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Resumo: A Disciplina dos Juros e Correção Monetária nos Precatórios Judiciais após

o Julgamento das ADI’S 4.357/DF e 4.425/DF.

1 – Correção Monetária:

Precatórios Não Tributários:


Até 25/03/2015 – Aplica-se a regra prevista pela EC 62/2009 – Índice
da Caderneta de Poupança (TR).
A contar de 26/03/2015 – IPCA-E

Precatórios Tributários:
Devem ser aplicadas as mesmas regras previstas para remuneração do
crédito devido à Fazenda Pública.

2 – Juros de Mora

Precatórios Não Tributários:


Índice oficial da Caderneta de Poupança, nos termos do artigo 1º - F
da Lei 9494/97.

Precatórios Tributários:
Até 25/03/2015 (data do julgamento da Questão de Ordem) – Juros da
Caderneta de Poupança, conforme artigo 1º - F da Lei nº 9494/97.

Após 25/03/2015 – Deve ser aplicado o índice utilizado pela Fazenda


Pública para remunerar o seu crédito.
.
Resumo das ocorrências quando do Julgamento das ADI’S 4.357/DF e 4.425/DF.

ADI 4357/DF.

Causa de Pedir Remota: A Constituição da República (Princípios e normas).


Causa de Pedir Próxima: A Edição da Emenda Constitucional nº 62/2009,
especificamente, requerem os requerentes:

A – A inconstitucionalidade formal de toda Emenda Constitucional nº


62/2009, por violação ao inciso LIV do art. 5º e ao § 2º do art. 60, ambos
da Constituição da República. É que a aprovação da emenda em causa, no
Senado Federal, ocorrera numa única noite, o que desrespeita o interstício
mínimo de 5 (cinco) dias úteis “entre a discussão e votação em 1º turno e a
[discussão e votação] em 2º turno”.

B – Pedem a declaração de inconstitucionalidade também dos seguintes


dispositivos:

I – § 2º do art. 100 da CF: a expressão “na data de expedição do


precatório” ofenderia os princípios da igualdade, da razoabilidade e da
proporcionalidade (caput do art. 5º da CF), por não considerar preferenciais
os créditos de pessoas que venham a completar 60 (sessenta) anos de idade
após a expedição do precatório. O fraseado “até o valor equivalente ao
triplo do fixado em lei para os fins do § 3º deste artigo, admitido o
fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante será pago na
ordem cronológica de apresentação do precatório” seria inconstitucional
por vulnerar os princípios da dignidade da pessoa humana (inciso III do art.
1º da CF), da razoabilidade, da proporcionalidade (caput do art. 5º da CF) e
da separação dos Poderes (art. 2º da CF), devido a que “o texto só
[possibilitaria] receber o crédito, de natureza alimentar, até o valor
equivalente ao triplo do fixado em lei como obrigação de pequeno valor,
desnaturando, assim, a natureza alimentar que admite o pagamento
integral” e retirando “a eficácia e a autoridade da decisão judicial
condenatória transitada em julgado”;
II – §§ 9º e 10 do art. 100 da CF: ao tornar obrigatória a compensação do
crédito a ser inscrito em precatório com “débitos líquidos e certos, inscritos
ou não em dívida ativa e constituídos contra o credor original pela Fazenda
Pública devedora”, os novos dispositivos constitucionais violariam os
direitos de liberdade e propriedade dos indivíduos (caput e inciso XXII do
art. 5º da CF), além da garantia de razoável duração do processo (inciso
LXXVIII do art. 5º da CF). É que os credores perderiam “a plena liberdade
de disposição de seus bens e patrimônio”, sem falar na demora da inscrição
do crédito em precatório, uma vez que “o Presidente do Tribunal [teria] que
lidar com impugnação do precatorista prejudicado para, por exemplo,
dirimir acerca da prescrição do débito imputado pela Fazenda Pública
como passível de compensação”. Ademais, o fato de a compensação referir-
se a anteriores débitos do credor original do precatório ofenderia o direito de
propriedade (inciso XXII do art. 5º da CF), os princípios da segurança
jurídica e da proporcionalidade (caput do art. 5º da CF) e a garantia do
devido processo legal substantivo (inciso LIV do art. 5º da CF). Isso porque,
no caso de cessão do crédito inscrito em precatório, a compensação acabaria
por se operar com débito de terceiro, inviabilizando “qualquer
previsibilidade do cessionário quanto ao risco de redução do seu direito em
virtude de débitos que o cedente venha a incorrer após a cessão do direito”;
III – § 12 do art. 100 da CF, inciso II do § 1º e § 16, ambos do art. 97 do
ADCT: esses dispositivos, acrescentados pela Emenda Constitucional
62/2009, violariam o direito de propriedade (inciso XXII do art. 5º da CF),
os princípios da igualdade (caput do art. 5º da CF), da moralidade, da
eficiência (caput do art. 37 da CF) e da separação dos Poderes (art. 2º da
CF), além da garantia constitucional da coisa julgada (inciso XXXVI do art.
5º da CF). É que: a) o índice de remuneração básica da caderneta de
poupança, segundo já reconheceu este próprio Supremo Tribunal Federal,
não reflete a real corrosão do poder aquisitivo da moeda; b) adotou-se
“critério de discriminação, sem motivo razoável, entre a forma de correção
monetária e aplicação de juros acessórios dos débitos do Estado e a forma
de correção monetária e aplicação de juros acessórios dos débitos do
contribuinte”; c) “ao ter suas dívidas atualizadas por índice inferior ao que
atualiza seus créditos, o incentivo econômico do Estado será o de prolongar
indefinidamente as discussões judiciais em que figura no pólo passivo”; d)
os membros do Poder Judiciário perderão a autonomia para fixar o critério
que considerem adequado para atualização do débito, atingindo, de igual
forma, a autoridade da coisa julgada;
IV – art. 97 do ADCT (acrescentado pelo art. 2º da EC 62/2009): a
possibilidade de o Poder Público dilatar por quinze anos a completa
execução das sentenças judiciais transitadas em julgado significaria
desrespeito às garantias do livre e eficaz acesso ao Poder Judiciário (inciso
XXXV do art. 5º da CF), do devido processo legal (inciso LIV do art. 5º da
CF) e da razoável duração do processo (inciso LXXVIII do art. 5º do CF),
além de afrontar a autoridade das decisões judiciais já insuscetíveis de
recurso. A “Emenda [haveria ferido] a própria divisão dos Poderes, posto
que partir em até 15 (quinze) anos a indenização significa, antes de tudo,
fracionar o pagamento das execuções contra o Estado, tornando a
Administração (função executiva) praticamente imune aos comandos do
Poder Judiciário, além de transformar o adimplemento de precatórios em
mera escolha política dos governantes”. Na mesma violação (ao princípio
da separação dos Poderes) haveria incorrido a EC 62/2009 ao limitar os
valores orçamentários para pagamento de precatórios (§ 2º do art. 97 do
ADCT), “haja vista que o contingenciamento de recursos tem por escopo o
descumprimento das decisões judiciais”. Quanto aos leilões instituídos pelos
§§ 8º e 9º do art. 97 do ADCT, também eles violariam o princípio da
separação dos Poderes e a garantia da coisa julgada, porque “a nova
sistemática” imporia, de fato, aos credores a aceitação de deságios cada vez
maiores, sob pena de “morrer[em] sem nada receber[em], deixando seus
direitos para usufruto dos netos (porque os filhos certamente nada
receber[iam])”. O que acabaria por transformar a sentença judicial transitada
em julgado em “mercadoria e de ativo podre”. Não é só: o § 7º do art. 97 do
ADCT também seria inconstitucional por ofender o princípio da igualdade,
dado que “o constituinte derivado elegeu o critério do valor da dívida como
divisor de águas entre os credores em idêntica situação, não havendo
nenhuma relação de pertinência lógica entre a grave discriminação
estabelecida entre os valores dos créditos a receber”. O vício de
inconstitucionalidade também estaria presente no § 14 do art. 97 do ADCT
(assim como no art. 4º da EC 62/2009), pois culmina por “transformar o que
a princípio [era] transitório em permanente”, pois o fato é que nunca se
esgotaria o estoque de precatórios. O mesmo se diga do § 15, que prolongou
“ainda mais o direito do cidadão/contribuinte em receber seus créditos, em
patente ofensa à coisa julgada”;
V – art. 6º da EC 62/2009: cassou-se o poder liberatório do pagamento de
tributos da entidade devedora, referido no § 2º do art. 78 do ADTC, o que
maltrata a garantia constitucional do direito adquirido (inciso XXXVI do art.
5º da CF).
3. Ao fim da petição inicial, os requerentes defendem a necessidade de
concessão da medida cautelar. Como também pleiteiam “que seja declarada
a inconstitucionalidade dos dispositivos acima impugnados”, a saber: a)
toda a Emenda Constitucional nº 62/2009, por vício formal; b) as expressões
“na data da expedição do precatório” e “até o valor equivalente ao triplo
do fixado em lei para os fins do § 3º deste artigo, admitido o fracionamento
para essa finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica
de apresentação do precatório”, do § 2º do art. 100 da CF; c) os §§ 9º e 10
do art. 100 da CF ou que se lhes dê a interpretação contida às fls. 381; d) §
12 do art. 100 da CF, inciso II do § 1º e § 16, ambos do art. 97 do ADCT, ou
que se lhes confira a interpretação de fls. 492; e) todo o art. 97 do ADCT,
acrescentado pelo art. 2º da EC 62/2009; f) art. 6º da EC 62/2009.
4. Continuo neste reavivar das coisas para dizer que, em decisão de fls.
559/560, adotei o procedimento abreviado de que trata o art. 12 da Lei
9.868/99 e solicitei informações aos requeridos. Solicitei também, com
fundamento no § 1º do art. 9º da mesma Lei 9.868/99, informações aos
Tribunais de Justiça dos Estados e ao do Distrito Federal e Territórios, aos
Tribunais Regionais do Trabalho, às Secretarias de Fazenda dos Estados e do
Distrito Federal e às Secretarias Municipais de Fazenda das capitais.
(...).

