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Densidade básica da madeira a 0,30 m e 1,30 m da árvore de espécies

arbóreas de Cerrado
Vanuza Pereira Garcia da Silva(1); Gabriel Venâncio Pereira Mariano(2); Edla Lopes Silva(2);
Vitor de Oliveira Santiago(2); Vagner Santiago do Vale(3).
(1)
Estudante; Universidade Estadual de Goiás; Ipameri, Goiás; garciavp@outlook.com;
(2)
Estudante; Universidade Estadual de Goiás; (3)Professor; Universidade Estadual de Goiás.

RESUMO

Para definir valores de densidade da madeira, certos fatores devem ser considerados, pois
podem causar alterações, como a espécie vegetal analisada, o teor de umidade trabalhado, o
lenho inicial e o lenho tardio, a posição do tronco e influências externas. O objetivo deste
trabalho foi calcular a densidade da madeira em espécies arbóreas de cerrados no sudeste do
estado de Goiás em diferentes alturas (coletas a 0,30 m e a 1,30 m de altura do solo) para
aferir se existe diferença na densidade da madeira. A maioria das espécies amostradas não
apresentou diferenças na densidade da madeira. Entretanto, em algumas espécies amostradas,
a densidade foi mais alta na posição de 0,30 m. A densidade de madeira apresentou baixa
variação para a maior parte das plantas analisadas do Cerrado.

Palavras-chave: Massa específica, biomassa, traços funcionais, comparações.

INTRODUÇÃO

A densidade da madeira descreve o investimento ou armazenamento de carbono por


unidade de volume do caule (CHAVE, 2009). SWENSON & ENQUIST (2007) definiram que
a variação na densidade da madeira reflete a alocação diferencial da produção metabólica.
Apesar da importância de se aferir a densidade da madeira, os estudos com cerrados
nativos são raros e pouco conclusivos, sobretudo pela dificuldade metodológica e grande
variabilidade da densidade da madeira, tornando-a de difícil precisão e modelagem e
dificultando o reconhecimento da contribuição dos fatores de formação, como por exemplo a
disponibilidade de nutrientes, hídrica, o incremento de biomassa e as características
anatômicas das espécies nativas (OLIVEIRA, 2014).
Em espécies de cerrado, com aspecto tortuoso espera-se que diferentes densidades de
madeira sejam encontradas nas diferentes posições de uma árvore (tronco principal e galhos),
por exemplo. O objetivo deste trabalho foi calcular a densidade da madeira em 15 espécies
arbóreas de cerrados no sudeste do estado de Goiás e, aferir se existe diferença na densidade
de madeira nas posições 0,30 m e 1,30 m de altura no tronco em que foram coletadas as
amostras. A hipótese deste trabalho é de que as amostras alocadas a 0,30 m possuem maior
densidade de madeira para proporcionar maior sustentação da árvore, assim como espécies
arbóreas de biomas com espécies nativas de maior porte, como a Floresta Amazônica.

MATERIAL E MÉTODOS

Os dados coletados foram obtidos na região sudeste do estado de Goiás, nas cidades
de Catalão e Ipameri. A seleção foi realizada entre agosto/2017 e julho/2018. O critério
biométrico para escolha dos indivíduos foi o da circunferência a 0,3 m do solo >25 cm.

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A pluviosidade média anual da região é de 1531 mm, distribuídos irregularmente,
com um verão quente e chuvoso de outubro a março com médias de 219 mm e um inverno
seco de abril a setembro com médias de 36 mm, sendo a temperatura média anual de 21.6ºC
com média de 20.2°C no inverno e 22.9°C nos meses de verão (ALVARES et al 2014).
Foram amostradas 15 espécies arbóreas típicas de cerrado: Qualea grandiflora Mart.
(Vochysiaceae) Annona coriacea Mart. (Annonaceae), Caryocar brasiliense A. St.-Hil
(Caryocaraceae), Cecropia pachystachya Trécul (Urticaceae), Brosimum gaudichaudii
Trécul (Moraceae), Curatella spp. (Dilleniaceae), Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne
(Fabaceae), Hancornia speciosa Gomes (Apocynaceae), Dimorphandra mollis Benth.
(Fabaceae), Aspidosperma tomentosum Mart. (Apocynaceae), Dipteryx alata Vogel.
(Fabaceae), Vatairea macrocarpa (Benth.) Ducke (Fabaceae), Cedrela fissilis Vell. e
Machaerium acutifolium Vogel (Fabaceae).

