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O solo dos continentes está sujeito a um lento mas contínuo processo de erosão de que são
principais responsáveis a água e o vento. A energia de uma gota de água de massa m que cai
com uma velocidade v na sequência da precipitação atmosférica é mv2/2.
Considerando que para uma chuvada forte as gotas têm um diâmetro médio de 1,5 mm e caem a
uma velocidade de 5 a 6 m/s, conclui-se que uma só gota transmite ao solo uma energia de
aproximadamente 2x10-4 Joules. Grande parte desta energia é gasta para desagregar a estrutura
do solo, libertando as partículas mais pequenas.
Para além deste efeito (que é, normalmente, minimizado pela vegetação pois esta absorve a
energia cinética da chuva), quando a intensidade de precipitação é maior do que a capacidade de
infiltração, gera-se um escoamento superficial que, além de arrastar os materiais mais finos
levantados pelo impacto das gotas, tem também um poder erosivo. Este poder erosivo do
escoamento superficial aumenta com a altura do escoamento e com a inclinação do terreno. Uma
situação vulgar é da erosão do solo numa encosta aumentar com a distância à medida que a
inclinação aumenta até na zona de sopé onde a inclinação é pequena, ocorrendo então a
deposição de sedimentos.
Enquanto a água não abre caminhos privilegiados ao longo da encosta, o escoamento superficial
é laminar embora o facto de se considerar uma lâmina de água uniforme sobre o solo seja uma
idealização. No entanto, como o efeito em termos de erosão é a remoção de uma camada
aproximadamente uniforme do solo, aceita-se esta idealização e designa-se este tipo de erosão
como erosão por lâmina de água.
À medida que a água se concentra em caminhos privilegiados (linhas de água), criam-se regos e
sulcos dando origem a uma erosão localizada mais intensa designada por erosão por sulcos. Os
sulcos podem ir desde alguns centímetros em largura e profundidade e poucos metros de
profundidade até alguns metros de profundidade com dezenas de metros de largura e
quilómetros de cumprimento.
A erosão por sulcos tem normalmente uma importância reduzida em comparação com a erosão
por lâmina de água em termos de quantidade de solo removido. Esta forma de erosão ganha
maior dimensão em zonas de construção urbana, aterros e escavações de estradas ou zonas de
exploração mineira devido à remoção da cobertura vegetal e da camada superficial do solo (mais
permeável), compactação e impermeabilização do solo e criação de taludes com grandes
inclinações.
Parte do material resultante da erosão do solo acaba por se depositar na própria encosta de
origem ou em valas de drenagem pluvial. Outra parte, no entanto, atinge as linhas de água e os
rios constituindo uma parcela do respectivo caudal sólido. A parcela restante do caudal sólido é
composta pelo material resultante da desagregação das rochas pelo próprio leito e, embora em
quantidade pouco significativa, do transporte eólico.
Quando um rio tem o seu leito em zonas de aluvião ele é designado como rio aluvionar.
Normalmente, os troços terminais dos rios são aluvionares. Em Moçambique, os troços
aluvionares dos rios são muito importantes nas bacias do Sul e Centro, tendo menor expressão
no Norte do país. Nos rios aluvionares há uma grande interacção entre o rio e a planície onde ele
se move; no imediato, o escoamento é determinado pelas condições do leito (e da planície de
cheias); em períodos longos, de dezenas e centenas de anos, o leito e a própria planície são
“criados” e “modificados” pelo escoamento do rio e pelos sedimentos que este transporta.
Quando não sofrem interferência humana em escala significativa, os rios aluvionares estão
normalmente numa situação de equilíbrio dinâmico, isto é, as condições em que se processa o
escoamento mantêm-se estáveis ao longo de grandes períodos de tempo embora haja sucessivas
pequenas modificações para a manutenção desse equilíbrio dinâmico que significa,
frequentemente, que ao longo do seu curso o rio tem uma capacidade de transporte igual à carga
de sedimentos e que na parte terminal, essa capacidade diminui, originando deposição de
sedimentos e a formação de deltas. Quando por qualquer razão as condições (do escoamento ou
dos sedimentos) se alteram, o rio reage modificando as suas características morfológicas
(inclinação, secção, meandros, etc.).
Pode referir-se como exemplo o rio Nilo que ao longo de muitas centenas de anos transportou
sedimentos que se foram depositando junto à foz formando o famoso Delta do Nilo. Quando em
princípio da década de 1960 a barragem de Ansuão entrou em funcionamento, grande parte dos
sedimentos passaram a ficar retidos nesta barragem o que teve por consequência o início de um
processo de erosão no Delta do Nilo.
