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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Lei n. 13.964/2019 – Pacote Anticrime


Flavio Rolim

Lei n. 13.964/2019 – Pacote Anticrime. . ................................................................................................ 6


1. Introdução....................................................................................................................................................... 6
1. Legítima Defesa........................................................................................................................................... 6
1.1. Introdução sobre o Tema: Excludente de Ilicitude.................................................................... 6
3. Execução da Pena de Multa. ................................................................................................................. 11
4. Limite de Pena........................................................................................................................................... 16
5. Livramento Condicional......................................................................................................................... 18
5.1. Requisitos para a Sua Concessão. . ................................................................................................ 20
5.2. Condições do Livramento Condicional.. ...................................................................................... 21
6. Pena de Perdimento de Bens............................................................................................................. 24
6.1. Efeitos Secundários Extrapenais. . ................................................................................................. 26
6.2. Hipótese de Cabimento. .....................................................................................................................27
6.3. Objeto da Perda. ................................................................................................................................... 28
6.4. Perda Decretada Judicialmente.................................................................................................... 28
7. Causas Impeditivas da Prescrição.. .................................................................................................. 29
8. Alterações no Delito de Roubo......................................................................................................... 35
8.1. Bem Jurídico. ........................................................................................................................................... 36
8.2. Sujeitos..................................................................................................................................................... 36
8.3. Roubo Próprio........................................................................................................................................37
8.4. Roubo Impróprio.................................................................................................................................. 39
8.5. Elemento Subjetivo............................................................................................................................ 39
8.6. Consumação.......................................................................................................................................... 40
8.7. Roubo Majorado. ................................................................................................................................... 40

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9. Alterações no Delito de Estelionato. . ............................................................................................. 42


10. Alteração da Pena em Relação ao Delito de Concussão.. ................................................... 44
11. Medidas Suspensas pela ADI 6298................................................................................................ 44
12. Do Juiz de Garantias............................................................................................................................. 44
12.1. Introdução............................................................................................................................................... 44
12.2. Da Disciplina Normativa................................................................................................................... 51
13. Inquérito Policial.................................................................................................................................... 64
13.2. Arquivamento do Inquérito Policial.. ......................................................................................... 66
14. Ação Penal................................................................................................................................................ 69
14.1. Do Acordo de Não Persecução Penal – Plea Bargaining. . ................................................. 69
15. Provas......................................................................................................................................................... 76
15.1. Da Iniciativa Probatória do Juiz e do Sistema Acusatório.. .............................................. 76
15.2. Da Cadeia de Custódia......................................................................................................................77
16. Da Prisão e da Liberdade Provisória.. ........................................................................................... 87
16.1. Disposições Gerais. ............................................................................................................................. 87
16.2. Prisão Preventiva............................................................................................................................... 95
17. Da Restituição de Coisas Apreendidas......................................................................................... 98
18. Das Medidas Assecuratórias............................................................................................................ 99
18.1. Utilização de Bens Apreendidos por Órgãos Estatais.. ...................................................... 99
19. Alterações no Procedimento do Tribunal do Júri. . ............................................................... 102
20. Alterações na Lei de Execução Penal....................................................................................... 103
20.1. Da Classificação................................................................................................................................ 103
20.2. Das Faltas Disciplinares – Regime Disciplinar Diferenciado (RDD)......................... 105
20.3. Progressão de Regime Prisional.. .............................................................................................107
20.4. Saída Temporária. ........................................................................................................................... 108
20.5. Lei de Organização Criminosa e Requisito para Concessão de Benefícios. . ........ 109
21. Alterações na Lei de Organização Criminosa – Lei n. 12.850/2013............................. 109

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21.1. Colaboração Premiada (Lei n. 12.850/2013). . ....................................................................... 109


21.2. Agente Infiltrado e Ambiente Cibernético (Lei n. 12.850/2013).. .................................114
22. Alterações na Lei de Crimes Hediondos................................................................................... 115
22.1. Considerações Iniciais..................................................................................................................... 115
22.2. Classificação dos Crimes Hediondos....................................................................................... 117
22.3. A Lei n. 8.072/1990......................................................................................................................... 119
22.4. Roubo......................................................................................................................................................121
22.5. Extorsão Qualificada pela Restrição da Liberdade da Vítima, Ocorrência de
Lesão Corporal ou Morte (Artigo 158, § 3º). . ..................................................................................124
22.6. Furto Qualificado pelo Emprego de Explosivo ou Artefato Análogo que Cause
Perigo Comum (Art. 155, § 4º-A)......................................................................................................... 125
22.7. Genocídio – Arts. 1º, 2º e 3º da Lei n. 2.889, de 1º de outubro de 1956. . ............... 126
22.8. Posse ou Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Proibido – Art. 16, § 2º, da Lei
n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003........................................................................................... 128
22.9. Crime de Comércio Ilegal de Arma de Fogo – Art. 17 da Lei n. 10.826, de 22
dezembro de 2003.................................................................................................................................... 130
22.10. Crime de Tráfico Internacional de Arma de Fogo, Acessório ou Munição,
Previsto no Art. 18 da Lei n. 10.826, de 22 dezembro de 2003........................................... 130
22.11. Crime de Organização Criminosa, quando Direcionado à Prática de Crime
Hediondo ou Equiparado. ..........................................................................................................................131
22.12. Progressão de Regime..................................................................................................................131
23. Alterações na Lei de Improbidade Administrativa. . .............................................................133
24. Alterações na Lei de Interceptação Telefônica – Lei n. 9.296/1996. . ..........................134
24.1. Breve Introdução...............................................................................................................................134
24.2. Conceito. .............................................................................................................................................. 135
25. Alterações na Lei de Lavagem de Capitais – Lei n. 9.613/1998.....................................143
25.1. Infiltração de Agentes.....................................................................................................................144
25.2. Ação Controlada.............................................................................................................................. 149
26. Alterações no Estatuto do Desarmamento – Lei n. 10.826/2003. . .............................. 151

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26.1. Inclusão da Qualificadora de Arma de Fogo de Uso Proibido. . .................................... 151


26.2. Alteração da Pena do Artigo 17: Crime de Comércio Ilegal de Arma de Fogo e
Inclusão do § 2º.......................................................................................................................................... 153
26.3. Alteração da Pena do Artigo 18: Tráfico Ilegal de Arma de Fogo, Acessórios ou
Munições......................................................................................................................................................... 156
26.4. Inclusão de Causa de Aumento de Pena no Artigo 20 do Estatuto do
Desarmamento em Caso de Reincidência Específica................................................................ 158
26.5. Criação do Banco Nacional de Perfis Balísticos............................................................... 159
27. Alterações na Lei de Drogas (Lei n. 11.343/2006)............................................................... 160
28. Alterações na Lei de Transferência/Inclusão de Presos em Estabelecimentos
Penais Federais de Segurança Máxima (Lei n. 11.671/2008). . ................................................. 161
29. Alterações na Lei de Identificação Criminal (Lei n. 12.037/2009)............................... 166
30. Alterações na Lei de Processo e o Julgamento Colegiado em Primeiro Grau de
Jurisdição de Crimes Praticados por Organizações Criminosas (Lei n. 12.694/2012).169
31. Alterações na Lei do Disque-Denúncia (Lei n. 13.608/2018). . ........................................... 171
32. Alterações na Lei n. 8.038/1990 (Procedimentos perante o STF e STJ)...................172
32.1. Requisitos, Condições e Vedações. . ........................................................................................... 174
32.2. Procedimento do Acordo de Não Persecução Penal. . ..................................................... 177
33. Alterações na Lei do Fundo Nacional de Segurança Pública (Lei n. 13.756/2018).179
34. Alterações no Código de Processo Penal Militar. . ............................................................... 180

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LEI N. 13.964/2019 – PACOTE ANTICRIME


1. Introdução

Com o advento da Lei n. 13.964/2019, o  sistema jurídico-penal brasileiro sofreu profun-


das mudanças, algumas delas esperadas por muito tempo, outras nem tanto. De toda sorte,
merece nossa análise não somente os dispositivos que foram alterados expressamente, mais
também aqueles que passam a clamar por uma releitura, visto que, como de costume, o legis-
lador realizou a reforma no código de processo penal sem alterar as legislações extravagan-
tes que dispõem sobre o mesmo tema.
Portanto, analisaremos aqui a reforma e os seus reflexos no ordenamento jurídico, sem-
pre com o foco em eventuais questões de concurso.
Código Penal

1. Legítima Defesa

1.1. Introdução sobre o Tema: Excludente de Ilicitude

Inicialmente, é  importante ressaltar que a legítima defesa é inerente à própria condição


humana, o  instinto defensivo do homem é inerente a sua natureza. Desse modo, o  ordena-
mento jurídico não poderia criminalizar condutas praticadas nesse contexto.
Resta às legislações nacionais estabelecer condições, requisitos, limitações e efeitos ju-
rídicos a esses institutos.
Vejamos as lições do professor Galdino Siqueira nesse sentido:

Tão visceralmente ligada â pessoa se manifesta a defesa, isto é, a faculdade de repelir pela força
o ataque no momento em que se produz, que CÍCERO, na sua oração —Pro Milone, a reputa como
um direito natural derivado da necessidade —non scnpta sed nata lex, proposição verdadeira, se
considerarmos o substratum fisiológico e psicológico da defesa, como reação do instinto de con-
servação que brota e se desenvolve independente de qualquer regulamentação.

É importante também observamos que a autotutela (defesa de direitos com as próprias


forças) é, em regra, vedada em nosso ordenamento jurídico. Contudo, em hipóteses excepcionais,

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considerando que o Estado não estará presente em todos os momentos para tutelar os direi-
tos protegidos, admite-se a autotutela. Desse modo, veja que a legítima defesa nada mais é
do que maneira específica e autorizada de exercer a defesa de direitos próprios ou de tercei-
ros diante de injustas agressões.
Nesse contexto, pergunta-se: Qual é natureza jurídica da legítima defesa?
Em nosso ordenamento jurídico, com previsão no artigo 25, Código Penal Brasileiro, é tra-
tada como causa genérica de exclusão da ilicitude.
Vejamos o comparativo entre a redação anterior e a atual redação implementada pela Lei
13. 964/19.

Antes Depois
Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem,
usando moderadamente dos meios necessários,
repele injusta agressão, atual ou iminente, a
Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, direito seu ou de outrem.
usando moderadamente dos meios necessários, Parágrafo único. Observados os requisitos
repele injusta agressão, atual ou iminente, a previstos no caput deste artigo, considera-se
direito seu ou de outrem. também em legítima defesa o agente de
segurança pública que repele agressão ou
risco de agressão a vítima mantida refém
durante a prática de crimes.

Quais são os requisitos para a aplicação da legítima defesa?


A legítima defesa se desenvolve sob o binômio Agressão / Reação. Desse modo, pressu-
põe:

Agressão. Reação.
Injusta.
Uso dos meios necessários.
Atual ou Iminente.
Uso moderado desses meios.
Contra direito próprio ou de terceiros.

Assim, passamos a analisar cada um dos requisitos exigidos para a configuração da le-
gítima defesa.

2.1.1. Agressão Injusta

Nos dizeres do professor Cléber Masson, agressão é toda ação ou omissão humana,
consciente e voluntária, que lesa ou expõe a perigo de lesão um bem ou interesse consagrado
pelo ordenamento jurídico.

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O termo agressão somente é utilizado para ações humanas, desse modo, condutas pra-
ticadas instintivamente por animais não são consideradas agressões humanas, salvo se o
animal for utilizado como instrumento de ataques humanos.
É possível a legítima defesa contra inimputáveis?
A doutrina se posiciona, majoritariamente, no sentido positivo. Veja que a conduta do
inimputável, apesar de não haver culpabilidade, é típica e ilícita e, portanto, apta a ser repelida
por legítima defesa. Registramos posicionamento em sentido contrário exarado pelo profes-
sor Nelson Hungria para quem os inimputáveis se equiparam a ataques realizados por ani-
mais e, quando repelidos, configurariam estado de necessidade e não legítima defesa. Para
provas objetivas, devemos adotar o primeiro posicionamento.
Seria possível a prática da legítima defesa contra uma omissão ilícita?
Sim, Mezger fornece o exemplo do carcereiro que tem o dever de liberar o recluso cuja
pena já foi integralmente cumprida. Com a sua omissão ilícita, inevitavelmente agride um bem
jurídico do preso, autorizando a reação em legítima defesa1.
Ainda se exige que a agressão seja injusta. O conceito de injustiça se coaduna com a ideia
de contrariedade ao direito. Assim, não é necessário que a conduta se configure especifica-
mente como crime, basta que ela seja praticada em desacordo com as normas jurídicas.
A doutrina admite a legítima defesa contra condutas culposas e até mesmo contra con-
dutas despidas de culpa, desde que revestidas de injustiça. Exemplo: aquele que está sentado
no banco de um ônibus e nota uma pessoa que acabara de escorregar caindo em sua direção,
pode, se necessário, empurrá-la contra o chão para não ser atingido, exemplo citado na obra
do professor Cleber Masson.

2.1.2. Agressão Atual ou Iminente

Diferentemente do que ocorre em relação ao Estado de Necessidade, a Legítima Defesa


autoriza que a agressão seja atual ou iminente. Não seria razoável exigir que o agente tivesse
sua integridade ofendida para só então poder repeli-la.
1
MEZGER, Edniund. Tratado de derecho penal. Trad, espanhola Josè Arturo Rodrigues Mufloz. Madrid: Revista de Derecho
Privado, 1955. t 1, p. 453

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De outro modo, a agressão passada ou a agressão futura e remota não autorizam a inci-
dência da legítima defesa. No primeiro caso, justamente em razão de se configurar na verdade
como vingança e, no segundo, por se configurar como fórmula que desestimularia as pessoas
a buscarem auxílio das autoridades públicas quando sofrerem ameaças.
Vejamos conceito de agressão atual ou iminente apresentada pelo professor Cleber Mas-
son:
Atual é a agressão presente, isto é, já se iniciou e ainda não se encerrou a lesão ao bem
jurídico.

Exemplo: a vítima é atacada com golpes de faca.

Iminente é a agressão prestes a acontecer, ou seja, aquela que se torna atual em um fu-
turo imediato.

Exemplo: o agressor anuncia à vítima a intenção de matá-la, vindo à sua direção com uma
faca em uma das mãos.

2.1.3. Agressão contra Direito Próprio ou de Terceiros

Observe que a legislação não exige que o bem defendido seja de propriedade do defensor
autorizando que a defesa ocorre em relação a bens jurídicos de terceiros. Em relação aos
bens jurídicos, é importante fazermos algumas observações:
• Bem jurídico. Próprio ou de terceiro;
• Não só a vida ou a integridade física são passíveis de proteção em legítima defesa.
Toda a ordem de bens jurídicos pode ser tutelada e protegida pela legítima defesa;
• É possível a legítima defesa contra-ataques a bens de pessoas jurídicas ou mesmo
contra bens jurídicos do Estado;
• É possível ainda a defesa, por meio de legítima defesa, inclusive contra-ataques atuais
ou iminentes a fetos (nascituros).

A conduta do sniper (atirador de elite) que atira no agressor que tem a vítima na condição
de refém, é abrangida por excludente de ilicitude?

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Sim, veja que se enquadra perfeitamente nos requisitos que estamos analisando. Trata-
-se de agressão atual ou iminente contra direito de terceiro. Desse modo, majoritariamente
a conduta do sniper que dispara contra o agressor que tem refém em sua posse sempre foi,
doutrinariamente, tratada como legítima defesa. É justamente nesse sentido que a alteração
legislativa milita, vejamos:

Art.  25, Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se
também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agres-
são a vítima mantida refém durante a prática de crimes. (NR)

Desse modo, agora, expressamente o legislador optou por tratar a condição do agente de
segurança pública que repele agressão atual ou iminente praticada por agressor que mantém
a vítima na condição de refém.

2.1.4. Meios Necessários

A repulsa a agressão deverá ser praticada se valendo dos meios necessários.

Professor, o que são meios necessários?

Os meios necessários são aqueles menos lesivos colocados à disposição do agente e


capaz de repelir a agressão atual ou iminente.
Observe assim os requisitos:
• Meio menos lesivo:
– à disposição do agente que reage;
– capaz de repelir a injusta agressão.

Desse modo, a análise deve ser feita a partir da situação concreta, pois a reação até pode
ser desproporcional, quando o agente não possui outro meio menos lesivo apto a repelir a
agressão que sofre.
Acerca desse tema, curial a leitura de Bento de Faria:

O homem que é subitamente agredido, não pode, na perturbação e na impetuosidade da sua defe-
sa, proceder a operação de medir a sangue frio e com exatidão se há algum outro recurso para o
qual possa apelar, que não o de infligir um mal ao seu agressor; se há algum meio menos violento

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a empregar na defesa, se o mal que inflige excede ou não o que seria necessário à mesma defesa.
E preciso considerar os fatos como eles ordinariamente se apresentam, e reconhecer as fraquezas
inerentes à natureza humana, não se exigindo dela o que ela não pode dar, reconhecer mesmo as
exigências sociais, que podem justificar o emprego de certos meios de defesa, suposto não seja
absoluta a necessidade desse emprego2.

Observe que, ainda que o agente possa fugir da injusta agressão, essa conduta não é exi-
gida dele. A ordem jurídica não pode abranger situações ilícitas e não pode exigir de quem é
atacado a conduta de fugir. Desse modo, a doutrina se posiciona no sentido de não se exigir
o que se convencionou chamar de commodus discessus.
O agente será responsabilizado caso aja com excesso, o qual poderá ser doloso ou cul-
poso. Existia previsão no texto originário do pacote anticrime a esse respeito, contudo essa
disposição não foi incluída no projeto aprovado.

2.1.5. Uso Moderado dos Meios Necessários

O uso dos meios necessários deve ocorrer na estrita necessidade de repelir a injusta
agressão, qualquer conduta que exceda o necessário para a defesa poderá ser tratada como
excesso. Logicamente, não se exige que para essa análise cálculo matemático, até porque
não é factível que se exija essa exatidão de pessoas que estarão submetidas a situação de
estresse e nervosismo.
Assim, exige-se proporcionalidade no uso dos meios necessários de forma que não se
desconstitua a ideia do instituto que é defender bens jurídicos da situação de risco.

3. Execução da Pena de Multa

Antes Depois
Art. 51. Transitada em julgado a sentença Art. 51. Transitada em julgado a sentença
condenatória, a multa será considerada dívida de valor, condenatória, a multa será executada perante o
aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à juiz da execução penal e será considerada dívida de
dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que con- valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da
cerne às causas interruptivas e suspensivas da pres- Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas
crição. interruptivas e suspensivas da prescrição.

2
FARIA, Bento, Código penal brasileiro comentado. Rio de Janeiro: Distribuidora Reoord, 1S61. v. II, p. 192

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Antes de tratarmos efetivamente a respeito das mudanças operadas, vamos tratar um


pouco a respeito da pena de multa?
Para iniciarmos nosso estudo, devemos tratar inicialmente a respeito do conceito da pena
de multa. Trata-se de espécie de sanção penal, de cunho patrimonial e consiste no pagamen-
to de determinada quantia em dinheiro em favor do Fundo Penitenciário Nacional ou outro
fundo específico estabelecido em cada uma das legislações especiais.
Apesar de ser pena pecuniária, continua tendo as características relacionadas a sua na-
tureza de sanção penal. Desse modo, deve respeitar o princípio da legalidade, reserva legal,
anterioridade e intranscendência da pena. Ainda nesse sentido, é necessária a sua cominação
por lei em sentido material e formal, editada anteriormente à prática do fato típico cuja puni-
ção se pretende.
O Código Penal Brasileiro adotou como critério referente para a imposição da pena de
multa o sistema bifásico. Desse modo, diferentemente do que ocorre em relação às penas
privativas de liberdade (adoção do critério trifásico), a fixação da pena de multa será definida
em duas fases:
• fixação da quantidade de dias-multa impostos;
• fixação do valor de cada um dos dias-multa.

O Código Penal, em cada das infrações que estabelece, como também o faz a lei de con-
travenções penais, estabelece a penalidade de multa quando aplicável àquele caso. Nesse
sentido, podemos analisar o artigo 49, CP:
É importante ressaltar que as disposições genéricas previstas no Código Penal ou mesmo
no Código de Processo Penal não afasta as a possibilidade de tratamento diverso em legisla-
ções especiais, vejamos um exemplo:
A Lei n. 8.666/1993 – Lei de Licitações, por seu turno, prevê em seu art. 99, caput:

Art. 99. A pena de muita cominada nos arts. 89 a 98 desta Lei consiste no pagamento de quantia
fixada na sentença e calculada em índices percentuais, cuja base corresponderá ao valor da vanta-
gem efetivamente obtida ou potencialmente auferível pelo agente.

Professor, como efetivamente é fixada a penal de multa? Se sujeita a limites máximos ou


mínimos?

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Sim, para responder a esse questionamento iremos analisar as duas fases de definição da
penalidade de multa.
Fixação dos dias-multa (art.  49, parte final, Código Penal Brasileiro): o juiz deve fixar a
quantidade de dias-multa entre o mínimo de 10 dias e o máximo de 360 dias.
Qual o critério utilizado pelo magistrado para a fixação da quantidade de dias-multa?
A resposta a esse questionamento é bastante interessante. O magistrado deverá analisar
todas as fases adotadas no critério trifásico para a fixação da pena privativa de liberdade.
Assim, na fixação da quantidade de dias, o magistrado deverá considerar:
• Circunstâncias judiciais, estabelecidas no artigo 59, Código Penal Brasileiro.
• agravantes e atenuantes.
• causas de aumento e causas de diminuição.

Assim, todas as fases do sistema trifásico são analisadas em uma única fase na fixação
da pena de multa. Fixada a quantidade, o magistrado passará a analisar o valor de cada um
desse dia-multa estabelecido.
Fixação do valor de cada um dos dia-multa estabelecido (art. 49, § 1º, Código Penal Bra-
sileiro): cada um dos dias impostos poderá ter o valor de 1/30 avos do salário mínimo até 5
vezes o valor do salário mínimo.
Qual o critério que o magistrado utilizará para fixar o valor dos dias-multa?
O critério utilizado é a situação econômica do réu, podendo a pena de multa ser aumen-
tada até o triplo, se o juiz considerar que, em virtude da situação econômica do réu, a pena é
ineficaz, embora aplicada no máximo. (Art. 60, CP).
Nos crimes contra o sistema financeiro nacional, o valor da pena de multa pode ser es-
tendido até o décuplo (Lei 7.492/1986, art. 33), o que também se verifica nos crimes contra a
propriedade industrial (Lei 9.279/1996, art. 197, parágrafo único) e nos crimes previstos nos
arts. 33 a 39 da Lei de Drogas (Lei 11.343/2006, art. 43, parágrafo único).
Vejamos dois exemplos citados na obra do excepcional professor Cleber Masson3 :

Uma pessoa de elevado poder econômico pratica um crime de estelionato. As circunstâncias judi-
ciais do a art. 59, caput, do Código Penal, lhe são favoráveis. O juiz deve aplicar o número de dias-
-multa no mínimo legal (10 dias-multa), mas fixar o valor de cada um deles em montante relevante,
bem acima do piso legal, em face da situação econômica do réu.
3
MASSON, Cleber, Direito Penal Esquematizado, vol. 01, pag.699.

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Outra pessoa, com péssimos antecedentes criminais e conduta social desajustada, portadora de
personalidade voltada à prática rotineira de infrações penais, comete uma extorsão com requintes
de crueldade.
É, todavia, paupérrima. O  juiz deve aplicar o número de dias-multa bem acima do mínimo legal,
e estipular o valor de cada um deles no patamar raso, diante da condição econômica do réu.

A pena de multa deverá ser paga no prazo de 10 dias depois de transitado em julgado a
sentença. É justamente nesse ponto que entraremos na alteração incluída pelo pacote anti-
crime.
E se a penalidade de multa não for paga é possível a conversão em pena privativa de li-
berdade?
Não, a  partir das alterações operadas pela Lei 9.268/96, as  penas decorrentes da apli-
cação de multa são consideradas dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas relativas à
dívida da fazenda pública, inclusive no que concerne as causas suspensivas e interruptivas
da prescrição.
Assim, apesar de ser tratada como dívida de valor, esse fenômeno não lhe retira o caráter
de pena, dessa conclusão retiramos alguns pontos importantes:
• a extinção do processo de execução fica condicionado ao pagamento integral da multa,
não se extinguindo com o cumprimento da pena privativa de liberdade quando imposto
em conjunto (privação de liberdade e multa);
• o não pagamento da multa com a sua posterior morte não transfere a obrigação aos
herdeiros, considerando a pessoalidade das sanções de natureza penal.

Considerando todas as observações realizadas até agora, pergunta-se: Qual é a forma,


o juízo competente e o legitimado para proceder a execução da penalidade de multa, caso não
tenha ocorrido o pagamento voluntário?
Sobre esse tema, tínhamos três posições na doutrina, vejamos:
• 1º Corrente: a pena de multa deve ser executada pelo Ministério Público, perante a Vara
das Execuções Penais, pelo rito da Lei de Execu¬ção Penal. (LEP);
• 2º Corrente: a pena de multa deve ser executada pelo Ministério Público, perante a Vara
das Execuções Penais, pelo rito da Lei 6.830/1980, Lei de Execuções Fiscais;

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• 3º Corrente: a pena de multa deve ser executada pela Fazenda Pública, perante a Vara
das Execuções fiscais, pelo rito da Lei 6.830/1980, Lei de Execuções Fiscais.

Assim, a alteração legislativa veio justamente no sentido de solucionar essa controvérsia,


vejamos mais uma vez o referido dispositivo:

Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da
execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da
Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.

Assim, uma parte da controvérsia está solucionada: a definição do juízo competente para
promover a execução é o juiz da execução penal e não o juiz da vara de execuções fiscais.
A quem compete promover essa execução?
Há manifestação do STF sobre o tema, inclusive editado antes da edição da legislação em
estudo:

Conforme apontado na ADI 3150, o STF decidiu que, por ter natureza de sanção penal,
a competência da Fazenda Pública para executar essas multas se limita aos casos de
inércia do MP. Ainda segundo a decisão, apenas se o MP não adotar as providências
para a cobrança no prazo de noventa dias é que o juiz da Vara de Execuções Penais
deve cientificar a Fazenda Pública para que proceda à cobrança perante a Vara de Exe-
cuções Fiscais e com base na Lei 6.830/80. Por isso deve ser considerada como supe-
rada a Súmula 521 do STJ: “A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de
pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda
Pública”.

Então, podemos sintetizar o tema da seguinte forma: o Ministério Público possui legitimi-
dade para propor a cobrança de multa decorrente de sentença penal condenatória transitada
em julgado a ser proposta perante a vara de execuções penais, com a possibilidade subsidi-
ária de cobrança pela Fazenda Pública.
Desse modo, seguindo as lições do professor Márcio André Cavalcante, pergunta-se:
Quem executa a pena de multa?

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• Prioritariamente: o Ministério Público, na vara de execução penal, aplicando-se a LEP;


• Caso o MP se mantenha inerte por mais de 90 dias após ser devidamente intimado:
a Fazenda Pública irá executar, na vara de execuções fiscais, aplicando-se a Lei n.
6.830/80. STF. Plenário. ADI 3150/DF, Rel. para acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 12 e 13/12/2018 (Info 927). STF. Plenário. AP 470/MG, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 12 e 13/12/2018 (Info 927).

A Súmula 521 do STJ fica superada e deverá ser cancelada.


Vejamos o teor da referida súmula: Súmula 521-STJ: A legitimidade para a execução fis-
cal de multa pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Pro-
curadoria da Fazenda Pública.

4. Limite de Pena

Vejamos as alterações operadas no artigo 75, Código Penal Brasileiro:

Antes Depois
Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privati-
Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas
vas de liberdade não pode ser superior a 40 (quarenta)
de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos.
anos.
§ 1º. Quando o agente for condenado a penas privati-
§ 1º. Quando o agente for condenado a penas priva-
vas de liberdade cuja soma seja superior a 30 (trinta)
tivas de liberdade cuja soma seja superior a 40 (qua-
anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite
renta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao
máximo deste artigo.
limite máximo deste artigo.
§ 2º. Sobrevindo condenação por fato posterior ao
§ 2º. Sobrevindo condenação por fato posterior ao
início do cumprimento da pena, far-se-á nova unifica-
início do cumprimento da pena, far-se-á nova unifica-
ção, desprezando-se, para esse fim, o período de pena
ção, desprezando-se, para esse fim, o período de pena
já cumprido.
já cumprido.

O referido dispositivo do Código Penal busca dar efetividade à vedação constitucional às


penas de caráter perpétuo, vejamos:

Constituição Federal
Art. 5º, XLVII – não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;

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d) de banimento;
e) cruéis;

Assim, não é admitido em nosso ordenamento jurídico a imposição de penas privativas de


liberdade de caráter perpétuo.
Ainda nesse raciocínio, observa-se que a pena é dotada de finalidades gerais e especiais
ou também chamada de específica (finalidade específica da pena), uma delas é a ressociali-
zação. Aplicando-se penas de caráter perpétuo a ressocialização não seria atingida, já que o
indivíduo não voltaria a vida em sociedade.
Com o fito de dar aplicabilidade ao mandamento constitucional, o legislador definiu o li-
mite máximo para cumprimento da pena privativa de liberdade: antes 30 anos, agora 40 anos.
E se houver nova condenação após o início de cumprimento da pena?
A esses casos, aplica-se o § 2º, Art. 75, Código Penal Brasileiro:

Art. 75, § 2º Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á
nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido.

Assim, havendo condenação superveniente, haverá nova unificação de pena, desprezan-


do-se para fins de submissão ao limite de 40 anos, a pena já cumprida.
Vejamos alguns exemplos citados na obra do professor Marcelo André Azevedo e Alexan-
dre Salim:

Vejamos o seguinte exemplo: o agente é condenado por vários crimes, cuja soma das penas resulte
em 100 anos. Unificando as penas, inicia o seu cumprimento. Após cumprir 18 anos de prisão, vem
a ser condenado à pena de 10 anos de reclusão por crime praticado durante a execução penal. Des-
prezam-se os 18 anos, de sorte que faltarão 12 anos a cumprir da pena anteriormente unificada.
Assim, somam-se os 12 anos restantes com a nova condenação (10 anos), de modo que deverá o
condenado cumprir mais 22 anos de prisão. Registre-se que a melhor interpretação é no sentido
de se somar a nova pena com o restante que faltava para o cumprimento dos 40 anos (pena unifi-
cada), e não do restante da soma total das penas sem unificação.

Observa-se que o referido raciocínio somente é aplicado para as condenações relaciona-


das a fatos ocorridos após o início do cumprimento da pena. Caso a condenação superve-
niente seja relacionada a fato anterior ao início do cumprimento da pena, a pena deverá ser
somada ao total antes da unificação.

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Para fins de cálculo de benefícios prisionais: progressão, livramento condicional, conside-


ra-se a pena total antes ou após a unificação?
Apesar de existir duas correntes sobre o assunto, prevalece o posicionamento exarado
pelo STF na súmula – 715: A pena unificado para atender ao limite de 30 anos de cumprimen-
to, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros
benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução” (Súmula
715 do STF).
Observa-se que será necessário a releitura da súmula a partir do novo limite estabelecido.

Questão 1 (FCC/2015/TJ-GO/JUIZ DE DIREITO/ADAPTADA) A pena unificada para atender


ao limite de 40 anos de cumprimento, determinado pelo an. 75 do Código Penal, não é consi-
derada unicamente para a concessão de livramento condicional4.

5. Livramento Condicional

Alterações no artigo 83 do Código Penal Brasileiro, especificamente no tema: livramento


condicional.

Antes Depois
Art. 83. O juiz poderá conceder livramento condicional ao conde- Art. 83. […]
nado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, III – comprovado:
desde que: a) bom comportamento durante a execução
I – cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for rein- da pena;
cidente em crime doloso e tiver bons antecedentes; b) não cometimento de falta grave nos últi-
II – cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em mos 12 (doze) meses;
crime doloso; c) bom desempenho no trabalho que lhe foi
III – comprovado comportamento satisfatório durante a execução atribuído; e
da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e apti- d) aptidão para prover a própria subsistência
dão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto; mediante trabalho honesto;

4
Errado.

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IV – tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano


causado pela infração;
V – cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condena-
ção por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpe-
centes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado
não for reincidente específico em crimes dessa natureza.
Parágrafo único – Para o condenado por crime doloso, cometido
com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livra-
mento ficará também subordinada à constatação de condições
pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir.

Iniciaremos o nosso estudo com uma pergunta: O que é livramento condicional?


O livramento condicional é um benefício prisional, concedido durante a execução penal,
ao condenado preso e consiste no direito de entrar em liberdade antecipada, isto é, antes do
término da execução da pena, desde que cumpridos requisitos próprios. Após o término do
período de prova, sem descumprimento das condições, gera a extinção da punibilidade pelo
total cumprimento da pena.
O indivíduo que está no gozo do livramento condicional desfruta de uma liberdade anteci-
pada, condicional e precária.
• Antecipada: porque o condenado é solto antes de ter cumprido integralmente a pena;
• Condicional: uma vez que, durante o período restante da pena (chamado de período de
prova), ele terá que cumprir certas condições fixadas na decisão que conceder o bene-
fício;
• Precária: tendo em vista que o benefício poderá ser revogado (e ele retornar à prisão)
caso descumpra as condições impostas5.

Para estudarmos o tema liberdade condicional, devemos nos ater a dois pontos:

• requisitos para a sua concessão;

• condições a serem estabelecidas.


5
atribuído e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto;
IV – tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração;
V – cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes
dessa natureza.
Parágrafo único – Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do
livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não vol-
tará a delinquir.

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5.1. Requisitos para a Sua Concessão


Requisitos.

Requisitos Objetivos. Requisitos Subjetivos.


O condenado deve ter:
1) sido sentenciado a uma pena privativa de liberdade
igual ou superior a 2 anos;
O condenado deve ter:
2) reparado o dano causado com o crime, salvo se for
1) bom comportamento carcerário, a ser comprovado
impossível fazê-lo;
pelo diretor da unidade prisional;
3) cumprido parte da pena, quantidade que irá variar
2) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído;
conforme ele seja reincidente ou não:
3) Não ter cometido falta grave nos últimos 12 meses.
• condenado não reincidente em crime doloso e com
(nova exigência).
bons antecedentes: basta cumprir mais de 1/3 (um
3) aptidão para prover a própria subsistência mediante
terço) da pena. É chamado de livramento condicional
trabalho honesto;
SIMPLES;
4) para o condenado por crime doloso, cometido com
• condenado reincidente em crime doloso: deve cum-
violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do
prir mais de 1/2 (metade) da pena para ter direito ao
livramento ficará também subordinada à constatação
benefício. É o livramento condicional QUALIFICADO;
de condições pessoais que façam presumir que o libe-
• condenado por crime hediondo ou equiparado, se não
rado não voltará a delinquir.
for reincidente específico em crimes dessa natureza:
deve cumprir mais de 2/3 (dois terços) da pena. É o
livramento condicional ESPECÍFICO;

Nesse sentido, observa-se que o cometimento de falta grave nos últimos 12 meses im-
pede a concessão do livramento condicional. É  muito importante relembrarmos o teor da
Súmula 441 do STJ.

Súmula n. 441 do STJ


A falta grave não interrompe o prazo para obtenção do livramento condicional (Súmula
441-STJ).

Assim, a súmula há de ser lida e acordo com o novo dispositivo constitucional, apesar de
não interromper o prazo (requisito objetivo) para a concessão do livramento, quando cometi-
da nos últimos 12 meses, impede a concessão do benefício.
Vamos responder mais algumas perguntas: Quem concede o benefício?
O juiz da execução, considerando que estamos no curso da execução da pena. É impor-
tante observar que o juiz antes de decidir deverá:

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• requerer parecer do diretor do estabelecimento prisional a respeito do comportamento


do preso.
• oitiva prévia do Ministério Público e da defesa.
• quem possuiu legitimidade para requerer o benefício?
• o sentenciado;
• cônjuge ou de parente em linha reta do sentenciado;
• diretor do estabelecimento penal; ou
• por iniciativa do Conselho Penitenciário.

Quando o requerimento não for formulado pelo Conselho Penitenciário, será necessária a
prévia oitiva deste órgão?
Não se exige a prévia oitiva do Conselho Penitenciário para fins de concessão do livra-
mento condicional, segundo a nova redação do art. 112 da LEP dada pela Lei n. 10.792/2003.
STJ. 5ª Turma. HC 350.902/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 21/06/2016.
Terminada a análise dos requisitos passamos a analisar, as  condições a serem estabe-
lecidas, considerando que existem condições obrigatórias e condições de ordem facultativa.
O livramento condicional consiste na última etapa da execução da pena, visando à res-
socialização do apenado, quando ele é colocado em liberdade mediante o cumprimento de
determinadas condições previstas nos arts. 83, do Código Penal e 132, § 1º, da Lei de Execu-
ção Penal, algumas obrigatórias, outras facultativas. STJ. 5ª Turma. HC 235.480/SP, Rel. Min.
Gilson Dipp, julgado em 26/06/2012.

5.2. Condições do Livramento Condicional

Condições Obrigatórias Condições Facultativas


São condições obrigatórias: São condições facultativas:
a) Obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se a) Não mudar de residência sem comunicação ao Juiz
for apto para o trabalho; e à autoridade incumbida da observação cautelar e de
b) Comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação; proteção;
c) Não mudar do território da comarca do Juízo da exe- b) Recolher-se à habitação em hora fixada;
cução, sem prévia autorização. c) Não frequentar determinados lugares.
Trata-se de rol taxativo. Trata-se de rol exemplificativo.

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Observe que o prazo do livramento condicional é justamente aquele restante para o cum-
primento da pena. Assim, não há um prazo específico e definido.
Passaremos agora a analisar as causas de revogação, as quais também se dividem em
causas de revogação obrigatórias e causas de revogação facultativas. Além de analisarmos
as causas de revogação, também devemos analisar os efeitos do período cumprido, quando
o benefício é revogado antes de sua extinção. Vamos lá?

Causas de revogação obrigatórias. Causas de revogação obrigatórias.


Agente for condenado definitivamente à pena privativa
Se o liberado deixar de cumprir qualquer das obriga-
de liberdade por crime cometido durante a vigência do
ções constantes da sentença;
benefício.
Efeitos. Efeitos.
Não se computa o período de livramento já gozado Não se computa o período de livramento já gozado
como pena cumprida. O condenado irá “perder” o perí- como pena cumprida. O condenado irá “perder” o perí-
odo que ficou sob livramento condicional. odo que ficou sob livramento condicional.
Não poderá ser concedido novo livramento condicional Não poderá ser concedido novo livramento condicional
no processo em que se apura o crime em que o bene- no processo em que se apura o crime em que o bene-
fício foi revogado. Em relação a outro delito, seria pos- fício foi revogado. Em relação a outro delito, seria pos-
sível a concessão do benefício. sível a concessão do benefício.
Se o agente for condenado definitivamente à pena pri- Se o liberado for condenado definitivamente por crime
vativa de liberdade por crime anterior à vigência do ou contravenção e não receber pena privativa de liber-
benefício. dade. Ex: recebeu pena restritiva de direitos.
Efeitos. Efeitos.
Computa-se o período de livramento gozado como Aplica-se as regras da revogação obrigatória a depen-
pena cumprida. der de o crime ou a contravenção penal ser praticado
Poderá ser concedido novamente o benefício. antes ou durante o gozo do benefício.

Vamos a análise dos dispositivos legais:

LEP
Art. 141. Se a revogação for motivada por infração penal anterior à vigência do livramento, compu-
tar-se-á como tempo de cumprimento da pena o período de prova, sendo permitida, para a conces-
são de novo livramento, a soma do tempo das 2 (duas) penas.
Art. 142. No caso de revogação por outro motivo, não se computará na pena o tempo em que este-
ve solto o liberado, e tampouco se concederá, em relação à mesma pena, novo livramento.
Art. 88. Revogado o livramento, não poderá ser novamente concedido, e, salvo quando a revogação
resulta de condenação por outro crime.

Ponto Muito Importante: Observe que o fator para determinar a perda é a condenação,
pergunta-se: Se o juiz for informado do cometimento de uma infração penal praticada durante

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a vigência do delito, contudo ainda sem condenação, qual a medida que o magistrado deverá
adotar?
A resposta está no artigo 145, Lei de Execuções Penais:

Art. 145. Praticada pelo liberado outra infração penal, o Juiz poderá ordenar a sua prisão, ouvidos
o Conselho Penitenciário e o Ministério Público, suspendendo o curso do livramento condicional,
cuja revogação, entretanto, ficará dependendo da decisão final.

A medida a ser adotada é a suspensão do livramento condicional, pois caso a medida não
seja suspensa o exaurimento do prazo de livramento condicional sem sua suspensão ou re-
vogação gera a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena.
Nesse sentido, é a súmula 617 – STJ, vejamos:

Súmula n. 617, STJ


A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do término do
período de prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 26/09/2018, DJe 01/10/2018.

Diante de todas análises feitas até agora, retiramos as seguintes conclusões do site dizer
o direito a respeito do entendimento e da súmula editada pelo STJ:
Conclusões:
• Se o réu cometeu crime durante a vigência do livramento condicional, não haverá a
suspensão, prorrogação ou revogação automática do benefício;
• Em caso de prática de crime durante o período de prova, o  juiz deverá determinar: a
suspensão do livramento condicional (caso o processo criminal pelo segundo delito
ainda não tenha se encerrado) ou a sua revogação (caso já tenha sentença condena-
tória transitada em julgado);
• Se o juiz não suspender nem revogar expressamente o livramento condicional durante
o período de prova, não poderá mais fazê-lo depois que esgotado esse prazo;
• Se o período de prova transcorrer sem decisão formal do juiz suspendendo ou revogan-
do o livramento, considera-se que houve o cumprimento integral da pena, não havendo
outra solução a não ser reconhecer a extinção da punibilidade;

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• Logo, a ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do tér-


mino do período de prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento
da pena;
• Decorrido o período de prova do livramento condicional sem que seja proferido uma
decisão formal e expressa de suspensão ou revogação do benefício, a pena deve ser
extinta, nos termos do art. 90 do CP.

6. Pena de Perdimento de Bens


Nesse ponto, foi incluído novo dispositivo no Código Penal Brasileiro até então inexisten-
te, vejamos:

Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior
a 6 anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens
correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compa-
tível com o seu rendimento lícito.
§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do condenado
todos os bens:
I – de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou indireto,
na data infração penal ou recebidos posteriormente; e
II – transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir do início
da atividade criminal.
§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedência lícita
do patrimônio.
§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público, por
ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada.
§ 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e especificar os
bens cuja perda for decretada.
§ 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias
deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde tra-
mita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem
pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes.

