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Brasília, 2017
EXPEDIENTE
CRÉDITOS
Coordenação
Elaboração e Revisão
Colaboração Técnica
2
Sumário
Sumário
Apresentação ................................................................................................................ 5
I - O SUAS e as entidades e organizações de assistência social: modelo regulatório ........ 6
SUAS ................................................................................................................................... 6
Objetivos ............................................................................................................................. 6
Princípios ............................................................................................................................ 7
Diretrizes ............................................................................................................................. 7
O público da Política de Assistência Social .......................................................................... 8
Serviços e benefícios ............................................................................................................ 8
Programas e projetos......................................................................................................... 12
Entidades e organizações de assistência social: atendimento, assessoramento e defesa e
garantia de direitos............................................................................................................ 14
Termo de Colaboração x Termo de Fomento..................................................................... 21
Criação e gestão administrativa das entidades e organizações de assistência social ........... 22
Quem são e o que fazem as entidades e organizações de assistência social ......................... 24
O que é o CNEAS? ............................................................................................................ 33
A regulação da relação público-privado e níveis de reconhecimento das entidades de
assistência social no SUAS ................................................................................................. 35
II - Lei 13.019/2014 no contexto do MROSC ................................................................. 36
O decreto federal regulamentador ..................................................................................... 37
III - O encontro das duas agendas: parcerias no SUAS e MROSC.................................... 37
Resolução do CNAS........................................................................................................... 39
IV - Principais questões do MROSC no contexto do SUAS ............................................. 40
Chamamento público ........................................................................................................ 40
Territorialidade e abrangência do chamamento público ........................................................... 41
Aplicação da dispensa de chamamento público aos serviços socioassistenciais ...................... 42
Regras de utilização de recursos nas parcerias .................................................................. 44
Pagamento de pessoal das entidades ........................................................................................ 44
Reprogramação de recursos do cofinanciamento federal ......................................................... 44
Custos indiretos ........................................................................................................................ 45
Regra aplicável às parcerias com recursos federais, estaduais e municipais ............................ 45
Possibilidade de aquisição de equipamentos e materiais permanentes ou realização de
reformas e obras em parcerias com cofinanciamento federal ................................................... 46
Impossibilidade de uso do recurso do cofinanciamento federal para o fomento às entidades de
assistência social ....................................................................................................................... 47
Prestação de Contas .......................................................................................................... 47
Prestação de contas em parcerias com recurso do cofinanciamento federal ............................ 48
Procedimento simplificado ....................................................................................................... 49
Garantia da publicidade das parcerias com respeito à dignidade dos usuários .................. 49
Regras de Transição .......................................................................................................... 50
3
V - Papel dos principais atores na agenda MROSC-SUAS: .............................................. 51
Gestores da política de assistência social (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) . 52
Conselhos de Assistência Social ......................................................................................... 53
Entidades e organizações de assistência social ................................................................... 55
Cidadão usuário da política de assistência social ............................................................... 56
VI - Guia de links e materiais sobre a Lei nº 13.019/2014 .............................................. 56
4
Apresentação
Essa cartilha foi produzida com o objetivo de servir de material instrucional para o
curso “Gestão de Parcerias com Organizações da Sociedade Civil com enfoque no Sistema
Único da Assistência Social - SUAS”, realizado pela Escola Nacional de Administração
Pública em parceria com a Secretaria Nacional de Assistência Social do Ministério do
Desenvolvimento Social e Agrário.
Ela é a primeira tentativa de interpretação da Lei nº 13.019/2014 - que dispõe sobre
as parcerias entre governo e organizações da sociedade civil - no contexto da política de
assistência social. Seu objetivo é orientar os diversos atores envolvidos com a interpretação
e aplicação da lei, no âmbito do SUAS.
Como é sabido, o SUAS tem uma grande parte de seus serviços ofertados por
entidades e organizações de assistência social1. A entrada em vigor da nova lei de parcerias
tem enorme impacto na continuidade e na qualidade desses serviços. Além disso, há várias
entidades que atuam no assessoramento ao público da política de assistência social, bem
como na defesa de seus direitos, que podem se tornar parceiras do governo na qualificação
do SUAS.
1
A Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS (Lei nº 8.742/1993) e o SUAS tratam os termos “entidades” e
“organizações” como sinônimos, embora seja mais comum se utilizar o termo “entidades” nos documentos
sobre o SUAS.
5
I - O SUAS e as entidades e organizações de assistência social: modelo regulatório
SUAS
Objetivos
2
Resolução CNAS nº 145, de 15/10/2004.
3
Resoluções CNAS nº 130, de 15/07/2005, e nº 33/2012, de 12/12/2012.
4
Resolução CNAS nº 269, de 13/12/2006.
6
ao mercado de trabalho5; d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária6; e e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo
de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios
de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. Também tem por
objetivos a vigilância socioassistencial, que visa analisar territorialmente a capacidade
protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações
e danos; e a defesa de direitos, que visa garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto
das provisões socioassistenciais. Além disso, no seu objetivo de enfrentamento da pobreza,
a assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, garantindo mínimos
sociais e provimento de condições para atender contingências sociais e promovendo a
universalização dos direitos sociais.
Princípios
Diretrizes
5
Sobre a aplicação deste objetivo, ver a Resolução CNAS nº 33/2009.
6
Sobre a aplicação deste objetivo, ver a Resolução CNAS nº 34/2009.
7
de governo; participação da população, por meio de organizações representativas, na
formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis; e primazia da
responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera
de governo.
Serviços e benefícios
8
Os objetivos da assistência social previstos na LOAS são também tratados como
funções da política nacional de assistência social, conforme a PNAS e a NOB/SUAS. Os
serviços de assistência social operam integralmente as funções de proteção social, de defesa
de direitos e de vigilância socioassistencial.
De acordo com a LOAS, entendem-se por serviços socioassistenciais as atividades
continuadas que visem à melhoria de vida da população e cujas ações, voltadas para as
necessidades básicas, observem os objetivos, princípios e diretrizes daquela lei. A lei
institui os dois principais serviços de responsabilidade estatal que estruturam o SUAS, o
Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (Paif) e o Serviço de Proteção e
Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (Paefi). Os demais serviços foram
tipificados por deliberação do CNAS – Tipificação Nacional dos Serviços
Socioassistenciais7, em atenção ao disposto no art. 18, II da LOAS que lhe atribui
competência para normatizar as ações e regular a prestação dos serviços de natureza
pública e privada no campo da assistência social.
Na sua função de proteção social, conforme a PNAS e a NOB/SUAS, a assistência
social deve garantir as seguranças de acolhida, de renda, de convívio ou vivência familiar,
comunitária e social; de desenvolvimento da autonomia individual, familiar e social e de
sobrevivência a riscos circunstanciais.
