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LUCIANA FEITOSA BARBOSA E THÁRSILLA PAULA VIEIRA DE SOUSA

Cirurgia de recobrimento radicular pela técnica Zucchelli & De Sanctis:


uma revisão de literatura.

Araguaína - TO

2020
LUCIANA FEITOSA BARBOSA E THÁRSILLA PAULA VIEIRA DE SOUSA

Cirurgia de recobrimento radicular pela técnica Zucchelli & De Sanctis:


uma revisão de literatura.

Projeto de pesquisa apresentado como


requisito para obtenção de nota na
disciplina de Orientação de Trabalho
Científico, do curso de Odontologia da
Faculdade de Ciências do Tocantins –
FACIT.

Orientador: Adolfo Silva Melo.

Araguaína - TO

2020
Cirurgia de recobrimento radicular pela técnica Zucchelli & De Sanctis:
uma revisão de literatura.

Luciana Feitosa Barbosa e Thársilla Paula Vieira de Sousa

Resumo

O deslocamento da gengiva marginal apicalmente à junção amelocementária é definido como


recessão gengival e pode ter vários fatores etiológicos. Nestes casos o tratamento comumente
indicado é a cirurgia plástica periodontal com o intuito de corrigir esse defeito, quando este
ocasiona o comprometimento estético, sensibilidade e acúmulo de placa na região. O objetivo
deste trabalho é apresentar, através de uma revisão de literatura, o recobrimento radicular
pela técnica de Zucchelli & de Sanctis, constituindo hodiernas papilas no retalho, nominadas
de papilas cirúrgicas, buscando preserva-las ao máximo possível de maneira a garantir um
sorriso mais estético.

Introdução

As recessões gengivais são comumente encontradas na periodontia, e são caracterizadas


clinicamente pela migração apical da margem gengival, com decorrente exposição radicular,
ocorrendo um deslocamento apical da posição da gengiva em relação à junção
cemento/esmalte. Sua etiologia está associada a vários fatores, abrangendo placa bacteriana,
traumas, má posição dentária, escovação errônea, deiscências e fenestrações ósseas, ausência
de tecido queratinizado e iatrogenias1. Lacerda1 (2011) expõe a classificação das recessões
gengivais proposta por Miller, onde o mesmo relaciona as recessões com o nível ósseo
alveolar. A classificação distribui as recessões em quatro classes: na classe I, não há perda
óssea Interproximal e a recessão gengival não ultrapassa a linha muco gengival1. Na classe II,
há ausência de perda óssea inter-proximal, ao mesmo tempo que a recessão gengival
ultrapassa a linha mucogengival1. Na classe III, persiste uma perda óssea horizontal com uma
deslocação apical das papilas, ou extrusão dental, a recessão existente poderá, ou não,
ultrapassar a linha mucogengival1. Na classe IV, existe uma perda óssea, situando-se os septos
ósseos em alturas variadas, apresentando um acompanhamento das papilas. As classes I e II
são as que apresentam melhor previsibilidade de recobrimento radicular. Na classe III, há um
recobrimento radicular parcial e na classe IV, não há recobrimento radicular 2. De acordo com
Costa3 (2010) essas recessões são fatores de risco uma vez que aumentam a probabilidade de
hipersensibilidade dentinária, dificuldades no controle de placa, cáries radiculares e
conseguinte inflamação periodontal, levando a uma implicação estética e funcional do
paciente. As recessões gengivais podem ser localizadas, afetando apenas um dente ou grupo
de dentes ou generalizadas, ocorrendo em toda a boca4. Um importante estudo
epidemiológico revelou uma grande variação na prevalência da recessão periodontal5. Foi
relatada uma variação de 7% a 40%, com tendência de aumento com a idade, maior gravidade
e prevalência em pessoas com ótima higiene bucal5. A necessidade estética atual tem aberto
cada vez mais espaço para o tratamento cirúrgico com o objetivo de recobrimento, Nery6
(2018) afirma que no caso de múltiplas recessões uma alternativa é a técnica de Zucchelli 4-6
que inicialmente é feito incisões oblíquas e intra-sulculares, voltadas para os defeitos de
recessão, com o objetivo de desenhar papilas cirúrgicas e anatômicas, para, posteriormente,
deslocar coronariamente o retalho. Buscando assim a recuperação estética e funcional do
paciente. Para se escolher a técnica cirúrgica de recobrimento radicular, comumente,
relaciona-se as características clínicas do caso, habilidade manual, preferência do operador,
classificação da recessão gengival, dentre outros 7. A técnica de Zucchelli preconiza incisões
oblíquas para melhor adaptação das papilas, portanto, a incisão inicial parte da junção
cemento/esmalte do referido dente e vai até o topo da recessão do dente anexo ao lado e
assim continuamente, adquirindo duas papilas: a cirúrgica (formada após as incisões) e a
anatômica (já existente)8. Zucchelli e De Sanctis9 (2000) relataram a técnica de retalho de
reposicionamento coronal para recessões múltiplas, que consiste num retalho de
reposicionamento coronal associado à rotação das papilas cirúrgicas. Esta técnica fundamenta-
se na realização de incisões submarginais oblíquas nas regiões interdentárias, contínuas com
incisões intra-sulculares, nas áreas de recessão. Desta forma são desenhadas papilas cirúrgicas
para o posterior deslocamento coronal do retalho. A técnica então abrange a realização de um
retalho com dois tipos de espessuras: na localidade das papilas o retalho é de espessura
parcial, enquanto acima da recessão o retalho é de espessura total; e posteriormente a porção
mais apical do retalho é repetidamente de espessura parcial, para banir tensões musculares e
para facilitar a transferência coronal do mesmo9. Aquando o reposicionamento do retalho em
direção coronal, cada papila cirúrgica rotaciona em direção coronal, sobre a respetiva papila
anatómica. Finalmente são feitas suturas para adaptação do retalho e para estabilizar as
respetivas papilas9. Diante do exposto, o presente estudo tem por desígnio conhecer a eficácia
da técnica cirúrgica proposta por Giovanni Zucchelli e De Sanctis empregada para
recobrimento radicular das recessões gengivais.

