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Oxigênio dissolvido

Emanuel Airton. de O. Farias


Considerações gerais

 Dentre os gases dissolvidos na água, o oxigênio (O2) é um


dos mais importantes na dinâmica e na caracterização de
ecossistemas aquáticos;

 Principais fontes: atmosfera e fotossíntese;


 Perdas: Respiração, decomposição, oxidação de íons.
OXIGÊNIO DISSOLVIDO

O oxigênio dissolve-se na água, daí o termo "oxigênio


dissolvido". O ar que respiramos contém 20% de oxigênio, mas
apenas uma pequena fração desse oxigênio pode ser retida
pela água.

 Unidade: mg/l
Solubilidade do O2 na água

Depende de 2 fatores principais:

 Temperatura;
 Pressão atmosférica;

 Ex: em uma pressão de 760 mmHg, 100% de umidade relativa e a


uma temperatura de 0ºC, solubilizam-se 14,60 mg/L de O2;
 Nas mesmas condições e à temperatura de 30ºC, apenas 7,59
mg/L.
Solubilidade do O2 na água

Portanto, para se obter a saturação de oxigênio, que é expressa


em porcentagem, deve-se sempre relacionar os teores
absolutos de oxigênio dissolvido com a temperatura e pressão
atmosférica.

saturação de oxigênio: quantidade máxima de oxigênio que


pode ser dissolvida na água em determinada pressão e
temperatura.
Solubilidade do O2 na água

 Baseado nestas propriedades, fica notório que os


organismos aquáticos tropicais têm, em principio, menos
oxigênio disponível do que os de lagos temperados.
DIFUSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE OXIGÊNIO DENTRO DO
ECOSSISTEMA
DIFUSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE
OXIGÊNIO DENTRO DO ECOSSISTEMA

 A difusão de oxigênio dentro de um corpo de água dá-se


principalmente pelo seu transporte em massas d’água, uma
vez que a difusão molecular é insignificante.

 EX: se imaginarmos a superfície de um lago com teor de


oxigênio de 10,29 mg/L e se este lago estiver totalmente livre
de turbulência e a distribuição de oxigênio ocorrer somente
por difusão molecular, serão necessários 638 anos para que
uma camada d’água, localizada a 10 m de profundidade, possa
atingir uma concentração de 11,0mg/L.
DIFUSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE
OXIGÊNIO DENTRO DO ECOSSISTEMA

Importante:

 O padrão de distribuição de oxigênio em ecossistemas


aquáticos é, via de regra, inverso ao do gás carbônico;
Distribuição de O2 e CO2 no lago curuçá (Pará)
DIFUSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE
OXIGÊNIO DENTRO DO ECOSSISTEMA

 Essa inversão pode ser facilmente observada em um dia


ensolarado:

 Zona eufótica: alto consumo de CO2 e alta produção de O2


(fotossíntese);

 Zona afótica: Alto consumo de O2 e alta produção de CO2


(decomposição);
DIFUSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE
OXIGÊNIO DENTRO DO ECOSSISTEMA

Estratificação química: Da mesma forma que na maioria dos


lagos, há estratificação térmica, há também estratificação
química;

Isto é, os gases e compostos orgânicos e inorgânicos


presentes na água podem apresentar distribuição não
homogênea na coluna d’água.
DINÂMICA DO OXIGÊNIO DISSOLVIDO EM LAGOS DE
REGIÕES DE CLIMA TEMPERADO
DINÂMICA DO OXIGÊNIO DISSOLVIDO EM
LAGOS DE REGIÕES DE CLIMA TEMPERADO

 HOPPE-SEYLER (1895)> Estudos iniciais que demonstraram que o


O2 distribuído na coluna d’água do lago Constance não
apresentava perfil uniforme;

 THIENEMANN (1925)>> lagos rasos de regiões temperadas, com


alta produção primária, apresentavam o hipolímnio com alto
déficit de oxigênio durante o verão (decomposiçã0).

 Os lagos que apresentam estas características são os lagos


eutróficos e o tipo de perfil vertical de oxigênio é chamado
clinogrado.
DINÂMICA DO OXIGÊNIO DISSOLVIDO EM
LAGOS DE REGIÕES DE CLIMA TEMPERADO

 THIENEMANN (1925)>>> demonstrou ainda que lagos


profundos, com produção primária baixa e a decomposição
de pouca matéria orgânica acumulada no hipolímnio não
chega a interferir significativamente nos níveis de oxigênio da
água.

