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Dois irmãos, de Milton Hatoum 

O romance Dois Irmãos, publicado em 2000, rompeu um silêncio de 11 anos que Milton Hatoum vinha mantendo
desde Relato de um Certo Oriente, sua estreia como romancista. Nessa obra, Hatoum demonstra grande domínio
da técnica da ficção, num estilo mais enxuto que o da primeira obra e, ao mesmo tempo, repleto de nuanças e
sutilezas. Milton Hatoum volta ao romance com um drama familiar em cujo centro estão dois filhos de imigrantes
libaneses: os gêmeos Yaqub e Omar. O enredo do romance trata, basicamente, do (não) relacionamento entre os
irmãos. 
GÊNERO - ROMANCE DE COSTUMES -3 GERAÇÃO ROMANTICA(CONDOREIRA)- Dois irmãos é um romance de
costumes. Por causa do ambiente em que a história transcorre, pode também ser classificado de romance urbano.
( fala sobre os valores da sociedade burguesa, fatos cotidianos, ilustram as paixões e comportamentos)
TÍTULO - GÊMEOS IDÊNTICOS - O título da obra faz referência às duas personagens principais, Yaqub e Omar, irmãos
gêmeos, idênticos no físico, mas opostos nas atitudes e no caráter. Movidos pela rivalidade, vão destruindo as
relações pessoais e familiares, semeando discórdia, inveja, vingança e ódio.
DIVISÃO DA OBRA - DOZE CAPÍTULOS - Dois irmãos é romance dividido em 12 capítulos (sem títulos), com um
pequeno preâmbulo que, aguçando a curiosidade do leitor, relata cenas do fim da história.
ESCOLA LITERÁRIA - LITERATURA CONTEMPORÂNEA - Dois irmãos foi publicado em 2000; pertence, pois, ao
Modernismo brasileiro. É obra da literatura contemporânea, do Pós- Modernismo como querem alguns, seguindo a
linha da literatura que valoriza a linguagem simples, mas com elevado grau de arte e de correção gramatical.
CENÁRIO
  MANAUS - O cenário principal do livro é a cidade de Manaus, valorizando o porto dos Remédios, o Centro, os
bairros e as praças mais antigos, com especial destaque para as atividades do comércio.
  LÍBANO - O autor faz referência ao sul do Líbano, de onde provieram os chefes de família e para onde foi Yaqub
contra sua vontade.
SÃO PAULO - A cidade de São Paulo também é cenário de referência: lá, Yakub formou-se em Engenharia, constituiu
família e fixou residência.
TEMÁTICA - CASA DEMOLIDA - O tema principal do romance é o drama familiar demolindo as vidas e, por
consequência, o lar. O enredo é centrado na história de dois irmãos gêmeos - Yaqub e Omar - e suas relações com a
mãe, o pai e a irmã. Moram na mesma casa Domingas, empregada da família, e o filho dela (que, mais tarde, se
torna o narrador), um menino cuja infância é moldada justamente por esta condição: ser o filho da empregada.
AMOR INCESTUOSO - Apesar de não está escrito com todas as letras, deduz-se que o amor doentio da mãe (Zana)
pelo filho mais novo (Omar) tem muito de incesto: ela o quer só para si, ignorando, a partir de certo momento, a
relação com o próprio marido. Na mesma linha, classifica-se o amor de Rânia pelos irmãos gêmeos.
FOCO NARRATIVO
NARRADOR-PERSONAGEM- A história é narrada na primeira pessoa, mas o narrador não é o herói principal. Nael (o
nome só é revelado quase no fim da história) valeu- se do que viu, do que ouviu e, principalmente, do que lhe
contaram sobre a família de que fez parte. A função do narrador é olhar para o passado e tentar juntar pedaços do
que lhe foram contando até formar a história como um todo.
LINGUAGEM
FRASES CURTAS - Para narrar, Milton Hatoum vale- se das frases curtas, ligeiras, com pouca fantasia ou adjetivação,
imprimindo clareza e sobriedade. O vocabulário até comum, condizendo com a literatura contemporânea. Isso
