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Cuiabá - 2019

 Ângela Rita Christofolo de Mello, Albina Pereira de Pinho Silva, Cleuza Regina Balan Taborda, 2019

Todos os direitos reservados.


Proibida a reprodução de partes ou do todo desta obra sem autorização expressa do autor
(art. 184 do Código Penal e Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998).

Esta obra “Segue o acordo ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no brasil, desde 2009”.

Editores
Elaine Caniato
Ramon Carlini
Rommel Kunze

Capa
Elaine Caniato

Revisão Ortográfica e Gramatical


Ângela Rita Christofolo de Mello
Albina Pereira de Pinho Silva
Cleuza Regina Balan Taborda
AGRADECIMENTOS

Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT);


Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT);
Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer (SEDUC/MT);
Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica
de Mato Grosso (CEFAPRO);
Professores do estado de Mato Grosso que atuam na rede pública de educação e
Carlini & Caniato Editorial (nome fantasia da Editora TantaTinta Ltda.) participam da formação continuada!
Rua Nossa Senhora de Santana, 139 – sl. 03 – Goiabeira
Cuiabá-MT – (65) 3023-5714 / 3023-5715
www.carliniecaniato.com.br - contato@tantatinta.com.br
Sumário

| Centros de Formação e Atualização dos Profissionais da


Educação Básica: mapeamento da formação continuada
ofertada aos professores em Mato Grosso________________ 21
Ângela Rita Christofolo de Mello
Albina Pereira de Pinho Silva
Cleuza Regina Balan Taborda

| O olhar dos professores da Educação Básica sobre os limites,


desafios e perspectivas da formação continuada ofertada no
âmbito dos CEFAPROs______________________________ 45
Renata Cristina de L. C. B. Nascimento
Rinalda Bezerra Carlos
Cleide Aparecida Ferreira da Silva

| O formador de professores dos CEFAPROs de Mato Grosso e


a política de formação continuada ofertada nas últimas duas
décadas (2000/2018)________________________________ 63
Glades Mueller

| O lugar da pesquisa na formação de professores da Educação


Básica____________________________________________ 97
Samantha Dias de Lima
Renata Cristina de L. C. B. Nascimento

| A formação continuada ofertada aos professores de Mato


Grosso no âmbito dos CEFAPROs_____________________ 115
Ângela Rita Christofolo de Mello
Albina Pereira de Pinho Silva
Cleuza Regina Balan Taborda
| Contribuições dos CEFAPROS às escolas públicas da rede | Prefácio
estadual de educação de Mato Grosso__________________ 131
Eurico Cabreira dos Santos
Regis Aparecido de Oliveira

A obra intitulada “Política de formação continuada de professores


| Mapeamento e análise das ações promovidas pelos de Mato Grosso implementada no âmbito dos CEFAPROs nos últimos
CEFAPROs de Juara e Cáceres________________________ 148 dez anos”, promove uma ampla divulgação do resultado de uma pesqui-
Cervan Gomes Ferreira sa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato
Edilamar Burille da Silva
Grosso (FAPEMAT), com o objetivo de “investigar a atuação dos Centros
de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica (CEFA-
| Políticas educacionais de formação continuada no PROs), em atenção às demandas e necessidades formativas dos docentes
Estado de Mato Grosso: os CEFAPROs na avaliação e que atuam na Educação Básica na rede estadual de Mato Grosso”.
análise de professores_____________________________ 170 Coube-nos com alegria prefaciar esta obra, uma coletânea de textos
Ariele Mazoti Crubelati que se propõem a apresentar dados da pesquisa produzida e desenvolver
Jairo Luis Fleck Falcão
um diálogo comprometido com a cena formativa dos professores de Mato
Grosso e demais regiões, municípios e estados do Brasil. Acreditamos que
| Elementos Pós-textuais: Notas sobre os autores e as o convite para prefaciar a obra venha da articulação temática que esta
autoras______________________________________ 192 investigação possue com as pesquisas produzidas pelo Grupo Interinsti-
tucional de Pesquisa em Docências, Pedagogias e Diferenças (GIPEDI/
CNPq/Unisinos), do Programa de Pós-Graduacao (PPG) em Educação
da Unisinos/RS, grupo de pesquisa onde a temática da formação docen-
te/docências é continuidamente promovida com visibilidade às agendas
acadêmicas, escolares e políticas públicas das últimas décadas.
Reconhecemos que nos últimos anos um grande número de políticas
públicas foi editado e chegou às Instituições de Ensino Superior (IES)
brasileiras para orientar a formação de professores no Brasil. No entanto,
ainda são políticas que não alcançaram todas as partes do país com a mesma
potência e nem foram suficientes para atender as necessidades de formação
dos professores, especialmente daqueles que exercem a docência nos espaços
do território brasileiro com mais necessidades econômicas e sociais.
Partilhamos do entendimento que as políticas colocadas em execução
são frutos de lutas sociais e da militância de grupos de profissionais que or-
ganizados conseguem construir campos de lutas para significar esse campo
com outras possibilidades de formação, no caso da formação de professores.

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Reconhecemos que há diferentes modos de ser docente e não apon- as políticas públicas locais e demais ações universitárias, como cursos
tamos um ideal como modelo a ser tomado, com certeza o processo de extensão e até mesmo novas configurações curriculares nos cursos
formativo individualizado aliado às experiências escolares e profissionais de formação de professores, em destaque a pedagogia, onde os egressos
de cada pessoa resulta em uma configuração única de docência. Contudo, majoritariamente acabam por atuar profissionalmente na Educação Bási-
para além das subjetividades individuais existe uma área conhecida como ca. Além disso, a obra retrata com base em empiria a tríade da educação
Formação Docente, prevista em políticas públicas, defendida pela classe pública comprometida com sua comunidade, com ações que envolvem
do magistério e, cada vez mais, necessária para a continuidade do ofício ensino, pesquisa e extensão.
de ser professor nos tempos contemporâneos. Apontamos como uma possibilidade de fortalecer o processo da
É neste desdobramento de possibilidades promovidas pelo processo formação continuada a constituição de um ethos de formação, que con-
da formação docente que o livro aborda a perspectiva da Formação Con- forme descrito por Fabris e Dal’igna (2015, p.78) é entendido como “[...]
tinuada, aquela que se dá após formação inicial, a qual se recorre para certo modo de ser e de agir, resultado de processos pelos quais cada um
qualificar e ampliar conhecimentos e habilidades profissionais para o aprende a ver a si mesmo, a refletir sobre suas próprias ações, a operar
exercício da docência. transformações sobre si mesmo, este processo amplia-se e cria uma cultura
Contudo, em tempos tão fluídos e fugazes como o que vivemos, existe de pertencimento, uma ‘morada’, uma comunidade partilhada”.
uma hiperaceleração em todos os processos, uma cobrança obsessiva por Desejamos afetuosamente que o conceito de ethos de formação possa
resultados quantitativos, muitas vezes alocados aos interesses do mercado acompanhar as reflexões dos leitores desta obra. Que os conceitos e as
e não da educação, que forçam os professores a uma flexibilidade para práticas analisadas promovam o cultivo, o pertencimento à categoria
serem considerados atrativos e empregáveis. Como escrito por Simons e profissional dos professores, em prol de uma escola pública de qualidade.
Masschelein (2013, p. 146): Que os valores e princípios pedagógicos façam morada, para que possa-
mos sempre recordar os motivos que levaram à escolha da docência na
A cultura coorporativa moderna, que valoriza qualidade e o profissionalis- Educação Básica como profissão e que as políticas públicas sejam cada
mo, exige flexibilidade de sua equipe. O amor duradouro, a perseverança, vez mais colocadas em execução, pois são elas que proporcionam a con-
a convicção e a confiança básica são ruins para a inovação e, portanto tinuidade de nossas lutas e a concretização das práticas de formação em
ruins para o crescimento e para o lucro. [...] O professor flexível não é nosso país. Políticas não são concedidas, mas conquistadas pelas lutas
mais alguém que é arrebatado por seu assunto e vive para ele, mas alguém diárias que travamos em diferentes espaços e tempos e consolidamos em
que pode ser arrebatado por tudo – na medida em que a demanda exija. diferentes práticas formativas.
Porto Alegre, 20 de janeiro de 2019.
Então como viabilizar uma formação continuada que reverbere em
qualidade educacional na Educação Básica? Elí Terezinha Henn Fabris
Na busca da ampliação deste cenário e com a pretenção de trazer Samantha Dias de Lima
argumentos preliminares para a nossa discussão, em destaque nos terri-
tórios profissionais da Educação Básica, temos os oito artigos desta obra
organizados pelas professoras-pesquisadoras Ângela Rita Christofolo de REFERÊNCIAS
Mello, Albina Pereira de Pinho Silva e Cleuza Regina Balan Taborda, que
investigaram no contexto mato-grossense desde a oferta da formação
FABRIS, Elí Terezinha Henn e DAL’IGNA, Maria Claudia. Constituição de um ethos
continuada, aos investimentos das políticas públicas nacionais e regionais, de formação no Pibid/Unisinos: processos de subjetivação na iniciação à docência.
e as contribuições dos CEFAPROs. Revista Educação Unisinos, v. 19(1), p.77-87, janeiro/abril 2015.
Os resultados divulgam um repertório atualizado de análises e refle- MASSCHELEIN, Jan e SIMONS, Marteen. Em defesa da escola: uma questão pública.
xões conceituais e metodológicas que poderão servir de subsídios para Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

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| Apresentação

Essa coletânea concatena artigos que abordam resultados de pesquisas


inerentes a formação inicial e continuada de professores. Com exceção
de um texto, os demais analisam resultados da pesquisa financiada pela
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT),
Edital Induzido Educação Estadual n. 011/2016-2, com o objetivo de
investigar a atuação dos Centros de Formação e Atualização dos Pro-
fissionais da Educação Básica (CEFAPROs), em atenção às demandas
e necessidades formativas dos docentes que atuam na Educação Básica
da rede estadual de Mato Grosso, bem como suas ações frente às atuais
expectativas, anseios e aceitabilidade.
A pesquisa integrou pesquisadores que investigaram o desdobramento
de uma política pública de oferta de formação continuada implementada
no final da década de 1990 no estado aos professores da Educação Básica
da rede estadual, por meio da institucionalização dos CEFAPROs. A
maioria dos pesquisadores envolvidos na pesquisa vincula-se ao Grupo de
Estudo e Pesquisa de Formação Docente, Gestão e Práticas Educacionais
(GEFOPE), institucionalizado no Diretório do Conselho Nacional de De-
senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em 2014, com o objetivo
de desenvolver pesquisas em educação relacionadas à formação inicial e
continuada de professores, políticas e práticas pedagógicas, com vistas
a fomentar debates, análises e reflexões e, ao mesmo tempo, promover
melhorias na qualidade social da educação na região do Vale do Arinos.
O GEFOPE, objetiva ainda, estreitar a interlocução entre a Universidade
do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), câmpus de Juara e as instituições
de Educação Básica e superior da região do Vale do Arinos, que se localiza
a noroeste do estado de Mato Grosso.
Além da referida pesquisa financiada pela FAPEMAT, os integrantes
do GEFOPE desenvolveram outras pesquisas no âmbito da formação
inicial e continuada de professores. Dentre as pesquisas desenvolvidas,
inclui um projeto também aprovado com recursos da FAPEMAT em 2014,

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coordenado pela Profa. Dra. Albina Pereira de Pinho Silva, na Escola Esta- Sinop e Cáceres, do Instituto Federal de Santa Catarina, e dos CEFAPROs
dual Dauri Riva, situada em Juara/MT. O objetivo deste projeto consistiu de Juara, Sinop e Cáceres. Estes profissionais, além de trabalhar nas ações
em subsidiar a formação continuada dos profissionais docentes desta descritas na metodologia da pesquisa, subsidiaram os trabalhos realizados
instituição, e exigiu do grupo de pesquisadores constantes e insistentes nos polos de Juara, Sinop e Cáceres. Dentre os mestres, quatro cursavam
estudos voltados à formação continuada de professores. Neste sentido, as o doutorado e esta condição fortaleceu a equipe.
ações desenvolvidas no projeto contribuíram com a atual pesquisa porque As parcerias firmadas com os CEFAPROs dos polos de Cáceres, Juara
se vincularam ao Projeto Sala de Educador (PSE), acompanhado pelos e Sinop, UNEMAT, câmpus de Cáceres, Juara e Sinop, foram importantes
formadores dos CEFAPROs, trabalhado na referida escola. e se justificaram, primeiramente, em atendimento à exigência do edital
Outra atividade exercida pelos integrantes desse grupo de pesquisa- a que este projeto de pesquisa concorreu; segundo, pela possibilidade
dores são as coordenações de áreas dos subprojetos institucionalizados de formação de pesquisadores qualificados que atendessem as necessi-
no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência dades das ações previstas para este projeto; terceiro, pela necessidade de
(PIBID)1. Este Programa tem como principal objetivo a melhoria da constituir uma equipe de pesquisadores para atuarem nas diversas etapas
qualidade social da educação ofertada, tanto na Universidade, quanto na previstas na pesquisa, tais como: construção do aporte teórico, concei-
Educação Básica, a partir dos processos interacionais entre teoria e prática. tual e metodológico; elaboração e realização dos protocolos de pesquisa
Estes processos, tanto potencializam, como estreitam as conjecturas entre (questionário e entrevista); transcrição, sistematização, categorização,
a formação inicial e continuada de professores, pois permite a articulação inferência e síntese acerca das informações qualitativas produzidas no
entre a matriz curricular do Curso de Pedagogia ofertado pela UNEMAT, processo investigativo.
câmpus de Juara, com a realidade vivenciada na docência da Educação Como denotam os perfis descritos acima, a equipe de pesquisadores
Básica. Estes aspectos, por sua vez, também favoreceram as análises das compôs-se de mestres e doutores com experiências na área de formação
informacões coletadas nesta pesquisa. inicial e continuada de professores, que atuavam nas instituições parceiras
Igualmente, há nesta equipe, pesquisadoras que atuaram como formado- e desenvolviam projetos de ensino, pesquisa e extensão voltados para a área
res regionais do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). mencionada. Frente à complexidade e ao compromisso social que requereu
Essa atuação vinculou-se aos estudos, planejamentos e intervenções acerca a pesquisa, é igualmente importante elucidar que a equipe constituída,
das políticas educacionais de formação continuada de professores em sua teve o desafio de fomentar articulações que possibilitaram integralizar as
complexidade. Também a interação propiciada pelo PNAIC entre formado- ações necessárias ao alcance dos objetivos descritos.
res regionais, formadores locais e alfabetizadores, problematizou situações No percurso de consecusão da pesquisa, várias etapas foram realizadas.
vivenciadas no interior das salas de aulas dos anos inicias da educação fun- Importante acervo bibliográfico foi adquirido e disponibilizado, tanto aos
damental que elucidou aspectos que contribuíram na realização da pesquisa, pesquisadores envolvidos nas ações do projeto, como também à comunidade
porque se vincularam a formação continuada de professores. acadêmica da Universidade do Estado de Mato Grosso, Câmpus de Juara. Em
Os professores doutores e mestres que contribuíram com esta pesquisa relação à realização dos encontros de formação continuada previstos para
são efetivos da Universidade do Estado de Mato Grosso, câmpus de Juara, os primeiros meses de implementação do projeto, orientou-se que os pes-
quisadores se reunissem nos polos correspondentes: Cáceres, Juara e Sinop.
1 O primeiro subprojeto foi implementado no curso de pedagogia ofertado pela UNEMAT, Uma sugestão de cronograma com prazos e distribuição de trabalho
câmpus de Juara no ano de 2012 e atendeu quinze (15) bolsistas de Iniciação à Docência com envolvimento dos integrantes da equipe foi elaborada. Como tam-
(IDs), três (03) supervisores e uma (01) coordenadora de área; o segundo subprojeto
teve sua implantação em 2013, com atendimento à sessenta e quatro (64) IDs, doze (12) bém roteiros com sugestões de questões que foram respondidas pelos
supervisores e quatro (04) coordenadores de área. Em fevereiro de 2018, o subprojeto professores. Feito isso, realizou-se reunião para socializar os provisórios
foi suspenso. O curso concorreu ao novo edital e aprovou dois novos subprojetos, um encaminhamentos e, com a contribuição dos presentes, providenciou-se
voltado para o primeiro ciclo e outro para o segundo ciclo, ambos com foco no processo
de alfabetização. Os projetos atendem cinco escolas do município de Juara/MT, das os ajustes necessários nos respectivos instrumentos de coletas de informa-
redes estadual e municipal, ofertam quarenta e oito vagas para bolsistas de Iniciação ções. Nessa reunião, foram ajustastadas as indagações que compuseram,
a Docências (IDs) e seis para supervisores.

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tanto o questionário, como o roteiro de entrevista, respondidos pelos O primeiro artigo de autoria de Ângela Rita Christofolo de Mello,
professores da rede estadual, da Educação Básica de Mato Grosso. Albina Pereira de Pinho Silva e Cleuza Regina Balan Taborda, denominado
O projeto de pesquisa aprovou também uma bolsista de iniciação “Centros de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica:
científica em agosto de 2017 em cooperação com a FAPEMAT/UNEMAT. mapeamento da formação continuada ofertada aos professores em Mato
A proposta denominada “As ações e contribuições dos CEFAPROs junto às Grosso”, socializa o resultado da pesquisa financiada pela FAPEMAT, Edital
escolas da rede estadual de Juara” foi enquadrada no sigfapemat. Essa pro- Induzido Educação Estadual 011/2016-2. Este artigo analisou informações
posta oportunizou a bolsista vivenciar experiências de iniciação científica sistematizadas na categoria que vinculou as ações de formação continuada
que significativamente contribuíram com sua formação acadêmica. Isso ofertada nos últimos dez anos pelos CEFAPROs de Juara, Sinop e Cáceres.
porque, ao passo que aprofundou leituras condizentes à formação inicial Além de identificar o perfil dos colaboradores da pesquisa, analisou-se os
e continuada de professores, apropriou-se de conceitos que lhe permitiu eventos de formação continuada que esses participaram, bem como, quais
colaborar com o processo de realização de inúmeras ações da pesquisa. desses eventos propiciaram maior e menor contribuição à atuação docente.
Desse modo, os resultados da pesquisa apresentaram um panorama As conclusões denotaram que as ações de formação continuada ofertada
das atividades desenvolvidas pelos referidos CEFAPROs nos últimos dez nos últimos dez anos pelos respectivos Centros, atenderam parcialmente
anos que permitiram analisar a atuação destes Centros, bem como a reper- as necessidades formativas dos docentes. Com isso, são, ainda, muitas
cussão de suas principais atividades formativas realizadas nesse período. as expectativas desse público que reconhece a importância da formação
As contribuições dos docentes trouxeram informações que provocaram continuada desde que sua oferta responda aos anseios dos educadores que
reflexões acerca das necessárias adequações dos CEFAPROs em atenção buscam, pela via da formação continuada, respostas aos enfrentamentos
às exigências contemporâneas para a oferta de formação continuada que vivenciados cotidianamente no interior das salas de aulas.
responda às necessidades formativas apontadas pelos docentes, colabo- De autoria de Renata Cristina de L. C. B. Nascimento, Rinalda Bezerra
radores da pesquisa. Carlos e Cleide Aparecida Ferreira da Silva, o artigo denominado “O olhar
Os resultados problematizaram, também, alternativas que contribuem dos professores da Educação Básica sobre os limites, desafios e perspectivas
com possíveis formulações, reformulações, implantações e implementa- da Formação Continuada oferecida pelos CEFAPROs”, integrou resulta-
ções de políticas públicas educacionais em atenção às Diretrizes Curri- dos do projeto aprovado no Edital Induzido 011/2016-FAPEMAT/Áreas
culares Nacionais orientantivas das ações de formação continuada. Com Estratégicas - Educação Estadual. Foram analisados excertos retirados
isso, os resultados produzidos pela pesquisa potencializaram análises, das respostas dos professores que atuavam na rede estadual da Educação
reflexões e aportes teórico, conceitual e metodológico para subsidiar for- Básica, vinculados aos CEFAPROs de Cáceres e Juara, que responderam ao
mulação e implementação de políticas públicas educacionais, projetos de questionário. Com base nos pressupostos anunciados pelos pesquisadores
pesquisa-intervenção e ações de extensão universitária que fortaleçam as da formação inicial e continuada de professores, é possível anunciar que a
propostas e currículos de formação inicial e continuada de professores. SEDUD/MT, por meio dos centros de formação, necessita redimensionar
Consoante aos resultados da pesquisa, será possível fomentar ações a proposta de formação continuada a fim de torná-la mais contextualizada
que permitirão a realização e o acompanhamento de atividades de forma- com as reais necessidades dos seus destinatários, tornando-os copartíci-
ção continuada dos profissionais da educação, egressos das instituições pes nas proposições das ações formativas. Assim, pode-se afirmar que os
de educação superior, que atuarão na Educação Básica. Esta proposição desafios à educação brasileira são grandes, por isso é necessário refletir
cumpre, em parte, os princípios basilares de uma educação pública que sobre avanços e retrocessos enfrentados no fazer pedagógico docente, no
prima pelo compromisso social viabilizador da tríade ensino, pesquisa tocante ao processo formativo e desenvolvimento profissional que ocorre
e extensão. Neste sentido, aventava-se a possibilidade de fortalecer as no cotidiano escolar, e, por conseguinte, acompanhar e avaliar constante-
políticas públicas desencadeadas pela Superintendência de Formação mente os trabalhos desenvolvidos com e pelos professores.
Continuada do Estado de Mato Grosso com vistas à melhoria da atuação O artigo de autoria de Glades Mueller é, também, parte da pesquisa
docente e, consequentemente, da qualidade social da Educação Básica. submetida ao Edital induzido da Fundação de Amparo à Pesquisa do Es-

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tado de Mato Grosso (FAPEMAT), sob o n. 011/2016/ FAPEMAT/Áreas Com o título “A formação continuada ofertada aos professores de
Estratégicas - Educação Estadual. Especificamente neste artigo, apontam- Mato Grosso no âmbito dos CEFAPROs”, o artigo de autoria de Ângela
-se elementos concernentes ao Polo de Sinop, onde a autora atuava como Rita Christofolo de Mello, Albina Pereira de Pinho Silva e Cleuza Regina
professora formadora desde 2016. Foram entrevistados cinco professores Balan Taborda, também referente a pesquisa subscrita ao Edital induzido
formadores lotados no CEFAPRO do polo de Sinop/MT, que atuavam nas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPE-
diferentes áreas/disciplinas, quais sejam: língua portuguesa, matemática, MAT), sob o n. 011/2016/ FAPEMAT/Áreas Estratégicas - Educação Es-
ciências da natureza, ciência humanas e alfabetização. O critério utilizado tadual, analisou o que motivou os docentes da rede estadual de educação
para a escolha dos cinco professores formadores foi o maior tempo de de Mato Grosso/Brasil, a participar dos projetos de formação continuada
atuação nessa função. Isso por que se considerou, que um dos objetivos da promovidos pelos CEFAPROs dos polos de Juara e Cáceres. Analisou-se
pesquisa se referiu ao levantamento do atendimento realizado pelos pro- também, a avaliação dos professores sobre a atuação dos CEFAPROs
fessores formadores ofertado nos últimos dez anos de existência do centro enquanto instâncias responsáveis pela formação continuada. Dentre os
de formação. Desse modo, constituiu-se o corpus dessa análise excertos fatores que motivaram os docentes a participarem das ações de formação
coletados das narrativas das entrevistas semiestruturadas realizadas com continuada, destacaram-se: exigência, necessidade, inovação pedagógica,
os referidos formadores que atuavam nessa função desde 2009. Com isso, melhor atuação e contagem de pontos. Em linhas gerais, todos reconhe-
apontaram-se elementos que corroboraram na percepção da constituição ceram a importância dessa política e perspectivam melhorar sua atuação
identitária dos professores formadores. Ao considerar que a atuação nessa profissional, pela via da formação continuada.
função está diretamente ligada aos coordenadores pedagógicos, esta se O artigo intitulado “Contribuições dos CEFAPROs as escolas públi-
vincula ao fortalecimento destes enquanto responsáveis pela organização cas da rede estadual de educacão de Mato Grosso”, de autoria de Eurico
e oferta da formação continuada nas escolas, pois os coordenadores são Cabreira dos Santos e Regis Aparecido de Oliveira, também integrou a
os gestores da formação na escola que lideram, organizam, desenvolvem pesquisa submetida ao Edital Induzido da Fundação de Amparo à Pesquisa
e intervém no processo formador. do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT), sob o n. 011/2016/ FAPEMAT/
No artigo denominado “O lugar da pesquisa na formação de profes- Áreas Estratégicas - Educação Estadual. Os autores analisaram as contri-
sores da Educação Básica”, Samantha Dias de Lima e Renata Cristina de buições e necessidades de adequações nas propostas formativas ofertadas
L. C. B. Nascimento, abordaram preocupações com as políticas educacio- pelos centros de formações. Os resultados revelaram as conquistas e
nais implementadas no Brasil nas últimas décadas. Em especial, retomaram possíveis fragilidades nos trabalhos desenvolvidos pelos centros junto as
que a política de formação de professores teve início a partir da década de escolas estaduais e, com isso, abriu a possibilidade para avaliação, estudos,
1970 e se destacou nas décadas de 1980 e 1990, principalmente a partir da reflexões e melhorias nas atividades formativas realizadas no âmbito dos
implantação e implementação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação CEFAPROs.
Nacional (LDBEN) de nº 9394 de 1996. Com isso, a política incluiu-se nos De autoria de Edilamar Burille da Silva e Cervan Gomes Ferreira, o
debates de vários estudiosos, pesquisadores, professores, mídia e sociedade artigo denominado “Mapeamento e análise das ações promovidas pelos
em geral. Estas pesquisas retrataram que há aqueles que visibilizaram suas CEFAPROs de Juara e Cáceres”, aborda, também, aspectos do resultado
fragilidades e lutaram para superá-las de forma justa, solidária e pública, da pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
outras apontaram o professor como o único responsável por essas mesmas Mato Grosso, Edital Induzido - Educação Estadual 011/2016-2. A pesquisa
fragilidades e compreenderam que a privatização da educação pública é o de abordagem qualitativa sistematizou e analisou informações produzidas
melhor caminho. Diante disso, com sustentação na teórica pós-critica, o por meio de um questionário com perguntas objetivas e subjetivas. Espe-
ensaio apontou a emergência de se produzir pesquisas cooperativas entre cificamente, neste artigo, analisou-se o perfil dos participantes, bem como
universidade e escola, que instaure espaços de pesquisa para além dos bancos a avaliação dos profissionais que contribuíram com a pesquisa referente ao
universitários como alternativa para o fortalecimento de uma postura investi- papel ou função dos CEFAPROs. A maioria dos professores considerou os
gativa por parte dos professores-pesquisadores atuantes na Educação Básica. centros como parceiros de formação no subsídio da melhoria da qualidade

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social da educação, porém apontaram que é necessário um trabalho mais
pontual dos centros junto as escolas, por entenderem que os professores
formadores podem contribuir com o percurso de formação. Por esta razão,
os professores solicitaram, também, que os formadores acompanhem todo
processo de formação continuada que acontece na escola.
Os autores Jairo Luis Fleck Falcão e Ariele Mazoti Crubelati, com | Centros de Formação e Atualização dos Profissionais
o artigo denominado “Políticas educacionais de formação continuada da Educação Básica: mapeamento da formação
no Estado de Mato Grosso: os CEFAPROs na avaliação e análise de continuada ofertada aos professores em Mato Grosso
professores” analisaram, também, os resultados da pesquisa financiada
pela FAPEMAT, Edital Induzido, Educação Estadual, com o objetivo de Ângela Rita Christofolo de Mello
investigar, segundo o ponto de vista dos professores da Educação Básica de Albina Pereira de Pinho Silva
Cleuza Regina Balan Taborda
Mato Grosso, aspectos correspondentes às políticas públicas de formação
continuada ofertadas via ações dos CEFAPROs. O artigo sistematiza e
analisa contribuições de professores vinculados aos CEFAPROs de Juara
e Cáceres, contidas em um questionário. A partir das respostas pode-se Introdução
afirmar que a atuação dos CEFAPROS foram determinantes aos professo- Este texto compartilha análises de uma pesquisa realizada nos Centros
res, que se sentiram amparados e respaldados pelos formadores e equipes de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica (CEFA-
de trabalho. Todavia, algumas fragilidades como falta de infraestrutura PROs) nos últimos dez anos, no que diz respeito às propostas de formação
para atender a demanda das escolas, falta de autonomia às instituições e continuada ofertada aos docentes que atuam na Educação Básica da rede
professores, conteúdos formativos que não englobam as realidades de sala pública do Estado de Mato Grosso. Para tanto, investigou-se em que me-
de aula, poucas ações voltadas aos professores contratados (temporários), dida o trabalho realizado pelos centros foi reconhecido pelos docentes
entre outras, foram identificadas na pesquisa. pesquisados, como também se essas propostas formativas atenderam as
demandas de formação continuada dos referidos docentes.
Juara/MT. 15 de janeiro de 2019. A origem dos CEFAPROs em Mato Grosso vincula-se a um projeto
maior institucionalizado em vários estados do Brasil na década de 1980,
Ângela Rita Christofolo de Mello. como uma política de formação de professores do Ministério de Educação
Albina Pereira de Pinho Silva
(MEC), os Centros de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (CEFAM).
Cleuza Regina Balan Taborda
Segundo Rocha (2001), a criação dos CEFAM deu-se em alguns estados
do Brasil no decorrer da década de 1980 mediante os problemas enfrenta-
dos no âmbito da formação de professores no país. A intenção era de que
os CEFAM se constituíssem em espaços que viabilizassem aos professores
formação, atualização e aperfeiçoamento, como também o desenvolvimen-
to de práticas docentes inovadoras em interfaces com ações de pesquisas.
Em Mato Grosso, a institucionalização do CEFAM aconteceu em
1986, mas seu funcionamento começou apenas em 1989, quando houve:

[...] a implantação do CEFAM em Cuiabá, na Escola Estadual de 1° e 2°


Graus André Avelino Ribeiro; Barra do Bugres, na Escola Estadual de 1°
e 2° Graus Júlio Müller e, em 1990, em Rondonópolis, na Escola Estadual

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de 1° e 2° Graus Sagrado Coração de Jesus; em Várzea Grande, na Escola Rondonópolis-MT, em função de um grupo de professores que se reuniam
Estadual de 1° e 2° Graus Licínio Monteiro; em Sinop, na Escola Estadual para estudar, movidos pela necessidade formativa dos próprios colegas”
de 1° e 2° Graus Nilza de Oliveira Pipino e, em Cáceres, na Escola Estadual (BEZERRA e CESPEDES, 2010, p. 1).
de 1° e 2° Graus Onze de Março (ROCHA, 1996, p. 77). Em 2003, com base nessa experiência de formação no lócus da escola,
foram implantados como política pública educacional três CEFAPROs,
Os CEFAM, como afirma Rocha (1996), tiveram diferentes configura- com polos em Cuiabá, Rondonópolis e Diamantino. Em atendimento a
ções em Mato Grosso, decorrentes de questões financeiras e da compreen- demanda da oferta de formação continuada do Estado de Mato Grosso,
são das pessoas que assumiram os trabalhos nos Centros. Neste sentido, houve a criação de mais 12 polos em municípios estratégicos do Estado.
as atividades realizadas em alguns CEFAM assemelharam-se as Escolas Atualmente há em Mato Grosso quinze Centros, geograficamente distri-
de Habilitação de Magistério, enquanto outros focaram na promoção de buídos em atenção às regiões do Estado (BEZERRA e CESPEDES, 2010).
inovações no âmbito da oferta de formação continuada.
Segundo Gobatto e Beraldo (2014), a criação dos CEFAPROs tem [...] diante dos muitos problemas relativos à formação de professores,
suas raízes nas ações implementadas no CEFAM implantado na Escola Mato Grosso se lança como piloto no Programa de Formação de Professo-
Sagrado Coração de Jesus, que integrava a rede pública de ensino do res Leigos (Proformação). [...] o CEFAPRO/MT foi assumido como Agên-
município de Rondonópolis/MT. As ações de formação promovidas por cia Formadora. A necessidade de ampliar o investimento na formação
este centro “incluíam encontros nos quais professores e alunos do curso continuada e na formação de professores leigos motivou a instituição do
de Magistério desenvolviam reflexões sobre o trabalho docente.” (p. 35). Decreto Estadual nº 2.319 de 8 de junho de 1998, que autorizou a criação
Assim, mediante a extinção do CEFAM, esse grupo de professores e de mais 05 (cinco) polos do CEFAPRO/MT, sendo estes localizados nas
estudantes do magistério, sentiu a necessidade de dar continuidade aos cidades de Sinop, São Félix do Araguaia, Matupá, Juara e Cáceres. Em
trabalhos a fim de fortalecer a formação continuada dos educadores. Com 1999, o Decreto Estadual nº 53/99 permitiu a criação de mais 04 (quatro)
isso, criou-se o Centro Permanente de Formação de Professores (CEFOR). polos distribuídos nas seguintes cidades: Juína, Alta Floresta, Barra do
Garças e Confresa. Esses polos foram definidos geograficamente pela
A organização desse Centro se distinguia de outras ações até então desen- demanda de professores leigos existentes nas regiões, sendo a escolha
volvidas no Estado, pois foi um trabalho elaborado e gerido pelos próprios articulada com a implantação do Proformação, em convênio com o MEC
docentes, conhecedores da realidade na qual atuavam e dos problemas que (GOBATTO e BERALDO, 2014, p. 35).
enfrentavam no cotidiano da sala de aula. Esse grupo se reunia semanal-
mente para a discussão de melhorias em seu trabalho pedagógico e para o A partir da institucionalização e implantação dos CEFAPROs, a oferta
fortalecimento político do mesmo (GOBATTO e BERALDO, 2014, p. 35). de formação continuada assumiu várias configurações e gradativamente
integrou-se nos espaços escolares por meio do Projeto Sala de Professor
As atividades de formação continuada viabilizadas no âmbito do CE- (PSP). Em 2011, houve a reformulação desse projeto, que se denominou
FOR repercutiram em todo o estado, envolveram universidades, sindicatos Projeto Sala de Educador (PSE)2.
e despertou a atenção da Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso
(SEDUC) que, por sua vez, adotou o projeto como uma política de estado. 2 A criação do PSE teve como propósito “viabilizar de forma sistemática a ação de formação
Assim, os CEFAPROs tiveram a criação a partir do CEFOR com o fim continuada dos profissionais que atuavam na escola. A SEDUC/SUFP concebeu como
principal estratégia o projeto “Sala de Educador”. O projeto se propunha a desenvolver uma
de institucionalizar a existência do projeto de formação permanente dos cultura formativa coletiva dos profissionais que atuavam nas escolas de Educação Básica
professores, até então não reconhecido pelo Estado (FAVRETTO, 2006, de Mato Grosso. Assim, constituíram-se em um espaço de reflexão voltado à formação
p. 55). Neste contexto, a criação dos CEFAPROs no ano de 1997, por continuada, cujos objetivos pautavam-se em fortalecer a escola enquanto espaço de for-
mação e autoformação, por meio da organização de momentos de estudos; construir um
meio do Decreto Estadual nº 2.007/1997, foi motivada pelas ações desse comprometimento coletivo com o processo educativo; compreender o papel educativo
projeto “[...] originado na Escola Estadual Sagrado Coração de Jesus, em do profissional no desempenho individual e coletivo de sua função; e contribuir para a
superação do déficit da qualidade do ensino público” (MATO GROSSO, 2011, p. 4).

22 23
Os CEFAPROs têm como função implementar a política do Estado de os questionamentos e as reflexões acerca das condições em que acontecem
Formação Continuada da Educação Básica (Escola Organizada por Ciclos o seu trabalho na escola e na sala de aula podem ser prejudicados.
de Formação Humana, Ensino Fundamental de nove anos, e Ensino Médio, Com referência a esse panorama, Imbernón (2010b, p. 19) assegura
incluindo a modalidade da Educação de Jovens e Adultos). Além disso, os que na década de 1980 houve o predomínio da racionalidade técnica e
centros tem, ainda, como função elaborar o Plano de Ação da Formação do desenvolvimento das competências para se tornar um bom professor.
Continuada a partir dos projetos de formação continuada planejados Fase paradoxal que marcou a crise de valores que deu origem a uma nova
pelas escolas do polo em consonância com o Projeto Político Pedagógico racionalidade. A formação pautada na concepção de ciência positivista,
e Plano de Desenvolvimento do CEFAPRO (MATO GROSSO, 2012). na “visão técnica de um ofício no qual havia soluções teóricas para tudo e
para todos. Acreditaram nisso ou se forçaram a crer, para depois colocar
tudo em quarentena. Alguns ainda não superaram isso” (IMBERNÓN,
Formação continuada de professores 2010b, p. 19).
Neste contexto, a formação de professor subsidiada na dimensão de
As políticas públicas educacionais instituídas no Brasil provocaram treinamento aparece, inclusive, na própria Lei de Diretrizes e Bases da
reformas curriculares na Educação Básica que, por sua vez, ocasionaram Educação (Lei 9.394/96), ao instituir em seu artigo 87, parágrafo 4º que
inúmeros desafios aos docentes. Com isso, a formação continuada ofertada “até o fim da Década da Educação somente serão admitidos professores
aos docentes do Estado de Mato Grosso encontra-se condicionada aos habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço”
princípios preconizados na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996, p.32). Com referência a esta epistemologia de formação,
(LDBN n. 9394/1996), nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Fidalgo, Oliveira e Fidalgo (2009) asseveram que os professores ao mesmo
Básica, atualizada em 2013 (BRASIL, 2013), bem como nas Orientações tempo em que assumem o papel de técnicos, são reduzidos a executores
Curriculares para a Educação Básica do Estado de Mato Grosso, reformu- das reformas verticalmente impostas, porque não são considerados a
lada em 2012 (MATO GROSSO, 2012). Essas determinações legais, de se engajar politicamente com as causas diretamente ligadas ao trabalho
certa forma, afetam a função social das instituições formadoras, como tam- docente que exercem na escola. Assim, constituem-se apenas os agentes
bém das escolas e, mais notadamente, dos docentes que são os principais implementadores das emergentes reformas instituídas pelos organismos
responsáveis pelo processo de aprendizagem dos estudantes matriculados internacionais.
nas diferentes modalidades educativas da Educação Básica. Isso porque, Todavia, diante dessa conjuntura, ressalta-se que:
a formação continuada ofertada enquanto política educacional atende as
determinações dos ciclos econômicos que movem os organismos inter- A ‘formação continuada’ é uma realidade no panorama educacional
nacionais, como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento brasileiro e mundial, não só uma exigência que se faz devido aos avanços
Econômico (OCDE), Organização das Nações Unidas para a Educação, da ciência e da tecnologia que se processaram nas últimas décadas, mas
a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o Banco Mundial (BM). como uma nova categoria que passou a existir no ‘mercado’ da formação
Nesse contexto, a formação continuada de professores ocupa os ce- contínua e que, por isso, necessita ser pensada cotidianamente no sen-
nários de calorosos debates mediante fortes pressões decorrentes do tido de melhor atender à legítima e digna formação humana. Por isso,
processo de globalização que, segundo Morosini (2009), pressiona os este movimento de educação de adultos, assume, nos dias atuais, outra
estados-nação que, por sua vez, pressionam as instituições formadoras por configuração que abarca todas as dimensões do conhecimento humano,
meio da implementação de políticas públicas intermitentes que com suas com responsabilidades e compromissos que ultrapassam a concepção
descontinuidades provocam insegurança e descontentamento dos educa- que o gerou. A ‘formação continuada’ hoje precisa ser entendida como
dores que não observam êxitos nos resultados dos seus trabalhos. Mesmo um mecanismo de permanente capacitação reflexiva de todos os seres
porque, como afirma a autora, a forte tendência frente a esse contexto, é o humanos às múltiplas exigências/desafios que a ciência, a tecnologia e o
docente assumir a mera execução dessas políticas educacionais. Com isso, mundo do (não) trabalho colocam (FERREIRA, 2006, p. 19-20).

24 25
A autora argumenta, ainda, que o processo de globalização impôs, Nóvoa (2011) corrobora esses argumentos ao elucidar que muitos pro-
em intensa proporção, normas e exigências a todo planeta. A formação gramas de formação continuada têm-se caracterizado como ações inúteis,
continuada de professores constitui-se um dos exemplos da necessidade visto que complexificam mais ainda o cotidiano docente que, por sua vez,
de se educar, e reeducar continuamente, mediante a exigência de se in- já é extremamente exigente. É por esta razão que o mesmo autor defende
tensificar as reformas na educação formal em atenção às demandas dos a necessidade de a formação continuada ser compreendida pelos docentes
sistemas produtivos. como uma aprendizagem que se estende ao longo da vida, por isso “[...]
Neste contexto, um dos sinais desses ditames do mundo globalizado, justifica-se como direito da pessoa e como necessidade da profissão, mas
segundo Silva (2014), são as demandas de formação continuada em aten- não como obrigação ou constrangimento” (2011, p. 19).
dimento às exigências preconizadas pelos organismos internacionais como Nóvoa (2011) defende, com muita perspicácia, que é necessário que
a OCDE e a UNESCO. Essas ideias são reafirmadas por Estrela (2006, p. os professores recusem as propostas de formação que caracterizem o
43) ao problematizar que as políticas educativas têm expressivamente “mercado da formação”, aquele que fomenta e se justifica por discursos
privilegiado às exigências dos “[...] organismos internacionais, como a e sentimentos de “desatualização” dos professores. Para o autor, uma das
OCDE e a UNESCO em que a preocupação pela formação contínua de alternativas viável é o investimento em projetos de formação continuada
professores tem marcado o discurso e a agenda das políticas educativas que sejam referenciados em ações que fomentem a criação de rede de
dos últimos decênios, pelo menos nos países ditos desenvolvidos”. Com trabalho coletivo, o compartilhamento de ideias e o diálogo profissional.
isso, segundo a autora, as agências multilaterais têm imprimido às políticas Como uma das alternativas para ruptura dos modelos de formação que
públicas de formação continuada de professores a exacerbada preocupa- referenciam suas ações nos pressupostos do paradigma da racionalidade
ção nas condições de eficiência e eficácia das inovações requeridas pelas técnica, Imbernón (2010a, p. 19) defende a ideia de que “os docentes preci-
transformações emergentes da atual sociedade. sam desenvolver capacidades de aprendizagem da relação, da convivência,
Entretanto, como afirma Silva (2014), o fenômeno formativo, com a da cultura do contexto e da interação de cada pessoa com o resto do grupo,
concepção de atendimento às atuais exigências do mundo globalizado, com seus semelhantes e com a comunidade que envolve a educação”.
perde seu teor e razão de ser quando os professores envolvidos no processo A assunção da formação continuada como evento potencializador de
de formação assumem posturas acríticas frente às reformas do ensino em novas capacidades de aprendizagem inerentes às demandas da atuação
atenção aos ditames das agências multilaterais. docente implica na criação de práticas formativas em atenção à realidade
Diante disso, Estrela (2006, p. 44) argumenta que em “face do negócio contextual das vivências cotidianas do professor em sala de aula, como
que a formação pode ter, com as suas agências e os seus agentes, os seus também dos atuais desafios próprios do exercício profissional. Sob essa
materiais ‘prontos a aplicar’, as suas consultorias e avaliações externas, os perspectiva, a formação continuada constitui-se um evento que tem suas
seus interesses políticos e econômicos”, a dimensão nobre da formação ações pautadas na reflexão critica reflexiva que leva em conta os amplos
continuada é desconsiderada, uma vez que a real necessidade dos profes- aspectos sociais, bem como suas interferências no dia a dia do trabalho
sores, dos alunos, da escola e da comunidade é suprimida, em detrimento docente (BRASIL, 2005).
ao cumprimento aos interesses políticos e hegemônicos. As Diretrizes para a Formação Inicial em Nível Superior e para a For-
Frente a essa realidade contextual, Imbernón (2010b) tece rigorosa mação Continuada no Brasil descrevem a formação como um processo
crítica aos modelos de formação centrados nos pressupostos da raciona- dinâmico e contextualizado, por isso a intencionalidade incide na busca
lidade técnico-formadora fortemente privilegiada nos últimos trinta anos permanente da melhoria da Educação e da valorização dos profissionais
do século XX. Nesse período, segundo o mesmo autor, foram produzidas docentes (BRASIL, 2015). Conforme o referido documento, a formação
expressivas teorizações e discursos em torno do processo de formação continuada pressupõe a adoção de uma concepção que valorize o protago-
continuada de professores, porém poucas mudanças aconteceram, visto nismo do professor nas diferentes frentes de produção dos conhecimentos
que as inúmeras proposições atinentes às práticas formadoras ficaram tão científicos, com vistas à consolidação de inovações nas práticas de sala de
somente nos planos empreendidos nos documentos impressos. aula. Por isso, os projetos de formação continuada necessitam levar em conta:

26 27
I - os sistemas e as redes de ensino, o projeto pedagógico das instituições [...] propiciar uma aprendizagem da colegialidade participativa; estabele-
de Educação Básica, bem como os problemas e os desafios da escola e do cer uma sequência formadora que parta dos interesses e das necessidades
contexto onde ela está inserida; dos assistentes da formação; partir da prática dos professores; criar um
II - a necessidade de acompanhar a inovação e o desenvolvimento asso- clima de escuta ativa e de comunicação; elaborar projetos de trabalho em
ciados ao conhecimento, à ciência e à tecnologia; conjunto; superar as resistências ao trabalho colaborativo e conhecer as
III - o respeito ao protagonismo do professor e a um espaço-tempo que diversas culturas da instituição (IMBERNÒN, 2010b, p. 65).
lhe permita refletir criticamente e aperfeiçoar sua prática;
IV - o diálogo e a parceria com atores e instituições competentes, capazes Esses princípios pautam-se no reconhecimento de uma metodologia
de contribuir para alavancar novos patamares de qualidade ao complexo que implica conceber a formação continuada como espaço potencializador
trabalho de gestão da sala de aula e da instituição educativa (BRASIL, de ações que favoreçam a constituição de novos conhecimentos centrados
2015, p. 14). na localidade, na diversidade, na heterogeneidade dos professores e estu-
dantes. Esses conhecimentos são continuamente recriados e reinventados,
Com referência à formação continuada, o mesmo documento preco- no sentido de contestar e questionar a homogeneização e os modelos de
niza, ainda, que esse processo: formação e, por conseguinte, as exigências de reformas do ensino decor-
rentes do processo de globalização (SILVA, 2014).
compreende dimensões coletivas, organizacionais e profissionais, bem
como o repensar do processo pedagógico, dos saberes e valores, e envolve
atividades de extensão, grupos de estudos, reuniões pedagógicas, cursos, Abordagem metodológica: ações de formação continuada
programas e ações para além da formação mínima exigida ao exercício ofertada nos últimos dez anos pelos CEFAPROs
do magistério na Educação Básica, tendo como principal finalidade a
reflexão sobre a prática educacional e a busca de aperfeiçoamento técnico, O objetivo dessa pesquisa consistiu-se em analisar a atuação dos
pedagógico, ético e político do profissional docente (BRASIL, 2015, p. 13). CEFAPROs em atenção às demandas e necessidades formativas dos
professores da Educação Básica do Estado de Mato Grosso, bem como
Neste sentido, Imbernón (2010b, p. 9) afirma que as ações de formação as ações realizadas frente às atuais expectativas, anseios e aceitabilidades
continuada aconteçam no próprio local de trabalho dos professores, uma por parte da comunidade escolar. Em atenção a esse objetivo, investigou-
vez que “tudo o que explica não serve para todos nem se aplica a todos os -se como os professores avaliam as ações realizadas pelos Centros de
lugares. O contexto condicionará as práticas formadoras3, bem como sua Formações dos polos de Juara, Sinop e Cáceres no que se refere às neces-
repercussão nos professores, e, sem dúvida, na inovação e na mudança”. sidades formativas. Em seguida, mapearam-se as atividades realizadas
Sob essa perspectiva, o autor defende que as propostas de formação pelos referidos CEFAPROs, consideradas relevantes pelos docentes, bem
continuada de professores sejam instituídas para consolidar a ruptura da como as informações que consideravam importantes para que os respec-
cultura, do individualismo e do isolamento dos professores instalados no tivos Centros atendessem suas expectativas e necessidades formativas.
espaço escolar, uma vez que a formação pensada na dimensão coletiva Em atenção aos objetivos descritos, o estudo fundamentou-se nos
valoriza o diálogo, o debate, a indagação, a ajuda mútua e solidária e a princípios teórico-metodológicos do método de pesquisa qualitativa. Para
reflexão como pilares fundantes das práticas colaborativas. Essa proposta Bogdan e Biklen (2013), apesar da subjetividade desse tipo de pesquisa,
de prática formadora, caracteriza-se por uma metodologia que necessa- esse método possibilita a compreensão dos aspectos descritivos relativos
riamente tem a preocupação em: aos fenômenos analisados em um contexto específico. Neste caso, as
diferentes situações, vivências e experiências dos inquiridos registradas
3 Imbernón (2010b, p. 12) define prática formadora como “a atividade de produção e nos questionários, foram valorizadas pelos pesquisadores no decorrer da
reprodução de formas de entender a formação, na qual o professor estabelece relações categorização e análise desses conteúdos.
mútuas e formas de interpretar a educação”.

