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Resumo
Este trabalho tem por objetivo analisar os impactos gerados pela Energética Santa
Helena LTDA no desenvolvimento local do município de Nova Andradina-MS.
Utilizou-se o modelo analítico Teoria da Base Exportadora como forma de estimar o
emprego básico e seu efeito multiplicador sobre o emprego total no município. A
pesquisa mostrou que aproximadamente 2.330 pessoas compõem o setor básico da
cidade, enquanto que 6.541 pessoas fazem parte do setor não-básico. A Energética
Santa Helena LTDA é responsável por 5,79% do emprego básico de Nova Andradina-
MS. Vale salientar que o município apresentou evolução favorável na renda per capita,
na distribuição de renda e no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Sabendo-se
que o crescimento econômico não é condição necessária para que ocorra o
desenvolvimento econômico, e que parcela do crescimento de Nova Andradina foi
proporcionada pela usina, parte do desenvolvimento observado no município pode ser
atribuído à atuação da empresa.
Palavras-chave: desenvolvimento local, emprego básico, multiplicador de emprego.
Abstract
This study aims to analyze the impacts of Energética Santa Helena LTDA in local
development in the city of Nova Andradina-MS. We used the analytical model of the
export base theory as a way to estimate the employment base and its leverage effect on
total employment in the municipality. The survey showed that about 2,330 people make
up the basic sector of the city, while 6,541 people are part of the non-basic sector.
Energética Santa Helena LTDA is responsible for 5.79% of basic employment in Nova
Andradina. It is worth noting that the city presented a favorable outcome in per capita
income, income distribution and the Human Development Index (HDI). Given that
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economic growth is a necessary condition for economic development occurs, and how
much Nova Andradina growths was provided by the industry, part of the development
observed in the city can be attributed to the performance of the company.
Keywords: local development, employment, basic employment multiplier.
1. INTRODUÇÃO
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de uma grande quantidade de empregos, diretos e indiretos, e conseqüentemente da renda
destas populações.
Uma das questões abordadas pelas políticas públicas que são adotadas em todo o
mundo é a criação de postos de trabalho. Essa preocupação é um tanto necessária para os
governos que têm como objetivo a melhoria do bem estar social, haja vista que um de seus
principais fatores é a taxa de emprego.
Dado o exposto, as questões centrais do presente artigo serão os impactos gerados
pelo setor sucroalcooleiro na cidade de Nova Andradina-MS.
Com este enfoque o artigo tem como objetivo investigar a relação entre a evolução
dos empregos gerados na cidade de Nova Andradina-MS e a atividade sucroalcooleira,
bem como avaliar o progresso do nível de criação de empresas e o desenvolvimento local
da população. O período sob análise compreende os anos 1998 a 2008.
Para isto, foram utilizadas equações do emprego básico, emprego não básico,
quociente locacional, multiplicador de emprego básico e indicadores socioeconômicos, que
pudessem evidenciar de forma quantitativa os resultados esperados. O trabalho se baseou
nos dados obtidos junto a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no
Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD), nas respostas do
questionário aplicado na Energética Santa Helena LTDA.
2. METODOLOGIA
E = EB + EN, (2)
EN = αE (0 < α < 1)
E = αE + EB
EB = E – αE
EB = E (1 – α)
E= 1 . EB
(1- α)
E = k . EB (3)
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menor será o nível total de fugas para o exterior da região e logo maior será o valor do
multiplicador.
