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sumário

capa
folha de rosto
sumário
introdução

buziguim
doutor caneta
meu tio
o sapo
galo galo
saco de gatos
o sítio do alemão

sobre o autor
créditos

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No fim dos anos 1980, Cacaso — mais conhecido por sua produção na
poesia, nos ensaios e nas letras de música — fez uma breve incursão nos
contos. Dois foram publicados na revista Novos Estudos Cebrap:
“Inclusive… aliás…”, em 1986, e “Buziguim”, em 1987. Neste livreto, o
leitor vai conhecer estes e outros seis contos, todos inéditos em livro,
recolhidos pelo poeta e pesquisador Mariano Marovatto nos cadernos de
um dos nomes incontornáveis da geração marginal.

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inclusive... aliás...

Parentes de todo o mundo, desuni-vos! Vamos nos dispersar! Circular!


Circular! Chega de parentada, de parentesco, de parentela. Dizem que
cunhado não é parente. Digo mais: nem parente é parente. Abaixo os
laços de sangue! Abaixo a família! Não é que eu não seja família, antes
pelo contrário. Sou contra a espoliação da família pelos parentes. Sou
familiar e caseiro. Tanto que sou a favor da amizade. A amizade é um
sentimento isento de taras hereditárias. Não há laços de sangue, de
círculo vicioso. Só a amizade nos salvará. Mas nada de amigo oculto. Só
às claras. Parente, pra ser parente, precisa ser amigo. E amigo, pra ser
amigo, também. Não há parentes, só amigos. Só há parentes: os amigos.
São laços de afeto e compreensão. Mesmo o contraparente é perigoso.
Sobretudo se estiver de malas na mão. São duas coisas que, quando vejo
juntas, tremo: laços de sangue e bagagem.
Ainda agora estava a meditar, sobre um caso próximo. Familiar
mesmo, quase um caso de família. Uma casa de família. Naquele tempo
eu era menino, tinha dois irmãos, éramos todos mais ou menos da mesma
idade. Morávamos no Rio, que era a capital da República, e dava para o
mar. Nesta ocasião veio visitar-nos, para passar uns dias, nosso tio
mineiro, R., do interior, lá do Triângulo. Tinha vaguíssimas memórias
dele, dos primórdios. Admirava-o. Sua fama era grande, mas não sabia
bem por quê. Lembro-me que chegou de bagagem. Guardou duas ou três
malas em cima de um guarda-roupa, dormiu duas ou três noites em casa,
e em seguida ausentou-se. Foi passar umas semanas na casa de outros
parentes, irmã e cunhado, num conjunto residencial, nos subúrbios. Lá
foi ficando, ficando, até que um dia tocaram a campainha de casa. “— Aí
é que mora o sr. R.?” Quem atendeu a porta foi a Isaura, a empregada.
Falou: “— O sr. R. é irmão da dona M., mas não mora aqui, não…”.
Minha mãe chegou-se à porta neste momento, a tempo de ouvir do
emissário: “— É pra ele comparecer à Décima Terceira D.P., para prestar
depoimento. Uma arma dele serviu para um assalto, houve um morto, o
outro agoniza…”. Minha mãe falou: “— O que é, moço, quem

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morreu?… O quê que o R. tem a ver com isso?”. O homem: “— É uma
intimação. O comissário espera por ele”. E ela: “— Mas quem morreu?
O que é isso, moço?…”. O emissário despediu-se, minha mãe botou a
mão na cabeça. Ficou transtornada. Mas o R., cadê o R.? O que foi que
houve? Terá sido mais uma?
Durante uns dias a vida lá em casa foi um burburinho. Depois de
muitas tentativas, R. recebeu um recado e apareceu lá em casa. Explicou-
se. O caso foi que ele deu um revólver 38, cano curto, privativo das
Forças Armadas, em consignação num botequim da esquina, em troca de
um crédito, e, enquanto isso, por conta disso, ele ia tomando umas e
outras, beliscando uns tira-gostos… O dono do botequim, por sua vez,
emprestou a arma pra um tenente do Exército, que interessou-se por
fazer uns testes. O tal tenente, que era cabo, cometeu um assalto à mão
armada, a vítima reagiu, ambos atiraram. A procedência da arma foi
investigada, vai daqui, vai dali, foi o que se viu: meu tio R. de
intermediário, numa história de assalto e morte, entre um militar e uma
arma privativa das Forças Armadas. Só podia ser ele. E, por isto, é que
bateram lá em casa. Ali morava minha mãe, com os filhos, e mais o
marido. Este, nas questões familiares, e em outras, permanecia ausente.
Foi uma confusão dos diabos. R. não era o assaltante, mas o 38
impróprio para civis era seu… Até provar que boi não é abóbora, que
havia uma fatalidade em tudo aquilo, foi um custo. Foi preciso a
intervenção do Albertinho, que era advogado e primo, e que demonstrou
ter influências. Minha mãe, por via das dúvidas, resolveu dar uma olhada
nas tais malas em cima do guarda-roupa. Qual foi o seu susto! As malas
estavam cheias: de punhais, facas, canivetes, bombas, espingardas,
pregos, carretéis, giletes, armas brancas e de fogo… Pânico. Minha mãe
exigiu a presença do R., queria uma explicação. R. estava calmo. Falou:
“— Não foi nada. Inclusive, o senador está ao par de tudo… Aliás…”.
Que senador? Não foi possível saber. A história ficou assim, meio
nublada, mas R. carregou com as malas, voltando com elas vazias, dias
depois. O clima ainda estava meio turvo quando veio a notícia lá do
conjunto residencial, de que uma pobre doméstica, por nome Nicinha,
tinha sido deflorada por R., que negava de pés juntos. A infeliz teria
engravidado, queria garantias. Também este pepino foi contornado, aos
poucos caiu no esquecimento.
A partir daí, tio R. ficou em nossa casa mais um mês, sem que nada
de anormal sucedesse. Comia muitas alfaces, folhas verdes, rodelas de
tomate e beterraba. Bebia muita água. Andava melancólico, reticente.
Certo dia minha mãe estrilou: quem é que andava mijando nas bordas da

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privada, no banheirinho da entrada, reservado às visitas? Quem era o
desleixado que mijava no chão? Se tinha vaso, se tinha papel, por que
sujar o assoalho? Que absurdo era aquele? Quem era o porco? Eu dizia:
“— Não fui eu”. E meus irmãos: “— Não fomos nós”. E todo dia, a
mesma porcaria. Vivíamos um ambiente de mistério. Certa manhã,
minha mãe desvendou tudo. Pé por pé, acompanhou R. até o banheirinho
que, de porta semiaberta, caprichosamente, mijava rente às bordas do
vaso. Assim que completava uma volta, retornava, mirando sempre na
beirinha, minuciosamente, como se executasse um trabalho de precisão.
Minha mãe caiu das nuvens. Deu-lhe uma bronca daquelas, quase
desesperada. Tio R. não perdeu a calma: “— Aliás…; inclusive…”.
Desta vez meu pai, sempre ausente, fechou a carranca. Durante uns dias,
R. sumiu. Antes, avisou que ia marcar sua viagem de volta. Quando
parava em casa telefonava, telegrafava, escrevia cartas. Dava
expedientes. Não se sabe como, arranjou algum dinheiro, e começou a
comprar bichos. R. era um amante da fauna. Comprou um cachorro
nobre, lorde, malhado de branco e marrom, ainda novinho mas já
grandalhão. O tal cachorro, dizia orgulhoso, tinha parentes até na
Inglaterra. Deu quinhentos contos por um canário-do-reino, que trinava
de bico fechado, fragilíssimo, e que em dois dias bateu as botas.
Comprou um galo indiano de pescoço pelado, uma sumidade. Seria o
reprodutor de sua rinha, quando voltasse para o Triângulo. Comprou um
garnisé cujo avô pertenceu ao príncipe Aga Khan, ex-marido daquela
atriz cujo amante era boxeur. Comprou uma tartaruga de trezentos anos,
que pesava uns dez quilos, um colosso de raridade. Comprou três
coelhos australianos, híbridos, reprodutores das arábias. Comprou um
gato angorá de origem chinesa, aristocrata, arredio. E foi comprando
espécies menos nobres, ajuntando tudo. A bicharada, enquanto a viagem
não chegava, ficava amontoada na área de serviços. O tal cachorro
inglês, desacostumado com a vida de apartamentos, e acho até que com a
vida em geral, deu de correr pelo corredor da casa, desesperado,
vendendo saúde. Correr é apelido. Galopava. Ventava. Marcava um
rumo, concentrava-se, grunhia alguma coisa, e se largava… Ia tomando
impulso, cada vez mais, até que atingia a velocidade da agonia, louco,
jovem, desentendido. Quando o espaço físico ia acabando, o bichão
metia as unhas no assoalho, na vã tentativa de frear. Acabava estourando
contra a parede da sala, virava os móveis, arrancava o sinteco, latia
qualquer coisa, e voltava, tinindo. Minha mãe, coitada, medrosa de cães,
ficava atrás da porta da cozinha entreaberta, espiando da fresta,
paralisada de horror e indignação. Enquanto isso tio R., na rua, ultimava

