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CONTRACAPA
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
INFORMAÇÕES TÉCNICAS
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
SUMÁRIO
Introdução............................................................................................ 4
O misterioso ancião............................................................................. 5
Todo bom guerreiro não anda só.................................................. 18
Reminiscências colatinenses............................................................ 29
As muitas formas da morte............................................................... 39
O que restou do fim do mundo....................................................... 50
A navegação no rio doce................................................................. 63
A última batalha. ............................................................................... 75
Pesadelo ou profecia........................................................................ 83
Uma instituição educacional:.......................................................... 91
Márcia e o formigueiro mágico...................................................... 99
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
INTRODUÇÃO
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
O MISTERIOSO ANCIÃO
Martinho Raasch Júnior
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
Sobre o Autor:
Martinho Raasch Júnior nasceu no dia 06 de novembro de 1970,
em Itapina, distrito de Colatina, ES. Graduado em Letras, publicou
estes três livros: O Casarão (contos/2003); A Vila dos Meninos
Degolados (romance/2014); A Reunião dos Encapuzados e Ou-
tros Contos (contos/2015).
Mistério e realismo fantástico são algumas de suas temáticas preferidas.
É membro da Academia de Letras e Artes de Colatina (ALARC).
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
barracos ali do morro). Sua casa era pintada quase que por completa
de verde-claro e rodeada de espadas-de-são-jorge, samambaias e ale-
crins. Nunca faltavam na horta dos fundos, taioba, guaco e manjeri-
cão, plantas do orixá de cabeça de preta Rosa, Oxossi, rei das matas e
abridor de caminhos.
Falando em caminhos, havia naquela época três que chegavam
à casa de Dandão: o mais fácil, pela escadaria que se estendia por
detrás do supermercado do Elias ao Beco 18. Eram escadas mal
feitas do tempo do doutor Syro Tedoldi, que porventura Dandão
decidira evitá-las já que a catinga de esgoto que ali corria livremente
era acachapante. “Preciso disso não”, ele dizia. Pelo outro lado, era
até possível subir pelas escadarias do São Vicente que margeavam
os muros do cemitério, mas era tão longe que nem valia a pena. Ele
preferia mesmo era invadir o antigo sítio do seu Cica, por dentro do
morro do Colatina Velha, passar pelo Beco 07, onde mora Lacione,
dar uma volta extenuante e passar pelos cantos da dona Jaciara —
uma velha preta e macumbeira que, além de ser mãe de Zé Coité,
mantinha há anos um terreiro de gira de Caboclo.
Porém, caro leitor, desde as minhas primeiras palavras eu prome-
ti-lhes a verdade.
Dandão já estava na “idade de namorar”, como dizia sua mãe. E,
de fato, ele estava de olho em uma das filhas da dona Jaciara. Madá
era uma preta esguia, vaidosa, prendada e muito perspicaz (ao pon-
to de saber das intenções de Dandão) e que odiava seu verdadeiro
nome que intuitivamente sabemos que era Madalena.
Ser amigo de Coité e desviar consideravelmente sua rota não
eram ações suficientes para que Adão (como preferia agora ser cha-
mado) conquistasse o coração de sua amada. Ele precisava ganhar a
confiança da velha yaya. “Quer namorá a Madá, Dandão, por mim
tudo bem, o negóço é tu dobrar a véia Jaciara”, aconselhava Coité.
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
ele quis dizer que não passaria mais uma noite no boteco — e fico
aqui colado na mãe. Vou distrair ela. — Coité sempre cúmplice. —
Dandão, Madá gosta de filme. Leva ela no cinema.
Mas, Dandão não tinha o dinheiro suficiente para manter sua
família, muito menos para os ingressos da sessão de cinema que,
evidentemente, deveriam vir acompanhados de refrigerantes, sacos
de pipoca e balas de menta.
Porém, Zé Coité sempre tinha a solução. Afinal, o homem era
filho dos malandros da encruzilhada. Dar passagem ao amor era a
sua vocação, mesmo que muitas vezes por meios escusos:
— Aí, Dandão, tô cumas ideias aí. Seu Daniel, fi do Taruíra, tá
querendo colocar umas pedra de mármore na varanda dele, mas o
muquirana não quer pagar na loja. Mas pagaria mais barato se fosse
de outro jeito.
