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FACULDADE DE DIREITO

DISCIPLINA: DIREITO FINANCEIRO


SEMESTRE/ANO: 2º/2020
RESUMO DE AULA DO PROF. OSWALDO OTHON DE PONTES
SARAIVA FILHO

5ª APOSTILA – CRÉDITO PÚBLICO – 2-2020

CRÉDITO PÚBLICO: NOÇÕES GERAIS

A base do crédito é a confiança que o credor deposita na pessoa a quem concede o


crédito de que a mesma tem as condições morais e econômicas de lhe restituir
futuramente o capital mutuado no prazo pactuado. Assim, o crédito consiste em uma
troca de um valor presente por valor futuro ou a permissão de usar o capital de outrem
Já o termo "público" significa a presença de pessoa jurídica de direito público, que
segundo essa confiança obtém ou fornece recursos, contra a promessa de restituição
decorrido certo tempo.

Elementos do crédito público:

A confiança (subjetiva e objetiva); o tempo (que decorre entre a prestação atual por
parte de quem concede o crédito e a prestação futura a ser cumprida por quem dele
se beneficiou e consistente na sua devolução); as vantagens oferecidas ao mutuante
(a restituição do principal, acrescido normalmente de correção monetária e juros); a
presença de pessoa jurídica de direito público; e a obrigatoriedade de a entidade da
Administração direta, na condição de tomadora do crédito, atuar sob a égide do regime
administrativo.

Conceito de crédito público:


Crédito público é a faculdade que tem o Estado, com base na confiança que inspira e
nas vantagens que oferece, de obter, em empréstimo, recursos de quem deles dispõe,
assumindo, em contrapartida, a obrigação de restituí-los no prazo e condições fixados.

Crédito público e empréstimo público


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O conceito, que vimos, toma crédito público e empréstimo público como se fossem a
mesma realidade, enquanto que, em verdade, o crédito público tem mão dupla,
alcançando tanto as operações de mútuo em que o Estado toma dinheiro como
aquelas em que fornece pecúnia.

Crédito público em sentido estrito - conceito de empréstimo público

Empréstimo público é aquele ato pelo qual o Estado se beneficia de uma transferência
de liquidez com a obrigação de devolver no futuro, normalmente com o acréscimo de
correção monetária e juros.

Razão do empréstimo público

Lança mão o Poder Público do crédito público, na acepção de empréstimo público,


para obter recursos de que necessite, para a satisfação de suas funções, quando se
mostram insuficientes as receitas públicas originárias e derivadas, especialmente os
tributos.

Receitas x entradas

Como já vimos nas aulas sobre receitas públicas, a rigor, os recursos auferidos em
decorrência de empréstimos públicos, não constituem, segundo os postulados da
Ciência das Finanças, receitas públicas, mas simples entradas, uma vez que não
integram permanentemente o patrimônio do ente público, face à obrigação de sua
devolução, ou seja, o empréstimo público não aumenta o patrimônio estatal, por
representar uma mera entrada de caixa com a correspondência no passivo.

No Direito Financeiro - art.11 § 4º da Lei 4.320/64

O termo receita é utilizado em sentido lato, compreendendo todo ingresso de recursos


nos cofres públicos, pelo que, sob o ponto de vista legal, o empréstimo é considerado
como receita de capital.

TÉCNICAS DO EMPRÉSTIMO PÚBLICO

O Estado obtém crédito público voluntário ou contratual de duas maneiras: I)


contraindo empréstimos a instituições públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras
ou internacionais; II) através de emissão de títulos da dívida pública colocados junto a
tomadores privados de um determinado mercado.

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Conceito de empréstimo público

A operação pela qual o Estado recorre ao mercado interno ou externo em busca de


recursos de que carece, face, normalmente, à insuficiência de receita fiscal (tributária),
assumindo a obrigação de reembolsar o capital, acrescido das vantagens, em
determinadas condições por ele fixadas.

Caráter contratual

Apesar de o empréstimo público voluntário decorrer de uma lei, tal fato não lhe retira o
caráter contratual, pois o Estado, na condição de mutuário, fica impedido de alterar o
seu regime, que, uma vez estabelecido, obriga a ambos os contratantes.

