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Justino Alexandre Mimbir

Responsabilidade Civil Por Danos Ambientais:

Propostas de Superação ao Obstáculo da Prova do Nexo de Causalidade

Licenciatura em Direito com Habilitação em Direito de Energia e Recursos Naturais

Universidade Púnguè

Extensão de Tete

2020
Justino Alexandre Mimbir

Responsabilidade Civil Por Danos Ambientais:

Propostas de Superação ao Obstáculo da Prova do Nexo de Causalidade

Projecto de Monografia para


conclusão do curso a ser
apresentada no departamento de
Letras, Ciências Sociais e
Humanidades, sob orientação de:

Supervisor

Msc. Luis Xavier Chuquela

Universidade Púnguè

Extensão de Tete

2020
Índice
CAPÍTULO I.............................................................................................................................................4
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................................4
1.1. Delimitação do Tema.................................................................................................................4
1.2. Problema....................................................................................................................................4
1.3. Hipóteses.....................................................................................................................................5
1.4. Justificativa................................................................................................................................5
1.5. Objectivos...................................................................................................................................6
1.5.1. Geral...................................................................................................................................6
1.5.2. Específicos..........................................................................................................................6
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................................................................................6
2.1. Responsabilidade Civil..............................................................................................................6
2.1.1. Pressupostos.......................................................................................................................7
2.2. Responsabilidade Civil Ambiental............................................................................................7
2.2.1. O Dano Ambiental.............................................................................................................8
2.3. O Nexo de Causalidade............................................................................................................11
2.3.1. Teorias explicativas..........................................................................................................11
2.3.2. O Nexo de Causalidade na Responsabilidade Civil Ambiental....................................12
2.3.3. Algumas soluções propostas ao tratamento da prova da causalidade..........................13
3. METODOLOGIA............................................................................................................................15
3.1. Metodologia Científica................................................................................................................15
3.1.1. Método de Abordagem....................................................................................................16
3.1.2. Método de Procedimento.................................................................................................16
3.2. Cronograma de Actividades....................................................................................................16
3.3. Orçamento................................................................................................................................17
Bibliografia..............................................................................................................................................18
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CAPÍTULO I

1. INTRODUÇÃO
1.1. Delimitação do Tema

No presente trabalho, far-se-à uma análise das propostas de superação à vexata quaestio da prova
do nexo de causalidade na responsabilidade civil ambiental.

Portanto, já se pode aferir do tema supra, que o contexto em que o mesmo se insere é objecto do
Direito Civil-Obrigações e Direito do Ambiente concomitantemente.

1.2. Problema

A responsabilidade civil é o meio a que se pode recorrer para a reparação e compensação da


frustração de utilidades juridicamente tuteladas (danos), inclusive os danos sobre o ambiente que,
por sua vez, é um bem com tutela constitucional e ordinária.

No entanto, a responsabilidade civil tem seus pressupostos, dentre eles, um que é indispensável,
o nexo de causalidade1, diferente do pressuposto da culpa que é afastado pela responsabilidade
objectiva. Se por um lado, o nexo de causalidade é um pressuposto da responsabilidade civil, por
outro o dano ambiental é complexo, pelas suas características da globalidade- refere-se ao facto
de o dano ambiental transcender os limites do território em que o facto danoso se verificou;
transtemporalidade - está ligada a protelação do dano no tempo; invisibilidade- muitos danos
ambientais não podem ser captados pelos sentidos; e multicausalidade- um dano pode ser
causado conjuntamente por vários agentes. Essa complexidade do dano ambiental, gera uma
complexidade do nexo de causalidade, caracterizada pela existência de extremas dificuldades
para que o lesado possa provar a existência de uma ligação entre o dano e o facto danoso.

Constatando-se uma verdadeira lacuna no nosso ordenamento jurídico no que diz respeito ao
tratamento desta matéria, importa levantar a seguinte questão: Que soluções ao Direito
moçambicano convêm adoptar?

1
O nexo de causalidade é o elo de ligação entre o facto e o dano.
5

1.3. Hipóteses

Hipótese 1 : A complexidade ambiental será solucionada com a adopção de presunções legais


ilidíveis;

Hipótese 2: A complexidade ambiental será solucionada com a adopção de um modelo de


responsabilidade objectiva agravada;

Hipótese 3: A complexidade ambiental será solucionada com a redução da exigência da prova


para uma questão de verossimilhança.

