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Arqueolog

colaborativa na Amazô
Terra Indígena Kuatin
Rio Xingu,

32
gia
ônia: Arqueologia
colaborativa na amazônia:
nemu, Terra Indígena Kuatinemu,
Pará Rio Xingu, Pará

FABÍOLA ANDRÉA SILVA


Universidade de São Paulo, Brasil

EDUARDO BESPALEZ
Universidade de São Paulo, Brasil

FRANCISCO FORTE STUCHI


Universidade de São Paulo, Brasil

33
Silva, F. A. et al.

ARQUEOLOGIA COLABORATIVA NA AMAZÔNIA: TERRA


INDÍGENA KUATINEMU, RIO XINGU, PARÁ
Resumo
Apresentaremos os procedimentos e primeiros resultados da pesquisa
arqueológica e etnoarqueológica realizada em maio de 2010, com o
objetivo de localizar os antigos assentamentos Asurini às margens do
igarapé Ipiaçava e verificar o potencial arqueológico dessa parte da T.I.
Kuatinemu. Mostraremos que os arqueólogos e os Asurini protago-
nizaram o projeto, contribuindo com diferentes interesses e expertises
na sua elaboração, organização logística, cronograma de atividades e
na interpretação dos vestígios materiais encontrados. Relatando esta
experiência, queremos contribuir ao debate sobre as práticas reflexivas
e multivocais, destacando as contribuições que o diálogo multicultural
e a expressão de diferentes formas de conhecimento e historicidade
trazem à Arqueologia.
Palavras-chave: arqueologia colaborativa, multivocalidade, Asurini
do Xingu.

COMMUNITY ARCHAEOLOGY IN AMAZONIA: KUATINEMU


INDIGENOUS LAND, XINGU RIVER, PARÁ
Abstract
We present the procedures and preliminary results of archaeo-
logical and ethnoarchaeological research held in May 2010, with
the objective of locating the Asurini do Xingu old settlements
on the banks of the Ipiaçava river and verify the archaeologi-
cal potential of this area of Kuatinemu Indigenous Land. Both
the archaeologists and the Asurini Indians carried out the project,
contributing with different interests and expertise in the prepara-
tion, organization, logistics, activities schedule and the interpreta-
tion of the rain forest landscape and material data. Reporting this
experience, we wish to contribute for the debate about reflexive
and multivocal practices, highlighting the multicultural dialogue
and expression of different forms of knowledge and histories
brought to Archaeology.
Keywords: community archaeology, multivocality, Asurini do Xingu.

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Arqueologia colaborativa na Amazônia

ARQUEOLOGIA DECOLABORACIÓN EN LA AMAZONÍA:


TIERRA INDÍGENA KUATINEMU, RIO XINGU, PARÁ
Resúmen
Este artículo presenta los procedimientos y los resultados preliminares
de la investigación arqueológica y etnoarqueológica realizada en mayo
de 2010, con el fin de encontrar antiguos asentamientos Asuriní en la
ribera del río Ipiaçava y comprobar el potencial arqueológico de esta
parte de la Tierra Indígena Kuatinemu. Los arqueólogos y los Asurini
llevaran a cabo el proyecto, contribuyendo con diferentes intereses y
experiencias en su desarrollo, logística, cronograma de actividades y
la interpretación de los restos materiales encontrados. Con esta ex-
periencia queremos contribuir al debate sobre la práctica reflexiva y
varias voces, destacando la contribución que el diálogo multicultural
y la expresión de las diferentes formas de conocimiento y la historia
traen a la arqueología.
Palabras-clave: arqueología de colaboración, multivocalidad,
Asurini do Xingu.

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Silva, F. A. et al.

O projeto de pesquisa “Território e do projeto, na organização logística,


História dos Asurini do Xingu: Um estu- no cronograma de atividades e na in-
do bibliográfico, documental, arqueológi- terpretação dos vestígios materiais en-
co e etnoarqueológico sobre a trajetória contrados nas antigas aldeias e sítios
histórica dos Asurini do Xingu (século arqueológicos.
XIX aos dias atuais)”, foi idealizado para
Esta experiência, assim como outras
compreender como esta população in-
que vivenciamos em outros contex-
dígena amazônica vem (re)definindo
tos (p. ex. Silva 2009; Silva et.al. 2010;
seu modo de vida e identidade desde o
Bespalez 2009; Stuchi 2010), refor-
encontro com os brancos e, ao mesmo
çou o fato de que o interesse sobre
tempo, como atua frente às forças do
o passado e as razões para a preser-
sistema econômico ocidental. O projeto
vação deste conhecimento são múlti-
teve origem em 2007, quando os Asurini
plas, contextuais e situacionais. Além
manifestaram o interesse em visitar suas
disso, reiterou a perspectiva de que
antigas aldeias na T.I. Kuatinemu e, ao
as práticas arqueológicas reflexivas e
mesmo tempo, vistoriar o território que
multivocais não conduzem automati-
há anos não percorriam e que começa a
camente ao consenso entre os sujeitos
ser cobiçado por grileiros. Conforme os
nelas envolvidos. Contudo, mostrou
Asurini, “os jovens precisavam conhecer
que as diferenças podem estimular
a história da ocupação desta terra e as-
um profícuo diálogo e a expressão de
sumir a responsabilidade de zelar pela sua
diferentes formas de conhecimento e
preservação”. Os velhos queriam rever
regimes de historicidade.
suas antigas moradas e mostrar aos mais
jovens parte da sua história. Os jovens,
por sua vez, desejavam visitar estes anti- A PESQUISA ARQUEOLÓGICA
gos locais de ocupação dos seus ances- COLABORATIVA
trais, conhecidos somente pelos relatos
de seus pais e avós. A reflexão sobre o processo de construção
da pesquisa e suas conseqüências ganhou
Neste artigo apresentaremos os pro- destaque na agenda dos debates ocorri-
cedimentos e primeiros resultados da dos em diferentes fóruns científicos. A
pesquisa arqueológica e etnoarque- perspectiva interdisciplinar e a colabo-
ológica realizada em maio de 2010, ração multicultural têm sido a tônica
com o objetivo de localizar os antigos de vários projetos científicos que bus-
assentamentos Asurini que ficavam às cam complexificar a produção e uti-
margens do igarapé Ipiaçava e verificar lização dos conhecimentos.
o potencial arqueológico dessa parte
da T.I. Kuatinemu. Também preten- Essa reflexão vem fundamentando as
demos mostrar que os arqueólogos e críticas sobre a natureza colonialista
os Asurini foram os protagonistas do da disciplina, provocando transfor-
projeto, contribuindo com diferentes mações nas práticas arqueológicas. As
interesses e expertises na elaboração críticas são pautadas nos questionamentos
sobre os benefícios e os beneficiári-

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Arqueologia colaborativa na Amazônia

