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Organizadores:

Antônio Leonardo Amorim


Gabriel Salazar Curty
Joacir Mauro da Silva Junior

Ciências Criminais e Direitos Humanos:


Tessituras jurídicas de emancipação

ISBN: 978-65-982514-3-7

Prisma Editorial
Florianópolis/SC
2024
Ciências Criminais e Direitos Humanos: Tessituras jurídicas de emancipação © 2024 by
Antônio Leonardo Amorim; Gabriel Salazar Curty; Joacir Mauro da Silva Junior is licensed
under Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International.

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la para fins comerciais.

Conselho Editorial Prisma: André Afonso Tavares; Camilla Martins dos Santos Benevides;
José Carlos Loitey Bergamini; Miriam Olivia Knopik Ferraz; Tássia Teixeira de Freitas Bianco
Erbano Cavalli.
Organizadores: Antônio Leonardo Amorim; Gabriel Salazar Curty; Joacir Mauro da Silva
Junior.
Diagramação e Capa: Prisma Editorial
Contato: https://www.assessoriaprisma.com.br/

Como citar: ÚLTIMO NOME, Nome. Título. In: AMORIM, Antônio Leonardo; CURTY,
Gabriel Salazar; SILVA JUNIOR, Joacir Mauro da (org.). Ciências criminais e direitos
humanos: tessituras jurídicas de emancipação. Florianópolis, SC: Prisma Editorial, 2024.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Ciências criminais e direitos humanos [recurso eletrônico] : tessituras


jurídicas de emancipação / organização : Antônio Leonardo Amorim,
Gabriel Salazar Curty e Joacir Mauro da Silva Junior. — Florianópolis,
SC : Prisma Editorial, 2024.
1 arquivo texto (196 p.) : il. PDF ; 3,85 MB.

Modo de acesso: World Wide Web.


Disponível em formato PDF.
Título retirado da tela de abertura (visualizado em 23 fev. 2024).
eISBN 978-65-982514-3-7
Inclui bibliografias.

1. Direito penal. 2 Direitos humanos - Congressos. 3. Direitos


fundamentais – Congressos. 3. Dignidade (Direito). 4. Universidade do
Estado do Mato Grosso – Congressos. I. Amorim, Antônio Leonardo. II.
Curty, Gabriel Salazar. III. Silva Junior, Joacir Mauro da. IV. Título.

CDDir: ed. 4 – 341.5


CDD: ed. 23 – 341.5
Bibliotecário: Adriano Lopes CRB-9/1429
APRESENTAÇÃO

Trata-se de uma obra organizada a partir de discussões desenvolvidas nas Semanas


Jurídicas dos Cursos de Direito da UNEMAT dos Polos de Campos de Júlio/MT e Água
Boa/MT.
Foram convidados acadêmicos e profissionais para submeterem seus resumos
expandidos nas referidas Semanas Jurídicas. A partir disso, foram discutidos os textos dos
autores, bem como feitas indicações bibliográficas e pedido de ajustes para publicação dos
textos nesta obra.
Todos os textos foram avaliados por comissões próprias dos eventos, tendo sido
amplamente debatidas as atualidades do Direito, em suas diversas formas de concretização.
Os Cursos de Direito responsáveis pela promoção dos eventos realizados em datas
distintas, incentivaram seus discentes na submissão dos resumos, tendo sido concretizado a
partir da organização desta obra coletiva, que conta com resumos selecionados e ampliados para
o formato de capítulo de livro e resumos simples.
Espera-se que com essa obra, seja possível apresentar o Direito na Modernidade, em
suas diversas formas de concretização, dialogando sempre com os Direitos Humanos,
centralidade essa das discussões que envolve essa obra.
Desejamos a todas e todos uma excelente leitura.

Florianópolis/SC, 18 de janeiro de 2024.

Antônio Leonardo Amorim


Gabriel Salazar Curty
Joacir Mauro da Silva Júnior
SOBRE OS AUTORES

ALDO A. NUNES FILHO


Doutorando em Direito Internacional e Comparado na Faculdade de Direito da Universidade
de São Paulo (2020-2022). Mestre (2019) e bacharel (2017) em Direito pela Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. Coordenador Geral do Núcleo de Estudos em Tribunais
Internacionais da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (NETI/USP). Membro da
Academia Brasileira de Direito Internacional (ABDI). Tem experiência na área de Direito, com
ênfase em Direito Internacional, Integração Regional e Direito Internacional dos Direitos
Humanos. É advogado inscrito na OAB/SP. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2261-9440.

ALYCIA DESTO E SILVA


Acadêmica do curso de bacharelado em Direito, no campus de Barra do Bugres, da
Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), bolsista Probic/FAPEMAT do Projeto
de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para minorias coordenado pela Profa. Dra.
Vívian Lara Cáceres Dan; E-mail: Alycia.desto@unemat.br.

ANDRÉ DO PRADO SILVEIRA


Acadêmico do curso de bacharelado em Direito, do campus de Barra do Bugres da Universidade
do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Bolsista PROBIC/FAPEMAT. Email:
andre.silveira@unemat.br. ORCID: https://orcid.org/0009-0004-2283-5233.

ANDRÉIA VITÓRIO DINIZ


Discente do curso de Direito da Unemat – Campos de Júlio – E-mail: diniz.andreia@unemat.br.
ORCID: https://orcid.org/0009-0005-4711-9011.

ANTÔNIA EDUARDA FERREIRA LOUREIRO


Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Campus Nova Xavantina.

ANTÔNIO LEONARDO AMORIM


Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul -
UFMS, Câmpus do Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na
Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista CAPES (2017-2018),
Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-1464-0319.

ARYADENE MAGALHÃES SANTOS


Discente do Curso da Unemat-Campos de Júlio – E-mail: aryadne.santos@unemat.br.

ATILA MIKAELLE ABREU PEREIRA


Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Campus Nova Xavantina.

BRUNA BARREIRA SALES DE PAULA


Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água
Boa.

CAMILLI MEIRA SANTOS SILVA


Professora e Pesquisadora. Mestrado em Direito do Trabalho e Relações Internacionais do
Trabalho pela Universidade Nacional de Três de Febrero (UNTREF). Pós-graduada, lato sensu,
em Direito Processual Civil e Trabalhista pela Faculdades Integradas do Tapajós
(FIT/UNAMA). Especialista em Direito Ambiental, pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Graduada em Direito-Bacharelado, pela Universidade de Cuiabá (UNIC). Integrante
do Grupo de Pesquisa Trabalho e Capital: A centralidade dos Direitos Sociais (UFRGS/CNPQ),
do Grupo de Estudos e Pesquisa em Direitos Fundamentais e Interdisciplinaridade
(GEDIFI/UNEMAT). Membro de la Comunidad Internacional para la Investigación y el
estúdio laboral y ocupacional (CIELO). E-mail: camillimeira@gmail.com. ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-6016-4638.

CÉLIA MARIA FERREIRA


Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água
Boa. E-mail: celia.ferreira@unemat.br.
COSME DAMIÃO SANTOS SILVA
Graduando em Bacharel em Direito pela UNEMAT-MT, Bolsa IC 2022 - Cooperação nº
0218/2022 FAPEMAT/UNEMAT. E-mail: cosme.damiao@unemat.br. ORCID:
https://orcid.org/my-orcid?orcid=0009-0008-3747-4839.

DORIVA TSIMRIHU TSIWAMO


Bacharelando em Direito, Unemat, Campus de Nova Xavantina.

ELIANE BIBIANO DE OLIVEIRA


Discente do Curso de Direito de Nova Xavantina/MT.

ELIAS GUILHERME TREVISOL


Mestrando em Direito, com área de concentração em Direitos Humanos e Sociedade, pela
Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Pós-graduado em Direito Processual
Penal e Direito Processual Civil. Membro do Grupo de estudos NUPED/UNESC. Advogado;
E-mail: egtrevisol1@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7446-5300.

ERIKA CRISTINA SILVA


Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina. E-mail: silva.erika@unemat.br.

EVELIN MARA CÁCERES DAN


Orientadora FAPEMAT/UNEMAT, Professora Adjunta da Faculdade de Ciências Exatas e
Tecnológicas da UNEMAT, Doutora em Ciências Jurídicas e Sociais (PRPPG/UFF).
Coordenadora do Projeto de Pesquisa Cidadania, Conflitos e Segurança Pública, vinculado à
Linha de Pesquisa Segurança Pública, Administração de Conflitos Sociais e da Justiça Criminal
do Grupo de Pesquisa “Políticas Públicas, Direito, Estado e Sociedade – PPDES” (CNPQ). E-
mail: evelindan@unemat.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9960-6325.

FABIO DE MEDINA DA SILVA GOMES


Doutor em Antropologia pela UFF, Mestre em Direito pela mesma instituição e Bacharel em
Direito pela UFRJ. Pesquisador do INEAC-UFF e do PPDES-UNEMAT. Professor da FACET-
UNEMAT- BBG. E-mail: fabio.medina@unemat.br.
FABRÍCIO DA CUNHA ANDRADE
Discente do Curso de Direito da UNEMAT de Campos de Júlio. E-mail:
fabricio.cunha@unemat.br.

GABRIEL SALAZAR CURTY


Mestre e Doutorando em Ciências Criminais (PUCRS). Especialista em Direito Penal e
Processual Penal (FAVENI). Advogado (OABT/MT). Professor Universitário (UNEMAT).
Pesquisador (GEDIFI/UNEMAT, GPESC/PUCRS e GESEG/PUCRS). Parecerista em revistas
científicas. E-mail: gabriel.curty@unemat.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4191-
192X.

GABRIELA SANTOS BRAGA


Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina.

INGRID SANDY MARTINS GOMES


Bacharelanda em direito, Unemat, Nova Xavantina – MT. E-mail: Ingrid_sandy.85@live.com.

JANINE BARBOSA DE SOUZA GALINDOS


Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água
Boa. E-mail: janine.galindos@unemat.br.

JÉSSICA FERREIRA AIRES


Acadêmica do curso de bacharelado em Direito, no campus de Barra do Bugres, da
Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), bolsista Probic/FAPEMAT do Projeto
de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para minorias coordenado pela Profa. Dra.
Vívian Lara Cáceres Dan; E-mail: jessica.aires@unemat.br.

JOÃO VITOR MARCINIAK DE ABREU


Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina.

JOSIAS OLIVEIRA SANTOS


Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina. E-mail: josias@unemat.br.
JULYANE BOURBON SOUSA OLIVEIRA
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus Francisco
Ferreira Mendes. E-mail: julyane.oliveira@unemat.br.

KAILANE ZOZ
Graduanda no curso de Direito da Universidade Estadual do Estado de Mato Grosso. E-mail:
kailane.zoz@unemat.br.

KAMILLA LOPES PEDRINI


Graduanda em Direito na Universidade do Estado de Mato Grosso, Núcleo Pedagógico de
Rondonópolis – Campus Alto Araguaia. E-mail: kamilla.pedrini@unemat.br.

KAMILLY ROS SOUZA MATOS


Graduanda em Direito na Universidade do Estado de Mato Grosso; Núcleo Pedagógico de
Rondonópolis – Campus Alto Araguaia. E-mail: kamilly.matos@unemat.br.

KÁTIA FRANCIELLE DE CARVALHO


Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina.

KHAREN KELLEN BISPO NOGUEIRA


Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina. E-mail:
kharenn.nogueira@unemat.br.

LARISSA BORGES DA SILVA SANTOS


Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água
Boa. E-mail: Larissa.borges.das.s@gmail.com.

LETÍCIA LINO DE OLIVEIRA SILVA


Graduanda do 5º semestre do curso de Bacharelado em Direito pela Universidade do Estado de
Mato Grosso (UNEMAT); E-mail: leticia.lino@unemat.br.
LINNET MENDES DANTAS
Professora Universitária. Advogada. Especialista em Direito Ambiental e Urbanístico (UFMT).
Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Direitos Fundamentais e Interdisciplinaridade
(GEDIFI/UNEMAT). E-mail: linnetd@gmail.com.

LUANA BEATRIZ GONÇALVES FERREIRA


Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina. E-mail:
luana.beatriz@unemat.br.

LUANA NOBRE AQUINO DE LAVOR


Discente do Curso de Direito de Nova Xavantina.

LUANDA GABRIELLI MIRANDA PEREIRA


Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Barra dos Bugres - (Bolsista de IC 2022 -
FAPEMAT/UNEMAT).

LUDINAY EVANGELISTA FRANÇA DE SOUZA


Graduanda no curso de Direito da Universidade Estadual do Estado de Mato Grosso. E-mail:
ludinay.evangelista@unemat.br.

MARCIO LUIS SAEDT SAUNALI CECATO


Bacharel em Psicologia e atualmente bacharelando do curso de Direito parcelada Brasnorte
(MT) vinculada ao curso de Direito Campus Barra do Bugres. Membro do Projeto de Pesquisa
Cidadania, Conflitos e Segurança Pública (portaria n. 2108/2021), Unemat, Barra do Bugres –
MT. E-mail: marcio.saunali@unemat.br.

MARINÊS CAMILO DE SOUZA


Discente do Curso de Direito de Nova Xavantina.

MAYRES DA SILVA ARAÚJO RIBEIRO


Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Campus de Júlio. E-mail:
mayres.araujo@unemat.br.
MONALISA SERRANO SILVA
Acadêmica do curso de bacharelado em Arquitetura e Urbanismo, no campus de Barra do
Bugres, da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), bolsista Probic/FAPEMAT
do Projeto de Pesquisa Políticas de Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência
Visual nas Universidades do Estado de Mato Grosso coordenado pela Profa. Dra. Vívian Lara
Cáceres Dan. E-mail: monalisa.serrano.silva@unemat.br.

NATALIA ALENCAR CANTINI


Bacharel em Direito, membro do grupo de pesquisa “Observatório de Políticas Públicas para
minorias do Mato Grosso”. E-mail: natalia.cantini@unemat.br. ORCID: https://orcid.org/0000-
0002-7765-0816.

NATÁLIA FERREIRA MOURA


Acadêmica do curso de bacharelado em Direito, no campus de Barra do Bugres, da
Universidade do Estado de Mato Grosso. Bolsista PROBIC/FAPEMAT. E-mail:
natalia.moura@unemat.br.

NAYRA CAROLINE NASCIMENTO DOS SANTOS


Discente do Curso de Direito de Nova Xavantina.

NICOLLI MACHADO PELACHIM


Discente do curso de Direito na Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). E-mail:
nicolli.pelachim@unemat.br.

OLDINEIA CÓSCIA DE FERRO CEBALHO


Discente do curso de Direito da Unemat – Campos de Júlio. E-mail:
coscia.oldineia@unemat.br. ORCID: https://orcid.org/my-orcid?orcid=0009-0001-9497-7060.

PATRIK THAMES FRANCO


Bacharelando em Direito, Unemat, Campus de Nova Xavantina.

RUANA RÚBIA AIRES VALÉRIO


Especialista em Advocacia Consumerista; Advogada. E-mail: ruanaairesadv@gmail.com.
SIRLENE DIAS SOARES
Bacharelanda em direito, Unemat, Nova Xavantina – MT. E-mail: Sirlene@gmail.com.br.

STEFÂNIA FRAGA MENDES


Mestre pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP. (2014-2016).
Formou-se na Faculdade de Direito de Franca (2009-2013). Professora universitária
(Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT). Foi bolsista CAPES (2014-2016). Foi
bolsista do Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq (2010/2011
e 2012/2013). Membro do grupo - Projeto de Extensão Papo Direito (UNEMAT) (2019-2020).
Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Direitos Fundamentais e Interdisciplinaridade -
GEDIFI/UNEMAT (2017). Tem interesse nas áreas: Direito Civil - Obrigações, Contratos,
Reais e Família.

TATIANE JASKIU DA SILVA TREVISOL


Pós-graduanda em Direito Previdenciário; Advogada. E-mail: tatyjaskiu@gmail.com. ORCID:
https://orcid.org/0009-0001-4364-1663.

THIAGO PEREIRA ACRISIO


Discente do Curso de Direito da UNEMAT Campos de Júlio. E-mail:
thiago.acrisio@unemat.br.

VALDEMAR JOSÉ COPROSKI


Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água
Boa. E-mail: valdemar.coproski@unemat.br.

VIMILLA SELLENNA ALVES RIBEIRO


Bacharelando do curso de Direito do Campus Barra do Bugres.

VIVIAN LARA CÁCERES DAN


Docente Adjunta do curso de Bacharelado em Direito, campus de Barra do Bugres, da
Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Coordenadora do Projeto de Pesquisa
Observatório de Políticas Públicas para minorias no Mato Grosso; Vice-Líder do Grupo de
Pesquisa Políticas Públicas, Estado e Sociedades (PPDES – CNPq). E-mail:
vivian.dan@unemat.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9880-3028.

WANDERVANEY SOARES DA SILVA


Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água
Boa. E-mail: wandervaney.silva@unemat.br.
SUMÁRIO

ARTIGOS

CAPÍTULO 1
A JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO ALTERNATIVA NOS DELITOS DE MENOR
POTENCIAL OFENSIVO .................................................................................................... 24
Oldineia Cóscia de Ferro Cebalho
Andréia Vitório Diniz
Antônio Leonardo Amorim

CAPÍTULO 2
TÍTULO DESIGUALDADE RACIAL E POLÍTICAS PÚBLICAS: O CICLO DE
EXCLUSÃO DA JUVENTUDE NEGRA EM MATO GROSSO ...................................... 35
André do Prado Silveira
Natalia Alencar Cantini
Vivian Lara Cáceres Dan

CAPÍTULO 3
GARANTIAS E DIREITOS DOS DETENTOS NOS PROCESSOS
ADMINISTRATIVOS DISCIPLINARES DA CADEIA PÚBLICA DE BARRA DO
BUGRES-MT .......................................................................................................................... 43
Cosme Damião Santos Silva
Evelin Mara Cáceres Dan

CAPÍTULO 4
A APOROFOBIA COMO DISCRIMINAÇÃO TRANSVERSAL NO BRASIL
COLÔNIA ............................................................................................................................... 51
Elias Guilherme Trevisol
Tatiane Jaskiu da Silva Trevisol
CAPÍTULO 5
POLÍTICA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA COMO DIREITO
À EDUCAÇÃO E OPORTUNIDADES AO MUNDO DO TRABALHO NA ATIVIDADE
AGRÁRIA ............................................................................................................................... 61
Camilli Meira Santos Silva

CAPÍTULO 6
SAÍDA TEMPORÁRIA, REGIME FECHADO, ESTUDO, TRABALHO E REMIÇÃO
DA PENA: UMA ANÁLISE DA JURISPRUDÊNCIA DO TJMT ACERCA DA
EXECUÇÃO PENAL ............................................................................................................. 73
Gabriel Salazar Curty

CAPÍTULO 7
A ROTA DE INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA (RILA) E A PROTEÇÃO DOS
DIREITOS HUMANOS ......................................................................................................... 83
Aldo A. Nunes Filho

RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

GRUPO DE TRABALHO 1: DIREITOS HUMANOS, SISTEMA DE JUSTIÇA


CRIMINAL E POLÍTICAS CRIMINAIS NO ÂMBITO MATERIAL E PROCESSUAL
.................................................................................................................................................. 99

OS DESAFIOS DA IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA DE


ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHERES NO
MUNICÍPIO DE BARRA DO BUGRES-MT ................................................................... 100
Jéssica Ferreira Aires
Vívian Lara Cáceres Dan

ENCARCERAMENTO FEMININO E A DESIGUALDADE DE GÊNERO ................ 102


Vimilla Sellenna Alves Ribeiro
Evelin Mara Cáceres Dan
DESCUMPRIMENTO DAS MEDIDAS PROTETIVAS - LEI MARIA DA PENHA .. 104
Gabriela Santos Braga
João Vitor Marciniak de Abreu

BREVE PANORAMA SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS A


POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NO BRASIL E NO MATO GROSSO ........ 106
Kailane Zoz
Vívian Lara Cáceres Dan

O TRABALHO DO CARE EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA


PARA IDOSOS NO MUNICÍPIO DE BRASNORTE/MT .............................................. 109
Marcio Luis Saedt Saunali Cecato
Fabio De Medina Da Silva Gomes

AS AUSÊNCIAS DO ESTADO EM RELAÇÃO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A


JUVENTUDE NEGRA NA DE PROMOÇÃO DE IGUALDADE RACIAL ................. 111
André do Prado Silveira
Natalia Alencar Cantini
Vivian Lara Cáceres Dan

EMBRIAGUEZ AO VOLANTE: CULPA CONSCIENTE, INCONSCIENTE OU DOLO


EVENTUAL .......................................................................................................................... 114
Atila Mikaelle Abreu Pereira

SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS BRASILEIRO ..................................................... 116


Nayra Caroline Nascimento dos Santos

OS REVESES DA MULHER NEGRA PARA SE INSERIR NO MERCADO DE


TRABALHO NO BRASIL .................................................................................................. 118
Mayres da Silva Araújo Ribeiro
Antônio Leonardo Amorim
O INSTITUTO DA TRANSAÇÃO PENAL NOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS
– DEFINIÇÃO, NATUREZA JURÍDICA E OBJETO .................................................... 121
Nicolli Machado Pelachim
Antônio Leonardo Amorim

BREVE RELATO E REFLEXÃO HISTÓRICA SOBRE O CÁRCERE FEMININO


BRASILEIRO ....................................................................................................................... 124
Andréia Vitório Diniz
Antônio Leonardo Amorim
Oldineia Cóscia de Ferro Cebalho
Aryadene Magalhães Santos

IMPOSSIBILIDADE DE ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL NOS CRIMES


DE INJURIA RACIAL ........................................................................................................ 127
Thiago Pereira Acrisio
Antônio Leonardo Amorim

ILICITUDE NO CUMPRIMENTO DO MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO ... 129


Erika Cristina Silva
Luana Beatriz Gonçalves Ferreira

A LEGÍTIMA DEFESA DA HONRA: INCONSTITUCIONALIDADE PELA ADPF 779


................................................................................................................................................ 131
Ingrid Sandy Martins Gomes
Sirlene Dias Soares

A PRISÃO PREVENTIVA COMO INSTRUMENTO DE PROFANAÇÃO DE


DIREITOS FUNDAMETAIS .............................................................................................. 133
Fabrício da Cunha Andrade
Antônio Leonardo Amorim

O DOLO EVENTUAL E A CULPA CONSCIENTE NOS HOMICÍDIOS


ENVOLVENDO ACIDENTES DE TRÂNSITO ............................................................... 135
Eliane Bibiano de Oliveira
NOTAS SOBRE O PROCESSO DECISÓRIO ENTRE OS XAVANTE ....................... 138
Doriva Tsimrihu Tsiwamo
Patrik Thames Franco

A JUSTIÇA RESTAURATIVA PARA PESSOAS ENCARCERADAS E O PAPEL DA


SOCIEDADE ........................................................................................................................ 140
Kharen Kellen Bispo Nogueira
Josias Oliveira Santos

ACESSO A DIREITOS DOS REEDUCANDOS DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO DO


ESTADO DE MATO GROSSO .......................................................................................... 142
Luanda Gabrielli Miranda Pereira
Evelin Mara Cáceres Dan

O QUADRO GERAL DE VIOLÊNCIAS CONTRA MULHER E ALGUNS


MECANISMOS INSTITUCIONAIS DE COMBATE NO ESTADO DE MATO GROSO
................................................................................................................................................ 143
Natália Ferreira Moura
Vivian Lara Cáceres Dan

A IMPORTÂNCIA DA RECONSTRUÇÃO DA VIDA FORA DA PRISÃO ................ 147


Antônia Eduarda Ferreira Loureiro
Kátia Francielle de Carvalho

VIOLÊNCIA SEXUAL, VITIMOLOGIA E O POSICIONAMENTO JURÍDICO COM


RELAÇÃO AOS CRIMES SEXUAIS CONTRA AS MULHERES ............................... 148
Luana Nobre Aquino de Lavor
Marinês Camilo de Souza

A INVISIBILIDADE DAS VIOLÊNCIAS DOMÉSTICAS E FAMILIARES


ENFRENTADAS PELAS MULHERES DO CAMPO ..................................................... 150
Aryadne Magalhaes Santos
Andréia Vitório Diniz
GRUPO DE TRABALHO 2: DIREITO PRIVADO MATERIAL E PROCESSUAL E
CONTEMPORANEIDADES .............................................................................................. 152

A TRANSMISSIBILIDADE DO DANO MORAL AOS HERDEIROS. ANÁLISE DA


SÚMULA 642 DO STJ ......................................................................................................... 153
Ruana Rúbia Aires Valério

GRUPO DE TRABALHO 3: DIREITO AMBIENTAL/AGROAMBIENTAL,


ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONALISMO MODERNO NAS VERTENTES
MATERIAIS E PROCESSUAIS ........................................................................................ 155

A RELAÇÃO HUMANA COM O MEIO AMBIENTE: UMA ANÁLISE INICIAL DA


BIODIVERSIDADE E SUA PROTEÇÃO JURÍDICA .................................................... 156
Letícia Lino de Oliveira Silva
Linnet Mendes Dantas

POLÍTICAS EDUCACIONAIS: O TRATAMENTO DA EVASÃO NO ENSINO


SUPERIOR ........................................................................................................................... 158
Alycia Desto e Silva
Vívian Lara Cáceres Dan

POLÍTICAS AFIRMATIVAS PARA INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA


(PcD’s) NA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO ............................... 160
Monalisa Serrano Silva
Vívian Lara Cáceres Dan

OS DADOS NACIONAIS SOBRE A POLÍTICA INSTITUCIONAL DAS COTAS


RACIAIS E SUA INSERÇÃO DO CRITÉRIO DE HETEROIDENTIFICAÇÃO NA
UNEMAT .............................................................................................................................. 162
Ludinay Evangelista França de Souza
Vívian Lara Cáceres Dan
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

GRUPO DE TRABALHO 1: DIREITOS HUMANOS, SISTEMA DE JUSTIÇA


CRIMINAL E POLÍTICAS CRIMINAIS NO ÂMBITO MATERIAL E PROCESSUAL
................................................................................................................................................ 165

VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES E O FEMINICÍDIO NO ESTADO DE MATO


GROSSO NOS ANOS DE 2015 A 2022 .............................................................................. 166
Célia Maria Ferreira
Antônio Leonardo Amorim

RELAÇÕES DE INIMIZADE E PERCEPÇÃO DO AMBIENTE EM UMA


ETNOGRAFIA COM POLICIAIS MILITARES............................................................. 168
Patrik Thames Franco

O PREÇO DA FAMA? VILIPÊNDIO CONTRA ARTISTAS E A VIOLAÇÃO DOS


DIREITOS DA PERSONALIDADE POST-MORTEM .................................................... 170
Antônio Leonardo Amorim
Julyane Bourbon Sousa Oliveira

A (IN)EFICIÊNCIA DAS PENAS DOS CIBERCRIMES ............................................... 173


Larissa Borges da Silva Santos
Antônio Leonardo Amorim

A LEI DA ALIENAÇÃO PARENTAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS EM


DECORRÊNCIA DA PANDEMIA COVID-19 ................................................................ 175
Bruna Barreira Sales de Paula
Antônio Leonardo Amorim
Stefânia Fraga Mendes

GRUPO DE TRABALHO 2: DIREITO PRIVADO MATERIAL E PROCESSUAL E


CONTEMPORANEIDADES .............................................................................................. 177
USUCAPIÃO FAMILIAR E A JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE MATO GROSSO (TJMT) ........................................................................... 178
Janine Barbosa de Souza Galindos
Antônio Leonardo Amorim
Stefania Fraga Mendes

MUDANÇAS DA NOVA LEI DE LICITAÇÕES: OBJETIVOS E CONTROLE DADO


PELA LEI 14.133/2021 ........................................................................................................ 181
Wandervaney Soares da Silva
Antônio Leonardo Amorim

O DIREITO DE REPRESENTAÇÃO NO CASO DE COMORIÊNCIA E O


PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO .................................................................................... 183
Nayra Caroline Nascimento dos Santos
Stefania Fraga Mendes

PLÁGIO NA INDÚSTRIA FONOGRÁFICA: UM ESTUDO DA PROTEÇÃO LEGAL


DOS DIREITOS AUTORAIS ............................................................................................. 186
Kamilla Lopes Pedrini
Kamilly Ros Souza Matos

A ALIENAÇÃO PARENTAL E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O


DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE .................................. 188
Jamile Soledad Blanco
Stefânia Fraga Mendes
Antônio Leonardo Amorim

GRUPO DE TRABALHO 3: DIREITO AMBIENTAL/AGROAMBIENTAL,


ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONALISMO MODERNO NAS VERTENTES
MATERIAIS E PROCESSUAIS ........................................................................................ 191

A NECESSIDADE DE PROTEÇÃO DOS DIREITO DOS ANIMAIS: A AUSÊNCIA DE


LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA NA PROTEÇÃO DOS ANIMAIS NO BRASIL ........... 192
Valdemar José Coproski
Antônio Leonardo Amorim
OS POVOS RIBEIRINHOS E O CULTO DAS ÁGUAS SOB A ÓTICA DA LENDA
AMAZÔNICA “IARA” ....................................................................................................... 194
Antônio Leonardo Amorim
Julyane Sousa Oliveira
ARTIGOS
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

CAPÍTULO 1

A JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO ALTERNATIVA NOS DELITOS


DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO

Oldineia Cóscia de Ferro Cebalho1


Andréia Vitório Diniz2
Antônio Leonardo Amorim3

DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.10680286

INTRODUÇÃO

Importante questionarmos: qual a intencionalidade diante do interesse exacerbado de


punir? Para lançar luz a tal questionamento nos reportamos a Michel Foucault (2014, p. 128)
que traz sua contribuição relacionado a inculcar “no indivíduo hábitos, regras ordens, que o
levam a reconhecer uma autoridade meticulosa sobre seu corpo, fazendo com que o indivíduo
reconheça e aceite tal autoridade sobre suas ações e que ao mesmo tempo possa demonstrar a
outros tal poder de coerção”.
Mas, se a intencionalidade de punir se atem a proteção da propriedade privada, bem
como inculcar nos telespectadores o “medo” de ser punido, então o sistema penal encontra se
equivocado quando não tem um olhar relativizador que vislumbre todas a nuances que levaram
este indivíduo a cometer a infração.
Pois, quando um indivíduo se apropria de um bem de maneira subterfugia é importante
fazermos uma leitura das inúmeras variáveis que o levaram a prática delituosa de apropriação
indevida: como necessidade, dependência psicotrópica ou necessidade de pertencimento a um
grupo social.

1
Discente do curso de Direito da Unemat – Campos de Júlio. E-mail: coscia.oldineia@unemat.br.
2
Discente do curso de Direito da Unemat – Campos de Júlio – E-mail: diniz.andreia@unemat.br.
3
Professor do curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES durante o período do mestrado (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018),
pesquisador vinculado ao projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-1464-0319.

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Diante destas inúmeras variáveis é correto pensarmos que o cárcere é a única solução
plausível para a contenção da prática delituosa em questão? Será que o Estado em conjunto com
a sociedade não é capaz de pensar em outras possibilidades para que este infrator possa restituir
o bem, e concomitantemente talvez demonstrar através de ações que levem no a reconstruir seu
sentimento de pertencimento social, bem como a se tornar um exemplo aos que possivelmente
estão ou estarão na mesma situação.
Mediante tais inquietações relacionadas ao papel do Estado como único responsável
legal por instituir políticas públicas que primem por ressocializar estes indivíduos infratores e
posterior inserção dos mesmos ao ambiente social, faz se necessários nos reportarmos aos
ensinamentos de Howard Zehr (2015), um dos principais defensores da Justiça Restaurativa,
responsável por delimitar categoricamente as duas faces de se observar o crime, a retributiva e
a restaurativa.
A justiça restaurativa busca estimular e promover a responsabilização, a reparação e o
restabelecimento tanto para o Estado, para a sociedade como para as vítimas, bem como aos
que causaram o dano, ou seja, nas palavras de Howard Zehr (2015), a justiça restaurativa busca
“endireitar” as coisas. Para que tal ação de “endireitar” as coisas cumpra seu papel restaurador,
torna se imprescindível direcionar “as decisões principais a aqueles que foram mais atingidos
pelo crime, bem como fazer da justiça um processo mais curativo e idealmente, mais
transformador, sem perder de vista a redução da probabilidade de futuras ofensas”.
Assim a proposição da justiça restaurativa é um trocar de lentes que viabilize, busque
conter, barrar o encarceramento como única forma de resolver os conflitos que envolvem
estado-vítima-ofensor-sociedade.
Será que somos capazes de descrever o mundo que vemos, ou só simplesmente
enxergamos o mundo que somos capazes de contar, a história do mundo é marcada pelo
conflito, e arraigada de violência e como resposta para esses conflitos a punição e a pena tem
assombrosamente marcado suas digitais e deixado seu legado, nas palavras de Foucault (2013,
p. 37) “ a verdade é que, em poucas décadas, desapareceu o corpo supliciado, esquartejado,
amputado, simbolicamente marcado, desapareceu o corpo como alvo principal de repressão
penal” e passou-se a ter a punição dentro de uma parte mais oculta do processo, mudou-se as
engrenagens, com o surgimento das prisões tornando as prisões a pena para aquele que infringe
aquilo que o legislador representando a sociedade determina como delito inaceitável.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

2 DO ABANDONO DAS MATRÍZES ENCARCERADORAS PARA PROMOÇÃO DA


JUSTIÇA RESTAURATIVA

A história das penas é inquestionavelmente mais chocante e desonrosa para a


humanidade que a própria história dos delitos, isso se deve ao fato de que as punições, por
vezes, são mais cruéis e possivelmente mais numerosas do que as violências cometidas por
crimes próprios.
Além disso, enquanto o delito normalmente é uma violência imposta pela aplicação de
uma pena, essa punição é sempre automática, consciente e organizada por muitos contra um
indivíduo. Embora os castigos corporais tenham sido abolidos, a própria prisão acaba por
degradar os corpos dos indivíduos (Ferrajoli, 2002).
A privação de ar, sol, luz e espaço, o confinamento entre quatro paredes, os passeios
limitados, bem como a convivência forçada com companheiros acomodados e condições
sanitárias humilhantes, tudo isso contribui para uma experiência física altamente penosa. Essas
provações físicas são cruéis e podem causar uma deterioração lenta e desumana não só do corpo,
mas do espírito humano dos encarcerados, ou seja, a justiça penal com a pena restritiva de
liberdade no contexto da atualidade tem se mostrado como uma resposta incoerente, a prisão
não é boa, não ressocializa o indivíduo para a vida em liberdade, e acaba sendo meio dúbia, um
meio coercitivo que educa a vida em liberdade em sociedade privando de liberdade
(Hulsman,1993).
A justiça penal não é boa para a vítima, o sistema parece que esquece daqueles que
estão do lado oposto, e acaba sendo má também para as vítimas de um agressor, porque não se
preocupa em repará-las ou ouvi-las adequadamente. Sobre este contexto, surge a Justiça
Restaurativa como resposta para tentar equilibrar este campo e deixá-lo mais equitativo.
Falar de Justiça Restaurativa é propor um convite para profunda reflexão, crítica e
sagaz sobre os modos de exercício de poder, de autoridade, controle, domínio e imposição, é
propor trazer luz no modo sobre como impomos castigos violentos. tratar de Justiça
Restaurativa é falar de uma Justiça companheira dos homens, uma justiça de pessoas voltadas
para pessoas, que envolve uma interdisciplinaridade pois trata de cultura da paz, educação,
direitos humanos e movimento pedagógico com ferramenta de transformação e filosofia de
relacionamento.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

Para Carvalho Siqueira (2021, p.11) a “Justiça Restaurativa propõe uma visão de
Justiça diferenciada, novas lentes através das quais enxergamos conflitos, violências e
conexões”, além disso, enfatiza que “acreditar que a Justiça Restaurativa só tem seu lugar de
ação quando há conflito quando há conflito ou violência é reduzi-la a muito menos do que ela
é e pode ser, o maior potencial transformador da Justiça Restaurativa está justamente na sua
atuação voltada a conexão” (Siqueira, 2021, p. 11).
Ao contrário do sistema de justiça retributivo tradicional, que enfatiza a punição e o
isolamento, a Justiça Restaurativa procura abordar as causas subjacentes das ofensas e
promover a cura e a responsabilização. Segundo resolução n° 225 de 31 de maio de 2016 do
Conselho Nacional de Justiça em seu artigo 1° “A Justiça Restaurativa constitui-se como um
conjunto ordenado e sistêmico de princípios, métodos, técnicas e atividades próprias, que visa
à conscientização sobre os fatores relacionais, institucionais e sociais motivadores de conflitos
e violência, e por meio do qual os conflitos que geram dano, concreto ou abstrato, são
solucionados de modo estruturado”, mas indo mais além a justiça Restaurativa pode ser o
caminho para construir a cultura da paz, aplicada através de nós que podemos ser as células
vivas, as células sanguíneas que transportam os anticorpos capazes de revigorar a vida e o
sentido humano no planeta desmistificado e alternando todo esse fundamento que fomos criados
(uma cultura de confronto, ódio e intolerância).
A Justiça Restaurativa pode ser definida como uma filosofia e prática que visa reparar
o dano causado por uma ofensa e restabelecer as relações entre os indivíduos envolvidos.
Interliga-se às esferas de inclusão, participação e responsabilização, nos processos de Justiça
Restaurativa, todas as partes interessadas, vítima, ofensor, e os membros da comunidade, estão
ativamente envolvidos na determinação da resposta apropriada a ofensa.
Essa abordagem colaborativa permite uma compreensão mais holística do impacto da
ofensa e incentiva o ofensor a assumir a responsabilidade por suas ações. Em contraste com a
Justiça Retributiva, que se concentra principalmente na punição e na dissuasão, a justiça
restaurativa prioriza a reparação do dano causado pela ofensa.
Em vez de isolar o ofensor da sociedade, a Justiça Restaurativa procura reintegrá-lo à
comunidade, reconhecendo que as conexões sociais e o apoio são cruciais para prevenir ofensas
futuras. Ao abordar as causas profundas do delito e envolver todas as partes interessadas no
processo, a justiça restaurativa visa criar uma sensação de cura e solução para todos os
envolvidos.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

Para Luz Garcia (2022, p. 5) “a Justiça Restaurativa mostra-se como uma ferramenta
adequada e imediata para reduzir conflitos penais ao conduzir de forma mais holística e
harmônica os aspectos que envolvem os delitos, na medida em que permite a inserção da vítima,
ofensor, comunidade e estado na resolução do conflito”, uma abordagem alternativa à punição,
focando na transformação e reconciliação entre vítima, infrator, comunidade e Estado em
conflitos que abranjam a esfera penal.
Além disso, continua a autoria mencionando que a Justiça Restaurativa “surge como
um novo paradigma baseado em um modelo inovador de pacificação social, porquanto mais
humano, pois almeja uma ruptura com o modelo punitivo encarcerador reprodutor da
seletividade, desigualdade social, violência e criminalidade” (Garcia, 2022, p. 22).
Os envolvidos no dilema crime e penalização, ou seja, autor do delito, vítima e demais
participantes, são responsáveis por solucionar o conflito social, pacificando assim a
coletividade, nesse sentido, Antônio Leonardo Amorim e Josiane Rose Petry Veronese (2021,
p. 234):

A proposição da justiça coletivamente, para isso, os envolvidos no conflito social são


os principais responsáveis por aceitarem e promoverem a solução desse conflito de
modo restaurativo, deixando de lado o desejo de que o mal praticado seja pago com o
mal como resposta.

Em se tratando de sua aplicabilidade, a Justiça Restaurativa pode ser aplica em delitos


de menor potencial ofensivo, mas o que são esses delitos estão previstos? A Lei nº 9.099/1995,
conhecida como Lei dos Juizados Especiais Criminais, é responsável pela regulamentação dos
crimes de menor potencial ofensivo, que são aqueles cuja pena máxima não ultrapassa dois
anos, como, por exemplo, furto de coisa comum (art. 156, CP) lesões corporais leves (
art.129,CP), e crimes de trânsito de menor gravidade ,como “Praticar lesão corporal culposa na
direção de veículo automotor” (art. 303 CTB), “Deixar o condutor do veículo, na ocasião do
sinistro, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa
causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública” ( art. 304, CTB), entre outros. Para
esses delitos, a lei prevê um procedimento especial de tramitação, no qual busca-se uma solução
rápida e conciliatória, com a aplicação de penas alternativas, como codificada, multa, prestação
de serviços à comunidade, entre outras medidas.
Além disso, os Juizados Especiais Criminais têm uma estrutura mais simplificada em
comparação aos tribunais comuns, com o objetivo de agilizar o julgamento e a aplicação das
penas.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

Um dos principais benefícios da Justiça Restaurativa para lidar com delitos de menor
potencial ofensivo é sua capacidade de promover a prestação de contas e a responsabilidade.
Ao envolver o ofensor em um diálogo com a vítima e a comunidade, a Justiça Restaurativa os
encoraja a enfrentar as consequências de seus atos e a assumir a responsabilidade pela reparação
do dano causado.
Essa responsabilidade, pode levar a uma maior compreensão do impacto de seu
comportamento e a um compromisso de fazer reparações, reduzindo a probabilidade de ofensas
futuras. Além disso, a justiça restaurativa oferece uma oportunidade para os infratores obterem
informações sobre as consequências de suas ações.
Por meio de reuniões presenciais ou diálogos mediados, os infratores podem ouvir
diretamente da vítima sobre o impacto da ofensa em suas vidas. Essa conexão pessoal pode ser
um poderoso catalisador de empatia e compreensão, ajudando os ofensores a desenvolver um
sentimento mais profundo de remorso e um desejo genuíno de consertar as coisas.
Além disso, a Justiça Restaurativa contribui para construir relacionamentos mais fortes
dentro das comunidades. Ao envolver os membros da comunidade no processo, a justiça
restaurativa promove um senso de responsabilidade coletiva para abordar e prevenir ofensas.

3 RESTABELECENDO DIÁLOGOS – A IMPORTÂNCIA DA JUSTIÇA


RESTAURATIVA

A Justiça Restaurativa tem como interesse primordial propiciar o tratamento, prevenir


os danos e males sofridos, tanto pelas vítimas quanto pelos agressores, uma vez que, quando há
uma transgressão, vítima, agressor, familiares e comunidade, bem como o sistema judiciário e
o sistema penal são impactados.
Pois em se tratando das vítimas nos deparamos com o trauma sofrido que desestabiliza
famílias e adoece tanto a vítima quanto todos que estão a sua volta.
Já relacionado ao agressor este sofre com o apartheid familiar, social, judicial e penal,
ao se deparar com o julgamento indiscriminado, muitas vezes é expropriado de seus direitos
enquanto ser humano. Ou seja, uma vez violado o pacto social, as normas sociais impostas este
sofrerão suas consequências em todas as suas formas possíveis.
Agora relacionado ao sistema judiciário este deve priorizar a aplicação das leis
objetivando demonstrar que esta não seja conivente com os indivíduos que a elas descumprem

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

e ainda buscar evidenciar a todos que tal descumprimento das leis será passível de
consequências.
O sistema penal por sua vez cada vez mais enfrenta a superlotação dos presídios, a
falta de mão de obra proporcional ao números da população carcerária, infraestrutura
precarizada e ainda se depara com a questão da insalubridade que assola o sistema devido a
superlotação e a falta de investimento em saúde desta população que vive expropriada das
garantias mínimas que inúmeros órgãos internacionais definem como mínimo existencial,
disciplinado categoricamente pela comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações
Unidas.
Diante destes apontamentos relacionados aos enumerados personagens como a vítima,
o agressor, os familiares, a comunidade, o sistema judiciário e o sistema penal é que devemos
ter um olhar acolhedor e uma escuta sensível afim de buscar cada vez mais estabelecer diálogos
que priorizem compreender sistematicamente cada um dos personagens, pautado em seu lugar
de fala.
Pois, a depender de onde estamos falando, temos um discurso carregado de
simbologias e significados, ademais também é imprescindível cavar bem fundo com o intuito
de desvendar todas a nuances que levam cada um destes personagem a agir como agem.
Oudshoorn et al. (2019), nos leva a perceber que estes apontamentos levam a diálogos
que devem ser restabelecidos com o intuito de buscar veementemente o atendimento das
necessidades das vítimas, dos ofensores e da comunidade com ênfase na recuperação e à cura.
Para que haja recuperação e cura de cada um destes personagens marcados por estes
lamentáveis acontecimentos é preciso foco no que cada um deles realmente necessita.
Quando focamos na vítima, esta em primazia busca segurança física e emocional que
muitas das vezes significa garantir o distanciamento da vítima de seu agressor/ofensor.
A vítima insistentemente deseja que deem lhe crédito e voz as suas revelações, a suas
dores e a seus medos, uma vez que geralmente a vítimas verbalizam realmente o que aconteceu
relacionado ao abuso sexual, sendo comum que sintam se culpadas. Neste contexto é primordial
deixar claro a elas que o “mal causado” e algo abominável, inaceitável e não deve ser tolerado.
É comum que as vítimas de abuso sexual vivam um momento de reclusão, distanciamento social
objetivando ressignificar sua existência se reconstruindo, para só então alcançar protagonismo
existencial.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

Não tão menos importante devemos pensar: “quais as necessidades das pessoas que
cometeram abuso sexual? Uma vez que, somente a punição não irá garantir segurança ao
contexto social em que o ofensor/agressor está inserido.
Para termos um olhar compreensivo sobre este personagem nos utilizaremos dos
escritos de Judah Oudshoorn (2019, p. 40) e outros autores em sua obra Justiça Restaurativa em
casos de Abusos Sexual que traz a seguinte contribuição: “ao pontuar que estes devem assumir
a responsabilidade dos seus atos, quando se diz assumir a responsabilidade é reconhecer
literalmente o mal cometido”.
Há ainda outra nuance sobre a necessidade das pessoas que cometeram o abuso sexual
que seria o apoio para que este ser, compreenda o mal causado e as raízes do problema, que
muitas das vezes pode ser uma doença, a repetição de um trauma infantil sofrido. Claro que não
devemos fechar os olhos e acreditar que a Justiça Restaurativa seja autossuficiente, muito pelo
contrário temos que ter plena convicção que muitos criminosos sexuais não são passiveis de se
auto responsabilizar e diante desta constatação termos a percepção que continuarão oferecendo
risco para si e para os que os circundam.
Não devemos esquecer que todos os envolvidos como a vítima, o agressor está inserido
em um círculo familiar e social. Há que se considerar que somos seres coletivos, ou seja
vivemos em uma sociedade que diante de crimes de abuso sexual também são impactadas com
tais práticas inadmissíveis de seus indivíduos que desencadeiam neste contexto insegurança,
problemas de confiança, bem como preocupação de todos. Para justificar esta explanação
citamos Oudshoorn et al. (2019) que assim pontua: “as comunidades têm necessidades também,
como as vítimas – de segurança, informação, voz, empoderamento e esclarecimento”.
(Oudshoorn et al., 2019, p. 43).
Desta feita a Justiça Restaurativa, para Oudshoorn et al., (2019, p. 45) se configura
como: “uma estrutura para tratar e prevenir o abuso sexual. Atendendo primeiro às necessidades
da vítima e, em segundo lugar responsabilizar o ofensor dentro de um contexto de apoio. A
comunidade mais ampla também deve ser contemplada. Pois somente a partir destas inúmeras
considerações a estes vários personagens é que pode se buscar o perdão”.
Para tanto faz se necessário esclarecer que o perdão para a Justiça Restaurativa consiste
basicamente que os abusadores devem percorrer um determinado percurso que parte em
primeiro da responsabilização, reconhecimento e consequências dos seus atos, para
posteriormente tentar reparar seu mal.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

A referida reparação ensejada pela Justiça Restaurativa, parte dos seguintes


procedimentos o diálogo, a mediação e os círculos de apoio. O diálogo parte do pressuposto
básico de promover o encontro presencial entre a vítima e o ofensor acompanhado por um
facilitador, o qual tem por objetivo fazer com que o ofensor compreenda o quanto suas ações
impactaram de forma drástica a vida da vítima.
Por outras vezes, a vítima precisa perceber literalmente na fala do ofensor, se este se
arrependeu dos seus atos para que ela possa iniciar seu processo de cura e superação do trauma
sofrido. Para que a ação tenha efeito positivo o facilitador desempenhará papel primordial ao
propiciar de forma eloquente e perspicaz o diálogo intuindo que vítima e ofensor se apropriem
dos por quês, das decisões, bem como do reconhecimento. É importante fazer referência a
contribuição da Justiça Restaurativa sob a ótica de Oudshoorn et al, (2019), que assim diz: “O
diálogo de justiça restaurativa pode preencher a lacuna deixada pela terapia e pela justiça
criminal oferecendo a oportunidade (se apropriado) de facilitar um diálogo entre a vítima e
ofensor (Oudshoorn et al, 2019, p. 51).
Outra possibilidade é quanto a intervenção de um mediador junto à vítima e ao ofensor
por meio de vídeo, carta ou até mesmo conversas presenciais com a finalidade de compreender
e perceber o quão profundo, doloroso e traumático foi os atos cometidos e sofridos por ambos,
tendo como intenção tornar todo o ensejo menos doloroso e menos traumático.
Para melhor explicar este método Oudshoorn et al, (2019), pontuam que:

E um programa pós-sentenciamento, e a participação é voluntária para todos os


envolvidos. O programa explora meios de utilizar vários modelos de mediação vítima-
ofensor para melhor atender às necessidades dos participantes da maneira que for
definida por eles, e com a ajuda de um mediador profissional (...) Vítimas podem
contar suas histórias, explicar ao ofensor os impactos físicos, emocionais e financeiros
que sofreram, explorar questões sem respostas sobre o crime e o ofensor e participar
diretamente do desenvolvimento de opções para tentar sanar os males cometidos,
quando possível”. (Oudshoorn et al, p. 53, 2019).