28 29
Os pesquisadores são docentes que atuavam na formação inicial e sofrem as influências dessas Instâncias, por isso são pontuais, prescritivas,
continuada de professores. Essa condição viabilizou a elaboração de um ideológicas, imediatistas e intermitentes.
roteiro com questões em atenção aos objetivos propostos, pois se com- Pesquisadores da formação inicial e continuada de educadores, como
preende que a contribuição social da pesquisa, ou seja, a relevância do Goodson (2007 e 2008), Imbernón (2010a e 2010b), Nóvoa (1992 e 2011),
seu resultado vincula-se à acertada formulação das perguntas. Assim, o Marcelo Garcia (1999) e demais estudiosos que abordam os caminhos e
questionário agregou questionamentos objetivos e subjetivos em conso- os descaminhos da construção do conhecimento docente, na atual con-
nância à intencionalidade da pesquisa. Em face da extensão geográfica que juntura sociopolítica e econômica, foram utilizados para fundamentar os
a pesquisa abarcou, o encaminhamento do questionário deu-se via e mail. conteúdos sistematizados.
Assim, cada CEFAPRO encaminhou o material aos docentes que atuavam Os resultados parciais e finais deste processo investigativo, divulgados
nos municípios de abrangência da pesquisa. A devolutiva das respostas em evento específico, conforme exigência do Edital, como também em
deu-se também via e mail, mediante insistentes solicitações. Apesar das eventos internacionais, nacionais e regionais, denotam os problemas e
inúmeras cobranças, as devolutivas ficaram bem aquém do esperado. as expectativas da formação continuada ofertada em Mato Grosso, via
Neste sentido, vale considerar os limites desta técnica que, como afirma ações dos CEFAPROs.
Gil (2008), dentre outros aspectos, pode comprometer a devolutiva dos Especificamente, este artigo aditou informações sistematizadas na
inquiridos, como também a compreensão dos questionamentos. categoria que vincularam as ações de formação continuada ofertada nos
Em observação aos aspectos éticos da pesquisa os inquiridos assina- últimos dez anos pelos CEFAPROs. Assim, além de identificar o perfil
ram termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). A coleta de infor- dos colaboradores da pesquisa, analisou-se de quais eventos de forma-
mações ocorreu nas escolas localizadas em 36 municípios correspondentes ção continuada participaram e, quais desses propiciaram maior e menor
aos municípios jurisdicionados aos polos dos CEFAPROs anteriormente contribuição à atuação docente.
mencionados. Nestes termos, a pesquisa resultou de parcerias firmadas
com os Centros de formação, com a UNEMAT, Câmpus de Juara, Sinop
e Cáceres. Para o tratamento e análise das informações, utilizaram-se o O perfil dos professores de Mato Grosso que atuavam
método de Análise de Conteúdo (BARDIN, 2009). Este método consiste na Educação Básica ofertada pela rede pública estadual
em um conjunto de técnicas que são utilizadas para analisar conteúdos
de qualquer natureza, seja documental ou de informações empíricas, que, Antes de apresentar o perfil dos professores que contribuíram com a
posteriormente sistematizadas, poderão gerar inferências. pesquisa, julgou-se relevante contextualizar brevemente o atual contexto,
Assim, diferentes técnicas delinearam as análises das informações considerado por Harvey (1992) de “acumulação flexível”. Esse contexto
que formaram o Corpus documental da pesquisa: a decodificação em é cunhado pelo referido autor como contraditório e tenso. Ao se referir à
unidade de análise, a categorização e a produção de metatexto ou síntese profissionalização, o autor afirma que a escolarização e a qualificação profis-
(FALCÃO, 2009). sional não asseguram a inserção e a permanências dos formados ao mundo
As análises basearam-se nos estudos e produções de pesquisadores da do trabalho. Neste contexto, Castel (1999) afirma que as ações são imediatas
atual conjuntura socioeconômica e política a nível mundial, como: Harvey e, o individualismo, a incerteza e a instabilidade são as principais caracterís-
(1992), Ianni (1992), Laval (2004), Mészaros (2005). Estes estudiosos ticas do atual estágio do sistema capitalista. Nesse estágio, a atualização pro-
contextualizam as implicações dessa conjuntura, que sob a influência das fissional, seja sob o enfoque de formação continuada, formação em serviço,
Instâncias internacionais e supranacionais, tendem a definirem os rumos formação para o trabalho, qualificação, capacitação, é um dos imperativos.
das políticas públicas educacionais em todos os seus níveis e modalida- Segundo Ianni (1997), nesse contexto do sistema econômico, reconhe-
des. Em pesquisadores de políticas públicas educacionais como: Frigotto cido como neoliberal, as organizações internacionais e mundiais adotam
(2010), Lima (2007 e 2012), Oliveira (2004). Segundo os mesmos estu- orientações práticas reservadas ao favorecimento de mercados emer-
diosos, as políticas públicas educacionais implantadas e implementadas gentes. O neoliberalismo aposta no mercado como o organizador social

30 31
mais eficiente em oposição ao próprio ser humano, ao mesmo tempo em rença pode estar relacionada a diferentes fatores. Como afirma Frigotto
que contesta a participação do Estado nas políticas sociais, dentre elas a (2010), em uma análise materialista histórica, um fenômeno social vincula-
educacional. Neste sentido, a partir do final do século XX, essa orientação -se à uma materialidade objetiva e subjetiva, complexa, conflitante e muitas
política, passou a exigir do setor produtivo, um novo perfil de trabalhador. vezes contraditória, que por meio de um esforço de abstração e teorização
Com isso, à formação inicial coube a tarefa de qualificar para a flexibili- poderá ser compreendido. Nesse contexto, tal recusa pode sinalizar, dentro
dade profissional e até mesmo para a não atuação na área de formação. outras coisas, resistência à política de formação continuada implementada
Esses imperativos acentuaram-se no início do século XXI e pressionam na rede pública estadual. Como afirma Laval (2004, p. 20), o capitalismo
os trabalhadores a se preparar para desempenhar funções imediatas e flexível tende a deixar os profissionais da educação desluzidos não ape-
múltiplas do mercado. Neste contexto, o ser humano foi incluído como nas de políticas públicas verticalizadas, como também de toda forma de
recurso material, ou seja, como possibilitador de concretização de ações apropriação de conhecimento em vias de desintegração do patrimônio
planejadas com objetivos explícitos de aperfeiçoamento, dinamização, cultural, pois “é no coração da subjetividade que se instala a contradição
produtividade e lucratividade (CASTEL, 1999). que todos os sintomas associados a essa perda de amanhã exprimem”.
O desenvolvimento científico, associado à globalização econômica, Laval (2004, p. 21), ao considerar o conhecimento como fator de repro-
são forças produtivas que controlam os indivíduos e, ao mesmo tempo em dução, afirma que consoante a democratização da cultura universal, a cultura
que possibilitam a emancipação, provocam a alienação e o controle técnico clássica foi substituída pela cultura de massa. Todavia, o autor adverte que a
e social de forma exacerbada. Assim, exclui a maior parte da população cultura de massa “está subordinada a três fins específicos: o fim econômico, o
mundial daquilo que lhe é de direito, acentua e repagina a instabilidade, fim político e o fim científico”. Com isso, a escolarização muda o seu sentido,
a dominação e a insegurança social, porque dentre outras coisas, interfere e consequentemente dos profissionais da educação que são encorajados a
nas políticas educacionais que se prestam às determinações e imposições adaptarem seus perfis com vistas aos “caracteres adaptáveis às variações
deste sistema (IANNI, 1997). existenciais e profissionais em movimento incessante” (Idem, p. 23).
É com essa compreensão que se analisou o universo da pesquisa que Neste cenário, o conteúdo concernente ao perfil dos entrevistados ana-
categorizou informações acerca do perfil profissional dos professores lisados indicou que, dos setenta e três professores que colaboraram com a
vinculados aos três CEFAPROs nos últimos anos. pesquisa, seis possuíam duas licenciaturas. A oferta da segunda licenciatura
é mais uma política pública educacional do Ministério da Educação que
Quadro 1: A formação inicial dos colaboradores: CEFAPROs dos polos de Juara, no Brasil, atende aos imperativos da Educação Ampliada e da Cultura Útil,
Sinop e Cáceres característica do neoliberalismo que transforma os seres humanos em capital
humano para atender as necessárias adaptações e conformações sociais.
Formação Inicial Quantidade
Pedagogia 41
Letras 7 Quadro 2: Professores com duas licenciaturas: CEFAPROs dos polos de Juara,
Educação Física 3 Sinop e Cáceres
Matemática 7
Ciências Biológicas 6 Licenciatura Quantidade
História 7 Letras e Inglês 1
Geografia 2 Letras e Pedagogia 1
Total 73 História e Pedagogia 2
Biologia e Matemática 1
Fonte: Elaboração das autoras mediante informações categorizadas dos questionários em 2017.
Matemática e Pedagogia 2
A dificuldade em mapear as informações para a pesquisa deu-se pela Fonte: Elaboração das autoras mediante informações categorizadas dos questionários
indiferença e mesmo recusa dos professores em contribuir. Essa indife- respondidos em 2017.

32 33
Goodson (2008) corrobora esses argumentos quando, enfaticamente, Quadro 3: Instituições formadoras e ano de conclusão por cursos: CEFAPROs
afirma que durante muito tempo houve a produção de inúmeros discursos dos polos de Juara, Sinop e Cáceres
acerca da inércia dos professores frente às mudanças. Posto isso, Silva
Pedagogia
(2014, p. 20) destaca que “os consensuados discursos sempre foram em
Instituições Formadoras Quantidade Ano Conclusão
função das reformas impostas de cima para baixo aos sistemas escolares,
UNEMAT 20 2000 a 2015
sem, contudo considerar a história de vida, as experiências, as missões, FAPAN 1 2014
a carreira e os próprios interesses dos profissionais docentes”. Frequen- FAEL 2 2013 e 2015
temente, nessas reformas do ensino, segundo Goodson (2008, p. 128), as UNITINS 2 2007 e 2012
políticas públicas “[...] ‘jogaram fora o bebê junto com a água do banho’, UNINTER 7 2012, 2015, 2016
e, depois de tê-lo jogado fora, veremos que extraordinariamente difícil FACINTER 2 2010, 2011
ULBRA 3 2011
ressuscitar esse bebê’”.
UESPI 1 1990
A reflexão sobre a formação continuada frente aos atuais desafios e UFMT 2 2008, 2012
dilemas que perpassam a profissão docente mobiliza a pensar a questão UNIGRAN 1 2009
da aprendizagem que, na atualidade, caracteriza-se um direito inalienável, UNIVAG 1 2004
tanto aos professores, quanto aos estudantes da Educação Básica. Todavia, Ciências Biológicas
faz-se necessária a compreensão de que a aprendizagem, conforme pre- Instituições Formadoras Quantidades Ano de Conclusão
coniza Goodson (2007), pressupõe a motivação pessoal e profissional de UNIC 1 2010
UNEMAT 14 1995, 2004, 2009, 2015
cada um, isto é, advém das missões e dos sentidos que cada um atribui à
Educação Física
aprendizagem ao longo da vida. Instituições Formadoras Quantidades Ano de Conclusão
Para o mesmo autor, a aprendizagem vincula-se aos interesses, FCARP 2 2009
necessidades e propósitos que cada um assume durante a vida, uma FIFASUL 3 2005
vez que o engajamento pessoal e profissional só acontece quando FASIP 1 2013
nos sentimos motivados e interessados pela busca de determinada Licenciatura em Letras
aprendizagem, que não acontece quando o ato formal de aprender é Instituições Formadoras Quantidades Ano de Conclusão
UNINOVA 1 2008
amplamente prescrito nos programas e projetos de formação conti-
UNEMAT 23 1995, 1998, 2003, 2007, 2010
nuada, mas pressupõe um conjunto de fatores como: envolvimento, UNIOESTE 5 1997
engajamento, missões, paixões e propósitos que as pessoas assumem Licenciatura em História
em diferentes momentos de suas vidas. Instituições Formadoras Quantidades Ano de Conclusão
Os professores que contribuíram com a pesquisa, concluíram suas UNEMAT 21 2004, 2007, 2009, 2014, 2016,
formações iniciais em diferentes instituições, mas a maioria se formou na UNIVAG 7 2000
Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) nas últimas duas Licenciatura em Geografia
Instituições Formadoras Quantidades Ano de Conclusão
décadas, conforme demonstra o quadro 3.
UNEMAT 1 2005
UNIVAG 2 2008
Licenciatura em Matemática
Instituições Formadoras Quantidades Ano de Conclusão
UNEMAT 19 1990, 1995, 2000, 2006, 2009
UNIVAG 11 2003, 2004
Fonte: Elaboração das autoras mediante informações categorizadas dos questionários
respondidos em 2017.

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Sob a ótica da Teoria do Capital Humano, Mészáros (2005), argumenta A formação continuada ofertada pela via dos CEFAPROs
que as políticas públicas educacionais são implantadas com o objetivo de e o envolvimento dos professores que atuam na rede
responder as necessidades produtivas, com vistas a manter o crescimento pública estadual
econômico. Neste sentido, o autor afirma que com o objetivo de adaptar
a oferta educacional ao sistema econômico, a educação tem a função de Em atenção às recomendações do Edital Induzido que financiou
produzir conformidades e mascarar o quadro social. Sob esta influência, essa pesquisa, uma das questões direcionada aos professores indagava
assenta sua oferta nos princípios da competitividade, da produtividade e de quais ações formativas vinculadas aos CEFAPROs participaram nos
da flexibilidade e se volta para a racionalidade mercantil. últimos dez anos. Todos os respondentes afirmaram que participaram
Como afirma Lima (2007), não é fácil gerir aspectos democráticos da formação continuada realizada por meio do Projeto Sala de Educador.
em uma ordem capitalista quase que mundial. Apesar disso, a UNEMAT Esse projeto teve, gradativamente, sua implantação nas escolas públicas
é uma Instituição de Educação Superior nacionalmente reconhecida da rede estadual de Mato Grosso a partir de 2004. O projeto passou
pelo seu aspecto democrático e integrador. A sua principal referência por várias reformulações no decorrer dos últimos dez anos. Em síntese,
é ofertar formação em nível de licenciaturas e bacharelados no interior a formação continuada ofertada por meio desse projeto consistia em
de Mato Grosso. Nas últimas décadas, também ofertou vários cursos de atender a demanda formativa de cada escola. Desse modo, a formação
pós-graduações lato sensu e, nos últimos dez anos, gradativamente vêm ofertada in loco perpassava pela elaboração de um projeto pela escola
institucionalizando cursos de pós-graduações stricto sensu em nível de após levantamento das necessidades formativas apontadas pelos pro-
mestrado e doutorado em diversas áreas do conhecimento. Todavia, essa fessores. Posteriormente, esse projeto era aprovado pelos CEFAPROs
oferta ainda é tímida e não atende a demanda potencial. que tinham, também, a responsabilidade de acompanhar e assessorar os
Neste contexto, a ampliação da oferta de cursos stricto sensu condicio- encontros de formação continuada nas escolas (MELLO, 2013).
na-se, dentre outros aspectos, à superação da ideologia “[...] de educação A Superintendência de Formação da SEDUC elaborou o Projeto “Sala
como ajustamento às ‘necessidades objectivas’ da economia e da apren- de Educador” no ano de 2003. Como anteriormente mencionado, a sua
dizagem como amestração” (LIMA, 2007, p. 64). Para o referido autor, a implantação deu-se gradativamente e, no ano de 2005, institucionalizou-
educação precisa ser resgatada e compreendida como “espaço potencial- -se na maioria das escolas da rede pública estadual. Na proposta desse
mente divergente, em relativa desconexão face às exigências imediatistas projeto, a oferta da formação continuada assumiu a definição de “um
e unilaterais da economia” (Ibidem). Assim compreendida, a educação processo de autoformação e aprendizagem, que se caracteriza como uma
é muito mais do que uma preparação para a vida e mera adaptação ao ação mobilizadora para a vida profissional do educador, não mais como
mundo do trabalho. cursos pontuais e ações individuais desarticuladas da proposta da escola
Os professores que responderam aos questionamentos tinham de e da necessidade da comunidade escolar” (MATO GROSSO, 2003, p.10).
um a vinte e oito anos de experiências em docência na Educação Básica. A equipe responsável pela implementação dessa política em Mato Grosso
Aproximadamente 70% entre 01 a 10 anos e 30% entre 10 a 28 anos justificou que tradicionalmente, eram ofertados “cursos pontuais para
de atuação docente. Esses professores atuavam em diferentes áreas do atender situações imediatas e isoladas, não apresentando, consequente-
conhecimento da Educação Básica, mas a maioria, licenciada em peda- mente, resultados mais profundos na mudança de postura do professor
gogia, atuava nos anos iniciais da Educação Básica. Dentre os setenta e e da escola” (Idem).
três professores, dois não possuíam pós-graduação lato sensu, os demais Neste sentido, a formação continuada ofertada nos últimos anos, em
eram pós-graduados, vários com mais de uma especialização. Do total Mato Grosso, respaldou-se dentre outros estudiosos, nas preconizações
de setenta e três, apenas quatro possuía pós-graduação stricto sensu, de Imbernón (2010, p. 35). Para esse autor, a formação continuada tem
em nível de mestrado. Dois com mestrado em Educação e dois com como princípio “[..] o fortalecimento da identidade profissional e pessoal
mestrado em Ciências Ambientais. dos profissionais e está embasada no desenvolvimento de capacidades
com o fim de passarem do ensinar ao aprender”. Esse princípio vincula-

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-se a oferta de formação continuada que tem como lócus de formação Educador, foi a que mais contribuiu, porque atendeu de forma mais direta
a escola e como referência o mapeamento das necessidades formativas as suas necessidades formativas, como afirmou um professor:
dos docentes, condição que poderia favorecer, dentre outras coisas,
o desenvolvimento de posturas crítico-reflexiva dos docentes e, por Penso que seja o Projeto Sala de Educador, pois é uma ação que atende
conseguinte, a constituição da identidade docente com a profissão que as necessidades formativas dos professores, buscando aproximar das
é amplamente afetada pelas rápidas transformações políticas, sociais, reais necessidades dos professores vivenciadas em sala de aula. Embora
econômicas e culturais. saibam que por mais que se façam estudos na formação continuada é
Todavia, em Mato Grosso, os CEFAPROs foram responsáveis pela imple- difícil atender todas as dificuldades dos professores (Prof., CEFAPRO
mentação de muitas políticas públicas formuladas em âmbito nacional. Foram polo Juara/MT, 2017).
políticas com estratégias de formação, reconhecidas por Nóvoa (1992) como
híbridas e, por Lima (2007), como intermitentes. Dentre essas políticas estão: O excerto do depoimento acima aponta que, devido à complexidade
Gestão da Aprendizagem (2001/2005); Eterno Aprendiz (2006); ProInfantil da profissão docente, faz-se necessário que os projetos e ações de formação
(2009); PróLetramento (2009); ProInfo Integrado (2007); Circuito Campeão continuada de professores sejam formulados como uma prática forma-
(2009); Instrumentos da Alfabetização do Centro de Alfabetização Leitura dora contextualizada com as próprias necessidades e realidades desses
e Escrita (2008); Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (2013); docentes e, sobretudo, como uma proposta que reconheça o repertório de
dentre outras políticas. conhecimentos e as múltiplas experiências constituídas durante a carreira,
A participação nesses programas e projetos implementados em os aspectos potenciais da prática, mas também os dilemas e fragilidades
Mato Grosso, nas últimas décadas, foi citada por alguns dos professores que permeiam o ofício destes profissionais na escola (NÓVOA, 2011;
que afirmaram que além de participar da formação continuada in loco, IMBERNÓN, 2010; 2010b; SILVA, 2014).
participaram, também, dessas capacitações pontuais. Esse contexto Outra argumentação que apareceu inúmeras vezes nas contribuições
contrapôs-se as prerrogativas contidas no documento elaborado pela dos professores se referiu as formações continuadas ofertadas no formado
Superintendência de Formação Continuada, ao justificar que o objetivo de oficinas pedagógicas. Um indicador que se destacou foi uma oficina em
da oferta de formação continuada pela via dos CEFAPROs promoveria a que os CEFAPROs promoveram um trabalho de orientação de elaboração
superação dos modelos de formação com viés de capacitações pontuais de planejamentos. Como demonstraram os dados da pesquisa “a maior
e imediatas, desvinculadas da realidade e das necessidades formativas contribuição foi a oficina sobre planos de aula, pois elaboramos um plano
dos professores, que pouco contribuiria para inovações pedagógicas no de aula pensando nos descritores e habilidades, ou seja, no que vamos
interior das salas de aulas (MATO GROSSO, 2003). trabalhar na sala de aula” (Prof. CEFAPRO polo de Cáceres/MT, 2017). “A
elaboração dos planejamentos contribuiu muito para o desenvolvimento
da prática pedagógica” (Prof. CEFAPRO polo de Sinop/MT, 2017).
A formação continuada ofertada nas escolas, subsidiadas Com referência à concepção de formação continuada em serviço,
pelos CEFAPROs dos polos de Cáceres, Juara e Sinop Nóvoa (2011, p. 11) evidência que essa acontece “numa perspectiva de
aprendizagem ao longo da vida”, por isso assegura a aprendizagem do-
Neste subitem categorizaram-se e analisaram-se os conteúdos das cente, como também o desenvolvimento profissional dos educadores em
contribuições dos professores correspondentes às ações realizadas pelos processo de formação.
CEFAPROs que mais contribuíram, bem como as que menos colaboraram O conceito de “formação” de adultos, proposto por Vaillant e Mar-
com a inovação pedagógica. Em linhas gerais, os professores reconhece- celo (apud SILVA, 2014), relaciona-se com a capacidade e vontade de
ram a importância e a necessidade da formação continuada como uma formação. Dito de outro modo é a própria pessoa/profissional que toma
possibilidade de atualização docente. A maioria dos professores afirmou para si a responsabilidade pela ativação e desenvolvimento dos processos
que a formação continuada ofertada in loco, por meio do Projeto Sala de formativos. Isso não quer dizer que o processo de formação acontece au-

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tomaticamente, mas se viabiliza mediante a interformação entre sujeitos, de cada uma. As metodologias eram voltadas para a reflexão da prática
em que os professores formadores têm a possibilidade de criar contextos docente. Os professores formadores ingressavam nos Centros por meio de
e situações de aprendizagem que favoreçam a busca dos objetivos de teste seletivo, com a incumbência de orientar e acompanhar as formações
aprendizagem pessoal e profissional. in loco e implementar as demais políticas do Estado (MELLO, 2013).
Diante disso, Marcelo Garcia (1999, p. 47) assevera que “qualquer Os CEFAPROs possuíam uma boa estrutura física e pedagógica e
mudança no ensino, no currículo, depende em grande parte dos pro- eram subordinados à Superintendência de Formação da Secretaria de
fessores”. O autor destaca, ainda, que em todo percurso de mudança há Estado de Educação. Dentre as atribuições sob sua responsabilidade,
sempre a dimensão pessoal que deve ser considerada, visto que “devem destacava-se o Projeto Sala de Professor (PSE), implantado nas escolas
afetar a teoria implícita ou subjetiva dos professores”. estaduais de Mato Grosso, progressivamente, a partir do ano de 2005
Sob essa perspectiva, Imbernón (2010b, p. 9) assegura que é im- com a finalidade de fomentar as ações de formação continuada nas
prescindível que a formação continuada não aconteça separada do local escolas. O PSE fora reformulado no ano de 2011, e de acordo com o
de trabalho dos professores, uma vez que “tudo o que explica não serve parecer Orientativo nº 01/2011, denominado “Sala de Educador” com o
para todos nem se aplica a todos os lugares. O contexto condicionará as objetivo de “fortalecer a escola como locus de formação continuada, por
práticas formadoras, bem como sua repercussão nos professores, e, sem meio da organização de grupos de estudos”. Depois disso, sofreu várias
dúvida, na inovação e na mudança”. Não por acaso, as contribuições dos reformulações, e as informações coletadas nessa pesquisa, indicaram
professores destacaram a oferta de formação continuada in loco como a que a formação continuada ofertada por meio desse projeto, apesar de
mais significativa para a atuação docente. ser reconhecida e valorizada por boa parte dos professores, não atende
as expectativas de aproximadamente 50% dos docentes.
São inúmeras as reclamações apontadas pelos professores para jus-
Apontamentos: os CEFAPROs enquanto instâncias de tificar a insatisfação em relação a essa política de formação continuada
formação continuada em Mato Grosso/Brasil adotada pelo Estado, como demostraram algumas contribuições: “O
Projeto Sala do Educador da minha escola não contribuiu em nada com
Segundo Mello (2013), no ano de 1999, o Estado de Mato Grosso a minha atuação profissional, porque quem estava desenvolvendo na
institucionalizou o Centro de Formação e Atualização dos Profissionais escola não entendia a proposta” (Prof. CEFAPRO, Polo de Juara). “[...]
da Educação Básica (CEFAPRO). Em 2011 havia 15 Centros de Formação geralmente somos obrigados a seguir um roteiro de estudo imposto pela
estrategicamente localizados em municípios polos, com a responsabilidade SEDUC, que muitas vezes foge das necessidades vivenciadas na escola”
de promover a política de formação continuada por meio da organização (Prof. CEFAPRO, Polo de Cáceres, 2017).
e execução de projetos e programas da Secretaria de Estado de Educação
(SEDUC) desse Estado, bem como do desenvolvimento de parcerias com o O Projeto Sala de Educador foi uma ação totalmente inútil, onde a SE-
Ministério da Educação, Secretarias Municipais de Educação, Assessorias DUC/CEFAPRO não respeitou as necessidades formativas das escolas,
Pedagógicas e Instituições de Educação Superiores. impondo temas e ações descabidas para a formação continuada. A pro-
Em que pesem a efetivação da política educacional de formação posição de temas fora das necessidades das escolas gerou muito descon-
continuada do Estado no que se refere à qualificação e valorização dos tentamento entre os professores durante as atividades (Prof. CEFAPRO,
profissionais da Educação Básica como a principal referência desse órgão, polo de Sinop, 2017).
os Centros de Formação atendiam tanto à demanda das escolas, como da
SEDUC e se constituíram como polos disseminadores dos programas, pro- Incluíram-se nas ações realizadas por meio da formação continuada,
jetos e diretrizes educacionais. Com uma proposta de formação continuada consideradas negativas pelos professores, as tarefas que eles deveriam reali-
descentralizada e in loco, os conteúdos da formação eram decididos pelas zar e apresentar na próxima formação, os relatórios cobrados por algumas
escolas e visavam atender às particularidades e às necessidades formativas escolas após a realização de cada encontro, as leituras determinadas pela

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SEDUC, o pouco aprofundamento teórico das coordenações de formação BRASIL, Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução n. 2, de 1º
continuada, a desarticulação entre teoria e prática, a ausência de plane- de julho de 2015. Diretrizes curriculares nacionais para a formação inicial em nível
superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e
jamento e de foco nos encontros, dentre outros fatores apontados como
cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. Brasília, 2015, 16 p.
desfavoráveis a política analisado, como demonstra o excerto a seguir:
“A falta de autonomia para o desenvolvimento dos temas, para escolher ESTRELA, Maria Tereza. A formação contínua entre a teoria e a prática. In: FERREIRA,
Naura S. C. (Org.). Formação continuada e gestão da educação. 2. ed. São Paulo:
a metodologia de formação, as exigências de última hora, as reuniões de
Cortez, 2006. Cap. 2, p. 43-64.
um dia para o outro, de um modo geral percebe-se a falta de planejamento
e muitas cobranças por parte do CEFAPRO” (Prof. CEFAPRO, polo de FAVRETTO, Ivone de Oliveira Guimarães. A formação continuada dos professores
em exercício nas escolas públicas de Rondonópolis-MT: uma investigação sobre as
Juara, 2017). instâncias Formadoras. Dissertação de Mestra­do. Instituto de Educação. Universidade
Os diferentes e contraditórios dilemas e perspectivas apontados pelos Federal de Mato Grosso. Cuiabá: UFMT/IE, 2006.
professores que contribuíram com a pesquisa são inúmeros. As infor-
FIDALGO, Fernando; OLIVEIRA, Maria A. M.; FIDALGO, Nara L. R. Trabalho do-
mações parciais analisadas neste artigo retrataram um contexto adverso cente, formação continuada e tecnologias. In: (Orgs.). A intensificação do trabalho
e conflituoso. Contudo, a conjuntura analisada, dentre outros aspectos, docente: tecnologias e produtividade. Campinas, SP: Papirus, 2009. Cap. V, p. 135-160.
reedita que a oferta de formação continuada, necessariamente pauta-se
FRIGOTTO, Galdêncio. A produtividade da escola improdutiva: um (re) exame das
nas reflexões das ações realizadas pelos professores no interior das salas relações entre educação e estrutura econômico-social capitalista. 9 ed. – São Paulo:
de aulas (CONTRERAS, 1994). Neste sentido, articular nos momentos Cortez, 2010.
formativos reflexões voltadas às concepções políticas e filosóficas poderá
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Aljibe, 2001. Sinop, São Félix do Araguaia, Matupá, Juara e Cáceres; em 1999, surgem
os Centros de Juína, Alta Floresta, Barra do Garças e Confresa; em 2005,
cria-se o de Tangará da Serra; sendo que em 2008, implantam-se os Centros
de Pontes e Lacerda e Primavera do Leste. Atualmente a SEDUC conta
com essas quinze unidades que funcionam como polos de atendimento
aos 141 municípios do Estado.
Sob a gestão da SEDUC/MT, portanto vinculados à Superintendência
de Formação dos Profissionais da Educação Básica (SUFP), os CEFAPROs
trabalham para elevar a qualidade da Educação Básica, cujas escolas orga-
nizadas em Ciclos de Formação Humana – 1º, 2º e 3º ciclos, Ensino Médio
e demais modalidades (Escola de Campo, Educação de Jovens e Adultos
e Educação Indígena), a partir das seguintes exigências:

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[...] definem sua agenda de trabalho conforme sua matriz de formação e Além de corroborar com os princípios acima proclamados pela SE-
as necessidades formativas diagnosticadas nas escolas, tendo como foco DUC/MT, verifica-se a necessidade de integrar outras contribuições para
seis eixos norteadores: Organização Curricular por Ciclo de Formação assim compreender o que tem sido preconizado pelo Estado de Mato de
Humana; Alfabetização; Ensino Fundamental de Nove Anos; Ensino Grosso acerca da formação continuada praticada nos últimos dez anos e o
da Matemática e Língua Portuguesa e o Uso de Novas Tecnologias. que desejam os professores que atuam nas escolas estaduais do Educação
Ajudam no desenvolvimento de estudos, cursos, projetos de pesquisa Básica, destinatários desta formação.
referentes à prática docente, aplicação de pesquisas, seminários, oficinas Neste contexto, com a intenção de realizar uma breve abordagem
metodológicas, grupos de trabalho, jornadas, projetos de inovação/ sobre o conceito e as perspectivas que se aproximam das atuais discussões
experimentação, que visam criar serviços de orientação, informação, acerca da formação continuada em serviço, buscou-se delinear algumas
discussão, difusão de saberes teóricos e práticos, como forma de con- considerações a partir das contribuições de Marcelo (1999), Placco (1999;
tribuir para a formação dos professores do Estado de Mato Grosso 2010), Gatti, Sá e André (2011) e Candau (1996), para refletir sobre os
(MATO GROSSO, 2011, p. 21). achados deste artigo. Contudo, ressalte-se o vasto campo de investigação
na área, sendo que a escolha das referências citadas se deu por acreditar
Vinculada a diversas instituições públicas ou privadas, ou por inicia- que refletem as opções das autoras desse manuscrito.
tiva própria, a SEDUC/MT desenvolve, por meio dos CEFAPROs, progra-
mas e projetos de formação inicial e continuada para atender às escolas
vinculadas ao Estado e municípios do Mato Grosso, sendo que a atuação Princípios e dimensões da Formação Continuada
desses Centros, tem se dado de forma sistemática às escolas da rede.
A partir dos pressupostos que consideram as experiências da formação É relevante destacar que a formação continuada perpassa por diversas
inicial, aliadas às experiências da vida profissional, à intrínseca relação concepções, e para compreendê-la, faz-se necessário a aproximação do
teoria/prática e à reflexão sobre a prática, a SEDUC/MT toma para si a paradigma da formação em serviço, considerando o conceito de desen-
responsabilidade da Política Pública de Formação, alertando que a res- volvimento profissional docente trabalhado por Gatti e Barreto (2010,
ponsabilidade da formação também é individual, sob o argumento de que: p. 202), que relacionam, em sentido geral, o processo formativo com o
processo de constituição identitária do profissional docente. Isso inclui
[...] somente com compromisso de parte a parte será possível incorporar um determinado “potencial de autocrescimento” a partir de uma base de
a formação em todos os aspectos da profissão: profissionais sempre conhecimentos já existentes do profissional que servem de “suporte sobre
em formação, teoria e prática aliadas ao fazer cotidiano, profissionais o qual trabalhar novos conceitos e opções”. Nesse sentido, o conceito de
formadores e em formação em relação constante, formação continu- formação continuada, independentemente de quem seja o profissional
ada concebida em todas as fases da carreira (MATO GROSSO, 2011, docente ou o gestor docente, coloca no centro o sujeito formando ao
p. 14-15). valorizar suas experiências pessoais e profissionais na implementação de
mudanças (CARLOS, 2013).
É importante ressaltar que os pressupostos anunciados na Política Ainda, sobre o conceito de desenvolvimento profissional docente,
de Formação Continuada do Estado de Mato Grosso apoiam-se nos considerou-se aquele que integra o processo formativo ao crescimento
ensinamentos de Freire (1996, 2007), Gramsci (1978), Frigotto (1993), pessoal, profissional e institucional. Assim, buscou-se os fundamentos
Paro (2002), Sacristán (2000) e Vygotski (1984), entre outros, sob a justi- teóricos do processo de formação continuada, expressos em teses, prin-
ficativa de resgatar os princípios humanistas, considerando o educando cípios e dimensões pedagógicas que contribuem para o desenvolvimento
como sujeito histórico “que necessita ser integrado no contexto cultural, profissional. Tais referenciais teórico-metodológicos consideram que a
habilitado a criar e transformar a sua existência” (MATO GROSSO/OCs, formação continuada representa um processo de organização e desen-
2010, p. 44), conforme alerta Carlos (2013). volvimento das atividades didático-pedagógicas, de modo a preparar o

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corpo docente e todo o quadro funcional da escola para que aconteça uma aferindo-lhes identidade. Todavia, se a formação não agrega suas crenças,
aprendizagem de qualidade, a fim de que todos os sujeitos envolvidos não dialoga com suas necessidades, esta não confere identidade.
nesse processo possam dialogar com a sociedade. Portanto, diferentemente da concepção de treino, atualização, capa-
Quanto à definição de formação continuada, apesar das inúmeras citação, complementação, reciclagem, etc., privilegiou-se a construção
existentes, optou-se por uma que atrele o desenvolvimento profissional da autonomia intelectual, entendendo a formação como um processo
ao processo de constituição identitária docente, conforme defende Carlos permanente que visa ao desenvolvimento individual, profissional e insti-
(2013, p. 25), ao afirmar que “[...] Se uma formação continuada não prio- tucional (CARLOS, 2013).
riza o processo de constituição identitária e não valoriza as necessidades Assim compreendida, a formação continuada é gestada a partir das
formativas então, o desenvolvimento profissional [...] ficará prejudicado”. É necessidades formativas dos sujeitos que dela participam, levando em con-
importante ressaltar que mesmo relacionada à formação de coordenadores ta a realidade institucional e o seu Projeto Político Pedagógico (PPP). Tal
pedagógicos, as ideias da autora dialogam com os conceitos aqui adota- definição considera a complexidade que envolve o conceito de formação,
dos, uma vez que seu trabalho integra o conjunto de estudos e pesquisas na medida em que abrange.
sobre o CEFAPRO.
Nesta direção, o processo de constituição identitária aqui aportado, [...] os processos através dos quais os professores – em formação ou em
aproxima-se da perspectiva sociológica propalada por Dubar (2005, p. exercício – se implicam individualmente ou em equipe, em experiên-
105), ao afirmar que: cias de aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram os seus
conhecimentos, competências e disposições, e que lhes permite intervir
Só é possível conceber o conceito de identidade sob uma perspectiva so- profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da
ciológica à medida que se restitua a relação “identidade para si/identidade escola, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação que os alunos
para o outro”, como constituintes do processo de socialização. A identi- recebem (MARCELO, 1999, p. 24).
dade então corresponde ao resultado provisório, individual e coletivo,
dos diversos processos de socialização que, em conjunto, constroem os Seguem-se, em breves linhas, os fundamentos teóricos de Mar-
indivíduos e definem as instituições. celo (1999), ao conclamar uma série de princípios pedagógicos que
devem ser considerados em uma proposta de formação continuada de
Nesta acepção, pode-se deduzir que se os saberes construídos cons- professores, dentre os quais se destacam: a interrelação da formação
tituem identidades (MARCELO, 2009), pois na trama das relações es- continuada em processos de mudança, inovação e desenvolvimento
tabelecidas no espaço de formação os professores reforçam, reveem e curricular integrada à formação inicial; ao desenvolvimento organi-
transformam suas crenças num intermitente processo de construção zacional da escola; ao conhecimento do conteúdo e do conhecimento
e reconstrução de si. De acordo com Marcelo (2009), no trato com o didático do conteúdo; à dimensão da relação teoria-prática e reflexão
conteúdo, ao utilizar as estratégias de ensino, o professor acaba deixando sobre a prática; ao isomorfismo entre a formação recebida e a educação
marcas que o identificam. Nesta dinâmica, o como, o para quem, o onde, desenvolvida; ao conhecimento das características pessoais, cognitivas,
o que e o quando ensinar são aspectos relevantes dos saberes docentes e da relacionais dos professores; ao espaço para o questionamento acerca das
identidade profissional. Nas palavras do referido autor, “[...] a identidade próprias crenças e práticas, bem como a concepção de formação como
não é algo que se possui, mas sim algo que se desenvolve ao longo da vida. um processo continuum e a apreensão do desenvolvimento profissional
A identidade não é um atributo fixo de determinada pessoa, mas sim um levando-se em conta as diferentes fases que carregam uma forte ligação
fenômeno relacional” (MARCELO, 2009, p.11). com a formação inicial.
Assim, ao permitir-se apreender novas aprendizagens, os professores Nessa direção, Candau (1996) enuncia a tese que considera a escola
anuem à proposta de formação, transformando-se e transformando seus como espaço de construção de saberes, em que ao exercer a função do-
fazeres, o que reflete mudança nas suas práticas cotidianas de sala de aula, cente em sala de aula, o professor discute e reflete sobre a própria prática,

48 49
amparado por um forte embasamento teórico. A autora propõe uma profissional dos professores da Educação Básica, solicitando, ainda que
segunda tese que valoriza o saber do professor como ponto de partida, os respondentes apontassem alternativas que contribuíssem para (re)
colocando-o na centralidade do processo formativo, e uma terceira, que formulação da proposta de formação continuada em serviço ofertada em
tem a ver com o ciclo de vida dos professores. Mato Grosso pela via dos Centros.
Por outra parte, Placco (2006; 2011) propõe um conjunto de dimen- Diante da amplitude do Projeto Mapeamento e análise das ações pro-
sões a ser consideradas na formação continuada, que devem resultar movidas pelos CEFAPROs nas escolas da Rede Estadual Mato-Grossense,
diretamente na prática cotidiana docente. De acordo com a referida para este trabalho, foi analisada, entre oito perguntas, as respostas de ses-
autora, o professor, mediador do processo de ensino-aprendizagem, deve senta e sete professores da Educação Básica referente a seguinte questão:
estar comprometido com o desenvolvimento profissional por meio da Aponte alternativas que contribuam para (re)formulação dos projetos de
formação contínua e seu trabalho em sala de aula, em sintonia com o formação continuada em atenção às melhorias em sua atuação docente,
PPP da escola, de tal forma que o desenvolvimento profissional docente na aprendizagem dos estudantes e, por conseguinte, na qualidade social da
deve ser concebido, a partir da sincronicidade das seguintes dimensões: educação mato-grossense.
técnico-científica; do trabalho coletivo e da construção coletiva do pro- Para uma melhor compreensão das respostas dadas pelos professores,
jeto pedagógico; dos saberes para ensinar; crítico-reflexiva; avaliativa; foi possível organizá-las em cinco categorias, ou seja: 1) Responsabilidade
ética e política; dimensão estética e cultural; dimensão comunicacional; do Estado ou Gestores; 2) Específico da Formação; 3) Falta de autono-
identitária; da busca de sentido para vida (transcendental) e por último mia da escola; e; 4) Críticas. Vale informar que a técnica adotada para o
a dimensão da experiência. tratamento dos dados coletados é a análise de conteúdo, que conforme
Consoante o pressuposto de que os princípios e as dimensões anun- propõe Bardin (1977), essa técnica adequa-se aos objetivos pretendidos
ciados por Placco, Marcelo e Candau abarquem a temática da formação pelo pesquisador. Nas palavras da autora:
continuada de um modo geral, optou-se pela aproximação desses autores,
por acreditar nas profícuas contribuições no entendimento do objeto em A análise de conteúdo [...] é um método muito empírico, dependente do
análise, servindo, portanto de base para compreensão das opiniões dos tipo de fala a que se dedica e do tipo de interpretação que se pretende
sujeitos investigados acerca da formação recebida e das suas reivindicações como objetivo. Não existe o pronto-a-vestir em análise de conteúdo, mas
acerca da proposta desenvolvida pelos CEFAPROs de Juara, Cáceres e Sinop. somente algumas regras dificilmente transponíveis. A técnica de análise
A seguir, apresenta-se uma breve abordagem sobre os métodos ado- de conteúdo adequada ao domínio e ao objetivo pretendidos tem que ser
tados na presente pesquisa, para em seguida, proceder a análise e con- reinventada a cada momento (BARDIN, 1977, p. 31).
siderações.
É importante ressaltar que o contexto dessa investigação surge
em meio às reflexões e ações vivenciadas pelos docentes da Educação
Metodologia: aspectos de uma pesquisa empírica de Básica frente à política pública de formação continuada implementada
abordagem qualitativa pelo governo do Estado de Mato Grosso, em um cenário de recessão
econômica, ameaças à perda de direitos no que se refere à autonomia
Com base nos ensinamentos de Ludke e André (1986) acerca da abor- do professor, à organização do currículo, à gestão das escolas e às cons-
dagem qualitativa, em que considera a ambiência, o contexto e a dimen- tantes exigências advindas da SEDUC/MT via “orientativos”, que mais
são subjetiva dos sujeitos estudados, lançou-se mão de um questionário, confundem do que ajudam no funcionamento das atividades docentes.
com questões objetivas e subjetivas, enviadas via e-mail, aos professores Também se ressalta a situação de mudanças na educação nacional que
vinculados aos CEFAPROs de Juara, Sinop e Cáceres com o objetivo de vivencia a efervescência da promulgação de uma Base Nacional Curricu-
investigar se os projetos de formação continuada que acontecem, atual- lar Comum (BNCC), para a Educação Básica que após sofrer inúmeras
mente, via CEFAPROs atendem as necessidades de formação e atuação alterações na sua base conceitual de formação, encontra-se na terceira

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versão, carregada de uma proposta pragmática, mecanicista e fragmen- As categorias apresentadas na Tabela I trazem o total de respostas
tada, distanciando-se de sua versão primeira. Neste cenário, insurgem os referentes à temática em questão. É importante esclarecer que não sendo
CEFAPROs para contribuir na discussão dos “novos rumos” da educação possível apresentar todas as respostas, mesmo que organizadas por ca-
brasileira e na reconfiguração da Política de Educação Básica do Estado. tegorias, pela relevância e recorrência, algumas delas foram destacadas
É importante mencionar que paralelo a promulgação da BNCC, o neste corpo de análise.
Estado de Mato Grosso, por iniciativa da SEDUC/MT vem avaliando, Quadro I: Contribuições dos professores para a formação continuada do
nesses últimos dois anos, a sua forma de organização do currículo que ao CEFAPRO
longo dos últimos dezesseis anos, seguiu a proposta baseado no Ciclo de
Categorias Total
Formação Humana. Também, nesse bojo, tem-se discutido o papel dos
Responsabilidade do Estado ou Gestores 23
CEFAPROs nos resultados da qualidade da educação, sob os parâmetros Específico da Formação 59
dos sistemas de avaliação representados pelo Índice de Desenvolvimento Falta de autonomia da escola 02
da Educação Básica (IDEB), conforme atende os objetivos desta pesquisa. Críticas 04
Fonte: Elaboração das autoras mediante informações categorizadas dos questionários
respondidos em 2017.
Os conteúdos analisados sob a assertiva dos professores
de Mato Grosso Para elaboração da Categoria 1 Responsabilidade do Estado ou Gestores,
levou-se em consideração os seguintes apontamentos:
Mediante o entendimento de que o processo de mudança e a melhoria
da educação envolve uma complexa rede de determinantes sociais, polí- • Maior investimento para material didático;
ticos, econômicos e pessoais, procurou-se acercar dos professores, para • Facilitar local de acesso das formações para os professores;
ouvir suas vozes na tentativa de compreendê-los para poder contribuir • Aumentar o tempo de estudo (hora/atividade) para o professor;
na promoção de mudanças no atual cenário de formação em serviço no • Melhorar qualidade da internet nas escolas;
contexto de formação apresentado pelos CEFAPROs.Sobre a participação • Ter uma equipe multifuncional na escola;
dos professores nas pesquisas que versam sobre a formação continuada, • Investir na formação dos professores formadores.
Gatti, Sá e André (2011, p. 14) afirmam que:
Com base nos apontamentos dos professores, verificou-se que alguns
A intenção de ouvir os professores para conhecer o que dizem, pensam, atribuem ao Estado, a responsabilidade da formação via CEFAPRO, outros
sentem e fazem nos parece muito positiva, se o que se pretende é desco- atribuem a responsabilidade ao Estado ou aos gestores, sendo que outros,
brir, com eles, quais os caminhos mais efetivos para alcançar um ensino de forma mais tímida, à própria escola de atuação. Por outra via, atribuiu-se
de qualidade que se reverta em uma aprendizagem significativa para à categoria o referido nome, devido ao entendimento que alguns aspec-
todos os alunos. tos da formação dependem de iniciativas que demandam investimentos
financeiros que fogem da alçada dos professores formadores.
De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação De acordo com as repostas acima, verificou-se que os professores
Básica (2013), a sociedade, na sua história, constitui-se no locus da vida, identificaram alguns elementos que podem atrapalhar o aproveitamento
das tramas sociais, dos encontros e desencontros nas suas mais diferentes deles no momento da formação continuada e, consequentemente, em
dimensões. É nesse espaço que se inscreve a instituição escolar. Em con- sua atuação docente. Embora, acredita-se, não seja de responsabilidade
cordância com tais afirmativas, optou-se por analisar como os professores dos formadores dos CEFAPROs promover as mudanças solicitadas,
avaliam a formação continuada oferecida pelos CEFAPROs, uma vez que considera-se que podem servir de referências aos responsáveis pelas ações
se entendeu que são os atores principais da educação. implementadas nas propostas de políticas públicas para os docentes.