Para verificar a contribuição da Energética Santa Helena LTDA no processo de
geração de empregos, foi identificado o setor básico em que a mesma atua e foi aplicado o
cálculo do número de empregados da usina que ajudam a compor o emprego básico do
município, conforme a fórmula descrita abaixo:
Em que:
EI = k . EUB, (5)
O Quociente Locacional (QL) será calculado como descrito por North (1977) e Sesso
Filho et al. (2006). A delimitação territorial e a caracterização dos sistemas produtivos
locais podem ser mensuradas a partir da determinação do quociente locacional (QL),
indicador de localização ou de especialização, o qual é dado pela razão entre duas
estruturas econômicas, a economia em estudo e a economia referência, isto é:
Eij
Ei •
QLij = = Quociente locacional do setor i na região j
E• j
E••
Onde:
Eij = emprego no setor i do município de Nova Andradina;
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∑E
j
ij
Ei• = = emprego no setor i no estado de Mato Grosso do Sul;
∑ E ij
E•j = i = emprego em todos os setores do município de Nova Andradina;
∑i ∑j E ij
E•• = = emprego em todos os setores do estado de Mato Grosso do Sul.
3. REVISÃO DE LITERATURA
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Para tanto, através da evolução das regiões, North (1977) afirma que as regiões
devem transformar-se de base extrativa para base exportadora industrial, porque com o
aumento da população a base extrativa já não será mais suficiente para manter o
crescimento sustentado da região, que é medido através da renda per capita. Sendo assim,
não existirão razões para que determinada região continue sendo extrativa, pois a mesma
deverá industrializar-se para continuar a crescer. Com isso, desenvolverá automaticamente
uma série de indústrias na atividade secundária e terciária, devido a vantagens locacionais
ou devido ao crescimento da renda da região.
A teoria do crescimento econômico regional de North (1977) está baseada no
desenvolvimento das regiões dos Estados Unidos, onde este se deu em virtude de um
processo capitalista do excedente da produção que era utilizado para exportação e os
recursos obtidos remetidos para a criação da infra-estrutura da região. Sendo assim, North
descreve:
(...) “apesar de se referirem explicitamente ao desenvolvimento dos Estados
Unidos, poderiam aplicar-se, da mesma forma, a outras áreas que apresentem as
seguintes condições: 1) regiões que tenham se desenvolvido dentro de um quadro
de instituições capitalista e, portanto, sensíveis a oportunidades de maximização
dos lucros, e nas quais os fatores de produção apresentaram relativa mobilidade,
e 2) regiões que tenham se desenvolvido sem restrições impostas pela pressão
populacional”. (North, 1977 p. 292 -293).
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crescendo a uma taxa expressiva para que condições necessárias ao desenvolvimento sejam
criadas na região.
b) A difusão do dinamismo para outros setores da economia. A difusão ocorre
quando o produto de exportação desenvolve outros setores da economia, e para isto
acontecer, é necessário que outras atividades produtivas surjam, que a distribuição da renda
atinja um número elevado de pessoas e que surjam outras “bases” de exportações.
Para manter o dinamismo dos produtos de exportação, dois fatores são importantes:
a) elasticidade renda da demanda – determina a possibilidade da região em manter
o seu dinamismo através de um só produto de exportação, ou seja, tendo o produto uma
baixa elasticidade-renda, não haverá uma tendência para o aumento de suas vendas na
medida em que as regiões importadoras se desenvolvem.
b) custo do produto de exportação – a redução do custo do produto fará com que
haja um aumento da sua capacidade competitiva e, com isso, ganho de mercado. Nesse
sentido, há algumas maneiras de diminuir o custo, ou seja, melhorando a rede de transporte
e/ou pelo aumento da produtividade através dos fatores utilizados.
Schwartzman (1975), também considera quatro variáveis estratégicas para a
compreensão da capacidade de desenvolvimento regional:
a) a propensão a importar contida na análise do multiplicador, a qual depende da
função de produção do produto de exportação, da distribuição de renda e das características
tecnológicas da base ao requerer mais ou menos insumos que podem ser produzidos na
região a preços competitivos;
b) a propensão a consumir e a poupar, que também será influenciada pela função
da produção, via distribuição de renda;
c) os custos de transferência; e
d) as variações na produtividade, que constituem os fatores que influenciam o
custo de produção da base, e são influenciadas pelas variações tecnológicas e pelos fluxos
de fatores de produção escassos que a região consegue atrair.
