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Informativo 633-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITO À SAÚDE
 Requisitos para a concessão judicial de medicamentos não previstos pelo SUS.

DIREITO CIVIL
MANDATO
 Análise jurídica da conduta de advogado celebrou acordo prejudicial ao cliente em virtude de ajuste espúrio
realizado com a parte contrária.

INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA
 É de 10 anos o prazo prescricional para ação do adquirente contra a incorporadora pedindo o pagamento da multa
do art. 35, § 5º, da Lei nº 4.591/64.

DIREITO REAL DE HABITAÇÃO


 O cônjuge ou companheiro sobrevivente possui direito real de habitação mesmo que seja proprietário de outros
bens.

DIREITO DO CONSUMIDOR
FORNECEDOR
 Há solidariedade entre as empresas integrantes de um consórcio quanto às obrigações consumeristas, desde que
relacionadas com a atividade do consórcio.

BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES


 Qual é o termo inicial do prazo máximo de 5 anos que o nome de devedor pode ficar inscrito em órgão de proteção
ao crédito?
 SPC/SERASA, quando forem inserir títulos que estão protestados, deverão incluir a data de vencimento e controlar
os prazos máximos que poderão ficar nos bancos de dados.

DIREITO EMPRESARIAL
FALÊNCIA
 O edital com a relação dos credores do falido (art. 7º, § 2º da Lei nº 11.101/2005) deve ser obrigatoriamente
publicado na imprensa oficial.

DIREITO PENAL
PETRECHOS PARA FALSIFICAÇÃO DE MOEDA
 Para tipificar o crime do art. 291 do CP, basta que o agente detenha a posse de petrechos destinados à falsificação
de moeda, sendo prescindível que o maquinário seja de uso exclusivo para esse fim.

CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA


 A conduta de não recolher ICMS em operações próprias ou em substituição tributária enquadra-se no tipo previsto
no art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 (apropriação indébita tributária).

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1


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TORTURA

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 A prática do delito de tortura castigo (vingativa ou intimidatória), previsto no art. 1º, II, da Lei nº 9.455/97, é crime
próprio.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


EXECUÇÃO PENAL
 Súmula 617-STJ.

DIREITO TRIBUTÁRIO
IMPOSTO DE RENDA
 A parcela decorrente do INCC integra a receita bruta da imobiliária que vendeu o imóvel; logo, é possível inclui-la
na base de cálculo do lucro presumido para fins de incidência do IRPJ.

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO À SAÚDE
Requisitos para a concessão judicial de medicamentos não previstos pelo SUS

Importante!!!
Em, 25/04/2018, o STJ, ao julgar o REsp 1.657.156-RJ (Info 625), afirmou que o poder público
é obrigado a conceder medicamentos mesmo que não estejam incorporados em atos
normativos do SUS, desde que cumpridos três requisitos.
Em 12/09/2018, o STJ decidiu retificar o terceiro requisito da tese anteriormente fixada:
Redação original Redação após os embargos
A concessão dos medicamentos não A concessão dos medicamentos não
incorporados em atos normativos do SUS incorporados em atos normativos do SUS
exige a presença cumulativa dos seguintes exige a presença cumulativa dos seguintes
requisitos: requisitos:
(...) (...)
3) existência de registro na ANVISA do 3) existência de registro do medicamento na
medicamento. ANVISA, observados os usos autorizados
pela agência.

O que o STJ quis dizer com essa mudança:


• Em regra, não é possível que o paciente exija do poder público o fornecimento de
medicamento para uso off-label;
• Excepcionalmente, será possível que o paciente exija este medicamento caso esse
determinado uso fora da bula (off-label) tenha sido autorizado pela ANVISA.
Em outras palavras, o requisito do registro na ANVISA afasta a possibilidade de fornecimento
de medicamento para uso off-label, salvo se autorizado pela ANVISA.

A tese fixada ficou, portanto, com esta nova redação:


A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a presença
cumulativa dos seguintes requisitos:

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2


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a) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por


médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim

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como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;
b) incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito;
c) existência de registro do medicamento na ANVISA, observados os usos autorizados pela
agência.

Além disso, o STJ decidiu alterar a data de início da produção dos efeitos desta decisão:
Modula-se os efeitos do presente repetitivo de forma que os requisitos acima elencados sejam
exigidos somente quanto aos processos distribuídos a partir da data da publicação do acórdão,
ou seja, 4/5/2018.
Explicando melhor:
a) Os três requisitos cumulativos estabelecidos no acórdão (REsp 1.657.156-RJ) são aplicáveis
a todos os processos distribuídos na primeira instância a partir de 4/5/2018;
b) Quanto aos processos pendentes, com distribuição anterior a 4/5/2018, é exigível apenas
um requisito que se encontrava sedimentado na jurisprudência do STJ: a demonstração da
imprescindibilidade do medicamento.
STJ. 1ª Seção. EDcl no REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 12/09/2018
(recurso repetitivo) (Info 633).

DECISÃO PROFERIDA EM 25/04/2018 (INFO 625)


Imagine a seguinte situação hipotética:
João foi diagnosticado com glaucoma e o oftalmologista prescreveu determinado colírio indicado para
essa enfermidade. O problema é que esse remédio não está especificado na lista de medicamentos que o
SUS é obrigado a fornecer gratuitamente para a população (Portaria 2.982/2009 do Ministério da Saúde).

O juiz pode obrigar que o Estado forneça esse medicamento? O Poder Judiciário pode determinar que o
Poder Público forneça remédios que não estão previstos na lista do SUS?
Em 25/04/2018, o STJ decidiu que SIM, mas desde que cumpridos três requisitos. Foi fixada, então, a
seguinte tese:
A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a presença cumulativa
dos seguintes requisitos:
1) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por médico que
assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da ineficácia, para
o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;
2) Incapacidade financeira do paciente de arcar com o custo do medicamento prescrito; e
3) Existência de registro do medicamento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
STJ. 1ª Seção. REsp 1657156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 25/04/2018 (recurso repetitivo)
(Info 625).

Veja abaixo os principais argumentos jurídicos debatidos pelo STJ:

Inexistência de violação ao princípio da separação dos Poderes


O entendimento acima não viola o princípio da separação dos Poderes. Isso porque uma das tarefas
primordiais do Poder Judiciário é atuar para a efetivação dos direitos fundamentais, especialmente
aqueles que se encontram previstos na Constituição Federal.
Assim, não há que se falar em violação ao princípio da separação dos Poderes quando o Poder Judiciário
intervém no intuito de garantir a implementação de políticas públicas, notadamente, como no caso em
análise, em que se busca a tutela do direito à saúde.

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3


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“Seria distorção pensar que o princípio da separação dos poderes, originalmente concebido com o escopo
de garantia dos direitos fundamentais, pudesse ser utilizado justamente como óbice à realização dos

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direitos sociais, igualmente relevantes.” (STJ. 2ª Turma. REsp 1.488.639/SE, Rel. Min. Herman Benjamin,
DJe 16/12/2014).
É a posição também do STF:
(...) É firme o entendimento deste Tribunal de que o Poder Judiciário pode, sem que fique configurada
violação ao princípio da separação dos Poderes, determinar a implementação de políticas públicas nas
questões relativas ao direito constitucional à saúde. (...)
STF. 1ª Turma. ARE 947.823 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 28/6/2016.

Fundamento constitucional
O direito à saúde foi consagrado pela Constituição Federal de 1988 como direito fundamental do cidadão,
corolário do direito à vida, bem maior do ser humano.
O art. 196 do Texto Constitucional estabelece que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.
A propósito do tema, o STF, ao interpretar os arts. 5º, caput, e 196 da CF/88, consagrou o direito à saúde
como consequência indissociável do direito à vida, assegurado a todas as pessoas (STF. 2ª Turma. ARE
685.230 AgR/MS, Rel. Min. Celso de Mello, DJe de 25/03/2013).
Para alcançar esse objetivo, a Carta Constitucional determinou a criação de um sistema único de saúde
(SUS), que tenha como uma de suas diretrizes o “atendimento integral” da população (art. 198, II, da
CF/88).

Fundamento infraconstitucional
A fim de dar concretude ao SUS, foi editada a Lei nº 8.080/90, que prevê que o Poder Público deverá
fornecer assistência integral, inclusive farmacêutica:
Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições
indispensáveis ao seu pleno exercício.
§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas
econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no
estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços
para a sua promoção, proteção e recuperação.
(...)
Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas
federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo
Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS).
(...)
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):
I - a execução de ações:
(...)
d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;

Em 2011, foi editada a Lei nº 12.401/2011, que incluiu diversos dispositivos na Lei nº 8.080/90 tratando
sobre a assistência terapêutica e prevendo o fornecimento de medicamentos. Veja o que diz o art. 19-M,
um dos dispositivos acrescentados:

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Art. 19-M. A assistência terapêutica integral a que se refere a alínea d do inciso I do art. 6º consiste em:

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I - dispensação de medicamentos e produtos de interesse para a saúde, cuja prescrição esteja em
conformidade com as diretrizes terapêuticas definidas em protocolo clínico para a doença ou o
agravo à saúde a ser tratado ou, na falta do protocolo, em conformidade com o disposto no art.
19-P;
(...)

O art. 19-P afirma que a dispensação (fornecimento) de medicamentos será feita com base no protocolo
clínico ou de diretriz terapêutica e, na falta disso, com base nas relações de medicamentos do SUS:
Art. 19-P. Na falta de protocolo clínico ou de diretriz terapêutica, a dispensação será realizada:
I - com base nas relações de medicamentos instituídas pelo gestor federal do SUS, observadas as
competências estabelecidas nesta Lei, e a responsabilidade pelo fornecimento será pactuada na
Comissão Intergestores Tripartite;
II - no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de forma suplementar, com base nas relações
de medicamentos instituídas pelos gestores estaduais do SUS, e a responsabilidade pelo
fornecimento será pactuada na Comissão Intergestores Bipartite;
III - no âmbito de cada Município, de forma suplementar, com base nas relações de medicamentos
instituídas pelos gestores municipais do SUS, e a responsabilidade pelo fornecimento será
pactuada no Conselho Municipal de Saúde.

O art. 19-Q trata sobre o procedimento para incorporação, exclusão ou alteração, pelo SUS, de novos
medicamentos:
Art. 19-Q. A incorporação, a exclusão ou a alteração pelo SUS de novos medicamentos, produtos
e procedimentos, bem como a constituição ou a alteração de protocolo clínico ou de diretriz
terapêutica, são atribuições do Ministério da Saúde, assessorado pela Comissão Nacional de
Incorporação de Tecnologias no SUS.
(...)

O STJ entende que o fato de o medicamento não integrar a lista básica do SUS não tem o condão de eximir
os entes federados do dever imposto pela ordem constitucional, porquanto não se pode admitir que
regras burocráticas, previstas em portarias ou normas de inferior hierarquia, prevaleçam sobre direitos
fundamentais (STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 405.126/DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, DJe 26/10/2016).

Vamos agora fazer algumas observações sobre os três requisitos impostos pelo STJ:

PRIMEIRO requisito
O primeiro requisito exigido pelo STJ foi o seguinte:
“Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por médico que
assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da ineficácia, para
o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;”

Sobre esse primeiro requisito, é importante que sejam feitas três observações:

Primeira observação. Na I Jornada de Direito da Saúde, organizada pelo CNJ, foi aprovado o enunciado 15
dizendo como deve ser este laudo médico. O STJ acolhe esse enunciado. Veja a sua redação:

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Enunciado 15: As prescrições médicas devem consignar o tratamento necessário ou o medicamento

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indicado, contendo a sua Denominação Comum Brasileira (DCB) ou, na sua falta, a Denominação Comum
Internacional (DCI), o seu princípio ativo, seguido, quando pertinente, do nome de referência da
substância, posologia, modo de administração e período de tempo do tratamento e, em caso de prescrição
diversa daquela expressamente informada por seu fabricante, a justificativa técnica.

Desse modo, a parte, quando for fazer o pedido do medicamento junto ao Poder Judiciário, deverá ficar
atenta a isso.
Sobre o tema, o STJ esclareceu, em embargos de declaração, que:
O laudo médico apresentado pela parte não vincula o julgador, isto é, cabe ao juiz avaliar o laudo e verificar
se as informações constantes nele são suficientes para a formação de seu convencimento quanto à
imprescindibilidade do medicamento.
STJ. 1ª Seção. EDcl no REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 12/09/2018 (recurso
repetitivo) (Info 633).

Segunda observação. Este laudo médico não precisa ser assinado por médico vinculado ao SUS:
“(...) Ressalte-se, ainda, que não há no ordenamento, jurídico brasileiro qualquer exigência que condicione
o fornecimento de medicamento à prescrição exclusivamente por médico da rede pública. (...)” (STJ. AgInt
no REsp 1.309.793/RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe de 07/04/2017).

Assim, o laudo deve ser emitido pelo médico que assiste o paciente, seja ele público ou privado.

Terceira observação. O laudo médico deverá comprovar duas circunstâncias:


1ª) Imprescindibilidade ou necessidade do medicamento pleiteado para o tratamento da doença; e
2ª) Ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS.

Em outras palavras, o remédio pedido judicialmente deve ser imprescindível ou necessário e aqueles que
existem no SUS não podem substitui-lo.

(...) O Supremo Tribunal Federal tem se orientado no sentido de ser possível ao Judiciário a determinação
de fornecimento de medicamento não incluído na lista padronizada fornecida pelo SUS, desde que reste
comprovação de que não haja nela opção de tratamento eficaz para a enfermidade. (...)
STF. 1ª Turma. RE 831.385 AgR/RS, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 06/04/2015.

(...) A alegada circunstância de que o medicamento Lantus não consta da lista de medicamentos do SUS deve
ceder lugar às afirmações do médico que a acompanha, quando afiança que todos os tratamentos
disponibilizados pela rede pública e já ministrados à menor mostraram-se ineficazes no combate aos vários
episódios de hipoglicemias graves, com perda de consciência e crises convulsivas por ela sofridas. (...)
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.068.105/RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, DJe de 30/06/2016.

No mesmo sentido é o enunciado 14 da I Jornada de Direito da Saúde do CNJ: Não comprovada a


inefetividade ou impropriedade dos medicamentos e tratamentos fornecidos pela rede pública de saúde,
deve ser indeferido o pedido não constante das políticas públicas do Sistema Único de Saúde.

Cabe ao juiz avaliar, a partir dos elementos de prova juntados pelas partes, a alegada ineficácia do
medicamento fornecido pelo SUS decidindo se, com a utilização do medicamento pedido, poderá haver
ou não um relevante acréscimo na resposta terapêutica.
STJ. 1ª Seção. EDcl no REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 12/09/2018 (recurso
repetitivo) (Info 633).

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SEGUNDO requisito

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Vamos relembrar o segundo requisito exigido pelo STJ: “incapacidade financeira de arcar com o custo do
medicamento prescrito”.
Desse modo, o segundo requisito consiste na devida comprovação da hipossuficiência daquele que requer
o medicamento, ou seja, que a sua aquisição implique o comprometimento da sua própria subsistência
e/ou de seu grupo familiar.
Atenção! Não se exige comprovação de pobreza ou miserabilidade, mas, tão somente, a demonstração da
incapacidade de arcar com os custos referentes à aquisição do medicamento prescrito.
Ex: a pessoa pode ser servidora pública, concursada, recebendo R$ 5 mil por mês; neste caso, não se trata
de pessoa pobre; o remédio, contudo, custa R$ 100 mil cada dose. Ela não terá condições de adquiri-lo,
preenchendo, portanto, o presente requisito.

TERCEIRO requisito
O terceiro requisito exigido pelo STJ diz respeito à “existência de registro na ANVISA do medicamento”.
Assim, exige-se que o medicamento pretendido já tenha sido aprovado pela ANVISA.
Esta exigência decorre de imposição legal, tendo em vista o disposto no artigo 19-T, II, da Lei nº 8.080/90:
Art. 19-T. São vedados, em todas as esferas de gestão do SUS:
I - o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento, produto e procedimento
clínico ou cirúrgico experimental, ou de uso não autorizado pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária - ANVISA;
II - a dispensação, o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento e produto,
nacional ou importado, sem registro na Anvisa.

Fazendo uma interpretação teleológica do art. 19-T, verifica-se que a intenção do legislador foi a de
proteger o cidadão dos medicamentos experimentais, sem comprovação científica sobre a eficácia, a
efetividade e a segurança do medicamento, a fim de assegurar o direito à saúde e à vida das pessoas.

Modulação dos efeitos


O STJ decidiu modular os efeitos dessa decisão e afirmou que “os critérios e requisitos estipulados
somente serão exigidos para os processos que forem distribuídos a partir da conclusão do presente
julgamento” (25/04/2018).
A modulação tem por base o art. 927, § 3º, do CPC:
§ 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e dos
tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver
modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica.

E a oferta de procedimentos terapêuticos não previstos na lista do SUS (inciso II do art. 19-M da Lei nº
8.080/90)?
O julgado acima comentado não abarca essa hipótese. O STJ e o STF ainda terão que se debruçar sobre
essa discussão. A “tendência”, contudo, na minha opinião, será adotar os mesmos critérios acima
explicados.

JULGAMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM 12/09/2018


Embargos de declaração
Quando o acórdão acima foi publicado, o Estado do Rio de Janeiro, que era parte no recurso especial, opôs
embargos de declaração pedindo que o STJ acrescente, no terceiro requisito da tese acima fixada, que não
é possível o fornecimento de remédios para uso off-label, ou seja, para tratamento de enfermidade diversa
daquelas indicadas na bula e autorizadas pela ANVISA.

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Em outras palavras, o embargante disse o seguinte: STJ, explique, no terceiro requisito, que o Poder
Público não é obrigado a fornecer remédios para uso off-label.

