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9 Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de
10 Veterinária, Laboratório de Aquacultura, Avenida Antônio Carlos, nº 6627, CEP 31270-
11 901 Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
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13 Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa, Campus Universitário,
14 Av. Peter Henry Rolfs, s/n -, CEP 36570-900 Viçosa, Minas Gerais, Brasil
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29 Resumo
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63 1. Introdução
81 A nutrição pode representar cerca de 70% dos custos em uma produção comercial
82 de peixes (Dossou et al., 2018). A ração utilizada e o método de fornecê-la aos animais,
83 são cruciais na viabilidade econômica de uma criação intensiva. De forma geral, existem
84 três estratégias para fornecimento de dieta: alimentação manual, alimentadores
85 automáticos e autoalimentadores (Stejskal et al., 2019). Os sistemas de autoalimentação
86 são ferramentas que auxiliam no estudo do comportamento alimentar dos peixes, para
87 compreensão dos ritmos de alimentação, sendo objetivo de estudo. Podem ser integrados
88 a softwares computacionais que registram dados referentes ao comportamento alimentar
89 (horário, frequência e padrões de alimentação) (Kitagawa et al., 2015; Mattos et al., 2016;
90 Benhaim et al., 2017; Fortes-Silva et al., 2018; Reis et al., 2019). A grande vantagem de
91 um sistema de autoalimentação é fornecimento preciso de ração de acordo com a demanda
92 dos animais, reduzindo perdas de ração e diminuindo os impactos na qualidade de água
93 (Sterwart et al., 2012; Mukai et al., 2021). Esse sistema de alimentação tem sido
94 desenvolvido para evitar a subalimentação e a superalimentação, com os animais
95 alimentando-se de acordo com suas necessidades nutricionais (Covès et a., 2006). Nesse
96 sistema, os peixes precisam necessariamente aprender a relação entre ativação e
97 disponibilidade de alimento, e esse período de aprendizagem é variável entre as espécies
98 (Mukai et al., 2021). Dessa forma, Pratiwy e Khobara, (2017) destacam que esse método
99 de alimentação pode contribuir para uma melhor produção dos peixes em cativeiro,
100 diminuindo o impacto na qualidade da água e trazendo benefícios a aquicultura.
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131 1. Material e métodos
161 Cada tanque era equipado com um sistema para mensurar a atividade locomotora
162 dos animais. Uma fotocélula de infravermelho (modelo Omron, E3SAD62, Japão) foi
163 instalada a 20cm do fundo do tanque e a 20 cm da lateral do tanque (na metade da coluna
164 d’água). Esse sistema de sensor era ligado no mesmo computador que registrou os dados
165 de atividade alimentar. Cada vez que um peixe cruzava o feixe de luz infravermelha da
166 fotocélula esses dados eram enviados para o computador que registrava em um intervalo
167 de dez minutos a movimentação desses animais ao longo do dia (Fig. 1).
169 Vinte e quatro juvenis de P. hemioliopterus (média de peso inicial ± SEM: 35,28
170 ± 0,62 g) foram distribuídos em oito tanques de 48L (três peixes por tanque). Os tanques
171 foram equipados com um sistema de autoalimentação, para a avalição do comportamento
172 alimentar e locomotor dos animais (conforme descrito anteriormente). O experimento foi
173 desenvolvido em duas etapas.
