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2012
Ficha catalográfica elaborada pela Área de Documentação e Informação do Centro deTecnologia de Embalagem – CETEA
ISBN 978-85-7029-117-2
Está disponível online: www.ital.sp.gov.br/brasilpacktrends
Mônika Bergamaschi
Secretária SAA
Índice
11 Capítulo 1
O mercado de embalagem: Mundo e Brasil
43 Capítulo 2
Fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
69 Capítulo 3
As tendências de embalagem
87 Capítulo 4
Macro Tendência: Conveniência e Simplicidade
109 Capítulo 5
Macro Tendência: Estética e Identidade
141 Capítulo 6
Macro Tendência: Qualidade e Novas Tecnologias
173 Capítulo 7
Macro Tendência: Sustentabilidade e Ética
207 Capítulo 8
Macro Tendência: Segurança e Assuntos Regulatórios
Apresentação
Equipe Brasil Pack Trends 2020
Na próxima década, o setor de embalagem terá Diante da complexidade dos assuntos abordados,
cada vez mais importância para as indústrias de o estudo enfrenta a limitação quanto à capacidade
bens de consumo. Com o mercado brasileiro em de contemplar toda a amplitude de variáveis
transformação e contínuo crescimento, a relevantes. Entretanto, com base no método
embalagem se destacará como componente adotado, oferece um arcabouço organizado que
inovador de produtos alimentícios, farmacêuticos, permite uma visão geral e prospectiva das
cosméticos, de higiene e limpeza, entre outros. principais áreas de inovações em embalagem.
O sistema de embalagem será parte essencial de Representa um quadro sistêmico de referência
processos eficientes e sustentáveis, para conferir que permite atualizações contínuas, de forma a
qualidade e segurança aos consumidores. Os manter o estudo em sintonia com as mudanças do
estudos para monitoramento das tendências de setor.
embalagem representará, cada vez mais, um fator A estrutura do trabalho abrange, inicialmente,
estratégico para a competitividade das empresas, capítulos sobre a indústria de embalagem no
pela sua capacidade de abrir oportunidades e Brasil e no mundo, uma análise de fatores de
indicar desafios e alternativas promissoras de influência (drivers) do mercado de bens de
investimento. consumo e uma breve descrição do método de
Diante disso, no cumprimento da função pública classificação das tendências. Em seguida, dedica
do ITAL, o projeto Brasil Pack Trends 2020 foi capítulos específicos para cada uma das macro
elaborado para oferecer este tipo de informação ao tendências identificadas no Brasil Pack Trends
setor produtivo, de forma gratuita, como um 2020: “Conveniência e Simplicidade”, “Estética
instrumento de apoio ao processo de inovação nas e Identidade” e “Qualidade e Novas Tecnologias”,
empresas. estão mais relacionadas às inovações de produtos,
“Sustentabilidade e Ética” e “Segurança e
O Brasil Pack Trends 2020 dá continuidade à Assuntos regulatórios”, mantém relação mais
série de estudos 2020 do ITAL, originado a partir estreita com processos produtivos e sistemas
do pioneiro trabalho Brasil Food Trends 2020, gerenciais.
realizado em parceria com a Fiesp, em 2010.
Segue a mesma estrutura e metodologia A equipe do Brasil Pack Trends 2020 vislumbra
consagrados anteriormente. É um documento um futuro promissor para a indústria de
básico que sistematiza diversos trabalhos embalagem no Brasil que passará,
técnicos e científicos sobre tendências, consolida necessariamente, pelo incremento da inovação
dados de fontes especializadas, públicas e tecnológica. Nessa direção, almeja contribuir de
privadas, além de incluir análises inéditas de fato para desenvolvimento da nossa sociedade.
pesquisadores do CETEA com vasta experiência
em tecnologia de embalagem.
Graham Wallis
Daniel Weil
Luis F. C. Madi
Capítulo 1
O MERCADO DE EMBALAGEM:
MUNDO E BRASIL
Este capítulo visa apresentar um panorama do mercado de
embalagem no Brasil, com destaque para os indicadores de
produção e consumo dos diferentes materiais de embalagem
(plásticos, papel e papelão, metais, vidro e cartonadas assépticas)
e dos principais setores usuários (alimentos, bebidas, healthcare,
personal care e produtos de limpeza).
WALLIS, G.; WEIL, D.; MADI, L. F. C. O Mercado de Embalagem no Brasil. In: BRASIL pack trends 2020. Campinas: ITAL, 2012. cap. 1, p. 9-39.
BrasilPackTrends2020 11
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
TABELA 1.1
Vendas de embalagens: Países (2008, 2011 e projeções para 2016)
Vendas de embalagens por país (US$ bilhões)
Crescimento médio
Participação Participação Participação
Países 2008 2011 2016 estimado
% % %
2011-2016
EUA &
Canada 153 27% 168 25% 194 23% 2,9%
China 50 9% 80 12% 117 14% 7,9%
Japão 70 13% 76 11% 87 10% 2,7%
Alemanha 33 6% 37 5% 42 5% 3,0%
França 27 5% 30 5% 34 4% 2,1%
Brasil 22 3,7% 25 4% 34 4% 6,2%
Reino Unido 20 4% 22 3% 25 3% 2,6%
Rússia 17 3% 21 3% 26 3% 4,9%
Índia 9 2% 17 3% 25 3% 7,7%
Itália 10 2% 12 2% 14 2% 2,0%
Demais
países 148 26% 187 28% 248 29% 5,8%
TOTAL 559 675 845
Fonte: DATAMARK, MARKET..., 2008
TABELA 1.2
O aumento na renda pessoal disponível nos paí- Os 10 maiores mercados de
ses em desenvolvimento estimula a demanda por uma embalagem
ampla gama de produtos em seus respectivos mercados
Vendas Vendas
de consumo, resultando em um crescimento nas indús- Ranking Ranking
País (US$ bilhões) (US$ bilhões)
2011 2016*
trias produtoras de embalagens para esses bens. Até 2011 2016*
12 BrasilPackTrends2020
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
TABELA 1.3
Vendas de embalagens
Vendas de embalagens por região (US$ bilhões)
Crescimento médio
Participação Participação Participação
Regiões 2008 2011 2016* estimado
% % %
2011-2016
Europa Ocidental 129 23% 142 21% 178 21% 4,6%
Europa Oriental 32 6% 36 5% 51 6% 7,2%
Oriente Médio 23 4% 34 5% 38 4% 2,4%
África 16 3% 27 4% 34 4% 4,6%
América do Norte 160 29% 178 26% 206 24% 3,0%
Américas do Sul e Central 45 8% 54 8% 68 8% 4,7%
Ásia 145 26% 189 28% 250 30% 5,8%
Oceania 9 2% 16 2% 21 2% 6,2%
TOTAL 559 675 845
*Estimativa
Fonte: DATAMARK, MARKET..., 2008
A maior parcela das vendas dessas regiões é pro- Em relação aos materiais de embalagem utili-
veniente dos segmentos de Alimentos (51%) e Bebidas zados pelas indústrias, as maiores participações, em
(18%). Os segmentos de Produtos Farmacêuticos, Hi- 2010, foram as dos segmentos Papel e Papelão (31%),
giene Pessoal e de Cosméticos são os que deverão apre- Plástico (21%) e Flexível (19%). Até 2015 estima-
sentar as maiores taxas de crescimento, entre 2010 e se que os segmentos Plástico e Flexível apresentarão
2016 (Tabela 1.4), apesar de sua menor participação maiores taxas de crescimento (Tabela 1.5).
no total das vendas (6% e 5%, respectivamente). Em comparação com o mercado mundial, no Bra-
sil a participação do segmento Papel e Papelão é menor
TABELA 1.4
(Tabela 1.6), verificando-se uma maior representativi-
Vendas de embalagens por
dade dos segmentos Plástico (27%), Plástico Flexível
segmentos de usuários: participação
(22%) e Metal (19%).
em 2010 e projeções para 2015
A classificação dos materiais apresentada nas Ta-
Participação e crescimento por segmento belas 1.5 e 1.6, é a seguinte:
Crescimento
Participação
Segmento anual estimado
2010
2010-2015
• Papel e Papelão: papel cartão, papelão e liquid packa-
Alimentos 51% 2,8%
ging board
Bebidas 18% 2,7%
• Plástico: plástico rígido
Farmacêuticos e
6% 4,5% • Plástico Flexível: Laminados, invólucros, membranas,
Higiene Pessoal
Cosméticos 5% 4,3% sacos, flow pack, stand up pouche, shrink film, stre-
Outros 20% 2,6% tch film e outros filmes
Fonte: REXAM, 2011 • Outros: Caixas de madeira, palete e sacos de tecido
BrasilPackTrends2020 13
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
14 BrasilPackTrends2020
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
TABELA 1.8
As maiores empresas de embalagem: Mundo e Brasil
Faturamento Bilhões
Posição Ranking mundial Atuação no Brasil
US$ - 2010
BrasilPackTrends2020 15
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
16 BrasilPackTrends2020
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
TABELA 1.14
Consumo de materiais de embalagem no Brasil: Valor (histórico e projeção)
Milhões de US$
Material 2007 - 2011 CAGR 2011-2015* CAGR
2007 2011 2015
Plástico 12.530 16.995 20.323 7,9% 4,6%
Celulósico 6.640 8.654 11.858 6,8% 8,2%
Metal 4.312 6.364 7.728 10,2% 5,0%
Vidro 898 1.262 1.442 8,9% 3,4%
Total 24.381 33.274 41.351 8,1% 5,6%
*Estimativa
CAGR: Compounded Annual Growth Rate
Fonte: DATAMARK
BrasilPackTrends2020 17
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
TABELA 1.15
Índice de reciclagem de embalagens em 2010
TABELA 1.16
Volume reciclado de embalagens em 2010
Volume reciclado 2010 (mil toneladas)
Material Brasil Japão Argentina Europa EUA
Alumínio 239 275 32 304 781
18 BrasilPackTrends2020
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
Embalagens plásticas
No período 2007-2011, o mercado de embala- mestível, produtos químicos e amaciante de roupa para
gens plásticas cresceu 7,9% ao ano em valor (US$) e embalagens plásticas rígidas (Quadro 1.1).
4,8% em volume (Tabelas 1.17 e 1.18). Entre os maio- Até 2015, a previsão é de aumento de mais US$
res usuários desse tipo de embalagem, destacam-se os 3 bilhões, em relação aos resultados obtidos em 2011,
mercados de biscoitos, alimentos para animais, refres- correspondentes a um volume adicional acima de 500
co em pó, café e salgadinhos para embalagens flexíveis, mil toneladas. Observa-se o progressivo crescimento do
e os mercados de refrigerantes, água mineral, óleo co- consumo per capita desde 2007 (Tabela 1.19).
TABELA 1.17
Tamanho do mercado de embalagens plásticas: Valor (histórico e projeções)
TABELA 1.18
Tamanho do mercado de embalagens plásticas: Volume (histórico e projeções)
BrasilPackTrends2020 19
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
TABELA 1.23
Em relação às embalagens plásticas, verifica-se Consumo de rótulos de plástico
expressivo crescimento do consumo em todas as cate- (volume, unidades)
gorias, com maior destaque para garrafas PET (43% Bilhões de unidades Mil toneladas
Tipo de
em unidades e 34,8% em toneladas) e tampas plásti- Embalagem
cas (32% em unidades e 25,8% em toneladas), entre 2007 2011 2015* 2007 2011 2015*
2007-2011. Esta tendência deverá se manter, con- Rótulos
24,6 30,5 37 33,9 34,4 41,5
forme estimativa que prevê um acréscimo em volume, Plásticos
20 BrasilPackTrends2020
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
Embalagens celulósicas
O mercado de embalagens celulósicas, excluindo TABELA 1.25
os laminados cartonados (LPB), cresceu 6,4% ao ano Tamanho do mercado de embalagens
em valor (US$) e 3,8% em volume, de 2007 a 2011. celulósicas: Volume (histórico e projeções)
Entre 2011 e 2015, a previsão é de aumento a uma
Mil toneladas 2007 - 2011-2015*
taxa anual de 3,2% em valor (US$) e de 3,4% ao ano Material
2011 CAGR CAGR
em volume (Tabelas 1.24 a 1.26). 2007 2011 2015*
Entre os maiores usuários desse tipo de emba- Celulósicas 3.722,2 4.315,1 4.934,5 3,8% 3,4%
lagem, destacam-se os mercados de embalagem de
*Estimativa
transporte de leite longa vida, hortifrutigranjeiros e aves CAGR: Compounded Annual Growth Rate
para papelão ondulado, detergentes em pó, calçados e Fonte: DATAMARK
QUADRO 1.2
Os 20 maiores mercados nacionais de consumo de embalagens celulósicas
20 maiores mercados de papelão ondulado 20 maiores mercados de papel cartão 20 maiores mercados de rótulos de papel
BrasilPackTrends2020 21
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
Em relação às categorias de embalagens celulósi- cimo em volume de, aproximadamente, 5% para emba-
cas, o maior consumo é de caixas de papelão ondulado, lagens de aço, 25% para alumínio e 21% para folha de
que deverá totalizar acima de 3,7 milhões de toneladas flandres (Tabela 1.31).
até 2015 (Tabela 1.27). No período 2011-2015, esti- Entre os maiores usuários desse tipo de embala-
ma-se um aumento aproximado de 15% para as caixas gem, destacam-se os mercados de cerveja, refrigerantes,
de papelão, de 12% para papel cartão (Tabela 1.28) e coloração capilar, desodorantes, sucos e néctares para
de 15% para rótulos de papel (Tabela 1.29). embalagens de alumínio, e os mercados de milho em
conserva, leite em pó integral, leite condensado, tinta
TABELA 1.27
látex e solventes para folha de flandres (Quadro 1.3).
Consumo de caixas de papelão
ondulado (volume, unidades)
Bilhões de unidades Mil toneladas TABELA 1.30
Material Tamanho do mercado de embalagens
2007 2011 2015* 2007 2011 2015*
metálicas: Valor (histórico e projeções)
Papelão
29,1 36,6 41,6 2.839,2 3.245,2 3.747,5
ondulado US$ milhões 2007 - 2011-2015*
Material
*Estimativa 2011 CAGR CAGR
2007 2011 2015*
Fonte: DATAMARK
Aço 546,5 577,2 608,9 1,37% 1,35%
TABELA 1.28 Alumínio 1.900,7 3.003,5 3.751,6 12,1% 5,7%
Consumo de embalagens de papel Folha de
flandres/ 1.864,7 2.783,2 3.367,5 10,4% 1,3%
cartão (volume, unidades) cromada
Bilhões de unidades Mil toneladas TOTAL 4.311,8 6.363,8 7.727,9 10,2% 5,0%
Material
*Estimativa
2007 2011 2015* 2007 2011 2015*
CAGR: Compounded Annual Growth Rate
Papel Fonte: DATAMARK
27,4 31,2 35,0 494,1 621,1 695,2
Cartão
*Estimativa
Fonte: DATAMARK
TABELA 1.31
TABELA 1.29 Tamanho do mercado de embalagens
Consumo de rótulos de papel metálicas: Volume (histórico e projeções)
(volume, unidades)
Bilhões de unidades Mil Toneladas
Material
Bilhões de unidades Mil Toneladas
Material 2007 2011 2015* 2007 2011 2015*
2007 2011 2015* 2007 2011 2015* Aço 0,02 0,03 0,03 278,6 282,2 297,7
Rótulos Alumínio 26,9 39,0 48,6 252,4 370,9 463,3
26,9 29,7 34,6 27,3 28,4 32,8
de Papel
Folha de
*Estimativa flandres/ 28,6 29,7 35,5 681,9 685,7 829,7
Fonte: DATAMARK cromada
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o mercado de embalagem: mundo e Brasil
BrasilPackTrends2020 23
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
24 BrasilPackTrends2020
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
Indústria usuária: alimentos uma taxa de crescimento maior diante do varejo ali-
mentício no período. A Tabela 1.42 apresenta indi-
A indústria de alimentos faturou R$ 316,5 bi- cadores de faturamento e comércio exterior do setor
lhões em 2011, apresentando um crescimento de brasileiro de alimentos nos últimos anos. A Tabela
5,2% em comparação com o ano anterior (Tabe- 1.43 relaciona os maiores segmentos da indústria
la 1.42). Desde 2005, o setor cresceu, em média, de alimentos, conforme dados sobre faturamento no
3,7% ao ano com o canal de food service, registrando período 2008-2011.
BrasilPackTrends2020 25
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
A alimentação fora de casa, que engloba restau- hoje, o porcentual do orçamento de alimentação dire-
rantes, bares, lanchonetes e refeições servidas dentro cionado à alimentação fora de casa das famílias brasi-
de supermercados, cresceu 15% nos últimos dez anos leiras é de 31%, ante 50% nos EUA e na Europa (CAR-
e hoje consome 30% da produção de alimentos no País. NEIRO, 2012).
A perspectiva de crescimento é positiva, uma vez que,
TABELA 1.42
Indicadores de desempenho da indústria de alimentos
Crescimento médio
2006 2007 2008 2009 2010 2011
(2005-2011)
Performance
Faturamento Líquido 263,8 269,7 279,6 286,1 300,8 316,5 3,7%
Comércio Exterior
Exportações 137,8 160,7 197,9 153 201,9 256 13,2%
Importações 91,4 120,6 173,2 127,6 181,6 226,2 19,9%
Saldo Comercial 46,5 40 24,7 25,3 20,3 29,8 -8,5%
Canal de Distribuição
Varejo Alimentício 110,4 122,7 143,8 159,1 179,5 205,3 13,2%
Food Service 43,4 50,3 58,2 64,4 75,1 88 15,2%
Fonte: CARNEIRO, 2012
TABELA 1.43
Indústria de alimentos: maiores segmentos por faturamento (2008-2011)
Maiores segmentos por faturamento (R$ bilhões)
Crescimento médio
2008 2009 2010 2011
(2008-2011)
Derivados de carne 61 58,5 66 80,1 7,0%
Açúcar 15,9 30,2 37,7 46 30,4%
Cereais beneficiados 31,1 32,9 35,9 42,1 7,9%
Laticínios 26,4 29 33,1 39 10,2%
Óleos e gorduras 32 29 29,3 32 0,0%
Derivados de trigo 18,7 18,9 19,9 21,9 4,0%
Diversos 14 15,4 17,7 20,7 10,3%
Derivados de frutas e vegetais 14,8 14,9 15,6 17,7 4,6%
Chocolate, cacau e balas 9,1 9,9 10,5 11,2 5,3%
Desidratados e supergelados 5,1 5,6 6,5 7,7 10,8%
Conservas de pescado 2 2,3 2,5 2,7 7,8%
Fonte: CARNEIRO, 2012
26 BrasilPackTrends2020
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
Um dos principais fatores responsáveis pelo Características como leveza, segurança e trans-
crescimento contínuo do setor, o acelerado desenvol- parência também são valorizadas cada vez mais pe-
vimento econômico do País nos últimos anos trouxe los consumidores. Da mesma forma, o consumo das
ao mercado uma nova classe média emergente com embalagens flexíveis está sendo impulsionado pelos
maior poder de compra e um grau de exigência su- alimentos perecíveis e os de conveniência, graças ao
perior em relação aos produtos alimentícios básicos. crescimento e à formalização dos mercados de quei-
Essas mudanças no comportamento de compra inten- jos, carnes e embutidos. Investimentos em novas
sificaram a rivalidade entre os fabricantes de alimen- embalagens têm sido uma forma eficaz de os bran-
tos industrializados, que buscam fidelizar o novo con- downers fortalecerem suas marcas e diferenciarem
sumidor com produtos inovadores acondicionados em seus produtos dos concorrentes. Em alguns mercados,
embalagens chamativas e funcionais. Em 2010, foram essas inovações catalizaram mudanças significativas
105.589 lançamentos de novos alimentos, aumento no mix de embalagem, como no segmento de molhos
de 4,3% em relação a 2009, portanto, a demanda por de tomate, que substituiu as latas de folha de flandres
alimentos saudáveis, leves, frescos, naturais e orgâni- pelos stand-up pouches.
cas, bem como opções funcionais e fortificadas, deve O segmento de alimentos deverá aumentar o con-
continuar a crescer nos próximos anos. Os canais de sumo de embalagens, com taxas médias de 4,4% ao
venda passaram por mudanças significativas, com lo- ano, em valor (US$ milhões), e de 4,2% em volume
jas de conveniência tornando-se pontos de venda cada (toneladas), entre 2011 e 2015. As embalagens metá-
vez mais importantes para os consumidores de todas licas e plásticas deverão apresentar as maiores taxas de
as idades e origens (THE FUTURE... 2009). crescimento (Tabelas 1.44, 1.45 e 1.46).
TABELA 1.44
Histórico e projeção do consumo de embalagem para alimentos: Valor
US$ milhões US$ milhões Crescimento médio US$ milhões Crescimento médio
Material
2007 2011 2007-2011 2015* 2011-2015*
BrasilPackTrends2020 27
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
TABELA 1.45
Histórico e projeção do consumo de embalagem para alimentos: Volume
(unidades)
Bilhões de Bilhões de
Crescimento médio Bilhões de unidades Crescimento médio
Material unidades unidades
2007-2011 2015* 2011-2015*
2007 2011
Papelão 6,2 7,0 3,4% 8,6 5,2%
Plástico 83,7 94,8 3,2% 107,3 3,1%
Metal 8,3 8,0 -0,8% 9,7 5,0%
Papel e Cartão 14,0 16,5 4,2% 18,5 2,9%
Vidro 1,2 1,1 -1,4% 1,2 3,1%
Flexível 94,1 103,6 2,4% 115,9 2,9%
TOTAL 207,4 230,9 2,7% 261,2 3,1%
*Estimativa
Fonte: DATAMARK
TABELA 1.46
Histórico e projeção do consumo de embalagem para alimentos: Volume
(toneladas)
Mil toneladas Mil toneladas Crescimento médio Mil toneladas Crescimento médio
Material
2007 2011 2007-2011 2015* 2011-2015*
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garrafas com tecnologia Plant bottle usadas nos merca- garrafas PET, devido à excelente aceitação pelos consu-
dos de refrigerantes e água mineral (PACHIONE, 2010). midores do novo formato, principalmente em virtude do
A enorme dependência das embalagens PET no maior destaque que a embalagem proporciona ao produ-
mercado de refrigerantes (de aproximadamente 60%) to, que, nos últimos 15 anos, tem sido comercializado,
obrigou os convertedores do material a buscar novas predominantemente, em caixas assépticas de 1 litro.
oportunidades como objetivo de replicar o sucesso das O segmento da indústria de bebidas deverá au-
garrafas PET em mercados promissores. A portuguesa mentar o consumo de embalagens, com taxas médias
Logoplaste, juntamente com a marca Shefa, por exem- de 5,4% ao ano, em valor (US$ milhões), e de 4,9%
plo, parece ter dado início a uma possível migração das em volume (toneladas), entre 2011 e 2015. As embala-
caixas assépticas para garrafas PET com barreira à luz gens de metal, plástico, papel e papelão deverão apre-
no mercado de leite longa vida. Em apenas seis meses, sentar as maiores taxas de crescimento (Tabelas 1.48,
a Shefa passou a acondicionar 30% da sua produção em 1.49 e 1.50) (DATAMARK, s.d.).
TABELA 1.48
Histórico e projeção do consumo de embalagem para bebidas: Valor
US$ milhões US$ milhões Crescimento médio US$ milhões Crescimento médio
Material
2007 2011 2007-2011 2015* 2011-2015*
TABELA 1.49
Histórico e projeção do consumo de embalagem para bebidas: Volume (unidades)
Bilhões de unidades Bilhões de unidades Crescimento médio Bilhões de unidades Crescimento médio
Material
2007 2011 2007-2011 2015* 2011-2015*
30 BrasilPackTrends2020
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
TABELA 1.50
Histórico e projeção do consumo de embalagem: Volume (toneladas)
Mil Toneladas Mil Toneladas Crescimento médio Mil Toneladas Crescimento médio
Material
2007 2011 2007-2011 2015* 2011-2015*
Indústria usuária: healthcare brasileiro, que encerraram 2011 com 20,5% do fatura-
mento do setor farmacêutico.
Nos últimos dez anos, as vendas de medicamentos, O setor de embalagens para farmacêuticos, que
incluindo genéricos, OTC (Over-the-Counter, venda livre) engloba desde blisters laminados e cartuchos de papel
e outros medicamentos sob prescrição médica, cresce- cartão até frascos de vidro, tem se beneficiado do salto
ram 43,5%, atingindo 2,34 bilhões de unidades no fim na demanda por medicamentos genéricos, movimen-
de 2011. O avanço acelerado de praticamente todos os tando, aproximadamente, R$ 606 milhões de reais em
tipos de medicamentos estimulou os grandes laboratórios 2011, um acréscimo de 25% versus 2010, superando
a investir intensamente na ampliação de instalações in- a taxa de crescimento de 13% do setor farmacêutico.
dustriais, estudos clínicos e aquisições. Cerca de R$ 5 A tabela 1.52 apresenta a relação das dez maiores em-
bilhões em investimentos, negócios e aquisições agitaram presas do setor em 2010 (por faturamento) (PORTAL
o mercado brasileiro de medicamentos em 2011. FARMACÊUTICO, 2012; FÓRUM DE LÍDERES, s.d.).
Os grandes investimentos também são uma for- O mercado para medicamentos OTC é crescente,
ma de os laboratórios se prepararem para enfrentar uma sendo impulsionado principalmente pela expansão dos
nova era sem o monopólio de produtos blockbuster (su- programas de saúde governamentais, bem como o au-
cesso de vendas) através de patentes. O vencimento de mento da renda discricionária do consumidor brasileiro.
uma patente representa, para as indústrias fabricantes O crescimento do poder de compra da classe C e
e detentoras de P&D, uma perda de US$ 500 milhões a diminuição dos preços dos medicamentos, graças ao
em vendas somente no Brasil, e em 2011 perto de 25 advento dos genéricos, tornou os medicamentos mais
medicamentos venceram patentes. Para lidar com essa acessíveis a grande parte da população brasileira. O gas-
transformação, uma das principais diferenciações estra- to médio per capita em 2012 deve ser de R$ 386,43,
tégicas dos gigantes do setor é a inovação de produtos versus R$ 337 de 2011. As classes B e C serão as
e investimento em pesquisa para acelerar o desenvolvi- principais responsáveis por esse consumo. Juntas, elas
mento de novos tratamentos terapêuticos. O aumento corresponderam a 80% do valor total, com gastos de R$
considerável nos investimentos em pesquisa, provocado 23 bilhões e R$ 27 bilhões, respectivamente.
pelo vencimento de patentes, também coincide com o A diminuição da taxa de desemprego também se
crescimento da participação dos genéricos no mercado refletiu no aumento da cobertura dos planos de saúde
BrasilPackTrends2020 31
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
privados, o que resultou, de 2003 até 2010, em um em volume de vendas, começam a ceder espaço para
crescimento de cerca de 85% no consumo de remédios produtos voltados para tratamentos de doenças mais
de alto custo. Estima-se que, de 2003 para 2010, o complexas, como, por exemplo, o citrato de sildenafila,
número de vidas cobertas por planos de saúde tenha princípio ativo do Viagra (combate à disfunção erétil),
saltado de 32 milhões para 46 milhões. que em 2011, tornou-se o quarto medicamento mais
consumido no Brasil em valor. Outros medicamentos,
TABELA 1.51
que tratam hipertensão, problemas cardíacos, colesterol
Indústria farmacêutica: principais
alto e até câncer deverão figurar no topo desse ranking
empresas por faturamento
à medida que as patentes desses remédios expirarem.
Empresa Controle Tipo
Faturamento A consolidação das grandes farmácias é outra
(US$ MM)
tendência importante que reflete o potencial de cres-
Pfizer Americano Privada 2.160,7 cimento do setor no Brasil. Em 2011, as redes Raia
Novartis Suíço Privada 1.949,7 e Drogasil e Pacheco e São Paulo anunciaram fusões,
Sanofi Francês Privada 1.900 criando os maiores grupos do setor, com vendas supe-
Roche Suíço Privada 1.884,3 riores a R$ 4 bilhões. O processo deve continuar, uma
Medley Francês Privada 1.607,7 vez que diversas redes regionais estão sendo alvo de
AstraZeneca Anglo-Sueco Privada 1.088,9 aquisição das grandes, principalmente porque o mer-
EMS Brasileiro Privada 903,6 cado brasileiro de farmácias é muito pulverizado. São
Eurofarma Brasileiro Privada 839,8
mais de 60.000 farmácias no País, com as quatro líde-
res possuindo apenas 25% de participação versus 60%
Aché Brasileiro Privada 823,9
de participação das quatro maiores redes nos EUA. Por-
Merck Alemão Privada 576,9
tanto, há bastante espaço para crescer.
Fonte: DATAMARK, PORTAL FARMACÊUTICO, 2012, FÓRUM DE
LÍDERES, s.d. Esse segmento deverá aumentar o consumo de
embalagens, com taxas médias de 5,6% ao ano, em
O desenvolvimento econômico também provoca valor (US$ milhões), e de 5,6% em volume (toneladas),
mudanças no perfil dos medicamentos genéricos mais entre 2011 e 2015. As embalagens de metal, plástico,
consumidos no Brasil. Os analgésicos e antibióticos, em- papel e papelão deverão apresentar as maiores taxas de
bora ainda constem como os principais medicamentos crescimento (Tabelas 1.52, 1.53 e 1.54).
TABELA 1.52
Histórico e projeção do consumo de embalagem para healthcare: Valor
US$ Milhões US$ Milhões Crescimento médio US$ Milhões Crescimento médio
Material
2007 2011 2007-2011 2015* 2011-2015*
32 BrasilPackTrends2020
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
TABELA 1.53
Histórico e projeção do consumo de embalagem para healthcare: Volume (unidades)
Bilhões de unidades Bilhões de unidades Crescimento médio Bilhões de unidades Crescimento médio
Material
2007 2011 2007-2011 2015* 2011-2015*
TABELA 1.54
Histórico e projeção do consumo de embalagem: Volume (toneladas)
Mil Toneladas Mil Toneladas Crescimento médio Mil Toneladas Crescimento médio
Material
2007 2011 2007-2011 2015* 2011-2015*
Indústria usuária: personal care servar uma impressão de juventude, o consumo maior dos
produtos pelo público masculino, além de outros que são
A indústria brasileira de personal care apresentou considerados no capítulo 2 desta publicação.
um crescimento médio de 13,5% nos últimos dez anos, Conforme dados da Associação Brasileira da In-
tendo passado de um faturamento líquido de R$ 8,3 bi- dústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos
lhões (USD$ 3,5 bilhões) em 2001 para R$ 29,4 bilhões (ABHIPEC, 2011b), no Brasil existem 1.659 empresas
(USD$ 17,6 bilhões) em 2011 (ABHIPEC, 2011b). En- atuando no mercado de produtos de personal care, com
tre os fatores que impulsionaram esse crescimento des- 20 empresas de grande porte, com faturamento líquido
tacam-se a utilização de tecnologia de ponta pelo setor, de impostos acima dos R$ 100 milhões, representando
os lançamentos constantes de novos produtos, o aumento 73% do faturamento total. A Tabela 1.55 apresenta a
da expectativa de vida, o que traz a necessidade de con- distribuição dessas empresas, regionalmente.
BrasilPackTrends2020 33
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
TABELA 1.56
Indústria de personal care: balança comercial (2002-2011)
BALANÇA COMERCIAL MERCADO PERSONAL CARE
Importação Exportação
Ano % Crescimento % Crescimento Saldo
milhões US$ milhões US$
2002 152 -23,7 203 5,9 13,2
2003 150 -1,3 244 20,3 24,9
2004 157 4,4 332 36,1 33,8
2005 212 35 408 22,8 44,9
2006 295 39,2 489 19,9 46,5
2007 373 26,8 537 10 40
2008 466 24,7 648 20,5 25
2009 456 -2,1 588 -9,3 25,3
2010 697 52,7 693 18 20,2
2011 880 26,3 754 8,7 29,8
% Crescimento
médio últimos 16 14,7
dez anos
Fonte: ABHIPEC (2011b, 9 p.)
34 BrasilPackTrends2020
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
TABELA 1.57
Indústria de personal care: crescimento e participação dos países
2010 2011
Personal Care Crescimento % Participação %
US$ milhões US$ milhões
Mundo 387.727,1 425.866,5 9,8
EUA 60.744 63.086,4 3,9 14,8
Japão 43.381,7 47.267,7 9,0 11,1
Brasil 36.186,9 43.028,5 18,9 10,1
China 23.879,4 27.704,3 16 6,5
Alemanha 17.730,3 19.419,9 9,5 4,6
França 16.079,1 17.294,7 7,6 4,1
Reino Unido 15.592,8 17.019,8 9,2 4,0
Rússia 12.373 14.187 14,7 3,3
Itália 12.158,1 12.964,7 6,6 3,0
Espanha 10.473,3 11.007,4 5,1 2,6
Top 10 248.598,6 272.980,4 9,8 64,1
Fonte: ABHIPEC (2011b, 9 p.)
Com o crescimento contínuo do setor, haverá atributo, desejam hidratação, espalhabilidade, perfume
também um contínuo investimento na evolução quali- suave, fórmula não oleosa. Antes mesmo de se preocu-
tativa dos produtos para atender às demandas de um par se o produto protege contra os raios UVA e UVB, ela
consumidor cada vez mais ávido por qualidade e por observa a textura, a fragrância e a embalagem, as mais
linhas de produtos cada vez mais completas e voltadas comuns sendo os frascos de PET ou PP com tampa flip-
para necessidades específicas dos usuários. A evolu- top, as bisnagas plásticas (com menor penetração) e os
ção da categoria é marcada pela ampliação na gama de frascos plásticos com aplicador spray.
produtos disponível no mercado, com destaque para os O Brasil é hoje o segundo mercado em consumo
itens relacionados no Quadro 1.6. de perfumes. No entanto, por volta de apenas 6% do
O segmento de proteção solar foi o que mais cres- que se vende no mercado brasileiro é perfume importa-
ceu nos últimos anos no Brasil, graças à maior cons- do, o restante é de produtos nacionais e, dentre elas, as
cientização dos consumidores em relação à proteção de de maior participação são: Natura, Avon e O Boticário.
sua pele. A mudança de comportamento da população Mulheres cada vez mais acabam usando mais de um
observada nos últimos anos trouxe ao mercado produtos perfume, em média de três a quatro diferentes. Já os
para usos diversificados, no dia a dia, como protetores homens são capazes de permanecerem mais fiéis por
para os lábios, para as mãos, para o rosto e colo. Outra um longo período ao mesmo perfume.
segmentação que surge com força é quanto ao tipo de Esse segmento deverá aumentar o consumo de
pele (ex: para pele mista, oleosa etc.). embalagens, com taxas médias de 5,5% ao ano, em
Também é significativo o crescimento do uso de valor (US$ milhões), e de 5,7% em volume (toneladas),
protetor solar por parte do público masculino. Para os entre 2011 e 2015. As embalagens de plástico e me-
homens, o principal atributo observado é o cumpri- tal deverão apresentar as maiores taxas de crescimento
mento do benefício básico. Já as mulheres, além desse (Tabelas 1.58, 1.59 e 1.60).
BrasilPackTrends2020 35
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
QUADRO 1.6
Personal care: produtos de destaque no mercado brasileiro
“kits para higiene” Comercialização de kits para higiene dos cabelos (xampu e condicionador).
Cabelo
“Tratamentos”
para o público Linhas anticaspa, auxílio à queda de cabelos, suavidade, resistência etc.
masculino
“Além da A grande ênfase nessa categoria é a presença de filtro solar em todos os itens,
hidratação” sempre que possível.
Categoria composta de itens como: creme esfoliante para o corpo, creme ou óleo
Cremes/Loções
Pele para massagem, anticelulite, creme contra estrias, loções firmadoras, creme para
para o corpo
gestantes, creme para redução de medidas.
Bronzeador e Engloba: protetor solar, bronzeador, protetor solar para o rosto, protetor solar
protetor solar labial e autobronzeador.