os das pesquisas arqueológicas, na de perspectivas e conhecimentos de


relativização do direito e da capaci- indivíduos ou grupos de indivíduos
dade dos arqueólogos de controlar o pertencentes a diferentes contextos
conhecimento sobre o passado e na disciplinares, institucionais e culturais
eliminação da supremacia da inter- (Adler e Bruning 2008, Kuwanwisiwma
pretação científica em detrimento das 2008, Smith e Jackson 2008). Em con-
interpretações êmicas sobre o passado. textos indígenas, esta abordagem pres-
As transformações, por outro lado, têm supõe a perspectiva multicultural na
conduzido ao desenvolvimento de práti- construção do conhecimento e isto
cas arqueológicas mais inclusivas, menos implica em contrapor diferentes mo-
colonizadoras e, particularmente, nos dos de ver e conhecer o mundo, neste
contextos indígenas, de uma “indigeniza- caso, dos arqueólogos/etnoarqueólo-
ção”1 da arqueologia (p. ex. Smith e Wobst gos e dos indígenas. É preciso com-
2005, Colwell-Chanthaphonh e Fergu- preender que as populações nativas
son 2008, Bruchac, Hart e Wobst 2010). têm uma relação dinâmica e dialética
Um dos resultados do processo reflexivo com o seu passado.
é a constatação de que é preciso investir
Em termos metodológicos, a prática
na elaboração de projetos de arqueologia
colaborativa possui algumas estraté-
colaborativa com uma perspectiva mais
gias fundamentais: 1) promover a in-
dialógica, para construir o conhecimento
teração social entre a equipe de pes-
sobre o passado de modo mais dinâmico
quisa e a comunidade local; 2) manter
e dialeticamente relacionado ao presente.
a presença da equipe na área ao longo
Em seu escopo mais amplo a Arqueo- da pesquisa; 3) buscar recursos para
logia Colaborativa (Community Archae- beneficiar a comunidade local; 4) man-
ology), é entendida como uma prática ter a comunidade inteirada sobre os
arqueológica que visa estabelecer a procedimentos e andamento da pes-
colaboração e o envolvimento de dife- quisa; 5) permitir o acesso fácil da co-
rentes coletivos nas questões relativas munidade aos vestígios arqueológicos
à pesquisa e gestão do patrimônio cul- coletados. Assim, o que caracteriza
tural (Marshall 2002; Merriman 2004; metodologicamente essa prática é: 1) a
Tully 2007). A realização da pesquisa comunicação e colaboração com a co-
colaborativa, necessariamente, pres- munidade em todo o processo da pes-
supõe o alinhamento de interesses e quisa; 2) o emprego e treinamento de
benefícios entre os cientistas e as co- membros da comunidade; 3) a preser-
munidades a serem estudadas e/ou vação pública do patrimônio cultural;
que ocupam os lugares a serem inves- 4) a prática de entrevistas e pesquisa
tigados. Porém, esse tipo de investi- da história oral; 4) a produção de re-
gação não requer coesão de idéias ou cursos educacionais; 5) a realização
interpretações sobre os fenômenos de vídeos e fotografias; 6) o controle
estudados, mas a valorização da mul- comunitário da divulgação dos resul-
tivocalidade ou, em outras palavras, tados (Moser et. al. 2002, Tully 2007).

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Silva, F. A. et al.

A PESQUISA COLABORATIVA NA vos. A pesquisa colaborativa aflorou da


T. I. KUATINEMU necessidade dos velhos Asurini trans-
mitirem sua história mais recente, que
No Brasil, a maioria das pesquisas ar-
incluía levar os mais jovens aos antigos
queológicas em território indígena par-
assentamentos onde aconteceu o con-
te da iniciativa do pesquisador e não
tato com os brancos; aflorou também
das populações locais. Estas pesquisas
do grande interesse dos jovens em
têm diferentes motivações: 1) as situa-
conhecer estes locais, tão presentes nas
ções de demarcação, manutenção e
narrativas sobre o passado dramático
reivindicação de territórios tradicionais
da infância dos seus pais e da juven-
por parte dos coletivos indígenas; 2)
tude dos seus avós, que quase desapa-
a realização de empreendimentos que
receram como povo indígena.
demandam trabalhos de arqueologia
preventiva ou de arqueologia pública; Um aspecto marcante da narrativa
3) pesquisas acadêmicas com o foco histórica pós-contato dos Asurini do
na construção de uma história indíge- Xingu, a partir dos anos 1970, trata das
na de longa duração (p. ex. Eremites de perdas populacionais devido às doen-
Oliveira 1996, 2002, 2005, Eremites de ças infecciosas transmitidas pelos bran-
Oliveira e Pereira 2009, Funari, Olivei- cos e que causaram o desequilíbrio na
ra e Tamanini 2005, Robrahn-González sua pirâmide etária. Atualmente, mais
2005, Fausto 2006, Funari e Robrahn- da metade dos Asurini têm menos de
González 2007, Moi 2007, Wüst 1991, 25 anos de idade. Müller (2002:204 e
Heckenberger 1996, Neves 1998, Ro- 206) refletiu sobre o fato, chamando
drigues 2007, Bespalez 2009, Silva 2009, a atenção para o desequilíbrio de uma
Silva et al. 2010, Stuchi 2010). sociedade com poucos adultos “com
maior experiência da cultura tradicio-
No caso da pesquisa entre os Asurini
nal” e com muitos jovens e crianças
do Xingu, as motivações foram diversas
que têm “entre seus pares, experiências
e partiram da junção entre os interesses
variadas de identidade, socialização, in-
da pesquisadora2 e dos próprios índios.
tegração social, participação cultural,
De certa forma, o projeto resultou
língua falada”. Diferentemente das
da prolongada convivência, do apro-
velhas gerações, os jovens e as crianças
fundamento das relações sociais e de
vêm convivendo intensamente com o
amizade e do entendimento mútuo: os
mundo branco, se deparando com no-
Asurini compreendendo os objetivos
vas realidades e tendo de construir sua
das sucessivas pesquisas e como elas
identidade a partir desta situação de
poderiam ser úteis aos seus interesses
contato. Este desequilíbrio torna ur-
mais diversos, que iam da política até
gente, como os próprios Asurini ver-
a transmissão de conhecimentos e a
balizam, o resgate e a preservação do
preservação da sua história; a pesquisa-
conhecimento armazenado pelas velhas
dora conhecendo os Asurini, tanto nos
gerações sobre a história e o modo de
termos da pesquisa, como em nível
vida Asurini.
pessoal e dos diversos interesses coleti-

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Arqueologia colaborativa na Amazônia

Além da questão demográfica, outros as- ante de novos desafios para o futuro de
pectos também têm afetado a dinâmica sua etnia. O projeto contemplou as es-
cultural e a trajetória histórica Asurini. tratégias metodológicas definidas para
Ou seja, diferentes grupos de indi- estabelecer a prática colaborativa: 1)
víduos, instituições e empresas com os os Asurini participaram na elaboração
mais variados interesses econômicos, da proposta e na definição da logística
políticos, científicos, sociais e religio- do projeto; 2) foram os guias na expe-
sos vêm atuando junto a eles no cotidi- dição pelo igarapé Ipiaçava, definindo
ano da aldeia (Silva 2005, 2007). Atual- os locais de acampamento e indicando
mente, vistoriar e proteger suas terras a localização dos sítios a serem pes-
contra possíveis invasões de grileiros, quisados; 3) foram contratados como
posseiros e madeireiros, passou a ser auxiliares no levantamento do poten-
crucial para os Asurini, que acompanham cial arqueológico da área e na logística
os embates relativos às tentativas de in- da expedição pelo Ipiaçava; 4) foram
vasão das terras indígenas nesta região responsáveis pela elaboração de parte
paraense do Baixo-Médio Xingu e, do material audiovisual (Figura 1).
especialmente, no atual contexto de
Durante a pesquisa, as velhas gerações
expectativa e especulação sobre a con-
prestaram depoimentos – gravados em
strução da UH Belo-Monte. A nova re-
áudio e vídeo - a respeito dos episó-
estruturação da FUNAI também traz
dios pré e pós-contato relembrando as
suas conseqüências como, por exem-
situações belicosas com outras popula-
plo: 1) o surgimento de lideranças jo-
ções indígenas desta região do Xingu
vens com uma maior responsabilidade
(p. ex. Xikrin-Kayapó e Araweté), da
na resolução dos assuntos administra-
localização dos antigos assentamentos
tivos e problemas (sociais, políticos,
e acampamentos, dos fatos que con-
econômicos) da aldeia; 2) o enfraqueci-
duziram à necessidade de instalar suas
mento do poder politico e decisório das
aldeias na área do igarapé Ipiaçava e do
velhas gerações; 3) a percepção Asurini
seu contato com os brancos. Por outro
de uma maior autonomia na direção
lado, os jovens se encarregaram de
de seus destinos; 4) a insegurança com
acompanhar esses relatos, formulando
relação ao seu futuro, diante do en-
fraquecimento da tutela do órgão indi-
genista governamental.
Portanto, a formulação do nosso pro-
jeto de pesquisa e a sua execução es-
tavam inseridas nesta conjuntura. Ou
seja, a proposta de pesquisa foi moti-
vada e conduzida a partir da demanda
das velhas e novas gerações que temem
a perda dos conhecimentos “tradicio-
nais” e, ao mesmo tempo, se vêem di- Figura 1 – Planejamento da pesquisa

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Silva, F. A. et al.

