Ano XI • Edição 72 • Abril a Junho de 2020

O SANEAMENTO
NA LINHA DE
FRENTE NA
LUTA PELA VIDA
As iniciativas do setor na
prevenção à covid-19

PACTO GLOBAL CULTURAL VIVÊNCIAS

Como evitar a propagação de Museu água de São Paulo: rumo Conhecimento em troca
futuras pandemias? à consolidação de um marco do de solidariedade
saneamento
PROMOÇÃO ESTANDE PLUS DIVULGAÇÃO DE MARCA APOIO INSTITUCIONAL
EXPEDIENTE EDITORIAL

Associação dos Engenheiros da Sabesp

Rua Treze de Maio, 1642
Saneamento: um setor
com muitos motivos
Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/ SP
Fone: (11) 3263 0484
Fax: (11) 3141 9041
www.aesabesp.org.br
aesabesp@aesabesp.org.br
Órgão Informativo da Associação
dos Engenheiros da Sabesp
Fundada em 15/09/1986
Tiragem: 6.000 exemplares
para se orgulhar
Diretoria Executiva
Presidente: Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges
Diretor Administrativo: Nizar Qbar
Diretor Financeiro: Hiroshi Ietsugu
Prezados associados (as), conselheiro (as), diretores (as) e
Diretora Socioambiental e Cultural: Márcia de Araújo Barbosa Nunes
Diretor de Comunicação e Marketing: Agostinho de Jesus amigos da AESabesp:
Gonçalves Geraldes
Diretoria Adjunta
Diretoria Técnica: Olavo Alberto Prates Sachs
Diretoria de Esportes e Lazer: Evandro Nunes de Oliveira Da primeira edição da Saneas até esta, o Brasil e o mundo mudaram completamente.
Diretoria de Polos Regionais: Antônio Carlos Gianotti
Diretoria Social: Tarcísio Nagatani
Diretoria Inovações: Luciomar Santos Werneck Após mais de três meses de enfrentamento contínuo à pandemia de covid-19
Conselho Deliberativo
Presidente: Reynaldo Eduardo Young Ribeiro no país, muitos foram os aprendizados e são muitas as lições que podemos levar
Membros: Abiatar Castro de Oliveira, Alceu Sampaio de Araujo,
Alexandre Domingues Marques, Alzira Amancio Garcia, Carlos desse período.
Alberto de Carvalho, Choji Ohara, Cid Barbosa Lima Junior,
Eduardo Bronzatti Morelli, Gilberto Alves Martins, Gilberto
Margarido Bonifácio, Helieder Rosa Zanelli, Ivo Nicolielo Antunes Uma das principais é que temos que fazer a sociedade e as autoridades entende-
Junior, João Augusto Poeta, Maria Aparecida Silva de Paula,
Richard Welsch e Walter Antonio Orsatti rem, de uma vez por todas, que Saneamento é Saúde.
Conselho Fiscal
Aurelindo Rosa dos Santos, Ivan Norberto Borghi e Yazid Naked
Coordenadores Nesse sentido, a Sabesp e seus profissionais têm realizado um trabalho incansável
Conselho e Fundo Editorial: Nélson César Menetti
Membros: Ana Paula Vieira Rogers, Antônio Carlos Roda para garantir água à população. Nossa reportagem especial é um raio-x desses três
Menezes, Benemar Movikawa Tarifa, Débora Soares, Luciomar
Santos Werneck, Sandreli Droppa Leta e Suely Matsuguma. meses que certamente mudarão nossas vidas para sempre: os trabalhadores do Sa-
Polos da RMSP: Eduardo Bronzatti Morelli
Polo dos Aposentados: Nélson César Menetti neamento estão se desdobrando na linha de frente no enfrentamento à pandemia,
Assuntos Institucionais: Ester Feche Guimarães
Cursos: Walter Antonio Orsatti
Inovação: Luis Felipe Macruz juntamente aos profissionais da saúde e da limpeza, entre outros.
Comissão Organizadora 31º Encontro Técnico
AESabesp/ Fenasan 2020 Além do dia a dia do trabalho, a solidariedade tem mobilizado nossa sociedade.
Presidente da Comissão: Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges
Diretor do Encontro Técnico AESabesp: Olavo Alberto Prates Sachs
Diretor da Fenasan: Luciomar Santos Werneck Um grande exemplo é a campanha Saneamento Solidário, uma parceria da AESa-
Membros da Comissão
Agostinho J. G. Geraldes, Alisson Gomes de Moraes, Alzira Amâncio besp com o Programa de Voluntariado Corporativo da Sabesp, que tem ajudado
Garcia, Antonio Carlos Roda Menezes, Eduardo Bronzatti Morelli,
Gilberto Alves Martins, Maria Aparecida Silva de Paula, Mariza instituições e pessoas em situação de vulnerabilidade.
Guimarães Prota, Nélson César Menetti, Nilton Gomes de Moraes, Nizar
Qbar, Osvaldo Ioshio Niida, Rodolfo Baroncelli, Sonia Maria Nogueira e
Silva, Tarcisio Luis Nagatani e Walter Antonio Orsatti Seguindo a atuação alinhada de nossa Associação aos Objetivos de Desenvolvi-
Equipe de apoio
Ana Paula Rogers, Bruno Bolívia, Maria Flávia S. Baroni, Milena Mendes mento Sustentável, a Saneas convidou o Pacto Global para analisar os desafios das
Tojo e Silva, Monique Funke, Paulo Oliveira, Suely Melo e Vanessa
Hasson empresas no alcance dos ODS frente a essa nova realidade. E trazemos ainda de-
Polos AESabesp da Região Metropolitana - RMSP
Polo AESabesp Centro: Patrícia Barbosa Taliberti poimentos de especialistas de diversas áreas em um balanço desse período no país.
Polo AESabesp Coronel Diogo: Rodrigo Pereira Mendonça
Polo AESabesp Costa Carvalho: Patricia de Fatima Goularth
Polo AESabesp Leste: Eduardo Alves Pereira Dando continuidade à realização das atividades, prezando pela segurança e pela
Polo AESabesp MT: Edmilson Barbosa Prado
Polo AESabesp Norte: Eduardo Bronzatti Morelli saúde das pessoas, a AESabesp decidiu pelo cancelamento da Fenasan 2020. Mas
Polo AESabesp Oeste: Bendito Silva
Polo AESabesp Ponte Pequena: Rogério Welsel
Polo AESabesp Sul: Antonio Ramos Batagliotti estamos trabalhando para a realização do 31° Encontro Técnico AESabesp/Fenasan
Polos AESabesp Regionais 2020, que será promovido em novembro.
Polo AESabesp Baixada Santista: Zenivaldo Ascenção dos Santos
Polo AESabesp Botucatu: Leandro Cesar Bizelli
Polo AESabesp Caraguatatuba: Pedro Rogério de Almeida Veiga
Polo AESabesp Franca: José Chozem Kochi Também apresentamos nesta edição o andamento das iniciativas para o Museu
Polo AESabesp Itatiba: Carlos Alberto Miranda Silva
Polo AESabesp Itapetininga: Jorge Luis Rabelo Água de São Paulo, outra grande realização da ASabesp.
Polo AESabesp Lins: Carlos Toledo da Silva
Polo AESabesp Presidente Prudente: Gilmar José Peixoto
Polo AESabesp Vale do Paraíba: Sérgio Domingos Ferreira Por fim, deixamos aqui nossa solidariedade a todos
Polo AESabesp Vale do Ribeira: Jiro Hiroi
Produção Editorial e votos de saúde.
Foco21 Comunicação
Jornalista Responsável
Ana Paula Vieira Rogers - MTB 27666 Que possamos juntos reconstruir um mundo mais
anarogers@foco21comunicacao.com
Colaboradores
sustentável, que valorize a vida e respeite o planeta.
Clara Zaim, Jéssica Marques, Murillo Campos e Suely Mello
Fotos Um bom trimestre a todos, boa leitura e até a
Equipe Estevão Buzato e acervo AESabesp
Projeto visual gráfico e diagramação próxima edição!
Neopix DMI
contato@neopixdmi.com.br
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Viviana Borges
A AESabesp não se responsabiliza pela veracidade
de conteúdo de anúncios e de artigos assinados. Presidente da AESabesp
ÍNDICE NOVIDADE SANEAS
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a leitura. Alguns dispositivos podem necessitar a instalação de
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O saneamento na
linha de frente na Dedicação,
luta pela vida coragem e
solidariedade

As iniciativas do
O trabalho da
setor na prevenção
à covid-19 05 Sabesp no combate
ao novo coronavírus 06

Saneamento
solidário

União e
engajamento para
ajudar quem precisa 10

Entrevista Especialistas Pacto global

A relação entre Como o mundo

saneamento e saúde pode evitar a
pública em tempos Com a palavra, propagação de
de pandemia 12 os especialistas 15 futuras pandemias? 20

Artigos Técnicos
Análise espacial
Guidance de e temporal do Gestão do
boas práticas IQA em cursos de recebimento
Avaliação da dos serviços de água presentes de obras com
performance saneamento no na porção a utilização de
das estações de enfrentamento oeste da Região equipamento de
tratamento de à covid-19 no Metropolitana de inspeção interna
esgoto 22 mundo 29 São Paulo 35 de tubulações 41

Cultural Vivências

Museu água de
São Paulo: rumo
à consolidação Conhecimento
de um marco do em troca de
saneamento 47 solidariedade 49
MATÉRIA DE
CAPA

O SANEAMENTO
NA LINHA DE
FRENTE NA
LUTA PELA VIDA
Empenho e solidariedade. Dois sentimentos que se misturam à
força e à coragem dos trabalhadores do setor de saneamento que
precisam atuar, diariamente, em serviços essenciais para prevenção
do novo coronavírus.
Nas próximas páginas você vai conhecer um pouco mais sobre o
trabalho dos profissionais da Sabesp, as ações da AESabesp e do
Voluntariado Corporativo da Companhia na campanha Saneamento
Solidário, um balanço do período de quarentena por especialistas
de diversas áreas e a visão do Governo do Estado de São Paulo
sobre a importância do saneamento na saúde das pessoas.

5 Saneas
 MATÉRIA DE
CAPA

Dedicação, coragem e
solidariedade: o trabalho
da Sabesp no combate ao
novo coronavírus
Saneamento torna-se ainda mais essencial com chegada da
pandemia e profissionais da companhia relatam as ações,
cuidados e esforços na linha de frente no combate à covid-19

O
Por s cuidados com a higiene e prevenção

Edésio Vieira
Murillo Campos tanto no trabalho quanto em casa são
fundamentais no atual momento. Afi-
nal, a pandemia paralisou o mundo.
Suspendeu atividades comerciais, aulas escolares, via-
gens, jogos de futebol, peças teatrais e demais realiza-
ções com grande aglomeração.
Só no Brasil, são mais de 850 mil casos confirmados
e 42.791 mortes (em números de 13 de junho, fecha-
mento desta edição), de acordo com números levanta-
dos pelo consórcio de veículos de imprensa que busca
informações junto às secretarias estaduais de Saúde das
27 unidades da Federação. São Paulo registrou 1.523
Quando estou indo para casa, já ligo
mortes por covid-19 somente nesta última semana do para minha esposa e aviso: olha, estou chegan-
fechamento desta edição. Vidas perdidas por conta da do. Ela deixa um balde para colocar a roupa
covid-19, que segue se espalhando entre os brasileiros. para lavar. Tiro minha roupa, tiro meus sapatos,
deixo do lado de fora de casa e já vou direto
Para ajudar a enfrentar esta pandemia, a Compa-
tomar banho”, conta Edésio Vieira, encarrega-
nhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo do da Sabesp na Baixada Santista, que, como
(Sabesp) se mobilizou com o objetivo de garantir à centenas de colegas da Companhia, alteraram
sua rotina para evitar a covid-19 enquanto se
população todas as condições de higiene e prevenção,
dedicam para que a população continue rece-
especialmente entre as famílias mais vulneráveis. bendo um recurso fundamental no combate à
Além da isenção de pagamento da tarifa social por pandemia: água.
quatro meses, beneficiando dois milhões de pessoas, Ele revela que alterou o comportamento ao
chegar do trabalho por receio de transmitir o
a empresa já distribuiu mais de cinco mil caixas d’água vírus para família. “Moro com minha esposa e
nos bairros Paraisópolis, Heliópolis, Brasilândia, Vila com meu filho. É uma convivência diferenciada,
Prudente, Jaguaré e outros locais da Região Metro- ao chegar é um cumprimento sem abraço, sem
beijo, a gente fica meio distante, né?”, diz ele,
politana e em municípios do interior. O reservatório
Assista ao filme que reflete: “Preocupado, mas com vontade de
“Essencial”, da permite que os moradores tenham água no caso de ajudar as pessoas”.
Sabesp
qualquer situação emergencial.

6 Saneas
 “Fui pessoalmente verificar e voltei muito impressionado
com os benefícios que as pessoas receberam. Não teve in-
termediários, fomos na porta levar a caixa d’água”, conta o
superintendente da Unidade de Negócio Oeste da Sabesp,
5.000
CAIXAS D’ÁGUA
Aurélio Fiorindo Filho. Ele vê o programa fazendo a diferença distribuidas
na vida das famílias e indica a ampliação da iniciativa, que já

250
beneficiou mais de 17 mil pessoas.
“Tomamos todos os cuidados, como o uso de luvas, másca-
ras, álcool em gel e orientamos as pessoas a guardarem dis- LAVATÓRIOS PÚBLICOS
Instalados
tância umas das outras na fila, porque sabemos da importân-
cia do nosso trabalho para os moradores das comunidades”,
destaca Ronaldo Toledo, um dos encarregados envolvidos na
ação de entrega das caixas d’água em Paraisópolis.
2 milhões
DE PESSOAS BENEFICIADAS
com a isenção de pagamento
Ronaldo diz estar preocupado com a doença, mas respeitan- da tarifa social por quatro meses
do todas as orientações dos órgãos de saúde, se sente responsá-
vel por contribuir com o bem-estar das pessoas neste momento
tão delicado. “Todo dia, ao encerrar meu expediente, sei que fiz
meu melhor. Tenho o sentimento de dever cumprido”, expõe.
A companhia também já instalou mais de 250 lavatórios pú-
blicos em todo o estado com o objetivo de facilitar a higiene
das mãos dos indivíduos, prática importante para reduzir o ris-
co de contágio pela covid-19. Ainda, em parceria com as pre-
feituras, a empresa está realizando a higienização de espaços
públicos, como entorno de hospitais, Unidades Básicas de Saú-
de (UBS), Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e terminais
Entrega de caixas d’água no Parque Novo Mundo
de ônibus, entre outros locais. Para este processo, foi reforçada
a quantidade de cloro na água de reúso – que não serve para
consumo – a fim de impedir a propagação do coronavírus.
“Estamos fazendo a melhor logística para aumentar a
quantidade de equipamentos desinfectados até acabar a
pandemia. Tem um batalhão de agentes em campos, seja da
prefeitura, Sabesp ou de contratadas para fazer este trabalho,
que vai ajudar muito no combate ao vírus”, afirma Aurélio.
Incansável na missão de colaborar, o Programa de Volunta-
riado Corporativo da Sabesp, em parceria com a AESabesp,
Lavatórios fazem parte da série de ações da Sabesp contra covid-19
criou a campanha Saneamento Solidário, que tem auxiliado
pessoas em situação de vulnerabilidade e instituições do Esta-
do de São Paulo (veja na página 11).
Além de ações em apoio à população, também se redo-
brou a atenção com os colaboradores da companhia, es-
senciais na garantia dos serviços de água tratada e coleta e
tratamento de esgoto. Com isso, foram adiantadas imuniza-
ções previstas no calendário de vacinas, distribuídos kits de
higiene e prevenção à doença e implantado o trabalho em
casa entre os profissionais internos, incluindo estagiários e Lavatório instalado em feira livre de Santos

Abril a Junho de 2020 7

MATÉRIA DE
CAPA

Hospital de campanha do Pacaembu foi um dos

desinfectados pela companhia

aprendizes, e criando um programa de apoio, o “Home Office

do Bem”. Já aqueles que precisam atuar na linha de frente no
dia a dia tiveram seus cuidados intensificados.
“Separamos o ambiente de trabalho com um espaço maior, co-
locamos álcool gel, fizemos a desinfecção de todos os veículos e
áreas das empresas. Também tomamos o cuidado de assegurar
que pessoas acima de 60 anos e do grupo de risco não estejam
trabalhando”, pontua Aurélio.
As agências de atendimento ao público foram fechadas, como
População higienizando as mãos na Ponte dos Barreiros, em São Vicente
medida para ajudar a conter o avanço do vírus, mas os clientes
continuaram tendo acesso aos serviços da companhia por meio
dos canais digitais e central de atendimento telefônico. Segundo
o superintendente, a crise hídrica de 2014 serviu de aprendizado
para a empresa ter um plano de contingência estruturado para en-
carar esta pandemia. “Nossos clientes podem confiar plenamente
na Sabesp e em nossos funcionários, pois estamos trabalhando 24

Entrega de hipoclorito e álcool gel em instituições para idosos

O trabalhador da Sabesp é
muito solidário, ele sabe
o papel que tem perante a
sociedade e acho que isso
vai ficar evidenciado.”
Colaboradores passam por medição de temperatura em entrada
da Sabesp

8 Saneas

Superintendente da Sabesp na Baixada Santista, Raul Christiano
horas por dia para que ninguém perceba qualquer problema no
abastecimento de água e coleta de esgoto”, salienta.
Mobilização permanente
No litoral de São Paulo, a Sabesp também intensificou suas ações
de prevenção e combate ao novo coronavírus. A Baixada Santista já
é a 2ª região com mais casos de covid-19 no Estado. São 7,8 mil ca-
sos confirmados e 414 óbitos, sendo Santos a cidade mais afetada,
com 3,4 mil casos e 140 mortes até o momento, segundo boletins
divulgados pelos munícipios (números do final de maio, quando foi
feita esta entrevista). A pandemia se instalou logo após o litoral en-
frentar fortes chuvas, em março deste ano, que causaram mortes,
deslizamentos e alagamentos.
“Quando estávamos terminando o carnaval, tiveram aque-
las fortes chuvas, provocando mortes em Santos, São Vicente e
Guarujá”, lamenta Raul Christiano, superintendente da Sabesp na
Baixada Santista. Ele explica que a companhia se mobilizou ainda
mais a partir desta tragédia e fortaleceu suas atenções em prol da
saúde e bem-estar dos moradores.
“A empresa demonstrou um estado de mobilização permanen-
te. Ela veio mobilizada já do verão e não parou no seu estado de
contingência. Verão, carnaval, chuvas e pandemia, foi uma se-
quência de fatos e isso está fortalecendo ainda mais a união dos
trabalhadores da Sabesp na Baixada”, diz Raul.
Entre as medidas implantadas para auxiliar a população na pan-
demia, estão a higienização de equipamentos públicos e as insta-
lações de pias, bebedouros e lavatórios em pontos estratégicos da
região, como no acesso às comunidades, feiras livres, travessias e
unidades de saúde.
Além disso, o programa de distribuição de caixas d’água será
iniciado, abrangendo moradores do morro de Santos, inicial-
mente. “Estamos terminando o mapeamento para fazer a co-
locação de reservatórios em casas de famílias mais vulneráveis”,
projeta Raul.
Dedicação para vencer o coronavírus
Dedicação tem sido a palavra-chave na rotina dos profissionais da
Sabesp, conscientes do papel importante que exercem na socieda-
de. A pandemia do novo coronavírus evidenciou o protagonismo
do setor e demonstrou a relação intrínseca entre saneamento e saú-
de pública. Fato que estimulou o comprometimento de quem está
na linha de frente.
“O meu sentimento e o da Sabesp é de ajudar as pessoas. Eu
me sinto bem preparado para isso. Lidar com o que aconteceu, o
que está acontecendo e, ao mesmo tempo, ajudar quem precisa”,
declara o encarregado Edésio.
Ele ressalta, porém, que apesar de as autoridades na área de
saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendarem o
distanciamento social e hábitos preventivos, não é o que ele vem
acompanhando pelas ruas dos municípios. “Precisa ‘cair a ficha’
das pessoas. Por incrível que pareça, parece que não ‘caiu a ficha’,
que não está acontecendo nada. A gente vê muitas pessoas sem
máscara na rua, até festa”, conta Edésio, que reitera: “Ficar em
casa e o distanciamento social é o melhor remédio no momento.”
Já Alexandre Aparecido, agente de saneamento ambiental, re-
força que os cuidados de proteção não devem ser esquecidos. “Es-
tamos tomando todas as precauções para não sermos contagiados
e, consequentemente, levar o vírus para a família”, salienta.
Serviço essencial, o saneamento não para nesse período e deve
ter maior reconhecimento no cenário pós-pandemia, é o que con-
sidera o superintendente da Baixada Santista. “Saúde, educação e
saneamento são três áreas que terão, a meu ver, um ganho muito
importante de valorização, passam a ter um valor mais claro para
a sociedade”, expressa Raul. Ele destaca ainda o envolvimento de
todos os colaboradores em prol do bem-estar da comunidade.
“O trabalhador da Sabesp é muito solidário, ele sabe o papel
que tem perante a sociedade e acho que isso vai ficar evidenciado.
Ele é essencial e está sendo essencial neste momento de pande-
mia. Será bastante reconhecido por tudo que construiu ao logo da
história de serviços prestados na companhia’, conclui.
“Espero que todos nós tenhamos um olhar solidário para as pes-
soas que são essenciais, médicos, enfermeiros, bombeiros, faxinei-
ros, turma da limpeza urbana e o reconhecimento do trabalho que
os sanitaristas vêm fazendo”, completa o superintendente Aurélio.
Dedicação, coragem e solidariedade fazem parte da rotina en-
frentada por estes trabalhadores no combate à doença. O vírus
mata e precisa ser combatido. Não apenas por médicos, enfermei-
ros e profissionais do saneamento, mas por todos os brasileiros.
Por isso, temos que fazer nossa parte e colaborar com esses pro-
fissionais. Se puder, fique em casa.
Abril a Junho de 2020 9
SANEAMENTO
MATÉRIA DE
CAPA
SOLIDÁRIO

Saneamento Solidário:
união e engajamento para
ajudar quem precisa
Campanha da AESabesp e do Programa de Voluntariado Corporativo
da Sabesp beneficia afetados pela pandemia. Lançada no final de,
a iniciativa Saneamento Solidário mobiliza voluntários e evidencia
o esforço e a solidariedade do setor para auxiliar a população
vulnerável com cestas básicas e instituições de saúde com alimentos e
equipamentos de EPI (proteção individual) durante a crise do coronavírus.

