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Resumo
Insônia é queixa comum que aumenta com a idade. Para seu
controle, usam-se intervenções não medicamentosas e me-
dicamentosas. As primeiras, segundo vários estudos, geram
resultados similares aos fármacos sedativos. No entanto,
de acordo com critérios mais restritos, somente terapia
de restrição de sono e terapia cognitivo-comportamental
com múltiplos componentes são realmente baseadas em
evidências. Têm a vantagem de não se associarem a eventos
adversos. Benzodiazepinas e novos agonistas de receptor
benzodiazepínico (zopiclona, zolpidem e zaleplona) não apre-
sentam diferenças clinicamente relevantes entre si, no que
se refere ao controle da insônia em idosos. Efeitos adversos
sérios nesta faixa etária constituem limitação ao tratamento
farmacológico. Antes de prescrever tais agentes, é preciso
fazer balanço entre benefício e risco.
Introdução
Não há definição única para insônia. Para alguns, As queixas em relação ao sono são comuns. Sua
significa dificuldade para conciliar o sono, para outros estimativa na população varia entre 10% e 38%2.
corresponde a não ter sono reparador. Terceiros Sedativos parecem ser usados em maior quantidade
pensam que “não dormem o suficiente”. A insônia por mulheres e idosos. Em coorte3 de mulheres
não é, pois, doença, mas sim queixa decorrente de entre 70-75 anos, com seguimento de três anos, a
várias causas, mais adequadamente descrita como dificuldade de sono foi queixa comum e persistente,
insatisfação com a quantidade ou a qualidade do estando fortemente associada ao uso de medica-
sono1,2. Logo, insônia pode ser primária (sem causa mentos para dormir. Ambos os comportamentos
definida) ou secundária a problemas orgânicos ou associaram-se negativamente com o estado de saú-
psicológicos. Classifica-se em temporária (por exem- de. Em idosos, as queixas de insônia correspondem
plo, em resposta à alteração do ritmo diurno após a mudanças na arquitetura do sono (consideradas
viagens aéreas intercontinentais) ou crônica1. normais no processo de envelhecimento) e ao apa-
*Lenita Wannmacher é professora de Farmacologia Clínica, aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e atualmente da Universidade de Passo Fundo, RS.
Atua como consultora do Núcleo de Assistência Farmacêutica da ENSP/FIOCRUZ para a questão de seleção e uso racional de medicamentos. É membro do Comitê de
Especialistas em Seleção e Uso de Medicamentos Essenciais da OMS, Genebra, para o período 2005-2009. É autora de quatro livros de Farmacologia Clínica.
Outra revisão Cochrane14 de seis ensaios clínicos Em outro ensaio clínico 18, 71 pacientes com in-
randomizados (n = 224) examinou a eficácia de sônia crônica foram randomizados para quatro
tratamentos cognitivo-comportamentais sobre os grupos: terapia cognitivo-comportamental, far-
problemas de insônia em pessoas com mais de 60 macoterapia, terapias combinadas e placebo. A
anos. O benefício sobre o sono foi considerado leve, fase de tratamento durou oito semanas e os pa-
principalmente em função da manutenção do efeito. cientes foram seguidos por três e oito meses. Os
Seriam necessárias sessões com certa periodicidade três tratamentos ativos superaram o placebo ao
para melhorar a durabilidade do efeito. término da fase tratamento. No terceiro mês de
seguimento, a terapia comportamental suplantou
Segundo metanálise15 de 21 estudos (n = 470),
os grupos que usaram farmacoterapia ou aborda-
terapia cognitivo-comportamental (controle de
estímulos e terapias de restrição do sono) não gem combinada em relação a vários parâmetros de
mostrou diferenças estatisticamente significativas sono. No oitavo mês, a terapia comportamental
em relação a farmacoterapia (benzodiazepinas manteve sua eficácia, enquanto os pacientes sob
e agonistas de receptor benzodiazepínico) para outras intervenções retornaram à condição pré-
tratamento agudo de insônia primária em idosos, tratamento. Assim, somente a terapia cognitivo-
exceto quanto à latência para o início do sono, em comportamental tem efeito de longo prazo sobre
que a terapia comportamental superou o efeito de a atividade psicológica relacionada ao sono e o
medicamentos. funcionamento diurno.
Ensaio clínico randomizado, duplo-cego e contro- Como alternativa, estudo piloto randomizado 19
lado por placebo16 comparou terapia cognitivo- testou terapia comportamental breve que consistiu
comportamental (higiene do sono, restrição do em sessão individual única, seguida de sessão de
sono, controle de estímulos, terapia cognitiva e reforço em duas semanas. Os 35 pacientes foram
relaxamento) com zopiclona no tratamento de cur- acompanhados até quatro semanas. Comparativa-
to e longo prazo de insônia crônica em 46 idosos. mente a intervenção controle (somente informa-
Para a maioria dos desfechos, zopiclona não diferiu ção), a terapia comportamental breve melhorou
do placebo. A terapia comportamental melhorou a significativamente a insônia e sintomas diurnos de
eficiência do sono (medida por polissonografia) de ansiedade e depressão, segundo os auto-relatos e
81,4% (pré-tratamento) para 90,1% em seis meses os diários de sono. A remissão dos sintomas em
de seguimento, comparativamente à diminuição quatro semanas ocorreu em nove participantes
de 82,3% para 81,9% no grupo de zopiclona. O (53%) da terapia breve e em três participantes
tempo total de sono foi similar nos três grupos. (17%) do grupo controle.
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