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INTRODUÇÃO O ato de avaliar encontra-se presente no cotidiano das instituições de ensino.

De
maneira sistemática ou não estamos frequentemente fazendo juízo de valor sobre comportamentos,
coisas, pessoas e situações diversas inerentes ao contexto organizacional. No âmbito educacional, a
avaliação consiste em uma atividade sistemática e multidimensional que perpassa os processos de
ensino, de aprendizagem e de gestão. “Avaliação institucional interna na Educação Profissional
Técnica de Nível Médio – instrumento de melhoria do ensino” é decorrente de inquietações e
questionamentos vivenciadas em nosso fazer pedagógico. Atuando como membro da equipe da
Coordenadoria de Apoio Pedagógico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Maranhão (IFMA) os diálogos com os pais, alunos, técnicos administrativos e docentes arrefeceram
a defesa de discursos que oportunizem o debate crítico e responsável em torno do processo de
ensino da instituição.

Quando nos reportamos a Educação Profissional e Tecnológica, entendemos que esta modalidade de
ensino configura, conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional
Técnica de Nível Médio (BRASIL, 2012), uma proposta formativa que integra as dimensões do
trabalho, da ciência e da 15 tecnologia, tendo como princípio educativo o trabalho1 e a formação
integral dos sujeitos. Pensar o ensino dessa maneira, é criar oportunidades formativas que
assegurem à classe trabalhadora uma formação integral, a elevação da escolaridade, a inserção
digna no mundo do trabalho e o exercício pleno da cidadania. Uma das condições indispensáveis
para efetivação desta proposta formativa é que cada instituição de ensino, no âmbito da Educação
Profissional e Tecnológica, expresse em seu projeto pedagógico o compromisso com uma educação
que considere todas as dimensões da vida no processo educativo, ou seja, uma formação
omnilateral2

A transição do século XX para o século XXI coincidiu com uma mudança paradigmática de grandes
proporções. A fragilização dos modelos explicativos, a derrocada do socialismo e a revolução nos
costumes criaram crises identitárias em todos os níveis. A despeito disso, uma nova perspectiva para
a vida humana é o objeto que nos move neste início de século e de milênio. O aspecto simbólico
dessa passagem reitera questões que continuam urgentes, que mobilizaram o desejo e a energia de
trabalho das gerações que nos antecederam. Entre essas questões encontra-se a educação, que foi
particularmente atingida pela crise e pelas políticas neoliberais, perdendo suas referências. Como
política social capaz de emancipar, sua força deve ser renovada por meio de projetos criativos e
desafiadores.

a) Expansão da Educação Profissional Desde 2003, início do governo Lula, o governo federal tem
implementado, na área educacional, políticas que se contrapõem às concepções neoliberais e abrem
oportunidades para milhões de jovens eadultos da classe trabalhadora. Na busca de ampliação do
acesso à educação e da permanência e aprendizagem nos sistemas de ensino, diversas medidas estão
em andamento. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
dos Profissionais da Educação (Fundeb) injetou R$ 4 bilhões na educação pública, financiando da
educação infantil ao ensino médio. No ensino superior, o Programa Universidade para Todos
(ProUni), maior programa de bolsas da história do país, e ainda em expansão, vem alterando na
universidade brasileira não somente a composição de classe como também a étnica. A Universidade
Aberta do Brasil (UAB), programa de cursos superiores a distância, criou mais 60 mil vagas
públicas. Além disso, a implantação de mais de uma dezena de novos campi universitários e quatro
novas universidades amplia em milhares as vagas públicas nas universidades brasileiras.