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os preparativos da volta. E o cachorrão, que recebeu o nome de Bruce,
correndo de lá pra cá, latindo um latido remoto, ancestral, uma
infelicidade das origens.
Até que um dia tio R. apareceu com um macaco mal-encarado, de
astral mais que duvidoso. O mico era agressivo, nos olhava nos olhos,
imprecava, batia punheta, arreliava, criava uma discórdia generalizada.
Aí minha mãe, quase nas últimas, sentenciou: “— Olha aqui, R., ou o
macaco ou eu…”. Meu pai pronunciou-se: “— R., acho que está na hora
de você voltar, sua família deve estar precisando de você…”. E ele: “—
Vou na sexta, já tirei passagem. Inclusive…; aliás…”. E assim foi. No
dia da partida, passou o tempo em preparativos. Fabricou uma mistura
caseira, em que entravam éter, querosene, noz-moscada, rum,
bicarbonato de sódio, e outros líquidos que não me lembro. Sacudiu,
acudiu, e enfiou goela abaixo da bicharada e também pelas narinas. Em
seguida meteu um por um dentro de um grande saco de lona,
acondicionou bem, atochou bem, engraxou os sapatos, jantou mais cedo,
passou perfume e foi pra rodoviária. Ouvi falar que durante a madrugada
os bichos foram voltando a si, recuperando a lucidez, dentro do saco, no
bagageiro do ônibus. A tartaruga latia, o cachorro miava, o mico
arrepiava, um galo corria atrás do outro, todos estranhando todos, dizem
que foi um frege.
São duas coisas que, quando vejo juntas, tremo: laços de sangue e
bagagem.
Ultimamente, pelo que soube, R. organizou um grupo de comparsas e
mudou-se para Goiás. A meta era participar da construção de Brasília, a
nova capital. Parece que foram golpes e mais golpes. Todos passaram a
perna em todos; não ficou pedra sobre pedra. São duas coisas que,
quando vejo juntas, tremo: laços de sangue e bagagem. Cruzes!
Parentes de todo o mundo, desuni-vos! Vamos nos dispersar!
Circular! Circular!

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buziguim

Buziguim quem era? Ora, minha senhora; que horror, meu senhor!
Buziguim era ele mesmo, senhor de truques e rebolados, vigarista do
interior. Uma espécie de Cassi Jones, aquele vagabundo familiar de que
falava Lima Barreto. Um delinquente caseiro. Este é o ponto: caseiro. Do
interior de São Paulo, talvez Bebedouro, Ribeirão Preto, Colina, acho
que Barretos. Era um vigarista tão cabal, tão reconhecidamente vigarista,
que acabou famoso. Buziguim era moço e tinha saúde. Vamos dizer que
tinha uns vinte e sete anos, por volta dos trinta. Era magrinho, esbelto,
tinha bigodinho e aparecia pouco. Era um espadachim notívago. Uma
espécie de três mosqueteiros. Tive o prazer de vê-lo ao vivo umas duas
ou três vezes. Era o contrário da lei. Transgredia. Adulterava. Pactuava.
Aprontava. O que ele mais fazia bem, além de tratar com mulheres, era
jogar sinuca. Um taco fulminante. Era campeão municipal, e parece que
ainda dedilhava um violão bem entoado, seresteiro. Uma simpatia.
Buziguim: qual era o seu nome? E sobrenome? O que sei a seu
respeito são nomes e sobrenomes. Por exemplo: Aldinha Arantes. Foi o
caso dele que mais me escandalizou, quando ele comeu essa Aldinha.
Dirá o leitor: ora, tanta gente come tanta gente, e não há mal nenhum
nisso… Direi: é, só que o caso que conto dele ocorreu no interior de São
Paulo, há mais de quarenta anos atrás. E com a Aldinha. Aldinha
Arantes. Essa Aldinha usava maiô de peça única, e nadava na piscina do
Grêmio Recreativo e Literário. Mostrava as coxas. Provocava à maneira
do caipirismo que viceja ali nas imediações de Uberaba e Barretos, nas
águas do Rio Grande, onde Minas e São Paulo se misturam. Caipirismo
tão sensual quanto proibido. Aldinha era loirinha, nem alta nem baixa,
pés bem-feitos, podia-se contar cinco dedos em cada um. O dedão do pé
não era orgulhoso, sem deixar de ser bonito, bem torneado, de boa
presença. Os demais dedos eram um complemento natural, iam
diminuindo aos poucos, sucessivos, singelos, mais que perfeitos. Os pés
da Aldinha alimentaram minha imaginação estética na infância.
Infância? Estética? Eu já devia ter uns onze anos, já batia punheta, e

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tudo. De noite, no footing, ali no jardim da praça, aquilo para mim era
sexo puro. Ou impuro. As mulheres eram proibidas. A Aldinha também.
O que sei é que o Buziguim meteu uma bola na caçapa. Quando a notícia
correu, eu quis morrer. Então a Aldinha abriu as pernas para o
Buziguim? Então o Buziguim não tinha fim? Era uma depois da outra?
A última que lembro dele foi aquela quando ele comeu uma beata
velhota, dessas que organizam quermesse. O malfeitor vestiu-se de
padre, de batina preta e tudo, e foi lá pra capela da matriz da Fortaleza,
que é um subúrbio de Barretos, se é que Barretos tem subúrbio… Essa
capela costumava ficar meio erma, desabitada… Muitas vezes o padre
esperava, e os fiéis não apareciam. Muitas vezes estes apareciam, mas o
padre faltava. Vagava. Foi numa dessas que o Buziguim entrou.
Disfarçou o bigode. Dispensou a brilhantina. Ficou ali no confessionário
bem sorrateiro. Aquelas tardes eram únicas. Desertas. Certas beatas sem
assunto, sem sonhos, mas com vício de rezar, apareciam. Desta vez quem
apareceu foi a Tudo-Azul, uma senhora que nasceu no século passado,
fraca, sem parentes, cheia de culpas. Buziguim não vacilou: pediu que
ela ficasse até mais tarde, até a hora do Ângelus, quando os sinos tocam
um tema contrito, e as almas ficam prestes à absolvição eterna. O certo é
que a Tudo-Azul ficou por ali, até que o pseudossacerdote aproximou-se,
noitinha caindo, e disse-lhe, a meia-voz: “Vamos ali detrás do altar?…”.
E ela: “Sim senhor…; o senhor é que sabe…”. Chegando lá ele disse: “A
pureza é filha da nudez! Tire a roupa!… Seja bem-vinda à fé cristã!…”.
E ela: “É pra já; o Senhor é meu senhor…”. Resultado: a Tudo-Azul foi
possuída pelo vigarista, que fez-lhe a barba, o cabelo e o bigode.
Indagará o leitor: mas como assim? Deitados? Em pé? Pois vos digo: de
quatro. O malvado botou a velhota de gatinhas em cima de uma poltrona
santa, e traçou-lhe. Depois disso, a Tudo-Azul, que já era um ser
passado, passou de vez.
O Buziguim, dizem, papou ainda outras beatas, aí pela faixa dos
cinquenta aos setenta anos. O que ele queria mesmo era só dizer
baixinho, cochichado, em seus ouvidos: “Vou esporrar no seu cuzinho,
vovó; vou encher seu cuzinho…; abênção, vovó…”. Pois bem: o impacto
do macabro ti-ti-ti ainda estava fresco, e o que foi que o desgraçado fez?
Comeu a Aldinha! Então aquela putinha ficava nua na frente de homem?
Peladinha? Minha desilusão com a vida foi tão grande, que virei poeta.
Minha primeira preocupação foi rimar. Rimar palavras consola muito.
Minha poesia nasceu da frustração sexual. Ou melhor: do sucesso sexual
alheio. Meu mal é a inveja sexual. Oh rimas, consolem-me!

