Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ET CONCORDANCIA
MB
Algvas Propheçias de
Randarra
Çapateiro de Trancoso
Por Dom Toam de Castro
Reproducçáo fac-simile
Revista e acompanha.da de uma
Notícîa bibliographica
POE
José Pereira de Sampaio (Bruno)
Editor : José Lopks da Silva
Trrtveasa da Fabrica, 20
"PORTO
MDCCCCI
s»
PARAPHRASE
ET CONCORDANCÏA
DE ALGVAS PROPHE-
çasde Battdarra , çapateiro
de Tramofb,
GONCALLE-ANNEZ
QTiÀ3J.7dV3
I
PARAPHRASE ET
CONCORDANÇIA DE AL-
guas profeçias de Bâdarra, Ca-
pateiro de Trancoso.
Capitvlo Primeiro
Capitvlo Segvndo.
Determinei de escreuer
A minha capotaria.
Por ver Vojsa Senhoria
O que sae de meu coser.
Que me quero entremeter
Nesta obra que offereço:
Porque saiba o que conheço,
E quanto mais posso fa\er.
B iiij
Paraphrase & Cottcofdançía
Nos prophetas sagrados se ve, que
huns nomeam seus payes & Auós: ou-
tros notam os tempos emque profeti-
zaram : alguns dizem os oíïìcios que
rinham : aífy Bandarra vay dizendo o
leu pellas pertenças delle, metendoas
nos primeiros dous versos de cada ra-
mo, com tanta graça & tam realçado
lentido, como o iulgara qualquer bom
iuizo. Depois que tratou da autoridade
do 'dom que tinha, & da qualidade. &
çerteza de suas profecias: começa da quy
por diante a reprehender os custumes,
nam somente dos Portugueses mas de
toda Christandade, conforme cabe a ca
da naça,m. E posto que nam nos amea-
ça logo com o castigo delles, como fa-
zem os Prophetas sagrados : poemnos
todauia as culpas, apos as quaes elle
sempre vem, o qual depois na sua visam
nos annunçia.
Nos primeiros dous versos diz que
tambem he official, & que labe hú pou-
co pe cortiça: onde a palaura: Tambem:
tem aquy grande miííerio: porque nam
quer dizer, que he rambem official ça-
pateiro : mas, que he tambem propheta,
De Èandarrd. i3
& official de outro grao mais alto ten-
do realçado o entendtmento, significa-
do pella obra de cortiça, que se aleuan-
ta do çham. Diz que sabe hu pouco
della : por sua humildade, & em compa-
raçam do muyto que Deos tem pera
reuelar. Aqual graça confessa em si,por-
que lhe nam estranhem, vendo ho iul-
gar & reprender os custumes:começan-
do logo pella falta da iustiça, que se
nam faz geralmente em todo mundo:
ou seja estreitamente segundo soa o no
me :ou tomada por toda virtude : O que
diz, porque ve fazerem Doutores sem
letras, & iulgadores que nam labem
bem nem mal: querendo dizer, (allem
do claro) que se dam os cargos & offi-
çios aos homcns indinos & inhabiliflì-
mos pera elles. lequele:
Horçigitis pera calcar
Ham de ser de cor doïïoes:
Notarios, Tabellióes
Tem o tento an apanhar.
Veloseis aporfiar
Sobre lin pobre çeitil,
E por lui vos rapam mil,
Se volos podem rapar.
Paraphrase & concordançia
Pois os borziguis se nam fazem se-
nam de cordouões, porque os aponta,
como se se fizeram doutra cousa ? A cau
sa (a meu sraco iuizo) he, que pello lou-
uor dos cordoúes pera carçaî, entende
algu segredo : ou seja todo o pouo Iu-
daico conuertido de todo coracam a
Christo, que sera no fi m do mundo : no
qual obrara entam o Espirito Santo ma-
rauilhes : ou delle alguns bons Chri-
stâos, antes do dito tempo. Oque Ban-
darra podia marcar por se lembrar dos
da sua naçam que segundo dizem era
Christam nouo: & querolos hia signifi-
car, pello couro dos animaes, comque
do vulgo sam notados. Ou pello nome
de cordouões, que tem a origem de Cor-
doua, donde sa m excellentiffimos, nota
a gente de ambas as Hespanhas, pera
bons Catholicos : porque nos borziguis
de cordouõs açhamse gentis condições
& bondades, como cada húsabe: sendo
as principaes de serem brandos & do-
çes, dando muyto de si ao calçar, & fi-
cando depois iustos na perna. Afly tam-
bem se tem vistos te hoje os naturaes da-
quelles Reynos pera com as cousas da fe,
De Bandarra 14
& da Religiam Christaam, muy doçes
em as reçeberem, largandose quanto el-
las pedem : & conseruandoas muy iustas
depois : porõ de diz que pera bons Catho-
licos se deuem buscar Portugueses & Ca-
stelhanos : sem preiudarmos a honrra das
outras nações em particular. Ou fitial-
mente pellas bondades & boas condi-
ções dos cordouões, entende as dos bons
Christâos, & as boas partes naturaes dos
gentios pera o serem.
