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A ATIVIDADE SUCROALCOOLEIRA E O DESENVOLVIMENTO REGIONAL: O

CASO DE NOVA ANDRADINA-MS


kimura_afonso@hotmail.com

APRESENTACAO ORAL-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e


Cadeias Agroindustriais
PATRICIA CAMPEÃO; AFONSO KIMURA KODAMA; MANOEL LUIZ VIEIRA;
DAVISON JOSÉ SANTOS DE PONTES; GEMAEL CHAEBO.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL, CAMPO GRADE - MS -
BRASIL.

A ATIVIDADE SUCROALCOOLEIRA E O DESENVOLVIMENTO REGIONAL:


O CASO DE NOVA ANDRADINA-MS

Grupo de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e


Cadeias Agroindustriais

Resumo
Este trabalho tem por objetivo analisar os impactos gerados pela Energética Santa
Helena LTDA no desenvolvimento local do município de Nova Andradina-MS.
Utilizou-se o modelo analítico Teoria da Base Exportadora como forma de estimar o
emprego básico e seu efeito multiplicador sobre o emprego total no município. A
pesquisa mostrou que aproximadamente 2.330 pessoas compõem o setor básico da
cidade, enquanto que 6.541 pessoas fazem parte do setor não-básico. A Energética
Santa Helena LTDA é responsável por 5,79% do emprego básico de Nova Andradina-
MS. Vale salientar que o município apresentou evolução favorável na renda per capita,
na distribuição de renda e no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Sabendo-se
que o crescimento econômico não é condição necessária para que ocorra o
desenvolvimento econômico, e que parcela do crescimento de Nova Andradina foi
proporcionada pela usina, parte do desenvolvimento observado no município pode ser
atribuído à atuação da empresa.
Palavras-chave: desenvolvimento local, emprego básico, multiplicador de emprego.

Abstract
This study aims to analyze the impacts of Energética Santa Helena LTDA in local
development in the city of Nova Andradina-MS. We used the analytical model of the
export base theory as a way to estimate the employment base and its leverage effect on
total employment in the municipality. The survey showed that about 2,330 people make
up the basic sector of the city, while 6,541 people are part of the non-basic sector.
Energética Santa Helena LTDA is responsible for 5.79% of basic employment in Nova
Andradina. It is worth noting that the city presented a favorable outcome in per capita
income, income distribution and the Human Development Index (HDI). Given that
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economic growth is a necessary condition for economic development occurs, and how
much Nova Andradina growths was provided by the industry, part of the development
observed in the city can be attributed to the performance of the company.
Keywords: local development, employment, basic employment multiplier.
1. INTRODUÇÃO

O lançamento dos carros flex fuel em 2003 conquistou o mercado brasileiro de


automóveis e aqueceu a demanda interna de etanol, aliada à valorização do combustível
pelas demais nações como alternativa à substituição dos combustíveis fósseis e
consequente diminuição das emissões de CO₂, levando à expansão do cultivo da cana-de-
açúcar. A área cultivada na safra de 2008/2009 foi de 6.749.738 de hectares, um
crescimento de 15,7% em relação à safra anterior (ÚNICA, 2009). De acordo com Biagi
Filho apud SILVA E FISCHETTI (2008) a tendência é que a área cultivada continue em
expansão, já que, para atender apenas o mercado interno de etanol, será necessário
acrescentar mais de 3,5 bilhões de litros anualmente.
Os ânimos do setor sucroalcooleiro são confirmados pelo volume de investimentos
realizados nos últimos anos. Novas usinas estão sendo construídas e outras plantas estão
em processo de análise e licença ambiental, perfazendo, nos próximos seis anos, um
investimento de US$ 17 bilhões (GOES, MARRA e SILVA, 2008). O setor possui
excelente relação de investimento por emprego. De acordo com o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES (1998) apud AZEVEDO (2002), a cada
R$ 1 milhão de investimento no setor são gerados 182 empregos, muito melhor que os
setores de turismo, telecomunicações, indústria em geral e automobilística, agricultura,
pecuária, metalurgia, química, bens de consumo e bens de capital (AZEVEDO, 2002).
O crescimento da área ocupada pela cana no estado de São Paulo em breve chegará
ao seu limite. Dessa forma, os empresários e produtores do setor procuram novas fronteiras
para expandir seus negócios, e a região Centro-Oeste, com destaque para Mato Grosso do
Sul, tem condições ideais para receber os novos investimentos. O Estado tem clima e
topografia ideais para o plantio e colheita mecanizada, aliada à localização estratégica,
somando assim características importantes que já atrairam grandes investimentos.
Atualmente vinte e uma usinas estão em funcionamento (MAPA, 2009), e vários outros
projetos em fase de construção. Segundo a UNICA (União da Indústria de Cana-de-açúcar,
2009) a produção sul-matogrossense foi de 18.090.388 milhões de toneladas na safra
2008/2009, uma variação de 21,66% em relação ao ano anterior e um aumento de 36,9%
na área cultivada, totalizando 290.990 hectares. Esses dados evidenciam a consolidação da
agroindústria canavieira no Estado. O governo estadual vem empenhando esforços para
fomentar a cadeia da cana-de-açúcar com o apoio institucional aos investidores. Sendo
assim, instituiu-se em 2007 a Câmara Setorial do Setor Sucroalcooleiro (CAMPÊLO,
2008), órgão pertencente à SEPROTUR (Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Agrário da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo). Os impactos esperados
pelo governo estadual com o aumento do plantio da cana-de-açúcar e conseqüente aumento
da produção de seus derivados são, a geração de novos empregos nos municípios
canavieiros, atração de indústrias fabricantes de equipamentos, possibilidade dos pequenos
produtores aumentarem sua renda, devido maior inclusão na cadeia produtiva, e aumentar a
arrecadação do estado (SEPROTUR, 2009).
Acredita-se que em alguns municípios de Mato Grosso do Sul, a base da economia
está fortemente correlacionada com a atividade sucroalcooleira, garantindo a manutenção