b) O Novo Mundo Possível Ainda sofremos as consequências de quase duas décadas de políticas
privatistas. E mais, a escola*, como instituição da sociedade, é pressionada pelos valores de sua
época. A profunda degradação das relações humanas perpassa todos os tecidos sociais, ocupando
lugar de destaque na comunicação de massa e interferindo, também, nas relações do universo
educacional. Não podemos nos submeter a essa política na exata medida em que um projeto
democrático é construído coletivamente. Recusamo-nos a formar consumidores no lugar de
cidadãos, a submeter a educação à lógica do capital, colocando o currículo como instrumento do
simples treinamento de habilidades e técnicas a serviço da reprodução capitalista

c) Abertura à Comunidade
A escola, seja do nível que for, é parte da comunidade e, na maioria dos casos, o único espaço
público de integração, organização e lazer disponível. Dessa forma, deve estar, permanentemente,
aberta à população e firmar-se como um efetivo polo cultural. Para isso, tornase indispensável um
trabalho integrado entre Conselhos e Direções. Nosso objetivo central, nesse aspecto, deve ser a
disponibilização de todos os espaços escolares/acadêmicos para a comunidade. Isso

d) Cidadãos para o Mundo do Trabalho No conceito de inclusão, temos de abrigar o combate a


todas as formas de preconceitos, também geradores de violência e intolerância, por meio de uma
educação humanista, pacifista, preocupada com a preservação da natureza e profundamente
vinculada à solidariedade entre todos os povos independentemente de fronteiras geográficas,
diferenças étnicas, religiosas ou em relação à orientação sexual. Entretanto, não basta incluir em
uma sociedade desigual, reprodutora da desigualdade. O conceito de inclusão tem de estar
vinculado ao de emancipação, quando se constroem também os princípios básicos da cidadania
como consciência, organização e mobilização, ou seja, a transformação do educando em sujeito da
história. Assim, diante dessas novas perspectivas para a Rede Federal de Educação Profissional e
Tecnológica, torna-se absolutamente importante definir claramente o protagonismo daqueles que
fazem educação em cada instituição de ensino e na sociedade como um todo. Os índices 11 de
sucesso escolar ou acadêmico, a valorização dos seus educadores, o conceito de educação que não
se limita à ação escolar, mas envolve a comunidade, demonstram o vigor da Rede.
c) Os Institutos Federais como Política Pública Os Institutos Federais ressaltam a valorização da
educação e das instituições públicas, aspectos das atuais políticas assumidos como 17 fundamentais
para a construção de uma nação soberana e democrática, o que, por sua vez, pressupõe o combate às
desigualdades estruturais de toda ordem. É, pois, para além da estrutura institucional estatal e dos
processos de financiamento e gestão de caráter técnicoadministrativo, principalmente na dimensão
política, no campo dos processos decisórios, na intermediação dos interesses de diferentes grupos
utilizando-se de critérios de justiça social em virtude de sua função social, que esses institutos
afirmam a educação profissional e tecnológica como política pública
No entanto, é necessário ressaltar outra face dessas instituições federais, aquela associada à
resiliência, definida pelo seu movimento endógeno e não necessariamente pelo traçado original de
uma política de governo. Isso as torna capazes de tecer, em seu interior, propostas de inclusão social
e de construir, “por dentro delas próprias”, alternativas pautadas nesse compromisso com a
sociedade. Pensar os Institutos Federais do ponto de vista político representa a superação de visões
reducionistas e a instituição de uma política pública que concorra para a concretização de um
projeto viável de nação para este século. Significa, portanto, definir um lugar nas disputas travadas
no âmbito do Estado e da sociedade civil. Esse “lugar” é o território, arena de negociações nos
processos políticos decisórios, espaço 18 – para além das fronteiras geopolíticas – onde se
constroem e se estabelecem identidades e o sentimento de pertencimento. Nesse sentido, a noção de
território se confunde com a de rede social.