52 53
Esta categoria revela um dado bastante significativo ao tornar rele- • Mais formações para lidar com alunos deficientes;
vante os aspectos da dimensão didático-pedagógica da formação, o que • Formação com oficinas;
demonstra claro envolvimento dos professores na formação continuada • Melhor acompanhamento do CEFAPRO;
recebida. Aspecto que evidencia a adesão dos educadores ao processo de • Ter outras formações para os profissionais da escola;
estudo e reflexão sobre a prática. Terreno fértil para implementar mudan-
ças e legitimar a cultura da aprendizagem coletiva. Ao apontar as diversas dimensões que devem ser consideradas na
Ainda, nesta mesma direção, observou-se que a reivindicação por formação de professores em serviço, Placco (2006) menciona a dimensão
investimentos no aumento do tempo de estudo para o professor e na dos saberes para ensinar, e destaca como um dos aspectos fundamentais
formação dos formadores, sinaliza de um lado, a autorreflexão acerca o fato de o professor precisar considerar as representações sobre o que
das próprias necessidades e de outro a fragilidade da formação que está seja ensinar e aprender; as opiniões dos professores sobre as relações entre
sendo oferecida. Aqui se ressalta um aspecto de alta relevância ao se fazer sua formação e sua atuação na de sala de aula, o que, de modo geral, o
menção àqueles que conduzem o processo formação em serviço, pois professor não consegue enxergar de forma sincrônica, como se o material
na perspectiva de Placco e Souza (2006), ao ensinar o adulto professor discutido nas formações não apresentassem relação com o que vivenciam
deve-se levar em conta algumas especificidades como: a experiência, o em sala de aula, dentro da escola.
significativo, o proposital e a deliberação. Além desses fatores internos, É relevante o apelo que os professores fazem ao solicitar que sejam
as referidas autoras mencionam outros que tem a ver com a ajuda mútua; trabalhados textos curtos e menos complexos, estudar livros e não textos,
a organização e sistematização da situação e do conteúdo; a exigência e bem como temas específicos para áreas de Língua Portuguesa e Mate-
o rigor; o respeito à diversidade cultural; a diversidade de campos de mática. As reivindicações levam a crer que no momento da escolha das
atuação; a amplitude e profundidade; a natureza do conhecimento; e o temáticas e organização das formações nas escolas ou não há espaço para
contexto sociopolítico-pedagógico. participação dos professores ou estes não conseguem fazer relação com o
Os fatores acima expostos levam a considerar um olhar cuidadoso que foi sugerido por eles mesmos, ou ainda, há dificuldade em articular
por parte das autoridades gestoras, na constituição das equipes de forma- àquilo que é trabalhado nas formações às práticas em sala de aula, contra-
dores, o que requer um sólido investimento na qualificação profissional pondo, assim, o princípio do isomorfismo anunciado por Marcelo (1999).
e nas condições de atendimento às demandas de formação exigidas nas Esses achados instigam refletir sobre os objetivos da formação em
diferentes áreas do conhecimento. serviço que deve necessariamente atender às demandas pessoais e ins-
A segunda categoria de análise, a mais registrada pelos professores, titucionais, pois, sem estes condicionantes, dificilmente consegue-se a
Específico da Formação, foi composta por cinquenta e nove das respostas. adesão dos sujeitos envolvidos. Placco e Silva (2008, p. 28), discorrem
Dentre elas, a que mais chamou a atenção foi a solicitação de discussões sobre as possibilidades que a palavra formar poder sugerir, no sentido
voltadas para realidade da sala de aula e da escola, presentes em trinta e seis de formar em relação a quê, tendo em vista as proposições de formação
recorrências, em que os professores se expressaram da seguinte maneira: praticadas pelas instituições de ensino. Isto porque “[...] programas são
definidos, cursos são desencadeados, mas não se questiona para quem são
• Textos curtos e menos complexos; dirigidos, quais as necessidades dos que deles participam, em que medida
• Promover eventos científicos e publicações; influenciam os professores a quem são destinados e como são traduzidos
• Estudar livros e não textos; posteriormente em ações concretas nas escolas”.
• Menos temas; (grifo nosso) Sob este entendimento, Gatti, Barreto e André (2011, p. 81) ressaltam
• Temáticas voltadas para linguagem, para matemática e áreas espe- que a formação continuada:
cificas; (grifo nosso)
• Discussão voltada para realidade da sala de aula e da escola; (grifo [...] requer condições que propiciem o ativo envolvimento dos professores
nosso) cursistas no próprio processo formativo e o trabalho colaborativo em

54 55
torno das questões postas pelo cotidiano escolar, com o intuito de lograr considerar que infelizmente a cultura instituída de “acompanhamento”,
a aprendizagem de todos os alunos, tendo em conta a sua diversidade e muitas vezes, é travestida na fiscalização do cumprimento burocrático da
os diferentes contextos escolares em que se desenvolve a ação educativa carga horária destinada à formação em serviço, a registros de presenças,
(ORTEGA, 2011). Embora propalado, o processo de aproximação entre sendo que a assistência às necessidades formativas por meio da mediação
teoria e prática pressuposto no modelo tem escassamente se efetivado nos de práticas pedagógicas, da escuta ativa, fica comprometida.
diferentes sistemas educativos nacionais, ainda que se encontrem muitos Não é demais refletir sobre o teor dos textos apresentados nos cursos
esforços para chegar-se a ele pelos mais diversos caminhos. de formação de professores em que se ouvem inúmeras queixas que vão
desde o distanciamento dos temas abordados, com a realidade objetiva,
Ao destacar os princípios pedagógicos, Marcelo (1999) chama atenção à ausência de programação que inclua uma leitura prévia, ou até mesmo
a respeito da importância da integração entre a formação de professores à complexidade das temáticas, refletindo assim, a dificuldade para se
em relação aos conteúdos propriamente acadêmicos e disciplinares e a estabelecer as condições de leitura, compreensão e discussão dos textos
formação pedagógica deles, o que faz referência ao conhecimento didático num curto espaço de tempo.
do conteúdo, posto que tenha como finalidade estruturar o pensamento Isso pressupõe conhecer as condições em que é desenvolvida a
pedagógico do professor. formação, bem como as necessidades formativas dos professores, ou
No que se referem à importância dada pelos teóricos quanto à relação seja, conhecer o perfil dos sujeitos, seu universo cultural, suas preferên-
entre teoria e prática, verifica-se que não é um assunto que possa ser con- cias, angústias, aspectos cognitivos, psicológicos, afetivos, para oferecer
siderado como já vencido, pois as evidências denunciam que ainda se faz ferramentas que os ajudem a suplantar as dificuldades e melhorar seu
necessários caminhos alternativos para esta conexão, aspecto que muitos desempenho docente.
professores não conseguem estabelecer. Ao se refletir acerca dos referidos Pouco se discute sobre os aspectos supracitados, sem contar, sobretu-
aspectos, é possível reportar-se a Tardif (2014, p. 223), ao defender que “é do, quando se trata da infraestrutura adequada para realizar os estudos,
importante estudar, conhecer, pesquisar e avaliar, pois sem estas reflexões, bem como as reais condições para que aconteça a formação, que muitas
fica-se prisioneiro da demagogia e da ignorância”. Acrescido a isso, vale vezes é realizada em meio à longa jornada de trabalho dos professores, o
mencionar a importante tarefa de refletir sobre a prática, ouvir os pares e que compromete, por assim dizer, a assimilação dos conteúdos, porque
juntos buscar alternativas para a resolução dos problemas. exauridos, são vencidos pelo cansaço. Isso tudo corrobora no processo
No que diz respeito ao comentário “Melhor acompanhamento dos de reflexão sobre a prática, no aprofundamento dos estudos, na identi-
CEFAPROs”, os professores não especificaram a que se referia o que pode ficação das prioridades, dificultando assim, as escolhas das estratégias
suscitar inúmeras interpretações, sendo que a mais plausível seja a de que de formação, conforme investigou Carlos (2013), em sua pesquisa sobre
os referidos Centros necessitam rever sua proposta de formação. Aqui a formação continuada oferecida pelo CEFAPRO de Cáceres em que
se verifica a ausência de uma política de formação baseada numa sólida os coordenadores pedagógicos não tinham clareza sobre os principais
proposta com objetivos claros, metodologia definida com estratégias de temas a serem desenvolvidos no contexto de formação, levando-os a
curto, médio e longo prazo, a fim de que todos os atores envolvidos sai- fazer escolhas de temas nem sempre eficazes para atender as demandas
bam o quê, por que, como, quando, onde e para que realizam a formação da formação.
em serviço, seguido, fundamentalmente de um processo de avaliação Por outra parte, vale refletir sobre a proposta de leitura praticada nesses
sistemático dos resultados. Estes, evidentemente refletidos na melhoria encontros que se distanciam das reais condições para que seja estabelecido
da aprendizagem dos estudantes da Educação Básica, origem e finalidade um diálogo entre aquilo que os professores conseguem compreender e
de todo e qualquer projeto de formação docente. suas capacidades de leitura. Isto porque o envolvimento com a leitura
Já a solicitação de formações com a oferta de oficinas, textos curtos e ainda é algo apontado como cansativo, pouco prazeroso. Esta realidade
menos complexos, anuncia o distanciamento entre as necessidades forma- traz preocupação, pois, conseguir fazer uma relação entre a teoria e a
tivas nos sujeitos e as atividades efetivamente trabalhadas. É importante prática, entender os aspectos, que a constitui requer uma leitura ampla

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de realidade e consequente aprofundamento em complexos temas, o que Neste particular, vê-se a necessidade de provocar nos professores, a
necessariamente requer o desenvolvimento do hábito da leitura. Sem ousadia para inovar, propor e legitimar as suas próprias experiências e as
contar que é papel do professor provocar nos alunos o gosto pela leitura, dos seus pares a partir do rico espaço de formação que acontece na escola.
que para isto ele precisa estar identificado com esta prática para se inserir Muito falta ainda para que a troca de experiências entre os pares se torne
como autoridade no processo de formação de leitores. um princípio fundante na aprendizagem do adulto professor, porque o
A proficiência na leitura por parte dos professores constitui-se de exercício de ouvir, falar e estabelecer um diálogo sobre os fazeres da profis-
tema complexo, cabendo um olhar mais aprofundado que certamente são, requer um olhar sensível para mergulhar nas teorias do cotidiano, nas
poderá contribuir para um melhor entendimento acerca das resistências, pesquisas que versam sobre os assuntos correntes, na profunda capacidade
porque sem a devida compreensão dos múltiplos aspectos que envolvem de transformar em conhecimento o dito e o refletido.
a leitura de mundo, os sujeitos ficam impedidos de promover mudanças No tocante a quarta Categoria Críticas levou-se em consideração os
na realidade onde atuam. seguintes excertos:
Na terceira Categoria Falta de autonomia da escola, corrobora-se com
o que diz as DCNEB (2013, p. 35), quando afirmam que: • Por sermos uma instituição prisional, onde utilizamos estratégias me-
todológicas de ensino e aprendizagens diferenciadas, os formadores
Em suas singularidades, os sujeitos da Educação Básica, em seus diferen- estão sempre buscando alternativas para uma formação especifica
tes ciclos de desenvolvimento, são ativos, social e culturalmente, porque para atender os nossos alunos privados de liberdade;
aprendem e interagem; são cidadãos de direito e deveres em construção; • Os CEFAPROs juntamente com as escolas desenvolveram um calen-
coparticipes do processo de produção de cultura, ciência, esporte e dário anual comum, para que as escolas não precisem adequar seus
arte, compartilhando saberes, ao longo de seu desenvolvimento físico, calendários com o do CEFAPROs deixando assim seu calendário
cognitivo, socioafetivo, emocional, tanto do ponto de vista ético, quanto para atender as exigências do CEFAPROs;
político e estético, na sua relação com a escola, com a família e com a • Não adianta eu colocar um tema para estudar se o CEFAPRO não
sociedade em movimento. aprovar;
• Maior empenho e melhoria dos projetos.
Mesmo considerando que esta Categoria tenha aparecido em poucas
das respostas, chamou a atenção porque se acredita, assim como os profes- Por carregar significantes observações sobre a prática de formação
sores, que a proposta de formação continuada deve emanar das concretas instituída pelos CEFAPROs, achou-se conveniente trazer essas falas, que
necessidades dos sujeitos formandos, sendo que esta deve contar com a no geral, corroboram com tudo o que foi dito nas demais categorias.
colaboração de outros professores mais experientes, em parceria com Se por um lado acontece atendimento às particularidades de algumas
outras instituições, inclusive as Universidades, conforme propõe Carlos demandas, por outro há críticas no tocante à ausência de espaço para
(2013). Talvez falte clareza sobre as capacidades transformativas advindas sugestões. Porque com base nas colocações acima, evidencia-se que as
das construções significadas coletivamente. Conceber a escola como locus sugestões dos professores nem sempre são acatadas, o que diverge de
de formação, é aferir-lhe status de construtora de cultura, de conhecimen- tudo aquilo que anunciam os teóricos até então estudados, a destacar-
tos e espaço legitimado de transformação daqueles que dela integram. -se a dimensão do trabalho coletivo e da construção coletiva do projeto
É relevante destacar o importante papel das escolas na formação inicial pedagógico, promulgadas por Placco (2006) que ressalta a importância
docente, conforme determinam as diretrizes curriculares nacionais para a do envolvimento de todos para que de fato ocorra a aprendizagem.
formação de professores, e defendido por Candau (1997), complementa- Por outro lado, observa-se que a organização do calendário anual
do pela acepção de que a formação continuada deve manter a intrínseca comum, precisa ser discutido, porque se este é feito para melhor atender
relação ente os saberes da formação inicial e as experiências vivenciados as demandas das escolas, vemos como uma proposição interessante, des-
ao longo da vida profissional docente. de que isto seja de fato realizado. Mas se construído para cumprir uma

58 59
determinação do órgão superior, isto se revela danoso, pois desconstrói professores das escolas, na infraestrutura para que a formação aconteça de
tudo o que se defende sobre envolvimento, participação e mudança em forma aprazível, enfim, num repensar da jornada de trabalho do professor
contexto de formação continuada. e suas condições salariais.
Diante dos presentes achados, é possível destacar o entendimento
dos professores estudados, quanto à necessidade de permanente forma-
Algumas considerações ção, o que reflete o efetivo avanço, fruto do trabalho desenvolvido pelos
CEFAPROs ao longo desses vinte e um anos, de forma mais direta, nos
Nesse cenário, as angústias vividas pelos docentes no processo de últimos dez anos. Isto porque, em um tempo bem próximo, a formação
ensinar e aprender dentro do cotidiano escolar, reverbera-se em desafios continuada constitui-se palco de resistências que podem ser compreen-
presentes no espaço escolar, no qual a formação continuada aparece como didas pelo fato de não condizerem com as reais necessidades dos sujeitos
possibilidade de diálogo sobre a prática pedagógica do docente que se en- que nelas participam.
caminha para uma perspectiva crítica, reflexiva, transformadora, diversa
e inclusiva que perpassa por uma análise da formação continuada e o seu
valor transformador.
Apesar de reconhecer a importância da formação continuada para REFERÊNCIAS:
o seu processo transformador, o grupo de professores estudados revela
a urgente necessidade de se rever o formato das práticas instituídas nas
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Portugal: Edições 70 LDA, 1977.
propostas dos CEFAPROs, que, muito embora estas façam menção a
princípios anunciados por renomados estudiosos, a realidade denuncia BARRETO, E. S.S; GATI, B. A. (Org.). Professores do Brasil: impasses e desafios.
a ausência da conclamada autonomia, no que diz respeito àquilo que se Brasília: UNESCO, 2009.
faz premente. Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação
Evidencia-se a necessidade de se definir uma metodologia de formação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Conselho Nacional da Educação.
Diretrizes curriculares nacionais gerais da Educação Básica. Diretoria de currículos
coerente com aquilo que está anunciado nos documentos da SEDUC/MT,
e educação integral. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.
sobretudo que traga, na centralidade, o protagonismo daqueles a quem se
destina. Isso, não implica entregar a formação nas mãos dos professores, CANDAU, V. M. F. Formação continuada de professores: tendências atuais. In: REALI,
A. M. de M. R.; MIZUKAMI, M. G. N. (Org.). Formação de professores: tendências
mas junto com eles desenhar um plano de trabalho que dialogue com as
atuais. São Carlos: EdUFSCar, 1996.
concretas necessidades, tanto pessoais, como institucionais.
Por outro lado, é relevante evidenciar a legitimidade do avanço na CARLOS, R. B. Um estudo sobre a formação continuada do coordenador pedagó-
gico desenvolvida pelo CEFAPRO de Cáceres/MT. (Tese de doutorado). São Paulo:
Política de Formação Continuada do Estado de Mato Grosso, no tocante
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2013.
à institucionalização de Centros de Formação destinados a qualificar
professores, colocando-se como pioneiro no cenário nacional. Ademais, DUBAR, C. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. Porto,
Porto Editora, 2005. (Coleção Ciências da Educação).
vale mencionar o importante princípio que toma a escola como lócus de
formação, inicial e continuada, o que reflete conexão com os teóricos FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
anteriormente estudados. Paulo: Paz e Terra, 1996/1997.
No entanto, se faz premente um redirecionamento da proposta teó- FRIGOTTO, G. A produtividade da escola improdutiva. São Paulo: Cortez, 1993.
rico-metodológica praticada a fim de que reforce a apreensão da escola GATTI, A. B.; BARRETO, E. S. S.; ANDRÉ, M. E. D. A. Políticas docentes no Brasil:
como uma importante fonte de construção de conhecimentos, aliado ao um estado da arte. Brasília: UNESCO, 2011.
necessário investimento na interlocução com as universidades, na qua- GRAMSCI, A. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização
lificação das equipes de formadores dos CEFAPROs, na qualificação dos Brasileira, 1978.

60 61
LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. pesquisa em educação: abordagens qualitativas.
São Paulo: EPU, 1986.
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Pesquisa sobre Formação Docente, v. 01, n. 01, p. 109-131, ago./dez 2009. Disponível
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__________. Formação de professores para uma mudança educativa. Porto: Porto
| O formador de professores dos CEFAPROs de
Editora, 1999. Mato Grosso e a política de formação continuada
MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Orientações curriculares: con- ofertada nas últimas duas décadas (2000/2018)
cepções para a Educação Básica. Cuiabá: Defanti, 2010.
Glades Mueller
SILVA, Cleide Aparecida Ferreira da. Formação docente desenvolvida na escola:
limites, avanços, desafios e perspectivas. (Dissertação de Mestrado) Cuiabá: Univer-
sidade Federal de Mato Grosso - UFMT/IE, 2008.
Introdução
PARO, V. H. Administração escolar e qualidade do ensino: o que os pais ou respon-
sáveis têm a ver com isso? Gestão Democrática. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. O artigo é parte da pesquisa submetida ao Edital induzido da Fun-
PLACCO, V. M. N. S. Perspectivas e dimensões da formação e do trabalho do pro- dação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT),
fessor. In: SILVA, A. M. M.; MACHADO, L. B.; MELO, M. M.O.; AGUIAR, M. C. C. sob o n. 011/2016/ FAPEMAT/Áreas Estratégicas - Educação Estadual;
(Orgs.): Educação formal e não formal, processos formativos, saberes pedagógicos:
com o título: “Mapeamento e análise das ações promovidas pelos CE-
desafios para a inclusão social. 1 ed. Recife - PE: Edições Bagaço, 2006, v., p. 251-262.
FAPROs nas escolas da Rede Estadual Mato-grossense”; na temática:
PLACCO, V. M. N. S.; ALMEIDA, L. R.; SOUZA, V. L. T. O coordenador pedagógico “Levantamento da situação dos Centros de Formação e Aperfeiçoamento
(CP) e a formação de professores: intenções, tensões e contradições. Estudos e Pes-
dos Professores – CEFAPROs, sua necessidade para a rede estadual de
quisas Educacionais. Fundação Victor Civita, 2011.
educação, e a adequação às exigências para a formação continuada dos
PLACCO, M. N. & SILVA, H. S. A formação do professor: reflexões, desafios, pers- professores”.
pectivas. In: BRUNO, E. B. G.O et all (Rrgs.). O coordenador pedagógico e a formação
De acordo com o projeto aprovado pelo referido Edital Induzido, o
docente. 9 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2008.
objetivo da pesquisa desenvolvida constitui em “analisar a situação de
PLACCO, V. M. N. S; SOUZA, V. L. T.(Orgs.) Aprendizagem do adulto professor. atuação dos Centros de Formação e Atualização dos Profissionais da
São Paulo, Loyola, 2006.
Educação Básica (CEFAPROs), no atendimento às demandas formativas
SACRISTÁN, G. Currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed, 2000. e educacionais, com vistas à compreensão da sua necessidade e aceitação
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 17 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, pelas escolas da rede estadual de educação, bem como da sua adequação
2014. às atuais expectativas, anseios e necessidades formativas dos profissionais
VYGOTSKI, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos docentes da Educação Básica do Estado de Mato Grosso”. Ancorada na
psicológicos superiores. Tradução José Cipolla Neto, Luís Silveira Menna Barreto e abordagem qualitativa, o mapeamento dos dados e coletas de informa-
Solange Castro Afeche. São Paulo: Martins Fontes, 1984. ções deram-se por meio de questionários, entrevistas semiestruturadas e
análise documental. A técnica de Análise de Conteúdo (AC) foi adotada
na análise das informações coletadas.
Foram parceiros no desenvolvimento da pesquisa, os CEFAPROs
de Juara, Sinop e Cáceres, como também a Universidade do Estado de
Mato Grosso (UNEMAT), Câmpus de Juara, Sinop e Cáceres. Especi-
ficamente neste artigo, apontam-se elementos concernentes ao Polo de
Sinop, onde a autora atua como Professora Formadora (PF) desde 2016.
62 63
Foram entrevistados cinco PFs lotados no CEFAPRO do polo de Sinop/ potencialidades e necessidades percebidas no contexto escolar e a partir
MT. Sendo um em cada Área/Disciplina, quais sejam: Língua Portugue- daí, formulem ações de intervenção voltadas à melhoria da qualidade do
sa, Matemática, Ciências da Natureza, Ciência Humanas, Alfabetização. ensino. A implementação do “PEFE” nas escolas de todos os municípios
O critério utilizado para a escolha dos cinco PFs foi o maior tempo de do Estado é acompanhada pelos Centros de Formação e Atualização
atuação nessa função, considerando que um dos objetivos da pesquisa dos Profissionais da Educação – CEFAPRO, orientando e monitorando
se refere ao levantamento do atendimento realizado pelos PFs ofertado o projeto de estudos de cada unidade escolar, desde a sua elaboração,
nos últimos dez anos de existência do Centro de Formação. Desse modo, seu desenvolvimento e finalização, o que deve totalizar oitenta horas de
constituiu-se o corpus dessa análise entrechos coletados nas narrativas estudos semanais, no período do ano letivo.
das entrevistas semiestruturadas realizadas com os referidos formadores
que atuam nessa função desde 2009. Nesta perspectiva, acentuou o papel do PF em 2018, como aquele
Com isso, apontam-se neste trabalho, elementos que corroboram na profissional que diagnostica, elabora, planeja, acompanha, desenvolve,
percepção da constituição identitária dos PFs. Considerando que a atuação gerencia e realiza intervenções em seu campo de atuação nas escolas
nessa função está diretamente ligada aos coordenadores pedagógicos das que acompanha, em parceria com o coordenador pedagógico das mes-
escolas, esta se vincula ao fortalecimento desses enquanto responsáveis mas (MATO GROSSO/DECRETO 1395, 2008, p. 02). Como apregoa
pela organização e oferta da formação continuada nas escolas, pois como o Orientativo, as ações devem ser, prioritariamente, desenvolvidas em
afirma Domingues (2016), os coordenadores são os gestores da formação parceria com o coordenador pedagógico das unidades escolares.
na escola, aquele que lidera, organiza, desenvolve e intervém no processo Contudo, este percurso de constantes mudanças da função da atuação
de formação. do PF traz incertezas e provoca instabilidades tanto nas escolas, quanto aos
que atuam nesta função. Estas incertezas geram questionamentos quanto
a sua atuação: intervém na escola ou não intervém? Propõe formação
O trabalho do professor formador no processo de ou não propõe? Por outro lado, o coordenador pedagógico da escola
formação de professores também se sente inseguro em relação à atuação do PF, pois não sabe se
conta com este profissional ou não, para as ações de formação continuada
Compreende-se que para mapear as ações desenvolvidas nos diferentes vialibilizada na escola.
CEFAPROs de MT, requer entender como é gerida a complexa questão da Em 2016, por exemplo, a Portaria 161/2016 que versou sobre a atuação
formação de professores, enquanto política de formação. Neste sentido, dos PF naquele ano, determinava:
destaca-se a necessidade de ouvir os Professores Formadores (PF), uma
vez que as atribuições dessa função implicam diretamente nos resultados Art. 1º Instituir o Projeto de Estudos e Intervenção Pedagógica (PEIP), o
dessa política. Projeto de Formação Contínua dos Profissionais Técnicos e Apoio Admi-
Com relação à política de formação continuada ofertada em nível de nistrativos Educacionais (PROFTAAE), como projetos experimentais da
estado, o Documento Orientativo 2018 da Seduc/MT (p.107), elaborado Política de Formação e Desenvolvimento Profissional dos Profissionais
pela Superintendência de Formação (SUFP), apresenta o encaminhamento da Educação Básica do Estado de Mato Grosso, e o Núcleo de Desenvol-
para acompanhamento dos CEFAPROs nas escolas estaduais. Assim: vimento Profissional na Escola (NDPE), conforme previsto nesta Portaria
e no Anexo único (SEDUC, 2016, p. 40).
A Superintendência de Formação tem como principal função promover Aos CEFAPROs cabem as ações de monitorar, avaliar, orientar e realizar
formação continuada aos profissionais da educação por meio do Progra- as intervenções necessárias à implementação da Política de Formação e
ma Pró-Escolas Formação na Escola - PEFE. Esse programa representa Desenvolvimento Profissional nas escolas. Para tanto, algumas investi-
a oportunidade para que os profissionais que se encontram em serviço gações mostram que, sem monitoramento adequado e avaliação, não há
nas escolas, a partir da formação de grupos de estudos, reflitam sobre as avanços no processo formativo e até há períodos de desânimo perante os

64 65
obstáculos encontrados (DE KETELE, et al., 1994). Fatos esses que fazem formação continuada dos profissionais da educação, das aprendizagens e
com que os profissionais da educação acabem por participar da formação a proficiência dos estudantes, conforme as funções apontadas no Orien-
contínua, apenas motivados pela certificação, para garantir a contagem tativo 2018.
de pontos (MATO GROSSO/SEDUC, 2016, p. 47).
As ações do professor formador do CEFAPRO nas escolas devem ser
Neste sentido, com as mudanças de nomenclatura e de ações, gerou-se previamente planejadas em conformidade com a programação do PEFE
uma instabilidade nas ações de formação e acompanhamento às escolas, da escola de maneira a garantir sua efetiva participação nas reuniões de
naquele ano, por parte dos formadores. Tanto que a Portaria de 2016, estudos e contribuir com as ações de formação, podendo, também, em
implementada em caráter experimental, não se manteve em 2017, quando vista das necessidades e/ou solicitação da escola, assumir, eventualmente,
se implantou o Pró-Escolas, Formação na Escola (PEFE). a condução da reunião de estudo. Essa ação também poderá ocorrer em
A ação do PF em monitorar, avaliar, orientar e realizar intervenções escolas fora de sua atribuição de rotina em cooperação com outros profes-
junto às escolas que acompanha não é uma tarefa simples, desprovida de sores formadores em atendimento a decorrentes demandas. O professor
estudos. Esta ação exige constantes atualizações. Marcelo (1999, p. 46) formador também deve contribuir com os coordenadores pedagógicos
pesquisador da política de formação de professores afirma que esta área na elaboração de planejamento, projetos e planos de intervenção pedagó-
de atuação é complexa, ampla e envolve diferentes dimensões: gica e no planejamento das ações educativas a serem desenvolvidas pelos
profissionais da Área 21, em atendimento às necessidades decorrentes do
A formação de professores é a área de conhecimentos, investigação e de cotidiano escolar (MATO GROSSO/SEDUC, 2018, p.16).
propostas teóricas e práticas que, no âmbito da Didática e da Organização
Escolar, estuda os processos através dos quais os professores – em for- Contudo, essa não é uma tarefa simples, pois conforme aponta
mação ou em exercício – se formam individualmente ou em equipe, em Kuenzer (1999, p.163), “as políticas de formação inviabilizam a cons-
experiências de aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram trução da identidade do professor como cientista da educação para
seus conhecimentos, competências e disposições, e que lhes permite in- constituí-lo como tarefeiro, dado o aligeiramento e a desqualificação
tervir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo de sua formação”. Isso se deve, segundo a autora, às exigências sem-
e da escola, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação que os pre mutáveis que são impostas aos educadores, face às mudanças nas
alunos recebem. exigências de acordo com as mudanças nas políticas. Na perspectiva
do Taylorismo/fordismo, a educação apresentava-se com pouca flexi-
Conforme destaca o autor, a dimensão coletiva da formação é pro- bilidade, repetição, memorização, exercício mecânico e técnico que
eminente e merece ser evidenciada; ou seja, não se forma na individu- não permitia a reflexão; por vezes, esse cenário ainda é encontrado em
alidade, ainda que os processos sejam significados individualmente por algumas instituições e é um dificultador da propulsão de mudanças
cada sujeito. Atuar como formador de professores requer compreender nestas realidades escolares.
essa dimensão da coletividade, das trocas, das discussões, dos diálogos; Cenário este que também é encontrado por vezes, pelos PFs, que atuam
da pesquisa, da busca pelo saber, pelo conhecimento, é ser um pesquisa- no acompanhamento da formação continuada ofertada nas escolas, quan-
dor; aquele que colaborará para as reflexões e ressignificações da equipe do se sentem entre a necessidade de discutir, mediar, intervir e construir
escolar que atua em determinada realidade educacional, conforme ressalta a reflexão sobre a formação continuada no coletivo da escola e realizar
o Orientativo (MATO GROSSO/SEDUC, 2018). tarefas que devem ser executadas por propostas que já vêm elaboradas.
Como aponta Marcelo (1999), a formação continuada possibilita A perspectiva que exige do PF a intervenção na realidade, na neces-
intervir profissionalmente na realidade escolar. O formador tem a possibi- sidade da compreensão das complexas relações sociais em que a escola
lidade de ser este propositor e promotor de estudos e reflexões que levem está inserida, exige conhecimento sócio-histórico, científico-tecnológico.
às mudanças na e da escola, colaborando para que haja uma melhoria na Como afirma Kuenzer (199, p. 171)

66 67
“[...] essa relação passa agora pelas atividades intelectuais, exigindo o A intermitência da política de formação continuada em
desenvolvimento de competências cognitivas que só se desenvolvem Mato Grosso e o trabalho do professor formador
em situações de aprendizagem que possibilitem interação significativa e
permanente entre o aluno e o conhecimento”. Um ponto comum destacado pelos PFs com relação às políticas públi-
cas de formação continuada assinalou a “descontinuidade” das propostas
Essa prerrogativa impõe a necessidade de o PF atuar na perspectiva e dos programas de formação, avaliados como positivos, mas que não
de intervir na realidade local, ou seja, na escola que atua como formador foram implantados como política de formação continuada. Com isso, as
referência da formação continuada dos profissionais. Entretanto, essa rupturas e as mudanças designadas a cada equipe gestora para assumir
tarefa é complexa, e desafia o PF a pesquisar, a se autoformar para atuar funções na SUFP/SEDUC/MT, e mesmo as políticas de formação conti-
na realidade que lhe é apresentada, como afirmou um entrevistado: nuada ofertada em nível federal, destacam a instabilidade que fragiliza o
trabalho realizado nesse campo em Mato Grosso:
Em algumas das formações foram trabalhadas algumas temáticas que
requeriam conhecimentos de minha área de formação, porém não espe- Em relação às políticas públicas o que a gente tem vivenciado e tem perce-
cificamente, na formação daquela disciplina. Embora o seletivo traga que bido que atrapalha bastante é a descontinuidade dos programas, começa
você tenha que desenvolver um planejamento a partir da sua disciplina; um programa que é bem sucedido, a exemplo do Pró Letramento, agora
mas até agora não tivemos nenhuma formação, somente a auto formação. mais recentemente com o PNAIC que acaba sendo cortado. Esses foram
E a auto formação foca muito em demandas, por exemplo, identificamos programas que a gente viu que deram resultados, mas foram cortados.
que um dos problemas maiores dos professores é a metodologia de ensino Então, a descontinuidade é um dos problemas, um dos fatores [...] (PF 05,
dessa disciplina; então, eu preciso pensar em uma formação que contemple 27/07/2018).
essa demanda; mas eu não tenho formação específica para o ensino dela,
a não ser aquilo que foi estudado na graduação. Então essa busca, ela é Outro PF ao se posicionar com relação às políticas públicas de for-
uma busca solitária do formador, no meu caso né, porque eu não tenho mação continuada de MT, afirmou que os trabalhos “[...] são bastante
com quem discutir a formação (PF 04, 06/07/2018). aleatórios, e que de acordo com as mudanças nos gestores da SUFP, são enca-
minhados até via watszap, via uma nota, via reuniões. Então, não temos um
Todavia, há entre os PFs a dinâmica do trabalho coletivo e colaborativo tecido formado à cerca dos rumos da formação continuada dos professores
nas áreas onde esta discussão é possível, assim como, em equipes que se e dos formadores [...]” (PF 04, 06/07/2018). Fica perceptível a fragilidade
fortalecem nas trocas entre os pares, para atender as demandas formativas encontrada neste aspecto, mesmo a oferta de formação continuada sendo
desenvolvidas nas escolas que por vezes, solicitam estas ações, conforme reconhecida no documento “Pró Escolas Formação”, (SEDUC/SUFP, 2018,
afirmou o PF quando se referiu as demandas solicitadas a partir dos p. 07), como um direito, um dever e uma necessidade:
atendimentos às unidades escolares: “[...] também atuamos numa colabo-
ração quando outros formadores solicitam, quando uma escola solicita uma A formação continuada é um direito do trabalhador da educação. Sua
determinada formação específica, a gente se organiza para atender, então, oferta pelos sistemas de ensino, redes e instituições educativas encontra-
desde 2009 a gente vem nessa contribuição para essa formação coletiva e -se oficialmente regulamentada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
específica” (PF 05, 27/07/2018). (LDB – Lei n.º 9.394/96, Art. 61, Inciso I; Art. 67, Incisos II e V; Art. 87,
Essa é uma dinâmica que é bastante adotada no CEFAPRO e que § 3) e, mais recentemente, na Resolução n.º 02/2015 que define as Dire-
converge na perspectiva que defendem teóricos como Nóvoa (1997) de trizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior
que a formação do profissional deve se dar, dentre outros aspectos, pelo e para a formação continuada (Capítulo I, Art. 1.º, § 1.º; Capítulo VII,
caráter colaborativo e ele deve ser capaz de ações educativas em equipe Art. 19), dentre outros.
(MATO GROSSO/SEDUC, 2010).

68 69
Com relação à regulamentação legal, baseada na Lei Complementar tos pela categoria, assim como pelos legisladores. A identidade dos
50 (LC 50 de 1998) que normatiza a carreira dos profissionais da educação PFs está neste misto de discursos que circulam entre a categoria, e,
de Mato Grosso, e aponta que os profissionais devem buscar formação principalmente, na gestão de estado, responsável pela propositura das
continuada e, no caso dos docentes, cumprir hora atividade na unidade políticas educacionais.
escolar. Amparado na legislação citada, o Pró-Escola Formação (PEFE) Em relação à identidade profissional, Dubar (1997, p. 4) ao discutir a
congrega as duas ações, já que oportuniza o desenvolvimento da formação constituição da identidade a define como um processo individual. Todavia,
continuada na carga horária de trabalho e no espaço escolar. Enquanto nesse processo, a pessoa também se constitui pela e na dimensão social,
necessidade orienta-se que a formação continuada seja compreendida desenvolvida ao longo da vida. Para esse autor, a identidade é aquilo que
pelos profissionais como imprescindível no decorrer da sua carreira. alguém tem de mais precioso, pois compreende que “[...] o indivíduo
Sente-se a susceptibilidade da atuação provocada pelas mudanças nunca a constrói sozinho: ela depende tanto dos julgamentos dos outros
das políticas governamentais, dos gestores que estão à frente da SUFP/ como das suas próprias orientações e autodefinições. A identidade é um
SEDUC/MT. Políticas descontínuas, políticas que ora fortalecem uma, ora produto de sucessivas socializações”. Afirma, ainda, que ela é constituída
outra frente de atuação; conforme aponta um dos entrevistados: “[...] falta pelo olhar da pessoa sobre ela mesma, mas, sobretudo, pelo olhar do outro
uma política de formação que de fato trate as necessidades dos professores. sobre a pessoa. Desse modo, “[...] a identidade nunca é dada, é sempre
Na ausência dessas políticas nós temos Programas de Formação que não construída e (re) construída numa incerteza maior ou menor e mais ou
dá nem para chamar de programas, que são bastante aleatórios [...]” (PF menos durável” (DUBAR, 1997, p. 86).
04, 06/07/2018). Como afirma Nóvoa (1991, p.28): Aspecto apontado por um dos PFs quando afirmou sentir esta “so-
lidão”, a falta das trocas, das discussões, da coletividade, antes com uma
[...] a formação continuada deve estar articulada com o desempenho pro- periodicidade maior, sinalizando o que discute Dubar (1997), do “aval”
fissional dos professores, tomando as escolas como lugares de referência. do outro, do olhar do outro sobre a pessoa, sobre a sua identidade do ser
Trata-se de um objetivo que só adquire credibilidade se os programas Professor Formador, conforme destacado abaixo:
se estruturarem em torno de problemas e de projetos de ação e não em
torno de conteúdos acadêmicos. Participo da formação continuada oferecida pela SEDUC/MT e SUFP,
participei de todas e havia certa regularidade desses encontros de forma-
Esta proposta está em consonância com o Documento Orientativo do ção, que era entre os coletivos dos CEFAPROs em Cuiabá e que nos últimos
PEFE, 2018, contudo, para que se efetive nas escolas, ainda há a necessida- anos, quase não existiram, cada vez mais vai se distanciando o interstício
de de sua compreensão para que saia da condição de sugestão e torne-se desses encontros. Esses momentos eram superimportantes porque você
dinâmica, fulgente e intensa nas escolas. As fragilidades ou descontinui- determina a partir desses encontros mais ou menos, os rumos para for-
dades apontadas pelos PFs corroboram para a não constituição de uma mação, para atuação do formador, até mesmo, reflexões que precisam ser
identidade do profissional que atua enquanto formador de professores. tratadas na coletividade, pois são espaços de reflexões, onde se traziam
A pergunta é: esse profissional atua como propositor de políticas ou atua muitas das preocupações dos professores, dos desafios da sala de aula, e
como executor de tarefas? Ou as duas coisas? como que essa formação pode contribuir para discutir esses desafios da
Outro aspecto frágil na constituição do ser formador se refere à sala de aula. Então era um canal de comunicação, formação e discussão
sua profissionalidade e profissionalização, pois ao mesmo tempo em entre os desafios das escolas e dos CEFAPROs; nós não temos mais esse
que pertence a categoria de educadores, de profissionais da educação, canal de discussão, é um espaço que se reduziu e é onde às vezes a gente
também dela se diferencia, por exercer uma função distinta, que in- se preocupa, quais são nossos espaços de discussão, quais são nossos
terfere e prejudica inclusive os direitos trabalhistas da categoria. Nesta espaços de reflexão nos CEFAPROs, para tratar daquilo que preocupa o
perspectiva, a identidade é “negociada” nas diferentes representações professor, daquilo que preocupa a escola, em que momento a gente vai
dos envolvidos; tanto na forma como os PF se veem e como são vis- fazer isso (PF 04, 06/07/2018).

70 71
Diante destas problematizações, é possível reportar-se a Dubar (1997, Aspectos das ações realizadas pelos professores
p. 4) que ao discutir as múltiplas dimensões que constituem a identidade formadores no CEFAPRO de Sinop/MT
das pessoas, deu à dimensão profissional particular importância:
Um dos aspectos desta pesquisa foi realizar um levantamento das
Porque se tornou um bem raro, o “emprego” condiciona a construção atividades desenvolvidas pelos PFs do CEFAPRO de Sinop, consideradas
das identidades sociais; porque sofreu importantes mudanças, o trabalho relevantes por eles. Dentre as ações desenvolvidas, destacaram-se:
apela a sutis transformações identitárias; porque acompanha intimamente
todas as mudanças do trabalho e do emprego, a “formação” intervém nas E-Proinfo; Programa UCA, Formação para técnicos de Laboratório de In-
dinâmicas identitárias muito para além do período escolar. formática (LIs), PNEFEM, PNAIC, GESTAR, Alfabeletrar, Pró Letramento,
Orientações Curriculares (OCs); CONAEs CONGED, BNCC; CONAPEs,
Garcia, Hypólito e Vieira (2005, p. 47) ancorados em Lawn (2001) Profuncionário, ProInfantil, Projetos FAPEMAT; Projeto CNPq com Ins-
debatem a constituição da identidade docente e endossam a discussão tituições parceiras, Feira de Ciências; Parecerista da Revista: REENO-
apresentada, no aspecto de construção da identidade do PF: MA/CEFAPRO/Sinop; Projetos envolvendo professores das áreas e apoio;
Acompanhamento e orientação da Formação Continuada da escola deno-
[...] a gestão da identidade profissional dos docentes é uma tarefa cen- minada de: Sala de Professor, Sala de Educador; PEIP, PEFE (trajetória);
tral no governo e na condução do sistema educacional e escolar de uma Formações Específicas das Áreas de Atuação de cada Professor Formador;
nação. Definir pelo discurso que categoria é essa, como deve agir, quais Ressignificação do PPP; Jornada Formativa, Complexo Temático; trabalho
suas dificuldades e problemas é produzir uma parcela das condições envolvendo as Habilidades e Competências do SAEB; Avaliações Externas
necessárias à fabricação e à regulação da conduta desse tipo de sujeito. (ENEM, Prova Brasil, ANA, ADEPE, Avalia MT), participação em eventos
com publicações de artigos, participações em Grupos de Pesquisa e Grupos
Diante dessas ponderações, compreende-se que existem vários mode- de Estudos, Estudos nas Áreas de Atuação, Auto formação (FORMADOR
los de formação de professores que mediante as concepções de educação FORMADOR4 01, 02, 03, 04, 05).
se diferenciam em atenção:
Percebe-se pelos apontamentos dos PFs que estes atuam em várias e
[...] às demandas de formação dos intelectuais (dirigentes e trabalha- distintas ações, participam, desenvolvem e executam diferentes projetos
dores) em cada etapa de desenvolvimento das forças produtivas, em e programas governamentais. De acordo com o Orientativo Pedagógico
que se confrontam finalidades e interesses que são contraditórios. Ou elaborado pela Seduc/MT (MATO GROSSO, 2010), os PFs teriam o desafio
seja, as demandas de formação de professores respondem a configura- de ajudar as escolas para que os profissionais desenvolvessem aprendizagens
ções que se originam nas mudanças ocorridas no mundo do trabalho significativas para si e para os estudantes. Aos PFs caberia, dentre as demais
e nas relações sociais, e a configurações oriundas das diferentes po- funções, executar os programas que são desenvolvidos em nível estadual
sições que são assumidas em relação aos projetos apresentados pelo e federal, com este intuito, de melhorar e ressignificar as aprendizagens e
grupo que ocupa o poder a partir de determinada correlação de forças práticas docentes e, consequentemente, as aprendizagens dos estudantes.
(KUENZER, 1999, p.166). Para Lawn (2001, p. 04) o estado “[...] cria novos tipos de professores
para novas orientações da política educativa, [...]”. Dessa forma, altera,
Ainda que a autora esteja falando em outra década, em uma perspecti- fabrica, cria como também mantém identidades dos professores, na me-
va de outro grupo de profissionais, sua reflexão se torna contemporânea ao dida das necessidades de execução de ações e exigências governamentais.
ser confrontada à reflexão de um dos colaboradores da pesquisa, quando
destacou que há uma ausência de políticas de formação aos profissionais, 4 PROFESSOR FORMADOR no decorrer das citações será identificado de PF 01, PF 02,
assim como, para aqueles que atuam como formadores de professores. PF 03, PF 04, PF 05; entrevistas concedidas em: 28/06/2018, 29/06/2018, 03/07/2018,
06/07/2018 27/07/2018.

72 73
Como denotam as inúmeras ações elencadas pelos PFs, estes se encon- prática, para o meu estudo, para a minha prática de formadora. E muitas
tram numa representação de profissionais que tendem a corroborar na delas contribuíram, contribuirão também quando para minha prática como
implementação de políticas públicas. Como afirma Lawn (2001, p. 06) professora de sala de aula; então, esse estudo realmente de estar aqui como
“Em qualquer período, a fixação da identidade do professor, através do eu avalio... Avalio como: participativa, com envolvimento realmente, de
discurso, regulamentação e design, é uma forma fundamental de estru- estar desenvolvendo isso com relevância para a minha vida profissional
turação e reestruturação do trabalho”, ou seja, assim como a educação, os também. Quando você diz ‘também’, isso contribui ‘também’ para o pro-
PFs também estão a serviço das imposições governamentais. fessor... É, isso também contribui com o fazer pedagógico, influência outros
Todavia, apesar do direcionamento governamental, atuar na função de professores ou a formação desses professores que estão vindo até aqui, que
PF, de certa forma, tem os seus aspectos favoráveis. Quando os PFs foram estão vindo conversar com a gente realmente, e que estão vindo participar
questionados sobre como avaliam suas atuações no CEFAPRO de Sinop, das formações da Área ou da Jornada, isso acho que contribui também com
identificaram-se nas respostas, narrativas com perspectivas positivas em o desenvolvimento das Políticas Públicas, conhecer essas Políticas Públicas,
relação às ações e atividades desenvolvidas por eles. Os PFs demonstraram como conhecer também essas pesquisas sobre a Educação que atualmente
satisfação em desenvolver sua função, pois atuar como PF exige constantes estão acontecendo seja na TRI, no ENEM, no SAEB, é conhecer realmente
estudos para que os conhecimentos sejam ampliados e aperfeiçoados. Com essas Políticas e colocar em prática realmente. E isso se refere ‘também’
isso, os PFs também precisam inserir-se em eventos de formação. Essa con- porque eu sou professora, então isso também contribui para a minha auto
dição é apontada como um dos itens para que se sintam satisfeitos: formação; essa auto formação vai contribuir possivelmente com o meu fazer,
com a minha prática pedagógica (PF 02, 29/06/2018).
Então, eu acredito que os programas e ações foram bem produtivos, algumas
no começo a gente não consegue ter um resultado muito bom por conta da As contribuições dos PFs descritas nas narrativas acima elucidam
pouca experiência; o fato de ser ministrante de algumas coisas com pouca que eles participam de programas e ações diferenciadas que colaboram
experiência de CEFAPRO; mas é o começo da atuação no CEFAPRO. E com sua formação e auto formação. Essas formações propiciam a eles
as outras assim, que sempre gostei de participar sempre me inteirei bem, maior segurança no processo de atuação profissional. Todos avaliam po-
participei, tive uma boa participação. E acredito que colaboraram muito sitivamente as ações que realizam enquanto PFs, principalmente, quando
para a escola e para minha formação, para meu desenvolvimento profis- atuam diretamente nas formações, tanto no CEFAPRO, quanto nas escolas.
sional (PF 01, 28/06/2018). Dentre os aspectos destacados nas contribuições acima, prepondera-
ram ações de programas estaduais e federais implementados pelos PFs,
[...] eu considero uma boa participação, que a gente pôde contribuir com os ações formativas desenvolvidas com os coordenadores pedagógicos das
professores, com os Coordenadores, onde a gente sempre está para apoiar, escolas, formações pontuais ou das áreas de atuação, a auto formação
para orientar, mas não foi como a gente gostaria (por causa das OSs propiciada pelos estudos, dentre outros. Os aspectos destacados pelos PFs
por exemplo), mas eu acredito que algum benefício veio trazer (PF 05, convergem com o que se difunde no documento elaborado pela Seduc/
27/07/2018). MT (MATO GROSSO, 2010, p. 21) em que afirma que os CEFAPROs
constituem-se atualmente, “[...] como centros de referência de formação
Eu avalio bem, porque acho que me esforço para fazer essas formações; sempre [...]”, assim como, configuram-se “[...] em polos irradiadores das políticas,
que a gente vai para essas formações, a gente normalmente pede uma avalia- dos programas e diretrizes [...]” debatidos e propostos pela educação.
ção por parte dos cursistas e elas vem sempre com um feedback interessante, Um dos entrevistados ateve-se a avaliação da formação continuada
um ou outro cursista que às vezes reclama de alguma coisa, mas a gente que recebeu para atuar enquanto PF junto às escolas:
sempre procura se esforçar para dar o melhor da gente (PF 03, 03/07/2018).
Eu sempre me envolvo muito, participação efetiva nessas atividades aqui Quando elas existiam né, eram sempre bem requeridas, porque ali con-
que eu elenquei, muitas delas foram significativas para mim, para minha frontavam-se muitas ideias, eram geridas ideias que te auxiliavam no teu

74 75
trabalho depois da formação, com o teu acompanhamento nas escolas, são ações e Programas que me despertam o interesse porque eu acredito
então nesses espaços de discussão e de formação, sobretudo as ideias que que dão resultados (PF 03, 03/07/2018).
ali brotavam, que ali eram debatidas, eram as que te auxiliavam a traba-
lhar as dificuldades encontradas nas escolas, essas demandas, então, você Dentre as ações desenvolvidas, os PFs afirmaram que houve maior
acabava tendo um suporte tanto teórico, quanto metodológico para poder crescimento, naquelas ações ou atividades relacionadas à sua área de
atuar nas incumbências das suas escolas. Embora a gente visse que muitas formação. Com isso, “[...] a gente se envolve mais porque a gente trabalha
vezes poderia ser melhor do que era, porque muitas das vezes, em muitos realmente estes conceitos que estão mais relacionados com a Área [...]” (PF
dos casos, as metodologias utilizadas, elas não ofereciam muito a discussão, 02, 29/06/2018).
os encaminhamentos, ficavam muitas vezes repetitivos, não aprofundavam Considerando a “expertise” em uma área de formação, os PFs sinali-
muitos pontos conflitantes dentro da formação (PF 04, 06/07/2018). zaram também, ter melhor performance ao desenvolverem as atividades
nas suas áreas de formação, e ponderaram possuírem especialização e
No documento Mato Grosso/Seduc (2010) no item: “Fortalecimento experiências em seu campo de atuação. Ressalta-se que atuar na sua área
da política de formação”, no que tange aos “novos desafios na política de formação é apontado como uma dentre as funções do PF: “diagnosticar
de formação e a centralidade dos CEFAPROs”, percebe-se que dentre as as necessidades e propor projetos de áreas específicas, visando à qualidade
suscitações, a de formar o PF em determinadas áreas permanece como do ensino e da aprendizagem” (MATO GROSSO/SEDUC, 2010, p. 22).
uma lacuna; os PFs sentem dificuldades de encontrar parcerias para fo- No entanto, as ações não se restringem às ações específicas da área de
mentarem as discussões em GTs que possam fortalecer suas atuações e atuação, o PF atua como orientador, mediador, colaborador e propositor
ações, conforme apontava a proposição do documento: de formações às quais são solicitadas via escolas.
Relataram ainda, que acreditam nos programas, propostas, projetos
No âmbito da política de formação há iniciativas com vistas a garantir a e ações que possibilitam a relação teoria e prática, discutir as teorias,
matrícula para formação continuada de cada profissional da escola básica refletir sobre a prática e realizar a imersão no campo de atuação para
do sistema público no CEFAPRO do seu pólo regional. Para que a política ações modificadas; há conforme apontamentos dos PFs, a sinalização
de formação tenha a qualidade necessária, investir-se-á na orientação de nesta perspectiva:
cada centro por uma instituição pública (UFMT, UNEMAT, IFMT), permi-
tindo que cada formador lotado no CEFAPRO possa ter uma matrícula na [...] Então, essas formações onde existe fundamentação teórica e depois a
Instituição superior orientadora (MATO GROSSO/SEDUC, 2010, p. 33). prática, como foi na perspectiva do PNAIC, do GESTAR e agora do PEFE
que está mais ou menos nessa perspectiva, que a escola, o professor, ele
Destaca-se, que há, no entanto, vários PFs que participam e integram deve pensar em um problema, tem que pensar em estudar, pensar em uma
Grupos de Estudos e Pesquisas das instituições públicas de ensino em intervenção, então ele tem que ir para prática também, então a perspectiva
Mato Grosso, como a UNEMAT e UFMT. é parecida. [...] nós tínhamos o ‘Sala de Professor’, nós tínhamos o ‘Sala de
Os PFs que tiveram a oportunidade de atuar em programas, sejam Educador’ onde o professor tinha somente estudos teóricos, onde não exigia
eles federais ou estaduais, assinalaram como significativas as suas ações, dentro da sua constituição, dentro da sua rotina, uma aplicação, então eu
seja para o trabalho a ser desenvolvido nas escolas da sede e do Polo, acho assim, que era um estudo pelo estudo, que esse (PEIP) tem um maior
contribuindo para o trabalho desenvolvido pelos profissionais das escolas, resultado (PF 03, 03/07/2018).
seja também, como um dos elementos de auto formação:
[...] a gente tem percebido um grande avanço e, assim, um resultado positivo
Eu acredito que vim para o CEFAPRO porque gostei da proposta de for- na escola, a gente pode ver que os estudos não ficam só ali, na teoria, mas
mação que era para atuar com uma parte teórica e com uma parte prática. eles estão aliando essa teoria à prática, fazendo essa relação que está sendo
Atuar nestes Programas, [...] eu encarei o desafio de vir para cá. Então, assim bem positiva nas escolas (PF 05, 27/07/2018).