os questionários na língua Asurini e, A LOGÍSTICA NA ÁREA DA PESQUISA


posteriormente, traduzindo os relatos
A navegabilidade do igarapé Ipiaçava
para o português.
muda conforme as estações do ano,
No trabalho de identificação dos antigos fator que determina a dinâmica da pes-
assentamentos e acampamentos, os velhos quisa. A ida aos antigos assentamentos
se ocuparam em indicar a localização dos Asurini foi realizada em maio, entre
mesmos e de mostrar aos jovens os sinais as estações de chuva e seca, sendo o
que confirmavam a existência desses período ideal para o trabalho de ar-
antigos locais de ocupação (vegetação queologia. É logisticamente oneroso ir
secundária/capoeiras, terra preta antro- para campo na estação chuvosa, pois
pogênica (TPA), antigas trilhas na mata, as precipitações são torrenciais, difi-
vestígios de esteios da tavyva,3 cerâmica, cultando o deslocamento fluvial e ter-
material lítico, cemitérios). Os jovens, por restre e a pesquisa. Contudo, fomos
sua vez, realizaram o trabalho pesado (p. surpreendidos com várias chuvas tor-
ex. abrir picadas na mata, desobstruir o renciais, no início de maio. Também
leito do igarapé Ipiaçava para a passagem seria difícil pesquisar a partir de junho,
das canoas, montar os acampamentos, na estação seca, quando a vazão do
conseguir e processar alimento), auxiliaram Ipiaçava é muito rápida, com muitas
nas tarefas de coleta do material históri- corredeiras e pedras até os locais de
co/arqueológico, auxiliaram na tradução ocupação à montante, acessíveis ape-
das informações dos velhos não- nas para embarcações pequenas. Por-
bilíngues e aprenderam a usar os equipa- tanto, foi necessário estabelecer um
mentos (p.ex. GPS, bússola, ferramentas cronograma rigoroso para a pesquisa.
de escavação). A divisão do trabalho por Controlamos diariamente a vazão do iga-
gênero e faixa etária foi definida pelos rapé, pois havia o risco das condições de
Asurini durante a organização logística da navegabilidade dificultarem sobrema-
pesquisa, na aldeia Kuatinemu. neira ou até impedirem o retorno à al-
Velhos e jovens deram depoimentos sobre deia Kuatinemu.
a pesquisa e, embora este material ainda Outro aspecto importante e que preci-
não tenha sido devidamente processado sou ser considerado durante a tomada
e analisado, já foi possível observar que de decisões sobre os procedimentos
para ambas as gerações tratou-se de uma metodológicos a serem realizados na
oportunidade de (re)ver uma parte da pesquisa arqueológica foi o número de
sua trajetória nestas terras do Xingu e, pessoas envolvidas na pesquisa. Havia
especialmente, no igarapé Ipiaçava. O 55 pessoas acompanhando o trabalho,
trabalho produziu um profundo diálogo dentre homens, mulheres – jovens e
entre jovens e velhos, entre o passado e velhos – e crianças e isto implicou em
o presente Asurini e proporcionou uma regular as atividades da pesquisa com
experiência dos sentidos em cada um dos a dinâmica de obtenção de alimentos
lugares investigados. (caça e pesca), os eventuais problemas
de saúde, os conflitos interpessoais, os

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Arqueologia colaborativa na Amazônia

ânimos e desânimos para o trabalho, etc. no futuro. O survey pode abranger a


Realizar uma pesquisa arqueológica de exploração informal ou a investiga-
caráter colaborativo e multicultural im- ção detalhada de sítios e artefatos de
plica em relativizar nossas concepções área ou região determinada; ou pro-
de tempo, produtividade e eficiência de porcionar amostragens representati-
trabalho (Figura 2). vas (sistemáticas ou assistemáticas) de
vestígios materiais. Além disso, o survey
pode ser feito com a inspeção visual
CONSIDERAÇÕES SOBRE A (caminhamentos e sondagens) e com
METODOLOGIA DE CAMPO técnicas de sensoriamento remoto
Como essa etapa foi um diagnóstico (Banning 2002).
do potencial arqueológico na T.I. Kua- A T.I. Kuatinemu possui densa cobertura
tinemu, aplicamos técnicas de levanta- vegetal, obrigando a considerar dois
mento (survey) arqueológico adaptadas fatores para a logística e a duração do
ao contexto florestal. O survey pode survey: visibilidade e acessibilidade. A
ser o primeiro estágio de uma pesquisa visibilidade é a característica contex-
arqueológica local e/ou regional, per- tual que determina se os vestígios da
mitindo acessar aspectos dos sistemas superfície serão detectados com facili-
de assentamentos do passado e desco- dade ou dificuldade. A acessibilidade é
brir artefatos e sítios arqueológicos que a condição contextual que determina
poderão ser investigados detalhadamente

Figura 2 - Jovens Asurini escavando no Kuatinemu Velho.

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Silva, F. A. et al.

o ingresso do arqueólogo nas áreas logia da seguinte forma: 1) localização


de pesquisa. Com a cobertura vegetal preliminar das antigas aldeias, visando
densa, a visibilidade dos vestígios tende detalhar a contextualização arqueológi-
a ser baixa e a acessibilidade pode ser ca posteriormente; 2) a inspeção vi-
difícil. Isso implica na combinação de sual das áreas pontuais indicadas pelos
estratégias de inspeção visual de su- Asurini; 3) não abrimos transects para
perfície e de sub-superfície, optando localizar os sítios, coletar material e re-
por uma cobertura mais pontual, em alizar sondagens, pois não era objetivo
locais com maior acessibilidade, com da pesquisa delimitar a extensão dos
uma vegetação de estratos arbóreos/ sítios e a dispersão do material. O sur-
arbustivos menos compactos. Assim, vey, portanto, foi conduzido de forma
quando um curso d’água é a melhor oportunística, com cobertura parcial,
opção de ingresso, as técnicas de survey amostragens aleatórias e pontuais dos
comumente adotadas são a inspeção vestígios materiais (Plog, Plog e Wait
visual de superfície e sub-superfície 1978, Redman 1973).
em clareiras e nos transects abertos na
A pesquisa colaborativa no survey
mata, com diferentes tipos de sonda-
emergiu da mescla entre o conheci-
gem (p. ex. poços-teste, tradagens,
mento territorial e da vegetação pe-
divoting e/ou shovel testing, cf. Banning
los velhos Asurini, com as técnicas
2002). A inspeção visual de superfície
da arqueologia. A memória da ocu-
e sub-superfície é complementada por
pação de um território no interior da
observações in loco de ecofatos (solos
floresta e dos seus sinais de antropização,
antropogênicos, elevações no terreno,
como os antigos caminhos, as roças,
etc) ou bioturbações (árvores caídas,
as aldeias, as plantas, a vegetação
esconderijos de animais, etc) (Schiffer
manejada e a sucessão vegetacional,
1987:199-234). Quando a visibilidade e
foram determinantes para guiar e
a acessibilidade dificultam o survey flo-
definir as áreas pontuais do levanta-
restal, é difícil e demorado o levanta-
mento arqueológico. Com precisão
mento com cobertura total (full coverage).
ou com pequena margem de erro, a
Na densa floresta, para um diagnóstico
memória espacial dos antigos lugares
preliminar, é comum: 1) levantamento
de habitação e exploração de recur-
com cobertura parcial (probabilística e
sos, nos levou aos locais certos para
oportunística); 2) realização de coletas
a pesquisa.
de superfície (amostragem aleatória e
sistemática) e/ou coletas de sub-super-
fície (amostragem sistemática); 3) co-
letas pontuais (amostragens pontuais)
(Banning 2002:113-121). A CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL
DA T. I. KUATINEMU
Como os Asurini sabiam em quais
áreas ao longo do igarapé Ipiaçava A T. I. Kuatinemu fica na Amazônia
faríamos o survey, adaptamos a metodo- Oriental, com 387.834 ha, nos mu-
nicípios de Altamira e Senador José

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Arqueologia colaborativa na Amazônia