1.4. Justificativa

Face ao crescimento económico e desenvolvimento tecnológico das sociedades, que se verificam


nas últimas décadas, aumentaram os riscos e danos sobre o meio ambiente. Na década finda,
Moçambique registou uma “explosão” no que diz respeito a descoberta de recursos naturais,
mormente o carvão mineral de Moatize e o gás natural da bacia do Rovuma.

Este fenómeno gera tanto uma enorme esperança no elevado crescimento económico do país,
quanto uma enorme preocupação pelos efeitos adversos da exploração destes recursos,
assumindo enorme destaque as adversidades ambientais, que comprometem a subsistência das
futuras gerações.

Os danos ambientais, as mais das vezes, protelam-se no tempo, portanto, verifica-se uma enorme
necessidade de adopção de soluções jurídicas eficientes para a salvaguarda deste bem jurídico
constitucionalmente tutelado, que é o meio ambiente.

No Direito do Ambiente, existem várias soluções de natureza preventiva nortedas pelos


princípios da prevenção e da precaução, todavia, a norma jurídica se caracteriza pela sua
violabilidade, que fortifica a necessidade de tornar eficientes e eficazes as medidas de reparação
e compensação do dano ambiental, a responsabilidade civil. Sendo o nexo de causalidade, o
mecanismo indispensável para a determinação dos agentes causadores do dano ambiental, deve
ser objecto de um estudo completo.
6

1.5. Objectivos
1.5.1. Geral

Discutir as soluções à complexidade do dano e do nexo de causalidade na responsabilidade civil


por danos ambientais.

1.5.2. Específicos
 Compreender a complexidade do dano ambiental;
 compreender a relevância do nexo de causalidade na responsabilidade civil ambiental;
 Analisar as propostas ao tratamento do ónus de prova da causalidade.

CAPÍTULO II
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1.Responsabilidade Civil

Antes de fazer referência sobre qualquer aspecto da responsabilidade civil ambiental, mostra-se
indispensável fazer uma nota de aspectos gerais relacionados à responsabilidade civil.

PINTO (2005, p. 128) considera que: “quando a lei impõe ao autor de certos factos ou ao
beneficiário de certa actividade a obrigação de reparar os danos causados a outrem, por esses
factos ou por essa actividade, depara-se-nos a figura da responsabilidade civil”.

“A responsabilidade civil actua, portanto, através do surgimento da obrigação de indemnização.


Esta tem precisamente em vista tornar indemne, isto é, sem dano o lesado; visa colocar a vítima
na situação em que estaria sem a ocorrência do facto danoso”(PINTO, 2005, p. 128)

PINTO (2005, p. 128) afirma que: “a responsabilidade civil consiste, por conseguinte, na
necessidade imposta pela lei a quem causa prejuízos a outrem de colocar o ofendido na situação
em que estaria se não fosse a lesão (arts. 483 e 562 do CC)”.
7

2.1.1. Pressupostos

Para que haja responsabilidade civil, é necessário que se verifiquem os seguintes pressupostos: o
dano, a ilicitude, a culpa e o nexo de causalidade (PINTO, 2005, p. 130)

 “O dano é definido como a frustração de uma utilidade que era objecto de tutela
jurídica” (LEITÃO, 2010, p. 343);
 “A ilicitude se traduz na violação de direitos subjectivos ou interesses alheios”
(PINTO, 2005, p. 130);
 “A culpa é definida como o juízo de censura ao agente por ter adoptado a conduta
que adoptou, quando de acordo com o comando legal seria obrigado a adoptar
uma conduta diferente” (LEITÃO, 2010, p. 323); e
 “o nexo de causalidade é a imposição segundo a qual, o comportamento imputado
deve ser a causa do dano sofrido” (LEITÃO, 2010, p. 358).

2.2.Responsabilidade Civil Ambiental

Segundo MEZZAROBA (2014, p. 360) “na responsabilidade civil ambiental, que é a que resulta
de danos ambientais, verifica-se a superação dos pressupostos do dever de indemnizar: acto
ilícito, dano e nexo de causalidade”.

