa?’’

Bem, a filosofia positiva é a filosofia da afirmação!


A filosofia concreta como nós a chamamos é uma filosofia fundada na
filosofia positiva, mas com uma característica especial, que é a de estabelecer
postulados apoditicamente demonstrados como nós procuramos fazer na nossa
obra ‘’Filosofia Concreta’’. Agora, quanto a necessidade da posição religiosa, não
há propriamente esta necessidade. Não se quer dizer que para defendermos os
aspectos positivos no ciclo cultural como o nosso tenhamos a necessidade de
pertencermos a uma confissão religiosa. Entretanto, nós não podemos deixar de
reconhecer é que a idéia de religião hoje - devido aos ataques tremendos que a
ela foram feitos pelo lado antitético – a religião aparece aos olhos de alguns
como alguma coisa superada, o que não tem fundamento, porque a idéia
religiosa fundamentalmente cingi-se ao reconhecimento de um poder superior
que é fonte/origem de todas as coisas, cujo poder nós prestamos uma reverência,
e essa reverência é uma reverência que pode ser feita por meio de cultos internos
ou cultos externos. Para alguns basta o culto interno, basta apenas a busca de
um ‘’religar’’ o homem individualmente tomado em si mesmo, com a divindade
ou com o ser superior que é fonte/origem de todas as coisas. Mas em regra geral,
as religiões, elas defendem a tese de que há necessidade de um culto externo,
porque esse culto externo tem razões poderosas ao seu favor que não caberia
aqui discutir, porque isso é matéria de teologia, mas eles dizem que o culto
externo se impõe para servir de exemplo e mesmo fortalecer a fé que deve existir
na sociedade naqueles aspectos positivos que são fundamentais do ciclo cultural.
Agora, as posições, por exemplo, materialistas ou posições pragmatistas,
e etc, podem, naturalmente, negarem a presença de um ser supremo
fonte/origem de todas as coisas, o Deus, por exemplo, das religiões, mas elas não
deixam, contudo, e em certo modo - sobretudo as materialistas - de aceitar um
princípio de todas as coisas, cujo princípio ela chamará matéria ou outro nome
que quiser, ao qual terá inevitavelmente que dar uma espécie de onipotência, ou
seja, todo poder possível deve estar contido na matéria, quer dizer, tudo quanto
a matéria pode realizar ou poder vir a ser, ela já deve anteceder todas as
manifestações posteriores. De maneira que as ideias religiosas, elas podem,
dentro de termos filosóficos, serem entendidas as vezes até por posições
antitéticas. Há em muitas posições antitéticas também uma concepção religiosa,
como nós vimos nas manifestações do panteísmo e outras manifestações
chamadas heréticas, que são heréticas segundo o pensamento da Igreja
dominante, mas não segundo o pensamento religioso tomado nos seus aspectos
gerais, porque ninguém pode negar que muitos heresiarcas foram homens
crentes, profundamente religiosos e de uma vida exemplar.
De forma que a questão da religião é matéria que merece mesmo
modernamente que se estude melhor, que nós nos preocupemos mais com ela e
que não nos deixemos avassalar por essas criticas fáceis que alguns materialistas
vulgares procuraram fazer e alguns cépticos construiram, que transformaram as
[148]
ideias religiosas apenas em um amontoado de mitos, de crendices populares, de
supertições, confundindo a religião no seu aspecto exotérico popular, com a
religião no seu aspecto esotérico e mais profundo, que tem bases filosóficas
muito sérias. O desconhecimento das obras mais sérias de teologia natural é que
leva a muitos filósofos modernos a tomarem certas atitudes, porque se eles
estudassem melhor as grandes obras compreenderiam a profundidade que há
no pensamento religioso, que ninguém pode negar. Ademais, o ser humano não
pode ficar entregue só a si mesmo, a solidão dentro de si mesmo. A humanidade
precisa crer em alguma coisa de superior. Nós sentimos essa necessidade sob
pena de nos perdermos dentro da estreiteza da nossa própria vida, e se examinar
com bastante cuidado e com bastante desvelo o tema religioso, nós
encontraremos nele aspectos positivos respeitaveis que mesmo aqueles que não
tenham crença, que mesmo aqueles que não tenham fé, terão inevitavelmente
de reconhecer.
Se nós passarmos os olhos sobre o pensamento pitagórico, nós verificamos
que na formação da filosofia, que cabe inegavelmente à Pitágoras, nós
encontramos uma tendência de Pitágoras, junto com seus discípulos para
abordar os temas religiosos sobre aspectos completamente inéditos até então na
história. Ele pedia aos pitagoricos que tivessem a sua concepção religiosa e a
guardassem para si, não menifestassem propriamente, mas que ante as diversas
religiões que existam dentro do ciclo cultural, tivessem eles uma posição de
respeito e atendescem para essas religiões com uma atitude simpatica que não
perturbasse no desenvolvimento das mesmas, sem que isso quisesse impedir-
los de fazer a critica quando justa e chamar a atenção para os falsos religiosos,
para os hipócritas, e como nós sabemos a religiosidade tem uma tendência muito
grande a criar a hipocrisia.
Agora, em face dos atuais estudos psicológicos, sobretudo os estudos em
profundidade, nós vemos - como se vê através da obra de Jung - a religião tem
um fundamento muito mais profundo no ser humano como se julgava, ela não é
apenas uma coisa exterior ou uma coisa passageira ou o produto apenas de uma
inferioridade mental, ao contrário, ela tem uma raiz muito mais profunda na
nossa própria racionalidade e também em toda formação psíquica do homem.
De maneira que a projeção dos arquétipos religiosos são inevitáveis pelo ser
humano e o perigo está quando ele os substitui por figuras humanas e por coisas
muito transeuntes e muito passageiras, como acontece na época moderna que
se forma uma nova mística, mas uma mística de caráter ideológico, uma mística
de carácter político que é então o ‘’ludíbrio’’ da verdadeira mística e que é a
transformação do homem num sectário da pior espécie e num tipo capaz de
auxiliar e comprometer-se na formação das brutalidades que nós já assistimos
na nossa época e que em outras épocas da humanidade também assistimos, o
que se deve evitar. De maneira que o tema religioso é um tema sério, merece
estudo, a atenção do homem que se preocupa com a cultura humana e não pode
ser tratado assim por alto [...]

[Fim do Áudio]

[149]
IV – A Crise no Mundo Moderno, Associação Brasileira de Imprensa, 1965.

Minhas Senhoras e Meus Senhores, o tema que me propuseram para


falar esta noite, como foi dito pelo meu apresentante, gira em torno da crise
do mundo moderno. É um tema vastíssimo. Um tema que exigiria várias
análises que seriam demasiadamente prolongadas. E, também, exigiria que se
fizesse uma comparação com diversas concepções em torno desta matéria que
sempre assoberba o homem. O que, consequentemente, nos obrigaria a
prolongarmo-nos através de aspectos que eu pretendo apenas abordá-los
quando der a palavra ao auditório para que pergunte, para que me interrogue,
para que eu possa responder dentro das minhas possibilidades, e então
esclarecer aqueles aspectos sobre os quais possam pairar algumas dúvidas ou
mesmo algumas objeções que me queiram fazer.
Tenhamos qualquer concepção da história, sem dúvida alguma, não
podemos desprezar as grandes contribuições que de 1850 para cá foram feitas
no estudo desta matéria. Até então o que o homem conhecia sobre a história
era relativamente pouco em face do que posteriormente o homem veio a
conhecer. Esses estudos, em face das crises que assoberbaram o mundo
ocidental no fim do século passado e durante este século, levou à formação de
diversas concepções da história entre as quais se salientam as de Spengler e

[150]
Toynbee. Não propriamente queira dizer que sejam as principais, mas são das
principais concepções formuladas.
Aquela visão, digamos, contínua da história, foi posta em xeque.
Passou-se a compreender que o ser humano conhece através das suas grandes
civilizações verdadeiros ciclos culturais, ciclos que têm um nascimento, um
desenvolvimento, entram num estágio, num patamar mais ou menos
equilibrado, para imediatamente precipitar-se numa decadência que os leva a
um longo final até que sejam substituídos ou se criem novos ciclos que vão
outras vezes viver a mesma vida.
Pode-se discutir esta matéria, e ela realmente tem sido tema de grandes
discussões. Mas o que é inegável é que se nós passamos os olhos para os
grandes ciclos culturais conhecidos há seis mil anos para cá notamos que
realmente assim se deu. Assim se deu com o mundo egípcio, assim se deu com
o mundo hindu, assim se deu com o mundo chinês, com o mundo árabe, com
o mundo grego romano e parece que está se dando com o mundo que nós
vivemos, o mundo que vamos chamar cristão.
Seja como for, nós notamos que nesses ciclos culturais existe uma
cosmovisão que estrutura o próprio ciclo, e essa cosmovisão está sempre
fundamentada numa ideia religiosa. Nós vemos a formação do mundo egípcio
estruturar-se, na sua cosmovisão, na sua visão geral do mundo, em torno da
ideia religiosa dos sacerdotes egípcios. Assim, nos brâmanes, nós notamos a
formação do mundo hindu. Também notamos a formação do mesmo mundo
nos gregos e no Cristianismo, na concepção cristã. Estas concepções do
mundo, elas têm um aspecto genérico e elas não impedem certos aspectos
específicos que são de certo modo divergentes.
Em torno das ideias fundamentais dessa cosmovisão, estabelece-se esse
ciclo, esse ciclo cultural, muito embora outros elementos também entrem na
formação do ciclo que nós vamos, por hoje, despreza-los, para apenas
considerar este aspecto fundamental que é o aspecto da ideia religiosa.
Ora, se nós olhamos no nosso ciclo cultural, nós notamos que ele se
forma em torno da concepção cristã. A cosmovisão cristã opunha-se quase que
frontalmente, quase que contrariamente à concepção greco-romana. Para os
gregos romanos, à um homem, não era considerado naquela plenitude que o
cristianismo considerou. Admitia-se que alguns nascessem para senhores, e
alguns nascessem para escravos. E deste modo a escravidão era estabelecida
como um princípio natural, como alguma coisa do direito natural. O que é
frontalmente oposto à concepção cristã. Ademais, a pessoa humana tem um
valor no cristianismo que nós não encontramos nos outros ciclos culturais. A
concepção do mundo levava, também, o veículo romano a considerar que nós
[151]
somos como que, na nossa dramaticidade, no desenvolvimento da nossa vida,
como determinados pela vontade dos deuses. O homem tem um fado, tem um
destino, pode-lhe acontecer o bem ou o mal segundo a vontade e o capricho
dos deuses. Concepção completamente oposta à cristã que concebe o homem
como um ser livre, que é senhor, também, do seu destino, pelo menos
parcialmente, senhor do seu destino.
Para a concepção grega esse determinismo não era um determinismo
fatal ou um determinismo em sentido absoluto, porque eles admitiam que a
conjunção de causas pudessem produzir efeitos ‘’per accidens’’, distinto dos
efeitos ‘’per se’’. Eu vou exemplificar, apenas para clarear esta expressão,
dizendo que uma macieira dando maças é um efeito ‘’per se’’ da macieira,
porque decorre naturalmente da natureza da macieira, mas um
acontecimento fortuito, um alto que ao correr pela rua, choca-se com o outro,
e daí sobrevém a morte de algumas das pessoas que nesses altos estavam, é
um acidente, porque não é um efeito que decorra ‘’per se’’ nem do alto que
anda, mas sim de uma conjunção meramente acidental.
Para o grego, então, essas conjunções acidentais sobrevêm na vida
humana dispostas pelo capricho dos deuses. E este era o caráter trágico que
assumia a vida grega, porque o drama para o grego é apenas a continuidade,
a decorrência, a sucessão de uma sequência ‘’per se’’. Aquele homem que
constantemente se embriagar e é finalmente tomado pelo vício, decai e chega
aos mais baixos graus que um ser humano pode atingir é dramático, mas
aquele que na flor da idade morre num desastre imprevisto é trágico, trágico,
porque foi uma conjunção acidental de fatores que geraram aquele efeito,
enquanto que o outro era uma decorrência natural de um hábito mau que uma
pessoa seguia.
Consequentemente, eles distinguiam bem claramente o conceito do
dramático e do conceito do trágico, e tinham uma concepção
consequentemente trágica da vida, porque todo o destino humano estava
dependendo do capricho dos deuses. O que é completamente contrário à
concepção cristã, porque no cristianismo a vida humana não depende do
capricho dos deuses. Mesmo na concepção da graça, de uma graça
santificante, e dos diversos tipos de graça, que é um dos temas mais debatidos
dentro da teologia cristã, estas graças podem ser concedidas como favores ao
homem, mas muitas delas são adquiridas pelo mérito, pelo esforço do ser
humano no desenvolvimento da sua vida.
Ora, nós todos sabemos que o nosso ciclo cultural formou-se na
decadência grega e seguiu paralelamente o cristianismo ao grego romano em
decadência, consequentemente, penetrou dentro da parte material, da cultura
[152]
ocidental, os remanescentes gregos, inclusive os remanescentes da sua
filosofia, porque a filosofia ocidental seguiu os passos da filosofia grega.
Ora, em torno da concepção cristã, formava-se, ademais, elementos
contrários à essa concepção. Nenhum ciclo cultural consegue formar-se
homogeneamente de modo que ele totalize plenamente a parte material
constituinte do ciclo. Há sempre remanescentes de outros ciclos culturais que
passam, dentro desse ciclo, a serem disposições prévias corruptivas do mesmo
ciclo. As ideias gregas que foram corruptivas nos gregos continuaram atuando
dentro da estrutura cristã como disposições prévias corruptivas desta mesma
estrutura, e elas vêm vindo através dos séculos até os nossos dias.
Hoje, nós encontramos no nosso ciclo cultural o mesmo debate em
torno das mesmas ideias que animaram os sofistas gregos no primeiro período
da sua decadência e que animaram os estoicos, os hedonistas e os epicureus
gregos, já no final ou na plenitude da decadência greco-romana.
Os mesmos temas e as mesmas razões, e os mesmos argumentos, estão
sendo hoje manejados por autores modernos, embora, estes argumentos,
estas ideias, estes pontos de vistas, já tenham sido refutados com antecedência
de séculos.
Ora, sem dúvida alguma, e eu defendi esta tese em minha obra ‘’O
Problema Social’’, em nove volumes, nos quais eu estudo a filosofia e a história
da cultura, e analiso os temas históricos, sociais, políticos, econômicos, etc,
para finalmente, no último volume, apresentar um projeto, uma fórmula, uma
nova reformulação que nos possa salvar do estado em que vivemos. Nesta obra
tive a oportunidade de defender uma tese que não é minha, é uma tese que
tem 6 mil anos de existência, mas que é supinamente verdadeira, e a mais
verdadeira das concepções da história. Foi assim aceita pelos egípcios, foi
assim aceita pelos hindus, foi aceita, também, entre os judeus, porque no
Livro de Daniel está exposta a mesma concepção, foi realizada e completada
também no Ocidente e não conhecemos nenhum ciclo cultural em que não
vejamos sempre uma divisão da sociedade em quatro estratos sociais que se
digladiam entre si, que é: o sacerdócio; a nobreza; o empresário utilitário -
que no nosso mundo tomou o nome um tanto despectivo de burguês; e
finalmente, o servidor, o prestador de serviços.
Em todos os ciclos nós encontramos esses quatro estratos formados
numa heterogeneidade muito grande, mas nos aspectos genéricos, bem
delineados. Nós vemos que na formação do ciclo cultural, o primeiro período
é o período de domínio dos sacerdotes, participando, contudo, desse poder,
também a nobreza. O sacerdócio se apoia na massa de servidores, enquanto
que o empresário utilitário é o ‘’períepo’’, é algo que está em torno da cultura,
[153]
que nela não penetra, é um estranho, é um ‘’ádvena’’, que é admitido e aceito,
mas que não se inclui dentro do ciclo cultural.
Passasse o tempo, sobrevém a primeira grande revolução social que é
sempre a revolução da nobreza, que já tendo o poder econômico nas mãos,
aspira ao poder político, e vai a pouco e pouco tentando subordinar o
sacerdócio para que sirva aos seus interesses, o que termina por conseguir. No
início há um equilíbrio de participação no kratos social, mas finalmente a
nobreza consegue ter o domínio completo, a hegemonia, e então o clero passa
a servir a esses interesses, e mais, a nobreza penetra nesse clero, a nobreza
torna-se também esse clero, usa do clero, devido ao prestígio que ele tem, ante
os servidores e à massa popular para assim fortalecer os seus poderes.
Nós vimos no cristianismo, em certo período, sobretudo durante a
Idade Média, no fim da Idade Média e no Renascimento, que os altos postos
da igreja só podiam ser ocupados por nobres, de bispo para a cima só a
nobreza ocupava. O que levou a um movimento de rebeldia feito pelos jesuítas
que chamou-se o ‘’episcopalismo’’, no qual os jesuítas reivindicavam o direito
de qualquer homem, viesse de que classe fosse, pudesse ascender até ao
Papado. O que a nobreza não concordava, não permitia, porque desse modo a
nobreza dominava completamente a Igreja. E o que aconteceu? Aconteceu que
provocou o movimento da reforma, provocou uma desassociação dentro da
Igreja Católica, de modo que a Igreja frangiu-se em inúmeras igrejas, e a Igreja
Católica, perdendo o seu poder, não só o poder temporal que em certo
momento ela possuiu, foi perdendo também, em grande parte, o poder
espiritual, porque já não exercia sobre as massas àquela mesma influência que
nos primórdios da formação do cristianismo ela conseguia ter.
Então, nós vemos já se dar a incorporação do empresário utilitário, e
por quê? Por que, com o domínio da nobreza, vem a formação dos grandes
estados, surge essa pseudo-ideia, e esta grande mentira do nacionalismo, que
vai surgir precisamente neste momento, quando príncipes desejosos de poder
inventam uma concepção nacional para forçar as minorias insatisfeitas de
outros povos a aderir ao seu movimento sob a alegação de uma
homogeneidade ou étnica, ou linguística, ou de religião, ou de direito, ou de
ética, mas que realmente constitui apenas um subterfúgio político para
justificar a formação dos grandes estados.
Com a formação dos grandes estados, então, surge a produção em série.
Por que a produção em série? Porque formam-se os seus grandes exércitos, e
os grandes exércitos têm que ser uniformizados, e a uniformidade para a
manutenção do exército obriga a produção em série. Então, o ‘’períepo’’,
aquele que estava à parte da cultura, passa a incorporar-se na cultura, passa a
[154]
viver aquele ciclo, passa também a fundir-se com ele. E como se desenvolve o
seu poder econômico, ele passa a exigir, consequentemente, a participação no
poder. E essa participação se dá, de início, aproveitando-se dos nobres
arruinados, forçando-os a que casem com as filhas dos burgueses, e depois,
pelo abuso do luxo, que faz com que a nobreza se endivide e vá a pouco e pouco
sendo dominada por essa burguesia. Então, instaura-se definitivamente a
segunda grande revolução que há sempre em todos os ciclos culturais, que é a
chamada revolução burguesa, que no nosso ciclo tomou o título de revolução
democrática. Por que sempre essas revoluções se apresentam como aquelas
que irão fazer a felicidade dos povos, a felicidade dos servidores.
Então, vão ascendendo ao poder os burgueses, e eles acabam por
subordinar a nobreza, e subordinar o próprio clero, quando não os aniquilam,
mas nem sempre os aniquilam. Os estamentos continuam, como na Inglaterra
de hoje, nós encontramos os quatro estamentos, os quatro estados
perfeitamente – perfeitamente não - de certo modo equilibrados na mais
inteligente, no mais hábil equilíbrio que o Ocidente conheceu. Vemos a
presença da nobreza, a presença do clero, a presença do empresário utilitário
e também do servidor na vida política da nação, quase que em igualdade de
condições, e é um superando ao outro segundo os azares da política, típica da
Inglaterra.
Mas, a esta segunda grande revolução, sobrevém, finalmente, as
grandes agitações, provocadas pelos trânsfugas dos diversos estratos sociais.
Aqueles que estão descontentes do clero, descontentes da nobreza e
descontentes, inclusive, da própria vida burguesa, passam novamente a agitar
as massas para uma nova revolução, para uma nova transformação da
sociedade. Como o poder já não pode mais ser dado, porque o único estrato
que ainda se oferece é o servidor, surgem aqueles que prometem o poder aos
servidores como aconteceu com Marx no século passado que propôs, então,
ao quarto estado, a assunção ao Kratos político, através da ditadura do
proletariado. Era, então, a promessa que se fazia no século passado, promessa
que embalcou alguns elementos do nosso século.
Mas na história não acontece jamais, não aconteceu jamais. Não é uma
impossibilidade histórica, porque ante os fatos contingentes, ante os futuros
contingentes, não podemos estabelecer um determinismo rígido, mas não se
conhece, nesses 6 mil anos de história, nenhum momento, senão em pequenos
agrupamentos sociais, que as massas assumissem o poder político. Por quê?
Devido à sua despreparação, devido à sua heterogeneidade, devido, também,
às suas condições psicológicas, sociológicas e históricas, ela nunca está em
condições de assumir o poder.
[155]
Então, quando os bolchevistas compreenderam isso, substituíram, ou
deram à ditadura do proletariado a uma solução! Ela seria representada por
uma elite dos trabalhadores, cuja elite seria o partido. Este partido, então,
assumiria o poder, seria uma vanguarda desse proletariado, para que a pouco
e pouco devolvesse o poder ao proletariado, através da abolição do estado, que
se processaria lentamente de acordo com as possibilidades sociais,
prometendo, finalmente, um estado anárquico ou uma situação anárquica na
qual o poder não mais pertencesse a grupos separados, mas que fosse a
própria sociedade, politicamente organizada, senhora de si mesma e do seu
destino.
Mas, o que nos interessa hoje tratar para, então, imediatamente
abrirmos os debates, porque o tema é sem dúvida alguma apaixonante, e é um
tema que nós vivemos não só como espectadores, mas também como
intérpretes, e consequentemente que nos atinge, que nos interessa a todos, é
natural que o debate surja, que muitas ideias sobrevenham e eu deveria
atender aos senhores dentro dos limites das minhas possibilidades.
Mas, como eu dizia, o que eu preciso agora chamar a atenção, são os
fatores corruptivos, aqueles fatores que atuam corrompendo o ciclo cultural e
que vão gestar o estado de desordem, como o que nós hoje vivemos, um estado
de confusão no mundo das ideias.
Se nós observarmos, desde o início do cristianismo, os fatores
corruptivos atuam. Basta que prestássemos atenção a todas as heresias que se
formaram. Se elas se apresentavam com um espírito religioso, elas, no
entanto, traziam no seu bojo, as ideias contrárias à concepção cristã.
Ora, a concepção cristã é uma concepção positiva. O cristianismo é uma
religião, sem dúvida, uma religião sincrética. É uma religião que reuniu os
pontos altos de todas as religiões do mundo. É uma religião que copiou, em
certos aspectos, o que os outros fizeram de mais alto, e os cristãos sabem disso.
E os cristãos não negam isso, sabem perfeitamente que a missão cristã não é
de criar uma coisa nova, totalmente nova. A boa nova não era uma
substituição total, era a reafirmação do que havia de positivo no pensamento
de todos os povos nas suas ligações à um princípio superior fonte/origem de
todas as coisas que o homem deve reverenciar.
Então, encontramos sempre em oposição aos princípios positivos do
cristianismo, os princípios opositivos, sobretudo, negativos, que tem uma
função corruptora. Entre esses nós podemos notar que há o dogmatismo - e o
dogmatismo aqui estamos empregando em sentido religioso e não no sentido
ético comum que é empregado -, quer dizer, aquela concepção que aceita
princípios e afirma sem trepidação do ânimo, com plena convicção da sua
[156]
verdade. A esse dogmatismo, que é próprio da concepção cristã, que afirma
sem dúvida, sem temor de erro, apresenta-se em contraposição o cepticismo,
o agnosticismo, a dúvida. Uma religião, por exemplo, como a budista, que não
é positiva, que não é afirmativa, não foi capaz de construir um ciclo cultural,
porque se nós observamos as religiões dos diversos ciclos culturais, nós
veremos que todas elas foram positivas, aquelas que realizaram, que
construíram uma cosmovisão, que foram a base da formação de um ciclo
cultural eram profundamente positivas.
O cepticismo e a dúvida vai gerando aquelas constantes ideias que nós
já conhecemos no mundo greco-romano, que vão pondo a dúvida sobre tudo
quanto o cristianismo afirmava como verdadeiro. E foram servindo assim a
toda ação corruptiva, porque perdendo-se os princípios, facilmente perdiam-
se os meios, porque a concepção ética, as concepções sobre a vida social e
sociológicas que o cristianismo podia propor, se os seus princípios fossem
deficientes e falsos, consequentemente, também, deficientes e falsas seriam
as suas conclusões. De maneira que toda esta ação para destruir a positividade
da concepção cristã gerou os frutos da época moderna.
Nós vemos hoje o renascimento, não dos períodos áureos dos ciclos
culturais como o grego, mas precisamente o renascimento da sua decadência.
Quando, depois da vitória da democracia em Atenas, depois daquela
desastrosa Guerra do Peloponeso, quando Atenas decaia e olhava a grandeza
do seu passado no período de Péricles, os gregos de Atenas resolveram fazer
um processo para saber quais as causas que tinham levado aquele povo àquele
estágio. Então, chegaram à conclusão que a sua desgraça havia sido a presença
dos sofistas, que os sofistas haviam deixado os germes da dissolução e Atenas
estava colhendo apenas os frutos daquela sementeira indigna que os sofistas
haviam feito na sua juventude. Por que quando a nobreza de Atenas perdeu o
poder e ascendeu a democracia, a luta pelo poder foi imensa. A juventude
aspirava o poder, e ela tinha que preparar-se, e os meios para conquistar o
poder era a oratória, era a eloquência, era dispor de uma argumentação, a
mais poderosa, para os grandes debates públicos que Atenas conheceu neste
período. Então, sábios de toda a parte da Grécia encontraram em Atenas uma
fonte extraordinária de renda, porque eles iam levar os seus conhecimentos e
a sua técnica para aquele povo, e a juventude rica, aspirando ao poder, pagava
a peso de ouro àquelas aulas dadas por aqueles sofistas, com o intuito apenas
de poder dispor de uma argumentação poderosa que pudesse fazer face aos
seus adversários, e assim abrir as portas ao Kratos político. E a consequência
disso foi que aquela juventude decaiu - como decai em todos os momentos de
grande agitação política - decaiu, esqueceu os estudos, perdeu as suas ligações
[157]
com a cultura superior. Ficou uma juventude apenas agitada, uma juventude
que vivia de ‘’slogans’’, uma juventude que vivia de palavras de ordem, uma
juventude que apenas sabia debater as ideias políticas, mas que não tinha
mais fundamento em relação à grandeza do passado, então, Atenas decaiu.
Nesse processo, chegando-se à conclusão que os sofistas haviam sido a
causa de tudo aquilo, eles olharam para alguém que eles pudessem punir, para
que caísse sobre ele a culpa de toda aquela desgraça. E então cometeu-se um
dos maiores equívocos da história. A culpa caiu sobre Sócrates. Sócrates, que
havia sido, em seus primórdios, um sofista, não há dúvida, mas que se
libertara da sofistica, que lutará contra os sofistas, que os denunciara, que
provava que aqueles pseudo-sábios não tinham o valor que a juventude
acreditava. Sócrates foi condenado pela a mesma juventude, porque são
sempre os mesmos, os mesmos agitados, e aquela juventude ululante pediu a
morte de Sócrates, e Sócrates morreu bebendo a cicuta, e perpetuou-se o
grande crime contra a filosofia, o segundo grande crime de Atenas. O primeiro
foi contra Anaxágoras, acusado de impiedade, e exigiram também a sua
morte.
Pois bem, posteriormente nós encontramos na decadência grega a
presença de duas concepções que vão se debater e que também vão acelerar
essa decadência, que é o estoicismo e o epicurismo.
O estoicismo tem muitos aspectos positivos e grandiosos, sobretudo, na
parte ética, como também na parte filosófica, mas como uma doutrina atéia,
como uma doutrina agnóstica, ela fomentava, consequentemente, a dúvida, a
descrença, a falta de fé em algum princípio, em alguma coisa que pudesse
servir de esteio para a juventude. E o epicurismo, que também era agnóstico,
que também era uma quase totalidade dos epicuristas ateus. Eles também
defendiam as mesmas ideias, só que propunham quase um hedonismo, isto é,
uma busca à satisfação das paixões. O que nós encontramos a presença das
mesmas ideias, do estoicismo e do epicurismo, no existencialismo moderno,
quando estudado especificamente, não nos seus aspectos gerais.
Nós encontramos no decorrer de todo o processo histórico do Ocidente
a luta constante contra os princípios fundamentais da filosofia cristã. E esta
luta se faz usando dos mais indignos processos. Ao lado, também, e sobretudo,
das infâmias históricas, mas sobretudo, pelos processos indignos da filosofia.
Por que aqueles que ontem defendiam a tese, proclamavam uma tese, quando
esta tese depois passa a ser incorporada à concepção cristã e os autores
cristãos mostram que aquela tese é fundamentalmente cristã, passam-se para
o outro lado e passam a combater a mesma concepção. Nós vemos assim,
fundando-se no princípio de causa e efeito, quererem combater a filosofia
[158]
cristã. Depois, como o princípio de causa e efeito é esteio dessa filosofia,
passam a combate-la. Nós vemos defender a razão e exalta-la, como aconteceu
na Revolução Francesa, quando se prova que a razão é um dos esteios da
concepção cristã, então, surge o irracionalismo, surge a defesa de toda
concepção contrária. Nós encontramos sempre, em todos os ciclos, e no nosso,
sobretudo, esta presença adversativa de dois termos em oposição que vão se
acomodando às condições adversas de um lado e outro, sempre propondo o
contrário daquilo que o outro lado defende.
Mas, poderiam me perguntar: Mas como conseguem, se eles estão
errados, como conseguem deteriorar o que está certo?
Esta é a grande desgraça da humanidade. O erro tem mais facilidade de
propagar-se do que a verdade. É mais fácil propagar-se uma infâmia do que
uma boa conceituação. É mais fácil propagar-se um boato falso do que uma
realidade. É mais fácil destruir do que construir. Esta é uma das nossas
condições, algo que nos entristece e que é também uma das nossas grandes
impossibilidades.
Mas, perguntaria os senhores: Mas não havia nenhuma razão do outro
lado em combater a concepção cristã?
No nosso ciclo, eu vos diria que não. Havia sim uma luta contra aqueles
que representavam o cristianismo, aí sim! Que a Igreja errou durante o seu
desenvolvimento histórico, não há a menor dúvida! Que a Igreja teve
momentos indignos, também não tenho a menor dúvida! Que essa Igreja foi
pecadora, é sem dúvida! A Igreja Triunfante é a Igreja dos Bem-Aventurados,
e esta não existe neste mundo. O que existe é a Igreja sofredora, é a Igreja
pecadora, é a Igreja que tem tido os seus momentos altos e os seus momentos
de depressão. E dentro desta igreja surgiram homens de um valor
extraordinário, mas também surgiram pigmeus. Dentro desta Igreja surgiram
gigantes e surgiram anões. Surgiram homens que construíram obras
extraordinárias, mas também muitos que destruíram. E dentro desta igreja,
ao lado de obras grandiosas que foram realizadas, os maiores monumentos do
pensamento humano, nós encontramos também uma série de obras que têm
uma função destrutiva e que foram também a razão para destruir a própria
concepção que a Igreja defendia. Se hoje a Igreja está colhendo os frutos desse
estado, porque a cisão interna dentro da Igreja é já definitivamente evidente,
por mais que a Igreja busque, através neste concílio à um ecumenismo, à uma
unificação, a cisão dentro da igreja é inevitável, porque ela não consegue
vencer os males que foram semeados por homens que não mereciam chamar-
se cristãos.

[159]
Assim, nós nos encontramos hoje nesta situação. Seremos nós os
espectadores e intérpretes de um grande final ou seremos nós a possibilidade
de transformarmo-nos numa causa material, de uma nova concepção do
mundo, e que ainda continue cristã, dentro dos princípios fundamentais do
cristianismo, que são universais e representam o que de mais alto o homem
alcançou? Esta pergunta, naturalmente, deve pairar em todos os presentes, e
esta pergunta exige respostas, e estas respostas são difíceis. São difíceis,
porque os nossos estudos históricos ainda não são suficientes para que nós
possamos admitir que o nosso final esteja próximo. Sem dúvida que a guerra,
nas condições que se apresenta, poderá traçar definitivamente esse final, e os
sobreviventes, voltem à barbárie.

[Fim do Áudio]

[Continuação da Parte 1]

Dizíamos, então, que esta guerra poderá nos traçar o fecho do nosso ciclo
cultural e os sobreviventes caírem novamente na barbárie.
Mas, perguntamos, é possível vencermos esta guerra e evita-la? Por quê
meios? Será que o medo à própria destruição não será capaz de evitar o
conflito que nos ameaça? Nós não cremos. O medo não é positivo. O medo é
uma trepidação do ânimo ante um perigo iminente. E não é suficientemente
forte para impedir as guerras, porque nunca na história o medo a impediu.
Nós precisamos é coragem, de muita coragem. Será só a coragem que será
capaz de enfrentar a situação que nos encontramos.
Mas, se perguntarem: não há possibilidade de um ciclo cultural ser
eternamente jovem? Não nos mostra a história essa possibilidade. E nós não
acreditamos, em certo sentido, por uma razão muito simples, porque no
decorrer da luta entre os estratos sociais que se formam e no desgaste das
próprias ideias, neste entre choque das acomodações adversas, chega-se à um
final em que não há mais capacidade de criar. Como nós nos encontramos hoje
num mundo estancado de criação, um mundo que apenas pode se dedicar a
examinar aquilo que Spengler chamava o ‘’produzido’’, o ‘’produto’’, mas que
não tem mais capacidade de produzir, a não ser no setor da técnica e no setor
da ciência - mesmo esta, apenas, numa parte de classificação, numa parte de
análise, de exame, e não propriamente numa parte criadora -. Se nós
olharmos, por exemplo, a escolástica, que foi uma digna sucessora do
pensamento positivo grego e que chegou a apresentar esses vultos eminentes
que nós conhecemos, que representa a primeira plana do pensamento
[160]
mundial de todos os tempos, nós vemos que depois do surgimento de Santo
Anselmo, de um Alexandre de Hales, de um São Boaventura, de um São
Tomás, de um Duns Scot, e finalmente da escola de Coimbra, com os seus
grandes filósofos de Salamanca, representados por essas duas figuras
máximas do pensamento dessa época, como foi Pedro da Fonseca e Francisco
Soares, a escolástica entrou, sem dúvida alguma, num certo recesso, ficou
numa luta um tanto estéril de escolas, e as tentativas criadoras foram tão
parcas de modo a não ter surgido mais nenhuma figura daquele vulto. Então,
parece que tudo estancou-se, que tudo perdeu-se.
Mas, como disse ontem numa palestra que fiz no ‘’Centro José Oiticica’’,
nós podemos considerar o cristianismo sob dois ângulos: o cristianismo que
estamos vivendo, que é o cristianismo de ‘’piscis’’, e o cristianismo que
podemos viver, é o cristianismo de ‘’aquário’’.
Nós sabemos bem que ‘’piscis’’ foi o símbolo dos cristãos. E por que
‘’piscis’’ foi o símbolo dos cristãos? Porque os peixes são aqueles que se
procriam sem conjunção carnal. A fêmea põe os seus ovos e o macho depois
os fecunda. E Cristo foi, deste modo, tomado como o simbolizado deste
símbolo.
Aquário, na concepção dos antigos, têm um sentido mais social, e se nós
observarmos o cristianismo de ‘’piscis’’, é um cristianismo individualista, um
cristianismo que busca a salvação pessoal, não se propõe naquele cristianismo
a salvação das coletividades, propõe-se a salvação dos indivíduos. E o
cristianismo de aquário seria o cristianismo que podia nos propor a salvação
das coletividades dentro de uma concepção cristã, que é uma concepção
fundamentalmente de amor ao homem como o seu semelhante, como o nosso
próximo. De amor ao bem do homem, que é o fundamento da caridade.
Esse cristianismo de aquário é possível dentro das condições em que nós
estamos, que são condições, temos a causa material, no sentido aristotélico.
Teríamos a causa formal, que seria cristã. Teríamos a causa final, que seria o
bem coletivo, além da salvação individual, para os que tiverem crenças
religiosas. E encontraríamos a causa eficiente, que dependeria apenas da
nossa vontade, que como seres livres nós somos capazes de realizar este ideal.
Portanto, esse cristianismo seria uma possibilidade para nós. E uma
possibilidade que poderia estancar a nossa decadência, que poderia abrir as
portas para uma outra visão do mundo, para uma visão em que o homem
compreendesse que o seu dever é realizar o máximo de bem aqui para que ele
mereça amanhã, fora deste mundo, alguma coisa. Para os que não creem, para
aqueles que não têm a crença - e a fé não é algo que se fabrique, não é algo que
se imponha, é algo que nasce espontaneamente no coração humano -, para
[161]
aqueles que não têm a fé, restaria, no entanto, ainda dentro deste
cristianismo, lutarem pelo bem coletivo, lutarem pelo bem de todos, lutarem
com as dificuldades tremendas que terão que encontrar, porque a
deterioração do servidor, do homem simples, do trabalhador da nossa época
é imensa.
Em nenhuma época o servidor está tão desmoralizado, está tão
moralmente pervertido como na nossa época. Eu não incenso as massas,
nunca as incensei. Não sou político, não aspiro a cargos públicos de nenhuma
espécie, nunca os aceitei. Reconheço os defeitos tremendos que possuem os
trabalhadores, que nunca foram, nunca constituíram uma classe
revolucionária, ao contrário, foram sempre os que mais auxiliaram as maiores
reações da história.
Mas, sei também, que quando chega a esta degenerescência, pouco
adianta auxilia-los se nós esperarmos um gesto de gratidão, porque aqueles
que maior benefício fizerem a esta massa, serão os mais combatidos, serão os
mais perseguidos. E, no entanto, os demagogos, aqueles que melhor a
explorarem, que nada lhe derem se não migalhas, estes terão, então, a
aprovação das multidões. Assim foram as multidões de Roma, assim foram as
multidões gregas do período da decadência, e também do período da
decadência egípcia. Sempre apoiaram aqueles que não lhes davam nada, mas
que tinham a habilidade de dar-lhes migalhas.
E a habilidade é muito simples, eu vou ensinar aos senhores, para os que
não sabem, talvez muito sabem, da habilidade desta gente, é simples:
Se os senhores derem 500 cruzeiros para uma pessoa de gratificação e
dizerem, ‘’olhe, isto é para você comprar leite para o seu filho’’, ele desprezara
os quinhentos cruzeiros, ele, então, dirá ‘’olha, para que 500 cruzeiros? não
dá nem para comprar uma lata de leite’’, mas se disser, ‘’olha, 500 cruzeiros
para o seu cafezinho’’, ele então dá um valor tremendo aos 500 cruzeiros,
porque um cafezinho custa 20 ou 30 cruzeiros.
Então, aqueles que dão migalhas aos povos, eles costumam dizer que
aquilo que dão é para o mínimo, não para o máximo, porque se disserem que
é para o máximo, desvalorizam a sua dádiva, mas dizendo que é para o
mínimo, a sua dádiva é valorizada.
Eu conheço uma moça que é partidária de um político, e porque em certa
ocasião ele lhe deu 500 cruzeiros, para que ela comprasse alguns doces, e
desde então ela ficou totalmente dominada por esse homem, e não admite
nenhuma crítica, nenhuma análise sobre o mesmo. Ela é uma partidária
intransigente desse político que ela considera o mais perfeito.

[162]
Esta é a habilidade que sempre tiveram na história os dominadores, que
quiseram aproveitar-se da deterioração das massas, dar-lhes migalhas sobre
um título mínimo, e esses é o que conseguem. Enquanto que aqueles que dão
realmente o bem às massas, estes não receberão o gesto de gratidão que eles
merecem.
Bem, senhores, eu falei sobre os aspectos gerais da decadência. Coloquei
uma possibilidade, também, para que nós evitemos que o nosso ciclo cultural
entre em completa dissolução. Abri as possibilidades de uma nova esperança,
já que eu sei que muitos estão desesperados ante a iminência da guerra, não
tanto aqui no Brasil, porque nós não temos noção de guerra, se não uma noção
um tanto cinematográfica do que é guerra. Mas aqueles povos europeus que a
viveram nas suas carnes, que têm mortos a chorar, estes estão desesperados,
esses sentem-se num estado de angústia terrível, e angústia que não é a nossa,
mas que nós estamos importando através da literatura, e vamos acabar
criando, também, em nós, porque como imitadores nós somos
extraordinários.
Nós precisamos é ter uma consciência desse estado e compreendermos
que nós brasileiros, pelas nossas condições históricas, somos capazes de dar
uma possibilidade nova ao mundo. Nós não devemos nos desmerecer tanto
como nos temos desmerecido. Nós sofremos de um colonialismo passivo neste
país, que é o mais triste dos colonialismos, que consiste em não dar valor às
nossas próprias possibilidades e admitir que é grande tudo aquilo que vem do
estrangeiro europeu, e europeu, porque se vier da Argentina ou do Uruguai aí
já não têm valor, europeu. Então, consequentemente, nós nos desmerecemos.
Mas, se nós observarmos o que os brasileiros já fizeram em vários setores, nós
vemos que nós nos nivelamos já em muitas situações ao nível dos povos que
atingiram o mais alto. E que nós somos seres humanos, também, iguais a eles.
Dispomos da mesma fisiologia, dispomos do mesmo psiquismo, talvez não
disponhamos da mesma disciplina, mas a disciplina é um hábito que pode-se
adquirir, e nós temos uma disposição, consequentemente, igual à deles,
embora não tenhamos os mesmos hábitos, mas os hábitos como são
adquiridos, e adquiríveis, nós os podemos adquirir, e podemos alcançar o que
eles alcançaram.
Quando eu viajei pela Europa, e vendo a grandeza daqueles povos, e
lembrando-me das coisas do meu país, eu tinha pena de nós, como nós éramos
tão atrasados, e eu só pensava em voltar para o Brasil, e lutar nesta terra, para
que nós também fizéssemos o que eles faziam, porque eu dizia: nós podemos
também fazer o que estes povos fazem, nós podemos, também, realizar isso.
Por que não? É só que nós nos desponhamos, é só que nós nos preparamos
[163]
para isso. Eu vou para a minha pátria, ver se eu levanto este povo, ver se dou
a esse povo entusiasmo, confiança em si mesmo. E vim com esse entusiasmo.
E aqui cheguei, no fim de quatro ou cinco dias o desânimo ia apossando-se de
mim, porque eu não encontrava nenhuma ressonância favorável. Ninguém
acreditava nas nossas possibilidades. Havíamos ganho o Campeonato
Mundial de futebol e eu dizia: mas se somos capazes de ganhar chutando bola,
porque não vamos ganhar de outro modo! Não é possível que nós não
tenhamos confiança nas nossas possibilidades. Mas não encontrei ambiente.
Infelizmente, os nossos intelectuais nos traem, porque eles vivem
envolvidos para as culturas estranhas e somente admiram aquilo que os povos
de outras bandas realizaram, e descreem das nossas possibilidades, e não
animam, nem a si próprios, para que também possam vencer as suas
deficiências e alcançar aqueles níveis.
Nós precisamos também estimular o nosso povo a ter fé em si mesmo e
confiança de poder fazer alguma coisa de grande. E o Brasil, pelas suas
condições históricas, porque é um país que recebeu os povos de todos os
quadrantes do mundo e conseguiu dar uma convivência entre esses povos a
mais harmônica que se conhece na história, em que não há entre nós nenhum
conflito de caráter racial ou de qualquer caráter étnico. Um país que consegue
isso, esta convivência extraordinária, que não se conhece em nenhuma outra
parte do mundo, é um povo que está predestinado a alguma coisa de grande.
Só este povo poderá lançar uma visão ecumênica, uma concepção universal,
porque qualquer ciclo cultural que se forme hoje no mundo, ele tem que ser
ecumênico, ele tem que ser universal, porque a ciência está abrindo as
fronteiras, o conhecimento está abrindo as fronteiras. Por mais que os
políticos as ferrem, por mais que os políticos façam os muros da vergonha, as
cortinas de aço, o que quiserem, a ciência, o conhecimento está penetrando,
está atravessando. Ele vai além, ele vence todas essas resistências. O mundo
está se tornando um mundo só. Este mundo marcha para este caminho,
marcha para uma só concepção, para uma visão geral e ecumênica, uma só,
que vai compreender e conter dentro de si as heterogeneidades. Nós somos
capazes de viver um equilíbrio dentro do heterogêneo. Seremos capazes de
unir os opostos, que se analogarão numa concepção universal. E esta
realidade só pode surgir de um povo que já deu o exemplo histórico da
compreensão universal, e esse povo é o povo brasileiro, senhores!

[164]
Abro, agora, o debate para os senhores que desejarem fazer perguntas e
interrogarem:

Professor Daniel: Eu procurarei ser breve na formulação da minha


pergunta, mas dada a complexidade do assunto, eu peço permissão para me
estender durante um macro de círculos.

Mário: Então faz o favor de aproximar-se para poder ouvirmos as suas


palavras.

Professor Daniel: Johann, publicista alemão contemporâneo, em


recente artigo, refere-se a religião do homem atual, a religião do homem do
século XX, que ele domina com a palavra inglesa ‘’gadgeting’’, de ‘’gadget’’ que
quer dizer um ‘’badulaque’’, aquele que em gíria brasileira nós chamamos de
um ‘’badulaque’’, isto é, uma dessas máquinas ou aparelhos que, segundo
dizem, facilitam a vida como: geladeira automóvel, televisão, e etc. E que a
preocupação máxima do homem moderno seria possuir uma coleção, o mais
completa possível, o mais sem paga possível de todos esses badulaques. Essa
seria, digamos, a preocupação máxima do homem contemporâneo.
Bom, essa preocupação é característica da nossa cultura moderna
ocidental, e sabemos que nas culturas sacralistas da antiguidade, sobretudo,
do Oriente, os homens tinham este mundo, a vida neste mundo, como uma
passagem, um trânsito. A sua verdadeira destinação, o seu verdadeiro fim
último estava lá no outro mundo. De forma que a atitude diante desta vida era
uma atitude de um certo negativismo perante a si mesmo, de uma certa
autoanulação, diríamos. Essas culturas sacralistas foram desaparecendo. O
próprio ocidente, também, cuja Idade Média, a chamada Idade Média Cristã,
foi altamente sacralista, deu lugar, a partir do Renascimento, a um crescente
secularismo. E o Oriente que até pouco tempo, até uma época bastante
recente, era sacralista, também, isto é, punha a finalidade da vida no outro
mundo, como eu já disse, este Oriente está se secularizando a passos largos.
Este Oriente que é constituído, em sua maior parte, dos países chamados
subdesenvolvidos, mas que estão em desenvolvimento, mas propriamente
‘’developing nation’’, nações em desenvolvimento, este Oriente está, digamos,
da mesma forma que a América Latina, nós aqui no Brasil, e também, as novas
nações da África, estão querendo cada vez mais os bens deste mundo.
Bom, em face dessa situação, digamos, e também com a derrocada do
imperialismo pelo qual esses países do Oriente, da África, da América Latina,
eram sistematicamente espoliadas pelas nações chamadas imperialistas ou
[165]
colonialistas, nós estamos, digamos, numa fase realmente crítica, em que a
estrutura de valores dos países chamados desenvolvidos passaram a ser as
nossas, também. Ou melhor, nós, de certa maneira, sempre fomos. Mas
sobretudo, passaram a ser a estrutura de valores do africano e do asiático está
se nivelando ao do europeu. Está se nivelando àquilo que Spengler chamou de
‘’cultura fáustica’’.
Então, digamos, qual seria o grande problema agora? Então eu vou
lançar a pergunta. O professor Mário Ferreira dos Santos disse que iria falar
da crise, sobretudo, da crise religiosa de nosso tempo.

O cristianismo baseia-se ou baseava-se, inicialmente, no ideário


sacralista, isto é, esta vida não é senão uma passagem para algo de superior
que vem depois. A finalidade, então, a atitude nesta vida, é o homem preparar-
se para a vida eterna, esta sim é que é a importante. E toda a pedagogia, por
exemplo, da escolástica. Toda a, digamos, a grande pedagogia do cristianismo,
antes do renascimento, norteava-se para este fim.
Em face desse sacralismo, temos, também, digamos, uma antinomia
central no cristianismo: graça ou boas obras? A graça estaria diretamente
ligada a esta realização do homem no sentido de uma vida espiritual. O
homem, também, nesta vida, participaria de uma realidade espiritual superior
com a qual ele precisaria entrar em contato através da graça ou, também, de
certa maneira, através daquilo que os existencialistas alemães modernos
chamam de ‘’encontro’’, que é de origem bíblica, em oposição à ‘’formação’’,
que seria de origem grega helênica. Bom, em face desse problema, há uma
tendência a transferir-se ao plano da espiritualidade a questão das boas obras,
isto é, nas fases secularistas há uma tendência a valorizar as boas obras, e as
boas obras são tomadas sempre no sentido material, isto é, então a chamada
caridade cristã, de dar o pão, o pão material, sobretudo, e não o pão espiritual.
Como esse pão material é aquele que se valoriza... [risos] desculpa que eu acho
que o meu tempo já passou, não é... como esse pão material é o que se valoriza
hoje, então, digamos, em que consistirá esse cristianismo de ‘’aquário’’ de que
nos fala o professor Mário Ferreira dos Santos, será um cristianismo de
satisfação dessas necessidades materiais, através de uma caridade ampla?
Aquilo que teólogos americanos contemporâneos chamam de ‘’service
christianity’’, cristianismo de serviço. Um serviço norteado para isso será,
também, o cristianismo de aproximação espiritual, de ‘’Amai-vos uns aos
outros’’ num sentido de uma síntese integradora, considerando-se o homem
como um ser não somente vindo de baixo, por sua evolução, diríamos,
orgânica, mas também vindo de cima, como tendo uma herança espiritual.
[166]
Eu deixo lançada a pergunta.
Quero pedir desculpas por qualquer ausência de clareza, talvez até
mesmo.....

Mário: A pergunta foi muito interessante, porque ela focaliza uma série
de temas importantes que não podiam ser tratados no decorrer da palestra
que fiz anteriormente, e que passarei a responder tão logo mude o filme.

[Fim do Áudio]

[Parte 2]

Muito bem, em torno desta oposição sacralidade x secularização, em


face do cristianismo, nós temos que dizer o seguinte:
Na formação do cristianismo, uma das ideias centrais que predominava
no mundo cristão era a ideia do Juízo Final. O Juízo Final era aguardado como
alguma coisa próxima, porque segundo os evangelhos Cristo havia dito de que
o Juízo Final se processaria antes que um dos seus contemporâneos
totalmente houvesse desaparecido, quer dizer, que muitos daqueles que
teriam sido contemporâneos de Cristo seriam assistentes do Juízo Final.
A interpretação dessa passagem bíblica deu resultados variados muito
heterogêneos, mas em regra geral aceitou-se que o advento do Juízo Final era
próximo. Como não sobreveio, passados os anos, foi marcada uma data
popularmente, o povo mesmo estabeleceu que no ano 1000 d.C seria o ano do
juízo. De maneira que o ano 1000 d.C foi aguardado por todos como o fecho
final da vida cristã, da passagem terrena do homem. O homem seria julgado,
então, os bons ganhariam o céu e os maus seriam eternamente condenados.
Mas, chegado ao ano 1000 d.C - foi um ano tremendamente desastroso a sua
aproximação em consequência de certos excessos religiosos provocados por
essa concepção -, sobreveio uma grande decepção no mundo europeu. O que
gestou, então, uma busca para esta vida, quer dizer, aquela sacralidade
exagerada, sem dúvida alguma exagerada, do cristianismo, foi-se tornando
normalmente mais secular. Nós notamos isso nos próprios protestantes,
posteriormente, que vieram dar um sentido mais secular à concepção cristã,
buscar a realização do cristianismo nesta terra, inclusive, também, nos
próprios cristãos, que começaram a procurar melhorar a sua situação, a vida
humana, para que o homem pudesse viver neste mundo em condições
melhores.

[167]
Mas nós vemos, sobretudo, uma tendência bem desenvolvida, dessa
parte, no movimento dos jesuítas, porque os jesuítas foram acusados pelas
escolas cristãs, que mais defendiam a sacralidade, de serem demasiadamente
condescendentes para com o ser humano, de terem-se deixado empolgar pela
filantropia e de serem condescendentes para com as fraquezas do ser humano.
Porque os jesuítas, por exemplo, as penitências que os jesuítas dão são sempre
penitências suportáveis, pequenas, não atinge aqueles graus exagerados de
outras ordens religiosas. De maneira que, então, os elementos que pertenciam
mais à sacralidade cristã, como foi, por exemplo, Pascal representando o
grupo de Port Royal, eles combateram tremendamente os jesuítas e usaram
de todas as infâmias possíveis, e foi uma ordem que foi infamada desde então
até aos nossos dias, só agora que está se fazendo novos exames históricos,
então, se pode compreender melhor o que houve e o porquê também de terem
sido os jesuítas tão combatidos. Combatidos, porque eles se opunham aos
interesses de todos os setores: Primeiro, da sacralidade; segundo, da nobreza,
porque a nobreza perdera, graças à ação dos jesuítas, aquela possibilidade de
nomear pelas investiduras que havia sido pelo princípio das investiduras, de
nomear bispos, cardeais, etc; Terceiro, eram combatidos pela burguesia,
porque eles combatiam a escravidão. Eles não aceitavam a escravização do
homem, sobretudo, não admitiam a escravização do índio americano, que eles
consideravam ser racional, que merecia a compreensão dos cristãos. Depois,
na obra evangélica dos jesuítas, como eles percorreram o mundo inteiro, e eles
foram visitar os povos das diversas culturas, eles chegaram à compreensão
que esses povos tinham níveis de vida muito superiores, sobre aspectos
morais, muito superiores aos próprios cristãos, como eles descrevem nas suas
obras. Então, isto fazia com que eles fossem uma ordem que representava,
dentro do cristianismo de então, uma verdadeira ordem revolucionária,
porque eles defendiam o respeito à esses povos, e que o cristianismo tinha
muito que aprender com povos de outras regiões.
Como a Sociedade de Jesus foi neste período o ponto alto da Igreja,
porque representava as maiores cabeças que a Igreja possuía, e eles
desenvolveram, não só a filosofia, como a própria ciência moderna, que note-
se, que todos os grandes cientistas criadores da ciência moderna são ex-alunos
de jesuítas ou foram, pelos jesuítas, educados e preparados. Então, nós
notamos que esta ordem passou a ser tremendamente combatida e a ela foi
dada até uma intenção política, de que ela pretendesse dominar o mundo e
estabelecer um grande império jesuítico, que era uma das maneiras de
politicamente assolarem os diversos partidos e as diversas organizações
políticas a combater a Ordem dos Jesuítas.
[168]
Mas na história nada disso se vê, porque o que eles fizeram não tinham
essa intenção e hoje os estudos que honestamente se façam na história
verifica-se que não tem fundamento. De maneira que os jesuítas defenderam,
para o cristianismo, esta secularização, esta valorização da vida. A ‘’mens sana
in corpore sano’’, a ginástica, o abandono ao misticismo, porque os jesuítas
não são místicos, não há jesuítas místicos, a não ser um Teilhard de Chardin
que tem um certo misticismo, mas a quase totalidade dos jesuítas não tem
nenhuma tendência, nenhuma simpatia pelo misticismo. Combateram todas
as práticas, vamos dizer, de ascetismo exagerado, porque o ascetismo de
Loyola é um ascetismo intelectual, não é um ascetismo físico. Combateram
todas as torturas sobre o corpo. Enfim, eles defenderam uma série de ideias
de valorizar a vida humana, de melhorar a vida do homem, de o homem poder,
também, participar do banquete da vida, que esses pecados não eram mortais
– do que eles foram tremendamente acusados, de modo a serem classificados
como propugnadores de uma vida imoral e anti-cristã -, tudo isto aconteceu.
E a Ordem dos Jesuítas, embora tenha sido dissolvida pela Igreja,
devido à campanha e ação tenaz que se fez contra ela, ela hoje se reorganizou,
hoje, outra vez, retornou à Igreja. E eles que são, sem dúvida alguma, os
pitagóricos do mundo cristão, eles têm dado um outro sentido ao cristianismo.
Veja o que eles têm feito, por exemplo, nos Estados Unidos, que é uma obra
predominantemente jesuítica, onde a ordem dos jesuítas tem a quase,
digamos, dois terços dos seus membros acham-se nos Estados Unidos, onde
eles dominam a grande parte das universidades americanas e, hoje, nas
melhores universidades, e eles têm dado um sentido ao cristianismo, um
sentido de valorização desta vida e que o homem pode, nesta vida, adquirir, e
deve vive-la do melhor modo possível.
Agora, eu sei que muitos poderão não gostar da minha maneira de tratar
dos jesuítas. Eu também fiz injustiça a eles, mas eu estudei, e o que eu digo é
fundado nos meus estudos.
Agora, quanto ao problema Graça, a questão das boas obras, da
caridade, é preciso clarear bem. A caridade não é propriamente dar, não é
apenas dar, esta virtude não significa apenas dar algo que precisa. Este é o
sentido da filantropia, e um sentido vicioso que se deu à caridade. A caridade,
propriamente, é o amor ao bem do próximo. E este amor ao bem do próximo,
amar o próximo, o bem do próximo, é alguma coisa que nós não podemos
adquirir por hábito, é alguma coisa que nós temos por simpatia, que nós
sentimos, que nós vivemos ou não vivemos. Por isso, a caridade está colocada
entre as virtudes teologais. As virtudes dadas por Deus, e não entre as virtudes
cardeais, que são as virtudes habituais e adquiríveis pelo homem.
[169]
De maneira que o que nós chamamos de cristianismo aquariano, ou de
aquário, usando esta expressão da mitologia, e expressão, também, usada
pelos astrólogos, que não tem propriamente o sentido da astrologia, mas tem
na sua simbólica, significa um cristianismo do homem coletivo, porque o
cristianismo é realmente uma religião do homem, mas do homem no sentido
racional, porque o principal caráter do cristianismo é a vigilância racional.
Não é a religião dos sentidos, não é a religião da afetividade. É a religião da
intelectualidade, é a religião do homem inteligente, do homem que ‘’reflex’’,
do homem criador. O cristianismo é a religião do homem que não pode mais
voltar para a animalidade, do homem que tem que seguir o seu caminho
humano. Este é o sentido verdadeiro do cristianismo. Agora, que haja cristãos
que deturpem ou que desviem o cristianismo do seu sentido, isso é outra coisa,
mas o sentido do cristianismo de aquário tomará este rumo. Será um
cristianismo para o homem coletivo, para que o homem realize nesta terra
uma maior soma de bem estar possível, mas sem ociosidade, sem que a
ociosidade possa ser a fonte de novos vícios, sem que a ociosidade possa levar
o homem às práticas que o degenerarão. Porque este é o perigo que se
apresenta. Apresenta, sobretudo, a mente dos grandes homens nos Estados
Unidos, porque hoje os Estados Unidos podem diminuir as horas de trabalho
no máximo para quatro, mas não o fazem, porque não sabe o que vai acontecer
com uma população ociosa que não sabe aplicar o seu tempo, que pensa que
aplicar o seu tempo é ouvir rádio, ver televisão, ver cinema e ir a teatros, e não
tem uma vida interior, não desenvolveu a sua capacidade de meditação, não
desenvolveu a sua intelectualidade, e consequentemente, irá para bares, irá
para o vício, irá para as práticas que irão degenerar o homem, porque o ócio
em todas as épocas humanas foi o início da deturpação dos povos.
Então, é preciso pensar que este cristianismo é um cristianismo que
exige do homem trabalho. Este cristianismo de aquário é um cristianismo que
exige do homem a sua aplicação intelectual. Este homem tem que
desenvolver, dentro do caminho do saber, a sua mente, para que ele não seja
presa fácil dos vícios. Esse é o cristianismo que eu defendo. Esse é o
cristianismo que eu acho possível, e é um cristianismo que tem suficiente base
mística para poder entusiasmar, também, a muitos que estão hoje indiferentes
ante a realidade. Por quê? É uma constante histórica que nós não podemos
deixar de respeitar: sem alguma coisa que ligue o homem a algo
transcendental, embora haja psicólogos que digam o contrário, mas sem
fundamento, porque um caso ou outro excepcional, não serve de base! Sem
isso o homem não se sente tranquilo. O homem não se sente seguro. O homem
não se liberta da sua angústia. O homem não é capaz de projetar-se para um
[170]
futuro melhor. Se há exceções, se nós encontramos ateus que foram exemplos
de dignidade, esses são exceções, mas nós não podemos criar uma
humanidade sobre exceções. Nós temos que criar uma nova humanidade sob
a regra geral, e a regra geral é esta: o homem só encontra o equilíbrio dentro
de si e a segurança quando crê em algum princípio superior, quando se sente,
de certo modo, assegurado por um poder que o sustente, que possa servi-lo,
que ele saiba que amanhã, no cumprimento do seu dever, não está se abrindo
as portas para o seu próprio mal. Ele possa, então, confiar como os
pitagóricos, como Pitágoras aconselhavam aos seus discípulos: ‘’lembrai-vos
que os deuses sempre pouparam os sábios dos grandes males. Acreditai na
sabedoria, acreditai no conhecimento, acreditai nessa luta pela elevação do
homem, que irei-vos afastar cada vez mais dos males que afetam aqueles que
não têm essa preparação.’’
Este é o problema: O desenvolvimento do bem estar humano, o
desenvolvimento que a técnica e a ciência moderna podem nos dar, o
progresso que ela pode nos oferecer, pode também ser o grande perigo para o
homem, pode ser a grande destruição do homem, porque o homem, no luxo,
na ociosidade, poderá decair e chegar, então, à graus de inferioridade que ele
jamais atingiu em todo o decorrer da sua existência.

