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Esse documento tem como objetivo analisar parcialmente dois capítulos do livro de
História do oitavo ano da Editora Sucesso. Pretende-se examinar a historiografia
presente nos textos do livro, bem como as atividades e a utilização de imagens com
o objetivo de sugerir possíveis melhorias para aperfeiçoar, cada vez mais, o excelente
material distribuído pela editora sucesso.
Introdução
Sobre o capítulo 5
O livro aborda bem os aspectos econômicos que levaram a revolução como o déficit
público, os gastos com os privilégios do primeiro e segundo estado e os gastos com
a guerra da independência dos Estados Unidos. Seria interessante acrescentar uma
sessão sobre aspectos sociais que fizeram parte da revolução. Durante muito tempo
se discutiu o “direito divino dos reis” na sociedade do antigo regime e muitas pessoas
acreditavam, de fato, que os reis eram escolhidos por Deus.
Principalmente na Inglaterra e na França que tinham uma enorme tradição dos reis
chamados Taumaturgos que podemos observar no estudo de Marc Bloch sobre o
passado Francês. Dessa forma, desenvolver um texto abordando como a monarquia
perdeu o seu prestígio diante da sociedade pode ser interessante para a construção
do conhecimento. Alguns autores são bem relevantes ao tratar do tema como por
exemplo Roger Chartier e Robert Darnton. Eles trazem algumas fontes interessantes
sobre como a população brincava com a imagem dos monarcas e da nobreza, além
de refletir sobre o fim do prestígio divino dessas classes sociais.
Além disso, o capítulo possui algumas imagens com caráter altamente ilustrativo, pois
poucas sequer possuem nome do autor e ano de produção. Tudo isso é importante
para se analisar imagens, pois elas também se tratam de textos e carregam consigo
uma mensagem. Nesse sentido, seria interessante colocar sessões com imagens
como se fossem um texto, com legendas identificando, pelo menos, a iconografia das
imagens como no exemplo abaixo disponível na coleção Telaris da editora Ática
Didáticos:
É uma simples alteração, mas é algo que pode ser bem relevante para os alunos que,
na grande maioria das vezes, só tem o livro didático como fonte de estudos. O livro
didático da Sucesso é constituído de conteúdo e atividades, sempre seguindo a
mesma lógica. Talvez algumas atividades poderiam ser substituídas por atividades
baseadas em análise de imagens ou alguma outra forte recorrente do contexto
estudado.
Sobre o capítulo 6
O primeiro ponto a se destacar sobre o capítulo é a organização de vários eventos
em um só, o que pode ser um pouco problemático. A inconfidência mineira durante
muitos anos foi apropriada e rememorada como um movimento precursor da
independência do Brasil. Contudo, essa ideia de movimento inicial da independência
só passou a ser formulada após os eventos da independência. Em outras palavras,
são os contemporâneos da emancipação do Brasil que traçam uma linha entre o
movimento mineiro e a independência do Brasil.
O próprio livro traz uma contradição em seus textos. Na página 118, logo no início, no
trecho de Boris Fausto, o autor aponta que inconfidência mineira e conjuração baiana
se tratam de movimentos regionais e levante um debate super relevante sobre
quando teria surgido a consciência de ser brasileiro.
Vale lembra que os contatos das capitânias com a metrópole em Portugal eram mais
fáceis de se estabelecer do que os contatos entre as capitanias da américa
portuguesa. O que reforça a pergunta, será que havia a consciência de ser brasileiro?
Mesmo com a reflexão sobre o caráter regional de Boris Fausto, o livro afirma que o
objetivo dos inconfidentes era a independência do Brasil. Segundo o autor João
Furtado, doutor em história pela UFMG, em seu livro “Manto de Penélope”, o
movimento, como tantos outros, tinha características regionais e estava diretamente
ligada ao interesse dos homens daquele tempo. Seu estudo se baseada nos autos da
devassa e não é possível encontrar, em nenhum momento, declarações nacionalistas
dos inconfidentes.
Além disso, o livro diz que Tiradentes participou do movimento devido seus ideais de
liberdade e igualdade entre todos e a busca por riquezas e que teria morrido por não
pertencer a elite. João Furtado destaca em seu trabalho algumas falas de Tiradentes
sugerindo que o movimento deveria “restaurar” a terra. Restaurar pode ser entendido
como recuperar algo. Se o movimento visava liberdade e igualdade para todos, por
que Tiradentes estava olhando “para trás”?
Outro ponto importante é que os Autos da Devassa também apontam que Tiradentes
não era pobre como muito já foi dito na história. Muitos historiadores colocam em
dúvida que Tiradentes pertencesse ao setor popular, pois estudos recentes
demonstraram que ele possuía jazidas para mineração de ouro, moinhos e
escravizados. João Furtado sugere que ele foi o único a ser abatido, pois devido sua
profissão de tropeiro, teria sido o maior propagandista do levante.
Se desejavam romper com o sistema colonial português, era muito mais para resgatar
a prosperidade e autonomia da capitania do que para realizar transformações mais
profundas na ordem social.
Considerações Finais
Referências.
ANASTASIA, Carla Maria Junho. Vassalos Rebeldes: Violência coletiva nas Minas na
primeira metade do século XVIII. 2. ed. Belo Horizonte: C/Arte, 2012.
BLOCH, Marc. Os Reis Taumaturgos. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.