Diferente da responsabilidade civil tradicional, a responsabilidade civil ambiental prescinde do


pressuposto da culpa, segundo o entendimento que se pode extrair do nᵒ.1 do artigo 26 da Lei do
Ambiente2, segundo o qual:

Constituem-se na obrigação de pagar uma indemnização aos lesados todos


aqueles que, independentemente de culpa e da observância dos preceitos legais,
causem danos significativos ao ambiente ou provoquem paralisação temporária
ou definitiva das actividades económicas, como resultado da prática de
actividades especialmente perigosas.

2
Lei nᵒ 20/97 de 1 de Outubro.
8

Por consequência do especial tratamento que merecem, pelas particularidades que possuem e de
acordo com o desiderato da presente pesquisa, cabe-nos analisar mais detalhadamente os
pressupostos do dano e do nexo de causalidade.

2.2.1. O Dano Ambiental

Alguns autores fazem a distinção entre o dano ambiental e o dano ecológico.

ARAGÃO (2007, apud FREITAS, 2017, pp. 34-35) afirma:

Assim, os danos ambientais são aqueles que se fazem sentir em bens como a
saúde humana ou o património, tendo como meio ou veículo da lesão algum
componente ambiental (o ar, a água, o solo, etc). Os danos ambientais,
rigorosamente, resultam directa ou indirectamente de atividades humanas que,
ao poluir ou causar a degradação de um componente ambiental, causam
prejuízos mensuráveis (patrimoniais ou não) em vítimas humanas. Os danos
ecológicos, por sua vez, são situações de degradação de um meio receptor (mais
uma vez, o ar, a água, o solo, a biodiversidade, etc) independentemente de esse
dano afetar o Homem. Os danos ecológicos puros, sem danos ambientais
associados são raros, na medida em que sempre haverá alguns prejuízos
humanos, pelo menos indirectos, pelo menos potenciais, pelo menos futuros,
resultantes daquele dano ecológico. Os danos ecológicos sem danos ambientais
(significativos) ocorrem quando os componentes naturais afetados não estão
apropriados individualmente (são res communes ou omnium), nem são objecto
de qualquer aproveitamento económico, recreativo ou outro. Os danos
ecológicos devem ser reparados prioritariamente através da restauração natural.

Entre nós, nos é trazida a distinção entre dano ao ambiente e dano ecológico, por SERRA (2008,
p. 573), segundo o qual:

Os danos ao ambiente abrangem não somente danos ao ambiente natural propriamente dito, isto é,
a bens ecológicos ou ainda aos componentes ambientais naturais, como tambem os danos
provocados sobre os componentes culturais ou humanos, como é o caso da paisagem e do
património construido. Quanto ao dano ecológico, tende sempre a eleger o objecto material do
dano – o ambiente enquanto conjunto dos recursos bióticos (seres vivos) e abióticos (ar, água,
terra) e a sua interacção – como critério orientador.

2.2.1.1. A complexidade do dano ambiental


9

O dano ambiental é difuso e muitas vezes reflexo, constituindo uma lesão a um bem de uso
colectivo, cuja apuração é de difícil constatação dada a incerteza, a transtemporalidade e a
cumulatividade (FREITAS, 2017, p. 39).

Segundo MEZZAROBA (2014, p. 367):

A questão da complexidade do dano ambiental, leva-nos a ter de abordar a


questão da sociedade de risco, se devendo caracterizar o risco concreto e risco
abstracto. O primeiro deles refere-se ao perigo produzido pelos efeitos da
atividade perigosa. O segundo por sua vez, guarda relação com o perigo da
própria atividade desenvolvida.

CARVALHO (2013, apud FREITAS, 2017, p. 40) considera que:

Os riscos ambientais são inerentes à sociedade de risco ou aos riscos abstractos,


revestidos de características bem específicas, quais sejam: a)
transtemporalidade: a ocorrência do dano gera consequências indeterminadas no
tempo, não só quanto à sua duração, como também no que diz respeito ao
momento em que hão de manifestar-se; b) globalidade: não há determinação do
espaço afetado, pois pode prejudicar desde uma comunidade isolada até todo o
planeta; c) invisibilidade: essa nova modalidade de riscos não pode ser
percebida pelos sentidos, sendo sua existência indicada apenas pela ciência e,
mesmo assim, ainda não determinável sobre sua real natureza. Ilustra bem tais
situações o acidente nuclear em Chernobyl. Vários países foram de alguma
forma afetados (globalidade), sendo que ainda há prejuízos (transtemporalidade)
e não se imaginava que o ocorrido se manifestaria daquela forma
(invisibilidade).