Mário: Estou aceitando novas perguntas!

Professor de Português: Eu queria que o professor me dissesse,


baseado em quê diz que nós não podemos termos a salvação se não baseado
numa força transcendental? Precisamos ser apoiados por algo? Eu queria
saber no quê o senhor se baseia, objetivamente.

Mário: Pois não! A pergunta que me foi feita é a seguinte: Em quê eu


me baseio para afirmar que o ser humano só possa salvar-se na crença de um
ser transcendental.
Bem, eu não disse isso propriamente. Eu disse que aqueles que sentem-
se angustiados, necessitam desta crença. Mas, eu creio, e isto creio e sei,
porque tenho me dedicado a estudar, que o ser humano não pode viver dentro
de uma situação agnóstica, céptica ou atéia, porque todas essas situações
foram passageiras na história, e elas não produziram bons frutos, ao
contrário, produziram os piores frutos que a humanidade colheu.
O ser humano precisa ter uma crença, mas uma crença séria, uma
crença racional, uma crença robusta, uma crença bem fundada. Esse trabalho,
para a formação de uma crença racional, bem fundada, em condições de bases
[171]
filosóficas com demonstrações rigorosas, foi o que pretenderam fazer e o
fizeram em grande parte os escolásticos, e que nós precisamos prosseguir, e
que eu procuro prosseguir na minha obra. Porque nós não podemos, de
maneira nenhuma, compreender filosoficamente - a não ser que caiamos nas
piores aporias - uma concepção do mundo em que apenas se estabeleça a
imanência e não tenha uma transcendência. Nós precisamos, de qualquer
maneira, de um princípio que seja a razão de ser de tudo quanto há, porque
não podemos, de modo algum, cair nos erros do ‘’ex nihilo nihil’’, aceitar
formas perfectivas que têm o surgimento do próprio nada. E nós não
poderíamos compreender a evolução, não poderíamos compreender um
desenvolvimento perfectivo, sem que a origem tenha já, de antemão, toda esta
perfecção, porque, do contrário, temos que postular o surgimento do nada,
que é fatalmente uma concepção fundamentalmente errada.

Professor de Português: Mas eu acho que o professor se apega a


uma hipótese, até agora, o que eu estou escutando do professor é uma
hipótese! Vai ficar na hipótese, porque a tese ainda não me convenceu,
novamente!

Mário: O interlocutor alega que a minha posição é apenas hipotética,


fundada apenas numa concepção hipotética. É lógico que se nós desejássemos
aqui fazermos a prova e a demonstração rigorosa da nossa posição, não
poderíamos fazer nem dez minutos, nem em uma única palestra, teriam que
ser várias palestras. Estas demonstrações exigem que se pesquisem em
diversos aspectos da filosofia, que não podem ser feitos assim
momentaneamente. Não se pode, por exemplo, provar a existência de um ser
transcendente, em poucas palavras, e as provas da filosofia não são iguais às
provas da ciência, porque um filósofo é um homem desarmado, é um homem
que não dispõe de instrumentos de pesquisa, nem de observação, ele dispõe
apenas da luz natural da sua razão para pesquisar, e essas demonstrações são,
portanto, demonstrações de caráter lógico e ontológico, e que exigem,
naturalmente, análises sobre vários temas para chegar-se a ele. Mas, é muito
simples que nós coloquemos da seguinte maneira:
O mundo que nós conhecemos, o mundo da nossa experiência, é um
mundo de coisas que principiam, não vamos discutir se elas acabam, se elas
têm fim, porque muitas nós sabemos que tem fim, mas possamos admitir que
algumas perdurem constantemente, mas todas elas se apresentam como algo
que principiam.

[172]
Ora, as coisas que principiam têm consequentemente, iniciam, que
nascem, que são, portanto, ‘’naturas’’, que são, portanto, ‘’naturais’’, que são,
portanto, ‘’físicas’’, que têm, portanto, uma ‘’phýsis’’, um nascimento, estas
coisas todas, elas têm que ter naturalmente um princípio da onde elas
obtiveram o próprio ‘’ser’’ ou então elas têm de si mesmo. Neste caso
existiriam antes de existir ou receberam do nada - e neste caso nós cairíamos
no absurdo - ou tem que receber de um outro ser antecedente do qual
dependa, de onde pende este ser que elas têm. Na admissão disto, nós
poderíamos chegar, então, a uma série, e esta série não pode ser infinita
devido aos absurdos todos que ela contém. Temos que aceitar um princípio
que seja a fonte/origem de todos os entes. Este princípio, que é fonte/origem
de todos os entes, deve conter, com antecedência, toda a perfeição possível de
atualizar-se. Porque do contrário as perfeições posteriores teriam sobrevindo
do nada, o que é absurdo! Então, este ‘’ser’’ tem que ser, de certo modo,
omniperfeito. Ele tem que ter uma omniperfeição. Esse ser que é a origem de
todas as coisas, que é omniperfeito, é também, ominipotente, porque tudo
quanto pode ser deve estar contido nele. Então, nós chegamos ao que se
chama o ‘’Deus dos Filósofos’’, esse Deus dos filósofos não é o Deus das
religiões, porque as religiões vão emprestar a esse Deus um caráter pessoal.
Vão emprestar a este Deus, talvez, e muitas emprestam, um certo
antropomorfismo. Nós não discutimos o Deus das religiões. O que nós
discutimos é o Deus da filosofia, e o Deus do filósofo pode ser e é bastante
suficiente para fundamentar um cristianismo, em sentido aquariano.
A aceitação desse Deus, chamem matéria, chamem energia, chamem do
que quiserem a esse Deus, mas esse Deus tem que ser um ser ‘’a se’’, não é um
ser que recebeu o ser de outro, um ser ‘’abiário’’, é um ser que tem em si o seu
próprio princípio, um ser que é inprincipiado, um ser que não começou a ser,
um ser que sempre foi, aquilo que na concepção mosaica Moisés chamou de
‘’Jehovah’’, cuja a palavra é formada de três ‘’étimos’’ do verbo ser, que quer
dizer ‘’o ser que é, foi e será’’. Quer dizer, esta era a concepção de Deus.
Quando Moisés perguntou: quem és tú? Deus disse: Eu sou quem sou. Eu sou
aquele ser que sempre é, aquele ser que não tem princípio, aquele ser que não
provém de outro, aquele ser que é o princípio de todos os outros. Esta
concepção pode perfeitamente adequar-se com uma série de concepções e
permitir até a um ecumenismo, porque o bastante para nós, ao aproximarmos
as diversas crenças religiosas numa fusão universal, não é subordinando-as à
uma crença de um Deus personalista, mas de um Deus nesse aspecto genérico,
porque, então, as diversas maneiras de conceber Deus personalisticamente
podem pertencer a essas religiões, que dentro do aspecto genérico podem
[173]
coincidir com este cristianismo em sentido aquariano e coletivo, e podem,
especificamente, ter as suas concepções que não divergem no aspecto
genérico, apenas divergem no aspecto específico, porque o Deus da filosofia
não está especificamente determinado, porque a filosofia não dispõe de meios
suficientes para estabelecer o que as religiões estabelecem. Porque se a
filosofia fosse capaz de estabelecer o que as religiões estabelecem, então, as
religiões seriam desnecessárias. A filosofia as substituiria. E as religiões
fundam-se na fé, e a fé, a única coisa que a filosofia pode fazer é mostrar que
aqueles princípios de fé não são absurdos, mas não poderá demonstrar que
eles são verdadeiros. Porque se a filosofia fosse capaz de demonstrar que os
princípios de fé são verdadeiros, as religiões deixariam de ter razão, a filosofia
substituiria. Então, não haveria mais motivo para se construir religiões. De
forma que o que nós pregamos não ofende as ideias religiosas de quem quer
que seja, e pode aceitar dentro do seu ângulo aqueles que aceitem apenas um
princípio que seja a fonte/ origem de todas as coisas, e mesmo que não aceite
a concepção de um Deus pessoal, mas podem encontrar-se aqui e podem atuar
como Cristãos naquele sentido do mandamento de Cristo, que é o seu
principal mandamento ‘’amai-vos uns aos outros, ajudar-vos uns aos outros’’.
Isto é possível sem perigo e sem que ninguém violente as suas próprias
convicções.

Professor de Português: Professor, visto que a filosofia pode mostrar


que o que é exposto pela religião não é nenhum absurdo, mas, também, ao
lado daqueles que tem procurado provar isto, existem aqueles que tem
provado que a religião é quase sempre a fonte de todos os absurdos, dos
maiores absurdos. De maneira que ficamos levantando hipóteses contra
hipóteses, entendeu? Uns vem em defesa da religião, outros vem contra.
Enquanto discutimos isso as civilizações vão ascendendo e vão caindo, sempre
protegidas, cada uma delas, por sua religião, como o professor ensinou aí, de
vários ciclos, não é isso? Quer dizer, sempre houve religião, pelo menos desde
aquilo que nós podemos imaginar como um estado, embora não seja o estado
um conceito atual. E todos esses estados ou essas organizações, que por falta
de um nome adequado, por não se parecerem com o estado atual, existiram e
existiam, como a sua religião, que foi durante muito tempo o esteio desses
próprios estados, não é? E quando mataram a Sócrates, mataram, porque
disseram que ele estava corrompendo a juventude, mas o que ele estava
fazendo era esclarecer a juventude quanto aos absurdos daquela própria
religião. De maneira que as religiões não tem salvado, vamos ver, essas
organizações! Com todas as religiões, com todos os deuses, Unos ou Diversos,
[174]
essas civilizações se tem enterrado. Então ficamos nesse jogo de hipóteses, e
eu acho que para a solução, daquilo que o professor apresenta, como seria a
solução ideal do cristianismo, nós teremos que sair para outro campo, deixar
estas partes ainda para os estudiosos, aqueles cérebros privilegiados, e
sairmos por outros meios, procurar a solução da agonia entre as criaturas,
deixando um pouco esses assuntos para aqueles que tenham a capacidade
para discuti-los, para estuda-los, para quando chegarem a uma conclusão que
baste a resolução dos problemas sociais, então, aplicarem o produto dos seus
estudos, mas, por ora, nós temos que atacar de frente o problema social,
podemos faze-lo pelo amor do próximo, pela a solidariedade humana, sem
invocar deuses, sejam de que espécie forem, e assim resolver o problema.

Professor Daniel: Uma partição! Uma frase! Ainda bem que o


professor de Literatura explicou, fala da harmonia entre as criaturas, isso
subentende-se o criador!

[Risos da Plateia]

Professor de Português: O senhor se enganou! Quando eu uso


‘’criatura’’, criatura é um termo usual, não nesse de que seja fruto de um
criador, compreendeu? Eu não me lembro do criador quando falo em criatura!
Eu emprego o termo ‘’criatura’’, para não empregar o termo homem que nós
empregamos, porque de um modo geral é termo idiota, egoísta, que exclui a
mulher, porque o termo criatura inclui o homem e a mulher, por isso que há
muito tempo eu uso este termo, e eu não olho subtilezas filológicas, como se
eu não pudesse isso só porque eu sou professor de português!

Espectador: Professor, dá-me licença? O que precisa....

Mediador: O Dr. Nilton José pediu a palavra, antes!

Espectador: Ah, sim, está bem, está bem...

Mário: É que acumula depois a matéria a ser respondida e eu me


perco, né!

Dr. Nilton José: As palavras que eu vou dizer não tem um caráter...
Eu aguardo um esclarecimento aqui do professor Mário Ferreira dos Santos
sobre o seguinte:
[175]
Na evolução da humanidade, nós nunca encontramos as forças
destrutivas num grau tão alto como encontramos atualmente. De maneira que
a impressão que se tem, quando se medida nisto, é que não há possibilidade
de superar estas forças destrutivas. Chegamos a um ponto, como Ayn Rand
assinalou, que a humanidade tem possibilidades de se autodestruir. O senhor
acenou aqui com a coragem daqueles que querem o bem da humanidade. Essa
coragem, por maior que seja, por mais extraordinária, por mais heroica que
seja, todos nós tememos que não seja suficiente para superar as forças do mal.
Numa reunião de generais da Alemanha hitlerista, numa mesa
redonda, um deles levantou a ideia da existência de Deus, então, um deles
respondeu: Deus não existe, se ele existisse nós não existiríamos. Agora, eu
perguntaria se no seu estudo sistemático da evolução do homem, se o senhor
encontra alguma esperança na superação dessa fase de angústia, se nós temos
elementos para conseguir vencer esta fase verdadeiramente de intenso
sofrimento, porque todos nós tememos, no caso completo da humanidade,
que ela possa... Eu vejo que esta tendência de auto-sofrer, esta tendência
masoquista, parece ter chegado a uma força tal que pode inclusive liquidar a
própria humanidade. Eu pergunto se o senhor reconhece nessa humanidade,
como ela está hoje, forças para conseguir superar esse estado de crise.

Mário: Bom, como já foram feitas diversas perguntas, eu tenho que


responder primeiro a essas e depois darei a palavra aqui...

Mediador: O José tinha aqui pedido...

Mário: Ah sim, o José! Em seguida darei a palavra, porque senão eu


me perco, e depois eu não poderei responder à algumas objeções que precisam
ser resolvidas!
Na questão do ateísmo, propriamente não se conhece nenhum grande
filósofo ateísta. Não há! Grande mesmo não há! Por que o que nós temos que
considerar grande na filosofia? Na filosofia temos que considerar grande
aquele que foi capaz de realizar grandes obras, e as grandes obras filosóficas
não foram feitas por ateístas, em primeiro lugar!
Agora, em segundo lugar, a concepção, por exemplo, do Deus dos
filósofos, que é combatida pelas religiões, é aceita por muitos filósofos
indevidamente chamados ateístas, porque eles eram ateístas no sentido do
teísmo das religiões. Como Sócrates era chamado ateísta no sentido do teísmo
da religião grega, mas ele não era ateu no seu sentido pessoal, porque ele
acreditava no seu Deus. Ele não acreditava era nos deuses que a mitologia
[176]
havia construído, esse era o ateísmo dele. De maneira que o ateísmo pode ser
relativo, pode ser em relação a um determinado deus. Alguém pode ser ateu
em relação a Brahma, e pode não ser ateu em relação, por exemplo, ao Tao,
que é uma divindade não caracterizada e não determinada. Na concepção, por
exemplo, chinesa, que não tem caracterização nem pessoal, pode ser, por
exemplo, ateu em relação à divindade budista, e pode não ser ateu em relação
à outra divindade. De maneira que o ateísmo deve se compreender assim. O
que os filósofos consideram o seu Deus, e é combatido tenazmente pelos
católicos e também pelas religiões é o seguinte: eles admitem que há um
princípio que é a origem de todas as coisas, cujo princípio tem todo o poder
para que as coisas surjam, que dá as coisas, porque eles não vão defender uma
tese do ‘’ex nihilo nihil’’, porque admitir que o nada seja capaz de dar alguma
coisa, se o nada não tem, é cair numa contradição, que simultaneamente nós
estamos afirmando que o nada não tem, e simultaneamente estamos
afirmando que o nada dá o que não tem, dá alguma coisa que não tem. Então,
para não cair neste absurdo, todos chegam à esta concepção, mesmo muitos
ateus que foram considerados ateus através dos tempos, eles, dentro desta
concepção, são por nós considerados deístas, porque eles aceitam um sentido
de um Deus não pessoal, não o Deus das religiões, mas quer dizer, Deus no
sentido que a humanidade sempre emprestou este conceito, um ser todo
poderoso que é a fonte, e que regula, e que de onde surgem todos os outros.
Esta concepção é universal de todos os grandes homens da humanidade.
Agora, quanto à questão dos dogmas, e quanto às questões das ideias
religiosas, e da filosofia demonstrar, como disse: a filosofia não demonstra a
verdade, como a lógica, também, não demonstra verdade de coisa alguma. A
lógica apenas pode nos guiar para evitar que nos errem. A demonstração da
verdade cabe à outras providências que não são as propriamente lógicas.
Agora, o que a filosofia pode mostrar é que uma ideia não é absurda.
Assim, por exemplo, que a ideia da Trindade, que é um mistério cristão, é
mistério, quer dizer, está oculto, que o Cristão sabe que não pode entender,
mas a filosofia pode mostrar que esta ideia não contém absurdo. Ela pode
mostrar, por exemplo, que na Eucaristia não há absurdo. Ela pode mostrar,
em suma, que não há absurdo em diversas concepções, mas não prova que
essas concepções sejam verdadeiras. Isso não cabe à filosofia, nem cabe à
religião, porque a religião não prova a sua verdade. A religião propõe a sua
verdade, e o homem aceita por fé, se não a religião deixaria de ser religião. A
religião, o que a caracteriza, sempre é uma crença que brota da fé, ela não
brota da ciência, porque se ela brotasse da ciência, ela já não seria mais
religião. Se a religião representa um estágio inferior da humanidade ou não, é
[177]
tema discutível na filosofia. Se a filosofia e a ciência com o tempo poderão
substituir a religião, então, será quando a filosofia e a ciência possam
demonstrar de maneira completa aquilo que na religião constituem os seus
mistérios.
Ora, nós sabemos que nos estudos sobre a ‘’aporética’’, que é uma parte
da dialética que se dedica ao estudo das dificuldades teóricas, nós sabemos
que toda a concepção, por melhor construída que seja, ela sempre deixa
diversas aporias insolúveis que passam a ser os problemas a desafiar a argúcia
dos futuros estudiosos.
E nós verificamos, então, que pode-se aporeticamente estabelecer o
valor de uma doutrina pelo número de suas aporias, por exemplo, uma
doutrina que apresente duas aporias, quer dizer, tem duas dificuldades
teóricas que não estamos solucionados, ela é teoricamente mais sólida que
uma concepção que apresenta três ou quatro, ou cinco aporias. De maneira
que nós podemos avaliar o valor de uma concepção pelo número das suas
aporias, e assim se pode, por exemplo, avaliar, também, o valor de uma
concepção filosófica. Uma concepção filosófica que só tenha aporias, que não
dá solução a nenhum problema, ela tem, naturalmente, que ter menos valor
do que aquela que dá uma certa solução. De maneira que nós não estamos
aqui defendendo uma ideia religiosa, esta ou aquela, nós estamos apenas
admitindo que a religião pode ser, admitimos que pode ser, apenas a
consequência de um estágio humano, e que o homem possa, pela luz natural
da sua razão, alcançar a explicação total do universo, admitimos. Embora os
religiosos digam que não, que há sempre aqueles mistérios que o homem,
nesta vida, ‘’pro status isto’’, no estado de queda, de pecado, em que ele se
encontra, pela sua ‘’finitas’’, pela a sua fraqueza, pela a sua ignorância natural,
pelas suas limitações naturais, este homem jamais conseguirá resolver esses
mistérios, cuja solução só lhe poderá ser dada numa outra vida, nessa não.
Entretanto, existem muitos que concebem que o homem, pela luz natural,
poderá não dar a solução no sentido das religiões, mas pode dar a solução no
sentido da filosofia. E esta é a concepção em que eu me coloco! As religiões eu
respeito, cada um tenha a que tiver. Eu tenho a minha, guardo!
Agora, nas concepções religiosas, as religiões dizem que não basta
apenas a prática deste ato de respeito e de veneração a um princípio superior,
interna, apenas intrínseco. Ela precisa, também, exteriorizar-se, ela deve
manifestar-se em rituais, porque tem um poder exemplar, e seria uma
reverência mais justa e fácil dos outros. É uma matéria discutível. É uma
matéria de teologia, mas para os pitagóricos, em cujo o espelho eu me miro,
em cuja orientação eu sigo, porque considero que foram eles os grandes
[178]
iniciadores da filosofia e que abriram as portas para os grandes caminhos do
pensamento humano, para eles, eles estabeleciam isto: ‘’a religião, nós a
respeitamos todas, mas cada um de nós conservará para si a sua crença.
Agora, qual é o nosso trabalho? É estudar, é analisar, é procurar solucionar,
dentro dos meios naturais do homem, o que o homem possa solucionar. E
para eles - eles julgavam -, que os limites estavam muito longe, e que o homem
tinha possibilidades, portanto, imensas de percorrer dentro do pensamento e
encontrar uma solução.
Quanto a dizer-se que o nosso problema atual é um problema
puramente econômico, puramente político, puramente social, puramente da
vida prática - a religião pertence, também, à filosofia prática - e que a religião
não interessa para a solução dos problemas, estamos enganados, porque a
falta de crença...

Professor de Português: Ela não interessa, por enquanto, quando


há somente a hipótese, porque nós não podemos resolver problemas objetivos
com hipóteses.

Mário: Agora, o que nós não podemos deixar de reconhecer é que se


as massas não tiverem uma crença em algum princípio superior, não poderão
estabelecer uma ética que segura, e não teremos, então, possibilidades de
poder viver e despertar nos seres humanos uma convivência, um amor ao
próximo, se não tivermos alguma coisa de transcendental para dar a este
homem. E isto por uma razão muito simples! Por que aqueles que conhecem
a psicologia humana sabem que o senhor e outros são exceções, não são a
regra geral, porque há aqueles que não precisam ter uma crença para cumprir
o seu dever, porque basta o orgulho de serem humanos, de terem uma
inteligência, e de saber que o homem é capaz de realizar formas perfectivas
cada vez superiores, então, compromete-se consigo mesmo para realiza-la,
mas a maioria não é assim, a maioria precisa de algum temor, de alguma coisa
para que ela siga. Nós não podemos culturalizar a humanidade, chegar ao
nível do senhor essa humanidade toda, não há mais tempo, não há mais
possibilidade, não há meios. A solução pedagógica, ainda hoje, eu comentava
com a minha senhora sobre isso, quando ela lembrava que Lenine (*Lenin)
havia dito que a revolução tinha que recolher-se à pedagogia, em vista do
malogro da Revolução Russa. E eu perguntei e disse para ela: mas Lenine se
esqueceu de uma coisa, a pedagogia exige mestres, e eles teríamos que ter
mestres, e eles não têm os mestres para poder guiar o povo russo à um melhor
caminho.
[179]
O nosso problema é este: Que a criação de mestres leva muito tempo,
não se constrói um bom professor em meia dúzia de anos, é preciso uma longa
experiência, é preciso tempo, e a população cresce numa velocidade maior do
que pode crescer a formação de cérebros de ‘’escol’’. Então, o nosso problema
é gravíssimo! Nós hoje nos vemos antes um mundo que está cheio de
universidades e cheio de escolas, e o nível cultural baixou nos últimos tempos
de maneira impressionante, a ponto de alguns psicólogos e psiquiatras
chegarem a afirmar que dentro de 10 ou 20 anos nós formaremos uma
humanidade de estúpidos, de débeis mentais, e de alucinados.
Agora, em resposta aqui, atendendo ao pedido de outro interlocutor, a
respeito das forças de auto destruição que existem no ser humano, elas são
inegáveis, elas são típicas da criatura e de todo o ser composto, porque os
elementos componentes que formam uma nova estrutura, eles estão
subordinados ao interesse da totalidade, mas cada um dos elementos
componentes tem também o seu interesse próprio, tem o interesse da sua
parte, e esse interesse colide com o interesse coletivo, e é por isso que nós nos
decompomos, é por isso que tudo quanto é ‘’physis’’ decompõe-se e se destrói.
Mas, pergunta: será possível, será suficiente que a nossa coragem possa
enfrentar essa auto destruição?
Eu posso responder apenas com respostas contingentes, porque se eu
fizesse uma resposta necessária eu cairia apenas numa fé, e não estaria me
colocando numa posição filosófica. É possível que sim, e é possível que não!
Mas entre essas duas possibilidades, nós podemos escolher a daqueles que
creem que é possível que sim! Então nós podemos, também, nos comprometer
em atuar dentro dessa possibilidade. Se malograrmos, ficará, pelo menos,
dentro de nós, a satisfação de havermos cumprido o nosso dever e de termos
realizado uma possibilidade nossa. E se amanhã houver um outro ser
inteligente que possa saber da nossa história, poderá olhar para aqueles que
amaram a coragem e que tiveram um gesto heroico de lutar contra a própria
auto destruição, com respeito por estes homens.
Nós podemos nos engajar deste lado, já que estamos numa época em
que todos querem se engajar. Então, vamos nos engajar, mas para o lado
construtivo, para o lado do bem, para o lado que lance uma nova esperança,
que creia em valores superiores e que não proclame, de antemão, a sua
derrota, porque, então, ela é uma dupla derrota. É a derrota daqueles que nem
sequer combateram, daqueles que nem foram para o campo de batalha
enfrentar o seu inimigo! Está satisfeito?

[180]
Professor José: Eu me junto ao senhor, como Diógenes.
Simplesmente servindo de função, de carregador do ólho para a lanterna que
o senhor leva. E quero, antes de mais nada, agradecer a gentileza desse muito
que o senhor nos deu, e nos sentimos, também, dentro de uma mesma
obrigação, pelo menos da minha parte, de dar ao senhor - que vem
pesquisando tão profundamente - algo que também é a nossa dúvida, que é a
nossa preocupação.
Efetivamente, o senhor ao tratar do problema da religação do ser
humano, o senhor abordou fundamentalmente o problema da angústia
humana, e ao traçar a linha evolutiva da civilização, desde as mais antigas
formas até chegar a este baluarte que vem a ser o cristianismo, eu, ateu, graças
a Deus – [risos da plateia] – sem nenhuma antinomia, porque o senhor
explicou suficientemente como é que um indivíduo pode ser ateu, e eu sou
ateu de religiões, mas não posso sê-lo filosoficamente - que seria negar-me a
mim mesmo, absurdo que eu não posso perpetrar -, efetivamente nos temos
preocupado em verificar um problema muito grande que está levando a uma
degeneração, cujos males, cujos pontos o senhor apontou. Nós chamamos ‘’o
problema da evolução humana’’, essencialmente, como um problema de
racionalização da autoridade. O cristianismo não é senão, substancialmente,
sobre um dos seus múltiplos aspectos, o problema da racionalização da
autoridade, ou seja, livrar o ser humano do medo da própria divindade e
tentar dar a ele um sucedâneo, o amor.
A contradição que o senhor apontou na natureza humana, é a mesma
contradição que nós vemos entre o Antigo e o Novo Testamento. O
cristianismo veio pretender dar termos objetivos a esta antinomia que, se nós
afundarmos um pouco mais, ela não é de um fator exterior, não é daquilo que
está fora de nós, é a mesma antinomia que já existe dentro de nós. Nós, que
temos este mal vezo de procurar na natureza humana, em suas diferentes
estratos, onde está o bem e onde está o mal, ficamos muitas vezes preocupados
em verificar que ainda temos muito de Satanás e pouco de Deus. E é
justamente esta antinomia aquela mesma que, por um mecanismo psicológico
bastante conhecido de projeção no social, que transpõe a vida dos seres
humanos em comunidade ou em coletividade, ler essa antinomia tão clara,
estabelecendo dois modos antagônicos em quaisquer condições, como
retratar essencialmente esta bipolaridade básica que se encerra dentro da
natureza humana. Este é o primeiro aspecto da racionalização da autoridade.
O outro aspecto importante da questão consiste precisamente nisso: Os
povos, desde que se viram obrigados, por sua própria natureza à uma
comunidade, e o ser humano é um animal comunitário, não digo gregário que
[181]
seria estúpido, seria botarmos o ser humano de quatro ou de outra qualquer
forma, ele pode ser burro, mas por vontade própria, não como uma
contingência biológica. Então, sendo este animal comunitário, efetivamente
ele vem se preocupando intensamente em se ligar, não mais religar, mas em
ligar a esse outro fora dele.
Justamente a civilização grega foi o ponto alto de uma civilização,
porque ela resolveu olhar para o homem dentro de si mesmo, não só
pesquisou as interdependências humanas, as interrelações humanas, isto que
hoje está sob o nome pomposo de ‘’relações humanas’’. Mas, também, se
preocupou, profundamente, e nisso ninguém foi mais profundo, inicialmente,
do que Sócrates, com a sua ‘’maiêutica’’, em fazer este parto psíquico em cada
um de nós, e que nos deu, essencialmente, a compreensão de que somente
teríamos explicações para os fatos das interdependências, e exteriores, se nós
olhássemos profundamente para dentro de nós.
Portanto, o outro problema substancial é justamente a mudança que
nos vemos obrigados a fazer, de antes de pretendermos uma explicação da
comunidade humana, tentarmos explicar a si mesmo, o próprio homem. É o
segundo ponto em que nós nos detemos.
Um terceiro ponto diz respeito, essencialmente, a condição do
conhecimento, ou seja, daquilo que são as faculdades chamadas superiores,
se nós usarmos o termo arcaico ou se nós voltarmos a um processo mais
moderno, aquilo que se chama a ‘’razão’’, a ‘’racionalidade’’ do ser humano, e
essa mesma irracionalidade em que existe dentro do ser humano, ninguém
melhor do que Jung, embora não tenha sido original, investigou
profundamente a natureza humana, afundando nos seus arcanos, e lá foi
encontrando algo que hoje podemos dizer, tende a construir uma
antropologia, e ainda mais, uma arqueologia do próprio ser humano.
Estamos verificando hoje, professor, uma coisa curiosa! Que cada vez
descemos mais em profundidade dos seres humanos, e cada vez nos
encontramos mais com os símbolos, símbolos esses que aqui o senhor fez tão
bela referência já em dois artigos, e ainda a pouco se referia a isto. Símbolos
onde o racional e o irracional se intermisturam de uma forma indissolúvel. O
que se pretende, através da consciência, é uma pretensa separação entre a
racionalidade e a irracionalidade, ou seja, o primado da consciência. Mas, a
proto-história, já não digo a pré-história, mas a proto-história da evolução
humana, continua ainda profundamente arraigada nesta base imensa que o
senhor, com bastante propriedade e sensibilidade, definiu como um
cristianismo de aquário, ela, ainda, continua sendo a massa substancial que
ameaça, a cada momento, este pequenino leme que se instalou em camadas
[182]
superiores, e se diferenciou, e que se chama consciência. Então, o ser humano
não precisa olhar para fora de si mesmo para encontrar a angústia, ele já a traz
dentro de si. O ser humano não precisa ficar preso a entidades de natureza
transcendental fora dele, porque essa mesma transcendentalidade é possível
ser encontrada dentro dele.
O que, efetivamente, nós lhe trazemos, como uma contribuição, é o
conjunto das nossas observações em que, uns de um lado e outros de outro,
sem falsos pundonores ou sem bizantinismos inúteis, nos congreguemos,
essencialmente, nessa cruzada, de saber quem é o homem, como foi
formulado corretamente pelos existencialistas, e tão mal desenvolvido no seu
segmento anterior.
Então, o que nós buscamos, essencialmente, é dar a esse ser humano a
sua condição de sujeito, e não esta condição predicativa em que ele vem se
situando até agora.
Essas eram as pequenas contribuições que eu poderia dar ao professor
dos trabalhos que nós realizamos. Eu agradeço penhoradamente da minha
parte a oportunidade de ouvi-lo, porque conhece-lo eu já o conhecia por suas
obras, mas pessoalmente não tinha tido esta oportunidade. Agradeço ao
senhor!

Mediador: O outro alí quer falar também.

Mário: Não, primeiro eu respondo a esta.

Mediador: Está bem!

Mário: As contribuições oferecidas pelo Professor José não são


pequenas, são grandes! E abrem caminho à análise tremendas e sérias. Então,
eu vou procurar sintetizar alguns aspetos que são importantes.
Primeiro é esta parte da racionalização da autoridade.
O tema da autoridade foi examinado pelos escolásticos com muita
profundidade. Eu divirjo quase totalmente das concepções dos escolásticos,
mas não posso deixar de reconhecer que eles fizeram um estudo muito bem
feito sobre a matéria, embora cometessem alguns erros, que eu considero
erros, e justificaria, e eu justifico, nesse meu livro sobre ‘’O Problema Social’’,
porque eu vou pôr o tema da autoridade fundado na ‘’autoridade sociológica’’,
que é o termo comum em qualquer relação de grupo, nas relações sociais de
grupo.

[183]
Esse termo comum, essa autoridade, não pode ter o sentido comum da
autoridade apenas política, deve ser a autoridade no sentido do que é o autor,
do que analoga os opostos que mais ou menos se harmonizam. Dando esse
sentido, o conceito de autoridade não é contrário à concepção cristã e não vai
servir às concepções de caráter político que os escolásticos, de certo modo, por
insuficiência nesta análise, cometeram estes erros, que eu considero erros.
Quanto à relação Deus e Satã, é uma relação importante, porque um dos
temas mais misteriosos da concepção religiosa é a famosa Revolta dos Anjos,
aquela revolta comandada por Satã, que opôs-se ao Criador. Naturalmente
que se nós analisarmos os livros sagrados, querendo transformá-los em obras
históricas, nós nos encontramos em face de mitos, mas graças aos estudos da
simbólica, sobretudo, dos estudos modernos da simbólico, cuja contribuição
de Jung é imensa, nós podemos interpretar estes símbolos de outra maneira,
e sem ofensa, também, à concepção cristã. Por que a revolta de Satã é a revolta
da primeira criatura, da criatura mais poderosa que ele havia realizado, aquela
que tinha a maior soma de perfecção. Em que consiste, então, este pecado,
chamado pecado de orgulho? Consiste este..

Professor de Português: Ele, então, seria uma obra imperfeita, ele


foi a mais importante das criaturas...

[Risos da Plateia]

Mário: Mas a imperfeição não é do criador, é da criatura. A imperfeição


não faz parte do Criador, faz parte da criatura. A criatura que é imperfeita. Se
ele fosse criar uma obra absolutamente perfeita, ele criaria ele mesmo, então,
não criaria nada, não faria criação. Seria ele mesmo, que ele seria a perfeição.
A criatura tem que ser sempre imperfeita, porque é um ser dependente, é o
ser que recebe o ‘ser’’ de outro ser, é um ser limitado. Mas essa limitação é da
criatura, não criador. Mas quem pode 10, ao fazer 5 não se limita.

Professor de Português: Mas como ele faz uma obra imperfeita?

Mário: Um momentinho... mas quem pode 10, ao fazer 5, não se limita.


Se o senhor é capaz de escrever uma carta, e escreve uma palavra, o senhor
não se limitou ao escrever uma palavra, porque a sua capacidade de escrever
uma carta inteira continua em pé. Deus, um ser supremo não se limita ou se
torna imperfeito por que realiza menos. Ele só se tornaria imperfeito se não
pudesse realizar.
[184]
Professor de Português: Então a estréia dele foi infeliz, era de mais
não haver outras criaturas, que não haviam ainda, se eu fosse a única criatura
eu seria apanhado!

[Risos da Plateia]

Mário: Não, um momentinho, não, não, nós não podemos levar por
esse terreno um assunto tão sério. Nós temos que estudar dentro de normas
filosóficas. A criatura, por natureza, ela é dependente, ela é finita, ela é
limitada, ela é perfectivamente incompleta, é, portanto, deficiente. Satã era,
de certo modo, um ser deficiente.
Vamos parar um pouco.

Mediador: Nós temos tempo aqui só até as 11 horas!

Mário: Ah, é? Poxa, então, está no fim! Temos somente 10 minutos!


Bom, temos apenas pouco tempo, eu vou sintetizar.
O que se chama o pecado de orgulho, é o pecado da criatura ao ter
consciência de si mesmo e da sua unidade, amar esta unidade, querer esta
unidade, para a sua conservação e julgar-se, portanto, idêntica ao Criador.
Este é um sentido que se pode dar simbolicamente ao orgulho, que é a
criatura, na defesa da sua própria unidade, julgar que ela pode ter o mesmo
valor de que um ser supremo, cuja unidade confunde-se com a sua própria
natureza.
Ora, quanto ao problema de Sócrates e o conhecer a si mesmo, o
conhecer a si mesmo é uma máxima que vem dos pitagóricos. Os pitagóricos,
Pitágoras sempre dizia que para o homem resolver os seus problemas, ele
tinha, primeiramente, que conhecer-se profundamente para que ele pudesse
guiar-se. Pitágoras se preocupava muito com os problemas sociais da sua
época, porque a invasão Persa ou as ameaças que pairava sobre o mundo
Grego eram imensas, e ele queria orientar este povo para um destino melhor.
Então, ele pregou esta concepção, que Sócrates depois desenvolveu em
Atenas, porque nós sabemos que Sócrates era um iniciado pitagórico.
Quanto ao problema da racionalidade e da irracionalidade, quanto ao
problema da transcendência contida na imanência, esse tema não me permite
mais analisar devido ao tempo que vai se escoando. Eu proporia amanhã,
talvez, na reunião de amanhã, lá no Centro, eu posso tratar, como também
posso tratar do problema do existencialismo em face da psicologia moderna.
[185]
E, de antemão, quero dizer que não é verdade que os antigos não
tenham se preocupado com os temas existencialistas, ao contrário, se
preocuparam com muito mais profundidade, e há obras extraordinárias sobre
esta matéria, sobre estes temas, realizado pelos místicos cristãos, que
infelizmente são desconhecidos pelos psicólogos, e que se eles tivessem
conhecimento desses trabalhos, muito iria ajuda-los na compreensão dos
temas fundamentais do existencialismo, que estes temas já foram estudados
e abordados com muito mais proficiência do que os modernos. É o máximo
que eu posso fazer para apenas tratar do assunto rapidamente.
Quanto à transcendência, nós temos, dentro de nós, uma trans-
imanência, que faz-nos ligar, também, ao ser superior, porque o homem não
está desligado. O Ser Superior não é alguma coisa impermeável ao homem, é
algo que sustenta, algo que nos mantém, algo que nos assegura, e
consequentemente, com quem mantemos, de certo modo, alguma relação,
que é precisamente esta religação, que permite que nós tomemos, outra vez,
consciência da nossa dependência e compreendamos o valor daquele que nos
sustenta.
O problema do orgulho é um tema de máxima importância que iremos
tratar na próxima vez quando estivermos reunidos - em que eu já prometi
tratar do existencialismo -. O que não se pode é tratar este tema de Deus e
Satã fazendo chalaças ou procurando resolver pelas formas primárias de uma
concepção sem fundamento. É necessário que compreendamos bem, que a
criatura, quando toma consciência de si mesma, julgando-se pela a sua
unidade, tem uma tendência a considerar-se igual ao criador. Os próprios
seres humanos, em alguns momentos - nós temos filósofos e escritores de
renome - que julgaram-se criaturas perfeitas, julgaram-se outros tantos,
deuses, pela a semelhança com que nós temos com o ser superior. O que vem,
também, corroborar a tese da semelhança humana com o criador, porque a
criatura, de certo modo, participa das perfeições divinas, mas participa
limitadamente, por isso, é ‘’parti’’, ‘’participação’’, é um ‘’parti in capere’’,
capta apenas uma parte daquelas perfeições, porque ao ‘’ser’’ um ser limitado,
um ser deficiente, um ser imperfeito, consequentemente, os atributos que se
lhe possam dar, terão que ser imperfeitos, e aqueles atributos que possua, que
constituam a sua própria estrutura, não podem, de modo algum, terem a
perfeição do Ser Supremo, mas quando o homem envaidecido, orgulhando-se
de si mesmo, o homem, um ser racional, um ser inteligente, julga-se igual ao
criador, porque é capaz de pensar, porque tem consciência de si, ele comete,
então, o seu grande pecado, que é o pecado do orgulho, pecado este que é
considerado o pecado de Satã, como símbolo de toda a criação cósmica.
[186]
Satã, quer dizer, é a criação cósmica quando ela julga-se mais do que
realmente é, isto é, quando ela perde a sua humildade e julga-se, então,
possuidora de um valor tão alto, quanto o valor do criador. Este é o símbolo
de Satã se examinarmos dentro da simbólica. Agora, aqueles que querem fazer
de Satã uma determinada criatura, como um ser com consciência de si
mesmo, e etc, é uma questão de do ponto de vista discutível, mas nós, como
filósofos, não podemos tratar desse tema a não ser filosoficamente, porque de
outro modo é tratado dentro do campo das religiões, e como nós estamos
fazendo filosofia da religião, que é o fundamental desta palestra de hoje, nós
não podemos fugir do campo da própria filosofia. Portanto, Satã, dentro da
filosofia, tem que ser compreendido assim. Agora, quanto à forma popular ou
comum de entender Satã, e que alguns aqui tiveram a oportunidade de se
manifestar contrários, isso revela apenas uma maneira primária de conceber,
que não tem...

[Fim do Áudio]

[187]
V- Conferência na ABI (Associação Brasileira de Imprensa), 1965.

Início: Regravação de uma palestra proferida no dia 21 de agosto de


1965, no Rio de Janeiro, na ABI.

Mário: A primeira pergunta, que hoje seria tema para que nós
conversássemos, refere-se a saber a quem devemos modificar: O homem ou a
sociedade?
Essa pergunta é uma pergunta fundamental na nossa época, porque nós
sabemos que há a necessidade de uma modificação. Tendo em vista uma série
de erros, que têm sido cometidos em prejuízo de grupos humanos imensos. E
todos aqueles que desejam a sociedade humana, e que as relações sociais sejam
as mais positivas possíveis, e que nós evitemos, tanto quanto possível, as
relações sociais negativas, a procura é saber o que devemos fazer para evitar que
essas relações sociais se perpetuem ou continuem.
Realmente nós não podemos conceber a sociedade como um ser em ‘’per
se’’ subsistente. Nós temos que compreender a sociedade como algo que é
constituído por indivíduos, os seres humanos. Também, não se poderá dizer que
a sociedade é uma mera abstração. Quer dizer, quando o marxismo, por
exemplo, coloca a sociedade como a única realidade e o indivíduo como algo
abstrato, nós também não podemos fazer a inversão, isto é, considerar que o
indivíduo é apenas a parte concreta e a sociedade é a parte abstrata. A sociedade,
[188]
também, tem uma compreensão, sobretudo, hoje, quando nós entramos numa
concepção mais do que egoísta, um pensamento, que eu expus isso numa obra
ainda não publicada, e que se chama ‘’Teoria Geral das Tensões’’, obra volumosa,
que por motivos financeiros não foi possível edita-la. Nesta obra, eu estudo a
constituição das tensões, que são aquelas totalidades, que têm uma coerência
intrínseca, e que tem uma força de coesão, e que elas, ao constituírem-se,
tornam-se, de certo modo, distintas dos elementos que materialmente à
constituem. Quer dizer, elas têm uma forma que é outra, que é a forma dos
indivíduos ou dos elementos constituintes. Assim nós vemos, por exemplo,
vamos dar um exemplo simples: A gota d'água. Uma molécula de água, por
exemplo, ela é composta de hidrogênio e oxigênio. Ora, em determinadas
proporções, nós sabemos, de dois para um! Nós sabemos que o hidrogênio e o
oxigênio são especificamente distintos. A gota d'água não é apenas uma
numeração, não é apenas uma conjunção de hidrogênio e oxigênio. Na gota
d'água, o hidrogênio e o oxigênio, de certo modo, sempre polarizam, e a
molécula de água constitui uma tensão própria, uma substância própria, com as
suas propriedades. Consequentemente, ela forma uma tensão em que ela
subordina os elementos componentes numa nova analogação, em que eles se
harmonizam, mas que o interesse do funcionamento do todo domina sobre o
interesse da parte. Assim, por exemplo, um homem, um ser humano,
constituinte de uma família, ele, de certo modo, virtualiza-se, a família forma
uma totalidade coerente, que tem o seu interesse próprio, e que de certo modo
subordina o interesse do indivíduo. Embora haja um conflito entre os interesses
individuais e o interesse da totalidade, mas quase sempre há uma subordinação
do indivíduo à coletividade ou para poder dar àquela harmonia necessária.
De maneira que nós sabemos perfeitamente, que não podemos ficar em
nenhuma daquelas duas posições abstratas, que a concreção fosse o homem e a
sociedade abstrata ou que a concreção fosse a sociedade, e o homem, abstrato,
não. Nós temos que olhar o homem concretamente e a sociedade, também,
concretamente, porque tanto um como o outro são duas realidades que
compõem uma nova realidade. A sociedade é uma nova realidade composta da
realidade dos indivíduos. E os indivíduos, de certo modo, terão que virtualizar
muito dos seus interesses, que colidem com os interesses coletivos, para
poderem permanecer dentro dessa nova unidade.
Ora, isso não vem em defesa das concepções totalitárias, como muitos
julgaram, porque muitos disseram, então - isto foi muito bem provado - que o
indivíduo não tem mais a sua plenitude, porque ele, de certo modo, tem que se
submeter ao interesse coletivo. Mas note-se o seguinte: O que o indivíduo
virtualiza é precisamente aquilo que colide com o interesse de outros indivíduos.
[189]
E na formação da sociedade, o que ele atualiza é o que é conveniente ao grupo
social do qual ele faz parte. Portanto, o que ele virtualiza é a parte negativa, e o
positivo. E o que ele atualiza é a sua parte positiva, a parte construtiva. Nesse
caso, não há nenhuma deficiência para o homem, ao contrário, há uma elevação
perspectiva do homem. O homem que melhor é capaz de conviver com a
sociedade será um homem perfectivamente superior que aquele que não pode
viver dentro do seu grupo social.
De maneira que então nós temos que compreender que a modificação,
consequentemente da sociedade, exige primariamente a modificação do
homem. Isso eu não tenho a menor dúvida, porque ele é um elemento
fundamental, ele é o que constitui a matéria desta sociedade. E a modificação da
sociedade só poderá se processar dentro dessa realidade.
Isto é um problema humano! Passa a ser o problema do ‘’conhece-te a ti
mesmo’’, porque o ‘’conhece-te a ti mesmo’’ não é apenas uma indicação de uma
necessidade de uma introspecção humana, mas o conhecimento do homem em
todas as suas tendências, em todas as suas inclinações, em todas as suas
propensões, ou seja, numa linguagem filosófica, o homem, olhado pela as suas
disposições, pela a parte dispositiva que ele possui. Por que é fundado nessa
disposição que este homem vem a adquirir os hábitos proporcionados a ela.
Quer dizer, o homem não pode adquirir hábitos que não estejam proporcionados
às disposições que ele tenha. Então aqui surge um tema importante - que ontem
foi tocado, mas que não foi devidamente examinado, porque foi levado para o
caminho da chalaça, quando nós devíamos tratar dele num caminho sério, num
caminho científico - que é o problema do orgulho e o problema da humildade.
Este é um tema extraordinário dentro das concepções religiosas, e que é
um tema de psicologia, também, de um caráter importante. Por que, o que
consiste propriamente o orgulho? O orgulho consiste propriamente na criatura
sentir-se ou hiper valorizar-se, além das suas realidades. Quer dizer, a criatura
julgar-se como possuidora de um valor superior ao valor real que ela tem! Este
é o pecado de orgulho. Pecado, naturalmente, que todo ser, considerado na sua
individualidade, na sua singularidade e na sua unidade, ele tem, porque todo ser
procura impor-se. Isto é uma Lei cósmica, que é revelada na própria unidade. A
unidade procura impor-se, ela quer pendurar, ela quer continuar, ela quer
expandir-se, ela quer dominar! Daí o sentido de ela querer mais, então foi dado
com o pecado de orgulho, o primeiro pecado, que é caracterizado pela figura de
Satã, que é o pecado satânico. Satã é um símbolo! Se nas religiões, no sentido
popular, Satã passa a ter um sentido pessoal, como um ser pessoal, e se alguns
cristãos assim pensam, nós não temos culpa disso, mas aqueles que estudam
filosoficamente sabem perfeitamente que Satã é apenas um símbolo, é apenas
[190]
um sentido do orgulho, isto é, o ímpeto, que toda a unidade que existe, tem para
se afirmar de modo a impor-se ante os outros, a ponto até de subordinar e
dominar aqueles que seriam depois. Então, nós encontramos o orgulho
manifestado-se nas suas origens fundamentais no homem, no ‘’ser’’ que tem
‘’prestígem’’, que tem todo o ser vivo, e que se revela de maneira característica
nos seres superiores, como no homem! Todo o homem é anelante de prestígio,
todo ser humano quer prestigiar-se socialmente sobre os seus semelhantes. Ele
quer ser mais, ele quer impor-se. Às vezes, quando ele não pode impor-se pelo o
seu saber ou pela a sua ciência, ele quer impor-se pela a força - porque é
impondo-se pela a sua habilidade - ou quer impor-se pela a sua astúcia, ou quer
impor-se até pela a sua própria malícia, até considerando-se superior por ser
ruim, o ser mais ruim do que os outros, por ser o criminoso mais completo do
que os outros. Mas sempre, no fundo, é uma ânsia de prestígio. É ainda uma
manifestação desse orgulho primeiro, que é próprio de todo ser finito, que não
se contém dentro dos seus limites, e que desejam ampliar-se. Aquilo que
Nietzsche chamava o ‘’mehr wollen’’, aquele ‘’querer mais’’, que depois ele
chamou de ‘’Vontade de Potência’’. Esta vontade de potência, este ímpeto para a
potência, este tender para mais, que é próprio de todo o ser vivo, de toda a
unidade.
Ora, então no que consistiria a humildade? A humildade consistiria no
conhecimento das suas próprias possibilidades, no seu real valor. O humilde é
aquele que não se apresenta como mais do que ele realmente é, é aquele que
reconhece o valor alheio, não procura desmerece-lo. É aquele que procura
realizar o que está dentro das suas reais possibilidades. Ele pode ser tendencioso
na humildade, a ponto de desmerecer-se, de julgar-se aquém do que realmente
é, mas então já será um erro que ele comete, já será uma forma viciosa da
humildade. Mas a humildade justa, é uma humildade equilibrada. É o
conhecimento das suas próprias possibilidades. É o desejo de afirmar-se, sem
que essa afirmação se faça à custa da realidade alheia, como nós encontramos
pessoas que procuram deprimir todo o ambiente à vontade, para se exaltar.
Pessoas que não são, consequentemente, humildes! Então, ante o orgulho, que
é espontâneo e natural, e que surge da vida, a humildade é um trabalho
intelectual, já é uma habitualidade, já é alguma coisa que o homem adquiri, já é
alguma coisa que o homem tem que conquistar, é consequentemente uma
virtude, já subordinada às virtudes cardeais, porque o orgulho não, o orgulho é
um defeito que já nasce naturalmente com o homem. Uns terão mais, outros
terão menos.
De forma que o homem, conhecendo a si mesmo, ele conhecerá as suas
possibilidades. Ele conhecerá a sua real capacidade. Então ele deve atingir a
[191]
humildade. Precisamente por falta desta humildade é que a humanidade só...
por que justamente o orgulho é esse desejo de prestígio constante dos homens,
que buscam cada vez mais poder, que querem impor-se aos seus semelhantes,
que não são humildes, é que criaram um problema social, em todos os tempos
na humanidade.
Eu pararia aqui, porque como é um tema rico, eu deixaria que falassem
um pouco sobre ele, se alguém quiser...

Ouvinte: Realmente, nós temos que partir... (A partir desse


momento, o Áudio fica inaudível, porque o ouvinte está distante do
microfone)

Mário: Realmente, nós não poderíamos afirmar que a solução do


problema humano fosse apenas o problema psicológico, porque
psicologicamente, o homem, ele não se completa dentro da própria psicologia,
porque se ele é fundamentalmente um corpo, com um psiquismo, que é o que
caracteriza o homem com uma mente racional, que é o caracteriza o ser humano,
que o distingue dos outros animais, ele naturalmente é um ser que não vive
apenas a vida psicológica. Essa vida psicológica se desenvolve em torno da
própria ecologia, do ambiente circunstancial e histórico no qual ele vive. De
forma que nós sabemos que essa vida psicológica sofrem as influências desse
ambiente, como por sua vez, também, a própria disposição psíquica do homem
atua sobre o ambiente, como uma única atuação, porque os hábitos adquiridos
passam, posteriormente, a serem as próprias disposições do homem para novas
assimilações, quer dizer, a acomodação do homem vai se processando cada vez
mais rica com a contribuição dos hábitos adquiridos daquilo que ele vai adquirir
através do seu desenvolvimento. Consequentemente, ele cada vez tem uma
disposição distinta. De forma que as modificações na psicologia humana ou no
conhecimento humano, para que ele possa acomodar-se melhor à sociedade,
tem que acompanhar, também, por modificações sociais. Por que do contrário,
nós teríamos que recorrer exclusivamente à pedagogia, então, teríamos que ficar
na pedagogia psicológica, e deixando o homem ainda viver certas condições
históricas desfavoráveis, todo o trabalho pedagógico estaria perdido. É preciso
que simultaneamente ao trabalho pedagógico se faça alguma coisa no sentido
social, para criar uma interatuação benéfica para o desenvolvimento do próprio
homem.
Ouvinte: Era precisamente este ponto que eu queria chegar, quer dizer,
que a modificação é concomitantemente ao ambiente social.