d) Desenvolvimento Local e Regional Atuar em favor do desenvolvimento local e regional na


perspectiva da construção da cidadania constitui uma das finalidades dos Institutos Federais. Para
tanto, é necessário um diálogo vivo e próximo dessas instituições com a realidade local e regional,
buscando a compreensão de seus aspectos essenciais, ou seja, do que existe de universal nessa
realidade. Deve-se considerar que local e universal não existem como antítese, não expressam
necessariamente oposição
e) Os Institutos Federais como Rede Social A rede é tecida a partir das relações sociais existentes
que dão oportunidade, por um lado, ao compartilhamento de ideias, visando à formação de uma
cultura de participação e, por outro, à absorção de novos elementos, objetivando sua renovação
permanente. Tratase, portanto, de um espaço aberto e em movimento, de atuação regional, com
bases em referenciais que expressam também uma missão nacional e universal. A reflexão sobre as
relações de interação e compartilhamento que se estabelecem em uma rede social deve ter como
pressuposto o fato 20 de o conhecimento ser um dos elementos constituintes da cidadania.
Considerando a tendência à hegemonização de determinadas trocas de saberes, isto é, da
predominância de colaboração entre certas organizações ou indivíduos em detrimento de outros, é
de suma importância, na busca do pleno exercício da cidadania, garantir o acesso à informação,
impedindo o seu monopólio.

b) Cidadania O conceito de cidadania surge no contexto das revoluções burguesas na Europa,


especialmente, a Revolução Francesa de 1789. A burguesia, responsável pelo desenvolvimento das
forças produtivas, enriquecida mas excluída de direitos sociais e políticos pela aristocracia
decadente, assume a vanguarda da luta pela igualdade de direitos. Essa luta pela cidadania plena
resumia-se, basicamente, em liberdade (direitos políticos), igualdade (direitos sociais) e 1
(BRASIL. MEC/SETEC/GT. Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Profissional Técnica
de Nível Médio em debate - Texto para Discussão, 2010, p. 42). 31 propriedade (direitos
econômicos). Somente a concretização dessas três dimensões caracteriza a cidadania plena.
 
Resumo
          A educação profissional pode contribuir para a promoção e manutenção do desenvolvimento econômico de uma nação.
Nesse sentido, os impactos da expansão da educação profissional ganham notoriedade diante da sua capacidade de promover
mudanças sociais e econômicas, manifestando-se como uma das prioridades estatais em vários países desenvolvidos nas últimas
décadas do século XX e mais recentemente, em países em vias de desenvolvimento. O presente artigo procura investigar as inter-
 
relações existentes entre educação profissional, ou seja, aquela voltada para o mundo do trabalho, e o desenvolvimento econômico.
Em termos metodológicos o estudo destaca a importância da capacitação profissional para o desenvolvimento, para tal fim, aborda-se
a teoria do capital humano e as relações entre ciência, tecnologia e desenvolvimento. Nas considerações finais são retomadas as
principais contribuições teóricas acerca do assunto.
          Unitermos: Educação profissional. Desenvolvimento. Ciência. Tecnologia.
 
EFDeportes.com, Revista
Digital. Buenos Aires - Año 19
- Nº 193 - Junio de
2014. http://www.efdeportes.c
om/
1/1

1.     Introdução

    O presente artigo visa destacar as inter-relações existentes entre educação profissional e
desenvolvimento econômico, a partir do pressuposto de que a aquisição de novas habilidades
pela população apresenta um alto grau de correlação com o crescimento econômico. O termo
educação profissional abordado neste artigo refere-se à educação formal recebida em escolas
técnicas que enfocam o mundo do trabalho. Procura-se entender primeiramente como, em
termos teóricos, a educação pode contribuir para o desenvolvimento. Para construir a relação
entre educação profissional e desenvolvimento utiliza-se a Teoria do Capital Humano em seu
sentido mais amplo, abrangendo assim teorias que atribuem às qualidades individuais como
determinantes de melhores cargos e acréscimos de renda. Tais qualidades individuais são
adquiridas quando determinado indivíduo recebe capacitação para desempenhar suas
atividades, de forma que a educação profissional manifesta-se como um elo entre o
empregador e o candidato à vaga. O estudo recorre a autores como Theodore W. Schultz,
formulador da teoria do capital humano e outros que desenvolveram trabalhos que ressaltaram
a importância da educação profissional para o desenvolvimento como: Branco (1979), Sen
(2000), Langoni (2005), entre outros. Diante de tais teorias, conclui-se que ao compreender o
processo de desenvolvimento econômico a educação profissional se apresenta como um
aspecto relevante.