193 Com base nos resultados da etapa 1, foi determinado um desafio alimentar aos
194 animais. Os resultados do primeiro teste, deixam claro a preferência alimentar noturna,
195 dessa forma, o desafio alimentar consistiu em mensurar se o animal se alimentaria no
196 período diurno e o tempo que levaria para essa adaptação. A quantidade de dieta fornecida
197 diariamente, foi baseada na % de consumo médio de ração/peso vivo/dia, da etapa 1
198 (fornecimento de 3% do peso vivo diário). A ração foi fornecida duas vezes ao dia (8:00h
199 e 16:00h) por alimentadores automatizados (EHEIM 3581, Deizisau, Estugarda,
200 Alemanha). Foi mensurado a % consumo de ração médio durante o dia. A dieta foi pesada
201 de acordo com o peso vivo dos animais de cada tanque, e em seguida, foi colocada nos
202 alimentadores automatizados, após 30 minutos foram coletadas as sobras. As sobras de
203 ração foram secas em estufa a 55ºC. Para o cálculo do consumo de dieta diário, foi levado
204 em consideração o peso inicial de dieta fornecida, subtraindo-se o peso das sobras.
205 Quando os animais consumiram 100% da quantidade de ração fornecida diariamente, a
206 etapa 2 foi encerrada.
208 Vinte e quatro juvenis de P. hemioliopterus (média de peso inicial ± SEM: 182,00
209 ± 14,03 g) foram distribuídos em oito tanques de 96L (três peixes por tanque). Essa fase
210 experimental foi composta por dois tratamentos com quatro repetições, onde, quatro
211 tanques foram alimentados exclusivamente durante o meio do ciclo de luz (ML) e quatro
212 tanques foram a alimentação exclusivamente no meio do ciclo escuro (MD). Os animais
213 foram alimentados uma vez ao dia, sendo às 12:00 h o horário de alimentação do
214 tratamento diurno, e 00:00 h o horário de alimentação do tratamento noturno (Lópes-
215 Olmeda et al., 2009; Montoya et al., 2010; Pietro-Guevara et al., 2014; Rodriguez et al.,
216 2021). Os tanques foram equipados com um sistema de alimentadores automatizados
217 (EHEIM 3581, Deizisau, Estugarda, Alemanha), onde era fornecido 3% do peso vivo dos
218 animais de cada tanque (quantidade baseada no primeiro teste). Foram feitas biometrias
219 quinzenais e a quantidade de ração foi ajustada de acordo com o peso vivo dos animais
220 de cada tanque. Essa fase experimental teve duração de 60 dias.
255 2. Resultados
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286 Os animais ficaram três dias sem se alimentar. No quarto dia iniciou-se a
287 alimentação, e continuou de forma crescente. A partir do 18º dia o consumo de ração foi
288 estabilizado proporcionalmente ao que era consumido no experimento 1, equivalendo a
289 quantidade consumida no período noturno. Demonstrando assim, que mesmo os animais
290 tendo um hábito alimentar noturno, conseguem se adaptar a uma alimentação diurna (Fig.
291 6). Apesar dos animais terem um hábito alimentar noturno é possível observar pelo
292 actograma (Fig. 7A) a movimentação de busca e alimentação dos animais durante o dia
293 nos horários pré-estabelecidos de alimentação. Através do actograma (Fig. 7B) é possível
294 perceber o mesmo ritmo na atividade locomotora dos animais.
