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Em seu famoso ensaio, “Considerações sobre o marxismo ocidental”, Perry

Anderson faz uma análise sobre uma das mais intrigantes vertentes do
marxismo do século XX, o marxismo ocidental. O termo “ocidental” é utilizado
pela primeira vez no livro de Maurice Merleau-Ponty, “As Aventuras da
Dialética”, e de acordo com ele, essa variante do marxismo tem início com a
publicação do livro “História e Consciência de Classe”, de Georg Lukács, e
“Marxismo e Filosofia”, de Karl Korsch. A obra aborda as várias tendências
interligadas ao termo, e pormenoriza a vida e as construções teóricas dos
pensadores deste legado.
Em seu livro, Anderson elabora uma pequena trajetória do marxismo, com foco
na Europa. Inicia seu curso com os dois fundadores do materialismo histórico,
Marx e Engels, que impactados pelos acontecimentos de sua época, juntaram-
se em uma parceria intelectual que resultou na corrente marxista. “É bem
conhecido como, sentindo-se atraído pelas primeiras sublevações proletárias
após a revolução industrial, Marx, entre os vinte e os trinta anos, ajustou contas
com o legado filosófico de Hegel e de Feuerbach e com a teoria política de
Proudhon, ao mesmo tempo que Engels descobria a realidade da condição da
classe operária em Inglaterra e denunciava as doutrinas económicas que a
legitimavam [...]” (Anderson. Pág. 9).
Os percursores do marxismo lançaram as obras fundamentais dessa corrente.
Marx traçou um quadro global do modo de produção capitalista no primeiro
volume de “O Capital”, e um logo depois participou da fundação da I
Internacional, consagrando-se no movimento socialista organizado. Já Engels,
além de auxiliar Marx na construção de sua obra, elaborou as primeiras
exposições sistemáticas do materialismo histórico, legitimando sua força
política na Europa, além de ser peça fundamental para a II Internacional “com a
qual o materialismo histórico se tornou a doutrina oficial da maior parte dos
partidos operários do Continente. ” (Anderson. Pág. 9-10).
O autor deixa claro que, apesar das brilhantes contribuições de Marx à
sociedade intelectual, sua influência teórica foi relativamente restrita durante
sua vida. Grande parte de seus escritos só foram publicados em data próxima
a sua morte, e o que já tinham sido publicados estavam espalhados por vários
países, em diversas línguas, dificultando o acesso, principalmente à classe a
que se destinava, o proletariado.
A geração posterior a Marx e Engels ainda era muito restrita, eram homens que
só tiveram real contato com o materialismo histórico numa altura tardia da vida,
porém estavam inseridos na vida política e ideológica dos seus partidos,
mesmo que não tendo um papel central. Fazem parte desse grupo: Labriola,
Plekanov, Mehring e Kautsky. Todos eles tiveram contato com Engels, através
de correspondências, fato que causou uma grande influência, a ponto de seus
trabalhos serem visto como um segmento da fase final de Engels. Porém,
apesar de suas colaborações, os trabalhos dessa geração tiveram um intuito
maior de complementação dos estudos de Marx, do que de desenvolvimento.
Após uma modificação na dinâmica internacional do mundo capitalista, com um
arrebatador crescimento econômico nos países mais industrializados [...] “os
monopólios fixaram-se nas metrópoles e a expansão imperialista acelerou-se
no estrangeiro, abrindo uma era plena de tensões e de impetuosas inovações
tecnológicas, elevando as taxas de lucro, aumentando a acumulação do capital
e fazendo crescer a rivalidade entre as grandes potências.” (Anderson; Pág.
15.). Esse cenário era extremamente diferente da fase, relativamente tranquila,
que os herdeiros de Marx e de Engels tinham sido formados, a próxima
geração, muito mais numerosa do que os seus predecessores, irromperia num
ambiente muito mais caótico, justamente quando o capitalismo europeu
começava a se encaminhar para a desordem da I Guerra Mundial.

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