Metodologia

    Trata-se de um estudo composto por levantamento bibliográfico e observações das relações
que o trabalho se propôs a estabelecer. O estudo em questão é de natureza comparativa, que
se insere nos domínios da pesquisa qualitativa.

    Os instrumentos de análise das informações baseiam-se no método comparativo. Tal


procedimento é conhecido como principal meio para captar informações e destacar as
divergências teóricas, bem como as similaridades apresentadas entre os autores escolhidos,
buscando algumas conclusões a partir dos autores pesquisados. Para composição dos dados
foram feitos também uma pesquisa bibliográfica e documental.

A Teoria do Capital Humano

    A evolução do capitalismo é marcada por mudanças que possibilitaram melhorias nos
métodos de produção e na organização das empresas. Essas melhorias são caracterizadas por
avanços tecnológicos que se traduziram em ganhos de produtividade, de forma que pequenas
firmas abrem espaço para grandes organizações inovadoras que investem no conhecimento
demandado por um mercado altamente competitivo, habitado por consumidores que exigem
produtos diferenciados, e por empresas que se especializam e se modernizam constantemente.

    As principais mudanças tem sido o deslocamento das vantagens competitivas,


antes na produção em escala, à agregação de valor, bem como a necessidade de
personalização de produtos e serviços para atender às questões específicas dos
clientes. (SILVA, 2005, p. 40)

    Nesse contexto, o investimento em recursos humanos torna-se peça chave para criar ou
viabilizar a implantação de novos produtos ou métodos de produção, sendo as escolas,
universidades e centros de pesquisa, protagonistas no processo de inovação.

    A teoria do capital humano foi formalizada por Theodore W. Schultz, Professor e pesquisador
da Universidade de Chicago. Em sua Teoria, Schultz relaciona ganhos de produtividade com
investimentos em capital humano, de forma que os rendimentos pessoais crescem à medida
que aumenta o grau de instrução de determinado indivíduo. Sua pesquisa demonstra como
países destruídos pela Segunda Guerra Mundial, como o Japão, conseguiram se reerguer e
experimentar um rápido crescimento econômico. As conclusões dos seus estudos refletem a
importância do capital humano como um fator essencial ao desenvolvimento de um país.

    Schultz (1973, p.63) apresenta o conceito de Capital Humano, argumentando que
“É humano  porquanto se acha configurado no homem, e é capital  porque é uma fonte de
satisfações futuras, ou de futuros rendimentos ou ambas as coisas”. Para que possa apresentar
algum retorno é necessário realizar investimentos no próprio indivíduo, visto que não possível
dissociar a pessoa do capital humano que possui.

    Para Reis (2012) as teorias que atribuem às qualidades individuais como determinantes de
melhores cargos e acréscimos de renda, são consideradas como Teorias do Capital Humano.
Segundo a Autora:

    os principais fatores que afetam a mobilidade dos trabalhadores se relacionam à


sua produtividade. Estes fatores incluem a escolaridade formal, treinamentos
profissionais, experiência, conhecimento, motivação, atitudes, talento, e, acima de
tudo, habilidades. Assim, espera-se que trabalhadores mais produtivos tenham
maior potencial para ocupar os melhores empregos no mercado de trabalho,
enquanto os trabalhadores menos produtivos assumiriam as piores ocupações.
(REIS, 2012, p.26)

    Outros pensadores como Gregory Mankiw, David Romer e David Weil desenvolveram
modelos que contemplavam a variável capital humano na compreensão dos diferenciais de
crescimento econômico de diversos países – isto é “reconhecer que mão de obra de diferentes
economias tem diferentes níveis de instrução e qualificação.” (Jones, 2000, p. 44). As
contribuições dos modelos mostram que muitos países são ricos por que grande parte da
população despende um tempo maior acumulando habilidades. Essa nova reformulação constrói
análises que relacionam cada ano adicional de escolaridade com carreiras mais promissoras e
consequente obtenção de melhores salários, conforme Quadro 1.