Finalmente, deve se distinguir os elementos fora do controle da região, mas que
influenciam as suas chances de crescimento. São eles: a elasticidade renda de demanda do
resto do mundo; as variações tecnológicas na produção de bens exportados ou substitutos
próximos; bem como as variações nos gastos das pessoas, provocando deslocamentos na
curva de procura dos produtos de exportação.
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O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é calculado pelo Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e tem como finalidade medir de forma
sintética a complexidade do desenvolvimento humano. No Brasil, o IDH tem fornecido
subsídios para a escolha de políticas públicas que visem o desenvolvimento humano
sustentável.
O IDH varia de 0 a 1, representando, respectivamente, nenhum desenvolvimento
humano e desenvolvimento humano total. Assim, quando o IDH é de até 0,499, o
desenvolvimento humano do país é considerado baixo; já índices entre 0,500 a 0,799 são
considerados de médio desenvolvimento humano; países com IDH igual ou superior a
0,800 têm desenvolvimento humano considerado alto.
O IDH faz uma correção do PIB per capita, considerando o poder de compra da
moeda de cada país, e leva em conta dois outros componentes: a longevidade e a educação.
Para aferir a longevidade, o indicador utiliza números relativos à expectativa de vida ao
nascer. O item educação é avaliado pelo índice de analfabetismo e pela taxa de matrícula
em todos os níveis de ensino. A renda é mensurada pelo PIB per capita, em dólar PPC
(paridade do poder de compra, que elimina as diferenças de custo de vida entre os países).
Essas três dimensões têm a mesma importância no índice, e variam de zero a um. (PNUD,
2001).
A partir do Índice de Desenvolvimento Humano foi formulado um índice com
abrangência municipal, com algumas modificações. As alterações foram necessárias para
adaptar o índice a avaliação de núcleos sociais de menor tamanho. O Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) foi criado, em uma iniciativa pioneira, pelo
PNUD, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA e Fundação João Pinheiro de
Minas Gerais (CAVASSIN, 2004).
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal é obtido pela média aritmética
simples de três sub-índices, referentes à Longevidade (IDH-Longevidade), Educação
(IDH-Educação) e Renda (IDH-Renda).
O IDHM, assim como outros 124 indicadores de população, educação, habitação,
longevidade, renda, desigualdade social e características físicas do território, é apresentado
no Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. De acordo com Cavassin (2004), tais
indicadores compõem um instrumento de múltiplos usos. O autor informa que os
indicadores servem para planejar e eleger prioridades orçamentárias, para realizar estudos
em profundidade sobre aspectos socioeconômicos do país, para avaliações de interesse
público.
Cavassin (2004) informa que os dados utilizados para o cálculo do IDH-M para
todos os municípios e distritos brasileiros são oriundos dos Censos Demográficos do
IBGE. A partir desses dados, são calculados os índices específicos para cada uma das três
dimensões analisadas: IDHM-E, para educação; IDHM-L, para longevidade, IDHM-R,
para renda. Dessa forma, são determinados os valores de referência 0, para mínimo, e 1,
para máximo, de cada categoria no cálculo do índice. Os sub-índices de cada município são
valores proporcionais dentro dessa escala: quanto melhor o desempenho municipal naquela
dimensão, mais próximo o seu índice estará de 1. O IDH-M de cada município é, então,
obtido através da média aritmética simples desses três sub-índices.
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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
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Tabela 1: Quociente Locacional e Emprego Básico e Não Básico do município de Nova
Andradina-MS - 2008
Número de empregados
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O número de trabalhadores em Nova Andradina no ano de 2008 foi de 8.871 (MTE,
2009). De acordo com dados da pesquisa, estimou-se que aproximadamente 2.330 pessoas
compunham o setor básico do município, enquanto 6.541 pessoas faziam parte do setor
não-básico. Dos empregados no setor básico, 12 trabalhavam na indústria de minerais não
metálicos; 34 na indústria do material elétrico e de comunicação; 85 na indústria da
madeira e do mobiliário; 1604 na indústria de alimentos, bebidas e álcool etílico; 401 no
comércio varejista; 19 no comércio atacadista; e 175 no ramo de transportes e
comunicações.
