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Pato Aqui,

Água Acolá
EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA PROFESSORES

Belo Horizonte
2007
M827p Pato aqui , água acolá : educação ambiental para
professores / Marta Bouissou Morais . --- Belo Horizonte :
Instituto Terra Brasilis , 2007.
64 p.

ISBN

1.Educação ambiental. 2.Meio ambiente-formação de


professores. I.Título.

CDU 504
502:371.13

Ficha catalográfica elaborada por Rinaldo de Moura Faria


CRB-6 nº 1006

Ficha Técnica

Equipe técnica
Flávia Ribeiro
Lívia Vanucci Lins
Marta Bouissou Morais
Renata Dornelas de Andrade
Sônia Elias Rigueira

Leitura crítica
Maria Hilda de Paiva Andrade

Equipe Pedagógica
Lívia Lins
Marta Bouissou

Ilustrações
Humberto Fernandes (HF)
Maurício Bouissou Morais (MBM)
Pedro Nery (PN)

Fotos
Adriano Gambarini (AG), Ana Elisa Brina (AEB), Carlos Eduardo Carvalho (CEC),
Flávia Ribeiro (FR), Ivana Lamas (IL), Joares May (JM), Leonardo Viana (LV), Lívia Lins (LL),
Lúcio Bedê (LB), Marcílio Gazzinelli (MG), Miguel Andrade (MA), Renata Andrade (RA),
Sônia Rigueira (SR) e acervo do Instituto Terra Brasilis (ITB).

Projeto gráfico da capa e miolo


Adaequatio Estúdio de Criação: Nélio Ribeiro e Sérgio Luciano

© 2007, Instituto Terra Brasilis


Sumário

Apresentação 7

Introdução 9

Nossa proposta de trabalho 15

1 A importância das ações de conservação ambiental 17

2 É necessário conservar as águas! 25

3 As águas da Serra da Canastra 33

4 Fazendo a coisa certa 43

5 Texto complementar 55
Agrotóxicos: usos, riscos e alternativas 55
Descarte de pilhas: cuidados e normas 59
Fossa séptica: função e construção 60
Lixo: problemas e soluções 61
Apresentação

É com grande entusiasmo que disponibilizamos aos contexto da conservação no país. Envolver a comuni-
professores da região do Alto São Francisco este livro, um dade escolar é, portanto, de grande importância para
dos produtos do Programa Pato-mergulhão, em desen- a ampliação de conhecimentos, mudança de valores e
volvimento na região da Serra da Canastra pelo Instituto aperfeiçoamento de habilidades, visando a conservação
Terra Brasilis. Entre os vários trabalhos desenvolvidos dos recursos hídricos nacionais.
dentro do Programa destaca-se o projeto ‘Pato Aqui, Ao longo dos anos de trabalho na região, muita
Água Acolá’, do qual este livro faz parte. No entanto, a informação foi gerada e parte desta encontra-se incor-
contribuição do Instituto Terra Brasilis para a conserva- porada nesse livro, enriquecido com exemplos e expli-
ção da região da Serra da Canastra teve início em 2001 e cações de temas e fenômenos locais, oferecendo uma
contempla, além da educação ambiental, outras linhas condição ímpar de trabalho com os alunos da rede
de ação: conservação da biodiversidade, áreas protegidas escolar regional.
e planejamento e políticas públicas. Esperamos que esta contribuição possa ajudar na
A idéia de desenvolvimento deste livro surgiu quando construção de um mundo melhor, onde o respeito à
da veiculação na região de uma exposição ambiental natureza, a partir da compreensão de seus fenômenos,
itinerante, denominada Pato Aqui, Água Acolá, reali- esteja definitivamente incorporado às atitudes e rotinas
zada em 2005-2006, abrangendo todas as escolas da de todos.
região. Essa exposição, assim como este livro, trata das
questões relacionadas à conservação ambiental, com Sônia Rigueira
ênfase nos recursos hídricos, e têm o pato-mergulhão Presidente
como porta voz para os temas relacionados à conser- Instituto Terra Brasilis
vação da região.
Consideramos a região da Serra da Canastra de grande
simbologia para a conservação da água no Brasil, pois
aí estão as cabeceiras mais altas do Rio São Francisco,
o rio da integração nacional. Nessa mesma região vive
o pato-mergulhão, uma das espécies de aves aquáticas
mais ameaçadas de extinção do Planeta. Assim, consi-
deramos que a compreensão e o envolvimento de todas
as pessoas da região nas ações de conservação desses
recursos naturais farão uma grande diferença para o
Introdução

Este livro foi escrito para os professores que trabalham na região


da Serra da Canastra. Ele foi elaborado pensando no papel fun-
damental que o professor desempenha no desenvolvimento de
seus alunos, acompanhando-os, estimulando-os, orientando suas
descobertas e apresentando novos conceitos, atitudes, compor-
tamentos e valores.
Pensando nisso, procuramos produzir um material que seja
uma fonte de conhecimento e de atividades a serem desenvol-
vidas com os alunos e um convite à incorporação da educação
ambiental, especialmente no que se refere à conservação dos
recursos hídricos, nas atividades curriculares.
O ponto de partida deste livro foi a exposição ambiental
‘Pato Aqui, Água Acolá’, desenvolvida pelo Instituto Terra Brasilis,
em parceria com o IEF – Instituto Estadual de Florestas de Minas
Gerais e com a ABPED – Associação Brasileira dos Produtores de
Eucalipto para Uso Doméstico. A exposição é um dos trabalhos
que o Instituto Terra Brasilis desenvolve na região da Serra da
Canastra desde 2001, que abrange estudos relacionados à dis-
tribuição e à biologia do pato-mergulhão, além de atividades de
sensibilização e educação ambiental.
A região da Serra da Canastra, onde se encontram as nas-
centes do rio São Francisco e do rio Araguari e ainda de vários
afluentes do rio Grande, é estratégica para o país sob o ponto
de vista de manejo de recursos hídricos, já que essas bacias são
de extrema importância nos contextos social, econômico e
ambiental brasileiros.
Aqui se localiza também o Parque Nacional da Serra da
Canastra, que representa um dos últimos refúgios para a vida
silvestre do Brasil Central, abrigando várias espécies da fauna
e flora brasileiras ameaçadas de extinção. Uma dessas espécies
é o pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) que, de acordo com a
10 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

União Mundial para a Natureza – UICN, está entre as 10 espécies


de aves aquáticas mais ameaçadas de extinção no Planeta.
O pato-mergulhão é considerado um indicador da qualidade
ambiental devido ao seu nível de exigência da qualidade do meio
em que vive: águas limpas e cristalinas, leitos não assoreados e
com corredeiras, matas ciliares ao longo das margens. Sua presença
é compatível com o uso humano dos recursos hídricos, desde
que a água seja utilizada de forma responsável, respeitando-se a
capacidade de recarga natural dos aqüíferos, com manejo do solo
adequado, não suprimindo a mata ciliar e fazendo uso adequado
de agrotóxicos, entre outros cuidados. O pato-mergulhão é, por-
tanto, uma espécie bandeira para a conservação na região.

O Projeto ‘Pato Aqui, Água Acolá’


Em 2004, teve início o Projeto de educação ambiental denominado
‘Pato Aqui, Água Acolá’, implementado em São Roque de Minas
Resultados do trabalho de campo
e Vargem Bonita. O nome do Projeto faz referência à importân-
cia da conservação da água para a sobrevivência de espécies da
Os resultados obtidos até o momento são bas- região da Serra da Canastra e ao papel do pato-mergulhão como
tante significativos. Desde o início dos trabalhos
indicador de qualidade ambiental: a sobrevivência do pato-mer-
do Terra Brasilis, o número de casais de patos-
mergulhões descobertos na Serra da Canastra
gulhão está associada a ambientes conservados.
aumentou de 6 para 40. Esses resultados tor- Esse Projeto inclui uma exposição ambiental itinerante e a
naram a região da Canastra o local no mundo campanha ‘Procura-se Vivo’. Essas atividades visam apoiar a for-
onde se encontra a maior população conhecida
mação de conceitos, atitudes, procedimentos e valores adequados
dessa espécie. Estão sendo também realizados
estudos relativos à biologia reprodutiva da espé-
ao manejo e à conservação dos ecossistemas e de seus componen-
cie a partir dos quatro ninhos encontrados até o tes; promover o orgulho entre a população local como guardiã
momento. Foi ainda possível realizar análises de de uma espécie rara, bela e prioridade mundial de conservação;
DNA a partir das cascas de ovos eclodidos.
divulgar informações sobre a conservação dos ambientes pouco
modificados pelas ações humanas; incentivar a adoção de práticas
agrícolas sustentáveis; minimizar os impactos da destruição de
hábitat; e ampliar a consciência sobre a importância da conser-
vação dos ecossistemas para permitir que a região permaneça
sustentável ecológica, social e economicamente.
Números da exposição ambiental A abertura da exposição ambiental itinerante é feita por
uma apresentação teatral, realizada por um ator interpretando
o personagem “Cisco”. Esse é um pato-mergulhão simpático,
A exposição foi veiculada para os estudantes
do Ensino Fundamental e Médio das escolas cujo nome tem relação com o rio São Francisco, e que diverte e
públicas e privadas das comunidades urbanas e informa crianças e adultos. O figurino destaca as características
rurais de São Roque de Minas e Vargem Bonita. mais marcantes do pato-mergulhão: um longo e vistoso penacho
Foram realizadas 22 apresentações cênicas e
atrás da cabeça, os pés vermelhos e o bico longo e serrilhado.
67 visitas monitoradas à exposição ambiental
propriamente dita. Nessas atividades, 1.194 O cenário da apresentação foi elaborado de forma a retratar o
estudantes assistiram à apresentação cênica e ambiente do pato-mergulhão, salientando as preferências de
1.134 visitaram a exposição ambiental. hábitat da espécie: águas limpas e cristalinas, corredeiras, vege-
tação marginal e ambiente em bom estado de conservação. O
Introdução 11

espetáculo, de aproximadamente 40 minutos, conta com músicas

MG
especialmente compostas para a encenação, tornando-a mais
divertida e o conteúdo de mais fácil assimilação.
O personagem interage com o público e prepara os estudantes
para a visita à exposição ambiental, que trata da conservação
dos ambientes úmidos da região.
A exposição ambiental propriamente dita convida a conhecer
a importância dos recursos hídricos para a manutenção da qua-
lidade de vida da população humana local e para a conservação
da biodiversidade. Ela é uma estratégia de ensino e aprendiza-
gem lúdica e interativa, que permite o resgate das informações O personagem Cisco

veiculadas durante a apresentação teatral. Essas informações são


apresentadas na forma de textos, fotos, ilustrações e desenhos
esquemáticos, distribuídos em painéis, lâminas retangulares e

AEB
circulares, monóculos e uma ‘roda mágica’.
A apresentação cênica e a exposição propriamente dita abor-
dam os seguintes temas:

• o pato-mergulhão, suas características morfológicas, seu com-


portamento alimentar e reprodutivo, seus requerimentos de
hábitat, seus hábitos e suas ameaças;

• a situação da água no Planeta;

• a utilização responsável da água versus o desperdício de


Vista parcial da exposição
água;

• o uso do fogo e as queimadas e suas conseqüências para os


ecossistemas;

• o pisoteio das margens dos cursos d’água pelo gado e suas


conseqüências;

• o turismo planejado como alternativa de renda;

• o papel da mata ciliar;

• a importância da proteção das nascentes;

• o desmatamento e a erosão;
• o papel de cada cidadão para um mundo melhor.

Buscando sensibilizar a comunidade e seus visitantes para a


importância da conservação dos recursos hídricos e ampliar o
conhecimento sobre a distribuição do pato-mergulhão na região,
foi criada a campanha ‘Procura-se Vivo’, constituída pela distri-
buição de material educativo impresso (calendários e folhetos)
contendo fotos e informações sobre o pato-mergulhão. Nesse
material educativo é destacado o fato de tratar-se de uma ave
extremamente rara, criticamente ameaçada de extinção, depen-
12 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

dente da água de qualidade e, sobretudo, indicadora de qualidade


Resultados da campanha ‘Procura-se Vivo’
ambiental. Além disso, são apresentados alguns fatores de ameaça
à espécie e são incluídas informações sobre práticas ambiental-
Até o momento foi recebido um total de 187 mente adequadas e o que fazer para conservar o ambiente.
informações sobre o pato-mergulhão a partir O material informativo contém uma ficha destacável para
da campanha Procura-se Vivo. Destas, cerca
ser preenchida e devolvida, incentivando o público a registrar
de 32% (60) foram obtidas através das fichas
preenchidas e depositadas nas urnas coletoras qualquer observação do pato-mergulhão em campo, buscando
espalhadas pela região e 68% (127) foram envolvê-lo, dessa forma, nas atividades de conservação da espécie
obtidas através de depoimentos dos moradores e nas discussões relativas à conservação da água na região.
da região durante as campanhas de campo de
Como resultados do Projeto ‘Pato Aqui, Água Acolá’, a maioria
distribuição do calendário, coleta das fichas ou
levantamento da espécie em campo. da população local, de várias faixas etárias e camadas sociais, hoje
Mesmo as informações sobre casais já pre- reconhece a ocorrência do pato-mergulhão na região da Serra da
viamente conhecidos foram muito importantes Canastra, seu status de espécie ameaçada e indicadora de água
pois possibilitaram o monitoramento da espécie.
de boa qualidade e de ambientes pouco degradados.
A localização de dois ninhos da espécie foi
extremamente valiosa, resultando na obtenção
de dados inéditos sobre o comportamento
reprodutivo da espécie.
Este livro
As campanhas de campo, de distribuição Neste livro procuramos avançar no desenvolvimento dos con-
de material e recolhimento de fichas, se consti-
tuíram em uma ótima oportunidade de contato
ceitos trabalhados até agora no Projeto ‘Pato Aqui, Água Acolá’,
e troca de informações com os moradores contribuindo com fundamentações teóricas que possam ser incor-
locais. A avaliação das informações recebidas poradas ao trabalho do professor na sala de aula. O contato com
e a confirmação de fatos e comportamentos educadores que já participaram dessas atividades nos ajudaram
relatados pelos moradores da região e visi-
tantes mostram a importância dessas pessoas
a conhecer algumas demandas surgidas a partir da exposição, e
nos trabalhos de conservação das espécies e um dos objetivos deste material é atender a essas demandas.
ecossistemas locais. Outro objetivo deste trabalho é apresentar aos professores
uma proposta metodológica que, caso seja considerada ade-
quada às suas condições de trabalho, pode ser incorporada aos
processos de ensino.
Pretendemos, ainda, que o livro de educação ambiental crie
oportunidades de contextualizar e ressignificar os conteúdos
curriculares. Para isso, buscamos deixar claras interfaces entre
os conteúdos abordados e o currículo tradicional, nos textos
teóricos e nas atividades propostas dirigidas aos alunos.
O uso solidário e a conservação dos recursos hídricos são
as referências para a seleção de conteúdos e de atividades, que
englobam, como conteúdos conceituais:

• a educação ambiental como componente essencial e perma-


nente das atividades de ensino-aprendizagem, devendo dar-se
de maneira refletida, orientada e objetiva;

• o uso solidário e racional dos recursos hídricos como um


direito das populações humanas atuais e futuras e dos outros
componentes dos ecossistemas;
Introdução 13

• bacias e sub-bacias hidrográficas como unidades de planeja-


mento;

• a proteção de nascentes e de matas ciliares como um imperativo


da conservação dos recursos hídricos;

• a biodiversidade do Cerrado, bioma em que se inclui a área de


abrangência deste projeto, os endemismos, as espécies amea-
çadas e a necessidade da conservação;

• o pato-mergulhão, sua história natural (alimentação, compor-


tamento reprodutivo, requerimento de hábitat), as ameaças à
espécie, seu status de espécie criticamente em perigo, seu papel
como indicador de qualidade de água, a necessidade de sua
conservação e da proteção dos locais onde ele ocorre;

• principais atividades econômicas locais (a agricultura, a criação


de gado bovino, a produção do queijo Canastra e o turismo)
e seus impactos sobre os cursos d’água e a biodiversidade;

• alternativas às práticas degradadoras ou não sustentáveis dessas


atividades econômicas;
• a importância do engajamento das populações locais na busca
de soluções para as questões ambientais relacionadas aos recur-
sos hídricos.

Com relação aos conteúdos conceituais do campo didático-


pedagógico, este livro apresenta:

• o reforço da concepção de que a construção de conteúdos


conceituais, comportamentais e de atitudes significativos e
contextualizados na realidade local, além de abrangentes em
relação à realidade global, pode ser uma ferramenta muito
valiosa na capacitação da comunidade escolar para ações
transformadoras;

• o trabalho em pequenos grupos como estratégia de ensino-


aprendizagem de grande valor pedagógico;
• os projetos de trabalho, ou projetos pedagógicos, como opor-
tunidades de favorecer o protagonismo dos professores e de
seus alunos e a integração da aprendizagem escolar às práticas
sociais da comunidade escolar.