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O que é uso off-label de medicamento?
Off-label é uma expressão em inglês que, em tradução literal, significaria “fora de indicação”.
Off = fora / label = indicação.
Para que um medicamento seja fabricado ou comercializado no Brasil, ele precisa de registro (autorização)
na Anvisa.
Ao pedir o registro de um medicamento, o fabricante ou responsável apresenta à autarquia as indicações
daquele remédio, ou seja, para que enfermidades a droga foi testada e aprovada. Essas indicações (e sua
respectiva eficácia) são baseadas em pesquisas e testes que levam anos para serem concluídos.
Assim, por exemplo, quando o fabricante do remédio Dorflex foi registrá-lo na Anvisa, ele informou que
este medicamento foi idealizado e testado para ser utilizado como “relaxante muscular”. Essa é a
indicação deste remédio.
Ocorre que, muitas vezes, um medicamento que foi planejado para determinada finalidade, quando entra
no organismo humano, acaba trazendo outros benefícios que não haviam sido previstos. Esse efeito
inicialmente não previsto é percebido pelos médicos, que passam a receitar aquele medicamento não
apenas para aquela indicação inicialmente pensada e sim para outra finalidade que não havia sido prevista.
Quando isso ocorre, dizemos que há a prescrição e o uso do medicamento off-label, ou seja, fora da sua
indicação.
Assim, o medicamento off-label é aquele cujo médico prescreve para uma determinada finalidade que não
consta expressamente na sua bula.
O exemplo mais famoso de medicamento off-label é o AAS (ácido acetilsalicílico). Este remédio foi
desenvolvido para ser um mero analgésico. Posteriormente, contudo, percebeu-se que ele servia para
outras finalidades, como, por exemplo, para a prevenção de infartos. Assim, atualmente, muitos médicos
prescrevem o AAS para prevenir infartos, mesmo isso não sendo uma indicação oficial do remédio.

O STJ acolheu este pedido dos embargos de declaração?


SIM.
A Lei nº 8.080/90 regula as ações e serviços de saúde executados, pelo Governo ou pela iniciativa privada,
em nosso país.
O art. 19-T desta Lei prevê o seguinte:
Art. 19-T. São vedados, em todas as esferas de gestão do SUS:
I - o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento, produto e procedimento
clínico ou cirúrgico experimental, ou de uso não autorizado pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária - ANVISA;
II - a dispensação, o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento e produto,
nacional ou importado, sem registro na Anvisa.

Este artigo apresenta duas vedações distintas:


1) proíbe o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso pelo SUS de medicamento que foi empregado ou
prescrito fora do uso autorizado pela ANVISA, ou seja, quando o medicamento foi prescrito para
tratamento não indicado na bula e aprovado no registro em referido órgão regulatório (inciso I).
2) impede a dispensação (fornecimento), o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso pelo SUS de
medicamento que não tenha ainda sido registrado na ANVISA (inciso II).

Assim, nos termos da legislação vigente, no âmbito do SUS, somente podem ser utilizados medicamentos
que tenham sido previamente registrados ou com uso autorizado pela ANVISA. Em outras palavras, a
legislação proibiu, no âmbito do SUS, uso de medicamentos off-label.

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A exigência de registro na ANVISA e do uso dentro das especificações aprovadas pela agência reguladora
é medida que visa proteger o usuário do sistema de saúde, pois estes medicamentos foram submetidos a

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estudos clínicos que comprovaram a sua qualidade, a sua efetividade e a sua segurança.

Vale ressaltar, contudo, que a ANVISA, com fundamento no art. 21 do Decreto nº 8.077/2013 autoriza, em
caráter excepcional, a utilização de medicamentos fora das prescrições aprovadas no registro. Em outros
termos, a própria ANVISA autoriza, excepcionalmente, o uso de medicamentos off-label.
Um exemplo é o Avastin, que é indicado, segundo a sua bula, para o tratamento de vários tipos de câncer.
Apesar disso, a ANVISA autoriza que ele seja utilizado no SUS para tratamento de distúrbio oftalmológico
(Degeneração Macular Relacionada à Idade) por meio da Resolução de Diretoria Colegiada - RDC nº 111.
Trata-se, portanto, de autorização da ANVISA para a utilização off-label deste medicamento.

Assim, podemos estabelecer a seguinte regra e exceção:


• Em regra, não é possível que o paciente exija do poder público o fornecimento de medicamento para
uso off-label;
• Excepcionalmente, será possível que o paciente exija este medicamento caso esse determinado uso fora
da bula (off-label) tenha sido autorizado pela ANVISA. Ex: um paciente do SUS com Degeneração Macular
Relacionada à Idade poderia, em tese, desde que cumpridos os demais requisitos, exigir que o poder
público fornecesse a ele o “Avastin” para tratar esta enfermidade ocular, mesmo não sendo esta a
finalidade do medicamento prevista na sua bula.

Explicando o tema em uma frase: o requisito do registro na ANVISA afasta a possibilidade de fornecimento
de medicamento para uso off-label, salvo se autorizado pela ANVISA.

Diante disso, o STJ decidiu retificar o terceiro requisito da tese anteriormente fixada:
Redação original Redação após os embargos
A concessão dos medicamentos não incorporados A concessão dos medicamentos não incorporados
em atos normativos do SUS exige a presença em atos normativos do SUS exige a presença
cumulativa dos seguintes requisitos: cumulativa dos seguintes requisitos:
(...) (...)
3) existência de registro na ANVISA do 3) existência de registro do medicamento na
medicamento. ANVISA, observados os usos autorizados pela
agência.

A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a presença
cumulativa dos seguintes requisitos:
a) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por médico que
assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da ineficácia,
para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;
b) incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito;
c) existência de registro do medicamento na ANVISA, observados os usos autorizados pela agência.
STJ. 1ª Seção. EDcl no REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 12/09/2018 (recurso
repetitivo) (Info 633).

MODULAÇÃO DOS EFEITOS


No julgamento do dia 25/04/2018, o STJ havia decidido modular os efeitos da decisão, estabelecendo que
aquele acórdão somente produziria efeitos a partir da conclusão daquele julgamento (25/04/2018).
Em 12/09/2018, o STJ decidiu alterar a redação do terceiro requisito da tese (conforme explicado acima).
Diante disso, como houve essa alteração, o STJ entendeu que não poderia surpreender os jurisdicionados,
razão pela qual, de ofício, resolveu modificar também o início da produção dos efeitos do acórdão.

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9


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Assim, o STJ afirmou o seguinte: os requisitos acima elencados somente podem ser exigidos quanto aos
processos distribuídos a partir da data da publicação do acórdão embargado (a publicação ocorreu em

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4/5/2018):
Modula-se os efeitos do presente repetitivo de forma que os requisitos acima elencados sejam exigidos
de forma cumulativa somente quanto aos processos distribuídos a partir da data da publicação do
acórdão embargado, ou seja, 4/5/2018.
STJ. 1ª Seção. EDcl no REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 12/09/2018 (recurso
repetitivo) (Info 633).

Esclarecendo melhor:
a) Os três requisitos cumulativos estabelecidos no acórdão (EDcl no REsp 1.657.156-RJ) são aplicáveis a
todos os processos distribuídos na primeira instância a partir de 4/5/2018;
b) Quanto aos processos pendentes, com distribuição anterior a 4/5/2018, é exigível apenas um requisito que
se encontrava sedimentado na jurisprudência do STJ: a demonstração da imprescindibilidade do medicamento.

DIREITO CIVIL

MANDATO
Análise jurídica da conduta de advogado que celebrou acordo prejudicial
ao cliente em virtude de ajuste espúrio realizado com a parte contrária

Importante!!!
Nas ações de indenização do mandante contra o mandatário incide o prazo prescricional de
10 anos, previsto no art. 205 do Código Civil, por se tratar de responsabilidade proveniente de
relação contratual.
Neste caso, o prazo prescricional tem início não no momento em que o acordo foi homologado,
mas sim a data em que a vítima soube que havia sido prejudicada. Isso com base na chamada
teoria da actio nata.
O fato de o advogado-mandatário ostentar procuração com poderes para transigir não afasta
a responsabilidade pelos prejuízos causados por culpa sua ou de pessoa para quem
substabeleceu, nos termos dos arts. 667 do Código Civil e 32, caput, do Estatuto da Advocacia.
A responsabilidade pelos danos decorrentes do abuso de poder pelo mandatário independe
da prévia anulação judicial do ato praticado, pois o prejuízo não decorre de eventual nulidade,
mas sim da violação dos deveres subjacentes à relação jurídica entre o advogado e o assistido.
Caso concreto: advogado celebrou acordo prejudicial ao cliente, por meio do qual renunciou a
crédito consolidado em sentença com remota possibilidade de reversão, em virtude de ajuste
espúrio realizado com a parte contrária.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.750.570-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João outorgou procuração (mandato) para Dr. Marcelo (advogado) a fim de que ele ajuizasse ação
reivindicatória contra a empresa BCB, pertencente a Pedro, rico empresário.
Marcelo preparou e ajuizou a ação em nome de João.
O pedido foi julgado procedente em primeira instância e a sentença foi confirmada pelo Tribunal de Justiça.
A sentença e o acórdão reconheceram que João tinha em torno de R$ 100 mil para receber da ré.

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10


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Em tese, ainda teria a possibilidade de a empresa interpor recursos especial e extraordinário. No entanto,
a jurisprudência do STF e do STJ era manifestamente contrária à tese da condenada.

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Diante disso, Pedro chamou Marcelo em seu escritório e fez uma proposta: “vamos fazer um acordo para
resolver logo esse processo; eu pago R$ 5 mil à vista para o seu cliente e desisto de recorrer; em
contrapartida, ele renuncia aos demais valores; além disso, também pago um valor para você, ‘por fora’,
além dos honorários que irá receber normalmente”.
Assim, em abril de 2014, Marcelo celebrou o acordo (transação) com a referida empresa, por meio do qual
renunciou a valores já consolidados em sentença e que tinham remota possibilidade de reversão. Percebe-
se que Marcelo abusou do poder que lhe tinha sido outorgado e causou prejuízo ao seu cliente.
O acordo foi homologado e o processo extinto com resolução do mérito, nos termos do art. 487, III, “b”,
do CPC/2015:
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:
(...)
III - homologar:
(...)
b) a transação;

Deflagração de operação policial


João recebeu os R$ 5 mil e estava até satisfeito porque não entendia muito bem de assuntos jurídicos e o
advogado explicou para ele que seria um bom acordo, já que “o processo ainda poderia demorar uns 30
anos em Brasília”.
Em abril de 2018, ou seja, 4 anos depois da homologação do acordo, foi deflagrada uma operação policial
na qual se revelou que o advogado Marcelo e a empresa BCB fizeram o mesmo esquema em vários outros
processos judiciais.
A empresa BCB é muito grande e Marcelo foi advogado de vários clientes que ajuizaram ações contra ela. Em
todos os processos, ele fez esses acordos desvantajosos em troca do pagamento de um dinheiro “por fora”.

Ação de indenização
Em maio de 2018, João procurou, então, outro advogado e ajuizou ação de indenização contra Marcelo
pedindo:
a) danos materiais equivalentes à diferença entre o valor da condenação (R$ 100 mil) e o que foi
efetivamente repassado ao autor (R$ 5 mil);
b) danos morais.

Defesa de Marcelo
Marcelo contestou a demanda alegando, entre outros argumentos, que:
1) a pretensão está prescrita. Isso porque o acordo foi celebrado em abril/2014 e a ação de indenização
somente foi ajuizada em maio de 2018, ou seja, depois do prazo de 3 anos previsto como prazo
prescricional para as ações de responsabilidade civil, nos termos do art. 206, § 3º, V, do Código Civil:
Art. 206. Prescreve:
(...)
§ 3º Em três anos:
(...)
V - a pretensão de reparação civil;

2) a procuração a ele outorgada conferia poderes para transigir;


3) só poderia haver a responsabilização por abuso de poder pelo advogado-mandatário se houvesse a
prévia anulação judicial do ato praticado.

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11


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Tese 1. Prescrição. A pretensão deduzida está prescrita?


NÃO. Por dois motivos:

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Termo inicial da prescrição: teoria da actio nata
O termo inicial da prescrição não foi o momento em que o acordo foi homologado, mas sim a data em que
a vítima soube que havia sido prejudicada. Isso com base na chamada teoria da actio nata.
No campo da responsabilidade civil, esta teoria sustenta que o prazo prescricional para a ação de
indenização se inicia na data em que se tiver o efetivo conhecimento da lesão (e seus efeitos).

Por aplicação da teoria da actio nata, o prazo prescricional, relativo à pretensão de indenização de dano
material e compensação de dano moral, somente começa a correr quando o titular do direito subjetivo
violado obtém plena ciência da lesão e de toda a sua extensão, bem como do responsável pelo ilícito,
inexistindo, ainda, qualquer condição que o impeça de exercer o direito de ação.
STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 639.598/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/12/2016.

Assim, o início do prazo prescricional, com base na teoria da actio nata, não se dá necessariamente no
momento em que ocorre a lesão ao direito, mas sim quando o titular do direito subjetivo violado obtém
plena ciência da lesão e de toda a sua extensão.
Tendo em vista a impossibilidade de se precisar o momento em que o autor (João) teve ciência de que a
transação judicial realizada pelo advogado em seu nome foi prejudicial aos seus interesses, pode-se
considerar a data da deflagração da operação policial, ocorrida em abril de 2018, como termo inicial do
prazo prescricional.
No momento da homologação do acordo, o mandante não sabia que estava sendo prejudicado pelo
mandatário, que estava atuando de modo contrário aos seus interesses e em conluio com a parte adversa.
A relação entre advogado e cliente é fundamentada na confiança e na legítima expectativa de que o
profissional atuará com ética e com a máxima diligência possível no cumprimento do mandato que lhe foi
outorgado.
Logo, é razoável presumir que apenas com a instauração da investigação criminal o autor tomou
conhecimento de que o acordo celebrado pelo réu em seu nome não tinha por objetivo preservar seus
interesses.

Prazo prescricional não é de 3 anos


Existe, contudo, um outro motivo pelo qual a pretensão não está prescrita: o prazo prescricional, no
presente caso, não é de 3, mas sim de 10 anos.
Nas ações de indenização do mandante contra o mandatário incide o prazo prescricional de 10 anos,
previsto no art. 205 do Código Civil, por se tratar de responsabilidade proveniente de relação contratual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.750.570-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

Veja a redação do dispositivo legal:


Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.

Esse entendimento está de acordo com o que decidiu recentemente o STJ:


Nas controvérsias relacionadas à responsabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002)
que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-
se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.
Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva,
abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12


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Tese 2. A procuração outorgada ao advogado autorizava que ele fizesse transação em nome do autor.
Logo, ele não ultrapassou os limites formais da procuração. Mesmo assim terá que indenizar?

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SIM. O fato de o advogado dispor de procuração que lhe permitia a realização de transação não lhe
autorizava a agir de forma temerária e a seu livre arbítrio, nem lhe autorizava a celebrar acordos
manifestamente contrários aos interesses de seu cliente com o objetivo de se locupletar indiretamente às
custas do mandante. Isso porque, conforme prevê o art. 667 do Código Civil:
Art. 667. O mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução do mandato,
e a indenizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem substabelecer, sem
autorização, poderes que devia exercer pessoalmente.

O mandatário não apenas faltou com a necessária diligência em favor de seu cliente, como atuou de modo
a lhe causar prejuízos, renunciando a crédito já reconhecido judicialmente em sentença com remota
possibilidade de reversão, em virtude de ajuste espúrio realizado com a parte contrária.
O que houve, portanto, foi a prática de uma série de infrações disciplinares previstas no art. 34 do Estatuto
da OAB (Lei nº 8.906/94):
Art. 34. Constitui infração disciplinar:
(...)
VIII - estabelecer entendimento com a parte adversa sem autorização do cliente ou ciência do
advogado contrário;
IX - prejudicar, por culpa grave, interesse confiado ao seu patrocínio;
(...)
XIX - receber valores, da parte contrária ou de terceiro, relacionados com o objeto do mandato,
sem expressa autorização do constituinte;
XX - locupletar-se, por qualquer forma, à custa do cliente ou da parte adversa, por si ou interposta
pessoa;

Além disso, o Estatuto da OAB também determina:


Art. 32. O advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar com dolo ou
culpa.

O fato de o advogado-mandatário ostentar procuração com poderes para transigir não afasta a
responsabilidade pelos prejuízos causados por culpa sua ou de pessoa para quem substabeleceu, nos
termos dos arts. 667 do Código Civil e 32, caput, do Estatuto da Advocacia.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.750.570-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

Tese 3. Para que haja o dever de indenizar, é necessário que seja previamente anulado o acordo
conduzido pelo advogado e que foi homologado judicialmente?
NÃO.
A responsabilidade pelos danos decorrentes do abuso de poder pelo mandatário independe da prévia
anulação judicial do ato praticado, pois o prejuízo não decorre de eventual nulidade, mas sim da
violação dos deveres subjacentes à relação jurídica entre o advogado e o assistido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.750.570-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

O mau cumprimento do mandato advocatício não implica, necessária e automaticamente, a invalidade


dos atos praticados pelo mandatário.
Houve, no caso, abuso de poder por parte do mandatário, que se configura quando este, no desempenho
de suas atividades, atua de modo contrário ao que lhe foi solicitado, implícita ou explicitamente, pelo
outorgante, mas sem exceder os limites expressamente estabelecidos no mandato. Diferencia-se,

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13


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portanto, do excesso de poder, que ocorreria caso o mandatário extrapolasse a limitação de poderes
outorgados pelo mandante, por exemplo, transigindo sem ostentar procuração para tanto.

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Na hipótese de abuso de poder, caso dos presentes autos, o mandante permanece, em tese, responsável
pelas obrigações assumidas pelo mandatário em seu nome, sobretudo em se tratando de avença que
restou homologada judicialmente. Nada impede, contudo, que busque a anulação do acordo por meio da
via adequada.
Assim sendo, a ausência de invalidação do acordo judicial não constitui óbice para a responsabilização do
recorrente, pois a conduta lesiva imputada ao réu não é a celebração de um acordo nulo, mas sim, a
quebra das obrigações ínsitas ao mandato outorgado.

INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA
É de 10 anos o prazo prescricional para ação do adquirente contra a incorporadora
pedindo o pagamento da multa do art. 35, § 5º, da Lei nº 4.591/64

O incorporador só se acha habilitado a negociar unidades autônomas do empreendimento


imobiliário depois que registrar, no Registro de Imóveis, os documentos elencados no art. 32
da Lei nº 4.591/64. Descumprida essa exigência legal, impõe-se a aplicação da multa do art.
35, § 5º, da mesma lei.
É decenal o prazo prescricional aplicável à ação do adquirente contra a incorporadora que visa
a cobrança da multa prevista no art. 35, § 5º, da Lei nº 4.591/64.
Fundamento: art. 205 do Código Civil.
Não se aplica o art. 27 do CDC porque este dispositivo é restrito às ações que busquem a
reparação de danos causados por fato do produto ou do serviço e essa situação não se
enquadra como fato do produto ou serviço (não se trata de acidente de consumo).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.497.254-ES, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/09/2018 (Info 633).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João adquiriu da construtora e incorporadora “Viver Bem” um apartamento no empreendimento
denominado Edifício Molise.
O art. 35 da Lei nº 4.591/64 estabelece um prazo máximo para o incorporador promover o arquivamento
do “memorial de incorporação” no Registro de Imóveis, sob pena de pagar multa ao adquirente, no
percentual de 50% do valor da unidade imobiliária negociada.
O memorial de incorporação é um documento no qual a obra projetada é descrita, com várias
especificações exigidas pela ABNT. Antes de começar a negociar as unidades autônomas, o incorporador
já deve arquivar o memorial de incorporação no Registro de Imóveis, conforme exige o art. 32 da Lei nº
4.591/64.
Ocorre que a empresa não fez o arquivamento do memorial de incorporação do empreendimento no
Registro de Imóveis.
Como a incorporadora não tomou essa providência, o adquirente não está conseguindo lavrar a escritura
definitiva do imóvel.
Diante disso, João quer ajuizar ação contra a imobiliária exigindo o cumprimento desta obrigação e
também a condenação da construtora a pagar a multa prevista no art. 35, § 5º da Lei nº 4.591/64.

