Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISBN: 978-65-982514-3-7
Prisma Editorial
Florianópolis/SC
2024
Ciências Criminais e Direitos Humanos: Tessituras jurídicas de emancipação © 2024 by
Antônio Leonardo Amorim; Gabriel Salazar Curty; Joacir Mauro da Silva Junior is licensed
under Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International.
Esta obra é publicada em acesso aberto. O conteúdo dos capítulos, os dados apresentados, bem
como a revisão ortográfica e gramatical são de responsabilidade de seus autores, detentores de
todos os Direitos Autorais, que permitem o download e o compartilhamento, com a devida
atribuição de crédito, mas sem que seja possível alterar a obra, de nenhuma forma, ou utilizá-
la para fins comerciais.
Conselho Editorial Prisma: André Afonso Tavares; Camilla Martins dos Santos Benevides;
José Carlos Loitey Bergamini; Miriam Olivia Knopik Ferraz; Tássia Teixeira de Freitas Bianco
Erbano Cavalli.
Organizadores: Antônio Leonardo Amorim; Gabriel Salazar Curty; Joacir Mauro da Silva
Junior.
Diagramação e Capa: Prisma Editorial
Contato: https://www.assessoriaprisma.com.br/
Como citar: ÚLTIMO NOME, Nome. Título. In: AMORIM, Antônio Leonardo; CURTY,
Gabriel Salazar; SILVA JUNIOR, Joacir Mauro da (org.). Ciências criminais e direitos
humanos: tessituras jurídicas de emancipação. Florianópolis, SC: Prisma Editorial, 2024.
KAILANE ZOZ
Graduanda no curso de Direito da Universidade Estadual do Estado de Mato Grosso. E-mail:
kailane.zoz@unemat.br.
ARTIGOS
CAPÍTULO 1
A JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO ALTERNATIVA NOS DELITOS DE MENOR
POTENCIAL OFENSIVO .................................................................................................... 24
Oldineia Cóscia de Ferro Cebalho
Andréia Vitório Diniz
Antônio Leonardo Amorim
CAPÍTULO 2
TÍTULO DESIGUALDADE RACIAL E POLÍTICAS PÚBLICAS: O CICLO DE
EXCLUSÃO DA JUVENTUDE NEGRA EM MATO GROSSO ...................................... 35
André do Prado Silveira
Natalia Alencar Cantini
Vivian Lara Cáceres Dan
CAPÍTULO 3
GARANTIAS E DIREITOS DOS DETENTOS NOS PROCESSOS
ADMINISTRATIVOS DISCIPLINARES DA CADEIA PÚBLICA DE BARRA DO
BUGRES-MT .......................................................................................................................... 43
Cosme Damião Santos Silva
Evelin Mara Cáceres Dan
CAPÍTULO 4
A APOROFOBIA COMO DISCRIMINAÇÃO TRANSVERSAL NO BRASIL
COLÔNIA ............................................................................................................................... 51
Elias Guilherme Trevisol
Tatiane Jaskiu da Silva Trevisol
CAPÍTULO 5
POLÍTICA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA COMO DIREITO
À EDUCAÇÃO E OPORTUNIDADES AO MUNDO DO TRABALHO NA ATIVIDADE
AGRÁRIA ............................................................................................................................... 61
Camilli Meira Santos Silva
CAPÍTULO 6
SAÍDA TEMPORÁRIA, REGIME FECHADO, ESTUDO, TRABALHO E REMIÇÃO
DA PENA: UMA ANÁLISE DA JURISPRUDÊNCIA DO TJMT ACERCA DA
EXECUÇÃO PENAL ............................................................................................................. 73
Gabriel Salazar Curty
CAPÍTULO 7
A ROTA DE INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA (RILA) E A PROTEÇÃO DOS
DIREITOS HUMANOS ......................................................................................................... 83
Aldo A. Nunes Filho
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
CAPÍTULO 1
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.10680286
INTRODUÇÃO
1
Discente do curso de Direito da Unemat – Campos de Júlio. E-mail: coscia.oldineia@unemat.br.
2
Discente do curso de Direito da Unemat – Campos de Júlio – E-mail: diniz.andreia@unemat.br.
3
Professor do curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES durante o período do mestrado (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018),
pesquisador vinculado ao projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-1464-0319.
24
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Diante destas inúmeras variáveis é correto pensarmos que o cárcere é a única solução
plausível para a contenção da prática delituosa em questão? Será que o Estado em conjunto com
a sociedade não é capaz de pensar em outras possibilidades para que este infrator possa restituir
o bem, e concomitantemente talvez demonstrar através de ações que levem no a reconstruir seu
sentimento de pertencimento social, bem como a se tornar um exemplo aos que possivelmente
estão ou estarão na mesma situação.
Mediante tais inquietações relacionadas ao papel do Estado como único responsável
legal por instituir políticas públicas que primem por ressocializar estes indivíduos infratores e
posterior inserção dos mesmos ao ambiente social, faz se necessários nos reportarmos aos
ensinamentos de Howard Zehr (2015), um dos principais defensores da Justiça Restaurativa,
responsável por delimitar categoricamente as duas faces de se observar o crime, a retributiva e
a restaurativa.
A justiça restaurativa busca estimular e promover a responsabilização, a reparação e o
restabelecimento tanto para o Estado, para a sociedade como para as vítimas, bem como aos
que causaram o dano, ou seja, nas palavras de Howard Zehr (2015), a justiça restaurativa busca
“endireitar” as coisas. Para que tal ação de “endireitar” as coisas cumpra seu papel restaurador,
torna se imprescindível direcionar “as decisões principais a aqueles que foram mais atingidos
pelo crime, bem como fazer da justiça um processo mais curativo e idealmente, mais
transformador, sem perder de vista a redução da probabilidade de futuras ofensas”.
Assim a proposição da justiça restaurativa é um trocar de lentes que viabilize, busque
conter, barrar o encarceramento como única forma de resolver os conflitos que envolvem
estado-vítima-ofensor-sociedade.
Será que somos capazes de descrever o mundo que vemos, ou só simplesmente
enxergamos o mundo que somos capazes de contar, a história do mundo é marcada pelo
conflito, e arraigada de violência e como resposta para esses conflitos a punição e a pena tem
assombrosamente marcado suas digitais e deixado seu legado, nas palavras de Foucault (2013,
p. 37) “ a verdade é que, em poucas décadas, desapareceu o corpo supliciado, esquartejado,
amputado, simbolicamente marcado, desapareceu o corpo como alvo principal de repressão
penal” e passou-se a ter a punição dentro de uma parte mais oculta do processo, mudou-se as
engrenagens, com o surgimento das prisões tornando as prisões a pena para aquele que infringe
aquilo que o legislador representando a sociedade determina como delito inaceitável.
25
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
26
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Para Carvalho Siqueira (2021, p.11) a “Justiça Restaurativa propõe uma visão de
Justiça diferenciada, novas lentes através das quais enxergamos conflitos, violências e
conexões”, além disso, enfatiza que “acreditar que a Justiça Restaurativa só tem seu lugar de
ação quando há conflito quando há conflito ou violência é reduzi-la a muito menos do que ela
é e pode ser, o maior potencial transformador da Justiça Restaurativa está justamente na sua
atuação voltada a conexão” (Siqueira, 2021, p. 11).
Ao contrário do sistema de justiça retributivo tradicional, que enfatiza a punição e o
isolamento, a Justiça Restaurativa procura abordar as causas subjacentes das ofensas e
promover a cura e a responsabilização. Segundo resolução n° 225 de 31 de maio de 2016 do
Conselho Nacional de Justiça em seu artigo 1° “A Justiça Restaurativa constitui-se como um
conjunto ordenado e sistêmico de princípios, métodos, técnicas e atividades próprias, que visa
à conscientização sobre os fatores relacionais, institucionais e sociais motivadores de conflitos
e violência, e por meio do qual os conflitos que geram dano, concreto ou abstrato, são
solucionados de modo estruturado”, mas indo mais além a justiça Restaurativa pode ser o
caminho para construir a cultura da paz, aplicada através de nós que podemos ser as células
vivas, as células sanguíneas que transportam os anticorpos capazes de revigorar a vida e o
sentido humano no planeta desmistificado e alternando todo esse fundamento que fomos criados
(uma cultura de confronto, ódio e intolerância).
A Justiça Restaurativa pode ser definida como uma filosofia e prática que visa reparar
o dano causado por uma ofensa e restabelecer as relações entre os indivíduos envolvidos.
Interliga-se às esferas de inclusão, participação e responsabilização, nos processos de Justiça
Restaurativa, todas as partes interessadas, vítima, ofensor, e os membros da comunidade, estão
ativamente envolvidos na determinação da resposta apropriada a ofensa.
Essa abordagem colaborativa permite uma compreensão mais holística do impacto da
ofensa e incentiva o ofensor a assumir a responsabilidade por suas ações. Em contraste com a
Justiça Retributiva, que se concentra principalmente na punição e na dissuasão, a justiça
restaurativa prioriza a reparação do dano causado pela ofensa.
Em vez de isolar o ofensor da sociedade, a Justiça Restaurativa procura reintegrá-lo à
comunidade, reconhecendo que as conexões sociais e o apoio são cruciais para prevenir ofensas
futuras. Ao abordar as causas profundas do delito e envolver todas as partes interessadas no
processo, a justiça restaurativa visa criar uma sensação de cura e solução para todos os
envolvidos.
27
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Para Luz Garcia (2022, p. 5) “a Justiça Restaurativa mostra-se como uma ferramenta
adequada e imediata para reduzir conflitos penais ao conduzir de forma mais holística e
harmônica os aspectos que envolvem os delitos, na medida em que permite a inserção da vítima,
ofensor, comunidade e estado na resolução do conflito”, uma abordagem alternativa à punição,
focando na transformação e reconciliação entre vítima, infrator, comunidade e Estado em
conflitos que abranjam a esfera penal.
Além disso, continua a autoria mencionando que a Justiça Restaurativa “surge como
um novo paradigma baseado em um modelo inovador de pacificação social, porquanto mais
humano, pois almeja uma ruptura com o modelo punitivo encarcerador reprodutor da
seletividade, desigualdade social, violência e criminalidade” (Garcia, 2022, p. 22).
Os envolvidos no dilema crime e penalização, ou seja, autor do delito, vítima e demais
participantes, são responsáveis por solucionar o conflito social, pacificando assim a
coletividade, nesse sentido, Antônio Leonardo Amorim e Josiane Rose Petry Veronese (2021,
p. 234):
28
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Um dos principais benefícios da Justiça Restaurativa para lidar com delitos de menor
potencial ofensivo é sua capacidade de promover a prestação de contas e a responsabilidade.
Ao envolver o ofensor em um diálogo com a vítima e a comunidade, a Justiça Restaurativa os
encoraja a enfrentar as consequências de seus atos e a assumir a responsabilidade pela reparação
do dano causado.
Essa responsabilidade, pode levar a uma maior compreensão do impacto de seu
comportamento e a um compromisso de fazer reparações, reduzindo a probabilidade de ofensas
futuras. Além disso, a justiça restaurativa oferece uma oportunidade para os infratores obterem
informações sobre as consequências de suas ações.
Por meio de reuniões presenciais ou diálogos mediados, os infratores podem ouvir
diretamente da vítima sobre o impacto da ofensa em suas vidas. Essa conexão pessoal pode ser
um poderoso catalisador de empatia e compreensão, ajudando os ofensores a desenvolver um
sentimento mais profundo de remorso e um desejo genuíno de consertar as coisas.
Além disso, a Justiça Restaurativa contribui para construir relacionamentos mais fortes
dentro das comunidades. Ao envolver os membros da comunidade no processo, a justiça
restaurativa promove um senso de responsabilidade coletiva para abordar e prevenir ofensas.
29
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
e ainda buscar evidenciar a todos que tal descumprimento das leis será passível de
consequências.
O sistema penal por sua vez cada vez mais enfrenta a superlotação dos presídios, a
falta de mão de obra proporcional ao números da população carcerária, infraestrutura
precarizada e ainda se depara com a questão da insalubridade que assola o sistema devido a
superlotação e a falta de investimento em saúde desta população que vive expropriada das
garantias mínimas que inúmeros órgãos internacionais definem como mínimo existencial,
disciplinado categoricamente pela comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações
Unidas.
Diante destes apontamentos relacionados aos enumerados personagens como a vítima,
o agressor, os familiares, a comunidade, o sistema judiciário e o sistema penal é que devemos
ter um olhar acolhedor e uma escuta sensível afim de buscar cada vez mais estabelecer diálogos
que priorizem compreender sistematicamente cada um dos personagens, pautado em seu lugar
de fala.
Pois, a depender de onde estamos falando, temos um discurso carregado de
simbologias e significados, ademais também é imprescindível cavar bem fundo com o intuito
de desvendar todas a nuances que levam cada um destes personagem a agir como agem.
Oudshoorn et al. (2019), nos leva a perceber que estes apontamentos levam a diálogos
que devem ser restabelecidos com o intuito de buscar veementemente o atendimento das
necessidades das vítimas, dos ofensores e da comunidade com ênfase na recuperação e à cura.
Para que haja recuperação e cura de cada um destes personagens marcados por estes
lamentáveis acontecimentos é preciso foco no que cada um deles realmente necessita.
Quando focamos na vítima, esta em primazia busca segurança física e emocional que
muitas das vezes significa garantir o distanciamento da vítima de seu agressor/ofensor.
A vítima insistentemente deseja que deem lhe crédito e voz as suas revelações, a suas
dores e a seus medos, uma vez que geralmente a vítimas verbalizam realmente o que aconteceu
relacionado ao abuso sexual, sendo comum que sintam se culpadas. Neste contexto é primordial
deixar claro a elas que o “mal causado” e algo abominável, inaceitável e não deve ser tolerado.
É comum que as vítimas de abuso sexual vivam um momento de reclusão, distanciamento social
objetivando ressignificar sua existência se reconstruindo, para só então alcançar protagonismo
existencial.
30
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Não tão menos importante devemos pensar: “quais as necessidades das pessoas que
cometeram abuso sexual? Uma vez que, somente a punição não irá garantir segurança ao
contexto social em que o ofensor/agressor está inserido.
Para termos um olhar compreensivo sobre este personagem nos utilizaremos dos
escritos de Judah Oudshoorn (2019, p. 40) e outros autores em sua obra Justiça Restaurativa em
casos de Abusos Sexual que traz a seguinte contribuição: “ao pontuar que estes devem assumir
a responsabilidade dos seus atos, quando se diz assumir a responsabilidade é reconhecer
literalmente o mal cometido”.
Há ainda outra nuance sobre a necessidade das pessoas que cometeram o abuso sexual
que seria o apoio para que este ser, compreenda o mal causado e as raízes do problema, que
muitas das vezes pode ser uma doença, a repetição de um trauma infantil sofrido. Claro que não
devemos fechar os olhos e acreditar que a Justiça Restaurativa seja autossuficiente, muito pelo
contrário temos que ter plena convicção que muitos criminosos sexuais não são passiveis de se
auto responsabilizar e diante desta constatação termos a percepção que continuarão oferecendo
risco para si e para os que os circundam.
Não devemos esquecer que todos os envolvidos como a vítima, o agressor está inserido
em um círculo familiar e social. Há que se considerar que somos seres coletivos, ou seja
vivemos em uma sociedade que diante de crimes de abuso sexual também são impactadas com
tais práticas inadmissíveis de seus indivíduos que desencadeiam neste contexto insegurança,
problemas de confiança, bem como preocupação de todos. Para justificar esta explanação
citamos Oudshoorn et al. (2019) que assim pontua: “as comunidades têm necessidades também,
como as vítimas – de segurança, informação, voz, empoderamento e esclarecimento”.
(Oudshoorn et al., 2019, p. 43).
Desta feita a Justiça Restaurativa, para Oudshoorn et al., (2019, p. 45) se configura
como: “uma estrutura para tratar e prevenir o abuso sexual. Atendendo primeiro às necessidades
da vítima e, em segundo lugar responsabilizar o ofensor dentro de um contexto de apoio. A
comunidade mais ampla também deve ser contemplada. Pois somente a partir destas inúmeras
considerações a estes vários personagens é que pode se buscar o perdão”.
Para tanto faz se necessário esclarecer que o perdão para a Justiça Restaurativa consiste
basicamente que os abusadores devem percorrer um determinado percurso que parte em
primeiro da responsabilização, reconhecimento e consequências dos seus atos, para
posteriormente tentar reparar seu mal.
31
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
32
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
como o “membro essencial” (termo utilizado para identificar o ofensor de modo a dissipar a
estigmatização), mais se necessário for os encontros podem ser diários. O sucesso desse
programa pauta se nos valores centrais que são: a responsabilização por parte da comunidade,
o acolhimento dos criminosos sem prejulgamentos, aceitação e partilha do contexto social.
Corroborando dessa ideia trazida pelo programa Oudshoorn et al (2019), assim
exemplifica “ao compreender que a comunidade assume a responsabilidade por seus membros
em vez de relegar a tarefa a “outros”, o investimento que se faz na vida das pessoas torna a
comunidade um lugar mais seguro e saudável de viver” (Oudshoorn et al, 2019, p. 63).
Para tanto o que a Justiça Restaurativa busca com tais possibilidades ensejadas com os
procedimentos é a eficácia das alternativas visando atender as necessidades de cura, superação
e inserção de todos os personagens envolvidos neste ambiente inóspito de violência sexual.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
33
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2002.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Edições 70, uma chancela de Edições Almeida, S.A.
Lisboa/Portugal, 2014.
LUZ GARCIA, Natália. Justiça restaurativa-Um Novo Paradigma: Breves reflexões sobre
o Estado de coisas inconstitucional no cárcere brasileiro. 2021. Kindle. p. 1-53.
OUDSHOORN, Judah. Justiça Restaurativa em casos de Abusos Sexual. São Paulo: Palas
Athena, 2019.
ZEHR, Howard. Justiça Restaurativa. Tradução: Tônia Van Acker. São Paulo: Palas Athena,
2015.
ZEHR, Howard. Trocando as lentes - um novo foco sobre o crime e a justiça. São Paulo: Palas
Athena, 2008.
34
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
CAPÍTULO 2
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.10680296
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo aprofundar a reflexão sobre as políticas públicas de
igualdade racial direcionadas à juventude negra no Estado de Mato Grosso. Para isso, foram
analisados dados estatísticos relacionados à taxa de mortalidade desse grupo, destacando a
ineficácia das políticas públicas existentes e a falta de proposição de novas medidas por parte
do Estado, além da persistência da discriminação resultante do racismo estrutural arraigado na
sociedade brasileira.
Nesse contexto, destaca-se a ausência de políticas públicas efetivas que promovam a
igualdade racial, o que reforça a alta taxa de mortalidade observada entre a juventude negra no
Brasil. No entanto, é importante ressaltar que não basta apenas propor políticas públicas - é
necessário também criar condições que permitam a efetiva implementação dessas políticas em
diferentes realidades geográficas, culturais e socioeconômicas enfrentadas por esse grupo
social.
Diante desse desafio, surge a necessidade de superar a desigualdade racial, começando
pela taxa de informalidade. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) divulgados pelo G1 em 2021, a taxa de trabalhadores informais entre a população
branca era de 32%, enquanto entre pretos era de 43% e entre pardos chegava a 47% (G1, 2022).
1
Acadêmico do curso de bacharelado em Direito, do campus de Barra do Bugres da Universidade do Estado de
Mato Grosso (UNEMAT). Bolsista PROBIC/FAPEMAT. Email: andre.silveira@unemat.br.
2
Bacharel em Direito, membro do grupo de pesquisa “Observatório de Políticas Públicas para minorias do Mato
Grosso”. Email: natalia.cantini@unemat.br.
3
Docente Adjunta do curso de Bacharelado em Direito, campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado
de Mato Grosso (UNEMAT). Coordenadora do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para
minorias no Mato Grosso; Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Estado e Sociedades (PPDES –
CNPq). E-mail: vivian.dan@unemat.br.
35
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Isso significa que a proporção de pessoas em situação de pobreza entre pretos e pardos é o dobro
em relação aos brancos, conforme indicado pela pesquisa.
Assim, é fundamental enfrentar a desigualdade racial por meio de políticas públicas
abrangentes e efetivas, que considerem as diferentes realidades vivenciadas pela juventude
negra no Brasil. Essas políticas devem abordar não apenas questões relacionadas à segurança e
à violência, mas também garantir oportunidades de educação, emprego digno e acesso aos
serviços básicos, visando à construção de uma sociedade mais justa e igualitária para todos os
seus cidadãos.
A metodologia adotada é hipotético dedutiva pois analisando as políticas públicas
destinadas a esse seguimento da população poderemos refletir sobre sua eficácia ou não.
Também utilizamos dados estatísticos, sendo uma pesquisa quanti-qualitativa.
36
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Pires (2019) expõe que esses direitos devem ser replicados em todos os estados e
municípios do Brasil, no entanto, o que mostram os dados em relação à implementação de
políticas públicas para a comunidade negra, é que os gestores públicos mantêm um jogo duplo,
baseado na criação de leis, normas e nos discursos oficiais pró-inclusão, contudo, a
concretização da política pública costumeiramente é sabotada pelas diferentes formas de
aplicação governamentais que não focam na raiz da problemática e tratam como algo
superficial, como um tapa buraco.
Ademais, segundo a Síntese de Indicadores Sociais, realizada pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), baseada em dados de 2019, constatou-se que cerca de 32%
das mulheres de origem preta ou parda, com idades entre 15 e 29 anos, no Brasil não estavam
envolvidas em atividades educacionais ou ocupacionais. Isso significa que esse grupo de
mulheres não estavam matriculadas em escolas ou universidades e não estavam trabalhando,
mesmo que por apenas uma hora na semana, de acordo com o critério utilizado na pesquisa.
De acordo com a analista de pesquisa do IBGE, Luana Botelho, no ano de 2019, uma
jovem negra tinha 2,4 vezes mais chances de não estar estudando e nem trabalhando em
comparação a um jovem branco. Outrossim, as mulheres negras também se encontravam em
37
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
desvantagem em relação aos homens negros (18,9%) quanto em relação às mulheres brancas
(20,8%). Ou seja, as jovens mulheres negras enfrentam mais dificuldades para acessar a
educação e emprego. Essas desigualdades evidenciam mazelas estruturais presentes na
sociedade brasileira.
No estado de Mato Grosso, no ano de 2018, foram registrados 419 casos de injúria
racial e no ano de 2019, foram registrados 489 casos. Isso representa o aumento de 15% nas
ocorrências de injúria racial deixando o estado em primeiro lugar no ranking de registros de
casos de racismo por estado proporcional ao número de habitantes (G1, 2020).
Além disso, foi analisado o plano de ação do Conselho Estadual de Promoção da
Igualdade Racial de Mato Grosso (CEPIR-MT) para o ano de 2020, especificamente no que se
refere à juventude negra. Verificou-se que apenas uma reunião foi realizada ao longo do ano,
que tinha o objetivo de debater os problemas enfrentados pela juventude negra no estado de
Mato Grosso e capacitar jovens líderes. Isso evidencia uma falta de planejamento, poucas
reuniões e investimentos insuficientes por parte do Governo Estadual no que diz respeito à
promoção de políticas públicas que visam à igualdade para os jovens negros.
Outrossim, também foi analisado o plano de ação do Conselho Estadual da Juventude
de Mato Grosso (CONJUV-MT) para o período de 2020-2022 e constatou-se que não existem
informações concretas sobre a extensão da violência contra os jovens no estado.
Isto é, a pesquisa nesta área está em estágio inicial, pois as atas disponíveis no site se
limitam ao ano de 2019. Isso indica uma negligência por parte dos órgãos estatais em relação a
essa parcela da população, o que comprova a presença de racismo institucionalizado que se
manifesta na falta de posicionamento e no desconhecimento da realidade dos jovens do estado,
ou seja, não há um entendimento sobre quem são esses jovens, onde vivem, como vivem e
outros indicadores.
Segundo o site de jornalismo investigativo “O joio e o Trigo”, no Estado de Mato
Grosso, se consolidando como o maior produtor de soja no Brasil, as cidades foram cortadas
por rodovias para a produção e transporte de soja e milho, registrando a segregação social, pois
passam a deixar nítido mazelas e lados que “determinam cor de pele, origem geográfica e renda”
, deixando-nos a inquietação: “Rodovias conectam ou segregam?”
38
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
39
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
A ambiguidade do racismo brasileiro permite que o mesmo turve a nossa visão. E nos
faça focar em outros fenômenos como causas do trato desigual, criminoso e violento
da população negra que a impede de usufruir de direitos e justiça social. Na medida
em que os nossos olhos se desfocam do racismo como a macrocausa de uma grande
maioria dos nossos problemas sociais, as soluções apresentadas nunca atingem, de
fato, o problema real. O racismo não é uma mera consequência da violência que assola
a juventude negra brasileira. Ele também não é um epifenômeno da questão de classe
ou somente uma questão do Estado. O racismo é violento e produz violência. Uma
violência que incide sobre determinados sujeitos, portadores de sinais diacríticos
específicos, frutos de uma ancestralidade negra e africana. No imaginário sociorracial,
aos portadores desses sinais soma-se tudo de negativo que a violência racista construiu
no contexto das relações de poder, na luta de classes, na desigualdade de gênero e
sexual.
40
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018.
GOMES, Nilda Lino; LABORNE, Ana Amélia de Paula. Pedagogia da crueldade: racismo e
extermínio da juventude negra. Educação em Revista, n. 34, 2018. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/edur/a/yyLS3jZvjjzrvqQXQc6Lp9k/abstract/?lang=pt. Acesso em: 03
jul. 2023.
41
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
MAZZINI, M.; Silva, H.; NUNES, M.; SOUZA, W. Políticas públicas de juventude e igualdade
racial: resgatando agendas, concepções e trajetórias à luz da interseccionalidade. In:
ENCONTRO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. 9. 2022. São Paulo/SP.
Anais [...]. São Paulo/SP: Sociedade Brasileira de Administração Pública, 2022. Disponível
em: https://sbap.org.br/ebap/index.php/home/article/view/371. Acesso em: 04 jul. 2023.
PERES, João; MERLINO, Tatiana. Apartheid e racismo nas cidades da soja. O Joio e o Trigo.
2022. Disponível em: https://ojoioeotrigo.com.br/2022/03/apartheid-e-racismo-nas-cidades-
da-soja/. Acesso em: 02 jul. 2023.
RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antiracista. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras,
2019.
ROBERTO, Dara; UVINHA, Ricardo Ricci. Barreiras de acesso ao lazer e ausência de políticas
públicas: impactos nas juventudes negras do Jardim Brasil - São Paulo. LICERE. Revista do
Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer – UFMG, v. 24, n. 4, 2021.
Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/licere/article/view/37722. Acesso em: 02
jul. 2023.
MADEIRO, Carlos. Negros são 75% entre os mais pobres; brancos, 70% entre os mais ricos.
UOL. 2019. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-
noticias/2019/11/13/percentual-de-negros-entre-10-mais-pobre-e-triplo-do-que-entre-mais-
ricos.htm. Acesso em: 02 jul. 2023.
WACQUANT, Loic. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. Rio de
Janeiro: Revan, IBCCRIM, 2003.
42
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
CAPÍTULO 3
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.10680304
INTRODUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 prevê expressamente em seu art. 5, inciso LV que “aos
litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (Brasil, 1988).
Isto quer dizer que para a apuração das condutas ou infrações cometidas no âmbito da
administração pública, deve se observar tais princípios sob pena de nulidade do ato, exprimindo
assim, de que ninguém pode sofrer os efeitos de uma decisão, sem ter tido a possibilidade de
exercer seu direito de defesa.
Verificamos esses entre outras práticas desenvolvidas na cadeia pública, a qual
passaremos a propagar. No curso da execução penal o apenado e o preso provisório estão sob a
tutela tanto do Poder Judiciário quanto do Poder Executivo. Em outras palavras “[...] a execução
penal apresenta tanto uma carga administrativa, que é exercida pelo diretor do estabelecimento
prisional, quanto jurisdicional, por meio de um processo judicial” (Dan, 2019, p. 6).