garante inteira identidade entre o autor e o leitor. CORREÇÃO GRAMATICAL - No plano artístico, a linguagem de
Milton Hatoum exibe simplicidade e correção gramatical, elevando o texto à condição de obra de arte.
TEMPO - PRESENTE x PASSADO - A narrativa começa na década de 1920 e, aos saltos, chega aos anos 60. A história
começa pelo fim: narra-se, antes do primeiro capítulo, a morte de Zana, mãe dos gêmeos. O narrador viveu, viu e
ouviu todos os acontecimentos. Uns trinta anos depois, resolveu pôr no papel os fragmentos que lhe vinham à
memória. A oscilação entre presente e passado é recurso comum na narrativa.
Personagens 
  NAEL – narrador da história, seu nome é revelado apenas na metade do livro. É filho da índia Domingas,
empregada da casa, com um dos gêmeos. De sua posição de agregado, ao mesmo tempo secundária e privilegiada,
transmite os acontecimentos ao leitor.
  OMAR – um dos gêmeos. Por ter sido o segundo a nascer, é chamado pelo narrador de Caçula. Sua relação muito
estreita com a mãe sugere o incesto. Indisciplinado e intempestivo, é capaz de ações inesperadas e corajosas.
  YAQUB – o irmão gêmeo de Omar. Introvertido e dedicado aos estudos, revela-se na juventude um grande
conquistador. Parece sofrer com a preferência da mãe pelo irmão.
  ZANA – mãe dos gêmeos e de Rânia. Mulher bela e de temperamento forte, é apaixonada por Omar.
  HALIM – marido de Zana, apreciador dos prazeres da vida e nostálgico, mas também forte e corajoso. O tempo
parece não influenciar a intensidade do amor que sente pela mulher.
  RÂNIA – irmã mais nova dos gêmeos, decide não se casar e dedicar-se inteiramente ao comércio.
  DOMINGAS – índia que Halim e Zana haviam tirado de um orfanato ainda criança, é empregada da família e mãe de
Nael. 
Dois Irmãos, de Milton Hatoum, iniciam-se com a chegada de Yaqub do Líbano, que foi mandado para lá aos 13
anos, por ordem do pai. Após cinco anos fora de casa, Yaqub se torna um rapaz calado e cheio de mistérios. Na sala
de aula se torna um aluno exemplar, foi continuar os estudos em São Paulo onde se estabilizou e constituiu família.
Omar, seu irmão, que sempre se dedicou a vida boemia, foi mandado para São Paulo para tentar prosperar assim
como o Yaqub, mas quando chega na cidade descobre que a esposa do irmão era Lívia, a paixão de infância dos
gêmeos. Omar fez desenhos obscenos nas fotografias do casamento e fugiu para os Estados Unidos com o
passaporte e o dinheiro de Yaqub. Este já não era muito amigo do Caçula, por causa dos acontecimentos passados,
se irrita mais com Omar por causa do novo episódio. Pouco tempo depois Halim, pai dos gêmeos, falece, o Omar faz
amizade com Rochiram, um indiano que pretendia construir um hotel em Manaus. Zana, a mãe dos gêmeos e
protetora de Omar, na tentativa de unir os filhos, manda uma carta para Yaqub, que tinha se tornado engenheiro,
para poder trabalhar junto com o irmão, porém Yaqub ignorou a participação de Omar. O Caçula irado espancou o
irmão mandando o para o hospital. Yaqub entra com um processo contra o irmão, que acaba sendo preso e
condenado dois anos e sete meses. Enquanto isso Rânia, irmã dos gêmeos, toma conta dos negócios do pai e cuida
da mãe. Ela não aprovou a ação do Yaqub e pediu que tirasse a queixa contra o Omar, mas isso não aconteceu.
Rochiram comunica a Rânia que ela deverá vender a casa da mãe para poder pagar as dívidas dos irmãos. A casa é
vendida, porém o quartinho do fundo continua sendo de Nael, filho da empregada que ajudara toda a família e que
já havia falecido. Nael o narrador da história busca até o último capítulo a identidade do seu pai, sendo que este era
um dos gêmeos.  

