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Vânia Ghisleri2
Orientador: Prof. MSc. Sandro Rodrigo Steffens3
RESUMO
1
Trabalho de Conclusão de Curso do curso de Psicologia, campus de São Miguel do Oeste.
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Acadêmica de Psicologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC), campus de São Miguel do
Oeste, Santa Catarina – vaniaghisleri@hotmail.com
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Psicólogo, Mestre em Desenvolvimento, Organizações e Cidadania, Especialista em Gestão de Recursos
Humanos, Psicólogo e professor do Curso de Psicologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina/ UNOESC –
Campus de São Miguel do Oeste e Pinhalzinho – SC. E-mail: sandro.steffens@unoesc.edu.br
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Abstract:
1. INTRODUÇÃO
Qualquer dor, seja ela aguda ou crônica, tenha ela causa conhecida ou não,
tem sempre um elemento psicológico que varia de pessoa para pessoa, e é
modificado e influenciado por fatores culturais, étnicos, sociais e ambientais. Há
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pessoas que, mesmo sentindo forte dor, têm perfeito controle sobre si. Outras, com
a mesma dor assumem atitudes irracionais, reagem de forma atípica frente ao
estresse por ela causado.
Por mais que a experiência da dor seja de natureza universal, pois não
existe entre os seres humanos, quem dela não tenha feito a experiência, a
dor é nossa companheira inseparável e, no que tem de mais significativo, é
uma experiência única, vale dizer, a minha dor é uma dor só minha. Por
mais que se pareça com as dores dos demais, por mais que se repita, a dor,
que cada um experimenta, é única. Ninguém pode senti-la em seu lugar.
Ninguém, senão aquele que a sente, pode descobrir e, finalmente, saber o
que ela tem a lhe dizer (MOLIÈRE 1673/1995, p. 34 apud ROCHA,2011,
p.595).
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Lobato (2010), cita dois autores, Merskey e Spear que em um lúdico artigo
(1967) analisaram essa dicotomia e propuseram uma definição mais abrangente da
dor que fundamenta o conceito estabelecido em 1979 pela Associação Internacional
para Estudos da Dor (IASP)7.
7
Associação Internacional para o estudo da dor, que reúne cientistas, médicos, prestadores de cuidados de saúde
e formuladores de políticas para estimular e apoiar o estudo da dor e traduzir esse conhecimento para o alívio da
dor melhorada em todo o mundo.
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Szas (1975 apud Lobato, 2010, p. 235), fala de forma pragmática, que a
simbolização da dor ocorre em três níveis:
‘No primeiro ela constitui um sinal registrado pelo ego de que se acha ou
parece se achar em curso uma ameaça à integridade estrutural e funcional
do organismo, num segundo nível, ao verificar-se que a experiência pode
ser repartida, isto é, comunicada a alguém, transformam-na num meio
básico de pedir ajuda; num terceiro, e último plano, a dor não mais denota
uma referência ao corpo, mas pode, isto sim, expressar queixa, ataque,
aviso de perda iminente de objeto’.
Neste último nível de simbolização, a dor pode ser “utilizada como forma de
manipular os outros, ganhar controle sobre eles. Ainda sobre um outro plano, seria
uma forma de aliviar a culpa por uma falta real ou imaginária que teria sido
cometida” (BOND, 1984 apud LOBATO, 2010, p. 236). A dor pode, às vezes,
constituir uma solução neurótica para um conflito e, como tal, ser assim mantida
(SIMS, 2001 apud LOBATO, p. 236, 2010), e cita Trethoven: ‘tal paciente não está
sofrendo de dor, ele está sofrendo do sofrimento’.
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Reumatologista do corpo clínico do Hospital Albert Einstein. Assistente Doutor da disciplina de Reumatologia
da UNIFESP. Membro da Comissão de Dor, Fibromialgia e Outras Doenças Dolorosas da Sociedade Brasileira
de Reumatologia.
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Sabe-se que distúrbios mentais e/ou emocionais podem estar presentes nos
portadores de fibromialgia, que inclui alterações de humor, irritabilidade, dificuldade
de concentração, perda de memória e outros. Estes sintomas podem apresentar-se
isoladamente ou em conjunto, e muitas vezes, aliadas a dificuldade da confirmação
do diagnóstico, muitos dos indivíduos inicialmente são tratados como depressivos.