Essa multa é cabível mesmo na presente situação?


SIM. Conforme entende o STJ:
O incorporador só se acha habilitado a negociar unidades autônomas do empreendimento imobiliário
depois que registrar, no Cartório de Registro Imobiliário competente, os documentos previstos no art. 32
da Lei nº 4.591/64.

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14


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Descumprida a exigência legal, impõe-se a aplicação da multa do art. 35, § 5º, da mesma lei.
STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 334.838/AM, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18/5/2010.

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A dúvida que surgiu foi a respeito do prazo prescricional. Qual é o prazo prescricional aplicável à ação
proposta pelo adquirente contra a incorporadora visando a cobrança da multa prevista no art. 35, § 5º,
da Lei nº 4.591/64?
10 anos, com base no art. 205 do Código Civil:
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.

Isso se justifica porque não existe uma previsão legal específica na Lei nº 4.596/64, devendo ser aplicado,
portanto, o prazo geral.
Como se trata de uma relação de consumo, não seria possível aplicar o prazo previsto no art. 27 do CDC?
NÃO. O art. 27 do CDC é restrito a pretensões decorrentes de fato do produto ou serviço. Relembre o que
diz o dispositivo:
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do
produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a
partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

Assim, o art. 27 do CDC não se aplica a qualquer caso de inadimplemento contratual, restringindo-se às
ações que busquem a reparação de danos causados por fato do produto ou do serviço:
A prescrição quinquenal prevista no art. 27 do CDC somente se aplica às demandas nas quais se discute a
reparação de danos causados por fato do produto ou do serviço.
STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1.518.086/RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 6/8/2015.

A ausência de cumprimento desta providência do art. 32 da Lei nº 4.591/64 por parte da incorporadora
não se configura como fato do produto ou do serviço.
O fato do produto ou do serviço (também chamado de “acidente de consumo”) ocorre quando o defeito
no produto ou no serviço ultrapassar a esfera meramente econômica do consumidor, atingindo-lhe a
incolumidade física ou moral.
Serviço defeituoso, nos termos da lei, é aquele que não fornece a segurança que o consumidor
legitimamente espera, levando em consideração o modo de seu fornecimento, o resultado e os riscos
razoavelmente previsíveis e a época em que foi fornecido (art. 14, caput, e § 1º, do CDC).
A falta do registro imobiliário da incorporação não configura um defeito no serviço, mas sim o
descumprimento de um dever oriundo tanto do contrato como da própria Lei de Incorporações
Imobiliárias, a sujeitar o incorporador à multa prevista na legislação de regência, sem prejuízo de outras
sanções eventualmente cabíveis.
Portanto, embora o CDC seja aplicável à presente relação, diante da ausência de previsão legal específica,
a pretensão do adquirente se submete ao prazo prescricional geral da legislação civil, ou seja, 10 (dez)
anos, nos termos do art. 205 do CC/2002.
Em suma:
É decenal o prazo prescricional aplicável à ação do adquirente contra a incorporadora que visa a
cobrança da multa prevista no art. 35, § 5º, da Lei nº 4.591/64.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.497.254-ES, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/09/2018 (Info 633).

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15


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DIREITO REAL DE HABITAÇÃO


O cônjuge ou companheiro sobrevivente possui direito real de habitação

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mesmo que seja proprietário de outros bens

Importante!!!
O reconhecimento do direito real de habitação, a que se refere o art. 1.831 do Código Civil, não
pressupõe a inexistência de outros bens no patrimônio do cônjuge/companheiro
sobrevivente. Em outras palavras, mesmo que o cônjuge ou companheiro sobrevivente possua
outros bens, ele terá direito real de habitação.
Isso se justifica porque o objetivo da lei é permitir que o cônjuge/companheiro sobrevivente
permaneça no mesmo imóvel familiar que residia ao tempo da morte como forma, não apenas
de concretizar o direito constitucional à moradia, mas também por razões de ordem
humanitária e social, já que não se pode negar a existência de vínculo afetivo e psicológico
estabelecido pelos cônjuges/companheiros com o imóvel em que, no transcurso de sua
convivência, constituíram não somente residência, mas um lar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.178-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

Direito real de habitação


O Código Civil prevê o direito real de habitação em seu art. 1.831:
Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem
prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao
imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único daquela natureza a inventariar.

Exemplo
João era casado com Maria. Faleceu, deixando quatro filhos e, como herança, um único apartamento, que
estava em seu nome e onde morava com a esposa. Nesse caso, Maria terá direito real de habitação sobre
esse imóvel.

O que significa isso?


A pessoa que tem direito real de habitação poderá residir no imóvel. Logo, mesmo havendo quatro filhos
como herdeiros, Maria é quem terá direito de ficar residindo no apartamento.
O direito real de habitação tem por objetivo garantir o direito fundamental à moradia (art. 6º, caput, da
CF/88) e o postulado da dignidade da pessoa humana (art. art. 1º, III).

Recai sobre o imóvel destinado à residência da família


O cônjuge sobrevivente tem direito real de habitação sobre o imóvel em que residia o casal, desde que
integre o patrimônio comum ou particular do cônjuge falecido no momento da abertura da sucessão (STJ.
3ª Turma. REsp 1273222/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/06/2013).

O que significa “(...) desde que seja o único daquela natureza a inventariar”?
O art. 1.831 fala que o cônjuge sobrevivente terá direito real de habitação com relação ao imóvel que era
destinado à residência da família, “desde que seja o único daquela natureza a inventariar”.
Se o cônjuge/companheiro sobrevivente tiver outros imóveis, ele fiará impedido de ter direito real de
habitação? É essa a interpretação a ser dada ao dispositivo?
NÃO. Essa a interpretação não é correta.
O que prevalece é o seguinte:

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16


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O cônjuge ou companheiro sobrevivente possui direito real de habitação mesmo que seja proprietário

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de outros bens.
O reconhecimento do direito real de habitação, a que se refere o art. 1.831 do Código Civil, não
pressupõe a inexistência de outros bens no patrimônio do cônjuge/companheiro sobrevivente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.178-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

Mas, então, o que significa esse trecho do artigo: “desde que seja o único daquela natureza a inventariar”?
O que esse trecho quer dizer é que, dentro do acervo hereditário deixado pelo falecido, não pode haver
mais de um imóvel destinado a fins residenciais.

Relativização dessa exigência: “(...) desde que seja o único daquela natureza a inventariar”
No tópico anterior, eu expliquei qual é o sentido que o STJ dá para essa locução (“desde que seja o único
daquela natureza a inventariar”). No entanto, até mesmo essa exigência legal - inexistência de outros bens
imóveis residenciais no acervo hereditário - é amplamente questionada em sede doutrinária.
Daí porque o STJ já afastou a literalidade de tal regra:
(...) O direito real de habitação, assegurado, devido à união estável, ao cônjuge sobrevivente, pelo art. 7º
da Lei 9287/96, incide, relativamente ao imóvel em que residia o casal, ainda que haja mais de um imóvel
residencial a inventariar. (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1.220.838/PR, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 19/06/2012.

Essa relativização é feita para permitir que o cônjuge/companheiro sobrevivente permaneça no mesmo
imóvel familiar que residia com o(a) falecido(a). Isso se justifica não apenas como uma forma de
concretizar o direito constitucional à moradia, mas também por razões de ordem humanitária e social, já
que não se pode negar a existência de vínculo afetivo e psicológico estabelecido pelos cônjuges com o
imóvel em que, no transcurso de sua convivência, constituíram não somente residência, mas um lar.
Enfim, existe a saudade e o apego emocional àquele imóvel onde o casal vivia junto antes do falecimento.
Essa norma do art. 1.831 do CC é corolário (decorrência) dos princípios da dignidade da pessoa humana e
da solidariedade familiar que tutela o interesse da pessoa que, em regra, já se encontra em idade avançada
e vive momento de luto, ou seja, de abalo pela perda do cônjuge/companheiro.
Assim, o cônjuge ou companheiro sobrevivente possui direito real de habitação mesmo que seja
proprietário de outros bens. Por duas razões:
1) a correta interpretação é a de que a parte final do art. 1.831 está se referindo apenas aos bens deixados
pelo morto. Assim, dentro do acervo hereditário deixado pelo falecido, não poderia haver mais de um
imóvel destinado a fins residenciais;
2) mesmo essa intepretação exposta no item 1 é relativizada e há julgados do STJ e autores que defendem
que ela deve ser ignorada em prol de razões de ordem humanitária e social, tendo em vista o apego
emocional do cônjuge/companheiro sobrevivente em relação a este lar.

O regime de bens do casamento interfere no reconhecimento do direito real de habitação?


NÃO. Poderá ser assegurado o direito real de habitação qualquer que seja o regime de bens.

O fato de o cônjuge falecido ter tido filhos com outra mulher interfere no direito real de habitação da
esposa sobrevivente?
NÃO. O direito real de habitação sobre o imóvel que servia de residência do casal deve ser conferido ao
cônjuge/companheiro sobrevivente não apenas quando houver descendentes comuns, mas também
quando concorrerem filhos exclusivos do de cujos (STJ. 3ª Turma. REsp 1134387/SP, julgado em
16/04/2013).

Até quando dura o direito real de habitação?


O titular do direito real de habitação poderá, se quiser, morar no imóvel até a sua morte. Trata-se,
portanto, de um direito vitalício.

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17


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Se o cônjuge sobrevivente casar novamente, ele continuará tendo direito real de habitação?

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SIM (posição majoritária). Isso porque o Código Civil de 1916 previa que o direito real de habitação seria
extinto caso o cônjuge sobrevivente deixasse de ser viúvo, ou seja, caso se casasse ou iniciasse uma união
estável (art. 1.611, § 2º). Como o CC-2002 não repetiu essa regra, entende-se que houve um silêncio
eloquente e que não mais existe causa de extinção do direito real de habitação em caso de novo
casamento ou união estável. Veja o que diz a doutrina:
“Comparando-se o art. 1831 do Código Civil de 2002 com o seu antecessor (art. 1.611, CC 1916),
houve substancial acréscimo qualitativo do direito real de habitação em favor do cônjuge
sobrevivente. Primeiro, o cônjuge passa a desfrutar do direito real de habitação, independente do
regime de bens adotado no matrimônio — no CC de 1916, só caberia em prol do meeiro no regime
da comunhão universal. Segundo, no CC de 1916 o direito de habitação era vidual, posto
condicionada a sua permanência à manutenção da viuvez. Doravante, mesmo que o cônjuge
sobrevivente case novamente ou inaugure união estável, não poderá ser excluído da habitação,
pois tal direito se torna vitalício.” (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direitos
Reais. 8. ed., Salvador: Juspodivm, 2012, p. 856-857).

O direito real de habitação precisa ser inscrito no registro imobiliário?


NÃO. O direito real de habitação em favor do cônjuge sobrevivente se dá ex vi legis, ou seja, por força de
lei, dispensando registro no cartório imobiliário, já que guarda estreita relação com o direito de família
(STJ. 3ª Turma. REsp 565.820/PR, julgado em 16/09/2004).

Existe direito real de habitação no caso da morte de companheiro (união estável)? João vivia em união
estável com Maria e faleceu deixando quatro filhos e, como herança, um único apartamento que estava
em seu nome e onde ele morava com a companheira. Nesse caso, Maria terá direito real de habitação
sobre esse imóvel?
SIM. A companheira sobrevivente faz jus ao direito real de habitação sobre o imóvel no qual convivia com
o companheiro falecido.

O art. 1.831 do CC-2002 fala apenas em cônjuge. Qual é o fundamento para estender o direito real de
habitação também aos companheiros?
De fato, o art. 1.831 do CC-2002, ao tratar sobre o direito real de habitação, menciona apenas o cônjuge
sobrevivente, silenciando quanto à extensão desse direito ao companheiro sobrevivente. No entanto, esse
dispositivo do CC deverá ser interpretado conforme a regra contida no art. 226, § 3º, da CF/88, que
reconhece a união estável como entidade familiar.
Assim, deve-se buscar uma interpretação que garanta à pessoa que viva em união estável os mesmos
direitos que ela teria caso fosse casada.
O art. 226, § 3º da CF/88 é uma norma de inclusão, sendo contrária ao seu espírito a tentativa de lhe
extrair efeitos discriminatórios entre cônjuge e companheiro.
Desse modo, o direto real de habitação contido no art. 1.831 do CC deve ser aplicado também ao
companheiro sobrevivente.

Lei nº 9.278/96
Em minha opinião, o argumento acima (equiparação constitucional dos cônjuges e companheiros) é o mais
correto e pertinente. Vale ressaltar, no entanto, que você pode encontrar alguns doutrinadores
mencionando, ainda, mais um fundamento pelo qual o direito real de habitação poderia ser concedido
aos companheiros: o fato de a Lei nº 9.278/96 conceder esse direito à união estável.
De qualquer modo, seja por uma razão, seja por outra, o certo é que o direito real de habitação é extensível
ao companheiro supérstite (sobrevivente).

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18


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Mas a Lei nº 9.278/96 ainda persiste? Ainda está em vigor mesmo com o Código Civil de 2002?
SIM. O Código Civil de 2002 não revogou as disposições constantes da Lei nº 9.278/96, subsistindo a norma

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que confere o direito real de habitação ao companheiro sobrevivente diante da omissão do Código Civil
em disciplinar tal matéria em relação aos conviventes em união estável, consoante o princípio da
especialidade.
STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1436350/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/04/2016.

Enunciado 117 da I Jornada de Direito Civil:


O direito real de habitação deve ser estendido ao companheiro, seja por não ter sido revogada a previsão
da Lei 9.278, seja em razão da interpretação analógica do artigo 1.831, informado pelo artigo 6º, caput,
da Constituição de 88.

A companheira sobrevivente faz jus ao direito real de habitação (art. 1.831 do CC) sobre o imóvel no
qual convivia com o companheiro falecido, ainda que tenha adquirido outro imóvel residencial com o
dinheiro recebido do seguro de vida do de cujus
Ex: João vivia em união estável com Maria. Faleceu, deixando quatro filhos e, como herança, um
apartamento, que estava em seu nome e onde ele morava com a companheira.
Além disso, João deixou um seguro de vida em que sua companheira figurava como beneficiária da apólice,
tendo ela, portanto, recebido R$ 300 mil de indenização da seguradora.
Com o dinheiro, Maria comprou uma casa, que aluga para terceiros.
Maria continuará tendo direito real de habitação sobre o apartamento.
O fato de a companheira ter adquirido outro imóvel residencial com o dinheiro recebido pelo seguro de
vida do de cujus não tem o condão de excluí-la do direito real de habitação referente ao imóvel em que
residia com seu companheiro ao tempo da abertura da sucessão, uma vez que, segundo o art. 794 do CC,
no seguro de vida, para o caso de morte, o capital estipulado não está sujeito às dívidas do segurado, nem
se considera herança para todos os efeitos de direito.
Dessa forma, se o dinheiro do seguro não se insere no patrimônio do de cujus, não há falar em restrição
ao direito real de habitação, porquanto o imóvel adquirido pela companheira sobrevivente não faz parte
dos bens a inventariar.

A companheira sobrevivente faz jus ao direito real de habitação (art. 1.831 do CC) sobre o imóvel no qual
convivia com o companheiro falecido, ainda que tenha adquirido outro imóvel residencial com o dinheiro
recebido do seguro de vida do de cujus.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.249.227-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/12/2013 (Info 533).

DIREITO DO CONSUMIDOR

FORNECEDOR
Há solidariedade entre as empresas integrantes de um consórcio quanto às obrigações
consumeristas, desde que relacionadas com a atividade do consórcio

Como regra geral, as sociedades consorciadas apenas se obrigam nas condições previstas no
respectivo contrato, respondendo cada uma por suas obrigações, sem presunção de
solidariedade, de acordo com o disposto no art. 278, § 1º, da Lei nº 6.404/76.
Essa regra, no entanto, não é absoluta.
Há solidariedade entre as sociedades consorciadas em relação às obrigações derivadas de relação
de consumo desde que essas obrigações guardem correlação com a esfera de atividade do

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19


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consórcio. Existe previsão nesse sentido no art. 28, § 3º do CDC, que preconiza: “as sociedades
consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.”

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STJ. 3ª Turma. REsp 1.635.637-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/09/2018 (Info 633).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Viviane foi atropelada por um ônibus da empresa VIAÇÃO NOVACAP S/A, que faz o serviço de transporte
público urbano municipal.
A vítima ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a VIAÇÃO NOVACAP S/A
(causadora do dano) e também contra a VIAÇÃO NOSSA SENHORA S/A e a VIAÇÃO ESTRELA AZUL S/A.

Por que foi ajuizada ação contra a VIAÇÃO NOSSA SENHORA S/A e a VIAÇÃO ESTRELA AZUL S/A?
A autora alegou que as três empresas formam um consórcio constituído para a prestação do serviço de
transporte coletivo urbano. Logo, mesmo sendo a VIAÇÃO NOVACAP S/A a causadora do dano, as duas
outras empresas também seriam solidariamente responsáveis.

A tese da autora foi acolhida pelo STJ?


SIM.

O que é um consórcio de empresas?


O consórcio de empresas é...
- um contrato
- por meio do qual duas ou mais “empresas” (sociedades empresárias)
- se ajustam e definem obrigações entre si
- a fim de executar determinado empreendimento
- sem que essa união implique na criação de uma nova pessoa jurídica.

O consórcio é, portanto, uma forma contratual de organização das sociedades empresárias a fim de que,
juntas, elas tenham condições de realizar um objetivo empresarial comum e que, muito provavelmente,
não seria possível de ser concretizado caso elas não estivessem juntas. Isso porque haveria dificuldades de
ordem técnica ou limitações econômico-financeiras.