Esperamos que nossa iniciativa propicie a construção dos


novos conceitos, comportamentos e atitudes, relacionados ao
uso solidário e racional dos recursos hídricos, que possam ser
incorporados na rotina escolar. Para isso, contamos com a par-
ticipação valiosa dos educadores.
Nossa proposta
de trabalho

Ao construir este material, buscamos nos fundamentar meio ambiente de seu bairro, sua cidade, da sub-bacia
em alguns conceitos que consideramos centrais no ou bacia hidrográfica de sua região, de seu Estado, seu
campo da educação ambiental. país, do Planeta. Assim se inter-relacionam condições
O primeiro deles é uma compreensão ampla da climáticas, a fauna, a flora, a cultura, as atividades econô-
expressão ‘meio ambiente’. Os diferentes significados micas, a organização social, a distribuição de terras e de
que essa expressão possui podem levar a uma compre- renda e outros aspectos que caracterizam as sociedades
ensão limitada dos objetivos e das ações de educação humanas e os locais onde elas se estabelecem.
ambiental. Meio ambiente significa, nesta concepção Outro pressuposto fundamental nesta proposta de
ampla, o conjunto de componentes vivos e não-vivos trabalho é a crença na aprendizagem como um processo
de determinado espaço e momento, e as interações que ativo, que demanda motivação e dedicação. A impor-
se estabelecem entre os componentes. tância da participação ativa do aprendiz no processo de
Nesse sentido, o meio ambiente de sua comunidade construção do conhecimento traz, como conseqüência,
escolar inclui as pessoas que dela fazem parte, a qualidade a necessidade do educador centrar sua atenção menos
da água disponível na escola e o uso que é feito desta em métodos e técnicas de ensino e mais nos proces-
água, as condições de iluminação, ventilação e limpeza, sos vivenciados pelos alunos na elaboração de novos
a qualidade das refeições, a disciplina, a disponibilidade conhecimentos ou na reelaboração dos conhecimentos
de meios de transporte para a escola ou as dificuldades prévios.
de acesso até ela, as condições de segurança, as relações Um terceiro referencial é a valorização das interações
harmônicas ou hostis que são estabelecidas entre as entre os alunos na sala de aula. É através delas que as
pessoas e mais um grande número de relações que aí crianças e os adolescentes aprendem a expressar suas
se estabelecem. idéias e a ouvir as dos outros e que desenvolvem o res-
Quando consideramos as demandas por educação peito por opiniões diferentes. Por meio dessas interações,
ambiental de nossos estudantes, podemos pensar no os alunos podem perceber que idéias diferentes podem
16 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

conviver e eventualmente se reunir para construir uma Este trabalho representa a esperança de que é pos-
nova e melhor idéia. Esse é o espaço da construção do sível construir um mundo mais justo, mais limpo, em
respeito, da solidariedade e de valores que fundamentam que as pessoas e outros seres vivam com qualidade. É
a conduta ética. Além disso, a interação com os colegas muito bom poder compartilhar essa esperança com
de idade próxima e imersos na mesma situação favorece você, professor!
a aprendizagem. As trocas de idéias e opiniões, num Bom trabalho!
ambiente de confiança e conforto emocional, podem
permitir situações de aprendizagem mais ricas do que
se o aluno estivesse realizando sozinho as atividades
ou interagindo apenas com o professor. Por isso sugeri-
mos que a maior parte das atividades seja realizada em
pequenos grupos.
Outro fundamento desta proposta é a busca por
uma abordagem que aproxime os conteúdos das dis-
ciplinas e integre os conhecimentos das diversas áreas,
numa busca de interdisciplinaridade que permita uma
visão mais completa do ambiente, indispensável para a
educação ambiental. A visão segmentada, que o estudo
disciplinar das escolas acaba produzindo, não é adequada
quando se busca conhecer e propor soluções para ques-
tões ambientais e, por isso, a educação ambiental é um
tema transversal, isto é, um corpo de conhecimentos que
inclui contribuições de várias disciplinas e que deve ser
trabalhado a partir de todas essas contribuições.
Por último, é importante expor o que consideramos
os objetivos deste trabalho e, de modo geral, das ações de
educação ambiental. A construção de conhecimentos e a
incorporação de uma atitude mais atenta aos componen-
tes do meio ambiente, especialmente às conseqüências
das atividades humanas sobre eles, são objetivos impor-
tantes. Mas eles representam meios para que o objetivo
maior possa ser alcançado: a ação transformadora sobre o
mundo. Essa ação transformadora pode incluir pequenas
mudanças isoladas e individuais de comportamentos,
como a atenção em apagar a luz sempre que for deixar
um cômodo ou em fechar a torneira da pia enquanto
escova os dentes ou ensaboa as vasilhas. Mas as ações
podem ser mais amplas, coletivas, a partir da formação
e da atuação de grupos organizados para a reivindicação
de uma mudança na política municipal de coleta de lixo,
por exemplo, ou através da participação no Conselho
Municipal de Meio Ambiente ou no Comitê da Bacia
Hidrográfica da região.
1 A importância das ações de
conservação ambiental

Há muitas décadas as sociedades humanas vêm aprendendo


que é necessário proteger os ecossistemas e os seres vivos ecossistema
que neles ocorrem para garantir que as pessoas possuam uma Conjunto de componentes vivos e não-vivos
boa qualidade de vida no futuro e que outros seres vivos não de um ambiente, incluindo suas inter-relações.
Cada organismo e cada componente não-vivo,
sejam extintos.
assim como suas interações, são necessários para
O Cerrado, o bioma predominante em Minas Gerais e típico que o ecossistema se mantenha em equilíbrio.
da região da Serra da Canastra, é uma das prioridades mundiais de São exemplos de ecossistemas um rio, um
conservação. Isso se dá devido ao grande número de seres vivos campo de capim, um afloramento de rochas e
a vegetação que aí se desenvolve, uma mata
que o Cerrado abriga, à diversidade desses seres, e por existirem
ao longo de um rio e até o interior do tubo
entre eles alguns que só são encontrados em áreas deste bioma. digestório de uma pessoa.

Atividade – Interpretação do mapa bioma


Objetivos: Proporcionar aos alunos a oportunidade de se situar Conjunto de ambientes que ocupam grandes
espaços terrestres e onde predomina um tipo
no Estado e de conhecer mais sobre os biomas que ocorrem em
de flora, de fauna, de solos e de clima. Outros
Minas Gerais. biomas brasileiros são a Mata Atlântica, a Caa-
Estratégias: Grupos de alunos devem iniciar o trabalho inter- tinga, a Floresta Amazônica, o Pantanal e os
pretando reproduções do mapa a seguir. Eles devem identificar Campos Sulinos.

o bioma que ocupa a maior área no estado de Minas Gerais – o


Cerrado – e localizar a região da Serra da Canastra, reconhecendo
sua inserção na área desse bioma.
Cada grupo pode, então, a partir da pesquisa em livros, revistas,
Internet e outras fontes, comparar as características de cada bioma:
animais, vegetais, paisagens e atividades econômicas típicas do
Cerrado, da Mata Atlântica e da Caatinga. Em função da faixa
etária e do desenvolvimento cognitivo dos alunos, e da criatividade
dos grupos, os trabalhos podem ser apresentados na forma de álbuns
de fotografias ou desenhos, maquetes, dissertações, painéis...
18 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

Nos últimos 35 anos, mais da metade da área original do

MBM
Januária
Cerrado brasileiro foi degradada, com índices de desmatamento
Caatinga
Arinos
superiores aos da Amazônia.
Cerrado Montes Claros As principais ameaças ao Cerrado são a produção de carvão a
Mata Atlantica Jequitinhonha
partir de árvores nativas; as grandes plantações de soja, milho e
co
o

ncis
cana-de-açúcar; a erosão do solo; e o cultivo de capins africanos
Rio

Fra

Diamantina
Uberlândia
Gov. Valadares
para a formação de pastagens destinadas ao gado bovino, além
Uberaba
das queimadas.
Parque Nacional da
Belo Horizonte O Cerrado pode apresentar-se de várias formas, ou fisionomias,
Serra da Canastra
que vão depender das interações entre os diversos componentes
dos ecossistemas: seres vivos, solos de vários tipos, diferentes
Pouso Alegre
quantidades de água disponível, clima e relevo.
Em Minas Gerais ocorrem os biomas Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado,
O cerrado típico possui árvores isoladas, entremeadas por
sendo que este último ocupa aproximadamente 57% da área do estado. arbustos e ervas. As árvores têm altura entre 3 e 7 metros, são
tortuosas, esgalhadas, geralmente com casca grossa, folhas gran-
des e raízes profundas.
LL

O cerradão, ou formação florestal do Cerrado, é caracterizado


por árvores cujas copas se tocam, com altura superior a 7 metros,
e por poucos arbustos e ervas.
As formações campestres do cerrado incluem paisagens em
que há raras árvores e arbustos – os chamados campos limpos
–, outras em que há até 10% de árvores e arbustos na cobertura
vegetal – os campos sujos –, e os campos rupestres, que ocorrem
em altitudes acima de 1000m, em solos rasos e ricos em aflora-
Paisagem de cerrado típico mentos rochosos.
Algumas formações campestres do Cerrado muitas vezes são
LL

confundidas com pastos formados por capins que não ocorrem


naturalmente no Brasil. Mas, ao contrário dos pastos de capim-
gordura, braquiária e outros capins importados, nos campos
limpos a diversidade de seres vivos é muito grande. Essas fisiono-
mias vegetais devem ser reconhecidas como áreas que merecem
a conservação, por possuírem grande biodiversidade.
Ao longo do ano, a paisagem do Cerrado muda. Na época
da seca, as ervas do cerrado típico tendem a desaparecer, rebro-
tando no início das chuvas. Nas formações campestres, durante
a seca as ervas ficam amareladas ou avermelhadas e florescem
canelas-de-ema, lírios e várias árvores, como os ipês. Na época
das chuvas, o campo fica mais verde e outros vegetais florescem,
como quaresmeiras e sucupiras.
Alguns animais que ocorrem no bioma Cerrado estão adap-
tados aos campos e cerrados; outros só vivem nas matas ciliares,
brejos ou rios.

Paisagem de cerradão
1  A importância das ações de conservação ambiental 19

MA
Atividade – Paisagens da Serra da Canastra
Objetivos: Estimular o conhecimento sobre os ecossistemas da
Serra da Canastra de modo a despertar nas pessoas o reconheci-
mento da riqueza e beleza de sua diversidade de seres vivos e da
importância de preservá-la.
Estratégias: Para a coleta de dados, pode-se usar informações
obtidas através de pesquisas e entrevistas, saídas de campo (ao
interior do Parque Nacional da Serra da Canastra e a outras áreas Paisagem de campo limpo
conservadas), trabalhos a partir de folhetos do Parque Nacional
da Serra da Canastra e de publicações de instituições técnicas que

AEB
atuam na região, publicações de jornais e revistas, a Internet ou
outras fontes que estejam disponíveis. Como formas de apresen-
tação dos resultados, pode-se optar pelo uso de vídeos, maquetes,
colagens, desenhos, fotografias, descrições, poesias, músicas e
outras, produzidos individualmente ou em pequenos grupos.

O Parque Nacional da Serra da Canastra Paisagem de campo sujo

A partir da compreensão da necessidade de conservação das

FR
paisagens e dos ambientes da Terra, foram desenvolvidas várias
ações, individuais e por parte dos governos e de organizações
não-governamentais, visando a conservação dos ecossistemas
pouco modificados pelas atividades humanas.
Uma dessas estratégias de conservação é a criação pelos gover-
nos (municipais, estaduais e federal) de Unidades de Conservação,
isto é, de espaços territoriais com limites definidos e que visem
a conservação sob regras específicas.
O Parque Nacional da Serra da Canastra foi criado para prote-
Paisagem de campo rupestre
ger a diversidade das paisagens e dos seres vivos de nossa região.
Assim como outras unidades de conservação desta categoria, o
Parque tem como principal objetivo a preservação de ecossistemas
naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibi-
litando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento
de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação
em contato com a natureza e de turismo ecológico.
Este Parque é considerado uma das mais importantes unida-
des de conservação do país. Nele estão cabeceiras dos rios São
Francisco, Araguari e Grande (a proteção de nascentes do São
cabeceiras
Francisco foi, no início da década de 1970, a principal justifi- Conjuntos de nascentes e trechos iniciais de
cativa para a criação do Parque Nacional da Serra da Canastra). um curso d’água.
Além de sua importância para a conservação da água, o Parque
20 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

Nacional da Serra da Canastra é extremamente importante por


espécies reunir e proteger grande número de espécies, algumas das quais
Categoria de classificação dos seres vivos que reúne só ocorrem nesta região ou estão ameaçadas de serem extintas
indivíduos que possuem aparência e comportamentos
no Planeta. Outra justificativa para a criação do Parque Nacio-
semelhantes e que só se reproduzem naturalmente
entre si. Existem atualmente, por exemplo, uma única nal da Serra da Canastra é que nele estão representados vários
espécie humana na Terra, chamada Homo sapiens. aspectos do bioma Cerrado, áreas de transição entre os biomas
Cerrado e Mata Atlântica e, ainda, trechos de vegetação típica
da Mata Atlântica.
Águas: um bem de valor inestimável Mas essa riqueza não pode ser protegida apenas dentro dos
limites do Parque; é um direito e um dever de cada morador, e
também dos visitantes, contribuir para que toda a região da Serra
Existe uma quantidade muito grande de água da Canastra conserve sua riqueza, beleza e biodiversidade.
na superfície de nosso Planeta. Mas, como pode
ser observado no gráfico, a maior parte dessa
água é salgada.
Atividade – O uso da água no dia-a-dia
MBM

A maior parte da água que existe no Planeta é salgada


Objetivos: Resgatar os conhecimentos que os alunos já possuem
(representada em azul escuro). sobre os usos e a importância da água no cotidiano humano.
Do total de água existente na superfície Estratégias: Os alunos devem ser orientados a citar todas as ati-
da Terra, cerca de 97% correspondem à água vidades que realizaram desde que acordaram até o momento em
salgada, dos mares e oceanos. Apenas os 3% que realizam este exercício, indicando para quais dessas atividades
restantes correspondem à água doce. Mas nem
a água é necessária.
essa pequena quantidade está disponível para
uso pelos seres vivos. A maior parte está imo- Para os alunos não alfabetizados ou em estágio inicial de
bilizada nas geleiras (2,3%), outra parte está alfabetização, pode-se trabalhar em rodinha, com o registro orga-
subterrânea (0,6%) e apenas 0,09% pode ser nizado pelo professor. Na conclusão, o professor pode ler as listas
encontrada em rios, lagos, lagoas e outras
de atividades para as quais a água foi necessária e salientar como
coleções de água doce.
Como a água doce é usada em muitas elas são diversificadas e numerosas.
atividades humanas (uso domiciliar – higiene, Para os alunos já alfabetizados, pode-se trabalhar em duas
culinária e outros; uso industrial; uso na agri- fases: na primeira, a ser desenvolvida em pequenos grupos, os
cultura e na pecuária), pode ser contaminada
alunos preenchem um quadro, como o modelo:
por vários materiais e ter suas propriedades
modificadas. A água poluída se torna imprópria
para ser usada pelas pessoas, para servir de Atividade A água foi necessária para esta atividade?
moradia e ser freqüentada ou consumida por
outros seres vivos. Sim Não Justifique
A diferente distribuição da água no Planeta
Para dar descarga e lavar
e a transformação das características da água Fui ao banheiro X
as mãos.
pelas atividades humanas fazem com que exista
a possibilidade de não haver água adequada Para preparar os alimen-
Tomei café da
para ser usada pelos seres vivos no futuro. Assim, X tos, para lavar a louça,
manhã
quando os estoques de água em condições de para beber água.
uso pelas pessoas e pelos outros seres vivos se
esgotarem, a vida na Terra, tal como a conhece-
mos, ficará em risco. Segundo a ONU (Organi- Na segunda fase, o professor ajuda a organizar um quadro
zação das Nações Unidas) o número de pessoas geral, com as informações dos quadros de todos os grupos. A inter-
que estão sem acesso à água de boa qualidade pretação do quadro pode permitir a conclusão de quanto a água é
já é superior a 1 bilhão, o que corresponde a
necessária e mostrar como as atividades que dela dependem são
cerca de 1/6 da população mundial!
diversificadas e numerosas.
1  A importância das ações de conservação ambiental 21

Na terceira fase, o desafio é perceber a participação menos óbvia


ou indireta da água em vários processos dos quais dependemos. É
pouco provável que os alunos das várias faixas etárias reconhe-
çam o uso indireto da água em processos tais como o transporte
de alimentos e de outros produtos, por exemplo. Para promover
esse conhecimento, os grupos de alunos devem receber uma lista
de atividades e processos para os quais a água é necessária. Os
alunos devem refletir, discutir entre si e marcar as atividades em
que eles reconhecem a necessidade da água em alguma etapa do
processo. Deve-se justificar cada uma das opções, isto é, a escolha
por marcar ou não marcar determinada atividade da lista.

