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Luno Laflue

“Para consertar o coração de alguém, primeiramente, deve-se aprender sobre


o coração. E para aprender sobre ele, é necessário ter a experiência de remonta-lo toda
vez que ele se quebra” – Luno Laflue.

“HAHAHAHA”

As risadas podiam ser escutadas de longe. A noite estava calma, nenhuma


nuvem cobrindo o céu, as estrelas brilhavam sobre as cabeças do afortunados que
podem aprecia-las e dentro de um pequeno quarto, Luno e sua filha, Syl, davam
gargalhadas e sorriam como nunca.

A loja dos Laflue, Fuga do Mundo, já estava fechada, depois de ter tido um
dia não muito produtivo em questão de bugigangas e apetrechos de apresentações.
Porém, o armazém já estava cheio de materiais arcanos, que haviam sido entregues com
sucesso na manhã desse dia.

As risadas diminuíam e as horas passavam. Luno, cobrindo a Syl com um


cobertor verde, diz com um sorriso sincero e cansado no rosto:

“Bom, se você estiver com vontade, eu posso te contar algumas historias de


viagens com meu antigo bando. Talvez uma ou duas. Mas só se você quiser.”

“Sempre tenho vontade de ouvir suas historias, mas você quer me fazer
dormir ou me deixar acordada?” Syl respondeu com uma expressão de dúvida.

“Ah, vai depender se você gostar ou não né. Mas vai lá, me da uma
chancezinha. Já faz muito tempo que não conto uma boa historia. O Arquimedes só as
critica e duvida de sua veracidade. Preciso de alguém que as aprecie!” Luno terminou
sua fala com peito estufado e levantando um pouco sua voz.
“Hmmm, ok tudo bem. Vou te dar essa chance. Entretenha-me, E se eu
gostar, talvez eu te permita me contar mais.”

“Ah é assim então? Você ta engraçadinha em, não cansou de fazer piada?
Agora fica deitadinha que teu pai vai te contar umas boas.”

“Só tentei atuar uma nobre, não foi igualzinho?”

“Faltou uma pitadinha de olhar de desdém, mas você terá bastante tempo
pra aperfeiçoar sua técnica. Afinal, você só tem 18 anos. Ta muito novinha.”

“Esse olhar é muito difícil, que tal você fazer algo pra eu sentir desdém?
Por favooor.”

“Impossível, seu pai é muito incrível para isso. Agora deixa eu começar as
minhas épicas historias!”

Terminando o pequeno dialogo, Luno limpou sua garganta e começou fazer


gestos com as mãos. Seu bracelete de orvalho brilhava um azul-marinho quando, das
mãos do elfo, figuras começaram a aparecer. Os olhos verde-esmeralda de Syl
brilhavam enquanto apreciava a ilusão em sua frente.

“Acho que vou começar com o inicio do grupo Lua Minguante, a equipe
com a qual eu viajava pelo mundo. Nós éramos seis, com cargos diversos em nossos
atos. Naquela época a magia era legal e muito usada por diversas raças, então nós
tentávamos ser diferentes e fazer de nossas apresentações algo único, com truques que
praticávamos horas, dias, semanas e até mesmo meses.”

Da palma de Luno seis figuras apareceram. Sendo elas, uma humana, dois
tieflings, dois elfos e uma halfling. Todos estavam sendo perfeitamente demonstrados
como eram na época, carecendo apenas de cores, já que Luno queria deixar sua
apresentação mais artística do que realística. Cada uma começou a fazer uma ação
diferente, indicando suas funções na Lua Minguante. A humana parecia ser uma
domadora de animais, ao lado dela aparecendo um enorme jaguar. Os tieflings eram
gêmeos, dominadores do fogo. Sua mistura de danças expressivas e seu controle das
chamas hipnotizavam as audiências. Um dos elfos era um mestre de laminas, com seu
ato principal sendo engolir suas facas e espadas. A halfling era a grande acrobata do
grupo, sendo uma das favoritas da Lua Minguante. O papel de Luno era menos corporal.
Sendo um ilusionista, ele se concentrava em dar assistência para seus companheiros e
fazer apresentações visuais para a plateia. Seu ato favorito era quando contava contos
épicos, dramas, horrores, todos representados pelas suas figuras que criava com magia.
Não era a mais emocionante, ou a mais misteriosa ou difícil apresentação, mas ela ainda
funcionava para abrir mais o coração dos espectadores e os fazerem aproveitarem o
resto do show.