Natureza jurídica do empréstimo público – Contrato de direito público porque: Deve


haver prévia previsão orçamentária; exige disposição legal específica; há
obrigatoriedade, a nível federal, de autorização e controle do Senado Federal;
necessária finalidade pública; em regra, não pode o contrato ser alterado
unilateralmente, exceto se já previsto a alteração de determinadas cláusulas na lei e
no próprio contrato; há sujeição a prestação de contas; há inviabilidade de execução
específica; pode ocorrer possibilidade de rescisão unilateral (resgate antecipado).

Para caracterização do crédito público, a livre manifestação de vontade do indivíduo


em contratar com o Estado é essencial, o que diferencia o empréstimo público
voluntário, para o Direito Financeiro brasileiro receita pública originária, do empréstimo
compulsório, que possui natureza tributária (CF, art. 148; CTN, art. 15), sendo,
portanto, este classificado, quanto à origem, como receita pública derivada.

O empréstimo voluntário ou crédito público próprio é aquele contraído sob a égide do


princípio da autonomia da vontade. Resulta sempre de um contrato de mútuo ou da
aquisição de títulos representativos da dívida pública. O elemento volitivo, a
espontaneidade do prestamista, é essencial. (HARADA, Kyoshi. Direito Financeiro e
tributário).

“Pedaladas Fiscais”- Vedações da LC 101/2000 – LRF

Art. 35. É vedada a realização de operação de crédito entre um ente da


Federação, diretamente ou por intermédio de fundo, autarquia, fundação ou
empresa estatal dependente, e outro, inclusive suas entidades da

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administração indireta, ainda que sob a forma de novação, refinanciamento ou


postergação de dívida contraída anteriormente.

§ 1o Excetuam-se da vedação a que se refere o caput as operações entre


instituição financeira estatal e outro ente da Federação, inclusive suas
entidades da administração indireta, que não se destinem a: I - financiar, direta
ou indiretamente, despesas correntes; II - refinanciar dívidas não contraídas
junto à própria instituição concedente.

§ 2o O disposto no caput não impede Estados e Municípios de comprar títulos


da dívida da União como aplicação de suas disponibilidades.

Art. 36. É proibida a operação de crédito entre uma instituição financeira


estatal e o ente da Federação que a controle, na qualidade de beneficiário
do empréstimo.

Parágrafo único. O disposto no caput não proíbe instituição financeira


controlada de adquirir, no mercado, títulos da dívida pública para atender
investimento de seus clientes, ou títulos da dívida de emissão da União para
aplicação de recursos próprios.

Art. 37. Equiparam-se a operações de crédito e estão vedados: I - captação


de recursos a título de antecipação de receita de tributo ou contribuição cujo
fato gerador ainda não tenha ocorrido, sem prejuízo do disposto no § 7o do art.
150 da Constituição; II - recebimento antecipado de valores de empresa em
que o Poder Público detenha, direta ou indiretamente, a maioria do capital
social com direito a voto, salvo lucros e dividendos, na forma da legislação; III -
assunção direta de compromisso, confissão de dívida ou operação
assemelhada, com fornecedor de bens, mercadorias ou serviços, mediante
emissão, aceite ou aval de título de crédito, não se aplicando esta vedação a
empresas estatais dependentes; V - assunção de obrigação, sem autorização
orçamentária, com fornecedores para pagamento a posteriori de bens e
serviços.

Operações de Crédito por antecipação de receitas

LC 101/2000. Art. 38. A operação de crédito por antecipação de receita


destina-se a atender insuficiência de caixa durante o exercício financeiro e
cumprirá as exigências mencionadas no art. 32 e mais as seguintes: I - realizar-
se-á somente a partir do décimo dia do início do exercício; II - deverá ser
liquidada, com juros e outros encargos incidentes, até o dia dez de dezembro
de cada ano; III - não será autorizada se forem cobrados outros encargos que
não a taxa de juros da operação, obrigatoriamente prefixada ou indexada à
taxa básica financeira, ou à que vier a esta substituir; IV - estará proibida: a)
enquanto existir operação anterior da mesma natureza não integralmente
resgatada; b) no último ano de mandato do Presidente, Governador ou
Prefeito Municipal.

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§ 1o As operações de que trata este artigo não serão computadas para efeito
do que dispõe o inciso III do art. 167 da Constituição, desde que liquidadas no
prazo definido no inciso II do caput.