Palavras-chaves: recessão gengival, recobrimento radicular, cirurgia periodontal.

Métodos

O livro consignado nessa revisão de literatura é o Livro Cirurgia Estética Mucogengival de


Giovanni Zucchelli publicado em 2012, os artigos presentes são procedentes da base de dados
Google Acadêmico, Scielo e PubMed utilizando como palavras-chaves: “gengival recession”,
“root covering”. Os artigos escolhidos foram publicados entre os anos de 1999 e 2018 nos
idiomas português e inglês.

Resultados

Fundamentado na literatura, sobre as complicações de recobrimento radicular, é visto que o


sucesso para esse procedimento consiste em preservar a anatomia das papilas interdentais e
condições ligadas ao paciente no tocante ao padrão de resposta cicatricial, e cooperação no
período pós-operatório. Para Miller10 (1994), é necessário que seja feito o recobrimento total
da superfície radicular, obtenção de profundidade de sondagem inferior a 3 mm, ausência de
inflamação gengival, e coloração/volume tecidual compatível com as áreas adjacentes, de
maneira que a região tratada seja praticamente imperceptível de outras regiões que não
apresentam as recessões.

Sendo então proposto por Zucchelli & De Sanctis 9 (2000) a realização de incisões oblíquas
concebendo “novas” papilas no retalho, chamadas de papilas cirúrgicas, de forma que
proporcione um sorriso mais estético. Ao aplicar a técnica de Zucchelli & De Sanctis9, obtém-se
uma ótima quantidade de mucosa queratinizada e, de acordo com Pini Prato et al. 11 e
Carvalho12, quando associa-se esta técnica com o enxerto de tecido conjuntivo subepitelial, o
resultado é bastante satisfatório.
Discussão

Pesquisas comprovam que as recessões periodontais podem ser vistas em pacientes com bom
ou péssimo controle de placa, agredindo em até 100% pacientes com idade entre 46 e 86 anos,
com alta incidência na superfície vestibular dos dentes 34 e 44 13-14.
A Academia Americana de Periodontia, em 1992 em conjunto com o glossário de termos
periodontais, estabeleceu recessão gengival como o deslocamento da gengiva marginal
apicalmente à junção amelocementária, este conceito é o que permanece atualmente15. Para
que o recobrimento radicular seja bem sucedido, é importante preservar a anatomia das
papilas interdentais16. No decorrer do procedimento cirúrgico, o profissional deve interessar-
se para a permanência da anatomia das papilas, realizando, sempre que possível, incisões
oblíquas15. Na técnica de Bruno17, o retalho não é posicionado sobre as papilas anatômicas,
sendo suturado no local onde foi feita a incisão horizontal. Porém, em 1999, o mesmo autor
modificou a técnica, sugerindo, assim como indica a técnica de Zucchelli & De Sanctis 9 o
recobrimento das papilas previamente desepitelizadas, afim de aprimorar a previsibilidade do
recobrimento radicular16. Por outro lado, o fator estético na técnica de Bruno 16, mesmo
modificada, ainda é desvantajoso, visto que o retalho não apresenta a forma triangular das
papilas. Sendo então proposto por Zucchelli & De Sanctis9 a realização de incisões oblíquas
formando “novas” papilas no retalho, designadas de papilas cirúrgicas, de forma a
proporcionar um sorriso mais estético9-16. Na técnica de Langer & Langer são realizadas
incisões horizontais e relaxantes, desfavorecendo o pós-operatório do paciente, tendo risco de
comprometimento do suprimento sanguíneo, acarretando também uma cicatrização mais
lenta e um maior incômodo para o paciente, decorrente da maior quantidade de suturas, e à
estética, que pode apresenta-se prejudicada16-18. Já na técnica de Pini Prato et al.19 (1999), são
executadas incisões relaxantes curvas, obtendo um melhor resultado, pois a cicatrização é
realizada de forma mais favorecida16. No entanto, Zucchelli & De Sanctis9 não utilizam incisões
relaxantes, o que constitui uma vantagem bastante favorável no pós-operatório16. Zucchelli &
De Sanctis9 realizam primeiro o retalho de espessura total na altura da crista óssea, e
posteriormente, o deslocamento é feito em direção apical através de uma dissecção em
espessura parcial, conseguindo assim, um ganho de mucosa queratinizada9. Este procedimento
em geral não ocorre nas demais técnicas onde os autores utilizam somente um tipo de
espessura de retalho, portanto ao utilizar-se a técnica de Zucchelli & De Sanctis ganha-se uma
excelente quantidade de mucosa queratinizada o que é um ponto positivo e significativo na
cirurgia de recobrimento radicular.