Inicialmente, iremos tratar sobre alguns pontos relevantes no que diz respeito aos efeitos
da condenação penal e, posteriormente, entraremos especificamente em cada um dos temas
relacionados ao novo dispositivo incluído no Código Penal Brasileiro.
Ao falarmos sobre efeitos da condenação, devemos nos atentar, inicialmente, em diferen-
ciar:

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Privativa de liberdade.
Restritiva de direitos.
Penas.
Multa.
Principais. Sanção Penal. Medidas de Segurança.
Internação.
Efeitos da Tratamento Ambulatorial.
condenação.
Penais.
Secundá-
Extrapenais.
rios. Genéricos.
Específicos.

Vamos detalhar essa tabela?


Quais são os efeitos principais da condenação?
Essa é muito simples, o  efeito principal da condenação é efetivamente a imposição de
sanção de natureza penal. Desse modo, as sanções penais podem ser subdividias em penas
e medidas de segurança.
As primeiras, as  penas, podem ser: privativas de liberdade e restritivas de direitos. Já a
segunda, medidas de segurança, podem ser medidas de internação ou ainda tratamento am-
bulatorial.
Esses são denominados efeitos primários ou principais da condenação. Ao lado desses
efeitos, temos as repercussões secundárias que podem ter natureza penal ou extrapenal. Va-
mos analisar cada uma delas preliminarmente.
Efeitos secundários penais:
• enseja reincidência, se houver crime posterior (CP. art. 63);
• revogação facultativa (irrecorrivelmente condenado, por crime culposo ou por contra-
venção penal a pena privativa de liberdade ou restritivas de direitos) ou obrigatória
(irrecorrivelmente condenado por crime doloso) do sursis anteriormente concedido (CP,
art. 81);
• revogação facultativa ou obrigatória do livramento condicional (CP. arts. 86 e 87);
• aumento ou interrupção do prazo de prescrição da pretensão executória quando carac-
terizada a reincidência (CP. art. 110, caput);
• revogação da reabill1acão (CP, art. 95), quando se tratar de reincidente;

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• impede a concessão de certos privilégios, tais como: art. 155, § 2º; 170; 171, § 1º, todos
do CP;
• impossibilidade de eventual concessão de suspensão condicional do processo (art. 89
da Lei n. 9.099/95).

É muito importante observar que esses efeitos, apesar de secundários, ainda possuem
natureza penal, motivo pelo qual são efeitos automáticos decorrentes da condenação.

6.1. Efeitos Secundários Extrapenais


Já os efeitos secundários extrapenais são efeitos da condenação em esferas distintas da
esfera penal. Os efeitos secundários ainda podem ser divididos em efeitos secundários extra-
penais genéricos (art. 91, CP), os quais são automáticos e os efeitos secundários extrapenais
específicos (Art. 92, CP), os quais dependem de manifestação expressa do magistrado para
que tenham aplicabilidade.
Vejamos os dispositivos penais citados:

Efeitos genéricos e específicos


Art. 91. São efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984)
I  – tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; (Redação dada pela Lei n.
7.209, de 11.7.1984)
II – a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: (Redação
dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984)
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte
ou detenção constitua fato ilícito;
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente
com a prática do fato criminoso.
§ 1º Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime
quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior. (Incluído pela Lei n.
12.694, de 2012)
§ 2º Na hipótese do § 1º, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão
abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de
perda. (Incluído pela Lei n. 12.694, de 2012)
Art. 92. São também efeitos da condenação:(Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984)
I  – a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: (Redação dada pela Lei n. 9.268, de
1º.4.1996)
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes
praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; (Incluído
pela Lei n. 9.268, de 1º.4.1996)

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b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais
casos. (Incluído pela Lei n. 9.268, de 1º.4.1996)
II – a incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos
sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar,
contra filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado; (Redação dada pela Lei
n. 13.715, de 2018)
III – a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso.
(Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único. Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivada-
mente declarados na sentença. (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984).

Assim, o tema incluído no Código Penal diz respeito a mais um efeito extrapenal genérico
da condenação. Desse modo, além da condenação penal tornar certa a obrigação de indeni-
zar e gerar o perdimento do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua pro-
veito auferido pelo agente com a prática criminosa, com a alteração passa-se a prever nova
modalidade específica de perdimento de bens, é  justamente a respeito dessa hipótese que
passaremos a tratar a partir de agora.
A alteração incluída no Código Penal prevê nova modalidade específica de perda de bens
decorrente da condenação, especificamente em infrações penais a que a lei comine pena má-
xima superior a 06 anos, o juiz ao proferir o decreto condenatório poderá determinar a perda
da diferença entre o patrimônio atual do condenado e o patrimônio que seria compatível com
seus rendimentos lícitos.
Assim, passaremos a analisar especificamente essa nova modalidade específica de per-
da.

6.2. Hipótese de Cabimento

Essa modalidade de perda somente poderá ser aplicada nas infrações penais a que a lei
comine pena máxima superior a 06 anos de RECLUSÃO.
Desse modo, o  legislador levou em consideração a pena em abstrato máxima aplicável
ao delito. Além do que não possibilitou a aplicação nas hipóteses em que a infração penal for
punida com detenção.

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6.3. Objeto da Perda


O objeto da perda será justamente o produto ou proveito do crime, o qual corresponderá
ao patrimônio apurado com as seguintes regras:
• o membro do Ministério Público, ainda por ocasião do oferecimento da denúncia, de-
verá indicar os rendimentos lícitos do processado e estimar o patrimônio que seria
compatível com esses rendimentos;
• o membro do Ministério Público deverá indicar o patrimônio real pertencente ao agente.
Inclui-se na ideia do patrimônio do agente os bens transferidos a terceiros ou alienados
por quantitativo irrisório, vejamos:

Art. 91-A, § 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do
condenado todos os bens:
I – de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou indireto,
na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e
II – transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir do início
da atividade criminal.

Após a apuração desses valores, será realizada a diferença entre o patrimônio real do
agente e o patrimônio compatível com os seus rendimentos lícitos, sobre a diferença será
decretada a perda.
Logicamente, essas matérias deverão ser submetidas ao crivo do contraditório, assim,
o processado poderá demonstrar a origem lícita do patrimônio de sua propriedade e exone-
ra-se da perda, vejamos:

Art.  91-A, §  2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a proce-


dência lícita do patrimônio.

6.4. Perda Decretada Judicialmente


Após a formulação do pedido de perda, apuração do patrimônio a ser pedido na denúncia,
submissão de todas essas matérias ao crivo do contraditório, o juiz determinará a perda na
sentença.

Art. 91-A, § 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e espe-
cificar os bens cuja perda for decretada.

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Decretação de perda de bens pertencentes a organizações criminosas.

Art. 91-A, § 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e
milícias deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça
onde tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou
a ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes.

O referido dispositivo legal determina a perda de bens de organizações criminosas e milí-


cias privadas, ainda que:
• não ponham em perigo a segurança das pessoas, moral ou a ordem pública;
• não ofereçam sério risco de ser utilizado para o cometimento de novos crimes.

Dessa maneira, considerando a gravidade dessas duas infrações penais, o legislador op-
tou por abrandar as exigências para que ocorra a perda de bens de organizações criminosas
e milícias privadas. Assim, dispensa-se a prova de efetivo risco para que seja determinada a
perda do patrimônio das referidas instituições criminosas.

7. Causas Impeditivas da Prescrição

A Lei n. 13.964/2019 também incluiu alterações no artigo 116, Código Penal Brasileiro,
vamos analisar?

Antes. Depois
Art. 116. […]
I – enquanto não resolvida, em outro processo, ques-
Art. 116. Antes de passar em julgado a sentença da tão de que dependa o reconhecimento da existência do
final, a prescrição não corre: crime;
I – enquanto não resolvida, em outro processo, ques- II – enquanto o agente cumpre pena no exterior;
tão de que dependa o reconhecimento da existência do III – na pendência de embargos de declaração ou de
crime; recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissí-
II – enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro. veis; e
IV – enquanto não cumprido ou não rescindido o
acordo de não persecução penal

Devemos nos lembrar que a prescrição é forma de extinção da punibilidade que se confi-
gura com o transcurso de lapso temporal legalmente previsto sem que o Estado tenha exer-
cido de forma satisfatória a sua pretensão punitiva.

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Podemos observar que a prescrição se fundamenta em algumas premissas:


• desnecessidade da pena depois de tanto tempo após o cometimento da infração penal;
• perda do caráter didático da sanção, já que passado tanto tempo do cometimento do
delito. Nesses casos, permaneceria unicamente o caráter sancionatório punitivo;
• falta de segurança jurídica. Caso não houvesse prazo legalmente definido para que o
Estado exercesse a sua pretensão punitiva, o Estado permaneceria ilimitadamente com
essa prerrogativa, fato que ofenderia a segurança jurídica, pois o investigado / proces-
sado passaria toda a vida com a dúvida de quando o Estado exercia essa pretensão.

A prescrição transcorre entre o período compreendido entre a data da consumação do


crime (em regra) e antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, trata-se da
prescrição da pretensão punitiva, ao passo que, com o trânsito em julgado para as partes em
diante, poderá ocorrer a prescrição da pretensão executória.
Desse modo, salvo as infrações previstas constitucionalmente como imprescritíveis,
as transgressões penais são passíveis de prescrição. Nesse sentido, faz-se necessária uma
pergunta: Quais são as infrações penais imprescritíveis?
• CF, art. 5º, XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, su-
jeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
• CF, art. 5º, XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos arma-
dos, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.

Seria possível ser criado pelo legislador infraconstitucional novas hipóteses de impres-
critibilidade?
A maioria da doutrina se posiciona no sentido negativo, tendo em vista que a prescrição
se constituiria como um direito fundamental do indivíduo, sua flexibilização somente seria
admitida em hipóteses originariamente previstas na Constituição.
Desse modo, voltando ao tema, temos duas espécies de prescrição na esfera penal:
• Prescrição da pretensão punitiva, a qual se divide em:
– Prescrição da pretensão punitiva propriamente dita;
– Prescrição da pretensão punitiva retroativa;

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– Prescrição da pretensão punitiva intercorrente / superveniente / subsequente;


• Prescrição da pretensão executória.

Terminada essa fase introdutória, passamos a tratar efetivamente das alterações imple-
mentadas pelo pacote anticrime. As alterações ocorreram especificamente nas causas sus-
pensivas da prescrição.
As chamadas causas suspensivas da prescrição suspendem o curso do prazo prescricio-
nal. Cessado o motivo da suspensão. O prazo prescricional retoma o seu curso, computando-
-se o período anterior.
O Código Penal Brasileiro originariamente previa duas hipóteses em que a suspensão fi-
caria suspensa:

Art. 116. Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre: (Redação dada pela
Lei n. 7.209, de 11.7.1984)
I – enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da exis-
tência do crime; (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984)
II – enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro; (Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019)

A primeira situação: enquanto não resolvida em outro processo questão de que dependa
o reconhecimento da existência do crime.
Essa hipótese trata das questões prejudiciais, ou seja, são hipóteses em que a própria
existência do delito depende da resolução de outra demanda. Exemplo comum citado pela
doutrina é o delito de bigamia. Nesses casos, o processo penal relativo ao delito ficará sus-
penso enquanto não resolvido no juízo cível a nulidade do casamento.
A segunda situação: enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.
Veja que aqui já tratamos a respeito da primeira alteração em nossa legislação. Retirou-
-se a expressão estrangeiro e a substituiu para estrangeiro. Acreditamos que não há altera-
ção substancial da norma, mas apenas correção terminológica.
Essa causa de suspensão se fundamenta pela impossibilidade de se extraditar agente
que cumpre pena no exterior, dessa forma, a pretensão executória do Estado brasileiro estaria
maculada.
Além dessa alteração terminológica, duas outras hipóteses suspensivas foram incluídas
em nosso ordenamento:

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Pendência de Embargos de Declaração ou Recursos aos Tribunais Superiores quando


Inadmissíveis

III  – na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando


inadmissíveis; e (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

A primeira hipótese trata de alguns recursos específicos. O objetivo desse trabalho não é
especificamente detalhar o recurso, mas tão somente explicar o motivo pelo qual o transcur-
so do prazo prescricional ficará suspenso.
A primeira hipótese trata dos Embargos de Declaração. A  legislação determina que na
pendência de julgamento de ED (embargos de declaração) não haverá transcurso do prazo
prescricional. Esse mandamento se justifica pela natureza desse instrumento. Os EDs têm a
função de esclarecer, sanar contradição ou mesmo omissão por parte do magistrado, assim,
ao menos em tese, não tem a função de alterar o mérito do julgado.
Desse modo, muitas vezes esse recurso é utilizado unicamente com objetivo protelatório.
Assim, por opção do legislador, não haverá transcurso do prazo prescricional na pendência do
julgamento de Embargos de Declaração quando eles não forem admitidos.
No mesmo sentido, não haverá o transcurso do prazo na pendência de julgamento de
recursos aos tribunais superiores (recurso especial e recurso extraordinário) quando esses
instrumentos forem declarados inadmissíveis.
Essa opção se justifica pela natureza dos referidos recursos. Tais instrumentos destinam
a discutir questões de direito e não de fato, razão pela qual a possibilidade de reforma do jul-
gamento encontra-se restrita a situações excepcionais.
Outro fator que justifica a opção é a demora encontrada no julgamento desses recursos,
fenômeno que favorecia litigantes que tivessem objetivo de protelar o trânsito em julgado da
decisão e com isso alcançar a extinção da punibilidade pela prescrição.
Ponto importante é a discussão sobre a expressão: quando inadmissíveis.
Entendemos que o legislador somente suspense a prescrição, ou seja, impede o seu trans-
curso entre a pendência do julgamento e a decisão que considera inadmissível os recursos e
os embargos de declaração. O julgamento dos recursos se dá, normalmente, em duas fases:
admissibilidade ou conhecimento e mérito.

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O legislador impede o transcurso do prazo justamente quando o recurso não é conhecido


ou admitido.
Nesse sentido:
O juízo de admissibilidade analisa se recurso atende os pressupostos formais exigidos
pela lei. Nesta fase, caso o recurso esteja de acordo com as normas, diz-se que o recurso foi
conhecido ou admitido.
Caso não contenha as preliminares necessárias, o  recurso não será conhecido, prejudi-
cando a análise do mérito, ou seja, o recurso morre antes mesmo de ser avaliado.
Já o juízo de mérito irá avaliar a matéria a qual o recurso desafia, ou seja, irá analisar as
razões e o pedido constante do recurso, que não se confunde com o mérito da causa propria-
mente dito.
Nesta fase diz-se que caso a decisão atacada seja mantida, diz-se que o recurso não foi
provido. Já, se a decisão é reformada, esclarecida, anulada ou cassada, diz-se que o recurso
foi provido6.
Assim, desde a proposição dos recursos especiais e extraordinários ou Embargos de De-
claração até a decisão que não conhece os referidos instrumentos não haverá transcurso do
prazo prescricional.
Enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal.
O acordo de não persecução penal trata-se de instituto de natureza processual que pos-
sibilita ao acusado confessar a praticado do crime e sofrer as sanções propostas pelo Mi-
nistério Público, possibilitando, assim, uma solução negociada no processo penal (justiça
negociada). O investigado confessa o crime, se sujeita às condições do acordo e ao final, caso
cumprido o acordo, vê extinta a punibilidade.
Segundo a doutrina7, é  a adoção pelo sistema brasileiro do chamado “plea bargaining”
Norte-Americano:

No plea bargaining norte-americano, o  imputado manifesta perante o Ministério Público sua de-
cisão de declarar-se culpado, aceitando as imputações acordadas, assim como a pena pactuada,
ao mesmo tempo em que renuncia a certas garantias processuais. Como explica Luiz Flávio Gomes,
6
https://ribeirooliveiraadvogados.jusbrasil.com.br/artigos/346961871/requisito-de-admissibilidade-de-um-recurso
no-ncpc
7
(Lima, 2017, p. 260)

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“uma vez que se dá conhecimento da acusação – qualquer que seja o crime – para o imputado,
pede-se o pleading, isto é, para se pronunciar sobre a culpabilidade; se se declara culpado (pleads
guilty) – se confessa – opera-se o plea, é dizer, a resposta da defesa e então pode o juiz, uma vez
comprovada a voluntariedade da declaração, fixar a data da sentença (sentencing), ocasião em que
se aplicará a pena (geralmente ‘reduzida’ – ou porque menos grave ou porque abrangerá menos
crimes -, em razão do acordo entre as partes), sem necessidade de processo ou veredito (trial ou
veredict); em caso contrário, abre-se ou continua o processo e entra em ação o jurado.

Com a reforma, poderá o Ministério Público propor ao investigado o acordo de não perse-
cução penal obedecidos os seguintes requisitos:
• confissão formal e circunstancial do investigado;
• infração penal sem violência ou grave ameaça;
• com a pena mínima inferior a 4 anos;
• necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.

Importante destacar, que segundo o §  1º, para fins de aferição da pena mínima, serão
consideradas as causas de aumento e diminuição de pena.
Cumpridos os requisitos, o acordo será oferecido mediante as seguintes condições, que
poderão ser ajustadas cumulativamente ou alternativamente:
• reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;
• renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como
instrumentos, produto ou proveito do crime;
• prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à
pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado
pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 (Código Penal);
• pagar prestação pecuniária, a  ser estipulada nos termos do art.  45 do Decreto-Lei n.
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a  entidade pública ou de interesse
social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como fun-
ção proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo
delito; ou
• cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde
que proporcional e compatível com a infração penal imputada.

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A Lei n. 13.964/2019 acrescenta ainda vedações em que o acordo não poderá ser cele-
brado:
• se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos
termos da lei;
• se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem con-
duta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações
penais pretéritas;
• ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infra-
ção, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional
do processo; e
• nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados con-
tra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.

Assim, de acordo com a redação do dispositivo legal, proposto acordo de não persecução
penal, durante a vigência do benefício, não haverá transcurso do prazo prescricional.
Essas foram as alterações realizadas na parte especial do Código Penal Brasileiro. Pas-
saremos a analisar, nesse momento, as alterações realizadas na parte especial do Código.

8. Alterações no Delito de Roubo


Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a
pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º – Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra
pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para
si ou para terceiro.
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: (Redação dada pela Lei n. 13.654, de 2018)
I – (revogado); (Redação dada pela Lei n. 13.654, de 2018)
II – se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III – se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV – se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou
para o exterior; (Incluído pela Lei n. 9.426, de 1996)
V  – se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. (Incluído pela Lei n.
9.426, de 1996)
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente,
possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela Lei n. 13.654, de 2018)
VII – se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca; (Incluído pela Lei n.
13.964, de 2019)

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§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluído pela Lei n. 13.654, de 2018)
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; (Incluído pela Lei n. 13.654,
de 2018)
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei n. 13.654, de 2018)
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito
ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. (Incluído pela Lei n. 13.964,
de 2019)
§ 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei n. 13.654, de 2018)
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído pela
Lei n. 13.654, de 2018)
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. (Incluído pela Lei n. 13.654,
de 2018)

Antes de tratarmos especificamente a respeito das mudanças operadas no delito de rou-


bo, passaremos por alguns pontos introdutórios sobre esse crime.

8.1. Bem Jurídico


Trata-se de crime pluriofensivo, ou seja, estamos a tratar daqueles crimes que ofendem
mais de um bem jurídico. Assim, há ofensa:
• ao patrimônio;
• integridade física, corporal e psicológica.

É pacífico na doutrina que os referidos delitos não admitem a aplicação do princípio da


insignificância, vejamos:

É inviável reconhecer a aplicação do princípio da insignificância para crimes praticados


com violência ou grave ameaça, incluindo o roubo’ (STF, RHC 106.360/ DF, (...) D)e de
3/10/2012)” (STJ, 5’ T., HC 339999, j. 23/02/2016).

8.2. Sujeitos
Sujeito Ativo

Em relação ao sujeito ativo do referido delito, trata-se de crime comum, ou seja, não se
exige nenhuma qualidade especial do sujeito ativo para o seu cometimento.

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É possível a aplicação de delação premiada no delito de roubo?


O artigo 13 da Lei 9.807/99, tratando da proteção aos réus colaboradores, elencou requi-
sitos para a concessão do perdão judicial. Entretanto, considerar indispensável a presença de
todos os requisitos indistintamente significa restringir a aplicação do benefício ao tipo penal
extorsão mediante sequestro, quando tal restrição não encontra respaldo na citada lei. Nessa
linha de entendimento, não há óbice à concessão de perdão na hipótese em apreço – rou-
bo circunstanciado, quando preenchidos os requisitos compatíveis com o citado tipo penal”
(STJ, 5’ T., AgRg no AREsp 157.685, j. 05/05/2015).

Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a con-
sequente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e
voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha
resultado:
I – a identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa;
II – a localização da vítima com a sua integridade física preservada;
III – a recuperação total ou parcial do produto do crime.
Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e
a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso.
Art.  14. O  indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o
processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do crime, na localização da
vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá
pena reduzida de um a dois terços.
Art.  15. Serão aplicadas em benefício do colaborador, na prisão ou fora dela, medidas especiais
de segurança e proteção a sua integridade física, considerando ameaça ou coação eventual ou
efetiva.
§ 1º Estando sob prisão temporária, preventiva ou em decorrência de flagrante delito, o colabora-
dor será custodiado em dependência separada dos demais presos.
§ 2º Durante a instrução criminal, poderá o juiz competente determinar em favor do colaborador
qualquer das medidas previstas no art. 8º desta Lei.
§ 3º No caso de cumprimento da pena em regime fechado, poderá o juiz criminal determinar me-
didas especiais que proporcionem a segurança do colaborador em relação aos demais apenados.

8.3. Roubo Próprio


Observe que o roubo próprio é a aquele em que a violência, grave ameaça ou redução da
capacidade de resistência da vítima é o meio utilizado para a subtração do bem móvel.
Veja que o roubo próprio pode ser cometido tanto por meio de violência própria ou por
meio de violência imprópria, vamos entender esses conceitos:

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A violência própria é a força bruta (vis absoluta ou corporalis), consistente em agressão


física. Pode resultar lesão corporal ou não. A grave ameaça consiste na chamada violência
moral, que se dá por meio de intimidação (vis relativa ou compulsiva). A grave ameaça pode
ser velada, como na hipótese de um indivíduo bem mais forte fisicamente abordar uma pes-
soa franzina e pedir que lhe entregue a carteira. Já a violência imprópria se configura quando,
por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência. Nesses casos, o agente retira
da vítima o seu poder de resistência (ex.: ingestão de drogas).
Há concurso de crimes se houver pluralidade de patrimônio e vítima única?
Nesses casos, haverá a configuração de crime único.

Não há se falar em concurso formal se o agente subtraiu os bens que estavam na posse
do cobrador de ônibus – R$ 30,00 (trinta reais) e um aparelho celular, além da quantia de
R$ 34,50 (trinta e quatro reais cinquenta centavos) pertencente à empresa de transporte
coletivo. 2. As  circunstâncias fáticas e a dinâmica do evento autorizam o reconheci-
mento de crime único, diante da evidência de que embora subtraídos patrimônios dis-
tintos, os mesmos estavam sob os cuidados de uma única pessoa, a qual sofreu a grave
ameaça. Irrelevante perquirir se o cobrador era ou não o proprietário de todas as coisas
subtraídas.” (STJ, 5ª T., AgRg no REsp 1396144, j. 23/10/2014).

E se for cometido roubo contra diversas vítimas em um mesmo contexto fático?


Nesses casos, o posicionamento prevalente é de concurso formal próprio de crimes, quan-
do os delitos forem praticados nessas circunstâncias.

O Superior Tribunal de Justiça também tem sólida jurisprudência sobre o tema, con-
forme o seguinte precedente:
‘(…).1. Praticado o crime de roubo em um mesmo contexto fático, mediante uma só
ação, contra vítimas diferentes, tem-se configurado o concurso formal de crimes, e não
a ocorrência de crime único, visto que violados patrimônios distintos. Precedentes. 2.
O paciente, mediante uma só ação, subtraiu bens pertencentes a vítimas diversas, o que
evidencia a multiplicidade de resultados e, consequentemente, a  ocorrência de con-
curso formal de crimes. (…).(HC 328.789/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, Rel. p/ Acórdão Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
08/09/2015, DJe 05/10/2015).

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Esse entendimento parece ter sido reafirmado em 2018 pelo STJ, vejamos:

Caracteriza-se o concurso formal de crimes quando praticado o roubo, mediante uma


só ação, contra vítimas distintas, pois atingidos patrimônios diversos. Precedentes. (HC
459.546/SP, j. 13/12/2018)

Se o objetivo do agente for subtrair um único patrimônio e, para isso, o agente emprega a
violência contra diversas pessoas?
Nesse caso, ainda assim, estará configurado crime único.

No delito de roubo, se a intenção do agente é direcionada à subtração de um único patri-


mônio, estará configurado crime único, ainda que, no modus operandi, seja utilizada vio-
lência ou grave ameaça contra mais de uma pessoa. 2. Se o agente utiliza grave ameaça
ou violência (própria ou imprópria) simultaneamente contra duas ou mais pessoas, mas
subtrai bens pertencentes a apenas uma delas, responde por um só crime de roubo(…)”
(STJ. 6º T. AgRg no REsp 1490894, j. 10/02/2015).

8.4. Roubo Impróprio


Trata-se da figura prevista no § 1º do artigo 157, Código Penal, vejamos:

§  1º Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra
pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para
si ou para terceiro.

Essa figura criminosa é o denominado roubo impróprio ou ainda chamado de roubo por
aproximação. Nessa modalidade, o agente após a subtração do patrimônio emprega violên-
cia própria ou grave ameaça contra a pessoa com a finalidade de assegurar a impunidade do
crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.

8.5. Elemento Subjetivo


Trata-se de delito somente praticável na modalidade dolosa.
Exige-se elemento subjetivo específico, ou seja, a  vontade de ser tornar dono, também
denominado de animus de assenhoramento. Não se admite a tese de roubo de uso.

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No roubo impróprio, é exigida vontade de garantir a impunidade do crime ou a detenção da


coisa para si ou para terceiro.

8.6. Consumação
Em relação a consumação, exige-se os mesmos elementos previstos para o crime de
furto. Desse modo a doutrina e jurisprudência tem entendido que a consumação ocorre no
momento da inversão da posse, ainda que por curto espaço de tempo e ainda que o agente
não tenha obtido a posse mansa e pacífica.
É admissível a tentativa?
Roubo Próprio  Em relação a essa modalidade é pacífica a possibilidade de tentativa.
Roubo Impróprio  Já em relação ao roubo impróprio, há sérias divergências na doutrina
e jurisprudência:
1º Corrente: Não é admissível, considerando que a violência ou é empregada após a sub-
tração e o crime estará consumado, ou não haverá o emprego da violência ou grave ameaça,
quando então não haverá a configuração do delito de roubo. Nesse sentido, Damásio e Capez.
2º Corrente: Seria admissível a tentativa quando o agente tentasse aplicar a violência ou
grave ameaça para assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa, mas não con-
segue por circunstâncias alheias a sua vontade. Nesse sentido, Fragoso.
Acredito que para provas objetivas, o primeiro posicionamento seja mais seguro.

8.7. Roubo Majorado


As alterações realizadas pelo pacote anticrime incidem justamente nesse ponto, vejamos
as alterações.

§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: (Redação dada pela Lei n. 13.654, de 2018)
I – (revogado); (Redação dada pela Lei n. 13.654, de 2018)
II – se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III – se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV – se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou
para o exterior; (Incluído pela Lei n. 9.426, de 1996)
V  – se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. (Incluído pela Lei n.
9.426, de 1996)

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VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente,


possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela Lei n. 13.654, de 2018)
VII – se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca; (Incluído pela Lei n.
13.964, de 2019)
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluído pela Lei n. 13.654, de 2018)
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; (Incluído pela Lei n. 13.654,
de 2018)
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei n. 13.654, de 2018)
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito
ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. (Incluído pela Lei n. 13.964,
de 2019).

Para entendermos especificamente as mudanças realizadas devemos inicialmente tratar


sobre as alterações realizadas pela 13.654/18.
Essa legislação alterou o § 2º, I, CP, justamente a hipótese em que a pena do roubo era
majorada de 1/3 a 1/2 se o delito fosse praticado mediante o emprego de arma. Dessa forma,
após a legislação, a redação do dispositivo foi realizada da seguinte forma:

Art. 157, § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):


I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum.

Repare de novo no inciso I acima.


O roubo com emprego de arma de fogo deixou de ser previsto no inciso I do §  2º, mas
continua a ser punido agora no inciso I do § 2º-A.
Desse modo, quanto à arma de fogo não houve abolitio criminis, mas sim continuidade
normativo-típica. O referido princípio se aplica “quando uma norma penal é revogada, mas a
mesma conduta continua sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal con-
tinua tipificada em outro dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente diverso
do originário.” (Min. Gilson Dipp, em voto proferido no HC 204.416/SP).
Desse modo, para as pessoas que foram condenadas por roubo com emprego de arma
de fogo antes da Lei n. 13.654/2018, nada muda. Já que a referida norma penal, naquilo que
diz respeito a arma de fogo, é lei penal maléfica, a qual não possui o condão de retroagir para
atingir situações anteriores a sua vigência.

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A problemática fica justamente naquilo que diz respeito a novatio legis in mellius para
roubo com emprego de arma que não seja de fogo, pois como vimos, o roubo “com emprego
de arma” deixou de ser uma hipótese de roubo circunstanciado no art. 157, § 2º. Agora, o rou-
bo com emprego de arma de fogo passou a ser tratado no artigo 157, § 2º-A, inciso I:

Art. 157, § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):


I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;

Ocorre que o roubo com o emprego de arma “branca” não era mais punido como roubo
circunstanciado. Tratava-se, em princípio, de roubo simples (art. 157, caput). Foi justamente
no sentido de corrigir essa discrepância que o legislador previu nova causa de aumento de
pena quando o roubo for praticado com o emprego de arma branca, vejamos:

§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:


VII – se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca; (Incluído pela Lei n.
13.964, de 2019)

Desse modo, hoje temos três hipóteses que devem ser diferenciadas:
• roubo praticado mediante o emprego de arma branca: causa de aumento de 1/3 a ½;
• roubo praticado com emprego de arma de fogo de uso permitido: causa de aumento de
pena de 2/3;
• roubo praticado com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido: aplica-se
em dobro a pena prevista no caput.

§ 2º-B Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito
ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. (Incluído pela Lei n. 13.964,
de 2019)

9. Alterações no Delito de Estelionato


Art. 171, § 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:
I – a Administração Pública, direta ou indireta;
II – criança ou adolescente;
III – pessoa com deficiência mental; ou
IV – maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. (NR)

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A alteração em relação ao delito de estelionato trata especificamente da titularidade da


ação penal. O crime era de ação penal pública incondicionada e passou a ser tratado, em re-
gra, como crime de ação penal pública condicionada à representação.
Inicialmente, pergunta-se: trata-se de alteração de ordem penal ou de ordem processual?
Essa pergunta é relevante já que se definirmos que a norma é penal e for considerada
benéfica, terá retroatividade e deverá ser aplicada as ações penais em curso. Assim, aque-
las pessoas que se encontram processadas pelo delito de estelionato deverão ter em seus
processos a aplicação da referida norma, havendo a necessidade de ocorrer a representação
como condição de prosseguibilidade do processo.
Por outro lado, se entendermos que a norma possui caráter processual, a aplicação será
imediata e sem retroatividade, somente se aplicando aos delitos de estelionato ocorridos
após a entrada em vigor da referida legislação ou àqueles processos que estejam nessa fase
processual.
Assim, respondendo ao questionamento, a referida norma possui caráter híbrido, penal e
processual, e, nesses casos, há de prevalecer a sua vertente penal. Desse modo, entendemos
que há de existir representação em todos os processos em curso para que o procedimento
possa continuar a se desenvolver de forma hábil.
O legislador não previu prazo para que essa representação ocorra, entendemos que se
deve então aplicar as regras gerais previstas no Código de Processo Penal: 06 meses conta-
dos da data da entrada em vigor da legislação.
Caso não ocorra a representação nesse prazo, haverá a extinção da punibilidade pela de-
cadência.
É muito importante observar que o legislador, mesmo no estelionato, ainda continuou a
prever situações em que a ação penal nesse delito continua a ser crime de ação penal pública
incondicionada, vejamos essas hipóteses:

§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:


I – a Administração Pública, direta ou indireta;
II – criança ou adolescente;
III – pessoa com deficiência mental; ou
IV – maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. (NR)

Nessas hipóteses, a ação penal continua a ser pública incondicionada.

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10. Alteração da Pena em Relação ao Delito de Concussão


Art. 316, Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (NR)

A última alteração é bastante simples, majorou a pena em relação ao delito de concussão.

Assim, considerando o caráter maléfico da norma penal, trata-se de lei penal irretroativa.

Alterações Referentes ao Código de Processo Penal

11. Medidas Suspensas pela ADI 6298


Medidas cautelares concedidas para suspender sine die a eficácia:
(a) Da implantação do juiz das garantias e seus consectários (Artigos 3º-A, 3º-B, 3º-C,
3º-D, 3ª-E, 3º-F, do Código de Processo Penal);
(b) Da alteração do juiz sentenciante que conheceu de prova declarada inadmissível
(157, § 5º, do Código de Processo Penal);
(c) Da alteração do procedimento de arquivamento do inquérito policial (28, caput, Código
de Processo Penal); e
(d) Da liberalização da prisão pela não realização da audiência de custódia no prazo de
24 horas (Artigo 310, § 4º, do Código de Processo Penal);

Apesar da suspensão dos referidos dispositivos, optamos por manter o tratamento dos
referidos dispositivos legais. Vamos lá?

12. Do Juiz de Garantias

12.1. Introdução

Antes de iniciarmos a análise do dispositivo, importante destacar que o mesmo encontra-


-se suspendo em decorrência de medida cautelar na ADI 6298, de relatoria do Min. Luiz Fux.

DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO PROCESSUAL PENAL. ART. 3º-A, 3º-B, 3ºC, 3º-D,
3º-E e 3º-F DO CPP. JUIZ DAS GARANTIAS. REGRA DE ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA.

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INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. ARTIGO 96 DA CONSTITUIÇÃO. INCONSTITUCIO-


NALIDADE MATERIAL. AUSÊNCIA DE DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA PRÉVIA. ARTIGO 169
DA CONSTITUIÇÃO. AUTONOMIA FINANCEIRA DO PODER JUDICIÁRIO. ARTIGO 96 DA
CONSTITUIÇÃO. IMPACTO SISTÊMICO. ARTIGO 28 DO CPP. ALTERAÇÃO REGRA ARQUI-
VAMENTO. ARTIGO 28-A DO CPP. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL. SISTEMA DE
FREIOS E CONTRAPESOS ENTRE ACUSAÇÃO, JUIZ E DEFESA. ARTIGO 310, § 4º, DO CPP.
RELAXAMENTO AUTOMÁTICO DA PRISÃO. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA. PROPORCIONA-
LIDADE. FUMUS BONI IURIS. PERICULUM IN MORA. MEDIDAS CAUTELARES PARCIAL-
MENTE DEFERIDAS.
1. A  jurisdição constitucional, como atividade típica deste Supremo Tribunal Federal,
diferencia-se sobremaneira das funções legislativa e executiva, especialmente em rela-
ção ao seu escopo e aos seus limites institucionais. Ao contrário do Poder Legislativo
e do Poder Executivo, não compete ao Supremo Tribunal Federal realizar um juízo emi-
nentemente político do que é bom ou ruim, conveniente ou inconveniente, apropriado
ou inapropriado. Ao  revés, compete a este Tribunal afirmar o que é constitucional ou
inconstitucional, invariavelmente sob a perspectiva da Carta da 1988.
2. A medida cautelar na ação direta de inconstitucionalidade tem escopo reduzido, sob
pena de prejudicar a deliberação a ser realizada posteriormente pelo Plenário da corte.
Consectariamente, salvo em hipóteses excepcionais, a medida cautelar deve ser rever-
sível, não podendo produzir, ainda que despropositadamente, fato consumado que crie
dificuldades de ordem prática para a implementação da futura decisão de mérito a ser
adotada pelo Tribunal, qualquer que seja o teor. Fixadas essas premissas, impende escla-
recer que foram propostas as ADI 6.298, 6.299, 6.300 e 6305, cujo objeto de impugnação
são os seguintes dispositivos: (a) Artigos 3º-A a 3º-F do Código de Processo Penal, na
redação concedida pela Lei n. 13.964/2019 (Juiz das garantias e normas correlatas):
(a1) O juiz das garantias, embora formalmente concebido pela lei como norma proces-
sual geral, altera materialmente a divisão e a organização de serviços judiciários em
nível tal que enseja completa reorganização da justiça criminal do país, de sorte que
inafastável considerar que os artigos 3º-A a 3º-F consistem preponderantemente em
normas de organização judiciária, sobre as quais o Poder Judiciário tem iniciativa legis-
lativa própria (Art. 96 da Constituição);
(a2) O juízo das garantias e sua implementação causam impacto financeiro relevante ao
Poder Judiciário, especialmente com as necessárias reestruturações e redistribuições

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de recursos humanos e materiais, bem como com o incremento os sistemas processu-


ais e das soluções de tecnologia da informação correlatas;
(a3) A ausência de prévia dotação orçamentária para a instituição de gastos or parte da
União e dos Estados viola diretamente o artigo 169 da Constituição e prejudica a auto-
nomia financeira do Poder Judiciário, assegurada pelo artigo 99 da Constituição;
(a4) Deveras, o  artigo 113 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, acres-
centado pela Emenda Constitucional n. 95/2016, determina que “[a] proposição legisla-
tiva que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser acompa-
nhada da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro”;
(a5) É cediço em abalizados estudos comportamentais que, mercê de os seres humanos
desenvolverem vieses em seus processos decisórios, isso por si só não autoriza a apli-
cação automática dessa premissa ao sistema de justiça criminal brasileiro, criando-se
uma presunção generalizada de que qualquer juiz criminal do país tem tendências que
favoreçam a acusação, nem permite inferir, a  partir dessa ideia geral, que a estratégia
institucional mais eficiente para minimizar eventuais vieses cognitivos de juízes crimi-
nais seja repartir as funções entre o juiz das garantias e o juiz da instrução;
(a6) A complexidade da matéria em análise reclama a reunião de melhores subsídios
que indiquem, acima de qualquer dúvida razoável, os reais impactos do juízo das garan-
tias para os diversos interesses tutelados pela Constituição Federal, incluídos o devido
processo legal, a duração razoável do processo e a eficiência da justiça criminal;
(a7) Medida cautelar concedida, para suspensão da eficácia dos artigos 3º-A a 3º-F do
Código de Processo Penal (Inconstitucionalidades formal e material);
(b) Artigo 157, § 5º, CPP (Alteração do juiz natural que conheceu prova declarada inad-
missível):
(b1) Os princípios da legalidade, do juiz natural e da razoabilidade restam violados pela
proibição de o juiz que conheceu a prova declarada inadmissível proferir sentença.
A ausência de elementos claros e objetivos para a seleção do juiz sentenciante permite
eventual manipulação da escolha do órgão julgador, conduzindo à inconstitucionalidade
a técnica eleita legislativamente;
(b2) Medida cautelar concedida, para suspensão da eficácia do artigo 157, §  5º, do
Código de Processo Penal (Inconstitucionalidade material);
(c) Artigo 28, caput, Código de Processo Penal (Alteração do procedimento de arquiva-
mento do inquérito policial):

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(c1) Viola as cláusulas que exigem prévia dotação orçamentária para a realização de
despesas (Artigo 169, Constituição), além da autonomia financeira dos Ministérios
Públicos (Artigo 127, Constituição), a  alteração promovida no rito  de arquivamento do
inquérito policial, máxime quando desconsidera os impactos sistêmicos e financeiros ao
funcionamento dos órgãos do parquet;
(c2) A previsão de o dispositivo ora impugnado entrar em vigor em 23.01.2020, sem que
os Ministérios Públicos tivessem tido tempo hábil para se adaptar estruturalmente à
nova competência estabelecida, revela a irrazoablidade da regra, inquinando-a com o
vício da inconstitucionalidade. A  vacatio legis da Lei n. 13.964/2019 transcorreu inte-
gralmente durante o período de recesso parlamentar federal e estadual, o que impediu
qualquer tipo de mobilização dos Ministérios Públicos para a propositura de eventuais
projetos de lei que venham a possibilitar a implementação adequada dessa nova siste-
mática;
(c3) Medida cautelar deferida, para suspensão da eficácia do artigo 28, caput, do Código
de Processo Penal;
(d) Artigo 28-A, inciso III e IV, e § § § 5º, 7º, 8º do Código de Processo Penal (Acordo de
Não Persecução Penal):
(d1) A possibilidade de o juiz controlar a legalidade do acordo de não persecução penal
prestigia o sistema de “freios e contrapesos” no processo penal e não interfere na auto-
nomia do membro do Ministério Público (órgão acusador, por essência);
(d2) O magistrado não pode intervir na redação final da proposta de acordo de não per-
secução penal de modo a estabelecer as suas cláusulas. Ao revés, o juiz poderá (a) não
homologar o acordo ou (b) devolver os autos para que o parquet – de fato, o legitimado
constitucional para a elaboração do acordo – apresente nova proposta ou analise a
necessidade de complementar as investigações ou de oferecer denúncia, se for o caso;
(d3) Medida cautelar indeferida;
(e) Artigo 310, § 4º, Código de Processo Penal (Ilegalidade da prisão pela não realização
da audiência de custódia no prazo de 24 horas):
(e1) A ilegalidade da prisão como consequência jurídica para a não realização da audi-
ência de custódia no prazo de 24 horas fere a razoabilidade, uma vez que desconsidera
dificuldades práticas locais de várias regiões do país, bem como dificuldades logísticas
decorrentes de operações policiais de considerável porte. A categoria aberta “motivação

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idônea”, que excepciona a ilegalidade da prisão, é demasiadamente abstrata e não for-


nece baliza interpretativa segura para aplicação do dispositivo;
(e2) Medida cautelar concedida, para suspensão da eficácia do artigo 310, §  4º, do
Código de Processo Penal (Inconstitucionalidade material).
4. Medidas cautelares concedidas para suspender sine die a eficácia: (a) Da implanta-
ção do juiz das garantias e seus consectários (Artigos 3º-A, 3º-B, 3º-C, 3º-D, 3ª-E, 3º-F,
do Código de Processo Penal); (b) Da alteração do juiz sentenciante que conheceu de
prova declarada inadmissível (157, § 5º, do Código de Processo Penal); (c) Da alteração
do procedimento de arquivamento do inquérito policial (28, caput, Código de Processo
Penal); e(d) Da liberalização da prisão pela não realização da audiência de custódia no
prazo de 24 horas (Artigo 310, § 4º, do Código de Processo Penal);
5. A  concessão desta medida cautelar não interfere nem suspende os inquéritos e os
processos em curso na presente data.

