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Novos desafios para

Cenários da Comunicação
o instrumental antropológico
de identificação de grupos
indígenas emergentes
Edward Mantoanelli Luz
Mestre em Antropologia Social [UnB]
Professor Substituto de Antropologia [Universidade Federal do Tocantins/ Campus Miracema]
Antropólogo Consultor [FUNAI/PPTAL1]
Miracema do Tocantins – TO [Brasil]
edwardluz@uft.edu.br

Mudanças positivas no quadro indigenista brasilei-


ro provocaram, a partir do fim da década de 1980,
um crescente movimento nacional de comunidades
que passaram a lutar pelo reconhecimento de sua
alteridade indígena e de seus respectivos direitos.
A comunidade antropológica viu-se surpreendida
diante dessa avalanche de demandas e, em respos-
ta, imediatamente se utilizou dos critérios teóricos
propostos pelo antropólogo Fredrick Barth para o
estabelecimento das fronteiras étnicas de grupos
emergentes. Este ensaio é um alerta para o perigo
de interpretações extremistas e utilizações exclu-
sivistas do instrumental teórico barthiano como
único critério identitário. Tomando por base as ex-
periências resultantes de sua aplicação no caso co-
cama, do Alto Solimões, este trabalho pretende re-
velar a fragilidade do instrumental e a necessidade
de acréscimos teóricos e práticos para uma análise
equilibrada e imparcial de casos de grupos indíge-
nas emergentes.

Palavras-chave: Etnogênese cocama.


Fronteiras étnicas. Reformulação
do instrumental antropológico.
Cenários da Comunicação, São Paulo, v. 6, n. 2, p. 175-180, 2007. 175
1 Mudanças no quadro sociológico
indigenista nacional
uma real avaliação das limitações e da eficácia do
instrumental teórico que o antropólogo possui. Este
ensaio é um primeiro alerta para as fragilidades do
É no âmbito dos estudos de identificação e instrumental teórico barthiano, resultante das limi-
delimitação de terras indígenas que as distâncias tações evidentes de sua aplicação na análise do caso
hierárquicas e sociais entre o antropólogo e seus cocama do Alto Solimões.
interlocutores diretos revelam suas facetas mais
angustiantes (CRAPANZANO, 1980). Ao primeiro,
a federação confia a responsabilidade de utilizar
toda sua habilidade para identificar os limites e fron-
teiras étnicas já estabelecidas pelos grupos sociais
2 Oprática
arsenal teórico por trás da
antropológica dos GTs de
identificação de terras indígenas
em questão e, em última análise, decidir quem sai
ou não da área a ser delimitada1. Aos segundos, Impossível falar de identidade étnica sem fazer
indígenas ou pretendentes, além de participarem referência a legado do saudoso professor Roberto
ativamente do processo, cabe viver e arcar com o Cardoso de Oliveira, para quem a identidade de
ônus ou o bônus de reconhecer-se e ser ou não reco- um grupo étnico quase sempre é pensada e cons-
nhecido como tal (BARRETO FILHO, 1994, p. 16). truída sob a ótica ‘contrastiva’6. Isso quer dizer que,
Registros históricos e etnográficos comprovam “quando uma pessoa ou um grupo se afirma como
que, durante séculos, reconhecer-se e ser reconhe- tal, o faz como meio de diferenciação em relação
cido como indígena na Amazônia poderia significar, a alguma pessoa ou grupo com que se defronta”
na grande maioria dos casos, sobreviver em um (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1976, p. 5). Assim,
ambiente social hostil, marcado pela incompre- como é “uma afirmação do nós diante dos outros”,
ensão das diferenças, pela exploração do trabalho a identidade étnica “surge por oposição. Ela não se
servil e pelos preconceitos sempre abundantes para afirma isoladamente. (...) Ela se afirma ‘negando’ a
com essa minoria. outra identidade, ‘etnocentricamente’ por ela visua-
Contudo, pressões da comunidade interna- lizada” (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1976, p. 8)7.
cional e mudanças vivenciadas pela sociedade Já Fredrick Barth postula que a ênfase primordial
brasileira, cristalizadas, sobretudo, na Constituição deve ser concedida ao fato de que grupos étnicos são
Federal de 19882, geraram mudanças no quadro categorias de atribuição, adscrição e identificação
social. Assim, há uma década, ser reconhecido como pelos próprios atores e, portanto, caracterizam-se
indígena passou a agregar significados positivos, por organizar a interação entre as pessoas (BARTH,
o suficiente, para provocar uma verdadeira onda 1969). Uma adscrição ou atribuição categórica,
nacional de movimentos de comunidades de des- para Barth, é étnica, quando classifica uma pessoa
cendentes de indígenas, em sua maioria agricultores em termos de sua identidade mais geral e básica,
e/ou ribeirinhos, que lutam pelo reconhecimento de “presumivelmente” determinada por sua origem e
sua indianidade. No linguajar antropológico, essa background: à medida que os sujeitos sociais usam
jornada ou luta pelo reconhecimento da alteridade identidades categóricas de tipo étnico para cate-
indígena foi batizada de etnogênese3, e o tema tem gorizar eles mesmos e os outros, como propósitos
sido presença constante e crescente nos principais de interação, formam um grupo étnico num sen-
fóruns de debates da antropologia nacional4. tido que Barth denomina de organizacional – por
Além da crescente parafernália de instrumen- oposição ao sentido substantivo, de uma unidade
tos, o antropólogo leva consigo uma base teórica portadora de uma substância, ou seja, “portadora de
que acredita ser apropriada para a execução da cultura” (BARTH, 1969).
missão. No entanto, a realização de um Grupo de Assim, se o elemento crítico passa a ser caracte-
Trabalho (GT) de identificação e delimitação de rística de auto-atribuição e atribuição por terceiros
uma terra indígena em uma comunidade, é um (BARTH, 1969), e, se grupos étnicos são catego-
‘fato social total’, como preconizado e descrito por rias e envolvem processos de classificação, então
Mauss (1985)5. A chegada e a permanência do GT na é fundamental considerar as funções práticas diri-
comunidade detonam uma bomba de significados, gidas à produção de efeitos sociais, às quais essas
gerando uma onda de efeitos que atingem e mobi- “classificações práticas” estão sempre subordinadas
lizam todas as esferas da vida social, o que provoca (BOURDIEU, 1989, p. 112).
reações inesperadas. Em poucos dias, a complexi- Contudo, a polarização da análise é uma
dade dos dados coletados em campo começa a exigir tendência constante entre os antropólogos encar-