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Essas narrativas sinalizam que os PFs abarcaram a dimensão apon- Um aspecto abordado pelos PFs se refere às mudanças que observa-
tada no documento orientador das ações formativas do PF, de ser “[...] ram por meio dos discursos, relatos de experiências, como também ao se
um pesquisador e um produtor de conhecimentos sobre a educação, aproximarem do contexto das práticas dos professores, ao que atribuem
sobre o que e como ensina, investigando na e sobre a prática” (MATO ter a formação continuada, seja aquela que acontece nas escolas, seja a
GROSSO/SEDUC, 2010, p. 22). As narrativas evidenciam que os PFs desenvolvida no CEFAPRO por meio das formações específicas das áreas,
realizam a autoanálise de sua prática, se avaliam, refletem sobre a prática ou a que desenvolvem por meio de programas estaduais ou federais, sua
e se encontram nesse processo de constituição de seu perfil de formador contribuição.
de professores. Percebe-se como a formação continuada tem papel potencializador,
Outro ponto significativo destacado pelos PFs é perceber que este de fomentar a formação do professor, e assim, colaborar e contribuir na
trabalho de formação tem retorno efetivo pelos educadores nas escolas, superação de práticas pedagógicas cristalizadas, pois possui potencial de
mas que precisa ser acompanhado, instigado, fortalecido e incentivado, inquietar e mobilizar os professores para mudanças em suas práticas. A
para que tenha continuidade. inovação das intervenções pedagógicas é um dos principais objetivos da
oferta da formação continuada, uma vez que “a construção ou a produção
[...] eu já pude perceber principalmente na minha área, através do PNAIC do conhecimento implica o exercício da curiosidade, da busca permanente.
a gente pôde perceber uma boa mudança na prática pedagógica, na sala de Dessa forma, o ato de ensinar deve exigir o desenvolvimento do senso
aula os professores atuando de maneira mais efetiva, de acordo mais com a crítico do aluno, cabendo ao educador não inibir ou dificultar a curiosi-
realidade do aluno. Então, nós conseguimos visualizar isso quando a gente dade de seus alunos, mas estimulá-la, sendo assim estará estimulando a
vai à escola e também, nas próprias formações quando a gente pede os relatos sua própria curiosidade” (OLIVEIRA, 2011, p. 03).
de experiências os próprios professores socializam e falam dos trabalhos que Conforme Oliveira (2011), a formação continuada configurada no
eles realizaram a partir dos estudos que fizemos aqui ou lá na escola; então contexto da prática, justifica-se pela possibilidade de ressignificação e
a gente pode perceber que houve sim, um avanço e assim, mesmo que às revivificação da prática pedagógica dos professores, pois considera o po-
vezes não sendo reconhecido por alguns órgãos, percebemos as melhorias tencial para a mudança de postura do docente, justificativas perceptíveis
e a gente quando pode estar mais próximo da escola, a gente percebe essa nas narrativas dos PFs.
mudança e que ainda vai continuar acontecendo (PF 05, 27/07/2018).
Eu entendo e acredito que na educação a gente não tem resultados muito
rápidos; na educação cada mudança ou cada tentativa de melhora ela não é Aspectos que desfavoreceram o trabalho realizado na
visualizada do dia para noite, ela não é visualizada dentro de meses; então função de professor formador
a gente percebe quando a gente volta numa escola agora, numa escola que
a gente já trabalhou há cinco anos alguma temática, aqueles professores Apesar dos muitos aspectos significativos ressaltados pelos PFs ao
que estão lá participando de alguns momentos de estudo, eles já estão com avaliarem as suas atuações e as condições para tal, eles apontaram fa-
um amadurecimento, eles já estão com certo amadurecimento sobre aquele tores que são impeditivos ou empecilhos para que o trabalho se efetive
assunto, sobre aquela discussão. Então, se a gente pegar algumas temáticas da forma que lhes seja mais satisfatória e que também, muitas vezes,
que a gente já trabalhou em algumas escolas alguns anos atrás, a gente tem inviabilizam as ações de forma mais efetiva nas escolas, deixando-os
a impressão assim de que nada mudou, nada melhorou, mas não é bem angustiados.
assim, a gente percebe que os professores que estão trabalhando durante A narrativa de um dos PFs no que se refere aos restritores ou barreiras
algum tempo, que já estão participando dos estudos há algum tempo, eles já para que a formação aconteça de acordo com o previsto na legislação vi-
vem mudando aos pouquinhos sua prática, eles já vem conseguindo refletir gente, como na LC 50/1998, por exemplo, e nos Orientativos Pedagógicos
um pouco mais e a gente também né, a gente também vai melhorando a da Seduc é o descumprimento legal desta ação, que é parte da carga horária
nossa discussão (PF 01, 28/08/2018). remunerada do servidor público do estado de Mato Grosso:

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Não sei se deixei claro, se era uma pergunta ou até uma inquietação minha Eu acredito assim que eu pude contribuir não na medida do que eu gos-
é que eu acredito assim que a formação continuada talvez é deixada de taria porque às vezes tinha alguns empecilhos, um deles são as Ordens
lado e as pessoas não veem essa necessidade, justamente por a gente não de Serviços (OSs), porque nem sempre ela é liberada, em que em alguns
ter bem claro, essa questão da nossa jornada, para quem faz e para quem momentos ela não é liberada quando você precisa estar numa escola, num
não faz a formação continuada não acontece nada, porque pela primeira município do Polo; outra questão é quando coincide uma data de formação
vez, após um questionamento, uma profissional da SUFP deu um encami- de um município com a data de outro município, de outra escola, em que
nhamento claro e objetivo, de que quem não fizer a formação continuada você tem que acompanhar ambas as escolas e não tem a oportunidade de
está descumprindo com uma das finalidades da hora atividade; então, eu estar nas duas [...] Outro ponto é a descontinuidade dos Programas como
acho assim, isso que deixa essa insegurança, os assessores não se compro- PNAIC, Alfabeletrar, isso é um dos problemas, um dos fatores. Agora em
metem com esse cumprimento, os CEFAPROs, nessa questão a gente vai lá relação à escola um dos fatores que atrapalha um pouco é a rotatividade
e orienta, mas quem tem que fazer cumprir essa questão do calendário, da de professores, que tem muitos professores contratados, aí um ano estão
jornada de trabalho, é a Assessoria Pedagógica e em muitas delas, a gente nos anos iniciais e no outro nos anos finais, então essa rotatividade quebra
observa que eles não querem se indispor nem com a unidade escolar, nem um pouco essa sequência do trabalho que a gente vem fazendo. Aí mais
com os profissionais; então esses direcionamentos eu acho que eles poderiam na questão da relação SEDUC e CEFAPRO o que já falei que são as OSs
ser mais claros e mais objetivos por parte da Seduc (PF 03, 03/07/2018). que a gente organiza uma formação e nem sempre ela pode ser realizada
por conta destas OSs não serem liberadas a gente não consegue fazer esse
Percebe-se o desafio a ser superado por alguns profissionais que atu- trabalho. Então, são dificuldades que acabam às vezes interferindo no
am na rede estadual de ensino, que é o de compreender que a formação desenvolvimento dessas ações que a gente tem proposto para fazer, mas na
continuada é um direito conquistado e que nas escolas é desenvolvida na medida do possível, a gente vai trabalhando (PF 05, 27/07/2018).
hora atividade remunerada, tanto pelos profissionais efetivos, quanto por
aqueles que atuam em contratos temporários. No entanto, muitos não Na ausência, por vezes, da garantia de uma estrutura que afiance a
fazem uso deste espaço de estudos, debates e reflexões da e na prática. presença do PF na escola, principalmente nos municípios que compõem
Destaca-se também, que é um dever do professor realizar as horas o polo, a dinâmica desenhada para que ele esteja presente, seja intervin-
atividades e, nessa carga horária, incluiu-se a participação na formação do, contribuindo ou colaborando com a formação na escola fica bastante
continuada. Quando se refere às ações extraclasses, denominadas de prejudicada. Entretanto, a presença do PF nas escolas é necessária para
hora atividade, há na carga horária semanal de 30 horas dos professores que possa cumprir com as funções a ele confiadas, dentre elas destaca-se
um percentual destinado à formação, respaldada na legislação, assim a função de diagnosticar necessidades, apoiar e propor ações formativas
descrita: junto às escolas da rede pública de ensino; e, elaborar, acompanhar e avaliar
o projeto de formação continuada nas escolas, a fim de contribuir com
§ 1º. Entende-se por hora - atividade aquela destinada à preparação e o desenvolvimento dos profissionais que nela atuam (MATO GROSSO/
avaliação do trabalho didático, à colaboração com a administração da SEDUC, 2010, p. 22).
escola, às reuniões pedagógicas, à articulação com a comunidade e ao
aperfeiçoamento profissional, de acordo com a proposta pedagógica de Então, uma delas é essa questão de como as escolas veem a gente, de certa
escola (Grifos da autora), (LC 50/1998, p. 21). forma as escolas nos veem como aplicadores das políticas públicas, ou
pessoas que estão indo lá para conferir se a política pública está sendo
As narrativas que seguem são extensas, porém pertinentes para a executada. Mas não é isso, a gente vai para discutir juntos com eles essas
constituição deste artigo, ao abordar o ponto em que os PFs avaliam as políticas públicas para compreender porque é que há algumas mudan-
condições em que desenvolvem suas ações, pois, por vezes, ouve-se das es- ças, elas não estão lá para a gente escolher se quer ou não, mas foram
colas que há pouca regularidade na presença do PF nas unidades escolares: definidas pelo estado e a gente tem essa obrigação de ir lá apresentá-las

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e às vezes os professores tem certo receio disso, que a gente está indo lá OSs durante todo ano para que possam acompanhar presencialmente as
apresentar algo que eles não entendem como uma escolha deles. Outra escolas do polo, prejudica o desenvolvimento dos trabalhos, assim como,
dificuldade grande é a questão das mudanças dos direcionamentos das pode-se inferir, de estabelecer laços de trabalho mais fecundos e concretos.
Políticas Públicas; então assim a gente percebe que nesses 09 anos que Com relação ao desenvolvimento do trabalho do PF apontado pelo
estou aqui no CEFAPRO, cada 02, 03 anos as políticas de formação entrevistado acima, como por outros, destaca-se que as garantias de traba-
continuada do estado muda. Eu acho assim, que em um contexto geral, lho, na LC 50/1998, alterada pela LC 206/2005, em seu art. 2 quando fala
ela não teve grandes mudanças, nós continuamos com uma política de dos profissionais da educação, aponta a necessidade dos órgãos públicos
formação continuada que deve surgir a partir da necessidade da escola e competentes, serem os fomentadores das condições para que o trabalho
isso sempre foi o norte da formação continuada em nosso estado, mas a se efetive. O professor que atua como PF também percebe seu trabalho
forma como é organizada, a nomenclatura¸ o ponto de partida em alguns comprometido por conta da falta de condições. Entretanto, lê-se no Pa-
momentos muda. Eu particularmente não acho isso ruim porque eu penso rágrafo Único da LC 205/2005:
que quando tem mudança é porque a gente está buscando melhorias; mas
a gente sabe que algumas mudanças, não são só em busca de melhorias, A Secretaria de Estado de Educação deve proporcionar aos Profissionais
mas algumas mudanças são por decisões políticas mesmo dos gestores, da Educação Básica valorização mediante formação continuada, manu-
de quem está lá a frente das ações e das orientações. Os professores veem tenção do piso salarial profissional, garantia de condições de trabalho,
isso como ruim e a gente também, a gente às vezes já tá compreendendo condições básicas para o aumento da produção científica dos professores
bem, trabalhando uma boa orientação, e ai muda. E também, a questão e cumprimento da aplicação dos recursos constitucionais destinados à
de acompanhamento das escolas que não são na cidade, que são do Polo, educação (LC 205/2005 APUD LC 50/1998).
a gente sempre teve muito problema com deslocamentos, tanto nós temos
alguns municípios que não tem linha de ônibus e aí nem sempre liberam A não regularidade de liberações de OSs aos PFs para se deslocarem
as diárias, as OSs; então acompanhar as escolas que não são de Sinop é aos municípios que compõem o polo em que atuam é um dificultador
um pouco difícil, elas não são atendidas a contento, eu acredito que isso para a implementação do trabalho de formação, gerando empecilhos
também é uma dificuldade (PF 01, 28/06/2018). para que o trabalho aconteça, mesmo que haja as tutorias a distância.
A insuficiência de OSs esbarra, também, no não cumprimento do “Art.
A função de “apoiar e estimular” as ações “formativas inovadoras” 10: Das atribuições dos profissionais”, do Decreto 1395/2008, em seu item
que ocorrem nas escolas aparece no Documento da Política de Formação “IV: Professor formador, e) acompanhar e executar as ações formativas em
dos profissionais da Educação Básica de Mato Grosso; contudo, dentre consonância com o Projeto Pedagógico do CEFAPRO”.
as atribuições do PF destaca-se também, a de ser um “disseminador das O fato de a política de formação continuada passar por inconstâncias,
políticas públicas nacionais e estaduais”; e, “mediar as políticas oficiais” por mudanças nos direcionamentos, quando das alterações dos gestores
(MATO GROSSO/SEDUC, 2010, p. 22). Com isso, reconhecer-se como estaduais, gera angústias nos PFs e assim como, reflete e é sentida na escola.
tal é necessário, uma vez que está definido dentre suas funções, atuar O Decreto 1395/2008, que versa sobre os deslocamentos de atendi-
também, nesta ação. Diante desta função, sentem-se, por vezes, pouco mento aos municípios do polo traz, também, que:
bem vindos às escolas, na perspectiva de serem vistos pelos profissionais
das escolas, como um órgão fiscalizador e não colaborador. Todavia, são O deslocamento, hospedagem e alimentação da equipe gestora e docentes
nesses momentos que se constroem afinidades entre PF e escolas por do CEFAPRO do município-sede para os municípios que compõem o
meio das relações, trocas, convivências. São nesses momentos em que as polo, constará no Plano de Trabalho Anual da SEDUC, conforme o Projeto
empatias também se fortalecem; ocasiões que a relação de ver o PF como Pedagógico de cada CEFAPRO (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, MT,
fiscalizador também é desconstruída. Os PFs são terminantes em destacar DECRETO 1395, p. 02. ART. 6).
que a insuficiência de OSs e a ausência de regularidades de liberação das

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Além da pouca estrutura financeira para atender presencialmente e de de conhecimentos e práticas dos integrantes do grupo. Para os professores
maneira satisfatória as escolas, há outros pontos que merecem destaque, em formação há a valorização ou não do estudo, da reflexão ou da obriga-
dentre eles, o que conta o PF em sua narrativa: toriedade de atender a exigências institucionais (PLACCO, 2003, p. 45).

Eu avalio assim, nosso trabalho vai muito do querer do profissional tam- Nesta perspectiva, conforme apontado pela autora, os processos for-
bém, a gente observa agora fazendo a formação específica da minha área mativos podem avançar ou retroceder, como também estacionar. Percep-
de atuação, a gente observa muito claramente isso, o profissional que está tível esse evento na narrativa do PF, em que aponta que podem ocorrer
aberto para a mudança e vê nos estudos uma possibilidade de melhorar avanços ou não, dependendo das disponibilidades do “querer” de cada
profissionalmente, melhorar esse processo educativo, e aqueles que não, professor, ou seja, se está receptivo ou não às mudanças propostas pela
aqueles que não estão muito abertos, aqueles que acham que tem que ser formação, se está aberto a incorporar o novo, a refletir e ressignificar sua
assim mesmo, ou que ficam relembrando o passado, então, depende do perfil prática.
do profissional. Aqui a gente tem um exemplo claro de dois profissionais
que não faz muito tempo que se formaram um até está dando aulas na Das atividades que eu realizo de Formação nas escolas que eu tenho acom-
Universidade e a gente vê assim, a abertura que ele nos dá, no diálogo que panhado nos últimos anos, é bastante tenso porque a Formação Continuada
ele estabelece conosco, essa perspectiva de querer mudar e você percebe até não ocupa um lugar no calendário, e a Formação também não ocupa um
nas próprias atividades que ele traz. Então, eu acho assim, que não depende espaço já constituído na vida do professor; ele precisa rasgar espaços para
só da formação continuada ofertada pelo Cefapro, por exemplo; depende colocar ali, sob a força da lei, sob a força da imposição, não é algo que ele
também, do profissional querer essa mudança. Os fatores internos. Eu acho queira então isso é um desafio que eu senti muito nessas escolas. Então,
que são esses dois fatores que interferem para que essas políticas tenham primeiramente o trabalho realizado é de discutir a formação como uma
resultados. Com relação ao atendimento no Polo, como eu tenho escolas possibilidade de um desenvolvimento profissional, que ela promova esse
fora de Sinop, eu acho uma dificuldade é essa nossa não regularidade na desenvolvimento profissional, que ajude o professor a viver melhor a sua
nossa visita, né. Acho que a gente deveria estar muito mais presente junto vida pedagógica. Então, como pensar a formação que de fato proporcione
às unidades escolares, porque é diferente de você fazer uma orientação isso ao professor, naquele espaço, naquela escola, naquele grupo ali, na
por e-mail, por watszap, do que uma orientação presencial. Então, sinto coletividade, naquela realidade dele. Então, esse foi o primeiro trabalho que
bastante dificuldade no sentido dessa regularidade, se vai vir diária, de a gente precisou fazer e isso não é um trabalho que demande uma questão
você programar, planejar e organizar uma ação e de você ter de cancelar imediata, a gente precisa primeiro se construir ao longo do tempo. A difi-
a ação. Então, isso interfere claro no trabalho e nas escolas também, por culdade que se tem é como você vai acompanhar esse trabalho à distância
exemplo, as escolas que eu acompanho elas são bastante abertas e receptivas e nessas condições de trabalho. Então é um pouco difícil isso, porque requer
ao Cefapro, mas a nossa não regularidade na escola atrapalha um pouco que você esteja um pouco mais presente, que você esteja acompanhando de
(PF 03, 03/07/2018). semana a semana; então os avanços que nós temos é de fato, é essa adesão em
fazer de fato uma formação que me ajude a trabalhar, que é essa formação
O PF aponta um aspecto importante presente na formação do adulto, do desenvolvimento profissional mesmo, e que dentro dela seja possível, ler
que se refere aos fatores internos que são evidenciados na andragogia. De e interpretar os desafios que a escola vive, que o professor vive na sala de
acordo com os estudos de Placco (2003), o adulto aprende muito mais aula, que são desafios de aprender mesmo, essas gerações, entende-las, como
por fatores internos, subjetivos; também por interesses que lhe satisfaçam promover a aprendizagem nessas realidades. Então, a formação continuada
necessidades imediatas. Assim: tem propiciado algumas experiências positivas; positivas no sentido de que,
por exemplo, você tem um coletivo de professores que diz não à formação,
Há inúmeros sentidos e significados que configuram os espaços de forma- e que ao longo do processo de discussão, de reflexão desses coletivos, essa
ção. Para o formador, há sempre o desafio de trabalhar com a diversidade adesão passa a ser quase 100% e nessa adesão determinar como você vai

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fazer, por onde vai caminhar, as escolhas por eles feitas, naquelas temáticas, é algo inerente a cada professor, a cada profissional. Na medida em que ele
naqueles pontos que são conflitantes, ou seja, nós identificamos através de perceber e abarcar a importância da formação para seu fazer pedagógico,
diagnósticos, os problemas maiores que vivem, levantamos as alternativas na medida em que impetrar a relação da teoria discutida nos momentos
possíveis, vamos estudar alternativas, vamos planejar a partir delas, avaliar de formação e estabelecer a relação desta com sua prática, na medida em
e replanejar novamente, então nós estamos na fase do replanejamento, que obter a reflexão na teoria, do que vivencia no seu fazer diário; quando
e esse replanejar requer identificar as fragilidades daquilo que a gente conseguir trazer para a sua prática o que estudou, o que discutiu e o que
desenvolveu, do que não foi contemplado para ser considerado de agora aprendeu. Quando convencer-se de sua incompletude, pois:
para frente. Então, é aqui que eu vejo que o potencial transformador da
formação no quesito da qualidade profissional do trabalho docente, tem Conforme aprendemos com Freire, somos seres inacabados, incompletos
uma implicação direta na sala de aula, na vida do professor mesmo. Dá e inconclusos. A perspectiva do professor em construção evidencia a
para fazer; é possível fazer. Outro dificultador é a falta de uma política de necessidade de aprimoramento e aperfeiçoamento da prática pedagógica
formação que de fato trate as necessidades dos professores. A formação do que se dão por meio de formação continuada articulada à formação inicial
formador é outro entrave bastante forte, estruturas para que a formação (RIOS apud OLIVEIRA, 2011, p. 01).
aconteça, seja ela presencial, seja ela à distância, essa estrutura ela se
encontra fragilizada, além da sua fragilidade, não há uma sinalização de Espera-se que o professor aproprie-se dessa concepção, da importân-
que possa haver investimentos nisso; tivemos algumas experiências que não cia de se formar permanentemente, que sinta a necessidade e o desejo de
deram certo de consultorias para a formação, assessorias externas para a querer estudar; que “rasgue” e abra um espaço em sua vida profissional,
formação, que traziam esse caráter de receitas prontas e acabadas, dentro em seu fazer, para a formação continuada, conforme afirma o PF. Que não
de um outro modelo que não seja o da escola democrática, mas que também seja uma obrigatoriedade, tão pouco, um momento espontaneísta, mas
já se esvaziaram. Então, são basicamente essas dificuldades da estrutura, momento de aprendizagens críticas, nas possibilidades e buscas constantes,
da política de formação e da formação do professor. O que também tem a que a inquietude o mobilize a aprender sempre.
ver com a questão do investimento para possibilitar que o formador consiga Nesta perspectiva, também é importante destacar que o PF tem um
atender com qualidade. Tem que investir, se não houver investimento, não papel importante e determinante na hora de fazer a mediação, junto ao
tem como fazer a formação. Além de investimento, tem que ter uma política coordenador pedagógico da escola, a construção do projeto de formação
de formação que de fato faça essa distribuição, não se sabe para onde se continuada, para que esse de fato, esteja em consonância às necessidades
está indo, se sabe que tem que fazer porque existe uma espécie de ameaça formativas dos professores e de cada escola, que seja uma proposta que
que vem dessa lógica do funcionalismo hierárquico, em que o setor de cima priorize a reflexão e a criticidade em atendimento ao que preconiza a polí-
cobra o setor de baixo, um modelo arcaico de gestão privada ainda e que tica pública de formação, voltada também, para os processos de melhoria
tenta se reproduzir dentro dos campos dos Cefapros (PF 04, 06/07/2018). das práticas pedagógicas dos professores e as aprendizagens dos estudantes.
Outro assunto que apareceu de forma incisiva na narrativa do PF e é
Quando o PF aponta em sua narrativa que muitos professores não en- recorrente nas narrativas dos demais PFs, refere-se à questão das condi-
tendem a formação, observa-se que não há propriedade de entendimento ções financeiras, estruturais que muitas vezes impedem o PF de estar in
pelos professores, das atribuições presentes na legislação do magistério loco nas escolas do polo para atendê-las, com periodicidade, aspecto que
público estadual, como aponta a LC 50/2008, ao se referir à Formação já discutimos neste artigo. Convém destacar, que a orientação presencial
Continuada: “[...] buscar formação continuada no sentido de enfocar a é respaldada também, no Orientativo do PEFE, 2018:
perspectiva da ação reflexiva e investigativa [...]” (LC 50, 2008, p. 08, X).
A hora atividade remunerada é obrigação ao professor da escola Cada escola dos polos dos Cefapros deverá ter um professor formador
pública estadual de MT, sendo uma garantia legal a ser cumprida por designado para acompanhar a elaboração do PEFE, e sempre que ne-
todos. Contudo, a compreensão da necessidade da formação continuada cessário, considerando a liberação de ordem de serviço (OS), auxiliar

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presencialmente a superação de possíveis dificuldades que possam surgir O Orientativo Pedagógico 2017 apontava a função do formador como
nas diferentes etapas de sua elaboração (MATO GROSSO/SEDUC, alguém que assegurava o êxito da formação, ele é uma liderança, um amigo
2018, p. 15). crítico, respaldado em Carlos Marcelo (1999) e Day (2001), as amizades
críticas:
A lacuna presente, na opinião do PF, no que se refere à formação
deste profissional, também merece destaque, uma vez que a ele cabe a baseiam-se em parcerias práticas, nas quais se entra voluntariamente [na
responsabilidade de formar ou mediar a formação nas escolas, e em sua relação escolas/Cefapros, essa parceria é institucionalizada], pressupõem
apreciação, a mantenedora da formação em nível de estado, não tem uma relação entre iguais [os professores formadores também são docentes
dado este respaldo da forma que poderia o/u deveria. Salienta-se que esta da Educação Básica] e têm origem numa tarefa comum resultante de uma
preocupação é bastante pertinente, uma vez que o trabalho se dá com preocupação partilhada. O papel de um amigo crítico é o de proporcionar
base naquilo que se sabe. Para Nóvoa (1998), a formação continuada do apoio e questionar as situações numa relação de confiança. [...] O ami-
professor, ao que se acrescenta neste caso, do PF, é fundamental. A for- go crítico possui conhecimentos, experiências e competências que são
mação continuada necessita desta criticidade, criatividade, reflexibilidade, complementares (DAY, 2001, p. 79-80, apud MATO GROSSO, 2017, p.
ou seja, de um olhar dialético sobre a atual realidade educacional, em 154) (grifos da autora).
constantes mudanças. Uma formação, segundo o autor, que se paute no
modelo construtivista de educação, que parta da realidade de cada escola, O processo de aprender é subjetivo, singular, único, vivo e dinâmico,
de uma reflexão contextualizada. Neste sentido, se o PF não possui essa não é tão pouco, um processo linear, de sucessivos passos ou avanços.
formação, tampouco poderá realizar suas intervenções nas diferentes O aprender a tornarem-se PF de professores também passa por essa
realidades escolares que acompanha (NÓVOA, 1991). dinâmica, encontra dúvidas, angústias, avanços e é permeado por novas
Partindo de um entrecho da narrativa do PF, em que aponta, “[...] A aprendizagens. O PF apontou questionamentos, assim como, alguns ele-
formação do formador é outro entrave bastante forte [...]” evidencia-se a mentos para responder suas próprias expiações desta tarefa complexa de
deficiência de uma política de formação do órgão central. Apesar de os ser formador de professores. Recorrendo às contribuições de Placco para
Centros de Formação estar desenvolvendo sua formação continuada, por colaborar nesta reflexão, encontramos que:
meio do PEFC Pró-Escolas Formação no CEFAPRO, encontram entra-
ves em se constituir, com apoio de instituições superiores e a Secretaria O papel do formador em relação à aprendizagem do adulto se assemelha
de Educação, em Centros de estudos mais sistemáticos, com grupos de à tarefa do maestro em uma orquestra: de sua batuta sai o movimento
estudos e pesquisas mais sólidos, uma vez que a formação do formador e a energia para a coordenação do grupo e a expressão singular de cada
também deve ser fomentada para que ele possa ser o propositor experiente, músico, mas a obra sinfônica só ganha existência na manifestação do
o “amigo crítico” das escolas. conjunto (PLACCO, 2003, p. 46).

Já o Pró-Escolas Formação Cefapro (PEFC) é um projeto aberto que inclui Na narrativa que segue, o PF apresenta importantes reflexões que
as formações executados pelos Cefapros, como a formação continuada convergem na perspectiva de compreender a necessidade de um suporte
de seus professores formadores, as formações específicas dos gestores estrutural que permita que o PF esteja presente e com mais frequên-
das unidades escolares e formações para atender as necessidades dos cia, para realizar as suas ações de intervenção, acompanhamento e
professores verificadas no cotidiano escolar no decorrer do ano letivo, orientação junto às escolas, assim como, aspectos já apontados pelo
articulando ao diagnóstico das necessidades formativas das escolas. Essas PF anterior, de que a formação do adulto está atrelada mais a aspectos
formações serão ministradas pelo(s) professor(es) formadores e poderão internos, que acionados, permitem mudanças na concepção e no fazer
ser realizadas, tanto nas dependências dos Cefapros, quanto nas escolas dos professores:
(MATO GROSSO/SEDUC, 2018, p. 04).

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Eu avalio que muitos desses projetos de formação vêm realmente com temá- nicos, visando à melhoria de desempenho profissional (LC 50, 1998, p.
ticas relevantes ao fazer pedagógico, ao trabalho pedagógico dos professores. 03) (Grifos da autora).
Muitas vezes nós vemos que o projeto é uma atividade que você pode desen-
volver a relação teoria e prática. Então, eu acho que isso é muito significativo; Nesta perspectiva, cabe ao PF fomentar esta formação, uma vez que,
e também a atividade de intervenção. Então, todos os projetos de formação, conforme já referendado neste texto:
caminham para essa atividade, da melhoria da prática pedagógica, dentro das
políticas públicas e o desenvolvimento de uma intervenção, que resulte numa A formação continuada deve estar articulada com desempenho profis-
mudança da prática e do ensino e da aprendizagem do aluno efetivamente. sional dos professores, tomando as escolas como lugares de referência.
Eu acho assim, que o financiamento, a dificuldade da gente se deslocar, de Trata-se de um objetivo que só adquire credibilidade se os programas de
acompanhar mais de perto esse coordenador pedagógico, essas formações, formação se estruturarem em torno de problemas e de projetos de ação e
essas atividades realizadas nos municípios, para que isso se efetive realmente não em torno de conteúdos acadêmicos (NÓVOA, 1991, p. 30).
em uma mudança da prática são prejudicadas. É claro que a gente desenvolve
orientações por e-mail, por telefone, por watszap, mas muitas vezes, você estar E que preferencialmente, deverá acontecer na escola, ou nos CEFA-
junto, estar próximo, contribui para o desenvolvimento dessas atividades e PROs, que se alinha na perspectiva defendida por Nóvoa.
desse estudo. Uma das coisas assim que é um entrave é esse financiamento,
a liberação das OSs, de a gente estar indo nas unidades escolares, esse é um
ponto. E outro ponto que nós encontramos, não sei se eu poderia dizer que é Contendas e viabilidades do trabalho realizado na
uma resistência, ou uma não compreensão da concepção e da importância função de professor formador em Mato Grosso
de continuar estudando. Realmente essa resistência de continuar estudando;
ou de implementar essa teoria, é essa a ideia, não sei se é resistência, se dá As narrativas dos PF trazem muitos aspectos em comum apontados
para considerar como resistência, mas é um não querer essa atividade, de na avaliação acerca das dificuldades relacionadas ao desenvolvimento do
não se dispor; e eu acho que isso incomoda muito mesmo e esse incomodar trabalho enquanto propositores e mediadores de formação continuada,
muitas vezes não gera uma medida significativa. E o projeto de formação tanto nas formações desenvolvidas no CEFAPRO por área de conheci-
que a gente falou anteriormente, muitas vezes acontece uma desmotivação mento, quanto na formação continuada ofertada e acompanhada nas
e fica chato, fica desinteressante, por a pessoa não se inserir nesse meio da escolas. Elas trazem relatos significativos que podem ser tomados pelos
formação, e não ver a importância da formação continuada para a sua propositores da SEDUC/SUFP/MT para avaliar o que se tem feito com
prática (PF 02, 29/06/2018). os CEFAPROs, com os formadores de professores, enquanto “braços” ou
núcleos descentralizados do órgão principal/central para chegar a todas
É na prática escolar, no cotidiano da escola que se efetiva o espaço as escolas da rede estadual de educação de Mato Grosso.
do fazer pedagógico e das reflexões sobre o mesmo. Esse espaço privi- Para compreender esse evento, é importante reportar-se aos aponta-
legiado de formação no contexto da prática, na escola, é mediado pelo mentos de Marcelo (2009). O autor traz contribuições que coadunam a
coordenador pedagógico, responsável por desenvolver este trabalho. A perspectiva dos professores terem de compreender a formação continuada,
Lei Complementar 50 traz as atribuições que cabem ao profissional que as aprendizagens da docência e o desenvolvimento profissional da docência.
faz uso deste cargo. Dentre elas, ao que se refere à formação, assegura que É necessária, segundo o autor, por parte dos professores, a compreensão de
é trabalho do coordenador: que as escolas foram criadas para serem espaços de transformar as mentes
dos estudantes em mentes educadas, para isso, exige-se do professor “[...]
10. Desenvolver e coordenar sessões de estudos nos horários de hora- esforço redobrado de confiança, compromisso e motivação” (MARCELO,
-atividade, viabilizando a atualização pedagógica em serviço; 13. Propor 2002 apud MARCELO 2009, p. 09). Adjetivos que os PF observaram au-
e planejar ações de atualização e aperfeiçoamento de professores e téc- sentes em alguns professores ao acompanharem os encontros formativos.

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O referido autor afirma que não só na educação, mas em outras profis- Este aspecto foi apontado mais claramente por um dos PF quando
sões, é necessário que assumam e que “[...] se convençam da necessidade destacou em suas considerações a importância dos constantes estudos,
de ampliar, aprofundar, melhorar a sua competência profissional e pessoal” dos aperfeiçoamentos e da relevância de seu trabalho como formador de
(MARCELO, 2009, p. 09); ou seja, seguir estudando, que a aprendizagem professores:
da docência, o desenvolvimento do eu profissional, requer e “integra o
compromisso pessoal, a disponibilidade para aprender a ensinar, as cren- Eu acredito que basicamente o que a gente vem fazendo são esses trabalhos
ças, os valores, o conhecimento sobre os conteúdos que ensinam e como e sempre tem, aparecem atividades novas que a gente possa estar fazendo,
os ensinam, as experiências vivenciadas, assim como a própria vulnerabi- possa estar trabalhando com os professores, agora assim o que eu vejo
lidade profissional” (MARCELO, 2002, p. 07). Estes aspectos integram o que é um trabalho muito importante que não pode parar, ele tem que ser
compromisso pessoal para aprender a ensinar, a refletir sobre estes aspectos ampliado, aprimorado a cada ano, a gente precisa se aprimorar, buscar
que constituem o formador de professor e que precisam ser revistos. Neste melhorar essa política, porque ela tem um real sentido quando ela deve
sentido, a formação continuada no lócus da escola é um destes espaços pri- ser realizada nas escolas, ela traz um bom resultado (PF 05, 27/07/2018).
vilegiados para ressignificação por meio de novas teorias e novas práticas.
Entretanto, Nóvoa (2007, p. 06) no discurso que proferiu na A não concepção da importância da formação continuada como
Universidade em Lisboa intitulado “O regresso dos Professores”, ao apon- um campo de pesquisa dentro dos CEFAPROs é um ponto inquietante
tar alguns aspectos que julga necessários para que a educação retorne ao apontado por um dos formadores de professores, pois se refere ao ponto
destaque, em que os professores voltem ao centro das preocupações e das que vai para além da formação ofertada nos Centros de Formação, a
políticas, afirmou que: deficiência de uma política de incentivos à pesquisa, às publicações de
trabalhos sobre a própria atuação, assim como, incentivos para participar
Mas nada será feito se não se alterarem as condições existentes nas es- em eventos que abordam temáticas da formação de professores, conforme
colas e as políticas públicas em relação aos professores. E inútil apelar à destacado abaixo:
reflexão se não houver uma organização das escolas que a facilite. É inútil
reivindicar uma formação mútua, interpares, colaborativa, se a definição Acho que a ênfase está de que nós precisamos de formação de caráter
das carreiras não for coerente com este propósito. É inútil propor uma da disciplina e de caráter interdisciplinar, isso na questão da formação
qualificação baseada na investigação e parcerias entre escolas e insti- do formador. E outra consideração que é importante lembrar é o desen-
tuições universitárias se os normativos legais persistirem em dificultar volvimento da pesquisa nos CEFAPROs; nos CEFAPROs, os formadores
esta aproximação. Numa palavra, não vale a pena repetir intenções que precisam estudar, as escolas estudarem em seu polo para que elas também
não tenham uma tradução concreta em ações e compromissos políticos. possam ser agentes da política de formação, sejam sujeitos dessa política de
formação. Assim estaríamos rompendo com esse receituário que advém da
A preocupação apresentada por Nóvoa faz referência às narrativas dos superintendência, rompendo com esse tarefismo e sinalizando caminhos que
PF, pois há um conjunto de fatores que corroboram para que a formação possam ser trilhados pela escola, pelo professor, pelo CEFAPRO. Acho que
continuada tenha o espectro que tem nas unidades escolares, quais sejam: é o caráter da pesquisa mesmo na vida do formador. Hoje para você sair,
um misto de “carência” de uma política pública fulgente de formação con- publicar um artigo ou coisa assim, tem que pensar duas vezes, que não há
tinuada, de uma concepção restrita por parte de muitos profissionais da incentivos, há muitos empecilhos (PF 04, 06/07/2018).
educação da necessidade de se formarem, de se auto formarem enquanto
profissionais da educação, estudarem constantemente sobre o seu objeto A narrativa do PF coaduna na perspectiva apontada no documento da
de estudo que é a educação, que é a sala de aula, que são as aprendizagens política de formação continuada de Mato Grosso, que apesar dos avanços
dos alunos, da sua aprendizagem da docência, de discutirem no coletivo assinalados, também marca desafios a ser superados. Ainda há lacunas,
essa realidade. fossos, para que se constitua uma política contínua e sólida, que colabore e

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incentive a formação continuada dos profissionais da educação. Conforme uma vez que assinalam a escola como o lócus privilegiado de formação do
aponta o referido documento: professor, (1991, p. 30), de trabalho do educador, como o espaço privile-
giado de formação. É onde acontece a reflexão da/na prática.
Apesar dos inegáveis avanços, há ainda enormes desafios a serem enfren- Para Perrenoud (1999, p. 15), a formação deveria ser o momento de,
tados. As necessárias mudanças nos currículos das licenciaturas, o rom- “[...] preparação para uma prática reflexiva, para a inovação e a cooperação
pimento com a visão quase sempre fragmentada da formação continuada [...]”. A prática reflexiva e a participação crítica são apontadas pelo autor,
promovida pelas secretarias de educação e as dificuldades enfrentadas pelos como balizadores da formação de professores. Sendo a escola o espaço
profissionais que procuram se qualificar em serviço são apenas alguns em que acontecem as formações, e que, possivelmente é fomentada nestes
exemplos (MATO GROSSO, 2010, p. 09). (Grifos da autora). momentos.
Enfim, apontam-se avanços, aspectos positivos e relevantes que
Com referência à formação, vale elucidar que em Mato Grosso, desde merecem destaques enquanto uma política de formação continuada
1998 há a Lei Complementar número 50 (LC 50) que assegura a formação para as escolas da rede estadual de Mato Grosso, que são melhorias e
aos profissionais da educação, em conformidade com a legislação nacional, progressos significativos em relação a outros estados brasileiros que
LDB de 1996. inclusive buscam conhecer a política de formação deste estado para
A despeito da notoriedade e do reconhecimento dos Centros de For- implementá-la em suas realidades, assim como, muitos municípios de
mação, muitas vezes os estímulos que os PFs almejam e destacam que de- MT se valem dos Documentos Orientativos da formação continuada
veria haver neste espaço qualificado de formação, por vezes não acontece. para implementar nas redes municipais de educação a oferta da forma-
Contudo, são muitas as pesquisas, os trabalhos de relatos de experi- ção continuada. Contudo, percebem-se muitas incompreensões desta
ência de ações desenvolvidas e publicadas em eventos, que são vistos com política de formação, que se estendem desde professores, gestores e
consagração e merecimento em âmbito nacional, conforme destaca um demais profissionais, que se desdobra até em algumas representações
dos PF, ao apontar um dos aspectos relevantes de seu trabalho: de gestores em nível de estado, quando as políticas já implementadas e
implantadas sofrem algumas interpretações que fragilizam e provocam
É eu entendo que o trabalho do CEFAPRO, a princípio, é um trabalho muito descontinuidades no processo formativo.
importante para Educação do Estado. A gente vê em eventos e discussões São muitos os aspectos apontados nas narrativas dos professores que
em nível Estadual e Nacional quando a gente vai em algum evento em nível contribuíram com essa pesquisa, que precisam ser considerados pelos
Nacional, a gente percebe que poucos estados fazem algo parecido como o formuladores e implantadores de políticas de formação continuada de
nosso. E ele é visto como uma boa prática. A gente recebe elogios quando professores. Muitos dos aspectos por eles citados não foram analisados
apresenta e fala da nossa política de Formação Continuada ofertada assim nesse manuscrito. No entanto, a abrangência desta pesquisa, como tam-
na escola, né, a partir das necessidades do professor, então, eu acredito que, bém dos excertos descritos neste texto, possibilita a organização de outras
às vezes no dia a dia, a gente não percebe isso porque são muitos desafios categorias que merecem ser analisadas.
na educação, que são maiores do que só a Formação Continuada, a gente Contudo, os aspectos investigados e analisados na elaboração deste
tem outros problemas, né. Às vezes o nosso aluno não aprende tão bem, texto, em conjunto com os demais artigos da coletânea, contribuirão para
ele não está indo tão bem, não é só por conta da Formação Continuada do dar visibilidade e retratar a política de formação continuada ofertada em
professor. São outros fatores: sociais, estruturais, políticos. Mas eu entendo Mato Grosso, com evidências no cenário nacional por sua relevância na
que a política de formação continuada de nosso estado, ela é algo inovador. formação dos profissionais da educação pública deste Estado. Desta feita,
Eu acredito nela e gosto muito dessa política (PF 01, 28/06/2018). contribuir para que a formação continuada torne-se cada vez mais sólida
e reconhecida por todos os envolvidos no processo educacional.
Respaldado no que apontam autores de renome da formação conti-
nuada de professores, Mato Grosso está na perspectiva por eles defendida,

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REFERÊNCIAS:

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE MATO GROSSO. Lei complementar Nº 50, de 1º


de Outubro de 1998. Diário Oficial de Mato Grosso.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA, 2009. | O lugar da pesquisa na formação de professores
DIÁRIO OFICIAL DE MATO GROSSO. Decreto 1395. Cuiabá, 16 de Jun. de 2008. da Educação Básica
Ano CXVIII. Nº 24.854.
DIÁRIO OFICIAL DE MATO GROSSO. Portaria Nº 161/2016/GS/SEDUC/MT. Samantha Dias de Lima
Cuiabá, 14 de Abril de 2016. Ano CXXV. Nº 26758. (p.40). Renata Cristina de L. C. B. Nascimento
DUBAR, Claude. A socialização. Construção das identidades sociais. Portugal: Porto, 1997.
KUENZER, Acácia Zeneida. As políticas de formação: A constituição da identidade
do professor sobrante. Educação e Sociedade. Ano XX, nº 68. Dez/1999. Notas introdutórias
GARCIA, Maria Manoela Alves. HYPOLITO. Álvaro Moreira. VIEIRA, Jarbas Santos.
O presente texto discorre sobre o lugar da pesquisa na formação inicial e
As identidades docentes como fabricação da docência. Educação e Pesquisa: SP, v.31,
nº 01, p.45-56. Jan/Abr 1995. continuada de professores, em destaque na docência na Educação Básica, um
tema de grande relevância para os professores-pesquisadores que se dedicam
MATO GROSSO/SEDUC. Política de formação dos profissionais da Educação
Básica. Cuiabá, MT. Junho/2010. a investigar a formação docente e entendem a pesquisa como fonte poten-
cial neste itinerário formativo. Faz-se importante refletir, também, como
MATO GROSSO/SEDUC/SUFP. Orientativo pedagógico 2017. Cuiabá, MT, 2017.
se dá a pesquisa em ambientes escolares e de que modos ela é vivenciada
_______. PEF – Pró Escolas Formação. Cuiabá, MT. 2018.
por estes docentes. Neste contexto, a Educação Básica, a escola e a univer-
MARCELO Garcia. Carlos, Desenvolvimento profissional docente. Sísifo: Revista sidade não ficam imunes a racionalidade contemporânea, sendo potentes
de Ciência da Educação. Nº 08. Jan./Abr. 09. Universidade de Sevilha, Espanha. 1999.
indicadores de como se desenvolvem as tecnologias de governamento que
NÓVOA, António. O regresso dos professores. (Discurso). Portugal: Universidade produzem distintos e múltiplos modos de formação ao longo dos percursos.
de Lisboa. 27 e 28 Set. 2007. A problemática do texto opera com os seguintes questionamentos:
NÓVOA, António. Concepções e práticas da formação contínua de professores: In: Qual o lugar que a pesquisa ocupa nos itinerários formativos, iniciais e
Nóvoa A. (org.). Formação contínua de professores: realidade e perspectivas. Por- continuados, dos professores da Educação Básica? Quais efeitos provocam
tugal: Universidade de Aveiro, 1991.
na prática destes docentes? É possível ser professor-pesquisador para além
OLIVEIRA, Juliano Alexandre de. O processo de formação continuada de professo- dos bancos universitários?
res da rede municipal de ensino do município de Fraiburgo – SC: perspectivas de
mudanças das práticas pedagógicas. X Congresso Nacional de Educação. EDUCERE.
Os dados apresentados são resultantes de estudos recentes das pes-
Curitiba, PR. 07 a 11 de Nov. de 2011. quisadoras, trazendo neste ensaio investimentos teórico-analíticos na
perspectiva pós-crítica, em que a própria discussão sobre o entendimento
PERRENOUD. Philippe. Formar professores em contextos sociais em mudança. Prá-
tica reflexiva e participação crítica. XXII Reunião Anual da ANPED. Trad. Denice de teoria deve ser revisitada, uma vez que essa não é uma verdade a ser
Barbara Catani. Caxambu. MG. Set. 1999. descoberta e na sequência transmitida, pois a noção envolvida em cada
PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza. SOUZA, Vera Lúcia Trevizan (orgs.). Apren- teoria é sempre representacional, de um grupo, de um contexto, de um
dizagem do adulto do professor. São Paulo: Loyola. 2003. tempo (SILVA, 2015).
RIOS, M. P. G. A inconclusão, a incompletude e o inacabamento do professor: uma Nos últimos anos o termo pesquisa ganhou grande difusão nos espaços
abordagem freiriana. In: Paulo Freire: contribuição para a educação e cultura po- educacionais e sociais, o que pode vir a comprometer seu sentido, tanto
pular. VII, 2010 Recife. Colóquio Internacional de Paulo Freire. 1-9. epistemológico, quanto acadêmico. Embora a pesquisa como constitutivo
da formação e do ato docente não seja um tema inédito na formação de

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professores, esse, por sua vez, continua presente e necessário de ser dis- do desenvolvimento da pesquisa no cenário brasileiro. Considerando a am-
cutido, o que caracteriza uma ambição deste texto. plitude geográfica do nosso país, neste trabalho, terá como foco os Estados;
O artigo tem sua organização tecida em cinco momentos, sendo estes: Mato Grosso e Rio Grande do Sul, por serem as regiões onde as autoras resi-
Notas Introdutórias; A Pesquisa entre a História e a Política; Professor- dem e, consequentemente, transitam com mais propriedade nesses espaços.
-Pesquisador e Pesquisas Pós-Críticas: Aproximações potentes; A Pesquisa Tem-se como um marco do início das pesquisas, ou ao menos da
como ofício de artesania e cooperação; Desafios da pesquisa na constitui- sistematização de dados, com a criação do Instituto Nacional de Estudos
ção do professor-pesquisador: A pesquisa está em crise? Pedagógicos (INEP), em 1938, junto ao Ministério da Educação e Cultu-
Ressalta-se que ainda existe um hiato entre fazer pesquisa nos espa- ra (MEC), o qual tinha como mote apoiar pesquisas que subsidiassem a
ços universitários e nos espaços escolares, constituindo-se demanda da política educacional.
formação de professores promover essa aproximação. Já em 1944, com o início da publicação da Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos (RBEP), uma publicação do INEP, inicia-se o processo de divul-
gação sistemática desses estudos, oferendo o arquétipo de como fazer pesquisa
A pesquisa entre a história e a política no cenário educacional brasileiro, respingando na formação de professores.
Na década de 1960 continuavam esses estudos quantitativos, firmando
Quando se anuncia no presente título, a referência de pensar a pesquisa a pesquisa como meio privilegiado de atingir fins governamentais, o que
entre a História e a Política, tem-se clareza que não se está a falar de uma mais tarde foi descrito por Foucault (1976) como biopoder, pesquisa como
pesquisa que fique geograficamente no meio destes campos, uma vez que forma de entender/conhecer profundamente a sociedade, a biopolítica da
ambos não atuam de forma isolada, o título considera as implicações que população, as quais seriam usadas pelo governo nas ações de governamen-
a pesquisa teve, e continua a ter, justamente por dialogar com diferentes to. Com relação aos termos governo e governamento, ambos são utilizados
campos e servir a diferentes expectativas. É provável que não exista uma por Foucault, mas será considerado o descrito por Veiga-Neto (2005), onde
história pura sem conotação, ou mesmo engendramentos, da política. o termo governo será designado para a esfera governamental da adminis-
tração pública e governamento enquanto condução das condutas alheias,
Entretanto, o social, o político, o educativo, podem ser outra coisa, podem tanto nas instituições, quanto consigo mesmo. “Governar, neste sentido,
adquirir outros significados e outros sentidos; podemos não apenas dar é estruturar o eventual campo de ação dos outros” (FOUCAULT, 1995).
outras respostas às perguntas mas até mesmo, e talvez principalmente, A relação entre a pesquisa e a política ocupava um lugar em que
fazer outras perguntas, definir os problemas de uma outra forma É nossa cabia aos pesquisadores fornecer subsídios para ações oficiais no campo
tarefa e nosso trabalho, como educadores e educadoras críticos/as abrir o escolar/educacional, privilegiando aspectos quantitativos, por meio de
campo do social e do político para a produtividade e a polissemia, para a uma perspectiva cientificista, com análises sustentadas em pedagogias psi,
ambiguidade e a indeterminação, para a multiplicidade e a disseminação voltadas as questões do desenvolvimento humano e da aprendizagem pelo
do processo de significação e de produção de sentido (SILVA, 2010, p. 09). viés da Psicologia. Silva (1999) aponta que