Conclusão

Tendo em vista os aspectos observados, é notório a eficiência da técnica cirúrgica para


recobrimento radicular de recessões gengivais múltiplas desenvolvida por Zucchelli & De
Sanctis, sendo a mesma muito utilizada e obtendo excelentes resultados, uma vez que o uso
dessa técnica leva a uma maior possibilidade de conservação das papilas e um efetivo
recobrimento radicular.
Referências Bibliográficas

1- Lacerda ACQ, Alves ACBA, Rocha PG, Menezes SAF. Recobrimento radicular pela
técnica de Zucchelli e De Sanctis. Rev Gaúcha Odontol. 2011; 59(2): 313-17.
2- Bouchard P, Malet J, Borghetti A. Decision-making in esthetics: root coverage
revisited. Periodontology 2000. 2001; 27: 97-120.
3- Costa G, Moreira A, Sousa SB. Recobrimento radicular e reanatomização dentária com
finalidade estética: relato de um caso. Innov Implant J, Biomater Esthet. 2010; 5(1): 78-
81.
4- ZUCHELLI, G. Cirurgia estética mucogengival. São Paulo:Quintessence Editora,2015.
5- Cunha FA, Hickson AES, Azevedo MYG, Cruz BCV, Cunha MAGM, Costa FO. Decisão
quanto à escolha da técnica de recobrimento radicular. Perio News. 2014;8(2): 138-44.
6- Nery VS, Caputo GL, Moraschini V, Abreu FV. Técnicas de recobrimento radicular:
túnel e zucchelli. Rev. Bras. Odontol. 2018; 75:(Supl.2):116.
7- Leal ZTC, Solis ACO. Técnicas cirúrgicas mucogengivais de retalho deslocado
coronariamente: revisão da literatura [Apresentando no XI Encontro Latino Americano
de Iniciação Científica e VII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação; 2007; São
José dos Campos, SP].
8- Lacerda ACQ, Alves ACBA, Rocha PG, Menezes SAF. Recobrimento radicular pela
técnica de Zucchelli e De Sanctis. Rev Gaúcha Odontol. 2011; 59(2): 313-17.
9- Zucchelli G., De Sanctis M., (2000). “Treatment of multiple recession-type defects in
patients with esthetic demands”. J Periodontology 2000, 71: 1506–1514.
10- Miller PD Jr. Periodontal plastic surgical techniques for regeneration. In: Polson AL.
Periodontal Regeneration-Current Status and Directions. Chicago: Quintessence 1994:
53-70.
11- Pini Prato G, Baldi C, Pagliaro V, Niere M, Saletta D, Rotundo R, et al. Coronally
advanced flap procedure for root coverage. Treatment of root surface: root planning
versus polishing. J Periodontol. 1999; 70(9):1064-76.
12- Carvalho PF, Silva RC, Cury PR, Joly JC. Modified coronally advanced flap associated
with a subepithelial connective tissue graft for the treatment of adjacent multiple
gingival recessions. J Periodontol. 2006; 77(11): 1901-06.
13- Borguetti A, Louise F. Cirurgia plástica periimplantar.In: Borguetti. Cirurgia plástica
periodontal. Artmed 2002. p:201-8.
14- Egreja AM et al. Características clínicas e histológicas da cicatrização de enxertos
gengivais loivres. Rev. Cient. CRO, Rio de Janeiro 2000;2(4):30-6.
15- Glossary of Terms in Periodontology. Chicago: The American Academy of
Periodontology; 1992.
16- Lacerda ACQ, Alves ACBA, Rocha PG, Menezes SAF. Recobrimento radicular pela
técnica de Zucchelli e De Sanctis. Rev Gaúcha Odontol. 2011; 59(2): 313-17.
17- Bruno JF. Connective tissue graft technique assuring wide root coverage. Int J
Periodont Res Dent. 1994; 14(2):127-37.
18- Langer B, Langer L. Subepithelial connective tissue grafttechnique for root coverage. J
Periodontol. 1985; 56(12):715-20.
19- Pini Prato G, Baldi C, Pagliaro V, Niere M, Saletta D, Rotundo R, et al. Coronally
advanced flap procedure for root coverage. Treatment of root surface: root planning
versus polishing. J Periodontol. 1999; 70(9):1064-76.

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