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Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Disciplina: História do Pensamento Econômico


Professor: Pedro Moraes
Discente: Marcos Carvalho

Utilitarismo puro x Utilitarismo Eclético: Os escritos de Bastiat e Mill


Contexto Histórico
“A propriedade é um roubo”. A frase é atribuída a Pierre Joseph Proudhon, socialista
francês que teve muito sucesso em seus escritos por criticar de forma contundente as
desigualdades sociais e o conjunto de privilègios de uma classe social (que possuia a
propriedade) em detrimento de outra que era explorada por apenas possuir sua força de
trabalho. As ideias de Proudhon é fruto de um movimento que começa a se fortalecer no final
do sec. XVIII e início do XIX e que vai influenciar o trabalho de muitos economistas, tanto na
França quanto na Inglaterra, o Socialismo.
Na França, o movimento é encabeçado por intelectuais como Gracchus Babeuf (1760-
1797), Henri de Saint Simon (1760-1825) e sobretudo por radicais como Charles Fourrier
(1772-1837) que desenvolveu as cooperativas sociais chamadas de ‘falanges’. Na Inglaterra
tem destaque para os trabalhos dos economistas William Thompson, (1824-1907) Thomas
Hodgskin (1787-1869), e Robert Owem (1771-1799) que ficou conhecido por proporcionar em
sua fábrica, condições decentes de trabalho, salários razoáveis e instrução para os filhos dos
operários. Nesse sentido, a teoria da utilidade começa também a se modificar, se antes o valor-
utilidade era visto numa perspectiva de harmonia social, cuja finalidade era defender o status-
quo agora a perspectiva de classe, de desigualdade, vai começar questionar esses dogmas do
liberalismo clássico.
O utilitarismo de Batiat
Frédéric Bastiat (1801-1850), na contramão das ideias socialistas de conflito de classes,
defendeu uma teoria utilitarista de harmonia, em seu livro Economic Armonies (1850) já deixa
claro seu posicionamento em defesa da propriedade privada, do capital e do lucro. Segundo
este escritor, sua teoria estava baseada nos principios da ciência, ou seja da observação
empírica dos fatos, enquanto os socialistas imaginavam um mundo utópico que não
correspondia a realidade. “Os economistas observam o homem, as leis de sua natureza e as
relações sociais que se originam dessas leis. Os socialistas pensam numa sociedade usando a
imaginação e, depois, concebem um coração humano que se enquadre nessa sociedade” Bastiat
não só defendia a superioridade científica de sua teoria como também recorrreu a autoridade
religiosa, as leis econômicas estavam sujeitas a vontade de Deus e portanto deveriam ser aceitas
e praticadas conforme a sua vontade.
No que diz respeito a utiliadade, Bastiat na mesma linha de Bentthan, afirmou que
nossas ações são orientadas para o maximo de prazer e o minimo de esforço, o prazer, no caso
é a satisfação das nossas necessidades. Sendo assim o autor pontua que há dois tipos de
utilidade, a primeira é-nos oferecida gratuitamente pela natureza, como por exemplo, a água, a
segunda era do tipo onerosa, ou seja a maioria dos objetos precisam ser fabricados pela ação
humana, o que Bastiat chama de serviço. Desse modo todo trabalho humano era visto por
Bastiat como serviço, ou dor humana para produzir algo. A divisão do trabalho e a troca dos
produtos nas sociedades modernas eram fundamentais na medida em que possibilitariam ao ser
humano a satisfação de todas as suas necessidades, o que não seria possivel na produção
individual. Todavia, o trabalho oneroso, aqui entendido como serviço por Bastiat, era
compartilhado tanto telos trabalhadores braçais, quanto pelos capitalistas e proprietários de
terra. As dores sofridas pelos capitalistas são assim justificadas:

O capital tem suas raízes em três atributos do homem: capacidade de previsão,


inteligência e parcimônia. Para que resolva deixar de usar o capital em outra coisa… o
capitalista tem de sacrificar o presente para ter o capital e exercer controle sobre si
mesmo e sobre seus apetites. Acumular capital é fazer uma provisão para a subsistência,
a proteção, o abrigo, o lazer, a educação, a independência e a dignidade das gerações
seguintes. Nada disso pode ser feito sem se colocar em prática todas as nossas virtudes
mais sociais e – o que é mais difícil ainda – sem fazer delas nosso hábito diário.
(BASTIAT, p. 196)