Oudshoorn et al (2019) faz menção em seu livro sobre os círculos de apoio e


responsabilização programa implementado no ano de 1994 no Mennonite Central Committee
do Canadá para ajudar a comunidade a compreender que estes criminosos sexuais retornarão
para o convívio social e que necessitam de apoio, assistência com o intuito de reduzir a
vitimização sexual, a exclusão social e oferecer inserção no mercado de trabalho.
Oudshoorn et al (2019) em seus escritos pontua que as ações dos círculos de apoio e
responsabilização da Justiça Restaurativa, buscam se encontrar pelo menos uma vez por semana

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

como o “membro essencial” (termo utilizado para identificar o ofensor de modo a dissipar a
estigmatização), mais se necessário for os encontros podem ser diários. O sucesso desse
programa pauta se nos valores centrais que são: a responsabilização por parte da comunidade,
o acolhimento dos criminosos sem prejulgamentos, aceitação e partilha do contexto social.
Corroborando dessa ideia trazida pelo programa Oudshoorn et al (2019), assim
exemplifica “ao compreender que a comunidade assume a responsabilidade por seus membros
em vez de relegar a tarefa a “outros”, o investimento que se faz na vida das pessoas torna a
comunidade um lugar mais seguro e saudável de viver” (Oudshoorn et al, 2019, p. 63).
Para tanto o que a Justiça Restaurativa busca com tais possibilidades ensejadas com os
procedimentos é a eficácia das alternativas visando atender as necessidades de cura, superação
e inserção de todos os personagens envolvidos neste ambiente inóspito de violência sexual.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se que o procedimento restaurador do tecido social rompido, denominado de


Justiça Restaurativa, é instrumento potente na concretização de Direitos Humanos
fundamentais do acusado, da vítima e da sociedade, uma vez que instrumentaliza de diversas
formas a possibilidade de reestabelecimento do diálogo social rompido.
Além disso, promove a emancipação social por meio de suas técnicas, nesse sentido,
observa-se que esse instrumento tem surtido efeito em diversas frentes quando convocado, tanto
em crimes graves como em crimes considerados de menor potencial ofensivo, como aqueles
que não tem elevada expressão jurídica.
Não advogamos que esse instrumento deve servir como meio escuso para alcançar e
punir demasiadamente a sociedade, pelo contrário, compreendemos que uma vez apurado
autoria delitiva nos crimes de menor potencial ofensivo, a Justiça Restaurativa deve ser o
instrumento utilizado para promover a paz social.

REFERÊNCIAS

AMORIM. A. L. VERONESE. J. R. P. Um Olhar Fraterno na Aplicação de Medidas


Socioeducativas: justiça restaurativa como pacificadora social e instrumentalizadora da
cogovernança. In: BRITO, Rafaela Silva, et al. (org). Cogovernança como processo de
construção de fraternidade na polícia, a partir das cidades. Caruaru: Editora Asces, 2021.
p. 231-248.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

CARVALHO, Mayara. Justiça Restaurativa em Prática: conflito, conexão e violência.


Instituto pazes. Belo Horizonte MG. 2021.

FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2002.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Edições 70, uma chancela de Edições Almeida, S.A.
Lisboa/Portugal, 2014.

HULSMAN, louk; DE CELIS, Jacqueline Bernat. Penas Perdidas: O sistema Penal em


Questão. Tradução: Maria Lucia Karam. Rio de Janeiro: Editora Luam, 1993.

LUZ GARCIA, Natália. Justiça restaurativa-Um Novo Paradigma: Breves reflexões sobre
o Estado de coisas inconstitucional no cárcere brasileiro. 2021. Kindle. p. 1-53.

OUDSHOORN, Judah. Justiça Restaurativa em casos de Abusos Sexual. São Paulo: Palas
Athena, 2019.

ZEHR, Howard. Justiça Restaurativa. Tradução: Tônia Van Acker. São Paulo: Palas Athena,
2015.

ZEHR, Howard. Trocando as lentes - um novo foco sobre o crime e a justiça. São Paulo: Palas
Athena, 2008.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

CAPÍTULO 2

TÍTULO DESIGUALDADE RACIAL E POLÍTICAS PÚBLICAS: O


CICLO DE EXCLUSÃO DA JUVENTUDE NEGRA EM MATO GROSSO

André do Prado Silveira1


Natalia Alencar Cantini2
Vivian Lara Cáceres Dan3

DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.10680296

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo aprofundar a reflexão sobre as políticas públicas de
igualdade racial direcionadas à juventude negra no Estado de Mato Grosso. Para isso, foram
analisados dados estatísticos relacionados à taxa de mortalidade desse grupo, destacando a
ineficácia das políticas públicas existentes e a falta de proposição de novas medidas por parte
do Estado, além da persistência da discriminação resultante do racismo estrutural arraigado na
sociedade brasileira.
Nesse contexto, destaca-se a ausência de políticas públicas efetivas que promovam a
igualdade racial, o que reforça a alta taxa de mortalidade observada entre a juventude negra no
Brasil. No entanto, é importante ressaltar que não basta apenas propor políticas públicas - é
necessário também criar condições que permitam a efetiva implementação dessas políticas em
diferentes realidades geográficas, culturais e socioeconômicas enfrentadas por esse grupo
social.
Diante desse desafio, surge a necessidade de superar a desigualdade racial, começando
pela taxa de informalidade. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) divulgados pelo G1 em 2021, a taxa de trabalhadores informais entre a população
branca era de 32%, enquanto entre pretos era de 43% e entre pardos chegava a 47% (G1, 2022).

1
Acadêmico do curso de bacharelado em Direito, do campus de Barra do Bugres da Universidade do Estado de
Mato Grosso (UNEMAT). Bolsista PROBIC/FAPEMAT. Email: andre.silveira@unemat.br.
2
Bacharel em Direito, membro do grupo de pesquisa “Observatório de Políticas Públicas para minorias do Mato
Grosso”. Email: natalia.cantini@unemat.br.
3
Docente Adjunta do curso de Bacharelado em Direito, campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado
de Mato Grosso (UNEMAT). Coordenadora do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para
minorias no Mato Grosso; Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Estado e Sociedades (PPDES –
CNPq). E-mail: vivian.dan@unemat.br.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

Isso significa que a proporção de pessoas em situação de pobreza entre pretos e pardos é o dobro
em relação aos brancos, conforme indicado pela pesquisa.
Assim, é fundamental enfrentar a desigualdade racial por meio de políticas públicas
abrangentes e efetivas, que considerem as diferentes realidades vivenciadas pela juventude
negra no Brasil. Essas políticas devem abordar não apenas questões relacionadas à segurança e
à violência, mas também garantir oportunidades de educação, emprego digno e acesso aos
serviços básicos, visando à construção de uma sociedade mais justa e igualitária para todos os
seus cidadãos.
A metodologia adotada é hipotético dedutiva pois analisando as políticas públicas
destinadas a esse seguimento da população poderemos refletir sobre sua eficácia ou não.
Também utilizamos dados estatísticos, sendo uma pesquisa quanti-qualitativa.

2 CICLO DE EXCLUSÃO: UM PANORAMA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A


JUVENTUDE NEGRA NO BRASIL

Inicialmente, o Estatuto da Juventude, Lei nº 12.852/2013, considera jovens as pessoas


que possuem idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos de idade. Este estatuto tem como
principal objetivo, a promoção da inclusão social dos jovens e a garantia das condições para o
efetivo desenvolvimento das suas capacidades e o exercício da sua cidadania. No entanto, para
que não ocorra conflito, as pessoas de 15 a 18 anos são respaldadas pelo Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA).
De acordo com Silva (2011), ser jovem implica em ser “singular”, ou seja, envolve
uma variedade de vontades, desejos e perspectivas. No entanto, no contexto brasileiro, observa-
se que o Estado nega a juventude dos jovens negros, pois a simples condição de idade não lhes
permite vivenciar plenamente sua condição humana nessa fase da vida. Nesse sentido, o olhar
projetual das instituições de poder em relação aos jovens negros não é neutro, mas sim
influenciado por uma estrutura racista (Lemons et al, 2017, p.168).
Esse fenômeno violento, não é uma novidade, começando a ser constatado pelos
primeiros relatórios de violência da ONU (1987) e UNESCO (1998) (Flores, 2016). Com o
surgimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990), surgiram novos esforços
para promover os direitos desse público e desenvolver estratégias para combater as violações
sofridas por eles. Essas ações, resultaram de uma colaboração conjunta entre o governo
brasileiro, organizações da sociedade civil e organismos internacionais. Entre as medidas

36
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

implementadas, destacam-se as políticas de atendimento voltadas para a prevenção da violência


sexual, violência doméstica, negligência, violência psicológica e, em particular, a violência
letal. Essas iniciativas são de suma importância pois visam garantir a proteção e o bem-estar
das crianças e adolescentes, promovendo um ambiente seguro e saudável para o seu pleno
desenvolvimento, porém, cabe reconhecer que ainda não são suficientes (Flores, 2016).
Conforme exposto por Gomes e Laborne (2018, p.2) “O direito à vida é o principal
direito humano. Um Estado democrático deve zelar pelo direito à vida dos seus cidadãos e
cidadãs.” Assim, mesmo que com ações governamentais, essas precisam ser eficazes, ou seja,
é necessário que consigam fomentar uma ruptura ao que acirra a desigualdade no Brasil,
transpassando-se do texto legislativo à realidade fática dos milhares de jovens negros,
considerando suas diferenças sociais, culturais e econômicas.
A Constituição Federal de 1988 deixa exposto, em seu art. 6º, um rol de direitos
sociais:

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o


transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL,
1988).

Pires (2019) expõe que esses direitos devem ser replicados em todos os estados e
municípios do Brasil, no entanto, o que mostram os dados em relação à implementação de
políticas públicas para a comunidade negra, é que os gestores públicos mantêm um jogo duplo,
baseado na criação de leis, normas e nos discursos oficiais pró-inclusão, contudo, a
concretização da política pública costumeiramente é sabotada pelas diferentes formas de
aplicação governamentais que não focam na raiz da problemática e tratam como algo
superficial, como um tapa buraco.
Ademais, segundo a Síntese de Indicadores Sociais, realizada pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), baseada em dados de 2019, constatou-se que cerca de 32%
das mulheres de origem preta ou parda, com idades entre 15 e 29 anos, no Brasil não estavam
envolvidas em atividades educacionais ou ocupacionais. Isso significa que esse grupo de
mulheres não estavam matriculadas em escolas ou universidades e não estavam trabalhando,
mesmo que por apenas uma hora na semana, de acordo com o critério utilizado na pesquisa.
De acordo com a analista de pesquisa do IBGE, Luana Botelho, no ano de 2019, uma
jovem negra tinha 2,4 vezes mais chances de não estar estudando e nem trabalhando em
comparação a um jovem branco. Outrossim, as mulheres negras também se encontravam em

37
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

desvantagem em relação aos homens negros (18,9%) quanto em relação às mulheres brancas
(20,8%). Ou seja, as jovens mulheres negras enfrentam mais dificuldades para acessar a
educação e emprego. Essas desigualdades evidenciam mazelas estruturais presentes na
sociedade brasileira.

3 NARRATIVAS EM DISPUTA: DESVELANDO O RACISMO ESTRUTURAL EM


RELAÇÃO A POPULAÇÃO NEGRA NO ESTADO DE MATO GROSSO

No estado de Mato Grosso, no ano de 2018, foram registrados 419 casos de injúria
racial e no ano de 2019, foram registrados 489 casos. Isso representa o aumento de 15% nas
ocorrências de injúria racial deixando o estado em primeiro lugar no ranking de registros de
casos de racismo por estado proporcional ao número de habitantes (G1, 2020).
Além disso, foi analisado o plano de ação do Conselho Estadual de Promoção da
Igualdade Racial de Mato Grosso (CEPIR-MT) para o ano de 2020, especificamente no que se
refere à juventude negra. Verificou-se que apenas uma reunião foi realizada ao longo do ano,
que tinha o objetivo de debater os problemas enfrentados pela juventude negra no estado de
Mato Grosso e capacitar jovens líderes. Isso evidencia uma falta de planejamento, poucas
reuniões e investimentos insuficientes por parte do Governo Estadual no que diz respeito à
promoção de políticas públicas que visam à igualdade para os jovens negros.
Outrossim, também foi analisado o plano de ação do Conselho Estadual da Juventude
de Mato Grosso (CONJUV-MT) para o período de 2020-2022 e constatou-se que não existem
informações concretas sobre a extensão da violência contra os jovens no estado.
Isto é, a pesquisa nesta área está em estágio inicial, pois as atas disponíveis no site se
limitam ao ano de 2019. Isso indica uma negligência por parte dos órgãos estatais em relação a
essa parcela da população, o que comprova a presença de racismo institucionalizado que se
manifesta na falta de posicionamento e no desconhecimento da realidade dos jovens do estado,
ou seja, não há um entendimento sobre quem são esses jovens, onde vivem, como vivem e
outros indicadores.
Segundo o site de jornalismo investigativo “O joio e o Trigo”, no Estado de Mato
Grosso, se consolidando como o maior produtor de soja no Brasil, as cidades foram cortadas
por rodovias para a produção e transporte de soja e milho, registrando a segregação social, pois
passam a deixar nítido mazelas e lados que “determinam cor de pele, origem geográfica e renda”
, deixando-nos a inquietação: “Rodovias conectam ou segregam?”

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

Conforme entrevista realizada pelo jornal, Adevanir Pereira da Silva, morador da


cidade de Sorriso-MT, expõe que: “Infelizmente há um apartheid entre o asfalto pra lá e o
asfalto pra cá”. Assim, o racismo estrutural persiste devido à inação do Estado diante das graves
desigualdades sociais que afetam grupos específicos. Isso resulta na hierarquização de corpos
e conhecimentos, muitas vezes respaldada pela ideia de meritocracia e merecimento de direitos
e qualidade de vida. Infelizmente, essa realidade é vivenciada apenas por uma parcela
privilegiada da sociedade, enquanto outros são deixados à margem (Wacquant, 2003).

4 O LEGADO DA COLONIALIDADE DE PODER: RACISMO E OPRESSÃO


CONTRA OS JOVENS NEGROS NO BRASIL

Atualmente, constata-se que a violência está ceifando a vida de um número alarmante


de jovens negros no Brasil. Segundo o Atlas da Violência de 2020, foram registrados 30.873
homicídios de jovens negros com idade entre 15 e 29 anos. Entre 2008 e 2018, a taxa de
mortalidade desse segmento da população aumentou de 53,3 para 60,4 a cada 100 mil jovens.
Além disso, de acordo com o mesmo relatório, 55,6% dos óbitos ocorreram entre jovens de 15
a 19 anos (IPEA, 2020).
Ao aprofundarmos a análise desse fenômeno, torna-se evidente sua relação com o
pensamento de Aníbal Quijano (2000), o qual faz uma menção crítica de uma estrutura histórica
complexa, que se caracteriza por uma matriz de poder específica conhecida como "matriz de
poder colonial". Essa matriz exerce influência sobre todas as esferas da vida social, abrangendo
aspectos como sexualidade, autoridade, subjetividade e trabalho.
Essa dinâmica também se manifesta na forma como a juventude negra é compreendida
e representada. Por meio dessa matriz de poder colonial, são atribuídas interpretações que
moldam as percepções sociais em relação à juventude negra, limitando, assim, a compreensão
desse grupo social. Em outras palavras, a estrutura histórica de poder molda as narrativas e
imagens que são associadas à juventude negra, restringindo a visão e perpetuando estereótipos
(Pereira, 2016).
Os dados também demonstram a presença do racismo estrutural na sociedade
Brasileira, orientando e perpetuando uma dominação, exploração e extermínio epistêmico conta
a população negra, termo conceituado por Almeida (2018, p. 25) como “é uma forma
sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento, que se manifesta por meio de

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

práticas conscientes ou inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios a depender


do grupo racial a qual pertençam”.
Conforme demonstrado por Gomes e Laborne (2018, p.13):

A ambiguidade do racismo brasileiro permite que o mesmo turve a nossa visão. E nos
faça focar em outros fenômenos como causas do trato desigual, criminoso e violento
da população negra que a impede de usufruir de direitos e justiça social. Na medida
em que os nossos olhos se desfocam do racismo como a macrocausa de uma grande
maioria dos nossos problemas sociais, as soluções apresentadas nunca atingem, de
fato, o problema real. O racismo não é uma mera consequência da violência que assola
a juventude negra brasileira. Ele também não é um epifenômeno da questão de classe
ou somente uma questão do Estado. O racismo é violento e produz violência. Uma
violência que incide sobre determinados sujeitos, portadores de sinais diacríticos
específicos, frutos de uma ancestralidade negra e africana. No imaginário sociorracial,
aos portadores desses sinais soma-se tudo de negativo que a violência racista construiu
no contexto das relações de poder, na luta de classes, na desigualdade de gênero e
sexual.

A violência desproporcional e sistemática vivenciada por esse grupo evidencia a


necessidade de ações efetivas para enfrentar o racismo estrutural enraizado na sociedade
brasileira, e para isso é necessário adentrar à caminhos e reflexões que busquem assumir uma
responsabilidade conjunta que conteste um sistema estrutural de opressão racial (Ribeiro,
2019).
Para a compreensão desses fenômenos e sua contínua concretização violenta, tem-se a
perspectiva da colonialidade, que também parte de uma visão homogeneizante, como a
desconsideração da juventude ou da vida em si, como algo diverso, mas que também é único -
pois, cada ser possui suas próprias necessidades, desejos e potencialidades. O que não é apenas
uma “mera consequência”, e sim algo pré-determinado pelo próprio sistema racista, onde o
negro é visto como um “problema”, e o branco como “solução” (Gomes; Laborne, 2018, p.14).
Acerca do pensamento de Quijano (1992) a formação/continuação do mundo colonial
sob a égide do capitalismo deu origem a uma estrutura de poder que introduz elementos cruciais.
Nesse contexto, observou-se a convergência de diferentes formas de exploração e trabalho, tais
como a escravidão, a servidão, a reciprocidade, o assalariamento e a pequena produção
mercantil, todas voltadas para o favorecimento do capital e do seu mercado.
Paralelamente, emergiram novas identidades históricas, como as categorias de "índio",
"negro", "branco" e "mestiço", o que, posteriormente, foram imbuídas como pilares das relações
de dominação de uma cultura baseada no racismo e no etnicismo.
O racismo, enquanto um mecanismo de exclusão social, está intrinsecamente ligado à
criminalização da pobreza e esse mecanismo abrange não apenas ações e atos, mas também a

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

negligência deliberada estatal, direcionando-se especialmente às classes mais pobres e


vulneráveis da sociedade. O que passa a revelar profundas mazelas sociais, principalmente em
relação à juventude negra, que, na prática, pelo olhar do Estado, não é prioridade. Isso se
solidifica, através de ações violentas com foco nas camadas mais pobres (Negros são 75% entre
os mais pobres) (Barros, 2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realidade alarmante de violência e desigualdade enfrentada pela juventude negra não


somente no estado de Mato Grosso, mas no Brasil, exigem ações imediatas para enfrentar e
eliminar o racismo estrutural profundamente enraizado em nossa sociedade.
Ao refletirmos sobre a perspectiva da colonialidade e compreendermos as dinâmicas
históricas de poder, fica evidente como o sistema de opressão racial persiste, restringindo o
acesso a oportunidades e minando a plena participação dos jovens negros na vida social.

REFERÊNCIAS

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Grosso como o terceiro maior produtor do mundo. 2023 Disponível em:
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https://www.scielo.br/j/edur/a/yyLS3jZvjjzrvqQXQc6Lp9k/abstract/?lang=pt. Acesso em: 03
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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

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Janeiro: Revan, IBCCRIM, 2003.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

CAPÍTULO 3

GARANTIAS E DIREITOS DOS DETENTOS NOS PROCESSOS


ADMINISTRATIVOS DISCIPLINARES DA CADEIA PÚBLICA DE
BARRA DO BUGRES-MT

Cosme Damião Santos Silva1


Evelin Mara Cáceres Dan2

DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.10680304

INTRODUÇÃO

A Constituição Federal de 1988 prevê expressamente em seu art. 5, inciso LV que “aos
litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (Brasil, 1988).
Isto quer dizer que para a apuração das condutas ou infrações cometidas no âmbito da
administração pública, deve se observar tais princípios sob pena de nulidade do ato, exprimindo
assim, de que ninguém pode sofrer os efeitos de uma decisão, sem ter tido a possibilidade de
exercer seu direito de defesa.
Verificamos esses entre outras práticas desenvolvidas na cadeia pública, a qual
passaremos a propagar. No curso da execução penal o apenado e o preso provisório estão sob a
tutela tanto do Poder Judiciário quanto do Poder Executivo. Em outras palavras “[...] a execução
penal apresenta tanto uma carga administrativa, que é exercida pelo diretor do estabelecimento
prisional, quanto jurisdicional, por meio de um processo judicial” (Dan, 2019, p. 6).
O reconhecimento da prática de falta disciplinar deve ser precedido da instauração de
procedimento administrativo (PAD) no âmbito da execução penal, sendo imprescindível a
instauração de procedimento administrativo pelo diretor do presídio e assegurado o direito de

1
Graduando em Bacharel em Direito pela UNEMAT-MT, Bolsa IC 2022 - Cooperação nº 0218/2022
FAPEMAT/UNEMAT. E-mail: cosme.damiao@unemat.br.
2
Orientadora FAPEMAT/UNEMAT, Professora Adjunta da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas da
UNEMAT, Doutora em Ciências Jurídicas e Sociais (PRPPG/UFF). Coordenadora do Projeto de Pesquisa
Cidadania, Conflitos e Segurança Pública, vinculado à Linha de Pesquisa Segurança Pública, Administração de
Conflitos Sociais e da Justiça Criminal do Grupo de Pesquisa “Políticas Públicas, Direito, Estado e Sociedade –
PPDES” (CNPQ). E-mail: evelindan@unemat.br.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

defesa a ser exercido por advogado constituído ou defensor público nomeado conforme
preceitos dos artigos 47 e 59 da Lei de Execução Penal (Brasil, 1984).
Importante salientar que o Estado de Mato Grosso possui um Decreto estadual que
dispõe sobre as apurações de infrações ou faltas cometidas por detentos sob a custódia,
prevendo que:

Art. 3º Os atos de indisciplina, tipificados como faltas, serão passíveis das seguintes
penalidades: I – advertência verbal; II – repreensão; III – suspensão ou restrição de
regalias; IV – suspensão ou restrição de direitos, observadas as condições previstas
no artigo 41, parágrafo único, da Lei nº 7.210/1984; V – isolamento em local
adequado; VI – inclusão no regime disciplinar diferenciado. (Decreto 1.988/2013 -
MT).

Assim sendo, vale salientar a precedência de atos anterior serão direcionados a


depender da apuração do processo, o qual se inicia após portaria instituída nos ditames do artigo
dezesseis inciso sexto abaixo:

Art. 16. § 6º O procedimento disciplinar para a apuração da falta será instaurado por
meio de portaria do Diretor do estabelecimento penal, tendo como base o fato que lhe
tenha sido encaminhado. (Decreto 1.988/2013 - MT).

Contudo, é importante salientar que a composição da comissão processante é


necessária visando o andamento das fases do processo. Em relação a composição do conselho
disciplinar o Decreto 1,988 em seu art. 20 prevê que deve ser composto por três (03) membros
titulares e três (03) suplementes, sendo que referido conselho é responsável e competente para
apuração das faltas disciplinares praticadas pelos reeducando em cada estabelecimento penal,
(Mato Grosso, 2013), ainda especifica que:

Art. 20 [...]
§ 1º O Conselho Disciplinar, existente em cada estabelecimento penal, é o órgão
competente para a apuração das faltas disciplinares praticadas pelos reeducandos e
terá a seguinte composição: I – presidente; II – primeiro membro; III – segundo
membro (Decreto 1.988/2013 - MT).

Ainda neste sentido referido artigo dispõe que:

Art.20 [...]
§ 7º O presidente do Conselho autuará a portaria e demais documentos que a
acompanharem, e juntará fotocópias de peças do prontuário carcerário do reeducando
e de interesse para o procedimento disciplinar, além de:

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

I – Nomear um dos membros, para oficiar como secretário no procedimento


disciplinar;
II – Manter sob a custódia e guarda os autos do procedimento disciplinar e o livro de
recebimento e remessa, onde serão registrados toda movimentação (Decreto
1.988/2013 - MT).

Conforme se observa do dispositivo mencionado há necessidade de portaria para que


o presidente do conselho atuar e gerir a documentação que instruirá os processos
administrativos. Ainda neste sentido o artigo dispõe sobre a competência do presidente da
comissão conforme vislumbra-se abaixo:

Art.20 [...] § 8º Quando necessária a realização de perícias por órgãos externos, estas
deverão ser solicitadas pelo presidente do Conselho Disciplinar, por intermédio do
Diretor do estabelecimento penal, o qual terá o prazo de 48 (quarenta e oito) horas
para deferi-las ou indeferi-las justificadamente.
§ 9º Ao presidente do Conselho Disciplinar compete elaborar o termo de instalação
dos trabalhos, deliberando sobre: I – a designação da data, hora e local das audiências;
II – a citação do reeducando faltoso, informando-o da acusação que lhe é imputada e
sobre a data e hora de audiências designadas, bem como acerca da necessidade de
apresentação defesa prévia e arrolamento de testemunhas no prazo de 03 (três) dias a
contar da sua ciência; III – a intimação do defensor do reeducando faltoso,
cientificando-o sobre a data e hora designadas para as audiências e que poderá
apresentar defesa prévia e arrolar testemunhas no prazo de 03 (três) dias a contar de
sua ciência, responsabilizando-se pela apresentação das testemunhas de defesa
independente de intimação pelo Conselho Disciplinar; IV – a intimação das
testemunhas de acusação; V – a requisição de perícias, quando for o caso (Decreto
1.988/2013 - MT).

Por fim, referido artigo dispõe sobre a impossibilidade de intimação do defensor,


cabendo o reeducando indicar outro in verbis:

§ 11 Na impossibilidade de intimação do defensor, o reeducando deverá no prazo de


24 (vinte e quatro) horas indicar outro, e, no caso de o reeducando não possuir
defensor constituído ou não puder constituir, o presidente do Conselho Disciplinar
deverá acionar a Defensoria Pública. (Decreto 1.988/2013 - MT).

A presente pesquisa pretende verificar se as garantias e os direitos de ampla defesa e


contraditório nos processos de apuração de faltas disciplinares no âmbito da Cadeia Pública de
Barra do Bugres-MT estão sendo observados.
Para tanto, realizou-se pesquisa de campo onde foi possível acompanhar uma
audiência de um processo administrativo disciplinar (PAD). Naquela oportunidade se apurava
a autoria do espancamento de um detento por colegas de cela sendo tal conduta considerada
como infração administrativa grave.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

2 MÉTODOS/METODOLOGIA

O presente trabalho é resultado de uma pesquisa de cunho qualitativo, mais apropriada


para o campo das ciências sociais. Como metodologia utilizou-se a análise documental e
bibliográfica a respeito do tema, além do método indutivo com pesquisa de campo (empírica),
onde houve o acompanhamento de uma audiência de um processo administrativo na oitiva de
testemunhas, acusados e vítima no ano 2022, bem como realizou-se a pesquisa de campo onde
entrevistou-se o diretor da unidade prisional.

3 RESULTADOS

No que se refere a pesquisa de campo, foi realizada maio de dois mil e vinte e dois
(05/2022), onde acompanhou-se a audiência online (em virtude do período pandêmico) ouvindo
oitiva da vítima, das testemunhas (agentes penitenciários) e dos detentos envolvidos no fato,
visando a apuração de condutas relacionadas a agressão física sofrida pela vítima, em oito de
agosto de dois mil e vinte e dois, (08/04/2022), na cela dois (02) em que dividia com os presos.
Vale Salientar que foram pesquisados todos os casos ocorridos entre o ano de dois mil
e vinte e um a dois mil e vinte e três, sendo disponibilizado pela direção da cadeia pública de
Barra do Bugres-MT a informação de que apenas esse caso foi registrado em todo o período, o
diretor do presidio adere tal conquista do baixo índice de instauração de PADs, a medidas
tomadas pela gestão interna do presidio a qual buscaremos abordar esses fatores no texto em
que se segue.
No que se refere ao único caso de PAD ocorrido, relata a vítima em sua narrativa que
após o jantar um dos detentos lhe deu uma “pancada na cabeça e logo em seguida foi espancado
por vários detentos de sua cela”. Em sua oitiva não soube informar quem o agrediu nem
tampouco a motivação.
Após as agressões físicas sofridas foi socorrido por agentes penitenciários que o
levaram até uma unidade de atendimento médico para realização do exame de corpo e delito.
No total foram ouvidos dezessete detentos, que estavam na cela no dia das agressões. O fato
mais alarmante, foi a ausência da defensoria pública. No início da audiência foi informado pelo
Presidente da Comissão Processante que a Defensoria Pública não estaria presente na audiência,
tendo sido solicitado aos dois (02) advogados particulares presentes, que realizam o

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

acompanhamento dos depoimentos de sete (07) dos detentos envolvidos, para representarem a
defesa dos dez (10) envolvidos restantes que estavam sob a assistência judiciária da Defensoria
Pública do Estado de Mato Grosso.
A vítima tinha como representante de defesa um advogado do Núcleo de Práticas
Jurídicas (NPJ) da Universidade do Estado de Mato Grosso. O presidente da Comissão
Processante comunicou os detentos sobre a ausência da defensoria e que tinha a possibilidade
de serem acompanhados pelos advogados particulares. Uma das preocupações trazidas por um
dos detentos se relacionava a cobrança de honorários para acompanhá-los naquele ato, tendo
sido esclarecido de que não haveria custos financeiros aos mesmos.
O procedimento administrativo disciplinar - PAD, é peça informativa para apuração
de ilícitos ocorridos no âmbito interno e esse pode agravar as penas e suprimir direitos dos
detentos, expondo ainda mais o risco da ausência da defesa e do devido processo legal
estabelecido na constituição federal do Brasil em seu artigo quinto, vejamos:

Art. 5º [...]
LV - Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes (Constituição Federal, 1988).

Neste ato pôde-se constatar que a ausência da defensoria pública ocasionou prejuízos
a defesa dos detentos que não haviam contratado advogado particular tiveram que serem
submetidos a devesa técnica precária, apesar de que com qualidade.
Os dados atuais apresentado pelo comando da cadeia pública é de que 60% dos
apenados precisam de defesa técnica executado pela defensoria pública. Durante a oitiva dos
detentos a comissão processante questionou os presos sobre o conhecimento e o envolvimento
deles na agressão a vítima.
Quanto aos advogados, ficou explícito uma preocupação em realizar questionamentos
que obtivesse a negativa do envolvimento dos detentos aos quais os haviam contratado para
realização da defesa. Quanto aos demais detentos não houve qualquer orientação ou
questionamento sobre o fato ocorrido.
A este respeito, a Lei de Execução Penal (Lei n. 7.210/1984) prevê em seu art. 10. que
a assistência ao preso e ao internado é dever do Estado. Assim em seu art. 15 dispõe que “A
assistência jurídica é destinada aos presos e aos internados sem recursos financeiros para
constituir advogado” (Brasil, 1984).

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

No presente caso, observou-se a omissão do Estado em garantir direitos constitucionais


como é o caso do direito de defesa em processos administrativos, inclusive para que evite o
exercício da arbitrariedade os agentes públicos utilizem artifícios improvisados, buscando uma
aplicação de reprimenda administrativa sem oportunizar uma defesa técnica e qualificada em
observância a ampla defesa e o contraditório.
Segundo Salo de Carvalho (2002, p. 192) “todo e qualquer ato praticado além dos
limites expressos na sentença constitui excesso e/ou desvio, possibilitando apreciação do
judiciário (...)”. É assim que as dificuldades observadas para o cumprimento do princípio da
ampla defesa e do contraditório com a ausência da defensoria pública na oitiva dos acusados
coloca em evidência a soberania da arbitrariedade da Administração Pública manifestando um
poder incontrolável aos seus aparelhos, tais como a administração do sistema prisional.
No que se refere ao baixo índice de ocorrência de Processos Administrativos
Disciplinares no âmbito da cadeia Pública da Cidade de Barra do Bugres, passo a expressar os
dados colhidos na entrevista com o diretor da cadeia pública.
Segundo o diretor a Cadeia possui entre 130 e 160 detentos. A unidade prisional possui
local separado e afastado das selas dos demais prisioneiros, promovendo a intimidade
necessária e familiar para a visita intima. Também não há revistas físicas corporais aos
visitantes tendo sido substituídas pela utilização dos scanners tendo informado que este
instrumento permitiu zerar a entrada de armas e drogas para dentro da cadeia.
A unidade prisional também disponibiliza programas de ressocialização sendo a área
de educação e artesanato as ofertadas no presente momento. Vale ressaltar a satisfação da
equipe internada do comando da cadeia pública em ver prosperar com efetividades as ações
hora mencionadas considerando uma realidade nacional muito adversa.
Por fim, salientou o diretor do presidio, que tais ações e regulações internas somadas
e complementadas com a expertise de sua equipe de trabalho, estão conseguindo desarticular a
prática do crime organizado que adentra em todo sistema prisional nacional. Ratifica o diretor
do presidio que a prova da eficiência penal está na ocorrência de apenas um procedimento
administrativo disciplinar nos últimos três anos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ausência da defensoria pública poderia anular a audiência do PAD que já estaria,


segundo informado pelo presidente da comissão processante do PAD, estando esse nos dias

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

finais para prescrição, tornando impune um delito cometido contra uma pessoa privada de
liberdade, é fato grave, e para o exercício dos direitos legais a ampla defesa e ao contraditório
em todo processo administrativo e ou judicial carece de defesa técnica sobe pena de anulação
dele.
Aja vista a criatividade do presidente da comissão de improvisar a assistência jurídica
aqueles que se encontrava em situação de vulnerabilidade, com a ausência da defensoria
pública, esse teve de solicitar a advogados presentes na audiência, os quais estavam exercendo
a defesa técnica jurídica de seus clientes, que esses realizassem a defesa dos demais
encarcerados, prestando assistência jurídica para efeitos do ato da oitiva em PAD.
Um improviso criativo, porém, dissociado das normas regulamentadoras do estado
democrático de direito. Reforçando a posição de Salo de Carvalho ao afirmar que “mesmo se a
Lei de Execução Penal fosse cumprida em sua integralidade os direitos dos apenados não
estariam garantidos em decorrência da estrutura processual inquisitória que molda o último
estágio do processo penal” (Carvalho, 2007, p. 419).
É dever considerar que a situação retratada na cadeia pública, objeto da pesquisa, pode
refletir a realidade do sistema penitenciário Brasileiro. A pergunta que nos afronta é: Qual o
real objetivo do encarceramento no Brasil? A resposta não é simples, e os instrumentos jurídicos
apesar de responder a questão nos textos legais, a impressão conclusa é que esses dispositivos
normativos estão no plano do “Dever Ser”, aonde a pratica difere-se da expressa na lei, que por
se mesma se faz incompleta, alimentando o sentimento de exclusão, abandono, subalternidade,
ineficiência de um ser “Estado”, que tem o dever de zelar pelas normas estabelecidas, não pela
intepretação artificial e particular de grupos isolados do poder, mais pela ampla irrestrita
conversação social, observância da dignidade que toda pessoa humana precisa possuir,
rompendo com os estigmas dos preconceitos inerentes a uma sociedade que se apresenta para
poucos escolhidos, compondo um elite dominante, em detrimento do compartilhar dos direitos
e garantias fundamentais para todos obtendo assim ampla defesa técnica nos litígios sob pena
do cometimento de injustiças jurídicas aos envolvidos.
O Dever está posto assim como a necessidade de outras visões cientificas que possam
confrontar as realidades aqui apresentados, colocando a prova material de toda abordagem
estudada. Por fim, o êxito adquirido pela direção da cadeia pública nos últimos três anos com
apenas uma ocorrência de PAD, deve ser ressaltado e observado minuciosamente por demais
pesquisadores, pois ali pode se fazer presente boas práticas de gestão interna para o sistema
prisional Brasileiro.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988.


Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7210compilado.htm. Acesso em:
10 jul. 2022.

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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp80.htm. Acesso em: 10 jul.
2022.

BRASIL. Lei de Execução Penal. Lei nº 7210 de 11 de julho de 1984. Presidência da


República. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7210.htm. Acesso em:
10 jul. 2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Sumula Vinculante Nº 09 do STF de 1940. Disponível


em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula745/false. Acesso em: 10 de jul. de
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CARVALHO, Salo de. Da necessidade de Efetivação do Sistema Acusatório no Processo


de execução Penal. Crítica à Execução Penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.

DAN, Evelin. A Sujeição Classificatória dos Criminosos. 1. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2019.

MATO GROSSO. Decreto Nº 1.899, de 26 de agosto de 2013. Tipifica as faltas disciplinares


de natureza média e leve, regulamenta o procedimento disciplinar, institui a composição do
Conselho Disciplinar no âmbito do Sistema Penitenciário. Disponível em:
https://www.iomat.mt.gov.br/. Acesso em: 10 jul. 2023.

MATO GROSSO. Decreto Nº 5.683, de 13 de dezembro de 2002. Aprova o Regimento


Interno dos Estabelecimentos Prisionais do Estado de Mato Grosso. Disponível em:
https://www.iomat.mt.gov.br/. Acesso em: 10 jul. 2023.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

CAPÍTULO 4

A APOROFOBIA COMO DISCRIMINAÇÃO TRANSVERSAL NO


BRASIL COLÔNIA

Elias Guilherme Trevisol1


Tatiane Jaskiu da Silva Trevisol2

DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.10680309

INTRODUÇÃO

O presente trabalho propõe investigar o tema da aporofobia, definida como a aversão


ou ódio aos pobres, buscando identificar, como problema nevrálgico, porque e de que forma se
desenvolve o ódio aos pobres desde o Brasil Colônia. Para alcançar tal objetivo, utilizar-se-á da
filosofia analética dusseliana, buscando-se analisar do espaço do Ser para o Não-ser, do
excluído, do oprimido, baseado no pensamento filosófico específico da América Latina.
Como hipótese, trabalha-se com a possibilidade da aporofobia ser o resultado do ódio
e aversão ao colonizado, subalternizado, aquele que pouco ou nada tem a oferecer de material,
sujeito à penúria diária e constante, numa sociedade historicamente capitalista desenvolvida
sobre a exploração e opressão do outro por questões discriminatórias transversais, étnicas e
raciais.
A pertinência da pesquisa se dá pela análise prático e histórico-filosófica em que se
buscará as origens da aporofobia no Brasil colônia, dada as peculiaridades dos Portugueses
colonizadores, já capitalistas e considerados humanizados, e dos indígenas e negros
escravizados, que nada possuíam e eram considerados bestas a serem tratadas como objetos de
posse ou animais de carga e demais trabalhos forçados.
A pesquisa, embora não possua a intensão de esgotar totalmente o tema da aporofobia
no Brasil Colônia, se desenvolve através do marco teórico da teoria crítica do direito e do
método de procedimento histórico-crítico, com técnica de pesquisa de documentação indireta,
metodologia bibliográfica como sendo o conjunto de procedimentos e estratégias utilizadas para

1
Mestrando em Direito, com área de concentração em Direitos Humanos e Sociedade, pela Universidade do
Extremo Sul Catarinense – UNESC. Pós-graduado em Direito Processual Penal e Direito Processual Civil.
Membro do Grupo de estudos NUPED/UNESC. Advogado; E-mail: egtrevisol1@gmail.com.
2
Pós-graduanda em Direito Previdenciário; Advogada. E-mail: tatyjaskiu@gmail.com.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

realizar uma investigação com base em fontes bibliográficas, no caso, extraída de leituras de
livros pertinentes ao tema. O método bibliográfico se concentra no estudo e análise de obras,
artigos, documentos e outros materiais escritos relevantes para a pesquisa em questão. Além
disso, o método científico utilizado é o dedutivo, dessa forma, se fará uso de uma cadeia de
raciocínio descendente, da análise geral, teórica, para a particular, em análise ao fenômeno, até
a conclusão. Utilizar-se-á, assim, o silogismo: de duas premissas retira-se uma terceira
logicamente decorrente.

2 O DESENVOLVIMENTO DO COLONIALISMO NO BRASIL COLÔNIA

A América do Sul foi conquistada no final da Renascença, período em que os


ocidentais empreendiam imensuráveis esforços para desvelar os mistérios deixados pela Idade
Média. O enigma oceânico florescia na Europa do século XV, com esforços da Itália, Espanha
e Portugal em estreitar suas relações comerciais com as Índias e dados preciosos de judeus e
árabes, moradores ou assíduos frequentadores da península ibérica, gerando, assim, a conquista,
em 1.500, do Brasil pelos Portugueses, oriundos do reinado de Manuel o “Venturoso”, que em
hebraico significa “Querido de Deus” (Prado, 1956, p. 19).
A façanha do chamado “descobrimento” da América foi impulsionada pelo
financiamento dos Reis Católicos da Espanha na busca por pimenta, gengibre e noz-moscada,
à época, condimentos tão preciosos quanto o sal, que conservava a carne sem que apodrecesse
ou perdesse seu sabor (Galeano, 1983, p. 24).
Logo após a chegada de Pedro Alvares Cabral na orla de Porto Seguro, Portugal se
encontrou em profundo dilema: ou povoava a orla costeira com pessoas em condições de
defendê-la, ou para sempre perdia a “dádiva do acaso” aos corsários que ali aportavam, assim,
naquela conjuntura, recorreu a coroa portuguesa ao sistema já tentado nas ilhas do Atlântico,
de capitanias hereditárias outorgadas à homens ricos da Coroa e em condições de explorar e
proteger a terra brasileira de modo útil para si e para a monarquia (Prado, 1956, p. 20).
Segundo Furtado (2007), o objetivo das Capitanias Hereditárias era descentralizar o
poder e incentivar o povoamento, além de facilitar a exploração dos recursos naturais. Cada
donatário tinha a responsabilidade de financiar a colonização, estimular a produção agrícola,
promover a defesa territorial e administrar a justiça em sua capitania, o que se mostrou
infrutífero, dada a inabilidade da elite portuguesa com a lida com a terra. Em troca do
investimento, porém, recebia-se o direito de explorar e comercializar os produtos e recursos

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

naturais da região, marcando nitidamente a matriz da sociedade capitalista brasileira desde


aquela época.
Como resultado, em 1759, o Marquês de Pombal, então ministro de Portugal,
implementou uma reforma administrativa que extinguiu as Capitanias Hereditárias e criou as
chamadas Capitanias Gerais, que passaram a ser administradas diretamente pela Coroa
Portuguesa. Essa mudança teve como objetivo centralizar o poder e melhorar a administração
das terras coloniais (Fausto, 2019).
Em suma, as Capitanias Hereditárias foram um sistema de divisão territorial e
administrativa adotado pelo Reino de Portugal durante o período colonial brasileiro, juntamente
com as tentativas, falhas, de escravização dos indígenas, que por razões culturais, não era
predisposto aos trabalhos impostos pelos colonizadores. Assim, os colonos que habitavam o
Brasil tiveram que recorrer, mais tarde, a braços bem mais caros, os africanos, o que possibilitou
o desenvolvimento daquela sociedade colonial (Moura, 2020, p. 73-74).
Os primeiros colonizadores portugueses, ao entrarem em contato com os indígenas que
habitavam aquela terra, iniciaram um processo do “ciclo do escambo”, ou seja, usaram o
trabalho braçal dos indígenas para a extração de madeira, especialmente, do chamado pau-
brasil, em troca de espelhos, miçangas, utensílios variados, de forma que exigia-se do indígena
o trabalho e nada ou praticamente nada lhe davam em troca, demarcando, dessa forma, um
sistema de exploração e degradação econômica, social e cultura dos nativos, inclusive, com
auxílio dos Jesuítas, que submeteram os indígenas a uma semisservidão disfarçada, não se
constituía da servidão até então concebida, mas também não lhes davam a liberdade de ser e
manter sua cultura, contribuindo para o abastardamento cultural e destruição dos valores dos
povos nativos (Moura, 2020, p. 72).
O Colonialismo pode ser definido como um sistema hierárquico, implícito e ainda
atual, no qual uma nação estabelece controle político, econômico e cultural sobre um ou mais
territórios fora de suas fronteiras, geralmente, com o objetivo de explorar os recursos dessas
regiões e promover seus próprios interesses, promovendo a hierarquização, sobretudo, de
populações por critérios étnico-raciais surgidos com a expansão colonial europeia (Lisbôa,
2018, p. 201).
O colonialismo no Brasil é um sistema complexo e que, até hoje, influencia o país em
diversos aspectos sociais. A chegada dos colonizadores portugueses, no século XVI, foi
marcada pela imposição de sua cultura e de seus valores aos povos indígenas, que foram
subjugados, destruídos e mortos. Além disso, os portugueses também trouxeram para o Brasil

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

milhares de africanos escravizados da África, que foram utilizados para trabalhar nas plantações
de cana-de-açúcar, café, algodão e outros produtos, definindo-se a colonização do Brasil num
movimento de levar a civilização, entendida por uma sociedade feudal, ibero-lusitana e
mercantilista do Ocidente europeu, onde ela não existia, o que resultou em um processo de
exploração do mais débil, do mais fraco, do oprimido, em ato de espoliação e aviltamento
cultural, em nome da razão e da fé católica, o que pode denominar-se de colonialismo (Sampaio,
2020, p. 27).
Esse sistema de produção baseado no latifúndio e na monocultura teve como objetivo
a exportação de produtos para a metrópole, gerando grandes lucros para Portugal, mas também
resultando na exploração da mão de obra escrava, no aumento da desigualdade social e na
dependência econômica do Brasil em relação a Portugal. Essa dependência gerou um processo
de subdesenvolvimento que se estendeu por séculos.
De acordo com Buarque de Holanda (2006), a colonização portuguesa no Brasil foi
marcada por uma mentalidade patrimonialista, em que as terras e recursos naturais do país eram
vistos como propriedade da metrópole, e não como patrimônio do povo brasileiro. Essa
mentalidade se refletiu na forma como o país foi governado durante séculos, com a exploração
dos recursos naturais em benefício da metrópole e da elite local, em detrimento da população
mais pobre.
Essa desigualdade social e econômica gerada pelo colonialismo ainda é sentida na
atualidade, com uma das maiores concentrações de renda do mundo e uma grande parcela da
população sem acesso a serviços básicos de saúde, educação e saneamento básico, ou seja,
deixados à condição de penúria. Segundo Furtado (2007), essa dependência econômica em
relação à metrópole foi um dos principais fatores que impediu o desenvolvimento do Brasil
durante séculos, mantendo o país em uma posição periférica em relação às nações consideradas
mais desenvolvidas.
A análise da formação da sociedade brasileira se fez a partir da miscigenação entre os
colonizadores portugueses e os povos indígenas e africanos, que foram trazidos como escravos
para trabalhar nas lavouras e nas minas de Norte a Sul do país. A influência da cultura
portuguesa é expressiva na formação da identidade brasileira, mas também deve se destacar a
importância das contribuições das culturas africanas e indígenas (Freyre, 1933).
Além disso, o colonialismo também teve influência na formação da cultura brasileira,
com a mistura de elementos africanos, indígenas e europeus. Conforme DaMatta (1986), a
cultura brasileira é marcada pela ambiguidade e pela mistura de valores e comportamentos,

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

reflexo da forma como o país foi formado e da influência das diferentes culturas que se
encontraram aqui.
Dessa forma, é possível perceber que o colonialismo teve um papel fundamental na
formação do Brasil, influenciando sua história, economia e cultura na formação da força motriz
exploratória, opressora e, sobretudo, discriminatória no país. Essa influência ainda é sentida na
atualidade, sendo importante entender e debater o tema discriminatório e para que possamos
construir um país mais justo e igualitário.