A construção de seguranças sociais no âmbito da assistência social tem por
perspectiva identificar a particularidade e a especificidade do campo dessa política social.
A assistência social tem que dar conta de três grandes seguranças sociais, que agrupam as
acima mencionadas: a de acolhida, a de convívio e a de sobrevivência (e renda).
A segurança de acolhida implica em que a assistência social crie condições para
que nenhum ser humano fique ao abandono ou ao relento, por ausência de acolhida,
sobretudo em momentos climáticos ou de catástrofes que atingem a condição humana. Um
exemplo de segurança de acolhida é o serviço de abrigo institucional para crianças e
adolescentes em situação de abandono, previsto na Tipificação Nacional.
A segurança de convívio significa que se deve atuar para impedir o isolamento e o
abandono, ou seja, gerar condições para que o convívio social entre membros de uma
família conte com o apoio na relação pais e filhos; estimular atividades de convívio como
7
Resolução CNAS nº 109/2009.
9
exercício de sociabilidade, afirmação da identidade e do reconhecimento social individual e
coletivo em diversos ciclos de vida nos territórios de vivência. Um exemplo de política de
assistência social que garante a segurança de convívio é o serviço de convivência e
fortalecimento de vínculos, previsto na Tipificação Nacional.
A segurança de sobrevivência (e de renda) é uma das mais típicas e disseminadas
formas de presença da política de assistência social. Ela implica em afiançar condições
básicas de renda, meios materiais e cuidados enquanto elementos que possibilitam a
sobrevivência em diferentes situações limiares vividas em uma sociedade que mercantiliza
o acesso a bens e a condições de sobrevivência. Enquanto as demais seguranças geralmente
operam por meio de serviços, a segurança de sobrevivência opera por meio de benefícios,
como os benefícios eventuais em virtude de nascimento, morte, vulnerabilidade temporária
ou calamidade pública (art. 22 da LOAS), o Benefício de Prestação Continuadas (BPC –
art. 20 a 21A da LOAS) e o benefício do Programa Bolsa Família (PBF – Lei nº 10.836, de
2004).
A tabela 1 apresenta os serviços socioassistenciais tipificados, por nível de proteção,
com destaque para a possibilidade de serem ou não ofertados por meio de parceria com
entidades ou organizações de assistência social.
Tabela 1
10
Serviço de Proteção Social a
Adolescentes em
Cumprimento de Medida
Socioeducativa de Liberdade CREAS*
Assistida (LA) e de Prestação
de Serviços à Comunidade
(PSC)
CREAS ou entidade de
Serviço Especializado em assistência social, podendo
Abordagem Social ser também ofertado pelo
Centro POP
Serviço de Proteção Social CREAS, Centro Dia de
Especial para Pessoas com Referência para Pessoa com
Deficiência, Idosas suas Deficiência ou entidade de
Famílias. assistência social
11
Tabela 2
Programas e projetos
12
Tabela 3
Fundamento legal
Programas federais que articulam ações intersetoriais
Resolução CNAS nº
18/2012
Resolução CNAS nº
Acessuas Trabalho 25/2016
Portaria
Interministerial
MTE/MDS/MEC/SDH
BPC Trabalho Nº 2 DE 02/08/2012
Portaria
Interministerial
MEC/MDS/MS/SDH-
BPC na Escola PR nº 18/2007
Resolução CNAS nº
08/2013
Portaria MDSA nº
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI 318/2016
Portaria MDS nº
142/2012 e Resolução
CNAS Nº 8, de 16 de
Capacita SUAS março de 2012.
Decreto nº 8.869/2016,
Resolução CNAS nº
19/2016 e 20/2016
Portaria MDSA nº
Programa Primeira Infância no SUAS 295/2016
13
LEMBRE-SE: A Lei nº 13.019/2014 traz uma outra definição de projeto, específica para o
contexto de cada parceria: “conjunto de operações, limitadas no tempo, das quais resulta
um produto destinado à satisfação de interesses compartilhados pela administração
pública e pela organização da sociedade civil” (art. 2º, III-A). Essa definição se ocupa de
um plano micro, do projeto/produto a ser concebido dentro do escopo de cada parceria
com limitação temporal, ou seja, diferenciando-se do conceito de atividade acima
descrito, que tem natureza continuada ou permanente.
8
Art. 3o Consideram-se entidades e organizações de assistência social aquelas sem fins lucrativos que,
isolada ou cumulativamente, prestam atendimento e assessoramento aos beneficiários abrangidos por esta
Lei, bem como as que atuam na defesa e garantia de direitos.
14
Resolução nº 27/2011, entendeu mais adequado caracterizá-las do que tipificá-las.
Estabeleceu conceitos e parâmetros para o reconhecimento e a pertinência das atividades de
assessoramento e de defesa e garantia de direitos, no campo socioassistencial, que devem
estar voltadas para a aquisição de conhecimentos, habilidades e desenvolvimento de
potencialidades que contribuam para o alcance da autonomia pessoal e social dos usuários
da assistência social e facilitem a sua convivência familiar e comunitária. Além disso, as
ofertas compreendidas no campo do atendimento devem buscar a articulação com as ações
de defesa e garantia de direitos, para sua qualificação ética e política no âmbito da política
de Assistência Social.
Para isso, a referida resolução aprovou uma matriz (quadro abaixo) que relaciona
um rol de atividades com os seus objetivos, público e resultados esperados, para auxiliar
gestores e entidades na caracterização desse campo.
15
ASSESSORAMENTO E DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS
2. Sistematização e
disseminação de projetos Famílias e indivíduos em
inovadores de inclusão a) Fomentar e apoiar projetos de inclusão cidadã, situação de
cidadã, que possam com base nas vulnerabilidades e riscos vulnerabilidade e riscos
apresentar soluções identificados no diagnóstico socioterritorial, que pessoais e sociais, grupos Idem atividade 1.
alternativas para visem o enfrentamento da pobreza e o e organizações de
enfrentamento da pobreza, desenvolvimento social e econômico. usuários e movimentos
a serem incorporadas nas sociais.
políticas públicas.
17
ASSESSORAMENTO E DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS
4. Produção e socialização de
estudos e pesquisas que
ampliem o conhecimento da Prioritariamente famílias
sociedade sobre os seus a) Ampliar o conhecimento público sobre a e indivíduos em situação
direitos de cidadania e da política de assistência social; de vulnerabilidade e
política de assistência social, b) Incorporar o conhecimento produzido pela riscos pessoais e sociais,
bem como dos gestores sociedade sobre a defesa dos direitos de cidadania, grupos e organizações de
públicos, trabalhadores e na perspectiva da intersetorialidade, como usuários, movimentos Idem atividade 1.
entidades com atuação referência na formulação, implementação e sociais, bem como
preponderante ou não na avaliação da política de assistência social; gestores, trabalhadores e
assistência social c) Subsidiar a formulação, implementação e entidades com atuação
subsidiando-os na avaliação da política de assistência social. preponderante ou não na
formulação, implementação Assistência Social.
e avaliação da política de
assistência social.