Para medir a sensibilidade da demanda dos produtos locais, frente aos impactos que
determinadas medidas exógenas provocam na economia regional, utiliza-se o multiplicador
de emprego (SAURIN et. al., 2005). Desta forma, quanto maior o valor deste, maior será a
vinculação da região em relação ao mercado nacional e/ou internacional, tendo em vista
que k determina o impacto do emprego das atividades básicas no emprego total endógeno.
Logo, quando o emprego da atividade básica varia, o emprego da atividade não-básica irá
variar numa proporção definida pelo multiplicador (MAHL, 2003).
Diante deste fato, quanto maior o acréscimo do emprego local gerado por uma
unidade adicional do emprego total, induzida pelo crescimento do emprego básico, menor
será o nível total de fugas para o exterior da região e logo maior será o valor do
multiplicador, ou seja, quanto maior a capacidade de criação de empregos da atividade
básica sobre a não-básica, maior será a propensão marginal à criação de empregos
endógenos e maiores serão os efeitos multiplicadores (SAURIN et al, 2005).
O multiplicador de empregos estimado para a cidade de Nova Andradina foi de
aproximadamente 3,70. Assim, para cada 1 emprego no setor básico (de exportação)
geram-se 3,70 empregos no setor não-básico.
Os empregados da Energética Santa Helena Ltda fazem parte de dois ramos de
atividade econômica no município: o setor indústria de alimentos, bebidas e álcool etílico,
o qual faz parte do setor básico da cidade, e o setor de agricultura, que está incluso no setor
não-básico. A empresa empregou no ano de 2008 aproximadamente 196 colaboradores na
indústria e 11901 pessoas no campo, ou seja, nos cargos agrícolas (cortadores de cana,
motoristas, operadores etc.). Como 68,85% dos empregados do setor indústria de produtos
alimentícios, de bebida e álcool etílico faziam parte do setor básico de Nova Andradina,
estima-se que 135 seja o número de empregados da Energética Santa Helena LTDA que
ajudaram a compor esse setor2.
Com isso, a participação do emprego básico da empresa em análise no total do
emprego básico do município é de 5,79%3. Considerando-se o efeito multiplicador
estimado em aproximadamente 3,70, a usina é responsável indiretamente pela geração de
500 empregos no município4, por meio da renda gasta localmente por seus empregados,
oriunda das vendas da empresa para outras localidades do país. Desse modo, a Energética
Santa Helena LTDA é responsável, direta e indiretamente, pela geração de 635 postos de
1
Considerando apenas os empregos formais nas lavouras de Nova Andradina. Grande parte dos
empregados são migrantes de outras partes do país.
2
(196*0,6885)
3
(135/2329,61)
4
(3,70*135)
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trabalho na cidade de Nova Andradina, excluindo-se os empregos gerados pelo setor de
agricultura, já que esse ramo de atividade é considerado não-básico no município. Supondo
que o número de habitantes fosse proporcional ao número de empregados, na ausência da
usina, a população estimada do município seria 5,79% menor, o que corresponderia a
aproximadamente 40.977 habitantes, ou seja, 2.518 habitantes a menos que os atuais
43.495.
Para representar o grau de desenvolvimento de um município utiliza-se um
indicador conhecido como nível de renda per capita. Porém, é importante ressaltar que
quando há uma má distribuição de renda, o simples crescimento econômico pode não se
tornar sinônimo de elevação do bem-estar econômico e social. Dessa forma, a introdução
de outros indicadores como proporção de pobres e o Índice de Gini, que mede o grau da
desigualdade na distribuição da renda, faz-se necessária para a realização da análise.