3 A APOROFOBIA COMO ELEMENTO DE DISCRIMINAÇÃO NO BRASIL DESDE


A COLONIZAÇÃO

Aporofobia, o medo, aversão ou preconceito contra pessoas em situação de pobreza


(Cortina, 2020, p. 26), não se restringe apenas ao contexto do Brasil Colônia, mas também pode
ser observado em diferentes períodos históricos e em diversas regiões do mundo. Neste ensaio,
aborda-se a presença da aporofobia como uma forma de discriminação durante o período
colonial brasileiro e, para tanto, utiliza-se a teoria analética de Enrique Dussel como uma
ferramenta crítica para uma compreensão mais profunda desse fenômeno.
Dussel, um filósofo e historiador latino-americano, desenvolveu a teoria analética, que
busca analisar e compreender as relações de poder, opressão e exclusão que permeiam as
estruturas sociais e históricas (Fagundes; Martínez, 2018, p. 63). Ao aplicar essa abordagem
crítica à aporofobia no Brasil Colônia, se pode desvelar os mecanismos de dominação que
perpetuaram e perpetuam a discriminação contra os mais pobres.
A exploração e a marginalização dos mais pobres são elementos intrínsecos ao sistema
colonial, que privilegia a acumulação de riqueza e poder nas mãos da elite dominante. Daí a
importância de uma ética da libertação que promova a justiça social e a inclusão dos
marginalizados (Dussel, 2012, p. 78-96). A aporofobia, nesse contexto, é uma forma de
discriminação que justifica e perpetua a exploração dos mais pobres, negando-lhes sua
dignidade e seus direitos fundamentais.
A sociedade contemporânea, marcada pela lógica da globalização e do consumismo,
descarta e exclui aqueles considerados "desperdícios" ou "inúteis". Essa perspectiva é relevante
para se compreender como a aporofobia opera não apenas como uma forma de discriminação
no Brasil Colônia, mas também como um fenômeno global contínuo que marginaliza os mais
pobres, negando-lhes o acesso aos direitos e recursos básicos (Bauman, 2005, p. 56-78).

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

No contexto específico do Brasil Colônia, pode-se compreender a aporofobia como


uma manifestação da estrutura sistêmica de poder e de exploração estabelecida pelas elites
coloniais contra os povos nativos e a natureza que aqui havia. Os nobres, em postos das
capitanias hereditárias, oriundos de Portugal, eram ávidos pela “cultura do escambo”, pelas
moedas de troca naquele período, trocavam anzóis, machados e armas por mulheres indígenas,
alimentos e produtos tropicais como forma de inserção numa sociedade eurocêntrica nascente
e que destruía, ao menos em parte, toda uma cultura pré-estabelecida, assim, os que resistiam à
colonização eram consequentemente massacrados (Priore, 2016, p. 23).
A exploração dos mais pobres era justificada pela visão de superioridade social e
racial, onde os colonizadores se consideravam superiores e os mais pobres eram tratados como
inferiores. A aporofobia, portanto, era uma expressão dessa hierarquia social e uma forma de
negar aos mais pobres sua dignidade e seus direitos básicos como ser, indivíduo merecedor de
direitos e deveres.
Mais que a negação da dignidade aos povos nativos, aqueles escravos negros trazidos
da África demarcaram a característica essencial da escravidão, a objetificação do escravo como
propriedade de alguém, ou seja, a noção de propriedade implica em subordinação do senhor a
quem a ele pertence, além disso, a escravidão atinge sua forma “completa” quando a definição
de propriedade se desdobra na transferência da condição de escravo aos filhos, marcando, dessa
forma, a hereditariedade e a perpetuação do sistema escravocrata no Brasil por quase
quatrocentos anos, influenciando, consequentemente, no ethos da nação, demarcado pelas
limitações do capitalismo dependente que o substituiu, sendo que mesmo atualmente, há
vestígios das relações sociais existentes naquele período (Sampaio, 2020, p. 28-29).
Os estigmas geracionais trazidos desde o Brasil Colônia são marcos impeditivos de
uma efetiva promoção de igualdade entre grupos sociais, impedem que os oprimidos sejam
vistos e concebidos como agentes capazes de desempenhar funções básicas de forma
competente, consequentemente, fala-se hoje em propagação de mecanismos que garantam a
possibilidade de reconhecimento da igual dignidade entre as pessoas, possibilitando-as a
alçarem condições materiais dignas (Moreira, 2020, p. 60).
A justificar toda a violência e irracionalidade produzida pela colonização em
benefícios da empresa civilizadora pode denominar-se pelo que Enrique Dussel chama de “mito
da modernidade”, uma vez que propõe a inversão epistemológica ao atribuir uma dupla culpa
aos oprimidos, aos dominados: num primeiro momento, tornam-se culpados pela sua
imaturidade e atraso e, num segundo momento, por resistirem ao “progresso” e à

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

“emancipação”, tal estratégia foi utilizada para desculpar a Europa pela crueldade da escravidão
de negros e, assim, tornar a África corresponsável pela prática atroz, eis que alguns reinos e
etnias colaboraram com o tráfico humano (Scussel; Wolkmer, 2021, p. 63).
Ao adotar a teoria analética de Enrique Dussel como base para nossa análise crítica da
aporofobia desde o Brasil Colônia, é possível desvelar as estruturas de poder que perpetuaram
a discriminação contra os mais pobres no país, para tanto, é preciso uma “de-struição” de uma
determinada percepção ontológica indo-europeia, grega, moderno-europeia, e a revalorização
de uma concepção do ser, a de origem semita, na qual transparece o caráter unitário do homem,
acentuando-se a alteridade latino-americana, que existe além de um horizonte dominador e que
sempre, historicamente, foi negada, justamente, em razão da perspectiva ontológica de matriz
indo-europeu, grego (Zimmermann, 1986, p. 146).
A categoria da alteridade que Levinas revelou, despertou em Dussel um despertar no
sentido de mudar a perspectiva hermenêutica, em que começou a ler o Outro em sua
“Outridade”, ou seja, pelo grito do oprimido, modificando não somente o modo interpretativo,
mas também o sujeito e suas condições de existência no mundo. Assim, Dussel assume, após
descobrir a inexistência de se povo na história do horizonte da colonização, de exploração, de
escravidão e de opressão colonial, uma postura ética política comprometida ou uma práxis
interpretativa com a necessidade da implantação de uma Filosofia da Libertação, de caráter
militante, enquanto problematiza a cotidianidade opressora do sistema capitalista (Fagundes;
Martínez, 2018, p. 64-65). Essa análise crítica é fundamental para se compreender as raízes
históricas dessa discriminação contra os mais pobres e buscar caminhos de efetiva
transformação social, rumo a uma sociedade mais justa e inclusiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisar a presença da aporofobia como forma de discriminação no Brasil Colônia,


podemos confirmar a hipótese inicialmente formulada, de que essa aversão e preconceito em
relação às pessoas em situação de pobreza são também, mas não só, resultado do ódio
direcionado ao colonizado, ao subalternizado, àqueles que possuem poucos recursos materiais
para oferecer.
Durante o período colonial brasileiro, a estrutura de poder estabelecida pelas elites
dominantes baseava-se na exploração dos mais pobres. As relações de superioridade social e
racial, aliadas à lógica de acumulação de riqueza e poder, justificavam a subjugação dos menos

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

favorecidos. A aporofobia era, desde a colonização, uma manifestação dessa hierarquia social,
negando aos mais pobres sua dignidade e seus direitos básicos.
Além disso, ao examinar a realidade contemporânea, observamos que a aporofobia não
se limita ao contexto histórico do Brasil Colônia. Em diferentes épocas e em várias regiões do
mundo, podemos identificar essa forma de discriminação contra os mais pobres. A globalização
e a lógica do consumismo exacerbam as desigualdades sociais, descartando e marginalizando
aqueles que são considerados "desperdícios" ou "inúteis", simplesmente por nada produzirem
na sociedade de matriz fundante capitalista-patrimonialista e hierarquizada.
Portanto, a aporofobia, mais que a aversão ou ódio aos pobres, é uma expressão das
relações de poder e da exploração estrutural que permeiam a sociedade desde o Brasil Colônia.
Dessa forma, confirma-se a hipótese de que o ódio e a aversão em relação aos mais pobres estão
enraizados no sistema de dominação e nas desigualdades sociais. Essa discriminação nega aos
mais pobres sua dignidade, reforçando a exclusão e limitando suas oportunidades de
desenvolvimento pessoal e social.
Para superar a aporofobia e suas raízes históricas, é fundamental promover a
conscientização, a educação e a adoção de políticas públicas que visem à redução das
desigualdades e à inclusão social. É necessário construir uma sociedade que valorize a
dignidade de todos os indivíduos, independentemente de sua condição socioeconômica, e que
garanta oportunidades igualitárias para que todos possam viver uma vida plena e digna.
Diante desse cenário, é necessário um compromisso coletivo para superar a aporofobia
e suas raízes históricas. É preciso promover a conscientização e a educação, buscando uma
mudança de mentalidade baseada na ética da Filosofia da Libertação, que valorize a dignidade
de todas as pessoas, independentemente de sua condição socioeconômica.
Nesse sentido, é importante destacar a relevância da teoria analética de Enrique Dussel,
que nos permite compreender as estruturas de poder e exclusão presentes na sociedade. Através
dessa abordagem crítica, é possível desvelar os mecanismos de dominação que perpetuaram e
perpetuam a discriminação que transversa a raça e a etnia do indivíduo, resultando também na
aporofobia.
A teoria da alteridade ou outridade de Enrique Dussel desempenha um papel
fundamental na compreensão desse fenômeno e na busca por transformação social. Dussel
propõe uma abordagem crítica baseada na teoria da alteridade, que enfatiza a importância de
reconhecer o outro como sujeito digno de consideração e respeito. Ao aplicar essa perspectiva
à aporofobia no Brasil Colônia, revelam-se as estruturas de poder e dominação que perpetuaram

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

a discriminação transversal contra os despossuídos, os negros, os indígenas, aqueles mais


pobres, oprimidos e sem recursos materiais, muitas vezes, subtraídos pelo sistema social indo-
europeu, capitalista-patrimonialista e hierarquizado por cor de pele e origens étnicas.
A análise da aporofobia no Brasil Colônia em contextos históricos confirma a hipótese
de que essa forma de discriminação transversal é resultado do ódio e aversão aos mais pobres,
dentro de um sistema historicamente opressor, explorador, capitalista e de fundamento
patrimonialista.
Assim, a análise das dinâmicas sociais e o estudo das obras bibliográficas regidas pela
metodologia de documentação indireta que abordam a estrutura de poder estabelecida desde o
Brasil Colônia, permite compreender a existência dessa realidade discriminatória transversal
em relação aos pobres e reforça a necessidade de lutar por uma mudança social efetiva no
reconhecimento do Outro, pelo Outro e com o Outro, por uma sociedade mais justa, inclusiva
e igualitária, onde todas as pessoas sejam valorizadas e respeitadas em sua dignidade e
alteridade.

REFERÊNCIAS

BAUMAN, Zygmunt. Vidas desperdiçadas. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

CORTINA, Adela. Aporofobia, a aversão ao pobre: Um desafio para a democracia. São


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Paulo: Editora Vozes, 2012.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

CAPÍTULO 5

POLÍTICA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA


COMO DIREITO À EDUCAÇÃO E OPORTUNIDADES AO MUNDO DO
TRABALHO NA ATIVIDADE AGRÁRIA

Camilli Meira Santos Silva1

DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.10680312

INTRODUÇÃO

O presente artigo, busca realizar uma reflexão acerca das Práticas Educativas em
Educação Profissional e Tecnológica (EPT) a partir das literaturas e experiências vivenciadas
pela autora no Programa de Especialização em Docência para a Educação Profissional e
Tecnológica (DOCENTEPT).
Tendo como objetivo apresentar alguns aspectos importantes do mundo do trabalho na
atividade agrária e como esta prática de ensino vem impactando e transformando o nível
educacional da população; assim como evidenciar a importância da construção do
conhecimento acerca da EPT.
A educação profissional e tecnológica (EPT) é uma modalidade educacional prevista
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) com a finalidade precípua de preparar
o estudante para o exercício de profissões, contribuindo para que o cidadão possa se inserir e
atuar no mundo do trabalho e na vida em sociedade.
Para tanto, abrange cursos de qualificação, habilitação técnica e tecnológica, e de pós-
graduação, organizados de forma a propiciar o aproveitamento contínuo e articulado dos

1
Professora e Pesquisadora. Mestrado em Direito do Trabalho e Relações Internacionais do Trabalho pela
Universidade Nacional de Três de Febrero (UNTREF). Pós-graduada, lato sensu, em Direito Processual Civil e
Trabalhista pela Faculdades Integradas do Tapajós (FIT/UNAMA). Especialista em Direito Ambiental, pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR). Graduada em Direito-Bacharelado, pela Universidade de Cuiabá
(UNIC). Integrante do Grupo de Pesquisa Trabalho e Capital: A centralidade dos Direitos Sociais
(UFRGS/CNPQ), do Grupo de Estudos e Pesquisa em Direitos Fundamentais e Interdisciplinaridade
(GEDIFI/UNEMAT). Membro de la Comunidad Internacional para la Investigación y el estúdio laboral y
ocupacional (CIELO). E-mail: camillimeira@gmail.com.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

estudos. A EPT prevê, ainda, integração com os diferentes níveis e modalidades da Educação e
às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia.
Dentre as várias possibilidades, destacam-se como exemplos a articulação da EPT
com: a modalidade da educação de jovens e adultos, em caráter preferencial, segundo a LDB;
a educação básica no nível do ensino médio, na forma articulada de oferta (integrada,
concomitante ou intercomplementar na forma integrada no conteúdo) e na forma subsequente.
Com esta concepção, a LDB situa a educação profissional e tecnológica na confluência
de dois dos direitos fundamentais do cidadão: o direito à educação e o direito ao trabalho. Isso
a coloca em uma posição privilegiada, conforme determina o Art. 227 da Constituição Federal,
ao incluir o direito a “educação” e a “profissionalização” como dois dos direitos que devem ser
garantidos com absoluta prioridade.
A garantia desses direitos, se encontram também inseridas em Convenções
Internacionais as quais o Brasil faz parte, em prol da promoção da justiça social e do trabalho
decente. O Brasil ratificou a Convenção n. 138/1973 da OIT, sobre a idade mínima para
admissão ao emprego, e estabeleceu 16 (dezesseis) anos como idade mínima para o trabalho,
salvo na condição de aprendiz a partir dos 14 (quatorze) anos.
A ratificação dessas normativas internacionais demonstra a preocupação do Brasil, um
dos membros fundadores da OIT, em relação à proteção de crianças e adolescentes, à
necessidade e à importância da promoção do emprego juvenil em condições de trabalho
decente. Por este motivo, as políticas públicas detêm um papel central na melhoria das
oportunidades e das condições para crianças e adolescentes, seja em termos de educação,
formação profissional e/ou inserção no mercado de trabalho formal, a partir da idade permitida
para o trabalho.
Em questão ambiental, a pesquisa destaca também o direito à “educação” e à
“profissionalização” adquirindo novos quadros com uma nova dimensão que está sendo
abordada em diferentes fóruns mundiais. Em 2015 foi aprovado um novo documento para o
desenvolvimento global, a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (2015/2030), que
inclui 17 novos objetivos, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Os novos elementos que compõem a Agenda 2030 e os ODS formam uma agenda mais
abrangente, a qual estabelece estratégias para combater os principais desafios, políticos, sociais,
econômicos e ambientais, que impedem o crescimento e o desenvolvimento de países.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

Dessa forma, surge por meio da nova agenda do Desenvolvimento Sustentável, o eixo
de ação de uma nova governança voltada para um crescimento mais sustentável e que permite
enfrentar os principais desafios impostos à toda humanidade.
Para o que propõe a pesquisa sobre a Educação Profissional e Tecnológica na atividade
agrária, destaco os ODS 1, 2, 4 e 8 que são de maior impacto e desenvolvimento para este
trabalho, com seus assuntos, metas e suas recomendações, partindo da reflexão entre o mundo
do trabalho e a educação e aprendizagem enquanto protagonistas das reflexões presentes na
pesquisa.

2 A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA (EPT) NA ATIVIDADE


AGRÁRIA COMO MEIO DE TRABALHO DECENTE FRENTE AOS OBJETIVOS DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS)

Os principais aspectos dos ODS 1, 2, 4 e 8 relacionados à pesquisa, são quanto à


erradicação da pobreza, fome zero e agricultura sustentável, educação de qualidade, trabalho
decente e crescimento econômico.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são uma agenda mundial
adotada durante a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável em
setembro de 2015, composta por 17 objetivos e 169 metas a serem atingidos até 2030. Nesta
agenda estão previstas ações mundiais nas áreas de erradicação da pobreza, segurança
alimentar, agricultura, saúde, educação, igualdade de gênero, redução das desigualdades,
energia, água e saneamento, padrões sustentáveis de produção e de consumo, mudança do
clima, cidades sustentáveis, proteção e uso sustentável dos oceanos e dos ecossistemas
terrestres, crescimento econômico inclusivo, infraestrutura, industrialização, entre outros
(Estratégia ODS).
Apesar das dificuldades para sua implementação, os ODS têm um grande poder
mobilizador, pois são uma agenda positiva, de oportunidades, e podem favorecer a maior
articulação entre os diferentes setores e forças políticas. A discussão sobre financiamento,
assistência técnica e descentralização de capacidades no território, o envolvimento de estados
e municípios e a articulação entre governos, sociedade civil e setor privado serão as questões
decisivas para uma implementação bem-sucedida (Estratégia ODS).
Por isso, estes são os pontos de atenção aos ODS presentes na pesquisa: ODS1 -
Erradicação da Pobreza: a meta deste objetivo é acabar com a pobreza em todos os lugares do

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

planeta, e garantir o acesso de todos à educação, saúde, alimentação segurança, lazer e


oportunidades de crescimento; ODS2 - Fome Zero e Agricultura Sustentável: este objetivo
consiste no alcance da segurança alimentar para todas as pessoas, além de uma melhor nutrição
por meio da promoção de uma agricultura sustentável; ODS4 - Educação de qualidade: este
objetivo visa garantir e assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover
oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos; ODS8 - Trabalho Decente e
Crescimento Econômico: a orientação deste objetivo é promover o crescimento econômico
sustentado, inclusivo e sustentável, além das oportunidades de um emprego pleno e produtivo
para todos.
O compromisso estabelecido pelos 193 líderes mundiais dos países-membros da
Organização das Nações Unidas (ONU) de alcançar as 17 metas globais dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, que visa a promoção do
trabalho decente e o crescimento econômico com a criação de oportunidades de emprego
juvenil por meio do trabalho decente estabelecido no ODS 8 para todos, e aliado à educação de
qualidade, reforça que, não há desenvolvimento sustentável enquanto houver a persistência do
trabalho forçado, e demais formas de trabalho análogo à escravidão.
O trabalho decente é um conceito central para o alcance dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pelas Nações Unidas, em especial o ODS 8, que
busca “promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno
e produtivo e trabalho decente para todos” (OIT).
A expressão “trabalho decente” resume a missão histórica da OIT de promover
oportunidades para que homens e mulheres obtenham um trabalho produtivo e de qualidade,
em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humana.
Em suma, trata-se de um trabalho de qualidade e remunerado adequadamente, em que
são garantidos direitos, proteção social, voz e representação, ou seja, é capaz de garantir uma
vida digna ao trabalhador.
O trabalho digno é um direito fundamental e vai ao encontro do princípio da dignidade
da pessoa humana, valor supremo que reconhece o caráter único e insubstituível de cada ser
humano, além de garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável. O
princípio em destaque é um dos fundamentos presente no art. 1º, inciso III, da Constituição
Federal de 1988.
Nas palavras de Ingo Sarlet (2019, p. 71), o princípio é conceituado como:

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

A qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz


merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade,
implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais a pessoa,
tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe
garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar
e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência
e da vida em comunhão com os demais seres que integram a vida em rede.

Desta feita, levando-se em conta que a educação profissional tecnológica e o trabalho


decente aliados à uma educação de qualidade, são condições fundamentais para a superação e
erradicação da pobreza, bem como para a redução das desigualdades sociais, como uma forma
de proteger as crianças e os adolescentes vítimas da superexploração de sua força de trabalho,
e a garantia de uma educação e trabalho digno para seus familiares em idade para o mundo do
trabalho na atividade agrária.

3 PRÁTICAS EDUCATIVAS NA APRENDIZAGEM PROFISSIONAL RURAL

As práticas educativas na educação rural são de fundamental importância para o


processo de ensino-aprendizagem e a sua compreensão faz parte da construção de um novo
conhecimento que vem sendo difundido durante o processo de formação de jovens e
adolescentes.
Faz necessário a compreensão, por meio das literaturas, como essas práticas educativas
profissionalizantes podem colaborar com essa percepção e formação no decorrer da EPT,
refletindo suas práticas, metodologias, planejamentos, avaliações e a ação docente no decorrer
desse processo de aprendizagem.
Com a atuação e implementação das Políticas de Educação Profissional, faz promover
a educação profissional tecnológica na atividade agrária como meio de trabalho decente a fim
de atingir os atores responsáveis e os potenciais beneficiários, garantindo o aumento da
capacidade de empregabilidade dos jovens de nosso país.
Como modelo de implementação dessa Política de educação profissional e
tecnológica, cito nessa pesquisa, a atuação do estado do Piauí como o primeiro estado a criar a
Política Estadual de Educação Profissional e Tecnológica (PEEPT).
A Lei Nº 7.893/2022, foi sancionada pela governadora do estado que cria a Política
Estadual de Educação Profissional e Tecnológica (PEEPT), a primeira no Brasil. A legislação
apresenta diretrizes e normas que irão orientar as ações já em andamento e fortalecer a Educação
Profissional e Tecnológica (EPT) na rede estadual, além de desenvolver programas

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

educacionais inovadores e atualizados que promovam a qualificação profissional dos estudantes


do Piauí para o mundo do trabalho, bem como a ampliação da oferta.
A referida lei irá, ainda, incidir em cinco principais pontos: assistência estudantil,
como criação de bolsas para estágio e aprendizagem profissional durante os cursos, ampliar
oportunidades de contratação de professores, com o reconhecimento do notório saber, promover
a seleção de servidores públicos efetivos para atuar na modalidade de ensino, possibilitar a
criação de programas estaduais de EPT e fomentar parcerias.
A legislação aprovada vai integrar as diferentes formas de educação ao trabalho,
ciência e tecnologia; expandir e democratizar o acesso a EPT; oferecer formações profissionais
em sintonia com os anseios das juventudes e de acordo com o perfil socioeconômico do
território; integrar instituições, programas, projetos e ações de formação profissional no Estado;
estimular a articulação entre a política de educação profissional e de geração de trabalho,
emprego e renda; entre outras ações que irão ampliar as oportunidades de formação qualificada
para os jovens, a fim de contribuir com seus projetos de vida e inserção digna no mundo do
trabalho.
Conforme afirma, Maria Claudia Lopes da Silva, gerente de Implementação e
Desenvolvimento do Itaú Educação e Trabalho, parceiro da Seduc na implementação da
Educação Profissional e Tecnológica no Estado, com consultoria técnica, a legislação será uma
referência para o restante do país, sendo fundamental para ampliar as oportunidades das
juventudes do Piauí.
A prática da formação profissional, é incumbido por buscar alternativas que
aprimorem o aprendizado do aluno que por sua vez está mais exigente no anseio de inovações
e tecnologias aplicadas que solucionem as problemáticas efetivamente no mercado de trabalho.
Isso porque a Educação Profissional e Tecnológica é uma modalidade de ensino
moderna, inclusiva e atualizada, que contribui para uma inserção digna no mundo do trabalho,
facilita a transição da vida escolar para a vida profissional e estimula a continuidade dos
estudos.

4 O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO E A BUSCA DOS JOVENS POR NOVAS


CARREIRAS E OPORTUNIDADES PROFISSIONALIZANTES

A agropecuária brasileira atualmente, possui um nível elevado de sofisticação de suas


operações, com novas carreiras e novos perfis profissionais, e os jovens despertam mais a cada

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

dia para as oportunidades de empreender e fazer uma carreira no campo. E o interesse não é só
dos filhos de produtores rurais, mas de pessoas qualificadas e interessadas na área como um
mercado profissional promissor em nosso país. “Nossa agropecuária cresceu com a ajuda da
ciência e da tecnologia, passamos de importadores de alimentos para o topo do ranking de
exportação, contribuindo para o sucesso da nossa economia”. afirma Daniel Carrara, secretário
Executivo do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
A internacionalização de mercados e o crescimento populacional do planeta
demandam novas abordagens para o agronegócio. As continuidades dos empreendimentos
rurais estarão cada vez mais dependentes das competências de seu pessoal, necessitando de
profissionais altamente qualificados, dotados de conhecimentos e habilidades que os permitam
lidarem com cenários complexos, competitivos e em constante mudança. Neste importante
segmento da economia do nosso país, sempre existirá demanda por bons profissionais, que
sejam capazes de aperfeiçoar processos, elevar a eficiência, atrelar o ramo a novas tecnologias
e contribuir para o alcance de ótimos resultados no campo e na cidade.
Esse profissional, focado nas novas tecnologias presente nas atividades voltadas para
o agronegócio brasileiro, precisa desenvolver a capacidade técnica/prática para propor
mudanças inovadoras não só na empresa em que atua, mas em qualquer ramo, sendo rural, de
serviços, privada ou pública, lhe dando visibilidade.
Em busca da profissionalização de jovens e de outras pessoas que se interessam pelo
setor agropecuário do nosso País, por meio de cursos ministrados em diversas faculdades,
institutos federais e em universidades, o ensino superior tem um papel fundamental, por ser
uma geradora de conhecimento, a partir de estudos e pesquisas, e por formar profissionais para
o mercado de trabalho, carente de mão de obra especializada.
E o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), se destaca na oferta de vários
cursos levando conhecimento aos brasileiros do campo há 24 anos, gratuitamente. “Nós
avançamos muito nos últimos anos, no sentido de ampliar nossas linhas de ação e, assim,
atender melhor ao produtor, ao trabalhador rural e às suas famílias” (Carrara, SENAR).
O Senar oferece cursos que aperfeiçoam as habilidades de trabalhadores inseridos em
mais de 300 profissões do meio rural. “Temos salas de aula, sem paredes, espalhadas pelos
campos de 26 Estados e do Distrito Federal. Temos dois portais de educação à distância e polos
de ensino presenciais. Introduzimos novas tecnologias, incentivamos práticas de produção
sustentáveis, empreendedorismo e prestamos assistência técnica para elevar a produtividade e
a renda nas pequenas propriedades”, pontua Carrara.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

Além de oferecer ações de promoção social e cursos de formação continuada, voltados


às pessoas já inseridas nos segmentos produtivos, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
passou a atuar também em outras frentes. “O Senar já capacitou mais de 100 mil brasileiros em
cursos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), desde
2012, quando assinou um termo de adesão com o Ministério da Educação (MEC)”, destaca o
secretário executivo.
No ano de 2015, ocorreu a ampliação do número de vagas e de polos do Curso Técnico
em Agronegócio da Rede e-Tec no Senar, outra parceria com o MEC. O curso é oferecido à
distância no portal, especialmente criado para ampliar a oferta e o acesso à educação
profissional dos brasileiros que querem investir em uma carreira no agronegócio e em 62 polos
de apoio presencial. É nestes polos que são desenvolvidas 20% das aulas práticas dos cursos
ofertados. Com aulas práticas nos polos e visitas técnicas em propriedades e agroindústrias, o
aluno amplia ainda mais seu aprendizado. E recentemente, o Senar realizou três processos
seletivos e atualmente conta com polos de apoio em 20 (vinte) Estados e no Distrito Federal.
No campo das pesquisas para melhorar as condições do campo, o Senar conta com a
parceria da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que garantiu a abertura
de novas fronteiras e crescimento da produção de alimentos no País, e que é a maior produtora
de conhecimento de agricultura tropical do mundo.
A Embrapa é quem tira a pesquisa das prateleiras e leva até o produtor. Com a
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), somos parceiros da Embrapa no
Projeto Biomas, que começou em 2010, com a participação de mais de 400 (quatrocentos)
pesquisadores e professores de diferentes instituições. O projeto Biomas desenvolve estudos
nos 6 (seis) biomas brasileiros para viabilizar soluções com árvores para a proteção,
recuperação e o uso sustentável de propriedades rurais. É quem garantiu a abertura de novas
fronteiras e crescimento da produção de alimentos no País.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é uma empresa pública,
vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que foi criada em 1973 para
desenvolver a base tecnológica de um modelo de agricultura e pecuária genuinamente tropical.
Outro projeto importante que o Senar desenvolve com a Embrapa e o Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) que foi criada em 1973 para desenvolver a
base tecnológica de um modelo de agricultura e pecuária genuinamente tropical, é o projeto
ABC Cerrado, que dissemina práticas de agricultura de baixa emissão de carbono e sensibiliza

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

o produtor para que ele invista na sua propriedade de forma a ter retorno econômico,
preservando o meio ambiente.
Em pesquisa ao site do Senar, destaco a entrevista e avaliação de um aluno participante
de um dos cursos oferecidos pelo Senar/MS onde ele diz: “Nosso aprendizado tem que ser
contínuo. Não é porque a gente se formou, que não tem mais nada para aprender. As tecnologias
vêm vindo e com esses cursos EAD que o Senar vai disponibilizar será um aprendizado maior,
mais capacitação. Cada curso que a gente fizer, vai agregar mais no currículo”, avalia aluno do
Senar/MS.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo central dessa pesquisa, foi demonstrar a importância da Educação


Profissional Tecnológica (EPT) na formação profissional dos jovens e adolescentes
principalmente na aprendizagem profissional rural como um meio de trabalho decente e acesso
aos estudos e de formação e qualificação profissional no mundo do trabalho atual.
A Educação Profissional Tecnológica, se construiu ao longo da caminhada formativa
do ensino profissional, buscando um espaço democrático, sem distinções e que permita uma
escola que de fato atenda aos princípios da educação brasileira, garantindo “o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho” (LDB, Lei n. 9394/96, em seu art. 2º).
A formação integral proposta pela EPT visa formar o ser humano para a vida e para o
mundo do trabalho, englobando diferentes dimensões: cognitivas, afetivas, físicas, éticas,
sociais etc. A partir dessa formação se constrói um cidadão qualificado e capaz de inserir-se no
mundo do trabalho, mas antes de tudo, se forma continuamente o ser humano.
A articulação das competências previstas na Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) a partir da concepção de educação profissional, caracteriza uma possibilidade para
efetivação dessa, diante das normativas vigentes e que precisam dar continuidade ao
entendimento de EPT construído ao logo da história da educação brasileira.
Acerca da educação profissional e o direito à educação presentes na Constituição
Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), com a finalidade
precípua de preparar “para o exercício de profissões”, contribuindo para que o cidadão possa
se inserir e atuar no mundo do trabalho e na vida em sociedade mesmo sem aprofundarem a
discussão sobre o instituto da educação profissional, caracterizam-se como marcos importantes

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

na caminhada da EP como o início de um novo entendimento do que se pretende com essa nova
modalidade de ensino.
Na história da educação do Brasil, a educação sempre esteve ligada ao trabalho como
fator de crescimento e não de dignidade humana. O caminho percorrido pela EPT demonstra
que essa realidade pode ser mudada e que o povo como protagonista de seus direitos presentes
na Constituição Federal de 1988, buscou fazer parte da democracia, e ainda buscam, lutando
por uma educação inclusiva e de qualidade, que vise diminuir a dualidade histórica que marca
nossa construção enquanto sociedade democrática.
A qualificação profissional deve ser constante em qualquer área profissional, pois a
vontade do ser humano de se capacitar e aprender, buscando e visando seu crescimento e
conhecimento, é onde está a diferença para alcançar a qualificação profissional, exercendo sua
profissão com novos conhecimentos e experiencias que o transforme em uma pessoa melhor e
o meio ambiente em que vive e trabalha. Portanto, destaco a fala do aluno do Senar/MS que
diz: “O Agro não para, e a nossa Aprendizagem também não pode parar”.

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Aprendizagem Rural (SENAR). 2022. Disponível em: https://cnabrasil.org.br/noticias/senar-
reune-especialistas-para-debater-aprendizagem-profissional-rural. Acesso em: 28 jun. 2023.

VIGOTSKII, L. S. LURIA, A. R. e LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e


aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1988.

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

CAPÍTULO 6

SAÍDA TEMPORÁRIA, REGIME FECHADO, ESTUDO, TRABALHO E


REMIÇÃO DA PENA: UMA ANÁLISE DA JURISPRUDÊNCIA DO
TJMT ACERCA DA EXECUÇÃO PENAL1

Gabriel Salazar Curty2

DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.10680319

INTRODUÇÃO

A execução penal é um fenômeno jurídicos e social em que cada vez mais é necessário
empenhar esforços institucionais, sociais, políticos e científicos para entender, projetar e
intervim no seu funcionamento. Por parte do próprio Estado, através do Poder Judiciário, temos
a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental 347 de 2015, em sede liminar,
reconhecendo o Sistema Penitenciário como um Estado de Coisas Inconstitucionais, que
institucionalmente evidencia o problema e coloca em foco de atenção e abordagem urgente.
Neste sentido, a presente pesquisa, ainda embrionária, visa angariar elementos para ir
ao encontro desses esforços, visando verificar como a jurisprudência do Tribunal de Justiça do
Estado de Mato Grosso (TJMT) se comporta no conjugado de cinco institutos da Execução
Penal: regime fechado – saída temporária – estudos – trabalho – remição.
A questão em comento que direciona esse levantamento inicial é: o TJMT trata a
educação e o trabalho diante das saídas temporárias dos presos em regime fechado em um
mesmo pé de igualdade, tendo em vista que ambos são iguais no que tange a remição da pena?
Neste sentido, fez-se o levantamento dos institutos jurídicos envolvidos, com respaldo
inicial de conceitos na doutrina e na própria definição legal trago pela Lei 7.210/1984, que
constituiu o primeiro capítulo deste trabalho. Já o levantamento jurisprudencial e análises

1
Este trabalho é fruto dos diálogos e das discussões no âmbito do Projeto de Pesquisa “Cidadania, Conflitos e
Segurança Pública”, vinculado à Linha de Pesquisa “Segurança Pública, Administração de Conflitos Sociais e da
Justiça Criminal” do Grupo de Pesquisa “Políticas Públicas, Direito, Estado e Sociedade – PPDES” (CNPQ)
vinculado à Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT).
2
Mestre e Doutorando em Ciências Criminais (PUCRS). Especialista em Direito Penal e Processual Penal
(FAVENI). Advogado (OABT/MT). Professor Universitário (UNEMAT). Pesquisador (GEDIFI/UNEMAT,
GPESC/PUCRS e GESEG/PUCRS). Parecerista em revistas científicas. E-mail: gabriel.curty@unemat.br.

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primárias dos acórdãos encontrados, foram descritos no segundo capítulo, fazendo uma análise
também com julgamentos encontrados no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

2 PREVISÕES E FUNCIONAMENTO LEGAL DO OBJETO MATERIAL EM


ANÁLISE

Os institutos jurídicos são mecanismos para o funcionamento das dinâmicas e do


direito. Na execução penal, existem inúmeros e para o presente trabalho, será contextualizado
abaixo regime fechado em conjunto com o trabalho externo, o direito ao estudo, a saída
temporária e a remição.
Na condenação, deve o juiz estabelecer o regime de cumprimento de pena (aberto,
semiaberto ou fechado), nos termos do art. 33, caput, do Código Penal e seus parágrafos,
interessando para o presente trabalho o regime fechado, aplicável aos casos em que a
condenação ultrapassa quatro anos de prisão.
No regime fechado o condenado cumpre a pena em penitenciária e estará obrigado ao
trabalho em comum dentro do estabelecimento penitenciário, na conformidade de suas aptidões
ou ocupações anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena. Nesse regime o
condenado fica sujeito ao isolamento durante o repouso noturno (art. 34, § 1º, do CP), porém,
na prática, esse isolamento noturno, com os requisitos exigidos para a cela individual (art. 88
da LEP), não passa de “mera carta de intenções” do legislador brasileiro, sempre tão romântico
na fase de elaboração dos diplomas legais. Com a superpopulação carcerária constatada em
todos os estabelecimentos penitenciários, jamais será possível o isolamento dos reclusos
durante o repouso noturno. Quem cumpre pena em regime fechado não tem direito a frequentar
cursos, quer de instrução, quer profissionalizantes. E o trabalho externo só é possível (ou
admissível) em obras ou serviços públicos, desde que o condenado tenha cumprido, pelo menos,
um sexto da pena (Bitencourt, 2016, p. 300).
Fica demonstrado na visão do consagrado doutrinador que há uma desarmonia entre
previsão legal e realidade, que não adentraremos na máxima, mas trataremos uma problemática
isolada do sistema, que inclusive, o autor já pincela, pois há bem restrita a possibilidade de
saída do regime fechado, quando for trabalho externo em serviços público. Existem exceções
que permite outras saídas, mas não trataremos neste trabalho, pois são literalmente exceções e
pressupõe análise caso a caso, considerando como regra apenas a saída para trabalho externo
nos termos expostos.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

Sobre o trabalho, é importante registrar que em uma rápida busca na LEP pelo prefixo
“trabalh”, temos 59 remissões; já em relação prefixo “estud”, há apenas 8 remissões. Já ficando
claro a desproporcionalidade da tratativa dos institutos/direitos pela lei.
Não é à toa a desarmonia, pois a LEP dedica o Capítulo III somente para o Trabalho,
com várias seções. Para o presente trabalho e recorte proposto, nos interessa focarmos na Seção
III, intitulada “Do Trabalho Externo”. Logo em seu Art. 36, prevê:

Art. 36. O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado somente
em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou
Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em
favor da disciplina.
§ 1º O limite máximo do número de presos será de 10% (dez por cento) do total de
empregados na obra.
§ 2º Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a
remuneração desse trabalho.
§ 3º A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento expresso
do preso.
Art. 37. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do
estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do
cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena. (g.n.)

Como destaco, o artigo é expresso em permitir que o preso em regime fechado saia
para trabalho externo, limitando esse trabalho em serviço ou obras públicas, devendo observar
os requisitos do art. 37 do mesmo diploma.
Os requisitos subjetivos (aptidão, disciplina e responsabilidade) são elementos que
pesam para a concessão ou para o indeferimento, muito se considerando a gravidade do crime
praticado, espaço temporal remanescente de pena para cumprir longo, possibilidade de evasão,
havendo decisões neste sentido, como o STJ, HC 180780/RJ de 28/06/2011, cabendo críticas,
por exemplo, ao uso do argumento de gravidade, considerando que ele faz parte do injusto penal
e já foi valorado para imposição de pena, no mínimo configurando um bis in idem (Roig, 2016,
p.113).
Sobre a autorização da saída temporária, a competência do juiz da execução penal nos
termos do art. 66, IV da LEP, indelegável (vide Súmula 520-STJ), registra-se que é permitida
APENAS ao regime semiaberto e não tendo vigilância direta, sendo permitido para visita à
família, frequência a curso supletivo profissionalizante, instrução em 2° grau ou superior e
participação de atividades que concorram para o retorno ao convívio social, e detém algumas
características específica para concessão, que vão ter que observar outros dispositivos da LEP,
bem como algumas jurisprudências. O legislador atribui para o regime semiaberto a saída

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

temporária e cria uma regra de exceção para o regime fechado, que é o trabalho externo anterior
exposto.
Sobre o direito estudo e saída temporária, há apenas o art. 122 que permite tal
conjunção, porém APENAS para presos que se encontram no regime semiaberto.

Art. 122. Os condenados que cumprem pena em regime semi-aberto poderão obter
autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, nos
seguintes casos:
I - visita à família;
II - freqüência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do 2º grau
ou superior, na Comarca do Juízo da Execução;
III - participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social. (g.n.)

Neste ponto já é possível entender a construção legal sobre o presente caso. Temos
uma inadequação/contradição legal que claramente está dotado de absorção de valores de
maneira desigual na Lei 7.210/1984, que não foi devidamente filtrado na recepção pela
Constituição de 1988. O cenário é: para o preso em regime fechado é excepcionado a regra de
saída da unidade prisional para trabalho, mas para estudo, a regra é mantida. O corpo preso
claramente se demonstra como um corpo para trabalho, mas não sendo possível ser um corpo
para emancipação através da educação.
Temos a remição de pena que está prevista no art. 126, da LEP. Trata-se de um
“desconto de parte do tempo de execução da pena, em regra pela realização de trabalho ou
estudo” (Roig, 2016, p.241), que hoje é pelo trabalho e estudo, mas a LEP de 1984 previa apenas
pelo trabalho e somente em 2011, através da lei 12.433, que o estudo foi previsto no dispositivo
legal.
Mas é interessante registrar que em 2007 o STJ editou a Súmula 241 que prevê que “A
frequência a curso de ensino formal é causa de remição de parte do tempo de execução de pena
sob o regime fechado ou semi-aberto”, ou seja, cinco anos antes da edição da lei, tínhamos a
intervenção judicial reparando uma ausência legal na LEP através de uma interpretação
extensiva do art. 126 da LEP.
Assim, o cenário claramente com equívocos legais sem aderência à base empírica, o
que influencia na vida das pessoas presas, se coloca como um quadro legal, neste caso, opressor
de direitos. A questão é: cabe ao juízo atuar com estrita legalidade a uma previsão legal que não
atendeu aos critérios formais e empírico na construção do dispositivo legal? Claramente abre-
se caminho para pesar princípio da individualização da pena e a premissa maior de atenuação
de pena e favor do apenado.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

Destaca-se que Ferrajoli (1989, p. 38-39) afirma que o garantismo é um modelo limite,
sendo que a atividade judicial tem espaços de poder, que resultam em margem de
discricionaridade, que advém da interpretação e verificação jurídica, da comprovação e
verificação fática, da conotação e compreensão equitativa e da disposição e valoração ético-
política, que vão influenciar na construção da decisão. Ferrajoli destaca, portanto, que o modelo
garantista se coloca como um delimitador do poder de punir, mas também há permissão para
momentos valorativos para excluir responsabilidades e atenuar penas e rebate que o juiz não é
simplesmente e apenas a boca da lei, sendo tal visão incompatível com o modelo. Portanto, a
formulação por interpretação extensiva feita no caso da remição face a ausência de previsão
legal, remonta esta ideia.
Deste cenário entre remição pelo trabalho e estudo, em que pese vencimento e
atualização legal, temos ainda na LEP um desencontro, com a previsão legal excetuando-se
para permitir presos em regime fechado sair para trabalhar, mas não para estudar.

3 DADOS JURISPRUDENCIAIS MATO-GROSSENSE: APONTAMENTOS DO STJ E


LEVANTAMENTO DO TJMT

O presente capítulo aborda as questões jurisprudências, partindo de pontos no Superior


Tribunal de Justiça (STJ) e consignando questões do Tribunal de Justiça do Estado de Mato
Grosso (TJMT).
É preciso esclarecer que as buscas no TJMT foram atualizadas em 04 de julho de 2023,
se valendo de duas buscas:
a) Quanto a saída temporária para estudos no regime fechado, onde se valeu das
seguintes palavras-chave: “saída temporária” e estudo e “regime fechado”. Ao final, foram
encontrados 11 acórdãos, que serão adiante sinalizados e descritos;
b) Quanto ao trabalho externo no regime fechado, onde se valeu das seguintes
palavras-chave: trabalho externo e “regime fechado”. Foram encontrados 169 acórdãos, e pela
quantidade, foi saneado a ementa e coletado os 10 primeiros acórdãos que tratavam a matéria,
sendo eles o mais recente.
Assim, o capítulo está dividido em 2 partes, sendo que a primeira versa sobre a
descrição e detalhamento das jurisprudências e a segunda apresenta o recorte conjugado dos
pontos principais da problemática face a legalidade e aos entendimentos das jurisprudências.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

3.1 APONTAMENTO NO STJ E NO TJMT: DESCRIÇÕES NECESSÁRIAS

No Brasil se adotou para aplicação de pena o regime progressivo que:

(…) consiste em distribuir o tempo de duração da condenação em períodos,


ampliando-se em cada um os privilégios que o recluso pode desfrutar de acordo com
sua boa conduta e o aproveitamento demonstrado do tratamento reformador. Outro
aspecto importante é o fato de possibilitar ao recluso reincorporar-se à sociedade antes
do término da condenação. A meta do sistema tem dupla vertente: de um lado pretende
constituir um estímulo à boa conduta e à adesão do recluso ao regime aplicado, e, de
outro, pretende que este regime, em razão da boa disposição anímica do interno,
consiga paulatinamente sua reforma moral e a preparação para a futura vida em
sociedade (Bitencourt, 2023, p. 85)

Não se nega o inquestionável avanço com a adoção deste regime. Entretanto, não pode
haver um endeusamento do regime para aplicar nomas que não apresentam uma
proporcionalidade.
O HC 255978/MG julgado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) não acatou o pedido
de liberação para o preso para estudar, pois ele estava no regime fechado e o argumento usado
para sustentar tal decisão é que se deve respeitar a progressão do regime adotado pelo Brasil.
Mas é contraditório, conforme já se esclareceu, que a regra para trabalho é excetuada,
pois o preso em regime fechado pode sair para trabalhar (art. 36, LEP). Em um caso que
alcançou o STJ nesta matéria, foi reconhecido a necessidade de cumprimento do dispositivo,
ressaltando, porém, que as cautelas legais contrafuga e em favor da disciplina, sejam
observadas, denegando a ordem na situação em questão por ausência de aparato das cautelas
(uma extrema violação de direito), mas emitindo uma recomendação ao Poder Executivo:

HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. CRIME HEDIONDO OU


EQUIPARADO. TRABALHO EXTERNO. POSSIBILIDADE. CAUTELAS
LEGAIS CONTRA A FUGA. INDISPENSABILIDADE. 1. A Lei de Execução
Penal, ela mesma, às expressas, admite o trabalho externo para os presos em regime
fechado, à falta, por óbvio, de qualquer incompatibilidade, por isso que acolhe o
benefício, "(...) desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina."
2. E tal ausência de incompatibilidade há de persistir, sendo afirmada ainda quando
se trate de condenado por crime hediondo ou delito equiparado, eis que a Lei nº
8.072/90, no particular do regime de pena, apenas faz obrigatório que a reprimenda
prisional seja cumprida integralmente em regime fechado, o que, como é sabido, não
impede o livramento condicional e, tampouco, o trabalho externo. 3. Faz-se
imprescindível, para fins de concessão de trabalho externo a sentenciado em regime
fechado, o preenchimento das cautelas legais contra a fuga e em favor da disciplina,
exigências estas que não podem ser dispensadas pelo magistrado. 4. Ordem denegada,
com recomendação ao Poder Executivo de que adote as providências necessárias à
disponibilização do Juízo da Execução dos meios necessários ao cumprimento da lei
penal, no particular do trabalho externo e das atividades externas dos sentenciados

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

que preencham os requisitos legais (HC 45.392/DF, Rel. Ministro NILSON NAVES,
SEXTA TURMA, julgado em 09/03/2023). (g.n.)

No Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), o cenário se repete, muitos com os


mesmos argumentos, sendo encontrado 14 acórdãos que indeferiram a saída para estudos em se
tratando de preso em regime fechado, alegando precedentes do STJ, ausência de previsão legal,
valoração do caráter repressivo da prática delitiva, atendimento a estrita legalidade das
previsões na LEP.
O Agravo de Execução Penal de numeração única 0004927-58.2016.811.0004 foi
requerido exatamente o que aconteceu em outro momento histórico com a remição, uma
interpretação extensiva/análoga do trabalho externo para estudo externo, não acatado pelo
Tribunal.
Já em relação ao trabalho externo para quem está em regime fechado, um número
maior de 169 acórdãos foi retornado e saneados, sendo colhido uma amostra de 10 acórdãos
mais recente , que trouxeram entendimento interessantes. O Agravo de Execução Penal de
numeração única 1009128-44.2023.8.11.0000, por exemplo, entende pela possibilidade da
concessão de trabalho externo e saída do estabelecimento prisional para visita familiar a preso
em regime fechado, ainda que não preenchido os requisitos legais, mas como medida
excepcional, argumentando a favor dos benefícios úteis da reintegração social e familiar do
preso, justificando nos princípios da humanidade e fraternidade em contraste com a legalidade,
indeferindo o pedido do Ministério Público.

AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL – CONDENADOS CUMPRINDO PENA NO


REGIME FECHADO – AUTORIZAÇÃO CONCEDIDA PARA TRABALHO
EXTERNO E SAÍDA DO ESTABELECIMENTO PRISIONAL PARA VISITAR
FAMILIARES – NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS –
POSSIBILIDADE – MEDIDA EXCEPCIONAL – REEDUCANDOS INSERIDO
NO PROJETO ESCOLA LIMPA – BENEFÍCIOS ÚTEIS PARA A
REINTEGRAÇÃO SOCIAL E FAMILIAR DO PRESO – PREPONDERÂNCIA
DOS PRINCÍPIOS DA HUMANIDADE/FRATERNIDADE X LEGALIDADE –
RECURSO DESPROVIDO EM DISSONÂNCIA DO PARECER MINISTERIAL.
Conquanto não preenchidos os requisitos legais para o exercício de labor externo e
direito de visitas à família ao reeducando que cumpre sua pena em regime fechado,
deve ser mantido o benefício concedido pelo juízo da execução penal, com
fundamento nos princípios da humanidade e da fraternidade. “O princípio da
humanidade deve orientar toda ação estatal voltada ao condenado, não só na feitura
da lei e no âmbito do cumprimento efetivo da pena, como também na aplicação da
sanção administrativa e no resgate do condenado como pessoa humana” [Direito da
Execução Penal. Luis Regis Prado (Coordenador), Denise Hammerschmidt, Douglas
Bonaldi Maranhão e Mário Coimbra. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013,
p. 26].
O conteúdo da fraternidade “realiza-se quando cada um, desempenhando sua função
social, reconhece a existência e dignidade do outro, e é tratado individualmente com

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

necessidades e fins próprios de forma que a felicidade, que é um fim individual por
excelência, se realize em comunidade. Logo, a fraternidade é princípio que deve
nortear as atitudes humanas e as funções estatais, além de fomentar o reconhecimento
do outro, o princípio da responsabilidade e ser fonte de direitos transindividuais”
[Clara Machado, in O Princípio da Fraternidade, Ed. Lumen Juris, 2017, p. 65].
“Não há como recear perder o pouco que anos de reivindicação ressocializadora
conquistaram de reforma e melhoria no campo penitenciário, porque todos esses
progressos podem perfeitamente ser mantidos com o argumento de assim se estar
fazendo em nome da dignidade da pessoa humana. A progressão de regime, que
também foi responsável pelo aumento das penas, pode ser preservada como
ingrediente na esperança na pena privativa de liberdade e, portanto, com base na
necessária dignidade do ser humano; o trabalho prisional também não precisa do ideal
ressocializador e pode ser defendido com base no argumento de que o abandono em
uma instituição do Estado é indigno para qualquer um; e assim por diante. Estando a
dignidade da pessoa humana como objetivo primeiro do projeto ressocializador, tudo
o que foi alcançado por este de positivo pode ser mantido com o abandono do ideal e
a assunção do verdadeiro propósito” [Conflito entre Ressocialização e o Princípio da
Legalidade Penal. Luís Carlos Valois. Belo Horizonte, São Paulo: D’Plácido, 2020,
p. 259/264]. (N.U 1009128-44.2023.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS
CRIMINAIS, ORLANDO DE ALMEIDA PERRI, Primeira Câmara Criminal,
Julgado em 20/06/2023, publicado no DJE 23/06/2023)

Outros argumentos dos acórdãos demonstram uma normalidade em aceitar o trabalho


externo no caso de preso em regime fechado, face a previsão legal, deferindo remição nos
termos da Súmula 562 do STJ, possibilidade de concessão desde que cumprido os requisitos,
somando a vontade do preso, aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento de
1/6 da pena, o que gerou casos com deferimento diante do recurso do preso, mas também diante
dos recursos do MP para modificação da decisão que havia deferido.

2.2 PERCEPÇÕES DA PROBLEMÁTICA

Ao analisar a questão do trabalho e do estudo externo à prisão nos casos de regime


fechado e a remição, temos sínteses que demonstram necessidades de atualizações legais e
jurisprudenciais.
Inicialmente, a nível legal, há uma discrepância de tratamentos na matéria, prevendo
a LEP vasta previsão, inclusive com requisitos para concessão do trabalho externo à prisão
àqueles em cumprimento de regime fechado, mas não há previsão legal no mesmo sentido para
estudo externo à prisão.
A nível jurisprudencial, a questão se movimenta, ao passo que o STJ reconhece como
possível o trabalho externo, chegando a emitir recomendação para viabilidade, mas não segue
o mesmo tratamento quando se trata de estudo externo.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

No campo geográfico recortado, o estado de Mato Grosso, quanto ao estudo externo,


a jurisprudência segue a mesma linha do STJ e das previsões legais, mas em relação ao trabalho
externo, há concessão, inclusive, levantando argumento além dos legais, como o do princípio
da humanidade e da fraternidade, assim como também não tem concessão, não por viabilidade
do instituto, mas por não cumprimento de requisito in casu.
Deste desenho, vale lembrar o contraste legal que aconteceu na LEP em 2011 que
equiparou os estudos ao trabalho para fins de remição da pena, nos termos do art. 126 da LEP.
Mas mais que isso, já em 2007 o STJ, por meio de interpretação extensiva, já tinha feito essa
equiparação.
Portanto, extrai-se que o legislador no momento da valoração legal, evidentemente
elevou o trabalho a um status superior em relação aos estudos. E no mesmo sentido, a
jurisprudência mantem esse funcionamento. Aliás, a jurisprudência constrói e segue
construindo argumento sólidos no fomento ao trabalho externo, mas se mantém inerte no que
tange ao estudo externo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando como pressuposto um sistema garantista como ideal, há muito que se


caminhar na construção de sistema garantista para a execução da pena no Brasil. A Constituição
é o pilar do Estado Democrático de Direito e o tratamento das relações humanas e institucionais
deve prezar pela dignidade da pessoa humana
Para o presente trabalho podemos destacar que o devido processo de execução da pena
(Brito, 2017; Cacicedo, 2018; Sumida, 2001-2002) visa sempre ir ao encontro da reintegração
social, buscando respeita às regras, como princípios da individualização da pena,
proporcionalidade, entre outros. Assim, concluímos que mesmo nesta abordagem/levantamento
inicial, que é necessária uma atualização legal na LEP que viabilize a saída para estudos no
regime fechado, assim como é previsto para trabalho externo.
Aliás, os argumentos tecidos no Agravo de Execução Penal de numeração única
1009128-44.2023.8.11.0000 para o trabalho externo, princípio da humanidade e fraternidade,
são os mesmos que podem sustentar o estudo externo no caso de regime fechado.
Portanto, trata-se de uma alteração no campo legal com alteração legislativa, e no
campo jurisprudencial, com uma construção do entendimento, elevando o estudo externo ao
mesmo nível do trabalho externo, por meio de uma interpretação extensiva, assim como ocorreu

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

com a Súmula 241/STJ, visando assim a consolidação de uma vertente garantista, que é um
modelo limite, mas mais que isso, um sistema que visa a proteção e garantia dos direitos
fundamentais, garantindo uma aderência empírica do que se é aplicado, bem como a
proporcionalidade e igualdade do que se é aplicado no mesmo sistema.
Somente por este caminho ativo, mas dentro do modelo limite (garantismo), que o juiz
dentro do devido processo de execução de pena cumprirá sua função de garantidor de direitos
fundamentais, visando a reintegração social do condenado.

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São Paulo: Saraiva, 2016.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

CAPÍTULO 7

A ROTA DE INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA (RILA) E A


PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Aldo A. Nunes Filho1

DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.10680327

INTRODUÇÃO

Este trabalho está dividido em duas partes, onde se aborda inicialmente o


desenvolvimento da integração regional da América Latina durante as últimas décadas, seguido
de um estudo sobre as potencialidades da Rota de Integração Latino-Americana (RILA) na
efetivação desta integração, após o qual se traça um histórico dos direitos humanos e explica a
potencialidade da RILA como meio de proteção e promoção destes direitos, além de determinar
os responsáveis por estas ações e seus possíveis beneficiários.
De forma preliminar, o que se busca demonstrar é a importância da integração regional
para os países latino-americanos, principalmente no atual contexto de globalização, em que
integração pode significar aumento de competitividade de seus envolvidos no mercado
internacional.
Com isso, avança-se para tratar diretamente do projeto da RILA como promotor de
integração regional na América do Sul – tendo em vista sua composição formada por quatro
países desta região –, além de analisar os aspectos do Acordo que propôs esta realização e as
intenções dos países signatários a partir do que dispõem suas cláusulas.
Na segunda parte do estudo, o enfoque é dado ao processo de afirmação histórica dos
direitos humanos, a partir do qual foram garantidos os direitos econômicos, sociais e culturais,
além dos direitos de solidariedade e ao desenvolvimento, estes que estão diretamente
relacionados às possibilidades de proteção e promoção a partir da RILA.

1
Doutorando em Direito Internacional e Comparado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (2020-
2022). Mestre (2019) e bacharel (2017) em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Coordenador
Geral do Núcleo de Estudos em Tribunais Internacionais da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
(NETI/USP). Membro da Academia Brasileira de Direito Internacional (ABDI). Tem experiência na área de
Direito, com ênfase em Direito Internacional, Integração Regional e Direito Internacional dos Direitos Humanos.
É advogado inscrito na OAB/SP.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

Por fim, busca-se apontar quem devem ser os responsáveis pelas ações defendidas no
item anterior, demonstrar que estes atores devem ter papel ativo e não podem se furtarem de
seus deveres, além de indicar os potenciais beneficiários destas ações.

2 ROTA LATINO-AMERICANA DE INTEGRAÇÃO

2.1 A IMPORTÂNCIA DA INTEGRAÇÃO REGIONAL PARA A AMÉRICA LATINA

A integração regional dos países da América Latina é um desejo histórico das


comunidades locais, sendo que apenas durante o último século, dezenas de propostas com
objetivos e níveis de implementação diversos surgiram no cenário regional, fomentadas, a cada
novo ciclo, por novos atores e integradas por diferentes países.
Estes processos passaram a serem vistos, principalmente a partir da globalização pós
segunda-guerra, como fundamentais para a colocação dos atores regionais na comunidade
global. Nas palavras de Miguel Ángel Ciuro Caldani (2013, p. 109):

La integración de diversos Estados es uno de los caminos para superar las limitaciones
de la globalización/marginación que, con numerosas tenciones entre la
mundialización y las reacciones de los Estados y las regiones, se produce em nuestro
tiempo. [...]

Em busca de tal superação, e, tratando especificamente da América Latina, diferentes


modelos de uniões e organizações internacionais foram implementados, como ressalta Noemí
B. Mellado:

En el espacio suramericano coexisten distintos processos: a nível sub-regional – CAN,


MERCOSUR, ALBA – y regional – UNASUR, CE-LAC – [...]”, os quais passaram a
trabalha,r em busca de seus objetivos, com variados temas. “Ellos tienen como rasgos
distintivos su diferente natureza, la amplitud temática – medioambiente,
infraestructura, inclusión y cohesión social, participación social. democracia,
derechos humanos, asimetrías – y la no exclusividad de sus miembros. (2013, p. 139)

Estes exemplos demonstram a importância da integração dos países da América Latina


para o crescimento de sua competitividade global, quando se trata da esfera macroeconômica,
mas também para a promoção de inclusão social, democracia e direitos humanos, de modo
geral, para os indivíduos habitantes destas localidades.

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2.2 A INTEGRAÇÃO REGIONAL A PARTIR DA ROTA DE INTEGRAÇÃO LATINO-


AMERICANA

A Rota de Integração Latino-americana (RILA) é uma destas propostas e consiste num


Corredor Bioceânico, parte de um plano de integração da América do Sul por meio de projetos
de infraestrutura com o objetivo de interligar via rodoviária, ferroviária e hidroviária as costas
atlântica e pacífica do subcontinente, de forma a agilizar o processo de escoamento das
produções dos países sul-americanos para os demais continentes, evitando-se grandes
deslocamentos por água através dos caminhos já conhecidos do comércio marítimo,
sabidamente o Canal do Panamá ou o contorno pelo sul, via Patagônia.
Embora esta integração, de modo geral, seja um desejo antigo de países sul-
americanos, diversas outras propostas foram analisadas pelos governos locais ao longo de
décadas, sendo que a maioria delas foram abandonadas por inviabilidade técnica ou por
mudanças na geopolítica sul-americana.
A RILA, entretanto, têm ultrapassado essas barreiras, tendo em vista que em dezembro
de 2015 foi assinada pelos presidentes de Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, reunidos na XLIX
Reunião Ordinária do Conselho do Mercado Comum e Cúpula de Chefes dos Estados Partes do
MERCOSUL e Estados Associados, a Declaração de Assunção sobre Corredores Bioceânicos,
em cujo texto os países afirmam seu compromisso com a integração da América do Sul, como
se pode conferir no preâmbulo do texto:

[...] reiteram seu decidido compromisso com o progresso de integração regional,


por meio das atividades no âmbito da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura
Regional Sul-Americana (IIRSA) e o Conselho de Planejamento da UNASUL
(COSIPLAN) para a melhoria substancial da infraestrutura física, da facilitação
do trânsito transfronteiriço e da agilização dos procedimentos aduaneiros,
destinados a fazer mais expedita a circulação de pessoas e bens entre seus respectivos
países, de modo a alcançar uma alta eficiência logística, maior
competitividade econômica e uma integração regional mais efetiva.

Reconhecem, na sequência, a importância da aproximação física entre eles, mediante


política de “convergência na diversidade” e que a ferramenta central para esta aproximação é a
implantação dos Corredores Bioceânicos:

Concordam, ainda, na conveniência de avançar gradativamente mediante uma política


de "convergência na diversidade", que se manifesta inclusive pela aproximação física
entre os países do Pacífico e do Atlântico, da Aliança do Pacífico e do Mercosul. Os
eixos de integração e desenvolvimento do COSIPLAN e, em especial, os Corredores

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Bioceânicos constituem ferramentas centrais e indispensáveis para materializar esse


objetivo de interesse comum.

O preâmbulo se encerra com a especificação do caminho por onde se deve estabelecer


o eixo de integração, sendo este o primeiro momento em que se descreveu o trajeto
posteriormente concretizado:

Constatam as consideráveis potencialidades econômicas e sociais que possui a


conexão interoceânica nos distintos eixos de integração e desenvolvimento
definidos no COSIPLAN e, em particular, aquele que se estende desde a costa do
Brasil, atravessando os territórios do Paraguai e da Argentina, até alcançar os portos
do norte do Chile. Consideram que as estradas, portos, aeroportos, ferrovias e
hidrovias que compõem o eixo de integração e desenvolvimento que liga as
quatro economias poderiam se beneficiar das facilidades recíprocas em matéria de
depósitos e zonas francas outorgados entre os países, tornando ainda mais atrativas
as possibilidades de trabalhar em empreendimentos econômicos conjuntos que
permitam melhorar a competitividade dos produtos da região nos mercados da Ásia
Pacifico e Europa.

Observa-se, ainda, nestes trechos, a forte vocação econômica da proposta, que se inicia
com uma menção ao Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (COSIPLAN),
uma ao MERCOSUL, e se confirma na parte dispositiva da declaração, a partir do item 2, em
que os países acordam:

2. Iniciar um plano piloto voltado à agilização dos procedimentos em fronteira que


possibilitem avançar para uma maior eficiência, sistematização e homogeneização dos
mecanismos de inspeção e controle entre os quatro países. 3.Avançar em uma
informatização integrada com sistemas de dados e formulários uniformes que
permita a agilização do transporte de cargas, veículos e passageiros. 4.Realizar
estudo conjuntamente com o setor privado que avalie o funcionamento dos distintos
modos de infraestrutura e transporte.

Tem-se, a partir destas constatações, portanto, que o que se busca alcançar a partir de
referida integração não é, em primeiro plano, a proteção e a promoção dos direitos humanos
das áreas afetadas pelo corredor, mas sim o aumento da competitividade dos países da região
nos mercados da Ásia Pacífico e da Europa, embora esta integração entre os países do
MERCOSUL possa ser encarada como uma oportunidade para a efetivação dos direitos
humanos (Ribeiro; Maciel, 2017, p. 184).
A prioridade dada à capacidade econômica do projeto, contudo, não exclui a
possibilidade de um desenvolvimento de outras potencialidades a partir deste, levando-se em
conta suas grandes proporções, como se verá mais adiante.

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Apesar da multilateralidade da Declaração e a abrangência da RILA, o projeto tem


tomado forma, principalmente pelos esforços políticos de Brasil e Paraguai. Isto porque os
maiores investimentos necessários em infraestrutura partirão destes países.
Para a criação de uma rota rodoviária que atravesse Brasil e Paraguai, além da
Argentina e Chile, de forma que se concretize a integração desejada, foram criados grupos de
estudos com interessados de todos esses países para análise da viabilidade técnica do projeto,
por meio do mapeamento da rota e estudos acerca da principal implantação estrutural
necessária: a ponte sobre o Rio Paraguai.
A obra da ponte será realizada com capital dos dois países e é o objeto do tratado
bilateral “Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República
do Paraguai para a construção de uma ponte rodoviária internacional sobre o Rio Paraguai entre
as cidades de Porto Murtinho e Carmelo Peralta”, que, como o nome deixa claro, define
questões sobre o financiamento e acompanhamento da obra pelos órgãos governamentais de
ambos os lados.
Este acordo bilateral, diferentemente daquele em que fazem parte também Argentina
e Chile, faz menção à necessidade de observação dos direitos das populações locais e ao
potencial desenvolvimento sustentável a partir da integração regional, como se pode observar
em seu preâmbulo:

Considerando o interesse recíproco em desenvolver infraestrutura para promover a


integração viária de seus territórios; Convencidos de que a construção de uma ponte
sobre o Rio Paraguai, unindo as cidades de Porto Murtinho, no Brasil, e Carmelo
Peralta, no Paraguai, contribuirá para promover o desenvolvimento sustentável em
ambos os lados da fronteira comum; Tendo em conta a prioridade atribuída pelas
Partes à integração física sul-americana, mediante o estabelecimento de corredores
bioceânicos; e Tendo presentes os princípios de igualdade de direitos e obrigações,
responsabilidade socioambiental e respeito às populações locais, transparência,
igualdade de oportunidades e de participação, em conformidade com suas respectivas
legislações nacionais, Acordam o seguinte: [...]. (grifo nosso)

As discussões internas acerca da construção da ponte também já foram realizadas,


sendo que no Brasil foi debatida e aprovada na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado
e no Paraguai encontra-se em estado avançado de licitação.
Considerados os aspectos econômicos e formais da implantação da RILA, o que se
abordará a seguir é a possibilidade de proteção e promoção de direitos humanos a partir dela,
notadamente os direitos econômicos, sociais e culturais para as populações locais, que serão
diretamente afetadas pela rota, além dos direitos de solidariedade.

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3 PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS A PARTIR DA RILA

3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS

Ao se levar em conta a historicidade dos direitos humanos, é possível afirmar que sua
concretização se dá de forma não linear, sendo que na maior parte das vezes são eventos
históricos disruptores que provocam elevações nas garantias e a consolidação de novos direitos.
Dentre os mais importantes destes pontos de ruptura e mudança de paradigma do
pensamento histórico-filosófico, para Norberto Bobbio, (2004, p. 94) estão as declarações de
direitos dos últimos séculos, por meio das quais “[...] a proclamação dos direitos do homem
dividiu em dois o curso histórico no que diz respeito à concepção da relação política.”
Esta concepção diz respeito à inversão da importância que se dava ao Estado frente ao
homem, sendo que, se antes o interesse estatal estava acima do indivíduo, a partir das
declarações supracitadas a relação se inverteu, levando ao centro a figura do ser humano como
titular de direitos e entregando ao poder estatal a obrigação – que passou a ser seu motivo de
existir – de garantir o bem-estar de cada indivíduo componente de sua sociedade.
Atualmente, a evolução histórica dos direitos humanos é dividida pela doutrina em três
principais gerações, a partir das quais se garantiram, em diferentes momentos históricos, os
principais direitos que hoje se reconhecem. São ainda admitidas em novos estudos, embora de
forma segmentada, quarta e quinta gerações.
Para os fins deste estudo, o enfoque se dará, principalmente, sobre a segunda e terceira
gerações, sendo a dos direitos sociais a que guarda maior relação com as possibilidades de
proteção e promoção a partir da RILA, em conjunto com a dos direitos de solidariedade.
Segundo Bobbio (2004, p. 94), a respeito da segunda geração, “[...] em sua dimensão
mais ampla, os direitos sociais entraram na história do constitucionalismo moderno com a
Constituição de Weimar.” Esta geração se diferencia da primeira, não apenas pelos direitos que
garante, mas também pelo início da afirmação de direitos que exigem do estado posição ativa
na busca de sua efetivação.
Os direitos garantidos por ela – econômicos, sociais e culturais – para Silveira e
Rocasolano (2010, p. 175), “[...] situam a pessoa humana, a partir de uma perspectiva
individual, como integrada numa coletividade”.

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Celso Lafer, de forma mais específica, para explicar a peculiaridade desta geração
frente à anterior postula que:

De segunda geração, são, pois, os direitos ao trabalho, à saúde, à educação, dentre


outros, cujo sujeito passivo é o Estado, que tem o dever de realizar prestações positivas
aos seus titulares, os cidadãos, em oposição à posição passiva que se reclamava
quando da reivindicação dos direitos de primeira geração (Lafer, 1988, p. 127).

Completa ainda Fábio Konder Comparato, ao analisar o surgimento desta geração, que
ela põe fim ao abstrativismo antes consolidado quando se falavam nos titulares de direitos,
reconhecendo-se a partir de então como diretamente titulares cada grupos de vulneráveis, como
explica:

O reconhecimento dos direitos humanos de caráter econômico e social foi o principal


benefício que a humanidade recolheu do movimento socialista, iniciado na primeira
metade do século XIX. O titular destes direitos, com efeito, não é o ser humano
abstrato, com o qual o capitalismo sempre conviveu maravilhosamente. É o conjunto
dos grupos sociais esmagados pela miséria, a doença, a fome e a marginalização
(Comparato, 2013, p. 66).

Somada a esta, a terceira geração importa para o presente estudo a partir do momento
que reconhece direitos difusos e coletivos, de forma a pacificar a compreensão de que certos
direitos devem ser inerentes a cada coletividade. Sobre esta geração, é o que diz Comparato:

É com base na unidade essencial dos direitos humanos que se pôde falar, no plano
nacional e internacional, de um direito ao desenvolvimento. A Assembleia Geral das
Nações Unidas, em uma Resolução de 4 de dezembro de 1986 (A/RES/41/128),
considerou o desenvolvimento como “um amplo processo, de natureza econômica,
social, cultural e política”. Manifestou sua preocupação com “a existência de sérios
obstáculos ao desenvolvimento e à completa realização dos seres humanos e dos
povos, obstáculos constituídos, inter alia, pela denegação dos direitos civis, políticos,
econômicos, sociais e culturais”, entendendo que “todos os direitos humanos e as
liberdades fundamentais são indivisíveis e interdependentes, devendo-se, a fim de
promover o desenvolvimento, dar igual atenção e considerar como urgente a
implementação, promoção e proteção dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais
e culturais”. Nos termos do art. 2º, alínea 3, dessa Resolução, “os Estados têm o direito
e o dever de formular políticas apropriadas para o desenvolvimento nacional, com o
objetivo de aumentar constantemente o bem-estar de toda a população e de todos os
indivíduos, na base de sua participação ativa, livre e consciente no desenvolvimento
e na justa distribuição dos benefícios dele resultantes”. “Os Estados têm a
responsabilidade primordial de criar condições nacionais e internacionais favoráveis
à realização do direito ao desenvolvimento”, o que implica o dever de colaboração de
todos os Estados na eliminação dos obstáculos ao desenvolvimento (art. 3º).
(Comparato, 2013, p. 293)

Ainda, a este mesmo respeito, para Paulo Bonavides:

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Com efeito, um novo pólo jurídico de alforria do homem se acrescenta historicamente


aos da liberdade e da igualdade. Dotados de altíssimo teor de humanismo e
universalidade, os direitos da terceira geração tendem a cristalizar-se no fim do século
XX enquanto direitos que não se destinam especificamente à proteção dos interesses
de um indivíduo, de um grupo ou de um determinado Estado. Tem primeiro por
destinatário o gênero humano mesmo, num momento expressivo de sua afirmação
como valor supremo em termos de existencialidade concreta (Bonavides, 2006, p.
569).

Portanto, tendo em vista o estudo histórico dos direitos humanos, entende-se que a
responsabilidade de proteção e promoção destes direitos pertence aos Estados nacionais e que
estas devem ser realizadas de forma ativa, visando sempre o bem-estar de suas populações,
como assevera André de Carvalho Ramos, quando diz que “the State must ensure the basic
rights to all people under its jurisdiction, whether domestic or foreign, even if it is against the
will of the majority” (Ramos, 2017, p. 331).

3.2 A PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DE DIREITOS HUMANOS A PARTIR DA RILA

3.2.1 Quem deve proteger e promover estes direitos?

Com a ideia tratada anteriormente da necessidade de prestação positiva do Estado em


relação aos direitos humanos de segunda e terceira gerações, se pode relacionar o projeto da
Rota de Integração Latino-americana com a efetiva proteção e promoção destes direitos.
Isto porque quando se fala de integração, não é possível excluir a garantia dos direitos
humanos, sobretudo no âmbito de tratados regionais, nas palavras de José Souto Maior Borges,
“uma consideração teleológica revela que, no âmbito do ordenamento internacional, e em
particular no ordenamento comunitário, a proteção dos direitos humanos vem sendo
privilegiada como um dos objetivos mais eminentes” (Borges, 2009, p. 326).
Completa ainda que:

[...] aos poucos vai se consolidando o entendimento de que a proteção interestatal dos
direitos humanos não pode ser desconsiderada em qualquer espaço comunitário. É um
imperativo do fenômeno da globalização – sobretudo, não exclusivamente,
tecnológica – que a todos os povos governa. Nesse sentido amplo, a proteção dos
direitos humanos é temática que transcende os estritos limites do direito nacional e
até mesmo os o espaço comunitário. Assim é se que mostra assente, no plano
internacional geral, o dever estatal de preservar e promover os direitos fundamentais
do homem. Dever que assume contornos jurídicos na medida em que é instituído
sobretudo em tratados internacionais, não exclusivamente reservados e circunscritos

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

ao âmbito comunitário. A temática dos direitos humanos é, pois, nacional, regional e


internacional. É dizer: não encontra guarida apenas no âmbito regional, que é, no
estágio atual, o espaço próprio do direito comunitário (Borges, 2009, p. 329-330).

Sendo assim, resta claro que, mesmo em tratados que versem sobre tema com maior
relação ao aspecto econômico, não podem os países contratantes furtarem-se da
responsabilidade de proteger e promover, acima de qualquer pauta econômica, os direitos
humanos.
Tal afirmação fica ainda mais clara quando considerado que, no caso particular que
trata este trabalho, todos os Estados que promovem a Rota de Integração assinaram tratados
como a Carta da Organização das Nações Unidas (ONU), a Declaração Universal dos Direitos
Humanos e a Convenção Interamericana, todos afirmando, de modo reiterado, em seus textos,
o compromisso dos signatários com a proteção e promoção prioritária dos direitos humanos.
A forma exata pela qual deve se dar esta prestação, entretanto, ainda deve ser objeto
de estudos aprofundados, que visem determinar quais ações concretas serão necessárias para a
efetiva consolidarão da proteção e promoção dos direitos humanos a partir da RILA.
Apesar disso, o que se pretende ressaltar, e que melhor explica Flávia Piovesan, ao
constatar que “A globalização econômica tem agravado ainda mais as desigualdades sociais,
aprofundando as marcas da pobreza absoluta e da exclusão social” (Piovesan, 2015, p. 62), é
que “É preciso reforçar a responsabilidade do Estado no tocante à implementação dos direitos
econômicos, sociais e culturais” (Piovesan, 2015, p. 62).
Daí a importância da cooperação internacional para a concretização de qualquer
expectativa a respeito de efetiva proteção e promoção que se almeje a partir da RILA, pois, ao
escrever que “A Declaração Universal de 1948, na qualidade de marco maior do movimento de
internacionalização dos direitos humanos, fomentou a conversão destes direitos em tema de
legítimo interesse da comunidade internacional”, (Piovesan, 2002, p. 41), a autora deixa
explícito que, a efetivação dos direitos humanos passa, inevitavelmente, pela cooperação
internacional destes países que receberão o Corredor Bioceânico.
É sabido que, para a proteção e promoção dos direitos humanos a partir da RILA, é
necessário garantir que as ações futuras neste sentido impactem diretamente as regiões pelas
quais a Rota passará. Para isso, a ação ativa dos estados brasileiros, paraguaio, argentino e
chileno serão fundamentais. Essas ações, porém, podem ser potencializadas por outros atores.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

Para explicar esta possibilidade de ampliação, Flávia Piovesan arrola outros dois
possíveis atores além dos Estados: as agências financeiras internacionais e o setor privado
(Piovesan, 2015, p. 63).
Tendo em vista o formato de financiamento da RILA e os potenciais beneficiados, é
sobre este segundo que deve ser lançada parte da responsabilidade da proteção e promoção de
direitos humanos na região da Rota. Isto porque:

No que se refere ao setor privado, há também a necessidade de acentuar sua


responsabilidade social, especialmente a das empresas multinacionais, na medida em
que se constituem as grandes beneficiárias do processo de globalização, bastando citar
que, das 100 maiores economias mundiais, 51 são empresas multinacionais e 49 são
Estados nacionais. Por exemplo, importa encorajar sejam condicionados empréstimos
internacionais a compromissos em direitos humanos; sejam adotados por empresas
códigos de direitos humanos relativos à atividade de comércio; sejam impostas
sanções comerciais a empresas violadoras de direitos sociais, entre outras medidas.
(Piovesan, 2015, p. 66). (grifo nosso).

Portanto, devem fazer parte dos esforços para a proteção e promoção dos direitos
humanos neste âmbito, como forma de cumprimento de suas responsabilidades social e de
solidariedade, as empresas privadas que venham a se beneficiar da nova Rota para o
desenvolvimento de suas atividades de distribuição de seus produtos no mercado global.
Esta responsabilidade deriva da terceira geração de direitos, em atenção à qual pode-
se afirmar que a ideia de sustentabilidade e de valores solidários gera para as empresas a
responsabilidade de solidariedade, cabendo, por conta disso, às empresas, estenderem sua
atuação para além do campo econômico e social, abrangendo a proteção ambiental sob a ótica
da solidariedade (Silveira; Santos, 2015, p. 24).
Os mesmos autores, a este respeito desenvolvem melhor este pensamento ao
afirmarem que:

No momento atual, os direitos de igualdade e coletivos que norteiam a atuação da


empresa, para além da liberdade, funcionalizam-se por meio da responsabilidade
social e responsabilidade de solidariedade da empresa do chamado Estado
Socioambiental de Direito. Tais responsabilidades se inserem no âmbito do
dever/obrigação jurídica de promover os direitos sociais e solidários. Desta feita,
pode-se afirmar que diante desse novo paradigma, a responsabilidade da empresa é
mais ampla que o exercício das funções econômica e social correspondentes à
primeira e segunda gerações de direitos humanos, pois contempla a função solidária
de terceira geração, resultando em uma soma de valores para melhor atendimento das
necessidades da sociedade como um todo. (Silveira; Santos, 2015, p. 26)

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

Desta forma, entende-se que a proteção e a promoção de direitos humanos que aqui se
propõe pode e deve ser de responsabilidade dos atores mais poderosos da sociedade, quais
sejam o Estado historicamente reconhecido como tal, e as empresas privadas, que possuem
importância e poder crescentes na ordem global.
Explica-se que os Estados e as empresas responsáveis, neste caso, são aqueles com
relação direta com a construção do Corredor Bioceânico – Brasil, Paraguai, Argentina e Chile
– e as empresas que se beneficiem diretamente do mesmo – portos, concessionárias de rodovias,
grandes empresas de transporte, entre outras –, não se excluindo aqui a possibilidade de
surgimento de outros possíveis promotores.
Dito isto, sabendo-se quem deve executar os projetos que visem a proteção e promoção
de direitos humanos no âmbito da RILA, passa-se a estudar quem seriam os potenciais
beneficiários destas ações.

3.2.2 Quem devem ser os beneficiários desta proteção e promoção?

É importante ressaltar aqui que as populações das quais se tratará, potencialmente


beneficiadas pela proteção e promoção de direitos por meio da RILA, não são compostas apenas
por nacionais brasileiros, mas também por paraguaios, argentinos e chilenos, o que garante o
aspecto integrador do projeto, tanto economicamente quanto na questão da proteção e da
promoção de direitos.
Ao questionar se é possível a proteção e a promoção de direitos humanos a partir da
Rota, um bom indicativo para que a resposta seja afirmativa é o próprio trajeto rodoviário que
se dará, de acordo com o que pactuaram os Estados-parte da Declaração de Assunção sobre
Corredores Bioceânicos:

[...] Com essa visão, acordam: 1. Instruir seus Ministérios das Relações Exteriores a
conformar Grupo de Trabalho entre os quatro países que integre os Ministérios de
Infraestrutura, Obras Públicas, Transportes e outras instituições vinculadas, com o
propósito de impulsionar a realização dos estudos técnicos e formular as
recomendações pertinentes para a pronta concretização do corredor viário Campo
Grande - Porto Murtinho (Brasil) - Carmelo Peralta - Mariscal Estigarribia - Pozo
Hondo (Paraguai) - Misión La Paz - Tartagal – Jujuy - Salta (Argentina) –Sico - Jama
- Puertos de Antofagasta – Mejillones - Iquique (Chile). (grifo nosso)

Nota-se que todas as regiões pelas quais passa a Rota – nos quatro países – são áreas
de menor desenvolvimento e acesso se comparadas às regiões centrais de cada país, o que, por

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

si só, permite concluir que são localidades com maior vulnerabilidade, e que se beneficiarão
com medidas que promovam melhora de acesso e qualidade de vida.
Como parâmetro para demonstrar a potencialidade e necessidade dessas localidades
para receberem ações de proteção e promoção de direitos, optou-se pela utilização do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), organizado pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), tendo em vista que a coleta é realizada em todos os Estados que
aqui se estudam.
Em análise dos dados de referido indicador, evidencia-se a discrepância nos índices,
tendo em vista que Argentina e Chile possuem bons números para todas as regiões, enquanto
no Brasil e no Paraguai há grande variação de acordo com a localidade que se analisa.
A respeito dos dois primeiros países, ressalta-se que apesar de apresentarem os
melhores índices dentre os analisados, não se pode afirmar que não serão necessárias ações
nestes locais, já que o início da utilização do Corredor Bioceânico, por si só, trará consigo
questões de direitos humanos que necessitarão atenção futura.
As regiões de Brasil e Paraguai, por outro lado, possuem as maiores necessidades de
proteção e possibilidades de promoção, tendo em vista que a Rota percorre regiões de menor
desenvolvimento e acesso nos dois países. No Paraguai passa pelos departamentos de Boquerón
e Alto Paraguay, e no Brasil pelo estado de Mato Grosso do Sul, iniciando-se em Campo
Grande, e passando pela cidade de Porto Murtinho – divisa com o Paraguai –, localidade com
baixo IDH, com grande necessidade de ações que visem a proteção e promoção de direitos
humanos.
Além do índice do PNUD, um caso específico que ilustra a potencialidade de tal
proteção a partir de Porto Murtinho, onde será efetuada a maior obra de infraestrutura do projeto
– a ponte sobre o Rio Paraguai –, possui importante peculiaridade em relação às demais, que se
dá por conta da grande população indígena que habita, entre outros, o território onde será
construída a ponte.
O estado apresenta, de acordo com o IBGE, a segunda maior população indígena do
país, ao mesmo tempo em que há grande discrepância entre a numerosa população e o tamanho
do território ocupado (Urquiza; Nascimento, 2013, p. 63), informação que, por si só, atesta a
vulnerabilidade de referida população.
Sendo assim, fica claro, além dos responsáveis pela proteção e promoção – Estados e
empresas privadas que se beneficiem diretamente da RILA –, quais são as populações a se
beneficiarem com tais medidas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em conclusão, é possível afirmar que a integração dos países da América Latina é um


desejo histórico – que sempre foi objeto de debates e tentativas de implementação em diferentes
épocas e por diferentes atores – que cresceu em importância à medida que passou a ser
entendida como uma forma de ganho de competitividade no mercado internacional com o
advento da globalização.
Neste âmbito, dentre as variadas organizações internacionais, acordos regionais e
bilaterais que surgiram ao longo das últimas décadas, o MERCOSUL promoveu certo nível de
integração entre os países da América do Sul, de forma a permitir a elaboração de projetos como
o da Rota de Integração Latino-Americana (RILA), que, apesar do nome que indica maior
abrangência, envolve apenas os quatro países sul-americanos pelos quais desenha seu caminho.
Idealizado em Assunção, no ano de 2015 por Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, o
texto da declaração que estabelece a RILA foi escrito com forte apelo econômico, tendo como
objetivo o aumento da competitividade de seus signatários nos mercados asiáticos e europeus,
fazendo apenas rápida menção às potencialidades de desenvolvimento social do projeto.
Apesar disso, observa-se que, levando em conta a evolução histórica dos direitos
humanos que culminaram na garantia dos direitos econômicos, sociais e culturais, além dos
direitos de solidariedade e ao desenvolvimento, cabe ao Estado garantir de forma ativa essas
prestações à sua população.
Com isso, entende-se que, mesmo o projeto da RILA possuindo forte vocação
econômica, o fato de todos os participantes do acordo serem signatários de declarações
internacionais de direitos humanos, não permite que os mesmos debruçem-se somente sobre o
desenvolvimento da economia, sendo, de forma prioritária de suas responsabilidades agir
ativamente em busca da proteção e promoção dos direitos humanos, visando sempre o bem-
estar de suas populações.
Assim, no caso da RILA, em que empresas privadas – portos, concessionárias de
rodovias, grandes empresas de transporte, entre outras – se beneficiarão diretamente da
estrutura criada pelo projeto, resta claro que cabe uma ampliação do rol dos responsáveis pela
proteção e promoção de direitos humanos neste âmbito, para incluir, juntamente aos Estados-
parte de seu acordo constitutivo, estes atores, podendo-se falar, aqui, no cumprimento de suas
responsabilidades sociais.

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CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

Com o estabelecimento dos responsáveis pela proteção e promoção de direitos que este
trabalho propõe, resta informar quem são os beneficiários das ações promovidas pelos atores
supracitados.
Neste sentido, entende-se que as populações-alvo devam ser as que serão afetadas
diretamente pela construção do Corredor Bioceânico, incluindo-se neste rol os residentes das
cidades e comunidades pelas quais passa a Rota, com especial atenção às populações indígenas
que habitam, por exemplo, o território onde será construída a ponte entre Brasil e Paraguai –
maior obra do projeto –, e que carecem de especial atenção às suas singularidades.
Por fim, ressalta-se que não é objetivo do presente trabalho esgotar a temática – que é
nova e pouco explorada –, mas sim traçar possibilidades para que o desenvolvimento do projeto
sobre o qual se trata aconteça com o maior respeito aos direitos humanos.

REFERÊNCIAS

ABREGU, Martín. Direitos Humanos para todos: da luta contra o autoritarismo à construção
de uma democracia inclusiva - um olhar a partir da Região Andina e do Cone Sul. SUR. Revista
Internacional de Direitos Humanos. São Paulo, v. 5, n. 8, jun. 2008. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-
64452008000100002&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 12 abr. 2023.

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Revista de la Secretaría del Tribunal Permanente de Revisión. Assunção: MERCOSUR,
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COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 8. ed. São
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Hannah Arendt. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

MELLADO, Noemí B. Regionalismo sudamericano: sus características. Revista de la


Secretaría del Tribunal Permanente de Revisión. Assunção: MERCOSUR, 2013.

96
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MERCOSUL. Declaração de Assunção sobre corredores bioceânicos. XLIX Reunião


Ordinária do Conselho do Mercado Comum e Cúpula de Chefes dos Estados Partes do
MERCOSUL e Estados Associados. Assunção, 2015. Disponível em:
http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_integracao/DeclaracionBioceanicos_PT.pdf. Acesso
em: Acesso em: 12 abr. 2023.

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sistemas regionais europeu, interamericano e africano. 6. ed. rev. ampl., e atual. São Paulo:
Saraiva, 2015.

PIOVESAN, Flávia. Globalização econômica, integração regional e direitos humanos.


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da territorialidade. In: URQUIZA, Antonio H. Aguilera. (org.). Culturas e história dos povos
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97
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

RESUMOS

98
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO

GRUPO DE TRABALHO 1: DIREITOS HUMANOS, SISTEMA DE JUSTIÇA


CRIMINAL E POLÍTICAS CRIMINAIS NO ÂMBITO MATERIAL E PROCESSUAL
– I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

99
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

OS DESAFIOS DA IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA DE


ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA
MULHERES NO MUNICÍPIO DE BARRA DO BUGRES-MT

Jéssica Ferreira Aires1


Vívian Lara Cáceres Dan2

A primeira etapa desta pesquisa teve como tema os entraves e desafios para a implementação
das políticas públicas e abordou o estado da arte sobre as principais críticas em relação à
implementação das políticas públicas em diversas áreas. Nesse contexto, várias dessas políticas
possui um distanciamento enorme entre sua formulação (proposta) e sua execução (resultados),
o que gera o fracasso ou insucesso delas. Nessa nova etapa da pesquisa, a pesquisa focará em
uma política pública específica, que no caso refere-se à implementação da política de
enfrentamento à violência doméstica em relação às mulheres vítimas de violência de gênero no
município de Barra do Bugres. Justifica-se referido tema devido o cenário de violência, que em
relação às mulheres têm aumentado. E, portanto, mesmo com o advento da lei federal n. 11.340,
de 07 de agosto de 2006 (conhecida como Lei Maria da Penha) que criou mecanismos efetivos
para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher não houve diminuição desse
fenômeno visto aqui como um problema social e de saúde pública. Em uma recente pesquisa
realizada pelo Datafolha e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2023) ficou demonstrado
que houve uma piora em todos os índices que medem a violência contra as mulheres. A pesquisa
revela que 1 (uma) em cada 3 (três) mulheres vivem algum episódio de violência com o parceiro
no Brasil. E ainda que, 45% das mulheres agredidas ainda não denunciam episódios de
violência. Nesta etapa da pesquisa serão realizados estudos sobre a rede de proteção às mulheres
vítima de violência do município de Barra do Bugres, ou seja, a abordagem focará nas ações
integradas entre órgãos e instituições envolvidas na criação de um protocolo único de
atendimento para toda a rede municipal identificar e acompanhar as mulheres em situação de
violência de gênero e assim, promover uma articulação para a elaboração de estratégias de
atendimento, prevenção e enfrentamento da violência com dados atualizados e capacitação
adequada das equipes. A execução da segunda etapa deste trabalho também prevê entrevistas:
com os agentes da Delegacia Civil, que ouve a ofendida, lavra o boletim de ocorrência e toma
a representação a termo e comunica de imediato o Ministério Púbico e o Judiciário bem como
encaminha a ofendida ao Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS).
O objetivo é perceber se existem fragilidades no atual protocolo de atendimento a essas vítimas
para sugerir modificações que melhorem o tempo de resposta e acolhimento dessas vítimas. O
segundo alvo das entrevistas será o pessoal do Centro de Referência Especializado em

1
Acadêmica do curso de bacharelado em Direito, no campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado de
Mato Grosso (UNEMAT), bolsista Probic/FAPEMAT do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas
para minorias coordenado pela Profa. Dra. Vívian Lara Cáceres Dan; E-mail: jessica.aires@unemat.br.
2
Docente Adjunta do curso de Bacharelado em Direito, campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado
de Mato Grosso (UNEMAT). Coordenadora do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para
minorias no Mato Grosso; Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Estado e Sociedades (PPDES –
CNPq). E-mail: vivian.dan@unemat.br.

100
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

Assistência Social (CREAS) que fica responsável por executar o atendimento necessário para
a superação da situação de violência ocorrida. O foco será em relação aos serviços
disponibilizados às vítimas e fragilidades ou demora no apoio/ assistência. Conclui-se que as
políticas públicas destinadas a prevenir e erradicar a violência na perspectiva de gênero requer
mudanças constantes das instituições que se envolvem nesse processo para obter resultados
positivos e tratar as fragilidades do próprio sistema de acolhimento dessas vítimas.

Palavras-chave: mulheres; violência de gênero; desafios.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n. 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 17 de
mar. de 2023.

BARRA DO BUGRES. Cartilha da Rede de proteção e enfrentamento à violência contra


a mulher de Barra do Bugres/MT.

DATA FOLHA/FBSP. Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil. 4. ed. 2023.


Disponível em: https://assets-dossies-ipg-
v2.nyc3.digitaloceanspaces.com/sites/3/2023/03/visiveleinvisivel-2023-relatorio.pdf. Acesso
em: 17 mar. 2023.

101
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

ENCARCERAMENTO FEMININO E A DESIGUALDADE DE GÊNERO

Vimilla Sellenna Alves Ribeiro1


Evelin Mara Cáceres Dan2

A presente reflexão é fruto das discussões e estudos realizados pelo Projeto de pesquisa
Cidadania, Conflitos e Segurança Pública (2021-2023) da Universidade do Estado de Mato
Grosso. Tem como objetivo compreender a desigualdade de gênero que no presente contexto
faz com que mulheres sejam menos beneficiadas com absolvições ou liberações do que os
homens. As desigualdades entre homens e mulheres foram se estabelecendo ao longo da
história. Assim, os papéis assumidos por homens e mulheres não foram os mesmos nas
diferentes sociedades humanas. A escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir, em seu
livro O Segundo Sexo, publicado originalmente em 1949, pontua que: “Não se nasce mulher,
torna- se mulher”. Isto quer dizer que não é o corpo que determina as diferenças
comportamentais e os lugares sociais ocupados por homens e mulheres, mas sim as formas
como damos significado às diferenciações construídas em torno do sexo (Beauvoir, 1980, p.9).
Ou seja, é a construção social do gênero que explica tanto as diferenciações quanto as
desigualdades estabelecidas entre homens e mulheres. As desigualdades de gênero se
expressam nas mais variadas esferas da vida, abarcando desde o campo privado (a exemplo da
divisão sexual do trabalho doméstico), o campo educacional (desde a sua organização até a
produção de conhecimento), a esfera pública (tornando-se evidente no nível de acesso entre
homens e mulheres a posições sociais de prestígio, a espaços de tomada de decisão e ao mercado
de trabalho) etc. Vivemos em uma sociedade patriarcal onde a imposição de esteriótipos e
papéis sociais, em grande medida, fundamentam o punitivismo e o encarceramento feminino.
Isto porque o direito não é neutro. Pelo contrário, é fruto de um processo histórico e político.
Não por outra razão que o encarceramento feminino tem crescido exponencialmente, sendo que
o Brasil ocupa a 3ª maior população feminina encarcerada do mundo. Em 2022 possuía 42.694
mulheres e meninas presas provisoriamente ou condenadas.

Palavras-chave: cárcere; mulheres; desigualdade de gênero.

REFERÊNCIAS

BEAUVOIR, Simone de. O Segundo sexo. v. II. A experiência vivida. Rio de Janeiro, Nova
Fronteira, 1980.

CARNEIRO, Beatriz. Brasil ultrapassa Rússia e se torna país com 3° maior número de mulheres
presas. CNN BRASIL. 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/brasil-

1
Discente do curso de Direito da UNEMAT – Barra do Bugres.
2
Orientadora FAPEMAT/UNEMAT, Professora Adjunta da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas da
UNEMAT, Doutora em Ciências Jurídicas e Sociais (PRPPG/UFF). Coordenadora do Projeto de Pesquisa
Cidadania, Conflitos e Segurança Pública, vinculado à Linha de Pesquisa Segurança Pública, Administração de
Conflitos Sociais e da Justiça Criminal do Grupo de Pesquisa “Políticas Públicas, Direito, Estado e Sociedade –
PPDES” (CNPQ). E-mail: evelindan@unemat.br.

102
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

ultrapassa-russia-e-se-torna-pais-com-3-maior-numero-de-mulheres-
presas/#:~:text=presas%20%7C%20CNN%20Brasil-
,Brasil%20ultrapassa%20R%C3%BAssia%20e%20se%20torna%20pa%C3%ADs%20com,m
aior%20n%C3%BAmero%20de%20mulheres%20presas&text=O%20Brasil%20%C3%A9%2
0o%20pa%C3%ADs,pelo%20World%20Female%20Imprisonment%20List. Acesso em: 02
jul. 2023.

CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a


partir de uma perspectiva de gênero. In: ASHOKA Empreendimentos Sociais; TANAKO
Cidadania. (orgs). Racismos contemporâneos. Rio de Janeiro; Takano Editora, 2003.

103
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

DESCUMPRIMENTO DAS MEDIDAS PROTETIVAS - LEI MARIA DA


PENHA

Gabriela Santos Braga1


João Vitor Marciniak de Abreu2

O tema a qual será abordado no presente trabalho é pertinente ao Descumprimento das Medidas
Protetivas da Lei Maria da Penha, ressaltando suas mudanças decorrentes da promulgação da
Lei 13.641/18 a respeito das questões penais. Dificilmente, em todo contexto histórico da
humanidade, não é possível encontrar um momento em que a mulher não tenha sido subjugada,
principalmente em decorrência da existência da figura patriarcal, sendo um sistema social que
infelizmente ainda encontra- se inserida em diversos contextos familiares. Nesse sentido,
detendo do pensamento de superioridade, o marido fazia o que bem entendia, até mesmo
violentar sua própria mulher domesticamente tornando-a submissa as suas vontades. Após o
fato ocorrido com Maria da Penha Maia Fernandes, no qual foi fruto de violências domésticas
e tentativas de homicídios por parte de seu marido, e em decorrência destes fatos lastimáveis
acarretarem uma repercussão mundial, foi criada a Lei 11.340/06, isto é, a Lei Maria da Penha,
trazendo em seu corpo legislativo medidas protetivas para sanar, ou ao menos diminuir a
frequente violência doméstica. Estas medidas previstas anteriormente têm como principal
desígnio a proteção da figura da mulher, visto todo o trauma sofrido durante anos por ser
considerada incapaz diante da figura masculina. Hoje, a Lei busca assegurar a dignidade
humana de todas as pessoas que se identifiquem com o sexo feminino, sejam heterossexuais,
homossexuais e mulheres transexuais. Por ser focada no combate à violência doméstica,
também ampara homens que sofram este tipo de violência. Partindo desta premissa, nos moldes
do artigo 8º, da Lei 11.340/06, é dever da União, Estados e Municípios prevenir a violência
doméstica por meio de ações governamentais e não governamentais. Outrossim, o Poder
Executivo, por intermédio do Poder Judiciário, Ministério Público e a Defensoria Pública,
devem realizar operações na área da segurança pública, bem como da assistência social, a fim
de assegurar a saúde e integridade física da mulher. Como possível solução para o cerceamento
da violência doméstica existe, em lei, as medidas protetivas que ajudam a garantir os direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, buscando preservar a saúde física e mental das
vítimas. Conforme dispõe os artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha, há medidas protetivas de
urgência que são decretadas de imediato pelo Magistrado, em decorrência da vítima ter sofrido
danos e estar em perigo eminente. Vale ressaltar que a Sexta Turma do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) concluiu que a violência doméstica contra a mulher constitui delito de ação penal
pública incondicionada, ou seja, não é necessário que a vítima impulsione a sua investigação o
o ajuizamento da ação penal, ela pode ser movida pelo Ministério Público (Súmula 542).
Devido ao número crescente e a gravidade das violências domésticas houve uma recente
alteração, o artigo 41 da Lei 11.340/06 afastou a competência do Juizado Especial para
processar e julgar crimes cometidos contra mulheres em âmbito doméstico e familiar, O rito
processual dependerá da pena máxima cominada para o delito, porém mesmo que a pena seja

1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina.
2
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina.