O reconhecimento da prática de falta disciplinar deve ser precedido da instauração de
procedimento administrativo (PAD) no âmbito da execução penal, sendo imprescindível a
instauração de procedimento administrativo pelo diretor do presídio e assegurado o direito de
1
Graduando em Bacharel em Direito pela UNEMAT-MT, Bolsa IC 2022 - Cooperação nº 0218/2022
FAPEMAT/UNEMAT. E-mail: cosme.damiao@unemat.br.
2
Orientadora FAPEMAT/UNEMAT, Professora Adjunta da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas da
UNEMAT, Doutora em Ciências Jurídicas e Sociais (PRPPG/UFF). Coordenadora do Projeto de Pesquisa
Cidadania, Conflitos e Segurança Pública, vinculado à Linha de Pesquisa Segurança Pública, Administração de
Conflitos Sociais e da Justiça Criminal do Grupo de Pesquisa “Políticas Públicas, Direito, Estado e Sociedade –
PPDES” (CNPQ). E-mail: evelindan@unemat.br.
43
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
defesa a ser exercido por advogado constituído ou defensor público nomeado conforme
preceitos dos artigos 47 e 59 da Lei de Execução Penal (Brasil, 1984).
Importante salientar que o Estado de Mato Grosso possui um Decreto estadual que
dispõe sobre as apurações de infrações ou faltas cometidas por detentos sob a custódia,
prevendo que:
Art. 3º Os atos de indisciplina, tipificados como faltas, serão passíveis das seguintes
penalidades: I – advertência verbal; II – repreensão; III – suspensão ou restrição de
regalias; IV – suspensão ou restrição de direitos, observadas as condições previstas
no artigo 41, parágrafo único, da Lei nº 7.210/1984; V – isolamento em local
adequado; VI – inclusão no regime disciplinar diferenciado. (Decreto 1.988/2013 -
MT).
Art. 16. § 6º O procedimento disciplinar para a apuração da falta será instaurado por
meio de portaria do Diretor do estabelecimento penal, tendo como base o fato que lhe
tenha sido encaminhado. (Decreto 1.988/2013 - MT).
Art. 20 [...]
§ 1º O Conselho Disciplinar, existente em cada estabelecimento penal, é o órgão
competente para a apuração das faltas disciplinares praticadas pelos reeducandos e
terá a seguinte composição: I – presidente; II – primeiro membro; III – segundo
membro (Decreto 1.988/2013 - MT).
Art.20 [...]
§ 7º O presidente do Conselho autuará a portaria e demais documentos que a
acompanharem, e juntará fotocópias de peças do prontuário carcerário do reeducando
e de interesse para o procedimento disciplinar, além de:
44
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Art.20 [...] § 8º Quando necessária a realização de perícias por órgãos externos, estas
deverão ser solicitadas pelo presidente do Conselho Disciplinar, por intermédio do
Diretor do estabelecimento penal, o qual terá o prazo de 48 (quarenta e oito) horas
para deferi-las ou indeferi-las justificadamente.
§ 9º Ao presidente do Conselho Disciplinar compete elaborar o termo de instalação
dos trabalhos, deliberando sobre: I – a designação da data, hora e local das audiências;
II – a citação do reeducando faltoso, informando-o da acusação que lhe é imputada e
sobre a data e hora de audiências designadas, bem como acerca da necessidade de
apresentação defesa prévia e arrolamento de testemunhas no prazo de 03 (três) dias a
contar da sua ciência; III – a intimação do defensor do reeducando faltoso,
cientificando-o sobre a data e hora designadas para as audiências e que poderá
apresentar defesa prévia e arrolar testemunhas no prazo de 03 (três) dias a contar de
sua ciência, responsabilizando-se pela apresentação das testemunhas de defesa
independente de intimação pelo Conselho Disciplinar; IV – a intimação das
testemunhas de acusação; V – a requisição de perícias, quando for o caso (Decreto
1.988/2013 - MT).
45
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
2 MÉTODOS/METODOLOGIA
3 RESULTADOS
No que se refere a pesquisa de campo, foi realizada maio de dois mil e vinte e dois
(05/2022), onde acompanhou-se a audiência online (em virtude do período pandêmico) ouvindo
oitiva da vítima, das testemunhas (agentes penitenciários) e dos detentos envolvidos no fato,
visando a apuração de condutas relacionadas a agressão física sofrida pela vítima, em oito de
agosto de dois mil e vinte e dois, (08/04/2022), na cela dois (02) em que dividia com os presos.
Vale Salientar que foram pesquisados todos os casos ocorridos entre o ano de dois mil
e vinte e um a dois mil e vinte e três, sendo disponibilizado pela direção da cadeia pública de
Barra do Bugres-MT a informação de que apenas esse caso foi registrado em todo o período, o
diretor do presidio adere tal conquista do baixo índice de instauração de PADs, a medidas
tomadas pela gestão interna do presidio a qual buscaremos abordar esses fatores no texto em
que se segue.
No que se refere ao único caso de PAD ocorrido, relata a vítima em sua narrativa que
após o jantar um dos detentos lhe deu uma “pancada na cabeça e logo em seguida foi espancado
por vários detentos de sua cela”. Em sua oitiva não soube informar quem o agrediu nem
tampouco a motivação.
Após as agressões físicas sofridas foi socorrido por agentes penitenciários que o
levaram até uma unidade de atendimento médico para realização do exame de corpo e delito.
No total foram ouvidos dezessete detentos, que estavam na cela no dia das agressões. O fato
mais alarmante, foi a ausência da defensoria pública. No início da audiência foi informado pelo
Presidente da Comissão Processante que a Defensoria Pública não estaria presente na audiência,
tendo sido solicitado aos dois (02) advogados particulares presentes, que realizam o
46
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
acompanhamento dos depoimentos de sete (07) dos detentos envolvidos, para representarem a
defesa dos dez (10) envolvidos restantes que estavam sob a assistência judiciária da Defensoria
Pública do Estado de Mato Grosso.
A vítima tinha como representante de defesa um advogado do Núcleo de Práticas
Jurídicas (NPJ) da Universidade do Estado de Mato Grosso. O presidente da Comissão
Processante comunicou os detentos sobre a ausência da defensoria e que tinha a possibilidade
de serem acompanhados pelos advogados particulares. Uma das preocupações trazidas por um
dos detentos se relacionava a cobrança de honorários para acompanhá-los naquele ato, tendo
sido esclarecido de que não haveria custos financeiros aos mesmos.
O procedimento administrativo disciplinar - PAD, é peça informativa para apuração
de ilícitos ocorridos no âmbito interno e esse pode agravar as penas e suprimir direitos dos
detentos, expondo ainda mais o risco da ausência da defesa e do devido processo legal
estabelecido na constituição federal do Brasil em seu artigo quinto, vejamos:
Art. 5º [...]
LV - Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes (Constituição Federal, 1988).
Neste ato pôde-se constatar que a ausência da defensoria pública ocasionou prejuízos
a defesa dos detentos que não haviam contratado advogado particular tiveram que serem
submetidos a devesa técnica precária, apesar de que com qualidade.
Os dados atuais apresentado pelo comando da cadeia pública é de que 60% dos
apenados precisam de defesa técnica executado pela defensoria pública. Durante a oitiva dos
detentos a comissão processante questionou os presos sobre o conhecimento e o envolvimento
deles na agressão a vítima.
Quanto aos advogados, ficou explícito uma preocupação em realizar questionamentos
que obtivesse a negativa do envolvimento dos detentos aos quais os haviam contratado para
realização da defesa. Quanto aos demais detentos não houve qualquer orientação ou
questionamento sobre o fato ocorrido.
A este respeito, a Lei de Execução Penal (Lei n. 7.210/1984) prevê em seu art. 10. que
a assistência ao preso e ao internado é dever do Estado. Assim em seu art. 15 dispõe que “A
assistência jurídica é destinada aos presos e aos internados sem recursos financeiros para
constituir advogado” (Brasil, 1984).
47
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
48
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
finais para prescrição, tornando impune um delito cometido contra uma pessoa privada de
liberdade, é fato grave, e para o exercício dos direitos legais a ampla defesa e ao contraditório
em todo processo administrativo e ou judicial carece de defesa técnica sobe pena de anulação
dele.
Aja vista a criatividade do presidente da comissão de improvisar a assistência jurídica
aqueles que se encontrava em situação de vulnerabilidade, com a ausência da defensoria
pública, esse teve de solicitar a advogados presentes na audiência, os quais estavam exercendo
a defesa técnica jurídica de seus clientes, que esses realizassem a defesa dos demais
encarcerados, prestando assistência jurídica para efeitos do ato da oitiva em PAD.
Um improviso criativo, porém, dissociado das normas regulamentadoras do estado
democrático de direito. Reforçando a posição de Salo de Carvalho ao afirmar que “mesmo se a
Lei de Execução Penal fosse cumprida em sua integralidade os direitos dos apenados não
estariam garantidos em decorrência da estrutura processual inquisitória que molda o último
estágio do processo penal” (Carvalho, 2007, p. 419).
É dever considerar que a situação retratada na cadeia pública, objeto da pesquisa, pode
refletir a realidade do sistema penitenciário Brasileiro. A pergunta que nos afronta é: Qual o
real objetivo do encarceramento no Brasil? A resposta não é simples, e os instrumentos jurídicos
apesar de responder a questão nos textos legais, a impressão conclusa é que esses dispositivos
normativos estão no plano do “Dever Ser”, aonde a pratica difere-se da expressa na lei, que por
se mesma se faz incompleta, alimentando o sentimento de exclusão, abandono, subalternidade,
ineficiência de um ser “Estado”, que tem o dever de zelar pelas normas estabelecidas, não pela
intepretação artificial e particular de grupos isolados do poder, mais pela ampla irrestrita
conversação social, observância da dignidade que toda pessoa humana precisa possuir,
rompendo com os estigmas dos preconceitos inerentes a uma sociedade que se apresenta para
poucos escolhidos, compondo um elite dominante, em detrimento do compartilhar dos direitos
e garantias fundamentais para todos obtendo assim ampla defesa técnica nos litígios sob pena
do cometimento de injustiças jurídicas aos envolvidos.
O Dever está posto assim como a necessidade de outras visões cientificas que possam
confrontar as realidades aqui apresentados, colocando a prova material de toda abordagem
estudada. Por fim, o êxito adquirido pela direção da cadeia pública nos últimos três anos com
apenas uma ocorrência de PAD, deve ser ressaltado e observado minuciosamente por demais
pesquisadores, pois ali pode se fazer presente boas práticas de gestão interna para o sistema
prisional Brasileiro.
49
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
REFERÊNCIAS
DAN, Evelin. A Sujeição Classificatória dos Criminosos. 1. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2019.
50
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
CAPÍTULO 4
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.10680309
INTRODUÇÃO
1
Mestrando em Direito, com área de concentração em Direitos Humanos e Sociedade, pela Universidade do
Extremo Sul Catarinense – UNESC. Pós-graduado em Direito Processual Penal e Direito Processual Civil.
Membro do Grupo de estudos NUPED/UNESC. Advogado; E-mail: egtrevisol1@gmail.com.
2
Pós-graduanda em Direito Previdenciário; Advogada. E-mail: tatyjaskiu@gmail.com.
51
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
realizar uma investigação com base em fontes bibliográficas, no caso, extraída de leituras de
livros pertinentes ao tema. O método bibliográfico se concentra no estudo e análise de obras,
artigos, documentos e outros materiais escritos relevantes para a pesquisa em questão. Além
disso, o método científico utilizado é o dedutivo, dessa forma, se fará uso de uma cadeia de
raciocínio descendente, da análise geral, teórica, para a particular, em análise ao fenômeno, até
a conclusão. Utilizar-se-á, assim, o silogismo: de duas premissas retira-se uma terceira
logicamente decorrente.
52
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
53
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
milhares de africanos escravizados da África, que foram utilizados para trabalhar nas plantações
de cana-de-açúcar, café, algodão e outros produtos, definindo-se a colonização do Brasil num
movimento de levar a civilização, entendida por uma sociedade feudal, ibero-lusitana e
mercantilista do Ocidente europeu, onde ela não existia, o que resultou em um processo de
exploração do mais débil, do mais fraco, do oprimido, em ato de espoliação e aviltamento
cultural, em nome da razão e da fé católica, o que pode denominar-se de colonialismo (Sampaio,
2020, p. 27).
Esse sistema de produção baseado no latifúndio e na monocultura teve como objetivo
a exportação de produtos para a metrópole, gerando grandes lucros para Portugal, mas também
resultando na exploração da mão de obra escrava, no aumento da desigualdade social e na
dependência econômica do Brasil em relação a Portugal. Essa dependência gerou um processo
de subdesenvolvimento que se estendeu por séculos.
De acordo com Buarque de Holanda (2006), a colonização portuguesa no Brasil foi
marcada por uma mentalidade patrimonialista, em que as terras e recursos naturais do país eram
vistos como propriedade da metrópole, e não como patrimônio do povo brasileiro. Essa
mentalidade se refletiu na forma como o país foi governado durante séculos, com a exploração
dos recursos naturais em benefício da metrópole e da elite local, em detrimento da população
mais pobre.
Essa desigualdade social e econômica gerada pelo colonialismo ainda é sentida na
atualidade, com uma das maiores concentrações de renda do mundo e uma grande parcela da
população sem acesso a serviços básicos de saúde, educação e saneamento básico, ou seja,
deixados à condição de penúria. Segundo Furtado (2007), essa dependência econômica em
relação à metrópole foi um dos principais fatores que impediu o desenvolvimento do Brasil
durante séculos, mantendo o país em uma posição periférica em relação às nações consideradas
mais desenvolvidas.
A análise da formação da sociedade brasileira se fez a partir da miscigenação entre os
colonizadores portugueses e os povos indígenas e africanos, que foram trazidos como escravos
para trabalhar nas lavouras e nas minas de Norte a Sul do país. A influência da cultura
portuguesa é expressiva na formação da identidade brasileira, mas também deve se destacar a
importância das contribuições das culturas africanas e indígenas (Freyre, 1933).
Além disso, o colonialismo também teve influência na formação da cultura brasileira,
com a mistura de elementos africanos, indígenas e europeus. Conforme DaMatta (1986), a
cultura brasileira é marcada pela ambiguidade e pela mistura de valores e comportamentos,
54
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
reflexo da forma como o país foi formado e da influência das diferentes culturas que se
encontraram aqui.
Dessa forma, é possível perceber que o colonialismo teve um papel fundamental na
formação do Brasil, influenciando sua história, economia e cultura na formação da força motriz
exploratória, opressora e, sobretudo, discriminatória no país. Essa influência ainda é sentida na
atualidade, sendo importante entender e debater o tema discriminatório e para que possamos
construir um país mais justo e igualitário.
55
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
56
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
“emancipação”, tal estratégia foi utilizada para desculpar a Europa pela crueldade da escravidão
de negros e, assim, tornar a África corresponsável pela prática atroz, eis que alguns reinos e
etnias colaboraram com o tráfico humano (Scussel; Wolkmer, 2021, p. 63).
Ao adotar a teoria analética de Enrique Dussel como base para nossa análise crítica da
aporofobia desde o Brasil Colônia, é possível desvelar as estruturas de poder que perpetuaram
a discriminação contra os mais pobres no país, para tanto, é preciso uma “de-struição” de uma
determinada percepção ontológica indo-europeia, grega, moderno-europeia, e a revalorização
de uma concepção do ser, a de origem semita, na qual transparece o caráter unitário do homem,
acentuando-se a alteridade latino-americana, que existe além de um horizonte dominador e que
sempre, historicamente, foi negada, justamente, em razão da perspectiva ontológica de matriz
indo-europeu, grego (Zimmermann, 1986, p. 146).
A categoria da alteridade que Levinas revelou, despertou em Dussel um despertar no
sentido de mudar a perspectiva hermenêutica, em que começou a ler o Outro em sua
“Outridade”, ou seja, pelo grito do oprimido, modificando não somente o modo interpretativo,
mas também o sujeito e suas condições de existência no mundo. Assim, Dussel assume, após
descobrir a inexistência de se povo na história do horizonte da colonização, de exploração, de
escravidão e de opressão colonial, uma postura ética política comprometida ou uma práxis
interpretativa com a necessidade da implantação de uma Filosofia da Libertação, de caráter
militante, enquanto problematiza a cotidianidade opressora do sistema capitalista (Fagundes;
Martínez, 2018, p. 64-65). Essa análise crítica é fundamental para se compreender as raízes
históricas dessa discriminação contra os mais pobres e buscar caminhos de efetiva
transformação social, rumo a uma sociedade mais justa e inclusiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
57
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
favorecidos. A aporofobia era, desde a colonização, uma manifestação dessa hierarquia social,
negando aos mais pobres sua dignidade e seus direitos básicos.
Além disso, ao examinar a realidade contemporânea, observamos que a aporofobia não
se limita ao contexto histórico do Brasil Colônia. Em diferentes épocas e em várias regiões do
mundo, podemos identificar essa forma de discriminação contra os mais pobres. A globalização
e a lógica do consumismo exacerbam as desigualdades sociais, descartando e marginalizando
aqueles que são considerados "desperdícios" ou "inúteis", simplesmente por nada produzirem
na sociedade de matriz fundante capitalista-patrimonialista e hierarquizada.
Portanto, a aporofobia, mais que a aversão ou ódio aos pobres, é uma expressão das
relações de poder e da exploração estrutural que permeiam a sociedade desde o Brasil Colônia.
Dessa forma, confirma-se a hipótese de que o ódio e a aversão em relação aos mais pobres estão
enraizados no sistema de dominação e nas desigualdades sociais. Essa discriminação nega aos
mais pobres sua dignidade, reforçando a exclusão e limitando suas oportunidades de
desenvolvimento pessoal e social.
Para superar a aporofobia e suas raízes históricas, é fundamental promover a
conscientização, a educação e a adoção de políticas públicas que visem à redução das
desigualdades e à inclusão social. É necessário construir uma sociedade que valorize a
dignidade de todos os indivíduos, independentemente de sua condição socioeconômica, e que
garanta oportunidades igualitárias para que todos possam viver uma vida plena e digna.
Diante desse cenário, é necessário um compromisso coletivo para superar a aporofobia
e suas raízes históricas. É preciso promover a conscientização e a educação, buscando uma
mudança de mentalidade baseada na ética da Filosofia da Libertação, que valorize a dignidade
de todas as pessoas, independentemente de sua condição socioeconômica.
Nesse sentido, é importante destacar a relevância da teoria analética de Enrique Dussel,
que nos permite compreender as estruturas de poder e exclusão presentes na sociedade. Através
dessa abordagem crítica, é possível desvelar os mecanismos de dominação que perpetuaram e
perpetuam a discriminação que transversa a raça e a etnia do indivíduo, resultando também na
aporofobia.
A teoria da alteridade ou outridade de Enrique Dussel desempenha um papel
fundamental na compreensão desse fenômeno e na busca por transformação social. Dussel
propõe uma abordagem crítica baseada na teoria da alteridade, que enfatiza a importância de
reconhecer o outro como sujeito digno de consideração e respeito. Ao aplicar essa perspectiva
à aporofobia no Brasil Colônia, revelam-se as estruturas de poder e dominação que perpetuaram
58
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
REFERÊNCIAS
DAMATTA, Roberto. O Que Faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.
FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. São Paulo: Ed. USP, 2019.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. 23. ed. Rio de Janeiro: Editora
Paz e Terra, 1986.
59
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
MOURA, Clóvis. Rebeliões da senzala: quilombos, insurreições, guerrilhas. 6. ed. São Paulo:
Editora Anita Garibaldi, 2020.
PRADO, João Fernando de Almeida. O Brasil e o colonialismo europeu. V. 288, São Paulo:
Editora Companhia Editorial Nacional, 1956.
PRIORE, Mary del. Histórias da gente brasileira. V. 1. Colônia. São Paulo: Leya, 2016.
Edição em formato de livro eletrônico.
60
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
CAPÍTULO 5
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.10680312
INTRODUÇÃO
O presente artigo, busca realizar uma reflexão acerca das Práticas Educativas em
Educação Profissional e Tecnológica (EPT) a partir das literaturas e experiências vivenciadas
pela autora no Programa de Especialização em Docência para a Educação Profissional e
Tecnológica (DOCENTEPT).
Tendo como objetivo apresentar alguns aspectos importantes do mundo do trabalho na
atividade agrária e como esta prática de ensino vem impactando e transformando o nível
educacional da população; assim como evidenciar a importância da construção do
conhecimento acerca da EPT.
A educação profissional e tecnológica (EPT) é uma modalidade educacional prevista
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) com a finalidade precípua de preparar
o estudante para o exercício de profissões, contribuindo para que o cidadão possa se inserir e
atuar no mundo do trabalho e na vida em sociedade.
Para tanto, abrange cursos de qualificação, habilitação técnica e tecnológica, e de pós-
graduação, organizados de forma a propiciar o aproveitamento contínuo e articulado dos
1
Professora e Pesquisadora. Mestrado em Direito do Trabalho e Relações Internacionais do Trabalho pela
Universidade Nacional de Três de Febrero (UNTREF). Pós-graduada, lato sensu, em Direito Processual Civil e
Trabalhista pela Faculdades Integradas do Tapajós (FIT/UNAMA). Especialista em Direito Ambiental, pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR). Graduada em Direito-Bacharelado, pela Universidade de Cuiabá
(UNIC). Integrante do Grupo de Pesquisa Trabalho e Capital: A centralidade dos Direitos Sociais
(UFRGS/CNPQ), do Grupo de Estudos e Pesquisa em Direitos Fundamentais e Interdisciplinaridade
(GEDIFI/UNEMAT). Membro de la Comunidad Internacional para la Investigación y el estúdio laboral y
ocupacional (CIELO). E-mail: camillimeira@gmail.com.
61
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
estudos. A EPT prevê, ainda, integração com os diferentes níveis e modalidades da Educação e
às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia.
Dentre as várias possibilidades, destacam-se como exemplos a articulação da EPT
com: a modalidade da educação de jovens e adultos, em caráter preferencial, segundo a LDB;
a educação básica no nível do ensino médio, na forma articulada de oferta (integrada,
concomitante ou intercomplementar na forma integrada no conteúdo) e na forma subsequente.
Com esta concepção, a LDB situa a educação profissional e tecnológica na confluência
de dois dos direitos fundamentais do cidadão: o direito à educação e o direito ao trabalho. Isso
a coloca em uma posição privilegiada, conforme determina o Art. 227 da Constituição Federal,
ao incluir o direito a “educação” e a “profissionalização” como dois dos direitos que devem ser
garantidos com absoluta prioridade.
A garantia desses direitos, se encontram também inseridas em Convenções
Internacionais as quais o Brasil faz parte, em prol da promoção da justiça social e do trabalho
decente. O Brasil ratificou a Convenção n. 138/1973 da OIT, sobre a idade mínima para
admissão ao emprego, e estabeleceu 16 (dezesseis) anos como idade mínima para o trabalho,
salvo na condição de aprendiz a partir dos 14 (quatorze) anos.
A ratificação dessas normativas internacionais demonstra a preocupação do Brasil, um
dos membros fundadores da OIT, em relação à proteção de crianças e adolescentes, à
necessidade e à importância da promoção do emprego juvenil em condições de trabalho
decente. Por este motivo, as políticas públicas detêm um papel central na melhoria das
oportunidades e das condições para crianças e adolescentes, seja em termos de educação,
formação profissional e/ou inserção no mercado de trabalho formal, a partir da idade permitida
para o trabalho.
Em questão ambiental, a pesquisa destaca também o direito à “educação” e à
“profissionalização” adquirindo novos quadros com uma nova dimensão que está sendo
abordada em diferentes fóruns mundiais. Em 2015 foi aprovado um novo documento para o
desenvolvimento global, a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (2015/2030), que
inclui 17 novos objetivos, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Os novos elementos que compõem a Agenda 2030 e os ODS formam uma agenda mais
abrangente, a qual estabelece estratégias para combater os principais desafios, políticos, sociais,
econômicos e ambientais, que impedem o crescimento e o desenvolvimento de países.
62
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Dessa forma, surge por meio da nova agenda do Desenvolvimento Sustentável, o eixo
de ação de uma nova governança voltada para um crescimento mais sustentável e que permite
enfrentar os principais desafios impostos à toda humanidade.
Para o que propõe a pesquisa sobre a Educação Profissional e Tecnológica na atividade
agrária, destaco os ODS 1, 2, 4 e 8 que são de maior impacto e desenvolvimento para este
trabalho, com seus assuntos, metas e suas recomendações, partindo da reflexão entre o mundo
do trabalho e a educação e aprendizagem enquanto protagonistas das reflexões presentes na
pesquisa.
63
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
64
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
65
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
66
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
dia para as oportunidades de empreender e fazer uma carreira no campo. E o interesse não é só
dos filhos de produtores rurais, mas de pessoas qualificadas e interessadas na área como um
mercado profissional promissor em nosso país. “Nossa agropecuária cresceu com a ajuda da
ciência e da tecnologia, passamos de importadores de alimentos para o topo do ranking de
exportação, contribuindo para o sucesso da nossa economia”. afirma Daniel Carrara, secretário
Executivo do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
A internacionalização de mercados e o crescimento populacional do planeta
demandam novas abordagens para o agronegócio. As continuidades dos empreendimentos
rurais estarão cada vez mais dependentes das competências de seu pessoal, necessitando de
profissionais altamente qualificados, dotados de conhecimentos e habilidades que os permitam
lidarem com cenários complexos, competitivos e em constante mudança. Neste importante
segmento da economia do nosso país, sempre existirá demanda por bons profissionais, que
sejam capazes de aperfeiçoar processos, elevar a eficiência, atrelar o ramo a novas tecnologias
e contribuir para o alcance de ótimos resultados no campo e na cidade.
Esse profissional, focado nas novas tecnologias presente nas atividades voltadas para
o agronegócio brasileiro, precisa desenvolver a capacidade técnica/prática para propor
mudanças inovadoras não só na empresa em que atua, mas em qualquer ramo, sendo rural, de
serviços, privada ou pública, lhe dando visibilidade.
Em busca da profissionalização de jovens e de outras pessoas que se interessam pelo
setor agropecuário do nosso País, por meio de cursos ministrados em diversas faculdades,
institutos federais e em universidades, o ensino superior tem um papel fundamental, por ser
uma geradora de conhecimento, a partir de estudos e pesquisas, e por formar profissionais para
o mercado de trabalho, carente de mão de obra especializada.
E o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), se destaca na oferta de vários
cursos levando conhecimento aos brasileiros do campo há 24 anos, gratuitamente. “Nós
avançamos muito nos últimos anos, no sentido de ampliar nossas linhas de ação e, assim,
atender melhor ao produtor, ao trabalhador rural e às suas famílias” (Carrara, SENAR).
O Senar oferece cursos que aperfeiçoam as habilidades de trabalhadores inseridos em
mais de 300 profissões do meio rural. “Temos salas de aula, sem paredes, espalhadas pelos
campos de 26 Estados e do Distrito Federal. Temos dois portais de educação à distância e polos
de ensino presenciais. Introduzimos novas tecnologias, incentivamos práticas de produção
sustentáveis, empreendedorismo e prestamos assistência técnica para elevar a produtividade e
a renda nas pequenas propriedades”, pontua Carrara.
67
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
68
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
o produtor para que ele invista na sua propriedade de forma a ter retorno econômico,
preservando o meio ambiente.
Em pesquisa ao site do Senar, destaco a entrevista e avaliação de um aluno participante
de um dos cursos oferecidos pelo Senar/MS onde ele diz: “Nosso aprendizado tem que ser
contínuo. Não é porque a gente se formou, que não tem mais nada para aprender. As tecnologias
vêm vindo e com esses cursos EAD que o Senar vai disponibilizar será um aprendizado maior,
mais capacitação. Cada curso que a gente fizer, vai agregar mais no currículo”, avalia aluno do
Senar/MS.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
69
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
na caminhada da EP como o início de um novo entendimento do que se pretende com essa nova
modalidade de ensino.
