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APOSTILA
CEFORTE
Centro de Formação Teológica
Pólo GUARULHOS
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 5
2
APOSTILA de Doutrinas Wesleyanas
6.5. Exegese da Pós-Reforma .................................................................................................................... 19
11. MÉTODOS LITERÁRIOS ESPECIAIS [Parábolas, Provérbios, Alegorias, Figuras de Linguagem] .............. 30
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APOSTILA de Doutrinas Wesleyanas
Pólo GUARULHOS
Apostila de
HERMENÊUTICA
Apostila Desenvolvida pelo Pastor José Pereira Sotéro
Adaptações: Aline Goulart
1. INTRODUÇÃO
Diz-se que a palavra HERMENÊUTICA deve sua origem ao deus Hermes, deus grego que
servia de mensageiro dos deuses, transmitindo e interpretando suas comunicações aos seus
afortunados ou, com frequência, desafortunados destinatários. Em seu significado técnico, muitas
vezes, se define a hermenêutica como CIÊNCIA e a ARTE de INTERPRETAÇÃO BÍBLICA. Ela é
considerada como ciência, porque tem normas e regras, e essas podem ser classificadas em um
sistema ordenado. É considerada uma arte, porque a comunicação é flexível e, portanto, uma
aplicação mecânica e rígida das regras, às vezes, poderá distorcer o verdadeiro sentido da
comunicação.
Exige-se do bom intérprete que ele aprenda as regras da hermenêutica, bem como a arte de
saber aplicá-la.
A teoria da hermenêutica divide-se em duas subcategorias: A Hermenêutica Geral e a
Hermenêutica Especial.
A GERAL é a o estudo das regras que regem a interpretação do texto Bíblico inteiro. Inclui os
tópicos das análises Histórico-cultural, Léxico-sintática, Contextual e Teológica.
A ESPECIAL é o estudo das regras que se aplicam a Gêneros Específicos, tais como: Parábolas,
Alegorias, Tipos e Profecias.
5
APOSTILA de HERMENÊUTICA
os críticos textuais, não afetam nenhuma questão essencial dos fatos históricos ou da fé e da prática
do Cristianismo.”
O terceiro campo de estudos Bíblicos é conhecido como Histórico ou Alta Crítica. Os eruditos
nesse campo estudam a autoria de um livro, a data da sua composição, as circunstâncias históricas
que cercam sua composição, a autenticidade do seu conteúdo e sua unidade literária. Muitos dos
que se engajam na Alta Crítica, partiram de pressuposto liberais e, por isso, os cristãos
conservadores, muitas vezes, equiparam a Crítica Histórica ao Liberalismo. Não há porque pensar
dessa forma. É possível engajar-se na Crítica Histórica a partir de pressuposto conservadores.
Constituem exemplos as introduções a cada livro da Bíblia, encontradas na Harper Study
Bible e em outras edições da Bíblia; na Bíblia Anotada de Scofield e nos comentários conservadores.
O conhecimento das circunstâncias históricas que cercaram a composição de um livro é de
suma importância para a compreensão adequada do seu significado.
Somente após o estudo da Canonicidade da Crítica Textual e da Crítica Histórica é que o
estudioso está preparado para fazer Exegese [aplicação dos princípios da hermenêutica para chegar-
se a um entendimento correto do texto]. O prefixo “EX” [fora de ou para fora de] refere-se à ideias
de que o intérprete está procurando tirar o verdadeiro entendimento do texto em vez de ler seu
significado no texto [Eisegese = para dentro].
Seguindo a Exegese estão os campos da Teologia Bíblica e o da Teologia Sistemática. A
Bíblica é o estudo da revelação divina no Antigo e no Novo Testamento. Ela indaga: “Como foi que
essa revelação específica, contribuiu para o conhecimento que os crentes já possuíam naquele
tempo?” Tenta mostrar o desenvolvimento do conhecimento. Já a Teologia Sistemática, organiza os
dados Bíblicos de uma maneira lógica antes que histórica. Tenta reunir toda a informação sobre
determinados tópicos [A Natureza de Deus, A Natureza da Vida no Além, o Ministério dos Anjos e
etc.], de sorte que possamos entender a totalidade da Revelação de Deus a nós, sobre esse tópico. A
Teologia Bíblica e a Teologia Sistemática são campos complementares. Juntas elas nos proporcionam
maiores entendimentos do que qualquer uma delas separadamente.
2. A NECESSIDADE DA HERMENÊUTICA
Nossa compreensão do que ouvimos ou lemos é espontânea, pois, as normas pelas quais
interpretamos o significado, ocorrem automaticamente e inconscientemente. Quando algo bloqueia
essa compreensão espontânea do significado, tornamo-nos mais cônscios dos processos que usamos
par compreender. A hermenêutica é, em essência, uma codificação dos processos que,
normalmente, empregamos em um nível consciente para entender o significado de uma
comunicação. Quanto mais bloqueio à compreensão espontânea, maior a necessidade da
hermenêutica.
Quando interpretamos as Escritura, encontramos vários bloqueios à nossa compreensão do
significado primitivo da mensagem. Há um abismo histórico no fato de nos encontrarmos,
largamente, separados no tempo, tanto dos escritos quando dos leitores e ouvintes da mensagem.
Exemplo: A antipatia de Jonas pelos Ninivitas assume maior significado quando passamos a conhecer a
extrema crueldade e pecaminosidade desse povo [principalmente contra o povo de Israel].
A cultura atual e a cultura primitiva do povo Hebreu, quase nada têm em comum. Por isso, é
compreensível nossa dificuldade em entender alguns textos Bíblicos. Harold Garfinkel diz: “É
impossível estudar pessoas ou fenômenos como se tivéssemos olhando para um peixe no aquário, de
6
APOSTILA de HERMENÊUTICA
fora desse aquário ou de qualquer outro. Pois, na verdade, estamos olhando o aquário de dentro do
nosso próprio aquário [cultura, linguagem, religiosidade, etc.].” Aplicada à hermenêutica, a analogia
sugere que, também, somos peixes de um aquário. A negligência em reconhecer àquele ambiente
cultural, ou o nosso próprio, ou as diferenças entre ambos, pode resultar em graves erros de
compreensão do verdadeiro significado do texto Bíblico.
Outro grande bloqueio à nossa compreensão é a diferença de linguagem. A Bíblia foi escrita
em Hebraico, Aramaico e Grego [idiomas que possuem estruturas e expressões totalmente
diferentes do nosso].
Exemplo: Vamos considerar uma tradução do inglês para o português e vermos a necessidade de, não
somente conhecer o idioma, mas também, a cultura, para se fazer uma boa tradução: Na frase “I Love to see Old
Glory paint the breeze.” Traduzido ao “pé da letra” seria: “Gosto de ver a velha glória pintar a brisa”. Acontece
que a expressão “Old Glory” [culturalmente] é usada para designar a Bandeira Americana. O restante do texto pode
ser traduzido como “Ondular ao toque da brisa”. A tradução “cultural” seria: “Gosto de ver a bandeira Americana
ondular (ser sacudida) ao toque da brisa (vento)”. Em qualquer idioma, se não conhecemos a cultura e os costumes
do povo, jamais faremos, só com o conhecimento da língua, uma boa e verdadeira tradução.
Antes de passarmos ao exame da história e depois dos princípios da Hermenêutica Bíblica, devemos
nos familiarizar com alguns dos problemas centrais e controversos, na hermenêutica.
Do mesmo modo que a perspectiva da inspiração [canonicidade] afeta o Método Exegético
do leitor, os itens, que serão apresentados, afetam a atuação da hermenêutica:
1
Versão Philips
8
APOSTILA de HERMENÊUTICA
vezes, falaram sobre situações que eles não entendiam. Daniel 12.8, parece indicar que ele não
entendia algumas das visões proféticas que tinha recebido. No capítulo 8.27, ele, também, parece
nos informar que o povo, da época, não entendia as revelações que ele estava expondo.
Os que contestam a posição do “Sensus Plenior” argumentam da seguinte maneira:
A aceitação da ideia de duplo sentido para alguns textos da palavra do Senhor [Sensus Plenior],
pode franquear o caminho para todo tipo de interpretação eisegética.
A passagem de I Pedro 1.10-12 pode ser entendida com o significado de que o profeta ignorava,
somente, o tempo do cumprimento de suas predições, mas não o significado delas.
Em alguns casos, os profetas entenderam o significado das suas predições, mas não as suas
aplicações plenas2.
Em alguns casos, os profetas teriam entendido o significado de sua profecia, mas não a situação
histórica à qual se referia.
A controvérsia sobre o Sensus Plenior é um desses temas sem solução provável até
chegarmos à Eternidade.
2
João 11.50
3
Apocalipse 12.1
9
APOSTILA de HERMENÊUTICA
4.1. Fatores Espirituais no Processo Perceptivo:
Outro problema controverso na hermenêutica contemporânea é o que visa saber se os
fatores espirituais afetam ou não a capacidade de perceber, com precisão, as verdades contidas nas
Sagradas Escrituras. Uma escola de pensamento sustenta que se duas pessoas, de igual preparo
intelectual [instruídas nas línguas originais, na história, na cultura, na religiosidade e etc. de um
povo], estudando as regras da hermenêutica; ambas estarão aptas para fazer uma boa interpretação
do texto que estudarem. A posição de outra escola de pensamento é a de que a própria Bíblia ensina
que o compromisso espiritual ou a ausência dele, influencia a capacidade de se perceber a verdade
espiritual.
A sabedoria e os dons espirituais de que fala I Co 2.6-14 são posses potenciais, do verdadeiro
crente. O não convertido jamais poderá obtê-los. Portanto, a cegueira espiritual e o entendimento
obscurecido desqualificam o estudante de encontrar “as verdades” que as Escrituras revelam aos
que crêem no Senhor, independente da sua capacidade intelectual e dos seus conhecimentos das
regras da hermenêutica. Portanto, para fazermos uma boa interpretação Bíblica, precisamos do
conhecimento material e de uma verdadeira experiência espiritual, com o Senhor.