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de uma grande quantidade de empregos, diretos e indiretos, e conseqüentemente da renda
destas populações.
Uma das questões abordadas pelas políticas públicas que são adotadas em todo o
mundo é a criação de postos de trabalho. Essa preocupação é um tanto necessária para os
governos que têm como objetivo a melhoria do bem estar social, haja vista que um de seus
principais fatores é a taxa de emprego.
Dado o exposto, as questões centrais do presente artigo serão os impactos gerados
pelo setor sucroalcooleiro na cidade de Nova Andradina-MS.
Com este enfoque o artigo tem como objetivo investigar a relação entre a evolução
dos empregos gerados na cidade de Nova Andradina-MS e a atividade sucroalcooleira,
bem como avaliar o progresso do nível de criação de empresas e o desenvolvimento local
da população. O período sob análise compreende os anos 1998 a 2008.
Para isto, foram utilizadas equações do emprego básico, emprego não básico,
quociente locacional, multiplicador de emprego básico e indicadores socioeconômicos, que
pudessem evidenciar de forma quantitativa os resultados esperados. O trabalho se baseou
nos dados obtidos junto a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no
Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD), nas respostas do
questionário aplicado na Energética Santa Helena LTDA.

2. METODOLOGIA

Quando existe a possibilidade de medidas quantificáveis de variáveis e inferências


a partir de amostras de uma população, a pesquisa quantitativa normalmente se mostra
apropriada. Esse tipo de pesquisa usa medidas numéricas para testar constructos científicos
e hipóteses, ou busca padrões numéricos relacionados a conceitos cotidianos. Em
contrapartida, a pesquisa qualitativa se caracteriza, principalmente, pela ausência de
medidas numéricas e análises estatísticas, examinando aspectos mais profundos e
subjetivos do tema em estudo (DIAS, 2009). Desse modo, o ponto de vista do tipo de
dados coletados à pesquisa se classifica como quantitativa (no que se refere à aplicação do
modelo analítico da Teoria da Base Exportadora), e qualitativa (no que se refere à forma de
coleta de dados a partir da aplicação do questionário à Energética Santa Helena LTDA).
Para Pope & Mays (1995) in Neves (1996), os métodos qualitativos e quantitativos
não se excluem. Apesar de diferirem quanto à forma e à ênfase, os métodos qualitativos
contribuem para o trabalho de pesquisa através da combinação de procedimentos de cunho
racional e intuitivo capazes de cooperar para a melhor compreensão dos fenômenos.
O método utilizado como escopo para mensurar o impacto de determinadas
atividades na geração de empregos adicionais na região se fez por meio do cálculo do
emprego básico e para a identificação de especialização regional foi empregado o
quociente locacional.
Quando o emprego está ligado às atividades básicas de exportação o valor obtido
será maior que um, supondo-se que esta região exporta o excedente para outras regiões. Na
identificação do emprego básico (EB) será utilizada a metodologia descrita em Piffer et al.
(2002), utilizando-se a seguinte fórmula:
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EBi = Si − St (Ni /Nt ), (1)
em que:

EBi = Emprego básico da atividade i no município de Nova Andradina;


Si = Emprego na atividade i no município de Nova Andradina;
St = Emprego total no município de Nova Andradina;
Ni = Total de emprego na atividade i no estado de Mato Grosso do Sul;
Nt = Total de empregos no estado de Mato Grosso do Sul.

Para estimar o multiplicador de empregos, baseou-se no método sugerido por


Schickler (1972):

E = EB + EN, (2)

em que E é o emprego total; EB, emprego básico; e EN, emprego não-básico.

Admitindo-se a proporcionalidade entre o emprego não-básico e o emprego total,


tem-se que:

EN = αE (0 < α < 1)

E = αE + EB

EB = E – αE

EB = E (1 – α)

E= 1 . EB
(1- α)

E = k . EB (3)

em que k = 1 representa o multiplicador de emprego regional.


(1- α)

O valor mínimo do multiplicador de emprego é um, no entanto, poderão surgir


valores da variação ∆ENB/∆St igual a zero. Neste caso, significando que o acréscimo da
procura local, associado à expansão das exportações é integralmente satisfeito pelas
importações. Conseqüentemente, quanto maior o acréscimo do emprego local gerado por
uma unidade adicional do emprego total, induzida pelo crescimento do emprego básico,

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menor será o nível total de fugas para o exterior da região e logo maior será o valor do
multiplicador.
Para verificar a contribuição da Energética Santa Helena LTDA no processo de
geração de empregos, foi identificado o setor básico em que a mesma atua e foi aplicado o
cálculo do número de empregados da usina que ajudam a compor o emprego básico do
município, conforme a fórmula descrita abaixo:

EUB = (Ni . ni %) + (Nj . nj %) (4)

Em que:

EUB = número de empregados da usina que ajudam a compor o emprego básico do


município.
Ni = número de empregados da usina que ajudam a compor o setor básico i.
ni % = participação percentual dos empregados da usina no setor i com relação ao total de
empregados do setor básico i.
Nj = número de empregados da usina que ajudam a compor o setor básico j.
nj % = participação percentual dos empregados da usina no setor i com relação ao total de
empregados do setor básico j.