Por muito tempo a doutrina teceu duras críticas quanto ao sistema acusatório brasileiro,
previsto no Art.  129, I, da CRFB, que entregou ao Ministério Público a titularidade da ação
penal, apresentando, ao menos em tese, separação da atividade de julgar, acusar e defender,
própria dos sistemas acusatórios democráticos.
O que parece ter passado desapercebido (ou não), foi justamente um ponto central na dis-
tinção entre o sistema inquisitório (juiz inquisidor) e o sistema acusatório (juiz expectador),
a gestão da prova.
Antes da reforma objeto da nossa análise, apesar da doutrina majoritária e da jurispru-
dência afirmarem que o sistema adotado no Brasil era o sistema acusatório, com base no
Art.129, I, da CRFB, o código de processo delegava ao juiz amplos poderes probatórios, até
mesmo antes de iniciada a ação penal, o que, na prática, representava um resquício do siste-
ma inquisitório.
Como bem citou Nestor Távora8

O Código então centralizou no juiz a gestão da prova, com a possibilidade de sua produção sem
necessidade de provocação das partes, conferindo-lhe poderes como os de iniciar ação penal atra-
vés do procedimento denominado judicialiforme (sem observar o princípio ne procedat iudex ex officio ),
8
(Nestor Távora; Rosmar R. Alencar, 2017, p. 55)

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de controlar a função investigatória mediante a fiscalização do arquivamento do inquérito policial


e de modificar não só a capitulação dada ao fato imputado pelo Ministério Público ( emendatio
libelli), mas também o de tomar a iniciativa para dar novo enquadramento jurídico ao fato narrado,
provocando o órgão acusatório a aditar a inicial (mutatio libelli).
Essas características do sistema inquisitório ainda encontram ressonância nas reformas que so-
freu o Código de Processo Penal a partir de 2008, notadamente no que se refere à gestão probató-
ria, eis que o seu art. 156, inciso I, confere ao magistrado, notadamente, a possibilidade de ordenar,
de ofício, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção de provas consideradas urgentes e
relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida.

Então esse era o panorama, um sistema teoricamente acusatório com resquícios do sis-
tema inquisitório. A doutrina majoritária e a jurisprudência diziam que o sistema era o acusa-
tório puro, entretanto não sabíamos explicar o porquê o juiz tinha a gestão da prova. Era um
gato vestido de cachorro, com nome, coleira e tudo mais, só que, na prática da nossa justiça
criminal, voltada basicamente para controle da criminalidade de baixa renda, o “cachorro” não
latia.
Um outro ponto importante nessa discussão, era a possibilidade de o juiz tomar conhe-
cimento (decidir) quanto a medidas cautelares, receber o inquérito policial para decidir sobre
a dilação de prazo e, ainda assim, continuar competente para julgar a ação penal. A doutrina
sempre criticou a contaminação do juiz, que teria a oportunidade de tomar (formar) conheci-
mento antes mesmo do início da ação penal.
Na doutrina considerada garantista, já se falava na necessidade de um juiz das garantias,
no mesmo sentido é o entendimento do Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Doutor Na-
poleão Nunes Maia Filho9 :

Com efeito, é quase uma obviedade dizer-se que o juiz do Crime exercer atividades cumulativas, na
fase pré– processual e na jurisdicional que lhe é subsequente, o faz perder a isenção para criticar
e controlar a denúncia que depois se formule com base nos elementos cuja produção se realizou
sob o seu controle na primeira etapa da persecução, bem como – principalmente – para emitir
julgamento sobre o mérito da lide penal.

No mesmo sentido defende Paulo Rangel10 em sua obra:

Diante da necessidade de se preservar ao máximo a imparcialidade do órgão jurisdicional é que


defendemos a criação do “juiz das garantias”, isto é, de um juiz que atuaria na fase do inquérito
9
(Napoleão Nunes Maia Filho; Ceará: O Curumim Sem Nome, 2010, p. 160)
10
(Rangel, 2019, p. 139)

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apenas para analisar os pedidos de medida cautelar real ou pessoal diferente do juiz que irá exercer
eventual juízo de admissibilidade da pretensão acusatória. Um juiz que atuaria apenas na fase de
investigação.
Encerrada a fase de investigação, seja através de inquérito policial ou de quaisquer peças de infor-
mação, esse juiz sai de cena e eventual denúncia seria apresentada a outro magistrado, que não
teve contato com a colheita das informações. A finalidade primordial é garantir que o julgador não
se contamine com o que foi apurado na fase de colheita de informações para manter a imparciali-
dade e julgar apenas de acordo com o que está nos autos do processo. O ideal, mas aí já é sonhar
demais, é que o inquérito ou a peça de informação seja retirado dos autos do processo e apensado,
lacrado a este, permitindo apenas que as provas não repetíveis, cautelares ou antecipadas cons-
tem dos autos do processo.

Atendendo às críticas da doutrina, alguns projetos de lei incluíram em seus textos a figura
do juiz das garantias, que é o juiz responsável para atuar na fase pré-processual, evitando as-
sim, que o juiz que tenha contato com elementos de prova colhidos em procedimento investi-
gatório administrativo, possa se contaminar, formando um pré-julgamento, antes mesmo de
iniciada a instrução processual.
O mais famoso dos projetos de lei, objeto inclusive de obras jurídicas, tamanha a fé na sua
aprovação, foi o PLS 156/2009, que elencou entre os Arts. 15 a 18, a competência do juiz das
garantias, texto que serviu de base para reforma advinda da chamada de Lei Anticrime.
A necessidade da separação do juiz que atua na instrução e do juiz que atua na fase pré-
-processual decorre do princípio da presunção de inocência, que possui duas dimensões11 :
Na dimensão interna, é um dever de tratamento imposto – inicialmente – ao juiz, determi-
nando que a carga da prova seja inteiramente do acusador (pois, se o réu é inocente, não pre-
cisa provar nada) e que a dúvida conduza inexoravelmente à absolvição; ainda na dimensão
interna, implica severas restrições ao (ab)uso das prisões cautelares (como prender alguém
que não foi definitivamente condenado?).
Externamente ao processo, a presunção de inocência exige uma proteção contra a publi-
cidade abusiva e a estigmatização (precoce) do réu. Significa dizer que a presunção de ino-
cência (e também as garantias constitucionais da imagem, dignidade e privacidade) deve ser
utilizada como verdadeiros limites democráticos à abusiva exploração midiática em torno do
fato criminoso e do próprio processo judicial. O bizarro espetáculo montado pelo julgamento
midiático deve ser coibido pela eficácia da presunção de inocência.
11
(Jr, 2016, p. 84)

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Assim, o objetivo da reforma, ao trazer a figura do juiz das garantias, é garantir ao acusado
um julgamento imparcial, sem que o juiz que o julgará tenha tido qualquer tipo de contato com
os elementos colhidos na fase pré-processual. Como bem observa Aury Lopes Jr12, é garantir
um verdadeiro estado de alheamento:

Podemos extrair da presunção de inocência que a formação do convencimento do juiz deve ser
construído em contraditório (Fazzalari), orientando-se o processo, portanto, pela estrutura acusa-
tória que impõe a estrutura dialética e mantém o juiz em estado de alheamento (rechaço à figura
do juiz inquisidor – com poderes investigatórios/instrutórios – e consagração do juiz de garantias
ou garantidor).

12.2. Da Disciplina Normativa

Pois bem, feita a introdução, vamos passar à análise dos artigos do código de processo
penal após a reforma:

12.2.1. Vedação ao Atuar de Ofício do Juiz na Fase Pré-Processual e a Revo-


gação Tácita do Art. 20 da Lei n. 11.340/2006

Art. 3º-A O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de inves-
tigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.

O novo Art.3º-A do CPP, ampliou uma mudança de pensamento já trazida pela lei 12403/11,
que passou a vedar a decretação da prisão preventiva de ofício na fase pré-processual.
Com a nova alteração, fica vedada qualquer atuação de ofício do juiz na fase pré-proces-
sual, seja para decretar medidas cautelares de natureza real ou probatória (as medidas cau-
telares de natureza pessoal já eram vedadas pelo Art. 282, § 2º do CPP).
A questão que certamente levantará debates na doutrina e na jurisprudência é a possível
revogação do Art. 20 da L. 11340/06, que prevê a possibilidade de o juiz decretar a prisão pre-
ventiva durante o inquérito policial.

Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva
do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante repre-
sentação da autoridade policial.

12
(Jr, 2016)

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Mesmo com o advento do Art.282, § 2º do CPP, trazido pela lei 12403/11, a doutrina ma-
joritária afirmava que o Art. 20 da L. 11340/06 não teria sido revogado tacitamente, em razão
do princípio da especialidade. Em artigo publicado na Carta Forense, a Professora Alice Bian-
chini13 sustenta:

A principal justificativa para entender que o art. 20 não sofreu qualquer alteração baseia-se no fato
de ser, a Lei Maria da Penha, norma especial, e, por conta disso, é ela que deve prevalecer sobre
a regra geral (do CPP). É  nesse sentido o posicionamento de Rui Porto14 e de Andrey Borges de
Mendonça15 .

Em sentido contrário, sustentando a revogação do Art.20 da L. 11340/06 (Eugênio Pacelli,


Aury Lopes Júnior, Paulo Rangel, Nestor Távora, entre outros). Apesar da discussão na doutri-
na, o Art. 20 da L.11340/06 continuou sendo aplicado validamente.

Ora, se a lei anticrime trouxe modificações gerais no CPP, exatamente como a lei 12403/11,
o que nos faz discutir novamente o Art. 20 da L.11340/06? Não permaneceria uma norma
especial, professor?

Para entender melhor o tema, precisamos lembrar da solução dada pelos Tribunais Supe-
riores quando tratou do interrogatório como último ato da instrução.
A lei 11719/08, alterou o Art. 400 do CPP, fixando o interrogatório como último ato da ins-
trução:

Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta)


dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas
pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem
como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas,
interrogando-se, em seguida, o acusado. (Redação dada pela Lei n. 11.719, de 2008).

O problema é que deixou de alterar os dispositivos nas leis especiais que previam procedi-
mentos, como a lei de drogas (L.11343/06), código de processo penal militar, procedimentos
originários dos tribunais (L.8038/90) e lei de licitações (L.8666/93).
13
Prisão preventiva de ofício na Lei Maria da Penha: posição favorável (http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/
prisao-preventiva-de-oficio-na-lei-maria-da-penha-posicao-favoravel/18147#_ftn1. Acessado em 23/12/2019).
14
(Porto, 2012, p. 79)
15
(Mendonça, 2016, p. 452)

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Imediatamente surgiu na doutrina a discussão se a L. 11719/08 teria ou não revogado tais


dispositivos, o que inicialmente foi rechaçado pela jurisprudência, que em razão do princípio
da especialidade, continuou a aplicar as leis especiais e o interrogatório como primeiro ato da
instrução.
O argumento contrário era que, as leis especiais que tratavam do interrogatório no início
da instrução, apenas reproduziram o modelo até então vigente, ou seja, eram reflexo do pro-
cedimento estabelecido no próprio código de processo penal e, com a sua mudança, deveriam
também passar a reproduzir o novo modelo, qual seja, o  interrogatório como último ato da
instrução. Por todos, cito a posição do Aury Lopes Jr16:

Por isso, sustentamos que a Lei n. 11.343 deve contemplar os novos institutos inseridos pela re-
forma processual de 2008, com possibilidade de absolvição sumária após a resposta à acusação
(defesa escrita) e, principalmente, deslocando-se o interrogatório para o último ato da instrução.
Tal adequação é necessária à luz do disposto no art. 394, § § 4º e 5º, do CPP, que determinam apli-
cação dos novos dispositivos a todos os procedimentos de primeiro grau, ainda que não regulados
pelo CPP.

Paulatinamente, a jurisprudência foi mudando de entendimento e passou a entender que


o interrogatório é o último ato da instrução:

Processo penal militar e interrogatório ao final da instrução. A exigência de realização do


interrogatório ao final da instrução criminal, conforme o art. 400 do CPP, é aplicável no
âmbito de processo penal militar. Essa a conclusão do Plenário, que denegou a ordem
em habeas corpus no qual pleiteada a incompetência da justiça castrense para proces-
sar e julgar os pacientes, lá condenados por força de apelação. A defesa sustentava que
eles não mais ostentariam a condição de militares e, portanto, deveriam se submeter
à justiça penal comum. Subsidiariamente, alegava que o interrogatório realizado seria
nulo, pois não observado o art. 400 do CPP, na redação dada pela Lei 11.719/2008, mas
sim o art. 302 do CPPM. No que se refere à questão da competência, o Colegiado assi-
nalou que se trataria, na época do fato, de soldados da ativa. De acordo com o art. 124
da CF e com o art.  9º, I, “b”, do CPM, a  competência seria, de fato, da justiça militar.
Por outro lado, o Tribunal entendeu ser mais condizente com o contraditório e a ampla
defesa a aplicabilidade da nova redação do art. 400 do CPP ao processo penal militar.
16
(Jr, 2016, p. 650)

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Precedentes com o mesmo fundamento apontam a incidência de dispositivos do CPP,


quando mais favoráveis ao réu, no que diz respeito ao rito da Lei 8.038/1990. Além disso,
na prática, a justiça militar já opera de acordo com o art. 400 do CPP. O mesmo também
pode ser dito a respeito da justiça eleitoral. Entretanto, o  Plenário ponderou ser mais
recomendável frisar que a aplicação do art. 400 do CPP no âmbito da justiça castrense
não incide para os casos em que já houvera interrogatório. Assim, para evitar possí-
vel quadro de instabilidade e revisão de casos julgados conforme regra estabelecida
de acordo com o princípio da especialidade, a tese ora fixada deveria ser observada a
partir da data de publicação da ata do julgamento. O Ministro Marco Aurélio, por sua vez,
também denegou a ordem, mas ao fundamento de que a regra geral estabelecida no CPP
não incidiria no processo penal militar. A aplicação subsidiária das regras contidas no
CPP ao CPPM somente seria admissível na hipótese de lacuna deste diploma, e o CPPM
apenas afasta a aplicação das regras nele contidas se houvesse tratado ou convenção
a prever de forma diversa, o que não seria o caso. HC 127900/AM, rel. Min. Dias Toffoli,
3.3.2016. (HC-127900)
“EMENTA: PROCESSUAL PENAL. AÇÃO PENAL. INSTRUÇÃO CRIMINAL. REALIZAÇÃO
DO INTERROGATÓRIO DO RÉU AO FINAL. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA
DEFESA. JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PROVIMENTO DO
AGRAVO. 1. O  art.  7º da Lei n. 8.038/1990 determina que “recebida a denúncia ou a
queixa, o relator designará dia e hora para o interrogatório, mandando citar o acusado
ou querelado e intimar o órgão do Ministério Público, bem como o querelante ou o assis-
tente, se for o caso”. A interpretação literal do comando normativo é no sentido de que
o interrogatório do réu, nos processos de competência originária do Supremo Tribunal
Federal, deve ser o ato inaugural da instrução processual penal. 2. No entanto, o disposi-
tivo não se coaduna com os princípios do contraditório e da ampla defesa, que impõem
a realização do ato apenas ao término da instrução. 3. Nesse sentido é o entendimento
do Pleno e dessa 1 ª Turma (AP 528 AgR, Rei. Min. RICARDO LEW ANDOWSKI, Tribunal
Pleno, DJe de 8/6/2011). (AP 988 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURELIO, Relator(a) p/
Acórdão: Min. ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 04/04/2017, ACÓR-
DÃO ELETRÔNICO DJe-101 DIVULG 15-05-2017 PUBLIC 16-05-2017). 4. Provimento
do Agravo para reformar a decisão agravada, determinando que a instrução processual
penal se inicie com a oitiva das testemunhas arroladas pela acusação, realizando-se

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o interrogatório ao final.(AP 1027 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/


Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 02/10/2018, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-227 DIVULG 24-10-2018 PUBLIC 25-10-2018).

No mesmo sentido o STJ:

(…) 1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC n. 127.900/AM, deu nova con-


formidade à norma contida no art. 400 do CPP (com redação dada pela Lei n. 11.719/08),
à luz do sistema constitucional acusatório e dos princípios do contraditório e da ampla
defesa. O interrogatório passa a ser sempre o último ato da instrução, mesmo nos proce-
dimentos regidos por lei especial, caindo por terra a solução de antinomias com arrimo
no princípio da especialidade. Ressalvou-se, contudo, a  incidência da nova compreen-
são aos processos nos quais a instrução não tenha se encerrado até a publicação da
ata daquele julgamento (10.03.2016). In casu, o paciente foi sentenciado em 3.8.2015,
afastando-se, pois, qualquer pretensão anulatória. (…) STJ. 6ª Turma. HC 403.550/SP,
Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 15/08/2017.

Assim, com a mudança do entendimento jurisprudencial, a  exigência da realização do


interrogatório ao final da instrução criminal, conforme o Art. 400 do CPP, é aplicável os pro-
cessos penais militares, aos processos eleitorais e a todos os procedimentos penais regidos
por legislação especial (ex.: lei de drogas, lei de licitações).
Perceba que estamos diante da mesma divergência, motivo pelo qual, nos leva a crer que
a solução dada será a mesma, isto é, “Ubi eadem ratio ibi idem jus”, onde houver o mesmo
fundamento haverá o mesmo direito.
O disposto no Art. 20 da L. 11340/06 reproduzia o modelo vigente à época de sua edição,
que permitia o atuar de ofício do juiz na fase pré-processual, modelo que, com o advento da lei
anticrime, tornou-se superado, devendo ser afastada a solução de antinomias com base no
princípio da especialidade, conforme já sedimentou o STJ, em questão análoga, como vimos
acima.
Aqui, não se trata de antinomia entre dispositivos e sim da superação de um sistema pro-
cessual (antes tarde do que nunca) e a necessária reinterpretação dos institutos vigentes à
luz do sistema acusatório.

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Essa é uma discussão que não deve aparecer tão cedo em provas objetivas, entretanto,
nas provas discursivas, é de suma importância a apresentação dos argumentos acima.

12.2.2. Da Competência do Juiz das Garantias

Art.  3º-C A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto as de
menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou queixa na forma do art.399
deste Código.

Quanto à matéria, a reforma foi o mais abrangente possível, estabelecendo a competên-


cia do juiz das garantias para o conhecimento de qualquer infração penal, excerto aquelas de
menor potencial ofensivo.
Quanto ao momento, a competência se inicia ainda na fase pré-processual, quando o juiz
toma conhecimento da prisão em flagrante ou do início das investigações e se encerra com o
recebimento da denúncia ou queixa.
O detalhe aqui é que andou mal a reforma ao fazer referência ao Art. 399 do CPP como
momento processual do recebimento da denúncia ou queixa, não é. A denúncia é recebida na
forma do Art. 369 do CPP.

Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a
rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por
escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

O tema já é pacífico na doutrina17, que entende que no Art. 399 do CPP o juiz realiza a rati-
ficação do recebimento, podendo, inclusive, reanalisar os requisitos para a rejeição previstos
no Art. 395 do CPP.

Com isso, o recebimento da denúncia é imediato e ocorre nos termos do art. 396. Esse é o marco
interruptivo da prescrição e demarca o início do processo, que se completa com a citação válida
do réu (art.  363). Tanto que o réu é citado nesse momento para apresentar sua resposta e, pos-
teriormente, intimado para audiência de instrução (logo, intimado também para o interrogatório
que lá será realizado). Ademais, a absolvição sumária (art. 397), em que pese recorrer àquilo que
consideramos serem as condições da ação processual penal, pressupõe a existência do processo.
Como absolver antes do início do processo? A absolvição (mesmo sumária) somente é possível
após o recebimento da acusação. Antes desse recebimento da acusação, o que pode haver é rejei-
ção, não absolvição. Quanto ao art. 399, nada mais faz do que remeter para o recebimento anterior,
17
(Jr, 2016, p. 368)

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sendo a expressão recebida desnecessária. Mas, já que lá está, deve ser interpretada como uma
remissão ao recebimento já realizado e não uma nova decisão. Em suma, a mesóclise da discórdia
demarca a manutenção do sistema de recebimento imediato da acusação, antes do oferecimento
da resposta da defesa.

Cabe registrar que Eugênio Pacelli chama esse momento processual de saneamento limi-
nar do processo.

Observa-se, então, que, embora não haja disposição expressa nesse sentido, essa é a fase que
deve ser reservada a um saneamento liminar do processo, no qual se resolvem algumas questões
antecedentes à audiência de instrução e julgamento, e, sobretudo, aquelas que veiculam matéria
submetida à preclusão.

Portanto, a competência do juiz das garantias se encerrado com o recebimento da denún-


cia ou queixa, momento processual previsto no Art. 369 do CPP.
Já o momento processual previsto no Art.399 do CPP continua no âmbito da competência
do juiz que presidirá a instrução, que não está vinculado ao recebimento da denúncia ou quei-
xa feito pelo juiz das garantias, conclusão que se extrai dos § § 1º e 2º do Art. 3º-C do CPP.

§ 1º Recebida a denúncia ou queixa, as questões pendentes serão decididas pelo juiz da instrução
e julgamento.
§ 2º As decisões proferidas pelo juiz das garantias não vinculam o juiz da instrução e julgamento,
que, após o recebimento da denúncia ou queixa, deverá reexaminar a necessidade das medidas
cautelares em curso, no prazo máximo de 10 (dez) dias.

Essa já era a posição dos Tribunais Superiores que não deve ser alterada com a reforma:

DIREITO PROCESSUAL PENAL. POSSIBILIDADE DE RECONSIDERAÇÃO DA DECISÃO DE


RECEBIMENTO DA DENÚNCIA APÓS A DEFESA PRÉVIA DO RÉU. O fato de a denúncia
já ter sido recebida não impede o juízo de primeiro grau de, logo após o oferecimento
da resposta do acusado, prevista nos arts. 396 e 396-A do CPP, reconsiderar a anterior
decisão e rejeitar a peça acusatória, ao  constatar a presença de uma das hipóteses
elencadas nos incisos do art. 395 do CPP, suscitada pela defesa. Nos termos do art. 396,
se não for verificada de plano a ocorrência de alguma das hipóteses do art. 395, a peça
acusatória deve ser recebida e determinada a citação do acusado para responder por
escrito à acusação. Em seguida, na apreciação da defesa preliminar, segundo o art. 397,

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o juiz deve absolver sumariamente o acusado quando verificar uma das quatro hipóte-
ses descritas no dispositivo. Contudo, nessa fase, a cognição não pode ficar limitada às
hipóteses mencionadas, pois a melhor interpretação do art. 397, considerando a reforma
feita pela Lei 11.719/2008, leva à possibilidade não apenas de o juiz absolver sumaria-
mente o acusado, mas também de fazer novo juízo de recebimento da peça acusatória.
Isso porque, se a parte pode arguir questões preliminares na defesa prévia, cai por terra o
argumento de que o anterior recebimento da denúncia tornaria sua análise preclusa para
o Juiz de primeiro grau. Ademais, não há porque dar início à instrução processual, se o
magistrado verifica que não lhe será possível analisar o mérito da ação penal, em razão
de defeito que macula o processo. Além de ser desarrazoada essa solução, ela também
não se coaduna com os princípios da economia e celeridade processuais. Sob outro
aspecto, se é admitido o afastamento das questões preliminares suscitadas na defesa
prévia, no momento processual definido no art.  397 do CPP, também deve ser consi-
derado admissível o seu acolhimento, com a extinção do processo sem julgamento do
mérito por aplicação analógica do art. 267, § 3º, CPC. Precedentes citados: HC 150.925-
PE, Quinta Turma, DJe 17/5/2010; HC 232.842-RJ, Sexta Turma, DJe 30/10/2012. REsp
1.318.180-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/5/2013.

Sigamos.

Art. 3º-B O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e
pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia
do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente:
I  – receber a comunicação imediata da prisão, nos termos do inciso LXII do caput do art.  5º da
Constituição Federal;
II  – receber o auto da prisão em flagrante para o controle da legalidade da prisão, observado o
disposto no art. 310 deste Código;
III – zelar pela observância dos direitos do preso, podendo determinar que este seja conduzido à
sua presença, a qualquer tempo;
IV – ser informado sobre a instauração de qualquer investigação criminal;

O Art. 3º-B do CPP deslocou para o âmbito da competência do juiz das garantias o dever
de fiscalizar a atividade da polícia judiciária, não no sentido de se trasmudar o judiciário em
um órgão de controle externo da polícia, função já exercida pelo Ministério Público (Art. 129,
VII, da CRFB), mas no sentido de garantir a toda pessoa a observância do devido processo
legal, que impõe o respeito aos direitos e as garantias fundamentais.

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A novidade aqui é a necessidade de comunicação ao juiz quando da instauração de qual-


quer investigação criminal, o que se justifica à luz do devido processo legal, devendo o juiz,
diante da instauração de investigação criminal sem justa causa, determinar seu trancamento,
o que foi expressamente previsto no inciso IX.

IX – determinar o trancamento do inquérito policial quando não houver fundamento razoável para
sua instauração ou prosseguimento;

Vale lembrar também, que a instauração de investigação criminal sem justa causa contra
pessoa sabidamente inocente pode se adequar ao tipo de injusto previsto no Art.  30 da L.
13869/19 (abuso de autoridade).

Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou administrativa sem justa causa funda-
mentada ou contra quem sabe inocente:
Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Voltemos às alterações.

V – decidir sobre o requerimento de prisão provisória ou outra medida cautelar, observado o dis-
posto no § 1º deste artigo;
VI – prorrogar a prisão provisória ou outra medida cautelar, bem como substituí-las ou revogá-las,
assegurado, no primeiro caso, o exercício do contraditório em audiência pública e oral, na forma do
disposto neste Código ou em legislação especial pertinente;
VII – decidir sobre o requerimento de produção antecipada de provas consideradas urgentes e não
repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla defesa em audiência pública e oral;

O juiz das garantias passou a ser competente para decidir sobre as medidas cautelares
reais, pessoais e probatórias na fase pré-processual, como já vimos acima, o destaque aqui
é para a necessidade de audiência pública e oral, para que seja efetivado o princípio do con-
traditório.
Destaca-se que o Art. 282, § 3º, do CPP, já previa a intimação da parte contrária antes da
decretação de cautelares de natureza pessoal, o que na prática era pouco efetivo em razão da
possibilidade de se afastar o contraditório em casos de urgência ou perigo de ineficácia da
medida. Com a reforma o § 3º foi repaginado, entretanto a exceção foi mantida.

Art. 282, Antes da reforma


§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o
pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acompanhada de cópia do
requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo.

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Depois da reforma
§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o
pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no prazo
de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo
os autos em juízo, e os casos de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados
em decisão que contenha elementos do caso concreto que justifiquem essa medida excepcional.

Parece que a reforma tentou tornar efetivo o que já estava entre nós. De qualquer forma,
foi salutar a previsão, resta saber como o judiciário irá operacionalizar o dispositivo.
Quanto a previsão do inciso VII, esta será analisada mais adiante, quanto tratarmos das
mudanças no capítulo de provas. Por hora, basta saber que o Art. 3º-A do CPP passou a vedar
o atuar de ofício do juiz na fase pré-processual e, em razão disso, passou a ser competência
do juiz das garantias decidir sobre o que antes era possível decretar de ofício com base no
disposto no Art. 156 do CPP.
Ainda sobre a competência do juiz das garantias, vamos analisar os outros incisos:

VIII – prorrogar o prazo de duração do inquérito, estando o investigado preso, em vista das razões
apresentadas pela autoridade policial e observado o disposto no § 2º deste artigo;

O inciso VIII veio para sanar uma discussão na doutrina sobre a possibilidade da prorro-
gação do prazo do inquérito com o indiciado preso, diante do silêncio do Art. 10 § 3º do CPP:

Art. 10, § 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá
requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo
marcado pelo juiz.

Na doutrina, Nestor Távora sustentava que o prazo o inquérito com o indiciado preso era
improrrogável:
Como regra geral, para os crimes da atribuição da polícia civil estadual, o  prazo para a
conclusão do inquérito é de 10 dias, estando o indiciado preso, prazo este improrrogável, e de
30 dias, se o agente está solto. Este último prazo comporta prorrogação, a requerimento do
delegado e mediante autorização do juiz (art. 10, CPP), não especificando a lei qual o tempo
de prorrogação nem quantas vezes poderá ocorrer, o que nos leva a crer que esta pode se dar
pela frequência e pelo tempo necessários, desde que haja autorização judicial para tanto.

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Nesse sentido, caso o inquérito policial não estivesse concluído nos 10 dias, o juiz deveria
determinar o relaxamento da prisão por excesso de prazo. Vale lembrar que nos crimes de
competência da Justiça Federal (art. 66 da Lei no 5.010/1966), nos crimes previstos na Lei
11343/06 (Art. 51), já se admitia a prorrogação do prazo para conclusão do inquérito policial
ainda que preso o indiciado.
Portanto, a  reforma veio dar linearidade ao tratamento dado ao inquérito policial no to-
cante ao seu prazo. Agora, mesmo preso o indiciado, o juiz das garantias poderá determinar
a prorrogação do inquérito policial por até 15 dias, mediante representação da autoridade po-
licial, ouvido o Ministério Público, possibilitando a conclusão das investigações. Destaca-se,
que após o escoamento do prazo sem a conclusão das investigações, a prisão será imedia-
tamente relaxada.

§ 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação da auto-
ridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por
até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída, a  prisão será
imediatamente relaxada.
X  – requisitar documentos, laudos e informações ao delegado de polícia sobre o andamento da
investigação;
XI – decidir sobre os requerimentos de:
a) interceptação telefônica, do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática ou
de outras formas de comunicação;
b) afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de dados e telefônico;
c) busca e apreensão domiciliar;
d) acesso a informações sigilosas;
e) outros meios de obtenção da prova que restrinjam direitos fundamentais do investigado;
XII – julgar o habeas corpus impetrado antes do oferecimento da denúncia;
XIII – determinar a instauração de incidente de insanidade mental;
XIV – decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 399 deste Código;
XV – assegurar prontamente, quando se fizer necessário, o direito outorgado ao investigado e ao
seu defensor de acesso a todos os elementos informativos e provas produzidos no âmbito da in-
vestigação criminal, salvo no que concerne, estritamente, às diligências em andamento;
XVI – deferir pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção da perícia;
XVII – decidir sobre a homologação de acordo de não persecução penal ou os de colaboração pre-
miada, quando formalizados durante a investigação;
XVIII – outras matérias inerentes às atribuições definidas no caput deste artigo.

Como já tínhamos visto acima, a reforma entregou ao juiz das garantias a competências
para decidir sobre questões inerentes a fase pré-processual, assegurando ao juiz da instru-
ção o necessário alheamento ao que foi apurado na fase pré-processual.

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Foi previsto expressamente o poder de requisição do juiz, que deve ser interpretado de
forma sistemática, devendo ser exercido com a finalidade de garantir o devido processo legal
e a duração razoável das investigações, não mais para dirimir dúvidas ou para se imiscuir nas
investigações, por força do Art.3º-A do CPP.

§ 1º O preso em flagrante ou por força de mandado de prisão provisória será encaminhado à pre-
sença do juiz de garantias no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, momento em que se realizará au-
diência com a presença do Ministério Público e da Defensoria Pública ou de advogado constituído,
vedado o emprego de videoconferência.

Passa a ser também da competência do juiz das garantias o recebimento da comunica-


ção na prisão em flagrante e no cumprimento de mandado de prisão provisória. Quanto à pri-
são provisória, o papel do juiz é fiscalizar a regularidade do mandado de prisão, se está válido,
se foi cumprido na forma da lei e se foram assegurados os direitos e garantias fundamentais
do preso. Quanto à prisão em flagrante, após realizar o controle de legalidade da lavratura do
auto de prisão em flagrante, o juiz analisará qual das soluções previstas no Art.310 do CPP
será dada, até aqui, nada de novo, esse procedimento já estava entre nós por meio das audi-
ências de custódia regulamentadas pelo CNJ.
A novidade fica por conta da vedação expressa da realização das audiências de custó-
dia por meio de videoconferência, o que vai no mesmo sentido do que já decidiu o Conselho
Nacional de Justiça, que acolheu a tese pela Defensoria Pública de Santa Catarina, que argu-
mentou que a medida violava a resolução 213/2015 do próprio conselho, que estabelece que
toda pessoa presa deve ser apresentada à autoridade judicial no prazo de 24 horas.
Seguimos.

§ 3º Os autos que compõem as matérias de competência do juiz das garantias ficarão acautelados
na secretaria desse juízo, à disposição do Ministério Público e da defesa, e não serão apensados
aos autos do processo enviados ao juiz da instrução e julgamento, ressalvados os documentos
relativos às provas irrepetíveis, medidas de obtenção de provas ou de antecipação de provas, que
deverão ser remetidos para apensamento em apartado.
§ 4º Fica assegurado às partes o amplo acesso aos autos acautelados na secretaria do juízo das
garantias.

A muito a doutrina já clamava pelo desentranhamento dos autos da investigação do pro-


cesso, para que o juiz não formasse um juízo de valor antecipado ao ter contato com a investigação.

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Pelo mesmo motivo a lei prevê que a prova ilícita deve ser desentranhada (Art. 157, § 3º, do
CPP), o que levou a doutrina18 a sustentar que não só a prova deve ser desentranhada, mas
também o juiz substituído:

Daí por que não basta anular o processo e desentranhar a prova ilícita: deve-se substituir o juiz
do processo, na medida em que sua permanência representa um imenso prejuízo, que decorre dos
“pré-juízos” (sequer é prejulgamento, mas julgamento completo!) que ele fez.

Atenta às críticas, a reforma reproduziu o que a doutrina sustentava e vedou que o juiz da
instrução e julgamento tenha contato ao que foi produzido na fase pré-processual, vale dizer,
os autos da investigação não serão apensados aos autos do processo de instrução e julga-
mento, mantendo o juiz em verdadeiro estado de alheamento, imparcial.
A lei prevê uma exceção: os chamados elementos migratórios. Estes, serão remetidos em
apartado: “(…) ressalvados os documentos relativos às provas irrepetíveis, medidas de obten-
ção de provas ou de antecipação de provas, que deverão ser remetidos para apensamento em
apartado.”
Seguimos.

Art. 3º-D O juiz que, na fase de investigação, praticar qualquer ato incluído nas competências dos
arts. 4º e 5º deste Código ficará impedido de funcionar no processo.

Por fim, a Lei n. 13.964/2019 estabelece que o juiz que praticar atos na fase de investiga-
ção estará impedido de funcionar no processo. Segundo a doutrina19 :
Impedimentos são os motivos previstos em lei que ensejam o afastamento compulsório
do juiz (judex inhabilis), pois lhe retiram a imparcialidade objetiva. A  presunção de falta de
isenção que decorre da existência de um desses motivos tem caráter absoluto, não admitin-
do, portanto, prova em contrário.

12.2.3. Regras Complementares

Art. 3º-D, Parágrafo único. Nas comarcas em que funcionar apenas um juiz, os tribunais criarão um
sistema de rodízio de magistrados, a fim de atender às disposições deste Capítulo.

18
(Jr, 2016, p. 364)
19
(Gonçalves, 2018, p. 288)

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Art.  3º-E O juiz das garantias será designado conforme as normas de organização judiciária da
União, dos Estados e do Distrito Federal, observando critérios objetivos a serem periodicamente
divulgados pelo respectivo tribunal.
Art. 3º-F O juiz das garantias deverá assegurar o cumprimento das regras para o tratamento dos
presos, impedindo o acordo ou ajuste de qualquer autoridade com órgãos da imprensa para explo-
rar a imagem da pessoa submetida à prisão, sob pena de responsabilidade civil, administrativa e
penal.
Parágrafo único. Por meio de regulamento, as  autoridades deverão disciplinar, em 180 (cento e
oitenta) dias, o modo pelo qual as informações sobre a realização da prisão e a identidade do preso
serão, de modo padronizado e respeitada a programação normativa aludida no caput deste artigo,
transmitidas à imprensa, assegurados a efetividade da persecução penal, o direito à informação e
a dignidade da pessoa submetida à prisão.

Denominei de regras complementares o presente tópico porque tratam de temas diversos.


A primeira regra importante é que nas comarcas com apenas um juiz, o Tribunal organiza-
rá um rodízio entre os magistrados. Parece que a lei já previa a dificuldade de implementação
da norma por todo país.
A segunda regra importante é que cabe ao Tribunal organizar de forma objetiva os crité-
rios utilizados para designação do juiz de garantias. Nada de novo. Qualquer designação na
magistratura já era feita dessa forma.
A terceira regra é que não será mais permitido a exposição da imagem dos presos, visto
que é dever do Estado preservar tal imagem. Nesse sentido, o  artigo 41, inciso VIII, da Lei
7.210/84 dispõe, no rol de direitos, a “proteção contra qualquer forma de sensacionalismo”.
As autoridades deverão, em 180 dias, regulamentar a maneira como as informações sobre a
prisão serão repassadas à imprensa.

13. Inquérito Policial


13.1. Constituição de Defensor quando o Investigado for Integrante da Se-
gurança Pública ou Militar – Art. 14-A do CPP

Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144 da Cons-
tituição Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares
e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso
da força letal praticados no exercício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as
situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),
o indiciado poderá constituir defensor.

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§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado da instauração
do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito)
horas a contar do recebimento da citação.
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de nomeação de defensor pelo
investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que estava
vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta
e oito) horas, indique defensor para a representação do investigado.
§  6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos servidores militares vinculados às
instituições dispostas no art. 142 da Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam
respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem.

A Lei n. 13.964/2019 incorporou no Código de Processo Penal uma sistemática que já era
prevista no âmbito da União, que era a possibilidade de a AGU realizar a defesa judicial de
agentes públicos (MP872, transformada na lei ordinária 13841/19).
Com a nova sistemática, a Autoridade Policial, ao identificar que o suspeito é agente de
segurança pública ou militar e os fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exer-
cício profissional, deverá citar o investigado (leia-se: intimar), para que o investigado consti-
tua defensor em até 48H.
Esgotado o prazo e não nomeado o defensor pelo investigado, a Autoridade Policial deve-
rá intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos,
para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a representação
do investigado.
Foram vetados os §  3º a 5º, que determinavam que a defesa seria exercida preferen-
cialmente pela Defensoria Pública e que delegavam à Advocacia Pública, dos Estados ou da
União, a atribuição da defesa do agente de segurança pública quando no local não existisse
Defensoria Pública instalada.
Ressalta-se que, nada impede que um Defensor Público realize a defesa de um agente de
segurança pública civil ou militar nos casos expressos em lei, desde que o investigado atenda
aos critérios estabelecidos pela Defensoria Pública, que possui a missão constitucional de
defender, judicial ou extrajudicialmente, o hipossuficiente.
Vamos a um resumo do procedimento:

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13.2. Arquivamento do Inquérito Policial

Antes da reforma Após a L.13.964/2019


Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial
ou de quaisquer elementos informativos da mesma
natureza, o  órgão do Ministério Público comunicará à
vítima, ao investigado e à autoridade policial e encami-
Art.  28. Se o órgão do Ministério Público, ao  invés de nhará os autos para a instância de revisão ministerial
apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do para fins de homologação, na forma da lei.
inquérito policial ou de quaisquer peças de informa- § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não con-
ção, o  juiz, no caso de considerar improcedentes as cordar com o arquivamento do inquérito policial,
razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da
de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a comunicação, submeter a matéria à revisão da instân-
denúncia, designará outro órgão do Ministério Público cia competente do órgão ministerial, conforme dispu-
para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ser a respectiva lei orgânica.
ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. §  2º Nas ações penais relativas a crimes praticados
em detrimento da União, Estados e Municípios, a revi-
são do arquivamento do inquérito policial poderá ser
provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua
representação judicial. (NR)

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Inicialmente, relembramos os leitores que o referido dispositivo se encontra com a eficá-


cia suspensa em decorrência da ADI 6298, contudo apesar da suspensão, optamos por tratar
sobre as pertenças mudanças realizadas pelo referido dispositivo penal. Alerta-se que para
provas objetivas devemos ter com válida a antiga redação do artigo 28, CPP.
Vejamos os fundamentos adotados pelo Ministro do STF para suspender a eficácia do
dispositivo em sede liminar na Ação Direta de Inconstitucionalidade.

Viola as cláusulas que exigem prévia dotação orçamentária para a realização de despe-
sas (Artigo 169, Constituição), além da autonomia financeira dos Ministérios Públicos
(Artigo 127, Constituição), a  alteração promovida no rito de arquivamento do inquérito
policial, máxime quando desconsidera os impactos sistêmicos e financeiros ao funcio-
namento dos órgãos do parquet;
(c2) A previsão de o dispositivo ora impugnado entrar em vigor em 23.01.2020, sem que
os Ministérios Públicos tivessem tido tempo hábil para se adaptar estruturalmente à
nova competência estabelecida, revela a irrazoablidade da regra, inquinando-a com o
vício da inconstitucionalidade. A  vacatio legis da Lei n. 13.964/2019 transcorreu inte-
gralmente durante o período de recesso parlamentar federal e estadual, o que impediu
qualquer tipo de mobilização dos Ministérios Públicos para a propositura de eventuais
projetos de lei que venham a possibilitar a implementação adequada dessa nova siste-
mática;
(c3) Medida cautelar deferida, para suspensão da eficácia do artigo 28, caput, do Código
de Processo Penal;

Apesar da suspensão, vamos tratar do dispositivo como se estivesse eficaz, vamos lá?


As mudanças na sistemática do arquivamento do inquérito policial foram significativas.
A partir de agora, não basta para o arquivamento de investigações criminais a promoção de
arquivamento feita pelo Promotor Natural do feito. Passa a ser necessária, também, a confir-
mação (homologação) dessa decisão de arquivamento por órgão de revisão do MP.
O arquivamento, portanto, será feito em duas etapas, assegurada a cientificação do inves-
tigado e da vítima. Ademais, institui-se a possibilidade de recurso em face dessa decisão de
arquivamento.
Trata-se de ato jurídico composto, pois é produto duas manifestações de vontade, do
Ministério Público, presentado pelo Promotor de Justiça e validado pela instância de revisão,
ambos dentro da própria estrutura do órgão ministerial.

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Com a mudança, volta à baila a discussão sobre a natureza jurídica da decisão de arqui-
vamento.
Para Afrânio Silva Jardim20, a decisão que determina o arquivamento do inquérito policial
tem natureza de decisão judicial, porque oriunda do Poder Judiciário, em outras palavras, de
decisão administrativa em sentido lato.
Já para Fernando da Costa Tourinho Filho21, que ao comentarem a natureza jurídica de tal
decisão não fundamentam seu entendimento, a  aludida decisão tem natureza de despacho
judicial de expediente (CPP, art. 800, III).
Entretanto, diante das alterações, a posição mais coerente nos parece a do Professor Gui-
lherme de Souza Nucci22 :

Observa-se, entretanto, que o juiz pode, acolhendo parecer do Ministério Público, no sentido de
haver insuficiência de provas para o oferecimento da denúncia, determinar o arquivamento como
providência meramente administrativa.

