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Escola Nacional de Administração Pública - ENAP

Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário - MDSA


Secretaria Nacional de Assistência Social - SNAS

Cartilha para aplicação do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil –


MROSC (Lei nº 13.019/2014) no âmbito do Sistema Único de Assistência Social - SUAS.

Brasília, 2017
EXPEDIENTE

Esta é uma publicação da Secretaria Nacional de Assistência Social do Ministério do


Desenvolvimento Social e Agrário em parceria com a Escola Nacional de Administração
Pública.

CRÉDITOS

Coordenação

Departamento de Gestão do SUAS


Coordenação-Geral de Regulação do SUAS

Elaboração e Revisão

Carolina Gabas Stuchi


Karoline Aires Ferreira Olivindo

Colaboração Técnica

Douglas Gualberto Carneiro


Kathyana Dantas Machado Buonafina

2
Sumário

Sumário
Apresentação ................................................................................................................ 5
I - O SUAS e as entidades e organizações de assistência social: modelo regulatório ........ 6
SUAS ................................................................................................................................... 6
Objetivos ............................................................................................................................. 6
Princípios ............................................................................................................................ 7
Diretrizes ............................................................................................................................. 7
O público da Política de Assistência Social .......................................................................... 8
Serviços e benefícios ............................................................................................................ 8
Programas e projetos......................................................................................................... 12
Entidades e organizações de assistência social: atendimento, assessoramento e defesa e
garantia de direitos............................................................................................................ 14
Termo de Colaboração x Termo de Fomento..................................................................... 21
Criação e gestão administrativa das entidades e organizações de assistência social ........... 22
Quem são e o que fazem as entidades e organizações de assistência social ......................... 24
O que é o CNEAS? ............................................................................................................ 33
A regulação da relação público-privado e níveis de reconhecimento das entidades de
assistência social no SUAS ................................................................................................. 35
II - Lei 13.019/2014 no contexto do MROSC ................................................................. 36
O decreto federal regulamentador ..................................................................................... 37
III - O encontro das duas agendas: parcerias no SUAS e MROSC.................................... 37
Resolução do CNAS........................................................................................................... 39
IV - Principais questões do MROSC no contexto do SUAS ............................................. 40
Chamamento público ........................................................................................................ 40
Territorialidade e abrangência do chamamento público ........................................................... 41
Aplicação da dispensa de chamamento público aos serviços socioassistenciais ...................... 42
Regras de utilização de recursos nas parcerias .................................................................. 44
Pagamento de pessoal das entidades ........................................................................................ 44
Reprogramação de recursos do cofinanciamento federal ......................................................... 44
Custos indiretos ........................................................................................................................ 45
Regra aplicável às parcerias com recursos federais, estaduais e municipais ............................ 45
Possibilidade de aquisição de equipamentos e materiais permanentes ou realização de
reformas e obras em parcerias com cofinanciamento federal ................................................... 46
Impossibilidade de uso do recurso do cofinanciamento federal para o fomento às entidades de
assistência social ....................................................................................................................... 47
Prestação de Contas .......................................................................................................... 47
Prestação de contas em parcerias com recurso do cofinanciamento federal ............................ 48
Procedimento simplificado ....................................................................................................... 49
Garantia da publicidade das parcerias com respeito à dignidade dos usuários .................. 49
Regras de Transição .......................................................................................................... 50

3
V - Papel dos principais atores na agenda MROSC-SUAS: .............................................. 51
Gestores da política de assistência social (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) . 52
Conselhos de Assistência Social ......................................................................................... 53
Entidades e organizações de assistência social ................................................................... 55
Cidadão usuário da política de assistência social ............................................................... 56
VI - Guia de links e materiais sobre a Lei nº 13.019/2014 .............................................. 56

4
Apresentação

Essa cartilha foi produzida com o objetivo de servir de material instrucional para o
curso “Gestão de Parcerias com Organizações da Sociedade Civil com enfoque no Sistema
Único da Assistência Social - SUAS”, realizado pela Escola Nacional de Administração
Pública em parceria com a Secretaria Nacional de Assistência Social do Ministério do
Desenvolvimento Social e Agrário.
Ela é a primeira tentativa de interpretação da Lei nº 13.019/2014 - que dispõe sobre
as parcerias entre governo e organizações da sociedade civil - no contexto da política de
assistência social. Seu objetivo é orientar os diversos atores envolvidos com a interpretação
e aplicação da lei, no âmbito do SUAS.
Como é sabido, o SUAS tem uma grande parte de seus serviços ofertados por
entidades e organizações de assistência social1. A entrada em vigor da nova lei de parcerias
tem enorme impacto na continuidade e na qualidade desses serviços. Além disso, há várias
entidades que atuam no assessoramento ao público da política de assistência social, bem
como na defesa de seus direitos, que podem se tornar parceiras do governo na qualificação
do SUAS.

1
A Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS (Lei nº 8.742/1993) e o SUAS tratam os termos “entidades” e
“organizações” como sinônimos, embora seja mais comum se utilizar o termo “entidades” nos documentos
sobre o SUAS.

5
I - O SUAS e as entidades e organizações de assistência social: modelo regulatório

SUAS

O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é o modelo de organização da


política de assistência social. As ideias-chave do SUAS, como operacionalizador do direito
à assistência social, foram deliberadas na IV Conferência Nacional de Assistência Social,
em 2003. Depois disso, a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) de 20042, as
Normas Operacionais Básicas do SUAS (NOB/SUAS) de 2005 e 20123, a Norma
Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS (NOB-RH/SUAS) de 20064 foram
aprovadas pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) como resultado de um
amplo debate democrático com gestores, trabalhadores, entidades e usuários, e a Lei
Orgânica de Assistência Social (LOAS) – Lei nº 8.742/1993 foi alterada pela Lei nº
12.435/2011.
O SUAS se organiza de modo a valorizar as competências e a capacidade de gestão
dos Estados e Municípios. Há instâncias que auxiliam na necessária coordenação e
cooperação entre os entes: a Comissão Intergestores Tripartite (CIT), com representação da
União, Estados, DF e Municípios e as Comissões Intergestores Bipartite (CIB) em cada
Estado, com representação dos respectivos Estados e Municípios. Os conselhos de
assistência social são obrigatoriamente deliberativos e paritários entre governo e sociedade
civil e têm papel na normatização das ações, na aprovação do financiamento e dos critérios
de partilha dos recursos da área, além do controle social de modo mais amplo.

Objetivos

A assistência social tem por objetivos, conforme o art. 2º da LOAS, a proteção


social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de
riscos, especialmente: a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à
velhice; b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; c) a promoção da integração

2
Resolução CNAS nº 145, de 15/10/2004.
3
Resoluções CNAS nº 130, de 15/07/2005, e nº 33/2012, de 12/12/2012.
4
Resolução CNAS nº 269, de 13/12/2006.

6
ao mercado de trabalho5; d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária6; e e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo
de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios
de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. Também tem por
objetivos a vigilância socioassistencial, que visa analisar territorialmente a capacidade
protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações
e danos; e a defesa de direitos, que visa garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto
das provisões socioassistenciais. Além disso, no seu objetivo de enfrentamento da pobreza,
a assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, garantindo mínimos
sociais e provimento de condições para atender contingências sociais e promovendo a
universalização dos direitos sociais.

Princípios

De acordo com o art. 4º da LOAS, a assistência social rege-se pelos princípios: da


supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade
econômica; da universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação
assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; do respeito à dignidade do
cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à
convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de
necessidade; da igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de
qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; da
divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como
dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão.

Diretrizes

A organização da assistência social, de acordo com a Constituição Federal e a


LOAS tem como base as seguintes diretrizes: descentralização político-administrativa para
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e comando único das ações em cada esfera

5
Sobre a aplicação deste objetivo, ver a Resolução CNAS nº 33/2009.
6
Sobre a aplicação deste objetivo, ver a Resolução CNAS nº 34/2009.

7
de governo; participação da população, por meio de organizações representativas, na
formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis; e primazia da
responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera
de governo.

O público da Política de Assistência Social

A PNAS define o público usuário da política de assistência social como cidadãos


e grupos que se encontram em situação de vulnerabilidade e riscos. A vulnerabilidade
pode se dar em decorrência da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo
acesso aos serviços públicos, dentre outros) e, ou fragilização de vínculos afetivos –
relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de gênero, por
deficiência, dentre outras). Os riscos sociais se caracterizam pela situação de direitos
violados ou ameaçados ou, ainda, pelo rompimento dos vínculos familiares ou
comunitários. Geralmente decorrem de situações de abandono, maus tratos, abuso sexual,
trabalho infantil, cumprimento de medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança
e do Adolescente, entre outras.
Por essa razão, é essencial que os serviços se estruturem de modo a permitir que o
cidadão usuário possa fazer escolhas, sendo parte do diagnóstico de seus problemas e da
construção de caminhos de superação da situação de vulnerabilidade ou risco, sempre que
isso for possível. Embora caiba ao Estado garantir o direito, não cabe ao Estado tutelar ou
definir o que é melhor para a vida dos seus cidadãos. Não basta reconhecer o caráter
universal do direito, mas também a essencialidade do protagonismo do cidadão.
A responsabilização estatal e a existência de um sistema único devem afirmar a
dimensão relacional da cidadania. Nesse sentido, é incompatível com o sentido de
cidadania a designação de usuários desse sistema como destinatários, isto é, aqueles que
recebem algo - e não cidadãos que têm direito a bens e serviços. Além disso, é essencial
que sejam garantidos espaço de escuta, de manifestação e de participação no processo de
gestão da política.

Serviços e benefícios

8
Os objetivos da assistência social previstos na LOAS são também tratados como
funções da política nacional de assistência social, conforme a PNAS e a NOB/SUAS. Os
serviços de assistência social operam integralmente as funções de proteção social, de defesa
de direitos e de vigilância socioassistencial.
De acordo com a LOAS, entendem-se por serviços socioassistenciais as atividades
continuadas que visem à melhoria de vida da população e cujas ações, voltadas para as
necessidades básicas, observem os objetivos, princípios e diretrizes daquela lei. A lei
institui os dois principais serviços de responsabilidade estatal que estruturam o SUAS, o
Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (Paif) e o Serviço de Proteção e
Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (Paefi). Os demais serviços foram
tipificados por deliberação do CNAS – Tipificação Nacional dos Serviços
Socioassistenciais7, em atenção ao disposto no art. 18, II da LOAS que lhe atribui
competência para normatizar as ações e regular a prestação dos serviços de natureza
pública e privada no campo da assistência social.
Na sua função de proteção social, conforme a PNAS e a NOB/SUAS, a assistência
social deve garantir as seguranças de acolhida, de renda, de convívio ou vivência familiar,
comunitária e social; de desenvolvimento da autonomia individual, familiar e social e de
sobrevivência a riscos circunstanciais.
A construção de seguranças sociais no âmbito da assistência social tem por
perspectiva identificar a particularidade e a especificidade do campo dessa política social.
A assistência social tem que dar conta de três grandes seguranças sociais, que agrupam as
acima mencionadas: a de acolhida, a de convívio e a de sobrevivência (e renda).
A segurança de acolhida implica em que a assistência social crie condições para
que nenhum ser humano fique ao abandono ou ao relento, por ausência de acolhida,
sobretudo em momentos climáticos ou de catástrofes que atingem a condição humana. Um
exemplo de segurança de acolhida é o serviço de abrigo institucional para crianças e
adolescentes em situação de abandono, previsto na Tipificação Nacional.
A segurança de convívio significa que se deve atuar para impedir o isolamento e o
abandono, ou seja, gerar condições para que o convívio social entre membros de uma
família conte com o apoio na relação pais e filhos; estimular atividades de convívio como

7
Resolução CNAS nº 109/2009.

9
exercício de sociabilidade, afirmação da identidade e do reconhecimento social individual e
coletivo em diversos ciclos de vida nos territórios de vivência. Um exemplo de política de
assistência social que garante a segurança de convívio é o serviço de convivência e
fortalecimento de vínculos, previsto na Tipificação Nacional.
A segurança de sobrevivência (e de renda) é uma das mais típicas e disseminadas
formas de presença da política de assistência social. Ela implica em afiançar condições
básicas de renda, meios materiais e cuidados enquanto elementos que possibilitam a
sobrevivência em diferentes situações limiares vividas em uma sociedade que mercantiliza
o acesso a bens e a condições de sobrevivência. Enquanto as demais seguranças geralmente
operam por meio de serviços, a segurança de sobrevivência opera por meio de benefícios,
como os benefícios eventuais em virtude de nascimento, morte, vulnerabilidade temporária
ou calamidade pública (art. 22 da LOAS), o Benefício de Prestação Continuadas (BPC –
art. 20 a 21A da LOAS) e o benefício do Programa Bolsa Família (PBF – Lei nº 10.836, de
2004).
A tabela 1 apresenta os serviços socioassistenciais tipificados, por nível de proteção,
com destaque para a possibilidade de serem ou não ofertados por meio de parceria com
entidades ou organizações de assistência social.