 O ponto de onde é feita a narração é uma posição bastante privilegiada e natural para o desenvolvimento da
história. O narrador é um personagem, coisa que não sabemos de imediato, mas no desenvolvimento do livro. O
narrador é, na verdade, o filho bastardo de um dos gêmeos com a empregada que mora no fundo da casa dos pais
deles. Essa posição próxima, porém, não íntima, e o interesse do narrador em descobrir quem é seu pai, o torna o
narrador ideal para este romance.  Narrado em primeira pessoa, a história se passa em Manaus de 1910 a 1960. Os
dois irmãos nunca se entendem, até que Yaqub é obrigado a ir para o Líbano. Quando volta, cinco anos depois,
sente-se deslocado dentro de sua própria família, enquanto as intrigas continuam. Aliás, o sentimento de
deslocamento é o que sustenta a narrativa, e traz o drama familiar para a esfera do universal. Segundo Hatoum, o
imigrante é um sujeito dividido, sofre de uma espécie de dualidade do lar, da pátria. Nesse sentido, os dois irmãos
funcionam como uma metáfora dessa dualidade. Um se identificando mais com o Brasil e o outro se sentindo
estrangeiro, diferente, muitas vezes sendo referido apenas como “o outro” pelo Narrador, que, por sua vez,
também é um deslocado, filho da empregada com um dos gêmeos, mas sem saber qual deles. 

Entre esses duelo fraternal, Hatoum ainda constrói a dificuldade de um homem apaixonado pela esposa, que perde
a atenção dela para os filhos; um filho bastardo que tenta descobrir qual dos gêmeos é seu pai; a história do
imigrante de origem árabe no Brasil e a expansão comercial da região norte; e o retrato de uma sociedade pequeno
burguesa, que se mostra tão previsível no norte do Brasil, quanto na França, dos escritores de grande influência
para o autor manauara, Flaubert e Balzac (juntamente ao norte-americano William Faulkner). 
Esses temas vão se dissolvendo com o passar do tempo da história. Mas não perdendo em importância ou se
resolvendo e sim, se entranhando cada vez mais à narrativa. Uma tensão leve é a convidada cativa do texto de
Hatoum, que se faz presente em todo o livro. As páginas a serem lidas vão rareando nas mãos e as soluções são, no
máximo, indicadas. Aliando essa tensão à fluência textual (no melhor estilo de seus autores de influência), Hatoum
nos conta uma história isenta de lições moralizantes ou advertências. O que nos toma ao final da leitura é um
sentimento de incompletude e incerteza. Espaços em aberto. Muitas perguntas, muitas possibilidades, poucas
certezas. Esse espaço de incerteza é que fascina no momento da leitura e não frustra ao deixar perguntas. É a
máquina narrativa de Hatoum, funcionando direitinho. 
Enredo 
No início do século XX, Manaus, a capital da borracha, recebeu estrangeiros como o jovem Halim, aprendiz de
mascate, e Zana, uma menina que chegou sob a asa do pai, o viúvo Galib, dono de um restaurante perto do porto.
Halim e Zana vão gerar três filhos: Rânia, que não vai se casar nunca, e os gêmeos Yaqub e Omar,
permanentemente em conflito. O casarão que habitam é servido por Domingas, a empregada índia, e mais tarde
também pelo filho de pai desconhecido que ela terá. Esse menino — o filho da empregada — será o narrador. Trinta
anos depois dos acontecimentos, ele conta os dramas que testemunhou calado. Omar é o beberrão boêmio,
mimado, conquistador e revolucionário. Yaqub é o engenheiro que construiu sua vida independentemente de
ajuda, magoado com a família, tímido, conservador e que se muda de Manaus (cenário da história) para São Paulo.
Essa diferença de personalidade faz parte do pacote ‘história de irmãos gêmeos’. Assim como a constante
competição entre eles.  
Dois irmãos é a história de como se faz e se desfaz a casa de Halim e Zana. Apaixonado pela mulher, depois do
nascimento dos filhos Halim se condena à nostalgia dos tempos em que não era pai, em que não precisava disputar
o amor de Zana, em que os dois tinham todo o tempo do mundo para se deitar na rede do alpendre e se entregar
aos prazeres sensuais. Pelo que nos conta o narrador, Halim estará sempre à espera da decisão mais acertada
diante dos abismos familiares: a desmedida dedicação de Zana a Omar, seu filho preferido; o trauma de Yaqub, o
filho que, adolescente, foi separado da família supostamente para amenizar os conflitos com Omar; a relação
amorosa entre os gêmeos e a irmã, Rânia. De Domingas, com quem compartilhava o quartinho nos fundos do
quintal, o narrador nos diz que esta é uma mulher que não fez escolhas. Aparentemente, não escolheu nem mesmo
o pai de seu filho. Milton Hatoum faz os dramas da casa estenderem-se à cidade e ao rio: Manaus e o Negro
transformam-se em símbolos das ruínas e da passagem do tempo. E, pela voz de um narrador solitário, revive
também os tempos sombrios em que as praças manauaras foram ocupadas por tanques e homens de verde. Esses
tempos foram responsáveis pelo destino trágico de um grande personagem do livro: o professor Antenor Laval.