Porfírio, Estado do Pará. Seus limites ter- o tropical de floresta Af (temperatura


ritoriais: 1) norte: igarapé sem nome, média anual de 26oC, amplitude não ul-
próximo à Serra do Escalaço, até sua trapassa 5oC) e o tropical de savana Aw
foz no rio Xingu, mais as cabecei- (regime de chuvas com estação seca bem
ras dos igarapés Itaúna e Itatá; 2) sul: acentuada no inverno (junho a novem-
todo o igarapé Piranhaquara; 3) leste: bro), com pelo menos um mês com chu-
médio-alto igarapé Ipiaçava, conectado va inferior a 60 mm). A época com mais
por uma divisa seca até as cabeceiras chuva é dezembro-maio, com variação
do Piranhaquara; 4) oeste: o médio- média entre 2500-2750 mm.
baixo Xingu (Figura 3).
O solo predominante é o podzólico
A área situa-se na Depressão Periférica vermelho–amarelo, variando em sua
do Sul do Pará, em uma faixa de transição associação com outros tipos de solos
de domínios morfoclimáticos, constituí- conforme o relevo. As colinas de topo
dos por depressões, colinas, colinas de aplainado apresentam solo podzólico
topo aplainado e vales pouco encaixados, associado aos solos dos tipos plíntico,
cobertos principalmente por florestas latossolo vermelho-amarelo, terra roxa
abertas mistas. A T. I. Kuatinemu guarda estrutural eutrófica e solos concre-
uma diversidade ecológica que não foi cionários lateríticos indiscriminados.
totalmente estudada, havendo apenas Já os relevos com formas de mesa e
os dados do Projeto RADAMBRASIL inselbergs, possuem solos podzólicos as-
(1974a, 1974b). O clima da região, pela sociados com solos litólicos distróficos
classificação de Köppen, compreende a (RADAMBRASIL 1974a e b).
zona climática A (tropical chuvoso), com
A formação de floresta aberta mista
a variação tropical de monção Am, com
caracteriza-se por conter grandes ár-
chuvas do tipo monção. O clima tropical
vores, com freqüentes grupamentos de
de monção da área é intermediário entre
palmeiras e enorme quantidade de feneró-
fitas sarmentosas que envolvem as ár-
vores e cobrem inteiramente o estrato
inferior. Na T.I. Kuatinemu possui fi-
sionomias ecológicas Mista (Cocal) e
Latifoliada (Cipoal). A Floresta Mista é
uma formação de palmeiras e árvores
latifoliadas sempre verdes, bem espaça-
das, de altura irregular (10-25m), com
agrupamentos de palmeiras babaçu
(Attalea speciosa Mart. ex. Spreng.) nos
vales rasos, e concentrações de nano-
foliadas deciduais nos testemunhos
quartizíticos das superfícies aplainadas.
Figura 3 – Mapa de localização da terra in- A Floresta Latifoliada é uma formação
dígena Asurini. arbórea total ou parcialmente envolvi-

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Silva, F. A. et al.

da por lianas, cujas feições, ditadas pela nados com a fitogeografia amazônica,
topografia, constituem nas áreas aplai- agindo separadamente ou em combi-
nadas uma fisionomia florestal bastante nação. Contudo, pesquisas no âmbito
aberta, de baixa altura (raramente passa da ecologia histórica e das etnociências
dos 20m). Já nas áreas mais acidenta- revelam que os ambientes não podem
das, com estreitos vales ocupados por continuar sendo vistos exclusivamente
linhas de babaçu e largas encostas co- como formações primárias, mas tam-
bertas por cipoal, as árvores são mais bém como o resultado do manejo, ou
altas (<25m) e densamente distribuí- seja, da manipulação humana de com-
das. Dentro dos limites da T.I. Kuati- ponentes orgânicos e não orgânicos
nemu encontra-se, em menor escala, de forma consciente ou inconsciente,
a Floresta Densa (Ombrófila), classe conformando paisagens vivas.
sub-montana, nos contornos da Serra
Na T. I. Kuatinemu, durante a nossa ex-
do Bacajá. A Floresta Densa caracteri-
pedição ao igarapé Ipiaçava, constatamos
za-se pelas grandes árvores, com mais
a ocorrência das formações florestais
de 50m, que sobressaem entre 25-35m
apresentadas pelo RADAMBRASIL,
de altura do estrato arbóreo, porém,
principalmente, a formação mista de
quando ocorre na classe sub-montana,
palmeiras e árvores latifoliadas. Prati-
sua estrutura apresenta-se mais baixa
camente todos os locais visitados e
(<10-15m) (RADAMBRASIL, 1974a
que consistiram de aldeias antigas e
e b). Por fim, as inúmeras ilhas que
acampamentos, apresentavam este tipo
compõe a planície fluvial do rio Xingu
de vegetação, com predomínio de pal-
possuem solos aluviais e hidromórfi-
meiras de babaçu. Por se tratar de sítios
cos indiscriminados (eutróficos e dis-
histórico/arqueológicos, por apresen-
tróficos), cujos terraços são cobertos
tarem TPA e áreas com evidências de
por Floresta Densa, com estrutura
manejo de roças, de trilhas, etc, é certo
complexa, rica em palmeiras (como
que sejam áreas de florestas culturais.
açaí – Euterpe sp. e a buritirana – Mauri-
Os Asurini classificam essas forma-
tia armata Mart.).
ções, o que é outro indicador de mane-
Ressalta-se que a fonte dos dados da jo da paisagem. Foram coletados dados
descrição ambiental enquadra-se den- etnográficos sobre este etnoconhecimen-
tro de uma epistemologia que, segun- to botânico, porém, os mesmos ainda
do Balée (1989:95), é excessivamente não foram totalmente processados e
naturalística, que geralmente explica os analisados.
tipos de vegetação como provenientes
da idade e da estrutura geológica do
substrato, da composição e estrutura OS SÍTIOS HISTÓRICOS/ARQUEOLÓGICOS
do solo, do tipo de água aproveitável, NA T. I. KUATINEMU
das condições de drenagem, da quan- Localizamos seis sítios históricos/ar-
tidade e distribuição das chuvas. Tais queológicos e 1 área de ocorrência ar-
fatores, em parte, podem ser relacio- queológica4 (figura 4). Na sua maioria

44 Amazônica 3 (1): 32-59, 2011


Arqueologia colaborativa na Amazônia

são sítios multicomponenciais (históri- contribuirão para definir a variabilidade


cos e arqueológicos) com uma estrati- artefatual e a cronologia das ocupações
grafia que não ultrapassa os 50cm de indígenas nesta área do rio Xingu.
profundidade. A maioria apresenta em
superfície a associação de vestígios da
ocupação Asurini com evidências de SÍTIO ALDEIA KUATINEMU (TI-KTM-01)
outras ocupações arqueológicas. Os Está situado na atual sede da T. I., em
materiais encontrados foram, princi- um grande terraço fluvial não inundável,
palmente, fragmentos cerâmicos e ma- à margem direita do rio Xingu, margem
teriais líticos e, em menor quantidade, direita da foz do igarapé Ipiaçava (coord.
vestígios orgânicos, incluindo carvões UTM 22M 0324327/9552274). Ele dista
colhidos para datação. cerca de 100 km do município de Al-
Os registros históricos/arqueológicos tamira e o acesso à área é via fluvial pelo
da T.I. Kuatinemu podem ser enten- Xingu, na direção sul.
didos como correlatos da dinâmica Os materiais arqueológicos abundam
histórica e cultural das populações in- nas áreas dos espaços domésticos,
dígenas que ocuparam a área. Assim, onde os solos têm pouca ou nenhuma
enquanto os conjuntos atribuídos aos cobertura vegetal, perturbados por
Asurini podem ser compreendidos processos erosivos antrópicos e naturais.
no âmbito das transformações sócio- É provável que o sítio exceda os
culturais devidas ao contato, os com- limites da área ocupada atualmente,
ponentes arqueológicos podem estar cuja definição será uma tarefa futura.
relacionados com a trajetória de grupos O registro arqueológico é constituído
culturalmente diversos, como as socie- por fragmentos e vasilhas cerâmicas
dades agricultoras, sedentárias, densas inteiras, vestígios líticos de lascamento
e complexas detectadas arqueologica- e polimento, restos de alimentação,
mente em vários pontos da Amazô- carvões, sedimentos antrópicos, res-
nia. A análise dos vestígios materiais e tos industrializados, feições e estrutu-
a datação das amostras arqueológicas ras diversas. Decidimos, em consenso
com os Asurini, fazer um poço-teste
de 1m² em uma lixeira no limite do
quintal e a capoeira, onde há materiais
arqueológicos de outras populações
que se assentaram na área. A superfície
do poço-teste possui sedimento com
textura arenosa fina, coloração preta
(7.5YR2.5/1). A base da camada arque-
ológica nesta área do sítio está a 50cm
de profundidade. Coletamos 940 materi-
Figura 4 – Fragmentos de cerâmica encon- ais arqueológicos, mais sete amostras de
trados durante a prospecção 10cm³ de sedimentos para flotação, três

Amazônica 3 (1): 32-59, 2011 45


Silva, F. A. et al.