§ 2o As operações de crédito por antecipação de receita realizadas por Estados


ou Municípios serão efetuadas mediante abertura de crédito junto à instituição
financeira vencedora em processo competitivo eletrônico promovido pelo
Banco Central do Brasil.

§ 3o O Banco Central do Brasil manterá sistema de acompanhamento e


controle do saldo do crédito aberto e, no caso de inobservância dos limites,
aplicará as sanções cabíveis à instituição credora.

Empréstimos públicos compulsórios – lei

Possuem natureza tributária, sendo, pois, classificada sua receita quanto à origem,
como receita derivada, pois, na espécie, utiliza o Estado do seu poder de império
sobre os seus administrados, usa o poder de tributar.

CLASSIFICAÇÕES DOS EMPRÉSTIMOS PÚBLICOS

Em relação à forma de que se utiliza o Estado para sua obtenção, os empréstimos


podem ser: a) voluntários, quando o Estado não se vale de qualquer coação para a
sua subscrição, recorrendo ao mercado de capitais, sendo o empréstimo concedido
voluntariamente, ou seja, sob a égide do princípio da autonomia da vontade; b)
compulsórios, de natureza tributária, obtidos por força do poder de império do
Estado, independentemente, portanto, da concordância do mutuante (C.F., art. 148;
C.T.N, art. 3º).

Quanto à sua origem: eles podem ser internos (obtidos no próprio território) ou
externos (obtidos no exterior).

No que tange à forma de resgate: eles podem ser temporários, ou seja, de prazo longo
(o reembolso se dá em exercício subseqüente), de prazo curto (o reembolso se dá no
mesmo exercício) ou perpétuo (que não apresentam data de resgate, ficando o Estado
obrigado apenas a pagar uma renda ou juros aos subscritores, podendo haver a
faculdade de o Estado, se quiser, efetuar a restituição do capital), daí a
subclassificação em remível ou irremível.

Quanto à competência da pessoa jurídica de direito público para a utilização do


empréstimo: o empréstimo público se divide em federal, estadual, distrital e municipal.

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Cumpre destacar que nem todo passivo do Estado pode ser incluído no conceito de
dívida pública. De fato, nem toda operação de que o Estado resulte devedor pode ser
considerada crédito ou empréstimo público:

Não se compreendem no tema de empréstimo público outras relações jurídicas em


que o Estado seja devedor, como é o caso de pagamentos que deve a seus
servidores, fornecedores, etc. Se, por exemplo, o Estado foi condenado em ação de
indenização, deve, tem débito, mas não firmou empréstimo; tornou-se devedor por
outro título, qual seja, uma decisão judicial.

Quanto ao prazo de duração, o crédito público ou dívida pública pode ser: Flutuante:
quando sendo dívida de curto prazo, deva ser paga no mesmo exercício financeiro.
Contraída para atender às momentâneas necessidades de caixa, devendo ser
resgatada em curto prazo.
Lei 4.320/64, art. 92. A dívida flutuante compreende: I - os restos a pagar, excluídos os
serviços da dívida; II - os serviços da dívida a pagar, que compreendem as parcelas
das amortizações e de juros da dívida fundada ou da dívida consolidada ; III - os
depósitos; IV - os débitos de tesouraria, que são as dívidas provenientes de operações
para antecipação da receita orçamentária (CF, §8º do art. 165).

Assim, dívida flutuante é a obrigação de prazo geralmente de um ano no máximo, e


que é assumida pelo Estado para atender a uma necessidade premente e
momentânea de recursos, em cobertura de um déficit passageiro de sua tesouraria,
normalmente por não ter ainda percebido receitas que entrarão para seus cofres
posteriormente ao momento da realização de uma despesa urgente ou de um
compromisso cujo vencimento está fixado em lei.

Já a dívida pública fundada ou consolidada é aquela geralmente contraída por um


prazo longo, caracterizando-se por sua estabilidade, e, tendo em vista que o prazo de
vencimento da obrigação do Estado pode ser determinado ou indeterminado.
Comporta a dívida fundada uma subdivisão em dívida amortizável, que será
reembolsada pelo Estado de forma parcelada e periódica; e perpétua, cujo resgate
ficará ao critério único do Estado, que arcará somente com o pagamento periódico de
juros.