Uma vez identificado o número de empregados da usina que compõem o emprego


básico do município e o multiplicador de emprego (k) do município, chega-se ao valor de
empregos indiretos gerados pela usina.

EI = k . EUB, (5)

O EI representa o número de empregos indiretos gerados pela Energética Santa


Helena LTDA no município de Nova Andradina.

O Quociente Locacional (QL) será calculado como descrito por North (1977) e Sesso
Filho et al. (2006). A delimitação territorial e a caracterização dos sistemas produtivos
locais podem ser mensuradas a partir da determinação do quociente locacional (QL),
indicador de localização ou de especialização, o qual é dado pela razão entre duas
estruturas econômicas, a economia em estudo e a economia referência, isto é:
Eij
Ei •
QLij = = Quociente locacional do setor i na região j
E• j
E••
Onde:
Eij = emprego no setor i do município de Nova Andradina;
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∑E
j
ij
Ei• = = emprego no setor i no estado de Mato Grosso do Sul;
∑ E ij
E•j = i = emprego em todos os setores do município de Nova Andradina;
∑i ∑j E ij
E•• = = emprego em todos os setores do estado de Mato Grosso do Sul.

O QL representa a relação entre a participação de uma indústria na economia local j e


a participação da mesma indústria em um espaço mais abrangente (estado, país, mundo).
Para um QL superior a um, a atividade apresenta alto grau de especialização no local
tratado.
Segundo Piekarski e Torkomian (2005), o quociente locacional é bastante utilizado
na economia regional e, especialmente, em estudos direcionados a políticas
governamentais em âmbito estadual. O QL é mais adequado a regiões de médio porte, dado
que em regiões menores a presença de apenas uma empresa de porte considerável já é
suficiente para produzir um indicador alto para o setor, assim como a existência de grande
capacidade produtiva instalada em regiões de grande porte pode abafar uma concentração
industrial importante em determinado setor.
A utilização desse tipo de indicador permite a verificação da distribuição espacial
da indústria, identificação de especializações regionais e mapeamento do deslocamento das
atividades econômicas (centralização e descentralização). No entanto, a utilização dos
métodos supracitados têm limitações no que concerne a metodologia de calculo e como
conseqüência o resultado final. Tais limitações foram relatadas por Shikida et al. (2008,
p.144):
“Apesar de os outros autores já utilizarem a metodologia ora descrita
para estimar o emprego básico e seu efeito multiplicador em municípios,
microrregiões, mesorregiões, estados e macrorregiões brasileiras – como nos
trabalhos de Piffer (1997), Pedralli (1999) e Piacenti et al. (2002) – os resultados
obtidos devem ser vistos com certa cautela, dadas as pressuposições da
metodologia. A metodologia pressupõe que a produtividade do trabalho de dado
setor de atividade da localidade em estudo seja semelhante à produtividade
média do trabalho das localidades que compõem a região maior. Considera-se
também que a propensão a consumir da população da localidade em estudo seja
semelhante à propensão a consumir média das localidades que compõem a região
maior.”

3. REVISÃO DE LITERATURA

Teoria da Base de Exportação e o Desenvolvimento Regional

Segundo North (1977) as exportações tem papel fundamental no crescimento de


uma região e podem ocorrer em virtude da melhoria das exportações existentes, bem como
pela implementação de novos produtos de exportação. “Essa necessidade tem sido o
princípio básico da teoria do crescimento econômico regional” (NORTH, 1997, p304).

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Para tanto, através da evolução das regiões, North (1977) afirma que as regiões
devem transformar-se de base extrativa para base exportadora industrial, porque com o
aumento da população a base extrativa já não será mais suficiente para manter o
crescimento sustentado da região, que é medido através da renda per capita. Sendo assim,
não existirão razões para que determinada região continue sendo extrativa, pois a mesma
deverá industrializar-se para continuar a crescer. Com isso, desenvolverá automaticamente
uma série de indústrias na atividade secundária e terciária, devido a vantagens locacionais
ou devido ao crescimento da renda da região.
A teoria do crescimento econômico regional de North (1977) está baseada no
desenvolvimento das regiões dos Estados Unidos, onde este se deu em virtude de um
processo capitalista do excedente da produção que era utilizado para exportação e os
recursos obtidos remetidos para a criação da infra-estrutura da região. Sendo assim, North
descreve:
(...) “apesar de se referirem explicitamente ao desenvolvimento dos Estados
Unidos, poderiam aplicar-se, da mesma forma, a outras áreas que apresentem as
seguintes condições: 1) regiões que tenham se desenvolvido dentro de um quadro
de instituições capitalista e, portanto, sensíveis a oportunidades de maximização
dos lucros, e nas quais os fatores de produção apresentaram relativa mobilidade,
e 2) regiões que tenham se desenvolvido sem restrições impostas pela pressão
populacional”. (North, 1977 p. 292 -293).