A biodiversidade reunida no Parque Nacional da Serra da


Canastra ainda não é completamente conhecida. Considerando
apenas alguns grupos de animais, esse Parque abriga 35 espécies
nativas de peixes, 34 de anfíbios (sapos, rãs e pererecas), 17 de
répteis (serpentes e lagartos), 355 de aves e pelo menos 77 de
mamíferos.
Entre os exemplos da fauna da região da Canastra está uma
ave aquática rara: o pato-mergulhão, conhecido entre a comu-
nidade científica como Mergus octosetaceus. Essa é uma das dez
espécies de aves aquáticas mais ameaçadas do Planeta, sendo
considerada criticamente em perigo de extinção.

MA

Pato-mergulhão, animal criticamente em perigo de extinção.


22 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

O pato-mergulhão só é encontrado em locais de águas cor-


rentes, limpas e claras. Como é exigente quanto às condições
do ambiente onde habita e só vive em água de boa qualidade,
ele pode ser considerado uma espécie indicadora, isto é, cuja
presença indica que os ecossistemas locais se encontram conser-
vados. Ambientes conservados garantem melhor qualidade de
vida para as pessoas da região e podem favorecer a sobrevivência
de outras espécies.
Por ser uma espécie considerada como criticamente ameaçada
de extinção e indicadora, o pato-mergulhão tem recebido muito
interesse da comunidade científica nacional e internacional, o
que incentiva estudos e ações para sua proteção. O Instituto Terra
Brasilis é uma organização não-governamental que se dedica,
entre outros trabalhos, ao estudo desta espécie.
Além do pato-mergulhão, muitas espécies que ocorrem na
região da Serra da Canastra estão ameaçadas de extinção. O
quadro abaixo mostra alguns exemplos e suas categorias de
vulnerabilidade.

Espécie Categoria de vulnerabilidade – Brasil

Pato-mergulhão
Criticamente em perigo
Mergus octosetaceus

Tatu-canastra
Vulnerável
Endemismos Priodontes maximus

Tamanduá-bandeira
Os seres vivos não estão igualmente distribuí- Vulnerável
Myrmecophaga tridactyla
dos no Planeta. Existem espécies que ocorrem
naturalmente em vários continentes. Outras
ocorrem apenas em alguns países e são cha- Lobo-guará
Vulnerável
madas endêmicas desses países. Outras, ainda, Chrysocyon brachyurus
ocorrem apenas em áreas muito restritas de
um único país, como as várias espécies de Jaguatirica
micos-leões, que são endêmicos de algumas Vulnerável
Leopardus pardalis
regiões da Mata Atlântica brasileira.
O risco de extinção é muito grande quando
Águia-cinzenta
uma espécie possui áreas de ocorrência muito Vulnerável
Harpyhaliaetus coronatus
limitadas ou são endêmicas de pequenas
regiões. Ameaças a espécies nessas situações
podem levar à extinção local que, nesses casos, Aroeira
Vulnerável
representa o completo desaparecimento em Myracroduon urundeuva
todo o Planeta!
Entre a diversidade de espécies de seres vivos
que ocorrem na Serra da Canastra, muitas são
endêmicas desta região, entre elas cerca de 45
espécies de plantas e 3 espécies de anfíbios.
1  A importância das ações de conservação ambiental 23

Extinção e categorias de vulnerabilidade

A Terra é um planeta dinâmico. Seus componentes vivos e não- Uma espécie é dita extinta quando se assegura que o último
vivos passam por contínuas modificações. Desde a sua origem, indivíduo daquela espécie morreu. O aspecto mais dramático
a vida também tem se modificado na Terra, com o surgimento da extinção é sua irreversibilidade: extinção é para sempre.
e a extinção, isto é, o completo desaparecimento, de muitos Para avaliar o risco de extinção de uma espécie, a União
seres vivos. A extinção é, portanto, um processo natural, que Mundial para a Natureza – UICN propôs outras categorias
sempre ocorreu e que continuará a ocorrer. de vulnerabilidade, que correspondem a diferentes níveis de
Mas a taxa de desaparecimento de espécies que nós ameaça:
estamos testemunhando hoje é muito maior do que a taxa de
extinção natural. Extinta na natureza – A espécie existe somente em cultivo,
Nos dois últimos séculos, as maiores ameaças à vida podem cativeiro ou em populações inseridas em áreas completamente
ser resumidas em cinco grupos de fatores: diferentes de sua distribuição original.
Criticamente em perigo – A espécie enfrenta um risco extrema-
• degradação e perda de hábitat;
mente alto de extinção na natureza.
• introdução de espécies exóticas (que não ocorriam natural-
Em perigo – A espécie enfrenta um perigo muito alto de extin-
mente naquele ambiente) que podem competir por recursos
ção na natureza.
ambientais (por exemplo, capins africanos que competem
pela luz solar, pela água e pelos sais minerais com os capins Vulnerável – A espécie enfrenta um alto risco de extinção na
nativos) ou predar as espécies nativas (por exemplo, os cães natureza.
e gatos domésticos podem predar aves, pequenos lagartos Quase ameaçada – A espécie está em vias de entrar para uma
e mamíferos nativos; das categorias acima em um futuro próximo.
• coleta, caça ou pesca excessivas em relação à capacidade de De menor risco – A avaliação da espécie sugere que ela não está
recuperação das espécies; em risco de ser classificada em uma das categorias acima. Nesta
• conflitos diretos com humanos (especialmente no caso de categoria estão incluídas espécies de distribuição ampla e grande
predadores e de grandes animais); abundância, podendo também ser chamadas de não ameaçadas.

• doenças (introduzidas ou transmitidas pelos humanos, por Deficiente de dados – As informações sobre a espécie são
animais de estimação ou por espécies que não ocorriam insuficientes para uma avaliação direta ou indireta sobre seu
naturalmente na região). risco de extinção.

hábitat
Ambiente onde um organismo
vive e que oferece condições para
seu desenvolvimento, sobrevivên-
cia e reprodução.

predador
Animal que caça outro animal
para dele se alimentar; exemplos
de predadores da região da Serra
da Canastra são a onça-parda e
a águia-cinzenta.

Os dinossauros são exemplos clássicos de tipos


de seres vivos que, após milhões de anos de
sobrevivência, foram extintos. Mas a extinção
dos dinossauros não é uma exceção na história
da vida – estima-se que os tipos atuais de seres
vivos representem aproximadamente 1% do total
de seres vivos que já viveram na Terra. Os outros
MBM

99% teriam sido extintos no passado.


24 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

IL
Atividade – Qual a situação de alguns animais
da região?
Objetivos: Promover o conhecimento sobre algumas espécies nativas
na região e sobre aspectos associados aos riscos de sua extinção.
Estratégias: O quadro a seguir apresenta uma adaptação das catego-
rias de ameaça. Para os alunos alfabetizados, ela deve ser reproduzida,
no quadro ou em papel. Para os alunos não alfabetizados ou em
Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) alfabetização, pode-se utilizar imagens dos animais citados.

Animal Ameaçado de extinção Não corre risco de extinção

Pato-mergulhão x

Bicudo x

Gavião-caracará x

Tatu-canastra x

Tamanduá-bandeira x

Lobo-guará x
RA

Ao interpretar o quadro, os alunos vão constatar que quase


todas as espécies listadas estão sob ameaça de completo e irrever-
sível desaparecimento do Planeta.
O professor deve discutir com a turma que a existência de
algumas populações relativamente numerosas de alguns animais
não é suficiente para que os riscos de extinção desapareçam. Assim,
se ainda é possível encontrar tamanduás-bandeiras com alguma
Gavião-caracará (Polyborus plancus)
freqüência no interior e nos arredores do Parque Nacional da Serra
da Canastra, isso não significa que essa espécie não esteja ameaçada,
pois nas demais áreas de sua ocorrência original, esta espécie está
rara ou já não existe mais. Na verdade, isso ressalta a importância
da conservação dos ecossistemas locais para aumentar as chances
de que a espécie sobreviva, apesar das ameaças que enfrenta.
Para aprofundar os conhecimentos sobre animais da região, os
alunos, divididos em grupos, devem investigar sobre cada animal
citado: hábito diurno ou noturno, vida em grupos ou solitária,
alimentação, razões para estarem ameaçados de extinção. Outros
JM

animais, que sejam conhecidos dos alunos, também podem passar


a incorporar a lista.
Uma boa fonte de pesquisa é a Internet, onde é possível acessar
a Revista Ciência Hoje das Crianças, além de outras fontes, tais
como enciclopédias, atlas da fauna, livros, revistas, publicações
do Parque Nacional da Serra da Canastra e de instituições que
atuam na região, entrevistas com pessoas da comunidade e com
técnicos (biólogos, veterinários, zootecnistas etc.).
Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus)
2 É necessário
conservar as águas!

Todos os seres vivos dependem de água para viver, já que ela


desempenha várias funções, entre elas:

• as reações químicas que ocorrem nos seres vivos e que são


necessárias para a vida exigem a participação da água;

• a água transporta materiais (dissolvidos ou não dissolvidos) que


devem ser distribuídos pelas diversas partes dos seres vivos (a água
constitui a maior parte do sangue e de outros líquidos circulató-
rios dos animais, além da seiva, que circula nos vegetais);

• a estrutura de todos os seres vivos contém água (aproximadamente


70% da massa corpórea de uma pessoa adulta é constituída de
água; em uma alface, o percentual de água ultrapassa 90%);

• o controle da temperatura corporal pode exigir a participação


da água (o suor, que é muito importante na regulação da tem-
peratura corporal de mamíferos, tem a água como principal
componente);
• materiais tóxicos, resultantes das reações químicas caracterís-
ticas da vida, são eliminados misturados em água (através, por
exemplo, da urina dos animais).

Além disso, a água pode servir de local:

• de moradia, por exemplo, de plantas aquáticas, peixes e alguns


caramujos;

• de alimentação, por exemplo, para o pato-mergulhão, garças


e lontras;

• de reprodução, por exemplo, para alguns insetos, sapos e rãs.


26 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

Como os componentes dos ecossistemas vivem de forma inte-

LV
grada, mesmo seres vivos que parecem não depender diretamente
da água não sobreviveriam sem ela, já que a água é necessária para
outros seres dos quais eles dependem para viver. Concluindo: a
água é um componente fundamental dos ecossistemas, incluindo
aqueles da Serra da Canastra. Sem água, não há vida!

Atividade – Ninguém vive isolado


Canela-de-ema florida
Objetivos: Apresentar as relações alimentares como evidência da
interdependência entre os seres vivos de um ecossistema.
Estratégias:
Primeira parte: Grupos de alunos devem propor relações alimentares
FR

que podem ocorrer entre os tipos de seres representados, habitantes


da região da Serra da Canastra. Utilize o Modelo de Cartões no
final deste capítulo.
Os cartões devem ser organizados para representar possíveis
relações alimentares. Por exemplo:

planta → caramujo → lambari → garça → teiú

A planta serve de alimento para o caramujo, que serve de ali-


mento para o lambari, que serve de alimento para a garça, cujos
Campo de sempre-viva. As canelas-de-ema e as sempre-vivas são
exemplos de fotossintetizantes da região da Serra da Canastra. ovos servem de alimento para o teiú.
Os alunos mais novos podem ser capazes de propor esquemas
como o acima, em que aparece um pequeno número de interações
entre os seres vivos. Os alunos com maior capacidade de abstração
podem conseguir propor esquemas mais complexos (teias alimenta-
res), que envolvem maior número de seres, usando várias fontes de
alimento e sendo usados como alimento por vários outros seres.
Deve-se ter o cuidado de sempre incluir, entre os cartões que cada
grupo vai receber, um exemplo de produtor (ser fotossintetizante – gra-
mínea, canela-de-ema, sempre-viva, pequizeiro, lobeira ou outro), de
consumidor primário (que se alimenta de produtores – cupim, formiga,
caramujo, larvas de peixes, veado, lobo-guará, pessoa ou outro) e de
consumidores de ordens superiores – secundário, terciário, quaternário
(lambari, cobra, teiú, garça, pato-mergulhão, seriema, gavião, taman-
duá-bandeira, lobo-guará, tatu-canastra, pessoa ou outro).
Também deve ser ressaltado para os alunos que o papel que
uma espécie de consumidor ocupa em uma representação de rela-
ções alimentares não é fixo, isto é, que algumas espécies podem
ocupar mais de uma posição.
Segunda parte: Montadas as possíveis cadeias e teias alimentares,
os grupos devem propor as possíveis conseqüências de modificações
2  É necessário conservar as águas! 27

nas relações que as constituem. Para isso, devem discutir os efeitos


dos seguintes eventos sobre as cadeias ou teias que elaboraram:

1 Um incêndio que destruiu a maior parte das plantas.

2 Os cursos d’água da região foram contaminados por poluente


que matou parte significativa da população de lambaris e de
outros peixes, inclusive suas larvas.

3 Pessoas mataram a maior parte das cobras.

4 Grande parte da população de veados foi morta, devido à caça.

5 Grande parte da população de tamanduás-bandeira foi morta,


devido às queimadas.

6 Foi feito peixamento de cursos d´água, com a introdução de uma


espécie que não ocorria naturalmente na região e que se alimenta
de lambaris.
7 Grande parte da população de lobos-guarás foi contaminada
pelo parvovírus, microrganismo comum entre os cães domésticos
e que causa uma doença com grande índice de letalidade.

É importante que os alunos sejam orientados a pensar nas con-


seqüências dos processos citados acima não só para as populações
de seres que estabelecem relações diretas com as espécies afetadas,
mas também sobre populações de outros seres, indiretamente
relacionadas a eles.
A interdependência entre os diversos tipos de seres pode ser
assim evidenciada, e esta deve ser a conclusão da atividade.

Além de sua importância direta para os seres vivos, as águas


são fundamentais para atividades econômicas, também aqui
na região da Serra da Canastra. Agricultura, pecuária e turismo,
entre outras atividades, dependem de águas abundantes e de
ITB

boa qualidade.
Fontes de vida, de renda e de lazer, as águas precisam ser
conservadas e ter sua qualidade assegurada.
Para isso, é fundamental preservar o ciclo da água, isto é, o
equilíbrio na alternância entre as formas de ocorrência da água
no Planeta - córregos, rios, lagos, mares e oceanos, vapor, neblina,
orvalho, geada, granizo e neve. Essas diferentes formas de ocor-
rência são possíveis porque a água passa por transformações
quando ocorrem mudanças em outros componentes não-vivos
dos ambientes, como na temperatura, na pressão atmosférica A fabricação do queijo Canastra, famoso pelo seu sabor, é uma
atividade que depende do acesso à água de boa qualidade.
28 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

e na formação e na velocidade dos ventos. A influência desses


glaciar fatores e também das atividades dos seres vivos leva a mudanças
Extensa massa de gelo formada em regiões em de estado físico da água, isto é, à alternância entre a água líquida
que a queda de neve é maior do que o degelo (rios, lagoas, oceanos), gasosa (ou vapor d’água) e sólida (neve,
e que desce das montanhas para as encostas e
granizo, glaciares e icebergs).
vales ou recobre vastas áreas territoriais, como
as das regiões polares. Parte das águas das nascentes, dos córregos, rios, lagos, mares
e oceanos, que se encontram no estado líquido, passa constan-
iceberg
Bloco de gelo que se desprende das geleiras temente para o estado gasoso, originando vapor d’água.
polares e flutua em mares ou oceanos. Com o aumento da temperatura, aumenta a quantidade dessas
águas que passam para o estado gasoso. Com a diminuição da
temperatura, o vapor d’água pode voltar ao estado líquido.
Se a temperatura da atmosfera diminuir muito e chegar a
0 ºC ou menos, a água se tornará sólida.

PN
O ciclo da água, que representa o movimento da água no Planeta, sofre influências da interação entre componentes
não-vivos do ambiente (radiação solar, movimentos de ar e pressão atmosférica etc.) e seres vivos.
2 É necessário conservar as águas! 29

A quantidade de vapor d’água que o ar pode receber ou absor-


ver depende da temperatura e da quantidade de vapor d’água
já presente no ar. Assim, quando o ar absorve a quantidade
máxima de vapor de que é capaz, em função da temperatura em
que se encontra, o excesso de vapor d’água sofre condensação,
originando água líquida.
Minúsculas gotinhas de água (líquida), partículas de poeira e
cristais de gelo formam as nuvens. A temperatura, a umidade do
ar, os ventos e outros fatores fazem com que a água presente nas
nuvens volte ao solo, no processo de precipitação, ou chuva.

Sugestão de atividade
Nos livros didáticos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio
são comuns atividades práticas que trabalham as mudanças de
estado da água. Esse é um momento oportuno para resgatá-las.
Essas atividades práticas podem ser importantes para as crianças
mais novas, por fornecerem evidências concretas das transfor-
mações da água que permitem a existência do ciclo hidrológico.
Mesmo para os alunos um pouco mais velhos e, portanto, com
maior capacidade de abstração e menor necessidade de trabalhar
com materiais concretos, as atividades práticas podem contribuir
para a construção da compreensão de que o ciclo da água depende
de mudanças de estado físico.