Como já se fez referência supra, o dano ambiental é complexo e a seguir iremos apresentar os
tipos de dano ambiental que revelam a complexidade deste, nomeadamente, o dano efectivo, o
dano transnacional, dano potencial e o dano multicausal.

2.2.1.2. Dano efectivo

“Dano efectivo é aquele que realmente ocorre, que há perda de bens ou dano ambiental
comprovado” (MEZZAROBA, 2014, p. 365).

Ainda MEZZAROBA (2014, pp. 365-366) exemplifica que:


10

A catástrofe de Chernobyl, acidente ocorrido em usina nuclear localizada na Ucrânia, cujos


efeitos destruidores não se resumiram às milhares de mortes à época do episódio, mas que teve
seus efeitos prolongados no tempo, por conta da persistente contaminação por resíduos
radioativos no local e em pessoas, é um dano efetivo que causou uma magnitude de prejuízos
ambientais, visto a transtemporaneidade, vez que tendo suas causas no presente, seus efeitos se
estendem às gerações futuras, significa que a presença de materiais radioativos atingiram a
geração da época do acontecimento do acidente, mas também várias gerações futuras nasceram
com doenças decorrentes do acidente.

2.2.1.3. Dano potencial

Dano potencial é aquele que pode ocorrer, há possibilidade de um evento prejudicial futuro.
Entende-se também por dano potencial, aqueles danos ambientais continuados ou acumulados,
característicos de atividades de riscos, podendo gerar prejuízos num lapso de tempo maior
(MEZZAROBA, 2014, p. 366). Neste sentido:

O risco é, hoje, o dado de grande discussão, pois o mesmo dificulta a implementação de medidas
capazes de dar proteção ao meio ambiente, com intuito de prevenção de danos. Um exemplo de
dano potencial seria a instalação de antenas de celulares, A própria Organização Mundial de
Saúde (OMS) informa que a convivência próxima a estas antenas pode ocasionar efeitos na saúde,
como cataratas, glaucomas, doenças cardiovasculares. Entre outros efeitos, temos casos de
distúrbios do sono, atividades epilépticas em crianças (MEZZAROBA, 2014, p. 366).

2.2.1.4. Dano transnacional

Segundo MEZZAROBA (2014, p. 368), “o dano transnacional é o dano que afeta países
transfronteiriços”.

“No que tange à questão do espaço, os danos ambientais podem ser originados pela actividade de
diversos agentes, localizados em pontos diferentes do território e seus efeitos também podem
extrapolar fronteiras de diversos Estados” (FREITAS, 2017, p. 43).

Nas palavras de BECKER (2005, apud FREITAS, 2017, p. 43):

Em circunstâncias marcadas pela multiplicidade de sujeitos, o feixe de relações jurídicas em que o


dano se dá pode abranger relações contratuais e extracontratuais, de Direito público e de Direito
11

privado”. Dessa forma, a degradação do meio ambiente não respeita fronteiras políticas ou
geográficas e os efeitos dela provenientes podem expandir sobre o território de mais de um país,
inclusive alcançando nível global.

2.2.1.5. Dano multicausal

É o dano que é quase impossível localizar sua origem, devido várias causas ligadas ao dano.
Podemos destacar o dano à saúde: a noção de que a saúde é um processo continuado
interdependente de preservação da vida, criou uma nova dimensão social e o modo de entender a
saúde abrange aspectos individuais e colectivos, envolvendo questões ambientais e sociais
(MEZZAROBA, 2014, p. 370).

O uso de agrotóxico de forma irregular e muitas vezes proibida, é causador de danos multicausais
no meio ambiente e a saúde humana. No que diz respeito a saúde o maior índice de incidência de
lesão, está ligada ao mal uso dos agrotóxicos, ou seja, a inadequada, de quantidade superior a
recomendada, e, até mesmo aplicação de produtos não permitidos ou não indicados para o uso
(MEZZAROBA, 2014, p. 370).