Pela Teoria da Base de Exportação constata-se que é possível separar as atividades


econômicas de uma região em básicas e não-básicas. As básicas são aquelas que têm como
destino mercados externos, como outros países e outros estados, e as não-básicas destinar-
se-iam aos mercados locais, ou seja, os produtos seriam consumidos dentro da própria
região. A expansão das atividades básicas tem a capacidade de fomentar a criação de
indústrias correlatas e de apoio e empresas destinadas a atender o consumo da população
local, essas empresas por sua vez podem se desenvolver e se tornarem exportadoras
(SHIKIDA et al., 2008).
De acordo com North (1977) os produtos de exportação de uma região são aqueles
produtos do setor primário, secundário e terciário, diferenciando do termo “produtos
primários”, pois esse se caracteriza como o principal artigo produzido pela região e que é
geralmente usado para designar produtos da indústria extrativa. Ele usa a expressão
“produtos de exportação” (ou serviços) para referir-se aos itens individuais e a expressão
“base de exportação” para designar, coletivamente, os produtos e serviços de exportação de
uma região.
Schwartzman (1977) explica que o desenvolvimento de uma região a partir de uma
base de exportação depende do dinamismo dessa base e da sua difusão para o resto da
economia regional, ou seja, deve apresentar duas condições necessárias para o
desenvolvimento:
a) Manutenção do dinamismo do produto de exportação. É preciso ter um
crescimento da renda real de uma economia para se ter desenvolvimento econômico, mas
embora sendo esta condição necessária, não chega a ser suficiente para deflagrar este
processo. Sendo assim, é necessário que a venda dos produtos de exportação esteja

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crescendo a uma taxa expressiva para que condições necessárias ao desenvolvimento sejam
criadas na região.
b) A difusão do dinamismo para outros setores da economia. A difusão ocorre
quando o produto de exportação desenvolve outros setores da economia, e para isto
acontecer, é necessário que outras atividades produtivas surjam, que a distribuição da renda
atinja um número elevado de pessoas e que surjam outras “bases” de exportações.
Para manter o dinamismo dos produtos de exportação, dois fatores são importantes:
a) elasticidade renda da demanda – determina a possibilidade da região em manter
o seu dinamismo através de um só produto de exportação, ou seja, tendo o produto uma
baixa elasticidade-renda, não haverá uma tendência para o aumento de suas vendas na
medida em que as regiões importadoras se desenvolvem.
b) custo do produto de exportação – a redução do custo do produto fará com que
haja um aumento da sua capacidade competitiva e, com isso, ganho de mercado. Nesse
sentido, há algumas maneiras de diminuir o custo, ou seja, melhorando a rede de transporte
e/ou pelo aumento da produtividade através dos fatores utilizados.
Schwartzman (1975), também considera quatro variáveis estratégicas para a
compreensão da capacidade de desenvolvimento regional:
a) a propensão a importar contida na análise do multiplicador, a qual depende da
função de produção do produto de exportação, da distribuição de renda e das características
tecnológicas da base ao requerer mais ou menos insumos que podem ser produzidos na
região a preços competitivos;
b) a propensão a consumir e a poupar, que também será influenciada pela função
da produção, via distribuição de renda;
c) os custos de transferência; e
d) as variações na produtividade, que constituem os fatores que influenciam o
custo de produção da base, e são influenciadas pelas variações tecnológicas e pelos fluxos
de fatores de produção escassos que a região consegue atrair.
Finalmente, deve se distinguir os elementos fora do controle da região, mas que
influenciam as suas chances de crescimento. São eles: a elasticidade renda de demanda do
resto do mundo; as variações tecnológicas na produção de bens exportados ou substitutos
próximos; bem como as variações nos gastos das pessoas, provocando deslocamentos na
curva de procura dos produtos de exportação.

Índice de Desenvolvimento Humano

Uma das formas mundialmente aceitas para a medição do desenvolvimento humano


é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
O conceito de Desenvolvimento Humano é a base do Relatório de
Desenvolvimento Humano (RDH), publicado anualmente, e também do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH). Ele parte do pressuposto de que para aferir o avanço de
uma população não se deve considerar apenas a dimensão econômica, mas também outras
características sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana
(PNUD, 2001).

