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2008
1
Sumário
3. Funcionamento do subsistema
3.1.Agentes Indígenas de Saúde
3.2.Pólos-Base
3.3.Casas de Saúde do Índio
3.4.Incentivos à atenção básica e especializada
3.5.Sistema de Informações de Saúde Indígena – Siasi
2
Segunda parte – A atuação do Ministério Público
Anexos
1. Bibliografia
2. Sítios Úteis
3. Legislação
4. Enunciados do GT – SI
3
Prefácio
Este manual tem por objetivo ser uma ferramenta útil ao Procurador da
República que inicia sua carreira, muitas vezes, em Procuradorias que exigem
um conhecimento de como atuar na temática indígena. Procuramos delinear ao
longo dos capítulos algumas noções conceituais, um breve escorço histórico, e
resumir a funcionalidade do subsistema de saúde indígena, criado em função dos
horizontes constitucionais.
4
I – apoiar a atuação dos membros do Ministério Público Federal, desde
que instados pelo Procurador natural, respeitados os princípios da
independência funcional e da unidade institucional;
5
Introdução – Breve histórico do atendimento à saúde indígena
7
atenção à saúde indígena geralmente ignoravam os sistemas de representações,
valores e práticas relativas ao adoecer e buscar tratamento dos povos indígenas,
bem como seus próprios especialistas. Estes sistemas tradicionais de saúde se
apresentam numa grande diversidade de formas, sempre considerando as
pessoas integradas ao contexto de suas relações sociais e com o ambiente
natural, consistindo ainda num recurso precioso para a preservação ou
recuperação de sua saúde.
3
Na Portaria 254, de 31 de janeiro de 2002, consta uma descrição da história pós-constituinte:
Para debater a saúde indígena, especificamente, foram realizadas, em 1986 e 1993, a I
Conferência Nacional de Proteção à Saúde do Índio e a II Conferência Nacional de Saúde para os
Povos Indígenas, por indicação da VIII e IX Conferências Nacionais de Saúde, respectivamente.
Essas duas Conferências propuseram a estruturação de um modelo de atenção diferenciada,
baseado na estratégia de Distritos Sanitários Especiais Indígenas, como forma de garantir aos
povos indígenas o direito ao acesso universal e integral à saúde, atendendo às necessidades
percebidas pelas comunidades e envolvendo a população indígena em todas as etapas do
processo de planejamento, execução e avaliação das ações. Em fevereiro de 1991, o Decreto
Presidencial nº 23 transferiu para o Ministério da Saúde a responsabilidade pela coordenação das
ações de saúde destinadas aos povos indígenas, estabelecendo os Distritos Sanitários Especiais
Indígenas como base da organização dos serviços de saúde. Foi então criada, no Ministério da
Saúde, a Coordenação de Saúde do Índio - Cosai, subordinada ao Departamento de Operações -
Deope - da Fundação Nacional de Saúde, com a atribuição de implementar o novo modelo de
atenção à saúde indígena. No mesmo ano, a Resolução 11, de 13 de outubro de 1991, do
Conselho Nacional de Saúde (CNS), criou a Comissão Intersetorial de Saúde do Índio (Cisi), tendo
como principal atribuição assessorar o CNS na elaboração de princípios e diretrizes de políticas
governamentais no campo da saúde indígena. Inicialmente sem representação indígena, os
próprios membros da Cisi reformularam sua composição e, com a saída espontânea de
representantes do CNS, da Secretaria de Meio Ambiente, dentre outros, abriu-se 4 das 11 vagas
para representantes de organizações indígenas. Em sentido oposto ao processo de construção da
política de atenção à saúde indígena no âmbito do SUS, em 19 de maio de 1994 o Decreto
Presidencial n° 1.141/94 constitui uma Comissão Intersetorial de Saúde - CIS, com a participação
de vários Ministérios relacionados com a questão indígena, sob a coordenação da Funai. O
decreto devolve, na prática, a coordenação das ações de saúde à Funai. A CIS aprovou, por
intermédio da Resolução n° 2, de outubro de 1994, o "Modelo de Atenção Integral à Saúde do
Índio", que atribuía a um órgão do Ministério da Justiça, a Funai, a responsabilidade sobre a
recuperação da saúde dos índios doentes, e a prevenção, ao Ministério da Saúde, que seria
responsável pelas ações de imunização, saneamento, formação de recursos humanos e controle
de endemias. Desde então, a Funasa e a Funai dividiram a responsabilidade sobre a atenção à
saúde indígena, passando a executar, cada uma, parte das ações, de forma fragmentada e
conflituosa. Ambas já tinham estabelecido parcerias com municípios, organizações indígenas e
não-governamentais, universidades, instituições de pesquisa e missões religiosas. Os convênios
8
A Lei nº 8.080, de setembro de 1990, havia criado o Sistema Único de
Saúde, sem preocupar-se com qualquer política diferenciada de saúde destinada
aos índios.