Tabela 1

Tipo de Proteção Nome do Serviço Quem oferta


Serviço de Atendimento Centro de Referência da
Integral às Famílias - PAIF Assistência Social - CRAS
Serviço de Convivência e CRAS, unidade estatal ou
Fortalecimento de Vínculos - entidade de assistência
Proteção Social Básica SCFV social
Serviço de Proteção Social
Básica no Domicílio para CRAS ou entidade de
pessoas com Deficiência e assistência social
Idosas
Serviço de Proteção e
Centro de Referência
Proteção Social Especial Atendimento Especializado a
Especializado da Assistência
de Média Complexidade Famílias e Indivíduos –
Social - CREAS
PAEFI

10
Serviço de Proteção Social a
Adolescentes em
Cumprimento de Medida
Socioeducativa de Liberdade CREAS*
Assistida (LA) e de Prestação
de Serviços à Comunidade
(PSC)
CREAS ou entidade de
Serviço Especializado em assistência social, podendo
Abordagem Social ser também ofertado pelo
Centro POP
Serviço de Proteção Social CREAS, Centro Dia de
Especial para Pessoas com Referência para Pessoa com
Deficiência, Idosas suas Deficiência ou entidade de
Famílias. assistência social

Serviço Especializado para Centro de Referência para


Pessoas em Situação de Rua População em Situação de
Rua - Centro POP
Serviço de Acolhimento
Unidades de Acolhimento
(Institucional, Repúblicas,
estatal ou entidade de
Serviço de Acolhimento em
assistência social
Família Acolhedora)
Residências Inclusivas
Proteção Social Especial Serviço de Acolhimento em estatal ou entidade de
de Alta Complexidade Residências Inclusivas assistência social
Unidades de Acolhimento
provisório estruturadas em
casos de calamidade ou
Serviço de Proteção em emergência estatal ou
Situações de Calamidade entidade de assistência
Públicas e de Emergências social
* O Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade
Assistida (LA) e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) é de responsabilidade estatal. No entanto,
sabe-se que há várias entidades de assistência social que possuíam parcerias/convênios para atuar com esses
adolescentes. Embora não possa haver descontinuidade do serviço, gestores e entidades devem estar atentos à
vedação de celebrar parceria cujo objeto envolva atividade exclusiva de Estado (art. 40 da Lei nº
13.019/2014).

A tabela 2 apresenta os benefícios continuados e eventuais existentes e quem pode


oferta-los.

11
Tabela 2

Benefícios Quem oferta


Benefício de Prestação Continuada - BPC União, diretamente
Estados e Municípios,
conforme legislação
própria, diretamente ou
Benefícios Eventuais (natalidade, funeral, calamidade por meio de entidade de
pública e vulnerabilidades temporárias) assistência social
Programa Bolsa Família - PBF União, diretamente

Destaque-se, ainda, que a LOAS, ao tratar da garantia do direito do cidadão a


benefícios e serviços, prescreve que esses devem ser “de qualidade” (art. 4º, inciso III). A
garantia de qualidade dos serviços e benefícios depende diretamente da
institucionalidade da política pública, da forma com a qual se articula com outras políticas,
do seu financiamento, da infraestrutura dos seus equipamentos, dos seus recursos humanos
e, especialmente, da forma como estrutura e garante a participação e mobilização dos
cidadãos.
LEMBRE-SE: A Lei nº 13.019/2014 não utiliza os termos serviços e benefícios. Em caso de
parcerias para a realização de serviços e benefícios socioassistenciais, estes devem se
enquadrar como atividade, conforme a nova lei:
“Art. 2º(...)
III-A – atividade: conjunto de operações que se realizam de modo contínuo ou
permanente, das quais resulta um produto ou serviço necessário à satisfação de interesses
compartilhados pela administração pública e pela organização da sociedade civil”.

Programas e projetos

Programas de assistência social são ações integradas e complementares com


objetivos, tempo e área de abrangência definidos para qualificar, incentivar e melhorar os
benefícios e os serviços socioassistenciais (art. 24 da LOAS). Devem ser definidos pelos
respectivos conselhos de assistência social, com prioridade para a inserção profissional e
social. A tabela 3 traz os programas federais atualmente vigentes e o seu fundamento legal.

12
Tabela 3
Fundamento legal
Programas federais que articulam ações intersetoriais
Resolução CNAS nº
18/2012
Resolução CNAS nº
Acessuas Trabalho 25/2016
Portaria
Interministerial
MTE/MDS/MEC/SDH
BPC Trabalho Nº 2 DE 02/08/2012
Portaria
Interministerial
MEC/MDS/MS/SDH-
BPC na Escola PR nº 18/2007
Resolução CNAS nº
08/2013
Portaria MDSA nº
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI 318/2016
Portaria MDS nº
142/2012 e Resolução
CNAS Nº 8, de 16 de
Capacita SUAS março de 2012.
Decreto nº 8.869/2016,
Resolução CNAS nº
19/2016 e 20/2016
Portaria MDSA nº
Programa Primeira Infância no SUAS 295/2016

A LOAS também prevê que a possibilidade de projetos de enfrentamento da


pobreza (art. 25), que compreendem a instituição de investimento econômico-social nos
grupos populares, por meio da articulação e participação de diferentes áreas
governamentais e em sistema de cooperação entre organismos governamentais, não
governamentais e da sociedade civil. Trata-se da definição de uma estratégia de ação, num
plano macro, que envolve vários atores para uma finalidade específica, que é o
enfrentamento da pobreza. Não há, atualmente, uma regulamentação desses projetos.

13
LEMBRE-SE: A Lei nº 13.019/2014 traz uma outra definição de projeto, específica para o
contexto de cada parceria: “conjunto de operações, limitadas no tempo, das quais resulta
um produto destinado à satisfação de interesses compartilhados pela administração
pública e pela organização da sociedade civil” (art. 2º, III-A). Essa definição se ocupa de
um plano micro, do projeto/produto a ser concebido dentro do escopo de cada parceria
com limitação temporal, ou seja, diferenciando-se do conceito de atividade acima
descrito, que tem natureza continuada ou permanente.

Entidades e organizações de assistência social: atendimento, assessoramento e defesa e


garantia de direitos

As entidades e organizações de assistência social estão previstas no art. 3º da


LOAS8. Pela primeira vez as entidades e organizações de assistência social tiveram um
tratamento legal que as diferenciou das entidades certificadas como beneficentes ou
filantrópicas (regidas anteriormente pelo art. 55 da Lei nº 8.212/1991 e pelo Decreto
2.536/1998 e atualmente pela Lei 12.101/2009), dando a elas um papel relevante para a
estruturação e composição da rede prestadora de serviços socioassistenciais, sob
coordenação dos órgãos gestores da política de assistência social.
As entidades e organizações de assistência social podem ser: de atendimento,
quando prestam serviços, executam programas ou projetos ou concedem benefícios – já
conceituados acima; de assessoramento, quando atuam para o fortalecimento dos
movimentos sociais e da organização de usuários e formação e capacitação de lideranças; e
de defesa e garantia de direitos, quando voltadas para a defesa e efetivação dos direitos
socioassistenciais, construção de novos direitos, promoção da cidadania, enfrentamento das
desigualdades sociais e articulação com órgãos públicos de defesa de direitos.
O SUAS reconhece a primazia das organizações no campo do assessoramento e
defesa e garantia de direitos, considerando que elas gozam de autonomia e possuem
liberdade de organização para o fortalecimento da democracia. Por essa razão, o CNAS, na

8
Art. 3o Consideram-se entidades e organizações de assistência social aquelas sem fins lucrativos que,
isolada ou cumulativamente, prestam atendimento e assessoramento aos beneficiários abrangidos por esta
Lei, bem como as que atuam na defesa e garantia de direitos.

14
Resolução nº 27/2011, entendeu mais adequado caracterizá-las do que tipificá-las.
Estabeleceu conceitos e parâmetros para o reconhecimento e a pertinência das atividades de
assessoramento e de defesa e garantia de direitos, no campo socioassistencial, que devem
estar voltadas para a aquisição de conhecimentos, habilidades e desenvolvimento de
potencialidades que contribuam para o alcance da autonomia pessoal e social dos usuários
da assistência social e facilitem a sua convivência familiar e comunitária. Além disso, as
ofertas compreendidas no campo do atendimento devem buscar a articulação com as ações
de defesa e garantia de direitos, para sua qualificação ética e política no âmbito da política
de Assistência Social.
Para isso, a referida resolução aprovou uma matriz (quadro abaixo) que relaciona
um rol de atividades com os seus objetivos, público e resultados esperados, para auxiliar
gestores e entidades na caracterização desse campo.

15
ASSESSORAMENTO E DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS

ATIVIDADE OBJETIVOS PÚBLICO ALVO RESULTADOS/IMPACTOS ESPERADOS


(O QUÊ) (PARA QUÊ) (PARA QUEM) (CONTRIBUIR PARA)
a) Fortalecimento da cidadania dos
usuários;
b) Qualificação da intervenção e
protagonismo dos sujeitos nos espaços de
a) Fortalecer a participação, autonomia e participação democrática, como conselhos,
protagonismo de movimentos sociais, comissões locais, conferências, fóruns,
organizações e grupos populares e de usuários; audiências públicas, entre outros;
b) Identificar as potencialidades, mobilizar e Prioritariamente famílias c) Efetivação de direitos e ampliação
organizar grupos e lideranças locais, por meio de e indivíduos em situação do acesso à proteção social;
sua articulação com a política de assistência social de vulnerabilidade e d) Qualificação dos serviços,
e demais políticas públicas;
riscos pessoais e sociais, programas, projetos e
1. Assessoramento político,
c) Subsidiar a intervenção nas instâncias e grupos e organizações de benefícios ofertados
técnico, administrativo e
espaços de participação democrática; usuários e movimentos pela rede socioassistencial;
financeiro.
sociais, bem como
d) Fortalecer e qualificar as entidades e e) Fortalecimento e autonomia dos
entidades com atuação
organizações quanto ao seu planejamento, sujeitos, grupos e comunidades por meio
preponderante ou não na das redes de produção solidária
captação de recursos, gestão, monitoramento,
área de assistência social. regional/local e da utilização de
avaliação, oferta e execução dos serviços,
programas, projetos e benefícios tecnologias inovadoras;
socioassistenciais e para sua atuação na defesa e f) Socialização dos
garantia de direitos. conhecimentos produzidos junto
aos diferentes atores da política de
assistência social;
g) Incidência na redução da pobreza e
demais vulnerabilidades e riscos sociais.
ASSESSORAMENTO E DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS

ATIVIDADE OBJETIVOS PÚBLICO ALVO RESULTADOS/IMPACTOS ESPERADOS


(O QUÊ) (PARA QUÊ) (PARA QUEM) (CONTRIBUIR PARA)

2. Sistematização e
disseminação de projetos Famílias e indivíduos em
inovadores de inclusão a) Fomentar e apoiar projetos de inclusão cidadã, situação de
cidadã, que possam com base nas vulnerabilidades e riscos vulnerabilidade e riscos
apresentar soluções identificados no diagnóstico socioterritorial, que pessoais e sociais, grupos Idem atividade 1.
alternativas para visem o enfrentamento da pobreza e o e organizações de
enfrentamento da pobreza, desenvolvimento social e econômico. usuários e movimentos
a serem incorporadas nas sociais.
políticas públicas.

a) Favorecer a inserção no mundo do


trabalho, por meio da identificação de
3. Estímulo ao Famílias e indivíduos em
potencialidades do território, desde o
desenvolvimento integral planejamento, estruturação, monitoramento e situação de
sustentável das avaliação das ações de inclusão produtiva em vulnerabilidade e riscos
comunidades, cadeias âmbito local e da articulação com o sistema pessoais e sociais, grupos Idem atividade 1.
organizativas, redes de público do trabalho, emprego e renda; e organizações de
empreendimentos e à usuários e movimentos
b) Potencializar o desenvolvimento
geração de renda. sociais.
do empreendedorismo e da capacidade de
autogestão, na perspectiva da economia solidária.