Agora, passa a ser uma decisão de natureza administrativa e que não se submete ao crivo
judicial, em respeito ao sistema acusatório.
Seguimos.
As mudanças trazidas pela L.13.964/2019 vão no mesmo sentido do que a doutrina já
clamava, em respeito ao princípio acusatório23 .

A imparcialidade do juiz, ao contrário, exige dele justamente que se afaste das atividades prepa-
ratórias, para que mantenha seu espírito imune aos preconceitos que a formulação antecipada
de uma tese produz, alheia ao mecanismo do contraditório, de sorte a avaliar imparcialmente, por
ocasião do exame da acusação formulada, com o oferecimento da denúncia ou queixa, se há justa
causa para a ação penal, isto é, se a acusação não se apresenta como violação ilegítima da digni-
dade do acusado. […] Neste plano, a manutenção do controle, pelo juiz, das diligências realizadas
no inquérito ou peças de informação, e do atendimento, pelo promotor de justiça, ao princípio da
obrigatoriedade da ação penal pública, naquelas hipóteses em que, ao invés de oferecer denúncia,
o membro do Ministério Público requer o arquivamento dos autos da investigação, constitui inequí-
voca afronta ao princípio acusatório.

Abaixo, vamos reestruturar o procedimento após as alterações:


20
(Jardim, 2000, pp. 166-167)
21
(Filho, pp. 400-401)
22
(Nucci, 2019)
23
(Prado, 1999, p. 153)

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Decisão de Arquivamento

O órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial.


Após, o  órgão do Ministério Público encaminhará os autos para a instância de revisão
ministerial para fins de homologação.
A vítima poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a
matéria à revisão na instância de revisão ministerial.
Crimes praticados em detrimento da União, Estados e Municípios, a  revisão do arquiva-
mento do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua
representação judicial.
A primeira observação importante, é  que a lei conferiu apenas à vítima a possibilidade
de provocar a instância ministerial de revisão, deixando de fora o investigado e a Autoridade
Policial.
Outro ponto é que a lei não mais trata da hipótese em que o juiz discordar do requerimento
de arquivamento, pelo simples fato de que não cabe ao Juiz de Garantias discordar ou não da
opinião do membro do Ministério Público. A decisão de arquivamento fica adstrita ao âmbito
do Ministério Público, isto é, uma providência meramente administrativa, em observância ao
sistema acusatório (Art.129, I, da CRFB e Art. 3º-A do CPP).
Assim, a L. 13.964/2019 suprimiu o controle judicial sobre o arquivamento da investiga-
ção preliminar, sobre o princípio da obrigatoriedade da ação penal pública e fortaleceu a atu-
ação da vítima. O inquérito será remetido para homologação ao órgão de revisão no próprio
MP e a vítima poderá se manifestar se discordar do arquivamento.

14. Ação Penal

14.1. Do Acordo de Não Persecução Penal – Plea Bargaining

14.1.1. Conceito

Trata-se de instituto de natureza processual que possibilita ao acusado confessar a pra-


ticado do crime e sofrer as sanções propostas pelo Ministério Público, possibilitando, assim,
uma solução negociada no processo penal (justiça negociada). O  investigado confessa

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o crime, se sujeita às condições do acordo e ao final, caso cumprido o acordo, vê extinta a


punibilidade.
Segundo a doutrina24, é  a adoção pelo sistema brasileiro do chamado plea bargaining
Norte-Americano:

No plea bargaining norte-americano, o  imputado manifesta perante o Ministério Público sua de-
cisão de declarar-se culpado, aceitando as imputações acordadas, assim como a pena pactuada,
ao mesmo tempo em que renuncia a certas garantias processuais. Como explica Luiz Flávio Gomes,
“uma vez que se dá conhecimento da acusação – qualquer que seja o crime – para o imputado,
pede-se o pleading, isto é, para se pronunciar sobre a culpabilidade; se se declara culpado (pleads
guilty) – se confessa – opera-se o plea, é dizer, a resposta da defesa e então pode o juiz, uma vez
comprovada a voluntariedade da declaração, fixar a data da sentença (sentencing), ocasião em que
se aplicará a pena (geralmente ‘reduzida’ – ou porque menos grave ou porque abrangerá menos
crimes -, em razão do acordo entre as partes), sem necessidade de processo ou veredito (trial ou
veredict); em caso contrário, abre-se ou continua o processo e entra em ação o jurado.

A importação do instituto Norte-Americano não é imune às críticas. Segundo Jacinto Nel-


son de Miranda Coutinho25, a importação de institutos de outros sistemas é prejudicial diante
da realidade brasileira:

Na prática, o plea bargainig visa lutar contra o acúmulo de trabalho (e isso, pelo menos, desde o
Século XIX, nos E.U.A.), mas sem deixar de lado os direitos e garantias individuais, dos quais eles
não abririam mão, ainda que muita gente reclame e afirme que é justo isso que estão fazendo.
Eis, então, que, fundados em um modelo de pensamento (Francis Bacon como principal corifeu)
utilitarista (Jeremy Bentham e John Stuart Mill), empiricamente não se incomodam, em tantas
passagens, de operar com uma ética na qual os fins justifiquem os meios, desde que se almeje o
bem-estar de todos.
De certa forma, isso justifica, para eles, a negociação de um acordo sobre o crime e a pena; o pró-
prio acordo ainda na esfera material ou mesmo naquela processual em face dos lugares ocupados
pelos atores; e o lugar do juiz como aquele de – quase que – tão só controlar o que se fez, para não
permitir que se vilipendiem direitos e garantias individuais.
[…]
Tudo leva a crer, enfim, que um plea bargaining metido em um processo do sistema inquisitório
como o brasileiro seja um desastre, retirando ainda mais o pouco de democracia processual que
restou depois da americanização à brasileira promovida nos últimos anos, tudo sem o devido con-
trole por quem de direito, seja lá por qual motivo for.
Ter plea bargaining é inevitável se o processo penal brasileiro vier a ser acusatório. Mas para isso
é preciso, antes, importar o sistema todo, com ônus e bônus. Do jeito que se está tentando impor,

24
(Lima, 2017, p. 260)
25
(Coutinho, 2019)

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os ônus ficarão para os cidadãos investigados/acusados(10); e os bônus – tudo indica – ficarão


para o Estado e seus órgãos. Em tempos neoliberais, tudo é contra o cidadão, quem sabe em nome
daquela ética utilitarista precitada, embora se saiba que ela é só discurso fácil para iludir os in-
cautos. Os de sempre serão os beneficiados, como sempre foi. É como se existissem cidadãos e…
cidadãos. O problema em uma sociedade assim é que tudo se faz em nome do bem comum e da
democracia, nem que seja contra a Constituição. Um dia – ahimé, como dizem os italianos – a vida
revida.

14.1.2. Requisitos, Condições e Vedações

Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstan-
cialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior
a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições
ajustadas cumulativa e alternativamente:
I – reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;
II – renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumen-
tos, produto ou proveito do crime;
III  – prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena
mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da
execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal);
IV  – pagar prestação pecuniária, a  ser estipulada nos termos do art.  45 do Decreto-Lei n. 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada
pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais
ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou
V  – cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que
proporcional e compatível com a infração penal imputada.
§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput deste artigo, serão
consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto.
§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes hipóteses:
I – se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos
da lei;
II  – se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta
criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas;
III – ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em
acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e
IV – nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a
mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.

Com a reforma, poderá o Ministério Público propor ao investigado o acordo de não perse-
cução penal obedecidos os seguintes requisitos:

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• não ser caso de arquivamento;


• confissão formal e circunstancial do investigado;
• infração penal sem violência ou grave ameaça;
• com a pena mínima inferior a 4 anos;
• necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.

Uma questão relevante é se o acordo de persecução penal é um direito subjetivo do in-


vestigado ou uma faculdade para o Ministério Público. Assim, poderia o Ministério Público,
diante de dois investigados em situação jurídica idêntica, propor o acordo para um e não para
o outro? Nos parece que não.
A expressão “poderá” deve ser interpretada como um “poder-dever”, isto é, preenchidos
os requisitos objetivos estabelecidos em lei, o investigado passa a ter o direito subjetivo ao
acordo. Da mesma forma, o  Art.  76 da L.9099/95 prevê que o Ministério Público “poderá”
propor a transação penal, que é interpretado pela doutrina como direito subjetivo do acusado,
sendo assim, onde há a mesma razão, deverá ser aplicado o mesmo direito “Ubi eadem ratio
ibi idem jus”.
Nesse sentido, Renato Brasileiro26 :

Sob o argumento de se tratar de direito público subjetivo do autor do fato delituoso, não se defe-
re ao juiz a possibilidade de conceder de ofício a transação penal contra a vontade do Ministério
Público ou do querelante. Não cabe ao juiz, que não é titular da ação penal, substituir-se ao órgão
ministerial ou ao querelante para formar de ofício a proposta de transação penal, sob pena de evi-
dente violação ao art. 129, inciso I, da Constituição Federal.
Diante da recusa injustificada do órgão do Ministério Público em oferecer a proposta de transação
penal, ou se o juiz discordar de seu conteúdo, o caminho a ser seguido pelo juiz passa pela aplica-
ção subsidiária do art. 28 do CPP, ocorre a consequente remessa dos autos ao Procurador-Geral
de Justiça (ou, na esfera federal, às Câmaras de Coordenação e Revisão do MPF), que terá como
opções designar outro Promotor de Justiça para formular a proposta, alterar o conteúdo daquela
que tiver sido formulada ou ratificar a postura do órgão ministerial de primeiro grau, caso em que a
autoridade judiciária estará obrigada a homologar a transação.
Apesar de dispor sobre a suspensão condicional do processo, o verbete da súmula 696 do Supremo
também pode ser aplicado à transação penal: “Reunidos os pressupostos legais permissivos da
suspensão condicional do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz,
dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Códi-
go de Processo Penal”.
26
(Lima, 2017, p. 234)

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Nas hipóteses de ação penal privada, recai sobre o querelante a legitimidade para o oferecimento
da proposta de transação penal. Assim, na fase preliminar, deve o magistrado questionar o ofendi-
do ou seu representante legal acerca do oferecimento da proposta de transação. Como o juiz não
pode conceder o benefício de ofício, nem tampouco se admite a formulação de proposta pelo MP,
a recusa do querelante em oferecer a proposta inviabiliza por completo a concessão do referido
benefício.

O raciocínio acima merece ser interpretado a luz do Art.  28-A do CPP, incluído pela
L.13.964/2019, que retirou do juiz a função de fiscal do princípio da obrigatoriedade da ação
penal e retirou de suas mãos qualquer atividade que, por natureza, pertença à acusação.
Portanto, nos parece que, diante da negativa de proposta do acordo de não persecução
penal, poderá o investigado suscitar a manifestação do órgão de revisão ministerial, em solu-
ção próxima à que foi dada no tocante à transação penal. Aqui nos parece não poderá o juiz
suscitar tal providência de ofício.
Ressalto que a solução apresentada é fruto da interpretação do dispositivo e não possui
previsão expressa em lei, vamos aguardar o posicionamento dos Tribunais Superiores e da
doutrina quanto ao tema.
Possível ainda uma segunda posição com base em uma interpretação literal do Art. 28 – A
do CPP, considerando uma mera faculdade do Ministério Público o oferecimento do acordo de
não persecução penal.
Importante destacar, que segundo o §  1º, para fins de aferição da pena mínima, serão
consideradas as causas de aumento e diminuição de pena.
Cumpridos os requisitos, o acordo será oferecido mediante as seguintes condições, que
poderão ser ajustadas cumulativamente ou alternativamente:
• reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;
• renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como
instrumentos, produto ou proveito do crime;
• prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à
pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado
pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 (Código Penal);

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• pagar prestação pecuniária, a  ser estipulada nos termos do art.  45 do Decreto-Lei n.


2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a  entidade pública ou de interesse
social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como fun-
ção proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo
delito; ou
• cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde
que proporcional e compatível com a infração penal imputada.

A Lei n. 13.964/2019 acrescenta ainda vedações em que o acordo não poderá ser cele-
brado:
• se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos
termos da lei;
• se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem con-
duta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações
penais pretéritas;
• ter sido o agente beneficiado nos cinco anos anteriores ao cometimento da infração,
em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do
processo; e
• nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados con-
tra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.

14.1.3. Procedimento do Acordo de Não Persecução Penal

Art. 28-A, § 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será firmado pelo
membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu defensor.
§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada audiência na qual o
juiz deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu
defensor, e sua legalidade.
§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas no acordo
de não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a
proposta de acordo, com concordância do investigado e seu defensor.
§  6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o  juiz devolverá os autos ao
Ministério Público para que inicie sua execução perante o juízo de execução penal.

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§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais ou quan-
do não for realizada a adequação a que se refere o § 5º deste artigo.
§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a análise da
necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia.
§ 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu descum-
primento.
§  10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não persecução penal,
o Ministério Público deverá comunicar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento
de denúncia.
§ 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado também poderá ser
utilizado pelo Ministério Público como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão
condicional do processo.
§ 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não constarão de certidão
de antecedentes criminais, exceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste artigo.
§ 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo competente decretará a
extinção de punibilidade.
§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução
penal, o  investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art.  28
deste Código.

O procedimento é bem simples. Cumpridos os requisitos legais, o Membro do Ministério


Público proporá o acordo com as condições (punições) previstas em lei (lembre-se que as
condições podem ser aplicadas de forma isolada ou cumulativa), de forma escrita e na pre-
sença do defensor (§ 3º).
Recebido o acordo, será realizada audiência para verificar sua legalidade e a voluntarie-
dade.
Após, o juiz poderá homologar ou não o acordo de não persecução penal. Nas duas hipó-
teses os autos retornam ao Ministério Público.
Caso homologue o acordo (§ 6º), os autos retornarão para que o Ministério Público inicie
sua execução. É isso mesmo que você leu, o Ministério Público irá fiscalizar o cumprimento
das condições (penas antecipadas) e, caso sejam cumpridas, informará ao juiz para que seja
declarada extinta a punibilidade.
No caso de quebra do acordo, o Ministério Público comunicará ao juiz que o rescindirá,
podendo o Ministério Público determinar o prosseguimento das investigações ou denunciar
o investigado.
Caso o acordo não seja homologado pelo juiz, os autos igualmente retornam ao Ministério
Público, para complementação das investigações ou oferecimento da denúncia.
Em ambas as soluções, a vítima será intimada (§ 9º).

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15. Provas

15.1. Da Iniciativa Probatória do Juiz e do Sistema Acusatório

A principal alteração no capítulo de provas, a nosso ver, não foi a inserção normativa da
cadeia de custódia e sim a reafirmação do sistema acusatório e a vedação imposta ao juiz de
substituir as partes na atividade probatória, conforme Art. 3– A do CPP:

Art. 3º-A O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de inves-
tigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.

Apesar do novo Art. 3-A do CPP, a L.13.964/2019 não alterou de forma expressa o Art. 156
do CPP, que positiva a iniciativa probatória do juiz. Sendo assim, nos parece que o Art. 156 do
CPP foi tacitamente revogado.
Entretanto, importante aguardar o posicionamento da jurisprudência e da doutrina a res-
peito do tema.
A única alteração feita no capítulo I, do título VII do CPP foi a inserção do § 5º ao Art. 157,
com a seguinte redação:

Art. 157, § 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir
a sentença ou acórdão. (NR)

O §  5º positivou o que a muito tempo clamava a doutrina27, que sempre afirmou que o
mero desentranhamento da prova ilícita não era a única solução a ser tomada, pois, o juiz que
tem contato com a prova ilícita, passa a ser impedido para o julgamento.

Quanto ao problema da contaminação do juiz que teve contato com a prova ilícita e que deve(ria)
ser impedido de julgar, o veto ao § 4º do art. 157 deve ser analisado a partir de seus próprios “fun-
damentos”, de que a exclusão desse juiz comprometeria a “eficácia” do processo penal, gerando
tumulto nas comarcas de juízo único. Logo, a contrário senso, nas varas em que existam dois ou
mais juízes, não se justificaria a manutenção do juiz contaminado! Não havendo o motivo aponta-
do no veto, não há mais o menor fundamento para – erroneamente – manter um juiz contaminado
no processo, proferindo sentença a partir da convicção formada com base na prova ilícita. É óbvio
que o juiz que conheceu a prova ilícita não pode julgar, pois está contaminado. Não basta desen-
tranhar a prova; deve-se “desentranhar” o juiz!

27
(Jr, 2016, p. 363)

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É muito importante relembrar que o referido dispositivo se encontra com a eficácia sus-
pensa, contudo, considerando a finalidade de nosso trabalho, manteremos as explicações a
respeito do referido dispositivo. (ADI 6298).
Vejamos os fundamentos da suspensão do referido tema:

Os princípios da legalidade, do juiz natural e da razoabilidade restam violados pela proi-


bição de o juiz que conheceu a prova declarada inadmissível proferir sentença. A ausên-
cia de elementos claros e objetivos para a seleção do juiz sentenciante permite eventual
manipulação da escolha do órgão julgador, conduzindo à inconstitucionalidade a téc-
nica eleita legislativamente;
(b2) Medida cautelar concedida, para suspensão da eficácia do artigo 157, §  5º, do
Código de Processo Penal (Inconstitucionalidade material);

15.2. Da Cadeia de Custódia


Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos utilizados para
manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de cri-
mes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte.
§ 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com procedimen-
tos policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio.
§ 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção
da prova pericial fica responsável por sua preservação.
§  3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se
relaciona à infração penal.
Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas:
I – reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a produção
da prova pericial;
II – isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o am-
biente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime;
III – fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou no corpo
de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens ou
croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo perito responsável
pelo atendimento;
IV – coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando suas ca-
racterísticas e natureza;
V – acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de for-
ma individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, para poste-
rior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o acondicionamento;

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VI – transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições ade-
quadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção de
suas características originais, bem como o controle de sua posse;
VII  – recebimento: ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser documentado
com, no mínimo, informações referentes ao número de procedimento e unidade de polícia judiciária
relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio, código de rastreamento, natu-
reza do exame, tipo do vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu;
VIII – processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a metodologia
adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado de-
sejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito;
IX – armazenamento: procedimento referente à guarda, em condições adequadas, do material a ser
processado, guardado para realização de contraperícia, descartado ou transportado, com vincula-
ção ao número do laudo correspondente;
X  – descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a legislação vigente e,
quando pertinente, mediante autorização judicial.
Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial, que dará
o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a realiza-
ção de exames complementares.
§  1º Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem ser tratados como
descrito nesta Lei, ficando órgão central de perícia oficial de natureza criminal responsável por
detalhar a forma do seu cumprimento.
§ 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer vestígios de locais
de crime antes da liberação por parte do perito responsável, sendo tipificada como fraude proces-
sual a sua realização.
Art.  158-D. O  recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela natureza do
material.
§ 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração individualizada, de for-
ma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte.
§ 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar suas características, impedir contami-
nação e vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço para registro de informações sobre
seu conteúdo.
§ 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e, motivadamente, por
pessoa autorizada.
§ 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de acompanhamento de ves-
tígio o nome e a matrícula do responsável, a data, o local, a finalidade, bem como as informações
referentes ao novo lacre utilizado.
§ 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do novo recipiente.
Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada à
guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão central de
perícia oficial de natureza criminal.
§ 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de protocolo, com local para conferência,
recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a seleção, a classificação e a dis-
tribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro e apresentar condições ambientais que não
interfiram nas características do vestígio.

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§ 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio deverão ser protocoladas, consignan-
do-se informações sobre a ocorrência no inquérito que a eles se relacionam.
§  3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser identificadas e
deverão ser registradas a data e a hora do acesso.
§ 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser registradas,
consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a  destinação, a  data e horário
da ação.
Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central de custódia, de-
vendo nela permanecer.
Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de armazenar de-
terminado material, deverá a autoridade policial ou judiciária determinar as condições de depósito
do referido material em local diverso, mediante requerimento do diretor do órgão central de perícia
oficial de natureza criminal.

15.2.1. Considerações Iniciais

“A cadeia de custódia contribui para a validação da prova pericial e o respectivo laudo


gerado” (Ettore Ferrari Júnior).
A cadeia de custódia é um conceito que já era utilizado em todas as disciplinas que inte-
gram as ciências criminalísticas e consiste, segundo o novo Art. 158-A do CPP, no conjunto
de todos os procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do
vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a
partir de seu reconhecimento até o descarte.
Considerando todas as fontes de informação disponíveis em investigações (como por
exemplo, confissões, testemunhas, vídeo-vigilância etc.) a evidência material desempenha
um papel central e especialmente importante. Excetuando-se as provas materiais, todas as
outras fontes de informação sofrem com problemas de confiabilidade limitada. A evidência
material, quando identificada e apropriadamente tratada, oferece a melhor perspectiva para
prover informações objetivas e confiáveis envolvendo o incidente sob investigação.
Sendo assim, a cadeia de custódia possui a função de garantir a integridade da prova. Ela
é importante porque garante a idoneidade e rastreabilidade dos vestígios com a finalidade de
preservar a confiabilidade e transparência até que o processo seja concluído.
Nesse sentido nos ensina o Professor Aury Lopes Jr28:

28
(Jr, A importância da cadeia de custódia para preservar a prova penal, 2015)

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A prova serve, a  um só tempo, para buscar a reconstituição (aproximativa e parcial) de um fato


passado, histórico, para um juiz ‘ignorante’ (pois ignora os fatos). É a prova que permite a atividade
recognitiva (e não cognitiva, pois indireta) do juiz em relação ao fato histórico (story of the case)
narrado pela acusação. Ao mesmo tempo tem uma função persuasiva, pois é através dela que se
permite a construção do convencimento, da decisão. Por isso, as provas servem para obter a cap-
tura psíquica do julgador, para formar sua convicção. A preservação das fontes de prova é, portan-
to, fundamental, principalmente quando se trata de provas cuja produção ocorre fora do processo,
como é o caso da coleta de DNA, interceptação telefônica etc. Trata-se de verdadeira condição de
validade da prova.

Para que uma evidência seja admissível em um tribunal, esta precisa ser autenticada, ou
seja, será preciso comprovar a autenticidade e integridade desta. Essa autenticação hoje em
dia é o grande desafio e o maior questionamento que deve ser seriamente considerado, já que
a cadeia de custódia é considerada como o elo fraco das investigações criminais.
Com o advento da L. 13.964/2019 e a positivação da cadeia de custódia no Código de
Processo penal a discussão sobre a necessidade de ser preservar os vestígios volta à baila
no processo penal.

15.2.2. Quebra da Cadeia de Custódia, Princípio da Mesmidade e Descon-


fiança

A discussão acerca da quebra da cadeia de custódia adquire especial relevância nas pro-
vas que tem pretensão de ‘evidência’, verdadeiros atalhos para obtenção da tão almejada (e
ilusória) “verdade”, tais como as interceptações telefônicas ou o DNA. São provas que aca-
bam por sedar os sentidos e anular o contraditório.
Nestas situações, por serem obtidas ‘fora do processo’, é  crucial que se demonstre de
forma documentada a cadeia de custódia e toda a trajetória feita, da coleta até a inserção
no processo e valoração judicial. Ora, se um acusado reponde pelo crime de tráfico e o laudo
pericial definitivo ainda não foi realizado, é imprescindível que se tenha a garantia de que a
substância apreendida em poder do acusado seja a mesma submetida a análise.
Geraldo Prado nos traz como exigência dos princípios da “mesmidade”29 e da “descon-
fiança”.
29
(Prado, Ainda sobre a quebra da cadeia de custódia das provas, pp. 16-17)

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Por “mesmidade” (forma aproximada a empregada na língua espanhola, que não possui
correspondente em português e não pode ser traduzido como ‘mesmice’), entende-se a ga-
rantia de que a prova valorada é exatamente e integralmente aquela que foi colhida, corres-
pondendo, portanto “a mesma”. Não raras vezes, por diferentes filtros e manipulações feitas
pelas autoridades que colhem/custodiam a prova, o que é trazido para o processo não obede-
ce a exigência de “mesmidade”, senão que corresponde ao signo de ‘parte do’, que constitui,
em última análise, ‘a outro’ e não ‘ao mesmo’.
Questão recorrente nas interceptações telefônicas está na violação da “mesmidade” e,
por via de consequência, do direito da defesa de ter acesso a integralidade da prova na sua
originalidade (manifestação do contraditório=direito a informação e paridade de armas), na
medida em que a prova é ‘filtrada’ pela autoridade policial ou órgão acusador, que traz para o
processo (e submete ao contraditório diferido) apenas o que lhe interessa. Não é ‘a mesma’
prova colhida, mas apenas aquela que interessa ao acusador, subtraindo o acesso da defesa.
A manipulação (e aqui se emprega no sentido físico do vocábulo, sem juízo de desvalor ou
atribuição de má-fé ao ‘manipulador’) é feita durante a custódia e viola exatamente as regras
de preservação da idoneidade.
Já a “desconfiança” (decorrência salutar em democracia, onde se desconfia do poder, que
precisa ser legitimado sempre) consiste na exigência de que a prova (documentos, DNA, áu-
dios etc.) devam ser ‘acreditados’, submetidos a um procedimento que demonstre que tais
objetos correspondem ao que a parte alega ser. Como explica Geraldo Prado, o tema de pro-
vas exige a intervenção de regras de “acreditação”, pois nem tudo que ingressa no processo
pode ter valor probatório, há que ser “acreditado”, legitimado, valorado desde sua coleta até a
produção em juízo para ter valor probatório.
A exigência de proteção da cadeia de custódia da prova, ao fim e ao cabo, impõe um novo
olhar, mais democrático, que supera a ideia de que a presunção de veracidade dos agentes
públicos é verdadeira panaceia para nossos problemas.
Assim, conforme conclui Aury Lopes Jr, citando Geraldo Prado:

A resposta, para além de tudo o que já se disse sobre o valor e imprescindibilidade de estrito res-
peito às “regras do jogo”, está na necessidade de incorporar um “efeito dissuasório” (deterrent ef-
fect) que serve de desestímulo às agências repressivas quanto à tentação de recorrerem a práticas
ilegais para obter a punição” (Geraldo Prado).

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15.2.3. Fases da Cadeia de Custódia

Como forma de facilitar a fixação das diversas fases da cadeia de custódia, vamos traba-
lhar com a divisão em duas grandes fases: a fase interna e fase externa (não vamos adotar
necessariamente a ordem dos incisos).
Fase externa, do isolamento:

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas: […]


II – isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o am-
biente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime;

Entendemos que antes mesmo de se realizar o reconhecimento, o local deve ser isolado
para que, uma análise pelo perito, possa ser identificado o que é relevante ou não na compre-
ensão da cena do crime.
O isolamento do local deve ser um isolamento físico, através de fitas, cordas ou outros
meios, abrangendo o local propriamente dito e as vias de acesso. Quando o tiro ocorreu em
local fechado, uma residência, por exemplo, muitas vezes os familiares da vítima, na tentativa
de socorrê-la ou de preservar sua imagem, alteram o local. Em locais abertos os populares
também podem alterar o local. É o art. 169 do CPP que determina o isolamento do local30, nos
seguintes termos:

Art. 169. Para efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade provi-
denciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que
poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquema elucidativos.

A atuação da autoridade policial na preservação do local é de vital importância. Essa atu-


ação, por vezes, deve ser firme, enérgica, evitando a alteração ou a subtração de vestígios ma-
teriais importantes, relacionados com o fato. A própria autoridade policial ou seu agente deve
respeitar o local evitando o deslocamento ou o recolhimento, antes da chegada dos peritos,
de qualquer vestígio material. O perito oficial deve ser a primeira pessoa a adentrar no local.
Cabe ressaltar que, segundo o Art. 158-C do CPP, o ingresso em local isolado por tipificar
o crime de fraude processual:

30
(Baldasso)

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Art. 158-C, § 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer vestí-
gios de locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável, sendo tipificada como
fraude processual a sua realização.

Do reconhecimento:

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas:


I – reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a produção
da prova pericial;

Como já afirmamos acima, o reconhecimento da importância de cada elemento deve ser


feito pelo perito criminal que analisará a cena do crime, não devendo ser feito pelo policial
militar ou mesmo pela autoridade policial e seus agentes. O próprio Código de Processo Penal
estabelece que cabe à Autoridade Policial preservar o local do crime para que o perito criminal
possa realizar a análise (reconhecimento) de cada um dos elementos.
Da fixação (descrição):

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas:


III – fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou no corpo
de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens ou
croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo perito responsável
pelo atendimento;

A terceira fase do procedimento é a descrição pormenorizada do vestígio e de tudo que


o cerca. Todos aqueles que tiveram contato com o vestígio serão objeto da descrição, bem
como eventual alteração. Na prática, ainda é comum um corpo ser fotografado ao lado de
objetos pessoais que não são descritos no laudo e acabam se perdendo pelos diversos de-
partamentos para que são remetidos. Tudo deve ser descrito.
Da coleta:

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas:


IV – coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando suas ca-
racterísticas e natureza;
Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial, que dará
o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a realiza-
ção de exames complementares.

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A coleta dá-se no momento em que o vestígio é retirado do local original. É  realizada


preferencialmente por perito oficial (Art.  158-C do CPP) e deve preservar as características
originais do vestígio
Do acondicionamento:

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas: […]


V – acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de for-
ma individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, para poste-
rior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o acondicionamento;

Acondicionar significar “pôr ou guardar em” e, no processo penal, possui o sentido de


embalar o vestígio de modo que não haja contaminação ou desnaturação do mesmo. Sendo
assim, o acondicionamento possui a finalidade de manter íntegras as características físicas,
químicas e biológicas do vestígio.
A alteração legislativa é salutar, entretanto esbarra na falta de estrutura do Estado, que
na maioria dos Estados da federação, sequer disponibiliza recipientes plásticos adequados
para o acondicionamento de vestígios. Resta aguardar como a novidade legislativa será im-
plementada.
Importante ainda, que todo recipiente utilizado para acondicionar o vestígio será selado
com lacre e, sempre que necessário, os lacres violados serão acondicionados no novo reci-
piente, mantendo o registro da cadeia de custódia.

Art.  158-D. O  recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela natureza do
material.
§ 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração individualizada, de for-
ma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte.
§ 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar suas características, impedir contami-
nação e vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço para registro de informações sobre
seu conteúdo.
§ 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e, motivadamente, por
pessoa autorizada.
§ 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de acompanhamento de ves-
tígio o nome e a matrícula do responsável, a data, o local, a finalidade, bem como as informações
referentes ao novo lacre utilizado.
§ 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do novo recipiente.

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Do transporte:

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas: […]


VI – transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições ade-
quadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção de
suas características originais, bem como o controle de sua posse;

Como condição de validade da prova, o vestígio coletado e acondicionado deve ser trans-
portado de forma adequada. Ganha relevo o transporte dos vestígios biológicos, que deve ser
transportado em veículo que assegure a manutenção das características originais do vestí-
gio, inclusive quanto à temperatura.
A degradação do DNA de amostras biológicas, utilizadas em investigação criminal, pode
ocorrer em razão de processo natural de exposição ao meio ambiente. Luz, umidade, tem-
peraturas elevadas, bem como contaminações bacterianas ou fúngicas levam à degradação
química do DNA humano (SCHNEIDER et al, 2004).
Por fim, a fase externa se encerra com o recebimento do vestígio no órgão responsável
pelo armazenamento do vestígio. Portanto, a fase de recebimento é, ao mesmo tempo, o mo-
mento em que se encerra a fase externa e que dá início a fase interna.
Fase interna, do recebimento:

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas: 


VII  – recebimento: ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser documentado
com, no mínimo, informações referentes ao número de procedimento e unidade de polícia judiciária
relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio, código de rastreamento, natu-
reza do exame, tipo do vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu;

Conforme dito acima, a fase de recebimento é, ao mesmo tempo, o momento em que se


encerra a fase externa e que dá início a fase interna. É o momento da transferência da posse
do vestígio, que também deve guardar o procedimento adequado.
Do processamento:

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas: […]


VIII – processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a metodologia
adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado de-
sejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito;

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O processamento do vestígio dá-se durante a manipulação do mesmo para a realização

do exame pelo perito, com a posterior confecção do laudo. É o momento onde propriamente

se realiza a perícia.

Do armazenamento:

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas: 


IX – armazenamento: procedimento referente à guarda, em condições adequadas, do material a ser
processado, guardado para realização de contraperícia, descartado ou transportado, com vincula-
ção ao número do laudo correspondente;

O vestígio que serviu de base à perícia, deverá ser disponibilizado no ambiente do órgão
oficial, para exame pelo assistente técnico, conforme, o CPP:

Art. 159. § 6º Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia
será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença
de Perito Oficial, para exame pelos Assistentes, salvo se for impossível a sua conservação.

Com a L.13.964/2019, surgiu a imposição aos institutos de criminalística de criar suas


respectivas centrais de custódia, que serão responsáveis pelo armazenamento e registro da
manipulação dos vestígios.

Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada à
guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão central de
perícia oficial de natureza criminal.
§ 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de protocolo, com local para conferência,
recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a seleção, a classificação e a dis-
tribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro e apresentar condições ambientais que não
interfiram nas características do vestígio.
§ 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio deverão ser protocoladas, consignan-
do-se informações sobre a ocorrência no inquérito que a eles se relacionam.
§  3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser identificadas e
deverão ser registradas a data e a hora do acesso.
§ 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser registradas,
consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a destinação, a data e horário da
ação.’
Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central de custódia, de-
vendo nela permanecer.
Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de armazenar de-
terminado material, deverá a autoridade policial ou judiciária determinar as condições de depósito

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do referido material em local diverso, mediante requerimento do diretor do órgão central de perícia
oficial de natureza criminal.

Do descarte:

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas:


X  – descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a legislação vigente e,
quando pertinente, mediante autorização judicial.

A Lei n. 13.964/2019 chama de “descarte” a fase de liberação do vestígio. Cuidado, nessa


fase pode ocorrer a restituição do objeto ao proprietário, a destruição propriamente, como no
caso das drogas ou ser dada outra destinação conforme a lei, dependendo, em alguns casos,
de autorização judicial. Perceba que a fase do descarte é o momento em que o vestígio sai da
guarda da central de custódia.

16. Da Prisão e da Liberdade Provisória

16.1. Disposições Gerais

Antes da L. 13.964/2019 Depois da L.13.964/2019


Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título
Art. 282.
deverão ser aplicadas observando-se a:
[…]
I – necessidade para aplicação da lei penal, para a
§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo
investigação ou a instrução criminal e, nos casos
juiz a requerimento das partes ou, quando no curso
expressamente previstos, para evitar a prática de
da investigação criminal, por representação da auto-
infrações penais;
ridade policial ou mediante requerimento do Ministério
II – adequação da medida à gravidade do crime, cir-
Público.
cunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado
ou acusado.

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§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo


§ 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas iso- de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido
lada ou cumulativamente. de medida cautelar, determinará a intimação da parte
§ 2o As medidas cautelares serão decretadas pelo contrária, para se manifestar no prazo de 5 (cinco)
juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou, quando dias, acompanhada de cópia do requerimento e das
no curso da investigação criminal, por representação peças necessárias, permanecendo os autos em juízo,
da autoridade policial ou mediante requerimento do e os casos de urgência ou de perigo deverão ser justifi-
Ministério Público. cados e fundamentados em decisão que contenha ele-
§ 3o Ressalvados os casos de urgência ou de perigo mentos do caso concreto que justifiquem essa medida
de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido excepcional.
de medida cautelar, determinará a intimação da parte § 4º No caso de descumprimento de qualquer das
contrária, acompanhada de cópia do requerimento e obrigações impostas, o juiz, mediante requerimento do
das peças necessárias, permanecendo os autos em Ministério Público, de seu assistente ou do querelante,
juízo. poderá substituir a medida, impor outra em cumulação,
§ 4o No caso de descumprimento de qualquer das obri- ou, em último caso, decretar a prisão preventiva, nos
gações impostas, o juiz, de ofício ou mediante reque- termos do parágrafo único do art. 312 deste Código.
rimento do Ministério Público, de seu assistente ou do § 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes,
querelante, poderá substituir a medida, impor outra em revogar a medida cautelar ou substituí-la quando veri-
cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão pre- ficar a falta de motivo para que subsista, bem como
ventiva (art. 312, parágrafo único). voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a jus-
§ 5o O juiz poderá revogar a medida cautelar ou subs- tifiquem.
tituí-la quando verificar a falta de motivo para que sub- § 6º A prisão preventiva somente será determinada
sista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem quando não for cabível a sua substituição por outra
razões que a justifiquem. medida cautelar, observado o art. 319 deste Código,
§ 6o A prisão preventiva será determinada quando não e o não cabimento da substituição por outra medida
for cabível a sua substituição por outra medida caute- cautelar deverá ser justificado de forma fundamentada
lar (art. 319). nos elementos presentes do caso concreto, de forma
individualizada. (NR)

A primeira observação importante da reforma é a vedação de decretação de medidas

cautelares pessoais de ofício pelo juiz, prevista no Art.  282, §  2º, do CPP, alterado pela L.

13.964/2019.

A alteração vai ao encontro dos anseios da doutrina que durante muito tempo criticou o

antigo § 2º:

Como já explicamos à exaustão, não é papel do juiz, à luz do sistema acusatório constitucional, do
princípio da inércia da jurisdição e dos postulados de imparcialidade, sair decretando prisões ou
medidas cautelares de ofício.31

31
(Jr, Direito Processual Penal, 2016, p. 518)

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Assim, o juiz não pode mais decretar medidas cautelares pessoais de ofício, seja durante
a fase pré-processual (o que já era vedado), seja durante o processo.
O que a Lei n. 13.964/2019 não solucionou, a nosso ver, é se essa vedação se estende às
cautelares probatórias e reais, haja vista que o Art. 3º-A do CPP veda a substituição da ativi-
dade probatória do órgão de acusação.
Vamos a um exemplo: Juiz determina a intimação de uma testemunha requerida pela acu-
sação para comparecer na audiência de instrução e julgamento (Art.400 do CPP). A família
a testemunha informa ao Juízo que ela está à beira da morte. Poderia o juiz determinar que
seu depoimento seja colhido antes da AIJ? Essa antecipação representaria o juiz substituir a
acusação na atividade probatório? Nos parece que não. Aqui ocorreria mera antecipação do
momento da colheita da prova que continuaria a ser produzida pelas partes.
Para fins didáticos, vamos citar as duas posições na doutrina:
Majoritariamente, no tocante às tutelas cautelares probatórias (Ex.: art.  3º, 9296/96,
art. 156, I, CPP e busca e apreensão – art. 242, CPP) e no tocante as tutelas cautelares reais
(sequestro art. 127, CPP), entende-se que o Art. 282, § 2º, do CPP não influencia no atuar de
ofício do juiz, em apreço ao princípio da especialidade. O  próprio legislador quis estabele-
cer um tratamento diferenciado, haja vista, o art. 156, I, do CPP, com a redação dada pela lei
11.690, pois enquanto destinatário da prova, ele tem interesse de produzi-la. E o sequestro de
bens, por outro lado, garante a eficácia cível da sua sentença.
Minoritariamente, entende-se que é imprescindível preservar a linearidade do sistema
processual cautelar, logo, o art. 282, § 2º e 311 do CPP, alterados pela Lei n. 13.964/2019, se
aplicam por analogia as demais tutelas cautelares, até porque “lex posterior derogat anterior”.
Seguimos.
A segunda observação é o reforço no contraditório que já era previsto no Art. 282, § 3º,
do CPP e que, na prática, era ignorado. Ao receber o pedido de medida cautelar, o juiz deverá
intimar a parte contrária, para se manifestar no prazo de 5 dias. Os casos de urgência ou de
perigo deverão ser justificados e fundamentados em decisão.
A concessão de cautelar constritiva da liberdade inaudita altera parte tornou-se excepcio-
nal, ou seja, se o juiz conceder uma tutela cautelar sem ouvir a parte contrária e sem justificar
o porquê de está-la concedendo liminarmente, valendo-se de elementos do caso concreto

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que justifiquem essa medida excepcional, teremos uma tutela nula, por absoluta ofensa ao
contraditório e a ampla defesa.
E o art. 19 da L.11340/06? Foi revogado tacitamente?
Nessa lei, temos uma regra que é exatamente o extremo oposto de tudo que isso que es-
tamos dizendo. Vejamos o que prega o art. 19, caput e § 1º da lei 11.340:

Art.  19. As  medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a  requerimento do
Ministério Público ou a pedido da ofendida.
§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente
de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente
comunicado.

O legislador foi tão radical que, na realidade, não só permitiu ao juiz deferir liminarmente
as medidas protetivas de urgência, como permitiu ao juiz deferi-las, inclusive, sem a oitiva
prévia do Ministério Público. A questão que se coloca é: será que essa regra aqui, por ser pos-
terior (art. 282, § 3º), vai alcançar essa daqui (Maria da Penha), ou não?
O art. 282, § 3º do CPP não repercute no art. 19, caput e § 1º da lei 11.340 em apreço ao
princípio da especialidade, lembrando que o legislador permitiu ao juiz agir liminarmente, in-
clusive, sem ciência prévia do Ministério Público.
Perceba que aqui, a solução difere daquela utilizada para sanar a antinomia entre o Art. 20
da L. 11340/06 e o Art. 282, § 2º, do CPP.
Sobre a possibilidade, ou não, de decretação de prisão preventiva de ofício durante o in-
quérito policial (Art. 20 da L.11340/06) remetemos o aluno ao estudo do juiz de garantias e o
sistema acusatório.
No tocante ao § 4º, assim como no § 2º, em caso de descumprimento, o juiz não poderá
mais, de ofício, substituir a medida, impor outra em cumulação ou decretar a prisão preven-
tiva.
A pergunta que se faz é: seria necessário determinar a intimação da parte contrária para
a substituição da medida ou a decretação da prisão preventiva, ou seja, aplica-se aqui o
Art. 282, § 3º do CPP?
Para Guilherme de Souza Nucci, como o § 4º não exige a intimação da parte contrária, no
caso de descumprimento, o deferimento de novas tutelas cautelares, o reforço ou a substituição,

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incluindo a prisão, é inaudita altera parte, justificando o próprio descumprimento este proce-
der.

Aury Lopes Jr., em sentido contrário, não se pode ignorar que o padrão passou a ser o

contraditório prévio, a ser observado também no caso do § 4º.

É certo também que o descumprimento torna mais fácil relativizar essa exigência de con-

traditório.