Na história da educação do Brasil, a educação sempre esteve ligada ao trabalho como
fator de crescimento e não de dignidade humana. O caminho percorrido pela EPT demonstra
que essa realidade pode ser mudada e que o povo como protagonista de seus direitos presentes
na Constituição Federal de 1988, buscou fazer parte da democracia, e ainda buscam, lutando
por uma educação inclusiva e de qualidade, que vise diminuir a dualidade histórica que marca
nossa construção enquanto sociedade democrática.
A qualificação profissional deve ser constante em qualquer área profissional, pois a
vontade do ser humano de se capacitar e aprender, buscando e visando seu crescimento e
conhecimento, é onde está a diferença para alcançar a qualificação profissional, exercendo sua
profissão com novos conhecimentos e experiencias que o transforme em uma pessoa melhor e
o meio ambiente em que vive e trabalha. Portanto, destaco a fala do aluno do Senar/MS que
diz: “O Agro não para, e a nossa Aprendizagem também não pode parar”.
REFERÊNCIAS
ABREU, Leandro. “O agro não para, e a nossa aprendizagem também não pode parar”, avalia
aluno do Senar/MS. Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR). 2020. Disponível em:
https://cnabrasil.org.br/noticias/o-agro-nao-para-e-a-nossa-aprendizagem-tambem-nao-pode-
parar-avalia-aluno-do-senar-ms Acesso em: 28 jun. 2023.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília, 2017.
Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=79601-
anexo-texto-bncc-reexportado-pdf-2&category_slug=dezembro-2017-pdf&Itemid=30192
Acesso em: 26 mar. 2023.
70
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
FERRETI, Celso João. Educação profissional. In: OLIVEIRA, D. A.; DUARTE, A. M. C.;
VIEIRA, L. M. F. Dicionário: trabalho, profissão e condição docente. Belo Horizonte:
UFMG/Faculdade de Educação, 2010.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 37. ed., rev. e atual. São Paulo: Paz e Terra, 2016.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 54. ed. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 2016.
HENRIQUE, Ana Lúcia Sarmento. FERREIRA, Maria Aparecida dos Santos. Gestão de
políticas públicas para a educação profissional. Natal: Editora IFRN, 2022.
71
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
72
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
CAPÍTULO 6
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.10680319
INTRODUÇÃO
A execução penal é um fenômeno jurídicos e social em que cada vez mais é necessário
empenhar esforços institucionais, sociais, políticos e científicos para entender, projetar e
intervim no seu funcionamento. Por parte do próprio Estado, através do Poder Judiciário, temos
a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental 347 de 2015, em sede liminar,
reconhecendo o Sistema Penitenciário como um Estado de Coisas Inconstitucionais, que
institucionalmente evidencia o problema e coloca em foco de atenção e abordagem urgente.
Neste sentido, a presente pesquisa, ainda embrionária, visa angariar elementos para ir
ao encontro desses esforços, visando verificar como a jurisprudência do Tribunal de Justiça do
Estado de Mato Grosso (TJMT) se comporta no conjugado de cinco institutos da Execução
Penal: regime fechado – saída temporária – estudos – trabalho – remição.
A questão em comento que direciona esse levantamento inicial é: o TJMT trata a
educação e o trabalho diante das saídas temporárias dos presos em regime fechado em um
mesmo pé de igualdade, tendo em vista que ambos são iguais no que tange a remição da pena?
Neste sentido, fez-se o levantamento dos institutos jurídicos envolvidos, com respaldo
inicial de conceitos na doutrina e na própria definição legal trago pela Lei 7.210/1984, que
constituiu o primeiro capítulo deste trabalho. Já o levantamento jurisprudencial e análises
1
Este trabalho é fruto dos diálogos e das discussões no âmbito do Projeto de Pesquisa “Cidadania, Conflitos e
Segurança Pública”, vinculado à Linha de Pesquisa “Segurança Pública, Administração de Conflitos Sociais e da
Justiça Criminal” do Grupo de Pesquisa “Políticas Públicas, Direito, Estado e Sociedade – PPDES” (CNPQ)
vinculado à Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT).
2
Mestre e Doutorando em Ciências Criminais (PUCRS). Especialista em Direito Penal e Processual Penal
(FAVENI). Advogado (OABT/MT). Professor Universitário (UNEMAT). Pesquisador (GEDIFI/UNEMAT,
GPESC/PUCRS e GESEG/PUCRS). Parecerista em revistas científicas. E-mail: gabriel.curty@unemat.br.
73
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
primárias dos acórdãos encontrados, foram descritos no segundo capítulo, fazendo uma análise
também com julgamentos encontrados no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
74
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Sobre o trabalho, é importante registrar que em uma rápida busca na LEP pelo prefixo
“trabalh”, temos 59 remissões; já em relação prefixo “estud”, há apenas 8 remissões. Já ficando
claro a desproporcionalidade da tratativa dos institutos/direitos pela lei.
Não é à toa a desarmonia, pois a LEP dedica o Capítulo III somente para o Trabalho,
com várias seções. Para o presente trabalho e recorte proposto, nos interessa focarmos na Seção
III, intitulada “Do Trabalho Externo”. Logo em seu Art. 36, prevê:
Art. 36. O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado somente
em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou
Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em
favor da disciplina.
§ 1º O limite máximo do número de presos será de 10% (dez por cento) do total de
empregados na obra.
§ 2º Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a
remuneração desse trabalho.
§ 3º A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento expresso
do preso.
Art. 37. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do
estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do
cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena. (g.n.)
Como destaco, o artigo é expresso em permitir que o preso em regime fechado saia
para trabalho externo, limitando esse trabalho em serviço ou obras públicas, devendo observar
os requisitos do art. 37 do mesmo diploma.
Os requisitos subjetivos (aptidão, disciplina e responsabilidade) são elementos que
pesam para a concessão ou para o indeferimento, muito se considerando a gravidade do crime
praticado, espaço temporal remanescente de pena para cumprir longo, possibilidade de evasão,
havendo decisões neste sentido, como o STJ, HC 180780/RJ de 28/06/2011, cabendo críticas,
por exemplo, ao uso do argumento de gravidade, considerando que ele faz parte do injusto penal
e já foi valorado para imposição de pena, no mínimo configurando um bis in idem (Roig, 2016,
p.113).
Sobre a autorização da saída temporária, a competência do juiz da execução penal nos
termos do art. 66, IV da LEP, indelegável (vide Súmula 520-STJ), registra-se que é permitida
APENAS ao regime semiaberto e não tendo vigilância direta, sendo permitido para visita à
família, frequência a curso supletivo profissionalizante, instrução em 2° grau ou superior e
participação de atividades que concorram para o retorno ao convívio social, e detém algumas
características específica para concessão, que vão ter que observar outros dispositivos da LEP,
bem como algumas jurisprudências. O legislador atribui para o regime semiaberto a saída
75
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
temporária e cria uma regra de exceção para o regime fechado, que é o trabalho externo anterior
exposto.
Sobre o direito estudo e saída temporária, há apenas o art. 122 que permite tal
conjunção, porém APENAS para presos que se encontram no regime semiaberto.
Art. 122. Os condenados que cumprem pena em regime semi-aberto poderão obter
autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, nos
seguintes casos:
I - visita à família;
II - freqüência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do 2º grau
ou superior, na Comarca do Juízo da Execução;
III - participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social. (g.n.)
Neste ponto já é possível entender a construção legal sobre o presente caso. Temos
uma inadequação/contradição legal que claramente está dotado de absorção de valores de
maneira desigual na Lei 7.210/1984, que não foi devidamente filtrado na recepção pela
Constituição de 1988. O cenário é: para o preso em regime fechado é excepcionado a regra de
saída da unidade prisional para trabalho, mas para estudo, a regra é mantida. O corpo preso
claramente se demonstra como um corpo para trabalho, mas não sendo possível ser um corpo
para emancipação através da educação.
Temos a remição de pena que está prevista no art. 126, da LEP. Trata-se de um
“desconto de parte do tempo de execução da pena, em regra pela realização de trabalho ou
estudo” (Roig, 2016, p.241), que hoje é pelo trabalho e estudo, mas a LEP de 1984 previa apenas
pelo trabalho e somente em 2011, através da lei 12.433, que o estudo foi previsto no dispositivo
legal.
Mas é interessante registrar que em 2007 o STJ editou a Súmula 241 que prevê que “A
frequência a curso de ensino formal é causa de remição de parte do tempo de execução de pena
sob o regime fechado ou semi-aberto”, ou seja, cinco anos antes da edição da lei, tínhamos a
intervenção judicial reparando uma ausência legal na LEP através de uma interpretação
extensiva do art. 126 da LEP.
Assim, o cenário claramente com equívocos legais sem aderência à base empírica, o
que influencia na vida das pessoas presas, se coloca como um quadro legal, neste caso, opressor
de direitos. A questão é: cabe ao juízo atuar com estrita legalidade a uma previsão legal que não
atendeu aos critérios formais e empírico na construção do dispositivo legal? Claramente abre-
se caminho para pesar princípio da individualização da pena e a premissa maior de atenuação
de pena e favor do apenado.
76
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Destaca-se que Ferrajoli (1989, p. 38-39) afirma que o garantismo é um modelo limite,
sendo que a atividade judicial tem espaços de poder, que resultam em margem de
discricionaridade, que advém da interpretação e verificação jurídica, da comprovação e
verificação fática, da conotação e compreensão equitativa e da disposição e valoração ético-
política, que vão influenciar na construção da decisão. Ferrajoli destaca, portanto, que o modelo
garantista se coloca como um delimitador do poder de punir, mas também há permissão para
momentos valorativos para excluir responsabilidades e atenuar penas e rebate que o juiz não é
simplesmente e apenas a boca da lei, sendo tal visão incompatível com o modelo. Portanto, a
formulação por interpretação extensiva feita no caso da remição face a ausência de previsão
legal, remonta esta ideia.
Deste cenário entre remição pelo trabalho e estudo, em que pese vencimento e
atualização legal, temos ainda na LEP um desencontro, com a previsão legal excetuando-se
para permitir presos em regime fechado sair para trabalhar, mas não para estudar.
77
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Não se nega o inquestionável avanço com a adoção deste regime. Entretanto, não pode
haver um endeusamento do regime para aplicar nomas que não apresentam uma
proporcionalidade.
O HC 255978/MG julgado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) não acatou o pedido
de liberação para o preso para estudar, pois ele estava no regime fechado e o argumento usado
para sustentar tal decisão é que se deve respeitar a progressão do regime adotado pelo Brasil.
Mas é contraditório, conforme já se esclareceu, que a regra para trabalho é excetuada,
pois o preso em regime fechado pode sair para trabalhar (art. 36, LEP). Em um caso que
alcançou o STJ nesta matéria, foi reconhecido a necessidade de cumprimento do dispositivo,
ressaltando, porém, que as cautelas legais contrafuga e em favor da disciplina, sejam
observadas, denegando a ordem na situação em questão por ausência de aparato das cautelas
(uma extrema violação de direito), mas emitindo uma recomendação ao Poder Executivo:
78
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
que preencham os requisitos legais (HC 45.392/DF, Rel. Ministro NILSON NAVES,
SEXTA TURMA, julgado em 09/03/2023). (g.n.)
79
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
necessidades e fins próprios de forma que a felicidade, que é um fim individual por
excelência, se realize em comunidade. Logo, a fraternidade é princípio que deve
nortear as atitudes humanas e as funções estatais, além de fomentar o reconhecimento
do outro, o princípio da responsabilidade e ser fonte de direitos transindividuais”
[Clara Machado, in O Princípio da Fraternidade, Ed. Lumen Juris, 2017, p. 65].
“Não há como recear perder o pouco que anos de reivindicação ressocializadora
conquistaram de reforma e melhoria no campo penitenciário, porque todos esses
progressos podem perfeitamente ser mantidos com o argumento de assim se estar
fazendo em nome da dignidade da pessoa humana. A progressão de regime, que
também foi responsável pelo aumento das penas, pode ser preservada como
ingrediente na esperança na pena privativa de liberdade e, portanto, com base na
necessária dignidade do ser humano; o trabalho prisional também não precisa do ideal
ressocializador e pode ser defendido com base no argumento de que o abandono em
uma instituição do Estado é indigno para qualquer um; e assim por diante. Estando a
dignidade da pessoa humana como objetivo primeiro do projeto ressocializador, tudo
o que foi alcançado por este de positivo pode ser mantido com o abandono do ideal e
a assunção do verdadeiro propósito” [Conflito entre Ressocialização e o Princípio da
Legalidade Penal. Luís Carlos Valois. Belo Horizonte, São Paulo: D’Plácido, 2020,
p. 259/264]. (N.U 1009128-44.2023.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS
CRIMINAIS, ORLANDO DE ALMEIDA PERRI, Primeira Câmara Criminal,
Julgado em 20/06/2023, publicado no DJE 23/06/2023)
80
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
81
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
com a Súmula 241/STJ, visando assim a consolidação de uma vertente garantista, que é um
modelo limite, mas mais que isso, um sistema que visa a proteção e garantia dos direitos
fundamentais, garantindo uma aderência empírica do que se é aplicado, bem como a
proporcionalidade e igualdade do que se é aplicado no mesmo sistema.
Somente por este caminho ativo, mas dentro do modelo limite (garantismo), que o juiz
dentro do devido processo de execução de pena cumprirá sua função de garantidor de direitos
fundamentais, visando a reintegração social do condenado.
REFERÊNCIAS
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral (art,1° a 120). V. 1.
[recurso digital: Ebook]. São Paulo: Editora Saraiva, 2023.
BRASIL. Lei N° 7.210 de 11 de julho de 1984. Brasília, DF: Presidência da República, 1984.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm. Acesso em: 05 jul. 2023.
BRITO, Iure Simiquel. O devido processo de execução penal: uma abordagem empírica.
[recurso digital: Kidle]. Jundiaí: Paco Editorial, 2017.
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón: Teoría del garantismo penal. Madrid: Editorial Trotta,
1989.
ROIG, Rodrigo Duque Estrada. Execução penal: teoria crítica. [recurso digital: Ebook]. 2. ed.
São Paulo: Saraiva, 2016.
SUMIDA, Edson Tadashi. O devido processo legal na execução penal. Revista da Faculdade
de Direito UFG, v. 25/26, n. 1, jan./dez., 2001-2002. Disponível em:
https://revistas.ufg.br/revfd/article/view/12027. Acesso em: 05 jul. 2023.
82
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
CAPÍTULO 7
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.10680327
INTRODUÇÃO
1
Doutorando em Direito Internacional e Comparado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (2020-
2022). Mestre (2019) e bacharel (2017) em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Coordenador
Geral do Núcleo de Estudos em Tribunais Internacionais da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
(NETI/USP). Membro da Academia Brasileira de Direito Internacional (ABDI). Tem experiência na área de
Direito, com ênfase em Direito Internacional, Integração Regional e Direito Internacional dos Direitos Humanos.
É advogado inscrito na OAB/SP.
83
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Por fim, busca-se apontar quem devem ser os responsáveis pelas ações defendidas no
item anterior, demonstrar que estes atores devem ter papel ativo e não podem se furtarem de
seus deveres, além de indicar os potenciais beneficiários destas ações.
La integración de diversos Estados es uno de los caminos para superar las limitaciones
de la globalización/marginación que, con numerosas tenciones entre la
mundialización y las reacciones de los Estados y las regiones, se produce em nuestro
tiempo. [...]
84
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
85
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Observa-se, ainda, nestes trechos, a forte vocação econômica da proposta, que se inicia
com uma menção ao Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (COSIPLAN),
uma ao MERCOSUL, e se confirma na parte dispositiva da declaração, a partir do item 2, em
que os países acordam:
Tem-se, a partir destas constatações, portanto, que o que se busca alcançar a partir de
referida integração não é, em primeiro plano, a proteção e a promoção dos direitos humanos
das áreas afetadas pelo corredor, mas sim o aumento da competitividade dos países da região
nos mercados da Ásia Pacífico e da Europa, embora esta integração entre os países do
MERCOSUL possa ser encarada como uma oportunidade para a efetivação dos direitos
humanos (Ribeiro; Maciel, 2017, p. 184).
A prioridade dada à capacidade econômica do projeto, contudo, não exclui a
possibilidade de um desenvolvimento de outras potencialidades a partir deste, levando-se em
conta suas grandes proporções, como se verá mais adiante.
86
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
87
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Ao se levar em conta a historicidade dos direitos humanos, é possível afirmar que sua
concretização se dá de forma não linear, sendo que na maior parte das vezes são eventos
históricos disruptores que provocam elevações nas garantias e a consolidação de novos direitos.
Dentre os mais importantes destes pontos de ruptura e mudança de paradigma do
pensamento histórico-filosófico, para Norberto Bobbio, (2004, p. 94) estão as declarações de
direitos dos últimos séculos, por meio das quais “[...] a proclamação dos direitos do homem
dividiu em dois o curso histórico no que diz respeito à concepção da relação política.”
Esta concepção diz respeito à inversão da importância que se dava ao Estado frente ao
homem, sendo que, se antes o interesse estatal estava acima do indivíduo, a partir das
declarações supracitadas a relação se inverteu, levando ao centro a figura do ser humano como
titular de direitos e entregando ao poder estatal a obrigação – que passou a ser seu motivo de
existir – de garantir o bem-estar de cada indivíduo componente de sua sociedade.
Atualmente, a evolução histórica dos direitos humanos é dividida pela doutrina em três
principais gerações, a partir das quais se garantiram, em diferentes momentos históricos, os
principais direitos que hoje se reconhecem. São ainda admitidas em novos estudos, embora de
forma segmentada, quarta e quinta gerações.
Para os fins deste estudo, o enfoque se dará, principalmente, sobre a segunda e terceira
gerações, sendo a dos direitos sociais a que guarda maior relação com as possibilidades de
proteção e promoção a partir da RILA, em conjunto com a dos direitos de solidariedade.
Segundo Bobbio (2004, p. 94), a respeito da segunda geração, “[...] em sua dimensão
mais ampla, os direitos sociais entraram na história do constitucionalismo moderno com a
Constituição de Weimar.” Esta geração se diferencia da primeira, não apenas pelos direitos que
garante, mas também pelo início da afirmação de direitos que exigem do estado posição ativa
na busca de sua efetivação.
Os direitos garantidos por ela – econômicos, sociais e culturais – para Silveira e
Rocasolano (2010, p. 175), “[...] situam a pessoa humana, a partir de uma perspectiva
individual, como integrada numa coletividade”.
88
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Celso Lafer, de forma mais específica, para explicar a peculiaridade desta geração
frente à anterior postula que:
Completa ainda Fábio Konder Comparato, ao analisar o surgimento desta geração, que
ela põe fim ao abstrativismo antes consolidado quando se falavam nos titulares de direitos,
reconhecendo-se a partir de então como diretamente titulares cada grupos de vulneráveis, como
explica:
Somada a esta, a terceira geração importa para o presente estudo a partir do momento
que reconhece direitos difusos e coletivos, de forma a pacificar a compreensão de que certos
direitos devem ser inerentes a cada coletividade. Sobre esta geração, é o que diz Comparato:
É com base na unidade essencial dos direitos humanos que se pôde falar, no plano
nacional e internacional, de um direito ao desenvolvimento. A Assembleia Geral das
Nações Unidas, em uma Resolução de 4 de dezembro de 1986 (A/RES/41/128),
considerou o desenvolvimento como “um amplo processo, de natureza econômica,
social, cultural e política”. Manifestou sua preocupação com “a existência de sérios
obstáculos ao desenvolvimento e à completa realização dos seres humanos e dos
povos, obstáculos constituídos, inter alia, pela denegação dos direitos civis, políticos,
econômicos, sociais e culturais”, entendendo que “todos os direitos humanos e as
liberdades fundamentais são indivisíveis e interdependentes, devendo-se, a fim de
promover o desenvolvimento, dar igual atenção e considerar como urgente a
implementação, promoção e proteção dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais
e culturais”. Nos termos do art. 2º, alínea 3, dessa Resolução, “os Estados têm o direito
e o dever de formular políticas apropriadas para o desenvolvimento nacional, com o
objetivo de aumentar constantemente o bem-estar de toda a população e de todos os
indivíduos, na base de sua participação ativa, livre e consciente no desenvolvimento
e na justa distribuição dos benefícios dele resultantes”. “Os Estados têm a
responsabilidade primordial de criar condições nacionais e internacionais favoráveis
à realização do direito ao desenvolvimento”, o que implica o dever de colaboração de
todos os Estados na eliminação dos obstáculos ao desenvolvimento (art. 3º).
(Comparato, 2013, p. 293)
89
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Portanto, tendo em vista o estudo histórico dos direitos humanos, entende-se que a
responsabilidade de proteção e promoção destes direitos pertence aos Estados nacionais e que
estas devem ser realizadas de forma ativa, visando sempre o bem-estar de suas populações,
como assevera André de Carvalho Ramos, quando diz que “the State must ensure the basic
rights to all people under its jurisdiction, whether domestic or foreign, even if it is against the
will of the majority” (Ramos, 2017, p. 331).
[...] aos poucos vai se consolidando o entendimento de que a proteção interestatal dos
direitos humanos não pode ser desconsiderada em qualquer espaço comunitário. É um
imperativo do fenômeno da globalização – sobretudo, não exclusivamente,
tecnológica – que a todos os povos governa. Nesse sentido amplo, a proteção dos
direitos humanos é temática que transcende os estritos limites do direito nacional e
até mesmo os o espaço comunitário. Assim é se que mostra assente, no plano
internacional geral, o dever estatal de preservar e promover os direitos fundamentais
do homem. Dever que assume contornos jurídicos na medida em que é instituído
sobretudo em tratados internacionais, não exclusivamente reservados e circunscritos
90
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Sendo assim, resta claro que, mesmo em tratados que versem sobre tema com maior
relação ao aspecto econômico, não podem os países contratantes furtarem-se da
responsabilidade de proteger e promover, acima de qualquer pauta econômica, os direitos
humanos.
Tal afirmação fica ainda mais clara quando considerado que, no caso particular que
trata este trabalho, todos os Estados que promovem a Rota de Integração assinaram tratados
como a Carta da Organização das Nações Unidas (ONU), a Declaração Universal dos Direitos
Humanos e a Convenção Interamericana, todos afirmando, de modo reiterado, em seus textos,
o compromisso dos signatários com a proteção e promoção prioritária dos direitos humanos.
A forma exata pela qual deve se dar esta prestação, entretanto, ainda deve ser objeto
de estudos aprofundados, que visem determinar quais ações concretas serão necessárias para a
efetiva consolidarão da proteção e promoção dos direitos humanos a partir da RILA.
Apesar disso, o que se pretende ressaltar, e que melhor explica Flávia Piovesan, ao
constatar que “A globalização econômica tem agravado ainda mais as desigualdades sociais,
aprofundando as marcas da pobreza absoluta e da exclusão social” (Piovesan, 2015, p. 62), é
que “É preciso reforçar a responsabilidade do Estado no tocante à implementação dos direitos
econômicos, sociais e culturais” (Piovesan, 2015, p. 62).
Daí a importância da cooperação internacional para a concretização de qualquer
expectativa a respeito de efetiva proteção e promoção que se almeje a partir da RILA, pois, ao
escrever que “A Declaração Universal de 1948, na qualidade de marco maior do movimento de
internacionalização dos direitos humanos, fomentou a conversão destes direitos em tema de
legítimo interesse da comunidade internacional”, (Piovesan, 2002, p. 41), a autora deixa
explícito que, a efetivação dos direitos humanos passa, inevitavelmente, pela cooperação
internacional destes países que receberão o Corredor Bioceânico.
É sabido que, para a proteção e promoção dos direitos humanos a partir da RILA, é
necessário garantir que as ações futuras neste sentido impactem diretamente as regiões pelas
quais a Rota passará. Para isso, a ação ativa dos estados brasileiros, paraguaio, argentino e
chileno serão fundamentais. Essas ações, porém, podem ser potencializadas por outros atores.
91
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Para explicar esta possibilidade de ampliação, Flávia Piovesan arrola outros dois
possíveis atores além dos Estados: as agências financeiras internacionais e o setor privado
(Piovesan, 2015, p. 63).
Tendo em vista o formato de financiamento da RILA e os potenciais beneficiados, é
sobre este segundo que deve ser lançada parte da responsabilidade da proteção e promoção de
direitos humanos na região da Rota. Isto porque:
Portanto, devem fazer parte dos esforços para a proteção e promoção dos direitos
humanos neste âmbito, como forma de cumprimento de suas responsabilidades social e de
solidariedade, as empresas privadas que venham a se beneficiar da nova Rota para o
desenvolvimento de suas atividades de distribuição de seus produtos no mercado global.
Esta responsabilidade deriva da terceira geração de direitos, em atenção à qual pode-
se afirmar que a ideia de sustentabilidade e de valores solidários gera para as empresas a
responsabilidade de solidariedade, cabendo, por conta disso, às empresas, estenderem sua
atuação para além do campo econômico e social, abrangendo a proteção ambiental sob a ótica
da solidariedade (Silveira; Santos, 2015, p. 24).
Os mesmos autores, a este respeito desenvolvem melhor este pensamento ao
afirmarem que:
92
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Desta forma, entende-se que a proteção e a promoção de direitos humanos que aqui se
propõe pode e deve ser de responsabilidade dos atores mais poderosos da sociedade, quais
sejam o Estado historicamente reconhecido como tal, e as empresas privadas, que possuem
importância e poder crescentes na ordem global.
Explica-se que os Estados e as empresas responsáveis, neste caso, são aqueles com
relação direta com a construção do Corredor Bioceânico – Brasil, Paraguai, Argentina e Chile
– e as empresas que se beneficiem diretamente do mesmo – portos, concessionárias de rodovias,
grandes empresas de transporte, entre outras –, não se excluindo aqui a possibilidade de
surgimento de outros possíveis promotores.
Dito isto, sabendo-se quem deve executar os projetos que visem a proteção e promoção
de direitos humanos no âmbito da RILA, passa-se a estudar quem seriam os potenciais
beneficiários destas ações.
[...] Com essa visão, acordam: 1. Instruir seus Ministérios das Relações Exteriores a
conformar Grupo de Trabalho entre os quatro países que integre os Ministérios de
Infraestrutura, Obras Públicas, Transportes e outras instituições vinculadas, com o
propósito de impulsionar a realização dos estudos técnicos e formular as
recomendações pertinentes para a pronta concretização do corredor viário Campo
Grande - Porto Murtinho (Brasil) - Carmelo Peralta - Mariscal Estigarribia - Pozo
Hondo (Paraguai) - Misión La Paz - Tartagal – Jujuy - Salta (Argentina) –Sico - Jama
- Puertos de Antofagasta – Mejillones - Iquique (Chile). (grifo nosso)
Nota-se que todas as regiões pelas quais passa a Rota – nos quatro países – são áreas
de menor desenvolvimento e acesso se comparadas às regiões centrais de cada país, o que, por
93
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
si só, permite concluir que são localidades com maior vulnerabilidade, e que se beneficiarão
com medidas que promovam melhora de acesso e qualidade de vida.
Como parâmetro para demonstrar a potencialidade e necessidade dessas localidades
para receberem ações de proteção e promoção de direitos, optou-se pela utilização do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), organizado pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), tendo em vista que a coleta é realizada em todos os Estados que
aqui se estudam.
Em análise dos dados de referido indicador, evidencia-se a discrepância nos índices,
tendo em vista que Argentina e Chile possuem bons números para todas as regiões, enquanto
no Brasil e no Paraguai há grande variação de acordo com a localidade que se analisa.