9
Primeira parte – Conceitos e funcionamento do subsistema
una cultura no goza del respeto general, entonces la dignidad y el respeto a sí mismos de sus
miembros también estarán amenazados (Maragalit y Raz, 1990, págs.447-449). Charle Taylor
(1992) y Yael Tamir (1993, págs.41, 71-73) sostienen argumentos similares sobre el papel que
desempeña el respeto a la pertenencia nacional como elemento reforzador de la dignidad y de la
propia identidad.”KYMLICKA, Will. Ciudadanía multicultural. Barcelona: Paidós, 1996. p.129.
9
O advento da Convenção nº 169, em 27 de junho de 1989, possibilitou uma alteração nas
relações do Estado com os povos indígenas. Tal Convenção, aprovada em Genebra, durante a
76ª Conferência Internacional do Trabalho, reconhece as aspirações dos povos indígenas a
assumirem o controle de suas próprias instituições, de seu modo de vida e seu desenvolvimento
econômico, bem como manterem e fortalecerem suas identidades, línguas e religiões. Essa
Convenção visa, também, “extirpar a orientação assimilacionista das normas anteriores”. De fato,
este instrumento internacional torna sem vigência a Convenção nº 107, de 1957, de nítido caráter
integracionista. Aqui no Brasil a Convenção 169/89 foi publicada no DCN de 27 de agosto de
1993. Foi aprovada pelo Congresso através do Decreto Legislativo nº 143, de 20 de junho de
2002, treze anos após sua elaboração, sendo ratificada pelo Governo brasileiro junto ao diretor
executivo da OIT em 25 de julho de 2002. E o decreto de execução, nº 5051, que a promulgou, foi
editado em 19 de abril de 2004.
11
Convenção 169/89 foi publicada no DCN de 27 de agosto de 1993. Foi aprovada
pelo Congresso através do Decreto Legislativo nº 143, de 20 de junho de 2002,
treze anos após sua elaboração, sendo ratificada pelo Governo brasileiro junto ao
diretor executivo da OIT em 25 de julho de 2002. E o decreto de execução, nº
5051, que a promulgou, foi editado em 19 de abril de 2004.
10
“a riquíssima diversidade cultural dos índios no Brasil não foi ainda entendida pela sociedade
brasileira. O próprio termo índio, genérico, insinua que todos estes povos são iguais. O senso
comum acha que todos têm uma mesma cultura, língua, religião, hábitos e relações jurídicas civis
e de família. Esta falsa idéia é disseminada nas escolas através dos livros didáticos, que não raras
vezes misturam os índios brasileiros, seus costumes, com os índios norte-americanos que
aparecem, também estereotipados, nos filmes do velho oeste.”. (SOUZA FILHO, Carlos Frederico
Marés. O renascer dos Povos Indígenas para o Direito. Curitiba: Juruá, 1999. p.38.).
12
deixa de ser índio. Passa a ser branco, mendigo, qualquer coisa. Menos índio.
São construções de identidades preconceituosas11 12.
