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Por conta da necessidade de expor diversos assuntos e temáticas em um curto espaço de

tempo nas aulas, o Livro Didático é considerado, nos dias de hoje, um importante
instrumento pedagógico para a assimilação dos conteúdos previstos para o Ensino
Fundamental e Médio. Desse modo, segundo Selva Guimarães Fonseca (2003), “O livro
didático é, de fato, o principal veiculador de conhecimentos sistematizados, o produto
cultural de maior divulgação entre os brasileiros que têm acesso à educação escolar” (p.
49).
Ao decorrer dos anos, este material modificou- se substancialmente, seja pela forma de
expor os conteúdos, seja por conta das editoras ou das perspectivas históricas dos
autores, visando, dessa forma, atender a um público determinado pela demanda social e
pela carga teórica que cada livro deve possuir.
Visto isso, esse trabalho objetiva fazer uma análise do Livro Didático, abordando a
temática da Revolução Industrial no LD, tendo como embasamento teórico os textos:
“História do Pensamento Econômico”, A Situação da Classe Trabalhadora”, “A
Formação da Classe Operária Inglesa” e “A Era das Revoluções”.
Assim sendo, levando em consideração algumas questões, pretende-se fazer contraponto
entre os textos supracitados e o referencial teórico oferecido pela disciplina e o que é
transmitidos aos alunos do ensino fundamental II através dos conteúdos do livro
didático.
O livro didático escolhido para a construção do trabalho foi “História Sociedade e
Cidadania”, de Alfredo Boulos Júnior*, recomendado para alunos do 8° ano do ensino
fundamental. Este livro se enquadra na concepção historiográfica da Nova História, ou
seja, parte de uma concepção menos tradicionalista e eurocêntrica.
A temática no livro está disposta em um capitulo exclusivo, que tem como título
“Revolução Industrial”, e está divido em vários segmentos. O autor inicia o capitulo
com uma sugestão de um filme sobre a temática, (Oliver Twist, de Roman Polanski),
para assim introduzir o assunto. Em seguida, para suscitar um debate, uma seção
nomeada “Para Refletir” com textos introdutórios e curiosidades, acompanhado de uma
box de questionamentos, “Dialogando”, para propor aos alunos uma discussão sobre as
imagens ou textos. “Para Saber Mais”, mais uma série de informações adicionais. Para
encerrar o capítulo estão as atividades: “Atividades”, “O Texto como Fonte” e “A
Imagem Como Fonte”. Para estimular uma pesquisa mais aprofundada, o autor
disponibiliza tanto para alunos quanto para os professores uma lista com livros, filmes e
sites a respeito do tema.

* Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Doutorando em Educação
pela PUC-SP.

O capítulo permite identificar os sujeitos da história enquanto agente da ação social.

No que diz respeito aos sujeitos históricos, a abordagem do autor é muito superficial, o
que acaba por tornar a discussão limitada. Muito do que ele trata no livro fica a cargo
apenas de menções e explicações passageiras. Por exemplo, apesar de mencionar o
trabalho das mulheres e crianças nas fabricas, o que é um avanço comparado a
historiografia tradicional, que tende a marginalizar esses agentes e apaga-los da história,
Boulos Júnior não se aprofunda no assunto, algo que é considerado, por muitos autores
estudiosos do assunto, essencial para o desenvolver da revolução. Como Hobsbawm
salienta muito bem nesse trecho de “A Era das Revoluções”, “Nas fábricas onde a
disciplina do operariado era mais urgente, descobriu-se que era mais conveniente
empregar as dóceis (e mais baratas) mulheres e crianças: de todos os trabalhadores nos
engenhos de algodão ingleses em 1834-47, cerca de um-quarto eram homens adultos,
mais da metade era de mulheres e meninas, e o restante de rapazes abaixo dos 18 anos. ”
(Pág. 67). TEM COISA PARA ACRESCENTAR AQUI DAS MULHERES E
CRIANÇAS
Outro ponto pouco aprofundado no livro é a questão do artesão, o autor quase não trata
do modo de produção artesanal, de como era o processo antes da revolução, e como o
processo de transição não foi automático, mas sim gradual. Engels, em seu livro “a
Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra”, antes de falar sobre o proletariado,
discorre sobre como era a vida dos trabalhadores tecelões antes das maquinas, “Antes da
introdução das máquinas, a fiação e a tecelagem das matérias primas tinham lugar na
casa do trabalhador. A mulher e os filhos fiavam e, com o fio, o homem tecia - quando o
chefe da família não o fazia, o fio era vendido. Essas famílias tecelãs viviam em geral
nos campos vizinhos às cidades e o que ganhavam assegurava sua existência (quase não
havia mercado externo, e a concorrência se apresenta com a chegada do mercado
externo. A isso se somava um constante crescimento da demanda do mercado interno,
ao lado de um diminuto aumento populacional, o que permitia ocupar todos os
trabalhadores. ” (Pág. 45).

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