Existe previsão legal para os consórcios?


SIM. A disciplina geral desse instituto está contida nos arts. 278 e 279 da Lei das Sociedades Anônimas (Lei
nº 6.404/76). Veja o que diz o caput do art. 278:
Art. 278. As companhias e quaisquer outras sociedades, sob o mesmo controle ou não, podem
constituir consórcio para executar determinado empreendimento, observado o disposto neste
Capítulo.

Existe solidariedade entre as consorciadas?


REGRA: não. Em regra, as obrigações assumidas pelos integrantes do consórcio são independentes e não
existe solidariedade entre elas. É o que prevê o § 1º do art. 278 da LSA:
Art. 278 (...)
§ 1º O consórcio não tem personalidade jurídica e as consorciadas somente se obrigam nas
condições previstas no respectivo contrato, respondendo cada uma por suas obrigações, sem
presunção de solidariedade.

EXCEÇÕES:
A regra acima não é absoluta. O ordenamento jurídico prevê as seguintes situações em que haverá
solidariedade entre essas empresas:

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20


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1) Licitações e contratos administrativos

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Existe solidariedade em caso de empresas que formam consórcio para a participação em licitações e para
a execução de contratos com a Administração Pública.
O art. 33, V, da Lei nº 8.666/93 prevê que há responsabilidade solidária:
Art. 33. Quando permitida na licitação a participação de empresas em consórcio, observar-se-ão
as seguintes normas:
(...)
V - responsabilidade solidária dos integrantes pelos atos praticados em consórcio, tanto na fase
de licitação quanto na de execução do contrato.

O art. 19, § 2º, da Lei nº 8.987/95 (Lei das concessões) também prevê solidariedade:
Art. 19 (...)
§ 2º A empresa líder do consórcio é a responsável perante o poder concedente pelo cumprimento
do contrato de concessão, sem prejuízo da responsabilidade solidária das demais consorciadas.

Nessas hipóteses, resguarda-se o interesse público no fiel cumprimento das obrigações legais e contratuais
assumidas com a Administração.

2) Relações trabalhistas
O art. 2º, § 2º da CLT estabelece que:
Art. 2º (...)
§ 2º Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica
própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, ou ainda quando, mesmo
guardando cada uma sua autonomia, integrem grupo econômico, serão responsáveis
solidariamente pelas obrigações decorrentes da relação de emprego.

3) Relações de consumo
Existe solidariedade entre as empresas integrantes de um consórcio em caso de responsabilidade derivada
de relação de consumo, conforme preconiza o CDC:
Art. 28 (...)
§ 3º As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes
deste código.

Em matéria consumerista, a previsão de solidariedade entre as empresas consorciadas justifica-se pela


necessidade de se atribuir máxima proteção ao consumidor, mediante o alargamento da base patrimonial
hábil a suportar a indenização (“mais empresas para pagarem a indenização”).
Trata-se, portanto, de um mecanismo de garantia do consumidor quanto ao ressarcimento dos danos
sofridos.
Vale ressaltar que, a despeito de o § 3º do art. 28 estar em uma seção que trata sobre desconsideração da
personalidade jurídica, a solidariedade entre os integrantes do consórcio é classificada juridicamente como
desconsideração da personalidade jurídica. Sua natureza jurídica é de atribuição de responsabilidade a
terceiros em razão do vínculo jurídico mantido com o fornecedor causador do dano.
Importante esclarecer que, por se tratar de exceção à regra, a previsão de solidariedade contida no art.
28, § 3º, do CDC deve ser interpretada restritivamente, de maneira a abarcar apenas as obrigações
resultantes do objeto do consórcio, e não quaisquer obrigações assumidas pelas consorciadas em suas
atividades empresariais gerais.

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21


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Em suma:

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Há solidariedade entre as sociedades consorciadas em relação às obrigações derivadas de relação de
consumo desde que essas obrigações guardem correlação com a esfera de atividade do consórcio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.635.637-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/09/2018 (Info 633).

Voltando ao nosso exemplo:


A relação de consumo estabelecida entre Viviane e a consorciada VIAÇÃO NOVACAP S/A, bem como o
evento danoso sofrido – o atropelamento –, guardam relação direta com o objeto do consórcio – qual seja,
a exploração do transporte coletivo urbano. Logo, há plena incidência do art. 28, § 3º, do CDC.

Ação regressiva
Depois de pagar o consumidor, a consorciada que quitou a dívida – se não foi a causadora direta do dano
– poderá ajuizar ação regressiva contra a empresa que, de fato, provocou o prejuízo.
Ex: se a VIAÇÃO ESTRELA AZUL pagar a indenização para Viviane, poderá, posteriormente, cobrar a dívida
da VIAÇÃO NOVACAP, em ação regressiva.

BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES


Qual é o termo inicial do prazo máximo de 5 anos que o nome de devedor
pode ficar inscrito em órgão de proteção ao crédito?

SPC/SERASA, quando forem inserir títulos que estão protestados, deverão incluir a data de
vencimento e controlar os prazos máximos que poderão ficar nos bancos de dados

Importante!!!
Qual é o termo inicial do prazo máximo de 5 anos que o nome de devedor pode ficar inscrito em
órgão de proteção ao crédito?
Os cadastros e bancos de dados não poderão conter informações negativas do consumidor
referentes a período superior a 5 anos (art. 43, § 1º do CDC).
Passado esse prazo, o próprio órgão de cadastro deve retirar a anotação negativa,
independentemente de como esteja a situação da dívida (não importa se ainda está sendo
cobrada em juízo ou se ainda não foi prescrita).
Qual é o termo inicial deste prazo de 5 anos? A partir de quando ele começa a ser contado: do
dia em que venceu a dívida ou da data em que o nome do consumidor foi inserido no cadastro?
O termo inicial do prazo máximo de cinco anos que o nome de devedor pode ficar inscrito em
órgão de proteção ao crédito é o dia seguinte à data de vencimento da dívida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.630.889-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

SPC/SERASA, quando forem inserir títulos que estão protestados, deverão incluir a data de
vencimento e controlar os prazos máximos que poderão ficar nos bancos de dados
As entidades mantenedoras de cadastros de proteção ao crédito não devem incluir em sua
base de dados informações coletadas dos cartórios de protestos sem a informação do prazo de
vencimento da dívida, sendo responsáveis pelo controle de ambos os limites temporais
estabelecidos no art. 43 da Lei nº 8.078/90.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.630.889-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

Se o consumidor está inadimplente, o fornecedor poderá incluí-lo em cadastros de proteção ao crédito


(exs.: SPC e SERASA)?
SIM.

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22


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Qual o cuidado prévio que deve ser tomado?


A abertura de qualquer cadastro, ficha, registro e dados pessoais ou de consumo referentes ao consumidor

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deverá ser comunicada por escrito a ele (§ 2º do art. 43 do CDC).
Logo, o órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito deverá notificar o devedor antes de
proceder à inscrição (Súmula 359-STJ).
Assim, é ilegal e sempre deve ser cancelada a inscrição do nome do devedor em cadastros de proteção ao
crédito realizada sem a prévia notificação exigida pelo art. 43, § 2º do CDC.
Em outras palavras, antes de “negativar” o nome do consumidor, o SPC ou a SERASA deverão notificá-lo
por escrito, informando acerca dessa possibilidade, a fim de que o consumidor, se quiser, possa pagar o
débito ou questioná-lo judicialmente.

O que acontece se não houver essa notificação prévia?


A ausência de prévia comunicação ao consumidor da inscrição do seu nome em órgão de proteção ao
crédito enseja indenização por danos morais, a ser paga pelos órgãos mantenedores de cadastros
restritivos (exs.: SERASA, SPC).

O credor (fornecedor) deverá também pagar indenização por danos morais pelo fato de o consumidor
ter sido negativado sem notificação prévia?
NÃO. O credor não é parte legítima para figurar no polo passivo de ação de indenização por danos morais
decorrentes da inscrição em cadastros de inadimplentes sem prévia comunicação.
A responsabilidade pela inclusão do nome do devedor no cadastro incumbe à entidade que o mantém, e
não ao credor, que apenas informa a existência da dívida (STJ AgRg nos EDcl no REsp 907.608/RS).
A situação será diferente se o consumidor for negativado por conta de uma dívida que não existia
realmente (dívida irregular). Nesse caso, o fornecedor é quem será responsabilizado.

Se não houve comunicação prévia, a indenização é devida mesmo que depois fique provado que o débito
realmente existe?
SIM. Para que se caracterize o dever da SERASA/SPC de indenizar, é suficiente a ausência de prévia
comunicação, mesmo quando existente a dívida que gerou a inscrição.

Para que haja a condenação em dano moral, é necessário que seja provado o prejuízo sofrido pelo
consumidor?
NÃO. A indenização por danos morais decorre da simples ausência de prévia notificação, circunstância que
se mostra suficiente à caracterização do dano moral. Não há necessidade da prova do prejuízo sofrido.
Trata-se de dano moral in re ipsa, no qual o prejuízo é presumido.

E no caso de dano material?


Para que haja condenação por danos materiais, é indispensável a prova dos prejuízos sofridos.

Como é comprovada essa notificação prévia? Exige-se prova de que o consumidor tenha efetivamente
recebido a notificação?
NÃO. Basta que seja provado que foi enviada uma correspondência ao endereço do consumidor
notificando-o quanto à inscrição de seu nome no respectivo cadastro, sendo desnecessário aviso de
recebimento (AR):
Súmula 404-STJ: É dispensável o Aviso de Recebimento (AR) na carta de comunicação ao consumidor sobre
a negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros.

Se o consumidor possui uma negativação anterior legítima e sofre uma nova anotação, porém desta vez
ele não é notificado previamente, este consumidor terá direito de ser indenizado por causa desta
segunda?
NÃO, ele terá direito apenas de pedir o cancelamento da segunda anotação feita sem notificá-lo.
Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23
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Súmula 385-STJ: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano

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moral quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.

Desse modo, conclui-se que a ausência de prévia comunicação ao consumidor da inscrição do seu nome
em cadastros de proteção ao crédito, prevista no art. 43, §2º do CDC, enseja o direito à compensação por
danos morais, salvo quando preexista inscrição desabonadora regularmente realizada. Veja outra exceção
mais abaixo.

Se o consumidor, após ser regularmente comunicado sobre a futura inscrição no cadastro, ajuíza uma
ação para impedir ou retirar seu nome do cadastro negativo alegando que o débito não existe, o juiz
poderá conceder tutela provisória deferindo esse pedido? Quais os requisitos para tanto?
Segundo o STJ, a abstenção da inscrição/manutenção em cadastro de inadimplentes, requerida em
antecipação de tutela e/ou medida cautelar, somente será deferida se, cumulativamente:
• a ação for fundada em questionamento integral ou parcial do débito;
• houver demonstração de que a cobrança indevida se funda na aparência do bom direito e em
jurisprudência consolidada do STF ou STJ;
• houver depósito da parcela incontroversa ou for prestada a caução fixada conforme o prudente arbítrio
do juiz.

A simples discussão judicial da dívida não é suficiente para obstar a negativação do nome do devedor nos
cadastros de inadimplentes.

Existe um prazo máximo no qual o nome do devedor pode ficar negativado?


SIM. Os cadastros e bancos de dados não poderão conter informações negativas do consumidor referentes
a período superior a 5 anos (art. 43, § 1º do CDC):
Passado esse prazo, o próprio órgão de cadastro deve retirar a anotação negativa, independentemente de
como esteja a situação da dívida (não importa se ainda está sendo cobrada em juízo ou se ainda não foi
prescrita).
Súmula 323-STJ: A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos serviços de proteção ao crédito
até o prazo máximo de cinco anos, independentemente da prescrição da execução.

Qual é o termo inicial deste prazo de 5 anos? A partir de quando ele começa a ser contado: do dia em
que venceu a dívida ou da data em que o nome do consumidor foi inserido no cadastro? Ex: João não
pagou a TV por assinatura que venceu no dia 02/02/2012; em 04/04/2013, a empresa enviou o nome de
João para o SERASA; o prazo de 5 anos será contado a partir de 03/02/2012 ou 05/04/2013?
A partir de 03/02/2012. O que interessa é a data do vencimento da dívida, começando a contar o prazo de
5 anos no primeiro dia seguinte à data de vencimento:
O termo inicial do prazo máximo de cinco anos que o nome de devedor pode ficar inscrito em órgão de
proteção ao crédito é o dia seguinte à data de vencimento da dívida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.630.889-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

Trata-se da interpretação que mais se coaduna (harmoniza) ao espírito do CDC e com a função dos bancos
de dados de inadimplentes de refletir com fidelidade a situação financeira dos devedores.
A contagem desse prazo deve tomar por base a data do fato gerador da informação depreciadora.
A inscrição de dado negativo de consumo do devedor nos bancos de dados de proteção ao crédito não é
imprescindível para a cobrança da dívida, consistindo, portanto, em direito potestativo do credor.
Além disso, conforme já decidiu o STJ, “qualquer dívida resultante de documento público ou particular,
tenha ou não força executiva, submete-se à prescrição quinquenal, contando-se do respectivo
vencimento” (STJ. 2ª Seção. REsp 1.101.412-SP, DJe 3/2/2014).

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24


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Se o devedor paga a dívida, a quem caberá informar o SPC ou a SERASA dessa situação para que seja
retirado o nome do devedor?

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Cumpre ao CREDOR (e não ao devedor) providenciar o cancelamento da anotação negativa do nome do
devedor em cadastro de proteção ao crédito, quando paga a dívida.
Vale ressaltar que é inclusive crime, previsto no CDC, quando o fornecedor deixa de comunicar o
pagamento ao cadastro de proteção ao crédito:
Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informação sobre consumidor constante de cadastro,
banco de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria saber ser inexata:
Pena — Detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa.

Assim, uma vez regularizada a situação de inadimplência do consumidor, deverão ser imediatamente
corrigidos os dados constantes nos órgãos de proteção ao crédito (REsp 255.269/PR).

Qual é o prazo que tem o credor para retirar (dar baixa) do nome do devedor no cadastro negativo?
O prazo é de 5 (cinco) dias úteis.
Assim, mesmo havendo regular inscrição do nome do devedor em cadastro de órgão de proteção ao
crédito, após o integral pagamento da dívida, incumbe ao CREDOR requerer a exclusão do registro
desabonador, no prazo de 5 dias úteis, a contar do primeiro dia útil subsequente à completa
disponibilização do numerário necessário à quitação do débito vencido.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.424.792-BA, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/9/2014 (recurso repetitivo)
(Info 548).

Qual foi o fundamento para se encontrar esse prazo?


O STJ construiu este prazo por meio de aplicação analógica do art. 43, § 3º do CDC:
Art. 43 (...) § 3º — O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e cadastros,
poderá exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias úteis, comunicar
a alteração aos eventuais destinatários das informações incorretas.

Vale ressaltar que é possível que seja estipulado entre as partes um outro prazo diferente desses 5 dias,
desde que não seja abusivo.

Qual é o termo inicial para a contagem?


Este prazo começa a ser contado da data em que houve o pagamento efetivo.
No caso de quitações realizadas mediante cheque, boleto bancário, transferência interbancária ou outro
meio sujeito à confirmação, o prazo começa a ser contado do efetivo ingresso do numerário na esfera de
disponibilidade do credor.

O que acontece se o credor não retirar o nome do devedor do cadastro no prazo de 5 dias?
A manutenção do registro do nome do devedor em cadastro de inadimplentes após esse prazo impõe ao
credor o pagamento de indenização por dano moral, independentemente de comprovação do abalo
sofrido.

Resumo quanto aos danos causados aos consumidores


Quem é o responsável pelos danos causados ao consumidor?
• Se o consumidor não foi notificado previamente acerca da inscrição: a responsabilidade é somente do
órgão de restrição do crédito (exs.: SERASA, SPC).
• Se o consumidor pagou a dívida e o fornecedor não providenciou a retirada do seu nome do cadastro:
a responsabilidade é somente do fornecedor (ex.: comerciante).

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25


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• Se o consumidor foi negativado por dívida irregular (ex.: dívida que já havia sido paga): a
responsabilidade é somente do fornecedor.

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Informações no SPC/SERASA sobre protestos
Além das comunicações feitas pelos comerciantes, o SERASA e o SPC também alimentam seus bancos de
dados com informações que eles buscam dos cartórios de protesto.
Assim, imagine que João emitiu uma nota promissória se comprometendo a pagar R$ 10 mil em favor de
Pedro no dia 02/02/2012, mas nunca pagou. Em 2013, Pedro levou este título a protesto no tabelionato
de protesto.
Assim, o SPC e o SERASA irão incluir essa informação em seus bancos de dados, ou seja, lá constará o registro
de que João de tal, CPF xxx, teve uma nota promissória protestada no cartório yyy por Pedro de tal.

Qual foi a cautela que o STJ impôs a essas entidades (SPC, SERASA etc.)?
O STJ disse: ok, vocês podem inserir essas dívidas que estão nos cartórios de protesto em seus bancos de
dados. No entanto, vocês devem, obrigatoriamente:
1) inserir também na anotação negativa a informação sobre o prazo de vencimento da dívida;
2) controlar esse prazo do vencimento para que nenhum protesto fique ali registrado:
• além do prazo prescricional específico para a cobrança daquele crédito (§ 5º do art. 43 do CDC); ou
• por mais de 5 anos contados do vencimento (§ 1º do art. 43).

Ex: imagine que tenha sido protestada uma letra de câmbio; o prazo prescricional contra o aceitante é de
3 anos; logo, esse título não pode ficar no SPC/SERASA mais do que 3 anos (§ 5º do art. 43 do CDC).
Por outro lado, ainda que o prazo prescricional seja maior que 5 anos, esse será o prazo máximo que a
anotação poderá ficar no banco de dados (§ 1º do art. 43).

Assim, o art. 43 do CDC, como reflexo do princípio da veracidade, estabeleceu dois limites temporais
objetivos para que a informação negativa a respeito do consumidor permaneça nos bancos de dados:
a) o prazo genérico de 5 anos, do § 1º; e
b) o prazo específico da ação de cobrança, do § 5º.

Isso era chamado por Ada Pelegrini Grinover de “temporalidade dual”, de modo que, violado qualquer
deles, a informação arquivada é contaminada por inexatidão temporal.

O prazo genérico de 5 anos é o máximo permitido para que uma informação fique arquivada no cadastro
de proteção ao crédito, e não o mínimo, já que o prazo específico prescricional da dívida pode ser ainda
menor, como no exemplo da letra de câmbio acima.

