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História do Brasil
Como estudar história do Brasil?
(https://www.youtube.com/watch?v=IcD4qyX0GO4&t=4641s)
*Qual o motivo de estudar a história do Brasil? (Ser historiador, ser um intérprete dos
historiadores, erudição e etc).
Faça uma avaliação.
Até o 5º passo o leitor já terá conhecimento suficiente para entender a História do Brasil até
1930/1950.
Após ler todos esses livros o leitor pode começar a ler Frei Vicente do Salvador, Francisco
Adolfo de Varnhagen e Capistrano de Abreu e etc. Esse caminho é o acesso mais breve
(preliminar) da historiografia brasileira, mas é importante salientar a importância de ler
outras obras para buscar outras interpretações.
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Indicações diversas
Presidencialismo no Brasil
Livro/Autor Comentário
Monarquia
História do Brasil
História do Brasil
Autor: Hélio Viana
Escravidão
Jesuítas no Brasil
Guerra do Paraguai
Maldita Guerra
Autor: Francisco Doratioto
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Autor: Christopher Dawson Todos da editora “É Realizações”, menos
Dinâmicas da História do Mundo
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2. Gilberto Freyre
Por onde começar estudar Gilberto Freyre?
(https://www.youtube.com/watch?v=yePTlqpEDSA)
Livros:
3 - Aventura e Rotina
(simetria intelectual com “Uma Cultura Ameaçada e outros Ensaios”)
_______________________
Linha Clássica
5 - Sobrados e Mucambos
(Formação do Brasil)
6 - Ordem e Progresso
(Formação próxima de nossa temporalidade)
_______________________
Formação Intelectual
_______________________
Sociologia da Literatura
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_______________________
Sociologia
1 - Sociologia
_______________________
Comentários Analiticos em Diferentes Realidades
1 - Entorno de Nabuco
_______________________
Biografias sobre Gilberto Freyre
1 - Gilberto Freyre: Uma Biografia Cultural - Enrique Rodrigues Larrela e Guillermo Giucci
Perceba que Freyre atuou em diversas frentes intelectuais, não sendo necessário ler tudo,
mas é um autor que precisa ser lido.
5
3. Oliveira Lima
Um pouco de Oliveira Lima
(https://www.youtube.com/watch?v=EPfeUYJcnpc&t=120s)
● Oliveira Lima faz parte de uma trajetória intelectual, que desde Frei Vicente do
Salvador até Ronaldo Vainfas, como uma cronologia da boa historiografia, ele faz
parte disso.
● Os grandes feitos de Oliveira Lima são os feitos na produção intelectual.
● Dono do maior acervo (estudo, livros, fontes primárias e etc) sobre o Brasil. A
biblioteca brasiliana (60 mil exemplares), que está em Washington, pertenceu a
Oliveira Lima. Extraordinário volume para o século XIX.
● Nascido em Recife (PE), mas criado em Portugal, ou seja, sua formação intelectual
foi no país lusitano. Talvez por isso conseguiu conectar Brasil e Portugal de forma
tão sensível.
● Sua obra mais célebre “D. João VI no Brasil” ao lado de “Um Estadista do Império”
(Joaquim Nabuco) e alguns outros, são considerados o cânone da historiografia
brasileira.
● Quando ele desenvolve qualquer aspecto sobre história do Brasil e etc, ele vai voltar
a explicitar elementos sobre D. João VI, ou seja, é uma figura perene em sua
produção.
● Viveu na monarquia, república e era Vargas, três fatos embrionários de ideia de
Brasil.
● Gilberto Freyre cita que Oliveira Lima é um caminho obrigatório, além de ser seu
mestre intelectual.
Colaboração:
6
Livros Citados:
7
4. Machado de Assis
Em nossas aulas o que predomina é um fundo interpretativo, não o fundo descritivo. Desde
nosso primeiro conto estamos refletindo e interpretando, em detrimento de uma descrição
exata de todas as narrações que o texto possui. Em outras palavras, é preferível aqui
interpretar o texto ao ato de simplesmente descrevê-lo. Um leitor minimamente atento é
capaz de descrever a história que leu, mas há certas evidências históricas, regionais,
sociológicas, etc. que requerem mais do que uma descrição.