— Não sou mais ladrão, Coité, já te disse. Meu tempo de enganar
bobo já passou.
— Mas não é roubar, seu besta, a gente podia pegar umas pedra
lá no cemitério de baixo. Tem umas catacumba arrumada cheia de
mármore, antiga pra caramba que ninguém nem sabe de quem é.
Família até já se esqueceu do defunto. Se tu topar, eu falo cum Be-
né-Dois-Dedo que tá de vigia hoje.
— E ele vai topar?
— Uai. Só dar umas pinga pra ele se esquentar na noite que tá
tudo certo.
E foi feito.
E tudo deu certo: o roubo, o suborno e a venda.
A tarde se estende. Dandão inventa um serviço qualquer de ar-
rumação e convida Madá para lhe ajudar. Dona Jaciara feliz com a
sobriedade do filho que há muito não ocorria. A noite cai, as lâm-
padas amarelas e quentes dos postes se acendem transformando o
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
— Dona Jaciara, eu quero lhe agradecer o que fez pelo meu filho.
Ele nunca mais tossiu sangue depois que tomou sua garrafada. Que
pena que a senhora sabe cuidar muito bem dos filhos dos outros e
tão mal dos seus. — Disse sádico o policial, enquanto algemava José
Mendes Filho. Zé Coité era malandro, mas até a malandragem tem
limites.
— Adão de Matos, ocê não tem escolha, ou vira homi ou vai pra
cadeia igual aquele fi vagabundo da dona Jaciara. E olha só, mínimo.
Eu num tenho fi vagabundo, não. — Mal sabia Preta Rosa que fora
Dandão quem ensinara Coité a roubar desde os tempos de engra-
xate. — Tem mais: se embestar com esse negoço de macumba de
novo eu te surro até tirar esses capeta do seu corpo. — Preta Rosa
dava o ultimato.
No final dos anos 1980 igrejas neopentecostais encontraram
terreno fértil em comunidades pobres, sem muita educação e, ou
esperanças. O principal dogma dessas congregações era a caça aos
demônios, a bruxaria e a macumbaria. Enquanto muitas igrejas
abriam, vários terreiros fechavam e umbandistas se convertiam às
novas práticas cristãs. E isso não foi diferente com irmã Rosa.
Adão não tinha nem como voltar ao mutirão. Ele sabia que mui-
tos ali conheciam a história e, pior que ser ladrão, era ser conside-
rado covarde. Ele não tinha muitas escolhas — evitara passar pelo
terreiro da dona Jaciara e voltou a descer e subir pela escadaria do
Elias. Algumas semanas se passaram até Adão ter coragem de visitar
seu amigo na prisão, visita essa muito diferente de como ele imagi-
nou, já que seu amigo o recebeu de forma calorosa e fraternal.
Mais uma vez, a vida de Adão de Matos era modificada (in)dire-
tamente por seu amigo Coité. À saída da prisão, Dandão fora sur-
preendido por um policial que trajava uma farda de belo corte e se
portava como um bacana.
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
e agora. Madá lhe acena com um sorriso e lhe faz um sinal para ele
se aproximar:
— O Zezinho até que se batizou e tudo. Há umas duas semanas,
eu acho. Tava até firme na igreja. Só que... cê sabe né, Dandão, a
maldita da cachaça é mais forte.
Os últimos momentos de José Mendes Filho sobre a terra foram
acompanhados por uma oração do Pai Nosso e por uma “segura na
mão de Deus e vai”. Mais algumas lágrimas rolaram e tudo ficou em
plenitude.
O silêncio em cemitérios geralmente não é sinal de mau agouro.
Muito pelo contrário. A solidão atrelada a confortável sensação de
eternidade é bem-vinda àqueles que descansam da vida. Mas, pare-
cia que algo faltava. O fim de Zezinho não podia ser assim, e isso in-
comodava Adão. Vindo de seu âmago e sem muito pensar a respeito
no que fazia, o eterno companheiro do defunto cantou uma música
que há muito não se atrevia em cantar.