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O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é calculado pelo Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e tem como finalidade medir de forma
sintética a complexidade do desenvolvimento humano. No Brasil, o IDH tem fornecido
subsídios para a escolha de políticas públicas que visem o desenvolvimento humano
sustentável.
O IDH varia de 0 a 1, representando, respectivamente, nenhum desenvolvimento
humano e desenvolvimento humano total. Assim, quando o IDH é de até 0,499, o
desenvolvimento humano do país é considerado baixo; já índices entre 0,500 a 0,799 são
considerados de médio desenvolvimento humano; países com IDH igual ou superior a
0,800 têm desenvolvimento humano considerado alto.
O IDH faz uma correção do PIB per capita, considerando o poder de compra da
moeda de cada país, e leva em conta dois outros componentes: a longevidade e a educação.
Para aferir a longevidade, o indicador utiliza números relativos à expectativa de vida ao
nascer. O item educação é avaliado pelo índice de analfabetismo e pela taxa de matrícula
em todos os níveis de ensino. A renda é mensurada pelo PIB per capita, em dólar PPC
(paridade do poder de compra, que elimina as diferenças de custo de vida entre os países).
Essas três dimensões têm a mesma importância no índice, e variam de zero a um. (PNUD,
2001).
A partir do Índice de Desenvolvimento Humano foi formulado um índice com
abrangência municipal, com algumas modificações. As alterações foram necessárias para
adaptar o índice a avaliação de núcleos sociais de menor tamanho. O Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) foi criado, em uma iniciativa pioneira, pelo
PNUD, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA e Fundação João Pinheiro de
Minas Gerais (CAVASSIN, 2004).
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal é obtido pela média aritmética
simples de três sub-índices, referentes à Longevidade (IDH-Longevidade), Educação
(IDH-Educação) e Renda (IDH-Renda).
O IDHM, assim como outros 124 indicadores de população, educação, habitação,
longevidade, renda, desigualdade social e características físicas do território, é apresentado
no Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. De acordo com Cavassin (2004), tais
indicadores compõem um instrumento de múltiplos usos. O autor informa que os
indicadores servem para planejar e eleger prioridades orçamentárias, para realizar estudos
em profundidade sobre aspectos socioeconômicos do país, para avaliações de interesse
público.
Cavassin (2004) informa que os dados utilizados para o cálculo do IDH-M para
todos os municípios e distritos brasileiros são oriundos dos Censos Demográficos do
IBGE. A partir desses dados, são calculados os índices específicos para cada uma das três
dimensões analisadas: IDHM-E, para educação; IDHM-L, para longevidade, IDHM-R,
para renda. Dessa forma, são determinados os valores de referência 0, para mínimo, e 1,
para máximo, de cada categoria no cálculo do índice. Os sub-índices de cada município são
valores proporcionais dentro dessa escala: quanto melhor o desempenho municipal naquela
dimensão, mais próximo o seu índice estará de 1. O IDH-M de cada município é, então,
obtido através da média aritmética simples desses três sub-índices.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Segundo o IBGE (2007), Nova Andradina-MS é considerada a sexta maior cidade


do Mato Grosso do Sul, com uma população estimada em 43.495 habitantes e com o
quinto maior PIB do Estado. O município é o principal centro urbano e econômico da
região sudeste de Mato Grosso do Sul. Dentre as principais indústrias localizadas em Nova
Andradina está a Energética Santa Helena LTDA, única usina de produção de etanol que
opera atualmente no município.
No ano de 2008 a empresa gerou 1.386 empregos diretos. Desse total de
empregados, 196 trabalharam no setor industrial e 1.190 trabalharam no setor agrícola,
onde estão inclusos os cortadores de cana, motoristas, operadores de máquinas, entre
outros, que cultivaram 17.300 hectares, rendendo 1.372.450 toneladas de cana moída ou
126.776.000 milhões de litros de álcool. A área de cana-de-açúcar plantada e colhida no
município correspondeu a uma produção no valor de R$ 27.180.000,00 (IBGE, 2009).
A aplicação da Teoria da Base Exportadora em trabalhos empíricos de economia e
de desenvolvimento regional requer a separação das atividades locais em básicas e não-
básicas. Esta análise é realizada através de mecanismos denominados de medidas de
localização, sendo que nesta pesquisa é utilizado o Quociente Locacional como forma de
identificar as atividades com perfil exportador do município de Nova Andradina.
A Tabela 1 mostra o resultado do cálculo do QL para a cidade de Nova Andradina
no ano de 2008. De maneira geral, foi medida a concentração de empregos nas atividades
do município utilizando o estado de Mato Grosso do Sul como referência. Desenvolvido
por Walter Isard em 1960, o Quociente Locacional (QL) permite identificar as atividades
que apresentam maior dinamismo econômico local. Como destaca Mahl (2003), no
processo de crescimento econômico, a identificação das atividade principais de uma
determinada região se constitui em um elemento de fundamental importância para o
desenvolvimento de uma localidade.
Os seguintes setores apresentaram Quociente Locacional maior do que uma
unidade: Indústria de minerais não metálicos (1,20); Indústria do material elétrico e de
comunicação (6,38); Indústria da madeira e do mobiliário (2,78); Indústria de alimentos,
bebidas e álcool etílico (3,18); Comércio varejista (1,27); Comércio atacadista (1,10) e
Transportes e comunicações (1,48). De acordo com esses resultados pode-se concluir que
Nova Andradina apresenta uma concentração maior do emprego nesses setores, em relação
ao estado de Mato Grosso do Sul. Isso significa que os mesmos produziram um excedente
para exportação, ou seja, a quantidade de empregos é superior ao que seria esperado se a
cidade distribuísse seu emprego segundo a mesma proporção da área de referência.
Portanto, a chamada Base Econômica da região é composta pelos setores exportadores, o
que justifica a existência econômica dessa região.
Os demais setores de atividade do município apresentaram QL menor que a
unidade. Sendo assim, os mesmos são caracterizados como atividades não-básicas, as quais
são destinadas ao atendimento da demanda da população interna ou dos setores
exportadores do município.