A
linhada aos ODS – Objetivos do Desen- Projeto Doar) uniu-se ao Programa de Voluntariado
volvimento Sustentável estabelecidos Corporativo da Sabesp para realizar a campanha Sa-
pela Organização das Nações Unidas neamento Solidário.
(ONU), a Associação dos Engenheiros A Campanha reforça a importância de auxiliar
Assista ao
Webinar:
da Sabesp - AESabesp promove e incentiva o volunta- quem está na linha de frente no combate à doença e
Programas riado, não apenas nas questões de Saneamento, mas as pessoas mais vulneráveis nesse momento desafia-
solidários e
emergenciais em outras frentes que visem tornar nossa sociedade dor para Brasil e para o mundo. E agora abraça a doa-
no Saneamento
em tempos de mais justa, solidária e sustentável. Seguindo esta pre- ção de cobertores com a campanha Inverno Solidário,
covid-19
missa, no dia 30 de março, a entidade (por meio do realizada pelo Programa de Voluntariado Corporativo

10 Saneas
 A CAMPANHA EM NÚMEROS
Nos meses de abril e maio, a campanha mobilizou:

320 2.000
CESTAS BÁSICAS
VOLUNTÁRIOS
(3 toneladas de alimentos)

1.600
QUENTINHAS
600
MÁSCARAS

Foram 42 ações e 36 Instituições beneficiadas.

da Sabesp.A iniciativa vem arrecadando fundos para compra de decemos à AESabesp por aceitar nosso
EPIs (equipamentos de proteção individual), que serão doados às convite. De fato juntos somos mais for-
instituições de saúde (Hospital São Paulo e as Santas Casas no tes”, conclui.
Estado), alimentos e produtos de higiene para ajuda às pessoas A AESabesp e Programa de Volun-
em situação de vulnerabilidade diante da pandemia da covid-19, tariado Corporativo da Sabesp con-
por meio do Fundo Social São Paulo, que repassa as doações a vidam todos para participarem desta
Para doar
instituições sociais no Estado de São Paulo. campanha e agradecem aqueles que cobertores
Em dois meses de atuação, a campanha mobilizou 320 volun- já estão colaborando. para o Inverno
Solidário
tários e já entregou 2 mil cestas básicas (3 toneladas de alimen-
tos), 1600 quentinhas, 600 máscaras. Foram 42 ações e 36 Insti-
tuições beneficiadas.
Esta iniciativa reúne doações e repassa os donativos ao destina-
COMO COLABORAR
tário com rastreabilidade. Todos os fundos arrecadados e doados Para as doações em dinheiro, foi disponibilizada
em EPI e suprimentos serão apresentados em prestação de contas. uma conta bancária exclusiva:
“Nós, da AESabesp, estamos muito honrados em poder con- AESabesp - Associação dos Engenheiros da Sabesp
CNPJ: 56.765.472.0001/90
tribuir para diminuir um pouco o sofrimento dos mais vulnerá-
Banco: Banco do Brasil
veis e ajudar também os profissionais da saúde, que estão lu-
Código da agência: 6998-1
tando bravamente contra a covid-19”, afirma Viviana Borges, Número da conta corrente: 16.016-4
presidente da AESabesp. “Saneamento e saúde caminham jun-
tos, este é o momento de nos unirmos para vencer este grande Para doação em alimentos não perecíveis, produtos
de higiene pessoal devem ser direcionados a sede da
desafio”, frisa.
Associação da AESabesp, na Rua 13 de Maio 1642,
Érika Santana, coordenadora do Programa de Voluntariado da
Bela Vista – São Paulo/SP.
Sabesp, reitera que “no momento não temos escolha e criar a
Campanha Saneamento Solidário foi necessário”. Segundo ela, a Para doar cobertores para o Inverno Solidário,
junção de forças do Programa de Voluntariado Corporativo da Sa- acesse o link https://ulink.bio/campanhadoagasalho
besp com a AESabesp “foi o grande diferencial desta ação. Agra-

Abril a Junho de 2020 11

 ENTREVISTA
MATÉRIA DE
CAPA

A relação entre saneamento

e saúde pública em tempos
de pandemia
Luís Sérgio Valentim, diretor de Meio Ambiente do Centro de
Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo, vê o saneamento como
ferramenta de saúde preventiva essencial no combate à covid-19 e
Por conta o que espera para o setor no cenário pós-pandemia
Murillo Campos

A
pandemia do novo coronavírus evi-
denciou a importância do setor de
saneamento. O acesso à água para
adoção de hábitos de higiene, como
limpeza das mãos, tornou-se fundamental como
meio de prevenção da covid-19. “Sem dúvida ne-
nhuma, o setor de saneamento ganha uma relevân-
Luís Sérgio Valentim
Diretor de Meio Ambiente do cia bastante grande neste contexto de pandemia”,
Centro de Vigilância Sanitária
do Estado de São Paulo: diz Luís Sérgio Valentim, diretor da Divisão de Meio
“A relação entre saúde e
saneamento já está mais do Ambiente do Centro de Vigilância Sanitária do Esta-
que comprovada.”
do de São Paulo.
Segundo o diretor, há décadas o saneamento tem
papel de destaque no combate a doenças, assim como
para promoção da saúde e bem-estar da população,
fato destacado no contexto atual. “A relação entre saú-
de e saneamento já está mais do que comprovada”,
afirma Valentim, que vê a necessidade de mais investi-
mentos no setor para uma sociedade justa e saudável.
Na entrevista a seguir, ele comenta sobre o papel do
saneamento no enfrentamento ao coronavírus, a rela-
ção com a saúde pública e o que espera para o setor no
cenário pós-pandemia.

12 Saneas

Revista Saneas: Neste período de pan- É preciso
demia, o saneamento tornou-se peça
fundamental para garantir condições investimentos
de higiene à população e, consequen-
temente, de prevenção ao coronavírus.
maciços em
Neste sentido, qual a importância das saneamento para
ações que o setor vem desenvolvendo
para promoção da saúde da sociedade? que possamos ter
Luís Sérgio Valentim: Não há dúvida
nenhuma de que o saneamento é um
uma condição de
elemento fundamental no nosso pro- saúde favorável”
cesso civilizatório e na estruturação
de uma sociedade justa e saudável. Li-
damos dentro da Secretaria da Saúde
com questões do saneamento e este é um tema que permeia
a história da saúde pública no Brasil e em São Paulo, particu-
larmente. O Código Sanitário de 1894 já abordava de maneira
intensa estas questões. Estava explícito ali a importância do sa-
neamento para melhoria das condições de vida da população e
da proteção da saúde. Portanto, isto permeia nossa história na
questão de saúde pública.
Dentro deste contexto, falamos que a pandemia vem tornar a
importância do saneamento ainda mais clara, porque estamos tra-
tando de uma das principais medidas de proteção da população
neste momento: a higienização intensa das mãos, rosto, corpo
de maneira geral, equipamentos, superfície etc. Então, é preciso
que tenha água com qualidade e potabilidade e que as estruturas
de coleta, afastamento e tratamento de esgoto também sejam
universais. A coleta de resíduos, em geral, torna-se também fun-
damental neste contexto. O saneamento ganha uma preponde-
rância neste momento que, para nós, é bastante evidente.
Revista Saneas: O saneamento atua, então, como uma ferramen-
ta de saúde preventiva?
Luís Sérgio Valentim: Sempre. A relação entre saúde e sanea-
mento já está mais do que comprovada. Cem anos atrás, tínhamos
uma taxa de mortalidade infantil imensa. Entre outros fatores, o
saneamento foi um dos mais preponderantes na redução de mor-
talidade infantil e de doenças variadas, como as infectocontagiosas.
Há cem anos, aqui em São Paulo, uma a cada quatro crianças não
completava um ano de vida. Hoje, esta taxa é muito diferente. Uma
a cada cem não completa um ano de vida por outros motivos, que
não o contato com o esgoto de maneira geral. Então, houve de
fato avanços tremendos no setor e qual-
quer doença que possamos pensar, espe-
cialmente as infectocontagiosas, têm uma
relação muito grande com o saneamento.
Agora, com esta pandemia em que es-
tamos preconizando a higienização inten-
siva das pessoas e das superfícies, temos
que ter de fato um serviço de saneamento
bastante ativo e que possa dar conta das
necessidades da população. Entendendo
isto, logo no começo da pandemia, en-
tramos em contato com a Sabesp e as
agências reguladoras para que pudésse-
mos estreitar esta relação, de modo que
ficássemos atento à eventuais deficiências
de saneamento em áreas mais vulneráveis e que pudéssemos inter-
vir nisto de forma mais rápida possível.
Mas creio que São Paulo avançou muito na universalização dos
serviços de saneamento e está numa condição bastante favorável
para garantir que a população tenha acesso à água e possa fazer
uso dela, de acordo com o que está preconizado pelas autoridades
de saúde pública.
Revista Saneas: E quanto maior o índice de saneamento, menor
o risco de doenças de veiculação hídrica...
Luís Sérgio Valentim: Sem dúvida, mais uma vez a história das nossas
doenças evidencia isto. Reduzimos bastante as doenças infectoconta-
giosas, principalmente aquelas relacionadas à qualidade da água, pota-
bilidade e ao contato da população com os esgotos. Houve um avanço
grande neste sentido. Cada vez mais temos que investir em melhorias das
condições de saneamento, preservação e qualidade dos mananciais, tra-
tamento de esgoto e drenagem urbana. É preciso investimentos maciços
em saneamento para que possamos ter uma condição de saúde favorável.
Revista Saneas: O senhor mencionou o estreitamento da relação
com a Sabesp, que vem promovendo ações para ajudar no comba-
te ao coronavírus. O que representa estas iniciativas?
Luís Sérgio Valentim: As medidas que estão sendo adotadas es-
pecificamente por conta da pandemia, de aumentar as condições
de reservação das populações mais vulneráveis e geralmente peri-
féricas, são muito importantes. A educação sanitária e a conscien-
tização de maneira geral também são importantes para nós que
fazemos saúde pública. Agora, é fundamental que a companhia de
fato possa atender a população, no sentido de fornecer sistemati-
Abril a Junho de 2020 13
ENTREVISTA
MATÉRIA DE
CAPA
camente água dentro dos padrões de potabilidade e faça a coleta e
tratamento eficiente dos esgotos. Isto é fundamental.
Revista Saneas: A crise hídrica enfrentada em 2014 no Estado de
São Paulo fez com o que o setor ficasse mais preparado para atuar
na pandemia?
Luís Sérgio Valentim: Acho que sim, a crise hídrica foi também
uma oportunidade de aprendizado. Mas isto não quer dizer tenha-
mos superado todos os grandes desafios. Com a pandemia, deixa-
mos um pouco de lado um debate fundamental, no que diz respeito
às mudanças climáticas e ao modelo social econômico que quere-
mos para reduzir vulnerabilidades e enfrentar estes novos desafios
que vem. Desafios completamente diferentes com o que lidamos
até pouco tempo atrás. Precisamos avançar em modelos de gestão
integrada de recurso hídricos, fortalecer os comitês de bacias, incor-
porar a sociedade numa discussão mais ampla, de uso e ocupação
dos espaços, desenvolvimento urbano, proteção dos mananciais e
investimentos em saneamento. Acho que estes são desafios que
permanecem no campo de discussão do debate público.
Revista Saneas: O senhor acredita que o saneamento será mais
valorizado no cenário pós-pandemia?
Luís Sérgio Valentim: O saneamento ganha um certo protago-
nismo por conta realmente destas condições e da necessidade de
termos acesso à água, serviços de coleta e tratamento de esgoto,
drenagem urbana de acordo com a dimensão das nossas cidades,
além da coleta e tratamento de resíduos. Então, todos estes fatores
ganham de fato protagonismo numa situação pandêmica, como
esta que estamos vivendo.
Existe uma série de questionamentos que chegam na secretaria,
por exemplo, limpeza urbana mais intensa, processo de desinfec-
ção urbana, coleta de determinados resíduos por conta, inclusive,
destas novas situações. Temos tentado orientar, já publicamos uma
série de comunicados neste sentido, sempre alertando a população
para a importância dos procedimentos e a utilização dos serviços de
saneamento de maneira adequada, dando a devida importância.
Mas sem dúvida nenhuma, o setor de saneamento ganha uma rele-
vância bastante grande neste contexto de pandemia.
Revista Saneas: Com relação à população, qual deve ser o com-
portamento para os próximos meses?
Luís Sérgio Valentim: No pós-pandemia, acho que vamos ter
um ganho muito grande de conscientização e maior educação da
população no sentido de fazer uma higiene compatível com a pro-
14 Saneas
teção de saúde. Acho que isto ficará como um legado depois de
superarmos este momento bastante difícil de pandemia. Vamos nos
proteger do coronavírus, mas também, na medida que a sociedade
terá mais consciência da necessidade de higiene, de outros vírus,
bactérias, protozoários etc. Mas é preciso uma mobilização da so-
ciedade em exigir sempre do poder público investimentos maciços
em saneamento. Isto é fundamental para que possamos ter uma
condição de salubridade compatível com o grau de desenvolvimen-
to da nossa sociedade.
Revista Saneas: Muito se fala em um “novo normal” após o fim
desta pandemia. O senhor acredita nesta mudança e como seria?
Luís Sérgio Valentim: Vamos de fato sair desta um tanto quanto
diferente e espero que melhor. Estamos em momentos conturba-
dos, do ponto de vista epidemiológico, econômico e até político,
mas creio que alguns aspectos se sobressaem. A importância do
papel do estado como um ente de equilíbrio, regulador de proces-
sos sociais, estruturação de um modelo mais razoável de uma so-
ciedade saudável, ambientalmente sustentável e harmônica. Acho
que esta crise evidencia o papel do estado sem tirar a importância
dos demais setores. É preciso harmonia no sentido de dar um rumo
à sociedade adequada às nossas aspirações.
Neste contexto, o saneamento irá se sobressair também como
um investimento público, a importância do coletivo de você investir,
afinal vivemos numa sociedade que está extremamente urbanizada.
Vivemos no coletivo, muito mais do que uma geração atrás. Temos
uma interdependência muito grande. A importância do ato de cada
cidadão é reflexo na qualidade de vida de todo mundo, isto é bas-
tante evidente. Esta pandemia mostra isto. Se o seu vizinho não se
cuidar, é possível que você também sofra as consequências.
O uso das estruturas de saneamento vão neste sentido também,
uma consciência do uso adequado. Na crise hídrica vimos isto, a
questão do respeito ao uso da água, adequado de acordo com as
necessidades. Este equilíbrio é fundamental. É o grande desafio
numa sociedade que historicamente tem tantos desequilíbrios so-
ciais, econômicos, educacionais e até de acesso ao saneamento.
Esta crise mostrará mais fundo esta necessidade de um caminhar
coletivo, no qual o poder público e os entes de saneamento têm
papel importante nestes desafios.
Seja o que for este novo normal, ele tem que vir por meio de
um esforço coletivo de integração da sociedade, no sentido de exi-
gir qualidade de vida, distribuição de renda mais adequada, acesso
igualitário ao saneamento, investimentos públicos e acesso às de-
mandas essenciais para a população.
 Com a
palavra,
os

A Saneas conversou
com alguns especialistas
da área da saúde e
da academia sobre o
cenário da covid-19 até
o momento. Com a
visão de quem cumpre
a incansável missão de
cuidar e ensinar, médicos
e professores destacam
os principais desafios
para o Brasil diante da
maior crise sanitária
mundial do nosso tempo.
Leia a seguir os
depoimentos (realizados
em meados do mês
Por de maio).
Suely Melo

Abril a Junho de 2020 15

DEPOIMENTOS

A felicidade da vida renovada

E
m 13 de março, iniciou-se o fechamento progressivo de
locais que favoreciam a aglomeração de pessoas, como
cinemas e teatros, seguidos por museus, shoppings, par-
ques e escolas. Até que, em 24 de mar-
ço, a quarentena foi decretada. Para boa parte das
pessoas, a impressão é de que o tempo se arrasta Christina Terra Gallafrio Novaes
neste isolamento. Mas para nós, que trabalhamos Médica infectologista, que atua junto a pacientes
na linha de frente, parece que a notícia de que com covid-19 em âmbito privado e no SUS no
o novo coronavírus chegara ao Brasil e aqui já se Hospital das Clínicas da FM-USP (Faculdade de
espalhava por transmissão sustentada foi ontem. Medicina da Universidade de São Paulo)
Tudo vem acontecendo de forma vertiginosa. São
tantos e tão graves os pacientes atendidos, que
não vemos passar o tempo. As publicações científicas diárias são tantas, que amostras ambientais ao longo da epidemia em
é difícil acompanhar. É uma doença nova, tudo muda muito rápido. Ao final uma região metropolitana dos Estados Unidos,
do dia, restam poucas horas de sono e ainda muito a fazer. Final de semana que foi fortemente correlacionada com a curva
e feriados antecipados funcionam como qualquer outro dia para nós. São epidêmica e com as internações hospitalares,
dois polos nessa epidemia. Mas, neste caso, polos que se articulam para um com a vantagem de se adiantar em 7 dias em
mesmo fim: a saúde de todos. De um lado, quem pode ficar em casa tem relação àquela e em 3 dias em relação a esta,
papel fundamental para a redução da circulação do vírus. Do outro lado, a com potencial de se tornar uma ferramenta
hiperatividade dos hospitais. Ultimamente, onde tenho estado mais ativa é preciosa!
no Hospital das Clínicas da FM-USP (Faculdade de Medicina da Universidade Na Europa e na Ásia, a epidemia está sendo
de São Paulo), cujo Instituto Central foi transformado em um grande centro controlada, com redução do número de novos
para a internação de pacientes com covid-19, com 700 leitos de enfermaria casos, de modo que estes países já começam a
e já quase 300 de UTI. A rotatividade dos leitos é alta. Não ficam vazios mais liberar sua população da quarentena, paulati-
que poucas horas. Sempre haverá algo por fazer, não importa quanto tempo namente. A América do Norte, aparentemente,
fiquemos lá. Mas colocar limite é necessário. É importante atentar à saúde atingiu uma estabilidade. A África apresenta
física e mental de quem cuida do paciente, para que este cuidado se dê com um aumento do número de diagnósticos po-
melhor qualidade e menor risco de erros. As fontes de estresse são várias. rém, até o momento, em um patamar menor
Desde o volume intenso de trabalho até o risco de contaminação. São inúme- quando comparado a outras regiões. No Brasil
ros os colegas que apresentam distúrbio do sono, e outros ainda sintomas de (assim como em outros países da América do
estresse pós-traumático. Não é infrequente pensar que poderíamos ter feito Sul) ainda estamos em curva ascendente de ca-
diferente e, talvez, salvo o paciente. Ter estratégias para repor a energia dis- sos, o que é muito preocupante. E temos uma
pendida é questão de sobrevivência. Ver a felicidade da vida renovada em um das maiores taxas de óbitos por covid-19, o que
paciente que se cura, que vai finalmente para junto de seus familiares (que, reflete, entre outros fatores, a fragilidade do
durante todo o período de internação, não podem visitar o paciente) é talvez nosso sistema de saúde (fala-se muito em res-
a principal fonte de energia. piradores artificiais, mas pouco se pensa que,
Há muito por vir e os desafios ainda são grandes. Talvez o maior, no caso do além das máquinas, é fundamental ter médi-
Brasil, seja alcançar a união de forças entre as diversas esferas governamentais cos, enfermeiros e fisioterapeutas bem forma-
e o diálogo para promover políticas públicas coesas para lidar com a epidemia e dos e bem treinados para o manejo adequado
suas inevitáveis consequências econômicas. Outro desafio é saber quando e como do paciente e do respirador).
levantar a quarentena. Recentemente saiu um interessante estudo, que pode dar As medidas de higiene e saneamento são de im-
suporte às decisões de governo sobre abertura de quarentena e o monitoramento portância central para o combate da covid-19.
da epidemia no pós-abertura: “SARS-CoV-2 RNA concentrations in primary muni- Dado que não se tem, até o momento, trata-
cipal sewage sludge as a leading indicator os covid-19 outbreak dynamics”, rea- mento eficaz para combater o vírus, são estas
lizado em conjunto pelo setor de agricultura de Connecticut e das faculdades de medidas, além do distanciamento social, as úni-
engenharia, saúde pública, administração, enfermagem e medicina da Universida- cas e mais importantes ferramentas que temos
de de Yale. Este trabalho mostra a concentração de RNA do novo coronavírus em para evitar a transmissão da doença.