Quadro 1. Nível de escolaridade, taxa de ocupação e rendimento financeiro do trabalho

Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios 1996/2002

Fonte: IBGE (2004), Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios 1996/2002

    Conforme Stewart (1998) as empresas se diferenciam baseadas no que sabem fazer melhor
que seus concorrentes, consequentemente o valor do profissional está em sua capacidade de
inovar e se diferenciar. O conhecimento é tido como um bem de grande valor para qualquer
organização, visto que seus recursos não se restringem apenas a estrutura da empresa,
maquinário ou a mão de obra, e sim o desenvolvimento de novos métodos e processos. Para
melhor compreensão do assunto conhecimento pode ser definido como:

    uma mistura fluida de experiência condensada, valores, informação contextual


e insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para a avaliação e
incorporação de novas experiências e informações (…) Nas organizações ele
costuma estar embutido não só em documentos ou repositórios, mas também em
rotinas, processos, práticas e normas organizacionais. (Davenport e Prusak , 1998
p.6)
    De acordo com Dias (2003) os trabalhadores necessitam se renovar constantemente, visto
que o trabalhador que não se qualifica torna-se inútil na execução de novas atividades
incorporadas com o progresso tecnológico:

    A exigências é um trabalhador versátil, flexível e adaptável que possua a


capacidade de modificar rapidamente o desenvolvimento de suas atividades. Como
resultado das novas tecnologias, novas profissões surgem constantemente, e
diversos cargos tradicionais estão sendo transformados, substituídos e até mesmo
extintos, como por exemplo, o Datilógrafo e o Telegrafista que com a
informatização foram substituídos por profissionais da informática. (DIAS, 2003,
p.27)

    Branco (1979) procura compreender os desequilíbrios do mercado de trabalho brasileiro,


quanto aos diferenciais de salários relativos. Para explicar a desigualdade salarial o autor
analisa o período conhecido como o “Milagre Econômico Brasileiro”, compreendido entre o final
da década de 60 e início da década de 70. Sua análise se utiliza da teoria do capital humano, ao
passo que procura vincular as condicionantes que explicam melhores salários aos anos de
estudo “a capacidade para desempenhar funções complexas, adquirida pela educação, é um
dos fatores mais relevantes na determinação da renda individual”. (BRANCO, 1979, p. 102)

    Em seu trabalho constata-se que os setores econômicos crescem de maneira desigual, de
forma que as chamadas indústrias tradicionais (têxtil, alimentos, couros, madeira, calçados,
vestuários, etc.) tendem a diminuir sua participação no produto da economia, enquanto
subsetores que absorvem mais intensamente inovações técnicas crescem mais rapidamente.
Diante da constatação é de se esperar que com o tempo a tendência seja que a demanda por
mão de obra qualificada venha a se expandir, enquanto o inverso ocorra com a mão de obra
não qualificada.

    Outro aspecto que Branco (1979) apresenta é o fato que as indústrias mais tradicionais são
mais intensivas no uso de capital físico e consequentemente possuem um número grande de
funcionários, entretanto, quando se analisa o nível educacional as indústrias mais dinâmicas são
mais intensivas em capital humano, visto que demandam um profissional com maior nível de
conhecimento.

    Para o autor a existência de inelasticidade da oferta de mão de obra qualificada no curto
prazo, definida por anos de educação formal e de experiência, é que explicam os diferenciais de
salário em períodos de crescimento econômico. Ou seja, em um cenário de expansão do setor
produtivo aliado a rigidez na oferta de indivíduos mais qualificados, resulta em ganhos
proporcionalmente mais elevados. Para validar sua teoria, Branco (1979) dividiu o mercado de
trabalho urbano em três setores:
• Setor 1: Compreendido por subsetores dinâmicos, mais concentrados e que trabalham
com tecnologia razoavelmente sofisticada.

• Setor 2: Constituído por setores que utilizam tecnologia moderna mas são menos
concentrados.

• Setor 3: Composto por indústrias tradicionais que empregam tecnologias menos


desenvolvidas

    Quando se analisa os anos de estudo, os integrantes do setor 1 possuem, em média, cerca
de sete anos de educação formal, enquanto os do setor 3 tinham apenas quatro anos.
Consequentemente quando se analisa o comportamento dos salários reais verifica-se uma
expansão mais elevada no setor 1.