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Tabela 1: Quociente Locacional e Emprego Básico e Não Básico do município de Nova
Andradina-MS - 2008
Número de empregados

Nova Mato Grosso Quociente Emprego


Andradina do Sul Locacional Básico
Ramos de atividade
Extrativa mineral 1 1898 0,02 -

Indústria de minerais não metálicos 70 3253 1,20 11,97


Indústria metalúrgica 33 3466 0,53 -

Indústria mecânica 17 2046 0,46 -

Indústria do material elétrico e de comunicação 40 351 6,38 33,73


Indústria do material de transporte 0 521 0,00 -

Indústria da madeira e do mobiliário 132 2656 2,78 84,62


Indústria do papel, papelão, editorial e gráfica 26 2737 0,53 -

Indústria da borracha, fumo e couro 6 1739 0,19 -

Indústria química farmacêutica 4 2186 0,10 -

Indústria têxtil 111 6663 0,93 -

Indústria de calçados 1 1420 0,03 -

Indústria de alimentos, bebidas e álcool etílico 2337 41092 3,18 1604,01


Serviços industriais de utilidade pública 14 2825 0,27 -
Construção civil 148 24546 0,33 -
Comércio varejista 1879 82830 1,27 401,51
Comércio atacadista 206 10484 1,10 18,99
Instituições financeiras 78 6436 0,67 -
Administração de imóveis 151 27697 0,30 -
Transportes e comunicações 533 20082 1,48 174,78
Serviços de alojamento, alimentação, reparação, etc. 403 35093 0,64 -
Serviços médicos, odontológicos e veterináricos 66 16315 0,22 -

Ensino 235 17005 0,77 -


Administração pública 1407 125430 0,62 -
Agricultura 973 58549 0,93 -
TOTAL 8871 497320 - 2329,61
Emprego não-básico: 6541,39
Fonte: RAIS (2008)/Resultados da Pesquisa

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O número de trabalhadores em Nova Andradina no ano de 2008 foi de 8.871 (MTE,
2009). De acordo com dados da pesquisa, estimou-se que aproximadamente 2.330 pessoas
compunham o setor básico do município, enquanto 6.541 pessoas faziam parte do setor
não-básico. Dos empregados no setor básico, 12 trabalhavam na indústria de minerais não
metálicos; 34 na indústria do material elétrico e de comunicação; 85 na indústria da
madeira e do mobiliário; 1604 na indústria de alimentos, bebidas e álcool etílico; 401 no
comércio varejista; 19 no comércio atacadista; e 175 no ramo de transportes e
comunicações.
Para medir a sensibilidade da demanda dos produtos locais, frente aos impactos que
determinadas medidas exógenas provocam na economia regional, utiliza-se o multiplicador
de emprego (SAURIN et. al., 2005). Desta forma, quanto maior o valor deste, maior será a
vinculação da região em relação ao mercado nacional e/ou internacional, tendo em vista
que k determina o impacto do emprego das atividades básicas no emprego total endógeno.
Logo, quando o emprego da atividade básica varia, o emprego da atividade não-básica irá
variar numa proporção definida pelo multiplicador (MAHL, 2003).
Diante deste fato, quanto maior o acréscimo do emprego local gerado por uma
unidade adicional do emprego total, induzida pelo crescimento do emprego básico, menor
será o nível total de fugas para o exterior da região e logo maior será o valor do
multiplicador, ou seja, quanto maior a capacidade de criação de empregos da atividade
básica sobre a não-básica, maior será a propensão marginal à criação de empregos
endógenos e maiores serão os efeitos multiplicadores (SAURIN et al, 2005).
O multiplicador de empregos estimado para a cidade de Nova Andradina foi de
aproximadamente 3,70. Assim, para cada 1 emprego no setor básico (de exportação)
geram-se 3,70 empregos no setor não-básico.
Os empregados da Energética Santa Helena Ltda fazem parte de dois ramos de
atividade econômica no município: o setor indústria de alimentos, bebidas e álcool etílico,
o qual faz parte do setor básico da cidade, e o setor de agricultura, que está incluso no setor
não-básico. A empresa empregou no ano de 2008 aproximadamente 196 colaboradores na
indústria e 11901 pessoas no campo, ou seja, nos cargos agrícolas (cortadores de cana,
motoristas, operadores etc.). Como 68,85% dos empregados do setor indústria de produtos
alimentícios, de bebida e álcool etílico faziam parte do setor básico de Nova Andradina,
estima-se que 135 seja o número de empregados da Energética Santa Helena LTDA que
ajudaram a compor esse setor2.
Com isso, a participação do emprego básico da empresa em análise no total do
emprego básico do município é de 5,79%3. Considerando-se o efeito multiplicador
estimado em aproximadamente 3,70, a usina é responsável indiretamente pela geração de
500 empregos no município4, por meio da renda gasta localmente por seus empregados,
oriunda das vendas da empresa para outras localidades do país. Desse modo, a Energética
Santa Helena LTDA é responsável, direta e indiretamente, pela geração de 635 postos de
1
Considerando apenas os empregos formais nas lavouras de Nova Andradina. Grande parte dos
empregados são migrantes de outras partes do país.
2
(196*0,6885)
3
(135/2329,61)
4
(3,70*135)
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trabalho na cidade de Nova Andradina, excluindo-se os empregos gerados pelo setor de
agricultura, já que esse ramo de atividade é considerado não-básico no município. Supondo
que o número de habitantes fosse proporcional ao número de empregados, na ausência da
usina, a população estimada do município seria 5,79% menor, o que corresponderia a
aproximadamente 40.977 habitantes, ou seja, 2.518 habitantes a menos que os atuais
43.495.
Para representar o grau de desenvolvimento de um município utiliza-se um
indicador conhecido como nível de renda per capita. Porém, é importante ressaltar que
quando há uma má distribuição de renda, o simples crescimento econômico pode não se
tornar sinônimo de elevação do bem-estar econômico e social. Dessa forma, a introdução
de outros indicadores como proporção de pobres e o Índice de Gini, que mede o grau da
desigualdade na distribuição da renda, faz-se necessária para a realização da análise.