Fundada ou consolidada: Quando inscrita nos livros da Fazenda Pública para


pagamento em data previamente determinada (empréstimo amortizável) ou sem prazo
fixado para amortização (empréstimo perpétuo). A dívida pública consolidada é
contraída pelo Estado para fazer face a gostos de grande volume.

Lei 4.320/64, art. 98. A divida fundada compreende os compromissos de exigibilidade


superior a doze meses, contraídos para atender a desequilíbrio orçamentário ou a

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financeiro de obras e serviços públicos. Parágrafo único. A dívida fundada será


escriturada com individuação e especificações que permitam verificar, a qualquer
momento, a posição dos empréstimos, bem como os respectivos serviços de
amortização e juros
A LC 101/2000, no seu art. 29, I, assim define a dívida pública consolidada ou
fundada: montante total, apurado sem duplicidade, das obrigações financeiras do ente
da Federação, assumidas em virtude de leis, contratos, convênios ou tratados e da
realização de operações de crédito, para amortização em prazo superior a doze
meses.

Caracteriza-se por sua estabilidade, já que resulta de empréstimos a médio e longo


prazo.

Traga-se à colação a alentada pesquisa do nosso colega Thiago Rais:

“O ponto que irei tratar refere-se à interessante dúvida trazida por um de nossos
colegas da turma, na aula do dia 26/05/2018, qual seja: se o prazo para resgate de
uma dívida for inferior a 12 meses, mas ultrapassar o exercício financeiro, ela pode,
ainda, ser considerada dívida flutuante?
Os doutrinadores Kiyoshi Harada e Harrison Leite tratam essa questão remetendo o
leitor, diretamente, aos textos das leis sobre essa matéria, quais sejam:
“Lei 4.320/64:
Art. 92. A dívida flutuante compreende:
I - os restos a pagar, excluídos os serviços da dívida;
II - os serviços da dívida a pagar;
III - os depósitos;
IV - os débitos de tesouraria. [...]
Art. 98. A dívida fundada compreende os compromissos de exigibilidade superior a
doze meses, contraídos para atender a desequilíbrio orçamentário ou a financeiro de
obras e serviços públicos.”
“LRF, Art. 29. [...] I - dívida pública consolidada ou fundada: montante total, apurado
sem duplicidade, das obrigações financeiras do ente da Federação, assumidas em
virtude de leis, contratos, convênios ou tratados e da realização de operações de
crédito, para amortização em prazo superior a doze meses; [...]
§ 3o Também integram a dívida pública consolidada as operações de crédito de prazo
inferior a doze meses cujas receitas tenham constado do orçamento.”;
Pela literalidade da lei, essa classificação não depende do exercício, haja vista, por
exemplo, que os restos a pagar são montantes pertencentes a um exercício financeiro
que são levados para o seguinte e, mesmo assim, são considerados dívida flutuante.
Para aprofundar nossa discussão, eu trouxe o texto do Regis Fernandes de Oliveira
sobre essa classificação:
“A dívida consolidada é o montante total das obrigações financeiras assumidas em
virtude da Constituição, leis, contratos, convênios ou tratados e da realização de
operações de crédito, para amortização em prazo superior a 12 (doze) meses. A
dívida mobiliária é a decorrente de títulos emitidos pelos entes federados. A dívida
flutuante é a assumida para pagamento no mesmo exercício. Como o texto da Lei de
Responsabilidade Fiscal faz integrar no conceito de dívida consolidada as operações
de crédito de prazo inferior a doze meses, desde que incluídas no orçamento (§ 3.° do
art. 29), o conceito anterior de dívida flutuante se altera, ainda que seja a de certo
prazo, sendo considerada fundada para efeito exclusivo de consolidação da dívida
total.” (OLIVEIRA, Curso de Direito Financeiro, 2010, pp. 658).

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Observem que, para o autor, o conceito de dívida flutuante possui relação com o
exercício, mas que a LRF alterou esse conceito ao considerar como sendo
consolidada a dívida decorrente de operações de crédito de curto prazo cujas receitas
tenham constado do orçamento (art. 29, §3º, LRF).
Bom, de toda essa discussão, o que eu gostaria de frisar é que, na Constituição, há
apenas um exemplo de dívida flutuante, qual seja: aquela decorrente de operações de
crédito por antecipação de receita (§ 8°, art. 165, CF), segundo Regis Fernandes (p.
645). O que mostra a centralidade dessa forma de endividamento para a matéria de
Direito Financeiro.”