O Cortiço” – Resumo da obra de Aluísio Azevedo

Faz parte da escola literária naturalismo( tem compromisso com o real, objetivismo, cientificismo,
análise coletiva da sociedade(aspecto patológico das mazelas), foco nas camadas populares, mulher=
reprodução sexual, determinismo, mostra o lado mal do homem através da favelização)
Tendo como cenário uma habitação coletiva, o romance difunde as teses naturalistas, que explicam o
comportamento dos personagens com base na influência do meio, da raça e do momento histórico.
Resumo
Este romance é um importantíssimo exemplo das teses naturalistas, que explicam o comportamento
dos personagens com base na influência do meio, da raça e do momento histórico. A obra narra
inicialmente a trajetória de João Romão, dono do cortiço, de uma pedreira e de uma taverna, em
busca do enriquecimento, não medindo esforços para isso, ou seja, explorando seus empregados,
furtando etc. Sua amante, a ex-escrava Bertoleza, o ajuda de domingo a domingo, trabalhando
incansavelmente.
Em seguida entra na história Miranda, um comerciante bem estabelecido que desperta a inveja de João
Romão, que passa a trabalhar e explorar seus empregados cada vez mais para se tornar mais rico
que ele. Porém, no momento em que Miranda recebe o título de barão, João Romão entende que não
basta ganhar dinheiro, é necessário também possuir uma posição social reconhecida, como frequentar
bons restaurantes, teatros, usar roupas finas etc. E começa a fazê-lo, até receber também o mesmo
título.
A partir daí João Romão se equipara à Miranda e começa a imitar suas conquistas, reformando o cortiço,
a taverna etc., ostentando agora ares aristocráticos. Além disso, se aproxima da família de Miranda e
pede a mão da filha dele, Zulmira, em casamento, visando ascender ainda mais. Há, entretanto, o
empecilho representado por Bertoleza, que, percebendo a intenção de João Romão em se livrar dela,
exige parte dos bens que ele acumulou enquanto ela estava ao seu lado. Diante disso, para se ver livre
da amante, que atrapalha seus planos de ascensão social, ele a denuncia a seus antigos donos como
escrava fugida. Assim, num gesto desesperado prestes a ser capturada, Bertoleza se mata, deixando o
caminho livre para o casamento de Romão e Zulmira.
Paralelamente à história da ganância de João Romão, estão os habitantes do cortiço: pessoas
com menor ambição financeira, que todo o tempo servem de exemplo das teses naturalistas, como o
determinismo biológico e geográfico, ao passo que são influenciados pelo ambiente em que estão
inseridos, como é o caso do português Jerônimo, por exemplo, que tem uma vida exemplar até cair nas
graças da mulata Rita Baiana, largando sua esposa e mudando todos os seus hábitos em prol da atração
sexual que sente pela nova moça.
Além dele, há o exemplo de Pombinha, uma moça culta que sonhava em se casar, mas renuncia a
isso para viver como prostituta, após se envolver com Léonie (que também levava essa vida). Assim,
esses personagens são animalizados, colocados como agindo por puro instinto.
Análise da obra:
O Cortiço é considerado o melhor representante do movimento naturalista brasileiro, por expor de
forma excelente as teses naturalistas do início do século XIX, apresentando-nos o condicionamento do
homem ao meio em que está inserido através da história que se passa numa habitação coletiva de
pessoas pobres, o cortiço, na cidade do Rio de Janeiro. 