A respeito dos dois primeiros países, ressalta-se que apesar de apresentarem os
melhores índices dentre os analisados, não se pode afirmar que não serão necessárias ações
nestes locais, já que o início da utilização do Corredor Bioceânico, por si só, trará consigo
questões de direitos humanos que necessitarão atenção futura.
As regiões de Brasil e Paraguai, por outro lado, possuem as maiores necessidades de
proteção e possibilidades de promoção, tendo em vista que a Rota percorre regiões de menor
desenvolvimento e acesso nos dois países. No Paraguai passa pelos departamentos de Boquerón
e Alto Paraguay, e no Brasil pelo estado de Mato Grosso do Sul, iniciando-se em Campo
Grande, e passando pela cidade de Porto Murtinho – divisa com o Paraguai –, localidade com
baixo IDH, com grande necessidade de ações que visem a proteção e promoção de direitos
humanos.
Além do índice do PNUD, um caso específico que ilustra a potencialidade de tal
proteção a partir de Porto Murtinho, onde será efetuada a maior obra de infraestrutura do projeto
– a ponte sobre o Rio Paraguai –, possui importante peculiaridade em relação às demais, que se
dá por conta da grande população indígena que habita, entre outros, o território onde será
construída a ponte.
O estado apresenta, de acordo com o IBGE, a segunda maior população indígena do
país, ao mesmo tempo em que há grande discrepância entre a numerosa população e o tamanho
do território ocupado (Urquiza; Nascimento, 2013, p. 63), informação que, por si só, atesta a
vulnerabilidade de referida população.
Sendo assim, fica claro, além dos responsáveis pela proteção e promoção – Estados e
empresas privadas que se beneficiem diretamente da RILA –, quais são as populações a se
beneficiarem com tais medidas.
94
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
95
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
Com o estabelecimento dos responsáveis pela proteção e promoção de direitos que este
trabalho propõe, resta informar quem são os beneficiários das ações promovidas pelos atores
supracitados.
Neste sentido, entende-se que as populações-alvo devam ser as que serão afetadas
diretamente pela construção do Corredor Bioceânico, incluindo-se neste rol os residentes das
cidades e comunidades pelas quais passa a Rota, com especial atenção às populações indígenas
que habitam, por exemplo, o território onde será construída a ponte entre Brasil e Paraguai –
maior obra do projeto –, e que carecem de especial atenção às suas singularidades.
Por fim, ressalta-se que não é objetivo do presente trabalho esgotar a temática – que é
nova e pouco explorada –, mas sim traçar possibilidades para que o desenvolvimento do projeto
sobre o qual se trata aconteça com o maior respeito aos direitos humanos.
REFERÊNCIAS
ABREGU, Martín. Direitos Humanos para todos: da luta contra o autoritarismo à construção
de uma democracia inclusiva - um olhar a partir da Região Andina e do Cone Sul. SUR. Revista
Internacional de Direitos Humanos. São Paulo, v. 5, n. 8, jun. 2008. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-
64452008000100002&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 12 abr. 2023.
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução: Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2004.
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
BORGES, José Souto Maior. Curso de Direito Comunitário. São Paulo: Saraiva, 2009.
CALDANI, Miguel Ángel Ciuro. Aportes metodológicos para la integración del MERCOSUR.
Revista de la Secretaría del Tribunal Permanente de Revisión. Assunção: MERCOSUR,
2013.
COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 8. ed. São
Paulo: Saraiva, 2013.
96
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
SILVEIRA, Vladmir Oliveira da; SANTOS, Queila Rocha Carmona dos. Responsabilidade
corporativa na perspectiva da sustentabilidade. In: MACHADO, Ednilson Donisete;
BENACCHIO, Marcelo. (coord.). Direitos humanos e teoria jurídica do desenvolvimento
sustentável: reflexões sobre empresa e estado. 1. ed. São Paulo: Letras Jurídicas, 2015.
97
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
RESUMOS
98
CIÊNCIAS CRIMINAIS E DIREITOS HUMANOS: TESSITURAS JURÍDICAS DE EMANCIPAÇÃO
99
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
A primeira etapa desta pesquisa teve como tema os entraves e desafios para a implementação
das políticas públicas e abordou o estado da arte sobre as principais críticas em relação à
implementação das políticas públicas em diversas áreas. Nesse contexto, várias dessas políticas
possui um distanciamento enorme entre sua formulação (proposta) e sua execução (resultados),
o que gera o fracasso ou insucesso delas. Nessa nova etapa da pesquisa, a pesquisa focará em
uma política pública específica, que no caso refere-se à implementação da política de
enfrentamento à violência doméstica em relação às mulheres vítimas de violência de gênero no
município de Barra do Bugres. Justifica-se referido tema devido o cenário de violência, que em
relação às mulheres têm aumentado. E, portanto, mesmo com o advento da lei federal n. 11.340,
de 07 de agosto de 2006 (conhecida como Lei Maria da Penha) que criou mecanismos efetivos
para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher não houve diminuição desse
fenômeno visto aqui como um problema social e de saúde pública. Em uma recente pesquisa
realizada pelo Datafolha e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2023) ficou demonstrado
que houve uma piora em todos os índices que medem a violência contra as mulheres. A pesquisa
revela que 1 (uma) em cada 3 (três) mulheres vivem algum episódio de violência com o parceiro
no Brasil. E ainda que, 45% das mulheres agredidas ainda não denunciam episódios de
violência. Nesta etapa da pesquisa serão realizados estudos sobre a rede de proteção às mulheres
vítima de violência do município de Barra do Bugres, ou seja, a abordagem focará nas ações
integradas entre órgãos e instituições envolvidas na criação de um protocolo único de
atendimento para toda a rede municipal identificar e acompanhar as mulheres em situação de
violência de gênero e assim, promover uma articulação para a elaboração de estratégias de
atendimento, prevenção e enfrentamento da violência com dados atualizados e capacitação
adequada das equipes. A execução da segunda etapa deste trabalho também prevê entrevistas:
com os agentes da Delegacia Civil, que ouve a ofendida, lavra o boletim de ocorrência e toma
a representação a termo e comunica de imediato o Ministério Púbico e o Judiciário bem como
encaminha a ofendida ao Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS).
O objetivo é perceber se existem fragilidades no atual protocolo de atendimento a essas vítimas
para sugerir modificações que melhorem o tempo de resposta e acolhimento dessas vítimas. O
segundo alvo das entrevistas será o pessoal do Centro de Referência Especializado em
1
Acadêmica do curso de bacharelado em Direito, no campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado de
Mato Grosso (UNEMAT), bolsista Probic/FAPEMAT do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas
para minorias coordenado pela Profa. Dra. Vívian Lara Cáceres Dan; E-mail: jessica.aires@unemat.br.
2
Docente Adjunta do curso de Bacharelado em Direito, campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado
de Mato Grosso (UNEMAT). Coordenadora do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para
minorias no Mato Grosso; Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Estado e Sociedades (PPDES –
CNPq). E-mail: vivian.dan@unemat.br.
100
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
Assistência Social (CREAS) que fica responsável por executar o atendimento necessário para
a superação da situação de violência ocorrida. O foco será em relação aos serviços
disponibilizados às vítimas e fragilidades ou demora no apoio/ assistência. Conclui-se que as
políticas públicas destinadas a prevenir e erradicar a violência na perspectiva de gênero requer
mudanças constantes das instituições que se envolvem nesse processo para obter resultados
positivos e tratar as fragilidades do próprio sistema de acolhimento dessas vítimas.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n. 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 17 de
mar. de 2023.
101
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
A presente reflexão é fruto das discussões e estudos realizados pelo Projeto de pesquisa
Cidadania, Conflitos e Segurança Pública (2021-2023) da Universidade do Estado de Mato
Grosso. Tem como objetivo compreender a desigualdade de gênero que no presente contexto
faz com que mulheres sejam menos beneficiadas com absolvições ou liberações do que os
homens. As desigualdades entre homens e mulheres foram se estabelecendo ao longo da
história. Assim, os papéis assumidos por homens e mulheres não foram os mesmos nas
diferentes sociedades humanas. A escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir, em seu
livro O Segundo Sexo, publicado originalmente em 1949, pontua que: “Não se nasce mulher,
torna- se mulher”. Isto quer dizer que não é o corpo que determina as diferenças
comportamentais e os lugares sociais ocupados por homens e mulheres, mas sim as formas
como damos significado às diferenciações construídas em torno do sexo (Beauvoir, 1980, p.9).
Ou seja, é a construção social do gênero que explica tanto as diferenciações quanto as
desigualdades estabelecidas entre homens e mulheres. As desigualdades de gênero se
expressam nas mais variadas esferas da vida, abarcando desde o campo privado (a exemplo da
divisão sexual do trabalho doméstico), o campo educacional (desde a sua organização até a
produção de conhecimento), a esfera pública (tornando-se evidente no nível de acesso entre
homens e mulheres a posições sociais de prestígio, a espaços de tomada de decisão e ao mercado
de trabalho) etc. Vivemos em uma sociedade patriarcal onde a imposição de esteriótipos e
papéis sociais, em grande medida, fundamentam o punitivismo e o encarceramento feminino.
Isto porque o direito não é neutro. Pelo contrário, é fruto de um processo histórico e político.
Não por outra razão que o encarceramento feminino tem crescido exponencialmente, sendo que
o Brasil ocupa a 3ª maior população feminina encarcerada do mundo. Em 2022 possuía 42.694
mulheres e meninas presas provisoriamente ou condenadas.
REFERÊNCIAS
BEAUVOIR, Simone de. O Segundo sexo. v. II. A experiência vivida. Rio de Janeiro, Nova
Fronteira, 1980.
CARNEIRO, Beatriz. Brasil ultrapassa Rússia e se torna país com 3° maior número de mulheres
presas. CNN BRASIL. 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/brasil-
1
Discente do curso de Direito da UNEMAT – Barra do Bugres.
2
Orientadora FAPEMAT/UNEMAT, Professora Adjunta da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas da
UNEMAT, Doutora em Ciências Jurídicas e Sociais (PRPPG/UFF). Coordenadora do Projeto de Pesquisa
Cidadania, Conflitos e Segurança Pública, vinculado à Linha de Pesquisa Segurança Pública, Administração de
Conflitos Sociais e da Justiça Criminal do Grupo de Pesquisa “Políticas Públicas, Direito, Estado e Sociedade –
PPDES” (CNPQ). E-mail: evelindan@unemat.br.
102
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
ultrapassa-russia-e-se-torna-pais-com-3-maior-numero-de-mulheres-
presas/#:~:text=presas%20%7C%20CNN%20Brasil-
,Brasil%20ultrapassa%20R%C3%BAssia%20e%20se%20torna%20pa%C3%ADs%20com,m
aior%20n%C3%BAmero%20de%20mulheres%20presas&text=O%20Brasil%20%C3%A9%2
0o%20pa%C3%ADs,pelo%20World%20Female%20Imprisonment%20List. Acesso em: 02
jul. 2023.
103
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
O tema a qual será abordado no presente trabalho é pertinente ao Descumprimento das Medidas
Protetivas da Lei Maria da Penha, ressaltando suas mudanças decorrentes da promulgação da
Lei 13.641/18 a respeito das questões penais. Dificilmente, em todo contexto histórico da
humanidade, não é possível encontrar um momento em que a mulher não tenha sido subjugada,
principalmente em decorrência da existência da figura patriarcal, sendo um sistema social que
infelizmente ainda encontra- se inserida em diversos contextos familiares. Nesse sentido,
detendo do pensamento de superioridade, o marido fazia o que bem entendia, até mesmo
violentar sua própria mulher domesticamente tornando-a submissa as suas vontades. Após o
fato ocorrido com Maria da Penha Maia Fernandes, no qual foi fruto de violências domésticas
e tentativas de homicídios por parte de seu marido, e em decorrência destes fatos lastimáveis
acarretarem uma repercussão mundial, foi criada a Lei 11.340/06, isto é, a Lei Maria da Penha,
trazendo em seu corpo legislativo medidas protetivas para sanar, ou ao menos diminuir a
frequente violência doméstica. Estas medidas previstas anteriormente têm como principal
desígnio a proteção da figura da mulher, visto todo o trauma sofrido durante anos por ser
considerada incapaz diante da figura masculina. Hoje, a Lei busca assegurar a dignidade
humana de todas as pessoas que se identifiquem com o sexo feminino, sejam heterossexuais,
homossexuais e mulheres transexuais. Por ser focada no combate à violência doméstica,
também ampara homens que sofram este tipo de violência. Partindo desta premissa, nos moldes
do artigo 8º, da Lei 11.340/06, é dever da União, Estados e Municípios prevenir a violência
doméstica por meio de ações governamentais e não governamentais. Outrossim, o Poder
Executivo, por intermédio do Poder Judiciário, Ministério Público e a Defensoria Pública,
devem realizar operações na área da segurança pública, bem como da assistência social, a fim
de assegurar a saúde e integridade física da mulher. Como possível solução para o cerceamento
da violência doméstica existe, em lei, as medidas protetivas que ajudam a garantir os direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, buscando preservar a saúde física e mental das
vítimas. Conforme dispõe os artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha, há medidas protetivas de
urgência que são decretadas de imediato pelo Magistrado, em decorrência da vítima ter sofrido
danos e estar em perigo eminente. Vale ressaltar que a Sexta Turma do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) concluiu que a violência doméstica contra a mulher constitui delito de ação penal
pública incondicionada, ou seja, não é necessário que a vítima impulsione a sua investigação o
o ajuizamento da ação penal, ela pode ser movida pelo Ministério Público (Súmula 542).
Devido ao número crescente e a gravidade das violências domésticas houve uma recente
alteração, o artigo 41 da Lei 11.340/06 afastou a competência do Juizado Especial para
processar e julgar crimes cometidos contra mulheres em âmbito doméstico e familiar, O rito
processual dependerá da pena máxima cominada para o delito, porém mesmo que a pena seja
1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina.
2
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina.
104
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
inferior a 2 anos a lei veda expressamente a aplicação da Lei 9.099/95. Entretanto, mesmo
havendo legislação prevista para a prevenção e proteção da mulher em relação a violência
doméstica, está se faz ineficiente em certos parâmetros. No que tange a assistência social do
Estado e do Poder executivo, estes ainda são insuficientes, pois em muitos casos as vítimas da
agressão não sabem quem, ou onde procurar e fica mercê desta lastima. Além disto, em muitas
situações a própria ofendia retira a queixa, após reconciliar novamente com o agressor,
permanecendo neste ciclo sem fim. Portanto, em virtude do que foi dito, faz necessário a
atuação mais intenção do Estado no exercício da Lei Maria da Penha, fazendo com que esta
seja aplicada em prol dos direitos das mulheres, defendo a dignidade humana delas.
REFERÊNCIAS
RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. São Paulo: Grupo GEN, 2023.
105
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
Kailane Zoz1
Vívian Lara Cáceres Dan2
1
Graduanda no curso de Direito da Universidade Estadual do Estado de Mato Grosso; E-mail:
kailane.zoz@unemat.br.
2
Docente Adjunta do curso de Bacharelado em Direito, campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado
de Mato Grosso (UNEMAT). Coordenadora do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para
minorias no Mato Grosso; Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Estado e Sociedades (PPDES –
CNPq). E-mail: vivian.dan@unemat.br.
106
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
da população em situação de rua e desenvolver políticas públicas que visem à promoção de sua
inclusão social. O Comitê é composto por representantes do governo estadual, municípios
mato-grossenses, organizações da sociedade civil e pessoas em situação de rua, coordenado
pela Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania de Mato Grosso. Dentre suas
atribuições destacam-se: a elaboração de planos e programas, a proposição de medidas para
prevenção e redução do número de pessoas em situação de rua, a promoção de estudos e
pesquisas sobre a temática, entre outras. O decreto ressalta que a iniciativa é importante para a
promoção da cidadania e da dignidade das pessoas em situação de rua em Mato Grosso. Apesar
de ser um Decreto de alta qualidade, a primeira e única reunião ordinária desse comitê ocorreu
em Cuiabá/MT, no dia 16 de dezembro de 2021, na qual foram empossados os membros
representantes do Governo do Estado, da Sociedade Civil e do Fórum Pop Cuiabá, dando início
às atividades do Comitê, apresentando os objetivos e finalidades para a população em situação
de rua a partir daquela perspectiva. Após essa ação não houve mais informações relacionadas à
execução e efetividade dessa política pública. Dessa forma, percebe-se a ausência de
monitoramento e avaliação das políticas públicas, e que neste caso, não se pode afirmar que é
efetiva uma vez que esses dados não estão disponíveis para mensurar sua eficácia e efetividade.
Outro fator que possivelmente dificulta a consulta aos dados é que os mesmos nem sempre
estão sendo compartilhados com a sociedade civil impossibilitando a construção de um
panorama completo desse problema social e como está sendo tratado. Por fim, ainda há um
estigma e preconceito em relação à população em situação de rua, o que pode levar a
subnotificação dos casos e à falta de interesse por parte dos órgãos públicos e da sociedade em
geral em coletar e divulgar informações sobre essa população. Diante desses desafios, é
fundamental que haja a implementação em políticas públicas para essa população e que seja
possível pesquisas que visem a compreender melhor a realidade da população em situação de
rua no Brasil e avaliar essas políticas que visem garantir direitos.
REFERÊNCIAS
107
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
108
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
A presente reflexão é fruto dos estudos e debates realizados no Projeto de Pesquisa Cidadania,
Conflitos e Segurança Pública. A pesquisa tem como objeto uma instituição de longa premência
de idosos no município de Brasnorte e tem como objetivo a investigação às práticas
institucionais a partir do conceito de care, termo este usado dentro do estado da arte atual para
definir e explorar o trabalho, as práticas institucionais e sociais que envolvem no âmbito
privado, público e comunitário o tema do cuidado. As disciplinas neste sentido que voltam sua
preocupação e análise desta temática estão dispostas na sociologia do direito, no direito do
trabalho, passando pela economia e pela antropologia. Os pesquisadores em questão se
debruçarão na busca dos dados através de uma vivência pessoal como profissional da psicologia
pertencente a rede de proteção socioassistencial, ou seja, terá, uma perspectiva autobiográfica
e participante do processo de cuidado de pessoas idosas na rede de atenção psicossocial. Além
disso, se necessário, e em segundo momento para uma interseção mais próxima in loco, serão
utilizados os métodos investigativos das entrevistas semi-estruturadas com trabalhadores da
instituição e também com técnicas de observação e exploração do ambiente e suas práticas de
cuidado, tudo isso a partir do método do trabalho de campo. Levar-se-á em conta, em nossa
análise os dados concernentes aos marcadores sociais que permeiam as relações de trabalho
(cuidador e cuidado) e possíveis conflitos decorrentes destas condições de trabalho voltado ao
público idoso. Da mesma forma, marcadores estatísticos também serão levados em
consideração como por exemplo o perfil profissional dos pesquisados. Por fim, ainda no sentido
do entendimento da dimensão dos possíveis conflitos e características do cuidado local, a
pesquisa investigará os sentidos pessoais (subjetivos) dos trabalhadores buscando entender
como estes próprios se definem como sujeitos ativos no processo de cuidado. Analisando-se
então as afetividades e as emoções adjacentes a práxis deste tipo de labor podem-se
compreender quais seriam supostamente os atributos necessários que se coloca a este tipo de
atividade como por exemplo, quando um perfil supostamente deveria ser mais “ideal”,
“necessária” ou em outra ponta da dicotomia como "desnecessária" e/ou “ruim” para o exercício
do cuidado. Por fim, há a expectativa de se cruzar dados em uma discussão sobre se os achados
corroboram ou não ao que a literatura atual nos apresenta como por exemplo sobre como estão
sendo configurados os perfis profissionais, os discursos identitários e os possíveis conflitos de
afetivos e de trabalho gerados no trabalho do care.
1
Bacharel em Psicologia e atualmente bacharelando do curso de Direito parcelada Brasnorte (MT) vínculada ao
curso de Direito Campus Barra do Bugres. Membro do Projeto de Pesquisa Cidadania, Conflitos e Segurança
Pública (portaria n. 2108/2021), Unemat, Barra do Bugres – MT. E-mail: marcio.saunali@unemat.br.
2
Doutor em Antropologia pela UFF, Mestre em Direito pela mesma instituição e Bacharel em Direito pela UFRJ.
Pesquisador do INEAC-UFF e do PPDES-UNEMAT. Professor da FACET-UNEMAT- BBG. E-mail:
fabio.medina@unemat.br.
109
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
REFERÊNCIAS
DEBERT, Guita Grin. Arenas de conflito em torno do cuidado. Tempo Social, v. 26, p. 35-45,
2014.
REZENDE, Claudia Barcellos; COELHO, Maria Claudia. Antropologia das emoções. Rio de
Janeiro: Editora FGV, v. 136, p. 1, 2010.
110
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
O presente trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão a respeito das políticas públicas de
igualdade racial adotadas em relação à juventude negra no Brasil. Para isso, realizou-se análises
de dados estatísticos sobre a taxa de mortalidade desse grupo, bem como ficou evidente a baixa
efetividade das políticas públicas e a falta de proposição de novas políticas pelo Estado e ainda,
da discriminação em ocorrência do racismo estrutural instaurado na sociedade brasileira.
Inicialmente, é possível ter uma amostra de que no Brasil a violência está matando mais os
jovens negros. Conforme demonstrado pelo Atlas da violência de 2020: 30.873 jovens negros,
cuja idade entre 15 e 29 anos foram assassinados. De 2008 a 2018, a taxa de mortalidade desse
segmento da população passou de 53,3 para 60,4 por 100 mil jovens. Ainda, de acordo com o
Atlas da Violência, do total de óbitos, 55,6% foram entre jovens de 15 a 19 anos (IPEA, 2020).
Posto isso, ao realizar uma análise mais profunda sobre esse fenômeno é possível afirmar sua
relação com o racismo estrutural na sociedade brasileira. Nesse cenário, torna-se perceptível a
ausência de políticas públicas que promova a igualdade racial reforçando a grande mortandade
relativa a esse grupo social de juventude negra no Brasil. Para além disso, denota-se que não
basta apenas propor políticas, mas também, possibilitar cenários onde essas políticas possam
ser efetivamente colocadas em prática em realidades múltiplas, tendo em vista o espaço
geográfico, cultural e socioeconômico dos indivíduos em que esse grupo social está inserido. A
este respeito, existe um grande desafio a frente para superação da desigualdade racial a começar
pela taxa de informalidade. Segundo o G1, que publicou dados do Instituto Geográfico
Brasileiro (IBGE), em 2021, “a taxa de informais entre a população branca era de 32%; já entre
pretos de 43% e pardos de 47%” (G1, 2022). Ou seja, a proporção de pobres entre pretos e
pardos chega a ser o dobro em relação aos brancos segundo a pesquisa divulgada. A
informalidade está ligada à vulnerabilidade social e isso reflete em rendimentos menores e este
é apenas o início do ciclo de exclusão. Nesse mesmo contexto, a taxa de desocupação também
acaba sendo maior entre pretos e pardos. Na prática, a evidência desses dados, demonstra o
conceito utilizado pelos autores Lemons et al “Fazer viver e deixar morrer”, ou seja, o Estado
se mantém inerte diante situações de extrema desigualdade social que ocorrem em detrimento
1
Acadêmico do curso de bacharelado em Direito, do campus de Barra do Bugres da Universidade do Estado de
Mato Grosso (UNEMAT). Bolsista PROBIC/FAPEMAT. Email: andre.silveira@unemat.br.
2
Bacharel em Direito, membro do grupo de pesquisa “Observatório de Políticas Públicas para minorias do Mato
Grosso”. Email: natalia.cantini@unemat.br.
3
Docente Adjunta do curso de Bacharelado em Direito, campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado
de Mato Grosso (UNEMAT). Coordenadora do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para
minorias no Mato Grosso; Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Estado e Sociedades (PPDES –
CNPq). E-mail: vivian.dan@unemat.br.
111
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
de específicos grupos sociais, hierarquizando os corpos e saberes, em uma escala muitas vezes
respaldada pela meritocracia e merecimento de direitos e de uma vida digna, oferecendo e
efetivando essa realidade para apenas uma parcela de indivíduos (Wacquant, 2003). Segundo
Silva (2011), ser jovem acarreta a característica de ser “singular”, sendo assim, condiciona uma
variante de vontade, desejos e perspectivas, e no Brasil, pode-se constatar que o Estado passa a
negar a juventude dos jovens negros, pois, apenas a condicionante da idade não os possibilita
vivenciar sua condição humana nessa etapa da vida. Dessa forma, o olhar projetual dos órgãos
de poderes para os jovens negros, não é um olhar neutro, ou seja, é um olhar que percebe seu
local de alcance positivo dentro de uma sociedade, mas não o faz, pois se constrói e externaliza
de forma estruturalmente racista. (LEMONS et al, 2017, p.168). Em vista disso, devem ser
pensadas políticas que visem a diminuição da exposição desses jovens à vulnerabilidade da
sociedade e, portanto, oferecendo acesso aos direitos básicos e fundamentais como à igualdade,
à educação, à saúde, à moradia etc. Para além disso, no âmbito estadual, foi analisado o plano
de ação do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial de Mato Grosso (CEPIR-MT),
para o ano de 2020, em relação aos jovens negros. Assim, constatou-se que foi realizado
somente um encontro no decorrer do ano, cuja sua meta estabelecida foi: debater sobre os
problemas enfrentados pela juventude negra de Mato Grosso e formar jovens líderes. Desta
forma, fica evidente a falta de planejamentos, reuniões e investimentos por parte do Governo
Estadual para a promoção de políticas públicas de igualdade para a juventude negra. Outrossim,
foi analisado o plano de ação do Conselho Estadual da Juventude (CONJUV) MT, no período
de 2020-2022, e constatou-se que, ainda não existem dados concretos a respeito das dimensões
da violência contra os jovens no estado de Mato Grosso, ou seja, a pesquisa nessa área está
incipiente, pois as atas no site só existem até o ano de 2019, o que indica um negligenciamento
dos órgãos estatais para essa parcela da população, comprovando que o racismo também está
institucionalizado e acaba por se materializar, pois além de não se posicionar e buscar conhecer
a realidade dos jovens do estado, não chegam a conhecer quem são os jovens de Mato Grosso,
onde e como vivem e demais índices. Diante do exposto, é necessário que haja uma atenção
maior sobre as desigualdades que ao longo da história vem se mostrando cada vez mais
acentuadas e relacionadas à cor da pele do indivíduo, bem como, do racismo institucionalizado.
Portanto, é coerente a cobrança dos órgãos estatais e, a construção e a melhoria das políticas
públicas de igualdade que atinjam esses grupos raciais que estão sem acessar seus direitos e
garantias fundamentais.
REFERÊNCIAS
LEMOS, Flávia Cristina Silveira; AQUIME, Rafaele Habib Souza; FRANCO, Ana Carolina
Farias; PIANI, Pedro Paulo Freire. O extermínio de jovens negros pobres no Brasil: práticas
biopolíticas em questão. Pesquisas e Práticas Psicossociais, v. 12, n. 1, jan./abr. 2017.
112
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
MAZZINI, M.; Silva, H. NUNES, M.; SOUZA, W. Políticas públicas de juventude e igualdade
racial: resgatando agendas, concepções e trajetórias à luz da interseccionalidade. In:
ENCONTRO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. 9. 2022. São Paulo/SP.
Anais [...]. São Paulo/SP: Sociedade Brasileira de Administração Pública, 2022. Disponível
em: https://sbap.org.br/ebap/index.php/home/article/view/371. Acesso em: 04 jul. 2023.
WACQUANT, Loic. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. Rio de
Janeiro: Revan, IBCCRIM, 2003.