As entidades mantenedoras de cadastros de proteção ao crédito não devem incluir em sua base de
dados informações coletadas dos cartórios de protestos sem a informação do prazo de vencimento da
dívida, sendo responsáveis pelo controle de ambos os limites temporais estabelecidos no art. 43 da Lei
nº 8.078/90.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.630.889-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

Dispensa de prévia notificação no caso de inserção no SPC/SERASA de informação sobre protesto de título
É dispensada a prévia comunicação do devedor se o órgão de restrição ao crédito (exs.: SPC, SERASA) estiver
apenas reproduzindo informação negativa que conste de registro público (exs.: anotações de protestos que
constem do Tabelionato de Protesto, anotações de execução fiscal que sejam divulgadas no Diário Oficial):
(...) É firme a jurisprudência desta Corte no sentido de que a ausência de prévia comunicação ao
consumidor da inscrição de seu nome em cadastros de proteção ao crédito, prevista no art. 43, § 2º, do
CDC, não dá ensejo à reparação de danos morais quando oriunda de informações contidas em

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assentamentos provenientes de serviços notariais e de registros, bem como de distribuição de processos


judiciais, por serem de domínio público. (...)

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STJ. 2ª Seção, Rcl 6.173/SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 29/02/2012.

Diante da presunção legal de veracidade e publicidade inerente aos registros do CARTÓRIO DE PROTESTO
ou do CARTÓRIO DE DISTRIBUIÇÃO JUDICIAL, a reprodução objetiva, fiel, atualizada e clara desses dados
na base de órgão de proteção ao crédito - ainda que sem a ciência do consumidor - não tem o condão de
ensejar obrigação de reparação de danos.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.444.469-DF e REsp 1.344.352-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgados em
12/11/2014. Info 554.

REGRA: para que o órgão de proteção de crédito inclua o nome de um consumidor no cadastro de
inadimplentes, é necessário que, antes, ele seja notificado (Súmula 359-STJ).
A ausência de prévia comunicação enseja indenização por danos morais.

EXCEÇÕES:
Existem duas exceções em que não haverá indenização por danos morais mesmo não tendo havido a
prévia comunicação do devedor:

1) Se o devedor já possuía inscrição negativa no banco de dados e foi realizada uma nova inscrição sem a
sua notificação. Súmula 385-STJ: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe
indenização por dano moral quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.
2) Se o órgão de restrição ao crédito estiver apenas reproduzindo informação negativa que conste de
registro público. Diante da presunção legal de veracidade e publicidade inerente aos registros do
CARTÓRIO DE PROTESTO ou do CARTÓRIO DE DISTRIBUIÇÃO JUDICIAL, a reprodução objetiva, fiel,
atualizada e clara desses dados na base de órgão de proteção ao crédito - ainda que sem a ciência do
consumidor - não tem o condão de ensejar obrigação de reparação de danos. (STJ. 2ª Seção. REsp
1.444.469-DF e REsp 1.344.352-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgados em 12/11/2014. Info 554).

DIREITO EMPRESARIAL

FALÊNCIA
O edital com a relação dos credores do falido (art. 7º, § 2º da Lei nº 11.101/2005)
deve ser obrigatoriamente publicado na imprensa oficial

É imprescindível a publicação na imprensa oficial do edital previsto no art. 7º, § 2º, da Lei nº
11.101/2005.
Assim, a Lei não permite que a publicação seja feita exclusivamente no jornal.
Fundamento: art. 191 da Lei de Falência.
A leitura do caput do art. 191 revela que as publicações devem ser sempre feitas na imprensa
oficial, devendo ser, preferencialmente, feitas também mediante publicação em jornal ou
revista de circulação se as possibilidades financeiras do devedor ou da massa falida assim
comportarem.
Obs: o art. 7º, § 2º trata sobre o edital contendo a relação feita pelo administrador judicial dos
credores do falido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.758.777-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

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Falência

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Falência é o processo coletivo de execução forçada de um empresário ou sociedade empresária cuja
recuperação mostra-se inviável.
A falência tem como objetivo reunir os credores e arrecadar os bens, ativos e recursos do falido, a fim de
que, com os recursos obtidos pela alienação de tais bens, possam os credores ser pagos, obedecendo a
uma ordem de prioridade estabelecida na lei.
Atualmente, a falência do empresário e da sociedade empresária é regida pela Lei nº 11.101/05.

Verificação e habilitação dos créditos


Depois que a falência é decretada, ocorre a habilitação dos créditos que deverão ser pagos pela empresa.
Assim, as pessoas que tiverem créditos para receber da empresa deverão apresentá-los ao administrador
judicial, na forma do art. 9º da Lei nº 11.101/2005.
A verificação dos créditos será realizada, então, primeiro pelo administrador judicial, com base nos livros
contábeis e nos documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem
apresentados pelos credores. A partir desse trabalho inicial, confecciona-se um edital, cujo teor pode ser
alterado por novas habilitações ou divergências quanto aos créditos ali relacionados. Esse edital é previsto
no § 2º do art. 7º da Lei nº 11.101/2005, nos seguintes termos:
Art. 7º A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos livros
contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem
apresentados pelos credores, podendo contar com o auxílio de profissionais ou empresas
especializadas.
§ 1º Publicado o edital previsto no art. 52, § 1º, ou no parágrafo único do art. 99 desta Lei, os
credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar ao administrador judicial suas
habilitações ou suas divergências quanto aos créditos relacionados.
§ 2º O administrador judicial, com base nas informações e documentos colhidos na forma do caput
e do § 1º deste artigo, fará publicar edital contendo a relação de credores no prazo de 45 (quarenta
e cinco) dias, contado do fim do prazo do § 1º deste artigo, devendo indicar o local, o horário e o
prazo comum em que as pessoas indicadas no art. 8º desta Lei terão acesso aos documentos que
fundamentaram a elaboração dessa relação.

Em um caso concreto, o administrador judicial publicou este edital em um jornal da cidade. Um dos
credores suscitou a nulidade do ato afirmando que o edital deve ser publicado, obrigatoriamente, no
diário oficial. O STJ concordou com esta alegação?
SIM.
É imprescindível a publicação na imprensa oficial do edital previsto no art. 7º, § 2º, da Lei nº
11.101/2005.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.758.777-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

A razão jurídica está na exigência contida no art. 191 da Lei nº 11.101/2005:


Art. 191. Ressalvadas as disposições específicas desta Lei, as publicações ordenadas serão feitas
preferencialmente na imprensa oficial e, se o devedor ou a massa falida comportar, em jornal ou
revista de circulação regional ou nacional, bem como em quaisquer outros periódicos que circulem
em todo o país.

Mas... e essa palavra “preferencialmente”? Ao falar em preferencialmente, o dispositivo não está,


indiretamente, dizendo que a publicação pode ser feita por outro meio?
NÃO. O que o art. 191 quis dizer foi o seguinte:

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• as publicações serão feitas preferencialmente de duas formas: na imprensa oficial e em jornal, revista
ou outros periódicos.

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• se o devedor ou a massa falida não comportar esse custo, as publicações serão feitas apenas (mas
obrigatoriamente) na imprensa oficial.
• assim, a publicação na imprensa oficial é sempre obrigatória.
• a palavra preferencialmente está se referindo à ideia de se fazer, preferencialmente, por outros meios
além da imprensa oficial.

No caso concreto, o STJ declarou a nulidade?


NÃO. Isso porque se entendeu que não houve prejuízo ao credor.
A jurisprudência do STJ exige, como pressuposto para declaração de nulidade, a demonstração de
prejuízo concreto a quem a alega, como corolário dos princípios da instrumentalidade das formas e da
celeridade processual.
Não tendo sido demonstrado prejuízo concreto, não foi declarada a nulidade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1758777/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

DIREITO PENAL

PETRECHOS PARA FALSIFICAÇÃO DE MOEDA


Para tipificar o crime do art. 291 do CP, basta que o agente detenha a posse de petrechos destinados
à falsificação de moeda, sendo prescindível que o maquinário seja de uso exclusivo para esse fim

O art. 291 do Código Penal tipifica, entre outras condutas, a posse ou guarda de maquinismo,
aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda.
A expressão “especialmente destinado” não diz respeito a uma característica intrínseca ou
inerente do objeto. Se assim fosse, só o maquinário exclusivamente voltado para a fabricação
ou falsificação de moedas consubstanciaria o crime, o que implicaria a absoluta inviabilidade
de sua consumação (crime impossível), pois nem mesmo o maquinário e insumos utilizados
pela Casa de Moeda são direcionados exclusivamente para a fabricação de moeda.
A dicção legal está relacionada ao uso que o agente pretende dar ao objeto, ou seja, a
consumação depende da análise do elemento subjetivo do tipo (dolo), de modo que, se o
agente detém a posse de impressora, ainda que manufaturada visando ao uso doméstico, mas
com o propósito de a utilizar precipuamente para contrafação de moeda, incorre no referido
crime.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.758.958-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

Petrechos para falsificação de moeda


O art. 291 prevê o crime de “petrechos para falsificação de moeda”. Confira:
Art. 291. Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo,
aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

Punição de atos preparatórios


As condutas previstas no art. 291 poderiam ser consideradas como atos preparatórios do crime de moeda
falsa, delito tipificado no art. 289 do CP:

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Art. 289. Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal

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no país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.

Ocorre que, em regra, atos preparatórios não são punidos criminalmente.


Diante disso, o legislador resolveu punir esses atos preparatórios da moeda falsa como um crime
autônomo e, por isso, criou essa figura típica do art. 291.
O objetivo, portanto, foi o de evitar que o agente chegue a iniciar a execução do crime de moeda falsa,
motivo pelo qual Cleber Masson afirma que o art. 291 é um autêntico “crime obstáculo” (Direito Penal.
São Paulo: Método, 2018, p. 467).

Especialmente destinado é diferente de exclusivamente destinado


O tipo penal fala em maquinismo, aparelho ou instrumento “especialmente destinado à falsificação de
moeda”.
A doutrina e a jurisprudência ensinam que essa expressão não exige que o maquinismo, o aparelho ou o
instrumento encontrado seja, exclusivamente, voltado para a falsificação de moeda.
Em outras palavras, o aparelho que for encontrado serve para outras finalidades e também pode servir
para a falsificação de moeda. É o caso de uma impressora. Não se pode dizer que se trata de uma máquina
que sirva exclusivamente para falsificar papel-moeda, mas ela pode sim servir para caracterizar este delito
caso fique comprovado que o agente a tinha para essa especial destinação.
Como explica Nucci:
“O termo especialmente, usado na parte final do tipo, é o maquinismo, aparelho, instrumento ou
objeto que tem por finalidade principal falsificar moeda. Pode até ser utilizado para outros fins,
embora se concentre na contrafação de moeda.
Bento de Faria, corretamente, demonstra que muitos aparelhos podem servir para outros fins,
como prensas, metais etc., razão pela qual a destinação de tudo isso é subjetiva, dependendo da
meta do agente. Se ele utilizar máquinas para cunhar moedas configura o delito. (...)” (NUCCI,
Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal. Parte especial: arts. 213 a 361 do Código Penal. Rio
de Janeiro: Forense, 2017, p. 356)

O STJ decidiu no mesmo sentido ao manter a condenação pelo art. 291 do CP contra determinados réus
que foram encontrados com uma grande quantidade de computadores e impressoras “normais”, mas que
pelas circunstâncias do caso concreto indicaram que estavam sendo utilizadas para a falsificação de
moeda:
O art. 291 do Código Penal tipifica, entre outras condutas, a posse ou guarda de maquinismo, aparelho,
instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda.
A expressão “especialmente destinado” não diz respeito a uma característica intrínseca ou inerente do
objeto. Se assim fosse, só o maquinário exclusivamente voltado para a fabricação ou falsificação de
moedas consubstanciaria o crime, o que implicaria a absoluta inviabilidade de sua consumação (crime
impossível), pois nem mesmo o maquinário e insumos utilizados pela Casa de Moeda são direcionados
exclusivamente para a fabricação de moeda.
A dicção legal está relacionada ao uso que o agente pretende dar ao objeto, ou seja, a consumação
depende da análise do elemento subjetivo do tipo (dolo), de modo que, se o agente detém a posse de
impressora, ainda que manufaturada visando ao uso doméstico, mas com o propósito de a utilizar
precipuamente para contrafação de moeda, incorre no referido crime.
STJ. 6ª Turma. REsp 1758958/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

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Responsabilidade penal caso o agente falsifique a moeda


Se o agente que possui o aparelho destinado à falsificação da moeda o utiliza e efetivamente cria uma

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cédula falsa, ele responderá pelo crime do art. 291 em concurso com o delito de moeda falsa (art. 289 do
CP)?
Conforme explica Cleber Masson (ob. cit., p. 470), existem duas posições sobre o tema:
1ª corrente: SIM. O agente deve ser responsabilizado pelo crime de pretrechos para falsificação de moeda
(art. 291) em concurso material com o delito de moeda falsa (art. 289 do CP). É a posição do próprio
Masson e do Rogério Greco. Trata-se da corrente majoritária.
2ª corrente: NÃO. Incide o princípio da consunção, resultando na absorção do crime-meio (art. 291) pelo
crime-fim, que é o de moeda falsa (art. 289). Foi defendida por Nelson Hungria.

Competência
A competência para processar e julgar este delito é da Justiça Federal porque foi violado um serviço de
interesse federal (art. 109, IV, da CF/88), controlado pelo Banco Central, que é uma autarquia federal.

CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA


A conduta de não recolher ICMS em operações próprias ou em substituição tributária enquadra-
se no tipo previsto no art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 (apropriação indébita tributária)

Importante!!!
A conduta de não recolher ICMS em operações próprias ou em substituição tributária
enquadra-se formalmente no tipo previsto no art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 (apropriação
indébita tributária), desde que comprovado o dolo.
O não repasse do ICMS recolhido pelo sujeito passivo da obrigação tributária, em qualquer
hipótese, enquadra-se (formalmente) no tipo previsto art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90, desde que
comprovado o dolo.
Em outras palavras, o tipo do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 não fica restrito apenas às hipóteses
em que há substituição tributária.
O que se criminaliza é o fato de o sujeito passivo se apropriar do dinheiro relativo ao imposto,
devidamente recebido de terceiro, quer porque descontou do substituído tributário, quer
porque cobrou do consumidor, não repassando aos cofres públicos.
STJ. 3ª Seção. HC 399.109-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/08/2018 (Info 633).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João é sócio-gerente de uma loja de confecções.
Ele vendeu diversas roupas e, no preço, embutiu os custos que ele teria com o ICMS.
Em outras palavras, ele realizou operações que configuram fato gerador de ICMS.
O agente entregou a Guia de Informação e Apuração do ICMS (chamada de GIA) ao Fisco Estadual, mas
não recolheu o tributo devido.
Sobre o tema, vale lembrar a Súmula 436 do STJ: A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo
débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco.
Diante da ausência de pagamento, João foi cobrado pelo Fisco.
Além disso, o Ministério Público denunciou o agente pela prática do crime previsto no art. 2º, II, da Lei nº
8.137/90.
A Lei nº 8.137/90 define os crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo.
Os arts. 1º e 2º da Lei trazem os crimes praticados por particulares contra a ordem tributária.

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O art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 é conhecido pela doutrina e jurisprudência como “apropriação indébita
tributária”. Veja:

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Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social
e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
(...)
Art. 2º Constitui crime da mesma natureza:
(...)
II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado ou
cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos;
(...)
Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Tese da defesa
A defesa argumentou que, no caso concreto, as operações que geraram o ICMS eram operações próprias,
ou seja, operações nas quais o sujeito passivo era o próprio agente (não era caso de substituição
tributária).
Para a defesa, o art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 somente deveria ser aplicado para os casos de
responsabilidade tributária por substituição (substituição tributária).
Nos casos em que não há o repasse de ICMS recolhido em operações próprias, não haveria crime, mas sim
mero inadimplemento fiscal.
Em suma, a defesa alegou que o comerciante que vende mercadorias com ICMS embutido no preço e,
posteriormente, não realiza o pagamento do tributo, não deixa de repassar ao Fisco valor cobrado ou
descontado de terceiro, mas simplesmente torna-se inadimplente de obrigação tributária própria.

A tese da defesa foi acolhida pelo STJ?


NÃO. Antes de enfrentarmos a questão, vamos fazer uma breve revisão sobre este delito.

Bem jurídico
O bem jurídico protegido é a ordem tributária, ou seja, o interesse do Estado na arrecadação dos tributos.
Alguns autores falam que o bem jurídico é o erário.

Apropriação indébita
O art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 é uma forma especial de apropriação indébita.
É muito semelhante também com o delito de apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do CP), sendo
a principal diferença a seguinte:
Art. 168-A do CP Art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90
O agente deixa de repassar contribuições O agente deixa de repassar quaisquer outros
previdenciárias recolhidas dos contribuintes. tributos (que não contribuições previdenciárias)
recolhidas dos contribuintes.

Sujeito ativo
O sujeito ativo do crime é aquele que ostenta a qualidade de sujeito passivo da obrigação tributária,
conforme claramente descrito pelo art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90: “deixar de recolher (...) na qualidade de
sujeito passivo da obrigação”.
Um ponto interessante é que a lei, quando aponta o sujeito ativo do crime como sendo o passivo da
obrigação tributária, o faz de maneira geral, isto é, não distingue o sujeito passivo direto do indireto da
obrigação tributária.
Logo, nada impede que o sujeito ativo deste crime possa ser:
• o contribuinte (sujeito passivo direto da obrigação tributária); ou
• o responsável tributário (sujeito passivo indireto da obrigação tributária).
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Assim, o termo “sujeito passivo de obrigação”, previsto no tipo penal, abrange o contribuinte e o

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responsável (substituição tributária).

Crime comum
Doutrinariamente, é classificado como crime comum, considerando que não se exige qualidade especial
do sujeito ativo (pode ser qualquer pessoa que tinha responsabilidade pelo recolhimento e não o fez
dolosamente).

Sujeito passivo
Será a União, o Estado-membro ou o Município tributante.

Tipo objetivo
Algumas vezes a legislação estabelece que a pessoa tem, como obrigação tributária acessória, que recolher
o tributo ou a contribuição social devida por outra e depois repassar esse valor ao ente tributante.
Ex1: o empregador, ao efetuar o pagamento do salário do empregado, deverá reter uma parcela desse
rendimento e repassar tal valor à Receita Federal.
Se a pessoa fizer o desconto e não recolher, no prazo legal, o valor do tributo ou da contribuição social
para o Fisco, haverá a prática desse crime.