104
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

inferior a 2 anos a lei veda expressamente a aplicação da Lei 9.099/95. Entretanto, mesmo
havendo legislação prevista para a prevenção e proteção da mulher em relação a violência
doméstica, está se faz ineficiente em certos parâmetros. No que tange a assistência social do
Estado e do Poder executivo, estes ainda são insuficientes, pois em muitos casos as vítimas da
agressão não sabem quem, ou onde procurar e fica mercê desta lastima. Além disto, em muitas
situações a própria ofendia retira a queixa, após reconciliar novamente com o agressor,
permanecendo neste ciclo sem fim. Portanto, em virtude do que foi dito, faz necessário a
atuação mais intenção do Estado no exercício da Lei Maria da Penha, fazendo com que esta
seja aplicada em prol dos direitos das mulheres, defendo a dignidade humana delas.

Palavras-chave: violência doméstica; lei Maria da Penha; medidas protetivas.

REFERÊNCIAS

RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. São Paulo: Grupo GEN, 2023.

105
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

BREVE PANORAMA SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS


A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NO BRASIL E NO MATO
GROSSO

Kailane Zoz1
Vívian Lara Cáceres Dan2

No presente estudo serão apresentados dados e análise sobre a implementação de políticas


públicas voltadas às populações em situação de rua no Brasil e Mato Grosso. A ausência de
informações precisas sobre as pessoas em situação de rua representa um obstáculo a mais para
a formulação de políticas e realização de ações efetivas que promovam dignidade a esse
segmento. Como o fenômeno é complexo, a implementação de políticas públicas voltadas para
esse grupo é um grande desafio. Por isso, é válido destacar a importância da pesquisa e
divulgação de dados para aumentar a visibilidade desse problema social. Trata-se de uma
pesquisa de cunho quanti-qualitativa que aborda índices estatísticos do IPEA, com etapa
bibliográfica e outra documental com consulta a nota técnica, Resolução do CNJ, cartilha do
Ministério Público, política pública e reportagens. A Resolução nº 425 de 08/10/2021 institui,
no âmbito do Poder Judiciário, a Política Nacional Judicial de Atenção a Pessoas em Situação
de Rua e suas interseccionalidades. Essa política tem como objetivo garantir a proteção,
promoção e defesa dos direitos humanos das pessoas em situação de rua, considerando as
múltiplas formas de dispensa e exclusão social que podem afetá-las, como gênero, raça,
orientação sexual, idade, entre outras. A resolução é aplicável a todos os órgãos do Poder
Judiciário, bem como aos demais órgãos e entidades que atuam na proteção dos direitos das
pessoas em situação de rua. Ter uma identificação civil é muito importante para conseguir usar
serviços públicos, benefícios sociais, assistência e aposentadoria. Sem isso, é difícil ter acesso
a esses direitos básicos. A Resolução CNJ n. 425, de 2021, ajudou a criar mutirões em que
tribunais e outros órgãos públicos trabalham juntos para ajudar as pessoas sem identificação a
conseguir esse documento e outros serviços públicos. Isso contribui para tirar essas pessoas da
invisibilidade legal e social. Através de uma breve pesquisa realizada no próprio site do CNJ,
até março de 2023 não foi noticiada nenhuma manifestação do Estado de Mato Grosso em
relação à Resolução n° 425/2021, embora diversos outros Estados já divulgaram eventos
realizados em prol dessa Resolução e com alavancagem de desenvolvimento da mesma, como
por exemplo o Estado do Mato Grosso do Sul, Roraima, Acre, Paraná, dentre outros. Por outro
lado, anteriormente à Resolução supramencionada, o Estado do Mato Grosso publicou o decreto
n° 693 de 20 de outubro de 2020, que instituiu o Comitê Intersetorial de Acompanhamento e
Monitoramento da Política Estadual para a População em Situação de Rua de Mato Grosso
(CIAMP Rua/MT). O objetivo é o de promover ações para garantir o cumprimento dos direitos

1
Graduanda no curso de Direito da Universidade Estadual do Estado de Mato Grosso; E-mail:
kailane.zoz@unemat.br.
2
Docente Adjunta do curso de Bacharelado em Direito, campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado
de Mato Grosso (UNEMAT). Coordenadora do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para
minorias no Mato Grosso; Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Estado e Sociedades (PPDES –
CNPq). E-mail: vivian.dan@unemat.br.

106
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

da população em situação de rua e desenvolver políticas públicas que visem à promoção de sua
inclusão social. O Comitê é composto por representantes do governo estadual, municípios
mato-grossenses, organizações da sociedade civil e pessoas em situação de rua, coordenado
pela Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania de Mato Grosso. Dentre suas
atribuições destacam-se: a elaboração de planos e programas, a proposição de medidas para
prevenção e redução do número de pessoas em situação de rua, a promoção de estudos e
pesquisas sobre a temática, entre outras. O decreto ressalta que a iniciativa é importante para a
promoção da cidadania e da dignidade das pessoas em situação de rua em Mato Grosso. Apesar
de ser um Decreto de alta qualidade, a primeira e única reunião ordinária desse comitê ocorreu
em Cuiabá/MT, no dia 16 de dezembro de 2021, na qual foram empossados os membros
representantes do Governo do Estado, da Sociedade Civil e do Fórum Pop Cuiabá, dando início
às atividades do Comitê, apresentando os objetivos e finalidades para a população em situação
de rua a partir daquela perspectiva. Após essa ação não houve mais informações relacionadas à
execução e efetividade dessa política pública. Dessa forma, percebe-se a ausência de
monitoramento e avaliação das políticas públicas, e que neste caso, não se pode afirmar que é
efetiva uma vez que esses dados não estão disponíveis para mensurar sua eficácia e efetividade.
Outro fator que possivelmente dificulta a consulta aos dados é que os mesmos nem sempre
estão sendo compartilhados com a sociedade civil impossibilitando a construção de um
panorama completo desse problema social e como está sendo tratado. Por fim, ainda há um
estigma e preconceito em relação à população em situação de rua, o que pode levar a
subnotificação dos casos e à falta de interesse por parte dos órgãos públicos e da sociedade em
geral em coletar e divulgar informações sobre essa população. Diante desses desafios, é
fundamental que haja a implementação em políticas públicas para essa população e que seja
possível pesquisas que visem a compreender melhor a realidade da população em situação de
rua no Brasil e avaliar essas políticas que visem garantir direitos.

Palavras-chave: população em situação de rua; políticas públicas; invisibilidade.

REFERÊNCIAS

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ). Resolução n. 425, de 08 de outubro de 2021.


Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/4169. Acesso em: 24 mar. 2023.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ). Política Nacional de Atenção às Pessoas em


Situação de Rua e suas interseccionalidades. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/direitos-humanos/politica-nacional-de-atencao-as-
pessoas-em-situacao-de-rua-e-suas-interseccionalidades/. Acesso em: 24 mar. 2023.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ). Corregedoria discute direitos de população


em situação de rua em audiência pública no STF. 2022. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/corregedoria-discute-direitos-de-populacao-em-situacao-de-rua-em-
audiencia-publica-no-
stf/#:~:text=Desde%20a%20edi%C3%A7%C3%A3o%20da%20Resolu%C3%A7%C3%A3o,
nas%20ruas%20das%20grandes%20cidades. Acesso em: 24 mar. 2023.

107
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

MATO GROSSO. Decreto nº 693, de 20 de outubro de 2020. Disponível em:


https://leisestaduais.com.br/mt/decreto-n-693-2020-mato-grosso-institui-o-comite-
intersetorial-de-acompanhamento-e-monitoramento-da-politica-estadual-para-a-populacao-
em-situacao-de-rua-de-mato-grosso-ciamp-rua-mt. Acesso em: 24 mar. 2023.

SECRETARIA DO ESTADO DE ASSISTENCIA SOCIAL E CIDADANIA (SETASC).


Setasc instala Comitê Intersetorial voltado para a população em situação de rua. [s.d.].
Disponível em: https://www.setasc.mt.gov.br/-/18648819-setasc-instala-comite-intersetorial-
voltado-para-a-populacao-em-situacao-de-rua. Acesso em: 24 mar. 2023.

108
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

O TRABALHO DO CARE EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA


PERMANÊNCIA PARA IDOSOS NO MUNICÍPIO DE BRASNORTE/MT

Marcio Luis Saedt Saunali Cecato1


Fabio De Medina Da Silva Gomes2

A presente reflexão é fruto dos estudos e debates realizados no Projeto de Pesquisa Cidadania,
Conflitos e Segurança Pública. A pesquisa tem como objeto uma instituição de longa premência
de idosos no município de Brasnorte e tem como objetivo a investigação às práticas
institucionais a partir do conceito de care, termo este usado dentro do estado da arte atual para
definir e explorar o trabalho, as práticas institucionais e sociais que envolvem no âmbito
privado, público e comunitário o tema do cuidado. As disciplinas neste sentido que voltam sua
preocupação e análise desta temática estão dispostas na sociologia do direito, no direito do
trabalho, passando pela economia e pela antropologia. Os pesquisadores em questão se
debruçarão na busca dos dados através de uma vivência pessoal como profissional da psicologia
pertencente a rede de proteção socioassistencial, ou seja, terá, uma perspectiva autobiográfica
e participante do processo de cuidado de pessoas idosas na rede de atenção psicossocial. Além
disso, se necessário, e em segundo momento para uma interseção mais próxima in loco, serão
utilizados os métodos investigativos das entrevistas semi-estruturadas com trabalhadores da
instituição e também com técnicas de observação e exploração do ambiente e suas práticas de
cuidado, tudo isso a partir do método do trabalho de campo. Levar-se-á em conta, em nossa
análise os dados concernentes aos marcadores sociais que permeiam as relações de trabalho
(cuidador e cuidado) e possíveis conflitos decorrentes destas condições de trabalho voltado ao
público idoso. Da mesma forma, marcadores estatísticos também serão levados em
consideração como por exemplo o perfil profissional dos pesquisados. Por fim, ainda no sentido
do entendimento da dimensão dos possíveis conflitos e características do cuidado local, a
pesquisa investigará os sentidos pessoais (subjetivos) dos trabalhadores buscando entender
como estes próprios se definem como sujeitos ativos no processo de cuidado. Analisando-se
então as afetividades e as emoções adjacentes a práxis deste tipo de labor podem-se
compreender quais seriam supostamente os atributos necessários que se coloca a este tipo de
atividade como por exemplo, quando um perfil supostamente deveria ser mais “ideal”,
“necessária” ou em outra ponta da dicotomia como "desnecessária" e/ou “ruim” para o exercício
do cuidado. Por fim, há a expectativa de se cruzar dados em uma discussão sobre se os achados
corroboram ou não ao que a literatura atual nos apresenta como por exemplo sobre como estão
sendo configurados os perfis profissionais, os discursos identitários e os possíveis conflitos de
afetivos e de trabalho gerados no trabalho do care.

Palavras-chave: cuidado; trabalho; políticas públicas.

1
Bacharel em Psicologia e atualmente bacharelando do curso de Direito parcelada Brasnorte (MT) vínculada ao
curso de Direito Campus Barra do Bugres. Membro do Projeto de Pesquisa Cidadania, Conflitos e Segurança
Pública (portaria n. 2108/2021), Unemat, Barra do Bugres – MT. E-mail: marcio.saunali@unemat.br.
2
Doutor em Antropologia pela UFF, Mestre em Direito pela mesma instituição e Bacharel em Direito pela UFRJ.
Pesquisador do INEAC-UFF e do PPDES-UNEMAT. Professor da FACET-UNEMAT- BBG. E-mail:
fabio.medina@unemat.br.

109
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

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GUIMARÃES, Nadya Araujo; HIRATA, Helena Sumiko; SUGITA, Kurumi. Cuidado e


cuidadoras: o trabalho de care no Brasil, França e Japão. Sociologia & antropologia, v. 1, p.
151-180, 2011.

HIRATA, Helena. O cuidado: teorias e práticas. Boitempo Editorial, 2022.

OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. Revista de


antropologia, p. 13-37, 1996.

REZENDE, Claudia Barcellos; COELHO, Maria Claudia. Antropologia das emoções. Rio de
Janeiro: Editora FGV, v. 136, p. 1, 2010.

110
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

AS AUSÊNCIAS DO ESTADO EM RELAÇÃO ÀS POLÍTICAS


PÚBLICAS PARA A JUVENTUDE NEGRA NA DE PROMOÇÃO DE
IGUALDADE RACIAL

André do Prado Silveira1


Natalia Alencar Cantini2
Vivian Lara Cáceres Dan3

O presente trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão a respeito das políticas públicas de
igualdade racial adotadas em relação à juventude negra no Brasil. Para isso, realizou-se análises
de dados estatísticos sobre a taxa de mortalidade desse grupo, bem como ficou evidente a baixa
efetividade das políticas públicas e a falta de proposição de novas políticas pelo Estado e ainda,
da discriminação em ocorrência do racismo estrutural instaurado na sociedade brasileira.
Inicialmente, é possível ter uma amostra de que no Brasil a violência está matando mais os
jovens negros. Conforme demonstrado pelo Atlas da violência de 2020: 30.873 jovens negros,
cuja idade entre 15 e 29 anos foram assassinados. De 2008 a 2018, a taxa de mortalidade desse
segmento da população passou de 53,3 para 60,4 por 100 mil jovens. Ainda, de acordo com o
Atlas da Violência, do total de óbitos, 55,6% foram entre jovens de 15 a 19 anos (IPEA, 2020).
Posto isso, ao realizar uma análise mais profunda sobre esse fenômeno é possível afirmar sua
relação com o racismo estrutural na sociedade brasileira. Nesse cenário, torna-se perceptível a
ausência de políticas públicas que promova a igualdade racial reforçando a grande mortandade
relativa a esse grupo social de juventude negra no Brasil. Para além disso, denota-se que não
basta apenas propor políticas, mas também, possibilitar cenários onde essas políticas possam
ser efetivamente colocadas em prática em realidades múltiplas, tendo em vista o espaço
geográfico, cultural e socioeconômico dos indivíduos em que esse grupo social está inserido. A
este respeito, existe um grande desafio a frente para superação da desigualdade racial a começar
pela taxa de informalidade. Segundo o G1, que publicou dados do Instituto Geográfico
Brasileiro (IBGE), em 2021, “a taxa de informais entre a população branca era de 32%; já entre
pretos de 43% e pardos de 47%” (G1, 2022). Ou seja, a proporção de pobres entre pretos e
pardos chega a ser o dobro em relação aos brancos segundo a pesquisa divulgada. A
informalidade está ligada à vulnerabilidade social e isso reflete em rendimentos menores e este
é apenas o início do ciclo de exclusão. Nesse mesmo contexto, a taxa de desocupação também
acaba sendo maior entre pretos e pardos. Na prática, a evidência desses dados, demonstra o
conceito utilizado pelos autores Lemons et al “Fazer viver e deixar morrer”, ou seja, o Estado
se mantém inerte diante situações de extrema desigualdade social que ocorrem em detrimento

1
Acadêmico do curso de bacharelado em Direito, do campus de Barra do Bugres da Universidade do Estado de
Mato Grosso (UNEMAT). Bolsista PROBIC/FAPEMAT. Email: andre.silveira@unemat.br.
2
Bacharel em Direito, membro do grupo de pesquisa “Observatório de Políticas Públicas para minorias do Mato
Grosso”. Email: natalia.cantini@unemat.br.
3
Docente Adjunta do curso de Bacharelado em Direito, campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado
de Mato Grosso (UNEMAT). Coordenadora do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para
minorias no Mato Grosso; Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Estado e Sociedades (PPDES –
CNPq). E-mail: vivian.dan@unemat.br.

111
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

de específicos grupos sociais, hierarquizando os corpos e saberes, em uma escala muitas vezes
respaldada pela meritocracia e merecimento de direitos e de uma vida digna, oferecendo e
efetivando essa realidade para apenas uma parcela de indivíduos (Wacquant, 2003). Segundo
Silva (2011), ser jovem acarreta a característica de ser “singular”, sendo assim, condiciona uma
variante de vontade, desejos e perspectivas, e no Brasil, pode-se constatar que o Estado passa a
negar a juventude dos jovens negros, pois, apenas a condicionante da idade não os possibilita
vivenciar sua condição humana nessa etapa da vida. Dessa forma, o olhar projetual dos órgãos
de poderes para os jovens negros, não é um olhar neutro, ou seja, é um olhar que percebe seu
local de alcance positivo dentro de uma sociedade, mas não o faz, pois se constrói e externaliza
de forma estruturalmente racista. (LEMONS et al, 2017, p.168). Em vista disso, devem ser
pensadas políticas que visem a diminuição da exposição desses jovens à vulnerabilidade da
sociedade e, portanto, oferecendo acesso aos direitos básicos e fundamentais como à igualdade,
à educação, à saúde, à moradia etc. Para além disso, no âmbito estadual, foi analisado o plano
de ação do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial de Mato Grosso (CEPIR-MT),
para o ano de 2020, em relação aos jovens negros. Assim, constatou-se que foi realizado
somente um encontro no decorrer do ano, cuja sua meta estabelecida foi: debater sobre os
problemas enfrentados pela juventude negra de Mato Grosso e formar jovens líderes. Desta
forma, fica evidente a falta de planejamentos, reuniões e investimentos por parte do Governo
Estadual para a promoção de políticas públicas de igualdade para a juventude negra. Outrossim,
foi analisado o plano de ação do Conselho Estadual da Juventude (CONJUV) MT, no período
de 2020-2022, e constatou-se que, ainda não existem dados concretos a respeito das dimensões
da violência contra os jovens no estado de Mato Grosso, ou seja, a pesquisa nessa área está
incipiente, pois as atas no site só existem até o ano de 2019, o que indica um negligenciamento
dos órgãos estatais para essa parcela da população, comprovando que o racismo também está
institucionalizado e acaba por se materializar, pois além de não se posicionar e buscar conhecer
a realidade dos jovens do estado, não chegam a conhecer quem são os jovens de Mato Grosso,
onde e como vivem e demais índices. Diante do exposto, é necessário que haja uma atenção
maior sobre as desigualdades que ao longo da história vem se mostrando cada vez mais
acentuadas e relacionadas à cor da pele do indivíduo, bem como, do racismo institucionalizado.
Portanto, é coerente a cobrança dos órgãos estatais e, a construção e a melhoria das políticas
públicas de igualdade que atinjam esses grupos raciais que estão sem acessar seus direitos e
garantias fundamentais.

Palavras-chave: juventude; desigualdade; racismo estrutural.

REFERÊNCIAS

IPEA. Atlas da violência 2020. IPEA, 2020. Disponível em


https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/24/atlas-da-violencia-2020. Acesso em: 23
mar. 2023.

LEMOS, Flávia Cristina Silveira; AQUIME, Rafaele Habib Souza; FRANCO, Ana Carolina
Farias; PIANI, Pedro Paulo Freire. O extermínio de jovens negros pobres no Brasil: práticas
biopolíticas em questão. Pesquisas e Práticas Psicossociais, v. 12, n. 1, jan./abr. 2017.

112
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1809-


89082017000100012. Acesso em: 25 abr. 2023.

MAZZINI, M.; Silva, H. NUNES, M.; SOUZA, W. Políticas públicas de juventude e igualdade
racial: resgatando agendas, concepções e trajetórias à luz da interseccionalidade. In:
ENCONTRO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. 9. 2022. São Paulo/SP.
Anais [...]. São Paulo/SP: Sociedade Brasileira de Administração Pública, 2022. Disponível
em: https://sbap.org.br/ebap/index.php/home/article/view/371. Acesso em: 04 jul. 2023.

SETASC. Conselho Estadual da Juventude (CONJUV-MT). Disponível em


https://www.setasc.mt.gov.br/apresentacao11. Acesso em: 24 mar. 2023.

SETASC. Plano de ação Conselho Estadual da Juventude: CONJUV 2020-2022.


Disponível em: https://www.setasc.mt.gov.br/plano-estadual9. Acesso em: 23 mar. 2023.

SETASC. Plano de ação do conselho estadual de promoção da igualdade racial de Mato


Grosso para o ano de 2020. CEPIR, 2020. Disponível em:
https://www.setasc.mt.gov.br/plano-estadual6. Acesso em: 23 mar. 2023.

SILVA, R. S.; SILVA, V. R. Política Nacional de Juventude: trajetória e desafios. Caderno


CRH, v. 24, n. 63, p. 663-678, 2011.

WACQUANT, Loic. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. Rio de
Janeiro: Revan, IBCCRIM, 2003.

113
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

EMBRIAGUEZ AO VOLANTE: CULPA CONSCIENTE,


INCONSCIENTE OU DOLO EVENTUAL

Atila Mikaelle Abreu Pereira1

Este breve resumo, tem objetivo de analisar o crime de trânsito (embriaguez ao volante), no que
tange à vontade e consciência do agente, será feita a diferenciação entre dolo eventual e culpa
consciente à luz do direito processual penal. A fronteira entre o dolo eventual e a culpa
consciente, na prática, é estreita e de grande dificuldade de comprovação devido a sua relação
com a vontade do agente; em ambos o resultado é previsto, contudo, no primeiro, o agente
aceita e assume o risco da ocorrência, enquanto que no segundo, o agente tem a convicção de
que o resultado não ocorrerá ou que poderá evitá-lo. Nos termos do artigo 18, do Código Penal
temos: "diz-se o crime doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-
lo". Nos tipos dolosos dos crimes devem existir dois elementos, que são condições essenciais
para suas caracterizações, a consciência e a vontade. O Código Penal Brasileiro traz o dolo
como regra e a culpa como exceção, disposto no parágrafo único do artigo 18, deixa claro que
todo crime é doloso, somente havendo a possibilidade de punição pela prática de conduta
culposa se a lei expressamente o previr., no dolo eventual o agente, embora não querendo
diretamente praticar a infração penal, não se abstém de agir e, com isso, assume o risco de
produzir o resultado que por ele já havia sido previsto e aceito. De acordo com o artigo 18,
inciso II, do Código Penal, diz-se culposo o crime quando o agente deu causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia. Logo, ou o agente atua dolosamente. A culpa
inconsciente distingue-se da culpa consciente justamente no que diz respeito à previsão do
resultado; naquela, o resultado, embora previsível, não foi previsto pelo agente; nesta o
resultado é previsto, mas o agente, confiando em si mesmo, nas suas habilidades pessoais,
acredita sinceramente que este não venha a ocorrer. A culpa inconsciente é a culpa sem previsão
e a culpa consciente é a culpa com previsão. Na culpa consciente, o agente, embora prevendo
o resultado, acredita sinceramente na sua não ocorrência; o resultado previsto não é querido ou
mesmo assumido pelo 23 agente. Já no dolo eventual, embora o agente não queira diretamente
o resultado, assume o risco de vir a produzi-lo. Na culpa consciente, o agente, sinceramente,
acredita que pode evitar o resultado; no dolo eventual, o agente não quer diretamente produzir
o resultado, mas, se este vier a acontecer, pouco importa. Conforme trata o código penal no art.
306 “Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro
de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra
substância psicoativa que determine dependência. Penas - detenção, de seis meses a três anos,
multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor”. Embriaguez ao volante é um crime de mera conduta que não exige como resultado
o dano efetivo, mas somente a prática descrita no tipo penal, ou seja, "os crimes de mera
conduta, ou de simples atividade, se consumam com a simples prática do ato. Ao contrário dos
crimes formais, não chega a haver previsão legal de qualquer resultado naturalístico" (Moreira,
2009). A conduta do agente abrange conduzir veículo automotor estando sob influência de
álcool ou droga e que o faça em via pública. A conduta é dolosa. O sujeito ativo desse crime

1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Campus Nova Xavantina.

114
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

pode ser qualquer pessoa, que tenha a habilitação ou não, que esteja na condução do veículo. O
sujeito passivo é a coletividade, logo trata-se de crime vago e, se houver efetivo dano, também
o será a vítima do dano. O "caput" deste artigo estipula o limite permitido de álcool no sangue,
para fins penais, que não poderá ser igual ou superior a 6 decigramas, por litro de sangue; porém
é o Decreto n. 6.488/2008 que regulamenta os testes que aferirão esta concentração e, assim,
possibilitar a tipificação do crime. A dúvida entre a aplicação do dolo eventual ou da culpa
consciente nos crimes de trânsito causados por embriaguez ao volante é recorrente e tumultua
o ordenamento jurídico. No entanto, o Direito não é uma ciência exata, precisando-se analisar
provas, circunstâncias e elementos em cada caso concreto para a constatação de que o resultado
foi ocasionado por dolo ou por culpa. Quando o sujeito se embriaga propositalmente para tomar
coragem de atropelar e matar o amante da namorada, por exemplo, está agindo claramente com
dolo, pois há vontade em cometer o crime, utilizando-se assim o código penal. Entretanto, em
outros casos em que a pessoa faz uso de álcool, mas não tem a finalidade e nem assume o risco
de matar alguém, pode ser aplicado o instituto da culpa consciente. Se o agente praticar lesões
corporais ao dirigir sob efeito de álcool ou outra substância psicoativa por culpa, estará
classificado na modalidade da imprudência, aplicando-se o art. 303 do código de trânsito,
aumentando a pena de um terço a metade. Caso a situação demonstre que houve dolo eventual
ao ingerir a bebida alcoólica, será aplicado o código penal a título de crime doloso.

Palavras-chave: dolo eventual; culpa consciente; culpa inconsciente; culpa.

REFERÊNCIAS

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Geral, v.1. 13. ed. Rio de Janeiro: Editora
Impetus, 2011.

JESUS, Damásio de. Crimes de Trânsito. 4. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2000.

MOREIRA, Alexandre Magno Fernandes. Classificação das infrações penais. Disponível em:
http://www.lfg.com.br/. Acesso em: 20 maio 2023.

115
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS BRASILEIRO

Nayra Caroline Nascimento dos Santos1

Para compreender os tipos de sistemas processuais penais, primeiro é necessário entender o


significado da palavra “sistema”. Originalmente, um sistema no sentido jurídico é um composto
de normas que são coordenadas e intimamente relacionadas que atuam como um suporte dentro
de um sistema jurídico. Consequentemente, para que um sistema exista, é essencial a presença
de uma ideia fundadora e de uma reunião de regras dela derivadas. Consequentemente, basta
determinar o princípio unificador de cada sistema processual penal para saber qual sistema é
problemático. Cada sistema é, portanto, regido por um único princípio unificador (ideia
fundamental) e dele derivam as demais regras que devem ser interpretadas nesta perspectiva.
Portanto, existem três sistemas de processo penal no ordenamento jurídico, a saber, o sistema
investigativo ou inquisitivo, o sistema acusativo e o sistema misto. O sistema de interrogatório
tem origem na Inquisição, cuja finalidade era investigar e punir os infiéis do clero. No sistema
de interrogatório, os juízes convocam reuniões para exercer as funções de acusar, julgar e
defender o investigado, que se limita ao objeto do julgamento. A ideia fundadora desse sistema
é que o juiz é o administrador da prova, sendo ele o produtor e executor da prova. O sistema de
interrogatório tem as seguintes características: montagem funcional: o juiz ouve, indicia e
defende; não há partes; as pessoas são objetos, portanto não há que se falar em contradições,
ampla defesa, devido processo legal etc.; a confissão é a rainha dos julgamentos e a existência
da presunção de culpa. O arguido é culpado, salvo prova em contrário. O juiz, como gestor da
prova, busca provas que comprovem sua visão dos fatos. Desta forma, os padres absorviam a
força da congregação, e sabiam de tudo o que acontecia no local quanto às confissões e
reclamações dos fiéis, e nesse período era avaliado o julgamento. O testemunho do clero ou dos
nobres tinha mais valor, assim como o testemunho das mulheres. As confissões são absolutas e
irrevogáveis. Diferentemente do primeiro sistema citado (inquisitivo), há um princípio
unificador no sistema de acusação de que o administrador das provas é um órgão diferente do
juiz. Há uma clara distinção entre as funções de acusação, julgamento e defesa, que não existe
no sistema de interrogatório. Então o juiz é imparcial, apenas um juiz, não apresentando provas
ou defendendo o acusado. Possíveis antecessores desse sistema processual contraditório foram
a Magna Carta, a Petição de Direitos, a Declaração de Direitos e o Iluminismo. Para entender
melhor esse sistema, suas principais características são que as partes são as gestoras da prova,
as funções de acusação, julgamento e defesa são separadas, o processo é aberto, as exceções
previstas em lei, e o réu é o réu, não necessariamente mais o objeto de investigação, garantindo-
se, portanto, o contraditório do acusado, a ampla defesa, o devido processo legal e demais
princípios restritivos do poder punitivo da presunção de inocência. Em resumo o sistema
processual misto aborda características dos dois sistemas citados anteriormente, possuindo duas
etapas: a primária inquisitória e a secundária acusatória, sendo este conceito originado do
Código de Napoleônico de 1808. A primária transparece o sistema inquisitório onde o
procedimento começa pelo juiz as provas, resquícios ou informações necessárias para
fundamentar-se sua acusação no juízo competente, obedecendo assim aquele sistema
inquisitório de que o juiz é o gestor das provas. A secundária é a processual, é nesta parte que

1
Discente do Curso de Direito de Nova Xavantina.

116
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

há a separação de funções de defensor, acusador e julgador. Mas é considerado uma falsa fase
porque ainda sim o juiz quem é o gestor de provas, onde no sistema acusatório o juiz deve ser
imparcial. Há uma crítica em relação ao procedimento brasileiro que seria reconhecido como
misto por possuir duas etapas, a pré-processual e a fase processual (judicial). Complementando
o raciocínio, cada sistema possui uma ideia base afim de que possa interpretar as características
deles. É de suma importância a política do Estado, pois quanto mais autoritário menos garantias
para o acusado e quanto mais democrático o Estado maiores serão as garantias para ao acusado.

Palavras-chave: sistema; inquisitório; acusatório.

REFERÊNCIAS

BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo Penal. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2017.

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. Saraiva. 17. ed. São Paulo, 2010.

RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 12. ed. São Paulo: Lúmen Iuris. 2007.

TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 3. ed. Salvador: Jus Podivm. 2009.

117
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

OS REVESES DA MULHER NEGRA PARA SE INSERIR NO


MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL

Mayres da Silva Araújo Ribeiro1


Antônio Leonardo Amorim2

O presente resumo promove discussões de pautas sociais, como forma de discutir a


discriminação, a desigualdade salarial, como também, o espaço racializado de determinadas
profissões que atingem diretamente a mulher negra. O objetivo é apresentar dados estatísticos
que demonstrem a discriminação que a mulher preta/parda enfrenta para acessar o mercado de
trabalho, pois ainda que seja habilitada com formação específica e preencha todos os requisitos
que o empregador exige na contratação, os desafios que elas enfrentam para se inserir no
ambiente corporativo é excessivo. Embora a população brasileira seja constituída por 51,1%
pelo gênero feminino o que representa 4,8 milhões de mulheres a mais do que homens segundo
os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgada
em julho de 2022 retratada pelos indicadores do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatísticas. Os dados reforçam a falta de equidade e oportunidade sofrida pelo maior grupo
populacional do Brasil, uma vez que o país é representado por 54% de negros na sua população,
destes 28% são mulheres pretas/pardas. É fato, que nos últimos anos as mulheres conseguiram
trazer a pauta “igualdade de gênero” para as mesas das reuniões corporativas e até explanar nos
meios jornalísticos as questões salarias dissemelhante para funções iguais, porém, a equidade
salarial em face da igualdade de gênero no mercado de trabalho está longe de ser superada.
Principalmente, quando se traz “dados raciais x salário e oportunidade de emprego” o Brasil
embora seja representado por uma população negra, eles ainda são minorias em cargos de
lideranças, com menos espaço estão as mulheres negras. É o que aponta um estudo realizado
pela consultoria Gestão Kairós, especialista em diversidade. O levantamento entrevistou 900
líderes (nível de gerência), desse número de entrevistados apenas 225 eram mulheres o que
representam um percentual de 25% dos cargos, destes, apenas 3% são mulheres negras,
indicando a escassez de mulheres negras nos cargos de liderança. A realidade é que para as
mulheres em geral chegarem ao topo do ambiente corporativo é extremamente difícil, todavia
para as mulheres negras existem desafios extras. Prova disso é o espaço racializado dos
trabalhadores remunerados do âmbito doméstico, no Brasil 92% do setor de serviço doméstico
é realizado por mulheres, e 65% são mulheres negras acima de 40 anos, foram esses os dados
divulgados pelo Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas – Dieese. Os números
representam 5,7 milhões de trabalhadores, a maioria sem carteira de trabalho assinada. Os dados
refletem um processo histórico de um país estruturado no racismo, o Brasil foi o último país do
Continente Americano a abolir o regime escravocrata além de ser o país que mais recebeu

1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Campus de Júlio. E-mail: mayres.araujo@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador vinculado ao
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.

118
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

pessoas escravizadas. A história mostra que essa organização de trabalho foi uma tragédia, para
os libertos não houve nenhuma política pública, nenhum programa por parte do governo da
época. Ficaram desprovidos de moradia, alimentação e saúde. Portanto, é urgente que o Poder
Público adote políticas públicas com intuito de melhorar o acesso a uma educação de qualidade
e consequentemente inserção ao mercado e trabalho, considerando a vulnerabilidade desse
grupo de mulheres, uma vez que os dados dos índices sociais provam a existência de incontáveis
obstáculos da mulher negra diante o mercado de trabalho. Essa exclusão começa a partir do
recrutamento e seleção, seguidos de uma entrevista discriminatória com perguntas desiguais
aos homens, uma entrevista que adentra a intimidade, tais como: “com quem ficará seus filhos
quando estiver no trabalho?” ou “quando pretende engravidar?” revelando os desafios da
mulher, sobretudo da mulher negra no mundo corporativo, principalmente se essas mulheres
forem moradoras de bairros considerados subúrbios, periferias e favelas. Desse modo levando-
se em consideração os aspectos mencionados, no que tange garantias de trabalho a mulher negra
está num patamar instável e suscetível a fatores discriminatórios de moradia, remuneração,
idade e principalmente cor. Assim, com este resumo foi possível refletir o que a mulher negra
sofre diariamente e descortinar a universalização de direitos da mulher negra que sempre é
medido com a régua de garantias obtidas pela mulher branca, expondo assim a falta de
representatividade da mulher negra seja no mercado de trabalho, universidades, ou no próprio
judiciário que ainda são minorias. Os índices demonstraram a desigualdade face as
oportunidades, e ainda qual a raça e sexo é taxada para o serviço doméstico que apesar de sua
essencialidade, não pode ser categórico. É preciso reconhecer o atual cenário, o processo
histórico e fomentar discussões que viabilize equidade salarial e oportunidades iguais para as
mulheres negras no mercado de trabalho. Nesse trabalho, utilizou-se de pesquisa de dados e
estatísticas, colhidos na plataforma de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua – PNAD, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE e Departamento
Intersindical de Estudos e Estatísticas – Dieese.

Palavras-chave: discriminação, racismo, mulher negra, mercado de trabalho.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Catarina. Cor, gênero e classe: os desafios da mulher preta. Brasil de Fato. 2020.
Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2020/07/08/cor-genero-e-classe-os-desafios-
da-mulher-preta. Acesso em: 19 abr. 2023.

DIESSE. Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Trabalho


Doméstico no Brasil. [s.d.]. Disponível em:
https://www.dieese.org.br/outraspublicacoes/2021/trabalhoDomestico.html. Acesso em: 20
mar. 2023.

GUIMARÃES, Grazi. Mulheres Negras são 28% da população brasileira, mas, ocupam apenas
3% dos Cargos de Liderança. Jornal ND. 2022. Disponível em:
https://ndmais.com.br/cidadania/mulheres-negras-sao-28-da-populacao-brasileira-mas-
ocupam-apenas-3-dos-cargos-de-lideranca/. Acesso em: 19 mar. 2023.

119
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

IBGE EDUCA. Conheça o Brasil população e cor. 2022. Disponível em:


https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18319-cor-ou-
raca.html#:~:text=O%20IBGE%20pesquisa%20a%20cor,9%2C1%25%20como%20pretos.
Acesso em: 19 mar. 2023.

120
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

O INSTITUTO DA TRANSAÇÃO PENAL NOS JUIZADOS ESPECIAIS


CRIMINAIS – DEFINIÇÃO, NATUREZA JURÍDICA E OBJETO

Nicolli Machado Pelachim1


Antônio Leonardo Amorim2

A Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais (9.099/1995), ao regular o disposto no artigo
98, inciso I, da Constituição da República Federativa do Brasil, foi introduzida no Direito
brasileiro com o intuito de possibilitar uma justiça consensual, para que desburocratizasse e
tornasse célere a tramitação do processo, visando a desentulhar o Judiciário brasileiro, cujo
processo tenha como objeto de julgamento, as contravenções penais e infrações de menor
potencial ofensivo. Esse resumo tem-se como objetivo geral conceituar o instituto da Transação
Penal no JECrim e como objetivo específico, esclarecer os principais aspectos, e fatores
relevantes dentro da temática. É preciso compreender e verificar os requisitos necessários para
que haja possibilidade de ser oferecido o instituto da transação penal previsto na legislação.
Utilizou-se de pesquisa bibliográfica, doutrinária e documental. De acordo com os artigos 2º e
62 da Lei 9.099/1995, determinou-se que os procedimentos em trâmite nos Juizados Especiais
orientar-se-ão pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e
celeridade, buscando sempre que possível, a conciliação ou a transação, e a reparação dos danos
sofridos pelas vítimas, bem como a aplicação de pena não privativa de liberdade. Nesse
contexto, tratar-se-á no presente texto, do instituto da transação penal, previsto no artigo 76,
caput, da Lei n.º 9.099/1995, estabelece que “havendo representação ou tratando-se de crime
de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público
poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada
na proposta”. Dessa forma, a transação penal é um instituto utilizado para a negociação da pena,
em que esta será antecipada, sendo a pena restritiva de direitos ou aplicação de multa, dispondo
o órgão acusatório da ação penal. Como bem explicita o artigo citado acima, o Ministério
Público, ainda na audiência preliminar, antes do oferecimento da denúncia, visto preencher os
requisitos necessários estabelecidos no artigo 76, § 2º, incisos I, II e III, oportunizará ao acusado
a transação penal, por se tratar de um direito subjetivo do acusado (garantido pelo ordenamento
jurídico). Segundo Fernando Capez (2013, p. 629) “o Ministério Público não tem
discricionariedade absoluta, mas limitada, uma vez que a proposta de pena alternativa somente
poderá ser formulada se satisfeitas as exigências legais. Por essa razão, tal faculdade do órgão
ministerial é denominada discricionariedade regrada ou limitada”. Contudo, não cabe ao órgão
acusatório escolher oportunizar a parte acusada ou não o instituto da transação penal, sendo
uma discricionariedade regrada ou limitada, pois incumbe ao Ministério Público apenas

1
Discente do curso de Direito na Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). E-mail:
nicolli.pelachim@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador vinculado ao
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.

121
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

verificar se foram preenchidos os requisitos e negociar a pena cabível, não havendo, portanto,
que se discutir o oferecimento ao acusado de cumprir pena antecipada. Ainda, vale ressaltar que
o instituto aqui discutido, muito tem ligação com o princípio da economia processual, que está
mencionado no artigo 2º da Lei 9.099/1995, sendo a intenção do legislador de que nos atos
processuais deve prevalecer a celeridade, bem como a economia processual, com o intuito de
solucionar de forma mais eficaz e ágil o processo. Tal princípio é norteador do procedimento
sumaríssimo, que são assim considerados as contravenções penais e os crimes a que a lei comine
pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa (art. 61, Lei
9.099/1995). Assim, nas ações penais públicas incondicionadas caberá oportunizar ao acusado
o instituto da transação penal, bem como que nas ações penais públicas condicionadas à
representação do ofendido deve-se em um primeiro momento, possibilitar a tentativa de
composição civil dos danos, conforme prevê o artigo 72, da Lei 9.099/1995. Entretanto, não
havendo essa composição, poderá o Ministério Público oferecer transação penal. Na ação penal
privada, o jurista Fernando Capez firmou entendimento de que não é possível oferecer o
instituto de que trata o presente resumo, em virtude do princípio da disponibilidade, pois o
ofendido tem outros meios (perdão e perempção) para desistir do processo, não tendo
autoridade para oferecer qualquer pena ao acusado. Em contrapartida, Aury Lopes Junior (2020,
p. 1205) compreende que: “não vemos obstáculo algum a que a transação penal se opere na
ação penal de iniciativa privada, se preenchidos os requisitos legais – poderá ser proposta pelo
querelante, e, caso ele não o faça, será proposta pelo Ministério Público”. Ademais, o
Enunciado 112 do Conselho Nacional de Justiça entende ser cabível transação penal na ação
penal de iniciativa privada, vejamos: “ENUNCIADO 112 (Substitui o Enunciado 90) – Na ação
penal de iniciativa privada, cabem transação penal e a suspensão condicional do processo,
mediante proposta do Ministério Público (XXVII Encontro – Palmas/TO)”. Portanto, seguindo
o entendimento de Aury Lopes Junior, bem como entendimento do CNJ, entendo ser
plenamente possível ser oportunizado ao acusado a transação penal, devendo ser tentado a
composição civil dos danos, sendo esta infrutífera, deverá ser proposto tal instituto. Depreende-
se que a grande vantagem da transação penal, é que, esta não gera reincidência ou maus
antecedentes, sendo acolhida pelo ofendido a proposta do Ministério Público, será registrada
somente para impedir o mesmo benefício no prazo de cinco anos (artigo 76, § 4º da Lei
9.099/1995). Ante o exposto, a homologação da transação penal não faz coisa julgada material
e, caso seja descumprida as cláusulas, o Ministério Público poderá retomar e continuar a
persecução penal, mediante oferecimento da denúncia ou requisição de inquérito policial
(Súmula Vinculante 35 do Supremo Tribunal Federal - STF).

Palavras-chave: negociação da pena, juizado especial criminal e transação penal.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 21 de mar.
2023.

BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm. Acesso em: 21 mar. 2023.

122
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. De acordo com a Lei n. 12736/2012. São Paulo:
Saraiva, 2013.

LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.

123
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

BREVE RELATO E REFLEXÃO HISTÓRICA SOBRE O CÁRCERE


FEMININO BRASILEIRO

Andréia Vitório Diniz1


Antônio Leonardo Amorim2
Oldineia Cóscia de Ferro Cebalho3
Aryadene Magalhães Santos4

O presente resumo discute como as prisões femininas desde o seu surgimento no Brasil e até os
dias atuais, tem resquícios que marcam episódios de sofrimento, afastamento, descriminação e
como pontua Foucault (2013, p. 32) em “Vigiar e Punir” “não há dúvidas de que alguma coisa
dos suplícios se sobrepôs”, e no caso feminino perduram desde a sua criação até hoje. As
primeiras prisões femininas do Brasil foram inauguradas na década de 1940, como resultado de
medidas estatais eficazes voltadas para a regulamentação geral das prisões brasileiras. Até
então, não havia diretrizes legais que exigissem ou regulamentassem a separação de homens e
mulheres nas prisões. As presas eram separadas dos presos do sexo masculino de acordo com
o desenho das autoridades competentes e sua condição física no momento da prisão, a realidade
que se tinha era mulheres presas em cadeias mistas, onde até dividiam celas com homens, no
que cominava em assédios sexuais, estupro, e até mesmo prostituição como meio de
sobrevivência, quando separadas, eram destinadas o pior lugar da Cadeia “O Castigo” (termo
para descrever a cela solitária). A partir da década de 1930, o Governo Federal tomou uma série
de medidas para reorganizar o sistema prisional do país. Em 1930, foi instituído o Serviço
Correcional; em 1934, foram instituídos o Fundo e Selo Prisional para investimento prisional;
em 1935, foi promulgado o Código Prisional da República, que passou a legislar todas as
situações envolvendo a vida de indivíduos condenados por crimes judiciais; 1940 foi
promulgado e até os dias de hoje vigente o Código Penal, principal ferramenta para legislação
e surgimento das prisões femininas, nesse sentido, o objetivo da pesquisa é propor uma reflexão
sobre o cárcere feminino Brasileiro e suas infringências aos direitos humanos e a dignidade da
pessoa humana com um ideal de desenvolvimento crítico em relação a temática para a real
importância do desenvolvimento de melhorias e ensejo de justiça pois olhar para a mulher presa
é olhar para si, para nossas atitudes, olhar para nosso olhar viciado e restrito da realidade de
determinados assuntos, pois nas cadeias femininas vivem mulheres tão humanas quanto as
mulheres que foram estão na realidade das prisões. É extremamente necessário e justifica-se
esta pesquisa pelo fato de que se não olharmos urgentemente para o sistema como um todo e
especialmente o prisional feminino e principalmente para sua história, jamais descobriremos as
1
Discente do Curso de Direito da Unemat – Campos de Júlio. E-mail: andreia.diniz@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador vinculado ao
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.³ Discente do Curso de Direito da Unemat – Campos de Júlio.
3
Discente do curso de Direito da Unemat – Campos de Júlio. E-mail: coscia.oldineia@unemat.br.
4
Discente do Curso da Unemat-Campos de Júlio. E-mail: aryadne.santos@unemat.br.

124
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

violências simbólicas, as violações contra princípios e direitos que acontecem. Para o


desenvolvimento desta escrita a metodologia utilizada foi uma pesquisa bibliografia. Ao olhar
para o horizonte histórico da sistema prisional voltado para as mulheres nos deparamos como
um cenário totalmente discriminatório, primeiro pelo fato de que as mulheres eram submetidas
ao cárcere nas décadas passadas, na verdade eram mulheres que não se adaptavam ou seguiam
os padrões morais da época em que viviam, justamente por ter ideais diferentes, ter escolhas e
senso crítico, era reprovável e digno de punição e para essa personalidade inaceitável a punição
era de dupla punição, pois sem cadeias separadas as mulheres presas passava pelo desrespeito
do seu corpo, através da violência sexual que era submetida. Segundo Almeida Ramos (2020,
p 49.) “a história do sistema penitenciário brasileiro revela-o desde sempre como local de
exclusão social e questão relegada a segundo plano pelas políticas públicas, estes foram fatores
determinantes para que poucos estabelecimentos, fossem construídos, e explicam a edificação
inadequada dos mesmos-principalmente nos estabelecimentos prisionais femininos, que são na
maioria das vezes improvisados”. As primeiras cadeias que surgiram foram o Presídio de
Mulheres em São Paulo, instituído em 11 de agosto de 1941, e a segunda foi a Penitenciária
Feminina da Capital Federal, criada no Rio de Janeiro pelo Decreto-Lei nº 3.971 de 24 de
dezembro de 1941. Ambas as prisões eram tratadas por freiras da Congregação do Bom Pastor
D'Angers, e não de agentes penitenciários e nem de agentes policiais e o cerne do
encarceramento era totalmente baseado na moral, pois o papel de delinquente não era pertinente
as mulheres, mas sim um papel muito mais destinado aos homens, e o que se buscava segundo
o que pontua Isabela Laragnoit (2020, p. 57) “era nada mais que a docilização dos corpos dos
detentos no afã de que abandonassem comportamentos agressivos e violentos”. E atualmente
não muita coisa na realidade atual das prisões femininas, as mulheres continuam sofrendo atos
declinatórios, não negligenciadas e expostas as condições reprováveis de tratamento desumano,
e ainda acabam recebendo dupla punição, transgredem a lei, e ordem familiar, a ordem que lá
de trás foi enraizada de que a mulher ter que ser de família. Nesse sentido, descreve Isabela
Laragnoit (2020, p 54.) “impõe-se, socialmente, que as mulheres devem ser dóceis, passivas,
ternas, submissas, obedientes, e portanto, nenhum comportamento agressivo e/ou transgressor
deve ser perpetrado pelo sexo feminino”. Sobre esta violência simbólica mulheres encarceradas
são deixadas ao abandono, no total esquecimento e invisibilidade, onde desde a estrutura dos
estabelecimentos não serem compatíveis com suas fragilidades, sofrem com a solidão por não
receberem visitas de seus familiares. Outro desafio enfrentado pelo cárcere feminino brasileiro
é a falta de políticas públicas que visem à ressocialização das mulheres presas. Muitas vezes,
as mulheres são encarceradas em condições precárias e sem acesso a serviços básicos, como
saúde e educação. Além disso, a falta de políticas públicas para a ressocialização das mulheres
presas faz com que muitas delas retornem ao sistema prisional após a libertação, perpetuando
um ciclo de violência e exclusão social. Outro ponto importante a ser destacado é a relação
entre gênero, raça e encarceramento. Mulheres negras e pobres são as que mais sofrem com a
violência do sistema prisional brasileiro. De acordo com dados do Departamento Penitenciário
Nacional (DEPEN), em 2020, as mulheres negras representavam 68,8% das mulheres
encarceradas no Brasil. Além disso, é importante destacar a necessidade de políticas públicas
que visem à prevenção do encarceramento feminino, investindo em educação, saúde, trabalho
e outras áreas que possam contribuir para a redução da violência e da exclusão social.

