A POLÍTICA DO

ENQUADRO
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Em 2016, a Polícia Militar realizou, em média, 500 enquadros por hora na capital
paulista. Em um só dia, 12 mil casos em que a polícia, sob a ameaça ulterior do uso da
força, parou alguém e revistou seu corpo. Nos últimos 20 anos, a taxa de enquadros por
100 mil habitantes apresentou um aumento relativo de quase 400% na cidade de São
Paulo e, ao menos desde 2011, gestores da segurança pública referem-se ao enquadro
como o “carro-chefe” da atuação policial no estado.
Marcelo Semer
Desembargador do Esse processo de transformação do uso dos enquadros foi deflagrado ao fim dos anos
TJSP e escritor 1990, no bojo de um movimento mais amplo de reforma das polícias e racionalização do
funcionalismo público, em que a Polícia Militar do Estado de São Paulo desenvolveu uma
série de medidas voltada ao aumento da eficiência policial e do enfoque na prevenção e
repressão do crime, contexto em que os enquadros se emergiram como um atestado de
atuação policial proativa e comprometida com a prevenção criminal.
Concebidos como medida de produtividade, os enquadros foram estimulados institucio-
nalmente através da política do enquadro, que empreendeu avanços de procedimentali-
Renato Sergio zação, qualificação técnica e foco nos resultados; um esforço burocratização catalisado
de Lima pelo ímpeto de retomada da direção civil sobre a força policial que, anos após o fim da
Diretor Presidente Ditadura de 64, permanecia refratária ao controle civil.
do Fórum Brasileiro
de Segurança O processo de implementação dessas medidas e os efeitos concretos da sua adoção
Pública e Professor. relevam um processo de acomodação de interesses em que medidas de burocratização
voltadas à produção de resultados sob um mote eficientista foram combinadas com a JÉSSICA DA MATA
velha tradição da ampla discricionariedade da ação policial, especialmente valorizada
entre setores refratários ao controle civil sobre a organização na medida em que mantém Mestre em Direito Penal e Bacharela em
indeterminados os limites do poder de polícia Direito pela Faculdade de Direito da Univer-
A partir de uma pesquisa detalhada sobre o uso diferencial do enquadro em áreas sidade de São Paulo. Pesquisadora do
centrais e periféricas de São Paulo, a autora demonstra que o modo como opera a
vigilância policial nas periferias e favelas, marcado pelo uso acentuado de estratégias Centro de Pesquisa e Extensão em Ciências
Ana Lúcia Pastore segregacionistas e táticas intrusivas de policiamento, faz parte de um processo mais
Schritzmeyer
amplo e complexo de acumulação de desvantagens sociais que concorrem para a
Criminais da Universidade de São Paulo
Professora de
Antropologia da USP. construção de um estereótipo do “suspeito”: o rapaz negro morador favela, principal alvo (CPECC-USP). Professora do curso de
dos enquadros.
pós-graduação em Direito Penal e Crimino-
logia Introcrim/CEI. Advogada do Innocence
Project Brasil.

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Segurança ISBN 978-65-5614-538-9 Ajude-nos a melhorar

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