Crescimento, em média, de 7,2% nos últimos cinco anos, sendo marcado pelo
avanço dos aerossóis de alumínio em detrimento dos spray bottles, a principal
Fragrâncias Desodorantes
solução da categoria durante muitos anos, por ser mais econômica que outros
formatos de embalagem.
36 BrasilPackTrends2020
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
TABELA 1.58
Histórico e projeção do consumo de embalagem para personal care: Valor
US$ Milhões US$ Milhões Crescimento médio US$ Milhões Crescimento médio
Material
2007 2011 2007-2011 2015* 2011-2015*
Plástico 453,1 629,4 8,6% 822,1 6,9%
Flexível 350,5 400,9 3,4% 475,5 4,4%
Papel e Cartão 213,8 372,7 14,9% 450,9 4,9%
Metal 93,5 236,8 26,2% 290,3 5,2%
Vidro 78,3 124,7 12,4% 151,1 4,9%
Papelão 42,1 82,4 18,3% 101,5 5,4%
TOTAL 1.231 1.847 10,7% 2.291 5,5%
*Estimativa
Fonte: DATAMARK
TABELA 1.59
Histórico e projeção do consumo de embalagem personal care: Volume (unidades)
Bilhões de Bilhões de Bilhões de
Crescimento médio Crescimento médio
Material unidades unidades unidades
2007-2011 2011-2015*
2007 2011 2015*
Plástico 11,2 13,5 4,8% 17,1 6,1%
Papelão 0,6 0,9 8,1% 1,1 5,5%
Vidro 0,7 1,0 8,0% 1,2 5,2%
Papel e Cartão 5,2 5,6 1,9% 6,5 3,6%
Flexível 10,2 11,7 3,4% 14,2 5,0%
Metal 0,5 0,9 14,4% 1,2 6,9%
TOTAL 28,6 33,6 4,2% 41,4 5,3%
*Estimativa
Fonte: DATAMARK
TABELA 1.60
Histórico e projeção do consumo de embalagem personal care: Volume (toneladas)
Mil toneladas Mil toneladas Crescimento médio Mil toneladas Crescimento médio
Material
2007 2011 2007-2011 2015* 2011-2015*
BrasilPackTrends2020 37
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
TABELA 1.61
Indústria de limpeza: maiores produtos por faturamento (2008-2011)
Crescimento médio
2008 2009 2010 2011
(2008-2011)
38 BrasilPackTrends2020
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
Cientes da preocupação dos consumidores com lhões) e Assim (R$ 140 milhões), respectivamente.
o meio ambiente, e da influência desse fator na deci- Além disso, importantes players internacionais, como
são de compra, os fabricantes de produtos de limpeza Unilever, P&G, SC Johnson e Reckitt, entre outros,
vêm utilizando o conceito na oferta dos seus produtos também estão reforçando seu foco no Brasil como
através de embalagens recicláveis, refis e, principal- forma de mitigar a estagnação nos mercados ameri-
mente, fórmulas concentradas em tamanhos menores. cano e europeu.
A força do apelo dos produtos de limpeza com menor O crescimento do setor também vem sendo
impacto ambiental levou muitas empresas a lançar li- impulsionado pelo mercado de limpeza institucio-
nhas completas de produtos ecologicamente corretos, nal. Empresas especializadas na prestação de limpe-
como, por exemplo, a Bombril com sua linha Ecobril. A za profissional a particulares, clientes corporativos,
linha inclui refis do multiuso em que os consumidores condomínios e outros, apostam na expansão no mer-
podem, na recompra, adquirir um sachê concentrado cado interno, que apresenta um grande potencial. O
de 100 ml e preparar o produto em casa, colocando o cenário de altos encargos trabalhistas indica que a
conteúdo do sachê no frasco e completando com água. demanda pela terceirização tenderá a aumentar, uma
Essa tendência também tem repercussão na indústria vez que essa seja uma forma eficaz de as residências
de embalagens, que passa a introduzir cada vez mais e as empresas diminuírem as despesas com serviços
frascos com conteúdos menores e também embalagens de limpeza.
flexíveis, tradicionalmente usadas pouco no mercado Esse segmento deverá aumentar o consumo de
de produtos de limpeza. embalagens, com taxas médias de 3,0% ao ano, em
O ano de 2011 foi marcado por uma intensi- valor (US$ milhões), e de 3,1% em volume (toneladas),
ficação na competitividade do setor com empresas entre 2011 e 2015. As embalagens flexíveis deverão
nacionais, como Química Amparo e Flora reforçando apresentar as maiores taxas de crescimento (Tabelas
seus portfólios com as marcas Assolan (R$ 110 mi- 1.62, 1.63 e 1.64).
TABELA 1.62
Histórico e projeção do consumo de embalagem para produtos de limpeza: Valor
US$ milhões US$ milhões Crescimento médio US$ milhões Crescimento médio
Material
2007 2011 2007-2011 2015* 2011-2015*
BrasilPackTrends2020 39
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
TABELA 1.63
Histórico e projeção do consumo de embalagem para produtos de limpeza:
Volume (unidades)
Bilhões de Bilhões de Bilhões de
Crescimento médio Crescimento médio
Material unidades unidades unidades
2007-2011 2011-2015*
2007 2011 2015*
TABELA 1.64
Histórico e projeção do consumo de embalagem para produtos de limpeza:
Volume (toneladas)
Mil toneladas Mil toneladas Crescimento médio Mil toneladas Crescimento médio
Material
2007 2011 2007-2011 2015* 2011-2015*
*Estimativa
Fonte: DATAMARK
40 BrasilPackTrends2020
o mercado de embalagem: mundo e Brasil
1.5 REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE HIGIENE PORTAL FARMACÊUTICO. Perfil de consumo de medicamentos
PESSOAL, PERFUMARIA E COSMÉTICOS. Caderno de tendências, genéricos muda no Brasil. Pfarma.com.br, 22 maio 2012.
higiene pessoal, perfumaria e cosméticos 2010/2011. 2. ed. São Paulo: Disponível em: <http://pfarma.com.br/noticia-setor-
ABHIPEC, 2011a. 69 p. Disponível em: <http://www.abihpec. farmaceutico/industria-farmaceutica/876-10-medicamentos-
org.br/2011/08/caderno-de-tendencias-2011-3/>. genericos-mais-consumidos-2011.html>.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE HIGIENE QUADROS, S. Estudo macroeconomico da embalagem. São Paulo:
PESSOAL, PERFUMARIA E COSMÉTICOS. Panorama do setor. ABRE/FGV, 2012.
São Paulo: ABHIPEC, 2011b. Disponível em: <http://www.
abihpec.org.br/2012/04/panorama-do-setor-2011/>. REXAM. Consumer packaging report 2011/12: packaging unwrapped.
London: rexam, 2011. 45 p. Disponível em:<http://www.rexam.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE PRODUTOS com/files/pdf/packaging_unwrapped_2011.pdf>.
DE LIMPEZA E AFINS. Anuário ABIPLA 2011. 6. ed. São Paulo:
ABIPLA/SIPLA, 2011. 252 p. Disponível em: <http://www. THE FUTURE of packaging: long-term scenarios to 2020.
abipla.org.br/novo/anuario.aspx>. Leatherhead: Smithers Pira, 2009. 302 p.
BrasilPackTrends2020 41
Raul Amaral Rego
Luis F. C. Madi
Capítulo 2
A configuração dos fatores de influência do mer- Neste trabalho são analisados alguns desses fa-
cado de consumo, comumente denominados como dri- tores, identificados conforme seu potencial de impacto
vers, é bastante complexa por envolver uma rede ampla sobre o mercado de bens de consumo embalados (Qua-
de variáveis interdependentes. dro 2.1).
REGO, R. A.; MADI, L. F. C. Fatores que influenciam o mercado de bens de consumo. In: BRASIL pack trends 2020. Campinas: ITAL, 2012. cap. 2, p. 41-65.
BrasilPackTrends2020 43
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
QUADRO 2.1
Fatores de influência analisados no mercado de bens de consumo
Crescimento da economia
brasileira Aumento da demanda de bens de consumo
ECONOMIA E
Políticas de desenvolvimento Pressões sobre recursos naturais
POLÍTICA
econômico Pressões para produção e consumo sustentáveis
Políticas de inclusão social
Crescimento do mercado de
luxo Crescimento da demanda por produtos de maior valor
RENDA E Ascensão social e agregado
CONSUMO consolidação da nova classe Mudanças na composição da cesta de consumo
média Demanda por produtos com ofertas de valor
Potencial do segmento BOP2
44 BrasilPackTrends2020
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
2.1 POPULAÇÃO
A evolução das variáveis demográficas indica que Mudanças na estrutura etária
as próximas décadas deverão ser marcadas por um mer-
cado em desenvolvimento, com muitas transformações Projetado a partir das tendências das taxas de
nos hábitos de consumo derivadas do envelhecimento natalidade e mortalidade, o crescimento da popula-
da população brasileira, ocorrência de um bônus demo- ção (IBGE, 2008) acarretará mudanças na estrutura
gráfico, mudanças na estrutura familiar e concentração etária (Tabela 2.1) que deverão influenciar o perfil
populacional em grandes centros urbanos. do mercado de bens de consumo nas próximas dé-
cadas.
Taxas de crescimento da população Em relação à população infantojuvenil, de 0 a 14
anos, espera-se uma diminuição de 15,9%, de 2010 a
Conforme dados do documento Projeção da po- 2020, devendo essa tendência se acentuar ainda mais
pulação do Brasil por sexo e idade, 1980-2050 (IBGE, até 2050. Os mercados de determinados produtos,
2008), a população brasileira deverá apresentar cresci- como farmacêuticos e alimentos, para o público infantil
mento até 2039 e, a partir de 2040, iniciará uma ten- terão de se ajustar a esse movimento. O mesmo tende a
dência de queda (Figura 2.1). Estima-se o acréscimo de ocorrer com os jovens de 15 a 24 anos, porém somente
13.890.639 de pessoas entre 2010 e 2020, 9.266.787 a partir de 2030.
entre 20210 e 2030, 2.665.100 entre 2030 e 2040,
e redução de 3.787.667 pessoas entre 2040 e 2050.
FIGURA 2.1
Evolução da população total, Brasil 2010-2050
BrasilPackTrends2020 45
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
TABELA 2.1
Projeções do crescimento da população brasileira
Por outro lado, a economia brasileira deverá so- cações claras sobre ingredientes e restrições ao consu-
frer uma forte influência do crescimento da população mo para essa faixa de idade.
com idades superiores a 55 anos e, principalmente,
com o aumento expressivo do número de pessoas idosas Bônus demográfico
no longo prazo. Por exemplo, a população acima de 75
anos, que deverá crescer 45,4% entre 2010 e 2020, Estima-se que haverá uma situação muito favorá-
aumentará mais de quatro vezes até 2050. vel para o País, devido ao crescimento da faixa na qual se
O fator envelhecimento tem sido objeto de vá- concentra a população economicamente ativa, que deverá
rias pesquisas, pois se manifesta em diversos países. permanecer superior ao grupo economicamente dependente,
Traz desafios para as áreas de saúde pública e previ- até 2025 (Figura 2.2). Essa condição, caracterizada como
dência social, entre outras. Por outro lado, tem criado bônus demográfico, é considerada uma janela de oportunida-
oportunidades para o setor produtivo, uma vez que está des para o desenvolvimento socioeconômico. Portanto, nas
emergindo um mercado de seniores com maior poder próximas duas décadas haverá uma condição bastante pro-
de compra, com preferências bastante particulares. pícia para o incremento do consumo das famílias brasileiras.
Por exemplo, um estudo canadense (OLIVEIRA, 2003) Ao mesmo tempo, o envelhecimento da popula-
identificou necessidades de adequação de produtos ção representará um aumento progressivo da relação
alimentícios diante do envelhecimento da população: de dependência entre idosos e a população economica-
porções menores, redução no peso de embalagens, em- mente ativa (Tabela 2.2), indo de 10,10% (2010) para
balagens fáceis de abrir e manipular, rótulos com indi- 35,41% em 2050 (IBGE, 2008).
46 BrasilPackTrends2020
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
FIGURA 2.2
Identificação do bônus demográfico: população de 15-64 anos versus
(população de 0-14 anos + população de 65 anos ou mais)
TABELA 2.2
Evolução das relações de dependência de crianças e idosos da população
economicamente ativa: 1980-2050
BrasilPackTrends2020 47
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
48 BrasilPackTrends2020
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
TABELA 2.3
População residente em regiões metropolitanas e regiões integradas de
desenvolvimento, em áreas urbanizadas
População
Regiões Total Áreas urbanizadas % de população urbana
TOTAL 89.420.179 83.580.248 93,47%
SUDESTE 43.698.658 42.445.109 97,13%
São Paulo - SP 19.683.975 19.091.568 96,99%
Rio de Janeiro - RJ 11.835.708 11.752.169 99,29%
Belo Horizonte - MG 5.414.701 5.115.006 94,47%
Campinas - SP 2.797.137 2.656.549 94,97%
Grande Vitória - ES 1.687.704 1.636.326 96,96%
Baixada Santista - SP 1.664.136 1.653.640 99,37%
Vale do Aço - MG 615.297 539.851 87,74%
SUL 13.500.179 11.853.617 87,80%
Porto Alegre - RS 3.958.985 3.740.684 94,49%
Curitiba - PR 3.174.201 2.794.629 88,04%
Norte/Nordeste Catarinense - SC 1.094.412 784.817 71,71%
Florianópolis - SC 1.012.233 912.173 90,11%
Londrina - PR 764.348 721.246 94,36%
Vale do Itajaí - SC 689.731 589.056 85,40%
Maringá - PR 612.545 585.229 95,54%
Carbonífera - SC 550.206 391.984 71,24%
Foz do Rio Itajaí - SC 532.771 471.054 88,42%
Chapecó - SC 403.494 304.000 75,34%
Tubarão - SC 356.721 267.904 75,10%
Lages - SC 350.532 290.841 82,97%
CENTRO-OESTE 6.724.635 6.362.340 94,61%
RIDE Distrito Federal e Entorno 3.717.728 3.454.711 92,93%
Goiânia - GO 2.173.141 2.115.090 97,33%
Vale do Rio Cuiabá - MT 833.766 792.539 95,06%
NORDESTE 20.789.036 18.452.218 88,76%
Recife - PE 3.690.547 3.559.616 96,45%
Fortaleza - CE 3.615.767 3.383.886 93,59%
Salvador - BA 3.573.973 3.436.366 96,15%
Natal - RN 1.351.004 1.192.202 88,25%
Grande São Luís - MA 1.331.181 995.563 74,79%
João Pessoa - PB 1.198.576 1.112.653 92,83%
Maceió - AL 1.156.364 1.117.978 96,68%
RIDE Grande Teresina 1.150.959 1.001.275 86,99%
Aracaju - SE 835.816 615.918 73,69%
Campina Grande - PB 687.039 513.539 74,75%
RIDE Petrolina/Juazeiro 686.410 478.315 69,68%
Agreste - AL 601.049 319.566 53,17%
Cariri - CE 564.478 436.326 77,30%
Sudoeste Maranhense - MA 345.873 289.015 83,56%
NORTE 4.707.671 4.466.964 94,89%
Manaus - AM 2.106.322 1.972.885 93,66%
Belém - PA 2.101.883 2.018.429 96,03%
Macapá - AP 499.466 475.650 95,23%
Fonte: IBGE, 2010
BrasilPackTrends2020 49
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
FIGURA 2.3
Estrutura familiar no Brasil
50 BrasilPackTrends2020
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
TABELA 2.4
Crescimento potencial do PIB
Apesar de o ritmo de crescimento da economia bra- do mercado de bens de consumo (Quadro 2.2), já no pe-
sileira depender da superação de fatores tais como a pres- ríodo 2010-2020, conforme o crescimento projetado para
são inflacionária e as deficiências de infraestrutura, as ex- as vendas de diferentes categorias de produtos (HIROSE
pectativas são otimistas para a próxima década. Conforme et al., 2012). Esse crescimento deverá ser mais acentua-
estudo da empresa McKinsey & Company (HIROSE et al., do nas regiões Norte e Nordeste, nas cidades do interior e
2012), o desenvolvimento promoverá uma forte expansão nas situadas em regiões metropolitanas.
QUADRO 2.2
Crescimento projetado para bens de consumo
Crescimento projetado
aproximado (2010-2020)
Exemplos de produtos
Sucos, air freshner, bebidas alcoólicas, protetores solares, produtos para animais
Entre 2,5 e 3 vezes
de estimação (Pet), produtos para a pele, cervejas etc.
BrasilPackTrends2020 51
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
52 BrasilPackTrends2020
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
Progressivamente, a convergência das políticas famílias brasileiras nas próximas décadas, dando sus-
de desenvolvimento e inclusão social poderá fortalecer tentação a um cenário bastante favorável para o merca-
o poder de compra e melhora da qualidade de vida das do de bens de consumo.
TABELA 2.5
Plano Brasil Maior – Prioridades, Objetivos e Metas (2011-2014)
Posição-Base
Objetivos estratégicos (2010)
Metas
BrasilPackTrends2020 53
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
TABELA 2.6
Plano Brasil sem Miséria – Pessoas atendidas
Pessoas atendidas
Ações até 29/6/2012
Programa Bolsa Família-PBF – famílias atendidas 13.462.659
Programa Bolsa Família-PBF – Expansão em famílias 463.099
Programa Bolsa Família-PBF – Benefício Variável Gestante-BVG 141.405
Programa Bolsa Família-PBF – Benefício Variável Nutriz-BVN 147.854
Programa Bolsa Família-PBF – Benefício para Superação da Extrema Pobreza
1.975.011
na Primeira Infância-BSP
Qualificação profissional – Pronatec – Vagas ofertadas 256.069
Qualificação profissional – Pronatec – Total de inscrições 123.060
Bolsa Verde – Famílias atendidas 20.920
ATER e Sementes – Famílias atendidas 128.920
Fomento – Famílias atendidas 7.483
Escolas Maioria Bolsa Família no Mais Educação 17.572
Unidades Básicas de Saúde-UBS 2.077
Fonte: Plano Brasil sem Miséria, 2012
TABELA 2.7
População brasileira com deficiências visual e motora
Deficiência visual
Não consegue Grande Alguma Total de
Faixa de idade
de modo algum dificuldade dificuldade pessoas
Total 506.377 6.056.533 29.211.482 35.774.392
0 a 14 anos 66.400 297.603 2.080.352 2.444.355
15 a 64 anos 301.961 3.976.160 22.037.125 26.315.246
65 anos ou mais 138.016 1.782.770 5.094.005 7.014.791
Deficiência motora
Não consegue Grande Alguma Total de
Faixa de idade
de modo algum dificuldade dificuldade pessoas
Total 734.421 3.698.929 8.832.249 13.265.599
0 a 14 anos 117.935 85.091 250.387 453.413
15 a 64 anos 298.765 1.851.569 5.266.174 7.416.508
65 anos ou mais 317.720 1.762.269 3.315.688 5.395.677
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010
54 BrasilPackTrends2020
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
FIGURA 2.4
Brasil, Distribuição de Classes Sociais, 2003, 2011 e 2014 (projeção)
BrasilPackTrends2020 55
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
funcional da renda é essencial para a distribuição pes- proporcionou um forte impacto positivo sobre a econo-
soal da renda, pode-se afirmar que o Brasil continuará, mia brasileira. De acordo com estudo da Fecomercio-SP
por muitos anos, apresentando índices de concentra- (2012, pág. 6), “mais de 12 milhões de famílias (quase
ção pessoal da renda elevados, embora decrescentes”. 40 milhões de pessoas) ascenderam às classes C e B de
Portanto, o segmento Triplo A deverá manter aquecido renda entre 2003 e 2009”.
o mercado de bens de consumo mais sofisticados, no Conforme estudo da Secretaria de Assuntos Es-
qual a estética e o design das embalagens exercem fun- tratégicos, do governo federal (BARROS; DIECKMANN;
ções estratégicas para a agregação de valor aos produ- MENDONÇA et al., 2011), o elevado crescimento da
tos de prestígio. renda da população mais pobre promoveu a “redução
Estudo da Bain & Company (D’ARPIZIO, 2011) do grau de desigualdade e um alargamento da classe
estimou o crescimento do mercado de luxo no Brasil média brasileira sem precedentes na história”. Para os
por volta de 20%, entre 2009 e 2011. De acordo com autores, os determinantes desse movimento foram o
a KPMG (RESURGENCE..., 2011), o mercado de luxo sistema de proteção social, o modelo de crescimento
brasileiro cresceu 22% em 2010, contabilizando o va- econômico mais inclusivo, a expansão do acesso ao cré-
lor de US$ 7,6 bilhões. A KPMG apresenta estimativa dito, os aumentos reais do salário mínimo, o aumento
de crescimento de 15,2% ao ano, entre 2010 e 2025, da produtividade e o grau de escolarização da força de
atingindo um valor de US$ 63,5 bilhões, o que deverá trabalho, entre outros fatores.
representar 6% do mercado global de bens de luxo. No A Nova Classe Média tem impulsionado a deman-
entanto, cabe observar que, nos mercados emergentes, da de bens de consumo no Brasil e provocado mudanças
como o Brasil, os produtos de luxo têm características estruturais no mercado, uma vez que esses consumido-
distintas daquelas conhecidas nos países desenvolvi- res requerem produtos que atendam ao seu desejo de
dos. Por exemplo, os consumidores emergentes tendem maior sofisticação de compra, por um preço acessível,
a buscar reconhecimento social e símbolos de status, conforme o seu poder aquisitivo, que, mesmo tendo sido
caracterizando-se por valores como excesso, extrava- ampliado, ainda é muito baixo. Essa condição traz desa-
gância e ostentação (D’ARPIZIO, 2011). fios para as indústrias de bens de consumo. Por exemplo,
Entretanto, o grande impulsionador do cresci- um trabalho do PROFUTURO (WRIGHT; SILVA; SPERS,
mento do setor industrial deverá vir de dois segmentos 2009) indica algumas características a ser observadas
que mantêm estreito vínculo: a Nova Classe Média e a para atendimento desse mercado de produtos populares:
população situada na base da pirâmide socioeconômica preço acessível, simplicidade, adequação de benefícios
brasileira. ao perfil popular, uso seletivo de tecnologias e adequação
para venda em pequenas lojas de varejo, entre outros.
Ascensão social e consolidação Uma pesquisa da empresa Ipsos (PESQUISA...,
2008) revelou o caráter heterogêneo dos consumidores
da Nova Classe Média (Classe C) de baixa renda, classificados em cinco grupos, confor-
me sua afinidade de hábitos de consumo e motivações
O estudo Brasil Food Trends 2020 (BRASIL..., para a compra: Gastadores (15% dos consumidores),
2010) demonstrou que a participação dos grupos de Precavidos (44%), Endividados (8%), Austeros (14%)
indivíduos dos estratos de menor renda, na renda total e Les Miserables (19%). Observou-se que três grupos
do País, aumentou 52,4% no período de 1996 a 2008, (Precavidos, Austeros e Les Miserables), que represen-
enquanto o estrato de maior renda teve sua participação tam a grande maioria (77%) dos consumidores de baixa
relativa reduzida de 47,5% para 43,2%, no mesmo pe- renda, não dão valor ou atribuem pouco valor ao status
ríodo. Esse pequeno movimento na direção de uma so- proporcionado pela compra de bens e serviços de mar-
ciedade mais equitativa quanto à distribuição de renda cas de prestígio, ou ainda não possuem recursos sufi-
56 BrasilPackTrends2020
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
cientes para deixar que a busca de status sirva como se $ Curto” e Supérfluos Desejáveis. Como exemplo, o
fator principal de motivação para a compra. Por outro Quadro 2.3 apresenta alguns dos bens considerados na
lado, apenas 15% desses consumidores (o grupo dos pesquisa.
Gastadores) apresentam comportamento similar aos Conforme observado pelos pesquisadores, os pro-
consumidores das classes A e B, por terem maior ren- dutos alimentícios representam itens que os consumi-
da relativamente aos demais. O grupo dos Endividados dores mais tentam preservar. Entre os fatores que in-
também demonstra alguma propensão ao consumo de fluenciam a compra de alimentos, a pesquisa destaca o
bens e serviços com marcas de prestígio, porém, suas preço/promoção (38%), a validade dos produtos (22%),
dívidas inibem seus anseios de consumo. sabor e aroma (13%) e marca reconhecida (13%). Os
A pesquisa Ipsos revela que é muito baixo o por- produtos de higiene pessoal compõem um grupo bas-
centual dos consumidores de baixa renda que possui mi- tante sensível à diminuição da renda disponível, po-
cro-ondas, com média de 13% e máximo de 23% (grupo dendo ser bastante reduzidos na lista de compras. Para
dos Gastadores), e também que menos da metade (42%) essa categoria os principais influenciadores são preço/
costuma consumir alimentos congelados. São dados re- promoção (31%), cheiro (22%) e marca reconhecida
levantes para o segmento de embalagens para alimentos. (22%). Os produtos para limpeza do lar são os que
Outra pesquisa da empresa Boston Consulting mais proporcionam satisfação pessoal para as donas de
Group (BARRETO; BOCHI; ABRAMOVICS, 2002) iden- casa da classe C. Nessa categoria os consumidores são
tificou os produtos da lista de compra da classe C, sub- mais influenciados por preço/promoção (31%), cheiro
dividindo-os em itens Imprescindíveis, “Abandonados (20%), marca reconhecida (16%) e rendimento (14%).
QUADRO 2.3
Pesquisa Boston Consulting Group – Lista de compras da classe C
BrasilPackTrends2020 57
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
58 BrasilPackTrends2020
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
FIGURA 2.5
Distribuição da população por nível de educação: 1992-2007
BrasilPackTrends2020 59
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
FIGURA 2.6
Despesa mensal média familiar conforme nível educacional: 2008/2009
Crescimento dos consumidores LOHAS atributos mais subjetivos, como a responsabilidade so-
cial do fabricante (GLOBAL..., 2008).
O maior interesse por saúde e bem-estar tem Apesar de estar constatada nos países desenvol-
provocado o crescimento de um segmento específico vidos como Estados Unidos, França, Alemanha, Reino
de consumidores, rotulados como LOHAS (Lifestyles Unido, Austrália e Japão, existem evidências, embora
of Health & Sustainability), cujo estilo de vida requer não comprovadas cientificamente, de que é um fenô-
produtos e serviços alinhados com seus valores e visão meno mundial manifestado também na China, na Índia
de mundo, configurados a partir de um maior acesso à e no Brasil. O valor desse mercado nos Estados Unidos
educação e à informação (GLOBAL..., 2008). As deci- foi estimado em US$ 209 bilhões em 2007, com pers-
sões de compra dessas pessoas são influenciadas for- pectiva de grande crescimento no futuro, devido à sua
temente pelos critérios de saudabilidade e sustentabili- elevada taxa de crescimento (GLOBAL..., 2008).
dade. Buscam um equilíbrio entre uma vida saudável e Um estudo realizado por pesquisadores de diversas
responsável quanto ao impacto do consumo individual áreas traçou diferentes cenários futuros para a sociedade
sobre o meio ambiente e a coletividade. europeia, considerando a consciência sobre a importân-
Os LOHAS não devem ser confundidos com os cia do estilo de vida saudável. É interessante a reflexão
consumidores “verdes”, em geral mais radicais em re- sobre o possível impacto de um desses cenários sobre
lação ao efeito do consumo sobre o meio ambiente. Seu o consumo, caracterizado pela intolerância a produtos
perfil inclui características como: moderno, adepto a e hábitos não saudáveis pela sociedade, forte presença
novas tecnologias, que exige transparência das empre- do governo na promoção desse estilo de vida, inclusive
sas e autenticidade de suas marcas, são céticos em re- oferecendo incentivos fiscais (NUTRITION..., 2004). Na
lação à propaganda, trocam informações entre si sobre configuração desse cenário, além de influenciador, esse
hábitos de consumo, buscam soluções que ofereçam fator se tornaria força coercitiva dos hábitos de consumo
elevada qualidade intrínseca do produto com outros de alimentos e outros produtos e serviços.
60 BrasilPackTrends2020
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
FIGURA 2.7
Crescimento da atividade de e-commerce e do
número de e-consumidores no Brasil
BrasilPackTrends2020 61
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
62 BrasilPackTrends2020
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
Características
Austeridade, contra desperdícios, adeptos do marketing de massa, valorizam marcas conhecidas, rotulagem de fácil leitura,
embalagens leves etc (c).
Tradicionalistas, forte lealdade, decisões orientadas pela experiência, disciplinados, modestos (d).
Valorizam a razão, a moral e a ética; conservadores, gostam de consistência (e).
Prosperidade e crescente propensão ao consumo (b).
Idealistas e competitivos (b).
Otimismo, mulheres no mercado de trabalho, maior renda disponível, maior preocupação com saúde, valorização de informações sobre
os produtos, busca de variedade, valorização do status da marca etc (c).
Ambiciosos, orientados pelo status (d).
Individualismo, materialismo, predileção pelo excesso; valorizam saúde, bem-estar e energia; valorizam a sensação de estar jovem;
céticos, desconfiam de autoridades (e).
Nascidos na depressão econômica global. Expectativa de ser mais educados, materialistas e bastante acostumados com as tecnologias
digitais (b).
2011; (c) Canadian…, 2005; (d) The generational…, 2005; (e) Williams; Page; Petrosky; Hernandez, 2011; (f) Wood, 2011
BrasilPackTrends2020 63
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
Finalmente, dentro de uma geração é possível en- quantidade relativa das gerações de consumidores bra-
contrar diferentes segmentos de consumidores, o que sileiros, ao longo do tempo, e do surgimento de novos
dificulta ainda mais o uso dessa abordagem para expli- estilos de vida e hábitos de consumo.
car o comportamento de compra e consumo. Isso pode Para avaliar a evolução das gerações nas próximas
ser verificado no estudo da empresa Boston Consulting décadas, foi feita a tabulação de dados do IBGE (2008)
Group (BARTON; FROMM; EGAN, 2012), que destaca e adotado um critério próprio para a segmentação da po-
seis diferentes grupos de consumidores: Hip-ennial, Mil- pulação conforme gerações (Figura 2.8). Para facilitar
lenial Mom, Gadget Guru, Clean and Green Millenial, Ol- a análise, adotou-se como padrão o intervalo de tempo
d-School Millenial e Anti-Millenial. utilizado nas classificações existentes das gerações Z
Portanto, é preciso ter cautela para que não sejam (1995-2010) e Alpha (2010-2025), apenas evitando a
criados estereótipos que levem a interpretações equivo- sobreposição de datas para não ocorrer duplicidade de
cadas sobre a segmentação do mercado de consumo. contagem. Dessa forma, convencionou-se classificar a
Mesmo assim, a análise sobre consumidores de diferen- população brasileira nas seguintes “gerações”: Geração
tes gerações é considerada útil para fazer uma reflexão Silent (1935-1949), Baby Boomers (1950-1964), Gera-
sobre os fatores que poderão influenciar o setor de em- ção X (1965-1979), Geração Y (1980-1994), Geração
balagens no futuro. Por isso, é feita uma breve reflexão Z (1995-2009), Geração Alpha (2010-2024) e Geração
sobre os potenciais impactos decorrentes da variação da Futura (2025-2039).
FIGURA 2.8
Variação da quantidade relativa da população (x1000 habitantes)
de diferentes gerações, 1980-2050
64 BrasilPackTrends2020
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
Apesar das limitações deste ensaio, é possível ob- cer, a Geração Futura, que será composta, em 2050,
servar que, nas próximas décadas, o mercado de consu- de pessoas entre 10 e 25 anos. Entretanto, com base
mo no Brasil deverá se renovar progressivamente tanto nos dados dos estudos relacionados no Quadro 2.4, as
no lado da demanda quanto no da oferta. A partir de novas gerações poderão exercer forte influência sobre o
2025, o Brasil deverá ter uma Geração Y madura, entre mercado de bens de consumo, uma vez que seu compor-
30 e 45 anos, uma Geração Z entre 15 e 30 anos e uma tamento de compra e consumo será moldado pela uti-
Geração Futura entrando na adolescência. lização intensa da tecnologia digital, pela conexão nas
De 2025 até 2050, cada vez mais, as novas ge- redes sociais, perfil pragmático e multicultural, consci-
rações deverão ditar as regras do mercado, configuran- ência de problemas sociais e ambientais, valorização da
do um cenário de muita incerteza, uma vez que não há responsabilidade social, valorização da ética, do real e do
como prever o comportamento da atual Geração Alpha verdadeiro, busca de simplicidade e conveniência, valo-
na idade adulta e, muito menos, imaginar como serão os rização da experiência de compra e maior inclinação ao
consumidores de uma geração que ainda está por nas- escapismo, entre outros aspectos.
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de Janeiro, v. 31, p.1-135, 2011.
66 BrasilPackTrends2020
fatores que influenciam o mercado de bens de consumo
POPULAÇÃO urbana sobe de 81,25% para 84,35%. Obtido VIVER sem limite. Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com
em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_ Deficiência. Secretaria de Direitos Humanos, Governo Federal.
visualiza.php?id_noticia=1766. Acesso: 27 jun. 2012. Disponível em: <http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/
sites/default/files/arquivos/%5Bfield_generico_imagens-filefield-
PPA 2012-2015: dimensão estratégica. Disponível em: http:// description%5D_0.pdf>. Acesso: 15 jun. 2012.
www.planejamento.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/spi/
PPA/2012/mp_002_Dimensao_Estrategica.pdf. Acesso: 18 jul.
2012.
BrasilPackTrends2020 67
Claire I.G.L. Sarantopoulos
Raul Amaral Rego
Tiago B. H. Dantas
Fiorella B. H. Dantas
Sandra B. M. Jaime,
Anna Lúcia Mourad
Marisa Padula
Capítulo 3
AS TENDÊNCIAS DE EMBALAGEM
Os fatores (drivers) que influenciam o mercado de embalagens
provocam mudanças de comportamentos habituais de consumo,
que adquirem um novo perfil. Essas mudanças trazem desafios e
oportunidades para as empresas em toda a cadeia produtiva, uma
vez que propiciam o lançamento de novas soluções para atender à
nova demanda e até podem provocar a substituição de categorias
de produtos.
No cenário atual, em que tais transformações se análise das tendências é destacada como uma etapa
manifestam intensamente, a inovação torna-se uma es- fundamental do processo de inovação, pois oferece as
tratégia competitiva essencial, seja para o crescimen- alternativas de investimento, conforme as perspectivas
to, seja para a sobrevivência no longo prazo. Assim, a de atratividade, viabilidade, risco e retorno.
SARANTÓPOULOS, C. I. G. L. et al. As tendências de embalagem. In: BRASIL pack trends 2020. Campinas: ITAL, 2012. cap. 3, p. 67-83.
BrasilPackTrends2020 69
as tendências de embalagem
O projeto Brasil Pack Trends 2020 visa ser um • Brasil Food Trends 2020 (BRASIL..., 2010): o Brasil Pack
instrumento facilitador na etapa de avaliação de ten- Trends 2020 representa um desdobramento des-
dências do processo de inovação. Ao mesmo tempo, es- se trabalho realizado pelo ITAL, em parceria com a
tabelece um elo entre as possibilidades de desenvolvi- Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
mento de novas embalagens e as soluções tecnológicas (FIESP), no que diz respeito a embalagens para as
disponíveis para sua realização. Para cumprir esse obje- áreas de alimentos e bebidas. Contém um capítulo
tivo, o trabalho apresenta o quadro geral das tendências específico sobre o impacto das tendências da ali-
que se manifestam no setor de embalagens, construído mentação sobre o setor de embalagens, elaborado
a partir da coleta de informações de fontes especia- com base nas cinco macrotendências definidas para
lizadas, as quais foram analisadas e sistematizadas o consumo de alimentos e bebidas: Sensorialidade e
pela equipe de profissionais experientes do mercado e Prazer, Saudabilidade e Bem-estar, Conveniência e
pesquisadores do Centro de Tecnologia de Embalagem Praticidade, Qualidade e Confiabilidade, Sustenta-
(CETEA) do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL). bilidade e Ética.