O autor naturalista em geral intencionava provar que este meio, a raça e o contexto histórico
determinam a conduta do homem. Desse modo, Aluísio pretende mostrar que a mistura de raças em
um mesmo ambiente resulta em promiscuidade, amoralidade e completa degradação humana, o que
nos coloca diante de uma das principais características do movimento naturalista: a animalização dos
personagens, que agem por instintos naturais, como os sexuais e os de sobrevivência.
E, ademais dessa representação animalesca das relações individuais e sentimentais, que levam o
homem à promiscuidade, há na obra destaque também para a questão social, tendo como figura central
João Romão, que passa por cima de tudo e de todos em prol de sua ascensão social e econômica,
mostrando que o homem é guiado pelo egoísmo, ganância e egocentrismo, havendo aqui um retrato do
Brasil do século XIX, com suas diferenças sociais, desigualdades econômicas, regime de trabalho escravo
etc. Outro fator interessantíssimo desta obra é que a personagem principal é justamente o cortiço em si,
não alguém específico, embora haja alguns personagens com mais destaque que outros, como é o caso
de João Romão, por exemplo. Num dado momento do romance o narrador compara o cortiço a uma
estrutura biológica, como uma floresta, um ser vivo que cresce e se desenvolve, e que determina o
caráter moral de quem habita seu interior. Assim, essa projeção do cortiço na obra, mais
evidenciado que as personagens, demonstra outra forte característica do Naturalismo: a coletividade.
Quanto ao narrador, este é em terceira pessoa e onisciente, isto é, conhece tudo acerca da história e
dos personagens, entrando em seus pensamentos, fazendo julgamentos e buscando comprovar as
influências do meio, da raça e do momento histórico sobre eles. Já sobre o tempo, ele é linear,
cronológico, e o espaço é dividido em dois: o cortiço, um amontoado de pequenas casas desorganizadas
onde os pobres vivem, representando a mistura de raças e a promiscuidade das classes desfavorecidas;
e o sobrado de ares aristocráticos do comerciante Miranda e sua família, representando a burguesia em
ascensão do século XIX.
Personagens
Os personagens da obra são psicologicamente superficiais, ou seja, o destaque vai para os tipos
sociais. Os principais são:  
João Romão: português ambicioso, dono de uma venda, do cortiço e da pedreira. Aproveita-se da
amante Bertoleza, mas acaba se casando com Zulmira, filha de Miranda, para subir na vida e alcançar
uma posição de mais prestígio na sociedade.
Miranda: comerciante que mora no sobrado ao lado do cortiço. É infeliz em seu casamento com Estela,
mas não se separa por razões financeiras e de exposição.
Jerônimo: português trabalhador, pai de família, torna-se gerente da pedreira de João Romão, mas larga
tudo para viver uma paixão ardente com a mulata Rita Baiana.
Bertoleza: escrava que pensa ser alforriada. Mantém uma relação amorosa com João Romão, trabalha
para ele e faz tudo o que ele pede, cometendo suicídio ao final devido a ele denunciá-la a seus antigos
patrões como fugitiva.   
Zulmira: filha de Miranda, casa-se com João Romão e promove a ascensão social do dono do cortiço por
meio do casamento.
Rita Baiana: mulata muito envolvente que assume um relacionamento com Jerônimo no decorrer da
história.
Piedade: esposa abandonada por Jerônimo que se torna alcoólatra pelas desilusões da vida.
Pombinha: jovem pura e tímida que se torna prostituta.