 Os lagos com estas características são chamados de


oligotróficos e o tipo de perfil vertical de oxigênio é
denominado ortogrado.
Distribuição vertical de O2 em lagos
eutróficos e oligotróficos

ortogrado

Clinogrado
Distribuição vertical de O2 em lagos
eutróficos e oligotróficos

 Para o surgimento de perfil ortogrado ou clinogrado, as condições


morfológicas do lago são importantes;

Segundo THIENEMANN (1925):

𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑜 𝑒𝑝𝑖𝑙í𝑚𝑛𝑖𝑜
 quando a relação é igual ou menor que 1,0 ->
𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑜 ℎ𝑖𝑝𝑜𝑙í𝑚𝑛𝑖𝑜
Lago oligotrófico (perfil ortogrado);

 Quanto esta relação é maior que 1,0 -> lago eutrófico (perfil
clinogrado).
DINÂMICA DO OXIGÊNIO DISSOLVIDO EM
LAGOS DE REGIÕES DE CLIMA TEMPERADO

 primavera e outono: período de circulação total da coluna


d’água, os lagos eutróficos e oligotróficos apresentam perfil
de oxigênio do tipo ortogrado.

 Inverno:
 Oligotróficos: ocorre pequena redução da concentração de
oxigênio na superfície;
 lagos eutróficos: pode ocorrer uma forte redução nas
camadas mais profundas;
DINÂMICA DO OXIGÊNIO DISSOLVIDO EM LAGOS
TROPICAIS
DINÂMICA DO OXIGÊNIO DISSOLVIDO
EM LAGOS TROPICAIS

A Alta Temperatura como Fator Controlador Direto da


concentração de Oxigênio:

 Temperatura: influencia diretamente tanto a respiração dos


organismos como outros processos oxidativos;

 Regra de Van T’Hoff: a elevação da temperatura das soluções


em 10º C pode duplicar ou triplicar a velocidade das reações.
DINÂMICA DO OXIGÊNIO DISSOLVIDO
EM LAGOS TROPICAIS

A Alta Temperatura como Fator Controlador Direto da


concentração de Oxigênio:

 A temperatura do hipolímnio de lagos tropicais é pelo menos


20º C mais elevada do que a do hipolímnio de lagos
temperados;
 Consequência:
A decomposição no hipolímnio de lagos tropicais é de 4 a 9
vezes mais rápida, implicando num grande consumo de oxigênio
nessa região.
DINÂMICA DO OXIGÊNIO DISSOLVIDO
EM LAGOS TROPICAIS

Exemplos:
 Em lagos da Suécia a taxa de reciclagem da glicose no inverno
(temperatura por volta de 6º C) foi de aproximadamente
1.000 horas, enquanto que no verão (temperatura cerca de
18º C), foi de apenas 10 horas (FENCHEL & JORGENSEN, 1977).

 Entre os copépodos observa-se que a respiração é


praticamente duplicada quando eleva-se a temperatura de 10
para 20º C;
DINÂMICA DO OXIGÊNIO DISSOLVIDO
EM LAGOS TROPICAIS

Hipolímnio de lagos temperados vs tropicais:

 Temperados: temperatura na maior parte do ano entre 4 e 6º C;


desfavorável para os processos de decomposição, resultando em
grande acúmulo no sedimento;

 Tropicais: elevada temperatura que proporciona condições


favoráveis para que ocorram elevadas taxas de decomposição,
liberando, assim, grande parte de sua energia para o ecossistema.
DINÂMICA DO OXIGÊNIO DISSOLVIDO
EM LAGOS TROPICAIS

Hipolímnio de lagos temperados vs tropicais:

Consequências limnológicas mais importantes desses


fenômenos:

 O perfil vertical de oxigênio encontrado em lagos tropicais


não reflete a magnitude da produção primária destes, ao
contrário do que é observado em lagos temperados.
Comparação entre a produção primária do fitoplâncton,
temperatura e oxigênio

clinogrado
ortogrado

Lago oligotrófico (região temperada) Lago tropical


DINÂMICA DO OXIGÊNIO DISSOLVIDO
EM LAGOS TROPICAIS

 Assim, quanto ao tipo de perfil vertical de oxigênio, a grande


maioria dos lagos tropicais poderia ser classificados como
eutróficos;

 Entretanto, é possível haver fortes diferenças em relação ao


nível de produtividade;
DINÂMICA DO OXIGÊNIO DISSOLVIDO
EM LAGOS TROPICAIS

 O perfil vertical do O2 em lagos tropicais é fortemente afetado


pela temperatura e características morfométricas do lago;

 A morfometria do lago pode favorecer ou dificultar a


circulação dos ventos, que tem papel importante na
distribuição do O2;

 Consequências: os lagos tropicais apresentam, na grande


maioria dos casos, fortes déficits de oxigênio na coluna
d’água, especialmente na sua parte inferior.
Fatores Controladores Indiretos da Concentração de
Oxigênio
Fatores Controladores Indiretos da
Concentração de Oxigênio