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Assim que correu a notícia, a cidade ficou de cabelo em pé. Era
transgressão demais para uma província só. Os poderes públicos locais
agiram, algo foi urdido em surdina. Em breve a Aldinha deixou a cidade,
diziam que tinha ido para o litoral de Santos. Essa, caiu em desgraça.
Buziguim também sumiu. Em dois tempos comprou um caminhão, e
vivia de fazer fretes, ganhando um dinheirinho lá pela Noroeste. O caso
em si, quem viu, diz que foi assim: uma bela noite, o inspetor do Grupo
Escolar Coronel Almeida Pinto voltava pra casa, cheio de justo sono,
quando viu, por debaixo da porta de uma oficina mecânica, luz… Era
tarde. Não era hora de ter luz. O inspetor anotou. Foi direto à delegacia.
Como o delegado estivesse na zona, falou com um soldado de plantão.
Este, como estivesse de farda, não perdeu tempo. Reuniu mais meia
dúzia, e foram lá. Levantaram a porta, intimaram, arrocharam. E viram:
todo mundo nu. Ao amanhecer, tudo foi abafado. O pai da Aldinha botou
dinheiro e abafou. Foi um escândalo. Para mim, que era um menino em
fase de crescimento sem pressa, foi uma precipitação. Fui parando de
fantasiar. Fui ficando voltado pra dentro. Formando meu caráter no
silêncio. Quando alguém expunha uma regra, uma ideia, eu duvidava.
Mas duvidava calado. O mundo virou uma coisa pra mim. Uma coisa
que até hoje eu vivo com dificuldade. Fiquei variado. Muitos atos meus,
daí em diante, eu não soube entender.
Nesse tempo, fui visitar uma fazenda que meu pai havia acabado de
comprar em Mato Grosso, na serra da Bodoquena. Fiquei lá uns três dias,
comendo e dormindo. Tinha sonhos esquisitos; a comida parecia muito
pesada. Tive um surto de ereção. Fiquei de pau duro, fui ficando,
ficando, e ali não havia mulher. Minha tesão era meio metafísica, meio
ecológica. Pelo menos era o que eu pensava. Numa tarde, embrenhei
mata adentro. Achei conchas, caramujos, algas cristalizadas. Tive visões
do mar. E o pau duro. Embrenhei mais ainda, andei, andei, andei, e
acabei chegando num barranco muito alto, cheio de vegetação marítima.
Mas ali não tinha mar. Olhei para o horizonte, não tinha perdão… Puxei
o pau, cuspi nele, e fui ficando… Meu pensamento era a Aldinha. A
Aldinha pelada; o Buziguim pelado. Bom de taco. A tarde agonizava,
vermelha, cheguei a pensar em Deus. Mas não havia Deus na serra da
Bodoquena. A noitinha caía e fui ficando calmo, sem pressa de voltar,
sem querer avisar onde eu estava.
Inexplicavelmente, fui tirando a roupa. Lembro-me que nada
aconteceu. A não ser que em dado momento comecei a soluçar.
Lacrimejei, solucei mais, comecei a chorar. De início baixinho, meio
surpreso. Mas fui aumentando o volume, e em breve chorava aos gritos.

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Chorava aos cântaros, às bandeiras despregadas. Chorei muito. Chorei
como até hoje não chorei igual. Chorei de pau duro. Inconsolável.
Desamparado. E gritava: “Aldinha Arantes!… Aldinha Arantes!…”. E
chorava, e chorava. Fiquei muito menino. Bem aliviado. De lá pra cá,
virei outro.

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doutor caneta

Centro da cidade.
Magrinho; bebia muito chope.
Prestava os mais variados serviços por escrito: coisas burocráticas,
pragmáticas, e coisas sentimentais, mais ligadas à área dos sonhos. Que
sonhos? Os pequenos sonhos cotidianos.
Quem era o Dr. Caneta? Eu nunca consegui saber. O que eu
pressentia era que ele tinha vindo ao mundo como um órgão de
expressão de tudo que era mudo; dos que não conseguiam falar de suas
alegrias ou de seus sofrimentos.
“Órgão de expressão de tudo que era mudo” (Nilo de Oliveira) — o
Dr. Caneta como escritor — porta-voz, e, só com isso, prestando um
relevante serviço social: viabiliza as pequenas e grandes necessidades
dos indivíduos. Dos indivíduos, não dos cidadãos, porque no Brasil a
categoria liberal de cidadão nunca chegou a se firmar, a se consolidar,
portanto nunca chegou a formar tradição. Não há jurisprudência no
Brasil. Jurisprudência é tradição. Não temos rigor. Rigor também é
tradição. Nossas instituições são espúrias além do tolerável. É demais.
Nosso problema é o excesso. Nossa estética também é excesso. Nosso
artesanato é busca de equilíbrio. Nosso academicismo, beletrismo, nosso
oficialismo estético, é tentativa de expurgar o excesso. Esse excesso.
Nosso excesso. Há duas maneiras, em extremos, de resolver a questão do
excesso: uma, a parnasiana, em última instância formalista, é tentar
expulsar os excessos, negá-los, ignorá-los mesmo, através do
virtuosismo retórico, o virtuosismo de “artista”, de índole escolar,
inteiramente preso aos cânones escolares. Uma maneira que favorece
muito a mediocridade. Pensem bem: metrificação, rimas regulares,
metros definidos, enfim, uma contabilidade poética resolvida em regras,
em instruções de como deve ser e como não deve ser a poesia. Ora, está
como um prato feito para a mediocridade. O parnasianismo brasileiro,
quanto mais puro, quanto mais depurado, mais medíocre. Quanto mais
escolar, mais segundo os cânones, mais medíocre. A outra maneira de

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resolver o excesso, digamos a maneira boa, é bem diferente. Como é?
Ora, é fácil. O Brasil é um país musical, aqui tudo é ritmo. Tudo é
pulsação. Nosso negócio é botar ritmo no excesso. Elaborar o excesso
pelo ritmo. Nossa desproporção, que é originária, nossa, intrínseca, fator
de caráter, só será produtiva, formativa, se for equacionada pela chave do
ritmo. Daí, na poesia, a importância do verso livre, onde cada um
pesquisa o seu ritmo individual, pessoal. Arte moderna é exposição de
subjetividade. É libertação da subjetividade. E isso é revolucionário,
revelador. Daí, o papel imperecível de verso livre, sem ignorar os outros
versos, metros, regras… Isso tudo apenas pra mostrar o quanto o
brasileiro não é cidadão. O Dr. Caneta, servindo de porta-voz,
transformava o indivíduo desamparado em cidadão. Dr. Caneta era a
ponte para a cidadania. Escrevia os textos legais dos humildes, dos sem
voz, dos sem terra, dos sem quase nada. Dos quase sem nada. Nilo disse:
“Órgão de expressão de tudo que era mudo”. Talvez seja a metáfora de
todo escritor: todo escritor escreve por quem não escreve. Fala por quem
não fala. Usar a palavra é “dar a voz”, deixar passar, ceder a vez. Chico
Alvim é um tipo de Dr. Caneta. É o estilo de todos. A voz de todos. E
essas vozes são estranhamente parecidas, semelhantes, pouco
diferenciadas. Aliás, menos diferenciada na forma do que na matéria. Os
conteúdos variam com as circunstâncias, mas a técnica geradora da
forma permanece: a poesia é anotação, bilhete, recado, esboço, que são
veículos da pluralidade de vozes.