17
ASSESSORAMENTO E DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS

ATIVIDADE OBJETIVOS PÚBLICO ALVO RESULTADOS/IMPACTOS ESPERADOS


(O QUÊ) (PARA QUÊ) (PARA QUEM) (CONTRIBUIR PARA)

4. Produção e socialização de
estudos e pesquisas que
ampliem o conhecimento da Prioritariamente famílias
sociedade sobre os seus a) Ampliar o conhecimento público sobre a e indivíduos em situação
direitos de cidadania e da política de assistência social; de vulnerabilidade e
política de assistência social, b) Incorporar o conhecimento produzido pela riscos pessoais e sociais,
bem como dos gestores sociedade sobre a defesa dos direitos de cidadania, grupos e organizações de
públicos, trabalhadores e na perspectiva da intersetorialidade, como usuários, movimentos Idem atividade 1.
entidades com atuação referência na formulação, implementação e sociais, bem como
preponderante ou não na avaliação da política de assistência social; gestores, trabalhadores e
assistência social c) Subsidiar a formulação, implementação e entidades com atuação
subsidiando-os na avaliação da política de assistência social. preponderante ou não na
formulação, implementação Assistência Social.
e avaliação da política de
assistência social.

18
ASSESSORAMENTO E DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS

ATIVIDADE OBJETIVOS PÚBLICO ALVO RESULTADOS/IMPACTOS ESPERADOS


(O QUÊ) (PARA QUÊ) (PARA QUEM) (CONTRIBUIR PARA)

5. Promoção da defesa de
direitos já estabelecidos
através de distintas formas Famílias e indivíduos em
de ação e reivindicação na a) Fortalecer o protagonismo dos usuários na situação de
defesa dos seus direitos de cidadania; vulnerabilidade e riscos
esfera política e no
pessoais e sociais, grupos Idem atividade 1.
contexto da sociedade, b) Acessar∕promover os direitos e organizações de
inclusive por meio da de cidadania já estabelecidos. usuários e movimentos
articulação com órgãos sociais.
públicos e privados de
defesa de direitos.

6. Reivindicação da Famílias e indivíduos em


construção de novos situação de
direitos fundados em novos vulnerabilidade e riscos
a) Buscar o reconhecimento de novos direitos de
conhecimentos e padrões pessoais e sociais, grupos Idem atividade 1.
cidadania e acesso à proteção social.
de atuação reconhecidos e organizações de
nacional e usuários e movimentos
internacionalmente. sociais.
Famílias e indivíduos em
7. Formação político cidadã a) Promover acesso a conhecimento, meios, situação de
de grupos populares, nela recursos e metodologias direcionadas ao aumento vulnerabilidade e riscos
incluindo capacitação de da participação social e ao fortalecimento do pessoais e sociais, grupos Idem atividade 1.
conselheiros/as e protagonismo dos usuários na reivindicação dos e organizações de
lideranças populares. direitos de cidadania. usuários, movimentos
sociais e conselheiros.

19
ASSESSORAMENTO E DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS

ATIVIDADE OBJETIVOS PÚBLICO ALVO RESULTADOS/IMPACTOS ESPERADOS


(O QUÊ) (PARA QUÊ) (PARA QUEM) (CONTRIBUIR PARA)

8. Desenvolvimento de
ações de
monitoramento e
controle popular sobre
o alcance de direitos a) Ampliar o acesso da população em geral Famílias e indivíduos em
socioassistenciais e a às informações sobre a implementação da política
situação de
de assistência social;
existência de suas vulnerabilidade e riscos
violações, tornando b) Qualificar as intervenções nos espaços de pessoais e sociais, grupos Idem atividade 1.
públicas as diferentes participação democrática; e organizações de
formas em que se c) Aferir se a política de assistência está em usuários e movimentos
expressam e consonância com as demandas da sociedade. sociais.
requerendo do poder
público serviços,
programas e projetos de
assistência social.

20
Lembre-se: A expressão atividade aqui não foi utilizada no sentido específico que lhe deu
a Lei nº 13.019, de 2014, como visto acima. Na resolução do CNAS ela é uma expressão
mais genérica, sinônimo de ação ou conjunto de ações.

Como visto acima, as entidades de atendimento são aquelas cujas ofertas são
tipificadas ou regulamentadas pelo governo. Via de regra, as parcerias com elas serão
propostas pela administração pública e deverão ser formalizadas por meio de Termo de
Colaboração. Já as entidades de assessoramento e defesa de direitos atuam com temas
cuja primazia é da sociedade civil e, via de regra, são elas quem possuem conhecimento
para propor parcerias ao governo. Nesse segundo caso, estaremos diante de uma parceria
mediante Termo de Fomento.

Termo de Colaboração x Termo de Fomento

Lei nº 13.019/2014

Termo de Colaboração (art. 2º, VII) Termo de Fomento (art. 2º, VIII)

Instrumento por meio do qual são Instrumento por meio do qual são
formalizadas as parcerias estabelecidas pela formalizadas as parcerias estabelecidas pela
administração pública com OSCs para a administração pública com OSCs para a
consecução de finalidades de interesse consecução de finalidades de interesse
público e recíproco propostas pela público e recíproco propostas pelas OSCs,
administração pública que envolvam a que envolvam a transferência de recursos
transferência de recursos financeiros. financeiros.
Iniciativa da Administração Pública Iniciativa das entidades e organizações
Atuar em colaboração para execução de Incentiva e reconhece ações de interesse
políticas públicas parametrizadas; público desenvolvidas pelas entidades.
Proposição do plano de trabalho, com Proposição do plano de trabalho, com livre
parâmetros mínimos prévios ofertados iniciativa, pelas entidades, que apresenta
pela Administração Pública, para que ideias a serem desenvolvidas.
organizações a atuação do Estado em ação
conhecida e estruturadas, com a expertise da
sociedade civil.
Função de qualificação e
complementariedade em relação às ofertas
parametrizadas do SUAS
Novas tecnologias sociais (ofertas) que
geram inovação nos atendimentos ao
público da assistência social.

Criação e gestão administrativa das entidades e organizações de assistência social

A existência de entidades e organizações de assistência social está fundamentada na


liberdade de associação prevista no art. 5º na Constituição Federal:
“XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter
paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem
de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento.
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas
atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito
em julgado;
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm
legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;”
Do ponto de vista de sua constituição, as entidades e organizações de assistência
social são pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos9, criadas sob a forma de

9
De acordo com o art. 1º, I, “a”: “entidade privada sem fins lucrativos que não distribua entre os seus sócios
ou associados, conselheiros, diretores, empregados, doadores ou terceiros eventuais resultados, sobras,
excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos, isenções de qualquer natureza, participações ou
parcelas do seu patrimônio, auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que os aplique integralmente

22
associação, fundação ou organização religiosa, de acordo com as prescrições do Código
Civil brasileiro (Lei nº 10.406, de 2002). Elas se enquadram dentro do conceito de
organizações da sociedade civil definição da Lei nº 13.019/2014.
No âmbito do SUAS, o Decreto nº 6.308/2007, que regulamenta os art. 3º e 9º da
LOAS e a Resolução CNAS nº 14/2014, que define os parâmetros nacionais para a
inscrição nos Conselhos de Assistência Social, trazem alguns requisitos que se aplicam
especificamente às entidades e organizações que querem atuar na política de assistência
social. Assim, além de realizar atendimento ou assessoramento e defesa e garantia de
direitos ao público da assistência social, conforme descrito acima, as entidades de
assistência social devem:
 definir expressamente, em seus atos constitutivos, sua natureza, objetivos,
missão e público alvo, de acordo com a LOAS.
 garantir a universalidade do atendimento, independentemente de
contraprestação do usuário (gratuidade); e
 ter finalidade pública e transparência nas suas ações.
Além disso, para seu regular funcionamento no âmbito do SUAS, as entidades ou
suas ofertas de assistência social deverão estar inscritas junto aos conselhos de
assistência social de todos os Municípios em que atuar, submetendo-se à fiscalização deles.
Importante lembrar que as entidades de assistência social gozam de imunidade
tributária em relação a seu patrimônio, renda e serviços (art. 150, VI, “c” da CF), além da
possibilidade de obter a certificação de entidade beneficente (CEBAS), na forma da Lei nº
12.101/2009, para usufruir da imunidade de contribuições para a Seguridade Social,
especialmente da cota patronal do INSS (art. 195, § 7º da CF). Elas também podem se
qualificar como organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), na forma da
Lei nº 9.790/1999. Entretanto, essa qualificação é incompatível com a certificação, devendo
a entidade optar por uma das duas.
Vale destacar que ter CEBAS e ser OSCIP não são requisitos para as parcerias
previstas na nova lei.

na consecução do respectivo objeto social, de forma imediata ou por meio da constituição de fundo
patrimonial ou fundo de reserva”.

23
LEMBRE-SE: O título de utilidade pública federal não existe mais. A lei que
disciplinava esse título foi revogada pela Lei nº 13.204/2015. Mesmo que ainda existam
títulos de utilidade pública no âmbito dos Estados, DF ou Municípios, recomenda-se que
não sejam exigidos para fins de parceria.

Quem são e o que fazem as entidades e organizações de assistência social

A partir de 2006, com a Pesquisa das Entidades de Assistência Social Privadas sem
Fins Lucrativos – PEAS10, a política de assistência social passou a ter um dado oficial sobre
o universo das entidades de assistência social em atuação no Brasil11.
A PEAS foi uma publicação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) em parceria com o MDSA. Os dados foram levantados no ano de 2006 e as
entidades visitadas e pesquisadas foram selecionadas através do Cadastro Central de
Empresas – CEMPRE, do IBGE, que se declararam prestadoras de serviços de assistência
social. O resultado final do estudo contém um conjunto de informações pertinentes à área
da Assistência Social no Brasil com ênfase no perfil das entidades prestadoras de serviços
nessa área: qualificação como Organização Social e como Organização da Sociedade Civil
de Interesse Público; títulos e credenciamentos pelos órgãos competentes; identificação dos
serviços prestados; modalidades socioassistenciais; âmbito de atuação; período de
funcionamento; metodologia de atendimento; instalações e equipamentos disponíveis; perfil
dos colaboradores quanto à capacitação e o nível de formação, financiamentos, parcerias e
caracterização do público-alvo.
De acordo com a pesquisa, foram localizadas 16.08912 entidades de assistência
social, sendo que a região Sudeste concentrava 51,8% das entidades, seguida pela região
Sul com 22,6%, Nordeste com 14,8%, Centro-Oeste com 7,4% e Norte com 3,4%. O estado
de São Paulo concentrava, sozinho, 29,6% de todas as entidades do Brasil.
10
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/peas/2006/
11
Até 2006 o MDSA possuía apenas a base de dados das entidades registradas e certificadas no Conselho
Nacional de Assistência Social - CNAS bem como das entidades que já haviam sido financiadas diretamente
com recursos do Fundo Nacional de Assistência Social antes do SUAS.
12
Vale ressaltar que até 2006 as creches e pré-escolas ainda eram consideradas entidades de assistência social.
Em 2010 foi concluído o processo de migração dessas entidades para a política de educação.

24
Entre os anos de 2013 e 2015, o IBGE, em parceria com o MDSA, atualizou a
PEAS13. Com novo levantamento de entidades a partir do CEMPRE, a coleta de
informações ocorreu por meio de entrevistas telefônicas assistidas por computador. Para o
conjunto de entidades reconhecidas pela sua atuação na assistência social, foram produzidas
informações sobre as ofertas, a estrutura e o funcionamento das entidades.
Entre as inovações dessa edição está o uso da Tipificação Nacional dos Serviços
Socioassistenciais e de outras Resoluções do Conselho Nacional de Assistência Social para
a caracterização das ações socioassistenciais executadas pelas entidades.
O efeito desse movimento é permitir a comparação com outros estudos e dados
produzidos no campo da assistência social, em sintonia com o reordenamento em marcha
das ações das organizações da sociedade civil.
Em 2010 foi aplicado aos gestores municipais de assistência social o primeiro
questionário sobre as entidades de assistência social – o Censo SUAS14 da Rede Privada.
Foram coletados os dados de 9.398 entidades de assistência social em 1.439 Municípios,
todas inscritas nos Conselhos de Assistência Social e com alguma forma de parceria com a
gestão. A distribuição regional praticamente se repete: 55% no Sudeste, 23% no Sul, 12%
no Nordeste, 7% no Centro-Oeste, e 3% no Norte.
Em 2011 foi possível que as próprias entidades preenchessem o questionário do
Censo SUAS da Rede Privada, após os conselhos municipais de assistência social
confirmarem que elas estavam inscritas conforme o art. 9º da LOAS. Foram 10.19215
entidades respondentes, sendo 9.456 com alguma atuação na assistência social, distribuídas
em 1.872 municípios brasileiros e concentradas nas mesmas regiões identificadas na PEAS
2006 e Censo SUAS 2010. Dessas, 7.708 entidades declararam ter atuação exclusiva ou
preponderante na assistência social.
Das informações coletadas pelo Censo SUAS Rede Privada de 2011, vale destacar
as seguintes: a) a receita bruta total de 2010 informada pelas entidades demonstra que a
maioria delas se mantém em funcionamento com um volume reduzido de recursos. 86%

13
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94686.pdf
14
O Censo SUAS é realizado anualmente, desde 2007, a partir da ação conjunta da Secretaria Nacional de
Assistência Social – SNAS, com a Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação – SAGI, ambas do
MDSA.
15
Parte dessas entidades, embora inscritas nos Conselhos de Assistência Social, não tinha qualquer atuação na
assistência social.