A tabela 2 revela que a renda per capita do município aumentou 48,5% no período
em análise, passando de R$ 172,61 em 1991 para R$256.34 em 2000. A pobreza (estimada
pela proporção de pessoas com renda domiciliar per capita menor que R$ 75,50,
correspondente à metade do salário mínimo em agosto de 2000) diminuiu, passando de
37,2% em 1991 para 22,8% em 2000. Por outro lado, a desigualdade teve uma pequena
variação: o Índice de Gini passou de 0,54 em 1991 para 0,56 em 2000. Diante deste fato é
possível concluir que com o aumento da renda a proporção de pobres diminuiu, porém
estes perderam mais do que os mais ricos.
Conclui-se que, de alguma forma, a Energética Santa Helena LTDA tenha
contribuído para o que Haddad (1999) denominou de efeito-renda, ou seja, o efeito
multiplicador causado em função do aumento da renda da população, ocasionada pelo setor
exportador. Assim, o aumento da renda causado pela empresa, aumentou a demanda local
de alimentos, vestuário, serviços médicos e de ensino, construção civil, entre outros,
desenvolvendo automaticamente no município as atividades responsáveis por sua oferta.
Para analisar a evolução da oferta dessas atividades pode-se utilizar o número de
estabelecimentos com algum vínculo empregatício, divulgado pelo Ministério do Trabalho
e Emprego desde 1985. Analisando esse dado para o município de Nova Andradina, no
período de 1985 a 2008, percebe-se um aumento considerável de 496,51% no número de
estabelecimentos informantes à RAIS. As maiores variações ficaram por conta dos
seguintes setores: Indústria metalúrgica (300%), Indústria mecânica (300%), Indústria
têxtil (900%), Indústria de alimentos, bebidas e álcool etílico (375%), Construção civil
(1800%), Comércio varejista (406%), Transportes e comunicações (916%), Serviços
médicos, odontológicos e veterinários (800%) e o setor Agricultura (3.390%), que de certa
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forma está relacionado ao setor de alimentação. Isso vem a confirmar a magnitude do
efeito-renda, o qual foi descrito anteriormente.
Indubitavelmente, a base de exportação desempenha um papel fundamental na
determinação do nível de renda absoluta e per capita de uma região. Embora o rendimento
dos fatores de produção nas indústrias de exportação indique a importância direta dessas
indústrias para o bem-estar da região, o efeito indireto é o mais importante (NORTH,
1977). Portanto, a base de exportação permite o crescimento e as mudanças na estrutura
produtiva possibilitam o desenvolvimento econômico (COLLA et. al., 2007).
Para que ocorra desenvolvimento econômico regional a partir de uma base de
exportação, Schwartzman (1975) in Mahl (2003) afirma que é indispensável que a
demanda dos produtos de exportação esteja numa taxa ascendente, de maneira que as
condições favoráveis impulsionem o processo de desenvolvimento. De acordo com esse
pensamento, é possível analisar a expansão do setor sucroalcooleiro no mercado
internacional e concluir que há boas perspectivas para o futuro: enquanto as principais
commodities registraram queda de 13%, as exportações de açúcar bateram recorde no
primeiro semestre de 2009 em relação ao mesmo período do ano anterior, mesmo ainda
sentindo os efeitos da crise financeira de 2008.
Conforme afirma Clemente e Higachi (2000), para analisar o desenvolvimento de
forma mais abrangente, seria necessário considerar os vários aspectos que representam o
nível de vida da população (renda, emprego, saúde, educação, alimentação, segurança,
lazer, moradia e transporte).
Esses indicadores podem ser resumidos pelo Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH). O índice foi desenvolvido pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq em 1990, e
passou a ser usado desde 1993 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD). O IDH mede o nível de desenvolvimento das nações e o IDH-M mede o nível de
desenvolvimento dos municípios, e é calculado pela média simples de três variáveis:
longevidade, educação e renda.