113
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
Este breve resumo, tem objetivo de analisar o crime de trânsito (embriaguez ao volante), no que
tange à vontade e consciência do agente, será feita a diferenciação entre dolo eventual e culpa
consciente à luz do direito processual penal. A fronteira entre o dolo eventual e a culpa
consciente, na prática, é estreita e de grande dificuldade de comprovação devido a sua relação
com a vontade do agente; em ambos o resultado é previsto, contudo, no primeiro, o agente
aceita e assume o risco da ocorrência, enquanto que no segundo, o agente tem a convicção de
que o resultado não ocorrerá ou que poderá evitá-lo. Nos termos do artigo 18, do Código Penal
temos: "diz-se o crime doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-
lo". Nos tipos dolosos dos crimes devem existir dois elementos, que são condições essenciais
para suas caracterizações, a consciência e a vontade. O Código Penal Brasileiro traz o dolo
como regra e a culpa como exceção, disposto no parágrafo único do artigo 18, deixa claro que
todo crime é doloso, somente havendo a possibilidade de punição pela prática de conduta
culposa se a lei expressamente o previr., no dolo eventual o agente, embora não querendo
diretamente praticar a infração penal, não se abstém de agir e, com isso, assume o risco de
produzir o resultado que por ele já havia sido previsto e aceito. De acordo com o artigo 18,
inciso II, do Código Penal, diz-se culposo o crime quando o agente deu causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia. Logo, ou o agente atua dolosamente. A culpa
inconsciente distingue-se da culpa consciente justamente no que diz respeito à previsão do
resultado; naquela, o resultado, embora previsível, não foi previsto pelo agente; nesta o
resultado é previsto, mas o agente, confiando em si mesmo, nas suas habilidades pessoais,
acredita sinceramente que este não venha a ocorrer. A culpa inconsciente é a culpa sem previsão
e a culpa consciente é a culpa com previsão. Na culpa consciente, o agente, embora prevendo
o resultado, acredita sinceramente na sua não ocorrência; o resultado previsto não é querido ou
mesmo assumido pelo 23 agente. Já no dolo eventual, embora o agente não queira diretamente
o resultado, assume o risco de vir a produzi-lo. Na culpa consciente, o agente, sinceramente,
acredita que pode evitar o resultado; no dolo eventual, o agente não quer diretamente produzir
o resultado, mas, se este vier a acontecer, pouco importa. Conforme trata o código penal no art.
306 “Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro
de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra
substância psicoativa que determine dependência. Penas - detenção, de seis meses a três anos,
multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor”. Embriaguez ao volante é um crime de mera conduta que não exige como resultado
o dano efetivo, mas somente a prática descrita no tipo penal, ou seja, "os crimes de mera
conduta, ou de simples atividade, se consumam com a simples prática do ato. Ao contrário dos
crimes formais, não chega a haver previsão legal de qualquer resultado naturalístico" (Moreira,
2009). A conduta do agente abrange conduzir veículo automotor estando sob influência de
álcool ou droga e que o faça em via pública. A conduta é dolosa. O sujeito ativo desse crime
1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Campus Nova Xavantina.
114
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
pode ser qualquer pessoa, que tenha a habilitação ou não, que esteja na condução do veículo. O
sujeito passivo é a coletividade, logo trata-se de crime vago e, se houver efetivo dano, também
o será a vítima do dano. O "caput" deste artigo estipula o limite permitido de álcool no sangue,
para fins penais, que não poderá ser igual ou superior a 6 decigramas, por litro de sangue; porém
é o Decreto n. 6.488/2008 que regulamenta os testes que aferirão esta concentração e, assim,
possibilitar a tipificação do crime. A dúvida entre a aplicação do dolo eventual ou da culpa
consciente nos crimes de trânsito causados por embriaguez ao volante é recorrente e tumultua
o ordenamento jurídico. No entanto, o Direito não é uma ciência exata, precisando-se analisar
provas, circunstâncias e elementos em cada caso concreto para a constatação de que o resultado
foi ocasionado por dolo ou por culpa. Quando o sujeito se embriaga propositalmente para tomar
coragem de atropelar e matar o amante da namorada, por exemplo, está agindo claramente com
dolo, pois há vontade em cometer o crime, utilizando-se assim o código penal. Entretanto, em
outros casos em que a pessoa faz uso de álcool, mas não tem a finalidade e nem assume o risco
de matar alguém, pode ser aplicado o instituto da culpa consciente. Se o agente praticar lesões
corporais ao dirigir sob efeito de álcool ou outra substância psicoativa por culpa, estará
classificado na modalidade da imprudência, aplicando-se o art. 303 do código de trânsito,
aumentando a pena de um terço a metade. Caso a situação demonstre que houve dolo eventual
ao ingerir a bebida alcoólica, será aplicado o código penal a título de crime doloso.
REFERÊNCIAS
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Geral, v.1. 13. ed. Rio de Janeiro: Editora
Impetus, 2011.
JESUS, Damásio de. Crimes de Trânsito. 4. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2000.
MOREIRA, Alexandre Magno Fernandes. Classificação das infrações penais. Disponível em:
http://www.lfg.com.br/. Acesso em: 20 maio 2023.
115
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
1
Discente do Curso de Direito de Nova Xavantina.
116
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
há a separação de funções de defensor, acusador e julgador. Mas é considerado uma falsa fase
porque ainda sim o juiz quem é o gestor de provas, onde no sistema acusatório o juiz deve ser
imparcial. Há uma crítica em relação ao procedimento brasileiro que seria reconhecido como
misto por possuir duas etapas, a pré-processual e a fase processual (judicial). Complementando
o raciocínio, cada sistema possui uma ideia base afim de que possa interpretar as características
deles. É de suma importância a política do Estado, pois quanto mais autoritário menos garantias
para o acusado e quanto mais democrático o Estado maiores serão as garantias para ao acusado.
REFERÊNCIAS
BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo Penal. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2017.
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. Saraiva. 17. ed. São Paulo, 2010.
RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 12. ed. São Paulo: Lúmen Iuris. 2007.
TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 3. ed. Salvador: Jus Podivm. 2009.
117
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Campus de Júlio. E-mail: mayres.araujo@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador vinculado ao
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.
118
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
pessoas escravizadas. A história mostra que essa organização de trabalho foi uma tragédia, para
os libertos não houve nenhuma política pública, nenhum programa por parte do governo da
época. Ficaram desprovidos de moradia, alimentação e saúde. Portanto, é urgente que o Poder
Público adote políticas públicas com intuito de melhorar o acesso a uma educação de qualidade
e consequentemente inserção ao mercado e trabalho, considerando a vulnerabilidade desse
grupo de mulheres, uma vez que os dados dos índices sociais provam a existência de incontáveis
obstáculos da mulher negra diante o mercado de trabalho. Essa exclusão começa a partir do
recrutamento e seleção, seguidos de uma entrevista discriminatória com perguntas desiguais
aos homens, uma entrevista que adentra a intimidade, tais como: “com quem ficará seus filhos
quando estiver no trabalho?” ou “quando pretende engravidar?” revelando os desafios da
mulher, sobretudo da mulher negra no mundo corporativo, principalmente se essas mulheres
forem moradoras de bairros considerados subúrbios, periferias e favelas. Desse modo levando-
se em consideração os aspectos mencionados, no que tange garantias de trabalho a mulher negra
está num patamar instável e suscetível a fatores discriminatórios de moradia, remuneração,
idade e principalmente cor. Assim, com este resumo foi possível refletir o que a mulher negra
sofre diariamente e descortinar a universalização de direitos da mulher negra que sempre é
medido com a régua de garantias obtidas pela mulher branca, expondo assim a falta de
representatividade da mulher negra seja no mercado de trabalho, universidades, ou no próprio
judiciário que ainda são minorias. Os índices demonstraram a desigualdade face as
oportunidades, e ainda qual a raça e sexo é taxada para o serviço doméstico que apesar de sua
essencialidade, não pode ser categórico. É preciso reconhecer o atual cenário, o processo
histórico e fomentar discussões que viabilize equidade salarial e oportunidades iguais para as
mulheres negras no mercado de trabalho. Nesse trabalho, utilizou-se de pesquisa de dados e
estatísticas, colhidos na plataforma de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua – PNAD, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE e Departamento
Intersindical de Estudos e Estatísticas – Dieese.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Catarina. Cor, gênero e classe: os desafios da mulher preta. Brasil de Fato. 2020.
Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2020/07/08/cor-genero-e-classe-os-desafios-
da-mulher-preta. Acesso em: 19 abr. 2023.
GUIMARÃES, Grazi. Mulheres Negras são 28% da população brasileira, mas, ocupam apenas
3% dos Cargos de Liderança. Jornal ND. 2022. Disponível em:
https://ndmais.com.br/cidadania/mulheres-negras-sao-28-da-populacao-brasileira-mas-
ocupam-apenas-3-dos-cargos-de-lideranca/. Acesso em: 19 mar. 2023.
119
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
120
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
A Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais (9.099/1995), ao regular o disposto no artigo
98, inciso I, da Constituição da República Federativa do Brasil, foi introduzida no Direito
brasileiro com o intuito de possibilitar uma justiça consensual, para que desburocratizasse e
tornasse célere a tramitação do processo, visando a desentulhar o Judiciário brasileiro, cujo
processo tenha como objeto de julgamento, as contravenções penais e infrações de menor
potencial ofensivo. Esse resumo tem-se como objetivo geral conceituar o instituto da Transação
Penal no JECrim e como objetivo específico, esclarecer os principais aspectos, e fatores
relevantes dentro da temática. É preciso compreender e verificar os requisitos necessários para
que haja possibilidade de ser oferecido o instituto da transação penal previsto na legislação.
Utilizou-se de pesquisa bibliográfica, doutrinária e documental. De acordo com os artigos 2º e
62 da Lei 9.099/1995, determinou-se que os procedimentos em trâmite nos Juizados Especiais
orientar-se-ão pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e
celeridade, buscando sempre que possível, a conciliação ou a transação, e a reparação dos danos
sofridos pelas vítimas, bem como a aplicação de pena não privativa de liberdade. Nesse
contexto, tratar-se-á no presente texto, do instituto da transação penal, previsto no artigo 76,
caput, da Lei n.º 9.099/1995, estabelece que “havendo representação ou tratando-se de crime
de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público
poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada
na proposta”. Dessa forma, a transação penal é um instituto utilizado para a negociação da pena,
em que esta será antecipada, sendo a pena restritiva de direitos ou aplicação de multa, dispondo
o órgão acusatório da ação penal. Como bem explicita o artigo citado acima, o Ministério
Público, ainda na audiência preliminar, antes do oferecimento da denúncia, visto preencher os
requisitos necessários estabelecidos no artigo 76, § 2º, incisos I, II e III, oportunizará ao acusado
a transação penal, por se tratar de um direito subjetivo do acusado (garantido pelo ordenamento
jurídico). Segundo Fernando Capez (2013, p. 629) “o Ministério Público não tem
discricionariedade absoluta, mas limitada, uma vez que a proposta de pena alternativa somente
poderá ser formulada se satisfeitas as exigências legais. Por essa razão, tal faculdade do órgão
ministerial é denominada discricionariedade regrada ou limitada”. Contudo, não cabe ao órgão
acusatório escolher oportunizar a parte acusada ou não o instituto da transação penal, sendo
uma discricionariedade regrada ou limitada, pois incumbe ao Ministério Público apenas
1
Discente do curso de Direito na Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). E-mail:
nicolli.pelachim@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador vinculado ao
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.
121
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
verificar se foram preenchidos os requisitos e negociar a pena cabível, não havendo, portanto,
que se discutir o oferecimento ao acusado de cumprir pena antecipada. Ainda, vale ressaltar que
o instituto aqui discutido, muito tem ligação com o princípio da economia processual, que está
mencionado no artigo 2º da Lei 9.099/1995, sendo a intenção do legislador de que nos atos
processuais deve prevalecer a celeridade, bem como a economia processual, com o intuito de
solucionar de forma mais eficaz e ágil o processo. Tal princípio é norteador do procedimento
sumaríssimo, que são assim considerados as contravenções penais e os crimes a que a lei comine
pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa (art. 61, Lei
9.099/1995). Assim, nas ações penais públicas incondicionadas caberá oportunizar ao acusado
o instituto da transação penal, bem como que nas ações penais públicas condicionadas à
representação do ofendido deve-se em um primeiro momento, possibilitar a tentativa de
composição civil dos danos, conforme prevê o artigo 72, da Lei 9.099/1995. Entretanto, não
havendo essa composição, poderá o Ministério Público oferecer transação penal. Na ação penal
privada, o jurista Fernando Capez firmou entendimento de que não é possível oferecer o
instituto de que trata o presente resumo, em virtude do princípio da disponibilidade, pois o
ofendido tem outros meios (perdão e perempção) para desistir do processo, não tendo
autoridade para oferecer qualquer pena ao acusado. Em contrapartida, Aury Lopes Junior (2020,
p. 1205) compreende que: “não vemos obstáculo algum a que a transação penal se opere na
ação penal de iniciativa privada, se preenchidos os requisitos legais – poderá ser proposta pelo
querelante, e, caso ele não o faça, será proposta pelo Ministério Público”. Ademais, o
Enunciado 112 do Conselho Nacional de Justiça entende ser cabível transação penal na ação
penal de iniciativa privada, vejamos: “ENUNCIADO 112 (Substitui o Enunciado 90) – Na ação
penal de iniciativa privada, cabem transação penal e a suspensão condicional do processo,
mediante proposta do Ministério Público (XXVII Encontro – Palmas/TO)”. Portanto, seguindo
o entendimento de Aury Lopes Junior, bem como entendimento do CNJ, entendo ser
plenamente possível ser oportunizado ao acusado a transação penal, devendo ser tentado a
composição civil dos danos, sendo esta infrutífera, deverá ser proposto tal instituto. Depreende-
se que a grande vantagem da transação penal, é que, esta não gera reincidência ou maus
antecedentes, sendo acolhida pelo ofendido a proposta do Ministério Público, será registrada
somente para impedir o mesmo benefício no prazo de cinco anos (artigo 76, § 4º da Lei
9.099/1995). Ante o exposto, a homologação da transação penal não faz coisa julgada material
e, caso seja descumprida as cláusulas, o Ministério Público poderá retomar e continuar a
persecução penal, mediante oferecimento da denúncia ou requisição de inquérito policial
(Súmula Vinculante 35 do Supremo Tribunal Federal - STF).
REFERÊNCIAS
122
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. De acordo com a Lei n. 12736/2012. São Paulo:
Saraiva, 2013.
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
123
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
O presente resumo discute como as prisões femininas desde o seu surgimento no Brasil e até os
dias atuais, tem resquícios que marcam episódios de sofrimento, afastamento, descriminação e
como pontua Foucault (2013, p. 32) em “Vigiar e Punir” “não há dúvidas de que alguma coisa
dos suplícios se sobrepôs”, e no caso feminino perduram desde a sua criação até hoje. As
primeiras prisões femininas do Brasil foram inauguradas na década de 1940, como resultado de
medidas estatais eficazes voltadas para a regulamentação geral das prisões brasileiras. Até
então, não havia diretrizes legais que exigissem ou regulamentassem a separação de homens e
mulheres nas prisões. As presas eram separadas dos presos do sexo masculino de acordo com
o desenho das autoridades competentes e sua condição física no momento da prisão, a realidade
que se tinha era mulheres presas em cadeias mistas, onde até dividiam celas com homens, no
que cominava em assédios sexuais, estupro, e até mesmo prostituição como meio de
sobrevivência, quando separadas, eram destinadas o pior lugar da Cadeia “O Castigo” (termo
para descrever a cela solitária). A partir da década de 1930, o Governo Federal tomou uma série
de medidas para reorganizar o sistema prisional do país. Em 1930, foi instituído o Serviço
Correcional; em 1934, foram instituídos o Fundo e Selo Prisional para investimento prisional;
em 1935, foi promulgado o Código Prisional da República, que passou a legislar todas as
situações envolvendo a vida de indivíduos condenados por crimes judiciais; 1940 foi
promulgado e até os dias de hoje vigente o Código Penal, principal ferramenta para legislação
e surgimento das prisões femininas, nesse sentido, o objetivo da pesquisa é propor uma reflexão
sobre o cárcere feminino Brasileiro e suas infringências aos direitos humanos e a dignidade da
pessoa humana com um ideal de desenvolvimento crítico em relação a temática para a real
importância do desenvolvimento de melhorias e ensejo de justiça pois olhar para a mulher presa
é olhar para si, para nossas atitudes, olhar para nosso olhar viciado e restrito da realidade de
determinados assuntos, pois nas cadeias femininas vivem mulheres tão humanas quanto as
mulheres que foram estão na realidade das prisões. É extremamente necessário e justifica-se
esta pesquisa pelo fato de que se não olharmos urgentemente para o sistema como um todo e
especialmente o prisional feminino e principalmente para sua história, jamais descobriremos as
1
Discente do Curso de Direito da Unemat – Campos de Júlio. E-mail: andreia.diniz@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador vinculado ao
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.³ Discente do Curso de Direito da Unemat – Campos de Júlio.
3
Discente do curso de Direito da Unemat – Campos de Júlio. E-mail: coscia.oldineia@unemat.br.
4
Discente do Curso da Unemat-Campos de Júlio. E-mail: aryadne.santos@unemat.br.
124
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
125
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
REFERÊNCIAS
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Edições 70, uma chancela de Edições Almeida, S.A.
Lisboa/ Portugal, 2013.
126
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT Campos de Júlio. E-mail: thiago.acrisio@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador vinculado ao
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.
127
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
acordo de não persecução penal, o relator do recurso foi o Ministro Edson Fachin do STF, a
decisão foi objetiva ao impossibilitar o uso da ANPP, em crimes de injuria racial. No voto do
Ministro Edson Fachin foi discutido o art. 28-A, IV, alinhado ao compromisso do Estado
Brasileiro de fortalecer o combate à violência física e mental e o tratamento degradante nas
questões de gênero, nessa análise, mesmo o crime prevendo pena inferior a 4 anos, não caberá
ANPP, pela conduta se tratar de crime imprescritível. Além disso, o Ministro pontuou que
“Despenalizar atos discriminatórios raciais, nesta quadra da história, é contrariar o esforço, já
insuficiente para a construção da igualdade racial” (Fachin, RHC 222.599). A pesquisa utilizou-
se de doutrina especializada, artigos jurídicos bem como jurisprudência do Superior Tribunal
Federal. Dessa forma, considerando as reflexões apresentadas, é necessário a todo momento
reinterpretar institutos do sistema processual penal com análises antidiscriminatórias, buscando
efetividade nos cumprimentos dos crimes de injuria racial, o fortalecimento no combate ao
racismo, e sempre estar reanalisando institutos que beneficiem todos que cometam tais
infrações, pois apenas dessa forma caminharemos em busca de uma sociedade antirracista,
igualitária e totalmente livre de preconceitos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RHC 222599. Relator EDSON FACHIN, Segunda
Turma. Julgado em: 07/02/2023. Disponível em:
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur476423/false. Acesso em: 23 mar. 2023.
LOPES, Aury Junior. Direito processual penal. 17. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
128
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
O presente resumo tem por objetivo analisar a nulidade da Busca e Apreensão em local diverso
do determinado na decisão judicial, nesse sentido foi utilizada a metodologia da pesquisa por
meio de jurisprudências, doutrinas e um caso concreto ocorrido em Nova Xavantina/MT. O
Ministério Público do Estado de Mato Grosso atribuiu ao acusado a suposta prática do crime
previsto no artigo 121, § 2º, incisos I (motivo torpe) e IV (recurso que dificultou a defesa da
vítima), c/c art. 14, inciso II (FATO 01), na forma do artigo 29, todos do Código Penal; e art.
288, parágrafo único, na forma do art. 69, ambos do Código Penal. No caso concreto, restou
devidamente documentado nos autos pelos próprios agentes de segurança pública e no auto
circunstanciado que o mandado de busca e apreensão foi cumprido em endereço diverso do
autorizado judicialmente, em decorrência da devassa entrada no domicílio, que resultou na
apreensão de dois aparelhos celulares, o Ministério Público pugnou pela quebra do sigilo dos
dados e das linhas telefônicas móveis dos dois aparelho celulares apreendidos, fruto dessa busca
e apreensão ilegal, bem como foi utilizado pelo Ministério Público como fundamento para
sustentar a autoria delitiva, unicamente no material extraído dos aparelhos, como áudios de
WhatsApp, mesmo o acusado negando peremptoriamente os fatos. Pois bem, é cediço que a
Busca e Apreensão tem como finalidade esclarecer a autoria e a materialidade de crimes. Para
a busca e apreensão Domiciliar é necessária uma decisão judicial, obedecendo os requisitos do
artigo 243, I, CPP, indicando o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a
diligência, visto que o domicílio é asilo inviolável (Artigo 5, XI da CF). Em vista do
cumprimento dessa natureza é demonstrando a ilicitude das provas colhidas nos autos,
decorrente de vício originário, nos termos do art. 157, §1º do CPP, bem como art. 564, IV e 572
ambos do CPP como sendo prova ilícita, deve ser extirpada do processo, ou por outra, a luz da
aplicação do princípio dos frutos da árvore envenenada, é inadmissível a utilização de quaisquer
fontes/elementos de provas obtidas a partir das diligências ilegais. No julgamento do HC n.
153.563/CE, a Sexta Turma do STJ reconheceu a ilegalidade na busca e apreensão realizada
em endereço diverso do autorizado pela decisão judicial, e determinou que as provas colhidas,
e as delas decorrentes, ser consideradas ilícitas e, assim, desentranhadas da ação penal de
origem, ainda na mesma temática é reconhecida em vários outros julgados como no STJ HC n.
718.075/SP e do STF, HC 106566/SP a mesma posição de se tratar que tais provas são ilícitas
e nulas para o processo, ainda para o STJ e STF essa entrada no domicilio pode caracterizar
invasão. Assim, faz-se mister reconhecer a ilicitude da busca e apreensão em domicílio diverso
do autorizado judicialmente, nesse enquadramento do caso concreto após o habeas corpus foi
possível o reconhecimento da ilicitude da busca e apreensão e por consequência o
desentranhamento de todos os áudios coletados nos aparelhos celulares, resultando na perca da
única prova imputada ao requerente. Logo deve-se respeitar os direitos individuais dos
1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina. E-mail: silva.erika@unemat.br.
2
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina. E-mail: luana.beatriz@unemat.br.
129
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
cidadãos, bem como manter todo o procedimento de forma lícita, caso contrário toda e qualquer
prova de que dela flui deve ser desentranhada do processo.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. RHC N. 153.563/CE. Ministro Relator Des(a) Olindo
Menezes. Sexta turma, julgado em 14/12/2021. Disponível em
https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stj/1282775692. Acesso em 22. mar. 2023.
130
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
Violência contra a mulher é todo ato lesivo que resulta em um dano, seja ele físico, psicológico,
sexual ou patrimonial e que é praticado em razão do gênero, ou seja, ocorre contra mulheres
especificamente por serem mulheres. A causa da violência de gênero se originou do machismo
que pode se manifestar de diversas formas, e junto a elas tem-se as inúmeras justificativas,
como exemplo: legítima defesa de honra. Diante disso indaga-se, justifica-se o crime contra
mulheres por argumento de legítima defesa da honra? O presente trabalho tem como objetivo
geral verificar a violência histórica perpetrada contra as mulheres, especialmente no ambiente
doméstico. E como objetivo específico analisar sobre a inconstitucionalidade no argumento de
legítima defesa da honra contra a vítima. Faz-se necessário verificar o aumento da violência
contra as mulheres, tendo em vista que as desigualdades que existem entre os dois gêneros
corroboraram por muito tempo para com a violência social contra a mulher, calando-as frente
às violências perpetuadas no âmbito doméstico. Utilizou-se de pesquisa bibliográfica
documental, bem como uma análise crítica do tema abordado na ADPF 779. Conforme Simone
de Beauvoir (1988), no livro “O Segundo Sexo”, “não se sabe ao certo o momento em que a
mulher foi dominada, aconteceu de forma lenta e gradativa”. A violência social contra a mulher
tinha amparo estatal, no Código Penal de 1890, atualmente revogado, no art. 279 do Código
Penal de 1890, ficando claro a disparidade evidente de tratamento entre homens e mulheres.
Destarte, é necessário enfatizar o uso não raras as vezes do argumento de defesa do homem que
praticou o feminicídio, conhecido como “legítima defesa da honra”, assunto de que trata a
ADPF 779, julgada em 2021, que declara a inconstitucionalidade de tal ato. Considerando isso,
felizmente, a ADPF 779 representa um avanço rumo a igualdade material frente ao judiciário,
uma vez que aduz ser inconstitucional o argumento de legítima defesa da honra, sendo este um
importante passo rumo à emancipação dos corpos.
REFERÊNCIAS
KREUTZ, Eduarda Franke; LUCAS, Doglas Cesar. A legítima defesa da honra: perpetuação
do machismo e sua recente inconstitucionalidade pela ADPF 779. Salão Do Conhecimento, v.
8, n. 8, 2022. Disponível em:
https://publicacoeseventos.unijui.edu.br/index.php/salaoconhecimento/article/view/22212.
Acesso em: 20 abr. 2023.
1
Bacharelanda em direito, Unemat, Nova Xavantina – MT. E-mail: Ingrid_sandy.85@live.com.
2
Bacharelanda em direito, Unemat, Nova Xavantina – MT. E-mail: Sirlene@gmail.com.br.
131
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
CALDAS, Rebeca de Moura. A tese da “legítima defesa da honra” vs. o direito à vida das
mulheres: até que ponto a honra pode ser invocadas para defender o feminicídio. VirtuaJus,
Belo Horizonte, v. 7, n. 13, p. 257-272, 2º sem. 2022. Disponível em:
https://periodicos.pucminas.br/index.php/virtuajus/article/view/29888. Acesso em: 19 abr.
2023.
132
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
A prisão cautelar está prevista na Constituição Federal 1988, que estabelece em seu art. 5º, LXI,
que apenas poderá ser decretada por ordem escrita e fundamentada, bem como no artigo 312,
do Código de Processo Penal, o qual faz uma reprodução do texto constitucional. Nesse resumo
será analisado neste trabalho a prisão preventiva, espécie da prisão cautelar, seu meio e fim,
através de ponto de vista doutrinário, questionando a lógica social sobre este instituto e o
princípio da presunção da inocência é violado ou não diante da sua decretação em juízo. No
Processo Penal utiliza-se como base para a decretação da prisão preventiva os requisitos “fumus
commissi delict” e “periculum libertatis” (art. 312, primeira parte, do CPP), desta forma não
havendo qualquer obstáculo á sua decretação antes da conclusão do inquérito, seja esta ação
pública ou privada. De acordo com Antônio Leonardo Amorim (2022, p. 429) “na prisão
preventiva, ainda não se tem formação de culpa sobre o caso do acusado, visto que apenas com
audiência de instrução e julgamento que se terá provas produzidas na ação penal, as quais
auxiliaram a convicção do magistrado para prolatar sentença penal (art. 155, do CPP)”. Haja
visto o exposto, tem-se que esta espécie prisional está sendo usada de forma equivocada no
Brasil, além de ser mecanismo de exclusão social. Socialmente tem-se estabelecido o preceito
social de que o mal precisa ser eliminado, essa ignorância social que busca combater o mal, na
verdade promove a exclusão social, além de promover a violação de direitos fundamentais dos
investigados/acusados. O princípio da presunção da inocência, que de acordo com Lopes Jr
(2022, p. 657) pode ser compreendido como, “a presunção de inocência está expressamente
consagrada no art. 5°, LVII, da Constituição, sendo o princípio reitor do processo penal e, em
última análise, podemos verificar a qualidade de um sistema processual através do seu nível de
observância (eficácia). É um princípio fundamental da civilidade, fruto de uma opção protetora
do indivíduo, ainda que para isso tenha-se que pagar o preço da impunidade de algum culpável,
pois sem dúvida o maior interesse é que todos os inocentes, sem exceção, estejam protegidos.