18
ASSESSORAMENTO E DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS
5. Promoção da defesa de
direitos já estabelecidos
através de distintas formas Famílias e indivíduos em
de ação e reivindicação na a) Fortalecer o protagonismo dos usuários na situação de
defesa dos seus direitos de cidadania; vulnerabilidade e riscos
esfera política e no
pessoais e sociais, grupos Idem atividade 1.
contexto da sociedade, b) Acessar∕promover os direitos e organizações de
inclusive por meio da de cidadania já estabelecidos. usuários e movimentos
articulação com órgãos sociais.
públicos e privados de
defesa de direitos.
19
ASSESSORAMENTO E DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS
8. Desenvolvimento de
ações de
monitoramento e
controle popular sobre
o alcance de direitos a) Ampliar o acesso da população em geral Famílias e indivíduos em
socioassistenciais e a às informações sobre a implementação da política
situação de
de assistência social;
existência de suas vulnerabilidade e riscos
violações, tornando b) Qualificar as intervenções nos espaços de pessoais e sociais, grupos Idem atividade 1.
públicas as diferentes participação democrática; e organizações de
formas em que se c) Aferir se a política de assistência está em usuários e movimentos
expressam e consonância com as demandas da sociedade. sociais.
requerendo do poder
público serviços,
programas e projetos de
assistência social.
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Lembre-se: A expressão atividade aqui não foi utilizada no sentido específico que lhe deu
a Lei nº 13.019, de 2014, como visto acima. Na resolução do CNAS ela é uma expressão
mais genérica, sinônimo de ação ou conjunto de ações.
Como visto acima, as entidades de atendimento são aquelas cujas ofertas são
tipificadas ou regulamentadas pelo governo. Via de regra, as parcerias com elas serão
propostas pela administração pública e deverão ser formalizadas por meio de Termo de
Colaboração. Já as entidades de assessoramento e defesa de direitos atuam com temas
cuja primazia é da sociedade civil e, via de regra, são elas quem possuem conhecimento
para propor parcerias ao governo. Nesse segundo caso, estaremos diante de uma parceria
mediante Termo de Fomento.
Lei nº 13.019/2014
Termo de Colaboração (art. 2º, VII) Termo de Fomento (art. 2º, VIII)
Instrumento por meio do qual são Instrumento por meio do qual são
formalizadas as parcerias estabelecidas pela formalizadas as parcerias estabelecidas pela
administração pública com OSCs para a administração pública com OSCs para a
consecução de finalidades de interesse consecução de finalidades de interesse
público e recíproco propostas pela público e recíproco propostas pelas OSCs,
administração pública que envolvam a que envolvam a transferência de recursos
transferência de recursos financeiros. financeiros.
Iniciativa da Administração Pública Iniciativa das entidades e organizações
Atuar em colaboração para execução de Incentiva e reconhece ações de interesse
políticas públicas parametrizadas; público desenvolvidas pelas entidades.
Proposição do plano de trabalho, com Proposição do plano de trabalho, com livre
parâmetros mínimos prévios ofertados iniciativa, pelas entidades, que apresenta
pela Administração Pública, para que ideias a serem desenvolvidas.
organizações a atuação do Estado em ação
conhecida e estruturadas, com a expertise da
sociedade civil.
Função de qualificação e
complementariedade em relação às ofertas
parametrizadas do SUAS
Novas tecnologias sociais (ofertas) que
geram inovação nos atendimentos ao
público da assistência social.
9
De acordo com o art. 1º, I, “a”: “entidade privada sem fins lucrativos que não distribua entre os seus sócios
ou associados, conselheiros, diretores, empregados, doadores ou terceiros eventuais resultados, sobras,
excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos, isenções de qualquer natureza, participações ou
parcelas do seu patrimônio, auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que os aplique integralmente
22
associação, fundação ou organização religiosa, de acordo com as prescrições do Código
Civil brasileiro (Lei nº 10.406, de 2002). Elas se enquadram dentro do conceito de
organizações da sociedade civil definição da Lei nº 13.019/2014.
No âmbito do SUAS, o Decreto nº 6.308/2007, que regulamenta os art. 3º e 9º da
LOAS e a Resolução CNAS nº 14/2014, que define os parâmetros nacionais para a
inscrição nos Conselhos de Assistência Social, trazem alguns requisitos que se aplicam
especificamente às entidades e organizações que querem atuar na política de assistência
social. Assim, além de realizar atendimento ou assessoramento e defesa e garantia de
direitos ao público da assistência social, conforme descrito acima, as entidades de
assistência social devem:
definir expressamente, em seus atos constitutivos, sua natureza, objetivos,
missão e público alvo, de acordo com a LOAS.
garantir a universalidade do atendimento, independentemente de
contraprestação do usuário (gratuidade); e
ter finalidade pública e transparência nas suas ações.
Além disso, para seu regular funcionamento no âmbito do SUAS, as entidades ou
suas ofertas de assistência social deverão estar inscritas junto aos conselhos de
assistência social de todos os Municípios em que atuar, submetendo-se à fiscalização deles.
Importante lembrar que as entidades de assistência social gozam de imunidade
tributária em relação a seu patrimônio, renda e serviços (art. 150, VI, “c” da CF), além da
possibilidade de obter a certificação de entidade beneficente (CEBAS), na forma da Lei nº
12.101/2009, para usufruir da imunidade de contribuições para a Seguridade Social,
especialmente da cota patronal do INSS (art. 195, § 7º da CF). Elas também podem se
qualificar como organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), na forma da
Lei nº 9.790/1999. Entretanto, essa qualificação é incompatível com a certificação, devendo
a entidade optar por uma das duas.
Vale destacar que ter CEBAS e ser OSCIP não são requisitos para as parcerias
previstas na nova lei.
na consecução do respectivo objeto social, de forma imediata ou por meio da constituição de fundo
patrimonial ou fundo de reserva”.
23
LEMBRE-SE: O título de utilidade pública federal não existe mais. A lei que
disciplinava esse título foi revogada pela Lei nº 13.204/2015. Mesmo que ainda existam
títulos de utilidade pública no âmbito dos Estados, DF ou Municípios, recomenda-se que
não sejam exigidos para fins de parceria.