No § 5º, a Lei n. 13.964/2019 apenas deixou expressa a possibilidade de o juiz, de ofício

ou a requerimento das partes, revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a

falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que

a justifiquem.

Já o § 6º traz a regra da prisão como ultima ratio, devendo ser decretada apenas quando

as outras medidas cautelares alternativas à prisão se mostrarem insuficientes. A  novidade

trazida pela L. 13.964/2019 é que agora, o  não cabimento da substituição por outra medi-

da cautelar deverá ser justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso

concreto, de forma individualizada, evitando assim, fundamentações genéricas que serviam

para um cem número de casos.

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Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante
delito ou por ordem escrita e fundamentada da auto-
delito ou por ordem escrita e fundamentada da autori-
ridade judiciária competente, em decorrência de sen-
dade judiciária competente, em decorrência de prisão
tença condenatória transitada em julgado ou, no curso
cautelar ou em virtude de condenação criminal transi-
da investigação ou do processo, em virtude de prisão
tada em julgado.
temporária ou prisão preventiva.

O Art.  283 do CPP teve sua redação alterada pela L. 13.964/2019, entretanto sem ne-

nhuma alteração substancial, substituindo a expressão “prisão temporária ou preventiva” por

“prisão cautelar”.

Seguimos.

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Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibi-
Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibi-
ção do mandado não obstará a prisão, e o preso, em tal
ção do mandado não obstará à prisão, e o preso, em tal
caso, será imediatamente apresentado ao juiz que tiver
caso, será imediatamente apresentado ao juiz que tiver
expedido o mandado, para a realização de audiência
expedido o mandado.
de custódia.

O novo Art. 287 do CPP, alterado pela L. 13.964/2019, passou a exigir a realização de audi-
ência de custódia para as prisões decorrentes de cumprimento de mandado de prisão, o que
já era previsto no Pacto de São José da Costa Rica e na Resolução 213/2015 do Conselho
Nacional de Justiça, em seu Art. 13:

Art.  13. A  apresentação à autoridade judicial no prazo de 24 horas também será assegurada às
pessoas presas em decorrência de cumprimento de mandados de prisão cautelar ou definitiva,
aplicando-se, no que couber, os procedimentos previstos nesta Resolução.
Parágrafo único. Todos os mandados de prisão deverão conter, expressamente, a  determinação
para que, no momento de seu cumprimento, a  pessoa presa seja imediatamente apresentada à
autoridade judicial que determinou a expedição da ordem de custódia ou, nos casos em que forem
cumpridos fora da jurisdição do juiz processante, à autoridade judicial competente, conforme lei de
organização judiciária local.

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Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante,
juiz deverá fundamentadamente: no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após
I – relaxar a prisão ilegal; ou a realização da prisão, o juiz deverá promover audiên-
II – converter a prisão em flagrante em preventiva, cia de custódia com a presença do acusado, seu advo-
quando presentes os requisitos constantes do art. 312 gado constituído ou membro da Defensoria Pública e
deste Código, e se revelarem inadequadas ou insufi- o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o
cientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou juiz deverá, fundamentadamente:
III – conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. […]
Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de prisão § 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante,
em flagrante, que o agente praticou o fato nas condi- que o agente praticou o fato em qualquer das condi-
ções constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 ções constantes dos incisos I, II ou III do caput do art.
do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 23 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940
– Código Penal, poderá, fundamentadamente, conce- (Código Penal), poderá, fundamentadamente, conce-
der ao acusado liberdade provisória, mediante termo der ao acusado liberdade provisória, mediante termo
de comparecimento a todos os atos processuais, sob de comparecimento obrigatório a todos os atos pro-
pena de revogação. cessuais, sob pena de revogação.

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§ 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou


que integra organização criminosa armada ou milí-
cia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá
denegar a liberdade provisória, com ou sem medidas
cautelares.
§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivação
idônea, à não realização da audiência de custódia no
prazo estabelecido no caput deste artigo responderá
administrativa, civil e penalmente pela omissão.
§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o
decurso do prazo estabelecido no caput deste artigo,
a não realização de audiência de custódia sem moti-
vação idônea ensejará também a ilegalidade da prisão,
a ser relaxada pela autoridade competente, sem preju-
ízo da possibilidade de imediata decretação de prisão
preventiva.

A sistemática do Art. 310 do CPP permanece a mesma, a novidade fica por conta da pre-
visão expressa do prazo de 24h da lavratura do auto de prisão em flagrante para a realização
da audiência de custódia, sob pena de responsabilidade civil, penal e administrativa do ma-
gistrado (§ 3º).
O §  2º traz vedação absoluta à liberdade provisória quando o agente for reincidente ou
que integrante de organização criminosa armada ou milícia, ou portar arma de fogo de uso
restrito. A hipótese nada mais é do que a chamada prisão “ex lege”, já declarada inconstitu-
cional pelo Supremo Tribunal Federal, por constituir verdadeira antecipação da pena.

Habeas corpus. 2. Paciente preso em flagrante por infração ao art.  33, caput, c/c 40,
III, da Lei 11.343/2006. 3. Liberdade provisória. Vedação expressa (Lei n. 11.343/2006,
art. 44). 4. Constrição cautelar mantida somente com base na proibição legal. 5. Neces-
sidade de análise dos requisitos do art. 312 do CPP. Fundamentação inidônea. 6. Ordem
concedida, parcialmente, nos termos da liminar anteriormente deferida. (HC 104339,
Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2012, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-239 DIVULG 05-12-2012 PUBLIC 06-12-2012)

Alguns dos principais argumentos:

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• ao afastar a concessão de liberdade provisória de forma genérica, a norma retira do juiz


a oportunidade de, no caso concreto, analisar os pressupostos da necessidade ou não
da prisão cautelar;
• proibir a liberdade provisória, representa uma antecipação de pena, o  que é vedado
pela CF;
• a referida proibição estabelece um tipo de regime de prisão preventiva obrigatório,
na medida em que torna a prisão uma regra e a liberdade uma exceção. A  CF/1988,
ao contrário, prevê que a liberdade é a regra e a necessidade da prisão precisa ser de-
vidamente fundamentada;
• cabe ao magistrado e, não ao legislador, verificar se se configuram ou não, em cada
caso, hipóteses que justifiquem a prisão cautelar.

Assim, a prisão provisória sempre vai desempenhar um papel cautelar, nunca uma anteci-
pação de pena, para não ferir a presunção de não culpabilidade. Ou seja, ainda que interpre-
temos restritivamente o art. 5º, inc. LVII da CF, toda a restrição à liberdade deve desempenhar
um papel cautelar e provisório.
Por fim, o § 4º trouxe a previsão de que a não realização da audiência de custódia sem
motivação idônea ensejará também a ilegalidade da prisão, a  ser relaxada pela autoridade
competente, sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão preventiva.
A norma começou com uma boa intenção, mas depois criou o famigerado jeitinho, ou seja,
mesmo não sendo realizada a audiência de custódia, basta o juiz decretar a prisão preventi-
va do autuado para que o vício pela não realização da audiência fique sanado, isto é, o novo
título prisional não é maculado pelos vícios da prisão em flagrante. Essa já era a posição dos
Tribunais Superiores:

Falta da audiência de custódia não enseja nulidade da prisão preventiva, superada que
foi a prisão em flagrante, devendo ser este novo título de prisão aquele a merecer o
exame da legalidade e necessidade. STJ. 6ª Turma. RHC 99.091/AL, Rel. Min. Nefi Cor-
deiro, julgado em 04/09/2018.

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A alegação de nulidade da prisão em flagrante em razão da não realização de audiência


de custódia no prazo legal fica superada com a conversão do flagrante em prisão pre-
ventiva, tendo em vista que constitui novo título a justificar a privação da liberdade.
STJ. 5ª Turma. HC 444.252/MG, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 23/08/2018.
Por força do Pacto dos Direitos Civis e Políticos, da Convenção Interamericana de Direi-
tos Humanos e como decorrência da cláusula do devido processo legal, a realização de
audiência de apresentação (“audiência de custódia”) é de observância obrigatória.
Esta audiência não pode ser dispensada sob a justificativa de que o juiz já se convenceu
de que a prisão preventiva é necessária.
A audiência de apresentação constitui direito subjetivo do preso e, nessa medida, sua
realização não se submete ao livre convencimento do Juiz, sob pena de cerceamento
inconvencional. A  conversão da prisão em flagrante em preventiva não traduz, por si,
a superação da flagrante irregularidade, na medida em que se trata de vício que alcança
a formação e legitimação do ato constritivo.
Desse modo, caso o juiz não tenha decretado a prisão preventiva, o  Tribunal deverá
reconhecer que houve ilegalidade e determinar que o magistrado realize a audiência de
custódia. STF. 1ª Turma. HC 133992, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 11/10/2016.

16.2. Prisão Preventiva

Mantendo a linearidade do sistema, a  L.13824/19 alterou significativamente o papel do


juiz no tocante às medidas cautelas pessoais. Vamos analisar os aspectos da reforma.

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Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou
do processo penal, caberá a prisão preventiva decre-
do processo penal, caberá a prisão preventiva decre-
tada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou
tada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do
a requerimento do Ministério Público, do querelante
querelante ou do assistente, ou por representação da
ou do assistente, ou por representação da autoridade
autoridade policial.
policial.

O art. 311 reforça a regra de que o magistrado não pode decretar a prisão preventiva de
ofício. Não obstante, a nova redação do art. 316 parece trazer exceção à regra naqueles casos
em que o magistrado tenha revogado prisão anteriormente, sobrevindo razões que justifi-
quem a nova decretação.

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Lembrando que, apensar da divergência na doutrina, o Art. 127 do CPP não foi alterado
pela L.13.964/2019, sendo assim, o juiz permanece com seus poderes oficiosos para decretar
medidas cautelares reais e probatórias de ofício.

Art.  127. O  juiz, de ofício, a  requerimento do Ministério Público ou do ofendido, ou mediante re-
presentação da autoridade policial, poderá ordenar o sequestro, em qualquer fase do processo ou
ainda antes de oferecida a denúncia ou queixa.

Sigamos.

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Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada
como garantia da ordem pública, da ordem econômica,
por conveniência da instrução criminal ou para asse-
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada
gurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da
como garantia da ordem pública, da ordem econômica,
existência do crime e indício suficiente de autoria e de
por conveniência da instrução criminal, ou para asse-
perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
gurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da
§ 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada
existência do crime e indício suficiente de autoria.
em caso de descumprimento de qualquer das obriga-
Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá
ções impostas por força de outras medidas cautelares
ser decretada em caso de descumprimento de qual-
(art. 282, § 4o).
quer das obrigações impostas por força de outras
§ 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve
medidas cautelares (art. 282, § 4º).
ser motivada e fundamentada em receio de perigo e
existência concreta de fatos novos ou contemporâ-
neos que justifiquem a aplicação da medida adotada.

Nos requisitos exigidos pelo art. 312 para a decretação da prisão preventiva foi inserida a
necessidade de demonstração de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. Essa
já era a posição do STJ:

(…) pacífico é o entendimento de que a urgência intrínseca às cautelares, notadamente


à prisão processual, exige a contemporaneidade dos fatos justificadores dos riscos que
se pretende com a prisão evitar. A  falta de contemporaneidade do delito imputado ao
paciente e a não ocorrência de fatos novos a justificarem a necessidade de segregação
tornam a prisão preventiva ilegal, por não atenderem ao requisito essencial da caute-
laridade”. (HC n. 493.463/ PR, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Sexta Turma, julgado em
11/6/2019, DJe 25/6/2019).

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Exige-se, ainda, que a decisão esteja expressamente motivada e fundamentada na exis-


tência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a medida.

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Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou dene-
gar a prisão preventiva será sempre motivada e fun-
damentada.
§ 1º Na motivação da decretação da prisão preven-
tiva ou de qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar
concretamente a existência de fatos novos ou contem-
porâneos que justifiquem a aplicação da medida ado-
tada.
§ 2º Não se considera fundamentada qualquer deci-
são judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acór-
dão, que:
I – limitar-se à indicação, à reprodução ou à pará-
frase de ato normativo, sem explicar sua relação com
a causa ou a questão decidida;
Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar
II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem
a prisão preventiva será sempre motivada.
explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;
III – invocar motivos que se prestariam a justificar
qualquer outra decisão;
IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no
processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão
adotada pelo julgador;
V – limitar-se a invocar precedente ou enunciado de
súmula, sem identificar seus fundamentos determi-
nantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se
ajusta àqueles fundamentos;
VI – deixar de seguir enunciado de súmula, juris-
prudência ou precedente invocado pela parte, sem
demonstrar a existência de distinção no caso em jul-
gamento ou a superação do entendimento.

Foi inserido o § 2º ao art. 315, que traz redação idêntica àquela prevista no art. 489, § 1º,
do CPC, apresentando parâmetros do que se considera uma decisão judicial fundamentada.
Nesse contexto, foi inserido o inciso V do art. 564 do CPP, dispondo que será nula a decisão
carente de fundamentação.

Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:


V – Em decorrência de decisão carente de fundamentação.

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Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes,
revogar a prisão preventiva se, no correr da investiga-
ção ou do processo, verificar a falta de motivo para
Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se
no correr do processo, verificar a falta de motivo para sobrevierem razões que a justifiquem.
que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobre- Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá
vierem razões que a justifiquem. o órgão emissor da decisão revisar a necessidade de
sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante
decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a
prisão ilegal.

Prevê-se o novo Art. 316 do CPP que o Juízo que decretar a prisão preventiva deverá re-
visar sua necessidade, de ofício, a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada,
sob pena de tornar a prisão ilegal.

17. Da Restituição de Coisas Apreendidas

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Art. 122. Sem prejuízo do disposto nos arts. 120 e 133, Art. 122. Sem prejuízo do disposto no art. 120, as
decorrido o prazo de 90 dias, após transitar em julgado coisas apreendidas serão alienadas nos termos do
a sentença condenatória, o juiz decretará, se for caso, disposto no art. 133 deste Código.
a perda, em favor da União, das coisas apreendidas Parágrafo único. (Revogado). (NR)
(art. 74, II, “a” e “b” do Código Penal) e ordenará que Art. 124-A. Na hipótese de decretação de perdimento
sejam vendidas em leilão público. de obras de arte ou de outros bens de relevante valor
Parágrafo único. Do dinheiro apurado será recolhido cultural ou artístico, se o crime não tiver vítima deter-
ao Tesouro Nacional o que não couber ao lesado ou a minada, poderá haver destinação dos bens a museus
terceiro de boa-fé. públicos.

A reforma pouco alterou o Art. 122 do CPP, determinando apenas a aplicação do procedi-


mento previsto no Art. 133 do CPP:

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Art. 133. Transitada em julgado a sentença condenató-
Art. 133. Transitada em julgado a sentença condena-
ria, o juiz, de ofício ou a requerimento do interessado
tória, o juiz, de ofício ou a requerimento do interessado,
ou do Ministério Público, determinará a avaliação e
determinará a avaliação e a venda dos bens em leilão
a venda dos bens em leilão público cujo perdimento
público.
tenha sido decretado.

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§ 1º Do dinheiro apurado, será recolhido aos cofres


públicos o que não couber ao lesado ou a terceiro de
Parágrafo único. Do dinheiro apurado, será recolhido
boa-fé.
ao Tesouro Nacional o que não couber ao lesado ou a
§ 2º O valor apurado deverá ser recolhido ao Fundo
terceiro de boa-fé.
Penitenciário Nacional, exceto se houver previsão
diversa em lei especial.

A novidade aqui fica por conta de que o valor apurado com o leilão dos bens apreendidos
deverá ser recolhido ao Fundo Penitenciário Nacional, exceto previsão diversa em lei especial,
o que impõe a aplicação dos recursos na melhoria do sistema penitenciário. Antes da refor-
ma, o dinheiro apurado era recolhido ao Tesouro Nacional.
Assim, os bens cuja perda fora decretada em favor da União, na forma do art. 91, II, “a” e
“b”, do Código Penal, devem ser leiloados, após o trânsito em julgado da sentença condena-
tória, e, deduzidos os valores pertencentes ao lesado ou ao terceiro de boa-fé, o saldo deverá
ser direcionado ao Fundo Penitenciário Nacional. Ressalva-se, é claro, a possibilidade de alie-
nação antecipada, ou seja, antes do trânsito em julgado, desde que preenchidos os requisitos
do art. 144-A do CPP.

Art. 124-A. Na hipótese de decretação de perdimento de obras de arte ou de outros bens de rele-


vante valor cultural ou artístico, se o crime não tiver vítima determinada, poderá haver destinação
dos bens a museus públicos.

Já o art. 124-A ao CPP, permite a destinação a museus públicos de bens de relevante valor


cultural ou artístico, se o crime não tiver vítima determinada (Ex.: uma arma apreendida com
criminosos em que se descobre que a mesma arma foi utilizada na primeira guerra mundial).

18. Das Medidas Assecuratórias

18.1. Utilização de Bens Apreendidos por Órgãos Estatais


Art.  133-A. O  juiz poderá autorizar, constatado o interesse público, a  utilização de bem seques-
trado, apreendido ou sujeito a qualquer medida assecuratória pelos órgãos de segurança pública
previstos no art. 144 da Constituição Federal, do sistema prisional, do sistema socioeducativo, da
Força Nacional de Segurança Pública e do Instituto Geral de Perícia, para o desempenho de suas
atividades.

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§ 1º O órgão de segurança pública participante das ações de investigação ou repressão da infração
penal que ensejou a constrição do bem terá prioridade na sua utilização.
§ 2º Fora das hipóteses anteriores, demonstrado o interesse público, o juiz poderá autorizar o uso
do bem pelos demais órgãos públicos.
§  3º Se o bem a que se refere o caput deste artigo for veículo, embarcação ou aeronave, o  juiz
ordenará à autoridade de trânsito ou ao órgão de registro e controle a expedição de certificado
provisório de registro e licenciamento em favor do órgão público beneficiário, o qual estará isento
do pagamento de multas, encargos e tributos anteriores à disponibilização do bem para a sua uti-
lização, que deverão ser cobrados de seu responsável.
§ 4º Transitada em julgado a sentença penal condenatória com a decretação de perdimento dos
bens, ressalvado o direito do lesado ou terceiro de boa-fé, o juiz poderá determinar a transferência
definitiva da propriedade ao órgão público beneficiário ao qual foi custodiado o bem.

O art.133-A inseriu no Código de Processo Penal hipótese que, anteriormente, situava-se


geograficamente na Lei de Drogas. De toda forma, ainda naquele cenário, já existiam pre-
cedentes no sentido de que, mesmo quando não se tratasse de crimes previstos na Lei n.
11.343/06, seria possível o deferimento da utilização de bens apreendidos aos órgãos públi-
cos.

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 619 DO CPP. INE-
XISTÊNCIA. NOMEAÇÃO COMO DEPOSITÁRIO DO BEM APREENDIDO. DEFICIÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF. ORIGEM LÍCITA DOS BENS. IMPOSSIBILIDADE DE
REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA.
SÚMULA 7/STJ. UTILIZAÇÃO, POR ÓRGÃO PÚBLICO, DE BEM APREENDIDO. POSSIBILI-
DADE. ANALOGIA.
1. Inexiste a alegada violação do art.  619 do Código de Processo Penal, pois não há,
no acórdão objurgado, as omissões e a contradição apontadas pelo recorrente. Assim,
o  mero inconformismo da parte com o resultado do julgamento não se coaduna com
a via do recurso integrativo, sobretudo porque a concessão de efeitos infringentes aos
embargos de declaração somente pode ocorrer em hipóteses excepcionais, em casos
de erro evidente, não se prestando, pois, para revisar a lide (EDcl nos EDcl nos EDcl nos
EDcl na MC n.11.877/SP, Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 13/12/2013).
2. O conteúdo do dispositivo tido como violado (art. 139 do CPP) não guarda pertinên-
cia com a pretensão manifestada – nomeação do recorrente como depositário do bem
apreendido. Assim, tem aplicação a Súmula 284/STF, em razão da falta de delimitação

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da controvérsia, decorrente da não indicação de artigo de lei federal cuja interpretação


seja capaz de modificar a conclusão do julgado.
Ademais, o Tribunal de origem manteve o entendimento manifestado pelo Juízo de pri-
meiro grau no sentido de que o recorrente realmente pode ser nomeado depositário do
imóvel e do veículo apreendidos, mas não da aeronave, por não se encontrar presente a
boa-fé, sobretudo porque o bem servia de eficiente e ágil meio de transporte aos inte-
grantes da quadrilha. E tal conclusão não deve ser alterada, pois, havendo motivo justo,
como o é aquele apresentado pelas instâncias ordinárias, é possível a recusa da nome-
ação do réu como depositário. Precedente.
3. Uma vez que a Corte de origem afirmou não ter o recorrente se desincumbido do ônus
de comprovar cabalmente as origens lícitas dos bens, resulta claro que a modificação
do entendimento, para fins de deferimento do pedido de restituição, demanda reexame
do contexto fático-probatório, o que é vedado em sede de recurso especial (Súmula 7/
STJ). Precedente.
4. Observada, de um lado, a inexistência, no Código de Processo Penal, de norma con-
dizente à utilização de bens apreendidos por órgãos públicos e verificada, de outro
lado, a  existência, no ordenamento jurídico, de norma neste sentido – art.  61 da Lei
n.11.343/2006 -, é possível o preenchimento da lacuna por meio da analogia, sobretudo
se presente o interesse público em evitar a deterioração do bem. Ademais, a existência,
no projeto do novo Código de Processo Penal (PL n. 8.045/2010), de seção específica a
tratar do tema, sob o título “Da utilização dos bens por órgãos públicos”, demonstra a
efetiva ocorrência de lacuna no Código atualmente em vigor, bem como a clara intenção
de supri-la.
5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, improvido.
(REsp 1420960/MG, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
24/02/2015, DJe 02/03/2015)

Atente-se que a Lei de Drogas prevê somente a possibilidade de a medida incidir sobre os
bens que tenham sido utilizados na prática criminosa, nada dispondo acerca dos bens aufe-
ridos em razão dela (produto ou proveito). Já a nova redação do art. 133-A, ao dispor que a
medida se estende a todos os bens sujeitos às medidas assecuratórias, não faz semelhante
restrição.

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Em relação à destinação final de tais bens, depois de transitada em julgado a respectiva


sentença penal condenatória, a nova legislação prevê a possibilidade de eles serem transferi-
dos definitivamente ao órgão público beneficiário ao qual foi custodiado o bem.
Dúvida pode surgir em relação à adoção do mesmo procedimento quando se tratarem de
bens relacionados ao tráfico de drogas, seja em razão da lei especial não prever determinação
no mesmo sentido, seja em razão do art. 243, parágrafo único, da Constituição da República,
dispor que todos os bens apreendidos em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes de-
verão reverter ao fundo especial com destinação específica, no caso, o FUNAD.
Parte da doutrina já começa a criticar o dispositivo alegando que o mesmo traz para den-
tro da polícia uma lógica empresarial.

Referido artigo possui o viés de, constatado o interesse público, permitir ao juiz autorizar o uso do
bem sequestrado, apreendido ou sujeito a qualquer medida assecuratória pelos órgãos de segu-
rança pública, a fim de auxiliar em suas atividades de prevenção e repressão a infrações penais.
Em seus parágrafos, dá prioridade de posse aos órgãos que realizaram a constrição do bem, bem
como permite a sua transferência definitiva, quando transitada a sentença penal condenatória,
com a decretação de perdimento. À  primeira vista, tal medida parece ensejar um fortalecimento
aos órgãos de segurança pública, os quais teriam um acréscimo de armas, veículos e outros sub-
sídios que, por vezes, poderiam ser de boa qualidade, para atuarem no combate ao crime; por outro
lado, uma história parecida já ocorreu na América do Norte, e os resultados não foram aqueles que
se esperavam previamente à implantação do projeto. (O uso do bem apreendido e a lógica empre-
sarial na polícia. Andrey Henrique Andreolla. Boletim – 317 – Esp. Pac. Anticrime. IBDCRIM)

Pronto, a  partir desse agora, passaremos a tratar do último bloco de alterações: aquela
operadas em relação à legislação especial.

19. Alterações no Procedimento do Tribunal do Júri


Art. 492, I, e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se
presentes os requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de condenação a uma pena igual ou su-
perior a 15 (quinze) anos de reclusão, determinará a execução provisória das penas, com expedição
do mandado de prisão, se for o caso, sem prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser
interpostos;
§ 3º O presidente poderá, excepcionalmente, deixar de autorizar a execução provisória das penas
de que trata a alínea e do inciso I do caput deste artigo, se houver questão substancial cuja reso-
lução pelo tribunal ao qual competir o julgamento possa plausivelmente levar à revisão da conde-
nação.

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§ 4º A apelação interposta contra decisão condenatória do Tribunal do Júri a uma pena igual ou
superior a 15 (quinze) anos de reclusão não terá efeito suspensivo.
§ 5º Excepcionalmente, poderá o tribunal atribuir efeito suspensivo à apelação de que trata o § 4º
deste artigo, quando verificado cumulativamente que o recurso:
I – não tem propósito meramente protelatório; e
II  – levanta questão substancial e que pode resultar em absolvição, anulação da sentença, novo
julgamento ou redução da pena para patamar inferior a 15 (quinze) anos de reclusão.
§ 6º O pedido de concessão de efeito suspensivo poderá ser feito incidentemente na apelação ou
por meio de petição em separado dirigida diretamente ao relator, instruída com cópias da sentença
condenatória, das razões da apelação e de prova da tempestividade, das contrarrazões e das de-
mais peças necessárias à compreensão da controvérsia.” (NR)

A partir da nova legislação, como regra, tão logo proferida a decisão colegiada pelo Con-
selho de Sentença e fixada uma pena pelo juiz-presidente em patamar igual ou superior à 15
anos de reclusão, a  execução da pena, com a respectiva expedição do mandado de prisão,
passará a ser seu consectário imediato, dispensando-se quaisquer aferições relacionadas à
presença dos requisitos da prisão preventiva no caso.
Nos termos ora previstos, este início imediato da execução somente poderá ser obstado
em caráter excepcional, seja pelo próprio juiz-presidente (§ 3º), seja pelo relator do recurso
de apelação (§ 5º), quando presentes os requisitos estabelecidos pelo próprio legislador que,
em tese, justificariam a concessão de efeito suspensivo ao recurso.

20. Alterações na Lei de Execução Penal

20.1. Da Classificação
Art. 9º-A. Os condenados por crime praticado, dolosamente, com violência de natureza grave con-
tra pessoa, ou por qualquer dos crimes previstos no art. 1º da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990,
serão submetidos, obrigatoriamente, à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA
– ácido desoxirribonucleico, por técnica adequada e indolor. (Incluído pela Lei n. 12.654, de 2012)
§  1º A identificação do perfil genético será armazenada em banco de dados sigiloso, conforme
regulamento a ser expedido pelo Poder Executivo. (Incluído pela Lei n. 12.654, de 2012)
§ 1º-A. A regulamentação deverá fazer constar garantias mínimas de proteção de dados genéticos,
observando as melhores práticas da genética forense. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 2º A autoridade policial, federal ou estadual, poderá requerer ao juiz competente, no caso de in-
quérito instaurado, o acesso ao banco de dados de identificação de perfil genético. (Incluído pela
Lei n. 12.654, de 2012)

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§ 3º Deve ser viabilizado ao titular de dados genéticos o acesso aos seus dados constantes nos
bancos de perfis genéticos, bem como a todos os documentos da cadeia de custódia que gerou
esse dado, de maneira que possa ser contraditado pela defesa. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§  4º O condenado pelos crimes previstos no caput deste artigo que não tiver sido submetido à
identificação do perfil genético por ocasião do ingresso no estabelecimento prisional deverá ser
submetido ao procedimento durante o cumprimento da pena. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 5º (VETADO). (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 6º (VETADO). (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 7º (VETADO). (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 8º Constitui falta grave a recusa do condenado em submeter-se ao procedimento de identifica-
ção do perfil genético. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

A Lei n. 13.964/2019 modificou o Art. 9-A da LEP, que trata da classificação, incluindo a


previsão da necessária regulamentação das informações genéticas dos reeducandos. Além
disso, assegurou o acesso a todos os documentos ligados à cadeia de custódia, alteração fei-
ra em harmonia com as novas disposições do Código de Processo Penal no tocante à cadeia
de custódia. A coleta do material genético poderá ser realizada a qualquer momento durante
o cumprimento da pena.

Art. 50, VIII – recusar submeter-se ao procedimento de identificação do perfil genético.

Ao rol taxativo da Lei de Execução Penal (art. 50), que tipifica as condutas dos apenados
que constituem as faltas de natureza grave, foi acrescido o inciso VIII, que trata da conduta
do apenado relativa à sua recusa em ser submetido ao procedimento de identificação de perfil
genético.
Cumpre recordar, porém, o quanto previsto na Súmula n. 533 do STJ, no sentido de que:

Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, é imprescindí-


vel a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, asse-
gurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado.

Apesar do quanto sumulado, a  exigibilidade do PAD longe está de ser questão pacifica-
da. Neste sentido, no âmbito do STF, o Tema 941 encontra-se pendente de julgamento pelo
Plenário Físico, e  prevê  a possibilidade de afastar-se o prévio procedimento administrativo
disciplinar, ou suprir sua eventual deficiência técnica, na hipótese de oitiva do condenado
em audiência de justificação no juízo da execução pena, realizada na presença do ministério
público ou defensor.

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20.2. Das Faltas Disciplinares – Regime Disciplinar Diferenciado (RDD)


Art.  52. A  prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasionar
subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional
ou estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes
características:
I – duração máxima de até 2 (dois) anos, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave
de mesma espécie;
II – recolhimento em cela individual;
III – visitas quinzenais, de 2 (duas) pessoas por vez, a serem realizadas em instalações equipadas
para impedir o contato físico e a passagem de objetos, por pessoa da família ou, no caso de tercei-
ro, autorizado judicialmente, com duração de 2 (duas) horas;
IV – direito do preso à saída da cela por 2 (duas) horas diárias para banho de sol, em grupos de até
4 (quatro) presos, desde que não haja contato com presos do mesmo grupo criminoso;
V – entrevistas sempre monitoradas, exceto aquelas com seu defensor, em instalações equipadas
para impedir o contato físico e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em
contrário;
VI – fiscalização do conteúdo da correspondência;
VII  – participação em audiências judiciais preferencialmente por videoconferência, garantindo-se
a participação do defensor no mesmo ambiente do preso.
§ 1º O regime disciplinar diferenciado também será aplicado aos presos provisórios ou condena-
dos, nacionais ou estrangeiros:
I – que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da socie-
dade;
II – sob os quais recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título,
em organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada, independentemente da práti-
ca de falta grave.
§ 2º (Revogado).
§  3º Existindo indícios de que o preso exerce liderança em organização criminosa, associação
criminosa ou milícia privada, ou que tenha atuação criminosa em 2 (dois) ou mais Estados da
Federação, o regime disciplinar diferenciado será obrigatoriamente cumprido em estabelecimento
prisional federal.
§ 4º Na hipótese dos parágrafos anteriores, o regime disciplinar diferenciado poderá ser prorroga-
do sucessivamente, por períodos de 1 (um) ano, existindo indícios de que o preso:
I  – continua apresentando alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal de
origem ou da sociedade;
II – mantém os vínculos com organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada, con-
siderados também o perfil criminal e a função desempenhada por ele no grupo criminoso, a ope-
ração duradoura do grupo, a superveniência de novos processos criminais e os resultados do tra-
tamento penitenciário.
§ 5º Na hipótese prevista no § 3º deste artigo, o regime disciplinar diferenciado deverá contar com
alta segurança interna e externa, principalmente no que diz respeito à necessidade de se evitar
contato do preso com membros de sua organização criminosa, associação criminosa ou milícia
privada, ou de grupos rivais.

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§ 6º A visita de que trata o inciso III do caput deste artigo será gravada em sistema de áudio ou de
áudio e vídeo e, com autorização judicial, fiscalizada por agente penitenciário.
§ 7º Após os primeiros 6 (seis) meses de regime disciplinar diferenciado, o preso que não receber
a visita de que trata o inciso III do caput deste artigo poderá, após prévio agendamento, ter contato
telefônico, que será gravado, com uma pessoa da família, 2 (duas) vezes por mês e por 10 (dez)
minutos. (NR)

O art. 52 da Lei de Execução Penal que trata do Regime Disciplinar Diferenciado foi rees-
truturado sofrendo significativas alterações, dentre as quais destacam-se:

Antes da L. 13.964/2019 Depois da L.13.964/2019


Duração máxima: 02 anos, sem prejuízo
de repetição da sanção por nova falta grave de mesma
Duração máxima: 360 dias, sem prejuízo de repetição espécie (art. 52, inc. I, da LEP).
da sanção por nova falta grave de mesma espécie até Frequência de visitas: quinzenais (art.
1/6 da pena aplicada (art. 52, inc. I, da LEP) 52, inc. III, da LEP)
Frequência de visitas: semanais (art. 52, inc. III, da LEP) Número de visitantes: 02 pessoas por vez, por pessoa
Número de visitantes: 02 pessoas, sem contar as da família ou terceiro autorizado judicialmente (art. 52,
crianças (art. 52, inc. III, da LEP) inc. III,
Banho de sol: 02 (duas) horas (art. da LEP)
52, inc. IV, LEP) Banho de sol: 02 (duas) horas em grupos de 04 (quatro)
presos, desde que não haja contato com o mesmo
grupo criminoso (art. 52, inc. IV, LEP)

Resta evidente que o legislador buscou o endurecimento na aplicação da sanção, princi-


palmente, sob a justificativa do intento de evitar o fortalecimento e a articulação de organiza-
ções criminosas dentro dos estabelecimentos penais.
O RDD foi sensivelmente alterado, sua duração máxima foi elevada de trezentos e ses-
senta dias para dois anos, retirando-se a limitação de um sexto da pena que antes existia.
(Inciso I). O inciso III passou a computar as crianças no limite máximo de 2 (duas) pessoas,
bem como diminuiu a frequência das visitas, que antes eram semanais e passaram a ser
quinzenais. Além disso, o inciso III deixou clara a necessidade de as visitas serem realizadas
em instalações equipadas e seguras.
No inciso IV, a L.13.964/2019 limitou o exercício do direito ao banho de sol por grupos de
quatro presos, desde que não integrem a mesma organização criminosa.
O § 3º traz hipótese obrigatória de cumprimento do RDD em estabelecimento prisional fe-
deral, enquanto o § 4º possibilita a prorrogação do RDD, (que é de até dois anos), por períodos
sucessivos de um ano, desde que as condições dos incisos I e II estejam presentes.

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Os § § 5º e 6º tratam de procedimentos de segurança, no que diz respeito ao controle do


contato entre os próprios presos e destes com as suas visitas, o que visa a dificultar a trans-
missão de mensagens aos membros da organização que se encontrem em liberdade.
O § 7º, por fim, traz medida para amenizar o isolamento inerente ao RDD, permitindo que o
preso que não receba visitas (pela distância geográfica de sua terra natal, por exemplo) tenha
contato telefônico, sempre gravado, com uma pessoa da família.

20.3. Progressão de Regime Prisional


Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência
para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos:
I – 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido sem
violência à pessoa ou grave ameaça;
II – 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem violência
à pessoa ou grave ameaça;
III – 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido
com violência à pessoa ou grave ameaça;
IV – 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido com violência
à pessoa ou grave ameaça;
V – 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo
ou equiparado, se for primário;
VI – 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for:
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário,
vedado o livramento condicional;
b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada
para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou
c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;
VII – 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo
ou equiparado;
VIII – 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equipa-
rado com resultado morte, vedado o livramento condicional.
§ 1º Em todos os casos, o apenado só terá direito à progressão de regime se ostentar boa conduta
carcerária, comprovada pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a pro-
gressão.
§ 2º A decisão do juiz que determinar a progressão de regime será sempre motivada e precedida
de manifestação do Ministério Público e do defensor, procedimento que também será adotado na
concessão de livramento condicional, indulto e comutação de penas, respeitados os prazos pre-
vistos nas normas vigentes.
…………………………………………………………………………………
§ 5º Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime de tráfico de dro-
gas previsto no § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006.

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§ 6º O cometimento de falta grave durante a execução da pena privativa de liberdade interrompe o
prazo para a obtenção da progressão no regime de cumprimento da pena, caso em que o reinício
da contagem do requisito objetivo terá como base a pena remanescente.
§ 7º (VETADO). (NR)

Os requisitos objetivos para concessão da progressão de regime passaram a ser escalo-


nados, considerando a gravidade do delito e a primariedade ou reincidência do apenado:

Cuidando-se de norma processual penal com reflexos penais, em sua parte prejudicial,
exceto nos casos elencados os itens I e III, os novos lapsos temporais exigidos para conces-
são da progressão de regime apenas serão aplicados aos apenados cujos delitos tenham
ocorrido a partir da vigência da Lei n. 13.964/2019 (23.01.2020).
Com a previsão § 6º do art. 112, o entendimento jurisprudencial majoritário do Superior
Tribunal de Justiça, que deu origem a Súmula 534, passa a ser incorporado em dispositivo da
Lei de Execução Penal, reafirmando-se, assim, que o cometimento de falta grave interrompe o
prazo para progressão de regime.

20.4. Saída Temporária


Art. 122, § 2º Não terá direito à saída temporária a que se refere o caput deste artigo o condenado
que cumpre pena por praticar crime hediondo com resultado morte. (NR)

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Com o advento da Lei, os condenados por crimes cometidos após 23.01.2020 que estejam
previstos como crimes hediondos com resultado morte não poderão ser beneficiados com a
saída temporária. Trata-se de mais uma alteração in pejus ligada à prática de crimes hedion-
dos com resultado morte.

20.5. Lei de Organização Criminosa e Requisito para Concessão de


Benefícios
Art. 2º, § 8º As lideranças de organizações criminosas armadas ou que tenham armas à disposição
deverão iniciar o cumprimento da pena em estabelecimentos penais de segurança máxima.
§ 9º O condenado expressamente em sentença por integrar organização criminosa ou por crime
praticado por meio de organização criminosa não poderá progredir de regime de cumprimento de
pena ou obter livramento condicional ou outros benefícios prisionais se houver elementos proba-
tórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo. (NR)

O § 8º, acrescido ao art. 2º da Lei n. 12.850/2013, passa a determinar o início do cumpri-


mento de pena de presos ligados a lideranças de organizações criminosas armadas ou que
tenham armas à disposição, como sendo os estabelecimentos penais de segurança máxima.
O § 9º busca estabelecer um requisito especial para concessão de progressão, livramento
e “outros benefícios prisionais” para os apenados condenados por integral organização crimi-
nal, a saber, a inexistência de elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo
associativo;
Especificamente em relação ao § 9º, por se tratar de norma processual penal com reflexos
penais, seus efeitos incidirão apenas nas execuções de pena.

21. Alterações na Lei de Organização Criminosa – Lei n. 12.850/2013

21.1. Colaboração Premiada (Lei n. 12.850/2013)


Art. 3º-A. O acordo de colaboração premiada é negócio jurídico processual e meio de obtenção de
prova, que pressupõe utilidade e interesse públicos.
Art. 3º-B. O recebimento da proposta para formalização de acordo de colaboração demarca o início
das negociações e constitui também marco de confidencialidade, configurando violação de sigilo
e quebra da confiança e da boa-fé a divulgação de tais tratativas iniciais ou de documento que as
formalize, até o levantamento de sigilo por decisão judicial.

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§ 1º A proposta de acordo de colaboração premiada poderá ser sumariamente indeferida, com a
devida justificativa, cientificando-se o interessado.
§ 2º Caso não haja indeferimento sumário, as partes deverão firmar Termo de Confidencialidade
para prosseguimento das tratativas, o que vinculará os órgãos envolvidos na negociação e impe-
dirá o indeferimento posterior sem justa causa.
§ 3º O recebimento de proposta de colaboração para análise ou o Termo de Confidencialidade não
implica, por si só, a suspensão da investigação, ressalvado acordo em contrário quanto à proposi-
tura de medidas processuais penais cautelares e assecuratórias, bem como medidas processuais
cíveis admitidas pela legislação processual civil em vigor.
§  4º O acordo de colaboração premiada poderá ser precedido de instrução, quando houver ne-
cessidade de identificação ou complementação de seu objeto, dos fatos narrados, sua definição
jurídica, relevância, utilidade e interesse público.
§  5º Os termos de recebimento de proposta de colaboração e de confidencialidade serão elabo-
rados pelo celebrante e assinados por ele, pelo colaborador e pelo advogado ou defensor público
com poderes específicos.
§ 6º Na hipótese de não ser celebrado o acordo por iniciativa do celebrante, esse não poderá se
valer de nenhuma das informações ou provas apresentadas pelo colaborador, de boa-fé, para qual-
quer outra finalidade.
Art.  3º-C. A  proposta de colaboração premiada deve estar instruída com procuração do interes-
sado com poderes específicos para iniciar o procedimento de colaboração e suas tratativas, ou
firmada pessoalmente pela parte que pretende a colaboração e seu advogado ou defensor público.
§ 1º Nenhuma tratativa sobre colaboração premiada deve ser realizada sem a presença de advo-
gado constituído ou defensor público.
§  2º Em caso de eventual conflito de interesses, ou de colaborador hipossuficiente, o  celebrante
deverá solicitar a presença de outro advogado ou a participação de defensor público.
§ 3º No acordo de colaboração premiada, o colaborador deve narrar todos os fatos ilícitos para os
quais concorreu e que tenham relação direta com os fatos investigados.
§ 4º Incumbe à defesa instruir a proposta de colaboração e os anexos com os fatos adequadamente
descritos, com todas as suas circunstâncias, indicando as provas e os elementos de corroboração.

As alterações buscaram esclarecer alguns aspectos que, na falta de marco legal, vinham
sendo objeto de regulamentação institucional. Neste particular, previu-se que a proposta de
colaboração poderá ser sumariamente indeferida, mediante justificativa e cientificação do
interessado.
Eventual início de tratativas, porém, figurará como marco inicial de confidencialidade e,
por isto, pressupõe seja firmado um Termo de Confidencialidade, vigente até o levantamento
judicial do sigilo. A proposta de colaboração deverá ser instruída com procuração com pode-
res específicos ou estar firmada pessoalmente pelo proponente.

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Embora o início das tratativas não implique em suspensão das investigações, fica ga-
rantida a possibilidade de ser firmado acordo quanto à propositura de medidas cautelares e
assecuratórias penais e/ou medidas processuais cíveis. Firmado o Termo de Confidenciali-
dade e iniciadas as tratativas, fica impedido o indeferimento posterior da colaboração sem
que haja justa causa para tanto. Uma tal previsão desperta, ainda mais, para a importância de
uma análise criteriosa sobre a pertinência e necessidade da colaboração antes do início das
referidas tratativas.
A previsão inserida no §  6º do art.  3º-B, até onde se nota, busca impedir que provas e
informações apresentadas sejam utilizadas para qualquer outra finalidade, no caso de o Mi-
nistério Público desistir da celebração do acordo.