Essa opção ideológica tratando-se de prisões cautelares, é da maior relevância, pois decorre da
consciência de que o preço a ser pago pela prisão prematura e desnecessária de alguém inocente
(pois ainda não existe sentença definitiva) é altíssimo, ainda mais no medieval sistema
carcerário brasileiro”. Assim, do ponto de vista normativo todos são inocentes até o trânsito em
julgado da sentença condenatória, porém, em algumas situações pode ocorrer a antecipação da
pena a essas pessoas, mas não de forma judicial, mas sim do ponto de vista moral e humanitário,
e dos diretos básicos que são garantidos a esses indivíduos. Concluindo-se que a prisão
1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT de Campos de Júlio. E-mail: fabricio.cunha@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador vinculado ao
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.
133
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
preventiva em muitos casos, sendo ela cabível e legal, poderá ocorrer desde que devidamente
fundamentada e estritamente nos ditames legais.
REFERÊNCIAS
LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2022.
134
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
Diversos são os fatores associados a ocorrência de lesões e mortes no trânsito, entre os fatores
associados à conduta das pessoas, os principais apontados para a ocorrência dos eventos que
acarretam traumatismos no trânsito são a velocidade excessiva, a condução de um veículo sob
efeito de bebida alcoólica e a negligência no uso de equipamentos como cintos de segurança
(Opas, 2018). Trazendo esses dados tão importantes para o âmbito jurídico tem-se que a
principal discussão a ser realizada quando se trata de mortes em acidentes de trânsito é a escolha
do elemento subjetivo a ser utilizado. Existe muita divergência nesse ponto, alguns juristas
optam pela escolha do dolo eventual, enquanto outros são a favores da culpa consciente. Neste
contexto, os dois institutos, por apresentarem conceitos semelhantes, podem confundir em
determinadas situações. Previsto no artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro (Brasil, 2007)
e 121 do Código Penal (Brasil, 2012), respectivamente, a conduta normativa (culposo), ou
volitiva (dolo eventual) nestes delitos, o indivíduo prevê, mas não deseja cometer o crime,
contudo, no dolo eventual o indivíduo prevê o resultado do seu agir e mesmo assim assume o
risco de produzir tal resultado. Destaca-se que o dolo eventual prevê uma punição mais rigorosa,
levando o acusado a Júri, enquanto a culpa consciente punirá de forma mais branda comparado
ao dolo eventual. Neste contexto, este estudo tem como objetivo discutir, sob o prisma de alguns
doutrinadores, os pontos importantes envolvendo o elemento subjetivo a serem utilizados para
classificar as mortes nos acidentes de trânsito. O presente estudo é classificado como pesquisa
qualitativa do tipo bibliográfica. Os estudos qualitativos se caracterizam por buscarem
compreender um fenômeno onde esses ocorrem e do qual faz parte (Bogdan; Biklen, 1994). Na
concepção de Oliveira (2007), a pesquisa bibliográfica, corresponde a uma modalidade de
estudo e de análise de documentos de domínio científico, sendo sua principal finalidade o
contato direto com documentos relativos ao tema em estudo. Neste âmbito, foram utilizadas
como matérias de pesquisa manuais de direito penal, código de processo penal, legislações
penais, legislações do Código de Trânsito Brasileiro, além de artigos jurídicos retirados da
internet. Justifica-se a relevância do presente estudo, posto que a elucidação dos institutos
mencionados e sua aplicação nos crimes de trânsitos resultantes de álcool, auxiliam na tomada
de decisão mais adequada juridicamente. Inicialmente tem-se o conceito de dolo eventual
abordado pelo doutrinador Rogério Greco (2009) o qual assevera que, neste caso, o agente,
embora não querendo diretamente praticar a infração penal, não se abstém de agir e, com isso,
assume o risco de produzir o resultado que por ele já havia sido previsto e aceito. Já Nucci
(2014) conceitua o dolo eventual da seguinte forma: É a vontade do agente dirigida a um
resultado determinado, porém vislumbrando a possibilidade de ocorrência de um segundo
resultado, não desejando, mas admitindo, unido ao primeiro. Sobre a culpa, Capez (2011)
conceitua culpa consciente como sendo aquela em que o agente prevê o resultado, embora não
o aceite. Para Capez (2011), há no agente a representação da possibilidade do resultado, mas
ele a afasta, de pronto, por entender que a evitará e que sua habilidade impedirá o evento lesivo
1
Discente do Curso de Direito de Nova Xavantina/MT.
135
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
previsto. Para Prado (2014) no dolo eventual, o agente concorda com o advento do resultado,
preferindo arriscar-se a produzi-lo a renunciar à ação, ao contrário, na culpa consciente, o
agente afasta ou repele, embora inconsideradamente, a hipótese de superveniência do evento e
empreende a ação na esperança de que este não venha ocorrer – prevê o resultado como
possível, mas não o aceita, nem o consente. Zaffaroni e Pierangeli (2015), exemplificam a
situação considerando o condutor de veículo automotor que percorre uma rua, em excesso de
velocidade, onde há crianças saindo da escola. Neste caso o agente pode não prever a
possibilidade de atropelar uma criança, hipótese de culpa inconsciente. Da mesma forma que
pode representar-se a possibilidade lesiva, mas confiar em que a evitará, contando com os
potentes freios de seu veículo e sua perícia ao volante, caso em que haverá culpa consciente.
Porém, ao representar para si a possibilidade de produção de evento, aceitando a sua ocorrência
(pouco me importa!) o caso seria de dolo eventual. A semelhança entre dolo eventual e culpa
consciente é nítida, mas a diferença principal é o risco assumido pelo agente para a prática de
determinado ato. É certo que a diferença existe, devendo assim o aplicador do direito analisar
o caso concreto e classificar a conduta da maneira mais adequada. Conclui-se então, que há
uma grande divergência na doutrina. Infere-se também que há dois extremos de opiniões
opostas, alguns classificando culpa consciente como aplicação automática para os crimes de
trânsito, e outros utilizando-se do dolo eventual sem medir consequências ao ordenamento
jurídico, somente buscando uma punição rígida para a suposta justiça desses crimes. A
conclusão é de que o juiz para o correto julgamento deve atuar com imparcialidade para cada
caso referido, analisando as provas e indícios de forma que não prejudique o réu, utilizando o
princípio do “iin dubio pro reu”.
REFERÊNCIAS
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. V. 1: parte geral (arts. 1º a 120). 15. ed. São Paulo:
Saraiva, 2011.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. 11. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2009.
LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. A pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU,
1986.
NUCCI, G. de. Manual de Direito penal. 10.ed. Rio de Janeiro: Editoria Forense. 2014.
136
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. 13. ed. rev. atual. ampl. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2014.
137
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
REFERÊNCIAS
FRANCA, Maria Stela de Campos. Xavante, pioneiros e gaúchos: relatos heroicos de uma
história de exclusão em Nova Xavantina. 128fls. 2000. Dissertação (Mestrado em Antropologia
Social). Instituto de Ciências Sociais. Universidade de Brasília, 2000.
1
Bacharelando em Direito, Unemat, Campus de Nova Xavantina.
2
Bacharelando em Direito, Unemat, Campus de Nova Xavantina.
138
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
SILVA, Aracy Lopes da. Nomes e amigos: da prática xavante a uma reflexão sobre os Jê. São
Paulo: FFLCH/USP, 1986. Disponível em: https://etnolinguistica.wdfiles.com/local--
files/biblio%3Asilva-1986-nomes/Silva_1986_NomesEAmigos_Xavante_Je.pdf. Acesso em:
19 maio 2023.
139
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina. E-mail: kharenn.nogueira@unemat.br.
2
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina. E-mail: josias@unemat.br.
140
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
REFERÊNCIAS
TOEWS, Barb. Justiça Restaurativa para pessoas na prisão. São Paulo: Palas Athena, 2019.
141
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
A presente reflexão é fruto dos estudos e debates realizados no Projeto de Pesquisa Cidadania,
Conflitos e Segurança Pública. Diante de notícias recorrentes sobre o descaso com crianças e
adolescentes- que em regra deveriam ser protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente-
é de caráter imprescindível a pesquisa sobre o acesso aos direitos dos reeducandos do sistema
socioeducativo do Estado do Mato Grosso. Aos adolescentes que praticam atos infracionais, o
ECA, em seu artigo 112, prevê direitos a respeito da integração social do adolescente e a
garantia de seus direitos individuais e sociais. A pesquisa pretende investigar as condições em
que esses direitos são aplicados e se os objetivos previstos são devidamente alcançados dentro
dos Sistemas Socioeducativos do Estado do Mato Grosso. Para isso, serão utilizados como
procedimentos metodológicos a análise documental, análise quantitativa de documentos
oficiais do Estado de Mato Grosso, análise bibliográfica, e pesquisa de campo, com uso de
técnica de coleta de dados: entrevista semiestruturada com a técnica de análises de dados:
análise de conteúdo, análise de narrativa e análise estatística básica. A pesquisa de campo será
realizada, a princípio, com interlocutores agentes de segurança pública, professores e menores
reeducandos do Centro Educativo de Cáceres-MT.
REFERÊNCIAS
1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Barra dos Bugres - (Bolsista de IC 2022 - FAPEMAT/UNEMAT)
2
Orientadora FAPEMAT/UNEMAT, Professora Adjunta da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas da
UNEMAT, Doutora em Ciências Jurídicas e Sociais (PRPPG/UFF). Coordenadora do Projeto de Pesquisa
Cidadania, Conflitos e Segurança Pública, vinculado à Linha de Pesquisa Segurança Pública, Administração de
Conflitos Sociais e da Justiça Criminal do Grupo de Pesquisa “Políticas Públicas, Direito, Estado e Sociedade –
PPDES” (CNPQ). E-mail: evelindan@unemat.br.
142
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
O presente trabalho apresenta dados gerais do quadro da violência contra a mulher em seus
diversos âmbitos no Brasil e as medidas tomadas até então, para combatê-la no estado de Mato
Grosso. Baseia-se em referenciais bibliográficos como artigos de internet, pesquisa documental
de políticas públicas, além de análise dos indicadores de gênero do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA) e do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (ABSP). A
Plataforma de Beijing estabelece que o mecanismo institucional para avanço das mulheres deve
ser o organismo central de coordenação de políticas dentro dos governos. Sua principal tarefa
é incorporar a perspectiva da igualdade de gênero em todas as áreas políticas, em diferentes
níveis do governo. Esses organismos podem representar as mulheres concretamente trazendo
suas demandas para a discussão, formulação e implementação de políticas públicas. Dentre as
dificuldades enfrentadas para fortalecer os mecanismos institucionais de promoção da
igualdade de gênero ao longo dos vinte anos após a criação da Plataforma de Beijing dizem
respeito a fragilidades ligadas ao alcance transversal e capacidade orçamentária. A posição dos
mecanismos na hierarquia institucional do Estado, seu nível de pessoal e financiamento são
formas de medir o compromisso dos líderes com a igualdade de gênero. Muitas vezes, os
compromissos políticos não estão alinhados num esforço suficiente em termos de alocação de
recursos administrativos e financeiros. Além da escassez de financiamento e pessoal, muitos
mecanismos não têm autoridade para obrigar outros departamentos, dentro do Estado, a
incorporar uma perspectiva de gênero em suas políticas. A lei n. 13.104/2015 tornou os
assassinatos de mulheres devido a essa condição de gênero ou de violência doméstica um crime
hediondo, porém, essa lei pode ter um significado simbólico para a luta contra a violência de
gênero, mas não necessariamente previne a prática desse crime. O resultado da falta de
infraestrutura e investimento em ações sugeridas inclusive pela Plataforma de Beijing produziu
uma diminuição muito tímida em relação aos crimes cometidos contra a mulher e em alguns
estados houve até mesmo o aumento desses crimes no ano de 2021: em 17 (dezessete) estados
brasileiros o percentual de feminicídio aumentou entre 2020 e 2021 conforme o gráfico a seguir:
1
Acadêmica do curso de bacharelado em Direito, no campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado de
Mato Grosso. Bolsista PROBIC/FAPEMAT. E-mail: natalia.moura@unemat.br.
2
Docente Adjunta do curso de Bacharelado em Direito, campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado
de Mato Grosso (UNEMAT). Coordenadora do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para
minorias no Mato Grosso; Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Estado e Sociedades (PPDES –
CNPq). E-mail: vivian.dan@unemat.br.
143
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
Nota-se ainda a partir deste gráfico que, em relação ao número absoluto de homicídios de
vítimas mulheres houve uma queda de 104 em 2020 para 85 em 2021; enquanto o número de
feminicídios também teve um percentual de queda de 59,6% em 2020 para 50,6% em 2021. Já
no ano de 2022, segundo o monitor da violência, o número de vítimas mulheres de feminicídio
bateu recorde, sendo 1, 4 mil mortes motivadas por gênero, o que corresponde há um aumento
de 5% em relação ao ano anterior. Ou seja, 1 mulher morre a cada 6 horas. (G1, 2023). A partir
do ano de 2017, o estado do Mato Grosso aprovou o Plano Estadual de Políticas para as
Mulheres de Mato Grosso, e o Conselho Estadual de Direitos da Mulher (CEDM) recebeu a
grande responsabilidade de monitorá-lo; este, tendo como objetivo promover a igualdade de
gênero e o combate à violência contra as mulheres no estado. O plano foi estruturado em seis
eixos: diagnóstico do Estado em relação às mulheres, educação, enfrentamento à violência
contra as mulheres, autonomia e igualdade no mundo do trabalho e cidadania, saúde das
mulheres, direitos sexuais e reprodutivos e gestão e monitoramento. Assim, o CEDM é o
responsável por monitorar a execução do plano e avaliar as ações anualmente, fornecendo
sugestões para aprimoramento dele. O Plano Estratégico da Câmara Temática de Defesa da
144
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
Mulher (PECTDM), referente aos anos 2021-2030, é um plano estratégico que visa aprimorar
a defesa da mulher vítima de violência em Mato Grosso. Ele é composto por alguns objetivos
estratégicos. Sendo o primeiro: fortalecer a comunicação social sobre violência de gênero em
Mato Grosso e a meta é participar de no mínimo 3 campanhas por ano para fortalecer a
comunicação social sobre violência de gênero em Mato Grosso até 2030. Para isso, o plano
prevê iniciativas como fortalecer a comunicação social sobre formas de prevenir e denunciar a
violência contra a mulher, além de criar mecanismos de engajamento social e voluntariado para
manter a comunicação social sobre o tema. Outro propósito é apoiar tecnicamente a
formalização de documentos referentes à defesa da mulher vítima de violência,
disponibilizando apoio técnico à formalização de um documento referente à defesa da mulher
vítima de violência ao ano até 2030. Para isso, serão realizadas iniciativas como estimular a
normatização do funcionamento da patrulha Maria da Penha, provocar a formalização dos
fluxos de atendimento entre os parceiros da rede de defesa da mulher e disponibilizar apoio
técnico quanto à análise de minutas de atos administrativos e legislação referente à defesa da
mulher vítima de violência, entre outras medidas. A próxima da pesquisa será investigar quais
informações estão disponíveis pela Câmara Técnica e quais os impactos das medidas até o
momento implementadas em conjunto com os demais órgãos e Poder Judiciário do estado.
REFERÊNCIAS
MATO GROSSO. Decreto n. 1252 de 2017. Plano Estadual de Políticas para as Mulheres de
Mato Grosso. Disponível em: https://leisestaduais.com.br/mt/decreto-n-1252-2017-mato-
grosso-aprova-o-plano-estadual-de-politicas-para-as-mulheres-de-mato-grosso-e-da-outras-
providencias. Acesso em: 22 mar. 2023.
145
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
https://www.sesp.mt.gov.br/documents/4713378/17685399/PECTDM_MT_2021-
2030_VF.pdf/40212907-dde1-cc60-4333-499928aed1b9. Acesso em: 22 mar. 2023.
VELASCO, Clara; GRANDIN, Felipe; PINHONI, Marina; FARIAS, Victor. Brasil bate
recorde de feminicídios em 2022, uma mulher morta a cada 6 horas. G1. 08/03/2023.
Disponível em: https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2023/03/08/brasil-bate-
recorde-de-feminicidios-em-2022-com-uma-mulher-morta-a-cada-6-horas.ghtml. Acesso em:
22 mar. 2023.
146
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
A sociedade tende a rejeitar e excluir as pessoas que cometeram atos infracionais, mesmo que
já tenha cumprido pena, preconceito que muitas vezes inviabiliza a reconstrução fora da prisão.
Muito se fala sobre os altos índices de reincidência no crime, mas não existem políticas
concretas que construam caminhos para a pessoa que sai da prisão, visando diminuir esse
preconceito. É preciso implantação de programas, projetos e ações de inclusão que criem
possibilidades de reconstrução da vida do ex-presidiário em sociedade, pois ao sair da prisão,
ex-detentos precisam recomeçar a vida e ainda lidar com a sombra do passado, onde sofreu
preconceito da sociedade quanto à sua ficha criminal. No momento de se candidatar a vagas de
emprego para retomar a rotina, muitos empregadores se sentem receosos com o histórico. Nesse
sentido, os esforços precisam ser feitos fora da prisão. É importante trabalhar conscientização
da população quanto ao acolhimento dessas pessoas. Esse estigma faz com que os condenados
sejam céticos ao sistema e processo de ressocialização. É como se, apesar de terem cumprido
toda a sua pena, continuassem a ser punidos. Como possibilidade, poderíamos ter tratamentos
para essa ressocialização, pensando que nosso país está em 3° lugar com a maior população
carcerária do mundo, atrás da china e dos Estados unidos. Pensando nisso, o tratamento com o
intuito de ressocialização seria também uma necessidade pública do ponto de vista
governamental. Pois existem diversos tipos de tratamento para esse fim. Em geral, as atividades
seriam focadas na qualificação dessas pessoas, visando que elas estejam aptas a saírem do
presídio habilitadas em alguma ocupação ou profissão. Um dos tratamentos mais populares para
a ressocialização é a oferta de cursos profissionalizantes, onde podem ser barbearia, corte de
cabelo, plantio etc. Feito em parceria com empresas e instituições de ensino, os detentos têm a
oportunidade de aprender uma função nova e ainda podem ganhar dinheiro com isso. No último
caso, além da redução de pena, o dinheiro é depositado em uma conta na qual o detento terá
acesso quando sair da prisão ou por familiares. Nesse sentido, ambos os lados são beneficiados,
a simples leitura não é suficiente para recuperar o preso, mas ajuda. O estudo permite que ele
encontre uma maneira de se inserir na sociedade quando sair do sistema.
1
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina.
2
Discente do Curso de Direito da UNEMAT – Nova Xavantina.
147
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
No modelo tradicional do Processo Penal brasileiro a vítima não costuma ter participação ativa,
já que o processo penal visa apenas a condenação do acusado. Apesar de ser uma realidade,
este fato torna-se mais delicado quando a vítima é de crime sexual, especialmente, quando
pertencente ao gênero feminino. Assim, delimita-se crime sexual todos aqueles crimes que
contrariam o livre arbítrio do ser humano, quanto a sua liberdade sexual. Deste modo, o crime
sexual é aquele em que a pessoa tem vetada sua liberdade de determinar como, onde, e com
quem irá praticar atos sexuais. E, é neste sentido que o estudo se desenvolve em que se busca a
elaboração minuciosa da definição deste ente, como ainda apresentar suas espécies a fim de que
seja vista e entendida de uma maneira mais ampla. Da mesma forma, é relevante a abordagem
do “Iter Victimae” (caminho da vitimização) descrevendo assim o percurso pelo qual a vítima
passa até alcançar esta condição, e o que advém da construção deste ideário em sua própria
concepção. Visando destacar o papel da vítima nos crimes sexuais, as consequências e
transtornos decorrentes desses fatos, neste trabalho serão discutidos, além de outras, a
importância de procedimentos que resguardem as vítimas de crimes sexuais a fim de garantir
sua integridade durante as etapas processuais. Nesse sentido, está fundamentado numa
bibliografia aprimorada em estudos e obras no Direito Penal e no Direito Processual Penal,
especialmente em autores que demonstrem o processo da vitimologia e o posicionamento
jurídico frente ao enfrentamento desta realidade. Contudo, o objetivo desse trabalho é analisar
como as práticas processuais colaboram para a desistência do processo em situações de crimes
sexuais, uma vez que a mulher na sociedade brasileira sofre diariamente com situações
decorrentes de machismo e quando se torna vítima de crimes sexuais há uma tendência de
acusação na qual a vítima passa a responsável pela ocorrência do crime, desse modo, nota-se
que desde o inquérito policial há apontamento de “motivos” para a ocorrência do crime que
transforma a vítima em uma pseudo culpada. Assim, com comparativos nos avanços dos
Códigos Penais ao longo da história, com pesquisas bibliográficas sobre dados e evoluções nos
direitos e nas leis de proteção às mulheres, como também com buscas sobre o posicionamento
jurídico ao tratar de casos envolvendo os crimes sexuais, constrói-se este estudo. Sendo assim,
ao serem observados relatos de mulheres que passaram por tais crimes é comum ver discursos
que destacam a vontade da vítima em desistir do prosseguimento da ação em virtude do modo
como se desenvolve todo o procedimento de inserção dela no sistema de justiça. Infere-se, assim
que há a necessidade de mudanças que consigam efetivar não apenas as denúncias, mas a um
acolhimento maior às mulheres vítimas de crimes sexuais, deixando-as mais seguras e firmes
em suas decisões de prosseguirem com a representação e configurando força para que outras
1
Bacharelanda em Direito, Unemat, Campus de Nova Xavantina.
2
Bacharelanda em Direito, Unemat, Campus de Nova Xavantina.
148
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
vítimas se sintam prontas para denunciarem seus agressores e buscarem uma nova vida. Ponto
crucial se faz com a “separação” da vítima do convívio social com seu agressor, buscando meios
de mantê-la segura e penalizando a parte contrária responsabilizando esta parte pelos atos
cometidos.
REFERÊNCIAS
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial. 10. ed. Salvador:
JusPODIVM, 2018.
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito processual penal. 17. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020.
149
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
O tema da Violência contra Mulher é uma violação aos direitos humanos da mulher no seu
direito a vida, saúde e integridade física, possuindo grande relevância no âmbito mundial, seja
no cenário urbano ou rural, mas sabendo do pouco enfoque em estudos acadêmicos ao que diz
respeito a violência no âmbito rural no Brasil, no presente resumo nos atentaremos a violência
doméstica e familiar enfrentada pelas mulheres do campo que por muitos momentos são
silenciadas e negligenciadas. A violência contra mulher segundo o art. 1° da Convenção de
Belém do Pará de 1994 é “qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano
ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera
privada”. Segundo (JESUS, 2015) as principais violências enfrentadas pelas mulheres são:
violência sexual, violência doméstica ou familiar, assédio sexual e moral e o feminicídio. No
Brasil a Lei n° 11.340/2006 mais conhecida como Lei Maria da Penha, veio como importante
dispositivo jurídico para criminalizar a violência sofrida pelas mulheres no âmbito doméstico e
familiar. Apesar do amparo legal, fica visível a existência de falhas no sistema de informações
quando se se busca dados nacionais desagregados do território rural e urbano da violência contra
mulheres. Para exemplificar essa situação podemos revelar os dados disponibilizados pela
Ouvidoria Nacional do Direitos Humanos (ONDH), com a Central de Atendimento à Mulher
responsável pelo “Ligue 180”, no qual apontaram que no ano de 2019 do total de ligações
registrados 78,96% estavam relacionadas à violência doméstica e familiar. Os dados do
Conselho Nacional de Justiça, reunidos no Monitoramento da Política Judiciária Nacional de
Enfretamento à Violência contra as Mulheres, apresentam ainda o crescimento de quase 45%
no número de casos novos de violência doméstica saltando de 404.000, em 2016, para 587.000,
em 2021, dos casos de violência doméstica (Anuário, 2022). Sabendo da relevância dados, mas
não sendo possível identificar qual o número ou porcentual ocorridos no âmbito rural fica
evidente a dificuldade de identificar a verdadeira proporção de enfrentamento da violência pelas
mulheres do campo, por não haver um filtro no Poder Judiciário dos processos decorrentes no
âmbito rural. Contudo, não há impedimento para tentarmos entender quais fatores vem a ser
responsáveis pela violência doméstica no campo e quais indicativos poderiam impedir que elas
denunciem. Segundo Lorenzoni (2007, p.88) o machismo, o patriarcado e as consequentes
desigualdades de gênero na estrutura da agricultura familiar brasileira torna-se responsável pela
legitimação, exploração e opressão das mulheres quando há a desvalorização do serviço da
mulher, que vive uma tríplice jornada, ao ter que cuidar dos filhos e da casa que é tido como
obrigação imposta pelo que a lógica patriarcal defini como “serviço de mulher”, enquanto o
trabalho desenvolvido no campo, além não é valorizado é tido como mera “ajuda”, enraizado
com a dominação naturalizada da superioridade do homem e a submissão da mulher, possibilita
que a renda decorrente do trabalho rural seja destinado ao homem que controla o dinheiro e se
1
Discente do Curso da Unemat-Campos de Júlio – E-mail: aryadne.santos@unemat.br.
2
Discente do curso de Direito da Unemat – Campos de Júlio – E-mail: diniz.andreia@unemat.br.
150
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
determina como sendo o provedor da casa. Somado a dependência econômica, em muitos casos
quando associada a baixa escolaridade, e o medo de perder a guarda dos filhos, e o próprio
isolamento territorial que distanciam dos locais que poderia pedir ajuda, são fatores que
essencialmente tornam-se motivos para que as vítimas se silenciem diante das agressões
sofridas. Portanto, fica visível a falta de interesse do Estado em diferenciar os crimes de
violências domésticas que ocorrem nas áreas rurais e urbanas, quando não existem dados
concretos e específicos relativos as denúncias e processos de violência contra a mulher do
campo. Essa escassez em informações dificulta na concretude de políticas públicas eficazes que
contribuam no enfrentamento a violência contra mulher em contextos rurais observando suas
singularidades e contribuindo para a invisibilidade da opressão sofrida.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 11.340/2006. Lei Maria da Penha. Coíbe a violência doméstica e familiar
contra a mulher. Brasília, DF: Presidência da República, 2006. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 21
mar. 2023.
BRASIL. Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Balanço Ligue 180: violência
doméstica e familiar é a mais recorrente. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-
br/assuntos/noticias/2020-2/junho/balanco-ligue-180-violencia-domestica-e-familiar-e-a-
mais-
recorrente#:~:text=O%20documento%20divide%20a%20viol%C3%AAncia,feminic%C3%A
Ddio%20(6%2C11%25). Acesso em: 22 mar. 2023.
151
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
152
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002. PL 634/1975.
1
Especialista em Advocacia Consumerista; Advogada; ruanaairesadv@gmail.com.
153
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 642. O direito à indenização por danos
morais transmite-se com o falecimento do titular, possuindo os herdeiros da vítima legitimidade
ativa para ajuizar ou prosseguir a ação indenizatória. Brasília, DF: Superior Tribunal de Justiça,
[2022]. Disponível em: https://www.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-
sumulas-2022_49_capSumulas642.pdf. Acesso em: 26 mar. 2023.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Dano Moral. 8. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2016.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530972295/. Acesso
em: 26 mar. 2023.
154
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
155
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
1
Graduanda do 5º semestre do curso de Bacharelado em Direito pela Universidade do Estado de Mato Grosso
(UNEMAT); E-mail: leticia.lino@unemat.br.
2
Professora Universitária. Advogada. Especialista em Direito Ambiental e Urbanístico (UFMT). Integrante do
Grupo de Estudos e Pesquisa em Direitos Fundamentais e Interdisciplinaridade (GEDIFI/UNEMAT). E-mail
linnetd@gmail.com.
156
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
REFERÊNCIAS
ALBAGLI, S. Convenção sobre Diversidade Biológica: uma visão a partir do Brasil. In:
GARAY, I.; BECKER, B.K. (org). Dimensões Humanas da Biodiversidade: o Desafio de
Novas relações Sociedade-Natureza no Século XXI. Petrópolis. Ed. Vozes. 2006.
