Você está na página 1de 3

Quarta-feira - 2ª Semana da Quaresma

3 Março 2021
Leituras
Jeremias 18, 18-20
Salmo 30 — Salvai-me pela vossa compaixão, ó Senhor Deus!
Mateus 20, 17-28

O versículo 18 situa o texto que hoje escutamos. Jeremias está novamente sob ameaça
de morte (cf. Jer 11, 18s.). Agora são os próprios chefes de Israel que tentam reduzi-lo ao
silêncio. Daí a dureza da invocação de vingança que, de acordo com a lei veterotestamentária
de Talião, sai da boca do profeta. Mas o nosso texto omite esses versículos, orientando-nos,
sim, para a escuta do evangelho.
Jeremias é tipo do Servo sofredor (cf. Is 53, 8-10) e é perseguido por causa da
fidelidade à sua vocação e do seu amor ao povo. Jeremias abandona-se confiadamente a Deus,
de quem espera a salvação. Tudo aquilo que o profeta faz por amor do seu povo, e diz na sua
oração, irá realizar-se de modo perfeito no verdadeiro Servo sofredor, Jesus. Ele será morto
pelos chefes do povo. Mas não pedirá vingança a Deus; pedirá perdão para os seus inimigos, e
oferecerá livremente a vida em favor daqueles que O crucificam.
Jesus sobe a Jerusalém consciente daquilo que lá O espera. Pela terceira, vez fala aos
discípulos da sua paixão. Fala claramente. Para espanto e confusão dos seus contemporâneos,
identifica-se com o Filho do homem, figura celeste e gloriosa esperada para instaurar o reino
escatológico de Deus, mas também se identifica com outra figura, de sinal aparentemente
oposto, a do Servo sofredor. Os discípulos não conseguem compreender e aceitar tais
perspectivas e preferem cultivar as de sucesso e poder (vv. 20-23). Jesus explica-lhes, mais
uma vez, o sentido da sua missão e o sentido do seguimento que lhes propõe: Ele veio para
«beber o cálice» (v. 22), termo que, na linguagem dos profetas, indica a punição divina a
reservada aos pecadores. Quem aspira aos lugares mais elevados no Reino, terá que, como Ele,
estar pronto a expiar o pecado do mundo. É mesmo o único privilégio que pode oferecer,
porque não lhe compete distribuir lugares no Reino. Ele é o Filho de Deus, mas não veio para
dominar. Veio para servir como o Servo de Javé, oferecendo a sua vida em resgate para que os
homens, escravos do pecado e sujeitos à morte, sejam libertados.