A contrario sensu, é  possível interpretar que, caso o acordo não seja celebrado por iniciativa do
pretenso colaborador, as provas e informações poderão ser utilizadas contra terceiros, nos termos
do quanto previsto no § 10 do art. 4º.

Dispôs o legislador que, no acordo de colaboração premiada, o  colaborador deverá nar-


rar todos os fatos ilícitos para os quais concorreu e que tenham relação direta com os fatos
investigados. Esta previsão dá margem a interpretar-se de forma distinta do quanto se vinha
entendendo, admitindo-se, em tese, que o colaborador venha a omitir fatos dos quais tenha
ciência, mas para os quais não tenha concorrido ou que não tenham relação direta com os
fatos investigados (Ainda que assim se interprete, nada impedirá que o colaborador traga
outros fatos não relacionados à investigação. E isto até para fins de valoração das cláusulas
premiais que merecerão estar presentes. O que não mais parece ser possível é interpretar-se
que eventual omissão interferirá na própria validade do acordo.
O § 4º do art. 3º-C expressamente estabelece ser incumbência da Defesa instruir adequa-
damente a proposta, indicando as provas e os elementos de corroboração dos fatos narrados.

Art. 4º, § 4º Nas mesmas hipóteses do caput deste artigo, o Ministério Público poderá deixar de
oferecer denúncia se a proposta de acordo de colaboração referir-se a infração de cuja existência
não tenha prévio conhecimento e o colaborador:
§ 4º-A. Considera-se existente o conhecimento prévio da infração quando o Ministério Público ou
a autoridade policial competente tenha instaurado inquérito ou procedimento investigatório para
apuração dos fatos apresentados pelo colaborador.
§ 7º Realizado o acordo na forma do § 6º deste artigo, serão remetidos ao juiz, para análise, o res-
pectivo termo, as  declarações do colaborador e cópia da investigação, devendo o juiz ouvir

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sigilosamente o colaborador, acompanhado de seu defensor, oportunidade em que analisará os


seguintes aspectos na homologação:
I – regularidade e legalidade;
II – adequação dos benefícios pactuados àqueles previstos no caput e nos § § 4º e 5º deste artigo,
sendo nulas as cláusulas que violem o critério de definição do regime inicial de cumprimento de
pena do art. 33 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), as regras de
cada um dos regimes previstos no Código Penal e na Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de
Execução Penal) e os requisitos de progressão de regime não abrangidos pelo § 5º deste artigo;
III – adequação dos resultados da colaboração aos resultados mínimos exigidos nos incisos I, II,
III, IV e V do caput deste artigo;
IV – voluntariedade da manifestação de vontade, especialmente nos casos em que o colaborador
está ou esteve sob efeito de medidas cautelares.
§ 7º-A O juiz ou o tribunal deve proceder à análise fundamentada do mérito da denúncia, do per-
dão judicial e das primeiras etapas de aplicação da pena, nos termos do Decreto-Lei n. 2.848, de
7 de dezembro de 1940 (Código Penal) e do Decreto-Lei n. 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código
de Processo Penal), antes de conceder os benefícios pactuados, exceto quando o acordo prever
o não oferecimento da denúncia na forma dos § § 4º e 4º-A deste artigo ou já tiver sido proferida
sentença.
§ 7º-B. São nulas de pleno direito as previsões de renúncia ao direito de impugnar a decisão ho-
mologatória.
§ 8º O juiz poderá recusar a homologação da proposta que não atender aos requisitos legais, de-
volvendo-a às partes para as adequações necessárias.
§ 10 A Em todas as fases do processo, deve-se garantir ao réu delatado a oportunidade de mani-
festar-se após o decurso do prazo concedido ao réu que o delatou.
§ 13 O registro das tratativas e dos atos de colaboração deverá ser feito pelos meios ou recursos
de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinados a
obter maior fidelidade das informações, garantindo-se a disponibilização de cópia do material ao
colaborador.
§ 16 Nenhuma das seguintes medidas será decretada ou proferida com fundamento apenas nas
declarações do colaborador:
I – medidas cautelares reais ou pessoais;
II – recebimento de denúncia ou queixa-crime;
III – sentença condenatória.
§ 17 O acordo homologado poderá ser rescindido em caso de omissão dolosa sobre os fatos objeto
da colaboração.
§ 18 O acordo de colaboração premiada pressupõe que o colaborador cesse o envolvimento em
conduta ilícita relacionada ao objeto da colaboração, sob pena de rescisão.’ (NR)
Art. 5º, VI – cumprir pena ou prisão cautelar em estabelecimento penal diverso dos demais corréus
ou condenados. (NR)
Art. 7º, § 3º O acordo de colaboração premiada e os depoimentos do colaborador serão mantidos
em sigilo até o recebimento da denúncia ou da queixa-crime, sendo vedado ao magistrado decidir
por sua publicidade em qualquer hipótese.’ (NR)”

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Sem embargo do caráter descritivo dos dispositivos alterados, merece destaque a previ-
são de que o benefício de não oferecimento de denúncia, além dos requisitos preexistentes,
passou a estar limitado aos casos em que a colaboração se refira a fatos dos quais o Minis-
tério Público não tenha conhecimento prévio.
Considera-se existente este conhecimento prévio quando houver inquérito policial ou pro-
cedimento investigatório instaurado para apuração dos fatos.
Formalizado o acordo, os  documentos serão encaminhados ao Juízo que, para fins de
homologação, ouvirá sigilosamente o colaborador e analisará a regularidade, legalidade, vo-
luntariedade e adequação dos benefícios e resultados.
São consideradas nulas as cláusulas que violem a definição de regime de cumprimento de
pena ou relacionadas aos requisitos de progressão não abrangidos pelo § 5º do art. 4º.
São consideradas nulas, ainda, as cláusulas de renúncia ao direito de impugnar a decisão
homologatória.
Quanto à competência, determina o art.  3º-B que a homologação deverá ser realizada
pelo “juiz das garantias”, quando realizada durante a investigação.
Caso o juiz recuse a homologação do acordo, remeterá novamente às partes para as ade-
quações necessárias.
Fruto de recente discussão jurisprudencial, previu o legislador que o réu delatado sempre
deverá se manifestar nos autos por último, ou seja, após decorrido o prazo ao réu que delatou.
Estabelece-se, ainda, que somente as declarações do colaborador não são suficientes
para a decretação de medidas cautelares pessoais ou reais, recebimento da denúncia ou
queixa e para proferir sentença condenatória.
Sem embargo, as declarações acompanhadas de outras provas e elementos de corrobo-
ração fornecidos pelo colaborador podem ser suficientes a demonstrar a necessidade das
medidas.
Foi trazida a previsão de que o acordo poderá ser rescindido:

I – no caso de omissão dolosa sobre os fatos objetos da colaboração; ou


II – no caso de o colaborador permanecer envolvido em práticas criminosas relacionadas ao objeto
da colaboração. Da interpretação literal do dispositivo, extrai-se que a manutenção de envolvi-
mento em condutas criminosas não relacionadas ao objeto da colaboração não teria o condão de
possibilitar a rescisão do acordo, daí a importância de cláusula expressa nesse sentido.

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O acordo de colaboração e seus documentos ficarão em sigilo até o recebimento da de-


núncia, não sendo possível sua anterior publicidade em qualquer hipótese.

21.2. Agente Infiltrado e Ambiente Cibernético (Lei n. 12.850/2013)


Art. 10-A. Será admitida a ação de agentes de polícia infiltrados virtuais, obedecidos os requisitos
do caput do art. 10, na internet, com o fim de investigar os crimes previstos nesta Lei e a eles cone-
xos, praticados por organizações criminosas, desde que demonstrada sua necessidade e indica-
dos o alcance das tarefas dos policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e, quando
possível, os dados de conexão ou cadastrais que permitam a identificação dessas pessoas.
§ 1º Para efeitos do disposto nesta Lei, consideram-se:
I – dados de conexão: informações referentes a hora, data, início, término, duração, endereço de
Protocolo de Internet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão;
II – dados cadastrais: informações referentes a nome e endereço de assinante ou de usuário regis-
trado ou autenticado para a conexão a quem endereço de IP, identificação de usuário ou código de
acesso tenha sido atribuído no momento da conexão.
§ 2º Na hipótese de representação do delegado de polícia, o juiz competente, antes de decidir, ou-
virá o Ministério Público.
§ 3º Será admitida a infiltração se houver indícios de infração penal de que trata o art. 1º desta Lei
e se as provas não puderem ser produzidas por outros meios disponíveis.
§ 4º A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de eventuais reno-
vações, mediante ordem judicial fundamentada e desde que o total não exceda a 720 (setecentos
e vinte) dias e seja comprovada sua necessidade.
§ 5º Findo o prazo previsto no § 4º deste artigo, o relatório circunstanciado, juntamente com todos
os atos eletrônicos praticados durante a operação, deverão ser registrados, gravados, armazena-
dos e apresentados ao juiz competente, que imediatamente cientificará o Ministério Público.
§ 6º No curso do inquérito policial, o delegado de polícia poderá determinar aos seus agentes, e o
Ministério Público e o juiz competente poderão requisitar, a qualquer tempo, relatório da atividade
de infiltração.
§ 7º É nula a prova obtida sem a observância do disposto neste artigo.
Art. 10-B. As informações da operação de infiltração serão encaminhadas diretamente ao juiz res-
ponsável pela autorização da medida, que zelará por seu sigilo.
Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o  acesso aos autos será reservado ao juiz,
ao Ministério Público e ao delegado de polícia responsável pela operação, com o objetivo de garan-
tir o sigilo das investigações.
Art. 10-C. Não comete crime o policial que oculta a sua identidade para, por meio da internet, colher
indícios de autoria e materialidade dos crimes previstos no art. 1º desta Lei.
Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar de observar a estrita finalidade da investi-
gação responderá pelos excessos praticados.
Art. 10-D. Concluída a investigação, todos os atos eletrônicos praticados durante a operação de-
verão ser registrados, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e ao Ministério Público,
juntamente com relatório circunstanciado.

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Lei n. 13.964/2019 – Pacote Anticrime
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Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados no caput deste artigo serão reunidos em
autos apartados e apensados ao processo criminal juntamente com o inquérito policial, assegu-
rando-se a preservação da identidade do agente policial infiltrado e a intimidade dos envolvidos.
Art. 11, Parágrafo único. Os órgãos de registro e cadastro público poderão incluir nos bancos de
dados próprios, mediante procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as  informa-
ções necessárias à efetividade da identidade fictícia criada, nos casos de infiltração de agentes na
internet. (NR)

Passa a ser admitida a infiltração virtual de agentes policiais para a investigação do crime
de organização criminosa e conexos quando houver indícios da infração penal de que trata o
art. 1º desta Lei e a prova não puder ser produzida por outros meios, com prazo de até 6 me-
ses, renováveis, não podendo ultrapassar a duração total de 720 dias, sempre comprovada a
necessidade, sendo nula a prova que não observar o procedimento legalmente previsto.
Trata-se de matéria que já foi objeto de estudo individualizado por parte desta Equipe e
que, agora, encontra previsão também para o âmbito virtual.
É obrigatória a oitiva do Ministério Público antes do deferimento da medida, em caso de
representação pelo Delegado de Polícia.
Buscando dar maior segurança à utilização desta técnica investigatória, resta previsto
que todos os atos praticados durante a operação deverão ser registrados, gravados e arma-
zenados, e serem apresentados ao juiz ao final da medida.
Por se tratar de medida de obtenção de prova irrepetível, neste caso, os autos deverão de
apensados aos principais quando da remessa ao juiz da instrução e julgamento (art.  3º-C,
§ 3º, CPP).

22. Alterações na Lei de Crimes Hediondos

Inicialmente, traçaremos tabela comparativa, a qual indicará as alterações realizadas no


rol de delitos considerados hediondos.

22.1. Considerações Iniciais

Para iniciarmos nosso estudo em relação aos CRIMES HEDIONDOS mister se faz neces-
sário analisarmos o significado da acepção da palavra “HEDIONDO”.

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De acordo com a análise do dicionário português:

he·di·on·do
adjetivo
1. Que causa repulsa ou é considerado muito feio. = ASQUEROSO, ESQUÁLIDO, HORRÍVEL,
REPUGNANTE, SÓRDIDO
2. Que se rejeita claramente do ponto de vista moral (ex.: crime hediondo). =.ABJETO, DEPRA-
VADO, HORRÍVEL, IGNÓBIL, REPUGNANTE, SÓRDIDO
3. [Pouco usado] Que cheira mal. = FÉTIDO

Assim considerado, a  Constituição Federal vigente, traz em seu texto, mais especifica-
mente, em seu art. 5º, XLIII:

XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tor-
tura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo E OS DEFINIDOS COMO CRIMES
HEDIONDOS, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se
omitirem;

Feita as primeiras considerações acerca do significado da palavra HEDIONDO, diz-se que,


assim será considerado o crime que causa repulsa, repugnante, horrível, ignóbil, sórdido para
a sociedade, devendo, portanto, ser tratado de forma mais severa e rigorosa em nosso orde-
namento jurídico.

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Perceba o rigor que trata a Constituição Federal de 1988, no que diz respeito aos crimes
HEDIONDOS, considerando-os INAFIANÇÁVEIS E INSUSCETÍVEIS DE GRAÇA OU ANISTIA.
Ademais, equipara os crimes de tráfico de droga, tortura e o terrorismo a estes.
Note, ainda, que o art. 5º, LX e III, da CF/1988 é expresso ao determinar ao legislador que
relacione quais crimes devam ser considerados HEDIONDOS. Assim, sendo, em 1990, entrou
em vigor a Lei 8.072/90 que dispõe acerca dos Crimes considerados hediondos, em um rol
taxativo, que passaremos a analisar.

22.2. Classificação dos Crimes Hediondos

Para uma melhor compreensão de como os crimes hediondos foram assim classificados
e tipificados na Lei 8.072/90, se faz necessário analisarmos os SISTEMAS DE CLASSIFICA-
ÇÃO das infrações penais tidas como hediondas. Há diversos sistemas, mas abordaremos
aqui os três principais:
• SISTEMA LEGAL: por esse sistema, é função do legislador elencar quais os crimes con-
siderados hediondos, em um rol taxativo, não cabendo ao juiz tecer qualquer juízo de
valor para averiguar a hediondez do delito, vez que, ao constar em tal rol, previamente
definido em lei, caberá ao julgador reconhecer essa característica. Importante perceber
que, a classificação de determinada infração penal como hedionda, incumbe, exclusi-
vamente, ao Poder legislativo, podendo este vir a ser pressionado pela sociedade quan-
do, determinada conduta, repercutir de forma negativa e atentar gravosamente contra
a mesma. A  exemplo disso, temos o crime de falsificação de remédios, tipificado no
art. 273 do CP, que passou a fazer parte do rol de crimes hediondos com o advento da
Lei n. 9695/98. E o que fez este crime ser tipificado como hediondo? Isto deveu-se ao
fato de que, em meados de 1997, o Brasil viveu um período de bastante apreensão ao se
detectar a falsificação de anticoncepcionais, o que foi chamado, à época, pela impren-
sa brasileira, à exemplo, a revista Veja como “Os filhos da farinha”, fazendo menção ao
fato de que os comprimidos anticoncepcionais foram trocados e postos em seu lugar

farinha, causando bastante transtornos às mulheres, principalmente àquelas que não

podiam engravidar, por serem portadoras de alguma doença grave ou mesmo àquelas

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que não tinham a gravidez em seus planos. Perceba que, diante da pressão social,

o Poder Legislativo viu-se obrigado a elevar tal categoria de crime, já tipificado no or-

denamento jurídico, ao status de HEDIONDO;

• SISTEMA JUDICIAL: por esse sistema é dado ao magistrado a incumbência de verificar

se determinado crime tem ou não o caráter HEDIONDO, no caso concreto, a depender

das circunstâncias gravosas do delito. Assim sendo, o magistrado não ficaria limitado

a um rol taxativo imposto pelo legislador, no entanto, cabe ressaltar que, cada ma-

gistrado, possui critérios para classificação, de caráter subjetivo, o que ensejaria uma

insegurança jurídica ante a possível violação do Princípio da Legalidade. Portanto, há

uma crítica diante desse sistema, vez que é devido à sociedade uma garantia imposta

pelo próprio Direito Penal, de ser limitador do Poder do Estado e não deixar que a inci-

dência de gravames penais e processuais penais estejam a mercê de interpretações,

muitas vezes oscilante, de magistrados;


• SISTEMA MISTO: Aqui, neste sistema, tem-se um misto dos dois anteriores, ou seja,
a  participação do Poder Legislativo, que teria a incumbência apenas de conceituar o
que seria HEDIONDO, cabendo ao juiz a interpretação da conduta delitiva, em hediondo
ou não. Mais uma vez, se vê que é conferida ao juiz uma interpretação, à luz de um caso
concreto, de acordo com seus critérios subjetivos, do que viria a ser considerada uma
conduta hedionda ou não, inexistindo um rol taxativo quanto a esses crimes conside-
rados gravosos e repugnantes à sociedade.

Diante de tais conceitos, cumpre observar quais destes sistemas foi o adotado pelo orde-

namento jurídico brasileiro. O SISTEMA LEGAL é o sistema adotado pela legislação brasileira,

ou seja, apenas o legislador tem a incumbência de definir e tipificar qual tipo penal deva ser

considerado hediondo.

Neste raciocínio, compactua a mais recente jurisprudência:

EMENTA: […] SISTEMA LEGAL DE CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES HEDIONDOS – CON-


DUTA QUE ENSEJA UMA MAIOR REPROVAÇÃO PELA LEGISLAÇÃO CRIMINAL – […] 6.

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No que se refere ao pleito de que seja afastada a tenaz contida no artigo 5º, XLVIII,
da Constituição Federal, e  no art.  1º, da Lei n. 8.072/90, melhor sorte não assiste ao
recorrente, PORQUANTO A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ADOTOU O CRITÉRIO DO SISTEMA
LEGAL PARA CLASSIFICAR DETERMINADA INFRAÇÃO PENAL COMO CRIME HEDIONDO,
CABENDO, ASSIM, AO LEGISLADOR PÁTRIO DECLARAR O ROL TAXATIVO DE DELITOS
QUE SE ENQUADRAM NESSA CATEGORIA, NÃO HAVENDO QUALQUER INGERÊNCIA DO
JULGADOR A ESSE RESPEITO. […] (TJ-CE – APL: 00244935020108060001 CE 0024493-
50.2010.8.06.0001, Relator: FRANCISCO GOMES DE MOURA, 2ª Câmara Criminal, Data
de Publicação: 14/12/2016)

22.3. A Lei n. 8.072/1990

Como já mencionado acima, a  Constituição Federal vigente, em seu art.  5º, inciso XLIII,
determinou ao legislador brasileiro a vigência de uma norma que definisse o que e quais se-
riam os CRIMES considerados HEDIONDOS.
Senão, vejamos:

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XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tor-
tura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo E OS DEFINIDOS COMO CRIMES
HEDIONDOS, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se
omitirem;

Assim, em 25 de junho de 1990, foi promulgada a lei ordinária, mas com caráter de lei
complementar, de número 8.072.
Tal lei traz elencados em seu art.  1º, um ROL TAXATIVO, dos crimes considerados HE-
DIONDOS.
As palavras em negrito representam as atualizações oriundas do “pacote anticrime”, Lei
n. 13.964/2019.
Dispõe o art. 1º da Lei 8.072/90:

Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, consumados ou tentados: (Redação dada pela Lei n.
8.930, de 1994) (Vide Lei n. 7.210, de 1984)
I  – homicídio (art.  121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que
cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII
(vetado));
I – A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2º) e lesão corporal seguida de
morte (art. 129, § 3º), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144
da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Públi-
ca, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; (Incluído pela Lei n. 13.142, de 2015)
II – roubo:
a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso V);
b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de
arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B);
c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º);
III  – extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou
morte (art. 158, § 3º);
IV – extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e § § 1º, 2º e 3º); (Inciso
incluído pela Lei n. 8.930, de 1994)
V – estupro (art. 213, caput e § § 1º e 2º); (Redação dada pela Lei n. 12.015, de 2009)
VI – estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e § § 1º, 2º, 3º e 4º); (Redação dada pela Lei n. 12.015,
de 2009)
VII – epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º). (Inciso incluído pela Lei n. 8.930, de 1994)
VII – A – (VETADO) (Inciso incluído pela Lei n. 9.695, de 1998)
VII – B – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos
ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2
de julho de 1998).(Inciso incluído pela Lei n. 9.695, de 1998)

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VIII – favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adoles-


cente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e § § 1º e 2º). (Incluído pela Lei n. 12.978, de 2014)
IX – furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum
(art. 155, § 4º-A).
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados:
I – o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei n. 2.889, de 1º de outubro de 1956;
II – o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da Lei n.
10.826, de 22 de dezembro de 2003;
III – o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei n. 10.826, de 22 de de-
zembro de 2003;
IV – o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no art. 18 da
Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
V – o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou equi-
parado. (NR)

Considerando o objetivo do presente trabalho, nos limitaremos a tratar dos dispositivos


que sofreram alterações ou reflexos decorrentes da entrada em vigor do pacote anticrime.

22.4. Roubo

Trata-se de inovação legislativa introduzida pelo “pacote anticrime” Lei 13.964/2019. Do-
ravante, considera-se hediondo o previsto no artigo 157 do Código Penal:
ROUBO

Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a
pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§  1º Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra
pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para
si ou para terceiro.
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: (Redação dada pela Lei n. 13.654, de 2018)
I – (revogado); (Redação dada pela Lei n. 13.654, de 2018)
II – se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III – se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV – se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou
para o exterior; (Incluído pela Lei n. 9.426, de 1996)
V  – se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. (Incluído pela Lei n.
9.426, de 1996)
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente,
possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela Lei n. 13.654, de 2018)

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VII – se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca; (Incluído pela Lei n.
13.96, de 2019)
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluído pela Lei n. 13.654, de 2018)
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; (Incluído pela Lei n. 13.654,
de 2018)
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei n. 13.654, de 2018)
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito
ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. (Incluído pela Lei n. 13.96,
de 2019)
§ 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei n. 13.654, de 2018)
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído pela
Lei n. 13.654, de 2018)
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. (Incluído pela Lei n. 13.654,
de 2018)
Art. 157.
§ 2º, V – se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.

O presente dispositivo é considerado hediondo, não obstante, o  ofendido é atacado em


seu direito de locomoção e fica à mercê do assaltante, circunstância que o impossibilita de
oferecer qualquer tipo de reação. A restrição da liberdade deve perdurar por tempo juridica-
mente relevante.

Art. 157, § 2º-A, I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo.

Trata-se de inovação legislativa, recentemente ocorrida pela Lei n. 13.654, de 2018. O pa-
rágrafo ora em comento, revela a gravidade do delito, quando presentes a violência e a grave
ameaça com emprego de arma de fogo.
Atenção, a lei foi taxativa em dizer “arma de fogo”, logo, o emprego de violência ou grave
ameaça para subtração de coisa alheia com arma branca, não será considerado hediondo.
Vale salientar que a Lei n. 13.964/2019 restabeleceu a majorante da pena, se a violência ou
grave ameaça é exercida com emprego de “arma branca”, nesse caso, o deito não será consi-
derado hediondo e majorante será de 1/3 a ½.

Art. 157, § 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso
restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.

A Lei n. 13.964/2019 inseriu o presente parágrafo no artigo 157 do Código Penal, além
disso, o inseriu também no rol taxativo do art. 1º da presente lei, tornando-o crime hediondo.

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Art. 157. § 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei n. 13.654, de 2018)
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído pela
Lei n. 13.654, de 2018)

Essa também é uma atualização trazida recentemente no de 2018, que por trazer novos

patamares mínimo e máximo de pena, cremos se tratar de qualificadoras. O presente inciso

trata da lesão corporal grave resultante da violência, com pena de reclusão de 7 (sete) a 18

(dezoito) anos.

II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. (Incluído pela Lei n. 13.654,
de 2018)

Por conseguinte, o  presente inciso trata do chamado crime de latrocínio, configurado

quando há o delito de roubo, com o emprego de violência, resultando na morte da vítima, sen-

do o agente delituoso punido com a pena de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos e multa.

Atente-se ao fato de que, no latrocínio, o objetivo do agente é a subtração do patrimônio da

vítima, consumando-se o referido crime com a morte desta, ainda que o agente não subtraia

o bem da vítima, segundo o entendimento da Súmula do 610 do Supremo Tribunal Federal.

Súmula n. 610, STF


HÁ CRIME DE LATROCÍNIO, QUANDO O HOMICÍDIO SE CONSUMA, AINDA QUE NÃO SE
REALIZE O AGENTE A SUBTRAÇÃO DE BENS DA VÍTIMA.

Assim é o entendimento mais recente da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONSUMAÇÃO DO CRIME DE LATRO-


CÍNIO. SÚMULA 610/STF. […]. 8. O crime de latrocínio resta consumado com a morte da
vítima ainda que não tenham os agentes obtido êxito na subtração dos bens do ofen-
dido. Súmula n.º 610/STF. (STJ – AgRg no REsp: 1417364 SC 2013/0374394-6, Relator:
Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Data de Julgamento: 18/12/2014, T6 –
SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 04/02/2015).

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Súmula n. 603, STF


A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do
tribunal do júri.

Vejamos um quadro sinótico bem interessante:

22.5. Extorsão Qualificada pela Restrição da Liberdade da Vítima,


Ocorrência de Lesão Corporal ou Morte (Artigo 158, § 3º)
Dispõe o § 3º do art. 158, do Código Penal:

Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para
si ou para outrem indevida vantagem econômica, a  fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer
alguma coisa:
Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é neces-
sária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos,
além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159,
§ § 2º e 3º, respectivamente.

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Trata-se da conduta conhecida como “sequestro relâmpago”. A  lei 11.923/09 incorreu


em uma omissão relevante, pois deixou de considerar hedionda a conduta consistente no
sequestro relâmpago qualificada pela lesão corporal ou morte da vítima. A Lei n. 13.964/2019
veio e corrigiu essa omissão, rotulando tal conduta como delito hediondo.
Acreditamos que o legislador incorreu em séria omissão ao não prever como hediondo a
figura prevista no artigo 158, § 2º, CP: a conduta de extorsão qualificada pela lesão corporal
de natureza grave e pelo resultado morte. Certamente, esse será um ponto extremamente dis-
cutido pela doutrina e jurisprudência, já que o referido dispositivo faz referência ao artigo 157,
§  3º, o  qual é considerado hediondo, contudo, considerando as mesmas razões invocadas
pela doutrina e jurisprudência, essencialmente a adoção do critério legal para a definição de
crimes considerados hediondos, pensamos que com a omissão legislativa o legislador deixou
de tratar como hediondo a figura prevista no artigo 158, § 2º,Código Penal Brasileiro.

22.6. Furto Qualificado pelo Emprego de Explosivo ou Artefato


Análogo que Cause Perigo Comum (Art. 155, § 4º-A)

O ingresso do parágrafo 4º do art. 5º do Código Penal no art. 1º da lei 8.072 é uma novi-
dade oriunda do “pacote anticrime” Lei n. 13.964/2019.

Furto
Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Furto qualificado
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo
ou de artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei n. 13.654, de 2018)

Com a recente alteração no rol taxativo dos crimes hediondo, o  legislador entendeu ser
necessário reprimir de maneira mais veemente, indivíduos que subtraiam bens alheios com
a utilização de explosivos ou qualquer outro artefato análogo que cause perigo comum. Isto
posto, reveste-se do caráter hediondo, passando a ser punido com maior rigidez.
Adentraremos agora, na maior alteração ocorrida na lei, introduzida pelo “pacote anticri-
me” Lei n. 13.964/2019, qual seja, o parágrafo único do art. 1º. Particularmente, creio que as

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alterações feitas no parágrafo único, organizaram e facilitaram o entendimento sobre o tema,


sendo bastante preciso e taxativo naquilo que pretendeu o legislador.

Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados:


I – o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei n. 2.889, de 1º de outubro de 1956;
II – o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da Lei n.
10.826, de 22 de dezembro de 2003;
III – o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei n. 10.826, de 22 de de-
zembro de 2003;
IV – o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no art. 18 da
Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
V – o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou equi-
parado. (NR)

22.7. Genocídio – Arts. 1º, 2º e 3º da Lei n. 2.889, de 1º de outubro


de 1956

O inciso I do parágrafo único da Lei 8.072/90 estabelece o crime de Genocídio, nas suas
modalidades constantes nos art.  1º, 2º e 3º, da Lei 2.889/56, como crime hediondo, sendo
consumados ou tentados.
No entanto, para uma melhor compreensão do tipo, se faz necessário analisarmos as três
formas pelas quais se apresentam o crime de genocídio pela Lei 2.889/56.
Dispõe a mencionada lei:

Art.  1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou
religioso, como tal:
a) matar membros do grupo;
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a des-
truição física total ou parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo;
Art.  2º Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para prática dos crimes mencionados no artigo
anterior.
Pena – Metade da cominada aos crimes ali previstos.
Art. 3º Incitar, direta e publicamente alguém a cometer qualquer dos crimes de que trata o art. 1º:
Pena – Metade das penas ali cominadas.
§ 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de crime incitado, se este se consumar.
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando a incitação for cometida pela imprensa.

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Perceba que as condutas que caracterizam o crime de genocídio como crime hediondo
vão além do crime propriamente dito, pois será considerada também como hedionda a con-
duta de quem associa-se para praticá-lo, assim como quem promove a sua incitação.
Ressalte-se que o art. 8º da Lei 8.072/90 prevê uma pena de 3 (três) a 6 (seis) anos para
o crime de associação criminosa quando se tratar de crimes hediondos. É o caso do art. 2º
da Lei de Genocídio: “associarem-se mais de 3 (três) pessoas para prática dos crimes men-
cionados no artigo anterior”. Portanto, a pena a ser aplicada será a cominada no art. 8º da Lei
8072/90.
Fato que merece nossa atenção é a distinção do crime de Genocídio para o crime de ho-
micídio praticado por grupo de extermínio. Há características próprias entre os mesmos que
os diferem de forma clara.

GENOCÍDIO GRUPO DE EXTERMÍNIO


Dolo específico de destruir, no todo ou em parte, deter-
minado grupo;
Visam um grupo específico nacional, étnico, racial ou
religioso
Caracteriza-se não somente pela morte, mas também
pela lesão grave à integridade física ou mental de Eliminar apenas alguns de seus integrantes;
membros do grupo, submissão intencional do grupo a Visam qualquer grupo por características econômicas,
condições de existência capazes de ocasionar-lhes a sociais, raciais, religiosas etc.
destruição física total ou parcial, bem como adoção de Caracteriza-se, obrigatoriamente, pela morte de
medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio alguém do grupo.
do grupo e, por fim, efetuar a transferência forçada de Crime doloso contra a vida de competência do Tribunal
crianças do grupo para outro grupo. do Júri, para processá-lo e julgá-lo
Na hipótese de morte, no todo ou em parte, do grupo,
não se trata de crime contra a vida, mas tem natu-
reza supranacional, aqui cuida-se da preservação da
pessoa humana, devendo ser julgado e processado por
um juiz singular.

Ressalte-se que será considerado hediondo o crime de Genocídio, nas suas modalidades
tipificadas nos art. 1º, 2º e 3º da Lei 2.889/56, tanto consumados como tentados, como bem
assim expressa o parágrafo único do art. 1º da lei 8.072/90.

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22.8. Posse ou Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Proibido –


Art. 16, § 2º, da Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003
O inc. II, do parágrafo único do art. 1º da Lei 8.072/90, dispõe acerca de um outro crime
com natureza hedionda, constante em lei específica. Trata-se da posse ou porte ilegal de
arma de fogo de uso PROIBIDO, previsto no art. 16 da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de
2003. Observe que esse dispositivo foi objeto de alteração recente pela lei 13.497/2017. Essa
legislação incluiu como hediondo a figura prevista no artigo 16, Estatuto do Desamamento,
o qual contava com a seguinte redação:
Dispõe o art. 16 da Lei 10.826/2003:

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda
que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo,
acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determi-
nação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
I  – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou
artefato;
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo
de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade
policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar;
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qual-
quer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;
V  – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou
explosivo a criança ou adolescente; e
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, muni-
ção ou explosivo.

Ocorre que o pacote anticrime também promoveu alterações no Estatuto do Desarma-


mento, nessa ocasião, o legislador optou por tratar a posse ou o posse de arma de fogo de uso
proibido como qualificadora do referido delito, dessa forma, como a lei de crimes hediondos
fala somente em arma de fogo de uso proibido, acreditamos que excluiu-se da abrangência
da lei de crimes hediondos as armas de fogo de uso restrito, restando apenas o enquadra-
mento para as armas de fogo de uso proibido, conforme a nova redação do art. 16, Estatuto
do Desarmamento, vejamos:

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Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda
que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo,
acessório ou munição de uso restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar: (Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019)
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019)
I  – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou
artefato;
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo
de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade
policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar;
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qual-
quer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;
V  – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou
explosivo a criança ou adolescente; e
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, muni-
ção ou explosivo.
§  2º Se as condutas descritas no caput e no §  1º deste artigo envolverem arma de fogo de uso
proibido, a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

Aqui, neste tipo penal, não há a necessidade de diferenciar a posse do porte de arma de
uso proibido, vez que ambas as condutas se encontram tipificadas no mesmo artigo, qual
seja, o caput do art. 16, sobre a mesma pena.
Ressalte-se que, por ser considerado hediondo, o art. 16 não admite fiança, por força do
art. 323 do Código de Processo Penal, assim disposto:

Art. 323. Não será concedida fiança:


I – nos crimes de racismo;
II – nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos definidos
como crimes hediondos;
III – nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e
o Estado democrático;

Tal reprimenda é válida, tão-somente, para o art. 16 do Estatuto do Desarmamento. Para


os demais tipos penais, dentro deste, onde houver a possibilidade de flagrante, haverá a pos-
sibilidade de fiança, por força da ADI 3.112/1 que considerou inconstitucional essa vedação
abstrata à fiança em delitos dessa natureza.

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Considerando que a referida norma deixa de tratar a arma de fogo de uso restrito como
objeto de delito hediondo, pensamos que a referida norma possuiu natureza dúplice:
• será benéfica em relação àqueles praticaram a conduta de posse ou porte ilegal de
arma de fogo de uso restrito, pois essa modalidade não é mais considerada hedionda,
portanto, norma benéfica e dotada de efeito retroativo;
• será maléfica em relação àqueles que cometerem o porte de arma de fogo de uso proi-
bido, considerando que além de ser tratada como hediondo foi inserido como qualifica-
dora do delito previsto no artigo 16 do Estatuto do Desarmamento.

22.9. Crime de Comércio Ilegal de Arma de Fogo – Art. 17 da Lei n.


10.826, de 22 dezembro de 2003
Comércio ilegal de arma de fogo

Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar,
remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019)
§  1º Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de
prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em
residência. (Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 2º Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo, acessório ou munição, sem au-
torização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarça-
do, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. (Incluído
pela Lei n. 13.964, de 2019)

Trata-se de atualização introduzida pela Lei n. 13.964/2019 “pacote anticrime”, incluindo


no rol taxativo dos crimes hediondos, o comércio ilegal de arma de fogo previsto no art. 17 do
Estatuto do Desarmamento. Tal delito passa a ser tratado como hediondo.

22.10. Crime de Tráfico Internacional de Arma de Fogo, Acessório ou


Munição, Previsto no Art. 18 da Lei n. 10.826, de 22 dezembro de 2003

Tráfico internacional de arma de fogo

Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a qualquer título, de
arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente:

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Pena  – reclusão, de 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos, e  multa. (Redação dada pela Lei n. 13.964,
de 2019)
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo, acessório ou mu-
nição, em operação de importação, sem autorização da autoridade competente, a agente policial
disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente.
(Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

Mais uma inovação trazida pelo “pacote anticrime”, Lei n. 13.964/2019, rotulando o crime
de tráfico internacional de armas de fogo, acessórios e munições como hediondo. Doravante,
o delito ora em comento, será reprimido com maior rigor.

22.11. Crime de Organização Criminosa, quando Direcionado à Prática


de Crime Hediondo ou Equiparado

Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de
obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado.
§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estrutural-
mente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo
de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações
penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter trans-
nacional.

O art. 1º, § 1º da lei 12.850/13 conceitua organização criminosa de maneira muito clara.
A Lei n. 13.964/2019 o “pacote anticrime” acrescentou o inc. V ao parágrafo único do art. 1º
da lei ora em comento, etiquetando como hediondo, o crime de organização criminosa, quan-
do essa organização tiver por finalidade a prática de crime hediondo ou equiparado. Veja bem,
a Lei n. 13.964/2019 não tornou o crime de organização criminosa em si, um delito hediondo,
mas tão somente disse, que quando a organização criminosa tiver por finalidade a prática de
crime hediondo ou equiparado, aí sim, essa organização será considerada um delito hedion-
do.
Outro ponto bastante importante, apesar de não estar inserido como alteração da Lei
8.072/90, trata a respeito do regime de progressão em relação aos crimes hediondos ou equi-
parados, vamos analisar como ficou as regras de progressão a respeito desses delitos.

22.12. Progressão de Regime

A progressão de Regime para os crimes hediondos era tipificada no § 2º do art.2º da Lei

8.072/90, assim previa:

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§ 2º A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á
após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quin-
tos), se reincidente. (Redação dada pela Lei n. 11.464, de 2007)

Ocorre que com o advento da Lei n. 13.964/2019 o “pacote anticrime”, tal dispositivo foi
revogado!! Doravante, a progressão de regime voltará a ser guiado pelo art. 112 da Lei de Exe-
cução Penal (LEP), onde o mesmo também foi alterado pela nova lei.
Vejamos:

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência
para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos:
I – 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido sem
violência à pessoa ou grave ameaça;
II – 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem violência
à pessoa ou grave ameaça;
III – 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido
com violência à pessoa ou grave ameaça;
IV – 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido com violência
à pessoa ou grave ameaça;
V – 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo
ou equiparado, se for primário;
VI – 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for:
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário,
vedado o livramento condicional;
b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada
para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou
c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;
VII – 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo
ou equiparado;
VIII – 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equipa-
rado com resultado morte, vedado o livramento condicional.
§ 1º Em todos os casos, o apenado só terá direito à progressão de regime se ostentar boa conduta
carcerária, comprovada pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a pro-
gressão.
§ 2º A decisão do juiz que determinar a progressão de regime será sempre motivada e precedida
de manifestação do Ministério Público e do defensor, procedimento que também será adotado na
concessão de livramento condicional, indulto e comutação de penas, respeitados os prazos pre-
vistos nas normas vigentes.
…………………………………………………………………………………
§ 5º Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime de tráfico de dro-
gas previsto no § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006.

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§ 6º O cometimento de falta grave durante a execução da pena privativa de liberdade interrompe o
prazo para a obtenção da progressão no regime de cumprimento da pena, caso em que o reinício
da contagem do requisito objetivo terá como base a pena remanescente.
§ 7º (VETADO). (NR)

23. Alterações na Lei de Improbidade Administrativa

Vejamos as alterações promovidas na Lei de Improbidade Administrativa: possibilidade


de celebração de acordo de não persecução civil.

Lei de Improbidade Administrativa

Antes da Lei n. 13.964/2019. Depois da Lei n. 13.964/2019.


ADMITEM A CELEBRAÇÃO DE ACORDO DE NÃO PER-
SECUÇÃO CÍVEL.
Havendo a possibilidade de solução consensual,
É vedada a transação, acordo ou conciliação
poderão as partes requerer ao juiz a interrupção do
prazo para a contestação, por prazo não superior a
90 dias

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24. Alterações na Lei de Interceptação Telefônica – Lei n. 9.296/1996

24.1. Breve Introdução

A Lei 9.296/96, apesar de 23 anos de existência, de forma muito atual, é utilizada como
meio para a obtenção de provas em processos envolvendo crimes de alto padrão tecnológico.
Diversas são as decisões dos Tribunais Superiores utilizando a lei de interceptação telefônica
para tratar de temas relativo ao uso de aplicativos como WhatsApp.
Esta lei foi criada com intuito de regular situações específicas, nas quais, o Estado, quan-
do necessário para o exercício do jus puniendi, legalmente e de maneira transitória, relativize
direitos constitucionais do acusado, tais como sigilo das correspondências, das comunica-
ções telefônicas, para fins de investigação e aplicação da lei penal.
Sigilo das Correspondências, das Comunicações Telegráficas, dos Dados e das Comuni-
cações Telefônicas
A CF, em seu art. 5º, XII, afirma que é inviolável o sigilo das correspondências, das comuni-
cações telegráficas e de dados e comunicações telefônicas. Prevê, ainda, fazendo uma inter-
pretação literal, que apenas o sigilo das comunicações telefônicas poderá ser violado quando
houver autorização judicial, nas hipóteses que a lei estabelecer.

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Entretanto, necessário se faz a realização de uma interpretação sistemática, uma vez que,
não existem direitos absolutos. Logo, será possível que os demais sigilos também sejam
quebrados.
O STF e o STJ têm diversos julgados neste sentido, vejamos:
• STF HC 70.814 – considerou válida a interceptação da correspondência de presos;
• STJ RHC 10537 – considerou válida a apreensão, pelo juízo competente, em uma agên-
cia dos correios de encomenda de um bichinho de pelúcia recheado de cocaína.

Além disso, o sigilo de dados bancários e fiscais também pode ser violado, nos termos da
LC 105/01.

24.2. Conceito

Segundo Renato Brasileiro,

Abrange não apenas a conversa por telefone, mas também a transmissão, emissão ou recepção
de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer natureza, por
meio de telefonia, estática ou móvel (celular). Por conseguinte, é possível a interceptação de qual-
quer comunicação via telefone, conjugada ou não com a informática, o que compreende aquelas
realizadas direta (fax, modens) e indiretamente (internet, e-mail, correios eletrônicos).

A época do surgimento da Lei, houve quem sustentasse que os dispositivos seriam ape-
nas aplicados às comunicações por telefone.
Observe o art. 1º da Lei 9.296/96:

Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em inves-


tigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de
ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça.
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sis-
temas de informática e telemática (comunicação associada à informática).

