Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Não vos falarei da bomba atômica nem de outros eventos do dia. A escala
mundial excede as proporções desta mísera crônica. Prefiro os mínimos, os
imponderáveis. E vou procurar o meu assunto onde ninguém o botou: entre as
folhas da relva de um pequeno jardim encravado no centro desta curiosa
cidade que é nossa e que se chama o Rio de Janeiro.
Se lhe perguntardes por que faz assim… Mas, não lhe pergunteis nada. Será
preciso explicar por que se dá de comer a um bicho? Por que se sai de casa à
noite, carregando um embrulho de jornal de manejo incômodo quando se
podia ir ao cinema ou ficar no quarto escutando no rádio a música boa ou má,
de nossa predileção? Há forças que nos prendem aos bichos, e quem não sentir
em si essas forças, não compreenderá jamais; quem as sentir dispensa
explicações. Imaginemos, apenas, que ao amor aos bichos se junte o
desencanto dos homens, não raro bem menos sensíveis do que cães e gatos; e
veremos nessa distribuição noturna de rações aos nossos irmãos de cauda, não
apenas um ato cordial e um ato poético, mas inclusive um protesto irônico e
franciscano contra a linha habitual de conduta desse pretensioso animal sem
rabo, que é o homem.