2.3.O Nexo de Causalidade


2.3.1. Teorias explicativas

Para que se possa ter uma compreensão nítida sobre o instituto do nexo de causalidade,
necessário é, que se faça uma breve abordagem sobre as teorias que tentam explicá-lo,
nomeadamente, a teoria da equivalência das condições, teoria da última condição, teoria da
condição eficiente, teoria da causalidade adequada e a teoria do fim da norma violada.

“A teoria da equivalência das condições, igualmente designada como teoria da conditio sine qua
non, considera causa de um evento toda e qualquer condição que tenha concorrido para a sua
produção, em termos tais que a sua não ocorrência implicaria que o evento deixasse de se
verificar” (LEITÃO, 2010, p. 359);
12

“A teoria da última condição, ou da causa próxima, só considera como causa do evento a última
condição que se verificou antes de este ocorrer e que, portanto, o precede directamente”
(LEITÃO, 2010, p. 360);

“A teoria da condição eficiente, formulada por BIRKMEYER, pretende que, para descobrir a
causa do dano terá que ser efevtuada uma avaliação quantitativa da eficiência das diversas
condições do processo causal, para averiguar qual a que se apresenta mais relevante em termos
causais” (LEITÃO, 2010, p. 360);

Sobre a teoria da causalidade adequada:

A teoria da causalidade adequada, maioritariamente defendida na doutrina,


consiste na teoria elaborada por VON KRIES. De acordo com esta concepção,
para que exista nexo de causalidade entre o facto e o dano não basta que o facto
tenha sido em concreto causa do dano em termos de conditio sine qua non. É
necessário que, em abstracto, seja também adequado a produzi-lo, segundo o
curso normal das coisas (LEITÃO, 2010, p. 361);

“A teoria do escopo da norma violada defende, pelo contrário, que para o estabelecimento do
nexo de causalidade é apenas necessário averiguar se os danos que resultaram do facto
correspondem à frustração das utilidades que a norma visava conferir ao sujeito através do
direito subjectivo ou norma de protecção” (LEITÃO, 2010, p. 362).

O sistema civil moçambicano, adoptou a teoria da causalidade adequada no artigo 563 do C.C.
com a seguinte redacção: “a obrigação de indemnização só existe em relação aos danos que o
lesado provavelmente não teria sofrido se não fosse a lesão”. Esta norma vem rejeitar as demais
teorias sobre o nexo de causalidade, adoptando a causalidade adequada.

2.3.2. O Nexo de Causalidade na Responsabilidade Civil Ambiental

“O nexo de causalidade é um elemento indispensável para a configuração da responsabilidade


civil, seja sob o espectro subjectivo ou objectivo” (FREITAS, 2017, p. 52).

A teoria da responsabilidade objectiva, prescinde da culpa, mas reclama o


Direito, da obrigação de reparar ou indemnizar o dano ambiental, a prova do
nexo de causalidade entre a acção ou omissão do agente e a lesão propriamente
13

dita, tratando-se, desta forma, do liame entre os outros dois elementos, isto é, da
relação entre a causa e o efeito (LEITE, 1999, p. 174).

Nas palavras de MACHADO (2013, p. 411) “quando é somente um único emissor não existe
nenhuma dificuldade jurídica. Quando houver pluralidade de autores do dano ecológico,
estabelecer-se o liame causal pode resultar mais difícil, mas não é tarefa impossível”.

Segundo LEITE (1999, p. 175):

Sinteticamente demonstra-se a extraordinária dificuldade da prova do nexo de


causalidade da lesão ambiental, nas seguintes hipóteses: 1. complexidade de
verificação técnica para poder dar probabilidade lesão. Existem muitas dúvidas
científicas na relação de causalidade entre a exposição à contaminação e ao
dano, e pode ocorrer que a parte responsável tente refutar as provas de
causalidade apresentadas, levantando outras possíveis explicações científicas
sobre o dano. Constata-se que há dificuldades técnicas e periciais para provar
inequivocamente que um determinado dano ambiental provoca determinada
lesão, resultado da carência de conhecimento científico; 2. algumas
conseqüências danosas só se manifestam no transcurso de um longo período de
tempo; 3 o dano pode ser oriundo de emissões indeterminadas e acumuladas; 4.
muitas vezes existem enormes distâncias entre possíveis locais emissores e os
efeitos danosos transfronteiriços.