25
delas afirmam ter receita bruta anual inferior a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais); b)
20% das entidades informou não ter nenhum trabalhador contratado; c) a principal fonte de
financiamento de 51% das entidades são recursos de subvenções, convênios e parcerias
com órgãos ou entidades públicas; d) 75% das entidades usufruem de algum tipo de isenção
ou imunidade.
Aprofundar a análise sobre essas informações se torna extremamente relevante
quando se verifica a quantidade de vagas que as entidades declaram ofertar por serviços,
conforme se verifica dos dados das tabelas 4, 5 e 6.

Tabela 4: Quantidade de vagas nos serviços de Proteção Social


Básica
Quantidade
Realiza o
Serviço de Proteção Social Básica de vagas % vagas
serviço
ofertadas
Serviço de convivência e fortalecimento de
vínculos para crianças e adolescentes de 6 a 4.036 700.402 33,8%
15 anos
Serviço de convivência e fortalecimento de
vínculos para adolescentes e jovens de 15 a 3.198 628.425 30,3%
17 anos
Serviço de convivência e fortalecimento de
2.470 352.381 17,0%
vínculos para crianças de 0 a 6 anos
Serviço de convivência e fortalecimento de
2.415 251.543 12,1%
vínculos para pessoas idosas
Serviço de proteção social básica no
8.190 97.542 4,7%
domicílio para pessoas com deficiência
Serviço de proteção social básica no
829 42.744 2,1%
domicílio para pessoas idosas
Total 21.138 2.073.037 100,0%
Fonte: Censo SUAS 2011 - MDS/SNAS/DGSUAS/CGVS

Tabela 5: Quantidade de vagas nos serviços de Proteção Social Especial de


Média Complexidade
Quantidade
Proteção Social Especial de Média Realiza o
de vagas % vagas
Complexidade Serviço
ofertadas
Atendimento especializado para pessoas
2.191 426.791 29,9%
com deficiência e suas famílias
Atendimento especializado em abordagem
1.641 348.191 24,4%
social

26
Atendimento especializado para indivíduos
1.159 245.250 17,2%
e famílias com direitos violados
Atendimento especializado para famílias de
crianças e adolescentes sem situação de 581 157.785 11.0%
trabalho infantil
Atendimento especializado para pessoas
1.112 129.372 9.1%
idosas e suas famílias
Atendimento especializado para pessoas em
638 77.881 5,5%
situação de rua
Atendimento especializado para
adolescentes em cumprimento de MSE em 610 43.395 3,0%
meio aberto LA e PSC
Total 7.932 1.428.665 100%
Fonte: Censo SUAS 2011 - MDS/SNAS/DGSUAS/CGSVS

Tabela 6: Quantidade de vagas nos serviços de Proteção Social Especial de


Alta Complexidade
Quantidade
Realiza o
Serviço de PSE de Alta Complexidade de vagas %
Serviço
ofertadas
Acolhimento Institucional para crianças e
284 7.417 8%
adolescentes em Casa-lar
Acolhimento Institucional para crianças e
601 20.790 22%
adolescentes em abrigo institucional
Acolhimento Institucional para idosos em
286 9.822 10%
Casa-lar
Acolhimento Institucional para idosos em
833 37.710 39%
abrigo institucional
Acolhimento Institucional para jovens e
adultos em deficiência em residências 124 3.584 4%
inclusivas
Acolhimento Institucional para adultos e
93 5.637 6%
famílias em Casa-lar
Acolhimento Institucional para adultos e
167 9.157 10%
famílias em casa de passagem
Acolhimento Institucional para mulheres
100 2.220 2%
vítimas de violência em abrigo institucional
Total 2.488 96.337 100,0%
Fonte: Censo SUAS 2011 - MDS/SNAS/DGSUAS/CGSVS

No entanto, todos esses dados foram coletados antes da aplicação das regras da
Resolução CNAS nº 16/2010, que instituiu parâmetros nacionais para a inscrição das
entidades de assistência social e dos serviços, programas, projetos e serviços

27
socioassistenciais e institui um período de transição para que as entidades se adequem às
novas legislações da assistência social (especialmente Lei nº 12.101/2009, Lei 12.435/2011
que alterou a LOAS, Resolução CNAS nº 109/2009 – Tipificação de Serviços, Resolução
CNAS nº 27/2011 – assessoramento e defesa e garantia de direitos, Resolução CNAS nº
33/2011 – promoção da integração ao mercado de trabalho, e Resolução CNAS nº 34/2011
– habilitação e reabilitação de pessoas com deficiência).
Visando conhecer o universo de entidades inscritas nos conselhos em conformidade
com os parâmetros nacionais e constituir a base do sistema de cadastro nacional de
assistência social, previsto no inciso XI do art. 19 da LOAS, o MDSA disponibilizou, entre
julho de 2012 e março de 2013, um Formulário Eletrônico que foi preenchido pelo gestor
da assistência social com posterior confirmação pelo Conselho Municipal de Assistência
Social.
A análise dos dados do formulário eletrônico aponta para um universo de 16.839
entidades/CNPJs com algum tipo de inscrição válida, distribuídas em 2.414 municípios. A
distribuição regional se altera um pouco com 51,1 % no Sudeste, 21% no Nordeste, 18,2%
no Sul, 5,6% no Centro-Oeste e 4,1% no Norte. Pela primeira vez a região Nordeste
aparece com um percentual de entidades com atuação na assistência social maior que a
Região Sul. Os Estados brasileiros com mais entidades com atuação na assistência social
são Minas Gerais (3.957), São Paulo (3.664) e Paraná (1.453), conforme Tabela 7.

Tabela 7– Quantidade de entidades privadas por Unidades Federativas

UF Quantidade de Municípios que Quantidade de Quantidade de entidades/CNPJs


possuem Entidades inscritas inscrições inscritos
AC 5 26 25
AL 11 77 76
AM 10 95 94
AP 1 2 2
BA 123 896 877
CE 76 686 673
DF 1 140 136
ES 66 398 369
GO 74 487 479
MA 29 243 242
MG 461 4.004 3.957
MS 59 319 312

28
MT 40 164 161
PA 41 250 242
PB 15 87 86
PE 55 684 675
PI 13 63 62
PR 278 1.486 1.453
RJ 66 852 842
RN 29 150 148
RO 20 120 112
RR 1 12 11
RS 327 1.462 1.165
SC 137 685 661
SE 36 199 194
SP 401 3.705 3.664
TO 39 128 121

Esse universo pode ser dividido pelo tipo de inscrição dessas entidades: a) 13.191
entidades inscritas como entidades de assistência social (com atuação exclusiva ou
preponderante nessa área); b) 499 entidades de assistência social com inscrição em mais de
um município; c) 3.137 entidades não preponderantes de assistência social com inscrição de
serviços, programas, projetos ou benefícios socioassistenciais.
Das 17.420 inscrições deferidas pelos conselhos municipais de assistência social,
7.765 são ofertas de atendimento direto aos usuários da política de assistência social e
1.991 de assessoramento, defesa e garantia de direitos destes usuários. Nesse caso pode-se
inferir que as definições quanto aos tipos de atuação não os distinguem de forma precisa, já
que nem sempre é possível haver essa distinção, uma vez que nos serviços
socioassistenciais de proteção básica e especial está contida uma dimensão da defesa de
direitos e de sua proteção e promoção, bem como o assessoramento aos seus usuários,
compreendido como formas de alcance de patamares superiores de civilidade ou de
cidadania.
Essas 16.839 entidades compuseram a base inicial de dados do Sistema de Cadastro
Nacional de Entidades de Assistência Social (SCNEAS). Em fevereiro de 2017, o CNEAS
possui 18.956 entidades distribuídas em 2.684 municípios de todas as unidades federativas
do país.

29
Na data de referência (fev/2017), o nível de preenchimento do CNEAS pelos órgãos
gestores de assistência social é de 48,6% dos cadastros concluídos, restando 30,9% que já
tiveram informações parcialmente incluídas e 20,5% que estão pendentes.
O mapa a seguir representa a distribuição territorial das entidades por municípios e
estados. As áreas mais escuras indicam municípios com maior número de entidades no
CNEAS, independente da situação dos cadastros. É possível notar maior concentração de
entidades nas regiões sudeste e sul, onde a presença de organizações é difundida na maior
parte dos territórios.

Figura 1 - Mapa das entidades presentes no CNEAS

Fonte: Cadastro Nacional de Entidades de Assistência Social (CNEAS), SNAS/MDSA, Fev/2017.

30
A partir dos cadastros concluídos (9.268 entidades), é possível reconhecer um
conjunto de 14.851 ofertas socioassistenciais. O quadro abaixo expressa a frequência das
ofertas, o tipo e nível de proteção ao qual estão associadas.

Tabela 8 - Frequência das ofertas dos cadastros concluídos do CNEAS


Tipo de oferta Ofertas do CNEAS Frequência
absoluta

Proteção Social Básica Serviço de Convivência e Fortalecimento de 4.752


Vínculos

Proteção Social de Alta Acolhimento institucional 1.998


Complexidade

Assessoramento e/ou Promoção da defesa de direitos já estabelecidos 1.599


Defesa e Garantia de
Direitos

Proteção Social Especial Proteção Social Especial no domicílio para 1.035


de Média Complexidade pessoas com deficiência, idosos e famílias

Proteção Social Especial Habilitação e reabilitação 969


de Média Complexidade

Proteção Social Básica Integração ao mercado de trabalho 904

Assessoramento e/ou Desenvolvimento integral sustentável das 533


Defesa e Garantia de comunidades, cadeias organizativas, redes de
Direitos empreendimentos e à geração de renda

Benefícios Benefícios socioassistenciais 473

Assessoramento e/ou Assessoramento político, técnico, 419


Defesa e Garantia de administrativo e financeiro
Direitos

Assessoramento e/ou Projetos inovadores de inclusão cidadã e 394


Defesa e Garantia de enfrentamento da pobreza
Direitos

Monitoramento e controle popular 345

Proteção Social Básica Proteção Social Básica no domicílio para 328


pessoas com deficiência, idosos e famílias

Assessoramento e/ou Reivindicação da construção de novos direitos 201

31
Defesa e Garantia de
Direitos

Proteção Social Especial Abordagem social 170


de Média Complexidade

Assessoramento e/ou Formação político cidadã de grupos populares 165


Defesa e Garantia de
Direitos

Assessoramento e/ou Produção e socialização de estudos e pesquisas 138


Defesa e Garantia de sobre cidadania e assistência social
Direitos

Proteção Social Especial Medidas socioeducativas em liberdade assistida 123


de Média Complexidade e/ou prestação de serviços à comunidade

Proteção Social de Alta Acolhimento em república 109


Complexidade

Proteção Social Especial Serviço especializado para pessoas em situação 107


de Média Complexidade de rua

Proteção Social de Alta Proteção em situações de calamidades públicas 44


Complexidade e de emergência

Proteção Social de Alta Família acolhedora 28


Complexidade

- Ofertas tipificadas localmente16 17


Fonte: Cadastro Nacional de Entidades de Assistência Social (CNEAS), SNAS/MDSA. Fev/2017.

Entre as ofertas mais frequentes, destacam-se o serviço de convivência e


fortalecimento de vínculos, o acolhimento institucional e as ações de promoção da defesa
de direitos já estabelecidos17.