[192]
Mário: Sim, é concomitantemente! É necessário de haver alguma coisa
socialmente dentro do ambiente circunstancial e simultaneamente ao trabalho
psicológico, porque há atualmente a psicologia, chamada psicologia em
profundidade, como todos sabem, ela está desenvolvendo análises
extraordinárias! Pode haver muito erro. Pode haver muito defeito nisso, mas
dessas contribuições vão sobrar coisas muito valiosíssimas. Já há contribuições
definitivas, quer dizer, já há muita coisa que virá em benefício da humanidade.
E é necessário, eu sempre digo, que essas adversidades, que às vezes surgem no
pensamento humano, elas têm um aspecto negativo, mas também elas
provocam uma reação positiva. Assim o cepticismo foi uma necessidade, porque
se não houvesse cépticos, não se teria desenvolvido o relógio, não se teria
desenvolvido a ontologia. Aristóteles jamais teria realizado a sua obra se não
tivesse que justificar as suas posições em face do trabalho destrutivo que na
filosofia grega se havia feito. Se não houvesse, por exemplo, a luta entre os
protestantes e os católicos no renascimento, não teria se desenvolvido a
dialética, como se desenvolveu, porque a necessidade de enfrentar àquela luta
levou aqueles homens a se dedicarem melhor ao estudo da lógica, o que é uma
contribuição para a humanidade. De forma que aquelas idéias - que são fruto do
marxismo - ela trouxe benefício, porque veio dar ao homem uma maior
preocupação aos problemas econômicos, que eram desprezados. Quer dizer, nós
temos que considerar tudo isso, como sempre no seu aspecto, também, positivo.
Agora, quanto a alguns, por exemplo, cristãos e católicos, se opõem à
psicologia em profundidade, erroneamente, por não compreender - porque
muitos entre eles, que compreendem, estão ao lado, trabalham, como esse grupo
de carmelitas, que atualmente na França está se dedicando aos estudos
psicológicos e tem publicado obras extraordinárias. Eles estão publicando hoje
uma Enciclopédia, que é muito volumosa, mas não é uma obra de primeira
plana, que eu julguei que era. Uma Enciclopédia Católica do século moderno,
que já está em 157 volumes -. Esta Enciclopédia, ela tem ali inúmeras obras de
psicologia, com muitos autores modernos que estão contribuindo, que eu, agora,
mandei busca-las para lê-las, porque eles se dedicam a estudar, por exemplo, a
psicanálise, especialmente o que o grupo entende sobre a análise feita sobre a
própria psicanálise, realizadas por psiquiatras, cristãos, e etc, e sobretudo, de
perceber - o que é muito interessante, muito importante - porque isso está
provocando dentro deste elemento, também, estudos que vão também,
contribuir, quer dizer, de tudo isso vai sobrar muito de valioso para a
humanidade, o que vai enriquecer a pedagogia futura, porque a pedagogia
depois é que vai recorrer às regras fundamentais, para transmitir aos pais seus
métodos, para que eles possam orientar os jovens na sua formação.
[193]
De maneira que, inegavelmente, o trabalho psicológico, que os senhores,
por exemplo, estão fazendo aqui, no Rio de Janeiro, é uma coisa extraordinária,
eu acho que é uma orientação muito boa, porque ela precisamente vem coincidir
com o que é necessário fazer, porque nós temos que dar ao homem um maior
conhecimento de si mesmo. Mas como vamos dar ao homem o conhecimento de
si mesmo dizendo apenas a cada um ‘’conhece-te a ti mesmo’’? Se ele não sabe
como conhecer-se primeiro?
É necessário que haja aqueles que orientem, aqueles que deem à esse
homem os caminhos, ensinem os métodos, quer dizer, método em grego quer
dizer ‘’o caminho que se dirige para alguma coisa’’, quer dizer, os métodos para
que ele possa seguir, possa dirigir-se ao conhecimento de si mesmo, e então
abafar um pouco o seu orgulho, deixar aquele orgulho natural, aquele orgulho
que não é vituperado, e adquirir uma certa humildade, que seria o pleno
conhecimento das suas possibilidades, para que muitos não empreendam aquilo
que está além das suas forças, mas que também não deixe de empreender com
medo de fracassar, que então seria o excesso de humildade.
Podem perguntar mais, para aproveitar a gravação.

Ouvinte: Não, eu estou satisfeito com a resposta, porque esse já era o


meu ponto de vista anterior, que tratamos em discursões que tivemos aqui, a
proposito da psicologia, a propósito da sociologia e a propósito da modificação
do ser humano, você colocou em um ponto muito, muito agora já crucificado....

[Fim do Áudio]

[194]
VI - Cristianismo e Economia Política

Bem, nós vamos fazer o seguinte, esta parte econômica vamos deixar
para o fim, vocês podem me lembrar no fim, para que eu possa continuar,
porque a maneira que o senhor colocou está dentro dessa esquemática. Os dois
esquemas: da amorosidade que se dá, receber o correspondente; da lesão que se
faz, o dano que se realiza, receber a lesão, porque na própria experiência humana
as lesões que nós realizamos trazem como consequências, revertem, também,
castigos para nós. Os erros que nós cometemos revertem sobre nós etc.
Bom, então a religião, em sentido meramente popular, ela está fundada
quase que praticamente nesses dois esquemas, porque o ser humano espera da
divindade que ela lhe dê em exuberância muito mais do que aquilo que ela
oferece. O seu ofertório o caracteriza por estar em todas as liturgias de todas as
religiões. E o castigo correspondente ao dano que ele pratica, sobretudo, se esse
dano é feito à pessoa da Divindade, que naturalmente o dano é maior, então o
castigo será maior, que seria a pena no qual ele procura ressarcir ou demitir-se
desta pena através dos processos que são ainda naturais do homem, como seja
o arrependimento ou o pedido de perdão e outros processos que o filho faz em
relação ao pai, o vencido faz em relação ao vencedor, que fica na religião. Então
nós temos esta religião que se forma deste modo.
Agora, temos uma outra religião que se forma de outro modo, é a religião
superior. Esta religião superior consiste no seguinte:
O ser humano vai observando que há uma hierarquia de valores, e que as
coisas têm, o que são, elas poderiam, por exemplo, ser melhores. Ele verifica que
esta árvore dá estes frutos e não se podia dar frutos melhores. Ele verifica que
há uma hierarquia de valores, e ele passa, então, a desejar, a amar estes valores,
mas ele sabe que para alcançar os altos valores, ele tem que agir na realização
[195]
dos altos valores. Como, naturalmente, o mais, tem que preceder,
ontologicamente, ao menos, porque uma sucessão no tempo, o menos pode
preceder a mais, porque podemos ir juntando coisa até alcançar uma soma, mas
ontologicamente, o princípio o mais tem que anterceder, porque do contrário, o
que vê, essa superação teria que vir do nada, o que seria absurdo. Então, como
ontologicamente, o mais tem que anteceder ao menos, e ser primeiro
fonte/origem de todas as coisas, chamem de matéria, energia ou natureza, o
nome que quiserem, não importa, tem que possuir perfectivamente todos os
mais altos valores. Então, o ser humano, que busca realizar, que ele vê que o
homem pode realizar, que o homem pode evoluir, que o homem pode alcançar
cada vez valores mais altos, e poem-se em ação na busca desses valores mais
altos, ele, então, realiza dois caminhos, ele realiza, vamos dizer, duas marchas,
ele realiza duas grandes direções: uma, em que ele vai por buscando cada vez
mais que os seus atos sejam mais perfectivos. E a outra, em que ele busca o
conhecimento dos valores cada vez mais perfectivos.
O primeiro caminho é a religião. O segundo caminho é a sabedoria.
Então, Pitágoras, que pensava assim, que via a religião deste sentido, e
portanto, a religião nada mais seria do que, em grego, se chama ‘’eusébia’’, do
verbo ‘’sebes’’, que significa louvar, prestar louvores - os sebeutes prestam
louvores - e ‘’eukia’’, é um prefixo que tem o sentido do melhor, do superior que
surgem em todas as línguas, no árabe, no hebraico, no egípcio, no aramaico, no
espanhol. Este eu, que sempre é um coisa que se eleva, nós usamos ainda El-rei
na nossa linguagem. Nós temos, também, na nossa linguagem popular a
presença desse ‘’eu’’, e que no grego é ‘’eu’’, o ‘eu’’, que está na palavra ‘’homilia’’,
por exemplo. ‘’Homilia’’ quer dizer vontade boa, vontade bem orientada. Temos
‘’eugenia’’, gênese, bem orientada. Temos outras palavras, ‘’euritmia’’, que é o
ritmo mais conveniente, mais ajustado.
Então temos também uma devoção para esses valores superiores e esta
devoção consistirá em duas atitudes: uma de prestar reverência, devoção, e
buscar que os atos sejam cada vez perfectivamente superiores. Isso seria, então,
a religião. Do ponto de vista quando medita sobre isso é a religião no sentido
especulativo, e quando prática, a religião em sentido pratico, no sentido
pitagorico.
E depois buscar esses altos valores no conhecimento, que então será
alcançar a sabedoria. De forma que, então, o estudo, a ciência, a pesquisa, a
busca é um caminho, também, religioso, também, prático-religioso, que também
tem a sua parte especulativa e tem a sua parte prática.
Ora, desde este momento, que nós não vamos mais cair nestes esquemas
primários, então, o problema do mal, o problema da não correspondência, por
exemplo, de que eu dou, mas faço o bem não para que o meu bem vai produzir
mais frutos, lá atrás, porque eles não tem uma relação de causa e efeito, porque
nós sabemos imitar esse conhecimento, mas faço o bem ao outro, porque a
minha caridade, o meu benefício que eu possa fazer dando ao outro bens
materiais ou bens espirituais, e sobretudo, espirituais, que seriam o mais
elevado à caridade, como o saber, o conhecimento, o bom conselho. Eu estou me
realizando cada vez, além do normal, eu estou me ultrapassando, eu estou me
dignificando. Então, esta religião, é uma religião no sentido de pitagórico.
A outra religião é uma religião mais popular. Como os pitagóricos ficaram
[196]
naquela indecisão, se aceitava ou não o cristianismo, a luta era esta, Então, o
cristianismo era uma religião do povo, da massa, uma religião para o homem,
tipo judeu, tipo que queria levar uma vantagem, que só prática o bem com
segundas intenções. Mas nós temos uma religião, nós somos uma religião em
que o homem pratica até por amor a si mesmo, por dignidade ante si mesmo. É
um princípio anárquico. Se eu posso fazer o melhor, eu devo fazê-lo, que é a tese
anarquista, que depois Kant, também, usou essa mesma tese, que ‘’Jean-Marie
Guyau’’, que era um anarquista, escreveu até um livro extraordinário que deve
ser lido, ‘’Esquisse d'une morale sans obligation ni sanction’’, 1886. Um jovem
anarquista que foi um grande poeta, um grande escritor francês e que escreveu
um livro extraordinário sobre a moral libertária, neste sentido!
Agora, este sentido, dentro da Igreja, infelizmente se combate, porque a
Igreja diz que não, ela quer defender a tese da molevolência humana, que o
homem não é capaz de realizar estudo mais alto, que o homem é um ser
destrutivo, que o ser humano por si não chega até esta grandeza, ele é um ser
que tem que receber estas vantagens.
Ora, se nós olharmos, sobretudo, no Evangelho de São João, nós
observamos nos Evangelhos que Cristo tinha verdadeiro pavor desse tipo dessa
religião. Mas ele sabia que o povo judaico era um povo interesseiro e que havia
necessidade de falar nisso, mas ele elencou aos discípulos, de onde ele fala, ele
pega a outra religião, porque a outra religião é a do amor. A outra é realmente a
religião! Porquê? Por que nós vamos amar o mais alto, nós vamos amar o
superior, que era a religião que Cristo pregava, porque esta religião aqui já é uma
região de temor! Se eu não faço o bem eu não levo vantagem. É uma religião
primária, é uma religião irracional, do homem primitivo.
Ora, os pitagóricos depois chegaram à conclusão de que o cristianismo,
apesar de apresentar-se com esses aspectos, podia juntar-se com o sentido
religioso, com a ‘’eusébia’’ pitagórica, e dar-se ao cristianismo um sentido
superior. Como? Transformando o cristianismo numa religião do amor. Então
amar Cristo pela a sua grandeza, por ser o exemplo do homem superior, superior
em tudo, porque foi o homem que a apresentou em toda a sua vida um exemplar
mais perfeito do ser humano, que não foi ambicioso, não foi mentiroso, não foi
falso, não foi explorador, foi um homem justo. Então, pôr tudo isso como um
ideal, porque nós podemos alcançar e nós devemos lutar pela perfectibilização
humana. Esta seria então o sentido da religião pitagórica.
Que há no cristianismo, uma grande parte do cristianismo, na parte
superior, por exemplo, os seus grandes autores! Não no clero. No clero que faz
esta ação pastoral, este clero fala para este povo, e este povo não compreende
isso. Como convencer, por exemplo, uma pessoa que está trabalhando, que ele
está se dignificando, se o seu trabalho for cada vez perfectivo, superior, cada vez
mais! Mas ele diz: ‘’para que isso, se eu vou favorecer o capitalismo, vou
favorecer o meu empregador?’’ Ele olha por outros aspectos, ele não olha a sua
realização, a sua superioridade, porque depois ele pode exigir, porque ele vai se
tornando um profissional cada vez superior na sua função. Ele vai se impondo
também, ele terá também a sua paga. Então pode-se juntar a paga, que é muito
desta outra religião, a compensação, e a outra que é um amor a dignidade
humana, pelo próprio amor a dignidade humana, e o amor aos valores
superiores que nos faz, então, sermos amigos de Deus. Esta religião é Deus.
[197]
Cristo é meu amigo. Cristo é o meu grande amigo, porque Cristo me ensina é a
que eu devo procurar ser o mais perfeito em tudo quanto eu faço, que eu cada
vez me supere a mim mesmo. O homem deve ser um ser em constante
superação. Esse seria àquele cristianismo, e não de uma submissão ou de se
colocar ante a divindade como um ser que aguarda as migalhas que a magnitude
ou a magnanimidade divina lhe possa dar. Compreende?
Então, nós vamos ver que toda a problemática que surge no cristianismo,
essa problemática sobre o bem, sobre o mal, que perturba os cristãos, portanto,
ela é coloca dentro do âmbito desta religião, mas já não existe esta problemática
quando colocada do outro âmbito. Compreende? Então não existe mais!

Aluno: Eu tenho a impressão de que aí, nós temos que levarmos,


infelizmente, para uma base científica agora, embasado, por exemplo, na
psicanálise, na antropologia.

Mário: Lógico, lógico! Na psicologia de profundidade modernamente


orientada, porque a psicanálise, nós vimos no sentido daquela benevolência e da
malevolência que o Freud se perdeu, Freud exagerou, caiu, vendo no homem
apenas um ser malevolênte, mas também naqueles ímpetos benevolentes que o
homem tem à proporção que ele vai percebendo os altos valores.

Aluno: Perfeito!

Mário: Então ele vai ver que é muito mais fácil ser um mal estudante do
que ser um bom estudante. É muito mais fácil deixar de estudar do que estudar.
É muito mais fácil vagabundear do que trabalhar. Então, ele por amor à sua
própria dignidade, pelo o seu próprio valor, ele assim poderá, logicamente,
vencer essas deficiências, porque aí ele se afirma como ser humano, porque se o
ser humano é capaz de avaliar valores, de perceber o que pode ser
perfectivamente superior, ele pode procurar alcançá-lo, porque é a sua plena
realização. Então é o cristianismo num outro sentido. Como o cristianismo não
tomou este sentido, então era fácil os elementos dominantes da sociedade, que
exerciam exploração sobre o ser humano, fazer o seguinte: ‘’Mas a paga de vocês
não é neste mundo, a paga de vocês é no outro mundo, que vocês vão receber’’.
‘’O céu vai ser difícil, vocês não vão entrar facilmente, mas as portas estão
escancaradas para vocês’’, ‘’nós aqui na terra estamos fazendo um sacrifício de
viver melhor do que vocês, porque nós estamos vivendo logo um período muito
curto, mas que também queremos lhes dar’’ E logo respondem: ‘’Nós também,
queremos entrar, é muito difícil, tem que tomar muito cuidado para entrar no
céu’’. Então, vão se aproveitar deste tipo de religião, quer dizer, os poderosos,
dominadores, para explorar os dominados.

Agora, há a outra parte, a outra não permite, a outra só permite a


elevação cada vez maior, por isso, a outra religião tinha que ser do povo.
Quando Pitágoras propõe, expõe essas ideias aos seus discípulos, os
discípulos disseram: ‘’mas mestre, vamos para a rua, pregar essas ideias’’. Ele
diz não, não podemos pregar essas idéias, porque o povo tem esta religião, e nós
temos que respeitar ainda a fraqueza do povo. O que nós temos que fazer é criar
[198]
elites capazes. Vocês têm que se preparar para amanhã serem os mestres que
vão educar as gerações futuras a ter uma compreensão diferente. Então vai
desaparecer tudo isso, essa exploração sobre o homem, porque a dignificação do
homem vai vencer tudo isso. Mas, por isso mesmo, os politiqueiros quando
perceberam o perigo que era o pitagorismo, mobilizaram a juventude - sempre
que é aquela parte imbecil da juventude, que é fácil de ser manejada -
manejaram contra eles, alegando que eles eram os inimigos da democracia, que
eles estavam perturbando, que eles eram homens impiedosos, que eles queriam
levar o povo a ser dominados por sábios, que eles queriam que os pitagóricos
passassem a ser os senhores do mundo, então era preciso destruir aquela ordem,
que era uma nova aristocracia que estava se formando, então a democracia
atacou. Aniquilou, matou, e destruiu. E até hoje continua se combatendo! E
combatendo por quê? Porque todos os poderosos através dos tempos não
querem a concepção pitagórica, porque a concepção pitagórica eleva o homem
de um outro modo, e evitará tudo isso. Compreende?

Aluno: É um círculo pequeno, resistinto, que sabe que se combater, vem


todo o mundo!

Mário: Ah sim, de fato, se combate, falsificam o pitagorismo, por isso,


tem que falsificar. Um momentinho, então aí já vai afundando numa Epístola de
Mara (*Mara bar Serapion, filósofo estóico da província romana da Síria), que
eu estava lendo aqui a Epístola de Mara, que era um filósofo, que escreveu, que
contava três figuras históricas importantes para ele, que foram do primeiro
século, do primeiro para o segundo século, que eram para eles: Pitágoras;
Sócrates; e o chamado Rei dos Judeus, que era o Cristo, que morreu na Cruz, e
etc., no segundo Século, que é uma das provas da historicidade de Cristo, que a
Igreja usa para provar a historicidade de Cristo é esta carta, porque ele fala em
Cristo, que os judeus o condenaram, levaram-no à morte na cruz, e o resultado
foi a dispersão do povo judeu, aquela coisa coisa. Muito bem, mas agora hoje,
eles usam a mesma carta para provar a historicidade de Cristo, mas que aí depois
usaram para negar a historicidade de pitágoras, porque em Pitágoras, o que é o
principal, é negar tudo, tudo, tudo, porque não convém aos poderosos. No
fundo, todas as grandes ideias de libertação, de socialização, de ascensão
humana, vem do pitagorismo. Porque o pitagorismo nunca pregou a socialização
da miséria, que é que nos adianta, por exemplo, socializar o Brasil? Do que
adianta? Socializar o que? Se vai dividir isto aqui, vai dar miséria para todo
mundo! Não vai resolver o problema! O que temos que fazer não é o socialismo
no Brasil. O brasileiro não tem problema, ele não é socialista, o problema no
Brasil é criar riqueza! Criar riqueza para poder distribui-la, porque se não tem
riqueza, quer dizer o que então? Vai distribuir miséria para todo mundo? Se nós
vamos ver: Qual a média de produção nacional, 210 dólares por ano? Aonde que
nós vamos distribuir para casa cidadão? Não será suficiente! Isto não trará
nenhum benefício, porque assim não vai resolver nunca, tem é que se estudar,
como lá nos Estados Unidos, sim, que pode amanhã fazer uma socialização
benéfica, porque tem riqueza para distribuir. A Alemanha poderá fazer uma
socialização benéfica, e tem riqueza para distribuir, e já está distribuindo, cada
dia cresce mais a distribuição.
[199]
Ainda temos muito o que criar, temos muito o que fazer. Temos muito
que lutar para poder ter o que dar aos outros, porque o que que nós vamos dar,
o que é que nós vamos fazer?
Agora, entra aqui aquele ponto importante que o senhor me colocou de
economista. Em 1949...

Thomas: O senhor pode saltar, professor, eu queria terminar uma


pergunta? Eu queria que o senhor encaixasse ai o papel de Cristo como mediador
e a significação dessa redenção do pecado no homem.

Mário: Bom, mas aí vai... eu gostaria de... vamos primeiro tratar deste
assunto, depois, nós vamos por esse aí.
Há o seguinte: O ponto importante foi esse que ele colocou, da afirmação
destes dois hemisférios que se formam, e nós, por exemplo, como um país
produtor, e o mundo exterior capitalista desenvolvido que nos absorve, cada vez
nos compram o que nós produzimos por um preço mais baixo, e nós temos que
cada vez pagar pelo que eles produzem um preço mais alto, consequentemente.
Bom, então esse desequilíbrio se formou na nossa economia, e esse
desequilíbrio é terrível, quer dizer, se nós vamos calculando a taxa que veio
nesses últimos 20 anos, já deve estar na quinta ou sexta parte dos valores que
eram. Quer dizer, nós vendíamos ainda há 20 anos atrás, o que nós vendíamos
dava cinco ou seis vezes mais do que o que dá hoje. Portamos cada vez mais em
tonelagem, mas nós recebemos cada vez menos. Embora o governo nos engane,
dizendo que nós estamos vendendo mais tonelagem, mas não dizem que
estamos vendendo menos, que estamos recebendo menos, os preços cada vez
são mais baixos. Esse tipo de governo cansou de cantar o aumento da tonelagem
de exportação, mas não falou do preço, que caiu, que então nós estamos
recebendo menos.

Aluno: Os títulos de exportação, também. De café, de produtos agricolas


que não tem nenhum peso comercial, não é?

Mário: Bom, agora acontece que em 1949, aliás, em 1948, na Alemanha,


depois daquela grande guerra, que se encontrou numa situação muito
semelhante à nossa. Mas tudo o que ele fez lá, não é que nós fizemos aqui. Nós
fizemos completamente tudo o que ele combateu, que ele criticou, e que foi o
mal, que seria o mal lá, nós copiamos somente o errado. Quer dizer, o que ele
não fez? Ele, naquela ocasião, os cartéis, que Alemanha naquele momento tinha
uns 1200 cartéis, formados por essas grandes indústrias como, por exemplo, a
Mercedes, que não é só a fabricante de automóveis, agora está ligada à ela uma
série de empresas fornecedoras, a Volkswagen, os William Shuker, e etc. Então
tem uma porção de empresas ligadas, e eles formam verdadeiros cartéis, não só
cartéis também, para explorar determinados setores, no setor do aço, no setor
da distribuição de alimentos, e etc. Então na Alemanha tinha 1200 cartéis.
Naquela ocasião os cartéis estavam fracos, tudo enfraquecido. O que acontecia?
O operário que estava recebendo um salário baixo, era porque os cartéis estavam
com prejuízo, os cartéis não aguentavam, sobrecarregados de impostos,
pagando as dívidas de guerra. Aquela coisa estava numa difícil. Então o Erhard
[200]
(*Ludwig Erhard, "pai do milagre econômico alemão") pediu para fortalecer aos
cartéis, mas o que ele sempre combateu foi a intervenção do Estado. Quer dizer,
ele queria leis favoráveis, mas sem o Estado intervir. Ele sempre foi contra o
Estado alemão não ter indústrias, não tem nada, ele não entra na economia, ele
orienta apenas a economia.
Bom, então o resultado foi o seguinte: que o proletariado desta época,
agitado pelas esquerdas, colocava-se contra, porque ele achava que ao melhorar
a situação dos cartéis, era melhorar a situação da burguesia, e o Erhard dizia:
Não é melhorar a situação da burguesia, é melhorar a situação do patrão para
que ele possa pagar mais, porque se nós não melhormos a situação do patrão,
ele não poderá pagar mais. Precisamos melhorar a sua situação, vocês vão ter os
seus proveitos depois.
Bom, então, acabou dramaticamente a ameaça de uma greve de fome. Ele
foi nos sindicatos alemães e fez um belíssimo discurso de economia que só
alemães mesmo poderiam entender, porque é um povo mais culto, e na hora da
votação, votaram, suspenderam a greve. Então concordaram em auxiliar os
cartéis. Os próprios operários sacrificaram um pouco, deram um pouco dos seus
ganhos, receber menos do seu salário durante determinado tempo até que as
empresas pudessem remodelar as suas indústrias, as suas máquinas, e etc,. Que
as empresas pagariam os trabalhadores com participação no investimento e
depois as empresas pagariam. No fim de 1 ano a coisa funcionou mesmo, as
empresas estavam em melhores situação, os operários sofreram um aumento de
25%, 30% ou 40%, foi sofrendo aumentos nos salários que foram com aumento
real, não foi nominal, foi aumento real, quer dizer, os preços não sofriam
aumento e os salários eram aumentados.
Agora, quando chegou em 1949, a coisa tinha chegado a um ponto que os
cartéis estavam poderosos, estavam chegando até a base de alcançar 50% da
produção. Então, aí o Erhard virou-se para o povo e disse: não podemos mais
permitir o progresso dos cartéis, porque está chegando ao ponto perigoso. Por
que se os cartéis chegarem ao ponto de 50%, com a facilidade que eles têm se
unindo, mais do que o restante da pequena indústria, artesanato, e etc, eles vão
fatalmente deslocar a economia pelo menos para mais 10% a favor deles. Eles
passarão a ser os ofertuários de 60% da economia, das vendas. E vocês vão
passar a 40%, e aí, então, o que vai acontecer? Que vocês vão perdendo dinheiro
de ano para ano, de 40% para 30%, de 30% para 20%, e então todo o poder
econômico ficará na mão dos cartéis. Então chegou a hora de vocês operários me
ajudarem, não deixarem os cartéis crescer. Até quando convinha crescer, foi
necessário, mas daqui por diante não nos interessa mais. Agora é a hora de vocês
lutarem para não auxiliarem os cartéis a tomarem mais poder.

E o que aconteceu? Os cartéis então usavam o seguinte termo: Vocês


viram quando nós tivemos mais vantagens! Nós não aumentamos os salários
para vocês! Vocês não levaram vantagem? Agora vocês nos apoiem, porque nós
vamos aumentar mais! E então os operários ficaram do lado dos cartéis, eles
tomaram uma atitude contrária. Saiu todos, inclusive os comunistas a tomar a
posição ao lado dos cartéis.
Então, o Erhard vendo essa situação, começou a escrever, a explicar, a
falar e a mostrar os perigos que havia. E o perigo era este, dizia: ora, vejam vocês
[201]
o seguinte, eu ainda estou falando de uma sociedade em que os cartéis ficariam
com 50%. Imaginem vocês uma sociedade, quê desgraça, que 50% da produção
estivesse na mão do Estado. Essa é a maior desgraça que poderia acontecer a um
povo, nós iriamos pagar tudo isto, porque o Estado sendo deficitário, teria que
cada vez mais recolher impostos, aumentar, criar dificuldades, então a situação
de vocês seria cada vez pior. (----) dos cartéis, da organização capitalista. Se
ficarem em poder do capitalismo, mesmo o estado ficando do lado, podendo
lutar do lado de vocês contra o capitalismo, mas mesmo assim, eles vão exercer
uma pressão tremenda contra vocês. Então o que os capitalistas fizeram?
Disseram que Erhard estava errado. Mas o proletariado, felizmente, mais uma
vez ouviu o Erhard, o apoiou, e os cartéis tiveram que ceder. Então dizia o
Erhard: o máximo que a econômia admite para o equilíbrio social dentro do
mundo capitalista é que os cartéis cheguem, no máximo, a 40% da produção.
Nunca ultrapassa esse nível! Que pelo menos o povo tenha sempre a maioria.
Tenha sempre a maioria econômica nas suas mãos, que é a única forma de
impedir que haja o desequilíbrio de toda a política, de toda a economia, a favor
de grupos, e assim ele conseguiu que os salários aumentassem 245% na
Alemanha, havendo apenas, durante esse tempo todo, um aumento de 14% nos
preços. Quer dizer, o salário real, não nominal, mas sim real, aumentou 245%,
enquanto que o preço-custo aumentou 14%, quer dizer, tudo baixou de preço
para o alemão, e o alemão começou a consumir muito mais, porque tinha muito
mais meios de pagamento, e os preços, embora aumentados, o seu salário era
muito alto, basta ter um salário mínimo de 600, 700 contos, como eles tem hoje,
num país onde a vida é mais barata que no Brasil, porque na Alemanha comprar
uma casa é mais barato, se bebe uma cerveja mais barata, se come um queijo
mais barato, tudo é mais barato do que aqui, hoje, com um salário mínimo de
700 contos. Um operário de salário mínimo vive bem. Muito bem! Se, por
exemplo, dentro de uma família tiver três ou quatro pessoas, eles vivem numa
casa melhor que esta. Esta casa que está aqui, esta casa que eu tenho não usa o
operário na Alemanha. Casa de operário na Alemanha é do tipo das do Jardim
América (*Bairro de Classe Alta em São Paulo). Os que quiserem vão lá ver! Eu
fui lá ver, eu estive lá em 1958, hoje em dia o nível que está a Alemanha é muito
superior.
(Áudio Inaudivel) [...] Sobretudo na zona americana e na zona inglesa,
porque na zona francesa é uma miséria, tipo o Brasil, o francês é explorado, e
etc. Mas na Alemanha nós vamos ver cidadezinhas de trabalhadores,
cidadezinhas maravilhosas, do tipo Jardim América. Nós iamos dormir na casa
de um carpinteiro, você precisavam ver que casa de carpinteiro, de que casa
tinha este carpinteiro, era uma casa melhor. Ele alugava quartos, para ajudar
nas suas despesas.
Bem, agora, então, o que eu quero mostrar é o seguinte:
O que acontece no Brasil, em relação ao exterior é a mesma coisa, porque
nós temos pelas nossas condições, como não desenvolvemos a nossa indústria,
nós temos que fatalmente ficar sujeitos a vender mal os nossos produtos e a
receber, pagar caro os produtos alheios.
Caros, porque a nossa moeda, cada vez mais se desvaloriza e,
consequentemente, os produtos alheios cada vez valorizam mais, e não tem
solução!
[202]
Agora, a solução, o que pode ser? Isso é um assunto para terça feira
discutir. A produção é tão difícil, tão difícil que eu fico desanimado, porque nada
se faz para dar uma verdadeira solução. Mesmo agora esta alta do dólar, ela é
necessária, porque há, naturalmente, pessoal que ganharam, mas a indústria de
São Paulo não podia mais exportar. Nem o café de São Paulo podia ser
exportado, porque estava dando prejuízo, somente com aquela alta do dólar é
que veio uma compensação, e esse é o nosso mal. Nós vamos encarecendo cada
vez mais a nossa vida. O Estado vai intervindo cada vez mais na nossa economia.
O Estado vai consequentemente mais encarecendo. Então nós vemos estas
coisas absurdas, que eu agora vou terminar em relação à juventude, certas coisas
absurdas da juventude hoje, lutando para destruir o Brasil, servindo àqueles que
querem a nossa destruição, vamos...
Está terminando aqui a fita, eu vou...Tomás...

[Fim do Áudio]

[203]
VII - Economia Política e Pecado Original

Bom, vamos começar isso.


Ora, veja os senhores o seguinte:
Eu pergunto aos senhores, qual é o custo de um estudante da USP e o
custo de um estudante do Mackenzie? O Mackenzie custa muito menos do que
na USP. Sabemos disso, quer dizer, na USP custa, mais ou menos, 6 mil dólares
cada estudante, no Mackenzie custa 2 mil e 400 dólares, se é que os dados que
me deram não são falsos, mas eu sei que custa menos.
Que estão lutando os estudantes do Mackenzie, olhando no seu
imediatismo, na sua vantagem imediata para não pagar ao Mackenzie àquelas
taxas que o Mackenzie está exigindo, a federalização do Mackenzie. E até
mesmo, também, lutando por uma lei de federalização de todo o ensino superior
no Brasil. Então todo o ensino superior vai custar 6 mil dólares para cada aluno.
E de onde vão sair esses dólares, senhores? Pois vão sair do povo, ao luto da
miséria do povo e da miséria de todos nós! Todos nós vamos pagar, vocês
pensam que nós não vamos pagar por isso? Nós vamos pagar, e vamos pagar
dobrado! Por que nós não vamos pagar somente essa diferença de 4 mil dólares,
nós temos que pagar, também, àqueles que vão arrecadar, que vão trabalhar,
que vão arranjar emprego, para poder fazer essa arrecadação, então eles têm que
ser pagos, também, eles têm que ganhar a vida deles, né? Eles estão ali para isto,
então, terá as suas vantagens, mas nós vamos pagar por tudo isto, então vai

[204]
custar 6, vai custar 8. Nós vamos, então, elevar o custo do aluno, no Brasil, para
8 mil dólares, num país que produz de 210 à 240, no máximo, per capita, um
aluno de curso superior custa 6 mil dólares, mais de 6 mil dólares.
Agora, se nós dizemos que nós temos que desenvolver a nossa cultura,
temos, mas temos que procurar as soluções dentro das nossas possibilidades
econômicas. Temos que procurar soluções, e não estas, porque estas que nós
estamos fazendo é para um país super rico, porque a universidade mais cara do
mundo, que mais gasta no mundo é a de Colômbia, nos Estados Unidos, e ela
gasta menos da metade, por aluno, que gasta a USP de São Paulo, que é a
universidade que mais gasta no mundo, e que dá as percentagens mais baixas
do mundo. Basta-se dizer que só no setor de filosofia apenas 4% se formam, que
é a percentagem que nem existe em parte nenhuma do mundo. No total das
nossas escolas apenas 18% se formam, 82% abandona o curso no meio do
caminho. Isto prova o quê? O mal funcionamento nas nossas escolas superiores.
Então a juventude está lutando, precisamente, para aumentar este mal
funcionamento, porque a intervenção do Estado, no ensino, quanto maior for, o
ensino só tende a decair, porque antigamente quando havia concorrência no
ensino, cada colégio procurava superar os outros, possuir a melhor equipe de
professores, então a cultura era superior. Mas dirão: Como é que o filho do pobre
pode estudar? Mas nisso há outras soluções! As soluções das bolsas! As bolsas
podem partir da criação dos próprios estudantes que podem pagar mais! O
Centro Acadêmico podia dar 2, 3, 4, 5 bolsas, para os estudantes! Os Centros
Acadêmicos podiam movimentar a arrecadação para dar bolsa para os
estudantes pobres. Então os que podem pagar que paguem, e os que não podem
pagar que sejam auxiliados através de bolsas.
Esta é a solução para um país pobre, porque se o Estado vai intervir, nós
vamos criar um desequilíbrio. Então cada vez mais o Estado vai poder dar menos
escolas. Do mesmo modo que quando o Estado assumiu o papel, quer dizer, o
Estado brasileiro tomou conta do serviço de assistência social, a assistência
social caiu nos seus níveis, porque há 30, 40 anos atrás, existia mais leitos em
hospitais proporcionadamente à população do que existe hoje. Havia melhor
assistência médica nessa época do que hoje. Por quê? Porque o Estado foi
assumindo cada vez mais a assistência médica.
O Estado é um órgão absolutamente inepto. É a maior desgraça que
surgiu para a humanidade. A prova de que o homem é um estúpido, é que ainda
tem o Estado. Não foi capaz de liquidar isso. Não foi capaz de organizar a
sociedade sem a necessidade do Estado. É a maior prova da sua inépcia, da sua
incompetência, da sua incapacidade! E este Estado é um ser inatacável, e é a

[205]
coisa mais engraçada do mundo. Ninguém ataca, ninguém quer acusa-lo.
Ninguém percebe o seu malefício. Todos acham que ele é um ser absolutamente
necessário, quando se sabe que sociologicamente, ele é um acidente, é algo que
acontece, não é algo que faça parte da natureza humana, que seja da essência do
homem, não é. E se ele é, portanto, um acidente, ele pode ser dispensável, e pode
ser substituído por fórmulas melhores e mais aptas de funcionar.
Aqui eu termino, então, esta parte que eu tinha feito. Agora vamos então
ao que o Thomas queria. Thomas, faz a pergunta!

Tomás: Eu queria que o senhor explicasse o papel de Cristo como


mediador ou se era realmente necessária a vida de Cristo e o que significa
propriamente a redenção do pecado original?

Mário: Bom, Thomas, você tocou numa matéria das mais complexas e
das mais difíceis, porque é uma matéria de caráter propriamente religioso e que
pertence propriamente ao cristianismo, ao pensamento cristão, sobretudo,
católico também, e que nós não poderíamos tratar dele, porque isso é matéria
longa, demorada, nós vamos apenas situar como se encontra a questão.
Em primeiro lugar há uma disputa muito grande travada dentro da Igreja
Católica, dentre os seus filósofos, se a vinda de Cristo era necessária ou não. Para
que a vinda de Cristo fosse necessária, se nós necessitamos desse mediador,
como foi Cristo, isto é, pela união hipostática do Filho no Homem,
transformando o homem em Deus, e este homem, então, ser o nosso caminho
de salvação, nós teríamos que discutir se não haveria outros caminhos.
É verdade que a religião não parte da possibilidade de haver outros
caminhos. A religião parte da sua fé e da sua afirmativa. Dentro da teologia
religiosa não se vai discutir essa possibilidade, se há ou não outros caminhos.
Ou se há até a possibilidade da encarnação de Cristo, né, isso é a doutrina da
‘’incarnacio’’ (*Encarnação, em Latim). Não se discute, porque dentro da
teologia religiosa se parte que isto é uma verdade. Mas dentro da filosofia se
parte do estudo desta possibilidade e da discussão em torno disso.
Ora, se nós estudarmos quais são os meios que a divindade pode atuar em
favor do homem, nós verificamos que a união mística - que é essa hipostática,
de Cristo -, admite ainda outras duas: pela graça e por meios naturais, quer dizer,
Deus poderia intervir, se quisesse auxiliar o homem a sair do seu estado e eleva-
lo, ele tinha meios pela graça, pelo o próprio homem, desenvolvendo no homem
a sua sabedoria, para que ele achasse a solução. Esse é o pensamento, por
exemplo, pitagórico. Que Deus, mediador, Cristo, está em nós! Cristo está em

[206]
nós. Cristo é precisamente a sabedoria. É a encarnação da sabedoria, esquecido
dentro de nós. O mediador é precisamente a nossa sabedoria que vai nos
erguendo na busca dos valores superiores e nos tira da nossa miséria, e nos
eleva. Esse é o sentido do Cristo para os pitagóricos.
Note-se que São Tomás, por exemplo, num livro dele, pouco conhecido,
que não é comentado, aliás, um trabalho que ele fez, um comentário que ele fez
à Ave-Maria, ele tem uma frase, um período muito importante que ninguém fala.
Ele diz que nós poderíamos ser salvos só por Maria Santíssima, sem a vinda de
Cristo. Isto causa um certo escândalo. Os Tomistas, em regra geral, temem o
pensamento de São Tomás, porque São Tomás diz, primeiro:
Não há necessidade nenhuma da ‘’incarnacio’’. Apenas se admite a
encarnação ou a união hipostática, porque é a mais alta participação de Deus
com o homem, quer dizer, a nossa mais alta participação seria a presença de
Deus dentro de nós, atuando dentro de nós. Então se um homem pudesse chegar
a este ponto de receber o entendimento divino, dentro dele atuar e ser a sua
forma, seria a mais alta realização em relação a nós, quer dizer, isso não é
impossível, porque quem pode o mais, pode o menos. O Ser Supremo poderia
atuar deste modo.
Portanto, a ‘’incarnacio’’ de Cristo não é uma impossibilidade filosófica,
mas não é, também, uma certeza filosófica de São Tomás, é apenas matéria de
fé, pertence apenas ao campo da religião, porque dentro do campo da filosofia
não se poderá provar, diz ele, apoditicamente que esta seria a única forma do
homem erguer-se e aproximar-se de Deus. Porque a sabedoria, como chamada,
revelação universal, daria ao homem suficiente caminho para chegar a Deus,
porque não se pode negar que outros que não foram cristãos, foram homens de
vida ilibada, exemplos de virtude, de elevação em todos os polos. E foram
homens que realizaram a mais sã vida que se conhece, certo? Temos que
respeitar! Então, isto não é necessário!
Mas por que então se deu? Mistério! A única razão que ele encontrou foi
uma razão dada por Santo Agostinho, que é esta: De que as formas naturais, a
saber, a forma por meio da graça, por meio de uma graça santificante, etc, e a
união hipostática, a mais elevada seria a união hipostática. Então, sendo Deus
um ser infinitamente poderoso e grandioso, ele procurou a fórmula mais
adequada à sua infinitude, à sua grandeza, que é a união hipostática. Mas esse
argumento padece de apoditicidade. É um argumento mais literário, ele não é
suficiente, compreende?
E, dentro da Igreja, as divergências se dão, por exemplo, aqueles que
julgam que a encarnação era necessária, eles têm que partir do princípio de que

[207]
o pecado original do homem seria um pecado infinito, porque, então, sendo um
pecado infinito não poderia o homem, por seus próprios meios, redimir-se deste
pecado, necessitaria de um auxílio para essa redenção. Então, só pela a união
hipostática da divindade com o homem.
Agora, as provas de que esse pecado é infinito, elas se cingem ao seguinte:
o pecado deve ser considerado em relação a quem peca, e a quem é danado pelo
pecado, é perturbado, lesado ou ofendido. Ora, sendo Deus um ser infinito, a
lesão seria infinita, então o pecado seria infinito. Neste caso, seriam pecados
infinitos todos os pecados que nós fizéssemos contra Deus, não é verdade?
Certo?
Mas outros raciocinam que não, a infinitude do pecado não pode existir,
porque o pecado é uma deficiência, é uma falta, é uma queda, e a deficiência
nunca pode ser infinita, porque a deficiência infinita é um nada absoluto. O
deficiente só pode ser relativo, portanto, o pecado só pode ser relativo. Sendo,
portanto, o pecado relativo, limitado, o ser humano, como ser limitado, poderia
por si redimir-se desse pecado.
Agora, o que faltou foi a consciência de onde nascia este pecado, o pecado
original. A Igreja também não sabe explicar bem, só naturalmente na filosofia
que se estuda melhor. E esse pecado original poderia ser explicado de outro
modo, e a redenção do homem não exigiria a presença de Deus, de Cristo. Então,
daí é que surge o seguinte:
Bem, a presença real de Cristo, como divindade, etc, - que o cristianismo
prega - muitos dizem: pode-se ser cristão sem admitir a divindade, quer dizer,
não é da essência do cristianismo a aceitação da divindade de Cristo. O que é da
essência do cristianismo é aceitar a palavra de Cristo. Compreende? É lógico que
a Igreja Católica, que tomou esta posição, não aceita esta outra. Então travam-
se tremendas polêmicas.

Tomás: Como na palavra ‘’ex professor’’ (*Latim ‘’por professor’’), a


palavra de Cristo, pelas Sagradas Escrituras!

Mário: Pelas Sagradas Escrituras, mas aí então dizem: Bom, aí na


Sagrada Escritura é claro que Cristo declara-se filho de Deus, e etc. Mas a
questão é o seguinte:
Nós sabemos que dentro das ordens iniciáticas os homens eram
classificados em três tipos, conforme iniciação: O filho da mulher, era o que
corresponde ao grau de aprendiz, o primeiro grau de ‘’paraskeiê’’ entre os
pitagóricos, o grau de preparação; O filho do homem - que o homem é que tem

[208]
as profissões, que já domina as profissões, e etc - é o companheiro, que é o que
já esteja no período de ‘’cathartisis’’, que é o chamado companheiro na
maçonaria; E o mestre dos mestres, é o filho de Deus, quer dizer, aquele que já
tem, já alcançou a divindade. De maneira que o fato de Cristo chamar-se o ‘’filho
de Deus’’, poderia, também, ele querer dizer nesse sentido, eu sou mestre dos
mestres. Ele era de classificação M∴ M∴. Ele era iniciado nessa classificação.
Naturalmente que é lógico, vocês diriam: ‘’Mário, isso daí é um salto’’. Mas nós
não damos salto, isso apenas pode ser discutido assim.
Agora dirão: Mas Cristo disse o seguinte: ‘’Antes de Abraão ser, eu já era’’.
O que prova que ele era co-eterno com o Pai. Mas em que sentido Cristo era co-
eterno com o Pai? Se Cristo representa a sabedoria, ele não é co-eterno com o
Pai. Antes de Abraão, ele era um homem. Cristo, então, quis dizer: Eu sou a
sabedoria, eu represento a Sabedoria.
Agora, as palavras de Cristo, nós temos que reconhecer que elas são muito
semelhantes às palavras que estão nos livros bíblicos, nos livros da Bíblia
anterior. De maneira que não há, por exemplo, para mim, eu não discuto isso,
eu considero que esta matéria, de se Cristo é Deus, se Cristo a ‘’incarnacio’’,
pertence à religião, especificamente.
Agora, do ponto de vista ecumênico, do ponto de vista universalizante, eu
quero a palavra de Cristo pura e simples, e acho que em torno dela os homens
podem se unir, porque então Cristo representa uma religião da humanidade,
mas há essa outra parte, dos que querem crer, que creiam! Compreende? Por
que é uma possibilidade. Mas eles não vão me provar, não há meios filosóficos
de provar a necessidade disso, porque mesmo se provassem a necessidade disso,
teriam que provar que Deus foi determinado a fazer esse ato, que também seria
ofender a liberdade divina. De maneira que a matéria só pode permanecer no
campo da aceitação meramente de fé. Quem tem fé, que creia, que aceite, o que
não está errado, não está aceitando um absurdo, filosoficamente não é um
absurdo, mas também filosoficamente não é uma verdade, é uma mera verdade
religiosa, compreende?
Então, pode-se aceitar Cristo como a encarnação, como São João expõe,
porque São João expõe Cristo a encarnação de quê? Da sabedoria. Num homem
encarnou-se a sabedoria divina, alcançou àqueles pontos altos, capazes de
indicar o homem. Não que Cristo tivesse a ciência, podia ser que Cristo não
tivesse a ciência, mas continha nele a sabedoria.
Então o que foi? Um homem que recebeu uma graça, pode-se interpretar,
com um homem que recebeu a graça de nele tornar-se, também, nele, carne, mas
isso é simbólico, se tornar carne, essa minha concepção comigo se torna carne,

[209]
osso dos meus ossos, nós nos fundimos tanto numa idéia que ela se torna como
se fosse nós mesmos, então podia-se interpretar deste modo. Isto é uma questão
a ser discutida, isso é uma matéria de teologia religiosa. Agora, dentro da
filosofia, o máximo que se pode chegar é isto: não há impossibilidade da
encarnação de Cristo.
Contudo, o tema da Encarnação, é um tema para mim de máxima
importância, porque há neste tema, ele provoca a abordagem de uma matéria
filosófica importantíssima, que é o problema da assunção. Da assuncepção e da
assunção. Então, consequentemente, o estudo tem que se desenvolver no campo
da assunção e da assuncepção, quer dizer, dos seres susceptíveis de serem
assumidos por um princípio ativo, por um poder ativo que lhes é, de certo modo,
extrínseco e passa a ser a sua forma.
Então, isto é um tema importante, porque hoje é um tema que se
apresenta ante a física, ante a ciência, que não pode resolver o problema das
tensões. E como no meu livro das Tensões, onde eu trato desses temas, dentro
de um terreno puramente filosófico, as tensões, certas tensões, não podem ser
compreendidas sem haver uma assunção, porque, por exemplo, digamos que eu
preparo aqui um esquema elétrico qualquer, como é que se chama um esquema
elétrico? Eu não me lembro.

Aluno: Diagrama?

Mário: Não, não, diagrama é o que descreve... bom, um esquema elétrico,


vamos dizer assim...

Agora, se nesse esquema elétrico, ele tem a lâmpada, a resistência, e etc,


tem isto e tem aquilo, ele está estático. Agora, entrando uma força elétrica, pelos
polos onde ela deve entrar, começa a funcionar tudo aquilo. Então aquela força
elétrica, ela vai assumir a ‘’suscepção’’ daquele esquema, quer dizer, ela vai
funcionar, mas dentro daquele esquema, com as possibilidades daquele
esquema, está certo? Quer dizer, aquele esquema está preparado, aquele
circuito, vamos dizer assim, está preparado de modo a poder pôr-se em ação
desde o momento que penetre a corrente elétrica necessária, do contrário está
estacionário, não está produzindo nada, está certo?
Pois bem, então este problema de que haja certas disposições da matéria,
certas disposições que atingido um determinado número, uma determinada
combinação, ela é assumida por uma forma. Agora, esta forma, ou ela é
intrínseca, é algo que sai, que se forma intrinsecamente na coisa, tem a sua

[210]
origem intrínseca ou se há formas extrínsecas que estão como que à espera de
encontrar o susceptível de recebe-las, e quando o encontram, assumem.
Na física, esse problema se apresentou, sobretudo, do rádio, da televisão,
se apresentou. Eu vi verificando que havia, por exemplo, certas ordens, certas
vibrações que não se materializam propriamente, quer dizer, não realizam
efeitos materiais, por exemplo, ao nosso alcance, porque não encontram a
matéria preparada para ela. Talvez amanhã façamos aparelhos que poderão
pegar as irradiações de 10 anos atrás, de 20 anos atrás, e até de reverter a
História. Quer dizer, tudo isto está esperando o susceptível para que aquilo
assuma.
Então, alguns físicos, realmente entram no terreno da imaginação.
Imaginam uma espécie assim de gênios que estão soltos pela natureza,
aguardando que se prepare a matéria para se tornar susceptível de ser assumida
por ele. Daí, esse problema da assunção passou a ser um problema sério.
Eu não publiquei até hoje a ‘’Teoria Geral das Tensões’’, porque eu ainda
não pude resolver plenamente esse problema, como a meu gosto. Eu resolvi
todos os outros problemas da tensão, mas não pude resolver este. Enquanto eu
não resolver este, que eu estou quase achando a solução - eu tenho a impressão
que se eu começar a escrever, ele sai espontaneamente -, só num dia que eu
pegar o livro e começar a corrigir, para publica-lo definitivamente, vai vir a
solução deste tema final, porque as soluções dos problemas me surgem, muitas
vezes, na hora que eu estou as fazendo.

Tomás: Mas qual é o problema?

Mário: O da assunção e da assuncepção!

Tomás: Mas especificamente, o quanto falta aí para o senhor?

Mário: É como explicar estes poderes que estão soltos, três materiais, ou
imateriais, que vão receber a matéria, porque se sabe que a matéria tem que se
dispor de maneira a recebe-los. Então, como se dá isso? Como se processa isso?
Porque até onde se sabe? A visão moderna, até mesmo na psicologia, onde
se falou nas concepções modernas da física, os físicos já ultrapassaram a
concepção da matéria, da imateria, agora estão na transmateria – o que
ultrapassa a matéria -, quer dizer, já estamos em outros campos. Hoje, a teoria,
por exemplo, da matéria, é a teoria ‘’campica’’, a matéria é compreendida apenas
dentro de um campo, de um determinado campo de vibrações se apresenta para

[211]
nós extensa ou intensa etc. Quer dizer, a matéria vai desaparecer, como uma
espécie, porque ela é uma substância incompleta. Como ela era para Aristóteles,
ela vai sendo para a física cada vez mais uma substância incompleta, e que ela
apenas nada mais é do que a potência, é o ato enquanto apto a receber novas
formas. Então a matéria vai ser isto. Vamos cair num atualismo, no futuro, mais
amplo.
Mas o ato, enquanto apto a receber determinações formais, ele passa a ser
matéria daquela determinação formal. Então a idéia de matéria vai se
desaparecer, já está praticamente fora da física. A matéria sensível, a matéria
dos materialistas do século XIX, já não tem mais nada que ver com a física. A
física moderna não estuda mais a matéria
Agora, as últimas descobertas, desses últimos anos, há uma publicação de
uma obra agora feita na Alemanha sobre este assunto, muito interessante, eu
estou lendo, e fala sobre isso, e fala sobre as pesquisas em torno da transmatéria
e o que eles chegaram foi a descobertas extraordinárias, sobretudo, no campo,
também, no campo da biologia, na biologia tem coisas fabulosas.

Tomás: Professor, o George Gurvitch, na sociologia, ele diz assim: ‘’que


existem fatos sociais que são descontínuos, quer dizer, eles acontecem de uma
forma imprevista, e que, por isso, toda a sociologia tradicional tem falhado na
explicação dos acontecimentos atuais que estavam numa sucessão história
perfeitamente definida’’. Então ele quer dizer, mais ou menos assim: que
existem fluídos sociais, que num determinado instante fazem com que aquela
forma social ocorra, quer dizer, nasça.

Mário: Quer dizer, dada uma certa disposição dos elementos


componentes dentro do grupo social, então o grupo toma uma unidade, o grupo
forma uma tensão.

Tomás: Forma uma tensão! Esta questão tem característica singulares!

Mário: É isto que eu estou estudando! Mas na sociologia é fácil resolver


o problema, porque ela precisamente é uma idéia, que ela pode ser dada por um
termo comum, que aquele grupo subitamente encontra um termo comum, então
ele forma uma unidade, põem-se a persistir, a ter mais consistência, a ter
perduração, e etc. Mas quando se trata na física, nós necessitamos de um poder
ativo! Aí é o poder ativo de uma idéia que faz parte, digamos, do contexto
psicológico dos seres humanos que se reuniram naquela condição, quer dizer, a

[212]
explicação pode caber à psicologia. Quer dizer, aí a assunção, dentro do campo
da psicologia é mais fácil de explicar. Mas no caso da física é difícil, porque nós
temos que admitir que é um poder ativo, uma espécie de alma perdida, que
encontra aquele corpo, então aí o corpo começa a ter uma ação, uma atividade
que não lhe era própria, como se fosse um poder que se lhe juntasse. Por que nos
exames físicos, feito pelo o Einstein no fim da vida, Einstein chegou a isso. Ele,
junto com aqueles pesquisadores lá nos Estados Unidos, ele chegou a esta
conclusão. Eu tenho uns trabalhos dele que até não foram divulgados,
popularizados, porque ele chegou a esta conclusão, temos que resolver este
problema, que era o problema da tensão.

Tomás: E a Alquimia?

Mário: A Alquimia buscava isto. A Alquimia precisamente buscava isto!


Na química se dá este fenômeno. Na química nós não podemos compreender
como seres díspares, que tem propriedades completamente estranhas,
subitamente eles formam uma combinação numérica e se apresentam com
propriedades e com aspectos acidentais completamente distintos. Nós vemos,
por exemplo, tanto o hidrogênio quanto o oxigênio isoladamente são
combustíveis, são inflamáveis, e a água pelo o contrário, quer dizer, a água vai
apresentar uma série de propriedades que não tem o hidrogênio e o oxigênio. O
hidrogênio e o oxigênio permanecem gases, dentro do nosso ambiente
circunstancial, eles não podem permanecer líquidos, eles têm uma série de
aspectos, uma série de propriedades, que a água é distinta, embora tenham
muitas propriedades, por exemplo, o oxigênio, que a água também tem, por
exemplo, a capacidade de limpar, de higienizar, que é próprio do oxigênio, mas
modificado, quer dizer, que a água é especificamente outra coisa que o
hidrogênio e o oxigênio, e como explicar isto? Esta tensão que a água faz, que a
água mantém, que a água conserva, que a água conserva nas suas gotículas a sua
tensão, a sua fórmula molecular, porque a água é molecular, ela não é atômica,
ela é um elemento molecular. Então ela mantém as suas moléculas com perfeita
conservação. Este princípio de conservação que agora vem aquele termo
importante que nós tratamos, que o senhor tratou.
Que vai significar que toda a natureza existe a presença de duas leis! Uma
lei de conservação do ser, e uma lei de ampliação, de expansão, e de apossar-se,
de dominar o exterior, que é aquela agressividade de que o senhor falou. O
senhor não falou aí, agora a pouco sobre isso? Que ao mesmo tempo que há um
amor no homem, há ao mesmo tempo uma luta, um ódio. Daí então, o que eu

[213]
queria dizer, as duas leis supremas que regem o nosso universo eram o amor e o
ódio, que não se pode compreender como o amor em sentido psicológico, e nem
o ódio como no sentido psicológico, mas quer dizer, uma lei de atração, de
conjunção, de coordenação, de unificação, e uma lei de oposição.
Agora, ainda há mais, desta tendência a conservar-se, o ser tende a ser
agressivo para com o meio ambiente, sempre em determinadas circunstâncias
que ponham em risco a sua própria defesa. Essa agressividade vai crescer
naturalmente no ser à proporção que ele cresce na sua heterogeneidade de
função. Então, no ser vivo, é muito maior, e quando chega no animal, então, é
completa, porque é a maior agressividade que nós conhecemos.
Agora, isso é que se colocou o problema da paz e da guerra, que eu já citei
aqui, um autor, que em certa ocasião escreveu um livro em defesa da paz, ele
chamava: ‘’A Paz’’. Ele procurou todas as razões para pôr ao lado da paz, mas
dialético, ele era, porque já se torna dialético o problema [...]