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Ceder a vez x propiciar a vez:

No que o poeta “cede a vez”, na verdade está é propiciando a vez. O


bilhete que o poeta escreve é criado, e não bilhete, bilhete. A vez que ele
cede é criada. É uma presença. O poeta entra em campo tirando o time.
Adentra saindo. O poeta sai, e essa é a forma de se afirmar. O poeta é
artista, é artesão, trabalha com as mãos. Reúne materiais, técnicas,
conhecimentos, e aplica isso tudo na criação do poema. A presença do
poema é a ausência do poeta. O “poeta” Manuel Bandeira são seus
livros, seus poemas. A pessoa é apenas conhecida como quem escreve
aquelas coisas, como seu autor. Existe a autoria. Existe um mérito
concreto. O prestígio do poeta resulta do mérito da obra. É porque a
coisa é boa, que o poeta ganha fama de bom poeta. O poema transfere
valor para o poeta. É um valor a mais, que provém do fato simples de ter
sido o autor de coisas boas, de arte bem-feita. Isso não impede que o
poeta, enquanto pessoa, não possa já ser possuidor de outros valores,
morais, filosóficos, existenciais… O valor que a obra transfere do seu
autor é um valor a mais. Isso independe dos valores políticos, religiosos,
ideológicos, pessoais, da pessoa do artista. Esse valor a mais, é o que
todo mundo quer. É um valor muito cobiçado. “Ser artista”, “ser
escritor”, “ser poeta”, isso dá muito prestígio. O talento é bem-visto. Ser
autor de livros! Ser impresso em letras de fôrma, com página paginada!
Puxa vida! Que bacana! Todos querem. Ser artista é um sonho. Artista
famoso, bem entendido. Vaidade humana.

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dr. caneta (estudo vago)

(A)

Era um prestador de serviços públicos. Era útil. Vivia nas portas dos
cartórios, delegacias, motéis baratos, entre a Lapa antiga e moderna. Dr.
Caneta tinha fluência, seus requerimentos e petições públicas nunca eram
passados a limpo. Era de uma vez só. Daí sua fama, sua popularidade:
era direto, bem escrito, um pouquinho enfeitado, com retoques de estilo,
dando presença pessoal ao texto impessoal, público, útil, funcional… As
coisas iam por aí, até que o dono do botequim onde o Dr. Caneta fazia
ponto, um balcão banal de botequim, um ponto circunstancial, começou
a pedir para o Dr. Caneta que ele explicasse as notícias do rádio, aquilo
quente e urgente que o locutor dizia. E o Dr. Caneta começou a comentar
o noticiário, que podia ser futebol, crime, reforma monetária, previsão do
tempo, reforma agrária, ó erre tê ene etc. etc. O Dr. Caneta começou a
passar para a tradição oral, onde a notícia é meio descartável. Por aí não
deu. Dr. Caneta voltou à caneta, operário, batalhador, sempre correndo
atrás… correndo atrás… Dr. Caneta corre atrás.

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(B)
Primeiro estágio: Cruzeiro. Por ali. Pequenos bilhetes. Pretextos escritos,
sugestões, relação de compras, inventários semanais etc. Um belo dia, o
Dr. Caneta vai a Teresópolis. Vai à cidade grande. Diferenciar Cruzeiro
de Teresópolis. Cruzeiro é o primeiro estágio: mínimo, com tipos
extraterrestres, etéreos, louquinhos, tão esquisitos e desconfortáveis que
justifica evitá-los, tratá-los como fatos pitorescos, compreensíveis. Do
ponto de vista propriamente literário, o Dr. Caneta é apenas um
eficientíssimo funcionário. Nunca houve uma reclamação de seus
serviços. Era um conhecedor das escritas utilitárias. Um Sandrão. Um
fera na conversa. Em matéria de literatura protocolar, de redator
disponível e competente, honesto, apenas uma habilidade aparentemente
supranormal: saber redigir. Cf. o Dr. Caneta com aquela profissão que já
surgiu nos Estados Unidos, em Nova York: o redator universal, capaz de
atender a qualquer demanda; de atender a qualquer sonho; desejo;
fantasia; solicitação… O Dr. Caneta de Nova York é assim: o sujeito
acha que tem boas ideias para escrever um romance; tem tudo na cabeça:
o enredo; as tramas; o encaminhamento das situações; o desfecho…
Sobretudo o desfecho. Vai daí, procura o ESCREVEDOR (o habilidoso
universal): passa-lhe as ideias, as intenções, as imprecisões, as taras, as
frustrações. E o escrevedor transforma aquela maçaroca em… ROMANCE!
Se o freguês acha que gostaria de escrever um poema, então o
ESCREVEDOR bota aquilo tudo em versos. Ou carta. Ou conto. Ou
qualquer coisa. Mas o nosso Dr. Caneta, brasileiro, trabalhador, sem
vaidade, é apenas um personagem de Lima Barreto.

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(C)
Dr. Caneta existiu. O que era aquilo? Era um burocrata? Era um tipo
“Davi Martinho Rodrigues”?

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meu tio

Essa história é do tempo em que os animais falavam. Do tempo em que


se amarrava cachorro com linguiça. Tudo era bom. Tudo era puro. Minha
avó era uma santinha, acreditava em simpatias, antipatias, catarses,
empatias etc. Meu tio era mais puro ainda: não acreditava em nada disso.
Mas era isso tudo. Mais ainda do que minha avó. Foi uma vida feliz, a de
ambos. Hoje, medindo e pesando, ambos estão bem velhos. Minha vó,
uma velhinha; meu tio, um senhor, até segundas ordens, respeitável.
Todos estão vivos. Uns mais, outros menos, mas todos vivem. Meu tio
era tão do mundo, que tinha nome. Seu nome era L.L., e, aparentemente,
era um homem como os outros. Tossia, coçava-se, alimentava-se. No
momento em que o apreendo, devia ter cerca de vinte e poucos anos.
Adolescente, em qualquer nacionalidade. Seu dia era plácido, se bem que
distendido em etapas e antessalas. Pela manhã ainda dormia. Aí pelas
dez e meia, onze horas, dava sinal de vida, resmungava algo, e circulava
pela casa. Era como um alarme. Minha avó ficava de prontidão. L.L.
demorava lavando o rosto, usava muita água, escovava os dentes e
penteava os cabelos com esmerado cuidado. Era minucioso no modo
como esfregava os vários aspectos de cada dente, polindo-os, limpando-
os. Assoava muito o nariz, bem barulhento, como se fosse botar a alma
pela boca. Fazia a barba pontualmente. Após, sentava-se na mesa da
copa, no tempo em que havia copas, lia os jornais, e tomava café. Ovos
estalados, geleias, queijo, leite, torradas, bife acebolado, sucos. Após o
café, recolhia-se ao quarto e aprontava-se, preparando para sair. Sua
roupa era passada na hora, imaculada, motivo de verdadeira preocupação
para minha avó. No geral, reclamava. Enjeitava uma camisa, uma manga
mal passada. Tinha 160 ternos. Dos quais, 80 brancos, de linho 120.
Sapatos, tinha 100 pares. Se trabalhava? Passava o resto da manhã na
porta da loja da família; uma casa de artigos para homem, e também
barbearia. A loja ficava na parte da frente da casa, dando para uma rua
comercial, tanto que ficou conhecida como rua do Comércio. Artigos
finos, chapéus, perfumes, roupas, sapatos, gravatas etc. Ficava ali pela