Se dependermos, unicamente, de intuições espirituais de alguns irmãos de fé para obtermos
novos discernimentos, cedo terminaremos em uma desesperada confusão. Isto porque as chamadas
intuições espirituais de certos pentecostais estão repletas de heresias e ignorâncias.
Se pensarmos, porém, que poderemos chegar ao pleno conhecimento da verdade através do
conhecimento material, estamos, totalmente, equivocados. Precisamos ter uma perfeita definição
do termo conhecer. Para as Escrituras Sagradas, conhecer é viver e praticar o que recebeu de
informação e instrução, através da Revelação do Senhor4. O incrédulo não conhece, plenamente por
mais que pesquise a palavra do Senhor.
Uma das grandes tarefas do Espírito Santo é conduzir os homens de fé aos maravilhosos
ministérios da Graça de Deus. ELE ajuda ao crente a entender o pleno significado das palavras da
Bíblia. Porém, temos que fazer a nossa parte.
4
Conhecimento sem prática ou obediência até os demônios possuem.
10
APOSTILA de HERMENÊUTICA
tratamento que damos a Análise Teológica diferencia de acordo com nossa posição Conservadora ou
Liberal.
5
Mateus 8.4; 19.8
6
Mateus 5.12-13; 57; 21.34-36; 23.29-37
7
Lucas 6.26
8
Mateus 19.4-5; Marcos 10.6-8
9
Mateus 24.37-39
10
Mateus 12.39- 41
11
APOSTILA de HERMENÊUTICA
demasiado crédito às Escrituras, mas por haverem, em virtude do casuísmo, distorcido os ensinos
claros e revestidos de autoridade, nelas contido.
11
Jesus ensinou que nada passaria da Lei até que tudo se cumprisse e que as Escrituras, em suas
profecias, não podem falhar12.
Jesus usou as Escrituras ao refutar cada das tentações do diabo. É digno de nota que tanto Jesus
como satanás aceitaram as afirmações Bíblicas como argumentos contra os quais não havia qualquer
contestação13.
Não parece que Jesus tenha feito distinção entre os textos válidos dos não válidos ou dos
fatos históricos verdadeiros dos alegóricos. Sua aceitação das narrativas das Escrituras é
questionável. Rudolph Bultmann, um anti-supernaturalista-radical, mais conhecido, por muitos,
como um dos maiores estudiosos do Novo Testamento dos tempos modernos, afirma que Jesus
aceitava a noção comum sobre a infalibilidade das Escrituras. Escreveu Bultmann:
“Jesus esteve de acordo com os Escribas, do seu tempo, em aceitar, sem
questionamento, a autoridade das Escrituras. Quando o jovem rico lhe perguntou: ‘Que
farei para herdar a vida eterna’? ELE respondeu: ‘Sabes os Mandamentos’? E, a seguir,
citou todo o conhecido Decálogo. Jesus admite a autoridade das Escrituras e a
interpreta.”
As palavras de J. I. Packer resumem e colocam a questão em perspectiva:
“O fato com o qual temos que lidar é que Jesus Cristo, o filho de Deus encarnado, que
reivindicou autoridade Divina para tudo quanto fez e ensinou, tanto confirmou a
autoridade absoluta do Antigo Testamento para os outros, como ELE próprio se
submeteu a ela, sem reservas. Se cremos em Cristo (no que ELE disse e fez), não
podemos duvidar das Escrituras. Se nos recusarmos a aceitar algumas das partes que
ELE ensinou, estamos, com efeito, negando-o como o Messias Divino (por nossa própria
autoridade e interpretação).
11
Mateus 5.17-20
12
João 10.35
13
Mateus 4.4-11; Lucas 4.4-13
14
Documento ou texto redigido pelo próprio autor.
12
APOSTILA de HERMENÊUTICA
Por exemplo: “Quando a Bíblia afirma que Josué orou e o Sol parou, as Escrituras querem
comunicar que o Senhor respondeu, poderosamente, a oração do seu servo, que precisava que o dia
se prolongasse e que a noite não apanhasse o povo de Israel ainda na luta contra o inimigo. O
conhecimento, natural, da época, era o de que o Sol é que girava ao redor da terra. O Senhor não
poderia revelar a Josué que era a terra que deveria parar [o tema da Oração continha um erro
científico]. Tal revelação, na época, causaria mais confusão que esclarecimento. O Senhor parou a
terra e o milagre aconteceu. Esse erro, no registro Bíblico, não prejudica em nada a sua
espiritualidade e divindade.
A Bíblia afirma que “nunca jamais qualquer profecia foi entregue por vontade humana,
entretanto, homens santos falaram, da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo 15”. Em Números
23.19 temos a afirmação de que “Deus não é homem para que minta e nem filho de homem para que
se arrependa”. O compromisso Bíblico é espiritual e divino e não humano ou científico. Os possíveis
erros encontrados em seus registros, sempre, estarão relacionados ao lado humano [a questão do
Duplo Autor] e não às profecias e revelações espirituais.
Sei que alguns estudantes diriam: “O importante é ter um Cristo que salva, batiza com o
Espírito Santo e que leva para o céu”; pois, preferem não se envolverem em discussões desse tipo.
Porém, estamos em uma Escola Teológica e esses temas “Acadêmicos” fazem parte do nosso
“universo de estudos”.
Outra questão é a de que, algumas vezes, alguns textos Bíblicos parecem entrar em atrito
com outros textos já mencionados. Temos, na Bíblia toda, a afirmação permanente de que o Senhor
é Onisciente [sabe todas as coisas], Onipotente [tem todo poder] e é Onipresente [está em todos
lugares]. Portanto, toda a história do Universo está sob o SEU controle. Nada o surpreende ou
decepciona. O futuro, para ELE, é como o dia de ontem que passou. Um SER assim, não se arrepende
de nada do que faz. Como lidar com a frase Bíblica que diz que “o Senhor se arrependeu de ter criado
o homem”. É um tema que só podemos atribuir à questão do Duplo Autor. Para defender a seriedade
e a superioridade da Bíblia em comparação a qualquer outro livro, existe uma base filosófica-
cientista interessante. R. C. Sproul fala:
Premissa A: A Bíblia é um documento confiável e digno de crédito.
Premissa B: Com base nesse documento confiável, temos provas suficientes para crer que:
- Jesus Cristo afirmou ser o Filho de Deus16.
- ELE forneceu, em todos os sentidos, provas para que a sua afirmativa fosse aceita como totalmente
verdadeira17.
Premissa C: Jesus Cristo, como o verdadeiro filho de Deus encarnado, não pode ser contraditado 18.
Premissa D: Jesus confirma a autoridade das Escrituras e a defende como A PALAVRA DE DEUS.
Premissa E: Por tudo que temos visto e ouvido, o SENHOR JESUS e a PALAVRA DE DEUS [escrita] são
totalmente, dignos de confiança.
Conclusão: Baseada na autoridade do Senhor Jesus Cristo, a Igreja acredita que a Bíblia é a
verdadeira PALAVRA DE DEUS e digna de toda a nossa confiança.
“A história mostra que a utilização de princípios errados prejudicou o trabalho exegético de grandes homens, alguns
dos quais foram santos extraordinários. Este fato deve servir de alerta para nós contra a interpretação descuidada.
19
Temos ainda menos desculpas pelo fato de podermos aprender com as lições do passado.”
Depois de completar o estudo desse tópico, o estudante deve poder localizar os mais
importantes pressupostos e princípios evangélicos encontrados em cada um dos seguintes períodos
de interpretação Bíblica:
❶ Exegese Judaica Antiga
❷ Uso do Antigo Testamento pelo Novo Testamento
❸ Exegese Patrística
❹ Exegese Medieval
❺ Exegese da Reforma
❻ Exegese pós Reforma
❼ Hermenêutica Moderna
No transcurso dos séculos, desde que Deus revelou as Escrituras Sagradas, tem havido
diversos métodos para se estudar a palavra de Deus. Os intérpretes mais ortodoxos têm valorizado a
interpretação literal pretendendo, com isso, interpretar a Bíblia como se interpreta qualquer outra
comunicação escrita, normal. Outros preferem o método alegórico e, sem disciplina, trazem à tona
19
A. Berkeley MICKELSEN, Interpreting the Bible, Grand Rapids, Eerdmans, 1963, p. 20.
14
APOSTILA de HERMENÊUTICA
situações inexistentes. Um terceiro grupo supervaloriza letras e palavras, do texto Bíblico, tomando-
as individualmente, como possuidoras de significados secretos que precisam de interpretações.
Tomarmos conhecimento, disso, é importante porque passamos, a saber, que o nosso
método ou nossa maneira de interpretar as Escrituras não é o único existente. Um entendimento dos
pressupostos de outros métodos nos proporciona uma perspectiva mais equilibrada e uma
capacidade para um diálogo mais significativo com os que creem em interpretações através de
métodos diferentes dos que cremos e usamos.
20
(50?-132 d.C.) Líder de uma escola para rabinos em Jaffa, na Palestina.
21
Enfoque indevido às letras
22
(20 a.C – 54 d.C.) É o alegorista judeu-alexandrino mais famoso. Sofreu influência da filosofia grega, mas como era um judeu devoto, procurou
defender o AT contra os gregos e seus companheiros judeus.
15
APOSTILA de HERMENÊUTICA
2. Se a declaração parece ser contraditória a outra declaração das Escrituras.
3. Se o próprio registro já demonstra que o texto é uma alegoria.
4. Se as expressões tem duplo sentido ou são expressões supérfluas.
5. Se há repetição de algum ensino ou doutrina já conhecido.
6. Se se empregam sinônimos.
7. Se está claro que é um jogo de palavras.
8. Se houver algo anormal (para época) em número e tempo (verbal).
9. Se há presença de tipos e símbolos.
Contudo, o alegorizar23 excessivo de Filo e seus contemporâneos não foi benéfico para uma
interpretação saudável. Todos os que desejavam conciliar os textos Bíblicos com a Filosofia Grega,
priorizaram a alegorização e entraram por um caminho perigoso.
Tal cronologia aponta para um fator importante no estudo da Patrística, o forte vínculo entre o
trabalho dos Pais e a formação do Dogma, da Doutrina Oficial da Igreja Cristã. Além da ênfase na
formação doutrinária, o trabalho dos Pais da Igreja tem um forte apelo à comunicação do Evangelho
fora da Igreja.