Esta seção do artigo apresenta suscintamente alguns pontos do início “uma característica intrigante desse movimento é sua indiferença po-
da produção da pesquisa em educação no país, em que desde o princípio lítica: embora se pretendam, em geral, emancipatórias, libertadoras,
estava posto que não se recorreu a pesquisa pela pura produção de co- autonomistas, críticas, revolucionárias, as pedagogias psi se adaptam
nhecimento, mas como estratégia de conhecer mais a população, o que facilmente a sistemas educacionais governados por regimes políticos
consequentemente colocaria o governo numa situação privilegiada ao bastante diversos” (p. 07).
adentrar em interesses e necessidades da sociedade.
Quando se questiona o lugar que a pesquisa ocupa hoje na formação Na década de 1970 com a expansão da pesquisa por meio da implan-
de professores se faz interessante rememorar um pouco dessa historicidade tação dos programas de pós-graduação stricto sensu, teve-se o que se

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pode chamar de institucionalização da pesquisa onde ao mesmo tempo A década de 1990 é um marco na transição dos modos de produzir
em que se produz a pesquisa se produz os pesquisadores. Em meados pesquisas em educação, isso se dá com o início das traduções e estudos
desta década, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível realizados no Rio Grande do Sul das teorias pós-críticas. Temos como
Superior (CAPES) criou um sofisticado sistema de avaliação que per- pioneiros destes estudos os pesquisadores da Universidade Federal do Rio
mitiu o apoio oficial condicionado ao desempenho dos programas de Grande do Sul, nomeadamente: Corazza (1994), Fischer (1994), Louro
pós-graduação, estabelecendo desde o princípio um padrão mínimo de (1994, 1995, 1996), Marzola (1995), Silva (1993, 1994, 1995a e 1995b,
qualidade/produtividade acadêmica. Paralelamente, o Conselho Nacional 1998) e Veiga-Neto (1994, 1995, 1996). Tais pesquisas, não foram únicas
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), amplia o fomento no estado, mas tiveram amplo reconhecimento e têm efeitos até os dias
para a pesquisa por meio de novas linhas de apoio e, com isso, intensifica atuais por constituírem-se em sistemas mais abrangentes, com linhas
a distribuição de recursos em todas as regiões do Brasil. investigativas variadas e com disposição à criação de outras. São tidas
Observa-se então, que a pesquisa na educação e, consequentemente, como “[...] ferramentas conceituais de operações analíticas e de processos
na formação de professores advém de ações governamentais, com seu investigativos que as destacam tanto das teorias tradicionais, como das
desenvolvimento alocado às instituições de ensino, em especial nos pro- teorias críticas que as precederam” (PARAÍSO, 2004, p. 283).
gramas de pós-graduação stricto sensu, o que faz com que por muitos anos Fato que faz com que mesmo os pesquisadores que não comunguem
fique praticamente restrito a estes espaços. com as teorias pós-críticas às conheçam, para que possam discutir teo-
Na região Centro Oeste, o Distrito Federal, em 1973, foi pioneiro em ricamente sobre suas implicações nas pesquisas em educação e, conse-
oferecer Pós-Graduação em Educação. No ano de 1977 defendeu sua pri- quentemente, na formação de professores.
meira dissertação com foco em história da educação. No Estado de Mato Paralelo aos novos modos de pensar/fazer pesquisa, despontam novas
Grosso, a pesquisa em educação vem se consolidando cotidianamente, políticas de incentivo, principalmente, decorrentes da ampliação do Ensino
prova disso, que no ano de 1996 foi realizado o I Encontro de Pesquisa e Superior, entre elas: Iniciação Científica, Programa Institucional de Bolsas
Pós-Graduação em Educação desta região e contou com a participação de Iniciação à Docência (PIBID), Ciências sem Fronteiras, entre outras
dos únicos cinco programas de Pós-Graduação existentes, já no ano de formas de fomento, oriundos de projetos contemplados por agências como:
2014 esses programas se ampliaram e totalizaram em dezoito. Atualmente, Capes, CNPq, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande
a região Centro Oeste conta com dezenove programas de Pós-Graduação do Sul (FAPERGS), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato
em Educação. Entre os programas desta região, destaca-se o da Univer- Grosso (FAPEMAT), Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ino-
sidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), que teve início no ano de vação do Mato Grosso (SECITEC), entre outras agências que financiam
2010, cuja área de concentração é a Educação que estuda os processos de pesquisas tanto nas instituições públicas, como nas privadas.
formação humana em toda sua complexidade e multidimensionalidade Com a expansão de fomento para as pesquisas houve uma significativa
com abrangência aos aspectos históricos, sociais, políticos, pedagógicos ampliação de projetos e inserções empíricas nas escolas de Educação Básica.
e culturais em diferentes contextos. Conta com duas linhas de pesquisa, Esse avolumamento inaugurou um novo status para a escola, o de formar
sendo: 1) Educação e Diversidade: Estudos e pesquisas sobre práticas em serviço professores-pesquisadores, através do incentivo à inserção em
culturais, constituição do sujeito, diversidade étnica e cultural, educação grupos de pesquisa nas universidades, onde consequentemente são propor-
indígena, educação do campo e em outros contextos formativos; 2) Forma- cionadas renovadas reflexões no interior da escola, que passa a ocupar outro
ção de professores, Políticas e Práticas Pedagógicas: Estudos e pesquisas lugar, não mais restrito a campo empírico de investigações, mas lócus de
para a formação inicial e continuada de professores, enfatizando processo produção de saber por meio da articulação universidade/escola/professor-
ensino-aprendizagem, relação universidade-escola, políticas educacionais, -pesquisador. A esse respeito, Tardif (2014, p. 37) afirma que:
teorias e práticas pedagógicas. Neste programa, muitos professores da
Educação Básica têm exercitado a tarefa de ser pesquisador e aproximado A prática docente não é apenas um objeto de saber das ciências da edu-
de forma significativa a Escola da Universidade. cação, ela é também uma atividade que mobiliza diversos saberes que

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podem ser chamados de pedagógicos. Os saberes pedagógicos apresen- forma unificada. O que faz com que o binômio seja uma possibilidade
tam-se como doutrinas ou concepções provenientes de reflexões sobre de marcar essa junção para além das questões gramaticais, mas nas ações
a prática no sentido amplo do termo, reflexões racionais e normativas escolares e universitárias.
que conduzem a sistemas mais ou menos coerentes de representação e É notório que no constitutivo docente deva permear a pesquisa,
de orientação da atividade educativa. entendendo todo professor enquanto pesquisador, mas o binômio pro-
blematiza, também, por que em alguns momentos fragmenta-se a figura
Altera-se o cenário do fazer pesquisa, em especial às pós-críticas, na do professor-pesquisador e na escola está o professor e na universidade o
formação de professores. Conforme Corazza (2001, p. 20), “A pesquisa pesquisador. Sobre esta inquietação de ser professor-pesquisador, Aqui-
pós-crítica é uma pesquisa de ‘invenção’, não de ‘comprovação’ do que já no (2014, p. 21) apregoa que “longe do conforto e da segurança de uma
foi sistematizado. Sua principal contribuição é apenas a de ser aproveitável experiência cumulativa, vê-se cada vez mais atravessado por hesitações
por outros/as pesquisadores/as como uma ‘sementeira’ de sentidos impre- crescentes, sobretudo quando estão em pauta os quebradiços contornos
vistos”. Ao passo que o cenário se altera, o docente na escola também vai do éthos docente”.
assumindo uma nova postura investigativa, a de professor-pesquisador. É importante destacar, conforme anuncia o título desta seção, que
Gatti et al (2010b, p. 14) referenciam a Tedesco para chamar a atenção está a se problematizar a pesquisa a partir das teorias pós-críticas, que
às mudanças ocorridas na contemporaneidade: conforme Silva (1993) não gostam de explicações universais, nem de
totalidades, nem de completudes ou plenitudes, por isso optam por ex-
[...] há algumas décadas, a educação, o governo da educação, o trabalho plicações parciais, locais e particulares. Ainda segundo o autor (1999),
dos professores, os currículos, entre outros aspectos relativos à escolariza- não acreditam na suposta autonomia dos sujeitos, nem mesmo na subje-
ção, se definiam dentro de um projeto de construção de um Estado-nação tividade tão preconizada no campo da educação, uma vez que entendem
– a finalidade das redes educacionais. Hoje, a finalidade está situada, em o sujeito enquanto efeito da linguagem, da literatura, dos discursos, da
tese, na construção de uma sociedade mais justa. O contexto atual é o da história e da política.
inclusão de todos no que diz respeito aos bens públicos educacionais e
sociais, e isso não estava posto anteriormente nos projetos de Estado como As correntes teóricas que conhecemos sob os rótulos de pós-estruturalis-
nação. Em decorrência, precisamos de “uma escola justa e para ter uma mo e de pós-modernismo influenciaram profundamente, como sabemos,
escola justa precisamos de professores que assumam esse compromisso” as teorizações e as pesquisas em diversos campos das Ciências Sociais
(TEDESCO, 2010, p. 21 e 24). e Humanas nos últimos anos; uma influencia que tem sido igualmente
considerável na pesquisa em educação no Brasil. Os efeitos combina-
Assim, envolver os professores e as escolas nas pesquisas sobre edu- dos dessa corrente, sintetizados talvez na chamada ‘virada linguística’,
cação é uma das tarefas fundamentais da educação, pois se faz necessário expressam-se naquilo que se convencionou chamar de ‘teorias pós-críticas
liberar o potencial do sujeito humano. em educação’ (PARAÍSO, 2004, p. 283).

Os traçados dessas pesquisas constituem-se de expansões, fraturas,


Professor-pesquisador e pesquisas pós-criticas: conquistas e aberturas, razão pela qual esboça uma espécie de mapa do
aproximações potentes campo dos estudos pós-críticos em educação no Brasil. As pesquisas
inspiradas pelas teorias pós-criticas passam a mobilizar outras categorias
Primeiramente, cabe pontuar que o uso do binômio professor-pesquisa- para pensar e fazer a pesquisa em educação, apontando para a abertura
dor está sendo adotado propositalmente com objetivo de marcar na escrita e a multiplicação de sentidos e para a transgressão e a subversão daqui-
o tensionamento que estas duas ações empreendem, professar e pesquisar, lo que anteriormente já havia sido significado no campo educacional
embora pareçam ações docentes indissociáveis nem sempre operam de (PARAÍSO, 2004).

102 103
Ao problematizar a formação de professores no âmbito da pesquisa, Dito isso, hoje o professor que atua na escola frente a tantas pro-
encontram-se outras problemáticas, uma vez que os docentes também têm blemáticas da contemporaneidade acaba por não assumir a pesquisa
criticado sua formação inicial realizada nos cursos de licenciatura, o que nem como princípio educativo, nem enquanto postura investigativa, pois
corrobora com a relevância da formação continuada em serviço. Fabris entende que qualquer uma destas ações se configuraria em uma tarefa
e Dal’igna (2013) apresentam, em seu artigo Processos de Fabricação da a mais e não um recurso da sua própria docência, pois, “mais do que a
Docência Inovadora, algumas destas críticas por parte dos professores, de qualquer outra categoria profissional, a situação atual do docente da
tais como: formação inicial e currículos abrangentes; deslocamento en- escola primária no Brasil teve uma ampla crítica desfavorável pela mídia
tre questões teóricas e realidade escolar; sentimento de despreparo para e pela produção acadêmica” (TARDIF, 2014, p. 56). Em muitas situações,
atividades escolares; planos de carreira nada atrativos; desvalorização a pesquisa assume apenas o lugar de método nos processos educativos,
profissional e más condições de trabalho do professor; indicadores que resultando em atividades investigativas isoladas, principalmente por meio
merecem atenção nas nossas pesquisas. Estes pontos provavelmente co- de estudos dirigidos.
operam para a fragmentação da figura professor-pesquisador, enquanto Conforme Tomás (2011, p. 129), “[...] por um lado, a ciência tem a
duas entidades distintas. A esse respeito, Tardif (2014, p. 13) instiga a preocupação de conhecer e compreender a realidade com o objectivo
refletir sobre a atuação da profissão docente: de expandir o próprio conhecimento. Por outro, procura produzir um
conhecimento que possibilite a intervenção e a mudança, considerando
Atravessada e marcada por tendências fortes, portadores de transforma- desta forma que é necessário pensar a acção do investigador”.
ções profundas, tanta da escola quanto do universo do trabalho docente, Reitera-se que a pesquisa atravessou e atravessa constantes desafios,
a profissão de professor continua sendo, ao mesmo tempo, em muitos como afirma Corazza (2001), a pesquisa pós-crítica é uma invenção e não
aspectos, uma ocupação tradicional e em continuidade com o passado, uma comprovação do já sistematizado que almeja contribuir com novas
uma espécie de ofício artesanal que sobrevive como pode no seio da pesquisas e pesquisadores. Há de se pensar pesquisa enquanto criação,
grande indústria escolar da escola de massa. ineditismo ou alternativa de entendimento sobre os problemas que nos
cercam. Contudo, o que se percebe é que em muitas situações a pesquisa
O fato, é que os temas formação de professores e pesquisa na edu- tem sido mobilizada apenas como estratégia didática a fim de atingir a
cação estão na pauta de contínuos investimentos por parte de muitos atenção e comprometimento por parte dos alunos, sem explorar o seu
pesquisadores contemporâneos, tais como: André (2006, 2010, 2016) sentido mais profuso, o de produzir conhecimento e não reproduzir
que traz em suas pesquisas a colaboração entre pesquisadores e profes- recortes de conhecimento já difundidos.
sores da Educação Básica, e recentemente as perspectivas de inovação “As pesquisas pós-críticas em educação têm feito o currículo, a Peda-
na formação de professores; Demo (1995, 2000) que há muito tempo gogia, o ensino e outras práticas educativas movimentarem-se” (PARAÍSO,
investe no caráter formador da atividade de pesquisa em si, anunciando 2004, p. 295). Atualmente, há uma gama de possibilidades metodológicas
a pesquisa como princípio científico educativo; Fabris e Oliveira (2012), e de caminhos a seguir, mas se fazem considerando pesquisas anteriores,
Fabris e Dal’igna (2013, 2015) que tem investido em pesquisas que apro- aspirações futuras e principalmente a lente teórico-analítica.
ximam a universidade do contexto da educação pública, em destaque do Novas possibilidades de pensar a pesquisa implicam necessariamente
município onde é situada a universidade, investigando o PIBID e através em novas formas de fazer pesquisa. As pesquisas no campo das Ciências
de uma metodologia própria intitulada pesquisa deformação, onde a Humanas e Sociais nas últimas décadas vêm produzindo novos modos,
própria investigação resulta em formação aos professores participantes; com metodologias menos engessadas, sem o compromisso instituído
Gatti et al (2010a) que investiga a formação docente e a atratividade desta de anunciar filiações: científica, epistemológica e/ou filosófica. Hoje há
carreira; Veiga-Neto (2005, 2011, 2012) que produz sobre a educação, espaço para delinear com compromisso ético e rigoroso o fazer pesquisa,
a escola e a formação de professores na contemporaneidade por meio descrevendo-se as metodologias, ricas nos detalhamentos, mas libertas
dos estudos foucaultianos. da concepção moderna de metodologia – o método.

104 105
A pesquisa nesta perspectiva passa a ser um lugar extremamente po- Artesanal também porque são únicas, possuem a marca do investigador,
tente na produção/sistematização/divulgação de novos conhecimentos, em muitos casos são realizadas com poucos recursos, mas constroem
função também do professor da Educação Básica que se assume como uma marca identitária. A habilidade é uma condição para o artífice, na
professor-pesquisador para/no exercício da sua docência. qual Sennett (2009) assegura que a habilidade artesanal designa um
No campo da educação contemporânea são muitas as especificidades impulso humano básico e permanente, o desejo de um trabalho bem
e possibilidades de investigação, que acaba por produzir uma relação feito por si mesmo.
complexa entre o professor e a pesquisa, tanto no que concerne à sua Existe um artífice em todo artesão, uma vez que ele busca no desenvol-
formação, inicial e/ou continuada, quanto o exercício do magistério. vimento da sua habilidade artesanal, que possui forte vínculo entre a mão
Tensão que existe entre o claro reconhecimento da exigência de integração e a cabeça, e com a própria evolução cultural, aprimorar-se no ofício, não
da pesquisa na formação e no trabalho do professor, mas com reveses apenas reproduzindo algo, mas desenvolvendo as suas técnicas artesanais.
acerca dos caminhos para fazê-la. Ainda considerando este arcabouço de Fazer é pensar, e todo trabalho manual não industrializado é ligado aos
demandas, Veiga-Neto (2012) afirma que: valores éticos da sociedade, onde é possível cada um aprender sobre si
mesmo através do ato de produzir.
[...] a proclamada necessidade de uma educação permanente; os impe- Neste sentido, a cooperação descrita por Sennett na obra Juntos (2015),
rativos contemporâneos da flexibilização (principalmente curricular) e é entendida como um valor social na realização das tarefas práticas, algo
da inclusão; a celebração da diferença; o esmaecimento do disciplina- eficaz em azeitar a máquina de concretização das coisas, onde a partilha
mento e das tecnologias disciplinares – com a simétrica ampliação das seria capaz de compensar aquilo que acaso nos falte individualmente.
práticas de controle –; as candentes discussões sobre o papel das novas Nesta obra, o autor aponta que procurou explorar a cooperação como
tecnologias na educação (seus usos, efeitos, vantagens, perigos etc.); as uma habilidade, uma capacidade de entender-se e mostrar-se receptivo.
novas configurações e usos do tempo e do espaço; os destaques dados à Podemos considerar a cooperação um produto social que promova par-
performatividade, ao consumo, à concorrência e ao empresariamento de tilhas entre universidade e escola, trazendo a pesquisa artesanal para o
si mesmo (VEIGA-NETO, 2012, p. 268). cotidiano desse artífice, o professor-pesquisador.
A pesquisa enquanto artesania leva tempo, em alguns casos os docen-
O cenário contemporâneo não é algo compreensível de ser vivido, são tes vivenciam brevemente nos cursos de licenciatura a pesquisa enquanto
inúmeras cobranças, celebrações instantâneas, contínua necessidade de tarefa avaliativa da matriz curricular de maneira pontual, geralmente em
performatividade e o discurso de empresariamento de si mesmo como trabalhos de conclusão de curso, por isso não transversaliza o currículo
algo positivo. Todas estas facetas colocam o professor-pesquisador em enquanto elemento formativo, tão pouco desenvolvendo essa artesania e
uma roda-viva de ranqueamentos e exigências para a permanência no posteriormente sua cooperação.
meio acadêmico, em destaque no ensino da pós-graduação stricto sensu. Ao passo que na escola, o docente perfaz a pesquisa também através
Algumas alternativas são tidas como viáveis. Desse modo, na próxima de ações estanques, repetindo o aprendido na sua formação inicial. Alguns
sessão apresenta-se a cooperação como um desses contributos. exemplos são os projetos de pesquisa para as feiras de ciências, as enco-
mendas de aprofundamento extraclasse acerca de um tema, os estudos em
grupos de trabalho, entre outras ações muito incipientes. Fica um alerta
A pesquisa como ofício de artesania e cooperação de que seria interessante revisitar o próprio termo projeto, que em muitas
situações acaba por representar a pesquisa em si na escola.
A pesquisa enquanto ofício de artesania coloca em evidência o Nesta perspectiva, a compreensão de Sennett (2015, p. 328), aponta que:
processo artesanal com que são feitas as pesquisas em educação, em
destaque na perspectiva pós-crítica, em que para cada problema/contexto [...] a lentidão do tempo artesanal é fonte de satisfação, a prática se con-
são desenvolvidos instrumentos e procedimentos para as investigações. solida permitindo que o artesão se aposse da habilidade. A lentidão do

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tempo artesanal também permite o trabalho de reflexão e imaginação, namente depara-se com situações problemáticas para as quais não basta à
o que não é facultado pela busca de resultados rápidos. Maduro quer mera aplicação de saberes científicos ou de saberes específicos ao conteúdo
dizer longo, o sujeito se apropria de maneira duradoura da habilidade. de determinada disciplina. Para mobilizar tais problemáticas, o professor
necessita de saberes que emergem das múltiplas interações entre as fontes
Cabe aqui uma nova entrada na discussão acerca de como tem sido de seus saberes e fazeres, os quais podem ser originados nas pesquisas
visto este docente, em especial na escola. Se a profissão professor está acadêmicas. Conhecer o lugar da pesquisa também no ofício do professor
recebendo interferências sociais, políticas e acadêmicas, na mesma dire- da Educação Básica possibilita que este docente desenvolva um trabalho
ção à escola, em destaque a escola pública, está tendo seu lugar de saber autêntico e não meramente prescritivo.
questionado. Obras recentes como Em Defesa da Escola (2013) e Elogio Muitos desafios são postos nesta construção artesanal da identidade
da Escola (2017) abrem o diálogo sobre o que se tem feito na escola, da professor-pesquisador. Na sequência do texto apresentam-se alguns destes
escola e para escola. expressivos desafios.
Na obra Em defesa da escola, Masschelein e Simons (2013) asseguram
que a escola parece ser um lugar separado, suspenso do mundo. Afirmam
que a escola é o lugar de aprender a observar e a viver em sociedade. O
Desafios da pesquisa na constituição do professor-
que passa a estar em jogo na escola não é apenas o que se aprende, mas o
interesse e atenção para com o mundo.
pesquisador: a pesquisa está em crise?
Nesta perspectiva, Aquino (2014, p. 21) assevera que [...] o professor- Nesse contexto de crise, e naquilo que nos diz respeito, aqui, hoje, estão
-pesquisador, longe do conforto e da segurança de uma experiência cumu- fortemente incluídos a crítica aos pressupostos da neutralidade da ciência,
lativa, vê-se cada vez mais atravessado por hesitações crescentes, sobre ao poder de verdade que se atribui ao conhecimento científico e sua su-
tudo quando estão em pauta os quebradiços contornos do éthos docente. perioridade relativamente a outros tipos de conhecimento, acentuando-se
Aquino (2014) afirma que nas universidades é exigido um esforço sua historicidade, sua parcialidade, sua contingência, bem como as relações
polivalente do professor nas áreas de ensino e pesquisa, e que esta tarefa intrínsecas e constitutivas entre saber e poder. Está em crise, portanto, a
nem sempre é alcançada por todos os professores-pesquisadores, que nossa crença nos pressupostos científicos, políticos e éticos que sustentaram
devem ter na pesquisa um exercício de pensamento e não uma ação algumas das lutas, e também, algumas das transformações sociais mais
utilitarista e tarefeira. Mas é neste campo de disputas e construções de importantes que vivenciamos no século XX (MEYER, 2013, p. 03).
conhecimento que se delineia o éthos docente, que firma o professor
enquanto pesquisador. No século XX, principalmente até meados dos anos oitenta, viveu-
Neste contexto, faz-se necessário e urgente que os intelectuais da -se um período comprometido com o ideário positivista, da ordem e do
educação não sejam vistos apenas como os professores universitários e progresso, contínuo e natural, com a educação assumindo a bandeira
que o pensar sobre a formação de professores também ocorra no interior da responsabilidade pelo progresso econômico e social do país. Neste
da escola, por meio de aproximações entre as pesquisas realizadas e as contexto, a pesquisa era resultado de esforços dos estudiosos que am-
transformações possíveis no cotidiano escolar, de modo que as pesquisas bicionavam uma educação mais inclusiva socialmente por meio de um
acadêmicas ecoem nos corredores escolares. Com isso não se afirma que desenvolvimento nacional que nos colocaria em uma posição diferenciada
a pesquisa na formação de professores deva apenas responder aos pro- de nação perante o mundo.
blemas imediatos da escola, muito antes pelo contrário, pois a pesquisa é Quem sabe tenha-se aproximado com tanto interesse das teorias
uma prática analítica contínua, que não está a serviço de criar fronteiras pós-críticas pelo próprio momento em que se vivia. Um tempo em que
entre os saberes. findam as utopias e se desafazem as certezas, um tempo líquido em que
Tardif (2014) propõe que se olhe o professor enquanto sujeito com- se esvaem as relações sociais como as que se conheciam há duas décadas,
petente e ativo, cercado de saberes, onde na sua ação pedagógica, cotidia- um tempo acelerado, onde a globalização faz com que o mundo se conecte

108 109
instantaneamente, onde passado e futuro já não possuem marcas precisas tidiano da escola, considerando as condições para este docente
na História, passam a ser pequenas fendas que se entrecruzam em meio realizar pesquisa no seu espaço de trabalho, tais como: expertise
ao que se entende hoje por contemporaneidade. em pesquisa, tempo para dedicar à pesquisa, apoio institucional
Neste contexto, Aquino (2014, p. 115) afiança que: e a própria cultura escolar que não prevê este tipo de atividade;
• A escassez de linhas de pesquisa nos programas de pós-graduação
[...] a contemporaneidade, é certo, tem testemunhado um alargamento stricto senso que promovam pesquisa acerca dos constitutivos
progressivo do raio da ação escolar, consubstanciado na multiplicação docentes;
em prol de incumbências de sues profissionais. Embalados pelo refrão • A (des)valorização social e financeira da profissão docente por
consensual de que se trataria de preparar o alunado, sempre mais e melhor parte dos próprios pares e da sociedade.
[...] para o ingresso em um mundo em franca complexidade, as missões
atribuídas à escolarização não ocultam uma ambição ultrarreformista da Esses desafios lançam possibilidades para percorrer outros caminhos,
sociedade expressa em uma multifuncionalidade de funções reparatórias com inventividade, sendo ao mesmo tempo desafiador, prazeroso e aven-
ou salvacionistas de alguns usos e costumes dos segmentos populacionais turoso dialogar e escrever sobre o ofício artesanal e cooperativo de fazer
sob sua guarda. pesquisa, envolvendo os professores-pesquisadores das universidades e
das escolas, como ato de criação e partilha.
Continua-se em crise, afinal o neocapitalismo necessita produzir A perspectiva de formação de professores dialogada ao longo do texto
ambivalências. Vive-se neste tempo fluído, pontilhista e acelerado, em considera o professor enquanto produtor de conhecimentos e não apenas
que a função da escola e do professor é questionada. Mesmo porque há o transmissor de informação ou implementador de projetos educacionais
entendimento de que o neocapitalismo estará sempre em crise, pois uma produzidos em outras instâncias.
das suas funções é desestabilizar o já construído em tempos anteriores Propôs-se ao longo do ensaio produzir instrumentais para pensar as
para reconstruí-lo a serviço dos interesses dominantes. pesquisas no campo da educação que evidenciem o lugar da pesquisa nos
Por onde seguir? Entende-se que o professor-pesquisador se constitui processos formativos, sejam universitários ou escolares, com possibilida-
tanto na formação inicial obtida nos cursos de licenciatura, como na for- des de alargar as problematizações no cenário atual.
mação continuada em serviço e/ou em novas qualificações acadêmicas, A formação de professores constitui, sem dúvida, um dos elementos
reitera-se a relevância da aproximação das pesquisas acadêmicas com centrais de toda a problemática da educação contemporânea, principalmente,
os desafios vividos cotidianamente por este docente. Dentre os desafios nos atuais debates acerca da qualidade e da inovação na educação, permeando
retoma-se pontualmente, alguns já discutidos ao longo deste texto, pois temáticas mais consolidadas como as políticas educacionais, locais e globais.
se compreende que estes são recorrentes e passíveis de transformações na Contudo, é excessivamente complexa e possivelmente não existe uma
construção do éthos do professor-pesquisador. única formação acadêmica, seja inicial ou continuada, que esgote o proces-
so formativo necessário para o desenvolvimento de pesquisas. A pesquisa
• O entendimento de que na graduação são apresentados, de modo terá sempre um lugar de destaque na formação de professores, pois é a
panorâmico nas distintas disciplinas, diferentes referenciais te- atividade propulsora para mobilizar conhecimentos que repercutam em
óricos e em muitas situações deslocados de aplicabilidade para novas alternativas para o cotidiano educacional.
a ação docente; Destaca-se que a gênese da pesquisa na formação e na atuação do
• Os currículos contemporâneos sejam os universitários e/ou os professor, busca-se a formação do professor-pesquisador como produto
escolares, que investem fortemente na formação teórica em de- de um conjunto de atitudes com uma perspectiva investigativa por parte
trimento da formação prática; desse profissional. Mesmo por que:
• A complexidade em criar instrumentos de geração de dados e Talvez este seja um dos grandes desafios das instituições de formação
recursos de análises fora do espaço universitário, como no co- contemporâneas: encontrar outras formas para que os sujeitos possam

110 111
criar a sua palavra, a sua escrita, a sua docência. Com isso, a formação não ______. Práticas de iniciação à docência no Pibid/Unisinos: trabalho docente e ino-
será mais concedida, nem transmitida, nem apenas aceita ou rejeitada; ao vação. In: II Encontro Luso Brasileiro de Trabalho Docente e Formação. Porto/
Portugal: Universidade do Porto, 2013. 15p.
aceitar-se a verdade ou rejeitá-la, pode-se escolher a forma de ser conduzido
por essa ou outras verdades. Haverá, a partir da problematização, sempre FABRIS, E. H; OLIVEIRA, S. O programa institucional de bolsas de iniciação à
a possibilidade da transformação. O que podemos desejar na formação docência Pibid/Unisinos: as aprendizagens sobre a docência na relação universidade
e escola. In: Ensino superior: inovação e qualidade na docência. VII Congresso Ibe-
senão a transformação de si e do outro? (FABRIS e DAL’ IGNA, 2015, p. 87).
roamericano de Docência Universitária, 2012, Porto.

Encerra-se este manuscrito, não porque o tema se esgote, sugere-se FISCHER, R. Análise do discurso: para além das palavras e das coisas. In: Reunião
Anual da Anped, 17. Programa e resumos. Associação Nacional de Pós-Graduação
que este seja pauta contínua das agendas universitárias e escolares, por
e Pesquisa em Educação, 1994. p.98.
isso reafirma-se o compromisso de permanência e alargamento acerca das
discussões do lugar da pesquisa na formação de professores. O ensino e FOUCAULT, M. A história da sexualidade: A vontade do saber. França: Gallimard, 1976.
a pesquisa precisam estar alinhados, tanto na formação inicial, como na ______. O sujeito e o poder. (VER texto Bello- artigo Bollema)1995.
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114 115
ações realizadas pelos CEFAPROS dos polos de Juara e Cáceres no que se Para tanto, contou com parcerias firmadas com os Centros, com a UNE-
refere às necessidades formativas. Em seguida, mapearam-se as ativida- MAT, Câmpus de Juara, Sinop e Cáceres. O questionário encaminhado
des realizadas pelos referidos CEFAPROs, consideradas relevantes pelos via e mail pelos referidos CEFAPROS, a todos os professores dos polos,
profissionais da educação. foi respondido por setenta e três professores em dezembro de 2017. Estes
Em um segundo momento, com o objetivo de analisar o que motivou professores atuavam na Educação Básica da rede pública estadual, com
os docentes da rede estadual de educação de Mato Grosso/Brasil, a parti- o seguinte perfil:
cipar dos projetos de formação continuada promovidos pelos CEFAPROs
dos polos de Juara e Cáceres, bem como avaliavam essa política nos últimos Quadro 1: Formação inicial dos inquiridos: CEFAPROs dos polos de Juara e
dez anos, levantou-se as informações consideradas importantes para que Cáceres
os CEFAPROs atendessem as expectativas e as necessidades formativas
Formação Inicial Quantidade
do seu público, bem como se identificou como avaliavam as atuações dos
Pedagogia 41
respectivos Centros. Letras 7
Por fim, sistematizaram-se e analisaram-se as informações, a fim de Educação Física 3
mapear e avaliar as ações desenvolvidas pelos CEFAPROs no decorrer Matemática 7
dos últimos dez anos, para posteriores apontamentos e considerações. Ciências Biológicas 6
Aspectos relacionados ao segundo momento da pesquisa foram sistema- História 7
tizados e analisados neste artigo. Geografia 2
Em atenção a esses objetivos, a pesquisa fundamentou-se no método Total 73
qualitativo (BOGDAN e BIKLEN, 2013), e teve como instrumento de co- Fonte: Elaboracão das autoras mediante informações categorizadas dos questionários em 2017.
leta de informações o questionário. Para os autores o método qualitativo
possibilita ao pesquisador a interação com os participantes da investigação, Para tratamento e análise dos dados qualitativos utilizou-se o método
condição que pode facilitar a compreensão dos aspectos descritivos relativos de Análise de Conteúdo (BARDIN, 2009). Este método consiste em um
aos fenômenos com toda a sua complexidade em um contexto específico, conjunto de técnicas que são utilizadas para analisar conteúdos de qual-
neste caso as diferentes situações, vivências e experiências dos inquiri- quer natureza, seja documental ou de informações empíricas, que após
dos que tiveram suas narrativas valorizadas no decorrer da investigação. serem sistematizados poderão produzir inferências. Diante dessas ponde-
Os integrantes dos respectivos polos foram orientados a realizarem rações, o corpus documental da pesquisa constituiu-se da sistematização
leituras, debates e reflexões, atividades que contribuíram com a realização e da categorização das informações coletadas junto aos professores. As
das atividades subsequentes, a iniciar-se com a definição das questões para contribuições dos professores estão identificadas como P. 1, P. 2, e assim
elaboração do questionário. Pois se compreende que a relevância social do sucessivamente.
resultado da pesquisa, vincula-se à acertada formulação das perguntas.
Assim, o questionário agregou questões objetivas e subjetivas em conso-
nância aos objetivos da pesquisa e destinou-se aos profissionais docentes Motivações que impulsionaram os professores a
que atuavam nos municípios de abrangência da pesquisa. participar da formação continuada ofertada pela via
A abrangência da pesquisa justificou as parcerias firmadas com os
dos CEFAPROs por meio do Projeto Sala de Educador
respectivos pesquisadores nas diferentes localidades. Em observação aos
aspectos éticos da pesquisa (BOGDAN e BIKLEN, 2013), os inquiridos Como descrito na abordagem metodológica desse manuscrito, o
assinaram termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). segundo momento da pesquisa foi realizado junto aos professores com o
A coleta de informações foi realizada nas escolas localizadas em mu- objetivo de analisar quais fatores os motivaram a participar dos projetos de
nicípios correspondentes aos polos dos CEFAPROs de Juara e Cáceres. formação continuada promovidos pelos CEFAPROs dos polos de Juara e

116 117
Cáceres nos últimos dez anos. Os conteúdos sistematizados demonstraram Quadro 1: Objetivo do PSE publicizados nos Pareceres Orientativos5
que, dentre os muitos fatores citados pelos professores destacaram-se a
Ano Objetivos
contagem de pontos atribuída pela SEDUC ao final do ano letivo a partir
da assiduidade dos professores na formação continuada ofertada por meio 2003 Fortalecer a escolar enquanto espaço de formação dos professores a
do Projeto Sala de Educador (PSE); a relevância dos temas trabalhados nas fim de desenvolver suas potencialidades e qualificar o desempenho no
formações; a necessidade de aperfeiçoamento, atualização profissional e trabalho, por meio da organização de grupos de estudos construindo um
melhoria da prática docente; a obrigatoriedade do cumprimento das horas comprometimento coletivo com o processo de ensino e aprendizagem.
2010 Fortalecer a escolar como lócus da formacao continuada, por meio da
atividades; a interação com problematização e socialização de aspectos
organização de grupos de estudos, que priorizem o comprometimento do
relevantes à prática docente e à apropriação de novos conhecimentos,
coletivo da escolar com a melhoria da aprendizagem dos que nela estão.
com aprendizagens inerentes ao exercício do magistério que possibilitem
2011 Fortalecer a escolar como lócus da formacao continuada, por meio da
a transformação da atuação docente.
organização de grupos de estudos, que priorizem o comprometimento
Isso posto analisam-se na sequência, os aspectos concernentes aos
do coletivo da escolar com a melhoria da qualidade social da educação.
conteúdos destacados com a compreensão de que as políticas públicas
2012 Fortalecer a escolar como lócus da formação continuada, por meio da
educacionais cumprirão sua função social quando estiverem a serviço da
organização de grupos de estudos, que priorizem o comprometimento
melhoria da qualidade social da educação pública ofertada a população
do coletivo da escolar com a melhoria da qualidade social da educação.
pobre. Como afirma Saviani (2012, p. 31), “lutar contra a marginalida-
2013 Fortalecer a escolar como lócus da formação continuada, com a orga-
de por meio da escola significa engajar-se no esforço para garantir aos
nização de grupos de estudo e esforco coletivo, aprimorando as ações
trabalhadores um ensino da melhor qualidade possível nas condições
pedagógicas.
históricas atuais”. Este seria então, o principal objetivo da formação con-
tinuada ofertada aos professores de Mato Grosso, provocar mudanças nas Fonte: Elaborado por Silva (2014, p. 75), a partir dos Pareceres Orientativos publicados pela
SULFP/SEDUC/MT nos anos de 2003, 2010, 2011, 2012 e 2013.
intervenções docentes que resultem na inovação pedagógica, com vistas

à melhoria da educação pública ofertada.
Como se observa, os cinco Pareceres Orientativos elaborados no de-
correr de uma década (2003 a 2013), tinha como principal foco “Fortalecer
O Projeto Sala de Educador e a contagem de pontos a escola enquanto lócus de formação”. Esta prerrogativa respalda-se nas
atribuída pela SEDUC ao final do ano letivo afirmações de Nóvoa (1992) e Canário e Barroso (1998) de que a escola é
por excelência o espaço principal para a constituição dos conhecimentos
Segundo Silva (2014), o Projeto Sala de Educador (PSE) integrou-se
inerentes a docência. Desse modo:
a política pública de formação continuada de Mato Grosso. Essa política
foi implantada no ano de 2003 e implementada de forma gradativa no
A chave para a produção de mudanças (simultâneas) referentes aos pro-
decorrer dos anos de 2003 a 2005 pela Superintendência de Formação de
fessores e às escolas passa, então, a residir na reinvenção de modos de
Professores (SULFP), no âmbito da Secretaria de Estado de Educação de
socialização profissional – o que constitui o fundamento mais sólido para
Mato Grosso (SEDUC), em todas as escolas da rede estadual, por meio
encarar como uma prioridade estratégica o desenvolvimento de moda-
de ações realizadas nos quinze polos dos CEFAPROs.
lidades de formação centradas na escola, por oposição e contraste com a
Como contextualizou Silva (2014), de 2003 a 2013 o PSE passou por
oferta formalizada, descontextualizada e escolarizada que é dominante
várias reformulações. Todavia, de certa forma, as reformulações manti-
(CANÁRIO, BARROSO, 1999, p. 84).
veram seus objetivos, como demonstra o quadro a seguir:
5 Os Pareceres Orientativos são documentos elaborados anualmente pela SEDUC/SUFP
de Mato Grosso com informacões acerca do desdobramento das ações de formação
continuada realizadas pela via do Projeto Sala de Educador. Assim, os Pareceres são
encaminhados aos CEFAPROS que os compartilham às escolas.

118 119
Os referidos pareceres orientavam que o PSE institucionalizado O reconhecimento da necessidade de aperfeiçoamento profissional
em todas as escolas, ofertasse oitenta horas de formação continuada no também foi destacado nessa categoria: “O enriquecimento profissional para
decorrer do ano letivo, sendo 40 horas no primeiro semestre e 40 horas melhor subsidiar minha prática pedagógica, desde que também possa servir
no segundo semestres. Os encontros presenciais poderiam ser semanais, como alicerce pedagógico, nos proporciona horas e pontos ao término do
quinzenais ou mensais, conforme definição dos profissionais da escola. A curso, afinal, sou interina e preciso trabalhar” (P. 37). “Aprendizado, certi-
certificação seria disponibilizada ao final do ano letivo e somente aos pro- ficação, e ajuda para trabalhar no ano seguinte” (P. 16, P. 17). Os excertos
fessores que atingissem 75% de assiduidade. Esse certificado assegurava denotaram que a pontuação foi novamente ressaltada como prerrogativa.
cinco pontos a serem acrescido na contagem de pontos, e teriam validade
tanto para classificação de atribuição de aulas aos efetivos, como para a
contratação de professores interinos no próximo ano letivo (SILVA, 2014). Destaque aos temas trabalhados na formação continuada
Todavia, ao vincular a assiduidade do professor na formação con-
tinuada à contagem de pontos, a SULFP/SEDUC/MT, de certa forma, O PSE configurou-se em uma política da SEDUC/MT de valorização
desfocou a política do seu principal objetivo. Isso porque, um dos eixos dos profissionais da educação que sustentava as escolas da rede pública esta-
da formação continuada situa-se na pessoa do professor, assim inserir-se dual como lócus da formação continuada. Outra característica dessa política
ou vincular-se a um processo de formação continuada supõe investir-se em era o diagnóstico das necessidades formativas realizado no início do ano
si mesmo, com autonomia que autenticará a identidade do educador (NÓ- letivo em todas as escolas. A partir do resultado desse diagnóstico, levanta-
VOA, 1992). Como evidenciou a pesquisa, o que definiu a participação vam-se os temas trabalhados no decorrer do ano (MATO GROSSO, 2011).
dos professores na formação continuada, pode não ter sido a recomendada Como afirma García (1995), a cultura organizacional da escola interfere
autonomia do processo de autoformarão, e sim as condicionantes impostas na oferta de formação continuada e pode viabilizar ou não a autonomia e
pelas instâncias formativas da SEDUC/MT. a colaboração dos professores nos processos formativos. O PSE, ao orien-
As narrativas contidas nos excertos a seguir, ratificam que muitos tar que os temas abordados na formação continuada fossem escolhidos a
professores participavam da formação continuada ofertada pelo PSE partir do diagnóstico das necessidades formativas de cada escola, pode ter
porque precisavam dos pontos atribuídos, conforme Orientativo elabora- instaurado entre os professores, o sentimento de pertencimento e de com-
do pela SEDUC. “A inclusão na contagem de pontos para o processo de promisso em atenção aos preceitos filosóficos de cada comunidade escolar.
atribuição de aulas do ano seguinte” (P. 1). “Certificado e para contagem Desse modo, outra categoria destacada pela maioria dos professores
de ponto no final do ano” (P. 39). “Por causa do orientativo enviado pelo foi à relevância dos temas trabalhados nas formações continuadas. Essa
CEFAPRO” (P. 40). Assim como a pesquisa aqui analisada, a pesquisa relevância fora justificada porque os temas iam ao encontro dos anseios
realizada por Silva (2014) também elucidou que uma das fortes razões e necessidades formativas dos professores, como denotaram as contribui-
de os professores frequentarem a formação continuada por meio do PSE ções: “O que me motivou a participar da formação continuada foram os
deu-se em decorrência da contagem de pontos. temas abordados” (P. 23). “Os temas sugeridos” (P. 25, P. 42, P. 43, P. 44).
Entretanto, esse aspecto restringiu a presença dos educadores às Segundo Marcelo (1992), a principal função da formação continuada
exigências externas, o que descaracterizou a constituição da escola en- de professores é subsidiar as necessidades formativas identificadas pelos
quanto lócus de formação. Isso porque, para que a escola seja reconhecida docentes. As necessidades formativas, por sua vez, voltam-se às caracte-
enquanto espaço formativo, o processo de inserção dos educadores na rísticas do contexto sociopolítico, por isso são definidas em atenção às
formação continuada se daria por meio do compromisso destes com a necessidades singulares, objetivas e subjetivas de uma escola e de um grupo
vida da escola, com problematizações de situações desafiadoras e com de educadores. Neste sentido, Oliver Trobat (2002) adverte que analisar as
o propósito de solucioná-las. Mesmo por que, são estas condições que necessidades formativas dos professores seria a primeira atividade ao se
qualificam a escola enquanto “organização aprendente” (CANÁRIO, planejar a implementação de políticas de formação continuada. Segundo
1998), com a oferta da formação continuada. as contribuições dos professores, os Orientativos elaborados pela SULFP/

120 121
SEDUC/MT para a oferta da formação continuada pela via do PSE, esta- As contribuições dos professores expressaram diversas justificativas
vam em consonância com os fundamentos referidos. que incluíram a necessidade do aperfeiçoamento com vistas à atualização
Todavia, os professores justificaram, também, que os temas abordados profissional e consequentemente para a melhoria da prática docente. Desse
foram relevantes porque contribuíram com a melhoria da atuação docente, modo, as razões que os motivaram a participar da formação continuada
como se pode observar nos excertos: “[...] envolvimento e interesse nos te- estão em consonância com os objetivos geral e específicos do PSE.
mas que possam qualificar a ação em sala de aula” (P. 4). “O que me motiva Os excertos a seguir comprovam que a necessidade de aperfeiçoamento
a participar dos projetos de formação é a importância dos temas que me dá profissional para atender aos imperativos educacionais motivou muitos pro-
suporte para os planos de intervenção pedagógicos” (P. 21 e P. 24). “O que mais fessores: “O que me motivou a participar foi para ter um conhecimento, uma
motiva é que são formações que nos prepara melhor para desenvolver nossa capacitação nas mais diversas situações vistas na escola” (P. 2). “A aquisição
função” (P. 22). Como elucidaram as arguições dos professores, trabalhar na de conhecimentos teóricos, análises e reflexão crítica da avaliação do pro-
formação continuada temas voltados às suas necessidades formativas é salu- cesso educacional mediante a análise da realidade da nossa instituição” (P.
tar porque, consequentemente, promoverão a melhoria da prática docente. 36). Neste sentido, o que orienta a formação continuada ofertada na escola:

Não é apenas um conjunto de técnicas e procedimentos, mas tem uma carga


Aperfeiçoamento, atualização profissional e melhoria ideológica, valores, atitudes, crenças. Não é, portanto, uma simples trans-
da prática docente ferência física, nem tampouco um novo agrupamento de professores para
formá-los, e sim um novo enfoque para redefinir os conteúdos, as estratégias,
Segundo o Parecer Orientativo elaborado pela SEDUC/MT em 2011, os protagonistas e os propósitos da formação. (IMBERNÓN, 2009, p. 80).
o PSE tinha os seguintes objetivos geral e específicos.
Neste processo, os professores assumem o protagonismo da formação
Objetivo Geral: continuada. Quando isso acontece, a formação continuada assume um
Fortalecer a escola enquanto espaço de formação dos profissionais da aspecto colaborativo e solidário em que as situações problemas poderão
educação, construindo um comprometimento coletivo com a qualidade ser superadas com a ajuda da comunidade escolar.
do processo educativo do aluno. Um aspecto importante a destacar diz respeito à compreensão dos
professores de que a participação na formação continuada contribuiu
Objetivos Específicos: para a melhoria da intervenção docente, como demonstraram os excertos:
Diagnosticar as necessidades formativas dos profissionais da Unidade Escolar; “Capacitação, para que eu desenvolva melhor minha prática pedagógica e
Desenvolver as potencialidades do profissional e qualificar seu desem- currículo” (P. 13). “O desejo de aprender sempre mais e assim poder reali-
penho no trabalho; zar um bom trabalho” (P. 26). “A aprendizagem que nos permite melhorar
Organizar momentos de estudos no coletivo da unidade escolar; a nossa prática pedagógica” (P. 54, P. 57, P. 58, P. 60, P. 63, P. 69). Dentre
Construir a programação de estudos da “Sala de Educador da Escola”, arti- os aspectos mencionados incluiu-se a relevância e a necessidade da troca
culado ao Projeto Político Pedagógico/Plano de Desenvolvimento Escolar; de experiência, como uma necessidade entre os docentes:
Possibilitar ao profissional da unidade escolar a cultura de formação,
num processo contínuo, coletivo e individual; A formação continuada para mim é uma necessidade, pois penso que
Estimular, incentivar e subsidiar a construção, o desenvolvimento e com os desafios que nós professores enfrentamos na sala de aula é preciso
execução de projetos pedagógicos de investigação sobre e da realidade muita criatividade para conseguir dinamizar as aulas e motivar os alunos a
educativa do sistema de ensino e do fazer pedagógico; vencer os obstáculos epistemológicos que surgem, e isso, eu penso que só
Desencadear na escola o processo de reflexão na e sobre suas práticas. é possível através do conhecimento que vem com leituras reflexivas, troca
(MATO GROSSO, 2011, p. 9-10). de experiências, diálogos e estudos contínuos (P. 9, dezembro de 2017).