Memórias póstumas de Brás cubas


Memórias Póstumas de Brás Cubas foi a obra que inaugurou o período realista da literatura brasileira. A
estética realista-naturalista predominou na segunda metade do século XIX. Após a euforia romântica
idealista do início, o século XIX retomava uma visão de mundo baseada na razão e na observação
objetiva da natureza. O cientificismo dominava as filosofias deste período, marcado por avanços
tecnológicos e urbanização acelerada. Na literatura, a tendência romântica de exaltação nacionalista da
primeira metade do século era substituída por uma produção artística que se propunha a mostrar a
realidade sem fantasias, buscando explicações científicas para o comportamento social e psicológico das
pessoas. Surgem então dois tipos de narrativas: o romance social, também chamado de romance
naturalista, que analisava predominantemente o comportamento dos indivíduos em seu convívio na
sociedade, e o romance psicológico, também chamado de romance realista, que analisava
prioritariamente as contradições e angústias internas dos indivíduos. Embora todos os romances da
época apresentassem características dos dois tipos de análise, sempre é possível determinar qual delas
(social ou psicológica) prevalece. Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma narrativa onde predomina
a análise psicológica das personagens, caracterizando-se, portanto, como romance realista.

Resumo do enredo: Memórias Póstumas é uma narrativa confusa e sem linearidade. O personagem
principal, como sugere o título, resolve, depois de morto, contar a história da sua vida através de uma
seleção dos episódios mais relevantes, desde o seu nascimento até a sua morte. Essa narrativa não
segue, porém, nenhuma sequência cronológica. Ele inicia pelo seu delírio e morte, depois conta o seu
nascimento e vai alternando, sem qualquer critério lógico, episódios de diversas fases da sua vida,
sempre com uma alta dose de humor e visão pessimista. Brás Cubas nasceu em uma família rica e
proprietária, o que lhe possibilitou nunca precisar “comprar o pão com o suor do seu rosto”. Na infância,
foi um menino endiabrado. Protegido pela conivência paternal, maltratava os escravos, aprontava com
as visitas e desrespeitava os adultos. Na adolescência, envolveu-se com uma prostituta que o explorou
por vários meses, mas que ele, em sua narrativa, resume na famosa frase: “Marcela amou-me durante
quinze meses e onze contos de réis”. Foi mandado pelo pai à Europa para estudar e esquecer Marcela.
Nunca levou os estudos a sério. De volta ao Brasil, conheceu Eugênia, moça bonita e romântica, filha de
uma amiga da sua mãe. Brás Cubas lembra de que, quando criança, flagrara, durante uma festa na casa
do pai, a mãe de Eugênia beijando um homem casado atrás de uma moita. Como Eugênia não tinha pai
declarado, dá-lhe o apelido irônico de “flor-da-moita”. Mesmo sabendo que o pai jamais permitiria que
ele se casasse com uma moça pobre e filha de mãe solteira, seduz Eugênia e chega a conquistar um
beijo dela. Porém, quando descobre que ela é “coxa de nascença” ou seja, possui uma perna mais curta
que a outra, foge, apavorado com a ideia de passar pelo ridículo de casar com uma mulher coxa. O Pai
de Brás Cubas tem o sonho de vê-lo exercendo o cargo de ministro. Para isso, arranja-lhe como
noiva Virgília, filha de um figurão da sociedade que facilitará a carreira política do genro. Brás Cubas
mostra-se, no entanto, tão apático e incompetente, que acaba perdendo “a noiva e o cargo” para Lobo
Neves, um homem arrojado que ele próprio compara com uma águia. Algum tempo depois, Brás Cubas
reencontra Virgília, já casada com Lobo Neves. Desse encontro nasce uma paixão e os dois viram
amantes. Virgília é uma mulher ambiciosa e não pretende abrir mão do prestígio social que seu marido
lhe proporciona. Assim, durante anos, eles vivem um amor adúltero que só acaba quando Lobo Neves é
nomeado governador de uma província e Virgília muda-se para longe do Rio de Janeiro. Brás Cubas vai
envelhecendo solitário e sem ter feito nada de relevante na vida. Com a ajuda da irmã, ainda faz uma
última tentativa de casar-se e ter filhos. Fica noivo de Eulália, moça pobre e sobrinha do cunhado
Cotrim. A moça, porém, adoece e morre antes do casamento. Assim, Brás Cubas chega ao final da vida
sem ter constituído uma família, sem filhos que dessem prosseguimento ao seu nome e sem ter
produzido absolutamente nada que fizesse as pessoas lembrarem dele após a morte. No último
capítulo, ironiza seus fracassos afirmando que a vida é mesmo uma miséria e não vale a pena perpetuá-
la através dos filhos.