A. CLEMENTE DE ALEXANDRIA (150 a 215 d.C): Um grande exegeta patrístico. Acreditava que as
Escrituras ocultavam seu verdadeiro significado a fim de que fôssemos inquiridores e, também,
porque não é bom que todos a entendam. Ele desenvolveu um método de Cinco Sentidos Ligados as
Escrituras: Histórico, Doutrinal, Profético, Filosófico e Místico. Isto só seria possível a quem
entendesse o sentido mais profundo.
B. ORÍGENES (185? a 254? d.C.): Foi o notável sucessor de Clemente. Ele cria serem as Escrituras uma
vasta alegoria, na qual cada detalhe é simbólico. Dava grande importância a I Coríntios 2. 6-7 “...
falamos a sabedoria de Deus EM MISTÉRIO”. Acreditava que assim como o homem se constituiu de
três partes: corpo, alma e espírito; as Escrituras, também, possuem três sentidos. O corpo é o
sentido literal. A alma é o sentido moral. O espírito seria o sentido alegórico e místico. Na prática,
23
Procurar um sentido oculto ou obscuro que se acha por trás do significado mais evidente do texto, mas está distante e na verdade dissociado.
24
(100-600 d.C.)
25
Patrística é o nome que se dá ao estudo dos textos e obras dos chamados Pais da Igreja, líderes e teólogos que foram responsáveis pelo
desenvolvimento da estrutura e do pensamento do Cristianismo nos primeiros séculos da história da Igreja.
16
APOSTILA de HERMENÊUTICA
ele foi um grande alegorista, pois dizia que só esse sentido nos conduziria ao verdadeiro
conhecimento, desprezando o sentido literal.
C. AGOSTINHO (354 a 430 d.C.): Em termos de originalidades e gênio, ele foi de longe o maior
homem de sua época. Em seu livro sobre a Doutrina Cristã, ele estabeleceu diversas regras para
interpretação das Escrituras, algumas das quais estão em uso até hoje. Entre suas regras,
encontramos as seguintes, conforme resumo de Ramm:
1. O interprete deve possuir fé Cristã autêntica.
2. Deve-se ter em alta conta, o significado literal e histórico das Escrituras.
3. As Escrituras têm mais de um significado e, portanto, o método alegórico é adequado.
4. Há significados (ocultos) nos números Bíblicos.
5. O Antigo Testamento é documento cristão porque Cristo está retratado nele do princípio ao fim.
6. Compete ao expositor entender o que pretendia dizer, e não introduzir, no texto, o significado que ele, expositor,
quer dar.
7. O intérprete deve consultar o verdadeiro “Credo” Ortodoxo.
8. Um versículo deve ser estudado em seu contexto, e não isolado dos versículos que o cercam.
26
9. Se o significado de um texto é obscuro, nada, na passagem, deve constituir matéria de fé ortodoxa .
10. O Espírito Santo não toma o lugar do aprendizado necessário para se entender as Escrituras. Portanto, o
intérprete deve conhecer o Hebraico, o Grego, a Cultura, a Política, a Religião, a Geografia, etc.
11. O texto obscuro deve ser substituído por um texto claro.
12. O expositor deve entender que as Revelações, Bíblicas, são progressivas.
Na prática, Agostinho, também, alegorizou demais. Esta prática fez com que seus escritos não
tivessem grande valor exegético ou hermenêutico. Ele justificava sua atitude citando II Coríntios 3.6:
Porque a letra mata e o Espírito vivifica. Ele dizia que a interpretação Literal matava o texto e quem a
usava. A alegoria é espiritual e vivifica quem usa. Sua opinião e seus ensinos predominam em toda a
Idade Média. A influência de Agostinho no desenvolvimento de uma exegese científica foi mista. Na
teoria, ele sistematizou muito dos princípios hermenêuticos para uma exegese sadia. Na prática,
porém, deixou de aplicar esses princípios em seus estudos da Bíblia.
26
Doutrina.
27
Baseada em autoridade de dogmas.
28
(600-1500 d.C.)
17
APOSTILA de HERMENÊUTICA
interpretação Bíblica, era o que prevalecia. Circulou uma quadra, baseada nesse sentido, que se dizia
existir em todos os textos Bíblicos:
a. A LETRA mostra-nos o que Deus e os nossos pais fizeram.
b. A ALEGORIA mostra-nos onde está oculta a nossa fé.
c. O significado MORAL dá-nos as regras para nossa vida diária.
29
d. A ANAGOGIA mostra-nos onde terminamos nossa luta.
Podemos usar os possíveis sentidos para a “Cidade de Jerusalém”, como exemplo da quadra:
a. Literalmente, ela é a capital histórica de Israel.
b. Alegoricamente, pode simbolizar a Igreja do Senhor Jesus.
c. Moralmente pode significar a alma humana.
d. Anagogicamente aponta para a “Cidade Santa”.
Nesse período, aceitou-se s princípio de que as interpretações estavam presas e regidas pela
tradição e pelos dogmas da Igreja Cristã. A fonte da Teologia dogmática não era só a Bíblia, mas
também a Tradição da Igreja Católica Romana. No último período da Idade Média, os “Cabalistas”,
na Europa e na Palestina, continuaram na tradição do primitivo misticismo Judaico. Os Rabinos (e
outros) levaram a prática do letrismo ao ridículo. Acreditavam que cada letra e, até, cada possível
transposição ou substituição de letras, tinham significado sobrenatural. Os Judeus Espanhóis, porém,
dos séculos XII ao XV, lutavam para que o método Histórico-gramatical voltasse a ser praticado.
Nicolau de Lyra30 foi um homem que causou significativo impacto sobre o retorno ao Método Literal.
Ele afirmava que só este método poderia servir como base doutrinária. Há quem afirme que, sem
sua influencia, Lutero não teria dado início a Reforma.
A. LUTERO (1483 a 1546): Lutero acreditava que a fé e a iluminação do Espírito Santo eram
requisitos, indispensáveis, para uma boa interpretação da Bíblia. Asseverava que a Palavra do Senhor
devia ser estudada de maneira distinta daquelas que usamos para estudar outros textos literários. “A
Igreja, dizia ele, não deve determinar o sentido que as Escrituras dizem ou ensinam (Teologia
Dogmática), e sim, as Escrituras é que diz o que a Igreja deve fazer ou ensinar”. Rejeitou o excesso do
método alegórico e o chamou de sujeira, escória e trapo obsoleto. A Igreja Católica Romana dizia que
as Escrituras eram obscuras e de difícil entendimento (só “ela” podia interpretá-la). Lutero afirmava
e defendia, exatamente, o contrário. Lutero viu-se forçado a criar um método Cristocêntrico para
que o Antigo Testamento continuasse sendo um Documento Cristão (após ele ter desprezado o que
dizia o método alegórico). Esse “Princípio Hermenêutico” de Lutero viu “textos Messiânicos”, no
Antigo Testamento, onde Cristo não estava (por exemplo, alguns Salmos que ele designou como
Messiânicos sem que o fossem). Seu princípio “Cristológico”, porém, ajudou-o a defender a “Unidade
29
Escatologia.
30
(1270? – 1340?)
31
Século XVI
32
Iniciou no século XIV na Itália e invadiu o século XVII, constituiu no reavivamento do interesse pela literatura clássica, até mesmo pelo hebraico
e grego.
18
APOSTILA de HERMENÊUTICA
das Escrituras” (Velho Testamento) sem precisar do método alegórico. Ele dizia que o intérprete
devia fazer perfeita distinção entre a Lei e a Graça: “A Lei refere-se ao Senhor em sua ira, seu juízo e
seu ódio contra o pecado. O Novo Testamento revela o Senhor em sua Misericórdia, Amor e graça”.
“Criticar e abandonar o Antigo Testamento é um erro”, dizia ele. Ensinava que o estudante deveria
ter discernimento para reconhecer o papel específico de ambos (Antigo e Novo Testamento).
Melanchton, discípulo de Lutero, continuou com as aplicações do seu método Hermenêutico,
sustentando e expandindo a obra do seu Mestre.
B. CALVINO (1509 a 1564): O maior exegeta da Reforma foi, sem dúvida, Calvino. Ele concordava
com os princípios articulados por Lutero. Chamava a interpretação alegórica de artimanha de
satanás. “As Escrituras interpretam as Escrituras”, era a sua sentença predileta. Segundo ele, o
estudante deve estudar o contexto, a gramática, as passagens paralelas, a história e a cultura em vez
de trazer para o texto o significado que o próprio intérprete quer dar. Em uma das suas famosas
sentenças, ele declara: “A primeira tarefa de um Exegeta é deixar que o autor diga o que ele, na
verdade, quer dizer, em vez de lhe atribuir o que acha que ele deva dizer”. Calvino não concordava
com a Cristologia Luterana. A despeito de algumas diferenças, os princípios Hermenêuticos
Sistematizadores por esses Reformadores, haveriam de tornarem-se os grandes princípios
norteadores para Moderna Interpretação Protestante Ortodoxa.
B. PIETISMO: Surgiu como reação à exegese dogmática e, muitas vezes, amarga do período
Confessional. Phillipp Jakob Spener (1635 a 1705) é considerado o líder do Avivamento Pietista. Em
um folheto intitulado “Anseios Piedosos”, ele pediu o fim da “guerra” inútil, o retorno aos interesses
Cristãos mútuos e as boas obras; maior conhecimento da Bíblia por parte dos que se dizem Cristão e
melhor e maior preparo Espiritual para os que almejam o Ministério. A. H. Francke tipificou muitos
dos ensinos aconselhados pelo folheto. Além de ser erudito linguista e exegeta, Spener foi ativo na
formação de muitas instituições destinadas aos cuidados dos desamparados e enfermos. Envolveu-
se, também, na organização do trabalho Missionário para a Índia. Os Pietistas eram sinceros, zelosos
e verdadeiros. Buscavam, sempre, entender e praticar os ensinos da Palavra do Senhor. Contudo,
alguns Pietistas, mais recentemente, descartaram a base da interpretação Histórico-gramatical, e
passaram a depender de uma luz interior ou de uma Unção do Santo. Essas manifestações, baseadas
em impressões subjetivas e reflexões piedosas, muitas vezes, resultaram em interpretações
contraditórias e que pouca relação tinha com o significado real do texto.
