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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA DA CÍVEL

DO FORO ___________________________________________– COMARCA DE __________________

_____________________________________________________________________,
______________, _____________, ____________________________, portador(a) do documento de
identidade RG nº ____________________, inscrito (a) no CPF/MF sob o nº
_________________, residente e domiciliado(a) na
________________________________________________________, CEP ______________, pela
DEFENSORIA PÚ BLICA DO ESTADO DE SÃ O PAULO, mediante seu ó rgã o de
execuçã o que esta subscreve, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, com fundamento nos artigos art. 39, I, do Có digo de Defesa do
Consumidor - CDC e art. 170 da Lei nº 6.404/1976, propor a seguinte

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO

em face de TELESP TELECOMUNICAÇÕ ES DE SÃ O PAULO S/A E OUTRA (se


houver), credenciada com a primeira ré, inscrita no CNPJ/MF sob o nº
_____________________________pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:

I – FATOS
Anteriormente ao atual sistema de telefonia no Brasil, com
advento das privatizaçõ es do setor de telecomunicaçõ es, os serviços de telefonia
eram explorados diretamente pela Uniã o, mediante empresas operadoras do
sistema TELEBRAS, pautado no Có digo Brasileiro de Telecomunicaçõ es.

Naquela época nã o havia recursos pú blicos suficientes para


a implementaçã o e expansã o das redes de telefonia fixa. Entã o, as empresas de
telefonia se valiam de formas de captaçã o de recursos que dependiam da
participaçã o financeira direta de quem desejasse utilizar os serviços.

Assim, qualquer particular que pretendesse adquirir o


direito de uso de um terminal telefô nico era obrigado a se sujeitar a um contrato
de adesã o de participaçã o financeira, através do qual adquiria o direito de uso de
um terminal e participaçã o acioná ria na companhia em contrapartida ao
pagamento de uma integralizaçã o de capital.

Os interessados se viam compelidos a integralizar capital na


companhia para obter o direito de assinatura de um terminal. Nã o havia outra
opçã o.

Esses contratos de subscriçã o de capital eram autorizados


por portarias ministeriais que estabeleciam a forma pela qual as companhias
telefô nicas deveriam proceder para emitir as açõ es em favor dos usuá rios
subscritores de capital.

I.I – OS CONTRATOS DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA


Os contratos firmados com as empresas de telefonia eram
típicos contratos de adesã o pelos quais os usuá rios aceitavam fazer o pagamento
de um valor a título de participaçã o financeira.

A adesã o garantia direito ao uso de um terminal telefô nico e,


acessoriamente, o direito de receber um determinado nú mero de açõ es da
companhia telefô nica.

As integralizaçõ es das participaçõ es financeiras eram feitas


à vista ou mediante financiamento bancá rio. Ou seja, a companhia sempre recebia
na data do contrato a participaçã o financeira dos usuá rios.

Ocorre que a retribuição das ações ao aderente não


ocorria no momento da integralização da participação por este, mas sim uma
data escolhida unilateralmente pela companhia telefônica, bem como o
cálculo do número de ações a serem emitidas aos usuários era realizado
pelas companhias de forma indevida, com base em um valor patrimonial da
ação (VPA) futuro, calculado após a integralização financeira, negando
vigência ao art. 170 da Lei 6.404/76.

Todo esse procedimento retratou verdadeira estratégia das


companhias telefô nicas para entregar as açõ es aos usuá rios com anos de atraso e
em quantidade inferior ao que deveria ser.

Excelência, conforme restará demonstrado, tanto as


portarias, quanto a forma pela qual era realizado o cá lculo das açõ es a serem
emitidas aos usuá rios, contrariavam em muitos aspectos a legislaçã o, o que
acarretava o enriquecimento ilícito das companhias em detrimento dos direitos
contratuais de participaçã o acioná ria dos usuá rios.

II – PREELIMINARMENTE

II.I – DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA


Inicialmente, afirma sob as penas da lei, em conformidade
com o artigo 4º da Lei 1.060/50 e seu pará grafo 1º, com redaçã o determinada pela
Lei 7.510/86, que nã o tem condiçõ es de arcar com as custas do processo e os
honorá rios advocatícios, sem prejuízo do sustento pró prio e de sua família, sendo,
portanto, beneficiá ria da GRATUIDADE DA JUSTIÇA, razã o pela qual indica a
DEFENSORIA PÚ BLICA DO ESTADO para o patrocínio da causa, o que ora requer.