• The Fast Moving Consumer Goods Packaging Market 2012-
2022 (THE FAST..., 2010): elaborado pela empresa Vi-
3.1 AS BASES PARA A DEFINIÇÃO DAS siongain, especializada em estudos de mercado,
MACROTENDÊNCIAS DE EMBALAGEM apresenta estatísticas e projeções para o mercado
de embalagens, para diferentes países, incluindo o
O objetivo deste documento não é prever o futuro, Brasil, contemplando os segmentos Food, Beverage,
mas informar o leitor sobre certos pontos de vista e pos- Health Care e Personal Care.
sibilidades futuras, para estimular ideias e dar suporte a • The Future of Packaging – Long-term Scenarios to 2020 (THE
estratégias competitivas para desenvolvimento e uso de FUTURE..., 2009): publicado pelo renomado instituto
embalagens. Trazer à tona conhecimento existente e estru- Pira International, identifica fatores de influência
turá-lo para ajudar a pensar sobre o futuro. O pensamento e tendências para o mercado de embalagens. Con-
de longo prazo assegura políticas proativas e ajuda a mol- sidera diferentes segmentos em sua análise: Food
dar o futuro na direção que desejamos ver estabelecida. and Drink, Cosmetics and Healthcare, Industrial and
Na execução do projeto Brasil Pack Trends 2020 Transport, e Other Consumer Packaging. Inclui a
foram estudados diversos relatórios sobre tendências, análise de tendências específicas para os diferentes
com diferentes abordagens e propósitos. A seleção des- materiais de embalagens: papel e papelão, plástico
ses estudos teve como critério principal a notoriedade e flexível, plástico rígido, metal e vidro.
a credibilidade das instituições executoras. • Packaging Solutions Throughout The Supply Chain - Techno-
Considerando que vários estudos analisados tra- logy, trends and future outlook (BARNETT, 2012): estudo da
tam das tendências em âmbito global, a equipe de empresa Business Insights que destaca os desafios
autores destacou aquelas que, no seu entendimento, da cadeia produtiva de embalagem para aumento da
deverão ter maior representatividade no mercado bra- inovação, aumento da produtividade e redução de
sileiro. Portanto, os resultados apresentados não pos- custos. Analisa o impacto das políticas de susten-
suem caráter conclusivo, mas visam enriquecer a análi- tabilidade e de novas tecnologias sobre o setor de
se própria das empresas sobre as questões tecnológicas embalagens. Apresenta vários estudos de caso so-
que poderão ser estratégicas futuramente. bre empresas com aplicações de tecnologias nano,
De forma resumida, são apresentados alguns do- RFID, para redução de resíduos etc.
cumentos selecionados entre os mais recentes e que • Consumer Packaging Report 2011/12 (REXAM..., 2011): es-
apresentaram estudos em maior profundidade sobre os tudo elaborado pela empresa Rexam, apresenta um
temas abordados no Brasil Pack Trends 2020: panorama da indústria de embalagens, com análi-
70 BrasilPackTrends2020
as tendências de embalagem
ses por regiões (Europe, Asia, Oceania, Africa & • Future Food and Drinks Packaging – Emerging ethical, food
ME, North America, South & Central America), por safe and convenient formats (ANNETTE, 2008): estudo da
tipos de materiais (Paper & board, Rigid plastic, Business Insights que destaca tendências classifica-
Glass, Flexible plastic, Beverage cans, Other metal, das nas categorias: Green packaging, Supply chain
Other) e por setores (Beverages, Healthcare, Per- efficiency, Food safety packaging, Convenience e
sonal care, Household care, Ambient food). Desta- New materials. Analisa a evolução do mercado de
ca como megatrends para o setor de embalagens: embalagens, especificamente para os materiais
Demographic trends/ageing society, Sustainability/ plástico, metal, vidro, papel e papelão.
ethical consumerism, Health and wellbeing/health • Packaging Trends in Food and Beverages (PACKAGING..., 2009):
conscious, Value/hi lo consumerism/premiumis- elaborado pela Mintel, empresa especializada em
ation, Convenience/on the go lifestyles, Concerns estudos de mercado, detalha fatores de influência,
about product safety and security, Growing ethnic tendências e inovações em embalagens para o setor
diversity/rapid urbanisation. de alimentos e bebidas, com base em três categorias
• Market Statistics and Future Trends in Global Packaging (MAR- de tendências: Sustainability, Health and wellness e
KET…, 2008): estudo elaborado pela World Packag- Convenience and functionality.
ing Organisation com o Instituto Pira International, • The Plastic Packaging Market Outlook in Food and
que apresenta estatísticas e projeções do mercado Drinks: market forecasts to 2014, key players and in-
de embalagens por regiões (Oceania, Asia, South novation (THE PLASTIC…, 2011): elaborado pela em-
& Central America, North America, Africa, Middle presa Business Insights, apresenta dados sobre o
East, Eastern Europe), por setores usuários (Food, mercado de embalagens plásticas para o setor de
Beverage, Healthcare, Cosmetics, Other consumer, alimentos e bebidas, destacando fatores de influên-
Industrial/bulk packaging) e por materiais (Paper cia, tendências e inovações.
and board, Plastic packaging, Metal, Glass, Others). • Innovations in Glass Packaging for Food and Drinks -
Analisa fatores de influência e tendências do merca- Premium and sustainable applications and the impact
do de embalagens. of emerging markets (INNOVATIONS..., 2010): elabora-
• Innovationparc Packaging 2011 – Quality of Life (INTERPACK, do pela empresa Business Insights, apresenta fato-
2011): material coletado no stand e em conferências res de influência, tendências e inovações no merca-
apresentadas no setor InnovationParc da feira Inter- do de embalagens de vidro para o setor de alimentos
pack 2011, que abordaram as inovações em emba- e bebidas.
lagens conforme soluções classificadas em catego- • II Caderno de Tendências, Higiene Pessoal, Perfumaria
rias: Simplicity (Reduction, Convenience), Identity e Cosméticos (ASSOCIAÇÃO..., 2010): projeto desen-
(Belonging), Health (Wellbeing), Meaning (Sustaina- volvido em parceria por Associação Brasileira da In-
bility), Aesthetics (Design). dústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos
• Innovation in Food and Drinks Packaging – Opportunities in (ABIHPEC), Agência Brasileira de Desenvolvimento
added value and emerging technologies (RAITHATHA, 2009): Industrial (ABDI) e Serviço Brasileiro de Apoio às
estudo de mercado da empresa Business Insights, Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE Nacional),
sobre fatores de influência, tendências e inovações analisa hábitos de consumo globais e destaca ten-
no setor de alimentos e bebidas. Classifica as ten- dências setoriais e gerais.
dências em três categorias: Convenience, Ethical • Beverage Packaging: Brazil (BEVERAGE..., 2008): estudo da
and green, e Health. Analisa tendências específicas empresa Euromonitor que destaca fatores de influ-
segundo tipos e materiais de embalagens e por re- ência e tendências do setor de embalagens para di-
giões: Asia Pacific, Europe, Latin America, Middle ferentes categorias de alimentos processados (Dairy
East & Africa, North America. products, Sauces, dressings and condiments, Can-
BrasilPackTrends2020 71
as tendências de embalagem
ned/preserved food, Chilled and frozen foods, Impul- • 2020 Future Value Chain: Building Strategies for the
se foods, Dried processed food), materiais e tipos New Decade (2020 FUTURE..., 2011): documento ela-
de embalagem (Metal, Rigid Plastic, Glass, Liquid borado pelo The Consumer Goods Forum e as empre-
Cartons, Paper-based containers, Flexible packging, sas Capgemini, HP e Microsoft. Apresenta uma visão
Closures). sobre o futuro do mercado de bens de consumo.
• Food Packaging: Brazil (FOOD..., 2008): estudo da empresa Esses documentos foram selecionados de modo a
Euromonitor que destaca fatores de influência e ten- obter uma visão abrangente das tendências do mercado
dências do setor de embalagens para diferentes cate- de bens de consumo e também das tendências relacio-
gorias de bebidas (Soft drinks, Alcoholic drinks, Hot nadas à cadeia produtiva de embalagem, uma vez que
drinks), materiais e tipos de embalagem (Metal, Rigid a embalagem é um insumo das principais indústrias
Plastic, Glass, Liquid Cartons, Paper-based containers, analisadas no estudo, quais sejam: alimentos, bebidas,
Flexible packging, Closures, Multipacks, Returnables). personal care e health care.
72 BrasilPackTrends2020
as tendências de embalagem
O consumidor tem passado por rápidas mudan- a internet na mão por meio de smart phones, desde o
ças sociais e comportamentais, tem consciência, maior momento da compra.
nível de exigência e busca constantemente informações Fabricantes e usuários de embalagens devem
objetivas que auxiliem nas decisões de compra. Essa estar atentos a essas tendências, de forma que suas
informação chega diretamente por intermédio da emba- embalagens atendam a esse novo consumidor, com seu
lagem ou da interatividade que ela favorece através de estilo de vida.
ferramentas de interatividade, pois o consumidor tem
FIGURA 3.1
Fácil abertura e refechamento
Embora presentes em grande parte dos produtos, a fácil abertura e o refechamento continuam sendo tendên-
cias no setor de embalagens.
Fonte: Divulgação
FIGURA 3.2
Simplicidade de uso e preparo em micro-ondas
Os consumidores procuram produtos que consigam agregar praticidade com foco no momento do consumo,
com facilidade no preparo e minimizando o uso de copos, talheres e outros utensílios.
Fonte: Divulgação
BrasilPackTrends2020 73
as tendências de embalagem
QUADRO 3.1
Tendências de embalagem
74 BrasilPackTrends2020
as tendências de embalagem
BrasilPackTrends2020 75
as tendências de embalagem
FIGURA 3.3
Preservação de princípios ativos
Produtos com propriedades nutricionais e nutracêuticas, contendo vitaminas e outros compostos excessiva-
mente instáveis, perdem sua funcionalidade ao ser misturados com líquidos em contato com oxigênio. Assim, as
embalagens atuarão cada vez mais na preservação de tais componentes, desde o momento do envase até o consumo.
Fonte: Divulgação
FIGURA 3.4
Simplicidade e facilidade de informação
Limitada ao necessário, são características que cada vez mais atraem o consumidor.
Fonte: Divulgação
FIGURA 3.5
Consumo on-the-go e porcionamento
Embalagens que permitem o consumo progressivo e em trânsito, em porções individuais, atendendo a ques-
tões nutricionais ou minimizando custos e desperdício.
Fonte: Divulgação
76 BrasilPackTrends2020
as tendências de embalagem
BrasilPackTrends2020 77
as tendências de embalagem
As embalagens ativas atuam sobre o produto ou São exemplos de embalagens ativas: absorvedo-
espaço livre da embalagem para aumentar a vida útil res de oxigênio, de CO2, de etileno, absorvedores/con-
e a segurança microbiológica de alimentos e bebidas. troladores de umidade, absorvedores de odores, remo-
O princípio ativo pode estar associado às característi- vedores de colesterol, emissores de etanol, de CO2, de
cas intrínsecas dos polímeros de que é feita ou provir SO2, de aromas, filmes antimicrobianos, antioxidantes,
de aditivos incorporados a plásticos, papéis, metais ou embalagens autoaquecíveis (self-heating).
combinações desses materiais.
FIGURA 3.6
Exemplos de embalagens ativas
Absorvedores de etileno
78 BrasilPackTrends2020
as tendências de embalagem
FIGURA 3.7
Exemplos de embalagens ativas
indicadores de frescor
Nanotecnologia
A nanotecnologia aplicada em embalagens plásti-
O termo refere-se à tecnologia empregada no de- cas e celulósicas pode ajudar a superar suas limitações,
senvolvimento de produtos em escala nanométrica (10-9 resultando em:
m), que têm propriedades distintas daquelas de produtos • Melhora de propriedades: barreira a gases, barreira à
similares em escala macro. São destaques para a área de umidade, barreira à radiação UV, rigidez, flexibilida-
embalagem: nanocompósitos (nanoargilas e resinas), na- de, resistência térmica.
nopartículas de carbono/nanotubos, óxidos e metais em • Novas funcionalidades: embalagem antimicrobiana, ab-
escala nanométrica comercializados por fabricantes de sorvedores de oxigênio, absorvedores de umidade,
resinas e de aditivos/cargas para embalagem. embalagens inteligentes: sensores e indicadores,
BrasilPackTrends2020 79
as tendências de embalagem
FIGURA 3.8
Exemplos de aplicações de nanotecnologia em embalagem
Indicador de violação
Tecnologia PLASMAX
revestimento interno de SiOx
Fonte Divulgação
80 BrasilPackTrends2020
as tendências de embalagem
FIGURA 3.8
Exemplos de biopolímeros em embalagem
BrasilPackTrends2020 81
as tendências de embalagem
82 BrasilPackTrends2020
as tendências de embalagem
seio e estocagem, e deve ser controlada por meio de Declarações de conformidade são exigidas com
sistemas de gerenciamento de segurança de processo e o objetivo de transferir informação e para formalizar a
certificações de qualidade. corresponsabilidade do fabricante sobre o material de
Técnicas analíticas sofisticadas e a modelagem embalagem e assegurar o uso orreto da mesma nas con-
matemática com parâmetros mais próximos ao real são dições previstas.
aplicadas para estimar a migração de componentes da
embalagem para alimentos, assim como estudos são re-
alizados para avaliação da exposição do consumidor a
esses migrantes para suprir a falta de dados mais rea-
listas (OLDRING, 2010).
BrasilPackTrends2020 83
as tendências de embalagem
Organizações e associações trabalham para a har- RFID oferecerá oportunidades significativas para
monização das normas e regulamentos relacionados à os fabricantes, varejistas e consumidores.
segurança de alimentos, beneficiando o comércio inter-
nacional e a qualidade dos alimentos (MERMELSTEIN,
2012).
A rastreabilidade de materiais de embalagem,
seja em sistema automatizado ou não, já é uma exi-
gência de algumas legislações e torna-se cada vez mais
necessária para a segurança e identificação de origem
dos produtos acondicionados.
3.8 REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR MERMELSTEIN, N.H. International harmonization of food
15448-1: embalagens plásticas degradáveis e/ou de fontes quality & safety standards. Food Technology, Chicago, v: 66, n.
renováveis.Parte 1: terminologia. Rio de Janeiro, 2008. 2 p. 3, p. 72-75, 2012.
AGUIAR, Marcos; CUNHA, Olavo; PIKMAN, Michele. Winning NUTRITION & Health 2020: Scenarios for a health-conscious
Over the Next Billion Consumers in Brazil – A Guide to Growth. society. Brussels: Bio-Sense/King Baudouin Foundation, 2004.
The Boston Consulting Group, 2008.
OLDRING, P. Estimating risks posed by migrants from food
ANNETTE, Felicity. Future Food and Drinks Packaging - contact materials. In: RIJK, R.; VERAART, R. (Ed.). Global
Emerging ethical, food safe and convenient formats. UK: legislation for food packaging materials. Weinheim: Wyley-VCH,
Business Insights, 2008. 2010. Chapter 11, p.175-195.
BARNETT, Ian. Packaging Solutions Throughout The Supply POPULAÇÃO urbana sobe de 81,25% para 84,35%. Obtido
Chain - Technology, trends and future outlook em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_
visualiza.php?id_noticia=1766. Acesso: 27 junho. 2012.
BRASIL FOOD Trends 2020. São Paulo: FIESP/ITAL, 2010.
PROJEÇÃO da população do Brasil por sexo e idade, 1980-
CONSIDERA, Claudio M.; PESSOA, Samuel de Abreu. A 2050. Revisão 2008. Rio de Janeiro: IBGE, 2008.
distribuição funcional da renda no Brasil: 1959-2009. São
Paulo: IBRE/FGV, 2012. RAITHATHA, Carol. Innovation in Food and Drinks Packaging -
Opportunities in added value and emerging technologies. UK:
GLOBAL Lifestyle of Health and Sustainability. New Zealand: Business Insights, 2009.
Moxie Design Group/New Zealand Trade and Enterprise, 2008.
REXAM, Packaging unwrapped. Consumer packaging report
INNOVATIONs in Glass Packaging for Food and Drinks - 2011/12.
Premium and sustainable applications and the impact of
emerging markets. UK: Business Insights, 2010. THE FAST Moving Consumer Goods Packaging Market 2012-
2022. UK: Visiongain, 2010.
MARKET STATISTICS and Future Trends in Global Packaging.
WPO, 2008. THE FUTURE of Packaging – Long-term Scenarios to 2020.
UK: Pira International, 2009.
84 BrasilPackTrends2020
as tendências de embalagem
BrasilPackTrends2020 85
Tiago B. H. Dantas
Fiorella B. H. Dantas
Capítulo 4
CONVENIÊNCIA E SIMPLICIDADE
Hoje, a embalagem é uma ferramenta cada vez mais versátil
e funcional para usuários e consumidores. Ela pode atuar na
promoção da marca, sendo em alguns casos a própria marca, e
também no processo de decisão de compra do consumidor. Nesse
sentido, a conveniência e a simplicidade de uma embalagem e as
informações que esta contém podem ser determinantes na escolha
de um produto no ponto de venda.
Tradicionalmente, os desenvolvimentos de emba- praticidade à sua vida, considerando desde os aspectos
lagens tinham como foco atender às funções primárias mais básicos, como a facilidade de abertura, a possi-
de contenção, proteção e armazenamento, resultando bilidade de refechamento e a forma de preparo ou de
em produtos embalados com utilidade e conveniência utilização do produto, até os mais sofisticados, como o
abaixo do desejado. Apenas nos desenvolvimentos mais consumo on-the-go, os indicadores de frescor e os dis-
recentes é que se pode observar maior atenção a tais positivos de interatividade. A conveniência não é apenas
funções, uma vez que fabricantes e usuários estão mais uma indulgência, mas propicia a redução de desperdício
atentos àquilo que o consumidor espera da embalagem e facilita a vida dos idosos, dentre outros fatores. A im-
(DUIZER et al., 2009). portância da conveniência é indiscutível e o desafio é
O consumidor atual busca o time-saving, tende a que ela seja oferecida de forma que o consumidor acre-
estar cada vez mais atento às características que trazem dite nisso para tomar suas decisões de forma consciente
DANTAS, T. B. H.; DANTAS, F. B. H. Conveniência e simplicidade. In: BRASIL pack trends 2020. Campinas: ITAL, 2012. cap. 4, p. 85-105.
BrasilPackTrends2020 87
conveniência e simplicidade
88 BrasilPackTrends2020
conveniência e simplicidade
QUADRO 4.1
Conveniência e Simplicidade – desdobramentos
e contribuições da embalagem
Desdobramento das
Contribuições da embalagem
macrotendências
Funcionalidade em foco
Facilidade de manuseio, dispensa o uso de acessórios, funcional
Facilidade de abertura
para pessoas com deficiências motoras
BrasilPackTrends2020 89
conveniência e simplicidade
FIGURA 4.1
pelo simples puxar de uma aba, não apenas facilitando
Tampa de fácil abertura a abertura, mas mantendo melhores condições higiêni-
co-sanitárias no manuseio do produto, minimizando o
contato com as mãos e com a superfície de apoio para
o corte. O retirar de cada aba expõe apenas uma parte
do produto para corte, mantendo o restante protegido
do contato manual.
Fonte: Divulgação
Refechamento
Embalagens metálicas e cartonadas são exem-
plos já bem estabelecidos em relação a essa tendência, Além da facilidade de abertura, muitos consu-
mas ainda há inovações, como, por exemplo, a lata de midores ainda desejam que a embalagem apresente a
atum da empresa americana Bumble Bee (Figura 4.2), capacidade de refechamento. Esse é um importante as-
na qual a tampa tradicional foi substituída por selos de pecto no desenvolvimento de embalagens, pois pode re-
alumínio, minimizando a força de abertura, em compa- duzir as perdas de produto e aumentar o tempo de utili-
ração com as tampas convencionais do tipo ring-pull; zação dos materiais de embalagem durante o consumo
uma alteração muito bem vista por idosos e pessoas progressivo (BARNETT, 2010). Atualmente há diversos
com dificuldades motoras (ANNETTE, 2008). Outros exemplos de embalagens com tal característica, prin-
exemplos nessa linha são as tampas easy-open de ban- cipalmente aquelas destinadas a bebidas, como águas
dejas plásticas (Figura 4.2) e os sacos de fácil abertura e isotônicos. Essa característica também está presente
(Figura 4.3), que possibilitam abrir a embalagem sem em embalagens para alimentos como latas e pouches
a necessidade de acessórios como tesouras ou facas; e com zíper. Há ainda diversas outras linhas em que essa
ainda as tampas para potes de vidro, também com foco possibilidade pode ser implementada, a exemplo da
no mercado de idosos e pessoas debilitadas. bandeja termoformada da Clear Lam Packaging, com
O sistema Grip & Tear da Cryovac (Figura 4.4) um sistema de abertura e fechamento que possibilita o
permite a fácil abertura de sacos encolhíveis a vácuo consumo parcial do produto (Figura 4.5).
FIGURA 4.2.
Embalagens com fácil abertura
Fonte: Divulgação
90 BrasilPackTrends2020
conveniência e simplicidade
Fonte: Divulgação
FIGURA 4.6
FIGURA 4.4
Sistema de fácil abertura
Grip & Tear da Cryovac
Fonte: Divulgação
Fonte: Divulgação
BrasilPackTrends2020 91
conveniência e simplicidade
FIGURA 4.9
Embalagem para preparo
e consumo do produto
Fonte: Divulgação
92 BrasilPackTrends2020
conveniência e simplicidade
FIGURA 4.11
A sueca OneCafé oferece ao consumidor um café
coado na hora, de qualidade superior, originário de Consumo personalizado em
Uganda, em uma embalagem que, além de individual, embalagem funcional
apresenta a facilidade de uso e também de descarte do
sachê que contém o café em pó. A embalagem pode ser
fixada à borda da xícara onde o café será consumido,
permitindo posteriormente que o sachê seja colocado
de volta dentro dela, evitando respingos (Figura 4.11).
Outro exemplo é a embalagem Tstix, para bebidas solú-
veis como chás e cafés. Trata-se de um sachê em forma
de stick, com perfurações que permitem a passagem da
água quente e diluição do produto, servindo ainda para
a homogeneização do mesmo, em substituição à colher
(Figura 4.11). Fonte: Divulgação
FIGURA 4.10
Embalagem com FIGURA 4.12
Fonte: Divulgação
BrasilPackTrends2020 93
conveniência e simplicidade
Com uma visão diferenciada, a Guactruck, uma ça em relação à conveniência. Uma delas é uma lata
pequena empresa filipina, servindo refeições do tipo da empresa alemã Huber, em formato tradicional, mas
fast-food em um caminhão estilizado (food truck), deci- com um acessório interno para a remoção do excesso
diu inovar na apresentação de seus produtos. As refei- de tinta do pincel, o que geralmente é feito na borda da
ções são servidas em uma embalagem exclusiva (Figura lata (Figura 4.14). Outro desenvolvimento interessante
4.13) com diversos apelos: além do visual, o grande nessa linha é da Sherwin-Williams, com uma embala-
foco é na questão da sustentabilidade, utilizando ape- gem plástica do tipo twist & pour; os destaques são a
nas um tipo de material na confecção da embalagem, tampa rosqueável, que facilita a abertura, em compara-
no formato de uma flor que se abre; não há cola ou ção com o fechamento tradicional das latas, e o dispo-
plástico, o que facilita a reciclagem. Assumindo a res- sitivo interno que facilita a remoção da tinta do interior
ponsabilidade sobre tudo que sai de seu restaurante da embalagem, evitando a sujeira com escorrimentos
móvel, sejam alimentos, resíduos ou mesmo as emba- (Figura 4.14).
lagens, a empresa elaborou um sistema de incentivo E ainda mais prática, também da empresa She-
para a devolução das mesmas, para serem destinadas à rwin-Williams, é a embalagem plástica ready to roll,
reciclagem, premiando o consumidor com uma refeição que já vem com uma bandeja para tirar o excesso de
gratuita a cada dez unidades retornadas. tinta nos rolos de pintura, tornando desnecessária a
Na linha de tintas, duas embalagens ressaltam etapa de remoção da tinta do interior da embalagem
pequenas modificações que fazem uma grande diferen- (Figura 4.14).
FIGURA 4.13
Consumo personalizado com apelo à sustentabilidade
Fonte: Divulgação
FIGURA 4.14
Utilização do produto com praticidade e sem desperdício
Fonte: Divulgação
94 BrasilPackTrends2020
conveniência e simplicidade
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conveniência e simplicidade
FIGURA 4.18
Embalagem com redução
de volume para descarte
Fonte: Divulgação
FIGURA 4.20
Embalagem “antifog”
“Ver para crer”
96 BrasilPackTrends2020
conveniência e simplicidade
BrasilPackTrends2020 97
conveniência e simplicidade
Fonte: Divulgação
Figura 4.25
Fonte: Divulgação
Embalagens com heat susceptor
Outro exemplo é a embalagem da sopa Campbell’s para aquecimento em micro-ondas
(Figura 4.24), que alia a facilidade do aquecimento do
produto no forno de micro-ondas com a praticidade do
consumo direto na embalagem, que se trata de um pote
plástico multicamada, de alta barreira ao oxigênio, fe-
chado com selo de fácil abertura e sobretampa plástica.
O selo é retirado e coloca-se a tampa plástica na emba-
lagem para o aquecimento e consumo do produto.
Podemos encontrar ainda outros produtos, cujo
preparo em micro-ondas ainda gera dúvidas por parte
dos consumidores. Porém, com a evolução da tecno-
logia das embalagens, é possível encontrar alimentos
como rolinhos primavera, batatas fritas, pizzas e torti-
lhas mexicanas (Figura 4.25), todos para preparo em
micro-ondas e sem perda de crocância, utilizando em-
balagens com acessórios conhecidos como heat suscep-
tors, à base de filmes metalizados ou com revestimen-
tos especiais. Os heat susceptors absorvem a energia
das micro-ondas e se aquecem a elevadas temperatu-
ras, transferindo calor ao produto em contato e ao seu Fonte: Divulgação
redor (ZUCKERMAN; MILTZ, 1996).
98 BrasilPackTrends2020
conveniência e simplicidade
BrasilPackTrends2020 99
conveniência e simplicidade
Ícones dos itens das embalagens facilmente as- Ainda na linha do consumo em trânsito temos as
sociadas ao consumo em trânsito são as tampas utili- embalagens colapsáveis, não apenas após o consumo,
zadas em bebidas voltadas aos praticantes de espor- com apelo à sustentabilidade no quesito redução de
tes. Já existem no mercado diversos produtos com essa volume de descarte, mas também visando o transpor-
característica, mas podemos encontrar algumas inova- te do produto na forma mais compacta possível. Como
ções, como a tampa com válvula de silicone da bebida exemplo temos um projeto de embalagem sanfonada, a
Powerade, da Coca-Cola (Figura 4.28). Além de a em- Accordion Package (YANKO DESIGN, 2012), destinada
balagem apresentar um formato que facilita o manuseio a produtos secos, como sopas; a embalagem colapsada
durante a prática de esportes e seu rótulo possuir uma contendo o produto pode ser estendida para a adição de
área que permite a visualização do volume de produto água e consumo do produto diretamente na embalagem
que resta, a tampa apresenta outras características que (Figura 4.29). Outro projeto interessante é o Coffree,
a diferenciam das demais: abertura flip-top com mais um sachê que se transforma em xícara, bastando adi-
de 180 graus, válvula de fluxo, duplo sistema antiviola- cionar água quente; a aba contendo as instruções de
ção e sistema de vedação que elimina o selo de alumí- uso serve como asa da xícara (Figura 4.29).
nio para os sistemas de enchimento a quente. A tampa
pode ser aberta ou fechada com apenas uma das mãos. FIGURA 4.29
Embalagens com portabilidade
FIGURA 4.28
Embalagens para consumo
em trânsito e apelo sustentável
na reutilização
Fonte: Divulgação
100 BrasilPackTrends2020
conveniência e simplicidade
FIGURA 4.30
A questão do consumo em trânsito não envolve
Embalagens brasileiras com apelo apenas o mercado de alimentos e bebidas. Os setores
ao consumo em trânsito de produtos de higiene pessoal, cosméticos e farma-
cêuticos também devem estar atentos a essa tendência.
A embalagem pode ser utilizada como uma importan-
te ferramenta de diferenciação de tais produtos. Como
exemplo disso há o caso da empresa Jordan, com um kit
portátil de higiene oral, contendo uma escova dobrável
e o creme dental (Figura 4.32). Outro exemplo nessa li-
nha é a venda de protetor solar em pouches com tampa,
oferecendo maior conveniência no transporte em saco-
las, bolsas, etc. e permitindo o refechamento.
FIGURA 4.31
On-the-go saudável – Levando o restaurante para casa
Drink’n’Crunch e Cereal on-the- Go
Atualmente, o consumidor tem à disposição uma
grande variedade de opções para fazer suas refeições
sem sair de casa. Os motivos para tal atitude são di-
versos, desde a facilidade até a questão de seguran-
ça, principalmente nos grandes centros urbanos. Além
dos sistemas de entrega implementados pelos próprios
restaurantes, há sites especializados que concentram o
acesso a diversos estabelecimentos, facilitando a esco-
lha da refeição pelo cliente. Além disso, muitos restau-
Fonte: Divulgação
rantes têm investido na apresentação de seus produtos
BrasilPackTrends2020 101
conveniência e simplicidade
102 BrasilPackTrends2020
conveniência e simplicidade
Fonte: Divulgação
FIGURA 4.38
Embalagem interativa
voltada ao público infantil
Fonte: Divulgação
FIGURA 4.36
Exemplos de códigos
bidimensionais
Fonte: Divulgação
BrasilPackTrends2020 103
conveniência e simplicidade
FIGURA 4.39
Simplicidade e facilidade de informação
Rótulo personalizado com
a capa desse documento O novo consumidor tem suas convicções e argu-
mentos, pois quer e pode controlar a própria vida. Não
acredita mais em uma simples declaração, rejeita ar-
gumentos de marketing equivocados e questionáveis.
Ele quer informação transparente, simples e inteligível.
Também rejeita informações muito complexas e valori-
za fabricantes que dão informações compreensíveis e
honestas em seus produtos. Assim, o consumidor pes-
quisa mais e busca símbolos nas embalagens que o au-
xiliem na escolha do produto.
Uma maneira de promover simplicidade e faci-
litar o processo de compra para o consumidor é fazer
com que a embalagem seja fácil de ser compreendida e
identificada (HORTON, 2008). Os usuários de embala-
gens buscam novos tipos e desenhos que ofereçam sim-
plicidade, redução de custo e de materiais, sem sacri-
ficar os benefícios de conveniência e sustentabilidade.
Além disso, os consumidores costumam se confundir
quando bombardeados por uma interminável lista de
características e benefícios que cada produto possui
(PIRA INTERNATIONAL, 2009). Nesse sentido, a sim-
Fonte: Divulgação plicidade é uma tendência na área de embalagem, mas
com foco no item e não na marca, na tentativa de atrair
FIGURA 4.40 o consumidor pelo uso inteligente da fotografia, da im-
Eletrônica impressa pressão, transmitindo de maneira sutil os benefícios do
produto. As marcas próprias das grandes redes de su-
permercados são bons exemplos disso (Figura 4.41),
oferecendo itens de qualidade, muitas vezes fabricados
por empresas de renome no mercado, mas com foco no
produto, apresentando vantagens em relação ao custo
dadas pela economia na própria embalagem, em marke-
ting e outros fatores envolvidos.
Outro exemplo de simplicidade é o da inglesa
Yorkshire Provender Soups (Figura 4.42). A embalagem
original transmitia um posicionamento “da fazenda” ao
consumidor, com alguma visibilidade do produto na par-
te inferior do rótulo, que envolvia toda a embalagem. A
nova embalagem desenvolvida trouxe uma visibilidade
significativa ao produto e aumentou o reconhecimento
Fonte: Divulgação da marca (HILL, 2010).
104 BrasilPackTrends2020
conveniência e simplicidade
FIGURA 4.41
Marcas próprias – simplicidade
de informação
Fonte: Divulgação
FIGURA 4.44
Kit de sushi
Fonte: Divulgação
Fonte: Divulgação
BrasilPackTrends2020 105
conveniência e simplicidade
As porções individuais podem também ser utili- dividual, com diferentes compartimentos, mesclando
zadas como uma maneira conveniente de trazer bene- diversos produtos como frutas, legumes, queijos, iogur-
fícios à saúde do consumidor (BLAKE, 2006) e a em- tes e cereais (Figura 4.47). Há também inovações nos
balagem pode ser uma ferramenta para isso. A empresa alimentos para bebês. A Plum Organics, além de inovar
Protica, especializada em pesquisa e inovação na área com alimentos infantis em porções individuais acon-
nutracêutica, oferece diversos produtos em porções in- dicionadas em pouches, desenvolveu um sistema para
dividuais, como proteínas de alta absorção na forma de consumo direto na embalagem, bastando acoplar dire-
bebidas e geleias (Figura 4.45). O porcionamento pode tamente no bocal do pouch uma pequena colher que é
ser efetuado também em função da quantidade de ca- utilizada para alimentar o bebê (Figura 4.48).
lorias, como, por exemplo, a linha “100 calorias” da
Mabel (Figura 4.46). FIGURA 4.46
Outro segmento ao qual se aplicam as porções in- Porcionamento pela
dividuais é o mercado de consumidores da terceira idade. quantidade de calorias
A empresa japonesa QP Corp desenvolveu uma linha de
produtos em porções individuais com foco nas necessida-
des desse grupo: alimentos macios, de fácil mastigação
e deglutição, nutricionalmente adequados, com informa-
ções de fácil leitura e, em termos de conveniência, além
do porcionamento, são alimentos prontos para consumo,
bastando serem aquecidos (ANNETTE, 2008).
No segmento do público infantil, as embalagens
são atrativas, divertidas e, em geral, com apelo à sau-
dabilidade, como, por exemplo, o produto Foodles, da
Crunch Pak em parceria com a Disney, em porção in-
Nutracêuticos em
porções individuais FIGURA 4.47
Porção individual com
apelo à saudabilidade
Fonte: Divulgação
Fonte: Divulgação
106 BrasilPackTrends2020
conveniência e simplicidade
FIGURA 4.48
Porção individual com facilidade de consumo
Fonte: Divulgação
4.3 REFERÊNCIAS
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plus salt as an edible susceptor in microwaveable food. Food reducing product claims, brand dilution and private label threat.
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ethical, food safe and convenient formats. 2008. London: scenarios to 2020. Surrey: PIRA, 2009. 171 p.
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BARNETT, I. New technologies to reduce packaging: opportunities in added value and emerging technologies.
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DUIZER, L. M.; ROBERTSON, T.; HAN, J. Requirements for design (UD) principles for flexible packaging and corresponding
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2009.
ZUCKERMAN, H.; MILTZ, J. Prediction of dough browning in
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London: Business Insights, 2010. 159 p. p.519-524, 1997.
BrasilPackTrends2020 107
Fiorella B. H. Dantas
Sandra B. M. Jaime
Capítulo 5
ESTÉTICA E IDENTIDADE
Estamos diante de um novo cenário. O consumo nos próximos
anos será influenciado por diversos fatores, todos eles tendo como
figura central “o novo consumidor” com maior consciência, nível
de exigência e busca constante de informações que auxiliem
nas decisões de compra. Nesse sentido, é preciso enxergar o
consumidor como um ser humano completo, com necessidades,
desejos e sentimentos, em busca de uma gratificação objetiva, que
responda positivamente suas exigências, e também subjetiva com
envolvimento emocional.
Nos últimos anos, o consumo no Brasil mudou, sem filhos, pessoas morando sozinhas, consumidores da
enfrentamos ainda a disparidade de concentração de terceira idade, o avanço das mulheres no mercado de
renda, mas em contrapartida temos um crescimento do trabalho e a tecnologia ou as redes sociais. Hoje viven-
número de pessoas nas classes A e C, com maior ex- ciamos o que se pode chamar de “fenômeno da segunda
pressão na classe C, que movimentam o consumo. Além tela”, definido pelo hábito de ver televisão e navegar na
disso, podemos citar outros fatores que influenciarão o internet simultaneamente, ou seja, consumir tevê social-
consumo nos próximos anos, como mais casais jovens mente e compartilhar com a audiência nas redes sociais.
DANTAS, F. B. H.; JAIME, S. B. M. Estética e identidade. In: BRASIL pack trends 2020. Campinas: ITAL, 2012. cap. 5, p. 107-137.
