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Chão de Giz – Zé Ramalho

Eu desço dessa solidão


Espalho coisas sobre um chão de giz
Há meros devaneios tolos a me torturar
Fotografias recortadas em jornais de folhas amiúde

Eu vou te jogar num pano de guardar confetes


Eu vou te jogar num pano de guardar confetes

Disparo balas de canhão


É inútil, pois existe um grão-vizir
Há tantas violetas velhas sem um colibri
Queria usar, quem sabe, uma camisa de força ou de Vênus

Mas não vou gozar de nós apenas um cigarro


Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom

Agora pego um caminhão


Na lona vou a nocaute outra vez
Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar
Meus vinte anos de boy, that's over, baby
Freud explica

Não vou me sujar fumando apenas um cigarro


Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom
Quanto ao pano dos confetes, já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo é assunto popular

No mais, estou indo embora


No mais, estou indo embora
No mais, estou indo embora
No mais
Análise da Música :
Eu desço dessa solidão, espalho coisas sobre um chão
de giz
Há meros devaneios tolos a me torturar

Nesse primeiro verso fica evidente que o jovem sofre com as lembranças
de seu envolvimento com a mulher pela qual ele está apaixonado. Ele se
sente angustiado por não conseguir parar de pensar nela.
Na primeira frase está escrito “chão de giz”, que é o título da música, e há
duas possíveis interpretações. A primeira, que se refere a um chão
instável, frágil. A segunda, que “giz” se refere a cocaína.

Fotografias recortadas em jornais de folhas amiúde

Já que a mulher amada era casada com um homem da alta sociedade,


saíam várias fotos dela nos jornais. E, como se já não bastasse ficar
lembrando dela, ele se torturava ao ficar olhando as fotografias inúmeras
vezes (é isso que quer dizer amiúde: repetidas vezes). É bem provável que
ele sofresse dobrado, pois ela deveria estar acompanhada do marido nas
fotos, né?

Eu vou te jogar num pano de guardar confetes


Eu vou te jogar num pano de guardar confetes

Pano de guardar confetes são balaios ou sacos típicos das costureiras do


Nordeste, nos quais elas guardam os retalhos e restos de panos. Aqui, o
jovem apaixonado, diante a tanta sofrência, decide jogar as fotos, as
lembranças e o sentimento dele no saco para, assim, esquecê-la de vez.
Há a repetição da frase para enfatizar a decisão de esquecer.
Disparo balas de canhão
É inútil, pois existe um grão-vizir

O garoto tenta convencer a amada a ficar com ele e se dispõe a tentar de


tudo para estarem juntos, mas percebe o quão inútil é, pois está
disputando o coração dela com um “grão-vizir”.
A palavra “grão-vizir” faz referência a uma figura da cultura persa que
representa algo imponente, da mais alta autoridade e sociedade. O poeta
se vê em uma batalha em que tem que disputar o amor da amada, mas
sabe que será difícil competir com um esposo influente, poderoso e da
alta classe social.

Há tantas violetas velhas sem um colibri

Essa metáfora faz referência aos dois: a mulher amada é a


“violeta velha”, enquanto o cantor é o “colibri”, que é um gênero
de beija-flor, alguém mais jovem e delicado.
Ele revela que há muitas mulheres mais velhas que desejam ter
alguém mais novo do que elas, que as desejem e as amem.
Entretanto, ela não dá valor para o sentimento e para o desejo
do jovem, que quer ficar com ela para viverem um “felizes para
sempre”.

Queria usar, quem sabe, uma camisa de força ou de


vênus
Essa frase indica o conflito de sentimentos entre a razão e a emoção. Ele
deseja usar uma “camisa de forças” para se afastar dela, para impedi-lo de
se entregar a essa paixão enlouquecedora, mas, ao mesmo tempo, deseja
usar uma “camisa de vênus”, que se refere ao preservativo, ao ato sexual.
Mas não vou gozar de nós apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom

A palavra “gozar” nesse contexto significa que o jovem decide não se


envolver mais com a mulher, nem emocional e nem, principalmente,
fisicamente. Ele percebe que ela não está envolvida tanto quanto ele,
porque ela se interessa apenas pelo carnal.
A metáfora do tempo de um cigarro significa que ele não quer ficar com a
mulher apenas pelo curto espaço de tempo de um gozo, ou seja, pelo
tempo de uma tragada.

Agora pego um caminhão


Na lona vou a nocaute outra vez
Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar

A partir desse verso, o poeta afirma que irá se afastar, seguir outro
caminho. Enfim ele percebeu que estava muito dependente e preso ao
que sentia pela amada, enquanto ela não sentia o mesmo. De tanto
tentar, em vão, ficar ao lado dela, se vê vencido, sem esperanças e sem
forças para lutar pelo amor não correspondido.

Meus vinte anos de boy, that’s over, baby!


Freud explica
Aqui há uma referência ao pai da psicanálise, Freud, médico que se
dedicou a estudar a fundo a Teoria da Sexualidade e os instintos sexuais,
além de vários outros assuntos relacionados a essa temática.
A escolha da palavra “boy” remete à puberdade do “colibri”, ou seja, dele
próprio. A juventude, a descoberta e as irresponsabilidade acabaram e
agora ele está mais maduro e consciente de suas escolhas.

Não vou me sujar fumando apenas um cigarro


Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom

A referência ao cigarro mais uma vez retoma a ideia de que ele não irá se
envolver mais com a mulher, pois não vale a pena para ele, uma vez que
ela quer apenas o carnal, enquanto o jovem deseja mais do que apenas
sexo, e não somente uma vez, mas várias, para sempre.

Quanto ao pano dos confetes, já passou meu carnaval


E isso explica porque o sexo é assunto popular

Essa frase indica que ele já passou pela fase “profana”, que visa apenas o
carnal e o prazer, guardando esse sentimento também no saco, no
passado.

No mais, estou indo embora!


No mais, estou indo embora!
No mais, estou indo embora!
No mais!

No último verso, o jovem se despede desse amor, que lhe causou tanta
dor, a fim de se preservar e de esquecê-la de uma vez por todas.

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