Tabela 2: Indicadores de Renda, Pobreza e Desigualdade no município de Nova Andradina


1991 2000
Renda per capita média (R$ de 2000) 172,61 256,34
Proporção de pobres (%) 37,20 22,80
Índice de Gini 0,54 0,56
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil – 1991-2000

A tabela 2 revela que a renda per capita do município aumentou 48,5% no período
em análise, passando de R$ 172,61 em 1991 para R$256.34 em 2000. A pobreza (estimada
pela proporção de pessoas com renda domiciliar per capita menor que R$ 75,50,
correspondente à metade do salário mínimo em agosto de 2000) diminuiu, passando de
37,2% em 1991 para 22,8% em 2000. Por outro lado, a desigualdade teve uma pequena
variação: o Índice de Gini passou de 0,54 em 1991 para 0,56 em 2000. Diante deste fato é
possível concluir que com o aumento da renda a proporção de pobres diminuiu, porém
estes perderam mais do que os mais ricos.
Conclui-se que, de alguma forma, a Energética Santa Helena LTDA tenha
contribuído para o que Haddad (1999) denominou de efeito-renda, ou seja, o efeito
multiplicador causado em função do aumento da renda da população, ocasionada pelo setor
exportador. Assim, o aumento da renda causado pela empresa, aumentou a demanda local
de alimentos, vestuário, serviços médicos e de ensino, construção civil, entre outros,
desenvolvendo automaticamente no município as atividades responsáveis por sua oferta.
Para analisar a evolução da oferta dessas atividades pode-se utilizar o número de
estabelecimentos com algum vínculo empregatício, divulgado pelo Ministério do Trabalho
e Emprego desde 1985. Analisando esse dado para o município de Nova Andradina, no
período de 1985 a 2008, percebe-se um aumento considerável de 496,51% no número de
estabelecimentos informantes à RAIS. As maiores variações ficaram por conta dos
seguintes setores: Indústria metalúrgica (300%), Indústria mecânica (300%), Indústria
têxtil (900%), Indústria de alimentos, bebidas e álcool etílico (375%), Construção civil
(1800%), Comércio varejista (406%), Transportes e comunicações (916%), Serviços
médicos, odontológicos e veterinários (800%) e o setor Agricultura (3.390%), que de certa
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forma está relacionado ao setor de alimentação. Isso vem a confirmar a magnitude do
efeito-renda, o qual foi descrito anteriormente.
Indubitavelmente, a base de exportação desempenha um papel fundamental na
determinação do nível de renda absoluta e per capita de uma região. Embora o rendimento
dos fatores de produção nas indústrias de exportação indique a importância direta dessas
indústrias para o bem-estar da região, o efeito indireto é o mais importante (NORTH,
1977). Portanto, a base de exportação permite o crescimento e as mudanças na estrutura
produtiva possibilitam o desenvolvimento econômico (COLLA et. al., 2007).
Para que ocorra desenvolvimento econômico regional a partir de uma base de
exportação, Schwartzman (1975) in Mahl (2003) afirma que é indispensável que a
demanda dos produtos de exportação esteja numa taxa ascendente, de maneira que as
condições favoráveis impulsionem o processo de desenvolvimento. De acordo com esse
pensamento, é possível analisar a expansão do setor sucroalcooleiro no mercado
internacional e concluir que há boas perspectivas para o futuro: enquanto as principais
commodities registraram queda de 13%, as exportações de açúcar bateram recorde no
primeiro semestre de 2009 em relação ao mesmo período do ano anterior, mesmo ainda
sentindo os efeitos da crise financeira de 2008.
Conforme afirma Clemente e Higachi (2000), para analisar o desenvolvimento de
forma mais abrangente, seria necessário considerar os vários aspectos que representam o
nível de vida da população (renda, emprego, saúde, educação, alimentação, segurança,
lazer, moradia e transporte).
Esses indicadores podem ser resumidos pelo Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH). O índice foi desenvolvido pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq em 1990, e
passou a ser usado desde 1993 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD). O IDH mede o nível de desenvolvimento das nações e o IDH-M mede o nível de
desenvolvimento dos municípios, e é calculado pela média simples de três variáveis:
longevidade, educação e renda.
No ano de 1991, dez anos após a instalação da Energética Santa Helena LTDA no
município, o IDH-M de Nova Andradina era de 0,703, o 13º no ranking do estado,
enquanto que o IDH-M do estado de Mato Grosso do Sul era de 0,752, ou seja, o IDH-M
do município era 6,97% menor do que o índice estadual. No período de 1991 a 2000, o
IDH-M de Nova Andradina passou para 0,786, ou seja, crescimento de 11,80%, passando a
6º colocado no ranking estadual. No mesmo período, o IDH do Estado de Mato Grosso do
Sul passou de 0,752 para 0,818, ou seja, crescimento de 8,77% (Atlas do Desenvolvimento
Humano no Brasil, 2001).
Assim, num período de aproximadamente vinte anos após a instalação da usina no
município, observa-se que o IDH-M de Nova Andradina encontra-se abaixo da média do
IDH-M dos outros municípios do estado de Mato Grosso do Sul. Porém, percebe-se uma
tendência de crescimento, ao observar o Estado como um todo. Segundo a classificação do
PNUD, o município está entre as regiões consideradas de médio desenvolvimento humano
(IDH entre 0,5 e 0,8).
Neste período, o hiato de desenvolvimento humano (a distância entre o IDH do
município e o limite máximo do IDH, ou seja, 1 - IDH) foi reduzido em 27,90%. Se
mantivesse esta taxa de crescimento do IDH-M, o município levaria 12,1 anos para
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alcançar São Caetano do Sul (SP), o município com o melhor IDH-M do Brasil (0,919), e
3,9 anos para alcançar Chapadão do Sul (MS), o município com o melhor IDH-M do
Estado (0,826).
Entretanto, o desenvolvimento observado pelos dados da pesquisa não deve ser
creditado única e exclusivamente à atuação da Energética Santa Helena LTDA. Segundo
Shikida et. al., (2008), uma das condições para que o setor exportador possa gerar
desenvolvimento na região vai depender da origem do capital investido, isto é, se os
capitais investidos no setor exportador forem oriundos da região ou de fora da região.
Caso o capital seja de outras localidades, o que fica na região é o dinheiro da renda obtida
pelos assalariados do setor. A mais-valia volta aos investidores, ou seja, não fica no lugar
onde a atividade econômica acontece. Desse modo, o desenvolvimento local atribuído à
atuação da empresa ficou restrito aos efeitos multiplicadores da renda dos trabalhadores no
setor de mercado interno. Caso o capital fosse oriundo do próprio município o efeito
multiplicador seria maior, uma vez que os investidores, que ficam com a maior parte do
capital gerado pelas exportações, também consumiram no mercado local.
Dessa maneira, deve-se levar em consideração também a adoção de políticas
públicas de promoção social e de desenvolvimento local como formas de atuação do
Estado na evolução do desenvolvimento observado no município.