Dessa forma, tem-se que a Ação Direta de Inconstitucionalidade foi proposta com o
fim de questionar a Emenda Constitucional nº 62/2009, no que toca aos dispositivos
supracitados.
A ação foi autuada no dia 15/12/2009, tendo o seu julgamento ocorrido no dia
14/03/2013, nos seguintes termos:

SISTEMÁTICA DE COMPENSAÇÃO DE DÉBITOS INSCRITOS EM


PRECATÓRIOS EM PROVEITO EXCLUSIVO DA FAZENDA PÚBLICA.
EMBARAÇO À EFETIVIDADE DA JURISDIÇÃO (CF, ART. 5º, XXXV),
DESRESPEITO À COISA JULGADA MATERIAL (CF, ART. 5º XXXVI),
OFENSA À SEPARAÇÃO DOS PODERES (CF, ART. 2º) E ULTRAJE À
ISONOMIA ENTRE O ESTADO E O PARTICULAR (CF, ART. 1º,
CAPUT, C/C ART. 5º, CAPUT). IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DA
UTILIZAÇÃO DO ÍNDICE DE REMUNERAÇÃO DA CADERNETA DE
POUPANÇA COMO CRITÉRIO DE CORREÇÃO MONETÁRIA.
VIOLAÇÃO AO DIREITO FUNDAMENTAL DE PROPRIEDADE (CF,
ART. 5º, XXII). INADEQUAÇÃO MANIFESTA ENTRE MEIOS E FINS.
INCONSTITUCIONALIDADE DA UTILIZAÇÃO DO RENDIMENTO DA
CADERNETA DE POUPANÇA COMO ÍNDICE DEFINIDOR DOS JUROS
MORATÓRIOS DOS CRÉDITOS INSCRITOS EM PRECATÓRIOS,
QUANDO ORIUNDOS DE RELAÇÕES JURÍDICO-TRIBUTÁRIAS.
DISCRIMINAÇÃO ARBITRÁRIA E VIOLAÇÃO À ISONOMIA ENTRE
DEVEDOR PÚBLICO E DEVEDOR PRIVADO (CF, ART. 5º, CAPUT).
INCONSTITUCIONALIDADE DO REGIME ESPECIAL DE
PAGAMENTO. OFENSA À CLÁUSULA CONSTITUCIONAL DO
ESTADO DE DIREITO (CF, ART. 1º, CAPUT), AO PRINCÍPIO DA
SEPARAÇÃO DE PODERES (CF, ART. 2º), AO POSTULADO DA
ISONOMIA (CF, ART. 5º, CAPUT), À GARANTIA DO ACESSO À
JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA TUTELA JURISDICIONAL (CF, ART.
5º, XXXV) E AO DIREITO ADQUIRIDO E À COISA JULGADA (CF,
ART. 5º, XXXVI). PEDIDO JULGADO PROCEDENTE EM PARTE.
1. A aprovação de emendas à Constituição não recebeu da Carta de 1988
tratamento específico quanto ao intervalo temporal mínimo entre os dois turnos de
votação (CF, art. 62, §2º), de sorte que inexiste parâmetro objetivo que oriente o
exame judicial do grau de solidez da vontade política de reformar a Lei Maior. A
interferência judicial no âmago do processo político, verdadeiro locus da atuação
típica dos agentes do Poder Legislativo, tem de gozar de lastro forte e categórico
no que prevê o texto da Constituição Federal. Inexistência de ofensa formal à
Constituição brasileira.
2. Os precatórios devidos a titulares idosos ou que sejam portadores de doença
grave devem submeter-se ao pagamento prioritário, até certo limite, posto
metodologia que promove, com razoabilidade, a dignidade da pessoa humana (CF,
art. 1º, III) e a proporcionalidade (CF, art. 5º, LIV), situando-se dentro da margem
de conformação do legislador constituinte para operacionalização da novel
preferência subjetiva criada pela Emenda Constitucional nº 62/2009.
3. A expressão “na data de expedição do precatório”, contida no art. 100, §2º, da
CF, com redação dada pela EC nº 62/09, enquanto baliza temporal para a
aplicação da preferência no pagamento de idosos, ultraja a isonomia (CF, art. 5º,
caput) entre os cidadãos credores da Fazenda Pública, na medida em que
discrimina, sem qualquer fundamento, aqueles que venham a alcançar a idade de
sessenta anos não na data da expedição do precatório, mas sim posteriormente,
enquanto pendente este e ainda não ocorrido o pagamento.
4. A compensação dos débitos da Fazenda Pública inscritos em precatórios,
previsto nos §§ 9º e 10 do art. 100 da Constituição Federal, incluídos pela EC nº
62/09, embaraça a efetividade da jurisdição (CF, art. 5º, XXXV), desrespeita a
coisa julgada material (CF, art. 5º, XXXVI), vulnera a Separação dos Poderes
(CF, art. 2º) e ofende a isonomia entre o Poder Público e o particular (CF, art. 5º,
caput), cânone essencial do Estado Democrático de Direito (CF, art. 1º, caput).
5. O direito fundamental de propriedade (CF, art. 5º, XXII) resta violado nas
hipóteses em que a atualização monetária dos débitos fazendários inscritos
em precatórios perfaz-se segundo o índice oficial de remuneração da
caderneta de poupança, na medida em que este referencial é manifestamente
incapaz de preservar o valor real do crédito de que é titular o cidadão. É que
a inflação, fenômeno tipicamente econômico-monetário, mostra-se
insuscetível de captação apriorística (ex ante), de modo que o meio escolhido
pelo legislador constituinte (remuneração da caderneta de poupança) é
inidôneo a promover o fim a que se destina (traduzir a inflação do período).
6. A quantificação dos juros moratórios relativos a débitos fazendários
inscritos em precatórios segundo o índice de remuneração da caderneta de
poupança vulnera o princípio constitucional da isonomia (CF, art. 5º, caput)
ao incidir sobre débitos estatais de natureza tributária, pela discriminação
em detrimento da parte processual privada que, salvo expressa determinação
em contrário, responde pelos juros da mora tributária à taxa de 1% ao mês
em favor do Estado (ex vi do art. 161, §1º, CTN). Declaração de
inconstitucionalidade parcial sem redução da expressão “independentemente
de sua natureza”, contida no art. 100, §12, da CF, incluído pela EC nº 62/09,
para determinar que, quanto aos precatórios de natureza tributária, sejam
aplicados os mesmos juros de mora incidentes sobre todo e qualquer crédito
tributário.
7. O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com redação dada pela Lei nº 11.960/09, ao
reproduzir as regras da EC nº 62/09 quanto à atualização monetária e à
fixação de juros moratórios de créditos inscritos em precatórios incorre nos
mesmos vícios de juridicidade que inquinam o art. 100, §12, da CF, razão
pela qual se revela inconstitucional por arrastamento, na mesma extensão
dos itens 5 e 6 supra.
8. O regime “especial” de pagamento de precatórios para Estados e Municípios
criado pela EC nº 62/09, ao veicular nova moratória na quitação dos débitos
judiciais da Fazenda Pública e ao impor o contingenciamento de recursos para
esse fim, viola a cláusula constitucional do Estado de Direito (CF, art. 1º, caput),
o princípio da Separação de Poderes (CF, art. 2º), o postulado da isonomia (CF,
art. 5º), a garantia do acesso à justiça e a efetividade da tutela jurisdicional (CF,
art. 5º, XXXV), o direito adquirido e à coisa julgada (CF, art. 5º, XXXVI).
9. Pedido de declaração de inconstitucionalidade julgado procedente em parte.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos este autos, acordam os Ministros do Supremo


Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência do Senhor Ministro
Joaquim Barbosa, na conformidade da ata de julgamentos e das notas
taquigráficas, por maioria de votos e nos termos do voto do Ministro Ayres Britto
(relator), em julgar parcialmente procedente a ação direta, vencidos os Ministros
Gilmar Mendes, Teori Zavascki e Dias Toffoli, que a julgavam totalmente
improcedente, e os Ministro Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski, que a
julgavam procedente em menor extensão.

Brasília, 14 de março de 2013.


Ministro LUIZ FUX – Redator para o acórdão
Documento assinado digitalmente

No dia 11 de abril de 2013, o Ministro Relator Luiz Fux, após provocação do


Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil que noticiava que os Tribunais
de todo o país haviam suspendido o pagamento dos precatórios enquanto não
modulados os efeitos da decisão de mérito da ADI 4357, decidiu, ad cautelam, que,
nas palavras:

“determino, ad cautelam, que os Tribunais de Justiça de todos os Estados e


do Distrito Federal deem imediata continuidade aos pagamentos de
precatórios, na forma como já vinham realizando até a decisão proferida pelo
Supremo Tribunal Federal em 14/03/2013, segundo a sistemática vigente à
época, respeitando-se a vinculação de receitas para fins de quitação da dívida
pública, sob pena de sequestro”.
Caminhando, no dia 25/03/2013, ao concluir o julgamento da questão de ordem
relativa ao alcance da decisão de mérito proferida no julgamento da ADIN, restou
decidido que, nas palavras:

QUESTÃO DE ORDEM. MODULAÇÃO TEMPORAL DOS EFEITOS DE


DECISÃO DECLARATÓRIA DE INCONSTITUCIONALIDADE (LEI
9.868/99, ART. 27). POSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE
ACOMODAÇÃO OTIMIZADA DE VALORES CONSTITUCIONAIS
CONFLITANTES. PRECEDENTES DO STF. REGIME DE EXECUÇÃO
DA FAZENDA PÚBLICA MEDIANTE PRECATÓRIO. EMENDA
CONSTITUCIONAL Nº 62/2009. EXISTÊNCIA DE RAZÕES DE
SEGURANÇA JURÍDICA QUE JUSTIFICAM A MANUTENÇÃO
TEMPORÁRIA DO REGIME
ESPECIAL NOS TERMOS EM QUE DECIDIDO PELO PLENÁRIO DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
1. A modulação temporal das decisões em controle judicial de constitucionalidade
decorre diretamente da Carta de 1988 ao consubstanciar instrumento voltado à
acomodação otimizada entre o princípio da nulidade das leis inconstitucionais e
outros valores constitucionais relevantes, notadamente a segurança jurídica e a
proteção da confiança legítima, além de encontrar lastro também no plano
infraconstitucional (Lei nº 9.868/99, art. 27). Precedentes do STF: ADI nº 2.240;
ADI nº 2.501; ADI nº 2.904; ADI nº 2.907; ADI nº 3.022; ADI nº 3.315; ADI nº
3.316; ADI nº 3.430; ADI nº 3.458; ADI nº 3.489; ADI nº 3.660; ADI nº 3.682;
ADI nº 3.689; ADI nº 3.819; ADI nº 4.001; ADI nº 4.009; ADI nº 4.029.
2. In casu, modulam-se os efeitos das decisões declaratórias de
inconstitucionalidade proferidas nas ADIs nº 4.357 e 4.425 para manter a vigência
do regime especial de pagamento de precatórios instituído pela Emenda
Constitucional nº 62/2009 por 5 (cinco) exercícios financeiros a contar de
primeiro de janeiro de 2016.
3. Confere-se eficácia prospectiva à declaração de inconstitucionalidade dos
seguintes aspectos da ADI, fixando como marco inicial a data de conclusão do
julgamento da presente questão de ordem (25.03.2015) e mantendo-se válidos os
precatórios expedidos ou pagos até esta data, a saber: (i) fica mantida a aplicação
do índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança (TR), nos
termos da Emenda Constitucional nº 62/2009, até 25.03.2015, data após a qual (a)
os créditos em precatórios deverão ser corrigidos pelo Índice de Preços ao
Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) e (b) os precatórios tributários deverão
observar os mesmos critérios pelos quais a Fazenda Pública corrige seus créditos
tributários; e (ii) ficam resguardados os precatórios expedidos, no âmbito da
administração pública federal, com base nos arts. 27 das Leis nº 12.919/13 e nº
13.080/15, que fixam o IPCA-E como índice de correção monetária.
4. Quanto às formas alternativas de pagamento previstas no regime especial: (i)
consideram-se válidas as compensações, os leilões e os pagamentos à vista por
ordem crescente de crédito previstos na Emenda Constitucional nº 62/2009, desde
que realizados até 25.03.2015, data a partir da qual não será possível a quitação de
precatórios por tais modalidades; (ii) fica mantida a possibilidade de realização de
acordos diretos, observada a ordem de preferência dos credores e de acordo com a
lei própria da entidade devedora, com redução máxima de 40% do valor do
crédito atualizado.
5. Durante o período fixado no item 2 acima, ficam mantidas (i) a vinculação de
percentuais mínimos da receita corrente líquida ao pagamento dos precatórios (art.
97, § 10, do ADCT) e (ii) as sanções para o caso de não liberação tempestiva dos
recursos destinados ao pagamento de precatórios (art. 97, §10, do ADCT).
6. Delega-se competência ao Conselho Nacional de Justiça para que considere a
apresentação de proposta normativa que discipline (i) a utilização compulsória de
50% dos recursos da conta de depósitos judiciais tributários para o pagamento de
precatórios e (ii) a possibilidade de compensação de precatórios vencidos,
próprios ou de terceiros, com o estoque de créditos inscritos em dívida ativa até
25.03.2015, por opção do credor do precatório.
7. Atribui-se competência ao Conselho Nacional de Justiça para que monitore e
supervisione o pagamento dos precatórios pelos entes públicos na forma da
presente decisão.

Logo, restaram estabelecidas as seguintes regras quanto à Correção Monetária dos


Precatórios:
Precatórios Não Tributários:

Até 25/03/2015 – Aplica-se a regra prevista pela EC 62/2009 – Índice


da Caderneta de Poupança.
A partir de 26/03/2015 – IPCA-E

Precatórios Tributários:
Devem ser aplicadas as mesmas regras previstas para remuneração do
crédito devido à Fazenda Pública.

Dando sequência, foram interpostos diversos Embargos de Declaração, sendo a maior


parte deles rejeitados.
No entanto, quando do julgamento dos embargos QO – ED – Segundos – DF (dia
09/12/2015), abordou-se alguns temas importantes, conforme se vê abaixo:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 62/2009.
REGIME DE JUROS MORATÓRIOS EM RELAÇÕES JURÍDICAS NÃO
TRIBUTÁRIAS. SUPOSTA OMISSÃO QUANTO AO PRÍNCIPIO DA
ISONOMIA. NÃO OCORRÊNCIA. TENTATIVA DE REDISCUSSÃO DO
MÉRITO. IMPOSSIBILIDADE. ALEGAÇÃO DE OMISSÃO QUANTO
AOS JUROS COMPENSATÓRIOS. IMPUGNAÇÃO NÃO
APRESENTADA NA POSTULAÇÃO INICIAL. AUSÊNCIA DE VÍCIO NO
ACÓRDÃO EMBARGADO. EFICÁCIA RETROATIVA DO JULGADO.
OMISSÃO INEXISTENTE. CRITÉRIO DE CORREÇÃO MONETÁRIA
DE PRECATÓRIOS NÃO SUJEITOS AO REGIME ESPECIAL.
ALEGADA OMISSÃO. NÃO OCORRÊNCIA. APLICABILIDADE DO
IPCA-E A PARTIR DE 25 DE MARÇO DE 2015 A TODOS OS
REQUISITÓRIOS. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS.
1. O princípio constitucional da isonomia, segundo a compreensão da maioria
formada no julgamento das ADIs nº 4.357 e 4.425, exige o mesmo regime de
tratamento quanto aos juros moratórios para o credor público e para o
credor privado em cada relação jurídica específica que integrem, na esteira do
precedente fixado no RE nº 453.740, de relatoria do Min. Gilmar Mendes.
2. Os juros moratórios nas condenações e nos precatórios judiciais da
Fazenda Pública seguem disciplinados pelo art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, sendo
válido o índice oficial de remuneração da caderneta de poupança como
critério de sua quantificação, exceto no que diz respeito às relações jurídico-
tributárias.
3. Os juros moratórios nas relações jurídico-tributárias devem seguir os
mesmos critérios pelos quais a Fazenda Pública remunera o seu crédito,
tendo como marco inicial a data de 25 de março de 2015, quando concluído o
julgamento de questão de ordem relativa à eficácia temporal do julgado.
Inexistência de omissão quanto ao ponto.
4. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo-Especial (IPCA-E) é o índice de
correção monetária a ser aplicado a todos os valores inscritos em precatórios,
estejam eles sujeitos, ou não, ao regime especial criado pela EC nº 62/2009,
qualquer que seja o ente federativo de que se trate.
5. Embargos de declaração rejeitados.