11
O Grupo de Trabalho sobre Saúde Indígena já se manifestou sobre o tema. Vide Enunciado nº
07/2007.
12
O antropólogo indiano Homi K Bhabha é incisivo: “A representação da diferença não deve ser
lida apressadamente como o reflexo de traços culturais ou étnicos preestabelecidos, inscritos na
lápide fixa da tradição. A articulação social da diferença, da perspectiva da minoria, é uma
negociação complexa, em andamento, que procura conferir autoridade aos hibridismos culturais
que emergem em momentos de transformação histórica. O ‘direito’ de se expressar a partir da
periferia do poder e do privilégio autorizados não depende da persistência da tradição; ele é
alimentado pelo poder da tradição de se reinscrever através das condições de contingência e
contraditoriedade que presidem sobre as vidas dos que estão ‘na minoria’. O reconhecimento que
a tradição outorga é uma forma parcial de identificação. Ao reencenar o passado, este introduz
outras temporalidades culturais incomensuráveis na invenção da tradição. Esse processo afasta
qualquer acesso imediato a uma identidade original ou a uma tradição ‘recebida’. Os embates de
fronteira acerca da diferença cultural têm tanta possibilidade de serem consensuais quanto
conflituosos; podem confundir nossas definições de tradição e modernidade, realinhar as fronteiras
habituais entre o público e o privado, o alto e o baixo, assim como desafiar as expectativas
normativas de desenvolvimento e progresso.”BHABHA, Homi K.. O local da Cultura. Belo
Horizonte: Ed.UFMG, 1998. P.21.
13
Artigo 231 da CRFB/88.
13
indígenas de saúde, a Portaria consegue traduzir, normativamente, o desenho
constitucional, dando efetividade ao texto de 1988. Reproduzo:
14
respeito às concepções, valores e práticas relativos ao processo
saúde-doença próprios a cada sociedade indígena e a seus diversos
especialistas. A articulação com esses saberes e práticas deve ser
estimulada para a obtenção da melhoria do estado de saúde dos
povos indígenas. (grifo nosso).
14
MENDONÇA, Sofia Beatriz Machado de. Relação médico-paciente: valorizando os aspectos
culturais x medicina tradicional. in Manual de atenção à saúde da criança indígena
brasileira/YAMAMOTO, Renato Minoru (organizador); promovido pela Sociedade Brasileira de
Pediatria. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2004. pp. 12/13.
15
saúde, e, como no caso de nossa biomedicina, estes saberes compõem seu
sistema de saúde, definindo o que é doença e saúde, o que causa doenças e o
que as cura, e o que é cura. As respostas culturais para estes conceitos de
saúde e doença são diferentes e específicos segundo a etnia particular. O
primeiro passo para realizar os princípios da legislação sobre saúde
indígena é o reconhecimento que estas diferenças são legítimas e fazem
parte de um sistema cultural de saúde. Não são superstições ou fragmentos
de um pensamento menos evoluído.”(grifo nosso)15
Prossegue a Médica Sofia Beatriz Machado de Mendonça realçando
outros problemas deste sistema: “A implantação dos Distritos Sanitários
Especiais Indígenas (DSEIs) tem contribuído para um olhar mais aprofundado
sobre a saúde indígena, que pressupõe convivência, diálogo e construção de
outra relação intercultural. Mas esta nova política de saúde indígena que vem se
estruturando e consolidando nos últimos anos, se por um lado torna mais
acessíveis os recursos da medicina, e os serviços de saúde aos povos indígenas,
por outro lado, amplia bastante a rede de interlocutores, de novos personagens e
papéis sociais no âmbito das aldeias, e, conseqüentemente, impõe um ritmo
mais acelerado de medicalização. O que tem ocorrido é que os sistemas médicos
das sociedades indígenas têm se retraído e perdido espaço. Os saberes e
cuidados com o próprio corpo e com as crianças também têm se perdido, o que
os torna reféns do sistema de saúde ocidental. Não se trata de responsabilizar
apenas o setor saúde, mas, de maneira geral, os índios têm mudado seu modo
de vida de forma drástica nos últimos anos, seja pela limitação dos territórios,
sedentarismo, diminuição dos recursos naturais; seja pela introdução de novos
costumes, alimentação, remédios, mudanças na estrutura familiar, aumento do
número de filhos, rompimento de tabus alimentares e ritos de passagem.”16
A descontextualização e a fragmentação da comunicação entre médico e
comunidade, diante de duas “idéias” diferentes de práticas curativas, vai
15
LANGDON, Jean. “A tolerância e a política de saúde do índio no Brasil”. Povos Indígenas e
Tolerância: Construindo Práticas de Respeito e Solidariedade/ Luís Donisete Benzi Grupioni, Lux
Boelitz Vidal, Roseli Fischmann (orgs.). São Paulo: Editora da USP, 2001. p.160.