“Eu amava ver as expressões. As de felicidade, tristeza, ansiedade, terror e


até mesmo o de tedio. Eu só queria faze-los sentir algo, para dar um contraste, uma
iniciativa para o pessoal. Digamos que eu basicamente trabalhava como um mestre de
cerimonia. Minhas ilusões não eram impressionantes ou difíceis de fazer, claro. Só que
eu não acho que isso importava. Não era isso que eu buscava quando eu viajava com
aquele bando. Acredite querida, a coisa que eu mais tenho medo, é de não conseguir
fazer alguém sentir algo. É sentindo que você sabe que está realmente vivo.”

Batendo uma palma, as figuras sumiram, e com um estalar de dedos, uma


carroça apareceu de trás da cama de Syl.

“Esse grupo começou numa cidade desconhecida e pouco habitada no sul


do continente. Eu já conhecia os gêmeos há algum tempo e fomos nós que tivemos a
ideia de começar a ser um grupo artístico ambulante. A única coisa que eu sabia na
época era alguns truques com cartas e moedas. Meus estudos não estavam tão
aprofundados, porém eu tinha potencial. Ambos os tieflings, Flinn e Dinn, eram
feiticeiros. Não matariam uma mosca sequer apesar de suas aparências. Eram gênios!
O mínimo que eu posso dizer deles. Ainda não consigo acreditar que aqueles garotos
estão tão velhos. O tempo voa... Mas enfim, foi nessa cidade que eu conheci Cinthia e
Diana, a humana e a halfling. Elas se apresentavam em bares e até que eram famosas
na região, além de serem nosso objetivo ao comparecer em Urgan. Queríamos
membros. Para o grupo que decidimos chamar de Arkeneamitore.”

Luno fazia com as palmas das mãos o nome antigo que haviam feito e com
isso uma duvida surgiu.

“Arkeneamitore? Mas não teria sido melhor vocês escreverem e falarem o


nome em Comum? Eu acho que Magos da Lua é um nome bonito em Comum.”
“Sei disso, sei disso. Não foi o que a gente manteve então relaxa. Seu pai
era jovem, o orgulho de elfo atrapalhava um pouco. E os gêmeos gostarem tanto de
nossa linguagem não ajudava nem um pouco. Depois que as meninas entraram no
grupo decidimos mudar o nome, afinal não estávamos apenas compostos de usuários
de magia. Então o nome ficou Lua Minguante. Ao menos você sabe o porquê desse
nome certo?”

’ “Não? Eu nunca consigo me lembrar as fases da lua. Mas se eu tivesse


que chutar seria talvez a que parece um sorriso?”

Olhando para sua filha com os olhos cerrados, Luno disse com um tom de
piada:

“Olha, se você estudasse que nem chuta as coisas você provavelmente já


teria me passado em conhecimento arcano.”

“Ha-ha-ha. Engraçadão você em. Continua a historia!”

Limpando a garganta e mostrando o grupo de 5 pessoas junto com o


símbolo da Lua Minguante, Luno continuou a historia:

“Bom, você acertou. Nosso objetivo nesse grupo era trazer sorrisos.
Felicidade. E, além disso, dinheiro nos deixava felizes também então fazia total sentido.
Porém, ainda está faltando o ultimo membro. Seu tio, Tahlan. Eu e o irmão de sua mãe
nunca tínhamos conversado tanto. Ele era bem ocupado por seu trabalho como
ferreiro. Mas minha filha, você jamais acreditaria na habilidade que ele tinha com as
laminas. Era incrível. Nós tivemos alguns anos de apresentações antes de ele ser
convencido a entrar por Ilíada. Sua mãe era bem apaixonada pelo meu trabalho e por
causa disso queria incentivar o seu tio a entrar para o meu grupo. Ainda lembro das
risadas e dos sorrisos que ela dava quando eu apresentava um truque. Seu olhar
apaixonante, curioso e cheio de sentimento...”