16 Saneas
Os desafios dos mais vulneráveis
É
a maior epidemia dos últimos cem anos. Uma epide-
mia importante, uma doença grave, que se espalhou
pelo mundo rapidamente. Alguns países conseguiram
diminuir a transmissão do vírus com a redução da cir-
culação de pessoas, adotando distanciamento de forma rigorosa,
suspendendo atividades econômicas, políticas, religiosas, esporti-
vas, qualquer atividade que congregue pessoas.
Em várias cidades do país, especialmente nas capitais de maior
porte, o sistema de saúde já chegou ao limite. Mesmo tendo sido
estruturado o sistema de emergência em vários desses estados, os
limites se aproximam da fase em que a população não tem lugar
para ser atendida e, principalmente, ser internada, caso precise
Claudio Maierovitch
Pessanha Henriques
Médico sanitarista, coordenador e pesquisador do
Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Brasília.
de unidade de terapia intensiva e respiração mecânica, como está
acontecendo no Amazonas, Pará, Maranhão, Pernambuco, Rio de
Janeiro e em São Paulo.
A situação é muito grave, não apenas pela transmissão do ví-
rus, que continua crescendo, mas porque, se inicialmente come-
çou pelos bairros mais ricos, trazido por pessoas que vieram do
exterior, hoje já atinge de forma intensa as periferias das grandes
cidades e regiões do interior, cuja capacidade de proteção, de as-
sistência é muito mais baixa.
É um quadro que não há medicamento considerado eficaz para
enfrentar o vírus. Ainda não há vacina. As melhores previsões são
para o início de 2021, para que comece a ser utilizada vacina em
alguma parte do mundo.
O que é possível fazer no momento é tentar diminuir a chance
das pessoas pegarem a doença. O outro caminho, que foi advoga-
do pelo primeiro ministro inglês [Boris Johnson], é deixar a doença
se transmitir para as pessoas ficarem imunes. Mas isso significa
que ficam imunes as pessoas que sobrevivem. Numa projeção do
Brasil, significaria 140 milhões de pessoas com a infecção em al-
gum momento e possivelmente 2 milhões morreriam. Não é pos-
sível pensar um caminho assim a não ser que se perca qualquer
sentido falar sobre a valorização da vida humana. É preciso encon-
trar mecanismos para que funcione o confinamento das pessoas:
suspensão de atividades, de circulação do cotidiano entre cidades
e estados e preservar em funcionamento só o que seja absoluta-
mente essencial: o serviço de saúde, de cadeia de suprimento, de
alimentação, de bens de primeira necessidade, de transporte e
combustível, saneamento e energia.
Uma parte da população está assustada e tende a adotar as
medidas de isolamento e restrição. Uma pequena parcela faz isso
com base em informação de fato e não apenas pelo medo. E uma
grande parcela de trabalhadores informais, pessoas de baixa ren-
da, que vivem em casas pequenas com muitas pessoas por cô-
modo e que não têm como seguir de maneira rigorosa qualquer
orientação de afastamento. Não são dadas as condições para que
isso aconteça. Nós vemos os ônibus cheios nos bairros de perife-
ria das grandes cidades e interior. Há uma grande circulação de
pessoas pelas ruas e com isso a doença se espalha cada vez mais.
Quem consegue se proteger, ficar em casa, está numa situação
mais favorável. Para quem não tem condição de fazer isso, o cená-
rio é muito ruim. A questão se trata de olhar
quem são essas pessoas em situação mais
desfavorável. São aquelas em que as políticas
públicas não chegam e portanto, têm menos
condição de se defender. Além de não ter ren-
da, as condições de moradia são precárias, o
transporte é precário, não tem destinação de
esgoto em suas casas, a coleta de lixo é precá-
ria e em muitos casos não tem abastecimento
de água ou o abastecimento é intermitente. O próprio cumprimen-
to das medidas de higiene, que são orientadas, cuja base é lavar as
mãos com água e sabão, lavar os objetos com muita frequência, se
torna difícil.
Há uma movimentação da sociedade civil tanto de setores mais
informados com especialistas da área, que têm ocupado espa-
ço nos meios de comunicação, como organizações autônomas,
como é o caso de Paraisópolis e Brasilândia, em São Paulo, onde
há um movimento importante. Os moradores se organizam para
cuidar de si mesmos, orientar, colocam pessoas da própria comu-
nidade como responsáveis para convencer as outras pessoas a fi-
carem em casa e para buscar recursos adicionais quando precisam
de algum apoio.”
Abril a Junho de 2020 17
DEPOIMENTOS
Rafael Castilho
Sociólogo e coordenador
administrativo do MBA
PPP e Concessões e
do MBA Saneamento
Ambiental da FESPSP
Aprender com as dificuldades
O
momento que a sociedade brasileira e mundial
vive com o agravamento da situação no Brasil
desperta preocupação. É um fato grave, mas
que se configura como uma oportunidade
para o país pensar não só no combate ao coronavírus, mas
pensar principalmente na saúde pública, ou seja, no enten-
der a saúde pública como um direito de todo cidadão, que
é papel do estado (prover a saúde de maneira coletiva), para
o nosso setor e a sociedade perceber que o saneamento
é parte da estratégia de saúde e da preservação da saúde
pública no Brasil. No momento que vemos na televisão, nos
jornais, falando para lavar as mãos, fica destacado o papel
dos profissionais do saneamento. O MBA atua para formar
especialistas e grandes profissionais que colaborem e atuem
no desenvolvimento do saneamento no Brasil. Que colabo-
rem com o desenvolvimento do país. A crise deve nos mo-
tivar para superar nossos desafios históricos e compreender
o saneamento como parte importante. Até porque, se não
tivéssemos essas doenças causadas pela falta de saneamen-
to no país, principalmente pela questão da água e da falta
de tratamento de esgoto, hoje teríamos muito mais leitos
disponíveis nos hospitais. Os leitos estão ocupados devido
à doença e com demanda por atendimento. Caso tivesse
saneamento, sem contar as pesquisas que vêm sendo fei-
tas, de que o esgoto também é uma forma de transmissão,
teríamos mais espaços nos hospitais.
O Brasil tem que usar esse momento como motivação
para superar os desafios. O país não pode naturalizar as
mortes com o coronavírus como tem naturalizado. Nós
nos acostumamos ao longo dos anos e achamos normal
ter índices abaixo da necessidade do setor de saneamento,
ter rios poluídos, não ter tratamento de esgoto, ter índices
precários de abastecimento de água em certas regiões do
país e ter lixões. Estamos nos acomodando também para
o fato de que os aterros sanitários estão em vias de entrar
em colapso. Não podemos nos acostumar com as mortes e
naturalizar os mortos pela falta de saneamento. Que seja
uma lição para superar as grandes dificuldades que estão
impostas nesse momento.”
18 Saneas
Dr. Wanderley da Silva Paganini
Superintendente de Gestão Ambiental da Sabesp
e Professor Livre-Docente da Faculdade de Saúde
Pública da Universidade de São Paulo - USP
Saneamento é saúde
L
avar as mãos com água e sabão é a barreira sanitária mais impor-
tante na defesa contra o coronavírus. Essa frase traduz a impor-
tância do saneamento na prevenção à covid-19. Mas o que parece
simples, infelizmente não é bem assim.
A falta de saneamento ainda é significativa nos países em desenvolvimen-
to, e a necessidade de orientar as pessoas para utilizar bem o que já está
disponível também é um importante aspecto a ser observado para garantir
o pleno aproveitamento dos benefícios do saneamento.
Talvez um dos legados positivos desse triste capítulo da história da saúde
pública, seja a valorização do saneamento como ação prioritária e preventi-
va para tornar as cidades mais resilientes frente aos desafios futuros.
O terremoto ocorrido no Haiti é um exemplo a ser lembrado, pois, após
o evento em si, os efeitos maléficos continuaram afetando fortemente a
população pela falta de saneamento, que agravou as condições de miséria
e doença, e, entre outras implicações, levou o país a enfrentar um surto de
cólera que atingiu milhares de pessoas, 10 meses após o terremoto.
Voltando o foco para o presente, é necessário agir. Sob esse aspecto a
Sabesp e outras operadoras de saneamento mantêm suas atividades como
serviço essencial. Além disso, estão instalando lavatórios para a higieniza-
ção das mãos em espaços públicos para atender a população em geral e
moradores de rua. Outras ações para auxiliar no combate à propagação da
covid-19 são o fornecimento de caixas d’água e a desinfecção de ruas no
entorno de hospitais e centros de saúde, em pontos de ônibus e em outros
locais de grande circulação de pessoas. Os cuidados com os operadores de
saneamento é outra medida à qual tem sido dada elevada ênfase.
Muito tem se falado sobre a presença do coronavírus nos esgotos, mas é
importante destacar que não há evidências científicas sobre a transmissão
do vírus por via feco-oral. Devemos ter foco, pois mesmo que os estudos
detectem a presença do vírus nos esgotos, viáveis ou não, esta, definitiva-
mente, não é a principal via de transmissão a ser cuidada neste momento.
Saneamento é saúde, sem dúvida. Não podemos mais cometer erros ve-
lhos, pagando o preço em vidas. Para o acesso universal aos benefícios
gerados pelo saneamento é fundamental universalizar e buscar o trabalho
integrado entre as instituições para o envolvimento da sociedade, alcan-
çando as pessoas na mudança de cultura, a fim de que os investimentos se
traduzam nas transformações esperadas, melhorando a qualidade de vida
das populações e o ambiente em que vivem.”
A pandemia em números tados do Amapá (1102,2 por 100.000 mil habitantes), Amazonas

U
(978,6), Acre (688,5), Roraima (544,6) e Ceará (509,3).
m surto de pneumonia de causa desconhecida foi Os desafios para o enfrentamento da pandemia no país en-
identificado em Wuhan, província de Hubei na China volvem algumas fragilidades, como a estrutura de vigilância em
em 31 de dezembro de 2019. As autoridades de saúde saúde e dos serviços de saúde do SUS (Sistema Único de Saúde),
chinesas implementaram medidas de saúde pública, vi- com redução de investimentos no setor de saúde no país e na
gilância e investigação epidemiológica. Cientistas chineses isolaram área de pesquisa. Outro desafio é a capacidade laboratorial para
e sequenciaram o genoma de um novo coronavírus em 7 de janeiro detecção de casos, com expansão da capacidade de diagnósti-
de 2020, denominado posteriormente SARS-CoV-2. Em 31 de ja- co, considerando o relaxamento das medidas de distanciamento
neiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a epidemia social para que os casos leves também possam ser detectados,
de covid-19 uma emergência de saúde pública de importância in- isolados e colocados em quarentena dos contatos. A integração
ternacional, considerando 10.000 casos e 213 óbitos registrados com os diferentes sistemas de informação é fundamental para
na China, especialmente na província de Hubei e 98 casos em 18 a resposta à pandemia, como o sistema SIVEPGripe, Sistema de
países. Em 11 de Março, a OMS declarou a Pandemia, com regis- Informação sobre Hospitalização-SIH do Sistema Único de Saú-
tro de 118.319 casos e 4.292 óbitos em 114 países e territórios, de e o Sistema de Informação sobre Mortalidade-SIM. É impor-
sendo 68,4% dos casos confirmados na China. Segundo dados da
OMS registrados até 31 de maio, foram confirmados 5.934.936
casos confirmados e 367.166 óbitos, letalidade (6,2%). Os casos
estão distribuídos nas seguintes regiões: América (46,2%), Europa
(36,1%), Mediterrâneo Oriental (8,5%), Pacífico Ocidental (3,1%),
Sudeste Asiático (4,4%) e África (1,7%).”
De um total de 44.672 casos confirmados na China, a maioria se
concentrou na faixa etária de 30 a 79 anos (86,6%), com diagnós-
tico em Hubei (74,7%) e manifestação clínica leve (80,9%), grave
(13,8%) e crítica (4,7%). Houve registo de 1.023 óbitos, com letali-
dade de 2,3%, com aumento nas faixas etárias superiores, chegan-
do a 14,8% nos pacientes de 80 anos ou mais. Foram registradas
1.716 infecções em profissionais de saúde com 5 óbitos (0,3%).
Apesar da alta proporção de ignorados (53%) entre os casos con-
firmados, a presença de comorbidades foi registrada em 26% e
entre os óbitos em 67,2%, com predomínio das seguin-
tes doenças: hipertensão (39,7%), doença cardiovascular
(22,7%), diabetes (19,7%), doença respiratória crônica
(7,9%) e câncer (5,6%).
Drª Ana Freitas Ribeiro
Médica sanitarista e epidemiologista do Instituto
Apesar do Ministério da Saúde desenvolver definições
de Infectologia Emílio Ribas e Professora da
mais sensíveis de caso suspeito, ampliando os países Faculdade de Medicina UNINOVE Universidade
para investigação, não foi acompanhado de maior de- Nove de Julho e USCS - Universidade Municipal
tecção de casos, como podemos observar no período de São Caetano do Sul - Campus Centro.
de 18 de janeiro a 7 de fevereiro, quando os casos se
concentram na China. Do total de 107 casos notificados
no Brasil, 26 foram descartados, 8 suspeitos e 73 (68,2%) foram tante também ressaltar a necessidade de maior disponibilidade
excluídos pelo Ministério da Saúde, pois não cumpria definição de equipamentos de proteção individual para os profissionais
de caso da Secretaria de Vigilância em Saúde. Em 20 de março, de saúde, incluindo também capacitação para paramentação
o país iniciou a transmissão comunitária da Doença pelo coro- e desparamentação. Importante destacar o esforço mundial no
navírus (covid-19). O Brasil acumulava, até o dia 5 de abril, um desenvolvimento de pesquisas, considerando as medidas de pre-
total de 11.130 casos e 486 óbitos. (Boletim Epidemiológico Espe- venção, diagnóstico e tratamento, bem como a possibilidade de
cial 7 – COE Coronavírus – 6 de abril de 2020). Atualmente, são disponibilidade de vacina para prevenção da doença. Entretanto,
498.440 casos confirmados e 28.834 óbitos, letalidade de 5,8% e o avanço das redes sociais podem ajudar na divulgação de arti-
coeficiente de incidência de 237,2 por 100.000 habitantes, dados gos científicos, mas também há preocupação com divulgação de
até 30 de maio. As maiores incidências são encontradas nos es- notícias falsas (“fake news”).

Abril a Junho de 2020 19

 PACTO DE
MATÉRIA
CAPA
GLOBAL

Crédito: Adaptado de UNICEF 43450 Lister.

Como o mundo pode

evitar a propagação
de futuras pandemias?

Giuliana Chaves Moreira
Pesquisadora do Pacific
Institute e Assessora de Gestão
Corporativa da Água na Rede
Brasil do Pacto Global.
A
pandemia da covid-19 trouxe à tona pro-
blemas e desafios relacionados ao sanea-
mento básico. Esta não é apenas uma crise
global de saúde, mas também uma crise
social que afeta a vida de milhares de pessoas que vivem
em situação de vulnerabilidade.
A lavagem das mãos, medida fundamental contra a
covid-19, infelizmente ainda é inacessível para as 780 mi-
lhões de pessoas em todo o mundo que não têm acesso
a uma fonte de água melhorada e as 2,5 bilhões que não
têm acesso ao saneamento adequado.
Apesar de ocupar o nono lugar entre as 20 principais
economias do mundo com base em seu PIB, no Brasil,
aproximadamente, metade da população – 100 milhões
de pessoas – vive sem saneamento adequado ou qualquer
tipo de tratamento de esgoto, enquanto 35 milhões de
brasileiros não tem acesso a água potável segura (SNIS,
2018 ). Água e saneamento são direitos humanos básicos ,
reconhecidos pela Assembleia Geral das Nações Unidas em
2010, que devem ser garantidos a todos os cidadãos, mas
são negligenciados para metade da população no Brasil.
Segundo o estudo Panorama da participação privada no
saneamento, publicado em 2019, a necessidade de maior
investimento em saneamento no Brasil é uma prioridade
urgente. Para mudar esse cenário, seria necessário investir
R$20 bilhões por ano. Esse patamar nunca foi atingido.
Em 2016, por exemplo, foram investidos R$11,51 bilhões
em saneamento, ou seja, 0,18% do PIB nacional, já em
2017 caiu para R$10,96 bilhões (a meta do PLANSAB para
o setor é de 0,33% do PIB). Essa falta de acesso deixa a
população brasileira ainda mais vulnerável diante da pan-
demia, já que limita a possibilidade de as pessoas seguirem
os protocolos de segurança exigidos neste momento.
O saneamento precário se mostrou caro no Brasil, cau-
sando uma perda de R$100 milhões em 2017 devido a
internações hospitalares de pacientes no Sistema Único de

20 Saneas
Saúde (SUS) decorrentes de doenças causadas pela falta de saneamen- O recente relatório das Nações Unidas Shared Responsibility,
to básico e acesso à água de qualidade. Global Solidarity: Responding to the socio-economic impacts of
Para cada dólar investido em água e saneamento, economiza-se covid-19 (Responsabilidade Compartilhada, Solidariedade Global:
USD 4,3 em saúde global, de acordo com a Organização Mundial da Respondendo aos impactos socioeconômicos da covid-19) fornece
Saúde (OMS). Recentemente, organizações liga- uma análise das implicações da pandemia na Agenda 2030,
das ao setor privado de saneamento, e aponta que a implantação dos ODS será adversamente
reunidas em São Paulo, reforçaram impactada em decorrência da desaceleração econômica
a teoria da economia produzida por global prolongada que está sendo prevista. As
este investimento. Pelas contas do pessoas que vivem em vulnerabili-
grupo, a universalização do dade serão as mais afetadas
saneamento básico no Bra- pelos impactos negativos
A lavagem das mãos é
sil geraria uma economia da covid-19, em especial
medida fundamental
anual de R$1,4 bilhão em as populações que vivem
gastos na área da saúde.
contra a covid-19.” em favelas, devido à alta
O total de mortes confirmadas no densidade populacional e às más
Brasil causadas pela covid-19 superou em 28 de abril condições de saneamento. Uma
os números da China, país onde o vírus foi identificado das principais conclusões do relató-
pela primeira vez. Segundo o Ministério da Saúde, neste dia rio das Nações Unidas mencionado
o Brasil havia registrado 474 mortes, ultrapassando as 5 mil anteriormente, é que é necessário um
mortes e elevando o número de casos para mais de 70 mil esforço conjunto para que esta situação
no país. adversa seja superada.
Como outros países, o Brasil não estava preparado para en- Se estivéssemos mais adiantados em
frentar essa pandemia imprevisível. Acrescenta-se a esse con- nosso progresso para alcançar os ODS
texto de insegurança global o fato de a população brasileira quando a pandemia começou, responderí-
estar mais exposta em razão dos problemas amos à crise com mais resiliência. Infeliz-
estruturais do país. mente, não estávamos e corremos riscos
Na Rede Brasil, desde o início da pandemia de retroceder décadas de progresso. Do
no país, temos procurado mobilizar o setor lado positivo, a pandemia apresenta uma
empresarial em projetos e iniciativas de apoio.
Acreditamos que este é um dos caminhos
100 milhões
Vive sem saneamento adequado
enorme oportunidade para revisitar as es-
tratégias implementadas até o momento,
para que esta situação seja enfrentada de ou qualquer tipo de tratamento repensar a forma como estamos agindo,
forma não tão dura. Felizmente, temos visto de esgoto construindo sistemas de saúde mais fortes,
uma série de novas ações de empresas sendo atendendo melhor às necessidades básicas
criadas no país em resposta à pandemia. e garantindo que menos pessoas vivam em
Exemplos como este mostram como o se- extrema pobreza.
tor empresarial pode desempenhar um papel
essencial no combate à pandemia, contri-
35 milhões
Não têm acesso
É vital que o mundo não se esqueça ra-
pidamente dessa crise, mas tire lições dela
buindo com respostas imediatas e de curto a água potável segura e reconstrua sociedades mais equitativas e
prazo, pois é um grande detentor de poder sustentáveis. Todos os países devem traba-
econômico, um propulsor de inovações e tecnologias e um forte in- lhar agressivamente após esta crise para garantir acesso sustentável
fluenciador de diversas partes interessadas – governos, fornecedores, à lavagem básica das mãos para os 40% da população mundial que
funcionários e consumidores. Assim, terá um papel ainda mais impor- ainda não têm acesso à água e ao saneamento, garantindo que nin-
tante neste momento de retomada pós-covid. guém seja deixado para trás.