Coleta de dados em campo


Densidade da madeira: foram coletadas amostras da madeira em cinco diferentes
indivíduos de cada espécie selecionada, utilizando trado dendrométrico. As coletas foram
realizadas sempre no período matutino, a fim de evitar possíveis variações dos valores de
densidade, que poderiam ser ocasionados por alterações no potencial hídrico e níveis de
transpiração após o meio dia. As coletas foram realizadas em seções regulares dos troncos
(sem ramificação ou danos), a 0,30 m do solo e a 1,30 m do solo. As circunferências e altura
das árvores foram mensuradas com fita métrica e clinômetro digital Haglof.
As amostras foram armazenadas de maneira individual, em saco plástico, selado até
as medições no laboratório. Posteriormente, foram levadas ao laboratório. Inicialmente, foram
pesadas in natura e mensuradas o comprimento e o diâmetro (espessura) da amostra com
paquímetro e tiveram sua massa quantificada em balança de precisão. Depois, deixou-se as
amostras para secagem por três dias, onde foram novamente quantificadas as massas.

Análise estatística dos dados


Utilizando o comprimento e espessura, calculou-se o volume de cada amostra. A
densidade de madeira foi calculada através da razão entre massa seca da amostra pelo volume
fresco da amostra (CHAVE et al. 2006).
Para cada espécie foi realizado um t teste t pareado para verificar se existe diferença
entre as amostras coletadas a 0,30 m e a 1,30 m de altura no software Past3 versão 1.0
(HAMMER; HARPER; RYAN, 2001).

RESULTADOS E DISCUSSSÃO

Doze espécies apresentaram densidades de madeira semelhantes a 0,30m e a 1,30m


de posição de coleta do cilindro: Qualea grandiflora Mart (0,56g/cm3 a 0,30 m e 0,57g/cm3 a
1,30 m), Annona coriacea Mart. (0,44g/cm3 a 0,3 m e 0,49g/cm3 a 1,30 m), Caryocar
brasiliense A. St.-Hil (0,56g/cm3 a 0,30 m e 0,48g/cm3 a 1,30 m), Curatella spp. (0,54g/cm3 a
0,30 m e 0,53g/cm3 a 1,30 m), Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne (0,52g/cm3 a 0,30 m e
0,52g/cm3 a 1,30 m), Hancornia speciosa Gomes (0,47g/cm3 a 0,30 m e 0,37g/cm3 a 1,30 m),
Dimorphandra mollis Benth (0,42g/cm3 a 0,30 m e 0,43g/cm3 a 1,30 m), Aspidosperma
tomentosum Mart. (0,83g/cm3 a 0,30 m e 0,83g/cm3 a 1,30 m), Dipteryx alata Vogel
(0,42g/cm3 a 0,30 m e 0,42g/cm3 a 1,30 m), Vatairea macrocarpa (Benth.) Ducke (0,8g/cm3 a
0,30 m e 0,77g/cm3 a 1,30 m), Machaerium acutifolium Vogel (0,77g/cm3 a 0,30 m e
0,76g/cm3 a 1,30 m).
Em três espécies avaliadas, os valores de densidade de madeira foram maiores a 0,30
m. As espécies Cecropia pachystachya Trécul (0,47g/cm3 a 0,30 m e 0,46 g/cm3 a 1,30 m),
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Brosimum gaudichaudii Trécul (0,60 g/cm3 a 0,30 m e 0,57 g/cm3 a 1,30 m) e Cedrela fissilis
Vell (0,49 g/cm3 a 0,30 m e 0,46 g/cm3 a 1,30 m) apresentaram 2,91%, 5% e 6,12%,
respectivamente, de densidade de madeira maiores a 0,30 cm. Árvores que apresentam
maiores valores de densidade de madeira na posição 0,30 m, detêm um forte suporte
mecânico para suportar a planta como um todo, ocasionando resistências a diversos fatores.
Comparando as espécies avaliadas, aquelas com maior densidade de madeira foram
Aspidosperma tomentosum Mart. (0,83g/cm3 a 0,30 m e 0,83g/cm3 a 1,30 m), Vatairea
macrocarpa (Benth.) Ducke (0,8g/cm3 a 0,30 m e 0,77g/cm3 a 1,30 m) e Machaerium
acutifolium Vogel (0,77g/cm3 a 0,30 m e 0,76g/cm3 a 1,30 m), sendo, portanto, classificadas
como madeiras de densidade alta (>0,80). As espécies que registraram menores valores foram
Annona coriacea Mart. (0,44g/cm3 a 0,3 m e 0,49g/cm3 a 1,30 m), Hancornia speciosa
Gomes (0,47g/cm3 a 0,30 m e 0,37g/cm3 a 1,30 m) e Dipteryx alata Vogel (0,42g/cm3 a 0,30
m e 0,42g/cm3 a 1,30 m), classificadas como madeiras de densidade baixa (<0,50).
Foi possível observar que, entre as espécies amostradas, aquelas que possuíam menor
porte, mostraram um padrão de variação longitudinal crescente, no sentido base topo.
Enquanto espécies de maior porte, como a Cecropia pachystachya Trécul, Brosimum
gaudichaudii Trécul e Cedrela fissilis Vell, apresentaram um padrão de variação longitudinal
descrente, de maneira uniforme com a altura.
Esperava-se que as espécies nativas de Cerrado apresentassem altas densidades de
madeira, principalmente para garantir a proteção contra o fogo. Porém a maioria das espécies
apresentou densidade de madeira baixa, pelo papel de proteção ao fogo, desempenhado pelo
súber, e também, pelo menor porte das árvores. POORTER et al. (2008) afirma que plantas
que apresentam alta densidade da madeira apresentam, relativamente, menor taxa de
crescimento, sendo mais longevas, vindo a investir num caule forte para suportar a planta
como um todo, além de resistir a riscos ambientais. Segundo CHAVE et al. (2006), algo não
necessário para espécies de cerrado que são relativamente pequenas. Espécies de crescimento
rápido são caracterizadas por baixos custos de formação dos tecidos condutores de baixa
densidade da madeira, que permitem crescimento rápido em tamanho porque o tecido
condutor é menos dispendioso de construir, logo após eventos de queima é mais fácil de se
reproduzir um tronco com baixa densidade de madeira.
A variação de densidade de madeira ocorreu apenas em algumas espécies, mas não
deve ser descartada para espécies de Cerrado, pelo menos não para todas. Resultados
encontrados por SILVA et al. (2015) demostraram que, em uma mesma árvore ocorre
variação da densidade da madeira, geralmente sendo maior na porção inferior do tronco,
responsável por sustentar maior peso do vegetal.