A expressão de Luno ficou melancólica. Sua concentração se quebrou aos


poucos e as figuras em suas mãos lentamente desfocavam e desapareciam. Naquele
momento, o som de chamas e gritos não saiam de sua mente nem por um segundo.
Porém, quando sua preciosa filha olhou em seus olhos e tocou suavemente nas
bochechas de Luno, tudo parecia ter se acalmado. As lembranças felizes tomaram
novamente o controle. Com um suspiro, um abraço apertado e um aceno de cabeça,
Luno comentou.

“Você com certeza é especial Syl. Seu pai lhe agradece por sempre acalmar
meu coração quando necessito.”

“Bom, sei que lembrar da mamãe te deixa ansioso. Sempre estarei aqui pra
te acalmar nesses momentos papai.”

Com uma troca de sorrisos, as imagens apareceram mais uma vez nas
palmas do elfo. Dessa vez mostrando uma carroça com agora seis membros que passava
por uma densa floresta.

“Conheça a Floresta das Notas. Não é o nome oficial, só eu chamava ela


assim. Afinal, foi lá que aprendi a tocar o alaúde, com meu pai, Xorhas. Ele era um
músico incrível, sua voz era divina. Quase virei um cantor graças a ele, mas minha voz
nunca foi muito boa pra isso. Então, decidi ficar melhor que ele no alaúde ao menos.
Mas... nunca tive a chance de testar minhas habilidades contra ele. Xorhas não era um
nobre ou nada do tipo, nós éramos simples em Eilsmitore. A vida era boa, nossa família
era apreciada pelos vizinhos, porém meu pai tinha um grave problema nos reinos fora
do Plano das Fadas. Como eu falei, ele era um bardo e tinha uma língua um tanto
quanto afiada. Sua paciência para insultos era quase nula. Um dia, ele tinha ido para
um bar que ele frequentava bastante. Nesse mesmo bar, ele foi envenenado e ele
faleceu no caminho para casa.”

Luno franziu um pouco as sobrancelhas. Não era forte o sentimento que sua
expressão passava, mas quem a visse saberia a frustação que o elfo sentiu no momento.
No entanto, ao olhar a expressão de Syl, um sorriso leve apareceu em seu rosto e ele
voltou a contar sobre sua viagem.

“Desculpa por isso, eu continuo contando coisas tristes quando o intuito


era te animar! Bom, a floresta era linda, as arvores eram altas e as raízes saiam do
solo com frequência. Isso proporcionava ótimos lugares para acampar. Eu
particularmente tinha um lugar especial no qual eu gostava de ir. A raiz de uma das
arvores fazia uma espécie de rampa deformada. Meu pai e meu tio, que era carpinteiro,
juntos fizeram uma sala com um banco dentro. Fizeram uma espécie de colchão com
folhas para que pudéssemos deitar no banco e para ficar confortável para sentarmos.
Nós três ficávamos lá conversando e também era a minha fuga para eu pensar, ler e
tocar meu alaúde. E também foi lá que eu tive meu primei-.”

Antes de terminar a frase, Luno notou o quão fundo em sua memorias tinha
ido e logo interrompeu seu conto. Limpando a garganta mais uma vez, prestes a
continuar a historia, Syl, franzindo as sobrancelhas, diz:

“Aaaaah não, agora você vai me contar! Seu primeiro o que?”

“Primeroooo, animal de estimação! Isso, animal de estimação.”

“Um animal de estimação?”

“Sim, um esquilo!”

“Papai...”

“Você não confia no seu pai!? Só acredita que eu consegui um esquilo por
umas três horas, combinado?”

“Ta bom, mas pelo menos me conta quem era a mulher que você estava
mostrando com suas ilusões.”

Um sorriso congelou no rosto do Luno. Uma pequena gosta de suor descia


de sua testa enquanto pensava em como desviar da situação na qual ele tinha se jogado.

“Era sua mãe e ela achou o esquilo pra mim!”

“A mamãe?”

“Exatamente. Agora, continuando...”

Syl não teve chance de perguntar, quando novamente, nas palmas de Luno,
as figuras dos seis apareceram naquele espaço que Xorhas e seu irmão haviam criado.

“Nessa noite, decidimos acampar um pouco mais cedo que o normal.


Tinhamos acabados de fazer uma apresentação em Labenda que foi, sem querer me
gabar, impressionante. Eu estava até sem voz. As estrelas brilhavam como nunca, a
chamas estalando e as calorosas conversas eram tudo que eu precisava escutar. E
claro, meu alaúde também brilhou, toquei até cansar. Dormimos depois de beber todo
o álcool que Diana estava carregando.”