As atividades humanas, especialmente à partir de meados do


século XIX, têm alterado significativamente a composição da
atmosfera. Essas alterações estão associadas a interferências no
ciclo da água e a mudanças climáticas, com graves conseqüências
para a as sociedades humanas e mesmo para a vida na Terra.
Os gráficos abaixo apresentam alguns dados desse
fenômeno.
MBM

7 Bilhões de toneladas de carbono


0,7 Aumento da temperatura (ºC) 0,5 Elevação do nível do mar (m)
6 0,6
5 0,5 0,4
0,4
4 0,3 0,3
3 0,2
0,1 0,2
2 0
-0,1 0,1
1
-0,2
0 0
-0,3
1870 2000 1880 2000 1860 2100

A quantidade de gás carbônico lançada na atmosfera A temperatura média no Planeta também O nível dos oceanos tem aumentado,
aumentou muito, especialmente nas últimas décadas. sofreu um aumento significativo. principalmente pelo degelo dos glaciares.
30 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

Sugestão de atividade
A interpretação de gráficos é uma competência importante, já
que eles representam a possibilidade de reunir grande número de
informações precisas. Por outro lado, essa é uma habilidade que
gera algumas dificuldades entre crianças e adolescentes.
Objetivos: Exercitar a capacidade de interpretar gráficos.
Estratégias: Entre as crianças menores, é suficiente levar à
compreensão da tendência, presente no gráfico, de aumento ou
diminuição da variável em questão (bilhões de toneladas de
carbono; temperatura atmosférica, medida em graus centígrados;
e aumento do nível do mar, em metros). Para elas, é importante
salientar que os números nos eixos horizontal e vertical estão
posicionados em ordem crescente e levá-las a compreender que a
curva, quando sobe, representa aumento da variável e, quando
desce, representa uma diminuição da variável. Para isso, tra-
balhando em pequenos grupos ou com toda a turma, interprete
o primeiro gráfico e estimule a interpretação dos seguintes.
MBM

Entre adolescentes, é possível trabalhar, além da tendência


de aumento das variáveis, as variações no ritmo desse aumento,
relacionando-o a processos históricos como a Revolução Indus-
trial e ao aumento da industrialização e do desmatamento para
expansão das fronteiras agrícolas.

A relação entre o aumento do gás carbônico atmosférico e


o aquecimento global é explicada através do efeito estufa. Esse
fenômeno recebe esse nome porque a atmosfera pode ser compa-
rada aos vidros de uma estufa: o vidro permite que a radiação do
Sol entre e aqueça os objetos e plantas que estão no interior da
estufa, mas impede que a maior parte do calor que esses objetos
e plantas irradiam saia da estufa. É por isso que o interior da
estufa fica mais aquecido do que o exterior.
Alguns gases atmosféricos, especialmente o gás carbônico,
provocam um efeito parecido, impedindo que o calor recebido
pela superfície da Terra escape para o espaço. O efeito estufa
mantém, assim, uma temperatura estável no Planeta.
Nosso planeta vem passando, hoje, por alterações no clima
e está sofrendo um aquecimento crescente. Esse problema que
estamos vivenciando tem origem no aumento da quantidade
Os gases estufa, entre eles o gás carbônico, mantêm em equilíbrio a de gás carbônico atmosférico. A queima de combustíveis fósseis
temperatura da Terra, impedindo que todo o calor da radiação solar seja (petróleo e derivados), que lança diretamente gás carbônico
refletido para o espaço. Mas o aumento dos gases estufa, especialmente na atmosfera, e o desmatamento, que diminui a captação de
do gás carbônico, tem levado ao aquecimento global.
2  É necessário conservar as águas! 31

gás carbônico pelas plantas, são os grandes responsáveis por


O papel dos vegetais na redução do
esse aumento.
gás carbônico atmosférico
Maior quantidade de gás carbônico atmosférico implica em um
aumento do efeito estufa e em maiores temperaturas na superfície
da Terra - o aquecimento global. Relatórios de cientistas de todo Os vegetais, assim como todos os outros seres
vivos, necessitam de materiais e energia para
o mundo apontam para a possibilidade de efeitos importantes
sobreviver e se desenvolver. Mas, ao contrário
para a vida das pessoas. Observe no quadro. dos animais e de outros tipos de seres vivos, os
vegetais não retiram do ambiente o alimento de
Mudança climática Possíveis efeitos que necessitam. Eles produzem esse alimento,
utilizando materiais do ambiente e a luz solar.
• aumento das mortes humanas relacionadas
Esse processo de produção de alimento utilizado
ao calor, especialmente entre idosos
pelos vegetais e por alguns microrganismos e
• aumento do risco de extinção de espécies algas, a fotossíntese, é o tipo de produção de
• mudança nos ciclos de produção agrope- alimento mais comum na Terra.
Aumento das temperaturas cuária No processo de fotossíntese, um tipo
de açúcar é produzido a partir de água e
• aumento dos danos causados por pragas
gás carbônico. Esse açúcar produzido na
agrícolas
fotossíntese é utilizado como fonte de energia
• aumento do risco de algumas doenças para o desenvolvimento e a manutenção
• aumento do nível de oceanos e mares dos vegetais.
Como o gás carbônico é necessário para
Maior número de chuvas • aumento de enchentes, avalanches, desmo-
a fotossíntese, quanto maior a quantidade de
muito intensas ronamentos e erosão do solo
seres fotossintetizantes, maior a captação de gás
Aumento do período de • diminuição da quantidade e da qualidade
carbônico atmosférico e menor a participação
seca nas áreas localizadas de água
desse gás na geração do aquecimento global.
nas porções interiores dos • aumento do risco de incêndios em áreas Ao desmatar, além da destruição dos seres vivos
continentes silvestres diretamente afetados está-se prejudicando um
• aumento do risco de morte para pessoas mecanismo natural de controle da temperatura
do Planeta.
• aumento da ocorrência de algumas doenças
Aumento da ocorrência de infecciosas
tempestades tropicais e • maior erosão das áreas costeiras, com danos
furacões em algumas áreas para construções
• danos nos ecossistemas costeiros, tais como
recifes de coral e manguezais

As mudanças no ciclo da água relacionadas ao aquecimento


global ameaçam o futuro da vida na Terra. Considerando a
importância de conservar as águas, a Organização das Nações
Unidas (ONU) instituiu, em 1992, o Dia Mundial da Água – 22
de março. Também foi instituída pela ONU a Década Interna- “O equilíbrio e o futuro de nosso Planeta depen-
cional da Água pela Vida: 2005 – 2015. O objetivo dessas datas dem da preservação da água e de seus ciclos.
Esses devem permanecer intactos e funcionando
é estimular a reflexão, a discussão e a busca de soluções para
normalmente para garantir a continuidade da
os problemas que afetam as águas. A ONU também redigiu um vida sobre a Terra.”
documento intitulado Declaração Universal dos Direitos da
Água, de onde extraímos o trecho ao lado.
32 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

MBM
Modelo de cartões
É importante lembrar os
alunos de que os seres
vivos não estão represen-
tados em tamanho real
ou proporcional. ser humano lobo-guará
perereca

gramínea pato-mergulhão formiga gavião

ema garça canela-de ema cupim

pequizeiro tamanduá-bandeira veado seriema

lobeira sempre-viva larvas de peixe lambari

tatu-canastra caramujo teiú cobra


3 As águas da
Serra da Canastra

As ações de conservação das águas são mais eficientes e completas


quando seu planejamento incorpora as noções de bacia hidro-
gráfica e de suas subdivisões (sub-bacias e micro-bacias).

PN Um rio principal, seus afluentes e nascentes, e os terrenos pelos quais a


água passa ou se acumula, formam uma bacia hidrográfica.
34 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

Uma bacia hidrográfica é uma grande área que abrange um


rio principal, seus afluentes, nascentes, terrenos pelos quais a
água passa e seres vivos que aí habitam. O afluente é um curso
de água que deságua em um rio principal, contribuindo para
aumentar o volume dele, com o escoamento da água geralmente
se dando dos pontos mais altos para os mais baixos.

cursos d´água
represas
Bacia dos rios Piracicaba / Jaguari SF9
Bacia do rio Paranaíba (PN) PA1

Bacia do rio Grande (GD)


Bacia do rio São Francisco (SF)
SF10
Bacias do Leste (MU - SM) SF8
JQ3
Bacia do rio Paraíba do Sul (PS)
SF6 JQ1
Bacia do rio Doce (DO)
Bacia do rio Pardo (PA)
Bacia do rio Jequitinhonha (JQ) SF7 JQ2 MU1

SM1

PN1 SF5 DO4


SF4

DO3
PN3 DO5

PN2
DO6
GD8
SF2 DO2
SF1

SF3 DO1

GD7 GD2
PS2
GD3
GD6

GD1
GD4 PS1
GD6

GD5

Minas Gerais reúne 9 bacias hidrográficas. Cada bacia pode ser subdividida em sub-bacias. A bacia do Rio São Francisco, por exemplo, compreende
10 sub-bacias, sendo que São Roque de Minas e Vargem Bonita, junto às nascentes do Velho Chico, estão na Sub-bacia 1.

A região da Serra da Canastra é considerada estratégica para


o país por aqui se localizarem as cabeceiras mais altas da bacia
hidrográfica do Rio São Francisco; aqui estão as nascentes desse
rio que percorre cinco Estados brasileiros: Minas Gerais, Bahia,
Pernambuco, Sergipe e Alagoas.
3  As águas da Serra da Canastra 35

Além disso, aqui também estão cabeceiras da bacia hidrográ-


Alguns números do São Francisco
fica do Rio Paraná, representada pelas sub-bacias do Rio Grande,
ao Sul, e do Rio Paranaíba, ao Norte (o Rio Araguari, afluente do
Rio Paranaíba, tem suas cabeceiras mais altas na região de São • Da nascente até a foz, o Rio São Francisco per-
João Batista da Serra da Canastra). corre aproximadamente 2.500 quilômetros.
• Dentro desta bacia estão localizados mais de
500 municípios, que ocupam 640.000 Km2
e onde vivem 13 milhões de pessoas.
Atividade – Os rios de seu município
• Em Minas Gerais vivem 50% dos habitantes
Objetivos: Proporcionar aos alunos informações sobre os cursos da bacia do São Francisco.
d’água de seu município – seu passado, as modificações pelas quais • Ao formar a Casca D’Anta, o rio possui cerca
vêm passando, as formas como eles são utilizados, as previsões de 10 metros de largura; ao entrar na Bahia,
após receber vários afluentes, alcança 650
para o seu futuro.
metros de largura.
Construído esse conhecimento, pode-se pensar em propostas
• 85% das águas do São Francisco são captadas
de ação para difundir entre a comunidade informações sobre a em áreas do Cerrado, a maior parte em terras
importância passada e atual desses cursos d’água e sobre maneiras mineiras.
de garantir a sua sobrevivência, assim como a dos seres vivos que • A vegetação da bacia já foi degradada em
eles abrigam ou poderiam abrigar. cerca de 75%.
Estratégias: Grupos de alunos devem investigar a história dos
cursos d’água de seu município. Para isso, podem ser consultados:
membros mais antigos da comunidade, professores de Geografia,
membros de ONGs que atuem na região, livros, revistas, jornais
e a Internet. foz
Ponto de desaguamento de um rio, que pode
Em função da faixa etária dos estudantes, a pesquisa pode
ser feito no mar, numa lagoa ou em outro rio.
ser mais ampla e profunda ou mais sucinta, podendo abranger
os seguintes pontos:

1 Quantos e quais são os cursos d’água de seu município?

2 Identifique se eles pertencem à bacia do Rio São Francisco, do


Rio Araguari ou do Rio Grande.

3 Alguns desses cursos d’água são maiores e possuem maior uti-


lização. Identifique-os e investigue:
. como eles eram no passado, quais tipos de seres vivos aí viviam,
como eram suas margens, como as pessoas os utilizavam;
. como estão no presente, se ainda abrigam seres vivos, como
estão suas margens, como as pessoas os utilizam;
. como serão no futuro? Será possível que eles continuem a abrigar
seres vivos e a serem utilizados pelas pessoas?
Os resultados da investigação podem ser organizados e apresen-
tados para a comunidade na forma de relatos orais, representações
teatrais, jornais murais, exposições de desenhos e de fotografias,
vídeos, relatórios e outras formas criativas.
36 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

Em uma bacia hidrográfica, os componentes vivos e não-


Gestão das águas brasileiras
vivos estão em interação e dependem uns dos outros. Quando
uma nascente, um córrego ou um trecho de um rio principal são
Existem órgãos responsáveis pela gestão das alterados, existem conseqüências para os outros componentes
águas em nosso país. O Conselho Nacional de da bacia hidrográfica.
Recursos Hídricos (CNRH) e a Agência Nacional
Dessa concepção nasce a idéia de considerar uma bacia (ou
das Águas (ANA) são dois desses órgãos.
uma subdivisão de uma bacia hidrográfica) como uma unidade de
planejamento e de gestão da água. Assim, os limites geográficos
para trabalhar as questões que afetam a disponibilidade e a qua-
Os Comitês de Bacias Hidrográficas lidade das águas passam a ser os limites das bacias hidrográficas
(ou de uma de suas subdivisões), e não os limites de municípios,
Estados ou países.
Os Comitês de Bacias Hidrográficas (CBH) são
Ao cuidar dos cursos d’água que existem nos locais onde
órgãos compostos por usuários, representantes
da sociedade civil organizada, de governos vivemos, estamos contribuindo para uma melhor qualidade de
municipais, estaduais e federal. Neles são dis- vida das pessoas, para a sobrevivência de outros seres vivos e
cutidas e deliberadas questões referentes ao para garantir o futuro de grandes rios!
uso, à preservação e à revitalização dos cursos
d’água.
Cada Estado deverá fazer a respectiva regu-
lamentação referente aos Comitês de rios de seu Atividade – Conhecendo melhor a atuação do
domínio. Alguns Estados, a exemplo de Minas
Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Espírito Comitê de Bacia Hidrográfica
Santo, estão mais avançados no processo de
Objetivos: Proporcionar aos alunos a compreensão da atuação de
regulamentação, com diversos Comitês criados.
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São um Comitê de Bacia Hidrográfica e das possibilidades de contri-
Francisco é um exemplo. buição, individual e coletivamente.
Uma das funções do CBH é discutir os con- Estratégias: Um representante do Comitê de Bacia Hidrográfica
flitos gerados pela necessidade de atendimento
do Rio São Francisco pode ser convidado para visitar a escola
aos muitos usos da água. Para isso, os usuários
de grande quantidade de água, como projetos e explicar a atuação do órgão e as formas de participação dos
de irrigação, mineração e companhias de abas- cidadãos. As turmas de crianças já alfabetizadas e de adolescen-
tecimento de água, devem solicitar aos comitês tes podem construir previamente um roteiro para entrevista.
a outorga para o consumo previsto.

A mata ciliar, vegetação que nasce junto às margens dos cursos


outorga d’água, protege-os assim como os cílios protegem nossos olhos.
Concessão que autoriza o consumo de água Na bacia do São Francisco, a mata ciliar já foi degradada em mais
considerando a finalidade e a quantidade de
de 90%. Confira por que as matas ciliares são tão importantes:
água consumida.