A partir de 2006, com a Pesquisa das Entidades de Assistência Social Privadas sem
Fins Lucrativos – PEAS10, a política de assistência social passou a ter um dado oficial sobre
o universo das entidades de assistência social em atuação no Brasil11.
A PEAS foi uma publicação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) em parceria com o MDSA. Os dados foram levantados no ano de 2006 e as
entidades visitadas e pesquisadas foram selecionadas através do Cadastro Central de
Empresas – CEMPRE, do IBGE, que se declararam prestadoras de serviços de assistência
social. O resultado final do estudo contém um conjunto de informações pertinentes à área
da Assistência Social no Brasil com ênfase no perfil das entidades prestadoras de serviços
nessa área: qualificação como Organização Social e como Organização da Sociedade Civil
de Interesse Público; títulos e credenciamentos pelos órgãos competentes; identificação dos
serviços prestados; modalidades socioassistenciais; âmbito de atuação; período de
funcionamento; metodologia de atendimento; instalações e equipamentos disponíveis; perfil
dos colaboradores quanto à capacitação e o nível de formação, financiamentos, parcerias e
caracterização do público-alvo.
De acordo com a pesquisa, foram localizadas 16.08912 entidades de assistência
social, sendo que a região Sudeste concentrava 51,8% das entidades, seguida pela região
Sul com 22,6%, Nordeste com 14,8%, Centro-Oeste com 7,4% e Norte com 3,4%. O estado
de São Paulo concentrava, sozinho, 29,6% de todas as entidades do Brasil.
10
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/peas/2006/
11
Até 2006 o MDSA possuía apenas a base de dados das entidades registradas e certificadas no Conselho
Nacional de Assistência Social - CNAS bem como das entidades que já haviam sido financiadas diretamente
com recursos do Fundo Nacional de Assistência Social antes do SUAS.
12
Vale ressaltar que até 2006 as creches e pré-escolas ainda eram consideradas entidades de assistência social.
Em 2010 foi concluído o processo de migração dessas entidades para a política de educação.
24
Entre os anos de 2013 e 2015, o IBGE, em parceria com o MDSA, atualizou a
PEAS13. Com novo levantamento de entidades a partir do CEMPRE, a coleta de
informações ocorreu por meio de entrevistas telefônicas assistidas por computador. Para o
conjunto de entidades reconhecidas pela sua atuação na assistência social, foram produzidas
informações sobre as ofertas, a estrutura e o funcionamento das entidades.
Entre as inovações dessa edição está o uso da Tipificação Nacional dos Serviços
Socioassistenciais e de outras Resoluções do Conselho Nacional de Assistência Social para
a caracterização das ações socioassistenciais executadas pelas entidades.
O efeito desse movimento é permitir a comparação com outros estudos e dados
produzidos no campo da assistência social, em sintonia com o reordenamento em marcha
das ações das organizações da sociedade civil.
Em 2010 foi aplicado aos gestores municipais de assistência social o primeiro
questionário sobre as entidades de assistência social – o Censo SUAS14 da Rede Privada.
Foram coletados os dados de 9.398 entidades de assistência social em 1.439 Municípios,
todas inscritas nos Conselhos de Assistência Social e com alguma forma de parceria com a
gestão. A distribuição regional praticamente se repete: 55% no Sudeste, 23% no Sul, 12%
no Nordeste, 7% no Centro-Oeste, e 3% no Norte.
Em 2011 foi possível que as próprias entidades preenchessem o questionário do
Censo SUAS da Rede Privada, após os conselhos municipais de assistência social
confirmarem que elas estavam inscritas conforme o art. 9º da LOAS. Foram 10.19215
entidades respondentes, sendo 9.456 com alguma atuação na assistência social, distribuídas
em 1.872 municípios brasileiros e concentradas nas mesmas regiões identificadas na PEAS
2006 e Censo SUAS 2010. Dessas, 7.708 entidades declararam ter atuação exclusiva ou
preponderante na assistência social.
Das informações coletadas pelo Censo SUAS Rede Privada de 2011, vale destacar
as seguintes: a) a receita bruta total de 2010 informada pelas entidades demonstra que a
maioria delas se mantém em funcionamento com um volume reduzido de recursos. 86%
13
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94686.pdf
14
O Censo SUAS é realizado anualmente, desde 2007, a partir da ação conjunta da Secretaria Nacional de
Assistência Social – SNAS, com a Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação – SAGI, ambas do
MDSA.
15
Parte dessas entidades, embora inscritas nos Conselhos de Assistência Social, não tinha qualquer atuação na
assistência social.
25
delas afirmam ter receita bruta anual inferior a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais); b)
20% das entidades informou não ter nenhum trabalhador contratado; c) a principal fonte de
financiamento de 51% das entidades são recursos de subvenções, convênios e parcerias
com órgãos ou entidades públicas; d) 75% das entidades usufruem de algum tipo de isenção
ou imunidade.
Aprofundar a análise sobre essas informações se torna extremamente relevante
quando se verifica a quantidade de vagas que as entidades declaram ofertar por serviços,
conforme se verifica dos dados das tabelas 4, 5 e 6.
26
Atendimento especializado para indivíduos
1.159 245.250 17,2%
e famílias com direitos violados
Atendimento especializado para famílias de
crianças e adolescentes sem situação de 581 157.785 11.0%
trabalho infantil
Atendimento especializado para pessoas
1.112 129.372 9.1%
idosas e suas famílias
Atendimento especializado para pessoas em
638 77.881 5,5%
situação de rua
Atendimento especializado para
adolescentes em cumprimento de MSE em 610 43.395 3,0%
meio aberto LA e PSC
Total 7.932 1.428.665 100%
Fonte: Censo SUAS 2011 - MDS/SNAS/DGSUAS/CGSVS
No entanto, todos esses dados foram coletados antes da aplicação das regras da
Resolução CNAS nº 16/2010, que instituiu parâmetros nacionais para a inscrição das
entidades de assistência social e dos serviços, programas, projetos e serviços
27
socioassistenciais e institui um período de transição para que as entidades se adequem às
novas legislações da assistência social (especialmente Lei nº 12.101/2009, Lei 12.435/2011
que alterou a LOAS, Resolução CNAS nº 109/2009 – Tipificação de Serviços, Resolução
CNAS nº 27/2011 – assessoramento e defesa e garantia de direitos, Resolução CNAS nº
33/2011 – promoção da integração ao mercado de trabalho, e Resolução CNAS nº 34/2011
– habilitação e reabilitação de pessoas com deficiência).