16
O CNEAS prevê a possibilidade de inclusão de ofertas socioassistenciais tipificadas localmente mediante a
apresentação ao MDSA de resolução de conselho de assistência social que ordene a oferta no território. Na
data de referência, as seguintes ofertas foram consideradas: Centro de Defesa e Convivência da Mulher;
Núcleo de Proteção Jurídico-Social e Apoio psicológico; Programa de Atenção às Pessoas Idosas; Programa
de Inclusão Produtiva de Formação Socioprofissional na Proteção Social Básica; Programa de Inclusão
Produtiva/ Programa de Atenção às Pessoas em Situação de Rua; Programa de Inclusão Produtiva/Programa
de Promoção do Adolescente Aprendiz e Jovem Trabalhador; Programa de Proteção Socioassistencial
Especial e Apoio Psicossocial a Pessoas com Direitos Violados e/ou em Situação de Vulnerabilidade e suas
Famílias.
17
As informações sobre as entidades e ofertas do CNEAS pode ser acessada pelo link a seguir:
http://aplicacoes.mds.gov.br/cneas/publico/xhtml/consultapublica/pesquisar.jsf

32
No contexto do MROSC, em 2015, teve início um amplo levantamento sobre as
OSCs e suas formas de atuação no território nacional. Com isso, foi criada uma plataforma
georreferenciada que visa reunir informações das variadas bases de dados da administração
pública federal para um conjunto superior a 440 mil OSCs – Mapa das Organizações da
Sociedade Civil.
Entre as informações que concernem as entidades de assistência social estão o
CENSO SUAS, o CNEAS e a relação de entidades certificadas pelo CEBAS-MDSA. Além
disso, são adicionadas informações que tratam dos trabalhadores registrados nas
organizações, os convênios monitorados pelo SICONVI, a presença em dados
administrativos da saúde, educação, cultura, esporte, entre outras áreas.
O Mapa das Organizações da Sociedade Civil é atualmente gerido pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), com supervisão da Secretaria de Governo da
Presidência da República. A versão inicial do mapa foi criada pela Fundação Getúlio
Vargas (FGV).18

O que é o CNEAS?

O CNEAS consolida as informações que caracterizam as entidades e as credenciam


para ingressar no âmbito da política de assistência social em diferentes estágios. Trata-se de
instrumento de gestão que possibilita conhecer a cobertura e os tipos dos serviços ofertados
pelas entidades em regular funcionamento no Brasil, sendo base para a certificação, na
forma da Lei nº 12.101/2009, e para o reconhecimento do vínculo SUAS, previsto no art.
6ºB da LOAS.
O cadastro é alimentado pelo gestor local a partir de informações coletadas por meio
de documentos e relatórios de visitas técnicas realizadas em âmbito local: identificação de
cada serviço e programa, projeto ou benefício socioassistencial com informações relativas à
continuidade, regularidade, planejamento e permanência na prestação dos serviços;
especificação das populações às quais se dirigem os serviços, benefícios, programas e
projetos (usuários); capacidade de atendimento mensal definida anualmente em plano de
trabalho; número de pessoas atendidas e de atendimentos por mês em cada serviço;

18
O Mapa das OSCs pode ser acessado pelo link a seguir: https://mapaosc.ipea.gov.br/

33
recursos humanos disponíveis, por formação e regime de contratação, alocados nos
serviços; verificação da gratuidade das ofertas para os usuários (não exigência de
contraprestação pelo serviço); forma de participação dos usuários e estratégias utilizadas,
desde a elaboração do planejamento, até a execução dos serviços, sua avaliação e
monitoramento. Todas essas informações devem ser validadas, posteriormente, pelo
MDSA, que é o responsável pelo CNEAS.

Qual a diferença entre o CNEAS e o CEBAS?


A Certificação de Entidades Beneficentes de Assistência Social (Cebas), regulada
pela Lei nº 12.101, de 2009, e o Decreto Federal nº 8.242, de 2014, é um certificado
concedido pelo governo federal às entidades privadas sem fins lucrativos que atuam na área
da assistência social, da educação e da saúde. Conforme já mencionado, tem como principal
objetivo o acesso a isenção das contribuições para a seguridade social (parte patronal da
contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento, Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido – CSLL, Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS,
Contribuição PIS/PASEP). Compete ao Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário-
MDSA conceder a Certificação às entidades e organizações de assistência social, sendo-
lhes facultado requerê-la.
Já o Cadastro Nacional de Entidades de Assistência Social-CNEAS, previsto na Lei
Orgânica de Assistência Social-LOAS (1993), é um instrumento de reconhecimento e
monitoramento das ofertas socioassistenciais prestadas por organizações da sociedade civil.
Disponibilizado em abril de 2014, o CNEAS é gerenciado pelo MDSA e deve ser
preenchido pelos órgãos gestores municipais, com o apoio dos conselhos de assistência
social, das entidades e dos estados. Devem ser cadastradas no CNEAS as entidades que
estão inscritas no conselho de assistência social e que executam ofertas tipificadas ou
regulamentadas pela política de assistência social, nacionalmente ou em nível local.
Também se encontram cadastrados no CNEAS os serviços, programas e projetos
socioassistenciais ofertados, de forma não preponderante, pelas organizações da sociedade
civil.

34
A regulação da relação público-privado e níveis de reconhecimento das entidades de
assistência social no SUAS

A atual regulação da relação entre Estado e sociedade civil no âmbito da assistência


social indica níveis de reconhecimento das entidades e dos serviços, desde a inscrição nos
Conselhos de Assistência Social municipais e do Distrito Federal (art. 9º da LOAS), como
primeiro nível desse reconhecimento, no que tange à sua identidade, existência e as
condições prévias para o funcionamento dos serviços que se propõe a desenvolver.
A ampliação desse reconhecimento para o Cadastro Nacional de Entidades de
Assistência Social (art. 19, XI da LOAS), para a colaboração ou fomento (Lei nº
13.019/2014), para a certificação de entidades beneficentes (Lei nº 12.101/2009) ou para o
reconhecimento do vínculo SUAS (art. 6ºB, §§ 1º a 3º da LOAS), pendente de
regulamentação, depende da relação a ser estabelecida entre a entidade e o governo,
conforme sua presença, participação e adesão às diretrizes da política pública.

CEBAS

Vínculo SUAS
Inscrição CNEAS (pendente de
regulamentação)

Colaboração ou
Fomento

Para integrar e organizar as informações sobre as entidades e as várias formas que


podem integrar o SUAS, o MDSA criou um sistema informatizado. Ele deverá unificar
documentos como plano de ação anual, relatório de atividades, estatuto social e ata de
eleição que poderão ser inseridos eletronicamente, pela própria entidade, uma única vez.
Também será possível verificar qual o nível de responsabilidade e de reconhecimento que
possuem no SUAS. É um passo essencial para a constituição da rede socioassistencial nos
termos da LOAS e a NOB/SUAS.

35
De acordo com a NOB/SUAS 2012, considera-se rede socioassistencial o conjunto
integrado da oferta de serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social
mediante articulação entre todas as unidades de provisão dos SUAS.

Vale destacar que o fundamento para a construção da rede socioassistencial não é o


que a entidade ou organização realiza individualmente, a partir de sua finalidade estatutária,
mas a forma como ela partilha a cobertura das necessidades coletivas, por meio da oferta de
serviços socioassistenciais prestados em rede articulada de atenção, sob os princípios da
responsabilidade pública, universalidade, igualdade, equidade, qualidade e da participação
cidadã.
A construção da rede socioassistencial é um processo de articulação estratégica de
sujeitos e cabe ao setor público a sua construção. O trabalho das entidades se integra,
instaurando a relação de sistema, resultado da complementariedade, da relação de
intercâmbio e de responsabilidades pelos resultados e pelos direitos dos usuários.

II - Lei 13.019/2014 no contexto do MROSC

Os debates sobre a elaboração da Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014, se deram no


contexto da agenda do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC),
coordenada pelo Governo Federal, atendendo também a demandas apresentadas por
diversas organizações, coletivos, redes e movimentos sociais, que reivindicavam a
valorização e reconhecimento de seu trabalho, bem como o aprimoramento da relação com
a Administração Pública.
A agenda política do MROSC é bem ampla e está estruturada em três eixos, quais
sejam: contratualização com o poder público (que tem como enfoque a implementação da
Lei nº 13.019, de 2014); sustentabilidade e certificação; e, por fim, conhecimento e gestão
de informações.
A Lei nº 13.019, de 2014, também conhecida como “Lei de Fomento e de
Colaboração”, institui normas gerais para as parcerias entre a Administração Pública –
direta e indireta da União, dos estados, dos municípios e do Distrito Federal – e as OSCs.
Foi criada, especialmente, frente à necessidade de o Estado Brasileiro aperfeiçoar o

36
ambiente jurídico e institucional relativo às suas parcerias com as organizações da
sociedade civil (OSCs), com base nos princípios da democracia participativa e o dever de
prestação de contas do Estado.
Embora tenha caráter geral, sua aplicação deve observar também as normas
específicas das políticas públicas setoriais, a exemplo da política de assistência social,
conforme prevê o art. 2º-A:

Art. 2o-A. As parcerias disciplinadas nesta Lei respeitarão, em todos os seus


aspectos, as normas específicas das políticas públicas setoriais relativas ao objeto
da parceria e as respectivas instâncias de pactuação e deliberação.
Assim, o modelo de parcerias proposto pela Lei nº 13.019, de 2014, não contraria as
normativas vigentes no âmbito do SUAS. Ao contrário, a nova lei inaugura um
relacionamento público-privado fundado em condições legalmente estabelecidas, pautadas
em objetivos coletivos, na construção participativa e no reconhecimento do papel das
organizações como parceiras complementares da atuação estatal.

LEMBRE-SE: A Lei nº 13.019/2014 entrou em vigor no dia 23 de janeiro de 2016 para a


União, Estados e DF e no dia 1º de janeiro de 2017 para os Municípios.

O decreto federal regulamentador

O Decreto federal nº 8.726, de 27 de abril de 2016, regulamentou a Lei nº


13.019/2014 no âmbito da administração pública federal. Cada ente da federação deve ter
sua própria regulamentação. Na ausência desta, o decreto federal pode ser aplicado
subsidiariamente pelos Estados, DF e Municípios.
Importante lembrar que, no SUAS, como a execução da política de assistência
social é descentralizada, geralmente as parcerias ocorrem no âmbito dos Estados, DF e
Município.

III - O encontro das duas agendas: parcerias no SUAS e MROSC

37
A Lei nº 13.019/2014 entrou em vigor no momento em que o SUAS já tem o seu
Cadastro Nacional de Entidades de Assistência Social (CNEAS) implementado e em fase
de aprimoramento. A inscrição, que é o ato de autorização de funcionamento das entidades
e organizações no âmbito da assistência social, prevista no art. 9º da LOAS, já está
parametrizada em âmbito nacional e, embora haja muito a avançar, tem aplicação
relativamente uniforme em todo o país. A certificação de entidade beneficente de
assistência social (CEBAS), requisito para a imunidade tributária de contribuições para a
Seguridade Social regulada pela Lei nº 12.101/2009, deixou de ser requisito para
contratualização com as entidades e organizações de assistência social e o vínculo SUAS
(art.6ºB) encontra-se em fase de regulamentação.
No âmbito do SUAS, a nova lei substitui o modelo de convênios existente até a
sua entrada em vigor, que se baseava na Lei nº 8.666/1993, e passa a disciplinar a forma
como os governos devem selecionar e financiar as ofertas das entidades que integram o
SUAS, conforme §2º do art. 6º da LOAS.
O novo marco regulatório traz maior segurança jurídica para as entidades e
organizações de assistência social, que passam a contar com uma única norma estruturante,
aplicável às suas relações de parceria com os diversos órgãos e entidades da administração
pública federal, distrital, estadual e municipal.
No âmbito da nova lei das parcerias entre a administração pública e OSCs, algumas
alterações são propostas para que as entidades ou organizações de assistência social
celebrem parcerias, como a necessidade de agir com mais planejamento; de comprovar
experiências prévias nas atividades que pretendem realizar, de possuir capacidade técnica
e operacional e comprovar sua regularidade jurídica e fiscal.
Ressalta-se que no âmbito da Lei nº 13.019, de 2014, as entidades e organizações da
sociedade civil adquirem um papel de maior protagonismo e participação na política de
assistência social, sobretudo com a possibilidade de utilização do instrumento termo de
fomento, pelo qual as entidades podem apresentar propostas para a celebração de parcerias
com o poder público, permitindo a inovação das ofertas desenvolvidas, bem como a adoção
de novas tecnologias sociais pela administração pública.
Nessa linha da inovação, a Lei traz o Procedimento de Manifestação de Interesse
Social (PMIS) que permite a cidadãos, movimentos sociais e organizações a apresentação

38
de propostas ao poder público, para que este avalie a possibilidade de realização de um
chamamento público objetivando a parceria. A proposta encaminhada à administração
pública deverá atentar para questões relevantes de interesse público, apresentar diagnóstico
da realidade a ser modificada e, se possível, informações sobre custos de execução e
viabilidade da proposta.
É importante ressaltar que a realização do PMIS não é pré-requisito para o Termo
de Fomento ou para o Termo de Colaboração, e não implica, necessariamente, na realização
de um chamamento público, nem na dispensa de um processo seletivo.
Outro importante ganho trazido com o texto da nova Lei é o fim do foco na
prestação de contas de meios, com um deslocamento do controle da execução financeira
para a centralidade da execução do objeto – controle pelos resultados.
Nessa perspectiva, quando da celebração da parceria é fundamental que o plano de
trabalho seja construído utilizando indicadores que demonstrem concretamente a
consecução das ações da política de assistência social e que assim possam ser mensurados
quando da prestação de contas.
Outra grande novidade é possibilidade da atuação em rede, por duas ou mais
organizações da sociedade civil devidamente constituídas e em regularidade jurídica e
fiscal, tanto na modalidade de fomento, como na de colaboração. Nos respectivos termos de
atuação em rede, é fundamental especificar as atribuições de cada uma, indicando a
responsável pelo projeto como um todo.
Como visto, trata-se de uma lei de caráter geral, para todas as parcerias do governo
com OSC de qualquer área de atuação. Além das regulamentações estaduais e municipais
que já estão ocorrendo, sua interpretação e aplicação no âmbito do SUAS deve considerar
os atos normativos específicos das parcerias com entidades de assistência social, que
também podem ser gerais (expedidos pelo ente federal), estaduais ou municipais. Um
desses atos normativos é a Resolução CNAS nº 21, de 24 de novembro de 2016.