• as matas ciliares retêm o escoamento das águas de chuva, aju-


dando a conservar o solo e dando estabilidade aos barrancos
e às margens dos cursos d’água;

• a absorção da água e seu armazenamento pelos vegetais das matas


ciliares contribuem para diminuir o pico dos períodos de cheia;

• as relações alimentares que se estabelecem entre os seres vivos


das matas ciliares e aqueles que habitam os cursos d’água con-
3  As águas da Serra da Canastra 37

tribuem para a circulação de nutrientes entre esses seres vivos,


Promotoria de Justiça de Defesa
o solo e a água.
do Rio São Francisco
• as matas ciliares servem de locais onde muitas espécies de
animais obtêm abrigo, alimento e se reproduzem.
A bacia hidrográfica do São Francisco conta,
desde 2001, com um órgão do Ministério
Público voltado para a sua defesa. A Promoto-
ria busca, por meio de ações judiciais e medi-
das cíveis, administrativas e penais, garantir a
melhoria da qualidade das águas da bacia. Estão
entre suas finalidades:

• exigir das indústrias a implementação de


sistema de gestão ambiental, de modo a
reduzir os índices de poluição;
• estimular e propor medidas para o desenvol-
vimento sustentável nas zonas rurais;
• garantir a proteção de unidades de conser-
vação;
• minimizar os impactos ambientais decorrentes
da mineração;
• aplicar a legislação para garantir a preservação
A manutenção da vegetação nativa nas margens dos rios e ribeirões (mata ciliar) da biodiversidade;
é imprescindível para a conservação da água e da vida que dela depende • exigir o uso adequado do solo, para garantir
sua fertilidade e evitar a erosão;
Por sua grande importância, as matas ciliares são Áreas de • fazer cumprir a legislação ambiental relativa à des-
Preservação Permanente, o que significa que são protegidas por tinação e ao tratamento do lixo e do esgoto.

lei. A lei, o Código Florestal, determina que é obrigatória a con-


servação de uma faixa de mata ciliar de acordo com a largura
do curso d’água.
Quando a mata ciliar é degradada, as conseqüências se farão Faixa de mata nativa a ser preservada ao longo
dos cursos d’água, segundo o Código Florestal e
sentir em todos os componentes dos ecossistemas: o solo pode
pela Lei 7.511 de 07/07/1986
sofrer erosão, os rios podem receber terra e terem seu volume
diminuído, e até mesmo espécies podem se extingüir. Por isso,
além de proibir a supressão da mata ciliar, a legislação exige
Largura Mínima
a recuperação da vegetação nativa nos casos em que ela já foi Situação
da Faixa
degradada. Rios com menos de 30 m em cada
Outro processo que põe em risco os cursos d’água é a supres- 10 m de largura margem
são da vegetação situada no entorno das nascentes. Como o que Rios com 10 a 50 m 50 m em cada
de largura margem
ocorre com as nascentes pode trazer graves conseqüências para
Rios com 50 a 100 m 100 m em cada
a bacia hidrográfica como um todo, é muito importante cuidar
de largura margem
delas e da vegetação que as protege. Para isso, a lei determina que 150 m em cada
Rios com 100 a
a vegetação nativa presente em um raio mínimo de 50 metros 200 m de largura margem
de uma nascente também é de preservação permanente, assim Rios com largura igual à distância
como a vegetação natural no topo de morros, montes, monta- superior a 200 m entre as margens
nhas e serras. Essa vegetação é essencial para a recarga da água, Nascentes raio de 50 m
isto é, para que ocorra a infiltração de água no solo, repondo
38 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

o volume e mantendo depósitos e cursos d’água, superficiais e


Vegetação e recarga
subterrâneos.
Como nem sempre a vegetação das áreas de recarga é preser-
Confira por que a cobertura vegetal é funda- vada, as bacias hidrográficas e os seres vivos que delas dependem
mental para que a recarga da água ocorra: podem ser colocados em risco.
• as raízes abrem caminho para a infiltração da
água no solo;
• as folhas e galhos retardam a chegada de
parte da chuva no solo e o excesso chega Atividade – A vegetação e a proteção do solo
com menor força, muitas vezes através do
gotejamento. Assim a infiltração é favorecida Objetivos: Proporcionar aos alunos oportunidades de observar a
e o solo é protegido da erosão. contribuição da vegetação na conservação do solo.
Estratégias: Grupos de alunos vão executar os passos do experimento
proposto, discutir as questões e buscar conclusões.
Entre as crianças menores, a estratégia pode ser a preparação
Nascente-símbolo do São Francisco
de uma única montagem por turma pelo professor, com a contri-
buição dos alunos, que participarão das etapas adequadas ao seu
São muitos os pontos de afloramento da água nível de desenvolvimento. Em função da faixa etária, os estudantes
subterrânea que dão origem ao Rio São Fran- vão poder construir compreensões e conceitos de níveis variados de
cisco. A água brota onde o solo possui é mais abstração. Entre os alunos em fase de alfabetização, é importante
argiloso, formando áreas brejosas no campo
buscar perguntas simples e conclusões sucintas. Entre os alunos com
limpo.
A nascente-símbolo do Rio São Francisco outras competências cognitivas já construídas, é possível explorar
é um desses pontos de afloramento relações mais complexas, como as várias práticas agrícolas e a
degradação dos solos e dos cursos d’água.

Primeira parte:

Material
• 2 caixas retangulares de papelão vazias (por exemplo, de
sapatos ou de leite longa vida)
• terra de quintal suficiente para encher as caixas
• sementes de alpiste
• água
• caneta

Como fazer
Usando uma caneta esferográfica, faça furos num dos lados
menores da caixa, por onde a água possa escorrer.
Cada caixa vai receber um número: 1 ou 2.
Encha as duas caixas com a terra.
MBM

Espalhe as sementes de alpiste sobre a terra da caixa 1.


A caixa 2 não recebe alpiste; fica só com a terra.
1 2 Molhe as duas caixas, cuidadosamente, com a mesma
quantidade de água.
A caixa onde foram plantadas as sementes deve ficar num
local iluminado.

Preparação da primeira parte do experimento.


3 As águas da Serra da Canastra 39

MBM
A cada vez que você for molhar o alpiste, coloque a mesma
quantidade de água na caixa 2.
Quando o alpiste já estiver crescido, pode-se fazer a segunda
parte do experimento.
1 2
Segunda parte

Material
• 2 assadeiras ou outro tipo de vasilha funda
• 2 copos grandes ou frascos de mesmo tamanho, cheios de
água Segunda parte do experimento.

• as duas caixas preparadas na primeira parte do experi-


mento
• relógio

Como fazer
Mantenha as 2 caixas inclinadas, usando os dois frascos vazios
como apoio, de modo que a parte onde foram feitos os furos
fique mais baixa e sobre a bacia que vai recolher a água.
Duas pessoas despejam, ao mesmo tempo e da mesma altura,
a água de um copo na parte mais alta de cada caixa.
Outra pessoa marca o tempo de um minuto e observa a água
que escorreu das caixas.
Recolha, em cada copo, a água que escorreu de cada caixa
e foi para a bacia.
Compare a cor e a quantidade da água que escorreu de cada
uma.
Se for necessário (por exemplo, se não escorrer água de
nenhuma caixa), repita o processo de despejar água.

Discussão
Discuta com seu grupo e responda no caderno:
1. De qual caixa escorreu mais água?
2. De qual caixa escorreu mais terra?
3.Que papel as plantas desempenharam no experimento?
4. Pense agora no que acontece no ambiente e responda:
a.Quais as conseqüências do desmatamento para o solo?
b.O assoreamento é o acúmulo de terra, areia e outros
materiais no fundo dos cursos d’água, deixando menos
espaço por onde a água possa correr. Explique a relação
existente entre a derrubada das matas ciliares, o asso-
reamento e a morte dos rios.
c. Uma possível conseqüência do assoreamento é a ocor-
rência de enchentes. Proponha uma explicação para esse
fato.
40 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

As matas ciliares e o pato-mergulhão


Atividade – Procura-se mata ciliar
Objetivos: Proporcionar aos alunos a oportunidade de conhecer
Além de precisar de águas limpas para sobreviver,
o pato-mergulhão utiliza a vegetação ao longo exemplos de locais com diferentes estágios de degradação das
dos cursos d’água para fazer seus ninhos e se matas ciliares. Assim pode ser consolidada a compreensão da
abrigar. Assim, a proteção das matas ciliares é importância da preservação dessa vegetação.
imprescindível diretamente para essa espécie
Estratégias: Podem ser realizadas saídas de campo a dois locais com
– para que os ocos de árvores possam servir de
ninhos – e indiretamente – para possibilitar que condições muito diferentes de conservação da vegetação ciliar.
os rios onde ele vive permaneçam com água As crianças menores necessitam vivenciar ambas as experiências
de qualidade para que possam estabelecer comparações e avaliar as conseqüências
Proteger as matas ciliares é proteger tam-
da conservação e da destruição da vegetação nativa.
bém o pato-mergulhão!
Já as turmas de crianças maiores e de adolescentes podem ser
divididas em dois grupos, cada um visitando um local e ficando
responsável pelo registro e pelo relato do observado.
As turmas podem propor estratégias de conservação para as
áreas degradadas visitadas, tais como a organização de ‘caminha-
das ecológicas’ que chamem a atenção do restante da comunidade
para o problema e a elaboração de relatórios a serem encaminhados
às autoridades.

Atividade – Um jornal sobre a saúde dos rios


de nossa região
Objetivos: Proporcionar aos alunos informações sobre o estado
de degradação dos cursos d’água da região a partir de notícias
de rádio, jornais, revistas, Internet e publicações de ONGs que
atuam na região.
Estratégias: Grupos de alunos devem coletar notícias referentes a
práticas de conservação, recuperação ou degradação dos rios da
região nas diferentes fontes citadas.
Com as crianças menores pode ser feita uma coleta de notícias
com a ajuda da família e a interpretação guiada pelo professor em
sala. O jornal pode ser feito a partir de desenhos ou textos curtos
por meio dos quais as crianças expressam seus sentimentos e
concepções com relação à notícia. Alunos maiores podem preparar
resenhas sobre as notícias coletadas.
Entre os alunos alfabetizados, o jornal pode incluir um registro
da notícia e sua resenha, além de uma produção artística/literária,
feita pelos alunos, e por ela inspirada.
3  As águas da Serra da Canastra 41

Assim como ocorre com as águas superficiais, as águas subter-


râneas também têm sofrido degradação. Os principais problemas Aqüífero Guarani – um dos maiores reservatórios
subterrâneos de água doce do mundo
são:

• a exploração excessiva, especialmente na irrigação de grandes


empreendimentos agrícolas, que pode provocar o esgotamento O Aqüífero Guarani é o maior manancial de
água doce subterrânea do mundo. Ele está
dos aqüíferos;
localizado na região centro-leste da América
• a contaminação das águas por esgotos industriais e domésticos, do Sul, estendendo-se pelo Brasil, Paraguai,
Uruguai e Argentina.
agrotóxicos (pesticidas, herbicidas, adubos e outros) e outros
A maior parte do aqüífero está em ter-
materiais tóxicos, como vazamentos de combustíveis. ritório brasileiro, abrangendo os Estados de
Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas
Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul.

LB
No aqüífero, a água se infiltra muito len-
tamente pelos poros da rocha e leva décadas
para se deslocar algumas centenas de metros.
Enquanto desce, ela é filtrada. Por isso, a água
do aqüífero é considerada de boa qualidade e
adequada para o consumo humano, o que lhe
Alguns rios estão
confere grande importância
sendo poluídos e estão
secando. As reservas

MBM
subterrâneas de água
doce do mundo estão
diminuindo.
LV

Se a mata ciliar é
retirada, o solo fica
exposto à chuva e
ao vento e pode ser
arrastado para os aquífero
cursos d’água. fronteiras estaduais
fronteiras internacionais
ITB

O acúmulo de terra
e areia no fundo dos
cursos d’água – o
manancial
assoreamento, deixa-
Depósito de água que serve de fonte de abas-
os mais rasos, o que
tecimento humano.
contribui para a ocor-
rência de enchentes.
42 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

SR
A conservação das águas da Canastra garante vida, renda e lazer.
4 Fazendo a coisa certa

Uma característica fundamental da organização dos ambien-


tes na Terra é a permanente interação entre os componentes
ambientais: entre seres vivos, entre seres vivos e componentes
não-vivos, e entre os componentes não-vivos. Continuamente
estão ocorrendo relações e ações que afetam o meio ambiente
e a manutenção da vida depende de que o equilíbrio que per-
mitiu que os seres vivos surgissem e construíssem sua história
nos últimos 3,8 bilhões de anos não seja rompido de maneira
duradoura ou muito intensa.
A água é um componente de grande relevância nos ambien-
tes da Serra da Canastra. Da manutenção do ciclo da água − da
quantidade e da qualidade das águas da Canastra, dependem as
paisagens, os solos, os seres vivos, o clima e as atividades humanas
(atividades econômicas – agricultura, pecuária, turismo; lazer;
atividades domésticas).

Sugestão de atividade
Nos livros didáticos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio
são comuns atividades práticas que trabalham a água como sol-
vente universal. Esse é um momento oportuno para resgatá-las.
Essas atividades práticas podem ser importantes para as crianças
mais novas, por fornecerem evidências concretas do fenômeno da
poluição da água por materiais nela dissolvidos. Mesmo para os
alunos um pouco mais velhos e, portanto, com maior capacidade
de abstração e menor necessidade de trabalhar com materiais
concretos, as atividades práticas podem contribuir para a constru-
ção da compreensão de que a propriedade de dissolver inúmeros
materiais torna a água vulnerável à poluição.
44 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

Mas como uma das principais características da água é sua


capacidade de transportar materiais, dissolvidos e não dissolvidos,
após os seus vários usos ela pode ter suas características alteradas
e se tornar poluída.

A poluição da água por esgoto

RA
Os esgotos domésticos não tratados contaminam a água com
fezes humanas e de outros animais, restos de alimentos e deter-
gentes.
As fezes podem levar para os cursos d’água agentes causadores
de doenças, tais como alguns protozoários, vermes e bactérias.
Ao consumir a água diretamente ou ao utilizá-la para a irrigação
de plantações e para dar de bebida a animais domésticos, as
pessoas podem contrair essas doenças ou difundi-las. Animais
O destino adequado do esgoto é fundamental para garantir a
que fazem uso da água contaminada por fezes também podem
conservação de cursos d’água e dos seres vivos que deles dependem. contrair doenças.
Além disso, a poluição da água por fezes e por restos de ali-
mentos faz com que aumente a quantidade de matéria orgânica
em rios e lagos. Esse excesso de nutrientes faz com que aumente
a população de algas microscópicas que os utilizam. As algas que
crescem na superfície da água dificultam a entrada da luz solar,
levando à morte dos vegetais e de outras algas que viviam no
fundo. A decomposição das algas e dos vegetais mortos consome
não-biodegradável
a maior parte do oxigênio disponível. Sem oxigênio, peixes e
Materiais que não são decompostos ou destru- outros animais morrem.
ídos por seres vivos, como fungos e bactérias, Já os detergentes são tóxicos para muitos seres vivos. Ao levar
ou outros agentes biológicos. Os materiais
à diminuição da população de alguns deles, todo o ambiente
não-biodegradáveis geralmente são tóxicos e
se acumulam na natureza.
pode ser alterado. Mesmo animais que tolerariam a exposição
direta aos detergentes não-biodegradáveis, são prejudicados por
terem a quantidade de alimento diminuída.
Depois de coletados, os esgotos devem ser tratados antes de
serem encaminhados para os cursos d’água. As Estações de Trata-
mento de Esgoto (ETE) permitem que os níveis de contaminação
da água por seres vivos causadores de doenças e por materiais
tóxicos sejam muito reduzidos, diminuindo a degradação dos
cursos d’água e sendo fundamentais para o futuro dos recursos
hídricos de uma região.
Uma alternativa para as propriedades rurais e outros locais
onde não existe canalização do esgoto é a construção de fossas
sépticas (consulte o Texto Complementar para mais informa-
ções sobre esse assunto).
4  Fazendo a coisa certa 45

Atividade – Qual o destino do esgoto de sua


comunidade?
Objetivos: Proporcionar aos alunos informações sobre a destinação
do esgoto produzido por suas comunidades, permitindo que eles
se sintam co-responsáveis por eventuais problemas ambientais
associados ao esgoto doméstico e pela busca e implementação de
soluções para esses problemas.
Estratégias: Grupos de alunos devem investigar as condições de
saneamento básico de suas comunidades, obtendo informações
sobre:

• existência e cobertura (a rede de esgoto atende a qual parcela da


população de sua comunidade: toda? Menos da metade? Quase
toda?) da rede de coleta de esgoto doméstico;

• destinos dos esgotos domésticos, os coletados por rede de cana-


lização e os não coletados;

• existência ou não de estação de tratamento de esgoto (ETE) na


comunidade e, se existir, o modo de funcionamento;

• problemas associados ao destino do esgoto doméstico em sua


comunidade;
• problemas associados ao esgoto de outras origens (industrial ou
outro).