C. RACIONALISMO: Posição Filosófica que aceita a razão como a única autoridade que determina as
opções ou curso de ação de alguém. Surgiu como importante modo de pensar, durante esse período,
e causou profundo efeito sobre a Teologia e a Hermenêutica. Durante vários séculos atrás, a Igreja
33
(1550-1800)
19
APOSTILA de HERMENÊUTICA
havia acentuado a racionalidade da fé. Considerava a revelação superior à razão como meio para se
entender a verdade. Lutero estabeleceu distinção entre o uso Magisterial e o Ministerial da razão.
Por uso Ministerial da razão, se entendia o uso da inteligência humana para ajudar a entender e
obedecer, mais plenamente, à Palavra do Senhor. Por uso Magisterial, se entendia o uso do
raciocínio humano para julgar e criticar a Palavra do Senhor. Ele era um praticante da primeira
(Ministro) e um adversário da segunda. Porém, após alguns anos do surgimento da Reforma
Protestante, o uso Magisterial da razão passou a emergir como nunca antes. Surgiu o Empirismo,
crença de que o único conhecimento válido que possuímos, é o que obtemos através dos cincos
sentidos e “deu às mãos” ao Racionalismo. Essa união significava:
a. Muitos pensadores alegavam que a razão e não a revelação deveria orientar nossos pensamentos e ações.
b. Que a razão deveria julgar que partes da revelação eram aceitáveis e praticáveis para os fiéis (aceitavam somente
as que podiam ser confirmadas, Empiricamente).
34
1800 até o presente século.
20
APOSTILA de HERMENÊUTICA
inerrância não tem lugar no vocabulário Neo-ortodoxo (a escrita é humana e, portanto falível e
sujeita a erros). Os temas que os Racionalistas condenam, eles explicam da seguinte maneira:
a. Pode, por si mesmo, realizar ou alcançar a sua redenção ou salvação. Ela vem do além, como um ato. A queda, ou
Pecado Original, quer nos mostrar que o homem, inevitavelmente, é corrupto em sua natureza moral.
b. A encarnação (Nascimento Virginal), morte e ressurreição, de Jesus, quer nos informar que o homem não pode
realizar sua própria salvação, mas que ela deve vir do além como ato da graça de Deus.
Para eles, a principal tarefa do intérprete é, portanto, “despir o mito dos seus envoltórios
históricos, a fim de descobrir a verdade existencial que ele contém”.
C. A NOVA HERMENÊUTICA: Tem sido, antes de tudo, uma criação Européia a partir da Segunda
Guerra Mundial. Emergiu, basicamente, dos escritos de Bultmann, e foi levado adiante por Ernst
Fuchs e Gerhard Ebeling. Muito do que foi dito com vistas à Neo-ortodoxia, aplica-se, também, a esta
categoria de interpretação. Baseando-se na obra do Filósofo Martin Heidegger, Fuchs e Elbeling
afirmaram que Bultmann não foi longe o suficiente. A linguagem, afirmam eles, não é a realidade;
mas, apenas, uma interpretação pessoal (de quem escreve ou fala) da realidade. O uso da linguagem
é, pois, uma Hermenêutica dos fatos.
7. ANÁLISES HERMENÊUTICAS
Com base na suposição de que um autor é um comunicador que sabe transmitir suas ideias,
estudamos o pressuposto fundamental da teoria hermenêutica, segundo o qual o significado de um
texto deve ser o que o autor lhe quis dar e não o que alguns lhe desejam atribuir. A completa técnica
de Interpretação Bíblica e sua Aplicação, que se divide em seis passos:
35
Lexicologia
21
APOSTILA de HERMENÊUTICA
7.3. Análise Teológica:
Estuda de compreensão teológica na época da Revelação, a fim de averiguar o significado do
texto para os seus primitivos destinatários. Assim sendo, ela leva em conta os contextos bíblicos
relacionados, anteriormente e posteriormente ao texto em estudo.
7.5. Comparação:
A comparação com outros intérpretes almeja conseguir uma interpretação coerente e
atualizada com a época em questão.
7.6. Aplicação:
A Aplicação é um importante passo, que traduz o significado de um texto Bíblico para seus
primeiros ouvintes ou leitores, com o mesmo significado que ele tem, hoje, para os crentes em
qualquer cultura ou língua.
Não se pode interpretar o significado de um texto, com certa precisão, sem a análise
Histórico-cultural e Contextual. Os dois exemplos abaixo mostram a importância dessa análise:
Em Provérbios 22.28 encontramos a seguinte ordenança: “Não remova os marcos antigos
que puseram teus pais”. Qual o significado desse texto?
A. [ ] Não mudar a maneira de se fazer as coisa.
B. [ ] Não roubar.
C. [ ] Não remover os marcos que orientam os viajantes, de cidade para cidade.
Se você escolheu a letra A ou a letra C, certamente, foram essas “verdades” que o texto, a
princípio, te revelou. Porém, a real interpretação do texto está em saber o que ele significava para o
autor. A resposta certa é a letra B. O marco significava o poste que indicava o fim de uma
propriedade de uma pessoa e o início da propriedade de outra pessoa. Se você removesse esses
marcos, entraria em propriedade alheia [muitos o faziam para roubar um pouco das terras do outro].
Era um tipo específico de roubo. Esse exercício nos informa que se não tivermos conhecimento do
ambiente e da formação do autor, fornecidos pelos estudos da Análise Histórico-cultural e
Contextual, nossa tendência é interpretar, o texto, da maneira como ele se apresenta para nós [o seu
significado segundo o meu entendimento].
Nossa interpretação só é válida se soubermos o que o texto significava para o escritor. As três
perguntas, seguintes, são básicas para a Análise Histórico-cultural e Contextual:
Qual o ambiente histórico geral em que o escritor está falando?
Qual o contexto histórico-cultural específico, e a finalidade dos seus escritos?
Qual o contexto seguinte do texto que está sendo estudado?
36
Sintaxe
22
APOSTILA de HERMENÊUTICA
Para se ter um pouco mais de segurança no significado do texto em questão, ainda temos
três perguntas secundárias:
Qual a situação histórica geral, com a qual convive o autor e o seu público [ouvinte e leitor]?
Quais eram as situações políticas, religiosas, econômicas e sociais do momento?
Quais eram as principais ameaças e preocupações, dos envolvidos na época em que o texto foi escrito?
Em Marcos 7 Jesus critica aos Fariseus pelo conceito que tinham de Corbã. Nessa prática, um
homem poderia declarar que ao morrer, todos os seus bens e dinheiro iriam para o templo. Era uma
oferta dele para o Senhor [independente de sua família, a partir daí, passar a ter dificuldades para
sobreviver]. Essa tradição Farisaica invalidava os mandamentos do Senhor com relação aos cuidados
que se deve ter com a família. Sem o conhecimento dessa prática cultural, o estudante não teria a
noção plena da ira e repreensão de Jesus.
Quando Cristo enviou dois dos seus discípulos à procura de um lugar em que pudessem
preparar a Páscoa, na noite anterior à sua crucificação, ELE os enviou com instruções inequívocas.
Jesus sendo perseguido, porém, queria ter um último momento com os seus discípulos, de paz e
tranquilidade [para cearem juntos]. Em Marcos 14.12-14 Jesus diz que eles encontrariam um homem
com um cântaro de água e que deveriam segui-lo. Naquela época na Palestina, homem não
carregava cântaro de água [era desonroso]. Não era difícil encontrar o homem e segui-lo. Pois bem,
para uma boa compreensão do texto que se estuda, é razoável possuir um bom Comentário
Exegético. Eles costumam trazer essas informações culturais.37
37
As Bíblias de estudos costumam conter essas informações bem condensadas.
38
Entre parênteses.
39
Que exorta.
23
APOSTILA de HERMENÊUTICA
8.2. Desenvolvendo Uma compreensão do Contexto Imediato:
Como método de estudo bíblico, citar textos para efeito de provas é afastado a plano
secundário. Os textos e seus contextos devem ser valorizados e respeitados. Algumas perguntas
deverão surgir daí:
Como a passagem que estamos organizando contribui para a corrente de argumentação que
beneficia a posição do autor? Há ligação entre essas e os “blocos” anteriores ou posteriores
[ligação lógica ou teológica]?
O que constitui o núcleo do ensino, do texto, e o que representa, apenas, detalhes incidentais?
Algumas das principais heresias da História da Igreja Cristã têm sido sustentadas por exegeses que
deixaram de considerar esse ensinamento. Veja como os Pelagianos40 viam a parábola do Filho
Pródigo: “Se o filho pródigo fez a escolha errada e pecou e, depois, sozinho, se arrependeu e voltou
para o pai; o ser humano não precisa de ajuda ou de um mediador para se arrepender e voltar ao
verdadeiro caminho”.
40
(V século da Era Cristã)
24
APOSTILA de HERMENÊUTICA
Um procedimento Hermenêutico saudável é perguntar:
● 1. Quem está falando nesse texto Bíblico [Deus, o homem ou satanás]?
● 2. O ensino é Universal [para todos] ou está destinado a um grupo específico?
41 42
● 3. O texto está no Antigo ou no Novo Testamento .
Alguns comentaristas e pregadores espiritualizam as promessas e ordens do Senhor, para os
filhos de Abraão segundo a carne [Israel]. Que fique claro, para o estudante, que a Nação de Israel
nasceu na terra, com uma missão e um papel terrestre, com área geográfica [física] e necessidade de
muitos recursos materiais [riqueza]. A Igreja é fruto da chegada do “REINO DE DEUS”. Ela não é do
mundo. Ela será arrebatada antes do apogeu do reino do mundo [governo do anticristo]. Os filhos de
Abraão segundo a carne, apesar de nessa Era da Igreja, estar debaixo de maldição espiritual43 estão
cada vez mais ricos e poderosos, em todo o mundo. O próximo papel deles [missão] necessita que
seja assim.