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porta, dava uma voltinha pelo quarteirão, entrava, saía. Parava diante do
espelho e acertava os cabelos, usando ambas as mãos, e fazendo uma
curiosa contração facial do lado esquerdo, arrebitando a boca e as
sobrancelhas. Pigarreava. Proseava aqui e ali. Dava continuação à
conversinha de ontem. Loteria. Corridas de cavalos. Apólices. Aí pelas
duas horas, entrava pra casa, ia almoçar. Minha avó estava de prontidão.
L.L. comia travessas e mais travessas de alfaces, com um tempero
inovador, criado por ele mesmo. Haja limão. Depois, punha no prato
arroz e feijão. Mas deitava tanta pimenta, tanta pimenta, que tudo ficava
vermelho por igual. Amassava tudo com farinha, espremia mais limão, e
comia. Era bom de garfo. Gostava de sobremesas. Tomava cafezinho.
Por aí afrouxou um pouco a cinta, desprendeu uns ventos, relaxou,
resmungou qualquer coisa e recolhia-se ao quarto. Deitava-se. Mexia
daqui e dali, resmungava, ouvia um pouco de rádio, tirava uma soneca.
Pela tardinha acordava, quase sempre de mau humor, e minha vó já
preparava sua roupa, outras roupas, mais apropriadas para o crepúsculo.
Passava perfume; passava uma gordura cheirosa nos cabelos, e saía. Ia
dar um giro na tarde. Tomar a fresca; tomar pé nas coisas. Por essa hora,
a porta da loja era animada, com footing em ambas as direções. L.L.
ficava por ali, azarando, ouvindo e passando adiante. L.L. pontuava.
Os botões de suas camisas eram de ouro; uma espécie de joia útil, um
adereço distinto e caro. Era um enfeite, e neste sentido, não servia pra
nada. Mas era caro. As duas coisas, não servir pra nada, e custar caro,
elevavam meu tio aos olhos dos outros, e a meus próprios olhos. Eu
também achava bonito custar caro. Não servir pra nada, nem se fala.
Desses botões de ouro, tinha vários. Nas camisas, só os casulos. Aí pela
boca da noitinha, ia encontrar os companheiros na zona, onde misturava
cervejas com anedotas. Parlapatices. Falavam das corridas (de cavalo),
loteria, casos amorosos, conquistas, cafajestadas de homens. Um ou
outro tinha uma ligação fiel na zona; outros iam ali apenas nas
respectivas noivas. L.L., por exemplo, saía da zona e ia noivar.
Sua noiva, A., era professora primária e morava com os pais. L.L.
ficava na casa dela de oito e meia a dez e meia. Noivava. Aparentava.
Falava em casamento, fazia promessas. Não falava, mas sugeria filhos.
Toda noite levava flores para A., que se sentia mimada e protegida. Lá
pelas onze da noite L.L. adentrava o bar do G., onde a homaiada se
reunia pra jantar e falar alto, fazer zoeira com o mulherio alegre. Mas,
antes disso, passava em casa, e, rapidamente trocava de roupa,
repassando o perfume. E ali, na esbórnia, ficava até as madrugadas. Isso
quando não saía antes e ia amanhecer nos braços de I., uma mulher que

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ele sustentava e que ele havia tirado da zona. Montou casa pra ela. Pela
manhã, já em casa, ele dormia. Aí pelas dez e meia, onze horas, dava
sinal de vida. Resmungava, e quase sempre de mau humor.
Uma tarde, quando batia ponto na zona, depois de umas dez cervejas,
teve uma ideia. Uma luz acendeu no seu célebro. Eureka! Ganhar
dinheiro! Elaborou: comprava todo o estoque de sementes de girassol
que encontrasse. Arrematava todos os lances; mandaria vir. Em breve
seria o único dono municipal, talvez estadual; quiçá federal; da nação, da
tal semente, e racharia de ganhar dinheiro. E assim fez. Tomou um
empréstimo no banco, e desandou a comprar sementes de girassol. Em
breve, reuniu algumas toneladas, alugou uns galpões, guardou tudo, e
ficou aguardando. O tempo foi passando, passando, e nada. L.L. falhara
no principal: ninguém queria comprar sementes de girassol. A demanda
era quase nula. Faltou pesquisa. Resultado: falência. Quem pagou as
despesas foi meu avô, que segurou muitos rombos na praça. Um cheque
sem fundo aqui, uma despesa ali, um calote acolá.
L.L. era caprichoso. Gastava fortunas com criações de galos e
passarinhos. Tinha um viveiro de pássaros raros, canários campeões,
aves nunca dantes vistas. Certa feita deu quinhentos contos por canário-
do-reino, que trinava de bico fechado. Um luxo. Três semanas depois o
bichinho morreu, parece que de pura fraqueza. Meu avô pagou as contas.
E tinha os galos, de raça, de briga, de todos. Veio um galo indiano, de
pescoço pelado que era uma sumidade. Tinha um garnisé cujo avô
pertenceu ao príncipe Aga Khan, ex-marido daquela atriz cujo amante
morreu de aids. Fazia apostas na rinha, estimulava os galos, torcia,
redobrava. Infernizava. Foi ficando triste, triste, até a um ponto em que
precisou ser internado. Bebia demais na tristeza. Ficava triste porque
bebia. Ficou num sanatório estadual, tratou-se, um dia disseram que
estava bom. Teve alta. Mas, antes disso, aprendeu a fabricar
entorpecentes. Isso mesmo: entorpecentes. L.L., no internamento, em vez
de progredir, aprendeu mais porcaria. Um detento lá, cujo nome não me
ocorre, ensinou-o a fazer drogas. Infusões, químicas, preparados, fases, e
eis o bagulho. De modos que quando L.L. saiu libertado, saiu pior. O
educandário deseducou-o, logo ele, que já era deseducado.
A última que eu soube dele é inacreditável. Hoje ele tem uns sessenta
e cinco anos, mas está ativo. Maltrata a mãe até hoje. Minha avó está
velhinha, mas a sina a persegue. A última que eu soube foi a dos
papagaios. Minha vó, há muitos e muitos anos, cria papagaios que ela
chama “mulatos”, e todos aprendem a falar, a fazer qualquer gracinha.
Minha avó e os papagaios, uns dez ou doze, são uma única entidade, um

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ser só. Pois não é que o L.L., movido por um instinto qualquer de
vingança, pegou esses papagaios, meteu dentro de um saco, fechou o
saco, girou, girou, e arremessou por cima do muro? Jogou fora os
papagaios de minha avó, sua mãe. Imaginem a dor. E assim veio ele: se
aperfeiçoando. Depois de idoso virou pederasta, logo que semeou tantos
filhos no mundo. Não era moda nem nada: era só pra machucar minha
vó. Ela ainda está viva. Idosa. E ele também.

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o sapo

Cadê o sapo? Estou com saudade dele. Logo agora que comecei a gostar,
ele se manda. O sapo será cururu? Será boi? Sapo-trem? Sei lá. Só sei
que hoje, sem ele, sinto sua falta. Um dia o sapo pintou por aqui. Sempre
tive medo de sapo. Sapo e cobra, pra mim, é tudo motivo de medo. São
répteis, bichos arrastados. Como o calango. Uns menos, outros mais. O
sapo, além do mais, é batráquio! Credo! Ele fica ali, todo quieto, como
se fosse vegetação. Meio cogumelo, meio parasita. Diz que sapo mija
uma água que se pegar nos olhos da gente, na boca, dá uma inchação
purulenta, chamada cobreiro. Um pus de origem animal, fétido e
aborrecido. O negócio é evitar o mijo do sapo. Cresci com uma ideia,
mais que isso, uma emoção: cuidado com o sapo! Até já ajudei a matar
alguns. Desses caprichos de meninos, que juntam em grupo para fazer
maldade. Já participei do linchamento de uns sapos, mortos a pedradas,
pauladas, chutes. Cobra também costuma morrer assim: justiçada. Esses
bichos assim, com esse grau de repugnância e rejeição, que inspiram um
justiçamento elementar, provindo do paraíso, da idade de ouro do bem e
do mal, esses bichos, como eu dizia… Pois é isso: o sapo despintou.
Tenho sentido falta. A verdade, a pura verdade, a inconfessável verdade,
é que o sapo, até ele, acompanha, faz companhia.