BrasilPackTrends2020 109
estética e identidade
O novo consumidor tem maior consciência, nível Outro estilo de vida que merece destaque e que
de exigência e busca constantemente informações que movimenta o mercado de produtos e embalagens é o
auxiliem nas decisões de compra (UNIVERSIDADE DE que valoriza a qualidade de vida e o bem-estar, resul-
SÃO PAULO, 2011). Uma análise mais profunda que se tando na procura por produtos que possam trazer algum
torna ferramenta essencial para as inovações nas em- benefício à saúde, que exibam informações sobre sua
presas é enxergar o consumidor como um ser humano origem, que remetam a aspectos de qualidade, com in-
completo, com necessidades, sentimentos e desejos, gredientes naturais e saudáveis.
que espera se satisfazer com os produtos escolhidos no Estilos que podem ser considerados desconecta-
momento da compra. Ele busca uma gratificação objetiva, dos, mas que resultam no mesmo anseio – consumir, e
que responda positivamente suas exigências, e também para os quais a embalagem contribui significativamen-
subjetiva, que promova sentimentos de realização, proxi- te, transmitindo, comunicando, conectando o produto
midade e envolvimento emocional (MESTRINER, 2012). ou a marca ao consumidor.
Parte desses consumidores demanda produtos A embalagem reflete o posicionamento da marca no
com maior valor agregado, com símbolos de status, que mercado, reforça a percepção do consumidor, transmite se-
compõem um estilo de vida sofisticado. A premiumiza- gurança, proporciona diferenciação e apelo ao produto por
ção dos produtos e, consequentemente, da embalagem meio da renovação estética de cores, formatos, imagens,
reflete essa demanda do consumidor por produtos com artes gráficas etc. num estímulo sensorial inigualável. Em-
qualidade superior, associados ao luxo, à indulgência e balagens estéticas ou diferentes esteticamente aumentam
ao consumo hedonista. No mundo globalizado, o con- significativamente o tempo de reação dos consumidores e
sumidor deseja inserir-se no contexto, sentir-se parte despertam o desejo imediato, independentemente do preço
de um grupo, adotar um estilo de vida. A identificação (REIMANN; ZAICHKOWSKY; NEUHAUS et al., 2010).
pessoal com o produto ou com a celebridade que o di- No Quadro 5.1 são apresentadas as tendências des-
vulga pode remeter a essa sensação de “fazer parte do tacadas como desdobramento da megatendência Estética
grupo”. e Identidade e as possíveis contribuições da embalagem.
5.1 PREMIUMIZAÇÃO
Luxo, Indulgência e Consumo Hedonista
Luxury Packaging vidade, elegância, desejo, raridade, excelência, prestí-
gio e até necessidade.
O aumento do poder de compra da classe média O mercado do luxo brasileiro vem crescendo a
nos mercados emergentes e a valorização do consumo taxas de 20% a 25% nos últimos anos e isso se deve
de produtos com maior valor agregado possibilitam a uma série de fatores, como a crise de 2008, a atual
cada vez mais a aquisição de novos tipos de alimentos situação na Zona do Euro e o alargamento da classe mé-
embalados que anteriormente eram vistos como muito dia brasileira. Não obstante, o Brasil ainda oferece uma
caros e até mesmo como luxo desnecessário (SARAN- enorme resistência aos produtos de luxo gerados fora
TÓPOULOS et al., 2010). Com a maior disponibilidade das terras tupiniquins, impedindo o crescimento ainda
de renda dos consumidores, ocorre uma forte demanda mais significativo desse setor (CESA, 2012).
por produtos premium que reflitam a posição social da A demanda do consumidor por bens com maior
categoria e ao mesmo tempo ofereçam indulgência e valor agregado remete também aos produtos com qua-
satisfação. Um produto ou um serviço de luxo confere lidade superior, de caráter indulgente. Essas demandas
distinção a quem o usa, o que remete a prazer, exclusi- ou fatores de influência do mercado fizeram surgir o
110 BrasilPackTrends2020
estética e identidade
termo premiumization ou premiumização, cuja tradu- encontram-se voltados ao segmento de bebidas alco-
ção não se encontra nos dicionários, mas o significado ólicas. Algumas embalagens de vodca ilustram per-
indica as novas necessidades do consumidor do “luxo feitamente essa sofisticação. Em 2011, a companhia
acessível”. O produto considerado premium diferencia Indústrias Reunidas de Bebidas Tatuzinho, proprietá-
esse consumidor de seus pares, por isso ele é tão atra- ria da marca Velho Barreiro, apostou nessa tendência
ente (HILL, 2010). e desenvolveu a garrafa do produto Diamond, revestida
A premiumização não está voltada somente às ca- por uma malha tecida em prata e ouro cravejada por
tegorias de marcas de luxo, mas também aos produtos de 211 brilhantes e um diamante de 0,7 quilate incrus-
menor preço. São os denominados “premium acessível”, tado no centro da peça. São embalagens produzidas
que satisfazem a demanda dos consumidores na busca em edições limitadas de apenas 60 unidades e refor-
por produtos com qualidade e inovadores, sem precisar çam a identidade do produto. A garrafa na versão luxo
despender quantias extremamente elevadas. custa R$ 212 mil e mesmo antes do lançamento duas
Por transmitir uma sensação de pureza, a trans- unidades já estavam reservadas para empresários brasi-
parência da embalagem de vidro é frequentemente leiros. Com o lançamento, a empresa buscou chamar a
combinada com formatos atrativos, diferenciados, exó- atenção para a cachaça brasileira e valorizar o produto
ticos e em alguns casos luxuosos para maximizar a como uma bebida premium, capaz de competir com os
qualidade premium e a sofisticação de certos produtos, melhores destilados do mundo, elevar as exportações
explorando o prestígio e a autenticidade da marca. e deixar a marca Velho Barreiro na história da cachaça
Os produtos comercializados em recipientes de (ROSA, 2012) (Figura 5.1).
vidro com a tendência de oferecer sofisticação e luxo
QUADRO 5.1
Estética e Identidade – desdobramentos e contribuições da embalagem
BrasilPackTrends2020 111
estética e identidade
Fonte: Divulgação
FIGURA 5.4
Embalagens premium –
cosméticos
.Fonte: Divulgação
112 BrasilPackTrends2020
estética e identidade
uma loja de chocolates e pensa “vou comprar uma cai- Embalagens para
xa de bombons, porque eu mereço.” Esta é uma consta- produtos indulgentes
tação nítida de que essa consumidora buscou naquele
momento um produto que lhe proporcionasse prazer.
Nesse aspecto, o design da embalagem deverá,
além da funcionalidade, incorporar uma experiência sen-
sorial ao produto. Inovações em formatos e tamanhos,
juntamente com técnicas avançadas de impressão, darão
destaque aos produtos em relação à concorrência, revita-
lizarão marcas, acrescentarão appetite appeal e atrairão
o consumidor. Com isso o item terá o posicionamento de
um produto premium no mercado e terá maior diferen-
ciação quando comparado aos demais.
Um exemplo de produtos de extrema indulgência
explorada na embalagem são as sobremesas da marca Fonte: Divulgação
Gü (Figura 5.5). A imagem impressa nas embalagens
em cartão escuro e fosco, aliada à qualidade da impres- Outro bom exemplo de produto de “indulgência
são, transmite a excelência dos ingredientes utilizados sem culpa” que se utilizou dos recursos da embalagem
e cria uma aparência e sensação atrativas aos olhos do para atrair o consumidor é a linha Five de sorvetes da
consumidor, valorizando o sabor refinado e único de Häagen-Dazs, que, como o próprio nome já diz, é elabo-
suas sobremesas. A atenção aos detalhes incorporados rado com apenas cinco ingredientes: leite, creme de lei-
na embalagem demonstra o posicionamento de uma te desnatado, açúcar, gemas de ovo e ingredientes que
marca de indulgência. lhe conferem sabor (menta, baunilha, caramelo etc.).
Gosto por produtos refinados, prazer e satisfação Além disso, a embalagem com layout clean e refinado
são as principais características que definem a ten- reflete a arquitetura da marca e traduz o conceito do
dência pela busca por produtos de “indulgência sem novo produto (Figura 5.6).
BrasilPackTrends2020 113
estética e identidade
FIGURA 5.6
mo. O produto é acondicionado em lata de duas peças
Embalagens para de 250 mL, de formato slim, com visual clean e acaba-
produto “indulgente sem culpa” mento metalizado (Figura 5.7). Em outubro de 2011,
a empresa divulgou a nova embalagem e a adição da
sigla NPN (Natural Product Number) no rótulo, uma li-
censa concedida pelo Canadá que atesta a segurança
do produto, sua eficácia e qualidade nas condições de
uso recomendadas.
FIGURA 5.7
Produtos para relaxamento da
Fonte: Divulgação
mente em novas sensações
114 BrasilPackTrends2020
estética e identidade
FIGURA 5.8
descobriu que algumas mulheres preferem explorar pro-
dutos de beleza por conta própria, no entanto, isso nem Máquinas interativas
sempre é possível quando os produtos são colocados
fora do alcance ou estão atrás do balcão (Figura 5.8).
Outros aspectos do consumo hedonista estão
relacionados à alimentação para saúde e o bem-estar,
com melhora da aparência física e da beleza. Nesses
casos, a embalagem deve ser clara o suficiente para
transmitir ao comprador e futuro consumidor quais os
benefícios proporcionados pelo bem adquirido. Os pro-
dutos ViaVienté 5Alive e Beauty Candy são exemplos
de onde é possível observar como a embalagem pode Fonte: Divulgação
atrair a atenção do consumidor (Figura 5.9). Beauty’in
é a marca de “aliméticos” (alimentos com propriedades FIGURA 5.9
cosméticas) criada em 2010 e Beauty Candy é uma Embalagens de
bala à base de colágeno que teve suas embalagens de produtos para o bem-estar
150 gramas trocadas, pois os antigos stand up pouches
confundiam o consumidor. De acordo com a dona da
marca, os consumidores confundiam as balas nas em-
balagens antigas com refis de cosméticos. A nova em-
balagem é um cartucho (mais parecida com as embala-
gens de alimentos) e a janela facilita a identificação do
produto pelo consumidor (MAIS..., 2012).
Fonte: Divulgação
O uso de elementos visuais é uma importante símbolo ou logotipo aliado a expressões que definirão
ferramenta destinada a proporcionar o reconhecimento sua essência, personalidade, estilo e posicionamento
e a identificação da marca. A embalagem é um dos competitivo. A identidade da marca pode ser constru-
mais importantes intermediários entre o consumidor e a ída por meio de nomes, letras, emblemas, figuras ou
marca; é o seu primeiro contato com o produto. Assim, símbolos capazes de diferenciá-la de outras marcas
as indústrias usuárias de embalagem devem buscar a e propiciar o seu rápido reconhecimento, conforme
diferenciação com designs inovadores e de alto impac- exemplos apresentados a seguir (Figura 5.10). Uma
to, a fim de destacar seus produtos dentre as diversas marca deve sempre estar ligada à imagem da empresa
opções disponíveis nos pontos de venda. e representar a expectativa do consumidor através de
Para construir a identidade de uma marca es- recursos cognitivos (HILL, 2010; SERAGINI, 2010;
forços devem ser direcionados para a criação de um BRANDT, 2010).
BrasilPackTrends2020 115
estética e identidade
Fonte: Divulgação
116 BrasilPackTrends2020
estética e identidade
FIGURA 5.12
mato de uma pêra para enfatizar que o produto é 100%
Embalagens para perfumes com natural; da marca Gloji para bebida energética à base
formatos únicos e exclusivos de Goji Berry, uma fruta exótica da China, que num pri-
meiro momento parece de perfume, e que apostou num
formato diferenciado para refletir a qualidade natural, a
ausência de aditivos artificiais e as propriedades ener-
géticas do produto; e a utilizada para suco de romã da
marca POM Wonderful, 100% natural e com formato
único, que remete à imagem da romã e que demonstra
a personalidade da marca por não ser um produto usual
(GLOJI, 2012; ROLL GLOBAL, 2012; SUNRISE PA-
CKAGING, 2012) (Figura 5.13).
Fonte: Divulgação
A diferenciação pode também ser utilizada na li-
nha de produtos frescos. A americana Live Gourmet,
Assim como no segmento de embalagens para com sua embalagem em formato squircle (do inglês
cosméticos, a busca por formatos exclusivos e diferen- square, quadrado, e circle, círculo), além de conseguir
ciados é uma forte tendência também em outros seg- maior destaque visual aos seus produtos, obteve ganhos
mentos de embalagens para garantir a valorização do de otimização de espaço, melhoras no sistema automá-
produto, atrair a atenção do consumidor nos pontos de tico de embalagem e ainda propiciou ao consumidor o
venda e o sucesso da marca. Embora o mercado de ali- fácil manuseio e refechamento (Figura 5.13).
mentos e bebidas evite investimentos pesados em no-
vos desenvolvimentos de embalagem, devido à menor
margem de lucro e maior rotatividade do produto, apos- FIGURA 5.13
tar nessa direção acaba sendo um recurso diante do Embalagens com formatos
cenário de verbas reduzidas para a publicidade (FORÇA distintos para representar a
visível..., 2011). qualidade premium e natural
A premiumization estimula o desenvolvimento de
novas e atrativas embalagens para alimentos e bebidas.
A inovação da embalagem, por sua vez, desempenha
um papel de fundamental importância para influenciar
a decisão de compra dos consumidores. Para atender
a uma demanda específica do mercado, o formato da
embalagem pode ser desenvolvido com o objetivo de ex-
plorar a sofisticação e o luxo de algumas categorias de
produtos. Opções atrativas e modernas, diferenciadas
pelo formato e esteticamente agradáveis também têm
sido o alvo de muitos desenvolvimentos de embalagens
em diversos segmentos no mercado mundial (INNOVA-
TIONS..., 2010).
O segmento de sucos também vem apostando em
formas distintas para aumentar o reconhecimento da
marca. Como exemplos são apresentadas as embala-
gens da empresa francesa Pére Juice que imitam o for- Fonte: Divulgação
BrasilPackTrends2020 117
estética e identidade
A categoria de bebidas alcoólicas é outro seg- a atividade física (Figura 5.15). Outros exemplos são
mento que vêem constantemente inovando em forma- as embalagens de vidro para azeite de oliva Dama Hoji-
tos modernos e esteticamente agradáveis, a exemplo blanca, da Sandeleh Alimentos, em formato ergonômi-
das embalagens para vinhos Rosé e Verde da marca co que facilita a pega, as embalagens para coquetéis da
Lagosta, recriadas com o objetivo de modernização e marca Mojito, em formato diferenciado, e a embalagem
direcionadas para um público mais refinado; da vod- para cappuccino da marca Três Corações, de formato
ca Ultra Premium, Roberto Cavalli, um produto italiano não cilíndrico, ergonômico e compacto (BUSINESS
sofisticado e comercializado em embalagem de vidro INSIGHTS, 2010; BUSINESS INSIGHTS, 2011; CAP-
com uma serpente enrolada ao redor; a vodca Samurai, PUCCINO..., 2011) (Figura 5.15).
apresentada em embalagem de vidro que aparenta ter
sido cortada ao meio por uma espada, e a embalagem FIGURA 5.15
para licores da marca SX Latin Liquors, que explora em Embalagens com formatos
seu formato curvilíneo a sensualidade feminina durante funcionais e ergonômicos
a dança (BUSINESS INSIGHTS, 2010; BAILADO Sen-
sual..., 2011) (Figura 5.14).
FIGURA 5.14
Embalagens que apresentam
formatos modernos, agradáveis
e sensuais
Fonte: Divulgação
118 BrasilPackTrends2020
estética e identidade
FIGURA 5.16
No mercado nacional, a busca por identidade e
Exemplos de embalagens que reconhecimento da marca vem sendo constantemente
exploram o formato com aspecto explorada em embalagens de diversos produtos com
lúdico e de entretenimento formatos especiais e fabricados nos diversos materiais,
garantindo assim o seu caráter inovador, apelo visual e
diferenciação diante dos demais produtos da mesma
categoria (Figura 5.17).
Cores e Imagens
FIGURA 5.17
Outros exemplos de embalagens que buscam diferenciação
através do formato
Fonte: Divulgação
BrasilPackTrends2020 119
estética e identidade
dutos. Dentre as opções encontram-se o uso de cores e o aspecto simples e natural do produto, a embalagem
ilustrações diferenciadas (na própria embalagem ou por reflete a personalidade da marca (HILL, 2010) (Figura
meio de rótulos/técnicas de impressão) e os recursos ain- 5.19). Por outro lado, o emprego de cores limitadas é
da pouco explorados, no Brasil, correspondentes ao uso um recurso favorável aos produtos com apelo sustentá-
da fotografia e da tipografia (HILL, 2010). vel, pois a redução ou a ausência de pigmentos nas em-
A cor é uma das ferramentas mais importantes balagens favorece os processos de triagem e reciclagem
para o desenvolvimento da concepção do design de dos materiais. É o que demonstra a lata de cerveja da
uma embalagem, usualmente empregada para estimu- marca Itaipava com o logotipo do Projeto AMA (Área de
lar a associação do produto à marca (natural ou com Mobilização Ambiental), voltado à preservação do meio
apelo ambiental), despertar sensações e expressar a ambiente (EXAME.Com, 2012) (Figura 5.19).
personalidade da mesma, cativando e influenciando o
consumidor na decisão de compra. FIGURA 5.18
São observadas duas grandes tendências na uti- Embalagens com cores marcantes
lização de cores e imagens no design gráfico de emba- para criar a identidade da marca
lagens. Uma delas é a utilização de padronagens ili-
mitadas, fortes e marcantes para atrair a atenção do
consumidor e/ou transmitir o apelo premium de uma
determinada categoria de produto. Outra tendência é
a utilização de um número limitado de cores para a
categoria de produtos associados ao aspecto da sauda-
bilidade ou com apelo sustentável. Fonte: Divulgação
A utilização de cores marcantes, minuciosamen-
te selecionadas para criar a identidade da marca, foi FIGURA 5.19
concretizada nas embalagens dos produtos premium da Cores limitadas para representar
linha Archer Farms, nos Estados Unidos, que também
a saudabilidade do produto ou
se valeu da opção de manter “janelas” transparentes
apelo ambiental
nas embalagens para permitir a visualização do con-
teúdo (HILL, 2010) (Figura 5.18). No Brasil, a marca
Pullman apresentou nova embalagem para o produto
Bisnaguito, que ganhou cor vibrante e destaque para
a mascote da marca, visando uma maior aproximação
com o consumidor, aliando modernidade a tradição e
oferecendo mais visibilidade nos pontos de venda (Figu-
ra 5.18). As embalagens da linha de leite condensado e
creme de leite da Parmalat também foram reformuladas
com novas cores e design para destacar os produtos nos Fonte: Divulgação
pontos de venda e atrair a atenção dos consumidores
(EXAME.Com, 2012) (Figura 5.18). Técnicas de marketing indicam a separação de
A tendência do uso de cores limitadas foi utili- cores em três grupos: quentes (vermelho, laranja e
zada nas embalagens de snacks da marca inglesa Bear amarelo), frias (verde, azul e violeta) e neutras (cores
para transmitir um aspecto 100% natural, livre de adi- monocromáticas como o preto, o cinza e o marrom) as
ção de açúcar, conservantes ou aditivos nos produtos. quais em geral, são associadas a certos valores e sensa-
Com acabamento fosco e cores limitadas para indicar ções para atrair a atenção do consumidor. A cor verde,
120 BrasilPackTrends2020
estética e identidade
por exemplo, apresenta forte vínculo com o equilíbrio No mercado nacional, um exemplo dessa ten-
e a natureza e, por esse motivo, é usualmente empre- dência para embalagens plásticas é o das garrafas de
gada em produtos naturais, saudáveis ou com algum PET para água da marca Ouro Fino, que apostou “no
apelo ecológico. O marrom natural do papel ou cartão ser diferente” e rompeu drasticamente com os padrões
também é empregado, em alguns casos, com essa fi- de cor usualmente empregados nas embalagens para
nalidade. A cor azul desperta sensações de fidelidade, água mineral (transparente, azul-claro ou verde) para
confiança e amizade, e a vermelha representa dinamis- se destacar e abrir novos mercados (MARCONDES,
mo, é estimulante, passional e excitante podendo ser 2011). Neste caso, a empresa apostou ainda no di-
utilizada para realçar pontos específicos para atrair a ferencial pelo formato da embalagem. Outro exemplo
atenção (MARCONDES, 2011; HILL, 2010). são as garrafas de PET na cor preta para bebidas ener-
A cor ainda pode ser conferida por meio da adi- géticas (Figura 5.21).
ção de pigmentos ao próprio material da embalagem.
Essa técnica é constantemente observada no mercado
de recipientes de vidro, com o desenvolvimento de co- FIGURA 5.21
res especiais, seja para conferir proteção à luz ao pro- Embalagens de PET pigmentadas
duto sensível, seja para promover a imagem ou destacar para bebidas
os principais atributos do item acondicionado. Como
exemplo, a cor azul da garrafa de vidro para água da
marca Elisabethen Quelle, na Alemanha, foi utilizada
principalmente para destacar seus atributos de pureza
e frescor (Figura 5.20). Já o azeite da marca Gallo, para
reforçar o crescimento do produto no mercado brasilei-
ro, investiu em uma embalagem de vidro mais escuro
para preservar melhor sua qualidade contra a exposição
direta à luz (Figura 5.20).
Fonte: Divulgação
FIGURA 5.20
O uso da cor no vidro para
destacar a qualidade premium A ilustração é outra opção utilizada para indicar
do produto a natureza e a qualidade de um produto. Com formas
ilustrativas mais sofisticadas pode-se transmitir a perso-
nalidade da marca, criar destaque nos pontos de venda
e aumentar o apelo ao produto. A seguir são apresenta-
dos alguns produtos que adotaram um estilo ilustrativo
forte, com o objetivo de demonstrar a identidade da
marca. Um exemplo é a marca de biscoitos artesanais,
Two by Two, no Reino Unido, que, visando aumentar o
interesse do público infantil, se utiliza de ilustrações de
animais de contos e fábulas tradicionais, e cada figura
de animal representa a forma do biscoito comercializa-
do (Figura 5.22). What On Earth é outra marca do Rei-
no Unido que introduziu um conceito bonito e simples
Fonte: Divulgação de embalagens para alimentos orgânicos. A embalagem
BrasilPackTrends2020 121
estética e identidade
FIGURA 5.22
foi produzida em tons cinza sobre um fundo liso para
representar a natureza orgânica do alimento; em des- Produtos que utilizam ilustrações
taque a embalagem apresenta um rótulo colorido para diferenciadas para indicar a
indicar os diferentes tipos de produtos (Figura 5.22). natureza e a identidade da marca
A ilustração na embalagem pode ser empregada
na forma de rótulos de papel ou filme plástico termo-
encolhível (shrink films) ou do tipo no-label-look (que
não aparenta ser um rótulo). O filme termoencolhível
continua sendo uma excelente opção, devido à sua alta
qualidade gráfica, resistência a riscos e possibilidade
de aplicação em embalagens de formatos irregulares,
muitas vezes impossibilitada por técnicas de rotulagem
Fonte: Divulgação
convencional. Um exemplo de embalagem com forma-
to diferenciado e rótulo termoencolhível é apresenta-
do para os produtos da linha de água aromatizada da FIGURA 5.23
marca SoBe Lifewater, da Pepsico, com obtenção de Produtos que utilizam ilustrações
um alinhamento perfeito do corpo e da cauda da lagar- em rótulos termoencolhíveis
tixa (marca registrada do produto) ao longo da espiral
em baixo-relevo do formato da embalagem (THE PLAS-
TIC..., 2011) (Figura 5.23). O uso de rótulo termoenco-
lhível envolvendo toda a embalagem (sleeve) com cores
vibrantes, alegres e alta qualidade de impressão pode
ser observado no exemplo da linha de produtos da Zipp
Vitalize, cujo design gráfico explorou a imagem de um
zíper para revelar os sabores dos produtos (HILL, 2010)
Fonte: Divulgação
(Figura 5.23). No Brasil, essa tendência é bastante ex-
plorada em garrafas plásticas para iogurte e bebidas
lácteas. É possível a utilização do rótulo termoencolhí- FIGURA 5.24
vel também com a função tamper evidence, envolvendo Produtos que utilizam
o corpo da embalagem e o sistema de fechamento, para rótulos no-label-look
a garantia de qualidade e segurança do produto.
Como exemplo de rótulo no-label-look, a marca
de bebidas 51 Ice Balada apresentou em sua embala-
gem um rótulo desenvolvido em BOPP e impresso em
rotogravura com tinta especial e alta qualidade de im-
pressão. A empresa Campari também passou a produzir
no Brasil a vodca Infusion em garrafas de vidro com
rótulo autoadesivo no-label-look, com o adicional da
cor azul-cobalto no vidro (EXAME.Com, 2012; CAMPA-
RI...2012) (Figura 5.24).
Em alguns casos, são necessárias modificações
que permitam alterar a textura e o acabamento superfi- Fonte: Divulgação
122 BrasilPackTrends2020
estética e identidade
cial dos diversos materiais de embalagem para melhorar é a lata de cerveja da marca Nova Schin, que foi pro-
a percepção da qualidade do produto. Dentre as opções duzida com uma tinta especial com tecnologia similar à
podem ser destacadas as tendências voltadas ao uso utilizada em interruptores fluorescentes, que absorvem
de material metalizado, combinações dos efeitos fosco a luminosidade a que são expostos para depois brilhar
e brilhante na mesma embalagem ou uso de texturas em ambiente escuro ou sob luz negra (Figura 5.26).
que podem ser associadas à natureza ou a tradição do Outro exemplo é o rótulo da garrafa de vidro para cer-
produto acondicionado. veja da marca Coors Beer e Coors Light, produzido com
Para outras finalidades o acabamento fosco pode tintas termocromáticas para indicar a temperatura ideal
tornar a embalagem com aspecto diferenciado dos de- de consumo do produto, fazendo com que a coloração
mais produtos da mesma categoria, levando-o a um po- branca da montanha fique azul ao atingir a temperatura
sicionamento premium. Como exemplos são apresenta- igual ou abaixo de 6 oC (Figura 5.26). A cerveja holan-
das as embalagens de vidro para água da marca Q Tonic desa da marca Heineken também lançou uma garrafa
e Cold Spring, essa última com efeito fosco aplicado de alumínio chamada Star Bottle, que brilha quando
sobre o rótulo cerâmico (rótulo ACL – Applied Ceramic exposta à luz negra. A tinta especial aplicada na emba-
Label) e ainda mantendo um efeito “janela” (ou trans- lagem aparece na superfície da garrafa, mostrando de-
parente) próximo ao rótulo (INNOVATIONS...,2010; senhos de estrelas cadentes (Figura 5.26). O objetivo é
HILL, 2010) (Figura 5.25). Essa técnica é passível de reforçar o conceito da marca para aqueles que buscam
ser utilizada, mas esse recurso é ainda pouco explorado qualidade, sabor, inovação e, principalmente, estilo. A
no Brasil. No País a batata frita da linha Sensações, ideia foi mostrar a sua preocupação em criar a melhor
da Elma Chips, soube explorar o efeito fosco em suas experiência ao se beber uma cerveja premium (INNO-
embalagens, diferenciando-a dos demais produtos da VATIONS..., 2010; HEINEKEN..., 2012; LATA...2012;
mesma categoria (Figura 5.25). EXAME.COM, 2012)
Outra opção do design gráfico é o uso de fotogra-
FIGURA 5.25 fias, que pode ter como enfoque mostrar, de forma sun-
Embalagens com acabamento
superficial fosco FIGURA 5.26
Embalagens que utilizam tintas
termocromáticas
Fonte: Divulgação
BrasilPackTrends2020 123
estética e identidade
tuosa, a qualidade do produto para estimular o desejo de um texto graficamente tratado, e, assim evidenciar a
de consumo. Outros enfoques podem ser direcionados identidade da marca. A decisão sobre como utilizar os
para indicar a autenticidade e a procedência do produto recursos tipográficos encontra-se direcionada à forma
e ainda apresentar maneiras de direcioná-lo para um de comunicação desejada, ou seja, deverá representar
público específico (HILL, 2010). Esse conceito é ainda os valores da marca para que esta seja percebida pelos
pouco utilizado no Brasil, mas um dos exemplos apre- consumidores com legibilidade e destaque nas pratelei-
sentados são as embalagens do energético Firefly, fabri- ras. Um exemplo apresentado é a embalagem para suco
cado na Inglaterra, que, em vez de apresentar no rótulo da marca Cawston Vale, do Reino Unido, que relançou
o sabor do produto em forma de fruta (morango, laranja sua linha de produtos com novo nome, a Cawston Press,
etc.), exibe fotografias de observações sobre o estado com nova identidade de marca, com o objetivo de cha-
de espírito de quem procura a bebida (Figura 5.27). mar a atenção para a qualidade premium de seus pro-
Outro exemplo é a marca de alimentos Via Roma, dutos e de revitalizar o setor (Figura 5.28). A Sivaris
que fez da Toscana e de seus habitantes a comunicação é outra categoria de produto, um arroz produzido na
de suas embalagens, marcando a origem e a autenticida- Espanha, que revitalizou e criou nova identidade visual
de italianas de seus produtos (Figura 5.27). As diversas por meio da tipografia e cor em embalagens de tubos e
fotografias utilizadas criam uma imagem italiana autênti- tampa usualmente existentes no mercado (HILL, 2010)
ca, com personalidade forte e expressão de emoção para (Figura 5.28).
garantir o destaque nos pontos de venda e a fidelidade Portanto, a identidade da marca pode ser criada
do consumidor (HILL, 2010; EXAME.COM, 2012) através de uma grande variedade de técnicas de design
Tipografia é outro recurso do design gráfico para gráfico e assim garantir o posicionamento do produto
criar uma imagem diferenciada na embalagem, por meio por meio de uma aparência única.
Fonte: Divulgação
Fonte: Divulgação
124 BrasilPackTrends2020
estética e identidade
BrasilPackTrends2020 125
estética e identidade
126 BrasilPackTrends2020
estética e identidade
FIGURA 5.34
siva, com detalhes em relevo, selo de papel sobre a
tampa metálica e uma tipografia à mão, a fim de criar Embalagem que remete a
um aspecto e um sentimento que remetam ao “feito em produto natural inovador
casa” (Figura 5.33).
FIGURA 5.32
Produtos que trazem na
embalagem a expressão natural
Fonte: Divulgação
O apelo natural também pode ser observado no
aumento da disponibilidade de frutas e hortaliças fres-
cas para consumo, que, associadas à conveniência do
consumo on the go (ou ready to eat fresh e healthy sna-
cks), proporcionam um crescimento desse segmento.
As embalagens desses produtos são, em sua gran-
de maioria, plásticas rígidas e transparentes e, quando
Fonte: Divulgação
é utilizado o recurso de atmosfera modificada, a espe-
cificação deve considerar parâmetros como o tamanho
FIGURA 5.33 da embalagem em relação ao peso do produto, o volume
Embalagem que remete a do espaço-livre no interior da embalagem e suas carac-
“produto caseiro” terísticas de permeabilidade a gases e ao vapor d’água
(SARANTÓPOULOS; ANTONIO, 2006). Também são en-
contrados produtos em embalagens flexíveis, como, por
exemplo, maçãs fatiadas e cenouras, além de produtos
em embalagens flexíveis autoestáveis (pouch), como,
por exemplo, o abacaxi já descascado (Figura 5.35). A
embalagem da empresa Robbie Flexibles apresenta mi-
croperfurações a laser que controlam as taxas de per-
meabilidade ao oxigênio e ao gás carbônico, retardando
a senescência dos produtos e aumentando sua vida útil
Fonte: Divulgação
(FRUTAS..., 2011). Além da atmosfera modificada, de-
pendendo do produto, faz-se necessária a utilização de
Outro exemplo nessa linha é da empresa Don- ácido ascórbico, ou ascorbato de cálcio (cálcio associado
nyboy Fresh Food Company, também com sucos de fru- a vitamina C), para a manutenção da cor e da textura.
tas, a linha Preshafruit, cujo diferencial é o processo de Ainda no segmento de frutas e hortaliças prontas
obtenção do suco, por meio de alta pressão, mantendo para consumo destacam-se produtos muito apreciados
o sabor característico da fruta, com máxima retenção pelos americanos, como os Dipperz. As embalagens,
de vitaminas e maior vida de prateleira. Assim, a em- bandejas termoformadas, apresentam compartimentos
balagem, com elevada transparência, transmite uma para molhos doces e salgados para serem consumidos
sensação refrescante; através de seu formato futurista juntamente com a fruta. A bandeja ainda pode conter
tenta passar ao consumidor o inovador processo utiliza- divisórias que trazem granola, iogurte e outros tipos de
do em sua fabricação (Figura 5.34). frutas com vida útil de 21 dias (Figura 5.36).
BrasilPackTrends2020 127
estética e identidade
FIGURA 5.35
FIGURA 5.37
Produtos frescos prontos
Frutas em calda para
para consumo
consumo rápido
Fonte: Divulgação
Fonte: Divulgação
FIGURA 5.36
Produtos com molhos e cereais
Ainda no aspecto natural observa-se uma sobre-
posição de conceitos por parte dos consumidores no
que diz respeito aos produtos “orgânicos” e “naturais”.
De acordo com o Decreto nº 6.323, de 27 de dezembro
de 2007, o sistema orgânico de produção agropecuá-
ria é aquele em que se adotam técnicas específicas,
mediante a otimização do uso dos recursos naturais e
socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade
cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a
sustentabilidade econômica e ecológica, a maximiza-
ção dos benefícios sociais, a minimização da depen-
dência de energia não-renovável, empregando, sempre
que possível, métodos culturais, biológicos e mecâni-
Fonte: Divulgação cos (BRASIL, 2007). Sendo assim, pode-se dizer que o
conceito de alimento orgânico é bastante amplo e seus
Apesar da grande disponibilidade de frutas e hor- princípios estão relacionados a questões sanitárias, am-
taliças no Brasil, ainda é limitada a oferta desses pro- bientais e sociais.
dutos prontos para consumo, mas a mudança no estilo No mercado dos produtos orgânicos, as embala-
de vida da população e a falta de tempo para o preparo gens inovadoras não imperam e poucos produtos apre-
de alimentos nos guia nesse sentido. Em 2010, a em- sentam embalagens diferentes ou exclusivas, aspecto
presa Fugini lançou a linha de produtos Fruta Pronta, que poderia ser mais bem explorado pelo segmento.
composta de pedaços de frutas em calda acondiciona- Dentre esses produtos podemos citar a máscara de cí-
dos em potes plásticos esterilizáveis. Cada embalagem lios Organic-Wear da Physicians Formula que apresenta
contém uma porção individual de 113 gramas comer- cores e formato que remetem ao meio ambiente. A cor
cializadas em duas porções (FRUTAS..., 2010). A em- do tubo assemelha-se à dos papéis reciclados e a tam-
presa havaiana Dole Food Company há anos apresenta pa tem o formato de folhas. Outro exemplo é o vinagre
em seu portfólio frutas em calda de suco natural, utili- balsâmico espanhol LA Organics, comercializado em
zando também as embalagens plásticas esterilizáveis, embalagem de vidro produzida em baixa escala e, con-
porém a marca destaca que o produto é “all natural” e sequentemente, de custo elevado (EMBALAGENS...,
sem adoçantes artificiais (Figura 5.37). 2012) (Figura 5.38).
128 BrasilPackTrends2020
estética e identidade
GSW, que trabalha com pesquisas de mercado na área Produto com perfil descobridor
da saudabilidade e bem-estar, trouxe o conceito dos he-
róis da saudabilidade, tentando associar a imagem dos
heróis que conhecemos com a forma como as empresas
direcionam seu marketing. O objetivo é resolver os di-
lemas de bem-estar para os consumidores, conectando
-os com as marcas de intenções saudáveis, ganhando
sua lealdade e sua afeição.