 Com base nos resultados de pesquisas realizadas em lagos


brasileiros, pode-se apontar dois fatores principais:

 1º) a extensão do período de estratificação térmica;

 2º) a concentração de matéria orgânica (dissolvida e


particulada) da água;
Fatores Controladores Indiretos da
Concentração de Oxigênio

A) Extensão do período de estratificação térmica

 Muito importante em todos os tipos de lagos;

 Em lagos muito profundos esse pode ser o principal fator


determinante do déficit de oxigênio;

 Com a desestratificação da coluna d’água, ocorre a mistura


entre epilímnio, com maior concentração de oxigênio, e o
hipolímnio pobre em oxigênio.
Fatores Controladores Indiretos da
Concentração de Oxigênio

A) Extensão do período de estratificação térmica

 No epilímnio : perdas compensadas pela fotossíntese ou


difusão atmosférica;

 Ex: Na represa Curuá-Una (região amazônica, Estado do Pará)


foi demonstrado que cerca de 60% do oxigênio do epilímnio é
de origem atmosférica.

 Estudos propõem que esta seja maior fonte de oxigênio para


a maioria dos lagos da região amazônica.
Fatores Controladores Indiretos da
Concentração de Oxigênio

A) Extensão do período de estratificação térmica

 No hipolímnio : devido às temperaturas elevadas ocorre a


perda de O2 em grande magnitude e velocidade.

 Decomposição aeróbia e respiração dos organismos;


Fatores Controladores Indiretos da
Concentração de Oxigênio

B) Concentração de matéria orgânica

Nos lagos brasileiros:

 A concentração de matéria orgânica, aliada às altas


temperaturas, contribui decisivamente para o grau de
desoxigenação da água, mais do que a permanência do
período de estratificação térmica.
Fatores Controladores Indiretos da
Concentração de Oxigênio

B) Concentração de matéria orgânica

O efeito da matéria orgânica se manifesta periodicamente:

 Chuvas;

 Fortes ventos;
Fatores Controladores Indiretos da
Concentração de Oxigênio

B) Concentração de matéria orgânica

O efeito da matéria orgânica se manifesta periodicamente:

Chuvas:
- Elevação no nível da água;
- Escoamento de águas superficiais;
- Aumento da concentração de matéria orgânica dissolvida e
particulada (do fundo);
Fatores Controladores Indiretos da
Concentração de Oxigênio

B) Concentração de matéria orgânica

O efeito da matéria orgânica se manifesta periodicamente:

Principais fontes de matéria orgânica:

- Inúmeros compostos (carboidratos, proteínas, lipídios,


compostos húmicos etc.);
- Solos de florestas marginais;
- Brejos;
Fatores Controladores Indiretos da
Concentração de Oxigênio

 Outro fator que contribui para a redução da concentração de


oxigênio no período de cheia é a baixa taxa de fotossíntese
do fitoplâncton;

- Redução da transparência da água;


Fatores Controladores Indiretos da
Concentração de Oxigênio

Efeitos negativos provocados pela baixa concentração de O2:

- Inúmeras implicações sobre o metabolismo do ecossistema


como um todo;
- Alterações na fauna bentônica;
- Interferência nos ciclos biogeoquímicos (ex: fósforo e
nitrogênio);
Fatores Controladores Indiretos da
Concentração de Oxigênio

Em períodos de estiagem:

- Maiores valores de oxigênio (muito embora possa ocorrer na


parte inferior da coluna d’água forte déficit);

- Aumento de O2 devido ao aumento da taxa fotossintética e da


redução da concentração de matéria orgânica (grande parte
já foi sedimentada e/ou precipitada ou decomposta).
Fatores Controladores Indiretos da
Concentração de Oxigênio

Importante:

 Fortes déficits de oxigênio em toda a coluna d’água podem ocorrer


eventualmente quando, por ação de fortes ventos, a estratificação
térmica é desfeita:

 A água do hipolímnio enriquece a água epilímnica com compostos


redutores, como matéria orgânica em diferentes estádios de
decomposição, amônio, gás sulfídrico e metano que, ao se
oxidarem, consomem grande parte ou a totalidade do oxigênio
dissolvido da coluna d’água;
CONSTRUÇÃO DE REPRESAS SOBRE FLORESTAS TROPICAIS E A
CONCENTRAÇÃO DE OXIGÊNIO
CONSTRUÇÃO DE REPRESAS SOBRE FLORESTAS TROPICAIS E
A CONCENTRAÇÃO DE OXIGÊNIO

 Amazônia: A construção de represas sobre áreas florestadas,


tem gerado condições peculiares quanto à concentração e
distribuição de oxigênio nestes ambientes.