Apos isto mostra como em geral todos
os Notayros & Tabelhoens, (nos quaes
entende os demais ofBciaes de penna)
Ecclesiasticos & seculares, nam cuidam
que em roubar as partes : reseruando po-
rem sempre os bons. O que falla em co
rnu dos de Portugal, & dos outros Rey-
nos da Christandade : leuando este mes-
mo elpirito em todo restante do prologo.
Sequese.
Tambem sci aigu * brunhir * bornir
Quaesquer laços de lauores:
Baçhareìs, 'Procuradorcs
A hy vay 0 proseguir.
E quando Ihes vam pedir
Conselho os demandóes,
Paraphrase & concordancia
Como Ihe faltam tqftóes,
Nam os queretn mais otiuir.
Capitvlo Terçeiro.
Sonho de Bandarra.
Depois )a de persegitìdos,
As montanhas Jalleadas
Tor Paftores muy sabidos,
Pajìores muy escolhidos
Que Jabem hem as *pijadas. *Pa£'adas
Armarlheam nas pegadas
Cepos, Trapas de açeiros:
A talayas nas ejlradas,
Com Bejlas amey]oadas,
E tiros muyto ligeíros.
Capitvlo Qvarto.
Capitvlo Qvinto.
Capitvlo Sexto.
As Chagas do Redentor,
Saluador,
Sam as armas do nojfo Rey:
Porque guarda bem a ley
E a grey
Do Alto Rey Criador.
Nenhum Rey, nem Emperador
Nem gram Senhor,
Teue nunca tal smal
Senam vos bom Portugal
Por ser leal,
E das gentes amador.
Capitvlo Setimo.
Paftor Mor.
Aquella vaca que berra,
Porque esta assi berrando?
Andre
He porque deçe da serra,
E nam conheçe bem a terra,
E porijso çfta vrrando.
Esta he a vaca Fernando
Máy do gram Touro fuscado:
Tem ra\am de ejìar bramando
Porque nam se açha no bando,
Nem Je sabe onde he lançado.
Pajior Mor
O que dor de coraçam,
O que viagoa, ó que pesai;
O que gram trìbulaçam:
Arredemos a paixam,
Paraphrase & concordançia
Pois se nam pode cobrar.
Sens filhos deuemos criar,
Os quaes mny bem criaremos,
Ficaram em seu lugar :
Pollo bem que lhe queremos
Tudo lhe mandaremos dar.
Capitvlo Oitavo.
la o tempo desejado
He chegado:
la se çhegam os oitenta
Que se ëmenta
Por hh Doutor ja pajj'ado.
Rey nouo aleuantado,
la da brado:
la assoma sua bandeira,
Contra a Grisa parideira
* Logomeira * Lasçiueira
Que taes prados tem go\ado.
Capitvlo Nono.
Iudeus.
Di\ei, Senhor, poderemos
Com 0 gram Pastor fallar?
E daquy Ihe promelemos
Ricas ioyas que tra\emos,
Se nolas qui\er tomar.
Fernando.
Que Ihe aueis, Iudeus, de dar?
Iudeus.
Darlhemos grain thesouro,
Muyta prala, & muyto ouro
Que trazemos dallent mar.
K
Paraphrase & concordançia
Grande merçe nos fareis
De nos dardes v\Jïa delie.
Fernando.
Entrai, Iudeus, se quereis,
La dentro o açhareis
Bemjpodeìs fallar com elle.
Tomara com seu poder
E gram valer
Todas as partes dallem,
Marrocos & Tremecem,
E Fe\ tambem :
Fara tudo o que qui^er.