Convém ressaltar que é prerrogativa dos membros da


Defensoria Pú blica a INTIMAÇÃ O PESSOAL e o PRAZO EM DOBRO, conforme artigo
5º, pará grafo 5º da Lei 1,060/50 e artigo 128, inciso I, Lei Complementar 80/1994.

II.II – DO PRAZO PRESCRICIONAL – DATA DA SUBSCRIÇÃO X DATA DA


INTEGRALIZAÇÃO

Como narrado, trata-se de açã o que visa a complementaçã o


das açõ es subscritas em contrato de participaçã o financeira em plano de expansã o
de companhia telefô nica.

A 2ª Seçã o do Augusto Superior Tribunal de Justiça assentou


o entendimento de que o direito é de natureza pessoal obrigacional, de sorte que a
pretensã o se submete à regra do art. 177 do Có digo Civil anterior, que fixava em 20
(vinte) anos o lapso prescricional, agora 10 (dez) anos, segundo a lei substantiva
civil em vigor (art. 205), afastada, na espécie, a figura do acionista propriamente
dito, ante a vindicaçã o de um direito baseado em contrato de participaçã o
financeira.

Consiste a prescriçã o na extinçã o de uma pretensã o,


resultante da violaçã o de um direito subjetivo, em virtude da inércia do seu titular,
durante o prazo fixado nos artigos 205 e 206 do Có digo Civil.
Entendido que trata-se de uma obrigaçã o de natureza
pessoal, basta analisar a incidência do termo “aquo”.

Consoante o disposto no art. 189 do Có digo de Reale:

“Violado o direito, nasce para o titulara pretensão, a


qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que
aludem os arts. 205 e 206”.

Assim, de acordo com a dicçã o legal, o início do lapso


prescricional se dá com o surgimento da pretensã o, que nasce imediatamente apó s
a violaçã o do direito substantivo.

No caso, o direito perseguido vê-se violado a partir da


subscriçã o das açõ es pela companhia telefô nica que foram emitidas a menor.

A integralizaçã o e a subscriçã o da mencionadas açõ es


ocorrem em momentos distintos. Por ó bvio, a concessioná ria subscreve as açõ es
apó s a integralizaçã o pelo consumidor e no caso de subscriçã o a menor, tem-se aí o
início da pretensã o.

Com efeito, na pretensã o da autora nã o se discute questã o


societá ria, mas, sim, a decorrente do inadimplemento de contrato de participaçã o
financeira, o que põ e a açã o no campo do direito pessoal.

Nesse sentido

"DIREITO COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL. SOCIEDADE


ANÔ NIMA AÇÃ O DE SUBSCRITOR DE AÇÕ ES NÃ O
ENTREGUES. DIREITO À COMPLEMENTAÇÃ O DE AÇÕ ES
SUBSCRITAS. PRESCRIÇÃ O. APLICAÇÃ O DO ART. 287, II, 'G',
DA LEI 6.404⁄76. IMPOSSIBILIDADE. INEXISTÊ NCIA DE
PRETENSÃ O DE ACIONISTA. NATUREZA PESSOAL DA
PRETENSÃ O. PRESCRIÇÃ O DE ACORDO COM O CÓ DIGO
CIVIL.

- Como a prescriçã o é a perda da pretensã o por ausência de


seu exercício pelo titular, em determinado lapso de tempo;
para se verificar se houve ou nã o prescriçã o é necessá rio
constatar se nasceu ou nã o a pretensã o respectiva,
porquanto o prazo prescricional só começa a fluir no
momento em que nasce a pretensã o.

- Nos termos do art. 287, II, 'g', da Lei n.º 6.404⁄76 (Lei das
Sociedades Anô nimas), com a redaçã o dada pela Lei n.º
10.303⁄2001, a prescriçã o para o acionista mover açã o contra
a companhia ocorre em 3 (três) anos.