[Fim do Áudio]

[214]
VIII - Sociologia e Metodologia Científica

Nós queremos com a dialética dar uma metodologia capaz de ser


aproveitada para toda e qualquer ciência e permitir as novas teorizações. Então
nós podemos construir uma sociologia eterna, pura, como se poderia dizer numa
linguagem mais comum. Descobrindo as leis que regem o fato sociológico.
Agora, é muito fácil, nós agora tomemos um outro exemplo:
Vamos ver que nós temos um grupo social e se nós observarmos o aspecto,
o seguinte: Que esse grupo social tem um aspecto acidental, forma-se um grupo
social A. Nós vemos a repetição deste grupo A: A1, A2, A3, A4 e assim
sucessivamente. Então nós notamos que nesse grupo social, o que é comum, não
é o ‘’Logos’’ analogante, mas é a presença de uma acidentalidade qualquer.
Por exemplo, os assaltantes de São Paulo, observados em São Paulo, os
grupos de assaltantes conhecidos que nós conseguimos examinar, que se
organizam em grupos, são compostos de rapazes de 16 à 18 anos. Seria um erro
teórico concluir, teoricamente, que os grupos de assaltantes são sempre
compostos de 16 à 18 anos, aqui não há indução, por uma razão muito simples.
Por que a idade aqui não os dá absolutamente – é um aspecto acidental, que
pode se repetir. Pode não se encontrar, mas poderíamos encontrar um grupo de
assaltantes de 45 à 50 anos, é possível, porque é um acidente, não é da essência,
não é ‘’per se’’, não é algo que decorre ‘’per se’’. Ninguém vai fazer uma fila de
[215]
ônibus se não tiver a intenção de usar o ônibus, só que ele seja doido, vai lá e faz
a fila, só pelo prazer de fazer fila. Então este elemento que está fazendo fila, ele
está apenas representando como um elemento do grupo, quando na realidade
ele não está no grupo, embora ele esteja fisicamente na fila. Ele não está no
grupo, porque a intencionalidade dele não é usar, ele faz a fila, depois vai servir
de lugar para os outros por prazer de fazer fila, um sujeito que tem a mania de
fazer fila, mas enfim, ele não faz parte desse grupo social. Não é verdade? Por
quê? Porque o que nós exigimos nesse grupo social é essencial a ele, encontrando
o ‘’Logos’’ analogante nós encontramos o essencial.
Ora, toda a teorização, para vocês verem, todas que caíram, que não
resistiram, foram as que se fizeram em bases fundadas em acidentes que podem
não se repetir. É o caso, por exemplo, de um inquérito que foram fazer aqui
numa região, a minha filha foi tomar parte desse inquérito, e o professor de
sociologia deu esse inquérito. Eu vi todo o inquérito, e eu disse: Esse é o tipo do
inquérito imbecil, porque é um inquérito minha filha - eu queria que ela fosse,
ela tinha que ir, porque a faculdade exigia, né-. Eu disse: Esse inquérito só faz
perguntas sobre aspectos acidentais. Nós não podemos concluir, por exemplo,
digamos que nós fazemos um levantamento agora da frequência dos
restaurantes de São Paulo, em fim de semana. E fazemos um levantamento, e dá
uma porcentagem. Bom, então digamos que durante o mês de junho, deu-nos
uma porcentagem de sábados e domingos frequências em restaurantes de,
digamos, superior a um dia de semana, um dia de semana dá, por exemplo, a
frequência de 40, dá 60 nos fins de semana. Então nós podemos concluir: bom,
existe esta maior frequência. Mas nós não podemos concluir para o futuro que
isto vai continuar assim. Pode? Mas o senhor pode concluir para o futuro que as
filas de ônibus serão para ser usado o ônibus, a não ser que não tenha outro
modo. Tá certo? Não pode. É que não pode teorizar. Isso poderá ser
consequência, por exemplo, de uma situação econômica mais favorável que as
pessoas possam gastar no fim de semana, para a dona de casa ficar um pouco
livre do trabalho caseiro, o marido leve-a para um restaurante, mas numa
retração, por exemplo, econômica, o marido diz: olha, não é possível, agora nós
temos que comer mesmo em casa, que sai muito mais barato etc. Então pode
cair aquela percentagem, de modo que esses levantamentos não têm valor
nenhum, e se fizeram, gastaram-se milhões a fazerem inquéritos para...
(O Áudio termina nessa reflexão e começa novamente)
Como eu não posso compreender um filósofo especialista, porque
considero ‘’contradictio in adjecto’’, porque um filósofo especialista não é
filósofo, nós temos que ser universalista. Eu também estou chegando à

[216]
conclusão que não pode haver um cientista também especialista. Ele não pode
ser um cientista no verdadeiro sentido da palavra. Ele pode ser um auxiliar de
cientista. É um elemento que traz dados para o cientista. Um médico, por
exemplo, como é que um médico pode se especializar - ele pode se especializar,
eu admito que ele se especialize - mas como é que ele pode perder o contato com
o restante da medicina? Não pode, ele tem que conhecer todo o funcionamento,
de tudo quanto no homem influi, porque, por exemplo, nós vemos, por exemplo,
um caso muito simples. Nós temos um exemplo que eu vou dizer: hoje foi
publicado uma nota oficial por um Instituto de Pesquisas de São Paulo no qual
diz que feita a observação do ipê roxo em 20 cobaias portadoras de câncer, elas
não se curaram, portanto, o ipê roxo não tem capacidade para curar o câncer.
Bom, ora, esta simples afirmação é lógica e dialeticamente falsa, já começa por
aí. Agora, eu pergunto o seguinte: Há pessoas que tomando o ipê roxo sentiram
melhoras e o seu câncer desapareceu. Não desapareceram naquelas 20 cobaias,
mas desapareceram em muitas pessoas, são fatos evidenciados. Agora, como é
que eu posso tirar a conclusão baseado no exame de 20 cobaias, pelo o fato de
não terem sido estas 20 cobaias curadas de câncer, que o ipê roxo não possa
curar o câncer? Qual é a razão? Onde está o nexo de necessidade aqui? Pode ser
um acidente, talvez fizesse mais 40 cobaias, as outras 20 ou as outras 10 se
curassem. Há o caso, por exemplo, excepcional, da experiência de Pasteur,
aquela famosa experiência da vacina de Pasteur, quando ele fez com as ovelhas.
Aquela experiência, quando o Pasteur fez, deu resultado, as suas ovelhas não
morreram, mas nunca mais se repetiu. Nunca mais se conseguiu fazer a mesma
experiência dando certo, dando o mesmo tipo de vacina - hoje tem outras
vacinas -, mas o tipo de vacina que deu Pasteur, depois feita a experiência, as
ovelhas, junto com ovelhas sofrendo de carbúnculo, não se repetiu. Mas aquele
fato insólito firmou a posição de Pasteur, e Pasteur pôde levar avante as suas
investigações e fez com que a classe médica recuasse e ele chegou a descumprir.
Não se sabe explicar, não se sabe explicar! Pode haver até uma explicação
religiosa, pode até querer se dar uma explicação religiosa. Pasteur teve qualquer
assistência, qualquer auxílio naquele instante, porque era fundamental para o
desenvolvimento da medicina aquela experiência. Mas ela, cientificamente, não
se repetiu.
Agora, não se pode, por exemplo, estabelecer que eu tenha uma cobaia
portadora de câncer, não sei de que grau está este câncer. E dou-lhe o ipê roxo,
não sei que dose também lhe dou. Não sei qual foi o critério na dose, e essas 20
cobaias não curaram do câncer, como eu posso concluir já de antemão que o ipê
roxo não tenha papel nenhum curativo no câncer para os seres humanos? E

[217]
depois não sabemos as doses, como vamos saber? E mesmo que tivesse dado a
dose A, B ou C, ou D, não será na dose E que vai curar? Não sabemos, quer dizer,
estas conclusões precipitadas são terríveis, mas fazem bastante estrago. Nisto eu
vejo que há outras intenções, eu sei que há outras intenções, é lógico. Que o
negócio do câncer é um grande negócio, não interessa ipê roxo curar câncer,
porque prejudica muitos interesses sagrados. Mas as conclusões são tiradas
precipitadas, a teorização feita precipitada é que dá esse resultado. Como se fez
numa teorização referente à poliomielite. O caminho é este: É pelo sangue. A
infecção se dá no sangue, pronto. Toda a pesquisa tinha que ser feita no sangue.
Veio o Salk (*Jonas Edward Salk), primeiro, que fez a pesquisa. Ele foi lá para
trabalhar na pesquisa da poliomielite. A senhora que dirigia o Laboratório,
disse:
Senhora: O senhor Salk, o senhor pode pesquisar. O que é que o senhor
pretende fazer?
Salk: Bom, eu vou pesquisar por contágio pela pele, no intestino, ou pela
alimentação.
Senhora: Não, não adianta o senhor fazer essas pesquisas, porque tudo
isso já está superado. E é só deste campo que o senhor tem que fazer.
Salk: Bem, mas quando eu fui contratado, eu fui contratado por um
critério de ter liberdade de pesquisar. A senhora vai me dar licença de eu
pesquisa ao meu modo.
Senhora: Mas o senhor vai perder o seu tempo!
Salk: Mas eu quero pesquisar por esse outro caminho, esse caminho
abandonado.
Então, porque ela era mais num aspecto de burocracia, disse: bom, então
o senhor faz o quiser, para não se incomodar, para não se aborrecer. Então ele
foi por um caminho considerado indevido, e achou a solução! O que prova então
que a teorização sobre a poliomielite tinha sido precipitada. Nós não estamos
ainda estudando a função da dialética nas teorias cientifica, nós vamos estudar
mais adiante. Então vamos ver como se deve teorizar, como é que se vai teorizar,
como é que se vão colocar os fatos, e até onde nos cabe a teorização, e onde não
nos cabe, onde nós apenas podemos estabelecer leis estatísticas - note-se bem -
porque onde houver a teorização perfeita não há leis estatísticas, há leis
incomutáveis, mas leis estatísticas que podem, portanto, sofrer modificações,
podem sofrer percentagens, de aumento ou diminuição. Mas nós vamos verificar
sempre que se trata de quando se observa sobre os aspectos acidentais que
podem modificar-se.

[218]
Ora, se nós chegássemos a partir do ponto de vista com a colocação do povo
brasileiro, para provar a sua inaptidão, por exemplo, à sociedade moderna, que
é uma sociedade industrializada, que este povo não tem possibilidade de passar
do estágio em que ele está, primitivo, de um agrarismo ainda bem recuado, para
uma sociedade industrializada. Nós não podemos nos basear nos aspectos
acidentais dessa dificuldade. Teríamos que nos basear em impossibilidades com
fundamento ‘’per se’, e não ‘’per accidens’’. Então teríamos que encontrar no ser
brasileiro, no constituinte do brasileiro, na essência do brasileiro, algo
incompatível com a sociedade industrial, e isto não há. Então não podemos
teorizar que o brasileiro não possa alcançar uma sociedade industrializada
moderna. Ele pode, e mais rápido do que outros povos. Aliás, nós estávamos
tratando disso antes dos alunos chegar. Nós estávamos tratando deste ponto.
Por que o brasileiro oferece uma série de possibilidades, que postas em ação, o
facilitarão a dar saltos que outros povos não darão senão através de longas e
longas séries de gerações. E como o progresso que está se dando no mundo
chamado super desenvolvido. Que está fundado na esquemática dos homens
destes países, segue agora uma progressão geométrica, então a diferenciação
dele para os povos subdesenvolvidos aumenta constantemente, mas aumenta
não por uma questão de ordem política, aumenta por uma questão de ordem
sociológico psicossocial, e etc. Se nós não fizermos uma revolução neste aspecto
nestes povos eles não poderão sair dos seus estágios, eles não poderão alcançar.
Por isso que eu digo, no Brasil atualmente, o nosso problema é um
problema de elite, e as elites que nós temos e as elites que estão nos guiando, são
elites que seguem uma visão completamente falsa da nossa verdadeira realidade,
e elas não estão nos auxiliando, eis porque eu tenho que me pôr em oposição a
eles. Porque eu percebo os aspectos positivos do povo brasileiro e a face de
atualização, não digo em todo o povo, mas pelo menos através de uma, duas
gerações, nós podemos perfeitamente adaptar o nosso povo para uma sociedade
super industrializada, porque nós notamos, por exemplo, o Nordeste oferece
uma grande dificuldade para a industrialização, em relação, por exemplo, ao sul,
onde tem a presença mais do europeu, mais de uma cultura europeia, de homens
que já vêm de uma sociedade industrializada. Não tenho dúvida. Não há dúvida.
Tanto que toda essa experiência que está se fazendo no Nordeste pode redundar
numa catástrofe terrível. Eu tenho pavor de pensar no que pode acontecer.
Porquê? Porque não se transforma onde há a presença de raças que não tenham
uma tradição industrial, para adaptar-se a uma sociedade complexa e industrial,
de uma economia tão complexa como a nossa, que nós já podemos viver aqui.
Então o Nordeste necessitaria de uma preparação, o trabalho da Sudene (*

[219]
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), no início, teria que ser
preparatório, onde eu me opus desde o início ao plano do sr. Celso Furtado. O
Celso Furtado não considerou o aspecto étnico e histórico.
Aluno: É uma mudança de atitude, né?
Mário: Agora eu considero, no caso do brasileiro, que nós temos que
trabalhar pela formação de uma elite. Uma nova elite, com uma outra
mentalidade, e não esta que está aí. Essa tem que combater.
Por hoje, então, terminamos.

[Fim do Áudio]

[220]
IX - Sobre a Existência de Apenas uma Filosofia

Mário: Vamos gravar agora uma palestra pronunciada no dia 24 de abril


de 1967, no Convivium.

Senhora: A prosseguir-se há uma resposta dada a uma pergunta feita por


um dos alunos, a respeito se existia só uma filosofia.

Mário: Não há uma única, só há a filosofia, porque a filosofia, como já


definiu muito bem Pitágoras, continua com a sua velha definição, ela nada mais
é do que o amor a sabedoria. E o que era a sabedoria, era o supremo
conhecimento, que está expresso no livro da ‘’Sabedoria’’, nos livros sapienciais
da bíblia, que pode ser lido, sobretudo, no ‘’Eclesiastes’’, no livro da ‘’Sabedoria’’
e no ‘’Eclesiástico’’. Esta sabedoria que o homem pode alcançar é a fama de
muitos e estes que então se afamam por alcançar a sabedoria são os filósofos.

(Pergunta inaudível de uma aluna)

Mário: Mas Pitágoras teve o cuidado de logo perceber, sobretudo, que


haviam de se seguir a diversos caminhos, então ele aconselhou um caminho,
numa aula em que ele dava de geometria, em que ele fazia a demonstração de
um teorema, ele disse para os alunos:
Eis como se deve fazer a filosofia: “a more geométrico”, também com
demonstrações rigorosas e apodíticas. Se nós procedermos assim a filosofia não
será motivo de divergências humanas, mas de aproximação.
[221]
A matemática não tem divergências! Existe divergências, pode haver na
parte da aplicação, na parte prática. É lógico que não pode atingir a perfeição
incomutável. O triângulo, na sua incomutabilidade, nenhuma coisa poderá
realizar o triângulo perfeito, será sempre incompatível, e sabemos o motivo,
sabe-se que Pitágoras dizia isso!
Agora, o que há é necessidade é de dar à filosofia este sentido, se a filosofia
for construída assim é uma só, então nós encontramos uma filosofia perene, uma
filosofia positiva e perene, que vem através dos séculos, através dos milênios.
Filosofia que vem vindo através dos gregos, através dos pitagóricos, socráticos,
platônicos, aristotélicos, através da escolástica, através dos grandes árabes, vêm
vindo até nós. Agora que se está entrando numa fase de dissolução, de confusão,
porque a filosofia está invadida por estetas e o espírito do esteta, o espírito
romântico, sobretudo, o esteta, é destrutivo, então ele acha que a filosofia é uma
questão subjetiva, pessoal, até na ciência há subjetividade. Vocês não veem o
sucesso que teve o Heidegger, aliás, o Heisenberg, que trata a ciência como se
fosse explicações subjetivas, não tem nenhum fundamento científico, mas
impressiona, impressiona muita gente e muitos cientistas.
É esta época, a nossa luta é voltar outra vez àquela estrada real, aquela
estrada real que é nossa, é nossa, porque não podemos tira-la por janela à fora,
é patrimônio da humanidade. Diriam: ‘’Patrimônio é por que ‘’ah... é a
escolástica’’, ah... a Igreja Católica, mas ‘’eu não gosto da Igreja Católica’’, mas
não tem nada a ver uma coisa com a outra. Eu não sou maometano, mas eu não
deixo de ler o meu Averrois, o meu Avicena e os grandes Árabes, porque neles se
encontra um pensamento firme, seguro, demonstrado e apodítico.
Ora, a filosofia não é ‘’filodoxia’’, filosofia não é o campo dos palpites, não
é o campo das opiniões, na filosofia não há lugar para opinião. Quando na
filosofia se diz “qual é a sua opinião”, já não se está mais fazendo filosofia, está
se fazendo filo-doxia, ‘’doxa’’. Filosofia tem que se demonstrar-se, se não se pode
demonstrar-se então fica em suspenso, continua-se investigando até que se
chegue a uma demonstração rigorosa. Agora, não vai a senhora encontrar uma
explicação apodítica de fatos contingentes, não vai, querer reduzir, por exemplo,
os fatos da ciência à um sentido especulativo e raciocínios apodíticos absolutos,
não vai conseguir, serão sempre prováveis e este é o campo da probabilidade da
ciência, por exemplo: É provavelmente que vai acontecer daquela pedra solta vai
cair, tem muitas probabilidades, mas pode não cair também, porque não há
nenhuma necessidade absoluta de que ela caia.
Chamamos a nossa filosofia de filosofia concreta, porque ela é uma
filosofia positiva que busca concrecionar os aspectos positivos de todo o
filosofar, e nós tudo o que nós expomos, expomos demonstrando
apoditicamente e o mais possível evitando o termo-médio, quer dizer, evitando
o raciocínio de caráter de razão, que o raciocínio de razão é o raciocínio
propriamente racional, que é o da ciência, que é precisamente aquele que usa o
termo-médio, nós procuramos evitar o mais possível, embora nem sempre seja
possível evitar. Agora, num minuto que não seja possa evitar, então é que nós já
deixamos a questão aberta, a investigação e etc.
O existencialismo não colocou - porque há inúmeras maneiras de colocar
mal o problema da existência - e por isso, e como a época eles colocavam mal os
problemas, eles estão na sua (áudio inaudível).
[222]
Então ele teve um certo sucesso, como teve o comportalismo do século
passado, como teve também o ateísmo e outras doutrinas também fizeram isso,
mas que hoje ninguém sabe nem do que se trata.
Eu não deixo de reconhecer no existencialismo os aspectos positivos,
porque eles têm. Nós teremos que chegar a uma conclusão na filosofia de que
toda a existência é singular, nós não temos uma existência universal, o universal
não existe. De maneira que a existência é um dos componentes perspectivos de
qualquer ser, é um ‘’algo’’ de qualquer ser na sua existência. Mas o
existencialismo não se preocupou propriamente com esse problema da
existência das coisas, mas sim com o problema da existência do homem em suas
colocações.

Agora, há uma pergunta aqui:

‘’Se a filosofia engajada na realidade brasileira é possível?

Bem, essa questão de uma ‘’filosofia engajada’’ é uma expressão muito


moderna, que tem muitos sentidos, e eu gostaria que a pessoa que fez a pergunta
me dissesse em que sentido que ela dá a uma filosofia engajada, porque se é uma
filosofia...

(A espectadora que fez a pergunta esclarece qual é o sentido que ela


perguntou, mas essa parte do Áudio é inaudível)

Mário: Em primeiro lugar eu vou dizer a senhora uma coisa que a gente
concorde. Na verdade, não há uma filosofia, só há a filosofia. As divergências
humanas que surgem, surgem, porque não se estuda devidamente a filosofia,
porque se nós partirmos de um princípio fundamental da filosofia que é este: ‘’A
verdadeira autoridade na filosofia é a demonstração’’. Não há um erro que seja.
E a demonstração deve ser a mais rigorosa possível, consequentemente, a
demonstração apodítica, isto é, um juízo necessário, um juízo ‘’per se’’, um juízo
válido em si mesmo, um juízo que expande a sua verdade por si mesmo. Se nós
estabelecermos este juízo, e nós os procurarmos...
Sob duas racionalidades, sob esses dois aspectos que possuem o homem
e que não possuem os outros animais que nós conhecemos, são estas: É que o
homem dispõe de uma vontade e de um controle. Uma vontade que lhe permite
deliberar e escolher sob futuras contingências, ele pode acertar ou errar, ou se
indispor, porque ele sempre busca aquilo que é o seu bem, isto é, aquilo que é o
conveniente à sua natureza. A natureza do homem considerada na sua
estaticidade, na sua dinamicidade, isto é, no desenvolvimento das suas
possibilidades que vão se atualizando e também na sua singulaticidade, isto é,
nas suas correlações e inter-atuações com os seus semelhantes dentro da vida
social.
E ‘’bem’’ é, portanto, tudo aquilo que é conveniente a essa natureza. A
vontade tende para o bem, mas nós, atendendo para o bem, podemos errar,
podemos escolher mal o bem, não sabemos escolher entre o bem e o mal,
escolhendo muitas vezes um bem menor, por um bem maior ou escolhendo um
[223]
mal por um bem legítimo para nós. Este é o nosso pecado original, o pecado da
espécie humana, o pecado no qual todos nós nascemos, pecado que na alegoria
da Gênese é apresentado pela desobediência, do ato de Adão e Eva, por referir-
se a uma desobediência, porque o ser humano é o único ser que pode dizer
‘’Não’’, porque os animais não dizem ‘’Não’’, os animais apenas seguem os seus
instintos, ocupam-se daquilo que é necessário para a sua existência. Os seus
instintos são suficientes para lhes indicar o que é conveniente para a sua
natureza. Para o ser humano não, o ser humano é um ser desprovido de
instintos, é um ser humano que precisa analisar, cogitar, escolher, verificar e
consequentemente ele pode errar, por isso, ele vai comer do fruto da árvore da
ciência, que é um árvore do saber, que ele dispõe, que ele está sujeito à
alucinações, a possível desobedecer, porque ele desobedece à própria natureza,
porque nós mesmos perdemos os nossos instintos, logo que nascemos, os nossos
instintos perfeitos, mesmo porque nós não temos uma pedagogia que saiba
aproveitar a nossa instintividade.

[Fim do Áudio]

[224]
X- Da Abstração e Metafísica

Mário: A próxima pergunta que temos aqui à mão é a seguinte:

‘’Se a abstração como Aristóteles estudou é ou não o fundamento da


Metafísica?’’

Bom, Aristóteles estudou a abstração e atribuiu-lhe diversos graus. Esses


graus foram depois estudados melhor pelos escolásticos e foram caracterizados
em três graus abstrativos, três graus do intelecto, da parte intelectual do homem.

Esses três graus são estabelecidos da seguinte maneira:

O primeiro grau de abstração do intelecto é quando é tomado o objeto


abstraído da mera singularidade. Assim, por exemplo, tomado um corpo,
abstrai-se das suas propriedades, abstrai-se dos seus acidentes e vai-se
considerá-lo na sua generalidade, na sua universalidade. Como é, por exemplo,
a abstração de primeiro grau, que é assim, como a abstração de casa, a abstração
de árvore, a abstração de homem etc.
As abstrações de segundo grau são aquelas em que a mente, além de
abstrair a matéria, abstrai também as propriedades sensíveis, mas mantém e
conserva apenas a extensão das coisas sob o seu aspecto contínuo ou discreto: o
aspecto quantitativo. Essas abstrações de segundo grau são precisamente as
abstrações da Matemática. A ‘’contínua’’ nos dá as figuras geométricas e a
‘’discreta’’ nos dá a parte dos números.
[225]
O terceiro grau de abstração é aquele que, além de abstrair toda a matéria
singular e sensível e também inteligível, vai-se tomar apenas o objeto nos seus
aspectos mais universais, que são as abstrações de terceiro grau, como são, por
exemplo, as categorias: uma é a categoria da quantidade, outra a da substância,
categoria de causa, de efeito etc. Estas são as abstrações de terceiro grau.
Precisamente as abstrações de primeiro grau pertencem ao campo da
Ciência, as abstrações de segundo grau pertencem ao campo da Matemática e as
abstrações de terceiro grau pertencem ao campo da Metafísica. De forma que,
para Aristóteles, a Metafísica era fundada nas abstrações de terceiro grau, quer
dizer, ela funcionava com as abstrações de terceiro grau.
Quanto à justificação dessa gama abstrativa, Aristóteles não precisava nada
mais do que partir da própria experiência humana, porque [pela] experiência
humana realmente o homem é apto a realizar esses graus de abstração - a nossa
linguagem também nos revela -, quer dizer, ele se fundava nalguma coisa real e
era esse o sentido [com] que ele procurava se cuidar na Metafísica, que a
Metafísica tivesse suas bases na própria realidade do homem, ela não
trabalharia com entes ficcionais, mas com entes que tinham um fundamento
real, como tem um ente de razão como causa, um ente de razão substância, que
são entes de razão, mas que têm um fundamento real nas coisas. Esse era o
sentido da metafísica aristotélica.
Quanto a esse fundamento real, quanto a essa justificação, é matéria
especial que tem tido uma grande controvérsia em torno dela, mas nós podemos
apenas dizer que mesmo aqueles que procuram detratar a abstração aristotélica,
eles procedem do modo aristotélico, eles também fazem as abstrações,
raciocinam com elas, trabalham com elas e não podem também pensar nem
realizar nenhuma crítica sem usá-las, porque elas são bem fundadas, são
fundadas no próprio desenvolvimento da ação intelectual humana, que mesmo
aqueles que combatem, assim procedem.
É o exemplo da gota d’água, que eu dou, numa folha. A gota d’água pode
ser olhada como uma mera gota d’água. Mas ela também pode ser olhada apenas
como uma gota, ela também pode ser olhada como um corpo, ela pode ser olhada
como um objeto sensível, ela pode ser olhada sob muitíssimos aspectos
específicos. Na ordem desses aspectos específicos, nós veremos que alguns são
aqueles que estão mais ligados aos objetos da nossa experiência e outros vão
pondo de lado, vão afastando, vão abstraindo determinados aspectos para se
considerar sob um aspecto de grau mais elevado. Assim, por exemplo, o conceito
de corpo já é um conceito de terceiro grau, já é um conceito metafísico, enquanto
que o conceito de gota d’água, por exemplo, já seria de primeiro grau, porque o
corpo enquanto corpo não tem um representante corpo, tem corpos que são
especificamente distintos. O corpo é alguma coisa que nós abstraímos dos
diversos seres que nós chamamos corpos.
Quer dizer, a Metafísica de Aristóteles é uma metafísica bem fundada,
inclusive para aqueles que a combatem. Agora, por que a combatem? Porque a
desconhecem. Porque eles julgam que a Metafísica de Aristóteles não é isso que
eu estou dizendo. Eles julgam que a Metafísica de Aristóteles é construída sobre
entes ficcionais, entes de imaginação, coisas que o ser humano cria, mitos! Mas
não é isso. Aristóteles nunca defendeu isso. Se eles lessem e estudassem
[226]
Aristóteles, eles compreenderiam.
Agora, não se admirem de eu dizer uma coisa dessas, porque há grandes
filósofos, grandes mentes que nunca leram Aristóteles. Por exemplo, Kant nunca
leu Aristóteles. Descartes não conhecia Aristóteles.
De maneira que é suficiente esses exemplos para mostrar que não é de
admirar que alguns modernos também não o conheçam e que criem então uma
concepção completamente fora da verdadeira realidade do pensamento
Aristotélico.

Bem, eu creio que satisfiz àquela pergunta, vamos agora ver outras.

[Fim do Áudio]

[227]
XI. O Fundamento do Ser e a Causa Final

A pergunta que me resta responder agora é em relação à causa final.


Essa eu já tratei mais aprofundadamente em outros trabalhos meus e,
sobretudo, na ‘’mathesis’’. Agora, o que eu poderia dizer no caso em questão,
para responder mais especificamente à pergunta que me foi feita é o seguinte:

Já que a pergunta cingi-se a saber ‘’qual é o verdadeiro fundamento da


causa afinal’’, poderíamos dizer o seguinte:

O ‘’ser’’, a idéia que nós possamos ter de ‘’ser’’, não só psicologicamente,


mas como ontologicamente, a razão de ser, o logos do ‘’outros’’, do ‘’on’’, o
logos do ser enquanto ser, aqui tomado substantivamente ou tomado,
também, como verbo, só pode ser ‘’afirmação’’, ‘’positividade’’ e ‘’perduração’’.
É uma afirmação positiva, consequentemente que se põe, e que perdura, que
tem uma duração, que permanece no seu próprio ser. Porque se o ser não
tivesse nenhuma duração, ele seria nada.
Ora, durar, em si mesmo, já se vê que é um tender, para si mesmo. O
ser é algo que tende, também, para si mesmo. É esta afirmação, esta
positividade que tende para si mesmo. Esse ‘’tender’’ para si mesmo. Este é o
‘’para quê’’ da sua afirmação, porque a sua afirmação tem um ‘’para quê’’ que
é positivar-se e durar-se em si mesmo, que é a sua finalidade intrínseca.
De maneira que a finalidade intrínseca de um ser, ela constitui, em
tudo quanto revela-se, em tudo quanto afirma a sua positividade e a sua
perduração, como podemos traduzir, também, por outros termos como
conservação do ser, etc.
[228]
Então, consequentemente, compreende-se a sua preferência, para tudo
quanto convém à essa perduração. E daí ser-lhe bom, porque é um bem, tudo
quanto é conveniente a essa perdurar, a esse ser enquanto ele perdura. E como
naturalmente esse ser, não é apenas um ser tomado estaticamente, porque ele
também tem a sua dinâmicidade, ele tem a sua cinematicidade, as suas
relações com o outro, como nós já vimos. Estes fins vão manifestar-se de
diversas maneiras, no seu tender dos seus atos, segundo as diversas figuras,
digamos assim, da estaticidade, da dinamicidade e da cinematicidade, que
aparecem como finalidades distintas, mas que na realidade são ainda
manifestações do mesmo ímpeto que tem o ser, a mesma ‘’oréxis’’ do próprio
ser em afirmar-se a si mesmo, o seu próprio amor, o amor de si mesmo que é
sua própria duração. Desse modo, ela vai se manifestar de muitas maneiras,
inclusive, por exemplo, o egoísmo. O egoísmo no ser humano, como ser
inteligente, é ainda uma manifestação desta própria finalidade, como a defesa
individual num ser não pessoal, que não tenha ainda a formação de um eu,
também ainda é uma manifestação desta duração, como também é a
afirmação desta duração na própria permanência do granito em si mesmo,
apesar defendêndo-se, resistindo a todos os elementos e as coordenadas e
elementos que constituem o seu ambiente circunstancial e que possam
perturbar-lhe, que possam pôr-lhe um risco a sua consistência. O próprio
resistir à tensão superficial. As defesas que a vida oferece, se manifestam, na
botânica, no mundo animal. São sinais deste ímpeto de perdurar. Deste para
quê do ser, que é o para quê ele faz tudo, ele afirma-se para durar, para
perdurar, para permanecer.
Ora, quando nós discutimos na ‘’mathesis’’, na parte analítica, o problema
das causas, tanto na parte sintética, como também na parte analítica, nós
então estudamos esses aspectos e estudamos uma série de classificações dos
fins conforme eles foram estudados através dos tempos. Mas nós podemos
dizer que realmente a grande dificuldade que permaneceu para a filosofia em
todo esse período consistiu em dar um fundamento à finalidade. A causa final
foi sempre uma pedra no sapato da filosofia. Nós vimos que entre os autores
modernos contrários à causa afinal, como eles fizeram desta matéria um
elemento, um instrumento para combater uma série de ideias. E os
defensores da causa final também não encontravam assim o fundamento da
finalidade que satisfizesse. Mas desde o momento que nós compreendemos
que o ‘’para quê’’ alguma coisa é, é para ser o que ela é. Desde que nós
compreendamos que o ‘’ser’’ é uma ‘’afirmação’’, é uma ‘’positividade’’ que
perdura, e este perdurar é o ‘’para quê’’ ele tende, então ‘’perdurar’’ do ‘’ser’ é
a sua causa final intrínseca. Então nós encontramos a causa final, o fundo da
causa final, e o fundamento desejado. Fundamento que não necessita de
grandes pesquisas de ordem filosófica.

Mas alguns dirão: ‘’Bem, mas e a causa final extrínseca?’’

Bem, nos casos de causa final extrínseca nós temos que ver o seguinte:
Há uma causa final extrínseca, que é aquela que é dada por outro à
alguma coisa como, por exemplo, ao trigo se tornar-se ‘’bom’’, que não é uma
[229]
causa final intrínseca do trigo. Esta causa final extrínseca dada por outro é
fácil de explicar-se, e esta não teria nenhuma dificuldade.
Mas, poderia alguém dizer: ‘’bem, mas e uma causa final que não é
propriamente intrínseca de alguma coisa, que parte até para o sacrifício
individual em benefício, por exemplo, da espécie? Essa seria extrínseca. Bem,
ela seria parcialmente, aparentemente extrínseca, porque o caso, por
exemplo, de um indivíduo que se sacrificasse, que tende-se ao sacrifício
individual em benefício da espécie, ele tenderia para perdurar, não enquanto
indivíduo, mas para perdurar enquanto espécie. Mas a parte específica
também há nele, ele também é, de certo modo, essa parte específica. De forma
que aqui se é muito fácil de se compreender e esta é uma das razões que
justificam de maneira flagrante e decisiva a nossa concepção de tomar-se a
unidade estática, dinâmica e cinematicamente, porque estaticamente a
unidade, ela está olhada apenas ante si mesma, ante si mesma na sua
constituição, na sua ‘’tectônica’’, mas a unidade olhada, por exemplo, na sua
dinamicidade, ela já está olhada dentro das possibilidades que ela pode
atualizar, as quais irão provocar modificações nos seus próprios interesses.
Mas esta mesma unidade, por sua vez, nas correlações, e nas interatuações
que ela mantém com outras unidades, ela vai sofrer outros interesses, ela vai
ter outros interesses.
Ora, isto vem provar que nós nunca podemos tomar o indivíduo, com a
singularidade, como uma coisa total e absolutamente isolada, não se pode
tomar um indivíduo vivo como alguma coisa completamente isolada da sua
espécie. Ele tem dentro de si algo que não pertence - quer dizer, embora
pertença à sua individualidade, é algo que ultrapassa a sua individualidade,
porque é participada por outros também-. Por que o que é incomunicável dele
seria a sua individualidade, a sua singularidade. Mas o que é comunicavel dele
é o repetir-lhe específico que ele tem com o outro, e cujo repetir-lhe específico
constitui, também, a sua intrincicidade, a sua tectônica, e para a sua
perduração, ele poderia também tender. Mas ele poderia dispensar o
atendimento à sua singularidade em benefício do outro, mas não se estaria
nem por isso se negando, estaria se negando apenas como indivíduo, mas não
se negando como espécie. O que vem provar que o aspecto específico tem um
fundamento real e não é apenas um mero ‘’flatus voces’’ como querem os
nominalistas no filosofar. De forma que o fato de um ente que tem uma
finalidade intrínseca, e essa finalidade intrínseca pode ser apenas tendente
para o benefício exclusivo da sua unidade e uma parte pode tender para algo
que ultrapassa, para a totalidade da qual faz parte, como uma mãe que pode
sacrificar-se em benefício do filho, portanto, que praticará seus atos até
inconscientes, em benefício do próprio filho e às vezes até em oposição aos
interesses individuais, é porque ela não é apenas um indivíduo, ela é também
‘’a mãe’’, quer dizer, e como mãe ela é também a protetora, a genitora de um
outro ser que é outra individualidade, de cuja perduração, também, constitui
um interesse da sua parte ‘’mãe’’, da sua parte como genitora. De forma que
esses atos indicam ainda um fim intrínseco, que não se pode explicar do
ambito meramente individualista, mas se pode explicar por esta outra parte.
Nos casos excepcionais que hoje se observam de certas mães, que
debaixo de certos tratamentos perdem seus instintos maternos. Perde o amor
[230]
pela sua prole e que pode atingir até graus de verdadeira loucura, em que trata
os filhos como coisas sem a menor importância, é porque elas destroem
dentro de si alguma coisa da sua constituição psíquica que faz parte dessa
outra tectônica, que constitui a sua parte como progenitora e como mãe.
Nada disso é um mistério para a filosofia. Nada disso se apresenta como
algo, pelo menos para o nosso modo filosofar, como algo que não tenha uma
solução ou não possa ser compreendido. Absolutamente, tudo isso pode
perfeitamente ser compreendido, pode ser entendido dentro da nossa
concepção. Porque essas deficiências são deficiências da tectônica, da parte
da tectônica psíquica, da parte que constitui a parte anímica, a parte psíquica,
a parte espiritual, e etc.. de um ser, que podem sofrer dessas modificações,
sem que isto significasse profundas anulações, porque o ‘’ser mãe’’ ou o ‘’ser o
pai’’, a ‘’maternidade’’ como a ‘’paternidade’’, são relativas, são possibilidades
relativas de um ser que naturalmente decorrem da sua essência, da essência
de um ser, como possibilidades desse ser, mas não é necessariamente todo o
ser tenha que ser pai ou tenha que ser mãe. Isso não constitui propriamente a
essência do ser humano, de nenhum ser, não constitui. Aliás, isso aqui é
facilmente estudável nas categorias, e estudavel, também, nos predicabilias.
Não é problema para os senhores, depois dos estudos que já foram feitos
Não vemos assim nada de extraordinário que possa... não sei se temos
mais fita para gravar, chegamos ao fim. Estamos chegando ao fim e também
o fim do nosso tempo. Agora, na próxima vez, então, vamos... os senhores que
quiserem fazer perguntas podem anotar, as perguntas que desejarem, na
próxima vez as respoderemos.

[Fim do Áudio]

[231]
XII. Sobre a Axiologia das Ciências

Eu estou recebendo agora outra pergunta, que é o seguinte - que talvez


é um mal-compreendido do que eu disse sobre a matemática - porque está
aqui me perguntando que a matemática não trata da matéria singular, da
matéria sensível. Bem, eu não disse propriamente que a matemática trata
da matéria singular, da matéria sensível, absolutamente. Ou talvez eu me
expressei mal ou fui mal entendido. Eu quero dizer o seguinte:
A matemática abstrai a matéria singular e a matéria sensível e vai
abstraindo também os acidentes, vai abstraindo as formas, para considerar
apenas um acidente ou sobre um aspecto acidental que é o aspecto
quantitativo, e deste aspecto quantitativo ela vai então investigar as relações
de igualdade e desigualdade que são características, são propriedades da
quantidade.

Agora, outra pergunta aqui é que eu não falei na Filosofia do Direito.


Onde eu colocaria a Filosofia do Direito?

Bom, a Filosofia do Direito, ela pertence a uma axiologia especial, ela


pertence, consequentemente, à filosofia prática. A Filosofia do Direito está
ligada, também, à ética, porque o estudo da lei está ligado ao estudo dos
éticos das relações humanas.

Outra pergunta que me fazem aqui é sobre a técnica, onde a coloco?

Bom, a técnica está naturalmente colocado na filosofia prática, está


colocado também ao mesmo lado da filosofia da arte. A filosofia da arte
[232]
também aqui refere-se à estética. É uma filosofia prática que considera a
parte factível do ser humano, dessa atividade externa do homem. De
maneira que a técnica, como eu disse, também permite uma construção
filosófica, porque é uma disciplina especial, especial da filosofia factível, da
filosofia da cultura. Mas a técnica pode, também, ser estudada como ela é
na ciência prática, porque nós estamos estudando apenas as classificações
filosóficas, não as classificações científicas, porque as classificações
científicas, também, obedecem, devem obedecer a esta mesma maneira de
colocar a filosofia, mas já com as suas disciplinas especiais. Nós estamos
aqui apenas chamando a atenção sobre os aspectos que constitui
propriamente a filosofia, não deve-se confundir com a parte da Ciência.

Tem mais alguma pergunta, a senhora tem mais alguma pergunta na


mão? Tem alguém que queira fazer mais uma pergunta?

Uma outra pergunta aqui é referente a qual seria, por exemplo, o


núcleo axiologico da filosofia da religião?

Bom, o valor fundamental de toda a religião é a santidade pessoal. Ela


busca, ela procura estudar a santificação do homem. Naturalmente que o
termo Santo (Sanctus), o ‘’sagrado’’, o que é ‘’oculto’’, é um termo que
caberia no estudo propriamente da religião. Agora quanto aos valores
derivados, nós então temos, por exemplo, o que se chama Graça, a beatitude
pessoal, são valores derivados deste valor fundamental que é a santidade.
Agora o fim, naturalmente, para onde tende, é para o mundo dos deuses,
para o mundo das divindades, que o ser humano constrói e estuda. Agora,
a concepção do mundo, por exemplo, que se poderia ter dentro apenas do
campo da religião, nós temos, por exemplo, o teísmo o deísmo, o politeísmo,
são concepções do mundo que se fundam exclusivamente dentro do aspecto
religioso, submetendo completamente tudo o mais, subordinando tudo o
mais à religião.
Ora, o bem supremo de que todas as religiões prometem e procuram,
as grandes religiões dos ciclos culturais superiores, é a eternidade. É
diferente das outras disciplinas que buscam naturalmente os bens que
pertencem ao homem como, por exemplo, a ética procura os seus bens
futuros alcançáveis pelo homem, naturalmente, nesta vida. Já a religião
procura ultrapassar esta vida e prometer outros bens que seriam
alcançáveis quando o homem atingisse um grau superior.

Agora, vamos ver... já tem mais algumas perguntas para eu me dirigir?

Aluna: Tem aqui outra pergunta.

Mário: Bem, um momento - essa aqui não – aqui pergunta, ‘’Se não
há lugar para outras classificações, outras divisões da ciência?’’

Bom, existe realmente muitas divisões da filosofia, que são muito


conhecidas. Sobre elas eu teria a portunidade de falar noutra ocasião,
[233]
porque seria muito longo, por exemplo, contar ou relatar ou mesmo dar
uma simples notícia das diversas divisões, por exemplo, como a divisão
Wolffiana, que perdurou durante muito tempo, que dividiu a filosofia em
primeira parte: a filosofia propedêutica, na qual incluía a lógica, metafísica
em geral, a ontologia. E a filosofia teorética: que era própriamente a
metafísica, na qual ele dividia na metafísica especial, que incluía a
cosmologia, tratava do mundo corpóreo, a psicologia, que tratava da alma,
e a teologia natural. E finalmente a filosofia prática que ele reduzia apenas
à moral. Esta é a classificação Wolffiana, e outros também deram outras
divisões e modernamente existe muitíssimas divisões que seria longo
relata-las. Mas a que nós seguimos, como nós mostramos, é a mais clara, a
mais precisa, porque ela propriamente inclui todas essas outras
classificações nos seus aspectos positivos e exclui aqueles pontos
deficientes. A nossa classificação - que não é propriamente nossa - é apenas
uma, como nós dissemos no início, é uma compendiada da especulação,
realizada através de séculos, e que nós consideramos a mais perfeita,
porque ela responde a todos os aspectos, inclusive aqueles que
modernamente estão sendo estudados, de forma que é uma classificação
que nós consideramos superior às outras.

Tem mais outra pergunta?

Bem, agora temos aqui uma pergunta sobre qual seria o núcleo
axiológico da filosofia da história?

Bem, a filosofia da história, se nós a considerarmos apenas pelo lado


do historial, pelo lado dos acontecimentos mais importantes da vida
humana, da vida dos povos, da vida coletiva. Então nós teríamos que o
núcleo sociológico fundamental é a universalidade dos valores culturais que
o homem realizou através dos tempos. E o fato que para onde se dirige a
reflexão humana é o ‘’fieli’’ da cultura humana, é o devir da própria cultura
da criação. Agora, modernamente, se dá à história um sentido mais
precisivo, isto é, ela não é propriamente a disciplina que estuda apenas
esses fatos importantes da vida humana, mas sobretudo, a parte que estuda
a singularidade na sua irrepetibilidade, na sua irretirabilidade, quer dizer,
estuda o fato singular no que ele tem de repeti-lo. Agora, não quer dizer que
o fato singular, na sua irrepetibilidade, não apresente aspectos formais que
são precisamente os aspectos repetíveis, cujos aspectos repetíveis,
estudados e analisados, permitirão que amanhã, talvez, o homem possa
descobrir as próprias leis da história, então passaria ele a ser capaz de
dirigir a história, em vez de ser muitas vezes, como quase sempre é, dirigido
pelos próprios acontecimentos.
Esse desejo de transformar a história numa historiologia, é um desejo
que tem fundamentos, porque tem bases ontológicas seguras e os
conhecimentos atuais, não só da história, mas como também das disciplinas
que se conjugam com ela, como a economia, a sociologia, a filosofia do
direito, e etc, a ética, sobretudo, e a história faz parte, também, da ética,
também, faz parte das relações humanas. Então consequentemente todo o
[234]
conjunto dessas matérias vão nos permitir que nós estudemos a história
humana, quer dizer, a história dos grandes acontecimentos humanos, sob
um ângulo mais preciso que possa permitir ao homem até alcançar a
descoberta das suas leis e possivelmente do domínio sobre a própria
história, porque toda a ciência humana, no fundo, aspira ao domínio das
coisas em benefício do homem.

Agora, outra pergunta, que é a última que eu tenho aqui as mãos, ela
refere-se ao seguinte: ela quer saber como nós estudaríamos o campo da
mística - porque nós havíamos colocado a mística, quando estudamos, na
filosofia prática, e estudamo-la como na parte da axiologia especial-.

E pergunta-se se a mística não deveria ser colocada nos entes


puramente de razão, nos entes ficcionais?

Não, a mística não pode ser estudada no entes de razão, nos entes
ficcionais, porque ela se refere a uma prática do homem, quer dizer, refere-
se à atividade do próprio homem, então, consequentemente, ela deve ser
estudada na filosofia prática. Agora, ela tem, também, uma semelhança
muito grande da mística com a religião, porque o valor fundamental da
mística também é o mesmo valor fundamental da religião É a santidade.
Mas só com uma diferença: que na religião a santidade é pessoal, enquanto
que na mística a santidade buscada é a santidade impessoal. E ela também
tem valores derivados muito semelhantes aos valores da religião como, por
exemplo: a graça e a beatitude. Mas sempre note-se, impessoais. Enquanto
que na religião são mais pessoais. Assim o bem supremo, por exemplo, da
mística, é a união mística, é a fusão com o Ser Supremo, a Yoga, por
exemplo. A atividade que o homem realiza subjetivamente na mística é a
sua deificação, é a sua ascensão cada vez mais para a divindade.

[Fim do Áudio]

[235]
XIII. Sobre o Verdadeiro Cristianismo

Bem, mas a questão é o seguinte: O verdadeiro cristianismo, preste


atenção, não está exigindo que o meu amor transite para o indivíduo B.
Eu posso não ter para o indivíduo B nenhum grau de afetividade, de
simpatético, nenhum grau de simpatético, mas eu vou amar naquele homem
o bem que aquele homem poderia ter, o bem que aquele homem poderia ser e
o que é possível ainda lhe ser.
Eu, por exemplo, não posso ter nenhuma simpatia, de nenhuma espécie,
com a figura, por exemplo, do senhor Ademar de Barros, mas eu posso
Cristamente amar em Ademar de Barros, o Ademar que o Ademar não é. O
Ademar que o Ademar podia ser. Podia ser um grande médico, podia ser uma
grande figura, porque tinha qualidades positivas para sobre elas fundar uma
vida muito construtiva. Compreendeu?
Então eu vou amar nele o Cristianismo que ele não realizou, esse
Cristianismo eu amo. Enquanto ele estiver afastado dele, eu odeio o que
estiver afastado desse Cristianismo, porque a esse amor, a intensidade desse
amor exige também uma intensidade de ódio. Tem que odiar o que é
contrário, é natural, porque não há o ódio sem o amor. Onde se odeia alguma
coisa é por que se ama o contrário. Então exige de mim que eu repila, que eu
repugne completamente todo o seu desvio.
Então eu posso olhar para aquele bêbado que está caído, que está no
último grau e ter a minha compaixão cristã por ele, não por aquele corpo, por
aquele indivíduo que está caído, mas por aquele indivíduo, por aquela
personalidade que podia não estar caída. Que podia ter sido um homem útil à
sociedade e que talvez ainda se possa erguer-se e salvar-se.

[236]
O Cristianismo não está exigindo de nós que nós violentemos os nossos
sentimentos, compreende? Está numa colocação intelectual do nosso amor.
É o ‘’amor intellectualis’’, é o ‘’Ágape’’ dos Pitagóricos. Não é o ‘’eros’’. O
‘’eros’’ não, o ‘’eros’’ é outra coisa.
Se entre dois seres houver só o ‘’eros’’, se entre marido e mulher houver
só o ‘’eros’’, se entre pai e filho houver só o ‘’eros’’, estamos numa imperfeição
completa.
O que há necessidade é deste amor, deste ‘’Ágape’’, deste amor que tem
um cume da montanha para o qual ele se dirige e converge, não é uma
convergência que vai diretamente, vai indiretamente. Nós temos que nos
amar uns aos outros em Cristo. É isso que significa. Esse é o verdadeiro
cristianismo.
Agora, o querer... Por que? Qual era a reação que fazíam os anticristãos:
Mas, como, dizia o Árabe, que eu posso amar o judeu? Ou dirá o Judeu, como
que o cristianismo quer que eu ame o árabe? Mas como eles pensam o amor?
O amor deles é o Eros. Esse amor não pode existir. Mas os Árabes não podiam
ser, por exemplo, noites, que podiam conviver bem com Judeus e os Judeus
estes que podiam conviver irmamente com os cristãos?
Nós vamos amar essas possibilidades. O homem dentro das suas
possibilidades, inclusive as não realizadas. Realizáveis ou talvez não
realizáveis, compadecermo-nos, porque não pode mais realizar aquelas
possibilidades superiores.
Não podemos violentar os sentimentos, o sentimento não pertence à
nossa vontade, o sentimento pertence a parte da nossa sensibilidade, na nossa
afetividade. Aqui não domina a vontade, ninguém cria um amor, ninguém
inventa uma simpatia, ninguém pode chegar de pra si e dizer:
‘’Bom, eu vou de hoje em diante simpatizar com este homem.’’ Ele pra
simpatizar, pra começar a pouco e pouco simpatizar com uma pessoa para a
qual ele não tem uma simpatia natural, ele tem que intelectualizar a pessoa.
Ele vai intelectualizando... ‘’É um bom individuo, um sujeito cumpridor de
seus deveres, é um homem amigo.’’ Nesta intelectualização, ele vai então
realizando o Ágape que é o chamado ‘’amor platônico’’. Não é está
interpretação besta ‘’que o amor platônico é amar e não se aproximar do
objeto amado’’, não é nada disso. Amor platônico é isto! Isto é o que significa
realmente o amor de que Platão falava. É o amor supremo!

Comentário de uma aluna: São Franscisco, em sua renúncia, por


amor a Jesus Cristo, disse que isso é a coisa mais difícil, se acontecesse isso...

Mário: O cristianismo realmente é uma religião que parte da Sabedoria


através do amor. Quer dizer, é uma religião do amor. Bem entendida, é lógico,
quando falamos do cristianismo nós falamos do cristianismo bem entendido.
Não um cristianismo que se entende por aí, isso não tem nada que ver.
Pensam que o cristianismo é rezar, fazer orações, ir à missa, cumprir as suas
devoções. Não é nada disso. O Cristianismo Verdadeiro é outra coisa.

[Fim do Áudio]

[237]
XIV. Sobre o Ceticismo

Mário: ‘’Não podemos crer em nossos sentidos, quando eles são


constantemente a fonte de nossos erros.’’
Assim proclamava o sofista, convencido de que apresentava um
argumento definitivo para demonstrar a limitação do conhecimento humano,
que parta dos sentidos. Mas este argumento é falso. Este argumento não tem
procedência, por uma razão muito simples. Se os nossos sentidos nos enganam,
eles nos enganam algumas vezes, não, porém, sempre. Esta subtil distinção
entre algumas vezes e sempre torna este argumento completamente sem
qualquer fundamento, porque se há alguns casos em que estamos sujeitos à
alucinações. Há outros em que não estamos. E aqueles que possam, por acaso,
pairar dúvida sobre a sua realidade, nós dispomos de meios de verificação para
depois concluirmos se realmente alí sofremos uma alucinação ou se não, e isto é
fácil de realizar-se.
O nosso conhecimento pode ser limitado, isso é indubitábel. Mas daí não
quer dizer que ele seja completamente falso, como quer concluir
exageradamente o céptico. Este é o ponto, é o erro principal do céptico.

[Fim do Áudio]

[238]
2 - Texto Inédito do Mário Ferreira dos Santos, presente no
Livro ‘’Humanismo Pluridimensional.

I- Brasil- Um País sem Esperança? por Mário Ferreira dos


Santos.

Homenagem Póstuma

“Brasil — Um País sem Esperança?” é um manuscrito que nos deixou Mário


Ferreira dos Santos, falecido em 11 de abril de 1968, aos 61 anos de idade.
Publicamos este manuscrito inédito como homenagem ao conhecido Filósofo
brasileiro, autor de mais de 70 obras filosóficas. Contendo alguns aspectos
fenomenológicos do homem brasileiro, a presente pesquisa fica inserida na I
Dimensão do Tema geral da semana Filosófica, como uma valiosa contribuição para
a nossa reflexão construtiva.

O manuscrito foi elaborado nos anos de 1964/65, quando declarava o


Pensador: ” . . . idéias pouco construtivas invadem o ambiente cultural brasileiro” e ”
. . . atravessamos um dos momentos mais difíceis de nossa história” . Por conseguinte,
o trabalho deve ser interpretado, colocando-se no quadro das circunstâncias daquela
época.

Considerando a falta de preparo intelectual e cívico de nosso povo e desejando


levar, sobretudo à juventude, o conhecimento de nossa realidade, o Prof. Mário
Ferreira dos Santos escreveu esta obra como parte da coleção: “UMA NOVA
CONSCIÊNCIA”, cuja finalidade era abrir novos horizontes à nossa consciência, uma
consciência do Brasil. Ela seria completada com a obra: “Brasil, País de Exceção”, em
uma seqüência de estudos referentes a nossa terra, que revelaria o caráter de
excepcionalidade que é peculiar ao Brasil. Após uma análise em profundidade, quis
finalizar com um vasto estudo concreto da realidade brasileira. Mas, infelizmente, só
uma parte do manuscrito ficou terminada.

A morte surpreendeu o Pensador em seu trabalho. Entretanto, o que conseguiu


no campo editorial, numa luta insana para despertar em cada brasileiro o interesse
pela cultura, especialmente pela Filosofia, é a prova cabal de seu amor pelo
saber. Justifica, pois, a homenagem póstuma que prestamos ao Pensador, que dedicou
quase 40 anos à atividade filosófica.

[Redação]

O texto a seguir está no Livro ‘’Humanismo Pluridimensional’’ Edições Loyola –


São Paulo, 1974, Volume 2 - Sociedade Brasileira de Filósofos Católicos.
[Organizado pelo Pe. Stanislavs Ladusãns]
[239]
I — PANORAMA GERAL DO MUNDO E DO BRASIL
A perplexidade do homem moderno em face do panorama do seu mundo, que
se apresenta para ele não só comparando-o com o passado nem com as possibilidades
do futuro, mas também, sobretudo, quanto à realidade do presente, é um tema que
preocupa a todas as consciências no momento atual.
O desenvolvimento que verificamos no decurso da História, desde g, Idade
Média, através do Renascimento, e da Idade Moderna, chamada a Idade
Contemporânea, verificamos, sobretudo no Ocidente, que, à proporção que o ser
humano foi encontrando soluções de cará-ter técnico e científico, que beneficiaram
sumamente as populações e resolveram inúmeros de seus problemas, contudo as
grandes e mais profundas preocupações continuaram de pé. O homem não
conseguiu resolver a seu contento aqueles mesmos problemas que aguçavam a sua
curiosidade, que desafiavam a sua inteligência, no referente não só ao sobrenatural
como também quanto a sua própria realidade.
Sem dúvida nós observamos uma linha ascensional impressionante, que se
deve ao progresso científico das grandes descobertas, não só sobre o nosso planeta
como sobre o universo inteiro, como também as tremendas expansões dentro da
própria alma humana, invadindo-lhe os mais recônditos lugares, onde parecia ser
impossível que nós, com os meios de que dispúnhamos, seriamos capazes de
penetrar; mas, simultânea e paralelamente ao desenvolvimento desses
conhecimentos e dessas conquistas — porque a ciência se transformou, na mão do
homem ocidental, numa técnica de domínio das coisas, do mundo e do próprio
homem — os problemas mais agudos, mais exigentes, as perguntas que lhe aguçaram
a curiosidade através dos tempos, continuaram em pé, não encontrando respostas
satisfatórias de modo suficiente a apaziguar o seu espírito.
E, à proporção em que ele foi encontrando soluções para uma série de
problemas de caráter técnico-científico, sua inquietação permaneceu e permanece,
no referente ao que ele é, ao que ele significa, qual o seu verdadeiro papel e também
o que o ultrapassa, o que o transcende, que continua exigindo-lhe respostas, um
reexame das respostas religiosas e das respostas filosóficas, já que ele sente que a
própria ciência não seria meio suficiente para lhe dar a solução desejada.
Também o aumenta de bem-estar, as conquistas materiais, que pareciam ser
suficientes para dar ao homem um estado de tranqüilidade, de segurança,
aumentaram a sua própria insegurança e ampliaram a faixa de preocupações; e o
homem verificou que a paz, a verdadeira paz, a mais desejada, a mais profunda, não
era alcançada em nenhum setor, nem no mundo econômico, nem no mundo
sociológico, nem no mundo psicológico, nem no mundo religioso, nem no
mundo místico.
Sem dúvida, não há conceito de que todos usem tanto e tão poucos saibam o
que realmente significa como o conceito de paz.
Para muitos a paz nada mais é que a ausência da luta cruenta entre os seres
humanos, organizados ou não; a paz seria apenas a ausência do choque dos
contrários, seria a ausência das oposições, seria apenas a estagnação, o que não é
genuinamente o que se deve entender por paz.