Abril a Junho de 2020 21

 ARTIGO
TÉCNICO

Selma Regina de Sousa Avaliação da performance das

Ganhadora do PNQS - Prêmio Na-
cional de Qualidade e Saneamento
- Categoria PEOS - Eficiência Estações de Tratamento de Esgoto
Operacional em Saneamento,
2019.
Graduada em Química Industrial
pela Faculdade Oswaldo Cruz, Es-
pecialização em Engenharia de Sa-
neamento Básico pela Faculdade
Resumo adequada tanto na abrangência quanto em flexibi-
de Saúde Pública USP e MBA em No planejamento operacional da Unidade de Negócio lidade, pois permite a avaliação de Estações de Tra-
Administração pela FIA-Fundação
Instituto de Administração. de Tratamento de Esgotos da Metropolitana - MT (SA- tamento de grande e pequeno porte, permitindo o
Química na Companhia de
Saneamento Básico do Estado de BESP), surgiu a necessidade de se ter uma ferramenta ajuste dos fatores significativos em cada unidade.
São Paulo - SABESP na Unidade
de Tratamento de Esgotos da
de gestão para Avaliação da Performance das Estações
Região Metropolitana de São de Tratamento de Esgotos. Palavras Chave: SABESP; Companhia de Saneamento
Paulo- MT. Atuou como Super-
visora de Laboratório de 2005 a O objetivo principal é dispor de um diagnóstico Básico do Estado de São Paulo; Unidade de Negócio de
2009 implantando a ISO 17025 e
Gerente de Operação das Estações mais preciso para subsidiar a tomada de decisão na Tratamento de Esgotos da Metropolitana; MT; ETE; Es-
de Tratamento de Esgotos São
Miguel 2009 a 2014 e da ETE ABC priorização dos objetos, das contratações e da ges- tação de Tratamento de Esgotos; Esgoto; Diagnóstico,
de 2014 a 2018 e atualmente atua tão de ativos aplicando os recursos de forma mais Eficiência Operacional, Otimização de Processos Opera-
como Química na Unidade.
assertiva contribuindo assim para a agilidade da ob- cionais; Performance; Fatores Significativos; Tratamento
Everton Araújo de Souza tenção dos resultados de Esgoto; IPTrat.
Formado em Técnico Químico A metodologia, denominada Avaliação da Perfor-
pela Escola Técnica Oswaldo Cruz
(2001), Graduado em Engenharia mance das Estações de Tratamento de Esgotos, se Introdução
de Produção pela Universidade
Paulista - Unip (2012). Atua baseia na realização de um diagnóstico do processo O setor de saneamento no Brasil vem enfrentando
como Técnico em Sistemas de
Saneamento pela Companhia de de tratamento de esgotos, considerando os fatores grandes dificuldades, tanto no fornecimento de água
Saneamento Básico do Estado
significativos e identificando os fatores críticos em quanto na execução do serviço de coleta e tratamento
de São Paulo - Sabesp desde
Agosto de 1996. Exerceu o cargo cada etapa do processo. de esgotos.
de Encarregado de Operação da
Estação de Tratamento de Esgotos Todos os fatores analisados possuem parâmetros Nesse contexto, é de extrema importância analisar
Barueri - ETE Barueri, de 2011
a 2018. de projeto e/ou literatura como referência para análi- a eficiência das empresas de saneamento para co-
se, parâmetros estes que possibilitam a identificação nhecer quais fatores induzem ao melhor desempe-
José Batista do Nascimento
do percentual de atendimento específico de cada nho operacional. Identificados tais fatores, as empre-
Formado em Técnico Químico
pela escola Técnica, Liceu de etapa do tratamento, ou seja, a regularidade opera- sas podem adotar condutas mais precisas, buscando
Braz Cubas. Atua há 45 anos
como Técnico em Sistemas de
cional, que varia de 0 a 100% em cada etapa. Para melhorar sua eficiência, elevando a qualidade dos
Saneamento pela Companhia de analisar o atendimento as referências são utilizadas seus processos operacionais e assim consequente-
Saneamento Básico do Estado
de São Paulo-Sabesp. Exerceu o dados gerados pelas equipes de operação e de ma- mente a qualidade de vida da população.
cargo de Encarregado da Estação
de Tratamento de Esgotos Suzano nutenção das ETEs. As empresas de saneamento buscam se adequar
- ETE Suzano, de 1994 a 2013.
A pontuação de cada fator é ponderada através de aos novos padrões de exigência dos seus clientes di-
Rita Juliana de Oliveira um modelo matemático, de forma a dar maior peso retos, da sociedade e das agências reguladoras que
Graduada em Gestão Ambiental aos itens que possuem maior criticidade no proces- cobram melhores desempenhos, e diante dos novos
pela Universidade Metodista de
São Paulo, possui também forma- so e após a avaliação de todas as etapas calcula-se desafios, um sistema de avaliação desempenho dos
ção técnica em Meio Ambiente o IPTrat – Índice de Performance do Tratamento, e processos gera maior eficiência na elaboração da es-
pela Escola Técnica Estadual Getú-
lio Vargas. Agente de Saneamento com base no IPTrat é possível identificar as lacunas tratégia e na alocação dos recursos.
Ambiental na MT - Unidade de
Negócio de Tratamento de existentes e definir planos de ações para manter a A elaboração e execução da estratégia ganhou
Esgotos da Sabesp - Companhia
de Saneamento Básico do Estado regularidade operacional. maior relevância nos últimos anos e a priorização e
de São Paulo desde 2012.
A metodologia proporcionou uma avaliação de- alocação de recursos é uma das etapas mais relevan-
talhada do processo, a melhoria na visão sistêmica, tes para que sejam obtidos os resultados esperados
promoveu a otimização do planejamento e prioriza- com a agilidade requerida.
ção das demandas e recursos. Também se mostrou O grande desafio para a melhoria da eficiência

22 Saneas
operacional das estações de tratamento de esgotos é o planeja-
mento assertivo da utilização dos recursos necessários para ma-
nutenção das ETEs, visando alcançar a melhoria dos indicadores.
É extremamente importante avaliar a performance das estações
de tratamento, visando um diagnóstico mais preciso e possibi-
litando subsidiar a tomada de decisão tanto na priorização dos
objetos das contratações, quanto na gestão dos ativos, promo-
vendo assim a aplicação dos recursos de forma mais assertiva.
Para avaliar a performance das estações de tratamento de es-
gotos da Sabesp, foi desenvolvida pela equipe local, uma meto-
dologia que consiste na avaliação de cada etapa do processo de
tratamento considerando todos os fatores que são significativos,
a fim de que as ETEs funcionem com alta qualidade e regulari-
dade (100%).
Para obtenção de maior aderência da metodologia, a mesma
foi coordenada por um grupo multidisciplinar com envolvimen-
to das diversas partes interessadas, sendo desde a alta adminis-
tração até a força de trabalho. A metodologia foi disseminada
internamente para a assessoria da presidência, para a diretoria e
diversas áreas da Sabesp, e alcançou o ambiente externo através
da apresentação em Congressos de Saneamento e também da
disseminação para o renomado consultor Daniel Nolasco, que
possui vasta experiência na área de saneamento, especialmente
em eficiência operacional.
Objetivos
A Avaliação da Performance das Estações de Tratamento de Esgotos
tem como objetivo principal a obtenção de um diagnóstico mais
preciso para subsidiar a tomada de decisão na priorização das con-
tratações e gestão de ativos, aplicando os recursos de forma mais as-
sertiva e contribuindo para a agilidade na obtenção dos resultados.
Metodologia
A metodologia de Avaliação da Performance das Estações de
Tratamento de Esgotos foi desenvolvida por uma equipe de co-
ordenação multidisciplinar e baseia-se no diagnóstico detalhado
do processo de tratamento de esgoto, que é realizado através
planilha diagnóstica, uma ferramenta desenvolvida pelo grupo de
coordenação, que possibilita o cálculo do IPTrat – Índice de Perfor-
mance do Tratamento.
A metodologia de diagnóstico permite uma análise objetiva
do processo, considerando questões relacionadas a operação e
manutenção do sistema de tratamento de esgotos. E é dividida
em etapas, compreendendo:
• Visita a ETE;
• Levantamento de dados de Projeto da ETE;
• Definição dos fatores significativos;
• Definição dos pesos referentes a cada parâmetro e etapa do
processo;
• Levantamento de dados: (balanço de massa; dados de planeja-
mento; procedimentos; resultados laboratoriais; monitoramentos
de campo, controles de processo existentes, disponibilidade de
equipamentos);
• Avaliação das etapas do tratamento;
• Definição de ajustes nos controles operacionais existentes;
• Definição do indicador IPTrat;
• Análise crítica local;
• Definição dos planos de ação.
Na Avaliação da Performance das Estações de Tratamento de
Esgoto são analisados fatores significativos, tais como: disponi-
bilidade de equipamentos, automação, controle de processo,
qualidade e eficiência em cada etapa do tratamento.
A metodologia pode ser aplicada em todos os tipos de trata-
mento de esgoto.
A figura 1 mostra o fluxograma de um processo de tratamento
de esgotos por Lodos Ativados Convencional, que é o processo
utilizado nas principais estações de tratamento operadas pela
Sabesp – MT, dentro da Região Metropolitana de São Paulo. Ver
Figura 1
Os fatores significativos possuem pesos e referências específi-
cas em cada etapa. As referências são definidas de acordo com
o projeto da ETE e literatura, e quando não identificadas são
definidas através da experiência operacional da equipe da local.
Os dados correspondentes a cada fator significativo são ana-
lisados para a verificação do atendimento as referências, sendo
que o atendimento de cada etapa pode variar de 0 a 100%,
resultando na Regularidade Operacional.
Os dados analisados são obtidos de monitoramentos reali-
zados pelas equipes de Operação (controles de processo, da-
dos de qualidade, eficiências) e do planejamento de manuten-
ção. São gerados mensalmente pelas gerencias, os Relatórios
Operacionais e de Manutenção no SAP, que é um software de
Gestão Empresarial do tipo de ERP (Enterprise Resources Plan-
ning), que manipula grandes quantidades de dados, analisa-os
e permite uma maior rapidez e o cumprimento de determina-
dos processos.
Durante a implantação da metodologia os dados foram dis-
cutidos por um grupo de trabalho formado por duas equipes: a
Abril a Junho de 2020 23
ARTIGO
TÉCNICO

Figura 1: Fluxograma do Tratamento de Esgotos por Lodos Ativados Convencional

equipe de coordenação multidisciplinar, com ampla visão sistê- ELEVAÇÃO ELEVATÓRIA FINAL
mica, conhecimento de gestão e do tratamento; e a uma equi- Vazão L/s
Automação Disponibilidade
Ref: (1,5 a
pe local da própria ETE, composta por lideranças, universitários, Mês 2,0 m3/s)
Ref SAP: (medidor Operacional Regularidade
de nível do poço Ref SAP: (bomba, Operacional
Meta 2018
técnicos, operadores e manutentores. e 2019 L/s
das bombas, CLP) motor, inversor)

Após o período de implantação e acompanhamento, a apli- Peso 30% 10% 60% 100%
cação e gestão local da metodologia passou a ser realizada pela jan/19 26% 10% 48% 84%
gerencia e equipe local da planta. fev/19 30% 10% 48% 88%
A avaliação e o acompanhamento das ações são realizados em mar/19 30% 10% 48% 88%
reunião de análise crítica nos diversos níveis da alta administração. abr/19 30% 10% 48% 88%

Com base na avaliação mensal são realizadas adequações no mai/19 30% 10% 45% 85%

planejamento e na priorização de recursos visando a eficiência jun/19 29% 10% 36% 75%

operacional e benefícios para todas as partes interessadas. jul/19 30% 10% 36% 76%

A metodologia garante a padronização dos dados para que ago/19 29% 10% 36% 75%

sejam representativos e confiáveis. Tabela 1 – Planilha Diagnóstica

A tabela 1 mostra a planilha diagnóstica da etapa Estação
Elevatória Final do processo de tratamento por lodos ativados.
As informações descritas no trabalho representam uma amostra-
gem de resultados das diversas unidades.
Fatores significativos e pesos: vazão (30%), Automação (10%)
e Disponibilidade de equipamentos (60%).
A pontuação de cada fator significativos é ponderada através
de um modelo matemático, de forma a dar maior peso aos itens
que possuem maior criticidade no processo. Consideramos que
uma etapa está com Regularidade Operacional eficiente, quando
atinge 100% de resultado no diagnóstico.
A Regularidade Operacional é medida detalhadamente em
cada etapa do processo de tratamento e após esta análise o
processo é avaliado de forma mais ampla, pois suas etapas já
avaliadas são categorizadas em Fase Líquida e Fase Sólida, per-

24 Saneas
 EFICIÊNCIA GLOBAL DA FASE LÍQUIDA EFICIÊNCIA GLOBAL DA FASE SÓLIDA

Grade
Elevatória Grades fina Condicionamento Desaguamento Regularidade
Mês de Desarenação Decantador Tanque Decantação Regularidade Mês Digestão
Final Primário Aeração Secundária Operacional de Químico do Iodo do Iodo Operacional
Esgoto
Iodo

Pesos 10% 10% 15% 15% 40% 10% 100% Pesos 10% 30% 30% 30% 100%
jan/19 8% 10% 9% 13% 27% 9% 76% jan/19 6% 28% 22% 16% 72%
fev/19 9% 10% 10% 12% 26% 9% 77% fev/19 4% 28% 21% 24% 77%
mar/19 9% 9% 13% 13% 26% 10% 79% mar/19 6% 28% 22% 26% 81%
abr/19 9% 9% 14% 12% 27% 10% 81% abr/19 7% 28% 26% 26% 86%
mai/19 9% 10% 10% 11% 28% 10% 77% mai/19 5% 28% 26% 26% 84%
jun/19 8% 9% 10% 10% 27% 10% 73% jun/19 6% 27% 26% 25% 84%
jul/19 8% 9% 11% 12% 27% 10% 75% jul/19 6% 28% 25% 28% 87%
ago/19 7% 10% 13% 12% 27% 10% 79% ago/19 7% 28% 23% 28% 86%

Tabela 2 – Eficiência Global da Fase Líquida e da Fase Sólida

mitindo a aplicação de novos pesos para que seja calculada a ELEVAÇÃO GLOBAL - ETE
Eficiência Global a partir deste novo formato, ou seja, para que Mês Fase Líquida Fase Sólida IPTrat
seja calculada a Regularidade Operacional da Fase Líquida e da Pesos 60% 40% 100%
Fase Sólida, resultado este que permite uma visualização geral jan/19 46% 29% 74%
e mais sistematizada do processo. A tabela 2 apresenta a Efi- fev/19 46% 31% 77%
ciência Global (Regularidade Operacional) das Fases Líquida e mar/19 48% 33% 80%
Sólida, lembrando que os resultados não foram apresentados abr/19 49% 34% 83%
isoladamente e sim representando uma amostragem das diver- mai/19 46% 34% 80%
sas unidades. Ver Tabela 2 jun/19 44% 33% 78%
Com a atribuição desses novos pesos é calculado o indicador jul/19 45% 35% 80%

IPTrat – Índice de Performance do Tratamento, que pode ser ve- ago/19 47% 34% 82%

rificado na tabela 3. Tabela 3 - Eficiência Global da ETE, com o indicador IPTrat

A Avaliação da Performance das Estações de Tratamento de
Esgotos tem relação direta com a gestão de riscos e com os prin-
cipais indicadores estratégicos avaliados pela alta administração.
A metodologia é inovadora, permitindo identificar a coerência
entre os resultados calculados no diagnóstico e a realidade na
estação de tratamento onde a metodologia é aplicada, conside-
rando os riscos envolvidos e ações a serem realizadas dentro de
cada etapa para melhoria do processo e êxito estratégico.
Os resultados obtidos através do diagnóstico são representa-
dos graficamente como um indicador e estratificados por etapa
do processo de tratamento em uma escala de 0 a 100% de Re-
gularidade Operacional conforme Figura 2. Podemos ver que a
Eficiência Global medida através do IPTrat é de 82% no mês de
julho, sendo a Regularidade Operacional da Fase Líquida: 47,4%
(máximo 60%) e a Regularidade Operacional da Fase Sólida:
34,4% (máximo 40%).
Na sequência, a avaliação estratificada em cada etapa na mes-
ma escala de 0 a 100%.
A figura 2 (próxima página) apresenta também os indicadores
estratégicos da Sabesp – MT, relacionados ao IPTrat.
Resultados
Com a implantação da Avaliação da Performance do Tratamento de
Esgotos, foram incorporadas diversas melhorias no processo opera-
cional e na gestão, decorrentes da avaliação detalhada do processo.
As principais mudanças estão detalhadas abaixo e os principais indi-
cadores são apresentados na tabela 4.
Processo Operacional
• Padronização dos fatores significativos e críticos entre as ETEs;
• Definição e padronização dos fatores significativos para cada eta-
pa do tratamento;
• Definição e padronização dos equipamentos críticos para cada
etapa do tratamento;
• Definição das faixas de trabalho operacional;
• Análise dos dados operacionais referentes ao mês;
• Análise dos dados de manutenção referente ao mês;

Abril a Junho de 2020 25

ARTIGO
TÉCNICO
Figura 2 – Eficiência Global da ETE e Indicadores Sabesp – MT
Abaixo o depoimento do encarregado de uma das Estações
de Tratamento de Esgotos, Rodrigo Rocha, que relatou a sua
experiência com o IPTrat – Índice de Performance de Tratamento,
que está sendo adotado em todas as ETEs.
“O IPTrat é uma ferramenta bastante útil e fácil de lidar com
ela pois uma vez que você levanta os dados e monitora os
processos individualmente você consegue realmente enxergar
aquilo que está impactando na qualidade do tratamento. Eu
vou citar o exemplo da grade média que era um equipamento
que vivia dando problemas, não tinha a eficiência de remoção
adequada e que com a metodologia IPTrat e com o apoio da
consultoria prestada pelo técnico José Batista da ETE Suzano,
nós conseguimos ter avanços bastante significativos. Hoje o
equipamento trabalha por diferencial de nível e anteriormente
ele ficava ligado vinte e quatro horas e a partir do momento
desta mudança, e concepção de trabalho, o equipamento fica
ligado no máximo uma hora por dia. Melhoramos o nível de
remoção em relação a 2018 e com isso essa etapa do proces-
26 Saneas
so ganhou em eficiência, em qualidade e diminuiu em con-
tra partida, o tempo de manutenção. Aplicando a avaliação
para outras etapas do processo, o resultado é o mesmo, você
muda a metodologia de trabalho em alguns casos, ganha em
eficiência, ganha em performance e ganha em qualidade de
tratamento”.
Gestão
• Diagnóstico do processo de tratamento, ou seja, avaliação men-
sal de cada etapa calculando a Regularidade Operacional.
• Análise crítica mensal da performance da ETE com base no diag-
nóstico;
• Definição das necessidades de contratação de forma centralizada
e ágil, pois a metodologia permite melhoria na visão sistêmica;
• Criação do escritório de projetos (PMO); para coordenação das
demandas estratégicas com pagamento variável em função da
performance.
• Centralização das contratações com planejamento plurianual;
• Avaliação da gestão de ativos de forma centralizada com base EVOLUÇÃO DOS INDICADORES

nas informações; Indicadores 2016 2017 2018

• Alocação de recursos de forma mais assertiva devido a melhoria Socioambiental Índice de Satisfação com RSA (%) 76 77 79

nas priorizações; Imagem da Unidade (%) 87 84 91

Clientes Índice de reclamação de clientes
• Agilidade. (Reclamação/clientes)
0,35 0,43 0,22

Tabela 4 – Evolução dos Indicadores

Desempenho Financeiro de Investimento
Com as melhorias na gestão, o aporte de recursos aumentou em A figura 3 mostra as visitas e reuniões de trabalho com as
61% de um ano para outro. equipes das ETEs.