16
MENDONÇA, Sofia Beatriz Machado de.Op.cit. . p.13.
16
provocando uma ruptura no sistema tradicional, “colado” como diz a especialista,
ao contexto sociocultural. Na verdade, a medicina não-indígena “moderna”
ingressa no mundo indígena de forma despreparada onde, em regra,
profissionais não estão capacitados para entender uma realidade cultural
diferente17. Os índios, clientela dos programas, devem ser chamados para
discutir e refletir sobre estas técnicas, não permitindo que as práticas indígenas
sejam descartáveis, situando-as no mesmo patamar de reconhecimento.
A Declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos Povos Indígenas
segue uma linha que contempla a valorização da etnomedicina e dos saberes
indígenas. Artigo 24º:
17
Em seu texto Sofia Mendonça afirma: “Neste sentido, é fundamental a formação de profissionais
em saúde indígena, índios ou não-índios, com conhecimentos antropológicos, epidemiológicos e
de saúde pública.” MENDONÇA, Sofia Beatriz Machado de.Op.cit.p.13.
17
Artigo 25
18
2. A estrutura atual da política de atendimento à saúde indígena
19
§ 2º O SUS servirá de retaguarda e referência ao Subsistema de
Atenção à Saúde Indígena, devendo, para isso, ocorrer adaptações na
estrutura e organização do SUS nas regiões onde residem as
populações indígenas, para propiciar essa integração e o atendimento
necessário em todos os níveis, sem discriminações.
§ 3o As populações indígenas devem ter acesso garantido ao SUS, em
âmbito local, regional e de centros especializados, de acordo com suas
necessidades, compreendendo a atenção primária, secundária e terciária
à saúde.
Art. 19-H. As populações indígenas terão direito a participar dos
organismos colegiados de formulação, acompanhamento e avaliação das
políticas de saúde, tais como o Conselho Nacional de Saúde e os
Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde, quando for o caso."
20
exercício de sua cidadania nesse campo. Para sua efetivação, deverá ser criada
uma rede de serviços nas terras indígenas, de forma a superar as deficiências de
cobertura, acesso e aceitabilidade do Sistema Único de Saúde para essa
população.
21
Conforme dispõe a Portaria: a organização dos serviços de saúde
indígena se dá através dos referidos Distritos e de Pólos-Base, no nível local,
podendo estar localizados numa comunidade indígena ou num município de
referência, correspondendo a uma unidade básica de saúde, onde a atenção
primária e os serviços de referência se situam. Nas aldeias a atenção se dá
através de agentes indígenas de saúde, agentes indígenas de saneamento e
equipes multidisciplinares de saúde, formadas por médicos e profissionais de
saúde.
18
Art. 4° – Cada Distrito Sanitário Especial Indígena terá Conselhos Locais de Saúde, compostos
por representantes das comunidades indígenas, com as seguintes competências:
I – manifestar-se sobre as ações e os serviços de saúde necessários à comunidade;
II – avaliar a execução das ações de saúde na região de abrangência do Conselho;
III – indicar conselheiros para o Conselho Distrital de Saúde Indígena e para os Conselhos
Municipais, se for o caso; e
IV – fazer recomendações ao Conselho Distrital de Saúde Indígena, por intermédio dos
conselheiros indicados.