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galo galo

Certo dia combinamos tudo. Seria de tarde. Éramos quatro. O Paulo


Preto, o Gustim, o Presteizêrro e eu. Lá no quintal, sem ninguém ver,
carcamos o galo, arrochamos o galo, pegamos o galo. Levamos o galo
para um canto do galinheiro indevassável. Lá, sem olhos alheios por
perto, abusamos do galo. Viramos o cu do galo pra cima, pesquisamos. O
Paulo Preto de pau duro, querendo enrabar o galináceo. O Gustim no
comando, querendo dar um ar de utilidade àquela maldade. O que
fizemos com o galo, no final das contas, foi maldade da mais pura:
capamos o galo. Pois não foi, que de tanto observar o cu do galo,
percebemos que lá de dentro despontava algo sexual, parecendo uma
pena de caneta-tinteiro. O Presteizêrro disse: “Vamos cortar, eu tenho
gilete”. Ficamos excitados. Quer dizer então que o galo encostava o cu
dele no cu da galinha, e ficava tudo resolvido? Ficamos todos revoltados
contra a natureza. A natureza é, muitas vezes, muito imperfeita. Pois
resolvemos corrigir este erro, antes que fosse tarde. Ou cedo. Ou nunca.
Metemos a gilete no cu do galo, arrancamos seu culhão, todo mundo
participando daquele ato de justiçamento. Quem o galo pensava que era?
Capamos o galo, todo mundo excitadíssimo. O pobrezinho ficou por ali,
minguando, exaurido, prestes a bater as botas. Ou as esporas. Lembro-
me muito bem: foi uma vingança de macho contra macho. O galo, antes
disso, só ficava ali, no galinheiro, no terreiro, papando as galinhas, todo
gostosão, todo rei. Que macho qual nada. Macho éramos nós. Capamos o
galo, que acabou, numa crise de hemorragia aguda, morrendo. Menos um
macho no galinheiro. Menos um macho no mundo. E bolamos: o
próximo macho a ser sacrificado seria o gato. Nunca vimos o gato meter
nas gatas, mas sabíamos que este ato imperdoável acontecia de noite,
pelas madrugadas, e isso não podia passar em brancas nuvens. Certo dia,
tudo combinado, pegamos um gato. Olhamos bem, pesquisamos, e não
era gato: era gata. Fêmea. Conferenciamos. Gustim era a favor do
perdão. Paulo Preto não chegou a formar opinião, estava mais
interessado num emprego de engraxate, fixo, com ordenado mensal, que

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estava pra pintar numa barbearia. Presteizêrro era pau-mandado. Pelo
sim, pelo não, fui eu que decidi a questão: amarramos uma estopa
embebida em querosene no rabo da gata, amarramos bem, bem forte, e
tocamos fogo. Era uma rua abaixo, quase uma avenida. Pois a bicha saiu
escafedendo, desesperada, urrando um urro desmiolado, e o fogo subindo
no cu dela e ela miando feio, e o fogo pegando e ela sem rumo no salto
mortal. Vou resumir: é brincadeira? Sempre que lembro do galo capão,
lembro da gata, mais um mal-estar ressoa em minha cabeça. Arrepender,
não me arrependo. Mas que foi estranho foi, e que me marcou, marcou.

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saco de gatos

Uma vez, não sei se de conveniência, ou de maldade, matei vários


gatinhos. Oito. Todos afogados. E cheguei mesmo a empurrar os
pobrezinhos, com uma vara comprida, para o fundo do riacho, sempre
que queria flutuar. Eu havia combinado com o Zezé que faríamos uma
criação de pombos na fazenda de seu pai. E assim foi feito: levamos
vários casais de pombos para lá, lá no “Limoeiro”, uma fazenda perto da
cidade, Barretos, e que produzia leite e laranjas. Pombos? Por que não
tê-los? E lá fomos nós. Soltamos os pombos no espaço rural e as aves
voaram, voaram, voaram, e acabaram pousando por ali mesmo. Nos dias
seguintes foram formando hábito, pombo é muito habitual. Foi uma
proliferação inicial fecunda e promissora. Mas havia um problema: assim
que os filhotes nasciam, ainda nos ninhos, no beiral das telhas da
varanda, ou mesmo no pombal que foi construído perto da caixa-d’água,
os gatos comiam. Pensamos: é preciso tomar uma providência.
Conferenciávamos, o Zezé e eu, e chegamos a uma conclusão razoável:
era preciso exterminar os gatos. Todos. Pais, mães, filhotes, agregados. O
Zezé, esse rapaz que era meu sócio, foi uma das pessoas que mais me
marcaram em minha vida. Era, acima de tudo, bruto. Isto é, grosso.
Decidia tudo num único lance, decisivo, irreparável. Era um amigo leal,
mas, Deus me livre de ser ou ficar inimigo dele. Gostava de dar socos,
gravatas, chutes a esmo, tirava sangue do nariz de muita gente. E até do
próprio nariz. Consta que certa feita, ao simular o que faria com um
inimigo histórico, o Virgilinho, desfechou um murro no ar tão
desmedido, que acabou atingindo as próprias narinas, que esguicharam
sangue. O Zezé era sanguíneo, furioso sem precisar de muitas causas. De
uma vez, jantando com toda a família, pai, mãe, irmãos, cunhado, tio
etc., aborreceu-se na hora da sopa, ficou contrariado, e deu um murro na
mesa que resvalou no prato, respingou quase todo mundo, sujou a toalha,
cortou a mão. Sangrou. Quando o sangue jorrava, maculando o que
deveria ser um simples jantar, levantou-se, esbravejando, e, tomado de
fúria, glosou o mote que um tio liberal ousara sugerir: “Merda? Merda eu

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tenho é no cu pra cagar…”. E retirou-se feito um possesso, transfigurado,
verdadeiro herói da rebelião precoce doméstica. Voltemos aos pombos.
A ordem era matar os gatos. Uma manhã cheguei no “Limoeiro” e havia
uma tarefa pra mim: levar até o riacho um monte de gatinhos, que, com o
tempo, iriam crescer, e devorar os pombinhos, que também nasceriam e
cresceriam. Executei ao pé da letra. Joguei todos os gatinhos na água,
eles desciam feito pedras, inertes, com poucos movimentos. Fiquei
olhando: ao chegar no fundo mexiam com as patinhas, como se
quisessem nadar, se salvar, sei lá… Por via das dúvidas, e pensando nos
pombos, que acabaram trazendo só piolhos para nós, usei a tal vara, com
a qual mantinha os coitadinhos no fundo. Dizer que gostei, não digo.
Não gostei. Mas foi grande, muito grande, enorme, a sensação de dever
cumprido. O Zezé? O Zezé desinteressou-se pela coisa. Comprou umas
botas de cano longo, e, com o tempo, foi deixando de falar comigo. Mas
os gatinhos, tenho certeza, matei todos.