Por fim, quanto à classificação constitucional: a) operações de crédito por antecipação


de receita (C.F. arts. 165, § 8º e 167, IV); b) operações de crédito em geral, ou seja, as
demais.

A exegese o inciso IV do art. 167 da CF:

Art. 167. São vedados: ... IV - a vinculação de receita de impostos a órgão,


fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos
impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para
as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento
do ensino e para realização de atividades da administração tributária, como
determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a
prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de
receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

CF, art. 165, § 8º A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à
previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a
autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de
operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei.

A permissão para a vinculação de receita de impostos como garantia às operações de


crédito por antecipação de receita só tem o efeito psicológico para o particular
prestamista, aplicando-se, no caso de o Poder Público não honrar com a sua
obrigação, a regra da execução contra a Fazenda Público dos precatórios do art. 100
da CF.

Se a prestamista for a União, a coisa muda de figura – CF, § 4º do artigo 167 (EC
3/93):
Art. 167. ...
§ 4.º É permitida a vinculação de receitas próprias geradas pelos impostos a que se
referem os arts. 155 e 156, e dos recursos de que tratam os arts. 157, 158 e 159, I, a e
b, e II, para a prestação de garantia ou contragarantia à União e para pagamento de
débitos para com esta.
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO EMPRÉSTIMO PÚBLICO

A origem do crédito público pode ser encontrada na antiguidade, pois os soberanos de


então já recorriam a empréstimos mediante obrigação de pagamento de juros,
entretanto os recursos assim obtidos não eram destinados para custear serviços e
obras públicas, mas, regra geral, eram aplicados na guerra ou em seus preparativos.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Ademais, alguns governantes se negavam a honrar o compromisso assumido de


restituir o empréstimo com os juros pactuados; e seus sucessores, na ótica de que o
Estado era o rei, não anuíam em assumir o débito, sob o fundamento de que se
tratava de obrigação pessoal que não se transmitia à pessoa do sucessor.

Tal situação permaneceu, na idade média.

Segundo A. BALEEIRO, Uma introdução à Ciência das Finanças, estas eram as


causas da precariedade do crédito público durante a idade média até antes do fim do
século XVIII:
a) inexistência de vultosos capitais, como expressão de riqueza mais ou menos
generalizada; b) doutrinas morais e religiosas infensas ao juro (condenado pela Igreja
Católica no Concílio de Viena (1311); c) insegurança jurídica e política numa fase
histórica de absolutismo e de poder pessoal dos príncipes, cujo patrimônio não se
distinguia do erário; d) precariedade dos sistemas financeiros da época, sem que os
tributos representassem o papel precípuo, que lhes coube no mundo contemporâneo.

Somente a partir do fim do séc. XVIII é que o crédito público passou a apresentar a
importância equiparável ao que detém hoje
Causas para essa transformação: a) surgimento de volumes de capitais na Europa,
decorrentes das descobertas marítimas e o conseqüente acesso às riquezas do
Oriente e das Américas, com que o comércio e a indústria se revitalizaram e um maior
número de banqueiros apareceu; b) a organização jurídica dos Estados (a separação
dos bens pessoais dos monarcas do patrimônio estatal); c) a melhoria da
administração pública; c) a maior responsabilidade dos governantes em honrar os
compromissos assumidos e maior confiança que os capitalistas passaram a ter no
Estado.

O EMPRÉSTIMO PÚBLICO HODIERNAMENTE

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Atualmente, o crédito público assume grande relevância na vida financeira dos


Estados, constituindo-se em uma fonte regular de obtenção de dinheiro para a
consecução das finalidades públicas.

Visão clássica pessimista:

Os clássicos repudiavam o crédito público, principalmente, pelo destino que a ele


davam os governantes e pelo ônus que recaía sobre as gerações futuras sem que
estas dele usufruíssem qualquer vantagem correspondente, além de terem de suportar
o aumento dos impostos para que o Estado pudesse restituir o valor do empréstimo
acrescido dos juros devidos.
Eles não admitiam o crédito público para a efetivação de despesas ordinárias, por
esgotar no presente sua utilização.
Para os clássicos, diferentemente dos financiastas modernos (que vêem no crédito
público um meio normal de obtenção de recursos, de realização de obras pública
como maneira de combater o desemprego, etc.), só deveria o Estado recorrer ao
crédito público excepcionalmente, em casos de urgência e de extrema necessidade,
por considerá-lo uma forma de receita antecipada, cujo ônus recairia sobre as futuras
gerações.