Cantou sozinho. E sentia que deveria repetir. Só que dessa vez,
todos acompanharam o ponto de Oxossi, rei das Matas:
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
Sobre o Autor:
Wesley Alves, nascido em Colatina em 1985, atualmente é Servi-
dor Público Municipal. Graduado em Licenciatura em História,
pós graduação em Educação Infantil e Neuropsicopedagogia. Há
alguns anos tem estudado sobre aprendizados não formais, o que
lhe levou a desenvolver e executar diversas oficinas em escolas
públicas sobre essas práticas, utilizando o RPG como ferramenta
cognitiva. É co-autor dos livros “Resistência Glórqui”, “Chover e
Relampiar” e “Jogos de Campinhos”.
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
REMINISCÊNCIAS COLATINENSES
Olney Braga
Bartovino Costa. Uma das diversões, lá, era chegar até a janela para
ver os trens passarem. Sim, porque a estrada de ferro dava uma vol-
ta enorme. Saía da estação, no centro da cidade e, quando chegava
pra cá um pouco do Posto São Miguel, subia vertiginosamente até
atingir a rua Bartovino. Fazia isso devido ao leito do Rio Santa Maria
do Doce serpentear por toda a região hoje conhecida como Bairro
Esplanada, quase no centro da cidade.
E essa é uma boa história. Os americanos entraram na Segunda
Guerra Mundial e precisavam, com urgência, de que a Companhia
Vale do Rio Doce desse um jeito de tornar a estrada de ferro a mais
retilínea possível, pois eles necessitavam da chegada do minério,
com rapidez. A sinuosidade da estrada de ferro aqui em Colatina
ocorria em outros pontos da estrada, também. Engenheiros ameri-
canos para cá vieram e trouxeram todo o maquinário próprio para
a aterragem e, como num passe de mágica, o rio foi aterrado, e o
Morro das Cabritas, que ficava onde hoje se situa o Hospital Sílvio
Avidos, foi desmoronado, tendo a Prefeitura indenizado as famí-
lias que lá residiam. Resultado: Colatina ganhou o Bairro Esplanada
praticamente a custo zero para a municipalidade. Lembro-me de
que nós, crianças ainda, chorávamos ao assistir à morte de parte do
Santa Maria, sem nos darmos conta do benefício que tudo aquilo
causaria ao Município.
Todo esse processo deve ter demorado uns dois anos e meio. A
estrada tomou novo rumo, em direção direta da cidade até a nova
estação ferroviária, no bairro Esplanada. Segundo o historiador Dr.
José Luiz Pizzol, esse mesmo processo ocorreu em outros pontos
da estrada, resultando numa redução drástica, o que facilitou so-
bremaneira a chegada do minério ao Porto de Vitória. Com o des-
moronamento do Morro das Cabritas e a construção do Hospital,
tivemos a visita do então Presidente da República Marechal Eurico
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
COLATINA
Por mais que queiras mudar a tua sina,
Jamais conseguirás sair do rumo,
Pois, como bem conheço o teu prumo,
Viverás em ascendência, ó Colatina!
Sobre o Autor:
Nascido em Colatina em 1º de janeiro de 1937, Olney Braga fez
seus estudos iniciais no então Grupo Escolar Prof. Aristides Freire
e no Ginásio Conde de Linhares. Fez os seguintes cursos superio-
res: Direito (UFES), Letras (Português-Inglês-Francês), na FAFIC,
Administração (FACEC), Técnico em Contabilidade na Escola
Técnica de Comércio de Colatina. Aposentou-se no Banco do
Brasil e foi professor durante 55 anos. É viúvo e tem quatro filhos.
Passou a ser escritor a partir de 2007, tendo já escrito e publicado
quatro livros.
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
Sobre o Autor:
Leônidas Fachetti é escritor Colatinense, formado em direito e
funcionário público. Um escritor de histórias do gênero PULP,
cheias de ação e aventura. Já possui mais de dez livros lançados
(auto-publicação) e cerca de cinquenta e quatro livros escritos.
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
produção da nossa colônia são por sua causa. Pois é; seja lá o que
for essa agro-coisa, tenho que reconhecer que o velho sabe o que
faz trabalhando no painel de criação. Nunca vou dizer isso em voz
alta, claro! Já é suficiente ele me chamar de menina-cabeça-de-vento,
desde aquela vez que..., ah! Chegou! Fiquei tão perdida em pensa-
mentos que nem percebi que o espaço-porto tinha sido liberado
para pouso. Vamos lá ver o que o universo nos traz...