Resultados Sociais e Ambientais

Os resultados foram influenciados diretamente pela melhoria
dos processos e da gestão refletindo no Índice de Responsabi-
lidade Socioambiental, o qual mostra que a Sabesp é uma em-
presa que se preocupa com a preservação do meio ambiente,
com a melhoria das condições de vida das pessoas e com o
bem-estar social.
Pequenos, mas significativos resultados ambientais e até fi-
nanceiros, também podem ser observados com a implantação
da metodologia, visto que a eficiência operacional é definida por
um todo, que, além dos diversos parâmetros já mencionados,
engloba a cultura local que define a forma que algumas ativida-
des são realizadas, assim como as definições e ajustes realizados
diretamente no processo operacional, ajustes estes que surgem
de oportunidades de melhoria identificadas durante a implanta-
ção da metodologia.

Clientes
A metodologia influencia diretamente nos resultados relaciona-
dos aos clientes, através da melhoria da eficiência operacional
das ETEs, refletindo nos indicadores: Índice de reclamações de
clientes e Índice de monitoramento da imagem, na qual é ava-
liado o respeito a sociedade e a preservação do meio ambiente.
Dentro do quesito resultados, a tabela 4 apresenta a evolução
dos indicadores.
Além dos resultados principais mostrados acima, a Avaliação
da Performance das Estações de Tratamento proporcionou troca
de conhecimento e integração entre as equipes.
A metodologia contempla visitas nas ETEs e reuniões com a
equipe de coordenação e equipe local definida pela gerência.
Durante as discussões dos trabalhos foi possível realizar um
alinhamento das informações referentes a operação das ETEs e
obter e disseminar uma maior compreensão da interface entre os
processos de operação e manutenção.
Figura 3 - Reuniões de trabalho
A metodologia de Avaliação de Performance foi apresentada
internamente na Unidade de Negócio de Tratamento de Esgoto
da Metropolitana – MT, na Troca de Experiência.
Na Diretoria Metropolitana, foi apresentada na Expo – M, que
tem como objetivo apresentar os trabalhos inovadores realizados
dentro da Diretoria no respectivo ano (2019).
Na Sabesp, a metodologia foi apresentada para a Presidência,
juntamente com o renomado consultor Daniel Nolasco como par-
te das ações do Projeto de Otimização das Estações de Tratamento
de Esgotos.
A metodologia também foi apresentada no Workshop de
Otimização das Estações de Tratamento com diversas áreas de

Abril a Junho de 2020 27

ARTIGO
TÉCNICO
Figura 4 - Troca de Experiências
interface e partes interessadas, e foram realizadas reuniões de
benchmarking para detalhamento da mesma.
A metodologia foi compartilhada externamente no Seminário
de Benchmarking realizado pela ABES em Congresso na cidade
de Salvador/BA e reconhecida como ganhadora do Prêmio Na-
cional de Qualidade em Saneamento – PNQS na categoria Prê-
mio de Eficiência Operacional no Saneamento – PEOS.
A figura 4 apresenta eventos de troca de experiência, através
da disseminação da metodologia em diversos fóruns na Sabesp
e no Congresso de Saneamento (ABES).
Conclusões
Na Unidade de Negócio de Tratamento de Esgotos - MT, a Avaliação
da Performance das Estações de Tratamento de Esgotos propor-
cionou um diagnóstico mais preciso do processo para subsidiar a
tomada de decisão e agilidade na obtenção dos resultados.
A metodologia ficou popularmente conhecida como IPTrat,
nomenclatura do indicador que norteia o trabalho, e a gestão
dos processos de tratamento de esgoto e de manutenção foram
intensamente afetados pela metodologia, pois as informações
geradas pelo indicador IPTrat são avaliadas mensalmente em
reunião de análise crítica pela área operacional e de manuten-
ção, possibilitando a identificação imediata dos problemas e da
fase do tratamento que apresenta o problema. A metodologia
28 Saneas
realiza um mapeamento completo do sistema de tratamento, e
esse olhar tão crítico surge ao analisar o passado, trabalhando
de forma corretiva; observar o presente para compreender a ne-
cessidade de mudanças; e manter o foco no futuro, trabalhando
de forma preventiva, com foco total na Regularidade Operacio-
nal de 100%.
A alta administração otimizou o planejamento com a prio-
rização das demandas contratuais e demandas para a gestão
de ativos. As avaliações realizadas mostraram a necessidade da
criação do Escritório de Projetos para coordenação das deman-
das estratégicas.
A alocação de recursos passou a ser direcionada pela Avalia-
ção da Performance das Estações de Tratamento.
A metodologia de Avaliação da Performance das Estações de-
senvolvida pela equipe interna da Sabesp, mostrou-se relevante
na abrangência e flexibilidade pois a metodologia foi estendida
para as ETEs de médio e pequeno porte e também para as Esta-
ções Elevatórias de Esgoto a montante as ETEs, gerando ainda
interesse na aplicação da metodologia por outras áreas da Em-
presa e realização de benchmarking reverso.
A metodologia tem ampla utilização, podendo ser estendida
a diversos processos dentro do setor de saneamento, gerando
benefícios para as partes interessadas: acionistas, pessoas, cien-
tes e sociedade.
 ARTIGO
TÉCNICO

Marcel Costa Sanches Guidance de boas práticas dos serviços

É graduado em Engenharia Civil,
com especialização em Regulação
de Serviços Públicos pela War-
de saneamento no enfrentamento à
rington College of Business da
Universidade da Flórida (EUA) e
pela London School of Economics
covid-19 no mundo
and Political Science – LSE (Reino
Unido). Funcionário de carreira
da Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que Partindo de orientações iniciais, o Reino Unido
– SABESP, possui uma trajetória
profissional direcionada para o coronavírus 2019 (que causa a covid-19) é um surto criou um General Guidance recomendando a todos
formulação, implementação e de emergência de saúde pública de interesse interna- os trabalhadores e empregadores, independente-
acompanhamento de políticas
públicas nas áreas de saneamento cional e ativou a Política de Gerenciamento de Crises. mente dos riscos de exposição específicos: Lave fre-
básico, infraestrutura urbana e
habitação. Atualmente, exerce No contexto dos serviços públicos de abastecimento quentemente as mãos com água e sabão por pelo
a função de Superintendente de
Assuntos Regulatórios da Com- de água e esgotamento sanitário destacam-se dois menos 20 segundos e quando água e sabão não es-
panhia desde março/2016, com pilares e ações: PILAR 6: Prevenção e controle de in- tiverem disponíveis, use álcool com pelo menos 60%
destaque para a coordenação dos
processos de contratualização com fecções, cuja ação é Apoiar o acesso aos serviços de de álcool.
os municípios, regulação técnica,
fiscalização regulatória e revisão água e saneamento para a saúde em locais públicos e O Governo Português assinou decretos para ga-
tarifária. É membro do Conselho
Estadual de Saneamento – espaços comunitários com maior risco; e PILAR 8: Su- rantir “serviços essenciais ao país” inserindo garan-
CONESAN, Diretor da Associação
Brasileira de Engenharia Sanitária
porte Operacional e Logística, cuja ação é Identificar tias do acesso à água a vulneráveis e inadimplentes
e Ambiental – ABES – Seção São e apoiar funções críticas que devem continuar duran- (ECOSAPO, 2020), “assegurando a continuidade e a
Paulo e Coordenador da Câmara
Técnica de Regulação da Associa- te um surto generalizado de covid-19 (por exemplo, ininterruptibilidade da prestação dos serviços públi-
ção Brasileira das Empresas Esta-
duais de Saneamento – AESBE. água e saneamento) (WHO, 2020). Nesses pilares, cos” de abastecimento de água para consumo hu-
campanhas publicitárias estão acontecendo nos di- mano; determinou também que as empresas devem
Ester Feche
versos países ensinando a lavar as mãos corretamente incluir no seu plano de contingência e procedimen-
Professora do Curso de Pós-
-graduação Planejamento, para a população compreender que água e sabão são tos básicos para higienização, e regras de etiqueta
Regulação e Benchmarking da
EESC/USP. Possui doutorado em as primeiras armas contra a epidemia como medida respiratória (evitar tossir ou espirrar para as mãos)
Ciências da Engenharia Ambiental de higiene eficaz e suficiente preconizada pela OMS (DINHEIROVOVO (2020)). No contexto da gestão da
EESC/USP e Universidade de
Lisboa (2015), MBA Americano (FUTURA-SCIENCES, 2020). Segundo Latour (Le Mon- operação, a Comissão Coordenadora Distrital infor-
Escola de Economia FGV e OHIO
University (2010), Especialização de, 2020) esse “estado de guerra” traz na crise sani- mou que o consumo de água aumentará “em virtude
em Engenharia Sanitária FSP/USP
(1993), graduação em Engenheira tária uma função pedagógica de como lavar as mãos, da prevenção e controle da propagação da covid-19
Eletricista Fundação Armando
Álvares Penteado (1985). É
e tossir no cotovelo, mas para a mutação ecológica é o por causa da lavagem mais frequente das mãos, rou-
membro do Conselho Estadual de estado que se encontra em situação de aprendizado. pas e banhos”, justificando pedido de isenção para
Recursos Hídricos de São Paulo
desde 2016, é Coordenadora Superadas essas ações básicas e fundamentais, o 14 municípios das contas de água durante o perí-
Institucional da AESABESP. Asses-
sora de Assuntos Regulatórios da objetivo é apresentar as atuais práticas de gestão dos odo em que a pandemia estiver ativa (NOTICIASO-
SABESP. É membro do conselho
do Projeto Safewater do Global
prestadores de serviços públicos de saneamento para MINUTO(2020)). O regulador nacional está fazendo
Challenges Research UK, para cidades já afetadas pela covid-19 em outros países publicações sobre Resíduos Sólidos e a atuação nos
bioengenharia e nanotecnologia
(NIBEC -Nanothechnology and relacionados aos desafios enfrentados. Não se pre- serviços públicos tem sido do governo.
Integrated BioEngenhary Center)
desde 2017. tende esgotar o tema, porque diariamente são publi- A França se preparou para aumento no abasteci-
cadas centenas de artigos e novas ações. Os gover- mento público dos municípios periféricos de Paris con-
nos e equipes técnicas de procedimentos básicos de siderando um fluxo migratório das famílias francesas
contingência passaram a identificação de contextos para isolamento social nas segundas residências, po-
técnicos, sociais e financeiros mais complexos. dendo levar escassez nas regiões periféricas (OUEST-
A água sempre será essencial e em tempos de pan- -FRANCE,2020). Foi criado um conselho científico e
demia o setor terá maiores pressões operacionais, as- alguns prefeitos publicaram decretos proibindo as
sim a questão que surge é: como se preparar para pessoas de se aproximarem dos cursos d´água (HEBDO-
catástrofes e contingências? -ARDECHE,2020). As empresas de água implantaram

Abril a Junho de 2020 29

ARTIGO
TÉCNICO
seu “Plano de continuidade de negócios” (BCP), que consiste na
implantação de medidas reflexas antecipadas. Cada plano envol-
ve redução de trabalho presencial entre 40 a 50% de pessoal e
mobiliza determinados perfis especializados presencialmente que
são capazes de garantir a continuidade das atividades, afirmam que
manutenções preventivas permitem maiores reduções ainda. Desta-
cam que em tempo de crises os serviços de saneamento são os mais
demandados devido a sensibilidade aos serviços de saúde (EMPLOI-
-ENVIRONNEMENT, 2020). No caso da França também o Poder Pú-
blico toma a liderança das determinações por meio de decretos.
O Governo Americano publicou decreto sobre a essenciali-
dade dos serviços de abastecimento de água e esgotamento
sanitário. A Agência Federal de Gerenciamento de Emergências
(FEMA) recomendou que a população armazene um galão/pes-
soa para um período de 14 dias. Mesmo assim a Agência de
Proteção Ambiental (EPA) e os Centros de Controle e Prevenção
de Doenças não recomendam a compra de água engarrafada,
pois o vírus é considerado suscetível à desinfecção das Estações
de Tratamento e entende-se que os métodos de filtragem e de-
sinfecção utilizados pelos sistemas públicos de água potável são
eficazes para a covid-19. Os prestadores de serviços públicos se
prepararam para fazer desinfecção de rede com água ferven-
te caso a água de uma comunidade tenha sido contaminada
por microorganismos. Essa já é uma prática comum quando
há manutenção ou ruptura da rede. No contexto regulatório,
o California State Water Resources Control Board (State Board)
e o Regional Water Quality Control Boards (the Regional Water
Boards) publicou um guia de requisitos regulatórios para a co-
vid-19. No Sistema Nacional de Eliminação de Descarga de Con-
taminação (“NPDES”) de âmbito estadual, os regulados devem
“imediatamente” notificar o State Board qualquer desconfor-
midade devido aos impactos da covid-19. São destacados: Re-
quisitos de descarga de contaminação de acordo com o Código
da Água da Califórnia, Ordens de limpeza e outros. Grupos de
pesquisa afirmaram que não há qualquer comprovação até o
momento que essa forma de contaminação seja possível. As De-
liberações ocorrem por diversas Agências nas respectivas esferas
de competência sob a liderança dos decretos federais (PAENVI-
RONMENTDIGEST, 2020; WHO, 2019; CDC, 2020; EPA, 2020).
A Alemanha, França, Estados Unidos consideram que a pre-
sença do vírus nas fezes humanas é suficiente para definir cui-
dado com colaboradores nas estações de tratamento e rede de
coleta. Em Michigan, o Center for Desease Control and Pre-
vention - CDC, a covid-19 foi detectado nas fezes de alguns
30 Saneas
pacientes diagnosticados. Inicialmente, a OMS, considera que
a covid-19 não se espalhou pelos sistemas de águas residuais,
independentemente de terem sido tratados ou não (CDC,2020).
Mas o debate continua diariamente, e as recentes publicações já
relatam a presença do VIRUS covid-19 nas Estações de esgoto.
Igualmente na França, frente as constatações de virus nas fezes
humanas e serviços de esgotamento sanitário, a França conside-
ra a possível contaminação pela covid-19 por meio de efluentes,
e o setor está fortalecendo medidas para proteger os agentes. A
Fédération des entreprises de l’eau (FP2E)’’ reforça a recomenda-
ção do uso de máscaras, óculos e luvas no campo’’, estimando
que serão necessárias entre 100 mil e 500 mil máscaras por se-
mana no setor (The Lancet, 2020, Lactu-environnement, 2020).
O departamento de genética e microbiologia e estatística da
Universidade de Barcelona afirma que a contaminação por esgo-
to é possível (sempre na forma de aspersão) e que os sistemas de
tratamento das Estações, incluindo as de Reuso para patógenos
virais podem ser suficientes para proteger os processos. Devendo
haver preocupação com a força de trabalho (Webnar, 2020).
No contexto de áreas de favelas, a ONU-Habitat incentiva ofere-
cer, além de abastecimento de água sem custos para a população,
construir uma rede colaborativa entre empresas para consultoria
técnica, treinamento on-line e suporte, além de compartilhar in-
formações e aprendizado na resposta a covid-19. Especialistas
fizeram uma demanda para que a ONU-Genebra proíba imedia-
tamente cortes de água para vulneráveis que não podem pagar
contas de água, fornecimento de água sem custo durante a cri-
se para as pessoas em situação de pobreza, em assentamentos
informais, sem-teto, idosos, deficientes, migrantes, refugiados e
todos os grupos vulneráveis aos efeitos da pandemia (UN, 2020),
GULF TODAY, 2020). Nesse sentido, normatização cujo o direito
de propriedade não acentue as desigualdades no direito de acesso
a água segura dessas populações tornou-se deliberação do regu-
lador de Michigan (Syakriah, 2020, NRDC,2020).
A PwC-Vietnam prevê que haverá um aumento significativo
de empresas que realizarão revisão do planejamento com ado-
ção de cenários e modelagem financeira para possíveis impactos,
fazendo mudanças à medida que buscam estimar o efeito do
surto. Já há modelos sendo revisados para incorporar impactos
econômicos de pandemias passadas, como SARS e MERS nos
anos de 2000, bem como surtos em 1968 e 1918 da Gripe Es-
panhola. As revisões de processos já sustentam preocupações de
que a covid-19 sinaliza um futuro em que as pandemias serão
mais frequentes como por exemplo: Comunicação e divulgação;
Relação com a Cadeia de Suprimentos e estoques, Estratégias
comerciais digitais de relação com mercado; e Inovação do mo-
delo de negócio. Todas essas revisões têm objetivo de mapear
e avaliar impactos (financeiros e técnico-operacionais) de longo
prazo nos mercados que operam para responder às partes inte-
ressadas. Assim, os pontos destacados da análise publicada são:
O coronavírus pode: Afetar as operações, valores e divulgações
nas demonstrações financeiras de uma empresa; As empresas
podem precisar ajustar as estimativas de arrecadação que im-
plica no reconhecimento de receita; Interrupções na cadeia de
suprimentos e demanda reduzida podem afetar projeções finan-
ceiras, também há possibilidade de ágio ou deterioração intan-
gível; Outros impactos possíveis são na contabilidade de hedge,
remuneração de ações e muito mais. As partes interessadas,
incluindo a SEC, estão focadas na transparência da divulgação
dos impactos reais e previstos, sendo que as decisões tomadas
podem promover: Ágio e impairment intangível e redução do
valor dos ativos; Capacidade ociosa e instalações vagas afetando
alocação indireta fixa; Contabilidade de cobertura, como hedge
e fluxo de Caixa afetados; e Fatos relevantes para riscos e incer-
tezas. No contexto da força de trabalho, recomendam: Analisar
locais da força de trabalho e viagem; Revisar de planos de crise
e continuidade; Avaliar a cadeia de suprimentos e procedimento
de estoques; Fazer comunicação assertiva; Identificar possíveis
pontos de falhas (há profissionais aptos a assumir cargos críti-
cos? Estão preparados para turnos alternados e trabalhos remo-
tos?); Usar análise de cenários e outros riscos (PwC, 2020).
A Veolia na Itália elaborou um plano de emergência e montou
uma equipe de crise que monitora e avalia continuamente evo-
lução de cenários e deriva as medidas apropriadas para manter
as operações comerciais, cadeia de suprimentos em coordena-
ção com nossos fornecedores, o mais proativamente possível, os
perigos para clientes e funcionários (VEOLIA, 2020).
No contexto regulatório, as proteções devem passar por pu-
blicação de Decretos, Deliberações de suspenção de prazos e
Revisões de Orçamentos, uma vez que as determinações dos
Estados da Califórnia, Illinois, Nova York, Nova Jersey, admitem
que as restrições da pandemia afetam continuidade por Ordem
Judicial, para suspensão de multas e outras responsabilidades
sob os decretos de licenciamento, ordens administrativas ou
vários outros acordos ou regulamentos impostos por normas
ambientais estaduais e federais. (LEXOLOGY,2020).
A Passaic Valley Water Comission (PVWC) conduz uma coor-
denação com fornecedores críticos de suprimentos para o setor
avaliando futuras capacidades de entrega; Abastecimento de to-
dos os produtos químicos essenciais para garantir estoque ade-
quado; e Desenvolvimento de planos de contingência para ope-
rar instalações com pessoal reduzido, caso tal situação ocorra.
A Associação Nacional de Agências de Reguladoras de Água
- NACWA estima que as concessionárias de abastecimento de
água possam enfrentar US$ 12,5 bilhões em perdas pelo impac-
to da covid-19 por: queda na receita com o declínio no uso de
usuários comerciais e industriais, a restauração do serviço aos
contribuintes inadimplentes que não podem pagar suas con-
tas e a interrupção por falta de pagamento. As concessionárias
de todo o país também estão suspendendo as interrupções da
água e restaurando as conexões para o serviço de água e esgoto
nas contas inadimplentes, aceitando uma perda financeira na
restauração dessas contas devido ao papel crítico que o sanea-
mento desempenha para controlar o coronavírus. O impacto do
coronavírus, segundo as agências será “enorme” por perda de
receita das famílias que não conseguirem pagar suas contas e o
repentino declínio da demanda de água industrial e comercial.
Empresas e Departamentos de Serviços públicos revisaram e im-
plementaram seus planos de emergência para garantir a conti-
nuidade das operações, assumindo uma perda média de receita
de 20%, que está bem dentro da faixa que as concessionárias
individuais já estão projetando. Algumas concessionárias estão
prevendo uma perda de receita de 30 ou 40%. Essa estimativa
baseia-se nos dados financeiros na sua Pesquisa Financeira e
em relatórios recentes dos membros da NACWA sobre a di-
minuição no uso que estão observando em seus sistemas nas
últimas semanas. “Ao mesmo tempo, as concessionárias estão
priorizando a manutenção de sua força de trabalho - muitas
das quais são posições essenciais que não podem ser executa-
das remotamente - seguras e protegidas. E estão trabalhando
para garantir que tenham os recursos disponíveis para continu-
ar operando por quanto tempo a pandemia possa durar. Outra
grande tensão será o custo de amortizar a dívida do cliente de-
vido à concessionária e restabelecer o serviço. A NACWA disse
que, sem assistência federal, a perda de receita com o perdão de
dívidas de clientes e a prestação de serviços sem pagamento du-
rante a pandemia será repassada aos clientes de água nos anos
subsequentes e levará a futuros aumentos nas tarifas. A NACWA
disse que estima o impacto das concessionárias de água potável
em todo o país, perdoando dívidas pendentes dos clientes e ga-
rantindo que todas as famílias mantenham os serviços de água
potável em US$ 336 milhões. Esta é uma estimativa conserva-
Abril a Junho de 2020 31
ARTIGO
TÉCNICO
dora, com base nos níveis de atraso de pagamento em anos
normais nos relatórios das agências reguladoras. A NACWA
acrescentou que esses custos vêm além dos custos operacionais
de emergência que as concessionárias incorrerão. Identificou-
-se que compõem o plano de ações: planejamento e execução
de serviços abrangentes de preparação, resposta e recuperação
de emergência para empresas de avaliações de risco, resiliência,
vulnerabilidade a riscos e impacto nos negócios, capacidades e
lacunas, Realização de avaliações de integridade da cadeia de
suprimentos e avaliações de riscos de EPI, Ajudar a preparar a
equipe crítica e essencial e suas famílias para isolamento e / ou
quarentena a longo prazo, Avaliando os recursos operacionais
atuais de operações remotas. (NACWA, 2020).
As empresas de serviços públicos estão acompanhando de
perto as diretrizes do CDC e da EPA , e as condições atuais de
desinfecção nas estações de tratamento devem ser suficientes
para proteger a saúde pública. A assistência federal voltada para
lidar com o ônus dos consumidores e tornar os serviços públicos
inteiros por fazer sua parte para facilitar a pandemia - manter
e restaurar o acesso aos serviços - é extremamente necessária
neste momento (WATER FINANCIAL&MANAGEMENT, 2020).
Também se tem adicionado maiores dosagens de cloro ao trata-
mento de água com vistas a contribuir com o efeito sanitário de
conferir maior proteção ao uso da água pelas pessoas.
Foi estimado em mais de 15 milhões de americanos experi-
mentaram um corte de água em 2016, porque não podem pa-
gar suas contas de água. Detroit, Michigan e Buffalo, Nova York
determinaram a religação. O Estado de Ohio, um dos mais tradi-
cionais na regulação de serviços públicos, para proteção também
da concessionária, os municípios deliberaram que: restaurará o
serviço apenas nas contas de água ativas que foram encerradas
ou suspensas após 1º de janeiro, 2020. As contas encerradas
antes dessa data, 1º de janeiro de 2020, ou as contas identifi-
cadas como envolvidas em atividades ilegais estarão sujeitas às
políticas e procedimentos normais do Departamento de Água
para restaurar o serviço (YOUNGSTOWNOHIO, 2020).
Os associados da Associação das Empresas de Serviços Terceiri-
zados e Construção Civil que atendem os setores de saneamento
e energia se organizaram para elaboração de uma carta de de-
mandas à Casa Branca encaminhada em 25/03/2020: Conside-
rando que garantem que centenas de milhões de americanos
tenham acesso à água e ao saneamento, que são essenciais para
minimizar o número de empresas fechadas com trabalhadores
desempregados nessa indústria, bem como apoiam as linhas
32 Saneas
de frente que estão garantindo acesso a água potável e sanea-
mento adequado para todos os americanos, demandam a Casa
Branca : Expandir os empréstimos para fornecer acesso imediato
ao capital para pequenas empresas, suspender a apresentação
de devoluções comerciais e o pagamento de todos os impostos,
tratar o setor de construção e o trabalho como vital e essencial
para os setores críticos, garantir a continuidade do serviço de
água e energia, fornecer água potável e assistência de esgoto a
famílias de baixa renda (IAPMO, 2020).
Na Figura 1 apresentamos as Práticas Mundiais do Setor de
Saneamento para Enfrentamento à covid19 adotadas nos países.
Conclusões e Recomendações
Os diversos especialistas e gestores consideram que há uma sobre-
carga sobre o setor saneamento por ser um serviço essencial dire-
tamente ligado ao setor da saúde além das externalidades positi-
vas naturais sobre a saúde coletiva. A água sempre será essencial
em tempos de guerra e de paz, saúde ou doença. O arcabouço
que garanta a previsibilidade do setor começa a alargar as estacas
para considerar eventos ambientais e sociais mais extremos que
devem se intensificar. Na Figura 2 podemos verificar um guidan-
ce de boas práticas do setor de saneamento no enfrentamento à
covid-19, com a identificação de uma série de ações que podem
ajudar os prestadores de serviços de saneamento a lidar com a
crise gerada pela pandemia.
No contexto da estratégia do enfretamento à covid-19 pela
gestão, sugere-se a criação de uma Equipe de Crise para moni-
torar diariamente os eventos, criar e revisar os Planos de Crise e
Contingência constantemente de forma a garantir seu cumpri-
mento, bem como eventuais necessidades de mudanças de rumo.
Nesse sentido, recomenda-se rever as estratégias de gestão
diariamente, de forma a atender as definições de Estado e de
demandas regulatórias para o enfrentamento à covid-19 com
celeridade, visão integrada e garantia de que as ações presen-
tes serão reconhecidas pelo regulador no futuro, dado que os
serviços públicos de saneamento básico se constituem em uma
atividade regulada pelo Estado. Dentre elas destacam-se: plane-
jamento considerando análise dos novos cenários, requisitos das
partes interessadas, orçamento e plano de negócio (impactos
de custos, receitas e investimentos) e avaliar impacto de longo
prazo no mercado, mapear os drivers dos impactos financeiros
e operacionais para responder às partes interessadas, elaborar
uma modelagem financeira que contemple impactos econômi-
cos e plano de negócios das Revisões Tarifárias, revisar proces-
 DETERMINAÇÕES E AÇÕES DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO – COVID-19
PAÍSES
AÇÃO
PORTUGAL USA FRANÇA ALEMANHA UK BULGÁRIA FILIPINAS SYRIA INDIA KWAIT