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o sítio do alemão

O alemão é meio troncho. Não manca de perna nenhuma, mas parece que
manca. O alemão não se manca. Soube dele por intermédio, de
passagem. Diziam que o alemão tinha ido à Alemanha, visitar a mãe
doente. Parece que a velha morreu. Na Alemanha os meninos pequenos,
desde pequenos, já falam alemão. Admiro. Eu, que sou brasileiro, fui
aprender o português nas escolas. Mas o alemão é isso: meio troncho.
Meio desclassificado. Se quisesse, poderia mancar, perfeitamente.
Enfim, o alemão, na minha vida, era secundário. Seu terreno ficava (e
fica) do lado direito do meu sítio, de quem olha da estrada para a
florestinha. Um belo dia foi que se deu. O alemão tinha voltado da
Alemanha. Estava por ali, ciscando feito galinha, olhando pro chão, sem
ter ideia do tamanho do galinheiro. Olhei e vi: lá estava ele, meio
alemão, meio serrano. Perguntei pro Ademir: “Como é o nome do
alemão?”. E o Ademir falou: “Não sei não, mas eu trato ele de Eduardo.
Eduardo Alemão”. E concluiu: “O nome dele é meio esquisito, meio
alemão”. Aí fui lá falar com ele. O Ademir, esse deixamos para daqui a
pouco. Vamos direto ao Alemão. Eduardo Alemão.

O alemão esteve aqui, com a mulher dele. Deu tudo certo, pra ele e pra
mim. Um bem-te-vi canta: “Bem-te-vi”. Eu respondo: “Bem-te-vi”. A
mulher do alemão, Lígia, aliás dona Lígia, é brasileira. Costureira. E é
gente muito mais fina, muito mais civilizada do que o alemão. A
impressão que me deu foi essa: o alemão veio de um país com regras,
horários, compromissos, afinal o alemão é europeu, e veio dar no Brasil,
terra da esculhambação. E gostou. Havia qualquer instinto mau no
alemão que estava só agendando a hora de se manifestar. Foi chegar no
Brasil e a fome encontrou com a vontade de comer. Vê-se que o alemão
poderia já ser grosso de origem, já trazer algum travo na alma; mas vê-se
também que alguma grossura foi criada e desenvolvida a partir do
contato com o Brasil. Essa é a impressão que me dá: o alemão esquecer o
melhor que tinha, se é que tinha, e adquirir novos e malévolos hábitos.

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Enfim, abrasileirou-se. Ficou meio bonachão, entre o sentimental e o
espertalhão, rústico, hábil, campônio. As mãos do alemão são mãos de
trabalhador que trabalha com as mãos. Seus dedos são reforçados e
rústicos, com as unhas cortadas rente, com uma fímbria de sujeira de
terra, mãos de quem mexe com a terra. Já a Lígia parece que percorreu o
caminho inverso: elevou-se. O contato dela com a Alemanha, através do
alemão, purificou-lhe um quê na alma, refinou um algo nos instintos,
melhorou-a sensivelmente. Sua origem é de brasileira rústica, costureira
e estofadora dessas que trabalham anos e anos para os mesmos clientes,
que são meio patrões, e a quem ela gosta de dedicar afetos e gratidões.
Lígia partiu desse meio promíscuo, que é a esculhambação brasileira, e
identificou-se com a disciplina da civilização europeia. O alemão adora
fazer um lixo, juntar latas vazias e restos de feijoada num terreno baldio,
ir jogando porcarias pelo caminho etc. Já Lígia não: Lígia gosta é de lixo
no lixo. Lugar limpinho, roupa limpinha, aparência limpinha. É
costureira mas gostaria de aperfeiçoar-se na vida. E tem mais cabeça
para os negócios do que seu marido, que é meio parlapatão, com aquela
ingenuidade típica das pessoas brutas, incultas.
O que se deu foi que comprei o sítio do alemão. Já tinha mandado o
Ademir saber se o alemão vendia o sítio. Disse que sim, mas que não era
seu propósito. Ficamos, entretanto, de conversar na primeira
oportunidade. Cheguei pro alemão e disse: “Muito prazer, o senhor está
sabendo do meu interesse?”. O alemão mandou: “Estou sim, conversei
com minha mulher, com a família, e todos acham que não posso vender
por menos de 100 mil cruzeiros”. Pensei: o alemão deve estar querendo
falar 100 milhões de cruzeiros. Fiquei quieto. Conversamos sobre outros
assuntos. O alemão contou que cria cachorros pastores, que pensava em
soltar uma cachorrada ali no terreno dele, que no fim de semana ia
oferecer uma feijoada pros amigos, e que ia construir uma casa a três
metros da minha. Estremeci. Mas dei a impressão que achava aquilo tudo
louvável. E fui achando louvável outras tantas calamidades que o alemão
planejava. E pensava: 100 milhões? É muito. É muito mas o alemão
merece. Nesse dia conheci o filho do alemão. Me deu a pior impressão.
Grandalhão, meio lerdo, caindo para o obeso, tipo joão-bobão. E meio
mal-encarado. Havia algum rancor no olhar do moço. E ia formando
minhas impressões: que gentinha esquisita!
Afinal, parece que vou comprar mesmo o sítio do Alemão. Num fim
de semana, a d. Lígia me telefonou, temperou, obtemperou. Pensei: vai
dar certo. Marcamos um encontro aqui para cima, aí eles vieram. Eu subi
com a mainha (minha mãe), e a conversinha foi boa. Botei pinga na

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mesa, a mainha preparou uns docinhos. Falei pro Alemão: “100 milhões
é muito. Não posso pagar, não vale”. E ele: “Bem, então qual é a sua
proposta?”. Falei: “60”. Aí o casal se entreolhou, acho que vi uma
lágrima rolar dos olhos de d. Lígia. Percebi que a questão era
sentimental. Antes que a peteca caísse, mandei: “Então 70. Setenta e
pronto. Em duas vezes”. Negócio fechado. Hoje é o dia da despedida
deles. Estão todos aqui, filhos, primos, noras, amigos. Parece que
amanhã pelo almoço vai ter uma grande feijoada. O alemão vai, mas
antes de ir vai deixar algum lixo para mim, restos, cascos, entulho. O
alemão tem um filho que é parecido com o outro, com a diferença que é
casado. Ouvi histórias tristes, algumas cômicas, outras comoventes.
Desejo felicidades para o Alemão e sua família. No sítio do Alemão,
agora meu, tem: cana, ameixas, laranja, pera, amora. E bico-de-papagaio
e bambuzal. E muito provavelmente, uma nascente. Um lugarzinho que
está sempre úmido, querendo brotar água. E também um cardume de
abelhas, um manancial, zoeira pura, gravitando nas alturas de um tronco
de árvore, talvez tenha mel lá. É no sítio do alemão que o riacho faz a
curva. Ali vou fazer uma pequena represa, fazer um laguinho, suspender
as águas, e criar uma queda. Uma cascatinha. Chuá chuá… chuá chuá
chuá chuá…

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sobre o autor

Antônio Carlos Ferreira de Brito, mais conhecido como CACASO, nasceu


em Uberaba em 1944. Um dos nomes mais destacados da geração de
1970, é autor de Beijo na boca e Mar de mineiro, entre outros livros de
poemas. Sua obra inclui ensaios e mais de duzentas letras de música.
Morreu no Rio de Janeiro em 1987.

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Copyright ©Herdeiros de Cacaso/ Rep.
por Copyrights Consultoria Ltda.

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em
vigor no Brasil em 2009.

Capa
Elisa von Randow

Revisão
Adriana Moreira Pedro

Versão digital
Marina Pastore

ISBN 978-65-5782-068-1

Todos os direitos desta edição reservados à


EDITORA SCHWARCZ S.A.
Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 32
04532-002 – São Paulo — SP
Telefone: (11) 3707-3500
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Poesia completa
Cacaso
9788554512880
464 p�ginas

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Reunião de todos os poemas de um dos nomes mais marcantes da


geração mimeógrafo, esta obra é retrato de uma época e testamento
literário dos anos 1970.