Visando conhecer o universo de entidades inscritas nos conselhos em conformidade
com os parâmetros nacionais e constituir a base do sistema de cadastro nacional de
assistência social, previsto no inciso XI do art. 19 da LOAS, o MDSA disponibilizou, entre
julho de 2012 e março de 2013, um Formulário Eletrônico que foi preenchido pelo gestor
da assistência social com posterior confirmação pelo Conselho Municipal de Assistência
Social.
A análise dos dados do formulário eletrônico aponta para um universo de 16.839
entidades/CNPJs com algum tipo de inscrição válida, distribuídas em 2.414 municípios. A
distribuição regional se altera um pouco com 51,1 % no Sudeste, 21% no Nordeste, 18,2%
no Sul, 5,6% no Centro-Oeste e 4,1% no Norte. Pela primeira vez a região Nordeste
aparece com um percentual de entidades com atuação na assistência social maior que a
Região Sul. Os Estados brasileiros com mais entidades com atuação na assistência social
são Minas Gerais (3.957), São Paulo (3.664) e Paraná (1.453), conforme Tabela 7.
28
MT 40 164 161
PA 41 250 242
PB 15 87 86
PE 55 684 675
PI 13 63 62
PR 278 1.486 1.453
RJ 66 852 842
RN 29 150 148
RO 20 120 112
RR 1 12 11
RS 327 1.462 1.165
SC 137 685 661
SE 36 199 194
SP 401 3.705 3.664
TO 39 128 121
Esse universo pode ser dividido pelo tipo de inscrição dessas entidades: a) 13.191
entidades inscritas como entidades de assistência social (com atuação exclusiva ou
preponderante nessa área); b) 499 entidades de assistência social com inscrição em mais de
um município; c) 3.137 entidades não preponderantes de assistência social com inscrição de
serviços, programas, projetos ou benefícios socioassistenciais.
Das 17.420 inscrições deferidas pelos conselhos municipais de assistência social,
7.765 são ofertas de atendimento direto aos usuários da política de assistência social e
1.991 de assessoramento, defesa e garantia de direitos destes usuários. Nesse caso pode-se
inferir que as definições quanto aos tipos de atuação não os distinguem de forma precisa, já
que nem sempre é possível haver essa distinção, uma vez que nos serviços
socioassistenciais de proteção básica e especial está contida uma dimensão da defesa de
direitos e de sua proteção e promoção, bem como o assessoramento aos seus usuários,
compreendido como formas de alcance de patamares superiores de civilidade ou de
cidadania.
Essas 16.839 entidades compuseram a base inicial de dados do Sistema de Cadastro
Nacional de Entidades de Assistência Social (SCNEAS). Em fevereiro de 2017, o CNEAS
possui 18.956 entidades distribuídas em 2.684 municípios de todas as unidades federativas
do país.
29
Na data de referência (fev/2017), o nível de preenchimento do CNEAS pelos órgãos
gestores de assistência social é de 48,6% dos cadastros concluídos, restando 30,9% que já
tiveram informações parcialmente incluídas e 20,5% que estão pendentes.
O mapa a seguir representa a distribuição territorial das entidades por municípios e
estados. As áreas mais escuras indicam municípios com maior número de entidades no
CNEAS, independente da situação dos cadastros. É possível notar maior concentração de
entidades nas regiões sudeste e sul, onde a presença de organizações é difundida na maior
parte dos territórios.
30
A partir dos cadastros concluídos (9.268 entidades), é possível reconhecer um
conjunto de 14.851 ofertas socioassistenciais. O quadro abaixo expressa a frequência das
ofertas, o tipo e nível de proteção ao qual estão associadas.
31
Defesa e Garantia de
Direitos
16
O CNEAS prevê a possibilidade de inclusão de ofertas socioassistenciais tipificadas localmente mediante a
apresentação ao MDSA de resolução de conselho de assistência social que ordene a oferta no território. Na
data de referência, as seguintes ofertas foram consideradas: Centro de Defesa e Convivência da Mulher;
Núcleo de Proteção Jurídico-Social e Apoio psicológico; Programa de Atenção às Pessoas Idosas; Programa
de Inclusão Produtiva de Formação Socioprofissional na Proteção Social Básica; Programa de Inclusão
Produtiva/ Programa de Atenção às Pessoas em Situação de Rua; Programa de Inclusão Produtiva/Programa
de Promoção do Adolescente Aprendiz e Jovem Trabalhador; Programa de Proteção Socioassistencial
Especial e Apoio Psicossocial a Pessoas com Direitos Violados e/ou em Situação de Vulnerabilidade e suas
Famílias.
17
As informações sobre as entidades e ofertas do CNEAS pode ser acessada pelo link a seguir:
http://aplicacoes.mds.gov.br/cneas/publico/xhtml/consultapublica/pesquisar.jsf
32
No contexto do MROSC, em 2015, teve início um amplo levantamento sobre as
OSCs e suas formas de atuação no território nacional. Com isso, foi criada uma plataforma
georreferenciada que visa reunir informações das variadas bases de dados da administração
pública federal para um conjunto superior a 440 mil OSCs – Mapa das Organizações da
Sociedade Civil.
Entre as informações que concernem as entidades de assistência social estão o
CENSO SUAS, o CNEAS e a relação de entidades certificadas pelo CEBAS-MDSA. Além
disso, são adicionadas informações que tratam dos trabalhadores registrados nas
organizações, os convênios monitorados pelo SICONVI, a presença em dados
administrativos da saúde, educação, cultura, esporte, entre outras áreas.
O Mapa das Organizações da Sociedade Civil é atualmente gerido pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), com supervisão da Secretaria de Governo da
Presidência da República. A versão inicial do mapa foi criada pela Fundação Getúlio
Vargas (FGV).18
O que é o CNEAS?
18
O Mapa das OSCs pode ser acessado pelo link a seguir: https://mapaosc.ipea.gov.br/
33
recursos humanos disponíveis, por formação e regime de contratação, alocados nos
serviços; verificação da gratuidade das ofertas para os usuários (não exigência de
contraprestação pelo serviço); forma de participação dos usuários e estratégias utilizadas,
desde a elaboração do planejamento, até a execução dos serviços, sua avaliação e
monitoramento. Todas essas informações devem ser validadas, posteriormente, pelo
MDSA, que é o responsável pelo CNEAS.
34
A regulação da relação público-privado e níveis de reconhecimento das entidades de
assistência social no SUAS
CEBAS
Vínculo SUAS
Inscrição CNEAS (pendente de
regulamentação)
Colaboração ou
Fomento
35
De acordo com a NOB/SUAS 2012, considera-se rede socioassistencial o conjunto
integrado da oferta de serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social
mediante articulação entre todas as unidades de provisão dos SUAS.