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302 3. Discussão
323 Os ritmos circadianos dos peixes amazônicos em seus habitats são mal
324 compreendidos. Isso não é surpreendente porque os protocolos tradicionais usados em
325 estudos nutricionais não permitem que os peixes escolham quando se alimentar (Reis et
326 al., 2019). Além disso, resultados sobre os ritmos alimentares e ritmos de locomoção da
327 P. hemioliopterus são inexistentes na literatura. Dessa forma, esse estudo demonstra
328 resultados importantes sobre o comportamento dessa espécie. A P. hemioliopterus
329 demonstrou uma atividade alimentar (98,5%) e locomotora (96,5%) majoritariamente
330 noturna. Resultados semelhantes foram descritos para outros catfishes, como
331 Lophiosilurus alexandri (90% de atividade alimentar e 88% de atividade locomotora no
332 período noturno) (Kitagawa et al., 2015; Santos et al., 2019) e o catfish híbrido
333 (Pseudoplatystoma reticulatum x Leiarius marmoratus) (89% de atividade alimentar e
334 94,1% de atividade locomotora no período noturno) (Fortes-Silva et al., 2016). Através
335 desse sistema de autoalimentação foi possível identificar a preferência alimentar de
336 Colossoma macropomum, onde o mesmo, apresentou uma atividade alimentar de 84,9%
337 noturna (Reis et al., 2019) e locomotora > 90% (Fortes-Silva et al., 2015; Fortes-Silva et
338 al., 2018). Já para Danio rerio esse sistema demonstrou que a os animais apresentam uma
339 atividade alimentar noturna (88%) e atividade locomotora diurna (88,2%) (Del Pozo et
340 al., 2011). Nem sempre a atividade alimentar acompanha a atividade locomotora, esses
341 fatores são variáveis entre as espécies. Nossos resultados estão de acordo com Del Pozo
342 et al (2011) e Fortes-Silva et al (2016), que indicaram que esse sistema utilizado é valido
343 para avaliação dos ritmos alimentares e locomotores de peixes, como catfishes.
344 Embora o principal objetivo deste trabalho não seja avaliar o desempenho
345 produtivo, os peixes apresentaram excelentes parâmetros produtivos em comparação com
346 outros estudos. Os animais apresentaram ganho de peso médio de 131,61 ± 10,68 g,
347 consumindo cerca de 3% de ração em relação peso vivo/dia, com uma conversão
348 alimentar média de 0,66 ± 0,2 ao final do período experimental. Resultados semelhantes
349 em relação ao desempenho de crescimento de animais utilizando sistemas de
350 autoalimentação foram descritos em outros estudos. Várias espécies de peixes, como,
351 Dicentrarchus labrax, L (Azzaydi et al., 2000), Salmo salar (Shi et al., 2000), Tinca tinca
352 (Herrero et al., 2005), Lophiosilurus alexandri (Kitagawa et al., 2015), Oreochromis
353 niloticus (Pratiwy et al., 2017), Arapaima gigas (Mattos et al., 2016; Pedrosa et al., 2019)
354 apresentaram excelentes índices para as variáveis de desempenho: ganho de peso,
355 consumo, taxa de crescimento específico e conversão alimentar. Alguns autores relataram
356 uma associação positiva de aumento de enzimas digestivas e preferência de horário de
357 alimentação (Greenwood e Metcalfe, 1998 , López-Vázquez et al., 2009). Isso pode
358 explicar o bom desempenho dos peixes que se alimentam nos horários de sua preferência.
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432 Tabela 1. Bioquímica sanguínea de juvenis de Phractocephalus hemioliopterus
433 submetidos a alimentação diurna e noturna.
Alimentação Alimentação
Variáveis P-value
diurna (ML) noturna (MD)
Glicose (mg/dL) 59.17±13.81 61.34±18.61 >0.05
Colesterol Total (mg/dL) 176.02±20.65b 224.85±57.39a 0.0278
Triglicérides (mg/dL) 554.05±111.70b 856.12±270.94a 0.0203
LDL (mg/dL) 39.35±8.16 43.83±6.74 0.1962
ALT (U/L) 20.05±6.70 22.85±4.17 0.2466
AST (U/L) 173.72±21.72 184.18±29.55 0.3637
HDL (mg/dL) 16.08±4.16 15.42±6.60 0.8045
Proteína Total (g/dL) 1.80±0.30 1.90±0.22 0.5824
Albumina (g/dL) 1.29±0.18 1.40±0.36 0.4855
434 * Médias na mesma linha com sobrescritos diferentes são significativamente diferentes
435 (p <0.05).
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443 Fig. 3. A) Gráfico de ondas médias da atividade alimentar das pirararas. B) Gráfico de
444 ondas médias da atividade locomotora das pirararas.
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452 Fig. 6. Gráfico de % de consumo de ração durante o dia (desafio alimentar) até a
453 adaptação.
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