Viloam acomeler
Polio deter,
Que querem ser tributeiros
E lìie querem dar dinheiros
Lìjbngeyros
Aos qitaes nam deue de crer.
j
de Bandarra. 87
çias dos Abeíïïns que referimos & de
muytas outras. Este serniço açeitiflìmo
a Deos ha de fazer aquelle General Por
tugues açima fallado, a quem o Senhor
por amor delle, pollo muyto que ha de
ser de seu gosto, cubrira de suas ben
ções eternas & temporaes, ficando del
le perpetua memoria por tal feyto.
Sequese.
E depois da embaixada
Declarada,
Agora que correm corenta,
Erguersea gram tormenta
No que atenta,
Mas logo sera amansada.
E tomaram a estrada
Da cilada:
Nam auera quem os acoute:
Darlheam aquella noule
Tal acoute,
Que a Fe seja exalçada.
Capitvlo Deçimo.
qA Casa que he dese)ada,
oAberta tera a porta,
Emquepe\ á cBesta Morla,
Depreffa ha de ser tomada.
qA vinha sera podada
Toda limpa co podam,
E a que nam der vinho sam,
Com fogo sera queimada.
Paraphrase & Concordançia
pLARissiMAMENTE profetiza da
recuperaçam da Casa Sâta, tam de-
sejada, aqual ficara liure & patente pera
quem a ella quizer ir: & como sera de-
pressa ganhada emquepez a todo poder
Mahometano. Entede pella Besta Mor-
ta ou o Diabo como Cabeça dos Ma-
hometanos & de todos os maos: ou
Mafoma como seu principal membro,
& Cabeça dos que tem o santo Sepul-
cro em seu poder: ou finalméte o Tur-
co, que ja entam estara muy aflblado,
vençido & podeser, que morto. Duas
emprezas ha pera as quaes podiam os
mortos desejar de resusçitar, & aps vi-
uos abrasaremselhe os espiritos, nego-
çiando muyto com Deos vida & lugar
pera algúa dellas. A primaz das duas he
a de que fallamos agora, & a sua segun-
da, a aslblaçam da Casa de Mecha: húa
& outra de eterna gloria de Deos, &
de perpetua dos Caualleiros Christâos
com mereçimentos eternos ante elle.
Nos outros quatro versos ameaça a
ferro & fogo a Igreja, fignificada pella
vinha, cuja tribulaçam ha de ser antes
das felicidades : he verdade que aquy
de Bandarra. 64
pareçe que falla em particular da refor-
maçam qne o Papa Angelico & El Rey
Dom Sebastiam ambos iuntos ham de
fazer na Christâdade, com ferro & fo
go onde for necessario. Podese també
dizer que he a reformaçam vniuersal
do mudo que Deos com os ditos dous
instrumentos ha de fazer por toda a In
fidelidade: visto como todos os homes
sam vinha prantada por Deos, posto
que feyta saluagem & brauia em os In
fieis, & que propriflìmamente sinifique
a sua Igreja. Seguese:
Saira o Prisioneiro
Da noua gente, que vem
Dejse Tribu de Rubem,
Filho de lacob, primeiro:
Com iudo o mais que tem.
Comendadores, Prelados,
Que as Igrejas comeis,
Terçareis & voluereis
Por honrra dos doits EJlados.
Os demais Jeram taixados,
E todos contribuíram:
Auera gram confujam
Em toda sorte de ejìados.
Capitvlo Onzeno.
Ia o Lt'am he e/perto,
Muy alerto:
la acordou: attda caminho:
Tirara cedo
* do ninho
O Porco, & mais he certo.
Fogira pello deserto
Do Liant & seu bramido,
Mojìrando que vay ferido
Deffe hom Rey Encuberto.
"Capitvlo DOZENO.
Capitvlo v ltimo
L A V S D E O.
PERA EMENDAR ALGVN
erros prinçipaes da impreffam. O pri-
meiro numero nìostra a folla: o
legundo a pagina : o terçeiro a
regra. Os demais releuem-
felhe por estrangeyra.
Em papel Wathmann:
1. S. M. El-Rei D. Carlos ï.
2. Annibal Fernandes Thomaz — Aveiro.
3. Antonio de Portugal de Faria—ítalia (Liborno).
4. Marques dei Gerez de los Caballeros — Hespa-
nha (Sevilla).
5. Visconde dos Olivaes e Penha Longa — Lisboa.
6. Antonio (Dr.) Augusto de Carvalho Monteiro
— Lisboa.
Existem quatro exemplares.
