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Tribunal de Justiça
Comarca da Capital
Cartório da 11ª Vara da Fazenda Pública
Erasmo Braga, 115 Lâmina I - SALA633 - Centro - Rio de Janeiro - RJ Tel.: 3133-3889/3138 e-mail: cap11vfaz@tjrj.jus.br
Fls.
Processo: 0413260-52.2015.8.19.0001
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Em 17/05/2017
Sentença
EQUINIX DO BRASIL SOLUÇÕES DE TECNOLOTGIA EM INFORMÁTICA S.A. ajuizou ação
DECLARATÓRIA C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO contra o ESTADO DO RIO DE JANEIRO,
objetivando em síntese, a declaração de serem indevidas as cobranças da alíquota estadual do
ICMS de 25% sobre a energia elétrica. Ademais, pretende afastar a inclusão da TUST e TUSD
na base de cálculo do ICMS, eis que tais encargos não tem relação com a circulação da energia
elétrica, requerendo, ainda, a devolução dos valores indevidamente recolhidos nos últimos cinco
anos.
Foi interposto agravo de instrumento pela autora, conforme petição de fls. 397/422, sendo
certo que foi deferido o efeito suspensivo, determinando a suspensão da exigibilidade do ICMS
incidente sobre o fornecimento de energia elétrica à alíquota de 25%, assegurando o recolhimento
do imposto à alíquota de 18%, conforme fls. 426/429.
O Estado apresentou contestação às fls. 437/460, aduzindo o efetivo respeito à seletividade pela
Lei Estadual de ICMS quanto à alíquota aplicável e a impossibilidade de fixação desta pelo Poder
Judiciário, bem como afirmou a correta a incidência do ICMS sobre os encargos chamados TUST
e TUSD. Aduziu sobre as suspensões das decisões que aderiram à tese da autora.
110 MARCUSVFN
Estado do Rio de Janeiro Poder Judiciário
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O MP manifestou-se às fls. 483/486 opinando pela extinção do feito, sem solução do mérito, no
que tange o pedido repetitório; pela procedência do pedido declaratório e de obrigação de não
fazer contrário a incidência de ICMS sobre a TUST e TUSD; e finalmente, pela improcedência do
pedido relativo à alíquota impugnada.
É o Relatório.
Decido.
Cuida a hipótese de ação ordinária ajuizada pela autora, visando à cessação da cobrança de
ICMS sobre os encargos denominados TUST e TUSD, e impugnando o percentual de 25%
referente a alíquota de ICMS sobre a energia elétrica.
Ab initio, cumpre salientar que, a suspensão de segurança mencionada pelo Estado em sua peça
de bloqueio não atinge ao presente feito.
O Estado é parte legítima para figurar no pólo passivo da presente lide, uma vez que é o sujeito
ativo da relação jurídico tributária, ficando com todo produto da arrecadação do tributo. Ademais,
cumpre salientar, ainda, que a autora é a contribuinte de fato do imposto em questão, arcando
com toda carga tributária, razão pela qual é parte legítima na presente lide. Ora, sendo a
concessionária de energia mera arrecadadora do tributo em questão, o qual repassa integralmente
ao Estado, não possui legitimidade para figurar na presente lide.
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O percentual de 25%, já teve decisão do Órgão Especial deste Egrégio Tribunal de Justiça,
reconhecendo sua inconstitucionalidade (incidente nas operações de telecomunicações e energia
elétrica, ante a ofensa aos princípios constitucionais da seletividade e essencialidade). Neste
sentido, destaco o seguinte julgado:
Insta salientar que, Órgão Especial do Tribunal de Justiça declarou a inconstitucionalidade do art.
14, VI, item 2, e VIII, item 7, do Decreto nº. 27.427/2000, por ofensa aos princípios da seletividade
e essencialidade e também do art. 14, VI, "b", da Lei nº 2.657/96, do Estado do Rio de Janeiro,
que fixa em 25% (vinte e cinco por cento ) a alíquota máxima de ICMS sobre operações com
energia elétrica.
O art. 14, VI, "b", da Lei 2.657/1996, com a nova redação dada pela Lei 4.683/2005, fixou alíquota
de 25% (vinte e cinco por cento) para a cobrança de ICMS, quanto às operações com energia
elétrica, na hipótese de consumo superior a 300 quilowatts/hora mensais, como se vê:
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quilowatts/hora mensais;
b) - 25% (vinte e cinco por cento) quando acima do
consumo estabelecido na alínea anterior.
(...)
O Decreto Estadual nº 27.427 de 2000, cuja inconstitucionalidade ficou admitida pelo Órgão
Especial, regulamentando aquela lei, dispunha do mesmo modo sobre a matéria, in verbis:
Assim, o art. 14, VI, "b", da Lei nº 2.657/96, reproduzido no Decreto nº 27.427/2000,
manifestamente inconstitucional, não podia produzir efeitos no mundo jurídico, por aqueles
mesmos fundamentos consagrados em decisão anterior do Órgão Especial.
Argüição de inconstitucionalidade, em sede de mandado de segurança. Art. 14, VI, "b", da Lei nº
2.657/96, do Estado do Rio de Janeiro, com a nova redação dada pela Lei 4.683/2005, que fixa
em 25% (vinte e cinco por cento) a alíquota máxima de ICMS sobre operações com energia
elétrica. Anterior declaração de inconstitucionalidade do art. 14, VII, item 2 e VIII, item 7, do
Decreto Estadual nº 27.427/2000, regulamentador daquela lei, na Argüição nº 27/2005 julgada
pelo Órgão Especial deste Eg. Tribunal de Justiça. Lei impugnada que adota idênticos
fundamentos do decreto, violando os princípios da seletividade e da essencialidade assegurados
no art. 155, § 2º, da carta magna de 1988. Procedência da argüição de inconstitucionalidade do
art. 14, VI, "b", da Lei 2.657/96, do Estado do Rio de Janeiro. Decisão unânime. 2008.017.00021 -
Argüição de inconstitucionalidade- REL. Des. José Mota Filho - julgamento: 20/10/2008 - Órgão
Especial.