Resolução do CNAS

A Resolução CNAS nº 21/2016 estabelece requisitos para celebração de parcerias,

39
conforme a Lei nº 13.019/2014, entre órgão gestor de assistência social e as entidades ou
organizações de assistência social no âmbito do SUAS. Ela foi fruto de inúmeros debates
ocorridos na Câmara Técnica da CIT constituída para essa finalidade, na própria CIT e no
CNAS e é decorrência do poder normativo do CNAS previsto no art. 18 da LOAS.
Em resumo, a Resolução do CNAS recepciona o novo marco regulatório no
contexto do SUAS, afirmando a possibilidade de sua aplicação em consonância com as
demais normas da política de assistência social, além de:
 legitimar os níveis de reconhecimento das entidades no SUAS,
estabelecendo a inscrição e o CNEAS como requisitos das parcerias;
 reiterar que o CEBAS não deve ser exigido como condição para a
formalização das parceria, mas que o edital deve estabelecer a forma de
priorizar19 as entidades que possuem CEBAS, observando o que consta no
§4º do art. 18 da Lei nº 12.101/2009;
 estabelecer o chamamento público como regra geral das parcerias no
SUAS, especialmente nos casos de ampliação da capacidade de oferta;
 estabelecer as hipóteses de dispensa do chamamento quando: o objeto do
plano de trabalho for a prestação dos serviços socioassistenciais
regulamentados; e a descontinuidade da oferta pela entidade apresentar
dano mais gravoso à integridade do usuário, desde que fundamentado em
parecer técnico.

IV - Principais questões do MROSC no contexto do SUAS

Chamamento público

O chamamento público é um processo de seleção no qual se privilegia a observância


de alguns dos princípios constitucionais como a impessoalidade, moralidade e publicidade e
assim, garante a transparência e a isonomia na seleção e no acesso aos recursos públicos.
De acordo com o art. 24 da Lei nº 13.019, de 2014, os entes governamentais, exceto nas

19
Essa priorização pode se dar, por exemplo, numa cláusula de desempate: uma entidade certificada teria
prioridade em relação a outra não certificada quando ambas obtiverem a mesma pontuação em relação a
critérios técnicos constantes no edital.

40
hipóteses previstas na Lei, são obrigados a abrir processo de chamamento público, e as
organizações devem apresentar propostas para execução do objeto da parceria, que serão
julgadas e selecionadas, pondo fim a uma das principais polêmicas referentes às parcerias, a
forma de seleção.
As exceções ao chamamento público constam nos art. 30 e 31, que reportam às
hipóteses de dispensa de chamamento, quando se configuram situações nas quais, embora
viável a competição entre os interessados, o legislador decidiu não torná-lo obrigatório e;
quando o chamamento público é considerado inexigível, o que se caracteriza pela
inviabilidade de competição entre as OSCs, em razão da natureza singular do objeto da
parceria ou se as metas somente puderem ser atingidas por uma entidade específica.

Territorialidade e abrangência do chamamento público

A Lei nº 13.019, de 2014, veda no §2º do art. 24 que o edital de chamamento


público contenha cláusulas que comprometam, restrinjam ou frustrem o caráter competitivo
do ato convocatório.
Contudo, a fim de atender as especificidades das políticas setoriais o inciso II do §2º
do mesmo art. 24 prevê a possibilidade do estabelecimento de cláusula que delimite o
território ou abrangência da prestação de atividades ou da execução de projetos.
Nessa perspectiva, o chamamento público nos termos da Lei pode ser nacional, mas
em relação às parcerias no SUAS é imprescindível considerar a territorialidade como um
critério relevante quando da elaboração do edital.
À luz das normativas do SUAS, o território é a base de organização das ações
ofertadas, e a territorialização é uma das diretrizes estruturantes da gestão do Sistema.
Esse lugar estratégico do território reflete o entendimento de que, para a garantia da
proteção social de assistência social, é necessário o conhecimento da realidade, a
compreensão das dinâmicas socioespaciais e demográficas, a leitura da presença e
incidência de situações de vulnerabilidades e riscos sociais, das vivências e das mediações
políticas, sociais, culturais, econômicas e relacionais presentes nos lugares.
Nesse sentido, considerando o melhor interesse do usuário das ofertas
socioassistenciais, nos casos em que essa relação justificar, podemos afirmar que a diretriz

41
da territorialização suplanta a garantia de competitividade. Assim, é facultada ao gestor da
assistência social a delimitação ou não do território no edital de chamamento público,
considerando o objetivo e as especificidades do que se pretende alcançar por meio da
parceria.

Aplicação da dispensa de chamamento público aos serviços socioassistenciais

Especificamente para a política de assistência social aplica-se a hipótese prevista no


inciso VI do art. 30 da Lei nº 13.019/2014: “no caso de atividades voltadas ou vinculadas a
serviços de educação, saúde e assistência social, desde que executadas por organizações da
sociedade civil, previamente credenciadas pelo órgão gestor da respectiva política”.
Como visto acima, a Resolução CNAS nº 21/2016, definiu que a dispensa do
chamamento público se aplicará às entidades ou organizações de assistência social que
estejam inscritas nos respectivos conselhos municipais de assistência social ou no conselho
de assistência social do Distrito Federal e cadastrada no Cadastro Nacional de Entidades de
Assistência Social – CNEAS, quando: o objeto do plano de trabalho for a prestação de
serviços socioassistenciais regulamentados e o dano a ser gerado ao usuário devido ao
rompimento do vínculo for maior que a vantagem da realização de outro chamamento
público.
Importante, ainda, destacar que a fundamentação do dano ao usuário deverá ser
exarada por parecer de profissional de nível superior das categorias reconhecidas na
Resolução nº 17, de 20 de junho de 2011, do CNAS.
Quanto à questão do dano gerado ao usuário, a natureza de alguns serviços
socioassistenciais, especialmente os de alta complexidade - sobretudo em instituições de
longa permanência - pode configurar hipótese de dispensa do chamamento público, com a
justificativa de evitar que a eventual de transferência dos usuários, em função de uma
parceria com entidade distinta da que lhes presta o serviço, contribua para um novo
rompimento de vínculos, ensejando, assim, fator de risco à sua integridade física e
emocional.
O serviço de acolhimento, em qualquer modalidade de oferta, pressupõe a
construção de vínculo de afeto e confiança entre os usuários e a equipe técnica,

42
educadores/cuidadores e demais profissionais. A execução desse serviço deve se dar em
unidade de referência inserida na comunidade com características residenciais, ambiente
acolhedor e estrutura física adequada, visando o desenvolvimento de relações mais
próximas do ambiente familiar.
Assim, para a efetivação das parcerias, o gestor local deverá avaliar, além das
condições técnicas e de infraestrutura das entidades, se a possibilidade de rompimento do
vínculo com os demais usuários, a equipe e com o ambiente já familiar pode acarretar
danos à integridade física e emocional dos usuários.
Ademais, cabe esclarecer que nos casos de ampliação da capacidade de oferta do
órgão gestor a realização do chamamento público é regra, não cabendo, assim, a realização
da dispensa de chamamento público mesmo para aquelas entidades ou organizações de
assistência social que possuam parcerias em vigor.

Emendas parlamentares

Nos casos das emendas parlamentares, é importante verificar a regra do art. 29 da


Lei nº 13.019/2014:
Art. 29. Os termos de colaboração ou de fomento que envolvam recursos
decorrentes de emendas parlamentares às leis orçamentárias anuais e os acordos
de cooperação serão celebrados sem chamamento público, exceto, em relação aos
acordos de cooperação, quando o objeto envolver a celebração de comodato,
doação de bens ou outra forma de compartilhamento de recurso patrimonial,
hipótese em que o respectivo chamamento público observará o disposto nesta Lei.

Subvenções

A nova lei se aplica aos casos de subvenções previstas no inciso I do § 3º do art. 12


da Lei nº 4.320, de 1964, exceto em relação ao chamamento público, que será inexigível,
conforme hipótese do inciso II do art. 31 da Lei nº 13.019, de 2014.
Deverá haver rubrica geral na Lei Orçamentária Anual do estado, município ou
Distrito Federal referente à subvenção social e também a edição de lei específica que
estabelecerá a valor e a entidade beneficiada.

43
Regras de utilização de recursos nas parcerias

Pagamento de pessoal das entidades

A Lei nº 13.019, de 2014, trouxe expressamente em seu art. 46, colacionado abaixo,
a possibilidade de utilização dos recursos da parceria, entre outras despesas, para: a
remuneração da equipe encarregada da execução do plano de trabalho, inclusive de pessoal
próprio da organização, durante a vigência da parceria, incluídas as despesas com encargos
sociais e trabalhistas.
Art. 46. Poderão ser pagas, entre outras despesas, com recursos vinculados à
parceria:
I - remuneração da equipe encarregada da execução do plano de trabalho,
inclusive de pessoal próprio da organização da sociedade civil, durante a vigência
da parceria, compreendendo as despesas com pagamentos de impostos,
contribuições sociais, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, férias,
décimo terceiro salário, salários proporcionais, verbas rescisórias e demais
encargos sociais e trabalhistas; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
Ressalta-se que apesar de ser possível o pagamento da remuneração dos recursos
humanos e seus encargos, a equipe contratada pela entidade não tem vínculo trabalhista
com o poder público, conforme o disposto no § 3º do art. 46 da Lei nº 13.019, de 2014:
“§3º O pagamento de remuneração da equipe contratada pela organização da sociedade
civil com recursos da parceria não gera vínculo trabalhista com o poder público”.
É importante esclarecer acerca do pagamento das verbas rescisórias que poderão ser
pagas ainda que após o termino da parceria, desde que proporcional ao tempo em que o
profissional atuou na execução do objeto.

Reprogramação de recursos do cofinanciamento federal

O cofinanciamento federal dos serviços, programas e projetos socioassistenciais é


realizado na modalidade fundo a fundo, possibilitando ao gestor a reprogramação dos

44
saldos no final do exercício, conforme o disposto nos art. 30 e 31 da Portaria MDS nº 113,
de 2015.
Nos casos de Termos de Fomento ou de Colaboração firmados em âmbito local, o
recurso transferido para a entidade poderá ser utilizado até a data final de vigência do
respectivo instrumento. Após o final da vigência, a parcela relativa ao recurso federal e a
respectiva aplicação financeira não utilizadas deverão ser devolvidas à conta vinculada de
origem do recurso.
Ressalva-se que poderá ocorrer, em casos excepcionais, pagamento em data
posterior à vigência do instrumento, devidamente justificado, se expressamente autorizada
pelo gestor da parceria e desde que o fato gerador da despesa tenha ocorrido durante a
vigência do instrumento pactuado.

Custos indiretos

A Lei define custo indireto no âmbito de uma parceria. São exemplos as despesas
com internet, transporte, aluguel e telefone, bem como a remuneração de serviços contábeis
e de assessoria jurídica necessários para que a OSC cumpra a legislação de transparência e
prestação de contas do uso do recurso público. Tais custos devem estar previstos Plano de
Trabalho.