Meditação
À mãe dos filhos de Zebedeu, que pensava que a vida vale pelos lugares que se
ocupam na sociedade, pelo poder de que se dispõe, o profeta Jeremias e, sobretudo, Jesus
oferecem o exemplo de uma vida gasta no serviço, por amor. Não é fácil compreender uma tal
perspectiva. Jesus vê-se na necessidade de, por três vezes, preparar e anunciar aos discípulos a
sua paixão, dizendo-lhes que será preso, condenado, escarnecido, crucificado. Mas eles
continuam a procurar satisfazer as suas ambições. Hoje, são os filhos de Zebedeu que, por
meio da mãe, tentam a sua sorte. Jesus tinha falado de humilhações. Eles pedem honras,
lugares de privilégio: sentar-se «um à tua direita e o outro à tua esquerda, no teu Reino. (v.
21).
Isto mostra-nos a necessidade da paixão. Só ela poderia mudar o coração do homem.
Não eram suficientes palavras, mesmo que fossem as de Jesus. A paixão de Jesus revela-nos
onde se encontra a verdadeira alegria, a verdadeira glória, a verdadeira vida: servir, amar
como Ele, até ao sacrifício da própria vida pelos outros vistos como mais importantes do que
nós mesmos. Isto pressupõe a humildade, virtude que torna verdadeiro todo o gesto de amor
e o liberta de equívocos, da busca dos interesses. Foi o caminho do profeta Jeremias. Só depois
de o percorrer, descobriu o seu verdadeiro significado. Por isso, gritava a Deus: «É assim que
se paga o bem com o mal?» (v. 20).
Também no caminho espiritual de cada um de nós, a provação é importante para nos
transformar interiormente. Depois, dela já não ambicionamos a satisfação terrena que antes
procurávamos. E, se a vivemos unidos a Cristo, d ‘Ele recebeu a força para realizar o bem
incondicionalmente, sabendo que não se perderá, mas que, a seu tempo, dará fruto: depois da
paixão e da morte, vem a ressurreição (cf. Mt 20, 18ss.). O serviço humilde, até ao fim,
motivado pelo amor, conduz à vida, a glória eterna.
O Espírito faz-nos superar o nosso egoísmo ou amor de exigência e impele-nos para o
amor oblativo; faz-nos ultrapassar a busca dos interesses e comodidades pessoais, para atuar
conforme a justiça em relação a cada uma das pessoas e em relação à comunidade, para não
violarmos os seus direitos. O Espírito impele-nos a dar-nos aos outros, especialmente aos mais
pobres e marginalizados, não só com aquilo que temos, mas também com aquilo que somos:
tempo, capacidades, cultura etc. O Espírito leva-nos à vida de amor e serviço desinteressado,
mas também universal, porque deita por terra todas as barreiras de raça, de cultura, de sexo:
"Todos os que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo. Não há judeu nem grego;
não há servo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo' (Gal
3, 27-28).

Oração
Obrigado Senhor Jesus, porque, com doçura e firmeza nos conduziste pelo caminho da
cruz. Quando nos apontas o Calvário, talvez nos escandalizemos como Pedro, talvez
discutamos entre nós sobre quem é o maior, talvez Te apresentemos pedidos de privilégio e de
poder. Tem paciência conosco, diz-nos e repete-nos que a verdadeira grandeza está em servir
e em dar a vida pelos amigos e inimigos. Como bom pedagogo, conduz-nos pela mão pelas
várias etapas, rumo à vida, à alegria eterna. Contigo saberemos passar pelas provações, beber
o cálice e aguardar a recompensa que só o Pai nos destina e quer dar. O importante é
aprendermos Contigo a amar e a servir até dar a vida para que todos experimentem a graça da
para redenção. Amem.

Contemplação
Tiago e João, filhos de Zebedeu e de Salomé, eram de Betsaida, como S. Pedro, e
pescadores como ele. João tinha conhecido o Salvador junto de João Baptista no Jordão. Tinha
conversado com Ele, tinha comunicado a Tiago, seu irmão. E alguns dias depois, quando
estavam ocupados a consertar as suas redes, Jesus chamou um e outro, dizendo-lhes: «Vinde
comigo, farei de vós pescadores de homens». Nosso Senhor já tinha chamado Pedro e André.
Estes quatro ficaram os seus preferidos, os seus privilegiados.
Tiago e João tinham um ardor exuberante. Nosso Senhor formou-os. Para os advertir
dos seus defeitos, tratava-os como Boanerges, filhos do trovão. Um dia propõem a Jesus que
faça cair um raio sobre toda uma cidade de Samaritanos que não tinha querido receber o
Salvador e os seus. «Não sabeis de que espírito sois, diz Nosso Senhor; Deus é paciente, espera
os pecadores e trata-os com misericórdia». Noutro dia os dois irmãos vêm com sua mãe pedir
a Nosso Senhor o primeiro lugar no reino de Deus. «Estas honras, diz Nosso Senhor, dependem
dos desígnios da Providência; mas em todo o caso, para ter um bom lugar no reino de Deus é
preciso beber o cálice do sacrifício».
Deixemo-nos formar por Nosso Senhor, como Tiago e João, os seus discípulos bem amados.

Ação
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«O Filho do homem veio para servir e dar a vida» (cf. Mt 20, 28).

Você também pode gostar