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Cenários da Comunicação
regados de estabelecer a etnicidade dos grupos trados no Brasil, na região do Alto Solimões, entre
indígenas. Os operadores de tais categorias oscilam São Paulo de Olivença e Tefé, e no Peru, no vale do
entre a busca por elementos culturais que eviden- Rio Ucayali. Os dados demográficos revelam uma
ciem a alteridade tradicional do grupo e a coleção população cocama atual de aproximadamente 21
de declarações identitárias, outorgando autoridade, mil índios, 19 mil no Peru e 2 mil no Brasil9.
ora a um, ora a outro elemento. Os avanços das O passado cocama é mítico e comovente,
discussões teóricas sobre o caráter dos fenômenos marcado por uma história de contínuos massa-
étnicos têm rechaçado o dito “primordialismo” pro- cres e epidemias (PORRO, 1992; RIBEIRO, 1970),
veniente dos enfoques culturais mais ortodoxos, que ocasionaram sucessivas ondas migratórias
que sustentam que a etnicidade se fundamenta em em busca da mítica ‘terra sem males’ (CLASTRES,
aspectos culturais previamente estabelecidos, tais 1978; MEGGERS, 1987; REGAN, 1993), e, por iro-
como o parentesco, a língua, a religião e os costu- nia, os trouxeram a terras brasileiras (GALVÃO,
mes “tradicionais” dos povos. Na última década, 1979), potencializando a adesão maciça dos
essa posição tem sido paulatinamente substituída remanescentes à pregação messiânica da seita
por uma linha barthiana radical, que argumenta milenarista da Cruzada (AGÜERO, 1985; REGAN,
definir-se a etnicidade unicamente pela adscrição 1988). Explorados como mão-de-obra barata pelos
identitária, ou seja, pela auto-atribuição/heteroatri- novos colonos (PORRO, 1995), enredados pela pre-
buição identitária. gação alucinada e alienante de um messias capaz de
ver o futuro, mas que enxergava a indianidade como
sinal de retrocesso (ORO, 1989), e imersos num