Foram eleitas cinco figuras ou perfis para ilustrar Fonte: Divulgação
como as marcas ou seus produtos podem ser classifi-
cados de acordo com sua atitude diante do consumi- O produto com perfil herói auxiliar permite uma
dor, quais sejam, descobridor (Indiana Jones), inspetor nova combinação, uma nova opção, pois um produto
(Sherlock Holmes), imediatista (Bombeiros), colabora- combina com outro para fazer o bem. Um exemplo de
dor (Heróis como Batman e Superman) e auxiliar (He- produto com perfil herói auxiliar é o aromatizante para
róis da Saúde – médicos e enfermeiros). Cada empresa água da Kraft Foods, denominado Crystal Light, que
apresenta o perfil de um herói ao definir a estratégia contém eletrólitos para hidratação durante e após os
BrasilPackTrends2020 129
estética e identidade
FIGURA 5.41
exercícios físicos, sem adoçantes artificiais, sem con-
servantes, e com 75% menos calorias quando compa- Produto “menos” (better for you)
rado a outras bebidas. O produto é comercializado em
doses individuais, em sachês, e cada caixa contém seis
unidades (Figura 5.40).
FIGURA 5.40
Produto com perfil herói auxiliar
Fonte: Divulgação
FIGURA 5.42
Bebida com fibras
Fonte: Divulgação
130 BrasilPackTrends2020
estética e identidade
FIGURA 5.43
quando as substituiu pelas de plástico squeezable. A
Embalagens de bebidas funcionais ideia veio da observação de que muitos consumidores
semelhantes às de produtos da marca ainda a associam à garrafa de vidro e até
farmacêuticos questionam onde a “antiguidade” é vendida.
A edição limitada tem ainda uma ilustração origi-
nal no rótulo, para comemorar os 135 anos da marca.
A versão “vintage” foi vendida até agosto, apenas nos
Estados Unidos.
As latas de Nescau na versão retrô trazem os gra-
fismos mais marcantes da história do produto, desde
seu lançamento, em 1932, em quatro embalagens de
diferentes épocas: 1932, 1960, 1986 e 1998 (Figura
5.44). A lata de 1932, por exemplo, mostra a origem do
nome do achocolatado, a junção de Nestlé com cacau.
Na época, o produto recebia a grafia “Nescáo”. O nome
que mantém até hoje, Nescau, só surgiu nas latas a par-
tir de 1960. Em 1986, a embalagem ganhou o popular
slogan “Energia que dá gosto”, e a coleção termina com
Fonte: Divulgação a embalagem de 1998 (EXAME, 2011).
As quatro latas chegam com a mesma fórmula,
de Nescau 2.0, com 400 gramas. A coleção pode ser
Embalagens retrô ou “vintage” adquirida nos pontos de venda de todo o País e faz par-
te das ações da Nestlé para comemorar os 90 anos da
As embalagens retrô ou vintage ganham força em companhia no Brasil.
todos os segmentos e permitem um retorno psicológico
FIGURA 5.44
ao passado de menos pressões, menos rigor e mais per-
missivo no consumo. O estilo retrô possibilita resgates Embalagens retrô
bem-sucedidos de produtos e marcas, proporcionando
sentimentos de descoberta ou redescoberta de diferen-
tes gerações. Para os cosméticos, os produtos e emba-
lagens retrô remetem aos tempos da vovó e, de forma
geral, ressaltam valores como autenticidade, simplici-
dade, identidade, associação, independência e diversão
(MARCONDES, 2011).
Empresas como Coca-Cola, Nestlé e Schincariol
já perceberam que a estética retrô é uma ótima estra-
tégia para mexer com a emoção dos consumidores.
Quem pretende confirmar isso agora é a Heinz, que
está relançando seu ketchup em uma embalagem an-
tiga (Figura 5.44).
Comercializado pela primeira vez em 1876, o
carro-chefe de vendas da Heinz manteve as icônicas
garrafas de pescoço longo e tampa de metal até 1990, Fonte: Divulgação
BrasilPackTrends2020 131
estética e identidade
Fonte: Divulgação
132 BrasilPackTrends2020
estética e identidade
(IG) surge como fator decisivo para garantir a diferen- Casa Valduga, Dom Cândido, Miolo etc. Outro produto
ciação do produto, delimitando a área de produção, res- nacional que recebeu Indicação Geográfica (IG) foi o
tringindo seu uso aos produtores da região (em geral, Queijo Minas Artesanal produzido na região do Serro.
uma Associação), impedindo que outras pessoas usem Como a certificação é fornecida ao produto, nesses ca-
o nome da região com produtos de baixa qualidade, ou sos a embalagem deve realçar sua qualidade superior
seja, é um registro que protege aquele produto de even- diferenciando-o dos demais (Figura 5.47).
tuais falsificações em sua composição e garante sua
FIGURA 5.47
procedência, além de aumentar sua competitividade
em relação a outros produtores. Produtos com Indicação
A certificação apresenta ainda outras duas mo- Geográfica ou Denominação
dalidades, a Indicação de Procedência (IP), na qual é de Origem
necessária a apresentação de elementos que compro-
vem ter o nome geográfico conhecido como centro de
extração, produção ou fabricação do item ou prestação
do serviço; e a Denominação de Origem (DO), para a
qual se faz necessária a descrição das qualidades e as
características do produto ou serviço que se destacam,
exclusiva ou essencialmente, por causa do meio geo-
gráfico ou dos fatores naturais e humanos (INSTITUTO
NACIONAL DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2012).
Os produtos nacionais que mais possuem Deno-
minação de Origem pertencem à região do Vale dos Vi-
nhedos, dentre os quais podem ser citados: Almaúnica, Fonte: Divulgação
BrasilPackTrends2020 133
estética e identidade
da empresa Kraft Foods, atual Mondelez International. As datas comemorativas, como aniversários, Pás-
A embalagem apresentava selo/tampa de fácil abertura coa, Natal, Dia das Mães e Dia dos Namorados, são
laminado de PET metalizado com polietileno coextru- um convite para os lançamentos em edições limitadas
sado, impresso em rotogravura com acabamento fos- de formatos inovadores de embalagens (SARANTÓPOU-
co (soft). Além disso, apresentava selagem hermética, LOS et al., 2010). A empresa Mars lançou no mercado
com propriedades de barreira calculadas para preservar brasileiro, no fim de 2011, os M&M’s em embalagem
a crocância e o frescor do produto. A tecnologia de fá- com formato de árvore de Natal. O material utilizado foi
cil abertura para conferir conveniência ao consumidor um cartucho de papel cartão com 100 gramas do con-
proporcionava a abertura parcial, protegendo o produto feito de chocolate nas cores verde e vermelho. A Catu-
ainda não consumido por mais tempo. A nova tecno- piry também lançou embalagens metálicas com motivos
logia dispensou a embalagem individual do chocolate natalinos após comemorar os 100 anos também com
(Figura 5.49). embalagens comemorativas. A empresa Kero Coco tam-
bém comemorou, em 2010, seus 15 anos com imagens
FIGURA 5.48 do brasileiro Romero Britto (Figura 5.50).
Embalagens de edições
limitadas da Marmite FIGURA 5.50
Outras edições limitadas
nacionais
Fonte: Divulgação
FIGURA 5.49
Embalagens edições
limitadas no Brasil Fonte: Divulgação
134 BrasilPackTrends2020
estética e identidade
Fonte: Divulgação
Fonte: Divulgação
FIGURA 5.54
Produtos atestados por famosos
chefs de cozinha
Fonte: Divulgação
BrasilPackTrends2020 135
estética e identidade
Os produtos atestados por celebridades propor- co Moschino em 2009, Donatella Versace em 2010, e
cionam credibilidade instantânea e identificação da Karl Lagerfeld em 2011 (Figura 5.56). Na proposta das
marca, mas é preciso haver sintonia entre a pessoa garrafas Moschino, Donatella Versace, e Alberta Ferre-
famosa escolhida e o público-alvo do produto ou da ti, entre outros o objetivo era “vestir” as mesmas com
marca. Alguns aspectos que norteiam essa compatibili- cores, estampas e tudo que pudesse lembrar alegria e
dade são: valores da celebridade, custos envolvidos na bem-estar. As garrafas, com suas “roupas” da moda
aquisição do uso da imagem, correspondência entre a foram leiloadas no show Tribute to Fashion, durante a
celebridade e o produto, popularidade, disponibilidade, semana de moda de Milão. A renda das vendas foi des-
credibilidade, se a celebridade é consumidora da mar- tinada para programas de ajuda às vítimas do terremoto
ca, profissão etc. As celebridades são, sem dúvida, uma de Abruzzo. Mais recentemente, Jean Paul Gaultier ho-
boa maneira de gerar atenção positiva em relação à pu- menageou a cantora Madonna no kit Night & Day. A
blicidade e muitas vezes compensam a falta de ideias embalagem que simboliza o dia traz a sua tradicional
inovadoras (KATYAL, 2012). estampa de listras e a embalagem da noite reproduz
Uma empresa que constantemente associa o o corselete de Madonna nos anos 90 (JEAN..., 2012).
produto à imagem de uma celebridade é a Pepsi, que
já teve como representantes o astro da NBA (basque- FIGURA 5.55
136 BrasilPackTrends2020
estética e identidade
Fonte: Divulgação
Fonte: Divulgação
5.6 REFERÊNCIAS
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138 BrasilPackTrends2020
estética e identidade
BrasilPackTrends2020 139
Claire I. G. L. Sarantópoulos
Tiago B. H. Dantas
Capítulo 6
Para satisfazer as expectativas do consumidor muitas outras. O sucesso dessas inovações decorreu de
que hoje busca segurança, qualidade, conveniência e ações integradas de desenvolvimento de produto/pro-
bem-estar foram necessários anos de investimentos fi- cesso/equipamento de acondicionamento/material de
nanceiros e esforços de cientistas e tecnologistas no de- embalagem/sistema de distribuição.
senvolvimento de embalagens que o consumidor atual Quanto ao futuro, múltiplas respostas tecnológi-
usa em seu dia a dia, a exemplo de embalagens assép- cas serão necessárias para trazer soluções para o setor
ticas cartonadas e plásticas, embalagens plásticas es- de embalagem, que se tornou uma importante ferra-
terilizáveis, sistemas de refechamento e fácil abertura, menta para o produtor obter vantagem competitiva em
embalagens para micro-ondas, embalagens plásticas de termos de funcionalidade, durabilidade do produto,
alta barreira, embalagens com atmosfera modificada e imagem da marca, segurança, benefícios ambientais e
SARANTÓPOULOS, C. I. G. L.; DANTAS, T. B. H. Qualidade e novas tecnologias. In: BRASIL pack trends 2020. Campinas: ITAL, 2012. cap. 6, p. 139-169.
BrasilPackTrends2020 141
qualidade & novas tecnologias
preço. Importantes e recentes inovações no setor es- às revolucionárias nanociência e nanotecnologia, que
tarão associadas a embalagens ativas e inteligentes – melhoram as propriedades dos materiais e conferem às
comumente denominadas smart packages, que visam embalagens novas funcionalidades.
a conservação e a segurança especialmente de alimen- Em relação à macrotendência Qualidade e Novas
tos, bebidas e medicamentos; a novos materiais de me- Tecnologias, as tendências de destaque e as contribui-
nor impacto ambiental, a exemplo de biopolímeros; e ções da embalagem são apresentadas no Quadro 6.1.
QUADRO 6.1
Desdobramentos da tendência de Qualidade e Novas Tecnologias
Tendências em
destaque
Contribuições da Embalagem
142 BrasilPackTrends2020
qualidade & novas tecnologias
BrasilPackTrends2020 143
qualidade & novas tecnologias
foram complementadas pelas embalagens ativas com va mais promissora parece ser a das reações orgânicas
absorvedores de oxigênio. do próprio polímero absorvendo o oxigênio. O controle
Os absorvedores de oxigênio são agentes capa- de subprodutos dessa oxidação, especialmente de pro-
zes de reduzir a concentração desse gás a teores muito váveis migrantes tóxicos é um dos desafios mais im-
baixos (0,01%) e ainda manter esses níveis durante a portantes. Outro parâmetro importante, o controle da
estocagem. Previnem, efetivamente, danos oxidativos reatividade do absorvedor, por meio de uma etapa de
e deterioração microbiológica em muitos produtos. Em “ativação”, como o uso de radiação, parece ser uma
óleos, gorduras e alimentos gordurosos previnem a ran- boa solução para a perda de atividade dos absorvedores
cificação, em produtos cárneos e à base de frutas e incorporados à embalagem, antes do uso.
hortaliças previnem a descoloração, em alimentos ricos As tecnologias de absorção de oxigênio, no en-
em aromas, como sucos, reduzem a perda do aroma/sa- tanto, não devem iniciar as reações muito antes que a
bor característico, em produtos de panificação e queijos embalagem esteja em contato com o produto. Isso por-
controlam a deterioração microbiana e em alimentos ri- que a ação dos absorvedores apresenta característica
cos em vitaminas previnem a perda de valor nutricional. finita. Sendo assim, a tendência é o desenvolvimento
Permitem a redução ou até mesmo a eliminação de adi- de mecanismos que iniciem a ação dos absorvedores
tivos antioxidantes e antimicrobianos. Também podem de oxigênio sob demanda – on demand, possibilitando
ser usados no controle da deterioração por insetos, que a armazenagem ou manuseio das embalagens sem que
se desenvolvem em castanhas e cereais e em alimentos os absorvedores “desperdicem” sua capacidade antes
desidratados à base desses ingredientes; atuam tanto do contato com o produto. Assim, os absorvedores têm
sobre insetos adultos como sobre seus ovos. sua atuação iniciada no momento desejado, ou seja,
As tecnologias associadas a absorvedores de oxi- quando a embalagem estiver fechada.
gênio utilizam um ou mais dos seguintes conceitos: A divisão Cryovac da empresa Sealed Air comercia-
compostos à base de pó de ferro (óxido de ferro, carbo- liza a família de embalagens ativas chamada Freshness
nato ferroso, sulfato de ferro, sulfito-sulfato de ferro); Plus, cuja tecnologia visa maximizar o frescor, o aroma
substâncias orgânicas redutoras de baixa massa mo- e a aparência, minimizando a deterioração microbioló-
lecular (ácido ascórbico, ascorbato de sódio, catecol); gica e as reações de oxidação de pigmentos, aromas e
sistemas enzimáticos (glicose oxidase, álcool oxidase); nutrientes. A família de filmes incluem absorvedores de
componentes fotorredutores; resinas poliméricas oxi- aromas indesejáveis – Odor Scavenging e absorvedores de
dáveis; ácidos graxos insaturados (a exemplo de áci- oxigênio – OS Films – Oxygen Scavenging (Figura 6.1).
do oleico, linoleico e linolênico); microrganismos imo- O componente ativo é um terpolímero oxidável, ativado
bilizados em substrato sólido, ou seja, absorvedor de sob demanda por luz ultravioleta, na linha de envase. Por
oxigênio biológico; sulfito e seus análogos (bissulfito, não ser à base de ferro, não traz problemas para as linhas
metabissulfito e hidrosulfito). com detectores de metal, não altera a transparência e a
A incorporação de ativos em polímeros exige coloração da embalagem e não depende da umidade do
que a cinética de absorção seja muito rápida, pois a produto para agir como absorvedor, o que acontece com
permeabilidade do polímero, em que o ativo é incorpo- sistemas à base de pó de ferro.
rado, pode ser uma restrição à velocidade da reação, Uma força motriz importante para o desenvolvi-
comparativamente ao obtido com pós de ferro dispersos mento de embalagens ativas absorvedoras de oxigênio é
em veículos apropriados nos sachês, que lhes conferem a necessidade de manter o nível de qualidade atual (ou
grande área superficial para reação. Como alternativa mesmo elevá-lo) quando se muda o material de emba-
à adição de compostos metálicos aos plásticos, vários lagem, especialmente quando se introduz um novo ma-
compostos de baixa massa molar são propostos, mas terial para uma categoria de alimento ou bebida. Isso
muitos encontram barreiras legais. Assim, a alternati- foi o que se observou com a introdução da garrafa de
144 BrasilPackTrends2020
qualidade & novas tecnologias
PET como alternativa à de vidro ou à lata metálica para lagem. A Graham Packaging detém a tecnologia Monosorb
bebidas que, por apresentar menor barreira ao oxigênio, de absorvedor de oxigênio para garrafa PET monocamada.
precisa ser aprimorada. Outra força motriz de desenvolvi- Na área de tampas para garrafas, a Grace Darex Packaging
mento é a redução da complexidade de estruturas plás- Tecnologies tem uma tecnologia de absorvedor de oxigênio
ticas multicamadas, sem perda de proteção do produto, denominada Celox.
que traz benefícios ambientais, por não comprometer a
possibilidade de reciclagem mecânica no pós-consumo. FIGURA 6.2
Tecnologias de absorvedor de
FIGURA 6.1 oxigênio: Amosorb SolO2; Oxbar,
PartyTray da Hormel: frios fatiados MonOxbar, DiamondClear.
embalados em pouches do filme
ativo da Cryovac, Freshness
Plus, reunidos com outros
produtos em bandeja rígida
Fonte: Divulgação
BrasilPackTrends2020 145
qualidade & novas tecnologias
146 BrasilPackTrends2020
qualidade & novas tecnologias
nente dessecante ativo: peneira molecular, sílica-gel ou pendurada em ganchos nos expositores (Figura 6.6).
mesmo dessecantes combinados. O polímero dessecan-
te da CSP pode ser usado como camada interna de tu- FIGURA 6.5
FIGURA 6.4
Absorvedor de líquido incorporado
ao filme para frutas minimamente Fonte: Divulgação
Fonte: Divulgação
BrasilPackTrends2020 147
qualidade & novas tecnologias
da embalagem ativa. O conceito é propiciar o sinergis- do It’sFresh! e+ Ethylene Remover, da empresa Food
mo conseguido pelo controle de umidade relativa, oxi- Freshness Technology, que vem sendo usado em super-
gênio e crescimento microbiano em produtos frescos, mercados da Inglaterra, na comercialização de frutas.
resultando um efeito combinado de tecnologias de obs- Trata-se de uma tira, adequada ao contato com alimen-
táculo (hurdle technologies). tos, contendo uma mistura de argila e outros minerais
que removem o etileno endógeno a níveis de baixa ati-
Absorvedores de etileno vidade fisiológica, reduzindo assim os danos aos produ-
tos. O acessório é colocado no fundo das embalagens
(Figura 6.7).
O etileno é um hormônio de crescimento das Um exemplo de incorporação de absorvedor de
plantas que possui um impacto prejudicial, mesmo em etileno em caixas de papelão ondulado é a caixa Fruit
baixas concentrações, sobre a qualidade e a vida útil de Fresh, desenvolvida pela SCA Packaging em conjunto
muitas frutas e hortaliças durante a estocagem e a dis- com o Instituto Fraunhofer da Alemanha. O material
tribuição. O etileno induz o amadurecimento, acelera a ativo é incorporado na cola que une a onda nas capas
taxa de respiração e, consequentemente, a senescên- externas, durante as etapas de produção do papelão on-
cia. A utilização de embalagens com absorvedores de dulado, que segue processo normal (Figura 6.7).
etileno aumenta a durabilidade de frutas e hortaliças, o
que reduz as perdas por deterioração, propicia a comer- FIGURA 6.7
148 BrasilPackTrends2020
qualidade & novas tecnologias
A incorporação de minerais finamente dispersos etileno e o CO2 saiam mais rapidamente da embalagem
em polímeros é feita, em geral, em polietileno de baixa e o oxigênio entre mais rápido, afetando pouco a fisio-
densidade, mas também se observa no mercado incor- logia vegetal, devido à pequena alteração da atmosfera
poração em misturas de poliamida e polietileno. O mi- dentro da embalagem, em relação ao ar. Essas altera-
neral é encapsulado em partículas pelo polímero, for- ções na permeabilidade podem reduzir a concentração
mando um labirinto entre as cadeias poliméricas, que de etileno no espaço-livre da embalagem e, consequen-
pode aprisionar gases como o etileno. A maioria desses temente, aumentar a vida útil, independentemente de
filmes é opaca e tem capacidade limitada de absorção qualquer absorção de etileno.
desse gás. A escolha da base polimérica deve sempre
considerar a permeabilidade aos gases da respiração do Embalagens antimicrobianas
vegetal a que se destina ou utilizar uma eventual per-
furação do filme, para evitar condições de anaerobiose,
que aceleram a deterioração de frutas e hortaliças e até A função da embalagem antimicrobiana é poten-
gerar riscos de patogenicidade. Empresas como PEAK- cializar as mesmas funções da embalagem convencio-
Fresh, Bio-Fresh, Evert-Fresh, Amcor e muitas outras nal, ou seja, garantir a segurança, manter a qualida-
comercializam filmes ativos para aplicação no mercado de e estender a vida útil do produto. Além disso, pode
doméstico, em caixas de transporte e para recobrimento reduzir o potencial de recontaminação de alimentos e
de paletes (Figura 6.8). bebidas processados, simplificar tratamentos que têm
por objetivo eliminar a contaminação de materiais de
FIGURA 6.8 embalagem e promover a autoesterilização, pelo menos
Absorvedores de etileno teoricamente, de alguns produtos, a exemplo de bebi-
incorporados em filmes plásticos das ácidas como os sucos de frutas. Podem ser classifi-
cadas em dois tipos, ou seja, aquelas em que o agente
ativo migra para a superfície do alimento e aquelas em
que é efetivo sem a necessidade de migração.
As embalagens com atmosfera modificada com
injeção de gás carbônico, que tem atividade fungistáti-
ca e bacteriostática, são exemplos de embalagens ati-
vas antimicrobianas. Emissores de etanol e de CO2 na
forma de sachês controlam o crescimento de fungos em
alimentos e a contaminação nas próprias embalagens.
Emissores de SO2 são usados na forma de sachês/pads
ou filmes incorporados para controlar o desenvolvimen-
to de fungos (Botrytis Cinerea) em uvas (Figura 6.9).
Compostos ativos antimicrobianos também podem
ser incorporados no material de embalagem. Quando
incorporados em embalagens plásticas, geram os polí-
meros bioativos. Vários compostos sintéticos (também
Fonte: Divulgação denominados químicos), naturais e probióticos têm
tido seu potencial antimicrobiano analisado, a exemplo
Além de promover a absorção de etileno, a incor- de íons metálicos, extratos naturais, ácidos orgânicos e
poração de certos minerais em polímeros pode também seus sais, bacteriocinas, fungicidas, enzimas, alcoois,
aumentar a permeabilidade dos filmes, de forma que o gases (dióxido de cloro, triclosan) e extratos naturais.
BrasilPackTrends2020 149
qualidade & novas tecnologias
Extratos de canela, cravo-da-índia, alho, orégano, ale- que ocorre em produtos acondicionados a vácuo e em
crim e semente de grapefruit incorporados a sistemas de produtos líquidos e com baixa viscosidade.
embalagem têm se mostrado efetivos contra a deterio- O grande foco dos desenvolvimentos, provavel-
ração microbiológica. Fungicidas tradicionais utilizados mente, serão os mecanismos de manipulação dos agen-
na agricultura como o benomil (C14H18N4O3) e o imazalil tes antimicrobianos e da cinética de liberação dos mes-
(C14H14Cl2N2O) têm sido incorporados em filmes plásti- mos e os antimicrobianos naturais, incorporados em
cos com demonstração de atividade antifúngica. polímeros sintéticos ou em biopolímeros. A preferência
pelos antimicrobianos naturais deve-se à possibilidade
FIGURA 6.9 de aprovação legal com maior facilidade e às exigências
Emissor de liberação rápida de do consumidor que busca alimentos mais saudáveis e
dióxido de enxofre - Grape Guard. produtos naturais.
Metabissulfito de sódio é o As principais dificuldades encontradas podem ser
componente ativo aplicado em resumidas em: atendimento aos critérios legais relativos
filmes laminados para à aprovação para contato com alimentos; receio de efei-
conservação de uvas tos adversos sobre o produto, sobre a saúde do consumi-
dor e/ou sobre o meio ambiente; falta de evidências da
eficácia; exigência de contato de muitos dos elementos
ativos, o que limita seu potencial; e alto custo.
Higienização
Embora ainda não seja uma realidade comercial,
o Fruitwash Label pode ser uma tendência na linha de
selos para frutas. Os selos atuais, além de serem de difí-
cil remoção, na maioria das vezes são utilizados apenas
para a identificação do produtor e, em alguns poucos
casos, servem como fonte de informação sobre a origem
da fruta e permitem a inclusão de código de barras. O
Fruitwash Label (Figura 6.10) transforma-se em sabão
Fonte: Divulgação ao se lavar a fruta, auxiliando na remoção de sujidades
e outros resíduos que possam estar no produto.
Como a maioria dos agentes antimicrobianos
apresenta diferentes mecanismos de ação, a mistura de FIGURA 6.10
compostos ativos pode aumentar a atividade por meio Rótulo que se transforma em
de uma sinergia entre eles. sabão na lavagem da fruta
Os agentes antimicrobianos podem ser direta-
mente incorporados ao material de embalagem, na for-
ma de mistura mecânica durante o processo de trans-
formação do polímero ou imobilizados quimicamente e
aplicados como revestimento. Na imobilização química,
ligações covalentes imobilizam o agente antimicrobia-
no na estrutura polimérica e é necessário um intenso
Fonte: Divulgação
contato entre a embalagem e o produto, a exemplo do
150 BrasilPackTrends2020
qualidade & novas tecnologias
Filmes especiais para carnes ativação da liberação também pode ser pelo aquecimento,
por exemplo, em micro-ondas ou pela umidade. Essa tec-
Um dos produtos de grande comercialização no Brasil nologia de liberação de aroma pode ser aplicada aos vários
é a carne fresca. As embalagens a vácuo destinadas ao acon- processos de fabricação de embalagens plásticas: sopro,
dicionamento de carne fresca conferem ao produto vida útil injeção, termoformação, extrusão de embalagens e em li-
longa, de 2 a 4 meses, mas afetam a apresentação visual do ners e gaxetas. Também pode ser aplicada em tintas e re-
produto, conferindo à carne uma coloração arroxeada, pela vestimentos. O revestimento pode ser feito em embalagens
falta de oxigênio, reduzindo o apelo de venda no varejo. Vi- plásticas e em cartão ou papelão ondulado.
sando resolver esse impasse, a empresa Curwood desenvol-
veu a tecnologia FreshCase, que envolve o uso de nitrito de FIGURA 6.11
sódio na camada do filme em contato com a carne (Figura Embalagem ativa para
6.11). O nitrito, em contato com a carne, transforma-se em manutenção da coloração
óxido nitroso, um gás que reage com o pigmento da carne, vermelha na carne fresca
a mioglobina, deixando-a com a coloração avermelhada de-
sejada pelo o consumidor (REYNOLDS, 2012).
Outro exemplo de filme diferenciado é utilizado
no sistema de congelamento desenvolvido pela empresa
japonesa Mutsumi, que utiliza corrente elétrica para o
rápido congelamento do produto, minimizando oxida- Fonte: Divulgação
ção e reduzindo o tamanho dos cristais de gelo forma-
dos nas células do alimento. O filme utilizado como FIGURA 6.12
BrasilPackTrends2020 151
qualidade & novas tecnologias
O apelo da tecnologia envolve as questões de sa- Uma empresa italiana comercializa bebidas à
tisfação do consumidor e até mesmo de saciedade. O base de café em embalagens que empregam a tecno-
aroma pode ser liberado para fora ou para dentro da logia de reação endotérmica entre tiossulfato penta-hi-
embalagem. Os emissores podem ser utilizados como dratado e água para bebidas resfriadas, com a marca
complemento ou na substituição de componentes do Freddo Freddo. Outro exemplo da empresa Joseph Com-
alimento que possam ser prejudiciais à saúde. pany da Califórnia, a lata denominada ChillCan (Figu-
ra 6.15), utiliza CO2 em uma cápsula de alumínio que
Embalagens que se autoaquecem ou ativada gera uma rápida expansão do CO2 pressurizado,
que evapora e resfria a bebida em minutos.
autorresfriam Espera-se que a nanotecnologia traga inovações
(self heating, self cooling, self chilling) especialmente na área de autorresfriamento de emba-
lagens para bebidas e que outras plataformas tecnoló-
Sistemas de embalagem que aquecem ou res- gicas como a combinação de sistemas termoelétricos e
friam os produtos atraem os consumidores, devido fotovoltaicos possam ser usados. Questões de susten-
ao grande apelo de conveniência. Reações exotérmi- tabilidade associadas à reciclagem das embalagens e
cas são usadas para autoaquecimento, a exemplo de uso de líquidos refrigerantes não agressivos ao meio
água e óxido de cálcio - CaO. Para autoesfriamento ambiente serão de grande importância nos desenvol-
pode ser utilizada uma reação química endotérmica, vimentos.
que rouba calor do meio externo, ou a tecnologia
de bomba de calor, que usa vapor d’água ou outro FIGURA 6.14
siste em uma lata de alumínio com câmara dupla, que Embalagens com sistema
contém o produto na câmara externa e água mais óxi- para autorresfriamento
do de cálcio, separados por uma membrana na câmara
interna. Quando um botão na base da lata é aciona-
do, esses compostos se misturam e geram uma reação
exotérmica que aquece o produto na câmara externa
(Figura 6.14). HeatGenie é outro lançamento de emba-
lagem self heating baseado em combustível sólido, que
vai gerar energia convertida em calor de forma controla-
da. O combustível fica retido em um módulo compacto
acoplado à base da embalagem (Figura 6.14). Fonte: Divulgação
152 BrasilPackTrends2020
qualidade & novas tecnologias
Embalagens inteligentes monitoram e comuni- levar à substituição do prazo de validade pela indicação
cam informações sobre o conteúdo e o ambiente de um mais precisa de qualidade dada pelo indicador.
produto ao consumidor, varejista ou produtor. Normal- São dispositivos que podem ser usados na em-
mente tratam-se de acessórios incorporados nos mate- balagem de varejo ou nas embalagens industriais de
riais de embalagem, aplicados na mesma como adesi- ingredientes e matérias-primas em geral. Muitos indica-
vos e até fixados no produto. dores não medem diretamente a qualidade do produto,
Enquadram-se nessa categoria: indicadores por isso precisam ser ajustados (taylor made) à cinética
de tempo-temperatura, indicadores de amadureci- de deterioração/alteração do produto em que será usa-
mento e frescor, indicadores de oxigênio, indica- do. Os indicadores de tempo-temperatura podem ser
dores de etileno, indicadores de microrganismos usados como indicadores de qualidade microbiológica,
patogênicos e toxinas, indicadores de dióxido de desde que bem ajustados ao processo microbiológico
carbono, sensores de violação, biossensores (de- de deterioração do produto.
tecção de patógenos) e acessórios com outras fun- As tecnologias associadas a indicadores de
cionalidades. tempo-temperatura estão vinculadas à migração de
Os indicadores atuam de forma passiva, dando uma tinta/corante através de um material poroso,
informações sobre o frescor, a segurança microbiológica que depende da temperatura e do tempo; a reação
e a qualidade dos produtos. química, reação enzimática ou reação de polimeri-
Inovações nas tecnologias de sensores, como zação, cuja velocidade depende da temperatura; a
nanossensores e biossensores, estão ampliando as tintas e pigmentos sensíveis à temperatura e a indi-
possibilidades de aplicação de embalagens inte- cadores de pH. A maioria dos indicadores funciona
ligentes. A busca por segurança e rastreabilidade com base na mudança de cor. Uma área potencial
tem impulsionado os desenvolvimentos. A tendên- de desenvolvimento é a associação desses indicado-
cia de redução de custo e tamanho de componen- res de tempo-temperatura com tecnologias de con-
tes eletrônicos também favorece o setor. A possi- trole e rastreabilidade.
bilidade de conjugar esses sensores a sistemas de As tecnologias de monitoramento de tempera-
monitoramento e rastreabilidade permitirá que vá- tura tornam-se cada dia mais efetivas, simples de
rios elos da cadeia tenham acesso às informações utilizar e com custo acessível. A PakSense desen-
coletadas. Deverão evoluir a compatibilização e a volveu uma etiqueta de monitoramento programável,
incorporação desses sensores nos materiais de em- com indicadores de LED que evidenciam a ocorrên-
balagem. cia de flutuações de temperatura fora da faixa es-
pecificada, permitindo assim a rápida identificação
Indicadores de tempo-temperatura de problemas de condicionamento nas etapas de
transporte e distribuição do produto (Figura 6.16).
A inicialização de registro é bastante simples, bas-
Os indicadores/integradores de tempo e tempe- tando dobrar uma das pontas da etiqueta para sua
ratura – TTI indicam a história térmica do produto e ativação. Ainda é possível coletar os dados registra-
se foram submetidos a condições extremas, ao longo dos, utilizando-se um dispositivo de leitura próprio,
de toda cadeia e comercialização. Isso permite ações gerando gráficos e relatórios que permitem ao usu-
da cadeia e também alerta o consumidor quanto à se- ário uma completa visualização das ocorrências ao
gurança do produto. A evolução dessa tecnologia pode longo do tempo.
BrasilPackTrends2020 153
qualidade & novas tecnologias
A empresa FreshPoint também oferece várias aplicado no rótulo convencional ou como uma etiqueta
soluções de indicadores tempo-temperatura, denomi- na embalagem. O indicador é ativado por uma fonte
nadas comercialmente de OnVu (Figura 6.17), desen- de radiação UV na linha de envase e inicia o processo
volvidas em colaboração com a antiga Ciba Specialty de indicação de frescor e final da vida útil. Pode ser
Chemicals, agora parte da BASF. O sistema baseia-se calibrado para se adequar a diferentes mecanismos de
em uma tinta “inteligente” que muda de cor com base deterioração e vida útil do produto em função da tem-
na temperatura a que o produto foi exposto. Pode ser peratura.
Fonte: Divulgação
Fonte: Divulgação
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Fonte: Divulgação
qualidade & novas tecnologias
BrasilPackTrends2020 155
qualidade & novas tecnologias
FIGURA 6.21
circuito eletrônico. Os varejistas acoplam ao circuito um
módulo eletrônico reutilizável de alarme sonoro, que soa Dispositivo de aquecimento
se removido da embalagem ou se o circuito é rompido. baseado em eletrônica impressa
e carregador wireless
FIGURA 6.20
Dispositivo antifurto à base
de tinta condutora
Fonte: Divulgação
FIGURA 6.22
Rótulo que emite feixes de luz
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156 BrasilPackTrends2020
qualidade & novas tecnologias
BrasilPackTrends2020 157
qualidade & novas tecnologias
FIGURA 6.23
Tecnologias CoolVu Active
Barcode e CoolVu RF
Fonte: Divulgação
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O QR Code permite interligar objetos do mundo
real com informações e serviços disponibilizados na in-
Quanto à rastreabilidade, há algumas questões ternet. Esse código bidimensional pode ser lido pela
não técnicas a ser consideradas. Estas incluem assuntos maior parte dos smartphones equipados com câmera
regulatórios e de segurança para materiais utilizados no fotográfica, desde que possuam um aplicativo para lei-
contato com alimentos e questões éticas que surgem tura de QR Codes. O programa permite que os usuários
do uso das etiquetas de RFID para rastrear produtos, possam tirar uma foto do QR Code impresso na emba-
que, por sua vez, podem permitir o rastreamento ou o lagem, ou mesmo apontar a câmera para ele e acessar
158 BrasilPackTrends2020
qualidade & novas tecnologias
um endereço eletrônico com informação e serviços in- ou comprimido; essas informações são transferidas a um
dexados pelo código. computador, através de um leitor especial, e podem ser
A vinícola Campo Largo, no Brasil, utiliza o QR transmitidas ao médico responsável. A tecnologia inclui
Code para interagir com o consumidor (Figura 6.24), um microprocessador oculto no blister e tintas condutoras
permitindo a visualização de mais informações, em for- que indicam a ruptura do compartimento de cada com-
mato digital, ainda na gôndola do supermercado, sobre primido. Pode-se ainda incluir no sistema de embalagem
a empresa, a linha de produtos, receitas de harmoniza- tecnologias para lembrar ao paciente os horários de medi-
ção da bebida e vídeos de fabricação dos vinhos. cação, por meio de luz, som ou vibração.