Vale ressaltar que com o passar do tempo, a dor torna-se referência para a
organização da vida do indivíduo e de sua família. Assim, de acordo com Violon
(1982 apud Silva, 2012, p. 773): “A dor determina o barramento de papéis
desejantes e também de relações de sociabilidade, o que é característico de
doenças crônicas. Nestas condições, o corpo constitui-se como fonte de sofrimento,
de frustração, e de insatisfação”.
3. MÉTODO
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Para realizar esta pesquisa e coleta de dados, a mesma foi realizada com 4
pessoas que participarão do Grupo de Fibromialgia que foi desenvolvido pelas
fisioterapeutas do NASF (Núcleo de Apoio a Saúde da Família), junto à Secretaria
da Saúde de São Miguel do Oeste/SC. O NASF é uma equipe composta por
profissionais de diferentes áreas de conhecimento, que devem atuar de maneira
integrada e apoiando os profissionais das Equipes Saúde da Família, das Equipes
de Atenção Básica para populações específicas, compartilhando as práticas e
saberes em saúde nos territórios sob responsabilidade destas equipes. Criado com
o objetivo de ampliar a abrangência e o escopo das ações da atenção básica, bem
como sua resolubilidade, o NASF deve buscar contribuir para a integralidade do
cuidado aos usuários do SUS, principalmente por intermédio da ampliação da
clínica, auxiliando no aumento da capacidade de análise e de intervenção sobre
problemas e necessidades de saúde, tanto em termos clínicos quanto sanitários e
ambientais dentro dos territórios. (DEPARTAMENTO DA ATENÇÃO BÁSICA, 2012,
[S. p.]).
A partir dos dados obtidos na entrevista, surgiram seis unidades para análise
da pesquisa, são elas: percepção da doença, aspectos psicológicos e subjetividade
dos pacientes com fibromialgia, impactos do diagnóstico para os familiares,
mudanças que ocorreram com o diagnóstico de fibromialgia, conviver com os
sintomas de fibromialgia, manter qualidade de vida, abaixo seguem os resultados:
“É uma coisa que vem sem tu esperar, uma coisa que vem do nada, que é
uma coisa que você não sabe como descobre, você está assim né [...]
Quanto mais sofro mais dor eu tenho, assim o dia que eu tenho tristeza, que
eu me assusto, que eu [...] por exemplo, se tem uma coisa negativa, parece
que a dor aumenta [...]” (P1)
“Muita perca, muita perca na minha vida, muita [...] meu Deus. Gostaria de
fazer muita coisa, e não desenrola, não [...] um probleminha sabe, vamos
supor pequena, pra mim se torna muito grande o problema” (P2)
“Tristeza, raiva, mesmo tomando remédio, mas eles estão ali, eu vejo
outras pessoas com o dobro da minha idade e tendo uma vida normal e eu
ali com o problema, as pessoas não acreditam, acham que eu estou
fingindo né, então é bastante assim, difícil” (P4)
“Eu acho assim, que muda muita coisa, muda muito, é uma sensação muito
ruim, não sou mais eu, eu fico pensando, parece que assim oh, saiu aquela
pessoa de mim que eu era, eu tenho vontade de fazer coisas, mas eu não
alcanço” (P2)
“O que eu vejo assim, que eu me sinto assim uma pessoa inútil” (P3)
Pior que a dor, é não se sentir apoiado pelas pessoas da família, esse fato é
comparada a sensação de abandono, descredito por alguém em que esperava-se o
apoio. Achar que a dor é fingimento, aumenta ainda mais os fatores emocionais
negativos, que podem conduzir para o sofrimento da pessoa com fibromialgia. Fica
evidente que o impacto causado para os familiares com relação a descoberta da
fibromialgia, foi negativo, o que fez que o familiar com fibromialgia optasse por calar-
se.
“A maioria acha que é fingimento (silencio)isso é que dói, você não tem o
apoio que você precisa, você está quieta no seu cantinho, carregando seu
fardo sozinha, as pessoas infelizmente são mal informadas e elas acham
que é ceninha, que não é verdade [...]” (P1)
Verifica-se também que, há famílias que junto com a pessoa, aceitam a nova
condição, e juntos podem lidar melhor com a dor, fazendo com que se sinta acolhida
por quem confia, e que acredita serem pessoas importantes para tornar a luta, que é
diária, com mais facilidade para enfrenta-la.