[240]
Ora, se se estudar devidamente este conceito, como muitos o fizeram, e o
fizeram em profundidade, verifica-se que ele realmente se funda na vontade e implica
uma tranqüilidade na ordem, não, porém, necessariamente na aniquilação dos
opostos, nem do choque das antinomias, nem do ‘’pólemos’’ das oposições.
A paz implica, necessariamente, a concórdia; implica a união, ou, pelo menos, a
cooperação dos opostos, para alguma realização, para a consecução de algo que não
venha em prejuízo da natureza dos opostos; ou em suma, para atingir resultados que
sejam convenientes à natureza dos oponentes.
Se a paz entre os homens não pode evitar a nítida compreensão da justiça,
também a paz dentro do homem não pode evitar a mesma compreensão. Não nos
adianta permanecer dentro de uma paz mera-mente aparente, uma paz dos túmulos.
O que nós desejamos, e realmente o desejamos, e é o que realmente devemos desejar,
é a paz que se estabelece na feliz cooperação dos opostos, de modo a que
os resultados obtidos sejam convenientes, benéficos aos termos que entram nessa
oposição, e que possam, deste modo, não só ampliar os benefícios próprios, como
estabelecer, também, bases mais seguras para a sucessão dos acontecimentos; não só
dos oponentes, como do que venha a decorrer no desenvolvimento do tempo. Mas
uma paz mais verdadeira e mais desejada que aquela que apenas nos tranqüiliza
dentro do campo das coisas de que necessitamos, que cria uma tranqüilidade na
ordem de consecução desses mesmos bens, mas, sobretudo, aquela paz que
tranqüiliza a nossa mente, que dá serenidade ao homem, interiormente, aquela paz
que sobrevêm quando o ser humano consegue compreender a si mesmo, saber qual
o seu papel, ter uma noção clara do seu destino e ter confiança de que o que realiza,
o que propõe, o que empreende não venham trazei amanhã, resultados adversos,
perniciosos. A verdadeira paz é aquela que se funda, não só nos corações, não só na
afetividade humana mas, sobretudo, na mente superior do homem, nas suas idéias,
nas suas concepções, na sua maneira de interpretar as coisas.
Realmente esta foi sempre a aspiração do homem; ele aspirou à paz em toda a
gama de suas possibilidades, e alcançar um desfecho que fosse a plenitude da
tranqüilidade de sua alma, de seu espírito, de sua mente; aquela paz prometida na
bem-aventurança de todas as grandes religiões dos ciclos culturais superiores,
aquela paz que consiste, propriamente, no termo final anelado por todos os
homens que se dedicaram ao estudo das nossas visões transcendentais.
O que é fundamental no ser humano é, sem dúvida, o sentir-se um ser inseguro
e também o que é mais fundamental do seu anelo é a segurança. A insecuritas, tema
tão profundamente analisado pelos místicos da Idade Média, é o ‘’index’’ mais
perfeito do que somos em nossa última realidade. Porque somos deficientes,
contingentes, sujeitos aos azares dos acontecimentos, dispondo de meios defensivos
mínimos, e ainda agravados pela nossa ignorância que faz com que nos sintamos
inseguros, não só quanto ao nosso presente, mas, sobretudo, quanto ao futuro; este
estado de insegurança nos acompanha desde que nascemos e certamente desde que
fomos gestados. Mas depois que passamos por aquele estágio de certo amparo e de
certa segurança de nossa vida intra-uterina, o próprio trauma do nosso nascimento a
nossa súbita penetração no mundo que nos parece hostil, inóspito, contrário, deve-
nos marcar profundamente este sentir da nossa insegurança e, desde então, não mais
nos abandona, está presente em todas as nossas aspirações, está presente em todas
as nossas realizações, porque tudo o que o homem fez, tudo quanto o homem
[241]
construiu, tudo quanto imaginou tem sempre o estigma, da sua insegurança, a exigir-
lhe soluções que possam diminuir e até terminar esse estado em que ele se encontra
de verdadeira trepidação, de verdadeiro medo ante o seu estado atual e sobretudo
ante o seu futuro. O homem é, assim, também filho da insegurança. Não pode nem
deve desprezá-la, porque não só é uma exigência invariante da sua natureza,
como também ela constantemente o interroga e o açula para que encontre a solução
de um instante que perdure, que ultrapasse o presente, que invada o futuro, e que lhe
assegure aquele estado de equilíbrio, de concórdia, e de reconciliação que o homem
deseja.
Não se poderia compreender essa ansiedade pela paz que anima todos, em
todos os tempos, se nós não fôssemos, por natureza, seres inseguros, seres
dominados pela insegurança, e também seres que, ao perscrutar o futuro, nem
sempre dispõem de meios suficientes para poder saber o que devemos fazer para
evitar os perigos que nos ameaçam, tanto os reais como, sobretudo, os imaginários.
A psicologia de profundidade deve, mais do que nunca, preocupar–se com esse
tema, porque se, ao mesmo tempo, o ser humano se apresenta para nós como uma
entidade contraditória, já que é sem dúvida anelante de paz e tranqüilidade, ao
mesmo tempo é agressivo e contendor, ao mesmo tempo é contricante, parece-nos
que ele se balança entre duas tendências primordiais, fundamentais, originárias: uma
que aspira à paz, à tranqüilidade, à concórdia, e, ao mesmo tempo, a que aspira à luta,
à discórdia, ao ódio, ao pólemos. Não foram poucos os filósofos que, ao se dedicarem
a esse estudo, estarreceram-se ante a grande messe de razões favoráveis à paz, mas
também a grande messe de razões favoráveis à guerra. Viram que o homem era um
ser que se balançava entre motivações opostas, umas que buscavam a concórdia,
outras que aspiravam pela discórdia. Então não souberam resolver esse problema
ante essa oposição, concluindo uns que o homem é por natureza um ser pacífico e
outros que o homem é por natureza um ser guerreiro. A verdade, porém, a mais
profunda verdade psicológica, é aquela que sintetiza os opos-tos, que participa dos
opostos, que é ‘’partirm partim’’. É o homem, simultaneamente, um ser aspirante de
paz, e um ser aspirante de guerra, um ser que aspira à concórdia e também à
discórdia, um ser que ama e um ser que odeia. E essas oposições não podem
ser liquidadas; todas as tentativas de destruir uma em benefício da
outra malograram, porque quiseram violentar o que era da condição do próprio
homem.
Em face dessa realidade, só nos cabe procurar a solução cooperadora entre os
opostos, aquela que possa encaminhar-nos de modo que eles sejam convenientes à
própria natureza do homem, não só considerado na sua estaticidade, mas também na
sua dinamicidade, na sua cinematicidade; não só como indivíduo, mas também
como componente de uma totalidade, de um grupo, de uma série, de um sistema e do
universo cultural. Essas oposições colocam o homem aparentemente numa situação
insolúvel e parecem indicar que jamais encontrará uma forma de fazer coincidir os
opostos numa realização cooperacional. Ê um postulado que exige uma
demonstração apodítica, uma demonstração fundada em princípios sobre os quais
não possa pairar a menor dúvida. E isto, esta demonstração, nenhum dos partidários
dessa posição até hoje conseguiu fazer dentro das exigências rígidas; de uma
demonstração profundamente lógica e dialética.

[242]
Muitos poderão dizer, contudo, que também a prova dessa cooperação entre os
opostos não foi feita. Mas essa cooperação entre os opostos não exige tal prova,
porque tem se evidenciado pela própria experiência humana. Temos encontrado na
vida social humana a oposição entre os contricantes, o pólemos, contribuindo para
realizar obras proveitosas. Contudo, nós não podemos deixar de reconhecer que a
época em que nos encontramos se caracteriza por esse aspecto; o homem de hoje,
como o homem de sempre, de todas as eras, aspira pela paz e, no entanto, também
tudo faz para fomentar a guerra, a luta, a discórdia.
E ao verificar esse estado de coisas, e não sabendo como dar uma solução às
suas condições, a essa inevitabilidade dos opostos ele entra em estado de
desesperança, ou seja, não espera, não aguarda, não se detém antes de tudo com a
certeza de que lhe dará de modo seguro aquele estado de paz por ele desejado. Esse
é o verdadeiro panorama que encontramos no mundo atual; e a heterogeneidade,
que ele revela, é apenas de caráter inconsciente. Em alguns povos notamos que o
ímpeto guerreiro ou pacífico é mais acentuado que em outros mas, extensivamente,
se há um impulso de discórdia, de ódio, de guerra, há uma profunda aspiração da paz,
que vem relatado, testemunhado, desde que temos consciência de nós mesmos
dentro da história, por todos os movimentos de aspiração por um mundo melhor, em
que os homens possam olhar face a face, olhos sobre os olhos, os braços estendidos
de uns para os outros num amplexo fraternal, e que possam dizer com o coração e
com as palavras: irmãos, somos amigos, trabalhemos juntos, construamos juntos
um mundo melhor para todos nós.
Essas palavras incluem dentro delas uma longa problemática, que vamos
começar agora a analisar nos próximos capítulos, para depois, de posse desses
elementos tomados analiticamente, aproveitá-los para fazer um estudo concreto da
nossa realidade, da realidade brasileira, e podermos dar uma resposta a essa
pergunta: Brasil, um país sem esperança?

II — A INSEGURANÇA
Tema realmente sugestivo e impressionante é sem dúvida este da
insegurança humana. Fazendo parte de toda a nossa vida, é como uma dimensão
de nós mesmos; somos inseguros por natureza, pelo trauma de nosso nascimento
e pela nossa situação ante o mundo, para o qual não é o ser humano provido
de suficientes instintos que o possam auxiliar com a garantia de que atinja os fins,
não só os colimados pela espécie, mas também aqueles que são benéficos ao
indivíduo.
A perplexidade é um sinal do próprio espanto que a vida nos provoca.
Desde os nossos primeiros sinais, os primeiros vestígios de nossa consciência,
nós nos sentimos inseguros ante o mundo, que provoca em nós as mais tremendas
interrogações, sem que saibamos dar as respostas devidas de que precisamos.
Nenhum ser exige tanto e tão prolongado amparo como nós. Levar uma vida
humana avante exige cuidados, exige cura, porque a nossa vida é insegura; a
insecuri- tas, que nos envolve, está sempre a exigir o máximo de securitás
para que possamos sobreviver e preparar-nos para uma adaptação ao mundo
[243]
e aprender a adaptá-lo aos nossos interesses; por isso o homem precisa receber
uma educação, é educado, conduzido para a frente, para diante. Ele tem de receber
ensinamentos dos mais experientes e daqueles que o amparem, que normalmente
são seus pais; tem de ser amparado em todos os seus movimentos e também
para atender às suas mais mínimas necessidades. Entregue a si mesiílo e à
natureza, ele não resistiria; e não resistiria, não somente no momento em que
nasce, como ainda por um prolongado tempo, até que adquira a técnica e os meios
sistemáticos e com eles possa conseguir os bens de que necessita e anseia possuir.
Não há necesidade de procurarmos na história humana os Vestígios
dessa insegurança porque ela é tão patente que se revela a cada passo e em
cada uma de nossas obras; nada há que traga a marca do homem, que é
precisamente a presença da sua vontade e do seu entendimento, que não esteja
contaminado, também, pela presença da insegurança. O próprio desenvolvimento
humano, a sua capacidade de modificações técnicas, as suas conquistas, o domínio
que ele termina por exercer sobre as coisas, tudo isso seria impossível se não
fosse um ser inseguro, anelante de segurança. Se quisesse assistir à fidelidade dos
instintos: e à disponibilidade de forças suficientes para enfrentar o meio ambiente,
o homem estacionaria como estacionam os animais. A sua insegurança, por sua vez,
obriga-o a desenvolver a sua inteligência, a saber aplicá-la cada vez mais para
conquistar o domínio das coisas, a construir instrumentos por meio dos quais ele
exercerá a sua força como causa eficiente, a fim de produzir, de conduzir para a
frente, tudo quanto ele necessita para o seu bem.
Más longe de nós querermos afirmar que a nossa inteligência é mero
efeito da nossa insegurança. Esta, por si só, não poderia ser a causa da nossa
inteligência, mas sim uma motivadora das nossas ações, uma estimuladora do
nosso proceder, um aguilhão que cons- tantemente nos aguça para que cuidemos
de nós mesmos, para que a cura se processe, pára que fujamos da insecuritas e
para que alcan- cemos o máximo grau de segurança possível.
Sem esta segurança, sem este anseio de segurança, que é uma conseqüência
também das nossas deficiências — porque não poderia algum ser inteligente
almejar alguma coisa que já possuísse — esta insegurança é a motivadora das nossas
grandes aspirações. Não desejaríamos nunca aumentar nosso poder, aumentar a
soma de meios técnicos de domínio do mundo se não nos aguçasse
constantemente esse estado de insegurança que constitui também parte da sua
própria condição humana. O ser humano toma consciência de uma insegurança
biológica, fisiológica; preocupa-lhe a saúde do corpo, a presença das forças, o
anseio de aumentá-las, para com elas poder realizar tudo quanto é exigente
para a sua manutenção e seu bem-estar. É ele preocupado com sua insegurança
psicológica, com os estados emocionais heterogêneos que o colocam,
constantemente, em estados de oposição interna, de angústias, de contradições,
que parecem vencê-lo, projetando-se ainda na vida social, na vida familiar, na vida
coletiva, na vida econômica, na vida do direito, na vida ética, e até na vida religiosa,
onde esta insegurança está sempre presente.
Não quer ele apenas sentir-se amparado nesta existência, porque, sendo
inteligente, perscruta além dos limites da vida meramente material e penetra
por terrenos desconhecidos; tendo ele consciência do seu desejo de mais e,
[244]
conseqüentemente, do seu desejo de perfeição, aspira finalmente a alcançar os
estágios mais altos. E o homem, precisamente por isso, porque é um ser capaz de
colocar idealmente os termos finais da perfeição absoluta, pode transformar essa
perfeição absoluta na medida qualitativa de tudo quanto faz e de todas as
coisas que o cercam.
Por ele poder avaliar, apreciar valores, pode julgar da maior ou menor
conveniência de alguma coisa, não só por uma estimativa simples, que também
o animal possui, mas por uma estimativa intelectual, por uma comparação
daquilo que ele constrói através dos seus conceitos e das suas abstrações,
com os graus máximos perfectivos que correspondem à infinitude da própria
perfeição.
Assim o homem pode sentir se há mais justiça ou menos justiça, se há
mais sabedoria ou menos sabedoria, se há mais dignidade ou menos dignidade,
porque ele está apto a meditar, a pensar e a construir o conceito de uma justiça
absoluta e perfeita, o conceito de uma sabedoria que abranja todas as
possibilidades cognoscitivas; e como ele é capaz de construir perfeições
supremas, pelo menos na sua mente, sem que discutamos se há uma validez fora
da mente humana, que na verdade há, ele pode então comparar os atos justos
da sua vida, as manifestações da sua sabedoria, os testemunhos do seu poder;
e então pode estabelecer uma gradatividade, porque em tudo quanto alcança, em
tudo quanto realiza, sente e sabe que pode e poderia ser melhor, ser maior, ser
mais completo.
É essa capacidade de comparar tudo quanto constitui a sua experiência com
as perfeições absolutas das quais ele não tem a posse atual, das quais ele apenas
vislumbra a sua grandeza e a sua glória, das quais ele tem apenas uma posse
virtual, o que chamamos de tímese parabólica (do grego timos, valor de apreciação, e
parábola, comparação), esta comparação de valores, esta capacidade de comparar
o que ele tem da sua experiência com a perfeição máxima, que ele não possui
atualmente, mas que vislumbra virtualmente, permite ao homem poder realizar
um julgamento de si mesmo, daquilo que faz, daquilo que empreende, e também
de poder projetar uma promessa para si mesmo, um compromisso para si
mesmo, de elevar-se cada vez mais.
Se não fosse assim, não seria o homem um ser apto a realizar uma
progressão; isto é, avançar os graus (pro) para a frente (progredir, de progresso
— do verbo latino gredior), de subir os degraus, porque, então, se satisfaria com
o que é, sem mais aspirações, sem mais desejos, senão aqueles ímpetos
naturais da sua animalidade. E é aí, precisamente, que o homem se distingue
dos animais, porque estes apenas são animais, realizam apenas o que lhes
impelem os impulsos naturais da sua constituição biológica, fisiológica e psíquica.
Mas o homem também é impelido por uma oréxis, por um apetite, por um
apetecer para alguma coisa que está além da sua própria experiência, de alguma
coisa que se coloca acima da sua atualidade, de alguma coisa que espera
poder construir, que aguarda poder obter. É esta a razão, a profunda razão
porque a esperança está sempre com o homem, sua eterna companheira, sua
eterna estimuladora.
E eis também por que o tema da insegurança exige que se estude o
da esperança. Porque o homem, dada a sua insegurança, e dada a sua
[245]
tímese parabólica, dada a sua capacidade de apreciar o que tem, com as
perfeições que ainda não possui atualmente, senão virtualmente, pode esperar pelo
ainda mão, pelo que ainda não é, mas pelo que pode vir a ser. Ele pode
aguardar pelo devir daquilo que não tem, mas que, se tivesse, melhoraria,
exaltaria a sua própria vida. Ele pode, assim, volver os olhos para o amanhã,
para o possível do amanhã, para um futuro realizável, no qual possa vencer a inse-
gurança, para atingir um estado de segurança plena, de plena consciência, de
certeza até, em que sua mente não mais trepide ante a possibilidade de crer, em que
ela se manifestasse num assentimento firme e seguro de que está certa,
absolutamente certa, sem possibilidade de errar.
Eis por que onde há esperança há sempre uma fé, porque a fé é este
assentimento firme em o que ainda não se vê, ainda não se toca, ainda não é
objeto dos nossos sentidos, mas cuja presença, cuja realidade aceitamos como
verdadeira, sem que o nosso espírito trepide na dúvida de ser falsa a nossa
adesão. Assim, para compreender-se a esperança, tem que se compreender a
insegurança humana, pois o ser que atingisse a plenitude da segurança, a que não
abalasse mais nenhum estado de insegurança, este nada mais poderia esperar,
não seria animado pela esperança, nem tampouco pela fé, porque já teria a posse
atual da verdade, estaria plenamente satisfeito em si mesmo. A esperança,
portanto, só pode caber àquele que ainda não tem; a esperança é o ainda não,
é de certo modo o ainda não.
Tema fabuloso que foi examinado por grandes filósofos de todos os
tempos; se desejássemos fazer uma síntese, por pequena que fosse, das longas
especulações em torno dessa matéria, teríamos de nos derramar por páginas e
páginas, o que não julgamos necessário ante a finalidade dessa obra. E
explicamos porque: o que nos interessa é compreender bem a esperança
humana ante a insegurança humana e a fé humana; o que nos interessa é dispor
dos elementos suficientes para procedermos à análise de uma época como a
nossa em que vemos aumentar a insegurança, a desesperança e a ausência
de fé. E como se o homem de hoje fugisse cada vez mais de si mesmo, se demitisse
como homem, e muitos se demitem, buscando aproximar-se e a proceder como
animais, a reagir como animais, a fazer renascer dentro de si instintos que já
estão mortos, a deixarem-se arrastar pelos impulsos mais primitivos, que ainda
exercem sobre nós um poder imenso, e nos transformam em verdadeiras
coisas, ao sabor dos acontecimentos. Nesses momentos procuram afastar o
olhar de si mesmos, da própria personalidade humana, fugir do homem, enganar-
se de um modo impossível, daí o tremendo ridículo que apresenta a desesperança
moderna, que não consegue atingir o trágico, não sai do campo da farsa nem do
grotesco, não consegue tanger a grandeza dos altos momentos estéticos que o
homem é capaz de criar.
Mas essa desesperança, esse estado de descrença, essa total falta de
segurança não é alguma coisa que acontece sem uma razão de ser, porque nada
acontece sem uma razão de ser; há um princípio de onde tudo isso se origina, e
há causas de onde tudo isso sobrevém.
Não nos basta que apenas registremos esses fatos, nem que os deploremos,
nem tampouco que acusemos aqueles que foram avassalados por essa queda. O
que se impõe para nós é investigar também tudo quanto motivou o que
[246]
acontece, e, quando essa análise for feita com o necessário critério, verificaremos,
então, que o ser humano violentou uma série de pontos importantes, uma série
de valores sagrados, que deveria respeitar sempre, e que não se poder violentar
impunemente, porque, inevitavelmente, os prejuízos que decorrem são os mais
maléficos e também os mais terríveis. Colheremos o que plantarmos e se
plantamos o mal há de se colher o mal. O bem só poderia surgir do mal por
acidente, nunca per se, como também o mal não pode surgir do bem se não por
acidente, e nunca per se. Se a nossa sementeira tivesse sido boa, se as nossas
sementes tivessem sido bem escolhidas, não poderíamos hoje estar deplorando
a colheita de frutos ácidos que estamos fazendo. Mas, se erramos, devemos
compreender que isso decorre das próprias condições do homem, da sua própria
natureza, que é apta a escolher entre futuros contingentes, em fazer e poder deixar
de fazer, em preferir o melhor e afastar-se do pior. Se o homem tem essa
capacidade, o que é comprovado pela experiência e pela sua própria condição
humana, e é da raiz da sua natureza, o homem pode saber e deve saber que
possui dentro de si todos os meios possíveis para escolher o melhor e para
realizar o melhor. Portanto, somos responsáveis pelo presente, que é o resultado
do que escolhemos no passado; somos muito mais responsáveis do que julgamos e
é uma covardia nossa querermos atirar essa responsabilidade ao Ser Supremo,
fonte e origem de todas as coisas, como se Ele, maliciosamente, tivesse
preparado para nós o estado de coisas vigente.
Se uma grande voz perguntasse no Cosmos: Quem responde por tudo o
que acontece e o que nos venha a acontecer de grave, de ruim e de pior? Se
houvesse sinceridade, honestidade no ser humano, ele teria de responder: eu,
apenas eu.

III — A ESPERANÇA

Em face do exame da insecuritas do homem, paralelamente à


tímese parabólica, conclui-se que o homem, em face do ainda não,
em face do futuro, pode aguardar, esperar a realização de algo que
julga possível. Esperar é, portanto, uma atitude radicalmente huma-
na, tão profunda como a insegurança; é uma virtude humana, porque
há nela uma habitualidade do bem. E vimos que o amortecimento
da esperança implica, necessariamente, uma fé, um estado de assen-
timento forte da nossa mente sem temor de erro, sem a menor
trepidação. E o homem, este caminhante pela vida, é sempre alimen-
tado por uma esperança, como uma compensação para o estado de
insecuritas em que vive.
É evidente que estamos hoje ante uma tremenda exploração em
torno da amargura e do desalento, da desilusão e até da angústia,
da qual tem vivido e vive o homem moderno. Sabemos como esses
aspectos foram explorados pelas filosofias da existência. Basta que
volvamos os olhos para a literatura moderna, para que desde logo
notemos que o desesperar é uma inquietação acentuada, uma agudi-
[247]
zação constante da nossa insecuritas, uma exploração em
profundidade de tudo quanto nos coloca numa situação de dúvida, de
ansie dade que é, por sua vez, estimulada por uma publicidade que parece
satanicamente dirigida.
Multidões penetraram na descrença e na completa falta de con-
fiança, não só sobre o futuro do homem nesta terra como no futuro
do homem numa vida posterior. Mas a verdade é que, se passarmos
os olhos através da história, verificamos que o ser humano, todos
vez que se deixa avassalar pela descrença, coloca-se numa situação
insolúvel, numa aporia constante, sempre ameaçado de resvalar para
um abismo que o tragará para todo o sempre.
É que, descrente, sem fé, sente-se o homem completamente desli-
gado de sua origem e desorientado quanto ao seu fim; perde a sua
raiz primeira e o sentido da sua finalidade; e daí desmoraliza-se
ante os próprios olhos, a via que ele, como viandante, está percorrendo.
Então a angústia apodera-se de sua alma e vê-se empolgado no
torvelinho da própria existência. É o desassossego que o domina.
Busca todos os meios de fuga aos problemas que surgem, não sabe
mais como enfrentar a realidade que o cerca, as guerras, as lutas, a irre-
conciliação, a discórdia, a pobreza, as inquietações econômicas e
políticas; em suma, tudo' que pode abalar as ordens dentro das quais
ele tem de viver.
Em face desse espetáculo, não é de admirar que, cercado por
circunstâncias adversas, o pessimismo dele se aposse, a dor o invada
até o âmago, olhe seu semelhante como inimigo atual, e sinta-se
finalmente, sem sentido, sem razão, sem porquê. A desesperança
não se cinge a ser apenas uma tomada de consciência pessimista das
nossas possibilidades. Ela se agrava por uma angústia que cresce constan-
temente; dela mesma surgem os frutos trágicos que ela produz. A
tendência para o nada passa a ser uma aspiração, porque a própria
existência humana deixou de ter sentido. Não é apenas a consciência
da ameaça que nos cerca, não é apenas a consciência da nossa fra-
queza e da nossa insegurança; é que, a pouco e pouco, fortalece-se
dentro de nós uma certeza: a da nossa inutilidade, a da nossa marcha
para o abismo, a do nosso caminho para a morte; então vive-se
morrendo, morre-se morrendo, e não se vê outro destino para nós
senão o desfecho final, que passa a ser anelado como um término,
como um descanso, como um basta, porque a própria vida tornou-se
impos- sível de ser vivida.
Esta é a trágica experiência que vivemos hoje. O ser humano
constantemente é arrojado e é atraído por esse abismo; mobiliza-se
toda a inteligência e pouco resta da força criadora do homem para
julgar essa obra nefasta; e não é de admirar que surjam filósofos
que venham proclamar que, no plano metafísico, o âmbito natural
do ser é o nada.
Há umas palavras de Tomás de Aquino que devem ser lembradas. Diz ele:
“Não é verdade que o movimento próprio de um ser que procede do nada dirija-
[248]
se para o nada; a direção para o nada não é um movimento próprio da
natureza, a qual sempre se dirige para o bem, que é o Ser. A direção para o
nada apresenta-se precisamente pela falta desse movimento próprio”. Diz ele
em sua obra ‘’De Potentia’’, e diz bem, porque tudo quanto é, quer afirmar-se,
quer conservar-se, quer perdurar. O ser é uma perduração de si mesmo, é o
testemu- nho de si mesmo. Mas, perguntaríeis: não há um anelo para o nada? Não
há um desejo de estancamento, de niilitude? Não há um cansaço do próprio existir?
Não somos, seres humanos, tendentes para esse desfecho final? Não. Tudo isso
é mentira. O que tem levado o homem a desejar o desfecho final da niilitude
é apenas a ansiedade de libertar-se do estado aporético, da angústia do desespero,
da falta de fé em que vive.
O homem de hoje cansa-se também de não crer; cansa-se também de não
ter esperança; cansa-se de angustiar-se. Ele não pode perdurar dentro desses
estados, porque eles não lhe são naturais. O que ele na verdade deseja, o
que na verdade apetece, o que na verdade quer, é libertar-se desses estados
impossíveis, desses estados contrários à sua própria natureza. Não é a sua
liquidação, mas a liquidação desses estados o que ele quer na verdade; é a
niilitude da descrença; é a niilitude da desesperança; é a niilitude da angústia.
Aqueles que dizem o contrário mentem, exploram a fraqueza das
mentes humanas, para dar-lhes a impressão de que esse desejo de nada é um
desejo de nada ser. Ao contrário, é um desejo desse destrutivo, desse nada que
comprometeu a vida humana, que a angustiou, que a ensombreceu, que a tornou
trágica. O homem mais uma vez volve-se para a vida; todo esse desejo, todo esse
anelo, todo esse afã oculta a sua verdadeira intenção; esta é a verdadeira
intenção do ser: afirmar-se, testemunhar-se, perdurar, fortalecer-se.
Por isso é que, radicalmente, ante a insegurança que somos e em que
vivemos, a esperança é a nossa salvação. É uma exigência da nossa vida. Dela
não podemos nos afastar, dela precisamos, porque o desespero não pode ser a
resposta às nossas grandes interrogações, porque o nada, nada responde, o
negativo apenas nega, e o homem quer, na verdade, afirmações.
A resposta verdadeiramente que nós pedimos é essa: a que dê positividade, a
que testemunhe a sua própria realidade. A única maneira que temos de poder
enfrentar o avassalamento de idéias modernas, estimuladoras da angústia e do
desespero, consistirá, precisamente, em desenvolvermos o tema da esperança como
um tema antropológico, como uma das especulações mais importantes do homem;
aprofundarmo-nos na sua radicalidade, verificarmos que ela é fundamental para
a manutenção do homem, que ela é a melhor das respostas às suas verdadeiras
aspirações, que ela, enfim, é a única possibilidade de dar vigor à vida presente, a
animá-la para uma elevação cada vez maior.
Não poderemos anular a peçonha da discórdia, da dúvida, da descrença, da
desesperança, que envenenam e fazem definhar tudo quanto há de positivo no
homem, se não procurarmos na esperança este poder positivo, animador,
revivificante, restaurador da saúde mental do homem moderno.

***

[249]
Nós recebemos este termo esperança do latim ‘’spes’’, donde vem também o
nosso esperar. Os gregos chamavam-na de ‘’elpis’’, desejar ou querer alguma
coisa ardentemente, que do ‘’velle’’ latino, querer, vem ‘’voluptas’’, ‘’voluntas’’, de
onde volupttiosidade, volição, etc.
Quem espera alguma coisa espera o ainda não, o que pode acontecer. Mas
quem espera ardentemente por alguma coisa e a deseja, porque espera o que lhe
será um bem.
Não vamos nos interessar pelas discussões filosóficas em torno desse tema,
se não na medida e no alcance em que nos possa auxiliar para a finalidade desta
obra. Todos os que a estudaram com proficiência encontraram nela o desejo
ardente de algum bem para o qual a nossa atenção expectante se dirija,
aguardando o seu suceder. Desse modo, encontra-se uma raiz da esperança nos
movimentos afetivos. Ela pertence em grande parte à afetividade; e dizemos em
grande parte, porque também pode ser delineada pelo entendimento, clareada em
seus termos, de forma que pode ser também um produto da cooperação entre a
vontade e o entendimento.
Mas outra característica se notou: é que aquilo que se aguarda, aquilo pelo
qual se espera, é algum bem que não é fácil de obter, é um bem difícil, é um
bem árduo, e é precisamente por essa característica de ser árduo, que ele move
com intensidade as nossas paixões. Há na esperança, um apetite, uma oréxis,
um desejo para algo que é um bem possível, mas difícil de se alcançar, um
bem que está no futuro, mas que se distingue de qualquer desejo comum por um
aspecto específico: é que essa tensão expectante é para algo determinado, e para algo
que se tenha confiança de se conseguir, embora reconheçamos que há maior
dificuldade em obtê-lo. Por isso os antigos psicólogos diziam que a esperança
é uma afecção, é uma paixão original própria do apetite irascível; não é uma simples
concupiscência, porque acrescenta a confiança de que é possível vencer as
dificuldades que possam ocorrer para a consecução do objeto, e é por
isso que esse bem é um bem árduo, árduo porque é difícil de ser obtido.
A esperança humana tem essas características; ela é, sem dúvida, um
movimento da vontade, que tende para esse bem árduo, difícil de ser obtido,
mas possível, do qual ela tem a expectativa e a confiança de obtê-lo. E esta
direção, esta oréxis, dirige-se para as empresas humanas, para aquilo que podemos
obter aqui na nossa vida, no decurso da nossa existência, não só individual como
das gerações; e também para algo que ultrapassa esta própria vida, para
algo que se coloca além da nossa existência. Deste modo, poderíamos distin-
guir dois tipos de esperança; uma esperança terrena, uma esperança para as
nossas próprias realizações, e uma esperança que ultrapassa a nossa vida, que
é aquela que surge na religião com o nome de esperança teologial.
Porque, apesar dessa firmeza indefectível que tem o ser humano quando
espera com esperança que irá obter o bem árduo, o bem difícil, ele, contudo,
sabe que nem tudo que ele deseja, que nem tudo a que ele aspira lhe será dado
aqui, devido aos limites da sua existências, às deficiências do seu próprio ser.
E então, como ele tem um aspirar mais amplo, um aspirar que ultrapassa esses
limites, e não pode admitir que este aspirar seja ruim e que é ao mesmo
tempo para ele a certeza de uma afirmação rigorosa e justa, aguarda que alcance
depois aquela plenitude que não se pode conciliar com a sua limitação, que as suas
[250]
deficiências não podem adequar-se mas que todo o seu ser afirma não ser
uma impossível, todo seu ser afirma que lhe foi prometido, pois há vozes
interiores que lhe dizem que é uma herança que lhe cabe. Por isso ele crê, ele
confia, ele sabe que a sua esperança não será defraudada, e que o bem anelado
um dia lhe caberá.
Daí dizer São Paulo, na sua Epístola aos Romanos, porque “com esperança
estamos salvos; que a esperança que se vê já não é esperança, porque alguém
vê o que esperava, mais, se esperamos o que não vemos, com impaciência
esperamos.” Nos Salmos encontramos: “Porque Tu, ó Senhor, és a minha
esperança, minha confiança desde a minha juventude.” E mais adiante diz ainda
São Paulo: “...Sabedores de que a atribulação produz a paciência, a paciência
produz a virtude provada, a virtude provada a esperança e a esperança não
ficará confundida.”
É a esperança uma virtude teologial do cristianismo, mas também não
podemos negar que nós a encontramos em todas as grandes religiões dos grandes
ciclos culturais, porque o homem não se com pletaria a não ser por ela. Assim
poderíamos dizer, para dar uma definição a gosto nosso, de linha matética, que
“a esperança é a oréxis de um ente racional, apta a promover uma tendência
extensiva, espectativa, consciente ou não, para um bem árduo, possível, cuja
posse ainda não é atual, mas que julgamos atualizável.”
Deste modo encontramos, da maneira como expomos, a esperança,
primeiro como própria de um ente racional, própria de um ser inteligente, quando
ela tem essas características, muito embora possamos falar, como mais adiante
veremos, de uma esperança animal, da qual também tratou Tomás de Aquino.
Ela é uma oréxis, é um apetite, é um anelo desse ente racional, mas um
anelo capaz de promover uma tendência, promover uma série de processos
que se estendem não só numa atitude de espectativa mas também de promover
ações dirigidas, as ações para um bem, para algo conveniente à nossa natureza,
mas um bem árduo, um bem de difícil consecução, mas possível; um bem que
não esteja longe da nossa natureza; um bem que não esteja em contradição
conosco, cuja posse, consciente ou não, não a temos, mas que julgamos que se
pode tornar atual. E dizemos consciente ou não, porque algumas vezes já temos
e não sabemos que já possuímos o bem anelado, que está virtualmente a nosso
dispor, mas que não soubemos atualmente aproveitar todas as possibilidade que
ele oferece. Por isso a posse não é atual, não está realizada, e o bem se coloca
para o futuro, mas para o nosso futuro.
E a esperança, e é importante considerar este aspecto da nossa definição, é
apta a promover uma tendência, uma ação para este bem, porque uma
esperança que fosse apenas passiva poderia muitas vezes defraudar-nos,
enquanto que, tendo, porém, a confiança na obtenção do bem, leva-nos a
promover algo para consegui-lo, nós dele nos aproximamos com muito maior
segurança.
Assim esses impulsos que nos levam a realizar o desejado implicam a
consciência da indigência por nossa parte de alguma coisa, e só estamos
realmente amadurecidos para a esperança quando temos consciência da nossa
pobreza, do que nos falta; e só aí que poderemos dirigir a nossa espera para o
porvir, para a posse daquele bem desejado, a qual nos dará a satisfação do
[251]
nosso desejo e o gozo que daí decorre, que já é uma paga ao anelo que nos animou.
Mas um dos pontos importantes da esperança está em considerar que este
bem anelado, além de árduo, é possível, porque o que vai distinguir a esperança
da desesperança é precisamente saber-se que o bem desejado é impossível
de ser obtido. Quando surge em nós a essência dessa impossibilidade, toda a
nossa espera perde a sua razão, deixa de ser segura, e então parece inútil e
infundada. É mister, para que ela se forme, que tenhamos confiança em obter
esse bem árduo.
Mas cuidado, para que essa nossa confiança não se transforme numa audácia,
não se transforme também num otimismo vão, não se transforme num excesso
que seria a presunção.
A deficiência da esperança é a desesperança, mas o seu excesso é a
presunção. E se desesperamos daquilo que nos é possível conseguir, erramos,
como também erramos quando presunçosamente julgamos fácil a aquisição do
bem que nos é árduo.
Estamos assim ameaçados de dois extremos perigosos e que têm sido a
causa de muitos de nossos males: desesperar ou presumir que é fácil alcançar-
se o que na verdade é difícil. É compreensível, pois, que a esperança também
possa ser alimentada; e ela tem muitos alimentos: um destes é o saber, a prudência,
o conhecimento; porque, graças ao conhecimento, graças ao saber, graças à
técnica, graças, em suma, a todas essas conquistas fundamentais do homem,
podemos ampliar as possibilidades da nossa própria esperança, porque podemos
tomar mais possível e conseqüentemente menos árduo o bem desejado. Eis por
que a esperança não se pode desligar de tudo quanto mais constitui a concreção
do homem e está exigindo não só o amor, não só o afeto, não só a oréxis,
mas uma maior afetividade, um maior conhecimento, uma incitação da nossa
tensão, um esforço, uma diligência, um emprego de meios sistematizados para
que tor- nemos possível, e mais rápida, a consecução do bem desejado.
Temos de prosseguir a estudar estes pontos e, sobretudo, saber se
dispomos desses meios, se com eles podemos contar, se podemos mobilizá-los para
o nosso bem, e assim tornar fácil ampliar cada vez mais a resposta mais segura,
mais certa, à pergunta que fizemos: Brasil, um país sem esperança?

IV — A ESPERANÇA HUMANA

A presença da esperança no homem é, ademais, a maior prova da sua


racionalidade e uma das suas profundas diferenças para com os animais; não que
não se possa falar também numa certa esperança animal, porque, como dizia
Tomás de Aquino, a observação dos animais nos mostrava que eles se movem
não só para os objetos presentes, mas também para os ausentes e futuros.
Bastaria considerar o instinto admirável das abelhas e de outros insetos, que
armazenam provisões para enfrentar o inverno, e dizia ele: “Se o cão vê a
lebre ou o falcão vê a ave muito distante, não se movem em direção à sua presa e não
esperam consegui-la; mas se a presa está perto, movem-se como sob a esperança
de consegui-la.” Mas o que falta nesta esperança é o conhecimento próprio
e formal do futuro pondo o objeto como possível; a previsão, o pressentir
antecipado é dado aos animais de maneira instintiva e impressa na sua
[252]
estimação natural. Podem os animais, sem dúvida, ordenar seus movimentos
presentes para o futuro, dirigidos, positivamente, pelos seus instintos naturais, com
aquilo que receberam da natureza. Mas a vontade do homem oferece distinções
muito grandes: é que ele estabelece não só uma mera estimação natural, mas
como que uma estimação de caráter racional. Ele compara valores, faz
comparações que ultrapassam as informações que seus ímpetos naturais lhe
podem dar; há exigências outras de comparações que o animal não pode ter, há
escolha de meios, de instrumentos, inclusive para preparar o caminho, para
alcançar a atualidade do bem esperado, em cuja escolha há uma perfeita
atuação, um perfeito processo racional que o animal não tem, porque toda
a motivação animal é puramente instintiva e no homem é motivação de caráter
intelectual.
Queremos com isso salientar que também a esperança tem um fundamento real
em toda a vida biológica e a tem porque a insecuritas não é uma situação
exclusiva do homem; a insecuritas é própria de todo ser finito, de todo ser
deficiente, de todo ser que não atinge a completude absoluta de ser, como é
todo ser natural, todo ser que nasce, todo ser que tem um início, todo ser que
exige uma causa eficiente, outra que ele, para que ele seja; todo ser que não tem em
si próprio a sua razão de ser e que não principia em si mesmo. E todo ser nestas
condições revela uma situação de vacilação ante a existência e busca
conseqüentemente colocar-se de modo a poder afirmar-se em si mesmo, a
perdurar em si mesmo, conservar em si mesmo; daí terem chegado alguns autores
a dizer, que existe uma esperança cósmica. Toda a natureza cósmica é uma grande
esperança na sua própria afirmação. Sim, analogicamente à esperança humana,
poderíamos admitir essa semelhança; mas a nossa esperança, aquela da qual
teremos de tratar, distingue-se desta, porque a nossa não só se refere às coisas
que podemos obter nesta vida, como também aos bens que são prometidos numa
outra vida.
Então, medianamente entre essa esperança animal e cósmica, poder-se-ia
colocar uma esperança biológica. Há, na vida, um apetite natural para afirmar-
se. Todo ser vivo, racional ou não, tem uma tendência nativa para seguir sendo
o que é, para realizar-se na plenitude de si mesmo, se não se desabrocha nele a
consciência dessa situação, como acontece na vida vegetal e animal. Contudo, não se
pode negar que há o que chamamos na linguagem popular de ‘‘gana de viver”,
uma apetência para seguir vivendo, para afirmar-se no futuro, uma tendência
para realizar o ainda não, um desejo de atualização constante da sua própria
especificidade e da sua singularidade, um dirigir-se constante para o bem
futuro, possível, embora árduo.
É esta a razão por que possui a esperança raízes muito mais profundas; em
face da insecuritas humana, que no homem se torna consciência, a esperança ressalta
com mais vida, com mais força e' também se torna consciência; e esta é a razão
porque se apresenta dentro de uma estrutura ontológica completamente nova,
a forma do esperar humano; apresenta a atividade criadora completamente
nova, porque tende toda aquela ação humana que for genuinamente criadora a
fazer com que o ainda não se realize. Esta chamada esperança natural, que
surge da nossa natureza, por todas essas razões de que falamos, não foi bem
compreendida pelos escolásticos, porque estes, dirigidos apenas para a
[253]
esperança teologal, nem sempre se preocuparam, como devera ser, com esse
esperar ativo, que confia em suas próprias forças e nos recursos de que dispomos
nessa expectação passiva e às vezes incerta, e que outras vezes é otimista é ativa,
e confundiram-na com a despreocupação, com a confiança vã, com a confiança
mal fundada, com a falsa esperança, que é o mero presumir de que possamos
obter esses bens árduos e possíveis, sem exigir de nós qualquer esforço,
esperança de que nós, brasileiros, dela terrivelmente padecemos, e que terá de
ser mais adiante um tema especialmente tratado.
Não se pode identificar a esperança apenas com o amor e o desejo; não
é somente amar, desejar, apetecer, ter oréxis para algum bem futuro, ainda não
possuído para que se manifeste a esperança; ela exige mais, ela exige esta
promoção ativa, este tender extensista, e não meramente expectativo, para a
obtenção desse bem. Não podemos esperá-lo como alguma coisa que nos será
dada, mas como algo que conquistaremos. Temos de ter confiança em nossas
forças e em nosso poder para alcançá-lo e também nos meios que empregaremos
para obtê-lo, mas cuidado sempre com a presunção, que é precisamente um excesso
da esperança, é o excesso de oréxis, é o excesso do apetite, que julga que basta
apenas apetecer, apenas desejar, para que alguma coisa aconteça segundo este
próprio desejo, este próprio apetecer.
A verdadeira esperança, conseqüentemente, exige esta promoção, exige esta
projeção para o futuro, exige um projeto: exige que se esboce o que fazer. Deste
modo, a verdadeira esperança determinasse a uma ação, e conseqüentemente a
uma práxis, e passa a atuar dentro do campo da práxis humana.
Ela pode ser também uma esperança universal quando se espera por
todo o bem, por todos os bens particulares, e quando a aspiração não se dirija
apenas ao bem supremo, como é próprio da esperança teologal, mas incluindo
todos os outros ao alcance das nossas mãos nos diversos lanços do caminho
da nossa vida. Por isso é que se percebe que é da dinâmica da esperança ter,
como término final, a felicidade, e esta seria então o apaziguamento da própria
órexis; não a apathéia dos estóicos, que é a liqüidação do nosso apetite, passando
nós a sermos apenas entregues a nada aspirar, julgando já ter tudo que era
possível de ser aspirado.
O término, que seria esta felicidade de plenitude, nós sabemos, e
ninguém é ingênuo para acreditar o contrário, não poderemos conseguir nesta
vida, mas podemos, sim, alcançar bens particulares em número cada vez maior,
sem que isto seja necessariamente um instrumento para destruir em nós a aspiração
suprema, que é característica da esperança teologal.
Meditando bem sobre tudo isso, poderiam os homens religiosos não
ter mais aquele temor que tiveram contra essa esperança humana, temor que
levou alguns adversários das idéias religiosas a afirmar: “alcance-se o bem-estar
humano e adeus igrejas e religiões”, como se fosse verdadeiramente real
que apenas anima o homem o desejo da obtenção dos bens particulares,
como se não houvesse, dentro de nós, um ímpeto mais longínquo, um
desejo de eternidade, um desejo de infinitude.
Muitos homens religiosos temeram pela humanidade; mas, estariam
totalmente errados? De certo modo sim e de certo modo não. De certo modo
sim, porque, realmente, em muitos homens, a esperança teologal está abafada, está
[254]
dominada pela aspiração dos bens particulares e próximos, e esta tem sido a razão
por que quando eles os obtém, sentem-se de tal modo satisfeitos como completados
no seu querer e no seu desejo, que não ouvem mais a voz de uma aspiração superior.
Mas se não ouvem mais a voz é porque seus ouvidos ensurdeceram, e não que esta
voz se tenha para todo o sempre apagado dentro deles; e a prova é que em pouco
tempo a própria posse desses bens satisfazendo suas aspirações anteriores não lhes
é mais suficiente para lhes dar a tranqüilidade desejada.
Outra vez a angústia deles se apossa, outra vez estreita-se a sua alma,
outra vez encontram-se no desfiladeiro da amargura e a discórdia surge outra
vez entre eles e a vida. Deles se apossa o tédio e o cansaço e se não se
põem a ouvir esta voz para a qual ensurde- ceram os seus ouvidos, deles se
apoderará o desepero e com o desespero a sua liqüidação. Podem procurar,
depois, em todos os derivativos que inventaram, a saída para esta situação, mas
serão portas falsas que não darão acesso à via de libertação mas à vida de
novas escravidões, que tornarão o homem cada vez mais miserável, cada vez
mais infeliz. E esta realidade, que é palpitante, que é cotidianamente
verificável, que é multiplicada nos exemplos que a vida nos oferece, deveria
ser acentuada com maior intensidade por estes homens religiosos, temerosos
dos bens materiais, para que mostrassem aos olhos de todos que esses caminhos
são falsos e não levam aos fins desejados, mas sim a desvios da via real, que
faz com que o homem se extravie e se perca no desespero e no inferno de uma
vida sem finalidade e sem encontrar uma esperança de libertação.
Não queremos confundir as duas esperanças. Mal procederíamos se
assim o fizéssemos; a esperança genuinamente cristã não versa totalmente, senão
muito parcialmente, sobre os bens deste mundo, mas também versa sobre
eles, como veremos mais adiante. Mas este é um objeto muito secundário,
porque o principal da esperança cristã é precisamente Deus, a bem-aventurança
eterna, que é objeto primário da esperança cristã que assim foi definida por
São Tomás, por Pedro Lombardo, e que encontramos, também, em São Paulo;
esta bem-aventurança equivale à vida eterna, proposta na revelação pelas
escrituras. O reino de Deus é apresentado nas escrituras como um objeto da
nova esperança. Os cristãos dos primeiros séculos esperavam comumente a
manifestação gloriosa do reino de Deus, a vinda de Cristo, o juízo final e a
bem-aventurança para os justos e a condenação dos pecadores. Não se julgue,
contudo, que dentro do pensamento cristão se tenha tomado uma atitude de
desinteresse por este mundo, que não haja também uma esperança que se dirija
às coisas deste mundo; São Tomás é claro em fazer esta análise, o que vem
provar, contra a opinião de muitos, que apenas julgam que só há um objeto
da esperança, que é a vida eterna. Este é o objeto principal no sentido teologal,
cristão, mas ao esperar também aqui, também das nossas coisas, ao esperar das
coisas que nos são próximas, a esperança dirigindo-se a bens futuros, árduos e
possíveis de possuir, mas bens nossos, próximos, desta vida, como ela vai
exigir uma promoção, e se esta é perfeitamente adequada para alcançar estes
bens e é ativa, ela se torna uma verdadeira virtude, porque veremos que ela é
viciosa quando cai ou no desespero ou na mera presunção.
Não vamos tratar nesta obra da esperança teologal; ela cabe aos livros
que tratam de temas religiosos. Vamos tratar da esperança humana, dentro
[255]
deste mundo, dentro das condições e do homem, e queremos saber se nós
podemos possuí-la, se nós podemos responder dizendo que sim, que há uma
esperança para nós, isto é, que podemos dar uma resposta positiva e oferecer um
caminho àquela pergunta que fizemos desde o início: Brasil, um país sem esperança?

V - DO DESESPERO E DA PRESUNÇÃO

Ao tratarmos da esperança, mostramos que ela conhece dois caminhos


viciosos: um por defeito, o outro por excesso. Por defeito temos o desespero; por
excesso, a presunção.
Desesperar é um movimento inverso da oréxls; contrário ao da esperança;
ambos referem-se a um mesmo objeto ou tema, mas em sentido inverso; se a
esperança é ativa e confiada na aspiração ao bem árduo mas possível, a
deseperança (ou o desespero) é a repulsa a este bem, é o fugir dele porque se
considera que a sua consecução é impossível. Desespera-se, então, de consegui-
lo; há uma retração do homem, pois o objeto desejado aparece-lhe
inacessível. Eis porque o desespero é apresentado sempre na filosofia como
uma priva- ção da esperança. Mas é mais, é um retrocesso, é uma repulsa até,
porque ao ímpeto da oréxls, que aspira ao bem, corresponde o ímpeto de fuga,
de afastamento, ao julgarmos que o bem árduo não é possível de ser atingido.
Então o futuro se marca como uma impossibi- lidade, o árduo provoca uma
intensidade emotiva de desespero, que é, sem dúvida, a repulsa a toda a esperança.
Mas há muitos modos e formas de surgir a desesperança, tantas quantas as
formas de surgir a esperança.
A desesperança pode surgir porque não fomos capazes de bem analisar o que
desejávamos, de modo a parecer impossível a sua consecução. Outras vezes ela surge
também de um cansaço, de uma deficiência da vontade em promover as ações
necessárias para vencer o bem árduo. Há, sem dúvida, uma diferença gradativa
entre desespero e desesperança. Pode-se estabelecer uma diferença na sua inten-
sidade. Se o desespero é uma desesperança, há nele a marca de uma tristeza,
de uma mágoa, de uma insatisfação profunda, enquanto que a desesperança às
vezes pode se apresentar mais leve, mais suave, mais conformada. Nós nos
conformamos muitas vezes com a desesperança, mas nunca com o desespero, e
eis a razão por que, se erramos em nossos cálculos e recuamos por fraqueza da
nossa vontade, a culpa desse desespero e dessa desesperança nos cabe. Somos
nós que seguimos uma tendência viciosa, somos nós que não tivemos o cuidado
suficiente de analisar os fatos para saber até onde poderíamos ir, quando não
estamos viciados pela pusilanimidade e, muitas vezes, pela covardia. E muitos caem
no abatimento, refugam da realização de obras grandes e difíceis porque são
pusilânimes, porque são covardes. . . .
Há desespero, porque nós o queremos; se bem o examinarmos, não
podemos nos considerar desesperados porque não pudemos atingir, nesta vida,
aquilo que não lhe é proporcionado, porque isto seria, pedir mais do que é possível
pedir, seria como a árvore que se entregasse ao abatimento porque não tem
olhos para ver, ou o pássaro que não tem aletas para nadar, ou o homem que
não tem asas para voar. São faltas que não nos são devidas, são faltas de
algo que não nos cabe à nossa natureza, e um desespero, fundado nestas faltas,
[256]
é um desespero irracional, sem base, sem a justa apreciação. O que se
precisa saber é se realmente a desesperança é constitutiva da existência humana,
do mesmo modo que é constitutiva a esperança. Sim, se se pensasse que todas
as ilusões propostas pelos homens, que todos os sonhos que foram construídos,
que todas as impossibilidades que foram imaginadas, deveríamos tê-las por direito,
então poderíamos dizer que sim, que a desesperança seria constitutiva da existência
humana. Mas não foi dado ao homem a inteligência e com ela ele não superou as
suas forças? Sem asas, ele não voa melhor e mais longe e mais alto que os
pássaros? Sem aletas, não penetra ele nos mares e não os domina? Não pode o
homem construir instrumentos que prolongam os seus meios de domínio
sobre as coisas do mundo? Não foi tudo isso dado ao homem graças ao emprego
da sua inteligência? Então, o que não lhe deu a natureza tem-lhe dado o saber.
O homem tem aumentado, multiplicado o seu poder, graças à sua inteligência e
também, sobretudo, graças à sua esperança, porque foi confiando nestas
possibilidades e usando dos seus meios cognoscitivos e dos meios de domínio
que ele foi alcançando, a pouco e pouco, os degraus mais altos da evolução e do
progresso técnico-científico.
Aqueles poetas românticos que exploraram as nossas deficiências porque a
natureza não nos deu certos poderes e, com isso, agravaram uma paixão, um
estado emotivo do homem, esqueceram de mostrar quanto de grande a sua
inteligência lhes permitiu fazer e como superou tudo quanto a natureza lhe
poderia dar.
Por isto temos de olhar com muito cuidado os propagandistas do
desespero, aqueles que constantemente exploram as nossas deficiências para
acusar a nossa vida de um mal que é vencível e não de um mal que é
fundamentalmente próprio dela, do qual ela nunca se poderia libertar.
Há uma desesperança teológica, que é um preâmbulo, sem dúvida, de todos
os vícios, e da descrença, e da falta de caridade, e das grandes derrotas
humanas. Esta surge da desesperação negativa, daquela falta de fé, daquela
descrença e do ateísmo que provocam verdadeiras catástrofes no ser humano:
descrença na ética e que produz, afinal, angústias, abatimentos, torturas,
desilusões e, finalmente, um desejo incontido de niilitude, de extermínio, de
aniqui- lação. Toda essa desesperança, provocadora de distúrbios psíquicos,
termina por mostrar que todas as nossas empresas são difíceis, que tudo surge em
cores negras como vitórias impossíveis, e então a tristeza e o pessimismo, que
sempre nos rondam, se aproximam dos desesperados, terminam por dominá-los
completamente, e o homem decai, e o homem perde a confiança em si mesmo,
e o homem demite-se da sua própria humanidade.
Há remédios contra essa desesperança. São muitos. As religiões oferecem
inúmeros, mas também na vida prática o homem encontra muitos outros. Há
necessidade de conhecer as nossas forças e as nossas possibilidades para que
não abriguemos dentro de nós a esperança mal fundada. Nós, se olharmos ao
nosso país nesse momento que ora vivemos, sabemos que a desesperança cresce,
cresce assustadoramente, avassaladoramente, embrenha-se em todos os setores
da vida nacional e parece como querer estabelecer um estágio definitivo, em que
nos demitimos completamente do nosso papel histórico e nos consideramos, de
uma vez por todas, uma nação sem esperança. Seriam estes que responderiam
[257]
à nossa pergunta: Brasil, um país sem esperança? Diriam eles: sim, um país sem
esperança, e sem recuperação.
Sem dúvida que isso não é uma impossibilidade; também podemos,
como outros povos, cair numa desesperança sem fim e sem remédio, podemos
repetir a história, porque a história também se repete. Mas o que resta saber
de nós é se queremos repetir essa parte da história, ou se queremos repetir
outra, a daqueles que vencem as suas derrotas, daqueles que superam as suas
fraquezas, daqueles que se afirmam e vão buscar, na sua esperança positiva-
mente bem fundada, o esteio e a força para realizar alguma coisa de maior.
Temos de tomar consciência do momento que passamos. Somos
responsáveis pelo que vier a acontecer de melhor ou de pior. Vai depender
exclusivamente da nossa escolha, da nossa ação, das promoções que fizermos; ou
ficaremos numa expectativa passiva, deixando que a decadência nos avassale,
ou enfrentaremos o desafio da história para nos impormos, como já nos
impusemos algumas vezes, no decurso de nossa vida.
Volveremos a tratar desse ponto, mas antes precisamos prosseguir no
estudo do desespero e da presunção.
A presunção é outro erro contrário à esperança. É o segundo erro. É
uma grave enfermidade da nossa alma e muitas vezes estabelece um desfecho
fatal. Contrapõe-se à esperança por excesso, por excessiva imoderação do próprio
esperar. Presunção significa, eti- mologicamente, tomar excessivamente alguma
coisa; e ela consiste, psicologicamente, no ato intelectual de pensar arrogantemente
sobre a própria excelência, em julgarmos que o que é possível atingir não é um
bem árduo mas um bem fácil, um bem para o qual nos basta apenas uma
expectativa passiva, porque adviria para nós como uma decorrência fatal. A
presunção é verdadeiramente destrutiva, porque a verdadeira esperança exige
a promoção de atos para alcançar esses bens árduos e possíveis, enquanto que a
presunção que é uma intemperança no esperar, é uma imoderação do próprio
esperar, que nada faz, que nada realiza para atingir o bem, aguardando que ele nos
sobrevenha, sem que de nós seja mister o uso de qualquer esforço.
É um erro imperdoável, porque leva à desídia, à não perseveração nos
trabalhos e nas realizações, leva a uma expectativa falsa, a uma aceitação sem
fundamento e, conseqüentemente, a presunção pode terminar por ser geradora de
grandes desesperanças porque, não se alcançando o bem desejado, tende-se a
atribuir a culpa não a nós, que nada fizemos para alcançá-la, mas a uma entidade
abstrata, como o destino, a fortuna, a sorte, o fato, ou até a acusar o próprio
Deus por não termos obtido aquele bem para o qual nada fizemos para alcançar.
E, se sofremos da presunção, nós, brasileiros, uma resposta terrível
daríamos à nossa pergunta: Brasil, um país sem esperança? É o que vamos
analisar, onde passaremos a estudar o que há de positivo em nós e o que há de
negativo, porque só desse estudo nos será possível dar uma resposta devida a esta
pergunta tão exigente e tão importante em nossos dias.