Parágrafo único – Os representantes das comunidades indígenas encaminharão as
indicações para composição do conselho de que trata este artigo diretamente ao Chefe do Distrito
Sanitário Especial Indígena, a quem caberá o ato de designação.
22
Conforme a Portaria nº 254/2002 o Distrito Sanitário Especial Indígena é
conceituado como um modelo de organização de serviços - orientado para um
espaço etno-cultural dinâmico, geográfico, populacional e administrativo bem
delimitado -, que contempla um conjunto de atividades técnicas, visando medidas
racionalizadas e qualificadas de atenção à saúde, promovendo a reordenação da
rede de saúde e das práticas sanitárias e desenvolvendo atividades
administrativo gerenciais necessárias à prestação da assistência, com controle
social.19
19
A definição territorial dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas deverá levar em consideração
os seguintes critérios:
- população, área geográfica e perfil epidemiológico;
- disponibilidade de serviços, recursos humanos e infra-estrutura;
- vias de acesso aos serviços instalados em nível local e à rede regional do SUS;
- relações sociais entre os diferentes povos indígenas do território e a sociedade regional;
- distribuição demográfica tradicional dos povos indígenas, que não coincide
necessariamente com os limites de estados e municípios onde estão localizadas as terras
indígenas.
23
O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena está organizado na forma
de 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas:
20
http://www.Funasa.gov.br/
21
Cabe salientar que tal distribuição foi alterada pela Portaria 1.810, de 3 de agosto de 2006, tendo
a 6ª Câmara de Coordenação e Revisão expedido recomendação, nº 01, de 9 de julho de 2007,
para que a Funasa realizasse uma análise sobre tal alteração e tendo sido ajuizada Ação Civil
Pública. Tendo retornado a organização acima conforme Portaria nº 2.962, de 9/12/2008.
24
É necessário reforçar que o Procurador da República deve possuir
informações precisas sobre toda a estrutura do Distrito Sanitário
Especial Indígena e de todos os recursos humanos e financeiros
necessários para a execução dos serviços. A expedição de um
ofício para tratar do assunto é medida salutar, sugerindo o seu
encaminhamento pelo Procurador da República quando de sua
chegada em uma PR ou PRM onde seja necessária a atuação na
matéria indígena e onde, obviamente, ainda não existam estes
dados ou as informações disponíveis estejam desatualizadas.
26
3. Funcionamento do subsistema
27
Indígena de Saúde (AIS) com atividades vinculadas a um posto de saúde, bem
como deverão ser contratados Agentes Indígenas de Saneamento (Aisan).23
• Acompanhamento de gestantes;
• Primeiros socorros;
• Acompanhamento da vacinação;
23
Conforme site da Funasa:
Os Agentes Indígenas de Saneamento serão selecionados por suas comunidades e
capacitados para:
1. identificar as condições ambientais da comunidade e os
mananciais disponíveis para o abastecimento de água;
2. reconhecer as doenças relacionadas com a água, dejetos
e lixo, e promover melhorias nas condições de saneamento;
3. promover e orientar a execução de sistemas alternativos
para abastecimento de água, destino de dejetos, melhoria habitacional e controle de
vetores e roedores de acordo com a realidade de sua comunidade;
4. auxiliar e supervisionar na operação dos sistemas de
abastecimento de água e outros projetos de saneamento implantados na sua área de
atuação, bem como a manutenção preventiva e corretiva dos mesmos;
5. executar inquéritos sanitários domiciliares e auxiliar em
estudos preliminares para a implantação de pequenas obras de saneamento como
proteção de fontes, poços rasos, cisternas, banheiros, fossas secas, fossas sépticas e
outros.