Após o arrebatamento de Igreja, eles serão o braço direito do governo do falso Messias e, no
tempo certo, se levantarão contra ele. Portanto, espiritualizar que a Igreja é cabeça e não cauda ou
que onde a Igreja pisar a planta do pé lhe tem sido dado [conquista do poder aos “crentes
materialistas mais Judeus do que, Igreja]. Porém, os textos para a Igreja são esses:
● “No mundo terei aflição”
● “Se formos amigos desse sistema, somos inimigos do Senhor”
● “Somos peregrinos nessa terra. Nossa Pátria está nos Céus”.
● “Não podemos servir a dois Senhores. Não podemos servir a Deus e as riquezas”
● “Não serão muitos os ricos e poderosos, entre vós”
O Senhor ocultou o Mistério da Igreja aos grandes, sábios e entendidos e os revelou aos
pequeninos [pequenos porque sempre serão rejeitados por esse sistema que, também, rejeitou o
nosso MESTRE].
... RESUMINDO:
Determinar o ambiente geral, histórico e cultural do autor humano e do povo para quem está falando.
Discernir o conteúdo espiritual da mensagem.
Identificar o propósito do autor humano ao escrever tal texto [os problemas omitidos e os enfocados].
Entender qual a visão da mensagem do texto. Se numenológica44 ou se fenomenológica45.
Distinguir entre verdades descritas e verdades prescritivas. Textos que descrevem fatos e paisagens e textos que
ensinam e revelam a vontade do Senhor, para nós.
Diferenciar, no texto, o que são verdades centrais e o que são detalhes da narrativa.
Ter em mente que o Antigo Testamento foi escrito para o povo de Israel. Somente algumas exceções e profecias
(para o futuro) pertencem o podem se aplicar aos Cristãos.
9. ANÁLISE LÉXICO-SINTÁTICA
41
Os textos do Antigo Testamento, quase sempre, se destinam ao povo Judeu.
42
Os textos do Novo Testamento são, indiscutivelmente, para os Cristãos [Igreja].
43
Só se livram dela se aceitarem a Cristo e se tornarem Igreja também.
44
Divina, verdadeira e real
45
Aparência das coisas, humana e falível
46
Lexicologia
47
Sintaxe
25
APOSTILA de HERMENÊUTICA
Devemos identificar quando o texto deve ser interpretado literalmente, figurativamente ou
simbolicamente.
Quando o Senhor Jesus afirma: “Eu sou a porta”, “Eu sou a videira”, “Eu sou o pão da vida”,
“Eu sou o caminho”... Como entendemos essas afirmações? Pertence a Linguagem Figurada.
Quando ELE diz: “acautelai-vos do fermento dos Fariseus”, ELE deseja que a palavra
“fermento” simbolize as “doutrinas dos Fariseus”.
Ao ordenar ao paralítico: “Levanta-te, toma o teu leito e vai para a tua casa”; ELE deseja ser
entendido Literalmente.
Portanto, temos que, através dos contextos, informações e técnicas, saber identificar a
intenção do personagem do texto estudado.
Se eu te digo: “Nosso colega está verde”: Essa afirmação poderia significar:
A. Ele é muito novo e inexperiente.
B. Ele está doente.
C. Ele está com raiva ou assustado.
Minha afirmação poderia significar qualquer uma dessas alternativas. O que daria, ao
estudante, a possibilidade de escolha sobre minha intenção real ao usar tais palavras? A observação,
minuciosa do texto e do seu contexto [escrito ou presente no fato quando a afirmação fora feita] me
permitirá fazer a escolha certa.
A Análise Léxico-sintática ajuda o intérprete a determinar a variedade de significado de uma
palavra ou de um grupo de palavras e, então, declarar que o significado X é mais provável que o
significado Y ou Z para ser a intenção real do autor, no texto estudado.
Alexander Carson diz: “Homem algum tem o direito de dizer: ‘O Espírito Santo me diz que o
significado do texto tal e tal.’ Como ele poderá ter segurança que é o Espírito do Senhor ou um
espírito enganador, a não ser pela evidência da própria Palavra [contexto e fatos]?”
John A. Broadus disse: “É fato lamentável que certos Cristãos, aparentemente sérios e
verdadeiros, usem de certos recursos, para estudar a palavra do Senhor, que foram os mesmos
usados por homens como o que deu origem a Igreja dos mórmons ou o que deu origem às
testemunhas de Jeová.”
Se não seguirmos as orientações desta Análise, nunca teremos certeza de que nossa
interpretação é o significado que Deus e o seu “parceiro humano” queria que o texto tivesse. Nunca
teremos base para afirmar que nossa interpretação, da Bíblia, é melhor que as interpretações de
hereges contrários a Deus.
26
APOSTILA de HERMENÊUTICA
5. Determinar o significado, isolado, da palavra: Qualquer palavra usada por muitos séculos, em um
idioma, passa a assumir, muitas vezes, mais de um significado. É necessário procurar os significados,
possíveis, da palavra em questão e, através do contexto e do tema do texto, procurar definir a sua
interpretação.
6. Analisar a sintaxe: A relação das palavras entre si se expressa por meio de suas formas e
disposições gramaticais.
49
Na localização dos textos
50
Mudança de tema ou de importância
51
Ou palavras que tenham o mesmo significado ou um significado próximo
27
APOSTILA de HERMENÊUTICA
Para termos ideia da importância do que estamos falando, vamos citar o exemplo da palavra
Grega sarx, ela pode significar:
A. A parte sólida do corpo, sem serem os ossos [carne] = I Coríntios 15.39
B. A substância geral do corpo = Atos 2.26
C. A natureza sensual do homem = Colossenses 2.18
D. A natureza humana, dominada pelo pecado original = Romanos 7.19
Se o termo usado no texto de João 6.53 fosse traduzido do Aramaico para o Grego com o
significado da letra C ou D, como ficaria a palavra do Senhor Jesus? Em II Timóteo 3.16-17 lemos que
a palavra de Deus nos foi dada para que “... o homem de Deus seja perfeito...”. Que é que o autor
quer dizer com a palavra “perfeito”? Será que ele quer dizer sem falhas e sem pecado? A melhor
resposta é dada pelo contexto: “... e perfeitamente habilitado para toda boa obra”. A ideia, do autor,
é que a Palavra do Senhor nos dá conteúdo, suficiente para sermos uma pessoa piedosa e com
“senso de justiça”.
A palavra Grega moranthei, usada no texto de Mateus 5.13 pode significar “tornar-se
insípido” ou “tornar-se tolo”. O que vai dizer qual o significado no texto em questão é o seu contexto
e o tema da mensagem. O Paralelismo52 é muito usado em poesia. Se o texto estudado for poético,
devemos ficar atentos. O Paralelismo Hebraico pode ser classificado em três tipos:
A. Sinonímico: A Segunda linha, de uma estrofe, repete o conteúdo da primeira com palavras
diferentes [sinônimas] = Salmos 103.10
B. Antitético: A ideia da segunda linha contrasta [é oposta] à ideia da primeira = Salmos 37.21
C. Sintético: A segunda linha vai mais longe ou explica melhor o que diz a primeira = Salmos 14.2
Se o texto, em estudo, for poético, devemos conhecer e aplicar essas classificações. Elas nos
ajudarão a entender melhor a mensagem.
Devemos, também, ficar atentos com as “figuras de linguagem”. Elas, frequentemente, se
tornam “expressões idiomáticas” na história e cultura do povo em questão. Eis algumas da língua
Portuguesa:
1 – “Ele tem os olhos maiores que a barriga”. Entende o significado?
2 – “Antônio pôs água na fervura”. Entende o significado?
3 – “Estou quebrado”. Entende o significado?
4 – “O termômetro está subindo”. Entende o significado?
5 – “O motor do carro morreu”. Entende o significado?
6 – “Tomei o ônibus”. Entende o significado?
7 – “De grão em grão a galinha enche o papo”. Entende o significado?
Se você, como estudante, conhece o idioma, porém, não conhece o dia-a-dia da língua, como
poderá interpretar expressões idiomáticas? As figuras de linguagem são usadas, naturalmente, pelos
autores, para serem interpretadas literalmente53. E aí, como lidar com esse problema? Se eu fosse
examinar a frase seguinte, tecnicamente, onde iria parar? “Ele disse cobras e lagartos”. No entanto,
popularmente: “ele disse palavrões ou palavras chulas”. Se não buscarmos conhecer as figuras de
linguagem, ou seja, as expressões idiomáticas dos tempos bíblicos54, nossa tradução prestará um
desserviço à Palavra do Senhor.
Conheça os cinco modos de se averiguar o significado real:
● 1. Examinar as DEFINIÇÕES ou EXPLICAÇÕES dadas pelo autor.
● 2. Usar o SUJEITO e o PREDICADO para se explicarem um ao outro, mutuamente.
● 3. Examinar o PARALELISMO se houver, no texto em questão.
52
O idioma Hebraico, em suas poesias, é rico nessa prática
53
E elas são linguagem popular, de simples e fácil significado
54
Muito usadas pelos Profetas
28
APOSTILA de HERMENÊUTICA
● 4. Procurar saber se o texto possui FIGURAS DE LINGUAGEM ou EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS.
● 5. Estudar textos e passagens com o MESMO OBJETIVO e SIGNIFICADO.
9.6. Sintaxe:
A língua portuguesa é ANALÍTICA: A ordem das palavras é um guia para o significado. Os
substantivos, normalmente, precedem os verbos, os quais, normalmente, precedem os
complementos. O Hebraico é, também, uma língua ANALÍTICA, porém, muito menos que o
português. O Grego, ao contrário, é uma língua SINTÉTICA. A ordem das palavras não significa muito,
mas, sim suas terminações [das palavras e dos textos].
As Bíblias Interlineares contém o texto Hebraico ou Grego com a tradução impressa entre as
linhas. Justapondo-se os dois conjuntos de palavras, elas capacitam ao estudante indicar, facilmente,
o significado da palavra. Muitas vezes a palavra do texto é uma variação da forma radical da palavra.