[258]
VI — O POSITIVO E O NEGATIVO EM NÓS

Ao estudar as duas formas defeituosas, ou melhor, as duas formas viciosas, que


se colocam frente à esperança, vimos que uma delas se processa por defeito, que é
a desesperança, e a outra se processa por excesso, que é a presunção.
Na presunção, vislumbra-se, sem dúvida, uma certa intemperança no
esperar; tendo a esperança como objeto um bem árduo e possível, o homem
pode alcançá-lo de duas maneiras: ou por suas próprias forças, ou, então, por
virtude de outro, ou até pela intervenção divina. Em qualquer dos dois casos,
pode dar-se um excesso de presunção, por confiar demasiadamente na própria
virtude e nos meios de adquirir esse bem, quando, na verdade, ele excede a
capacidade própria, e estende-se, assim, sujeito ao malogro, por julgar-se
alcançável o que se coloca além das possibilidades, como há também presunção
por intemperança no esperar um poder extra-terreno que, apenas movido pela
misericórdia, dê o bem desejado, sem que, na verdade, se tenham méritos,
nem nada feito para consegui-lo.
Nós, brasileiros, padecemos sobretudo dessas duas presunções: da
primeira em menor escala, mas da segunda em grande escala. Da primeira, porque
ainda poderíamos estudá-la de um outro modo, como aquele que julga fácil
atingir a determinados bens árduos e possíveis, mas nada faz para merecê-los; e da
segunda por permanecer nessa expectativa passiva, demasiadamente otimista mas
vã, por faltarem os meios postos em ação, as providências, as promoções para
obtê-lo, e aguardar que tudo, em nossa vida, se possa solucionar pela
intervenção do poder de Deus.
Na expressão popular, perdoável pela sua ingenuidade, mas expressiva na
nossa imprevidência: “Deus é brasileiro”, julga-se que já nos cabe de direito,
desde todo o sempre, que as coisas sucedam no país de modo a acobertar as
nossas falhas, os nossos erros, os nossos desmazelos, e que o resultado final não
seja a conseqüência normal das promoções por nós feitas, ou da desídia nossa,
mas que seja um bem gratuito, dado pela divindade na sua misericórdia e na
sua magnanimidade, apenas em consideração por sermos brasileiros.
E isso nos tem custado caro através dos tempos; não que pre- guemos a
desesperança, mas o que não podemos defender é a expectativa passiva, é a
desídia, é a covardia para enfrentar as conseqüencias dos erros cometidos, é
querer convencermo-nos de que basta apenas desejar uma coisa para possuí-
la, e esquecemo-nos sempre de que tudo isso exige o emprego de meios e
promoções, sem os quais não é possível atingir aquele final por nós anelado.
Nós, brasileiros, temos sido um povo imprevidente, um povo que não
tem sabido organizar seu futuro; pior, que o tem desbaratado no seu presente,
que tem consumido com antecedência os frutos do amanhã, que o tem
comprometido pelos erros. Dirão: mas isso é apenas fruto da nossa ignorância,
somos um povo de ignorantes, um povo que apresenta um dos mais altos
índices de analfabetismo. Mas esquecemos de outro aspecto importantíssimo:
provimos de raças imprevidentes, o índio era imprevidente, também o era o
negro, e não primava pela previdência o próprio português. Era natural e normal
que decorresse daí uma tendência à imprevidência e às presunções viciosas,
pecados do nosso povo.
[259]
Temos tido, através dos tempos, elites que em alguns instantes puderam
equiparar-se às mais elevadas elites do mundo. Mas não devemos esquecer que
nunca fomos em toda a história governados pelo povo, nunca o povo brasileiro
participou realmente da administração pública. Ela sempre esteve nas mãos das
elites políticas, econômicas e intelectuais. Se há uma imprevidência do povo,
também há uma imprevidência dessas elites, e elas poderiam ter tido uma
melhor concepção da vida, porque tinham meios de conhecer e aprender com a
história dos outros povos. Apenas uma parte da elite preocupou-se com o
nosso destino. Outra parte preocupou-se apenas com os seus interesses e só
preveniram o seu futuro e o estabeleceram com firmeza. Cuidaram do que
lhes cabia apenas no âmbito pessoal e familiar ou do seu grupo, e esqueceram-se
do âmbito coletivo. Esses homens, aproveitando-se da pobreza do nosso povo,
pobreza intelectual sobretudo, guindaram-se aos altos postos, para contribuírem
em desbaratar as grandes riquezas nacionais.
Note-se que toda essa imprevidência nacional não é produto de uma escolha
livremente realizada; a imprevidência nacional é, sobretudo, um motivo, e decorre
da riqueza da nossa terra, das grandes possibilidades que ela nos oferece, dos
meios relativamente fáceis para a sobrevivência. O homem que vive nas zonas
frígidas do hemisfério norte tem de ser previdente por uma necessidade de sobre-
vivência, porque as condições ambientais, circunstanciais, são-lhe tão adversas que,
se não tomar as providências necessárias para enfrentá-las, não poderia perdurar.
Mas o Brasil é rico, a nossa terra é dadivosa, nossos rios são piscosos, nossas
matas ofereciam a caça fácil, as nossas árvores frutíferas surgiam por todos os
campos, nosso clima era benigno, não estávamos ameaçados de catástrofes próprias
das outras regiões do mundo; tudo para nós tornava a vida fácil. A imprevidência era
uma decorrência normal de tudo isto, porque não havia mister preparar-se para
longos inversos, para um inverno cujo controle escapava aos meios humanos. O
nosso homem, com poucos meios técnicos, podia obter o alimento necessário para
a sua manutenção, já que a conservação da sua vida não exigia tantos bens
quantos exigem aqueles que moram nas zonas nórdicas e frias.
E não sabiam disso os nossos intelectuais, e não sabia disso a nossa elite?
E não tinha a nossa elite de despertar no povo uma consciência sobre o amanhã?
Não houve por acaso no Brasil homens de valor que ergueram sua voz e
chamaram a atenção para esses aspectos? Por que esses homens falaram sozinhos,
onde estava o coro para acompanhá-los, onde estavam os companheiros para
segui-los? A nossa história é rica de homens de valor, que se podem colocar
não só paralelamente aos maiores homens do mundo como até superá-los. Mas
parte da nossa intelectualidade, educada em livros estrangeiros, e apenas
valorizando autores estrangeiros, nada fez para despertar em nosso povo a
consciência da sua verdadeira situação em face do mundo e do momento
histórico em que vivia, e então o colocou no estado em que estamos, numa
situação histórica para a qual não estamos devidamente preparados, e por isso
hoje estamos sofrendo, no Brasil, de uma dissolução de idéias, de uma
confusão que é sobretudo emanada ainda de certos intelectuais nossos que não
conseguem formar uma consciência brasileira.
E tudo isso contribui para que continuemos pecando, e pecando por
ignorância, e perseverando nos mesmos pecados, nos mesmos erros, presos à
[260]
mesma presunção, crentes de que é possível surgir inesperadamente a solução, e
como ela não surge, a nossa presunção está perdendo a sua força, e está ameaçando
passar para a deficiência e atirar o nosso povo a cair na desesperança. Então iremos
passar de um pecado para outro, iremos passar de um erro para outro. Pusemos
demasiada esperança em homens que não estavam à altura dos acontecimentos,
cujo malogro foi uma decepção tremenda para as multidões; pusemos demasiada
esperança em soluções que eram apenas teoricamente, e aparentemente, bem
fundadas, mas que não correspondiam à nossa realidade e por isso, na prática,
transformaram-se em malogros espantosos.
Estamos nesta situação; estamos perdendo a presunção, sem dúvida, mas
não estamos encontrando a verdadeira esperança. Estamos, sim, ameaçados de
ser avassalados pela desesperança; portanto, os dois extremos não nos servem,
nem a presunção nem o desespero, mas somente a esperança genuína, a
esperança válida, a esperança bem fundada, a esperança justa, a esperança que
é virtude e não pecado.

VII — ANALISE DOS ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS

Uma análise dialética concreta do que consiste propriamente o povo


brasileiro exige obra especial. No entanto, para o tema que esta obra aborda,
basta consideremos alguns aspectos suficientes para nos assegurar dados que
nos permitam dar uma resposta à pergunta formulada.
Considerando o povo brasileiro pelos seus fatores emergentes, pela sua
emergência, temos de considerá-lo na sua tectônica, que se divide em duas
estruturas: a estrutura hilética, ou estrutura material do povo brasileiro, e
a estrutura eidética, a formal. A primeira corresponde mais à matéria, no
sentido amplo que lhe dava Aristóteles, e a segunda corresponde mais à
forma, no mesmo sentido daquele filósofo. Ora, hileticamente, isto, é, na
sua parte material, teríamos de considerar o povo brasileiro dentro dos
seus aspectos etnológicos e examinar a constituição do nosso povo, que é
heterogêneo. Temos um grande contingente de sangue índio do mais variado,
o qual, também, por vez, revelava uma heterogeneidade na parte eidética,
isto é, nas suas formas culturais; um grande contingente de sangue negro e
um grande contingente, hoje o maior, de sangue branco. Podemos dizer que
etnicamente o povo brasileiro revela uma grande heterogeneidade e conserva
aderências de formas culturais próprias desses grupos étnicos que o formaram
e que constituem uma verdadeira matéria para sofrer novas informações
de caráter sociológico, de caráter histórico, de caráter jurídico, etc. Eideticamente,
nos seus aspectos formais, temos uma unidade inegavelmente dada ao brasileiro
pelo português, uma forma unitária de certo modo homogênea, porque todo o
Brasil é Brasil, ou como se diz popularmente: tudo é Brasil. E tudo é Brasil mesmo;
e é uma grande verdade esta, porque encontramos, de norte a sul, de leste a
oeste, uma certa homogeneidade eidética ou formal, embora encontremos
variâncias etnológicas muito profundas. O português conseguiu dar a este
país uma unidade que venceu e ultrapassou todas as peripécias e todos os perigos
que a nossa história registra.
[261]
Temos de partir do seguinte: se etnologicamente temos um aspecto negativo,
devido à heterogeneidade, e ainda à presença de aderências culturais heterogêneas
de vários grupos culturais heterogêneos, contudo temos uma unidade eidética
extraordinária, que devemos sobretudo à grandeza da obra portuguesa, que
aqueles que a estudam mais profundamente poderão compreender. Como não nos
cabe propriamente nesta obra fazer este estudo, registramos os seus resultados;
mas se nos for possível faremos no futuro um estudo em profundidade desses
aspectos, justificando esta nossa tese em relação aos fatores emergentes, ou
chamadas causas intrínsecas, como o eram estudadas pelos filósofos medievalistas, e
que não tem propriamente diferenças essenciais ante o que dissemos.
Quanto aos fatores extrínsecos, que são constituídos pelo ambiente
circunstancial e pelo ambiente histórico, pela causa eficiente, pela causa final,
que também constituem extrinsecamente um ser, vamos deixar de estudar a
causa eficiente, porque não somos um povo autóctone. Quanto à causa final, isto
é, para onde tendemos, o que desejamos, o que queremos, quais as nossas
finalidades, é tema a ser estudado oportunamente. Mas o que nos interessa
fundamentalmente são esses fatores predisponentes, ou essas causas
extrínsecas, que são constituídas pelo ambiente circunstancial e pelo histórico-social.
Ora, se nós observamos bem o ambiente circunstancial, temos de
incluir o geográfico, o meteorológico, o ecológico, etc., tudo quanto se refere
ao topos, ao lugar, ao ‘’ubi’’ onde se dá o Brasil. Estudando esse aspecto,
verificamos que ele oferece aspectos positivos e também negativos: por
exemplo, positivos no referente a certas facilidades para o desenvolvimento
da vida humana, para a sua manutenção, para a sua perpetuação, porque o
Brasil é praticamente um território aproveitável de norte a sul, de este a
oeste, é uma terra cheia de riquezas, é uma terra que oferece meios
extraordinários para o desenvolvimento de um povo, mas também é uma
terra que, pelas suas condições, torna a vida fácil, torna a vida não tão
sujeits aos perigos, às intempéries e às oposições, que outras regiões do
mundo nos mostram, o que não permite a formação de um espírito de
imprevidência, que é fundamental para o desenvolvimento de um povo.
Sabemos muito bem que os nossos índios não eram suficientemente
previdentes, nem o foram os nossos negros, nem tampouco os portugueses
que, embora tendo um grau de previdência maior, não tinham o suficiente para
assegurar ao povo uma índole outra que a que tem. Também se considerarmos
os fatores do ambiente circunstancial, verificamos que essa previdência não
poderia ser estimulada, não poderia ser tão motivada quanto o devera ser; daí
certas deficiências, certos aspectos negativos que revelamos.
Quanto ao histórico-social, que seria a constituição do elemento étnico no
seu aspecto social e sociológico, temos de compreender o seguinte: primeiro,
recebemos na formação cultural e histórica do Brasil um contingente de povos
que estavam em graus muito primá- rios de cultura. Os nossos índios
representavam graus de decadência de culturas superiores pré-colombianas; os
negros, que vieram ao Brasil, na sua maioria vieram das regiões mais
recuadas em cultura e técnica da África. O elemento português, que veio
para o Brasil, não representava, do ponto de vista técnico e cultural, o mais
alto que Portugal possuía; a maioria dos que vieram para o Brasil foram agricultores,
[262]
marinheiros, na sua maior parte analfabetos, ignorantes, homens que tinham uma
determinada capacidade, um determinado conhecimento, dentro de um setor muito
restringido.
Tivemos realmente algumas grandes cabeças de Portugal que ajudaram
muito na formação do Brasil colonial, que apresentou níveis extraordinariamente
elevados de cultura, trazidas por elementos portugueses e alguns estrangeiros,
mas não o suficiente para elevar a nossa grande massa que cada vez
crescia, mas crescia em primitivismo, crescia em primarismo, de modo que
a proporção de prima- rismo não diminuiu, e até em certos aspectos
aumentou, porque o número que compunha as camadas superiores não
cresceu nuir grau como devera, para que o país se tomasse, com o decorrer
do tempo, um país culto, ou, pelo menos, em que a população tivesse uir grau
de técnica e de conhecimento e de prudência mais elevado para fazer uma
compensação às deficiências que provinham de outras origens, e como
naturalmente a presença das aderências culturais inferiores tinham de atuar
no nosso histórico-social, o homem que surgiu, as novas gerações, encontraram
um ambiente circunstancial que não era muito propício para o seu desenvolvimento.
Tínhamos normalmente de permanecer como um país primitivo e, enquanto a
Europa progredia a passos largos, não podíamos seguir o mesmo ritmo, pelo
menos na sua generalidade, porque a grande massa, a parte hilética da nossa
população, não estava à altura desse desen- volvimento, apesar de termos tidos
elites no Brasil comparáveis às elites européias.
Fazendo agora uma espécie de combinação de todos esses fatores, vamos
encontrar uma séria de aspectos negativos no nosso povo que são provenientes
destas condições; uma miséria praticamente original, porque esta parte étnica
brasileira, que constituiu a sua estrutura hilética, não era possuidora da técnica nem
de meios econômicos suficientes para um desenvolvimento posterior; e o Brasil
é um país pobre, porque o nosso índio não tinha capitais, no sentido econômico,
nem o nosso negro, nem o português, que veio para o Brasil, nem posteriormente o
estrangeiro, que veio como emigrante.
De maneira que o Brasil sempre se desenvolveu como um país carente de
capitais, razão porque a sua economia tinha de sofrer certas restrições, certas
deficiências, que outros povos não sofrem, porque esses povos, possuindo capitais
acumulados através de gerações, podiam, aplicando-o à economia nova que
surgia, atingir graus que nós não tínhamos possibilidade, porque não possuíamos
reservas de capital para tanto, nem reservas técnicas, nem reservas administrativas;
conseqüentemente, a pobreza, e até vamos dizer mesmo a miséria brasileira,
tinha que ser acentuada e não podia deixar de ser; era uma das nos- sas condições.
Por outro lado, tínhamos outras dificuldades graves, que perturbaram a adoção
de métodos técnicos europeus: uma certa indisciplina por parte dos nossos índios
e dos seus descendentes, porque sabemos que os nossos índios não têm o sentido
do trabalho, da organização disciplinada na economia; o índio nunca poderia
conceber uma ordenação de trabalho dentro de horários prefixados; gosta de
fazer apenas o que lhe agrada; o negro, por sua vez, tremendamente sacrificado,
sujeito às grandes explorações, experimentadas já na própria África, só
considerou a liberdade no sentido da isenção de vínculos, apenas nesse aspecto
genérico. Nunca sentiu a liberdade num sentido superior, como a capacidade de
[263]
escolher entre futuros contingentes. Ele queria apenas libertar-se dessas algemas;
mas quando se liberta dessas algemas, não é capaz de criar uma disciplina
para si, ele não se organiza. Ele vai ter uma vida desorientada, desordenada e, em
regra geral, cai não só como homem produtivo, como também na própria
organização social. Dessa maneira o negro permanece na nossa cultura um tanto
marginalizado, por razões sobretudo étnicas; e não ingressou ainda na cultura
que temos, que é uma cultura européia, de forma que ele não tem essa facilidade
de se tornar um trabalhador, senão sob ameaça, porque, inegavelmente, é do
espírito negro, como tivemos oportunidade de mostrar em nosso livro “A Invasão
Vertical dos Bárbaros”, que o negro não tem uma concepção do trabalho em
sentido livre, libertário, de libertação do homem, mas sempre o trabalho como
uma pena, como um castigo, como a determinação de um poder superior, que o
ordena a trabalhar para produzir para outro, de maneira que o trabalho é sempre
olhado por ele como alguma coisa que é o sinal de sua escravidão, de sus limitação,
de sua falta de liberdade.
Esses dois elementos não se disciplinaram e os descendentes continuaram
herdando esse espírito; de forma que, com esses ele mentos hiléticos, constituídos
das raças negras, das raças índias, que formavam o Brasil, nós não conseguimos
estabelecer tipos de homens disciplinados para o trabalho.
Tínhamos por outro lado o português que, com seu espírito de trabalho,
ajudou a dar uma certa disciplina, sempre naturalmente inferiorizada, nunca
alcançando aqueles níveis de coordenação e de estruturação desejada. Esses
elementos representavam e representam ainda aspectos negativos, dentro da
nossa vida social. Mas ninguém pode negar que, apesar de tudo isso, com esse
elemento, o português conseguiu realizar na América obras grandiosas; quer dizer
que esse elemento era disciplinável, apesar de todas as suas deficiências.
Mas o que é mais notável, e eis aqui o aspecto positivo, e que mereceria
um estudo todo especial, é a capacidade criadora, de autonomia, a capacidade
inventiva para resolver problemas, que possui nossa gente, em que, com
menor esforço, atinja os mesmos resultados. É um dos aspectos positivos,
extraordinários do nosso povo, que tem de ser considerado. E nessa
capacidade criadora o povo brasileiro precisa ser estimulado a criar, pois
tem uma capacidade de improvisação e de criação estupenda, que nenhum
outro povo tem; e é mister deixar que a iniciativa, não só particular como de
grupo, se processe livremente, porque ela dá soluções espantosas.
Como conseqüência do que havíamos estudado, vendo a formação étnica
do nosso povo, encontramos uma tendência à indisciplina, que é muito normal
em nossa terra e é gerada por esse espírito que vem do índio e do negro, que não tem
capacidade de disciplinação próxima, senão remota. A disciplina tem de ser
imposta e não é livremente escolhida, não surge espontaneamente. Eis um aspecto
negativo, que, contudo, não é um defeito invencível e pode ser corrigido.
Outro aspecto para nós tremendamente benéfico, mas, também, tremen-
damente maléfico, tem sido o que é natural nas Américas: o enriquecimento fácil. Na
Europa, alguém para chegar à fortuna e à riqueza, em geral, tem de acumular
através de gerações e de muito esforço; na América as fortunas se faziam da noite
para o dia. Tal possibilidade era um estímulo para atrair aventureiros de toda parte,
ansiosos desta fortuna; era natural que, ná formação étnica dos povos americanos, a
[264]
presença do homem de tipo aventureiro, do homem que vinha “fazer a
América”, tinha de ser muito grande. E esse homem, quando malogravam os
seus sonhos e os seus ideais, sentia-se um frustrado, um postergado, um traído,
e conseqüentemente um elemento pernicioso, perturbador, revoltado contra
tudo. Esse elemento, em vez de esforçar-se em constituir um fator progressivo,
tornava-se em geral um elemento que contribuía mais para a dissolução, inclusive
para a propagação de idéias européias dissolventes, que vinham perturbar e
aumentar mais os nossos defeitos.
Ora, se considerarmos também essas condições que possuímos, é de
compreender que a nossa política, desde o momento em que se fundamentasse, nas
suas raízes, em bases populares, tinha de decair dos padrões elevados que
apresentou, por exemplo, no fim do Segundo Império, e até no início da
República, porque o nosso povo, dada a sua pobreza, a sua miséria, não só
física como intelectual e também econômica, tinha de ser a presa fácil dos
demagogos, e estes encontravam terreno fértil para semearem as suas idéias e
até as suas promessas feitas sem a menor consideração e sem a maior possibilidade
próxima de execução. Foram cometidos erros econômicos, muitos deles copiados
de países estrangeiros, de condições totalmente diversas das nossas, que em vez de
estimularem o desenvolvimento do país cortaram de um modo violento o próprio
progresso da nação.
Considerando todos esses aspectos positivos e negativos, temos de prosseguir
ainda mais, comparando uns com os outros, para podermos compreender que
o estado em que se sente psiquicamente o nosso povo hoje é o de insegurança,
que vai gestando uma desesperança, que vai marchar para o desespero, de
conseqüências maléficas que decorrem de todo o povo desesperado.

VIII— RESPOSTA À PERGUNTA

Agora realmente já estamos aptos a oferecer uma resposta à pergunta


“Brasil, um país sem esperança?” E nossa resposta tem de ter uma prévia
explicação.
Em primeiro lugar, desde que o tema fundamental desta obra se
cingiu à esperança humana, a esperança do homem quanto à conquista dos bens
árduos e difíceis desta vida, teremos de dizer que o Brasil é um país que pode
ser realmente um país de futuro melhor. É um país que ainda pode despontar
na história, como uma grande nação. Tivemos três ou quatro grandes
oportunidades históricas, que deixamos se perdessem por imprevidência e
incapacidade nossa.
Nesta obra queremos citar o exemplo de Mauá (* Mauá (Barão e Visconde de)
— Irineo Evangelista de Souza (1813-1889).
Nada de mais grave, ponto crucial para nós, o momento mais importante da
nossa história, porque Mauá foi o divisor de águas, foi o instante em que se
abriram as portas do nosso destino. Se seguíssemos a linha recomendada por ele,
se o tivéssemos compreendido, se tivéssemos seguido as suas lições, hoje seriamos
a maior nação do mundo. No entanto, perdemos aquela oportunidade; outras
vieram; se hão sou- bemos aproveitá-las, isso não impede que não se possa
[265]
abrigar, em face dos aspectos positivos de que dispomos e dos negativos, que
são vencíveis após as análises que fizemos, que não se possa abrigar, repetimos, uma
esperança bem fundada, uma esperança que não é uma mera expectativa
passiva, uma esperança que deve providenciar todas as promoções necessárias
para que alcancemos uma situação melhor.
Há necessidade de que o povo brasileiro tome consciência mais nítida dos
problemas nacionais, e não há outro caminho senão que ele se organize, para que
tenha necessidade de estudar esses problemas e discuti-los, porque será nessas
discussões, nessas assembléias populares, onde se debaterão esses temas, que ele
a pouco e pouco irá conhecendo os problemas e também haverá possibilidade de
se revelarem os valores genuínos do país.
A nossa conclusão, em suma, é a seguinte: podemos abrigar dentro de
nós uma esperança com fundamentos reais e com exigências de promoções
de caráter ativo. O que não podemos admitir nem desejar para este povo é
a continuidade daquela confiança que era apenas uma expectativa passiva, que
admitia a possibilidade de que as coisas acontecessem de modo benéfico, sem
nada providenciar para que assim sucedesse; esta esperança deve ser, de uma
vez por todas, descartada da nossa vida, porque ela somente nos prejudicou.
Precisamos compreender que, para receber alguma coisa de bom, devemos
merecer, e para merecer, devemos dar em troca muito da nossa atividade e da
nossa boa vontade. Não basta apenas anelar, não basta apenas desejar, não
basta apenas o querer. É necessário agir, é necessário uma práxis. Temos que
criar uma práxis brasileira, que corresponda às nossas necessidades, e que possa
fazer a cobertura completa de todas as nossas deficiências; e isso não pode
deixar de ser senão por processos completamente diferentes e aparentemente
falsos.
Vamos dar a seguir algumas soluções para o Brasil que podem ser
aplicadas, por exemplo: dar à nossa democracia não mais o sentido representativo,
mas sim o sentido de democracia direta e cooperacional com mandato imperativo.
Muitos dirão: mas isso é impossível para um povo de ignorantes. Seria
impossível para um povo de ignorantes, se quiséssemos que esta democracia direta
e cooperacional funcionasse imediatamente. Mas, precisamente quando o
povo for chamado à responsabilidade das coisas públicas, sentirá a
necessidade de preocupar-se mais com o que acontece, preocupar-se mais em
conhecer, preocupar-se mais em saber. Este caminho, que, pensamos, só pode ser
seguido por um povo eminentemente culto, pode ser seguido por nós, e deve
ser seguido, porque será o único campo de culturalização do nosso povo.
E o caminho é que cada um compreenda que tem uma respon- sabilidade com
a coisa pública, que tem responsabilidade sobre o destino da nação; dos males
que nos acontecem, somos todos responsáveis.
Estamos certos que muitos, ao lerem estas últimas páginas, se colocarão
numa posição de inteira descrença sobre as possibilidades por nós apontadas.
Julgarão que este caminho não se adequaria a um povo cujo índice de
analfabetismo é tão alto, um povo que revela também uma incultura tão grande;
que esta solução só seria admissível a povos já possuidores de um grau de
cultura que os poderia guiar para se dirigirem a si mesmos com a máxima
segurança. Mas pedimos ao leitor que assim pensar que medite bem sobre esta
[266]
verdade prática, que foi salientada por todos os sábios: aprende-se alguma coisa
fazendo; o povo aprende o seu civismo cultuando a vida social, a vida
histórica, dá-se dentro do mundo da práxis, da prática, no mundo da ação, e
tudo quanto se dá neste é pela ação que aprende, é pela ação que se adquire o
conhecimento.
No mundo especulativo, sim, há necessidade apenas das deduções, da
especulação, mas no mundo prático é diferente, e o a que nós nos referimos,
o de que tratamos nesta obra é uma parte do mundo prático, e aqui há
necessidade de pôr-se em ação; a criança não aprende a caminhar senão
caminhando. Precisamos ensinar o povo brasileiro a caminhar, precisamos
ensinar o povo brasileiro a ser um povo dirigente de si mesmo, e ele não
poderá aprender a fazer isso senão fazendo; e é fazendo, e é errando, e é
sofrendo, que ele vai aprender.
Portanto, nós afirmamos: Brasil, um povo sem esperança? Não. Um povo
com esperança, mas com uma esperança ativa, com uma esperança que tem de ser
posta em ação.
Podem muitos argumentar que essas soluções oferecidas sejam de impossível
realização, e talvez não se venham a realizar não por uma impossibilidade intrínseca,
mas porque não disponhamos de uma vontade resoluta para pô-las em execução.
Esta possibilidade está incluída na ordem das nossas condições. Mas o que não
podemos deixar de afirmar é que esta é a única solução que nos resta; sem ela,
nos tornaremos um país sem esperança, porque não terá a seu favor nada de
positivo que se ponha em ação para realizar o que deve ser feito em benefício
do seu futuro. Neste caso, seria ingenuidade acreditar que seriamos capazes de
colher aquilo que não foi de modo algum semeado.

***

[267]
2- Os 5 Pontos para o Estudo da Obra do
Mário Ferreira dos Santos
1. Lista dos Livros:

[268]
Lista Organizada e Atualizada das Obras do Mário Ferreira
dos Santos, por suas filhas Nadiejda Santos Nunes Galvão e
Yolanda Lhullier dos Santos! Série Completa!

Seção I – Enciclopédia das Ciências Filosóficas

(Primeira Série)

I Filosofia e Cosmovisão. São Paulo: Edanee, 1952 (6.ed., São Paulo:


Logos, 1961).

II Lógica e Dialéctica. São Paulo: Logos, 1953 (5.ed., São Paulo:


Logos, 1964).

III Psicologia. São Paulo: Logos, 1953 (5.ec., São Paulo: Logos, 1963).

IV Teoria do Conhecimento (Gnosiologia e Criteriologia). São Paulo:


Logos, 1954 (4.ed., São Paulo: Logos, 1964)

V Ontologia e Cosmologia. São Paulo: Logos, 1954 (4.ed., São Paulo:


Logos, 1964).

VI Tratado de Simbólica. São Paulo: Logos, 1956 (5.ed., São Paulo:


Logos, 1964).

VII Filosofia da Crise. São Paulo: Logos, 1956 (5.ed., São Paulo:
Logos, 1964).

VIII O Homem perante o Infinito: Teologia. São Paulo: Logos, 1956


(5.ed., São Paulo: Logos, 1963).

IX Noologia geral: A Ciência do Espírito. São Paulo: Logos, 1956


(3.e., São Paulo: Logos, 1961).

X Filosofia Concreta. São Paulo: Logos, 1957 (4.ed., revista e


ampliada, São Paulo: Logos, 1961, 3v.).

(Segunda Série)

(A) Publicados

XI Filosofia Concreta dos Valores. São Paulo: Logos, 1960 (3.ed., São
Paulo: Logos, 1964).

[269]
XII Sociologia Fundamental e Ética Fundamental São Paulo: Logos,
1957 (3.ed., São Paulo: Logos, 1957 (3.e., São Paulo: Logos, 1964).

XIII Pitágoras e o Tema do Número. São Paulo: Logos, 1956 (2.ed.,


São Paulo: Matese, 1965), Ibrasa, 2000.

XIV Aristóteles e as Mutações (tradução e comentário de Da Geração e


da Corrupção das Coisas Físicas, de Aristóteles). São Paulo: Logos,
1955 (2.ed., São Paulo: Logos, 1958).

XV O Um e o Múltiplo em Platão (tradução e comentário do


Parmênides, de Platão). São Paulo: Logos, 1958.

XVI Métodos Lógicos e Dialécticos. São Paulo: Logos. 1959 (4.ed.,


revista e ampliada, São Paulo: Logos, 1965, 3v.)

XVII Filosofias da Afirmação e da Negação. São Paulo: Logos, 1959.

XVIII Tratado de Economia.. São Paulo: Logos, 1962, 2v.

XIX Filosofia e História da Cultura. São Paulo: Logos, 1962, 3v.

XX Análise de Temas Sociais. São Paulo: Logos, 1962, 3v. (2.ed., São
Paulo: Logos, 1964).

XXI O Problema Social. São Paulo: Logos, 1964 (2.ed., São Paulo:
Logos, 1064).

XXII Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. São Paulo: Matese,


1963, 4v. (4.ed., São Paulo: Matese, 1966).

XXIII Origem dos Grandes Erros Filosóficos. São Paulo: Matese,


1964.

XXIV Grandezas e Misérias da Logística. São Paulo: Matese, 1967.

XXV Erros na Filosofia da Natureza. São Paulo: Matese, 1967.

XXVI Das Categorias, de Aristóteles (tradução, notas e comentários).


São Paulo: Matese, 1960 (2.ed., São Paulo, Matese, 1965).

XXVII Isagoge, de Porfírio (tradução, notas e comentários). São Paulo:

[270]
Matese, 1965.

XXVIII Protágoras, de Platão (tradução, notas e introdução). São


Paulo: Matese, 1965.

XXIX O Apocalipse de S. João: A Revelação dos Livros Sagrados. São


Paulo: Cone Sul, 1998.

(B) Inéditos

XXX Comentários a S. Boaventura. Original datilografado, 100p.

XXXI As três críticas de Kant. Original datilografado, 226p.

XXXII Comentários aos “Versos Áureos” de Pitágoras. Original


datilografado, 88p.: mais tradução dos Comentários de Hiérocles, 57p.

XXXIII Cristianismo, a Religião do Homem. Original datilografado,


69p.

XXXIV Tao-Te-Ching,de Lao-Tsê (tradução e comentários). Original


datilografado, 85p.

(B) Dispersos e Fragmentos

XXXV Filosofia e Romantismo. Inacabado. Original datilografado,


42p.

XXXVI Brasil, País de Excepção. Inacabado. Original datilografado,


50p.

XXXVII Santo Tomás e a Sabedoria – e outras palestras inéditas.


Transcrição datilografada, 159p.

XXXVIII Enéadas, de Plotino. Tradução. Original datilografado, 179p.

XXXIX De Primo Principio, de John Duns Scot. Tradução. Original


datilografado, 68p.

XL Da Interpretação, de Aristóteles. Tradução. Original datilografado,


36p.

[271]
(Terceira Série)

(A) Publicados

XLI A Sabedoria dos Princípios. São Paulo: Matese, 1967.

XLII A Sabedoria da Unidade. São Paulo: Matese, 1968.

XLIII A Sabedoria do Ser e do Nada. São Paulo: Matese, 1968


(póstumo), 2v.

XLIV A Sabedoria das Leis Eternas. Introdução, edição e notas por


Olavo de Carvalho. São Paulo: É Realizações, 2001.

B) Inéditos

XLV Dialéctica Concreta. Original datilografado,196p.

XLVII Tratado de Esquematologia. Original datilografado, 215p.

XLVII Teoria Geral das Tensões. Inacabado. Original datilografado,


131p. XLVIII Deus. Original datilografado, 228p.

Seção II – Livros Avulsos

I. O Problema Social. São Paulo: Logos, 1962 (2.ed., São Paulo,


Logos).

II. Curso de Oratória e Retórica. São Paulo: Logos, 1953 (12.ed., São
Paulo: Logos)

III O Homem que Nasceu Póstumo: Temas nietzscheanos. São Paulo:


Logos, 1954 (3.ed., São Paulo: Logos). (coleção minimax em 2
volumes)

IV. Assim Falava Zaratustra. São Paulo: Logos, 1954 (3.ed., São Paulo:
Logos).

V. Técnica do Discurso Moderno. São Paulo, Logos, 1953 (5.ed., São


Paulo: Logos).

VI. Práticas de Oratória. São Paulo: Logos, 1957 (5.ed., São Paulo:
Logos).

[272]
VII. Curso de Integração Pessoal. São Paulo: Logos, 1954 (6.ed., São
Paulo: Logos).

VIII. Análise Dialética do Marxismo. São Paulo: Logos, 1954.

IX. Páginas Várias. São Paulo: Logos, 1960 (10.ed., São Paulo: Logos).

X. Assim Deus Falou aos Homens. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São
Paulo: Logos). (coleção minimax)

XI. Vida não é Argumento. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São Paulo:
Logos). (minimax)

XII. A Casa das Paredes Geladas. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São
Paulo: Logos). (minimax)

XIII. Escutai em Silêncio. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São Paulo:
Logos). (minimax)

XIV. A Verdade e o Símbolo. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São


Paulo: Logos). (minimax)

XV. A Arte e a Vida. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São Paulo:
Logos). (minimax)

XVI. A luta dos Contrários. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São Paulo:
Logos). (minimax)

XVII. Certas Sutilezas Humanas. São Paulo: Logos, 1958 (2.ed., São
Paulo: Logos). (minimax)

XVIII. Convite à Estética. São Paulo: Logos, 1961 (6.ed.., São Paulo:
Logos).

XIX. Convite à Psicologia prática. São Paulo: Logos, 1961 (6.ed.,São


Paulo: Logos).

XX. Convite à Filosofia. São Paulo: Logos, 1961 (6.ed., São Paulo:
Logos).

XXI. Dicionário de Pedagogia e Puericultura. São Paulo: Matese, 1965.


3v.

[273]
XXII. Invasão Vertical dos Bárbaros. São Paulo: Matese, 1967

XXIII. Brasil, país sem esperança? (Texto incluído no livro


Humanismo Pluridimensional, em 2 volumes)

XXIV. Se a esfinge falasse (pseudônimo Dan Andersen) São Paulo,


Editora e Distribuidora Sagitário, 1946.

XXV. Realidade do homem (pseudônimo Dan Andersen) São Paulo,


Editora e Distribuidora Sagitário, 1947.

XXVI. Teses da existência e inexistência de Deus (pseudônimo Charles


Duclos) São Paulo, Editora e Distribuidora Sagitário, 1946.

XXVII. Auto-biografia - incluso na obra Rumos da filosofia atual no


Brasil organizada pelo Padre Stanislavs Ladusãns

XXVIII. Catálogo geral das obras

XXIX. Páginas várias (englobada na coleção Antologia da literatura


mundial)
XXX. Conselhos úteis ao leitor no volume antologia de grandes
discursos brasileiros (englobada na coleção Antologia da literatura
mundial)

XXXI. Prólogos da vida de Pitágoras e Platão (englobos na coleção


Antologia de vidas célebres)

XXXII. Homens da Tarde, escrito Inédito.

Traduções:

I. Diário íntimo - Henri Amiel (tradução)


II. Vontade de potência - Friedrich Nietzsche (tradução)
III. Assim falava Zaratustra - Friedrich Nietzsche (tradução e análise
simbólica)
IV. Além do bem e do mal - Friedrich Nietzsche (tradução)
V. Aurora - Friedrich Nietzsche (tradução)
VI. A fisiologia do casamento - Honoré de Balzac (tradução englobada
na Comédia da vida humana, volume VIII)
VII. As idéias absolutistas do socialismo - Rudolf Rocker (tradução)
VIII. Histórias de natal (seleção, adaptação e tradução)
IX. Herman e Doroteia - Goethe (tradução)

[274]
X. Saudação ao mundo - Walt Whitman (tradução)

Não estão inclusos aqui as obras inéditas não publicadas e as obras


publicadas sob pseudônimos não reconhecidos e nunca revelados pelo
Professor Mário (que segundo ele, foram em torno de 20 volumes)

***

[275]
2. LISTA DOS ÁUDIOS

Mário Ferreira dos Santos


LISTA DOS ÁUDIOS
1. Biografia de Mário Ferreira dos Santos
2. Entrevista ao Pe. Stanislavs Ladusãns
3. Soneto de S. Francisco Xavier
4. Sobre o Comunismo
5. A Incredulidade do Homem Moderno
6. O Campo Cultural Moderno
7. A luta Pelo Poder
8. A Crise no Mundo Moderno,
Parte 1
Parte 1 (Continuação)
Parte 2
9. Conferência na ABI
10. Economia Política e Pecado Original
11. Cristianismo e Economia Política
12. Sociologia e Metodologia Científica
13. Sobre a Existência de Apenas uma Filosofia

[276]
14. Da Abstração e Metafísica
15. Exemplos de Filosofias nos Diversos Períodos da História
16. Integração e Desintegração da História
17. O Fundamento do Ser e a Causa Final
18. Palestra no Centro de Conferência Cultural (Completa)
19. Líder -Hitler
20. Sobre o Infinito
21. Estudos sobre os Pensamentos
22. Sobre a Literatura Hindu (Aula Completa)
Aula 1
Aula 2
Aula 3
23. Filósofos Portugueses
24. Filosofia Especulativa e Filosofia Prática
25. Respostas sobre a Filosofia Especulativa e a Filosofia Prática
26. O Pitagorismo e a Época em que Vivemos
27. Tema Teológico Cristão em face do Pitagorismo
28. Sobre a Psicologia
Parte 1
Parte 3 (Palestra sobre Unidade do Saber)
Parte 4 (Psicologia e Cristianismo)
Palestra sobre Psicologia (Parte 3)
Palestra sobre Psicologia (Parte 3 - Continuação)
Palestra sobre Psicologia (Parte 4)
Palestra sobre Psicologia (Parte 4 - Continuação)
Palestra Sobre Psicologia (Parte 10)
Palestra Sobre Psicologia (Parte 11)
Palestra Sobre Psicologia (Parte 12)
Psicologia - A Vontade Humana (Parte 1)
Psicologia - A Vontade Humana (Parte 2)
29. Sobre a Eternidade
30. Sobre a Felicidade e a Vida Interior
31. Economia - (Aula Completa)
Aula 1
Aula 2
Aula 3
Aula 4
Aula 5
Aula 6
Aula 7
Aula 8

[277]
Aula 9
Aula 10
Aula 11
Aula 12
32. Filosofia Concreta (Aula Completa)
1. Filosofia Concreta.
2. Mitos fundamentais do pensamento grego.
3. Anarquismo e filosofia concreta.
4. Neopositivismo e filosofia concreta.
5. Infinito.
6. Sobre o ser o nada.
33. Lógica Simbólica (Aula Completa)
1. Filosofia Antiga e Simbólica
2. Simbólica e Antropologia
3. Simbólica e Religião
4. Simbólica e Ordem Religiosa
5. Interpretação Simbólica
6. Natureza dos Símbolos
7. Signos e Símbolos
8. Simbólica e Interpretação 1
9. Simbólica e Interpretação 2
34. Sobre o Verdadeiro Cristianismo
35. Respostas aos Alunos
1. O Eterno Retorno
2. A Eucaristia
3. A Teosofia
4. O Problema da Magia e o Problema de Certas Práticas
36. Sobre São Boaventura
37. Sobre a Verdade
38. Sobre o Ceticismo
39. Juventude, Justiça, Humildade e Cristianismo
40. O Significado da Lógica
41. Sobre a Axiologia das Ciências
42. Palestra Sobre a Analogia do Ser
43. Temas Vários
Parte 1
Parte 2

[278]
44. Temas Brasileiros e Filosofia
Parte 1
Parte 2
45. Sobre o Anarquismo
1. Anarquismo e a sua Atualidade
2. Perguntas sobre o Anarquismo
46. Sobre as Ideias Eternas
47. Os Números e as Leis Eternas
48. Sobre a Cibernetica!
49. O Papel da Filosofia e da Ciência
50. Seminário Medianeira
Aula 1
Aula 2
Aula 3
Aula 4
51. O Pecado Original
52. O Mito de Caim
53. Livros Sagrados
54. Interpretação do Apocalipse de São João
55. Conferência - Teilhard de Chardin e a Filosofia Atual
56. Encontros Filosóficos
Encontro 1
Encontro 2
Encontro 3
Encontro 4 (Respostas sobre a Filosofia Especulativa e a FilosofiaPrática)
57. Aulas sobre a Dialética
Aula de Dialética ( Aula 1ª)
Aula de Dialética Concreta (Aula 4ª)
Aula de Dialética Concreta (Aula 6ª)
Aula de Dialética Concreta (Aula 7ª)
Aula de Dialética Concreta (Aula 8ª)
Aula de Dialética Concreta da Sociologia (Aula 1ª)
Aula de Dialética Concreta da Sociologia (Aula 2ª)
Aula de Dialética Concreta da Sociologia (Regravações da Aula 1ª)
Aula de Dialética Concreta da Sociologia (Regravações da Aula 2ª)
Aula de Dialética Concreta na Faculdade São Bento
Aula de Dialética na Faculdade N. S. Medianeira (Parte 1)
Aula de Dialética na Faculdade N. S. Medianeira (Parte 2)

[279]
58. São Boa-Ventura e a Mathesis

59. Sobre São Tomás de Aquino


São Tomas de Aquino - Concepção de Liberdade
São Tomás de Aquino e a Eternidade
São Tomás de Aquino e a Sabedoria - Conferência
São Tomás de Aquino e As Operações
60. Scot e Aristóteles em face da Mathese
Aula 1
Aula 2
61. A Mathese em Uráburu e Suarez
62. Matheses
Aula 72
Aula 73
Aula 74
Aula 75
Aula 76
Aula 77
Aula 78
Aula 79
Aula 80
Aula 81
Aula 82
Aula 83
Aula 84
Aula 85
Aula 86
Aula 87
Aula 88
Aula 89
Aula 90
Aula 91
Aula 93
Aula 94
Aula 95
Aula 96
Aula 97
Aula 98
Aula 99
Aula 100
Aula 101

[280]
Aula 102
Aula 103
Aula 104
Aula 107
Aula 108
Aula 109
Aula 110
Aula 110 (Continuação)
Aula 111
Aula 112

[281]
3. JORNAIS E REVISTAS COM TEXTOS
SOBRE O MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

*Primeiro Período da Vida do Mário


-Em Pelotas - RS

Arquivos de jornais obtidos na Biblioteca Pública


Pelotense (Fonte: Elvis Amsterdã - A DIALÉCTICA-
ONTOLÓGICA DE MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS)

1. Jury.
Diário Popular de 14 de novembro de 1928, em que está
registrada a estréia de Mário Ferreira dos Santos como
advogado.

2. PORQUE FUI DETIDO?


A Opinião Pública de 19 de dezembro de 1930

3. A HISTÓRIA QUE AINDA NÃO FOI


CONTADA
Diário Popular de 16 de abril de 1942.

4. UMA NOVA IDADE MÉDIA


Diário Popular de 13 de maio de 1942.

[282]
*Segundo Período da Vida do Mário Em
São Paulo
(Fontes: Biblioteca Nacional e Biblioteca da Unesp)

1. O Homem Livre, 1964, Outubro. Ano I, nº 001 – Revista que oMário


escreveu com participação de outras pessoas!

2. O Homem Livre, 1965, Março. Ano I, nº 002 – Revista que oMário


escreveu com participação de outras pessoas! (BibliotecaDigital Unesp)

3. Ação Direta, 1947, Fevereiro. Ano I, nº 31. Fala sobre o MárioFerreira


dos Santos.(Biblioteca Digital Unesp)

4. Ação Direta, 1954, Novembro e Dezembro. Ano VI, nº 096 – Há um


texto sobre a obra análise dialética do Marxismo do MárioFerreira dos
Santos.(Biblioteca Digital Unesp)

5. Ação Direta, Agosto e setembro de 1957, Ano 11, Nº 120. Há um texto


do Mário chamado Política e Ação Direta. (BibliotecaDigital Unesp)

6. Ação Direta, 1958, Março. Ano 12, nº 125. (Biblioteca DigitalUnesp)

7. Delbar, 1965, Setembro, Ano 1, Nº 1. (Biblioteca Digital Unesp)

8. Delbar, 1965, Outubro a Novembro, Ano 1, Nº 2. (BibliotecaDigital Unesp)

[283]
9. Delbar, 1968 , Abril e Maio, Ano 2, Nºrs 14 e 15. (BibliotecaDigital Unesp)

10. Centro de Cultura Social, 1991, n 21. (Biblioteca DigitalUnesp)

11. Revista Portuguesa de Filosofia – 1969 - Janeiro/Março - Háum texto


do Pe. Stanilavs Ladusãns sobre o Mário Ferreira dos Santos, muito bom
mesmo.

12. Artigo no Jornal - ''Diário Popular''- de 24 de Julho de 2020 -Mário


Ferreira dos Santos, um filósofo Pelotense? – escrito por Luís Rubira,
professor do Departamento de Filosofia da UFPel. – Artigo
extraordinário de tão bom!

13. Revista Unesp-Ciência, Agosto de 2014 – Há uma citação sobre o


Mário Ferreira dos Santos

14. Revista – Filosofia, Ciência e Vida – Há um texto de Ana Maria


Haddad Baptista sobre o Livro Filosofia e Cosmovisão doMário Ferreira
dos Santos, muito bom!

15. A CASA RJ – Edição de 1947 – Jornal publicado entre 1923até 1952.


(Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

16. Letras da Província: Publicação Mensal das Casas de Cultura de


Limeira e Jaú, oficializadas pela Associação Brasileira de Escritores de
São Paulo (SP) Edição de 1982. Jornal publicado entre 1952 até
1985.(Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

17. A Cruz - Órgão da Paroquia de S. João Baptista (RJ) Ediçãode 1954. -


Jornal publicado entre 1919 até 1923. (Parte 1)
(Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

[284]
17. A Cruz - Órgão da Paroquia de S. João Baptista (RJ) Ediçãode 1954. -
Jornal publicado entre 1919 até 1923. (Parte 2)
(Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

18. BRASIL REVISTA (RJ) – Edição de 1947 - Jornal publicado entre


1933 até 1960.(Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

19. A TARDE (PR) – Edição de 1956 - Jornal publicado entre1930 até


1960. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

20. A TRIBUNA (SP) – Edição de 1963 - Jornal publicado entre1960 até


1969.(Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

21. Diário de Natal RN – Edição de 1953 - Jornal publicado entre1948 até


1969 (Parte 1) (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

21. Diário de Natal RN - Edição de 1953 - Jornal publicado entre1948 até


1969 (Parte 2) (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

21. Diário de Natal RN - Edição de 1953 - Jornal publicado entre1948 até


1969 (Parte 3) (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

22. Diário de Notícias (RJ) Edição de 1953 - Jornal publicadoentre 1950


até 1959 (Parte 1) (Biblioteca Digital da BibliotecaNacional)

22. Diário de Notícias (RJ) Edição de 1953 - Jornal publicadoentre 1950


até 1959 (Parte 2) (Biblioteca Digital da BibliotecaNacional)

[285]
22. Diário de Notícias (RJ) Edição de 1953 - Jornal publicadoentre 1950
até 1959 (Parte 3) (Biblioteca Digital da BibliotecaNacional)

22. Diário de Notícias (RJ) Edição de 1953 - Jornal publicadoentre 1950


até 1959 (Parte 4) (Biblioteca Digital da BibliotecaNacional)

23. DIÁRIO DE PERNAMBUCO – Edição de 1972 - Jornal publicado


entre 1970 até 1979. (Biblioteca Digital da BibliotecaNacional)

24. Diário do Paraná - Órgão dos Diários Associados (PR) Ano de1957 –
Edição 628 - Jornal publicado entre 1955 até
1983. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

25. Diário do Paraná - Órgão dos Diários Associados (PR) Ano de1957 –
Edição 978 - Jornal publicado entre 1955 até
1983. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

26. Jornal de Notícias (SP) – Artigo de 1951 - Jornal publicadoentre 1946


até 1951. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

27. Leitura (RJ) – Artigo de 1958 - Jornal publicado entre 1923até 1973.
(Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

28. Letras da Província - Publicação Mensal das Casas de Cultura de


Limeira e Jaú, oficializadas pela Associação Brasileira de Escritores de
São Paulo (SP) – Edição de 1969. (Biblioteca Digital da Biblioteca
Nacional)

29. O DIA (PR) – Edição de 1954 - Jornal publicado entre 1923até 1961.
(Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

[286]
30. O DIA (PR) – Edição de 1958 - Jornal publicado entre 1923até 1961.
(Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

31. O Estado de Florianópolis (SC) - Edição de 1958. - Jornal publicado


entre 1915 até 1965. (Biblioteca Digital da BibliotecaNacional)

32. A Cruz - Órgão da Paróquia de S. João Baptista (RJ) – Ediçãode 1954


- Jornal publicado entre 1919 até 1923 (Parte
1) (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

32. A Cruz - Órgão da Paróquia de S. João Baptista (RJ) – Ediçãode 1954


- Jornal publicado entre 1919 até 1923 (Parte
2) (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

33. O Dia (PR) – 1954 - Edição de 1954 - Jornal publicado entre1923 até
1961. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

34. Voz Diocesana (MG) – Edição de 1968 - Jornal publicado entre 1965
até 1978. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

35. Tribuna da Imprensa (RJ) – Edição de 1963 - Jornal publicado entre


1960 até 1969. (Biblioteca Digital da BibliotecaNacional)

36. Tribuna da Imprensa (RJ) – Edição de 1991 - Jornal publicado entre


1990 até 2000 (Parte 1) (Biblioteca Digital daBiblioteca Nacional)

36. Tribuna da Imprensa (RJ) – Edição de 1991 - Jornal publicado entre


1990 até 2000 (Parte 2) (Biblioteca Digital daBiblioteca Nacional)

[287]
37. Tribuna da Imprensa (RJ) Edição de 2003 - Jornal publicado
entre 2000 até 2008. (Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional)

38. Suplemento Literário (SP) – Edição de 1970 - Jornal publicado


entre 1956 até 1985. (Biblioteca Digital da BibliotecaNacional)

39. Suplemento Literário (SP) – Edição de 1976 - Jornal publicado


entre 1956 até 1985 (Parte 1) (Biblioteca Digital da Biblioteca
Nacional)

39. Suplemento Literário (SP) – Edição de 1976 - Jornal publicado


entre 1956 até 1985 (Parte 2) (Biblioteca Digital da Biblioteca
Nacional)

40. Suplemento Literário (SP) – Edição de 1979 - Jornal publicado


entre 1956 até 1985. (Biblioteca Digital da BibliotecaNacional)

41. THOT (SP) - Edição Nº 24 de 1981- Revista publicada entre 1975


até 2004, pertencente a Associação Palas Athena – O Textodo Livro
do Mário – ‘’Assim Deus Falou aos Homens’’ está na Edição dessa
Revista quase de maneira integral, da página 19 atéa 25!
(https://palasathena.org.br/arquivos/thot/)

[288]
5. Trabalhos sobre Mário Ferreira dos Santos
O Quinto Ponto de Estudo da nossa Revista destina-se a reunir
absolutamente todo trabalho sobre a Filosofia do Mário Ferreira dos
Santos. Esse objetivo é muito importante para que possamos perceber a
atualidade do Mário Ferreira, a terna atenção e apreço que as pessoas
possuem pelo Mário, isso nos faz perceber a unidade das Preocupações
Filosóficas do Brasil e o nível de Cultura que as pessoas estudiosas
possuem. Nós esperamos que essa unidade de Trabalhos inspirem as
pessoas para que estudem a Filosofia do Mário Ferreira e passem a ter
um sentido Nacional - até Internacional – do seu Legado!

[289]
Primeiro da Lista: Mário Ferreira dos Santos: Guia para o estudo de
sua Obra – Olavo de Carvalho, Vide Editorial (2020)

1. A Redescoberta da Filosofia no Brasil II - Luís Mauro Sá Martino


2. Biografia completa do Mário – por suas filhas Nadiejda Santos Nunes Galvão e
Yolanda Lhullier dos Santos

3. Carlos Aurélio Mota de Souza - Por que reler Mário Ferreira dos Santos hoje?

4. Elvis Amsterdã do Nascimento Pachêco - A DIALÉCTICA-ONTOLÓGICADE


MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

5. Mário Ferreira dos Santos - Uma Esfinge no Labirinto - por suas filhas Nadiejda
Santos Nunes Galvão e Yolanda Lhullier dos Santos

6. Joelson Lima Vale - A Retórica Simbólica: Implicações de Mário Ferreira Dos


Santos À Pragmática do Direito

7. Roger Moura dos Santos - A Via Simbólica na Fundamentação da Matese deMário


Ferreira Dos Santos

8. Carlos Eduardo de Carvalho Vargas - Contribuições Filosóficas de MárioFerreira


Dos Santos À Metodologia da Pesquisa Sobre Religião
9. Igor Machado Correia; Lucas Emmanuel Plaça Margueiro - Mário Ferreira Dos
Santos: Um Estudo Sobre Cultura

10. Sidney Silveira - A Metafísica de Mário Ferreira dos Santos, um autodidata


brasileiro

11. Revista - Filosofia Concreta (Artigos de Vários Estudiosos)


12. Mário Ferreira dos Santos e o nosso futuro - Olavo de Carvalho
13. (Curso) Mário Ferreira dos Santos: Guia para o estudo de sua obra (em 5 Aulas) –
Olavo de Carvalho
14. Entrevista com o Filósofo Mário Ferreira dos Santos I - Esta entrevista foi
publicada no ano de 1976, em “Rumos da Filosofia no Brasil” — coletânea organizada
pelo Padre e Professor Stanislavs Ladusãns S. J., Edições Loyola —,

[290]
onde foram registrados os depoimentos de 27 autores e pensadores que traçam um
panorama geral dos caminhos da Filosofia no Brasil da época.

15. Dissertação de Mestrado em Filosofia - A Antessala da Argumentação: poruma


abordagem negativa. (2015) Fábio Salgado de Carvalho

16. O Volume 1: do Trivium e Quadrivium que é primeiro livro da Coleção 7 Artes


Liberais do Instituto Cultural Hugo de São Vítor e trata da doutrina geral doTrivium e do
Quadrivium também cita o Mário Ferreira dos Santos

17. Introdução ao Livro A Sabedoria das Leis Eternas - Olavo de Carvalho. (20Páginas
Frente e Verso a Introdução)

18. "O futuro do pensamento brasileiro" - Olavo de Carvalho


19. A filosofia de Mário Ferreira dos Santos Olavo de Carvalho -Aulas doSeminário
de Filosofia de 25 e 26 de Julho de 1997.
20. "Perspectivas Filosófico-Sociais na Obra de Mário Ferreira dos Santos", deWadson
Machado Neto (Universidade Federal de Juiz de Fora, 1988)
21. Extenso verbete sobre Mário Ferreira dos Santos na Enciclopedia Filosofica do
Centro di Studi Filosofici di Gallarate, por Pe. Carlos Beraldo
22. Mário Ferreira dos Santos: o portentoso criador da filosofia concreta, de JorgeJaime
(História da Filosofia no Brasil (1997) Capítulo Dedicado ao Mário no Segundo Volume
da Obra, que consta de 4 volumes!
23. Entrevista: Depoimento de Jaime Cubero entre 05 e 09 de maio de 1989. Ele cita o
Mário Ferreira dos Santos, como uma grande pessoa e um fantástico professor.
24. Jaime Cubero, em entrevistas a Rodrigo Rosa da Silva (Imprensa Marginal).Há
muitas citações sobre o Mário Ferreira dos Santos
25. Maíra Moraes dos Santos "Jaime Cubero: Uma trajetória de práticas libertárias
para a educação e para a vida" Cita o nome do Mário Ferreira dos Santos várias vezes.
26. Monografia de uma Pesquisadora da Letônia -Māra Kiope - Latviešu
Latgaliešu Un Brazīliešu Filozofa Jezuīta Staņislava Ladusāna Daudzpusīgais
Humānisms. Possui uma citação do Mário Ferreira dos Santos
27. Tese de Doutorado, por Antonio José Bezerra de Menezes Jr - Joaquim Guerra S.J.
(1908-1993): Releitura universalizante dos Clássicos Chineses. Há uma citação de Mário
Ferreira dos Santos

[291]
28. Ramus, Gustavo - «Anarquismo cristão e sua influência no Brasil» - Hácitações sobre
o Mário Ferreira dos Santos
29. Monografia de Licenciatura em Filosofia - Orlando Joaquim Inácio - A
Objetividade Da Verdade Em Santo Tomás De Aquino (2015) Várias Citações Sobre
Mário Ferreira dos Santos.