28
A contratação desses Agentes Indígenas de Saúde tem sido objeto de
grande celeuma. O Ministério Público Federal e o Ministério Público do
Trabalho têm fiscalizado estas contratações. Uma forma de atuar que traz
bons resultados é a litisconsorcial, realizando, MPF e MPT, parcerias e
atividades em conjunto. Em primeiro lugar é necessário observar que
estas contratações possam combinar o binômio capacitação-
legitimidade. O indígena escolhido deverá estar habilitado a prestar os
serviços de saúde que estão a seu encargo. Por outro lado, muitas
dessas contratações só ocorrem a partir do aval da comunidade, de
lideranças, enfim, o elemento sociocultural também deverá ser
respeitado. A Funasa construiu um relatório preliminar por
recomendação do Ministério Público do Trabalho. Nele constam os
referenciais mínimos de contratação: 1) que sejam indígenas e
pertençam à comunidade onde irão atuar; 2) idade superior a 16 anos; 3)
falar o idioma indígena. Não há exigência quanto a falar o português ou
grau de escolaridade. Como refere a Portaria nº 254, em seu item 4.2, “A
formação e a capacitação de indígenas como agentes de saúde é uma
estratégia que visa favorecer a apropriação, pelos povos indígenas, de
conhecimentos e recursos técnicos da medicina ocidental, não de modo
a substituir, mas de somar ao acervo de terapias e outras práticas
culturais próprias, tradicionais ou não.” Neste mesmo relatório, foram
feitas as seguintes considerações sobre as formas de contratação: 1)
contratação por meio de cargos comissionados; 2) contratação por meio
de ONG, consórcio público, ou ainda a instituição de um regime especial
por meio de um cargo de livre provimento sem a característica de
assessoria. Tais conclusões encontram-se no site da 6ª Câmara de
Coordenação e Revisão.24
24
http://ccr6.pgr.mpf.gov.br/institucional/gruposdetrabalho/saude/docs_legislacao/Relatorio
%20Preliminar-GT%20Saude.pdf
29
3.2.Pólos-Base
25
É preciso destacar que, em razão de situações de conflito, por melhoria das condições
estruturais existentes, muitas vezes o Pólo-Base que inicialmente localizava-se na “cidade”
mostrar-se-á, em um outro momento, como de funcionamento mais adequado na própria terra
indígena. Dentro da terra indígena, por sua vez, a sua localização, sobretudo quando nela existem
várias aldeias, cada uma delas com sua própria liderança, deverá ser objeto de discussão e
consenso entre todos.
30
A contratação das equipes multidisciplinares de saúde indígena também
tem sido objeto de grande discussão. Na verdade, no que tange ao atendimento
de saúde indígena do país, a Funasa, alegando deficiências de recursos
humanos, carências de servidores, tem terceirizado o serviço de atenção à
saúde, através de convênios com organizações não-governamentais, municípios
e Estados. Estes convênios foram objetos de apreciação pelo Tribunal de Contas
da União26, que os permitiu, em caráter temporário, devendo a Funasa perseverar
na realização de um concurso público que propicie a execução direta dos
serviços. Até o momento, não se tem notícia da realização de concurso público.27
DA CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA
26
Processo TC 004.199/2004-0, Acórdão nº 823/2004-TCU-Plenário.
27
É oportuno salientar, também, a existência de ACP proposta pelo Ministério Público do Trabalho
que visa: 1) declarar nulos os contratos de trabalho dos trabalhadores subordinados contratados
por instituições da sociedade civil para prestação de serviços à Funasa, na atuação dela junto aos
indígenas; e 2) condenar a Funasa a cumprir obrigação de não-fazer, consubstanciada de se
abster de contratar novas instituições da sociedade civil para fins de contratação de trabalhadores
subordinados para prestação de serviços às populações indígenas, sob pena de astreinte a ser
revertida ao Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT). Sem entrar na discussão sobre a
legitimidade do Ministério Público do Trabalho em propor tal ação, face à repercussão que acarreta
aos povos indígenas, a mesma poderá ser acompanhada através do site do Tribunal Regional do
Trabalho da 10ª Região, sendo que foi protocolada em 17 de julho de 2007 perante a 18ª Vara do
Trabalho de Brasília, ganhando o número 0751-2007-018-10-00-4.