A empresa americana Great Day Farms utiliza o
código QR em suas embalagens para ovos (Figura 6.25). FIGURA 6.26
FIGURA 6.25
Código QR para interatividade
com o consumidor
Fonte: Divulgação
BrasilPackTrends2020 159
qualidade & novas tecnologias
nanomateriais são suficientes para melhorar certas pro- Aditivo em escala nanométrica
priedades de polímeros sem alterar significativamente melhora as propriedades
sua densidade, transparência e, especialmente, as ca- óticas de PET reciclado
racterísticas de processamento. As oportunidades de
desenvolvimentos nessa área são grandes, mas ainda
requerem muita pesquisa e investimento.
Aplicações da nanotecnologia em
embalagens e distribuição
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qualidade & novas tecnologias
Materiais barreira
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qualidade & novas tecnologias
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qualidade & novas tecnologias
O dióxido de titânio pode ser usado como um portátil, especialmente baseadas na plataforma de
revestimento de embalagens plásticas com ação sobre bionanossensores em substituição aos ensaios imu-
coliformes fecais. Também pode ser usado em combi- nológicos tradicionais têm sido motivadas não apenas
nação com íons prata. A quitosana, biopolímero deriva- pelas doenças infecciosas de alto risco, como tam-
do da quitina (polissacarídeo presente nas carapaças bém pelo bioterrorismo. Utilizam-se nanomateriais
de crustáceos), também apresenta propriedades antimi- construídos com nanocamadas de diferentes metais
crobianas e pode ser usada em nanocompósitos ativos. (ouro, prata e níquel) capazes de agir como nanocó-
Espera-se um grande impacto da nanotecnologia digos de barra para detectar toxina botulínica, antraz
na área de embalagens ativas. e uma variedade de patógenos.
Sensores de oxigênio com tintas inteligentes
que incorporam nanopartículas mudam de cor em
contato com oxigênio e são exemplos de embalagem
inteligente que pode alertar fornecedores, varejistas e
Embalagens inteligentes: nanossensores
consumidores sobre alterações do produto pela ação
e nanoindicadores do oxigênio. Um exemplo de nanotecnologia aplicada
a sensores de oxigênio é o AgelessEye da Mitsubishi
Sensores incluem elementos receptores e trans- Gas Chemical, que fica rosa na ausência de oxigê-
dutores, ou seja, detectam alterações e podem agir de nio e muda para cor azul quando detecta oxigênio
acordo com um comando associado à intensidade da na embalagem. Espera-se que o avanço no uso de
alteração percebida. Os indicadores representam uma nanomateriais aumente a sensibilidade desses senso-
forma mais passiva de aplicação da nanotecnologia, res e permita respostas mais rápidas e mudanças de
apenas comunicam a informação através de alterações coloração mais intensas.
visuais, especialmente coloração. Várias aplicações Além dos sensores, um lançamento de indicador
tecnológicas resultam da combinação de sensores e usando nanotecnologia (Timestrip’s nano-TTI system) é
indicadores. o iStrip, desenhado para detectar o congelamento aci-
Exemplos são sensores para detecção de mi- dental de produtos refrigerados. O sistema é baseado
crorganismos patogênicos, toxinas e contaminantes; em ouro coloidal (nanomaterial), que é vermelho em
nanopartículas para remoção seletiva de patogênicos temperaturas acima de 0°C, mas o congelamento aglo-
e de contaminantes por adesão específica; e anti- mera a nanopartícula de ouro, o que resulta em uma
microbianos ativos como óxidos metálicos (SCOTT; solução transparente, indicando o congelamento aci-
CHEN, 2003). Bionanossensores utilizam materiais dental do produto.
biológicos sensitivos como DNA, anticorpos e enzi- A empresa FreshPoint comercializa uma sé-
mas, associados a transdutores físicos ou químicos rie de indicadores de tempo-temperatura, denomi-
que convertem o sinal biológico para um sinal elétri- nados CoolVu, baseados em dispositivo com base
co processável. Dentre os nanossensores alguns reú- metálica. Funcionam como etiquetas de prazo de
nem elementos receptores e transdutores, ou seja, validade “dinâmico”, para produtos refrigerados.
podem detectar mudanças e agir segundo as alte- No acondicionamento do produto, os indicadores
rações percebidas. Exemplo são sensores de cresci- são aplicados na embalagem, ativados e passam
mento microbiológico que liberam conservantes. Os a mostrar para distribuidores, varejistas e consu-
nanossensores apresentam vantagens tais como alta midores a vida útil do produto. São calibrados de
sensibilidade e seletividade, resposta rápida, portabi- acordo com a sensibilidade do produto à tempera-
lidade e custo compatível com a aplicação em merca- tura (Figura 6.30).
dos maduros. As inovações nessa área de biodetecção
BrasilPackTrends2020 163
qualidade & novas tecnologias
FIGURA 6.30
do em uma planta na Finlândia para fabricar um novo
Indicador de tempo-temperatura nanomaterial, a celulose microfibrilada, que permitirá a
da empresa FreshPoint redução de peso de embalagens celulósicas, à base de
papel-cartão, e melhora das propriedades de barreira.
Esse é um exemplo da nova geração de materiais de
fonte renovável.
Revestimentos comestíveis a partir de biopolíme-
ros aplicados a alimentos e fármacos estão sendo muito
estudados, inclusive nas universidades brasileiras e po-
dem ser usados para conservação de frutas e hortaliças
frescas, inclusive minimamente processadas, frutas se-
cas, queijos, produtos cárneos e outros alimentos. Po-
dem ser formulados para conferir barreira a umidade,
a gases e ter outras funcionalidades, a exemplo de veí-
culos de enzimas, antioxidantes, aromas e pigmentos,
Fonte: Divulgação funcionando como revestimento ativo. Revestimentos
à base de carboidratos (amido, celulose) e proteínas
(zeína, caseína, gelatina, colágeno) combinados com
nanoargilas têm suas propriedades mecânicas e de bar-
reira melhoradas e podem ser usados como veículo para
Melhora de propriedades de biopolímeros outros ativos com funcionalidade desejada.
164 BrasilPackTrends2020
qualidade & novas tecnologias
BrasilPackTrends2020 165
qualidade & novas tecnologias
6.4 BIOPOLÍMEROS
Apesar de a maioria dos materiais de embala- discussão e pode incluir, além de materiais de fonte re-
gem não ser de fonte renovável (vidro, metal e termo- novável, mesmo que não sejam compostáveis, materiais
plásticos de fonte fóssil), os bioplásticos têm recebido compostáveis, mesmo que não sejam de fonte renovável
grande atenção, pois se mostram como uma alternativa (Figura 6.31).
para a redução da dependência do petróleo e têm po-
tencial para reduzir os impactos do setor de embalagem FIGURA 6.31
166 BrasilPackTrends2020
qualidade & novas tecnologias
Para ser certificado como biodegradável compos- Segundo o relatório de tendências de 2011 do
tável, um biopolímero deve atender a certas normas, PMMI (PACKAGING..., 2011), “embora o conceito de
no Brasil ABNT NBR 15448-2 (2008), nos EUA ASTM material compostável e/ou biodegradável tenha muito
D 6400 (2012) e na Europa EN 13432 (2000) e EN apelo, atualmente muito pouco material de embalagem
14995 (2006). é realmente compostado. Não há uma infraestrutura
A diferença entre plástico apenas biodegradável significativa de compostagem espalhada pelos Estados
e o compostável é importante. Por exemplo, um filme Unidos. Na Europa, a diretiva da European Union’s
de menos de 20µm de PLA é compostável, enquanto Landfill restringiu o aterro de resíduo biodegradável.
filmes mais espessos não são compostáveis, porque não Como resultado, alguns países europeus têm uma in-
se decompõem rápido o suficiente para ser considera- fraestrutura de compostagem bem estabelecida, outros
dos compostáveis (BARNETT, 2011b). não. No Japão, uma lei de 2001, a Food Recycling Law,
O processo de oxidegradação está associado a favoreceu o aumento de usinas de compostagem e de
polímeros de fonte fóssil com aditivos à base de sais taxas de compostagem”. No Brasil, em 2008, a compos-
metálicos que catalisam a degradação da estrutura tagem correspondeu a 0,8% da destinação de resíduos
química, gerando moléculas de menor massa mole- coletados (IBGE, 2010), o que é inexpressivo, mas com
cular, não biodegradáveis, e partículas inorgânicas. a instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos
O processo é ativado pela exposição a certos fatores espera-se um aumento das usinas de compostagem.
como calor, radiação UV e umidade. Em aterros sem Biopolímeros podem ser formados organicamente
oxigênio, sem temperatura adequada e sem luz não há na natureza por organismos vivos (agropolímeros) ou ser
oxidegradação. Comprometem a cadeia normal de reci- sintetizados quimicamente a partir de fontes renová-
clagem, pois causam degradação da estrutura química veis. A produção do biopolímero pode ser via polimeri-
do recilado e não são compostados em usinas indus- zação de moléculas naturais ou modificação química de
triais de compostagem. Plásticos oxidegradáveis não um polímero natural.
são tradicionalmente classificados como biopolímeros, Os agropolímeros são biopolímeros de origem
pois normalmente não atendem aos requisitos de cer- vegetal ou animal, obtidos diretamente da biomassa.
tificação das normas ABNT NBR 15448-2 (2008), Geralmente são derivados do amido (milho, batata, tri-
ASTM D 6400 (2012) ou EN 13432 (2000), EN go), da celulose, de proteínas (soro de leite, soja) e de
14995 (2006) ou ISO 17088 (2012), já que levam materiais lipídicos (triglicerídeos). A quitosana é um
mais de 180 dias para se degradar nas condições es- biopolímero (carboidrato) natural modificado, obtido a
pecificadas nas normas. partir da quitina, que é um biopolímero presente na ca-
A despeito das definições de biopolímeros existem rapaça de crustáceos, mas também pode ser encontra-
normas que auxiliam a avaliação destes novos materiais, da em alguns fungos e leveduras. Quitina e quitosana
como a norma brasileira ABNT NBR 15448-2 (2008), as são biopolímeros altamente disponíveis e suas estrutu-
normas americanas ASTM D 6400 (2012) para plásticos ras permitem inúmeras possibilidades de modificações
compostáveis, ASTM D 6868 (2011) para revestimentos químicas e físicas para gerar novas propriedades, fun-
de papel e outros substratos compostáveis e as normas cionalidades e aplicações.
européias EN 13432 (2000 + AC 2005) para embala- Vale ressaltar que os biopolímeros derivados de
gens e EN 14995 (2006) para materiais, que garantem polissacarídeos (amido) têm recebido muita atenção,
biodegradabilidade, rápida compostabilidade e geração devido à sua compostabilidade, boa barreira a gases e
de substâncias não tóxicas. Sistemas de certificação es- versatilidade. Podem ser utilizados em blends de amido
tabelecidos pelo Biodegradable Products Institute – BPI, ou misturados com celulose, poliésteres compostáveis,
DIN/CERTCO e outras instituições atestam o desempe- lignina, pectina, proteína ou transformados em nano-
nho de materiais biodegradáveis. compósitos. Contudo, sua alta sensibilidade à umidade
BrasilPackTrends2020 167
qualidade & novas tecnologias
tem limitado suas aplicações, o que é muito relevante Dentre os materiais biodegradáveis há alguns po-
em um país tropical como o Brasil, de alta umidade liésteres de fonte fóssil. Englobam poli(caprolactonas),
ambiente. poliesteramida e alguns copoliésteres alifáticos e aro-
Os agropolímeros podem também ser produzi- máticos. Esses materiais são muitas vezes associados
dos por biotecnologia, ou seja, por algas e bactérias em blends, com biopolímeros, especialmente amidos.
que fermentam açúcares e produzem poliésteres (a A BASF comercializa um copoliéster aromático-alifá-
exemplo da família de poli(hidroxialcanoatos) - PHA) tico de fonte fóssil (poli(butileno adipato-co-terefala-
ou por fermentação ácida que gera ácido lático, que to) – PBAT), mas biodegradável e compostável, sob o
é posteriormente esterificado e polimerizado a poli(á- nome de Ecoflex. Outra família de produto que combina
cido lático) – PLA. Algas e bactérias também podem Ecoflex e PLA foi denominada pela Basf de “ecovio”,
ser usadas para gerar matéria-prima para produção de para revestimentos de materiais celulósicos. Em parce-
biopolímeros. ria com a Ingredion Incorporated (antiga Corn Products
Plantas geneticamente modificadas foram desen- International) a BASF desenvolveu um polímero que
volvidas para incorporar enzimas usadas por bactérias combina o Ecoflex com um polímero à base de amido
na fabricação orgânica de biopolímeros. O código gené- de milho, denominado Ecobras, com mais de 50% de
tico de bactérias foi transplantado para certas plantas, matéria-prima de fonte renovável.
a exemplo de soja, a fim de produzirem o biopolímero Uma família de filmes à base de celulose regene-
no processo celular normal. Após a colheita, o biopolí- rada que está ganhando expressão no mercado de bio-
mero é extraído da planta por solvente. materiais é a NaureFlex, da InnoviaFilms. Os produtos
Na tentativa de melhorar o perfil sustentável dos são fabricados a partir da celulose de madeira, no mes-
agrobiopolímeros, esforços de pesquisa têm sido dire- mo conceito do celofane, contudo se trata de material
cionados para a produção desses materiais a partir de compostável, certificado de acordo com as normas de
resíduos da indústria de alimentos e bebidas, resíduos compostagem industrial EN 13432 (2000) e ASTM D
agrícolas e resíduos da indústria madeireira (celulose e 6400 (2012).
lignina). A questão do uso de energia de fonte renovável A empresa Novamont® desenvolveu e comerciali-
é também um requisito relevante para reduzir o impacto za a tecnologia Mater-Bi, uma família de biopolímeros
ambiental de biopolímeros comparativamente ao pro- termoplásticos biodegradáveis e compostáveis, à base
cesso convencional das petroquímicas. de amido de fonte não transgênica (geralmente milho).
A celulose é um polissacarídeo orgânico compos- A empresa DuPont oferece resinas à base de amido ter-
to de longas cadeias de glicose. Ocorre naturalmente moplástico, sob o nome Biomax TPS – thermoplastic
em plantas e pode ser produzida por algumas bactérias. starch compostable. A Cereplast Compostables é uma
É matéria-prima básica para a fabricação de papel, pa- família de resinas à base de amido, compostável, dis-
pel- cartão, papelão ondulado, celofane e acetato de ce- ponível para o mercado de utensílios plásticos descartá-
lulose. Pode ser quimicamente modificada em polímero veis e embalagens (sopradas e filmes). Pode ser usada
aquossolúvel, compatível com amido e gomas. em blends com o PLA Ingeo.
As nanopartículas podem ser obtidas a partir de O PLA é um poliéster alifático termoplástico pro-
biopolímeros como celulose (whiskers), amido, proteí- duzido a partir da fermentação da dextrose e posterior
na e quitina. Nanopartículas de quitosana podem ser polimerização do ácido lático em um polilactídeo. É um
usadas como veículos de compostos específicos em dos biopolímeros mais comercializados na área de em-
embalagens ativas, além de sua propriedade antimicro- balagem, devido à sua disponibilidade, custo competi-
biana. Por outro lado, outras nanopartículas inorgânicas tivo e facilidade de conversão em filme ou embalagem
podem ser incorporadas a biopolímeros para melhorar rígida. A NatureWorks é um dos principais fabricantes
suas propriedades. mundiais de PLA a partir de oleaginosas. Nos EUA, o
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qualidade & novas tecnologias
milho tem sido usado como fonte de amido/açúcar. Seu fóssil. A Coca-Cola e a empresa indiana JBF Industries
biopolímero Ingeo recebeu certificação de produto de anunciaram a construção de uma fábrica da resina Bio-
base biológica do Programa BioPreferred da entidade MEG no Brasil, em Araraquara/SP, que deverá operar a
americana USDA. A certificação do BioPreferred con- partir de 2015.
firma que, no mínimo, 25% do conteúdo de carbono é
de base biológica. Na Europa, a empresa PURAC é um FIGURA 6.32
BrasilPackTrends2020 169
qualidade & novas tecnologias
FIGURA 6.33
Dentre os biopolímeros, além dos materiais ce-
Exemplo de material lulósicos, o poli(ácido láctico) – PLA, polímeros à base
para acolchoamento com de amido e o Polietileno Verde da Braskem são os prin-
apelo sustentável cipais produtos do mercado. Esse mercado de biopolí-
meros para embalagem é especializado e concentrado,
mas tende a ser mais fragmentado na próxima década.
Na área de biopolímeros, os desafios são: superar
as limitações nas propriedades, especialmente para uso
em embalagem de alimentos, aumentar a disponibilida-
de, aumentar a competitividade com polímeros de fonte
fóssil de menor custo e resolver questões ambientais:
impacto negativo na cadeia de reciclagem de outros
materiais, falta de coleta e infraestrutura para compos-
Fonte: Divulgação
tagem. O futuro está nas embalagens fabricadas a partir
de resíduos/subprodutos das indústrias de alimentos,
bebidas, madeireiras e resíduos agrícolas.
6.5 REFERÊNCIAS
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through the end of the decade. Reston, VA: PMMI, 2011. 20
p. Packaging intelligence brief.
BrasilPackTrends2020 171
Anna Lúcia Mourad
Sandra B. M. Jaime
Capítulo 7
Uma nova consciência global ambiental tem sido causado por ações antropogênicas. O relatório tam-
surgido gradativamente na medida em que as transfor- bém enfatiza a necessidade da redução na emissão de
mações que o planeta vem sofrendo, acentuadas pelas gases de efeito estufa por todos os setores produtivos,
mudanças climáticas perceptíveis por todos os conti- para minimizar os efeitos previstos para os próximos
nentes, vêm sendo entendidas como consequências das anos.
ações do homem sobre a natureza. O 4o Relatório do In- Os estudos de Avaliação de Ciclo de Vida, por
tergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), após contabilizarem várias formas de impacto ambiental,
analisar 29 mil séries de dados, oriundos de estudos como aquecimento global, depleção de recursos natu-
científicos realizados ao redor do mundo, conclui que o rais, acidificação, eutroficação e toxicidade humana,
aquecimento do sistema climático é inequívoco e tem dentre outros, têm sido considerados um dos melhores
MOURAD, A. L.; JAIME, S. B. M. Sustentabilidade & ética. In: BRASIL pack trends 2020. Campinas: ITAL, 2012. cap. 7, p. 171-203.
BrasilPackTrends2020 173
sustentabilidade & ética
instrumentos para a quantificação da interferência hu- têm por meta, tornar-se mais sustentáveis. A aplicação
mana sobre o planeta. O documento Brazil Pack Trends dessa ferramenta para as embalagens desdobra-se nes-
2020 mostra que, essa técnica, na sua forma mais te documento em quatro tendências a ser perseguidas
simplificada, o Life Cycle Thinking, torna-se uma po- na próxima década: Otimização do sistema de produto/
derosa ferramenta a ser aplicada tanto para a melhoria embalagem; Reúso & Reciclagem; Gerenciamento de
contínua dos processos existentes quanto para nortear Resíduos & Logística Reversa e Credibilidade & Ética
novos desenvolvimentos de produtos e processos, que (Quadro 7.1).
QUADRO 7.1
Sustentabilidade & Ética -
desdobramentos e contribuições da embalagem
Desdobramento
Sustentabilidade e Ética
Contribuições da embalagem
• Responsabilidade estendida
Credibilidade & Ética • Acreditação e validação
• Não ao Greenwashing
*GEE: gás de efeito estufa
174 BrasilPackTrends2020
sustentabilidade & ética
Essa penetração tem ocorrido pela conjugação de gação de problemas climáticos globais (UNEP, 1992;
diversos fatores. Por um lado, a globalização, que se SILVA, 2009; CAYE, 2010).
intensifica a partir da segunda metade da década de A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB),
1980, transforma as relações antes centradas na na- resultante da Conferência das Nações Unidas para o
ção em questões globais. Os aspectos relativos ao so- Meio Ambiente e o Desenvolvimento - CNUMAD (Rio
cial passam a referir-se à sociedade interplanetária e 1992), teve um impacto crucial na consciência am-
não apenas aos efeitos regionalizados locais. Diversos biental relativa à necessidade de preservação da diver-
atores, como corporações transnacionais, organizações sidade biológica. Assinada por 168 países e ratificada
não governamentais, organizações intergovernamentais, por outros 188, é considerada um marco político nas
comunidades epistêmicas e a mídia passam a ter forte questões relativas à biodiversidade (MINISTÉRIO DAS
influência nos processos decisórios. Por meio da globa- RELAÇÕES EXTERIORES/MINISTÉRIO DO MEIO AM-
lização, a humanidade toma conhecimento do risco da BIENTE, 2012).
degradação ambiental em razão da capacidade destru-
tiva das armas nucleares e do potencial de contamina- As mudanças climáticas
ção do ar, da água, do solo e da cadeia alimentar por
indústrias químicas e nucleares (VIOLA, 1998; CAYE,
2010; SILVA, 2009). Em 1988, o Intergovernmental Panel on Climate
A Declaração de Estocolmo de 1972, sobre o am- Change (IPCC) - Painel Intergovernamental de Mudança
biente humano teve sua importância por se caracterizar Climática foi criado pelo United Nations Environmental
como o primeiro documento em que a proteção e o me- Programme (UNEP) e pela World Meteorological Orga-
lhoramento do meio ambiente humano foram tratados nization (WMO). Composto de milhares de cientistas ao
como questões fundamentais de interesse e dever de redor do mundo, o IPCC é um organismo internacional
todos os governos, pois afetam o bem-estar dos povos e que revisa e avalia as informações científicas, técnicas
o desenvolvimento econômico do mundo inteiro (CON- e socio-econômicas produzidas no mundo, que são rele-
FERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS, 1972). vantes para o entendimento das mudanças climáticas.
Vários acordos internacionais vêm sendo firma- Desde a sua criação, já publicou quatro relatórios prin-
dos, nos quais se podem observar três objetivos prin- cipais de avaliação (INTERGOVERNMENTAL PANEL
cipais: o de proteger a camada de ozônio, o de conter ON CLIMATE CHANGE, 2012). Seu relatório mais re-
os efeitos da mudança climática, e o de proteger a bio- cente, o AR-4 (IPCC, 2007), baseia-se em 29 mil séries
diversidade. A Convenção de Viena (1985) resultou da de dados correspondentes a 75 estudos, cada qual com
preocupação em proteger a camada de ozônio, respon- pelo menos 20 anos de observações. Segundo o 4o Re-
sável pela filtração das radiações solares na faixa do latório do IPCC, o aquecimento do sistema climático é
ultravioleta, nocivas principalmente à saúde humana. inequívoco, comprovado pelas observações do aumento
Seguiu-se a adoção do Protocolo de Montreal, em médio global das temperaturas do ar e dos oceanos,
1987, que controla a produção e o consumo das subs- pelo derretimento de geleiras e elevação do nível médio
tâncias que, em razão da sua reatividade combinada global dos oceanos, como mostra a Figura 7.1.
com os volumes comercializados, têm maior potencial A elevação do nível do mar é consistente com o
de destruir a camada de ozônio, como os “clorofluorcar- aquecimento. O nível do mar global aumentou a uma
bonos ou CFCs (-11, -12, -13, -C14, -15)”, halons taxa média de 1,8 mm por ano entre 1961 e 2003,
(-1211, -1301 e -2402), HCFCs e brometo de meti- a uma taxa média de 3,1 mm por ano entre 1993 e
la. Essas ações resultaram em significativa redução na 2003. A expansão térmica dos oceanos contribuiu para
emissão desses gases e são consideradas exemplos de o aumento do nível do mar, com a diminuição das gelei-
sucesso na política de prevenção e cautela para miti- ras e das calotas polares.
BrasilPackTrends2020 175
sustentabilidade & ética
FIGURA 7.1
coberturas de neve médias têm diminuído em ambos os
Mudanças observadas hemisférios. As temperaturas no topo da camada de gelo
do Ártico aumentaram 3°C, em média, desde 1980.
176 BrasilPackTrends2020
sustentabilidade & ética
BrasilPackTrends2020 177
sustentabilidade & ética
FIGURA 7.3
Mudanças nas temperaturas
Comparação das mudanças observadas em escala continental e global na temperatura da superfície da Terra com resultados
simulados por modelos climáticos usando forçantes naturais ou forçantes naturais e antropogênicas. A linha preta representa valores
médios reais do período
Fonte: IPCC, 2007
178 BrasilPackTrends2020
sustentabilidade & ética
BrasilPackTrends2020 179
sustentabilidade & ética
A elaboração dos planos é condição para que se tenha As seguintes medidas para estruturação do sistema de
acesso a recursos da União. logística reversa são consideradas:
Norteada pelo princípio da responsabilidade comparti- • Implementação de procedimentos de compra de
lhada, a PNRS estabelece que: produtos ou embalagens usados.
Os fabricantes de materiais de embalagens, de embala- • Disponibilização de postos de entrega de resíduos
gens finais, as empresas que acondicionam seus produ- reutilizáveis e recicláveis.
tos em embalagens bem como importadores e distribui- • Atuação em parceria com cooperativas ou outras for-
dores, têm responsabilidade de: mas de associação de catadores de materiais reutili-
• Colocar embalagens no mercado que tenham volume záveis e recicláveis.
e peso otimizados para proteção do conteúdo e co- Os acordos setoriais e termos de compromissos firma-
mercialização do produto. dos em âmbito nacional têm prevalência sobre os fir-
• Colocar no mercado produtos que, após o uso pelo mados em âmbito regional ou estadual, e estes sobre os
consumidor sejam aptos à reutilização, à reciclagem firmados em âmbito municipal.
ou a outra forma de destinação ambientalmente ade- Os consumidores deverão efetuar a devolução, após o
quada e cuja fabricação e uso gerem a menor quan- uso, aos comerciantes ou distribuidores dos produtos
tidade possível de resíduos sólidos. e das embalagens e de outros produtos ou embalagens
• Divulgar as informações relativas às formas de evitar, objeto de logística reversa. Sempre que for estabelecido
reciclar e eliminar os resíduos sólidos associados a um sistema de coleta seletiva pelo plano municipal de
seus respectivos produtos. gestão integrada de resíduos sólidos, os consumidores
são obrigados a:
A obrigatoriedade da estruturação de sistemas de lo-
gística reversa com recolhimento dos produtos e dos • Separar de forma diferenciada os resíduos sólidos
resíduos remanescentes após o uso, e subsequente gerados.
destinação final ambientalmente adequada, está volta- • Disponibilizar os resíduos sólidos reutilizáveis e reci-
da para os fabricantes, importadores, distribuidores e cláveis para coleta ou devolução.
comerciantes de:
O poder público municipal pode instituir incentivos
• Agrotóxicos e de produtos que, após o uso, se carac- econômicos aos consumidores que participam do siste-
terizem como resíduos perigosos. ma de coleta seletiva na forma de lei municipal.
• Pilhas e baterias.
Cabe ao titular dos serviços públicos de limpeza urbana
• Pneus. e de manejo de resíduos sólidos:
• Óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens.
• Lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercú- • Adotar procedimentos para reaproveitar os resíduos
rio e de luz mista. sólidos reutilizáveis e recicláveis oriundos de seus
• Produtos eletroeletrônicos e seus componentes. serviços.
Acordos setoriais firmados entre o Poder Público e o • Estabelecer sistema de coleta seletiva.
setor empresarial serão estendidos a itens comerciali- • Articular com os agentes econômicos e sociais me-
zados em embalagens plásticas, metálicas ou de vidro, didas para viabilizar o retorno ao ciclo produtivo dos
e aos demais produtos e embalagens, considerando, resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis oriundos
prioritariamente, o grau e a extensão do impacto à saú- dos serviços de limpeza urbana e de manejo de re-
de pública e ao meio ambiente dos resíduos gerados. síduos sólidos.
A definição desses produtos e embalagens considerará • Realizar as atividades definidas por acordo setorial
a viabilidade técnica e econômica da logística reversa,
ou termo de compromisso mediante a devida remu-
bem como o grau e a extensão do impacto à saúde pú-
blica e ao meio ambiente dos resíduos gerados. neração pelo setor empresarial.
• Implantar sistema de compostagem para resíduos
180 BrasilPackTrends2020
sustentabilidade & ética
sólidos orgânicos e articular com os agentes econô- O GTT de Embalagens é coordenado pelo Ministério do
micos e sociais formas de utilização do composto Meio Ambiente e é formado por órgãos federais, esta-
produzido. duais e entidades de setores da sociedade civil como a
O lançamento de resíduos em praias, no mar ou em Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Compro-
qualquer corpo hídrico, bem como em lixões a céu aber- misso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), a As-
to, e a sua queima a céu aberto são formas proibidas de sociação Brasileira de Embalagem (Abre), a Associação
destinação final. Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro
(Abividro), a Associação Brasileira da Indústria do Plás-
Disposições Transitórias e Finais (T-IV) tico (Abiplast), a Associação Brasileira de Celulose e
Os danos causados por ações ou omissões das pesso- papel (Bracelpa), a Associação Brasileira da Indústria
as físicas ou jurídicas que gerem atividades lesivas ao Química (Abiquim), dentre outros.
meio ambiente sofrerão as sanções previstas nas leis O edital 02/2012 de Chamamento para a ela-
vigentes. boração de acordo setorial para a implementação de
A disposição final ambientalmente adequada dos re- sistema de logística reversa de embalagens em geral
jeitos em aterros com programa de monitoramento de foi publicado em 4 de julho de 2012. Por meio des-
emissão de gases tóxicos aprovado pelo órgão ambien- se edital, os fabricantes, importadores, distribuidores e
tal deverá ser implantada em até quatro anos após a comerciantes de embalagens devem estruturar e imple-
data de publicação dessa Lei.
mentar um sistema de logística reversa para retorno das
A elaboração dos planos estaduais e municipais de re- embalagens após o uso do produto pelo consumidor,
síduos sólidos entra em vigor após dois anos da data de com a participação do titular do serviço público munici-
publicação da Lei no 12305. pal de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos
urbanos, das cooperativas e associações dos catadores
O Decreto no 7404 de 23 de setembro de 2010, e de empresas recicladoras. O prazo para apresentação
estende a necessidade de implementação de sistemas de proposta de acordo setorial foi de 180 dias, limi-
de logística reversa a produtos comercializados em em- tando assim o prazo para 4 de janeiro de 2013. Foram
balagens plásticas, metálicas ou de vidro e aos demais criadas metas progressivas de redução dos resíduos re-
produtos ou embalagens. Essa extensão deve ser aferida cicláveis secos com base na caracterização nacional de
pelo comitê orientador, que criou cinco Grupos Técni- 2013: 22% até 2015, 28% até 2019, 34% até 2023,
cos Temáticos (GTT), dentre eles o GTT de Embalagens. 40% até 2029 e 45% até 2031(GARCIA, 2012a).
BrasilPackTrends2020 181
sustentabilidade & ética
tinua até hoje a realizar estudos semelhantes. Tanto ambientais antes limitadas a aspectos únicos como
a energia quanto a embalagem foram temas centrais consumo de energia, utilização de recursos renováveis
desses estudos em razão principalmente da crise do ou fósseis, reciclagem, biodegradação e/ou composta-
petróleo e dos problemas crescentes de disposição gem, dentre outros. Esses estudos dão uma nova di-
de lixo. No fim da década de 80, as empresas Proc- mensão aos debates, pois conseguem integrar diversos
ter & Gamble e Tetra Pak reuniram-se e contrataram aspectos ambientais em uma única unidade funcional
instituições de pesquisa (Battelle, Fraunhofer, EMPA, associada a um produto ou serviço. Em sua forma ide-
CML) e grupos especializados em ACV (Franklin, Éco- al, esse instrumento fundamenta-se numa contabilida-
bilan) sob a coordenação da Society of Environmental de ambiental que se inicia e termina na natureza. Se-
Toxicology and Chemistry (SETAC). Esse consórcio re- gundo a norma ISO 14040, o termo Avaliação de Ciclo
sultou no estabelecimento da estrutura metodológica de Vida é definido como a compilação e avaliação das
da Avaliação de Ciclo de Vida. Em 1993, liderado pela entradas e saídas e os potenciais impactos ambientais
SETAC, iniciou-se o processo de padronização dessa de um sistema de produto durante todo o seu ciclo de
estrutura, com a publicação do documento A Code of vida. O sistema de produto é definido por todos os pro-
Practice, e a estruturação da metodologia ACV. O de- cessos unitários com fluxos elementares e de produtos
senvolvimento da metodologia de impacto ambiental que desempenham uma ou mais funções definidas, as
CML, desenvolvida pelo Institute of Environmental quais modelam o ciclo de vida de um bem material.
Sciences (CML), coordenada por Helias Udo de Haes, Contabilizam-se, por exemplo, os recursos natu-
permitiu transformar a ACV num poderoso instrumen- rais que são consumidos ao longo de todas as etapas
to de avaliação ambiental de sistema de produtos. A do ciclo de vida do produto (inclusive transporte) para
SETAC uniu-se ao United Nations Environment Pro- a produção em questão como petróleo, água, madeira,
gramme (UNEP) oficialmente em 2002, que auxiliou ocupação de terras, areia, minério de ferro, bauxita,
na disseminação da metodologia de ACV ao redor do reservas de carvão etc. E, após a sequência de etapas
mundo (KLÖPFFER, 2006). produtivas para a fabricação do produto em questão,
Entre 1997 e 2000, a série de normas ISO contabiliza-se o saldo do processo em relação ao que
(14040, 14041, 14042 e 14043) foi publicada com o mesmo devolve para a natureza, seja sob a forma
a finalidade de evitar o mau uso da metodologia de de resíduo sólido, seja por emissão gasosa ou líquida.
ACV e estabelecer diretrizes para a harmonização dos Essa interface de avaliação produto/natureza permite
estudos. Em 2006, as normas foram revisadas e agru- entender com maior profundidade o custo ambiental
padas em apenas duas: a ISO 14040 e a ISO 14044. da existência de qualquer produto (MOURAD et al.,
A ISO 14040 descreve os princípios e a estrutura 2002).
dos estudos de ACV e a ISO 14044 descreve os re- A Figura 7.4 é uma representação esquemática
quisitos essenciais e as diretrizes a serem utilizadas das etapas incluídas numa ACV de embalagem, em que
nesses estudos (ISO, 2006a e 2006b). Em 2009, as elipses representam os diversos processos produti-
a tradução para o português da norma ISO 14040 vos unitários envolvidos no ciclo de vida da embalagem
foi publicada no Brasil como ABNT NBR ISO 14040 e os caminhões significam as etapas de transporte de
(ABNT, 2009). materiais. Observa-se que a contabilidade inicia-se nos
recursos naturais consumidos para a obtenção dos pro-
dutos em questão: minério, petróleo, energia solar, gás
Os princípios da metodologia de ACV carbônico etc. Nessa representação, por exemplo, não
foram incluídas as etapas para a obtenção do produto
Os estudos de Avaliação de Ciclo de Vida per- acondicionado, pois neste caso, o estudo se restringe a
mitiram ampliar as discussões relativas às questões uma ACV de embalagem.
182 BrasilPackTrends2020
sustentabilidade & ética
FIGURA 7.4
Representação esquemática das etapas de uma ACV de embalagem
BrasilPackTrends2020 183
sustentabilidade & ética
Os estudos de ACV são formados por quatro fases principais, descritas a seguir.
Na primeira fase, a de definição do objetivo e escopo, define-se em função dos objetivos a ser
atingidos, quais serão as fases do sistema produtivo que farão parte do estudo, delimitando
as fronteiras do mesmo. Nessa fase, que é de extrema importância, define-se qual o nível de
detalhamento e profundidade que o estudo deve ter para que o mesmo possa responder às questões
envolvidas. O público para o qual o estudo é desenvolvido também deve ser definido nessa fase,
1ª Fase pois o mesmo está relacionado ao detalhamento do projeto. Como o estudo é configurado para
conhecimento da interface ambiental de um produto ou serviço com a natureza, uma unidade
funcional deve ser adotada, por meio da qual todas as etapas produtivas são correlacionadas.
Uma das unidades funcionais mais usadas é a mássica, mas unidades como as de volume
transportado, quilômetros percorridos, área de parede pintada e energia produzida, dentre várias
outras, também são utilizadas.