30. A MUSICALIDADE EXTRA MUSICAL OU A EXTRA MUSICALIDADE


MUSICAL DE RICARDO RIZEK - Prof. Dr. Paulo José de Siqueira Tiné – Há Citações
sobre o Mário Ferreira dos Santos

31. (Livro) O trivium: as artes liberais da lógica, da gramática e da retórica - Irmã


Miriam Joseph – (2018) Sister Miriam Joseph (1947 Original) – Na Tradução Brasileira
há uma citação sobre o Mário Ferreira dos Santos, feita pelo José Monir Nasser

32. (Curso) Arte, Ordem e Símbolo – Prof. Diogo Cruxen – (2020) – Hácitação sobre
o Mário Ferreira dos Santos. Plataforma – (Brasil Paralelo)

33. (Livro) – Desenho: Um Desígnio Humano. Ensaio Através da Tradição doDesenho


na Arte. - Diogo Felipe Cruxên – Colaboração: Erica Priscila de Souza Cruxên (2019) –
Há várias citações muito boas sobre o Mário Ferreira dos Santos

34. Tese de Doutorado em Enfermagem - A Enfermagem Militar Operativa


Gerenciando O Cuidado Em Situações De Guerra - Leila Milman Alcantara –(2005) - Há
Citação sobre o Mário Ferreira dos Santos

35. Artigo - Mário Ferreira dos Santos leitor de Nietzsche, Roger Moura dosSantos e
Edmilson Alves de Azevêdo.

36. Prefácio (20 Páginas, frente e Verso) de Ricardo Rizek da Obra ‘’Pitágoras e o
Tema dos Números’’ (Edição de 2000)

37. A Educação Segundo Paulo Freire: Uma Primeira Análise Filosófica José Junio
Souza da Costa – Cita o Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais do Mário Ferreira
dos Santos.

38. O Contraponto De Mário Ferreira Dos Santos À Epistemologia Cartesiana -Roger


Silva Aguiar E Maycon Zeni Gonçalves

39. Monografia -Licenciatura em Filosofia. ‘’A Antítese Eterna: Análise Do


Materialismo Dialético Segundo Mário Ferreira Dos Santos’’ - Wallece José Silva Lima
(2015)

[292]
40. A dialética de valor de uso e de troca e direcionamentos da ação humana
percipiente e propositiva em Mário Ferreira dos Santos – Murilo Carlos MunizVeras.
Artigo de 2017

41. As relações entre vida e moralidade em Nietzsche e as possibilidades de uma


filosofia do direito a partir da interpretação de Mario Ferreira dos Santos - AbraãoLincoln
Costa. (Artigo de 2017)

42. Nietzsche no Brasil (1933-1943): Da ascensão do nacionalsocialismo ao Grande


Reich Alemão - Luís Rubira. Há várias citações do Mário Ferreira dosSantos

43. A Decadialética De Mário Ferreira Do Santos: O Uso Da Dialética Como Método


Para Analisar A Realidade Concreta - Rafael Luis Boemo . (Artigo De2018)

44. Trabalho De Conclusão De Curso Bacharel Em Comunicação Social Na Faculdade


De Comunicação Social Da Ufjf - O Esoterismo No Expressionismo Alemão:A Obra De
F.W Murnau - Thauan De Assis Monteiro - 2012. Várias citações do Mário Ferreira dos
Santos.

45. Capim Limão: Ensaios sobre produção do conhecimento, material didático e outros
textos - Organização: Maurício Castanheira. 2015. Há várias citações sobre o Mário
Ferreira dos Santos

46. A Influência Do Pensamento Pitagórico Para A Compreensão Da Metafísica.


Jasmine Marlena De Sousa Nascimento E Ivan Jorge Sousa Pessoa. Artigo De 2016.

47. A Teoria Tridimensional Realeana: Da Ontologia À Ontognoseologia Jurídica. -


Marco Antônio Correia Bomfim. Artigo

48. Dossiê “Crise”. Revista Em Construção. (Artigo De 2018)

49. A Psicologia em suas Diversas áreas de atuação (Volume 3) Tallys Newton


Fernandes de Matos. (Organizador) (2020). Atena Editora. Nesse livro HÁ um Capítulo
de Título: Uma Análise Da Obra Nietzschiana A Partir Da Lógica Simbólica De Mário
Ferreira Dos Santos, De Tiago Teixeira Vieira.

50. Disciplina ‘’Seminário De Leitura Em Temas De Lógica B’’. UniversidadeFederal


Do Estado Do Rio De Janeiro, Professor Rodolfo Petrônio. Leitura do

[293]
“Tratado de Simbólica” de Mário Ferreira dos Santos, subsidiada por textos diversos,
desde o conceito de participação em Platão até as abordagens de JeanBorella e de Carl G.
Jung. (Emenda de Disciplina)

51. CONCEITO DE DIREITO: CONTRIBUTO PARA SEU RESTAURO - Marcelo


Jucá Lisboa (Juiz Federal No Tribunal Regional Federal De São Paulo.) Há Inúmeras
Citações Sobre O Mário Ferreira Dos Santos (2020)

52. A Educação Como Crítica À Modernidade Na Filosofia De Friedrich Nietzsche –


Vanilda Honória Santos. Há Várias Citações Sobre O Mário Ferreirados Santos

53. Os Valores E Sua Importância Para A Interpretação Constitucional E Para Os


Direitos Fundamentais - Cezário Corrêa Filho

54. Mestrado em Metafísica da Universidade de Brasília – UnB. ‘’A Questão Da


Autoralidade Na Filosofia Brasileira: Um Exame Cartográfico E Metafilosófico’’(2019)
- Everton Frask Lucero. Há Uma Citação Muito Importante Sobre O Encobrimento Do
Mário Ferreira Dos Santos.

55. Trabalho de Conclusão de Curso em Direito. Fundamentos conceituais do direito a


partir da filosofia de Mário Ferreira dos Santos - Kaleo Dornaika Guaraty

56. Desporto, Paideia e a Não Dualidade- Ensaio de Alberto de Oliveira Monteiro


(2011) – Há Citação sobre o Mário Ferreira dos Santos

57. Dissertação de Mestrado – ‘’Análise Crítica da Jurisdição Constitucional do


Supremo Tribunal Federal na Perspectiva da Teoria dos "Neutral Principles" - LUCIANO
ANDRASCHKO (2016)

58. Artigo: Considerações Propedêuticas À Filosofia Do Direito - Rogério Moreira


Orrutea Filho (2018)

59. Mário Ferreira dos Santos: a obra do maior filósofo brasileiro de todos os tempos
- Por Dante Henrique Mantovani (Doutor em Estudos da Linguagem pela Universidade
Estadual de Londrina)

60. CARA-DE-BRONZE: FACE DIVINA? - Diego Gomes do Valle (Artigo de2014)


Há várias citações sobre o Mário Ferreira dos Santos

[294]
61. Curso De Formação De Diplomatas 2019 – Bibliografias. Inclui O Mário Ferreira
Como Um Autor Brasileiro Importantíssimo - Controladoria-Geral DaUnião

62. A Formação Sensível Dos Docentes Por Meio Da Formação Estética Dos
Coordenadores Pedagógicos - Andrey Felipe Cé Soares (Artigo De 2013). Há Citações
Sobre O Mário Ferreira Dos Santos.

63. A Relação Do Imoralismo Com A Aquiescência Do Amor Fati Em Nietzsche


- Wagner Soares França. (Artigo De 2014) - Há Citações Do Mário Ferreira Dos
Santos

64. A ciência da guerra num mundo em movimento: aulas, obras e academias militares
na cidade do Rio de Janeiro (1763-1810) - Carlos Eduardo de Medeiros Gama (18
Páginas) - 35º Encontro Anual da Anpocs; GT 14 – Forças Armadas, Estado e sociedade;

65. Diário de um filósofo no Brasil. Julio Cabrera (2010)

66. Trabalho De Conclusão De Curso ‘’João Cabral: O Humano Nas Coisas’’ - Robson
Deon - Licenciatura Em Letras Português-Inglês (2017). Há IncontáveisCitações Sobre
O Mário Ferreira Dos Santos.

67. A suficiência como categoria de verdade em Tucídides - Pedro Barbieri –(Artigo


de 2017). Há citações sobre o Mário Ferreira dos Santos.

68. Sentidos Da Voz: Uma Análise Das Unidades De Discurso Presentes No Campo
Da Oratória - Thiago Barbosa Soares (Artigo De 2019) Há Citação SobreO Mário Ferreira
Dos Santos.

69. Relativizando A Tortura Ou O Retorno Da Barbárie - Eduardo Luiz Santos Cabette,


Delegado De Polícia, Mestre Em Direito Social, Pós – Graduado Em Direito Penal E
Criminologia, Professor De Direito Penal, Processo Penal, Criminologia E Legislação
Penal E Processual Penal Especial Na Graduação E Na Pós – Graduação Do Unisal E
Membro Do Grupo De Pesquisa De Ética E Direitos Fundamentais Do Programa De
Mestrado Do Unisal. (Artigo De 2017).Há Citação Sobre O Mário Ferreira Dos Santos.

70. O Proslogion de Santo Anselmo na perspectiva de Mário Ferreira dos Santos e


Julián Marías. - Vítor Meireles (Estudo de 2013)

[295]
71. Conceito de Inconstitucionalidade Fundamento de uma teoria concreta do controle
de constitucionalidade - Paulo Serejo (Procurador do Distrito Federal e Advogado)
(Artigo de 2000). Há Citações sobre o Mário Ferreira dos Santos.

72. Presentation By The Brazilian Minister Of Foreign Affairs, Ambassador Ernesto


Araújo, At The Federal Senate - Fundação Alexandre De Gusmão (4 DeMaio De 2019).
Há uma citação sobre o Mário Ferreira dos Santos.

73. Parmênides: O Não Ser Como Contradição - Nicola Stefano Galgano. (2019)Livro
Com Citações Do Mário Ferreira Dos Santos.

74. A Gênese Niilista De João Gilberto Noll - Diego Gomes Do Valle – (ArtigoDe
2019) Há Citação Sobre O Mário Ferreira Dos Santos.

75. A Simbologia Da Água Em Água Viva, Uma Aprendizagem Ou O Livro Dos


Prazeres E Perto Do Coração Selvagem De Clarice Lispector - Victor Hugo Pereira De
Oliveira (Artigo De 2017) Há Citação Sobre O Mário Ferreira Dos Santos.

76. A Diferença Entre Fator E Causa Para O Entendimento Da Justiça E Do Direito -


Tiago Tondinelli- (Artigo De 2009) Há Inúmeras Citações Sobre O Mário Ferreira Dos
Santos.

77. Livro: Teoria Do Conhecimento - Prof. Sandro Luiz Bazzanella (2012) Há


Inúmeras Citações Sobre O Mário Ferreira Dos Santos.

78. Projeto Pedagógico Do Curso De Bacharelado Em Filosofia (2009) Há Citação


Sobre O Mário Ferreira Dos Santos.

79. A Fantasia Está Sendo Criada Nas Mídias - Pesquisa Apresentada No XVII
Congresso De Ciências Da Comunicação Na Região Sul – Curitiba - PR - 26 A28 De
Maio De 2016 - Adriano Luís FONSACA E Paula Ávila NUNES

80. CURSO DE LEITURA FILOSÓFICA - Ministrante: Prof. Dr. Galileu Galilei


Medeiros De Souza. No Curso Terá Vários Livros Do Mário Ferreira Dos Santos Para
Serem Lidos (2020)

81. Educação Jurídica: Pressupostos De Uma Atividade Docente - MaurícioMarques


Canto Júnior. Há Citações Sobre o Mário Ferreira Dos Santos.

82. Uma Teoria do Discurso Constitucional - Luiz Vergilio Dalla Rosa (2002)

[296]
83. Pizzo - História e Administração da Máfia - Fabiano Barraca . Há citaçãoSobre o
Mário Ferreira Dos Santos.

84. Estrutura e Sentido da Enciclopédia das Ciências Filosóficas de Mário Ferreira dos
Santos. (Trabalho de Conclusão de Curso) - Olavo de Carvalho

85. A Axiomática De Mário Ferreira Dos Santos. – Elvis Amsterdâ DoNascimento

86. Memorização De Textos: Uma Proposta Educacional - Jelcimar RouverJúnior . Há


citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos.

87. A anedota de abstração na obra de Roberto Gómez Bolaños Wilson Filho Ribeiro
de Almeida Universidade Federal de Uberlândia – Artigo de 2013, publicado em 2014,
numa Revista do México chamada ‘’Toda gente’’

88. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Curso de Licenciatura em


Filosofia Noturno) - "A Dialética em Mário Ferreira dos Santos" (2010)- BrunoBertoni
Cunha - Universidade Federal de Uberlândia.

89. Trabalho de Conclusão de Curso em Matemática (Unopar) – Ensino das Funções


Básicas – Rodrigo Gonçalves Pereira. Dedicatória ao Mário Ferreira dos Santos, além de
Olavo de Carvalho e Leibniz. Há citação sobre o Mário Ferreira dos Santos!

90. “Amizade e direito”, as extremidades umbilicais da justiça: implicações teoréticas


entre amizade e direito e tradução comentada do De Amicitia de Boncompagno de Signa
- Tiago Tondinelli - Instituto Memória – 2019. Baseadana obra do Mário Ferreira dos
Santos

91. Dissertação Mestrado - A Relação Entre Direito E Poder: Uma Reflexão A Partir
Da Filosofia De Miguel Reale – Luiz Gustavo De Castro Oliveira (2013) -Há Várias
Citações Sobre o Mário Ferreira dos Santos

92. Doutorado em Filosofia do Direito – Justiça e Liberdade: A Dignidade da Pessoa


Humana e o Equilíbrio Social – Ricardo Cardoso de Mello Tucunduva(2014) - Há Citação
Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

93. Dissertação de Mestrado - A Política De Valor e Des-Valor Do TrabalhoDocente


Nos Documentos Da Ocde - José Rogério De Oliveira (2018) - Há Citação Sobre o Mário
Ferreira Dos Santos

[297]
94. Dissertação de Mestrado - O Formalismo No Direito e a Ética Dos Valores: Teoria
Dos Valores Em Hans Kelsen E Max Scheler - Yuri Ikeda Fonseca (2018)
- Há várias citações sobre o Mário Ferreira Dos Santos

95. Doutorado em Direito - O direito fundamental à verdade: divulgação e acesso à


informação - Carlos Roberto Ibanez Castro (2016) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira
Dos Santos

96. Artigo - Utilização Da Técnica Laddering Em Estudos Sobre Valor Em Inovação


Diego Luiz Teixeira Boava, Dr.; Fernanda Maria Felicio Macedo, Dra.; Iaisa Helena
Magalhães, Bel.; Renato Duarte Da Silva, Bel. (2013) - Há Citação Sobre o Mário
Ferreira Dos Santos

97. Redescobrindo O Filósofo Brasileiro Mário Ferreira Dos Santos: Uma Pontual
Abordagem Criminológico – Cultural - Eduardo Luiz Santos Cabette, Delegado de
Polícia (2014)

98. Tese de Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa – A neologia no entrecruzar


das ciências médicas e biológicas e da engenharia: estudo terminológico do léxico
pertinente à engenharia biomédica. – Márcia de SouzaLuz Freitas – (2019) Há Citação
Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

99. Artigo - Meditações acerca da canção Sobre Todas as Coisas de Edu Lobo & Chico
Buarque - Paulo José de Siqueira Tiné – (2017) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos
Santos

100. Dissertação De Mestrado - Sacrificium Christi: Um Estudo Sobre o Sacrifício Das


Personagens Crísticas em o Senhor Dos Anéis - Ribanna MartinsDe Paula (2019) - Há
Várias Citações Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

101. Mestrado em Filosofia – A crítica da prova Ontológica em Kant – Bruno Bertoni


Cunha – (2015) - Há Várias Citações Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

102. Artigo - Chatterbots Em Língua Portuguesa: Problema Da Quebra De Sentido E


As Categorias Ontológicas - Egon Sewald Junior, Aires José Rover, Nivaldo Machado,
Celso R. Braida, Edson Rosa Gomes Da Silva. - (2009) - Há Citação Sobre o Mário
Ferreira Dos Santos

103. Artigo - Breves Anotações Sobre As Espécies Normativas Do Código Civil -


Thiago Sales De Oliveira (2014) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

[298]
104. Artigo - As Sombras Do Inconcebível: Reflexões Sobre os Mundos Possíveis
Impossíveis Em Eco - Elisa Hoerlle – (2015) Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos
Santos

105. Doutorado Em Educação - Noodramatização Do Currículo: Arquiarquivo Do


Projeto Escrileituras - Polyana Olini – (2017) - Há Citação Sobre o Mário FerreiraDos
Santos

106. Mestrado em Filosofia – Os Poetas duelistas e suas armas narrativas: O Duelo de


Cantoria como signo complexo – (2019) - Há Citação Sobre o MárioFerreira Dos Santos

107. Livro – Numerologia: A Chave do ser – Luiz Alexandre Junior (2002) - HáCitação
Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

108. Artigo - Docência Animal: Um Estudo Noológico A Partir De Kafka E Deleuze -


Josimara Wikboldt Schwantz; Carla Gonçalves Rodrigues. (2016) - HáCitação Sobre o
Mário Ferreira Dos Santos

109. Artigo - Noologia Do Currículo: Dramatizações Do Projeto Escrileituras -Polyana


Olini; Sandra Mara Corazza; -(2016) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

110. Artigo - O Problema Da Aplicação Técnica Do Orçamento Empresarial Na


Azienda Pública: Uma Discussão Teórica No Contexto De Sua Aplicação - Prof.Rodrigo
Antonio Chaves Da Silva - Há Várias Citações Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

111. Mestrado em Poéticas Visuais - UN TONTO CON TINNITUS - Peter Francis


Correa Gossweiler – (2018) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira DosSantos

112. Dissertação De Mestrado - Fatores Comportamentais Dos Voluntários Nas


Organizações Da Sociedade Civil À Luz Da Sociologia Pragmática – Tandara Dias
Gonçalves (2016) - Há Várias Citações Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

113. Bibliografia filosófica Brasileira: Período contemporâneo (1931.1977) –Antônio


Paim - Há menções sobre os livros do Mário Ferreira Dos Santos

114. Licenciatura em Matemática – Uma Introdução ao Estudo dos Anéis e dos Corpos
– Cássio Volpato Selbach (2015) - Há Várias Citações muito boas sobre oMário Ferreira
Dos Santos

[299]
115. Mestrado Em História - Mais Fúria E Mais Titãs: Observações Sobre O Uso Da
Narrativa Mítica E Do Mito Do Herói A Partir Dos Filmes Fúria De Titãs (1981-2010) -
Tobias Dias Goulão – (2015) - Há Várias Citações Muito Boas Sobre O Mário Ferreira
Dos Santos

116. Doutorado em Geografia - Sig - Sistema De Informação Geográfico ou Sig -


Sintetizador De Ilusões Geográficas: Desconstruindo Uma Formação Discursiva -Murilo
Cardoso De Castro (1999) - Há Várias Citações Muito Boas Sobre o Mário Ferreira Dos
Santos

117. Mestrado Em Filosofia - Percepção e Imaginação Em Aristóteles - Vitor Duarte


Ferreira (2017) - Há Várias Citações Muito Boas Sobre o Mário FerreiraDos Santos

118. Mestrado Em Filosofia – Consciências Religiosa E Secularismo A Partir De John


Finnis – Leandro Da Silva Bertoncello – (2019) - Há Citação Sobre o MárioFerreira Dos
Santos

119. Artigo - Uma Aplicação Do Hexágono Lógico: Organizando Sistematicamente Os


Conceitos De Razão E Causalidade - Guilherme De Freitas Kubiszeski – (2018) - Há
Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

120. Mestrado Em Design - Topografias Narrativas: A Escrita Coletiva Da Memória


Urbana De Brasília Por Meio Do Processamento de Dados de Redes Sociais - Claudia
Schirmbeck Peixoto (2017) - Há Citação Sobre o Mário FerreiraDos Santos

121. Graduação em Filosofia (Bacharelado) - A ORIGEM DA ALMA: do Orfismo a


Platão - Anna Maria Casoretti – (2010) - Há Várias Citações MuitoBoas Sobre o Mário
Ferreira Dos Santos

122. Mestrado em Filosofia – O Surgimento da Ascética da alma na AntiguidadeGrega:


Orfismo e Pitagorismo - Anna Maria Casoretti (2014) - Há Várias Citações Muito Boas
Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

123. Artigo - O Desejo Como Motor Da Maquinaria Arltiana - Gaston Cosentino(2012)


- Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

124. Tese de Doutorado em Filosofia – Racionalidade Filosófica, Racionalidade


Científica e os limites da tradição analítica: Uma contribuição à teoria das tradições de
pesquisa racional de Alasdair Macintyre – Alberto Leopoldo BatistaNeto (2017) - Há
Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos *NA NOTA 250.

[300]
125. Artigo - A filosofia contemporânea da mente em perspectiva tomista - Alberto
Leopoldo Batista Neto (2017) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos *NA
NOTA 80.

126. Artigo – Imagens e auto-imagens: uma análise sobre as representações daprofissão


docente – Arnaldo Nogaro; Aline Dall’ Agnol. (2003) - Há Citação Sobre o Mário
Ferreira Dos Santos

127. Mestrado em Direito - O ARTÍSTICO E O OBSCENO NO DIREITO PENAL:


Por uma ressignificação hermenêutica do artigo 234 do Código Penal Brasileiro - Paulo
Roberto Santos Romero – (2019) - Há Várias Citações MuitoBoas Sobre o Mário Ferreira
Dos Santos

128. Artigo - Ciência processual e ciência jurisdicional - Marcelo Pichioli da Silveira –


(2018) - Há Várias Citações Muito Boas Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

129. Tese de Doutorado em Linguistica - Vozes Do Sucesso: Uma Análise Dos


Discursos Sobre Os Vícios E Virtudes Da Voz Na Mídia Brasileira Contemporânea -
Thiago Barbosa Soares (2018) - Há Várias Citações Muito BoasSobre o Mário Ferreira
Dos Santos

130. Mestrado em Filosofia - A Coordenação Entre As Provas Lógicas E As Provas


Psicológicas Na Retórica De Aristóteles - Moisés Do Vale Dos Santos – (2014) - Há
Várias Citações Muito Boas Sobre o Mário Ferreira Dos Santos.

131. Mestrado em História - O Estado, a ciência e a revolução na história em Peter


Kropotkin - Marcelo Da Cruz Cortes (2017) - Há Várias Citações Sobre oMário Ferreira
Dos Santos.

132. Artigo – Notas Sobre o Governo do Direito, Ética das Virtudes e DireitosHumanos
– Carlos Ignacio Massini Correas; Frederico Bonaldo. – (2016) - Há Citação Sobre o
Mário Ferreira Dos Santos

133. Artigo - Regulação Jurídica, Políticas Públicas Municipais e Responsabilidade


Social Das Empresas - Saulo de Tarso Silvestre Sanhueza Manriquez; Fabiane Lopes
Bueno Netto Bessa. - (2007) - Há Citação Sobre oMário Ferreira Dos Santos.

134. Artigo - As Matrizes Geográficas Na Modernidade E O Desenvolvimento Da


Ciência Sob Vista De Gaston Bachelard - Maurício Sérgio Bergamo - Há Citação Sobre
o Mário Ferreira Dos Santos.

[301]
135. Artigo - A Voz Do Povo É A Voz De Deus? O Mito Do Valor Axiológico Da
Democracia - Guilherme Dourado Aragão Sá Araujo – (2018) - Há CitaçãoSobre o Mário
Ferreira Dos Santos

136. Artigo - A democracia contemporânea e a crítica aos limites entre público e


privado: por uma nova teoria da cidadania- Newton de Menezes Albuquerque; Newton
de Menezes Albuquerque. - (2015) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

137. Artigo - A Crise de Legitimidade Democrática e a Necessária Revisão de seuObjeto


Deliberativo - Guilherme Dourado Aragão Sá Araujo – (2017) - Há Citação Sobre o Mário
Ferreira Dos Santos

138. Artigo - Série online como sala de aula no limiar do sensível - Alessandro Flaviano
de Souza; Andrea Ferraz Fernandez; Naiara Cristina Gonçalves RochaPassos. – (2020) -
Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

139. Mestrado em Filosofia - A União Mística Na Enéada Vi, 9, De Plotino - Rodrigo


Moreira De Almeida – (2017) - Há várias citações sobre o Mário FerreiraDos Santos

140. (Livro) – Planejamento da Criação Publicitária: Os Arquétipos e a Bússola


Cognitiva (Volume 3) (2019) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

141. Artigo - A MISSÃO PERMANENTE DA MAÇONARIA: Um sacerdócio


maçônico - Rubi Rodrigues – (2013) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

142. Artigo - ENTRE O PARMÊNIDES E O SOFISTA DE PLATÃO - Izabela


Bocayuva – (2014) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos

143. Doutorado em Direito – Direitos Humanos Sociais: Necessidade de Positivação


das Regras de Interpretação? - Maria Cristina de Luca Barongeno –(2009) - Há várias
citações sobre o Mário Ferreira Dos Santos

144. Artigo - Educação, Currículo, Cultura: Novos Conceitos No Âmbito Da Nova


Gestão Pública: Relevância Da Formação Do Lider Gestor - Dorosnil Alves Moreira;
Fábio Robson Casara Cavalcante. – (2019) – Há uma citação muito boa sobre o Mário
Ferreira dos Santos.

145. Artigo - O Indivíduo e as éticas kantiana e utilitarista - Sara Louise Aquino


Almeida Peixoto – (2017) - Há várias Citações muito boas sobre o Mário Ferreira Dos
Santos.

[302]
146. Doutorado em Comunicação e Semiótica – A comunicação como Jogo: Sobre a
dimensão lúdica como política da diversão programada em Vilém Flusser. – Raphael
Dall’ Anese Durante – (2013) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos.

147. Doutorado em Ciências – Física - Sobre A Emergência E A Lei De


Proporcionalidade Intrínseca - Pedro Jeferson Miranda – (2018) - Há várias Citações
muito boas sobre o Mário Ferreira Dos Santos.

148. Doutorado em Comunicação e Semiótica - Quantum Critic: Conhecimento e


Comunicação em Transmutação Físico-Matemática - Willis Santiago Guerra Filho –
(2017) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos.

149. Artigo - Katéchon: O Direito Entre o Sacrifício e o Perdão - Milton Gustavo


Vasconcelos Barbosa – (2014) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos.

150. Artigo - Doping e teomania: breves considerações éticas para as aulas de Educação
Física - Marcos Paulo do Nascimento Silva; Bruno Rodrigo da SilvaLippo. – (2018) - Há
Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos.

151. Artigo - O Cristo Do Anticristo: Uma Resposta Ao Anticristo De Nietzsche -


Willibaldo Ruppenthal Neto – (2019) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos.

152. Mestrado em Administração – Um Estudo sobre a Influência dos Mecanismos


Culturais e de Integração em Gestão de Projetos: Estudo de Múltiplos Casos numa
Multinacional Dinamarquesa – Dorizon Alberto Navarro –(2013) - Há Citação Sobre o
Mário Ferreira Dos Santos.

153. Mestrado em Educação - Educação e Crítica Da Modernidade: Um Encontro Entre


Rousseau e Horkheimer - Mirela Moraes – (2013) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira
Dos Santos.

154. Artigo - Para uma filosofia da cultura: sobre as relações entre Cultura e Éthōs
(e/)qoj; h)/qoj), por intermédio da Bildung alemã e da Paidéia (paide/ia) grega. -
Emmanuel Victor Hugo Moraes – (2012) - Há Citação Sobre o MárioFerreira Dos Santos.

155. Doutorado em Educação - O Ensino De Ciências No Timor-Leste Pós- Colonial e


Independente, Desafios e Perspectivas – Hélio José Santos Maia - (2016) - Há várias
Citações Sobre o Mário Ferreira Dos Santos.

[303]
156. Doutorado em Letras – Ficção de Formação na Era Audiovisual: Salinger e
Anderson & Wilson – André Corrêa Rollo – (2013) – Há uma citação muito boasobre o
Mário Ferreira dos Santos.

157. (Livro) Política Prática – Everton Maciel; Sergio Corrêa; Tiaraju Andreazza.
(Organizadores) - (2020) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos Santos.

158. Mestrado em Ciências da Comunicação - Construtos De Experiência DeLimiar No


Cinema - Rumenig Eduardo Pereira Pires – (2018) - Há várias Citações Sobre o Mário
Ferreira Dos Santos.

159. Artigo - Inconstitucionalidade da Manutenção Das Medidas De Segurança -


Mayara D’Agostini Camargo; Fernanda Cibelle Bones Silva; Raquel Minuzzi Wild;
Marcos Vinícius Tombini Munaro. – (2018) - Há Citação Sobre o Mário Ferreira Dos
Santos.

160. Mestrado em Educação - A CALMARIA DOS CAMINHOS TORTUOSOS:


Construção e método do Trivium Medieval - Carlos Henrique da Silva – (2017) - Há
várias Citações muito boas sobre o Mário Ferreira Dos Santos.

161. Mestrado em Administração – A Passagem de Bastão para Herdeiras: O Caso de


uma Empresa do ABC Paulista em Fase de Preparação para a sucessão Familiar –
Cristiany Bim Gurati Eloi – (2014) - Há uma citação muito boa sobre oMário Ferreira
dos Santos.

162. Artigo - Aprendizagem Transdisciplinar: a Experiência do Conflito - Prof. Dr.


Álvaro Augusto Schmidt Neto; Profa. Dra. Izabel Petraglia. – (2010) - Há Citação Sobre
o Mário Ferreira Dos Santos.

163. Mestrado em Comunicação Social - Identidade Visual Nos Suportes Impresso e


Digital: Unimed Noroeste/Rs, Um Estudo De Caso - Leila Gisele Krüger – (2011) - Há
uma citação muito boa sobre o Mário Ferreira dos Santos.

164. Doutorado em Educação – Proposição para Atualizar a Habilidade de Identificar


com Professores de Biologia: contribuições da teoria de assimilação de
P. Ya. Galperin – Maria da Glória Fernandes do Nascimento Albino – (2016) –Há várias
citações muito boas sobre o Mário Ferreira dos Santos.

165. Doutorado em Psicologia - A Conjectura Lógica De Jacques Lacan: A Lógica


Como Ciência Do Real - Mardem Leandro Silva – (2019) - Há váriasCitações sobre o
Mário Ferreira Dos Santos.

[304]
166. Mestrado em Ensino de Física – O Conceito De Generalização a Partir deum Olhar
Dialético-Complexo sobre o Modelo de Perfil Conceitual – Felipe Prado Pazello dos
Santos – (2011) – Há uma citação muito boa sobre o Mário Ferreira dos Santos.

167. (Livro) Alternativas para combater o racismo: Um estudo sobre o preconceito


racial e o racismo. Uma proposta de intervenção científica paraeliminá-los. – (1989) – Há
uma citação sobre o Mário Ferreira dos Santos

168. Artigo - O Controle Social Como Forma De Resistência Frente A Crise De


Representatividade Das Instituições Democráticas - Davi Michels Ilha – (2019) - Há
citação sobre o Mário Ferreira dos Santos.

169. Doutorado em Letras – Giovanni Papini iconoclasta religioso: diferentes fases da


recepção do escritor florentino no Brasil – Aline Fogaça dos Santos Reise Silva – (2017)
- Há várias Citações muito boas sobre o Mário Ferreira Dos Santos

170. Mestrado em Filosofia - VALOR E RACIONALIDADE: o problema do Direito


Natural em Direito Natural e História de Leo Strauss - Eduardo EmanuelFerreira Leal –
(2019) – Há várias Citações muito boas sobre o Mário Ferreira Dos Santos

171. Artigo - Crónica de un drama político: el conflicto de las ‘escuchas ilegales’ en la


Burocracia Parlamentaria de Misiones, (Arg.) - Laura Andrea Ebenau – (2012) - Há
citação sobre o Mário Ferreira dos Santos.

172. Artigo - A Divinização Do Estado Moderno E A Crença Na Sociedade Racional E


Perfeita: Uma Conseqüência Do Iluminismo - Paulo Henrique Vieirada Costa - Há citação
sobre o Mário Ferreira dos Santos.
173. Artigo (V Simpósio de Pós-Graduação do IFTM.) - O Pensamento De Álvaro
Vieira Pinto Sobre A Educação: A Elaboração De Uma Tendência Pedagógica Seria
Possível? - Breno Augusto Da Costa; Adriano Eurípedes Medeiros Martins; Geraldo
Gonçalves De Lima; - (2018) - Há citação sobre oMário Ferreira dos Santos.

174. Artigo - A MORAL FECHADA E A MORAL ABERTA: as duas modalidades de


ação na filosofia de Bergson - Felipe Ribeiro – (2018) - Há váriasCitações muito boas
sobre o Mário Ferreira Dos Santos

175. Mestrado em Literatura - A DEFESA DA POESIA OU A PAIXÃO DO POETA


(o caráter soteriológico da poesia na concepção hilstiana) - Nívia Maria Santos Silva –
(2009) - Há várias Citações muito boas sobre o Mário Ferreira DosSantos

[305]
176. Doutorado em Artes – O Crítico e o Trágico: A Morte da Arte Moderna emSergio
Milliet – Naum Simão de Santana – (2009) - Há várias Citações muito boas sobre o Mário
Ferreira Dos Santos

177. Artigo - A “Crise Orgânica” Estimulada na Segurança Pública Brasileira -Dequex


Araújo Silva Júnior; Gilberto Protásio dos Reis. – (2018) - Há várias Citações muito boas
sobre o Mário Ferreira Dos Santos

178. Doutorado em Ciências Políticas - Entre a liberdade e a virtude: pensamentosocial


e político de Michael Oakeshott - Felipe Gava Cardoso – (2018) - Há várias Citações
muito boas sobre o Mário Ferreira Dos Santos

179. Artigo - UMA TEORIA DA PRÁTICA POLICIAL MILITAR - Gilberto Protásio


Dos Reis; Reinaldo Brezinski Nunes – (2019) - Há citação sobre o Mário Ferreira dos
Santos.

180. Doutorado em História – A Invenção da Juventude Transviada no Brasil (1950-


1970) – Lidia Noemia Silvia dos Santos – (2013) - Há várias Citaçõesmuito boas sobre o
Mário Ferreira Dos Santos

181. Graduação em Direito - A Usucapião Extrajudicial Em Face Do Fenômeno Da


Desjudicialização - Neil Sant’ana Silva – (2017) - Há citação sobre o Mário Ferreira dos
Santos.

182. Artigo - Elementos para uma apresentação do pensamento conservador: da


disposição conservadora aos conservadorismos decorrentes - Mário Jorge de Paiva –
(2019) - Há uma citação muito boa sobre o Mário Ferreira dos Santos.

183. Doutorado em Educação, Arte e História da Cultura - Barbárie contemporânea: a


construção de novas formas de individualismo – LamartineGaspar de Oliveira – (2014) -
Há citação sobre o Mário Ferreira dos Santos.

184. Mestrado em Estudos Literários – A Montanha De Vidro e O Feminino: Do Poder


Ao Desvanecimento – Therezinha Maria Hernandes - (2018) - Há citação sobre o Mário
Ferreira dos Santos.

185. Mestrado em Filosofia - Mito, Símbolo E Imaginação: Um Percurso A Partir Da


Hermenêutica De Paul Ricoeur - Jonas Torres Medeiros – (2015) – Há citaçãomuito boa
sobre o Mário Ferreira dos Santos.

[306]
186. Artigo - João Cabral de Melo Neto: O lirismo de um “Poeta sem Alma -Robson
Deon; Marcos Hidemi de Lima. - Há várias citações sobre o Mário Ferreira dos Santos.

187. Artigo - A Recriação da Grafia do Planeta na Produção da Natureza e Do Espaço:


A Necessidade De se Saltar Escalas - Fabrício Pedroso BAUAB – (2003)
- Há citações sobre o Mário Ferreira dos Santos.

188. Artigo - Campbell, Jung e Frazer e os Estudos em Simbologia. - MarcelHenrique


Rodrigues – (2013) – Há citação sobre o Mário Ferreira dos Santos

189. Doutorado em Letras - Exato Oceano: A Escrita de Lêdo Ivo, da Geração de 45 À


Metapoética da Água – Wladimir Saldanha Dos Santos - (2014) Há várias citações sobre
o Mário Ferreira dos Santos

190. Mestrado em Filosofia - Scala Amoris: Síntese Da Educação Filosófica No


Banquete De Platão - Yuri Galvão Oberlaender de Almeida – (2018) – Há citações sobre
o Mário Ferreira dos Santos nas NOTAS *323 e NOTA *324

191. Mestrado em Letras - Ironia, Paradoxo e Poiésis: À Experiência da Libertação no


texto de Rosiano - Irney Costa Brito – (2010) – Há várias citaçõessobre o Mário Ferreira
dos Santos

192. Doutorado em Letras - A Temática Da Libertação, A Dialógica Ascensionale a


Disposição Para a Experiência Da Graça: Ironia, Paradoxo e Poiésis Na Linguagem
Rosiana - Irney Costa Brito – (2013) – Há várias citações sobre o Mário Ferreira dos
Santos

193. Artigo - O Aspecto Felino do bVI7 do Blues Menor em Tigresa de Caetano Veloso:
uma proposta hermenêutica - Paulo José de Siqueira Tiné - Há citação sobre o Mário
Ferreira dos Santos

194. Artigo - Nas Profundezas do Physei Dikaion: O Direito Natural À Luz DoSímbolo
Em Eric Voegelin - Horácio Lopes Mousinho Neiva - (2010) - Há citação sobre o Mário
Ferreira dos Santos

195. Graduação (Bacharel) em Letras - Estudo Preliminar De Três Símbolos Mbyá-


Guarani Contidos No Primeiro Poema Do Ayvu Rapyta - Felipe EspinolaBaptista Da
Silva – (2016) – Há citação sobre o Mário Ferreira dos Santos

196. Mestrado em Ciências das Religiões - Mysterium Pansophicum: imaginário e


esoterismo em Jacob Boehme – João Florentino Batista Segundo – (2017) - Hácitações
sobre o Mário Ferreira dos Santos.

[307]
197. Mestrado em Letras - “Lugar De Ser Feliz Não É Supermercado”: A Modernidade
Tardia Em Canções De Zeca Baleiro - Ricardo Costa Salvalaio –(2018) - Há citações
sobre o Mário Ferreira dos Santos

198. Doutorado em Educação - Sujeito, natureza e sociedade: uma análisepitagórica


e transdisciplinar da educação - Álvaro Augusto Schmidt Neto – (2009) – Há várias
citações muito boas sobre o Mário Ferreira dos Santos

199. Artigo (Comunicação apresentada ao 10º Encontro Internacional de Música e


Mídia.) - Três cantigas infantis brasileiras: memória, experiência simbólica e estética na
formação humanística e musical da infância - Eusiel Rego – (2014) - Há citações sobre o
Mário Ferreira dos Santos

200. Mestrado em Pós-Graduação em História da Ciência, das Técnicas e Epistemologia


da UFRJ - Subjetividade Epistemológica e Objetividade Poética: por uma Poética
Hermenêutica do Infinito - Jean Felipe de Assis – (2015) - Há citação sobre o Mário
Ferreira dos Santos

201. Pós-Graduação Lato Sensu em Marketing - Marca: Os Fatores Que AgregamValor


Ao Produto - Hudson de Pinho Araújo – (2009) - Há citação sobre o Mário Ferreira dos
Santos

202. Mestrado em Desenvolvimento Local - Potencialidades Para o Desenvolvimento


Local Na Comunidade Espírita Amor E Caridade E Nos Postos De Assistência Centro
Espírita Francisco Thiesen E Associação Espírita Anália Franco: Subsídios Para A
Política Pública De Assistência Social No Contexto Local - Edilene Xavier Rocha Garcia
– (2007) - Há citação sobre o Mário Ferreirados Santos

203. Doutorado em História - “Por uma religião nacional”: a separação entre Igreja e
Estado e a disputa religiosa entre católicos e protestantes em Belém do Pará (1889-1931)
- Rafael da Gama – (2019) - Há citação sobre o Mário Ferreirados Santos

204. Mestrado em Direito - O direito como experiência: a construção da


individualidade do homem frente à sociedade, ao Estado e às instituições - CesarAugusto
Cavazzola Junior – (2015) – Há várias citações EXCELENTES sobre o Mário Ferreira
dos Santos. NOTA 70*

205. Artigo - Parnasianismo e Simbolismo: Um Olhar Crítico - Tairiny Wolski –(2017)


- Há citação sobre o Mário Ferreira dos Santos

[308]
206. Artigo - Algumas considerações sobre o estudo da simbologia religiosa. -Marcel
Henrique Rodrigues – (2012) - Há várias citações muito boas sobre o Mário Ferreira dos
Santos

207. Artigo - As Marcas e a Simbologia da Imagem: Uma análise da Logomarca do


Estado do RS. - Elizete de Azevedo Kreutz – (2001) - Há várias citações sobreo Mário
Ferreira dos Santos

208. Artigo (9º Simpósio de Ensino de Graduação) (2011) - A Queda do Simbólico Na


Vida Contemporânea: Uma Interpretação Da Relação Dos Sujeitos Com Os Símbolos Da
Igreja Matriz De Americana - Marcel Henrique Rodrigues -Há citação sobre o Mário
Ferreira dos Santos

209. Sacred Music in Goiás (1737-1936) and Balthasar de Freitas's Collection -Marshal
Gaioso Pinto – (2010) – Há Citação sobre o Mário Ferreira dos Santos

210. Mestrado em Letras - Beatriz: A Figura Do Conhecimento Como Uma Ascese Em


Direção Ao Espírito - Márcio José Strapação – (2009) - Há váriascitações sobre o Mário
Ferreira dos Santos

211. Artigo - Reflexões sobre unidade em música - Lucas de Paula Barbosa –(2008) -
Há Citação sobre o Mário Ferreira dos Santos

212. (Livro) Urvater, O Senhor Do Tempo - Gustavo Torres Rebello Horta –(2013) -
Há uma citação muito boa sobre o Mário Ferreira dos Santos

213. Tese de Doutorado em Direito - O Confronto Entre o Concurso Formal DeCrimes


e o Concurso Aparente De Normas Penais no Direito Brasileiro: revisão crítica sob os
influxos de uma hermenêutica emancipatória. - FLAVIO ANTÔNIO DA CRUZ – (2014)
- Há uma citação sobre o Mário Ferreira dos Santos

214. Mestrado em Ciências das Religião - A magia do ponto riscado na Umbanda


esotérica - Osvaldo Olavo Ortiz Solera – (2014) - Há uma citaçãosobre o Mário Ferreira
dos Santos

215. Doutorado em Geografia - Da Geografia Medieval às origens da Geografia


Moderna: contrastes entre diferentes noções de natureza, espaço e tempo - Fabricio
Pedroso Bauab – (2005) - Há várias citações sobre o MárioFerreira dos Santos

[309]
216. Artigo - Oikós: Topofilia, ancestralidade e ecossistema arquetípico - Prof. Dr.
Marcos Ferreira Santos – (2006) - Há Citação sobre o Mário Ferreira dos Santos

217. Tese de Doutorado - O Dogmatismo Do Binômio Acusatoriedade- Inquisitoriedade


e o Processo Penal Democrático - Prof. Dr. Dário José Soares Júnior – (2014) – Há
inumeráveis citações sobre o Mário Ferreira e o autor dedica o seu doutorado ao Mário e
a vários outros brilhantes e excepcionais filósofos.

218. (Livro) - A Crise Dogmática do Processo Penal - Prof. Dr. Dário José Soares –
(2016) – Livro baseado na tese de Doutorado do Autor - Há inumeráveis citações sobre o
Mário Ferreira e o autor dedica o seu doutoradoao Mário e a vários outros brilhantes e
excepcionais filósofos.

219. (Curso) Astrocaracterologia – (1991-1992-1993) Olavo de Carvalho – Háinúmeras


citações sobre o Mário Ferreira dos Santos

220. (Livro) O caráter como forma pura da personalidade - Breve tratado de


Astrocaracterologia. (1997) Olavo de Carvalho – Há inumeráveis citações sobre o Mário
Ferreira dos Santos

221. (Livro) Bandidolatria e Democídio: Ensaios sobre Garantismo Penal e a


Criminalidade no Brasil (2017) Diego Pessi e Leonardo Giardin de Souza – Hácitações
sobre o Mário Ferreira dos Santos
222. (Livro) Violência, Laxismo Penal e Corrupção do Ciclo Cultural – 2020 -Diego
Pessi - Há citações sobre o Mário Ferreira dos Santos

223. (Rascunho de Palestra) Notas para um Estudo da Obra de Mário Ferreira dos Santos
- (2015) Rascunho das palestras proferidas sobre a vida e obra de Mário Ferreira dos
Santos na Faculdade Católica de Anápolis, em ocasião da reunião do grupo de pesquisas
em filosofia do direito e história da filosofia, nosdias 21/11/2015 e 05/12/2015

224.(Livro) Bioética - Hélio Angoti Neto - (2018) - Há citações sobre o MárioFerreira


dos Santos.

225. (Livro) A Soberania do Destino: Uma Busca Pelo Sentido da Vida (2020) Diogo
Mateus Garmatz - Há inúmeras citações sobre o Mário Ferreira dos Santos. O filósofo é
citado quando o livro trata do cientificismo moderno, da falsidade do evolucionismo, da
existência da verdade absoluta, da estrutura da realidade e também quando trata da
existência de Deus.

[310]
226. (Tese de Doutorado em Letras) A Risada é Um Triunfo do Cérebro
Aspectos cômicos, filosóficos e literários de El Chavo e El Chapulín - 2020 -Wilson Filho
Ribeiro de Almeida - Há citações sobre o Mário Ferreira dos Santos

227. (Livro) A Experiência da Constituição – O dever ontológico e o Hábito


Constituindo – (Ramon Laurindo Cardoso, formado em Direito na Universidade Católica
de Santos.) - Editora Thoth - Há várias citações sobre oMário Ferreira dos Santos.

228. (Mestrado em Educação), Arte e História da Cultura - O simbolismo do cordeiro


na obra pictórica os noivos e os três músicos de Marc Chagall - Beatriz Mori Leite -
Universidade Presbiteriana Mackenzie – 2014 – Há citações sobre o tratado de Simbólica
do Mário Ferreira dos Santos.

229. (Trabalho de Conclusão de Curso) - A decadialética de Mário Ferreira dos Santos:


Uma providência metodologica para a construção de um conhecimento concreto - Arthur
Cristo da Silva – Centro Universitário Salesiano – Vitória-ES – 2020.

230. (Especialização em Filosofia) - Analogia e Formação de Juízos Virtuais Conforme


Concepção de Real em Mario Ferreira Dos Santos. Murilo Carlos Muniz Veras.
Universidade de Brasília – 2010.

231. (Artigo na Revista) - VIDA E LEGADO | Mário, O Velho - Roberto Lacerda – Na


‘’Revista Esmeril’’, sob direção de Bruna Torlay - 27 de novembro de 2021.

232. (Antigo no Jornal) - A lei da Tetractys e os 4 discursos: um paralelo entre Mário


Ferreira e Olavo de Carvalho – parte I – No ‘’Jornal Cidadania’’ - Isaac Denyon Fonseca
- 7 de Dezembro, de 2021 -

233. (Antigo no Jornal) A lei da Tetractys e os 4 discursos: um paralelo entre Mário


Ferreira e Olavo de Carvalho – parte II - No ‘’Jornal Cidadania’’ - Isaac Denyon Fonseca
- 27 de Dezembro, de 2021 –

234. (Artigo em Instituto) Análise do pensamento econômico e político de Mário


Ferreira dos Santos - No Instituto Rothbard - Thomás Cotrim -29 de Dezembro 2021

235. (Artigo) Capitalistas contra o grande capital – Socialistas a favor – No Site


‘’Acionista.com.br’’ -Rodrigo Antonio Chaves Silva –16 de Janeiro, 2022.

236. Mário Ferreira dos Santos, o Ilustre desconhecido – Artigo por Rodrigo Ulguim,
02 de fevereiro de 2022.

[311]
5- Lista das Fotos

1. Mário com 6 anos no filme ''Os Óculos do Vovô''


de 1913

[312]
2. Aqui ele está com uns 7 anos, talvez no Colégio Ginásio
Gonzaga, de Pelotas - RS.

O Aldo conseguiu aumentar essa foto do Mário em 8x, agora ela tem
968x1332. O Mário aqui está com uns 7 anos, talvez no Colégio Ginásio
Gonzaga, de Pelotas - RS. Agora dá para ver melhor o semblante dele. Só
pelo olhar dá para ver uma firmeza e tenacidade incomum, o que
acabaria sendo transformado em uma tempestade de livros,
conferências e a história de um guerreiro num campo de batalha!

[313]
3. O jovem Mário, primeiro de baixo para cima, em 1924, no
Colégio Ginásio Gonzaga. Ele está entre seus colegas: da Esquerda
para a Direita - Mário Ferreira dos Santos, João Alfredo Pitrez,
Procopio G. de Freitas e Pedro D. Carduz. Fotografia contida no
livro de Lembranças do Gymnasio Gonzaga - Pelotas, ano escolar
de 1924, turma do V ano. (Fonte: Elvis Amsterdã - A DIALÉCTICA-
ONTOLÓGICA DE MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS)

[314]
4. Legenda: Ao bom amigo Joaquim/ Com um abraço do
Mário'' (Dedicatória de Mário Ferreira dos Santos a seu
amigo Joaquim Monteiro da Cunha, escrita no verso da
foto de 29/01/1926)
Arquivo Pessoal de Joaquim Alfredo Lhullier da Cunha
(Fonte: Elvis Amsterdã - A DIALÉCTICA-ONTOLÓGICA
DE MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS)

[315]
5. Foto do Mário, essa é de 1928/29, aqui ele está na
chácara em Pelotas- RS, ao lado dele está Yolanda, sua
amada Mulher, e o menino é o irmão caçula dela. Eles se
casaram em 1929. O Mário nessa foto tem 22 anos!
(Fonte: Desconhecida)

[316]
6. Mário Ferreira e a sua Esposa Yolanda, na França. Foto
de 1954!! (Fonte: Facebook)

[317]
6. Nós Colorimos e melhoramos essa Foto com todo o
Carinho usando o Photoshop e Remini.

[318]
7. Uma foto na Carteira de Jornalista no Diário de
Notícias de Porto Alegre. (Fonte: Facebook)

8. Mário, o segundo da esquerda para a direita, recebendo


o vice-presidente da Fox Films do Brasil em 1940 (Fonte:
Diário Popular, por Luís Rubira. 24/07/2020)

[319]
9. Mário à esquerda, na década de 1930, fazendo
propaganda de sua empresa cinematográfica. (Fonte:
Diário Popular, por Luís Rubira. 24/07/2020)

10. Foto do Jornal A Tribuna de 1964. Mário profere uma


conferência no Instituto Santista de Filosofia. Discorre
sobre o tema daquele que, segundo o jornal, seria seu
próximo livro: Integração e Desintegração na Filosofia.

[320]
11. Mário Ferreira dos Santos, sua esposa Yolanda Duro
Lhullier e as filhas Yolanda e Nadiejda na Avenida São
João - SP. Que linda foto, com mais de 50 anos!
(Fonte: Facebook)

[321]
Nós Colorimos e melhoramos essa Foto usando os
Programas: Photoshop; Remini; Recolourise;

[322]
12. Mário Ferreira no casamento de sua Filha em 1958!!
Quê linda Foto! (Fonte: Facebook)

[323]
Nós Colorimos e melhoramos essa Foto usando os
Programas: Photoshop; Remini; Colourise.

[324]
13. Mário Ferreira dos Santos, sua esposa Yolanda Duro
Lhullier e a sua netinha Cláudia! (Fonte: Facebook)

[325]
Nós Colorimos e melhoramos essa Foto usando os
Programas: Photoshop; Remini.

[326]
14. Mário, sua filha Yolanda e o seu netinho
Alberto na Chácara da Casa na Serra Negra – SP

[327]
Nós Colorimos e melhoramos essa Foto usando os
Programas: Photoshop; Remini.

[328]
15. Mário, sua filha Yolanda e o seu netinho Alberto na
Chácara da Casa na Serra Negra – SP (Fonte: Facebook)

[329]
16. Mário, sua filha Yolanda e o seu netinho Alberto na
Chácara da Casa na Serra Negra – SP (Fonte: Facebook)

[330]
17. Mário, sua filha Yolanda e o seu netinho Alberto
na Chácara da Casa na Serra Negra – SP (Fonte:
Facebook)

[331]
Nós Colorimos essa foto usando os programas:
Photoshop; Remini.

[332]
18. O Mário nessa Foto está na Chácara da Casa na Serra
Negra - SP, onde passava as Férias, descansando na
cadeira, mas sempre lendo e anotando algo!
O Mário era incansável! (Fonte: Facebook)

19. Mário na Chácara da Casa na Serra Negra – SP

[333]
20. O Mário nessa foto está num encontro em
Família! (Fonte: Facebook)

21. Não Sabemos qual o ano ou lugar dessa foto,


mas é muito bonita! (Fonte: Facebook)

[334]
22. Mário Ferreira dos Santos, sua esposa Yolanda
Duro Lhullier e a filha Yolanda, Não sabemos qual
o lugar dessa linda foto! (Fonte: Facebook)

[335]
23. Mário Ferreira e o seu netinho Alberto. Ele está
segurando um Cachimbo! (Fonte: Facebook)

[336]
24. Mário Ferreira no Batizado! Não Sabemos qual é o
nome do Bebezinho, parece que ele é o Padrinho! (Fonte:
Facebook)

[337]
25. Mário Ferreira dos Santos, sua esposa Yolanda
Duro Lhullier e sua filha Yolanda, na Esquerda.
Não sabemos os nomes das criancinhas!

[338]
26. Aqui o Mário está em seu escritório na Editora Logos,
não sabemos qual o nome do homem que aparece nessa
foto, se alguém souber, nos avise! (Fonte: Facebook)

[339]
27. Quem coloriu essa foto foi o Danilo Felix, é a melhor foto
colorida que eu já vi do Mário, o trabalho ficou fantástico,
Parabéns! Agora dá para ver a feição do Mário perfeito, e eu
vou te falar, o Mário tem um rosto de pessoa destemida, muito
valente e com uma profundidade no olhar inigualável!

[340]
28. Mais uma foto do Mário Ferreira!
(Fonte: Facebook)

[341]
29. Aqui o Mário está em seu escritório na Editora Logos
(Fonte: Humanismo pluridimensional, Loyola, 1974, v. 2, 1037 p.)
(Foto concedida por Gabriel Coelho Teixeira)

[342]
30. Mário Ferreira ao fundo na Editora Logos.
(Fonte Facebook)

[343]
31. Mário Ferreira na Editora Logos (Fonte: Contra Capa do
Livro ‘’Filosofias da Afirmação e da Negação’’, É Realizações)

[344]
32. Aqui o Mário está junto de amigos na Editora
Logos

33. Aqui o Mário está lá no canto da sala na


Editora Logos

[345]
34. Editora Logos

35. Editora Logos - Vários Funcionários

[346]
36. Editora Logos - Vários Funcionários

[347]
37. Editora Logos. Portifólio da Empresa do Mário!

[348]
38. Onde o Mário Ferreira dos Santos descansa?
(Foto de 2015)

[349]
Relíquia que achamos no Instagram:
Programa do Curso de Filosofia Geral do Prof. Mário Ferreira Dos Santos.

[350]
[351]
Dona Yolanda Lhullier dos Santos, uma das filhas do Mário Ferreira dos
Santos. Ela faleceu em 2013. Se não fosse por ela, por sua mãe e por sua irmã,
juntamente com toda a família Santos, e também com a ajuda preciosa e
incomparável do Olavo, hoje nós não teríamos nada do Mário Ferreira dos
Santos. Entre 1968 e 1983, ano em que o Olavo tomou conhecimento do
Mário, a Família do Mário antes e depois lutou muito para que a sua obra de
algum modo fosse cuidada, mesmo com muitas despesas com fechamento
de empresas, despensa de funcionários, transformar aqueles rolos enormes
de fitas em CDs e muito mais!