122 123
A contribuição do professor indica que a formação continuada é reco- Apontamentos e reflexões concernentes a política de
nhecida quando supera a atualização científica, pedagógica e cultural do formação continuada ofertada em Mato Grosso no
professor. Desse modo, o aprofundamento teórico, conceitual e metodológi- âmbito dos CEFAPROs nos últimos dez anos
co estudados mobilizam as intervencões práticas subsidiadas por inovacões
pedagógicas desafiadoras (IMBERNÓN, 2009), como afirmou um professor: Nas últimas décadas com as reformas educacionais impulsionadas
pelo fenômeno da globalização o tema formação e desenvolvimento pro-
Um dos motivos que me motivou a participar do projeto de formação [...] fissional de professores ganhou relevância nas produções acadêmicas e
foi a aquisição de conhecimentos, pois como educadores devemos buscar passou a ser abordado sob diferentes enfoques nas mais diversas instâncias
sempre novos conhecimentos, para depois colocar em prática o que conse- acadêmicas. Os esforços e estudos votam-se para a busca da qualidade na
guimos assimilar durante todo o percurso do projeto de formação (P. 27). formação do professor e o aprimoramento de instrumental teórico-prático
que considere as especificidades da ação pedagógica e, consequentemente,
Segundo Nóvoa (2011, p. 58), a oferta de formação continuada de a perspectiva da profissionalização docente.
professor que tem a escola como lócus dessa formação, configura-se em um Ao avaliarem a política de formação continuada ofertada em Mato
espaço ímpar de análise de intervencões a partir da constituicão de uma Grosso no âmbito dos CEFAPROs, os professores que contribuíram com
rotina que acompanha e viabiliza reflexões na e sobre a atuacão docente. este estudo apontaram a importância destes Centros conforme explicitam
Mesmo porque “[...], não há respostas feitas para o conjunto de dilemas que os excertos das narrativas a seguir: Muito importante para sanar dúvidas
os professores são chamados a resolver numa escola marcada pela diferença e nos ajudar a desenvolver um trabalho de qualidade (P. 1, 2017).
cultural e pelo conflito de valores.” As reflexoes emanadas dessas formações
continuadas poderão “recompor o equilíbrio entre os esquemas práticos e As ações do CEFAPRO contribuíram de modo considerável para o desen-
os esquemas teóricos que os sustentam”. (IMBERNÓN, 2009, p. 69). volvimento do trabalho pedagógico, pois nos ajudaram a atravessar esse
momento das novas implementações do ciclo de formação. Esperamos
Formação continuada ofertada nas horas atividades que nos próximos anos, os CEFAPROs continuem contribuindo de modo
cada vez mais presente (P. 12).
O documento denominado Programa de Formação Continuada Sala Foi de grande importância e ajudam na ampliação e na reconstrução do
de Professor, publicado em 2003 pela SUFP/SEDUC, assegurava às escolas conhecimento em relação aos objetivos de aprendizagem/ habilidades/
da rede pública estadual “ii) Implantar […] grupos de estudos de Formação competências, desafios a serem superados nessa nova etapa da Educação
Continuada para profissionais docentes, com encontros regulares desen- Básica (P. 20).
volvidos semanalmente nas horas atividades”. Como afirmou Silva (2014), É uma forma da escola ganhar espaço privilegiado de produção de co-
apenas os professores efetivos têm dez horas de atividades em uma jornada nhecimento por proceder aos docentes a troca de experiência entre os
de 30 horas semanais. Essa condicão foi justificada por alguns professo- pares, a reflexão sobre a prática e a possibilidade de compreensão que
res que contribuiram com a pesquisa, como confirmaram as narrativas perpassa além da sala de aula (P. 32).
dos excertos a seguir: “As formações são contadas como hora atividade,
portanto qualquer formação que eu faça, além de contribuir para minha Os CEFAPROs se configuram em uma política pública educacional
formação profissional, estou cumprindo minha hora atividade” (P. 30). do governo do estado voltada ao incentivo à formação continuada dos
“O que me motiva é ter um tempo dentro da minha jornada de trabalho profissionais da educação. Ou seja, os Centros constituiram-se em uma
para refletir sobre a minha prática em sala de aula” (P. 31). política de incentivo, valorização e aprimoramento da formação em serviço
No entanto, os professores interinos mantém assiduidade nos en- de professores que atuam na Educação Básica. Os excertos das narrativas
contros de formacão continuada com a perspectiva de somar pontos e apontam que os professores reconhecem a importância e relevância desses
assegurar trabalho no próximo ano. Centros na formulação, análise, implementação, monitoramento e ava-

124 125
liação das políticas públicas de formação dos profissionais da Educação segundo, muitas vezes nem os próprios formadores possuem conheci-
Básica. Contudo, os professores ressaltaram a necessidade de as formacões mento e experiência suficiente para promover momentos de reflexão e
ter como referência o diagnóstico das necessidades formativas apresen- oficinas pedagógicas (P. 28).
tadas por eles. Assim, a formacao poderá contribuir com a melhoria do
processo educativo. O excerto da narrativa destaca as funções dos Centros. Porém, diante
Apesar do reconhecimento do papel relevante dos Centros as contri- da variedade de atribuições a formação de professores, que deveria ser sua
buições dos professores apontaram que a função dos CEFAPROs têm se principal função, finda por não ser satisfatoriamente exercida em detri-
restringido a disseminação das políticas educacionais oficiais, relegando mento ao número reduzido de formadores frente ao número excessivo de
a um plano secundário as necessidades formativas específicas dos dife- escolas e da competência técnica da equipe de formadores. A formação
rentes contextos escolares e dos profissionais a eles vinculados. A função continuada vai muito além da mera aquisição de conhecimentos e técni-
dos Centros ainda é concebida por alguns professores como fiscalizadora cas, constitui-se em momentos de socialização de trocas de experiências
das ações dos profissionais que atuam nas escolas, como explicitaram os e de reflexão sobre a profissão docente. O desenvolvimento profissional
excertos das narrativas dos professores: “É uma instituição que precisar se constitui em um processo que envolve aspectos pessoais voltados
tornar parceira da escola e não com ela é vista na atual conjuntura, tem para dinâmicas de auto formação participativa, mas também envolve
que se preocupar mais com a formação do que com a fiscalização” (P. 62, aspectos institucionais voltados para decisões coletivas que incentivem
2017). “Precisa-se pensar na forma de atuação do CEFAPRO, pois atual- e valorizem a construção da identidade profissional. Diante do exposto,
mente estão só cobrando. Precisamos de parceiros que caminhem juntos compreende-se que:
de acordo com as nossas necessidades” (P. 57, 2017).
Como se pode observar, os excertos demonstraram que os CEFA- A formação deve estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que forneça
PROs não têm conseguido criar mecanismos que favoreçam a construção aos professores os meios de um pensamento autônomo e que facilite as
dos conhecimentos e habilidades necessários para o enfrentamento dos dinâmicas de autoformação participada. Estar em formação implica um
desafios do trabalho dos professores frente às exigências da sociedade investimento pessoal, um trabalho livre e criativo sobre os percursos e
contemporânea. As contribuições apontaram que as ações dos Centros os projetos próprios, com vistas à construção de uma identidade, que é
precisam ir além da disseminação das políticas educacionais oficias. também uma identidade professional. (NÓVOA, 1992, p. 25).
O professor, como protagonista do trabalho educativo na escola, é um
sujeito sobre o qual são criadas estratégias político-formativas, teórico- Esse investimento na constituição da identidade pessoal e pro-
-práticas, jurídico-ideológicas (na dimensão da superestrutura), seja na fissional, por meio de um trabalho livre e criativo sobre os percursos
ordem da reprodução ou da transformação da sociedade, justamente formativos de cada professor, é comprometido, uma vez que o processo
porque a profissão docente é um campo de contradições, de conflitos e de formação centrado na escola, não pode e nem deve ser relegada a
de projetos antagônicos (CONTRERAS, 2002). No âmbito desse campo própria sorte. “O processo de formação deve contar com apoio e orien-
de contradições e conflitos, as ações de formação continuada precisam tação, e ser assumido como responsabilidade coletiva entre o sistema
atender as necessidades específicas dos professores e do contexto educa- de ensino e as instâncias educativas”. (BARRETO, 2015, p. 695). A falta
cional em que atuam. Como elucida a contribuição a seguir: desse apoio e orientação foi explicitado nos excertos das narrativas dos
professores: O CEFAPRO deveria ser mais atuante nas escolas, estar
Os CEFAPROs são encarregados de muitas funções: formulação, análise, mais presente durante os estudos de formação continuada. […] deveria
implementação, monitoramento e avaliação das políticas públicas de participar mais junto às escolas, principalmente durante as formações,
formação dos profissionais da Educação Básica, mas na realidade não com profissionais especializados nos temas estudados no momento das
conseguem cumprir com todas as exigências delegadas a eles, primeiro formações” (P. 24). Como se observa, as avaliações apresentadas pelos
porque são muitas escolas para poucos profissionais acompanharem, e professores a respeito da atuação dos CEFAPROs enquanto órgão res-

126 127
ponsável pela formação continuada, evidenciaram descontentamento que os professores reclamaram a ausência e a participacao dos formadores
em relação a muitos aspectos: dos CEFAPROs nas formações, como bem ilustram as narrativas:

Os CEFAPROS devem atender de forma proativas as unidades da rede Poderiam estar mais presentes com formações e mais cursos voltados
de ensino, investindo na capacitação, formação de seus formadores para as dificuldades enfrentadas pelas escolas”.(P.68); Eu penso que é
para atuarem com excelência, e o que vemos nesse processo é uma fundamental que o CEFAPRO esteja sempre presente nas escolas (P. 19);
descontinuidade das metas e descumprimentos das políticas públicas Gostaria que tivesse uma presença maior por parte dos professores do
de formação continuada, engessando de modo burocrático todo o CEFAPRO para orientar e ajudar nas dúvidas e que o governo liberasse
processo (P. 33). verbas suficiente para que professores pudessem trabalhar de forma
correta (P.26).
O número expressivo de professores existentes no Estado de Mato
Grosso e o número reduzido de formadores dos Centros comprometeram Nas análises sobre a política de formação continuada ofertada em Mato
as atribuições dos CEFAPROs em relação a disseminação das políticas Grosso no âmbito dos CEFAPROs fica evidente que os Centros exerceram
oficiais e, principalmente, na proposição e apoio as ações formativas junto papel fundamental na implementação, monitoramento e avaliação das
as escolas, bem como na mediação das necessidades formativas dos pro- políticas públicas de formação continuada dos profissionais da Educação
fissionais da educação, com ações que de fato contemplem as necessidades Básica. Contudo, se faz necessário que os Centros estejam mais próximos
e especificidades existentes nos diferentes contextos escolares. De acordo das escolas como lócus de formação continuada. Os CEFAPROs devem
com Nóvoa (1992, p. 28), ir além de instâncias meramente executoras de políticas de formação
continuada de governo, para se assumirem como instâncias colaborativas
[...] as escolas não podem mudar sem o empenhamento dos professores; no processo de formação continuada da e na escola. Para isto, não basta
e estes não podem mudar sem uma transformação das instituições em à existência dos Centros em várias regiões do Estado, é preciso que estes
que trabalham. O desenvolvimento profissional dos professores tem de sejam compostos por formadores das diversas áreas do conhecimento para
estar articulados com as escolas e os seus projetos desempenharem suas funçoes propositivas e colaborativas no processo
de formação continuada.
O processo de melhoria na qualidade educacional requer uma ação de Mais que uma instância de acompanhamento e monitoramento das
planejamento democrático, capaz de constituir-se em uma prática social políticas de formação continuada os Centros devem assumir o desafio
transformadora “que se explicita na vida, no trabalho e na sociedade, de tornar a escola lócus de formação. Para isto, é importante respeitar
articulada a teorias que a fundamentam e a explicitam” (CALAZANS, à autonomia da escola na elaboração e proposição de ações formativas,
2011, p. 21). Essa descontinuidade nas políticas públicas de formação que contemplem as necessidades e especificidades dos profissionais que
continuada dos profissionais da educação está subordinada as demandas nela atuam. As equipes dos CEFAPROs devem vivenciar o processo no
mercadológica impostas pela globalização e pelos idealizadores da política âmbito das escolas, e assim, colaborar para que a formação continuada
neoliberal. Contudo, “partindo do princípio que somente a maximização seja assumida por todos os agentes da escola, como uma necessidade
do interesse pessoal faz mover os indivíduos ‘racionais’, as reformas neoli- pessoal e profissional. Isso, para que a participação na formação con-
berais não são a melhor via para mobilizar coletivamente os professores”. tinuada não seja considerada uma obrigação, mas sim uma necessi-
(LAVAL, 2004, p. 29). dade pessoal, profissional e institucional no desenvolvimento de uma
Com a institucionalização do PSE, a SEDUC/MT pretendia viabilizar educação escolar que respeite e promova a apropriação dos direitos de
maior autonomia as unidades escolares no processo de organização e aprendizagem dos estudantes.
coordenação de seus projetos de formação continuada por meio de uma
ação coletiva. Contudo, os excertos das narrativas dos professores denotam

128 129
REFERÊNCIAS

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BARRETTO, E. S. S. Políticas de formação docente para a Educação Básica no Brasil:
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Este artigo filia-se aos pressupostos do método de pesquisa de qualita-
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Grosso, Edital Induzido Educação Estadual 011/2016-2, áreas estratégicas
GARCIA, M. C. A formação de professores: novas perspectivas baseadas na nvestigação
e teve como objetivo investigar possíveis contribuições e necessidades
sobre o pensamento do professor. In: NÓVOA, Antonio (Org.). Os professores e a
sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992. de adequações nas propostas formativas ofertadas a partir da política
de formacão continuada institucionalizadas nos Centros de Formação e
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Atualização do Profissionais da Educação Básica (CEFAPROs), na última
público. Londrina: Editora Planta, 2004.
década. A pesquisa de cunho qualitativo, analisou informacões coletadas
MATO GROSSO. Parecer orientativo referente ao desenvolvimento do Projeto Sala em dezembro de 2017, por meio de questionário enviado aos professores
de Educador para o ano de 2012: Formação em rede entrelaçando saberes. Cuiabá:
vinculados aos Cefapros dos polos de Juara e Cáceres.
SEDUC/SUFP, 2011.
O questionário com perguntas objetivas e subjetivas, foi encaminhado
NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA, A. (Org.). Os via e-mail aos professores de todas as escolas atendidas pelos referidos
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Estado de Mato Grosso. Programa de Pós-graduação em Educação. Cáceres/MT, ção continuada exclusivo para os profissionais da rede pública estadual
UNEMAT, 2014. de ensino, os CEFAPROs, que segundo Gobatto & Beraldo (2014) teve

130 131
sua origem em 1968 com a criação dos Centros de Formação e Aperfei- Análises e reflexões sobre a política de formação
çoamento do Magistério (CEFAM), mas sua implantacao se consolidou continuada implementadas pelos CEFAPROs/MT
em 1989 em Cuiabá e Barra do Bugres. Em 1990 os CEFAMs ampliaram
sua abrangência contemplando Rondonópolis, Várzea Grande, Sinop e Este estudo inscreve-se nos princípios do método de pesquisa quali-
Cáceres. tativa proposto por Lüdke e André (1986), Bogdan e Biklen (1994), tendo
De acordo com Gobatto e Beraldo (2014), os CEFAM implantados como referência a análise dos dados descritivos fornecidos pelos profes-
em algumas cidades do estado de Mato Grosso, caminharam por dire- sores que responderam ao questionário elaborado pela equipe do projeto
ções diferentes. Neste sentido, vale destacar a iniciativa e experiência do de pesquisa financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
CEFAM em Rondonópolis, que em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso, Edital Induzido Educação Estadual 011/2016-2, com o
de Mato Grosso, Campus de Rondonópolis (UFMT/CUR), Sindicato dos objetivo de analisar a atuação dos Centros de Formação e Atualização dos
Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (SINTEP), realizavam Profissionais da Educação Básica (CEFAPROs) em atenção às demandas
estudos que muito contribuíam com as reflexões durante os encontros e necessidades formativas dos docentes que atuam na Educação Básica,
formativos. bem como suas ações frente às atuais expectativas, anseios e aceitabilidade
Segundo as mesmas autoras, em 1996 houve a extinção do Curso Nor- desses profissionais. A partir da análise das informações coletadas dos
mal na Escola Estadual Sagrado Coração de Jesus, e o CEFAM também foi professores vinculados aos CEFAPROs dos polos de Juara e Cáceres6, foi
extinto. Entretanto, os professores conscientes da importância da formação possível apresentar algumas informações que podem corroborar ao en-
continuada para sua preparação profissional tomaram a iniciativa de criar tendimento das possíveis contribuições e fragilidades nos trabalhos que
o Centro de Formação Permanente de Professores (CEFOR). Tal iniciativa os Centros realizam nas escolas da rede estadual.
não contava com o vínculo institucional da SEDUC/MT, mas com o apoio A sistematização e análise dialogou com informacões concedidas por
da UFMT/CUR e do SINTEP, os profissionais de várias áreas realizavam as sessenta e nove professores de diferentes regiões do Estado de Mato Grosso,
ações formativas no CEFOR. Esta iniciativa chamou a atenção das escolas especificamente com professores dos polos de Juara e Cáceres. Estes pro-
que reivindicaram a participação nas formações conforme relatado por fissionais são lotados em Escolas Estaduais. Identificou-se que a maioria é
Rodrigues apud Gobatto e Beraldo (2014). licenciada em Pedagogia (42), bem como nas demais licenciaturas, quais
A partir do sucesso do CEFOR, o movimento para a formação con- sejam: Letras (7), Ciências Biológicas (5), História (6), Matemática (7),
tinuada em Rondonópolis-MT conquistou visibilidade, e mobilizou a Educação Física (3), Geografia (2). Destes, sete possuíam duas graduações:
SEDUC/MT a idealizar um novo espaço formativo para os profissionais da História/Pedagogia (3), Matemática/Pedagogia (2), Língua Portuguesa/
educação, os CEFAPROs. (FAVRETTO apud GOBATTO e BERALDO, Pedagogia (1), Biologia/Matemática (1). Constatou-se ainda que a maioria
2014), Decreto Estadual nº 2.007/1997. dos profissionais é egressa da Universidade do Estado de Mato Grosso,
O CEFAPRO tem uma configuração espacial dentro do território aproximadamente 54%. Os demais profissionais são formados em dife-
mato-grossense organizado em quinze polos de formação. Essa organiza- rentes instituições, tais como: UFMT, UNIVAG, UNINTER, FAEL, entre
ção compreende 15 cidades polos a saber: Alta Floresta, Barra do Garças, outras. Desta amostra, sessenta e dois são especialistas, quatro mestres e
Cáceres, Confresa, Cuiabá, Diamantino, Juara, Juína, Matupá, Ponte e três não especificaram ter cursado pós-graduação.
Lacerda, Primavera do Leste, Rondonópolis, São Félix do Araguaia, Sinop Os excertos descritos a seguir, identificados como P. 1, P. 2, e assim
e Tangará da Serra (GOBATTO e BERALDO, 2014; OLIVEIRA, 2015; sucessivamente, resultam das contribuições desses professores que respon-
SILVA, 2017).
Para este manuscrito, a pesquisa teve como objetivo compreender as
possíveis contribuições e necessidade de adequações na proposta formativa 6 Os professores do CEFAPRO do polo de Sinop não responderam ao questionário enca-
minhado via e mail a todas as escolas desse polo no segundo semestre de 2017. Desse
dos Cefapros/MT apresentada aos profissionais da educação nos Polos de polo obteve-se apenas contribuições dos professores formadores que foram entrevistados
Juara e Cáceres. no primeiro semestre de 2018. As informações coletadas nas entrevistas estão analisadas
no artigo de autoria de Glades Mueller, que compõe essa coletânea.

132 133
deram as questões encaminhadas via e-mail, a todas as escolas pertencentes Ainda com referência a esta indagaçao 22% dos participantes da
aos CEFAPROS de Juara e Cáceres em dezembro de 2017. Como se afirmou pesquisa afirmaram que o planejamento e o trabalho interdisciplinar
neste texto, foram devolvidos sessenta e nove questionários respondidos apresentaram maiores contribuições em sua formação, como bem ilustram
do polo de Juara e Cáceres. as narrativas seguintes: “Planejamento, porque nos auxilia de forma eficaz
A seguir contextualizam-se as respostas geradas por meio dos questio- para a prática docente” (P. 42), “Planejamento interdisciplinar, porque
nários respondidos pelos colaboradores desta pesquisa. O esforço em ca- direciona melhor as atividades de sala de aula e facilita a socialização
tegorizar, quando possível, as respostas para a construção do texto, deu-se entre os conteúdos” (P. 50).
sob a perspectiva de valorizar cada contribuição e atribuir sentidos a ela. Percebe-se nas respostas dos professores o pensamento Freiriano de
O primeiro questionamento indagava: quais ações formativas vinculadas que somos seres inacabados e, portanto, em constante formação. Neste
ao Cefapro, você participa na escola? Nesta resposta, 95% dos profissionais sentido, o professor assume a condição de auto formador orientado pela
afirmaram ser a Formação Continuada a ação que mais participavam e os responsabilidade social, deixando de ser apenas transmissor de conteúdos
demais 5%, responderam ser os Programas vinculados as políticas públicas ao assumir uma atitude problematizadora e mediadora no processo de
implantadas tanto pela esfera federal, como estadual; semana pedagógica; ensino e aprendizagem (FREIRE, 1996).
reuniões; palestras; planejamento; e minicursos também foram citados Na compreensão dos respondentes, a transposiçao didática também
como atividades vinculadas aos CEFAPROs que participaram. trouxe maior contribuição por meio do processo de formação continua-
Apesar do inexpresivo número de profissionais que responderam ao da, de forma que 14% apresentou essa justificativa. Os demais, 11% dos
questionários, tendo como referência o universo da pesquisa, as contribui- respondentes transitaram por oficinas, aproximação CEFAPRO/Escola,
ções destacaram a importância da formação continuada in loco. Todavia, eventos científicos, dentre outras respostas como ações formativas que
além da oferta de formação continuada na escola, este processo, segundo mais colaboram em suas formações. Em relação a questão da transposição
Nóvoa (1995, p. 25) deve pautar-se em: didática, Menezes (2004, p. 69) afirma que esta “[...] possibilita analisar
a trajetória que se cumpre desde a produção do saber científico até o
[…] uma perspectiva crítico-reflexivo, que forneça aos professores os momento em que se transforma em objeto de ensino, [...] transformando-
meios de um pensamento autónomo e que facilite as dinâmicas de auto- -se, por fim, em um saber ensinado”. Todavia, a que se advertir para os
-formação participada. Estar em formação implica um investimento efeitos reprodutivistas que esta formação, quando mal compreendida,
pessoal, um trabalho livre e criativo sobre os percursos e os projectos poderá desencadear. A concepção de formação continuada pautada nos
próprios, com vistas à construção de uma identidade, que é também uma fundamentos da teoria histórico cultural (VYGOTSKY, 2011) propiciará
identidade profissional. aos professores uma atuação em sala pautadas em intervenções dinâmica,
inovadoras e autênticas que superem a mera “transposição didática” no seu
O referido autor ratifica sua defesa de que a formação do professor sentido estrito. Até mesmo porque, esta concepçao pauta-se na autonomia
crítico, reflexivo, histórico e autor de sua própria formação se dá neces- de professores e estudantes, que pela via do diálogo, planeja e trabalha
sariamente pela conscientização destes em se tornarem protagonistas do ações interventivas problematizadas no contexto em que a comunidade
processo de formaação. educative se insere.
O segundo questionamento indagou: Dentre as ações formativas, Ainda foi solicitado aos professores que citassem e justificassem as
quais apresentaram maior contribuição em sua formação continuada? Por ações formativas que menos contribuíram com a formação e atuação
quê? Observou-se que 53% justificaram ser a “atualização profissional” a profissional. Das sessenta e nove pessoas que responderam ao questio-
maior contribuição, como se pode observar: “Mesmo sendo a formação namento, aproximadamente 67% afirmaram que as ações formativas,
continuada o único projeto desenvolvido e acompanhado pelo CEFAPRO, por um motivo ou outro, não contribuíram com a formação e atuação
considero de relevância pelo fato que o professor, no desenvolvimento da profissional. Contudo, 33% afirmaram que todas as ações relacionadas
sua profissão, precisa estar em constante atualização/formação” (P. 4). à formação continuada contribuíram com o seu percurso profissional.

134 135
Os principais motivos citados pelos professores que afirmaram que das necessidades vivenciadas na escola” (P. 6). Em relação a essa mesma
as atividades formativas realizadas pela via dos CEFAPROs não contri- realidade, outro professor afirmou que:
buíram foram referentes à utilização das tecnologias. Neste sentido, os
respondentes justificaram o descaso para com os laboratórios de infor- [...] o PEIP foi uma ação totalmente inútil, onde a SEDUC/Cefapro não
mática nas escolas, nos quais, tanto as máquinas, quanto o acesso a rede respeitou as necessidades formativas das escolas, impondo temas e ações
de internete, não funcionaram. Essa realidade contraria as propostas descabidas para a formação continuada. A proposição de temas fora das
didáticas contemporâneas, cuja orientação preconiza a inserção das tec- necessidades das escolas, isso gerou muito descontentamento entre os
nologias digitais da informacao e da comunicação no desenvolvimento professores Durante as atividades (P. 9).
de estratégias educacionais. Os Centros, como assegura a Lei nº 8.405,
de 27 de dezembro de 2005, em seu Art.1º, parágrafo teriam “[…] por Essas afirmações contrariam a intencionalidade da oferta da formação
finalidade a formação continuada, o uso de novas tecnologias no processo continuada in loco, conforme Nóvoa (1992, p. 14) apregoa:
de ensino-aprendizagem e a inclusão digital de profissionais da Educação
Básica da rede pública estadual de ensino”. Não se trata de mobilizar a experiência apenas numa dimensão pedagó-
Projetos como Sala de Educador e PEIP tiveram pouco reconheci- gica, mas também num quadro conceptual de produção de saberes. Por
mento por parte de alguns professores, inclusive, esses foram considera- isso, é importante a criação de redes de (auto)formação participada, que
dos desfavoráveis à realidade das escolas. De acordo com os documentos permitam compreender a globalidade do sujeito, assumindo a formação
oficiais da SEDUC/MT, no ano de 2016, a formação continuada ofertada como um processo interactivo e dinâmico. A troca de experiências e a
por meio do Projeto Sala de Educador, foi realinhada com o Projeto de partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais
Estudo e Intervenção Pedagógica (PEIP), com a seguinte orientação: cada professor é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de
formador e de formando. O diálogo entre os professores é fundamental
[...] no momento de elaboração do PEIP, os profissionais da Escola fa- para consolidar saberes emergentes da prática profissional. Mas a criação
çam um estudo criterioso sobre os resultados das avaliações externas e de redes colectivas de trabalho constitui, também, um factor decisivo de
internas que mensuram a proficiência dos estudantes, utilizando-os como socialização profissional e de afirmação de valores próprios da profissão
elementos de diagnóstico para rever o planejamento das ações educativas docente. O desenvolvimento de uma nova cultura profissional dos pro-
na escola com o fim de assegurar o direito à educação, conforme previsto fessores passa pela produção de saberes e de valores que dê corpo a um
nos art. 205 e 208 da Constituição (1988), nos art. 2 e 4 da Lei de Diretrizes exercício autónomo da profissão docente.
e Bases da Educação (LDB, 1996) e nos Planos Nacional e Estadual de
Educação. (MATO GROSSO, Orientativo Sala do Educador/2016, p. 12). Portanto, ao pensar um espaço e propor uma ação formativa que não
dialogava com o que pensavam e buscavam os profissionais da educação
Chamou atenção o expressivo percentual de posicionamento contrário no espaço da formação continuada, entendeu-se que o Centro contrarious
ao formato de formação continuada apresentado em 2016 pela SULFP/ a sua proposta de oferta de formação continuada in loco. Neste sentido,
SEDUC nas respostas dos professores. Esses afirmaram que mediante a Veiga (1998, p. 13), afirma que as políticas públicas sao determinadas “no
caracterizaçao do PEIP, a formação continuada foi descontextualizada, sentido de se definirem as ações educativas e as características necessárias
uma vez que houve direcionamento dos referencias que deveriam ser às escolas de cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade”.
estudados por parte da SUFP/SEDUC/MT. Esta exigência, pautou-se nos Outro aspecto negativo apontado pelos respondentes refere-se a me-
resultados das avaliações externas, contudo a imposição de textos a serem todologia e a falta de autonomia das escolas para melhor dialogar, pensar
estudados não atendeu as necessidades formativas dos professores, como e propor o espaço da formação. Também a falta de planejamento por parte
afirmou um dos entrevistados, “[...] pois geralmente somos obrigados a dos Centros de Formação nas ações propostas foi bastante questionada.
seguir um roteiro de estudo imposto pela SEDUC que muitas vezes foge Segundo os professores, os Centros não preveem com antecedência a

136 137
realização das ações formativas. Em atenção às instabilidades dos en- dos professores, é reconhecida enquanto possibilidade de inovações da
caminhamentos da SUFP/SEDUC/MT, os CEFAPROs constantemente atuação docente.
alteravam seu cronograma e/ou introduziram novas ações, muitas delas Outra questão respondida pelos professores indagou o que os mo-
com finalidades distintas das previstas na formação continuada. Essa tivou a participar dos projetos de formação continuada ofertados pela
condição corrobora as fragilidade do processo da formação. Para Vascon- via do Cefapro? Seguindo a mesma metodologia da questão anterior,
cellos (2000), a partir da perspectiva educacional, o planejamento é um categorizou-se as respostas nos seguintes campos: certificação, capacitação,
ato político-pedagógico porque revela intenções. Neste sentido: metodologia e temática.
Na primeira categoria, aproximadamente 20% dos professores afir-
[…] planejar é elaborar o plano de intervenção na realidade, aliando maram ser a certificação o motivo de suas participações nos projetos de
às exigências de intencionalidade de colocação em ação, é um processo formação continuada. Este posicionamento dialoga com o alto índice
mental, de reflexão, de decisão, por sua vez, não uma reflexão qualquer, de participantes que afirmaram (na questão anterior) não verem pontos
mas grávida de intenções na realidade. (VASCONCELLOS, 200, p.43). positivos no processo formativo, como indicaram os excertos: “A inclu-
são dela na contagem de pontos para o processo de atribuição de aulas
O autor concebe o planejamento com a intencionalidade de interven- no ano seguinte” (P. 01), “Primeiramente os certificados, mas tudo que
ção no agir que reflete sobre esta ação e consequentemente na realidade. aprendemos é valido” (P. 68).
Nesta lógica, o planejamento assume o papel de protagonista nas mudanças A compreensão da oferta da formação continuada como uma neces-
de que as ações necessitam. sidade profissional, como afirma Arroyo (2002), ao propor a superação
Por ultimo, as contribuições denotaram como ponto negativo a au- de uma escola presa a “grades curriculares” para uma escola na qual seus
sência de metodologias que vão ao encontro aos anseios em sala de aula profissionais sejam protagonistas de sua formação, perpassa necessaria-
no que tange a prática docente, como afirmou um professor: “As que mente em (des)construir o pensamento da formação continuada como
menos contribuíram foi que eu esperava oficinas práticas para poder levar meio de certificação e adotá-la como uma prática necessária.
para sala de aula, como isso não teve, fiquei um pouco decepcionada” Na segunda categoria estão 56% das contribuições que apostaram na
(P.10). Percebe-se que o desejo dos entrevistados perpassou por formações possibilidade de serem capacitados por meio da formação continuada.
pautadas em oficinas pedagógicas, como possibilidade de inovações dos Estes afirmaram que “[...] a motivação é pela capacitação, envolvimento
recursos a serem utilizados na prática docente. e interesse nos temas que possam qualificar a ação em sala de aula”. (P.
Todavia, vinte e três dos professores respondentes afirmaram que, de 04). Contudo, a participação na formação continuada também foi com-
certa forma, todas as atividades formativas, contribuíram com sua forma- preendida por muitos como uma necessidade:
ção profissional, como evidencia o excerto: “[...] todas as ações formativas
contribuíram de alguma forma para minha formação e ação profissional A formação continuada para mim é uma necessidade, pois penso que
uma vez que foram temas levantados pelo grupo após fazermos um diag- mediante os desafios que nós professores enfrentamos na sala de aula é
nóstico da nossa realidade” (P. 36). preciso muita criatividade para conseguir dinamizar as aulas e motivar os
alunos para vencer os obstáculos epistemológicos que surgem, e isso, eu
Na minha opinião todas as ações são validas, desde que nos prontifica- penso que só é possível através do conhecimento que vem com leituras
mos a desenvolvê-las em nosso dia-a-dia. Afinal, hoje posso achar que reflexivas, troca de experiências, diálogos e estudos contínuos. (P. 09).
determinadas ações não são significativas, mas em outro momento possa
vir a ser de suma importância para nortear a prática pedagógica. (P. 37). Embora os respondentes no primeiro questionamento alegaram que
participam das formações em função da certificação, neste segundo ques-
Esta afirmação leva a conjecturar que a formação continuada, em- tionamento destacaram a necessidade de estarem em constantes forma-
bora ainda não tenha impactado a transformação da prática pedagógica ções, com vistas a melhorarem suas práticas pedagógicas.

138 139
A terceira categoria reuniu contribuições que elucidaram que a mo- deficiência” (P.4). “As formações na teoria é tudo maravilhosa, porém a
tivação em participar das formações foi a perspectiva de melhorar a realidade vivenciada nos mostra outra situação” (P. 6).
intervenção em sala e, consequentemente, melhorar a aprendizagem dos Os argumentos dos respondentes expressaram aspectos importantes
estudantes como demonstra o excerto que segue: “O que me motivou a que precisam ser ponderados ao ofertar formação continuada, como, por
participar dos projetos de formação foi melhorar minha prática docente, exemplo, aproximar da realidade de cada unidade escolar e ofertar uma
bem como melhorar a aprendizagem dos alunos” (P. 15). Este desejo está formação que de fato atenda às necessidades das escolas na busca pela
presente nas narrativas de 9% dos entrevistados. Nóvoa (1997, p. 26), melhoria da qualidade da educação ofertada.
defende o pressuposto de que: “A troca de experiências e a partilha de A segunda categoria reuniu 16,9% dos respondentes que consideraram
saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada professor que às políticas públicas educacionais de formação continuada via ações
é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de dos CEFAPROs “contribuíram” para seu desempenho em sala de aula,
formando”. como denotam os excertos: “A formação criou momentos de reflexão,
A quarta categoria reuniu contribuições que evidenciaram serem as inovação e pesquisa” (P.3). “As políticas são motivadoras e traz incentivos
temáticas apresentadas, a motivação das participações nos processos for- para a vida profissional” (P.14). Neste contexto, Freire (1981, p.79) afirma
mativos. Um dos professores assim afirmou: “o que me motiva a participar que “a educação não transforma o mundo, a educação muda as pessoas e as
dos projetos de formação é a importância dos temas que me dão suporte pessoas transformam o mundo”. Isso mobiliza a pensar que, se o objetivo
para os planos de intervenção pedagógica” (P. 21). Esta perspectiva incluiu são mudanças no necessário educacional, então é necessário investir na
15% dos respondentes. formação das pessoas com vistas a transformação da realidade.
A partir do pressuposto de que as temáticas deveriam ser deliberadas A terceira categoria representada por 22,5% dos respondentes, reuniu
e definidas pelo coletivo, as informacões deveriam representar um número diferentes avaliações, que podem ser observadas nas contribuições a seguir:
maior de professores nesta categoria. Todavia, as respostas indicaram “Deveria contratar os professores em janeiro e fazer as devidas formações
outro processo no qual estas temáticas são “apresentadas”. Esta prática e atualizaçõe.” (P. 8). Nessa categoria observou-se que os professores res-
entra em sintonia com o pensamento de Nóvoa (1997, p. 27), ao afirmar pondentes tinham opiniões diversas, entretanto essa contribuição chamou
que “As situações conflitantes que os professores são obrigados a enfrentar a atenção: “Penso que as ações formativas promovidas pelo Cefapro são
(e resolver) apresentam características únicas, exigindo portanto carac- importantes para continuidade da nossa formação profissional, contudo,
terísticas únicas: o profissional competente possui capacidades de auto quando algo é imposto, nos faz realizá-lo apenas por obrigação e não
desenvolvimento reflexivo”. Neste sentido, a formação continuada ofertada por prazer” (P. 31). A imposição de temas para estudo foi colocada em
deveria trilhar pelo caminho da emancipação do pensamento crítico, capaz evidência no ano de 2016, quando a SULFP/SEDUC/MT por meio da
de ler a realidade da escola e dela construir a proposta formativa com a Portaria nº 161/2016 que orientava a formação continuada, determinou
perspectiva de superação das fragilidades apresentadas. que todas as escolas estaduais realizassem estudos conforme as referências
Na tentativa de compreender a relação de trabalho formativo entre as encaminhadas. Como mencionado anteriormente nesse texto, essa impo-
escolas e a instituição formadora questionou-se quais análises/avaliações sição feriu a autonomia das escolas em definir os assuntos de acordo com
os professores faziam com referência às políticas públicas educacionais suas dificuldades pedagógicas. Nesta Portaria, o Projeto Sala de Educador
de formação continuada implementadas por meio dos CEFAPROs? As foi substituído pelo (PEIP) que previa:
respostas dos professores, concernentes à questão indicaram três catego-
rias de análises. O Projeto de Estudo e Intervenção Pedagógica contemplará ações distin-
Assim, a primeira categoria abarcou 60,5% das respostas que con- tas, mas complementares, realizadas em duas etapas. Na primeira etapa,
sideraram que os trabalhos formativos realizados no âmbito dos Cefa- será realizado um estudo coletivo com temáticas propostas, que abrangerá
pros “precisam melhorar”, como demonstraram os excertos que seguem: o I Semestre letivo. A segunda etapa será desenvolvida no II semestre
“Trazer ações formativas para melhorar o atendimento das crianças com letivo, quando serão realizadas ações de intervenção e estudos específicos.

140 141
[...] A escola, sob a coordenação do coordenador pedagógico, deverá na area, algumas disciplinas não terão professor. No meu entendimento
elaborar para os docentes um cronograma de estudos coletivos com as a formação continuada poderia formar melhor esses professores em
seguintes temáticas propostas [...]. (PORTARIA, n. 161, 2016, p. 5-10). suas dúvidas em relação às disciplinas em que não são formados (P.13).

Também foi questionado se os projetos de formação continuada Os desafios impostos ao trabalho dos Centros junto as escolas são mui-
atendiam as necessidades de formação e atuação profissional. Em caso tos. As contribuições revelaram situações em que a dinâmica do trabalho
afirmativo, pediu-se para que fosse explicado. Neste questionamento, formativo tem obstáculos epistemológicos que dificilmente poderão ser
35,29% dos respondentes afirmaram que sim, a formação continuada, sob superados, ao se considerar os contextos em que as escolas estão inseridas.
a orientação e o acompanhamento dos Cefapros, atendeu as necessidades Nesse viés, Nóvoa (2010, p. 7) sugere que os problemas sejam enfrentados
formativas dos professores, como é destacado nas respostas: “Sim, esse na dimensão coletiva.
ano foi trabalhado temas onde trabalhamos sequências didáticas de forma
interdisciplinar, onde tivemos resultados muito bons” (P.16). “Sim, porque Hoje, a complexidade do trabalho escolar reclama um aprofundamento
os temas trabalhados são voltados para as nossas necessidades de atuação das equipas pedagógicas. A competência colectiva é mais do que o so-
no dia a dia profissional” (P.19). matório das competências individuais. Estamos a falar da necessidade de
Como se observa nas contribuicoes dos professores, um número um tecido profissional enriquecido, da necessidade de integrar na cultura
significativo afirmou que o trabalho de formação continuada apresentava docente um conjunto de modos colectivos de produção e de regulação
resultados interessantes. Entretanto, um número preocuoante afirmou do trabalho. (Grifos do autor).
que as ações de formação continuada realizadas com o respaldo dos
CEFAPROs, não atenderam as expectativas e os anseios dos professores. A última categoria, representada por 36,76% dos respondentes, con-
Observa-se, então, que: siderou que os projetos de formação continuada atenderam parcialmente
as necessidades formativas da escola. Nesta perspectiva, apontaram várias
A educação vive um tempo de grandes incertezas e de muitas perplexida- atividades formativas que foram interessantes a sua prática pedagógica.
des. Sentimos a necessidade da mudança, mas nem sempre conseguimos Entretanto, revelaram, também, fragilidades que precisam ser observadas
definir-lhe o rumo. Há um excesso de discursos, redundantes e repetitivos, e melhoradas no trabalho dos professores formadores, como denotaram
que se traduz numa pobreza de práticas. (NÓVOA, 2010, p. 2). (Grifos as contribuições que seguem: “Às vezes; pois deveria ter mais curso com
do autor). oficinas baseada na realidade da escola, por exemplo, a escola do campo”
(P.17). “Em partes, pois os estudos teóricos auxiliam, porém não houve
Neste contexto, 27,94% dos respondentes afirmaram que os proje- tempo suficiente para aplicá-lo na prática” (P. 34).
tos de formação continuada desenvolvidos nas escolas não atenderam Como confimaram as contribuições, um dos desafios dos CEFAPROs
as necessidades formativas dos professores. Dentre as justificativas dos refere-se ao professor formador com perfis diferenciados para atender as
respondentes incluíram-se: “Não, este ano de 2017 não foi proposta ne- escolas em atenção a diversidades de temas e assuntos exigidos. Além
nhuma discussão ou atividade sobre Educação Inclusiva e Atendimento disso, estudos realizados por Oliveira (2015) revelaram outras dificulda-
Educacional Especializado” (P. 5). des que são encontradas no ambiente escolar pelo professor formador no
exercício das suas atribuições.
Não, a maior dificuldade de um educador do campo é lecionar em áreas
afins. Por exemplo: sou formado em biologia e leciono também química Dentre as dificuldades que o professor formador do Cefapro encontra para
e física e já lecionei matemática, porque o número de turmas é pequeno desempenhar suas funções estão: o acompanhamento do Projeto Sala do
em escolas do campo e todos, ou quase todos os professores trabalham Educador na escola mediante a necessidade de desenvolver programas
com disciplinas que não é de sua formação e se resolverem trabalhar só de formação do MEC, a resistência das escolas com relação ao sistema

142 143
de ensino organizado por ciclos de formação humana e trabalhar a for- que essa temática faça parte da formação continuada. Essa preocupação é
mação continuada por área de conhecimento, sendo seus conhecimentos muito pertinente, pois Segundo Mittler apud Carneiro (2011), “[...] os pro-
limitados pela disciplina. (OLIVEIRA, 2015, p. 100-101). fessores já tiveram sujeitos a uma avalanche de mudanças, nas quais suas
visões não foram seriamente consideradas. É importante que a inclusão
Assim, os desafios enfrentados pelos professores formadores constitu- não seja vista apenas como uma outra inovação [...]”. Como afirmaram
íram-se em um dos fatores mais importantes nesse processo de formação os professores, nos últimos anos as escolas receberam vários estudantes
continuada que ocorrem nas escolas, sob a orientação e o acompanha- com perfil para educação inclusiva e não atuaram satisfatoriamente com a
mento dos CEFAPROs. situação de acolhimento aos estudantes com deficiências, de forma a lhes
Para finalizar a sequência de questões que constituíram as análises da assegurarem o direito a aprendizagem. Neste sentido, seria necessário e
pesquisa, solicitou-se aos respondentes que apontassem alternativas que, importante rever posturas para a adoção de novas atitudes.
na compreensão deles, contribuiriam para a (re)formulação dos projetos Os demais assuntos relacionados à diversidade educacional, como as
de formação continuada em atenção a melhoria da atuação docente, e, modalidades da EJA, Campo e Indígena, bem como transposição didática,
consequentemente na aprendizagem dos estudantes e, por conseguinte, apresentaram um percentual abaixo de 5%. Entretanto, estas são temáticas
na qualidade social da educação pública ofertada em Mato Grosso. que também podem compor as necessidades formativas a serem estudadas
Entre as sugestões dos professores destacaram-se 36,23% dos respon- para que os professores possam atender melhor a sua realidade. Como
dentes que manifestaram que a formação continuada “atenda a realidade afirmado, quem deveria definir o que estudar com vistas a atender as ne-
da escola”. Todavia, um imperativo do Orientativo da SEDUC/MT/2015, cessidades são os participantes da formação continuada ofertada na escola.
que normatizava e orientava toda construção do projeto de formação Com relação à análise/avaliação acerca do trabalho realizado pelos
continuada na escola, conferia autonomia as escolas para elaborarem e CEFAPROs, as reflexões apresentadas pelos professores foram organiza-
proporem temáticas a serem trabalhadas na formação continuada, com das em quatro categorias conceituais, quais sejam: muito bom, bom/boa,
vistas a atender as dificuldades pedagógicas que as escolas enfrentavam. regular/ruim, outros.
Porém, no ano de 2016 a Portaria nº 161/2016 elaborado pela SEDUC/ Analisando as categorias definidas, a categoria “regular/ruim” obte-
MT sofreu mudanças drásticas e passou a normatizar o que e como cada ve maior expressividade com uma porcentagem de 37,68%, seguida de
unidade escolar deveria fazer durante a formação. Essa Portaria deter- “bom” e “outros” com 21/73%, enquanto o conceito “muito bom” ficou
minou inclusive as leituras sobre “projeto de intervenção, pesquisa-ação, com 18,84%, o menor percentual. Os conceitos favoráveis “muito bom”
avaliação educacional, que os professores deveriam fazer (p. 7-9)”, onde e “bom” juntos denotaram que os trabalhos relacionados as ações de for-
até mesmo as bibliografias foram escolhidas pela SEDUC e encaminhadas mação continuada desenvolvidas no âmbito dos CEFAPROs, nos últimos
a todas as escolas, o que gerou inconformismo e resistências das escolas e, dez anos, atingiram um percentual superior a 40%.
de certa forma, desmobilizou a oferta da formação continuada.
As sugestões referentes as “oficinas pedagógicas, mini cursos e outros”
foram o segundo item proposto pelos colaboradores da pesquisa, repre- Considerações Finais
sentado por 23,18%, ou seja, existem uma porcentagem significativa dos
profissionais que desejavam tern a formação continuada, atividades que O resultado da pesquisa evidenciou como os professores conceberam
colaborassem com os desafios que as escolas enfrentavam para dinamizar o trabalho realizado pelos CEFAPROs nos últimos dez anos, demarcou
o processo de aprendizagem junto aos estudantes, pois, na compreensão os principais aspectos que merecem atenção, bem como os que precisam
destes, geralmente as oficinas e mini cursos propõem ações práticas sobre ser repensados para atender as expectativas dos educadores. Evidenciou,
determinados temas de interesse dos professores. também, as ações realizadas que contribuíram de forma significativa para
No quarto grupo uma temática que apresentou com uma porcentagem o desenvolvimento do trabalho dos professores e provocaram a melhoria
considerável foi o tema “inclusão”. Os professores manifestaram interesse no processo de aprendizagem dos estudantes.

144 145
As probelmatizações, reflexões e análises apresentadas neste artigo, 1992. ISBN 972-20-1008-5. pp. 13-33.
a partir das contribuições dos professores, provocaram outras reflexões ________ . (Coord.). Os professores e a sua formação. 2. ed. Lisboa: Dom Quixote,
que perpassaram pela necessidade de se reafirmar ações de formação con- 1995.
tinuada pautadas no diagnóstico da realidade de cada espaço educativo, ________ . (Org.). Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote. 1997.
para tanto, há de se pensar no empoderamento dos sujeitos do processo
________. Para uma formação de professores construída dentro da profissão.
no ato de construir e implementar o processo formativo.
Universidade de Lisboa. Lisboa. Portugal. 2010. Disponível em: https://terrear.blo-
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146 147
rede pública do Estado de Mato Grosso, e ainda pelo desenvolvimento de
parcerias de políticas educativas no âmbito do Ministério de Educação
(MEC), Secretarias Municipais de Educação (SEMEs) e Instituições de
Educação Superior (IES).
A formação continuada ofertada nas escolas, no decorrer dos últi-
| Mapeamento e análise das ações promovidas mos dez anos, foi implementada por meio do Projeto Sala de Educador
pelos CEFAPROs de Juara e Cáceres (PSE). Esse projeto passou por várias reformulações e denominações
nesse interim. Todavia, uma importante característica do PSE que se
Cervan Gomes Ferreira
manteve foi em relação aos temas trabalhados na formação continuada.
Edilamar Burille da Silva
A escola era orientada a realizar uma avaliação diagnóstica das necessi-
dades formativas dos professores e, a partir do resultado da avaliação,
selecionavam-se em conjunto com os profissionais docentes da escola,
Introdução
os temas que seriam trabalhados no decorrer do ano letivo. A orientação
A Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (SEDUC/MT), era de que as metodologias utilizadas nas formações refletissem a prática
com o objetivo de fortalecer a formação continuada em serviço, instituiu docente em sala de aula.
os Centros de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Neste sentido, os CEFAPROs funcionavam como vias de mão dupla,
Básica (CEFAPROs), em municípios-polos estrategicamente localizados. pois atendiam a demanda das escolas, bem como da Secretaria de Estado
A criação e implantação dos CEFAPROs, no contexto de Mato Grosso, de Educação. Assim, os Centros constituíram-se enquanto polos irradia-
aconteceu a partir de 1997, com o propósito de promover a formação dores dos programas e diretrizes educacionais.
continuada dos profissionais docentes e funcionários da rede pública de Os CEFAPROs, vinculados à Superintendência de Formação dos
educação no próprio local de trabalho. Profissionais da Secretaria de Estado de Educação contavam com sa-
A criação dos CEFAPROs de Cuiabá, Diamantino e Rondonópolis las de aulas, bibliotecas, midiatecas, acervos de fitas gravadas da TV
deu-se mediante o Decreto nº 2.007/1997. Em seguida, com o Decreto Escola, microcomputadores, equipamentos audiovisuais e professores
nº 2.319/1998, criaram-se os Cefapros de Alta Floresta, Barra do Garças, especialistas nas diversas áreas de conhecimento. Tinham como função
Cáceres, Juína e São Félix do Araguaia; Pelo Decreto nº 53/1999 os Cefapro implementar as ações da política do Estado de Formação Continuada
de Juara, Confresa, Matupá e Sinop foram criados; e com o Decreto nº do Ensino Fundamental, Escola Ciclada e Médio, como também incluir
6.824/2005, o Cefapro de Tangará da Serra. Estes decretos serviram de a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Além disso, elaborar o Plano de
base para a Lei 8.405, de 27 de dezembro de 2005, que transformou os Ação da Formação Continuada a partir dos projetos das escolas do polo
CEFAPROs em unidades administrativas vinculadas à SEDUC/MT. Em em consonância ao Projeto Político Pedagógico e ao Plano de Desenvol-
24 de dezembro de 2008, esta lei foi complementada pela Lei 9.072, que vimento dos CEFAPROs.
criou os Centros em Pontes e Lacerda e Primavera do Leste. Atualmente, Com referência à formação da área 2, técnicos e apoios das escolas,
há quinze CEFAPROs implantados em Mato Grosso, os quais contam Mato Grosso, pela via dos CEFAPROs se destacou com a oferta de forma-
com aproximadamente 500 profissionais, com abrangência e atendimento ção. Com isso, desenvolveu-se o Projeto Arara Azul, implantado em 1998,
em cento e quarenta e um municípios, que atendem mais de trinta mil com vistas a valorizar os profissionais da educação, amparados pela Lei
profissionais da Educação Básica. Complementar nº 50/98, que dispõe sobre a carreira dos profissionais da
Os CEFAPROs são órgãos responsáveis pela política de formação, Educação Básica. Projeto, pioneiro no Brasil, formou a primeira turma em
sistematização e execução de projetos e programas da SEDUC/MT, como 2000, ano em que novas turmas foram abertas em Cuiabá, Alta Floresta,
também, pela efetivação da Política Educacional do Estado no que se refere Sinop, Tangará da Serra, Diamantino, Rondonópolis e Cáceres e, em 2001,
à qualificação e valorização dos profissionais da educação que atuam na nos polos de Matupá, São Félix, Barra do Garças, Nova Xavantina, Jaciara,

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Campo Verde, Primavera, Alto Araguaia, Alto Garças, Pontes e Lacerda, de estratégias e atividades que auxiliem na constituição da identidade do
Araputanga, Mirassol D’este e São José dos Quatro Marcos. estudante e também do professor. Neste processo:
O quadro de profissionais dos CEFAPROs é constituido pela equipe
gestora (direção, coordenação de formação continuada, secretária), pro- [...] os saberes profissionais dos professores estão sempre a serviço da
fessores formadores, profissionais técnicos e administrativos, com vistas ação, pois é na ação que eles ganham significado. Logo, esta ação pode
a uma gestão democrática. Para composição do quadro dos CEFAPROs, ser definida como um saber plural, formado pela amalgama, mais ou
os profissionais da educação participavam de um processo de seleção. A menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de sa-
exigência era de que atuassem na rede pública de educação e tivessem beres disciplinares, curriculares e experienciais. (TARDIF, 2014, p. 36).
mais de cinco anos de experiência no magistério com habilitações em
áreas específicas. Tardif (2014) menciona, ainda, que os saberes são personalizados e
A orientação era de que as equipes técnicas e pedagógicas de cada situados, visto que o professor tem uma história de vida, emoção e senti-
CEFAPRO conhecessem a realidade das escolas e de seu entorno, por mentos que são característicos dele, e que fazem parte do contexto em que
isso tinham como desafio a oferta de propostas de formação continuada ele está inserido. Ainda em relação aos saberes profissionais, o considera
adequadas ao perfil dos professores e ao projeto político-pedagógico das pensando na problemática da profissionalização, a qual comporta, para
unidades educativas. o autor, oito características: “a) especializado e formalizado; b) adquirido
na universidade; c) pragmático; d) destinado à uma parcela; e) avaliado
por grupo de pares; f) improvisado ou mesmo adaptado para reflexão;
Percursos da formação de professores vivenciados no g) formação continua; h) responsabilidade do profissional”. (TARDIF,
CEFAPRO de Juara 2014, p. 247-249).
As afirmações dos pesquisadores concernentes à formação corro-
Ao refletir sobre a formação de professores, no primeiro momento vem boram a defesa da necessidade da oferta de formação continuada em
a mente a formação inicial, que é de responsabilidade das universidades serviço que Mato Grosso implantou com a criação dos CEFAPROs.
e instituições de ensino superior. Em seguida, surge outra indagação: ao Com o objetivo de contextualizar alguns aspectos dessa política, des-
concluir o processo de formação inicial, os professores se sentem seguros creve-se a seguir, breve histórico do seu processo de implantação em
para enfrentar o exercício da profissão docente? Ou é necessária a continui- Mato Grosso.
dade do percurso formativo? Muitos estudiosos afirmam que o professor Em 1980, houve a criação do projeto Centro de Formação e Aper-
se faz professor na profissão, como afirmam Libâneo (2004, p. 267): feiçoamento do Magistério (CEFAM). A princípio, esses Centros foram
criados somente em três estados, sendo estes: Alagoas, Minas Gerais e
A profissão de professor combina sistematicamente elementos teóricos Rio Grande do Sul. Em Mato Grosso, o CEFAM passou a fazer parte da
com situações práticas reais. É difícil pensar na possibilidade de educar política estadual em 1986, mas a concretização deu-se apenas em 1989.
fora de uma situação concreta e de uma realidade definida. Por essa
razão, a ênfase na prática como atividade formativa é um dos aspectos Assim, tivemos em 1989, a implantação do Cefam em Cuiabá, na Escola
centrais a ser considerado, com consequências decisivas para a formação Estadual de 1° e 2° Graus André Avelino Ribeiro; Barra do Bugres, na
profissional. Escola Estadual de 1° e 2° Graus Júlio Müller e, em 1990, em Rondonó-
polis, na Escola Estadual de 1° e 2° Graus Sagrado Coração de Jesus; em
No processo de constituição da identidade docente inclui-se a reflexão Várzea Grande, na Escola Estadual de 1° e 2° Graus Licínio Monteiro; em
sobre a educação, a qual implica em pensar o contexto de formação o Sinop, na Escola Estadual de 1° e 2° Graus Nilza de Oliveira Pepino e, em
tempo todo, pois não há como educar sem estudar, sem o entendimento de Cáceres, na Escola Estadual de 1° e 2° Graus Onze de Março. (ROCHA,
como o outro aprende e para isso é necessário constantes estudos, buscas 1996, p. 77).