Palavras-chave: criminologia; história; cárcere feminino.

125
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

REFERÊNCIAS

ALMEIDA RAMOS, De Rairanny. Um olhar sobre o Cárcere Feminino Brasileiro, sob a


ótica de normas e tratados internacionais de direitos humanos. Recife-PE: Juruá, 2018.

BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Levantamento Nacional de Informações


Penitenciárias. INFOPEN Mulheres. 2. ed. 2018 Disponível em: https://conectas.org/wp-
content/uploads/2018/05/infopenmulheres_arte_07-03-18-1.pdf. Acesso em: 18 dez. 2023.

DAVIS, Angela. Estarão as prisões obsoletas? Rio de Janeiro: Difel, 2018.

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança


Pública de 2022. 2022. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-
content/uploads/2022/06/anuario-2022.pdf?v=5. Acesso: em 18 mar. 2023.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Edições 70, uma chancela de Edições Almeida, S.A.
Lisboa/ Portugal, 2013.

LARAGNOIT, Isabela. Reflexões sobre encarceramento feminino no Brasil. Rio de Janeiro:


Autografia, 2020.

126
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

IMPOSSIBILIDADE DE ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL


NOS CRIMES DE INJURIA RACIAL

Thiago Pereira Acrisio1


Antônio Leonardo Amorim2

O Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) é um instrumento adicionado ao sistema processual


penal brasileiro pela Lei 13.964/2019. Essa inovação legislativa que instituiu o pacote
ANTICRIME, possibilita que findado o inquérito policial, os autos sejam remetidos ao Mistério
Público para o oferecimento da denúncia, solicitação de mais diligências ou arquivamento do
processo e, sendo o caso, quando confessado a conduta delitiva, propor o Acordo de Não
Persecução Penal, dessa forma, dá ao MP, a tutela para oferecer ao imputado a possibilidade do
não enfrentamento da ação penal como acusado. O acordo tem como objetivo evitar que se
tenha processo em desfavor do acusado, seguindo a ideia do princípio da celeridade. Além
disso, o ANPP busca de forma inovadora produzir um sistema processual penal mais ágil com
menos danos ao acusado. Os requisitos para o imputado ter a chancela da ANPP, segundo o
Art. 28-A, do Código Penal, é além da confissão formal, o imputado não pode ser reincidente,
ou ter conduta criminosa habitual, a infração penal precisa ter sido praticada sem violência ou
grave ameaça e ter pena mínima inferior a 4 anos, e ele não pode ter se beneficiado do instituto
nos últimos cinco anos, ademais, algumas condições cumuladas ou alternativamente, todas
elencadas nos incisos do art. 28-A, do CP. Sobre o acordo de não persecução penal, Aury Lopes
Junior entende que “é um poderoso instrumento de negociação processual penal que requer uma
postura diferenciada por parte dos atores judiciários” (Lopes, p.315). Denota-se que a estética
do acordo é buscar uma solução rápida e eficiente para poder público e o imputado, o instituto
da ANPP recaiu como meio para a eliminação processual, sendo efetivada para alguns crimes
com pena inferior a 4 anos. O crime de injuria racial previsto no art. 140, §3º, do CP tem pena
inferior a quatro anos. Ocorre que, após a Lei n. 14.534/2023 considerar o crime de injúria racial
imprescritível, é imprescindível compreender se é possível o oferecimento de ANPP quando da
ocorrência do crime de injúria racial. Propondo uma análise substancial da lei, não, pois o
acordo para os crimes de racismo e injuria racial, ofende vários princípios constitucionais, como
o princípio da dignidade humana, onde transforma um crime imprescritível em possibilidade
de negociação, sem punição. Ao analisar a decisão do Supremo Tribunal Federal, no RHC
222.599, onde se reconheceu a impossibilidade de acordo de não persecução nos crimes de
injuria racial, compreendido os previsto do art. 140, §3º do CP. O caso analisado foi discutido
em sessão do STF, entre os dias 16/12/2022 e 06/02/2023, e com publicação da decisão no dia
22/03/2023. O crime praticado foi injuria racial majorada, já transitada e julgada, foi impetrado
habeas corpus por parte da defesa do réu, buscando que fosse oportunizado a celebração de

1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT Campos de Júlio. E-mail: thiago.acrisio@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador vinculado ao
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.

127
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

acordo de não persecução penal, o relator do recurso foi o Ministro Edson Fachin do STF, a
decisão foi objetiva ao impossibilitar o uso da ANPP, em crimes de injuria racial. No voto do
Ministro Edson Fachin foi discutido o art. 28-A, IV, alinhado ao compromisso do Estado
Brasileiro de fortalecer o combate à violência física e mental e o tratamento degradante nas
questões de gênero, nessa análise, mesmo o crime prevendo pena inferior a 4 anos, não caberá
ANPP, pela conduta se tratar de crime imprescritível. Além disso, o Ministro pontuou que
“Despenalizar atos discriminatórios raciais, nesta quadra da história, é contrariar o esforço, já
insuficiente para a construção da igualdade racial” (Fachin, RHC 222.599). A pesquisa utilizou-
se de doutrina especializada, artigos jurídicos bem como jurisprudência do Superior Tribunal
Federal. Dessa forma, considerando as reflexões apresentadas, é necessário a todo momento
reinterpretar institutos do sistema processual penal com análises antidiscriminatórias, buscando
efetividade nos cumprimentos dos crimes de injuria racial, o fortalecimento no combate ao
racismo, e sempre estar reanalisando institutos que beneficiem todos que cometam tais
infrações, pois apenas dessa forma caminharemos em busca de uma sociedade antirracista,
igualitária e totalmente livre de preconceitos.

Palavras-chave: ANPP; injúria racial.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 22 de mar. de
2023.

BRASIL. Código Penal. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-


lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 22 mar. 2023.

BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm. Acesso em: 22 mar. 2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RHC 222599. Relator EDSON FACHIN, Segunda
Turma. Julgado em: 07/02/2023. Disponível em:
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur476423/false. Acesso em: 23 mar. 2023.

LOPES, Aury Junior. Direito processual penal. 17. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.

128
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

ILICITUDE NO CUMPRIMENTO DO MANDADO DE BUSCA E


APREENSÃO

Erika Cristina Silva1


Luana Beatriz Gonçalves Ferreira2

O presente resumo tem por objetivo analisar a nulidade da Busca e Apreensão em local diverso
do determinado na decisão judicial, nesse sentido foi utilizada a metodologia da pesquisa por
meio de jurisprudências, doutrinas e um caso concreto ocorrido em Nova Xavantina/MT. O
Ministério Público do Estado de Mato Grosso atribuiu ao acusado a suposta prática do crime
previsto no artigo 121, § 2º, incisos I (motivo torpe) e IV (recurso que dificultou a defesa da
vítima), c/c art. 14, inciso II (FATO 01), na forma do artigo 29, todos do Código Penal; e art.
288, parágrafo único, na forma do art. 69, ambos do Código Penal. No caso concreto, restou
devidamente documentado nos autos pelos próprios agentes de segurança pública e no auto
circunstanciado que o mandado de busca e apreensão foi cumprido em endereço diverso do
autorizado judicialmente, em decorrência da devassa entrada no domicílio, que resultou na
apreensão de dois aparelhos celulares, o Ministério Público pugnou pela quebra do sigilo dos
dados e das linhas telefônicas móveis dos dois aparelho celulares apreendidos, fruto dessa busca
e apreensão ilegal, bem como foi utilizado pelo Ministério Público como fundamento para
sustentar a autoria delitiva, unicamente no material extraído dos aparelhos, como áudios de
WhatsApp, mesmo o acusado negando peremptoriamente os fatos. Pois bem, é cediço que a
Busca e Apreensão tem como finalidade esclarecer a autoria e a materialidade de crimes. Para
a busca e apreensão Domiciliar é necessária uma decisão judicial, obedecendo os requisitos do
artigo 243, I, CPP, indicando o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a
diligência, visto que o domicílio é asilo inviolável (Artigo 5, XI da CF). Em vista do
cumprimento dessa natureza é demonstrando a ilicitude das provas colhidas nos autos,
decorrente de vício originário, nos termos do art. 157, §1º do CPP, bem como art. 564, IV e 572
ambos do CPP como sendo prova ilícita, deve ser extirpada do processo, ou por outra, a luz da
aplicação do princípio dos frutos da árvore envenenada, é inadmissível a utilização de quaisquer
fontes/elementos de provas obtidas a partir das diligências ilegais. No julgamento do HC n.
153.563/CE, a Sexta Turma do STJ reconheceu a ilegalidade na busca e apreensão realizada
em endereço diverso do autorizado pela decisão judicial, e determinou que as provas colhidas,
e as delas decorrentes, ser consideradas ilícitas e, assim, desentranhadas da ação penal de
origem, ainda na mesma temática é reconhecida em vários outros julgados como no STJ HC n.
718.075/SP e do STF, HC 106566/SP a mesma posição de se tratar que tais provas são ilícitas
e nulas para o processo, ainda para o STJ e STF essa entrada no domicilio pode caracterizar
invasão. Assim, faz-se mister reconhecer a ilicitude da busca e apreensão em domicílio diverso
do autorizado judicialmente, nesse enquadramento do caso concreto após o habeas corpus foi
possível o reconhecimento da ilicitude da busca e apreensão e por consequência o
desentranhamento de todos os áudios coletados nos aparelhos celulares, resultando na perca da
única prova imputada ao requerente. Logo deve-se respeitar os direitos individuais dos

1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina. E-mail: silva.erika@unemat.br.
2
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina. E-mail: luana.beatriz@unemat.br.

129
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

cidadãos, bem como manter todo o procedimento de forma lícita, caso contrário toda e qualquer
prova de que dela flui deve ser desentranhada do processo.

Palavras-chave: busca e apreensão; ilicitude; nulidade.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. RHC N. 153.563/CE. Ministro Relator Des(a) Olindo
Menezes. Sexta turma, julgado em 14/12/2021. Disponível em
https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stj/1282775692. Acesso em 22. mar. 2023.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC N. 718.075/SP. Ministro Relator Des(a) Olindo


Menezes. Sexta turma, julgado em 09/08/2022. Disponível em
https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stj/1617120923/inteiro-teor-1617120967. Acesso
em 22. mar. 2023.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC 106566/SP. Ministro Relator Gilmar Mendes.


Julgado em 16/12/2014. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stf/863934993/inteiro-teor-863935002. Acesso
em: 22 mar. 2023.

130
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

A LEGÍTIMA DEFESA DA HONRA: INCONSTITUCIONALIDADE


PELA ADPF 779

Ingrid Sandy Martins Gomes1


Sirlene Dias Soares2

Violência contra a mulher é todo ato lesivo que resulta em um dano, seja ele físico, psicológico,
sexual ou patrimonial e que é praticado em razão do gênero, ou seja, ocorre contra mulheres
especificamente por serem mulheres. A causa da violência de gênero se originou do machismo
que pode se manifestar de diversas formas, e junto a elas tem-se as inúmeras justificativas,
como exemplo: legítima defesa de honra. Diante disso indaga-se, justifica-se o crime contra
mulheres por argumento de legítima defesa da honra? O presente trabalho tem como objetivo
geral verificar a violência histórica perpetrada contra as mulheres, especialmente no ambiente
doméstico. E como objetivo específico analisar sobre a inconstitucionalidade no argumento de
legítima defesa da honra contra a vítima. Faz-se necessário verificar o aumento da violência
contra as mulheres, tendo em vista que as desigualdades que existem entre os dois gêneros
corroboraram por muito tempo para com a violência social contra a mulher, calando-as frente
às violências perpetuadas no âmbito doméstico. Utilizou-se de pesquisa bibliográfica
documental, bem como uma análise crítica do tema abordado na ADPF 779. Conforme Simone
de Beauvoir (1988), no livro “O Segundo Sexo”, “não se sabe ao certo o momento em que a
mulher foi dominada, aconteceu de forma lenta e gradativa”. A violência social contra a mulher
tinha amparo estatal, no Código Penal de 1890, atualmente revogado, no art. 279 do Código
Penal de 1890, ficando claro a disparidade evidente de tratamento entre homens e mulheres.
Destarte, é necessário enfatizar o uso não raras as vezes do argumento de defesa do homem que
praticou o feminicídio, conhecido como “legítima defesa da honra”, assunto de que trata a
ADPF 779, julgada em 2021, que declara a inconstitucionalidade de tal ato. Considerando isso,
felizmente, a ADPF 779 representa um avanço rumo a igualdade material frente ao judiciário,
uma vez que aduz ser inconstitucional o argumento de legítima defesa da honra, sendo este um
importante passo rumo à emancipação dos corpos.

Palavras-chave: criminologia, mulheres, violência.

REFERÊNCIAS

KREUTZ, Eduarda Franke; LUCAS, Doglas Cesar. A legítima defesa da honra: perpetuação
do machismo e sua recente inconstitucionalidade pela ADPF 779. Salão Do Conhecimento, v.
8, n. 8, 2022. Disponível em:
https://publicacoeseventos.unijui.edu.br/index.php/salaoconhecimento/article/view/22212.
Acesso em: 20 abr. 2023.

1
Bacharelanda em direito, Unemat, Nova Xavantina – MT. E-mail: Ingrid_sandy.85@live.com.
2
Bacharelanda em direito, Unemat, Nova Xavantina – MT. E-mail: Sirlene@gmail.com.br.

131
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

CALDAS, Rebeca de Moura. A tese da “legítima defesa da honra” vs. o direito à vida das
mulheres: até que ponto a honra pode ser invocadas para defender o feminicídio. VirtuaJus,
Belo Horizonte, v. 7, n. 13, p. 257-272, 2º sem. 2022. Disponível em:
https://periodicos.pucminas.br/index.php/virtuajus/article/view/29888. Acesso em: 19 abr.
2023.

132
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

A PRISÃO PREVENTIVA COMO INSTRUMENTO DE PROFANAÇÃO


DE DIREITOS FUNDAMETAIS

Fabrício da Cunha Andrade1


Antônio Leonardo Amorim2

A prisão cautelar está prevista na Constituição Federal 1988, que estabelece em seu art. 5º, LXI,
que apenas poderá ser decretada por ordem escrita e fundamentada, bem como no artigo 312,
do Código de Processo Penal, o qual faz uma reprodução do texto constitucional. Nesse resumo
será analisado neste trabalho a prisão preventiva, espécie da prisão cautelar, seu meio e fim,
através de ponto de vista doutrinário, questionando a lógica social sobre este instituto e o
princípio da presunção da inocência é violado ou não diante da sua decretação em juízo. No
Processo Penal utiliza-se como base para a decretação da prisão preventiva os requisitos “fumus
commissi delict” e “periculum libertatis” (art. 312, primeira parte, do CPP), desta forma não
havendo qualquer obstáculo á sua decretação antes da conclusão do inquérito, seja esta ação
pública ou privada. De acordo com Antônio Leonardo Amorim (2022, p. 429) “na prisão
preventiva, ainda não se tem formação de culpa sobre o caso do acusado, visto que apenas com
audiência de instrução e julgamento que se terá provas produzidas na ação penal, as quais
auxiliaram a convicção do magistrado para prolatar sentença penal (art. 155, do CPP)”. Haja
visto o exposto, tem-se que esta espécie prisional está sendo usada de forma equivocada no
Brasil, além de ser mecanismo de exclusão social. Socialmente tem-se estabelecido o preceito
social de que o mal precisa ser eliminado, essa ignorância social que busca combater o mal, na
verdade promove a exclusão social, além de promover a violação de direitos fundamentais dos
investigados/acusados. O princípio da presunção da inocência, que de acordo com Lopes Jr
(2022, p. 657) pode ser compreendido como, “a presunção de inocência está expressamente
consagrada no art. 5°, LVII, da Constituição, sendo o princípio reitor do processo penal e, em
última análise, podemos verificar a qualidade de um sistema processual através do seu nível de
observância (eficácia). É um princípio fundamental da civilidade, fruto de uma opção protetora
do indivíduo, ainda que para isso tenha-se que pagar o preço da impunidade de algum culpável,
pois sem dúvida o maior interesse é que todos os inocentes, sem exceção, estejam protegidos.
Essa opção ideológica tratando-se de prisões cautelares, é da maior relevância, pois decorre da
consciência de que o preço a ser pago pela prisão prematura e desnecessária de alguém inocente
(pois ainda não existe sentença definitiva) é altíssimo, ainda mais no medieval sistema
carcerário brasileiro”. Assim, do ponto de vista normativo todos são inocentes até o trânsito em
julgado da sentença condenatória, porém, em algumas situações pode ocorrer a antecipação da
pena a essas pessoas, mas não de forma judicial, mas sim do ponto de vista moral e humanitário,
e dos diretos básicos que são garantidos a esses indivíduos. Concluindo-se que a prisão

1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT de Campos de Júlio. E-mail: fabricio.cunha@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador vinculado ao
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.

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RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

preventiva em muitos casos, sendo ela cabível e legal, poderá ocorrer desde que devidamente
fundamentada e estritamente nos ditames legais.

Palavras-chave: prisão preventiva; Direitos Humanos; presunção de inocência.

REFERÊNCIAS

AMORIM, Antônio Leonardo. A Ilegalidade da Prisão Preventiva Pela Ausência de


Fundamentação – Análise do RHC 216.284/SP Julgado Pelo Supremo Tribunal Federal. In:
CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS. 19. 2022. Anais [...]. 2022,
p. 423-432. Disponível em: https://cidh2022.files.wordpress.com/2023/02/a_gt_08_03.pdf.
Acesso em: 20 mar. 2023.

LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2022.

MINAGÉ, Thiago. A Prisão Preventiva Como Instrumento de Abusos e Violações de Direitos.


Empório do Direito. 2021. Disponível em: https://emporiododireito.com.br/leitura/a-prisao-
preventiva-como-instrumento-de-abusos-e-violacoes-de-direitos. Acesso em: 25 mar. 2023.

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RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

O DOLO EVENTUAL E A CULPA CONSCIENTE NOS HOMICÍDIOS


ENVOLVENDO ACIDENTES DE TRÂNSITO

Eliane Bibiano de Oliveira1

Diversos são os fatores associados a ocorrência de lesões e mortes no trânsito, entre os fatores
associados à conduta das pessoas, os principais apontados para a ocorrência dos eventos que
acarretam traumatismos no trânsito são a velocidade excessiva, a condução de um veículo sob
efeito de bebida alcoólica e a negligência no uso de equipamentos como cintos de segurança
(Opas, 2018). Trazendo esses dados tão importantes para o âmbito jurídico tem-se que a
principal discussão a ser realizada quando se trata de mortes em acidentes de trânsito é a escolha
do elemento subjetivo a ser utilizado. Existe muita divergência nesse ponto, alguns juristas
optam pela escolha do dolo eventual, enquanto outros são a favores da culpa consciente. Neste
contexto, os dois institutos, por apresentarem conceitos semelhantes, podem confundir em
determinadas situações. Previsto no artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro (Brasil, 2007)
e 121 do Código Penal (Brasil, 2012), respectivamente, a conduta normativa (culposo), ou
volitiva (dolo eventual) nestes delitos, o indivíduo prevê, mas não deseja cometer o crime,
contudo, no dolo eventual o indivíduo prevê o resultado do seu agir e mesmo assim assume o
risco de produzir tal resultado. Destaca-se que o dolo eventual prevê uma punição mais rigorosa,
levando o acusado a Júri, enquanto a culpa consciente punirá de forma mais branda comparado
ao dolo eventual. Neste contexto, este estudo tem como objetivo discutir, sob o prisma de alguns
doutrinadores, os pontos importantes envolvendo o elemento subjetivo a serem utilizados para
classificar as mortes nos acidentes de trânsito. O presente estudo é classificado como pesquisa
qualitativa do tipo bibliográfica. Os estudos qualitativos se caracterizam por buscarem
compreender um fenômeno onde esses ocorrem e do qual faz parte (Bogdan; Biklen, 1994). Na
concepção de Oliveira (2007), a pesquisa bibliográfica, corresponde a uma modalidade de
estudo e de análise de documentos de domínio científico, sendo sua principal finalidade o
contato direto com documentos relativos ao tema em estudo. Neste âmbito, foram utilizadas
como matérias de pesquisa manuais de direito penal, código de processo penal, legislações
penais, legislações do Código de Trânsito Brasileiro, além de artigos jurídicos retirados da
internet. Justifica-se a relevância do presente estudo, posto que a elucidação dos institutos
mencionados e sua aplicação nos crimes de trânsitos resultantes de álcool, auxiliam na tomada
de decisão mais adequada juridicamente. Inicialmente tem-se o conceito de dolo eventual
abordado pelo doutrinador Rogério Greco (2009) o qual assevera que, neste caso, o agente,
embora não querendo diretamente praticar a infração penal, não se abstém de agir e, com isso,
assume o risco de produzir o resultado que por ele já havia sido previsto e aceito. Já Nucci
(2014) conceitua o dolo eventual da seguinte forma: É a vontade do agente dirigida a um
resultado determinado, porém vislumbrando a possibilidade de ocorrência de um segundo
resultado, não desejando, mas admitindo, unido ao primeiro. Sobre a culpa, Capez (2011)
conceitua culpa consciente como sendo aquela em que o agente prevê o resultado, embora não
o aceite. Para Capez (2011), há no agente a representação da possibilidade do resultado, mas
ele a afasta, de pronto, por entender que a evitará e que sua habilidade impedirá o evento lesivo

1
Discente do Curso de Direito de Nova Xavantina/MT.

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RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

previsto. Para Prado (2014) no dolo eventual, o agente concorda com o advento do resultado,
preferindo arriscar-se a produzi-lo a renunciar à ação, ao contrário, na culpa consciente, o
agente afasta ou repele, embora inconsideradamente, a hipótese de superveniência do evento e
empreende a ação na esperança de que este não venha ocorrer – prevê o resultado como
possível, mas não o aceita, nem o consente. Zaffaroni e Pierangeli (2015), exemplificam a
situação considerando o condutor de veículo automotor que percorre uma rua, em excesso de
velocidade, onde há crianças saindo da escola. Neste caso o agente pode não prever a
possibilidade de atropelar uma criança, hipótese de culpa inconsciente. Da mesma forma que
pode representar-se a possibilidade lesiva, mas confiar em que a evitará, contando com os
potentes freios de seu veículo e sua perícia ao volante, caso em que haverá culpa consciente.
Porém, ao representar para si a possibilidade de produção de evento, aceitando a sua ocorrência
(pouco me importa!) o caso seria de dolo eventual. A semelhança entre dolo eventual e culpa
consciente é nítida, mas a diferença principal é o risco assumido pelo agente para a prática de
determinado ato. É certo que a diferença existe, devendo assim o aplicador do direito analisar
o caso concreto e classificar a conduta da maneira mais adequada. Conclui-se então, que há
uma grande divergência na doutrina. Infere-se também que há dois extremos de opiniões
opostas, alguns classificando culpa consciente como aplicação automática para os crimes de
trânsito, e outros utilizando-se do dolo eventual sem medir consequências ao ordenamento
jurídico, somente buscando uma punição rígida para a suposta justiça desses crimes. A
conclusão é de que o juiz para o correto julgamento deve atuar com imparcialidade para cada
caso referido, analisando as provas e indícios de forma que não prejudique o réu, utilizando o
princípio do “iin dubio pro reu”.

Palavras-chave: dolo eventual; culpa consciente; homicídio de trânsito.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal.

BRASIL. Lei Nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro.


Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Brasília: 2007.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. V. 1: parte geral (arts. 1º a 120). 15. ed. São Paulo:
Saraiva, 2011.

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. 11. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2009.

LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. A pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU,
1986.

NUCCI, G. de. Manual de Direito penal. 10.ed. Rio de Janeiro: Editoria Forense. 2014.

OLIVEIRA, M. Como fazer Pesquisa Qualitativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

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RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

OPAS. Organização Pan-Americana da Saúde. Trânsito: um olhar da saúde para o tema.


Brasília: OPAS; 2018.

PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. 13. ed. rev. atual. ampl. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2014.

ZAFFARONI, E. R; PIERANGELI, J. H. Manual de direito penal brasileiro. Parte geral. 11.


ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.

137
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

NOTAS SOBRE O PROCESSO DECISÓRIO ENTRE OS XAVANTE

Doriva Tsimrihu Tsiwamo1


Patrik Thames Franco2

A partir de um relato em primeira pessoa, esta comunicação pretende a apresentação de aspectos


da realidade sociojurídica dos Xavante. Entre os Xavante, em comum com outros povos
originários, a chefia é exercida não apenas a partir da figura do cacique, mas, também, de um
conjunto de lideranças, religiosas e políticas, ligadas ou não aos movimentos indígenas. Soma-
se às figuras do chefe e demais lideranças, as pessoas comuns da aldeia, que, juntas, compõem
o campo político, a partir do qual se realiza o processo decisório xavante. A descrição e análise
do processo decisório levará em consideração a negociação do acesso dos waradzu, glosa para
não-indígenas, às diversas aldeias que compõem a Terra Indígena Parabubure, municípios de
Campinápolis e Nova Xavantina, para realização de atividades diversas, dentre as quais, o
turismo, ecoturismo e o etnoturismo; mas, também, o acesso do coautor, não-indígena, desta
atividade. Grosso modo, o não-indígena interessado em ter acesso às aldeias, informa a um
indígena xavante, o qual comunica o cacique e demais lideranças, que, geralmente, convocam
assembleia para debater a viabilidade do acesso dos visitantes, o período que permanecerão na
Terra Indígena, bem como a contrapartida, que pode ser financeira, cultural, assistencial, dentre
outras. Partindo de um referencial teórico-metodológico situado na interface entre a
antropologia e o direito, orientado pela pesquisa empírica, in loco, realizada na Terra Indígena
Parabubure, pelo autor principal, integralmente, em língua xavante, foram levantados dados
qualitativos, mediante o uso de gravador de áudio e vídeo e a manutenção de um diário de
campo. O material audiovisual foi traduzido integralmente para a língua portuguesa pelo autor
principal; e, em um segundo momento, vertido em texto, mediante análise, com o suporte do
autor secundário. O próprio acesso do autor secundário, este, não-indígena, para
acompanhamento do trabalho de campo, se deu mediante amplo processo de debate, o qual, em
um segundo momento, também, deverá ilustrar, etnograficamente falando, as linhas que
compõem o que, nesta comunicação, entende-se como processo decisório. Com a apresentação
do que se segue, pretende-se uma maior visibilidade, tanto quanto às possibilidades analíticas,
no que se refere às organizações dos povos originários, quanto a contribuição destas para o
estudo do direito, em perspectiva comparada.

Palavras-chave: povo Xavante; processo decisório; relação com os não-indígenas.

REFERÊNCIAS

FRANCA, Maria Stela de Campos. Xavante, pioneiros e gaúchos: relatos heroicos de uma
história de exclusão em Nova Xavantina. 128fls. 2000. Dissertação (Mestrado em Antropologia
Social). Instituto de Ciências Sociais. Universidade de Brasília, 2000.

1
Bacharelando em Direito, Unemat, Campus de Nova Xavantina.
2
Bacharelando em Direito, Unemat, Campus de Nova Xavantina.

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RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

MAYBURY-LEWIS, David. A sociedade Xavante. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1984.

SILVA, Aracy Lopes da. Nomes e amigos: da prática xavante a uma reflexão sobre os Jê. São
Paulo: FFLCH/USP, 1986. Disponível em: https://etnolinguistica.wdfiles.com/local--
files/biblio%3Asilva-1986-nomes/Silva_1986_NomesEAmigos_Xavante_Je.pdf. Acesso em:
19 maio 2023.

139
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

A JUSTIÇA RESTAURATIVA PARA PESSOAS ENCARCERADAS E O


PAPEL DA SOCIEDADE

Kharen Kellen Bispo Nogueira1


Josias Oliveira Santos2

A justiça restaurativa nas definições da Resolução nº 2002/2012 da Organização das Nações


Unidas- ONU, é classificada como sendo um processo em que a vítima e o ofensor, assim como
outras partes envolvidas, por intermédio de um facilitador, participam de forma coletiva da
efetiva solução das questões oriundas do ato praticado pelo ofensor. A justiça restaurativa
possui foco nas pessoas e seus relacionamentos construídos a partir de um crime, onde o ofensor
precisa buscar compreender sua a responsabilidade e repará-la, para que assim seja possível
reestabelecer o convívio social. Para Antônio Leonardo Amorim e Josiane Rose Petry Veronese
(2021, p. 234) “a justiça restaurativa é uma alternativa ao cárcere, as suas medidas são
essenciais para que não ocorra o aumento do estigma e preconceito contra aquele que pratica o
crime”, ou seja, os ofensores precisam entender que possuem obrigações para com as suas
vítimas, bem como poderão encontrar alternativas ao estigma social sobre o cárcere. A justiça
criminal e a sociedade possuem visões deturbadas do que é punir um crime, e por vezes
culpabilizam o ofensor como sendo pessoas ruins, oferecendo a dor e severas punições
carcerárias; isto é punir virou sinônimo de encarcerar. O sistema de justiça ignora os impactos
do crime na vítima, nas famílias tanto da vítima como do infrator, na sociedade; e o Estado
ocupa o lugar de todas essas partes afastando-as por vezes do processo e negando a estes a
compreensão do fato delitivo. Amorim e Veronese (2021, p. 239) pontuam que “com isso, não
pode ser vista a justiça restaurativa como aquela responsável por dar respostas à sociedade que
o sistema de justiça não tem dado, pelo contrário, deve ser um procedimento capaz de
humanizar as relações judiciais e não de alargar o poder punitivo do Estado”, a justiça
restaurativa traz todas as vítimas do crime para o processo judicial, com o propósito de
promover o relacionamento entre as partes em busca da remissão do acusado. Aqui a justiça
deixa de ser baseada em sentenças, punições e encarceramento; a restauração traz reflexões para
além da prática do ato ilícito, procura-se compreender todos os fatores que o levaram a cometer
tal ato infracional, bem como o ressarcimento dos danos causados e a reconstrução de relações
interpessoais e social. A sociedade também sofre diretamente com o crime, sua harmonia e
relações entre pessoas são modificadas abruptamente, e isto carece de atenção. A sociedade
possui papel fundamental no processo de restauração, tanto no âmbito individual como coletivo;
e essa importância se dá no restabelecimento das relações, ela precisa se manter próxima dos
infratores, das vítimas, bem como de suas famílias, a fim de promover um meio justo e
igualitário de convivência. Excluir as partes envolvidas no crime não irá afastar novos atos
ilícitos, ao contrário, irá promover a sensação de não pertencimento ao meio social fomentando
o sentimento de exclusão. A participação da sociedade é necessária no processo de justiça.

Palavras-chave: justiça restaurativa; sociedade; relações interpessoais.

1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina. E-mail: kharenn.nogueira@unemat.br.
2
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina. E-mail: josias@unemat.br.

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RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

REFERÊNCIAS

AMORIM, Antônio Leonardo; VERONESE, Josiane Rose Petry. Um Olhar Fraterno na


Aplicação de Medidas Socioeducativas: justiça restaurativa como pacificadora social e
instrumentalizadora da cogovernança. BRITO, Rafaela Silva Brito et al. (org.). Cogovernança
como processo de construção de fraternidade na política, a partir das cidades. Caruaru:
Editora Asces, 2021. p. 231-248.

TOEWS, Barb. Justiça Restaurativa para pessoas na prisão. São Paulo: Palas Athena, 2019.

ZEHR, Howard. Trocando as Lentes. São Paulo: Palas Athena, 2019.

141
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

ACESSO A DIREITOS DOS REEDUCANDOS DO SISTEMA


SOCIOEDUCATIVO DO ESTADO DE MATO GROSSO

Luanda Gabrielli Miranda Pereira1


Evelin Mara Cáceres Dan2

A presente reflexão é fruto dos estudos e debates realizados no Projeto de Pesquisa Cidadania,
Conflitos e Segurança Pública. Diante de notícias recorrentes sobre o descaso com crianças e
adolescentes- que em regra deveriam ser protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente-
é de caráter imprescindível a pesquisa sobre o acesso aos direitos dos reeducandos do sistema
socioeducativo do Estado do Mato Grosso. Aos adolescentes que praticam atos infracionais, o
ECA, em seu artigo 112, prevê direitos a respeito da integração social do adolescente e a
garantia de seus direitos individuais e sociais. A pesquisa pretende investigar as condições em
que esses direitos são aplicados e se os objetivos previstos são devidamente alcançados dentro
dos Sistemas Socioeducativos do Estado do Mato Grosso. Para isso, serão utilizados como
procedimentos metodológicos a análise documental, análise quantitativa de documentos
oficiais do Estado de Mato Grosso, análise bibliográfica, e pesquisa de campo, com uso de
técnica de coleta de dados: entrevista semiestruturada com a técnica de análises de dados:
análise de conteúdo, análise de narrativa e análise estatística básica. A pesquisa de campo será
realizada, a princípio, com interlocutores agentes de segurança pública, professores e menores
reeducandos do Centro Educativo de Cáceres-MT.

Palavras-chave: ressocialização; adolescentes; atos infracionais.

REFERÊNCIAS

TERRA, S. H. Sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e a inimputabilidade penal.


Adolescência, ato infracional e cidadania: a resposta está no ECA, basta querer realizar.
Brasília, DF: Abong/Forum DCA, 1999.

VINUTO, Juliana. “O outro lado da moeda”: O trabalho de agentes socioeducativos no estado


do Rio de Janeiro. 2019. Tese (Doutorado em Sociologia). Programa de Pós-graduação em
Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2019.

1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Barra dos Bugres - (Bolsista de IC 2022 - FAPEMAT/UNEMAT)
2
Orientadora FAPEMAT/UNEMAT, Professora Adjunta da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas da
UNEMAT, Doutora em Ciências Jurídicas e Sociais (PRPPG/UFF). Coordenadora do Projeto de Pesquisa
Cidadania, Conflitos e Segurança Pública, vinculado à Linha de Pesquisa Segurança Pública, Administração de
Conflitos Sociais e da Justiça Criminal do Grupo de Pesquisa “Políticas Públicas, Direito, Estado e Sociedade –
PPDES” (CNPQ). E-mail: evelindan@unemat.br.

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RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

O QUADRO GERAL DE VIOLÊNCIAS CONTRA MULHER E ALGUNS


MECANISMOS INSTITUCIONAIS DE COMBATE NO ESTADO DE
MATO GROSO

Natália Ferreira Moura1


Vivian Lara Cáceres Dan2

O presente trabalho apresenta dados gerais do quadro da violência contra a mulher em seus
diversos âmbitos no Brasil e as medidas tomadas até então, para combatê-la no estado de Mato
Grosso. Baseia-se em referenciais bibliográficos como artigos de internet, pesquisa documental
de políticas públicas, além de análise dos indicadores de gênero do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA) e do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (ABSP). A
Plataforma de Beijing estabelece que o mecanismo institucional para avanço das mulheres deve
ser o organismo central de coordenação de políticas dentro dos governos. Sua principal tarefa
é incorporar a perspectiva da igualdade de gênero em todas as áreas políticas, em diferentes
níveis do governo. Esses organismos podem representar as mulheres concretamente trazendo
suas demandas para a discussão, formulação e implementação de políticas públicas. Dentre as
dificuldades enfrentadas para fortalecer os mecanismos institucionais de promoção da
igualdade de gênero ao longo dos vinte anos após a criação da Plataforma de Beijing dizem
respeito a fragilidades ligadas ao alcance transversal e capacidade orçamentária. A posição dos
mecanismos na hierarquia institucional do Estado, seu nível de pessoal e financiamento são
formas de medir o compromisso dos líderes com a igualdade de gênero. Muitas vezes, os
compromissos políticos não estão alinhados num esforço suficiente em termos de alocação de
recursos administrativos e financeiros. Além da escassez de financiamento e pessoal, muitos
mecanismos não têm autoridade para obrigar outros departamentos, dentro do Estado, a
incorporar uma perspectiva de gênero em suas políticas. A lei n. 13.104/2015 tornou os
assassinatos de mulheres devido a essa condição de gênero ou de violência doméstica um crime
hediondo, porém, essa lei pode ter um significado simbólico para a luta contra a violência de
gênero, mas não necessariamente previne a prática desse crime. O resultado da falta de
infraestrutura e investimento em ações sugeridas inclusive pela Plataforma de Beijing produziu
uma diminuição muito tímida em relação aos crimes cometidos contra a mulher e em alguns
estados houve até mesmo o aumento desses crimes no ano de 2021: em 17 (dezessete) estados
brasileiros o percentual de feminicídio aumentou entre 2020 e 2021 conforme o gráfico a seguir:

1
Acadêmica do curso de bacharelado em Direito, no campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado de
Mato Grosso. Bolsista PROBIC/FAPEMAT. E-mail: natalia.moura@unemat.br.
2
Docente Adjunta do curso de Bacharelado em Direito, campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado
de Mato Grosso (UNEMAT). Coordenadora do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para
minorias no Mato Grosso; Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Estado e Sociedades (PPDES –
CNPq). E-mail: vivian.dan@unemat.br.

143
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

Gráfico 1 – Números de homícidios com vítimas mulheres.

Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2021.

Nota-se ainda a partir deste gráfico que, em relação ao número absoluto de homicídios de
vítimas mulheres houve uma queda de 104 em 2020 para 85 em 2021; enquanto o número de
feminicídios também teve um percentual de queda de 59,6% em 2020 para 50,6% em 2021. Já
no ano de 2022, segundo o monitor da violência, o número de vítimas mulheres de feminicídio
bateu recorde, sendo 1, 4 mil mortes motivadas por gênero, o que corresponde há um aumento
de 5% em relação ao ano anterior. Ou seja, 1 mulher morre a cada 6 horas. (G1, 2023). A partir
do ano de 2017, o estado do Mato Grosso aprovou o Plano Estadual de Políticas para as
Mulheres de Mato Grosso, e o Conselho Estadual de Direitos da Mulher (CEDM) recebeu a
grande responsabilidade de monitorá-lo; este, tendo como objetivo promover a igualdade de
gênero e o combate à violência contra as mulheres no estado. O plano foi estruturado em seis
eixos: diagnóstico do Estado em relação às mulheres, educação, enfrentamento à violência
contra as mulheres, autonomia e igualdade no mundo do trabalho e cidadania, saúde das
mulheres, direitos sexuais e reprodutivos e gestão e monitoramento. Assim, o CEDM é o
responsável por monitorar a execução do plano e avaliar as ações anualmente, fornecendo
sugestões para aprimoramento dele. O Plano Estratégico da Câmara Temática de Defesa da

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RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

Mulher (PECTDM), referente aos anos 2021-2030, é um plano estratégico que visa aprimorar
a defesa da mulher vítima de violência em Mato Grosso. Ele é composto por alguns objetivos
estratégicos. Sendo o primeiro: fortalecer a comunicação social sobre violência de gênero em
Mato Grosso e a meta é participar de no mínimo 3 campanhas por ano para fortalecer a
comunicação social sobre violência de gênero em Mato Grosso até 2030. Para isso, o plano
prevê iniciativas como fortalecer a comunicação social sobre formas de prevenir e denunciar a
violência contra a mulher, além de criar mecanismos de engajamento social e voluntariado para
manter a comunicação social sobre o tema. Outro propósito é apoiar tecnicamente a
formalização de documentos referentes à defesa da mulher vítima de violência,
disponibilizando apoio técnico à formalização de um documento referente à defesa da mulher
vítima de violência ao ano até 2030. Para isso, serão realizadas iniciativas como estimular a
normatização do funcionamento da patrulha Maria da Penha, provocar a formalização dos
fluxos de atendimento entre os parceiros da rede de defesa da mulher e disponibilizar apoio
técnico quanto à análise de minutas de atos administrativos e legislação referente à defesa da
mulher vítima de violência, entre outras medidas. A próxima da pesquisa será investigar quais
informações estão disponíveis pela Câmara Técnica e quais os impactos das medidas até o
momento implementadas em conjunto com os demais órgãos e Poder Judiciário do estado.

Palavras-chave: mulher; violência; políticas públicas.

REFERÊNCIAS

ANUÁRIO BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA (ABSP). Medidas protetivas de


urgência e o princípio da vedação à proteção insuficiente: uma questão de eficácia dos
direitos fundamentais da mulher. 2022. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-
content/uploads/2022/06/anuario-2022.pdf?v=5. Acesso em: 22 mar. 2023.

BRASIL. Lei n. 13.104, de 09 de março de 2015. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13104.htm. Acesso em: 22
mar. 2023.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONOMICA APLICADA (IPEA). Mecanismos


institucionais para o avanço da mulher. 2020. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/retrato/pdf/190215_tema_h_mecanismos_institucionais_para_o_ava
nco_da_mulher.pdf. Acesso em: 22 mar. 2023.

MATO GROSSO. Decreto n. 1252 de 2017. Plano Estadual de Políticas para as Mulheres de
Mato Grosso. Disponível em: https://leisestaduais.com.br/mt/decreto-n-1252-2017-mato-
grosso-aprova-o-plano-estadual-de-politicas-para-as-mulheres-de-mato-grosso-e-da-outras-
providencias. Acesso em: 22 mar. 2023.

SECRETARIA DO ESTADO DE SEGURANÇA PÚBLICA (SESP MT). Plano estratégico


da câmara temática de defesa da mulher do estado de mato grosso 2021-2030. 2021.
Disponível em:

145
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

https://www.sesp.mt.gov.br/documents/4713378/17685399/PECTDM_MT_2021-
2030_VF.pdf/40212907-dde1-cc60-4333-499928aed1b9. Acesso em: 22 mar. 2023.

VELASCO, Clara; GRANDIN, Felipe; PINHONI, Marina; FARIAS, Victor. Brasil bate
recorde de feminicídios em 2022, uma mulher morta a cada 6 horas. G1. 08/03/2023.
Disponível em: https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2023/03/08/brasil-bate-
recorde-de-feminicidios-em-2022-com-uma-mulher-morta-a-cada-6-horas.ghtml. Acesso em:
22 mar. 2023.

146
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

A IMPORTÂNCIA DA RECONSTRUÇÃO DA VIDA FORA DA PRISÃO

Antônia Eduarda Ferreira Loureiro1


Kátia Francielle de Carvalho2

A sociedade tende a rejeitar e excluir as pessoas que cometeram atos infracionais, mesmo que
já tenha cumprido pena, preconceito que muitas vezes inviabiliza a reconstrução fora da prisão.
Muito se fala sobre os altos índices de reincidência no crime, mas não existem políticas
concretas que construam caminhos para a pessoa que sai da prisão, visando diminuir esse
preconceito. É preciso implantação de programas, projetos e ações de inclusão que criem
possibilidades de reconstrução da vida do ex-presidiário em sociedade, pois ao sair da prisão,
ex-detentos precisam recomeçar a vida e ainda lidar com a sombra do passado, onde sofreu
preconceito da sociedade quanto à sua ficha criminal. No momento de se candidatar a vagas de
emprego para retomar a rotina, muitos empregadores se sentem receosos com o histórico. Nesse
sentido, os esforços precisam ser feitos fora da prisão. É importante trabalhar conscientização
da população quanto ao acolhimento dessas pessoas. Esse estigma faz com que os condenados
sejam céticos ao sistema e processo de ressocialização. É como se, apesar de terem cumprido
toda a sua pena, continuassem a ser punidos. Como possibilidade, poderíamos ter tratamentos
para essa ressocialização, pensando que nosso país está em 3° lugar com a maior população
carcerária do mundo, atrás da china e dos Estados unidos. Pensando nisso, o tratamento com o
intuito de ressocialização seria também uma necessidade pública do ponto de vista
governamental. Pois existem diversos tipos de tratamento para esse fim. Em geral, as atividades
seriam focadas na qualificação dessas pessoas, visando que elas estejam aptas a saírem do
presídio habilitadas em alguma ocupação ou profissão. Um dos tratamentos mais populares para
a ressocialização é a oferta de cursos profissionalizantes, onde podem ser barbearia, corte de
cabelo, plantio etc. Feito em parceria com empresas e instituições de ensino, os detentos têm a
oportunidade de aprender uma função nova e ainda podem ganhar dinheiro com isso. No último
caso, além da redução de pena, o dinheiro é depositado em uma conta na qual o detento terá
acesso quando sair da prisão ou por familiares. Nesse sentido, ambos os lados são beneficiados,
a simples leitura não é suficiente para recuperar o preso, mas ajuda. O estudo permite que ele
encontre uma maneira de se inserir na sociedade quando sair do sistema.

Palavras-chave: políticas públicas; reabilitação; cárcere.

1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina.
2
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina.

147
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

VIOLÊNCIA SEXUAL, VITIMOLOGIA E O POSICIONAMENTO


JURÍDICO COM RELAÇÃO AOS CRIMES SEXUAIS CONTRA AS
MULHERES

Luana Nobre Aquino de Lavor1


Marinês Camilo de Souza2

No modelo tradicional do Processo Penal brasileiro a vítima não costuma ter participação ativa,
já que o processo penal visa apenas a condenação do acusado. Apesar de ser uma realidade,
este fato torna-se mais delicado quando a vítima é de crime sexual, especialmente, quando
pertencente ao gênero feminino. Assim, delimita-se crime sexual todos aqueles crimes que
contrariam o livre arbítrio do ser humano, quanto a sua liberdade sexual. Deste modo, o crime
sexual é aquele em que a pessoa tem vetada sua liberdade de determinar como, onde, e com
quem irá praticar atos sexuais. E, é neste sentido que o estudo se desenvolve em que se busca a
elaboração minuciosa da definição deste ente, como ainda apresentar suas espécies a fim de que
seja vista e entendida de uma maneira mais ampla. Da mesma forma, é relevante a abordagem
do “Iter Victimae” (caminho da vitimização) descrevendo assim o percurso pelo qual a vítima
passa até alcançar esta condição, e o que advém da construção deste ideário em sua própria
concepção. Visando destacar o papel da vítima nos crimes sexuais, as consequências e
transtornos decorrentes desses fatos, neste trabalho serão discutidos, além de outras, a
importância de procedimentos que resguardem as vítimas de crimes sexuais a fim de garantir
sua integridade durante as etapas processuais. Nesse sentido, está fundamentado numa
bibliografia aprimorada em estudos e obras no Direito Penal e no Direito Processual Penal,
especialmente em autores que demonstrem o processo da vitimologia e o posicionamento
jurídico frente ao enfrentamento desta realidade. Contudo, o objetivo desse trabalho é analisar
como as práticas processuais colaboram para a desistência do processo em situações de crimes
sexuais, uma vez que a mulher na sociedade brasileira sofre diariamente com situações
decorrentes de machismo e quando se torna vítima de crimes sexuais há uma tendência de
acusação na qual a vítima passa a responsável pela ocorrência do crime, desse modo, nota-se
que desde o inquérito policial há apontamento de “motivos” para a ocorrência do crime que
transforma a vítima em uma pseudo culpada. Assim, com comparativos nos avanços dos
Códigos Penais ao longo da história, com pesquisas bibliográficas sobre dados e evoluções nos
direitos e nas leis de proteção às mulheres, como também com buscas sobre o posicionamento
jurídico ao tratar de casos envolvendo os crimes sexuais, constrói-se este estudo. Sendo assim,
ao serem observados relatos de mulheres que passaram por tais crimes é comum ver discursos
que destacam a vontade da vítima em desistir do prosseguimento da ação em virtude do modo
como se desenvolve todo o procedimento de inserção dela no sistema de justiça. Infere-se, assim
que há a necessidade de mudanças que consigam efetivar não apenas as denúncias, mas a um
acolhimento maior às mulheres vítimas de crimes sexuais, deixando-as mais seguras e firmes
em suas decisões de prosseguirem com a representação e configurando força para que outras

1
Bacharelanda em Direito, Unemat, Campus de Nova Xavantina.
2
Bacharelanda em Direito, Unemat, Campus de Nova Xavantina.

148
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

vítimas se sintam prontas para denunciarem seus agressores e buscarem uma nova vida. Ponto
crucial se faz com a “separação” da vítima do convívio social com seu agressor, buscando meios
de mantê-la segura e penalizando a parte contrária responsabilizando esta parte pelos atos
cometidos.

Palavras-chave: crimes sexuais; vitimologia; procedimentos e mulheres.

REFERÊNCIAS

CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial. 10. ed. Salvador:
JusPODIVM, 2018.

FOGLIA, Isabela Soares. Os crimes sexuais e a vitimologia sob o domínio da cultura do


estupro. 63fls. 2018. Monografia (Graduação). Centro Universitário Antônio Eufrásio de
Toledo de Presidente Prudente. Presidente Prudente, 2018. Disponível em:
http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/Direito/article/view/6946/67646897.
Acesso em: 24 mar. 2023.