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Pensei que a nave seria mais nova. Financiar uma viagem de hipe-
respaço, tão rápido assim, não deve ser barato. E esse modelo pare-
ce mais uma relíquia. Pelo menos o tal de Enzo é pontual, são dois
ciclos desde o contato se completando nesse exato giro. A comporta
principal se fecha, a escotilha principal do veículo vai se abrindo, o
tripulante sai — estou mais ansiosa do que gostaria —, ele entra no
módulo lunar, passa pela sala de adaptação e — Pelo cosmo! Que
demora! — chega à área de recepção da colônia. Observo ele dar
entrada nas informações pelo terminal de serviço e — até que en-
fim! — Vou o mais rápido que posso para chegar até ele, enquanto
ainda está tirando o capacete:
— Oi! Você deve ser o Senhor Vinacani! Eu sou Hina-Korela, fui
eu quem recebeu o seu...
Eu não esperava que fosse o piloto mais jovem que já vi. Minha
expressão de espanto deve ser engraçada, porque ele sorri envergo-
nhado, enquanto faz um gesto de cumprimento, balançando a mão
levantada ao lado da cabeça:
— Olá! Que bom te encontrar logo. Obrigado pela recepção. O
senhor Ferrochi não está com você?
— Não aqui, mas me acompanhe que iremos até a célula dele.
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
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— Foco!
— Certo! Tem alguns mastros verticais em cima e é suportada
por alguns pilares.
— Quantos?
— São... Vinte e cinco? — Enzo confirma com a cabeça — Isso!
— Sei... Mais o que você vê?
— Ela se liga com o lado em que estamos, mas no outro parece
que foi desconectada. — Ampliamos ainda mais a imagem — Tem
um pedaço caído por lá, no chão.
— Eu sabia! Sabia que ela não resistiria. Então é isso, jovens. Seu
avô acreditava que a ponte duraria mais cem anos. Eu disse que não.
A vitória é minha.
Tenho que intervir:
— Ei! Aquilo ainda está de pé! Fizeram um corte para se defen-
der! Você perdeu!
— Não interessa o motivo. A ponte não está inteira, venci. Fim.
— Bem... — Enzo abre um compartimento, retira uma espécie
de caixa metálica com uma tela em cima e a entrega ao velho — Não
tenho como abrir isso mesmo...
Favo segura a caixa, visivelmente emocionado, acaricia, faz al-
guns gestos na tela e a caixa faz um clique, se abrindo.
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
Sobre o Autor:
Profissional de informática há quase 20 anos, começou a ler todo
tipo de texto desde os 6 anos de idade. Aos poucos foi descobrindo
os incríveis mundos do RPG, fantasia medieval, ficção científica,
histórias de mistério, quadrinhos e os clássicos. Ingressou no Ifes
aos 15 anos para cursar o Ensino Médio, ali ficou para a faculdade
e voltou depois como servidor, onde trabalha atualmente. Católico
assíduo, noivo apaixonado, flamenguista esperançoso, violeiro as-
pirante, está sempre pensando no que vai aprender em sequência.
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
vam nos trens rumo a Vitória. Como era um bem que tanto repre-
sentou para a história de Colatina, algumas tentativas foram feitas
para salvá-lo, todas em vão. O próprio Pedro Epichim, já aposenta-
do em seu cargo de comandante do navio após 30 anos de trabalho,
foi um dos que tentou por várias vezes recuperá-lo. Consta que o
barco se encontra soterrado sob o casarão nº 343 da Rua Adamastor
Salvador, na área que os aterros da Beira Rio roubaram trecho do
rio.
O Juparanã tinha 26 metros de comprimento por 6 metros de
largura, maquinário alemão, casco de aço, 60 centímetros de calado
e motor gerador de energia elétrica a gasolina, que podia ser ligado
ao próprio motor do vapor. Sua tripulação permanente contava com
12 funcionários: o comandante (Pedro Epichim), o imediato (Ilton
Epichim, filho de Pedro), o piloto, o chefe de máquinas, o foguista,
a cozinheira, o copeiro e cinco marinheiros. Podia acomodar até 150
passageiros em seus dois andares, sendo o superior, contornado por
varanda, com oito camarotes, totalizando 36 leitos. Também possuía
cozinha, serviço de bar e restaurante. No andar inferior, o espaço
era quase todo aberto, com algumas fileiras de bancos.
