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A confiança (subjetiva e objetiva); o tempo (que decorre entre a prestação atual por
parte de quem concede o crédito e a prestação futura a ser cumprida por quem dele
se beneficiou e consistente na sua devolução); as vantagens oferecidas ao mutuante
(a restituição do principal, acrescido normalmente de correção monetária e juros); a
presença de pessoa jurídica de direito público; e a obrigatoriedade de a entidade da
Administração direta, na condição de tomadora do crédito, atuar sob a égide do regime
administrativo.
O conceito, que vimos, toma crédito público e empréstimo público como se fossem a
mesma realidade, enquanto que, em verdade, o crédito público tem mão dupla,
alcançando tanto as operações de mútuo em que o Estado toma dinheiro como
aquelas em que fornece pecúnia.
Empréstimo público é aquele ato pelo qual o Estado se beneficia de uma transferência
de liquidez com a obrigação de devolver no futuro, normalmente com o acréscimo de
correção monetária e juros.
Receitas x entradas
Como já vimos nas aulas sobre receitas públicas, a rigor, os recursos auferidos em
decorrência de empréstimos públicos, não constituem, segundo os postulados da
Ciência das Finanças, receitas públicas, mas simples entradas, uma vez que não
integram permanentemente o patrimônio do ente público, face à obrigação de sua
devolução, ou seja, o empréstimo público não aumenta o patrimônio estatal, por
representar uma mera entrada de caixa com a correspondência no passivo.
Caráter contratual
Apesar de o empréstimo público voluntário decorrer de uma lei, tal fato não lhe retira o
caráter contratual, pois o Estado, na condição de mutuário, fica impedido de alterar o
seu regime, que, uma vez estabelecido, obriga a ambos os contratantes.
§ 1o As operações de que trata este artigo não serão computadas para efeito
do que dispõe o inciso III do art. 167 da Constituição, desde que liquidadas no
prazo definido no inciso II do caput.
Possuem natureza tributária, sendo, pois, classificada sua receita quanto à origem,
como receita derivada, pois, na espécie, utiliza o Estado do seu poder de império
sobre os seus administrados, usa o poder de tributar.
Quanto à sua origem: eles podem ser internos (obtidos no próprio território) ou
externos (obtidos no exterior).
No que tange à forma de resgate: eles podem ser temporários, ou seja, de prazo longo
(o reembolso se dá em exercício subseqüente), de prazo curto (o reembolso se dá no
mesmo exercício) ou perpétuo (que não apresentam data de resgate, ficando o Estado
obrigado apenas a pagar uma renda ou juros aos subscritores, podendo haver a
faculdade de o Estado, se quiser, efetuar a restituição do capital), daí a
subclassificação em remível ou irremível.
Cumpre destacar que nem todo passivo do Estado pode ser incluído no conceito de
dívida pública. De fato, nem toda operação de que o Estado resulte devedor pode ser
considerada crédito ou empréstimo público:
Quanto ao prazo de duração, o crédito público ou dívida pública pode ser: Flutuante:
quando sendo dívida de curto prazo, deva ser paga no mesmo exercício financeiro.
Contraída para atender às momentâneas necessidades de caixa, devendo ser
resgatada em curto prazo.
Lei 4.320/64, art. 92. A dívida flutuante compreende: I - os restos a pagar, excluídos os
serviços da dívida; II - os serviços da dívida a pagar, que compreendem as parcelas
das amortizações e de juros da dívida fundada ou da dívida consolidada ; III - os
depósitos; IV - os débitos de tesouraria, que são as dívidas provenientes de operações
para antecipação da receita orçamentária (CF, §8º do art. 165).
“O ponto que irei tratar refere-se à interessante dúvida trazida por um de nossos
colegas da turma, na aula do dia 26/05/2018, qual seja: se o prazo para resgate de
uma dívida for inferior a 12 meses, mas ultrapassar o exercício financeiro, ela pode,
ainda, ser considerada dívida flutuante?
Os doutrinadores Kiyoshi Harada e Harrison Leite tratam essa questão remetendo o
leitor, diretamente, aos textos das leis sobre essa matéria, quais sejam:
“Lei 4.320/64:
Art. 92. A dívida flutuante compreende:
I - os restos a pagar, excluídos os serviços da dívida;
II - os serviços da dívida a pagar;
III - os depósitos;
IV - os débitos de tesouraria. [...]
Art. 98. A dívida fundada compreende os compromissos de exigibilidade superior a
doze meses, contraídos para atender a desequilíbrio orçamentário ou a financeiro de
obras e serviços públicos.”
“LRF, Art. 29. [...] I - dívida pública consolidada ou fundada: montante total, apurado
sem duplicidade, das obrigações financeiras do ente da Federação, assumidas em
virtude de leis, contratos, convênios ou tratados e da realização de operações de
crédito, para amortização em prazo superior a doze meses; [...]