NOGUEIRA, Sandro D’amato. Vitimologia. Brasília: Brasília Jurídica, 2006.

NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito processual penal. 17. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020.

149
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

A INVISIBILIDADE DAS VIOLÊNCIAS DOMÉSTICAS E


FAMILIARES ENFRENTADAS PELAS MULHERES DO CAMPO

Aryadne Magalhaes Santos1


Andréia Vitório Diniz2

O tema da Violência contra Mulher é uma violação aos direitos humanos da mulher no seu
direito a vida, saúde e integridade física, possuindo grande relevância no âmbito mundial, seja
no cenário urbano ou rural, mas sabendo do pouco enfoque em estudos acadêmicos ao que diz
respeito a violência no âmbito rural no Brasil, no presente resumo nos atentaremos a violência
doméstica e familiar enfrentada pelas mulheres do campo que por muitos momentos são
silenciadas e negligenciadas. A violência contra mulher segundo o art. 1° da Convenção de
Belém do Pará de 1994 é “qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano
ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera
privada”. Segundo (JESUS, 2015) as principais violências enfrentadas pelas mulheres são:
violência sexual, violência doméstica ou familiar, assédio sexual e moral e o feminicídio. No
Brasil a Lei n° 11.340/2006 mais conhecida como Lei Maria da Penha, veio como importante
dispositivo jurídico para criminalizar a violência sofrida pelas mulheres no âmbito doméstico e
familiar. Apesar do amparo legal, fica visível a existência de falhas no sistema de informações
quando se se busca dados nacionais desagregados do território rural e urbano da violência contra
mulheres. Para exemplificar essa situação podemos revelar os dados disponibilizados pela
Ouvidoria Nacional do Direitos Humanos (ONDH), com a Central de Atendimento à Mulher
responsável pelo “Ligue 180”, no qual apontaram que no ano de 2019 do total de ligações
registrados 78,96% estavam relacionadas à violência doméstica e familiar. Os dados do
Conselho Nacional de Justiça, reunidos no Monitoramento da Política Judiciária Nacional de
Enfretamento à Violência contra as Mulheres, apresentam ainda o crescimento de quase 45%
no número de casos novos de violência doméstica saltando de 404.000, em 2016, para 587.000,
em 2021, dos casos de violência doméstica (Anuário, 2022). Sabendo da relevância dados, mas
não sendo possível identificar qual o número ou porcentual ocorridos no âmbito rural fica
evidente a dificuldade de identificar a verdadeira proporção de enfrentamento da violência pelas
mulheres do campo, por não haver um filtro no Poder Judiciário dos processos decorrentes no
âmbito rural. Contudo, não há impedimento para tentarmos entender quais fatores vem a ser
responsáveis pela violência doméstica no campo e quais indicativos poderiam impedir que elas
denunciem. Segundo Lorenzoni (2007, p.88) o machismo, o patriarcado e as consequentes
desigualdades de gênero na estrutura da agricultura familiar brasileira torna-se responsável pela
legitimação, exploração e opressão das mulheres quando há a desvalorização do serviço da
mulher, que vive uma tríplice jornada, ao ter que cuidar dos filhos e da casa que é tido como
obrigação imposta pelo que a lógica patriarcal defini como “serviço de mulher”, enquanto o
trabalho desenvolvido no campo, além não é valorizado é tido como mera “ajuda”, enraizado
com a dominação naturalizada da superioridade do homem e a submissão da mulher, possibilita
que a renda decorrente do trabalho rural seja destinado ao homem que controla o dinheiro e se

1
Discente do Curso da Unemat-Campos de Júlio – E-mail: aryadne.santos@unemat.br.
2
Discente do curso de Direito da Unemat – Campos de Júlio – E-mail: diniz.andreia@unemat.br.

150
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

determina como sendo o provedor da casa. Somado a dependência econômica, em muitos casos
quando associada a baixa escolaridade, e o medo de perder a guarda dos filhos, e o próprio
isolamento territorial que distanciam dos locais que poderia pedir ajuda, são fatores que
essencialmente tornam-se motivos para que as vítimas se silenciem diante das agressões
sofridas. Portanto, fica visível a falta de interesse do Estado em diferenciar os crimes de
violências domésticas que ocorrem nas áreas rurais e urbanas, quando não existem dados
concretos e específicos relativos as denúncias e processos de violência contra a mulher do
campo. Essa escassez em informações dificulta na concretude de políticas públicas eficazes que
contribuam no enfrentamento a violência contra mulher em contextos rurais observando suas
singularidades e contribuindo para a invisibilidade da opressão sofrida.

Palavras-chave: violência doméstica e familiar; mulher do campo; opressão.

REFERÊNCIAS

ANUÁRIO BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Fórum Brasileiro de Segurança


Pública. Ano 16, 2022. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-ontent/. Acesso em:
22 mar. 2023.

BRASIL. Lei nº 11.340/2006. Lei Maria da Penha. Coíbe a violência doméstica e familiar
contra a mulher. Brasília, DF: Presidência da República, 2006. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 21
mar. 2023.

BRASIL. Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Balanço Ligue 180: violência
doméstica e familiar é a mais recorrente. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-
br/assuntos/noticias/2020-2/junho/balanco-ligue-180-violencia-domestica-e-familiar-e-a-
mais-
recorrente#:~:text=O%20documento%20divide%20a%20viol%C3%AAncia,feminic%C3%A
Ddio%20(6%2C11%25). Acesso em: 22 mar. 2023.

BRASIL. Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres. Mulheres do Campo e da Floresta


- Secretaria Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres Secretaria de Políticas
para as Mulheres. Brasília, 2011. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/hp/acervo/outras-
referencias/copy2_of_entenda-a-violencia/pdfs/mulheres-do-campo-e-da-floresta-diretrizes-e-
acoes-nacionais. Acesso em: 23 de mar de 2023.

CONVENÇÃO Interamericana para Prevenir Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher.


Convenção de Belém do Pará, 9 de junho de 1994. Disponível em:
http://www.cidh.org/basicos/portugues/m.Belem.do.Para.htm. Acesso em: 22 de mar de 2023.

151
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

GRUPO DE TRABALHO 2: DIREITO PRIVADO MATERIAL E PROCESSUAL E


CONTEMPORANEIDADES – I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

152
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

A TRANSMISSIBILIDADE DO DANO MORAL AOS HERDEIROS.


ANÁLISE DA SÚMULA 642 DO STJ

Ruana Rúbia Aires Valério1

A constitucionalização do Direito Civil, propalada a partir da promulgação do Novo Código


Civil em 2002 alterou diametralmente a forma como o Direito Privado abarca as relações
sucessórias, sobretudo concernente à transmissão de propriedade aos herdeiros. Na atual
codificação, a herança compreende todo o patrimônio da pessoa falecida, incluindo tanto ativos
quanto passivos patrimoniais, mas não engloba, portanto, nos direitos sucessórios, os direitos
personalíssimos. Dessa perspectiva, por muito tempo discutiu-se sobre a possibilidade de
transmissão hereditária dos danos morais sofridos pela pessoa enquanto viva, ou seja, se ao
falecer, extinguir-se-iam também os direitos de caráter extrapatrimonial do de cujus e,
consequentemente, a legitimidade dos herdeiros ou até do espólio, enquanto entidade
despersonificada, em pleiteá-los. Ocorre que, após larga discussão acerca do tema, o Superior
Tribunal de Justiça, ao realizar a interpretação sistemática do art. 943 do Código Civil, o qual
versa sobre a transmissibilidade aos herdeiros das obrigações indenizatórias, posicionou-se no
sentido de garantir aos legatários o direito de pleitear danos morais, bem como estendeu a
interpretação da norma ao permitir não apenas o ingresso de ação pelos sucessores como
legitimados ativos, mas também o prosseguimento de ações em curso em que figurava o de
cujus como ofendido. Dessarte, a partir da publicação da Súmula de n. 642 do Superior Tribunal
de Justiça, bem como da jurisprudência correlata e doutrinas jurídicas acerca do tema, o
presente trabalho destina-se à análise da coerência da norma jurisprudencial com o ordenamento
pátrio, bem como as consequências práticas nas ações em curso, sobretudo no que diz respeito
à análise da ofensa à dignidade humana e da preservação da “imagem” do autor da herança.
Como metodologia de pesquisa optou-se pela utilização do método dedutivo, partindo-se do
estudo geral da norma jurídica e da doutrina especializada para análise dos cases utilizados
como precedentes judiciais pelo Tribunal e as situações fáticas propostas. Como resultados
analíticos da presente pesquisa, tem-se que a edição da súmula atende lacuna pré-existente no
ordenamento, permitindo aos sucessores a defesa de interesses legítimos, como também garante
a primazia do mérito e da duração razoável do processo ao permitir o ingresso dos legatários
ou mesmo do espólio em ações já em curso.

Palavras-chave: danos morais; sucessão; indenização.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Organizado por Cláudio


Brandão de Oliveira. Rio de Janeiro: Roma Victor, 2002.

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002. PL 634/1975.

1
Especialista em Advocacia Consumerista; Advogada; ruanaairesadv@gmail.com.

153
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 642. O direito à indenização por danos
morais transmite-se com o falecimento do titular, possuindo os herdeiros da vítima legitimidade
ativa para ajuizar ou prosseguir a ação indenizatória. Brasília, DF: Superior Tribunal de Justiça,
[2022]. Disponível em: https://www.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-
sumulas-2022_49_capSumulas642.pdf. Acesso em: 26 mar. 2023.

PELUSO, Cezar. Código civil comentado: doutrina e jurisprudência. Santana de Parnaíba:


Editora Manole, 2022. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555766134/. Acesso em: 26 mar. 2023.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Dano Moral. 8. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2016.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530972295/. Acesso
em: 26 mar. 2023.

154
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

GRUPO DE TRABALHO 3: DIREITO AMBIENTAL/AGROAMBIENTAL,


ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONALISMO MODERNO NAS VERTENTES
MATERIAIS E PROCESSUAIS – I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

155
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

A RELAÇÃO HUMANA COM O MEIO AMBIENTE: UMA ANÁLISE


INICIAL DA BIODIVERSIDADE E SUA PROTEÇÃO JURÍDICA

Letícia Lino de Oliveira Silva1


Linnet Mendes Dantas2

Após o início da Revolução Industrial, com um intenso crescimento demográfico em diversos


locais do globo terrestre, os recursos naturais passaram a ser utilizados para atender as
necessidades humanas e, além disso, o estímulo ao mercado e as opções consumeristas
impulsionaram significativamente o desequilíbrio ecológico, com produção de imensas
quantidades de lixo, por exemplo. Nesse sentido, com a degradação e destruição do meio
ambiente natural, um tema significativo para o debate no âmbito jurídico é a biodiversidade.
Sua preservação está ligada diretamente à qualidade de vida da população terrestre e à
integridade cultural humana, haja vista que desempenha um papel de fornecimento de recursos
energéticos, regulação do clima, dentre outros (WWF, 2020). Entretanto, dados demonstram a
escassez da biodiversidade hodiernamente, como a perda de 85% das áreas úmidas no mundo
e, ainda, uma queda média de 68% nas populações monitoradas de mamíferos, aves, anfíbios,
répteis e peixes, que representam uma medida da saúde geral dos ecossistemas (WWF, 2020).
Sob tal ótica, a conservação da biodiversidade é um tema urgente, em que se faz necessário
analisar as legislações que tratam desse tema, verificar a efetividade do seu cumprimento e
avaliar as questões jurídicas e doutrinárias, na esfera do Direito Ambiental. Logo, o objetivo
deste trabalho é verificar, por intermédio de pesquisas bibliográficas, das normas que combatam
a degradação da biodiversidade, relacionando-as à realidade brasileira, entendendo a natureza
como imprescindível para o Estado de bem-estar social, na contemporaneidade e, futuramente,
essas reflexões necessárias. Diante disso, o Marco Legal da Biodiversidade, instituído pela Lei
nº 13.123/2015, considera o território brasileiro como uma riqueza de espécies nativas e,
portanto, sua exploração e pesquisa devem ser feitas de maneira sustentável. Por outro lado,
apesar da existência da normativa ambiental que protege o meio ambiente, constata-se que em
2020 uma ineficácia da aplicação legal, em que a sobre-exploração de plantas e animais está
reduzindo a capacidade da natureza de continuar fornecendo recursos para a humanidade, fato
que conduz para um futuro catastrófico para toda a biodiversidade e demonstra, no âmbito
jurídico, a contradição entre as atividades públicas e o que está descrito nas normas com a
realidade prática. Desse modo, este trabalho é fruto de resultados parciais de uma pesquisa
maior que está em andamento pelas autoras, em razão da contínua busca por legislações e ações
governamentais que tratam sobre o tema em questão e futuro aprofundamento das pesquisas
para construções reflexivas. Destaca-se a importância do debate acerca do tema selecionado
para construir um senso crítico populacional referente à proteção ambiental, que é significativa

1
Graduanda do 5º semestre do curso de Bacharelado em Direito pela Universidade do Estado de Mato Grosso
(UNEMAT); E-mail: leticia.lino@unemat.br.
2
Professora Universitária. Advogada. Especialista em Direito Ambiental e Urbanístico (UFMT). Integrante do
Grupo de Estudos e Pesquisa em Direitos Fundamentais e Interdisciplinaridade (GEDIFI/UNEMAT). E-mail
linnetd@gmail.com.

156
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

para uma qualidade de vida de toda a biodiversidade, baseada na preservação, sustentabilidade


e no combate à degradação.

Palavras-chave: biodiversidade; direito ambiental; preservação.

REFERÊNCIAS

ALBAGLI, S. Convenção sobre Diversidade Biológica: uma visão a partir do Brasil. In:
GARAY, I.; BECKER, B.K. (org). Dimensões Humanas da Biodiversidade: o Desafio de
Novas relações Sociedade-Natureza no Século XXI. Petrópolis. Ed. Vozes. 2006.

BRASIL. Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015. Dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético,
sobre a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e sobre a repartição de
benefícios para conservação e uso sustentável da biodiversidade. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13123.htm. Acesso em: 25
mar. 2023.

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco; DIAFÉRIA, Adriana. Biodiversidade, patrimônio


genético e biotecnologia no Direito Ambiental. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

SARLET, Ingo Wolfgang. O Direito Fundamental ao Meio Ambiente do Trabalho Saudável.


Revista TST, Brasília, v. 80, n. 1, jan./mar. 2014.

TYBUSCH, Jerônimo Siqueira; ARAUJO, Luiz Ernani Bonesso. Biodiversidade na América


Latina: ecologia política e a regulação jurídico-ambiental. Caxias do Sul, RS: Educs, 2013.

WWF. Relatório Planeta Vivo 2020. Reversão da curva de perda de biodiversidade. WWF,
Gland, Suíça. 2020. Disponível em:
https://f.hubspotusercontent20.net/hubfs/4783129/LPR/PDFs/Brazil%20FINAL%20summary
.pdf. Acesso em: 25 mar. 2023.

157
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

POLÍTICAS EDUCACIONAIS: O TRATAMENTO DA EVASÃO NO


ENSINO SUPERIOR

Alycia Desto e Silva1


Vívian Lara Cáceres Dan2

As instituições de Educação Superior (IES) apresentam uma preocupação constante em relação


à evasão, ou seja, em relação às desistências por parte de estudantes antes de concluírem seus
respectivos cursos. De acordo com o Censo de Educação Superior, divulgado em 18 de
fevereiro de 2022, através do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP), o índice de desistências sofreu um aumento considerável em sua porcentagem
se comparado com os anos: entre os anos 2011 com uma taxa de 11% e em 2020 com 59%, ou
seja, houve um aumento de 48% no quesito evasão escolar. Assim sendo, ao realizar uma
análise mais profunda sobre este fato, podemos associá-lo a uma ausência de políticas
institucionais e governamentais mais eficazes para um combate a vulnerabilidade social. Ou
seja, para se haver uma verdadeira democratização do acesso à educação não é suficiente
assegurarmos diferentes formas de ingresso, mas sim criar condições adequadas para que esses
alunos permaneçam nos cursos de graduação pois a educação é um direito de todos e uma forma
de desenvolvimento pessoal e profissional, visando uma qualidade para o individuo e para a
sociedade. Mello et al (2013) salienta que existem fatores internos a esse problema, como por
exemplo, o método didático pedagógico do professor; e os fatores externos que estão ligados
ao próprio estudante como os problemas de ordem pessoal (psicológicos, desencantamento com
o curso escolhido etc.), ou mesmo de ordem financeira. Ou seja, são múltiplos os fatores que
levam um discente a desistir do curso ou pedir desligamento. A Universidade do Estado de
Mato Grosso (UNEMAT), através da Pró- Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) executa
algumas políticas de permanência de modo a evitar a evasão escolar, tais como: auxílios de
alimentação e moradia, inclusão digital, para participação de eventos, além das bolsas de
iniciação científica e extensão. No edital 002/2023 foi estipulado que teria disponível 860
auxílios sendo 430 de alimentação e 430 para moradia. A distribuição desses auxílios se dá pela
quantia de estudantes matriculados em cada campus, ou seja, em Barra do Bugres foi destinado
67 desses auxílios. Observa-se que o número de auxílios ainda é insuficiente para atender a
demanda de alunos em situação de vulnerabilidades diversas e portanto, os problemas
relacionados à permanência dos estudantes nessas instituições devem continuar.

Palavras-chave: evasão; ensino superior; estudantes.

1
Acadêmica do curso de bacharelado em Direito, no campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado de
Mato Grosso (UNEMAT), bolsista Probic/FAPEMAT do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas
para minorias coordenado pela Profa. Dra. Vívian Lara Cáceres Dan; E-mail: Alycia.desto@unemat.br.
2
Docente Adjunta do curso de Bacharelado em Direito, campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado
de Mato Grosso (UNEMAT). Coordenadora do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para
minorias no Mato Grosso; Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Estado e Sociedades (PPDES –
CNPq). E-mail: vivian.dan@unemat.br.

158
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

REFERÊNCIAS

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Ministério da Educação. Censo da Educação Superior (2020). Disponível
em:
https://www.ifg.edu.br/attachments/article/1462/Censo%20Superior%202020_17%2002%202
022%20-%20Final%2011h00min.pdf. Acesso em: 23 mar. 2023.

MINHOTO, Maria Angélica; SMAILI, Soraya; ARANTES, Pedro. 2,3 milhões abandonaram
curso superior em 2021. Portal Geledés, 2023. Disponível em: https://www.geledes.org.br/23-
milhoes-abandonaram-curso-superior-em-
2021/?utm_source=pushnews&utm_medium=pushnotification. Acesso em: 23 mar. 2023.

PRAE. Edital 002/2023. Seleção para concessão de auxílio alimentação e auxílio moradia.
Disponível em: https://cms.unemat.br/storage/documentos/bloco-documento-
arquivo/7SXlPVvpFWtSGX0PWZLFifo3QfImiqjMzETIlcwj.pdf. Acesso em: 23 mar. 2023.

159
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

POLÍTICAS AFIRMATIVAS PARA INCLUSÃO DE PESSOAS COM


DEFICIÊNCIA (PcD’s) NA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO
GROSSO

Monalisa Serrano Silva1


Vívian Lara Cáceres Dan2

Segundo o Censo de Educação Superior de 2020, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), divulgado pelo mesmo em 18 de fevereiro
de 2022, a inclusão de Pessoas com Deficiência (PcD), no ensino superior continua tímida. De
acordo com a fonte citada acima, o número de matrículas em cursos de graduação de alunos
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação, no
Brasil de 2010 à 2020, cresceu, mas não exponencialmente, passando de 19.869 matrículas em
2010, para 55.829 em 2020. Mas, ao comparar esses números com o percentual total de
matrículas realizadas em cursos de graduação, nota-se que a comparação do percentual de 2010
(0,31%) com o percentual de 2020 (0,64%) temos um aumento de apenas 0,33% em 10 anos,
um aumento médio de 0,03% por ano. As matrículas, em 2020, geraram em torno das seguintes
deficiências: deficiência física, baixa visão, deficiência auditiva, deficiência intelectual,
autismo, cegueira, surdez, superdotação e surdocegueira. Sendo a educação um direito de todos
se faz necessário garantir políticas públicas com ênfase nas pessoas com deficiência. Referida
pesquisa ainda está em andamento em relação a política de atendimento educacional. A
pesquisa é de cunho quanti-qualitativo, baseado em referenciais bibliográficos como artigos,
livros digitais, pesquisa documental como reportagens e legislação pertinente, bem como a
análise de dados estatísticos sobre a população pesquisada. Em outro momento da pesquisa,
pretende-se saber onde estão esses alunos, quais deficiências. A lei de cotas nas universidades
federais foi instituída em 2012, em relação aos estudantes pretos, pardos e indígenas, porém,
em relação as pessoas com deficiência, a inclusão de vagas específicas ocorreu apenas em 2016,
através da Lei n. 13. 409, de 28 de dezembro de 2016. Em 2019, através das Resoluções nº
011/2019 e 051/2019-CONEPE, a UNEMAT alterou o Programa de Políticas de Ações
Afirmativas passando a estabelecer a distribuição de vagas da seguinte forma: 60% das vagas
oferecidas nos cursos de graduação na universidade ficaram reservadas à candidatos que
cursaram integralmente o ensino médio em escola pública, o restante, 40% são destinados à
ampla concorrência. Sendo a distribuição dessas vagas feita da seguinte maneira segundo a
Resolução nº 011/2019 da CONEPE: se a oferta de vagas for de 40 vagas, 1 será destinada aos
estudantes com deficiência comprovada; assim também se for curso com 50 vagas, apenas 1

1
Acadêmica do curso de bacharelado em Arquitetura e Urbanismo, no campus de Barra do Bugres, da
Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), bolsista Probic/FAPEMAT do Projeto de Pesquisa Políticas
de Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência Visual nas Universidades do Estado de Mato Grosso
coordenado pela Profa. Dra. Vívian Lara Cáceres Dan; E-mail: monalisa.serrano.silva@unemat.br.
2
Docente Adjunta do curso de Bacharelado em Direito, campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado
de Mato Grosso (UNEMAT). Coordenadora do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para
minorias no Mato Grosso; Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Estado e Sociedades (PPDES –
CNPq). E-mail: vivian.dan@unemat.br.

160
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

vaga será destina ao PcD. Sendo assim, concluímos que muito se tem ainda para melhorar sobre
inserção e inclusão de pessoas com deficiência nas universidades do nosso país, inclusive na
UNEMAT, sendo este um assunto que ainda tem muitos desafios urgentes a serem
implementados para que esse direito à educação para todos não se resuma a uma formalidade
que a própria estrutura da universidade não tenha condições de efetivar.

Palavras-chave: pessoas com deficiência; inclusão; ações afirmativas.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 23 mar.
2023.

CONEPE. Resolução n. 11 de 2019. Dispõe sobre a alteração da Política de Ações Afirmativas


da Universidade do Estado de Mato Grosso. Disponível em:
http://www.unemat.br/resolucoes/resolucoes/conepe/4320_res_conepe_11_2019.pdf. Acesso
em: 23 mar. 2023.

CONEPE. Resolução n. 51 de 2019. Altera a Resolução n. 11 de 2019. Disponível em:


https://cms.unemat.br/storage/documentos/bloco-documento-
arquivo/qgYmS6S0OUzytafTMuu4YE2yb6K9GZuVLVCjbcl4.pdf. Acesso em: 23 mar. 2023.

INEP. Censo da Educação Superior: divulgação de resultados 2020. Brasília: MEC, 2022.
Disponível em:
https://www.ifg.edu.br/attachments/article/1462/Censo%20Superior%202020_17%2002%202
022%20-%20Final%2011h00min.pdf. Acesso em: 23 mar. 2023.

UNEMAT. Unemat oferece 2.400 vagas para candidatos que fizeram Enem. Universidade
do Estado de Mato Grosso. 08/02/2023. Disponível em: https://unemat.br/noticias/8-2-2023-
unemat-oferece-2-420-vagas-para-candidatos-que-fizeram-enem-
2022#:~:text=Ao%20todo%2C%20119%20vagas%20s%C3%A3o,e%20968%20para%20am
pla%20concorr%C3%AAncia. Acesso em: 23 mar. 2023.

UNEMAT. Ações Afirmativas da UNEMAT. Disponível em: https://unemat.br/pro-


reitoria/proeg/a%C3%A7%C3%B5es-afirmativas. Acesso em: 23 mar. 2023.

161
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

OS DADOS NACIONAIS SOBRE A POLÍTICA INSTITUCIONAL DAS


COTAS RACIAIS E SUA INSERÇÃO DO CRITÉRIO DE
HETEROIDENTIFICAÇÃO NA UNEMAT

Ludinay Evangelista França de Souza1


Vívian Lara Cáceres Dan2

As cotas estão dentro das ações afirmativas que efetivam direitos e promovem o princípio da
isonomia3 em consonância com a justiça distributiva para assim, reparar condições de
desigualdades reais. Trata- se de uma política pública étnico racial com o objetivo de eliminar
as discriminações existentes na sociedade por pertencer a um grupo social. A lei nº 12.711/2012
destinou vagas para o ingresso no ensino superior baseado no critério étnico-racial e, a
Resolução nº 11 de 2019 do CONEPE, na Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)
alterou a sua política de ações afirmativas. O objetivo deste trabalho é abordar essas alterações
e a inserção dos critérios de heteroidentificação como etapa de validação da autodeclaração do
candidato a tais vagas nas Universidades. A metodologia utilizada é a dedutiva com análise
bibliográfica e documental e com análise de dados estatísticos. Segundo os dados do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), divulgado no ano de 2020, ainda existe uma
desigualdade no acesso da população negra ao ensino superior: 18% dos jovens negros entre 18
e 24 anos estão nas universidades e em relação aos brancos, essa porcentagem sobe para 36%.
Outro dado importante é que apenas 9,3% dos negros concluíram algum curso neste nível
educacional nas universidades federais, enquanto a população branca foram 22,9% que
concluíram (IPEA, 2020). Além disso, o ingresso dos estudantes negros, pretos e pardos que
antes dessa política afirmativa (lei de cotas de 2012) era de apenas 13,1% e em 2017 essa
porcentagem foi de 39,6% já com a aplicação da legislação específica. A distribuição das
pessoas que frequentam ensino superior de graduação (público e privado) por cor/raça segue
crescendo progressivamente, pois em 2001 o número era de 21,9 e em 2015 subiu para 43,7. A
partir disso, é possível afirmar que esse aumento significativo ressalta a importância da Lei de
Cotas (IPEA, 2020). Ademais, convém mencionar que o número de mulheres negras também
vem aumentando, na medida em que em 2017, a tendência de mudança do perfil das pessoas
que frequentam nível superior se confirma, visto que dos ingressantes nesse ano, 29,3% foram
mulheres negras, seguidas de 28% de mulheres brancas (IPEA, 2020). A Lei de Cotas entra
nesse quesito na tentativa de tornar o ingresso mais representativo e amenizar a desigualdade
existente. Segundo o artigo 6º da Resolução n. 11 de 2019 do CONEPE: poderão concorrer às
vagas reservadas a candidatos negros aqueles que se autodeclararem pretos ou pardos no ato da

1
Graduanda no curso de Direito da Universidade Estadual do Estado de Mato Grosso. E-mail:
ludinay.evangelista@unemat.br.
2
Docente Adjunta do curso de Bacharelado em Direito, campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado
de Mato Grosso (UNEMAT). Coordenadora do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para
minorias no Mato Grosso; Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Estado e Sociedades (PPDES –
CNPq). E-mail: vivian.dan@unemat.br.
3
O princípio da isonomia também é conhecido como princípio da igualdade e preceitua sobre a igualdade material
estando ligado ao tratamento diferenciado de acordo com as suas especificidades. Este princípio está previsto no
artigo 5º da Constituição Federal.

162
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

inscrição vestibular, conforme o quesito cor ou raça utilizado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE. Em seu 1º parágrafo, dispõe que para efetivar a matrícula, o
candidato, além de cumprir o disposto no art. 5º, deverá apresentar sua autodeclaração, a ser
firmada em formulário próprio da UNEMAT, que será previamente disponibilizado junto com
o edital do vestibular e no parágrafo 2º que a autodeclaração do candidato goza de presunção
relativa de veracidade e será ratificada mediante procedimento de verificação a ser realizada
pela Comissão de Verificação. Nesse sentido, tal artigo torna - se essencial para o ingresso dos
alunos por meio das cotas, pois a heteroidentificação não tem o objetivo de questionar se os
alunos são pretos, pardos ou negros, mas sim garantir o pleno funcionamento das cotas em
virtude das fraudes. Trata-se, portanto, de uma ratificação a ser confirmada pela comissão de
verificação. A Resolução n. 11 de 2019 do CONEPE em seu artigo 9º, inciso II trata das
comissões de acompanhamento e verificação. Na sequência, o artigo 10º dispõe que os
procedimentos de Acompanhamento e Verificação serão realizados por comissão criada
especificamente para este fim, de natureza permanente e denominadas de Comissão de
Acompanhamento e Comissão de Verificação e o artigo 12 que garante que a Comissão de
Verificação será constituída por ato interno da Reitoria e composta por, no mínimo, três
pessoas, isto é, tais artigos diz a respeito que o sistema de heteroidentificação e terá agentes
muito bem selecionados. Isso acontece para garantir que os candidatos que ingressarem nas
vagas reservadas para pessoas negras sejam realmente negras. No artigo 15, já no capítulo III
sobre o procedimento de verificação, dispõe que os candidatos que optarem por concorrer às
vagas reservadas às pessoas negras, indígenas e deficientes se submeterão ao procedimento de
verificação. Por conseguinte, o artigo 16 diz a respeito sobre o critério fenótipo para negros e
indigenas, isto é, será avaliado as características físicas e traços para o reconhecimento da
cor/raça do candidato. Uma das técnicas utilizadas para identificação, portanto, é o fenótipo
como cor, tipo de cabelo e formato do nariz e boca e questões ancestrais dos candidatos onde é
feita uma avaliação de identificação. Nesse sentido, o artigo 17 dispõe que não serão efetuadas
matrículas cujas autodeclarações não forem ratificadas pela Comissão de Verificação em
procedimento de verificação, ainda que tenham obtido nota suficiente para aprovação na ampla
concorrência, isso significa que aqueles que não se enquadrarem traços fenótipos serão
eliminados para que dessa forma, não haja fraude e valorize quem realmente entre nessa ação
afirmativa. Os artigos 18, 19 abordam sobre deliberação do parecer motivado, do qual constarão
os dados de identificação do candidato, a conclusão do parecer da Comissão de Verificação a
respeito da ratificação e as condições para exercício do direito de recurso pelos interessados,
tendo em vista que o resultado será publicado no site da UNEMAT. Por fim, o artigo 20 garante
que o edital de vestibular da UNEMAT preverá uma Comissão Recursal em razão das
deliberações da Comissão de Verificação, isto é, caberá recursos à aqueles candidatos que
forem indeferidos e será composta por três integrantes, distintos dos membros da Comissão de
Verificação, nomeados por ato interno da Reitoria, sob as condições do sigilo e da
confidencialidade. Neste sentido, a política de cotas raciais e o processo de heteroidentificação
é de extrema importância, ou seja, de certa forma é preciso referendar as declarações de negros,
pretos e pardos para evitar fraudes nesse processo de entrada nas universidades.

Palavras-chave: política institucional; cota racial; heteroidentificação.

163
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Márcio Mucedula. Raça e Desigualdade: as diversas interpretações sobre o papel da


raça na construção da desigualdade no Brasil. Tempo da Ciência, v. 15, n. 29, p. 115-133,
2008. Disponível em: https://files.ufgd.edu.br/arquivos/arquivos/78/NEAB/AGUIAR-
%20Marcio.%20Raca%20e%20desigualdade..pdf. Acesso em: 26 mar. 2023.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

CONEPE. Resolução n. 11 de 2019. Dispõe sobre a alteração da Política de Ações Afirmativas


da Universidade do Estado de Mato Grosso. Acesso em 26 de mar. 2023.

SILVA, Tatiane Dias. Ação afirmativa e população negra na educação superior: acesso e
perfil discente. Rio de Janeiro: IPEA, 2020. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_2569.pdf. Acesso em: 26 mar.
2023.

INEP. Censo da Educação Superior: divulgação de resultados 2020. Brasília: MEC, 2022.
Disponível em:
https://www.ifg.edu.br/attachments/article/1462/Censo%20Superior%202020_17%2002%202
022%20-%20Final%2011h00min.pdf. Acesso em: 26 mar. 2023.

164
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO

GRUPO DE TRABALHO 1: DIREITOS HUMANOS, SISTEMA DE JUSTIÇA


CRIMINAL E POLÍTICAS CRIMINAIS NO ÂMBITO MATERIAL E PROCESSUAL
– I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

165
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES E O FEMINICÍDIO NO


ESTADO DE MATO GROSSO NOS ANOS DE 2015 A 2022

Célia Maria Ferreira1


Antônio Leonardo Amorim2

A violência contra as mulheres e o feminicídio no Brasil continuam sendo um problema muito


sério e uma triste realidade no país. Longe de considerar tal violência como apenas pessoal,
social e cultural, dados recentes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam para uma
conotação política, na medida em que é o resultado das relações de poder, de dominação e de
privilégio estabelecidas na sociedade em agravos das mulheres, vetor resultante do machismo
e do patriarcado. A violência contra as mulheres resulta da violência doméstica, praticada junto
a ela, onde o agressor é um familiar da vítima ou já manteve algum tipo de laço afetivo com a
mesma. Essa pesquisa tem o seguinte problema, a violência praticada contra as mulheres no
Estado de Mato Grosso tem aumentado nos anos de 2015 a 2022. O objetivo central deste
trabalho será analisar os dados sobre a violência contra as mulheres e o feminicídio no Estado
de Mato Grosso nos anos de 2015 a 2022. Essa pesquisa se utilizará do método dedutivo, da
pesquisa bibliográfica, estudos e levantamentos de dados em sites oficiais, livros, jornais,
revistas e redes eletrônicas, para compreender a violência contra as mulheres no Estado de Mato
Grosso nos anos de 2015 a 2022. Os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do
Instituto Datafolha, apontam que a violência contra a mulher e o feminicídio aumentaram
consideravelmente nos últimos anos. Ademais, de duas a cada três matogrossenses já
presenciaram alguma mulher sendo agredida ou morta. Outro indicador alarmante está no
Feminicídio, que é o homicídio praticado contra a mulher, em decorrência do fato de
simplesmente por ser mulher, a misoginia e menosprezo pela condição feminina. Em relação
ao Estado de Mato Grosso as estatísticas apontam crescente taxa de feminicídio. De todos os
homicídios de mulheres registrados no Estado de Mato Grosso, 59,6% são classificados como
feminicídio. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, em 2015, ano em que a Lei
13.104/15 de feminicídio foi sancionada, foram registrados 118 casos. Já em 2016, 49 casos de
feminicídio em todo estado. No ano de 2017 foram registrados 76 casos. No ano seguinte 2018,
com 62 casos. Em 2019 com 39 casos; em 2020 com 62 casos; 2021 com 43 casos e por fim,
em 2022 com 48 casos de feminicídio. Diante do resultado dos dados acima supracitados de
violência contra as mulheres e o feminicídio no Estado de Mato Grosso nos anos de 2015 a
2022, tem aumentado e por ser preocupante é necessário e de urgência, a implementação de
políticas públicas para minimizar e/ou reverter essa triste estatística de violência doméstica
contra as mulheres e feminicídio. Para isso é de extrema necessidade adotar campanhas de

1
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água Boa. E-mail:
celia.ferreira@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.

166
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

conscientização sobre a violência contra as mulheres e o feminicídio nas escolas, nas famílias
e comunidades religiosas em geral. “Todas as vidas humanas importam. As das mulheres
vítimas de violência doméstica também”.

Palavra-chave: violência; mulheres; feminicídio.

REFERÊNCIAS

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário de Justiça de 2022. 2022.


Disponível em: https://forumseguranca.org.br/anuario-brasileiro-seguranca-publica/. Acesso
em: 21 abr. 2023.

ALENCAR, Suelen. Feminicídio aumenta em 11% em MT; média é de 4 mortes de mulheres


por mês. G1. 23/01/2023. Disponível em:
https://www.google.com/search?q=viol%C3%AAncia+e+feminicidio+no+Estado+de+Mato+
Grosso&oq=viol%C3%AAncia+e+feminicidio+no+Estado+de+Mato+Grosso. Acesso em: 21
abr. 2023.

INSTITUTO DATAFOLHA/FUNDO BRASIL. Violência contra a mulher: Como identifica e


combater? Fundo Brasil, [s.d.]. Disponível em:
https://www.fundobrasil.org.br/blog/violencia-contra-a-
mulhercomoidentificarombater/?gclid=CjwKCAjwl6OiBhA2EiwAuUwWZevuqil26Hx-
vpjjqiS4vOvQLIqR_mGO1biqIEqsuwrWi9KXrKA4_hoC9u0QAvD_BwE. Acesso em: 24
abr. 2023.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MATO GROSSO. Feminicídio: Primeiro semestre em Mato


Grosso registra 5% de redução de casos. Disponível em:
http://www.tjmt.jus.br/noticias/70180#.ZEh-GXbMLIU. Acesso em: 21 abr. 2023.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MATO TGROSSO. MT supera meta do CNJ no julgamento


de ações de feminicídio e violência contra a mulher. Disponível em
http://www.tjmt.jus.br/noticias/65792#.ZEh_kHbMLIV. Acesso em: 24 abr. 2023.

167
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

RELAÇÕES DE INIMIZADE E PERCEPÇÃO DO AMBIENTE EM UMA


ETNOGRAFIA COM POLICIAIS MILITARES

Patrik Thames Franco1

Esta comunicação, fruto de estudos e debates desenvolvidos no âmbito do Projeto de Pesquisa


Cidadania, Conflitos e Segurança Pública, da Universidade do Estado de Mato Grosso
(Unemat), pretende a apresentação de reflexões sobre uma pesquisa empírica, de natureza
etnográfica, em desenvolvimento, com policiais militares. As questões a serem debatidas
pertencem a um conjunto maior de questões, colocadas pelos próprios interlocutores, a partir
do exercício da atividade de policiamento ostensivo, preventivo e repressivo. Quando estão nas
ruas, os policiais acionam, com frequência, a categoria “inimigo”, considerada central no
contexto da composição das relações sociais; e, que incide, de modo amplo, sobre outros temas,
dentre os quais, os da caça e da guerra. A passagem da condição de paisano para a de militar é
marcada pela entrada em um estado permanente de guerra, este, teleologicamente estruturado a
partir da ideia de “atrasar a vida de bandido”. Ontologicamente, todo “bandido” é mau; e, dada
esta condição, precisa ser “caçado”, encarcerado e, não raro, eliminado. No contexto da caça,
destaca-se a mobilização de um aparato sensorial, decorrente do discernimento de se perceber
que alguma coisa está errada, que algo não se encaixa, que alguém está mentindo, que há algo
inventado, arquitetado ou montado, relativo a determinada ação para encobrir ou dificultar a
resolução de determinados crimes. É comum ouvir, por parte dos interlocutores, que a polícia
possui capacidade sensorial ampliada: visão, audição e olfato, principalmente. Fala-se, por
exemplo, em “olho técnico”, “faro policial”, além, é claro, de um elemento perceptivo que
parece central, no contexto da atividade de policiamento: o tirocínio, designado “sexto sentido”,
que se compõe a partir da interação ambiental dos diversos sujeitos envolvidos na atividade de
policiamento. Nesse sentido, sugere-se, a título de experimentação, uma aproximação entre o
material etnográfico preliminar e o debate da etnologia indígena amazônica sobre inimizade,
caça e guerra, enquanto possibilidade para se pensar a produção de relações sociais, a
socialidade, nos termos: i) de uma ecologia da percepção e; ii) de uma metafísica e pragmática
da predação.

Palavras-chave: Polícia Militar; etnografia; relações de inimizade; percepção do ambiente.

REFERÊNCIAS

BITTNER, Egon. Aspectos do Trabalho Policial. São Paulo: Edusp, 2003.

DESCOLA, Philippe. Estrutura ou sentimento: a relação com o animal na Amazônia. Mana, v.


4, n. 1, 1998.

INGOLD, Tim. The perception of the environment: essays on livelihood, dwelling and

1
Discente do Curso de Direito, Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Nova Xavantina. E-mail:
patrikthames@gmail.com.

168
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

skill. London: Routledge, 2000.

REINER, Robert. A política da polícia. São Paulo: Edusp, 2001.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Araweté: os deuses canibais. Rio de Janeiro: Jorge


Zahar Editor/ANPOCS, 1986.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A Inconstância da Alma Selvagem. São Paulo: Cosac &
Naify, 2002. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4100318/mod_resource/content/1/1%20A%20Incons
tancia%20da%20Alma%20Selvagem%20-%20Eduardo%20Viveiros%20de%20Castro.pdf.
Acesso em: 19 maio 2023.

169
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

O PREÇO DA FAMA? VILIPÊNDIO CONTRA ARTISTAS E A


VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE POST-MORTEM

Antônio Leonardo Amorim1


Julyane Bourbon Sousa Oliveira2

O direito à privacidade está previsto no art. 5°, inciso X da Constituição Federal de 1988, sendo
um direito inalienável, o qual prevê a proteção da honra, vida privada e imagem, entretanto, é
fato que os artistas possuem seu direito à privacidade restrito, visto que sua vida é baseada pela
exibição de imagem ao meio social em grande parte sem seu consentimento, devido a fama e a
exposição direta ao público, ademais, com o nascimento desenfreado das mídias sociais, a rede
de comunicação busca a todo momento novas informações para manter a comunidade entretida,
na espécie da política “pão e circo” da Roma Antiga. Ademais, no caso dos artistas a fome de
informação não cessa mesmo post-mortem, a cultura popular de visualizar o cadáver daqueles
que se forma tende a aumentar, quando os mortos em questão são famosos, de Cristiano Araújo
à Marília Mendonça, temos a influência gritante dos meios de comunicação e imprensa, no
vazamento de fotos, violando assim, direitos inerentes à pessoa humana. Nesse sentido, é fato
que os crimes contra mortos são pouco discutidos no âmbito do Direito Penal, desse modo, o
bem tutelado se difere em dois grandes prismas, o primeiro é debatido por Nelson Hungria
(1959), o legislador define o bem nesses crimes possui parentesco com os crimes de cunho
religioso, portanto, há um caráter ético e social entre eles, pois a punibilidade nesses crimes não
serviria para dar o sentimento de paz aos mortos, mas sim, aos vivos, aos familiares e amigos
que se sentiriam lesados com o desrespeito à memória do falecido, por outro lado, para Nucci
(2014) o bem tutelado seria o respeito aos que já foram, não em relação ao culto religioso, pois
ao afirmar que haveria relação com o preceito religioso acabaria menosprezando outras
religiões por assim dizer, além de excluir aqueles que não possuem religião, mas que também
podem ter seus sentimentos lesados pela exposição do corpo de cadáveres. O arcabouço
metodológico utilizado, baseou-se no método dedutivo, com a interdisciplinaridade do método
dialético com o uso da pesquisa bibliográfica, com o intuito de enlaçar o direito positivado com
as novas linhas de pensamento e argumentos do direito contemporâneo, destacando a influência
da violação dos direitos da personalidade contra artistas no passado para a criação de um novo
tipo penal, que fez nascer o crime de vilipêndio, bem como projetos de lei que buscam punição
para quem compartilha fotos de cadáveres, no mesmo rumo em que há a permanência da
imprensa e do meio social pela cultura do horror, com a exposição de fotos ilícitas obtidas no
necrotério nas redes sociais, os métodos por sua vez, foram baseados conforme os ensinamentos
de Mezzaroba e Servilha (2019). Nessa perspectiva, o objetivo é trazer um debate sobre a

1
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.
2
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus Francisco Ferreira Mendes
E-mail: julyane.oliveira@unemat.br.

170
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

tipificação penal existente e a real necessidade de criar mecanismos específicos que impeçam
a permanência da violação exacerbada contra a intimidade de artistas, verificando os projetos
de lei que tramitam no Congresso Nacional, além de verificar persuasão das redes sociais na
divulgação de fotos de artistas mesmo post-mortem. Desse modo, o projeto proposto pelo
Deputado Cesar Halum, pela criação da Lei n° 2237 de 2015, a qual busca alterar o artigo 212
do CP/40, adicionando um parágrafo único, este com o viés de punir mais incisivamente quem
reproduz em qualquer meio de comunicação, foto, vídeo ou material que contenha imagens ou
cenas aviltantes de cadáver, pois o atual Código Penal só pune quem registra as imagens, não
aqueles que as divulgam, entretanto, sabe-se que ambas as ações são danosas à privacidade e a
honra das vítimas, o dispositivo portanto, seria criado em homenagem ao cantor Cristiano
Araújo, que após sua morte e de sua namorada em decorrência de um trágico acidente na BR-
153, teve suas imagens vazadas do necrotério onde seu corpo estava sendo preparado para o
sepultamento, oito anos mais tarde, a cantora Marília Mendonça vítima de um acidente aéreo
em novembro de 2022 também teria suas fotos durante a necrópsia vazadas meses depois do
fato que ceifou sua vida, ambos os artistas portanto, tiverem sua memória manchada, o crime
tipificado como vilipêndio nos termos do art. 212 do CP, o qual prevê pena de detenção de um
a três anos, além de multa para aqueles que o praticam, dessa forma, é válido pontuar que esse
crime também atinge o meio cibernético, apesar de não está expresso no caput do referido
artigo. Sob o ângulo histórico, o século XIV, traz consigo a chamada era da informação, a qual
traz a revolução tecnológica ao seio social, nesse sentido, o número crescente de pessoas
conectadas e notícias auxilia no compartilhamento desenfreado de informações, veículos como
‘WhatsApp’, ‘Instagram’, ‘Facebook’ e ‘Twitter, as quatro principais redes sociais da
contemporaneidade incentivam o “boom” de informações, não filtrando o conteúdo
compartilhado pelos seus usuários, sob essa interpretação, o crime de vilipêndio acaba sendo
mais comum do que parece, pois devido a cultura popular do terror, onde a sociedade se
abrilhanta com a ideia da morte ultrapassando os paradigmas de respeito, acaba sendo comum
e prático o compartilhamento de fotos de acidentes banais diários e por consequência dos corpos
que acabam tendo suas vidas dizimadas pela banalidade, o simples ato de curtir e repassar se
torna prático ao senso comum, como uma mera informação de pouca importância, servindo
apenas para saciar o senso de curiosidade. Outrossim, conclui-se dessa maneira que a adição de
novo dispositivo, como o parágrafo único a ser adicionado no art. 212, como prevê o projeto de
lei que tramita na Câmara dos Deputados só seria benéfico à legislação, caso acompanhado com
a educação social, pois a existência do crime de vilipêndio é uma triste realidade de uma
sociedade que vive nas entranhas do passado, fanática pela política da exposição, não se
importando com a proteção de direitos fundamentais alheios, principalmente em reverência à
artistas e direitos à personalidade, ter-se-á, assim a predominância da proteção do princípio
basilar das pessoas físicas: a dignidade da pessoa humana, nos arquejos do art. 1°, III, da
Constituição Federal de 1988.

Palavras-chave: artistas; direitos da personalidade; redes sociais; vilipêndio.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 20 jun. 2023

171
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

2023.

BRASIL. Lei N. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 20 jun.
de 2023.

CRUZ, Gustavo. Assim como Marília Mendonça, Cristiano Araújo teve fotos do corpo vazadas;
relembre o caso: cantor morreu após carro dele capotar na br-153, em 2015. Suspeitos do crime
foram indiciados por vilipêndio. G1. 2023. Disponível em:
https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2023/04/16/assim-como-marilia-mendonca-cristiano-
araujo-teve-fotos-do-corpo-vazadas-relembre-o-caso.ghtml. Acesso em: 22 jun. 2023.

DAVID, Décio Franco. Análise crítica dos crimes contra o respeito aos mortos no Direito
Penal brasileiro. 2016. Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_
servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RBCCrim_n.117.04.PDF. Acesso em: 20 jun.
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HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1959. vol.
8.

MEZZAROBA, Orides; MONTEIRO, Cláudia S. Manual de Metodologia da Pesquisa no


Direito. Editora Saraiva, 2019. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553611560/. Acesso em: 21 jun. 2023.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal comentado. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

PEREIRA, Lucas; NEGRINI, Michele. Reflexões sobre a cobertura da morte de Cristiano


Araújo no Jornal Nacional. Revista de Comunicação Dialógica, n. 2, p. 62-77, 2019.
Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/rcd/article/view/49940/33139.
Acesso em: 21 jun. 2023.

UOL. Lei Cristiano Araújo: projetos querem punir quem compartilha fotos de morto. UOL.
2015. Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2015/07/08/lei-cristiano-
araujo-projetos-querem-punir-quem-compartilha-fotos-de-morto.htm. Acesso em: 20 jun.
2023.