Desta forma, de acordo com os precedentes de nossa Corte Estadual de Justiça, aplicável é a
alíquota genérica de 18% prevista no RICMS.
A cobrança de ICMS sobre a parcela de energia não consumida constitui enriquecimento ilícito
que não pode ser tolerado, uma vez que o referido tributo só incide quando, concretamente, a
energia for fornecida e utilizada, tomando-se por base de cálculo o valor pago em decorrência do
consumo apurado.
Assim sendo, o ICMS, que se trata de fornecimento de energia elétrica, deve incidir
sobre o total efetivamente consumido pelo contribuinte. Inexiste lei determinando como fato
gerador do ICMS as tarifas e encargos em análise.
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que o ICMS somente incide sobre o valor da energia elétrica efetivamente consumida, não
havendo incidência de tal tributo sobre qualquer espécie de demanda de energia elétrica não
consumida.
Neste sentido, o STJ sumulou a matéria, tendo editado o verbete nº 391, a qual dispõe
seguinte: "O ICMS incide sobre o valor da tarifa de energia elétrica correspondente à demanda de
potência efetivamente utilizada."
Sendo assim, não incide ICMS sobre transmissão, distribuição, encargos e tributos, já que o fato
gerador do imposto é a saída da mercadoria, ou seja, no momento em que a energia elétrica é
efetivamente consumida pelo contribuinte.
Ora, conforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, não existe previsão legal e
constitucional para cobrança do ICMS no serviço de transporte de energia. Assim, a incidência do
ICMS sobre o mero deslocamento da energia encontraria óbice, por aplicação analógica, na
Súmula 166 do STJ, segundo a qual "não constitui fato gerador do ICMS o simples deslocamento
de mercadoria de um para outro estabelecimento do mesmo contribuinte.
Assim sendo, atento ao pedido inicial, percebemos que possui o autor direito à devolução do ICMS
pago a maior, referente à TUST e TUSD, e ao percentual da alíquota superior a genérica de 18%,
acrescida do adicional referente ao Fundo de Combate à Pobreza, enquanto este perdurar, no
período não atingido pela prescrição quinquenal (que a doutrina afirma ser decadência).
Quanto aos acréscimos legais, o STJ sedimentou entendimento no sentido de que a taxa SELIC
ora tem a conotação de juros moratórios, ora de remuneratórios, a par de neutralizar os efeitos da
inflação, constituindo-se em correção monetária por vias oblíquas.
Dessa forma, no caso em tela, não cabe a incidência cumulada da mencionada taxa com juros
moratórios, a partir da entrada em vigor da Lei 6.127/2011.
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Vale destacar que, a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o Recurso Especial
nº 1.111.189/SP, da relatoria do Ministro Teori Albino Zavascki, submetido à sistemática do
recurso representativo de controvérsia, assentou entendimento de que incide "a taxa SELIC na
repetição de indébito de tributos estaduais a partir da data de vigência da lei estadual que prevê a
incidência de tal encargo sobre o pagamento atrasado de seus tributos."
Ora, sendo a taxa SELIC um índice de correção monetária por vias oblíquas, deverá incidir sobre
os valores a serem ressarcidos, desde cada pagamento indevido, impedindo-se que tais valores
fiquem sem correção até o trânsito em julgado, o que caracterizaria verdadeiro enriquecimento
sem causa do Estado.
Sendo assim, os valores a serem ressarcidos devem ser corrigidos monetariamente pela UFIR, a
partir de cada pagamento indevido, até o dia 01/01/2013. Posteriormente, a partir de 02/01/2013,
com a vigência da Lei nº 6.127/2011, deverá aplicar-se a taxa SELIC, a partir da data de cada
pagamento indevido, eis que tal índice passou a ser adotado pelo Estado na correção dos seus
tributos, sendo certo, pois, que, tais valores devem ser apurados em liquidação de sentença.
Destaco que, não há que se falar em juros moratórios, eis que estes somente seriam devidos a
partir do trânsito em julgado, nos termos do art. 167, parágrafo único do CTN e da Súmula 188 do
STJ, sendo indevida a sua cumulação com a SELIC, conforme dito acima.
Isto posto, JULGO PROCEDENTES OS PEDIDOS, determinando que deverá ser aplicada a
alíquota genérica de 18% prevista na Lei e no RICMS, em relação ao fornecimento de energia
elétrica, acrescida do adicional relativo ao Fundo de Combate à pobreza, enquanto este perdurar,
até que sobrevenha legislação que fixe novo percentual, nos termos do artigo 199, parágrafo 12º,
da Constituição deste Estado, bem como declarando a inexistência de relação jurídica tributária
quanto a incidência do ICMS sobre as tarifas de uso do sistema de transmissão (TUST) e
distribuição (TUSD).
Condeno o réu nas despesas processuais e honorários advocatícios sobre o valor a ser
ressarcido, devidamente atualizado, cujo o percentual será definido quando liquidado o julgado,
nos termos dos artigos 85, § 4º, inciso II, do CPC/2015.
P.R.I.
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