Quadro 2. Características dos setores: salário real mensal (em R$), Brasil, 1969 a 1973.

Fonte: Adaptado de Branco (1979)

    Quanto ao crescimento do emprego foi menos intenso no setor 1, o que mais uma vez valida
a tese que “entre as variáveis explicativas do modelo a escolaridade é, em todos os três
setores, a mais importante, tendo em vista as magnitudes de seu coeficiente estimado e do
valor da sua contribuição marginal” (BRANCO, 1979, p.89)

    As críticas à teoria do capital humano baseiam-se nos problemas de avaliação da educação
como propulsor do desenvolvimento, visto que a “educação” de um indivíduo é formada por
demais elementos sociais e culturais, como capacidades inatas, estrutura familiar, etnia, entre
outros elementos. Para eles a teoria do capital humano contempla apenas aspectos econômicos
em sua abordagem. Já para os marxistas o aumento da produtividade se dá não pelo aumento
da escolaridade e sim pela estrutura tecnológica disponível e pela organização do processo de
produção.

Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento

    A relação entre educação e desenvolvimento está sempre presente nos discursos oficiais,
bem como na teoria econômica. É comum ao governo que elege o desenvolvimento como
meta, elaborar políticas públicas voltadas para educação, já que variáveis importantes ao bom
andamento da economia como o nível salarial, desemprego e avanço tecnológico, estão
intimamente relacionadas ao nível de capacitação da população.
    Desenvolvimento é um termo amplo, pode-se descrevê-lo como uma situação em que o país
vivencia um crescimento econômico, geralmente associado ao aumento do Produto Nacional
Bruto per capita, acompanhado pela melhoria do padrão de vida da população e por alterações
fundamentais na estrutura de sua economia.

    O investimento em educação é um traço marcante das nações desenvolvidas, visto que
oportunidades sociais são elementares para o desenvolvimento. Um caso bem sucedido dessas
ações é o Japão, segundo Sen (2000) ainda na era Meiji no século XIX, o país já apresentava
índices superiores aos da Europa com relação à educação básica. Nessa época o Japão ainda
não havia passado pelo processo de industrialização que já havia sido iniciado na Europa. Com
grandes investimentos em educação, o desenvolvimento do Japão foi, em sua maior parte,
subsidiado pelo capital humano. O mesmo que ocorreu em outros países próximos a ele, o
chamado milagre do Leste Asiático. O relatado vai contra a ideia de que só os países ricos
possuem capital suficiente para manterem alto padrão de desenvolvimento humano, já que
muitos países do leste asiático realizaram esses investimentos antes de conhecerem a
prosperidade econômica.

    Outro exemplo é a China, dentre os principais fatores que explicam seu crescimento
gigantesco destaca-se a presença de grandes investimentos em educação, além da abertura
econômica e uma indústria forte voltada para o mercado. O caso da China é semelhante a do
Japão, a população chinesa era em grande parte alfabetizada antes de experimentar a
aceleração econômica, ou seja, havia um preparo social quando em 1972 voltaram-se para o
mercado. O mesmo se percebeu em países como Coréia do Sul e Taiwan.

    Em contraposição a situação desses países, Sen (2000) apresenta casos como o da Índia e
do Brasil. A Índia não possuía o preparo social necessário para aproveitar todos os benefícios
da economia voltada para o mercado. O mesmo ocorre com o Brasil, “onde a criação de
oportunidades sociais tem sido mais lenta, agindo assim como uma barreira para o
desenvolvimento econômico” (SEN, 2000, p. 61). Apesar de apresentar um aumento expressivo
do PNB per capita quase comparável a outros países de crescimento elevado, o Brasil “tem uma
longa história de grave desigualdade social, desemprego e descaso com o serviço público de
saúde” (SEN, 2000, p. 62).

