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OTIMIZAÇÃO DE PERFIS POR SOLUÇÃO NUMÉRICA DA EQUAÇÃO DE

EULER

Bruno Quadros Rodrigues IC br_quadros@yahoo.com.br


Nide Geraldo do Couto R. F. Jr. PQ nide@ita.br
Instituto Tecnológico de Aeronáutica
Praça Marechal Eduardo Gomes, 50 – Vila das Acácias
CEP 12228-900 – São José dos Campos – SP - Brasil

Resumo
Neste trabalho é introduzido um processo de otimização de perfis baseado em alguns
conceitos de Dinâmica dos Fluidos Computacional (CFD), no qual é obtida a solução numérica da
equação de Euler com a finalidade de obter a distribuição de Cp sobre a corda do modelo. Feito isso
essa distribuição de Cp é então modificada de modo a se obter um novo perfil e os valores dos seus
coeficientes aerodinâmicos.

Abstract
In this work we introduce an airfoil optimization process based on some concepts of
Computational Fluid Dynamics in which the Euler equation is solved in order to evaluate the Cp
distribution over the chord of the profile. After that the Cp distribution is then modified in order to
output a new aerofoil as well as the values of its aerodynamics coefficients.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho trata basicamente de otimização de aerofólios, usando-se como alicerce a


experiência adquirida em dinâmica dos fluidos computacional (CFD). Objetivo em si é desenvolver
um perfil que se adeque de maneira satisfatória a aeronaves não tripuladas (UAV), as quais operam a
baixos números de Reynolds e de Mach, de maneira que se consiga obter um aerofólio que
proporcione um coeficiente de sustentação máximo em torno de 1,6. O software usado ao longo deste
trabalho foi o MSES.
Com este software é possível, a partir de um perfil simples, obter os resultados da teoria
potencial e da equação de Euler à medida que se manipulam adequadamente dados como: número de
Reynolds, número de Mach, ângulo de ataque e ponto de transição da camada limite (laminar-
turbulenta). O processo de otimização se divide em duas etapas: primeiro é obtida a distribuição de
pressão sobre o perfil NACA0012 para se ter uma idéia do comportamento deste perfil em vários
ângulos de ataque. Feito isso, é possível agora modificar essa distribuição de pressão tanto no
intradorso quanto no extradorso de modo a obter maiores valores de Clmáx (coeficiente de sustentação
máximo). E à medida isso ocorre, as coordenadas do perfil vão sendo atualizadas de acordo com as
novas distribuições de Cp (coeficiente de pressão).

2. PROCEDIMENTOS

2.1. Geração da Malha

O primeiro passo para uma solução confiável e a para a redução de tempo de solução
computacional é gerar uma malha adequada. A malha gerada sobre o perfil NACA0012 deste trabalho
é do tipo estruturada, gerada segundo o método de diferenças finitas, e também pode ser suavizada
em torno do perfil, como mostrado a seguir.
Figura 1: malha estruturada em torno do perfil NACA0012.

2.2. Projeto Direto: obtenção da distribuição de pressão

Para a obtenção da distribuição de pressão sobre o perfil NACA0012 deve-se


primeiramente definir os parâmetros que serão utilizados na solução da equação de Euler. Os valores
estão mostrados na tabela 1 abaixo.

Tabela 1: dados de entrada


Reynolds 5.0E5
Mach 0.056
Alfa 6.0

Obviamente, os valores acima definidos foram tomados após algumas inspeções da


distribuição de Cp e a partir também da finalidade do UAV em questão, que é a de voar sobre linhas
de transmissão elétrica, operando, portanto, a velocidades muito baixas. Já o ângulo de ataque foi
escolhido de maneira arbitrária dentro da faixa de escoamento laminar, apenas para efeito ilustrativo
do processo. Ao longo de todo o processo o ponto de transição da camada limite foi fixado em 5% da
corda do perfil, e a distribuição de pressão obtida a partir da solução iterativa da equação de Euler
está mostrada na figura abaixo, juntamente com parâmetros como a razão L/D (eficiência
aerodinâmica) e os coeficientes de arrasto (CD), momento de arfagem (CM) e sustentação (CL) para a
situação definida na tabela 1 acima.

Figura 2: distribuição de pressão sobre o perfil NACA0012.


2.3. Projeto Inverso: modificação da distribuição de pressão

A partir da distribuição de pressão obtida anteriormente, é possível agora modificá-la


com objetivo de obter coeficientes de sustentação mais elevados e conseqüentemente novos perfis.
A primeira modificação foi feita no extradorso do perfil, a qual é realizada
manualmente impondo-se uma nova configuração de pontos na curva superior da distribuição de
pressão. Como a finalidade é um maior coeficiente de sustentação, a idéia é então aumentar a área
delimitada pelas curvas superior e inferior da distribuição de Cp, mantendo-se a compatibilidade da
condição de contorno no bordo de fuga (condição de Kutta). A curva modificada está ilustrada
abaixo, juntamente com os novos valores dos coeficientes e da razão L/D.