“Você bebeu álcool!? Mas você odeia álcool!”

“Eu gostava na época criança, parei de beber e de gostar depois que


algumas coisas aconteceram. E eu não faço questão de relembrar elas novamente.”

Syl, aparentando ter entendido o que aquilo significava, ficou quieta


novamente e ficou com um olhar triste no rosto. Luno percebeu isso e estalou os dedos,
fazendo com que inúmeras fadas começassem a rodear sua preciosa filha. O sorriso de
Syl lentamente apareceu conforme seu olhar seguia os movimentos das pequenas fadas
que voavam em sua volta.

“Na manhã seguinte, eu e seu tio levantamos primeiro como sempre,


porém, depois que fomos checar nossas coisas, descobri que nossos cavalos haviam
sido roubados.”

“Roubados!?”

“Sim, afinal, nenhum de nós ficou de vigia depois de nossa pequena festa.
Foi um grande erro de nossa parte. Tahlan teve a ideia de rastrear os ladrões e eu
concordei. Tinhamos cerca de três a quatro horas até os outros acordarem. Peguei meu
arco e flecha, o que eu tenho pendurado na parede aqui de casa, e fui com seu tio na
direção que as pegadas estavam seguindo. Eventualmente, chegamos numa caverna e
lá fora encontramos um de nossos cavalos preso em uma rocha. Nenhum sinal do
outro.”

“E vocês fizeram o que depois?”

“Peguei nosso cavalo e voltei pro acampamento.”

“E o tio Tahlan?”

“Ele foi encontrar o outro. Pelo que ele me falou ele infelizmente não
achou o cavalo, mas ele deu uma lição nos bandidos.”

“Ele era bom de briga?”


“Eu já não disse que ele era muito bom com laminas? Você não ta
prestando atenção em.”

“Mas como foi a batalha?”

“Eu não faço a menor ideia, não fiz questão de perguntar. Ele estava com
uma expressão assustadora...”

“Ai papai, você não disse que seriam historias épicas e tals tals e tals?

“E tu acreditou? Seu pai era um simples artista, tu acha que eu enfrentaria


um dragão?”

“Você fez parecer que sim!”

“Ai ai em, olha vou te contar sobre algumas regiões que eu passei que
marcaram minhas viagens tudo bem? Aí chega, eu vou pra cama.”

“Ta bom...”

“Não fica triste Syl, talvez um dia nós dois sairemos numa aventura épica e
emocionante, ai você poderá contar varias historias sobre as aventuras!”

“Seria legal eu contar historias também, e com você lá pra mostrar essas
imagens nas mãos seria melhor ainda!”

“Haha... sim... seria mesmo. Enfim, eu nunca te contei como eu conheci sua
mãe, certo? Quer saber como?”

“Siiiim!”

“Ok ok, foi em uma de minhas viagens onde eu estava sozinho. O grupo da
Lua Minguante ainda estava longe de ser formado. Um dia eu estava passeando por
uma floresta que não tinha nome. Era bem misteriosa até, não lembrava de ter visto ela
no mapa da região, então como era um lugar novo eu decidi dar uma olhada. Suas
arvores eram diferentes. Algumas folhas reagiam aos raios solares e mudavam de
cores enquanto o raio estivesse nelas. Eu peguei umas, que inclusive tenho guardadas
até hoje. Elas aparentam não envelhecerem, então coleciona-las é bem prático. Eu
fiquei surpreso com a natureza daquele local, ficava observando arbusto por arbusto,
arvore por arvore, riacho por riacho, aquela atmosfera alegre me fez pegar o meu
alaúde e tocar as musicas mais felizes que vinham em minha cabeça. E isso fez eu
esquecer que eu estava numa floresta e não tinha encontrado animais ainda. Teve uma
hora que eu tropecei em uma das raízes que haviam saltado do solo. Doeu. Mas doeu
mais quando um urso enorme pulou em cima de mim! Era muito pesado, eu não sei
como eu to vivo ainda, na verdade sei, mas eu quebrei algumas costelas infelizmente.”

“O que aconteceu com o urso? Você não matou ele né? Talvez ele estivesse
protegendo os filhotes”

“Claro que não matei ele, aquele urso era sua mãe.”