A questão da causalidade ambiental, não tem um tratamento específico no nosso ordenamento


jurídico, o que mantém as dificuldades de prova do nexo de causalidade para o lesado. Portanto,
é importante trazermos algumas soluções propostas pela doutrina e que têm sido adoptadas por
alguns Estados.

2.3.3. Algumas soluções propostas ao tratamento da prova da causalidade

FREITAS (2017, p. 72) afirma:

Considerando que a responsabilidade civil por danos ao meio ambiente rege-se,


dentre outros, pelos princípios da preservação da dignidade humana e sadia
qualidade de vida e da solidariedade social com as presentes e futuras gerações,
deve-se questionar, então, qual é o grau ou a medida de prova necessária para
que o Poder Judiciário possa considerar, nas demandas ambientais, o nexo de
14

causalidade comprovado. A consequência prática vem sendo a flexibilização da


comprovação do nexo de causalidade nas demandas ambientais, ao contentar-se
com a demonstração da presença de uma probabilidade determinante. Substitui-
se, assim, o critério judicial da certeza pela verossimilhança da presença da
relação causal.

SENDIM (2002 apud FREITAS, 2017, p. 99) considera:

Algumas das soluções propostas pela doutrina internacional são a adopção de


presunções legais ilidíveis de causalidade associadas ao exercício de
determinadas actividades perigosas (conforme ocorre na legislação alemã),
atenuação da exigência probatória (conforme prevê a Convenção de Lugano) e a
adopção da causalidade probabilística (influência do direito norte-americano).

CARVALHO (2013 apud FREITAS, 2017, pp. 72-73) disserta ainda que:

A jurisprudência brasileira, no que diz respeito aos danos ambientais vinculados


à propriedade imóvel como supressão de vegetação irregular e contaminação de
solo, ausência de reserva legal ou área de preservação permanente, tem
recentemente consolidado entendimento no sentido de impor responsabilidade
civil mesmo sem a demonstração do nexo causal entre a conduta e a degradação
ambiental. Isso porque considera a natureza da obrigação de recuperação de área
como propter rem. Assim, a obrigação adere ao título de domínio ou mesmo
posse, sendo irrelevante quem foi o real agente poluidor.

Outra solução proposta é a inversão do ónus de prova previsto no nᵒ1 do artigo 341 do C.C. e
artigo 516 do C.P.C.. Neste sentido, FERRAZ (1979 apud LEITE, 1999, p. 183) declara que:

Sem dúvida, a maior guinada que oportuniza a discussão do liame de


causalidade seria a inversão do ônus da prova, que parece bastante apropriada ao
dano ambiental, pois transfere-se ao demandado a necessidade de provar que
este não tem nenhuma ligação com o dano, favorecendo, em última análise, toda
a colectividade, considerando que o bem ambiental pertence a todos.

NORONHA (1999 apud LEITE, 1999, p. 183) disserta: “estudando a colectivização da


responsabilidade, verifica que a última etapa de evolução é a objectiva agravada, em que haverá
hipóteses especiais que prescindem do nexo de causalidade exigindo somente o risco próprio da
actividade”.

Segundo MACHADO (2013, p. 412):


15

Na Alemanha entrou em vigor em 1.1.1991 a Lei de 10.12.1 9l(BGBI.


1990 I, S. 2.634) sobre responsabilidade civil concernente à actividades
perigosas para o meio ambiente. O art. 6, que se divide em quatro
parágrafos, prevê a presunção do liame de causalidade: Se uma
instalação é apta a causar o dano surgido nas circunstâncias de um caso
concreto, há presunção de que o dano é causado pela instalação. A
aptidão - no caso concreto - será julgada de acordo com a
regulamentação da instalação; através das instalações utilizadas.
qualidade e a quantidade de substâncias químicas utilizadas e emitida
segundo a hora e o lugar da emergência do dano e segundo a impressão
de conjunto causada pelo dano e todas as outras circunstâncias, que
indicam ou refutam o liame de causalidade.