36
ambiente jurídico e institucional relativo às suas parcerias com as organizações da
sociedade civil (OSCs), com base nos princípios da democracia participativa e o dever de
prestação de contas do Estado.
Embora tenha caráter geral, sua aplicação deve observar também as normas
específicas das políticas públicas setoriais, a exemplo da política de assistência social,
conforme prevê o art. 2º-A:
37
A Lei nº 13.019/2014 entrou em vigor no momento em que o SUAS já tem o seu
Cadastro Nacional de Entidades de Assistência Social (CNEAS) implementado e em fase
de aprimoramento. A inscrição, que é o ato de autorização de funcionamento das entidades
e organizações no âmbito da assistência social, prevista no art. 9º da LOAS, já está
parametrizada em âmbito nacional e, embora haja muito a avançar, tem aplicação
relativamente uniforme em todo o país. A certificação de entidade beneficente de
assistência social (CEBAS), requisito para a imunidade tributária de contribuições para a
Seguridade Social regulada pela Lei nº 12.101/2009, deixou de ser requisito para
contratualização com as entidades e organizações de assistência social e o vínculo SUAS
(art.6ºB) encontra-se em fase de regulamentação.
No âmbito do SUAS, a nova lei substitui o modelo de convênios existente até a
sua entrada em vigor, que se baseava na Lei nº 8.666/1993, e passa a disciplinar a forma
como os governos devem selecionar e financiar as ofertas das entidades que integram o
SUAS, conforme §2º do art. 6º da LOAS.
O novo marco regulatório traz maior segurança jurídica para as entidades e
organizações de assistência social, que passam a contar com uma única norma estruturante,
aplicável às suas relações de parceria com os diversos órgãos e entidades da administração
pública federal, distrital, estadual e municipal.
No âmbito da nova lei das parcerias entre a administração pública e OSCs, algumas
alterações são propostas para que as entidades ou organizações de assistência social
celebrem parcerias, como a necessidade de agir com mais planejamento; de comprovar
experiências prévias nas atividades que pretendem realizar, de possuir capacidade técnica
e operacional e comprovar sua regularidade jurídica e fiscal.
Ressalta-se que no âmbito da Lei nº 13.019, de 2014, as entidades e organizações da
sociedade civil adquirem um papel de maior protagonismo e participação na política de
assistência social, sobretudo com a possibilidade de utilização do instrumento termo de
fomento, pelo qual as entidades podem apresentar propostas para a celebração de parcerias
com o poder público, permitindo a inovação das ofertas desenvolvidas, bem como a adoção
de novas tecnologias sociais pela administração pública.
Nessa linha da inovação, a Lei traz o Procedimento de Manifestação de Interesse
Social (PMIS) que permite a cidadãos, movimentos sociais e organizações a apresentação
38
de propostas ao poder público, para que este avalie a possibilidade de realização de um
chamamento público objetivando a parceria. A proposta encaminhada à administração
pública deverá atentar para questões relevantes de interesse público, apresentar diagnóstico
da realidade a ser modificada e, se possível, informações sobre custos de execução e
viabilidade da proposta.
É importante ressaltar que a realização do PMIS não é pré-requisito para o Termo
de Fomento ou para o Termo de Colaboração, e não implica, necessariamente, na realização
de um chamamento público, nem na dispensa de um processo seletivo.
Outro importante ganho trazido com o texto da nova Lei é o fim do foco na
prestação de contas de meios, com um deslocamento do controle da execução financeira
para a centralidade da execução do objeto – controle pelos resultados.
Nessa perspectiva, quando da celebração da parceria é fundamental que o plano de
trabalho seja construído utilizando indicadores que demonstrem concretamente a
consecução das ações da política de assistência social e que assim possam ser mensurados
quando da prestação de contas.
Outra grande novidade é possibilidade da atuação em rede, por duas ou mais
organizações da sociedade civil devidamente constituídas e em regularidade jurídica e
fiscal, tanto na modalidade de fomento, como na de colaboração. Nos respectivos termos de
atuação em rede, é fundamental especificar as atribuições de cada uma, indicando a
responsável pelo projeto como um todo.
Como visto, trata-se de uma lei de caráter geral, para todas as parcerias do governo
com OSC de qualquer área de atuação. Além das regulamentações estaduais e municipais
que já estão ocorrendo, sua interpretação e aplicação no âmbito do SUAS deve considerar
os atos normativos específicos das parcerias com entidades de assistência social, que
também podem ser gerais (expedidos pelo ente federal), estaduais ou municipais. Um
desses atos normativos é a Resolução CNAS nº 21, de 24 de novembro de 2016.
Resolução do CNAS
39
conforme a Lei nº 13.019/2014, entre órgão gestor de assistência social e as entidades ou
organizações de assistência social no âmbito do SUAS. Ela foi fruto de inúmeros debates
ocorridos na Câmara Técnica da CIT constituída para essa finalidade, na própria CIT e no
CNAS e é decorrência do poder normativo do CNAS previsto no art. 18 da LOAS.
Em resumo, a Resolução do CNAS recepciona o novo marco regulatório no
contexto do SUAS, afirmando a possibilidade de sua aplicação em consonância com as
demais normas da política de assistência social, além de:
legitimar os níveis de reconhecimento das entidades no SUAS,
estabelecendo a inscrição e o CNEAS como requisitos das parcerias;
reiterar que o CEBAS não deve ser exigido como condição para a
formalização das parceria, mas que o edital deve estabelecer a forma de
priorizar19 as entidades que possuem CEBAS, observando o que consta no
§4º do art. 18 da Lei nº 12.101/2009;
estabelecer o chamamento público como regra geral das parcerias no
SUAS, especialmente nos casos de ampliação da capacidade de oferta;
estabelecer as hipóteses de dispensa do chamamento quando: o objeto do
plano de trabalho for a prestação dos serviços socioassistenciais
regulamentados; e a descontinuidade da oferta pela entidade apresentar
dano mais gravoso à integridade do usuário, desde que fundamentado em
parecer técnico.
Chamamento público
19
Essa priorização pode se dar, por exemplo, numa cláusula de desempate: uma entidade certificada teria
prioridade em relação a outra não certificada quando ambas obtiverem a mesma pontuação em relação a
critérios técnicos constantes no edital.
40
hipóteses previstas na Lei, são obrigados a abrir processo de chamamento público, e as
organizações devem apresentar propostas para execução do objeto da parceria, que serão
julgadas e selecionadas, pondo fim a uma das principais polêmicas referentes às parcerias, a
forma de seleção.