Aqui nestas aulas nós temos, já tivemos e teremos, esforços no sentido de compreender a
natureza humana de nosso Machado, ou ainda, a natureza humana segundo o próprio
Machado (são duas coisas diferentes). Machado é um autor que consegue ter uma literatura
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carregada de visão sociológica, e ao mesmo tempo de profunda manifestação estética,
espelhando-se muitas vezes em um próprio confessionário.
Machado cria, na sua literatura algumas dificuldades, que ora são práticas, no sentido de
reconhecer a própria racionalidade do universo, bem como ele também cria outra outras
dificuldades de ordem social, psicológica e humana.
Pelo progresso que as ciências humanas tem ao longo do séc. XX, preferencialmente a
partir de todos os estudos fenomenológicos. É possível que ampliemos o modo de ler
Machado de Assis, a partir de uma tentativa de reconhecê-lo como um resultado textual
uniforme (vejam aquelas rupturas, oscilações que ele de fato tem em seus textos), mas é
possível também a partir de um processo fenomenológico, que breve cenários sejam
analisados texto a texto (ex. como a ética social ou a ética humana se comportou em
determinada circunstância - eis uma reflexão constante nos textos de Machado que eu
muitas vezes elenquei por aqui). Nos textos de Machado encontramos, constantemente,
uma construção de tipologias que são capazes de, em alguma medida, sintetizar aspectos
relevantes da sociedade brasileira, tal como ele a enxerga.
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Machado na sua literatura abordou diferentes linguagens: literatura, música, artes, teologia.
É incrível que em texto a texto nós percebemos como ele entendeu cada um dos temas, de
um modo minimamente satisfatório, ou seja, aquilo que Machado verbaliza é aquilo que ele
tem no mínimo conhecimento razoável. Machado tem textos concretos, que possui uma
maneira peculiar de apresentar uma mentalidade humana, conversando com a queda de
Adão e ao mesmo tempo conversa com a elevação do homem (no sentido social, espiritual,
e etc).
Aqui em nossas aulas tento descrever o texto e o contexto, por isso que reiteradamente
tenho pedido que vocês sempre observem qual o ano do conto, estrutura e ambientação
dentro do contexto de vida de Machado de Assis. Machado trabalha insistentemente com as
dualidades humanas, corpo, alma, subjetividade, objetividade, apolíneo, dionisíaco, e dentro
dessa relação do apolíneo e, do interno e externo para ficar mais fácil, nós reiteradamente
percebemos o modo como Machado estrutura a sua literatura (vejam, aqui é um esforço de
descrição, não necessariamente um juízo de valor - Machado trabalha com esse tipo de
dualidade de um modo muito recorrente).
É evidente que muitas de nossas aulas tem um hermetismo quase como uma regra, ainda
que evidentemente o hermetismo não possa receber a classificação de uma regra, é só
uma liberdade coloquial. A partir do momento que proponho uma leitura não linear dos
textos e, uma busca nos sentidos ocultos e dos significados não evidentes em cada um dos
contos, dependendo do texto a texto, nós acessamos uma constante de decifrações
interpretações, mas que tem uma certa base de significado que tenta tornar a nossa leitura
algo acessível, para que ela consiga uma ferramenta para acessar a camada mais
superficial no modo de ler Machado de Assis seja superada.
Dentro de todo este contexto, até pela própria maneira que eu estudo e analiso os temas,
eu acabo inserindo Machado de Assis na fenomenologia, ou seja, eu recuso fórmulas
universais do modo de como avalia-lo e eu me permito, como professor e leitor, analisar as
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suas subjetividades/parcialidades. Tento aqui explorar o imaginário de Machado de Assis e
tento ao mesmo tempo instituir algumas imagens para facilitar a síntese que nós leitores
nem sempre percebemos no que envolve a relação entre a literatura de Machado de Assis e
o homem Machado de Assis.
