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Resumo

Esse documento tem como objetivo analisar parcialmente dois capítulos do livro de
História do oitavo ano da Editora Sucesso. Pretende-se examinar a historiografia
presente nos textos do livro, bem como as atividades e a utilização de imagens com
o objetivo de sugerir possíveis melhorias para aperfeiçoar, cada vez mais, o excelente
material distribuído pela editora sucesso.

Introdução

Baseado na experiência em sala de aula, pensamos em algumas sugestões que


podem melhorar o material de História da editora sucesso e render aulas ainda mais
produtivas.

Os capítulos escolhidos para a análise foram o capítulo 5: Da Revolução Francesa ao


Período Napoleônico e o capítulo 6: Dos movimentos emancipacionistas ao governo
de D. Pedro I.

As sugestões giram em torno das atividades, imagens e revisão de alguns textos


visando o melhor aproveitamento para alunos e professores em sala de aula. Mesmo
que os professores tenham liberdade sobre como usar os materiais didáticos,
acreditamos que é válido qualquer tentativa de desenvolver um material cada vez
melhor. Sendo assim, esse documento tem o objetivo de apontar algumas sugestões
pontuais. Se for relevante para a editora Sucesso, podemos pensar uma revisão
maior e mais detalhada sobre o livro do oitavo ano e das demais séries.

Sobre o capítulo 5

As considerações sobre esse capítulo são breves e focam no assunto da Revolução


Francesa. O texto disponível para alunos e professores deixam bem claro as
contradições da sociedade francesa e da declaração dos direitos humanos naquele
contexto apontando, por exemplo, na forma como a mulher não é incluída em grande
parte dos direitos.

O livro aborda bem os aspectos econômicos que levaram a revolução como o déficit
público, os gastos com os privilégios do primeiro e segundo estado e os gastos com
a guerra da independência dos Estados Unidos. Seria interessante acrescentar uma
sessão sobre aspectos sociais que fizeram parte da revolução. Durante muito tempo
se discutiu o “direito divino dos reis” na sociedade do antigo regime e muitas pessoas
acreditavam, de fato, que os reis eram escolhidos por Deus.

Principalmente na Inglaterra e na França que tinham uma enorme tradição dos reis
chamados Taumaturgos que podemos observar no estudo de Marc Bloch sobre o
passado Francês. Dessa forma, desenvolver um texto abordando como a monarquia
perdeu o seu prestígio diante da sociedade pode ser interessante para a construção
do conhecimento. Alguns autores são bem relevantes ao tratar do tema como por
exemplo Roger Chartier e Robert Darnton. Eles trazem algumas fontes interessantes
sobre como a população brincava com a imagem dos monarcas e da nobreza, além
de refletir sobre o fim do prestígio divino dessas classes sociais.

Além disso, o capítulo possui algumas imagens com caráter altamente ilustrativo, pois
poucas sequer possuem nome do autor e ano de produção. Tudo isso é importante
para se analisar imagens, pois elas também se tratam de textos e carregam consigo
uma mensagem. Nesse sentido, seria interessante colocar sessões com imagens
como se fossem um texto, com legendas identificando, pelo menos, a iconografia das
imagens como no exemplo abaixo disponível na coleção Telaris da editora Ática
Didáticos:
É uma simples alteração, mas é algo que pode ser bem relevante para os alunos que,
na grande maioria das vezes, só tem o livro didático como fonte de estudos. O livro
didático da Sucesso é constituído de conteúdo e atividades, sempre seguindo a
mesma lógica. Talvez algumas atividades poderiam ser substituídas por atividades
baseadas em análise de imagens ou alguma outra forte recorrente do contexto
estudado.

Em outras palavras, uma diversificação das atividades pode ser um caminho


interessante a se seguir. Mesmo que o professor tenha autonomia em sala de aula
para criar suas próprias atividades é importante lembrar que o livro disponibilizado
pela sucesso já apresenta um grande número de tarefas, o que faz com que muito
tempo tenha que ser dedicado para a resolução e correção das mesmas. Dessa
forma, uma diversificação dentro do próprio livro seja de grande ajuda em sala de aula
para o planejamento dos professores.

Sobre o capítulo 6
O primeiro ponto a se destacar sobre o capítulo é a organização de vários eventos
em um só, o que pode ser um pouco problemático. A inconfidência mineira durante
muitos anos foi apropriada e rememorada como um movimento precursor da
independência do Brasil. Contudo, essa ideia de movimento inicial da independência
só passou a ser formulada após os eventos da independência. Em outras palavras,
são os contemporâneos da emancipação do Brasil que traçam uma linha entre o
movimento mineiro e a independência do Brasil.