Sua principal finalidade era atender o trecho Colatina-Regência,
o qual não dispunha à época de outra opção de transporte a não
ser o Doce. Partia às terças-feiras de Colatina às 07:00 horas da ma-
nhã e chegava à noitinha em Linhares, onde pernoitava para seguir
na manhã seguinte para Regência. Lá pernoitando, regressando a
Linhares na quinta-feira. Após pernoite, voltava pela manhã para
Colatina, aonde chegava ao anoitecer da sexta-feira e ficava até nova
partida na terça-feira seguinte. Assim era sua rotina, só modificada,
muito raramente, quando alguma cheia no rio lhe proibia navegar ou
quando não havia suficiente quantidade de passageiros ou cargas a
viabilizar economicamente a viagem.
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
Sobre o Autor:
José Luiz Pizzol, escritor, historiador e médico. Autor de vários li-
vros sobre Colatina e outros temas, sendo dois já publicados: “Bo-
tocudos de Colatina e Região” e “Colatina, sua história sua gente”.
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
A ÚLTIMA BATALHA
Eduardo Aurich Filho
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Sobre o Autor:
Eduardo é nascido em Colatina, filho de Eduardo Sebastião Au-
rich e Carlene Soares Aurich, formado em Direito pela UNESC
e em História pela Funcab. Jogador e mestre de RPG desde os
15 anos, sempre teve paixão pelo gênero de fantasia e seu autor
favorito é Tolkien.
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
PESADELO OU PROFECIA
Rodrigo Tonon Bergantini
seres grotescos; posso dizer que eram pessoas que, da cintura para
baixo, pareciam ter sido derretidas como soldadinhos de plástico,
esses seres se arrastavam como lesmas e seus rostos expressavam
dor, ódio e desespero tremendos. Seus olhos vazios aparentavam
uma vileza assombrosa, um apetite pela destruição. Não sei explicar
o porquê, mas eu parecia invisível a essas criaturas, que se arrasta-
vam pelas ruas em lamúrias tenebrosas, praguejando, amaldiçoando,
do fundo dessa sinistra multidão. Atrás daqueles que se arrastavam
como lesmas vinham outros pobres diabos, estavam em situação
ainda pior, assim como os da frente arrastavam a parte inferior der-
retida de seus corpos. No entanto, seus corpos eram ainda mais
arruinados, queimados, tinham feridas expostas por todo o corpo
e vinham mais devagar que os primeiros e quanto mais para o fim
daquilo que parecia uma espécie de fila ou procissão, mais defor-
mados e sôfregas eram aquelas criaturas repugnantes. Aos últimos
faltavam mãos e braços, outros tinham até mesmo olhos e maxilares
arrancados e de suas feridas brotavam vermes devoradores de carne,
uma visão que faria o melhor dos filmes de horror parecer um conto
de fadas.
Ah..., que visão abjeta aquela! Aquele odor de podridão e fuma-
ça me faziam sentir náuseas, a aparência hedionda daquelas coisas
me congelava, fazendo-me sentir que a qualquer momento eu me
tornaria visível novamente e seria devorado por aqueles seres mu-
tilados, pensava que iriam me arrancar violentamente os olhos para
enfiá-los em suas órbitas vazias. Senti o mais profundo temor de ser
canibalizado de corpo e alma.
Enquanto aquela imensa horda de rastejantes passava, esgueirei-
-me tremendo entre eles até conseguir encontrar uma casa de porta
aberta na qual entrei. Mas fui seguido por um dos malditos raste-
jantes, cuja cabeça não havia nariz, apenas um buraco, também não
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
tinha olhos e suas orelhas pareciam ter sido queimadas, pois esta-
vam terrivelmente retorcidas e coladas à cabeça. Dentro da casa, o
ser tateou até um quarto no alto de uma escada, onde deitado numa
cama havia o que parecia ser um vulto acinzentado, do qual eu não
podia enxergar detalhes, mas me lembro de ver o ser rastejante se-
gurar a cabeça do vulto cinza por um tempo, enquanto gemia como
se aliviasse sua imensa dor. Em seguida, seus olhos se regeneraram
assombrosamente rápido, formando grandes bolas avermelhadas
que me fitaram profundamente. Foi nesse exato momento que mais
temi por mim mesmo, desde o início desse insólito delírio, senti uma
agonia sufocante, como se fosse cair de um abismo.