Então, a ficção de Machado de Assis, ela é desde seus primeiros contos, desde seus
primeiros romances, uma tentativa lapidada pouco a pouco, de um mergulho no universo da
realidade através da ficção, tendo como o cotidiano, tendo suas diferentes presenças, por
exemplo, um de seus palcos. Suas manifestações artísticas são cheias de significado. O
seu entendimento, que por meio dos sentidos e de uma boa leitura e de uma análise
fenomenológica (como eu tento executar aqui), em alguma medida a gente aprende pouco
a pouco, de que há muito mais do que somente um autor racionalista.
Podemos nos valer da definição de Umberto Eco: “Arte é um bosque, na qual o homem se
perde para encontrar um autor, um autor que é também ele próprio, que na obra se realiza”.
Então, meu papel aqui é dar para vocês um método interpretativo, que é um método muito
escorado na hermenêutica e na análise fenomenológica dos textos de Machado de Assis, o
nosso Apolíneo e Dionisíaco
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RESUMO SINTÉTICO
8. Nos textos encontramos constantemente tipologias que são consideradas relevantes para
a sociologia e cultura brasileira, do modo como ele enxergou.
10. Diálogo com a queda de Adão e a ascese/ evolução espiritual, social, etc.
11. Texto e contexto: ano do conto, estrutura, título, ambientação, biografia de Machado.
12. Relação do apolíneo e dionisíaco. Machado trabalha com dualidades. Interno e Externo.
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14. Leitura não linear, buscar significações não evidentes; dependendo do texto buscar
decifrar, encontrar chaves interpretativas distintas, para que a camada superficial da leitura
de Machado seja superada.
19.1. Machado de Assis: textos com campo para uma rede de reflexões que devem ser
lançadas fora da objetividade, para assim enxergar reflexões multifacetadas de sua
literatura.
20. Machado possui vasta cultura: esforço literário para expressar os dramas humanos
universais.
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Transcrição parcial da aula (11/08/2020)
As minhas divergências com Alfredo Bosi, no que envolve o recorte literatura no Brasil
(gravem isso), não parte de um entendimento prévio de que Alfredo Bosi por ser um homem
de esquerda logo eu discordo de tudo que ele tem pra dizer. Politicamente, eu tenho muitas
divergências do pensamento social e político de Alfredo Bosi. No que envolve a sua
exposição literária, os meus recortes, dependendo do contexto, até se fundamentam em
algumas exposições que ele estabeleceu, ou seja, no recorde literatura brasileira
(dependendo da pauta), até concordo com Alfredo Bosi.
Desta maneira, ele é considerado um caminho inescapável, para que você possa
compreender uma certa paisagem histórica de nossa literatura. Ele é um imortal da
Academia Brasileira de Letras, professor da USP, possui uma história acadêmica
consagrada e ele não apresenta aqui uma pesquisa infantil - é uma pesquisa sólida com
boas referências, boas citações. Todavia, há alguns limites, ele esquece de mencionar
autores que eu considero fundamentais, deprecia de um modo sutil a conversão ao
catolicismo de Joaquim Nabuco, ele não apresenta de um modo linear os diferentes perfis
que ele destaca.
Eu não analisarei a obra como um todo, o meu objetivo é analisar o Machado de Assis que
ele analisa neste livro (História Concisa da Literatura Brasileira). Existe o recorte, que é o
recorte do realismo e dentro desse recorte ele cita alguns autores importantes que foram
lidos e que inspiravam muito desse ambiente social do Brasil nas décadas 60, 70, 80 e 90
de nosso séc. XIX. Dentro desse contexto, vocês precisam entender que república/
abolicionismo eram pautas tidas como modernas. Joaquim Nabuco, como por exemplo, foi
acusado de reacionário, porque ele de moderno se converte e olha para trás e ainda se
afirma monarquista.