Figura 3: distribuição de pressão modificada sobre o extradorso do perfil.

Vale observar que o aumento de área ocasionou o aumento do arqueamento do perfil. Além
disso, a curva foi modificada de modo a haver um menor pico de sucção no extradorso, o que
provocou o aumento do raio de curvatura do bordo de ataque, como já era esperado. E como o arrasto
aumentou menos que a sustentação neste caso, a razão L/D do novo perfil também resultou maior.
Feito isso, agora fez-se a modificação da distribuição de pressão somente no intradorso no
perfil NACA0012, a partir da curva inicial, de modo análogo ao que foi feito para o extradorso,
obtendo-se a distribuição ilustrada abaixo.

Figura 4: distribuição de pressão modificada no intradorso no perfil.


Na figura acima nota-se também o aumento do coeficiente de sustentação em relação ao
NACA0012 e como , além disso, o coeficiente de arrasto diminuiu, a razão L/D aumentou bastante
para este novo perfil. Entretanto, embora pequeno, o coeficiente de momento e arfagem é agora
negativo (no sentido de baixar o bordo de ataque) e essa seria uma característica um tanto indesejável
principalmente durante a operação de cruzeiro da aeronave, a qual necessitaria de uma maior deflexão
do profundor para compensar o momento de arfagem gerado pela asa, e isso certamente provocaria o
aumento do seu coeficiente de arrasto, reduzindo a sua eficiência aerodinâmica.
Dessa forma se faz necessária uma modificação conjunta da distribuição de pressão inicial,
tanto no intradorso quanto no extradorso. Isso pode ser feito simplesmente unindo-se as informações
da curva modificada no extradorso (Figura 3) com as da curva modificada no intradorso (Figura 4).
Vale ressaltar que, como as curvas são obtidas isoladamente, quando são unidas, não garantem que a
condição de contorno no bordo de fuga seja respeitada. Entretanto, nesses casos o próprio programa
força a imposição desta condição de contorno para que a equação de Euler possa ser resolvida, de
maneira que o resultado pode ser um perfil completamente distorcido e cuja geometria não agrade ao
projetista, forçando-o a ser mais preciso na modificação da distribuição de pressão. A figura abaixo
mostra de maneira clara o que pode acontecer com o perfil nesses casos.

Figura 5: perfil final obtido.

Na figura acima é possível observar claramente que o programa teve que forçar a imposição
da condição de contorno no bordo de fuga, o que prejudicou o formato da distribuição de pressão
final. O resultado foi então um perfil de geometria estranha e que estaria completamente fora de
cogitação em termos de projeto, uma vez que, mesmo fornecendo um valor de coeficiente de
sustentação maior do que nos outros casos, ele ainda possui coeficiente de momento de arfagem
negativo e maior coeficiente de arrasto. Este último por sua vez provoca a redução da razão L/D.
Neste tipo de processo as coordenadas do perfil final podem ser armazenadas de maneira que,
se o projetista já tiver experiência suficiente, ele pode modificar algumas coordenadas dentro do
arquivo original (arquivo de texto) criando um novo perfil inicial que já possua características de seu
interesse em determinadas regiões ao longo da corda e concentrando sua atenção nas demais regiões.
O projetista pode ainda escolher o perfil em bancos de perfis disponíveis em sites
especializados, tomando como modelo inicial aquele que já possua algumas características de seu
interesse, reduzindo assim o tempo de execução do projeto.

3. CONCLUSÃO

Até o presente momento foram feitas inúmeras repetições de todo o processo descrito
neste trabalho e o que já se tem em mãos é um perfil cujo coeficiente de sustentação máximo está em
torno de 1,2, o qual foi obtido tomando-se como modelo inicial o perfil arqueado NACA2412,
modificando-se ainda o ponto de transição da camada limite (laminar-turbulenta). Entretanto, os
resultados finais estão sendo constantemente aperfeiçoados e sua apresentação está prevista em um
provável trabalho de graduação.
Cabe observar ainda que a solução pelo método computacional não garante
completamente a viabilidade de projeto do modelo final obtido, visto que os métodos computacionais
estão sempre sujeitos a erros de truncamento e de arredondamento. Sendo assim, faz-se necessária a
junção dos resultados obtidos via método numérico com aqueles obtidos a partir de ensaios
aerodinâmicos em túnel de vento para que se possa chegar a um modelo cujo uso seja o mais viável
possível e cuja aplicabilidade seja compatível com os requisitos de operação da aeronave.

Referências Bibliográficas

1. Anderson, Tanehill, Pletcher; Computational Fluid Dynamics,3a ed., McGraw-Hill


International Editions, 1995.

2. Hofmann, K.; Chiang, S.; Computational Fluid Dynamics For Engineers, 2001,Vol. I.

3. Schilichting, H.; Truckenbrodt, E.; Aerodynamics of the Airplane, 2a ed., McGraw-hill


International Editions, 1979.

4. Ortega, M. A., Computational Fluid Dynamics I, II; Apostila, ITA, Divisão de


Engenharia Aeronáutica, São José dos Campos, 2000.

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