Um Léxico Analítico faz duas coisas fundamentais:
1. Aponta a palavra primitiva ou o radical da qual a palavra, no texto, é uma variante.
2. Indica qual parte do discurso é a variação.
EXEMPLO: Se a palavra do texto Grego é thumon, o Léxico Analítico Grego verificará que esse é o acusativo singular
da palavra thumos, que significa raiva ou ira.
Se desconhecermos o significado da expressão acusativo singular, que descreve a forma de
uma palavra será valioso ter uma Gramática Hebraica ou Grega. Elas explicam as várias formas que
as palavras podem tomar em suas respectivas línguas.
Depois de tantos anos a hermenêutica e a exegese tem esgotado todos os tipos de pesquisas
e técnicas, possíveis, para uma boa interpretação. Cuidado para não se sentir tentado a inventar a
pólvora na hermenêutica e querer trazer novas descobertas aos significados históricos, presentes. O
estudante deve fugir, também, da vaidade de querer mostrar conhecimento em suas pregações. Isso
será notado se a sua palavra trouxer verdades profundas e espirituais para os seus ouvintes, e não
por suas citações do Grego, do Hebraico ou de técnicas da hermenêutica ou da exegese.
29
APOSTILA de HERMENÊUTICA
11. MÉTODOS LITERÁRIOS ESPECIAIS [Parábolas, Provérbios, Alegorias, Figuras de Linguagem]
11.1. Parábolas:
Provém do Grego parabollo que significa lançar ou colocar ao lado se. Assim, a Parábola é
uma estória que se coloca ao lado de outra coisa para efeito de comparação. Podem ser entendida
como Símile ampliado. É, normalmente, uma estória que nos passa um ensinamento, explícito.
A Parábola típica se utiliza de um evento comum da vida diária, para acentuar ou esclarecer
uma importante verdade espiritual. O Senhor Jesus fez muito uso desse tipo de ensinamento55. É
muito útil para uma boa compreensão do que se deseja ensinar. Ela revela verdades, aos crentes 56.
Deixa impressões duradouras. Maior que as deixadas por uma pregação.
A Parábola do Fariseu e do Publicano57, é uma grande lição para rejeitarmos a arrogância, o
orgulho e o legalismo nos colocarmos diante do Senhor com um coração humilde e quebrantado,
que jamais será rejeitado. É um ensinamento simples e inesquecível.
As Parábolas também confrontam os erros em nossa maneira de crer e de viver. O Profeta
Natã confrontou o Rei Davi, através de uma Parábola58.
Às vezes, a Parábola pode ter o propósito de ocultar certas verdades dos indignos de
conhecê-las. Há tempo para tudo debaixo do Céu. Há pessoas que, por sua posição de rebeldia atual,
só se prejudicaria ao tomar conhecimento de verdades que não aceitaria nem praticaria. Por pura
misericórdia, do Senhor, ELE usa Parábola com essa finalidade [ocultar a verdade] para que ao não
entender não se façam mais pecadores e indignos do perdão de Deus. No tempo certo, tomarão
conhecimento das verdades que necessitam para se salvarem.
EXEMPLOS:
1. Lucas 18.1-7
2. Mateus 13.3-8
3. Mateus 13.24-30
4. Lucas 18.10-14
Análise Literária da Parábola: Crisóstomo e Teofilacto argumentaram que há um único
ponto central em uma Parábola. O restante na narrativa é considerado cortina ou ornamento.
EXEMPLO: O ponto central da Parábola do Semeador é que haverá variedade de maneiras das
pessoas receberam a Revelação da Palavra de Deus [de acordo com cada coração]. A Parábola do
Joio, já nos informa que, no Reino de Deus, até o tempo do Senhor, o bem e o mal existirão, sempre.
Não se deve dar, aos detalhes, significados independentes do ensino central da Parábola.
11.2. Provérbios:
Walter C. Kaiser descreveu os Provérbios como ditos concisos, breves, estimulantes e com
uma pitadinha de sal. Alguns os consideram como bonitos slogans. Um dos maiores problemas da
religião é a falta de integração entre nossa crença teológica e o nosso viver diário. Os provérbios
55
Umas cinquenta, nos quatro Evangelhos
56
Mateus 13.10-12
57
Cobrador de impostos
58
II Samuel 12.1-7
30
APOSTILA de HERMENÊUTICA
podem proporcionar um importante antídoto, pois demonstram o que é a verdadeira religião [fé e
prática]. O foco principal do livro de Provérbios é o aspecto moral e prático, da Lei. São regulamentos
éticos da vida diária, redigidos em termos, universalmente, permanente. Os focos específicos
incluem sabedoria, moralidade, castidade, controle da língua, justiça, cuidado com as amizades e
sociedades. Sabedoria nas Escrituras, não é sinônimo de conhecimento. Ela começa com o Temor do
Senhor, que é reverência Àquele que é digno de ser louvado e adorado. A vida de sabedoria e
prudência procede dessa postura submissa à vontade de Senhor para todos os que creem em SUA
PALAVRA. Do ponto de vista interpretativo, é bom reconhecer que, devido a sua forma altamente
condensada, os Provérbios têm, em geral, um único ponto de comparação ou um princípio de
verdade para comunicar. Forçar um provérbio, em sua interpretação, resultará em ir além da
intenção do autor. Os Provérbios, portanto, comunicam um único pensamento ou comparação que o
autor tinha em mente.
11.3. Alegorias:
Assim como uma parábola é um símile ampliado, a alegoria é uma metáfora ampliada. Uma
passagem que tem causado muita perplexidade, aos evangélicos, é a alegoria, de Paulo, no capítulo 4
de Gálatas. Teólogos Liberais afirmam que Paulo usou métodos hermenêuticos ilegítimos, do seu
tempo. Com relação a essa passagem, diversos eruditos evangélicos tem adotado a posição de G. W.
Meyer, que diz: “Na conclusão desta parte teorética de uma Epístola, Paulo acrescenta uma,
bastante peculiar: Um argumento Alegórico-Rabínico erudito e derivado da própria Lei. Paulo fez isso
para aniquilar a influência dos pseudo-apóstolos, com suas próprias armas e desarraigá-los em seus
próprios terrenos”. Meyer considera, portanto, que Paulo usou essa alegorização, não para legitimá-
la como um método exegético válido, mas como um argumento contra seus adversários [judeus] que
usavam desse método, para transformar o uso correto da Lei em um sistema legalista.
Alan Cole parafraseia, a passagem, da seguinte forma:
“Digam-me, vocês não ouvem o que diz a Lei, vocês que desejam estar sob a lei como
sistema”? As Escrituras dizem que Abraão teve dois filhos, uma da esposa escrava e
outro da esposa livre. O filho da esposa escrava nasceu de forma perfeitamente natural,
mas o filho da esposa livre nasceu em cumprimento da promessa de Deus. Tudo isso se
pode ver como um quadro simbólico [uma alegoria]. Essas mulheres podem representar
duas alianças. A esposa escrava representaria a aliança feita no monte Sinai. Todos os
seus filhos, que estão debaixo da Lei, se encontram sob escravidão espiritual. Hagar,
portanto, simbolizaria o povo Judeu. A esposa livre representaria a Nova Aliança e a
Nova Jerusalém. Sara, portanto, simbolizaria o Cristianismo. Porque as Escrituras dizem:
“Alegre-se, você mulher que não dá a luz, irrompa em um grito de triunfo, você que não
está de parto. Porque a esposa solitária tem mais filhos que a que tem marido”. Ora,
Vocês, meus companheiros Cristãos, são filhos nascidos em cumprimento da promessa
de Deus, como foi Isaque. E como foi no passado, o filho natural [filho da escrava]
provocava e perseguia o filho nascido de modo sobrenatural [filho da livre]; assim é hoje
[os Judeus perseguindo os Cristãos]. Porém, o que diz as Escrituras? “Manda a esposa
escrava e seu filho, pois eles não tomarão parte na herança que pertence ao filho
legítimo da esposa livre”. Assim, meu resumo é este: “Nós Cristãos somos filhos da
esposa livre. Cristo deu-nos a liberdade. Aguentemos firmes, e não nos deixemos atrelar,
novamente, ao jugo da Lei, que significa escravidão”.
A Alegorização Paulina faz as seguintes correlações:
A. Hagar = Serva = Antiga Aliança = A Presente Jerusalém
B. Sara = Mulher livre = Nova aliança = Jerusalém Celestial
C. Ismael = Filho da carne [natural] = Escravos da Lei
D. Isaque = Filho da Promessa Sobrenatural [espiritual] = Os Cristãos
31
APOSTILA de HERMENÊUTICA
Lotto Schmoller observa:
“Paulo, com certeza, alegoriza aqui, porque ele próprio o diz”. Porém, como ele próprio
deixa claro que é uma alegorização, desaparece a gravidade da dificuldade
Hermenêutica. Ele não procede como Exegeta. Paulo está usando esta Alegorização para
confundir os inimigos [Judeus] hipócritas. Ele não disse: “Isto é o que o texto significa”.
Ele não alegou que estava fazendo uma exposição explanativa do texto. Desde os
tempos de Jesus até Lutero, a Alegorização era um importante instrumento
Hermenêutico. Hoje, porém. Os Eruditos Evangélicos rejeita-a e a classificam como um
artifício Hermenêutico ilegítima.
Outros EXEMPLOS:
1. Salmos 80.8-15
2. João 10.1-18
3. João 6.51-65
4. Isaías 5.1-7
A. SÍMILES
Estabelece um termo de comparação entre dois elementos através de uma qualidade. É uma
comparação expressa. Um termo comparante.
1. Salmos 2.9b; 1.3; 102.6
2. Isaías 1.8; 57.20
3. Provérbios 25.11
4. II Pedro 2.17
5. I Pedro 1.24
B. METÁFORA
É uma comparação abreviada. Consiste quando um objeto é assemelhado ao outro, afirmando ser o
outro, ou falando de si como se fosse o outro. SEM termo comparante.
1. Gênesis 49.9
2. Salmos 71.3; 84.11; 23.1
3. João 15.1; 10.9; 6.51; 14.6
4. Mateus 5.13-14; 6.22; 26.26
5. Isaías 40.6
C. ANTROPOPATIA
É a atribuição de emoções, paixões e desejos humanos a Deus.