Dentro desse processo, há aqui uma série de autores muito interessantes que marcam a
história das idéias no Brasil: Tobias Barreto, Sílvio Romero, Castro Alves, Fontoura Xavier,
Valentim Magalhães, Carvalho Júnior e Machado de Assis. Dentro desse contexto, eu tenho
algumas ressalvas muito importantes. O escritor realista (pela análise de Alfredo Bosi)
tomará a sério a suas personagens e se sentirá no dever de descobrir-lhes a verdade, no
sentido positivista de dissecar os móveis de seu comportamento. O realismo ficcional
aprofunda a narração de costumes contemporâneos (primeira metade do séc. XIX -
concordo - Victor Hugo, Balzac, Dickens). Nas obras desses escritores criadores do
romance moderno já exibia poderosos dons de observação e de análise, Machado é um
ponto disso, razão pela qual não se deve cavar um fosso entre elas e de outros autores que
expuseram a história dentro dessa perspectiva (Vitor Hugo, Balzac, Machado e etc). Ele
coloca Machado em um patamar de conversa como Flaubert e outros escritores. O que eu
discordo, o escritor realista tomará a sério seus personagens dissecando-as no sentido
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positivista. Acho aqui algo sem analisar especificamente. Vocês precisam saber que eu sou
de uma escola de autores que trabalham muito com a especificidade, dentre eles Carlos
Ginzburg no livro “O Queijo e os Vermes”. Isto colocado, eu não acho que Machado seja
bem isso, mas eu acho que Machado (naquele destaque que dei) um bom exemplo de
realismo ficcional. Então é uma frase (um parágrafo) que eu concordo em 80%, porque
vejam, as afirmações dos realistas franceses a propósito são exemplares, aí tem uma
citação de Flaubert: “esforço-me por entrar no espartilho e seguir uma linha reta geométrica
nem um lirismo, nada de reflexões aos entes e personalidades de um autor”. Eu não acho
que Machado seja isso, eu acho que inclusive, neste caso, que Flaubert e Graciliano Ramos
estão muito mais conjugados.
Mas não é essa a referência que Alfredo Bosi faz, até este momento da obra centra a sua
textualidade em Machado e realismo dentro desse conjunto de diálogo. Há um bom
destaque dado a sociologia da literatura, apresentado nos romances de Machado de Assis
e de outros autores realistas é uma linha em qua vários momentos eu aqui também
exemplifico a partir dos contos, só que alguns pontos que nós vamos ter problemas, como
por exemplo, a tentativa de Alfredo Bosi associar determinismo e realismo (acho que não
seja uma tentativa condizente), mas nós temos algumas questões interessantes que
quando o nosso autor explora o realismo chegando em Lima Barreto, Coelho Neto e
trazendo um elenco de escritores como por exemplo cearenses, que em alguns momento
citei aqui, Adolfo Caminha, Alencar e outros. Alencar muitas vezes como aquele escritor de
causa e Adolfo Caminha como efeito.
Machado é apresentado por Alfredo Bosi como justiça, como ponto mais alto, mais
equilibrado da prosa realista brasileira e dentro desse contexto na exposição biográfica,
comete um erro (quando ele diz que Machado estudou em escola pública, sendo que
Machado não teve uma educação formal - aqui temos um erro de Alfredo Bosi). No
desenvolvimento da exposição, a relação com Paula Brito, “A marmota” e, o resto dessa
vida biográfica interessantíssima de nosso Machado, Alfredo Bosi destaca bem. Dentro
desse contexto, ele fez (Alfredo Bosi) um bom conjunto de referências onde Machado de
Assis foi citado. Então nós vamos ter aqui José Veríssimo, Graça Aranha, Monteiro Lobato,
Mário Alencar, Oliveira Lima (estudo que fez sobre Machado) e por aí vai. Então, um elogio
a Alfredo Bosi. Percebam como estou fazendo aqui né? Ponto a ponto do texto analisando,
tecendo elogios quando necessário.
Dentro desse contexto, há esse recorte de 1878 (acirrada resenha de “Primo Basílio” de
Eça de Queiroz), nos dá um Machado senhor de critérios seguros para apreciação da
coerência moral de personagens que ele ainda não soubera plasmar. Bem, eu discordo
desse recorte tão arbitrário. Eu acho que Machado quanto escritor é alguém que deve ser
avaliado à luz de conjuntos de experiências, bem como texto a texto. Alfredo Bosi dá um
destaque essencialmente aos romances e aos contos de maturidade de Machado de Assis,
o que me faz discordar, pois inseriu Machado a partir do realismo na literatura brasileira.