Os financistas modernos discordam por 3 razões:

1a) empréstimo não é uma mera antecipação de receita, mas sim uma verdadeira fonte
de recursos que assegura o financiamento do "impasse orçamentário" (diferença entre
o total de despesas e receitas);
2a) não é regra absoluta que somente as gerações futuras arcarão com os ônus da
dívida pública, pois a geração contemporânea, ao contrário das futuras, também a
suporta, pois o empréstimo público significa uma redução da renda nacional ao
diminuir o poder de compra dos particulares, já que o dinheiro é empregado para
financiar gastos públicos ao invés de ser destinado a fins privados;
3a) se é verdade que as gerações futuras suportarão a carga decorrente do
empréstimo público, não se deve entretanto esquecer que elas também dele se
beneficiarão com o reembolso do empréstimo acrescido do recebimento de juros.

Princípios dos empréstimos públicos.


Ricardo Lobo Torres (curso de direito financeiro e tributário) destaca os seguintes
princípios dos empréstimos públicos:

Legalidade: há necessidade de lei para as operações de crédito, devendo ser


respeitado o subprincípio da reserva da lei complementar no que diz respeito às
normas gerais sobre a dívida pública externa e interna, sobre concessão de garantias

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pelas entidades públicas e sobre emissão e resgate de títulos da dívida pública (CF,
art. 163, II, III e IV).
Equilíbrio orçamentário: do qual depende da contenção dos empréstimos. A vedação
de operações de crédito que excedam o montante das despesas de capital (CF, art.
167, III).

Transparência: que impõe a inclusão no orçamento de todos os empréstimos, até


mesmo daqueles por antecipação de receita (CF, art. 165, §8º).
Seriedade (irretratabilidade): da promessa de restituição do empréstimo, subprincípio
da legalidade, importante para o equilíbrio das contas nacionais e sem o qual inexiste
o crédito público, que depende de credibilidade e confiança.
Equidade entre gerações: sinaliza no sentido de que a geração atual não deve
exceder o limite da razoabilidade no endividamento, a fim de não sobrecarregar as
gerações futuras, às quais caberá suportar o ônus do resgate.

Normas constitucionais relativas ao CRÉDITO PÚBLICO.

A CF, no seu art. 163, I a VII, diz competir à lei complementar dispor sobre finanças
públicas; dívida pública externa e interna, incluída a das autarquias, fundações e
demais entidades controladas pelo poder público; concessão de garantias pelas
entidades públicas e emissão e resgate de títulos da dívida pública; compatibilização
das funções das instituições oficiais de crédito da União, resguardadas as
características e condições operacionais plenas das voltadas ao desenvolvimento
regional.

Exceção ao princípio orçamentário da exclusividade - §8º do art. 165 da CF:


Excepciona a possibilidade de, na lei orçamentária anual, conter dispositivo sobre
contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita.

Art. 167, III, da CF:


Veda "a realização de operações de créditos (empréstimos) que excedam o montante
das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos (dotações
orçamentárias) suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo
Poder Legislativo por maioria absoluta."

Despesas de capital - são as que determinam uma modificação do patrimônio


público através de seu crescimento, sendo, pois, economicamente produtivas.

Art. 167, X, da CF:

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Veda a "concessão de empréstimos, inclusive por antecipação de receita, pelos


Governos Federal e Estaduais e suas instituições financeiras, para pagamento de
despesas com pessoal ativo, inativo e pensionista, dos Estados, do DF e dos
Municípios."

Já vimos a norma constitucional do § 4º do art. 167 da CF: Permite a vinculação


de receitas de impostos e das transferências constitucionais de receitas tributárias
para a prestação de garantia ou contra garantia à União e para o pagamento de
débitos, inclusive provenientes de empréstimos, para com esta.