No ano de 1991, dez anos após a instalação da Energética Santa Helena LTDA no
município, o IDH-M de Nova Andradina era de 0,703, o 13º no ranking do estado,
enquanto que o IDH-M do estado de Mato Grosso do Sul era de 0,752, ou seja, o IDH-M
do município era 6,97% menor do que o índice estadual. No período de 1991 a 2000, o
IDH-M de Nova Andradina passou para 0,786, ou seja, crescimento de 11,80%, passando a
6º colocado no ranking estadual. No mesmo período, o IDH do Estado de Mato Grosso do
Sul passou de 0,752 para 0,818, ou seja, crescimento de 8,77% (Atlas do Desenvolvimento
Humano no Brasil, 2001).
Assim, num período de aproximadamente vinte anos após a instalação da usina no
município, observa-se que o IDH-M de Nova Andradina encontra-se abaixo da média do
IDH-M dos outros municípios do estado de Mato Grosso do Sul. Porém, percebe-se uma
tendência de crescimento, ao observar o Estado como um todo. Segundo a classificação do
PNUD, o município está entre as regiões consideradas de médio desenvolvimento humano
(IDH entre 0,5 e 0,8).
Neste período, o hiato de desenvolvimento humano (a distância entre o IDH do
município e o limite máximo do IDH, ou seja, 1 - IDH) foi reduzido em 27,90%. Se
mantivesse esta taxa de crescimento do IDH-M, o município levaria 12,1 anos para
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alcançar São Caetano do Sul (SP), o município com o melhor IDH-M do Brasil (0,919), e
3,9 anos para alcançar Chapadão do Sul (MS), o município com o melhor IDH-M do
Estado (0,826).
Entretanto, o desenvolvimento observado pelos dados da pesquisa não deve ser
creditado única e exclusivamente à atuação da Energética Santa Helena LTDA. Segundo
Shikida et. al., (2008), uma das condições para que o setor exportador possa gerar
desenvolvimento na região vai depender da origem do capital investido, isto é, se os
capitais investidos no setor exportador forem oriundos da região ou de fora da região.
Caso o capital seja de outras localidades, o que fica na região é o dinheiro da renda obtida
pelos assalariados do setor. A mais-valia volta aos investidores, ou seja, não fica no lugar
onde a atividade econômica acontece. Desse modo, o desenvolvimento local atribuído à
atuação da empresa ficou restrito aos efeitos multiplicadores da renda dos trabalhadores no
setor de mercado interno. Caso o capital fosse oriundo do próprio município o efeito
multiplicador seria maior, uma vez que os investidores, que ficam com a maior parte do
capital gerado pelas exportações, também consumiram no mercado local.
Dessa maneira, deve-se levar em consideração também a adoção de políticas
públicas de promoção social e de desenvolvimento local como formas de atuação do
Estado na evolução do desenvolvimento observado no município.
5. CONCLUSÃO
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em 1991 para 0,56 em 2000. Assim foi possível concluir que, com o aumento da renda a
proporção de pobres diminuiu, porém estes perderam mais do que os mais ricos.
O IDH-M do município ainda se encontra abaixo da média do IDH-M dos outros
municípios do Estado de Mato Grosso do Sul, porém o IDH-M do Estado apresentou
crescimento de 5,39%, enquanto que o município apresentou crescimento de 11,80%.
A Energética Santa Helena LTDA, por si só, tende a proporcionar crescimento e
desenvolvimento econômico, pelo fato de estimular a geração de emprego e renda, as
atividades de mercado local e a maior eficiência no processo produtivo - dados seus efeitos
multiplicadores. Isso é afirmado pela própria literatura acerca da Teoria da Base
Exportadora. Como o desenvolvimento econômico ultrapassou a atuação da empresa,
também se levou em consideração o papel do Estado nesse processo.
Por último, sugere-se a realização de novas pesquisas que resultem em outros
registros sobre a importância de determinada atividade econômica para o desenvolvimento
local. E ainda, sugere-se um estudo mais aprofundado que possa analisar os efeitos de
encadeamento para trás e para frente, gerados pela agroindústria canavieira.
REFERÊNCIAS
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