3 Quando o campo demanda um


aprimoramento no instrumental
teórico da antropologia
ambiente saturado de preconceitos, a coletividade
cocama reage e opta pela sublimação étnica tempo-
rária (STOCKS, 1981; GOW 2003), reduzindo sua
identidade a meras lembranças de um passado indí-
Como mostra Claudia Garcés (2000), a com- gena apresentado como distante (LATHRAP, 1970).
plexa situação étnica do Alto Solimões é uma Contudo, uma vez observada a mudança
verdadeira ‘prova de fogo’ para a validade e efi- no ambiente social brasileiro, a mobilização das
cácia das teorias identitárias. Nada melhor para comunidades cocamas, genuinamente motivadas
a teoria antropológica, pois, ao questioná-la, sur- pela restauração e preservação da língua e da cul-
gem reflexões invariavelmente desagradáveis, mas tura indígena, é louvável e empolgante (RAMOS,
quase sempre fecundas, por culminarem em refi- 2004). O empenho coletivo de construção de uma
namentos teóricos valiosos, não permitindo que identidade indígena remodela e reestrutura todas as
extremismos ou radicalizações teóricas se crista- esferas da vida social, das mais aparentes às mais
lizem e se perpetuem indefinidamente, conforme profundas, afetando a educação escolar primária,
adverte Peirano (2000). o vestuário, as cerimônias religiosas, o linguajar
Tanto quanto a antropóloga colombiana Garcés, e as novas situações que passam a integrar a vida
foi-nos possível testemunhar que a fidelidade cega comum, vistos como elementos coletivamente acei-
às declarações identitárias tem provocado injusti- tos como indígenas.
ças e problemas sociais insolúveis, uma vez que há Entretanto, certas práticas de algumas lideran-
provas concretas de que lideranças locais, indígenas ças políticas do movimento cocama são reprováveis,
e antiindígenas, cientes da credibilidade excessiva ilícitas e criminosas. Em estadas no alto Solimões,
que o antropólogo confere ao discurso ‘nativo’8, têm foi possível passar pela experiência de ser vítima
aproveitado dessa “fragilidade do sistema” como e testemunha ocular de práticas repulsivas, como
estratégia para mobilizar politicamente parcelas formação de quadrilha e utilização de terrorismo
da população e, dessa maneira, alcançar vantagens psicológico por meio de ameaças por parte da lide-
políticas e econômicas em situações das quais os rança cocama, que lucrava com a comercialização
conflitos se originam, fazendo do antropólogo uma da inclusão dos membros de famílias não‑indígenas
espécie de juiz de show de calouros, que, com base na lista dos beneficiários, mediante pagamento de
em seus critérios teóricos, tenta adivinhar quem ou taxas, entre outras improbidades. Tais práticas aten-
qual coro tem a melhor performance. dem somente a interesses pessoais, beneficiando
A recente mobilização identitária cocama exem- uma minoria e prejudicando, de maneira terrível,
plifica, em todas as magnitudes, os dilemas que se uma imensa coletividade, uma vez que a descoberta
pretende aqui analisar. Os cocamas estão concen- dessas ilegalidades desacredita todo o movimento