Bastiat,também defendia o direito sagrado e inviolável da proriedade privada e da


herança. Para este economista, estes direitos eram outorgados pela vontade divina, portanto era
dever dos humanos reconhecê-las e não violá-las. Bastiat entendia que a propriedade estava
ligada ao homem numa relação intrinsecamente necessária. O homem nasce com algumas
necessidades vitais, para supri-las utiliza de faculdades já pré-dispostas em sua natureza. Sendo
assim, a propriedade, de acordo com o economista nada mais era do que uma extenção dessas
faculdades. A despeito do direito a herança o autor também era enfático, o esforço de manter
uma propriedade seria muito menor se não tivesse um herdeiro a quem deixar, e assim
paralisaria a metade dos esforços humanos.
O utilitarismo sustentado por Bastiat, vai servir como base para os economistas das
escola Austríaca (Mises) e de Chicago ( Miltom friedmam). Outra corrente de utilitarismo
também foi desenvolvida na mesma época de Bastiat, essa por sua vez era mais moderada, e
teve como seu principal expoente o inglês John Estuart Mill (1806-1873).

O Utilitarismo de John Stuart Mill.


John Stuart Mill (1806-1873), fora educado desde cedo numa rígida disciplina de
estudos pelo seu pai James Mill, de modo que aos treze anos já possuia um vasto conhecimento
encicopledico memso sem nunca ter pisado numa universidade. As principais influencias que
Mill teve em seus estudos foram de David Ricardo e sua teoria do valor-trabalho e Bentham
(utilitarismo). O utilitarsimo defendido por Mill, estava baseado na seguinte premissa: “As
ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade, erradas na medida em
que tendem a promover o reverso da felicidade”. E o que seria felicidade? “Felicidade”, para
Mill, é prazer e ausência de dor.” Essa definição parece coincidir om os princípios de Bentham,
todavia há diferença. Mill, ao contrário de Bentham não acreditava que todos os atos humanos
fossem motivados pelo interesse próprio. Nesse sentido, a maioria das pessoas agem assim por
que estão moldadas pela influência do sistema capitalista, de modo que num futuro possível,
em que o socialismo fosse predominante os interesses humanos estariam voltados para o bem
comum.
Mill ainda vai descordar de Bentham em relação aos prazeres. Para Bentham, não se
deveria fazer uma distinção entre prazeres qualitativamente diferentes. Pois entendia que cada
pessoa é o único juiz de seus próprios prazeres. Para Mill, essa distinção deveria ser feita na
medida em que “alguns tipos de prazer são mais desejáveis e mais valiosos do que outros”.
Assim, pintar um quadro era muito mais desejável do que apertar um parafuso. Humt,
historiador da economia afirma que esse posicionamento de Mill, o distancia do utilitarismo:
O prazer, segundo esse enfoque, não é o critério normativo final. Mill não tinha dúvida
alguma de que “era melhor ser um Sócrates insatisfeito do que um tolo satisfeito”.41
Isso destrói por completo a base sobre a qual os economistas utilitaristas, a partir de
Bastiat, construíram teorias econômicas normativas e procuraram mostrar a vantagem
universal da troca. Temos, assim, de concluir que, apesar do fato de Mill afirmar
esposar um ponto de vista utilitarista e apesar de o utilitarismo ter influenciado
significativamente suas ideias, ele não era, com toda certeza, um utilitarista convicto.
(HUNT, 2013).

Outro ponto interessante da obra de Mill é sua teoria do valor, que vai destoar da teoria
Ricardiana do valor-trabalho. Ora, para Ricardo o valor de um determinado bem estaria
baseado em duas condições: A sua escassez, e a quantidade de trabalho empregado em sua
produção. Ricardo ainda levava em consideração o trabalho envolvido na produção das
máquinas e equipamentos. Para Mill, o trabalho apesar de ser o principal determinante do valor,
não era o único. De modo que a relação de valor trabalho só era válida quando as razões
capital/trabalho fossem as mesmas, em todas as industriais, nesse caso, “os custos de produção
seriam proporcionais ao trabalho incorporado às várias mercadorias” (Hunt, 2013).

Referência: Hunt, E. K. História do pensamento econômico / E. K. Hunt, Mark


Lautzenheiser ; [tradução de André Arruda Villela]. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. 504p

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