    A necessidade de políticas públicas que priorizam a qualificação profissional é evidente diante
da “premissa de que mais educação pode proporcionar melhores oportunidades de emprego,
rendimento e ascendência na carreira” (REIS, 2012, p.18). Destaca-se, ainda, que os postos de
trabalho são cada vez mais caracterizados por procedimentos tecnológicos e baseados em
informação, demandando colaboradores altamente qualificados.

    Um país é competitivo quando sua população possui um alto nível de capacitação. Como
afirma Evangelista (2009, p.19) “a educação e a qualificação profissional são fatores
fundamentais para o desenvolvimento das nações pobres e a manutenção da hegemonia
econômica e política dos países industrializados”. Kliksberg (2001, p. 31) ressalta que “a taxa de
retorno em educação é uma das mais altas possíveis para uma sociedade”.

    O cenário mundial corrobora para o exposto acima, conforme o GRÁF. 1 a média de anos de
estudo por nível educacional (15 anos de estudo ou mais) é crescente, tanto para os países em
desenvolvimento quanto para os desenvolvidos.

Gráfico 1. Média de Anos de Estudo, por Nível Educacional (15 anos de idade ou mais)

Fonte: Barro e Lee (2010) Apud Reis (2012)

    É importante lembrar que os retornos do investimento em educação vão além de melhores
salários ou elevação da empregabilidade. Uma boa formação possibilita a expansão das
liberdades, fazendo com o indivíduo assuma uma posição de agente e não de paciente.
Segundo Sen (2000), há uma clara distinção entre “paciente” e “agente”, na qual paciente é
visto de forma mais passiva aos acontecimentos ao seu redor, enquanto o agente interfere ou
tem a liberdade de interferir de forma crítica nos acontecimentos. Para a visão do
desenvolvimento como liberdade é necessário promover a condição de agente, de forma que:

    com oportunidades sociais adequadas, os indivíduos podem efetivamente


moldar seu próprio destino a ajudar uns aos outros. Não precisam ser vistos
sobretudo como beneficiários passivos de engenhosos programas de
desenvolvimento (SEN, 2000, p. 26)

    Dentro do mesmo pensamento Alfred Marshall demonstra que os indivíduos que receberam
educação abandonam o caráter alienador, de forma que passam a dar mais valor ao lazer do
que acréscimos de renda. Nesse sentido, percebemos como a educação é decisiva na formação
de cidadãos capazes de promover mudanças, além de ser um importante meio para se
combater à exclusão social.
Considerações finais

    O presente trabalho buscou apontar alguns aspectos relativos à relação existente entre a
educação profissional e o desenvolvimento. Tal relação foi validada por meio de teóricos que
apresentaram evidências observadas e comprovadas da teoria do capital humano. Ao longo do
estudo ressaltou-se a importância da educação profissional para atender às mudanças no
mercado de trabalho advindas da adoção de novos processos gerados por inovações
tecnológicas.

    Os modelos apresentados anteriormente ajudam a compreender por que alguns países são
mais ricos que os outros, em todos eles, apesar de suas particularidades, o desenvolvimento ou
assimilação de novas tecnologias se manifestaram como uma variável importante do
crescimento econômico. O que nos conduz a conclusão de que um país que objetiva crescer
necessita incentivar novas ideias, capacitar a mão de obra disponível e investir em pesquisa e
desenvolvimento (P&D). Resguardadas as peculiaridades dos modelos citados, é possível
admitir que população produtora, de conhecimento e/ou que utiliza ou maximiza aqueles já
existentes é fator positivo para o desenvolvimento. Assim, é possível concluir que a qualificação
através da educação é uma importante ferramenta para o desenvolvimento social e econômico.

Referências

• ALÉM, Ana Claudia; GIAMBIAGI, Fabio. Finanças Públicas, Teoria e Prática no Brasil. 2°


ed. Rio de Janeiro: Campus. 2001

• BARROS, Ricardo Paes de; MENDONÇA, Rosane Silva Pinto de. Os determinantes da
desigualdade no Brasil.  Rio de Janeiro: Texto para Discussão n° 377 – IPEA, 1995.

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