Ex2: Rubens, sócio-gerente de uma sociedade comercial, deixou de recolher, de forma consciente, no
prazo legal, o ICMS, referente aos meses de março e abril de 2002, escriturado nos livros fiscais e declarado
à administração fazendária. Nessa situação, Rubens praticou, em tese, crime contra a ordem tributária
(AGU CESPE 2003).

Elemento subjetivo
O delito exige, para sua configuração, que a conduta seja dolosa, consistente na consciência (ainda que
potencial) de não recolher o valor do tributo.
Vale ressaltar que a motivação não possui importância no campo da tipicidade, ou seja, é dispensável a
existência de elemento subjetivo especial. Nesse sentido: STJ. 6ª Turma. AgRg no Resp 1.477.691/DF, Rel.
Ministro Nefi Cordeiro, DJe 28/10/2016.

Não se exige clandestinidade


O fato de o agente registrar, apurar e declarar em guia própria ou em livros fiscais o imposto devido não
tem o condão de elidir (fazer desaparecer) o crime. Isso porque, para a configuração deste delito, não se
exige clandestinidade (não se exige que seja feito às escondidas).

O tipo penal criminaliza a mera conduta de dever o imposto? Trata-se de criminalização do mero
inadimplemento?
NÃO. A conduta reprovável criminalizada por este tipo penal não é “dever imposto”, e sim cobrá-lo de
terceiro sem repassá-lo ao Fisco, apropriando-se do valor.
Por essa razão, o STF entende que os crimes contra a ordem tributária são compatíveis com a Constituição
Federal e não representam prisão por dívida (art. 5º, LXVII, da CF/88):
Os crimes previstos na Lei nº 8.137/90 não violam o disposto no art. 5º, LXVII, da Constituição.
STF. Plenário. ARE 999425 RG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 02/03/2017 (repercussão geral).

O agente tinha a obrigação tributária de recolher o tributo ou contribuição


A redação do tipo penal fala em deixar de recolher o “valor de tributo ou de contribuição social,
descontado ou cobrado”.

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 33


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Isso significa que nem todo sujeito passivo de obrigação tributária que deixa de recolher tributo ou
contribuição social responde pelo crime do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90, mas somente aqueles que

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“descontam” ou “cobram” o tributo ou contribuição.

Sentido das palavras “descontado” e “cobrado”


O tipo penal fala que configura o crime deixar de recolher valor de tributo ou de contribuição social,
“descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres
públicos”.
Conforme explica o Min. Rogerio Schietti Cruz, as palavras “descontado” e “cobrado” não estão
empregadas aqui no sentido tributário.
No Direito Tributário, o sujeito passivo nunca irá “cobrar” o tributo, sendo esta uma atividade do Fisco. O
máximo que o sujeito passivo pode fazer é a retenção do tributo para, posteriormente, recolher ao Fisco,
como ocorre na substituição tributária.
De igual forma, o sujeito passivo não “desconta” tributos. Tecnicamente, para o Direito Tributário,
descontar significa dar desconto, ou seja, conferir abatimento nos casos em que há o pagamento
antecipado do crédito tributário (art. 158, parágrafo único, do CTN).
Diante disso, devemos interpretar tais expressões para fins penais. Nessa linha de raciocínio, tem-se o
seguinte:
• Descontado: está relacionado com a responsabilidade tributária por substituição. Assim, descontado é
o valor recolhido pelo responsável tributário em uma relação jurídica obrigacional tributária cuja
responsabilidade se dá por substituição.
• Cobrado: possui semelhante significado ao das palavras “receber”, “embolsar” ou “coletar”. Está,
portanto, relacionado com os tributos indiretos, cuja incidência acarretará o aumento do valor do produto
a ser suportado pelo contribuinte de fato. Logo, se o valor do ICMS naquela venda era R$ 200,00, o
vendedor (contribuinte de direito) irá repassar esse custo ao comprador (contribuinte de fato). Assim, o
vendedor irá “cobrar” do comprador esse valor e, se deixar de pagar (recolher) esse valor para o Fisco,
pode cometer o delito em tela.
Veja as palavras do Min. Rogerio Schietti Cruz:
“A título de exemplo, menciono o ICMS. O produtor, ao iniciar a cadeia de consumo, recolhe o imposto
sobre operações próprias e é reembolsado desse valor com a transferência do encargo para o atacadista
que, por sua vez, o transfere para o varejista e que, por fim, repassa para o consumidor final. Veja-se que
nessa hipótese, mesmo no caso do ICMS incidente sobre operações próprias, o produtor “cobra” (é
reembolsado pela retenção) do próximo adquirente do produto na cadeia de produção, até que o
consumidor final, após sucessivas transferências de encargo, suporte o ônus de pagar o valor
correspondente ao ICMS, que será acrescido ao valor final do produto. Não há, portanto, "descontos" em
nenhuma circunstância.” (HC 399.109-SC).

Voltando ao caso concreto: a tese da defesa de João foi acolhida pelo STJ?
NÃO. A conduta de não recolher ICMS enquadra-se no tipo previsto no art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90, seja
em caso de “operações próprias”, seja em caso de “substituição tributária”. Isso porque ambas as
situações estão abrangidas pelas expressões “descontado” e “cobrado”:
• “descontado”: refere-se aos casos de tributos diretos em que há a responsabilidade por substituição
tributária, ou seja, relaciona-se com as hipóteses em que o responsável pela retenção na fonte não paga
o tributo ao Fisco.
• “cobrado”: refere-se aos tributos indiretos, mesmo aqueles realizados em operações próprias, visto que
o contribuinte de direito, ao reter o valor do imposto ou contribuição devidos, repassa o encargo para o
adquirente do produto. No caso do ICMS (que é um tributo indireto), o encargo com o pagamento deste
imposto é transferido (repassado) em cada uma das operações para o adquirente e, no final, quem vai
arcar economicamente com o valor do imposto é o consumidor final. Ex: distribuidora “A” vende para o
atacadista “B”; neste preço já estará embutido o custo com o ICMS; “B” revende a mercadoria para a loja
“C”; neste preço também já estará embutido o custo com o ICMS, ou seja, “B” já repassou o custo para

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“C”; a loja “C”, por sua vez, irá vender para o consumidor final e, no preço comercializado, estará também
o custo do ICMS. Assim, no fim das contas, quem vai pagar, de fato, é o consumidor.

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Por essa razão, o STJ considera que a conduta de não recolher ICMS configura o crime do art. 2º, II, mesmo
em caso de “operações próprias”. Isso porque o vendedor “cobra” do consumidor o valor do ICMS. Se não
repassa ao Fisco, significa que ele apropriou o tributo “cobrado”.

Resumindo:
A conduta de não recolher ICMS em operações próprias ou em substituição tributária enquadra-se
formalmente no tipo previsto no art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 (apropriação indébita tributária), desde
que comprovado o dolo.
O não repasse do ICMS recolhido pelo sujeito passivo da obrigação tributária, em qualquer hipótese,
enquadra-se (formalmente) no tipo previsto art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90, desde que comprovado o dolo.
Em outras palavras, o tipo do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 não fica restrito apenas às hipóteses em que há
substituição tributária.
STJ. 3ª Seção. HC 399.109-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/08/2018 (Info 633).

Conforme explica o Min. Reynaldo Soares da Fonseca:


“(...) o que se criminaliza é o fato de o contribuinte se apropriar do dinheiro relativo ao imposto,
devidamente recebido de terceiro, quer porque descontou do substituído tributário quer porque
cobrou do consumidor, não repassando aos cofres públicos.
(...)
(...) tendo o consumidor arcado com o imposto, tem-se que o valor foi dele cobrado sem que tenha
sido devidamente repassado aos cofres públicos, havendo, assim, sua indevida apropriação.
Portanto, não há se falar em atipicidade penal nos casos em que o imposto foi previamente
descontado ou cobrado do consumidor final, na composição dos valores do produto.”

TORTURA
A prática do delito de tortura-castigo (vingativa ou intimidatória),
previsto no art. 1º, II, da Lei nº 9.455/97, é crime próprio

Somente pode ser agente ativo do crime de tortura-castigo (art. 1º, II, da Lei nº 9.455/97)
aquele que detiver outra pessoa sob sua guarda, poder ou autoridade (crime próprio).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.738.264-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/08/2018 (Info 633).

Tortura
Os crimes de tortura são definidos pela Lei nº 9.455/97.
Na verdade, como se trata de conduta extremamente repugnante, a própria Constituição Federal proibiu
expressamente a prática da tortura:
Art. 5º (...)
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
(...)
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura
, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se
omitirem;

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Assim, a doutrina afirma que a CF/88 trouxe um “mandado de criminalização”, ou seja, uma determinação

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para que o legislador puna a prática de tortura.
Fechando esse sistema normativo, existe também a Lei nº 12.847/2013, que institui o “Sistema Nacional
de Prevenção e Combate à Tortura”. Ela não prevê crimes, mas sim medidas com o objetivo de fortalecer
a prevenção e o combate à tortura.

Tortura para obter confissão (“tortura probatória, inquisitorial, institucional, política ou persecutória”)
Art. 1º Constitui crime de tortura:
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Sujeito ativo
Todas as figuras previstas no inciso I do art. 1º são crimes comuns, ou seja, podem ser praticados por
qualquer pessoa.
Atenção para isso: ao contrário do que ocorre nos outros países, no Brasil, mesmo o particular, ou seja,
quem não é funcionário público, também pode praticar crime de tortura. As Convenções internacionais
preveem, inclusive, a tortura como crime próprio. Isso, contudo, não interfere no Brasil:
O art. 1.º da Lei nº 9.455/1997, ao tipificar o crime de tortura como crime comum, não ofendeu o que já
determinava o art. 1º da Convenção da ONU Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes, de 1984, em face da própria ressalva contida no texto ratificado pelo Brasil.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.299.787/PR, Min. Laurita Vaz, DJe 3/2/2014.

Exemplos
• policial que bate em suspeito até que ele confesse o crime;
• patrão que, ameaçando ordenar que o segurança da empresa agrida o empregado, o faz admitir que ele
desviou dinheiro do caixa;
• credor que, com uma arma na cabeça do devedor, obriga que ele assine um termo de confissão de dívida;

Tortura para que terceira pessoa confesse


Ex: o agente tortura o filho para que o pai confesse o crime.

Consumação
O crime se consuma com o sofrimento (físico ou mental) causado pelo emprego da violência ou da grave
ameaça.
Não importa, para fins de consumação, que o agente tenha conseguido seu objetivo. Assim, mesmo que a
vítima não dê a informação, declaração ou confissão exigida, o crime já estará consumado.
A tentativa é possível, considerando que se trata de crime plurissubistente.

Elemento subjetivo
É o dolo com o especial fim de agir (com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou
de terceira pessoa).

Prova ilícita
A prova obtida mediante tortura será considerada ilícita e, em regra, deverá ser desentranhada dos autos.
Nesse sentido: art. 5º (...) LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos.
Vale relembrar também o art. 157 do CPP:

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 36


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Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim

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entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.
§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o
nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma
fonte independente das primeiras.
§ 2º Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe,
próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.
§ 3º Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será
inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente.

Tortura para a prática de crime (“tortura-crime”)


Art. 1º Constitui crime de tortura:
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
mental:
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Exemplo
João tortura Pedro para que ele fraude uma licitação.

Natureza criminosa
O agente tortura a vítima para o cometimento de crime (“natureza criminosa”).
Não se enquadra neste dispositivo o agente que tortura a vítima para que ela pratique contravenção penal.
Nesse sentido:
(Delegado PC/MS 2017 FAPEMS) O funcionário público que constrange fisicamente o estagiário a praticar
contravenção penal poderá ser responsabilizado pelo crime de tortura do art. 1º da Lei nº 9.455/1997. (errado)

Responsabilidade do torturador
O torturador responderá pela tortura-crime (art. 1º, I, “b”) em concurso material com o crime que obrigou
o torturado a praticar. O torturador é autor mediato do crime que for praticado pelo torturado.

Ausência de responsabilidade do torturado


O torturado irá responder penalmente pela ação ou omissão criminosa que praticou?
Não. O torturado agiu mediante coação moral irresistível e, por isso, deverá ser absolvido com base em
uma excludente de culpabilidade (art. 22 do CP).

Tortura em razão de discriminação (“tortura discriminatória”)


Art. 1º Constitui crime de tortura:
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
mental:
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Motivo do agente é apenas a discriminação


“Ao contrário do que ocorre nos dispositivos anteriores, neste, o agente não tortura a vítima esperando dela
alguma conduta (positiva ou negativa). Tortura apenas por preconceito à sua raça ou religião.” (CUNHA,
Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Leis Penais Especiais. Salvador: Juspodivm, 2018, p. 1096).

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Orientação sexual
Agente que tortura homem por este ser homossexual pratica este crime?

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Não. O tipo fala apenas em discriminação racial ou religiosa. Assim, não é possível ampliar a interpretação
para alcançar também a discriminação decorrente da orientação sexual. Seria uma analogia in malam
partem, ou seja, para prejudicar o agente, o que não é admitido no direito penal.
Veja como o tema já foi cobrado em provas:
• (Delegado PC/SE 2018 CESPE) Situação hipotética: Um cidadão penalmente imputável, com emprego de
extrema violência, submeteu pessoa homossexual a intenso sofrimento físico e mental, motivado,
unicamente, por discriminação à orientação sexual da vítima. Assertiva: Nessa situação, é incabível o
enquadramento da conduta do autor no crime de tortura em razão da discriminação que motivou a
violência. (Correto)
• (Juiz TJ/MG 2018) Nos termos da Lei nº 9.455/97, constitui crime de tortura constranger alguém com
emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental, em razão de
discriminação racial, sexual ou religiosa. (Errado)

Tortura-castigo, vingativa ou intimidatória


Art. 1º Constitui crime de tortura:
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça,
a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter
preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Sujeito ativo:
Trata-se de crime próprio.
Somente pode ser agente ativo do crime de tortura-castigo (art. 1º, II, da Lei nº 9.455/97) aquele que
detiver outra pessoa sob sua guarda, poder ou autoridade (crime próprio).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.738.264-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/08/2018 (Info 633).

Há um vínculo preexistente, de natureza pública, entre o agente ativo e o agente passivo do crime. Logo,
o delito até pode ser perpetrado por um particular, mas ele deve ocupar posição de garante (obrigação de
cuidado, proteção ou vigilância), seja em virtude da lei ou de outra relação jurídica.

Intenso sofrimento
Veja que o legislador estabeleceu uma diferenciação:
• inciso I: exige apenas sofrimento (físico ou mental);
• inciso II: exige intenso sofrimento (físico ou mental).

Castigo pessoal ou medida de caráter preventivo


O agente pratica a tortura como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Assim, este tipo penal exige um elemento subjetivo especial (“dolo específico”), que é a vontade de aplicar
castigo pessoal ou medida de caráter preventivo, também conhecido como animus corrigendi.

Art. 136 do CP x Tortura-castigo


Cuidado para não confundir a conduta do crime de “tortura-castigo” com a de um delito de “maus-tratos”,
previsto no art. 136 do CP:
Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para
fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados
indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios
de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.

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Figura equiparada

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§ 1º Na mesma pena (2 a 8 anos) incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança
a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de
medida legal.

Sujeitos do crime
• Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa.
• Sujeito passivo: exige-se uma qualidade especial (deve ser uma pessoa que está presa ou sujeita a medida
de segurança).

Pessoa presa
O tipo abrange a prisão penal ou civil (devedor de pensão alimentícia)
Se for penal, pode ser provisória ou definitiva.

Conduta omissiva (“tortura imprópria” ou “tortura anômala”)


§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las,
incorre na pena de detenção de um a quatro anos.

Omissão
• Se o agente tinha o dever de evitar a tortura: neste caso, tem-se a omissão imprópria (crime comissivo
por omissão).
• Se o agente tinha o dever de apurar a tortura: trata-se de omissão própria (crime omissivo puro).

Omissão imprópria
A omissão imprópria é aquela relacionada com a figura do “garante” (garantidor).
Se o agente era garantidor da vítima, ele tinha o dever de evitar a tortura.
Exemplo: a mãe tem ciência que seu marido tortura o filho dela, mas nada faz para impedir a conduta.

(Delegado de Polícia PF 2018 CESPE) Cinco guardas municipais em serviço foram desacatados por dois
menores. Após breve perseguição, um dos menores evadiu-se, mas o outro foi apreendido. Dois dos
guardas conduziram o menor apreendido para um local isolado, imobilizaram-no, espancaram-no e
ameaçaram-no, além de submetê-lo a choques elétricos. Os outros três guardas deram cobertura. Nessa
situação, os cinco guardas municipais responderão pelo crime de tortura, incorrendo todos nas mesmas
penas. (certo)

Omissão própria
O agente soube da tortura, mas não determinou a sua apuração.
Ex: Delegado de Polícia é informado que um dos agentes que trabalha com ele praticou tortura no último
plantão contra um suspeito. Apesar disso, ele se omite e não toma nenhuma conduta.

Não é crime hediondo


Importante ressaltar que este § 2º não é considerado crime hediondo ou equiparado. Isso porque se
entende que não há a “prática de tortura” (que exige “ação”). O que o § 2º prevê é uma omissão.
Veja como o tema já foi cobrado em prova:
(MP/RS 2017 banca própria) Do art. 1º, da Lei nº 9.455/97, que incrimina a tortura, extraem-se, as espécies
delitivas doutrinariamente designadas tortura-prova, tortura-crime, tortura-discriminação, tortura-
castigo, tortura-própria e tortura omissão, equiparadas aos crimes hediondos, previstas na modalidade
dolosa e com apenamento carcerário para cumprimento inicial em regime fechado. (Errado)

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Formas qualificadas

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§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez
anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.

Preterdoloso
Prevalece que o § 3º é uma forma preterdolosa do crime de tortura.
Isso significa que somente se aplica o § 3º se a lesão corporal ou morte decorreu de culpa do agente.
Se o agente tinha a intenção de praticar tortura e de matar a vítima, ele deverá responder por tortura em
concurso formal com homicídio.

Aplica-se apenas ao caput


Prevalece que estas formas qualificadas somente se aplicam ao caput do art. 1º.
Assim, essas qualificadoras não podem ser aplicadas para as espécies de tortura tratadas nos §§ 1º e 2º.

Causas de aumento de pena


4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
I - se o crime é cometido por agente público;
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60
(sessenta) anos;
III - se o crime é cometido mediante sequestro.