Controlando a degradação da água decorrente


de atividades agropecuárias
Atividades agropecuárias mal planejadas e inadequadas podem

SR
degradar os recursos hídricos através de vários mecanismos:

• contaminação das águas com agroquímicos (por exemplo,


fertilizantes e pesticidas utilizados nas plantações de café, cana-
de-açúcar, milho e soja, e na criação do gado bovino). O uso
incorreto desses produtos faz com que eles sejam levados pela
chuva, atingindo os rios e lagos, ou que se infiltrem no solo,
atingindo os depósitos subterrâneos de água. Agroquímicos
são perigosos, mesmo em pequenas quantidades, para todos
os seres vivos, contaminando diretamente vegetais e animais e,
consequentemente, outros animais que deles se alimentam. Os
Os agroquímicos utilizados na agricultura podem causar poluição da
humanos, que consomem vegetais e animais ou utilizam a água água e degradação de ecossistemas naturais. É muito importante seguir
como bebida, na culinária ou para higiene, também podem se as orientações técnicas referentes a sua compra, transporte, aplicação,
contaminar. Quando a intoxicação afeta a sobrevivência de um armazenamento e descarte de embalagens.
46 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

tipo de ser vivo, outros tipos de organismos que dependiam


Agroquímicos e segurança
dele como fonte de alimento vão ter sua população diminuída
ou até eliminada. As conseqüências podem se fazer sentir em
É possível produzir alimentos sem o uso de agro- todo o ecossistema. Os adubos ou fertilizantes também podem
químicos. Esses alimentos, chamados orgânicos, levar a um aumento de nutrientes na água, com efeitos seme-
podem ser muito valorizados pelo mercado lhantes à contaminação por fezes e restos de alimento.
consumidor, já que é crescente a busca por
alimentos mais saudáveis. Além disso, a pesquisa • pastagens e plantações podem ocupar áreas de preservação
com alguns produtos orgânicos tem mostrado permanente (ao longo dos cursos d’água e no entorno de
que sua produtividade pode ser superior à dos
nascentes), destruindo a vegetação nativa. Além do risco à
cultivos tradicionais, como é o caso da cebola
cultivada em Pernambuco em um estudo de
sobrevivência dos seres que habitavam essas áreas ou dela
2007 da Empresa Brasileira de Pesquisa Agro- dependiam para alimentar-se ou reproduzir, o ciclo da água no
pecuária – EMBRAPA e da Universidade do local fica alterado, com conseqüências para todo o ambiente.
Estado da Bahia.
Os solos sem cobertura vegetal podem sofrer erosão e serem
Adubos orgânicos (feitos com folhas, galhos,
esterco, restos de alimentos e cinzas) e remé-
carregados pelas chuvas para os cursos d’água, assoreando-os,
dios tradicionais, feitos à base de plantas ou de o que afeta todo o ambiente.
produtos autorizados para aplicação em siste-
mas orgânicos (como uma mistura de sulfato
• a ausência de bebedouros para o gado e o acesso desses animais
de cobre, cal e água – a calda bordalesa, e a aos cursos d’água degrada a mata ciliar e favorece a erosão, o
mistura de enxofre, cal virgem e água – a calda que também contribui para o assoreamento.
sulfocálcica) podem ser uma boa alternativa ao
uso de agroquímicos. • as queimadas empobrecem os solos, destroem a vegetação
Caso seja feita a opção pelo uso de agro- nativa e contribuem para a extinção de animais e outros seres
químicos, as orientações dos fabricantes com vivos. Quando atingem a vegetação do entorno de nascentes
relação aos cuidados a serem tomados pelo e as matas ciliares, podem prejudicar de maneira irreversível
aplicador e no descarte das embalagens devem
a vida dos cursos d’água.
ser rigorosamente observadas.
Para maiores informações sobre agroquí-
micos, consulte o Texto Complementar.

Queimadas não-controladas, feitas sem que sejam observadas as orientações para reduzir seu
impacto sobre os ecossistemas naturais, são fatores extremamente degradadores para o ambiente.
4  Fazendo a coisa certa 47

Queimadas na região da Serra da Canastra


Atividade – Completando o quadro
Objetivos: Proporcionar aos alunos a oportunidade de, a partir
Os campos característicos do Cerrado da
da reflexão e da discussão, prever possíveis conseqüências das região da Serra da Canastra são muito propensos
situações apresentadas na primeira coluna do quadro. ao fogo. Focos naturais de incêndio, que tem
Estratégias: Trabalhando em grupos, os alunos devem descrever origem, por exemplo, em raios, podem fazer
parte do funcionamento natural do Cerrado
resumidamente as conseqüências das situações apresentadas. Para
local. Normalmente esses focos naturais ocorrem
as crianças menores, espera-se que as respostas, através de desenhos, na estação chuvosa e as chuvas os controlam,
de manifestações orais ou por escrito, indiquem a compreensão limitando o impacto ambiental.
de alguma relação causal entre a situação e um dano ambiental. Mas grande parte dos incêndios na região
possui origem humana, atingindo áreas exten-
Para os alunos um pouco mais velhos e com maior desenvolvi-
sas e sendo muito destrutivos. Queimadas mal
mento cognitivo, espera-se que relações causais mais elaboradas planejadas e realizadas de modo inadequado,
e complexas sejam propostas. utilizadas como técnica de manejo agropecuário,
podem escapar ao controle e destruir áreas
que não se esperava atingir. Essas queimadas
Práticas de risco Consequências
geralmente ocorrem durante a estação seca,
As pastagens e cultivos podem quando as condições favorecem o desenvolvi-
destruir matas ciliares e nascentes. mento de incêndios de grandes magnitudes:
vegetação seca, baixa umidade do ar, ventos
Solos sem cobertura vegetal podem fortes. A realização de aceiros, a orientação téc-
ser carregados para os rios na época nica e a autorização para a queima controlada
das chuvas. (concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio
Adubos químicos e agroquímicos Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
podem contaminar águas, plantas, - IBAMA ou pelo Instituto Estadual de Florestas
bichos e pessoas. - IEF), e a preparação dos proprietários rurais
para combater o fogo são fundamentais para
As queimadas empobrecem os solos, evitar esse problema.
destroem a vegetação nativa, contri- Mas, na área do Parque Nacional da Serra
buem para a extinção de animais e, da Canastra, parte dos incêndios é de origem
portanto, prejudicam o equilíbrio dos criminosa. Entre agosto e setembro de 2006,
ecossistemas. Quando atingem matas quando 70% do Parque Nacional da Serra da
ciliares e nascentes, elas podem preju- Canastra foram destruídos, a existência de vários
dicar de maneira irreversível a vida dos focos e o início simultâneo do fogo fizeram com
cursos d’água. que se suspeitasse de fogo intencional e com que
Ao beber água diretamente dos cursos o combate ao incêndio fosse difícil e demorado,
d’água, o gado pode contribuir para o arriscando muitas vidas humanas e com alto
desbarrancamento das margens e suas custo financeiro para o poder público.
fezes podem contaminar a água. Seu Apesar de existirem muitas espécies adapta-
pisoteio endurece os solos e dificulta a das aos pequenos incêndios naturais, os grandes
infiltração das águas. incêndios podem comprometer de maneira
irreversível os recursos hídricos e a sobrevivência
de parte da biodiversidade da região.

Consumo adequado
Quando adquirimos um produto, estamos fortalecendo toda a aceiro
cadeia de produção e de distribuição daquele objeto. Isso significa Limpeza que se faz na faixa de terreno em torno
das cercas ou limites de uma propriedade, para
que estamos apoiando os vários gastos decorrentes dos proces-
controlar a propagação de incêndios.
sos de produção e distribuição: a quantidade de energia, água e
48 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

matérias-primas despendidas para a fabricação do produto em


si; a energia, a água e outros materiais utilizados na produção da
embalagem; a quantidade de lixo gerada pelo descarte do produto
após seu uso; a maneira justa ou injusta com que foi remunerada
a mão-de-obra humana e suas condições de trabalho. Consumir,
considerando tudo isso, é fazer escolhas com conseqüências para
outras pessoas e para o ambiente como um todo.
O atual ritmo de consumo é tão grande, especialmente entre
países e classes sociais mais ricas, que, se continuar como está, as
gerações futuras não terão fontes de água ou de energia, reservas
de ar puro nem terras para agropecuária em quantidade suficiente
para a preservação da vida. Hoje já se consome 20% a mais do
que a Terra consegue renovar!
Não existe outra solução além da mudança na maneira como
consumimos; é preciso que cada pessoa adote padrões de con-
sumo que sejam sustentáveis, isto é, que não esgotem recursos e
possam continuar a ser utilizados por nossos descendentes.
O consumidor consciente precisa incorporar o hábito de se
questionar cotidianamente: os produtos e bens que pretendo

Atividade – Como anda o consumo de


minha família
Objetivos: Proporcionar aos alunos alfabetizados a oportunidade
avaliar os hábitos de consumo da família a partir da observação
do tipo de lixo produzido.
Estratégias: Trabalhando com a ajuda dos familiares, os alunos
alfabetizados devem fazer o registro diário, durante uma ou duas
semanas, da composição do lixo doméstico. Para isso, devem
registrar:

• Qual o tipo de material que compõe a maior quantidade do lixo:


Embalagens? Restos de alimentos? Outros materiais?

• O que a composição do lixo indica com relação ao consumo da


família: É possível reduzir o consumo de produtos cujas emba-
lagens são sofisticadas e volumosas? É possível consumir maior
quantidade de produtos cujas embalagens são reutilizáveis ou
recicláveis? Está havendo compra excessiva ou preparo mal
planejado de alimentos?
O trabalho pode resultar na elaboração de um relatório indi-
vidual sobre o lixo doméstico, que pode ser apresentado para a
turma e encaminhado para os pais ou responsáveis, de forma a
envolvê-los na modificação de padrões de consumo.
4  Fazendo a coisa certa 49

consumir são necessários? Seu consumo compensa os prejuízos


E o lixo lançado na água pode durar muito...
que sua produção e seu descarte acarretarão? Em cada escolha
cotidiana poderemos estar ajudando a construir uma sociedade
mais sustentável e justa. Tempo de decomposição de materiais usual-
mente jogados nos rios e lagos

Lugar de lixo não é na água!


Papel De 3 a 6 meses
Além dos materiais que contaminam a água por serem nela dis-
solvidos, o lixo que é lançado na água, nela se acumulando ou Pano De 6 meses a 1 ano
sendo por ela transportado, é nocivo para todos os seres vivos
Filtro de cigarro 5 anos
que usam as coleções d’água como moradia, freqüentam-nas ou
nelas se alimentam.
Chicletes 5 anos

Madeira pintada 13 anos


Atividade – O lixo que cada um produz
Objetivos: Provocar a reflexão sobre como é grande a quantidade Plástico Mais de 100 anos

de lixo produzida por cada pessoa ou família. Essa noção deve ser
Metal Mais de 100 anos
relacionada aos danos aos ecossistemas que esse lixo pode causar
se não receber o destino adequado. Borracha Tempo indeterminado
Estratégias: O trabalho com as crianças mais novas (dos 4 pri-
meiros anos do Ensino Fundamental) deve ser feito com o auxílio Vidro 1 milhão de anos

da família. Um adulto deve estimar o peso de todo o lixo produ-


zido pela família em um dia. A turma deve refletir sobre como
é grande a produção de lixo de cada família e da comunidade
como um todo.
Para os alunos das outras séries do Ensino Fundamental e do
Ensino Médio, pode-se fazer uso de uma fórmula:

produção de lixo = idade em anos x 365 x ½ quilograma*

*peso médio do lixo produzido por uma pessoa por dia

Por exemplo, para uma criança de 12 anos, a produção de


lixo corresponde a:

produção de lixo =12 x 365 x ½ quilograma = 2.190 quilos


Em apenas 12 anos, a criança já produziu mais de 2 toneladas de lixo.

Esse cálculo permite estimar quantos quilos de lixo cada aluno


produziu até aquela idade, o que deve fundamentar a reflexão sobre
como é grande a produção de lixo de cada pessoa e da comunidade
como um todo.
50 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

Atividade – Qual o destino do lixo produzido


em sua comunidade?
Objetivos: Proporcionar aos alunos informações sobre o destino
do lixo produzido por suas comunidades, permitindo que eles
se sintam co-responsáveis por eventuais problemas ambientais
associados ao lixo e pela busca e implementação de soluções para
esses problemas.
Estratégias: Grupos de alunos devem investigar as condições de
saneamento básico de suas comunidades, obtendo informações
sobre:

• existência e cobertura de sistema de coleta de lixo;

• iniciativas de coleta seletiva;

• destinos do lixo de diferentes composições (lixo seco e lixo úmido)


coletado e do que eventualmente não é coletado por serviço
público;
• problemas associados ao destino do lixo em sua comunidade.

Turismo e conservação de recursos hídricos


A beleza das paisagens da Canastra, com seus rios e cachoeiras,
tem atraído cada vez mais visitantes em busca do turismo rural,
de aventura e do ecoturismo. Além disso, as comemorações tra-
dicionais da região, como as festas dos santos padroeiros, a Folia
de Reis e a Festa do Queijo, também atraem turistas. Somente
entre 1992 e 2002, o aumento do número de turistas na região
foi de mais de 10 vezes.
O potencial turístico da região é grande e pode representar
uma importante atividade econômica. Mas, além de gerar novas
MA

oportunidades de trabalho e de geração de renda, o turismo gera


maior captação e uso da água, maior produção de esgoto e de
lixo e maior pressão sobre alguns ambientes e espécies frágeis e
ameaçados, como os solos brejosos próximos à nascente-símbolo
do São Francisco e o pato-mergulhão.
Para que o futuro dos ecossistemas locais seja preservado e
para que as próprias atividades turísticas possam ter continuidade,
é importante um planejamento cuidadoso.
Observe exemplos de atitudes e comportamentos favoráveis
e desfavoráveis com relação ao turismo.
A nascente-símbolo do Rio São Francisco se situa em solo brejoso,
que exige cuidados, como a limitação do pisoteio por turistas,
para evitar a degradação
4  Fazendo a coisa certa 51

ISTO SIM

A implantação de áreas dedicadas à atividade turística (áreas de camping,


pousadas, churrasqueiras, trilhas etc) deve ser planejada de modo que :

•  proteja as matas ciliares, as nascentes e a vegetação dos topos dos morros


e não prejudique a qualidade de água dos rios e cachoeiras;
•  lixeiras adequadas sejam instaladas nas cidades e nas trilhas usadas pelos
turistas;
•  sejam construídas fossas sépticas em residências, restaurantes e pousadas
de locais onde não há coleta e tratamento dos esgotos;
•  as estradas de acesso aos pontos turísticos sejam construídas com drenagem
apropriada para o escoamento das águas das chuvas. Sem planejamento
adequado, a construção de estradas causa erosão, assoreamento de cursos
d’água e degradação de nascentes;
•  os guias estejam bem preparados para informar os visitantes sobre as atitudes
adequadas em ambientes pouco modificados pelas atividades humanas:
os cuidados com relação ao uso do fogo; a necessidade de coletar o lixo
produzido durante a visita a locais conservados; a postura respeitosa com
relação a seres vivos, ovos, ninhos, flores, filhotes etc.; a necessidade de
manter-se nas trilhas e estradas já formadas, para não contribuir na criação
de novos focos de erosão.

ISTO NÃO
O pisoteio intenso por pessoas e o tráfego de veículos fora das estradas e
trilhas prejudicam a vegetação e podem provocar erosões e destruição de
abrigos e ninhos de animais.

O barulho e a presença de grandes grupos de pessoas afugentam alguns animais


e prejudicam seus ciclos de vida, dificultando, por exemplo, a reprodução.

Pichações e outros atos de vandalismo degradam os ecossistemas, tornam a


paisagem feia e afastam os turistas.

AG
RA

Proteger a mata ciliar garante o equilíbrio dos Animais silvestres, como o pato-mergulhão, são sensiveis
ecossistemas e o futuro da atividade turística. ao barulho e às perturbações de grandes grupos de pessoas.
52 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

Atividade – Uma cartilha de conduta


consciente para os turistas
Objetivos: Provocar a reflexão e a consolidação de idéias relacio-
nadas a atitudes conservacionistas a serem estimuladas entre os
turistas.
Estratégias: Reunidos em grupos, os alunos devem criar uma
cartilha ilustrada ou uma história em quadrinhos que ensine os
turistas a se comportar de forma a não degradar as paisagens e
os ecossistemas da região da Serra da Canastra. Os alunos podem
conciliar textos, desenhos, caricaturas, charges e outras formas
criativas de expor suas dicas e sugestões de comportamentos. Os
melhores trabalhos podem ser expostos em um local freqüentado
pelos turistas ou reproduzidos em um jornal local.

Atividade – Postais da Serra da Canastra


Objetivos: Estimular entre os alunos a valorização da beleza e
da riqueza da região da Serra da Canastra, assim como o reco-
nhecimento do valor do patrimônio natural local (o Cerrado, o
rio São Francisco, a biodiversidade) e do patrimônio cultural (as
festas religiosas, o queijo Canastra, outras manifestações da
cultura local).
Estratégias: Os alunos devem produzir cartões postais com dese-
nhos, pinturas ou fotografias da região da Serra da Canastra e os
trabalhos podem compor uma exposição. Os melhores trabalhos
podem ser expostos em um local freqüentado pelos turistas ou
reproduzidos em um jornal local.

No dia-a-dia
FR

É preciso conhecer e implantar formas de uso da água e dos


outros componentes ambientais que promovam a proteção
ambiental e o bem-estar das pessoas e dos outros seres vivos.
Uma utilização que concilie ganho econômico e conservação
ambiental, de modo a não ameaçar o equilíbrio dos ecossiste-
mas locais, é chamada de sustentável. É possível buscar formas
sustentáveis de uso dos recursos de nossa região e contribuir
para a construção de um mundo melhor através de atitudes e
comportamentos cotidianos.

É importante valorizar a beleza natural do cerrado.


4  Fazendo a coisa certa 53

E a comunidade, vai fazer a sua parte? Para isso, conheça


UM MUNDO MELHOR
algumas dicas:

HF
• Evite o desperdício de água:

- verifique periodicamente se há vazamentos nos encanamentos


e faça os reparos necessários;

- verifique se as torneiras estão pingando e repare-as quando


necessário;

- para varrer, use a vassoura, e não a mangueira; para regar as


plantas, use o regador, de preferência nas horas mais frescas
do dia;

- ao se ensaboar durante o banho, feche o chuveiro;

- ao ensaboar a louça, feche a torneira;

- ao lavar roupas na máquina, use a quantidade necessária de


sabão em pó, sem exageros, para não ser necessário mais de
um enxágüe;

- utilize a água descartada pela máquina de lavar roupas para a


limpeza de áreas externas e quintais;

- para lavar o carro, use o mínimo de água possível, de preferência


com o balde, e não a mangueira.