Decretos de ESTADO X X X X X X X X X X

Isenção de Pagamento X X X

Postergação de Pagamentos de Dívidas X X X X

Suspensão de corte X X X X X X

Outros garantias abastecimento X X X X

Divulgação lavar as mãos X X X X X X X X X X

Proibição acesso cursos d´água X X X

Rever Cadeia de Suprimentos X X X X

Planejar abastecimento para êxodos X

Comercial - Aplicativos remotos X X X X X X X X X X

Planos de Contingências X X X X X X X X X X

Conselho Científico/ Comitê de Crise X X X

Plano de Desinfecção de Redes X X X

Plano de Desinfecção de ETEs X X X

Revisão do Planejamento em Cenários X X

Revisão Orçamentária e Regulatória X

Pleitos ao Regulador X X

Revisão do Modelo de Negócio X

Figura 1: Práticas Mundiais do Setor de Saneamento para Enfrentamento à covid-19

Fonte: Levantamento realizado pelos autores (2020)

sos técnicos da operação, comerciais e financeiros da prestado-
ra de serviços.
No contexto operacional, as recomendações concentram-se
em: Coordenação com fornecedores críticos de suprimentos
para avaliar futuras capacidades de entrega; Abastecimento de
todos os produtos químicos essenciais para garantir estoque
adequado; e Desenvolvimento de planos de contingência para
operar instalações com pessoal reduzido, caso tal situação ocor-
ra, Planos de contingência específicos para contaminações de
redes e Estações (conforme evoluir o resultado dos estudos so-
bre a presença de vírus em efluentes); Planejamento de eventos
de sobrecarga no sistema de abastecimento proveniente do au-
mento de consumo vindo de hospitais de campanha para UTIS e
hospitais temporários, deslocamento do consumo para bairros
periféricos e cidades de segundas residências.
No contexto comercial, atendimentos on-line e por aplicati-
vos para todos os serviços estão implantados ou implantação
em todos os países, eliminando o atendimento presencial aos
clientes. Cabe destacar a decisão em todos os países pesquisa-
dos sobre a suspensão temporária de pagamentos de tarifas por
famílias vulneráveis, suspensão de corte de abastecimento, e
restabelecimento do fornecimento de residências, bem como a
provisão de água a moradores de rua e refugiados visando aten-
der deliberação das Nações Unidas, considerando a quarentena
e isolamento social das famílias.
No contexto de investimentos e obras, manter o ritmo de in-
vestimentos, considerando a essencialidade dos serviços no apoio
a saúde coletiva, garantia do interesse dos investidores no setor,
apoio a economia e geração de empregos e renda. As atividades
de construção civil foram consideradas essenciais e, portanto,
não sujeitas à interrupção total pela maioria dos governos.
No contexto de terceirizados, identificou-se nos Estados Unidos
uma preocupação para a saúde financeira dessas empresas de
forma com a garantia da continuidade dos serviços prestados.

Abril a Junho de 2020 33

ARTIGO
TÉCNICO

FIGURA 2: GUIDANCE DE BOAS PRÁTICAS DO SETOR DE SANEAMENTO NO ENFRENTAMENTO À COVID-19

ESTRATÉGIA DE GESTÃO
■■ Criar uma Equipe de Crise para monitorar diariamente os eventos
■■ Criar e revisar os Planos de Crise e Contingência
■■ Rever as estratégias de gestão de forma a atender as definições de Estado e de demandas regulatórias
■■ Rever o planejamento considerando análise dos novos cenários e requisitos das partes interessadas
■■ Rever orçamento e plano de negócio (impactos de custos, receitas e investimentos)
■■ Rever e avaliar impacto de longo prazo no mercado
■■ Mapear os drivers dos impactos financeiros e operacionais para responder às partes interessadas
■■ Elaborar uma modelagem financeira que contemple impactos econômicos e plano de negócios das Revisões Tarifárias
■■ Revisar processos técnicos da operação, comerciais e financeiros da concessionária

CONTEXTO OPERACIONAL
■■ Coordenação com fornecedores críticos de suprimentos para avaliar futuras capacidades de entrega;
■■ Abastecimento de todos os produtos químicos essenciais para garantir estoque adequado;
■■ Elaborar de planos de contingência para operar instalações com pessoal reduzido
■■ Elaborar plano para desinfecção por contaminações de redes e Estações (conforme evoluir o resultado dos estudos sobre a
presença de vírus em efluentes);
■■ Planejamento de eventos de abastecimento de sobrecarga no sistema de abastecimento proveniente do aumento de consumo
vindo de hospitais de campanha para UTIS e hospitais temporários, deslocamento do consumo para bairros periféricos e cidades
de segundas residências.

CONTEXTO COMERCIAL
■■ Implementar atendimentos on-line e por aplicativos para todos os serviços possíveis.
■■ Implantar a Suspensão de pagamentos por famílias vulneráveis,
■■ Implantar a suspensão de corte de abastecimento, e restabelecimento do fornecimento de residências
■■ Garantir a provisão de água a moradores de rua e refugiados.

CONTEXTO DE INVESTIMENTOS E OBRAS

■■ Manter o ritmo de investimentos, considerando a essencialidade dos serviços no apoio a saúde coletiva, garantia do interesse
dos investidores no setor, apoio a economia e geração de empregos e renda.

CONTEXTO DE TERCEIRIZADOS
■■ Manutenção dos contratos considerando a preocupação com a saúde financeira dessas empresas e garantia da continuidade
dos serviços prestados. Fonte: Os autores (2020)

Como conclusão, é necessário lembrar que toda crise traz
grandes oportunidades de reflexão e melhorias nos processos
em curso. Exemplo no evento do furacão Katrina em Nova Or-
leans em 2005, que afetou 1,3 milhão de pessoas que saíram
do estado de Louisiana nos EUA, 400 mil delas só da cidade de
Nova Orleans, o que foi considerado um marco nos eventos ex-
tremos do clima para governos e um referencial para mudanças
de Políticas Públicas, práticas de gestão e inovações. Também,
ocorreram mudanças nas práticas, projetos de concessionárias
de serviços públicos e planos de contingência naquela oca-
sião. Como exemplo, o rompimento de redes de gás e petróleo
motivaram após anos de discussões e estudos redefinição de
parâmetros para projetos para cidades mais resilientes, desen-
volvimento de equipamentos e válvulas mudaram paradigmas
e foram instaladas em todos os estados da América visando au-
mentar o nível de segurança das cidades em catástrofes.
Certamente, a pandemia da covid-19 será um marco na his-
tória da humanidade e nas práticas de gestão de cidades, que
deverão se tornar mais resilientes para enfrentamento de catás-
trofes provenientes de pandemias, as quais, segundo pesquisa-
dores da saúde poderão ser mais frequentes nos meios urbanos
no futuro.

34 Saneas
 ARTIGO
TÉCNICO
Bruno Pereira
Toniolo
Análise espacial e temporal do IQA em cursos
Mestrando em Ciências
Ambientais na Unesp Sorocaba e
de água presentes na porção oeste da Região
Projetista-cadista na SABESP
btoniolo@sabesp.com.br Metropolitana de São Paulo
Darllan Collins da
Cunha e Silva
Professor na Unesp
Resumo
de Registro O uso indiscriminado da água pode levar à degradação
darllan.collins@unesp.br
dos corpos hídricos, principalmente devido as interven-
Roberto Wagner ção antrópica na ocupação das bacias hidrográficas.
Lourenço
Diante disso, esta pesquisa objetiva mapear a variabi-
Professor na Unesp
de Sorocaba lidade espacial e temporal do índice de qualidade das
roberto.lourenco@unesp.br
águas superficiais (IQA) da Unidade de Negócio Oeste
(MO) da Companhia de Saneamento Básico do Estado
de São Paulo (SABESP). Para isso, foram consultados os
dados históricos entre 2001 e 2016 dos postos de mo-
nitoramento da Companhia Ambiental do Estado de
São Paulo (CETESB) e elaborado um mapa temático por
meio do uso de um interpolador aplicado aos dados de
IQA. A MO apresentou na média uma classificação do
IQA entre ruim e razoável, com alguns pontos somo
bom, sendo estes relativamente constantes ao longo do
tempo e com variabilidade espacial alta.
PALAVRAS-CHAVE: geoprocessamento, qualidade da
água, interpolação, SIG.
Introdução
O estado qualitativo da água é um conceito que não
se limita à determinação de sua pureza somente, mas
também às propriedades desejáveis para diversas apli-
cações, sendo que estas propriedades físicas, químicas
e biológicas podem ser modificadas. Muitas vezes, essa
alteração é ocasionada pela poluição com diversas
origens, sendo que o uso descomedido dos recursos
aquáticos provoca diversos problemas ambientais, es-
pecialmente em regiões ciliares, modificando a quali-
dade das águas superficiais nas bacias hidrográficas
(ANDRADE et al. 2005).
A interferência antrópica gera impactos ambien-
tais negativos na qualidade das águas aparentes e
subterrâneas devido ao lançamento de efluentes nos
córregos ter aumentado a taxas inquietantes, espe-
cialmente nos aglomerados urbanos, mostrando a
insuficiência de redes de esgotamento e a baixa edu-
cação ambiental da população sobre a conservação
dos recursos naturais (LOPES et al., 2008).
O Índice de Qualidade da Água (IQA) avalia a
qualidade da água bruta objetivando seu uso para
o abastecimento público depois do tratamento. Para
o cômputo do IQA são considerados nove parâme-
tros, cada um com um peso, os quais são: oxigênio
dissolvido (0,17), coliformes termotolerantes (0,15),
potencial hidrogeniônico – pH (0,12), demanda
bioquímica de oxigênio – DBO (0,10), temperatura
(0,10), nitrogênio total (0,10), fósforo total (0,10),
turbidez (0,08) e resíduo total (0,08). O IQA apre-
senta restrições pois o índice não avalia variáveis
também importantes para o abastecimento público
como protozoários patogênicos e substâncias tóxi-
cas como metais pesados, pesticidas e compostos
orgânicos por exemplo (ANA, 2004).
Segundo PINHEIRO et al. (2009), a geolocalização
dos dados sobre qualidade das redes de drenagem e
espelhos de água nas bacias hidrográficas é funda-
mental para o gerenciamento dos recursos hídricos
e manejo do saneamento básico, podendo ser mate-
rializada pelo geoprocessamento na implantação de
informações para um estudo ambiental mais deta-
lhado, mais rápido e menos oneroso.
Diante disso, este trabalho objetiva analisar tem-
poralmente e espacialmente os valores do IQA com
o auxílio de Sistemas de Informações Geográficas
(SIG) para a Unidade de Negócio Oeste (MO) da
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São
Paulo (SABESP).
Material e métodos
A área de estudo corresponde a Unidade de Negócio
Oeste (MO) e está localizada na zona oeste da Região
Metropolitana de São Paulo (RMSP). Trata-se de uma
das 16 Unidades de Negócio (UM) da Sabesp que inte-
gra a Diretoria Metropolitana, respondendo pela opera-
Abril a Junho de 2020 35
ARTIGO
TÉCNICO

ção dos serviços de saneamento básico dos municípios de Barueri,
Santana de Parnaíba, Pirapora do Bom Jesus, Cotia, Vargem Gran-
de Paulista, Itapevi, Carapicuíba, Jandira, Osasco, Taboão da Serra
e parte de São Paulo (bairros do Morumbi, Jaguaré, Campo Limpo,
Pirajussara e Butantã). Estas UN são divididas de forma estratégica
de acordo com os limites administrativos e setores de abastecimen-
to existentes.
Esta unidade foi criada em 1996, possui uma área de 1035,84
km², e atende atualmente a uma população de 3,5 milhões de
clientes, operando os sistemas de distribuição de água e coleta
de esgotos. Caracterizada pela expansão e crescimento contí-
nuo, a região Oeste conta com um sistema composto por 11,7
mil km de redes de distribuição e ramais de água, 7,1 mil km de
rede de coleta e ramais de esgoto, cerca de 916 mil ligações de
água e 611 mil ligações de esgotos (SABESP, 2018). Ver figura 1
Foi realizada a aquisição de dados relativos ao IQA pela Com-
panhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) em
seus relatórios de águas interiores. O cálculo do IQA é feito pelo
produto ponderado destes noves parâmetros de acordo com a
Equação (1).
(1)
Onde: IQA = Índice de Qualidade da Água, variando de 0
a 100; qi = qualidade do i-ésimo parâmetro, variando de 0 a
100 e obtido do respectivo gráfico de qualidade em função do
resultado da análise e w = peso correspondente ao i-ésimo pa-
râmetro fixado em função da sua importância para a confor-
mação global da qualidade, ou seja, varia de 0 a 1, conforme
a Equação (2)
(2)

Figura 1. Unidade de Negócio Oeste MO da Sabesp, situada na RMSP – Brasil.

Fonte: Autor (2019)

36 Saneas
 Sendo o número de parâmetros que entram no cômputo lores mínimos e máximos. Cada mapa teve seus valores de IQA
do IQA. reclassificados em níveis qualitativos estipulados para o Estado
Para estudar a variabilidade foram considerados os resultados de São Paulo, conforme a Tabela 1 (ANA, 2004).
das análises laboratoriais dos pontos de captação de água, dos
INTERVALO TERMO LINGUÍSTICO
anos 2001, 2004, 2007, 2010, 2013 e 2016, isto é, um inter-
80-100 Ótimo
valo de 16 anos divido a cada três. Foram usados 21 pontos
52-79 Bom
de monitoramento, sendo que 12 estão dentro da Unidade de
37-51 Razoável
Negócio Oeste (MO) e nove estão fora, conforme pode-se ob-
20-36 Ruim
servar na Figura 2.
0-19 Péssimo
Para cada ponto de monitoramento, foram calculados os
Tabela 1. Intervalos e Termos Linguísticos IQA.
IQAs médios anuais. Então foi criado um arquivo vetorial com Fonte: ANA (2004)

os 21 pontos de monitoramento georreferenciados em coorde-

nadas métricas no software QGIS Las Palmas. Após o mapeamento, foi aplicada análise estatística como
Foi gerado um mapa temático de IQA por ano analisado, em medidas de tendência e posição central (média, mediana, valo-
formato matricial, a partir da interpolação do tipo inverso do res máximo e mínimo) e medidas de dispersão (variância, coefi-
quadrado da distância (IDW), com escala de cor linear dos va- ciente de variação e desvio padrão).