1. Êxodo 34.14
2. Gênesis 6.6
3. Deuteronômio 13.17
4. Efésios 4.30
D. ANTROPOMORFISMO
É a atribuição de características corporais e atividades físicas a Deus
1. Tiago 5.4
2. Êxodo 15.16
32
APOSTILA de HERMENÊUTICA
3. Salmos 34.16; 10.12; 8.3
4. Lamentações 3.56
E. METONÍMIA
Consiste em designar um objeto por uma palavra designativa de outro objeto que tem com o
primeiro uma relação de causa/efeito; continente/conteúdo; lugar/produto; matéria/objeto;
abstrato/concreto; autor/obra. Obs.: A relação é mais mental do que física.
1. I Tessalonicenses 5.19 [“Não extingais o espírito”, refere-se às manifestações especiais do Espírito]
2. Juízes 12.7 [Faltou indicar exatamente o nome da cidade]
3. Lucas 16.29 [Moisés e os Profetas significa seus escritos = Antigo Testamento]
4. Jeremias 18.18
5. Atos 23.37
6. Salmo 18.1
7. I Coríntios 10:21
F. SINÉDOQUE
Figura que se funda na relação de compreensão e consiste no uso do todo pela parte, plural pelo
singular, gênero pela espécie e vice-versa. Obs.: A relação é mais física do que mental.
1. Salmos 73.9 [Língua = palavra]
2. Salmos 52.4 [Língua está no lugar da pessoa]
3. João 13.8 [Lavagem dos pés = Purificação da alma]
4. I Coríntios 11.26
5. Atos 24.5
6. Provérbio. 1.16
7. Lucas 2.1
G. PERSONIFICAÇÃO
Quando se atribui ações ou feito de pessoas a coisas inanimadas.
1. Coríntios 15.55
2. I Pedro 4.8
3. Jó 12.7,8; Isaías 55:12
H. ZOOMORFISMO
Atribuição de características animais a Deus
1. Rute 2.12b
2. I Pedro 4.8
3. Jó 12.7-8
4. Isaías 55.12
I. EUFEMISMO
Consiste em disfarçar, abrandar, suavizar expressões rudes, chocantes, desagradáveis.
1. Atos 7.60
2. II Tessalonicenses 4.14
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APOSTILA de HERMENÊUTICA
J. IRONIA ou ANTÍFRASE
Expressão que contém censura ou ridículo sob a capa de louvor ou elogio. [Consiste em dizer o
contrário do que pensamos e geralmente em tom de zombaria].
1. Jó 12.2
2. I Reis 22.15; 18.27
3. I Coríntios 4.6,8
4. II Coríntios 11.5; 12.11; 11.13
5. II Samuel 6:20
K. HIPÉRBOLE
É um exagero que extrapola o sentido literal para destacar a idéia e chamar a atenção.
1. Números 13.33
2. Deuteronômio 1.28.
3. Gênesis 22.17
4. II Crônicas 28.4
5. Salmos 119.136
6. Jó 21.25
L. LITOTES
Afirmação moderada que suaviza o sentido literal. É o oposto da hipérbole.
1. Salmos 51.7
2. Isaías 45.3
3. I Tessalonicenses 3.2b
N. PLEONASMO
É a palavra ou expressão redundante: repetição da mesma idéia, com a finalidade reforçar e avivar a
expressão e o pensamento.
1. I Reis 21.13
2. Mateus 13.15
3. Josué 7.25
4. Atos 2.30
5. Jó 42.5
O. ANTÍTESE
É a inclusão na mesma frase de duas palavras ou dois pensamentos que faz um contraste um com o
outro. [O mau e o falso servem de contraste ou fundo que dá realce ao bom e ao verdadeiro]
1. Deuteronômio 30.15,19
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APOSTILA de HERMENÊUTICA
2. Mateus 7.13-14; 17-18; 21-23; 24-27
3. Mateus 24 e 25
4. II Coríntios 3.6-18 [Antigo pacto e Novo pacto; Lei e Evangelho]
P. PARADOXO
É uma proposição ou declaração oposta à opinião comum; a uma afirmação contrária a todas as
aparências e à primeira vista absurda, impossível, ou em contraposição, ao sentido comum.
1. Mateus 16.6
2. Lucas 9.60 [Explicação v. 61 e 62]
3. Mateus 23.24
4. Lucas 18.25
5. Marcos 8.35
Bibliografia
12.1. Tipos:
A palavra Grega tupos, da qual se deriva tipos, tem uma variedade de significados. No Novo
Testamento predomina o conceito de semelhança e similaridade. Definição de tipo: “É uma relação,
representativa, preordenada, que certas pessoas, eventos e instituições correspondentes, que
ocorrem em épocas anteriores”. Quase todos os Teólogos Evangélicos concordam com essa
definição.
No Evangelho de João no capítulo 3.14-15 temos uma tipologia, realizada por Jesus, que
dificilmente, seria realizada por qualquer outra pessoa [Teólogos ou Exegetas[. Quem, em sã
consciência, compararia o Senhor a uma serpente? Ela, sempre, foi símbolo do pecado e de satanás.
Porém, o Senhor Jesus, com a autoridade que só ELE possui, sabendo que, ao ser “levantado na
cruz”, estaria incorporando e destruindo todo o pecado do passado, do presente e do futuro,
daqueles que o aceitasse como único e suficiente Salvador pessoal [uma cena tão horrível que Deus,
o Pai, lhe virou o rosto – ELE se fez pecado por nós]; ELE fez essa alegorização. A serpente, portanto,
nesse texto, se tornou um tipo de Cristo. A TIPOLOGIA baseava-se na suposição de que há um
padrão, na obra de Deus, através da história da salvação. O Senhor prefigurou, sua obra
Redentora, através do Antigo Testamento e a cumpriu, no Novo Testamento. A prefiguração é
chamada tipo; o cumprimento da mesma, é chamado antítipo. Os tipos são semelhantes aos
símbolos e podem, até, serem considerados uma espécie particular de símbolos. Duas características
que os diferenciam:
A. Os símbolos servem de sinais de algo que representam sem, necessariamente, ser semelhante em
algum sentido. Já os tipos, se assemelham, de uma ou mais forma, às coisas que prefiguram. Por
exemplo: O Pão e o vinho são símbolos do corpo e do sangue de Jesus. Os sete candeeiros são
símbolos da Igreja, da Ásia. O tipo ou o antítipo possuem mais semelhanças.
B. Na maioria das vezes, o tipo aponta para o futuro, os símbolos, normalmente, não. O tipo,
autêntico, precede, historicamente, do seu antítipo. O símbolo pode preceder, coexistir ou vir após
daquilo que simboliza.
A Tipologia, também, difere da Alegoria. Ela é a busca de vínculos entre os eventos históricos,
pessoas ou objetos, dentro da história da Salvação. A Alegorização é a busca de significados
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APOSTILA de HERMENÊUTICA
secundários e ocultos, que sublinham o significado primário e óbvio da narrativa histórica. Ela
introduz na narrativa, significados ocultos e objetivos.
Há três características básicas de tipos que podem ser identificados:
1. Deve haver algum ponto notável de semelhança ou analogia entre o tipo e seu antítipo. Haverá,
em alguns casos, pontos de dessemelhança, também. Adão é um tipo de Cristo. A Bíblia, no entanto,
fala mais das suas dessemelhanças que das semelhanças [Romanos 5.14-19].
2. Deve haver evidências de que a coisa tipificada representa o tipo que Deus indicou. Há certas
discordâncias, entre os estudiosos, acerca de quão explícita deve ser a declaração Divina. A famosa
sentença do Bispo Marsh, com referência a tipos, dizia que nada pode ser considerado tipo, a menos
que se demonstre, de modo explícito, figurar nas Escrituras.
3. A terceira característica de um tipo é que ele deve prefigurar alguma coisa futura. Os antítipos, do
Novo Testamento, apresentam verdades cumpridas do Antigo Testamento. A Tipologia é, por
conseguinte, uma forma especial de Profecia.
12.2. Profecias:
A interpretação de profecias é um assunto sumamente complexo. Não tanto em virtude da
discordância concernente aos princípios interpretativos corretos, mas por causa das diferenças de
opiniões sobre como aplicar esses princípios. Em ambos os Testamentos, “o profeta é um porta-voz
de Deus, que declara a vontade de Deus para o povo.” A profecia refere-se a três coisas:
1. Prediz eventos futuros [Apocalipse 1.3 22.7-10; João 11.51]
2. Revela fatos ocultos quanto ao presente [Lucas 1.67-79; Atos 13.6-12]
3. Ministrar instruções, consolo e exortações em linguagem poderosamente arrebatadora [Atos 15.32; I Coríntios 14.3-4]
Se aceitarmos as datas dos vários livros da Bíblia, comumente, dadas pelos eruditos, parece-
nos que uma significativa porção da Bíblia é profecia preditiva. Payne calcula que dos 13.124
versículos da Bíblia, 8.352 (27%) são preditivos. Na Bíblia predizer estava a serviço de proclamar. A
profecia preditiva pode servir a várias funções importantes.
● Pode trazer glórias ao Senhor, testemunhando da sua sabedoria e conhecimento do passado, presente e futuro.
● Pode trazer segurança e consolo ao crente em suas tribulações.
● Pode motivar os ouvintes a uma fé vigorosa e a uma santidade mais profunda. [João 14.20; II Pedro 3.11].
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APOSTILA de HERMENÊUTICA
De modo geral, as visões terminam com a intervenção Divina, levando o presente estado das coisas a um final
catastrófico e estabelecendo um sistema melhor.
O escritor Apocalíptico, geralmente usa pseudônimo, alegando escrever em nome do herói que escolheu.
É frequente o escritor tomar histórias passadas e reescrevê-las como se fossem profecias.
O foco da Literatura Apocalíptica está em consolar a sustentar o “remanescente justo”.
Essa Literatura [não canônica] tem muitos pontos em comum com as profecias Bíblicas:
“Ambas se interessam pelo futuro, empregam linguagem figurativa e simbólica, acentuam o mundo
invisível, valorizam a redenção futura do crente fiel.” Há, também, algumas diferenças:
Os registros Bíblicos falam de profecias que foram proclamadas oralmente e, depois escritas.