É, por isso, extremamente importante reter a noção de que um rio aluvionar transporta água e
sedimentos e que o rio reage a qualquer modificação profunda das condições, quer do caudal
líquido, quer do caudal sólido.
O interesse do estudo do problema dos sedimentos é, portanto, muito grande pois ele serve de
base para dar resposta a muitos problemas práticos da engenharia hidráulica, por exemplo:
Se se construir uma barragem, qual o volume necessário para armazenar os sedimentos
que se depositarão na albufeira?
Quais as consequências de se reduzir a planície de cheia dum rio construindo diques?
Como devem ser protegidos os encontros e os pilares de uma ponte?
Qual é o impacto de cortar meandros de um rio?
Como se deve dimensionar um canal erodível?
Ao fim de quanto tempo assoreia uma bacia de sedimentação?
Convém desde logo salientar que o grau de precisão das respostas a estas e outras perguntas é
muito baixo, em comparação por exemplo com os problemas dos escoamentos em pressão. Os
conhecimentos no domínio do transporte de sedimentos têm um carácter essencialmente
empírico, fundamentalmente porque a interacção dum escoamento turbulento, ele próprio mal
conhecido teoricamente, com uma fronteira que não é rígida, sendo composta por sedimentos
que podem ser arrastados, é extremamente complexa, não podendo ser representada por
equações simples. A maioria dos conhecimentos baseia-se, por isso, em experiências e medições
quer no campo quer no laboratório. Esta situação é agravada pelo facto de ser bastante mais
complicado medir caudal sólido do que caudal líquido (o que faz com que o número de
medições de caudal sólido disponíveis seja relativamente reduzido), do número de variáveis
intervenientes no transporte de sedimentos ser mais elevado do que no caudal líquido e porque
dificuldades subsistem mesmo em laboratório (equipamento mais caro, problemas de escala para
modelos reduzidos).
𝑉𝑉𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟
𝑇𝑇 = (3.2)
𝑆𝑆
Sendo:
S – Volume de sedimento retido na albufeira (m3/ano);
D st – Caudal sólido total médio anual afluente a albufeira (t/ano);
E r – Eficiência de retenção do sedimento afluente a albufeira (0 ≤ E r ≤ 1);
γ ap – Peso específico aparente médio dos sedimentos (t/m3);
Q st – Caudal sólido total médio diário afluente a albufeira (t/dia);
T – Tempo de assoreamento de um determinado volume (anos);
Vres – volume da albufeira, total ou volume morto (m³).
Para o peso específico aparente dos sedimentos têm sido adoptados os seguintes valores: areia
(1,554 ton/m3), silte (1,12 a 1,17 ton/m3) e argila (0,82 ton/m3)
c) Com base no gráfico de Brune (figura 3.1) determinar a percentagem de eficiência como
função da relação C/I para as características de três sedimentos. Estimar a textura do
sedimento, estudando as fontes de sedimentos e a fração de transporte. A curva superior
do gráfico é aplicada a areia grossa ou sedimentos floculados; a linha média é destinada a
sedimentos com larga variação de diâmetros de partículas e a linha inferior é para siltes
finos e argilas.
Subramanya (2008) calculou analiticamente as curvas de Brune com base na seguinte equação:
𝐶𝐶
𝐸𝐸𝑟𝑟 = 𝐾𝐾 . ln + 𝑀𝑀 (3.3)
𝐼𝐼
Sendo:
E r =eficiência de retenção (percentagem);
C/I = relação capacidade da albufeira (m3), e o runoff anual (m3).
K e M – coeficientes que dependem da relação C/I conforme tabela 3.1
ln = logaritmo natural.
Tabela 3.1
Valores de K e M dependente de C/I
C/I K M
Exemplo 3.1
Resolução
• Runoff anual: I = ((0.40 x 1661 mm) / 1000) x (492ha x 10000m2 ) = 3.266.880m3
• C / I = 122.428 m3 / 3.266.880m3 = 0,037
• Na curva média da fig. 3.1 achamos uma eficiência de retenção (E r ) de 75%, isto é, 0,75.
• Usando Subramanya (2008) para o cálculo analítico das curvas de Brune:
E r = K. ln (C/I) + M = 14,193. ln (0,037) + 119,30 =72,5%
• Supondo que a descarga total de sedimentos (D ts) é de 3 ton/dia e para 365 dias teremos:
D ts = 365 dias x 3 ton/dia = 1095 ton/ano
S = (Dst x E r ) / γ ap = (1095 ton./ano x 0,75) / 1,552=529m3/ano
• Tempo de enchimento da albufeira = 122.428 m3 / 529 m3/ano= 231 anos
Fontes bibliográficas