Resultados e Discussão
Os resultados adquiridos referentes à uniformização da qualidade
das águas superficiais da MO identificaram a necessidade da con-
servação dos recursos hídricos, embora estes sejam indissociáveis
do uso da água para consumo humano. A qualidade da água re-
presentada como um indicador facilita a compreensão pela comu-
nidade, por ter caráter intuitivo.
A Tabela 2 mostra os valores de média (µ), mediana ( ), valor
máximo (Vmáx), valor mínimo (Vmín), desvio padrão ( ), varia-
ção (Ω) e coeficiente de variação (CV), para os dados de IQA, no
período de 2001 a 2016, na MO. Verifica-se que o ano de maior
média de IQA foi 2014, com um valor de 38,57, e o de menor
média foi o ano de 2010, que apresentou um IQA de 35,43.
Os coeficientes de variação (CV) mostraram que os dados são
heterogêneos, sendo que os maiores e menores valores foram os
anos de 2001 e 2010, respectivamente, com valores de 59,66%
e 54,62%. Esses resultados foram diferentes à pesquisa de BES-
SA et al. (2016), cujo os valores de CV para a bacia hidrográfica
do rio Apodi-Mossoró foram CV máximo de 20,76% para o ano
de 2009 e o CV mínimo de 12,05% para o ano de 2014.
Embora os valores de CV apontaram relativa heterogeneida-
de, não foi encontrada na literatura uma qualificação de quanto
o CV aplicado ao IQA é alto ou baixo.
As informações do desvio padrão ( ) e da variância (Ω) apon-
tam também apontam a amplitude do IQA estudado, entretan-
to ambos não são capazes de informar a variabilidade espacial,
sendo esta representada somente pelo mapa temático.
Figura 2. Pontos de monitoramento IQA (em vermelho)
Fonte: CETESB (2001, 2004, 2007, 2010, 2013 e 2016)

Abril a Junho de 2020 37

ARTIGO
TÉCNICO

Todos os valores máximos correspondem ao ponto de moni- evitando-se erros de topologia, ou seja, se o interpolador do
toramento COGR00900 – Reservatórios das Garças, situado na inverso do quadrado da distância fosse utilizado somente com
zona sul da MO, numa área de proteção ambiental em Cotia. os 12 pontos, o modelo digital teria uma área inferior à da MO.
Já os valores mínimos correspondem ao ponto de monitora- Observa-se que o resultado visual do raster interpolado são nós
mento TIES04900 – Reservatório Edgard de Souza, localizado que se irradiam a partir dos pontos de amostra (“olho de boi”).
em Santana de Parnaíba, próximo do Rio Tietê, em zona alta- A Tabela 3 apresenta a mensuração das áreas por níveis hie-
mente urbanizada. rárquicos do IQA.
Analisando a Tabela 3, verifica-se a predominância de áreas
DADOS ANUAIS
de IQA com nível ruim em todo o período como por exemplo
Parâmetros 2016 2013 2010 2007 2004 2001
63,80% no ano de 2016. Regiões com nível ótimo de IQA fo-
µ 36,19 35,95 35,43 37,38 38,57 36,05
ram praticamente desprezíveis, aparecendo somente nos anos
32 31 25 27 34 30
de 2001, 2004 e 2013 na ordem de 0,50% aproximadamente,
Vmáx. 77 79 76 77 82 82
assim como as zonas com nível péssimo de IQA mantiveram-se
Vmín. 17 16 16 18 17 14
ínfimas – mesmo estas aparecendo todos os anos, a maior foi
20,17 21,09 19,35 20,72 21,39 21,51
Ω 406,66 444,65 374,46 429,25 457,66 462,55
em 2001 com 3,39%. As áreas com nível razoável de IQA fica-

CV (%) 55,72 58,65 54,62 55,42 55,46 59,66
Tabela 2. Parâmetros estatísticos do IQA
Fonte: Autor (2019)
Analisando a média do IQA, verifica-se que os valores se man-
tiveram constantes, a mostrar nem perda nem melhoria signifi-
cativas de qualidade das águas superficiais no período proposto.
Ver figura 2.
A Figura 2 mostra novamente que não houve uma tendência
de piora nem melhora na qualidade da água ao longo do perío-
do analisado, isto é, a variabilidade espacial do IQA manteve-se
relativamente constante.
Observa-se um nível de qualidade razoável e bom na região
sul na MO que é a Reserva do Morro Grande, caracterizada por
vegetação densa e quase inexistência de atividade antrópica. As
regiões com manchas amarelas e vermelhas mostram um nível
de qualidade péssimo e ruim respectivamente, situadas geral-
mente em locais já urbanizados ou em processos de expansão
fundiária, como por exemplo o ponto JUÇA04900 situado em
Pirajussara, o bairro com maior densidade populacional da MO
e o ponto TIPI04900 localizado próximo da Estação de Trata-
mento de Esgoto (ETE) Pirapora.
Assim, se a região tiver alta interferência antrópica que resul-
ta em maior carga de resíduos sólidos e esgotamento doméstico
/ industrial, mais baixo será o IQA, entretanto se a região tiver
pouca ou inexistente ocupação urbana mantendo preservado
seu ecossistema, maior será o IQA.
Foi necessário escolher os nove pontos fora da área de estu-
do justamente para a interpolação poder cobrir toda a região,
ram com de um quarto da MO inteira e as áreas com nível bom
ficaram na casa dos dez percentuais. Se fosse realizada uma mé-
dia do IQA dos seis anos estudados, os níveis de qualidade fica-
riam da seguinte forma: Péssimo com 1,0%, Ruim com 61,0%,
Razoável com 25,4%, Bom com 12,4% e ótimo com 0,2%.
O IQA ruim na MO é proveniente principalmente do lança-
mento de esgotos domésticos e efluentes industriais diretamen-
te nos córregos sem qualquer tratamento. Os resultados obtidos
corroboram a queda da qualidade das águas superficiais na Uni-
dade de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI) (CETESB,
2016) devido ao crescimento acelerado da mancha urbana e
industrialização: MOLINA et al. (2006) constatou este fato no
córrego Água da Bomba, em Regente Feijó-SP, a analisar que
os valores baixos de IQA estavam próximos de pontos de lança-
mento de esgoto in natura aos rios.
Muitos pontos de monitoramento se situam em nascentes de
corpos hídricos que já mostram deficiências na qualidade da
água, representado pelos indicadores que apontam um nível de
ruim ou péssimo. Assim, pode-se presumir que a situação é pior
a jusante desses pontos, pois pode existir interferência antrópi-
ca e desenvolvimento de atividades industriais que impactam
ainda mais estes córregos (BILICH E LACERDA, 2005).
Ressalta-se que o diagnóstico da condição da água não pode
ser feito somente pelo IQA, uma vez que outras substâncias tais
como metais pesados e hidrocarbonetos tóxicos podem alte-
rar as propriedades da água, uma vez que estes valores podem
variar sazonalmente: geralmente a média do IQA é maior em
estação chuvosa do que estação seca devido à maior carga de
escoamento superficial proveniente das precipitações no perío-

38 Saneas
Figura 2. Mapas Interpolados do IQA da MO Sabesp
Fonte: Autor (2019)

Abril a Junho de 2020 39

ARTIGO
TÉCNICO

Figura 2 (cont.). Mapas Interpolados do IQA da MO Sabesp

Fonte: Autor (2019)

do - ANDRADE et al. (2005) observaram esta ocorrência no vale para a variabilidade espacial como para a variabilidade temporal,
do rio Trussu , sendo o IQA igual a 79,60 no tempo chuvoso e sendo que a primeira é superior a última conforme visto na Tabela
78,70 para o tempo seco. 2 e Figura 2.
De forma geral, a MO apresenta um IQA de nível razoável tanto
Considerações Finais
ÁREA (HA) POR NÍVEL HIERÁRQUICO IQA
Avaliou-se a qualidade da água nos 12 pontos de monitoramento,
Ano Péssimo Ruim Razoável Bom Ótimo
os quais podem ser classificados, em sua maioria, como um padrão
2001 3.511,28 64.426,52 21.732,93 13.417,90 465,17
de qualidade entre ruim e razoável na região norte e razoável e boa
(%) 3,39 62,22 20,99 12,96 0,45
para a região sul da MO, havendo pouca diferença relevante na
2004 286,10 59.379,68 27.058,88 16.336,96 492,18
avaliação temporal, isto é, os valores de IQA mantiveram-se relati-
(%) 0,28 57,34 26,13 15,78 0,48
vamente constantes no período de dezesseis anos.
2007 204,07 64.437,53 28.059,24 10.852,96 0,00
Embora a SABESP detenha em esfera nacional os maiores ín-
(%) 0,20 62,23 27,10 10,48 0,00
dices de tratamento de esgoto sanitário, a ausência de redes co-
2010 1.030,38 65.098,77 27.209,93 10.214,73 0,00
letoras em pontos isolados influencia diretamente na qualidade
(%) 1,00 62,87 26,28 9,86 0,00
2013 286,10 59.379,68 27.058,88 16.336,96 492,18
das águas superficiais localizadas em regiões urbanas.

(%) 0,28 57,34 26,13 15,78 0,48 A análise dos dados tabulares em conjunto com o SIG é um
2016 876,32 66.160,16 26.383,63 10.133,70 0,00 importante instrumento para a gestão e análise espacial do IQA
(%) 0,85 63,89 25,48 9,79 0,00 na MO, podendo ser replicado esta forma de análise para outras

Tabela 3. Quantificação de áreas do IQA por níveis hierárquicos.

áreas de estudo.
Fonte: Autor (2019)

40 Saneas
 ARTIGO
TÉCNICO

Alvaro José de
Souza Carneiro
Gestão do recebimento de obras com a
Ganhador do PNQS - Prêmio
Nacional de Qualidade e
utilização de equipamento de inspeção
Saneamento - Categoria IGS -
Inovação da Gestão em Sanea-
mento Ambiental, 2019.
interna de tubulações
Graduado em engenharia Civil
pela Faculdade de Engenharia
Civil da Universidade Mackenzie,
Especialização em Engenharia
de Saneamento Básico pela
Faculdade de Saúde Pública da
Resumo da prática de gestão através de um financiamento do BID (Banco Intera-
Universidade de São Paulo (USP), A gestão do recebimento de obras através de registro e mericano de Desenvolvimento), dentro do compo-
MBA em Gestão Estratégica e Eco-
nômica de Projetos na Faculdade análise com utilização de equipamento de filmagem e nente de Desenvolvimento Operacional. A aquisição
Getúlio Vargas (FGV),
MBA em Gestão Empresarial com a aplicação de metodologia para inspeção e diag- foi efetivada em 2014 e dali em diante deu-se início a
pela Fundação Instituto de
Administração (FIA-USP).
nóstico de tubulações de esgoto a partir de 600 mm, operação dos equipamentos. A área de Manutenção
Engenheiro Civil na Companhia de com o objetivo de avaliação estrutural das tubulações Estratégica da Companhia desenvolveu um plano
Saneamento Básico do Estado de
São Paulo - SABESP na Unidade de concreto para recebimento das obras da área de Em- de manutenção de coletores tronco e interceptores,
de Tratamento de Esgotos da
Região Metropolitana de São preendimentos da Companhia. com metodologia própria para classificação das con-
Paulo- MT. Atuou como Engenhei-
ro Encarregado de Sistemas de A inspeção de tubulações requer um grau de de- dições estruturais deste tipo de instalação, os quais
Esgotos (2000-2006) e atualmente talhe para evitar problemas futuros na operação do puderam ser postos em práticas com essa aquisição.
como Gerente da Divisão do
Sistema Linear e Manutenção sistema linear de esgotos. Essa atividade era realiza- Um importante fornecedor da Unidade é área de
Civil - MTEL (2010-atual).
da visualmente com interferência humana. Foram Empreendimentos, responsável pela contratação e
Fernando César definidos critérios para melhorar a gestão do rece- fiscalização de grandes obras, dentre as quais os sis-
Gomes Pereira
bimento de obras para a Unidade de Negócio, com temas lineares, cuja operação e manutenção serão
Formado em Bacharel em Química
Ambiental pela Instituto de Quími- aplicação de metodologia desenvolvida internamen- de responsabilidade da Unidade. Após a execução
ca da Universidade de São Paulo
(USP). Técnico em Sistemas de te, utilizando alta tecnologia, através do equipamen- da obra contratada e fiscalizada pela área de Empre-
Saneamento pela Companhia de
Saneamento Básico do Estado de
to de inspeção (robô) que permite maior eficácia e endimentos, a Unidade é acionada para realizar o
São Paulo - Sabesp (2009-2017). melhores resultados, com histórico registrado através recebimento operacional. Anteriormente o processo
Atua como Supervisor da Área
de Planejamento e Controle da de filmagens digitais. de recebimento de obra era realizado baseado em
Manutenção (2018-atual).
inspeção com entrada em espaço confinado, uma
Júlia Brandini Barboza Introdução condição desfavorável para uma análise minuciosa
Júlia Brandini Barboza Formada A Unidade faz parte de uma grande Companhia presta- da conformidade da obra, além disso, não eram ge-
em Engenharia de Produção pelo
Centro Universitário da FEI. Atua dora de serviços de saneamento que atua em todo o ci- rados registros das anomalias, resultando em uma
como Técnico em Sistemas de
Saneamento pela Companhia de
clo da água e do esgoto e é responsável pela operação maior subjetividade do diagnóstico da estrutura com
Saneamento Básico do Estado de e manutenção de mais de 500km de coletores tronco a restrição ao diâmetro a partir de 1.300mm, em
São Paulo- -Sabesp (2010-atual).
e interceptores (sistema linear) com diâmetro igual ou conformidade com a NR 033. A partir do ano de
superior a 600mm que se estendem pela região metro- 2015, a Unidade passa a utilizar os equipamentos
politana. Todas essas instalações levam os esgotos para adquiridos para o recebimento de obras, visando co-
tratamento. brir as lacunas da metodologia anterior. Essa inova-
No ciclo de planejamento operacional 2014-2019 ção além de não apresentar restrições aos diâmetros
da Superintendência da qual a Unidade faz parte, foi de 600mm a 1300mm e de gerar registro em vídeo
identificado com base na análise dos riscos que bali- de tudo o que foi visto, permite uma análise muito
zam sua gestão que o risco de colapso estrutural de mais detalhada da real condição da tubulação, pro-
tubulações é sua maior preocupação. Visando a me- porcionando um salto de qualidade ao processo de
lhoria contínua dos processos referentes ao Sistema recebimento de obras.
Linear decidiu-se pela aquisição de equipamentos de A prática visa assegurar a qualidade da obra evi-
filmagem redes de esgoto. A aquisição foi viabilizada tando falhas que causam impactos na continuidade

Abril a Junho de 2020 41

ARTIGO
TÉCNICO

dos serviços, extravasamento, poluição dos rios, transtornos
com obras, possibilidade de danos a propriedades, além de for-
necer uma análise completa da tubulação previamente a sua
operação, possibilitando a avaliação do desgaste ao longo do
tempo de vida útil da instalação. Dado o grande atraso do Brasil
em relação ao saneamento básico e particularmente ao proces-
so de coleta e afastamento, a garantia da qualidade das obras
que entram em operação é fundamental para solucionar essa
questão e garantir que cumpram o papel de transporte dos es-
gotos para tratamento.
Validação da Prática
Como pode ser visto no diagrama (figura 1) a obra pode ter algum
impacto nas categorias máquina, método, matéria prima e mão de
obra. Diante dessa grande sintonia com a gestão de riscos com a
Unidade e do salto de qualidade do processo de recebimento de
obra com a nova prática de gestão, decidiu-se pela implementação
da mesma com a estruturação do projeto no ano seguinte (2017).
Ver figura 1.
A prática apresenta benefícios imediatos por fornecer padro-
nização da avaliação e registro de todas as anomalias identifica-
das frente ao processo anterior em que os registros eram poucos
ou ausentes e com avaliação subjetiva, sem uma metodologia
padronizada para todos os potenciais executantes da atividade.
A prática anterior exigia menos recursos, apenas um profissional
era suficiente, enquanto a nova depende da disponibilidade de
veículo adequado ao transporte e operação dos equipamentos
de CFTV, os equipamentos de CFTV em si e uma equipe com dois
profissionais por padrão.
As falhas ocorrem com uma frequência relativamente baixa,
mas implica em grandes custos para ser sanada e inevitavelmen-
te em falha no processo de encaminhamento dos esgotos para
tratamento, enquanto não são tomadas ações para reverter o
quadro. Para a aderência da nova prática, a gestão de riscos da
Unidade foi determinante para a decisão por sua implantação,
balizando sua gestão. Uma análise de causa e efeito do colap-
so estrutural de tubulações pode relacionar algumas possíveis
falhas que se ocorrerem durante a obra podem contribuir para
esse resultado.
A análise de causa, a metodologia e o processo de gestão
foram realizados por uma equipe de técnicos, engenheiros e su-
pervisores com validação da gerência da Unidade. O resultado

1 2 3
• Não uso de procedimentos na obra
Operador danifica a tubulação • Não há procedimentos para a
A tubulação pode ser
na obra ou aplica cobrimento operação da máquina
trincada no transporte
insuficiente na obra • Método construtivo não indicado de
acordo com o solo

4 5 6
Escolha de material não indicado
Operador não executou • Operação inadequada do sistema de
para a operação com esgostos
todos os tamponamentos de esgotamento sanitário
domésticos ou não domésticos
infiltração na obra • Interligações sem tubo de queda
definidos no projeto

Mão de obra Matéria prima Método Problema

Meio de medição
7 8
Não acompanhamento
periódico do estado de
conservação da estrutura
Colapso estrutural
em tubulações
Meio ambiente Máquina
9
• Presença de H2S na atmosfera
interna do tubo acima dos limites
Não acompanhamento na pressão do
suportados pelo material
cravamento na obra
• Excesso de carga no terreno acima
do previsto esmagando o coletor

10 11 12
Ações de terceiros (conservação
de rios, taludes, obras de rede de
águas e drenagem novas e a falta
das obras de drenagem podem
gerar colapso

Figura 1 - Diagrama de Ishikawa

42 Saneas
 Figura 2 – Fluxo do sistema de comunicação
da prática de gestão foi integrado na macroação “Aprimorar o
processo de operação e manutenção do sistema linear” onde a
análise crítica da gerência da Unidade era disseminada e apro-
vada por uma equipe multidisciplinar constituída por diferentes
níveis de liderança, tecnólogos, técnicos e engenheiros.
O projeto da prática foi estruturado através da metodologia
CANVAS, que tem como premissa a análise de justificativas para
o projeto, o objetivo, mapeamento de benefícios, produto, re-
quisitos, stakeholders, equipe, premissas, restrições, riscos, re-
cursos materiais, grupos de entregas e sua relação no tempo
onde consequentemente responde às perguntas porquê, o quê,
quem, como, quando e quanto. Assim foi identificado a relevân-
cia deste projeto para a organização.
Objetivo
A efetividade e o desempenho da prática são acompanhados pri-
meiramente pela sua efetiva aplicação em que todas as obras re-
cebidas pela Unidade apliquem a metodologia de diagnóstico em
100% de sua extensão. Outro aspecto importante são os prazos
de inspeção e resposta a área de Empreendimentos, que devem
ser os menores possíveis permitindo a conclusão da obra e a libe-
ração para imobilização do ativo. E por último a garantia da qua-
lidade das obras recebidas que implicam em baixos risco de falha
delas, consequência e justificativa da prática em última instância
pois garante para a Unidade que as novas obras entram em ope-
ração com um risco baixo, visto que todas as anomalias foram
cadastradas e solicitado o reparo das que elevavam a criticidade.
Sistemática de Trabalho
A área de Empreendimentos entra com a necessidade de recebi-
mento da obra por duas entradas, a entrega das plantas e perfis da
tubulação a ser recebida no cadastro técnico e a solicitação ao ge-
rente da Unidade. O sistema de comunicação baseia-se conforme o
fluxo da figura 2 acima.
Após o retorno da área de Empreendimentos, a operação jun-
tamente com a engenharia avalia se as respostas são coerentes
ou incoerentes visando o melhor desempenho das tubulações.
A Unidade pode realizar reinspeções, medições de infiltração e
solicitações de reparo em algumas das situações encontradas.
A prática se estruturou em três grandes aspectos. O primei-
ro relacionado a tecnologia de CFTV atual. O site do US-EPA,
agência de proteção ambiental norte americana, dentre as
quais o “Report on Condition Assessment of Wastewater Col-
lection Systems” foi a principal referência. O segundo aspecto
é a metodologia de avaliação das tubulações, a qual foi desen-
volvida pelo setor de inspeção civil da área de manutenção es-
tratégica da Companhia, com base em décadas de trabalho em
inspeção de diversas estruturas, como reservatórios, barragens
e grandes adutoras e também o aspecto do uso de modelos
de referência como o PACP, “Pipeline Assessment Certification
Program” da NASSCO, “National Association Of Sewer Service
Companies”. Por último o processo e gestão da prática, in-
cluindo a comunicação com a área de Empreendimentos, este
foi estruturado com base no ciclo PDCL e no MEG, amplamente
adotado na Companhia.
Abril a Junho de 2020 43
ARTIGO
TÉCNICO