Agente público
A doutrina afirma que se deve utilizar o conceito do art. 327 do CP (funcionário público).
Assim, para fins penais, agente público = funcionário público do art. 327 do CP.

Aplicação deste inciso II em conjunto com a agravante do art. 61, II, "f", do CP
No caso de crime de tortura perpetrado contra criança em que há prevalência de relações domésticas e
de coabitação, não configura bis in idem a aplicação conjunta da causa de aumento de pena prevista no
art. 1º, § 4º, II, da Lei nº 9.455/1997 (Lei de Tortura) e da agravante genérica estatuída no art. 61, II, "f",
do Código Penal.
STJ. 6ª Turma. HC 362634-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 16/8/2016 (Info 589).

A majorante prevista no art. 1º, § 4º, II, da Lei nº 9.455/97 busca punir de forma mais rígida o autor de
crime que demonstrou maior covardia porque cometeu o crime se favorecendo da menor capacidade de
resistência da vítima (que é uma criança). Há, pois, um nexo lógico entre a conduta desenvolvida e o estado
de fragilidade da vítima.
Por outro lado, a agravante prevista no art. 61, II, "f" do Código Penal pune com maior rigor o agente pelo
fato de ele ter demonstrado maior insensibilidade moral, já que violou o dever de apoio mútuo que deve
existir entre parentes e pessoas ligadas por liames domésticos, de coabitação ou hospitalidade.
Desse modo, esses dispositivos tratam de circunstâncias e objetivos distintos, razão pela qual não há que
falar na ocorrência de bis in idem.

Efeito extrapenal
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu
exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.

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Dobro
Veja como o tema foi cobrado em prova:

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(Delegado PC/GO 2018 UEG) Na hipótese de um servidor público ser condenado pelo crime de tortura
qualificada pelo resultado morte a uma pena de doze anos de reclusão, referida condenação acarretará a
perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício por
a) cinco anos;
b) dez anos;
c) doze anos;
d) vinte e quatro anos;
e) trinta e seis anos.
Letra D

Art. 92, I, do CP
O art. 92, I, do CP prevê, como efeito extrapenal específico da condenação, o seguinte:
Art. 92. São também efeitos da condenação:
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes
praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos
demais casos.

Os efeitos previstos no art. 92, I, do CP são automáticos? Em outras palavras, sempre que houver
condenação e forem aplicadas as penas previstas nas alíneas “a” e “b”, haverá a perda do cargo?
NÃO. Para que esse efeito da condenação seja aplicado, é indispensável que a decisão condenatória
motive concretamente a necessidade da perda do cargo, emprego, função ou mandato eletivo.
O parágrafo único do art. 92 expressamente afirma isso:
Art. 92 (...) Parágrafo único. Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser
motivadamente declarados na sentença.

Na lei de tortura, esse efeito é automático


O STJ entende que, na Lei de Tortura, esse efeito da perda do cargo é automático:
(...) A perda do cargo, função ou emprego público é efeito automático da condenação pela prática do crime
de tortura, não sendo necessária fundamentação concreta para a sua aplicação. Precedentes. (...)
STJ. 6ª Turma. AgRg no Ag 1388953/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 20/06/2013.

• Art. 92, I, do CP: o efeito não é automático (exige-se decisão motivando);


• Art. 1º, § 5º da Lei de Tortura: o efeito é automático (não precisa fundamentar).

§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.

Esse § 6º apenas atende à determinação constitucional:


Art. 5º (...)
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura,
o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se
omitirem;

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Vale ressaltar que é possível a concessão de liberdade provisória sem fiança para os acusados de tortura:

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§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena
em regime fechado.

Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território
nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.

Assim, aplica-se a lei brasileira mesmo que o crime de tortura tenha sido praticado no exterior, desde que:
• a vítima seja brasileira (princípio da personalidade passiva); ou
• o agente esteja em local sujeito à jurisdição brasileira (princípio do domicílio).

Trata-se de hipótese de extraterritorialidade incondicionada (não se exige nenhuma condição específica).

Competência
A competência para processar e julgar o crime de tortura, em regra, é da Justiça Estadual.
• Se a tortura for praticada por um agente público federal, no exercício de sua função, a competência será
da Justiça Federal (art. 109, IV, da CF/88).
• Se a tortura for praticada por policial militar, a competência será da Justiça Militar estadual.
• Se a tortura for praticada por militar das Forças Armadas, a competência será da Justiça Militar federal.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

EXECUÇÃO PENAL
Súmula 617-STJ

Súmula 617-STJ: A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do


término do período de prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da
pena.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 26/09/2018, DJe 01/10/2018.

O que é livramento condicional?


Livramento condicional é...
- um benefício da execução penal
- concedido ao condenado preso,
- consistindo no direito de ele ficar em liberdade,
- mesmo antes de ter terminado a sua pena,
- assumindo o compromisso de cumprir algumas condições,
- desde que preencha os requisitos previstos na lei.

O indivíduo que está no gozo do livramento condicional desfruta de uma liberdade antecipada,
condicional e precária. Entenda:
• antecipada: porque o condenado é solto antes de ter cumprido integralmente a pena.
• condicional: uma vez que, durante o período restante da pena (chamado de período de prova), ele terá
que cumprir certas condições fixadas na decisão que conceder o benefício.
• precária: tendo em vista que o benefício poderá ser revogado (e ele retornar à prisão) caso descumpra
as condições impostas.
Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 42
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(MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado. 8. ed., São Paulo: Saraiva, 2014, p. 808).

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Previsão legal
As regras sobre o livramento condicional estão elencadas nos arts. 83 a 90 do CP e arts. 131 a 146 da LEP.

Requisitos
Para que o condenado tenha direito ao livramento condicional, deverá atender aos seguintes requisitos:

O condenado deve ter:


1) sido sentenciado a uma pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 anos;
2) reparado o dano causado com o crime, salvo se for impossível fazê-lo;
3) cumprido parte da pena, quantidade que irá variar conforme ele seja reincidente ou não:
• condenado não reincidente em crime doloso e com bons antecedentes: basta cumprir mais
de 1/3 (um terço) da pena. É chamado de livramento condicional SIMPLES;
Requisitos
• condenado reincidente em crime doloso: deve cumprir mais de 1/2 (metade) da pena
OBJETIVOS
para ter direito ao benefício. É o livramento condicional QUALIFICADO;
• condenado por crime hediondo ou equiparado, se não for reincidente específico em
crimes dessa natureza: deve cumprir mais de 2/3 (dois terços) da pena. É o livramento
condicional ESPECÍFICO;
• condenado por crime hediondo ou equiparado, se for reincidente específico em crimes
dessa natureza: não terá direito a livramento condicional.

O condenado deve ter:


1) bom comportamento carcerário, a ser comprovado pelo diretor da unidade prisional;
2) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído;
Requisitos 3) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto;
SUBJETIVOS 4) para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de
condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir.

Obs: a falta grave não interrompe o prazo para obtenção do livramento condicional (Súmula 441-STJ).

Competência para deferir


A concessão do livramento competirá ao juiz da execução da pena que o condenado estiver cumprindo.
Antes de decidir, o magistrado deverá:
• requerer um parecer do diretor do estabelecimento sobre o comportamento carcerário do apenado;
• ouvir o Ministério Público e a defesa.

O ato do juiz que concede ou nega o livramento condicional é uma sentença, que deverá ser sempre
motivada.

O juiz tem que ouvir o Conselho Penitenciário?


NÃO. Não se exige a prévia oitiva do Conselho Penitenciário para fins de concessão do livramento
condicional, segundo a nova redação do art. 112 da LEP dada pela Lei nº 10.792/2003.
STJ. 5ª Turma. HC 350.902/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 21/06/2016.

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 43


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Legitimidade para instaurar o procedimento


O livramento condicional poderá ser concedido mediante:

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• requerimento do sentenciado;
• requerimento o cônjuge ou de parente em linha reta do sentenciado;
• proposta do diretor do estabelecimento penal; ou
• por iniciativa do Conselho Penitenciário.

Obs: apesar de não estar previsto na lei, entende-se que o juiz pode conceder de ofício.

Condições
O juiz, ao conceder o livramento condicional, irá impor ao condenado algumas condições, ou seja,
obrigações que ele terá que cumprir.
Existem algumas condições que são obrigatórias, ou seja, a própria lei diz que todo condenado deverá
cumprir (art. 132, § 1º da LEP).
Por outro lado, há determinadas condições que são facultativas, isto é, são obrigações que o magistrado
poderá ou não impor ao condenado, a depender do caso concreto (art. 132, § 2º da LEP).
O livramento condicional consiste na última etapa da execução da pena, visando à ressocialização do
apenado, quando ele é colocado em liberdade mediante o cumprimento de determinadas condições
previstas nos arts. 83, do Código Penal e 132, § 1º, da Lei de Execução Penal, algumas obrigatórias, outras
facultativas.
STJ. 5ª Turma. HC 235.480/SP, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 26/06/2012.

Vejamos quais são essas condições:

CONDIÇÕES DO LIVRAMENTO CONDICIONAL


OBRIGATÓRIAS FACULTATIVAS
Serão sempre impostas ao liberado condicional as Poderão ainda ser impostas ao liberado
seguintes obrigações: condicional, entre outras obrigações, as seguintes:
a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável a) não mudar de residência sem comunicação ao
se for apto para o trabalho; Juiz e à autoridade incumbida da observação
b) comunicar periodicamente ao Juiz sua cautelar e de proteção;
ocupação; b) recolher-se à habitação em hora fixada;
c) não mudar do território da comarca do Juízo da c) não frequentar determinados lugares.
execução, sem prévia autorização.
As condições obrigatórias são apenas essas, que As condições facultativas estão previstas em um
estão previstas taxativamente no art. 132, § 1º da rol exemplificado no art. 132, § 2º da LEP. Isso
LEP. significa que o juiz poderá estabelecer outras,
desde que razoáveis. São chamadas por alguns
autores de “condições judiciais” (art. 85 do CP). Ex:
juiz pode determinar que o condenado frequente
tratamento para viciados em droga.

Cerimônia do livramento condicional


O livramento condicional é concedido em uma “cerimônia” (uma espécie de audiência admonitória)
realizada no próprio estabelecimento onde o condenado está preso.
Apesar de não se verificar isso na prática, é importante que você conheça o art. 137 da LEP para fins de
concurso:

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 44


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Art. 137. A cerimônia do livramento condicional será realizada solenemente no dia marcado pelo

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Presidente do Conselho Penitenciário, no estabelecimento onde está sendo cumprida a pena,
observando-se o seguinte:
I - a sentença será lida ao liberando, na presença dos demais condenados, pelo Presidente do
Conselho Penitenciário ou membro por ele designado, ou, na falta, pelo Juiz;
II - a autoridade administrativa chamará a atenção do liberando para as condições impostas na
sentença de livramento;
III - o liberando declarará se aceita as condições.
§ 1º De tudo em livro próprio, será lavrado termo subscrito por quem presidir a cerimônia e pelo
liberando, ou alguém a seu rogo, se não souber ou não puder escrever.
§ 2º Cópia desse termo deverá ser remetida ao Juiz da execução.

Quanto tempo dura o livramento condicional?


O livramento condicional perdura durante o tempo que restante da pena.
Ex: João foi condenado a uma pena de 6 anos de reclusão. Após cumprir 2 anos e 1 dia de pena (ou seja,
mais de 1/3), ele requereu e foi concedido o benefício. Este livramento condicional irá durar pouco menos
de 4 anos, isto é, o período que falta para ele terminar a pena.
Conforme já explicado, no período do livramento condicional, o condenado ficará em uma época de
“teste” no qual se irá analisar se ele cumpre as condições impostas e se ele não pratica nenhum ato que
configure motivo para revogar o benefício.
Assim, o tempo em que o apenado está em livramento condicional é chamado de “período de prova”.
O benefício poderá ser revogado (e ele retornar à prisão) caso descumpra as condições impostas. Se isso
acontecer, significa que ele terá falhado na “prova”.

Revogação do livramento
A lei prevê situações que, se acontecerem, o livramento condicional deverá ser obrigatoriamente revogado
(causas de revogação obrigatória – art. 86 do CP).
Há também outros casos que se ocorrerem, o juiz pode avaliar a situação concreta e decidir se irá revogar
o benefício ou se dará uma chance para o apenado de continuar no livramento condicional (causas de
revogação facultativa – art. 87 do CP).
A revogação será decretada:
• a requerimento do Ministério Público;
• mediante representação do Conselho Penitenciário; ou
• de ofício, pelo Juiz.

O condenado deverá ser ouvido previamente.

Causas de revogação OBRIGATÓRIA


1) Se o agente for condenado definitivamente à pena privativa de liberdade por crime cometido durante
a vigência do benefício.
• Situação muito grave; o apenado recebeu uma chance, ou seja, ficou em liberdade antes de terminar a
pena e, apesar disso, praticou um crime durante o período de prova.
• O condenado irá “perder” esse tempo em que ficou no livramento condicional, ou seja, o tempo em que
ele ficou em liberdade não será computado (descontado) na pena a cumprir. Ex: ele recebeu livramento
condicional quando ainda faltavam 4 anos de pena; depois de 2 anos no livramento condicional, ele
praticou e foi condenado por novo crime; esses 2 anos serão desconsiderados; ele voltará para a prisão e
terá que cumprir os 4 anos que ainda faltavam mais a nova pena fixada;
• Não será permitido novo livramento para o crime revogado. Pode ser concedido, no entanto, para a nova
condenação (quando ele completar os requisitos);
• O novo livramento não permite soma da pena do crime anterior (assim, se o novo crime for menor que
2 anos, não caberá livramento nem para o segundo crime).
Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 45
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2) Se o agente for condenado definitivamente à pena privativa de liberdade por crime anterior à vigência

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do benefício.
• Computa-se, na pena a cumprir, o tempo de liberdade. Ex: ele recebeu livramento condicional quando
ainda faltavam 4 anos de pena; depois de 2 anos no livramento condicional, veio a condenação transitada
em julgado por crime praticado antes do benefício; esses 2 anos que ele ficou cumprindo corretamente o
livramento condicional serão “aproveitados” e poderão ser descontados da pena que ainda falta ele
cumprir; assim, este apenas voltará para a prisão e terá que cumprir apenas 2 anos da primeira
condenação e mais a nova pena fixada;
• Será permitido novo livramento, inclusive para o crime revogado;
• Cabe a soma das penas.

Veja o que dizem os arts. 141 e 142 da LEP e o art. 87 do CP:


Art. 141. Se a revogação for motivada por infração penal anterior à vigência do livramento,
computar-se-á como tempo de cumprimento da pena o período de prova, sendo permitida, para
a concessão de novo livramento, a soma do tempo das 2 (duas) penas.
Art. 142. No caso de revogação por outro motivo, não se computará na pena o tempo em que
esteve solto o liberado, e tampouco se concederá, em relação à mesma pena, novo livramento.

Art. 88. Revogado o livramento, não poderá ser novamente concedido, e, salvo quando a
revogação resulta de condenação por outro crime anterior àquele benefício, não se desconta na
pena o tempo em que esteve solto o condenado.

Causas de revogação FACULTATIVA


1) Se o liberado deixar de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença;
2) Se o liberado for condenado definitivamente por crime ou contravenção e não receber pena privativa
de liberdade. Ex: recebeu pena restritiva de direitos.

Obs: se o juiz decidir manter o livramento condicional, na hipótese da revogação facultativa, ele deverá
advertir o liberado ou agravar as condições que já tinham sido impostas (art. 140, parágrafo único da LEP).

Suspensão do livramento condicional


No caso da prática de crime ou contravenção penal, a legislação exige, como condição para a revogação,
que haja sentença judicial transitada em julgado.
Ocorre que o trânsito em julgado e uma condenação criminal pode demorar anos para acontecer.
Diante disso, em tais casos, o juiz deve determinar a suspensão cautelar do livramento condicional
enquanto se aguarda a decisão final do processo criminal.
Assim, se o indivíduo que estava em liberdade condicional praticar uma infração penal durante o período
de prova, não se poderá revogar imediatamente o benefício, mas o juiz deverá suspender o livramento,
mandando o condenado de volta para a prisão enquanto se aguarda o desfecho do processo penal. É o
que prevê o art. 145 da LEP:
Art. 145. Praticada pelo liberado outra infração penal, o Juiz poderá ordenar a sua prisão, ouvidos
o Conselho Penitenciário e o Ministério Público, suspendendo o curso do livramento condicional,
cuja revogação, entretanto, ficará dependendo da decisão final.

Fique atenta(o) para o fato de que a suspensão cautelar do livramento só pode ocorrer para o caso de
cometimento de outra infração penal. Assim, não é o descumprimento de toda e qualquer condição que
gera a possibilidade de suspensão do livramento.

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 46


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Se ocorrer alguma causa de revogação do livramento condicional durante o período de prova, o juiz
somente poderá revogar ou suspender o benefício antes do término do cumprimento da pena

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Imagine a seguinte situação hipotética:
Pedro cumpria pena por extorsão.
O juiz concedeu livramento condicional a Pedro no dia 05/05/2012.
O período de prova terminaria dia 10/07/2017, quando se encerraria o tempo que falta para cumprimento
da pena.
No dia 05/05/2017, ou seja, três anos depois do início do livramento, Pedro praticou um roubo.
Ocorre que o juiz da execução não foi informado imediatamente sobre o fato e, por isso, não determinou
a suspensão do livramento condicional.
Em 05/07/2017, o Ministério Público ofereceu denúncia contra Pedro pelo cometimento do roubo e pediu
para que o juízo da execução penal fosse informado sobre a ocorrência deste novo delito.
Em 15/07/2017 o juiz da execução penal foi comunicado de que o condenado Pedro praticou outro crime
durante o livramento condicional e está respondendo ao processo penal.

O juiz da execução, ao receber essa comunicação, poderá revogar o livramento condicional,


determinando que Pedro volte a cumprir a pena, descontado o período em que ficou gozando do
benefício?
NÃO. Isso porque já se encerrou o período de prova sem que tenha havido suspensão ou revogação do
livramento. Logo, se essas providências não foram tomadas durante o período de prova, não podem ser
feitas agora, depois que já se encerrou o prazo do livramento condicional.

Mas o novo crime foi praticado durante o período de prova, ou seja, enquanto o condenado ainda
cumpria o livramento condicional... Como a nova infração penal foi cometida durante o livramento
condicional (antes de o benefício acabar), não seria possível considerar que, com a prática do novo crime,
houve a prorrogação automática do período de prova, nos termos do art. 89 do CP?
NÃO. O art. 89 do CP prevê o seguinte:
Art. 89. O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não passar em julgado a sentença em
processo a que responde o liberado, por crime cometido na vigência do livramento.