amostras estratigráficas em tubo PVC níveis 3 e 4, não foram reconhecidos


(para datas TL). Coletamos materiais para pelos Asurini como pertencentes a eles,
datação C¹4 a partir do nível 3, devido às uma vez que disseram que desconhe-
condições da estratigrafia e para não con- ciam as técnicas de confecção destes
taminar as amostras. artefatos. Encontramos vestígios em
lascas, núcleos e percutores, confeccio-
Conforme as observações in loco, os
nados em quartzo, quartzito, silexito,
registros da ocupação Asurini, iniciada
granito e arenito; e de polimento, em
em 1984, são diferenciados dos vestí-
alisadores, polidores, calibradores e
gios deixados por outros grupos no
fragmentos de lâmina de machado e
contexto arqueológico. Assim, enquan-
de mão de pilão, em granito e rochas
to os primeiros são formados por den-
verdes. Além do mais, cabe ressaltar
sidade considerável de material vegetal,
que há uma grande oficina lítica for-
ósseo e industrial, além do cerâmico,
mada por bacias e sulcos de polimento
os outros são constituídos por densi-
no afloramento granítico localizado no
dades maiores de materiais cerâmicos e
porto da aldeia (Silva 2000 e 2002).
líticos e por poucos vestígios orgânicos
e industrializados. Todavia, claro está
que ambos os conjuntos estão mistura-
SÍTIO AVATIKIRERA (TI-KTM-02)
dos nos níveis 1, 2 e, talvez, nos níveis
3 e 4, devido às perturbações antrópi- A sua localização foi mencionada pelos
cas e naturais. Apesar da ocorrência de Asurini durante a escavação do poço-
fragmentos engobados de vermelho, teste na Aldeia Kuatinemu. O Ava-
bordas infletidas e paredes carenadas, tikirera foi o primeiro local ocupado
o material cerâmico não-Asurini cole- por eles na margem do Xingu. O as-
tado no poço-teste é majoritariamente sentamento começou em 1982, por in-
constituído por fragmentos patinados fluência da FUNAI, quando os Asurini
de vasilhas lisas, sem muitos atributos abandonaram o Kuatinemu Velho, no
decorativos plásticos e cromáticos, baixo Ipiaçava, e terminou após dois
sobretudo os vasilhames com con- anos, com a mudança para a aldeia atual.
torno composto ou complexo. Toda- O abandono do Kuatinemu Velho e o
via, destaca-se que observamos vários aldeamento no Avatikirera ocorreram
fragmentos decorados com pinturas por fatores logísticos da assistência
e incisões, dotados de pontos de in- prestada pela FUNAI e para prevenir
flexão e de ângulo nas áreas de maior o ataque dos Araweté. Também pela
visibilidade do sítio. Afora isso, como proximidade de recursos naturais, so-
indicaram os próprios índios, o com- bretudo peixes e por fatores culturais
ponente em questão apresenta frag- de caráter mítico-religioso, ligados à
mentos mais espessos que os conjun- relação dos Asurini com a morte e o
tos identificados como Asurini. sobrenatural. Muitos dos membros do
grupo vitimados pelas doenças trans-
Os materiais líticos retirados do poço-
mitidas pós-contato foram enterrados
teste, coletados majoritariamente nos
na tavyva do Kuatinemu Velho, onde

46 Amazônica 3 (1): 32-59, 2011


Arqueologia colaborativa na Amazônia

existem muitos aninga (espíritos). O sistemáticas e pontuais e tradagem, resul-


abandono do Avatikirera enquanto as- tando em 166 fragmentos cerâmicos, 11
sentamento residencial, uma vez que restos de alimentação e quatro líticos.
o local continua sendo utilizado como
A análise das evidências poderá solu-
área de coleta, caça e agricultura, ocor-
cionar as questões sobre a variabili-
reu devido às inundações sazonais.
dade artefatual no Avatikirera, porém
O acesso à Avatikirera é via fluvial, somente a realização de atividades
pelo rio Xingu, a meia hora de navega- mais sistemáticas, como a definição do
ção para o norte, desde Kuatinemu. O processo de ocupação e a sua datação,
sítio está em um terraço fluvial parcial- mais a análises das amostras é que vão
mente inundável, perto da margem di- mostrar se o sítio apresenta elementos
reita da foz do Ipiaçava com o Xingu que podem ser atribuídos às outras
(coord. UTM 22M 0324420/9553966). populações indígenas que ocuparam a
A cobertura vegetal é predominante- área, além da bacia de polimento de-
mente mata ciliar e secundária, com tectada no matacão próximo ao porto.
destaque para as roças, áreas também Contudo, os ecofatos e refugos de ma-
usadas para caça, onde são encontra- teriais industrializados, mais as carac-
dos ecofatos utilizados na subsistência terísticas dos fragmentos cerâmicos e
e na captação de matérias-primas. Na as informações etnográficas indicam
superfície os sedimentos são areia fina, que os materiais coletados foram des-
cor preta (7.5YR2.5/1), serrapilheira cartados pelos Asurini.
e vegetação de pequeno porte, bem
como materiais deixados pelos Asurini
e, provavelmente, pelos outros grupos SÍTIO KUATINEMU VELHO (TI-KTM-03)
que ocuparam a área. O Kuatinemu Velho, também chama-
Os materiais Asurini são semelhantes do de Aldeia Velha, foi o primeiro
aos da Aldeia Kuatinemu, constituídos aldeamento Asurini organizado pela
por fragmentos de vasilhas cerâmi- FUNAI, em 1972. A ocupação do
cas, restos de alimentação, refugos de Kuatinemu Velho perdurou por mais
materiais industrializados, estrutura de 10 anos, até a mudança para o
do Posto da FUNAI (construído em Avatikirera e, posteriromente, para a
alvenaria), canoa abandonada e ecofa- Aldeia Kuatinemu. Além de ser um
tos. Devido ao caráter pontual das destacado marco paisagístico e ser uti-
atividades realizadas no Avatikirera, lizado em atividades de caça, pesca e
não separamos os elementos Asurini coleta, o sítio possui um grande valor
dos não-Asurini, porém a ocorrência simbólico para os Asurini, devido aos
desses últimos foi aventada devido à sepultamentos dos seus parentes na
detecção de uma bacia de polimento casa comunal (tavyva).
sobre um matacão granítico no porto Ele está localizado, aproximadamente,
do sítio (Silva 2002). Além do registro a 20 Km da Aldeia Kuatinemu, e o
do sítio, fizemos coletas de superfície as- acesso é via fluvial, subindo o igarapé

Amazônica 3 (1): 32-59, 2011 47


Silva, F. A. et al.

Ipiaçava, por cerca de 4 horas com cavação do poço-teste, um antigo es-


motor-rabeta. O sítio está implantado paço doméstico Asurini. A estratigrafia
no topo de um grande terraço fluvial apresentou duas camadas distintas,
não inundável, na margem direita (coord. onde conseguimos amostras para datas
UTM 22M 0338082/9545402). A vegetação TL e verificamos a presença de ocu-
apresenta mata secundária mais desen- pação arqueológica, como fragmentos
volvida que no Avatikirera, floresta e de vasilha cerâmica com a face externa
ecofatos. Na superfície os sedimentos acordelada e líticos lascados e polidos.
têm textura argilo-siltosa, cor preta
(7.5YR2.5/1), provável origem an-
trópica, serrapilheira, vegetação de SÍTIO ITAPEMU’U (TI-KTM-04)
pequeno porte. Encontram-se vestí- É um acampamento Asurini na mar-
gios Asurini e arqueológicos. Como na gem direita do médio curso do Ipiaçava
Aldeia Kuatinemu e no Avatikirera, os (coord. UTM 22M 0352567/9538272),
elementos Asurini apresentam-se mis- utilizado esporadicamente nos des-
turados aos materiais arqueológicos, na locamentos casuais pelo igarapé. A
superfície e na subsuperfície. São frag- partir do Kuatinemu Velho chega-se
mentos de vasilhas cerâmicas, restos ao Itapemu’u após 4 horas de rabeta
de alimentação, refugos de materiais contra a corrente, na direção Leste. No
industrializados, ecofatos e restos de final dos anos 1960, antes e durante o
estruturas, entre as quais se destacam contato, quando os Asurini estavam
os vestígios da tavyva, seus esteios, sepul- dispersos em acampamentos familiares
turas e respectivos acompanhamentos, e na aldeia Taiuviaka, o Itapemu´u foi
sobretudo vasilhas emborcadas ainda ocupado de modo mais permanente.
inteiras, já cobertas pela vegetação. O
componente não-Asurini apresenta A cobertura vegetal é formada por
alta densidade de fragmentos cerâmi- ecofatos, capoeira e pela mata ciliar do
cos, grande extensão de solos antro- igarapé. Na superfície os sedimentos
pogênicos, estratigrafia sem presença possuem textura silte-argilosa, cor preta
de materiais orgânicos e industriais, (7.5YR2.5/1), cobertos por serrapilheira,
bem como vestígios líticos de lasca- vegetação de pequeno porte e vestígios
mento e polimento, como as bacias e Asurini e arqueológicos. Em se tratando
sulcos da oficina lítica no afloramento dos primeiros, foram observados, além
granítico do porto do sítio. dos ecofatos, fragmentos de vasilhas
cerâmicas, refugos de materiais indus-
Fizemos registro, coleta de superfície trializados e restos faunísticos de ali-
e escavação de poço-teste, resultando mentação. Já as evidências não-Asurini
em 886 materiais arqueológicos (803 constituem-se de grandes extensões
cerâmicas, 72 restos faunísticos de de sedimentos escuros, provavelmente
alimentação, 7 líticos, 2 amostras de antropogênicos, fragmentos cerâmicos
carvões, 2 vidros). A coleta de super- em alta densidade, com destaque para a
fície foi realizada no entorno da es- ocorrência de faces externas corrugadas