§ 3o Também integram a dívida pública consolidada as operações de crédito de prazo
inferior a doze meses cujas receitas tenham constado do orçamento.”;
Pela literalidade da lei, essa classificação não depende do exercício, haja vista, por
exemplo, que os restos a pagar são montantes pertencentes a um exercício financeiro
que são levados para o seguinte e, mesmo assim, são considerados dívida flutuante.
Para aprofundar nossa discussão, eu trouxe o texto do Regis Fernandes de Oliveira
sobre essa classificação:
“A dívida consolidada é o montante total das obrigações financeiras assumidas em
virtude da Constituição, leis, contratos, convênios ou tratados e da realização de
operações de crédito, para amortização em prazo superior a 12 (doze) meses. A
dívida mobiliária é a decorrente de títulos emitidos pelos entes federados. A dívida
flutuante é a assumida para pagamento no mesmo exercício. Como o texto da Lei de
Responsabilidade Fiscal faz integrar no conceito de dívida consolidada as operações
de crédito de prazo inferior a doze meses, desde que incluídas no orçamento (§ 3.° do
art. 29), o conceito anterior de dívida flutuante se altera, ainda que seja a de certo
prazo, sendo considerada fundada para efeito exclusivo de consolidação da dívida
total.” (OLIVEIRA, Curso de Direito Financeiro, 2010, pp. 658).
Observem que, para o autor, o conceito de dívida flutuante possui relação com o
exercício, mas que a LRF alterou esse conceito ao considerar como sendo
consolidada a dívida decorrente de operações de crédito de curto prazo cujas receitas
tenham constado do orçamento (art. 29, §3º, LRF).
Bom, de toda essa discussão, o que eu gostaria de frisar é que, na Constituição, há
apenas um exemplo de dívida flutuante, qual seja: aquela decorrente de operações de
crédito por antecipação de receita (§ 8°, art. 165, CF), segundo Regis Fernandes (p.
645). O que mostra a centralidade dessa forma de endividamento para a matéria de
Direito Financeiro.”
CF, art. 165, § 8º A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à
previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a
autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de
operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei.
Se a prestamista for a União, a coisa muda de figura – CF, § 4º do artigo 167 (EC
3/93):
Art. 167. ...
§ 4.º É permitida a vinculação de receitas próprias geradas pelos impostos a que se
referem os arts. 155 e 156, e dos recursos de que tratam os arts. 157, 158 e 159, I, a e
b, e II, para a prestação de garantia ou contragarantia à União e para pagamento de
débitos para com esta.
Professor OSWALDO OTHON DE PONTES SARAIVA FILHO
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Somente a partir do fim do séc. XVIII é que o crédito público passou a apresentar a
importância equiparável ao que detém hoje
Causas para essa transformação: a) surgimento de volumes de capitais na Europa,
decorrentes das descobertas marítimas e o conseqüente acesso às riquezas do
Oriente e das Américas, com que o comércio e a indústria se revitalizaram e um maior
número de banqueiros apareceu; b) a organização jurídica dos Estados (a separação
dos bens pessoais dos monarcas do patrimônio estatal); c) a melhoria da
administração pública; c) a maior responsabilidade dos governantes em honrar os
compromissos assumidos e maior confiança que os capitalistas passaram a ter no
Estado.
1a) empréstimo não é uma mera antecipação de receita, mas sim uma verdadeira fonte
de recursos que assegura o financiamento do "impasse orçamentário" (diferença entre
o total de despesas e receitas);
2a) não é regra absoluta que somente as gerações futuras arcarão com os ônus da
dívida pública, pois a geração contemporânea, ao contrário das futuras, também a
suporta, pois o empréstimo público significa uma redução da renda nacional ao
diminuir o poder de compra dos particulares, já que o dinheiro é empregado para
financiar gastos públicos ao invés de ser destinado a fins privados;
3a) se é verdade que as gerações futuras suportarão a carga decorrente do
empréstimo público, não se deve entretanto esquecer que elas também dele se
beneficiarão com o reembolso do empréstimo acrescido do recebimento de juros.
pelas entidades públicas e sobre emissão e resgate de títulos da dívida pública (CF,
art. 163, II, III e IV).
Equilíbrio orçamentário: do qual depende da contenção dos empréstimos. A vedação
de operações de crédito que excedam o montante das despesas de capital (CF, art.
167, III).
A CF, no seu art. 163, I a VII, diz competir à lei complementar dispor sobre finanças
públicas; dívida pública externa e interna, incluída a das autarquias, fundações e
demais entidades controladas pelo poder público; concessão de garantias pelas
entidades públicas e emissão e resgate de títulos da dívida pública; compatibilização
das funções das instituições oficiais de crédito da União, resguardadas as
características e condições operacionais plenas das voltadas ao desenvolvimento
regional.
Dívida amortizável, que será reembolsada pelo Estado de forma parcelada e periódica,
e perpétua, cujo resgate ficará ao critério único do Estado, que arcará somente com o
pagamento periódico de juros.
Bibliografia