“Entretanto a presunção de causalidade não prevalece quando a instalação demonstrar que estava
em conformidade com a legislação vigente, cumprindo os deveres especiais das actividades, e
que não existia qualquer anomalia, cabendo ao titular da instalação fazer a prova do
preenchimento dos pressupostos mencionados” (OLIVEIRA, 2007, apud FREITAS, 2017, p.
102).

CAPÍTULO III

3. METODOLOGIA
3.1. Metodologia Científica

“Os métodos variam de acordo com a natureza da pesquisa, a área da ciência, a forma de
abordagem, o objecto-problema e as fontes, os objectivos e ainda os procedimentos” (GIL, 2007,
p.23).

A natureza da pesquisa tem por base a distinção entre pesquisa quantitativa e pesquisa
qualitativa.

“A pesquisa quantitativa é objectiva, testa as hipóteses e busca os dados numéricos de


fenómenos, objectos, opiniões, sua precisão, utilizando-se da matemática e, espeificamente, da
estatística” (FREIRE-MAIA, 2007, p.30).
16

O mesmo autor define a pesquisa qualitativa como aquela que pode se utilizar de dados
quantitativos mas, ao contrário daquela preocupa-se mais com a compreensão e interpretação dos
fenómenos e objectos.

A presente pesquisa tem uma natureza qualitativa, uma vez que busca a compreensão de dados já
existentes.

3.1.1. Método de Abordagem

Existem dois grandes métodos de abordagem, nomeadamente, o indutivo e o dedutivo.

“O método indutivo parte das observações particulares para chegar a conclusões gerais. A
constância e a regularidade dos fenômenos produzem uma generalização, querem levar a
uma lei geral e universal. Induzir é chegar a uma conclusão a partir de dados particulares”
(GIL, 2007, p.38).

“O Método dedutivo, ao contrário do anterior, parte da generalização e quer confirmá-la na


particularidade. Por exemplo: todo ser humano é mortal (generalização); Paulo é ser humano
(particularidade), logo Paulo é mortal (conclusão particular)” (GIL, 2007, p.40).

O método de abordagem a ser utilizado na presente pesquisa é o método indutivo, uma vez
que o objectivo é partir de análises sobre ordens jurídicas concretas para concluir uma
verdade implicitamente consagrada nos princípios estruturantes do sistema romano-
germánico.

3.1.2. Método de Procedimento

“Há muitas formas de se classificar os métodos de procedimento. Eles podem ser do tipo:
bibliográfico, documental; levantamento de dados, estudo de campo, estudo de caso,
pesquisa participante” (GIL, 2007, p. 51).

O método de procedimento que iremos usar é o bibliográfico.


17

3.2. Cronograma de Actividades

Nᵒ/ Actividades Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro


Ord
1. Entrega do projecto X
de monografia
2. Levantamento do X X
material
bibliográfico
3. Leitura e X X X
fichamentos
4. Redacção da X X
primeira versão do
texto
5. Revisão X X
6. Redacção da versão X X
final
7. Apresentação/defesa X

3.3. Orçamento
Nᵒ de Designação Quantidade Preço Total
Ordem unitário
1 Livros 5 4.000,00MT 20.000,00MT
2 Papéis de resma A4 4 350,00MT 1.400,00MT
3 Esferográfica 4 10,00MT 40,00MT
4 Computador portátil 1 40.000,00M 40.000,00MT
T
5 Impressora 1 25.000,00M 25.000,00MT
T
6 Tinteiro de 4 4.000,00MT 16.000,00MT
impressora
7 fotocópias 100 1,50MT 150,00MT
18

8 Sub-total 102.590,00MT
9 Contingências (10%)---------------------------------------10.259,00MT
10 Total--------------------------------------------------------- 112.849,00MT
19

Bibliografia

Doutrina

FREITAS, C. R., Causalidade e complexidade ambiental: alternativas para a responsabilidade


civil na protecção do ambiente e no desenvolvimento sustentável, dissertação de mestrado,
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Coimbra, Universidade Coimbra, 2017.

FREIRE-MAIA, Newton. A ciência por dentro. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social - 6 ed. Porto Alegre: Atlas, 2008.

LEITÃO, L. M. T. M., Direito das Obrigações, Introdução a Constituição das Obrigações, 9ᵃ


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Legislação

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Lei nᵒ 20/97 de 1 de Outubro, que aprova a Lei do Ambiente.


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