Regra aplicável às parcerias com recursos federais, estaduais e municipais

Quando a parceria envolver recursos federais, estaduais e municipais, a regra


aplicável a ela depende de dois aspectos. O primeiro refere-se à finalidade do recurso e o
segundo as regras procedimentais relativas às etapas de celebração, execução e prestação
de contas.
Com relação à finalidade, o gestor local e a entidade deverão respeitar as regras de
utilização de acordo com a fonte do recurso e com a sua origem. Sendo assim, a despesa a
ser realizada com recurso da União, fonte União, deverá ter como base as normas federais.
Analogamente, por exemplo, as despesas com recursos estaduais, fonte estadual, deverão
seguir as normas estaduais.
No que tange ao segundo ponto, o gestor local deverá observar os ditames da Lei nº

45
13.019, de 2014, as normas gerais do SUAS e os normativos municipais, como o Decreto
de regulamentação da Lei.
Em resumo, com relação aos procedimentos, a norma local terá de ser observada na
formalização da parceria com a entidade.

Possibilidade de aquisição de equipamentos e materiais permanentes ou realização de


reformas e obras em parcerias com cofinanciamento federal

Em parcerias que envolvam a execução dos recursos do cofinanciamento federal dos


serviços, programas e projetos socioassistenciais deve-se observar a natureza da despesa,
pois estes são destinados atualmente ao custeio das ações, não podendo ser realizadas
despesas de capital, tais como:
o Aquisição de bens e materiais permanentes; 

o Construção ou ampliação de imóveis; 

o Reformas que modifiquem a estrutura da edificação; e 

o Em obras públicas ou na constituição de capital público ou privado. 

A Portaria n° 448 de 13/09/2002 da Secretaria do Tesouro Nacional define a
natureza das despesas e especifica o que é considerado material de consumo e material
permanente.

Art. 2°..........................................................................................
I - Material de Consumo, aquele que, em razão de seu uso corrente e da
definição da Lei 4.320/64, perde normalmente sua identidade física e/ou tem sua
utilização limitada a dois anos. 

II - Material Permanente, aquele que, em razão de seu uso corrente, não
perde a sua identidade física, e/ou tem uma durabilidade superior a dois anos. 

De outra forma, destaca-se que é possível a realização de obras de conservação,
adaptação de bens imóveis e reparos, considerando que tais despesas são classificadas
como de custeio. 


Lei nº 4.320/64 

Art. 12. A despesa será classificada nas seguintes categorias econômicas:

46

(...) 

§ 1o Classificam-se como Despesas de Custeio as dotações para
manutenção de serviços anteriormente criados, inclusive as destinadas a atender a
obras de conservação e adaptação de bens imóveis.

Portaria STN nº 448/2002 -
MANUTENÇÃO E CONSERVAÇÃO DE BENS


IMÓVEIS: Registra o valor das despesas com serviços de reparos, consertos, revisões e
adaptações de bens imóveis, pintura, reparos e reformas de imóveis em geral, reparos em
instalações elétricas e hidráulicas, reparos, recuperações e adaptações de biombos, carpetes,
divisórias e lambris, manutenção de elevadores, limpeza de fossa e afins. 


Impossibilidade de uso do recurso do cofinanciamento federal para o fomento às entidades


de assistência social

A natureza do termo de fomento tem como objetivo incentivar o desenvolvimento


de novos projetos que no âmbito do SUAS tem a função de qualificação e
complementariedade em relação às ofertas já parametrizadas/tipificadas.
Nessa perspectiva, é importante lembrar dos preceitos da Portaria MDS nº 113, de
10 de dezembro de 2015, ao tratar da execução financeira dos recursos do cofinanciamento
federal, que estabelece, no caso dos Blocos de Financiamento (Proteção Social Básica,
Proteção Social Especial de Média Complexidade e da Proteção Social Especial de Alta
Complexidade), ser necessário guardar compatibilidade com a Tipificação Nacional dos
Serviços Assistenciais, com o respectivo Plano de Assistência Social e demais normativos.
No caso dos Programas e Projetos é necessário ser compatível com os respectivos
Plano de Assistência Social, Plano de Ação, e demais normativos.
Assim, os recursos referentes a cada Bloco de Financiamento, Programa e Projeto
devem ser aplicados exclusivamente nas ações e finalidades definidas para estes e, portanto
não sendo compatível com a celebração de parcerias por meio dos termos de fomento.

Prestação de Contas

A Lei nº 13.019/2014 traz uma nova lógica para a prestação de contas das parcerias,

47
com base na avaliação de resultados. O foco da prestação de contas e de sua análise é a
execução do objeto, considerando a verdade real e os resultados alcançados (art. 64, §3º).

Prestação de contas em parcerias com recurso do cofinanciamento federal

Essa nova lógica deve ser compatibilizada com os normativos vigentes no SUAS,
especialmente quando a parceria envolver recursos de cofinanciamento federal.
No caso da execução de serviços, programas ou projetos socioassistenciais por meio
da colaboração com entidades e organizações de assistência social, o gestor estadual ou
municipal fica responsável por verificar a boa e regular utilização do recurso por parte da
instituição.
Neste aspecto, caso sejam apuradas impropriedades ou irregularidades na execução
dos recursos provenientes do erário federal por parte da entidade, o gestor local será instado
a encaminhar informações, documentos ou realizar devolução de recursos à União,
conforme a situação, de acordo com o disposto no art. 25 da Portaria MDS nº 113/2015:
Art. 25 Compete aos Estados, Municípios e o Distrito Federal zelar pela boa e
regular utilização dos recursos transferidos pela União executados direta ou indiretamente
por estes.
Parágrafo único. Os entes serão responsáveis pela boa e regular utilização do recurso,
devendo, sempre quando solicitados, encaminhar informações, documentos ou realizar
devolução de recursos à União, nos casos de comprovada irregularidade na execução dos
serviços, programas e projetos, inclusive por meio das entidades e organizações de
assistência social, ou de irregularidade na apuração dos índices de gestão, conforme o
caso.
Se a identificação da irregularidade ou impropriedade partir de uma notificação, por
exemplo, do FNAS, o gestor local deverá encaminhar justificativas combinadas com
documentação comprobatória ou a devolução do recurso para a União, não impedindo as
demais ações a posteriori junto à entidade.
É importante destacar que toda documentação relativa à execução física e financeira
da parceria deverá estar à disposição tanto do órgão gestor da parceria, bem como dos
órgãos de controle interno e externo federais, conforme disposto no inciso XV do art. 42 e

48
do art. 68 da Lei nº 13.019, de 2014.

Procedimento simplificado

É possível ter procedimento simplificado de prestação de contas para as parcerias no


âmbito do SUAS regulado por decreto estadual ou municipal. A Lei nº 13.019, de 2014,
prevê que o regulamento poderá criar mecanismo de procedimento simplificado de
prestação de contas conforme definido no §3º do art. 63:
Art. 63 A prestação de contas deverá ser feita observando-se as regras previstas
nesta Lei, além de prazos e normas de elaboração constantes do instrumento de parceria e
do plano de trabalho.
[...]
§ 3º O regulamento estabelecerá procedimentos simplificados para prestação de
contas. (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
Vale lembrar que, mesmo com o procedimento simplificado, a entidade deverá
manter todos os documentos comprobatórios das despesas e da execução física e financeira
da parceria, observado as normas específicas. Por consequência, o gestor da parceria deverá
ter acesso à documentação e terá a responsabilidade perante o FNAS, de realizar a
prestação de contas do cofinanciamento federal.
Acrescente-se que a definição de procedimento simplificado deve observar o
disposto no art. 2º, XIV da Lei, de acordo com o qual, a análise e manifestação conclusiva
das contas são responsabilidades da administração pública, sem prejuízo da atuação dos
órgãos de controle.

Garantia da publicidade das parcerias com respeito à dignidade dos usuários

O art. 11 da Lei nº 13.019, de 2014, prevê que “a organização da sociedade civil


deverá divulgar na internet e em locais visíveis de suas sedes sociais e dos estabelecimentos
em que exerça suas ações todas as parcerias celebradas com a administração pública”.
Isso significa que a celebração das parcerias deve ser visibilizada. No entanto, deve-se
assegurar que a privacidade da oferta dos serviços e integridade dos usuários sejam

49
preservadas, de forma a não os estigmatizar.
Recomenda-se que os serviços de acolhimento de alta complexidade, por serem
ofertados em unidades com características residenciais, não possuam identificação externa,
de forma a evitar a estigmatização e garantir privacidade e dignidade aos usuários.
A exceção a essa recomendação se dá nos casos de serviço de acolhimento para pessoas
idosas, que deverão ter identificação externa visível, conforme disposto no art. 37, § 2º da
Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso).
Assim, para realizar a publicidade das parcerias celebradas com a administração
pública para a prestação de serviço de acolhimento é recomendado que as informações
sejam divulgadas nas áreas internas da entidade, em locais de fácil visibilidade.

Regras de Transição

A Lei nº 13.019, de 2014, apesar de publicada em 1º de agosto de 2014, entrou em


vigor para a União e os estados em janeiro de 2016, após transcorridos 540 dias de sua
publicação, e para os municípios vigora desde 1º de janeiro de 2017.
Como regra geral a Lei no art. 83 disciplina que as parcerias já existentes no
momento da entrada em vigor permanecerão regidas pela legislação vigente ao tempo de
sua celebração, sem prejuízo de aplicação subsidiária, desde que em benefício do alcance
do objetivo da parceria.
Ademais, prevê a prorrogação de ofício no caso de atraso na liberação do recurso
por parte da administração pública, por período equivalente ou superior ao atraso, e
também no prazo de um ano da entrada em vigor da Lei (23/01/2017, para estados, União e
Distrito Federal, e 01/01/2018, para os municípios) e a possibilidade de substituição dos
instrumentos para termos de fomento ou colaboração ou a rescisão unilateral pela
Administração Pública para as parcerias firmadas:
a) por prazo indeterminado, antes da entrada em vigor da Lei nº 13.019/2014; e
b) prorrogáveis por período superior ao inicialmente estabelecido.
Um exemplo dessa segunda hipótese (item b) seriam as parcerias que tenham prazo
de vigência inicial de 2 anos e já houve prorrogação por prazo maior do que 2 anos, estando
a parceria vigente há mais de 4 anos.

50
Observa-se que o Decreto Federal nº 8726/2016, embora se aplique apenas à União,
complementou as regras de transição da Lei, podendo ser aplicado subsidiariamente quando
Estados, Distrito Federal ou Municípios não possuírem regulamento próprio. De acordo
com o art. 91:
- as parcerias que tiverem substituído os instrumentos para termo de cooperação ou
de fomento terão a prestação de contas disciplinadas pela Lei nº 13.019/2014 e pelo
regulamento;
- a Administração Pública poderá firmar termo aditivo de parceria vigente, a ser
regido pela legislação em vigor ao tempo de sua celebração, desde que limitada a vigência
até 23 de janeiro de 2017, ou seja, data correspondente a um ano após a entrada em vigor da
Lei para União, estados e Distrito Federal;
- poderá haver aplicação da regra de prestação de contas aos convênios e
instrumentos congêneres vigentes na data da entrada em vigor da Lei nº 13.019/2014 que
estejam em fase de execução de seu objeto ou de análise de prestação de contas.

V - Papel dos principais atores na agenda MROSC-SUAS:

FASES Órgão Gestor Entidades CMAS

Planejamento e Gestão Especificar no Dimensionar Fiscalizar e


Administrativa Plano de objetivos e acompanhar a
Assistência Social a indicadores no Plano conformidade com o
demanda de de Trabalho. Plano de AS.
celebrar parcerias.

Seleção e Celebração Elaboração do Participação da Acompanhar e exigir


Edital de seleção. a transparência da
Chamamento seleção.
Público.
Execução Exigir a prestação Publicizar todas as Fiscalizar o
da oferta nos parcerias na internet. cumprimento das
termos do Plano metas do Plano
Trabalho. Trabalho.

Monitoramento e Realizar visitas aos Estabelecer metas Acompanhar e


Avaliação locais onde se claras no Plano de fiscalizar a execução
desenvolvam as Trabalho para fins de das parcerias.
atividades. monitoramento.
Prestação de Contas Plataforma Relatório de -
eletrônica execução do objeto

51
Gestores da política de assistência social (União, Estados, Distrito Federal e Municípios)

O plano de ação para implementação da Lei deverá abranger medidas de curto,


médio e longo prazo. A curto prazo os gestores de assistência social deverão realizar o
levantamento dos convênios com entidades ou organizações de assistência social ainda
vigentes; avaliar a necessidade de prorrogação de cada parceria, conforme as regras de
transição; realizar capacitação de multiplicadores acerca do MROSC para agentes públicos
e integrantes de OSCs, responsáveis pela seleção, celebração, acompanhamento e prestação
de contas das parcerias.
No médio prazo, é necessário regulamentar, em âmbito local, a Lei nº 13.019, de
2014. Na sequência, é importante desencadear ações de: adaptação de demais normativos
ou manuais existentes para a assistência social; elaboração de modelos dos instrumentos
jurídicos de acordo com a nova legislação - editais de chamamento e termos de colaboração
e fomento; elaboração de orientações objetivas e simplificadas; instituição e designação das
comissões permanentes: seleção e monitoramento e avaliação.