Logo, houve disciplina da Correção Monetária e juros de mora quanto aos


precatórios, podendo se apontar para a seguinte direção:

1 – Correção Monetária:

Precatórios Não Tributários:


Até 25/03/2015 – Aplica-se a regra prevista pela EC 62/2009 – Índice
oficial de remuneração da Caderneta de Poupança (TR).
A partir de 26/03/2015 – IPCA-E
Precatórios Tributários:
Devem ser aplicadas as mesmas regras previstas para remuneração do
crédito devido à Fazenda Pública.

2 – Juros de Mora

Precatórios Não Tributários:


Índice oficial da Caderneta de Poupança, nos termos do artigo 1º - F
da Lei 9494/97.

Precatórios Tributários:
Até 24/03/2015 (data do julgamento da Questão de Ordem) – Juros da
Caderneta de Poupança.

A partir de 25/03/2015 – Deve ser aplicado o índice utilizado pela


Fazenda Pública para remunerar o seu crédito.

ADI 4425

A - Causa de Pedir remota: A Constituição Federal.


B - Causa de Pedir Próxima: Parágrafos 9º e 12 do artigo 100 da Constituição da
República; artigo 97 do ADCT com redação dada pela EC 62/2009 e ainda,
artigos 3º, 4º e 6º da Emenda Constitucional 62/2009.

Foi realizado o julgamento conjunto das ADI’S 4357/DF E 4425/DF, sendo lavrado
um acordão para cada uma dessas ações.
No que toca a ADI 4425/DF, foi proferido o seguinte acordão:

DIREITO CONSTITUCIONAL. REGIME DE EXECUÇÃO DA FAZENDA


PÚBLICA MEDIANTE PRECATÓRIO. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº
62/2009. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL NÃO CONFIGURADA.
INEXISTÊNCIA DE INTERSTÍCIO CONSTITUCIONAL MÍNIMO
ENTRE OS DOIS TURNOS DE VOTAÇÃO DE EMENDAS À LEI MAIOR
(CF, ART. 60, §2º). CONSTITUCIONALIDADE DA SISTEMÁTICA DE
“SUPERPREFERÊNCIA” A CREDORES DE VERBAS ALIMENTÍCIAS
QUANDO IDOSOS OU PORTADORES DE DOENÇA GRAVE. RESPEITO
À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E À PROPORCIONALIDADE.
INVALIDADE JURÍDICOCONSTITUCIONAL DA LIMITAÇÃO DA
PREFERÊNCIA A IDOSOS QUE COMPLETEM 60 (SESSENTA) ANOS
ATÉ A EXPEDIÇÃO DO PRECATÓRIO. DISCRIMINAÇÃO
ARBITRÁRIA E VIOLAÇÃO À ISONOMIA (CF, ART. 5º, CAPUT).
INCONSTITUCIONALIDADE DA SISTEMÁTICA DE COMPENSAÇÃO
DE DÉBITOS INSCRITOS EM PRECATÓRIOS EM PROVEITO
EXCLUSIVO DA FAZENDA PÚBLICA. EMBARAÇO À EFETIVIDADE
DA JURISDIÇÃO (CF, ART. 5º, XXXV), DESRESPEITO À COISA
JULGADA MATERIAL (CF, ART. 5º XXXVI), OFENSA À SEPARAÇÃO
DOS PODERES (CF, ART. 2º) E ULTRAJE À ISONOMIA ENTRE O
ESTADO E O PARTICULAR (CF, ART. 1º, CAPUT, C/C ART. 5º, CAPUT).
IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DA UTILIZAÇÃO DO ÍNDICE DE
REMUNERAÇÃO DA CADERNETA DE POUPANÇA COMO CRITÉRIO
DE CORREÇÃO MONETÁRIA. VIOLAÇÃO AO DIREITO
FUNDAMENTAL DE PROPRIEDADE (CF, ART. 5º, XXII).
INADEQUAÇÃO MANIFESTA ENTRE MEIOS E FINS.
INCONSTITUCIONALIDADE DA UTILIZAÇÃO DO RENDIMENTO DA
CADERNETA DE POUPANÇA COMO ÍNDICE DEFINIDOR DOS JUROS
MORATÓRIOS DOS CRÉDITOS INSCRITOS EM PRECATÓRIOS,
QUANDO ORIUNDOS DE RELAÇÕES JURÍDICO-TRIBUTÁRIAS.
DISCRIMINAÇÃO ARBITRÁRIA E VIOLAÇÃO À ISONOMIA ENTRE
DEVEDOR PÚBLICO E DEVEDOR PRIVADO (CF, ART. 5º, CAPUT).
INCONSTITUCIONALIDADE DO REGIME ESPECIAL DE
PAGAMENTO. OFENSA À CLÁUSULA CONSTITUCIONAL DO
ESTADO DE DIREITO (CF, ART. 1º, CAPUT), AO PRINCÍPIO DA
SEPARAÇÃO DE PODERES (CF, ART. 2º), AO POSTULADO DA
ISONOMIA (CF, ART. 5º, CAPUT), À GARANTIA DO ACESSO À
JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA TUTELA JURISDICIONAL (CF, ART.
5º, XXXV) E AO DIREITO ADQUIRIDO E À COISA JULGADA (CF,
ART. 5º, XXXVI). PEDIDO JULGADO PROCEDENTE EM PARTE.
1. A Constituição Federal de 1988 não fixou um intervalo temporal mínimo entre
os dois turnos de votação para fins de aprovação de emendas à Constituição (CF,
art. 62, §2º), de sorte que inexiste parâmetro objetivo que oriente o exame judicial
do grau de solidez da vontade política de reformar a Lei Maior. A interferência
judicial no âmago do processo político, verdadeiro locus da atuação típica dos
agentes do Poder Legislativo, tem de gozar de lastro forte e categórico no que
prevê o texto da Constituição Federal. Inexistência de ofensa formal à
Constituição brasileira.
2. O pagamento prioritário, até certo limite, de precatórios devidos a titulares
idosos ou que sejam portadores de doença grave promove, com razoabilidade, a
dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III) e a proporcionalidade (CF, art. 5º,