- A pessoa que subscreveu ações de uma sociedade


anônima, mas não recebeu a quantidade devida de
ações, não é acionista da companhia em relação às ações
não recebidas e, por isso mesmo, ainda não tem
qualquer direito de acionista em relação à companhia
por conta das referidas ações. 

- O direito à complementação de ações subscritas


decorrentes de instrumento contratual firmado com
sociedade anônima é de natureza pessoal e,
conseqüentemente, a respectiva pretensão prescreve
nos prazos previstos nos arts. 177 do Código Civil⁄1916
(20 anos) e 205 do atual Código Civil (10 anos). Recurso
especial conhecido e provido." (3ª Turma, REsp n.
829.835⁄RS, Relatora Ministra Nancy Andrighi, unânime,
DJU 21.08.2006) (Grifos Nossos)

"DIREITO CIVIL E COMERCIAL. AGRAVO REGIMENTAL NOS


EMBARGOS DE DECLARAÇÃ O NO RECURSO ESPECIAL.
CONTRATO DE PARTICIPAÇÃ O FINANCEIRA EM PLANO DE
EXPANSÃ O DE REDE DE TELEFONIA. AÇÃ O DE
COMPLEMENTAÇÃ O DE AÇÕ ES. BRASIL TELECOM.
SUBSCRIÇÃ O DE CAPITAL. PRESCRIÇÃ O. NÃ O OCORRÊ NCIA.

1. Em se tratando de demanda que tem por objeto relaçã o de


natureza tipicamente obrigacional, não se aplica a
prescrição de que trata o art. 287, II, 'g', da Lei n. 6.404⁄76,
tampouco a regra prevista no art. 206, § 3º, V, do Código
Civil. 2. Agravo regimental a que se nega provimento." (4ª
Turma, AgR-ED-REsp n. 1.038.887⁄RS, Rel. Min. Carlos
Fernando Mathias (Juiz Federal convocado do TRF 1ª
Região), unânime, DJe de 22.09.2008) (Grifos Nossos).

"AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL.


ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. INEXISTÊ NCIA DE
COISA JULGADA. INOCORRÊ NCIA DE PRESCRIÇÃ O. DIREITO
PESSOAL. APLICAÇÃ O DO PRAZO PREVISTO NO ART. 205
DO CÓ DIGO CIVIL VIGENTE. DEZ ANOS. SUBSTITUIÇÃ O DO
ART. 177 DO CÓ DIGO CIVIL DE 1916. PRESCRIÇÃ O DOS
DIVIDENDOS. INEXISTÊ NCIA. ARTS. 403 E 844 DO CÓ DIGO
CIVIL E 461, § 1º, DO CÓ DIGO DE PROCESSO CIVIL.
AUSÊ NCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚ MULAS 282 E
356⁄SRF. IMPROVIMENTO.

I. A legitimidade passiva da BRASIL TELECOM S⁄A,


sucessora da CRT, decorre de ela haver celebrado o contrato
de participaçã o financeira com o nítido propó sito de assumir
obrigaçõ es.

III. Quanto à alegada prescriçã o trienal do art. 287, II, 'g', da


Lei 6.404⁄76, a questão encontra-se pacificada, uma vez
que, conforme posicionamento desta Corte, o direito à
complementação de ações subscritas decorrentes de
contrato firmado com sociedade anônima é de natureza
pessoal e, conseqüentemente, a respectiva pretensão
prescreve no prazo previsto no artigo 177 do Código
Civil revogado (artigo 205 do código vigente). Correta a
aplicaçã o do prazo decenal previsto no art. 205 do Có digo
Civil vigente, por ter substituído o prazo de vinte anos,
previsto no artigo 177 do diploma passado.

IV. Nã o ocorre prescriçã o dos dividendos, pois, considerando


que os dividendos constituem em prestaçã o acessó ria, uma
vez que decorrem diretamente de ações, a sua pretensão
somente surge a partir do momento em que é
reconhecido o direito à complementação do número de
ações.