[352]
4- Futuro
O Sonho de uma nova Edição da Enciclopédia das Ciências
Filosóficas
A Enciclopédia das Ciências Filosóficas é uma unidade. Ela possui
uma lógica interna e não pode ser publicada separadamente.
De acordo com o estudo do Olavo de Carvalho sobre essa
monumental obra do Mário Ferreira dos Santos, podemos conhecer
como o Mário organizou e estruturou a sua obra Máxima, vejamos
no quadro abaixo:

[353]
O Quadro acima é explicado nessa exata relação dos títulos
dos Livros, logo abaixo:
1- Primeira Série

I Filosofia e Cosmovisão.----------------------- Unidade (Síntese)

II Lógica e Dialéctica ---------------------------- Oposição (Análise)

III Psicologia -------------------------------------- Relação (Análise)

IV Teoria do Conhecimento--------------------- Reciprocidade (Análise)

V Ontologia e Cosmologia ---------------------- Forma (Análise)

VI Tratado de Simbólica ------------------------- Harmonia (Análise)

VII Filosofia da Crise. -------------------------- Mutação (Análise)

VIII O Homem perante o Infinito -------------- Assunção (Análise)

IX Noologia geral -------------------------------- Integração (Análise)

X Filosofia Concreta ----------------------------- Unidade Transcendente (Concreção)

2- Segunda Série
Série Intermediária de estudos práticos dos conceitos estudados na
Primeira Série
(Numeração Livre)

(A) Publicados

I Filosofia Concreta dos Valores.

II Sociologia Fundamental e Ética Fundamental

III Pitágoras e o Tema do Número.

IV Aristóteles e as Mutações (tradução e comentário de Da Geração e da

[354]
Corrupção das Coisas Físicas, de Aristóteles).

V O Um e o Múltiplo em Platão (tradução e comentário do Parmênides, de Platão).

VI Métodos Lógicos e Dialécticos.

VII Filosofias da Afirmação e da Negação.

VIII Tratado de Economia.

IX Filosofia e História da Cultura.

X Análise de Temas Sociais.

XI O Problema Social.

XII Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais.

XIII Origem dos Grandes Erros Filosóficos.

XIV Grandezas e Misérias da Logística.

XV Erros na Filosofia da Natureza.

XVI Das Categorias, de Aristóteles (tradução, notas e comentários).

XVII Isagoge, de Porfírio (tradução, notas e comentários).

XVIII Protágoras, de Platão (tradução, notas e introdução).

XIX O Apocalipse de S. João: A Revelação dos Livros Sagrados.

XX Comentários a S. Boaventura. Original datilografado, 100p.

XXI As três críticas de Kant. Original datilografado, 226p.

XXII Comentários aos “Versos Áureos” de Pitágoras. Original datilografado, 88p.:


mais tradução dos Comentários de Hiérocles, 57p.

XXIII Cristianismo, a Religião do Homem. Original datilografado, 69p.

[355]
XXIV Tao-Te-Ching,de Lao-Tsê (tradução e comentários). Original datilografado,
85p.

XXV Filosofia e Romantismo. Inacabado. Original datilografado, 42p.

XXVI Brasil, País de Excepção. Inacabado. Original datilografado, 50p.

XXVII Santo Tomás e a Sabedoria – e outras palestras inéditas. Transcrição


datilografada, 159p.

XXVIII Enéadas, de Plotino. Tradução. Original datilografado, 179p.

XXIX De Primo Principio, de John Duns Scot. Tradução. Original datilografado,


68p.

XXX Da Interpretação, de Aristóteles. Tradução. Original datilografado, 36p.

3 - Terceira Série

I A Sabedoria dos Princípios.---------------- Unidade (Síntese)

II A Sabedoria da Unidade ------------------- Oposição (Síntese)

III/ IV A Sabedoria do Ser e do Nada ------ Relação/Reciprocidade (Síntese).


(2 Volumes)

V A Sabedoria das Leis Eternas ------------- Forma (Análise).

VI Dialéctica Concreta ------------------------- Harmonia (Análise)

VII/ VIII Tratado de Esquematologia ------ Mutação/ Assunção (Análise).


(2 Volumes)

IX Teoria Geral das Tensões ----------------- Integração (Análise).


X Deus ----------------------------------------- Unidade Transcendente (Concreção)
(Fonte: Livro: A Sabedoria das Leis Eternas, Introdução, Edição e
Notas de Olavo de Carvalho, É Realizações 2001)

[356]
O Nosso Sonho um dia vai se tornar real!
A Enciclopédia das Ciências Filosóficas Completa, Editada e em
Capa Dura. Assim é o sonho de todo mundo!
Temos vários exemplos de Enciclopédias e Coleções de Livros
publicados pelo mundo que são um verdadeiro ponto de inspiração e
de partida para que a obra do Mário seja publicada da maneira que se
deve.

I - Enciclopédia Prática Jackson, em 12 Volumes, de 1957.

Com certeza o Mário tinha essa Enciclopédia em sua Biblioteca, muito boa! É
exatamente o que o olavo diz sobre o Senso Prático e o Luiz Gonzaga fala sobre
desenvolver habilidades práticas, no ICLS!

Enciclopédia Prática Jackson, em 12 Volumes, de 1957!

Volume 1: Administração de Negócios. Aeronáutica. Agricultura. Anatomia e


Fisiologia. Antropologia.
Volume 2: Arqueologia. Arquitetura. Arte. Arte de Vender. Banco e Moeda.
Volume 3: Biologia. Botânica. Ciências Domésticas. Contabilidade. Cultura Física.
Volume 4: Decoração de Interiores. Desenho de Figura. Desenho Linear. Dietética.
Direito Privado. Direito Público. Economia Política. Engenharia Civil.
Volume 5: Engenharia Elétrica. Engenharia Mecânica. Filosofia. Física.
Volume 6: Fotografia. Geografia Econômica. Geografia Política. Geologia.
[357]
Volume 7: Geografia Física. Gramática Francesa. Gramática Portuguesa. História
da América.
Volume 8: História Antiga. História Medieval. História Moderna. História da
Ciência.
Volume 9: Inglês Básico. Jornalismo. Literatura Americana. Literatura Européia.
Volume 10: Literatura Luso-Brasileira. Literatura Grega. Literatura Latina.
Matemáticas. Mnemotécnicas.
Volume 11: Música. Pecuária. Pedagogia. Pré-História. Primeiros Socorros.
Propaganda. Psicologia.
Volume 12: Química. Rádio e Televisão. Teatro e Cinema. Zoologia.

***

II - A Enciclopédia Treccani.

É o nome que se conhece comumente a Enciclopedia Italiana de Ciência, Letra e


Arte, também abreviada Enciclopédia Italiana. A primeira edição, que começou a
publicar-se em 1929, e os oito apêndices posteriores da enciclopédia, foram
preparados pelo Istituto dell'Enciclopedia Italiana, fundado em Roma a 18 fevereiro
de 1929 por Giovanni Treccani e Giovanni Gentile.
[358]
A Enciclopedia Treccani tem sido provavelmente o maior projeto italiano de
investigação cultural.

O livro Encyclopaedias: Their History Throughout The Ages situava-a no pódio das
enciclopédias mais importantes do século XX, junto à XI edição da Encyclopædia
Britannica e a Enciclopedia universal ilustrada europeo-americana.

História:

A primeira edição foi publicada entre 1929 e 1936. Ao todo, 35 volumes foram
publicados, mais um volume de índice. O conjunto conteve 60.000 artigos e 50
milhões de palavras. Cada volume tem arredor de 1.015 páginas, e 37 volumes
suplementares foram publicados entre 1938 e 2015. O diretor foi Giovanni Gentile
e o redator em chefe Antonino Pagliaro.

***

[359]
III - Enciclopédia Universal das Fábulas, em 32 Volumes!

Editora: Editôra das Américas - Ano: 1956 / 1959

1 – FÁBULAS DE LA FONTAINE, com ilustrações de Gustave Doré

2 – FÁBULAS DE LA FONTAINE

3 – FÁBULAS DE LA FONTAINE/
GRÉCIA – FÁBULAS DE ESOPO – TOMO 1

4 – GRÉCIA
FÁBULAS DE ESOPO – MITOLOGIA GREGA

5 – MITOLOGIA GREGA

6 – MITOLOGIA GREGA

7 – MITOLOGIA GREGA – TOMO 5 / LENDAS GREGAS – TOMO 1

[360]
8 – LENDAS GREGAS – TOMO 2

9 – LENDAS GREGAS TOMO 3/ CONTOS GREGOS/ ROMA

10 – ROMA
Mitologia Romana/ Lendas de Roma A Eneida
RUSSIA
Fábulas Russas/ Fábulas de Krilov

11 – RÚSSIA
Fábulas Russas/ Mitologia eslava/ Lendas Russas

12 – RÚSSIA
Lendas Russas

13 – RÚSSIA
Lendas Russas/ Contos populares russos

14 – RÚSSIA
Contos populares russos

15 – RÚSSIA
Contos populares Russos
SUÉCIA
Fábulas da Suécia/ Lendas da Suécia/ Contos da Suécia

16 – SUÉCIA
Contos da Suécia
NORUEGA
Fábulas da Noruega/ Lendas da Noruega/ Contos da Noruega

17 – NORUEGA
Contos da Noruega
DINAMARCA
Fábulas da Dinamarca
Lendas da Dinamarca

18 – DINAMARCA
Lendas da Dinamarca
Contos da Dinamarca
Contos de Andersen

19 – DINAMARCA
Contos de Andersen – II

20 – DINAMARCA
Contos de Andersen – III

[361]
21 – DINAMARCA
Contos de Andersen – IV
FINLÂNDIA
Fábulas da Finlândia
Mitologia Finlandesa

22 – FINLÂNDIA
Lendas da Finlândia
Contos da Finlândia
ESTÔNIA
Fábulas da Estônia/ Lendas da Estônia

23 – ESTÔNIA
Contos da ESTÔNIA
LETÔNIA
Fábulas da Letônia/ Lendas da Letônia/ Contos da Letônia
LITUÂNIA
Fábulas da Lituânia/ Mitologia lituana/ Lendas da Lituânia/ Contos da Lituânia
POLÔNIA
Fábulas da Polônia/ Lendas da Polônia/ Contos da Polônia

24 – ALEMANHA
Mitologia Germânica/ Lendas da Alemanha
HOLANDA
Lendas da Holanda
SUIÇA
Lendas da Suíça

25 – ÁUSTRIA/ CHECOSLOVÁQUIA/ BOÊMIA/ HUNGRIA/


ROMÊNIA/ BULGÁRIA/ IUGOSLÁVIA/ FRANÇA

26 – FRANÇA
Lendas da França
ITÁLIA
Fábulas da Itália/ Lendas da Itália
ESPANHA
Fábulas da Espnha
GRÃ-BRETANHA
Lendas da Inglaterra

27 – GRÃ-BRETANHA
Lendas da Inglaterra
ESCÓCIA – Lendas da Escócia
IRLANDA – Lendas da Irlanda
ÁFRICA – Fábulas da África/ Mitologia da África/ Mitologia do Egito/ Contos
da África
ÁSIA – CONTOS DA ÁRABIA – MIL E UMA NOITES

[362]
28 – ARÁBIA – Contos da Árabia
ÍNDIA – Fábulas da Índia/ Mitologia da Índia/ Lendas da Índia
CHINA – Fábulas da China/ Mitologia da China/ Lendas da China

29 – CHINA – Lendas da China


JAPÃO – Fábulas do Japão/ Mitologia do Japão
OCEANIA – Mitologia da Oceânia
AMÉRICA: México, Peru, Argentina, Chile, Bolívia, Equador, Colômbia,
Venezuela, Guianas, Cuba, Porto Rico.

30 – AMÉRICA: Porto Rico, Guatemala, Panamá, América do Norte, Canadá


BRASIL
Primeira Parte – Fábulas do Brasil
Segunda parte – Lendas e mitos do Brasil

31 – BRASIL
Segunda Parte: Lendas e mitos do Brasil
Terceira Parte: contos do Brasil.

***

[363]
IV - Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira é uma enciclopédia de


língua portuguesa cuja publicação se iniciou em 1936, depois começou a ser
publicada no Brasil em 1957!

Estrutura da obra.

A obra base é constituída pelos seguintes volumes:

Texto inicial, volumes 1 a 37, editados entre 1935 e 1957;

Apêndice de atualização do texto inicial, volumes 38 a 40, editados entre 1958 e


1960;

Dois volumes «Brasil», cuja edição teve início em 1964;

Primeira actualização, volumes 1 a 10, editados entre 1981 e 1987;

Atualização de história universal e de Portugal (dita "terceira atualização"),


volumes 1 a 7, 2001 a 2003;

Dicionário temático de história universal, volumes 8, 9 e 10;

Actualização ciências e tecnologias, volumes 1 a 7;

Dicionário temático de ciências e tecnologias, volumes 8 a 9.


[364]
Posteriormente, e sem o estilo da enciclopédia original:

Livros do ano, editados entre 1988 a 2000, 2000 a 2008;


Segunda atualização, volumes 1 a 6, editados entre 1998 e 1999;
Livro do milénio, editado em 2000;
Armorial lusitano, um volume;
Nobreza de Portugal e do Brasil, três volumes;
Atlas (em formato maior):
Atlas bíblico;
Atlas da história mundial;
Atlas do espaço;
Atlas geográfico;
Atlas cronológico do século XX;
Atlas das descobertas;
Atlas dos oceanos;
Atlas das religiões;
Atlas da astronomia;
Atlas de arqueologia;
Atlas das literaturas;
Atlas da arquitectura mundial.

Características da obra!

Profusamente ilustrada, traz os muitos conteúdos típicos de uma enciclopédia, na


visão da época, tendo sido considerada durante várias décadas uma obra de
referência em Portugal.

A Grande Enciclopédia apresenta-se ainda como um dicionário, dando informação


lexical, etimológica e, por vezes, sintática em cada entrada, com abonações. As
entradas são em grande número, como num vasto dicionário da língua
portuguesa.

Teve como colaboradores alguns dos maiores nomes da cultura portuguesa dos
meados do século XX, adiante referidos.

Os artigos não são assinados pelos seus autores.

Editoras!

A sua primeira editora foi a Editorial Enciclopédia, Lda., Lisboa - Rio de Janeiro,
sediada na Rua do Alecrim, 38 e depois na Rua António Maria Cardoso 33, em
Lisboa.

Entre 1993 e 2000 foi editada pelas Edições Zairol.

A Página Editora adquiriu os direitos da obra em 2000.

***
[365]
V - Meyers Konversations-Lexikon

É uma das principais enciclopédias alemãs, em 52 Volumes, que existiu em


várias edições desde 1839 até 1984, quando se fundiu com a Brockhaus
Konversations-Lexikon.

Joseph Meyer (1796-1856), que tinha fundado a editora Bibliographisches


Institut em 1826, destinava-se a emitir uma enciclopédia universal
significava para um amplo público: pessoas que tinham um conhecimento
geral bom como empresários, técnicos e académicos, considerando obras
contemporâneas como as de Pierer e Brockhaus como superficiais ou
obsoletas.

**

[366]
VI - The Annual Review of Astronomy and Astrophysics

Em publicação desde 1963, cobre os desenvolvimentos significativos no campo


da astronomia e astrofísica, incluindo: o sol; sistema solar e planetas
extrasolares; estrelas; o meio interestelar; galáxia e galáxias; núcleos galácticos
ativos; cosmologia; e instrumentação e técnicas, e a história do desenvolvimento
de novas áreas de pesquisa.

***

[367]
VII - Obras Completas de Platão, edicão de 1802!

Thomas Taylor (1753-1806) foi o primeiro a traduzir e publicar as obras


completas de Platão para o inglês; Suas Obras de Platão, o culminar de um
estudo de uma vida inteira de filosofia e clássicos, foi um marco óbvio para
homens e mulheres de letras. Foi por meio das traduções de Taylor que os
poetas românticos tiveram acesso ao platonismo: eles são provavelmente
uma das fontes de Blake.

***

[368]
VIII - Prática do Século XX: uma Enciclopédia Internacional da
Ciência Médica Moderna, impressa entre 1895 e 1903, por Stedman
e Thomas Lathrop, em 21 Volumes!

Vol. 1 Doenças do sistema uropoiético .


Vol. 2 Desordens nutritivas.
Vol. 3. Doenças ocupacionais, hábitos de drogas e venenos.
Vol. 4. Doenças do sistema vascular e da glândula tireoide.
Vol. 5. Doenças da pele.
Vol. 6. Doenças dos órgãos respiratórios.
Vol. 7. Doenças dos órgãos respiratórios e do sangue, e distúrbios sexuais
funcionais.
Vol. 8-9. Doenças dos órgãos digestivos.
Vol. 10-11. Doenças do sistema nervoso.
Vol. 12. Doenças mentais, infância e velhice.
Vol. 13-16. Doenças infecciosas.
Vol. 17. Doenças infecciosas e novos crescimentos malignos.
Vol. 18. Sífilis e lepra.
(cont.) Vol. 19. Malária e microrganismos.
Vol. 20. Tuberculose, febre amarela e diversos. Índice geral.
Vol. 21. Suplemento.
***
[369]
IX - The Encyclopedia of Language and Linguistics!

Publicada pela primeira vez em 1994 (editada por Ronald E. Asher), com uma
2ª edição em 2006 (editada por Keith Brown ), é uma enciclopédia de todos
os assuntos relacionados à linguagem e linguística .

Recepção

O Journal of Linguistics a descreveu como "a publicação de referência


acadêmica definitiva e indispensável, em todos os ramos da linguística para
qualquer biblioteca onde a linguística é levada a sério." A segunda edição tem
11.000 páginas e 3.000 artigos em 14 Volumes.

***

[370]
X - ENCICLOPÉDIA DE MÚSICA - 5 Volumes em 6 Tomos,
Editora: Globo.

1) Volumes 1 e 2: Maravilhas da Música Universal, de David Ewen. Edição


de 1959. Volume 1 com 468 páginas, volume 2 com 560. Comentários
técnicos, críticos e históricos dos autores e suas obras, incluindo brasileiros
como Guarnieri e Villa-Lobos.

Volume 3: O livro das Grandes Sinfonias, de George P. Upton e Felix


Borowski. Edição de 1959, 430 páginas. Comentários técnicos, críticos e
históricos das grandes sinfonias, classificadas pelos seus autores.

Volume 4: Duas obras no mesmo volume. 3a) Introdução à Música, de Luiz


Cosme. Edição de 1959, 146 páginas. História e comentários sobre os grandes
períodos da música clássica. 3b) Da Interpretação Musical, de Paulo do Couto
e Silva. Edição de 1959, 120 páginas. Curso de interpretação musical ilustrado
com trechos de partituras e outra figuras.

Volume 5: Música Popular Brasileira, de Oneyda Alvarenga. Edição de 1960,


330 páginas. Estudo sobre a música popular (folclórica) brasileira, contendo
133 exemplos musicais (partituras) e 51 fotografias.

Volume 6: Do Salmo ao Jazz, de Gilbert Chase. Edição de 1967, 670 páginas.


História da música popular norte-americana por meio de seus estilos, do
salmo, passando pelo blues, ragtime, até a Broadway.
[371]
XI - Enciclopedia de la Música. Hamel / Hürlimann - Ed.
Cumbre, do México. Ano de 1959!

***

[372]
XII - Dizionario Enciclopedico Universale della Musica e
dei Musicisti.

Frequentemente abreviado com a sigla DEUMM, é um dicionário


enciclopédico, em italiano, que trata de música e músicos. Idealizada e
dirigida por Alberto Basso e publicada pela UTET, é uma das maiores obras
de referência dedicadas à música, em particular à de tradição ocidental; é
composto por 22 volumes ao todo, divididos em quatro seções:

The Lexicon , 4 volumes (1983-4)


As Biografias , 8 volumes (1985-8) mais 2 suplementos: Apêndice (1990),
Apêndice 2005 , (2004)
Títulos e personagens , 3 volumes (1999)
História da Música e Cronologia , 5 volumes (2004-5).

***

[373]
XIII - STORIA DELLA MUSICA

Editora Fratelli Fabbri, ano 1964Guia de música


1: Das origens ao melodrama
2: Bach e o instrumental século XVIII
3: Mozart e a ópera do século XVIII
4: Beethoven e o primeiro romantismo
5: A Europa musical do século XIX
6: Musical Itália do século XIX
7: Postwagnerians e escolas nacionais
8: O Século XX
9: Música contemporânea
10: Jazz
11: Folclore e música ligeira
12: Apêndice do vol. 1
13: Apêndice do vol. 2

***

[374]
XIV – The Corsini Encyclopedia of Psychology.

A ampla cobertura inclui:

§ Psicologia biológica e neurociência

§ Diagnósticos DSM e condições psicopatológicas

§ Métodos de tratamento psicológico e psicofarmacológico

§ Testes psicológicos, escalas e métodos de avaliação

§ Processos de desenvolvimento

§ Métodos de pesquisa e procedimentos estatísticos

§ Sociedades e organizações psicológicas

§ Psicologia de todo o mundo

§ Entradas biográficas de mais de 600 psicólogos influentes

[375]
Por mais de 25 anos, The Corsini Encyclopedia of Psychology tem sido a
ferramenta de referência que psicólogos, pesquisadores, acadêmicos e
estudantes recorreram para obter a cobertura mais atualizada e extensa do
campo da psicologia. A quarta edição deste amado trabalho de referência foi
atualizada e expandida para refletir novas pesquisas em muitas áreas
interessantes, incluindo descobertas biológicas e neurológicas.

Desenvolvido com a orientação de um conselho de bibliotecários,


representando instituições acadêmicas e públicas, esta nova edição reflete as
necessidades de pesquisa intuitiva do consumidor de bibliotecas de hoje -
com base em um índice aprimorado que fornece referências cruzadas entre
artigos que expandem a utilidade e facilidade de uso desta referência prática,
mas completa.

***

XV - Handbook of Psychology, Second Edition

A referência vencedora do prêmio - cobrindo todos os aspectos da disciplina


de psicologia - totalmente revisada e atualizada.

“ Um feito magnífico, uma referência de grande leitura que prova a


maturidade e vitalidade de um assunto que interessa a quase todos. ”

--Library Journal, abril de 2003 --- Melhor referência


[376]
Nomeada a melhor referência pelo Library Journal em sua primeira edição,
esta revisão abrangente agora cobre descobertas baseadas em neurociência,
prática baseada em evidências e atenção plena, bem como novas
descobertas em psicologia social, de desenvolvimento e forense.

***

XVI - Enciclopedia de Ciencias de la Naturaleza, Editorial


Planeta, ano de 1997

A mais completa enciclopédia de ciências naturais já publicada na


Espanha. Composto por 12 volumes de cerca de 500 páginas cada.

Os volumes que o compõem são: 2 de biologia, 1 de ecologia, 2 de botânica, 4 de


zoologia, 2 de geologia e 1 de astronomia.

As imagens são de alta qualidade e muitas são muito bonitas, é um verdadeiro prazer
contemplá-las durante a leitura.

***

[377]
XVII - História da Literatura Ocidental!

O objetivo de mostrar as Enciclopédias que estão presentes nas Edições


da ‘’Revista do Instituto Cultural Logos’’ é para demonstrar a riqueza do
Conhecimento que não é de fácil acesso ou que pertencem a uma outra Era
do nosso tempo.
O Otto Maria Carpeaux era tão genial que ele listou 90 títulos
importantes no Estudo da Literatura, somente na Introdução de sua História
da Literatura Ocidental, que é literalmente a melhor do mundo, não a nível
de quantidade de exposição textual, mas na qualidade da inteligência daquele
que escreveu a história.
Na introdução, o Otto fez um verdadeiro estudo filosófico do espírito
por trás de cada trabalho que foi feito ao longos dos séculos, isso é de uma
inteligência extraordinária – próprio de quem dominava as Ciências, Artes,
Idiomas e a Literatura. O Otto disse que o seu trabalho é Brasileiro, porque
ele considerava-se um filho do Brasil!
O Mário Ferreira dos Santos, com a sua Enciclopédia das Ciências
Filosóficas e Sociais colocou o Brasil no panteão da Inteligência Mundial de
todos os séculos, e as Enciclopédias que estão nas edições da Revista Logos é
para de algum modo enriquecer a imaginação de todos e mostrar
possibilidades de estudos muitíssimos superiores, de nível internacional.
***

[378]
XVIII - Enciclopédia "CIÊNCIA ILUSTRADA"
Em agosto de 1969 a ‘’ABRIL CULTURAL’’, então uma divisão da
EDITORA ABRIL, lançou mais uma enciclopédia composta por fascículos
semanais vendidos em bancas de jornal.
Eles eram colecionados e encadernados à medida que se completasse cada
um dos 13 volumes (11 de tamanho grande, com as folhas, e 2 de tamanho
médio, com as capas). Era a coleção "CIÊNCIA ILUSTRADA" (com mais de
5.000 páginas).
De leitura fácil e apresentação esmerada (recheada de fotos e desenhos
coloridos), abrangia assuntos de Astronomia, Biologia, Física, Química e
muitos outros.
Certamente foi um dos trabalhos que contribuíram para
a popularização da Ciência entre os jovens (e a criançada).

***

[379]
XIX - Enciclopédia "CONHECER"

No "longínquo" dia 27.09.1966 (uma 3ª feira) as bancas de jornal do


país recebiam um produto da "Abril Cultural" (divisão do grupo
empresarial Editora Abril) que estava fadado a se tornar um dos maiores
sucessos editoriais de todos os tempos: o primeiro fascículo de
uma enciclopédia em" capítulos" denominada "CONHECER" (recheada
com textos de fácil leitura e entendimento, além de muitas ilustrações
coloridas) que estaria à venda todas as semanas, às terças-feiras.
A cada 15 fascículos (com 20 páginas) era vendida uma capa
dura gravada "a ouro" (vermelha, nesta primeira edição) que compunha um
dos 12 volumes da coleção (mais 3 menores formados com as capas dos
exemplares semanais). Era só comprá-la e mandar "encadernar" (pagando
por isso, é claro!).
Em pouco menos de 4 anos o interessado e zeloso pai conseguiria para
a família uma enciclopédia COMPLETA que, mesmo antes de totalmente
formada, já vinha auxiliando nas pesquisas escolares dos
filhos "ginasianos"(ela abrangia conhecimentos sobre Ciências, Geografia,
Artes e História).
A Editora Abril foi pioneira no país com trabalho desse tipo (fascículo
vendido em banca). Sua estréia nessa área foi no ano anterior (1965) com a
obra "A Bíblia Mais Bela do Mundo", grande sucesso na época.
Sem dúvida, essa iniciativa "fascicular" teve grande mérito:
disseminou através das bancas de jornal (espalhadas pelos grandes e
pequenos centros do Brasil todo) o conhecimento antes adstrito às
pouquíssimas (até hoje) bibliotecas e livrarias.
Isso sem contar, ainda e principalmente, com o preço bastante acessível dos
[380]
fascículos o que tornava a enciclopédia (no final) muito mais barata que as
obras vendidas prontas.
Com o passasr do tempo "Conhecer" teve inúmeras edições e vendeu
mais de 100 milhões de fascículos. Ela era publicada sob licença da editora
italiana "Fratelli Fabbri Editori".

***
XX - Enciclopédia Cultural, Editora Matese -São Paulo – 1966.

Publicação do José Fernando Sales Jr., em 23 de maio de 2018, no


grupo ‘’Filosofia e Obra de Mário Ferreira dos Santos’’:
‘’Me intrigava que em uma época onde as pesquisas escolares eram
feitas principalmente em enciclopédias, que no Brasil eram dominadas por
edições estrangeiras como a Barsa, a Delta-Larousse, a Britannica entre
outras, o professor Mário tendo sido dono de duas editoras e gráficas, com
seu espírito combativo e empreendedor, não tivesse se colocado diante
desafio. Recentemente descobri uma enciclopédia publicada por sua editora
Matese e prefaciada provavelmente por ele (o estilo é inconfundível).
Mais uma façanha desse gigante!’’
*Obs.: A Enciclopédia Cultural é uma enciclopédia de verbetes
dedicados à história, à cultura, às grandes civilizações e outras
generalidades. Estes verbetes são sucintos, mas bastante completos acerca
do assunto de que trata. A obra se revela como uma alternativa
enciclopedista brasileira à parte das afamadas que existiam e eram
publicadas à sua época. Trata-se de um trabalho de fôlego organizado por
N.S. Nunes Galvão.
[381]
XXI - The Encylopaedia of Mathematical Sciences.

Com a Encylopaedia of Mathematical Sciences, Springer-Verlag


apresenta uma série de pesquisas em matemática contemporânea escritas por
/ com a cooperação dos maiores especialistas em todo o mundo. As principais
especialidades matemáticas são cobertas por uma sequência de volumes
(como Topologia, Geometria, Geometria Algébrica, Variáveis Complexas,
Análise, Grupos de Lie e Álgebras de Lie, Teoria dos Números, Equações
Diferenciais Parciais e Sistemas Dinâmicos) com vários matemáticos famosos
atuando como consultores editores. Cada volume contém vários artigos sobre
tópicos intimamente relacionados nessa área.
Os artigos relatam um tema em termos dos principais conceitos e
resultados, sem dar detalhes de provas a menos que sejam intrinsecamente
instrutivas e situando-as no contexto mais amplo do campo e das interações
com campos vizinhos.
A série começou como um esforço conjunto com a editora soviética
VINITI.
Começando com o Volume 100, a Enciclopédia de Ciências Matemáticas
segue um novo conceito. Suas principais características são as seguintes:
várias novas subséries foram lançadas e mais estão em preparação. Cada nova
sub-série tem uma equipe de editores que desenvolve o conceito científico da
sub-série.

[382]
As novas subséries atuais são:

- Física Matemática: J. Fröhlich, B. Khesin, SP Novikov e D. Ruelle (Eds.)


- Álgebras do operador e geometria não comutativa: J. Cuntz e Vaughan Jones
(Eds.)
- Topologia de baixa dimensão: RVGamkrelidze, VAVassiliev (Eds.)
- Teoria Invariante e Grupos de Transformação Algébrica: RVGamkrelidze,
VLPopov (Eds.)
- Teoria da probabilidade: A.-S. Sznitman, SRS Varadhan (Eds.)

A Enciclopédia de Ciências Matemáticas é de interesse imediato para


todos os usuários da matemática, sejam eles próprios matemáticos no
trabalho diário que precisam de uma referência para campos vizinhos, sejam
eles professores de matemática que precisam de uma revisão global de um
campo, ou aplicadores de resultados e métodos matemáticos, como físicos,
engenheiros, economistas etc.

***

[383]
XXII – Alí atrás do Prof. Olavo estão as obras de dois Grandes
Intelectuais: Eric Voegelin (A coleção de Azul, em 34 volumes, da
University of Missouri Press) e José Ortega y Gasset (A coleção
preto e branco, da Editora Taurus, e a de Vermelho, da Alianza).

[384]
XXII - The Collected Works of Eric Voegelin.
(University of Missouri Press).

Volume 1: On The Form of the American Mind


Volume 2: Race and State
Volume 3: The History of the Race Idea: From Ray to Carus
Volume 4: The Authoritarian State: An Essay on the Problem of the
Austrian State
Volume 5: Modernity Without Restraint: The Political Religions, The New
Science of Politics, Politics, Science, and Gnosticism
Volume 6: Anamnesis: On the Theory of History and Politics
Volume 7: Published Essays: 1922—1928
Volume 8: Published Essays: 1929—1933
Volume 9: Published Essays: 1934—1939
Volume 10: Published Essays: 1940—1952
Volume 11: Published Essays: 1953—1965
Volume 12: Published Essays: 1966—1985
Volume 13: Selected Book Reviews

Order and History (Volumes I-V)

Volume 14: Order and History (Volume I): Israel and Revelation
Volume 15: Order and History (Volume II): The World of the Polis
Volume 16: Order and History (Volume III): Plato and Aristotle

[385]
Volume 17: Order and History (Volume IV): The Ecumenic Age
Volume 18: Order and History (Volume V): In Search of Order

History of Political Ideas (Volumes I-VIII)

Volume 19: History of Political Ideas (Volume I): Hellenism, Rome


and Early Christianity
Volume 20: History of Political Ideas (Volume II): The Middle Ages to
Aquinas
Volume 21: History of Political Ideas (Volume III): The Later Middle
Ages
Volume 22: History of Political Ideas (Volume IV): Renaissance and
Reformation
Volume 23: History of Political Ideas (Volume V): Religion and the
Rise of Modernity
Volume 24: History of Political Ideas (Volume VI): Revolution and the
New Science
Volume 25: History of Political Ideas (Volume VII): The New Order
and Last Orientation
Volume 26: History of Political Ideas (Volume VIII): Crisis and the
Apocalypse of Man

The Rest of the Collected Works

Volume 27: The Nature of the Law and Related Legal Writings
Volume 28: What is History? and Other Late Unpublished Writings
Volume 29: Selected Correspondence: 1924-49
Volume 30: Selected Correspondence: 1950-1984
Volume 31: Hitler and the Germans
Volume 32: The Theory of Governance and other Miscellaneous Papers: 1921-1938
Volume 33: The Drama of Humanity and other Miscellaneous Papers: 1939-1985
Volume 34: Autobiographical Reflections, with glossary and cumulative index.

***

[386]
XXIII – Obras Completas de José Ortega Y Gasset, em 10 Volumes.

• Editora: Taurus
• Idioma: espanhol, castelhano.
• Data de publicação: 2017
• Encadernação: Capa dura com sobrecapa.
• Observações:

Descrição: Estas Obras Completas de José Ortega y Gasset, em dez volumes,


representam a maior compilação de textos do filósofo apresentada até hoje. Os
seis primeiros volumes reúnem as obras publicadas pelo próprio Ortega,
incluindo muitos textos cuja primeira reimpressão é oferecida. Os quatro
volumes seguintes incorporam os textos que permaneceram inéditos em sua
morte. São escritos muito próximos de uma versão definitiva, incluindo vários
livros. Muitas dessas obras vêem a luz pela primeira vez. Em ambos os casos, o
critério de ordenação foi cronológico. Para fixar o texto dos seis primeiros
volumes, foi realizado um notável trabalho de pesquisa, que permitiu recuperar
inúmeros artigos ainda dispersos em jornais e revistas, bem como selecionar as
edições pertinentes para cotejo, a fim de expurgar o texto de erratas perpetuadas
em edições anteriores e identificar variantes substanciais, que são mostradas no
Apêndice. Para a edição das obras que deixou inéditas, trabalhou-se nos
manuscritos conservados no Arquivo da Fundação José Ortega y Gasset. Como
despedida de sua juventude, Ortega compilou em 1916 alguns dos textos que
havia publicado entre 1904 e 1912. Intitulou o volume Pessoas, obras,
coisas. Nesse mesmo ano iniciou uma de suas mais sugestivas aventuras
intelectuais, El Espectador, projeto que foi traduzido em oito volumes entre esta
data e 1934. Neles, inclui ensaios que tratam de uma enorme variedade de
assuntos, desde a crítica literária e artística ao comentário político, à expressão
de alguns dos conceitos fundamentais de sua filosofia, a descrição de uma
paisagem ou a meditação sobre o amor. Este segundo volume também inclui os
artigos que publicou em 1916.
[387]
XXIV – Obras Completas de José Ortega Y Gasset, em 12 Volumes.

• Editora: Aliança; primeira edição (1 de novembro de 1993)


• Idioma: Espanhol
• Brochura: 12560 páginas
• Data de publicação: primeira edição (1 de novembro de 1993)

***

[388]
XXVI – Obras Completas de Edmund Husserl, em 18 volumes.
Editora: Martinus Nijhoff Publishers (Kluwer) Ano: (1950-1974).

I. Meditações Cartesianas e Conferências de Paris.


II. A Ideia da Fenomenologia.
III + IV. Ideias para uma Fenomenologia Pura e Filosofia Fenomenológica.
V. IDEM III
VI. A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental
VII + VIII .Filosofia Primeira (1923/24)
IX Psicologia Fenomenológica
X. Sobre a Fenomenologia da Consciência do Tempo Interior (1893 - 1917)
XI. Análise da Síntese Passiva
XII. Filosofia da Aritmética
XIII. Sobre a fenomenologia da intersubjetividade
XIV + XV. Sobre a fenomenologia da intersubjetividade
XVI. Coisa e espaço
XVII. Lógica formal e transcendental
XVIII. Investigações lógicas

***

[389]
XXVII – Obras Completas de Bernard Lonergan, em 25 Volumes.

Descrito por alguns como um Tomás de Aquino moderno, o padre jesuíta


canadense Bernard Lonergan (1904-1984) foi um dos filósofos mais importantes do
século XX. Esta série, publicada em cooperação com o Instituto de Pesquisa
Lonergan do Regis College, Universidade de Toronto, inclui todas as obras
publicadas de Lonergan, vários itens inéditos e traduções de seus volumes latinos
mais importantes. É composto por 25 volumes.
Os artigos tratam de questões científicas, matemáticas, teológicas e filosóficas,
incluindo discussões de tópicos como o fundamento adequado da metafísica, a
forma de inferência, a natureza do amor e do casamento e o papel da universidade
no mundo moderno.

• Volume 1: Graça e liberdade: graça operativa no pensamento de São Tomás de


Aquino / editado por Frederick E. Crowe e Robert M. Doran.
• Volume 2: Verbum: palavra e ideia em Aquino / editado por Frederick E.
Crowe e Robert M. Doran (5ª ed., rev. e augm.)
• Volume 3: Insight / editado por Frederick E. Crowe e Robert M. Doran. (5ª
ed., rev. e aug.)
• Volume 4: Coleção / editada por Frederick E. Crowe e Robert M. Doran. (2ª
ed., rev. e aug.)
• Volume 5: Compreendendo e sendo/editado por Elizabeth A. Morelli e Mark
D. Morelli. (5ª ed., rev. e aug.)
• Volume 6: Artigos filosóficos e teológicos, 1958-1964 / editado por Robert C.
Croken, Frederick E. Crowe e Robert M. Doran
• Volume 7: A constituição ontológica e psicológica de Cristo.

[390]
• Volume 8: A palavra encarnada / traduzida por Charles C. Hefling Jr.; editado
por Robert M. Doran e Jeremy D. Wilkins
• Volume 9: A redenção / traduzido por Michael G. Shields; editado por Robert
M. Doran, H. Daniel Monsour e Jeremy D. Wilkins
• Volume 10: Tópicos em educação / editado por Robert M. Doran e Frederick
E. Crowe
• Volume 11: O deus trino: doutrinas / traduzido de De deo trino: pars dogmatica
(1964); editado por Robert M. Doran e H. Daniel Monsour
• Volume 12: O deus trino: sistemática / traduzido de De deo trino: pars
sistemático (1964); editado por Robert M. Doran e H. Daniel Monsour
• Volume 13: Uma segunda coleção / editada por Robert M. Doran e John D.
Dadosky
• Volume 14: Método em teologia / editado por Robert M. Doran e John D.
Dadosky
• Volume 15: Dinâmica macroeconômica: um ensaio em análise de circulação /
editado por Frederk G. Lawrence, Patric H. Byrne e Charles C. Hefling, Jr.
• Volume 16: Uma terceira coleção / editada por Robert M. Doran e John D.
Dadosky
• Volume 17: Artigos filosóficos e teológicos, 1965-1980 / editado por Robert C.
Croken e Robert M. Doran
• Volume 18: Fenomenologia e lógica / editado por Philip J. McShane
• Volume 19: Teologia latina primitiva / traduzida por Michael G.
Shields; editado por Robert M. Doran e H. Daniel Monsour
• Volume 20: Artigos mais curtos / editados por Robert C. Cohen, Robert M.
Doran e H. Daniel Monsour
• Volume 21: Por uma nova economia política / editado por Philip J. McShane
• Volume 22+24 Primeiros trabalhos sobre método teológico 1-3 / editado por
Robert M. Doran e Robert C. Croken; H. Daniel Monsour
• Volume 25: Material de arquivo: primeiros artigos sobre história / editado por
Robert M. Doran e John D. Dadosky.

Toronto : Published by University of Toronto Press for Lonergan Research


Institute of Regis College, ©1988-©2019.

Outros Autores: Crowe, Frederick E. (Editor), Doran, Robert M.,


1939- (Editor), Dadosky, John D., 1966- (Editor).

***

[391]
XXV – Biblioteca Nacional recebe enciclopédia iconográfica
chinesa em 20 volumes, inédita na América Latina.

(Foto: Equipe da Biblioteca Nacional recebe monges do Templo Fo Guang Shan.)

A Biblioteca Nacional abriu as portas nesta segunda-feira, 6 de agosto de 2018,


para uma comitiva do Templo Budista da Ordem Fo Guan Shan, liderado pelo
Reverendo Mestre Huei-Kai, Vice-Abade do Monastério Fo Guan Shan, em Taiwan.
Recebido por Liana Amadeo, chefe do Centro de Processamento e
Preservação, por Mônica Carneiro Alves, coordenadora de Acervo Especial e por
Diana Ramos, chefe do Acervo de Iconografia, o grupo entregou os 20 volumes
da Encyclopedia of Budhist Arts [Enciclopédia de Artes Budistas].
A Biblioteca Nacional (BN) e a UFRJ são as únicas instituições culturais da
América Latina a receber a obra, cuidadosamente preparada ao longo de vários
anos por Hsing Yün, fundador da Fo Guang Shan, e por uma ampla equipe de
colaboradores. Ao todo, a obra levou 20 anos para ser completada, desde os
processos iniciais de pesquisa e levantamento de informações. A obra foi
concebida com o apoio de acadêmicos, estudantes e religiosos espalhados por
diversos países que reuniram um rico material iconográfico relacionado à
religião em diversos países do mundo.
Liana Amadeo presenteou os visitantes com o livro Memória do Mundo,
que reúne informações sobre as coleções e acervos da Biblioteca Nacional
nominados com o prêmio Memória do Mundo; com o catálogo da
exposição Dante poeta de toda a vida; e com O livro de horas de Dom
Fernando, bela obra em edição fac-similar, editado pela Imprensa Oficial e pela
Fundação Biblioteca Nacional em 2009.

[392]
Ao final do encontro, a equipe da Biblioteca Nacional apresentou uma série
de belas gravuras chinesas do século XIX pertencentes ao acervo da instituição,
com ilustrações de modelos arquitetônicos e artísticos para templos budistas.

A comitiva presente à Biblioteca Nacional contou com as presenças de:

• Reverendo Mestre Huei-Kai - Vice-Abade do Monastério Fo Guan Shan em


Taiwan; Professor da Instituto de Graduação de Estudos Religiosos; Colunista
da Revista Merit Times.
• Mestra Miao Yen, Abadessa Geral do Templo Fo Guang Shan na América do Sul
e Abadessa do Templo Zu Lai FGS em Cotia, São Paulo.
• Mestra Miao You - Monja Administradora Geral do Templo Zu Lai em Cotia, SP,
responsável pelo Centro de Traduções no Templo Zu Lai; coordenadora do
Grupo de Jovens e Filhos de Buda do Templo Zu Lai.
• Mestra Miao Wei é Mestra Administradora (sem o geral) do Templo no Rio.

***

[393]
XVIII – Canon of Medicine – Avicena (973-1037), em 5 Volumes.
Primeira vez em 1000 Anos Disponível Em Tradução Para O Inglês.

Abu Ali al-Husayn ibn Sina é mais conhecido na Europa pelo nome
latinizado Avicenna. Ele nasceu em Afshana, perto de Bukhara, na Ásia Central,
por volta de 973 EC. Esta parte da Ásia Central naquela época fazia parte do
Império Persa. Avicena é mais conhecido como um médico cuja obra principal,
o Cânone (al-Qanun fi'l-Tibb), continuou a ser ensinada como livro de medicina
na Europa e no mundo islâmico até o início do período moderno.

“Podemos tirar três conclusões principais de uma breve visão geral dos
escritos médicos de Avicena. Em primeiro lugar, essas obras, e especialmente
a Canon, oferecem ricas colheitas. . . O papel da experiência na obtenção de
conhecimento médico é uma dessas questões; outra é a função da alma e como
ela interage com o cérebro. Em segundo lugar, é claramente errado caracterizar
o Cânone de Avicena meramente como uma coleção bem organizada de
conhecimento médico prévio com alguma filosofia aristotélica acrescentada em
boa medida. No Cânone, a contribuição da Avicena não se limita à organização
da informação. Vimos que ele é inovador de três maneiras: ele desenvolveu
ainda mais o conceito de experiência qualificada de Galeno; ele se baseia, pelo
menos ocasionalmente, em sua própria experiência como clínico; e ele incorpora
suas próprias idéias filosóficas inovadoras sobre o sentido interior em seu
discurso médico. Terceiro, só podemos nos maravilhar com a relativa
negligência com que historiadores médicos e filósofos trataram os escritos
médicos de Avicena. Temos agora uma edição árabe um tanto crítica e uma
tradução inglesa do Cânon, embora seja pouco conhecida no Ocidente.
[394]
Só podemos esperar que futuros historiadores da medicina fechem essa
lacuna notável e investiguem a obra médica de Avicena de maneira muito mais
completa”.

(Portmann, Interpretando Avicena: Ensaios Críticos, pág. 108)

Cânone de Medicina, Medicina Geral, Volume 1

O famoso Cânone da Medicina de Ibn Sina (Qanun fi al-tibb) ganha vida


em inglês com esta tradução. É uma clara e ordenada Summa de todo o
conhecimento médico do tempo de Ibn Sina aumentado de suas próprias
observações. O primeiro volume contém generalidades sobre o corpo humano,
doença, saúde e tratamento geral e terapêutico.

De acordo com a Teoria da Medicina Avicena, nascemos com um calor


inato. Devemos nos esforçar ao longo de nossa vida para manter esse equilíbrio
e equilíbrio originais em relação aos três aspectos do eu: corpo, mente (alma) e
energia (espírito). A abordagem holística da medicina aviceniana é respeitada,
seja teoria, prática, diagnóstico ou tratamento. Contém um índice.

Comentários do Volume 1:

As observações de O. Cameron Gruner são maravilhosamente perspicazes


quanto à história e significado por trás do Canon de Avincenna. Ele compara a
medicina tradicional com a medicina moderna e sua falta de filosofia. Além
disso, a seção Notas de cerca de 150 páginas acrescenta uma compreensão
considerável ao texto de Avicena. Notas ajuda o leitor a vivenciar o contexto
histórico do Cânon, bem como sua importância na medicina moderna. Comprei
este livro para entender as medicinas alternativas em relação à minha própria
saúde e bem-estar. Recebi isso e muito mais.

Canon of Medicine: Natural Pharmaceuticals; Volume 2:

A UNESCO declarou 2013 como o ano do milênio da redação do Qanun


fi'l-tibb (Cânone da Medicina) por Ibn Sina (Avicenna). Ibn Sina começou seu
trabalho monumental, o Canon of Medicine, em 1013 EC. Publicado pela
primeira vez em ordem alfabética em inglês, o Volume 2 do Canon of
Medicine (Lei da Cura Natural), é um acréscimo essencial à história da
medicina, pois contém um tesouro de informações sobre o que era conhecido
como “Simples”, ou Matéria Médica, produtos farmacêuticos naturais usados
há mais de 1000 anos para curar várias doenças e distúrbios. Totalmente
ilustrado em cores com um índice de 150 páginas e 7.000 palavras das
propriedades curativas de cada uma das entradas, o próprio texto é uma lista
alfabética dos produtos farmacêuticos naturais dos compostos simples. Por
compostos simples, Avicena inclui as plantas, ervas, animais e minerais
individuais que possuem propriedades curativas. A Avicenna lista 800 produtos
farmacêuticos naturais testados, incluindo substâncias vegetais, animais e
minerais. Contém um índice do conteúdo indexado por propriedades curativas.
[395]
Comentários do Volume 2:

O compilador incluiu os nomes latinos, persas e árabes das drogas,


juntamente com representações artísticas das drogas como ilustrações, bem
como as Tabelas ou Grade de Avicena para cada entrada que descreve as
qualidades individuais e específicas de drogas simples: Natureza: Nomes das
drogas: drogas simples e suas propriedades; Escolha: Seleção do melhor
medicamento; Temperamento: Temperamento das drogas; Propriedades
curativas: Descrição geral e propriedades curativas das drogas: sua dissolução,
fervura, adesividade, propriedades indutoras do sono, e assim por diante, que
são descritas com quaisquer outras propriedades que possam ter; Cosméticos:
Medicamentos que são úteis para embelezar a pele e o cabelo, os medicamentos
que removem erupções cutâneas, vitiligo, verrugas e aqueles que são usados em
cosméticos e assim por diante; Inchaços e Espinhas: Medicamentos úteis no
tratamento de inflamações e espinhas; Feridas e Úlceras: Medicamentos para o
tratamento de úlceras, câncer, abscessos, fraturas; Articulações: Medicamentos
para tratar artrite e outras doenças das articulações e nervos; Órgãos da Cabeça:
Medicamentos para o tratamento de distúrbios psicológicos e doenças da
cabeça; Órgãos Visuais: Medicamentos para tratar os órgãos visuais; Órgãos
Respiratórios e o Tórax: Medicamentos para o tratamento de doenças dos
órgãos respiratórios; Alimentos e Órgãos Alimentares: Medicamentos para o
tratamento dos órgãos alimentares; Órgãos Excretores: Drogas utilizadas como
afrodisíacos, bem como para o tratamento de outros órgãos excretores; Febres:
Medicamentos para tratar febres e doenças relacionadas com febres; Venenos:
Medicamentos para tratar venenos; Substitutos: Medicamentos a serem usados
quando o medicamento desejado não estiver disponível. Medicamentos para o
tratamento de artrite e outras doenças das articulações e nervos; Órgãos da
Cabeça: Medicamentos para o tratamento de distúrbios psicológicos e doenças
da cabeça; Órgãos Visuais: Medicamentos para tratar os órgãos visuais; Órgãos
Respiratórios e o Tórax: Medicamentos para o tratamento de doenças dos
órgãos respiratórios; Alimentos e Órgãos Alimentares: Medicamentos para o
tratamento dos órgãos alimentares; Órgãos Excretores: Drogas utilizadas como
afrodisíacos, bem como para o tratamento de outros órgãos excretores; Febres:
Medicamentos para tratar febres e doenças relacionadas com febres; Venenos:
Medicamentos para tratar venenos; Substitutos: Medicamentos a serem usados
quando o medicamento desejado não estiver disponível. Medicamentos para o
tratamento de artrite e outras doenças das articulações e nervos; Órgãos da
Cabeça: Medicamentos para o tratamento de distúrbios psicológicos e doenças
da cabeça; Órgãos Visuais: Medicamentos para tratar os órgãos visuais; Órgãos
Respiratórios e o Tórax: Medicamentos para o tratamento de doenças dos
órgãos respiratórios; Alimentos e Órgãos Alimentares: Medicamentos para o
tratamento dos órgãos alimentares; Órgãos Excretores: Drogas utilizadas como
afrodisíacos, bem como para o tratamento de outros órgãos excretores; Febres:
Medicamentos para tratar febres e doenças relacionadas com febres; Venenos:
Medicamentos para tratar venenos; Substitutos: Medicamentos a serem usados
quando o medicamento desejado não estiver disponível. Medicamentos para o
tratamento de doenças dos órgãos respiratórios; Alimentos e Órgãos
Alimentares: Medicamentos para o tratamento dos órgãos alimentares; Órgãos
[396]
Excretores: Drogas utilizadas como afrodisíacos, bem como para o tratamento
de outros órgãos excretores; Febres: Medicamentos para tratar febres e doenças
relacionadas com febres; Venenos: Medicamentos para tratar
venenos; Substitutos: Medicamentos a serem usados quando o medicamento
desejado não estiver disponível. Medicamentos para o tratamento de doenças
dos órgãos respiratórios; Alimentos e Órgãos Alimentares: Medicamentos para
o tratamento dos órgãos alimentares; Órgãos Excretores: Drogas utilizadas
como afrodisíacos, bem como para o tratamento de outros órgãos
excretores; Febres: Medicamentos para tratar febres e doenças relacionadas
com febres; Venenos: Medicamentos para tratar venenos; Substitutos:
Medicamentos a serem usados quando o medicamento desejado não estiver
disponível.

Canon of Medicine: Special Pathologies, Volume 3:

Traduzido pela primeira vez em inglês ou em qualquer idioma europeu,


Avicenna no Volume 3 apresenta várias doenças sistematicamente do cérebro
aos dedos dos pés, com sua etiologia, sintomas, diagnóstico, prognóstico e
tratamento com medicamentos simples e compostos. Menção especial pode ser
feita às seguintes seções: Cabeça: cérebro (intemperações, dor de cabeça em
todos os seus aspectos, doenças orgânicas do cérebro, epilepsia, paralisia, etc.)
olhos, ouvidos, nariz, boca, garganta e dentes. Peito: pulmões, coração,
seios. Trato alimentar: estômago, intestinos, fígado, vesícula biliar e
baço. Intestino e ânus, distúrbios do reto. Trato urinário: rins, bexiga e urina. O
sistema reprodutor masculino; o sistema reprodutor feminino, concepção,
gravidez e doenças das mulheres. Músculos: articulações e pés.Contém um
índice do conteúdo indexado por propriedades curativas.

Comentários do Volume 3:

A influência de Avicena na História da Medicina é imensurável. Apenas


para citar algumas das áreas onde fez contribuições destacadas: Medicina
experimental: Farmacologia clínica; Lógica indutiva; Ciências
Farmacêuticas. Anatomia e fisiologia: Pressão Arterial, Dissecção,
Neuroanatomia e Neurofisiologia e Oftalmologia. Sistema cardiovascular:
Cardiologia, Pulsologia e Esfigmologia. Etiologia e patologia: Bacteriologia e
microbiologia, Terapia do câncer, Hepatologia, Quarentena. Humores e
temperamentos: quatro humores, quatro temperamentos. Neurociências e
psicologia: Psicologia clínica e psicoterapia, Neurologia e neuropatologia,
Neuropsiquiatria e neuropsicologia, Psicanálise, Paycofisiologia e medicina
psicossomática, Medicina do sono. Cirurgia: Anestesia, Terapia do Câncer,
Hirudoterapia. Outras Contribuições: Cromoterapia, Dermatologia,
Endocrinologia, Gerontologia e Geriatria, Fitoterapia. enotes Guias de estudo

Cânone da Medicina: Doenças Sistêmicas, Volume 4:

O volume 4, traduzido pela primeira vez em inglês, contém sete


partes. Parte 22: Sobre Disfunções em Várias Partes do Corpo, Avicenna fornece
[397]
uma análise detalhada da dor que vem de várias disfunções físicas. Parte 23: On
Fevers é uma seção famosa de seu Canon,muitas vezes publicado por conta
própria na tradução latina. Parte 24: Sobre o diagnóstico baseado nos sintomas
inclui uma discussão sobre o que é uma crise médica e como lidar com ela. A
Parte 25: Sobre Inchaços e Espinhas inclui essas doenças como parte de Doenças
Sistêmicas, juntamente com a Parte 26: Sobre a Perda de Continuidade. A parte
26 trata essencialmente da importância da energia na medicina aviceniana e as
doenças resultantes quando o movimento da energia é interrompido, causando
uma perda de continuidade em seu fluxo. A Parte 27 descreve os Venenos e a
Parte 28 a Arte Cosmética. Contém um índice do conteúdo indexado por
propriedades curativas.

Revisão do Volume 4:

Na verdade, todos deveriam ler este livro pela saúde e bem-estar. Esta
série - incluindo o Volume 4 é uma obra-prima monumental de grande valor
científico e filosófico. Você será despertado do sonho da ineficiência da medicina
convencional com maior compreensão de outros métodos de cura. É incrível
perceber que tanto conhecimento estava disponível há mil anos e, no entanto,
dificilmente estamos fazendo muito melhor hoje. Leia esta série e seja saudável,
e mantenha-se saudável.

Canon of Medicine: Pharmacopia, Volume 5:

Compor uma Farmacopia é um esforço criativo. Avicena estruturou


sua Farmacopia começando com as fórmulas dos medicamentos compostos
organizados de acordo com os vários tipos de preparações que ele encontrou nos
livros médicos anteriores traduzidos para o árabe do grego e do siríaco e depois
os medicamentos compostos organizados de acordo com o tratamento das
doenças da cabeça aos pés que eram com base em sua própria experiência e uso
com pacientes.

O volume 5 lista mais de 800 medicamentos simples e complexos


farmacologicamente testados, incluindo substâncias vegetais e minerais, com
uma descrição completa de sua aplicação e eficácia. Para cada um, ele descreveu
suas ações farmacêuticas de uma gama de vinte e duas a trinta possibilidades,
incluindo resolução, adstringência e suavização, e suas propriedades específicas
de acordo com uma grade de onze tipos de condições patológicas, doenças.

Este volume não contém apenas um índice do conteúdo com base nas
propriedades curativas dos 800 produtos farmacêuticos naturais, mas também
um índice abrangente de 400 páginas de todos os cinco volumes com base nos
nomes dos curandeiros naturais e no que eles curam.

[398]
Laleh Bakhtiar, PhD, Compiladora, Adaptadora e Editora.

Laleh Bakhtiar é bacharel em História pelo Chatham College, mestre em


Filosofia e Psicologia de Aconselhamento e Ph.D. em Psicologia Educacional
pela Universidade do Novo México. Bakhtiar é um psicoterapeuta profissional
licenciado no estado de Illinois. Ela também ministrou cursos sobre o Islã na
Universidade de Chicago. Ela é co-autora de A Sense of Unity: The Sufi
Tradition in Persian Architecture (University of Chicago Press) e autora
de SUFI Expressions of the Mystic Quest (Thames and Hudson), bem como uma
obra de três volumes, God's Will Be Done, sobre Cura Moral e cerca de quinze
outros livros sobre vários aspectos do Islã. Ela também traduziu mais de 30
livros sobre o Islã e o movimento islâmico para o inglês. Bakhtiar é atualmente
Diretor do Instituto de Psicologia Tradicional e Acadêmico Residente da Kazi
Publications.

Laleh Mehree Bakhtiar (nascida Mary Nell Bakhtiar ; 29 de julho de


1938 - 18 de outubro de 2020) foi uma estudiosa islâmica e sufi iraniana-
americana, autora, tradutora e psicóloga clínica.

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