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identitário cocama, desautoriza as requisições de A concessão de benefícios previdenciários con-
outros grupos indígenas e deslegitima a autoridade cretos ou mesmo irreais, atrelada ao pertencimento
da Funai, cuja imagem fica maculada por acusa- de uma minoria étnica, advindo unicamente do
ções regionais de respaldar bandidos “disfarçados reconhecimento antropológico da autodeclaração
de indígenas”. Tais práticas são ilegais e danosas, indígena por famílias amazônidas, é uma mistura
e em respeito à luta do movimento indígena legal, extremamente complicada em regiões de alta descen-
o órgão federal deve condená-las, publica e rapida- dência indígena, como a do noroeste amazônico.
mente, bem como tomar medidas enérgicas para Quando o destino de famílias e comunidades
coibi-las e evitar que ocorram novamente. inteiras está em jogo, a possibilidade de manipula-
O caso cocama demonstra que a negocia- ção identitária de curiosidade etnográfica passa a ser
ção comercial da identidade indígena tornou‑se um problema de estado. Os critérios antropológicos
uma atividade econômica relativamente lucrativa, tornam-se questionáveis ao ficar comprovado que a
quando os líderes do movimento operam adequa- autodeclaração de pertencimento étnico foi motivada
damente os elementos característicos que garantem pela esperança de benefícios econômicos. Até mesmo
o reconhecimento da identidade indígena. O instru- o não-reconhecimento da indianidade da comuni-
mental antropológico, até então utilizado, torna-se dade demandante pode ser contestado e rejeitado,
obsoleto, pois não está adaptado para ser aplicado uma vez que antropólogos podem alegar a existên-
em situações, nas quais a comercialização da iden- cia de um complô da sociedade nacional envolvente,
tidade indígena é uma possibilidade real e concreta. a fim de desacreditar a comunidade minoritária em
A situação étnica do Alto Solimões proporciona, sua luta pelo reconhecimento identitário.
assim, desafios que a antropologia brasileira ainda Em nenhum momento este artigo é contrário
não está preparada para enfrentar. às demandas comunitárias pelo reconhecimento de
Demandas por identificação de terras indígenas sua identidade indígena. Antes, pretende ressaltar
eclodem ininterruptamente no noroeste amazônico. as fragilidades dos critérios antropológicos de reco-
Existem mais de 22 demandas por demarcação de nhecimento desses grupos, tomando como exemplo
terras de comunidades que se declaram indígenas específico o caso cocama. Vale lembrar que a mul-
cocamas, ao longo do rio Solimões, no trecho entre tiplicação de grupos étnicos emergentes inflaciona
Tabatinga e Tefé. as demandas assistenciais para com o órgão fede-
ral responsável pela defesa dos grupos indígenas. O
caso cocama mostra que ribeirinhos e agricultores

4 Considerações finais que teriam condições de obter auxílio e assistência


por outros órgãos e programas assistenciais optam
pela auto-identificação indígena, ao perceberem a
O que o caso cocama tem a ensinar? Certamente, garantia dos benefícios oferecidos pela Funai.
a reificação do potencial elucidativo da proposta Qualquer antropólogo que denuncie a fragili-
barthiana é um erro epistemológico. Tomada iso- dade do instrumental teórico corre sério risco de ser
ladamente como única fonte de autoridade, tal mal interpretado e classificado como traidor da causa
adscrição identitária, caracterizada pela auto-atri- indígena e da luta em prol dessa minoria explorada
buição/heteroatribuição de indianidade, é frágil, ao longo dos séculos e carente de auxílio governa-
pois permite o jogo, a manipulação e a parcialidade; mental. Todavia, escrever e refletir sobre esse tema
logo, o erro e a perpetuação da injustiça social. Por pode trazer contribuições e propostas mais valiosas
isso, esse critério é insuficiente como instrumental e proveitosas que o silêncio acadêmico.
antropológico para a solução dos problemas práticos É assustador perceber que a comunidade antro-
advindos dos fenômenos das etnicidades emergen- pológica movimenta-se a reboque das demandas e
tes, em regiões como o Alto Solimões, com grande denúncias das autoridades civis e federais. Esconder
número de descendentes de indígenas, cuja maioria a fragilidade teórica da antropologia não resolve o
absoluta da população pode alegar a descendência problema. Adiar a reflexão sobre a problemática só
indígena e requerer seus direitos. contribui para complicar ainda mais seu encami-
Os dados cocamas revelam a fragilidade da nhamento.
utilização isolada do instrumental barthiano e É necessária a promoção de fóruns de análise
demanda a complementação teórica com outros ele- e debates em âmbito nacional, com a finalidade
mentos que operem em conjunto, para evitar erros explícita de propor soluções teóricas e práticas ofi-
e injustiças. ciais que solucionem problemas das regiões Norte e

