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Comunicado do Banco de Portugal sobre o Relatório de Estabilidade Financeira de junho de

2018

O Banco de Portugal publicou hoje o Relatório de Estabilidade Financeira de junho de 2018.

 Vulnerabilidades e riscos

A redução dos rácios de endividamento das empresas e dos particulares e os


desenvolvimentos positivos no sistema bancário têm tornado a economia portuguesa mais
resiliente à materialização de riscos para a estabilidade financeira.

Em 2017, a dívida total das sociedades não financeiras e dos particulares, medida em
percentagem do produto interno bruto, continuou a diminuir, prosseguindo a tendência
observada desde 2010. Esta evolução foi acompanhada por um aumento da autonomia
financeira das sociedades não financeiras, que, em 2017, atingiu o valor máximo da série
histórica; este acréscimo foi especialmente significativo nas pequenas e médias empresas e
coexistiu com uma recuperação do investimento empresarial, conduzida pelas empresas com
menores rácios de dívida financeira.

Apesar destes progressos, os rácios de endividamento das empresas e das famílias mantêm-se
entre os mais elevados da área do euro, num contexto de baixo crescimento potencial, pelo
que um agravamento dos custos de financiamento, ainda que gradual e associado a uma
recuperação do rendimento, poderá ter efeitos na capacidade de servir a dívida. No caso dos
particulares, tem-se assistido ainda a um forte crescimento do crédito ao consumo e das novas
operações de crédito à habitação, evidenciando uma menor restritividade nos critérios de
concessão de crédito.

Os bancos portugueses apresentaram melhorias a vários níveis em 2017: na rendibilidade, na


eficiência operacional, na qualidade dos ativos e nos rácios de capital. A rendibilidade do
sistema bancário residente retomou valores positivos, refletindo em particular um menor valor
de provisões e de novas imparidades. A eficiência do sistema bancário, medida pelo rácio cost-
to-income, também aumentou, traduzindo um aumento do produto bancário superior ao
aumento dos custos operacionais. Por outro lado, a qualidade dos ativos dos bancos
portugueses melhorou, refletindo a redução do rácio de empréstimos non-performing (NPL)
em 4,6 pontos percentuais relativamente ao máximo registado em junho de 2016. O stock de
NPL na carteira do setor bancário nacional diminuiu 13,5 mil milhões de euros no mesmo
período, tendo sido acompanhada de um aumento do rácio de cobertura por imparidades.
Entre o final de 2016 e o final de 2017, assistiu-se ainda a uma melhoria significativa dos rácios
de solvabilidade do sistema bancário nacional, resultante, sobretudo, do aumento dos fundos
próprios. A outro nível, assinale-se ainda que foram desenvolvidas várias ações de supervisão,
com vista ao reforço dos mecanismos de controlo e de governo interno, bem para a

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estabilização das equipas de gestão de várias instituições, com base em processos de avaliação
particularmente exigentes.

Não obstante a evolução favorável, o sistema bancário continua a apresentar vulnerabilidades:


os níveis de rendibilidade, apesar de terem aumentado, permanecem baixos; o stock de NPL
ainda é significativo; e a elevada exposição à dívida pública e ao imobiliário tornam o setor
particularmente sensível a evoluções desfavoráveis nos preços destes ativos.

É necessário prosseguir a estratégia nacional de redução de ativos não produtivos do setor


bancário, assente na revisão do enquadramento legal, judicial e fiscal, nas ações de supervisão
promovidas no âmbito do Mecanismo Único de Supervisão, no cumprimento dos Planos de
redução de NPL submetidos às autoridades de supervisão, e na gestão integrada dos
portefólios de NPL. O atual enquadramento deve também ser encarado pelas instituições
como uma oportunidade para continuarem a realizar ajustamentos estruturais,
nomeadamente nos custos operacionais, que contribuam para aumentar a sua resiliência e
permitam responder melhor aos desafios que se antecipam, designadamente as crescentes
exigências regulatórias (nomeadamente, os requisitos mínimos de passivos suscetíveis de
absorver perdas em caso de resolução – MREL, no acrónimo inglês) e a concorrência das novas
empresas especializadas na prestação de serviços financeiros por via digital (as Fintech).

O crescimento dos preços no segmento imobiliário residencial tem sido particularmente forte.
Na segunda metade de 2017 começaram a surgir alguns sinais, embora muito limitados, de
sobrevalorização dos preços neste segmento. Após uma queda acentuada no período entre
2007 e 2013, os preços do imobiliário comercial apresentam sinais de alguma recuperação,
mas de forma mais contida do que no segmento residencial. Em 2017, 80% do investimento no
mercado imobiliário comercial português foi efetuado por não residentes, maioritariamente
fundos. Muito embora os bancos portugueses não estejam a ser os principais dinamizadores
do mercado imobiliário, um eventual decréscimo acentuado de preços neste mercado teria
efeitos negativos sobre o setor bancário, condicionando a venda dos imóveis detidos pelas
instituições de crédito e dificultando a diminuição dos NPL associados a crédito garantido por
imóveis.

A redução das vulnerabilidades elencadas, aproveitando um contexto macro-financeiro


favorável, é fundamental para garantir a resiliência da economia portuguesa, incluindo o seu
setor financeiro, perante um conjunto de riscos que poderão vir a materializar-se, como a
possível reavaliação significativa e abrupta dos prémios de risco a nível global associada a
riscos geopolíticos e/ou à alteração da apetência pelo risco dos investidores internacionais.

Finalmente, e apesar de na sequência da crise financeira ter existido um ímpeto para tornar a
arquitetura institucional da área do euro mais solidária na partilha de riscos e capaz de uma
resposta firme a futuras crises, a União Bancária permanece incompleta, o que também coloca
riscos para a estabilidade financeira.

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2018
 Política macroprudencial

Para garantir que as instituições de crédito e as sociedades financeiras não assumem riscos
excessivos na concessão de novo crédito e que os mutuários têm acesso a financiamento
sustentável, o Banco de Portugal, na qualidade de autoridade macroprudencial nacional,
emitiu uma recomendação dirigida aos contratos de crédito celebrados com consumidores
(crédito à habitação, crédito com garantia hipotecária ou equivalente e crédito ao consumo) a
partir de 1 de julho de 2018, introduzindo limites a alguns dos critérios que as instituições
devem observar na aferição de solvabilidade dos mutuários.

Ainda no âmbito da política macroprudencial, o Banco de Portugal:

Manteve a reserva contracíclica de capital em 0% do montante total das posições em risco


para o segundo trimestre de 2018;
Manteve a implementação faseada das reservas de conservação de capital;
Reciprocou a medida macroprudencial imposta pela autoridade finlandesa (a Finanssivalvonta)
em 2017 relativamente às exposições garantidas por imóveis residenciais localizados na
Finlândia.

 Temas em destaque e caixas


Esta edição do Relatório de Estabilidade Financeira inclui três temas em destaque:

“Monitorização do risco sistémico de liquidez no sistema bancário português – alguns


indicadores”;
“Interligações diretas e indiretas no sistema financeiro nacional”;
“Um safe asset para a área do euro: a iniciativa de Sovereign Bond-Backed Securities”.

 Apresenta ainda três caixas:


“Implementação, a nível europeu, de instrumentos macroprudenciais direcionados aos
critérios de concessão de crédito a particulares”;
“Relevância do enquadramento legal na recuperação de NPL”;
“Plano de ação para combater os créditos não produtivos na Europa – principais medidas e
ponto de situação sobre a sua implementação”.

Retirado de https://www.bportugal.pt/print/412991

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