184 BrasilPackTrends2020
sustentabilidade & ética
Essas fases são bastante interativas e são revistas Uma vez que suposições e formas de modelagem
durante a execução do projeto, para que o estudo pos- podem influenciar os resultados finais, a transparência
sa responder aos objetivos iniciais do mesmo, uma vez é fator determinante para avaliar a qualidade desses
que, durante a sua execução, tem-se maior clareza da estudos (ISO, 2006a) e posterior aplicação das conclu-
importância de cada etapa avaliada no ciclo de vida do sões e resultados.
produto em questão.
BrasilPackTrends2020 185
sustentabilidade & ética
Também é importante incluir a análise dos possíveis tra- Nesse sentido, devem-se destacar algumas inicia-
de-offs, ou seja, possíveis pontos ambientalmente desfa- tivas, que por sua relevância podem ser tomadas como
voráveis decorrentes da implementação de novos proces- exemplo. A rede Walmart, numa iniciativa pioneira para
sos, como, por exemplo, o aumento das emissões para a um setor de comercialização e distribuição, consciente
água quando se aumenta a taxa de reciclagem e a perda do seu poder como companhia de varejo, desafia seus
de produtos acondicionados quando se reduz a massa fornecedores a repensar seus produtos para que os mes-
de algumas embalagens que se tornam mais frágeis etc. mos tragam melhorias ambientais.
O Life Cycle Thinking, atualmente pode ser con-
siderado como uma das mais importantes ferramentas FIGURA 7.6
186 BrasilPackTrends2020
sustentabilidade & ética
ria obrigatoriamente envolveram a cadeia de suprimen- A empresa Cargill mostrou que é possível inovar
tos e ou ações na cadeia do pós-consumo. Participaram em produtos já tradicionais como os da linha de óleos
da segunda edição 13 empresas com os seguintes pro- Liza (Figura 7.8), que, mesmo mantendo o seu forma-
dutos: AmBev (Guaraná Antártica 2 litros), Kraftfoods to, conseguiu graças a um trabalho de reengenharia do
(drops Halls), Danone Brasil (Danoninho 360g), L’Oréal frasco e da tampa, uma redução de 10% no peso da
Brasil (linha Elsève de xampu, condicionador e creme embalagem, que passou de 22 para 20 gramas sem
de pentear), Kimberly-Clark (papel higiênico Neve Na- afetar significativamente o seu desempenho mecânico.
turali), Mars Brasil (linha Whiscas lata), Philips (TV
LED 32 polegadas), SC Johnson Brasil (pastilha adesi- FIGURA 7.8
BrasilPackTrends2020 187
sustentabilidade & ética
FIGURA 7.12
Redesenho/Substituição de
materiais para redução do
impacto ambiental
188 BrasilPackTrends2020
sustentabilidade & ética
Outro bom exemplo de otimização de embala- Na área de embalagens de vidro existe também
gem foi o adotado para o suplemento de cálcio Os-cal um forte movimento para a redução de peso com be-
da empresa GlaxoSmithKline (GSK) (Figura 7.13). Em nefícios significativos tanto financeiros quanto ambien-
2010, a GSK lançou um novo sistema de embalagem, tais, pois envolve a redução no consumo dos recursos
eliminando o rótulo de papel e a embalagem secundária naturais (matérias-primas necessárias à fabricação do
de cartão, transferindo as informações necessárias para vidro), menor consumo de água e energia e menores
um rótulo encolhível ao longo de todo o corpo da emba- custos associados ao transporte do produto acabado,
lagem primária de polietileno de alta densidade. Para o com consequente redução das emissões de gases de
volume de vendas anual a empresa divulgou que econo- efeito estufa, em especial o CO2.
mizou 208 toneladas de papel e reduziu as emissões de Originalmente produzida em 1916, a garrafa no
carbono em 150 toneladas (MOHAN, 2010). formato contour da Coca-Cola é um ícone reconhecido
mundialmente que permite a rápida identificação da
FIGURA 7.13 marca pelo consumidor. Em 2007, a empresa apresen-
Exemplo de otimização tou sua nova embalagem de 330 mL Ultra com peso
de embalagem reduzido, 20% mais leve, passando de 263 para 210 g.
A embalagem passou ainda por ligeira alteração de for-
mato, ficando 0,1 mm mais larga e quase 13 mm mais
baixa que a embalagem original (Figura 7.14). Com a
embalagem mais leve, foi estimada uma redução no
consumo anual de 3,5 mil toneladas de matéria-prima
e diminuição de 2,2 mil toneladas de CO2 (HILL, 2010;
FAMOUS..., 2007).
FIGURA 7.14
Exemplo de redesign/redução de
peso de embalagem de vidro
Fonte: Divulgação
BrasilPackTrends2020 189
sustentabilidade & ética
No Brasil, a Coca-Cola Guararapes e a Coca-Cola lagens mais leves favorece ainda a redução das emissões
Norsa (franqueada da Coca-Cola nos estados da Bahia, de carbono associada ao transporte e distribuição do pro-
Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte) também apostaram duto acabado (INNOVATIONS..., 2010; O-I, s.d.).
em uma nova garrafa KS Ultra de 290 mL, que utiliza
25% menos vidro em sua fabricação e mantém o formato FIGURA 7.15
original tradicional da garrafa contour, ícone da marca no Uso da tecnologia Narrow Neck
mundo (COCA-COLA GUARARAPES, s.d.; ABIR, 2011). Press and Blow para redução de
De uma forma geral, a estratégia de inovação das peso de embalagens de vidro
indústrias vidreiras encontra-se alinhada à tendência vol-
tada à sustentabilidade, com objetivo de redução no con-
sumo de matéria-prima, energia e das emissões de CO2,
juntamente com o aumento do porcentual de utilização
do vidro reciclado. Como resultado desse compromisso,
a empresa Owens-Illinois apresentou a linha de embala-
gens de vidro leve para vinho Lean + Green, produzida
por meio da tecnologia Narrow Neck Press and Blow, pro-
cesso de fabricação por prensagem e sopro da garrafa, o
que garante maior uniformidade de espessura ao vidro e
possibilita a redução do peso da ordem de 16% a 27%,
comparativamente às embalagens atuais, com a mesma
aparência e qualidade garantida (Figura 7.15). Além da
redução das emissões de carbono associada ao processo
produtivo da embalagem de vidro, a fabricação de emba-
Fonte: Divulgação
190 BrasilPackTrends2020
sustentabilidade & ética
De forma global, entretanto, as embalagens reu- A reciclagem, desde que oriunda de um proces-
sáveis ou retornáveis ainda não têm se caracterizado so com menor impacto ambiental, deve ser fortemente
como uma tendência atual, embora existam alguns ni- incentivada pelo governo, uma vez que reduz a pressão
chos, como o de bebidas e o de comidas naturais, em sobre o consumo dos recursos naturais. Têm-se obser-
alguns países, onde tem se tornado comum os consu- vado no mercado vários exemplos de utilização de em-
midores trazerem seus próprios recipientes para abas- balagens fabricadas com material reciclado.
tecê-los a partir de embalagens de grande volume para A Colgate Palmolive otimizou sua linha de desin-
produtos vendidos a granel, como sal e arroz. Embora fetantes Pinho Sol, com evolução de vários aspectos no
os consumidores aprovem a ideia, o aumento da ade- processo de fabricação, trocando até mesmo a ilumina-
são dependerá dos esquemas de incentivo. Países como ção de sua linha produtiva por sistemas mais eficientes,
Holanda, Dinamarca e Finlândia comercializam 80%, e também utiliza um frasco de PET 100% reciclado,
90% e 98%, respectivamente, da cerveja e dos refrige- sendo 90% oriundo de pós-consumo e 10% de pré-
rantes em embalagens retornáveis (BARNETT, 2010). consumo (Figura 7.17).
O redesenho para “tornar as embalagens reu-
sáveis” no mínimo duplica a vida útil dos recursos
FIGURA 7.17
naturais que foram consumidos na primeira comer-
cialização de um produto. Alguns formatos de emba- Exemplo do uso de frasco PET
lagens induzem naturalmente ao reúso, como o novo 100% reciclado
pote de polipropileno com tampa vermelha da An-
chor Packaging que substitui a versão de uso único
de poliestireno expandido para acompanhamentos de
refeição como purê de batata, macarrão com queijo,
feijão verde etc. Por intermédio de pesquisas junto a
consumidores, descobriu-se que os mesmos preferem
recipientes reutilizáveis porque os mesmos lhes dão o
controle de como o mesmo é reutilizado ou eliminado
após a compra. Para transmitir a ideia da reutilização,
imprimiu-se na tampa, em relevo, KFC Reusable, Mi-
crowave & Top Rack Dishwasher Safe (Figura 7.16),
informando que a mesma é reutilizável e segura para
utilização em micro-ondas e máquinas de lavar louça
(MOHAN, 2010).
FIGURA 7.16
Exemplo de embalagem reutilizável
Fonte: Walmart 2010
BrasilPackTrends2020 191
sustentabilidade & ética
sa). A garrafa reciclada (Figura 7.18) apresenta as mes- lidade de redução de 37% do volume por torção após o
mas características da produzida a partir de PET virgem consumo, além de ser produzida com 20% menos PET
(COCA-COLA..., 2011). Nesse processo, as garrafas e com um porcentual de PET proveniente de fonte re-
usadas são selecionadas, trituradas e lavadas por um novável (QUARTIM, 2011). Outro exemplo de projeto
eficiente processo de descontaminação e recuperação de embalagem metálica NNew Can, desenvolvido por
do peso molecular do PET, retirando os contaminantes Jiwoon Park e Kwenyoung Choi, apresenta um forma-
nos níveis exigidos pela legislação que aprova o contato to que permite a redução do volume em um terço do
das embalagens com os alimentos. O material limpo é original após o consumo do produto, por meio de um
então utilizado no processo de fabricação de novas gar- movimento de torção e compressão (YANKO DESIGN,
rafas. A tecnologia utilizada para a purificação do PET 2009).
pós-consumo foi criada pela empresa United Resource
FIGURA 7.19
Recovery Corporation (URRC), dos Estados Unidos. A
utilização do PET pós-consumo incentiva toda a cadeia Exemplos de embalagens que
de coleta dessas embalagens, gerando renda para os permitem a redução do volume
catadores (INSTITUTO COCA-COLA, 2012). após o consumo dos produtos
FIGURA 7.18
Garrafa de PET reciclado
Fonte: Divulgação
192 BrasilPackTrends2020
sustentabilidade & ética
A empresa tailandesa Panorama SOY Ink Co. Ltd. versas ordens, como o uso de energia, de água, a eutro-
desenvolveu tintas à base de óleos vegetais reciclados. As fização dos corpos aquáticos, a acidificação, o uso de
tintas possuem 45% de óleo pós-consumo, 21% de pig- terra, o consumo de recursos naturais etc. Exatamente
mentos e 34% de breu, não contêm compostos orgânicos por essa abrangência de enfoques, que a aproxima da
voláteis, têm boa resistência à abrasão, alto brilho e boa realidade, é que a metodologia vem se disseminando
estabilidade de cor. Secam mais rápido, têm nitidez de pelo mundo e ganhando importância em todos os se-
ponto superior às tintas tradicionais e podem ser aplica- tores. Uma de suas premissas, por exemplo, é de que
das em superfícies de papel ou plástico (DENT, 2011). vários aspectos ambientais sejam avaliados, assim não
Outro conceito importante é o do Design for Re- se permite referenciar a metodologia em estudos que
cyclability, ou seja, o de repensar a embalagem pro- não incluam várias categorias de impacto ambiental ao
jetando-a para que a reciclagem da mesma seja fa- mesmo tempo.
cilmente realizada nos equipamentos disponíveis no Dada a natureza complexa dessas questões e a
mercado. Um bom exemplo é o da tecnologia para necessidade de se tomarem ações urgentes para redu-
impressão holográfica chamada HoloBriteTM (Figura zir os impactos ambientais das atividades humanas,
7.20), que imprime diretamente no cartão, conferindo algumas derivações mais simplificadas da ACV têm
aparência brilhante sem a necessidade do uso de fil- sido aplicadas em questões consideradas cruciais, tais
me de laminação de poliéster ou metal. as pegadas de carbono (Carbonfootprint) e de água
(Waterfootprint).
FIGURA 7.20 Essas novas métricas, originadas dos estudos
Exemplo de Design for de ACV, aproveitam a abordagem da “cadeia produti-
Recyclability va”, mas focalizam apenas alguns aspectos, como o da
emissão de gases de efeito estufa, medida por meio
da pegada de carbono. Considerando a importância das
consequências da emissão desses gases, é de grande
valia o monitoramento e a mitigação das mesmas.
Fonte: Divulgação
A pegada de carbono, ou carbonfootprint, é a
quantificação da emissão dos gases de efeito estufa
Esse processo permite que a embalagem seja re- de um produto ou serviço ao longo de seu ciclo de
ciclada nos equipamentos normalmente utilizados na vida, da extração de matérias-primas, processamen-
reciclagem de aparas de papel e cartão, sem a geração to, distribuição e uso até a disposição final. Esse
de rejeito plástico. Essa tecnologia foi adotada pelas termo é expresso em unidades equivalentes de gás
indústrias Paperworks na impressão do cartucho para carbônico (CO2 equiv.). Nas normas ISO 14040 e
o creme dental Aquafresh (MOHAN, 2012). ISO 14044, a “pegada de carbono” aparece na for-
ma da categoria de impacto ambiental de Potencial
Pegadas de Carbono (Carbonfootprint) de Aquecimento Global. O termo carbonfootprint,
bem como a forma de sua quantificação, é descri-
e Água (Waterfootprint) to no documento PAS 2050 (BRITISH STANDARD
INSTITUTION, 2011).
Questões ambientais sempre são de caráter amplo Alguns produtos já fazem apelo ao carbonfootprint
e de difícil interpretação. A ACV talvez possa ser consi- na própria embalagem, como o chocolate da Bloomsber-
derada uma das metodologias ambientais mais amplas, ry &CO (Figura 7.21), que divulga como o consumidor
pois consegue vincular, por meio de sua unidade fun- pode reduzir a pegada de carbono e os efeitos das mu-
cional, parâmetros normalmente incomparáveis, de di- danças climáticas.
BrasilPackTrends2020 193
sustentabilidade & ética
FIGURA 7.21
ações ambientais prioritárias. A metodologia para a sua
Produto com apelo ao quantificação, entretanto, está em fase de consolidação
carbonfootprint (MENDIONDO, 2011).
Sobre essa nova demanda, a Coca-Cola divulgou
um estudo piloto realizado em sua planta em Dongen
na Holanda, em 2009, para calcular a pegada hídrica
de seu produto comercializado Garrafa de PET de 500
mL, mas destacou que os valores obtidos podem variar
significativamente, dependendo da metodologia de cál-
culo empregada (Figura 7.22). Desse estudo foi obser-
vado que a pegada de água incorporada ao produto foi
Fonte: Divulgação
de 35,4 litros e, que, a utilização de água para a pro-
dução do açúcar de beterraba, um dos ingredientes do
A pegada hídrica é um indicador que mede os produto, representou 76% do total de água consumida
consumos diretos e indiretos de água e a poluição da (COCA-COLA ENTERPRISES, 2009).
água ao longo do ciclo de vida dos produtos. Conside- Entretanto, não se pode esquecer de que essas
rando a pequena disponibilidade de água potável no métricas se referem apenas a alguns aspectos específi-
País em regiões densamente povoadas e a atual incapa- cos da interação do produto com o meio ambiente. Não
cidade de tratamento da totalidade dos efluentes gera- se pode avaliar o perfil ambiental de qualquer produto
dos, a redução da pegada hídrica deve situar-se entre as ou serviço apenas por meio dessas medidas.
FIGURA 7.22
Pegada hídrica obtida da Coca-Cola em garrafa de PET
de 500 mL, realizado em Dongen na Holanda
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sustentabilidade & ética
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sustentabilidade & ética
FIGURA 7.23
Fluxograma produtivo e de reciclagem das embalagens
assépticas pós-consumo organizada pela Tetra Pak
196 BrasilPackTrends2020
sustentabilidade & ética
FIGURA 7.25
sociedade, empresas, prefeituras, governos estaduais e
governo federal na gestão de resíduos no País. Além de Simbologia recomendada pela ABRE
contribuir para a redução dos lixões e a expansão de pro- para identificação e descarte seletivo
cessos sustentáveis, essa iniciativa promove a geração de de embalagens pós-consumo
renda para os trabalhadores que atuam em cooperativas.
O programa visa também ampliar a inserção da simbo-
logia de identificação de materiais de embalagem com
foco no processo de separação e triagem desses mate-
riais. A adoção dessa simbologia demonstra o cuidado
do fabricante com o descarte da embalagem, ao mesmo
tempo que orienta o consumidor sobre o assunto e auxi-
lia na construção de uma imagem positiva da empresa,
uma vez que os próprios consumidores cada vez mais
cobram posturas éticas e responsáveis dos produtos nos
pontos de venda (ABRE, s.d.)
Fonte: ABRE, 2009
FIGURA 7.26
Selo How2Recycle utilizado no
removedor de manchas Seventh
Generation
Abreviações:
PET (politereftalato de etileno),
PEAD (polietileno de alta densidade),
PVC (policloreto de vinila),
PEBD (polietileno de baixa densidade),
PP (polipropileno),
PS (poliestireno)
Fonte: ABNT NBR 13230: 2008 Fonte: Divulgação
BrasilPackTrends2020 197
sustentabilidade & ética
198 BrasilPackTrends2020
sustentabilidade & ética
BrasilPackTrends2020 199
sustentabilidade & ética
A certificação de materiais celulósicos por órgãos A empresa de origem inglesa Carbon Trust tem ob-
reconhecidos internacionalmente tem se tornado uma tido destaque no mundo oferecendo consultoria para a
realidade cada vez mais intensa no Brasil e no mun- redução do uso de energia e da pegada de carbono. Além
do (Figura 7.29), com destaque para o selo Forest da comercialização de tecnologias de baixo carbono, a
Stewardchip Council (FSC), aplicado ao segmento de empresa também oferece a certificação independente
embalagens celulósicas. O Programa Brasileiro de Certi- Carbon Trust, na forma de um selo de certificação, que
ficação Florestal (Cerflor), aplicável em todo o território envolve a verificação da pegada de carbono associada a
nacional, prescrito nas normas elaboradas pela ABNT e um produto ou serviço. A pegada de carbono relaciona-se
integradas ao Sistema Brasileiro de Avaliação da Confor- ao conhecimento e à medição de todas as emissões dos
midade e ao Inmetro é outro programa de certificação gases de efeito estufa, medidas em CO2 equivalente, du-
florestal utilizado no Brasil, reconhecido internacional- rante todo o ciclo de vida, desde a produção da matéria
mente pelo Programme for the Endorsement of Forest -prima, o transporte, a fabricação, até a disposição final.
Certification (PEFC), uma organização internacional que Essa iniciativa ajuda a empresa a identificar os pontos
congrega sistemas de certificações florestais em todo o para a redução de custos e oportunidade de desenvol-
mundo. Ambos os programas atestam o manejo florestal vimento de outros produtos. Ao comunicar claramente
sustentável e a rastreabilidade da cadeia de custódia, suas iniciativas com relação à sua pegada de carbono,
oferecendo ao consumidor a garantia de que o produto ocorre um aumento da confiança e da reputação da mar-
segue critérios baseados em práticas que promovam a ca, o que ajuda a impulsionar as vendas.
preservação da biodiversidade, a utilização responsável Podem ser utilizadas duas categorias de selos (Fi-
dos recursos florestais e a manutenção da qualidade gura 7.30): o selo Working With the Carbon Trust, que
do solo, do ar e da água. Ainda avaliam a atuação das indica os esforços para as medições da pegada de carbono
empresas no desenvolvimento econômico e social da re- de um produto ou serviço e o selo Reducing with the Car-
gião em que atuam. São entidades não governamentais bon Trust, que indica o compromisso da empresa ou setor
responsáveis pela definição de critérios de certificação com a redução dos impactos ambientais e as emissões de
florestal em todo o mundo, atestando que o produto é carbono (CARBON TRUST CERTIFICATION, s.d.).
originário de floresta manejada de forma ecologicamen-
FIGURA 7.30
te correta, socialmente justa e economicamente viável
(CONSELHO BRASILEIRO DE MANEJO FLORESTAL, Utilizações do selo Carbon Trust
s.d.; INMETRO, s.d.).
FIGURA 7.29
Produtos com selo para
materiais celulósicos
200 BrasilPackTrends2020
sustentabilidade & ética
Outra forte tendência no segmento de embalagens timento das empresas em publicidade com apelo am-
é a adoção da autodeclaração ambiental pelas empresas, biental. Essa tendência “verde” do mercado estimulou
visando a divulgação de melhorias ambientais obtidas ao empresas a aproveitarem o momento para associar seus
longo do ciclo de vida de um produto ou serviço. Embora produtos a atribuições ecoamigáveis duvidosas e opor-
a autodeclaração possa oferecer flexibilidade e autono- tunistas, sem critérios claros que respaldem suas pre-
mia, pois não exige a certificação por terceiros, as em- tensões ambientalistas, ou ainda a símbolos e apelos
presas devem fazer declarações responsáveis, passíveis visuais que podem induzir o consumidor a conclusões
de ser verificadas e baseadas no rigor científico. Esse erradas sobre um produto ou serviço. Esses apelos que
tipo de declaração é denominado Rotulagem Ambiental se apresentam como falsos ou que induzem o consumi-
Tipo II e encontra-se normatizado pela ABNT NBR ISO dor a falsas conclusões sobre o produto ou serviço têm
14021 (ABNT, 2004a), que apresenta as diretrizes para sido denominados dentro da prática de Greenwashing
a utilização de textos, símbolos e gráficos associados à (maquiagem verde) (COLTRO, 2010).
divulgação das melhorias ambientais de um produto ou Com o objetivo de descrever, entender e quantifi-
serviço. Textos que indiquem declarações vagas ou não car o crescimento do Greenwashing no mercado, a con-
específicas como por exemplo, “ambientalmente segu- sultoria de marketing ambiental canadense TerraChoice
ro”, “amigo do meio ambiente”, “amigo da Terra”, “não desenvolveu uma metodologia de pesquisa e confrontou
poluente” e “amigo da camada de ozônio” não devem, os dizeres nas embalagens com as orientações sobre
de forma alguma, ser utilizados (ABNT, 2004a). autodeclarações ambientais estabelecidas na norma
ISO 14021 (INTERNATIONAL..., 1999) e por órgãos
Greenwashing oficiais do comércio (quando existentes). Nesse levan-
tamento classificou tais apelos falsos ou duvidosos em
A busca dos consumidores por produtos com me- sete categorias, chamadas de Os Sete Pecados da Ro-
nor impacto ambiental tem favorecido o intenso inves- tulagem Ambiental (The Seven Sins of Greenwasing):
O pecado do custo ambiental camuflado ou apelo ecológico que se refere apenas a uma questão ambiental
1 restrita.
O pecado da falta de prova, isto é, o consumidor deve encontrar evidências e aprender mais sobre tal atri-
2 buto em web sites, certificações de terceiros etc.
O pecado da incerteza ou apelo ambiental “vago” a exemplo de “ecologicamente correto”, “amigo do pla-
3 neta” etc.
O pecado do culto a rótulos falsos, ou seja, a utilização de simples imagens ou selos sem certificação alguma
4 ou realmente endossados por terceiros.
O pecado da irrelevância, sendo o exemplo mais comum a afirmação “não contém CFC”, considerada irre-
5 levante, pois nenhum produto é fabricado com clorofluorcabonetos.
O pecado do “menos pior” ou a tentativa de fazer o consumidor se sentir mais “verde” em relação a um
produto que tem seu benefício questionado, como por exemplo, consumidores preocupados com os efeitos
6 colaterais do tabaco e do cigarro seriam mais responsáveis se parassem de fumar do que se comprassem
cigarros orgânicos.
7 O pecado da mentira, quando é apresentado, por exemplo, um certificado de terceira parte de maneira falsa.
BrasilPackTrends2020 201
sustentabilidade & ética
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204 BrasilPackTrends2020
sustentabilidade & ética
BrasilPackTrends2020 205
Marisa Padula
Capítulo 8
SEGURANÇA &
ASSUNTOS REGULATÓRIOS
Segurança de alimentos é um tema que desperta interesse em
todos os consumidores, independentemente do poder aquisitivo.
Em um mundo globalizado, onde a comunicação e a mídia têm um
lugar privilegiado e as informações circulam com uma velocidade
incrível, a difusão de notícias e informações sobre a segurança
de alimentos, sejam elas corretas ou não, atinge milhões de
consumidores, tornando-os mais atentos, exigentes e informados.
O consumidor atual quer confiar em determinada transportar e vender o alimento, informar o consumidor
marca de produto e quer ter a certeza e a segurança de sobre a segurança e o valor nutricional do produto, ins-
que está adquirindo um produto de qualidade e que o truir sobre o modo de preparo, conter a data de fabrica-
consumo desse produto não vai ocasionar nenhum pro- ção/validade e a localização do fabricante do alimento.
blema de saúde a curto ou longo prazo. Nesse contexto, a embalagem não pode ser uma
A embalagem é determinante para garantir a fonte de contaminação química, física ou microbiológi-
segurança, a qualidade e a confiabilidade de produ- ca do alimento. A composição química da embalagem é
tos alimentícios, além de manter a vida útil desejada, fundamental para a sua segurança. As substâncias que
PADULA, M. Segurança e assuntos regulatórios. In: BRASIL pack trends 2020. Campinas: ITAL, 2012. cap. 8, p. 205-225.
BrasilPackTrends2020 207
segurança & assuntos regulatórios
fazem parte da composição da embalagem devem ter a corresponsabilidade do fabricante sobre o material de
toxicidade, o risco e o potencial de migração para os ali- embalagem e para assegurar o uso correto da embala-
mentos estudados para que a exposição do consumidor a gem nas condições previstas.
essas substâncias possa ser avaliada e o seu risco conhe- As legislações variam entre os países e esforços
cido e controlado. Legislações baseadas no risco e na ex- para harmonização, implementação e reconhecimento
posição do consumidor a essas substâncias foram e são mútuo são expectativas dos importadores e exportado-
elaboradas para controlar a contaminação química e to- res de alimentos e embalagens no comércio mundial.
xicológica, devido à embalagem, e proteger a saúde dos Sistemas de Gerenciamento de Segurança de
consumidores. As contaminações física e microbiológica Processo são mecanismos eficientes que promovem a
estão relacionadas principalmente com o processamen- melhoria contínua e a transparência dos processos de
to, o manuseio e a estocagem da embalagem e devem fabricação da embalagem e incluem:
ser controladas através de sistemas de gerenciamento de • BPF – Boas práticas de fabricação e aplicação e va-
segurança de processo e certificações de qualidade. lidação do HACCP – Avaliação de perigos e pontos
Técnicas analíticas sofisticadas e modelagem críticos de controle.
matemática com parâmetros mais próximos ao real são • Certificações de sistemas de qualidade baseados
aplicadas para estimar a migração de componentes da em normas – BRCIoP, FSSC 22000 (ISO 22000 e
embalagem para alimentos, assim como estudos são rea- PAS 223); ISO 22000, IFS PACSecure, entre outras
lizados para avaliação da exposição do consumidor a es- normas e sistemas.
ses migrantes para suprir a falta de dados mais realistas Organizações e associações trabalham para harmo-
(OLDRING, 2010). nizar as normas e regulamentos relacionados à seguran-
As legislações para materiais de embalagem para ça de alimentos, beneficiando o comércio internacional
contato com alimentos visam garantir a segurança do e a qualidade dos alimentos (MERMELSTEIN, 2012).
consumidor através do controle da contaminação quí- A rastreabilidade de materiais de embalagem,
mica, devido à migração de componentes da embala- seja em sistema automatizado ou não, já é uma exigên-
gem para o produto. Elas estão em contínua evolução cia de algumas legislações e torna-se cada vez mais ne-
para incorporação de novas substâncias e de novas tec- cessária para a segurança e identificação de origem dos
nologias, como embalagens ativas, materiais reciclados produtos acondicionados. Nesse contexto, RFID ofere-
pós-consumo e nanomateriais, e são revistas para incor- cerá oportunidades significativas para os fabricantes,
porar novas interpretações baseadas na evolução do co- varejistas e consumidores.
nhecimento científico e tecnológico. Todos os materiais Na Tabela 8.1 são apresentadas as tendências
para contato direto com alimentos devem demonstrar destacadas no desdobramento da megatendência Segu-
atendimento aos requisitos das legislações. rança e Assuntos regulatórios e as possíveis contribui-
Declarações de conformidade são exigidas com ções da embalagem.
o objetivo de transferir informação e para formalizar a
208 BrasilPackTrends2020
segurança & assuntos regulatórios
líticas que permitem a detecção de substâncias em • Qual é a interação entre a embalagem e os alimentos?
quantidades menores e mesmo de substâncias nun- • Os componentes da embalagem (material, impressão,
ca antes detectadas. adesivos etc.) são transferidos para os alimentos?
• Consumidores que esperam um alimento de qualida- • Quanto desses componentes transferidos da embala-
de, a baixo custo e com risco zero. gem pode ser ingerido?
• Influência da mídia formal e da mídia social sobre as • Qual a composição química da embalagem? São
questões alimentares. substâncias seguras?
• Novos requisitos de regulamentações e legislações. • A embalagem pode induzir a contaminações físicas
e químicas?
A embalagem, como parte fundamental da cadeia • Qual é o risco de contaminação acidental?
de produção e distribuição de alimentos, é também exi- • Qual é a possibilidade de novos materiais/novas tec-
gida quanto à sua segurança: nologias gerarem produtos de degradação não espe-
rados em alimentos?
TABELA 8.1
Segurança e Assuntos Regulatórios – Desdobramentos e
Contribuições da Embalagem
BrasilPackTrends2020 209
segurança & assuntos regulatórios
A embalagem é determinante para a proteção do mero ou aditivo etc), novos materiais e novas tecnolo-
alimento, desde o seu acondicionamento até a chega- gias, a avaliação do risco deve ser realizada.
da à mesa do consumidor. A composição química da A legislação para contato com alimentos da União
embalagem é controlada pelas legislações para os di- Europeia baseia-se na avaliação do perigo da substân-
ferentes materiais e a aplicação de boas práticas de cia química e em uma estimativa de exposição bastan-
fabricação (BPF) e a análise de perigos e pontos críti- te conservadora para estabelecer as Listas Positivas.
cos de controle (HACCP) evitam a contaminação física Quando a substância é conhecida e se dispõe de mate-
e microbiológica da embalagem. Para garantir a segu- rial para condução dos ensaios toxicológicos de acordo
rança do alimento, a indústria de produtos alimentícios com os protocolos de avaliação de toxicidade tradicio-
pressiona cada vez mais as indústrias de embalagem nais, a IDA – ingestão diária aceitável – ou IDT – inges-
quanto à qualidade e exigem que os processos de pro- tão diária tolerável – são estabelecidas. A exigência de
dução sejam certificados e que todos os componentes estudos toxicológicos está vinculada à quantidade da
empregados na sua fabricação atendam aos requisitos substância que pode vir a migrar para o produto ali-
das legislações. As declarações de conformidade e as mentício; quanto maior a migração, mais severos e em
certificações são atualmente essenciais. maior número devem ser os ensaios toxicológicos (BAR-
Centenas de diferentes substâncias químicas são LOW, 2008). A exposição do consumidor a essas subs-
necessárias para produzir as embalagens plásticas, celu- tâncias é estabelecida assumindo que este ingere 1 kg
lósicas e metálicas, com e sem revestimento, além dos do alimento – acondicionado em uma embalagem de 6
adesivos, tintas para impressão etc. É conhecido tam- dm2 –, todos os dias, durante a sua vida toda e que esse
bém que componentes da embalagem, quando em con- alimento sempre vai estar acondicionado no mesmo
tato com o alimento, podem migrar para o produto, em tipo de embalagem e que a migração da substância de
um processo de transferência de massa conhecido como interesse será sempre na concentração máxima permi-
migração. Com o intuito de evitar a contaminação quí- tida. Com base nesses parâmetros são estabelecidos as
mica dos produtos alimentícios, legislações baseadas na restrições de uso e os limites de composição e, princi-
segurança e no princípio de que a embalagem deve ser palmente, os limites de migração específica (LME) para
inerte foram elaboradas. Listas Positivas das substâncias muitas das substâncias incluídas nas Listas Positivas.
que podem ser utilizadas na composição de materiais A legislação em vigor nos Estados Unidos dife-
para contato com alimentos foram estabelecidas. re da Europeia principalmente com relação aos testes
A autorização para que essas substâncias pos- toxicológicos requeridos para estabelecer a segurança
sam fazer parte dessas Listas Positivas tem como prin- da substância para contato com alimentos. Enquanto
cípio a avaliação e o gerenciamento do risco. O risco, a União Europeia considera que o nível de migração
independentemente da sua origem, é a combinação da determina os ensaios toxicológicos que devem ser con-
toxicidade da substância (perigo) e quanto dessa subs- duzidos, nos Estados Unidos, o nível de exposição à
tância é consumido (exposição). Portanto, para garantir substância ditará os ensaios a serem realizados. A Food
a segurança de materiais de embalagem, não somente and Drug Administration (FDA) estima a exposição pro-
é necessário considerar a toxicidade de qualquer mi- vável à substância pela combinação dos dados de mi-
grante (avaliação do risco), mas também quanto dessa gração com a informação relativa aos usos típicos da
substância é encontrada no alimento e quanto desse embalagem que contém a substância de interesse. Des-
alimento está presente na dieta básica da população sa forma, quanto menor a exposição do consumidor à
(estimativa de consumo). substância menos ensaios toxicológicos são necessários
Da mesma forma, a alteração de um limite de e esta pode ser mais facilmente incluída na lista das
migração ou restrição de uma substância já listada ou substâncias autorizadas para contato com alimentos
aprovada ou aprovação de uma nova substância (polí- (OLDRING, 2010).
210 BrasilPackTrends2020
segurança & assuntos regulatórios
Simplista ou simplificada
Assume o pior caso de exposição – 6 dm2/kg de alimento/pessoa/dia, utilizada pela legislação do MERCOSUL
e do Brasil, que foi baseada na estabelecida pela União Europeia. A maior desvantagem desse método é
que, em muitos casos, diferentes tipos de embalagem contêm diferentes substâncias e as migrações de-
pendem do tipo de alimento e processamento. É considerado que essa abordagem superestima a exposição
aos migrantes da embalagem e aplica limites severos às substâncias migrantes que não necessariamente
aumentam a segurança do consumidor. Por outro lado, é também argumentado que essa abordagem subes-
tima a exposição de crianças a esses contaminantes. Argumento que já vem sendo analisado pela Comissão
Europeia e que tem alterado limites para algumas substâncias quando empregadas para embalagem para
alimentos infantis (também adotados pelo MERCOSUL e Brasil para alguns plastificantes).
Determinista
Valores fixos de consumo, normalmente os maiores, são combinados com o maior valor de migração encon-
trado. É uma abordagem mais adequada para aditivos e outros contaminantes que não tenham sua origem
no material de embalagem, pois o tipo de alimento que pode conter o aditivo e a quantidade consumida são
conhecidos, dados mais difíceis de ser obtidos considerando as substâncias migradas da embalagem.
Probabilístico
Modelo estatístico que é usado para predizer parâmetros desconhecidos obtendo-se uma estimativa de expo-
sição mais refinada. Essa ferramenta tem ganho maior aceitação por permitir a avaliação da exposição onde
faltam dados e por incluir os dados com suas incertezas. Claramente, nem todas as informações requeridas
estão disponíveis e em muitos casos pouca informação existe. Assim, suposições devem ser feitas e seu im-
pacto sobre a exposição deve ser avaliado e o modelo probabilístico facilita essa exigência.
BrasilPackTrends2020 211
segurança & assuntos regulatórios
Para uma estimativa mais realista da exposição variável dos alimentos, as condições de processamento
a uma dada substância (migrante), os seguintes dados na embalagem e tempo e temperatura de estocagem,
são necessários: para obter os dados de concentração dos migrantes nos
• Peso do alimento consumido, alimentos descrevendo com mais precisão a exposição
do consumidor.