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Cenários da Comunicação
da para a compreensão deste evento, como a noção de
Nordeste, para não comprometer o já escasso orça- fato social total, de Mauss. Se tal noção não existisse,
mento do órgão federal para populações indígenas, os antropólogos coordenadores de GT de comunidades
especialmente quando o destino de vidas, famílias que demandam reconhecimento como indígenas se-
riam fortes candidatos a inventá-la.
e comunidades inteiras encontra-se nas mãos dos
antropólogos que operam com critérios tão tênues. 6 A particularidade da situação que engendra a identida-
de étnica é a situação de contato interétnico. Essa cons-
tatação é muito importante, porque nos alerta sobre a
New challenges for anthropological dimensão ‘relativa’ e ‘contextual’ da identidade étnica.
“A identidade étnica não pode ser definida em termos
instrumental in identification of absolutos, porém unicamente em relação a um ‘siste-
emerging indigenous groups ma’ de identidades étnicas” (CARDOSO DE OLIVEI-
Positive changes in the Brazilian indigenist RA, 1976, p. 9).
scene, since the end of the 1980’s, resulted in the 7 O autor desenvolve esta idéia, observando que o ‘etno-
increase of communities’ national movements, centrismo’ aqui se caracterizaria pela universal inca-
which took the Brazilian anthropological com- pacidade da ideologia étnica de relativizar-se; dito de
munity by surprise, that immediately applied outra maneira, é a virtual incapacidade de a identida-
de étnica produzir uma visão ou um ‘retrato’ da outra
theoretical criteria proposed by the anthropolo-
(identidade) que lhe é complementar, sem se valer de
gist Fredrick Barth, about the establishment of critérios absolutos, compatíveis com suas representa-
the ethnic borders of emerging groups. This paper ções e abrigados em sua ideologia étnica. Nesse senti-
is an alert for the danger of extremist interpreta- do, o ‘caboclo’ generaliza automaticamente, para todos
tions and exclusivists uses of the Barthian theory, os seus patrícios, os atributos marcadamente negativos
as the unique identity criteria. Taking as base the de sua identidade (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1976, p.
resulting experiences of the application of this 47).
theory in the case cocama in Alto Solimões area, 8 Teriam os “nativos” lido Fredrik Barth ou seriam capa-
this essay intends to reveal the fragility of this an- zes de ler a mente dos antropólogos? Em última instân-
thropological instrumental and the need of theo- cia, então, quem decide quem será considerado indíge-
retical and practical elements for an equilibrated na e, portanto, ficará na área demarcada?
and impartial cases analysis of the emerging in- 9 Estudos lingüísticos têm confirmado a proximidade
digenous groups. lingüística e cultural entre cocama e omágua. Segun-
do Cabral (1996), os cocamas falam uma língua tupi-
Key words: Anthropological instrumental refor- guarani semelhante a dos omáguas, cambebas, e tupi-
mulation. Cocama etnogenesis. nambás, por sua vez semelhante ao que os portugueses
chamavam de língua geral.
Ethnic borders.

N otas
Referências
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1 O autor foi o Coordenador do GT (Grupo de Trabalho)
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Antropologia, 165)
2 Além da Constituição de 1988, some-se ainda o Estatu-
to do Índio e as Portaria 14 e 1775 de 1996. BARTH, F. (Org.). Ethnic groups and boundaries: the social
3 A coletânea A viagem da volta: etnicidade, política e reela- organization of cultural difference. London: George
boração cultural no nordeste indígena (1999), organizada AIlen and Wnwin, 1969.
por João Pacheco de Oliveira Filho, foi indubitavelmen-
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Lisboa: Difel; Rio de
te um marco da teorização desse fenômeno, lançando
algumas bases e conceitos para sua análise. Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.

4 Uma breve consulta ao histórico das quatro últimas CABRAL, A. S. A. C. Relatório de identificação étnica do
edições da Revista da Associação Brasileira de Antro- Kokama de Sapotal, Sacambú e Jutimã. Brasília: FUNAI,
pologia (RABA) é suficiente para comprovar o fato. A 1996.
temática, contudo, não adentrou a Anpocs, fórum an-
tropológico voltado aos estudos estruturalistas dos sis- CARDOSO DE OLIVEIRA, R. Identidade, etnia e estrutura
temas mitológicos ameríndios. social. São Paulo: Livraria Editora Pioneira, 1976.
5 Nenhum outro conceito da teoria socioantropológica é CLASTRES, H. Terra sem mal. São Paulo: Brasiliense,
tão apropriado para a descrição, e mais necessário ain- 1978.

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recebido em 1º nov. 2006 / aprovado em 9 maio. 2007


Para referenciar este texto:
LUZ, E. M. Novos desafios para o instrumental
antropológico de identificação de grupos indígenas
emergentes. Cenários da Comunicação, São Paulo, v. 6,
n. 2, p. 175-180, 2007.

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