48 Amazônica 3 (1): 32-59, 2011


Arqueologia colaborativa na Amazônia

e decoradas com incisões geométricas e na tavyva construída neste local.


apliques zoomorfos, além de líticos poli-
Localizado à meia hora do Itapemu’u,
dos, como lâminas de machado e bacias
subindo o Ipiaçava, Akapepuñgi está
e sulcos de polimento nos afloramentos
implantado em um terraço fluvial não
graníticos à margem do Ipiaçava.
inundável, na margem direita do igarapé
Realizamos coleta assistemática de (coord. UTM 22M 0354461/9539498).
superfície e escavação com duas A superfície apresenta topografia on-
tradagens. A coleta de superfície foi dulada, sedimento arenoso, grosso,
efetuada em uma área ampla do sítio mosqueado, marrom (7.5YR5/3) e cinza
e resultou em 750 cerâmicas, 5 líti- muito escuro (7.5YR3/1), serrapilheira,
cos e 6 restos faunísticos de alimen- vegetação rasteira e materiais arque-
tação. Também foram coletados mate- ológicos, principalmente fragmentos de
riais arqueológicos além dos limites vasilhas cerâmicas, restos faunísticos de
da terra-preta, com baixa densidade. alimentação – sobretudo jabuti e porco-
As tradagens foram escavadas nas do-mato – e refugos de materiais indus-
áreas do sítio com sedimentos trializados, como fragmentos de frascos
antropogênicos e grande densidade de vidro e pilhas esgotadas. A cobertura
de materiais arqueológicos desde a vegetal é formada por mata secundária,
superfície, com 30 cm de diâmetro mata ciliar e ecofatos.
e 1m de profundidade, revelando 2
Foi realizada coleta assistemática e a
camadas estratigráficas, (14 cerâmi-
escavação de duas tradagens. A co-
cas, 1 lâmina de machado granito
leta foi feita em uma área ampla do
polido, 2 líticos, 1 resto faunístico).
sítio, resultando em 284 fragmentos
Trata-se de um sítio com grande po-
de vasilhas cerâmicas, 129 restos de
tencial arqueológico que merece ser
faunísticos de alimentação, 24 vidros,
pesquisado no futuro.
14 metais, 7 plásticos, 4 líticos e 2 las-
cas de madeira. Os vestígios estavam
dispersos por todo o sítio, mas ob-
SÍTIO AKAPEPUÑGI (TI-KTM-05)
servamos áreas com maior densidade
O Akapepuñgi, também chamado de materiais e sedimento silte-argiloso,
Aldeia do Padre, foi o acampamento preto (10YR2/1), provavelmente antro-
onde o missionário Anton Lukesh reu- pogênico, serrapilheira e vegetação de
niu os Asurini após o contato, no início pequeno porte. Conforme os índios
da década de 1970 (Lukesh 1976). Os que moraram no local, essas con-
Asurini permaneceram na área até a centrações eram parte do espaço do-
mudança para o Kuatinemu Velho, em méstico e das lixeiras. Nas escavações,
1972. O sítio também possui grande apenas a tradagem 2, com 30cm de diâ-
valor simbólico para os Asurini, pois metro e 1m de profundidade, em uma
muitos membros do grupo faleceram das concentrações, resultou na coleta
no local, devido às doenças contraídas de 4 cerâmicas e 1 pilha. Foram obser-
durante o contato e foram enterrados vadas 3 camadas em subsuperfície, mas

Amazônica 3 (1): 32-59, 2011 49


Silva, F. A. et al.

os materiais arqueológicos estavam floresta e ecofatos. Na superfície os


apenas na camada A, formada por sedimentos são majoritariamente for-
sedimento semelhante ao da superfí- mados por areia grossa, mosqueada,
cie, com presença de carvões, entre a cinza-muito-escuro (7.5YR3/1) e mar-
superfície e 12cm de profundidade. A rom (10YR5/3), serrapilheira e vegeta-
camada B, entre 12 e 50cm, possui sedi- ção de pequeno porte, com presença
mento areno-argiloso marrom-escuro de materiais arqueológicos em baixa
(7.5YR3/6) e a camada C, de 50cm a densidade, sobretudo fragmentos de
1m, tem sedimento argiloso, marrom- vasilhas cerâmicas e garrafas de vidro.
forte (7.5YR4/6). Não foram detecta- Foram realizadas coleta assistemática
dos contextos arqueológicos sem refu- de superfície e escavação com duas
gos de materiais industrializados e nem tradagens. Com a coleta de superfí-
materiais diagnósticos das outras ocu- cie foram recolhidos dezenas de frag-
pações ou grandes extensões de sedi- mentos cerâmicos e alguns materiais
mentos antropogênicos. líticos, entre os quais destacamos um
bloco com função de amolador en-
contrado na forquilha de uma árvore.
SÍTIO ALDEIA TAIUVIAKA (TI-KTM-06) Os materiais cerâmicos coletados em
Taiuviaka foi a última aldeia Asurini superfície foram achados na área do
antes do contato, sendo abandonada antigo espaço doméstico de Taiuviaka,
há aproximadamente 50 anos (Lukesh em uma concentração de sedimento
1976). Surgiu das perseguições dos arenoso, grosso, mosqueado, marrom-
Araweté e Kayapó e foi estabelecida muito-escuro (10YR2/2) e marrom
estrategicamente em uma área de difícil (10YR5/3), provavelmente antropogêni-
acesso, a 4 km da margem direita do co, com serrapilheira e vegetação rasteira.
alto curso de um tributário do Ipiaçava Encontramos fragmentos de vasilhas
(coord. UTM 22M 0362390/9540756). cerâmicas e vasilhas cerâmicas quase
Fica a 8 horas do sítio Itapemu´u, subindo o inteiras no interior da tavyva. Embora
Ipiaçava e, aproximadamente, a 50 Km os Asurini não permitam a coleta dos
da Aldeia Kuatinemu. O sítio também acompanhementos funerários, por
possui grande valor simbólico para os conta das interdições simbólicas, um
Asurini, devido à presença de sepul- Asurini trouxe uma vasilha quase inteira
tamentos dos antepassados na tavyva do cemitério, sob alegação de que a mes-
construída no local. Existem muitas se- ma pertencia a um parente seu, com o
melhanças com Akapepuñgi, nos con- objetivo de doá-la à pesquisadora.
textos sistêmicos e nos arqueológicos, Também foram coletados materiais ar-
que serão investigados futuramente, queológicos em subsuperfície, apenas no
especialmente em relação à introdução trado 2, com 30cm de diâmetro e 1m de
de materiais industrializados, em densi- profundidade. Encontramos duas cama-
dade menor que os demais sítios. das, com as cerâmicas ocorrendo apenas
A vegetação apresenta mata secundária, na camada A, pois a camada B apresen-