As exceções ao chamamento público constam nos art. 30 e 31, que reportam às
hipóteses de dispensa de chamamento, quando se configuram situações nas quais, embora
viável a competição entre os interessados, o legislador decidiu não torná-lo obrigatório e;
quando o chamamento público é considerado inexigível, o que se caracteriza pela
inviabilidade de competição entre as OSCs, em razão da natureza singular do objeto da
parceria ou se as metas somente puderem ser atingidas por uma entidade específica.
41
da territorialização suplanta a garantia de competitividade. Assim, é facultada ao gestor da
assistência social a delimitação ou não do território no edital de chamamento público,
considerando o objetivo e as especificidades do que se pretende alcançar por meio da
parceria.
42
educadores/cuidadores e demais profissionais. A execução desse serviço deve se dar em
unidade de referência inserida na comunidade com características residenciais, ambiente
acolhedor e estrutura física adequada, visando o desenvolvimento de relações mais
próximas do ambiente familiar.
Assim, para a efetivação das parcerias, o gestor local deverá avaliar, além das
condições técnicas e de infraestrutura das entidades, se a possibilidade de rompimento do
vínculo com os demais usuários, a equipe e com o ambiente já familiar pode acarretar
danos à integridade física e emocional dos usuários.
Ademais, cabe esclarecer que nos casos de ampliação da capacidade de oferta do
órgão gestor a realização do chamamento público é regra, não cabendo, assim, a realização
da dispensa de chamamento público mesmo para aquelas entidades ou organizações de
assistência social que possuam parcerias em vigor.
Emendas parlamentares
Subvenções
43
Regras de utilização de recursos nas parcerias
A Lei nº 13.019, de 2014, trouxe expressamente em seu art. 46, colacionado abaixo,
a possibilidade de utilização dos recursos da parceria, entre outras despesas, para: a
remuneração da equipe encarregada da execução do plano de trabalho, inclusive de pessoal
próprio da organização, durante a vigência da parceria, incluídas as despesas com encargos
sociais e trabalhistas.
Art. 46. Poderão ser pagas, entre outras despesas, com recursos vinculados à
parceria:
I - remuneração da equipe encarregada da execução do plano de trabalho,
inclusive de pessoal próprio da organização da sociedade civil, durante a vigência
da parceria, compreendendo as despesas com pagamentos de impostos,
contribuições sociais, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, férias,
décimo terceiro salário, salários proporcionais, verbas rescisórias e demais
encargos sociais e trabalhistas; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
Ressalta-se que apesar de ser possível o pagamento da remuneração dos recursos
humanos e seus encargos, a equipe contratada pela entidade não tem vínculo trabalhista
com o poder público, conforme o disposto no § 3º do art. 46 da Lei nº 13.019, de 2014:
“§3º O pagamento de remuneração da equipe contratada pela organização da sociedade
civil com recursos da parceria não gera vínculo trabalhista com o poder público”.
É importante esclarecer acerca do pagamento das verbas rescisórias que poderão ser
pagas ainda que após o termino da parceria, desde que proporcional ao tempo em que o
profissional atuou na execução do objeto.
44
saldos no final do exercício, conforme o disposto nos art. 30 e 31 da Portaria MDS nº 113,
de 2015.
Nos casos de Termos de Fomento ou de Colaboração firmados em âmbito local, o
recurso transferido para a entidade poderá ser utilizado até a data final de vigência do
respectivo instrumento. Após o final da vigência, a parcela relativa ao recurso federal e a
respectiva aplicação financeira não utilizadas deverão ser devolvidas à conta vinculada de
origem do recurso.
Ressalva-se que poderá ocorrer, em casos excepcionais, pagamento em data
posterior à vigência do instrumento, devidamente justificado, se expressamente autorizada
pelo gestor da parceria e desde que o fato gerador da despesa tenha ocorrido durante a
vigência do instrumento pactuado.
Custos indiretos
A Lei define custo indireto no âmbito de uma parceria. São exemplos as despesas
com internet, transporte, aluguel e telefone, bem como a remuneração de serviços contábeis
e de assessoria jurídica necessários para que a OSC cumpra a legislação de transparência e
prestação de contas do uso do recurso público. Tais custos devem estar previstos Plano de
Trabalho.
45
13.019, de 2014, as normas gerais do SUAS e os normativos municipais, como o Decreto
de regulamentação da Lei.
Em resumo, com relação aos procedimentos, a norma local terá de ser observada na
formalização da parceria com a entidade.
Lei nº 4.320/64
Art. 12. A despesa será classificada nas seguintes categorias econômicas:
46
(...)
§ 1o Classificam-se como Despesas de Custeio as dotações para
manutenção de serviços anteriormente criados, inclusive as destinadas a atender a
obras de conservação e adaptação de bens imóveis.
Prestação de Contas
A Lei nº 13.019/2014 traz uma nova lógica para a prestação de contas das parcerias,
47
com base na avaliação de resultados. O foco da prestação de contas e de sua análise é a
execução do objeto, considerando a verdade real e os resultados alcançados (art. 64, §3º).
Essa nova lógica deve ser compatibilizada com os normativos vigentes no SUAS,
especialmente quando a parceria envolver recursos de cofinanciamento federal.
No caso da execução de serviços, programas ou projetos socioassistenciais por meio
da colaboração com entidades e organizações de assistência social, o gestor estadual ou
municipal fica responsável por verificar a boa e regular utilização do recurso por parte da
instituição.
Neste aspecto, caso sejam apuradas impropriedades ou irregularidades na execução
dos recursos provenientes do erário federal por parte da entidade, o gestor local será instado
a encaminhar informações, documentos ou realizar devolução de recursos à União,
conforme a situação, de acordo com o disposto no art. 25 da Portaria MDS nº 113/2015:
Art. 25 Compete aos Estados, Municípios e o Distrito Federal zelar pela boa e
regular utilização dos recursos transferidos pela União executados direta ou indiretamente
por estes.
Parágrafo único. Os entes serão responsáveis pela boa e regular utilização do recurso,
devendo, sempre quando solicitados, encaminhar informações, documentos ou realizar
devolução de recursos à União, nos casos de comprovada irregularidade na execução dos
serviços, programas e projetos, inclusive por meio das entidades e organizações de
assistência social, ou de irregularidade na apuração dos índices de gestão, conforme o
caso.
Se a identificação da irregularidade ou impropriedade partir de uma notificação, por
exemplo, do FNAS, o gestor local deverá encaminhar justificativas combinadas com
documentação comprobatória ou a devolução do recurso para a União, não impedindo as
demais ações a posteriori junto à entidade.
É importante destacar que toda documentação relativa à execução física e financeira
da parceria deverá estar à disposição tanto do órgão gestor da parceria, bem como dos
órgãos de controle interno e externo federais, conforme disposto no inciso XV do art. 42 e
48
do art. 68 da Lei nº 13.019, de 2014.