CONCLUSÃO

A densidade de madeira apresentou baixa variação para a maior parte das plantas
analisadas do Cerrado, porém para algumas a densidade de madeira é maior a 0,30 m do que a
1,30 m, possivelmente para os indivíduos obterem maior sustentação da árvore, semelhante a
espécies arbóreas de maiores portes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVARES, C.A.; STAPE, J.L.; SENTELHAS, P.C.; GONÇALVES, J.L.M.; SPAROVEK,


P.C. Koppen’s climate classification map for Brazil. Meteorologische Zeitschrift, v. 22, n. 6,
p.711–728. 2014.

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Amazonia, 2006.

CHAVE, J.; COOMES, D.; JANSEN, S.; LEWIS, S. L.; SWENSON, N. G.; ZANNE, A. E.
Rumo a um espectro mundial da economia da madeira. Ecology Letters, v. 12, n. 4, pg.
351-366, 2009.

HAMMER, O.; HARPER, D.A.T.; RYAN, P. D. 2001. PAST - Palaeontological statistics.


Disponível em:<http://folk.uio.no/ohammer/past/>. Acesso em 29 jul 2018.

OLIVEIRA, G. M. V. Densidade da madeira em Minas Gerais: amostragem, espacialização e


relação com variáveis ambientais. 126 p. Tese de Doutorado em Ciências Florestais,
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Universidade Federal de Lavras,
Lavras, 2014.

POORTER, L.; PAZ, S. J. W. H.; ACKERLY, D. D.; CONDIT, R.; IBARRA-MANRÍQUEZ,


G.; HARMS, K. E.; LICONA, J. C.; MARTÍNEZ-RAMOS, M.; MAZER, S. J.; MULLER-
LANDAU, H. C.; PENA-CLAROS, M.; WEEB, C. O.; WRIGHT, I. J. Are functional traits
good predictors of demographic rates? Evidence from five Neotropical forests. Ecological
Society of America, v. 89, n. 7, pg. 1908-1920, 2008.

SWENSON, N. G.; ENQUIST, B. J. Determinantes ecológicos e evolutivos de uma


característica funcional da planta chave: densidade da madeira e sua variação em toda a
comunidade em toda a latitude e elevação. American Journal of Botany, v. 94, ed. 3, pg.
451-459, 2007.

SILVA, C. J.; VALE, A. T.; MIGUEL, E. P. Densidade básica da madeira de espécies


arbóreas de Cerradão no estado do Tocatins. Pesquisa Florestal Brasileira, v.35, n.82, p.63-
75, 2015.

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