“Eu, na verdade, sempre tive o apoio, sempre tive meus filhos que sempre
me apoiaram nessa minha dor [...]” (P3)
Desriaux (2008 apud Mattos, Luz 2012, p.1473) afirma que os distúrbios
músculos-esqueléticos estão em primeiro lugar entre as doenças profissionais
reconhecidas. Sendo fontes de incapacidades severas que comprometem a saúde,
o emprego e a vida das pessoas atingidas, e que conforme as falas abaixo, é
possível verificar o que o autor destaca.
“Há, muita coisa mudou, eu trabalhava, tinha uma rotina, nossa, era assim
bem disposta, eu era rápida pra trabalhar né, e fiquei assim, meu
sentimento foi de ter que sair do meu emprego por causa disso né, tive que
me afasta [...]” (P2)
“Ah hoje eu estou bem, assim né [...] aceito né, estou aceitando o
tratamento, eu não aceitava que tinha que ser uma coisa continua, entende
[...] foi difícil, nossa, agora eu aceito que tem que ser uma coisa continua,
não tem que fazer, agora eu aceito, não aceitava, pra mim ir lá tratar e vim
embora né [...] nossa as vezes dá vontade assim, de pegar assim, fugir
sabe, fugir disso” (P2)
“Olha eu procuro pensar que eu comecei ter essa dor, hoje eu vou, não vou
fazer nada, porque não dá pra fazer muita coisa né, penso assim, amanhã
se Deus quiser eu vou estar melhor, vai me dar hoje, mas amanhã vou estar
melhor e procurar tomar os remédios, não tem outra [...]” (P3)
“Bom, isso é uma luta diária, tem que conviver com isso e calmantes né,
tomando calmantes pra tentar viver cada dia, de cada vez” (P4)
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Quando a dor persiste por dias e semanas, a pessoa adapta-se a ela, mesmo
sem o perceber. Torna-se suportável ou intermitente, ainda que não mude em
intensidade e passa a ser um aspecto da existência do paciente (SANCHES;
BOEMER p.392).
Goldenberg (2006 apud Milani et al. 2012, p. 58) destaca que, além do
sofrimento causado pelas dores, outra consequência da fibromialgia é a perda da
qualidade de vida. Para Barbotte et al. (2001 apud Marques 2004, p.9), definem
qualidade de vida relacionada a saúde como sendo a auto percepção da morbidade.
Nas falas abaixo, é possível perceber o que os autores acima trouxeram.
“Não, nunca tem, teria que ter, acho assim que teria que melhorar a minha
vida, como eu me sinto né, mas eu tenho esperança assim que vai melhorar
né” (P2)
“A qualidade de vida, pra falar a verdade, tem dias que me dá [...] não tenho
apetite, não vou comer, a única coisa que você quer é ficar deitada numa
cama e que ninguém vem nem conversar com você” (P3)
Pode-se então supor que a qualidade de vida está associada com a maior ou
menor intensidade dos sintomas, e que, portanto a eliminação ou diminuição da dor,
poderia proporcionar uma melhor qualidade de vida (MARQUES, 2005 p.45). O que
a autora trouxe, condiz com as falas acima, uma vez que, quando há uma redução
do problema, que é a dor constante, o fibromiálgico, sente-se melhor, podendo lidar
com a mesma.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos dados obtidos com a pesquisa, salientou-se que a fibromialgia
pode ser em decorrência de problemas emocionais ou mesmo de vivencias
negativas, sendo o modo como cada um reage frente ao emocional, que permitirá ao
indivíduo reestabelecer-se ou continuar em sofrimento. Também destaca-se a
influência do diagnóstico na vida destas pessoas, as consequentes mudanças
sociais, ocasionando muitas perdas; as modificações nas atividades diárias, bem
como, as relações familiares que podem ser negativas ou positivas, colocando um
grande impasse para o enfrentamento da fibromialgia por parte do indivíduo.
5. REFERÊNCIAS
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