172
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

A (IN)EFICIÊNCIA DAS PENAS DOS CIBERCRIMES

Larissa Borges da Silva Santos1


Antônio Leonardo Amorim2

Com a evolução da informática, por ser um meio de comunicação de massa, a internet acabou
por facilitar e, consequentemente, aproximar o convívio e a interação entre pessoas de diversos
lugares do planeta em um tempo recorde. Diante disso, indaga-se: tem sido eficaz as penas
aplicadas nos casos de cibercrimes? A presente pesquisa tem por objetivo o estudo da realidade
social voltado aos crimes cibernéticos e, através de pesquisas bibliográficas e documentais,
assim como estudos de casos e uma abordagem quali-quantitativa, o intuito de explorar e
descrever tal fenômeno social demonstrando assim os resultados obtidos. Dentre as infinitas
possibilidades advindas da internet, a busca por informações, entretenimento, relacionamentos
e até mesmo o comércio são apenas algumas das principais atividades proporcionadas por este
meio. Entretanto, com a evolução histórica da internet no Brasil, assim como em diversos outros
países, surgiu os chamados cibercrimes ou crimes cibernéticos, ou seja, foi se tornando comum
a prática de crimes com o uso da informática e principalmente através das diferentes
plataformas disponibilizadas na internet. Dentre as diversas modalidades de cibercrimes, as
mais usuais e conhecidas são aquelas cometidas contra a honra, como os crimes de calunia,
injuria e difamação, os crimes de pedofilia e pornografia infantil, diversos tipos de fraudes como
as compras e vendas fantasmas, roubo de dados e chantagem, stalking ou perseguição e entre
outros. Com os crimes cibernéticos surge para o Estado a necessidade da criação de uma
modalidade de controle especifica para a nova realidade social e com isto foram criadas a Lei
n.º 12.737/2012, conhecida como Lei Carolina Dieckmann, e posteriormente as Leis n.º
14.155/2021 e n.º 14.132/2021. Entretanto, apesar da visível preocupação dos legisladores com
esta recente modalidade de crime e a sua busca por penas mais gravosas, chegando a penas
máximas de até 8 anos de prisão em alguns crimes, na prática a realidade ainda é outra. Dentre
os problemas encontrados na prática, de início já é possível encontrar o primeiro obstáculo para
colocar em pratica as leis dos cibercrimes que é a dificuldade de descobrir quem é o autor do
fato. Logo é necessário, além da legislação, outras medidas para ter a verdadeira efetividade
paras as penas impostas nos crimes cibernéticos.

Palavras-chave: cibercrimes; legislação; inefetividade.

1
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água Boa.E-mail:
Larissa.borges.das.s@gmail.com.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.

173
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

REFERÊNCIAS

BAPTISTA, Rodrigo. Lei com penas mais duras contra crimes cibernéticos é sancionada.
Senado Notícias. 2021. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/05/28/lei-com-penas-mais-duras-contra-
crimes-ciberneticos-e-sancionada. Acesso em: 28 de abril de 2023.

LOPES, Fabio Juliate. Porque aumentar penas não resolve o problema dos Cibercrimes.
Jusbrasil. 2021. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/porque-aumentar-penas-
nao-resolve-o-problema-dos-cibercrimes/1233925409. Acesso em: 28 de abril de 2023;

SANCHES, Ademir Gasques. De Angelo, Ana Elisa. Insuficiência das leis em relação aos
crimes cibernéticos no Brasil. Jusbrasil. 2018. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/66527/insuficiencia-das-leis-em-relacao-aos-crimes-ciberneticos-
no-brasil. Acesso em: 28 de abril de 2023;

174
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

A LEI DA ALIENAÇÃO PARENTAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS EM


DECORRÊNCIA DA PANDEMIA COVID-19

Bruna Barreira Sales de Paula1


Antônio Leonardo Amorim2
Stefânia Fraga Mendes3

O presente artigo visa abordar a Lei 12.318/2010, que dispõe sobre a alienação parental durante
o período pandêmico, evidenciando ao autor como surgiu o termo e em que momento a
alienação parental pode se desenvolver. O objetivo principal da pesquisa é analisar os efeitos
principais da alienação parental diante a pandemia, além de aduzir suas consequências no
contexto familiar, utilizando das doutrinas e jurisprudência em decorrência da mudança
significativa da Lei. A metodologia da pesquisa ora entregada, diz respeito ao levantamento
bibliográfico auxiliando na contextualização, aliado as modificações na lei supracitada, bem
como jurisprudência. A análise se faz em torno da elaboração da Lei 12.318/2010, questões
processuais e a definição das condutas oponíveis e alienantes, a contar do ano de 2020, não
somente o Brasil como o mundo padece de forma grave com a pandemia COVID-19, doença a
qual levou inúmeras pessoas a morte repentina, trazendo diversas consequências para a
população mundial. Advindo do isolamento os processos de alienação parental obtiveram
grande alta, ocasionando mudanças significativas na lei. De acordo com o CNJ (Conselho
Nacional de Justiça), foram cerca de 10.950 ações em 2020, um crescimento de cerca de 171%
em comparação com o ano antecedente a pandemia. No dia 19 de maio de 2022, sancionou-se
a Lei 14.340/2022 que originou modificações significativas acerca da alienação parental,
estabelecendo, portanto, procedimentos adicionais possíveis à suspensão do poder familiar.
Dentre todas as consequências advindas da pandemia, trataremos sobre os casos de alienação
parental, que em decorrência da Lei, tomou novo formato, trazendo algumas regras processuais,
estabelecendo mudanças quanto ao acompanhamento psicológico, bem como a emissão de ao
de laudos, além da garantia mínima de visitação, estipulando ainda que, seja feita a oitiva da
criança ou adolescente perante equipe multidisciplinar.

Palavras-chave: alienação parental; Lei 12.318 de 2010; COVID-19; jurisprudência; Lei


14.340 de 2022.

1
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água Boa.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.
3
Mestre pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP. (2014-2016). Formou-se na
Faculdade de Direito de Franca (2009-2013). Professora universitária (Universidade do Estado de Mato Grosso -
UNEMAT). Foi bolsista CAPES (2014-2016). Foi bolsista do Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - CNPq (2010/2011 e 2012/2013). Membro do grupo - Projeto de Extensão Papo Direito (UNEMAT)
(2019-2020). Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Direitos Fundamentais e Interdisciplinaridade -
GEDIFI/UNEMAT (2017). Tem interesse nas áreas: Direito Civil - Obrigações, Contratos, Reais e Família.

175
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

REFERÊNCIAS

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Agência Senado. 2022. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2022/04/12/senado-aprova-projeto-que-
modifica-medidas-contra-alienacao-
parental#:~:text=Senado%20aprova%20projeto%20que%20modifica%20medidas%20contra
%20aliena%C3%A7%C3%A3o%20parental,-
Compartilhe%20este%20conte%C3%BAdo&text=O%20Plen%C3%A1rio%20do%20Senado
%20aprovou,modifica%20regras%20sobre%20aliena%C3%A7%C3%A3o%20parental.
Acesso em: 26 de jun. 2023.

CARDOSO, Simone Tassinari; Oliveira, Betina Alves de. Os Efeitos da Pandemia de Covid-
19 na prática de alienação parental: análise de jurisprudência e bibliografia. Disponível em:
www.lume.ufrgs.br/handle/10183/237572. Acessado em 25/06/2023.

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 15. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo:
JusPODIVM, 2022.

GARIBOTI, Diuster de Franceschi. A pandemia na pandemia: O agravamento da alienação


parental no Brasil como consequência do isolamento social COVID-19. Revista Científica
Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, 2021. Disponível em:
www.nucleodoconhecimento.com.br/lei/consequencia-do-isolameto. Acesso em: 25 jun. 2023.

LAMOUNIER, Ingrid. Casos de alienação parental aumentam em meio à pandemia. 2022.


Disponível em: www.segs.com.br/demais351917-casos-de-alienação-parental-aumentam-em-
meoio-a-pandemia. Acesso em 25 de jun. de 2023.

BRASIL. Lei da Alienação Parental. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Diário Oficial da
União, Poder Legislativo, Brasília, DF. Disponivel em: http://crpsp.org.br/interjustica/pdfs/Lei
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BRASIL. Alteração da Lei de Alienação Parental, lei 14.340 de 18 de maio de 2022. Diário
Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF. Disponível em:
www.planalto.gov.br/ccivil_03/ato2019-2022/2022/Lei/L14340.htm. Acesso em: 19 abr. 2023.

MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO, Rolf. Síndrome da Alienação Parental:


importância da detecção – aspectos legais e processuais. 4. ed. rev. e atual. Rio de
Janeiro: Forense, 2017.

176
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

GRUPO DE TRABALHO 2: DIREITO PRIVADO MATERIAL E PROCESSUAL E


CONTEMPORANEIDADES – I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

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RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

USUCAPIÃO FAMILIAR E A JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO (TJMT)

Janine Barbosa de Souza Galindos1


Antônio Leonardo Amorim2
Stefania Fraga Mendes3

A Usucapião é um instituto advindo dos Direitos Reais que promove a aquisição de propriedade
em sua modalidade originária, por meio da posse prolongada e ininterrupta do bem durante
período determinado em Lei. Dentre as várias espécies de usucapião descritas no Código Civil,
o art. 1.240-A, prevê a mais recente delas, denominada usucapião familiar. Trata-se de
dispositivo acrescido ao Código Civil pela Lei n. 12.424/2011 que dá direito a domínio integral
da propriedade àquele “que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse
direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros
quadrados) cuja propriedade dívida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar,
utilizando-o para sua moradia ou de sua família, desde que não seja proprietário de outro imóvel
urbano ou rural”. Dessa maneira, para que haja o direito à usucapião familiar a lei exige que: a)
haja posse direta, sem oposição e com exclusividade sobre imóvel urbano com metragem não
superior à 250m²; b) a posse deve ser sem interrupção por um período de dois anos, utilizando
o imóvel para moradia; c) não deve possuir outro imóvel, seja ele urbano ou rural; d) e deve
haver o abandono do lar por parte do ex-cônjuge ou ex-companheiro. Para Gonçalves (2022)
trata-se de nova modalidade de usucapião especial urbana que tem por objetivo acolher público
de baixa renda, que não possua imóvel próprio, seja ele urbano ou rural, cujo direito só poderá
ser concedido uma única vez em favor do requerente. Os requisitos para a aquisição da posse
mediante usucapião familiar são semelhantes aos encontrados nas demais espécies de
usucapião. Segundo Tartuce (2011), o fator de destaque presente na norma é o abandono do lar
somado ao estabelecimento de moradia com posse direta. A redução do prazo para dois anos
faz com que as decisões sejam tomadas com maior rapidez, seguindo a tendência do mundo
contemporâneo. Desse modo, o fator preponderante para a aplicação da norma é o abandono do
lar. Dessa maneira, no presente trabalho volta-se o olhar para este requisito na medida em que,
por ser um termo subjetivo, há uma dificuldade de se entender o que pode ou não ser
caracterizado como abandono do lar. Considerando a subjetividade desse requisito para o
julgamento favorável de um processo de usucapião familiar, questiona-se: quais são os
parâmetros para fixação da usucapião familiar o Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso

1
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água Boa. E-mail:
janine.galindos@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.
3
Mestre em Direito pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) Professora no Curso
de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus Água Boa. E-mail: stefania.mendes@unemat.br.

178
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

tem adotado? No que diz respeito a metodologia utilizada, foi realizada pesquisa bibliográfica
e documental, buscando nas jurisprudências do TJMT decisões sobre usucapião familiar.
Primeiramente, o que foi possível perceber com essa busca foi a rara ocorrência de casos
judicializados no Estado de Mato Grosso, intitulados de usucapião familiar. Dos dois acórdãos
encontrados, em apenas um deles o processo foi julgado com resolução de mérito. Vejamos o
que diz o acórdão “embargos de Declaração no Recurso de Apelação Cível – Apelação Cível –
Ação de Divórcio Litigioso – Partilha de Bem Imóvel – Pretensão de usucapião familiar por
abandono do lar – Art. 1.242-A do Código Cívil – Inviabilidade – Imóvel adquirido na
constância do casamento – Direito de Partilha – Manutenção – Rediscussão da Matéria –
Inexistência dos requisitos do art. 1.022 do Novo Código de Processo Civil – Recurso
conhecido e desprovido.” (TJMT. Embargos de Declaração nº 57391/2016. Relator Des. Dirceu
dos Santos. Julgado em 22.06.2016). De acordo com o entendimento do TJMT, apesar de a
requerente preencher os demais requisitos dispostos no art. 1240-A, do Código Civil, não ficou
demonstrado a presença do requisito legal referente ao abandono do lar conjugal. Apesar das
alegações da requente de que o embargado abandonou o lar sem dar nenhuma explicação sobre
a sua ausência, nem se retornaria, o Tribunal ratificou a decisão proferida pelo Magistrado a
quo ao afirmar que “o apelado não abandonou o lar por liberalidade, e sim por não ser mais
possível a convivência harmoniosa sob o mesmo teto” que a requerente. Afirma ainda que o ato
de abandono deve se dar pela saída do lar de maneira injustificada. Desse modo, a saída do
cônjuge por razões alheias à sua vontade não configura abandono de lar. Percebe-se que o termo
abandono do lar de maneira injustificada se torna obscuro em demasia, apesar de ser possível
compreender que não se concretiza a usucapião familiar quando há consenso entre as partes ou
caso haja existência de medida que obrigue uma das partes a se retirar da residência. Pablo
Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2022) preceituam que o abandono em questão deve
resultar de um comportamento voluntário e unilateral da parte. Já a VII Jornada de Direito Civil,
realizada em 2015, tenta trazer mais clareza ao tema por meio do Enunciado n. 595, ao dispor
que “o requisito "abandono do lar" deve ser interpretado na ótica do instituto da usucapião
familiar como abandono voluntário da posse do imóvel somado à ausência da tutela da família,
não importando em averiguação da culpa pelo fim do casamento ou união estável.” Nesse
sentido, percebe-se que deve haver um olhar mais atento voltado para o requisito abandono do
lar quando abordado o tema de usucapião familiar. Por ter um caráter subjetivo, o requisito
ainda necessitará de uma maior solidificação das jurisprudências no estado que tratam sobre o
tema, trazendo à luz debates jurídicos que traga maior clareza e maior segurança jurídica às
partes envolvidas.

Palavras-chave: Direito Civil; propriedade; usucapião familiar; abandono do lar.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Código Civil. Brasília, Casa Civil. Subchefia para assuntos Jurídicos. Lei nº 10.406,
de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 25 jun. 2023.

179
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

BRASIL. Lei nº 12.424, de 16 de junho de 2011. Disponível em:


http://www.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12424.htm. Acesso
em: 25 jun. 2023.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso. Embargos de Declaração nº 57391


de Mato Grosso. Relator Des. Dirceu dos Santos. Pesquisa de Jurisprudência. Acórdão julgado
em 22 de junho de 2016. Disponível em:
http://servicos.tjmt.jus.br/processos/tribunal/dadosProcesso.aspx. Acesso em: 26 jun. 2023.

ELUAN, I. F.; FERREIRA, C. de S.; MARINI FILHO, A. Usucapião Familiar: Defesa do


Direito à Moradia. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. [S.l.],
v. 7, n. 11, p. 210-227, 2021. Disponível em:
https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/3055. Acesso em: 26 jun. 2023.

GAGLIANO, Pablo S.; FILHO, Rodolfo P. Manual de Direito Civil: volume único. Editora
Saraiva, 2022. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786553620711/. Acesso em: 26 jun. 2023.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. Direito das coisas. 17. ed., v.5. Editora
Saraiva Educação SA, 2022.

GUILHERME, Luiz Fernando do Vale de A. Código Civil Comentado e Anotado. Editora


Manole, 2017. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788520454589/. Acesso em: 25 jun. 2023.

TARTUCE, Flávio. A usucapião urbana por abandono de lar. IBDFAM, 2011. Disponível
em: https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/121820005/a-usucapiao-especial-urbanapor-
abandono-do-lar-conjugal. Acesso em: 23 nov. 2021.

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RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

MUDANÇAS DA NOVA LEI DE LICITAÇÕES: OBJETIVOS E


CONTROLE DADO PELA LEI 14.133/2021

Wandervaney Soares da Silva1


Antônio Leonardo Amorim2

O resumo tem como tem como objetivo apresentar o entendimento da Lei n.º 14.133/2021 –
conhecida como Nova Lei de Licitações, mostrando as principais novidades e mudanças
comparada com a Lei n.º 8.666/93. Serão expostas as percepções dessa nova lei, seus benefícios
e obstáculos, principalmente pelo fato de ter essa norma trazido diversas inovações jurídicas,
responsáveis por novos paradigmas jurídicos do trato do bem público. Por isso, questiona-se
qual é a principal inovação e o que realmente precisa ser inovado? A administração pública é
responsável pela execução da obra e prestação de serviços quando necessário, devendo haver
pessoa jurídica responsável pelo fornecimento de materiais e mão de obra, para selecionar essa
pessoa, deve ocorrer um processo de seleção chamado licitação. É um processo formal no qual
as empresas competem entre si para selecionar fornecedores de serviços e produtos para
organizações públicas. O procedimento licitatório é um conjunto de procedimentos
administrativos para as compras e serviços contratados pelos três entes federados, o governo é
responsável pela compra e contratação de serviços de acordo com as regras previstas em lei,
portanto a licitação é um processo formal pelo qual disputas entre as partes interessadas.
Inicialmente, será considerado como um processo de licitação para compreendendo mais a
administração pública como os procedimentos administrativos, a validade e aplicabilidade das
novas leis, os objetivos e princípios que regem o processo licitatório, seus princípios, etapas e
modalidades, uma análise mais aprofundada das mudanças na forma de licitar será discutida
posteriormente, comparando a antiga Lei n.º 8.666/93 com a nova lei de licitações, em seguida
analisando as mudanças na nova lei no que se refere às sanções administrativas e penais, e por
fim, aborda-se a perspectiva sobre todo o funcionamento da nova lei de licitações, seus
benefícios e obstáculos, mostrando que mesmo com a implantação da nova Lei a Lei também
não apresenta soluções para os problemas.

Palavras-chave: Administração Pública; Direito Administrativo; licitação.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá

1
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água Boa. E-mail:
wandervaney.silva@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.

181
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 de jun. 1993. Disponível em:
www.planalto.gov.br. Acesso em: 13 jun. 2023.

BRASIL. Lei n. 14.133, de 01 de abril de 2021. Lei de Licitações e Contratos Administrativos.


Diário Oficial da União, Brasília, DF, 01 de abr. 2021. Disponível em: www.planalto.gov.br.
Acesso em: 13 jun. 2023.

182
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

O DIREITO DE REPRESENTAÇÃO NO CASO DE COMORIÊNCIA E O


PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

Nayra Caroline Nascimento dos Santos1


Stefania Fraga Mendes2

O Direito Sucessório é um direito que se torna evidente, especialmente, após a morte de um


familiar. O direito de herdar nasce com o evento morte, portanto, não havendo testamento
deixado pelo de cujus, restam pessoas legítimas para receber essa herança deixada, que são os
herdeiros consanguíneos. Em caso de morte de uma pessoa, a partir desse momento, a herança
é transmitida e aplica-se o princípio do saisine, previsto no artigo 1784 do Código Civil. O
estudo em questão aborda a relação da comoriência e o direito de representação. Em havendo a
comoriência, a doutrina afirma que a morte é diagnosticada por um médico legista. Se não puder
identificar o momento da morte entre duas ou mais pessoas entende-se que houve a
comoriência. Em seu artigo 8º, o Código Civil apresenta o conceito de comoriência: “Se dois
ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos
comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos”. A questão a ser
pensada é: e quando há a morte simultânea do ascendente e do descendente? O direito de
representação deve ser concedido aos filhos do herdeiro que falece simultaneamente ao autor
da herança? A doutrina majoritária não tem admitido o direito de representação, todavia, a
jurisprudência tem decidido para que seja concedido aos filhos de herdeiros mortos em
comoriência. O problema deste artigo volta-se à discussão por exemplo, no caso de falecimento
de um pai e filho, em que não é possível definir qual dos dois morreu primeiro. A presente
pesquisa utiliza a metodologia qualitativa a partir de levantamento bibliográfico. À luz da
legislação vigente, em uma hipótese em que esse filho tenha deixado um descendente, pela
ocasião da comoriência, o seu filho não poderá entrar com o direito de representação para ter
direito a herança do avô, que seria por direito de seu pai. O Direito Sucessório está intimamente
relacionado com o Direito de Família e Direitos Reais, especialmente a propriedade. A morte é
um tema muito polêmico para as pessoas, causando medo e terror, então deixar um testamento
é uma alternativa para cumprir a vontade do falecido. Um testamento descreve o direito à
autodeterminação para fins de teste e pode conter disposições ou condições destinadas a
proteger bens e, assim, contribuir para o futuro de, por exemplo, um filho adulto. Há uma
cláusula aditiva segundo a qual uma pessoa escolhida pelo testador recebe uma tutela especial
para administrar a herança até que seus descendentes exerçam os direitos civis e assim
governem sobre ela. Se em um caso concreto for um herdeiro, fica resolvido todo o problema
levantado durante a investigação, pois o quem herdará pode testar a sua herança até ao limite.
Nesse caso, ganha o seu testamento, se a situação concernir aos necessários herdeiros, a questão
está parcialmente resolvida, pois há uma limitação do direito sucessório no direito civil, que
corresponde à metade da herança. O artigo 1851 diz respeito ao instituto da representação em

1
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Nova
Xavantina.Email:nayra.caroline@unemat.br.
2
Mestre em Direito pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Professora no Curso
de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus Água Boa. E-mail:stefania.mendes@unemat.br.

183
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

que um filho falecido pode deixar um legado para seus descendentes por representação. Então,
no caso de comoriência, não havendo a possibilidade de uso do direito de representação, como
ficaria a situação dos netos? Considerando esta hipótese, reforça-se a necessidade do
planejamento sucessório ou do planejamento do testamento, para que tais situações não deixem
os descendentes desassistidos. O ordenamento jurídico possui diversos testamentos para
auxiliar nesse planejamento. O plano e seus pontos devem ser executados de acordo com as
formalidades exigidas pela legislação, para que não sofra com sua nulidade. Entende-se que
50% da herança do falecido fica reservada aos herdeiros necessários e os 50% são disponíveis,
podendo, inclusive, serem distribuídos por testamento a quem o testador desejar. Poderá legar
em favor de herdeiros necessários ou para terceiros, doar para instituições, para o nascituro já
concebido no ventre materno quando o testamento é elaborado – haverá a discricionaridade de
dispor da forma que quiser. O testador pode, ainda, nomear seus herdeiros e, em sua ausência,
seu substituto para receber os bens do falecido. O testador pode deixar uma condição no
testamento, estipular uma determinada situação para determinada pessoa, por exemplo: “Deixo
minha casa de campo para minha sobrinha até que ela passe no vestibular de medicina”. Um
testador pode provar certos bens com cláusulas restritivas e de necessidade, inalienabilidade e
sequestro para fins de proteger os bens do beneficiário. Um testamento pode nomear um tutor
especial nos casos em que um dos progenitores receie que o progenitor sobrevivente ponha em
perigo os bens deixados aos filhos. Deve sempre haver uma última vontade válida do testador
para fazer valer o direito do indivíduo à autodeterminação privada e respeitar as instruções que
o falecido teria dado ao seu patrimônio. Durante a execução de um testamento, é o momento de
dar voz ao falecido e honrar a sua última vontade, um momento, embora doloroso e tão sensível,
que pode e deve ser respeitado e realizado conforme descrito no testamento. É importante que
as pessoas vejam e entendam o quão preciso e eficaz é o planejamento sucessório, quanta dor e
sofrimento podem ser evitados para os familiares que permanecem aqui. É necessário
compreender a importância de testar, como sendo um ato de última vontade da pessoa, podendo
assistir pessoas, as quais não seriam porque a lei não atende. Quanto a temática da comoriência
e o direito de representação, tem-se o Enunciado 610 da VII Jornada de Direito Civil que
menciona: “Nos casos de comoriência entre ascendente e descendente, ou entre irmãos,
reconhece-se o direito de representação aos descendentes e aos filhos dos irmãos”. A
jurisprudência caminha em um sentido e a doutrina em outro. O não reconhecimento do direito
de representação aos filhos de herdeiro falecido em concomitância com o autor da herança
evidencia-se uma notória injustiça e paradoxo no campo do Direito Civil.

Palavras-chave: comoriência; direito de representação; planejamento sucessório; testamento.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 20 jun. 2023.

DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 6. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Editora
JusPodivm, 2019.

184
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

GAGLIANO, Pablo Stolze. Comentários ao Código Civil Brasileiro. 17. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2008.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, v. V e VI. Direito de Família e
Direito das Sucessões. Rio de janeiro: Editora Forense.

TARTUCE, Flávio. Direito Civil: direito das sucessões. v. 6. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019.

185
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

PLÁGIO NA INDÚSTRIA FONOGRÁFICA: UM ESTUDO DA


PROTEÇÃO LEGAL DOS DIREITOS AUTORAIS

Kamilla Lopes Pedrini1


Kamilly Ros Souza Matos2

A expansão do sistema capitalista com a Revolução Industrial trouxe mudanças significativas


no que tange à propriedade de bens imateriais, em especial às composições musicais, objeto da
indústria fonográfica. A partir do desenvolvimento maciço do mercado musical, no século XX
e, mediante o surgimento de organizações internacionais voltadas à regulamentação mundial da
propriedade intelectual, legislações nacionais passaram a adotar mecanismos para coibir
contrafações de músicas. Tendo em vista as evoluções tecnológicas nas mídias digitais que
proporcionaram maior acesso a produções artísticas musicais, além de avanços das funções de
máquinas por meio da inteligência artificial, cuja capacidade de criação assemelha-se a de um
ser humano, o estudo dos direitos autorais mostra-se pertinente neste contexto. Diante do
avanço tecnológico e da expansão da Indústria Cultural, a conceituação de propriedade alargou-
se e a guarda da propriedade, portanto, passou a se dar não somente no âmbito dos bens
materiais, mas também no dos bens intangíveis. Os direitos autorais surgem, então, como forma
de preservar a criatividade de textos de obras literárias, artísticas ou científicas, conferências,
alocuções, sermões, obras dramáticas ou coreográficas, coreográficas ou audiovisuais, dentre
outras previstas no art. 7º da Lei 9.610 (Teixeira, 2018). No ordenamento jurídico pátrio, os
direitos autorais têm como base constitucional o art. 5º, incisos XXVII e XXVIII, sendo,
portanto, um direito fundamental; sua base infraconstitucional dá-se por meio da Lei nº
9.610/98, cuja criação deu-se como resultado do Acordo TRIPS, que regulamentou o tema no
âmbito internacional. Mediante a previsão legal obtida, os agentes da indústria fonográfica
podem, a partir disso, obter tutela jurisdicional para arguir a propriedade sobre suas criações,
observando os direitos morais (dentre eles, o de ser reconhecido como criador da obra, a
qualquer tempo, sendo irrenunciáveis e inalienáveis) e os patrimoniais (previsões que
asseguram a propriedade diante de interferência de terceiros por um período, sendo
transmissíveis e temporais). Dessa forma, um músico-compositor ao utilizar determinada peça
musical como base de outra, mesmo não sendo obrigatório que seja realizado o registro em
órgãos competentes como ocorre na propriedade industrial, deve requisitar autorização do
compositor em que se baseou caso ainda não tenha passado o período de 70 anos, ou seja,
quando a música ainda estiver em domínio público (Diniz, 2023). No entanto, cabe ressaltar as
dificuldades na configuração de plágio na música, descrito no art. 5º, inciso VII, da Lei dos
Direitos Autorais, pelo termo contrafação, que se configura mediante reprodução não
autorizada pelo autor da obra. Ocorre que, quando se trata de música, a identificação do plágio
torna-se mais sensível, pois essa linguagem artística manifesta-se por meio da combinação de
sete notas e doze sons apenas (Bohumil, 2000), ou seja, a própria natureza dessa arte restringe

1
Graduanda em Direito na Universidade do Estado de Mato Grosso, Núcleo Pedagógico de Rondonópolis –
Campus Alto Araguaia; E-mail: kamilla.pedrini@unemat.br.
2
Graduanda em Direito na Universidade do Estado de Mato Grosso; Núcleo Pedagógico de Rondonópolis –
Campus Alto Araguaia kamilly.matos@unemat.br.

186
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

os artistas. Maiores tensões foram geradas com o surgimento da Inteligência Artificial, que cria
obras de acordo com as bases de dados fornecidos pelos próprios músicos à Big Data, sem
autorização ou ressarcimento aos compositores, problemática que deve ser debatida
doutrinariamente e nas legislações nacionais e internacionais. Destarte, a finalidade deste
trabalho é apresentar as normas jurídicas dos ordenamentos internacional e nacional de proteção
aos direitos autorais que se aplicam a produções artísticas de músicos ou compositores como
forma de coibir plágios na indústria fonográfica. A presente pesquisa utiliza a metodologia
qualitativa, adotando os métodos dedutivo e coleta bibliográfica de artigos, leis, doutrinas,
convenções internacionais e jurisprudências, no intuito de conciliar o direito positivo com a
esfera fonográfica e seus direitos autorais. Concluiu-se, portanto, que o conceito de propriedade
no direito acompanha as tendências da indústria cultural contemporânea, e considerando esse
fator, o presente trabalho teve como objetivo apresentar as representações legais dos direitos
autorais dos compositores e a sua importância ao mercado fonográfico, tendo em vista que essa
espécie de propriedade intelectual assegura o reconhecimento e retorno financeiro aos músicos,
frente a terceiros e às dinâmicas tecnológicas hodiernas.

Palavras-chave: direitos autorais; indústria fonográfica; propriedade intelectual.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988.

BRASIL. Decreto nº 75.699, de 6 de maio de 1975. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 6 de maio de 1975.

BRASIL. Lei nº 9610, de 19 de fevereiro de 1988. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 20 de fevereiro de 1988.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. 36ª Ed. Saraiva
Jur, 2022.

MED, Bohumil. Teoria da Música. 4. ed. Brasília: Musimed, 1996.

TEIXEIRA, Tarcísio. Direito empresarial esquematizado: doutrina, jurisprudência e prática.


7. ed. São Paulo: Saraiva Educação. 2018.

187
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

A ALIENAÇÃO PARENTAL E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O


DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Jamile Soledad Blanco1


Stefânia Fraga Mendes2
Antônio Leonardo Amorim3

A presente pesquisa diz respeito a Síndrome da Alienação Parental (SAP), considerada para o
psiquiatra americano Richard Gardner como um conjunto de comportamentos que uma pessoa
exerce para afastar a criança de um dos seus genitores, e as consequentes implicações para o
desenvolvimento da criança e do adolescente. Nesse âmbito, deve-se questionar: qual a
responsabilidade dos genitores diante da alienação parental, seus motivos e consequências para
a criança? Os pais costumam adotar medidas para inviabilizar o contato da criança e do
adolescente com o outro genitor. Isso pode ser feito através de mentiras, manipulações,
interferências no contato telefônico, entre outras formas. A criança e o adolescente têm
dificuldades em identificar se está sendo manipulada ou não e acredito naquilo que está sendo
dito a ela, de forma contínua e reiterada. As consequências dessa alienação e falta de
responsabilidade daqueles que deveriam proteger, podem acarretar sérios problemas para o
desenvolvimento. A criança e o adolescente podem se sentir confusos e divididos em relação
aos seus sentimentos aos pais. Em alguns casos, podem vir a rejeitar completamente um dos
genitores, acreditando que ele é ruim ou perigoso. Isso pode causar prejuízos na autoestima,
desenvolvimento cognitivo e emocional da criança e do adolescente, além de gerar conflitos
emocionais que os acompanham até a vida adulta. A pesquisa em questão emprega a
metodologia qualitativa, com emprego do método dedutivo e levantamento bibliográfico com
objetivo de analisar a responsabilidade do genitor diante da ocorrência de alienação parental,
os motivos iniciais que acarretaram a SAP e as consequências de tal ato à criança e ao
adolescente. Desse modo, é importante elucidar a origem do termo e sua evolução no campo da
psicologia e no campo jurídico, descrevendo as situações que podem propiciar a alienação
parental como conflitos conjugais, disputas de guarda e ainda fatores que aumentam o risco de
ser alienada como sua idade, gênero e personalidade. Cabe salientar que no Brasil, a Síndrome
da Alienação Parental é considerada um grave problema sociofamiliar e é reconhecida pela Lei
nº 12.318/2010, que dispõe sobre a alienação parental e prevê medidas para combater e prevenir

1
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água Boa.
2
Mestre pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP. (2014-2016). Formou-se na
Faculdade de Direito de Franca (2009-2013). Professora universitária (Universidade do Estado de Mato Grosso -
UNEMAT). Foi bolsista CAPES (2014-2016). Foi bolsista do Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - CNPq (2010/2011 e 2012/2013). Membro do grupo - Projeto de Extensão Papo Direito (UNEMAT)
(2019-2020). Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Direitos Fundamentais e Interdisciplinaridade -
GEDIFI/UNEMAT (2017). Tem interesse nas áreas: Direito Civil - Obrigações, Contratos, Reais e Família.
3
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.

188
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

essa prática. Os juízes, em casos de disputa de guarda, levam em consideração a possibilidade


da prática da alienação parental e podem determinar a adoção de medidas como a guarda
compartilhada, no intuito de evitar sua ocorrência. A lei também prevê sanções para o genitor
que age com má-fé ao manipular a criança para prejudicar o outro genitor, como multas e até
mesmo a perda da guarda. O principal objetivo da Lei é garantir o bem-estar da criança e a
convivência saudável com ambos os pais. Dessa forma, as medidas de combate à síndrome da
alienação parental no direito buscam proteger os direitos das crianças e dos adolescentes e
garantir o desenvolvimento saudável e um ambiente familiar harmônico. Assim, é necessário
analisar como é feito o diagnóstico, quais os instrumentos disponíveis e como é feita a
intervenção terapêutica e jurídica, bem como sugerir medidas para lidar com a síndrome da
alienação parental e seus impactos no desenvolvimento infantil. Diante da existência de sinais
que indicam a prática da alienação parental, deve-se intentar um processo autônomo, tendo
tramitação prioritária com a necessidade de um contato com um profissional da área da
psicologia, devendo o juiz determinar quais as medidas a serem tomadas para que seja
preservada a integridade psicológica da criança e do adolescente.

Palavras-chave: alienação parental; responsabilidade; integridade psicológica.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei da Alienação Parental, lei no 12.318 de 26 de ago. 2010. Diário Oficial da União,
Poder Legislativo, Brasília, DF. Disponível em: http://crpsp.org.br/interjustica/pdfs/Lei-
12318_10-Alienacao-Parental.pdf. Acesso em: 20 jun. 2023.

BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. p. 1. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 20 jun. 2023.

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 15. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo:
JusPODIVM, 2022.

GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil -
Direito de Família. 12. ed. v. 6. São Paulo: Editora Saraiva. 2022.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. 20. ed. rev. e atual.
São Paulo: Saraiva, 2020.

LÉPORE, Paulo Eduardo; ROSSATO, Luciano Alves. Comentários à lei de alienação parental:
Lei nº 12.318/10. JusBrasil.com.br, 2010. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/17871/comentarios-a-lei-de-alienacao-parental-lei-n-12-31810.
Acesso em: 20 jun. 2023.

MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO, Rolf. Síndrome da Alienação Parental:


importância da detecção – aspectos legais e processuais. 4. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Forense. 2017.

189
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

RICHARD, Gardner. The Parental Alienation Syndrome: A Guide for Mental Health and
Legal Professionals. Cresskill, NJ: Creative Therapeutics, Inc. 1992.

190
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

GRUPO DE TRABALHO 3: DIREITO AMBIENTAL/AGROAMBIENTAL,


ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONALISMO MODERNO NAS VERTENTES
MATERIAIS E PROCESSUAIS - I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

191
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

A NECESSIDADE DE PROTEÇÃO DOS DIREITO DOS ANIMAIS: A


AUSÊNCIA DE LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA NA PROTEÇÃO DOS
ANIMAIS NO BRASIL

Valdemar José Coproski1


Antônio Leonardo Amorim2

A relação homem versus meio ambiente sempre ocorreu desde os primórdios da história, onde
o homem sempre buscou através da exploração da natureza, a obtenção de recursos para sua
sobrevivência. A preocupação com o meio ambiente vem crescendo no meio jurídico e no meio
social, mas, infelizmente, essa preocupação está baseada mais em manter as condições naturais
de sobrevivência do ser humano, e não em preservar o meio ambiente pelo valor que ele possui,
essa desatenção com o meio ambiente ocorre de forma mais acentuada em relação aos animais.
Frente a essas atitudes de descaso com os animais é importante analisar o direito dos animais
numa perspectiva histórica, e também sob a ótica da dignidade da pessoa humana e da dignidade
das outras espécies, do direito dos animais e a necessidade de aplicação do princípio da
prevenção e da precaução e por fim da proteção jurídica. O direito dos animais pode ser definido
como sendo um conjunto de regras e princípios que estabelecem os direitos fundamentais dos
animais que existem por seus fins próprios e devem ter seus direitos reconhecidos assim como
os seres humanos os têm. As bases filosóficas dos direitos dos animais iniciam-se em meados
do século XVIII, por intermédio de estudos desenvolvidos pelo teólogo inglês Humpry Primatt
e o filósofo Jeremy Bentham, que trouxeram importantes contribuições para se construir a ideia
de que os animais não são propriedade humana, além disso, eles sentem e pensam - os autores
consideram isso como “senciência”, capacidade que mais tarde foi comprovada
cientificamente. No Brasil, o direito dos animais é compreendido como sendo um ramo do
Direito Ambiental, compreendido como uma nova e fundamental área do Direito, com o intuito
de promover a proteção dos animais e do meio ambiente, em suas prerrogativas dos direitos
fundamentais no mesmo patamar da vida e do respeito. O direito dos animais busca coibir a
violência, os maus tratos, a crueldade e o eminente perigo de extinção das espécies, o que levaria
em sua esteira também a extinção da espécie humana. No Brasil a primeira legislação relativa
a crueldade contra os animais foi o Decreto n. 16.590 de 10 de setembro de 1924, o qual
regulamentava as Casas de Diversão Públicas, onde proibia as corridas de touro, as rinhas de
galo e canários, e, também outras atividades que pudessem promover qualquer tipo de estresse
e sofrimento aos animais. Posteriormente, com o Decreto número 26.645 de 10 de julho de
1934, houve o estabelecimento de diversos tipos de maus tratos aos animais, os quais foram

1
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água Boa. E-mail:
valdemar.coproski@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.

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RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

disciplinados pelo Decreto-Lei n. 3.688 de 03 de outubro de 1941, a chamada Lei de


Contravenções Penais, que definiu algumas importantes condutas, como por exemplo em seu
artigo 64, consignando a prisão ou multa para quem tratar um animal com crueldade ou
submetê-lo a trabalho exaustivo. No âmbito internacional, merece destaque a Declaração
Universal dos Direitos dos Animais proclamada pela UNESCO em 1978, que representou um
avanço para os direitos dos animais. A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 225, proíbe
terminantemente ações de crueldade com os animais, e a Lei número 9.605 de 1998, define os
crimes ambientais. Na jurisdição e na tradição, os animais são detentores e objetos de direito,
embora exista uma tendência que leve à considerá-los sujeitos de direito, ou seja, eles podem
ser representados em ações civis públicas pelo Ministério Público. O outro lado da questão em
nosso país é sobre o fato de que a nossa Constituição Federal estabelecer natureza difusa e
coletiva, portanto, um bem socioambiental pertencente à toda humanidade. É de suma
importância ressaltar que há vários decretos e leis relevantes destinadas à proteção animal,
dentre elas, cita-se o Decreto-Lei n. 221 de 28 de Fevereiro de 1967 ( Código de Pesca), Lei n.
5.197 de 03 de Janeiro de 1967( Lei de Proteção à Fauna), Lei n. 6.638 de 08 de Maio de 1979
( Lei de Vivissecção), Lei n. 7.173 de 14 de Dezembro de 1983 (a qual dispõe sobre o
estabelecimento e funcionamento de jardins zoológicos), e, também a Lei n. 7.643 de 18 de
Dezembro de 1967 (que proíbe a pesca de cetáceos nas águas jurisdicionais brasileiras).
Em 30 de Setembro de 2020, foi promulgada a Lei n. 14.064 (Lei Sansão), essa lei alterou a Lei
número 9.065, aumentando as penas aplicadas aos crimes de maus tratos aos animais quando
se tratar de cães e gatos, imputando a pena de reclusão de 02 a 05 anos, multa e proibição de
guarda. A Lei Sansão, representa mais um avanço substancial para a nossa sociedade e ela visa
inibir práticas cruéis contra cães e gatos. Apesar das inúmeras conquistas já alcançadas, a
legislação brasileira sobre os direitos dos animais é muito frágil e desrespeitada, e há a
necessidade de criar-se leis mais específicas e abrangentes, que passem a tratar os animais como
sujeitos de direito, daí é de grande importância a abertura de brechas legais através de decisões
favoráveis na Justiça. Há de se convir que mudanças de paradigmas devem vir a ocorrer em
todos os setores da nossa sociedade, e essas mudanças devem iniciar-se com a instituição de
uma nova educação do ser humano com o ensinamento do amor, da compaixão ou
simplesmente do respeito que devemos ter por todos os tipos de espécies, por todas as formas
de vida existentes, pois não se deseja uma equiparação dos animais aos seres humanos, mas sim
que eles sejam respeitados.

Palavras-chave: animais; sujeitos de direito; senciência; Direitos Fundamentais.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Senado Federal,


1988.

DIAS, Edna Cardozo. Os animais como sujeitos de direitos. Revista Animal Brasileira de
Direito, Ano 1, v. 1, p. 119-121, 2006.

LOURENÇO, Daniel Braga. Direito dos Animais: Fundamentação e Novas Perspectivas.


Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris Ed., 2008.

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RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA

OS POVOS RIBEIRINHOS E O CULTO DAS ÁGUAS SOB A ÓTICA DA


LENDA AMAZÔNICA “IARA”

Antônio Leonardo Amorim1


Julyane Sousa Oliveira2

Nos enlaces das margens dos rios amazônicos, entre o canto dos pássaros, o barulho da chuva
e o choro das crianças recém-nascidas, surge das águas, uma comunidade dotada de uma gama
de diferentes saberes: os povos ribeirinhos, entre essas sabedorias, florescem os ritos
folclóricos. Sob essa perspectiva, a lenda “Iara”, narra uma entidade protetora das águas, fauna
e flora e, principalmente guardiã dos direitos ambientais, nesse sentido, é indubitável a
relevância da perpetuação dos mitos entre diferentes gerações e o debate gerado por eles que
resultam na tutela dos direitos da natureza. Nesse viés, o objetivo e justificativa do trabalho é
trazer a importância do cuidado desses povos na preservação da água como fonte de vida, desde
dos tempos mais remotos, delimitando para tanto, as cantigas e os mitos folclóricos como
narrativas que repassam entre os povos de culturas distintas, mas que se unem na preservação
do meio ambiente, por intermédio de entidades que cuidam, resguardam e fiscalizam os bens
dados pela natureza, os tratando como infungíveis, além disso, busca também salientar a
relevância do ordenamento jurídico na criação e efetivação de direitos formalmente delineados
em documentos legítimos na esfera judiciária, privilegiando o cuidado com os elementos da
natureza, em seus acordos, conferências, leis, constituições sejam essas nacionais ou
internacionais. Dessa maneira, o arcabouço metodológico utilizado, se fundamenta no
desmembramento lírico da lenda “Iara” perpetuada no Norte e Nordeste do Brasil, com o uso
da pesquisa bibliográfica, por meio do método histórico, literário e dialético, além do uso do
direito positivo, conforme elucida Mezzaroba e Monteiro (2019). Sob esse prisma, no contraste
do território brasileiro, os mitos folclóricos possuem berço principalmente na região amazônica,
apesar de serem conhecidos por todo país com o passar dos séculos, assim, a figura mitológica
da personagem ‘Iara’, conhecida também como “Mãe D´ Água” ganha destaque como protetora
dos rios, lagos e mares, possuidora de uma beleza estonteante, a sereia encanta os “pescadores”
que se aproximam do rio com sua voz, os atraindo para dentro da água, de onde não são mais
vistos, o professor Raymundo de Moraes, define a personagem Iara como um ser deslumbrante
que usa sua força sobrenatural para fazer justiça: “[...] seduzindo os tapuios, encantando-os e
carregando-os para o fundo... surpreende o imprudente e leva-o para os seus domínios”
(MORAES, 1938, p. 78). Diante dessa conjuntura, é notório que o culto das comunidades
ribeirinhas aos direitos da natureza, com o alinhamento de lendas e medidas regionais que
traçam a conservação dos biomas nacionais, são de grande relevância para o debate dos direitos

1
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.
2
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus Francisco Ferreira Mendes
E-mail: julyane.oliveira@unemat.br.

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ambientais, já que esses, são baseados na perspectiva indígena que reconhece a troca igualitária
entre o homem e a natureza, correlacionando ambos, os rios, portanto, ganham ainda maior
destaque por tutelarem à água potável, a vida de diversas espécies nativas e a subsistência de
milhares de indivíduos, sendo um compilado de fatores que resultam em fonte natural de vida
e biodiversidade. Entretanto, indo de encontro a uma análise mais categórica, a protetora da
água, teria esse comportamento de sanção à vida, daqueles que se atreverem a adentrar no lago
sem sua devida permissão e tirar-lhe dele espécies, ou ainda violar de seu sistema ecológico.
Sob a óptica histórica, até a década de 60, a região amazônica era unicamente habitada pelos
povos tradicionais, os quais sempre preservaram a natureza, vivendo em uma simbiose,
retirando dela apenas o essencial para seu sustento, não havendo, portanto, a exploração de
madeira, ou minérios, por outro lado, na contemporaneidade, em dados recentes, o novo atlas
da Mata Atlântica concluiu que todas as bacias hidrográficas do bioma ‘Amazônia’ perderam
áreas de vegetação, sendo os rios mais afetados: São Francisco e Jequitinhonha, a do Rio Paraná
e a do Rio Iguaçu - 65% do que foi desmatado no bioma em 2022 estavam nesses locais. Nesse
interim, Wagler ainda destaca que: “[...] as comunidades de uma área compartilham a herança
local da região e cada uma delas é uma manifestação local das possíveis interpretações de
padrões e instituições regionais'” (Wagler, 1998, p. 44), mas é fato, que esses zelos ficaram no
passado. É válido ressaltar que a Constituição Federal de 1988, prevê em seu art. 225; “todos
têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”, entretanto, é visível que o índice
de poluição nas águas do Norte do Brasil, tende a crescer com o lançamento de resíduos da
indústria, como alimentos, venenos ou objetos sem utilização, a personagem lírica Iara,
portanto, ao observar o descaso dos seres humanos com seu habitat, o protege com os
encanamentos aos malfeitores, punindo-os com o bem jurídico mais valioso do ramo jurídico:
a vida, entretanto, o direito também possui seus mecanismos para aplicar a punição adequada,
a Lei n° 9.605 de 1998, prevê em seu art. 54, ademais, a bacia hidrográfica amazônica é uma
das mais importantes do planeta, integrando com cerca de 11.216 microbacias, dessas 27%
sofrem impactos médios, e outros 20% impactos altos, dessa maneira, entre os principais
poluentes estão o mercúrio usado nos garimpos, que além da contaminação da água, há também
a dizimação de espécies nativas, como peixes, fatores como a construção de hidroelétricas,
usinas e garimpo ilegal contribuem para o aumento da derrogação de um dos mais importantes
biomas do mundo. É inegável que o culto dos povos ribeirinhos em detrimento dos recursos
naturais, principalmente os hídricos, possuem relevância muito além do plano material e
prático, observa-se portanto, a necessidade da interferência e integração da judicialização
nacional internacional na proteção desses entes naturais, apreciando o cuidado local com os
biomas brasileiros e os recursos provenientes destes, preservando as espécies nativas às
próximas gerações, trazendo à luz o auxílio dos mitos folclóricos, como o da Iara para ilustrar
a necessidade de proteção, ter-se-á, assim, resguardada a biodiversidade brasileira.

Palavras-chave: água; lenda da Iara; direitos ambientais; povos ribeirinhos.

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REFERÊNCIAS

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Contemporâneo. In: BOSCHETTI, Ivanete; BEHRING, Elaine Rossetti; DE LIMA, Rita de
Lourdes. (eds.). Marxismo, política social e direitos. Cortez Editora, 2018.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília. Senado, 1998.

BRASIL. Lei n° 9.605 de,12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e
administrativas derivadas [...]. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm. Acesso em: 20 jun. 2023.

JORNAL NACIONAL. Novo atlas da Mata Atlântica conclui que todas as bacias hidrográficas
do bioma perderam áreas de vegetação. G1. 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-
nacional/noticia/2023/05/25/mata-atlantica-todas-as-bacias-hidrograficas-do-bioma-
perderam-areas-de-vegetacao.ghtml. Acesso em: 22 jun. 2023

MEZZAROBA, Orides; MONTEIRO, Cláudia. Manual de Metodologia da Pesquisa no


Direito. Editora Saraiva, 2019. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553611560/. Acesso em: 20 jun. 2022.

VARGAS, Éverton Vieira. Água e relações internacionais. 2000. Disponível em:


https://www.scielo.br/j/rbpi/a/djNykTwWPSWWBF4xKrkGcdy/?format=pdf&lang=pt.
Acesso em: 05 jun. 2023.

WAGLEY, Charles. Uma comunidade amazônica. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1988.

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