A doutrina faz uma diferenciação muito interessante entre três situações que aparente-
mente têm uma certa semelhança, mas que na prática são coisas totalmente diferentes.
Vejamos a figura:

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De maneira bem divertida, aprendemos que há uma grande diferença entre as três situa-
ções trazidas pela doutrina e pela jurisprudência, não podemos confundir. Dada a similaridade
em alguns pontos, a doutrina diferencia INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA, ESCUTA TELEFÔNICA
E GRAVAÇÃO AMBIENTAL.
Na sua prova, o examinador poderá trazer algumas nomenclaturas distintas, mas majori-
tariamente as bancas trazem exatamente como está na figura.
Interceptação telefônica (sentido estrito): consiste na captação da comunicação alheia
por um terceiro, sem o conhecimento de nenhum dos comunicadores.
Ressalta-se que, aqui, nenhum dos interlocutores sabe que a conversa está sendo capta-
da (não necessariamente por meio de gravação).
Escuta telefônica: é a captação da comunicação efetuada por um terceiro, com o conhe-
cimento de um dos comunicadores e desconhecimento do outro.
Diferentemente da interceptação telefônica em sentido estrito (onde os envolvidos não
sabem), aqui, um dos interlocutores sabe que a conversa está sendo captada. É necessário o
seu consentimento válido.

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Para a maioria da doutrina, a lei abrange a interceptação telefônica em sentido estrito e a


escuta telefônica.
No caso de consentimento viciado, envolvendo suposto consentimento de um suspeito e
gravação de conversas telefônicas por viva-voz, o STJ entendeu que o consentimento não foi
válido e declarou a ilicitude da prova.

STJ: “(…) quando não houver consentimento do investigado ou autorização judicial, são
consideradas ilícitas as provas obtidas pela polícia por meio de conversas realizadas
entre ele e outras pessoas pelo sistema de viva-voz de telefones. (…) Segundo a denún-
cia do Ministério Público do Rio de Janeiro, policiais militares da cidade de Campos dos
Goytacazes (RJ) realizavam patrulhamento quando perceberam “nervosismo” em dois
homens que trafegavam em uma motocicleta e resolveram abordá-los. Nada foi encon-
trado na revista; todavia, após um dos suspeitos receber uma ligação de sua mãe – e
ter sido compelido pelos policiais a colocar o celular no modo vivavoz –, na qual ela
pedia que o filho retornasse à casa e entregasse certo “material” para uma pessoa que o
aguardava, os policiais foram até a residência e encontraram 11 gramas de crack, acon-
dicionados em 104 embalagens plásticas. (…)”. (STJ, 5ª Turma, REsp 1.630.097, Rel.
Min. Joel Ilan Paciornik, j. 26/04/2017).

Nota-se, que o suspeito foi compelido e forçado a colocar o celular no modo viva-voz,
tornando ilegal toda e qualquer prova obtida a partir desse momento, uma vez que é inviolável
o sigilo das comunicações sem autorização judicial ou minimamente por consentimento vo-
luntário do indivíduo. Essa situação é específica em relação ao consentimento viciado.
É o teor do informativo 603 – STJ, vejamos:

Sem consentimento do réu ou prévia autorização judicial, é  ilícita a prova, colhida de


forma coercitiva pela polícia, de conversa travada pelo investigado com terceira pessoa
em telefone celular, por meio do recurso “viva-voz”, que conduziu ao flagrante do crime
de tráfico ilícito de entorpecentes. STJ. 5ª Turma. REsp 1.630.097-RJ, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 18/4/2017 (Info 603).

Quando um dos interlocutores é incapaz, o consentimento para a interceptação (escuta)


será dado por seu represente. Este foi o entendimento do STJ no Info 543.

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Em processo que apure a suposta prática de crime sexual contra adolescente absoluta-
mente incapaz, é admissível a utilização de prova extraída de gravação telefônica efeti-
vada a pedido da genitora da vítima, em seu terminal telefônico, mesmo que solicitado
auxílio técnico de detetive particular para a captação das conversas. STJ. 6ª Turma.
REsp 1.026.605-ES, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/5/2014 (Info 543).

Gravação Telefônica (ou Ambiental) Clandestina

Segundo Renato Brasileiro,

É a gravação da comunicação telefônica (ou ambiental) por um dos comunicadores, ou seja, tra-
ta-se de uma autogravação. Normalmente, é feita sem o conhecimento do outro comunicador, daí
por que se fala em gravação clandestina.

Em relação à licitude das gravações clandestinas temos duas correntes, vejamos:


• 1ª Corrente (LFG) – considera ilícita, tendo em vista que viola a vida privada e a intimi-
dade;
• 2ª Corrente (MAJORITÁRIA) – pelo menos em regra, deve ser considerada lícita, pois
qualquer conversa pode ser reproduzida, portanto, gravada.

Contudo, tanto a doutrina quanto a jurisprudência, entendem que em determinadas situ-


ações a gravação não pode ser reproduzida, são elas: PROTEÇÃO AO SEGREDO: direitos que
terceiro não tenham acesso a privacidade individual. DIREITO DE RESERVA: direito de não ver
divulgadas notícias concernentes à vida privada.
Gravação clandestina de conversa com investigados sem prévia advertência quanto ao
direito ao silêncio não será válida.

STJ - É ilícita a gravação de conversa informal entre os policiais e o conduzido ocorrida


quando da lavratura do auto de prisão em flagrante, se não houver prévia comunicação
do direito de permanecer em silêncio. STJ. 6ª Turma. HC 244977-SC, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, julgado em 25/9/2012
STF – HC: 91613 MG. O presente caso versa sobre a gravação de conversa telefônica
por um interlocutor sem o conhecimento de outro, isto é, a denominada “gravação telefônica”

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ou “gravação clandestina”. Entendimento do STF no sentido da licitude da prova, desde


que não haja causa legal específica de sigilo nem reserva de conversação. Repercussão
geral da matéria (RE 583.397/RJ). 3. Ordem denegada. (STF – HC: 91613 MG, Relator:
Min. GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 15/05/2012, Segunda Turma, Data de Publi-
cação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-182 DIVULG 14-09-2012 PUBLIC 17-09-2012).

Esquematizando:

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA ESCUTA TELEFÔNICA GRAVAÇÃO CLANDESTINA


Consiste na captação, na interferên- Consiste na captação da conversa
É o ato pelo qual um dos interlocu-
cia do fluxo de comunicação telefô- de duas pessoas, realizada por um
tores capta a conversa telefônica
nica por um terceiro (interlocutor) terceiro (interlocutor), porém com o
sem que o outro comunicador tenha
entre duas pessoas diferentes, sem conhecimento de um dos interlocu-
ciência.
que os interlocutores saibam. tores.

Os conceitos acima expostos foram extraídos do Informativo 510 do STJ, vejamos o caso
jugado pelo tribunal superior:
Caso concreto julgado pelo STJ:
“A” realizou, sem autorização judicial, a  interceptação telefônica dos diálogos travados
entre “B” e “C”. Posteriormente, “B”, quando soube da interceptação realizada, consentiu com
a prática. Segundo decidiu o STJ, o fato de um dos interlocutores dos diálogos gravados de
forma clandestina ter consentido posteriormente com a divulgação dos seus conteúdos não
tem o condão de legitimar o ato, pois no momento da gravação não tinha ciência do artifício
que foi implementado pelo responsável pela interceptação, não se podendo afirmar, portanto,
que, caso soubesse, manteria tais conversas pelo telefone interceptado.
Não existindo prévia autorização judicial, tampouco configurada a hipótese de gravação
de comunicação telefônica, já que nenhum dos interlocutores tinha ciência de tal artifício no
momento dos diálogos interceptados, se faz imperiosa a declaração de nulidade da prova,
para que não surta efeitos na ação penal. Vejamos o informativo:

Informativo n. 510, STJ


Não é válida a interceptação telefônica realizada sem prévia autorização judicial, ainda
que haja posterior consentimento de um dos interlocutores para ser tratada como escuta
telefônica e utilizada como prova em processo penal.

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Comunicação Ambiental

De acordo com Renato Brasileiro:

É aquela realizada diretamente no meio ambiente, sem transmissão e recepção por meios físicos,
artificiais, como fios elétricos, cabos óticos etc. Enfim, trata-se de conversa mantida entre duas ou
mais pessoas sem a utilização do telefone, em qualquer recinto, privado ou público.

Não havendo comunicação telefônica, ter-se-á comunicação ambiental.


Muito sempre se questionou a respeito da possibilidade de a comunicação ambiental ser
objeto de escute e de servir ou não como prova para fins de persecução penal. A doutrina e
jurisprudência admitiam a captação ambiental como prova, normalmente, acompanhada de
autorização judicial, essencialmente, naqueles casos em que houvesse qualquer tipo de sigilo
ou restrição em relação às conversas travadas.
Vejamos as explicações exaradas pelo professor Luiz Flávio Gomes:
A gravação ambiental tem sido admitida pela Suprema Corte como legítima desde que
atendidas algumas exigências, tais como ser gravação de comunicação própria e não alheia,
estar em jogo relevantes interesses e direitos da vítima como, por exemplo, nos crimes de
extorsão. Assim, presentes essas circunstâncias, a prova é aceita como válida.
Neste diapasão vejamos alguns julgados da Corte Suprema:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. PENAL. GRAVAÇAO DE CONVERSA FEITA POR UM DOS


INTERLOCUTORES: LICITUDE. PREQUESTIONAMENTO. Súmula 282-STF. PROVA: REE-
XAME EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO: IMPOSSIBILIDADE. Súmula 279-STF. I. – A gra-
vação de conversa entre dois interlocutores, feita por um deles, sem conhecimento do
outro, com a finalidade de documentá-la, futuramente, em caso de negativa, nada tem de
ilícita, principalmente quando constitui exercício de defesa. II. – Existência, nos autos, de
provas outras não obtidas mediante gravação de conversa ou quebra de sigilo bancário.
III. – A questão relativa às provas ilícitas por derivação “the fruits of the poisonous tree”
não foi objeto de debate e decisão, assim não prequestionada. Incidência da Súmula
282-STF. IV. – A apreciação do RE, no caso, não prescindiria do reexame do conjunto
fático-probatório, o  que não é possível em recurso extraordinário. Súmula 279-STF. V.
– Agravo não provido. (AI 503617 AgR / PR – Relator: Min. CARLOS VELLOSO – Julga-
mento: 01/02/2005).

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EMENTA: Captação, por meio de fita magnética, de conversa entre presentes, ou seja,
a chamada gravação ambiental, autorizada por um dos interlocutores, vítima de concus-
são, sem o conhecimento dos demais. Ilicitude da prova excluída por caracterizar-se o
exercício de legítima defesa de quem a produziu. Precedentes do Supremo Tribunal HC
74.678, DJ de 15-8– 97 e HC 75.261, sessão de 24-6-97, ambos da Primeira Turma. (RE
212081 / RO – Relator: Min. OCTAVIO GALLOTTI – Julgamento: 05/12/1997)

Por fim, o Professor Luiz Flávio Gomes faz a seguinte ressalva:

A tendência lógica seria o STF admitir a gravação ambiental clandestina com as mesmas restri-
ções e cautelas. Admitir a gravação ambiental clandestina (gravação de sons que são emitidos
num determinado ambiente) como meio lícito de prova, de maneira ampla, significa eliminar nossa
privacidade (ou seja, proscrever um dos mais importantes direitos fundamentais). Mas nenhuma
restrição a direito fundamental pode afetar o seu núcleo essencial”. E  conclui afirmando que “a
gravação ambiental (…) sem autorização judicial prévia, só pode valer como prova em casos ex-
cepcionalíssimos e desde que envolva interesses e direitos de quem fez a gravação. Fora disso,
é manifesta a inconstitucionalidade da prova.

É justamente nesse sentido que as alterações implementadas pelo pacote anticrime ope-

ram, buscam trazer regulamentação para que ocorra a interceptação de comunicações am-

bientais e estas sejam utilizadas de forma legítima à instrução processual penal.

Foi incluído o artigo 8-A na Lei 9.296/96, nos seguintes termos:

Art. 8º-A. Para investigação ou instrução criminal, poderá ser autorizada pelo juiz, a requerimento
da autoridade policial ou do Ministério Público, a captação ambiental de sinais eletromagnéticos,
ópticos ou acústicos, quando: (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
I – a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e igualmente eficazes; e (Incluído pela
Lei n. 13.964, de 2019)
II – houver elementos probatórios razoáveis de autoria e participação em infrações criminais cujas
penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos ou em infrações penais conexas. (Incluído pela
Lei n. 13.964, de 2019)
§  1º O requerimento deverá descrever circunstanciadamente o local e a forma de instalação do
dispositivo de captação ambiental. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 2º (VETADO). (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 3º A captação ambiental não poderá exceder o prazo de 15 (quinze) dias, renovável por decisão
judicial por iguais períodos, se comprovada a indispensabilidade do meio de prova e quando pre-
sente atividade criminal permanente, habitual ou continuada. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

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§ 4º (VETADO). (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)


§ 5º Aplicam-se subsidiariamente à captação ambiental as regras previstas na legislação especí-
fica para a interceptação telefônica e telemática. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

Desse modo, a partir da entrada em vigor da Lei n. 13.964/2019, passa-se a exigir autori-
zação judicial, com o objetivo de investigação ou instrução criminal, para a captação ambien-
tal de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos.
Desse modo, iremos analisar a partir de agora os requisitos e as hipóteses de admissibi-
lidade da captação ambiental.

Cláusula de Reserva de Jurisdição

Inicialmente, observa-se que se trata de hipótese sujeita à cláusula de reserva de juris-


dição. Assim será decretada judicialmente a captação ambiental para fins de investigação
criminal ou instrução processual penal.
É interessante observar que a captação ambiental não poderá ser decretada de ofício,
nem mesmo na fase processual, já que exige:
• requerimento da autoridade policial (curso da investigação);
• requerimento do membro do Ministério Público (curso da investigação ou no curso do
processo).

Demonstração da extrema necessidade da medida, ou seja, a prova não pode ser passível
de produção por outro meio menos lesivo a disposição das autoridades.
• elementos probatórios razoáveis de participação em infrações penais cuja pena seja
superior a quatro anos ou em infrações penais conexas cuja soma das penas sejam
superiores a esse quantitativo;
• descrição circunstanciada do local e da forma que o dispositivo de captação ambiental
será instalado.

Qual é o prazo em que ocorrerá a captação ambiental?


A captação ambiental será autorizada inicialmente pelo prazo de até 15 dias, sem prejuízo
de sucessivas prorrogações por meio de decisão judicial nos casos de:

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• indispensabilidade dos meios de prova;


• atividade criminal permanente, habitual ou continuada.

O referido dispositivo determina a aplicação das demais regras a respeito da intercepta-


ção telefônica naquilo que não houver regramento específico.

Captação Ambiental Clandestina e Figura Criminosa Respectiva


Art.  10-A. Realizar captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos para in-
vestigação ou instrução criminal sem autorização judicial, quando esta for exigida: (Incluído pela
Lei n. 13.964, de 2019)
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 1º Não há crime se a captação é realizada por um dos interlocutores. (Incluído pela Lei n. 13.964,
de 2019)
§ 2º A pena será aplicada em dobro ao funcionário público que descumprir determinação de sigilo
das investigações que envolvam a captação ambiental ou revelar o conteúdo das gravações en-
quanto mantido o sigilo judicial. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019).

O legislador foi cuidadoso a ponto de estabelecer conduta criminosa específica na hipó-


tese de:
• captação ambiental sem autorização judicial, quando ela for exigida;
• funcionário público descumprir a determinação de sigilo das investigações que en-
volvam captação ambiental ou revelar o conteúdo das gravações enquanto mantido
o sigilo judicial. Nesses casos, a pena estabelecida no caput: 2 a 4 anos de reclusão,
deverá ser aplicada em dobro.

Causa de Ausência de Tipicidade

Não haverá enquadramento no referido delito se a captação for realizada por um dos in-
terlocutores. Dessa forma, podemos observar que o referido dispositivo legal somente se
adéqua aquelas situações em que a captação ambiental é realizada por terceiro, não partici-
pante das conversas realizadas.

25. Alterações na Lei de Lavagem de Capitais – Lei n. 9.613/1998

A alteração na lei de lavagem é bastante simples. A partir da entrada em vigor do pacote


anticrime, admite-se como meios de investigação nesses delitos:

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• infiltração de agentes;
• ação controlada.

Não houve regulamentação específica a respeito da operacionalização dessas modalida-


des de investigação, dessa forma, pensamos que deve ser aplicado todo o regramento utiliza-
do na lei de organização criminosa, legislação que detalha a forma de aplicação dessas duas
modalidades investigativas.
Desse modo, o artigo 1º da referida legislação passa a ser acrescido do § 6º, vejamos:

Art. 1º, § 6º Para a apuração do crime de que trata este artigo, admite-se a utilização da ação con-
trolada e da infiltração de agentes.

25.1. Infiltração de Agentes

25.1.1. Conceito e Previsão Normativa

O art. 10, § 3º, da Lei n. 12.850/13, prevê a autorização da infiltração de agentes pelo pra-
zo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que comprovada sua
necessidade.
Caso haja necessidade de renovação de prazo, esta deve se dar antes do decurso do prazo
fixado na decisão originária, evitando-se uma solução de continuidade na realização da infil-
tração. Se a infiltração se prolongar por período “descoberto” de autorização judicial, os ele-
mentos probatórios aí obtidos devem ser considerados inválidos, por violação ao preceito do
art. 10, caput, da Lei n. 12.850/13, que demanda prévia autorização judicial para a execução
da infiltração de agentes.
A renovação do prazo da infiltração não pode se dar de maneira automática, conforme o
art. 10, § 3º, sendo imprescindível a existência de decisão fundamentada comprovando que
subsiste a necessidade da medida. Então, se a prorrogação da medida não for devidamente
fundamentada pela autoridade judiciária competente, é  perfeitamente possível o reconheci-
mento da ilicitude da prova, com o consequente desentranhamento das informações obtidas
a partir da renovação da infiltração.

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O prazo da infiltração pode ser renovado indefinidamente, desde que comprovada a indis-
pensabilidade do meio de prova.

25.1.2. Espécies de Infiltração

A doutrina norte-americana aponta a existência de duas espécies de infiltração:


• Light cover: espécie de infiltração mais branda, que não demora mais de seis meses.
Não demanda inserção contínua e permanente;
• Deep cover: são infiltrações que se prolongam por mais de seis meses, necessitando de
uma imersão mais profunda e complexa no seio da organização criminosa.

A infiltração pode ocorrer de maneira preventiva ou repressiva.

25.1.3. Fases da Infiltração

A operação infiltração policial pode ser subdividida em: 1) Recrutamento; 2) Formação; 3)


Imersão; 4) Especialização da infiltração; 5) Infiltração propriamente dita; 6) Seguimento; 7)
Pós-infiltração e 8) Reinserção.

25.1.4. Legitimidade para Requerer

O art.10, § 1º prevê:

Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação, representada pelo delegado


de polícia ou requerida pelo Ministério Público, após manifestação técnica do delegado de polícia
quando solicitada no curso de inquérito policial, será precedida de circunstanciada, motivada e
sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites.
§ 1º Na hipótese de representação do delegado de polícia, o juiz competente, antes de decidir, ou-
virá o Ministério Público.

Tem-se como legitimados o Delegado de Polícia e o Ministério Público. Sendo que, se


requerida pelo MP no curso da ação penal, deve-se requerer também a manifestação técnica
do delegado.

25.1.5. Limites e Alcance da Decisão

Espacial: é preciso saber a base territorial até pela delimitação da competência (artigo 11
da LCO).

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Temporal: art. 10, § 3º diz que a infiltração será autorizada por até 06 meses, sem prejuízo
de eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade.
Flavio Cardoso Pereira entende que o primeiro período é até seis meses e os períodos
subsequentes poderiam abordar até mais de 6 meses.
Por outro lado, Cléber Masson e Vinícius Marçal entendem que tantas vezes quantas fo-
rem necessárias pode haver renovação, limitando-se, cada uma, a 6 meses.
Eugênio Pacelli entende que pode haver uma única vez, apenas. Se a infiltração ocorreu e
não gerou bons frutos, não há mais que se falar na possibilidade de infiltração.
A LOC não previu prazo máximo da infiltração de agentes, enquanto o ECA previu que no
máximo de 720 dias.
Uma vez autorizada por até 90 dias, pode ser renovada, no máximo, 07 vezes – termo
ad quem.
É preciso haver um limite investigatório que consiste no mandado de infiltração com au-
torização extensiva expressa – artigo 11.

25.1.6. Fragmentariedade e Subsidiariedade

Fragmentariedade: crime que deve ser compatível com a medida que somente será ad-
mitida se a prova não puder ser produzida por outros meios. Infiltração deve ser ultima ratio.

25.1.7. Plano de Organização da Infiltração

Trata-se de documento técnico pelo qual a polícia mostrará ao Judiciário e ao MP no que


consiste a operação. Deve acompanhar o pedido para que alcance o magistrado e lhe dê ci-
ência do caso, bem como propicie o controle externo e interno da atividade policial.

25.1.8. Segredo de Justiça

O art. 10, caput, da Lei n. 12.850/13, ao se referir à autorização judicial da infiltração de


agentes, deixa evidente que se trata de decisão sigilosa.
Por sua vez, o  art.  12, caput, da referida Lei, prevê que o pedido de infiltração será sigi-
losamente distribuído, de forma a não conter informações que possam indicar a operação a
ser efetivada ou identificar o agente que será infiltrado, porquanto tais dados serão entregues
diretamente ao magistrado.

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25.1.9. Sustação da Operação

A preocupação do legislador com a proteção da integridade física e da própria vida do


agente infiltrado, fica evidenciada diante do dispositivo constante do art.  12, §  3º, da Lei n.
12.850/13, que dispõe: “Havendo· indícios seguros de que o agente infiltrado sofre risco imi-
nente, a operação será sustada mediante requisição do Ministério Público ou pelo delegado
de polícia, dando-se imediata ciência ao Ministério Público”.
Se o início da infiltração está condicionado à concordância do agente policial e à prévia
autorização judicial, a sustação das operações deverá ocorrer de imediato, antes mesmo de
qualquer requisição do Ministério Público ou do Delegado de Polícia.
Assim como, o art. 14, I, por sua vez, confere expressamente ao agente policial o direito de
recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada.

25.1.10. Responsabilidade Criminal do Agente Infiltrado

O art. 13, parágrafo único, da Lei n. 12.850/13, dispõe expressamente que “não é punível,
no âmbito da infiltração, a  prática de crime pelo agente infiltrado no curso da investigação,
quando inexigível conduta diversa.
Nesse sentido, Renato Brasileiro preceitua que no caso de o agente ser coagido a prati-
car outros crimes, sob pena de ter sua verdadeira identidade revelada, o ideal é concluir pela
inexigibilidade de conduta diversa, com a consequente exclusão da culpabilidade, desde que
respeitada a proporcionalidade e mantida a finalidade da investigação.
Desta feita, excluindo-se apenas a culpabilidade do injusto penal praticado pelo agente
infiltrado, isso significa dizer que subsiste a tipicidade e ilicitude da conduta, permitindo, por

meio da teoria da assessoriedade limitada, a punição dos demais integrantes da organização

criminosa pelas infrações penais praticadas.

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25.1.11. Infiltração de Agentes na Internet como Modalidade de Investiga-


ção Prevista na Lei n. 12.850/2013 (Lei de Organização Criminosa)

Com a entrada em vigor da Lei de Organização Criminosa, mais um dispositivo foi incluído

genericamente como modalidade investigativa: a infiltração de agentes na internet. Vejamos

o tratamento legislativo a respeito da matéria.

Art. 10-A. Será admitida a ação de agentes de polícia infiltrados virtuais, obedecidos os requisitos
do caput do art. 10, na internet, com o fim de investigar os crimes previstos nesta Lei e a eles cone-
xos, praticados por organizações criminosas, desde que demonstrada sua necessidade e indica-
dos o alcance das tarefas dos policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e, quando
possível, os dados de conexão ou cadastrais que permitam a identificação dessas pessoas. (Inclu-
ído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 1º Para efeitos do disposto nesta Lei, consideram-se: (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
I – dados de conexão: informações referentes a hora, data, início, término, duração, endereço de
Protocolo de Internet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão; (Incluído pela Lei n. 13.964,
de 2019)
II – dados cadastrais: informações referentes a nome e endereço de assinante ou de usuário regis-
trado ou autenticado para a conexão a quem endereço de IP, identificação de usuário ou código de
acesso tenha sido atribuído no momento da conexão. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 2º Na hipótese de representação do delegado de polícia, o juiz competente, antes de decidir, ou-
virá o Ministério Público. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§  3º Será admitida a infiltração se houver indícios de infração penal de que trata o art.  1º desta
Lei e se as provas não puderem ser produzidas por outros meios disponíveis. (Incluído pela Lei n.
13.964, de 2019)
§ 4º A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de eventuais reno-
vações, mediante ordem judicial fundamentada e desde que o total não exceda a 720 (setecentos e
vinte) dias e seja comprovada sua necessidade. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 5º Findo o prazo previsto no § 4º deste artigo, o relatório circunstanciado, juntamente com todos
os atos eletrônicos praticados durante a operação, deverão ser registrados, gravados, armaze-
nados e apresentados ao juiz competente, que imediatamente cientificará o Ministério Público.
(Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 6º No curso do inquérito policial, o delegado de polícia poderá determinar aos seus agentes, e o
Ministério Público e o juiz competente poderão requisitar, a qualquer tempo, relatório da atividade
de infiltração. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 7º É nula a prova obtida sem a observância do disposto neste artigo. (Incluído pela Lei n. 13.964,
de 2019)

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25.2. Ação Controlada


A ação controlada consiste no retardamento da intervenção do aparato estatal, que deve
ocorrer num momento mais oportuno sob o ponto de vista da investigação criminal.
Trata-se de uma importante técnica especial de investigação, prevista expressamente na
Lei de Drogas (art. 53, II), na Lei de Lavagem de Capitais (Lei n. 9.613/98, art. 4ºB, com reda-
ção dada pela Lei n. 12.683/12) e na nova Lei das Organizações Criminosas (Lei n. 12.850/13,
art. 8º).
Geralmente, essa técnica especial de investigação costuma ser utilizada com mais frequ-
ência em relação a delitos permanentes, notadamente crimes de posse que não sofrem qual-
quer alteração de quadro derivada do retardo da intervenção do aparato estatal, permitindo,
ademais, a prisão em flagrante enquanto não cessar a permanência (CPP, art. 303).
A ação controlada não é incompatível com o direito à não autoincriminação.

25.2.1. Denominações

O instituto é diferente do flagrante provocado/preparado.


Trata-se de exceção ao art. 301 do CPP – prorroga-se no tempo, não é prevaricação por-
que não há interesse ou sentimento pessoal do agente ao deflagrar ação controlada. Não
reflete apenas a postergação do flagrante.
Pode alcançar mandados de constrição patrimonial ou de prisão temporária ou preventi-
va.
Para a maioria da doutrina, é sinônimo de entrega vigiada. Pode ser “limpa” – que é aquela
que é troca as remessas ilícitas ou suspeitas antes de chegar ao destinatário final. Também
denominada substituição.
Na entrega vigiada suja, não há substituição – a remessa ilícita segue seu caminho nor-
mal até o final/destinatário, para que não corra risco de se extraviar – chamada de acompa-
nhamento.
A entrega vigiada interdição ou sui generes – ao contrário das demais, é a hipótese em
que a remessa ilícita nem chega ao destinatário final, de modo que, ainda assim, fica mantida
toda a cautela para o fim de desvendar a estrutura da organização criminosa.

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25.2.2. Desnecessidade de Prévia Autorização Judicial

Diversamente das Leis de Drogas e de Lavagem de Capitais, a Lei n. 12.850/13 não faz
referência expressa à necessidade de prévia autorização judicial para a execução da ação
controlada quando se tratar de crimes praticados por organizações criminosas.
Conforme o disposto no art.  8º, §  1º, da Lei n. 12.850/13, o  retardamento da interven-
ção policial ou administrativa será previamente comunicado ao juiz competente que, se for o
caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao Ministério Público.

 Obs.: a nova Lei das Organizações Criminosas em momento algum faz menção à necessi-
dade de prévia autorização judicial. Refere-se tão somente à necessidade de prévia
comunicação à autoridade judiciária competente.

A previsão expressa de dispensa de autorização judicial para a execução da ação contro-


lada passa a exigir que o retardamento da intervenção policial ou administrativa seja comu-
nicado com antecedência ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites
e comunicará ao Ministério Público.
A comunicação imediata ao juiz competente também é importante para afastar a respon-
sabilidade criminal das autoridades por eventual crime de prevaricação nas hipóteses em que
a situação de flagrante se dissipar.

25.2.3 Flagrante Prorrogado, Retardado ou Diferido

A ação controlada funciona como uma autorização legal para que a prisão em flagrante
seja retardada ou protelada para outro momento, que não aquele em que o agente está em
uma situação de flagrância (CPP, art. 302). Tem-se uma mitigação do flagrante obrigatório.
Enquanto houver sequência de acompanhamento da situação de flagrante próprio, im-
próprio ou presumido, nos termos dos incisos do art. 302 do Código de Processo Penal, será
possível a execução da prisão dentro dos critérios da prisão em flagrante.
Contudo, por ocasião da descoberta dos elementos probatórios mais relevantes, não hou-
ver qualquer situação de flagrância, a autoridade policial não poderá realizar a prisão em fla-
grante pelo ato pretérito que foi tolerado visando à eficácia da investigação.

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A ação controlada deve ser executada pela autoridade policial com a máxima cautela, de
modo a se evitar que os autores da infração penal escapem da persecução penal. Nesse sen-
tido, a Lei n. 12.850 deixa claro que o procedimento investigatório deve ser levado a efeito me-
diante observação e acompanhamento das ações praticadas por organizações criminosas.

Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras (delitos transnacionais), o retarda-


mento da intervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a cooperação
das autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino do investigado,
de modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito do
crime.

25.2.4. Entrega Vigiada

É uma das técnicas mais tradicionais de ação controlada que tem por objetivo a identifi-
cação do maior número possível de agentes do esquema criminoso, bem como localização
dos ativos ocultos, e descoberta de outras fontes de prova.
Conforme o art. 2º, alínea “i”, da Convenção de Palermo, entrega vigiada é a técnica que
consiste em permitir que remessas ilícitas ou suspeitas saiam do território de um ou mais
Estados, os  atravessem ou neles entrem, com o conhecimento e sob o controle das suas
autoridades competentes, com a finalidade de investigar infrações e identificar as pessoas
envolvidas na sua prática.

26. Alterações no Estatuto do Desarmamento – Lei n. 10.826/2003

26.1. Inclusão da Qualificadora de Arma de Fogo de Uso Proibido

Algumas alterações foram operadas no Estatuto do Desarmamento, iremos analisar cada


uma delas de forma separada.
Alterações do Estatuto do Desamamento.

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Antes da Lei n. 13.964/2019. Depois da Lei n. 13.964/2019.


Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em
depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente,
Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda
depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso
emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda restrito, sem autorização e em desacordo com deter-
ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso minação legal ou regulamentar:
proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo As hipóteses tratadas no § 1º não foram alteradas, tra-
com determinação legal ou regulamentar: ta-se das hipóteses em que as armas de fogo, acessó-
As hipóteses tratadas no § 1º não foram alteradas, tra- rios ou munições, naquelas modalidades serão trata-
ta-se das hipóteses em que as armas de fogo, acessó- das como armas, acessórios ou munições de caráter
rios ou munições, naquelas modalidades serão trata- restrito.
das como armas, acessórios ou munições de caráter Inclusão de qualificadora específica quando a arma de
restrito. fogo for de uso proibido.
Se envolverem arma de fogo de uso proibido, a pena é
de reclusão, de 4 a 12 anos

A Lei 13.497/2017 alterou a redação do parágrafo único do art. 1º da Lei n. 8.072/90 pre-
vendo que também é considerado como crime hediondo o delito de posse ou porte ilegal de
arma de fogo de uso restrito, previsto no art. 16 do Estatuto do Desarmamento (tanto a figura
prevista no caput como todos os incisos).
Muito cuidado: Com e entrada em vigor da Lei 13.694/19, pacote anticrime, não mais se
fala, no dispositivo previsto na lei de crimes hediondos, em armas de calibre restrito ou proi-
bido, mas tão somente, em armas de uso proibido.
Desse modo, considerando a adoção do critério legal para a definição dos crimes consi-
derados hediondos, pensamos que somente a hipótese atualmente prevista no artigo 16, § 2º
do Estatuto do Desarmamento, mantém o seu caráter de crime hediondo.

Art. 1º, Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados: (Redação


dada pela Lei n. 13.964, de 2019)
II – o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da Lei n.
10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019).

Assim, a primeira alteração: incluiu qualificadora específica para o crime previsto no arti-
go 16 do Estatuto do Desarmamento, tratando da hipótese de arma de fogo de calibre proibi-
do, especificamente a hipótese prevista no § 2º do referido dispositivo legal.

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26.2. Alteração da Pena do Artigo 17: Crime de Comércio Ilegal de


Arma de Fogo e Inclusão do § 2º
Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar,
remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e multa. (Pena majorada pelo pacote anticrime).
§  1º Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de
prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em
residência.
§  2º Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo, acessório ou munição, sem
autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfar-
çado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. (NR)
(Dispositivo incluído pelo pacote anticrime).

Considerações iniciais:
• Tipo misto alternativo: a prática de duas ou mais condutas descritas no tipo não gera
concurso de crimes, respondendo o agente por apenas um delito;
• Derrogação do art. 18 da LCP: com o advento do Estatuto do Desarmamento (arts. 17
e 18), o art. 18 da Lei de Contravenções foi derrogado, tendo sua aplicabilidade restrita
às armas brancas;
• Princípio da especialidade: o art. 17 da lei de armas é especial em relação à Receptação
qualificada, afastando sua aplicação;
• Esse crime é crime habitual: o professor Gabriel Habib, em sua obra, adotou posicio-
namento no sentido de que o referido delito somente estará configurado se houver a
reiteração da prática delitiva, caracterizando-se como delito habitual, tendo em vista
que o legislador utilizou as expressões no exercício de atividade comercial ou indus-
trial. A prática de qualquer conduta típica de forma eventual não caracteriza o presente
delito.

Questão 2 (CESPE/2013/TJ-BA/TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E DE REGISTROS/PRO-


VIMENTO) No que concerne às leis penais extravagantes, assinale a opção correta.

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a) O dispositivo referente à extraterritorialidade da denominada Lei de Tortura aplica-se sem-

pre que a vítima for brasileira e o autor, estrangeiro.


b) Conforme previsto na denominada Lei de Drogas, o prazo prescricional para os delitos re-
ferentes ao usuário ou dependente de drogas, específico, é de quatro anos tanto para a pres-
crição da pretensão punitiva quanto da pretensão executória.
c) Os condenados por crimes hediondos devem iniciar o cumprimento da pena em regime
fechado, havendo possibilidade de progressão, em caso de merecimento, após cumprido um
sexto da pena.
d) Para a configuração da conduta tipificada no Estatuto do Desarmamento como comércio
ilegal de arma de fogo, exige-se habitualidade do exercício de atividade comercial, mesmo
que em sua forma equiparada.
e) Constitui crime de tortura a conduta do penalmente imputável que, mediante o emprego de
violência, impõe intenso sofrimento físico a outrem, por sadismo.32

SUJEITO ATIVO: pessoa que exerce atividade comercial ou industrial (CRIME PRÓPRIO).
II – SUJEITO PASSIVO: a coletividade (CRIME VAGO).
III  – OBJETO MATERIAL: arma de fogo, acessório ou munição uso permitido ou de uso
proibido (restrito). Mas se for de uso proibido ou restrito, haverá aumento de metade da pena
(Artigo 19, lei 10.826).
IV – OBJETO JURÍDICO: bem jurídico tutelado é a segurança pública, incolumidade públi-
ca, segurança nacional e paz social.
V – ELEMENTO SUBJETIVO: é o dolo.
VI – CONSUMAÇÃO: no momento da prática de umas das catorze condutas descritas no
tipo penal.
Crime Permanente: transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito e expor a venda.

Como falado anteriormente, sobrevindo lei penal mais gravosa, antes de cessada a perma-
nência, aplica-se ao caso concreto sem qualquer ofensa ao princípio da anterioridade.

32
Letra d.

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Súmula n. 711, STF
A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao CRIME PERMANENTE, se a
sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

Crime instantâneo, demais condutas:


• TENTATIVA: possível. Exemplos: tentar adquirir arma de fogo;
• AÇÃO PENAL: pública incondicionada.

Pontos importantes alterados pelo pacote anticrime.


• alteração (majoração) da pena referente ao delito. Trata-se de lei penal maléfica e, por-
tanto, irretroativa;
• especificação a respeito da hipótese de flagrante preparado e hipótese de crime ante-
cedente já consumado.

Vamos entender essa última hipótese:


No direito processual penal, especificamente no tema prisão em flagrante, estudamos a
problemática do flagrante preparado e seu assunto correlato, crime impossível.
Flagrante preparado, provocado, crime de ensaio, delito de experiência ou delito putativo
por obra do agente provocador  Ocorre quando alguém (particular ou autoridade policial), de
forma insidiosa, instiga o agente à prática do delito com o objetivo de prendê-lo em flagran-
te, ao mesmo tempo em que adota todas as providências para que o delito não se consume.
Como adverte a doutrina, nessa hipótese de flagrante o suposto autor do delito não passa de
um protagonista inconsciente de uma comédia, cooperando para a ardilosa averiguação da
autoria de crimes anteriores, ou da simulação da exterioridade de um crime.
Assim, as hipóteses de flagrante preparado configuram-se como clara hipótese de crime
impossível, motivo pelo qual não seria possível a prisão e nem a persecução penal daí decor-
rente.
Ocorre que, no mesmo sentido, a doutrina, apesar da existência do flagrante preparado e
do consequente crime impossível, sempre admitiu a prisão e a persecução penal em relação
aos delitos já consumados e preexistentes, os quais independem de qualquer intervenção do
agente provocador.

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Exemplo: traficante de drogas que tinha as substâncias em depósito e fosse incitado a vender
a droga a agentes policiais. Observe que, em relação a venda da droga, trata-se de crime
impossível, contudo, no que diz respeito ao armazenamento prévio da droga, o crime já estaria
consumado e, portanto, a prisão seria tranquilamente possível.

É justamente nesse sentido que o dispositivo do pacote anticrime foi incluído no Estatuto
do Desarmamento, vejamos:

§  2º Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo, acessório ou munição, sem
autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfar-
çado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente.” (NR)
(Dispositivo incluído pelo pacote anticrime).

Desse modo, se o infrator, apesar de incitado pelo agente policial a vender ou entregar a
arma, já houver praticado infração penal preexistente, como por exemplo ter os artefatos em
depósito, a prisão em flagrante pelo crime preexistente será possível, logicamente, desde que
presentes os elementos razoáveis da prática de delito preexistente.

26.3. Alteração da Pena do Artigo 18: Tráfico Ilegal de Arma de

Fogo, Acessórios ou Munições


Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a qualquer título, de
arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos, e multa. (Pena alterada pelo pacote anticrime).
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo, acessório ou mu-
nição, em operação de importação, sem autorização da autoridade competente, a agente policial
disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente.”
(dispositivo incluído pelo pacote anticrime).

Considerações iniciais:
• Competência da justiça federal:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou inte-
resse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contraven-
ções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

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 Obs.: por haver lesão a interesse da União no que tange ao seu exercício de fiscalização
sobre a zona alfandegária.

• Tipo misto alternativo: a prática de duas ou mais condutas descritas no tipo não gera
concurso de crimes, respondendo o agente por apenas um delito;
• Princípio da especialidade: o art. 18 da lei de armas constitui tipo penal especial em re-
lação aos art. 334 (nas condutas importar e exportar) e art.318 (na conduta favorecer)
do Código Penal, afastando, dessa forma, a sua incidência quando se tratar de armas
de fogo, acessório ou munição;
• Importação ou exportação de explosivo: tendo em vista que o artigo 18 da lei de armas
não contempla explosivo, a conduta será tipificada no art. 334 do Código Penal.
Arma de brinquedo, simulacros ou réplicas de armas de fogo:

Art. 26. São vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a importação de brinquedos, répli-


cas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam confundir.

Logo, tais objetos passaram a ter a importação proibida, tornando-se mercadoria proibida
no país. Assim, a importação de brinquedos, réplicas e simulacros de arma de fogo configura
o delito de contrabando, previsto no art. 334-A do Código Penal.
I – SUJEITO ATIVO: qualquer pessoa (CRIME COMUM).
II – SUJEITO PASSIVO: a coletividade (CRIME VAGO).
III – OBJETO MATERIAL: arma de fogo, acessório ou munição, mas se for de uso proi-
bido ou restrito, haverá aumento de metade da pena (artigo 19, Lei n. 10.826).
IV  – OBJETO JURÍDICO: bem jurídico tutelado é a segurança pública, incolumidade
pública, segurança nacional e paz social.
V – ELEMENTO SUBJETIVO: é o dolo.
VI – CONSUMAÇÃO:

Nas condutas de exportar e importar, o crime se consuma com a efetiva saída ou entrada
do objeto no Brasil. (Crime material/ exige resultado naturalístico).

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Nas condutas de facilitar a entrada ou a saída, o crime se consuma com a simples facili-
tação, ainda que o favorecido não consiga entrar ou sair com a arma (crime formal, que não
exige resultado naturalístico).
TENTATIVA: possível em todas as condutas.
AÇÃO PENAL: pública incondicionada.

Alterações referentes ao pacote anticrime.


• alteração (majoração) da pena referente ao delito;
• especificação a respeito da hipótese de flagrante preparado e hipótese de crime ante-
cedente já consumado.

Os comentários a respeito desse último tópico foram feitos no dispositivo anterior.

26.4. Inclusão de Causa de Aumento de Pena no Artigo 20 do Estatuto


do Desarmamento em Caso de Reincidência Específica

Alterações do Estatuto do Desamamento.

Antes da Lei n. 13.964/2019. Depois da Lei n. 13.964/2019.


Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a
Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é aumentada da metade (1/2) se:
pena é aumentada da metade (1/2) se forem pratica- I – forem praticados por integrante dos órgãos e
dos por integrante dos órgãos e empresas referidas empresas referidas nos arts. 6º, 7º e 8º desta Lei; ou
nos arts. 6o, 7o e 8o desta Lei II – o agente for reincidente específico em crimes
dessa natureza

Desse modo, foi criada mais uma hipótese em as penas dos delitos previstos nos artigos
13,15,16 e 17 aumentam-se da metade: agente reincidente específico em delitos dessa natu-
reza.
Tratando-se em agentes reincidentes específicos em crimes previstos no Estatuto do De-
sarmamento, haverá a incidência da causa de aumento de pena da metade.