LIV), situando-se dentro da margem de conformação do legislador constituinte
para operacionalização da novel preferência subjetiva criada pela Emenda
Constitucional nº 62/2009.
3. A expressão “na data de expedição do precatório”, contida no art. 100, §2º, da
CF, com redação dada pela EC nº 62/09, enquanto baliza temporal para a
aplicação da preferência no pagamento de idosos, ultraja a isonomia (CF, art. 5º,
caput) entre os cidadãos credores da Fazenda Pública, na medida em que
discrimina, sem qualquer fundamento, aqueles que venham a alcançar a idade de
sessenta anos não na data da expedição do precatório, mas sim posteriormente,
enquanto pendente este e ainda não ocorrido o pagamento.
4. O regime de compensação dos débitos da Fazenda Pública inscritos em
precatórios, previsto nos §§ 9º e 10 do art. 100 da Constituição Federal, incluídos
pela EC nº 62/09, embaraça a efetividade da jurisdição (CF, art. 5º, XXXV),
desrespeita a coisa julgada material (CF, art. 5º, XXXVI), vulnera a Separação
dos Poderes (CF, art. 2º) e ofende a isonomia entre o Poder Público e o particular
(CF, art. 5º, caput), cânone essencial do Estado Democrático de Direito (CF, art.
1º, caput).
5. A atualização monetária dos débitos fazendários inscritos em precatórios
segundo o índice oficial de remuneração da caderneta de poupança viola o direito
fundamental de propriedade (CF, art. 5º, XXII) na medida em que é
manifestamente incapaz de preservar o valor real do crédito de que é titular o
cidadão. A inflação, fenômeno tipicamente econômico-monetário, mostra-se
insuscetível de captação apriorística (ex ante), de modo que o meio escolhido pelo
legislador constituinte (remuneração da caderneta de poupança) é inidôneo a
promover o fim a que se destina (traduzir a inflação do período).
6. A quantificação dos juros moratórios relativos a débitos fazendários inscritos
em precatórios segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança
vulnera o princípio constitucional da isonomia (CF, art. 5º, caput) ao incidir sobre
débitos estatais de natureza tributária, pela discriminação em detrimento da parte
processual privada que, salvo expressa determinação em contrário, responde pelos
juros da mora tributária à taxa de 1% ao mês em favor do Estado (ex vi do art.
161, §1º, CTN). Declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução da
expressão “independentemente de sua natureza”, contida no art. 100, §12, da CF,
incluído pela EC nº 62/09, para determinar que, quanto aos precatórios de
natureza tributária, sejam aplicados os mesmos juros de mora incidentes sobre
todo e qualquer crédito tributário.
7. O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com redação dada pela Lei nº 11.960/09, ao
reproduzir as regras da EC nº 62/09 quanto à atualização monetária e à fixação de
juros moratórios de créditos inscritos em precatórios incorre nos mesmos vícios
de juridicidade que inquinam o art. 100, §12, da CF, razão pela qual se revela
inconstitucional por arrastamento, na mesma extensão dos itens 5 e 6 supra.
8. O regime “especial” de pagamento de precatórios para Estados e Municípios
criado pela EC nº 62/09, ao veicular nova moratória na quitação dos débitos
judiciais da Fazenda Pública e ao impor o contingenciamento de recursos para
esse fim, viola a cláusula constitucional do Estado de Direito (CF, art. 1º, caput),
o princípio da Separação de Poderes (CF, art. 2º), o postulado da isonomia (CF,
art. 5º), a garantia do acesso à justiça e a efetividade da tutela jurisdicional (CF,
art. 5º, XXXV), o direito adquirido e à coisa julgada (CF, art. 5º, XXXVI).
9. Pedido de declaração de inconstitucionalidade julgado procedente em parte.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos este autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência do Senhor Ministro
Joaquim Barbosa, na conformidade da ata de julgamentos e das notas
taquigráficas, por maioria de votos e nos termos do voto do Ministro Ayres Britto
(relator), em julgar parcialmente procedente a ação direta, vencidos os Ministros
Gilmar Mendes, Teori Zavascki e Dias Toffoli, que a julgavam totalmente
improcedente, e os Ministro Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski, que a
julgavam procedente em menor extensão.