A grande fitomassa inundada, ao se decompor, consome


grande parte do oxigênio dissolvido, gerando altos
déficits, especialmente no hipolímnio.
CONSTRUÇÃO DE REPRESAS SOBRE FLORESTAS TROPICAIS E
A CONCENTRAÇÃO DE OXIGÊNIO

 Fase mais crítica: Primeiros anos após a construção do


reservatório;

 Após os primeiros anos a fase crítica fica restrita aos períodos


de estiagem;

 Neste período, a presença de elevadas concentrações de gás


sulfídrico e metano no hipolímnio (e até epilímnio) tornam as
condições ambientais ainda mais desfavoráveis para os
organismos aquáticos.
CONSTRUÇÃO DE REPRESAS SOBRE FLORESTAS
TROPICAIS E A CONCENTRAÇÃO DE OXIGÊNIO

 Durante períodos de estiagem: Alta mortalidade de peixes e


organismos aquáticos;

 Adaptações (mecanismos de respiração);


VARIAÇÃO DIÁRIA DA CONCENTRAÇÃO DE OXIGÊNIO
VARIAÇÃO DIÁRIA DA CONCENTRAÇÃO DE OXIGÊNIO

 BARBOSA (1981): as flutuações apresentadas pelas variáveis


limnológicas no período de 24 horas assumem papel
fundamental na caracterização dos corpos d’água;

 Flutuações especialmente em regiões tropicais;

 Interferência nos processos biológicos e bioquímicos;


VARIAÇÃO DIÁRIA DA CONCENTRAÇÃO DE OXIGÊNIO

 O2 dissolvido está diretamente envolvido:

 Fotossíntese;
 Respiração; Temperatura
 Decomposição;

Fotoperíodo e
intensidade luminosa
VARIAÇÃO DIÁRIA DA CONCENTRAÇÃO DE OXIGÊNIO

 ecossistemas aquáticos rasos: as maiores amplitudes de


variação são observadas nas camadas superficiais;

 No período da madrugada é comum a coluna d’água ficar


anaeróbica.
Madrugada , coluna d’água fica
completamente anóxica

Lagoa do infernão (SP): Variação diária (24 h) de oxigênio na superfície e no fundo ,


ressaltando o período de forte hipóxia a partir das 19:30 h.
Diminuição do O2
dissolvido

Tanques com baixa renovação de água onde o fitoplâncton está estabelecido,


apresenta uma água pobre em oxigênio durante a madrugada e as primeiras horas
da manhã. Neste momento a aeração é eficiente na incorporação do oxigênio do ar
na água. Do meio dia ao início da noite geralmente estes tanques ficam com água
superficial saturada.
ADAPTAÇÕES DE PEIXES ÀS BAIXAS CONCENTRAÇÕES DE
OXIGÊNIO EM LAGOS TROPICAIS
ADAPTAÇÕES DE PEIXES ÀS BAIXAS CONCENTRAÇÕES DE
OXIGÊNIO EM LAGOS TROPICAIS

 As condições de hipóxia ou mesmo anóxia, muitas vezes


prolongadas, em lagos tropicais, proporcionam um habitat
com características adversas para a fauna e flora aquática.

 Formação de gases nocivos: sulfídrico e metano;

 Resultado: Alta taxa de mortalidade;


ADAPTAÇÕES DE PEIXES ÀS BAIXAS CONCENTRAÇÕES DE
OXIGÊNIO EM LAGOS TROPICAIS

As variações bruscas e
repentinas das concentrações
de oxigênio em lagos tropicais
fazem com que os peixes
passem a se localizar
principalmente no epilímnio;
ADAPTAÇÕES DE PEIXES ÀS BAIXAS CONCENTRAÇÕES DE
OXIGÊNIO EM LAGOS TROPICAIS

Peixes - Adaptações morfológicas e fisiológicas:

 Melhor utilização da superfície da água;

 Melhor captação do oxigênio atmosférico;

 Respostas fisiológicas para compensar baixos níveis de


oxigênio;
ADAPTAÇÕES DE PEIXES ÀS BAIXAS CONCENTRAÇÕES DE
OXIGÊNIO EM LAGOS TROPICAIS

Adaptações fisiológicas:

Aumento da ventilação
branquial: é uma das
respostas fisiológicas mais
utilizadas pelos peixes.
Prochilodus scrofa (Curimbatá)

Quando a saturação do oxigênio na água


chega a 30% começa a aumentar a ventilação
branquial
Adaptação morfológica

Permite ao animal permanecer em posição que facilita a entrada


de água superficial
Tambuatá (Callichthys callichthys)
Fim da aula 4.

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