V. Nã o tendo havido manifestaçã o, pelo Tribunal a quo,


quanto à violaçã o dos arts. 403 e 844 do Có digo Civil e 461, §
1º, do Có digo de Processo Civil, tampouco suscitada nos
embargos declarató rios opostos a fim de sanar eventual
omissã o, é inadmissível o recurso especial pela ausência do
indispensá vel requisito do prequestionamento. Incidem, no
caso, as Sú mulas 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal.
Agravo improvido." (3ª Turma, AgR-REsp n. 1.038.699⁄RS,
Rel. Min. Sidnei Beneti, unânime, DJe 03.09.2008)

"CIVIL. PRETENSÃ O À SUBSCRIÇÃ O DE AÇÕ ES.


PRESCRIÇÃ O. Havendo pluralidade de pedidos, o prazo de
prescriçã o deve ser definido à luz da pretensã o mais
favorecida pelo tempo. A pretensã o ao cumprimento de
obrigaçã o contratual está sujeita à regra geral do art. 205 do
Có digo Civil, que fixa o prazo de prescriçã o em dez anos.
Recurso especial nã o conhecido." (2ª Seção, REsp n.
976.968⁄RS, Rel. Min. Ari Pargendler, unânime, DJU de
20.11.2007);

Ressalte-se que as sociedades anô nimas sã o regidas por


legislaçã o especial e, na hipó tese em que esta for omissa, regula-se pelo Có digo
Civil. Com a entrada em vigor do diploma civil de 2002, a regra de direito
intertemporal posta no art. 2.028, passou a dispor que:

Art. 2.028: Serão os da lei anterior os prazos, quando


reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em
vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo
estabelecido na lei revogada.

 No caso específico dos dividendos, dispunha a lei antiga, art.


178, § 10, III, que o prazo prescricional era de cinco anos contados da lesã o,
enquanto que o atual Có digo Civil prevê a prescriçã o em três anos, artigo 206, § 3º,
III.

Todavia, considerando que os dividendos constituem em


prestaçã o acessó ria, pois decorrem diretamente de açõ es, a sua pretensã o somente
surge a partir do momento em que é reconhecido o direito à complementaçã o do
nú mero de açõ es.

Portanto, nã o há que se falar em implemento do lapso


temporal prescrito para demandá -los, porquanto, o pedido aos dividendos cumula-
se com a complementaçã o das açõ es, que, uma vez concedida implicará no
reconhecimento imediato daqueles. Nã o havendo que se falar, destarte, em
prescriçã o dos dividendos.

Cumpre por fim salientar que mesmo diante da inércia da


empresa de telefonia em informar a data efetiva de atribuiçã o das açõ es, que,
segundo acima exposto, seria o termo inicial da prescriçã o, mostra-se impossível o
reconhecimento da prescriçã o.

Isso porque, corolário básico da boa-fé objetiva é o


princípio de que ninguém poderá se beneficiar da própria torpeza.

III – DIREITO

III. I – DA EXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO

Durante o plano de expansã o da telefonia no Brasil, os


contratos firmados pelos particulares com as companhias telefô nicas eram
convertidos em açõ es emitidas por estas, cuja subscriçã o se operava no ato da
integralizaçã o da participaçã o financeira.
Na verdade, ao aderir ao negó cio, a populaçã o nã o tinha a
intençã o de tornar-se acionista da companhia telefô nica. Desejava, tã o somente,
adquirir o tã o sonhado direito sobre uma linha e usufruir das facilidades
relacionadas à telefonia.

Cinge-se a questã o em estabelecer se o Có digo de Defesa do


Consumidor incide na relaçã o jurídica posta a exame, cumprindo pois, por
primeiro, roborar que o aspecto formal nã o pode prevalecer sobre realidade fá tica.

Em casos aná logos, a questã o já foi pacificada pela


jurisprudência do STJ, sob o fundamento de que “não basta que o consumidor
esteja rotulado de sócio e formalmente anexado a uma Sociedade Anônima
para que seja afastado o vínculo de consumo” (REsp 600784/RS, rel. Min.
Nancy Andrigi).

Por segundo, importante significar que a matéria aqui


retratada, nã o se submete exclusivamente ao universo jurídico, circunscrevendo-se
no â mbito dos macrocosmos fá tico e axioló gico. Trata o caso daquelas típicas
hipó teses em que, as novas demandas geradas pela e, na sociedade atual nã o têm
mais condiçõ es de ser atendidas pelo modo liberal-individualista-normativista de
produçã o do direito.