• Contribua para que a água de rios e córregos permaneça limpa


e de boa qualidade:

- dê ao lixo o destino adequado – nunca o jogue na água ou nas


encostas para que não seja levado pela chuva para os vales e rios;

- prefira utilizar sabões e detergentes biodegradáveis, que causam


menores prejuízos aos seres que habitam os cursos d’água;

- não permita que óleo de veículos e equipamentos agrícolas


atinja os cursos d’água – um litro de óleo contamina um milhão
de litros d’água;

• Procure somar seus esforços de construção de um mundo


melhor aos esforços de outras pessoas:

- os problemas ambientais sempre atingem mais de uma pessoa e as


soluções coletivas são sempre mais eficientes do que as individuais.
Reúna-se a pessoas que também estejam interessadas na conservação
do meio ambiente e busque maneiras de atuação conjunta. Isso
pode ocorrer no trabalho com outros professores e suas turmas,
na interação entre várias escolas, na participação no Conselho
Municipal de Meio Ambiente, na atuação junto ao Comitê da
Bacia Hidrográfica de nossa região e em outros espaços. Atitudes individuais e coletivas podem
fazer deste mundo um lugar melhor para todos.
54 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

RA
Serra da Canastra e rio São Francisco: patrimônio natural de inigualável beleza.
5 Texto complementar

AGROTÓXICOS: TIPOS DE
ALVO
USOS, RISCOS E AGROTÓXICOS

ALTERNATIVAS Acaricidas Ácaros: carrapatos e sarnas

Fungos: causadores de micoses e


Durante milhares de anos, os humanos cultivaram vege- Fungicidas
outras doenças de vegetais e animais
tais e criaram animais sem grandes prejuízos causados
por pragas, tais como insetos, fungos e vermes. Desde Herbicidas Ervas daninhas
meados do século passado, a prática da monocultura,
Inseticidas Insetos
que inclui o uso de grandes extensões de terra para o
cultivo de um mesmo vegetal, e a criação de grandes Nematóides: vermes causadores de
Nematicidas
rebanhos de uma única espécie, provocaram desequi- doenças em animais e vegetais

líbrios nos ecossistemas, de modo que as pragas se


tornaram mais abundantes e de difícil controle. Assim,
foram sendo desenvolvidos produtos para combatê-las que se contaminam através dos alimentos. Alguns
ou controlá-las, os agrotóxicos ou agroquímicos, mas estudos já relataram a presença de agrotóxicos no leite
que também afetam a saúde humana e o funcionamento materno, o que poderia causar alterações genéticas
dos ecossistemas. nos bebês nascidos de mães contaminadas. Em nosso
Os agrotóxicos podem ser usados na lavoura, na país existem cerca de 8.000 formulações licenciadas
pecuária e mesmo no ambiente doméstico: inseticidas, e o Brasil é um dos cinco maiores consumidores de
fungicidas, acaricidas, nematicidas, herbicidas, bacte- agrotóxicos do mundo. Muitos agricultores brasileiros
ricidas, além de produtos para limpeza e desinfecção que fazem uso desses produtos desconhecem o perigo
de estábulos etc. que eles representam para a sua saúde humana e a de
O Brasil é hoje um dos maiores compradores de outros seres vivos.
agrotóxicos do mundo e as intoxicações por esses pro- O mau uso de agrotóxicos é um dos principais res-
dutos estão aumentando, tanto entre os trabalhadores ponsáveis por acidentes de trabalho no campo, sendo
rurais que ficam expostos, como entre pessoas que a ação desses materiais no organismo humano pode
56 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

ser lenta e demorar anos para se manifestar. Além das e mamão, sobretudo estes dois últimos, comprometidos
manifestações a longo prazo, o uso de agrotóxicos tem em boa parte das amostras.
causado diversas vítimas fatais, além de abortos, fetos Embora não elimine todo o agrotóxico que pode
com má-formação, suicídios, câncer, doenças de pele estar contaminando o alimento, o ato de lavar frutas,
e outras. Segundo a Organização Mundial de Saúde, verduras e legumes, ensaboando-os com detergente ou
há 20.000 mortes humanas/ano em conseqüência da sabão e enxaguando-os em água corrente, pode reduzir
manipulação, inalação e consumo indireto de pesticidas a ingestão dos contaminantes. Além disso, quando
nos países em desenvolvimento, como o Brasil. possível, a casca deve ser retirada. Outra medida para
diminuir a ingestão de agrotóxicos é, na hora da com-
pra, evitar os alimentos de aparência muito ‘perfeita’
Alternativas ao uso de agrotóxicos
- muito grandes, com a casca sem marcas ou sinais.
É possível interromper ou diminuir o uso de agrotóxicos Quanto mais bonita a fruta ou hortaliça, mais se deve
em uma propriedade rural. Além de diminuir ou evitar desconfiar da contaminação por agrotóxicos.
os riscos associados ao transporte, armazenamento,
manuseio e aplicação do agrotóxico, isso torna o pro-
duto mais saudável e com maior valor comercial, já
Sinais e sintomas do envenenamento
que existe uma demanda crescente por produtos que por agrotóxicos
ofereçam menos riscos à saúde. A ação dos agrotóxicos sobre a saúde humana pode se
Entre as técnicas alternativas ao uso de agrotóxicos manifestar na forma de náuseas, tonteiras, dores de
estão as armadilhas para capturar os insetos (garrafa cabeça, alergias, doenças dos rins e do fígado, cânceres,
com líquido, papel adesivo e feromônios); o uso de alterações genéticas, doença de Parkinson etc. Essa ação
sacos de papel para proteção dos frutos; o uso de man- pode ser sentida logo após o contato com o produto (os
tas plásticas de polietileno; a rotação de culturas; e o chamados efeitos agudos) ou após semanas/anos (são os
plantio de vegetais que funcionam como atrativos de efeitos crônicos) que, neste caso, muitas vezes requerem
insetos ou como repelentes naturais. exames sofisticados para a sua identificação.
Os produtos cultivados sem agrotóxicos, utilizando Os maiores riscos de acidentes e contaminação estão
as técnicas da agricultura orgânica, são, em geral, de associados à escolha e ao manuseio dos agrotóxicos.
menor tamanho e levam mais tempo para serem pro-
duzidos e colhidos.
Riscos da escolha errada
Quem deve escolher o tipo de agrotóxico a ser utili-
Na hora do consumo: alimentos que
zado é o Engenheiro Agrônomo (através do uso do
podem estar contaminados Receituário Agronômico) e não o seu revendedor ou o
Os agrotóxicos podem ser encontrados em vegetais agricultor, por mais experientes que sejam. Conheça
(verduras, legumes, frutas e grãos), açúcar, café e mel. alguns riscos e prejuízos associados à escolha errada
Alimentos de origem animal (leite, ovos, carnes e fran- do agrotóxico:
gos) podem conter substâncias nocivas que chegam a
contaminar a musculatura, o leite e os ovos originados • ineficácia;
do animal, quando ele se alimenta de água ou ração • uso de produtos mais tóxicos do que o necessário;
contaminada.
• apresentação inadequada: líquido em vez de pó, por
Recentemente (maio de 2004), pesquisa da Agência
exemplo;
Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA revelou que
as frutas e saladas consumidas pelos brasileiros têm • dosagem superior ou inferior à necessária;
alto índice (81,2%) de contaminação por agrotóxicos, • desinformação quanto ao período de carência.
especialmente a alface, batata, maçã, banana, morango
5  Texto complementar 57

Essas situações põem em risco a saúde dos aplica- dor adequado, em vez de improvisar com talhadeiras,
dores, dos consumidores dos alimentos que receberam formões, canivetes etc; ao misturar a calda, utilizar um
as aplicações de agrotóxicos e de outros seres vivos pedaço de madeira ou um misturador adequado e/ou
(através da contaminação dos solos e das águas), além luvas impermeáveis; manter o produto em sua emba-
de prejuízos financeiros diretos para o agricultor ou lagem original, evitando colocá-lo em recipientes que
pecuarista. não possam ser identificados facilmente pelas demais
pessoas; não reaproveitar as embalagens dos produtos,
principalmente como depósito de água ou ração; seguir
Riscos do manuseio errado
rigorosamente o período de carência do produto; não
Um dos maiores problemas durante o manuseio dos usar pulverizador com defeito ou vazamentos e não
agrotóxicos é o não atendimento das recomendações do desentupir os bicos com a boca; não permitir que pessoas
fabricante do produto, contidas no rótulo ou na bula. enfraquecidas, idosas, crianças, gestantes, doentes ou
Isso pode ocorrer porque o aplicador sente dificuldades destreinadas apliquem ou manuseiem os agrotóxicos; se
na interpretação das orientações do fabricante. ventar durante o trabalho, caminhar num sentido que
São riscos associados ao manuseio inadequado: faça com que o vento carregue o produto para longe do
corpo; manter a distância de, pelo menos, 15m entre
• o não uso ou uso ineficaz dos Equipamentos de Pro-
a aplicação e os demais trabalhadores do local; e se,
teção Individual – EPI (máscaras protetoras, óculos,
durante o trabalho, o produto atingir o corpo despro-
luvas impermeáveis, chapéu impermeável de abas
largas, botas impermeáveis, macacão com mangas tegido, lavar imediatamente a parte atingida com água
compridas e avental impermeável); corrente e sabão; ao terminar o serviço, tomar banho
e colocar para lavar as roupas e demais EPIs.
• a mistura de produtos incompatíveis ou perigosos
Além disso, é proibido o transporte de agrotóxicos
(pela reação química inesperada);
dentro das cabines de veículos automotores ou dentro
• o descuido ou inabilidade do aplicador, provocando de carrocerias quando estas transportarem pessoas,
respingos desnecessários; animais, alimentos, rações etc. Ao transportar qual-
quer quantidade de agrotóxicos, é importante levar
• o uso do cigarro ou de alimentos durante o proces-
as instruções para casos de acidentes, contidas na
samento da mistura;
ficha de emergência do produto. Em caso de acidentes,
• o destino inadequado dos restos, da água de lavagem devem ser tomadas medidas para evitar que possíveis
e das embalagens. vazamentos alcancem mananciais de águas ou que
possam atingir culturas, pessoas, animais, depósitos
Recomendações para o manuseio ou instalações. Deve ser providenciado o recolhimento
seguro das porções vazadas. No caso de derramamento
A maioria dos acidentes com agrotóxicos ocorre no
de grandes quantidades, devem ser avisados o fabricante
preparo e na aplicação do produto no campo. Daí a
e as autoridades locais, e deve-se seguir as informações
necessidade do agricultor procurar um Engenheiro
contidas na ficha de emergência.
Agrônomo, para que este recomende o produto ade-
quado, a formulação correta e a técnica de aplicação
mais indicada. Armazenamento dos agrotóxicos
É importante obedecer à dosagem ou concentração Quando armazenados corretamente, os agrotóxicos e
indicadas; preparar somente a quantidade necessária suas embalagens vazias e lavadas oferecem pouco risco
para a aplicação a ser feita; não armazenar o produto à saúde das pessoas e ao meio ambiente.
preparado para aplicações posteriores, utilizar os Equi- As embalagens lavadas deverão ser armazenadas
pamentos de Proteção Individual – EPI– indicados no com as suas respectivas tampas e rótulos e, preferen-
rótulo do produto; ao abrir as embalagens, usar o abri- cialmente, acondicionadas na caixa de papelão original,
58 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

em local coberto, ventilado, ao abrigo de chuva ou no 2 Armazenar na propriedade, em local apropriado, as


próprio depósito das embalagens cheias. O fundo das embalagens vazias até a sua devolução.
embalagens deve ser perfurado, evitando assim a sua
3 Transportar e devolver as embalagens vazias, com
reutilização.
suas respectivas tampas e rótulos, para a unidade de
Todos os produtos devem ser mantidos nas emba-
recebimento indicada na Nota Fiscal pelo canal de
lagens originais. Após uma remoção parcial do conte-
distribuição, no prazo de até um ano, contado da
údo, as embalagens devem ser novamente fechadas.
data de sua compra. Se, após esse prazo, permanecer
As embalagens contendo produtos líquidos devem ser
produto na embalagem, é facultada sua devolução em
armazenadas com a tampa voltada para cima.
até 6 meses após o término do prazo de validade.
Deve ser efetuado um controle permanente das
datas de validade dos agrotóxicos para evitar o ven- 4 Manter em seu poder, para fins de fiscalização, os
comprovantes de entrega das embalagens (um ano),
cimento. É importante aplicar um sistema de rodízio,
a receita agronômica (dois anos) e a nota fiscal de
de tal forma que a primeira mercadoria a entrar seja a
compra do produto.
primeira a sair.
É de responsabilidade de quem vende/distri-
Aplicação de Agrotóxicos bui agrotóxicos:

Os maiores riscos de intoxicação estão relacionados ao 1 Disponibilizar e gerenciar unidades de recebimento


contato do produto ou da calda com a pele. A via mais para a devolução de embalagens vazias pelos usuá-
rápida de absorção é pelos pulmões; daí, a inalação rios/agricultores.
constituir-se em grande fator de risco. Assim, os traba-
2 No ato da venda do produto, informar aos usuários/
lhadores que aplicam rotineiramente agrotóxicos devem
agricultores sobre os procedimentos de lavagem,
se submeter periodicamente a exames médicos.
acondicionamento, armazenamento, transporte e
É aconselhável que as pulverizações com agrotóxicos
devolução das embalagens vazias.
sejam realizadas nas horas mais frescas do dia, ou seja,
pela manhã e ao final da tarde, a fim de evitar a evapo- 3 Informar o endereço da sua unidade de recebimento
ração rápida do produto aplicado. Deve-se interromper de embalagens vazias para o usuário, fazendo constar
a pulverização quando a velocidade do vento ultrapassar esta informação no corpo da Nota Fiscal de venda do
3 m/s (as folhas das árvores começam a se agitar). produto.
4 Fazer constar dos receituários que emitirem as infor-
mações sobre destino final das embalagens.
Destino das embalagens
A destinação final correta das embalagens vazias dos É de responsabilidade de quem fabrica agrotóxicos:
agrotóxicos diminui o risco para a saúde das pessoas e
1 Providenciar o recolhimento e dar a destinação final
de contaminação do meio ambiente.
adequada às embalagens vazias devolvidas às unidades
É de responsabilidade de quem compra agrotó-
de recebimento em, no máximo, um ano, a contar
xicos:
da data de devolução pelos usuários/agricultores.
1 Preparar as embalagens vazias para devolvê-las nas 2 Alterar os modelos de rótulos e bulas para que cons-
unidades de recebimento; no caso de embalagens tem informações sobre os procedimentos de lavagem,
rígidas laváveis, efetuar a lavagem; no caso de emba- armazenamento, transporte, devolução e destinação
lagens rígidas não laváveis, deve-se mantê-las intac- final das embalagens vazias.
tas, adequadamente tampadas e sem vazamento;
as embalagens flexíveis contaminadas devem ser
acondicionadas em sacos plásticos padronizados.
5  Texto complementar 59