BRASIL. Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015. Dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético,
sobre a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e sobre a repartição de
benefícios para conservação e uso sustentável da biodiversidade. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13123.htm. Acesso em: 25
mar. 2023.
WWF. Relatório Planeta Vivo 2020. Reversão da curva de perda de biodiversidade. WWF,
Gland, Suíça. 2020. Disponível em:
https://f.hubspotusercontent20.net/hubfs/4783129/LPR/PDFs/Brazil%20FINAL%20summary
.pdf. Acesso em: 25 mar. 2023.
157
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
1
Acadêmica do curso de bacharelado em Direito, no campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado de
Mato Grosso (UNEMAT), bolsista Probic/FAPEMAT do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas
para minorias coordenado pela Profa. Dra. Vívian Lara Cáceres Dan; E-mail: Alycia.desto@unemat.br.
2
Docente Adjunta do curso de Bacharelado em Direito, campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado
de Mato Grosso (UNEMAT). Coordenadora do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para
minorias no Mato Grosso; Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Estado e Sociedades (PPDES –
CNPq). E-mail: vivian.dan@unemat.br.
158
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
REFERÊNCIAS
MINHOTO, Maria Angélica; SMAILI, Soraya; ARANTES, Pedro. 2,3 milhões abandonaram
curso superior em 2021. Portal Geledés, 2023. Disponível em: https://www.geledes.org.br/23-
milhoes-abandonaram-curso-superior-em-
2021/?utm_source=pushnews&utm_medium=pushnotification. Acesso em: 23 mar. 2023.
PRAE. Edital 002/2023. Seleção para concessão de auxílio alimentação e auxílio moradia.
Disponível em: https://cms.unemat.br/storage/documentos/bloco-documento-
arquivo/7SXlPVvpFWtSGX0PWZLFifo3QfImiqjMzETIlcwj.pdf. Acesso em: 23 mar. 2023.
159
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
Segundo o Censo de Educação Superior de 2020, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), divulgado pelo mesmo em 18 de fevereiro
de 2022, a inclusão de Pessoas com Deficiência (PcD), no ensino superior continua tímida. De
acordo com a fonte citada acima, o número de matrículas em cursos de graduação de alunos
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação, no
Brasil de 2010 à 2020, cresceu, mas não exponencialmente, passando de 19.869 matrículas em
2010, para 55.829 em 2020. Mas, ao comparar esses números com o percentual total de
matrículas realizadas em cursos de graduação, nota-se que a comparação do percentual de 2010
(0,31%) com o percentual de 2020 (0,64%) temos um aumento de apenas 0,33% em 10 anos,
um aumento médio de 0,03% por ano. As matrículas, em 2020, geraram em torno das seguintes
deficiências: deficiência física, baixa visão, deficiência auditiva, deficiência intelectual,
autismo, cegueira, surdez, superdotação e surdocegueira. Sendo a educação um direito de todos
se faz necessário garantir políticas públicas com ênfase nas pessoas com deficiência. Referida
pesquisa ainda está em andamento em relação a política de atendimento educacional. A
pesquisa é de cunho quanti-qualitativo, baseado em referenciais bibliográficos como artigos,
livros digitais, pesquisa documental como reportagens e legislação pertinente, bem como a
análise de dados estatísticos sobre a população pesquisada. Em outro momento da pesquisa,
pretende-se saber onde estão esses alunos, quais deficiências. A lei de cotas nas universidades
federais foi instituída em 2012, em relação aos estudantes pretos, pardos e indígenas, porém,
em relação as pessoas com deficiência, a inclusão de vagas específicas ocorreu apenas em 2016,
através da Lei n. 13. 409, de 28 de dezembro de 2016. Em 2019, através das Resoluções nº
011/2019 e 051/2019-CONEPE, a UNEMAT alterou o Programa de Políticas de Ações
Afirmativas passando a estabelecer a distribuição de vagas da seguinte forma: 60% das vagas
oferecidas nos cursos de graduação na universidade ficaram reservadas à candidatos que
cursaram integralmente o ensino médio em escola pública, o restante, 40% são destinados à
ampla concorrência. Sendo a distribuição dessas vagas feita da seguinte maneira segundo a
Resolução nº 011/2019 da CONEPE: se a oferta de vagas for de 40 vagas, 1 será destinada aos
estudantes com deficiência comprovada; assim também se for curso com 50 vagas, apenas 1
1
Acadêmica do curso de bacharelado em Arquitetura e Urbanismo, no campus de Barra do Bugres, da
Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), bolsista Probic/FAPEMAT do Projeto de Pesquisa Políticas
de Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência Visual nas Universidades do Estado de Mato Grosso
coordenado pela Profa. Dra. Vívian Lara Cáceres Dan; E-mail: monalisa.serrano.silva@unemat.br.
2
Docente Adjunta do curso de Bacharelado em Direito, campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado
de Mato Grosso (UNEMAT). Coordenadora do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para
minorias no Mato Grosso; Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Estado e Sociedades (PPDES –
CNPq). E-mail: vivian.dan@unemat.br.
160
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
vaga será destina ao PcD. Sendo assim, concluímos que muito se tem ainda para melhorar sobre
inserção e inclusão de pessoas com deficiência nas universidades do nosso país, inclusive na
UNEMAT, sendo este um assunto que ainda tem muitos desafios urgentes a serem
implementados para que esse direito à educação para todos não se resuma a uma formalidade
que a própria estrutura da universidade não tenha condições de efetivar.
REFERÊNCIAS
INEP. Censo da Educação Superior: divulgação de resultados 2020. Brasília: MEC, 2022.
Disponível em:
https://www.ifg.edu.br/attachments/article/1462/Censo%20Superior%202020_17%2002%202
022%20-%20Final%2011h00min.pdf. Acesso em: 23 mar. 2023.
UNEMAT. Unemat oferece 2.400 vagas para candidatos que fizeram Enem. Universidade
do Estado de Mato Grosso. 08/02/2023. Disponível em: https://unemat.br/noticias/8-2-2023-
unemat-oferece-2-420-vagas-para-candidatos-que-fizeram-enem-
2022#:~:text=Ao%20todo%2C%20119%20vagas%20s%C3%A3o,e%20968%20para%20am
pla%20concorr%C3%AAncia. Acesso em: 23 mar. 2023.
161
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
As cotas estão dentro das ações afirmativas que efetivam direitos e promovem o princípio da
isonomia3 em consonância com a justiça distributiva para assim, reparar condições de
desigualdades reais. Trata- se de uma política pública étnico racial com o objetivo de eliminar
as discriminações existentes na sociedade por pertencer a um grupo social. A lei nº 12.711/2012
destinou vagas para o ingresso no ensino superior baseado no critério étnico-racial e, a
Resolução nº 11 de 2019 do CONEPE, na Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)
alterou a sua política de ações afirmativas. O objetivo deste trabalho é abordar essas alterações
e a inserção dos critérios de heteroidentificação como etapa de validação da autodeclaração do
candidato a tais vagas nas Universidades. A metodologia utilizada é a dedutiva com análise
bibliográfica e documental e com análise de dados estatísticos. Segundo os dados do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), divulgado no ano de 2020, ainda existe uma
desigualdade no acesso da população negra ao ensino superior: 18% dos jovens negros entre 18
e 24 anos estão nas universidades e em relação aos brancos, essa porcentagem sobe para 36%.
Outro dado importante é que apenas 9,3% dos negros concluíram algum curso neste nível
educacional nas universidades federais, enquanto a população branca foram 22,9% que
concluíram (IPEA, 2020). Além disso, o ingresso dos estudantes negros, pretos e pardos que
antes dessa política afirmativa (lei de cotas de 2012) era de apenas 13,1% e em 2017 essa
porcentagem foi de 39,6% já com a aplicação da legislação específica. A distribuição das
pessoas que frequentam ensino superior de graduação (público e privado) por cor/raça segue
crescendo progressivamente, pois em 2001 o número era de 21,9 e em 2015 subiu para 43,7. A
partir disso, é possível afirmar que esse aumento significativo ressalta a importância da Lei de
Cotas (IPEA, 2020). Ademais, convém mencionar que o número de mulheres negras também
vem aumentando, na medida em que em 2017, a tendência de mudança do perfil das pessoas
que frequentam nível superior se confirma, visto que dos ingressantes nesse ano, 29,3% foram
mulheres negras, seguidas de 28% de mulheres brancas (IPEA, 2020). A Lei de Cotas entra
nesse quesito na tentativa de tornar o ingresso mais representativo e amenizar a desigualdade
existente. Segundo o artigo 6º da Resolução n. 11 de 2019 do CONEPE: poderão concorrer às
vagas reservadas a candidatos negros aqueles que se autodeclararem pretos ou pardos no ato da
1
Graduanda no curso de Direito da Universidade Estadual do Estado de Mato Grosso. E-mail:
ludinay.evangelista@unemat.br.
2
Docente Adjunta do curso de Bacharelado em Direito, campus de Barra do Bugres, da Universidade do Estado
de Mato Grosso (UNEMAT). Coordenadora do Projeto de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas para
minorias no Mato Grosso; Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Estado e Sociedades (PPDES –
CNPq). E-mail: vivian.dan@unemat.br.
3
O princípio da isonomia também é conhecido como princípio da igualdade e preceitua sobre a igualdade material
estando ligado ao tratamento diferenciado de acordo com as suas especificidades. Este princípio está previsto no
artigo 5º da Constituição Federal.
162
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
inscrição vestibular, conforme o quesito cor ou raça utilizado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE. Em seu 1º parágrafo, dispõe que para efetivar a matrícula, o
candidato, além de cumprir o disposto no art. 5º, deverá apresentar sua autodeclaração, a ser
firmada em formulário próprio da UNEMAT, que será previamente disponibilizado junto com
o edital do vestibular e no parágrafo 2º que a autodeclaração do candidato goza de presunção
relativa de veracidade e será ratificada mediante procedimento de verificação a ser realizada
pela Comissão de Verificação. Nesse sentido, tal artigo torna - se essencial para o ingresso dos
alunos por meio das cotas, pois a heteroidentificação não tem o objetivo de questionar se os
alunos são pretos, pardos ou negros, mas sim garantir o pleno funcionamento das cotas em
virtude das fraudes. Trata-se, portanto, de uma ratificação a ser confirmada pela comissão de
verificação. A Resolução n. 11 de 2019 do CONEPE em seu artigo 9º, inciso II trata das
comissões de acompanhamento e verificação. Na sequência, o artigo 10º dispõe que os
procedimentos de Acompanhamento e Verificação serão realizados por comissão criada
especificamente para este fim, de natureza permanente e denominadas de Comissão de
Acompanhamento e Comissão de Verificação e o artigo 12 que garante que a Comissão de
Verificação será constituída por ato interno da Reitoria e composta por, no mínimo, três
pessoas, isto é, tais artigos diz a respeito que o sistema de heteroidentificação e terá agentes
muito bem selecionados. Isso acontece para garantir que os candidatos que ingressarem nas
vagas reservadas para pessoas negras sejam realmente negras. No artigo 15, já no capítulo III
sobre o procedimento de verificação, dispõe que os candidatos que optarem por concorrer às
vagas reservadas às pessoas negras, indígenas e deficientes se submeterão ao procedimento de
verificação. Por conseguinte, o artigo 16 diz a respeito sobre o critério fenótipo para negros e
indigenas, isto é, será avaliado as características físicas e traços para o reconhecimento da
cor/raça do candidato. Uma das técnicas utilizadas para identificação, portanto, é o fenótipo
como cor, tipo de cabelo e formato do nariz e boca e questões ancestrais dos candidatos onde é
feita uma avaliação de identificação. Nesse sentido, o artigo 17 dispõe que não serão efetuadas
matrículas cujas autodeclarações não forem ratificadas pela Comissão de Verificação em
procedimento de verificação, ainda que tenham obtido nota suficiente para aprovação na ampla
concorrência, isso significa que aqueles que não se enquadrarem traços fenótipos serão
eliminados para que dessa forma, não haja fraude e valorize quem realmente entre nessa ação
afirmativa. Os artigos 18, 19 abordam sobre deliberação do parecer motivado, do qual constarão
os dados de identificação do candidato, a conclusão do parecer da Comissão de Verificação a
respeito da ratificação e as condições para exercício do direito de recurso pelos interessados,
tendo em vista que o resultado será publicado no site da UNEMAT. Por fim, o artigo 20 garante
que o edital de vestibular da UNEMAT preverá uma Comissão Recursal em razão das
deliberações da Comissão de Verificação, isto é, caberá recursos à aqueles candidatos que
forem indeferidos e será composta por três integrantes, distintos dos membros da Comissão de
Verificação, nomeados por ato interno da Reitoria, sob as condições do sigilo e da
confidencialidade. Neste sentido, a política de cotas raciais e o processo de heteroidentificação
é de extrema importância, ou seja, de certa forma é preciso referendar as declarações de negros,
pretos e pardos para evitar fraudes nesse processo de entrada nas universidades.
163
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
REFERÊNCIAS
SILVA, Tatiane Dias. Ação afirmativa e população negra na educação superior: acesso e
perfil discente. Rio de Janeiro: IPEA, 2020. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_2569.pdf. Acesso em: 26 mar.
2023.
INEP. Censo da Educação Superior: divulgação de resultados 2020. Brasília: MEC, 2022.
Disponível em:
https://www.ifg.edu.br/attachments/article/1462/Censo%20Superior%202020_17%2002%202
022%20-%20Final%2011h00min.pdf. Acesso em: 26 mar. 2023.
164
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE CAMPOS DE JÚLIO
165
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
1
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água Boa. E-mail:
celia.ferreira@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.
166
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
conscientização sobre a violência contra as mulheres e o feminicídio nas escolas, nas famílias
e comunidades religiosas em geral. “Todas as vidas humanas importam. As das mulheres
vítimas de violência doméstica também”.
REFERÊNCIAS
167
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
REFERÊNCIAS
INGOLD, Tim. The perception of the environment: essays on livelihood, dwelling and
1
Discente do Curso de Direito, Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Nova Xavantina. E-mail:
patrikthames@gmail.com.
168
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A Inconstância da Alma Selvagem. São Paulo: Cosac &
Naify, 2002. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4100318/mod_resource/content/1/1%20A%20Incons
tancia%20da%20Alma%20Selvagem%20-%20Eduardo%20Viveiros%20de%20Castro.pdf.
Acesso em: 19 maio 2023.
169
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
O direito à privacidade está previsto no art. 5°, inciso X da Constituição Federal de 1988, sendo
um direito inalienável, o qual prevê a proteção da honra, vida privada e imagem, entretanto, é
fato que os artistas possuem seu direito à privacidade restrito, visto que sua vida é baseada pela
exibição de imagem ao meio social em grande parte sem seu consentimento, devido a fama e a
exposição direta ao público, ademais, com o nascimento desenfreado das mídias sociais, a rede
de comunicação busca a todo momento novas informações para manter a comunidade entretida,
na espécie da política “pão e circo” da Roma Antiga. Ademais, no caso dos artistas a fome de
informação não cessa mesmo post-mortem, a cultura popular de visualizar o cadáver daqueles
que se forma tende a aumentar, quando os mortos em questão são famosos, de Cristiano Araújo
à Marília Mendonça, temos a influência gritante dos meios de comunicação e imprensa, no
vazamento de fotos, violando assim, direitos inerentes à pessoa humana. Nesse sentido, é fato
que os crimes contra mortos são pouco discutidos no âmbito do Direito Penal, desse modo, o
bem tutelado se difere em dois grandes prismas, o primeiro é debatido por Nelson Hungria
(1959), o legislador define o bem nesses crimes possui parentesco com os crimes de cunho
religioso, portanto, há um caráter ético e social entre eles, pois a punibilidade nesses crimes não
serviria para dar o sentimento de paz aos mortos, mas sim, aos vivos, aos familiares e amigos
que se sentiriam lesados com o desrespeito à memória do falecido, por outro lado, para Nucci
(2014) o bem tutelado seria o respeito aos que já foram, não em relação ao culto religioso, pois
ao afirmar que haveria relação com o preceito religioso acabaria menosprezando outras
religiões por assim dizer, além de excluir aqueles que não possuem religião, mas que também
podem ter seus sentimentos lesados pela exposição do corpo de cadáveres. O arcabouço
metodológico utilizado, baseou-se no método dedutivo, com a interdisciplinaridade do método
dialético com o uso da pesquisa bibliográfica, com o intuito de enlaçar o direito positivado com
as novas linhas de pensamento e argumentos do direito contemporâneo, destacando a influência
da violação dos direitos da personalidade contra artistas no passado para a criação de um novo
tipo penal, que fez nascer o crime de vilipêndio, bem como projetos de lei que buscam punição
para quem compartilha fotos de cadáveres, no mesmo rumo em que há a permanência da
imprensa e do meio social pela cultura do horror, com a exposição de fotos ilícitas obtidas no
necrotério nas redes sociais, os métodos por sua vez, foram baseados conforme os ensinamentos
de Mezzaroba e Servilha (2019). Nessa perspectiva, o objetivo é trazer um debate sobre a
1
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.
2
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus Francisco Ferreira Mendes
E-mail: julyane.oliveira@unemat.br.
170
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
tipificação penal existente e a real necessidade de criar mecanismos específicos que impeçam
a permanência da violação exacerbada contra a intimidade de artistas, verificando os projetos
de lei que tramitam no Congresso Nacional, além de verificar persuasão das redes sociais na
divulgação de fotos de artistas mesmo post-mortem. Desse modo, o projeto proposto pelo
Deputado Cesar Halum, pela criação da Lei n° 2237 de 2015, a qual busca alterar o artigo 212
do CP/40, adicionando um parágrafo único, este com o viés de punir mais incisivamente quem
reproduz em qualquer meio de comunicação, foto, vídeo ou material que contenha imagens ou
cenas aviltantes de cadáver, pois o atual Código Penal só pune quem registra as imagens, não
aqueles que as divulgam, entretanto, sabe-se que ambas as ações são danosas à privacidade e a
honra das vítimas, o dispositivo portanto, seria criado em homenagem ao cantor Cristiano
Araújo, que após sua morte e de sua namorada em decorrência de um trágico acidente na BR-
153, teve suas imagens vazadas do necrotério onde seu corpo estava sendo preparado para o
sepultamento, oito anos mais tarde, a cantora Marília Mendonça vítima de um acidente aéreo
em novembro de 2022 também teria suas fotos durante a necrópsia vazadas meses depois do
fato que ceifou sua vida, ambos os artistas portanto, tiverem sua memória manchada, o crime
tipificado como vilipêndio nos termos do art. 212 do CP, o qual prevê pena de detenção de um
a três anos, além de multa para aqueles que o praticam, dessa forma, é válido pontuar que esse
crime também atinge o meio cibernético, apesar de não está expresso no caput do referido
artigo. Sob o ângulo histórico, o século XIV, traz consigo a chamada era da informação, a qual
traz a revolução tecnológica ao seio social, nesse sentido, o número crescente de pessoas
conectadas e notícias auxilia no compartilhamento desenfreado de informações, veículos como
‘WhatsApp’, ‘Instagram’, ‘Facebook’ e ‘Twitter, as quatro principais redes sociais da
contemporaneidade incentivam o “boom” de informações, não filtrando o conteúdo
compartilhado pelos seus usuários, sob essa interpretação, o crime de vilipêndio acaba sendo
mais comum do que parece, pois devido a cultura popular do terror, onde a sociedade se
abrilhanta com a ideia da morte ultrapassando os paradigmas de respeito, acaba sendo comum
e prático o compartilhamento de fotos de acidentes banais diários e por consequência dos corpos
que acabam tendo suas vidas dizimadas pela banalidade, o simples ato de curtir e repassar se
torna prático ao senso comum, como uma mera informação de pouca importância, servindo
apenas para saciar o senso de curiosidade. Outrossim, conclui-se dessa maneira que a adição de
novo dispositivo, como o parágrafo único a ser adicionado no art. 212, como prevê o projeto de
lei que tramita na Câmara dos Deputados só seria benéfico à legislação, caso acompanhado com
a educação social, pois a existência do crime de vilipêndio é uma triste realidade de uma
sociedade que vive nas entranhas do passado, fanática pela política da exposição, não se
importando com a proteção de direitos fundamentais alheios, principalmente em reverência à
artistas e direitos à personalidade, ter-se-á, assim a predominância da proteção do princípio
basilar das pessoas físicas: a dignidade da pessoa humana, nos arquejos do art. 1°, III, da
Constituição Federal de 1988.
REFERÊNCIAS
171
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
2023.
CRUZ, Gustavo. Assim como Marília Mendonça, Cristiano Araújo teve fotos do corpo vazadas;
relembre o caso: cantor morreu após carro dele capotar na br-153, em 2015. Suspeitos do crime
foram indiciados por vilipêndio. G1. 2023. Disponível em:
https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2023/04/16/assim-como-marilia-mendonca-cristiano-
araujo-teve-fotos-do-corpo-vazadas-relembre-o-caso.ghtml. Acesso em: 22 jun. 2023.
DAVID, Décio Franco. Análise crítica dos crimes contra o respeito aos mortos no Direito
Penal brasileiro. 2016. Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_
servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RBCCrim_n.117.04.PDF. Acesso em: 20 jun.
2023.
HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1959. vol.
8.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal comentado. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
UOL. Lei Cristiano Araújo: projetos querem punir quem compartilha fotos de morto. UOL.
2015. Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2015/07/08/lei-cristiano-
araujo-projetos-querem-punir-quem-compartilha-fotos-de-morto.htm. Acesso em: 20 jun.
2023.
172
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
Com a evolução da informática, por ser um meio de comunicação de massa, a internet acabou
por facilitar e, consequentemente, aproximar o convívio e a interação entre pessoas de diversos
lugares do planeta em um tempo recorde. Diante disso, indaga-se: tem sido eficaz as penas
aplicadas nos casos de cibercrimes? A presente pesquisa tem por objetivo o estudo da realidade
social voltado aos crimes cibernéticos e, através de pesquisas bibliográficas e documentais,
assim como estudos de casos e uma abordagem quali-quantitativa, o intuito de explorar e
descrever tal fenômeno social demonstrando assim os resultados obtidos. Dentre as infinitas
possibilidades advindas da internet, a busca por informações, entretenimento, relacionamentos
e até mesmo o comércio são apenas algumas das principais atividades proporcionadas por este
meio. Entretanto, com a evolução histórica da internet no Brasil, assim como em diversos outros
países, surgiu os chamados cibercrimes ou crimes cibernéticos, ou seja, foi se tornando comum
a prática de crimes com o uso da informática e principalmente através das diferentes
plataformas disponibilizadas na internet. Dentre as diversas modalidades de cibercrimes, as
mais usuais e conhecidas são aquelas cometidas contra a honra, como os crimes de calunia,
injuria e difamação, os crimes de pedofilia e pornografia infantil, diversos tipos de fraudes como
as compras e vendas fantasmas, roubo de dados e chantagem, stalking ou perseguição e entre
outros. Com os crimes cibernéticos surge para o Estado a necessidade da criação de uma
modalidade de controle especifica para a nova realidade social e com isto foram criadas a Lei
n.º 12.737/2012, conhecida como Lei Carolina Dieckmann, e posteriormente as Leis n.º
14.155/2021 e n.º 14.132/2021. Entretanto, apesar da visível preocupação dos legisladores com
esta recente modalidade de crime e a sua busca por penas mais gravosas, chegando a penas
máximas de até 8 anos de prisão em alguns crimes, na prática a realidade ainda é outra. Dentre
os problemas encontrados na prática, de início já é possível encontrar o primeiro obstáculo para
colocar em pratica as leis dos cibercrimes que é a dificuldade de descobrir quem é o autor do
fato. Logo é necessário, além da legislação, outras medidas para ter a verdadeira efetividade
paras as penas impostas nos crimes cibernéticos.
1
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água Boa.E-mail:
Larissa.borges.das.s@gmail.com.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.
173
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
REFERÊNCIAS
BAPTISTA, Rodrigo. Lei com penas mais duras contra crimes cibernéticos é sancionada.
Senado Notícias. 2021. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/05/28/lei-com-penas-mais-duras-contra-
crimes-ciberneticos-e-sancionada. Acesso em: 28 de abril de 2023.
LOPES, Fabio Juliate. Porque aumentar penas não resolve o problema dos Cibercrimes.
Jusbrasil. 2021. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/porque-aumentar-penas-
nao-resolve-o-problema-dos-cibercrimes/1233925409. Acesso em: 28 de abril de 2023;
SANCHES, Ademir Gasques. De Angelo, Ana Elisa. Insuficiência das leis em relação aos
crimes cibernéticos no Brasil. Jusbrasil. 2018. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/66527/insuficiencia-das-leis-em-relacao-aos-crimes-ciberneticos-
no-brasil. Acesso em: 28 de abril de 2023;
174
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
O presente artigo visa abordar a Lei 12.318/2010, que dispõe sobre a alienação parental durante
o período pandêmico, evidenciando ao autor como surgiu o termo e em que momento a
alienação parental pode se desenvolver. O objetivo principal da pesquisa é analisar os efeitos
principais da alienação parental diante a pandemia, além de aduzir suas consequências no
contexto familiar, utilizando das doutrinas e jurisprudência em decorrência da mudança
significativa da Lei. A metodologia da pesquisa ora entregada, diz respeito ao levantamento
bibliográfico auxiliando na contextualização, aliado as modificações na lei supracitada, bem
como jurisprudência. A análise se faz em torno da elaboração da Lei 12.318/2010, questões
processuais e a definição das condutas oponíveis e alienantes, a contar do ano de 2020, não
somente o Brasil como o mundo padece de forma grave com a pandemia COVID-19, doença a
qual levou inúmeras pessoas a morte repentina, trazendo diversas consequências para a
população mundial. Advindo do isolamento os processos de alienação parental obtiveram
grande alta, ocasionando mudanças significativas na lei. De acordo com o CNJ (Conselho
Nacional de Justiça), foram cerca de 10.950 ações em 2020, um crescimento de cerca de 171%
em comparação com o ano antecedente a pandemia. No dia 19 de maio de 2022, sancionou-se
a Lei 14.340/2022 que originou modificações significativas acerca da alienação parental,
estabelecendo, portanto, procedimentos adicionais possíveis à suspensão do poder familiar.
Dentre todas as consequências advindas da pandemia, trataremos sobre os casos de alienação
parental, que em decorrência da Lei, tomou novo formato, trazendo algumas regras processuais,
estabelecendo mudanças quanto ao acompanhamento psicológico, bem como a emissão de ao
de laudos, além da garantia mínima de visitação, estipulando ainda que, seja feita a oitiva da
criança ou adolescente perante equipe multidisciplinar.
1
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água Boa.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.
3
Mestre pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP. (2014-2016). Formou-se na
Faculdade de Direito de Franca (2009-2013). Professora universitária (Universidade do Estado de Mato Grosso -
UNEMAT). Foi bolsista CAPES (2014-2016). Foi bolsista do Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - CNPq (2010/2011 e 2012/2013). Membro do grupo - Projeto de Extensão Papo Direito (UNEMAT)
(2019-2020). Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Direitos Fundamentais e Interdisciplinaridade -
GEDIFI/UNEMAT (2017). Tem interesse nas áreas: Direito Civil - Obrigações, Contratos, Reais e Família.
175
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA SENADO. Senado aprova projeto que modifica medidas contra alienação parental.
Agência Senado. 2022. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2022/04/12/senado-aprova-projeto-que-
modifica-medidas-contra-alienacao-
parental#:~:text=Senado%20aprova%20projeto%20que%20modifica%20medidas%20contra
%20aliena%C3%A7%C3%A3o%20parental,-
Compartilhe%20este%20conte%C3%BAdo&text=O%20Plen%C3%A1rio%20do%20Senado
%20aprovou,modifica%20regras%20sobre%20aliena%C3%A7%C3%A3o%20parental.
Acesso em: 26 de jun. 2023.