Em razão das ações supramencionadas terem sido julgadas em conjunto, a questão de


ordem e os embargos de declaração supramencionadas também se aplicam à essa ação,
não sendo os mesmos repetidos para evitar um texto longo.

Tema 810.
O Tema 810, que abrange o Julgamento do Recurso Extraordinário 870.947, mais uma
vez chamou o Supremo Tribunal Federal a se manifestar sobre parcela dos temas
decididos nas ADI’S 4.357/DF e 4.425/DF, qual seja, o Regime de Atualização
Monetária e Juros Moratórios incidentes sobre condenações judiciais da Fazenda
Pública – Artigo 1º-F da Lei nº 9494/97 com a redação dada pela Lei nº 11.960/09.
Quando do Julgamento do Recurso Extraordinário supracitado, foi reconhecida a
repercussão geral sobre o tema, conforme se vê abaixo:

DIREITO CONSTITUCIONAL. REGIME DE ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA


E JUROS MORATÓRIOS INCIDENTE SOBRE CONDENAÇÕES JUDICIAIS
DA FAZENDA PÚBLICA. ART. 1º-F DA LEI Nº 9.494/97 COM A REDAÇÃO
DADA PELA LEI Nº 11.960/09.
1. Reveste-se de repercussão geral o debate quanto à validade da correção
monetária e dos juros moratórios incidente sobre condenações impostas à Fazenda
Pública segundo os índices oficiais de remuneração básica da caderneta de
poupança (Taxa Referencial - TR), conforme determina o art. 1º-F da Lei nº
9.494/97 com redação dada pela Lei nº 11.960/09.
2. Tendo em vista a recente conclusão do julgamento das ADIs nº 4.357 e 4.425,
ocorrida em 25 de março de 2015, revela-se oportuno que o Supremo Tribunal
Federal reitere, em sede de repercussão geral, as razões que orientaram aquele
pronunciamento da Corte, o que, a um só tempo, contribuirá para orientar os
tribunais locais quanto à aplicação do decidido pelo STF, bem como evitará que
casos idênticos cheguem a esta Suprema Corte.
3. Manifestação pela existência da repercussão geral.
Caminhando, quando do julgamento do mérito do Recurso Extraordinário, o Supremo
Tribunal Federal decidiu que:

DIREITO CONSTITUCIONAL. REGIME DE ATUALIZAÇÃO


MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS INCIDENTE SOBRE
CONDENAÇÕES JUDICIAIS DA FAZENDA PÚBLICA. ART. 1º-F DA
LEI Nº 9.494/97 COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 11.960/09.
IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DA UTILIZAÇÃO DO ÍNDICE DE
REMUNERAÇÃO DA CADERNETA DE POUPANÇA COMO CRITÉRIO
DE CORREÇÃO MONETÁRIA. VIOLAÇÃO AO DIREITO
FUNDAMENTAL DE PROPRIEDADE (CRFB, ART. 5º, XXII).
INADEQUAÇÃO MANIFESTA ENTRE MEIOS E FINS.
INCONSTITUCIONALIDADE DA UTILIZAÇÃO DO RENDIMENTO DA
CADERNETA DE POUPANÇA COMO ÍNDICE DEFINIDOR DOS JUROS
MORATÓRIOS DE CONDENAÇÕES IMPOSTAS À FAZENDA
PÚBLICA, QUANDO ORIUNDAS DE RELAÇÕES JURÍDICO-
TRIBUTÁRIAS. DISCRIMINAÇÃO ARBITRÁRIA E VIOLAÇÃO À
ISONOMIA ENTRE DEVEDOR PÚBLICO E DEVEDOR PRIVADO
(CRFB, ART. 5º, CAPUT). RECURSO EXTRAORDINÁRIO
PARCIALMENTE PROVIDO.
1. O princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º, caput), no seu núcleo
essencial, revela que o art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei
nº 11.960/09, na parte em que disciplina os juros moratórios aplicáveis a
condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos
oriundos de relação jurídico tributária, os quais devem observar os mesmos juros
de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu crédito; nas hipóteses de
relação jurídica diversa da tributária, a fixação dos juros moratórios segundo o
índice de remuneração da caderneta de poupança é constitucional, permanecendo
hígido, nesta extensão, o disposto legal supramencionado.
2. O direito fundamental de propriedade (CRFB, art. 5º, XXII) repugna o disposto
no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09,
porquanto a atualização monetária das condenações impostas à Fazenda Pública
segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança não se qualifica como
medida adequada a capturar a variação de preços da economia, sendo inidônea a
promover os fins a que se destina.
3. A correção monetária tem como escopo preservar o poder aquisitivo da moeda
diante da sua desvalorização nominal provocada pela inflação. É que a moeda
fiduciária, enquanto instrumento de troca, só tem valor na medida em que capaz
de ser transformada em bens e serviços. A inflação, por representar o aumento
persistente e generalizado do nível de preços, distorce, no tempo, a
correspondência entre valores real e nominal (cf. MANKIW, N.G.
Macroeconomia. Rio de Janeiro, LTC 2010, p. 94; DORNBUSH, R.; FISCHER,
S. e STARTZ, R. Macroeconomia.
São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 2009, p. 10; BLANCHARD, O.
Macroeconomia. São Paulo: Prentice Hall, 2006, p. 29).
4. A correção monetária e a inflação, posto fenômenos econômicos conexos,
exigem, por imperativo de adequação lógica, que os instrumentos destinados a
realizar a primeira sejam capazes de capturar a segunda, razão pela qual os índices
de correção monetária devem consubstanciar autênticos índices de preços.
5. Recurso extraordinário parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo


Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência da Senhora Ministra
Cármen Lúcia, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas,
por maioria e nos termos do voto do Relator, Ministro Luiz Fux, apreciando o
tema 810 da repercussão geral, em dar parcial provimento ao recurso para,
confirmando, em parte, o acórdão lavrado pela Quarta Turma do Tribunal
Regional Federal da 5ª Região, (i) assentar a natureza assistencial da relação
jurídica em exame (caráter não tributário) e (ii) manter a concessão de benefício
de prestação continuada (Lei nº 8.742/93, art. 20) ao ora recorrido (iii) atualizado
monetariamente segundo o IPCA-E desde a data fixada na sentença e (iv) fixados
os juros moratórios segundo a remuneração da caderneta de poupança, na forma
do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 com a redação dada pela Lei nº 11.960/09.
Vencidos, integralmente o Ministro Marco Aurélio, e parcialmente os Ministros
Teori Zavascki, Dias Toffoli, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes. Ao final, por
maioria, vencido o Ministro Marco Aurélio, em fixar as seguintes
teses, nos termos do voto do Relator: 1) O art. 1º-F da Lei nº
9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em
que disciplina os juros moratórios aplicáveis a condenações da
Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos
oriundos de relação jurídico-tributária, aos quais devem ser
aplicados os mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública
remunera seu crédito tributário, em respeito ao princípio
constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º, caput); quanto às
condenações oriundas de relação jurídica não-tributária, a fixação
dos juros moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta
de poupança é constitucional, permanecendo hígido, nesta extensão,
o disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 com a redação dada pela
Lei nº 11.960/09; e 2) O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação
dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em que disciplina a atualização
monetária das condenações impostas à Fazenda Pública segundo a
remuneração oficial da caderneta de poupança, revela-se
inconstitucional ao impor restrição desproporcional ao direito de
propriedade (CRFB, art. 5º, XXII), uma vez que não se qualifica
como medida adequada a capturar a variação de preços da
economia, sendo inidônea a promover os fins a que se destina.
Brasília, 20 de setembro de 2017.
Ministro LUIZ FUX - RELATOR
Documento assinado digitalmente
Após o julgamento do Recurso Extraordinário 870947/SE, alguns entes federativos
estaduais interpuseram Embargos de Declaração, tendo o Ministro Luiz Fux, relator
do processo, concedido no dia 21/09/2018 efeito suspensivo aos embargos opostos.
Vejamos a decisão monocrática em questão:

DIREITO CONSTITUCIONAL. REGIME DE ATUALIZAÇÃO


MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS INCIDENTES SOBRE
CONDENAÇÕES JUDICIAIS DA FAZENDA PÚBLICA. ARTIGO 1º-F DA
LEI 9.494/1997 COM REDAÇÃO DADA PELA LEI 11.960/2009. TEMA 810
DA REPERCUSSÃO GERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO
PARCIALMENTE PROVIDO. OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. EFEITO SUSPENSIVO. ARTIGO 1.026, § 1º, DO
CPC/2015. DEFERIMENTO.