Procedimento simplificado
49
preservadas, de forma a não os estigmatizar.
Recomenda-se que os serviços de acolhimento de alta complexidade, por serem
ofertados em unidades com características residenciais, não possuam identificação externa,
de forma a evitar a estigmatização e garantir privacidade e dignidade aos usuários.
A exceção a essa recomendação se dá nos casos de serviço de acolhimento para pessoas
idosas, que deverão ter identificação externa visível, conforme disposto no art. 37, § 2º da
Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso).
Assim, para realizar a publicidade das parcerias celebradas com a administração
pública para a prestação de serviço de acolhimento é recomendado que as informações
sejam divulgadas nas áreas internas da entidade, em locais de fácil visibilidade.
Regras de Transição
50
Observa-se que o Decreto Federal nº 8726/2016, embora se aplique apenas à União,
complementou as regras de transição da Lei, podendo ser aplicado subsidiariamente quando
Estados, Distrito Federal ou Municípios não possuírem regulamento próprio. De acordo
com o art. 91:
- as parcerias que tiverem substituído os instrumentos para termo de cooperação ou
de fomento terão a prestação de contas disciplinadas pela Lei nº 13.019/2014 e pelo
regulamento;
- a Administração Pública poderá firmar termo aditivo de parceria vigente, a ser
regido pela legislação em vigor ao tempo de sua celebração, desde que limitada a vigência
até 23 de janeiro de 2017, ou seja, data correspondente a um ano após a entrada em vigor da
Lei para União, estados e Distrito Federal;
- poderá haver aplicação da regra de prestação de contas aos convênios e
instrumentos congêneres vigentes na data da entrada em vigor da Lei nº 13.019/2014 que
estejam em fase de execução de seu objeto ou de análise de prestação de contas.
51
Gestores da política de assistência social (União, Estados, Distrito Federal e Municípios)
Modelos
Ainda não há modelos de documentos específicos para a assistência social, como editais,
justificativas de dispensa de chamamento, termos de parceria, forma de prestação de contas,
entre outros. Mas já há alguns modelos gerais ou de outras políticas que podem servir de
ponto de partida e ser adaptados considerando as especificidades da assistência social. Os
links estão no final desta cartilha.
52
O Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse (SICONV) é a iniciativa do
governo federal responsável por todo o ciclo de vida dos convênios, contratos de repasse e
termos de parceria, no qual são registrados os atos, desde a formalização da proposta até a
prestação de contas final. Ele está sendo adaptado para poder ser utilizado pelos Estados até
o final de 2017 e, oportunamente, para os Municípios.
O papel dos conselhos de assistência social deve ser compreendido à luz da LOAS,
combinada com a Lei nº 13.019, de 2014. Considerando sua composição paritária entre
governo e sociedade civil - que inclui trabalhadores, entidades e usuários da política de
assistência social – os conselhos são espaços de participação e construção democrática que
deverão sediar os principais debates sobre a interpretação e aplicação do novo marco
regulatório das parcerias no SUAS.
A Lei nº 13.019, de 2014, inova ao trazer no parágrafo único do art. 16 a
possibilidade de os conselhos de políticas públicas apresentarem propostas à administração
pública para celebração de termo de colaboração com organizações da sociedade civil.
Importante esclarecer que as propostas apresentadas pelos conselhos não vinculam a
administração pública, contudo fortalecem o controle social quando no exercício da
competência de acompanhamento da execução da política de assistência social. Nesse
sentido, os conselhos poderão provocar a Administração Pública apresentando propostas de
atividades que avaliam ser relevantes para serem exercidas e executadas em regime de
colaboração com as OSCs.
Na sequência, o MROSC reafirma, em seu art. 60, o papel de fiscalização e
acompanhamento dos conselhos de políticas públicas que se conforma com as definições da
53
LOAS para os conselhos de assistência social.
Além disso, conforme já tratado acima e com base no art. 2º-A e no art. 30, VI do
novo marco regulatório, o CNAS deliberou os requisitos para serem observados pelas
entidades ou organizações de assistência social quando da celebração das parcerias no
SUAS, por meio da Resolução nº 21/2016.
Nesse contexto, caberá aos conselhos de assistência social, sem prejuízo das demais
atribuições:
Realizar inscrição das entidades e organizações de assistência social, bem como dos
serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais por elas prestados,
autorizando-as a funcionar no âmbito da Política Nacional de Assistência Social e,
portanto, a formalizar parcerias com a Administração Pública nessa área;
Acompanhar e fiscalizar:
- as entidades ou organizações de assistência social e o conjunto de ofertas
inscritas, de forma planejada, por meio de visitas, elaboração de pareceres,
deliberação coletiva, publicização de decisões, promoção de audiências públicas,
dentre outras ações;
- a conformidade da parceria entre a entidade ou organização de assistência
social e a Administração Pública com as normativas do SUAS.
Por fim, é importante esclarecer que os conselhos de assistência social,
diferentemente de conselhos gestores de fundos específicos, não provocam ou participam
do procedimento do chamamento público que se constitui atribuição do órgão gestor da
assistência social.
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Confoco é integrante da estrutura do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e
Gestão. Dentre suas competências, destacam-se o monitoramento, avaliação da
implementação, e a proposição de diretrizes e ações para a efetivação da Lei nº 13.019, de
2014.
Cabe destacar que a lei ainda prevê a criação de instâncias participativas, como o
conselho de fomento e colaboração, em níveis estadual, distrital e municipal. E que estas
instâncias não se sobrepõem aos conselhos setoriais de políticas públicas, a exemplo dos
conselhos de assistência social, devendo o Confoco realizar consulta a estes conselhos
quanto às políticas e ações voltadas ao fortalecimento das relações de fomento e de
colaboração propostas.
Por fim, vale frisar a natureza transversal dos conselhos de
fomento e colaboração que tem objetivo de apoiar políticas e ações voltadas ao
fortalecimento das relações de fomento e de colaboração que perpassam as diversas
políticas setoriais que realizam parcerias com as OSCs.
55
Cidadão usuário da política de assistência social
56
Brasil; os desafios para a sustentabilidade das OSCs; e as principais pesquisas publicadas
no último ciclo.
57
http://www.participa.br/articles/public/0024/0900/Estudo_de_caso_estado_osc_Enap_Caso
teca_2016.pdf
Legislação
BRASIL. Lei Federal nº 13.019, de 2014. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13019.htm
58
BRASIL. Lei Federal nº 9.790, de 1999. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9790.htm
Sites
Rede Siconv
http://portal.convenios.gov.br/redesiconv
Canais de contato
Mroscnosuas@mds.gov.br
redeprivada@mds.gov.br
59