Quase caindo da cama, Syl avançou em direção a Luno com o seus olhos
parecendo estrelas.

“Oi?? O urso era a mamãe???”

“Ei ei, calma garota, tu quase caiu da cama. Sim, era, sua mãe era uma
druida oras, acredito que seja por isso que você tem uma ligação tão forte com animais
e a natureza. Por mais que eu não ache que você seja uma druida. Né?”

“Ah, eu acho que sim, não tenho certeza. Como eu vou descobrir?”

“Tenho que pesquisar sobre isso.”

Depois de colocar Syl em sua cama novamente, Luno fez com suas mãos
uma imagem de uma arvore com um grande portal em seu centro.

“Bom, depois que ela notou que eu era um elfo ela ficou meio desesperada
e se sentiu obrigada a me levar para os clérigos que possuíam dentro de Aluthia. Foi
meio irresponsável, eu podia ser um espião, mas pelo que eu descobri eles eram bem
pacíficos e ainda fizeram um interrogatório com uma magia chamada Zona da
Verdade. Então eu fiquei tranquilo. Era um reino dentro do plano das fadas. Fui levado
e curado em questão de segundos. E, bom, eu me apaixonei a primeira vista. Fora da
forma de urso sua mãe era a elfa mais linda que já havia visto em toda minha vida e
aparentemente era uma dos guardiões que cuidavam dos portais. Aluthia era um ótimo
reino, tinha pessoas gentis, a rainha Aluthia era compreensiva e justa. Ela já estava em
seu milésimo ano na época e ainda continua governando até hoje.”

“Esse reino ainda existe?”

“Existe. Ele teve que ficar mais escondido depois da Calamidade, mas sim,
ele não caiu e eu até que sou conhecido lá. Eu fui um dos músicos principais do
casamento do filho de Aluthia.”

“Noooossa, jura? Eu não sabia que você era incrível assim.”

“Ai para, não é grande coisa.”

“E como você pode entrar nesse reino, quero visitar ele!”

“Ai, hmm, as coisas... as coisas são mais complicadas do que parecem


criança. Mas um dia você irá pra lá.”

Assim que Luno terminou a frase, seu olhar foi direto para a marca na testa
de Syl, e antes que ela pudesse perceber, ele continuou contando a historia.

“Bom, eu me declarei pra ela um tempinho depois, já que eu havia decidido


viver lá por alguns anos. E aparentemente ela gostava de mim também. De acordo com
ela, a minha forma de fazer as pessoas felizes com historias e músicas encantou ela... E
bom, eu já deixava muito obvio meus sentimentos por ela pela minha expressão que eu
jamais conseguia esconder. Casamos rapidamente.”

“E eu nasci lá? Em Aluthia?”

“Sim, você nasceu na floresta em volta de fadas, e por mais que seja difícil
de acreditar, você foi abençoada por uma divindade.”

“O que? Como assim? Quer dizer que eu tenho poderes ou algo assim?”

“Claro que não boba você só recebeu uma benção, essa marca na sua testa
é o sinal disso.”

Passando a mão por sua testa e olhando no espelho em seu criado mudo, Syl
fez uma expressão alegre, seu rosto corado indicava sua felicidade.
“Bom, filhinha, seu pai já está cansado, vou lá pra cima.”

“Aff, mas você não ia contar mais?”

“Vamos deixar o resto para amanhã, eu realmente estou cansado.”

“Mas antes você pode me dizer o por que de vocês terem saído de Aluthia?
E o que aconteceu com os membros da Lua Minguante depois da Calamidade???”

“Ai ai... Tudo bem, mas eu não vou mostrar imagens tudo bem?”

Syl acenou a cabeça rapidamente.

“Tudo bem...”

Com um longo suspiro, Luno continuou.

“Eu, você e sua mãe saímos de Aluthia porque achei perigoso


continuarmos lá. Eu decidi isso, pois ainda havia chances de a localização do portal
ser revelado e Aluthia ser atacada. Sua mãe discordou, Tahlan discordou, mas eu
consegui convence-los.”

Ansiedade ficou clara em sua linguagem corporal, seus pés começaram


bater no chão de madeira, sua face apenas demonstrava um sorriso doloroso e ele
frequentemente coçava seu braço direito.

“Papai... Você está bem?”