5. CONCLUSÃO

Este trabalho objetivou analisar a geração de empregos e o desenvolvimento local


no município de Nova Andradina-MS, ressaltando a contribuição da Energética Santa
Helena LTDA, tendo em vista a grande importância da agroindústria canavieira para a
economia brasileira e principalmente para os pequenos municípios em que essa atividade
está instalada. Para tanto, utilizou-se o modelo analítico Teoria da Base Exportadora para
estimar o emprego básico e seu efeito multiplicador sobre o emprego total no município.
O multiplicador de empregos, estimado para a cidade de Nova Andradina, foi de
aproximadamente 3,70. Isso indica que a renda gasta localmente por 10 empregados do
setor básico do município permite a manutenção de 27 empregados no setor não-básico.
Estimou-se em 135 o número de empregados da Energética Santa Helena LTDA, os
quais ajudam a compor o setor básico da cidade (68,85% desse setor), excluindo-se os
empregos gerados pelo setor de agricultura, já que esse ramo de atividade é considerado
não-básico. Dessa forma, a usina é responsável, direta e indiretamente, pela geração de 635
postos de trabalho no município de Nova Andradina. Os empregos indiretos correspondem
aos empregos gerados em outros setores, que não é o setor exportador. Dessa forma, o
aumento da renda da população, causado pelo setor exportador, impacta de modo positivo
a demanda local de construção civil, serviços médicos e de ensino, alimentos, vestuário,
entre outros, de tal maneira que há o incentivo da oferta desses serviços, bem como
demanda por trabalhadores nessas atividades.
A renda per capita do município apresentou um crescimento de 48,5% e houve uma
diminuição da pobreza, que passou de 37,2% em 1991 para 22,8% em 2000. Mesmo assim,
a desigualdade teve uma pequena variação positiva, onde o Índice de Gini variou de 0,54

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em 1991 para 0,56 em 2000. Assim foi possível concluir que, com o aumento da renda a
proporção de pobres diminuiu, porém estes perderam mais do que os mais ricos.
O IDH-M do município ainda se encontra abaixo da média do IDH-M dos outros
municípios do Estado de Mato Grosso do Sul, porém o IDH-M do Estado apresentou
crescimento de 5,39%, enquanto que o município apresentou crescimento de 11,80%.
A Energética Santa Helena LTDA, por si só, tende a proporcionar crescimento e
desenvolvimento econômico, pelo fato de estimular a geração de emprego e renda, as
atividades de mercado local e a maior eficiência no processo produtivo - dados seus efeitos
multiplicadores. Isso é afirmado pela própria literatura acerca da Teoria da Base
Exportadora. Como o desenvolvimento econômico ultrapassou a atuação da empresa,
também se levou em consideração o papel do Estado nesse processo.
Por último, sugere-se a realização de novas pesquisas que resultem em outros
registros sobre a importância de determinada atividade econômica para o desenvolvimento
local. E ainda, sugere-se um estudo mais aprofundado que possa analisar os efeitos de
encadeamento para trás e para frente, gerados pela agroindústria canavieira.

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