O art. 89 do CP traz a possibilidade de ser prorrogado o prazo do livramento em caso de crime cometido
durante o gozo do benefício. Contudo, essa prorrogação do período de prova não pode ser automática.
Assim, ocorrendo novo delito durante o período de prova do livramento condicional, é necessária a
suspensão cautelar do benefício, sob pena de ser declarada extinta a pena após o término do prazo do
livramento.

O que o juiz da execução deve fazer, então?


Como não houve decisão determinado a suspensão ou revogação do período de prova durante o prazo do
livramento condicional, somente resta agora ao juiz proferir sentença declarando a extinção da
punibilidade pelo integral cumprimento da pena (em relação ao crime de extorsão).
Pedro irá continuar respondendo pelo delito de roubo, mas a pena pelo crime de extorsão já foi cumprida.
Essa é a interpretação que é dada pelo STJ ao art. 90 do CP:
Art. 90. Se até o seu término o livramento não é revogado, considera-se extinta a pena privativa
de liberdade.

“Expirado o prazo do livramento condicional sem a sua suspensão ou prorrogação (art. 90 do CP), a pena
é automaticamente extinta” (STJ. 5ª Turma. HC 279.405/SP, Rel. Min. Felix Fischer, DJe 27/11/2014).

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 47


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Conclusões:
• se o réu cometeu crime durante a vigência do livramento condicional, não haverá a suspensão,

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prorrogação ou revogação automática do benefício;
• em caso de prática de crime durante o período de prova, o juiz deverá determinar: 1) a suspensão do
livramento condicional (caso o processo criminal pelo segundo delito ainda não tenha se encerrado) ou a
sua revogação (caso já tenha sentença condenatória transitada em julgado);
• se o juiz suspender nem revogar expressamente o livramento condicional durante o período de prova,
não poderá mais fazê-lo depois que esgotado esse prazo;
• se o período de prova transcorrer sem decisão formal do juiz suspendendo ou revogando o livramento,
considera-se que houve o cumprimento integral da pena, não havendo outra solução a não ser reconhecer
a extinção da punibilidade;
• logo, a ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do término do período de
prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena;
• decorrido o período de prova do livramento condicional sem que seja proferido uma decisão formal e
expressa de suspensão ou revogação do benefício, a pena deve ser extinta, nos termos do art. 90 do CP.

Veja como o tema já foi cobrado em prova:


(Delegado PC/MA 2018 CESPE) Um sentenciado foi beneficiado com o livramento condicional, cujo
término do período de prova estava previsto para 25/5/2016. Porém, no dia 29/2/2016, ele praticou novo
delito, pelo qual veio a ser condenado por sentença transitada em julgado. Apesar disso, o juízo da
execução penal não procedeu à suspensão cautelar do benefício, tendo praticado tal ato somente no dia
11/9/2016. Com relação a essa situação hipotética e a aspectos a ela correlatos, julgue os seguintes itens.
I - O fato de não ter sido oportunamente suspenso o benefício é irrelevante, pois o livramento deve ser
revogado pelo juiz da execução quando sobrevém condenação irrecorrível à pena de prisão.
II - Competiria ao juízo da execução penal determinar a suspensão do livramento condicional,
cautelarmente, para revogá-lo depois, se fosse o caso.
III - Julgar-se-ia extinta a pena relativa ao primeiro delito se, relativamente ao segundo, cometido na
vigência do livramento condicional, o réu fosse absolvido no segundo grau de jurisdição.
IV - A revogação do benefício seria facultativa se a nova condenação, referente ao crime cometido no
período de prova, fosse de pena distinta da privativa de liberdade.
Estão certos apenas os itens
A) I e II.
B) I e III.
C) II e IV.
D) I, III e IV.
E) II, III e IV.
Letra C

(DPE/AP 2018 FCC) O livramento condicional pode ser revogado se, após expirado o período de prova,
sobrevier informação de que o sentenciado descumpriu alguma condição imposta durante seu
cumprimento. (errado)

Posição do STF
Vale ressaltar que o STF possui o mesmo entendimento que é manifestado na súmula:
(...) À luz do disposto no art. 86, I, do Código Penal e no art. 145 da Lei das Execuções Penais, se, durante
o cumprimento do benefício, o liberado cometer outra infração penal, o juiz poderá ordenar a sua prisão,
suspendendo o curso do livramento condicional, cuja revogação, entretanto, aguardará a conclusão do
novo processo instaurado.
3. A suspensão do livramento condicional não é automática. Pelo contrário, deve ser expressa, por decisão
fundamentada, para se aguardar a apuração da nova infração penal cometida durante o período de prova,
e, então, se o caso, revogar o benefício. Precedente.

Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 48


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4. Decorrido o prazo do período de prova sem ter havido a suspensão cautelar do benefício, tampouco sua
revogação, extingue-se a pena privativa de liberdade. Precedentes.

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5. Ordem concedida, para reconhecer a extinção da pena privativa de liberdade imposta ao paciente
quanto ao primeiro crime cometido.
STF. 1ª Turma. HC 119938, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 03/06/2014.

DIREITO TRIBUTÁRIO

IMPOSTO DE RENDA
A parcela decorrente do INCC integra a receita bruta da imobiliária que vendeu o imóvel; logo, é
possível inclui-la na base de cálculo do lucro presumido para fins de incidência do IRPJ

Apenas concursos federais!


A parcela decorrente do INCC integra a receita bruta decorrente da venda do bem imóvel,
sendo possível o seu acréscimo à base de cálculo do lucro presumido para fins de incidência
do imposto de renda.
Isso significa que a Receita Federal não pode cobrar o valor recebido pelas imobiliárias a título
de INCC como se fosse “receita financeira”, tributada em separado. Esses valores vão fazer
parte da receita bruta decorrente da venda do bem imóvel.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.298.441-GO, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 04/09/2018 (Info 633).

IRPJ
IRPJ é a sigla para Imposto de Renda de Pessoa Jurídica.
A base de cálculo do IRPJ é o montante, real, arbitrado ou presumido, da renda ou dos proventos
tributáveis (art. 44 do CTN).
Em outras palavras, a base de cálculo do IRPJ é o lucro (real, presumido ou arbitrado) correspondente ao
período de apuração.

Formas de tributação das pessoas jurídicas


Assim, existem três formas de tributação das pessoas jurídicas:
a) Lucro real.
b) Lucro presumido.
c) Lucro arbitrado.

Obs: é possível também que a pessoa jurídica seja optante do SIMPLES, caso em que terá uma tributação
diferenciada.

Empresas de venda de bem imóvel e IRPJ


A Lei nº 8.981/95 determinava que as pessoas jurídicas que se dedicam à compra e venda, ao loteamento,
à incorporação ou à construção de imóveis e à execução de obras da construção civil deveriam pagar
imposto de renda com base no lucro real (art. 36, IV).
A Lei nº 9.718/98 revogou esse art. 36 e disse que essas empresas (que se dedicam à atividade imobiliária)
podem escolher pagar o imposto de renda com base no lucro presumido.

Base de cálculo no caso de tributação pelo lucro presumido


No regime de tributação pelo lucro presumido, a base de cálculo do IRPJ é apurada com base na soma da
receita bruta e do valor de todas as demais receitas e dos ganhos de capital.
Informativo 633-STJ (11/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 49
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E o que é essa receita bruta falada aí em cima? No momento de se calcular o imposto de renda a ser

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pago pelas empresas imobiliárias, o que é considerado receita bruta?
O montante efetivamente recebido pela venda das unidades imobiliárias.
Assim, as pessoas jurídicas que explorem atividades imobiliárias deverão considerar como receita bruta o
montante efetivamente recebido, relativo às unidades imobiliárias vendidas (art. 30 da Lei nº 8.981/95).
É o que também determina o art. 15, caput e § 4º da Lei nº 9.249/95:
Art. 15. A base de cálculo do imposto, em cada mês, será determinada mediante a aplicação do
percentual de 8% (oito por cento) sobre a receita bruta auferida mensalmente (...)
(...)
§ 4º O percentual de que trata este artigo também será aplicado sobre a receita financeira da
pessoa jurídica que explore atividades imobiliárias relativas a loteamento de terrenos,
incorporação imobiliária, construção de prédios destinados à venda, bem como a venda de
imóveis construídos ou adquiridos para a revenda, quando decorrente da comercialização de
imóveis e for apurada por meio de índices ou coeficientes previstos em contrato.

O que é o INCC?
INCC é a sigla para “Índice Nacional de Construção Civil”.
Trata-se de um índice que é utilizado para fazer a correção do valor do imóvel objeto de financiamento
enquanto a obra está em execução.
Foi criado e é atualizado pela Fundação Getúlio Vargas.
Todos os meses é publicado o INCC e ele demonstra as mudanças que ocorreram nos preços dos materiais
de construção e da mão de obra no setor imobiliário.
Assim, por exemplo, se os preços desses bens e serviços aumentaram no mês, o INCC será um percentual
alto; se o aumento foi pequeno, o percentual também será pequeno.
Como dito acima, o INCC é o índice utilizado para corrigir o valor que falta para o adquirente pagar
enquanto o imóvel está sendo construído.
Ex: João fez um contrato de promessa de compra e venda para adquirir um apartamento na planta; o
preço do apartamento é de R$ 300 mil; João paga R$ 200 mil de entrada e financia os R$ 100 mil
diretamente com a construtora, pagando parcelas todos os meses; o saldo devedor será corrigido pelo
percentual do INCC; imagine que, no 1º mês, o INCC foi de 0,30%; significa que o saldo devedor, que era
de R$ 100 mil, passará para R$ 100.300,00.
Dessa forma, a construtora irá “ganhar” todos os meses esse valor do INCC.

Pergunta: esse valor que a construtora recebe todos os meses decorrentes do INCC entra no cálculo da
receita bruta da venda do imóvel para fins de pagamento do IRPJ no lucro presumido? No momento de
se definir a base de cálculo do IRPJ (lucro presumido) da imobiliária, será considerado apenas o preço
original do imóvel (em nosso exemplo, só R$ 300 mil) ou o preço original mais o acréscimo do INCC?
SIM. Considera-se o preço original mais as parcelas do INCC:
A parcela decorrente do INCC integra a receita bruta decorrente da venda do bem imóvel, sendo possível
o seu acréscimo à base de cálculo do lucro presumido para fins de incidência do imposto de renda.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.298.441-GO, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 04/09/2018 (Info 633).

O INCC, conforme foi explicado, demonstra a variação do próprio custo de construção do bem imóvel
vendido pela construtora. Logo, podemos dizer que as parcelas do INCC compõem o próprio preço do
bem. Trata-se de uma quantia efetivamente recebida pela venda da unidade imobiliária, ainda que de
forma parcelada. Logo, deve integrar a receita bruta da pessoa jurídica, para fins de IRPJ (lucro presumido)
como previsto no art. 25, I, da Lei nº 9.430/96, combinado com o art. 12, I, do DL 1.598/77, que assim
estabelecem:

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Art. 25. O lucro presumido será o montante determinado pela soma das seguintes parcelas:

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I - o valor resultante da aplicação dos percentuais de que trata o art. 15 da Lei nº 9.249, de 26 de
dezembro de 1995 (8%), sobre a receita bruta definida pela art. 12 do Decreto-Lei nº 1.598, de 26
de dezembro de 1977, auferida no período de apuração de que trata o art. 1º, deduzida das
devoluções e vendas canceladas e dos descontos incondicionais concedidos; e
(...)

Art. 12. A receita bruta compreende:


I - o produto da venda de bens nas operações de conta própria;

Assim, a parcela decorrente do INCC não pode ser classificada como receita financeira, submetida à
tributação em separado, mas sim como parcela integrante da receita bruta decorrente da venda do bem
imóvel, sendo possível o seu acréscimo à base de cálculo do lucro presumido para fins de incidência do
imposto de renda.
Como vimos acima, o conceito de receita bruta imobiliária dado pelo art. 30 da Lei nº 8.981/95 é
abrangente. Veja novamente:
Art. 30. As pessoas jurídicas que explorem atividades imobiliárias relativa a loteamento de
terrenos, incorporação imobiliária, construção de prédios destinados à venda, bem como a venda
de imóveis construídos ou adquiridos para revenda, deverão considerar como receita bruta o
montante efetivamente recebido, relativo às unidades imobiliárias vendidas.

Receita bruta das imobiliárias = montante efetivamente recebido. Ora, o INCC é efetivamente recebido.
Logo, deve ser considerado receita bruta.

EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) Nas ações de indenização do mandante contra o mandatário incide o prazo prescricional de 3 anos. ( )
2) O fato de o advogado-mandatário ostentar procuração com poderes para transigir não afasta a
responsabilidade pelos prejuízos causados por culpa sua ou de pessoa para quem substabeleceu, nos
termos dos arts. 667 do Código Civil e 32, caput, do Estatuto da Advocacia. ( )
3) A responsabilidade pelos danos decorrentes do abuso de poder pelo mandatário independe da prévia
anulação judicial do ato praticado, pois o prejuízo não decorre de eventual nulidade, mas sim da violação
dos deveres subjacentes à relação jurídica entre o advogado e o assistido. ( )
4) É decenal o prazo prescricional aplicável à ação do adquirente contra a incorporadora que visa a cobrança
da multa prevista no art. 35, § 5º, da Lei nº 4.591/64. ( )
5) (Juiz TJDFT 2015 CESPE) Apesar de não estar previsto no Código Civil, o companheiro supérstite tem o
direito real de habitação sobre o imóvel de propriedade do falecido onde o casal residia. ( )
6) Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da
participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à
residência da família, desde que seja o único daquela natureza a inventariar. ( )
7) O reconhecimento do direito real de habitação, a que se refere o art. 1.831 do Código Civil, pressupõe a
inexistência de outros bens no patrimônio do cônjuge/companheiro sobrevivente. ( )
8) Há solidariedade entre as sociedades consorciadas em relação às obrigações derivadas de relação de
consumo desde que essas obrigações guardem correlação com a esfera de atividade do consórcio. ( )

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9) O termo inicial do prazo máximo de cinco anos que o nome de devedor pode ficar inscrito em órgão de
proteção ao crédito é o dia seguinte à sua inclusão no cadastro. ( )

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10) As entidades mantenedoras de cadastros de proteção ao crédito não devem incluir em sua base de dados
informações coletadas dos cartórios de protestos sem a informação do prazo de vencimento da dívida,
sendo responsáveis pelo controle de ambos os limites temporais estabelecidos no art. 43 da Lei nº
8.078/90. ( )
11) Para tipificar o crime do art. 291 do CP, basta que o agente detenha a posse de petrechos destinados à
falsificação de moeda, sendo prescindível que o maquinário seja de uso exclusivo para esse fim. ( )
12) A conduta de não recolher ICMS em operações próprias ou em substituição tributária enquadra-se
formalmente no tipo previsto no art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 (apropriação indébita tributária), desde
que comprovado o dolo. ( )
13) Somente pode ser agente ativo do crime de tortura-castigo (art. 1º, II, da Lei nº 9.455/97) aquele que
detiver outra pessoa sob sua guarda, poder ou autoridade (crime próprio). ( )
14) (Delegado PC/GO 2018 UEG) Segundo o Código Penal, a reincidência impede a concessão de livramento
condicional. ( )
15) (Delegado de Polícia PF 2018 CESPE) Caio, condenado a nove anos de prisão, cumpria a pena no regime
fechado. Passado um ano do cumprimento da pena, ele cometeu falta grave. Nessa situação, serão
interrompidas as contagens dos prazos tanto para a obtenção do livramento condicional quanto para a
progressão de regime de cumprimento de pena, devendo ambas ser reiniciadas a partir da data do
cometimento da falta grave. ( )
16) (DPE/AM 2018 FCC) O livramento condicional
A) pode ser revogado com a prática de crime doloso no período de prova, independentemente do
trânsito em julgado, conforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.
B) exige o cumprimento de três quintos de pena para o condenado reincidente em crime hediondo.
C) pode ser mantido se a condenação por crime doloso praticado durante o período de prova resultar
em aplicação de pena restritiva de direitos.
D) pode ser suspenso cautelarmente com a notícia de descumprimento de suas condições, como, por
exemplo, o não comparecimento periódico em juízo.
E) não pode ser revogado em razão da prática de crime anterior à sua vigência pois os postulados do
garantismo penal incidem igualmente na execução penal.

17) (DPE/AP 2018 FCC) O livramento condicional


A) pode ser revogado caso se instaure inquérito policial contra o sentenciado durante o período de prova.
B) depende do cumprimento de metade da pena em caso de crime hediondo ou equiparado.
C) pode ser revogado se, após expirado o período de prova, sobrevier informação de que o sentenciado
descumpriu alguma condição imposta durante seu cumprimento.
D) será obrigatoriamente revogado se sobrevier nova condenação criminal, pena restritiva de direitos,
durante o período de prova.
E) pode ser revogado por crime cometido antes de sua concessão, mas nesse caso não se desconta o
tempo cumprido no período de prova.

18) (Delegado PC/MA 2018 CESPE) Um sentenciado foi beneficiado com o livramento condicional, cujo
término do período de prova estava previsto para 25/5/2016. Porém, no dia 29/2/2016, ele praticou
novo delito, pelo qual veio a ser condenado por sentença transitada em julgado. Apesar disso, o juízo da
execução penal não procedeu à suspensão cautelar do benefício, tendo praticado tal ato somente no dia
11/9/2016. Com relação a essa situação hipotética e a aspectos a ela correlatos, julgue os seguintes itens.
I - O fato de não ter sido oportunamente suspenso o benefício é irrelevante, pois o livramento deve ser
revogado pelo juiz da execução quando sobrevém condenação irrecorrível à pena de prisão.
II - Competiria ao juízo da execução penal determinar a suspensão do livramento condicional,
cautelarmente, para revogá-lo depois, se fosse o caso.

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III - Julgar-se-ia extinta a pena relativa ao primeiro delito se, relativamente ao segundo, cometido na
vigência do livramento condicional, o réu fosse absolvido no segundo grau de jurisdição.

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IV - A revogação do benefício seria facultativa se a nova condenação, referente ao crime cometido no
período de prova, fosse de pena distinta da privativa de liberdade.
Estão certos apenas os itens
A) I e II.
B) I e III.
C) II e IV.
D) I, III e IV.
E) II, III e IV.

Gabarito
1. E 2. C 3. C 4. C 5. C 6. C 7. E 8. C 9. E 10. C
11. C 12. C 13. C 14. E 15. E 16. Letra C 17. Letra E 18. Letra C

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