Colocar a inconfidência mineira no mesmo capítulo que a independência do Brasil


pode acabar reforçando a ideia superada de que o movimento lançou as bases que
se materializariam alguns anos depois.

O próprio livro traz uma contradição em seus textos. Na página 118, logo no início, no
trecho de Boris Fausto, o autor aponta que inconfidência mineira e conjuração baiana
se tratam de movimentos regionais e levante um debate super relevante sobre
quando teria surgido a consciência de ser brasileiro.

Vale lembra que os contatos das capitânias com a metrópole em Portugal eram mais
fáceis de se estabelecer do que os contatos entre as capitanias da américa
portuguesa. O que reforça a pergunta, será que havia a consciência de ser brasileiro?

Logo em seguida o livro traz o seguinte texto:

“Os principais objetivos dos inconfidentes foram:


independência do Brasil e instauração de um regime
republicano; valorização da oitava do ouro;[...]”.

Mesmo com a reflexão sobre o caráter regional de Boris Fausto, o livro afirma que o
objetivo dos inconfidentes era a independência do Brasil. Segundo o autor João
Furtado, doutor em história pela UFMG, em seu livro “Manto de Penélope”, o
movimento, como tantos outros, tinha características regionais e estava diretamente
ligada ao interesse dos homens daquele tempo. Seu estudo se baseada nos autos da
devassa e não é possível encontrar, em nenhum momento, declarações nacionalistas
dos inconfidentes.

Além disso, que tipo de república os inconfidentes planejavam instaurar? Seria a


república moderna como conhecemos hoje? É importante explorar o que os homens
daquele tempo pensavam ser uma república, pois não se trata do que imaginamos
nos dias atuais.

Além disso, o livro diz que Tiradentes participou do movimento devido seus ideais de
liberdade e igualdade entre todos e a busca por riquezas e que teria morrido por não
pertencer a elite. João Furtado destaca em seu trabalho algumas falas de Tiradentes
sugerindo que o movimento deveria “restaurar” a terra. Restaurar pode ser entendido
como recuperar algo. Se o movimento visava liberdade e igualdade para todos, por
que Tiradentes estava olhando “para trás”?

Outro ponto importante é que os Autos da Devassa também apontam que Tiradentes
não era pobre como muito já foi dito na história. Muitos historiadores colocam em
dúvida que Tiradentes pertencesse ao setor popular, pois estudos recentes
demonstraram que ele possuía jazidas para mineração de ouro, moinhos e
escravizados. João Furtado sugere que ele foi o único a ser abatido, pois devido sua
profissão de tropeiro, teria sido o maior propagandista do levante.

Se desejavam romper com o sistema colonial português, era muito mais para resgatar
a prosperidade e autonomia da capitania do que para realizar transformações mais
profundas na ordem social.

A representação heroica dos inconfidentes só surge no final do século XIX, com a


proclamação da República. Foi nessa época que Tiradentes tornou-se um símbolo
republicano, se tornando um herói e um líder de origem humilde.

Considerações Finais

As considerações feitas ao longo do texto tiveram o objetivo de sugerir melhoras nos


livros didáticos das editora Sucesso, que já possui um material de excelente
qualidade.

Mesmo que os professores tenham autonomia em sala de aula, o aluno, em muitos


casos, só possui o livro didático como referência de Estudo. Mesmo que o estudante
tenha acesso a internet, o livro didático segue sendo uma referência confiável e
editada por profissionais especialistas em educação.

Dessa forma, achamos relevante a tentativa de sugerir novas perspectivas que


possam auxiliar na melhora da construção dos livros didáticos de história dando
ênfase na diversificação de atividades, sessões focadas em leitura de imagens e
revisão de alguns textos baseado na historiografia.

Referências.

ANASTASIA, Carla Maria Junho. Vassalos Rebeldes: Violência coletiva nas Minas na
primeira metade do século XVIII. 2. ed. Belo Horizonte: C/Arte, 2012.

BLOCH, Marc. Os Reis Taumaturgos. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: O imaginário da República no


Brasil. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Schwarcz, 1990.

CHARTIER, Roger. Origens culturais da Revolução Francesa. São Paulo: Editora da


Unesp, 2009.

DARNTON, Robert. Boêmia literária e revolução: o submundo das letras no Antigo


Regime. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

FURTADO, João Pinto. O Manto de Penélope: História, mito e memória da


Inconfidência Mineira de 1788-9. 1ª. ed. São Paulo: Editora Schwarcz, 2002.

MAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa: Inconfidência Mineira: Brasil e Portugal


1750-1808. 5ª. ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2001.

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