Na hipó tese em exame, há prestaçã o de serviços consistente


na administraçã o de recursos de terceiros, evidenciando a relaçã o de consumo
encoberta pela relaçã o societá ria comercial, a confirmar a aplicabilidade do CDC.

Oportuno também esclarecer que o Có digo de Defesa do


Consumidor é plenamente aplicá vel ao caso. A ré comercializava linhas telefô nicas,
a que estavam vinculadas a subscriçã o de açõ es, enquadrando-se, deste modo, no
conceito de fornecedora, enquanto o(a) autor(a)é destinatá rio final do bem
fornecido. Assim, a relaçã o estabelecida entre as partes é típica de consumo e, por
isso, plenamente submetida à legislaçã o consumerista.

O enquadramento da relaçã o estabelecida entre as partes


como se consumo já foi pacificada pela jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, sob o fundamento de que

“o Código de Defesa do Consumidor incide na relação jurídica


posta a exame, porquanto, não basta que o consumidor esteja
rotulado de sócio e formalmente anexado a uma Sociedade
Anônima para que seja afastado o vínculo de consumo” (REsp
600784/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 16/06/2005, DJ 01/07/2005, p. 518).

Neste sentido, o precedente desta corte, Resp 471.683⁄RS,


rel. Min. Menezes Direito, assim ementado:

CONTRATO DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA. ART. 515 DO


CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. PRESCRIÇÃO.

1. O Código de Defesa do Consumidor incide na relação


objeto deste feito, porque o contrato é para aquisição de
linha telefônica, com a prestação dos serviços
correspondentes, tudo originado do dito contrato de
participação financeira.

2. Não se tratando de anular deliberação tomada em


assembléia geral, não há falar em prescrição prevista na Lei
das Sociedades por Ações.

3. A jurisprudência mais recente mostra que, mesmo quando o


processo é extinto, sem julgamento do mérito, enfrentando a
sentença o mérito do pedido, “as questões apreciadas podem
ser revistas pelo Tribunal a quo sem que haja ofensa ao
princípio do duplo grau de jurisdição (REsp nº 310.723⁄PR,
relatora a Senhora Ministra Nancy Andrighi, DJ de 18⁄02⁄02;
REsp nº 239.711⁄SP, rel. Min. Menezes Direito DJ de 19⁄3⁄01).

4. Recurso especial não conhecido.

Evidente, portanto, tratar-se o vínculo assim


estabelecido de uma relaçã o de consumo, deste modo subordinado ao disposto no
Có digo de Defesa do Consumidor.

III. II – INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA – Apresentação de documentos

No tocante à aplicaçã o do instituto da inversã o do ô nus


da prova em favor do autor, convém tecer as seguintes consideraçõ es.

O artigo 6º do Có digo de Defesa do Consumidor, em


seu inciso VIII, prevê ser direito bá sico do consumidor “a facilitaçã o da defesa de
seus direitos, inclusive com a inversã o do ô nus da prova, a seu favor, no processo
civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegaçã o ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordiná rias de experiências”.

A hipossuficiência do consumidor nã o pode ser


analisada apenas sob o enfoque econô mico ou jurídico; ela também se reflete na
dificuldade de a parte obter informaçõ es necessá rias a respeito do tema que é
discutido.

No mais, segundo as liçõ es de Carlos Roberto Barbosa


Moreira, a inversã o do ô nus da prova pode ser determinada “ex officio”:

"A inversão poderá ser determinada tanto a


requerimento da parte como ex officio; tratando-se de
um dos "direitos básicos do consumidor", e sendo o
diploma composto de normas de ordem pública (art.
1o), deve-se entender que a medida independe da
iniciativa do interessado requerê-la. Aliás, a
interpretação em sentido oposto levaria ao absurdo de
fazer crer que o Código inovador em tantos passos, pela
outorga de novos e expressivos poderes ao Juiz, teria, no
particular, andado em marcha ré" (Notas sobre a
inversão do ônus da prova em benefício do consumidor,
Doutrina, v. 1, Rio de Janeiro, ID- Instituto de Direito,
1996, p. 300).

Desta feita, reconhecido o direito à inversã o do ô nus da


prova, mister se faz a determinaçã o para que a ré exiba os contratos de
participaçã o em nome do autor, bem como dos extratos de movimentaçã o
acioná ria.