Dessa forma, é uma maneira de incluir Machado dentro de uma amarra de uma escola
literária, e muitas vezes as escolas literárias inibem a versatilidade/diluição da literatura para
outros fins. A literatura perde a capacidade de conversar com o todo de um ambiente, que
parece muitas vezes, está restrita/atrelada com uma especificidade de uma escola. Então
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você tem uma paisagem da história da literatura brasileira, aí quando chega no realismo
Machado de Assis, acho muito empobrecedor o modo como cita-lo.
Um elogio que ele faz aqui a Machado de Assis, é que teve mãos de artista leve para não
se perder em determinismos de raça ou de sangue. Todavia, Alfredo Bosi repete os
mesmos clichês, que é um Machado de Assis pouco engajado. A partir das nossas leituras,
texto a texto, já temos bagagem suficiente para refutar esse tipo de tese. A ficção
Machadiana, constituiu pelo equilíbrio formal que atingiu, um dos caminhos permanentes da
prosa brasileira. Aí a referência citada do Gustavo Corção no conto “A segunda vida”, você
percebe qual comentário ele está alinhado, ou seja, Machado de Assis ele é de fato aquele
escritor que a partir dele constituiu uma linha a ser seguida, tais escritores como Graciliano,
Drummond, Corção, acabam direta/indiretamente inspirando-se em Machado de Assis.
Ainda, temos uma boa análise de Alfredo Bosi a cerca de Capitu e Bentinho, mas a ênfase
que é apresentada é de um Machado realista, dos contos de maturidade, de Quincas Borba,
Dom Casmurro e Brás Cubas. Então há muito pouco espaço para textos como “Helena”,
“Iaiá Garcia”, “Ressurreição” e os contos de mocidade não são apresentados.
Então nós temos uma visão Machadiana que repete a mesma maneira arbitrária de
classificar o texto de Machado em dois momentos, cujo o divisor de águas seria “Brás
Cubas”, ou seja, desconsiderar toda sua produção literária antes do magnum opus. Alfredo
Bosi têm seus méritos: catalogação bibliográfica; destaque ao relevo literário de Machado
de Assis na literatura brasileira; maneira como Machado inspira a literatura brasileira e;
deixando Machado como “maior” entre os escritores brasileiros. Pontos negativos: poucos
comentários sobre os textos de mocidade; pouco aproveitamento de Machado de Assis
mais sociológico e; o modo de recortar Machado pelo “Brás Cubas” é um modo muito
inadequado.
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Texto enviado pelo professor Thomas
Nas páginas anteriores, seguimos a hermenêutica traçada pelos sábios comentadores, pela
qual o Eclesiastes será um livro existencial, uma espécie de filosofia do absurdo, um
manual de contra-senso escrito na pauta da limitação marcada pelos horizontes terrestres.
Se a sorte do homem é o que se vê sob o sol, então a vida é um disparate. A forte
estimulação desse livro consiste na confiança incondicionalmente posta na fé dos
mandamentos. Esses, aconteça o que acontecer, não podem ser absurdos. Serão
incompreensíveis como os sofrimentos de Jó e como o sacrifício de Abraão. No dinamismo
das propulsões negativas, ou melhor, do vácuo produzido por essa bomba pneumática,
tira-se a conclusão: a sorte do homem não pode limitar-se ao que se vê. Ou ainda, do que
se vê tira-se todo um prenúncio do que está escondido.
Os autores das modernas filosofias existencialistas optaram pelo absurdo. O que vale dizer
que não optaram, e que ficaram detidos, imobilizados, sem ímpeto para atravessar o
espelho e entrar no mundo das maravilhas. Dessa paralisação da inteligência resulta um
pessimismo real, profundo, desconsolado e degradante, que não era, de modo algum, o
pessimismo de Machado de Assis. Melhor do que a maioria dos nossos críticos, o inglês
que comentou a tradução de Brás Cubas chamava a atenção para o que denominou
pessimismo estimulante.