“Fomos morar na Floresta das Notas. Seu tio foi junto conosco. Afinal, ele
estava preocupado, principalmente por causa das caças da Inquisição. Moramos lá
até-“

“Papai, chega.”

Luno havia se distraído em seus pensamentos novamente. Seu braço direito


estava sangrando levemente devido aos arranhados, seus olhos estavam lacrimejando e
Syl estava com um olhar de medo, não de ser ferida, mas medo de seu pai se machucar
mais do que já havia feito.
“Vai descansar, você não precisa relembrar dessas memorias dolorosas.
Eu não quero te ver você partindo seu coração assim. Então pare.”

Silencio tomou rapidamente o local. A única coisa que Luno fez, foi acenar
com a cabeça e se levantar de sua cadeira. Indo em direção a porta, uma voz tremula
ressoou pela sala.

“Boa noite querida.”

“Boa noite papai...”

Após fechar a porta, Luno respirou fundo. Entoou algumas palavras mágicas
e passou um fio de prata na parede onde o quarto de Syl estava. Uma parede azul
marinho sumiu a partir desse fio e parou no teto.

“Já colocou ela pra descansar Luno?”

Um calafrio. Foi isso que o elfo sentiu assim que escutou a voz.

“Você já morreu. Deixe-me cuidar de nossa filha em paz.”

“Eu tenho que ter certeza que você está cuidando bem dela.”

“Já faz 18 anos que você a mesma desculpa Ilíada. Já é hora de parar de
me atormentar. Eu já estou cansado de fazer essa barreira anti-som”

“Precaução nunca é ruim, afinal, se você cuidar dela da mesma forma que
você cuidou de mi-“

“Cale-se.”

“Ela ficaria em perigo rapidamente.”

“Já falei pra calar a porra da boca Ilíada.”

“Não vou calar Luno. Você com esse contato com os tieflings e os
contrabandos que você anda fazendo só estão trazendo perigo até ela.”

“Eu sei disso, você não precisa me falar como cuidar de nossa filha
Ilíada.”
“Então por que você continua fazendo isso em? Você não liga mais? Você
já esta nesse nível com ela? Se fosse pra cuidar dela dessa forma ela deveria ter vindo
comigo até-“

“CHEGA.”

Luno socou a parede da sala. Um choro silencioso começou e o elfo


deslizou lentamente pela parede até ficar de joelhos no chão.

“Patético.”

“...”

“Você é patético, como marido, como pai, eu nem sei como o seu grupo
reagiria ao ver você assim.”

“Pare...”

“Na verdade, é melhor que vocês tenham se separado, você poderia coloca-
los em perigo, podia até mesmo faze-los morrer.”

“Por favor... chega.”

“Ah é verdade, foi assim que você matou o Tahlan não foi? Você
abandonou ele, nos abandonou!”

“...”

“Sylvanna não merece você como pa-.”

Ilíada desapereceu antes de terminar sua frase. O braço direito de Luno


estava coberto de escarlate. Uma grande ferida havia sido aberta com a faca em sua mão
esquerda. O sangue se misturava com as lagrimas, os sons do relógio de parede se
misturavam com os sons de choro.

“...”

Lentamente, Luno lentamente se colocou em pé. As lagrimas não paravam


de cair de seu rosto. Seu coração estava quase sendo esmagado. Estava um pouco tnto
por causa do sangue que perdeu.
“Eu ainda mereço viver?”

Foi o que Luno disse enquanto trocava as faixas em seu braço direito.

“Deixar as pessoas felizes é o suficiente para eu sentir que eu mereço


continuar nesse plano?”

Terminando de trocar a faixa, Luno olhou para o teto de sua sala.

“Ainda vale a pena fazer esse protesto contra o império?”

Foi o que Luno falou enquanto se levantava da cadeira.

“Vale a pena-“

*crack*

“Ah, não... Ele se partiu de novo.”

Luno falava de seu coração.

“Eu não posso deixar o coração das pessoas se partirem assim não é?”

Olhando para o quarto da sua filha a única coisa que ele fez, foi sorrir.

“A sensação de viver assim é muito doloroso.”

Disse Luno, pegando de seu bolso, um desenho de sua esposa.

“Eu não posso deixar as pessoas viverem assim... Não é?”

Guardando a foto em seu bolso novamente.

“Vale a pena remonta-lo mais uma vez.”

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