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Campos de criação

1. Campo do ser
O corpo como lugar de convergência de todas as experiências; pela
própria prática estruturar-se a si mesmo (Eupalinos Ou o Arquiteto, de
Paul Valery); o professor como um mobilizador; a sala de aula como um
lugar livre da relação de jogos de ego - o espaço criado para si é que
abrirá espaço para o outro ser; humanizar as relações; falar sobre o
desafio que me foi lançado desde antes de ser professora, “dar aulas
como desenha”, o que nos leva para o próximo campo.

2. Campo do encontro
Experiência de compartilhar o próprio processo de criação, ideias para
trabalhos; perceber que exercícios de aulas poderiam ser trabalhos
(atentar para o deslocamento); reconhecer, estruturar e compartilhar
questões/ conceitos que foram fundantes para o próprio processo de
criação.
Ainda sobre o encontro: artisticidade - entendida como o movimento em
direção ao diálogo com o pensamento, com o fazer e com as
subjetividades da arte de outros tempos; reconhecer a própria visão de
mundo e os modos de manifestá-la no trabalho.
Campo do encontro também fala da fluência como uma força, como um
modo de ser, o fluxo entre os modos, o que tenho chamado de “exercício
de trocar de pele”.

3. Campo da ação
Um olhar para as ações cotidianas, para as ações do processo de criação.
Considerar a força de performatividade, independente da
linguagem/suporte artístico de sua produção. Considerar a dimensão do
tempo e do corpo na criação. Reflexões sobre a narrativa e o registro.
Os estados internos que nutrem uma dada ação.

4. Campo do espaço
Questões espaciais como a perda de núcleo – horizontalidade; os jogos
de escalas, o corpo do trabalho e suas formas de diálogo.
Como se dá o encontro do trabalho com o “outro do diálogo”: como os
métodos e a estrutura de pensamento visual dialogam com as
instituições, espaços públicos e naturais.

5. Campo da tradução
A metalinguagem, o trânsito entre linguagens, a metáfora. As interseções
entre ser artista e ser professora.
Sobre materializar uma ideia em diferentes linguagens, suportes, técnicas,
materiais e conhecer mais dessa ideia por meio desse exercício de tradução;
compreender a estrutura de pensamento de uma linguagem artística e a
partir dela transitar livremente por outras fronteiras. Desenhar como quem
sampleia, por exemplo; até mesmo usar a estrutura de pensamento de um
fazer artístico para escrever sobre outro. A estrutura de pensamento do vídeo
para falar de pintura, ou ainda, por meio da escrita dar voz a cada um dos
diferentes materiais que compõem uma imagem.
Ir com a intensidade, com o tempo, com quaisquer outras qualidades de
uma linguagem para o campo de ação de uma outra.
Deslocar-se entre planos: metafórico, cotidiano, pictórico, social,
transcendental, gráfico, cultural, prático e ordinário.

6. Campo da palavra
A importância da verbalização dos processos.

“aprender a falar sobre todos os assuntos, à queima-roupa, com um começo, um


desenvolvimento e um fim. Aprender a improvisar era, antes de qualquer outra
coisa, aprender a vencer a si próprio, a vencer esse orgulho que se disfarça de
humildade para declarar sua incapacidade de falar diante de outrem — isso é, a
recusa de submeter-se a seu julgamento. Era, em seguida, aprender a começar e a
terminar, a fazer por si mesmo um todo...
p. 53

“Os pensamentos voam de um espírito a outro nas asas da palavra. Cada vocábulo
é enviado com a intenção de carregar um só pensamento, mas, apesar disso, essa
palavra, esse vocábulo, essa larva se fecunda pela vontade do ouvinte; e o
representante de uma mônada torna-se o centro de uma esfera de idéias que
irradiam em todos os sentidos, de forma que o falante, para além do que quis dizer,
disse realmente uma infinidade de coisas; ele formou o corpo de uma idéia com
tinta, e essa matéria destinada a envolver misteriosamente um só ser imaterial
contém realmente um mundo desses seres, desses pensamentos."
p. 72

O mestre Ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual, Jacques


Rancière

7. Campo das inteligências


“só há inteligência quando não há medo”
Krishnamurti

As bonitas forças que podem caber na palavra inteligência.

Inteligência, como saber escolher dentre tudo o que há o que se é, e como


expressar sua visão de mundo. Recordar-se o que se é, reconhecer-se,
manifestar-se, materializar-se no plano da ação. Posicionar-se em relação às
coisas, não como uma posição a ser obrigatoriamente declarada, mas sim a
ser instaurada em si. A coerência de quem tem intimidade consigo, no
movimento de se estruturar.
As duas últimas, que tenho considerado:
A intuição como a inteligência de quem não está separado das coisas e
acontecimentos, vive no interior deles.
E uma inteligência perspectiva: a consciência do lugar onde se está e de
onde se vêm, em relação a raça, cultura, economia.

8. Campo do imponderável
O sem nome, o maravilhamento, a metáfora.

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