CARDOSO, Simone Tassinari; Oliveira, Betina Alves de. Os Efeitos da Pandemia de Covid-
19 na prática de alienação parental: análise de jurisprudência e bibliografia. Disponível em:
www.lume.ufrgs.br/handle/10183/237572. Acessado em 25/06/2023.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 15. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo:
JusPODIVM, 2022.
BRASIL. Lei da Alienação Parental. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Diário Oficial da
União, Poder Legislativo, Brasília, DF. Disponivel em: http://crpsp.org.br/interjustica/pdfs/Lei
-12318_10-Alienacao-Parental.pdf. Acesso em: 20 jun. 2023.
BRASIL. Alteração da Lei de Alienação Parental, lei 14.340 de 18 de maio de 2022. Diário
Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF. Disponível em:
www.planalto.gov.br/ccivil_03/ato2019-2022/2022/Lei/L14340.htm. Acesso em: 19 abr. 2023.
176
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
177
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
A Usucapião é um instituto advindo dos Direitos Reais que promove a aquisição de propriedade
em sua modalidade originária, por meio da posse prolongada e ininterrupta do bem durante
período determinado em Lei. Dentre as várias espécies de usucapião descritas no Código Civil,
o art. 1.240-A, prevê a mais recente delas, denominada usucapião familiar. Trata-se de
dispositivo acrescido ao Código Civil pela Lei n. 12.424/2011 que dá direito a domínio integral
da propriedade àquele “que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse
direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros
quadrados) cuja propriedade dívida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar,
utilizando-o para sua moradia ou de sua família, desde que não seja proprietário de outro imóvel
urbano ou rural”. Dessa maneira, para que haja o direito à usucapião familiar a lei exige que: a)
haja posse direta, sem oposição e com exclusividade sobre imóvel urbano com metragem não
superior à 250m²; b) a posse deve ser sem interrupção por um período de dois anos, utilizando
o imóvel para moradia; c) não deve possuir outro imóvel, seja ele urbano ou rural; d) e deve
haver o abandono do lar por parte do ex-cônjuge ou ex-companheiro. Para Gonçalves (2022)
trata-se de nova modalidade de usucapião especial urbana que tem por objetivo acolher público
de baixa renda, que não possua imóvel próprio, seja ele urbano ou rural, cujo direito só poderá
ser concedido uma única vez em favor do requerente. Os requisitos para a aquisição da posse
mediante usucapião familiar são semelhantes aos encontrados nas demais espécies de
usucapião. Segundo Tartuce (2011), o fator de destaque presente na norma é o abandono do lar
somado ao estabelecimento de moradia com posse direta. A redução do prazo para dois anos
faz com que as decisões sejam tomadas com maior rapidez, seguindo a tendência do mundo
contemporâneo. Desse modo, o fator preponderante para a aplicação da norma é o abandono do
lar. Dessa maneira, no presente trabalho volta-se o olhar para este requisito na medida em que,
por ser um termo subjetivo, há uma dificuldade de se entender o que pode ou não ser
caracterizado como abandono do lar. Considerando a subjetividade desse requisito para o
julgamento favorável de um processo de usucapião familiar, questiona-se: quais são os
parâmetros para fixação da usucapião familiar o Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso
1
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água Boa. E-mail:
janine.galindos@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.
3
Mestre em Direito pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) Professora no Curso
de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus Água Boa. E-mail: stefania.mendes@unemat.br.
178
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
tem adotado? No que diz respeito a metodologia utilizada, foi realizada pesquisa bibliográfica
e documental, buscando nas jurisprudências do TJMT decisões sobre usucapião familiar.
Primeiramente, o que foi possível perceber com essa busca foi a rara ocorrência de casos
judicializados no Estado de Mato Grosso, intitulados de usucapião familiar. Dos dois acórdãos
encontrados, em apenas um deles o processo foi julgado com resolução de mérito. Vejamos o
que diz o acórdão “embargos de Declaração no Recurso de Apelação Cível – Apelação Cível –
Ação de Divórcio Litigioso – Partilha de Bem Imóvel – Pretensão de usucapião familiar por
abandono do lar – Art. 1.242-A do Código Cívil – Inviabilidade – Imóvel adquirido na
constância do casamento – Direito de Partilha – Manutenção – Rediscussão da Matéria –
Inexistência dos requisitos do art. 1.022 do Novo Código de Processo Civil – Recurso
conhecido e desprovido.” (TJMT. Embargos de Declaração nº 57391/2016. Relator Des. Dirceu
dos Santos. Julgado em 22.06.2016). De acordo com o entendimento do TJMT, apesar de a
requerente preencher os demais requisitos dispostos no art. 1240-A, do Código Civil, não ficou
demonstrado a presença do requisito legal referente ao abandono do lar conjugal. Apesar das
alegações da requente de que o embargado abandonou o lar sem dar nenhuma explicação sobre
a sua ausência, nem se retornaria, o Tribunal ratificou a decisão proferida pelo Magistrado a
quo ao afirmar que “o apelado não abandonou o lar por liberalidade, e sim por não ser mais
possível a convivência harmoniosa sob o mesmo teto” que a requerente. Afirma ainda que o ato
de abandono deve se dar pela saída do lar de maneira injustificada. Desse modo, a saída do
cônjuge por razões alheias à sua vontade não configura abandono de lar. Percebe-se que o termo
abandono do lar de maneira injustificada se torna obscuro em demasia, apesar de ser possível
compreender que não se concretiza a usucapião familiar quando há consenso entre as partes ou
caso haja existência de medida que obrigue uma das partes a se retirar da residência. Pablo
Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2022) preceituam que o abandono em questão deve
resultar de um comportamento voluntário e unilateral da parte. Já a VII Jornada de Direito Civil,
realizada em 2015, tenta trazer mais clareza ao tema por meio do Enunciado n. 595, ao dispor
que “o requisito "abandono do lar" deve ser interpretado na ótica do instituto da usucapião
familiar como abandono voluntário da posse do imóvel somado à ausência da tutela da família,
não importando em averiguação da culpa pelo fim do casamento ou união estável.” Nesse
sentido, percebe-se que deve haver um olhar mais atento voltado para o requisito abandono do
lar quando abordado o tema de usucapião familiar. Por ter um caráter subjetivo, o requisito
ainda necessitará de uma maior solidificação das jurisprudências no estado que tratam sobre o
tema, trazendo à luz debates jurídicos que traga maior clareza e maior segurança jurídica às
partes envolvidas.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Código Civil. Brasília, Casa Civil. Subchefia para assuntos Jurídicos. Lei nº 10.406,
de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 25 jun. 2023.
179
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
GAGLIANO, Pablo S.; FILHO, Rodolfo P. Manual de Direito Civil: volume único. Editora
Saraiva, 2022. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786553620711/. Acesso em: 26 jun. 2023.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. Direito das coisas. 17. ed., v.5. Editora
Saraiva Educação SA, 2022.
TARTUCE, Flávio. A usucapião urbana por abandono de lar. IBDFAM, 2011. Disponível
em: https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/121820005/a-usucapiao-especial-urbanapor-
abandono-do-lar-conjugal. Acesso em: 23 nov. 2021.
180
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
O resumo tem como tem como objetivo apresentar o entendimento da Lei n.º 14.133/2021 –
conhecida como Nova Lei de Licitações, mostrando as principais novidades e mudanças
comparada com a Lei n.º 8.666/93. Serão expostas as percepções dessa nova lei, seus benefícios
e obstáculos, principalmente pelo fato de ter essa norma trazido diversas inovações jurídicas,
responsáveis por novos paradigmas jurídicos do trato do bem público. Por isso, questiona-se
qual é a principal inovação e o que realmente precisa ser inovado? A administração pública é
responsável pela execução da obra e prestação de serviços quando necessário, devendo haver
pessoa jurídica responsável pelo fornecimento de materiais e mão de obra, para selecionar essa
pessoa, deve ocorrer um processo de seleção chamado licitação. É um processo formal no qual
as empresas competem entre si para selecionar fornecedores de serviços e produtos para
organizações públicas. O procedimento licitatório é um conjunto de procedimentos
administrativos para as compras e serviços contratados pelos três entes federados, o governo é
responsável pela compra e contratação de serviços de acordo com as regras previstas em lei,
portanto a licitação é um processo formal pelo qual disputas entre as partes interessadas.
Inicialmente, será considerado como um processo de licitação para compreendendo mais a
administração pública como os procedimentos administrativos, a validade e aplicabilidade das
novas leis, os objetivos e princípios que regem o processo licitatório, seus princípios, etapas e
modalidades, uma análise mais aprofundada das mudanças na forma de licitar será discutida
posteriormente, comparando a antiga Lei n.º 8.666/93 com a nova lei de licitações, em seguida
analisando as mudanças na nova lei no que se refere às sanções administrativas e penais, e por
fim, aborda-se a perspectiva sobre todo o funcionamento da nova lei de licitações, seus
benefícios e obstáculos, mostrando que mesmo com a implantação da nova Lei a Lei também
não apresenta soluções para os problemas.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá
1
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água Boa. E-mail:
wandervaney.silva@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.
181
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 de jun. 1993. Disponível em:
www.planalto.gov.br. Acesso em: 13 jun. 2023.
182
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
1
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Nova
Xavantina.Email:nayra.caroline@unemat.br.
2
Mestre em Direito pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Professora no Curso
de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus Água Boa. E-mail:stefania.mendes@unemat.br.
183
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
que um filho falecido pode deixar um legado para seus descendentes por representação. Então,
no caso de comoriência, não havendo a possibilidade de uso do direito de representação, como
ficaria a situação dos netos? Considerando esta hipótese, reforça-se a necessidade do
planejamento sucessório ou do planejamento do testamento, para que tais situações não deixem
os descendentes desassistidos. O ordenamento jurídico possui diversos testamentos para
auxiliar nesse planejamento. O plano e seus pontos devem ser executados de acordo com as
formalidades exigidas pela legislação, para que não sofra com sua nulidade. Entende-se que
50% da herança do falecido fica reservada aos herdeiros necessários e os 50% são disponíveis,
podendo, inclusive, serem distribuídos por testamento a quem o testador desejar. Poderá legar
em favor de herdeiros necessários ou para terceiros, doar para instituições, para o nascituro já
concebido no ventre materno quando o testamento é elaborado – haverá a discricionaridade de
dispor da forma que quiser. O testador pode, ainda, nomear seus herdeiros e, em sua ausência,
seu substituto para receber os bens do falecido. O testador pode deixar uma condição no
testamento, estipular uma determinada situação para determinada pessoa, por exemplo: “Deixo
minha casa de campo para minha sobrinha até que ela passe no vestibular de medicina”. Um
testador pode provar certos bens com cláusulas restritivas e de necessidade, inalienabilidade e
sequestro para fins de proteger os bens do beneficiário. Um testamento pode nomear um tutor
especial nos casos em que um dos progenitores receie que o progenitor sobrevivente ponha em
perigo os bens deixados aos filhos. Deve sempre haver uma última vontade válida do testador
para fazer valer o direito do indivíduo à autodeterminação privada e respeitar as instruções que
o falecido teria dado ao seu patrimônio. Durante a execução de um testamento, é o momento de
dar voz ao falecido e honrar a sua última vontade, um momento, embora doloroso e tão sensível,
que pode e deve ser respeitado e realizado conforme descrito no testamento. É importante que
as pessoas vejam e entendam o quão preciso e eficaz é o planejamento sucessório, quanta dor e
sofrimento podem ser evitados para os familiares que permanecem aqui. É necessário
compreender a importância de testar, como sendo um ato de última vontade da pessoa, podendo
assistir pessoas, as quais não seriam porque a lei não atende. Quanto a temática da comoriência
e o direito de representação, tem-se o Enunciado 610 da VII Jornada de Direito Civil que
menciona: “Nos casos de comoriência entre ascendente e descendente, ou entre irmãos,
reconhece-se o direito de representação aos descendentes e aos filhos dos irmãos”. A
jurisprudência caminha em um sentido e a doutrina em outro. O não reconhecimento do direito
de representação aos filhos de herdeiro falecido em concomitância com o autor da herança
evidencia-se uma notória injustiça e paradoxo no campo do Direito Civil.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 20 jun. 2023.
DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 6. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Editora
JusPodivm, 2019.
184
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
GAGLIANO, Pablo Stolze. Comentários ao Código Civil Brasileiro. 17. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2008.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, v. V e VI. Direito de Família e
Direito das Sucessões. Rio de janeiro: Editora Forense.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: direito das sucessões. v. 6. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019.
185
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
1
Graduanda em Direito na Universidade do Estado de Mato Grosso, Núcleo Pedagógico de Rondonópolis –
Campus Alto Araguaia; E-mail: kamilla.pedrini@unemat.br.
2
Graduanda em Direito na Universidade do Estado de Mato Grosso; Núcleo Pedagógico de Rondonópolis –
Campus Alto Araguaia kamilly.matos@unemat.br.
186
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
os artistas. Maiores tensões foram geradas com o surgimento da Inteligência Artificial, que cria
obras de acordo com as bases de dados fornecidos pelos próprios músicos à Big Data, sem
autorização ou ressarcimento aos compositores, problemática que deve ser debatida
doutrinariamente e nas legislações nacionais e internacionais. Destarte, a finalidade deste
trabalho é apresentar as normas jurídicas dos ordenamentos internacional e nacional de proteção
aos direitos autorais que se aplicam a produções artísticas de músicos ou compositores como
forma de coibir plágios na indústria fonográfica. A presente pesquisa utiliza a metodologia
qualitativa, adotando os métodos dedutivo e coleta bibliográfica de artigos, leis, doutrinas,
convenções internacionais e jurisprudências, no intuito de conciliar o direito positivo com a
esfera fonográfica e seus direitos autorais. Concluiu-se, portanto, que o conceito de propriedade
no direito acompanha as tendências da indústria cultural contemporânea, e considerando esse
fator, o presente trabalho teve como objetivo apresentar as representações legais dos direitos
autorais dos compositores e a sua importância ao mercado fonográfico, tendo em vista que essa
espécie de propriedade intelectual assegura o reconhecimento e retorno financeiro aos músicos,
frente a terceiros e às dinâmicas tecnológicas hodiernas.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto nº 75.699, de 6 de maio de 1975. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 6 de maio de 1975.
BRASIL. Lei nº 9610, de 19 de fevereiro de 1988. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 20 de fevereiro de 1988.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. 36ª Ed. Saraiva
Jur, 2022.
187
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
A presente pesquisa diz respeito a Síndrome da Alienação Parental (SAP), considerada para o
psiquiatra americano Richard Gardner como um conjunto de comportamentos que uma pessoa
exerce para afastar a criança de um dos seus genitores, e as consequentes implicações para o
desenvolvimento da criança e do adolescente. Nesse âmbito, deve-se questionar: qual a
responsabilidade dos genitores diante da alienação parental, seus motivos e consequências para
a criança? Os pais costumam adotar medidas para inviabilizar o contato da criança e do
adolescente com o outro genitor. Isso pode ser feito através de mentiras, manipulações,
interferências no contato telefônico, entre outras formas. A criança e o adolescente têm
dificuldades em identificar se está sendo manipulada ou não e acredito naquilo que está sendo
dito a ela, de forma contínua e reiterada. As consequências dessa alienação e falta de
responsabilidade daqueles que deveriam proteger, podem acarretar sérios problemas para o
desenvolvimento. A criança e o adolescente podem se sentir confusos e divididos em relação
aos seus sentimentos aos pais. Em alguns casos, podem vir a rejeitar completamente um dos
genitores, acreditando que ele é ruim ou perigoso. Isso pode causar prejuízos na autoestima,
desenvolvimento cognitivo e emocional da criança e do adolescente, além de gerar conflitos
emocionais que os acompanham até a vida adulta. A pesquisa em questão emprega a
metodologia qualitativa, com emprego do método dedutivo e levantamento bibliográfico com
objetivo de analisar a responsabilidade do genitor diante da ocorrência de alienação parental,
os motivos iniciais que acarretaram a SAP e as consequências de tal ato à criança e ao
adolescente. Desse modo, é importante elucidar a origem do termo e sua evolução no campo da
psicologia e no campo jurídico, descrevendo as situações que podem propiciar a alienação
parental como conflitos conjugais, disputas de guarda e ainda fatores que aumentam o risco de
ser alienada como sua idade, gênero e personalidade. Cabe salientar que no Brasil, a Síndrome
da Alienação Parental é considerada um grave problema sociofamiliar e é reconhecida pela Lei
nº 12.318/2010, que dispõe sobre a alienação parental e prevê medidas para combater e prevenir
1
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água Boa.
2
Mestre pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP. (2014-2016). Formou-se na
Faculdade de Direito de Franca (2009-2013). Professora universitária (Universidade do Estado de Mato Grosso -
UNEMAT). Foi bolsista CAPES (2014-2016). Foi bolsista do Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - CNPq (2010/2011 e 2012/2013). Membro do grupo - Projeto de Extensão Papo Direito (UNEMAT)
(2019-2020). Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Direitos Fundamentais e Interdisciplinaridade -
GEDIFI/UNEMAT (2017). Tem interesse nas áreas: Direito Civil - Obrigações, Contratos, Reais e Família.
3
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.
188
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei da Alienação Parental, lei no 12.318 de 26 de ago. 2010. Diário Oficial da União,
Poder Legislativo, Brasília, DF. Disponível em: http://crpsp.org.br/interjustica/pdfs/Lei-
12318_10-Alienacao-Parental.pdf. Acesso em: 20 jun. 2023.
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. p. 1. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 20 jun. 2023.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 15. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo:
JusPODIVM, 2022.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil -
Direito de Família. 12. ed. v. 6. São Paulo: Editora Saraiva. 2022.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. 20. ed. rev. e atual.
São Paulo: Saraiva, 2020.
LÉPORE, Paulo Eduardo; ROSSATO, Luciano Alves. Comentários à lei de alienação parental:
Lei nº 12.318/10. JusBrasil.com.br, 2010. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/17871/comentarios-a-lei-de-alienacao-parental-lei-n-12-31810.
Acesso em: 20 jun. 2023.
189
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
RICHARD, Gardner. The Parental Alienation Syndrome: A Guide for Mental Health and
Legal Professionals. Cresskill, NJ: Creative Therapeutics, Inc. 1992.
190
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
191
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
A relação homem versus meio ambiente sempre ocorreu desde os primórdios da história, onde
o homem sempre buscou através da exploração da natureza, a obtenção de recursos para sua
sobrevivência. A preocupação com o meio ambiente vem crescendo no meio jurídico e no meio
social, mas, infelizmente, essa preocupação está baseada mais em manter as condições naturais
de sobrevivência do ser humano, e não em preservar o meio ambiente pelo valor que ele possui,
essa desatenção com o meio ambiente ocorre de forma mais acentuada em relação aos animais.
Frente a essas atitudes de descaso com os animais é importante analisar o direito dos animais
numa perspectiva histórica, e também sob a ótica da dignidade da pessoa humana e da dignidade
das outras espécies, do direito dos animais e a necessidade de aplicação do princípio da
prevenção e da precaução e por fim da proteção jurídica. O direito dos animais pode ser definido
como sendo um conjunto de regras e princípios que estabelecem os direitos fundamentais dos
animais que existem por seus fins próprios e devem ter seus direitos reconhecidos assim como
os seres humanos os têm. As bases filosóficas dos direitos dos animais iniciam-se em meados
do século XVIII, por intermédio de estudos desenvolvidos pelo teólogo inglês Humpry Primatt
e o filósofo Jeremy Bentham, que trouxeram importantes contribuições para se construir a ideia
de que os animais não são propriedade humana, além disso, eles sentem e pensam - os autores
consideram isso como “senciência”, capacidade que mais tarde foi comprovada
cientificamente. No Brasil, o direito dos animais é compreendido como sendo um ramo do
Direito Ambiental, compreendido como uma nova e fundamental área do Direito, com o intuito
de promover a proteção dos animais e do meio ambiente, em suas prerrogativas dos direitos
fundamentais no mesmo patamar da vida e do respeito. O direito dos animais busca coibir a
violência, os maus tratos, a crueldade e o eminente perigo de extinção das espécies, o que levaria
em sua esteira também a extinção da espécie humana. No Brasil a primeira legislação relativa
a crueldade contra os animais foi o Decreto n. 16.590 de 10 de setembro de 1924, o qual
regulamentava as Casas de Diversão Públicas, onde proibia as corridas de touro, as rinhas de
galo e canários, e, também outras atividades que pudessem promover qualquer tipo de estresse
e sofrimento aos animais. Posteriormente, com o Decreto número 26.645 de 10 de julho de
1934, houve o estabelecimento de diversos tipos de maus tratos aos animais, os quais foram
1
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Água Boa. E-mail:
valdemar.coproski@unemat.br.
2
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.
192
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
REFERÊNCIAS
DIAS, Edna Cardozo. Os animais como sujeitos de direitos. Revista Animal Brasileira de
Direito, Ano 1, v. 1, p. 119-121, 2006.
193
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
Nos enlaces das margens dos rios amazônicos, entre o canto dos pássaros, o barulho da chuva
e o choro das crianças recém-nascidas, surge das águas, uma comunidade dotada de uma gama
de diferentes saberes: os povos ribeirinhos, entre essas sabedorias, florescem os ritos
folclóricos. Sob essa perspectiva, a lenda “Iara”, narra uma entidade protetora das águas, fauna
e flora e, principalmente guardiã dos direitos ambientais, nesse sentido, é indubitável a
relevância da perpetuação dos mitos entre diferentes gerações e o debate gerado por eles que
resultam na tutela dos direitos da natureza. Nesse viés, o objetivo e justificativa do trabalho é
trazer a importância do cuidado desses povos na preservação da água como fonte de vida, desde
dos tempos mais remotos, delimitando para tanto, as cantigas e os mitos folclóricos como
narrativas que repassam entre os povos de culturas distintas, mas que se unem na preservação
do meio ambiente, por intermédio de entidades que cuidam, resguardam e fiscalizam os bens
dados pela natureza, os tratando como infungíveis, além disso, busca também salientar a
relevância do ordenamento jurídico na criação e efetivação de direitos formalmente delineados
em documentos legítimos na esfera judiciária, privilegiando o cuidado com os elementos da
natureza, em seus acordos, conferências, leis, constituições sejam essas nacionais ou
internacionais. Dessa maneira, o arcabouço metodológico utilizado, se fundamenta no
desmembramento lírico da lenda “Iara” perpetuada no Norte e Nordeste do Brasil, com o uso
da pesquisa bibliográfica, por meio do método histórico, literário e dialético, além do uso do
direito positivo, conforme elucida Mezzaroba e Monteiro (2019). Sob esse prisma, no contraste
do território brasileiro, os mitos folclóricos possuem berço principalmente na região amazônica,
apesar de serem conhecidos por todo país com o passar dos séculos, assim, a figura mitológica
da personagem ‘Iara’, conhecida também como “Mãe D´ Água” ganha destaque como protetora
dos rios, lagos e mares, possuidora de uma beleza estonteante, a sereia encanta os “pescadores”
que se aproximam do rio com sua voz, os atraindo para dentro da água, de onde não são mais
vistos, o professor Raymundo de Moraes, define a personagem Iara como um ser deslumbrante
que usa sua força sobrenatural para fazer justiça: “[...] seduzindo os tapuios, encantando-os e
carregando-os para o fundo... surpreende o imprudente e leva-o para os seus domínios”
(MORAES, 1938, p. 78). Diante dessa conjuntura, é notório que o culto das comunidades
ribeirinhas aos direitos da natureza, com o alinhamento de lendas e medidas regionais que
traçam a conservação dos biomas nacionais, são de grande relevância para o debate dos direitos
1
Professor do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus do
Pantanal - CPAN, Cidade de Corumbá/MS, Doutor em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CAPES (2022/2023), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista
CAPES (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), pesquisador colaborador no
projeto de pesquisa Cárcere e Fronteira. E-mail: antonio.amorim@ufms.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-
1464-0319.
2
Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus Francisco Ferreira Mendes
E-mail: julyane.oliveira@unemat.br.
194
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
ambientais, já que esses, são baseados na perspectiva indígena que reconhece a troca igualitária
entre o homem e a natureza, correlacionando ambos, os rios, portanto, ganham ainda maior
destaque por tutelarem à água potável, a vida de diversas espécies nativas e a subsistência de
milhares de indivíduos, sendo um compilado de fatores que resultam em fonte natural de vida
e biodiversidade. Entretanto, indo de encontro a uma análise mais categórica, a protetora da
água, teria esse comportamento de sanção à vida, daqueles que se atreverem a adentrar no lago
sem sua devida permissão e tirar-lhe dele espécies, ou ainda violar de seu sistema ecológico.
Sob a óptica histórica, até a década de 60, a região amazônica era unicamente habitada pelos
povos tradicionais, os quais sempre preservaram a natureza, vivendo em uma simbiose,
retirando dela apenas o essencial para seu sustento, não havendo, portanto, a exploração de
madeira, ou minérios, por outro lado, na contemporaneidade, em dados recentes, o novo atlas
da Mata Atlântica concluiu que todas as bacias hidrográficas do bioma ‘Amazônia’ perderam
áreas de vegetação, sendo os rios mais afetados: São Francisco e Jequitinhonha, a do Rio Paraná
e a do Rio Iguaçu - 65% do que foi desmatado no bioma em 2022 estavam nesses locais. Nesse
interim, Wagler ainda destaca que: “[...] as comunidades de uma área compartilham a herança
local da região e cada uma delas é uma manifestação local das possíveis interpretações de
padrões e instituições regionais'” (Wagler, 1998, p. 44), mas é fato, que esses zelos ficaram no
passado. É válido ressaltar que a Constituição Federal de 1988, prevê em seu art. 225; “todos
têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”, entretanto, é visível que o índice
de poluição nas águas do Norte do Brasil, tende a crescer com o lançamento de resíduos da
indústria, como alimentos, venenos ou objetos sem utilização, a personagem lírica Iara,
portanto, ao observar o descaso dos seres humanos com seu habitat, o protege com os
encanamentos aos malfeitores, punindo-os com o bem jurídico mais valioso do ramo jurídico:
a vida, entretanto, o direito também possui seus mecanismos para aplicar a punição adequada,
a Lei n° 9.605 de 1998, prevê em seu art. 54, ademais, a bacia hidrográfica amazônica é uma
das mais importantes do planeta, integrando com cerca de 11.216 microbacias, dessas 27%
sofrem impactos médios, e outros 20% impactos altos, dessa maneira, entre os principais
poluentes estão o mercúrio usado nos garimpos, que além da contaminação da água, há também
a dizimação de espécies nativas, como peixes, fatores como a construção de hidroelétricas,
usinas e garimpo ilegal contribuem para o aumento da derrogação de um dos mais importantes
biomas do mundo. É inegável que o culto dos povos ribeirinhos em detrimento dos recursos
naturais, principalmente os hídricos, possuem relevância muito além do plano material e
prático, observa-se portanto, a necessidade da interferência e integração da judicialização
nacional internacional na proteção desses entes naturais, apreciando o cuidado local com os
biomas brasileiros e os recursos provenientes destes, preservando as espécies nativas às
próximas gerações, trazendo à luz o auxílio dos mitos folclóricos, como o da Iara para ilustrar
a necessidade de proteção, ter-se-á, assim, resguardada a biodiversidade brasileira.
195
RESUMOS
I SEMANA JURÍDICA DE ÁGUA BOA
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n° 9.605 de,12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e
administrativas derivadas [...]. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm. Acesso em: 20 jun. 2023.
JORNAL NACIONAL. Novo atlas da Mata Atlântica conclui que todas as bacias hidrográficas
do bioma perderam áreas de vegetação. G1. 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-
nacional/noticia/2023/05/25/mata-atlantica-todas-as-bacias-hidrograficas-do-bioma-
perderam-areas-de-vegetacao.ghtml. Acesso em: 22 jun. 2023
WAGLEY, Charles. Uma comunidade amazônica. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1988.
196