50 Amazônica 3 (1): 32-59, 2011


Arqueologia colaborativa na Amazônia

tava-se arqueologicamente estéril, sendo dos seus antigos assentamentos, foram


constituída por areia grossa, marrom perspicazes em identificar os locais de
(10YR5/3) (Figura 5). ocorrência de material lítico e cerâmico
de sítios de ocupações não-Asurini5.
Cabe ressaltar que em cada um dos sítios
ÁREA DE OCORRÊNCIA 1 (TI-KTM-OC-01) foi possível levantar questões de interesse
A área de ocorrência 1 foi detectada etnoarqueológico (p. ex. uso do espaço,
no acampamento à meio caminho interpretação êmica dos vestígios arque-
de Taiuviaka (coord. UTM 22M ológicos e históricos, indicadores de do-
0364824/9537874). Trata-se de um mesticação da paisagem).
fragmento cerâmico liso, espesso, A colaboração dos Asurini na determi-
grande e com queima oxidante incom- nação dos locais de realização das trada-
pleta, achado isolado em um banco de gens e poços-teste foi muito importante,
areia no barranco da margem direita tendo em vista que possibilitou a localiza-
do Ipiaçava. O fragmento apresenta ar- ção precisa de antigas áreas de habitação
redondamento nos bordos, o que pode doméstica, deposição de lixo, espaços co-
indicar transporte via ação fluvial. Foram munitários/rituais e área de construção
realizadas buscas por outros materiais das casas comunais (tavyva). Os velhos
no entorno, porém mais nada foi en- moradores das aldeias tinham uma
contrado, o que necessariamente não memória muito precisa sobre a distri-
eliminada a possibilidade de haver um buição das estruturas e dos espaços
sítio arqueológico nas proximidades. domésticos e coletivos. Em outros
trabalhos já foram desenvolvidas ex-
planações etnoarqueológicas sobre o
uso do espaço entre os Asurini e não
pretendemos repetir estas considera-
ções neste texto (Silva 2000, 2003). No
entanto, gostaríamos de salientar que
a experiência de identificar as áreas
de atividades nas antigas aldeias, junto
com os Asurini, bem como direcionar
as intervenções arqueológicas a par-
Figura 5 - Fragmentos de cerâmica com tir destas indicações foi um exercício
roletes à mostra metodológico interessante na medida
em que testamos um modelo etnoar-
OS SÍTIOS HISTÓRICOS/ARQUEOLÓGICOS queológico anteriormente elaborado
E A PARTICIPAÇÃO DOS ASURINI em uma aldeia Asurini “viva”. Ou
seja, pudemos confirmar um padrão
O trabalho de localização dos sítios
recorrente de uso do espaço entre os
históricos/arqueológicos foi realizado
Asurini que é a manutenção de um es-
com a participação imprescindível dos
paço doméstico nas áreas adjacentes
Asurini. Além de lembrar a localização

Amazônica 3 (1): 32-59, 2011 51


Silva, F. A. et al. Arqueologia colaborativa na Amazônia

Quadro 1

Sítio Sigla UTM Implantação Vegetação Sedimento Descrição Atividade Coleta Observações

Kuatinemu TI-KTM-01 Terraço fluvial não Gramíneas, roça- Arenoso, argiloso, Situado na atual sede Registro escrito, Cerâmica, lítico, metal, Foram localizadas duas oficina líti-
inundável, margem dos, pomares, áreas areno-siltoso e areno- da T.I. Kuatinemu. Os fotográfico, carvão, ossos de fauna, cas (Silva 2000, 2002). Foi coletada
22M 24327/ direita do médio de manejo, capoei- argiloso preto, cinza depósitos apresentam visual, e poço- plástico e sedimentos amostra para data TL, em torno do
9552274 Xingu, à montante ras e florestas e marrom, formados elementos Asurini e teste séc. XI, na abertura de latrina (Silva
da foz do igarapé por processos culturais não-Asurini et al 2004)
Ipiaçava e naturais
Avatikirera TI-KTM-02 Terraço fluvial Ecofatos, roçados, Arenoso preto, O sítio é formado por Registro escrito, Cerâmica, ossos de fauna, Materiais industrializados associa-
inundável, margem capoeira e floresta provável TPA; areno- elementos Asurini fotográfico, lítico dos aos Assurini. Oficina lítica as-
22M 0324420/ direita do Xingu, à argiloso preto, origi- e não-Asurini. Foi a visual, coleta sociadas às ocupações não-Asurini.
9553966 jusante da foz do nado por processos primeira aldeia Asurini de superfície e Área é usada em diversas atividades
Ipiaçava naturais no rio Xingu tradagem

Kuatinemu TI-KTM-03 Terraço fluvial não Ecofatos, capoeira Silte-argiloso preto, O sítio é formado por Registro escrito, Cerâmica, ossos de fauna, O sítio contém Tavyva abandonada
Velho inundável, margem e floresta provável TPA; argi- elementos Asurini e fotográfico e lítico, carvão e sedimentos no início dos anos 1980. Existe
22M 0338082/ direita do baixo loso, cinza-escuro não-Asurini visual, coleta oficina lítica. A área é usada em
9545402 Ipiaçava e marrom, possível de superfície e diversas atividades
origem natural poço-teste

Itapemuũ TI-KTM-04 Baixa encosta de co- Ecofatos, capoeira Silte-argiloso preto, O sítio é formado por Registro escrito, Cerâmica, ossos de fauna Materiais industrializados as-
lina suave, margem e floresta provável TPA; argiloso elementos Asurini e fotográfico, e líticos sociados aos Asurini. Oficina lítica
22M 0352567/ direita do médio marrom-amarelado, não-Asurini visual, coleta associada às ocupações não-Asur-
9538272 Ipiaçava possível origem natural de superfície e ini. A área é usada para diversas
tradagens atividades
Akapepugi TI-KTM-05 Terraço fluvial não Ecofatos, capoeira Silte-argiloso preto, O sítio é formado Registro escrito, Cerâmica, ossos de fauna e Os Asurini foram aldeados na área
inundável, margem e floresta provável TPA; arenoso apenas por elementos fotográfico, materiais industrializados pelo padre Anton Lukesh, início
22M 0354461/ direita do médio e areno-argiloso Asurini visual, coleta dos anos 1970
9539498 Ipiaçava marrom-escuro, e argi- de superfície e
loso marrom, origem tradagens
natural

Taiuviaka TI-KTM-06 Colina suave na Ecofatos, capoeira Arenoso marrom- O sítio é formado Registro escrito, Cerâmica, ossos de fauna e Os Asurini foram aldeados na área
margem direita de e floresta acinzentado-muito- apenas por materiais fotográfico, materiais industrializados pelo padre Anton Lukesh, início
22M 0362390/ nascente fluvial escuro, provável TPA; Asurini. Foi a última visual, coleta dos anos 1970
9540756 tributária da margem arenoso marrom- aldeia formada antes de superfície e
direita do médio escuro e marrom, de do contato com os tradagens
Ipiaçava origem natural brancos.

Área de TI-KTM-Oc-01 Confluência da Mata ciliar Arenoso marrom Fragmento isolado de Registro escrito, Cerâmica O fragmento pode ter rolado pela
ocorrência 1 margem direita vasilha, em local usada fotográfico, ação fluvial
22M de tributário da como acampamento visual e coleta
64824/9537874 margem direita do Asurini de superfície
Ipiaçava

52 Amazônica 3 (1): 32-59, 2011 Amazônica 3 (1): 32-59, 2011 53


Silva, F. A. et al.