31
União e objeto de apreciação pelo Grupo de Trabalho de Saúde Indígena da 6ª
Câmara de Coordenação e Revisão, tornando-se o Enunciado nº 1. Refere o
Tribunal de Contas da União, Processo TC 004.199/2004-0 (Acórdão nº 823/2004
– TCU, Plenário), que:
32
subsistema de saúde do índio28, considerando as especificidades da saúde
indígena, para facilitarem o acesso da população de um ou mais distritos
sanitários aos atendimentos básico e integral, servindo de apoio entre a aldeia e
a rede de serviços do SUS.
28
Tais casas eram utilizadas de forma desvirtuada, como simples hospedagem, não se limitando
ao atendimento à saúde, quando a Funai era responsável pela sua administração.
33
Saúde do Índio deverão estar em condições de receber, alojar e alimentar
pacientes encaminhados e acompanhantes, prestar assistência de enfermagem
24 horas por dia, marcar consultas, exames complementares e internações
hospitalares, providenciar o acompanhamento dos pacientes nessas ocasiões e o
seu retorno às comunidades de origem, acompanhados das informações sobre o
caso. Também devem promover atividades de educação em saúde, produção
artesanal, lazer e demais atividades para os acompanhantes e mesmo para os
pacientes em condições para o exercício dessas atividades.
29
A Portaria nº 648/GM, de 28 de março de 2006, define a atenção básica: “Atenção Básica
caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem
a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a
reabilitação e a manutenção da saúde. É desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais
e sanitárias democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações
de territórios bem delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a
34
modalide “Fundo a Fundo”, do Fundo Nacional de Saúde para os Fundos de
Saúde dos Municípios, Estados e do Distrito Federal. Esse Fundo, IAB, deverá
ser utilizado para a contratação das Equipes Multidisciplinares de Atenção à
Saúde Indígena, EMSI, sendo que, para a definição de quem irá compor a
equipe, deverá ser levado em conta a situação epidemiológica, necessidades de
saúde, características geográficas, acesso e nível de organização dos serviços
respeitando as especificidades étnicas e culturais de cada povo indígena,
devendo atuar de forma articulada e coordenada com os demais serviços do
SUS.
A Portaria 2.656, artigo 5º, também dividiu tal composição, das EMSI, em
dois núcleos distintos: 1) Núcleo Básico, responsável pela execução das ações
básicas de atenção à saúde, devendo ser composto por enfermeiro, auxiliar ou
técnico de enfermagem, médico, odontólogo, auxiliar de consultório dental,
técnico de higiene dental, agente indígena de saúde, agente indígena de
saneamento, técnico em saneamento, agentes de endemias e microscopias na
região da amazônia legal; e 2) Núcleo Distrital, responsável pela execução das
ações de atenção integral à saúde indígena, composto por nutricionistas,
farmacêuticos/bioquímicos, antropólogos, assistentes sociais e outros, conforme
as necessidades específicas da população indígena. Conforme o parágrafo único
dinamicidade existente no território em que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de elevada
complexidade e baixa densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior freqüência
e relevância em seu território. É o contato preferencial dos usuários com os sistemas de saúde.
Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade e da coordenação do cuidado, do
vínculo e continuidade, da integralidade, da responsabilização, da humanização, da equidade e da
participação social. A Atenção Básica considera o sujeito em sua singularidade, na complexidade,
na integralidade e na inserção sociocultural e busca a promoção de sua saúde, a prevenção e
tratamento de doenças e a redução de danos ou de sofrimentos que possam comprometer suas
possibilidades de viver de modo saudável.”
35
deste artigo “a definição de quais profissionais deverão compor as Equipes
Multidisciplinares de Atenção à Saúde Indígena - EMSI priorizará a situação
epidemiológica, necessidades de saúde, características geográficas, acesso e
nível de organização dos serviços respeitando as especificidades étnicas e
culturais de cada povo indígena, devendo atuar de forma articulada e integrada,
aos demais serviços do SUS, com clientela adscrita e território estabelecidos.”