III. III – PRÁTICA ABUSIVA – VENDA CASADA


Ademais, Excelência, é notó rio que o plano de
expansã o da telefonia, assim como a aquisiçã o do direito ao uso de linhas
telefô nicas, iniciou-se adotando o procedimento ilegal da venda casada.

Temos que para adquirir o direito à uma linha


telefô nica e usufruir dos benefícios da telefonia, os cidadã os eram compelidos a
adquirir açõ es da Telebrá s, forma obrigató ria para capitalizar as concessioná rias
desse serviço pú blico.

Nã o meramente nos contratos entre o consumidor e a


prestadora do serviço, essa prá tica abusiva ficou expressamente caracterizada em
todas as normas regulamentadoras da questã o.

“A tomada de assinatura de serviço público de


telecomunicações fica condicionada à participação financeira do promitente-
assinante, quando assim disposto em Portaria da Secretaria Nacional de
Comunicações.” (art. 3.1 da portaria nº 881, de 07 de novembro de 1990).

Assim, o adquirente do direito de uso de linha


telefô nica realizava duas transaçõ es, uma relativa ao direito de uso de um serviço
pú blico, e outra, de natureza puramente comercial, que era a aquisiçã o de açõ es da
empresa de telefonia.

É fato, portanto, que nã o havia outra forma de se


adquirir a cessã o de uso do terminal telefô nico sem que houvesse a submissã o a
esta venda casada.

A venda casada é expressamente proibida pelo Có digo


de Defesa do Consumidor - CDC (art. 39, I), constituindo inclusive crime contra as
relaçõ es de consumo (art. 5º, II, da Lei n.º 8.137/90) e infraçã o de ordem
econô mica (Lei 8.884 / 94, artigo 21º, XXIII).
Art. 39, I: “é vedado ao fornecedor de produtos ou
serviços, condicionar o fornecimento de produto ou de
serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço,
bem como, sem justa causa, a limites quantitativos”

Por fim, o consumidor nã o poderia ser compelido a


adquirir aquilo que nã o queria, devendo exigir agora a reparaçã o pela venda do
produto ou a prestaçã o do serviço de acordo com aquilo que desejava.

III.IV – VIOLAÇÃO AO ARTIGO 170 DA LSA E DESVALORIZAÇÃO DO VPA

Conforme as prá ticas da época, embasadas em


portarias ministeriais, os cá lculos das açõ es devidas aos usuá rios eram feitos com
base no valor patrimonial da açã o apurado no balanço subseqü ente ao da
integralizaçã o do capital.

Ocorre que como o valor patrimonial das açõ es


posteriores era sempre acima do valor das vigentes, o nú mero de açõ es emitidas
era sempre inferior ao efetivamente devido pela companhia de telefonia, gerando
prejuízo aos usuá rios.

Destarte, esse procedimento, no qual as cias.


telefô nicas entregavam as açõ es aos usuá rios com anos de atraso e em quantidade
inferior ao que deveria ser, gerou um enriquecimento ilícito das empresas em
detrimento dos direitos dos usuá rios.

Em outras palavras, as empresas descumpriam o artigo


170 da Lei das Sociedades Anô nimas quando capitalizavam os valores recebidos, a
título de participaçã o financeira, pelos usuá rios, e emitiam as açõ es com atraso,
por base em valor patrimonial posterior.

Assim, no que se refere a essa atuaçã o das telefô nicas, a


Corte Superior de Justiça já firmou o seguinte entendimento:

CONTRATO DE PARTICIPAÇÃ O FINANCEIRA.


SUBSCRIÇÃ O DE QUANTIDADE MENOR DE AÇÕ ES.
DIREITO DO CONTRATANTE A RECEBER A
DIFERENÇA. CÓ DIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
LEGITIMIDADE ATIVA. POSSIBILIDADE JURÍDICA.

1. Nã o há fundamento forte para enfrentar a afirmaçã o


do acó rdã o recorrido sobre a titularidade das açõ es,
conferindo a legitimidade ativa do autor para ajuizar a
açã o de cobrança.