Até seus últimos dias, na desolação da velhice e da viuvez, Machado de Assis conserva
intato o senso moral. Se nos romances parece ter atingido um cansaço de vida e um
desconsolo supremo, aí está sua correspondência para nos mostrar o outro lado do homem
que persiste em crer no homem e na realidade moral. E a explicação desse dualismo está
no Eclesiastes, que é por assim dizer um livro onde o principal é justamente o que falta: a
notícia de nossa transcendência, e de nossa ressurreição. O princípio da
complementaridade, que tem tanta importância nas teorias interpretativas da física
moderna, e que também dá uma das regras capitais para a interpretação do Livro Santo,
mostra-nos o desolado discurso do Qohelet como um sequioso apelo à outra metade da
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história que só muito mais tarde será revelada. O sábio-louco diz “tenho sede”, como Cristo
na cruz, momentos antes da ressurreição. Sede de complemento, de completação, de
consumação. Sede de solução.
Ora, há uma passagem de sua obra onde se vê que Machado de Assis compreendeu muito
bem essa complementaridade dos mistérios de Cristo: é aquela em que, ao Eclesiastes,
contrapõe o Sermão da Montanha. Em 25 de março de 1894, o cronista da A Semana,
disfarçando com guizos de frivolidade a sua sabedoria, entra a descrever um ofício da
Paixão a que assistira. E termina assim a crônica como aquele seu ar de quem não sabe
que está dizendo coisas enormes:
– Senhor, disse eu então, a vida é aflitiva e aí está o Eclesiastes que diz ter visto as
lágrimas dos inocentes, e que ninguém os consolava.
– Bem-aventurados os que choram porque eles serão consolados.
– Vêde a injustiça do mundo. Nem sempre o prêmio é dos que melhor correm, diz ainda o
Eclesiastes, e tudo se faz por encontro e casualidade.
– Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.
– Mas é ainda o Eclesiastes que proclama haver justos, aos quais provêm males ...
– Bem-aventurados os que são perseguidos por amor da justiça, porque deles é o reino do
céu.
E assim por diante. A cada palavra de lástima respondia Jesus com uma palavra de
Esperança. Mas já então não era ele que me aparecia, era eu que estava na própria
Galiléia, diante da montanha, ouvindo como o povo. E o sermão continuava.
Bem-aventurados os pacíficos. Bem-aventurados os mansos ...”
Como se explica, pergunto eu, sem apelos ao caso, essa aproximação que tem finuras de
sutil hermenêutica? Nós outros, depois de lermos muito sábios exegetas, chegamos a essa
mesma conclusão. Depois de vivermos longos anos no convívio dos doutores em teologia,
conseguimos entrever as escondidas intenções do antigo escritor inspirado. Machado achou
aquilo sozinho, talvez na Rua do Ouvidor, porventura na mesma esquina onde teve a notícia
do 15 de Novembro: “Disseram-me na Rua do Ouvidor que os militares proclamaram a
república ...”
[...] Tudo isso prova que o pessimismo de Machado de Assis é de espécie totalmente
diversa daquele moderno que leva à imobilização e ao cinismo.”
Machado coloca o subjetivo do homem por consequência da alma humana, podemos dizer
que no texto de machado a condição humana ocupa a condição humana.