36
III - participação nas instâncias de Controle Social (Conselhos Distritais
de Saúde Indígena, Municipais e Estaduais de Saúde) e de pactuação
intergestores do SUS, no âmbito do Distrito Sanitário Especial Indígena;
37
Uma sugestão de atuação Ministerial extremamente importante é
assegurar que tais Conselhos, Distrital e Locais, sejam ouvidos e
tenham autorizado a efetivação dos referidos Termos.
38
O Ministério Público deve exigir a realização periódica destes
cursos.
39
4. Recursos financeiros da Funasa
I - Atenção básica;
IV - Assistência farmacêutica; e
V - Gestão do SUS.
41
das ações a que se destinam e desde que constantes no respectivo Plano de
Saúde32.
32
Para tais recursos é possível verificar informações em http:/www.fns.saude.gov.br.
42
4.1. Aplicação dos recursos33
33
Segundo cartilha do TCU, Transferências Governamentais Constitucionais e Legais. Acesso em
9/9/08, disponível em: http://www.contaspublicas.gov.br/Download/Cartilha_Transf_Const_Leg.pdf
43
- na hipótese de aplicação na cobertura assistencial ambulatorial e
hospitalar e nas demais ações de saúde, os recursos federais devem
financiar despesas correntes exclusivamente para manutenção da
assistência ambulatorial e hospitalar, das demais ações de saúde e dos
órgãos, unidades e entidades que as realizam (Lei n° 4.320/1964, §§ 1° e
2° do art. 12). Não é cabível destinar esses recursos a setores das
secretarias de saúde e dos governos municipal e estadual não diretamente
vinculados à execução de tais ações.”
34
Informações prestadas pelo Desai/Funasa, em 10/9/08.
44
Segunda parte – A atuação do Ministério Público
45
enfim, dar o suporte necessário para que se possa tomar ciência da
situação.
46
assuntos pertinentes às políticas públicas que lhe são resguardadas pelo
ordenamento jurídico. Nesse caso, o Procurador, a mais das vezes, para
obtenção de pleno êxito na concretização das políticas públicas
“desejadas” por aquela comunidade, precisará valer-se do analista pericial
do MPU (antropólogo) lotado na respectiva Procuradoria da República ou
na 6ª CCR.
47
ouvir reclamações e estabelecer termos de ajustamento de conduta
destinados aos órgãos estatais.
48
Anexos
1. Bibliografia
BHABHA, Homi K. 1998. O local da Cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, p. 21.
SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés. 1999. O renascer dos Povos Indígenas
para o Direito. Curitiba: Juruá, p. 38.
2. Sítios úteis
www.funasa.gov.br/
www.funai.gov.br/
ccr6.pgr.mpf.gov.br/
www.tcu.gov.br/
www.tesouro.fazenda.gov.br/
www.tesouro.fazenda.gov.br/SIAFI/index.asp
conselho.saude.gov.br
www.fns.saude.gov.br/
www.socioambiental.org/
www.agenciabrasil.gov.br
49
3. Legislação
Portarias Assunto
50
saúde dos povos indígenas no Ministério da
Saúde e regulamenta o Incentivo para a
Atenção Especializada aos Povos Indígenas -
IAEPI; e Considerando o Ofício
ASTEC/GAB/DESAI no- 058, de 12 de
fevereiro de 2008, da Fundação Nacional de
Saúde - FUNASA. - Alterar o valor mensal
do Incentivo para Atenção Especializada aos
Povos Indígenas - IAE -PI. ..... (p.158)"
51
Portaria MS nº 3063, de 28/11/2007 "Constitui Grupo de Trabalho na área de
atuação da Coordenação Regional da
FUNASA, no Estado do Amazonas -
CORE/AM."
52
natureza financeira que tenham por objeto a
execução de projetos ou realização de
eventos e dá outras providências."
53
4. Enunciados do GT-SI
Enunciados
54