150 151
A partir desse movimento, a Secretaria de Estado de Educação Não há como ser professor sem estar em constante formação, se con-
decidiu pelo investimento na proposta de formação, por isso criou os sider que esse profissional só se constitui no exercício da sua profissão. No
Centros de Formação e Atualização do Professor, com programas de dia-a-dia, ele encontra desafios que precisam solucionar e por meio da
formação continuada e de formação para professores não habilitados, formação continuada busca alternativas para superá-los. Diversos autores
na área da educação. descrevem o conceito de desenvolvimento profissional em substituição ao
conceito de formação inicial e continuada, como: Nóvoa (2008); Imbernón
A decisão da Secretaria de Educação em privilegiar, neste momento, (2002); Garcia (2009). Neste sentido, ressalta-se que:
essas duas frentes, se dá, em primeiro lugar, pelo compromisso com uma
educação de melhor qualidade nas zonas urbana e rural (local de maior [...] a preferência por essa conceituação é justificada por Marcelo (2009),
incidência de professores não habilitados). Em segundo lugar, pela porque define claramente a concepção de profissional do ensino e o termo
determinação da Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional desenvolvimento profissional. Sugere evolução e continuidade, rompendo
n° 9-394/96, que exige que a formação dos professores não titulados com a tradicional justaposição entre formação inicial e continuada. Assim,
se dê em cinco anos, obrigando os estados a adotarem medidas emer- o desenvolvimento profissional docente é entendido como um processo,
genciais para solucionar o impasse. Com um quadro preocupante, de que pode ser individual ou coletivo, mas que deve se contextualizar no
aproximadamente 2.600 professores não habilitados atuando no sistema, local de trabalho do docente – a escola – e que contribui para o desen-
a Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso tem direcionado volvimento das suas competências profissionais por meio de experiências
especial atenção ao problema, através do Projeto GerAção, cujo pro- de diferentes características, tanto formais, como informais. (URZETA;
grama, sob a forma de suplência, possibilita a formação do professor CUNHA, 2018, p. 3).
em regime de férias. Para tal política, foi necessário firmar convênios
com Instituições Públicas de Ensino Superior para a atualização e A formação continuada em serviço garante o direito de profissiona-
preparação dos docentes para atuarem em cada etapa do programa. E lização dos profissionais da educação, por se inserir em sua jornada de
uma experiência recente, que já tem apresentado resultados positivos trabalho, ou seja, compreende o desenvolvimento de suas especificidades
devido à metodologia com a qual se operacionaliza. (MATO GROSSO, de atuação. Dessa forma, “[...] os princípios dessa política estão alicerçados
1998, p. 6-7). na articulação da formação inicial [...], na formação em serviço vinculada
a uma prática de aprendizagem ao longo da vida e na formação do pro-
Em 2010 os Centros de Formação e Atualização dos Profissionais fissional reflexivo, investigativo, colaborativo e capaz de ações educativas
da Educação Básica (CEFAPROs) do Estado de Mato Grosso, foram em equipe” (MATO GROSSO, 2010, p. 13).
instituídos enquanto unidades administrativas vinculadas à estrutura Como se observa, a escola é o lugar privilegiado da formação conti-
organizacional da SEDUC/MT, com a finalidade de efetivar a polí- nuada de professores, uma vez que as situações profissionais vivenciadas
tica de formação continuada dos profissionais da Educação Básica pelos professores ocorrem em quadros coletivos. Com esta compreensão:
da rede pública estadual. Nesse sentido, Prats apud Carlos Marcelo
(1999, p. 230) afirma que os centros de professores caracterizaram-se O conceito de desenvolvimento profissional docente pressupõe uma abor-
pela descentralização, próximos dos centros escolares, assim como dagem na formação de professores que valorize o seu caráter contextual,
pelo importante papel desempenhado pelos próprios professores na organizacional e orientado para a mudança. Esta abordagem apresenta
gestão administrativa e pedagógica dos mesmos. Para os referidos uma forma de implicação e de resolução de problemas escolares a partir
autores os “CENTROS DE PROFESSORES contribuíram de um modo de uma perspectiva que supera a característica tradicionalmente indivi-
determinante para o desenvolvimento dos atuais movimentos para dualista das atividades de aperfeiçoamento dos professores. (GARCIA,
a autonomia, profissionalização e desenvolvimento profissional dos 1999, p. 137).
professores”.

152 153
Por isso, o desenvolvimento profissional relaciona-se intimamente de formação de professores leigos e projetos pedagógicos para qualificação
com o jogo discursivo e coletivo dos profissionais da Educação Básica dos profissionais da educação com estrutura administrativa e pedagógica
que lhes permite pensar o funcionamento e a organização do trabalho conforme preconiza a Portaria n° 02/98/SEDUC-MT.
e, consequentemente, possibilita-lhes a aprendizagem coletiva. Segundo Dentre os quinze polos está o CEFAPRO de Juara, criado pelo
Imbernón (2012, p. 45), é importante que seja desenvolvida “[...] uma Decreto Nº 053/99/SEDUC/GS/MT, regulamentado pela Lei 8405/05,
formação no local de trabalho, onde ocorrem as situações problemáticas, com base no Artigo 88 da LDB Nº 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases
uma formação desde dentro”, portanto é uma necessidade e se constitui da Educação Nacional e a Resolução Nº 03/97-CNE. O CEFAPRO tem
como desafio para os centros de formação. como instituição mantenedora a SEDUC/MT. Atualmente, constitui-
Com esse entendimento, em Mato Grosso, a partir de 1997 foram -se em unidade administrativa, criada pelo Decreto nº. 6824, de 30
criados os CEFAPROs com o objetivo de fortalecer a formação conti- de novembro de 2005, nos termos do art. 1º da Lei nº. 8.405, de 27 de
nuada nas escolas, assessoradas pelas SEDUC/MT por meio dos quinze dezembro de 2005, que tem por finalidade a formação continuada, o
Centros distribuídos estrategicamente em polos. Conforme ilustra o uso das novas tecnologias no processo educativo e a inclusão digital de
mapa abaixo. profissionais da Educação Básica da rede pública estadual de educação.
Antes da existência do CEFAPRO de Juara, a Assessoria Pedagógica
Figura 1: Mapa que demarca os polos dos CEFAPROs em Mato Grosso realizou algumas formações através da TV Escola.
O CEFAPRO de Juara passou por dificuldades estruturais e de recursos
humanos no início de sua institucionalização. O início das atividades de
formação foram marcadas com a oferta do Projeto Arara Azul no ano
de 2000, com atendimento a todas as escolas do Vale do Arinos (Juara,
Novo Horizonte do Norte, Porto dos Gaúchos e Tabaporã). Desde a sua
institucionalização até os dias de hoje, o CEFAPRO de Juara, assim como
os demais, vivenciaram diferentes organizações estruturais em atenção às
orientações da SEDUC/MT.
Desse modo, a oferta de formação continuada teve várias e dife-
rentes organizações, ora com oferta semanal nos CEFAPROs, ora nas
escolas, por meio de seminários, encontros e demais eventos específi-
cos. Assim, por vários anos o CEFAPRO de Juara promoveu formações
semanais com carga horária definida para atender todos os professores
das escolas de Juara. Nos demais municípios, realizaram-se formações
pontuais, com carga horária condensada em alguns dias, inclusive aos
finais de semanas.
De acordo com o livro de registros de certificados, o Cefapro de Juara
de 1999 a 2009 ofertou as seguintes formações:

Fonte: Mato Grosso, 2011. 1. Parâmetros Curriculares em Ação; Projeto Arara Azul – Forma-
ção e Profissionalização dos Funcionários da Educação; Escola
Implantados e institucionalizados com a finalidade de desenvolver Ciclada de Mato Grosso; Projetos Pedagógicos;
projetos de formação continuada para os profissionais docentes e técnicos 2. Oficinas: Aprendizagem Básica da Língua Inglesa; PCNs I e II Ci-
da rede pública de educação, os CEFAPROs implementaram programas clos; Um Salto para o futuro de 1999 a 2004; I Oficina de Ciências

154 155
Humanas e Matemática, Formação continuada Coordenadores cação 2010 - Etapa Intermunicipal; Construindo uma prática
Pedagógicos, I Encontro Educacional do Vale do Arinos; significativa; Diversos Saberes na Formação não Docente; En-
3. Em 2005 iniciou o Projeto Sala do Educador nas escolas; contro Formativo da área de Ciências da Natureza, Matemática
4. Construindo Projetos Pedagógicos; Língua Inglesa nas Séries e suas Tecnologias; Encontro de Gestores do Pólo de Juara/MT;
Iniciais; Leia mais - Uma proposta de leitura com jornal e Projeto SPE - Saúde e Prevenção nas Escolas; Projeto Clorofila;
história em quadrinhos; Gestão em Destaque; Práticas de Projeto da cozinha a Sala de Aula; Projeto Pedagógico: Inter-
Leitura e produção textual; Formação Continuada - Área de vir é necessário; Programa GESTAR II - Língua Portuguesa;
Ciências Humanas e Sociais; Formação Continuada - Área de Programa GESTAR II – Matemática; Projeto Troca; Subsidio
Ciências da Natureza e Matemática; Formação Continuada - Pedagógico a Organização Curricular na Educação Infantil;
Área de Linguagem, Ressignificando a Ação do Coordenador Tecnologia na Educação - Ensinando e Aprendendo com as
de Ciclo; Semana Pedagógica; Proposta Educacional de Mato TIC; Teorias em Ação; Formação Continuada Relações Hu-
Grosso - Dilemas e Possibilidades; Repensando Paradigmas; manas e Desempenho.
Encontro de Gestores na InterAção; Encontros Formativos
de professores; Encontro Formativo de Diretores e Coorde- A partir de 2013 a SEDUC intensificou a formação com o Projeto
nadores; Curso de Capacitação Inicial Circuito Campeão; Sala de Professor, o qual, em 2010, passou a ser Sala de Educador, uma
Encontro Formativo de Coordenadores Pedagógicos; Ensino vez que o entendimento foi de que todos na escola têm a tarefa de educar
de Geografia; Encontro Regional de Educação Básica do Polo e por este motivo é necessário participar da formação continuada em
de Juara; Projeto Interdisciplinar TRAMA; I Seminário do serviço. Na atualidade, conhecido como PEIP.
Cefapro de Juara: Revendo Conceitos e Definindo Concepções A compreensão da formação continuada concebida com o princípio
Educacionais; II Seminário do Cefapro de Juara Formação de desenvolvimento profissional está subjacente a um processo de evo-
Continuada e Proposta Educacional de Mato Grosso: uma lução que ocorre ao longo da vida, não entendida como etapas distintas
discussão necessária; III Seminário do Cefapro de Juara Es- de formação (GARCIA, 1999; IMBERNÓN, 2009; VAILLANT, 2012).
cola Organizada em Ciclos de Formação Humana: Conceitos Mesmo porque, o desenvolvimento profissional constitui-se um processo
e Alternativas para uma Educação de Qualidade; Planejando continuado, no sentido de construir profunda relação com o saber e o
o Ensino da Matemática; Encontro Formativo para Gestores; conhecimento que compõem a profissionalidade docente. Nesse sentido,
Programa de Acompanhamento de Aprendizagem do I ciclo; Mariani e Monteiro (2016, p. 111) enfatizam que:
Texto e Ensino: Uma proposta interativa envolvendo os gêne-
ros e os modos de organização do discurso; Violência Contra [...] as dimensões individuais e coletivas, subjetivas e intersubjetivas,
mulher e a importância da Lei 11.340 - Lei Maria da Penha; pessoais e relacionais - os processos formativos dos professores precisam
Eterno Aprendiz - Capacitação de professores formadores do ser pensados e articulados no/com os contextos das escolas e de seus pro-
Cefapro; Introdução a Educação Digital; Saberes Necessários jetos, para que se garanta a efetividade do desenvolvimento profissional
para a Educação na Contemporaneidade; Capacitação em In- docente em seus múltiplos aspectos.
formática Instrumental; As Ciências da Natureza e Matemática
e os cuidados com a saúde; Capacitação Linux Educacional; Como afirma Nóvoa (1995, p. 25), por ser importante “investir na
Seminário de Capacitação de Professores do Ensino Funda- pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência” (grifos do autor), o
mental em Língua Portuguesa e Matemática; Ciclos de estudos Projeto Sala de Educador é a materialização da ação coletiva em que
- Centros de Educação de Jovens e Adultos; Alfabetização e o objetivo consiste em atender às necessidades inerentes a complexa
Letramento: Uma proposta pedagógica interdisciplinar para demanda de articulação entre diferentes modelos de desenvolvimento.
os ciclos de formação humana; Conferência Nacional de Edu- Neste sentido, este projeto configurou-se como uma ação política pública

156 157
de formação, com vistas a assegurar o direito de formação continuada formação na escola, a implementação das propostas e práticas pedagógicas
aos profissionais da educação, bem como conferir autonomia para que dos professores em suas diferentes atuações, desenvolvimento profissional
suas situações de trabalho fossem contextualizadas e teorizadas pela e constituição da identidade docente.
ação-reflexão-ação. Com essa compreensão, os CEFAPROs, enquanto centros responsáveis
Desse modo, a organização do Projeto Sala de Educador compreen- pela formação promoveram, nos últimos dez anos, a formação continuada
de duas ações integradoras, a saber: a formação continuada e o Projeto dos professores. A partir das discussões dos desafios que os professores
de Estudo e Intervenção Pedagógica (PEIP), “fortemente marcada pela vivenciavam, trabalhou concepções pedagógicas que auxiliaram na com-
concepção de desenvolvimento profissional e para os profissionais em preensão do processo educativo com vistas a mobilizar nos professores
efetivo exercício da rede estadual de educação de Mato Grosso” (MATO reflexões coletivas acerca da atuação docente.
GROSSO, 2014, p. 07). Todavia, ressalta-se que a oferta da formação continuada de pro-
Nos últimos dez anos, os Centros de Formação Continuada institu- fessores só tem sentido se provocar mudanças na aprendizagem dos
cionalizados como unidades administrativas programaram ações de for- estudantes. Para tanto, o CEFAPRO buscou refletir junto aos docentes
mação consideradas prioritárias para melhoria da qualidade da educação, a necessidade de realizar o diagnóstico da aprendizagem dos estudantes
tais como: articular e desenvolver a formação continuada, o uso de novas a fim de levantar os desafios de aprendizagem, e, a partir destes, plane-
tecnologias no processo de ensino-aprendizagem e a inclusão digital de jar intervenção pedagógica para potencializar e assegurar o direito de
profissionais da rede pública de educação. aprendizagem.
Neste contexto, o CEFAPRO do polo de Juara, desenvolveu ações As propostas de formação continuada ofertada no âmbito dos Cen-
formativas e acompanhou vinte e duas escolas da rede estadual de edu- tros têm como desafio possibilitar ações e vivências formativas em que os
cação, sendo estas: urbanas, do campo e indígenas. Em razão do termo profissionais sejam mobilizados a refletir sobre sua ação pedagógica para
de cooperação técnica firmado entre os gestores das redes municipal que alcance o objetivo proposto no currículo escolar. Portanto, é impor-
e estadual, o Centro acompanha e assessora, também, a formação dos tante assegurar condições institucionais para que os professores possam
profissionais da rede municipal. usufruir dos direitos previstos na LBDN n. 9394/96 (BRASIL, 1996), na
Nesse processo formativo, cada vez mais se intensifica a discussão LC50/1998 (MATO GROSSO, 1998), e LC 206 de 29 de dezembro de 2004
da função social da escola, do significado das experiências escolares para (MATO GROSSO, 2004), sendo um deles a oferta de formação continuada
os que dela participam. As mudanças provocadas pelo avanço científi- em serviço articulada a formação inicial e a prática pedagógica. Dessa
co, tecnológico desencadearam reflexões acerca da atual função social forma, faz-se necessário que a formação continuada privilegie não apenas
das escolas frente ao novo modelo de sociedade, o que exige diferentes a prática pedagógica e conteúdos escolares, mas também a abordagem
reflexões sobre a realidade sociocultural, como também dos processos e teórica que fundamenta essa prática.
práticas pedagógicas. Também a formação dos formadores do CEFAPRO deveria ocorrer
As inovações tecnológicas provocaram significativas mudanças, da concomitante a formação dos profissionais das escolas. Orientava-se que
mesma forma perceberam-se mudanças na organização sociocultural, nas o professor formador referência da escola, conhecesse os profissionais
relações entre as pessoas, nas famílias, no mundo do trabalho, realidade da Educação Básica da rede pública a fim de auxiliá-los nas dificuldades
que mobilizou a necessidade de diferentes concepções de escola e de apro- enfrentadas. Conforme afirma Nóvoa (2007), os professores têm o direito
priação de novos conhecimentos (KRONBAUER e SIMIONATO, 2008). de inserirem-se em processos de formação continuada, que propicie refle-
É nesse contexto de múltiplos desafios, que a discussão sobre a formação xões sobre a prática, com vistas a promover a reconstrução permanente
continuada hoje se coloca, como uma necessidade para fortalecer a con- de uma identidade inerente ao exercício da profissão.
cepção e postura pedagógica de cada professor. Nesse sentido, o CEFAPRO Neste sentido, nos últimos dez anos, foram acões realizadas pelos
exerce importante função por ser um centro de formação e atualização que CEFAPROs a implementação da política de formação continuada em
se constitui no espaço de busca intelectual para assessorar os processos de cada polo do estado, o acompanhamento, a orientação e a realização de

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encontros de formacão continuada em atenção a demanda formativa dos Quadro 1: Aspectos realacionados ao perfil dos professores que responderam
profissionais da educação. Neste sentido, os coordenadores da formação ao questionário
continuada realizada em cada escola tinham autonomia para a escolha
Tempo de
dos temas a serem estudados, de acordo com as necessidades formativas Área de atuação Escola de Atuação Município
Atuação
do coletivo. Como afirma Favretto (2006, p. 21):
01 Ciências da Natureza Escola do campo 5 anos Tabaporã
02 Linguagem Escola do campo 4 anos Tabaporã
[...] é preciso que também a escola se constitua em um espaço de forma- Português/Inglês/
ção para que possa buscar, através da trajetória formativa, referências 03 Escola do campo 15 anos Tabaporã
Geografia
para analisar seus problemas e colocar-se como instrumento para a 21 Anos finais 3° Ciclo Escola do campo 7 anos Juara
aprendizagem significativa e a construção de saberes voltados para a me- 22 Anos finais Escola do campo 9 anos Juara
lhoria da qualidade de vida, respeito aos deveres e direitos do cidadão. 23 Uni docência Escola do campo 2 á 3 meses Juara
24 Uni docência Escola do campo 26 anos Juara
Esses momentos formativos na escola seriam significativos, pois per- 25 Uni docência Escola do campo 7 anos Juara
mitiriam ao coletivo, dentre outros aspectos, avaliar a fragilidade da 26 Anos finais Escola do campo 9 anos Juara
prática pedagógica e, por meio de um planejamento interventivo, redire- 27 Uni docência Escola do campo 9 anos Juara
cionar a prática com vistas ao sucesso da aprendizagem dos estudantes. 49 Educação Básica Escola Urbana 6 anos Juara
50 Professora Escola Urbana 2 anos Juara
Orientava-se que esta ação acontecesse no início do ano, quando a escola
Sala de recurso
interpretasse as avaliações do ano anterior, levantasse os pontos frágeis 51 Escola Urbana 1 ano Juara
multifuncional
e selecionasse referenciais para subsidiar os estudos, e, por conseguinte,
52 Educação Básica Escola Urbana 1 ano e meio Juara
a prática.
53 Professor Escola Urbana 18 anos Juara
Nesse sentido, atualmente o PEIFE poderia ser considerado o carro- 54 Ensino Fundamental Escola Urbana 12 anos Juara
-chefe das ações formativas nas escolas, pois seus fundamentos pautaram- Ciências Humanas/
-se na oferta de formação continuada como uma via fundamental para 55 Escola Urbana 2 anos Juara
Ciências Naturais
busca de embasamentos teóricos, de socialização das experiências e prá- 56 Geografia, Artes e Inglês Escola Urbana 1 ano Juara
ticas dos envolvidos com o objetivo de propiciar reflexões sobre as ações 57 Ensino fundamental Escola Urbana 8 anos Juara
pedagógicas, bem como na tomada de decisões. Com isso, a pretensão 58 Ensino fundamental Escola Urbana 3 anos Juara
seria possibilitar o repensar das ações e representações junto aos atores 59 Educação física Escola Urbana 3 anos Juara
da educação do polo de Juara. 60 Ensino fundamental Escola Urbana 5 anos Juara
61 Português e Inglês Escola Urbana 19 anos Juara
62 Professor Escola Urbana 4 anos Juara
A atuação do CEFAPRO de Juara no processo de 63 Alfabetização Escola Urbana 4 anos Juara
64 Ensino Fundamental Escola Urbana 17 anos Juara
formação continuada 65 Educação Básica Escola Urbana 1 ano Juara
66 Educação Básica Escola Urbana 2 anos Juara
Neste item, sistematizaram-se e analisaram-se contribuições dos pro-
67 Professor Escola Urbana 15 anos Juara
fessores vinculados aos CEFAPROs do polo de Juara, em relação à oferta 68 Educação Básica Escola Urbana 2 anos Juara
de formação continuada. As informacões decorreram das contribuicões 69 Professor Escola Urbana 1 ano Juara
dos professores que responderam ao questionário a eles encaminhado via
Fonte: Organizado pelas autoras mediante informações contidas nos questionários
e-mail, em dezembro de 2017, com o seguinte perfil: respondidos pelos professores em 2017.

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Os conteúdos contidos nas respostas foram agrupados em algumas para analisar seus problemas e colocar-se como instrumento para a
categorias para análises. Os excertos apresentados a seguir, se referem as aprendizagem significativa e a construção de saberes voltados para a
ações de formação continuada realizadas no âmbito dos Centros que na melhoria da qualidade de vida, respeito aos deveres e direitos do cidadão
compreensão dos professores, dentre outros aspectos, pautaram-se em (FRAVETTO, 2006, p. 34).
acompanhar, orientar e subsidiar a oferta de formação continuada in loco,
com vistas a melhorar a qualidade social da educação ofertada. Cada escola tem sua identidade, por isso somente ela poderá pensar
melhor nas ações formativas que ajudariam a resolver as questões ine-
Função de diagnosticar necessidades e propor projetos, visando a qualidade rentes ao fazer pedagógico, por esta razão o espaço formativo na escola é
do ensino e aprendizagem respondendo as necessidades de melhorar os primordial para discutir, estudar, planejar e agir na sala de aula, com vistas
projetos formativos; Disseminar as politicas oficiais do estado; Mediar as a superar os desafios que se apresentam cotidianamente.
necessidades formativas do professor. (P. 3). Como destacado acima, os excertos a seguir reeditaram o chama-
mento dos professores acerca do acompanhamento de um professor
Sabemos que a principal função do CEFAPRO é auxiliar os professores formador nos encontros de formação continuada realizado nas escolas.
oferecendo ações formativas para melhorar a atuação profissional e conse- Na comrpeensão dos professores, os formadores dos Centros deveriam
quentemente a aprendizagem dos alunos. Porém, às vezes os CEFAPROs não se fazer mais presentes nas escolas nos momentos de realização da
conseguem desenvolver um bom trabalho por falta de professores formadores, formação continuada.
sendo assim os que têm em cada polo ficam sobrecarregados. Eu penso que
é fundamental que o CEFAPRO esteja sempre presente nas escolas. (P. 26). Uma maior participação do CEFAPRO nas escolas durante a formação
continuada. (P. 21).
Os CEFAPROS contribuiram de forma positiva nas nossas formações, orien-
tando quanto a elaboração do projeto, nas escolhas de temas e materiais para O CEFAPRO deveria participar mais junto as escolas, principalmente
estudos do PEFE, porém necessitamos de mais atenção e participação dos CE- durante as formações, com profissionais especializados nos temas estu-
FAPROs durante o PEFE nas escolas, pois sentimos falta desses formadores para dados no momento dentro das formações. (P. 22).
nos orientar nas dificuldades e dúvidas nos momentos de formações. (P. 27).
Para mim, o CEFAPRO deveria ser mais atuante nas escolas, estar mais
Como retratam as respostas, o CEFAPRO é um órgão responsável por presente nas escolas durante os estudos de formação continuada. (P. 24.)
implementar as políticas públicas de formação, acompanhar as escolas e os
profissionais da educação no mapeamento dos desafios, dos dilemas, como O CEFAPRO é uma via que auxilia o professor na sua formação, porém
também assessorar nos desdobramentos dessas políticas nos processos e prá- o mesmo deveria estar mais presente nas escolas nos momentos de for-
ticas da sala de aula. Entretanto, os professores reclamaram da ausência dos mação continuada. (Ps. 23 e 25).
professores formadores nas escolas nos encontros de formação continuada,
que na comprensão dos professores, poderiam contribuir com orientações O trabalho junto a unidade escolar vem sendo trabalhado regularmente,
acerca das dificuldades enfrentadas por eles. Contudo, assevera-se que a pois promovem cursos aos professores. (P. 52).
escola constitui-se um espaço de formação, por isso os problemas vivencia-
dos pelos professores deveriam inserir-se nos estudos para que os direitos Precisa estar mais presente nas escolas para ver a realidade do contexto
de aprendizagem dos estudantes sejam de fato, assegurados. Para tanto, escolar. (P. 50).

[...] é preciso que também a escola se constitua em um espaço de forma- Poderiam estar mais presentes com formações e mais cursos voltados
ção para que possa buscar, através da trajetória formativa, referências para as dificuldades enfrentadas pelas escolas. (P. 65).

162 163
A veemência com que os professores solicitaram a presença dos Os centros também receberam críticas por deixarem a desejar na ação
formadores dos Centros nos momentos da formação continuada reali- de implementação de políticas públicas educacaionais, como também de se
zada nas escolas pode estar relacionada a diversos fatores. O professor omitirem aos enfrentamentos dos problemas vivenciados pela comunidade
formador, de certa forma, validaria o processo ao trazer sua contribuição escolar, como se observa no excerto a seguir: o Centro “deveria ser mais
concernente aos fundamentos teóricos, metodológicos e práticos traba- atuante com suas políticas pedagógicas e procurar sanar as dificuldades que
lhados no decorrer da formação, pois geralmente tem sido reconhecido realmente a escola apresenta”(P. 65).
pelos professores como uma referência, como alguém melhor preparado, Considerado com atuação regular para muitos professores o P. 01 avaliou
com estudos e formações específicas. Todavia, a presença do formador a atuação dos Centros como “Muito boa”, contudo advertiu que contavam
dos Centros nas formações continuadas realizadas nas escolas, traria um com a participação mais frequente dos Centros nas escolas em 2018.
ganho maior aos próprios formadores, pois como afirma Tardif (2014, p. Para além da oferta da formação continuada, os professores também
23), “[...] o conhecimento do trabalho dos professores e o fato de levar em chamaram a atenção para as condiçoes de trabalho das escolas. A maioria
consideração os seus saberes cotidianos permite renovar nossa concepção dos professores reclamou da infraestrutura na escola que nem sempre
não só a respeito da formação deles, mas também de suas identidades, oferece as condições necessárias para se desenvolver práticas inovadoras.
contribuições e papéis profissionais”. A partir das contribuições dos professores é possível afirmar que
Contudo, chamou a atenção à compreensão de alguns professores de que estes atribuíram aos Centros as funções de diagnosticar as necessidades
os Centros seriam os responsáveis pela oferta de formação continuada, como formativas dos docentes e, a partir do diagnóstico propor, desenvolver e
denotam os excertos a seguir: “[...] capacitar os profissionais da educação em acompanhar projetos de formação a fim de responder a estas necessidades.
suas áreas” (P. 51); “Capacitar profissionais da educação para trabalhar em De acordo com o documento que regulamentou a política de formação
suas áreas” (P. 55, 46). Outro aspecto intrigante a ser destacado na pesquisa continuada dos profissionais da Educação Básica do Estado de Mato
foi a insistência de muitos professores de que os Centros deveriam ser par- Grosso, cabe aos CEFAPROs, as seguintes funções:
ceiros das escolas e se preocuparem em atuar de forma direta na oferta de
formacão continuada junto aos docentes e não enquanto órgão fiscalizador, - diagnosticar as necessidades, apoiar e propor ações formativas junto às
como tem se defindo nos últimos anos. O CEFAPRO “É uma instituição escolas da rede pública de ensino;
que precisa tornar parceira da escola e não com ela é vista na atual conjun- - elaborar, acompanhar e avaliar o projeto de formação continuada nas
tura, tem que se preocupar mais com a formação do que fiscalização” (P. 63). escolas, contribuindo com o desenvolvimento dos profissionais que nela
Na percepção dos entrevistados, os CEFAPROs se configuram como atuam;
órgãos fiscalizadores que não correspondem ao necessário apoio a oferta - estimular, divulgar e realizar ações inovadoras, através da troca de
de formação continuada. Ressalta-se a importância desse apoio uma vez experiências, da reflexão e pesquisa sobre a própria realidade educativa;
que por meio da formação continuada os docentes teriam a possibilidade - diagnosticas as necessidades e propor projetos de áreas específicas,
de articular a fundamentação teórica à prática docente. Todavia, para que visando à qualidade do ensino aprendizagem;
isso aconteça, seria fundamental a contribuição do professor formador, - responder as necessidades de melhorar os projetos formativos nas escolas
que deveria ter como perfil, maior aprofundamento teórcio, metodológi- e corresponsabilizar todos os envolvidos nesse processo;
co e prático e, com isso, condições de acrescentar neste processo. Como - disseminar as políticas públicas nacionais e estaduais de formação
afirma Tardif (2014, p. 37), “é sobretudo no decorrer de sua formação que inicial e continuada;
os professores entram em contato com as ciências da educação”. Atuar na - mediar as necessidades formativas e as políticas oficiais, fortalecendo e
educação compreendida enquanto ciência da aprendizagem que educa, dinamizando a rede de formação. (MATO GROSSO, 2010, p. 22).
demanda a apropriação de conhecimentos específicos voltados ao de-
senvolvimento humano. Por sua vez, estes conhecimentos precisam ser Como se pode observar, as contribuições dos professores reeditaram
trabalhados junto aos docentes, com domínio e responsabilidade. a necessidade de da oferta da formação continuada nas escolas. Todavia,

164 165
todos manifestaram insistentemente a necessidade do efetivo acompa- Essa concepção demanda um envolvimento maior dos educadores
nhamento, assessoramento e contribuições dos professores formadores no processo educativo, visto que fortalece a busca da autonomia, da
dos CEFAPROs neste processo. É compreensiva a reivindicação dos construção e reconstrução de saberes que possam desenvolver uma cul-
professores que certamente se sentem fragilizados diante de todos os tura profissional que dê sustentação ao desenvolvimento de uma nova
enfrentamentos no interior das escolas, pois como afirma Tardif (2014, identidade profissional.
p. 41), “[...] Os saberes científicos e pedagógicos integrados à formação Com essa compreensão, a formação continuada pauta-se em um
dos professores precedem e dominam a prática da profissão, mas não aspecto fundamental: o da garantia da escola enquanto espaço de trans-
provem dela.” Por isso a necessidade de os momentos de formação ser formações educativas e do desenvolvimento de formação continuada
subsidiados por profissionais com condições de preencher as lacunas dos profissionais. Isso significa compreender que “o objetivo de qualquer
recorrentes desse exercício. programa de Formação de Professores tenciona ao aspecto ensinar a com-
Os trinta e um professores vinculados aos CEFAPRO do polo de Juara petência de classe ou conhecimento de ofício, de forma que os professores
que responderam ao questionário consideraram o Centro como parceiro tornem sujeitos conhecedores da tarefa de ensinar” (GARCIA, 1999, p. 80).
na oferta de formação continuada, e, consequentemente corresponsável Nas últimas décadas, as políticas públicas educacionais garantiram às
pela melhoria da qualidade social da educação ofertada. No entanto, afir- crianças e jovens o acesso à escola, sendo este último um benefício concre-
maram que é necessário um trabalho mais efetivo, ou seja, mais intensivo to. Todavia, novas demandas emergiram e a permanência do estudante na
do CEFAPRO junto nas escolas. escola, bem como a qualidade do ensino ofertado tornou-se necessária, o
que exige práticas pedagógicas capazes de proporcionar aos educandos a
construção de conhecimentos voltados a uma formação humana sólida,
Considerações Finais de qualificação para a vida e para a continuidade dos estudos.
Nesse contexto, a formação continuada confirma-se como necessidade
A oferta da formação continuada tem como principal objetivo pro- fundamental para instrumentalizar os educadores no trato competente
piciar ao profissional da educação reflexões concernentes a sua atuação das questões educacionais do momento. A busca pela atualização pro-
docente, com vistas a atender as exigências da sociedade em constantes fissional constitui-se em oportunidade para revisar concepções, ampliar
mudanças que requer das pessoas, competências básicas para atuar no conhecimentos teóricos e metodológicos, fazer uma relação entre as
mundo do trabalho. Neste sentido, há uma ampla discussão da formação teorias e as situações vivenciadas em sala de aula, e, com isso, culminar
inicial e continuada ofertada, que deveria qualificar os docentes para atua- no redimensionamento do fazer docente.
rem em processos educativos cada vez mais dinâmicos, flexíveis e instáveis. Para Lima (2010, p. 03), “a formação de professores se ocupa do modo
Todavia, sem descuidar da oferta de uma formação que reconhe- como os professores aprendem a ensinar, aprendem a implementar mu-
ça a escola como um ambiente rico em anseios democráticos, onde danças em suas ações, a lidar com os dilemas profissionais e a desenvolver
circulam informações e experiências capazes de incentivar e mobili- sua competência profissional”. Por isso, a formação de professores deveria
zar a comunidade escolar, para que assumam suas responsabilidades promover contexto de aprendizagem e condição, instrumento e conteúdo
neste processo de educação formal. Desse modo, Nóvoa (1991, p. 30) de aprendizagem profissional de docência.
afirma que: Como se observa trabalhar com a formação de professor é um desafio
complexo, pois implica em direcionar o profissional no sentido de rever a sua
A formação continuada deve estar articulada com o desempenho pro- prática pedagógica, refletir sobre as concepções teóricas presentes em suas
fissional dos professores, tomando as escolas como lugar de referência. ações e ter um olhar futurista, como enfatiza Lima (2010), o que sustenta
Trata-se de um objetivo que só adquire credibilidade se os programas uma aula prática bem trabalhada e o conhecimento teórico, bem como as
de formação se estruturar em torno dos problemas de projetos de ação trocas de experiências consolidadas a partir das reflexões provocadas nos
e não em torno de conteúdos acadêmicos. momentos de formação. Desse modo, os professores quando concluem sua

166 167
formação inicial, consideram-se eternos estudantes e, necessariamente, se GARCIA, Carlos Marcelo. Formação de professores para uma mudança educativa.
imbricam em processos de formação continuada em serviço. Editora: Porto, 1999.
Articular o conhecimento existente ao conhecimento científico seria KRONBAUER, S. C. G., & SIMIONATO, M. F. Formação de professores: abordagens
o maior desafio, olhando o aluno: como ele associa, analisa e sintetiza os contemporâneas. São Paulo: Paulinas, 2008.
conceitos que a história, ciência demoram milhares de anos para descobrir, LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5. ed. revista
e na maioria das vezes queremos que este compreenda em um dia, uma aula e ampliada. Goiânia: Editora Alternativa, 2004.
sem levar em consideração o próprio contexto e o processo de aprendizagem. LIBÂNEO, J. C; PIMENTA, S. G. Formação de profissionais da educação: visão crítica
Nesse processo, a formação continuada se torna indispensável aos e perspectiva de mudança In: CAMARGO, E. S. P. et al. Formação de profissionais
professores, pois a cada dia novos desafios aparecem e, por isso, requer da educação: políticas e tendências. Educação & Sociedade: Revista quadrimestral de
novas posturas, oriundas da busca constante de novos conhecimentos que ciência da educação. Campinas: CEDES, Ano XX, nº 69, p. 239-277, 1999.
ao mesmo tempo proporciona o reconhecimento da identidade profissio- LIMA, Paulo Gomes. Formação de professores: por uma ressignificação do trabalho
nal a partir do processo de construção e reconstrução dos conhecimentos pedagógico na escola – Editora EDUFGD, 2010.
inerentes à profissão. Neste contexto, a política de formação dos profis- MARIANI, F e MONTEIRO, F. A pesquisa narrativa na formação de professores:
sionais da Educação Básica de Mato Grosso assegura que: aproximações que se potencializam. Disponível em: www.editora.unoesc.edu.br e
http://dx.doi.org/10.18593/r.v41i1.8878
[...] os profissionais da Educação Básica não apenas devem refletir sobre MATO GROSSO, Secretaria de Estado de Educação. Orientações Curriculares:
a própria prática educativa, mas fazer críticas e construir suas próprias concepções para a Educação Básica. 2010.
teorias à medida que refletem, coletivamente, sobre seu ensino e o fazer ______. Política de formação continuada para os profissionais da Educação Básica
pedagógico, considerando as condições sociais que influenciam direta ou de Mato Grosso, 2011.
indiretamente em suas práticas sociais. (MATO GROSSO, 2010, p. 15).
______. Politica de formação dos profissionais da Educação Básica de Mato Gros-
so. 2010.
Dessa forma, o professor, reconhecido enquanto agente da sua
______. Proposta de descentralização, reorganização e fortalecimento do Cefapro,
própria formação, exerce influência direta nesse processo, contudo é
2014.
por meio da prática da reflexibilidade coletiva, que os conhecimentos
poderão ser consolidados. Por isso, a inssistência dos professores que NÓVOA, Antônio. A Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA, A.
(Org.). Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1997.
contribuíram com a pesquisa da efetiva colaboração e acompanhamen-
to de um professor formador do Centro, pois ele seria uma referência _______. Professores: imagens do futuro presente. Lisboa Editora: Educa, 2009.
que poderia autenticar o processo reflexivo vivenciado no decorrer da ROCHA, Simone Albuquerque da. Os professores leigos e o PROFORMAÇÃO:
formação continuada. uma alternativa possível a partir do projeto piloto de Mato Grosso. Marília, SP: 2001.
Tese (Doutorado em Educação). Universidade Estadual Paulista, Campus Marília.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 17 ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
URZETTA, Fabiana Cardoso e CUNHA, Ana Maria de Oliveira. Desenvolvimento
REFERÊNCIAS profissional docente: Análise de uma proposta colaborativa de formação continu-
ada de Professores de Ciências. Disponível em: http://www.nutes.ufrj. br/abrapec/
viiienpec/ resumos/ R0283-1.pdf, acesso em 29/09/2018.
FAVRETO, Ivone de Oliveira Guimarães. A formação continuada dos professores
em exercício nas escolas públicas de Rondonópolis-MT: uma investigação sobre as VAILLANT, Denise. Percalços da formação na América Latina. Revista Nova Escola.
instâncias formadoras, UFMT / CUIABÁ – MT 2006. Edição Especial nº 6. junho/2011.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.


São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção leitura).

168 169
Primeiramente o artigo traz uma contextualização da formação de
professores enquanto uma política pública garantida por lei e sua impor-
tância para a manutenção da qualidade do ensino e condições de trabalho
dos profissionais da educação. Na sequência, apresenta o histórico da cria-
| Políticas educacionais de formação continuada no ção dos Centros de Formação em Mato Grosso, dentro da política pública
educacional do Estado. Por fim, sistematiza e analisa as contribuções dos
Estado de Mato Grosso: os CEFAPROs na avaliação
professores da Educação Básica que versa sobre a análise e avaliação da
e análise de professores formação continuada via ações dos CEFAPROs.
Ariele Mazoti Crubelati
Jairo Luis Fleck Falcão
Políticas Públicas de Formação de Professores
Ao longo dos anos, e, a partir da Constituição Federal de 1988, o sis-
Introdução tema organizacional e estrutural da educação brasileira sofreu mudanças
Ao escrever sobre formação de professores, ou formação continuada marcantes, tanto em sua nomenclatura, quanto em sua abrangência nas
se refere a sua relação com o contexto educacional como um todo, desde esferas administrativas: União, estados e municípios. Ao compreender a
suas condições de trabalho e valorização, até o sucesso dos educandos nas política educacional pertencente à uma política macro de Estado, não se
aprendizagens escolares. A formação de professores apresenta-se em uma pode desconsiderar o projeto de sociedade que se deseja implantar em
condição fundamental para a melhoria da qualidade da aprendizagem, cada momento histórico.
mesmo que nem sempre esteja em condição para garanti-la (BRASIL, Pensando em seu contexto macro, as políticas educacionais evidencia-
2002). das em leis e diretrizes não são neutras e carregam consigo intencionali-
Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, já se dades, ideias, valores e contradições, portanto, requer uma análise crítica
reconhece a importância da capacitação para melhoria da qualidade da no quadro mais amplo das mudanças econômicas, políticas, culturais e
educação pública, quando se apregoa que as diferentes esferas governa- globais, ao ponto que a educação e seus sistemas organizacionais corres-
mentais “deverão promover a formação inicial, a continuada e a capacita- pondem às necessidades sociais de sua época.
ção dos profissionais de magistério” (BRASIL, 1996, p. 23). No estado do Reconhecer o espaço que a Educação conquistou na Constituição de
Mato Grosso, uma das maneiras encontradas para atender essa exigência 1988, é reconhecer a solidez que as diversas reivindicações da sociedade
prevista na lei, foi promover a formação continuada dos professores a civil conquistaram nesse espaço, como: direito à educação para todos,
partir da criacao dos Centros de Formação e Atualização dos Profissionais universalização do ensino, possibilidade de participação da comunidade
da Educação Básica (CEFAPROs). na gestão escolar, dentre outras.
Este artigo compartilha discussões sobre a política de formação con- De acordo com o Art.205 da CF/1988, a educação passa a ter a tríplice
tinuada no Estado de Mato Grosso, sobretudo, no que se refere a atuação função de garantir a realização plena do ser humano, de preparar para o
dos CEFAPROs, a partir de uma pesquisa realizada no âmbito do projeto exercício da cidadania e qualificar para o mundo do trabalho. Esses aspectos
intitulado “Mapeamento e Análise das Ações Promovidas pelos CEFA- representam para a educação um direito fundamental ao que diz respeito aos
PROs nas Escolas da Rede Estadual Mato-Grossense”, financiado pela direitos sociais, econômicos e culturais. O que foi denominado de Estado de
Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT). Direito Democrático, fruto da participação e soberania popular. Com isso:
Especificamente, a sua elaboração teve como objetivo compreender as
[...] os direitos fundamentais ou direitos humanos são direitos históricos,
análises e avaliações realizadas pelos professores da Educação Básica acerca
ou seja, são fruto de circunstâncias e conjunturas vividas pela humani-
das políticas públicas de formação continuada via ações dos CEFAPROs.