DESCARTE DE PILHAS: das pilhas. Não misture pilhas velhas com novas ou
pilhas de sistema eletroquímicos diferentes em um
CUIDADOS E NORMAS mesmo aparelho. Nunca remova o invólucro das
pilhas.
Aproximadamente 1% do lixo urbano brasileiro é
constituído por resíduos sólidos contendo elementos • pilhas usadas: é muito comum a ocorrência de vaza-
tóxicos. Esses resíduos são provenientes de lâmpadas mentos, o que torna desaconselhável o armazena-
fluorescentes, termômetros, latas de inseticidas, latas mento em casa por longos períodos de tempo. No caso
de tinta, pilhas e baterias, entre outros produtos que de contato com o material vazado, lave as mãos com
água corrente; se ocorrer irritação procure o médico.
a população joga no lixo comum sem se certificar dos
Em casa, as pilhas devem ficar fora do alcance de
riscos associados a essa prática.
crianças.
As pilhas e baterias apresentam em sua composi-
ção metais perigosos para a saúde humana e de outros São proibidas as seguintes formas de descarte de pilhas e
seres vivos, tais como mercúrio, chumbo, cobre, zinco, baterias usadas, de quaisquer tipos ou características:
cádmio, manganês, níquel e lítio. Entre esses metais,
os que apresentam maior risco à saúde são: chumbo, • o lançamento, sem tratamento, a céu aberto, tanto
cuja intoxicação está associada a doenças neurológicas; em áreas urbanas, como rurais;
mercúrio, que afeta cérebro, pulmões, fígado e outros • a queima a céu aberto ou em recipientes, instalações
órgãos e causa anomalias fetais; e cádmio, que causa ou equipamentos não adequados;
problemas renais, no fígado e nos ossos.
• o lançamento em corpos d´água, praias, manguezais,
Uma maneira de reduzir o impacto ambiental do
terrenos baldios, poços ou cacimbas, cavidades sub-
uso de pilhas e baterias é a substituição de produtos
terrâneas, em redes de drenagem de águas pluviais,
antigos por novos, que propiciem um maior tempo de
esgotos, eletricidade ou telefone, mesmo que aban-
uso, como, por exemplo, o uso de pilhas alcalinas ou
donadas, ou em áreas sujeitas à inundação.
de baterias recarregáveis no lugar de pilhas comuns. Os
Alguns tipos de pilhas e baterias podem ser descartadas
fabricantes também devem se empenhar na redução
no lixo comum por possuírem pequena concentração
da concentração desses materiais tóxicos nas pilhas e
de materiais tóxicos. Confira a composição na pilha ou
baterias em desenvolvimento. No momento, a recicla-
na embalagem e observe as tabelas seguintes.
gem desse tipo de produto ainda é inexpressiva, por
se tratar de um processo que apresenta dificuldades
Pilhas e baterias que podem ser destinadas ao lixo doméstico
técnicas e que demanda alto custo. Tipo Aplicação mais usual
Desde 2001 o CONAMA (Conselho Nacional do brinquedo, lanterna, rádio,
Meio Ambiente) estabeleceu limites nos níveis de Zinco/Manganês controle remoto, rádio-relógio,
metais para a fabricação, importação e comerciali- Alcalina Manganês equipamento fotográfico, pager,
walkman
zação de pilhas e baterias. Com a determinação, os
telefone celular, telefone sem
fabricantes nacionais conseguiram reduzir a carga Níquel-metal-hidreto (NiMH)
fio, filmadora, notebook
poluente de alguns tipos de pilhas, permitindo que
Ions de lítio telefone celular e notebook
elas pudessem ser descartadas no lixo doméstico e ser Zinco-Ar aparelhos auditivos
destinadas aos aterros sanitários, sem causar danos ao
equipamento fotográfico, reló-
meio ambiente. gio, agenda eletrônica, calcu-
Lítio
O manuseio, o uso e o armazenamento de todos os ladora, filmadora, notebook,
tipos de pilhas e baterias exigem cuidados. Conheça computador, vídeocassete

alguns deles: equipamento fotográfico,


Pilhas especiais do tipo botão e agenda eletrônica, calculadora,
• pilhas novas: obedeça a informação dos fabricantes dos miniatura, de vários sistemas relógio, sistema de segurança
e alarme
aparelhos com relação a pólos positivos e negativos
60 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

Outros tipos de pilhas e baterias exigem destino dife- um consumo médio de 200 litros de água por pessoa,
renciado, que cabe ao fabricante, importador ou posto por dia. Porém sua capacidade nunca deve ser inferior
de venda. Conheça exemplos na tabela a seguir. a 1000 litros.
A rede de esgoto da moradia deve passar inicialmente
Pilhas e baterias que devem ser devolvidas ao fabricante,
por uma caixa de inspeção, que serve para fazer a
importador ou posto de venda
manutenção do sistema, facilitando o desentupimento.
Tipo/composição Aplicação mais usual
Ao chegar à fossa séptica, o material sólido sofre
Bateria de chumbo ácido indústrias, automóveis,filmadoras decantação. Forma-se, assim, o lodo, que se deposita
telefone celular, telefone sem fio, no fundo, e a escuma, que fica na superfície. Ambos
Pilhas e Baterias de níquel barbeador e outros aparelhos que passam a sofrer a ação de microrganismos (bactérias
cádmio usam pilhas e baterias recarregá-
anaeróbicas), que são responsáveis por transformações
veis
químicas do material e pela morte de microrganismos
instrumentos de navegação e
Pilhas e Baterias de óxido de causadores de doenças. O volume do esgoto é muito
aparelhos de instrumentação e
mercúrio
controle reduzido nesse processo e formam-se gases e material
líquido, que passam ao sumidouro.
O sumidouro é um poço sem laje no fundo que
FOSSA SÉPTICA: permite que os materiais líquidos e gases, originados
FUNÇÃO E CONSTRUÇÃO na fossa séptica, penetrem no solo. Seu diâmetro e
profundidade podem variar, mas ele não deve ter
A fossa séptica é uma alternativa de destinação e trata-
menos de 1 metro de diâmetro e menos de 3 metros
mento das águas servidas ou residuais nos locais onde
de profundidade.
não há rede de coleta de esgoto. Elas são fundamentais
na manutenção da qualidade da água e na prevenção
de doenças cujo agente causador é eliminado nas fezes
(tais como cólera, verminoses, giardíase e outras), pois
evitam o lançamento dos dejetos humanos diretamente
em rios, lagos, nascentes ou na superfície do solo. O
seu uso pode ser muito importante na melhoria das
condições de saúde das populações rurais.
Uma fossa séptica é constituída por um tanque
enterrado, que recebe os esgotos (dejetos e águas servidas
ou residuais), retém a parte sólida e inicia o processo
biológico de purificação da parte líquida (efluente).
Esquema da fossa séptica e de seus componentes
As fossas sépticas devem ser localizadas em um nível
1 caixa de inspeção · 2 fossa séptica · 3 sumidouro
do terreno mais baixo do que a moradia, a pelo menos
4 metros desta para evitar mau cheiro, mas não muito
mais distantes do que isso, para evitar tubulações longas. Cuidados a serem tomados:
Elas devem ser construídas ao lado do banheiro, para
• É preciso fazer um desenho que mostre a localização
evitar curvas nas canalizações.
do tanque e de seus tubos de acesso para saber exa-
É muito importante que ela esteja a, no mínimo,
tamente onde se encontra a fossa no terreno.
30 metros de distância de poços ou de qualquer outra
fonte de captação de água, para evitar contaminações, • O lodo que vai se acumulando deve ser removido a
no caso de vazamentos. cada 24 (vinte e quatro) meses, em volume igual a
O tamanho da fossa séptica depende do número de 2/3 (dois terços) da capacidade total da fossa.
pessoas da moradia. Ela é dimensionada em função de
5  Texto complementar 61

• Mantenha um registro de limpezas, inspeções e outras


LIXO:
manutenções, sempre incluindo nome, endereço e
telefone dos técnicos que efetuaram os serviços. PROBLEMAS E SOLUÇÕES
• Evite plantas de raízes muito profundas em áreas As diversas formas de organização das sociedades huma-
próximas às instalações da fossa, assim como outras nas implicam em quantidades diferentes de lixo pro-
atividades que possam danificá-la. duzido. Nas cidades brasileiras, a produção é grande
e, quanto maior a cidade, maior a quantidade de lixo
• Faça com que a área sobre a fossa permaneça limpa,
e maiores os problemas que ele causa. Mas é possível
coberta apenas com uma vegetação rasteira, de grama
minimizar esses problemas e a escola tem um papel
ou relva. Raízes de árvores ou arbustos podem entupir
fundamental nessa questão.
e danificar as linhas de dreno. Lembre-se que as raízes
A Prefeitura Municipal é responsável pela coleta
das plantas procuram a água.
e pelo destino dado ao lixo. Depois de coletado, cabe
• Evite que automóveis estacionem sobre a área e que a ela escolher um dos vários destinos possíveis: lixão,
equipamentos pesados sejam colocados no local. aterro sanitário, aterro controlado, incineração, reci-
• Não planeje nenhuma construção como piscinas e clagem, compostagem ou biodigestão. Conheça mais
calçadas perto da fossa. sobre cada uma dessas alternativas a seguir.
Em torno de 80% do lixo produzido no Brasil é
• Não escoe para a fossa materiais que não sejam bio- jogado em grandes depósitos a céu aberto, os ‘lixões’.
degradáveis, tais como plásticos, fraldas, absorventes, Os lixões apresentam grandes inconvenientes:
papel higiênico e guardanapos, já que esses detritos
podem encher o tanque e entupir o sistema. • servem de abrigo e de local propício para a reprodução
de animais peçonhentos (escorpiões, aranhas) ou que
• Não descarte óleos de cozinha e outras gorduras no ralo
podem transmitir doenças (ratos, baratas e outros);
da pia, já que tais alimentos se solidificam e entopem
o campo de absorção da terra. Esses produtos podem • exalam gases que, além de tóxicos, possuem mau
ser recolhidos e destinados à produção de biodiesel cheiro;
ou de sabões. • causam poluição visual;
• Não permita que tintas, óleos de motor de automóvel, • os líquidos resultantes de sua decomposição, que
pesticidas, fertilizantes e desinfetantes entrem no constituem o que chamado chorume, podem con-
sistema séptico. Essas substâncias podem atravessá-lo taminar áreas próximas e mananciais d’água;
diretamente, contaminando os terrenos em volta da
• durante as chuvas, parte dos materiais pode ser car-
fossa e matando os microrganismos que decompõem
regado para os cursos d’água, assoreando-os e con-
os resíduos.
tribuindo para enchentes e inundações.
• Use apenas água fervente para desentupir ralos, em
substituição a quaisquer produtos cáusticos. Além A deposição do lixo em aterros sanitários é uma
disso, faça a limpeza do banheiro e da cozinha com solução um pouco menos prejudicial para o meio
um detergente moderado. ambiente. Esses são grandes depósitos de lixo compac-
tado e coberto por camadas de terra. A decomposição do
material enterrado gera gases combustíveis, que podem
ser canalizados ou devem ter saídas ou escapes. Embora
ocorra a redução do volume do lixo pela compactação
e algum isolamento através das camadas de terra, os
aterros também apresentam problemas:
62 Pato Aqui, Água Acolá – Educação ambiental para professores

• os líquidos resultantes da decomposição de materiais Os problemas de cada uma dessas formas de destino
podem contaminar mananciais d’água; de lixo podem ser reduzidos através de medidas conhe-
• é preciso cuidadoso planejamento para evitar incên- cidas como 3R: Redução, Reutilização e Reciclagem. E
dios e explosões em função da liberação dos gases aqui a escola é muito importante, disseminando esse
combustíveis não canalizados; conhecimento, dando o exemplo e estimulando que
essas práticas sejam implementadas pelos alunos e
• quando repletos, os aterros podem vir a ser transfor- suas famílias.
mados em praças, mas o terreno instável não permite A redução depende do envolvimento individual e
sua utilização como área comercial ou de moradia. de grupos organizados em um esforço de diminuir a
quantidade de lixo produzido. Conheça algumas dicas
Os municípios mineiros com população urbana
gerais que contribuem para a redução do lixo:
superior a 50 mil habitantes estão obrigados a construir
aterros sanitários de acordo com Deliberação Normativa • evite o consumo de recipientes descartáveis, substi-
do COPAM (Conselho Estadual de Política Ambiental tuindo-os por materiais laváveis;
de Minas Gerais). Outra exigência prevista é a trans-
• opte por produtos a granel e alimentos frescos, evi-
formação de todos os lixões do Estado em aterros con-
tando embalagens desnecessárias;
trolados – locais onde o lixo é compactado e enterrado,
mas sem o controle e tratamento dos líquidos e gases • substitua os guardanapos e toalhas descartáveis por
produzidos durante o processo de acomodação dos similares de pano;
resíduos. O aterro controlado não é a solução definitiva • ao escolher um produto, considere o custo ambien-
para o destino final do lixo, mas torna-se necessário tal de sua embalagem, preferindo as que possuem
até que seja implantado o aterro sanitário ou unidade embalagem retornáveis, recicláveis ou reutilizáveis;
de compostagem, que são sistemas realmente eficazes
no controle da degradação. • prefira lâmpadas de baixo consumo (fluorescentes),
A ‘incineração’, ou queima, é uma técnica permitida muito mais duráveis do que as incandescentes;
em alguns locais para dar destino ao lixo hospitalar. Os • evite desperdícios planejando bem suas compras e o
incineradores devem ter filtros, para evitar o lançamento preparo das refeições.
de poluentes no ar. A queima doméstica de lixo é ilegal
e, por emitir gases tóxicos, representa poluição grave e A escola, apesar de compartilhar com os setores
risco para as pessoas e para outros seres vivos. ambientalistas o discurso da necessidade de busca de
Para o lixo orgânico, isto é, o que tem origem em soluções para os problemas causados pelo lixo, algu-
seres vivos, existem duas soluções técnicas, desde que mas vezes dá maus exemplos, especialmente no que se
haja separação da porção não-orgânica: a ‘compostagem’ refere ao uso do papel. São muito comuns o desperdício
e a ‘biodigestão’. Em ambas ocorre a decomposição do e o mau uso de papel: folhas avulsas são coladas nas
lixo por microrganismos, sendo que na compostagem folhas de caderno; exercícios em folhas avulsas muitas
ocorre ação de microrganismos aeróbios (que neces- vezes ocupam apenas parte da página ou somente uma
sitam de oxigênio para sobreviver) e na biodigestão página, sem o aproveitamento posterior do espaço em
ocorre a ação de microrganismos anaeróbios (que branco; o rascunho em folhas que já tiveram uma página
vivem na ausência de oxigênio). Os produtos também utilizada não é estimulado pelos professores; o papel
são diferentes: na compostagem forma-se um adubo destinado ao lixo não é separado dos outros tipos de
e na biodigestão, produz-se o biogás. O adubo pode papel, impedindo sua reutilização ou reciclagem.
ser utilizado em cultivos que não se destinam à ali- Para os passos seguintes dos 3R, é necessária a coleta
mentação humana (por exemplo, em jardinagem e no seletiva, isto é, a separação do lixo em recipientes dife-
reflorestamento) e o biogás pode ser utilizado como rentes de acordo com sua composição. O CONAMA
gás combustível. (Conselho Nacional de Meio Ambiente) estabeleceu
5 Texto complementar 63

um padrão de cores para os recipientes que recebem fôrmas e travessas de vidro temperado, ampolas de
os diferentes tipos de lixo: remédio, celofane, espuma, embalagens à vácuo, filtros
de ar para veículos, latas enferrujadas, clips, grampos,
Azul → papel e papelão lã ou esponja de aço, canos de metal, pilhas, papel
Vermelho → plástico higiênico, papel laminado, papéis plastificados, papel
carbono, fita crepe, etiquetas adesivas, fotografias, guar-
Verde → vidro
danapos de papel usados, copos siliconizados, filtros
Amarelo → metal de cigarro, cabos de panela.
Preto → madeira
Tipo de material Exemplo
Marrom → lixo orgânico
garrafas; frascos de molhos e condimen-
Cinza → material não reciclável, misturado
tos; potes de produtos alimentícios; fras-
ou contaminado.
vidro cos de remédios, perfumes e produtos de
limpeza; lâmpadas fluorescentes; cacos de
A coleta seletiva pode ser feita de várias maneiras: de qualquer uma dessas embalagens
porta-a-porta, em que os resíduos são separados onde
são produzidos e recolhidos pela Prefeitura; em postos
potes de todos os tipos; embalagens de
de entrega voluntária, em que lixeiras diferenciadas rece- plástico materiais de higiene e limpeza; tampas,
bem os resíduos, levados voluntariamente; em usinas embalagens PET, canos e tubos de PVC
de triagem, isto é, locais em que o lixo não separado
de acordo com sua composição é separado depois de latas de aço e de alumínio (de refrige-
coletado; por catadores, que separam os diferentes tipos rantes, creme de leite, atomatados, con-
de resíduos nos locais onde são gerados ou nos lixões metal servas), tampas (de refrigerante, cerveja,
conservas), arames, fios, pregos, marmitex,
e aterros, submetendo-se aos riscos associados a esse
tubos de pasta dental, alumínio, cobre
atividade (sanitários e outros).
Com a coleta seletiva, é possível a reutilização de revistas, jornais, papéis, caixas de papelão,
papel
materiais que, inicialmente considerados lixo, podem embalagens longa-vida

servir para outro uso. Embalagens plásticas de produtos


alimentícios podem ser usados como recipientes para Quando a reciclagem é feita, diminui-se o volume de
outros alimentos; latas, embalagens longa-vida e plásti- lixo que precisa ser depositado ou aterrado. Além disso,
cas podem ser usadas como vasos para plantas; materiais diminui o consumo de energia (a fabricação de papel
diversos (com exceção de embalagens de agroquímicos, e de latas de alumínio, por exemplo, gasta muito mais
medicamentos e materiais de limpeza, que nunca devem energia elétrica do que a produção por meio da recicla-
ser reutilizadas no âmbito doméstico por oferecerem gem), de água (também o consumo de água é inferior
riscos à saúde) podem ser usados na fabricação artesanal na reciclagem em relação ao ciclo inicial de produção)
de brinquedos e objetos decorativos etc. e o dano ambiental associado ao desmatamento.
O lixo orgânico pode ser destinado à ‘compostagem’
ou à ‘biodigestão’.
A coleta seletiva permite, também, a reciclagem, isto é,
a utilização do material de um produto na fabricação de
novos produtos. Conheça no quadro exemplos de mate-
riais que podem ser reciclados, desde que sejam limpos.
Outros materiais não podem ser reciclados: espelhos,
vidros de janela e box de banheiro, vidros de automó-
veis, tubos de imagem de TV, cristais, lâmpadas comuns,
Esta obra foi composta por Adæquatio Estúdio
de Criação nas familias de fontes tipográficas
Stone Sans e Stone Serif e impressa pela Gráfica
e Editora Rona em sistema offset, papel Reciclato
90g (miolo) e Cartão Supremo 250g (capa), em
março de 2007.

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