Pensei que naquele exato momento, meu corpo estivesse deitado
na cama e aquele ser desfigurado e malévolo prestes a me extinguir
a vida, e que eu poderia ficar ali, eternamente aprisionado em sofri-
mento, ou ainda pior, que eu me tornaria um semelhante daquela
entidade de olhos sanguíneos que me fitavam com maligna e insa-
ciável fome.
Usei toda minha força restante para encher os pulmões de ar e
gritei. Por alguns segundos, nenhum som pôde ser ouvido, até que
um grito minguado e agudo saiu de minha garganta e acordei em
minha cama, o corpo suado, o ventilador desligado. Toquei rapida-
mente no interruptor para acender a luz e percebi que havia acabado
a energia. Sentei na cama até recuperar o fôlego, e após algum tem-
po, o ventilador voltou a funcionar. Nas noites seguintes, tive muita
dificuldade pra dormir, pois um medo supostamente irracional se
apoderou de mim; aquelas coisas do sonho, não sei o que eram e
sinceramente tenho medo de pensar no assunto, tenho medo de crer
que são reais e ainda rezo para deixar de ver aqueles olhos verme-
lhos vívidos quando fecho meus olhos na cama.
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
Sobre o Autor:
Rodrigo Tonon Bergantini é licenciado em História e possui pós-
-graduação em História da Arte. Atualmente é professor de Histó-
ria do ensino médio e fundamental das redes pública e privada em
Colatina - ES e também escritor estreante nesta publicação.
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
Sobre o Autor:
Especialista em Psicologia da Educação;
Professora fundadora da FAFIC;
Ex-Professora, por 43 anos consecutivos, da FAFIC;
Ex-diretora da Instituição.
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
Era uma vez, num lugar não tão distante e nem há tanto tempo
assim, havia uma pequena e singela casinha, à beira de um barranco,
recém-construída em cima de um mágico formigueiro.
As serelepes formigas ficaram furiosas, mas não tinham escolha,
elas precisavam acreditar que ia ficar tudo bem. Pensavam “Bem,
este não é um formigueiro comum, é um Formigueiro Mágico”.
Herdeiro da magia primordial que construiu a Terra. Este era o fan-
tástico Formigueiro de Zim, Zum, Zão e a Rainha Mágica.
Toda a tropa se reuniu perante a Rainha e começaram a chaco-
alhar suas minusculinhas anteninhas em uníssono, seus corpinhos
então vibraram, juntinhos. E na ponta de suas anteninhas um brilho
branco apareceu. De repente, um pequeno raio de luz branco, como
uma caneta laser, apontou para uma direção que passava bem atrás
da “gigante” Rainha, que brilhava por inteiro.
Toda a tropa então correu, liderados por Zim, Zum e Zão, as
destemidas, incansáveis e corajosas formiguinhas cavaram e cava-
ram e cavaram, mais e mais, até que finalmente encontraram uma
pequena brecha nos tijolos da parede e chegaram numa pequena
rachadura embaixo da pia. Elas ficaram eufóricas e felizes e todas se
alegraram com a liberdade recém conquistada.
Rapidamente eles se adaptaram à vida na casa e perceberam que
aquela era uma excelente oportunidade de experimentar novos e de-
liciosos sabores, diretamente da pia da cozinha. O que podia parecer
fácil, mas envolvia muitos perigos.
Principalmente porque além de Zim, Zum e Zão, as outras for-
migas não eram assim, muito astutas. E diversas situações inusitadas
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
acabavam por fazer com que várias formigas perdessem suas vidas
na empolgante caça às sobras na pia.
Zilum seguia a fila de formigas quando viu uma brilhante e atra-
ente gota d’água em cima da pia. Ele desviou de seu caminho para
checar aquela coisa fantástica. Tocou a gota d’água com suas minús-
culas anteninhas. Naquele momento, Zim, que estava à frente da
fila, virou-se para checar e viu Zilum se aproximar da gota.