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dade e especificamente por cada um dos diversos Estados, sociedades e pilar essencial na qualidade do ensino em todos os níveis e modalidades
culturas. Portanto, embora se alicercem numa perspectiva jusnaturalista, educacionais.
os direitos fundamentais não prescindem do reconhecimento estatal, da A profissão docente não pode abrir mão desses direitos, pois, são di-
inserção no direito positive (BOBBIO, 1992, p. 5). reitos que reconhecem as especificidades que o fazer docente traz consigo,
ele não pode ser comparado com outro setor mercadológico qualquer,
O inciso V da CF/1988, Art. 208, apresenta a educação superior como pois, têm responsabilidades específicas de sua área. Caso contrário, cada
preocupação e direito, no entanto é responsabilidade de cada indivíduo se vez mais perderá esse espaço de formação teórica (juntamente com sua
capacitar nesse nível. A LDBN – Lei 9.394/96, artigos 43 a 57 apresenta as prática), indo ao encontro com a máxima mercadológica capitalista que
caraterísticas que se espera de uma instituição de nível superior, ao destacar é realidade nos demais setores.
a diversidade nas áreas do saber, promoção e divulgação de conhecimentos Devido a sua importância social, a educação contemporânea está no
culturais, científicos e técnicos; estímulo à criação cultural e à pesquisa centro dos debates nacionais e internacionais. Isso porque, a busca pela
científica e tecnológica, entre outros (BRASIL, 1996). No entanto, a educa- qualidade e melhores resultados afetam diretamente os índices e fatores
ção nesse nível de ensino se aproxima da concepção neoliberal de Estado que são necessários ao desenvolvimento da sociedade como um todo. Para
que compreende a educação como uma oportunidade e não como direito. melhorar o nível de qualidade educacional, além de fatores como condi-
A lógica da meritocracia, nesse caso, se torna excludente por não con- ções estruturais, fatores econômicos e de incentivo da criança na escola,
siderar a realidade de grande parte da população que veem suas chances a formação docente é uma das principais condições postas para alcançar
estreitadas ao ter que concorrer em vestibulares com poucas vagas e um determinados objetivos. Em decorrência disso, os sistemas educacionais
público com oportunidades culturais, sociais e econômicas tão diversas. públicos compreenderam a necessidade de dar um valor maior e investir
Nesse cenário não há vagas para todos no ensino superior público, e o sistematicamente na formação docente.
estudante que não consegue aprovação no vestibular é acusado por sua Segundo os Referenciais para Formação de Professores (2002), a forma-
insuficiente capacidade e não pela falta de vagas oferecidas pelo Estado. ção continuada é um direito adquirido dos professores da educação pública,
Nota-se o princípio da “autorregulação” incorporada nas políticas edu- prevista em seus referenciais, a fim de garantir uma qualidade em sua for-
cacionais, reflexo da lógica que está vigente no processo de flexibilização mação e que esta esteja vinculada aos órgãos públicos específicos, ou seja:
do trabalho, no qual, “[...] o trabalhador tem mais responsabilidade pela
sua própria eficiência, produtividade ou permanência no trabalho” (CAR- A atualização, o aprofundamento dos conhecimentos profissionais e o
VALHO, 2012, p. 210). desenvolvimento da capacidade de reflexão sobre o trabalho educativo
Neste cenário macro de exigências e estabelecimentos dos parâmetros deverão ser promovidos a partir de processos de formação continuada
neoliberais que o sistema educacional brasileiro se inclui. Conhecer esse que se realizarão na escola onde cada professor trabalha e em ações re-
espaco, é necessário para compreendermos de onde os profissionais vêm, alizadas pelas Secretarias de Educação e outras instituições formadoras,
quais seus desafios de formação, quais as fragilidades que enfrentam dia- envolvendo equipes de uma ou mais escolas (BRASIL, 2002, p. 131).
riamente e como se constituem dia a dia dentro desse contexto.
Para além da formação profissional, uma preocupação latente na socie- Segundo a Portaria Interministerial do MEC/MTE n. 1.082/09, a
dade contemporânea é a formação que se continua a ter mesmo depois da formação continuada deve ocorrer por meio de cursos articulados à
graduação. A formação continuada é uma possibilidade real e em vigência atualização, indo ao encontro com a ampliação da formação inicial. Da
nas escolas públicas do país. Muitos autores enfatizam a importância de mesma forma, No Plano Nacional de Educação – PNE 2014-2024, esta-
tornar a formação continuada um direito para que os profissionais não belece como Meta 16:
deixem que sua formação seja findada com a graduação, mas, que tenha
uma garantia de tempo e condições para formação durante toda sua […] formar, em nível de pós-graduação, 50% (cinquenta por cento) dos
vida profissional. Neste contexto, a formação de professores torna-se o professores da Educação Básica, até o último ano de vigência deste PNE,

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e garantir a todos(as) os(as) profissionais da Educação Básica forma- mentista’ que questiona ‘O que é formador na vida de cada um?’, trata-se
ção continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades, de uma educação que permita ao indivíduo ‘pensar no sentido da ação’,
demandas e contextualizações dos sistemas de ensino (BRASIL, 2001). ou seja, na autoformação.
Isso não significa que a formação é individualizada ou descontextua-
Além da garantia do direito, é necessário questionar sobre a qualidade lizada, mas está ligada aos interesses de um grupo, a partir de significados
e efetividade dessas formações. Ao compreender os professores como construídos fundamentados em lógicas individuais também, onde cada
sujeitos construtores da sua própria história, ativos e com motivações um se torna responsável por sua formação. Destarte, o estudo das repre-
individuais, fomenta-se uma formação de formadores que identifique sentações sociais aponta a maneira como um grupo constrói e expressa
e valorize seus saberes, que vá ao encontro das necessidades formativas sua identidade social, e assente reconhecer a presença de estereótipos,
de seu grupo, que busque soluções aos problemas que enfrentam, que opiniões, crenças, valores, normas, que podem auxiliar como orientação
potencialize o senso crítico, com posturas de cooperação e empatia, para a ação (NÓVOA, 2010, p. 158).
posicionando-se como parceiro e proativo. Para Nóvoa (1998), a competência docente que se espera, para além
Nóvoa (1998; 2010), de modo geral, entende a formação continuada do domínio dos conhecimentos específicos em torno dos quais deverá
como um movimento complexo e heterogêneo rodeado de conflitos e agir, é sensibilizar-se com as questões macro envolvidas em seu trabalho,
contradições. Ele afirma que é muito complexo discutir a tríade inerente sua identificação e resolução, autonomia para tomar decisões, responsa-
ao fazer docente: formação inicial, formação continuada e prática docente. bilidades pelas opções feitas.
A formação continuada é direito adquirido de todos os professores De acordo com Giroux (1997), necessitamos de formadores que se
da escola pública. No entanto, o fato de ser um direito, não significa que estabeleçam como intelectuais transformadores, tornando o pedagógico
ela deva ocorrer de forma mecânica, descontextualizada, maçante, con- mais político e o político mais pedagógico. Ao tornar o pedagógico mais
teudista e que se faz como uma obrigação que “quer se livrar”. A oferta político vislumbrarão o poder de transformação que a escola carrega
de programas, projetos ou encontros de formação continuada precisam consigo, em torno das relações de poder, favorecendo um ambiente onde
ser considerados um ganho da profissão docente, derivados de proces- os professores acreditem em ações suplantadoras de injustiças, tanto eco-
sos de mobilização da categoria, de movimento de greve por melhores nômicas e políticas, quanto injustiças sociais. Ao tornar o político mais
condições de trabalho. O que fragiliza esse entendimento é a forma como pedagógico, assumirão uma postura de educadores como agentes críticos,
o Estado tem operado essa questão, pois tem assumindo a prática de problematizando o conhecimento, empregando o diálogo direcionado à
vincular a certificação da formação continuada aos critério de atribuição edificação de um mundo qualitativamente melhor para todas as pessoas.
de aulas. Com esse modelo assumido, o “ar” de direito, o momento que Isso remete ao ideal de que os “intelectuais e os formadores deverão as-
deveria ser espontaneamente de aprendizagem, passa a ter contornos de sumir a necessidade de reconhecer a voz dos professores e desenvolver
obrigatoriedade. uma linguagem crítica frente aos problemas experimentados no âmbito
De qualquer forma, a intenção primeira desses momentos formativos da vida cotidiana” (PAULA, 2011, p. 5272).
é dar voz as necessidades postas pelos professores e possibilitar momentos A formação continuada deve colaborar para o fortalecimento do
de reflexão que consideram a complexidade da prática docente e a dinâ- conhecimento e da experiência que utiliza a prática como objeto de
mica do cotidiano escolar, muitas vezes marcado por relações de conflitos investigação. Por isso, a escola torna-se um ambiente privilegiado de
(NÓVOA, 1992). aprendizagem e desenvolvimento profissional, pois, permite essa dialo-
De acordo com Nóvoa (2010, p. 157), existem três grandes movi- gicidade por meio de processos de participação e colaboração. Para que
mentos de contestação ao paradigma escolar. O primeiro, e conhecido isso tenha significado, os programas de formação continuada devem ser
por todos pelos métodos ativos, a intitulada ‘Educação Nova’. O segundo, diversificados e flexíveis, tanto nos conteúdos como nas metodologias, para
seguido por uma lógica escolarizante institucionalizada é o denominado abranger toda a diversidade de motivações, expectativas e experiências
‘Educação Permanente’. O terceiro, pautada por uma ‘visão desenvolvi- desses professores (NÓVOA, 1998).

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Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Da mesma maneira assegurou aos profissionais que exercem a docên-
Educação Básica (CEFAPRO) cia, um terço da sua carga horária de trabalho destinada às atividades de
planejamento, estudo e outras referentes ao processo didático pedagógico.
Para desenvolver esse tema é pertinente apresentar, mesmo que rapida- Assim estabeleceu:
mente, o CEFAPRO que é o Centro responsável pela formação, capacitação
e de suporte aos professores e escolas estaduais do estado de Mato Grosso, Art. 38 Fica assegurado a todos os professores o correspondente a 33,33%
sua constituição, filosofia, objetivos, intenções e pretensões. (trinta e três vírgula trinta e três por cento) de sua jornada semanal para
Após o ano de 1996, com a aprovação da LDBN n. 9.394/1996, alte- atividades relacionadas ao processo didático-pedagógico. § 1°Entende-se
rações significativas foram efetivadas no âmbito educacional brasileiro, por hora-atividade aquela destinada à preparação e avaliação do traba-
dando suporte para que os sistemas públicos de ensino, nas diferentes esfe- lho didático, à colaboração com a administração da escola, às reuniões
ras, pudessem se reestruturar, se organizar de acordo com suas demandas pedagógicas, à articulação com a comunidade e ao aperfeiçoamento
e que estivessem aptas e de acordo com o sistema de padronização das profissional, de acordo com a proposta pedagógica da escolar (MATO
escolas públicas, em atencao a exigência de qualidade inerente do novo GROSSO, 1998).
instrumento regulatório da educação nacional.
A partir das diretrizes e exigências propaladas pela atual LDBN (BRA- Com a Lei Complementar n. 50/1998, os profissionais da Educação
SIL, 1996), os sistemas públicos de ensino, articularam-se para atender Básica do Mato Grosso viram surgir a oportunidade de novos investi-
aos novos direcionamentos que surgiriam a partir de então. Muitas foram mentos, tanto financeiros, quanto materiais e humanos. A partir disso,
as ações destinadas a esse fim. O CEFAPRO surgiu, no estado do Mato tornou-se viável o desenvolvimento de diversos programas e projetos, com
Grosso, para atender à essa necessidade. intuito de aperfeiçoamento contínuo, e, naquele momento, priorizaram-se
A LDBN n. 9394/96 assegurou, como direito dos professores das aqueles que desempenhavam funções de docência.
instituições públicas, que uma parte da carga horária do seu trabalho A SEDUC que deu início ao projeto de formação continuada que
fosse destinada à formação continuada, com esse tempo dedicado à ca- hoje conhecemos como CEFAPROs. Estes Centros foram instituídos por
pacitação e aperfeiçoamento profissional. De acordo com o disposto no meio do Decreto 2007 em 29 de dezembro de 1997, com o propósito de,
Art. 13 dessa lei “Os docentes incumbir-se-ão de: V - ministrar os dias juntamente com a SEDUC, tomar frente das formações continuadas dos
letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos professores da rede pública estadual de ensino (MATO GROSSO, 2006).
períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento É função da SEDUC “planejar, executar, supervisionar, controlar e
profissional (BRASIL, 1996). avaliar a ação governamental relativa à educação” (MATO GROSSO, 2011,
Para valorizar a carreira do magistério no estado de Mato Grosso, a Lei p. 2), no entanto, isso não significa que ela tenha como finalidade direta o
Complementar n° 50 de 1998, assegurou a participação dos profissionais atendimento aos estudantes, pais, professores e comunidade escolar como
da educação, em programas de formação continuada, conforme trata o um todo. Para descentralizar e propiciar atendimento mais próximo à re-
Art. 2º Parágrafo único: alidade de cada escola, esse atendimento, que envolvem questões sobre as
práticas pedagógicas, ficou a cargo das próprias escolas e dos CEFAPROs,
Os órgãos do Sistema Público Educacional devem proporcionar aos pro- enquanto instâncias responsáveis por determinadas unidades escolares.
fissionais da Educação Básica valorização mediante formação continuada, Ainda assim, em última instância, os CEFAPROs foram orientados e
piso salarial profissional, garantia de condições de trabalho, produção responderem as exigências e demandas da SEDUC/MT.
científica e cumprimento da aplicação dos recursos constitucionais des- Constituíram os CEFAPROs, segundo orientações da SEDUC, pro-
tinados à educação (MATO GROSSO, 1998). fessores especialistas com formação para acompanhar os docentes da rede
estadual, que se organizaram em duas frentes de trabalho: uma adminis-
trativa e outra, que é foco nessa pesquisa, constituída por profissionais

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que de dedicam ao pedagógico, esse são conhecidos por Professores que não seja considerado falta de interesse ou de compromisso. Afinal, se
Formadores. (SEDUC, 2006). não tiver significado e aproximação entre o projeto de formação e as reais
Para capacitar esses professores formadores e, posteriormente, os pro- necessidades escolares a formação continuada não atingirá integralmente
fissionais das unidades escolares, a SEDUC lançou mão, ao longo dos anos, seus objetivos.
de projetos como tentativas de torná-los aptos a fomentar e disseminar os
conteúdos considerados importantes para as escolas públicas estaduais
mato-grossenses. Por exemplo, o Projeto Sala de Professor, que passou a A formação continuada ofertada nos CEFAPROs:
ser chamado de Sala de Educador, funcionava no sistema de incubadora, concepção dos professores
com momentos formativos organizados a partir de problemáticas viven-
ciadas (levando em conta uma demanda real) para assim, buscar soluções, A fim de analisar a situação de atuação dos CEFAPROs no atendi-
com trocas de experiências, momentos de estudo e reflexão. A intensão mento às demandas formativas e educacionais, com vistas à compreensão
era de que esses profissionais tornassem mobilizadores, propagadores da sua necessidade e aceitação pelas escolas da rede estadual de educação,
de uma formação capaz de refletir sobre sua própria ação pedagógica bem como da sua adequação às atuais expectativas, anseios e necessida-
(XAVIER, 2013). des formativas dos profissionais docentes da Educação Básica do Estado
Com isso, os momentos formativos propostos pelos CEFAPROs, de Mato Grosso, selecionou-se para a elaboracao desse artigo, uma das
seriam de proporcionar caminhos para que os profissionais da educação questões respondidas por sessenta e nove professores da Educação Básica,
de cada instituição fossem capazes de modificar significativamente a re- tendo como objetivo compreender as análises e avaliações realizadas pelos
alidade e/ou situações problemáticas da escola. Afinal, eles vivenciavam professores da Educação Básica sobre as políticas públicas de formação
diretamente essa realidade, conheciam os estudantes, as condições sociais, continuada implementadas via ações dos CEFAPROs. Desse modo, a
econômicas e culturais em que a escola estava inserida. partir do questionário respondido pelos docentes, trabalhou-se com as
As “situações problemáticas” mencionadas por Imbernón (2010, p. resposta da seguinte questões: “Quais análises/avaliações você faz com
55). são fundamentais para a realização da formação docente. Elas devem referência às políticas públicas educacionais de formação continuada via
considerar a especificidade daquele local, afinal, a política de descentrali- ações dos CEFAPROs?”.
zação tem exatamente a intenção de considerar as especificidades de cada A partir das respostas concedidas para a referida questão, realizou-
localidade. Isso não significa, no entanto, que é um trabalho isolado ou -se uma análise por categorias em que levantou-se seis categorias sobre a
solitário. Ela exige um trabalho em conjunto, global, que considere todos formação continuada desenvolvida no âmbito das escolas via ações dos
esses fatores e seja assumida uma postura responsável de colaboração CEFAPROs. As referidas categorias se interligaram e se relacionaram ao
entre os profissionais, ou seja: longo da análise nos seguintes aspectos: a) Formação e formadores; b)
Ações ou cursos de formação que contemple interesses e necessidades do
[...] aprender de forma colaborativa, dialógica, participativa, isto é, ana- trabalho em sala de aula; c) Autonomia para planejar a formação; d) For-
lisar, comprovar, avaliar, modificar em grupo. Propiciar uma aprendiza- mação que contemple os professores interinos; e) O CEFAPRO enquanto
gem da colegialidade participativa e não artificial, [...] frequentemente uma Política Pública importante.
provocada pela obrigação externa de se realizarem certos trabalhos que As contribuições foram apresentados com a denominação: Prof. 1,
demandam um projeto coletivo, mas que acabam não tendo o necessário Prof. 2, e assim sucessivamente, até Prof. 69. Após apresentação das in-
processo real de colaboração (IMBERNÓN, 2010, p. 66). formações categorizadas, realizou-se inferências com aspectos teóricos
dos autores que embasam esse estudo.
Ressalta-se contudo, que se não houver concordância entre a equipe O primeiro item da categorização, formação e formadores apresenta
formativa e os profissionais de cada instituição, os caminhos se distancia- um conjunto de contribuições que apareceram nos apontamentos dos
rão em vez de serem estreitados. Afinar o diálogo é o que se espera para professores, em que a formação continuada foi reconhecida como im-

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portante para o desenvolvimento do conhecimento dos professores, para que influenciaram nas práticas em sala de aula, conforme relato dos pro-
o desenvolvimento das políticas públicas de formação promovidas via fessores, os CEFAPROs têm proporcionado formações junto às unidades
CEFAPROs a fim de contemplar os anseios dos professores, conforme escolares que contemplaram os projetos educacionais da SEDUC/MT.
respostas a seguir: Esses aspectos apareceram nas respostas dos professores relacionados
abaixo que reconheceram o CEFAPRO enquanto uma política pública
Muito importante para sanar dúvidas e nos ajudar a desenvolver um tra- importante.
balho de qualidade (Prof. 1).
Foi muito bom e necessário à visita dos formadores do CEFAPRO nas
O CEFAPRO está conduzindo bem a formação (Prof. 8). escolas, criando momento de reflexão, inovação, pesquisa de colaboração
para que todos os funcionários de modo coletivo possam tecer redes de
As políticas são motivadoras e com isso nos traz grandes incentivos para a informações e conhecimento, valores e saberes através do diálogo. (Prof. 3).
vida profissional (Prof. 14). Penso que agora com a formação por área de conhecimento e a metodologia
que utilizaram ficou mais interessante a formação via CEFAPRO (Prof. 5).
Eu vejo como uma forma boa de dar suporte aos profissionais na hora de
planejar suas intervenções no dia a dia da sala de aula (Prof. 21). Este ano as ações da CEFAPROs contribuíram bastante para melhoria do
trabalho pedagógico de cada profissional de cada escola, porém precisa
A formação continuada contribui para sanar as dificuldades encontradas mais investimento para que possamos colocar os projetos e ideias em pratica
em sala de aula (Prof. 23). como oficinas com materiais concretos (Prof. 10).

Eu vejo como uma forma boa de dar suporte aos profissionais na hora de As ações do CEFAPRO contribuíram de modo considerável para o desen-
planejar suas intervenções no dia a dia da sala de aula (Prof. 24). volvimento do trabalho pedagógico, pois nos ajudaram atravessar esse
momento das novas implementações do ciclo de formação. Esperamos que
A formação continuada nos ajuda a sanar as dificuldades encontradas nos próximos anos, o CEFAPRO continue contribuindo de modo cada vez
em sala de aula (Prof. 25). mais presente (Prof. 12).

Os CEFAPROS seguem políticas que a SEDUC implanta, nós enquanto Foi de grande importância e ajuda na ampliação e na reconstrução do
professores, temos que seguir essas políticas públicas, então não tem como conhecimento em relação aos objetivos de aprendizagem/ habilidades /
correr. As políticas nos proporcionam a seguir caminhos que sempre nos competências, desafios a serem superados nessa nova etapa da Educação
auxiliam enquanto profissionais da educação. Avalio de forma positiva, Básica (Prof. 20).
pois faz com que nós educadores aprendamos mais sobre as mudanças
que vão acontecendo durante todo ano (Prof. 27). O reconhecimento sobre os momentos formativos são visíveis, no
entanto, indagou-se também, quais as fragilidades do CEFAPRO, segundo
Tem ótimos planos para a qualidade do exercício da docência (Prof. 29). o ponto de vista desses professores, para que as necessidades formativas
Percebe-se que as ações vêm melhorando a cada ano (Prof. 32). fossem de fato, atendidas. Dessa forma, um professor apresentou uma
crítica à falta de conexão com a realidade da escola e também a necessi-
As políticas públicas de formação estabeleceram direitos aos profissio- dade de maior atenção aos grupos de formação e ao tempo de formação
nais da educação, que, conforme acentua os Referenciais para Formação de ofertada, como se observa no excerto a seguir: “Deveriam ter mais coesão
Professores (2002), proporcionaram o aprofundamento de conhecimentos com a realidade das escolas. Também um profissional do CEFAPRO para
da profissão e a construção da identidade docente. Portanto, são ações cada grupo de formação, com tempo maior de atuação” (Prof. 64).

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Nesse sentido, é possível observar que a necessidade das formações que é contínuo de reflexão sobre sua prática, que levam em conta ora os
estarem condizentes com a prática social escolar, seria fundamental. saberes produzidos por seus colegas de trabalho ora mediatizados por
Da mesma maneira, entender a identidade docente que se constitui ao pesquisadores da educação. Pimenta (1996) menciona Schön (1990),
longo da vida desses profissionais é compreender que o fazer docente é, Martins (1989), Demo (1990), Laneve (1993) entre outros para enfatizar
em certa medida, a própria identidade que foi se delineando ao longo a importância da reflexão sobre suas ações na docência e do desenvolvi-
dos anos. mento das habilidades de pesquisa da prática.
Ao problematizar a práxis social enunciada pela teoria histórico- Em concordância com o entendimento da riqueza que as formações
-crítica, parte-se do pressuposto de que o trabalho desencadeia uma continuadas trazem consigo, alguns professores apontaram a necessidade
transformação real do trabalhador, à medida que, como afirmam Tardif de maior planejamento por parte dos professores formadores dos CE-
e Raymond (2000, p. 209), o trabalho não se limita a transformar uma FAPROs, maior presença destes nas unidades escolares e também uma
realidade ou uma situação em uma outra coisa, mas sim transformar-se adequação ao tempo dos professores com ações ou cursos de formação
a si mesmo em e pelo trabalho. Isso porque eles consideram que “[...] o que contemplem interesses e necessidades do trabalho em sala de aula,
trabalho modifica a identidade do trabalhador, pois trabalhar não é so- conforme demonstram as respostas a seguir:
mente fazer alguma coisa, mas fazer alguma coisa de si mesmo, consigo
mesmo[...]”. Com isso, compreende-se que: Às vezes, acho um tanto vaga, poderia render mais com a presença das
professoras formadoras no Sala do Educador, contribuindo com as difi-
Se uma pessoa ensina durante trinta anos, ela não faz simplesmente culdades e dúvidas que surgem no decorrer do ano (Prof. 19).
alguma coisa, ela faz também alguma coisa de si mesma: sua identida-
de carrega as marcas de sua própria atividade, e uma boa parte de sua Penso que as formações podem ser melhoradas, principalmente em rela-
existência é caracterizada por sua atuação profissional. Em suma, com ção aos professores formadores do CEFAPRO, precisam planejar melhor
o passar do tempo, ela tornou-se – aos seus próprios olhos e aos olhos esses encontros. A formação do Sala do Educador na escola, é feita pela
dos outros – um professor, com sua cultura, seu éthos, suas idéias, suas coordenação, os professores do CEFAPRO simplesmente na maioria das
funções, seus interesses etc. (TARDIF e RAYMOND, 2000, p. 210). vezes, fica somente observando (Prof. 30).

Neste sentido, o trabalho está ligado diretamente à identidade do Descontinuada; pouco investimento na formação continuada enquanto
trabalhador, construída com o decorrer do tempo na atuacão docente, por política do Estado; pouco acompanhamento por parte do órgão central
isso em toda ocupação é preciso valorizar os saberes dos trabalhadores, para mensurar o desenvolvimento (Prof. 33).
pois são conhecimentos elaborados na e a partir da sua prática. Por isso,
O CEFAPRO deveria acompanhar as ações que a escola desenvolve
Interessamo-nos aqui, justamente, pelas relações entre o tempo, o tra- (Prof. 35).
balho e a aprendizagem dos saberes profissionais dos professores que
atuam no ensino primário e secundário, isto é, dos saberes mobilizados Falta de palestras pelas quais os palestrantes venham explicar um deter-
e empregados na prática cotidiana, saberes esses que dela se originam, de minado tema e não propor atividades tipo oficinas em todo encontro. As
uma maneira ou de outra, e que servem para resolver os problemas dos ações no meu ver, deveriam ser pautadas em momentos de palestras e
professores em exercício e para dar sentido às situações de trabalho que em algumas oficinas, afinal, quero subsidiar minha prática para melhor
lhes são próprias (TARDIF e RAYMOND, 2000, p. 210). desenvolver as atividades em sala de aula (Prof. 37).

Ainda assim, os saberes da experiência abordado por Pimenta (1996) Muito vago, poucas visitas, pouco organizado, pressa nas finalizações dos tra-
apresentam-se como a valorização do cotidiano docente em um processo balhos, falta de planejamento das ações, tudo de última hora (Profs. 42 e 43).

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Pouco tempo para realizações dos projetos e muita cobrança (Prof. 44). [...] Acredito que o Estado poderia disponibilizar mais recurso
para os professores formadores estarem mais frequentes nas escolas
A melhorar na elaboração e flexibilidade diante das formações, com (Prof. 34).
prazos maiores na realização dos mesmos para melhor desempenho
para todos (Prof. 45). É uma forma da escola ganhar espaço privilegiado de produção de co-
nhecimento por proceder aos docentes a troca de experiência entre os
A melhoria na elaboração e flexibilidade para com a formação continu- pares, a reflexão sobre a prática e a possibilidade de compreensão que
ada. (Prof. 48). perpassa além da sala de aula (Prof. 36).

Que os coordenadores e formadores do CEFAPRO nas escolas sejam Planejamentos novos e crescimento profissional (Prof. 68).
mais presentes, ou visitem mais as escolas (Prof. 49).
Essas são demandas reconhecidas que estão acima da autonomia dos
Melhoria nas políticas, mais atenção e menos fiscalização (Profs. 55 e 56). Centros de Formação, afinal, estão condicionados a verbas destinadas
pelo Estado.
A falta de proximidade e assiduidade dos formadores dos CEFAPROs Outro aspecto a ser destacado e que os professores apontaram, é de
nas instituições escolares esbarraram, principalmente, nos recursos fi- que a formação não contempla, na sua maioria, as preocupações, os in-
nanceiros para acontecerem. Alguns professores reconheceram que as teresses e as necessidades do trabalho em sala de aula. Mesmo que com
formações realizadas pelos CEFAPROs foram boas, porém apontaram respostas um pouco vagas, contatou-se as inquietações dos professores
necessidades de melhorias, como por exemplo, aumentar a quantidade ao se referirem à metodologia trabalhada pelos CEFAPROs enquanto
de professores formadores e de investimento na formação e no próprio instituição responsável pela formação continuada: “Todas são importantes,
CEFAPRO, conforme respostas a seguir: porém deveria ter mais; e com oficinas lúdicas” (Prof. 18). “Regular” (Prof.
50). “Ser mais formative” (Profs. 51 e 66). “Tem nos ajudado, porém precisa
Penso que o Centro (sic) é importante para as ações formativas nas escolas, melhorar (Prof. 52).
pois ajuda as escolas no planejamento e execução de sua formação. É uma Mas qual seria a solução para que a formação fosse “mais formativa”
parceria que precisa ser fortalecida, entretanto sabe-se que o CEFAPRO sofre (Prof. 51 e 66) e “melhorasse” (Prof. 52)? Neste sentido, a relação entre
com a falta de recursos para que ele se faça presente nas escolas, acompanhe e teoria e prática a partir do levantamento de cada instituição, foi uma
participe das formações. Na atualidade o CEFAPRO ficou muito ausente das das alternativas em destaque nas contribuições dos professores. Indo ao
escolas, além disso, muitos cursos de formação vêm fora de tempo, ou seja, encontro a valorização das “situações problemáticas”, descritas por Im-
quando a escola já tem seu planejamento anual pronto, aí chega o CEFAPRO bernón (2010), em que diversos professores apontaram a necessidade de
com ações que interferem prejudicando todo o planejamento da comuni- maior poder de decisão das escolas/professores para a escolha de temas
dade escolar o que gera muita reclamação e descontentamento (Prof. 9). que contemplassem as necessidades em sala de aula e as demandas locais
de cada escolar, como se observam nos excertos a seguir:
São muito boas, o que falta é o CEFAPRO ter mais profissionais que
atendam todas as áreas de conhecimento e que participem mais nas Penso que poderiam contribuir para além do espaço da formação
escolas (Prof. 22). continuada, trazer para o espaço da escola, ações que realmente
contribuam para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem,
A Formação Continuada é muito importante pois dá um amparo ao mais especificamente para o atendimento das crianças com alguma
trabalho do professor, porém o número de professores formadores ainda deficiência e necessidades de atendimento educacional especializado
não é suficiente para auxiliar todas as escolas (Prof. 26). (Prof. 4).

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Na teoria às políticas públicas educacionais de formação continuada são Os estudos poderiam atender as necessidades das escolas, baseando nas
maravilhosas, traria muitos benefícios para a educação, porém a realidade fraquezas apontadas pelos profissionais das instituições (Profs. 54, 57 e 58).
vivenciada nos mostra outra situação, onde os professores são “obrigados”
a estudarem temas e conceitos que não fazem parte das necessidades Os estudos deveriam atender as necessidades das escolas, baseando nas
vivenciadas (Prof. 6). fraquezas apontadas pelos profissionais das instituições (Prof. 60).

A formação continuada deveria considerar mais a realidade da escola, Poderiam ser mais voltadas para a realidade de cada escola (Prof. 61).
levando até ela minicursos para melhorar a prática pedagógica, como
por exemplo, um curso voltado para as tecnologias e também, no caso Os estudos poderiam atender as necessidades das escolas, baseando nas
da escola no campo, cursos que incentivem os alunos a permanecerem fraquezas apontadas pelos profissionais das instituições (Prof. 63).
no campo, para eles valorizem o lugar onde vivem (Prof. 15).
Gostaria que fosse mais voltada para nossa realidade (Prof. 67).
Na teoria às políticas públicas educacionais de formação continuada são
maravilhosas, traria muitos benefícios para a educação, porém a realidade Poderia ser mais voltada para nossa realidade (Prof. 69).
vivenciada nos mostra outra situação, onde os professores são “obrigados”
a estudarem temas e conceitos que não fazem parte das necessidades Nos anseios dos profissionais há uma relação direta vinculada aos
vivenciadas (Prof. 28). conteúdos e conhecimentos científicos estudados que respondam às ne-
cessidades diárias de sala de aula. Neste sentido, Pimenta (1996) recorre a
Penso que as ações formativas promovidas pelo CEFAPRO são importan- Morin (1993) para problematizar o que entendemos como conhecimento.
tes para continuidade da nossa formação profissional, contudo, quando O conhecimento pode ser todo e qualquer tema desde que consigamos
algo é imposto, nos faz realiza-lo apenas por obrigação e não por prazer diferenciar metodologicamente informação de conhecimento, ou seja,
(Prof. 31). conhecimento não se reduz à informação. Por isso, a prática pela práti-
ca é vazia, ela deve estar embasada pelo conhecimento historicamente
A análise que observo é a seguinte, é pouco estímulo para o profissional construído em bases científicas. Dessa forma, os problemas vivenciados
na verdade, até acho um descaso quando as sugestões não são acatadas e na prática podem ser trazidos à tona como um objeto de estudo, mas
até ignoradas, sendo que a cobrança é enorme, porém o retorno é muito deve ser fundamentado na reflexão e problematização teórica adequada.
pouco por partes do governo, se houvesse os professores regentes, a A mesma autora acrescenta, ainda, a distinção entre inteligência,
educação melhoraria muito (P. 41). consciência e sabedoria, onde “a inteligência tem a ver com a arte de vin-
cular conhecimento de maneira útil e pertinente, isto é, de produzir novas
Os temas que o CEFAPRO apresentaram foram relevantes, mas deixou formas de progresso e desenvolvimento” enquanto define a consciência e a
a desejar, porque cada escola tem seus anseios (Prof. 46). sabedoria com a capacidade de “reflexão, isto é, a capacidade de produzir
novas existências, de humanização”.
Que as escolas tivessem a oportunidade de opinar em relação aos projetos Sabe-se que a informação não chega da mesma maneira a todos os
que foram envolvidos para serem desenvolvidos nas escolas, pois cada cidadãos, que inclusive se torna um forte mecanismo de poder, sendo
comunidade escolar possuiu uma realidade diferente (Prof. 47). assim, é fundamental trabalhar as informações para se construir a inteli-
gência. Para tanto, é preciso fomentar condições de produção de conhe-
Deveria sempre ser voltadas as nossas práticas pedagógicas e de acordo cimento, dando caminhos e possibilidades de consciência “do poder do
com a necessidade de cada instituição e clientela (Prof. 53). conhecimento para a produção da vida material, social e existencial da
humanidade” (PIMENTA, 1996, p.78).

186 187
A consciência e o domínio do conhecimento levariam à autono- Deveria contratar os professores em janeiro e fazer as devidas formações
mia requerida por esses profissionais pesquisados. Alguns professores e atualizações (Prof. 7).
apontaram que a escola precisaria ter maior autonomia para decidir,
tanto as ações de formação, quanto a atuação na realidade local onde O compromisso de todos(as) formadores, direção e coordenação (Prof.
está inserida. 11).

Que as escolas deveriam ter mais autonomia para atuarem de acordo Valorizar os professores interinos (Prof. 16).
com suas necessidades e realidade local, pois os projetos não podem
ter flexibilidade, pois os projetos não são aprovados se não estiverem de Eu acredito que as políticas de alguma maneira deveriam valorizar mais
acordo com a metodologia completa enviada pelo CEFAPRO (Prof. 38). o professor interino e fazer com que as pessoas que participam da for-
mação tenham um diferencial para conseguir trabalho, seria uma espécie
As unidades escolares deveriam ter mais autonomia para atuarem de de incentive (Prof. 17).
acordo com sua realidade e necessidade (Prof. 39).
São boas, porém precisam ser mais abrangentes para todos os profissionais
As escolas deveriam ter mais autonomia para atuarem de acordo com com horários acessíveis dentro da HTP (Prof. 65).
suas necessidades e realidade de nossos alunos (Prof. 40).
A interrupção da contratação de professores fragilizou o processo
De acordo com Nóvoa (2010), ao propor a valorização desses profis- educacional, pois não oportunizou a continuidade de ações, como no caso
sionais, à medida que se tornam “donos” das suas próprias necessidades do CEFAPRO, a formação continuada. O professor sem a segurança se
formativas, se tornam também protagonistas na sua formação e, con- continuará na mesma escola e não se sente apoiado pelos seus gestores e
sequentemente, da legitimidade às problematizações inerentes ao seu responsáveis, dificilmente tratará os momentos formativos com a mesma
trabalho. Desse modo: dedicação e motivação, afinal podem em um futuro próximo não estar
mais ali.
É a relação dos professores com o saber que está diretamente em causa,
por meio da separação entre a concepção e a execução e a padronização
das tarefas, o que torna impossível uma abordagem reflexiva das práti- Considerações finais
cas pedagógicas. A racionalização do ensino coloca entre parênteses os
A formação continuada de professores relaciona-se diretamente as
saberes, as subjetividades, as experiências, em uma única palavra, as his-
realidades educacionais postas e, principalmente, aos desafios a serem
tórias pessoais e coletivas dos professores. Constrói-se, assim, uma lógica
superados. A formação de professores se configura como uma prática de
profissional que faz tabula rasa das dimensões subjetivas e experienciais,
valorização pessoal e profissional dos docentes e das instituições escolares
dos espaços de reflexão dos professores sobre o próprio trabalho, dos
compreendida dentro dos seus complexos aspectos como a ressignificação
momentos de troca e cooperação (NÓVOA, 2010, p. 168-169).
identitária dos professores.
Além das diretrizes estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da
Ao falar em valorização e construção da identidade docente, esbarrou-
Educação Nacional de 1996, no estado do Mato Grosso, os CEFAPROs
-se em outro desafio enfrentado nas escolas públicas brasileiras, as con-
tinham como objetivo assegurar e permanência dos professores na
dições de trabalho. Sob esse aspecto, as contribuições abaixo enfatizam a
formação continuada ofertada nas escolas públicas, por compreender a
necessidade de valorização dos professores interinos, contemplar a for-
riqueza dos encontros formativos permanentes no cenário educacional
mação desde o início do ano e, proporcionar também, uma diferenciação
atual.
no currículo e na seleção para aqueles que participavam da formação:

188 189
O objetivo deste artigo pretendia provocar reflexões acerca da po- REFERÊNCIAS
lítica de Formação Continuada ofertada no Estado de Mato Grosso no
âmbito dos CEFAPROs. Assim, enquanto produção parcial da pesquisa
BOBBIO, N. O futuro da democracia. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992.
realizada por meio do projeto financiado pela FAPEMAT, intitulado “Ma-
peamento e Análise das Ações Promovidas pelos CEFAPROs nas Escolas BRASIL, Ministério da Educação. Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece
da Rede Estadual Mato-Grossense”, buscou compreender as análises e as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília DF, 20 dez. 1996. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm> Acesso em: 23 mar. 2011.
avaliações realizadas pelos professores da Educação Básica acerca das
políticas públicas de formação continuada via ações dos CEFAPROs em _______. Lei nº 10.172/01. Plano Nacional de Educação. Brasília, DF, 2001.
resposta à seguinte indagação: Quais análises/avaliações você faz com _______. Referenciais para formação de professores. Brasília: Ministério da Edu-
referência às políticas públicas educacionais de formação continuada cação, Secretaria de Educação Fundamental, 2002.
via ações dos CEFAPROs? GIROUX, H. A. Professores como intelectuais transformadores. In: GIROUX, H. A.
A partir das respostas dos professores da Educação Básica de Mato Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem.
Grosso, constatou-se que, nos últimos dez anos, a atuação dos CEFAPROs Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. P. 157-164
foram determinantes no processo de ensino e aprendizagem dos profes- IMBERNÓN, Francisco. Formação continuada de professores. Tradução de Juliana
sores, que de certa forma, sentiram-se amparados e respaldados pelos dos Santos Padilha. Porto Alegre: Artmed Editora, 2010.
formadores e equipes de trabalho. NÓVOA, António (Org.) O método (auto) biográfico e a formação. Matthias Finger.
Estes professores, ao reconhecerem a importância dessa política pú- Natal, RN: EDUFRN; São Paulo: Paulus, 2010.
blica estadual, apontaram algumas fragilidades tais como: falta de infra-
_______. Histoire et comparaison (essais sur l’éducation). Lisboa: Educa, 1998.
estrutura ideal para atender a demanda das escolas, pouca autonomia às
instituições e professores, conteúdos formativos que não englobaram as _______. A formação tem de passar por aqui: as histórias de vida no projecto
PROSALUS. Lisboa: Departamento de Recursos Humanos /Ministério da Saúde
principais realidades da sala de aula, poucas ou nenhuma ações voltadas
(p.107-103), 1988.
aos professores contratados (temporários), dentre outras.
Autores como Pimenta (1996), Nóvoa (2010), Imbernón (2010), Tardif PAULA, Lucimara Cristina de. A constituição dos formadores de professores no
contexto da educação contínua: contribuições de Paulo Freire às pesquisas. Curitiba:
(2000), assim como os documentos oficiais, asseguram que ofertar forma-
PUCPR. X Congresso Nacional de Educação – EDUCERE, 2011.
ção continuada aos docents é um dever das instituições governamentais.
Enquanto que frequentar a formação continuada é um direito de todos PIMENTA, Selma Garrido. Formação de professores - Saberes da docência e identidade
do professor. Revista da Faculdade de Educação. São Paulo, v.22, n.2, p.72-89, 1996.
os docentes. Estes autores referendam a importância e a necessidade da
valorização docente, em atenção as diferentes realidades locais, individuais, TARDIF, Maurice. RAYMOND, Danielle. Saberes, tempo e aprendizagem do trabalho
culturais, econômicas e sociais como primeiro aspecto a ser considerado no magistério. Revista Educação & Sociedade. Ano XXI, n.73, 2000.
nos espaços formativos. VAILLANT, D. Formação de formadores: estado da prática. Rio de Janeiro: PREAL.
Isso porque, ao partir da realidade local para posteriormente envolver Programa de Promoção da Reforma Educativa na América Latina e Caribe – Fun-
dação Getúlio Vargas, n. 25, 2003. Disponível em: www.cpdoc. fgv.br/projetos/ arq/
as realidades globais, o processo formativo se torna cooperativo, demo-
PrealDoc25.pdf . Acesso em 14 set. 2005.
crático e significativo. Dessa forma, potencializa as possibilidades de
transformações educacionais que almejamos nesses espaços. XAVIER.I.de O. A política de formação continuada de professores de Mato Grosso:
percepções de um grupo de professores/formadores do CEFAPRO. Dissertação do
Programa de Pós-Graduação em Educação- UFMT, Cuiabá, 2013.

190 191
docência na educação infantil e anos iniciais da educação fundamental
(Alfabetização), Educação de Jovens e Adultos, formação de professores
inicial e continuada e orientação acadêmica (UFMT/NEAD). Pesquisadora
de políticas públicas educacionais para a Educação de Jovens e Adultos,
alfabetização e formação inicial e continuada de professores. Atua nos
| Elementos Pós-textuais: Notas sobre os autores seguintes temas: alfabetização, letramentos e suas práticas sociais; políticas
e as autoras públicas educacionais, formação inicial e continuada de professores. Líder
do Grupo de Estudo e Pesquisa de Formação Docente, Gestão e Prática
Educacional (GEFOPE) da Universidade do Estado de Mato Grosso. Inte-
grante do Grupo de Pesquisa sobre Ação Afirmativa e Temas da Educação
Albina Pereira de Pinho Silva é licenciada em pedagogia pela Univer- Básica e Superior (GRAFITE). Editora chefe da Revista de Educação do Vale
sidade de Marília (1989). Mestre em educação pela Universidade Federal do Arinos. Coordenadora de área do subprojeto do Programa Institucional
do Rio Grande do Sul (2005). Doutora em educação pela Universidade de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID), pedagogia, câmpus de Juara.
Federal do Rio Grande do Sul (2014). Pós-doutora pelo Programa Nacio-
nal de Pós-doutorado em Educação, Programa de Pós-graduação Stricto Ariele Crubelati Mazoti é graduada em Pedagogia pela Universidade
Sensu em Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade Estadual de Maringá (UEM), especialista em Gestão Escolar pela Univer-
Campo Grande (2018). Professora adjunta da Universidade do Estado de sidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro) e Mestre em Educação na
Mato Grosso, câmpus de Sinop e professora permanente dos Programas de linha de pesquisa História e Historiografia pela Universidade Estadual de
Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado Acadêmico em Letras e Mestrado Maringá (UEM). Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociolo-
Profissional em Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso, câmpus gia da Universidade Federal de São Carlos- UFSCAR. Professora asssitente
de Sinop. Líder do Grupo de Pesquisa Educação Científico-Tecnológica e da Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT).
Ciadadania e Vice-líder do Grupo de Estudo e Pesquisa de Formação Do-
cente, Gestão e Prática Educacional (GEFOPE) da Universidade do Estado Cleide Cleide Aparecida Ferreira da Silva Gusmão é licenciada em
de Mato Grosso, câmpus de Juara. Tem experiência na área de educação, pedagogia e especialista em Avaliação Educacional pelo Instituto Cuiabano
com ênfase em educação, com atuação, principalmente, nos seguintes temas: de Educação (ICE). Mestre em Educação pela Universidade Federal de Mato
educação, Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC), for- Grosso (UFMT). É docente na Universidade do Estado de Mato Grosso
mação inicial e continuada de professores, letramento(s) e multiletramentos. (UNEMAT), câmpus de Cáceres. Sua experiência profissional abrange o
ensino em Educação Básica e superior. Atua no curso de pedagogia, câm-
Ângela Rita Christofolo de Mello é licenciada em pedagogia pela pus de Cáceres nas áreas de metodologia do ensino, em Ciências Naturais.
Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT/2002). Mestre em Coordena e tutoria o curso de Artes Visuais pela Educação a Distância
Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso (2008). Doutora em (EDAD/UNEMAT). Desenvolve ações de extensões e integra o Grupo de
Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba (2013). Estágio Cien- Pesquisa: Contextos Educativos da Infância.
tífico Avançado no Âmbito de Doutoramento na Universidade do Minho
em Braga (2012). Pós-doutora em Educação pelo Programa Nacional de Cleuza Regina Balan Taborda é licenciada em pedagogia pela Univer-
Pós-doutorado em Educação, Programa de Pós-graduação em Educação sidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Especialista em Gestão Es-
da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Universitário de Ron- colar pela Universidade do Estado de Mato Grosso. Mestrado em Educação
donópolis (2016). Professora Adjunta da Universidade do Estado de Mato pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de
Grosso (2005), câmpus de Juara e Professora permanente do Programa de Mato Grosso (UFMT). Professora assistente da Universidade do Estado de
Pós-Graduação Stricto Sensu, Mestrado Profissional em Letras da Uni- Mato Grosso (UNEMAT), câmpus de Juara-MT na área de metodologia de
versidade do Estado de Mato Grosso, Câmpus de Sinop. Experiência em ensino. Coordenadora de área do subprojeto do Programa Institucional de

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Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID), do curso de pedagogia, campus de pela Universidade Federal de Mato Grosso (2015). Professor efetivo da rede
Juara. Tem experiência na área de educação, com ênfase em administração estadual de ensino. Tem experiência na área de biologia geral, com ênfase
e gestão de sistemas educacionais atuando, principalmente, nos seguintes em meio ambiente, atuando principalmente nos seguintes temas: educação
temas: estado, políticas públicas educacionais, gestão democrática, formação ambiental, formação de professores, paisagismo, meio ambiente e olericultura.
inicial e continuada de professores, organização da educação brasileira e
legislação, conselho escolar, unidade executora, práticas pedagógicas e Glades Mueller é licenciada em filosofia pela Universidade do Estado
estágio curricular. Integrante dos grupos de pesquisa: Grupo de Estudo e de Mato Grosso, (UNEMAT), câmpus de Cáceres, e em pedagogia pela
Pesquisa Formação Docente, Gestão e Práticas Educacionais (GEFOPE) e Universidade Regional do Nororeste do Estado do Rio Grande do Sul
Grupo de Pesquisa sobre Ação Afirmativa e Temas da Educação Básica e (UNIJUÍ/Ijuí/RS). Mestre em educação pela Universidade Federal de Mato
Superior (GRAFITE). Grosso (UFMT). Atua como professora formadora do CEFAPRO de Sinop/
MT, na área da alfabetização. Membro do grupo de pesquisa GEPLIAS/
Cervan Gomes Ferreira é licenciada em história pelo Centro Universitá- Unemat/Sinop/MT. Possui experiência em formação de professores, orien-
rio de Várzea Grande (2002), com especialização em Psicologia da Educação tação acadêmica (NEAD/UFMT), alfabetização, educação infantil: educar/
e Ensino Aprendizagem pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNE- cuidar/brincar/ brinquedoteca.
MAT), câmpus de Juara e especializações em Relações Raciais, Coordenação
Pedagógica e Gestão Escolar pelo Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT). Jairo Luis Fleck Falcão é licenciado em história pela Universidade
Federal de Pelotas (1995), mestrado em história pela Pontifícia Univer-
Elí Terezinha Henn Fabris é licenciada em pedagogia pela Univer- sidade Católica do Rio Grande do Sul (2004) e doutorado em história
sidade de Passo Fundo (UPF/RS). Mestre e doutora em Educação pela pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2009). Pós-Doutorado em
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Pós-doutorado pela economia, com ênfase em economia solidária na Universidade Federal de
Universidade do Porto/Portugal. É professora e pesquisadora do Programa Mato Grosso. Atualmente é professor adjunto da Universidade do Estado
de Pós-Graduçào (PPG) em Educação Unisinos. Atualmente coordena o de Mato Grosso. Tem experiência na área de história, com ênfase em ensi-
PPG em Educação Unisinos e o Grupo Interinstitucional de Pesquisa em no de história, história da educação, sociologia da educação, metodologia
Docências, Pedagogias e Diferenças (GIPEDI). científica e metodologia da pesquisa em educação, atuando principalmente
nos seguintes temas: educação, história, grupo, interdisciplinaridade e cul-
Edilamar Burille da Silva é licenciada em pedagogia pela Faculdade tura. Sua produção tem sido sobre mundos do trabalho, especificamente
de Filosofia, Ciências e Letras de Jales (1991) e em Letras pela Universidade sobre os trabalhadores vinculados a cooperativas de trabalho, associações
do Estado de Mato Grosso (2006). Especialização em Supervisão e Cur- de trabalhadores e sindicatos de trabalhadores avulsos. Pesquisa a busca
rículo para Escola Pública de 1º e 2º Graus pela Universidade Federal de de alternativas de sobrevivência dos trabalhadores frente às mudanças no
Mato Grosso e em Psicopedagogia pelo Instituto Cuiabano de Educação, e mundo do trabalho, a globalização e o neoliberalismo, bem como a manu-
Tecnologias em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de tenção de formas de trabalho como meio de sobrevivência. Ultimamente se
Janeiro. Mestre em educação pela Universidade Federal de Mato Grosso. dedica a algumas frentes de pesquisa, ensino e extensão, que resumem-se
Professora aposentada pela Secretaria de Estado de Educação de Mato em: Formação de Professores; Programa Institucional de Bolsas de Ini-
Grosso. Tem experiência na área de educação, com ênfase em educação, ciação à Docência; História da Educação; Processos de (Re)Ocupação da
atuando, principalmente, nos seguintes temas: ciclo de formação humana, Amazônia Mato-Grossense; Narrativas de Memória; Patrimônio Histórico
alfabetização, currículo, formação continuada e tecnologia. do Vale do Arinos.

Eurico Cabreira dos Santos é licenciado em Ciências pela Fundação Renata Cristina de Lacerda C. B. Nascimento é licenciada em pe-
Universidade de Cáceres (1989) e em Ciências Biológicas pela Universidade dagogia e especialista em Planejamento Educacional pela Universidade
do Estado de Mato Grosso (1995). Mestre em Ensino de Ciências Naturais Salgados de Oliveira. Mestre em educação pela Universidade do Estado de

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Mato Grosso (UNEMAT). Doutoranda pela Universidade Vale do Rio dos
Sinos (Unisinos). Atua na UNEMAT, câmpus de Cáceres. Sua experiência
profissional abrange o ensino em Educação Básica e superior. Atua na área
de metodologia do ensino em alfabetização, além de cursos de extensão e de
especialização. Integrante dos grupos de pesquisas: Grupo Insterisnstitucio-
nal de Pesquisa em Docência (GIPEDI/Unisinos) e Contextos Educativos
da Infância (UNEMAT).

Régis Aparecido de Oliveira é licenciado em matemática pela Uni-


versidade de Cuiabá (UNIC/2005). Mestre em educação pela Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT/2014). Professor da Faculdade Católica
Rainha da Paz (FCARP), no curso de pedagogia. Professor formador do
CEFAPRO de Cáceres. Integra o Grupo de Pesquisa Políticas Contempo-
râneas de Currículo e Formação Docente na Universidade Federal de Mato
Grosso. Tem experiência em pesquisas e estudos na área de educação, com
ênfase a formação continuada de professores e políticas de currículo para
educação do campo. 

Rinalda Bezerra Carlos é licenciada em pedagogia pela Universidade


Federal do Acre (UFAC). Mestre em educação pela Universidade Federal
de Mato Grosso (UFMT). Doutorado em educação: psicologia da educação
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). É docente na
Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), câmpus de Cáceres.
Sua experiência profissional abrange o ensino e a gestão em Educação Básica
e superior. Líder do Grupo de Pesquisa Contextos Educativos da Infância
(GPCEI/UNEMAT).

Samantha Dias de Lima é licenciada em pedagogia, especialista em


currículo e educação crítica humanizadora. Mestre em educação pela
Universidade Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Doutora em educação pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) e pós-doutoranda
pela Unisinos. É docente do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Sua
experiência profissional abrange o ensino e a pesquisa acerca da formação
de professores, infâncias e educação infantil. É integrante do Grupo Inte-
rinstitucional de Pesquisa em Docências, Pedagogias e Diferenças (GIPEDI)
e Líder do Grupo de Pesquisa em Ensino e Aprendizagem Interdisciplinar
(GPEI/IFSC).

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