e/ou periféricas da tavyva e, ao mesmo relacionados com a ocupação de seus


tempo, constituir áreas de descarte nas “parentes” e aqueles oriundos de seus
áreas adjacentes e/ou periféricas das ancestrais míticos. O critério utilizado
suas casas (agui). pelos Asurini para diferenciar os vestí-
gios materiais se baseava na identifi-
Outro dado levantado nesta pesquisa
cação da espessura das paredes das
colaborativa com os Asurini foi perce-
vasilhas, acabamento de superfície e,
ber que os assentamentos ficavam em
eventualmente, sua forma e correlativa
locais visivelmente domesticados em
função. Os fragmentos cerâmicos e,
termos da paisagem. Espécies vegetais
eventualmente, as vasilhas considera-
como cuieiras, bananeiras e limoeiros
das de origem Asurini eram aquelas
são comuns nos antigos e atuais as-
com acabamento de superfície liso,
sentamentos Asurini; eles, inclusive,
paredes com menos de 0,5 cm, com
revisitam estes locais antigos em busca
formas reconhecidas pelas ceramistas
destes recursos. Além disso, a localiza-
como pertencentes ao seu conjunto
ção dos locais mais antigos, como Tai-
artefatual. Os fragmentos cerâmicos
uviaka, foi realizada a partir da obser-
atribuídos aos ancestrais míticos eram
vação da vegetação e, especialmente,
aqueles que apresentavam paredes
das chamadas capoeiras que se diferen-
mais espessas e, eventualmente, aca-
ciam da mata primária ou kaa ete. Na
bamentos de superfície com decora-
aldeia Akapepuñgi ocorreu, inclusive,
ção plástica (p. ex. incisos, corrugados,
um fato interessante: Takiri Asurini
roletados e aplicados).
se afastou do grupo por uma hora e
ao retornar trazia um saco plástico Os Asurini do Xingu têm suas próprias
cheio de produtos vegetais coletados interpretações sobre os materiais ar-
na área próxima de captação de recur- queológicos encontrados em seu ter-
sos do assentamento (plantas medici- ritório e, especialmente, sobre as ofici-
nais, matéria-prima para a confecção nas líticas e os vestígios cerâmicos que
de flechas, plantas para o preparo do são abundantes por toda a T.I. Eles
corpo, matéria-prima lítica para a con- também reutilizam alguns destes ma-
fecção de vasilhas cerâmicas). Ou seja, teriais arqueológicos em seu cotidiano
os assentamentos são ao mesmo tempo como, por exemplo, bigornas e amola-
locais de moradia e de manejo da paisa- dores líticos (Silva 2000, 2002).
gem. Finalmente, é interessante dizer que
Segundo eles, as bacias de polimento e
os sítios Kuatinemu Velho e Itapemu´u
os polidores em canaleta encontrados
ficavam sobre manchas de TPA.
nos afloramentos rochosos ao longo
Em todos os sítios investigados – com do rio Xingu e do igarapé Ipiaçava são
exceção do sítio Taiuviaka – se obser- as marcas deixadas por Maira – enti-
va a presença de material arqueológico dade mítica – no tempo em que a terra
associado aos vestígios da ocupação era mole, antes da catástofre que der-
Asurini. Em cada um deles os Asurini rubou o céu sobre eles. Os vestígios
fizeram a distinção entre os materiais cerâmicos, por sua vez, foram feitos

54 Amazônica 3 (1): 32-59, 2011


Arqueologia colaborativa na Amazônia

por Anumaí, irmã dos xamãs primor- sobre a história de ocupação territo-
diais e a primeira uirasimbé – dona do rial de populações indígenas (Zedeño
mingau – que deixou o mundo dos 1997, Stewart et al. 2004). Foi eviden-
homens por causa de um confronto ciado o potencial do conhecimento
com Tapijawara – ser sobrenatural indígena para a identificação dos mar-
monstruoso – que tentou afogar os cos paisagísticos das antigas ocupa-
humanos com as águas do mundo ções humanas, dos distintos padrões
subterrâneo. Anumaí teria jogado suas de assentamento pré e pós-contato,
vasilhas cerâmicas com paredes gros- dos processos de ocupação e uso do
sas em Tapijawara para fazê-lo voltar às território e das evidências de domes-
profundezas, sendo que estas se que- ticação da paisagem e uso dos recur-
braram restando apenas os fragmentos sos naturais. Com este conhecimento,
espalhados no chão, até os dias de hoje. a T.I. Kuatinemu se transforma em uma
Alguns fragmentos cerâmicos podem paisagem cultural e os locais de ocupação
pertencer a Tauwuma – ser sobrenatu- humana são lugares de memória carrega-
ral – que teria abandonado o mundo dos de significados sócio-cosmológicos.
dos vivos depois que seu irmão matou
No que se refere à pesquisa arque-
seu amante – que aparecia para ela em
ológica, o aprendizado em campo foi
forma de anta. Esses fragmentos são
imenso, pois a articulação do ponto de
finos como os dos Asurini, porém eles
vista ocidental com o ponto de vista
só são encontrados junto à árvore do
indígena sobre a arqueologia da área
frutão, lugar onde Tauvuma mantinha
nos fez refletir sobre a nossa prática
relações sexuais com este homem-anta
científica. A interpretação êmica sobre
e lhe servia o mingau. Cada vez que
a paisagem e os vestígios arqueológicos
ele consumia o mingau, o homem-anta
permitiu experimentar empiricamente
quebrava a vasilha e Tauvuma precisava
o que teoricamente se define como
refazer suas vasilhas. Ao partir do mundo
multivocalidade (Layton 1989; Green
dos homens ela se tranformou em Tauva,
et. al. 2003, Jackson e Smith 2005).
retornando apenas em momentos rituais
O passado e o presente se encontram
específicos que evocam o seu espírito
nas narrativas Asurini sobre estes ma-
(Müller 1990, Silva 2000, 2002).
teriais, revelando um regime próprio
de historicidade que difere daquele
dos pesquisadores (Price 1983). Du-
CONCLUSÃO
rante todo o trabalho debatemos
O resultado obtido na T.I. Kuatinemu com os Asurini sobre temas como a
possibilitou vislumbrar o grande po- origem e expansão dos povos Tupi,
tencial que a área oferece para a disci- o surgimento de seu povo nas terras
plina e para a história das populações do Xingu, a natureza e a autoria dos
indígenas desta região amazônica. Os vestígios arqueológicos. As reflexões
dados arqueológicos e etnoarqueológi- Asurini sobre os mesmos foram todas
cos obtidos com os Asurini podem ser pautadas em sua filosofia ameríndia
comparados com trabalhos recentes

Amazônica 3 (1): 32-59, 2011 55


Silva, F. A. et al.

sobre a relação entre os humanos, a autorizações de pesquisa. À Daniela Samia e


natureza e a sobrenatureza. Os mitos Chen Chi Cheng pela confecção dos mapas.
de Ajaré, Anumaí, Tauvuma, foram o À Francisca Gomes da Silva e Lucilene Ar-
aporte para as explicações deles sobre ruda do Nascimento pelo desempenho em
campo. A Francisco Silva Noelli pela revisão
a sua trajetória e de seus antepassados.
e sugestões ao texto.
Certa noite, depois de uma longa con-
versa com alguns jovens sobre estes
temas e de explanar sobre as explica- NOTAS
ções lingüísticas, antropológicas e ar-
queológicas que situam a origem dos
1
Utilizamos o termo com base na noção
de “indigenização da modernidade”, de-
povos Tupi no sudoeste da Amazônia
senvolvida por Sahlins (1997).
ouvimos a seguinte explanação de um
jovem Asurini: 2
Neste caso, projetos etnoarqueológicos
e antropológicos realizados desde 1996,
“Sabe Fabíola, esta explicação pode com bolsas do CNPq e auxílios financeiros
estar certa para os outros índios, FAPESP, CNPq e IPHAN, por Fabíola
mas não para os Asurini. Eu confio Andréa Silva e outros colaboradores.
na nossa explicação. Eu acredito
que nós nascemos de Uirá e Ajaré.
3
Casa comunal Asurini. Tava = aldeia; yva = su-
Eu acredito nesta história porque fixo que indica a qualidade de fazer algo existir;
ela vem de muito tempo... contada tavyva = aquilo que faz surgir a aldeia.
de pai para filho... não se perde... 4
A descrição e o inventário completo sobre
não se esquece... por isso que ela é a os registros arqueológicos encontrados na
mais certa” (Kwain Asurini, jovem T.I Kuatinemu estão no Relatório Científico
liderança indígena, vice-presidente FAPESP e no Relatório Científico IPHAN
da Associação Indígena Awaeté). (Silva, Bespalez & Stuchi 2010 e 2011).
O trabalho arqueológico/etnoarque- 5
O potencial arqueológico da área já havia
ológico colaborativo em contextos sido evidenciado em etapas de pesquisas
indígenas só pode efetivamente ser anteriores, bem como o georeferencia-
concretizado quando é pautado em mento de alguns sítios arqueológicos e ofi-
uma relação de troca de conhecimen- cinas líticas ao longo do igarapé Ipiaçava
tos, respeito e confiança. O desafio é (Silva 2000 e 2002).
construir esta relação a partir da ex-
pansão das fronteiras disciplinares e
do reconhecimento de que o passado REFERÊNCIAS
é sempre uma construção no presente. Adler, M., e S. Bruning. 2008. Navigating
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