O Texto Constitucional cuida ainda de crédito público nas seguintes passagens:


Art. 48, II e XIV - cabe ao Congresso Nacional, com sanção do Presidente da
República, dispor sobre operações de crédito e dívida pública, moeda, seus limites de
emissão, e montante da dívida pública mobiliária federal;

Art. 52, V a IX, da CF:


Compete privativamente ao Senado Federal autorizar operações externas de natureza
financeira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e
dos Municípios, fixar, por proposta do Presidente da República, limites globais para o
montante da dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, dispor sobre limites globais e condições para as operações de crédito
externo e interno da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de suas
autarquias e demais entidades controladas pelo poder público federal, dispor sobre
limites e condições para a concessão de garantia da União em operações de crédito
externo e interno e estabelecer limites globais e condições para o montante da dívida
mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

Art. 49, I, da CF:


Confere competência exclusiva ao Congresso Nacional de aprovar acordos e atos
internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio
nacional;

Art. 34, V, a, da CF:


Permite que a União possa intervir nos Estados e no Distrito Federal para reorganizar
as finanças da unidade da Federação que suspender o pagamento da dívida fundada
por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior.

Art. 35, I, da CF:


Estatui que o Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos municípios
localizados em Território Federal, salvo quando deixar de ser paga, sem motivo de
força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada.

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Repetindo, há Dívida pública fundada ou consolidada # dívida pública flutuante

Dívida pública fundada ou consolidada é aquela geralmente contraída por um prazo


longo, caracterizando-se por sua estabilidade, e, tendo em vista que o prazo de
vencimento da obrigação do Estado pode ser determinado ou indeterminado

Comporta a dívida fundada uma subdivisão em:

Dívida amortizável, que será reembolsada pelo Estado de forma parcelada e periódica,
e perpétua, cujo resgate ficará ao critério único do Estado, que arcará somente com o
pagamento periódico de juros.

Em oposição à dívida fundada, temos a dívida flutuante:


Obrigação de prazo geralmente de um ano no máximo, e que é assumida pelo Estado
para atender a uma necessidade premente e momentânea de recursos, em cobertura
de um déficit passageiro de sua tesouraria, normalmente por não ter ainda percebido
receitas que entrarão para seus cofres posteriormente ao momento da realização de
uma despesa urgente ou de um compromisso cujo vencimento está fixado em lei.

Vedação do art. 160 da CF


É vedada a retenção ou qualquer restrição à entrega e ao emprego dos recursos
atribuídos, nesta seção, aos Estados, ao DF e aos Municípios, neles compreendidos
adicionais e acréscimos relativos a impostos.

Exceção: § único do art. 160 da CF:

A vedação prevista neste artigo não impede a União e os Estados de condicionarem a


entrega de recursos:
I – ao pagamento de seus créditos, inclusive de suas autarquias;
II – ao cumprimento do disposto no art. 198, § 2º, incisos II e III.- gastos mínimos com
saúde.

Bibliografia

- ARAÚJO, Eugênio Rosa de. Resumo de direito financeiro, 2ª ed., SP:


Editora Impetus, 2009.
Professor OSWALDO OTHON DE PONTES SARAIVA FILHO
14

- BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito financeiro e de direito tributário,


7ª edição, São Paulo: Saraiva, 1999.
- HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e tributário, 24 ed. São Paulo, SP:
Atlas, 2015.”
- MARTINS, Ives Gandra da Silva. Tratado de direito financeiro, volume 1, 1ª
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- MARTINS, Ives Gandra da Silva. Tratado de direito financeiro, volume 2, 2ª
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- OLIVEIRA, Régis Fernandes de. Curso de direito financeiro, 7ª ed., rev. e
atual. e ampl. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais, 2015.
- PISCITELLI, Tathiane. Direito Financeiro Esquematizado, 5ª ed., Rio de
Janeiro, RJ: Grupo GEN, 2015.
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coordenador Pedro Lenza, SP: Saraiva, 2015.
- ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio F. da. Manual de direito financeiro e direito
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- SARAIVA FILHO. Oswaldo Othon de Pontes. Apostilas (resumo de aulas)
de Direito Financeiro.
- TORRES, Ricardo Lobo. Curso de direito financeiro e tributário,14. ed. Rio
de Janeiro, RJ: Renovar, 2007.

Professor OSWALDO OTHON DE PONTES SARAIVA FILHO

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