"Cacaso tem o gênio brasileiro da fala macia, sensual e maliciosa. É da


família de Bandeira, cuja linguagem é sem artifícios", define Francisco
Alvim. Em toda sua produção, que abarca poemas, ensaios, letras, contos
e desenhos, Cacaso deixou sua marca registrada: sensibilidade
combinada com olhar crítico, simplicidade com sofisticação literária,
sutileza com ironia fina.
Poesia completa reúne os seis livros publicados pelo poeta — de A
palavra cerzida (1967) a Mar de mineiro (1982) — e uma farta seleção
de poemas inéditos recolhidos pela editora Heloisa Jahn dos cadernos do
autor, além de sessenta letras de música. O volume traz ainda textos de
Roberto Schwarz, Heloisa Buarque de Hollanda, Francisco Alvim, Vilma
Arêas e Mariano Marovatto.

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Ficções
Borges, Jorge Luis
9788543806068
176 p�ginas

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Ficções é a obra que trouxe o reconhecimento universal para Jorge


Luis Borges, graças, entre outros motivos, ao caráter fora do comum
de seus temas, abertos para o fantástico, e à inesperada dimensão
filosófica do tratamento.

Ficções reúne os contos publicados por Borges em 1941 sob o título de


O jardim de veredas que se bifurcam (com exceção de "A aproximação a
Almotásim", incorporado a outra obra) e outras dez narrativas com o
subtítulo de Artifícios. Nesses textos, o leitor se defronta com um
narrador inquisitivo que expõe, com elegância e economia de meios, de
forma paradoxal e lapidar, suas conjecturas e perplexidades sobre o
universo, retomando motivos recorrentes em seus poemas e ensaios
desde o início de sua carreira: o tempo, a eternidade, o infinito. Chamam
a atenção a frase enxuta, o poder de síntese e o rigor da construção, que
tem algo da poesia e outro tanto da prosa filosófica, sem nunca perder o
humor desconcertante.
Em Ficções estão alguns de seus textos mais famosos, como "Funes, o
Memorioso", cujo protagonista tinha "mais lembranças do que terão tido
todos os homens desde que o mundo é mundo"; "A biblioteca de Babel",
em que o universo é equiparado a uma biblioteca eterna, infinita secreta
e inútil; "Pierre Menard, autor do Quixote", cuja "admirável ambição era
produzir páginas que coincidissem palavra por palavra e linha por linha

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com as de Miguel de Cervantes"; e "As ruínas circulares", em que o
protagonista quer sonhar um homem "com integridade minuciosa e
impô-lo à realidade e no final compreende que ele também era uma
aparência, que outro o estava sonhando".

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A Fazenda dos Animais - Edição
especial
Orwell, George
9786557820636
280 p�ginas

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Uma das obras mais emblemáticas do século XX ganha edição


atualizada com nova tradução, projeto gráfico especial e ampla
fortuna crítica.

A história é conhecida: cansados da exploração a que são submetidos


pelos humanos, os animais da Fazenda do Solar se rebelam contra seu
dono e tomam posse do lugar, com o objetivo de instituir um sistema
cooperativo e igualitário. Mas não demora para que alguns bichos voltem
a usufruir de privilégios, fazendo com que o velho regime de opressão
regresse com ainda mais força.
Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945, A
Fazenda dos Animais é uma alegoria satírica sobre os mecanismos do
poder e tudo aquilo que leva à corrosão de grandes ideias e projetos de
revolução. Pela primeira vez no Brasil, o clássico de George Orwell é
publicado com seu título original. Com nova tradução, de Paulo
Henriques Britto, e projeto gráfico especialíssimo — com capa em
tecido, corte impresso e obras da artista brasileira Vânia Mignone —,
este A Fazenda dos Animais conta também com uma série de ensaios que
cobrem a recepção crítica do livro desde o seu lançamento até os dias de
hoje.

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Sejamos todos feministas
Adichie, Chimamanda Ngozi
9788543801728
24 p�ginas

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O que significa ser feminista no século XXI? Por que o feminismo é


essencial para libertar homens e mulheres? Eis as questões que estão
no cerne de Sejamos todos feministas, ensaio da premiada autora de
Americanah e Meio sol amarelo.
"A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É
importante que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um
mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais
felizes, mais autênticos consigo mesmos. E é assim que devemos
começar: precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente.
Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente."
Chimamanda Ngozi Adichie ainda se lembra exatamente da primeira vez
em que a chamaram de feminista. Foi durante uma discussão com seu
amigo de infância Okoloma. "Não era um elogio. Percebi pelo tom da
voz dele; era como se dissesse: 'Você apoia o terrorismo!'". Apesar do
tom de desaprovação de Okoloma, Adichie abraçou o termo e — em
resposta àqueles que lhe diziam que feministas são infelizes porque
nunca se casaram, que são "anti-africanas", que odeiam homens e
maquiagem — começou a se intitular uma "feminista feliz e africana que
não odeia homens, e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma,
e não para os homens".
Neste ensaio agudo, sagaz e revelador, Adichie parte de sua experiência
pessoal de mulher e nigeriana para pensar o que ainda precisa ser feito de

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modo que as meninas não anulem mais sua personalidade para ser como
esperam que sejam, e os meninos se sintam livres para crescer sem ter
que se enquadrar nos estereótipos de masculinidade.

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Uma terra prometida
Obama, Barack
9786557820322
764 p�ginas

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Um relato fascinante e profundamente íntimo da história em


formação — feito pelo presidente que nos inspirou a acreditar no
poder da democracia.

No comovente e aguardado primeiro volume de suas memórias


presidenciais, Barack Obama narra, nas próprias palavras, a história de
sua odisseia improvável, desde quando era um jovem em busca de sua
identidade até se tornar líder do mundo livre. Com detalhes
surpreendentes, ele descreve sua formação política e os momentos
marcantes do primeiro mandato de sua presidência histórica — época de
turbulências e transformações drásticas.
Obama conduz os leitores através de uma jornada cativante, das
primeiras aspirações políticas à vitória crucial nas primárias de Iowa, na
qual se demonstrou a força do ativismo popular, até a noite decisiva de 4
de novembro de 2008, quando foi eleito 44º presidente dos Estados
Unidos, o primeiro afro-americano a ocupar o cargo mais alto do país.
Ao refletir sobre a presidência, ele faz uma análise singular e cuidadosa
do alcance e das limitações do poder executivo, além de oferecer pontos
de vista surpreendentes sobre a dinâmica da política partidária dos
Estados Unidos e da diplomacia internacional. Obama leva os leitores
para dentro do Salão Oval e da Sala de Situação da Casa Branca, e
também em viagens a Moscou, Cairo e Pequim, entre outros lugares.
Acompanhamos de perto seus pensamentos enquanto monta o gabinete,
enfrenta uma crise financeira global, avalia a verdadeira face de
Vladímir Pútin, supera dificuldades que pareciam insuperáveis para
aprovar a Lei de Assistência Acessível (Affordable Care Act), bate de
frente com generais sobre a estratégia militar dos Estados Unidos no
Afeganistão, trata da reforma de Wall Street, reage à devastadora
explosão da plataforma petrolífera Deepwater Horizon e autoriza a

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Operação Lança de Netuno, que culmina com a morte de Osama bin
Laden.
Uma terra prometida é extraordinariamente pessoal e introspectivo — o
relato da aposta de um homem na história, da fé de um organizador
comunitário posta à prova no palco mundial. Obama fala com
sinceridade sobre a situação delicada de concorrer a um cargo eletivo
sendo um americano negro, sobre corresponder às expectativas de uma
geração inspirada por mensagens de "esperança e mudança" e sobre lidar
com os desafios morais das decisões de alto risco. É honesto sobre as
forças que se opuseram a ele dentro e fora do país, franco sobre os
efeitos da vida na Casa Branca em sua esposa e em suas filhas e
audacioso ao confessar suas dúvidas e desilusões. Jamais duvida, porém,
de que no grande e incessante experimento americano o progresso é
sempre possível.
Brilhantemente escrito e poderoso, este livro demonstra a convicção de
Barack Obama de que a democracia não é uma benção divina, mas algo
fundado na empatia e no entendimento comum e construído em
conjunto, todos os dias.

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