Zim se desesperou e correu, gritando para que Zilum se afastas-
se, porém, era tarde demais. Zilum foi engolido pela gota d’água e
se afogou, de perninhas para cima, dando seu último suspiro. Zum
se aproximou, triste. Zão chegou e olhou para os demais. Todos se
entreolharam e, subitamente, romperam em gargalhadas.
Diariamente, Zilum fazia a mesma coisa. Só o que mudava era a
posição da bolha de água. Zão então pegou Zilum nos braços e o le-
vou de volta para o Formigueiro. Zim e Zum continuaram a marcha
até a pia e Zão retornou com Zilum ao Formigueiro.
A Rainha já estava à espera deles. Ela conhecia muito bem seus
soldados. Zão pôs Zilum diante da Rainha e os dois fizeram a mes-
ma dança em uníssono, seus corpinhos começaram a brilhar a partir
de suas antenas.
A Energia canalizada percorreu seus corpinhos até as patinhas,
então atravessou o chão e chegou até Zilum, que aos poucos voltou
à vida. Zilum se levantou e saiu correndo, de volta para a fila. A Rai-
nha disse a Zão que dessa vez o acompanhasse de perto. Zão saiu
correndo atrás de Zilum, que partiu em disparada.
Apesar dos perigos e contratempos tudo ia razoavelmente bem.
Até que um homem começou a namorar a dona da casa. Ele não
tolerava a presença das formigas do mesmo modo que sua parceira.
Várias batalhas foram travadas entre o Formigueiro Mágico e aquele
homem, até que um dia o homem chegou a casa dizendo que havia
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
Todavia, num certo dia, Márcia não foi trabalhar. Ela parecia aba-
tida. Médicos a visitaram em casa e disseram que ela estava muito
doente. Zim, Zum e Zão ouviram tudo da cozinha e ficaram muito
tristes com a péssima notícia.
Alguns dias depois, Zim, Zum e Zão conversavam sobre o fato
de não verem Márcia há algum tempo, quando ouviram Oswaldo
ao telefone. Zim, Zum e Zão se esforçaram para escutar tudo do
médico, que disse que Márcia tinha pouco tempo de vida.
Zim, Zum e Zão se entreolharam, espantados, e correram de
volta ao Formigueiro para falar com a Rainha sobre a Transferência
de Vida.
A Rainha disse que não poderia permitir que eles se entregassem
pela humana; que não valeria o risco, que era apenas o ciclo da vida e
que a Magia do Formigueiro dependia deles para existir. Zim, Zum e
Zão rebateram, dizendo que Márcia era a humana da Profecia e que
ela poderia libertar todas as formas de vida da escravidão humana.
A Rainha fez sua tréplica, argumentando que eles eram eternos e
que poderiam esperar na certeza de que outros humanos viriam para
cumprir a Profecia.
Apesar da insistência, Zim, Zum e Zão não conseguiram fazer a
Rainha mudar de ideia. Ela era irredutível. Os três pequenos irmãos
saíram cabisbaixo da presença de vossa majestade. Caminharam
pelo corredor, entreolhando-se, tristes. Foi quando ouviram a voz
de Oswaldo na cozinha.
Oswaldo estava com o viva voz do telefone ligado sobre a mesa,
enquanto preparava uma mochila em cima do sofá da sala. Ao tele-
fone, os médicos diziam que aquela visita de amanhã seria a última
vez que Oswaldo veria Márcia.
Os três pequeninos choraram, abraçaram-se e retornaram para o
Formigueiro.
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HISTÓRIAS AO SOL POENTE
Fim.
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Sobre o Autor:
Com sua peculiar criatividade e seu desejo de escrever com emoção,
o autor busca empolgar os leitores com pitorescas e variadas aven-
turas, ao mesmo tempo em que os leva à reflexão acerca de impor-
tantes temas sociais da humanidade. Toda a obra de Tonico Clímaco,
além de encantar e emocionar o leitor, tem o propósito de cumprir a
missão de vida do autor, que, ao se imaginar o herói de sua própria
história, vive o sonho de contribuir para a evolução da Terra através
de sua dedicação à escrita.
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