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26.5. Criação do Banco Nacional de Perfis Balísticos


Art.  34-A. Os  dados relacionados à coleta de registros balísticos serão armazenados no Banco
Nacional de Perfis Balísticos.
§ 1º O Banco Nacional de Perfis Balísticos tem como objetivo cadastrar armas de fogo e armazenar
características de classe e individualizadoras de projéteis e de estojos de munição deflagrados por
arma de fogo.
§ 2º O Banco Nacional de Perfis Balísticos será constituído pelos registros de elementos de mu-
nição deflagrados por armas de fogo relacionados a crimes, para subsidiar ações destinadas às
apurações criminais federais, estaduais e distritais.
§ 3º O Banco Nacional de Perfis Balísticos será gerido pela unidade oficial de perícia criminal.
§ 4º Os dados constantes do Banco Nacional de Perfis Balísticos terão caráter sigiloso, e aquele
que permitir ou promover sua utilização para fins diversos dos previstos nesta Lei ou em decisão
judicial responderá civil, penal e administrativamente.
§ 5º É vedada a comercialização, total ou parcial, da base de dados do Banco Nacional de Perfis
Balísticos.
§ 6º A formação, a gestão e o acesso ao Banco Nacional de Perfis Balísticos serão regulamentados
em ato do Poder Executivo federal.”

Vamos analisar esse dispositivo penal?


Qual a finalidade da norma?
Criar o banco nacional de perfis balísticos.
Qual o objetivo?
Tem por objetivo cadastrar armas de fogo e armazenar características de classe e indivi-
dualizadoras de projéteis e de estojos de munição deflagrados por arma de fogo.
Como esse banco de dados de perfis balísticos será constituído?
Será constituído pelos registros de elementos de munição deflagrados por armas de fogo
relacionados a crimes, para subsidiar ações destinadas às apurações criminais federais, es-
taduais e distritais.
Por quem o banco de dados de perfis balísticos será gerido?
Será gerido pela unidade oficial de perícia criminal.
Algumas observações importantes:
• os dados serão sigilosos e a utilização para finalidades diversas das permitidas pela
norma sujeitarão os responsáveis à responsabilidade civil, criminal e administrativa;
• é vedada a comercialização do banco de dados.

A formação, gestão e acesso serão regulamentados por ato do poder executivo.

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27. Alterações na Lei de Drogas (Lei n. 11.343/2006)


Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, ofe-
recer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consu-
mo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determi-
nação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e
quinhentos) dias-multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I – importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem
em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico
destinado à preparação de drogas;
II – semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;
III  – utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração,
guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autori-
zação ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
IV  – vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à prepa-
ração de drogas, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar,
a agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta crimi-
nal preexistente. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: (Vide ADI n. 4.274)
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa.
§ 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para
juntos a consumirem:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e
quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.
§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um
sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos desde que o agente seja
primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização
criminosa. (Vide Resolução n. 5, de 2012)

Foi incluído o dispositivo previsto no inciso IV, § 1º do Artigo 33, Lei 11.343/06. Lembre-se
de que dispositivo bastante semelhante foi incluído também no Estatuto do Desarmamento,
especificamente no artigo 17 e 18 do referido texto.
Trata-se de regulamentação das hipóteses que poderiam ser tratadas como crime im-
possível por se configurarem como flagrante provocado. Ocorre que o próprio legislador nos
diz que, nessa hipótese, seria possível a prática da infração penal quando houver elementos
razoáveis de infração penal preexistente.

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Exemplo: policial disfarçado aborda potencial traficante de drogas e tenta adquirir determina-
da quantidade de droga. O vendedor entrega as drogas ao policial, momento que lhe é dado
voz de prisão. Observe que, no que diz respeito a modalidade vender, o  crime é impossível,
diante da provocação do agente estatal, contudo, caso exista indícios razoáveis da prática
de infração preexistente, seria possível a configuração do delito. Nesse caso, seria possível a
prisão, caso o traficante, mesmo antes da venda, tivesse a droga em depósito.

Vamos fixar alguns pontos relevantes:


• Núcleo do tipo: vender ou entregar;
• Objeto material: drogas, matérias-primas, insumos ou produtos químicos destinados a
preparação da droga;
• Elemento normativo do tipo: em desacordo com determinação legal ou regulamentar.
• Sujeito ativo: crime comum;
• Sujeito passivo: coletividade. Trata-se de crime vago, o qual conta como sujeito passi-
vo, ente sem personalidade jurídica;
• Especializantes da conduta: vender ou entregar a policial disfarçado quando existirem
elementos razoáveis da prática de infração penal preexistente. Assim, nesse caso, exi-
ge-se que o delito já esteja consumado em outra modalidade.

28. Alterações na Lei de Transferência/Inclusão de Presos em Estabe-


lecimentos Penais Federais de Segurança Máxima (Lei n. 11.671/2008)

Essa legislação dispõe sobre a transferência e inclusão de presos em estabelecimentos


penais federais de segurança máxima e dá outras providências.
A primeira alteração foi no artigo 2º da referida legislação com a inclusão do parágrafo
único, vejamos a redação:

Art. 2º A atividade jurisdicional de execução penal nos estabelecimentos penais federais será de-
senvolvida pelo juízo federal da seção ou subseção judiciária em que estiver localizado o estabele-
cimento penal federal de segurança máxima ao qual for recolhido o preso.
Parágrafo único. O  juízo federal de execução penal será competente para as ações de natureza
penal que tenham por objeto fatos ou incidentes relacionados à execução da pena ou infrações
penais ocorridas no estabelecimento penal federal. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

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O referido artigo 2º estabelece a competência do juiz federal da seção ou subseção ju-


diciária em que estiver localizado o presídio federal para o desenvolvimento do processo de
execução de pena a ser cumprida em presídio federal.
E os incidentes relacionados a execução da pena quando cumpridos em estabelecimen-
tos federais?
Nesses casos, o juízo federal continua competente para as ações de natureza penal que
tenham por objeto fatos ou incidentes relacionados à execução da pena ou infrações penais
ocorridas em estabelecimentos federais.
Assim, caso seja cometida infração penal em estabelecimento penal federal por agentes
que cumprem a pena nestes estabelecimentos, a competência será do juiz da execução penal
da seção ou subseção do local em que estiver localizado o presídio federal.
A segunda alteração foi realizada no artigo 3º da referida legislação. Nessa ocasião, o le-
gislador optou por detalhar como ocorrerá o cumprimento das penas em estabelecimentos
penais de segurança máxima, vamos analisar o dispositivo já com as alterações e, posterior-
mente, analisaremos especificamente as mudanças.

Art. 3º Serão incluídos em estabelecimentos penais federais de segurança máxima aqueles para
quem a medida se justifique no interesse da segurança pública ou do próprio preso, condenado ou
provisório. (Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019)
§  1º A inclusão em estabelecimento penal federal de segurança máxima, no atendimento do in-
teresse da segurança pública, será em regime fechado de segurança máxima, com as seguintes
características: (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
I – recolhimento em cela individual; (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
II – visita do cônjuge, do companheiro, de parentes e de amigos somente em dias determinados,
por meio virtual ou no parlatório, com o máximo de 2 (duas) pessoas por vez, além de eventuais
crianças, separados por vidro e comunicação por meio de interfone, com filmagem e gravações;
(Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
III – banho de sol de até 2 (duas) horas diárias; e (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
IV  – monitoramento de todos os meios de comunicação, inclusive de correspondência escrita.
(Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 2º Os estabelecimentos penais federais de segurança máxima deverão dispor de monitoramento
de áudio e vídeo no parlatório e nas áreas comuns, para fins de preservação da ordem interna e da
segurança pública, vedado seu uso nas celas e no atendimento advocatício, salvo expressa autori-
zação judicial em contrário. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 3º As gravações das visitas não poderão ser utilizadas como meio de prova de infrações penais
pretéritas ao ingresso do preso no estabelecimento. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

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§ 4º Os diretores dos estabelecimentos penais federais de segurança máxima ou o Diretor do Sis-
tema Penitenciário Federal poderão suspender e restringir o direito de visitas previsto no inciso II
do § 1º deste artigo por meio de ato fundamentado. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 5º Configura o crime do art. 325 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Pe-
nal), a violação ao disposto no § 2º deste artigo. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

Em que hipótese haverá a inclusão do preso em estabelecimentos penais de segurança


máxima?
Será realizada a inclusão para aqueles em que a medida se justifique:
• no interesse da segurança pública;
• no interesse do próprio preso, condenado ou provisório.

Como ocorrerá a execução da penalidade do preso no caso de interesse à segurança pú-


blica?
Nesse caso, a execução será em regime fechado e nos estabelecimentos penais de segu-
rança máxima, dotadas das seguintes características:
• recolhimento em cela individual (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019);
• visita do cônjuge, do companheiro, de parentes e de amigos somente em dias deter-
minados, por meio virtual ou no parlatório, com o máximo de 2 (duas) pessoas por vez,
além de eventuais crianças, separados por vidro e comunicação por meio de interfone,
com filmagem e gravações (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019).

Monitoramento por áudio e vídeo no parlatório e nas áreas comuns.

Art. 3º, § 2º Os estabelecimentos penais federais de segurança máxima deverão dispor de moni-
toramento de áudio e vídeo no parlatório e nas áreas comuns, para fins de preservação da ordem
interna e da segurança pública, vedado seu uso nas celas e no atendimento advocatício, salvo
expressa autorização judicial em contrário. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 3º As gravações das visitas não poderão ser utilizadas como meio de prova de infrações penais
pretéritas ao ingresso do preso no estabelecimento. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

Esse dispositivo é bastante interessante, pois apesar de exigir que haja o monitoramen-
to das áreas comuns do estabelecimento prisional, exceto nas celas e no local destinado a
atendimento advocatício, ressalvada a possibilidade de autorização judicial nesses casos,
o  dispositivo veda que esses elementos sejam utilizados como provas de infrações penais
pretéritas ao ingresso do preso no estabelecimento prisional:

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• banho de sol de até 2 (duas) horas diárias e (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019);
• monitoramento de todos os meios de comunicação, inclusive de correspondência es-
crita. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019).

Por fim, analisaremos a inclusão do § 5º ao artigo 2º, vejamos:

§ 5º Configura o crime do art. 325 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Pe-
nal), a violação ao disposto no § 2º deste artigo. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

Apesar de dispositivo bastante genérico, o qual não explica de forma clara em que a viola-
ção citada no dispositivo consiste, pensamos que se está a tratar da violação do acesso aos
locais que a legislação restringe:
• áudio e vídeo destinado ao local de atendimento advocatício, salvo autorização judicial
nesse sentido;
• áudio e vídeo dentro das celas, salvo autorização judicial nesse sentido.

Assim, realizadas imagens ou gravações de áudios nesses locais, configura-se, de acordo


com mandamento legal, a infração prevista no artigo 325, Código Penal Brasileiro:

Violação de sigilo funcional


Art. 325. Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo,
ou facilitar-lhe a revelação:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.
§ 1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: (Incluído pela Lei n. 9.983, de 2000)
I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra
forma, o  acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da
Administração Pública; (Incluído pela Lei n. 9.983, de 2000)
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. (Incluído pela Lei n. 9.983, de 2000)
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem: (Incluído pela Lei
n. 9.983, de 2000)
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei n. 9.983, de 2000)

Outro ponto alterado da legislação foi o artigo 10, vejamos a nova redação:

Art. 10. A inclusão de preso em estabelecimento penal federal de segurança máxima será excep-
cional e por prazo determinado.
§  1º O período de permanência não poderá ser superior a 360 (trezentos e sessenta) dias, reno-
vável, excepcionalmente, quando solicitado motivadamente pelo juízo de origem, observados os
requisitos da transferência.

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§  1º O período de permanência será de até 3 (três) anos, renovável por iguais períodos, quando
solicitado motivadamente pelo juízo de origem, observados os requisitos da transferência, e  se
persistirem os motivos que a determinaram. (Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019)

Assim, a inclusão do preso em estabelecimentos penais federais de segurança máxima


ocorrerá em caráter excepcional e por prazo determinado.
Qual o prazo?
O período de permanência será de até 03 anos, renováveis por igual período, quando so-
licitado motivadamente pelo juiz de origem, observados os requisitos da transferência e se
persistirem os motivos que a determinaram.
Por fim, foram incluídos os artigos 11-A e 11-B na referida legislação, vejamos as inclu-
sões:

Art.  11-A. As  decisões relativas à transferência ou à prorrogação da permanência do preso em


estabelecimento penal federal de segurança máxima, à concessão ou à denegação de benefícios
prisionais ou à imposição de sanções ao preso federal poderão ser tomadas por órgão colegiado
de juízes, na forma das normas de organização interna dos tribunais. (Incluído pela Lei n. 13.964,
de 2019)
Art. 11-B. Os Estados e o Distrito Federal poderão construir estabelecimentos penais de segurança
máxima, ou adaptar os já existentes, aos quais será aplicável, no que couber, o disposto nesta Lei.
(Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

Esse dispositivo trata da possibilidade de que decisões judiciais sejam tomadas por órgão
colegiado de juízes, pergunta-se: Quais as hipóteses que a decisão poderá ser tomada por
órgãos colegiados de juízes:
• decisões referentes à transferência ou à prorrogação da permanência do preso em es-
tabelecimento penal federal de segurança máxima;
• decisões referentes à concessão ou à denegação de benefícios prisionais;
• decisões referentes à imposição de sanção ao preso federal.

O artigo 11-B trata da possibilidade de os Estados e o Distrito Federal construírem fede-


rais ou mesmo adaptarem presídios estaduais de forma a torná-los equivalentes a presídios
federais. Nessas hipóteses, será aplicável, no que couber, o disposto nessa lei.

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29. Alterações na Lei de Identificação Criminal (Lei n. 12.037/2009)

Alterações na Lei de Identificação Criminal.

Antes da Lei n. 13.964/2019. Depois da Lei n. 13.964/2019.


Art. 7º-A. A exclusão dos perfis genéticos dos bancos
Art. 7º-A. A exclusão dos perfis genéticos dos bancos
de dados ocorrerá: (Redação dada pela Lei n. 13.964,
de dados ocorrerá no término do prazo estabelecido
de 2019)
em lei para a prescrição do delito. (Incluído pela Lei n.
I – no caso de absolvição do acusado; ou (Incluído
12.654, de 2012)
pela Lei n. 13.964, de 2019)
II  – no caso de condenação do acusado, mediante
requerimento, após decorridos 20 (vinte) anos do cum-
primento da pena. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

Antes de tratarmos especificamente das primeiras alterações ocorridas na Lei 12.037/09


é importante falarmos sobre a possibilidade de a identificação criminal, quando realizada nos
termos do artigo 3º, IV da referida legislação, abranger a colheita de material biológico para a
obtenção de perfil genético.
Quando será possível, na identificação, a colheita de material biológico para a obtenção
do perfil genético?
Na hipótese do artigo 3º, IV, Lei 12.037/09, vejamos:

Art.  3º Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação criminal


quando:
IV  – a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da au-
toridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade
policial, do Ministério Público ou da defesa;

Assim, podemos concluir que quando a identificação ocorrer em razão da sua essencia-
lidade para a investigação criminal, a identificação poderá contemplar a colheita de material
biológico para a formação de perfil genético.
A legislação prevê a criação de um banco de dados de perfis genéticos, o qual deverá se-
guir as seguintes regulamentações:
• o banco de dados de perfil genético será gerenciado por unidade oficial de perícia cri-
minal;

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• as informações genéticas contidas nos bancos de dados de perfis genéticos não pode-
rão revelar traços somáticos ou comportamentais das pessoas, exceto determinação
genética de gênero, consoante as normas constitucionais e internacionais sobre direi-
tos humanos, genoma humano e dados genéticos;
• os dados constantes dos bancos de dados de perfis genéticos terão caráter sigiloso,
respondendo civil, penal e administrativamente aquele que permitir ou promover sua
utilização para fins diversos dos previstos nesta Lei ou em decisão judicial;
• as informações obtidas a partir da coincidência de perfis genéticos deverão ser consig-
nadas em laudo pericial firmado por perito oficial devidamente habilitado;
• é vedado mencionar a identificação criminal do indiciado em atestados de anteceden-
tes ou em informações não destinadas ao juízo criminal, antes do trânsito em julgado
da sentença condenatória.

Observado todo o tratamento dado a esse banco de dados de perfis genéticos, podemos
efetivamente tratar a respeito da alteração operada. A  inovação realizada pela legislação é
justamente no que concerne a retirada das informações biológicas desse banco de dados.
Quais as hipóteses que autorizam a retirada das informações do banco de dados de perfil
genético?

I – no caso de absolvição do acusado; ou (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)


II – no caso de condenação do acusado, mediante requerimento, após decorridos 20 (vinte) anos
do cumprimento da pena. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019).

A próxima alteração diz respeito a criação do banco nacional multibiométrico e de impres-


sões digitais, vejamos o dispositivo legal:

Art. 7º-C. Fica autorizada a criação, no Ministério da Justiça e Segurança Pública, do Banco Nacio-
nal Multibiométrico e de Impressões Digitais. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 1º A formação, a gestão e o acesso ao Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais
serão regulamentados em ato do Poder Executivo federal. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§  2º O Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais tem como objetivo armazenar
dados de registros biométricos, de impressões digitais e, quando possível, de íris, face e voz, para
subsidiar investigações criminais federais, estaduais ou distritais. (Incluído pela Lei n. 13.964,
de 2019)

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§  3º O Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais será integrado pelos registros


biométricos, de impressões digitais, de íris, face e voz colhidos em investigações criminais ou por
ocasião da identificação criminal. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 4º Poderão ser colhidos os registros biométricos, de impressões digitais, de íris, face e voz dos
presos provisórios ou definitivos quando não tiverem sido extraídos por ocasião da identificação
criminal. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 5º Poderão integrar o Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais, ou com ele in-
teroperar, os  dados de registros constantes em quaisquer bancos de dados geridos por órgãos
dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário das esferas federal, estadual e distrital, inclusive
pelo Tribunal Superior Eleitoral e pelos Institutos de Identificação Civil. (Incluído pela Lei n. 13.964,
de 2019)
§ 6º No caso de bancos de dados de identificação de natureza civil, administrativa ou eleitoral, a in-
tegração ou o compartilhamento dos registros do Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões
Digitais será limitado às impressões digitais e às informações necessárias para identificação do
seu titular. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 7º A integração ou a interoperação dos dados de registros multibiométricos constantes de outros
bancos de dados com o Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais ocorrerá por
meio de acordo ou convênio com a unidade gestora. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 8º Os dados constantes do Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais terão ca-
ráter sigiloso, e  aquele que permitir ou promover sua utilização para fins diversos dos previstos
nesta Lei ou em decisão judicial responderá civil, penal e administrativamente. (Incluído pela Lei n.
13.964, de 2019)
§ 9º As informações obtidas a partir da coincidência de registros biométricos relacionados a cri-
mes deverão ser consignadas em laudo pericial firmado por perito oficial habilitado. (Incluído pela
Lei n. 13.964, de 2019)
§ 10. É vedada a comercialização, total ou parcial, da base de dados do Banco Nacional Multibio-
métrico e de Impressões Digitais. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 11. A autoridade policial e o Ministério Público poderão requerer ao juiz competente, no caso de
inquérito ou ação penal instaurados, o acesso ao Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões
Digitais. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019).

Vamos às perguntas e respostas para facilitar o nosso estudo.


Em qual órgão se encontra o Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais?
No âmbito do Ministério da Justiça e segurança pública, o qual será regulamentado por
ato do poder executivo.
Qual é o objetivo do referido banco de dados?
O objetivo armazenar dados de registros biométricos, de impressões digitais e, quando
possível, de íris, face e voz, para subsidiar investigações criminais federais, estaduais ou dis-
tritais.

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Quais informações conterão nesse banco de dados?


Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais será integrado pelos registros
biométricos, de impressões digitais, de íris, face e voz colhidos em investigações criminais ou
por ocasião da identificação criminal.
Poderão ser colhidos os registros biométricos, de impressões digitais, de íris, face e voz
dos presos provisórios ou definitivos quando não tiverem sido extraídos por ocasião da iden-
tificação criminal.
Também poderão integrar o referido banco de dados os dados de registros constantes em
quaisquer bancos de dados geridos por órgãos dos Poderes Executivo, Legislativo e Judici-
ário das esferas federal, estadual e distrital, inclusive pelo Tribunal Superior Eleitoral e pelos
Institutos de Identificação Civil.
Por fim, alguns pontos merecem ser ressaltados:
• as informações constantes do referido banco de dados terão caráter sigiloso e aquele
que se utilizar indevidamente das informações responderá civil, penal e administrati-
vamente;
• as informações obtidas a partir da coincidência de registros biométricos relacionados a
crimes deverão ser consignadas em laudo pericial firmado por perito oficial habilitado;
• é vedada a comercialização das informações constantes desse banco de dados;
• a autoridade policial e o Ministério Público poderão requerer ao juiz competente, no
caso de inquérito ou ação penal instaurados, o acesso ao Banco Nacional Multibiomé-
trico e de Impressões Digitais.

30. Alterações na Lei de Processo e o Julgamento Colegiado em Primeiro


Grau de Jurisdição de Crimes Praticados por Organizações Criminosas
(Lei n. 12.694/2012)

Inicialmente, a referida legislação dispõe sobre o processo e o julgamento colegiado em


primeiro grau de jurisdição de crimes praticados por organizações criminosas. Nesse sentido,
as referidas alterações dispõem sobre a possibilidade de os Tribunais de Justiça e os Tribu-
nais Regionais Federais instalar, nas comarcas sedes de Circunscrição ou Seção Judiciária,

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mediante resolução, Varas Criminais Colegiadas com competência para o processo e julga-
mento dos seguintes delitos:
• de crimes de pertinência a organizações criminosas armadas ou que tenham armas à
disposição;
• do crime do art. 288-A do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Pe-
nal), essa possibilidade trata especificamente do delito de milícia privada, vejamos a
disposição legal a respeito:

Constituição de milícia privada (Incluído dada pela Lei n. 12.720, de 2012)


Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia parti-
cular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código:
(Incluído dada pela Lei n. 12.720, de 2012)
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos. (Incluído dada pela Lei n. 12.720, de 2012)
III – das infrações penais conexas aos crimes a que se referem os incisos I e II do caput deste ar-
tigo. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

A legislação assevera que as varas colegiadas terão competência para a prática de to-
dos os atos processuais desde a investigação até a execução da pena, inclusive os atos de
transferência do preso para os presídios de segurança máxima ou mesmo a determinação de
inclusão do preso em RDD.
Como ocorrerá a definição da competência das referidas varas colegiadas?
Ao receber o processo por distribuição comum, o magistrado ao analisar que se trata de
processos referentes à organização criminosa armada, milícia privada ou ainda infrações pe-
nais conexas deverá remeter o processo para a referida vara colegiada de sua circunscrição
ou seção judiciária.
Após a referida remessa, a Vara Colegiada será competente em relação a todos os atos do
processo, inclusive a fase de execução.
Vejamos o dispositivo que foi incluído na legislação:

Art. 1º-A. Os Tribunais de Justiça e os Tribunais Regionais Federais poderão instalar, nas comar-
cas sedes de Circunscrição ou Seção Judiciária, mediante resolução, Varas Criminais Colegiadas
com competência para o processo e julgamento: (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
I – de crimes de pertinência a organizações criminosas armadas ou que tenham armas à disposi-
ção; (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
II – do crime do art. 288-A do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); e
(Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

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III – das infrações penais conexas aos crimes a que se referem os incisos I e II do caput deste ar-
tigo. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 1º As Varas Criminais Colegiadas terão competência para todos os atos jurisdicionais no decor-
rer da investigação, da ação penal e da execução da pena, inclusive a transferência do preso para
estabelecimento prisional de segurança máxima ou para regime disciplinar diferenciado. (Incluído
pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 2º Ao receber, segundo as regras normais de distribuição, processos ou procedimentos que te-
nham por objeto os crimes mencionados no caput deste artigo, o juiz deverá declinar da competên-
cia e remeter os autos, em qualquer fase em que se encontrem, à Vara Criminal Colegiada de sua
Circunscrição ou Seção Judiciária. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 3º Feita a remessa mencionada no § 2º deste artigo, a Vara Criminal Colegiada terá competência
para todos os atos processuais posteriores, incluindo os da fase de execução. (Incluído pela Lei n.
13.964, de 2019)

31. Alterações na Lei do Disque-Denúncia (Lei n. 13.608/2018)


A referida legislação trata a respeito do serviço telefônico de recebimento de denúncias
e sobre recompensa por informações que auxiliem nas investigações policiais. Vejamos os
dispositivos incluídos na referida legislação:

Art. 4º-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios e suas autarquias e fundações,


empresas públicas e sociedades de economia mista manterão unidade de ouvidoria ou correição,
para assegurar a qualquer pessoa o direito de relatar informações sobre crimes contra a admi-
nistração pública, ilícitos administrativos ou quaisquer ações ou omissões lesivas ao interesse
público. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
Parágrafo único. Considerado razoável o relato pela unidade de ouvidoria ou correição e procedido
o encaminhamento para apuração, ao informante serão asseguradas proteção integral contra reta-
liações e isenção de responsabilização civil ou penal em relação ao relato, exceto se o informante
tiver apresentado, de modo consciente, informações ou provas falsas. (Incluído pela Lei n. 13.964,
de 2019)

O artigo 4º – A estabelece o dever de Administração Direta e Indireta estabeleçam unida-


des de ouvidoria e correição para assegurar as pessoas o direito de relatar informações sobre:
• crimes contra a administração pública;
• ilícitos administrativos;
• ações ou omissões lesivas ao interesse público.

A referida norma também estabelece, caso seja razoável o relato e precedido de encami-
nhamento para apuração a respeito da veracidade das informações, assegura-se ao delator:

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• proteção contra retaliações;


• isenção de responsabilização civil e penal em relação ao relato.

Salvo, na hipótese de apresentação de forma evidente de informações ou provas falsas.


Observa-se que, em regra, será preservada a identidade do informando e, somente em
hipóteses excepcionais (relevante interesse público ou interesse concreto para apuração dos
fatos) será possível a revelação de sua identidade, vejamos o dispositivo legal:

Art. 4º-B. O informante terá direito à preservação de sua identidade, a qual apenas será revelada
em caso de relevante interesse público ou interesse concreto para a apuração dos fatos. (Incluído
pela Lei n. 13.964, de 2019)
Parágrafo único. A revelação da identidade somente será efetivada mediante comunicação prévia
ao informante e com sua concordância formal. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

Veja que a lei ainda apresenta proteção adicional ao delator no sentido de protegê-lo con-
tra arbitrariedades. Essa previsão foi incluída no artigo 4-C da referida legislação:

Art. 4º-C. Além das medidas de proteção previstas na Lei n. 9.807, de 13 de julho de 1999, será as-
segurada ao informante proteção contra ações ou omissões praticadas em retaliação ao exercício
do direito de relatar, tais como demissão arbitrária, alteração injustificada de funções ou atribui-
ções, imposição de sanções, de prejuízos remuneratórios ou materiais de qualquer espécie, reti-
rada de benefícios, diretos ou indiretos, ou negativa de fornecimento de referências profissionais
positivas. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 1º A prática de ações ou omissões de retaliação ao informante configurará falta disciplinar grave
e sujeitará o agente à demissão a bem do serviço público. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§  2º O informante será ressarcido em dobro por eventuais danos materiais causados por ações
ou omissões praticadas em retaliação, sem prejuízo de danos morais. (Incluído pela Lei n. 13.964,
de 2019)
§  3º Quando as informações disponibilizadas resultarem em recuperação de produto de crime
contra a administração pública, poderá ser fixada recompensa em favor do informante em até 5%
(cinco por cento) do valor recuperado. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

32. Alterações na Lei n. 8.038/1990 (Procedimentos perante o STF


e STJ)

A alteração nesse dispositivo penal diz respeito à possibilidade de celebração de acordo


de não persecução penal perante os tribunais superiores, STF e STJ, vejamos as alterações:

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Lei n. 13.964/2019 – Pacote Anticrime
Flavio Rolim

Art.  1º, §  3º Não sendo o caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e cir-
cunstanciadamente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena míni-
ma inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal,
desde que necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime, nos termos do art. 28-A
do Decreto-Lei n. 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal). (Incluído pela Lei n.
13.964, de 2019)

Vamos replicar as informações já repassadas a respeito do acordo de não persecução


penal.
Trata-se de instituto de natureza processual que possibilita ao acusado confessar a pra-
ticado do crime e sofrer as sanções propostas pelo Ministério Público, possibilitando, assim,
uma solução negociada no processo penal (justiça negociada). O investigado confessa o cri-
me, se sujeita às condições do acordo e ao final, caso cumprido o acordo, vê extinta a puni-
bilidade.
Segundo a doutrina33, é  a adoção pelo sistema brasileiro do chamado “plea bargaining”
Norte-Americano:

No plea bargaining norte-americano, o  imputado manifesta perante o Ministério Público sua de-
cisão de declarar-se culpado, aceitando as imputações acordadas, assim como a pena pactuada,
ao mesmo tempo em que renuncia a certas garantias processuais. Como explica Luiz Flávio Gomes,
“uma vez que se dá conhecimento da acusação – qualquer que seja o crime – para o imputado,
pede-se o pleading, isto é, para se pronunciar sobre a culpabilidade; se se declara culpado (pleads
guilty) – se confessa – opera-se o plea, é dizer, a resposta da defesa e então pode o juiz, uma vez
comprovada a voluntariedade da declaração, fixar a data da sentença (sentencing), ocasião em que
se aplicará a pena (geralmente ‘reduzida’ – ou porque menos grave ou porque abrangerá menos
crimes -, em razão do acordo entre as partes), sem necessidade de processo ou veredito (trial ou
veredict); em caso contrário, abre-se ou continua o processo e entra em ação o jurado.

A importação do instituto Norte-Americano não é imune às críticas. Segundo Jacinto Nel-


son de Miranda Coutinho, a importação de institutos de outros sistemas é prejudicial diante
da realidade brasileira:

Na prática, o plea bargainig visa lutar contra o acúmulo de trabalho (e isso, pelo menos, desde o
Século XIX, nos E.U.A.), mas sem deixar de lado os direitos e garantias individuais, dos quais eles
não abririam mão, ainda que muita gente reclame e afirme que é justo isso que estão fazendo.
Eis, então, que, fundados em um modelo de pensamento (Francis Bacon como principal corifeu)
utilitarista (Jeremy Bentham e John Stuart Mill), empiricamente não se incomodam, em tantas

33
(Lima, 2017, p. 260)

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passagens, de operar com uma ética na qual os fins justifiquem os meios, desde que se almeje o
bem-estar de todos.
De certa forma, isso justifica, para eles, a negociação de um acordo sobre o crime e a pena; o pró-
prio acordo ainda na esfera material ou mesmo naquela processual em face dos lugares ocupados
pelos atores; e o lugar do juiz como aquele de – quase que – tão só controlar o que se fez, para não
permitir que se vilipendiem direitos e garantias individuais.

Tudo leva a crer, enfim, que um plea bargaining metido em um processo do sistema inquisitório
como o brasileiro seja um desastre, retirando ainda mais o pouco de democracia processual que
restou depois da americanização à brasileira promovida nos últimos anos, tudo sem o devido con-
trole por quem de direito, seja lá por qual motivo for.
Ter plea bargaining é inevitável se o processo penal brasileiro vier a ser acusatório. Mas para isso
é preciso, antes, importar o sistema todo, com ônus e bônus. Do jeito que se está tentando impor,
os ônus ficarão para os cidadãos investigados/acusados(10); e os bônus – tudo indica – ficarão
para o Estado e seus órgãos. Em tempos neoliberais, tudo é contra o cidadão, quem sabe em nome
daquela ética utilitarista precitada, embora se saiba que ela é só discurso fácil para iludir os in-
cautos. Os de sempre serão os beneficiados, como sempre foi. É como se existissem cidadãos e…
cidadãos. O problema em uma sociedade assim é que tudo se faz em nome do bem comum e da
democracia, nem que seja contra a Constituição. Um dia – ahimé, como dizem os italianos – a vida
revida.

32.1. Requisitos, Condições e Vedações


Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstan-
cialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior
a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições
ajustadas cumulativa e alternativamente:
I – reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;
II – renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumen-
tos, produto ou proveito do crime;
III  – prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena
mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da
execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal);
IV  – pagar prestação pecuniária, a  ser estipulada nos termos do art.  45 do Decreto-Lei n. 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada
pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais
ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou
V  – cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que
proporcional e compatível com a infração penal imputada.
§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput deste artigo, serão
consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto.

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§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes hipóteses:
I – se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos
da lei;
II  – se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta
criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas;
III – ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em
acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e
IV – nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a
mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.

Com a reforma, poderá o Ministério Público propor ao investigado o acordo de não perse-
cução penal obedecidos os seguintes requisitos:
• confissão formal e circunstancial do investigado;
• infração penal sem violência ou grave ameaça;
• com a pena mínima inferior a 4 anos;
• necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.

Uma questão relevante é se o acordo de persecução penal é um direito subjetivo do in-


vestigado ou uma faculdade para o Ministério Público. Assim, poderia o Ministério Público,
diante de dois investigados em situação jurídica idêntica, propor o acordo para um e não para
o outro? Nos parece que não.
A expressão “poderá” deve ser interpretada como um “poder-dever”, isto é, preenchidos
os requisitos objetivos estabelecidos em lei, o investigado passa a ter o direito subjetivo ao
acordo. Da mesma forma, o  Art.  76 da L.9099/95 prevê que o Ministério Público “poderá”
propor a transação penal, que é interpretado pela doutrina como direito subjetivo do acusado,
sendo assim, onde há a mesma razão, deverá ser aplicado o mesmo direito “Ubi eadem ratio
ibi idem jus”.
Nesse sentido, Renato Brasileiro34 :

Sob o argumento de se tratar de direito público subjetivo do autor do fato delituoso, não se defe-
re ao juiz a possibilidade de conceder de ofício a transação penal contra a vontade do Ministério
Público ou do querelante. Não cabe ao juiz, que não é titular da ação penal, substituir-se ao órgão
ministerial ou ao querelante para formar de ofício a proposta de transação penal, sob pena de evi-
dente violação ao art. 129, inciso I, da Constituição Federal.
34
(Lima, 2017, p. 234)

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Diante da recusa injustificada do órgão do Ministério Público em oferecer a proposta de transação


penal, ou se o juiz discordar de seu conteúdo, o caminho a ser seguido pelo juiz passa pela apli-
cação subsidiária do art. 28 do CPP, core a consequente remessa dos autos ao Procura­ dor-Geral
de Justiça (ou, na esfera federal, às Câmaras de Coordenação e Revisão do MPF), que terá como
opções designar outro Promotor de Justiça para formular a proposta, alterar o conteúdo daquela
que tiver sido formulada ou ratificar a postura do órgão ministerial de primeiro grau, caso em que a
autoridade judiciária estará obrigada a homologar a transação.
Apesar de dispor sobre a suspensão condicional do processo, o verbete da súmula 696 do Supremo
também pode ser aplicado à transação penal: “Reunidos os pressupostos legais permissivos da
suspensão condicional do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz,
dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Códi-
go de Processo Penal”.
Nas hipóteses de ação penal privada, recai sobre o querelante a legitimidade para o ofereci mento
da proposta de transação penal. Assim, na fase preliminar, deve o magistrado questionar o ofendi-
do ou seu representante legal acerca do oferecimento da proposta de transação. Como o juiz não
pode conceder o benefício de ofício, nem tampouco se admite a formulação de proposta pelo MP,
a recusa do querelante em oferecer a proposta inviabiliza por completo a concessão do referido
benefício.

O raciocínio acima merece ser interpretado a luz do Art.  28-A do CPP, incluído pela
L.13.964/2019, que retirou do juiz a função de fiscal do princípio da obrigatoriedade da ação
penal e retirou de suas mãos qualquer atividade que, por natureza, pertença à acusação.
Portanto, nos parece que, diante da negativa de proposta do acordo de não persecução
penal, poderá o investigado suscitar a manifestação do órgão de revisão ministerial, em solu-
ção próxima à que foi dada no tocante à transação penal. Aqui nos parece não poderá o juiz
suscitar tal providência de ofício.
Ressalto que a solução apresentada é fruto da interpretação do dispositivo e não possui
previsão expressa em lei, vamos aguardar o posicionamento dos Tribunais Superiores e da
doutrina quanto ao tema.
Possível ainda uma segunda posição com base em uma interpretação literal do Art. 28 – A
do CPP, considerando uma mera faculdade do Ministério Público o oferecimento do acordo de
não persecução penal.
Importante destacar, que segundo o §  1º, para fins de aferição da pena mínima, serão
consideradas as causas de aumento e diminuição de pena.
Cumpridos os requisitos, o acordo será oferecido mediante as seguintes condições, que
poderão ser ajustadas cumulativamente ou alternativamente:

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• reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;


• renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como
instrumentos, produto ou proveito do crime;
• prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à
pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado
pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 (Código Penal);
• pagar prestação pecuniária, a  ser estipulada nos termos do art.  45 do Decreto-Lei n.
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a  entidade pública ou de interesse
social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como fun-
ção proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo
delito; ou
• cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde
que proporcional e compatível com a infração penal imputada.

A Lei n. 13.964/2019 acrescenta ainda vedações em que o acordo não poderá ser cele-
brado:
• se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos
termos da lei;
• se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem con-
duta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações
penais pretéritas;
• ter sido o agente beneficiado nos cinco anos anteriores ao cometimento da infração,
em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do
processo; e
• nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados con-
tra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.

32.2. Procedimento do Acordo de Não Persecução Penal


Art. 28-A, § 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será firmado pelo
membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu defensor.
§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada audiência na qual o
juiz deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu
defensor, e sua legalidade.

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§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas no acordo


de não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a
proposta de acordo, com concordância do investigado e seu defensor.
§  6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o  juiz devolverá os autos ao
Ministério Público para que inicie sua execução perante o juízo de execução penal.
§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais ou quan-
do não for realizada a adequação a que se refere o § 5º deste artigo.
§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a análise da
necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia.
§ 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu descum-
primento.
§  10 Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não persecução penal,
o Ministério Público deverá comunicar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento
de denúncia.
§ 11 O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado também poderá ser
utilizado pelo Ministério Público como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão
condicional do processo.
§ 12 A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não constarão de certidão
de antecedentes criminais, exceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste artigo.
§ 13 Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo competente decretará a
extinção de punibilidade.
§ 14 No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução pe-
nal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28 deste
Código.”(lembrem-se da suspensão da eficácia do artigo 28 pela ADIN 6298).

O procedimento é bem simples. Cumpridos os requisitos legais, o Membro do Ministério


Público proporá o acordo com as condições (punições) previstas em lei (lembre-se que as
condições podem ser aplicadas de forma isolada ou cumulativa), de forma escrita e na pre-
sença do defensor (§ 3º).
Recebido o acordo, será realizada audiência para verificar sua legalidade e a voluntarie-
dade.
Após, o juiz poderá homologar ou não o acordo de não persecução penal. Nas duas hipó-
teses os autos retornam ao Ministério Público.
Caso homologue o acordo (§ 6º), os autos retornarão para que o Ministério Público inicie
sua execução. É isso mesmo que você leu, o Ministério Público irá fiscalizar o cumprimento
das condições (penas antecipadas) e, caso sejam cumpridas, informará ao juiz para que seja
declarada extinta a punibilidade.
No caso de quebra do acordo, o Ministério Público comunicará ao juiz que o rescindirá,
podendo o Ministério Público determinar o prosseguimento das investigações ou denunciar
o investigado.

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Caso o acordo não seja homologado pelo juiz, os autos igualmente retornam ao Ministério
Público, para complementação das investigações ou oferecimento da denúncia.
Em ambas as soluções, a vítima será intimada (§ 9º).

33. Alterações na Lei do Fundo Nacional de Segurança Pública (Lei n.


13.756/2018)
Considerando a finalidade de nosso trabalho e a pouca incidência dessa legislação em
concursos públicos, nos limitaremos, nesse caso, nos limitaremos a transcrever as alterações
realizadas.

Antes da Lei n. 13.964/2019 Depois da Lei n. 13.964/2019


Art. 3º Constituem recursos do FNSP:
Art. 3º (…)
I – as doações e os auxílios de pessoas naturais ou
V – os recursos provenientes de convênios, contratos
jurídicas, públicas ou privadas, nacionais ou estrangei-
ou acordos firmados com entidades públicas ou priva-
ras;
das, nacionais, internacionais ou estrangeiras;
II – as receitas decorrentes:
VI – os recursos confiscados ou provenientes da alie-
a) da exploração de loterias, nos termos da legislação;
nação dos bens perdidos em favor da União Federal,
e
nos termos da legislação penal ou processual penal;
b) das aplicações de recursos orçamentários do FNSP,
VII – as fianças quebradas ou perdidas, em conformi-
observada a legislação aplicável;
dade com o disposto na lei processual penal;

c) da decretação do perdimento dos bens móveis e


imóveis, quando apreendidos ou sequestrados em
decorrência das atividades criminosas perpetradas
por milicianos, estendida aos sucessores e contra eles
executada, até o limite do valor do patrimônio trans-
ferido;
III – as dotações consignadas na lei orçamentária
anual e nos créditos adicionais; e
VIII – os rendimentos de qualquer natureza, auferidos
IV – as demais receitas destinadas ao FNSP.
como remuneração, decorrentes de aplicação do patri-
Parágrafo único. Excetuam-se do disposto na alínea c
mônio do FNSP.
do inciso II do caput deste artigo os bens relaciona-
dos com o tráfico de drogas de abuso, ou de qualquer
forma utilizados em atividades ilícitas de produção ou
comercialização de drogas abusivas, ou, ainda, que
tenham sido adquiridos com recursos provenientes
do referido tráfico, e perdidos em favor da União, que
constituem recursos destinados ao Funad, nos termos
do art. 4º da Lei n. 7.560, de 19 de dezembro de 1986

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34. Alterações no Código de Processo Penal Militar


Art. 18. O Decreto-Lei n. 1.002, de 21 de outubro de 1969 (Código de Processo Penal Militar), passa
a vigorar acrescido do seguinte art. 16-A:
“Art. 16-A. Nos casos em que servidores das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares
figurarem como investigados em inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudi-
ciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exer-
cício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas nos arts. 42
a 47 do Decreto-Lei n. 1.001, de 21 de outubro de 1969 (Código Penal Militar), o indiciado poderá
constituir defensor.
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado da instauração
do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito)
horas a contar do recebimento da citação.
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º com ausência de nomeação de defensor pelo investigado,
a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o
investigado à época da ocorrência dos fatos, para que esta, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas,
indique defensor para a representação do investigado.
§ 3º (VETADO).
§ 4º (VETADO).
§ 5º (VETADO).
§  6º As disposições constantes deste artigo aplicam-se aos servidores militares vinculados às
instituições dispostas no art. 142 da Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam
respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem.”

Nesse ponto, o  legislador tratou de forma equivalente as situações previstas no Código


de Processo Penal comum, dessa forma, aplica-se todas as explicações já realizadas no item
14.1 deste material.

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