Metodologia Após gerar o grau de dano por trecho inspecionado, de acordo

A metodologia foi estabelecida com base em décadas de trabalho com nota final, é verificado qual a anomalia causadora de um
de avaliação estrutural em reservatórios, barragens e outras instala- grau de dano alto, esta métrica é proveniente da metodologia
ções da Companhia. Os técnicos que aplicam a metodologia rece- e acompanha o quadro 2, todas as notas acima de 40 são veri-
beram treinamento específico para uma adequada coleta de dados, ficadas no detalhe pois podem conter anomalias críticas, estas
imagens, em campo bem como para a elaboração do relatório de quando encontradas tem sua foto inserida no relatório fotográ-
criticidade. A efetividade da comunicação com a área de Empreen- fico e a descrição na Comunicação Interna (CI) para a área de
dimentos implica na tradução do grau de dano atribuído no relatório Empreendimentos.
para as ações imprescindíveis para aceite do trecho, direcionando
NÍVEL DE GRAU DE
os esforços e a atenção para os problemas mais graves. O prazo e AÇÕES INERENTES
ACEITAÇÃO DANO(GD)
objetividade desta comunicação são padrões gerenciais assim como Estruturas com danos efetivos e
Liberação não
>150 inabilitada para operação, só aceita
recomendada
o acompanhamento e cobrança de resposta da área de Empreendi- após reparos.
Liberação mediante Estruturas com potencial de deterioração
mentos e a guarda e manutenção de todo o histórico de cada pro- a ações corretivas 120 - 150 efetivo, necessária intervenção em todos
amplas os pontos crítico indicados.
cesso de recebimento. Para que isto seja realizado a Unidade possui
Liberação mediante Estrutura com potencial de deterioração
o papel do programador de manutenção o qual é responsável pela a ações corretivas 80 - 120 médio necessária intervenção em
parciais pontos mais críticos
consolidação das atividades a serem realizadas semanalmente.
Liberação mediante Estruturas com potencial de deterioração
O grau de dano traduz a avaliação visual da estrutura de con- a ações corretivas 40 - 80 incipiente, necessária intervenção
pontuais pontual
creto em um dado quantitativo. Isto é feito através da relação do Estruturas sem necessidade de ações
Liberação Irrestrita ≤ 40
interventivas
estado anomalia encontrada com a aplicação do fator de ponde-
Quadro 2 - Quadro relação do grau de ano com as
ração e sua intensidade, conforme quadro 1 abaixo:
intervenções necessárias na obra

FATOR DE FATOR DE
ANOMALIA ANOMALIA A Unidade assume a reponsabilidade das anomalias mais sim-
PONDERAÇÃO PONDERAÇÃO
Deformação ples (GD ≤ 40) e envia apenas as anomalias críticas diretamente
Armadura Exposta 8 7
Excessiva
na CI para a área de Empreendimentos, com um relatório foto-
Desplacamento
Carbonatação 3 em Concreto 4 gráfico simplificado, reduzindo ainda mais o tempo de resposta
Projetado
e produzindo uma melhora na comunicação e qualidade dos re-
Concreto
Desagregado
6 Erosão 6 paros, retirando as dúvidas da empresa contratada executora da
Defeito em obra quanto a gravidade das anomalias. Atualmente, após as
Concreto Disgregado 6 4
Reparo
melhorias realizadas durante o processo de implantação da prá-
Umidade/
Concreto Segregado 6
Infiltração
5 tica, o fluxo que expressa a gestão do recebimento está descrito
Defeito em Aparelho Cabos e Bainhas na figura 3.
7 9
de Apoio de Protensão
Desde o desenvolvimento, todas as áreas envolvidas e os con-
Defeito em Junta de
Dilatação
7 troles necessários foram relacionados de modo a possibilitar a
Quadro 1 - Relação das anomalias e seu fator de ponderação incorporação da melhoria contínua no processo.

Figura 3 - Fluxo da gestão de recebimento de obras após a melhoria

44 Saneas
 O enfoque inovador e proativo da prática reside tanto no uso sis-
temático e continuo da filmagem pelos equipamentos de CFTV em
100% das obras recebidas pela Unidade em 100% da extensão de
cada obra, quanto na metodologia que determina o grau de dano
de cada tubulação e poços de visitas (PV) através do registro e clas-
sificação as anomalias identificadas permitindo que sejam solicita-
das intervenções pelo fornecedor e que a obra seja recebida com o
menor grau de risco possível. O setor de saneamento no Brasil não
procede dessa forma atualmente, o que pode ser evidenciado pela
falta de padrões regulatórios exigindo a filmagem tanto das novas
obras quanto das redes em operação. Tão pouco existem indicado-
res obrigatórios ou sugeridos no Guia de Referência para Medição
do Desempenho – GRMD 2018 (CNQA-ABES) quanto a inspeção,
filmagem, classificação do risco das instalações ou critérios para re-
cebimento de obras nos sistemas de esgoto. Os equipamentos para
filmagem nos diâmetros acima de 600 mm são mais uma inovação
no setor, o que pode ser evidenciado na baixa oferta e demanda
desse tipo de equipamento no país com poucos fornecedores ofere-
cendo esse tipo de tecnologia, na FENASAN por exemplo, e poucas
empresas e prestadores com equipamentos modernos no seu ativo.
A natureza da prática é proativa, voltada para a prevenção e
sistematização do controle de recebimento de obra através da
aplicação de uma avaliação antes do início da operação, visan-
do evitar problemas e custos para a operação após a entrega
da obra. No tocante aos colaboradores da Unidade a redução
da demanda por entrada em espaço confinado propiciado pela
tecnologia mencionado anteriormente tem caráter proativo e
preventivo reduzindo riscos à saúde.
O controle dos prazos visando a agilidade é uma característica
da prática que tem como um dos seus objetivos a redução do
tempo de resposta entre inspeção, relatório e comunicação para
a área de Empreendimentos. A resposta rápida é importante,
pois faz com que o serviço não fique parado em nenhuma etapa
do processo. O programador é a figura que coordena todo o
processo elaborando logo no início dos serviços uma planilha
com os trechos a serem recebidos e sua extensão. Com estas
informações e o prévio conhecimento da produtividade da equi-
pe em cada atividade e as restrições apontadas no CANVAS ele
realiza a programação de forma mais eficiente.
A prática segue o padrão da organização na comunicação entre a
Unidade e área de Empreendimentos, utilizando para isso a CI; nos
procedimentos de segurança, seguindo o preconizado no PE-RH0001
e no FE-RH0001 no que for pertinente; no padrão de inspeção, que
segue o manual desenvolvido pela manutenção estratégica o qual
foi incorporado a pedido e com participação dos representantes da
Unidade com algumas simplificações na Norma Técnica Sabesp 215.
Resultado
O resultado mais expressivo trata-se da redução do prazo de res-
posta da avaliação da tubulação em relação a data de solicitação.
O prazo de atendimento é contado da data que o e-mail de soli-
citação para recebimento de obra entra no canal de solicitações
da Unidade até a data de entrega desta CI. Os ciclos considerados
são 1º semestre de 2018, 2º semestre de 2018 e 1º semestre de
2019. A Unidade utiliza como referencial comparativo teórico a lei
8666/1993 que no seu artigo 73, alínea “a” do inciso I cita que
executado o contrato, o seu objeto será recebido provisoriamente
em até 15 dias da comunicação escrita do contratado.
Antes da implantação da prática a média de atendimento tratava-
-se de 110 dias entre a solicitação ou o primeiro dia de inspeção e o
envio dos resultados. A primeira inspeção realizada foi em 2015 e fo-
ram encontrados diversos pontos de obstrução na tubulação, após essa
primeira filmagem antes mesmo da equipe chegar para a inspeção a
contratada executa todas as limpezas necessárias, que não deixa de ser
uma premissa para o recebimento de obra. A primeira inspeção, ante-
rior a implantação da prática vinculada apenas ao uso do equipamento,
teve poucos dias para a filmagem e atendimento, pois a metodologia
era aplicada parcialmente. Não se realizava a inspeção de todas as jun-
tas e não aplicava o fator de intensidade e ponderação na anomalia
encontrada, dificultando a padronização. Outro resultado da prática é
o rastreamento da comunicação e dos resultados. Abaixo observamos
o quadro 3, com os prazos anteriores a implantação da prática.
ANO COLETOR PRAZO DE RESPOSTA
2015 Coletor 1 23
2016 Coletor 2 143
2016 Coletor 3 187
2017 Coletor 4 85
Média do prazo de resposta 110
Quadro 3 - Filmagens em recebimento de obras antes
da implantação da prática
No gráfico 1 observa-se que apenas a implantação de uma
prática de acompanhamento e controle já reduz o tempo de res-
posta pela metade, pois gerou o estreitamento com a área de
Empreendimentos onde as duas partes entendem a importância
do recebimento e da redução dos prazos. A Unidade também
depende que ocorra a limpeza do coletor e o apoio das inspe-
ções com a contratada para o sucesso desta prática.
Abril a Junho de 2020 45
ARTIGO
TÉCNICO

A metodologia foi compartilhada externamente no Seminário

de Benchmarking realizado pela ABES em Congresso na cidade
de Salvador/BA e reconhecida como ganhadora do Prêmio Na-
cional de Qualidade em Saneamento – PNQS na categoria Inova-
ção da Gestão em Saneamento Ambiental – IGS.
Na Diretoria Metropolitana, foi apresentada na Expo – M, que
tem como objetivo apresentar os trabalhos inovadores realizados
Gráfico 1 - Média do prazo de resposta em comparação com o antes
dentro da Diretoria no respectivo ano (2019). Ver figura 4.

O indicador que apresenta a qualidade das obras recebidas é Conclusão

a redução do risco, se necessário, para a faixa “liberação irres- Desta forma, os resultados expressivos são a redução do grau de
trita”. Através desta prática, os reparos são solicitados à contra- dano, consequentemente o risco de colapso da estrutura civil e a
tada e o grau de dano reduz para um nível aceitável conforme a aplicação de medidas para a redução do tempo de resposta à área
metodologia. Um exemplo é apresentado no quadro 4: de Empreendimentos. O benefício intangível mais importante para
na aplicação desse projeto é a confiabilidade, onde este método
RELAÇÃO DE TRECHOS VISTORIADOS - COLETOR 5
de trabalho possibilita a Unidade reduzir falhas, tendendo a sua
Trecho GD antes GD depois
do reparo do reparo
eliminação e o aumento da confiabilidade dos clientes .
Pov Mon Pov Jus Extensão (M)
PV 01 PV EXIS. ITI 15 23,17 68,35 38,70
PV 02 PV 01 30,37 68,06 17,12
PV 03 PV 02 85,90 57,80 20,00
PV 03 PV 04 37,84 64,00 24,00

Quadro 4 - Relação entre os trechos e o Grau de Dano da

estrutura antes e após os reparos. As cores representam o
nível de aceitação conforme quadro 2.

Figura 4 – Apresentação no Congresso ABES em Salvador e na EXPO – M na Sabesp Costa Carvalho

46 Saneas
CULTURAL
Museu Água de São Paulo:
rumo à consolidação de um
marco do saneamento
Criadores do projeto arquitetônico vencedor do concurso nacional
da AESabesp detalham proposta em reunião online
D
ando continuidade às atividades rumo
à construção do futuro Museu Água de
São Paulo, a AESabesp promoveu, em 2
de abril, uma reunião online para apre-
sentação do projeto arquitetônico vencedor do Concur-
so Nacional que elegeu as melhores alternativas para
a criação do espaço cultural. Na ocasião, os arquitetos
da SIAA Arquitetos Cesar Shundi Iwamizu e Eduardo
Pereira Gurian delinearam a proposta para a Presidente
da AESabesp, Viviana Borges, e diretores, conselheiros,
coordenadores e associados da entidade.
“Foi uma conversa muito produtiva em que pude-
mos expor os conceitos que nos guiaram e também as
Mais
informações soluções específicas de nossa arquitetura”, ressaltou
Cesar Shundi Iwamizu. “Foi importante também ou-
vir as considerações dos conselheiros e associados da
AESabesp, que certamente serão fundamentais para o
desenvolvimento do projeto executivo e o planejamen-
to das etapas de construção deste novo equipamento
urbano para nossa cidade”, reiterou o arquiteto.
“É uma honra muito grande poder propor um pro-
jeto para o Museu Água, que será um novo espaço
público para São Paulo”, enfatizou Shundi Iwamizu,
reforçando que a iniciativa terá um contribuição rele-
vante “na conscientização deste tema tão importante
que é a água, um recurso a ser preservado e valorizado,
também pensando no papel da infraestrutura de sane-
amento para uma cidade como São Paulo”.
Abril a Junho de 2020 47
PONTO DE
CULTURAL
VISTA

Na reunião, Viviana Borges destacou que haverá outras reuniões

e discussões sobre o projeto. “Agradeço a introdução do Gurian
e do Shundi Iwamizu, deixando abertas possibilidades (essa era a
ideia inicial) de repensar algumas questões durante o projeto exe-
cutivo, que é quando de fato vamos saber o que é ou não viável”,
assinalou. “Esta foi uma apresentação inicial para começarmos a
materializar a ideia. Ainda teremos muitas conversas até o projeto
final”, concluiu.

Gestão dos projetos cultural,

museológico e executivo
A AESabesp firmou parceria, no início de maio, com o Instituto Pe-
dra e a Base7 Projetos Culturais, que farão a gestão dos projetos
cultural, museológico e executivo do empreendimento.
“Poucos temas são mais urgentes na atualidade do que uma pro-
funda revisão da relação da humanidade com meio ambiente e a
única maneira de fazê-lo é reeducando a população sobre temas
centrais”, comenta o diretor do Instituto Pedra, Norton Ficarelli. “A
criação do Museu Água poderá dar uma parte importante dessas
respostas, afinal, a água, junto com o oxigênio, é o condutor mais
básico da geração e manutenção da vida no planeta”, completa.
Ricardo Ribenboim, diretor da Base7 Projetos Culturais, destaca seu consumo consciente. “É com muita satisfação que a Base7
que o Museu Água “é uma resposta à bandeira fundamental que e o Instituto Pedra farão parte deste grande grupo que tornará
foi acionada pelas Nações Unidas sob o título ‘Água para a Vida’. concreto um tema de fundamental relevância”, realça Ribenboim.
Afinal, água é vital para a humanidade”, “A iniciativa busca chamar a atenção de todo o mundo sobre a
De acordo com ele, o novo empreendimento deverá contribuir necessidade de enfrentar com realismo e responsabilidade a crise
para o entendimento da importância da preservação do patrimô- da água e a necessidade urgente de preservação dos recursos hí-
nio cultural e ambiental, sobretudo da qualidade da água e de dricos”, reforça.

48 Saneas
VIVÊNCIAS

Conhecimento Contudo, o alimento arrecadado não enche somente a

mesa de quem recebe as doações, mas preenche o cora-

em troca de
ção do engenheiro. Isso porque Mendes uniu solidariedade
com conhecimento em engenharia, duas coisas que com-
Por pletam a vida do profissional há muito tempo.

solidariedade
Jéssica “Ser professor é um sonho de criança e eu sempre estive
Marques ligado à educação: durante a graduação atuei como mo-

O
que conhecimento e solidariedade têm em
comum? O engenheiro no Departamento
de Gestão do Programa Corporativo de
Redução de Perdas da Sabesp (TOR), Paulo
Mendes, decidiu juntar ambos em um só projeto.
Assim, surgiu o “Engenhar para alimentar”, um curso
idealizado pelo engenheiro com o objetivo de trocar aulas
por alimentos e agasalhos, para doação. As aulas aconte-
cem aos sábados na sede da Associação dos Engenheiros
da Sabesp – AESabesp.
A condição para participação nas aulas, sobre Resistência
dos Materiais (ResMat) e de dimensionamento de estruturas
em concreto armado, é a doação de no mínimo 2kg de ali-
mentos por módulo. Os alimentos arrecadados com a ação
são destinados para instituições de caridade, por meio de
outra ação coordenada pela Aesabesp.
“Inicialmente as aulas eram dadas para duplas devido à
limitação do espaço, pois eu recebia os alunos no meu apar-
tamento ou em espaços públicos. Conseguia atender três
duplas por sábado nesse modelo. No fim do ano, conver-
sando sobre a ideia com meu gerente no TOR, ele me apre-
sentou à presidente da Aesabesp que ofereceu um local
adequado para as aulas e auxílio na divulgação do projeto.
Hoje, as aulas são dadas em dois módulos e acontecem aos
sábados na sede da associação”, contou Mendes.

Abril a Junho de 2020 49

PONTO DE
VIVÊNCIAS
VISTA

nitor de algumas disciplinas e antes de ir para o saneamento atuei

como docente da disciplina de Estruturas de Concreto Armado por
dois anos. Dar aulas, além de ser um hobby prazeroso, é algo que
acredito fazer bem feito”, afirmou.
Além disso, o tema sobre o qual Mendes leciona é considerado
por ele como essencial para a engenharia e elaboração de projetos.
“O Brasil possui tradição no uso de estruturas de concreto armado,
tendo inclusive uma das normas de projeto mais evoluídas do mundo.
Entretanto, esse é um conteúdo com grande índice de reprovação nas
faculdades de engenharia”, detalhou.

Trajetória de auxílio e aprendizado

O engenheiro saiu de Minas Novas, uma cidadezinha do Vale de Jequiti-
nhonha, em Minas Gerais, com destino a São Paulo, para cursar a facul-
dade. Nesta trajetória, o então estudante teve um encontro marcante
com a solidariedade.
“Eu não tinha nenhuma perspectiva de sucesso: vindo de uma fa-
mília humilde, eu não tinha condições de me manter aqui por muito
tempo. Mas no meio do caminho foram aparecendo pessoas para me
ajudar e aos poucos portas foram se abrindo”, relatou.
“Hoje, depois de ter passado por tudo que passei, fazer algo para
retribuir toda a ajuda que um dia obtive é o cumprimento de uma
das promessas que fiz a mim mesmo naqueles tempos de dificuldade.
Seja com o projeto Engenhar para Alimentar ou com qualquer outra
ação, ajudar outras pessoas com história parecida é um compromisso
que assumi comigo mesmo e tento levar a sério”, completou Mendes.
Agora, após as aulas, o engenheiro volta para casa com a sensação
de dever cumprido. O sentimento é justamente o de estar praticando
a solidariedade que aprendeu quando veio para São Paulo construir
uma carreira na área de engenharia.
“Nós somos movidos por exemplos. A pessoa que nos tornamos
depende muito dos exemplos que tivemos na vida. Eu acredito que as
pessoas tendem a ser mais solidárias quando elas têm exemplos para
seguir nesse sentido e é isso que tento fazer: ser exemplo e influenciar
na formação de uma corrente de boas ações. Acredito que cada um
de nós tem algo que pode fazer de modo a tornar a sociedade um
pouquinho melhor. Basta cada um fazer o que sabe fazer melhor e
servir de espelho para os demais”, contou o engenheiro.
Corrente solidária
Desta forma, o engenheiro criou uma corrente solidária. Da mesma ma-
neira em que o auxílio que o profissional recebeu no início foi transfor-
mado em uma ação social, o projeto também passa este princípio aos
estudantes, que conseguem aprender e ajudar ao mesmo tempo.
“O legal desse projeto é que o aluno ganha duas vezes: primeiro
porque ele tem a oportunidade de ver um conteúdo (que é muito
importante na engenharia) de forma descontraída, sem a pressão de
ter que ficar se preocupando com as avaliações e com a vantagem de
ter um contato mais próximo com o professor, o que às vezes não é
possível numa faculdade. A outra vantagem é que os alimentos doa-
dos são destinados a pessoas carentes. De certa forma, esse aluno é
um parceiro do projeto, ao mesmo tempo em que é um beneficiário.
Eu acredito que essa sensação de bem estar que sinto é compartilhada
por meus alunos”, detalhou.
Mendes também enfatizou que projetos como o Engenhar para
Alimentar contribuem para o setor. Isso ocorre pelo fato de o Brasil
ter muitas carências, principalmente na área do saneamento básico.
“Acredito que todos nós devemos nos perguntar o que podemos
fazer para mudar essa realidade que vivemos, principalmente nessa
área do saneamento, que como sabemos, está diretamente ligado à
saúde. Uma pequena ação sozinha não consegue causar grandes im-
pactos, mas se cada um der um pouquinho de si, talvez consigamos
bons resultados. Eu me sinto orgulhoso de saber que a minha empresa
apoia e incentiva ações voluntárias”, finalizou.

50 Saneas