• Concentração do migrante no alimento consumido.
Conforme descrito, não há um método simples
O peso do alimento consumido pode ser obtido para determinar a exposição de consumidores a conta-
através de pesquisas sobre a dieta. No entanto, nem minantes provenientes da embalagem. A disponibilidade
sempre essas pesquisas incluem o tipo de embalagem dos dados necessários para essa estimativa vão impor os
utilizada para determinado alimento. Essa informação métodos que podem ser utilizados. É esperado que em
pode ser obtida através da participação no mercado de um futuro próximo modificações na avaliação da exposi-
determinada embalagem para determinado produto. ção do consumidor a contaminantes provenientes da em-
Entretanto, poucos dados existem e estudos estatísticos balagem ocorram na União Europeia. A finalização dos
devem ser conduzidos para aumentar o conhecimento projetos relacionados abaixo contribuirá para fornecer
sobre os tipos de embalagem utilizados para as diferen- ferramentas para avaliação e gerenciamento do risco de
tes categorias de alimentos (DUFFY et al., 2006). substâncias provenientes da embalagem de forma mais
A concentração da substância de interesse nos realista (OLDRING; CASTLE; FRANZ, 2009).
diferentes alimentos consumidos é muito mais compli- • Criação de bancos de dados sobre o padrão de uso
cada de se obter. A migração depende das caracterís- das embalagens para alimentos e sobre as substân-
ticas físico-químicas do alimento e das condições de cias químicas utilizadas nos diferentes tipos de ma-
contato como razão entre a área de contato da embala- teriais de embalagem.
gem e o volume do alimento e da temperatura e tempo
de contato. É impossível se obter esse dado através de • Desenvolvimento de uma nova classificação de ali-
análises práticas para os diferentes tipos de alimentos mentos baseada no comportamento da migração
consumidos. Portanto, a concentração desses migrantes para estimativa mais realista da exposição do con-
pode ser obtida através de ensaios com simulantes de sumidor.
alimentos ou por meio de modelos matemáticos esta- • Determinação de coeficientes de difusão e de parti-
belecidos para alguns tipos de materiais de embalagem ção fundamentais para descrever o processo de mi-
plásticos. Como a migração é um processo físico-quí- gração em alimentos embalados.
mico, a difusão do migrante no material de embala-
• Desenvolvimento de modelos matemáticos para esti-
gem (coeficiente de difusão) e a migração do migrante
mar a migração de componentes da embalagem para
para o alimento/simulante do alimento (coeficiente de
alimentos sob as condições reais de uso e aplicação
partição) podem ser previstas e, portanto, descritas por
dos modelos determinístico e probabilístico para es-
equações matemáticas.
timar a exposição do consumidor.
Estudos para estabelecer os parâmetros para esti-
mar a migração das substâncias da embalagem para ali- • Desenvolvimento e validação de abordagem QSAR
mentos através de modelos matemáticos como uma ex- (Quantitative Structure Activity Relationship) – Re-
tensão dos modelos existentes para simulantes já foram lação quantitativa estrutura – atividade como fer-
iniciados para materiais monocamadas e ainda devem ramenta para estimar a toxicidade de substâncias
ser estendidos para estruturas multicamadas (FRANZ; baseada somente na sua estrutura molecular para
SIMONEAU, 2008). É consenso que a modelagem ma- aplicação principalmente para as substâncias não
temática representa o único caminho prático para com- intencionalmente adicionadas (NIAS – Not Intentio-
binar os parâmetros relevantes, incluindo a composição nally Added Substances) ao material de embalagem.
212 BrasilPackTrends2020
segurança & assuntos regulatórios
As legislações do MERCOSUL e do Brasil são necessário ressaltar que estudos da exposição do consu-
baseadas nos regulamentos europeus e, portanto, mo- midor brasileiro a contaminantes provenientes da emba-
dificações nos regulamentos europeus podem conduzir lagem devem ser realizados, pois não necessariamente o
a alterações também nessas legislações. No entanto, é estudo europeu representará o que ocorre no Brasil.
BrasilPackTrends2020 213
segurança & assuntos regulatórios
as Boas Práticas de Fabricação, não devem ocasionar migração total (BRASIL, 2010a). Critérios de pureza tam-
modificações inaceitáveis na composição dos alimentos bém são estabelecidos para pigmentos e corantes (BRA-
ou nas características sensoriais e não devem represen- SIL, 2010b).
tar riscos à saúde humana. Anexa a essa resolução está Novos sistemas de embalagem ou novas tecno-
a classificação dos materiais de embalagem, os quais logias também devem ser aprovados pela autoridade
são regulamentados por resoluções específicas. competente, apresentando-se os estudos completos
Estão em vigor no MERCOSUL e no Brasil legis- para avaliação e aprovação no âmbito do MERCOSUL.
lações para materiais plásticos, celulósicos, metálicos,
vidro, celulose regenerada, materiais elastoméricos,
adesivos, películas formadoras de polímeros. Essas le- União Europeia
gislações seguem o princípio da Lista Positiva e ensaios
de migração e são baseadas em legislações internacio- O Regulamento 1935/2004 é a base da legisla-
nais para esses materiais (PADULA, 2010). ção da União Europeia, aplica-se a todos os materiais
Para serem válidas nos Estados integrantes do de embalagem para contato com alimentos e define
MERCOSUL as resoluções devem ser incorporadas às quatro requerimentos básicos para esses materiais:
legislações nacionais. No Brasil, a Agência Nacional de 1. Não devem causar risco à saúde humana.
Vigilância Sanitária (ANVISA) do Ministério da Saúde é
responsável pela internalização das Resoluções GMC, 2. Não devem modificar a composição do alimento.
que é realizada através da publicação de Portarias e Re- 3. Não devem alterar o gosto, odor ou textura do ali-
soluções para cada tipo de material de embalagem. Na mento.
Argentina, as internalizações das Resoluções GMC fo-
4. Devem ser produzidos de acordo com as boas práti-
ram efetuadas como Resoluções do Ministério da Saú-
cas de fabricação.
de e incorporadas ao Código Alimentário Argentino. No
Uruguai, assim como no Paraguai, as Resoluções GMC Os princípios básicos para as boas práticas de fa-
foram publicadas pelo Ministério de Saúde Pública e bricação (BPF) estão detalhados no Regulamento (EC)
pelo Ministério de Saúde Pública e Bem-Estar Social, nº 2023/2006 e entraram em vigor no dia 1º de agosto
respectivamente (PADULA; CUERVO, 2004). de 2008. As BPF devem ser aplicadas para todos os
Os critérios estabelecidos para inclusão de novas estágios da produção de materiais e embalagem. São
substâncias nas listas positivas envolvem a justificativa excluídos os estágios de produção das substâncias ini-
da necessidade tecnológica de sua utilização, referências ciadoras e matérias-primas. Por exemplo, para a pro-
de aprovação em Diretivas ou Regulamentos da União dução de um material plástico, os requerimentos de
Europeia e/ou no Code of Federal Regulations, dos Esta- BPF aplicam-se aos transformadores, convertedores,
dos Unidos. Excepcionalmente, outras legislações reco- incluindo os processos de impressão da embalagem até
nhecidas internacionalmente podem ser aceitas, como é a produção do artigo final (SCHAFER, 2010).
o caso das Recomendações alemãs para materiais celu- O Regulamento 1935/2004 estabelece rotulagem
lósicos. A exclusão de substâncias ou modificações de e a exigência de sistema de rastreabilidade do material
limites de migração específica ou limites de composição ou embalagem, assim como institui a exigência da de-
são baseados em novos conhecimentos científicos e tec- claração de conformidade. Essa declaração deve conter
nológicos. todas as informações do produto necessárias para que
A legislação também estabelece os critérios e os a indústria de alimentos utilize a embalagem de acordo
procedimentos a serem seguidos para os ensaios de mi- com condições previstas. Cada fabricante deve emitir
gração total e específica para verificação ao atendimento a declaração de conformidade para o processo sob sua
dos limites estabelecidos na Lista Positiva e limites de responsabilidade.
214 BrasilPackTrends2020
segurança & assuntos regulatórios
O Regulamento 1935/2004 define requerimen- para o alimento, ela é considerada aditivo de alimento
tos específicos para autorização de substâncias para e, portanto deve ser submetida aos regulamentos para
contato com alimentos (inclusão na Lista Positiva) e aditivo para alimentos (Food Additive Petition – FAP)
limites de migração. Os ensaios de migração para veri- ou ser autorizada através de Food Contact Notification
ficar o atendimento à legislação seguem os métodos va- (FCN). Os regulamentos de aditivos para alimentos re-
lidados pelo Conselho Europeu de Normalização (CEN). levantes para substâncias para contato com alimentos
Ao final esse regulamento contém a lista de ma- são encontrados no Título 21 do Code of Federal Re-
teriais para os quais uma legislação específica deve ser gulation (CFR) nas Partes 174-186 e são referentes a
adotada. Esta lista contém 17 diferentes materiais, no materiais celulósicos, plásticos, adesivos e revestimen-
entanto somente para alguns desses materiais as legis- tos, aditivos auxiliares de fabricação etc., enquanto os
lações específicas foram elaboradas: FCN são listados no website da FDA. As substâncias
• Materiais plásticos: Regulamento nº 10/2011, Re- podem ainda ser incluídas nas isenções legais como
gulamento 1282/2011. GRAS – Substâncias Reconhecidas como Seguras ou
Substâncias sancionadas ou aprovadas antes do decre-
• Restrição ao uso de bisfenol A em mamadeiras: Re-
to da Emenda de Aditivos para Alimentos de 1958 ou
gulamento 321/2011.
mesmo ser consideradas isentas de regulamento pelo
• Procedimentos de importação de utensílios de cozi- princípio do Threshold of Regulation. Provando-se que
nha de poliamida e melamina da China e Hong Kong a substância não migrará para o alimento nas condi-
– Regulamento 284/2011. ções previstas de uso, ela não é considerada um aditivo
• Embalagens ativas e inteligentes: Regulamento para alimento e, portanto, não necessita de aprovação
450/2008. da FDA. A substância para aplicação desse princípio
• Materiais plásticos reciclados para contato com ali- não pode ser carcinogênica ou conter contaminantes
mentos: Regulamento 282/2008. carcinogênicos. (BAUGHAN; ATTWOOD, 2010).
• Materiais de celulose regenerada: Diretiva 2007/42/EC. O programa do FCN foi iniciado em 2000 e, em-
bora exija a mesma documentação requerida para o
• Materiais cerâmicos: Diretiva 84/500/EEC.
processo de petição, tem a vantagem do tempo para
Para os materiais para os quais as legislações não aprovação, onde em 120 dias a notificação se torna
foram harmonizadas no âmbito da União Europeia as efetiva. O processo de petição em alguns casos chega
legislações nacionais podem ser aplicadas assim como a quatro anos. Outra diferença é que no caso do FCN
as Resoluções do Conselho Europeu. o fabricante identificado é o proprietário e somente ele
pode comercializar a substância.
Estados Unidos
Harmonização
O Center for Food Safety and Applied Nutrition
(CFSAN) da FDA é responsável pelos materiais para Materiais e embalagens aprovados de acordo
contato com alimentos. com o prescrito pela FDA para comercialização e uso
Substâncias para contato com alimentos são no Brasil devem ser aprovados conforme a legislação
definidas pelo Federal Food, Drug and Cosmetic Act MERCOSUL/Brasil, pois os dois países têm diferenças
(FDCA) como qualquer substância intencionalmente nos procedimentos para aprovação de um material de
utilizada como componente de material de embala- embalagem.
gem de alimentos e que no uso não tem qualquer efei- A harmonização das legislações não é um tema
to técnico sobre o alimento. Se essa substância migra simples. Conforme descrito acima, as diferenças co-
BrasilPackTrends2020 215
segurança & assuntos regulatórios
meçam no estabelecimento dos limites aceitáveis das conceitos ainda não foram introduzidos na legislação
substâncias, onde, embora, a questão toxicológica seja MERCOSUL, enquanto a legislação americana assume
o principal aspecto, a interpretação da exposição do con- que esses conceitos já estão cobertos pela legislação
sumidor difere conforme o país. Sem dúvida, a harmo- atual.
nização das legislações vigentes, incluindo as do Japão De acordo com o regulamento europeu, para as
e aquela que está sendo estabelecida pela China, é o embalagens inteligentes o conceito de ser inerte e o
desejo dos profissionais envolvidos com o trabalho de controle da migração são aplicáveis. No entanto, de-
garantir a conformidade de um material com as diversas vido à função extra de monitorar o alimento acondi-
legislações vigentes atualmente. É um trabalho árduo, cionado, é essencial que as informações transmitidas
demorado e caro. A harmonização facilitaria muito o co- pela embalagem não confundam ou enganem o con-
mércio internacional nesta era de globalização e seria, sumidor.
sem dúvida, um fator importante para o Brasil. Para as embalagens ativas que interagem com
Esforços e estudos têm sido realizados visando a o produto alimentício ou com a atmosfera ao redor do
harmonização no futuro das legislações, como é o caso produto duas situações podem ocorrer: a absorção de
de estudos desenvolvidos na União Europeia. Entretan- substâncias liberadas pelo alimento (como os absor-
to, é preciso lembrar que a harmonização deve começar vedores de etileno) ou a emissão de substâncias que
com os estudos para estabelecer os limites aceitáveis atuam sobre o alimento melhorando sua qualidade ou
para as diversas substâncias e que a exposição aos con- condição. Neste caso, essas substâncias são adicio-
taminantes depende da característica de cada país. nadas à embalagem para intencionalmente migrarem
para o alimento. No entanto, a liberação dessas subs-
tâncias para o alimento deve ser realizada sob certas
Legislação para Novas Tecnologias condições. A substância emitida deve ser autorizada
e para Novos Materiais pela legislação de alimentos e utilizada de acordo com
o prescrito, ou seja, os limites estabelecidos devem
Embalagens ativas e inteligentes ser respeitados independentes da origem da substân-
cia no alimento (adicionada diretamente ou via em-
Segundo os princípios que norteiam a legisla- balagem) e ser utilizada somente para os alimentos
ção de embalagem, esta deve ser inerte, não liberar permitidos. A declaração de conformidade do fabri-
substâncias para o alimento que podem pôr em risco cante da embalagem é essencial neste caso, para que
a saúde humana e não alterar o odor e o sabor do o consumidor seja informado corretamente pelo fabri-
produto nem a sua composição. No entanto, com os cante do alimento, e também porque essa substância
desenvolvimentos tecnológicos recentes foi possível deve ser declarada entre os ingredientes do alimento
atribuir à embalagem novas funções: informar o con- na rotulagem.
sumidor sobre a condição do alimento acondiciona- No caso das substâncias com função ativa ou in-
do e interagir com o produto alimentício liberando ou teligente da embalagem, mas que não devem intencio-
absorvendo substâncias. Em razão desse fato, novos nalmente migrar para o alimento e não possuem função
conceitos tiveram de ser introduzidos na legislação: sobre o alimento, os estudos de avaliação de segurança
embalagens inteligentes e embalagens ativas. A União devem ser realizados e a seguir submetidos à opinião da
Europeia reviu a legislação introduzindo no Regula- European Food Safety Authority (EFSA). Quando auto-
mento 1935/2004 esses novos conceitos. Em 2009, rizadas essas substâncias serão listadas em uma Lista
publicou o Regulamento (EC) 450/2009 com as re- Positiva específica de embalagens ativas e inteligentes
gras adicionais a estes materiais (COMMISSION OF e sua identidade, função e condições e/ou restrições de
THE EUROPEAN COMMUNITIES, 2009). Esses novos uso serão descritas.
216 BrasilPackTrends2020
segurança & assuntos regulatórios
É importante também lembrar que os materiais Atualmente nem todas as questões têm res-
nos quais as substâncias ativas serão incorporadas de- posta e ainda não há uma legislação de embalagem
vem atender à legislação específica daquele material; específica para estes materiais. No entanto, nos últi-
por exemplo, se for material plástico deve atender aos mos anos, muitos avanços foram observados nos es-
regulamentos dos materiais plásticos. tudos sobre o uso de nanopartículas em materiais de
No Brasil, atualmente, o uso de embalagens ati- embalagem.
vas e inteligentes está restrito às substâncias descritas Em 2011, a European Food Safety Authority
nas Listas Positivas das legislações sobre materiais de (EFSA) publicou um guia contendo procedimentos
embalagem, para aquelas que não devem migrar inten- para avaliação de risco de nanomateriais – Guidance
cionalmente para o alimento e às substâncias relaciona- on the risk assessment of the application of nanos-
das nas legislações de alimentos para aquelas que serão cience and nanotechnologies in the food and feed
liberadas da embalagem e farão parte do alimento. Não chain (GUIDANCE…, 2011). Esse guia aborda os re-
há hoje a exigência de declaração do ingrediente no rótu- quisitos para caracterização físico-química de nano-
lo do alimento e também não há exigência da declaração materiais e testes para identificar e caracterizar os
de conformidade emitida pelo fabricante da embalagem. perigos (genotoxicidade in vitro, absorção, distribui-
Espera-se que em um futuro próximo esses materiais se- ção, metabolismo e excreção (eliminação) - ADME e
jam regulamentados no MERCOSUL e no Brasil. estudos de toxicidade oral), que tem sua origem nas
propriedades de nanopartículas como tamanho, área
Nanotecnologia superficial, reatividade, possibilidade de ‘perme-
A segurança de nanomateriais para contato com ar’ através de membranas biológicas etc. Apresenta
alimentos trouxe muitas questões: também esquemas para avaliação do risco, avaliação
• A nanopartícula tem potencial de migração? toxicológica e árvore decisória para testes toxicológi-
cos. Esse guia tem servido de base para os estudos
• Em caso positivo, qual é o potencial de ingestão de
relacionados às nanopartículas incorporadas em ma-
substâncias tóxicas, carcinogênicas, teratogênicas...?
teriais de embalagem.
• Quais são as interações biológicas relacionadas com A União Europeia, em 2011, publicou o Regu-
a presença da nanopartícula? O que é importante? lamento 10/2011 (COMISSÃO DAS COMUNIDADES
Área superficial? Massa? Modificações da superfície EUROPÉIAS, 2011) que estabelece no artigo 9º item
com cargas, por exemplo? 2 que as substâncias em nano formas só podem ser
• Qual é a resposta biológica à presença de materiais utilizadas se tiverem sido expressamente autorizadas,
na escala nano? ou seja, estabelece que a autorização de uso de subs-
• Os estudos “tradicionais” de risco toxicológico se tância em forma nano deve ser realizada caso a caso.
aplicam aos nanomateriais? Estabelece também no artigo 14º que o conceito de
• Como caracterizar a exposição a materiais em escala barreira funcional não se aplica a substâncias nanomé-
nano? tricas. Atualmente esse Regulamento aprovou apenas
três substâncias nanométricas: SiO2 (com especifica-
• Como identificar os perigos e avaliar os riscos?
ção do tamanho incluída), negro de fumo (com especi-
• As técnicas analíticas disponíveis são eficazes para ficação do tamanho incluída) e TiN (com especificação
detectar esses materiais? do tamanho incluída).
• Como caracterizar materiais com dimensões nano- Em 2012, a FDA publicou o Draft Guidance for
métricas? Quais equipamentos devem ser utilizados? Industry: Assessing the effects of significant Manu-
• Como responder questões ambientais e ocupacio- facturing Process Changes, including Emerging Tech-
nais relativas aos nanomateriais? nologies, on the Safety and Regulatory status of Food
BrasilPackTrends2020 217
segurança & assuntos regulatórios
218 BrasilPackTrends2020
segurança & assuntos regulatórios
Os protocolos estabelecem que o material deve ser con- contém o nome da empresa responsável pelo processo,
taminado com contaminantes modelos, representativos o tipo de material, a data da carta, o tipo de processo
de substâncias que possam estar presentes no mate- (químico ou mecânico), o uso permitido e as limitações
rial após o seu uso, e a seguir deve ser submetido ao (alimento, temperatura de contato e matéria-prima) (US
processo de limpeza (Challenge test). Ao final, os con- DEPARTMENT..., 2013). O PET, pela sua grande utili-
taminantes devem ser quantificados no material e en- zação em garrafas de refrigerantes e também pelas suas
saios de migração ou estimativa da migração devem ser características, é o material mais estudado e o que tem
realizados. Nenhuma migração deve ser detectada, ou maior número de processos de reciclagem aprovados.
seja, deve estar abaixo do limite de detecção do méto- Em 1999 o MERCOSUL aprovou a Resolução
do. O Challenge test é a primeira etapa para aprovação GMC 25/99 - Embalagens descartáveis de PET multi-
de um processo de reciclagem de materiais plásticos camadas destinadas ao acondicionamento de bebidas
pós-consumo para contato com alimentos. Para regula- não-alcoólicas carbonatadas - que permite o uso na
mentar todas as exigências para esse tipo de material, camada intermediária de PET reciclado pós-consumo
legislações específicas para materiais reciclados para (internalizada no Brasil como Portaria nº 987, de 08
contato com alimentos foram estabelecidas pela União de dezembro de 1998). Esta resolução estabelece que
Europeia, Estados Unidos e MERCOSUL/Brasil. a camada que entrará em contato com a bebida seja de
A União Europeia estabeleceu o Regulamento PET virgem e com espessura mínima de 25 µm e que
(EC) N°282/2008 (COMMISSION OF THE EUROPE- análises de controle devem ser realizadas nas garrafas
AN COMMUNITIES, 2008). Este regulamento prevê a para garantia de sua qualidade. A empresa deve ser au-
autorização individual para os processos no âmbito da torizada pela autoridade competente (PADULA, 2010).
Comunidade após a avaliação da segurança do processo A utilização de PET reciclado pós-consumo para
de reciclagem conduzida pela EFSA (SCHAFER, 2010). contato direto com alimentos foi aprovada no MERCO-
Considera como ponto crítico a origem do material a ser SUL como Resolução GMC 30/07, em dezembro de
reciclado e a capacidade do processo em reduzir a con- 2007, e internalizada no Brasil como Resolução RDC
taminação. Somente materiais plásticos que respeitam 20, de 26 de março de 2008 – Regulamento Técni-
os requerimentos de composição estabelecidos pelos co sobre embalagens de poli(etilenotereftalato) (PET)
regulamentos podem ser utilizados como matéria-prima pós-consumo reciclado grau alimentício (PET-PCR grau
para o processo de reciclagem. Todos os processos de alimentício), destinadas a entrar em contato com ali-
reciclagem devem ter um sistema de garantia de quali- mentos (BRASIL, 2008). Enquanto as legislações da
dade e devem ser auditados pelos Estados Membros e União Europeia e Estados Unidos aplicam-se para ma-
tanto os processos como as embalagens que contenham teriais plásticos em geral, esta resolução MERCOSUL
material reciclado devem ser acompanhados pela de- é somente para o PET. Para avaliação da eficiência do
claração de conformidade. O produto final deve atender processo são aceitos os protocolos estabelecidos e as
aos requerimentos dos regulamentos sobre materiais autorizações emitidas pela FDA e EFSA e as embala-
plásticos e o Regulamento 1935/2004 (PARLAMENTO gens devem satisfazer os requisitos de adequação sa-
EUROPEU, 2004). nitária estabelecidos na Legislação MERCOSUL sobre
Os Estados Unidos não têm uma legislação es- embalagens de material plástico. A responsabilidade da
pecífica para materiais reciclados pós-consumo. Para qualidade do PET-PCR está dividida entre o produtor da
aprovação do processo deve ser considerado o protocolo resina PET-PCR, o produtor da embalagem de PET-PCR
Use of Recycled Plastics in Food Packaging: Chemistry e o produtor de alimentos. Importante nessa resolução
Consideration (US DEPARTMENT..., 2006). Os resulta- é que as embalagens e/ou artigos precursores de PET
dos obtidos são então submetidos à FDA que emite uma -PCR grau alimentício devem ser aprovados/autorizados
Carta de Não Objeção (No Objection Letter – NOL) que e registrados perante a Autoridade Sanitária Nacional
BrasilPackTrends2020 219
segurança & assuntos regulatórios
Competente, seguindo os procedimentos estabelecidos. sitos estabelecidos nas legislações vigentes sobre em-
Controles da origem da matéria-prima, do processo e balagens para contato com alimentos. Os polímeros e
qualidade da resina obtida são exigidos do fabricante os aditivos que fazem parte do material devem constar
da resina, assim como são exigidos para o fabricante das listas positivas e devem atender às restrições e aos
da embalagem o controle da embalagem produzida, sis- limites estabelecidos.
tema de rastreabilidade, garantia de qualidade e boas O PLA – poli(ácido láctico), biopolímero mais am-
práticas de fabricação. Os produtores de alimentos, plamente utilizado em embalagem para alimentos, está
caso venham a utilizar embalagens contendo material aprovado desde que os aditivos que compõem a sua
reciclado, somente podem utilizar embalagens aprova- formulação estejam listados nas Listas Positivas e aten-
das/autorizadas e registradas pela Autoridade Sanitária dam aos limites estabelecidos na legislação vigente.
Nacional Competente. A embalagem deverá ser identi- O copolímero dos ácidos 3- hidroxibutanóico e
ficada como “PET-PCR” (PADULA, 2010). 3-hidroxipentanóico (PHB/PHV) também está listado no
O uso de materiais reciclados para contato com Regulamento 10/2011 da União Europeia (COMISSÃO
alimentos tende a crescer, incluindo novos materiais e DAS COMUNIDADES EUROPÉIAS, 2011) e Resolução
desenvolvimento de novas tecnologias de descontami- RDC 56/2012 do Brasil (BRASIL, 2012). Nas duas le-
nação e de novos processos. A legislação será atualiza- gislações este copolímero está em um Anexo com uma
da e incorporará os novos processos à medida que estes definição bastante específica relacionada com o tipo de
se mostrem seguros para a produção de materiais para microorganismo utilizado para a sua obtenção.
embalagem de alimentos, no entanto, é esperado que a
aprovação individual de cada processo permaneça. É importante reforçar que novos biopolímeros
devem ser submetidos aos estudos toxicológicos e de
Biopolímeros avaliação de risco para estabelecimento da segurança
Os biopolímeros assim como todos os materiais do seu uso para contato com alimentos e aprovação.
para contato com alimentos devem atender aos requi-
220 BrasilPackTrends2020
segurança & assuntos regulatórios
com alimentos, para garantir a produção de uma emba- últimos designados como pontos críticos de controle.
lagem segura. A fabricação do material deve ser moni- É um sistema elaborado para prevenir a ocorrência de
torada para evitar a formação de produtos de degrada- problemas, assegurando que os controles são aplicados
ção ou de reação indesejados, para evitar a presença de em determinadas etapas no sistema de produção de
substâncias não intencionalmente adicionadas (NIAS) embalagem de alimentos, onde possam ocorrer perigos
na embalagem final. Um sistema de garantia de qua- em situações críticas.
lidade que envolva as instalações, os equipamentos e O HACCP pode ser aplicado através de toda a
a qualificação de pessoal deve ser estabelecido para cadeia de produção do alimento até o consumo e sua
garantir que os pré-requisitos de segurança e controle implementação deve basear-se em evidências científi-
são atendidos. Todos os aspectos e documentos relacio- cas de risco para a saúde humana. Além de aumentar
nados com as Boas Práticas de Fabricação devem estar a segurança de alimentos, a implementação do HACCP
registrados e disponíveis para a autoridade sanitária. pode ajudar a inspeção pelas autoridades sanitárias e
Códigos, Manuais e Procedimentos de Boas Prá- promover aumento da confiança nos alimentos no co-
ticas devem ser elaborados e devem descrever as ope- mércio internacional. É importante ressaltar que o su-
rações realizadas pelo estabelecimento, incluindo, no cesso da aplicação de um sistema de HACCP depende
mínimo, os requisitos sanitários dos edifícios, a manu- do envolvimento de todos da indústria, desde os geren-
tenção e higienização das instalações, dos equipamen- tes até aos trabalhadores.
tos e dos utensílios, o controle da água de abastecimen- O conceito e os sete princípios de HACCP ba-
to, o controle das matérias-primas, o controle integrado seados no estabelecido pelo Codex Alimentarius (CO-
de vetores e pragas urbanas, o controle da higiene e DEX..., 1969) são empregados também para embala-
saúde dos trabalhadores e o controle e garantia de qua- gem de alimentos e envolvem:
lidade do produto final.
1. Identificação do perigo e medidas de controle.
No Brasil, um projeto de Resolução sobre BPF
para a indústria de embalagem foi publicado como con- 2. Identificação do ponto crítico.
sulta pública, no entanto ainda não foi finalizado. Esse 3. Estabelecimento do limite crítico.
documento contém os requisitos para a prevenção de 4. Monitoramento.
contaminação das embalagens para contato com ali- 5. Ações corretivas.
mentos. Espera-se que, num futuro próximo, esse do-
6. Procedimento de verificação.
cumento esteja disponível para as indústrias de emba-
lagem no Brasil. 7. Registro de resultados.
BrasilPackTrends2020 221
segurança & assuntos regulatórios
requisitos auditáveis, associa o HACCP com os Pro- de cada sistema devem ser avaliadas pelo produtor de
gramas Pré-Requisito (PPR). A análise de perigos é o embalagem, no entanto, é recomendável utilizar aquele
elemento essencial de um sistema eficaz de gestão da que possui maior reconhecimento entre os envolvidos
segurança de alimentos, dado que ajuda a organizar o na fabricação da embalagem. Na Tabela 8.2 são apre-
conhecimento necessário para estabelecer uma com- sentados alguns desses sistemas e seu país de origem.
binação eficaz das medidas de controle. Essa Norma Atualmente, muitas organizações estão trabalhando
Internacional requer que todos os perigos de ocorrên- para harmonização das normas e regulamentos referentes
cia razoavelmente esperados na cadeia de alimentos, à qualidade e segurança de alimentos – American Natio-
incluindo os perigos que possam estar associados ao nal Standards Institute, Asean – Association of Southeast
tipo de processo e às instalações utilizadas, sejam Asian Institute, Codex Alimentarius Commission, FDA –
identificados e avaliados (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA Food and Drug Administration, GFSI – Global Food Safety
DE NORMAS TÉCNICAS, 2006). Iniciative, GHI – Global Harmonization Iniciative, IFT –
PPR – Programa de Pré-Requisito são atividades e Institute of Food Technologists, ILSI – International Life
condições básicas que são necessárias para manter um Science Institute, e ISO – International Organization for
ambiente higiênico ao longo da cadeia de alimentos, apro- Standardization, entre outras (MERMELSTEIN, 2012).
priado à produção, ao manuseio e ao fornecimento de pro- Algumas dessas organizações, a partir de 2011, começa-
dutos alimentícios seguros para o consumo humano. ram também a trabalhar no estabelecimento e harmoniza-
A norma ISO 22000 fornece uma harmonização ção de requerimentos de segurança para embalagem de
internacional no campo da segurança de alimentos, ofe- alimentos, estando entre as mais atuantes a GFSI.
recendo ferramentas para implementar HACCP (Hazard The Global Food Safety Initiative é uma iniciativa
Analysis and Critical Control Point) através da cadeia de de negócio orientada para a melhoria contínua de siste-
alimentos e tem como objetivo controlar e reduzir a um ní- mas de gerenciamento de segurança de alimentos para
vel aceitável qualquer perigo à segurança do produto final. assegurar a confiança dos consumidores nos alimen-
Essa norma combina os elementos-chave para garantir a tos no mundo. Essa iniciativa foi lançada em 2000 e
segurança em todos os pontos da cadeia de alimentos: fornece uma plataforma para colaboração entre experts
• Requerimentos para Boas Práticas de Fabricação ou em segurança de alimentos do mercado varejista, fabri-
programas de pré-requisitos. cantes e companhias de food service e outros serviços
• Requerimentos para HACCP de acordo com os prin- da cadeia de alimentos e organizações internacionais,
cípios do Codex Alimentarius. academia e governo. Atualmente tem entre as suas ati-
vidades a definição dos requerimentos de segurança
• Requerimentos para gerenciamento do sistema.
de alimentos através de toda a cadeia de suprimentos.
• Comunicação interativa entre fornecedores, usuários A GFSI, por meio da harmonização das normas de se-
e autoridades reguladoras. gurança de alimentos, espera reduzir a duplicação de
A norma ISO 22000 é bastante utilizada pelas em- auditorias através de toda a cadeia de alimentos. Os
presas de alimentos e se aplica também aos fabricantes objetivos principais da GFSI são:
de embalagem, embora, no Brasil, a aplicação dessa nor-
ma para esses últimos ainda seja restrita. A vantagem da 1. Reduzir os riscos para a segurança de alimentos ofe-
implementação desse sistema é o fato de ser uma norma recendo equivalência e convergência entre sistemas
internacional reconhecida e aceita em vários países. eficazes de gestão da segurança de alimentos.
Outros sistemas específicos para gerenciamento
2. Gerir custos no sistema global de alimentos, elimi-
da segurança de embalagem e certificações têm sido
nando redundâncias e melhorando a eficiência ope-
elaborados e utilizados por vários fabricantes de em-
racional.
balagem. As vantagens e as desvantagens na aplicação
222 BrasilPackTrends2020
segurança & assuntos regulatórios
TABELA 8.2
Sistemas de Gerenciamento de Segurança de Embalagem
PAS - Publicly Available Specification foi preparado pela British Standard Institution
(BSI) para especificar os requerimentos para os programas de pré-requisito elaborados
com o objetivo de auxiliar o controle de perigos e a segurança de alimentos na
fabricação e fornecimento da embalagem.
PAS 223:2011 Prerequisite programmes and design requirements for food safety
in the manufacture and provision of food packaging – Programas de pre-requisitos
e definição de requerimentos para a segurança de alimentos na fabricação e
PAS Reino fornecimento de embalagens. Em vigor desde de 1º de julho de 2011.
223:2011 Unido Este documento foi elaborado para ser utilizado com a norma ISO 22000 pelas
empresas fabricantes de embalagem para auxiliar na implantação, gerenciamento
e manutenção dos programas de pré-requisitos estabelecidos pela ISO 22000 e,
dessa forma, controlar o risco potencial à segurança de alimentos que possam ter
a sua origem na embalagem. É aplicável a todas as organizações (empresas) que
fabricam material de embalagem ou embalagem e trata de todos os aspectos, desde os
requisitos gerais do estabelecimento à estocagem e transporte dos materiais (BRITISH
STANDARD INSTITUTION, 2011; SANSAWAT; TERRY, 2011).
The Foundation for Food Safety Certification (FSSC) ampliou o escopo da norma FSSC
FSSC 22000 com a fabricação de materiais de embalagem para alimentos de acordo com
22000 a publicação da norma PAS 223. A norma FSSC 22000 for Food Packaging Material
Holanda
Standard Manufacturing foi desenvolvida para atender aos requerimentos do GFSI (The Global
(2011) Food Safety Initiative) e tem sido utilizada para muitos fabricantes de embalagem
(FOUNDATION FOR FOOD SAFETY CERTIFICATION, 2012).
BRC/IoP Global Standard - Packaging and Other Packaging Materials foi desenvolvido
pelo British Retail Consortium (BRC), uma organização do Reino Unido que representa
os interesses dos supermercados e varejistas em conjunto com o Instituto de
BRCIoP
Reino Embalagem para auxiliar os varejistas e fabricantes de embalagem a cumprir com
Global
Unido as exigências legais relacionadas com as legislações para contato com alimentos.
Standard
Essa norma estabelece uma base comum para certificar fabricantes de embalagem
para alimentos e inclui: organização, sistemas de gerenciamento de riscos e perigos,
sistemas de gerenciamento técnicos, controle de contaminação e pessoal.
BrasilPackTrends2020 223
segurança & assuntos regulatórios
FIGURA 8.1
Fluxo de informação na cadeia de suprimento
de embalagem para alimentos
224 BrasilPackTrends2020
segurança & assuntos regulatórios
8.4 REFERÊNCIAS
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Considerações Futuras
Editores
CLAIRE I. G. L. SARANTÓPOULOS
RAUL AMARAL REGO
Autores
ANNA LÚCIA MOURAD Projeto Gráfico Capa
Pesquisadora Científica do ITAL/CETEA SPO DESIGN
MARISA PADULA
Pesquisadora Científica do ITAL/CETEA