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Livros
Nome Comentário
Machado de Assis
Autor: Augusto Meyer
Eclesiastes
Tradutor: Padre Matos Soares
R. Magalhães Junior
19
O niilista Machado de Assis Coleção “Rex’’
Machado de Assis
20
Autor: Roberto Schwarz
Vídeos
Nome Link
https://www.youtube.com/watch?v=-Tx91zs
Ryfs
Canal Livre: Machado de Assis - Parte 1, 2
e3 https://www.youtube.com/watch?v=VILBJu7
Entrevista com Silviano Santiago bR4Y
https://www.youtube.com/watch?v=GM8CC
uRAeoc
Contos
21
2- Busque entender o que o título está dizendo;
3- Faça a identificação do narrador dentro do conto, veja como ele se comporta, se ele é
confiável ou não;
5- Anote e análise algumas situações apresentadas nas histórias, muitas vezes com uma
enorme sutileza de Machado, por exemplo menções a escravidão, viuvez, adultérios,
promessas não cumpridas, guerras, acontecimentos históricos e a lista segue;
6- Leia olhando a história a partir do olhar de cada personagem, por exemplo como ele lidou
com as situações propostas, o que estava sendo sentido, quais eram os sentimentos de
cada personagem;
7- Por último, leia o conto numa perspectiva que você se coloque no lugar do personagem,
fazendo uma reflexão de como seria seu agir naquelas circunstâncias;
ou
● Contexto Sociológico;
● Comentários Históricos;
● Contexto Geográfico;
● Questões narrativas;
● Questões interpretativos;
● Questões estilísticas;
● Significados;
● Comentários fenomenológicos;
● Intertextualidades;
● Interpretações filosóficas;
E os comentários externos no contexto que o conto foi feito, data, como ele dialoga com a
história do Brasil, com a história do Machado etc etc
Lista do contos
https://docs.google.com/spreadsheets/d/1H_PEkD8PbHpxv_0snvdNPUhskoQE1MoRIB9oQ
C8uWZM/edit?usp=sharing
22
5. Cultura (diversos)
Como analisar um filme? (live 17/08/2020)
* Nunca pular os crédito quando está assistindo o filme pela primeira vez. Anotar o nome da
equipe, atores etc. Se possível rastrear essas pessoas em outros trabalhos.
* Quando assistir o filme pela primeira vez, assistam de forma solta, meditando, anotando
alguma coisa, seja livre, despretensioso, consuma o produto.
Filmes
23
Netflix
Filmes Comentário
24
Força do instante, a pessoa que é testada
Sully na hora e responde de maneira
arrebatadora.
Arte e Estética
A Livraria
Seriado
Twin Peaks
Filmes Comentários
Adoráveis Mulheres
A Caça
Trama Fantasma
25
Cães de Aluguel Muita atenção aos diálogos
Os Oito Odiados
Lady Bird
Cidade de Deus
A troca
Deus da Carnificina
Seriado
Sopranos
Mad Men
Livros
Livros Comentários
O Mito de Sísifo
Autor: Albert Camus
A Morte Feliz
Autor: Albert Camus
Teatro Completo
Autor: William Shakespeare
26
Autor: Miguel de Unamuno
Gramática
Gramática Comentário
27
Vídeos (indicação)
Link Comentário
Textos/Artigos
Nome Link
28
6. Exercícios Orientados
3. Como as pessoas se classificam de uma forma igual e como somos iguais a estas
pessoas. Escrever sobre o inveja, orgulho, sobre o amor, sobre a traição… Escrever
textos a partir destas ferramentas que Machado nos forneceu. Escrever em um tom
confessional, nossa relação com esses temas. Pegar um drama de sua vida e tentar
descrever (mas, não em um tom de relato) é para mostrar como nossa alma se
relaciona com esses temas (Ex. Escrever um diário). Diluir um pouco de nós nos
textos. Desenvolver um texto sobre algum assunto, pessoa etc. com algum amigo,
namorada, esposa(o) etc, sobre o mesmo tema.
5. Verificar qual origem da ideia que temos sobre tal tema. Fazer o exercício de
colocá-las em provas. Ex: você é contra a legalização das drogas, mas, por qual
razão eu sou contra? Fazer um mapa da razão e trabalhar nelas.
6. Observação das formas humanas, fora da bolha do que seria comum. Conversar
com um viciado e entender a profundidade daquela vida, conversar com um ser
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humano muito diferente do que somos. Visitar um asilo, como está nossa caridade?
(Ex: temos distribuído paes? Estamos ajudando?) Será que nossa voz interior é
capaz de dialogar com a voz interior de Machado de Assis?
7. Conversar com o próprio eu, ser observador das piores paisagens, situações
possíveis… Pegar seu automotivo ou no ônibus; transitar no centro das cidades e
observem as pessoas, caminhem próximo de regiões com muitas pessoas, os que
sofrem e etc. Observar.
OBS: Autores como Balzac, Homero, Camus, Santa Tereza são autores que trabalham
profundamente com o fundado da alma e estabelecem um contato com a própria fera, com
o próprio lobo da alma.
Filmes
Nome Comentário
American Sniper
30