Os registros Bíblicos são oráculos separados e breves. Os apocalípticos são longos e contínuos, há formas paralelas
e se repetem pela segunda e terceira vez.
Os apocalípticos são excessivamente, simbólicos e com o uso de muitas formas de vida [animais].
Há nos apocalípticos, um grande “dualismo” entre as forças do bem e as do mal [A Bíblia não ensina isso].
A literatura apocalíptica consola e anima os fiéis e ataca os que são religiosos só de lábios [não tanto quanto, mas
a Bíblia, também, o faz].
As profecias Bíblicas pregam a possibilidade de transformação do ser humano. Os apocalípticos são mais
pessimistas e sem esperança.
Usavam pseudônimos e criavam heróis, na literatura apocalíptica. Já as profecias, narram as verdades do profeta
e algo sobre sua vida.
Há exceções para todas essas citações. São aceitas, porém por quase todos os estudantes
conservadores. Na Bíblia a literatura apocalíptica está presente em Daniel e no Apocalipse. Há
também trechos apocalípticos em Joel, Amós, Zacarias, Ezequiel. O discurso do Senhor Jesus, no
monte das Oliveiras (Mat. 24 e 25), contém elementos apocalípticos. Os apocalípticos Bíblicos tem
muitos elementos em comum com os não Canônicos. Isto não compromete a palavra do Senhor,
pois, ELE sempre usou os métodos literários, populares da época da SUA revelação. Talvezà medida
que nossa compreensão, do gênero apocalíptico, aumente; teremos mais capacidade de interpretar,
com segurança, profecias e revelações contidas nesses textos.
59
Um grupo minoritário, sem grande poder político, que luta para ser fiel ao Senhor em meio às infidelidades, rebeldias e desobediências.
37
APOSTILA de HERMENÊUTICA
Por exemplo: Uma exposição para estudo do livro do Apocalipse começaria pela tentativa de
entender tanto quanto possível, as circunstâncias históricas daquele tempo. Depois, se examinaria o
contexto dos primeiros capítulos, a fim de se obter informações para prosseguir, na pesquisa em
busca de significados. A Análise Léxico-sintática prosseguiria como se dá com qualquer outro gênero
[sabendo que esses textos são ricos em símbolos, figuras e analogias]. A Análise Teológica
averiguaria como as profecias e revelações se ajustam às outras informações já contidas nas
Escrituras.
B. Sensus Plenior: O Sentido mais Profundo: Há, ou não, um sentido mais profundo nas profecias e
revelações? Eu60, particularmente, defendo que há. Inclusive, como professor de Teologia da
Educação Cristã, gosto muito, de um método pedagógico chamado “Lição Objetiva” [Jesus o usava
em seus ensinos]. Creio que a Lição Objetiva está dentro de um “sentido mais profundo”.
Quando o Senhor Jesus foi até João, para ser batizado por ele existia, naquele fato, um
ensinamento muito mais profundo que o batismo de Jesus, em si [João sabia perfeitamente, que o
Senhor Jesus não precisava ser batizado]. O batismo significa confissão pública de arrependimento e
novo nascimento [morte do “velho homem”]. Jesus, certamente, não precisava disso. Fez para
ensinar que todo ser humano, que deseja a vida eterna [nova vida em Cristo], precisava fazê-lo.
Creio também, que o Senhor Deus, ao criar o mundo, fez uso desse método [Lição Objetiva].
Sabemos por tudo que as Escrituras dizem do Senhor que ELE não se cansa e não dorme. Portanto,
ao descansar no sétimo dia da criação, estava dizendo à humanidade: “Vocês são frágeis e, após seis
dias de trabalho, devem descansar e recuperar as forças. Aproveitem para me oferecer um culto de
louvor, adoração e agradecimento.” Acredito assim que a guarda do sábado [dia específico], é para o
povo Judeu. Porém, o princípio de descanso, após seis dias de trabalho, é para toda humanidade que
ama a vida, o corpo e a saúde.
Dessa forma, defendo a presença do “Sensus Plenior” não só nas profecias e gêneros
apocalípticos, mais em muitos dos ensinamentos contidos na Bíblia Sagrada.
C. Literal versus Simbólico: O terceiro problema é muito prático. Quando devemos interpretar o
texto, Literalmente, Simbolicamente ou Anagogicamente?
Por exemplo: A besta do Apocalipse é uma pessoa? Uma análise simbólica a vê como a
personificação da ânsia pelo poder. A análise literal pode interpretá-la como um poderoso líder
mundial e espiritual [corrupto e materialista, inimigo do Senhor].
Certamente, há passagens em que os simbolistas são literais e, há passagens, onde os literalistas
vêem como símbolos. Portanto, as diferenças entre ambos são mais relativas que absolutas. Só o
discernimento espiritual poderá dar ao estudante, a interpretação através do método correto.
D. Universalidade: Precisamos saber se um elemento [símbolo] terá sempre o mesmo sentido e
significado [universalmente] toda vez que ele aparecer no texto. Alguns atribuíam valores universais
a certos números, cores e objetos, porém os eruditos de hoje preferem não achar que o valor e o
significado serão sempre o mesmo [aceitam, porém, a ideia de “regularidade” no significado de
certos elementos].
Por exemplo: Nos textos Bíblicos, o azeite sempre simbolizou o Espírito Santo; o fermento simboliza
o mal e o pecado. Os números 7, 12 e 40, carregam sentidos simbólicos. As cores branca [pureza],
vermelha [derramamento de sangue], roxa [realeza], também trazem os seus sentidos ocultos.
Porém, será que em todos os textos em que se apresentam, possuem o mesmo sentido
[universalidade]?
60
Posição do Pastor José Pereira Sotéro.
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APOSTILA de HERMENÊUTICA
E. Condicionalidade: Que o Senhor é imutável [não muda], não temos nenhuma dúvida. Porém há
certos fatos ligados a certas condições. Por amor e misericórdia, ELE, mesmo após pronunciar um
juízo, deixa claro que se houverem mudanças nas atitudes [arrependimento] haverá mudanças no
castigo [condicionalidade]. Em Jeremias 18.10 temos o auxílio que necessitamos para entender tal
situação. Portanto, provavelmente, seja reconhecer que as profecias podem trazer consigo uma
condicionalidade implícita e que se houver arrependimento da nação ou do indivíduo em questão,
muda-se o castigo ou o juízo profetizado.
F. Significado Único versus Significado Múltiplo: Podem alguns textos Bíblicos ter mais que um
significado? Quem crê e aceita o Sensus Plenior afirma que sim. Payne prefere afirmar que as
Escrituras têm um único significado, com uma grande variedade de aplicações. Leiamos o seu
esclarecimento:
“As Epistolas do NT, repetidamente, citam profecias do AT não com o cumprimento real,
porém com aplicações práticas. II Coríntios 6.16 cita Levítico 26.11, e II Coríntios 6.17
cita Isaías 52.11. II Coríntios 6.18 traduz, livremente, Oséias 1.10. Todas as citações
traduzem a alegria, do povo do Senhor, pela presença de Deus, e a necessidade de nos
mantermos puros [embora só Oséias falasse com esse objetivo].”
Terry afirma: “Podemos, prontamente admitir que as Escrituras são susceptíveis de aplicações
práticas múltiplas.”. Payne trabalha com três conceitos:
1. Predição Progressiva: Há um progresso cronológico em muitas profecias. A passagem A pode nos
falar de certos acontecimentos; a passagem B, dos acontecimentos imediatamente seguintes e a
passagem C, acerca dos acontecimentos culminantes da série. A associação, dessas passagens, forma
um todo, que é identificado como Predição Progressiva. No livro de Zacarias e no de Apocalipse,
temos exemplos desses fatos.
2. Cumprimento Evolutivo: É uma profecia que se cumprirá por etapas. A passagem de Gênesis 3.15
começou a se cumprir com a morte e ressurreição do Senhor e a cada dia tem seu cumprimento
acontecendo. Porém, só se cumprirá plenamente no Juízo Final.
3. Contração Profética: “A Profecia Bíblica pode saltar de um ‘pico’ proeminente preditivo para outro
sem se preocupar com o ‘vale’ existente entre ambos [o que pode envolver lapsos, nada desprezíveis,
na cronologia].”. A mistura das profecias, sobre a primeira e a segunda vinda de Cristo é um perfeito
exemplo desse fato.
39
APOSTILA de HERMENÊUTICA
Hermeneuticamente falando, o que separa esses teóricos uns dos outros, é a forma como se
interpreta o texto: Literalmente, Simbolicamente ou Alegoricamente. Eles possuem base Bíblica,
dependendo da forma como interpretam o texto, para defenderem suas teorias.
Sabemos que a maneira como entendemos o futuro não nos salvará ou condenará. A
maneira como vivemos o presente e o nosso dia-a-dia é que revelará que tipo de Cristão nós somos e
o que tem prioridade, em nossa existência [o que realmente importa e tem valor].
Em última análise, a mais importante implicação espiritual de todo o estudo escatológico,
encontra-se em I João 3.2-3: “Amados, agora somos Filhos de Deus e, ainda, não se manifestou o que
havemos de ser. Sabemos que quando ELE se manifestar, seremos semelhantes a ELE. Nós O veremos
como ELE é. E a si mesmo se purifica todo o que NELE tem essa esperança, assim como ELE é puro.”
13. CONCLUSÃO
Esperamos que esse humilde trabalho possa cooperar com aqueles que com sinceridade
desejam entender, obedecer e anunciar a PALAVRA DO SENHOR. Se você é servo e de coração deseja
estar no CENTRO DA VONTADE DE DEUS, esse trabalho e a presença do ESPÍRITO SANTO em você
colaborarão para que sua vida e mensagem [pregação] estejam baseadas na VERDADEIRA VONTADE
DE DEUS, que é JESUS, a PALAVRA VIVA E PODEROSA61.
14. BIBLIOGRAFIAS
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Conclusão elaborada pelo Pastor José Pereira Sotéro.
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APOSTILA de HERMENÊUTICA