A narrativa 

é realizada em primeira pessoa, ou seja, há um narrador personagem que é também o protagonista da
história. Como Brás Cubas está contando a sua própria história, ele é o que chamamos de “narrador não
confiável”. Todos os fatos e demais personagens nos são apresentados a partir de sua ótica pessoal e
subjetiva. Se o leitor não ficar atento, pode terminar a leitura do livro com uma visão positiva do
protagonista. Uma leitura cuidadosa, no entanto, mostra que Brás Cubas é um boa vida, arrogante e
incompetente, membro de uma elite endinheirada e improdutiva. Essa situação privilegiada permite que
Brás Cubas deboche da sociedade e seus membros com uma ironia sarcástica que não poupa ninguém.
A característica mais marcante deste livro é o pessimismo. Tudo é analisado a partir de uma visão
negativa, seja em relação ao comportamento social ou aos dramas psicológicos das personagens. No
entanto, esta visão pessimista fica, muitas vezes, disfarçada ou escondida sob a presença marcante
do humor, principalmente a ironia. A observação dessa dicotomia pessimismo e humor é a principal
chave para uma leitura compreensiva desse clássico da literatura brasileira.

Análise da obra:

Machado de Assis é considerado, pela crítica especializada, o maior escritor brasileiro de todos os
tempos. Sua obra extrapolou os limites do seu tempo e da estética realista e antecipou a Modernidade.
Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, temos a presença de um “defunto autor”. O narrador
protagonista está contando sua vida após ter morrido. Isso rompe com a proposta “realista” do período.
Além disso, os capítulos curtos, capítulos formados por pontos, exclamações e interrogações e capítulos
em branco, antecipam a irreverência própria da narrativa moderna. A característica mais marcante do
estilo machadiano é a digressão. A narrativa de Machado de Assis é constantemente interrompida por
comentários metalinguísticos, intertextualidades, histórias paralelas e, principalmente, análises
filosóficas da sociedade e do indivíduo. Isso faz com que seus enredos fiquem sempre fragmentados e
embaralhados. Essa dificuldade de leitura, no entanto, é compensada pelo humor inteligente e pela
estrutura dinâmica e moderna de seus livros.

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