2. O autor, que assinou o contrato de participaçã o


financeira e permanece como titular das açõ es, nã o
encontra empeço no ordenamento jurídico para buscar
o direito que julga ter; ausente, portanto, a alegada
impossibilidade jurídica do pedido.

3. Tratando-se de contrato vinculado ao serviço de


telefonia, com clá usula de investimento em açõ es, nã o
há como deixar de reconhecer a incidência do Có digo
de Defesa do Consumidor.

4. O contratante tem direito a receber a quantidade


de ações correspondente ao valor patrimonial na
data da integralização, sob pena de sofrer severo
prejuízo, não podendo ficar ao alvedrio da empresa
ou de atividade normativa de natureza
administrativa, o critério para tal, em detrimento
do valor efetivamente integralizado.

5. Recurso especial nã o conhecido.

(REsp 470.443/RS. Rel Min Carlos Alberto Menezes


Direito. 15/03/04)

Excelência, as decisõ es que embasaram esse


entendimento reconheceram a incompatibilidade das portarias ministeriais da
época com o art. 170 da Lei 6.40/1976, que dispõ e:

Art. 170. Depois de realizados 3/4 (três quartos), no


mínimo, do capital social, a companhia pode aumentá-lo
mediante subscrição pública ou particular de ações.

§ 1º O preço de emissão deverá ser fixado, sem diluição


injustificada da participação dos antigos acionistas,
ainda que tenham direito de preferência para subscrevê-
las, tendo em vista, alternativa ou conjuntamente:
O dispositivo acima enunciado explica que, sempre que
houver aumento do capital da companhia, o valor patrimonial da açã o que deve ser
levado em conta para a emissã o das novas açõ es, devendo ser sempre aquele que
retrate o patrimô nio líquido da companhia.

No mais, no que se refere ao valor patrimonial da açã o,


a Corte Superior de Justiça já firmou o entendimento de que ele deve ser fixado no
mês da integralizaçã o, com base no balancete a ele correspondente; nos casos da
integralizaçã o parcelada, considera-se a data do pagamento da primeira parcela.

Inclusive, editou-se, recentemente, o enunciado da


Sú mula nº 371, in verbis: "Nos contratos de participação financeira para a
aquisição de linha telefônica, o Valor Patrimonial da Ação (VPA) é apurado com base
no balancete do mês da integralização."

Assim, as prá ticas perpetradas ofendiam referido


dispositivo legal e geraram um enriquecimento ilícito das companhias telefô nicas,
em prejuízo à s açõ es dos usuá rios.

IV – PEDIDO

Por todo o exposto, requer

a) a concessã o dos benefícios da Justiça Gratuita, conforme


declaraçã o de situaçã o financeira anexa, nos termos do art. 3º da Lei 1.060/50;
b) a citaçã o da Ré, para querendo, apresentar contestaçã o
no prazo legal;

c) a aplicaçã o da inversã o do ô nus da prova, com


determinaçã o para que a ré exiba os contratos de participaçã o em nome do autor,
bem como dos extratos de movimentaçã o acioná ria, sob pena de multa diá ria a ser
fixada por Vossa Excelência.

d) o julgamento totalmente procedente da açã o para que


seja a ré condenada à complementaçã o do nú mero de açõ es mediante a subscriçã o
da diferença devida, ou, alternativamente, o pagamento de indenizaçã o por perdas
e danos equivalente ao valor do efetivo capital empregado pelo autor, com demais
proventos, em quantia correspondente à s açõ es nã o recebidas na época, tudo a ser
apurado em fase de liquidaçã o de sentença, com base no balancete do mês da
integralizaçã o.

e) A condenaçã o nas verbas de sucumbências, sendo os


honorá rios revertidos para o Fundo Especial da Escola Superior da Defensoria
Pú blica do Estado de Sã o Paulo;

f) a intimaçã o pessoal de todos os atos do processo, bem


como a observâ ncia da contagem em dobro de todos os atos processuais, com fundamento
no art. 127, inciso I, da Lei Complementar Federal 80/94.

Provará o autor o alegado por todos os meios de prova em


Direito admitidas, especialmente pela oitiva de testemunhas, e, se necessá rio, juntada de
documentos, perícia e outras cabíveis à espécie.

Dá -se à causa o valor de R$ ________________________.


Sã o Paulo, 20 de August de 2021.

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