Em papel de linho :
1. Adolpho Ramos Martins — Porto.
2. Affonso Lopes Vieira — Lisboa.
3. Alberto Pimentel — Lisboa.
4. Albino (Dr.) Antonio Leite de Rezende — Ovar.
5. Annibal Fernandes Thomaz — Aveiro.
6. Antonio (Dr.) Augusto de Carvalho Monteiro
— Lisboa.
7. Antonio Moreira Cabral — Porto.
8. Antonio (Dr.) Emilio d'Almeida Azevedo — Po
voa do Varzim.
9. Antonio da Rocha Paris Vasconcellos — Vianna
do Castello.
10. Atheneu Commercial — Porto.
u Augusto A. Rodrigues Lima — Gaya.
2. Augusto Leite Guimarães — Porto.
3. ' Bernardo da Silveira — Lamego.
4. Bertino de Miranda — Brazil-Manáos.
5. Bibliotheca da Universidade de Coimbra.
6. Candido de Figueiredo — Lisboa.
7. Conde d'Arnoso — Lisboa.
8. Conde de Lumbrales — Porto.
9. Diogo Henrique da Silva da Fonseca da Cervei
ra Leite Bourbon — Porto.
0. Domingos Pereira Gomes Rosa — Vianna do
Castello.
1. Duque de Palmella — Lisboa.
22. Eduardo Rego — Porto.
23. Eduardo Sequeira — Porto.
24. Fortunato (Dr.) d'Almeida — Coimbra.
25. Francisco (Dr.) Antonio de Carvalho Lamas —
Porto.
26. Francisco Augusto Martins de Carvalho — Coim
bra.
27. Francisco (Dr.) de Paula Santa Clara — Elvas.
28. Gabriel Guimarães — Porto.
29» Jacintho (Dr.) Pereira de Magalhães — Porto.
30. Jayme (Dr.) Duarte da Silva — Aveiro.
31. João Carlos Valente — Porto.
32. João (Dr.) Luiz Monteverde da Cunha Lobo —
Vianna do Castello.
33. João da Rocha Páris Vasconcellos — Barcellos.
34. Joaquim d'Araujo — Itália (Genova).
35. Joaquim Arantes Pereira — Porto.
36. Joaquim Frias da Fonseca — Porto.
37. Joaquim Gomes de Macedo — Porto.
38. Joaquim de Vasconcellos — Porto.
3g. José (Dr.) Carlos Lopes — Porto.
40. José (Dr.) Monteiro da Silva — Amarante.
41. José Pereira Barbosa Gama — Porto.
42. José Pereira de Sampaio — Porto.
43. José Pinto da Rocha — Porto.
44. José Rodrigues Simões — Lisboa.
43. José Francisco Vieira de Carvalho — Porto.
46. Julio Cesar de Sousa Lima — Porto.
47. Manoel d'Albùquerque de Mello Pereira Ca
ceres — Porto.
48. Manoel Antonio Nogueira da Rocha — Gandra.
49. Manoel Vieira Borges — Porto.
50. Magalhães & Moniz — Porto.
5 1. Marqués dei Gerez de los Caballeros—Hespanha
(Sevilla).
52. Ricardo (Dr.) Pinto da Costa Bartol — Porto.
53. Ricardo Severo — Porto.
54. Rodrigo (Dr.) Velloso — Lisboa .
55. Thomaz Martins Ramos Guimarães — Porto.
56. Victor da Cunha Seixas — Gouváes.
57. Vicente Fructuoso da Fonseca — Porto.
58. Visconde de Sanches Frias — Coimbra.
Existem cincoenta e tres exemplares.
ESTA OBRA, EM REPRODUCÇÃO FAC-SIMILE,
COM O APPENSO DA SUA - NOTICIA BIBLIO-
GRAPHICA», FOI COMPOSTA E IMPRES
SA, NO PORTO, NA OFFICINA TY-
POGRAPHIÇA DE A. F. VASCON-
CELLOS, SUCCESSORES, RUA
DESÁNORONHA,5i,TER-
MINANDO-SE O TRA
BALHO NO DIA
25 DE MARÇO
DE' iooi.
EDITOR
JOSÉ LOPES DA SILVA
Travessa da Fabrica, 20
PORTO
Aviso do editor
aos senhores subscriptores
da «PARAPHRASE»
no prelo:
com- A
Aiunta do Discvrso precedente aos mes
mos Estados pello mesmo Autor: em a qual
os aduirte de como El Rey de Hespanha se
ouue com El Rey Dom Sebastiam, depois
que o teue em seu poder. 1602.
Reproducção fac-simile.