Modelos
Ainda não há modelos de documentos específicos para a assistência social, como editais,
justificativas de dispensa de chamamento, termos de parceria, forma de prestação de contas,
entre outros. Mas já há alguns modelos gerais ou de outras políticas que podem servir de
ponto de partida e ser adaptados considerando as especificidades da assistência social. Os
links estão no final desta cartilha.

Na perspectiva a longo prazo, os gestores devem promover a adaptação ou


desenvolvimento dos sistemas de gerenciamento e transparência das parcerias a fim de
atender o preceito do art. 65 da Lei “A prestação de contas e todos os atos que dela
decorram dar-se-ão em plataforma eletrônica, permitindo a visualização por qualquer
interessado”.
Contudo, quanto a este último aspecto, se faz necessário destacar o inciso II do art.
81-A que excepcionaliza a utilização de plataforma eletrônica para os Municípios de até
cem mil habitantes.

52
O Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse (SICONV) é a iniciativa do
governo federal responsável por todo o ciclo de vida dos convênios, contratos de repasse e
termos de parceria, no qual são registrados os atos, desde a formalização da proposta até a
prestação de contas final. Ele está sendo adaptado para poder ser utilizado pelos Estados até
o final de 2017 e, oportunamente, para os Municípios.

Além disso, a nova lei torna essencial o aperfeiçoamento dos mecanismos já


previstos no SUAS de: diagnóstico dos territórios e estimativas de demanda; planejamento
das ofertas; definição de indicadores para o monitoramento dos planos de assistência social;
estudos de custos dos serviços; reordenamento dos serviços conforme tipificação;
adequação e qualificação das equipes conforme a NOB-RH/SUAS e resoluções do CNAS.

Conselhos de Assistência Social

O papel dos conselhos de assistência social deve ser compreendido à luz da LOAS,
combinada com a Lei nº 13.019, de 2014. Considerando sua composição paritária entre
governo e sociedade civil - que inclui trabalhadores, entidades e usuários da política de
assistência social – os conselhos são espaços de participação e construção democrática que
deverão sediar os principais debates sobre a interpretação e aplicação do novo marco
regulatório das parcerias no SUAS.
A Lei nº 13.019, de 2014, inova ao trazer no parágrafo único do art. 16 a
possibilidade de os conselhos de políticas públicas apresentarem propostas à administração
pública para celebração de termo de colaboração com organizações da sociedade civil.
Importante esclarecer que as propostas apresentadas pelos conselhos não vinculam a
administração pública, contudo fortalecem o controle social quando no exercício da
competência de acompanhamento da execução da política de assistência social. Nesse
sentido, os conselhos poderão provocar a Administração Pública apresentando propostas de
atividades que avaliam ser relevantes para serem exercidas e executadas em regime de
colaboração com as OSCs.
Na sequência, o MROSC reafirma, em seu art. 60, o papel de fiscalização e
acompanhamento dos conselhos de políticas públicas que se conforma com as definições da

53
LOAS para os conselhos de assistência social.
Além disso, conforme já tratado acima e com base no art. 2º-A e no art. 30, VI do
novo marco regulatório, o CNAS deliberou os requisitos para serem observados pelas
entidades ou organizações de assistência social quando da celebração das parcerias no
SUAS, por meio da Resolução nº 21/2016.
Nesse contexto, caberá aos conselhos de assistência social, sem prejuízo das demais
atribuições:
 Realizar inscrição das entidades e organizações de assistência social, bem como dos
serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais por elas prestados,
autorizando-as a funcionar no âmbito da Política Nacional de Assistência Social e,
portanto, a formalizar parcerias com a Administração Pública nessa área;
 Acompanhar e fiscalizar:
- as entidades ou organizações de assistência social e o conjunto de ofertas
inscritas, de forma planejada, por meio de visitas, elaboração de pareceres,
deliberação coletiva, publicização de decisões, promoção de audiências públicas,
dentre outras ações; 

- a conformidade da parceria entre a entidade ou organização de assistência
social e a Administração Pública com as normativas do SUAS.
Por fim, é importante esclarecer que os conselhos de assistência social,
diferentemente de conselhos gestores de fundos específicos, não provocam ou participam
do procedimento do chamamento público que se constitui atribuição do órgão gestor da
assistência social.

LEMBRE-SE: Previsto no art. 15 da Lei nº 13.019, de 2014, e criado pelo art. 83 do


Decreto nº 8.726, de 2016, o Conselho Nacional de Fomento e Colaboração-Confoco
tem o potencial de se tornar o lócus institucional da agenda deste novo marco regulatório,
para que sejam formuladas e divulgadas boas práticas da relação entre a administração
pública e as OSCs, de maneira a gerar conhecimento e fortalecer o diálogo entre os atores
envolvidos. 
De natureza consultiva e composição paritária entre órgãos da administração
pública, dentre os quais o MDSA, representantes de OSCs, redes e movimentos sociais, o

54
Confoco é integrante da estrutura do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e
Gestão. Dentre suas competências, destacam-se o monitoramento, avaliação da
implementação, e a proposição de diretrizes e ações para a efetivação da Lei nº 13.019, de
2014. 
Cabe destacar que a lei ainda prevê a criação de instâncias participativas, como o
conselho de fomento e colaboração, em níveis estadual, distrital e municipal. E que estas
instâncias não se sobrepõem aos conselhos setoriais de políticas públicas, a exemplo dos
conselhos de assistência social, devendo o Confoco realizar consulta a estes conselhos
quanto às políticas e ações voltadas ao fortalecimento das relações de fomento e de
colaboração propostas. 
Por fim, vale frisar a natureza transversal dos conselhos de
fomento e colaboração que tem objetivo de apoiar políticas e ações voltadas ao
fortalecimento das relações de fomento e de colaboração que perpassam as diversas
políticas setoriais que realizam parcerias com as OSCs.

Entidades e organizações de assistência social

O novo marco regulatório traz maior segurança jurídica para as entidades e


organizações de assistência social: agora há uma única norma estruturante, aplicável às suas
relações de parceria com os diversos órgãos e entidades da administração pública federal,
distrital, estadual ou municipal.
A nova lei exigirá que as entidades aperfeiçoem seu planejamento, sendo capazes de
conhecer bem os recursos humanos, técnicos ou físicos necessários para a realização das
suas atividades ou projetos.
Também há previsão de tempo mínimo de existência (no mínimo dois anos nas
parcerias com estados ou DF e um ano com municípios), experiência prévia e capacidade
técnica e operacional da organização para a celebração de parceria, além da regularidade
jurídica e fiscal. A forma de atuação em rede é reconhecida como legítima e importante.
Importante lembrar, ainda, que algumas entidades deverão adaptar seus estatutos,
conforme art. 2º, I, 33 e 36 da Lei 13.019/2014; art. 44 e seguintes e 1.093 e seguintes do
Código Civil; e Lei 9.867/1999.

55
Cidadão usuário da política de assistência social

O cidadão usuário da política de assistência social deve ser o grande beneficiário da


aplicação da Lei nº 13.019/2014 no SUAS. Espera-se que o novo marco regulatório
potencialize os arranjos participativos e democráticos do SUAS, em contraposição à lógica
da benesse e do favor que vigorava antes da constitucionalização do direito à assistência
social.
Cabe ao cidadão participar, sempre que possível, dos diversos espaços de
manifestação, reivindicando seus direitos, zelando pela finalidade pública das parcerias e
pela qualidade ofertas socioassistenciais.

VI - Guia de links e materiais sobre a Lei nº 13.019/2014

1) Apresentação geral sobre o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade


Civil- Lei 13.019/2014 e Decreto 8.726/2016.
Disponível em:
<http://www.participa.br/articles/public/0047/1190/20160627_MROSC_Apresentac_a_o_P
adrao_geral__sem_logo_.pdf>.

2) Publicação: Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil: a construção


da agenda no governo federal – 2011 a 2014. Disponível em:
<http://www.participa.br/articles/public/0016/8824/04.12.15_MROSC_ArquivoCompleto_
Capa_Miolo.pdf >.
A publicação Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil: a construção da
agenda no governo federal – 2011 a 2014 trata do processo de construção da agenda
voltada para o aperfeiçoamento do ambiente jurídico e institucional relacionado às
organizações da sociedade civil (OSCs) e suas relações de parceria com o Estado. Entre as
conquistas, destaca-se a edição da Lei de Fomento e de Colaboração (Lei 13.019/2014). Ao
longo dos capítulos, são abordados o universo das organizações da sociedade civil no

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Brasil; os desafios para a sustentabilidade das OSCs; e as principais pesquisas publicadas
no último ciclo.

3) Publicação: Entenda o MROSC – Marco Regulatório das Organizações da


Sociedade Civil: Lei 13.019/2014. Disponível em:
<http://www.participa.br/articles/public/0039/9448/LIVRETO_MROSC_WEB.pdf >.
O manual de operacionalização da Lei 13.019/2015 “Entenda o MROSC – Marco
Regulatório das Organizações da Sociedade Civil: Lei 13.019/2014”, contempla os
procedimentos a serem observados nas fases das parcerias entre a administração pública e
as organizações da sociedade civil, para orientar os gestores públicos e as OSCs.

4) Manual ilustrado: Entenda o MROSC- Marco Regulatório das Organizações da


Sociedade Civil Ilustrado: Do Planejamento à Prestação de Contas - Lei 13.019/2014 e
Decreto 8.726/2016. Disponível em:
<http://www.participa.br/articles/public/0045/6207/Endenda_o_MROSC_ilustrado__2_.pdf
>.
Manual ilustrado contendo as regras da Lei 13.019/2015 e do Decreto 8.726/2016:
"Entenda o MROSC- Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil Ilustrado:
Do Planejamento à Prestação de Contas - Lei 13.019/2014 e Decreto 8.726/2016”, ilustra as
fases da implementação e execução da Lei 13.019/2014 e de seu Decreto Regulamentar, de
No 8.726/2016.

5) Aplicação do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil –MROSC no


âmbito do Sistema Único de Assistência Social. Perguntas e respostas.
Disponível em:
< http://blog.mds.gov.br/redesuas/wp-content/uploads/2017/01/FAQ_MROSC.pdf>.

6) Estudo de caso: A parceria necessária entre o Estado e as Organizações da Sociedade


Civil para garantir aos idosos o direito a uma vida digna - Estado e Sociedade, Gestão de
Parcerias, Políticas Públicas Escola Nacional de Administração Pública/Casoteca de
Gestão Pública (Enap/Casoteca), 2016 Disponível em:

57
http://www.participa.br/articles/public/0024/0900/Estudo_de_caso_estado_osc_Enap_Caso
teca_2016.pdf

7) Editais padrão: edital de fomento e edital de colaboração.


A Comissão de Convênios e Instrumentos Congêneres da Advocacia Geral da União
elaborou modelos de documentos a serem utilizados na implementação da Lei 13.019 de
2014.
http://www.participa.br/osc/paginas/modelos-de-documentos-para-implementacao-da-lei-
13.0192014

Legislação
BRASIL. Lei Federal nº 13.019, de 2014. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13019.htm

BRASIL. Decreto Federal nº 8.726, de 2016. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Decreto/D8726.htm

BRASIL. Lei Federal nº 13.204, de 2015. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13204.htm

BRASIL. Lei Federal nº 13.146, de 2015. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm

BRASIL. Lei Federal nº 12.527, de 2011. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm

BRASIL. Lei Federal nº 12.101, de 2009. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12101.htm

BRASIL. Lei Federal nº 9.532, de 1997. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9532.htm

58
BRASIL. Lei Federal nº 9.790, de 1999. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9790.htm

BRASIL. Lei Federal nº 8.742, de 1993. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8742compilado.htm

BRASIL. Resolução nº 21, de 24 de novembro de 2016, do Conselho Nacional de


Assistência Social. Disponível em:
www.mds.gov.br/cnas/legislacao/resolucoes/arquivos-2016/cnas-2016-021-24-11-
2016.pdf/download

Sites

Comunidade OSC no Participa.br


www.participa.br/osc

Blog da Rede SUAS


http://blog.mds.gov.br/redesuas/

Mapa das OSCs


www.mapaosc.ipea.gov.br

Rede Siconv
http://portal.convenios.gov.br/redesiconv

Canais de contato
Mroscnosuas@mds.gov.br
redeprivada@mds.gov.br

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