DECISÃO: Tratam-se de pedidos de concessão de efeito suspensivo aos


embargos de declaração opostos pelo Estado do Pará (Doc. 60, Petição
73.194/2017) e pelos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Goiás, Maranhão,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio
Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Roraima, Santa Catarina, São Paulo,
Sergipe e pelo Distrito Federal (Doc. 62, Petição 73.596/2017), reiterados pelo
Estado de São Paulo através das Petições 2.748/2018 (Doc. 64) e 58.955/2018
(Doc. 152) e pelos demais Estados embargantes através da Petição 39.068 (Doc.
146), nos termos do § 1º do artigo 1.026 do CPC, sustentando os embargantes o
preenchimento dos requisitos da plausibilidade jurídica dos argumentos
expendidos em sede de embargos de declaração e do periculum in mora. A
Confederação Nacional dos Servidores Públicos – CNSP e a Associação Nacional
dos Servidores do Poder Judiciário – ANSJ manifestaram-se, por seu turno,
através das Petições 3.380/2018 (Doc. 75),
59.993/2018 (Doc. 154) e 60.024/2018 (Doc. 156), pelo indeferimento de efeito
suspensivo aos referidos embargos declaratórios.
É o breve relato. DECIDO.
Estabelece o Código de Processo Civil em seu artigo 1.026, caput e § 1º, in
verbis: “Art. 1.026. Os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo e
interrompem o prazo para a interposição de recurso. § 1o A eficácia da decisão
monocrática ou colegiada poderá ser suspensa pelo respectivo juiz ou relator se
demonstrada a probabilidade de provimento do recurso ou, sendo relevante a
fundamentação, se houver risco de dano grave ou de difícil reparação.”
Destarte, com fundamento no referido permissivo legal, procede-se à apreciação
singular dos pedidos de concessão de efeito suspensivo aos indigitados embargos
de declaração. In casu, sustentam os entes federativos embargantes, em apertada
síntese, padecer o decisum embargado de omissão e contradição, em face da
ausência de modulação de seus efeitos, vindo a sua imediata aplicação pelas
instâncias a quo a dar causa a um cenário de insegurança jurídica, com risco de
dano grave ao erário, ante a possibilidade do pagamento pela Fazenda Pública de
valores a maior.
Pois bem, apresenta-se relevante a fundamentação expendida pelos entes
federativos embargantes no que concerne à modulação temporal dos efeitos do
acórdão embargado, mormente quando observado tratar-se a modulação de
instrumento voltado à acomodação otimizada entre o princípio da nulidade de leis
inconstitucionais e outros valores constitucionais relevantes, como a segurança
jurídica e a proteção da confiança legítima.
Encontra-se igualmente demonstrada, in casu, a efetiva existência de risco de
dano grave ao erário em caso de não concessão do efeito suspensivo pleiteado.
Com efeito, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de
que, para fins de aplicação da sistemática da repercussão geral, não é necessário se
aguardar o trânsito em julgado do acórdão paradigma para a observância da
orientação estabelecida.
(...).
Desse modo, a imediata aplicação do decisum embargado pelas instâncias a quo,
antes da apreciação por esta Suprema Corte do pleito de modulação dos efeitos da
orientação estabelecida, pode realmente dar ensejo à realização de pagamento de
consideráveis valores, em tese, a maior pela Fazenda Pública, ocasionando grave
prejuízo às já combalidas finanças públicas.
Ex positis, DEFIRO excepcionalmente efeito suspensivo aos embargos de
declaração opostos pelos entes federativos estaduais, com fundamento no
artigo 1.026, §1º, do CPC/2015 c/c o artigo 21, V, do RISTF.

Cabe esclarecer que o Supremo Tribunal Federal julgou o mérito dos embargos
declaratórios opostos em face do acordão proferido no Recurso Extraordinário nº
870.947, conforme se vê abaixo:

“QUATRO EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE


VÍCIOS DE FUNDAMENTAÇÃO NO ACÓRDÃO EMBARGADO.
REJEIÇÃO. REQUERIMENTO DE MODULAÇÃO DE EFEITOS
INDEFERIDO. 1. O acórdão embargado contém fundamentação apta e
suficiente a resolver todos os pontos do Recurso Extraordinário. 2.
Ausentes omissão, contradição, obscuridade ou erro material no julgado,
não há razão para qualquer reparo. 3. A respeito do requerimento de
modulação de efeitos do acórdão, o art. 27 da Lei 9.868/1999 permite a
estabilização de relações sociais surgidas sob a vigência da norma
inconstitucional, com o propósito de prestigiar a segurança jurídica e a
proteção da confiança legítima depositada na validade de ato normativo
emanado do próprio Estado. 4. Há um juízo de proporcionalidade em
sentido estrito envolvido nessa excepcional técnica de julgamento. A
preservação de efeitos inconstitucionais ocorre quando o seu desfazimento
implica prejuízo ao interesse protegido pela Constituição em grau superior
ao provocado pela própria norma questionada. Em regra, não se admite o
prolongamento da vigência da norma sobre novos fatos ou relações
jurídicas, já posteriores à pronúncia da inconstitucionalidade, embora as
razões de segurança jurídica possam recomendar a modulação com esse
alcance, como registra a jurisprudência da CORTE. 5. Em que pese o seu
caráter excepcional, a experiência demonstra que é próprio do exercício da
Jurisdição Constitucional promover o ajustamento de relações jurídicas
constituídas sob a vigência da legislação invalidada, e essa CORTE tem se
mostrado sensível ao impacto de suas decisões na realidade social
subjacente ao objeto de seus julgados. 6. Há um ônus argumentativo de
maior grau em se pretender a preservação de efeitos inconstitucionais, que
não vislumbro superado no caso em debate. Prolongar a incidência da TR
como critério de correção monetária para o período entre 2009 e 2015 é
incongruente com o assentado pela CORTE no julgamento de mérito deste
RE 870.947 e das ADIs 4357 e 4425, pois virtualmente esvazia o efeito
prático desses pronunciamentos para um universo expressivo de
destinatários da norma. 7. As razões de segurança jurídica e interesse social
que se pretende prestigiar pela modulação de efeitos, na espécie, são
inteiramente relacionadas ao interesse fiscal das Fazendas Públicas
devedoras, o que não é suficiente para atribuir efeitos a uma norma
inconstitucional. 8. Embargos de declaração todos rejeitados. Decisão
anteriormente proferida não modulada”
Registre-se que as partes do processo supra foram intimadas do acordão supracitado
no dia 03/02/2020 e foram opostos novos embargos declaratórios, os quais foram
julgados prejudicados no dia 24 de março de 2020.
O acordão proferido no RE 870.947 transitou em julgado no dia 31/03/2020.

Com o trânsito em julgado do acordão, temos que os débitos fazendários não inscritos
em precatórios judiciais passam a sofrer a seguinte atualização monetária:

1 – Débitos de natureza não tributária:


Juros: Idêntico índice aplicado para remuneração dos valores depositados na
Caderneta de Poupança.
Correção Monetária: IPCA-E.

2 – Débitos de Natureza Tributária:


Juros: O mesmo utilizado pela Fazenda Pública para remunerar o seu crédito
tributário.
Correção Monetária: IPCA-E.

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